na estrada - livros gratuitos

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PrólogoEu poderia seguir viagem aguentando crianças, sons e diferentes

perfumes dentro daquele ônibus. Mas como tudo ultimamente, isso tambémestavacontramim,eminhaúnicaopçãoerasegui-lo.

1

Samantha

Passei seis anos da minha vida baseando felicidade em um falso

relacionamento.Falsoporqueapenaseuamei,apenaseusonhei.Aindaconsigotervivaasimagensemminhacabeçamartelando.Achoqueumasemanaeraosuficiente para ter isso apagado domeu sistema,mas ainda estava lá.Beatriz,minha ex-melhor amiga, madrinha de casamento, confidente, quase irmã. Apessoaquemaisconfiavadepoisdemeupai,elafoipivôdetudo.Enquantoeupolia seu altar, ela cuspia nas minhas costas, dizem que decepção não mata,talvezapessoaquedisseissonãochegouaofundopoço.

Passeiaúltimasemanaisoladaemmeuquartoencarandocaixasemais

caixasdepresentescaros,pessoasqueassimcomoeu,acreditavaquetodoesseteatrodehumornegro fosse seguir adiante.Pensei seriamenteemdevolvê-los,quaseumahorapensandonissoatédecidir.Ligarepedi-losparabuscarsóseriamais uma vergonha, então resolvi mandá-los. Meu celular agora era um serinativo, havia tanta vergonha em mim, que um buraco no chão não era osuficienteparamesentirbem.

Meupaisubia todososdiaseparavanaportadomeuquarto,ele tinha

medo que eu me matasse ou coisa parecida. Depois de virar uma caixa deantidepressivo, eu também ficaria commedo.Mas foi idiotice, e tudooqueomédicomeliberoufoicalmante,umantesdedormir.Estavatomandotrêsparaoefeitodurarmaistempo.

Sóestavamesentindoapessoamaisidiotadomundo.Nadaalémdisso.–Sam?–Ouvisuavozabafadacontraminhaporta.–Estátudobem?Encareiascaixasorganizadasemumcantodoquarto.Oque restoudo

meuvestido,alistacomosendereços.–Estou.–Nãoseicomoconseguifalar.–Estoubempai.–Certeza?Não, mas eu queria estar. Ele não disse mais nada quando não ouviu

minharesposta,elevoltariamaistarde,encarariaaportaeesperariaminhacrisehistéricapassar.Durantevinteequatrohorasdesejeicolocarparaforatudooqueestavaengasgado,queriaolharnacaradapessoaquemaisconfieiegritartudooque queria. Saber por quanto tempo fui traída? Por que? Como? Eram tantasperguntasquemesufocavam.Nofimeunão tinhacertezasequeria realmentetertodasasrespostas,jánãoerademaispassarpeloqueestoupassando?

–Quebomqueestácomendoquerida.–Encareimeuprato.–Seupaiestá

felizporisso.Estavatentandonãofalarmuito,masasenhoraDora,avizinhadafrente

erasempremuitogenerosacomtodosnós.Elagostavadomeupai,dealgumamaneira,elacuidariadele.

–Mandeiaúltimacaixaessamanhã...–Obrigada. –Falei. –Você está sendo muito gentil...obrigada por fazer

companhiaparaele.Seiqueandofalhandoe...–Tudobem,querida.Todosnósteentendemos,estariadomesmojeito.Que bom saber que meu estado não era um exagero. Depois de três

colheradasdecreteiqueeraosuficienteparanãodesmaiarnaspróximasquatro

horas eme retirei damesa.Meu quarto agora estava vazio, se não fosse pelacama e a cômoda, ele seria um cômodo deserto. A maioria das coisas novasestavam no apartamento que escolhemos meses atrás. Isso não me importavamais.

Minhamalaestavaparadaaoladodaporta,maspareciagrandedemais.

Então a desfiz, cinco vezes antes de pegar uma mochila velha que usei nocolegial quemais parecia uma daquelasmochilas de camping, então coloqueialgumas peças de roupa variando entre frio e calor. Até ter todos oscompartimentospreenchidos.

–Vamoslá.

...Por alguns segundos pensei em desistir e continuar na cama quando

encarei o relógio marcando cinco da manhã. Mas sabia que me arrependeriaquandoasupostaadrenalinapassasse–adrenalinaeraonomequedeiatodooódio que estava sentindo na segunda semana pós zumbi. Me arrastei até obanheiroantesdepassarnoquartodomeupaievê-loroncar.Esperavanãolhecausarumataquedocoraçãoquandonãomeencontrasse,entãotomeiumlongobanhoemetroqueialimesmononossoapertadobanheiro.

Nãoqueriamedartempoparaumcafédamanhã,queriadispensartudo

que parecia confortável por ora, qualquer coisa no momento me levaria adesistir. Eu não estava fugindo, estavame dando um tempo. Talvez longe euconseguiriapensarmelhor, tentariaviveralgunsplanosquedeixeiparabrincarde princesa da Disney. Precisei de poucos minutos para deixar um bilheteexplicandoqueestariaforaequevoltariaumahora.Emvão,maseleentenderia.

Enfieialgumasbarrasdecerealnamochila,remédios–sempre–,água,

chaves e sai antes que o dia ousasse me dar bom dia. Senti o envelope emminhasmãossuarem,issoquasemefezsentirvingada,ou,pelomenos,ailusãodisso. O dinheiro havia sido um presente de Beatriz, ouvi Dave me mandargastá-lo com consciência, estou gastando. Me mantendo bem longe deles,evitandoumduplohomicídio.Usandoomalditodinheirocomconsciência.

Eunãosabiaparaondeir,nuncaviajeisozinha,empartepelomedodeme perder, pormeu pai não confiar. Agora eu sabia o quanto isso estavameprejudicando.Enfrenteiumapequena filaatéocaixasegurandoummapa,nãohavialugaresqueeuqueriaconhecer.Mashaviaalguémqueeuqueriaconhecer,sabiaquepoderiasermaisumadecepçãoounão.

Depoisdemedecidirentrepegarumônibusdiretooufazerescalas,segui

paraobancodeesperaondemaisumastrintapessoasesperavamoônibussair.Aguenteinumaboa,criançascorrendoassetedamanhãcomaanimoquenãotenhonemasdezdamanhã.Ouobebênocolodamãeatrásdemimfazendobirraporummotivonãoanunciado.Eunãoestavafugindo,eratudooquediziaamimmesma.

Asoitodamanhãmatandoqualqueretodaexpectativaquetiveparasair

maiscedo,nossoônibusentrounagaragemeafilaseformou.Carregavaapenasminha mochila, não precisei enfrentar uma segunda fila para guardar minhascoisas,oônibusestavaquente,cheiravaanaftalinaedesinfetantedeeucalipto.Dealgumamaneiraosdoisprodutostentavamcombaterocheiroimpregnadodebanheiro,vômitoesuor.

Encarei minhas opções de lugares antes de seguir para o fundo, três

bancos antes do banheiro, era como estar entre o céu e o inferno.Nemmuitabagunçanafrente,nemumaintoxicaçãopelousoexageradoquesealastrarianobanheiroapóssairmosdali.

Aos poucos os lugares começaram a serem ocupados, o falatório veio

juntocomsotaquesde todosos tipos.Coloqueios fones,puxeiacortina–umluxoparaaquilo–efecheiosolhos,torciaparanãoterninguéminconvenienteaomeulado.

Sentia minha respiração se acalmar conforme uma nova música

começava.Sótiveacertezaquehaviaalguémdomeuladoquandopassamosporumalombadaepreciseabrirosolhos.Umamulherloiraemal-encaradaretocavaseu batom vermelho, elamal olhou para o lado para ver se havia alguém lhefazendo companhia. Queria saber onde apertava para agradecer. O silencio seformoueafichacaiu.Estavameaventurandopelaprimeiravezsemteralguémnomeuouvidomedizendooquãoissotudoeraloucuraouridículo.

Nuncapenseiqueconseguiriadormirtranquilamenteemumônibus,mas

eu dormi.Acordei com o sol batendo emmeu rosto,mas eu havia fechado acortinae ...a loira.Elaestavaroncandoameuladocomobatomborrado.Elanãoseimportavamuitoempegarumcâncerdepelecomosolfortequeestava,maseumeimportava.Pegueioprotetornabolsamemexendomecanicamenteeespalhandoemmeurostoebraços,aspessoasnosbancosdafrentecomeçaramafalar, latas e sacos de salgadinhos eram abertas. Um grande piquenique noônibus, o cheiro de queijo guardado emmeias chegou até nós.Que ninguémvomiteaqui,foitudooquepedi.

Quasemeiodia,meuestomagodeuumareviravoltaesegureiavontade

decolocarasbarrasdecerealparafora.Euhaviaacabadodeenojarocaraquehaviapassadomaisdevinteminutosnopequenometroquadradoatrásdenós,eunão poderia ser a próxima a ser enojada ali. Fechei os olhos e recoloquei osfones,estavacomeçandoamedepreciar,issoeraumpéssimosinal.

Senti os cantos dos meus olhos molhados e pisquei tentando seca-los,

mas parecia que isso só estava piorando. Então a primeira lagrima desceu edeixeiumpalavrãoescaparaltodemaisgraçasaomalditofiltroemmeucérebroe o fone de ouvido alto demais. A loira me encarou com a expressão maisfechadadoqueeupoderiaimaginarserpossível.Minhasmãostremulas,abriopequeno bolso na lateral da mochila fazendo mais uma manobra mecânicapegando a cartela dos comprimidos mágicos no fundo do bolso. Estalei doiscompridos na mão e os virei na boca a seco, fiz todo o ritual para recolar amochila entre umpequeno espaço sobmeus pés até beber água.Meu coraçãoperdeuumabatidaantesdevoltarasuaformaregular.

Agora eu nãome importava de chorar, pelomenos estaria anestesiada

parameimportar.Epuxeiamalditacortinaparameprotegerdosol.Quandoabriosolhosnãohaviamaiscalor,mesmomeusbraçosestando

suados, não havia calor. Abri a cortina eme deparei com o céu escuro.Meucelularhaviadescarregadoeantesqueeupudessexingarorádiodealguémemalgumlugaralidentro,anunciouqueeramnovedanoite.Dormidemais,aloiraseassustoucommeumovimentoeseuolhareraumpoucoassustado,comoseestivessesurpresapormeveracordada.Eunãomorri,eraoqueeuqueriadizer.

Meuestomago roncou, abrimais trêsbarrasde cerais emeencolhi abraçandominhaspernas.Perdiumaparada,perdiumbanhoeumacomidadeverdade–tomarapenasumcomprimido,eraoplanoagora.

Encarei o logo da Subway desejando apenas uma parada uma hora

depois,mas nosso ônibus passou direto. Estava enjoada de novo, o cheiro doônibus mais a gasolina e aquela fumaça que saia de vez em quando estavafazendoumbeloestragoemmeuestomago.Masresistiavontadedemelevantarevomitarali.Semmúsica,semsonoecomfome.Apenasdesligueimeucérebro,falandosozinhaemmeusprópriospensamentos.Esperavaansiosapelamanhã,eraaparadaqueteríamosparaocafé.

Nãodormi,masmeembaleinozumbidodomesmorádioquehaviame

anunciado as horas, passei tanto tempo encarando as estrelas que elas seescureceramemminhasvistasatétornar-setudonegro.Sonharacordado,eraaprimeiravezqueeutinhaessacoisaenãofoiruim.Alguémexageradoatrásdenósseespreguiçoueissofezcomqueamaioriasedessecontadocéuazulclarosurgindoospoucos.Dessavezsemhorasparasereminformadas.Algunsbonsquilômetrosdepois, eumsol radiante,amovimentaçãonoscorredoresestreitocomeçouasurgir.Aloiraselevantou,foiatéobanheiroevoltoucomobatommais fortequedaúltimavezqueovi.Nãose sentounovamente, ficouempécomoalgunsgatospingados.

Entremos em uma rodoviária, não era minha parada ainda segundo o

bilhete que tinha em mãos. Coloquei a mochila nas costas quando a últimapessoa da última cadeira passou por mim, queria ser a última a sair. Ouvi omotorista avisar que tínhamosquinzeminutos e engoliminha indignidade, elahaviasidoaplacadapelosolharesdeduasgarotasqueesperavamnoladodeforapor alguém que não me interessava. A loira mais platinada juntou assobrancelhasgrossaseescuras–oquenãoadeixavadiferentedeumpalhaço–,cochichou paramais baixinha com traços orientais algomuito provavelmentesobre mim. Eu sabia que precisava de um banho, mais pelas minhasnecessidades mesmo, mas isso não era e não deveria ser o motivo para ocochicho.

Passeiporelasdesejandoteromínimodecoragememmim,mevirare

perguntar o motivo dos olhares, como... Beatriz fazia. Mas eu nunca tive

coragemnemparamatarumabarata,quantomaisencararalguém.Obanheiroeraenorme,umpoucosujo–masmelhorqueumdebeirade

estrada–,barulhodechuveirocomeçouaserouvidoeoutrafilaseformoucomgarotas,criançasesenhorasagarradasatoalhasecoisasinúteisparaumbanhodenomáximocincominutos.Encareiafilaatéperceberquenãotinhaescolha,quinzeminutoseteriaqueabrirmãodealgumascoisas,tipocomer.

Quandochegouaminhavez,tireiaroupaomaisrápidoquepudeeme

enfieiembaixodochuveiroenganadapelaáguacristalina.Estavafria,solteiumlevegritinhoaosentirogelosechocarcontraminhascostas.Entrepulinhoseentra e sai, consegui tomar um banho ouvindo algumas reclamações pelademora. Assim que sai, só tive tempo de me encarar por dois segundos noespelhoeprenderocabeloemcoquealto–maisumpoucoeeunãosairiadalipelomeuestadocatastrófico.

Segui um pequeno fluxo até o lado sul da rodoviária onde achei uma

padaria,maisfila.Estavacomeçandoaodiarfilas.Comoumtruquedemestre,enchi minha pequena cesta com pães e sucos em formas únicas e pediinformaçãoemumcaixaquetinhaumaplacade"abriremosemdezminutos",eunão tinha dezminutos para esperar então fui amais simpática possível comagarotaapontodeladarumaolhadaparaoespaçoeenrugaratestaatéabrirumsorriso e dizer: – vou quebrar seu galho e deixa-la passar aqui, a fila ali estagrande.

MeusorrisodeviaestarmaiorqueodogatodaAlice,encontreiadupla

que adoroume observar quando voltei ao ônibus tendo como boas-vindas ummotorista irritado pela demora. A loira ainda não havia voltado, me ajeiteimelhornacadeiraepuxeiadivisóriaquepassoutodaavigemescondidaentrenós.Minha fomeestavamematandoebebiem temporecordeumagarrafadesucodelaranja,nãoseiserespireinoprocesso.Apenasaquieteimeuestomago.Estava terminandomeu brioche quando a loira se sentou ameu lado comummalditosacodebolinhasdequeijo.Eujuroquevomitarianelaseelanãoparassedeabrirefecharaquelepacote.

Mevireidecostasaelaabraçandomeus joelhoseencarandoaestrada,

algum congestionamento, meia hora de espera depois de um acidente logo a

frente,umcarrodapolíciatentandoultrapassarcomasirenealtasendoseguidapor uma ambulância. Era essa a diferença entre um ônibus e um avião, vocêmorrededornocorpo,masnãomorredetédio.Temsemprealgoacontecendo,bomouruim.

Tenteidemaneira inútildarvidaaomeucelular,maselenão ligava, e

quando ligou desligou no mesmo segundo. Próxima prioridade: usar meusquinzeminutosrecarregandomeucelular.

O terceiro dia de estrada estava se aproximando quando a noite caiu,

nosso ônibus deu alguns problemas no caminho e precisamos parar algumasvezes.Nãomeimportava,aspessoassaiamenquantoeuconseguiarespirarumar que não fosse um cheirando a comida. Tomei um comprimido decidida adormirorestodanoite.

Pela manhã, aproveitei a manutenção do ônibus para recarregar meu

celularpelomenosumpoucona lojadeconveniência.Useio telefonepúblicoparaligarparacasa,eraterça-feira,diadojogodexadrez.Semeupainãoestavaemcasa,eraporqueprovavelmentenãoestavatãopreocupadoassim,eleconfiouemmimdessavez.Mesmoassimdeixeiumamensagemavisandoquenãotenteinenhumsuicídioforadacidade.

Voltaraoônibus jáestavanoseumodoautomático,paramosmaisuma

vez duas horas depois para a parada "normal", tomei um banho dessa vez obanheironãoestavalotado,talvezsejaporqueobanheironãodeviaserchamadodebanheiroeaáguanãodeveriavirdemuitolongedeumesgoto.Tenteicontaro dinheiro, mas não consegui, tinha a leve impressão de que estava sendoobservada. Mais algumas horas, então veio a noite, com o atraso e todas asparadaseuhaviaperdidomeuônibusdeescalaporalgumashorasconsideráveis.

Tentaria pensar em alguma coisa para fazer assim que chegasse na

rodoviária,umreembolsotalvez.

2

Samantha

"Elanãoestáaqui,podemosserrápidos,essaénossaúltimavez..."ouvi

asvozesvindodoquartodeBeatriz, cedimeuantigoquartoquandoachameiparameajudarnograndedia.

"AlguémpodenosverDave,issoéperigosoeéseucasamento.Vocêestá

atrasado..."Dave?Tenteicolocarospensamentosnolugar,eledeveriaestarnaigrejameesperandocomocombinado.

Araivafluiudosmeusporosquandoabriaportaeviacenaquenunca

esperavapresenciarnavida.Minhamelhoramigaeohomemqueestavaprestesajuraramareternamentejuntos,naminhacama.Nomeuquarto!Umapartedemimqueriasairchorando,aoutrasimplesmentequeriaversangue,comoseissofossediminuiralgumacoisa.

Nãoseicomomeacharam,segritei,sechoreialtodemais,sefizalguma

coisa.DerepenteBeatrizestavanochão,meuvestidoestava rasgadoe tudooque queria eramatarDaveWilson. Ele veio emminha direçãome causandorepulsafazendomeuestomagoseembrulhar.

Abriosolhoseestavasozinhanoônibus,umalinhadesuordesceupor

minha nuca me assustando. Era só o mesmo pesadelo de sempre, levantei ocorposóumpoucoparasaberqueestavarealmentesozinha,estiqueiaspernasepeguei minha mochila. Alguém havia bebido ali dentro e era bem capaz decausarumafusãocomobanheiroeexplodirtudo.Coloqueimeusóculosdesoleencarei as pessoas sentadas na sombra do ônibus enquanto omotorista falavacomalguémaocelular.

Ouviaspessoasreclamando.Atravesseioasfaltoatéopostodegasolina,

precisavacomeralgumacoisa.Umaplacaparapegarsenhaerasóocumulodetudoisso.

–Tambémachadesnecessário?–Encareiobraçoqueseesticouaminha

frentepuxandoopequenopapelamarelado.–Paraumlugarqueestaasmoscas?Totalmente.Oencarei.–Alex.–Estendeuamão.–Samantha,podemechamardeSam.Oseguiparalojadeconveniência,pareciaumfimdepapo.Maseleme

deixouentrarprimeiro,ecomohaviadito,asmoscas.–Passou todo esse tempo dentro daquele ônibus? – Perguntou se

afastando.Oencarei.–Comosabequeeuestavalá?–Pegueiumacesta.–Vicadapessoaláforaatrêshorassaindodaqueleônibus.Menosvocê,

entãopresumoqueestavaláounãoestácomeles.Suspirei.–Euestavadormindo.ErgueuasobrancelhaantesdeenfiaralgunspacotesdeCheetosnacesta

eseguiparageladeiraqueprovavelmentenosdariarefrigerantesquentes.–Muitotemponaestrada?

–Três dias e meio. –Falei encarando o celular. –Uma escala perdida eprovavelmentemeudinheirotambém.

–Paraonde?Meapoieinobalcãobatendonacampainha.–Nãoteconheço,nãovoutedizer.–Suspirei.–Vocêestácerta.–Sorriu.Alexeraaltoeumpoucoforte.Nãoeraalgoexagerado,nãopareciaumratodeacademia.Estavamais

paraumsocialdeacademia,comsuasbelasformasclaro,masnadaexageradocomosetivesseumoutrocorposeempurrandoparafora.Seuestilochinelodededo,bermudaecamiseta lhedavaumarde liberdadenoolhar.Visuacabeçamover de um lado a outro procurando alguma coisa na prateleira até voltaralgumtempodepois.

–Aindaaqui?–Brincou.–É,euachoquepodemoslevarissodegraça.–Ouprecisamosusarocartãodecredito.–Apontouamáquina.Beleza.–Semcartãodecredito?–Meencarou.–Dinheiro. –Não usaria meu cartão agora. Ele era um caso de

emergência.–Vouquebrarseugalho.–Não precisa. –Coloquei a cesta no balcão me afastando. –Não estou

comfomemesmo.–Vocêmepagaragoracomseudinheiro.Vaiseramesmacoisa.–Falou

despreocupadopassandominhascoisasnamáquina.Deixeiaportasebatervoltandoalgunspassoseabrindominhamochila.

Ele continuava a passarminhas coisas e até as guardou emuma sacola frágil,abriuummeiosorrisoaestendoamim.

–Obrigada.–Semproblemas.Conteiodinheiroantesdeentrega-lo.–Nãosedeveandarporaícomtantodinheiroassim.–Desculpa,roubeiumbancoenãomederamumenvelopemaior.Alexsorriuabraçandosuasacolaeabrindoaportaparamim.–Estánoônibus?Negou apontando ao Mini Cooper reluzente sendo cuidado por dois

mecânicos.–Bonitocarro.–Obrigado.–Sorriu.Umapequenabrigacomeçou,fiqueidelongeassistindo.–Achoqueissovaidemorar.–Comentou.

–Eutenhocertezaquevai.Colocou a mão no bolso tirando um papel duro e quadrado me

entregando. Era seu documento, provando que ele realmente era um rato deacademiasocial.

–Oquefoi?–Perguntei.–Podemedizeragoraparaondeestáindo.Bufeioentregandoseudocumento.–Atravessandoopaísparaverminhamãe.–Pretendechegarquando?–Não tenho uma data, queria uma viagem mais longa para pensar. –

Coloqueimeusóculos.–Máideia?Provavelmente.–Tudoultimamenteestáruimmesmo.Evocê,paraondeestáindo?–Lugarnenhum.–Fezumacareta.–Estágastandogasolinaatoa?–Porumaboacausa.–Tentousorrir.–Eupossoatravessaropaís.–Falou.

–Sequiserumacarona,possotedeixarnapróximarodoviária.–Nãoémuitosaudáveldarcaronaaspessoasassim.

Ovicruzarosbraçoseassistirabriga.–Certo,issoéumnão.Esperoquetenhaumaboaviagem,Sam.O vi se afastar indo em direção ao seu carro enquanto meus

companheirosaindabrigavampeloônibus.Umasenhorapassoupormimcomduasgarotinhas,seguravauma toalha.Banho,alidevia teralgumchuveiro.Assegui depois de algunsmetros, o banheiro ficavanos fundosdoposto, o chãoestavapretodebarroepagadasdesapatos.Ouviumadasmeninasreclamandoqueestavamuitofriaeasenhoramanda-laparardereclamar.

Espereimaisoumenosdezminutosatéserminhavez,quandoasvisair.Realmente a água estava um gelo, mas não fazia a mínima ideia de

quando teríamos outra parada tão próximo. Prendi o cabelo e entrei, regra daáguafria,primeiroumpédepoisooutro,depoisocorpoealgunsgritinhosparaaplacarasensaçãodeestarsendocongeladaviva.Nãodemoreimuito,conferiseminhadepilaçãoestavaemdia,esemeudesodoranteestavaconfianteparamaisalgumas horas sem uma higiene necessária. Juntei tudo dentro da mochila econtandoospassosparanãoescorregar,saidobanheiro.

Primeroacheiqueestavatendoumaalucinação,depoistiveacertezade

quenãoestava.Meuônibusnãoestavamaisali,paradoaalgunsmetros.Nemtinha crianças chorando ou gritando, nem brigas. Droga! Corri até a loja doposto,Alexaindaestavalá.Meencarousurpreso.

–Vocênão...–Oônibus...–Aponteiparaoladodefora.–Saíramtemunstrêsminutos.–Umbaixinhosujodegraxaavisou.Segurei a cabeça por alguns segundos. Eu havia perdido o ônibus, por

que?Alexterminousuaconversaesevirouamim.

–Minha carona ainda está de pé.Não aconselho ficar aqui nomeio donadaesperandooutroônibus,oqueéquaseimpossível.

Alexnão faziao tipode caraque te secava.Emnenhummomento ele

pareceu me secar, nem falava coisas em duplo sentindo. Até seu olhar eradiferente,eracomoseeufosseumamigoenapiordashipótesesumacriança.

–Euvouaceitar,sóporqueperdimeuônibus.O segui até o Mini Cooper reluzente, ele abriu a porta para que eu

pudesseentrar.Acenouaos seusamigosdopostoantesdeabrir aportadeleeentrar.Ocarrocheiravamelhorqueoônibus,eraatémaldadecompararporquequalquercoisacheirariamelhorqueaqueleônibus.

–Sabequanto tempovamos levar até a próxima rodoviária? –Perguntei

abraçandominhamochila.Alexfezumacaretaencarandoaestrada.–Umahoranomáximo.–Falou.Ficamosemumsilencioporumtempo,queriacolocarmeusfones,mas

nãoacheimuitoeducadonomomento.–Aquantotempoestáatravessandoopaís?–Sussurreiminhapergunta.Elesorriulevementeantesmeencarar.–Chuta.–Semanas?Negou.

–Meses?Assentiu.–Ummês?–Eduassemanas.Eunãoqueriaacreditar.–Entre paradas para dormir em um hotel barato, tirar algumas fotos. –

Sorriu.–Conhecerpessoas.Darumjeitonocarroevoltaraestrada.–Gostadefazerisso?Deudeombros,talveznãofossealgoquequisessecontarentãoencareia

janelaeespereiqueotempopassasse.Nãogostavamaistantodosilencio,minhamente era uma maldita vacilona, quando menos esperava ela me surpreendiacomalgoqueerafácildesemanipular.BufeiumpoucoaltocomtudoissoeviAlexmeencarar,forabreve,masobastanteparasaberqueeraumaproblemáticaqueeledeucarona.

Senti as lagrimas descerem lentamente pelomeu rosto, era como estar

muitoapertadoenãoconseguirchegaraobanheiroetertodososolharesemsuadireçãoevocênãotercomoesconder.Mesmocomabrisaquevinhapelajanela,eunão conseguia disfarçar.Nãoqueria ser questionada, teria que explicar quenunca soube lhe dar com problemas, seja ele qual fosse. Nunca consegui mesegurar,fraca.Erameumelhoradjetivo.

–Obancodetrásestávagocasoqueiradescansar.–Tudobem.–Tenteinãovacilaraofalar.–Nãoestá,masseiquequercausarumaboaimpressão.Entãosinta-seà

vontade.

O carro não era o que podemos chamar de espaçoso graças a sua

natureza, mais meu desiquilíbrio consegui passar para o banco de trás. Meencolhinobancofechandoosolhosetendoatranquilidadedeconseguirrelaxarpelaprimeiravezemdias.Sentiaopesadelosubirpelasminhaspernasquandofechavaosolhos,entãoosabriaetudooqueviaeraamãodeAlexmexendoemalgumacoisanopainel.

Parapioraroclimaele ligou seump3eamúsica soou, eunão sabiao

nome,maseradeprimenteosuficienteparaodiá-lanomomento.Mesmoassim,não coloqueimeus fones, e agora nada se dizia a educação e sim porquemesentia segura estando envolvida ao clima dele – mesmo soando deprimente.Fecheimeusolhosesimplesmentemedeixeidormir.Euprecisava,elenãoeradiferentedaquelaspessoasnoônibus,mesmoestandosónósdois,qualquerumpoderiamefazermal.

3

Alex

Eraminhasegundaparadaemoitohoras,desdeopequenoincidentena

saída de Salem. Havia presenciado alguns ônibus chegando para paradasobrigatórias e as expressões eram sempre as mesmas, pessoas cansadas eestressadasembuscadeumbanheiroqueteriadedividircommetadedasoutraspessoas do ônibus e com fome. Os assistia partir também, não havia pressaalgumaemmim.Minhaviagemnãotinhaumadata.

Perto das dez umdos piores ônibus que vi no dia chegou.Conhecia a

frota, viajei com a minha mãe quando pequeno em um desses, estava quasevirando um desses carros antigos, só faltava a exposição e de todos ospassageirosquevi essespareciamosmais estressados.Duasgarotasacenaramaomever,nãogostavadechamaratençãoentãopreferimeafastareinspecionarotrabalhoquefaziamemmeucarro.Osviseprotegerdosolnasombraqueosônibusfaziamealgunsocupavambancosenferrujadosnoposto–praticamenteabandonado.

–Jáestamosacabando.–Avisaram.–Tudobem.Estoualiqualquercoisa.–Aponteialoja.Havia um pequeno caixa de senhas para comprar, como se houvesse

algumafilaali.Penseiseriamenteemdeixarparaláenãogastarmaisnada,nãoeratãofácilassimacharumempregotemporárionomeiodaestrada.Elaestavalá,peloseuolhardevíamostertidoomesmopensamentodanãonecessidadedeter umamáquinade senhas.E ela concordoudemaneira divertidaquando lheperguntei.

Seu semblante era cansado, se piscasse eu tinha certeza que cairia ali

mesmoemumcomaprofundo.Elaficouumpoucoenvergonhadaaodizerqueestevedentrodoônibusotempotodoemumcalorinfernal,apenasdormindo.Vimetadedasgarotasqueestavamsentadasobasombradoônibusparecendotersaídodeumasauna.Elarealmentepareciabem–nessepontopelomenos.

Trocamospoucaspalavras,nãopareciasermuitoabertaparateralguma

conversa ou achava que eu estava interessado em uma pegada de beira de

estrada.Deixamosaloja,elaserecusouaumacaronaquefoioferecidaapenasporqueeusabiaqueelapoderiaconseguirumoutroônibusmaisrápidoeodelanãopareciaestaremumaótimaqualidade.Atépenseiemcontarminhahistóriade infânciaa respeitodeles,maspoderiaassusta-lamais.Avipelaúltimavezantesdevoltaraomeucarro.

Aquelapequenaligaçãosequebrouquandoseuônibuspartiu,eraassim

comtodasaspessoasqueconheci–elanãoeraaúnicaqueexalavasimpatia,sóamais difícil de ter uma comunicação.Meu carro estava pronto para voltar aestradaquandoavicorrerparaaloja,elahaviatomadobanhoporquetrocouaroupa.Usava umabermuda jeans, chinelo de dedo e uma camisa amarela quepegouparasuapelemorenaclara.Videcepçãoemseusolhosquandopercebeuquehaviapercoseuônibusemantiveminhaproposta.Mesmoqueeladissessenão, eu insistiria apenasporquemeuscolegasnãoparavamdeaprecia-la e elanãopercebiaisso.

Samantha – seu nome dançava ao ser dito – ficou entre desconfiada e

alertaaoentraremmeucarro.Gostariadedizeraelaquetambémjáhaviadadocaronaaoutraspessoasequeelanãoprecisavasepreocupar,mascomeçouumnovo assunto. Durou algunsminutos até eu não conseguir lhe responder umapergunta.Uma sombra de tristeza tomou conta de seu olhar de repente e a vichorar. Mesmo tentando disfarçar, mais uma vez engoli a pergunta. Haviaacabadodemenegaralheresponderumapergunta,elanãoresponderiaaminhatambém.Sósouumcaraquelheofereceuumacaronaemumpostoabandonado.

Ofereci o banco de trás, ela aceitou, só depois de seu estado ser

ressaltado.Seusolhospicavamlentamenteatodoinstante,atévê-lossefechar.Eladormiudepoisqueligueiorádio,esperavaquegostassepelomenosdotoquedamúsica.Ela fala enquantodorme,naverdadeela estavamuito irritada.Suaexpressãoeradistorcidatirandotodaalevezaquevi.Seuspunhossefecharamcomosefossesocaralguémeelasoluçoualgumasvezes.Penseiemacorda-la,ou toca-la para ver se acalmava. Mas ela parou sozinha apenas chorandobaixinho.

Chegamosarodoviáriaumahoraemeiadepois.Elaaindadormia,parei

ocarroemumadasvagasesaiparaesticaraspernas.Volteieespereiquedessealgumsinaldevida,mas tudooquefaziaerarespirarprofundamentecomose

meubanconão incomodasse,eu jádorminele.Meu1,88meraaprovadequenãodavaparadormir confortável ali, nemvocê tendo1,65mquedevia sernomáximosuaaltura.

Vinte minutos depois ela se mexeu, abriu os olhos, encarou meu

estofamento–issomefezrir–,pensouumpoucoesentou.Seusolhoserostoestavamlevementevermelhoseseucabelosesoltoucaindoemseurosto.

–Droga.–Resmungou.–Medesculpe,euacabeipegandonosono.–Nãotemproblema.–Lhedeiumsorriso.–Ondeestamos?–Encarouoladodeforapelajanela.–Rodoviária. –Falei e ela aindame encarava. –Acabamos de entrar em

Sacramento.–Certo. –Resmungou esticando as pernas e puxando amochila. –Acho

quecheguei.Obrigadapelacaronaemedesculpedormirnoseu...banco.–Vêsenãoperdemaisnenhumônibus.–Faleisaindojuntocomela.–Nãovouenãoprecisamelevaratélá.–Tentou.–Sóprecisoabastecer,regradaparada.Elacorou.–Quando pretende parar de verdade? – Me acompanhou ajeitando o

cabelocomosdedosfinos.–Quandoarrumarummotivoparaisso.Nãoacheiainda.Elaiafazeroutrapergunta,masdesistiu.Nossoúltimoadeusfoiemuma

fila antes do guichê onde ela seguia para comprar sua passageme eu ia até obanheiroedepoiscomprarmaiscomida.Estarnaestradamefaziagostardeficaremlugaresaglomerados,companhiagratuitaporalgumashorasouminutos.

4Alex

Aobservei entrarna fila, seuolhar encarandocadaumquepassavado

seuladoatodoinstante,umsenhorjáidadelhedissealgumacoisaqueelafezquestão de ignorar me dando a certeza de que não havia sido nada educado.Precisei dizer a mimmesmo que havia sido apenas uma carona, ela sabia secuidar.

Banheiromasculinoserásempreuminfernonaterra,sendoderodoviária

era ainda pior. Não passei mais de cinco minutos ali antes de seguir para apequena lanchonete ao ladoonde todos falavamaomesmo tempo e os preçoseramabsurdos.Mepegueiolhandoparatráseavisaindodomeiodamultidão.Respirou fundo, encarou o celular e seguiu em minha direção sem me verrealmente,erampessoasdemaisali.Mesenteiemumdosbancosquerodeavamobalcão.Elapassoudiretoparandoemumdostelefonespúblicosatrásdemimeficandoaliportrêsminutossemsucessoemsualigação.

–Conseguiu?–Pergunteieelameencarousobressaltada.–Aindaaqui?–Perguntou.–Tentando comer alguma coisa,mas está difícil como vocêmesma vê.

Conseguiuseuônibus?Sam se aproximou se sentando no banco vago a meu lado, cruzou os

dedossobobalcãoerespiroufundoantesdemeencarar.–Esqueci que faltamduas semanas para ação de graças.Todos querem

viajar e passagens geralmente são compradas antecipadas nessa época. Possoconseguirumônibusamanhãpelatarde.

Eutambémhaviameesquecidodisso.Asestradasparavamnoferiado.

–Nãoqueropensarqueterchegadoaquifoiumapéssimaideia.–Desviouoolhar.

–Porqueseria?Virouosolhosapontandoparatodosquealiestavamesperando.–Issoédiversão.Sorriu.–Para você, um aventureiro? Algum cara que ama esportes e queria

cruzaropaísoualgoassim?–Estoulongedeserumcaraesportista.Praticoalgumascoisas,masnada

demais.Talvez eu seja umaventureiro.Talvez.Evocê é uma adolescente queestáfugindodecasaoualgoassim.

Ela pareceu surpresa e me encarou com um sorriso largo como se eu

tivesseacabadodecontarumaboapiada.–Eurealmentegostariadeserumaadolescenteissoajudariamuitocomo

idadementalparaoqueestoufazendo.Masnãosou.–20?Negou.–27.–Nãovamosexagerar,23.–Euiadizer,eraminhapróxima.

Uma loira sorriu quandome enxergou deixando algumas pessoas paratrás.Sejogounobalcãocomumbloquinhoemmãos.

–Oquedeseja?Samaencaravacomumaexpressãoengraçada.–Umcocaedoispedaçosdebolodelimão.–Certo.Voltojá.–Piscou.–Nãovaiperguntaroqueminhaamigaquer?ElaencarouSamporumtempoantesdeabrirumsorrisoforçadoe lhe

perguntar o que queria. Samantha negou tudoo que havia ali escondendoqueestavarealmentecomfome.

–Elavaiquererumsanduichenaturaleumsuco,podeanotar.–Alex.–Resmungou.–Nãoprecisa.–Olha,estouvendoahoraquevocêvaidesmaiardomeulado.–Ta, e como sabe que vou desmaiar? –Perguntou erguendo uma

sobrancelha.–Geralmentepessoasmorenas tendemadarmaisna caraquandoestão

prestesacairduras.Vocêporexemplo,estácomoslábiospálidosesuapeleestámeio amarelada como se tivesse tomado um grande susto. –Tentei explicar.Minhavómedeuumaexplicaçãosemelhanteunsanosatrás.

Samanthagargalhou.–Sérioisso?

Pegueimeucelularnobolsoebatiafotoantesqueelapudessepensar.–Prova.–Ah meu Deus, eu estou horrível. –Puxou o aparelho da minha mão

apagandoafotomuitoprovavelmente.–Essanãosoueu.Pareçoteracabadodesairdeumhospital.

–Vocêsóprecisadeumboanoitedesonoecomida.Seusorrisodiminuiudepoisqueseviunafoto,mulhertemaautoestima

destruídacommuitafacilidadeeissonãoeramuitobom.Nossopedidochegoueela parou de encarar a loira como havia feito em um primeiro encontro. Nãohouveassunto, ambos encaravamaTVsem realmente estarprestandoatençãonela.

–Quermaisalgumacoisa?–Pergunteiquandoterminouosanduiche.–Nãoobrigada.–Seestátristepeloqueviunafoto,voutedizerquefotosmentem.Elasorriu.–Obrigada.–Estou falando sério. Você não está parecendo uma doente. – Só uma

pessoatriste.–Obrigadapelagenerosidade.Algumtempodepoiseladeixouumanotadevintenamesaeseguiupara

obanheiro.Aespereivoltarminutosdepois,oscabelospresosemumrabode

cavalo, calça de ginástica e uma camisa maior que ela, coisas de mulher.Tambémrepareinamaquiagemlevequeelahaviausado,masmecalei.Seriaamesmacoisaquedizerquevailhefazerumelogioantesdefazê-lo

–Vocênãovaiembora?–Estavapensandoaquiumascoisas.Etenhoumapropostaparatefazer,

mas antes isso é seu. –Coloquei o dinheiro em sua mão e a calei antes quecomeçasseseuprotesto.

–Porqueestásendotãolegalcomigo?Eunemteconheço?Porqueainda

estáaqui?–Dessejeitomeofendeumpouco.Sóestousendogentil,seeuquisesse

tefazeralgoteriafeitoenquantoestavadormindoeolhe,vocêestábem.–Masnão estou te achandomuito inteligente sozinha. Sua distraçãome assusta, eraisso.

–Medesculpe.–Tudobem,possofazerminhaproposta?Assentiu.–Estouatravessandoopaís.Evocêqueriremalgumlugardele,eunão

estou com pressa e vocêmuitomenos. Posso te levar aonde você quiser ir, edeixar em outra rodoviária ou qualquer coisa do tipo. Vai ser melhor do quegastarempassagensoqueduvidomuitoqueseudinheirodê,nocasoseriamaisinteligenteumapassagemdeavião,oquesairiamuitomaisbarato.

Samanthame encarava como se eu fosse um louco. Eu realmente não

tinhanenhumasegunda intençãocomela,eelanãoerafeianemnadado tipo.Uma morena bonita, melhor do que a loira e muito melhor do que as duasgarotas daúltimaparada juntas.Masnão era nada físiconem sentimental, eraapenas como fazer um novo amigo e gostar de falar com ele seja por quantotempofosse.

–Evocênãovaiganharnadacomisso?PresentedeNatal?–Zombou,ela

zomboupelaprimeiravez.–Vou,issoéumaproposta.–Certo,oquevaiquerercomtudoisso?Queeutedêuma....Mãozinha?–Não,masseajudarnagasolinaseriaumaboaemuitomaisprodutivo.O

queacha?

5

Samantha

Algumasgarotasagemcomose tudo fosseumcontode fadas,hojeem

dia temos que pensarmuito antes de agir. É burrice agir por impulso ou porraivadealgumacoisa.Porissosomostãoparecidos,vocêpensamuitoeissoébom.Éamulherperfeitaparamim.Eunãosouamulherperfeitaparavocê,nãosabiasepodiarealmenteconfiaremumestranhoqueconheciempoucashorasemumpostodegasolina.Maseuqueriaserirresponsável,umaveznavidaeuqueriaserocontráriodetudoqueelemedisse.Detudoqueouvi.

–Aceito.Alexmeencaravaemepergunteiquantotempofiqueiencarandoonada

feitoumaidiotaantesderesponder.–Oqueestavapensando?–Dequantasformasissopodemeprejudicar.Ele sorriu sem graça e se levantou pegandominhamochila um pouco

pesada,fezumacareta.–Quandoquiserparar,ésóavisar.Saímos dali tendo a precisão de empurrar algumas pessoas. Ele não

comentounada sobreminhamaquiagemoua trocade roupas, naverdadenãoesperavavê-loaliquandodeixasseobanheiro.Oplanoeraacharumlugarparadescansar porque sentia que a qualquer momento eu realmente pareceria umzumbisaídodiretamentedeTheWalkingDead.

Alexcolocouminhamochilanobancodetráseabriuaportaparamim.

Comosefossefamiliar,mesenticonfortável.Eraloucurapegarcaronacomumestranho,poremeraapenasumcomparadoaosmontesqueficariamaliatéodia

seguinteesperandoseusônibus.–Podemosir,nãoqueriraobanheirooucoisaassim?–Não,podemosir.Prendia respiraçãoporquasecincominutosantesdemesentirbemao

ladodele.Alexbatucavaosdedosnovolanteeencaravaaestrada,foiassimporlongosminutos. Jásentiameusolhosquerendose fechar,meucorpoquerendoumacamaquenteeconfortável.Passeiparaobancodetrásepegueioenvelopecomoquetinhadedinheirocontantotudooquetinha.PelomenosBeatrizfoigenerosa,ousesentiamuitoculpadaporserumatraidora.Tireialgumasnotasevolteiparaobancodafrenteoentregando.

–Nãoprecisa,otanqueaindaestácheio.–Jáqueropagarminhaparteporpelomenosalgunsquilômetros.Sorriudelado.–Issodápara rodarquaseoestado todo.Podeguardar, achoqueposso

pedirquandoeuprecisar.Ele não pegou então o guardei de volta.Mais silêncio, eu não gostava

tantodosilêncioemeucelularnãoiaajudarmuitoagoraentãotomeialiberdadede ligar o som. Uma das minhas músicas favoritas começou a tocar, senti àvontade aterrorizante de canta-la, mas não podia. Não com a voz que tenho,entãoosbatuquesdededosnovolantesetransformaramemumsussurrobaixo,Alex começou a sussurrar minha música, mas ao contrário de mim ele sabiacanta-lasemparecerestarsendoenforcado.

–Gosta?–Perguntou.–FullMoonéumadasminhasmúsicasfavoritas.

–Eugosto.–Voltouaencararaestrada.–Seugostoébemdiferente.–Já me falaram isso, minhas músicas vão de depressivas a totalmente

depressivas.Ouaquelabemantigasondeas letrasconseguiamrealmentedizeralgumacoisa.

Sorriu.–AlémdeTheBlackGhosts,qualésuabanda,cantoresfavoritos?Essaerafácil:–Oasis,ThePaperKites,BlueFoundation,LikkiLientre

outrasquetalvezvocênãotenhaescutado,masquesãoótimas.Alexfezumacareta.–Parecemboas,maspenseiquediriacoisascomo:Beyonce,LadyGaga,

KatyPerriessascantorasquetodomundoidolatra,vocêsabe.–Devo ter alguma música delas em meu celular. Eu tenho um gosto

musical,masnãoignoroosdemais.Sãoótimascantorastambém,bom,tambémcurtoEminem.

Ouvisuarisadaescapardivertidaantesdemeencarar.Tálegal,eujamais

conseguiriaacompanharEminememumamúsicaenemtentoporqueestareinocomeço e ele no fim, mas gosto de suas músicas e de toda a sua forma derevolta.

–Eminem?Quemmais?–TalvezLilWayne.–Estáfalandosério?–Ogostoélivre.

–Vouanotarisso.–Evocê?Suspiroupensativo.–Gosto de quase tudo, o que estiver passando eu estou ouvindo. Mas

gostodemúsicasdançantes.–Balada?–Também.Minha mãe tinha uma academia, lá tinha aula de danças e

acredite, você pode dançar até umamúsica depressiva. Eu não tive tempo deescolherumgostomusicalcrescendoouvindodetudo.

–Umfavorito?–Ocaraquenãomorreueoreidopop.ElviseMichael.–Meupaiouviaosdiscosdessescarastodososdiasatésecansar.–Evocênãoenjoou?–Nãoenjoamosdemúsicaboa.–Sorriudelado.–Elessãobons.Voltamos a ficar em silencio, e desliguei o som algumas horas depois.

Alexperguntouseeuqueriapararparacomeralgumacoisa,masmeuestomagoestavadiferentedequandoestavanoônibus,pareciamaissossegadoemrelaçãoaisso.Ele insistiumaisumpouco,masbatiopéeeledescobriuoquantosoudifícildevoltaratráscomminhapalavra.

Eram quase cinco da tarde quando paramos de verdade, Alex queriatomarumbanhoedescansarumpoucoaspernas,seelemedeixassedirigireufarianumaboa.Maselepoderiaserumdessescarasqueamaseucarroapontodenãodeixarapessoaultrapassaraleidobancodocarona.Estávamosemumaloja de conveniência melhor do que todas que já havia parado, tinha arcondicionado,pessoasnormaisecomidaquenãopareciatefazeriraobanheironas horas seguintes nem enfiar a cabeça em um saco plástico colocando seuestomagoparafora.

–Voutomarumbanho,qualquercoisagrita.Sorri.–Podedeixar.–Nãodemoro.–Acenouaorapaznobalcãoqueentendeueemsegundos

veioemminhadireção.ObrigadaAlex.–Oquevaiquerer?Temossanduichenatural,algunsassados,torta,nosso

bolodepêssegoéomaispedidodacasa.–Umsucodelaranjaeumsanduichenaturalfeitonahora,semcebolae

maionese.–Eleanotouopedido.–Algumasobremesa?–Nãoobrigada.Meupai sempredizia:peça algo assado, as bactérias não resistem ao

calor.Issoerameiodeprimente,maseletinhacertarazão.Euacho.Alexvoltoupouco depois do meu pedido chegar, usava uma bermuda xadrez, chinelo dededo e cheirava a colônia. Dessas que onde você passa deixa seu cheiroinstalado.

–Demorei?–Algumasmordidasnomeusanduiche.–Falei.–Assadosésemprebom...–Vocêtambém?Meupaifalavaisso,assadossãosempremaisconfiantes

comoseasbactériasfossemorrerqueimadas.Elesorriu.–Seeupassarmal,medeixeemumhospital.Apenasisso.Alex chamou omesmo garoto que havia me atendido e foi comprado

pelapropagandadobolodepêssego.Estavaaindanametadedomeusanduichequandoacabouseuboloquenãoerapequeno,foiumenormepedaçodebolodepêssego.Semarrotosoucoisaselvagemqueoscarascostumamfazer.Eupagueiacontadessavez,iriamosbrigar,maseupaguei.

–Vocêdeviaexperimentaressebolo,ésério.Ébommesmo.–Estoucheia.Eprecisamosvoltaraestrada.–Compressa?Neguei.Asoitodanoiteestavadeitadanobancodetrássentindoomovimentodo

carromelevara inconsciênciaaospoucos.Amúsica tocandoaofundo,penseimaisumavezemoferecerajudaparadirigirpelomenosalgunsquilômetros,masAlexestavabemdespertoenão,elenãomedeixariadirigir.EstávamossaindooutalveznomeiodeEugene,outalvezCalifórnia.Perguntariaissomaistarde.

Acordei com Alex me encarando, ainda estava escuro, minha cabeçaestavadoendoeeutinhacertezaquechoreifeitoumbebê.Porqueeusonheidenovo,issojáestavaficandocansativo.

–Tudobem?Assentimesentandoeafastandoocabelocoladoemmeurosto.–Ondeestamos?–Em algum lugar da Califórnia, também dormi. –Falou ainda me

encarando.–Temcertezadequeestábem?–Estou.–Aindaécedo,porquenãotentavoltaradormir?Porqueeunãoconseguiriamais.–Estoubem.–Querfalarsobreisso?Neguei.Alexvoltoua se recostar emseubanco, conseguiacharminha

mochilaembaixodobancoepegarmeucalmante,apenasumdessavez.Fiqueiencarando o teto ouvindo as cigarras cantar em algum lugar. Eu não sabia seAlex estava dormindo ou se voltaria a dormir, então passei para o banco dafrente,seusolhosseabriram.

–Eutambémtenhopesadelosdevezemquando.–Sussurrou.–Comolidacomisso?–Eunãolido,geralmentetentonãoleva-loparaminharealidade.

Oencarei.–Oquesãoseussonhos?–Vaifalardosseus?–Meencarouseusolhosbrilhando.–Sevocêfalaroseu.Alexseafundounobancoeencarouaestradaescura.–Minhaesposamorreutemumano,emumacidentedecarro.–Suspirou.

–ElaestavaemalgumlugardoKansasemumtelefonepúblico,elaerabailarina.Havia ganhado em primeiro lugar em uma competição, estava bem animadaaqueledia.–Sorriu,haviaorgulhoemseusorriso.–Tudooqueouvidepoisdo"eu teamo", foio somdepneueumestrondomuitoalto.Fiqueidezminutoscomocelularcoladonoouvidoesperandoqueelavoltasseafalar.–Meencarou.–Elanuncafalou.Esseéomeupesadelo,eunãovi,masemsonhos...emsonhoseuconsigoverepiordoqueveréimaginar.Nossamenteémaisperigosadoqueaparentaser.

–Quantosanostem?–Vinte e sete. Eu sei, casei um pouco cedo demais, mas você não se

importamuitocomissoquandoseestáapaixonado.–Eusei.Porqueresolveucairnaestrada?Alexseespreguiçouantesdevoltaracruzarosbraçosesuspirar.–Na semana seguinte faríamos isso, cairíamos na estrada como dois

adolescentes.Eraumavontademinhaqueelaadmirava.Nãoimportavaoquãolongeeu fosse, elaqueria ir.Fizemosalgunsplanos, traçamos trajetos, lugaresquepoderíamosconhecer.Elatinhasuasanotaçõeseeutinhaasminhas.Opaidelameentregoujuntocomascoisasdela,osonhoadormeceu.Atéqueemuma

manhã eu acordei sem pesadelos, coloquei tudo o que precisava em minhamochila, pedi demissão na empresa em que trabalhava, peguei meu carro devolta e cai na estrada. Sem data para voltar, sem pressa para chegar a lugaralgum.

–Estáfazendoissoporela?–Não.Estoufazendoissopormim,ofatodeJoycetermorrido,nãoquer

dizerqueeuprecisemorrertambém.Elanãogostariadisso,vocênãoviver.Elavivia,eraapessoamaisincrívelqueeujáconheci.Tinhaoolharmaisinocenteeosconselhosmaiscertos.–Sorriudeolhosfechados.–Eudariaminhavidaporaqueleolharnovamente.

Euestavachorandocomoumaidiota,porqueminhavidafoiumfracasso.

Invejávelpoderiadizerquesentiaumapontinhadelanaquelemomento.Entendiseusilenciocomoum:medigaoseuagora.Maseunãodisse,apenassussurreiumsintomuitoevolteiaobancodetrás.Alexnãomeexigiunada,maserasóonossoprimeirodia.

6Alex

Elavoltouadormir, eu sabiaqueeramaisporeuestar esperandoumaexplicaçãoarespeitodoseupesadelo.Emparte,elanãoqueriafalarrealmente,as mulheres são bem difíceis de entender. Depois que falei de Joyce eu nãoconsegui dormir então peguei a estrada novamente, estávamos a algunsquilômetrosdentrodaCalifórnia,nãopresteiatençãonasplacas.

Asoitodamanhãavisemexer,abrirosolhoseencararoteto.Penseiem

lhe oferecer um café damanhã, mas optei por seguir na pista sem entrar emnenhumbairro.Umacafeteriaseriaumaboa,nadadelojadeconveniência.Samsesentoueajeitouocabelocomosdedos.Foiaprimeiravezquepercebineladeverdade, ela era delicada e parecia frágil. Alguma coisamuito ruim devia teracontecido porque não era sempre que ela conseguia usar amáscara do "tudobem".

–Bomdia.–Falei.–Bomdia.Quehorassão?–Oitoealgumacoisa.Tentou se espreguiçar,mas desistiu ao sentir as costas,meu banco era

bom,masnãoosuficienteparaumboanoitedesono.–Estácomfome?–Muita.Ondeestamos?–Piscou.–Em algum lugar da Califórnia. –Entrei em acesso a uma cidade com

umaplacaviradadecabeçaparabaixo.Samseaproximoudajanelaeencostouacabeçanamesma.Seusolhos

piscaramalgumasvezes,maselanãovoltariaadormir,issoeutinhacerteza.–Vamoscomemorar.–Falei.

–Oque?–Perguntouaindaencostadaajanela.–Nossosegundodiacomoparceirosdeviagem.Sorriu,umsorrisolargoquedavaparavertodososseusperfeitosdentes.

Deviatersidoomaisverdadeiroqueganheidesdeonossoprimeiroencontro.–Certo.Paramos minutos mais tarde em frente a uma enorme cafeteria, era

possível sentir o cheiro do café quente e forte invadindo o carro. Sam saiuprimeiropegandoamochilaeenfiandoospésnochinelodededo.Tranqueiaportadocarroeindiqueiaentrada,nãoeraumasimplescafeteira.Eraacafeteriaparaduaspessoasquenãopareciaterdinheiroparaestarlá.

–Estãonosolhando.–Samfaloumeolhandodisfarçadamente.–Eoquetem?–Não acha desconfortável? Podemos ir em outro lugar, eu não vou

desmaiardefome.Meapoieinobalcãopegandoumcardápio.Aruivasorriuparamimentre

simpática e confusa em relação de estar sorrindo paramim quando todosmeachavamumcaraquetalveznãotivessedinheiroparatomarcaféali.

–Umamesalivre.Elamexeuemseucomputador antesdeanunciar amesa.No fundodo

salão virado para janela. Sam ficou parada e precisei empurra-la para sair dolugar. As pessoas ali em sua maioria eram executivos e famílias que torramdinheiro com crianças pirracentas, que serão provavelmente um estrago nasociedadenofuturo.Samanthasesentoueabraçouamochila.

–Eudeviaterdeixadoissonocarro.

–Relaxa,somostodosiguaisforadaqui.Oquevaiquerer?Samabriuocardápioepassouumtemposófazendoisso,játinhafeito

meupedidoquandoelasedecidiu.–Tortademaçaechá.Vaiaguentarficarempésócomisso?Ela encarou meu prato. Torta de frango com damasco, eu gosto. E

refrigerante, para uma cafeteria de luxo eles estavam fugindo dos padrõesvendendorefrigerante.Espereiseupedidochegarparacomeçaracomer,eraumadas coisas que minha mãe me ensinou, ser sempre um cavalheiro. Samanthaaindaestavadesconfortávelporestarali,masoestomagodelanãoentendeuissoentãoelaatacousuatorta.Aspessoaspararamdenosencarar,nãosouotipodecaraquefalaaltoesedóiportudo.Masnãoaguentariaficarquietosemdarumdiscursoclichêmoralista.

Dessavezeupagueiacontasemdeixa-lareclamar,saímoslevandomais

algunspedaçosdetortaparacomercomasmãoslivrementedentrodocarro.Elarealmentepareciamelhordoladodefora.

–Oquefoi?–Perguntoudepoisdeumtempo.–Estoupensando.–Emque?Elame fezviraroespelhoparapoder trocardecamiseta,apenasouvia

suavozmeioofegantepelomovimento.Entãosuapernasurgiuentreosbancoseelasesentouameulado.

–Bom, quando eu estava viajando sozinho eu fazia paradas para

descanso.Easvezesconseguiaumempregoemalgumbaroualgoassim.Mastraceirotaslucrativas.

Samanthamordeuoslábiosepassouasmãosnocabelo.–Euestouatrapalhandoessasrotas?–Não,nãoéisso.Vocêaindanãomedisseparaondeestáindo,entãoeu

posso pegar a rodovia que me leve para o Nebraska ou Alabama e sairtotalmentedasuarota.Nãoestoucompressanenhuma,amuitotempoquenãoando em companhia. Não estou pensando emmim e sim em você. Seria umsusto voltar para onde você veio, não acha? – Ela cruzou as pernas e ficoucutucandoasunhas.

–NovaYork.–Sussurrou.–NovaYork?Assentiu.–Issomudaseutrajetolucrativo?–Umarugaseformouemsuatesta.–Podemos parar emVegas. –Brinquei.Mas ela não sorriu. – Ta legal,

noitepassadaeufuilegalenãoexiginada.Masgostariadesaberoquevaifazerlá,issonãoparecetedeixarmuitofeliz.

Suspirou.–Eunãoqueroacharqueessaviageméumaloucura,umatoderebeldia.–Porque?–Aconteceualgumascoisasquemeimpulsionaramaoutrapior.–Eapiorseriaaviagem.–Elapodeser.–Meencarou.

–Porque?Sevirouparamim.–Minhamãefoiemboraquandoeutinhaquatroanos,elaviviabrigando

commeupai por ele não conseguir bancar seus gostos.E ele fazia omáximoparasupri-los.Umdia,aprimeiraeúltimavezelamedeixounaescolaedissequevoltariaparamebuscarmuitoembreve.Avientraremumcarrobonitoecaroenuncamaisvoltar,meupaificouarrasado,sofreuumacidentedetrabalhoeprecisouseaposentarcedo.Fuicuidadapelasvizinhasdepoisqueminhaavómorreu. Foi outra grande perda para ele, meu pai perdeu um pouco da visãoesquerdaeprecisadeumamuletaparaselocomoverporcausadapernaqueelequebrou em mil pedaços sem ser exagerada. –Respirou fundo. –Eu passei acuidardeledepoisquealcanceiumacertaidadeeelesuperouapartidadaminhamãe.Eumesmadisseamimquehaviasuperado,masnofundonãoeraumatotalverdade,eusentiaumpoucodefaltadela.Sabe,vocêcrescersabendoquetudooqueviveucomsuamãeforamapenasquatroanosdetodasuavida?Euprometiaelequenãoaprocuraria,nememummomentoimportanteparamim.Sóqueeumudei de ideia, estou quebrando algumas regras,mais por pirraça do que porvontade.Hátambémumapontadecuriosidade.TudooqueseiéqueelamoraemNovaYork,nãoseisecasoucomummilionáriosetemfilhosouseilánetostalvez.Elapodememandarembora, como ignorou todasasminhascartas,oupodesersinceraedizerquenãoquermever.Eunãoqueropensarmuitonisso,masjáestounofundodopoçonãocustanadanadarumpouco.–Tentousorrir.

Elaestá indovê-laporquedisseramqueelanãodevia,masquem?Não

eraopai,opaifoioprimeirocitado.Elaestavaindotambémporqueumcoisaruimaconteceu.Umpassodecadavez,elachegariaamecontar.

–Éisso.–Eu sei que tem um primeiro motivo. –Dei partida. –Vou esperar

pacientementequandoquisermecontar.Horasdepoiscortamosalgumasrodoviasparaalongaraviagem,algome

diziaqueSamprecisavadeumtempoparapensar,entãopoderíamosacrescentarmaisalgumashorasoudiasasuachegadaaNovaYork.Elanãodissenadaporum longo tempo, e percebi que tomou mais um daqueles remédios que elacarregavanabolsaquasediscretamente.Penseiemperguntarseestavatudobem,masnãoqueriainvadirsuaprivacidade.Entãoelaseencolhianobancodetráseapagavaporhoras.

Fiz duas paradas durante seu sono, para gasolina e uma inspeção no

motorquecomeçoua roncardurante aviagem,aproveiteipara ligarpara casasempre observando a manutenção do carro, afinal a deixei dormindo sozinhadentrodele.NoterceirotoqueAdaatendeu.

–Alex?–Oi.–OhmeuDeus, onde você está? Por que sumiu? Tem noção de como

estou?Euteprocureiemtodososlugares,fuiatéemumIMLatrásdevocêseuidiota!

Minha irmã gritou por quase vinte minutos socando a parede muito

provavelmente,osomabafadodesocossópodiaserfeitoporela.AofundoouviolatidodaPrincesa.Entãoelacomeçouachorar.

–Euestoubem,Ada.Paredechorar.–Pedi.–Você me deixou sozinha. –Choramingou. –Você sempre me deixou

sozinhaAlexeeuodeiovocê.Esperoquenuncamaisvolte.–Vocênãoestásozinha,tiaVeraestácuidandodevocêenão,eunãovou

sumirparasempre.Euvouvoltar.–Vocêmedisseissodaúltimavez,vocêquebroutodaagraçadasurpresa

quandofoiembora!Comovousaberondevocêestáquandoseusobrinhonascerseuinfeliz?

–Como?–Parabéns, você vai ser titio. Pode voltar para meu casamento pelo

menos?Depois te liberoevocêvolta setemesesdepoisparaver seu sobrinhonascer.

Adaestavagravida?Minhairmãcaçulaiasermãe?Mas...não,elaainda

eraumamenina.Umameninadevinteanosmaisresolvidaqueeu,maseraumamenina.

–Estáaíaindaoujáfugiudenovo?–Resmungou.–Estouaqui,sómeio...–Nãodigaemchoque,nãodigaquepintouumquadro inocenteda sua

irmã.PorfavorenempenseemcaçaroRob.Eleestátãofeliz,tantoquantoeu.Eu precisava de você aqui para me ajudar. Minha barriga já está aparecendosabe?Eusó tenhovocêAlex,entãonãosuma,sérioeunãovousuportaroutraperda.

–Eunãovousumir,prometo ligaravisandoondeestouevocêpodeme

mandarfotos,euvouficaresperandopornomáximotrêsdiasentãoeuligoantesdizendoondevouestar.Sérioisso,euvousertio?

–Vai.–Choramingou.–Maisumbrutamontesnafamília.Umbipeavisouquenossotempoestavaacabando.–Issoéosomdoadeus.–Sussurrou.–Não,éosomdoatelogo.–Vocêestábem?

–Estou.–Deverdade?–Deverdade.Fungou.–Euamovocê.–Eutambémteamo.E a ligação foi cortada. Samantha estava fora do carro envolvendo o

corpocomosbraços,orostoestavainchadocomoquemacabadeacordareumpouco marcado pelo estofado do banco. Ela piscou algumas vezes seaproximandodemimainda absorvendo a realidadede ter acabadode acordar.Fungou soltando os cabelos e os deixando cair em seus ombros. Seu olhar sedirecionavaaosdoishomenscuidandodocarro.

–Algumproblema?–Perguntei.Elacoçouosolhosebocejou.–Não.–Certeza?Abri a porta do carro pegandomeu casaco apoiado emmeubanco e o

entreguei a ela que aceitou. Mesmo assim parecia ainda sentir frio. Um doshomenssorriuaonosencararepasseiobraçoporseuombro.Elamefitoucomumasobrancelhaerguida.

–Estácomfome?–Umpouco.

–Queriraobanheiro?Algoassim?Assentiu. No viramos em direção a pequena loja, depois de sermos

informadosondeeraobanheiro.–Nãodemoro.–Vouficarteesperando.–Avisei.Samantha tinha um segundo problema, ela não parecia confiarmesmo

quandoelasabiaquepodia.Masnãoviamuitasopçõesnomomentoentãoelaseviaobrigadaaconfiaremmim.Sejaláoquedisseramaela,issoaassustou.Dezminutosdepoiselavoltou,aindabocejava.

–Oqueelesdisseram?–Pergunteiacompanhandoseuspassos.–Nada.–Entãoteveoutropesadelo?–Porqueachaisso?–Vocêestava foradocarrocomoquemnãoqueria ter acordado, estava

assustada e desconfiada e seu olhar para aqueles caras não parecia um nada.Entãovocêpodemefalaroqueaconteceueeunãofaçonada,apenasmediga.–Faleialtoobastanteparaserouvido.Elabufouemeempurroucontraaparededepoisdeencara-los.

–Porfavor,nãobrigueokay?Erguiasmãoseelaseafastoudepoisdeperceberoquefez.–Elesfalaramcoisas.

–Certo,quecoisas?–Coisasquehomensfalamquandovêumamulher.–Eu falo várias coisas quando vejo uma mulher. Pode ser menos

simplificada.–Cruzeiosbraçossentindomeuspunhosqueimando.Passouasmãosnocabeloeencarouochão.–Coisas como ... gostosa. Eu pagaria para ela me... –Fechou olhos. –

Vocêsabe,essespensamentossoltosdehomens.–Balançouasmãos.Osencareisorrindodealgumapiadainternaemevolteiaela.Samestava

corandolevementeesuaexpressãoeratorcidaentreenvergonhadaeirritada.–Eusaídocarroporquenãotevienãoqueriatrancarasportas,mostraria

quetinhaescutado.–Elesapenasfalaram?–Sim,claro.Eusaílogoemseguida.Deiumpassoeelaseguroumeubraço.–Elessófalaram.Nemsabemqueeuouvi,então...–Eudeiminhapalavra,nãodei?–Mesmoquerendoirláesocarosdois

atésangrar.Euhaviadadominhapalavra.Aacompanheidevoltaaloja,maselaoptouporapenasirmosemboraao

invésdepegaralgo.Fizomáximodeesforçoparaapenasminhacaradepoucosamigosassustarosdoisidiotasqueprestaramseusserviçosavisandoquepagueiaogerentepelomesmo.Samentrounocarroprimeiroeencarouopainelcomo

umpontofixo.Soltouarespiraçãoquandoentreinocarroedeipartida.–Podevoltaradormirsequiser.–Avisei.–Nãoestoumaiscomsono,achoqueaguentoatravessardoisestadossem

dormir.–Sorriudelado.Fechouosolhoseencostouacabeçanovidro.–Vocêiabaternelesseeunãotivesseditoparanãofazerisso?

Afitei,essaerafácil.–Muitoprovavelmente.Oquemeimpediufoiminhapalavra,cumproas

palavrasquedou.Elasorriuumpoucomaislargoagora.–Obrigada.Alguns quilômetros depois encontramos uma Subway vinte e quatro

horas, fizmeu pedido, pão trinta centímetros completo. Ela ficou com um dequinzeevegetariano.Elanãoeravegetarianadissoeutinhacerteza,penseiemdizerquenãoprecisavaseguiressasrevistasdemulheresquefalamoquedeveounãocomerpertodeumhomem.Folhasnãoimpressionamnadaumcara,podetercerteza.

–Quer um pedaço do meu? –Perguntei. Estávamos parados em um

acostamentoescuroquasedentrodamatadealgumarodovia.–Nãoobrigada.–Euseiquevocêquer.Essasfolhasaínãosustentamnada.Meencaroueestendimeupãoaela.–Vamoslá,umpedaço.Sintaofrangoteriaki.

Elagargalhou.–Oquecolocaramnoseulanche?–Frango,molho, umas coisas que eles chamam de segredo. Está bom,

agoravamosládeixeessemontedealfacecompoucosalecomaumlanchedeverdade. –Ela se aproximou respirando fundo e dando uma bela mordida emmeulanche.

Nãoconseguinãocomentararespeitodissoafazendomesocardeleve

nobraço.–Eufaleiqueeramelhordoqueessemontedefolha.–Eunemseiporquepediisso.–Resmungouenrolandoorestodolanche

eenfiandonasacola.Euqueriadizerqueeraparaimpressionar,nãodaformaqueelapensaria.

Mas deixei para lá, porque iriamos para o assunto da leve maquiagem narodoviária.Passeidozehorasdirigindoeelanãovoltouadormir,estavadeolhosbemabertosencarandoodiamudar.Euprecisavapararumpouco,desdequeelaentrounessaviagemcomigoeunãoparei.Entãoteríamosqueparar.

–VamospraLasVegas?–Perguntou.–Porque?Queriratélá?–Eu?Não,vocêdissequeiriaatélá.Nãofazpartedeseuroteiro?Eupareideseguirumroteiroquandovocêentrounessecarro.–Vocêqueriratélá?

–Eununca fui aVegas.Masouvia o pastor falar dela aos domingos. –Sorriu.–Nãoeraumacoisamuitolegal,sabe?

–Sei.AchoqueVegasnãoprecisadizermuito.–Jáfoi?–Minha irmãmais nova fugiu para lá comdezesseis anos, e o que era

para ser um castigo quando a encontrasse virou uma falência assim que vi acidade.Passamosofimdesemanapresosaumcassinocomidentidadesfalsas.Perdemosodinheiroenossatiatevequeirnosbuscar.

SamtinhaumOcomabocaengraçado.–Que irmãovocê é.–Sorriu. –Omáximoque eu já fui sozinha foi para

umaconvençãodaempresaondetrabalhava.Issotendomeupailigandoatodoinstanteelesempretevemedodeeufugirparasempre.

–Entãoessaéasuaprimeiraviagemrebeldeoficial?Assentiu.–Bem-vindaaestrada.–Esperonãomearrepender.–Nãovai.

7

Samantha

Um dia emeio depois, estávamos a alguns quilômetros de LasVegas,

isso causaria um infarto nomeu paimuito provavelmente. Depois de acordarsozinha no carro deAlex e ouvi o que aqueles homens diziamme assustou osuficiente para não seguir viagem sozinha.Pensei em fazer issoumestadoououtrodepois,maseunãosabiaquemencontrarianomeiodocaminho.Nãomeimporteidesairdesengonçadadocarroenemparecendotervistoumfantasma.Eusóqueriatê-lomaispertopossível,ummedoseinstalouemminhaespinha.

Alexestavasendoumatabuaemaltomar,eunãoqueriavê-loassim,mas

eraoqueestavaacontecendo.Deviateremmentequeele tinhaumaviagemaseguirequeumahoraeuteriaqueseguir.Maseleestavaalitãopacientequeador em meu peito que aguentei por duas semanas estava menos pior agora.Paramosemumarodoviária,elememandouesperarnocarroparaquepudessetomarbanho,entãoelevoltariaemelevariaaminhavezeficariaesperandonaportasendoassediadopormulheresdetodosostipos.Issoeraatéengraçado.Elenãoprecisavaestardecamisetaparachamaratenção,eleestavademoletomissobastou.

O banheiro estava lotado como um típico banheiro de rodoviária.

Consegui chegar ao banheiro sem cair no piso molhado e morrendo detraumatismocraniano.Aáguaestavamorna,issoajudounacoragemquandofuilavarocabelo.Paranãoarriscarpassarfrio,coloqueimeuconjuntodaAdidasechegueiarirdisso.Alexprovavelmenteririatambémquandomevisse.Guardeiminhascoisasesai,eleestavaparadorespondendoaumamulherqueperguntavaseelenãotinhaumisqueiroparaemprestar.Cantadasdehomensestavamquaseseigualandoadesculpasdemulheres.

–Estoupronta. –Anunciei.E como imaginado ele sorriu.Enão erapor

estar tecnicamentevestidacomummoletomdaAdidas.EramaisporeleestarcomummoletompretodaNike.

–Sério?–Depoisdisso,sójeans.Pegouminhamochiladeixandoasenhoraparatrás.–Ou vão achar que somos esportistas, ou vão achar que vendemos

moletonseestamosbrigandoparaverquemvendamais.–Faloucomumenormesorrisodivertido.

–Certo,paraondevamosagora?Encarouorelógio.–Sãodezdamanhãeeuestoucomfome.Masnãoquerocomeragora,eu

precisofazerumarefeiçãosaudáveltipocomidadeverdade.–Tambémestousemfome.Podemosvoltaraestradaepararnoprimeiro

restaurantequeaparecer.–Seeleparecersegurodeumaindigestão.Eupenseiqueestarnaestradamedeixariairritada,masnãoestavasendo

ruim. Alex me falou um pouco mais sobre ele e sua família, e pediu paraencontraralgodebebêassimqueparecemosemumlugarquetivessecoisasparabebe.Comoessaslojasenormesqueencontramosnaestradavezououtracomouma raridade local. Ele falava de sua irmã como se estivesse falando de umsanto.Essacoisatodadeproteçãonãoerasóumcharme,nãoerasócomigoparame impressionar. Sem saber ele me passou mais confiança do que podiaimaginar.

Quaseumadatardeencontramosumrestaurante,algocomoLagostado

Oriente.Precisavasabersealitinhaalgoquenãofossefrutosdomar.–Precisoavisarquesoualérgicaafrutosdomar.–Estávamosparadosna

portaemfrenteaumrestaurantelotado.–Sério?Assenti.–Podemostentaroutrolugar.–O mais perto deve estar a quilômetros ou dentro de alguma cidade.

Vamostentarasorteantesquedesmaiemos.Assentiuabrindoaportaparamim,nãopudeesconderograndeimpacto

queganheiaosentircheirodecamarão.Minhacabeçaestavacomeçandoadoer,queriasairdalisemparecerummonstro.Alexseguiuatéobalcãoefezalgumasperguntas, estávamos ali por no máximo cinco minutos após o pedido demacarrãocomalmôndegas,masminhacabeçaestavapéssimaesentiameurostoesquentando.

–Droga.–Sussurrou.–Vamossairdaqui.–Eoalmoço?–Perguntei.–Seusolhosestãovermelhos,vocêestá tendoreaçãosemcomer?–Ele

estavaassustado.Respirei fundo e a cabeça doeu de novo, entãoAlex se levantou eme

puxou da cadeira ignorando nosso pedido. Ar! Nunca gostei tanto de um arpoluídocomoestavagostandoquandodeixamosorestaurante.Fiqueiagachadapuxandotodooarqueconseguiaemeusolhosestavamlacrimejando.

–Volteláepegaoalmoço.–Mandei.–Não.–Falouseagachandoameulado.Molhouamãopassandoemmeu

rostomecausandoumpequenosusto.Pegadesurpresa.–Melhor?

–Respirando.–Sorri.–Nãomeassustemaisokay?Façaumalistadetudooquedevomantê-la

longe.–Estáfalandosério?–Melevanteiindoparaocarro.–Estou.–Abriuaportaparamim.Paramosduashorasdepoisemumshopping,estávamosemumacidade

pertodeValleHills.Meusolhosagorapareciamosdeumapessoaqueacaboudefumar algumadrogaoquenão eramuito legal.Alex zomboudissopormuitotempo,durantetodonossoalmoço.

–Parei,eujuro.–Falousoltandoseugarfo.Depoisda sobremesa seguimospara lojas, enquantoeleprocuravaalgo

paraobebêdesua irmã,eufuiatrásdecasacos jáque teriadedevolveroseuumahora.Ligueimeucelularparaverumadataimportante,dentrodedoisdiasmeuciclomenstrual começaria. Isso já erameio embaraçoso estandoviajandocomumcara.Ele teriadepararpelomenosduas trêsvezes aodia até acabar.Guardeiocelulareoseguiparaocaixa,dessaveznãoodeixandopagarcoisanenhuma.

Elecomprouumaminiblusadeseutimefavorito.Paisfazemisso,mas

eledissequenãoseimportavaqueeraseusobrinhoeteriabomgosto.Seguimosparaosupermercadoaúltimaloja.DessavezAlexapenasmeseguiu,eleveriaeéclaroeunãoteriaquedizerminhasnecessidades.

–Nãoprecisafingirquenãoestávendo.–Faleicolocandoosdoispacotes

dentrodacesta.–Sóqueriatedarprivacidade.Escondiorisodandomeiavoltaemdireçãoaocaixa.Elenãodissenada,

masescondiaumarisadaemseuinterior.Voltamosaocarroeeleanunciouquepararíamosparaumanoitedesono.

–Vamospararnoprimeirolugarquenosoferecerumacama.Não era bem assim, eu não poderia dormir nomesmo quarto que ele.

Não,nãosouumapuritana,maseraestranho.Seriaestranho,dividirumcarro,fazer todasas refeições–ouquase todas–comeleeraumacoisa.Dormirnomesmoquarto era outra complemente diferente. Pensei emváriasmaneiras dedizerquenãomeimportavaemdirigirsóparanãoterqueparar,talvezeleachouquenossaamizadepoderiasercomparadaadividirumquarto,maseunãodissenadaeemduashorasestávamosemfrenteaumhoteldebeiradeestrada.

Alex pegou nossas coisas e esperou eu sair do carro. Seguimos para

dentro,eraumhotelsimples.Muitosimplesparaumhotel,ignoreioembrulhonoestomagoeoseguiparaobalcãodeatendimento.Umasenhorasorriuaonosver.

–Boanoite.–Boanoite.–Alexfalou.–Doisquartos.Doisquartos?Doisquartos!Asenhoranosencarou,masanotoualguma

coisa em um caderno nos passando as chaves. Alex me chamou e o seguiignorandoalgunshospedesnocorredor.Meuquartoficavadoisquartosdodele,elemedeixounomeuprimeiroesecertificoudequeestavatudoemordem.

–Qualquercoisapodememandarumamensagem.Oencarei.–Vocêtemumcelular.–Nãotenhocredito.–Nãopossoligarmeucelularporqueseiquevouser

bombardeadapormeupesadeloatual.

Alexnãoacreditoumuito,masrelevou:–Mechameentão.Assenti o vendo desaparecer no corredor de luz baixa.Encarei a cama

por um tempo, mas optei por tomar um banho. Poderia passar a noite todaembaixo do chuveiro de água quente, mas também estava com sono e comsaudadesdedormiremalgoquenãofosseumbancodecarro.

Mas acordei três vezes durante a noite. E não consegui mais dormir

depoisda terceiravez e eraquatrodamanhã, puxeiminhamochilado chão etomeiumcalmanteaseco,issoajudariaarelaxarapormaisalgumashoras.

Passava dá uma da tarde quando acordei, o tempo estava bom para

continuarnacama,masafichacaiuquandomelembreiquenãoestavasozinha.Corriparaobanheirotendomeuúltimobanhodeverdadenodia.Junteiminhascoisasesaidoquarto,batinoquartodeAlexalgumasvezesatéasdobrasdosmeusdedosmudaremdecor.Elenãomedeixou,repetiissomentalmenteantesdedeixaraportaeseguirpararecepção.Haviaumpânicoinfantilemmimcomoquandoeutinhaquatroanosefuideixadanaescola.Masquasesorriquandoovisentadoemumdossofásdeespera.Foiumalivionaverdade.

–Oquefoi?–Perguntoumeencarando.–Eupensei...quetinhaidoembora.–Etedeixar?Qualéonossoplanodeviagem?Sónãoquisacorda-la.GraçasaDeus,eletinhaplanosemmantersuapalavra.–Jápodevoltararespirar.–Seguroumeusombros.–Estourespirando.–Jápagueiosquartos,podemosir?

–Não era para ter pago o meu. Eu preciso gastar essa porcaria dedinheiro.

–Dinheironãoéporcaria.–Pegouminhamochila.–Esseé.–Sussurreieeleouviu,masnãoquestionoucomosempre.Voltamosaestrada,planosdechegaremVegas,antesdanoitecairpelo

menos.AlgumashorasdepoispertodeVegas...–Você ainda temmedodemim?–Sua perguntame pegou de surpresa.

Estávamosemumsilencioquasereligioso.–Não.–Entãoporqueestavacommedodeestarnomesmoquartoqueeu?E

porquementiusobreocelular?Oencarei.–Eunãoestavacommedoenãomenti.–Omiti.–Certo.Haviaumtoquede:deixedesermentirosa.Noseucerto.–Alex...–Tudobem.Nãoprecisaseexplicar,achoquejáconteiminhahistória.Queeleaindaeraapaixonadoporsuaesposamesmoelaestandomortaa

pelomenos um ano? Sim.Mas não era isso.Não forceimais nada, seu olhar

intimidavaqualquerumatentarprosseguircomumassunto.Algumashorasdepois fui despertada com luzes, placas surgiama cada

vintemetros,suamaioriaeramotéis.Alexcontinuavaadirigirsemolharparaoslados,eraparasermeioanimadonossachegadaemVegas.Aindanãoestávamostotalmentedentrodacidade,issosóaconteceumaisalgunslongosminutos.

As ruaseramcomovianaTV,maisbrilhante talvez.Easpessoas,não

pareciampessoasnormais.–Bem-vindaaVegas.–Seutomeraomaisformalpossível.Paramosemumaruamenosmovimentada,Alexparouocarroedesligou

omotor.–Nãoprecisatrazeramochila,sóvamosfalarcomumconhecido.Deixeiamochilanolugareoseguiparamaisumacasabrilhante.Eraum

bar,cheioporsinal,bebidaserampassadasatodoinstante.Alexolhavaparatráspara ver se eu ainda estava ali, mesmo assim ele estava distante e isso meincomodava.

–Possomesentar?–Tenteisermaisaltadoqueamúsica.Alexvarreuo

lugaratéacharumamesaescondidaembaixodaescadaquedavaparaosegundoandareme levouaté lá semme tocar.Apenasabriacaminhoesperandoqueoseguisse.

–Nãodemoro.–Avisou.Pegueiocelularnobolsoeoliguei.–Eumando

mensagemcasodemorar.–Tenteisorrirsemsucessoparasuaexpressão.–Nãoprecisa.–Falouantesdeseafastar.Eu não queria ter estragado tudo. Mas eu estraguei. Como imaginado

meucelularcomeçouatocar,mensagenschegavamacadasegundo.Pedidosdedesculpas,milhares deles. Senti umgosto amargo na boca semisturando com

minhaslagrimaseudeviaapagartodaselassemlernenhuma,maseuestavaaliemumbardeLasVegaschorandoporduaspessoasquemetraíramsempensarduasvezesseissomemachucaria.

–Vocênãomeamaseufilhodeumamãe.–Tenteirespirarfundo.–Umabelamoçachorando?Nadaqueumabelabebidanãoajude,oque

deseja?Encareiomorenoaminhafrentecomumagarrafadealgumacoisa.Eu

nuncabebinadaalémdechampanhe.Masquemseimporta?–Podeserissoaí.–Prajá.–Deixouagarrafaeumcopo.Epassamosumtempoapenasnosencarandoatédarmeuprimeirogole,

erahorrível.Amargoehorrível, sóconseguimeacostumarnoquartocopo. Jánãomeimportavamuitocomosétimo.

8Alex

TalvezeutenhaavançadomuitooperímetroesaberqueSamaindatinha

umcertomedodeestarcomigomefaziasentiralgoestranho.Comonãoquereracreditar,assimqueadeixeiemseucantoasósfuiatrásdeTas,elehaviasidoum bom amigo na minha fuga de dezoito anos. E lá estava ele atrás de umbalcão,abarbaestavagrisalha.Taseraumnegroaltoeforteeaidadenãovinhaparaele,nemcomabarbagrisalha.

–Senãoéoforadalei.–Sorriugrave.–Obomfilhoacasatornaemaiordeidade.–Oqueaprontoudessavez?–Meabraçou.–Nada.Apenasrodandoopaísnomeubomevelhocarro.–Quemeraagarotaqueentroucomvocê?ResumiahistóriaparaTasempoucosminutos,odiavacontarascoisas

paraaspessoas.Amaiorianãoconseguelevarparaumcaminhosensato.–Éapenasumaamigaqueporsinal,temmedodemim.–Mulheres só confiam nelas mesmas. São mulheres cara, não tente

entende-las.–Euentendiapenasduasmulheresnessavidaeperdiasduasdamesma

maneira.Talvezeunãoqueiraentendermais.–Nãoé?Sei.Bom,tragasuaamigaaqui,vougostardeconhece-la.

Percebiquepasseimuitotempoali,deixeiumatélogoevolteiparaonde

havia a deixado. Samantha não estavamais lá, apenas uma garrafa de uísquepelametadejazianolugar.Eseucelularpiscando,nãoeradaminhacontanadadoqueelarecebia,maseulialgumasetalvezganheialgumasrespostasqueelanãoquismedar.

–Hei. –Chamei o garoto que servia mesas. –Viu a garota que estava

naquelamesa?Elaéumpoucobaixa,morena,oscabelosestãopresosemumrabodecavalo.

–Ahsei,agarotaqueestavachorando?–Elaestava?–Seforamesma,elasaiufazumtempo.Nãodeveteridomuitolonge,

elaquasenãofalava.–Sorriu.–Elanãodeveseracostumadacombebidas.Com certeza não. Empurrei algumas pessoas indo em direção ao

banheiro, pensei em perguntar se alguém ali dentro havia visto ela, masperguntar para bêbado era a mesma coisa que nada então eu entrei. Ela nãoestava, cheguei a pensar que agarota coma cabeça enfiadadentrodaprivadafosseela,masnãoera.

Sam parecia uma pessoa equilibrada, mas mulheres nunca são

equilibradasquandodecidemagir sempensar.Rodei todoo salãoenadadela,ela não podia sumir assim. Minutos depois o mesmo cara que me deu ainformaçãodevê-lasairavisouquehaviaumagarotaperdidanomeiodarua.Elá estava ela, sem saber em que direção ir e cruzando as pernas sempre queachavaqueaquelaeraadireçãocerta.

O bom de Vegas é que ninguém se importa com o tamanho do seu

escândalo então eranormalvê-la ali gritando.Deixei a porta bater e corri unscinco metros até ela, seus olhos estavam vermelhos e ela estava péssima.Samanthaconseguiuacabarconsigomesmaempoucotempo.Segureiseurostoe me certifiquei de que estava tudo bem, não confiava nas pessoas de Vegas

também.–Hei, sou eu. –Falei quando tentou me empurrar. –Alex. –Ela piscou

algumasvezesantesdeabrirumsorrisocansado.–NãofaçamaisissopeloamordeDeus,vocênãoestánaDisney.

–Eu...nãosoumais...umacriança.–Falouarrastado.–Souumamulher.–Sim,vocêéumamulher.Fungou.–Eusóqueria...sóquerialigarparavocê.–Chorou.–Nãoprecisa,euestouaquiagora.Meempurroudandoumpassoemfalsoparatráseseencostandoemum

carro.–Eu...precisofalar.–Respiroufundoencarandoochão.Elasemachucou,

seuantebraçoestavaraladodeumaquedacerteiranochão.–Eunãoquerialigaromalditocelular...

–Podemosdesligarentão,okay?–Shhh, eu preciso te contar... você é um cara legal. Então...eu vou te

contar.Tenteidarumpassoemsuadireção,maselameencarou.–Euiamecasar...–Ochorobeiravaaohisterismo.–Maselenãomorreu

...–Sorriu.–Eunãotiveessasortedaquele...desgraçadomorrer.–Meencarou.–Eueraapaixonadaporele,eupareideviverporele...eufiztudoporeleeele...eleme traiu!–Gritouchutandoa rodadocarroeoalarmedisparou.–Eleme

traiu com a minha melhor amiga aquela vaca alemã! Eu parei na minhaadolescência.

–Nãoprecisa...–Shhhh!Eujámandeicalar.–Murmurou.–Deixa-mefalar.–Fungou.–

Elemetraiunodiadonossocasamento,eunãocomiparaovestidoentrar,eunãodormi...euqueriaquefossetudoperfeito.–Alongouotudo.–Eraumsonhoeeledestruiucomelanaminhacama.Eeusouumaburra!–Bateunacabeça.

–Nãoénão.–Sou, porque eles me traiam na minha frente! –Socou o ar.–Beatriz

semprememandavaentende-lo,queeleeraperfeitoparamim.Maseracomelaqueelesedeitava!Foiparaelaquedamosumpasseioemseuaniversário,eraparaelaosprimeirospresentesdenatal!Elefaziaquestãodeinclui-laemtudoeeununcapercebi...euachavaqueelehaviaaceitadominhaúnicaamizade.Elaeraminhaúnicaamiga...aúnicaquerestoudesdequecomeçamosanamorar.

Euqueriafaze-laparardetremer.Deus,porquesemprefazasmulheres

chorarem na minha frente? Independentemente de quem seja isso sempre medestrói.

–Dezesseis. –Fungou. –Eu tinha dezesseis anos quando o conheci. Os

pais dele eram donos de uma escola técnica e eu trabalhava lá, uma coisa dogoverno. –Respirou fundo e cuspiu. Afastou o cabelo do rosto. –Ele meauxiliava,parecia tãoperfeitonaquele tempoeeu...bobaporqueumgarotomeolhou.–Sorriu.–Meapaixonei.Eupenseiqueseriaamulherdosgatos.Porqueoscaraspreferemasloirasesiliconadas.–Segurouosseiosmédiosesorriu.–EunãosouloiraenemsiliconadacomoBeatriz.Enemsouatraente.Eusou?

–Sam...–Sou?Samantha não era como Joyce e pela descrição não era comoBeatriz.

Joyce tambémera loira,masoscarasnãoveem isso,claroalguns temas suaspreferências.Meu paime ensinou que quemmuito escolhe nada tem. Eu nãorotulavagarotas,cadaumtemumabelezaparamostrareSamerabonita.Nãosóbonita,eramuitobonita.Entãonãoconseguiaentendercomoalguémconseguiutrai-la. Sua pele amendoada caia bem, seus longos cabelos castanhosavermelhados a deixava tão inocente quanto sensual para qualquer um. Elaconseguiu fazer dois idiotas ficarem de quatro por ela, ela não se lembravadisso?

–Sim,vocêélindaeelefoiumidiota.Fungou.–As pessoas não acham isso... você não diria isso se me visse de

terninho.–Choramingou.–Eupasseiorestodaminhaadolescênciacomroupasdesenhoraparaagradaraeleeafamíliadele.Issoéumluxo.–Apontouparaasprópriasroupas.–ElemequeriacomoumamerdadeumaAméliaesóvejoissoagora. –Chorou por algunsminutos sozinha. –Todomundo falou, todomundoficousabendo...eudevolvicadapresentequeganhamos,eu...surteiomeupaieodeixeipreocupado.Eunãoconseguiadormirporquetenhosonhosnojentoscomaquelesdoisdesgraçadostodasasnoites.Pessoasriemdemimeisso...issomesufoca. Eu acho que quero vê-la ...–Sua mãe. – Para que essa dor sejainsignificantepertodoquepode sernossoencontro.Elemeproibiudepensaremvê-la,elemeproibiudemuitascoisasdesdeosmeusdezesseisanos.Maseunãopertençomaisaele.Vouquebrartodasasregrasporquesoulivreagora...eeuvoufazerdaporcariadaminhavidaoqueeuquiser.

Quantomaiselafalavamaismagoavinha,nãoeraumchorodebêbado

de um dia, era um choro que carregava há semanas talvez. Um choro que sealternava entre gemidos, sussurros e gritos. Demorou um tempo até ela medeixar se aproximar e abraça-la, nem sei como consegui convencê-la de meseguir para dentro da boate de novo. Tasme entregou a chave do quarto queficavanosegundoandar,adeiteinacamadepoisdepuxaroslençóisconferiosremédios em sua mochila e constatei que o idiota do seu ex-noivo queriarealmenteacabarcomavidadela.

Adatomoualgunsdosantidepressivosqueelatinha,eramfortesdemais

paraomodocomoelaostomava.Issoexplicavacomoconseguiadormirtanto,nãopodiafazermuitacoisanomomentomesmosegurandoavontadedejoga-los na privada eu os guardei novamente. E seu celular não parava de vibrar,contiveasegundavontadedanoitedeligarparaosdoisdesgraçadosecolocarparaforaassuasdores,ambossalvospelosestados.

Em pouco tempo ela acordaria e correria – se conseguisse – para o

banheiro.Ligueiumventiladorvelhoemsuadireçãoassimqueasgotasdesuorse formaram em sua testa.Amúsica no andar de baixo estava abafada agora,entãoelaabriuosolhoseencarouotetoantesdevirarocorpoparaforadacamaevomitarnotapeteitalianodeTas,eleiameentender.

–Tudobem,estouaqui.Comominhairmã,elatambémodeiavomitareironicamentetemnojodo

própriovomito.Elameencaravadeladocomoseeupudessefazeralgo,masnomomento tudooquepodia fazererasegurar seucabeloedeixa-la terminardeestragarotapete.Elávamosnós,seucorpoestavaquentequandoelaparou.

–Eunãoqueromaisvomitar.–Falouquandoasenteinaprivada.–Eunão

gostodisso.–Você bebeu um pouquinho demais. –Falei molhando uma toalha que

achei no gabinete. Fungou e seus olhos se encheram de lagrimas. –Shhh, nãoprecisa chorar. Vai ficar tudo bem. –Mordeu os lábios e assentiu. –Eu sintomuito,elessãoidiotasevocênãotemquechorarporeles.–Afagueiseucabelo.–Precisopedirumacoisa.

Meencarou.–Paredetomaraquelasporcarias.–Haviaumpoucodevergonhaemseu

olhar. – Eu os vi e conheço alguns deles, você não precisa disso. Enquantoestivermosjuntosnessavocênãoprecisamaisdaquilo.

–Eu...nãoconsigodormir.–Choramingou.

–Posso ficar com você até que consiga, eu vejo você tomando doiscomprimidos daqueles todos os dias. Se está tentando se matar te aconselhooutrosmétodos,masessenão.Eunãoestoupedindoparaconfiaremmim,podefingirpelomenos...

–Euconfio.–Secouumalagrima.–Euconfiomaisnocaraqueacabeide

conhecerdoquenaquelesquemetraíram.Eu...mesintonaobrigaçãodeconfiar.–Nãosinta.–Maseuconfio.–Fungou.–Tudobem,euvouláembaixoatrásdeinformaçãosobrealgumremédio

deenjoo...–Tenhonaminhamochila.–Certo,entãosequisertomarumbanho.–Ligueiochuveirotrazendoo

chuveirinho para mais perto. –Não precisa se levantar, vai se sentir melhordepoisdobanho.Estouláfora,ésóchamar.

Enrolei o tapete de Tas antes de deixar o quarto e o arrastei para o

banheiroqueficavanocorredor.Esperavaqueelanãosematasseafogada,seugrau de alcoolismo caiu um pouco depois do sono de uma hora. Agora comtodas as portas abertas dava para vê-la com mais clareza, Sam era tão frágilquanto gostaria de aparentar, ela era medrosa e fechada em um mundo quecriaramparaela.Dealgumaformaeladeixoudeviverdepoisquecomeçouumrelacionamento. Alguns relacionamentos parecem bons, mas são apenas umatrasonavida.

Muito tempo depois ela bateu na porta e entrei, usava um conjunto

enormededormir,searrastouatéacamaeseencolheudeformafetal.Conferise todos os sete comprimidos ainda estavamno frasco antes deme sentar emumapoltronaeobserva-lapiscaralgumasvezesatédormir.Euqueriaver tudoissocomoumaproteçãocomoquandoeucuidavadeAda,masnãoconseguiaverassim,nadaseenquadrava.Elaéapenasumacarona,comotodasasquejá

tivenaestrada.Apenasumacarona.–Amanhãvaisesentirmelhor.–Estoumesentindomal.–Choramingou.–Estoucom...vergonha.–Estátudobem.

9

Samantha

Acordei comdor de cabeça, dor ainda não era o nomeque se dava aoelefantequeestavasentadosobremeucrânio.Pareciatãopesadaquemeucorpodeviaserumapena,oquartoestavaescuroesilencioso,melembreidoquantobebinoitepassada,me lembreidasmensagensedecoisasque falei aalguém.Atéminhamente jogar emminha em cara que esse alguém eraAlex.Eu nãodeviaterditonadadaquilo,elenãoprecisavaestarnosmeusassuntos.Maseleestava.

Minhabocaestavaamarga,conseguimevirareencararAlexdormindo

emumapoltronapequenademaisparaele.Elepassouanoitetodameencarandoe eu tinha certeza, evitar que eu morresse afogada em meu próprio vomito.Suspirei tentandomesentareeleabriuosolhos,umpoucoassustado,o típicoestouacordadoquandonãoestava.

–Tudobem?–Perguntou.Seaproximandodacama.–Dordecabeça.Coçouosolhos.–Vou pegar um analgésico na sua bolsa e procurar alguma coisa para

vocêcomer.–Faloupacientemente.–Nãoquerocomernada.–Meuestomagoestavaemconflito.–Vocêprecisacomer.Oencarei.

–Aíeuvomito.Selevantouindoatéminhamochila.–Nadadoqueeujánãotenhavisto.–Mefitou.–Onde estamos?–Perguntouquando seguiupara suamochilapegando

umagarrafad'água.–Naboate,aquiemcimaéo"quarto"domeuamigo.Okay,elemelevouparaoquartodoamigodeleemumaboatedeVegas

ondeocarapodeterlevadováriasmulheresalie...–Eutireioslençóiseforreiumquetrouxeparaviagem.Euseiquevocê

nãosedeitarianaquilo.–Apontouparaamontanhaaoladodaportadobanheiro.Menosmal.

Engolirumcomprimidonunca foi tãodifícilassimnaminhavida,mas

euconsegui.Alexsaiuememandouficarquietinhaemmeulugar.Meucelularestava desligado ao lado do travesseiro, ele o desligou.Minha vontade era dejoga-lono lixo,mas eunãoposso ser fraca assim.Tenteime lembrar demaisalgumacoisaquefizantesdesairdaboate,algumacoisaquenãoconteiaAlexduranteminhacrise.Nadaveio.Precisavadeumbanhoeaproveiteisuaausênciaparafazerisso.Fizpromessascomo:eununcamaisbebonessavida.

Odeiobebidas,nomomentoeuodeiotudo.QuandosaidobanheiroAlex

jáestava láarrumando tudonacama.Frutas,sucodecaixinhaemaisalgumascoisas.Estávamosemumaboateenãohavianadamaispertodevenderissoporaqui.

–Ondeconseguiu?–Tasimaginouqueeufosseprecisar.Falandonisso,queroapresenta-laa

ele.–Estouótimaparaapresentações.Deudeombros.–Elenãoseimporta.Ficamos em silencio por um tempo enquanto eu tentava empurrar um

pedaço de bolinho de baunilha pela garganta. Alex digitava rápido em seucelularumamensagemdetexto,depoisoenfiounobolsoemeencarou.

–Oquefoi?–Nada.–É,seimportaseficarmosmaisdoisdiasaqui?–Dois?–Oencarei.Seriaumempregodeparada?–Sequereréclaro.–Recolheunossabagunçaosenfiandoemumasacola.–Tudobem.Masporque?Meencaroudaporta.–Estoupagandopeloquarto.–Estábrincando.–Não.–Sorriu.–Játinhaumadívidainterna,vouterquepagaragora.–Eupossopagar.

–Não,adívidaéminha.–Meencarou.–Maseudormiaquitambém.–Não estou falando dessa. Você não precisa fazer nada, apenas ficar

quietinha. São só dois dias e vamos para outro lugar. Posso te levar paraconhecerorestodacidade.

Melevantei.–Eseeupediraoseuamigoumempregotemporário?–Senãoseimportardeandarpelosalãomostrandomaisdoquegostaria

everumbandodebabacapassandoamãoemvocê,váemfrente.–Haviaumtomrudeemsuavoz.

–Nãoprecisapegarpesadocomamentira.–Oencarei.–Bem-vindaaVegasmenina.–Meninaétão...–Delicado?Bonito?Carinhoso?–Infantil.Sorriu.–Maslegal.–Piscou.Oajudeiaarrumaroquarto,eledeuumfimnotapetequedestruínoite

passada.Meesperoutrocarderoupaeentãosaímos.Acasanãopareciaamesmaque vi noite passada, sem música alta e pessoas suadas com perfumes

sufocantes. Mas as luzes ainda eram as mesmas, todas acesas iluminando osalão. Alexme encarou quando descemos as escadas, um grupo de garotas egarotosdançavamnopalcolateral.Umacoreografiasensualebastanteexplicita.Euri,eeunemdeviaestarrindo.

–Oquefoi?–Nada.–Por que está rindo? – Parou na minha frente com sua parede de

músculos.–Porquesouidiota,eudourisadasdecoisasquenãodevia.Alexencarouogrupodançando.–Estárindodisso?Deideombros.–Sério?Sensualizaréengraçado?–Alex.–Soqueiseubraçoeeleseencolheu.–Depoisperguntaporquetechamodemenina.–Porquevocêéidiota.–Não,porquevocêéumamenina.Issoétotalmentenormal.Eusei,maseraengraçado.Aquelasgarotasrebolandooufazendocarase

bocas, elas eram lindas porem eu nãome via fazendo isso nem sendo amaislinda daquele lugar. Conseguia me imaginar caindo de cara no chão, oudesmaiando. Ou hiperventilando com aqueles caras me tocando, levando em

consideraçãoqueodeiocontatosfísicosexagerados.–Nãogostadedançar?–Fizjazzebaleclássico.–Entãosabedançaralgumacoisa.–Não consigomais fazer isso empúblico. –Falei encarando a dança. –

Issofoiumadascoisasquepareidefazeraosdezesseis.–Cuspiaspalavras.–É como andar de bicicleta, a gente nunca esquece. –O encarei. Alex

começouasussurraramúsicaquetocavaesemexer.Oparei.–Não.–Porquenão?–Aindatenhoumcorpoestranhonomeuestomagoeseiqualéasua.Eu

nãovoudançar,nãovoudeixarqueestraguemeudiaemVegas.Gargalhou.–Certo,vocêdeviaparardeseprender.Sesolte.–Eumesolteinoitepassadaevocêviuoqueaconteceu.–Aquilonãofoisesoltar.–Maisdoisdançarinosnacasa?–Nosviramosparaavozquevinhado

corredorlateral.

Alexpassouobraçopormeuombroemanteveo sorriso,ohomemseaproximou segurandominhamão e depositandoumbeijo, sua barba por fazerfezcocegas.

–Entãoelaéabelamoçaquevomitounomeutapeteimportado?Meurostoesquentou.–É sim, me deixe apresenta-los. Samantha, esse é o Tassio mas

chamamosdeTas.Tas,essaéaSamanthaquevomitouemseutapete.Eleiaficarlembrandodisso?–PodemechamardeSam.–Éumprazerconhece-laSam.Essecaraestácuidandobemdevocê?–

Tasnãopareciamuitovelho,poremandavacomumabengalaedascaraseumterno mais caro ainda. Ajeitou o chapéu na cabeça e me passou um olharpaterno.

–Estásim.Alexmeencarou.–Seelepisarnabola,sómechamar.Aindaseidarjeitonessegaroto.–Comcertezaeuvouadorarvê-loapanhar.–Sorri.–Obrigado.–Alexsussurrou.–Jámostrouacasaparaela?–Tasoencarou.–Euiafazerissoagora.

–Tas.–Ochameiquandodeuumpassoemdireçãoaopalco.–Sim.–Temvagaparamaisuma?Meencarou.–Dança?–Ohnão,servindomesasoufazendoqualqueroutracoisa.Euseimexer

emcaixas,trabalheicomcontabilidadeeessascoisas.–Não.–Alexmepuxouparatrás.–Porquenão?Euquerofazeralgumacoisa.–Voumanda-lotecolocarláemcima.–Apontouaopalcoeabaixeisua

mão.–Achoqueseriadegrandeajudameajudarnocaixaquandoeuprecisar.–Sam...–Alextentou.–São só dois dias, Alex. Posso servir bebidas também, quando não

precisardemim.–Tudobem.Começahojeanoite.–Tasnosdeixou.Alexbufou.–Obrigada.

Alex seguiu na frente e o segui. Eu não via problema nenhum emtrabalharnaboate,ninguémiriafazernadaeeramapenasdoisdias.Semcontarquesoudemaiorenãoprecisodeninguémmandandoemmim.

–Vaificarcomraivaporcausadisso?–Minha irmã fez a mesma coisa que você acabou de fazer e tive que

salva-laporsuateimosia.–Legal, eu não sou a sua irmã. Sou sua amiga, então eu acho que eu

possofazeroqueeuquiser.–Cruzeiosbraços.–Vocêtemrazão.Bomtrabalhoparavocê.–Nãoprecisaficarassim,euseimecuidar.Elesorriu,umsorrisobemirônicoparasermaisclara.Seguimosparaos

fundosondemaquinasdejogosestavamalinhadasladoalado.Elemeexplicoucomofuncionavaequaismaquinasdavamazar.Depoisseguimosparaosegundoandaremumasalaondeaparelhoseramconectadosacaixasdesonsedavaparaver tudo ládecima.Algunsquartosqueeu já sabiaparaoqueserviaeele selimitouaexplicar.

Voltamos ao primeiro andar e andamos nos corredores escuros, mais

maquinas, salas de pôquer e mais quartos. A música cessou e o grupo quedançava estavam espalhados pelo salão, alguns conversavam, outros apenasdescansavam.Umavozagudaecooudosalãoeissomeobrigouamevirar.Alexfezomesmocomumsorrisocontidoàloiraquepareciafelizaumnívelextremoporvê-lo.

Estavacomeçandoaacharqueadançaera inocentepertodaroupaque

elausava,umconjuntorosadeginasticaqueeladeviaterusadocomdezanos,obatomextremamentevermelhoemuitolitrosdesilicone.Apesardavulgaridadeelaerabonita,umaBarbieparamaioresdedezoito.Antesqueeufosselevadaaochão,meafasteieelaoabraçou.Certo,eunãoprecisavaassistirisso.

–OhmeuDeus,eunemacreditoquevocêvoltou.–OiBaby.–Vocêestá...bemcomosempre.–Falouocomendocomosolhos.Éclaro

queelachamouatenção.–Vocêtambém.Deixa-meteapresentar,essaéminhaamigaSam.Aceneinãogostandodasuainspeção,elaestavamematandodetodasas

maneiras possíveis naquelemomento.Mas logo fui esquecida quando enlaçouseubraçonodeleeolevouparaobar.Mesenteinopalco,elafalavaaltodemaispara todos ali ficaremsabemdamortede Joyce eoquanto ela sentiamuito equeria ter podido consola-lo. Eu conheço pessoas que consola as outras comoela.Não sei quanto tempo sepassou atéomorenomais altoda turmachamarparaensaiarnovamente,elaselevantouobeijounorostoemeencarouaopassarpormim.

Alexmeencarou.–Elanãoémuitodiscreta.–Sussurrou.–Está falando uma coisa que percebi antes mesmo de conhece-la. –

Encareiopalco.–ElaéenteadadoTas,amãeéoutralouca.–Louca não é uma palavra que vai defini-la. –O encarei. –Ou você é

ingênuo.Umpontoparamim.–Euvousubir.

–Nãoquermaisveroensaio?Neguei, eu pensei que ele ficaria lá para vê-los, mas segundos depois

estava apressando o passo em minha direção. Eu não me importava de ficarsozinha, nem sempre eu tinha um assunto. Mas ele arrumou um assim queentramosnoquarto.

–Porquenãoligaparaoseupai?Eusabiaquedeviafazerisso.–Possoteemprestarmeucelular.–Nãoprecisa.–Omeunãoeraumbichodesetecabeças,entãooliguei.

Espereiatéqueosinalviesseeasmensagenseligaçõesperdidasaparecessem.Issonãodeviameincomodartanto,masfaziameucoraçãodoereminhacabeçaespremermeucérebro.

Disquei o número em segundos e esperei os três toques, esperava tudo

menos chorar depois que ouvisse sua voz. Sair de casa sem avisa-lo já metornavauma filhadesnaturadaquandosabiaqueeleprecisavademim,eunãopoderiacontarcomavizinhaparatudo.Maseuprecisavaepasseilongoscincominutos apenas chorando, ele estava bem e um pouco preocupado. ColoqueiVegasforadoassunto,dissequeestavaindoverumaamigaoqueeramaisumamentira.Meupai jamaisacreditarianisso,porémnãomequestionaria.Porummomento eu só queria abraça-lo e dizer que estava melhor, muito melhor.Terminarumaligaçãocommeupaifoiacoisamaisdifícilquejáfizatéhoje.

Alexafagouminhascostasantesdepassarosbraçosaomeuredoreme

abraçar,eunãoqueriaparecerumameninacomoelepassouamechamar,maseleestavacerto.Euerauma.

–Estátudobem.–Eudeviavoltareficarcomele.–Aperteimeusbraçosaoseuredor.

–Éissoquequer?–Meencarou.Era isso que eu queria até uns segundos atrás, agora estava com uma

sensaçãoestranha.–Meupaijánãotemmaisidadeparaficarsozinho.–Vocêquerir?–Eunãosei.Eurealmentenãoseidemaisnada,umapartedemimquer

voltarcorrendoeaoutraquerexplorarascoisas,sabe?Euseiquevoltandoparaláeuvouvoltarparaomeunovoinfernoparticular,entãoeunãosei.

–Euqueriapodeajuda-ladealgumamaneira,mastambémestoufugindo.

–Sorriu.–Somosdoisfugitivosdenósmesmos.–Temos uma coisa em comum pelo menos. –Sorri. Alex afagou meu

cabeloantesdeselevantar.–Devemosteralgumacoisanormalemcomumtambém.–Temostempodedescobrir.

10Alex

Tentei até o ultimo segundo faze-la entender que ela não precisava

trabalhareparapiorarBabyestavanaboate,depoisderevivermeupassadoeu

sabia que ela nãome deixaria em paz enquanto estivéssemos ali, ela talvez aatormentaria como fez com Ada, mas Ada não era inofensiva e isso nãoterminoubem–eSamnãoéminha irmã.Asseis termineidemearrumar,elaaindaestavasentadanacamafazendoasunhas,umtantodesnecessário.

Seuscabelosestavamcaindoemumladoseupescoço.Samusavaumacamiseta que me mostrava mais do que eu gostaria de ver. Ela era tão...apaixonanteeissomeassustava.

–Meprometeumacoisa.–Faleilhedandoascostasenquantoarrumavaa

gravata.–Seacontecerqualquercoisa,podeserumolhardeumanjomefala.–Pedi.

–Voufalar.–Respondeu.–Entendeu?–Simsenhor.Terminei.–Enãoprecisasearrumartanto,nemusarouniformequeaquelesacana

doTastedeu.–Elanãoprecisavasevestircomoasoutrasgarotas.Deverdade,eunãodeveriameimportartanto.–Tevejoemquinzeminutos.–Gritou.Acasaestavacomeçandoalotarquandodesci,porsortenãoviBabypor

perto, tentaria manter uma certa distância pelo menos por hoje. Os rapazesarrumavam o palco e Tas já estava no balcão anotando pedidos. Controlei avontadedeesgana-lo.

–Quebomqueapareceu,precisoquepegueumascaixasnodeposito.–Sério,porquedeuaquelaroupaparaela?–Respireifundo.

–Uniformedacasa.–Osacanadeudeombros.–Elanãoécomoasoutras.Tasmeencarou.–Alexestágostandodessagarota?–Semicerrouosolhoscomdiversão.Bufei.–Não.–Então por que está tão incomodado com ela? Não queria deixa-la

trabalhar,agoranãoquerdeixa-lausarumsimplesuniforme.–Umacolegial, umuniformecheiode informações.Elanão é comoas

suasmeninas.–Issoéoquevocêquerenxergar,elameparecebemdecididacomoas

minhasmeninas.–Acredite,elanãoé.–Prefirodeixa-lamostrarisso.Eparedeseenganar,agoravá.Fizduas idasaodepositoeelaaindanãohaviachegado,pelocontrário

Babyapareceueera tudooqueeumenosprecisava.Seuperfumemecausavaalergiaefuiumcaramuitogentilnãodizendoissoaela.AsluzesseabaixarameSebastian, um dos dançarinos/barman socou de leve meu braço me fazendoencararaescadalateral.

Deus! Ela vestiu omaldito uniforme, eu não poderia dizer todos,maspelo menos metade dos caras que estavam a no máximo cinco metros delaestavamencarandoenquantoelaseaproximavacomaquelevestidocurto.Seela

estava com vergonha, o que não duvidava que estivesse, ela soube escondermuitobem.

–Demorei?–Perguntou.–Umpouco.–Nãovaiapresentarsuaamiga?–Sebastiansorriuparaela.–Samantha esse é o Sebastian. – O cara mais safado que você vai

conhecernessavida.–Éumprazersenhorita.–Beijousuamão.Sam puxou a mão com um sorriso delicado antes de, eu leva-la para

longe dele. Eu não podia mais questionar suas roupas ou seus modos, maspoderia mantê-la longe do movimento e faria Tas não deixa-la sair detrás domalditobalcãodeatendimentoporpelomenosatéeuconseguirmeachar.

–Aíestávocê,jáestavasentindosuafalta.–Tasacumprimentou.–Onde

querficaressanoite?–Servindo.–Samfaloutirandoumpeloinvisívelnoombro.Euqueriasocaroar.–Estátudobem?–Perguntei.–Esta,porquenãoestaria?–Nãosei.Penseiquenãogostassedechamaratenção.–Vourepetirsódessavez,estoutrabalhando.–Faloufirme.

–Sabeaquelecaraqueteapresentei?Ahmuitosdeleporaqui.Virouosolhosquaseinfantil.–Certo,euachoqueoTasnãovaiseimportarseeuquebrarumagarrafa

nacabeçadeumdeles.–Semprejuízos.–Tasfaloueelasorriu.–Estoufalandosério,Sam.–Ofatodevocêmeverchorarmaisvezesdoqueeugostariaemeachar

umamenininhanãoquerdizerqueeunãopossamecuidar.Euestoubemejáseiquequandonãoestivereupossotechamar.

–Tudobem.Elasevirouparaobalcãoepreciseifingirnãoestartãoperdidoquanto

oscarasaoredor.–Possocomeçaragora?Tassorriuparamim.–Clarogarota,sabeasaladejogos?Levaisso.–Taslhedeuumbaldede

gelocomchampanhe.Eunãopossointervir.Samsorriudelicadaantesdepegarobaldeeandar

naturalmente–oqueparamuitosnãoeraapenasumandarnormal–emdireçãoao pior lugar que Tas poderiamanda-la. Baby anunciou que era sua primeiraapresentação da noite e que seria emminha homenagem. Esperei Sam voltarencarandoamalditaportaacadadoisminutoseelavoltoucincominutosdepois.Tentei achar algum traço diferente em seu rosto, mas estava normal. Nadaaconteceu ou ela estava fingindo porque sabia que eu estaria vigiando seuspassos.

Ela passou algumas vezes por mim enquanto seguia a apresentação,

servia as mesas e não fazia perguntas, voltava ao balcão trocava algumaspalavrascomseusnovosamigosevoltavaasmesas.Perdiascontasdequantasvezesavircruzarosalãoefingirqueeunãoexistia.Sedemorouumpoucomaisnosegundoandareamúsicaacabou.

–Obrigada por assistir a minha apresentação. –Baby resmungou

enrolandoumamechadecabeloloiro.–Euvi.–Mentira.Vocêeelanãosãoamigos?–Perguntouchateada.–Sim,comoeuevocêsomos.–Entãoporquenãoprestaatençãoemmimcomoprestaatençãonela?–

Elaquasebateuospés.–Elaénovaaquievocênão.Prometoquenapróximadançaeunãotiro

osolhosdessepalco.Elasorriu.–Promete?–Prometo.Meabraçou.–Obrigada,vouseraindamelhordapróximavez.Samapareceupoucodepois,seguravaumabandeja.Adeixounobalcãoe

enrolou o cabelo em um coque, os caras que assistiam as apresentações dali

pararam para encara-la. E Sebastian voltou a persegui-la, esperei a melhoroportunidadeparamanda-loseafastar,masseriaumapenaseelenãofosseumfilhodamãequeamachamaratenção.Entãoagoraelaestavaachandoquealémde eu não querer deixa-la trabalhar, eu também não queria que ela fizesseamizades.Sim,elapoderia,masnãocomele.

–Nãoasufoque.MeafasteideixandoTasfalandosozinho,eraasegundaapresentaçãode

Babyeelarealmentequeriaqueeuassistisse,entãoesqueciSamporumtempo,naverdademeobrigueiaissoepresteiatençãonela.Eracomosesóexistisseamimalipelo tempoemqueamúsicadurou. Elacorreuemminhadireçãomeabraçandoapertadopelasegundaveznanoitequandoacabou.

–Vocêmeviu.–Euprometi.–Vamos comemorar. –Me puxou para o bar. Samme encarava quando

nosaproximamos.–Doiscoquetéis.–Babypediu torcendoonariz.Ainda tinhaosdedosentrelaçadosnosmeusdemaneirapossessiva.–Pai,ensinouaelacomosefazumcoquetelparamim?

SamencarouTas.–Não querida,mas ela vai fazer um e você vai gostar. –Tas dizia que

não,masmimavaaenteadasemprequepodia,issoé,sempre.–Não.–Baby,eupossofazer.–Falei.–Nãoprecisaquerido.–Sorriuparamimantesdeviraraela.–Porfavor,

poucoálcooledeabacaxi.

Samnosdeuascostaseapercebimaistensa.Babycomeçouatagarelaremesmoaencarando,eunãoconseguiaentenderumpontodoquedizia.Samdeixounossoscoposesevoltouaosoutrosclientes.

–Issoestáhorrível.–Babycomentou.Avisevirarparanósenãodizer

nada.Apenasnosencarou.–Eladeviaapenasservirmesas.–Baby.–MedesculpeAlex,maselaépéssima.–Fezcaretaparaocopo.–Você poderia ter dado e volta e ter feito o seu. –Tas chamou sua

atenção,maselanãoseimportou.Voltouafalarlogoemseguida.–Quer ir almoçar com a gente amanhã? Minha mãe está voltando de

viagemeelaestácuriosaparavê-lo.–Eunãoposso.Vouemboraamanhã.–Porque?–Sóestoudepassagem.Babyfezumbicoenormeantesdeencararseucopo.–Quandovouvê-lodenovo?–Perguntoumelosa.–Eunãosei.–Sóqueroquemevejacomoumapessoalegal.Sampassoupornosmaneandoacabeça,elapareciaririnternamenteda

infantilidadedagarotaquepoderiasermaisvelhaqueela.

–Vocêé.–Nãoparece,vamosnosdivertirdepoisdaquieuevocê.–Eunãoestousozinho.–Elaésósuaamiga,nãoé?Assenti.Sampegouumabandejaevoltouacircular.–Então,elanãovaiseimportar,porfavorsóessanoite.–Implorou.–Tudobem,podemosbeberalgumacoisaeeutedeixoemcasa.Nadade

viraranoite.–Sim.Obrigada,obrigada.–Pulounolugar.TasmedeuoquefazermaiscomoumadistânciadeBaby,entãocomecei

a servirmesas também.Sampassavapormim,e sorriuparaumcasalouparaqualquer pessoadamesaque estivesse servindo.Mostrava as salas de jogos esumia nos corredores escuros que além demais salas de jogos, havia quartostambém,entãoelasurgiaminutosdepoisaparentementebem.

Elanãosesentouemnenhummomentoehaviaalgumacoisaestranhano

fatodeestarmeevitando,masnãomeopusaisso.Adeixariaempaz.Asquatroda manhã Tas avisou que a deixou subir e Baby queria ir para casa e comoprometidoa levei,nãosemantespassarmosemumbarebebere fazer tudooqueelaqueria.

–Baby,não.–Aafasteiquandotentoupassarolimitequeimpus.Elaera

bonita,umabelezaexagerada,massouhomem,entãoerabonita.Masnãoparamim.

–Vocêgostadela?–cruzouosbraços.

–Dequem?–Daquelagarotasemsalquevocêchamadeamiga.–Cuspiu.–Elaéminhaamiga,apenasisso.–Entãovocêamaamorta?EunãogostavadefalardeJoyce,masaspessoasinsistememtocarem

assuntosqueenterramos.Elafoiamulherqueamei,entãoeuaamarianãocomoantes,mascomoquemprecisatê-laempensamentosparateracertezaqueviveualgobom.

–É,vocêamaamorta.Vocêétãoidiota.–Soluçou.–Eunãosoubonita?–Baby,émelhorvocêentrar.–Eusei,vocêamaamortaesuaamiguinha.–Bateuossaltos.–Vocêbebeuumpoucodemais.–Isso não importa! –Gritou. –Você não se importa comigo, então me

deixafalar.–Euprecisoir.–Medesculpe...nãofiquecomraivademimeunãoqueriafalarassim.–Tudobem,Baby.Agoraentra.Meabraçouantesdeseafastar.Eraproblemademaisparaminhacabeça.

A casa estava a todo vapor ainda quando voltei, segui direto para o segundoandar,batinaportaeouvisuavoz.Samdestrancouaportaemedeixoupassar,nãodissenadaporumtempoeseusilenciomeincomodava.

–Querconversar?–Perguntei.–Não.–Sam.–Mesenteiaseuladonacama.–Sério,vaitomarumbanhoetiraresseperfumedemorangoqueestáme

dandodordecabeça.–Resmungou.Eusei.–Ta,euvoutomarumbanhoevamosconversar.Não demorei mais que dez minutos, quando sai ela estava deitada

encarandoo tetopiscando sonolenta,pelomenosmeesperou.Me sentei a seuladoeelacontinuouencarandooteto.

–Primeiroqueropedirdesculpasportudo.–Desculpado.–Seusdedosbatiamemsuabarriga.Bufei.–Segundo,querosabersetudoocorreubem.–Sim, ninguém tentoume estuprar nos quartos escuros e não cuspi no

copodaquelacópiadaBarbieerótica.Sorri.–Ninguémmexeucomvocê?–EstamosemVegas.Bem-vindoaVegas.

–Quem?–Sevocêfortãopoderosoassimeconseguirbateremmaisdecinquenta

caras,boasorte.Nãograveionomedetodos,maspossoapontarosrostos.Eusabia.–Entãosabequetenhorazãoagora.–Eu sempre soube, mas estou cansada das pessoas me dizendo o que

fazer e não me deixando fazer por vontade própria. Eu não sou mais umacriança,issoétãodifícildeperceber?–Meencarou.

–Não,maseumepreocupocomvocê...–Sefordizerquesepreocupacomosuairmã,eudispenso.–Nãocomominhairmã.Apenasmepreocupo.Fechouosolhos.–Umcaradissequesoubonita.Aencarei.–Masfoidiferentedosoutroscaras,elefoilegal.–Seutomsuavizou.–Todossão.–Foidiferente,Alex.–Vocêgostou?–Vocêrealmentenãoquersaber.

–Porquenãogostaria?Umararidademuitogrande,alguémconsegueme

olharedizerquesoubonita.Eelenãodisse sóporqueeuestavavestindoumvestidocurtoeme igualandoasoutrasgarotas.Eleapenasdisse,vocêémuitobonitaesorriu.Elenãomecercou,sabe?Entãofoidiferente.

Issoeradiferente?Entãoele a conquistaria e elesparariamemumdos

quartosescuros.Eraassimquefuncionava.–EleéturistaeestáindoparaoArizona.Eleviajaporváriospaíses.–Emtãopoucotempoeletecontoutudoisso?–Tenteinãoserumidiota.–Sim.–Continuoudeolhosfechados.–Evocêacreditou?–Euacrediteiemvocê.–Eunãosouele.–Faleiduro.–É,vocênãoé.–Meencarou.–EusobreviviAlex, tirandoosbabacasa

pequena cena que sua amiga fez, eu me dei bem. Eu fiz uma coisa que medisseramqueeunãopoderia.Faleicompessoas,algumasatélegais.Entãoestátudobem.

–Porqueeuachoquenãoestá?–Porqueoproblemanãodevesereu.–Talvezseja.–Melevanteiindoemdireçãoaporta.Elameencarava.–

Só mais uma pergunta, você iria embora com esse cara ou sei lá a primeirapessoaquelhetivesseumaproposta?

–Talvez.–Nãoconseguilersuasfeições.–Bom,saber.Boanoite.–Noite boa? – Acordei com Tas batendo no balcão e me assustando.

Passeianoitetodadormindoemumbancocomacabeçaapoiadanosbraços.Meespreguiceisentindocadapartedomeucorpoemprotesto.–Bomdia.–Expulsodoquarto?–Riu.–Não.Euquisdormiraqui.–Nãoalinaverdade,mastodososquartos

estavamocupadosnoitepassada.–Brigaram?SeforpelaBaby,vocêdevianãoseimportarcomisso.–Não foi pelaBaby. –Peguei a xicara quemepassou. –Esse lugar está

mexendocomacabeçadela.–Minhacasanãotemnadaavercomisso.Vegasmexecomaspessoas.Oencarei.–Oqueelafez?Usoualgunsdosquartosenquantovocêadeixou?–Por favor Tas, nem pense nisso. Ela estava lá no quarto onde passou

esperoqueanoitetoda.Meencarou.

–Oqueelafezentão?Eraidiota,porqueTastinhasuasteseseeuiaeuiacontratodaselas.–Elaconheceuumidiotaontem.–Aconversanãodeveterduradomuito,

maselasabiamuito.–E?Eletocounela?–Não, mas ela fez uma certa amizade com ele. – Talvez eu esteja

exagerando.–Equaléoproblema?–Eladissequeeleviajapelomundo.–Tassorriu.–Qualéagraça?–Vocêestácomciúmesgaroto.–Não.Eunãoestou,maselaseencantoucomisso.Sabe,eladisseque

eleestavaindoparaoArizonamashaviaumbrilhonosolhosdela,comoseelafossedizersimnoprimeiroconvitequeelefizesse.

–Comoeladisseparavocê?–Comigoédiferente.–Medefendi.–Não veja diferença alguma. Ela pode ir para qualquer lugar que ela

quiserAlex,nãoháumcontratoentreosdois.–Eusei,elajámedeixouissoclaro.Souapenasocaralegalquelhedeu

umacarona.–Issoestáalémdecuidados.–Tasseafastou.–Masnãovourepetirmais,

vocêsabe.

–Eunãoseidenada.Samdesceueramquasemeiodia,apenasseguiuparaobalcãoeficoulá

encarandoonada.Elatomouaquelasporcariasdenovo.

11

Samantha

Que se dane a promessa, Alex conseguiu me fazer quebra-la e eu

precisavadormir.Espereiqueelevoltasseporpelomenosumahora,maselenãovoltou.Erafácilparaelemedizeroquefazer,elesótinhaqueentenderqueelenão tinha direito algum sobre isso. Eu deveriame opor sobre aBaby?Talvezdizeroquãovulgaredesgraçadaelaconseguiaser,maseunãodizia.Porquenãomeimportava!

O encontrei na mesa de sinuca quando desci, eu nem sabia se o

encontrariaaliainda.Maseleestavalá, foiapenasumatrocadeolharquenãoduroumuito.Tasbateudelevecomsuabengalasobreobalcãochamandominhaatenção. Seu olhar era divertido e me perguntei onde ele achou diversão nomomento.Meentregouumaxicara.

–Café,obrigada.–Agradeci.–Vocês vão ficar assim até quando?Se esqueceramque estão viajando

juntos?–PerguntoualtoobastanteparaAlexescutar.Eletecontou?Quelegal.–Nãoseidoqueestáfalando.–Bebimeucafé.–Sobre seremgêmeos siameses, atéontempelomenos issoestavabem

claro.Oupodemoschamarsódealmagêmea?–Taszombou.–Almagêmea?Queatual.

Sorriu.–Ésério,vocêsprecisamseresolver.–Falouagoraapenasparamim.–Não fale como se houvesse alguma coisa entre isso tudo. Somos

amigos.Tasseserviudeuísqueesorriuamarelo.–Se for pelaBaby, você não devia se importarmuito. Ele nunca ligou

paraela,nemquandoerasóummolequecheiodehormônios.–Riudelado.–Alexébomrapaz.

–Nãoéporela.Meencarou.–Para.–Balanceiasmãostentandofaze-loesquecer.–Alexquermetratar

comoairmãdele,sóquerofaze-loentenderquenãosou.–Elesabequenãoéevocêtambémsabe.Doiscegos.–Resmungou.–Eunãovoutedarouvidos.Issoéumabsurdoenemouserepetirissoa

ele,dojeitoqueAlexéneuróticoelevaiacharquesoueudizendoisso.Tasgargalhou.–Nãosepreocupe,disseamesmacoisaparaele.–Disse?Assentiu.–Agoraeleestáali,refletindo.–Apontou.

–Legal.–Ironizei.–Mudandodeassunto,esseéomeuúltimodiaaqui.E

aindaécedo,entãoeupossoteajudarcomocaixa.Passamos quase duas horas contando a imensidão de dinheiro que ele

tinhaemcaixaedentrodeumcofreescondido.Passaralgum tempocomTas,umcaraaindadesconhecidomefaziamelembrardomeupaieissomelevavaapequenadepressãoporsaberqueestavalonge.

Era quase o horário do almoço quando os dançarinos chegaram, Alex

aindajogavasinucasóquenamesamaisaofundoeminhadordecabeçasurgiuquandoBabyapareceu.Tasavisouquesóbuscariaachavedocarroeiriamparacasa,elagritouqueiriacomAlex,entãoelesetocou.Avisaltitaratéelequaseinfantil e abraça-lo por trás, Alex sorriu para ela, trocaram meia dúzia depalavras e ele saiu. Me sentei em uma das mesas tentando ao máximo meesconderatrásdascadeirassobrealgumasdelas.

Mas elame viu, e desfilou até onde eu estava tirando uma cadeira da

mesaesesentando.Seuperfumedefinitivamenteeraopiorquepoderiaexistir.Elameencarouobrilhoplatinadodeseucabeloquasemecegando.

–Eu sei como se sente. –Falou encarando as unhas. –Me senti assim

também.–Nãoseidoqueestáfalando.Masestouafimdeficarsozinha...–Gostardequemnãogostadagente.Édissoqueestoufalando.Aencarei.–Bom, você deve estar confundindo as coisas, não temos nada em

comumaesserespeito.Etenhoquasecertezaquenãotemosnadaemcomumaotodo.

Sorriu.

–É,deveser.Alexestámedandoumachancedemostraraelequeposso

serlegaltambém.–Sorriu.–Eleaceitoumeuconvitedealmoçaremminhacasacomminhafamília,emelevouemcasa.Eleéperfeito.

–Legal.–Encareiosdançarinossepreparando.–Ele ainda ama amorta, eu sei que amamuito a ponto de não querer

aceitaroutrapessoa.Elemedisse issocomoamigoontem,não foium fora talegal?Eleapenasseabriu,elenãoseabricommuitagente.Sócomquemeleconfia.

–Quebomparavocê.–Continueolhandoparafrente.–Euseiquetentasefazerdecoitada.–Como?–Chamandoatenção.Euviontem,vocêtentouchamaratençãootempo

todo,umapenaqueapenasocaramaissemnoçãopercebeuemvocê.PeloqueAlexdeixouescaparvocêécomoairmãdele,quaseconsigoveramesmacenadealgunsanosatrásquandoagarotafugiuparacá.Eleagiadessamesmaforma,nãopossoperde-ladevistas,queméocara falandocomela,não faça issoounãofaçaaquilo...

–Aindanãopercebeuquenãoestouafimdejogarconversafora?Senão

percebeu eu vou te dizer, eu não quero conversar, Barbara, agora você podesaltitarcomseuperfumefedorentoparalongedemim.

Seus olhos azuisme encararam surpresos antes damáscara de ódio se

instalaremseurosto.Respireifundoquandoaviselevantar.–É,vocênãoconseguiudessavez.Euseicomoédifícil terarealidade

dita.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela se afastou, segundosdepoisAlex desceume voltei a dança apenas para não o ver sair. Tas acenoucom um sorriso divertido e isso estava começando a me irritar, eu não meimportocomisso.

–Hei.–Encareiamorenanopalco.Elarespiravaofegantememostrando

queamúsicadeviatertocadoumasmilvezeseeunãopercebiqueeleshaviamdançado.–Dança?

–Amuitotemponãoseioqueéisso.–Admiti.Sorriu. Ela tinha os cabelos cheios e altos, eram cachos perfeitos em

voltadorostodelicado.–Agentenuncaseesquececomosedança.–Oloiroqueestavasentando

a poucos metros se aproximou estendendo a mão. –E ficar sentada aíesquentandoacadeiranãoémuitolegal.

Oseguiatéopalcoeasoutrasmeninasvierammecumprimentar,vamos

láSam,nãodevesertãodifícilassim.MetorneiumavelhaaosdezesseisanosquandotudooquesabiafazereraouvirmúsicaschatasnacasadeDave,atésuasfestas eram entediantes, eu sempre achei isso.Mas sempre aceitei também, aoutra morena mais baixa de cabelos longos mudou a música para algo maisanimado.

Peloseusotaqueelaeramexicana,meupaiiadevezemquandoacasa

do seuamigoGerardumcolombianoqueamavauma festa commuitamúsicaaltaecerveja.TioGerardmetiravasempreparadançarenãodeixavaosoutrosgarotosfazeremisso,elediziaqueeueraumperigo.Agoraeuvejooquantoissodeveriamedeixarenvergonhadanaépoca.

Carloloiroquemetirouparadançar,meefezacompanha-loempassos

lentos fora do ritmo da música. Até que consegui pegar e em pouco tempoestávamos praticamente em todo o salão, trocamos o casal, agora eu dançavacomKishaagarotaquemechamouemepegueisorrindodeverdadeemtempos.

Umarodaseformouepraticamentedanceicomtodos,eunãoviahorapassar,nãomepreocupeicomAlexouBaby,oucomqualqueroutracoisaquemeperturbounosúltimosdias.Estavamevendoemumambientequeabandoneiporalgodesnecessárionaminhavida.Kishamefezperguntas,váriasdelasnaverdade.Elesqueriamsaberdeondeeueraecomochegueiali,oqueAlexeeuéramos, por que eu não bati na Baby. Eram perguntas engraçadas. AquelaspessoasmefizerammudardeopiniãosobrecassinosepessoasemVegas.

Depoisde responder todaselasemeucorpoparecerumpoucomelhor,Sebastiancolocououtramúsicaparatocar.

Elemetirouparadançarpelaprimeiravez,metocavabemmaisqueos

outroscaras,masissonãomeincomodava.Dealgumaformaissonãoestavameincomodando, eleme explicava comodeveria fazer para sair certo e apenas osegui.Ninguémaliviuotempopassar,apenasdançávamos,seguiseuolhareumpequeno sorriso brincava em seus lábios. Alex estava a poucos metros nosencarando,aseuladoBabyeTas.Eujuroqueeradesnecessáriovê-ladenovonomesmodia.

–Vocêsnãodeviamestarensaiando?Abriremosemduashoras.–Baby

gritou.Todossecalarameamúsicacessou.Taspassouafrente.–Porquepararam?Ganhamosumanovadançarina.–Não.–Faleidescendodopalco.–Nãomesmo.–Eladançamuitobem.–Carlfaloucomumsorrisotravesso.–Éumapenaquejáestamoscompletos.–Babychioudepoisquepassei

porela.Haviaumaparteemmimgritandoporamorpróprio,eeraessaparteque

decidiagirpelaspróximashorasemqueestaríamosali.

–Nãoestouafimderoubarissodevocêtambém.–Falei.Ganheialgunsolhares,masninguémmeobrigariaacontarnada.

Enãohavianadaasercontadotambém.–Certo,vamosmanterapaznoambiente.–Tasbateusuabengalanochão

e sorriu. –Vou voltar ao caixa e vocês, podem voltar as suas atividades,abriremosembreve.

Espereiogruposeafastaremevolteiaobalcãodeslizandosobreumdos

bancos altos, senti minhas costas colando a camiseta pelo suor. Odeio suar etinhaacertezaqueprecisavadeumbanho,mesmo tendoumar-condicionado,alieraquente.

–Eladança.–Tasbrincou.–Nãosoutãoruimquantoaparentaminhaaparência.–Aceiteiouísque.

AlexdeviaestarmeencarandoemalgumlugarporqueTasestavasedivertindo.–Masprefiroservirmesasecuidardacontabilidade.

–Hojeéoseuúltimodiaaqui,vocênãotrabalha.–Falou.–Jádeixeiseu

dinheirocomAlex,elecuidaráparavocê.–Porquenãopossotrabalharnomeuúltimodia?–Perguntei.–PorquevocênãoveioaVegasparatrabalhar,entãocurtaanoite.Você

estánacidademaisiluminadadomundo.–NãoseriaParisamaisiluminada?–A do romântico sim. –Sorriu. –Bem-vinda a cidade do Pecado mais

iluminadadomundo.OqueaconteceemVegas...–PermaneceemVegas.–Sorri.

SubiumpoucoantesdeTasabrirasportas,naverdadeabrirasportaserabem figurativo, as luzes só precisavam iluminar a entrada isso já avisava queestávamos funcionando. Alex estava no quarto quando entrei, mexia em suamochila separando roupa limpae roupa suja– eudevia ter feito isso também.Mearrasteiatéosofáepuxeiminhamochiladochão,mecanicamenteoimiteiemsuatarefa.Arrumeiempoucotempominhapequenabagunça.

Seascoisascontinuassemassim,nãopoderíamosseguirviagensjuntos.

Algomediziaqueascoisasseguiriamassim.Talvezeleficassealimesmo,Alexnão tinha nada a perder em Vegas, eu tinha e muito. Separei uma roupaconfortável, nada comparado ao que usei na noite passada e segui para obanheiro. Minha aparência estava ficando péssima de novo, mas não meimporteicomisso.Useiumpoucorímelebatomvermelho,eunãogostavademaquiagens na verdade, Dave não gostava. Mas sempre gostei do batomvermelho, ele dava um toque delicado em minha pessoa – não era o maisindicadoaminhapeleamendoada,maseugostava.

Alexesperavano sofáquandoeu saí, se levantoueentrounobanheiro

parasuavez.Emcimadaminhamochila,oenvelopecomodinheirodaminhanoite de trabalho. Mas já estava decidido o que faria com ele. Só precisavaespera-lo sair,nessemeio tempopesquisei rodoviáriasnosarredoresdeVegas,eraquaseloucolevarVegasasério.Ondecassinos, luzesemuitafestapareciamoveracidade.Euprecisavaacharumbairronormalforadonúcleodacidade.Encontreiumaameiahoradaboate,epoderiaconseguirumtaxicomamaiorfacilidadedomundo–diferencialdeVegas.

Alex saiu do banheiro, usando um jeans surrado e camisa branca

apertandoseusbraços, seucabeloestava ligeiramentepenteadopara tráse seuperfumetomounoventaporcentodoquarto.Peloseuolharelenãoesperavameverali.Pegueioenvelopeeoestendiaele.

–Éseu.–Não,éseu.–Tasmandouentregar,peloseutrabalho.–Sevirouaoespelhonaparede.

–Eusei,elemedisse.Masqueroquefiquecomvocê,éopagamentoda

viagematéaqui.Continuou se encarandono espelho, se certificandodeque estava tudo

bem.Eletambémnãotrabalharia.–Jácombinamoscomoascoisasirãofuncionar.–Ascoisas...nãoirãofuncionarassim.Sevirouparamim.–Pega.–Balanceioenvelope.–Vamosfazerdomeujeito,émaisfácil.–Eunãovoumaisseguirviagemcomvocê.Conseguiumônibuseparto

emmeiahora.–Menti–.Achojustoficarcomissoquandovocêpagouamaiorpartedetudo.

–Sam...Deixeiopacoteemsuamochila.–Éseu.–Porque?Oqueafezmudardeideia?GostoudeVegas?–Eu gostei, mas acho que poderia ser melhor se não estivesse nesse

clima.Nãonosfalamosdesdeontem,achamesmoquevouconseguirviajarcomvocê desse jeito?Não, eu não vou. – Eu queria chorar porque por dentro eracomosepeçasestivessemmudandodelugar.

–Sam...–Jáestádecidido.Obrigadaportudo,foilegal.BateramnaportaeKishasorriucolocandoacabeçadentrodoquarto.–Vamoslá,queremosvê-lanosassistindo.Pegueiminhamochilaeasegui.Alexmemandouesperar,masamorena

jámearrastavaparaoprimeiroandar.Averdadeeraqueeunãoqueriairalugarnenhumsemele,nãoentendibemoporquê,maseunãoqueria.

–Estavambrigando?Babyéapivô?–Kishaperguntou.–Nãoenão.Somosamigosapenas.–Amigosecegos.Vocêestátristesabia?Sorri.–Nãoestounão.Escolhiumamesavaziapertodopalco,Babymeencarouamaiorparte

dotempoenquantocirculavapelosalão,chegouadiscutircomTasalgumacoisaqueeunãofaziaideiadoqueeraeesperavanãosernadarelacionadoamim.Eupenseiqueainfantilidadedelapassaria,maselaconseguiaserimpossível.

Aguenteiemsilencioascoisasquediziaparamimsemprequepossível,

partedemimjáestavanolimitepermitido.–Eufaleiquenãodeviaconfiaremtodomundo.–Faloumaisaltoquea

música.–Agorafomosroubados.–NãofomosroubadosBaby.–Tasmexianocaixa.–Apenashouveuma

contaerrada,eestousomandotudo.Elasorriusemhumoremeencarou.–Temcerteza?Estátãogenerosoassim?–VáparaopalcoBaby.Me levantei quebrando a pouca distância. Tas me encarou com seu

sorrisodesempre.–Olá,vocêdesceu.–Evocêmeviu,issojátemunsvinteminutos.Algumproblemaaqui?–Nenhum.–Seuolharvoltouaumcadernodeanotações.–Nãovaidizeraela?Eudigo.–Baby.–Tasaencarou.–Vocênosroubou.–Como?Achoqueaslantejoulasdoseuvestidovulgar,mecegarammaisdoque

suaspalavras.–Issoquevocêouviu,vocênosroubou.Acontadocaixanãobate,você

pegoudinheirodocaixa!Aspoucaspessoasqueestavamporpertonosencarouenãodemoraria

muitoparaanoticiasaircorrendopelosalão.Sentimeusolhosarderem,eunãopodiachorarnafrentedela,nafrentedeninguém.Eujureiqueissonãoiamais

acontecer,entãosegureicadamalditosegundo.–Eunãoroubeinada,eunãoprecisodisso.–EncareiTas.–Eusei.AgoraBaby,volteaopalco.–Faloupaciente.–Podemosprocurarnamochiladela...–Segureiseubraço.–Vocênãotocaumdedonasminhascoisasouoarrancocomosdentes.Seusolhosazuissearregalaramdesusto.–O que está escondendo? Que é uma ladra? Você roubou o Alex

também? –Puxou o braço. –Agora todos aqui sabem que você nos roubou.Porquevocêéumaladra.Ouviram?Elanosrouboueagoraestáfugindo.

Puxei a parte de trás de seu vestido levando o punho para trás e a

acertando com toda a minha força. Foram alguns segundos até perceber amanchavermelhaemmeusdedoseBabycaídanochão.Elagritavaesedebatia,Sebastiansorriaquandoseaproximouevialgunsdosmeusnovosamigoscomomesmosorriso.Puxeiminhamochilanobalcão.

–Me desculpe Tas, eu não peguei nada, você estava aqui e viu. –Me

afastei.–Eunãoteroubei.–Espere, Sam. –Pediu, mas já estava passando por entre a pequena

movimentação.Longedetudoaquilo.Havia um pequeno desespero em mim, mesclado ao contentamento.

Esperava pelo menos ter quebrado seu nariz para compensar a dor dos meusdedos.Meucérebroestavasendoesmagadodentrodacabeçaeeuqueriagritar.OuviosgritosatrásdemimenãosabiacomoAlexmeachouassimtãorápido.Euqueriasoca-lotambém.

–Medeixeempaz.–Mandei.

–Está louca?–Puxoumeubraçoepreciseimeequilibrarparanão irao

chão.–Mesolta,Alex.–Não.Vocênãovaisairassim.Vocêestábem?Pareciaestar?Eu fuiacusadade rouboeaguenteimilagrosamenteuma

cópiaeróticadaBarbiepordoismalditosdias.Eunãopoderiaestarmelhor.–Estouótima.–Nãoestá.–Porqueperguntou?Émelhorvocêvoltar.Gargalhou.–Eunãovouvoltar.Euvioqueaconteceu,nãovouvoltar.Eunãovou

deixa-lasozinhaentendeu?–Porque?Denovoseuladoprotetorfamiliar?–Talvez,issonãoimporta.Vamosdaroforadaqui.Alexme arrastou de volta para o corredor que dava para rua atrás da

boate.MeucoraçãoperdeuumabatidaaoverTasparadoaoladodocarro.Seelechamarapolícia,provavelmenteeu ireipresa.Eraa famíliacontraaestranha.Alexsegurouminhamãocomforçaemepôsatrásdele,issofoibom,apesardeaindaestarcomraiva,issofoiperfeito.

–Jáestamosindo.–Falou.

–Hei,nãoprecisamsairassim.–Eunãoteroubei.–Minhavozsaiutremula.–Vocêsabequenão.–Eu sei. Barbara pegou dinheiro no caixa mais cedo, ela é boa em

aprontaressas,sóquedessavezachoualguémqueconseguiupara-la.–Samnão seria capazde fazer isso. –Alexmeencarou. –Eeu já devia

imaginarqueBabyaprontaria.–Todosnóssabíamosqueelafariaalgumacoisa.Deviamtermedito!–Mesmoassimnósestamosindoembora.–Alexfoifirme.Apesardetudoeunãoqueriavê-lotratarTascomosefosseoculpadode

tudo,eleconheciaBabytãobemparateressaatitude.–Tudobem.EusintomuitoporcomeçarsuanoiteassimTas,deverdade.

Nãofoiminhaintençãoenemsouessetipodepessoa,maselametiroudosério.Obrigada por tudo e desculpa pelo tapete importado. – Ele sorriu amarelo.EncareiAlex.

–Foiumprazerrevê-lo.–Oprazerfoitodomeugaroto.Voltesempre.–Voupensar.Alex!–Euseiquevaivoltareacompanhadonovamente.

Osencareitrocarumabraço.Alexpegousuamochilanochãoajogandonobancodetrásdocarroemeesperandoentrar.Pareciaquetudooqueeuhaviadito,haviaentradopeloralo.Eleentroulogoemseguidadandoumamanobranobecoestreitoeacenando.

–Nãoprecisavatrata-loassim.–Euoavisei.–Ta,elenãosabia.Elefoilegalcomagente,nosdeixouficar.Vocêdevia

terumpoucodesensibilidade.–Eutenho.MasacalmadeTasmeirritaumpouco.Issoeutinhaqueconcordar,masnãojustificava.–Poderespirar?Quembrigouaquifuieu.Seus dedos batucavamnervosamente o volante, as luzes da cidade que

começaramaseremacesasjánãomeexcitavamais.–Eu pesquisei, tem uma rodoviária ameia hora daqui. –Falei,mas ele

nãodissenada.–Meouviu?–Vocênãoestáemcondições...–Alex,pareocarro.–Pedi.–Não.–Pareadrogadocarroagora!–Mandei.–Vocêestásendoinfantil.

Passeiparaobancodafrente.–Eu estou sendo infantil?Vocême ignorou ontem,me deixou sozinha

hoje.Derepentemetratacomopropriedadeeagoranãomedeixair?–Vocênãoquer ir. –Meencarou eperdi umabatidado coração. –Você

estáirritadaeagindocomoumaidiota.Masvocênãoquerir.–Euqueroir.–Não.PorciúmesvocêdançoucomSebastianeodeixoutetocar,então

de repente você era a garota mais desejada daquele lugar. Bateu na Baby eresolveufugir.

–Desse jeito eu quase me acho uma mercenária. Eu provoquei tudo

certo?Eu devia ter aceito o convite daquele cara e termemandando com elepara onde quer que ele fosse. Seriamuitomelhor do que seguir essamalditaviagemcomvocê!

Ocarroparouepreciseiseguraropainelparanãovoarpelajanela.Alex

destravouasportas.–Sai.Oencareipordoissegundosantesdepuxarminhamochilanobancode

trásemejogarparaforadocarro.Minhasmãosestavamsuandoeumzumbidoestava incomodandomeus ouvidos. Tinha água demais emmeus olhos e elastransbordaramquandoocarroseafastou.Tinhamuitagenteali,euodeiolugarescheios.

12

Alex

Rodei a cidade por algunsminutos, por váriosminutos na verdade. A

cadasegundomeusolhossevoltavamaobancodetrásparaverseelaestavaali,maseuhaviaadeixadonomeiodacidadeamalditosminutosatrás.Eusabiaquenãodevia,Samhaviatraçadoumcaminhoondeelanãoseperderiaeeudesfizessecaminho.

–Certo,vamoslá.Fizavoltadevoltaàcidade,eestacioneiondehaviaadeixadomeiahora

atrás. Sam nunca me pareceu uma mulher que tem um pensamento logico,quando a encontrei ela não sabia quepassodar, então achei que a encontrariaassim novamente. Estamos em Vegas e Vegas é um lugar fácil de se perder.Estacionei e segui pelas ruas, perguntando e dando características dela parapessoasqueeuencontravanocaminho.Atéserinformadoporumtaxistaqueelahaviapegoumtaximuitotempoatrás.

Oplanoerairparaumarodoviária,maseunãofaziaamínimaideiade

ônibusqueelapegariaemseguida.Seseguiriaomeutrajeto.Eunãosabiaoqueelaqueriafazer,masdirigiatéarodoviáriaenfrentandoumapequenafilaatéoguichêassimquecheguei.Umasenhoradecabelosruivossorriu.

–Boanoite.Paraonde?–Boa noite, para lugar nenhum. –Tentei sorrir. –Preciso de uma

informação.–Emquepossoajudar?–Estouprocurandoumagarota,elaémorena, temoscabeloscastanhos

avermelhados. Um pouco baixa, ela está usando uma camisa xadrez azul eshorts,euprecisomuitoencontrá-la.

Seuolhareradescrenteporalgunssegundosantesdeajeitarosóculose

torceronariz.–Achoquepegouoônibusnacabinetrês.Podeseinformarmelhorlá.–Obrigado!Muitoobrigado.–Aperteisuamão.ElahaviapegoumônibusproColorado.Nãosabiasehaviaumaescala,

seelavoltariapracasaemseguida,massabiaqueelairiaparalá.Oônibustinhasaídoemcimadahoraefoiumasorteelaterconseguido.Pegueiaestradaemseguida, eme dei conta do quanto estava correndo.Mesmo sabendo que nãoadiantariamuito.

Dirigipor algumashoras até a saídadeVegas, semparadas.Não sabia

em que cidade havia entrado, apenas que estava dentro dos arredores doColoradoejáerabemtarde.Arodoviáriamaispróximaqueacheicomonúmerodoônibusqueamulhergentilhaviamepassadoestavaabarrotadocomotodasasoutras.Enfrenteiumafiladedezminutosatéconseguirminhainformação.Elesnão haviam passado ali e pela hora parariam na próxima rodoviária – sehouvesseescala.

Volteiaestrada,eacalmaqueleveiporummêsealgumassemanasse

dissiparam. Ela não é importante e não tem uma porcaria de contrato para euestarpreocupadocomela,maseuestava.Oitoemeiadamanhãestavaentrandonarodoviáriaseguinte,oônibushaviaestadoaliháumahoraatrás.Comosaberseelapegououtroônibus?Entrandoemtodososônibusquesósairiamàquelahora,asprimeirassaídasdodia.Chegueiaconfundirumagarotacomela.

Me informei com a rota que ele passaria e atravessaria nove cidades.

Listeiemmeumapatodososlugaresqueteriadepassar,aencontrariaemumadelas.

13

Samantha

"–Oi pai, sou eu. O que aconteceu com o nosso telefone? Não está

ouvindominhas ligações?Euestoubem...oupelomenosestou tentando ficar.Nãoqueroquesepreocupe,achoqueestánahoradesairparaaquelasfériastão esperadas. –Tentei sorrir. –E viajar não me parece tão ruim assim. Ligoassimqueeuconseguir,euamovocê."

Minhacabeçaestavadoendo,epareciaserbemmaisdoqueeupoderia

aguentar. Depois do pequeno desespero em me perder em plena Vegas euconseguiumtaxi.Estarcomtodasaquelaspessoasestranhasmeassustava,tenteiignorar os olhares que ganhei enquantome arrastava para o fundo do ônibusondehaviaumaúnicapoltronavazia.Agora eramduasdorespara saber lidar,perdas.

Viodiasearrastar,penseiempegaroutroônibusquandoparamos,voltar

pracasaecuidardomeupai.Penseiemtudooquepoderiaacontecer,atéqueaúnicavontadesãemmimfoificarparadaemqualquerlugaresperandootempopassar. Dessa vez não desliguei o celular, apenas o deixei no silencioso empouco tempohaviamaisdeduzentas ligações.Eseeuatender?Eseouvi-los?Isso não mudaria nada, porque eles não conseguiriam consertar o erro nemnascendodenovo.

Fomos avisados de que teríamos uma parada de vinte minutos, mas

permaneci no ônibus quando chegamos a ela. As coisas estavam diferentesagora,comosefaltassealgumacoisa.Umacoisagrande.

Levei a sensação de vazio comigo até a parada seguinte. Eu não sabia

que horas eram, apenas fiquei no ônibus tentava a todo custo não pensarmasacabava pensando. Pensando que Alex poderia ser um pedaço da viagemfaltando,maseleeraumestranho.Apenasumestranhoqueporsinalmemandousairdoseucarroemedeixousozinhanomeiodacidade.Seiquepediporisso,nãoconseguiaexplicaramimmesmaporqueagidaquelaforma–porqueagimosdaquela forma.Ele sentia o que eu estava sentindo?Mas, o que eu realmenteestavasentindo?

Acordeipelamanhãcomoônibusaindaemmovimento,quandoparamos

meia hora depois novos rostos surgiram ocupando lugares que não lhespertenciamatéquilômetrosatrás.Doiscarasnobancode trásdomeu falavamalto, vez ou outra batiam emmeu banco e pediam desculpas até que perdi ascontas de quantos foram. Nossa parada seguinte foi as três da tarde em umarodoviária, enfrentei a fila em um restaurante e consegui fazer uma refeiçãoantesdevoltaraoônibus.Desejeinãoosverdepoisdisso,maselesjáestavamlá.

Doisgarotos,nãodariamaisquevinteanosparacadaummesmosendo

fortes, eles eram novos. Um deles piscou pra mim e me afundei em minhacadeira, demorei um longo tempo antes de fechar os olhos e dormir com obalançodoônibus.Eunãotivepesadelosdessavez,nãoosmesmospelomenos.Dessavezeusonheiqueestavacomele,comAlex.Nãoestavaliteralmentecomele, talvez ele me mandando descer do seu carro mais uma vez e uma lindagarota estava do seu lado. Acordei commeu corpo indo para frente em umafreadadoônibus.

Ouvi o desespero das pessoas logo em seguida quando os choros

começaram, acho que precisei de alguns minutos para entender que batemos.Pessoaspassavampormim,umamãoseguroumeubraçoeeraumdosgarotosdemaiscedo,ooutropegouminhamochila.

–Vamostirarvocêdaqui.–Omorenofalou.–Euseiirsozinha.–Tenteimesoltar.–Vocêbateuacabeça.Encareiochãomeiozonza,algumaspessoasaindachoravamencostadas

noônibus e encareiooutroônibus logoa frente coma traseira amaçada.Nãopercebia que estavamme levando para longe das outras pessoas.Omoreno aminha frente disse algo como: ela está bem. Não, eu não estava. Puxei meubraçoeencareiminhamochila.

–Agentepodearrumarumacaronarápida.–Ooutrodisse.–Obrigada,eunãoquero.Podedevolverminhamochila.Elesseentreolharam.–Qualé,estatarde.Ninguémvaisairdaquihoje.–Omorenotentou.–Nãoimporta.Eunãoosconheço;–Podeconheceragora.Encarei todas aquelas pessoas assustadas e os motoristas discutindo,

pessoas chamando por ambulância. Estávamos nomeio da estrada com carrosultrapassandocomopodiameelesestavamcomaminhamochila.

–Porquenãoajudamaquelaspessoas?–Tenteinãoentrarempânico.–Porqueelasnãosãotãolegais.–Eu também não sou. Sério, me devolve minha mochila antes que eu

comeceagritar.Oloirosorriu.–Gritarélegal,vocêétãoimportantequetodosvãoteobservarnolugar

de ver que um acidente acabou de acontecer. –Contei mentalmente até três eavancei pra um deles, senti um aperto em minha cintura e automaticamentesoqueiomorenonorostosentindomeuscincodedossequebrando.

Aslagrimasseformandonasbordasdosmeusolhos,mesegureiparanão

deixa-las descer. O loiro sorriu contra minha nuca e tentei chuta-lo, ninguémestavamevendo?Ninguémviaqueelesestavammeatacando?Omorenoabriuminhamochilaepegouoenvelope,rápidodemaissentimeusbraçoslivreseo

loirocairaomeulado.Alex?!Alexsejogoucontraeleeviseuspunhoscerrados,minhaspernas

estavamtremendoapontodenãoconseguirficarempé.Gritei quando vi o moreno vindo em sua direção com um pedaço de

madeira, Alex desviando tendo que deixar o outro caído no chão. Eles seafastaramdecostaseoloiroacenouparaumdostaxisqueparouatrásdeváriosoutroscarros.Alextentoucorreratrásdelesdepoisqueamadeirafoisolta,masocarrosaiuemdisparada.Entãoeudeixeias lagrimasvirem.Eunãosabia seficavafelizoutristecomtodaasituação.

–Meu Deus, Sam. –Me abraçou. Mas eu estava com raiva dele e me

afastei.Inútil,elemepuxouparamaisperto,seuqueixocontraminhacabeça.–Oquefazaqui?–Euqueriasoca-lo.–Salvando você. –Seus braços eram firmes. –Eu fiquei louco atrás de

vocênessesúltimosdoisdias.Euperseguiônibusatrásdevocê.Euqueriasorrireissoeraestranhamentebom.–Precisamos te levar a um médico. Eu entrei naquele ônibus quando

disseramquetinhagenteferida,eunãoenxergueinada.–Falouexaminandomeurostodeumladoaoutro.–Estásentindoalgumacoisa?–Seusdadosapertavamminhacabeça.

–Qualéoseuproblema?–Gritei.–Nomomento?–Viroumeurostodeladoafastandomeucabelo.–Saber

setemalgumapartequebrada.Estendiamãomostrandomeusdedosqueatéentãoeramfinos,inchados.–Achoquesim.

–Foinoônibus?–Segurouminhamão.–Em um idiota que roubou meu dinheiro. –As lagrimas voltaram. –E

agoraestouperdidadevez.–Nãoestá.Estácomigo.–Meabraçou.–Penseiquetivessememandadoembora.–Euestavacomraiva!–Deque?Seu olhar foi para voz atrás de mim, para o homem de branco.

Enfermeiro.Elemefezperguntasememandoumesentar.Alexficouempénosobservandootempointeiro,seguravaminhamochila.

–Estásentindoalgumacoisa?Bateuacabeçanoimpacto?–Não,acordeinosusto.–Tomaalgummedicamento?–Perguntouenquantomediaminhapressão.

–Umpoucodesreguladamasporcausadosusto.Alexmeencarou.–Calmante.–Sussurrei.–Temporário.–Certo.Fiqueaqui,voubuscarumpravocê...–Não precisa. –Alex falou por mim. –Ela se sente bem e temos

medicamentonamochila.

–Tambémestavanoônibus?–Oenfermeirooencarou.Negou.–Vocêquersermedicada?–voltouamim.Neguei automaticamente. Algumas pessoas falavam ao telefone e

ambulânciasvoavampelapista.Alexmelevoudevoltaaocarro,eusentifaltadaqueleperfume.

–Podemosdarqueixa.–Foisóodinheiroeaessahoraestãolonge.–Funguei.–Mesmoassim...–Nãovaimudarnada.Achoquevamosserreembolsado.–Sussurrei.–UmapassagemdevoltaaVegasenãopracasa,étudooqueelesvãote

dar.–Melhordoquenada.–Jáseesqueceudoqueaconteceu?Oencarei.–Não,nemcomotudochegouaacontecer.Comovimpararaqui,sabe?Seumaxilartravouporalgunssegundosantesdelesoltarminhamochila

nobancodetrásedaravoltasesentandoameulado.–Vamossairdaqui,vocêprecisadescansar.

–Precisamosconversar.–Murmurei.Masnemeumesmasabiaoqueeuqueriadizer.

14Alex

Samnãodissenadadepoisquesaímosdolocaldoacidente,meucoração

ainda estava batendo descompensado dentro do peito e podia sentir o suorcolando minha camisa. Quando estava me aproximando do quilometro doacidentetudooqueseouviaeradeondeoônibushaviasaído,aspessoastêmodomdeaumentarascoisasenãofoidifícil teressasinformações.Nãovinadaquandoestacioneiocarroesalteiparaoônibusescolhendoodepiorsituação.

La dentro havia três pessoas feridas esperando socorro e nenhuma era

ela.Depoisentreinoônibusdetrásenãohavianinguémalitambém,sópessoaschorando desesperadas. Foi apenas um segundo, antes que eu voltasse para ocarroeseguisseviagemquandoviapequenamovimentaçãonaparteescuradoacostamento,graçasaumfarolparareconhece-la,umsegundodedúvidaefuiaté lá.Quandoviagarotaatéentãoencurralada,eusabiaqueeraelaenãovimaisnada.

Queriafaze-losseafastaromaislongepossível,aomesmotempoqueria

pedir para ela segurar as lagrimas ou as coisas ficariam complicadas. Eu osdeixeiir,dealgumaformaeusabiaquesetentasseafundocolocartodaaminharaiva para fora, as coisas não sairiam bem e Sam precisava demim. Eu sentifaltadasuafragilidade,nãomelembravadetê-laabraçadoassim,maseugosteidaqueleabraço.Depoisdasuarecusaeuameiaqueleabraço.Elanãoiriaalugaralgumeeutinhamedodessepensamento.Quantotempoleveiparachegaraesseponto?

Eutivemedoquandoeladissequeprecisávamosconversarporquetodos

nóstemosumaparteegoístaeeutinhamedodeseressapartefalandopormim.Pareiquilômetrosdepoisemummotelbeiradeestrada,porqueelahavia

sofridoumacidenteeeusabiaqueelaprecisavadescansar.Elanãoquestionouarespeito também.Leveisuamochilacomigoafizmeseguirbempertoquandopassamosportrêspessoaslogonaentrada,elanãoseguravaminhamão,apenasmeudedomindinhoemeencarava.

–Umquarto.–Pedi.Eunãoiapedirdois.Nãoali.Peguei a chave do quarto e a puxei comigo, estávamos passando pelo

corredor quando os sons começaram a surgir e percebi que abafou um riso.Éramosoúltimoquarto,assimqueentreideixeiamochilanacômodaepuxeioslençóistirandominhamochiladascostasepegandoosdoislençóisquecompreiantesdeencontrá-la.Eramumpoucomenoresqueacama,masdeuparadarumjeito.Conferiobanheiro,estavalimpoaparentemente.

–Estácomfome?–Perguntei.–Eu vou tomar um banho. –Avisou segurando suas coisas. –E vamos

conversar.–Passoupormimdiretoparaobanheiro.Elanãoiadesistirdessaconversaeeunãotinhanenhumarespostapara

ela. Ou talvez tinha, mas parecia tão errado ainda, agora. Ouvi o barulho dochuveiro e o perfume do sabonete chegar até onde eu estava. Ela não passoumuitotempolá,quandoaportafoidestrancadaeupedisilenciosamenteparaelater esquecido tudooquequeriamedizer.Samanthapareciaumpoucomelhoragora, respirou fundo se sentando na cama e se encostando puxando umtravesseiroparacobrirospontossalientesemsuaregatafina.

Deus,elaestavapirandoaminhacabeça.–Podemosconversaragora?–Eunãotenhooquedizer.–Falei.Elaabriuummeiosorrisoirônico.–Porqueveioatrásdemim?

–Eraaminhaobrigação.–Não.–Meencarou.–Nãoera.Nuncafoienãoé.TerminamosemVegas,

independentedoquevocêache.Porqueveioatrásdemim?–Perguntoufirme.–Eu fui um idiota, não devia tê-la tratado daquele jeito. Precisavame

desculparedizerqueaindaestamosjuntosnessa.Samse levantoudeixandoa toalhanapoltrona, cruzouosbraços eme

encarou.–Nãoestou falandodepromessasAlex.Porquepossomeencaixar em:

ela é apenas umagarota inocente perdida na estrada ou ela não é apenas umacarona.Ondemeencaixo?Vocêmesmomedissequesempretevecaronas,oquemetornadiferentedeles?

–Sam...–Sóresponda.Doisdias,apenasdoisdiaselanãosepareciamaiscomagarotaqueeu

conheci.Estavamais,forte.Euachoeissoerabom,aomesmotempotinhasuasdesvantagens,asperguntas.

–Vocêéumaboacompanhia.–Tenteirespirar.–Não é o suficiente. Por que se importaria tanto comigo a ponto de

desviarseutrajeto.Vocêbateunaquelescaras,vocêdeviasever...–Qualquerumfariaisso...–Tinhaváriaspessoaslá.Vocêmeachou,vocêestavaassustado.–Aondequerchegar...

–Eunãosouumasimplescarona,nãoé?–Seuolharestavaarrancando

minhaalma.Estavalevandotudodemimparanãoperderacabeçacomelaali.Aindanão,Alex!Neguei.Elanãoeramesmo,maseunãosaberiacolocar

parafora.–Certo.–Seafastoumedeixandorespirar.–Entãoambossabemosque

nãoéumasimplescaronaenemoqueé.Mastemosumprazoeelevaiacabaraqualquermomento.

–Eusei.–Eu posso seguir essa viagem com você... mas tenho condições. – Se

virouparamim.Tenteifocaremseurostodelicado.Aencarei.–Não quero queme trate como umamenininha, eu sou umamulher e

quero ser tratada como tal. E não precisa me olhar com pena, eu estoudispensando.Eoqueacontecernaestrada,vaificarnaestrada.

–Estamosfalando...–Deatração...doquevocêquiserentendercomisso.Ela estava bêbada? Adrenalina? Ela estava corajosa o suficiente para

dizer tudo.Estavapuxando tudodedentrodeambos,nãoerasóeu.Podíamossentiroespaçosefecharentrenós.

–Talveznãosejaatração.–Falei.–Admiração?Desejo,eunãoseiquenomepodesertambém.Masseique

nãosintosozinha.

–Vocêsente?–Eudescobriquesintonoinstanteemquemedeixouenosúltimosdois

dias. Posso chamar de carência também, afinal você sabe o que aconteceu. –Fingiu não se importar. –Pode ser qualquer coisaAlex,mas estamos viajandojuntos.Achaqueissopodeficareminerciaotempotodo?

Neguei.–Certo,coloqueitudoparafora.Evououvircasoqueiramedizeralgo.–Issomuda?–Issopodemudar.–Moeuoslábios.–Eupoderiaseguirsozinha...–Você tem razão, não é como proteger minha irmã, pode ser atração,

desejo ou carência.Não precisa ser agora,mas vamos descobrir. Sóme deixacuidardevocêatélá.

Ficamosemumsilencioincomodoporumtempoantesdemelevantare

arrumaralgoparaelacomer.–Nãoestoucomfome.–Falou.–Sóprecisodormir.–Certo.Voutomarumbanho,nãodemoro.Ascoisasnãoestavamestranhas,estavamapenassendooqueelaseram

nocomeçosóquevistasagora.Sam estava encarando o teto quando voltei ao quarto, apaguei a luz

deixandooabajurdoseu ladoaceso.Elanãodissenadaporum longo tempo,issoerabomeruimaomesmotempo.

–Comosabiaparaqueladoeuestavaindo?–Sussurrou.–Fuiatéarodoviária.Meinformaramentãoseguiseuônibusacegas.Elameencarouesorriu,semdizerumapalavraantesdevoltaraencarar

o teto.Seusolhos se fecharamdeverdadepouco tempodepois.Ele era lindo,incrivelmentelinda.Queriameaproximar,toca-la,sentirseuperfumedeperto.Queriafazerumestragoemsuamentecomofaziacomaminha.Eeufaria,emalgummomento,faríamos.

Dormiporalgumashorasapenas,Samacordouaindaeracedo,sorriude

ladoeseguiuparasuamochilapegandoumatoalhaealgumascoisasdemulherantes de para o banheiro.Não demoroumais que quinzeminutos para sair, játinhapegonosso café damanhã e postona cama como fiz emnossas ultimasparadas.Pareciaquenadahaviamudado,quenãohouveumadistânciadedoisdiaseumreencontroconturbadonoitepassada.Pareciatudobem.

–Paraondevamos?–Precisosaberondeestamosexatamente,pertoosuficientedeseguirpor

NebraskaouKansas.–Podemos adiar Nova York por um tempo. –Sussurrou. Encontrei seu

olhar,elanãotinhacertezadisso.–Certeza?–Não,maseuqueroaproveitaraestrada.Masvocêtemquemeprometer

umacoisa.Espereiquedesseseuultimato.–Nãopodemedeixardenovo,nãodaquelejeito.–Eunãovou.–Afagueisuapernaganhandoseuolhar.

–Promete?Assenti,alguémgritoudoquartoaoladoaassustando.–MeuDeus,elesnãosecansamnão?–Resmungoumefazendorir.–Ondeachaqueestamos,querida?–Eles não têm hora para encerrar as atividades? –Se aproximou para

pegarosucodecaixinha.Consegui enxergar cada traço em seus olhos e seu perfume do recém

banhotomado,elaficousemjeitocomissoaomesmotempoqueviprovocaçãoemseusolhos.

–Nãotemhoraparaissoehojeemdianemlugar.Seafastou.–Vocêtemrazão.Não nos incomodamos com o silencio, os gritos no quarto ao lado o

preenchiam. Sam estava ficando sem jeito quando reunimos nossas coisas edeixamos nosso quarto, automaticamente segurei sua mão por segurança.Algumas pessoas conversavam no corredor, uma das mulheres me encarou eSamergueuumasobrancelhaatornandoengraçadadessejeito.

Deixeiaschavesnarecepçãoesaímos,comSamaindagrudadaamim

passamospelosmotoqueirosempoleiradosnaporta.Abrisuaportaesemmaisdelongasmepusemmeulugar,elaparoudeencara-losassimquedeipartida.

–Nebraska.–Avisei.

–Ótimo.–Seafundounobanco.–Oquefoi?–Nada.Porummomento eunão sabiaoque estava fazendo, apenas estiquei a

mãoeafagueiseucabelo.–Diz.–Apenasfelizporestardevolta.–Sorriusemjeito.–Tambémestoufelizporvocêestardevolta.–Agora que estou sem dinheiro. –Falou encarando a janela. –Vamos

precisaracharempregos.–Meencarou.–Eeuvoutrabalhar,éoutracondição.Eu não queria discutir, então concordei. Sam dormiu algumas horas

depois, foi o tempo de parar em um fast-food de beira de estrada e comprarnossoalmoço.Meucoraçãobatiarápidotodasasvezesqueéaobservava,queriaacreditar que tudo não passava de atração, porque teríamos de seguir depoisdisso.Eunãopodiadeixarquepassassedeumaatração.

Algumas horas depois estávamos parados em uma das lanchonetes da

Subway, Sam estava fazendo contas enquantomarcava pontos emmeumapa,seuscabelosestavamsoltosjogadosdeumladosódepoisdebagunça-los.Suapele estava bronzeada e ela não parecia mais um zumbi que conheci. Estavadescobrindo que SamanthaAlison era boa em discursõesmesmo não sabendodisso.

–Porqueestáfazendomarcações?–Perguntei.–Cidades grandes. Lugar fácil para se conseguir dinheiro. –Mordeu a

tampadacaneta.

–Euconheçopessoasquepodemnosajudarcasoprecisemos.Meencarou.–UmlugarcommaisumprojetodeBarbieerótico?–Umarugabrincou

emsuatesta.Nãoconseguiconteroriso.–Não. Mas te dou permissão para se expressar caso não seja do seu

gosto.–Obrigada.–Voltouaomapa.Deixamos a lanchonete com um estoque para as próximas horas na

estrada, Sam tirou algumas fotos comuma câmera surpresa que ela possuía otempo todo namochila,me dei a liberdade de tirar algumas dela em cima deprotestos. Estávamos mais à vontade um com o outro, era um misto desensações.

Passaríamos por Lincoln pela manhã sem cessarmos, Sam dormiu, de

novo.Suarespiraçãolentamedavaaideiadoquãocansadaelaestiveranosdiasem que nos separamos. Quase sete da noite ela acordou, como sempre ficousilenciosaantesdemeencararesorrir,serecusouapararemalgumlugarparadormireinsistiuparaqueeuadeixassedirigiredeixei.Eraumavisãoestranhavê-laali,maselasabiaoqueestavafazendo.

–Esperoquesaibamesmoterumadireçãoboa.–Calaaboca.–Mandou.–Podedormir.–Euestousemsono.–Vocêéumpéssimomentiroso.Prometoqueiráacordarvivo.

Eu não podia negar que estava com sono e ela queria um voto de

confiança, então bem lentamente deixei meus olhos se fecharem. Estavadesacostumadoadormirbemdesdequeelapassouaserminhacarona.Manterosolhosabertosparavigia-lapareciamaisseguro.

Umaestranhasegurança.Aquemeuestavatentandoenganar?Euestava

gostandoseriamentedeSamanthaAlison,maseunãosabiaseestavapreparadoparadizeradeusquandotudoissoacabasse.

15

Samantha

Alexdormiu,eleeragrandedemaisparasesentirconfortávelnobanco

carona,maseleconseguiusevirar.Suarespiraçãoerapesadaetodoosomqueemitiaeraumressonarcansado,eunãopoderiachamarderoncoporquemeupaieraaprovaderoncopotente.Mesentiabem,estandodevolta.

Agoraqueelesabiacomomesentia,comonossentíamos,elesaberiaque

tudoerapossível.Nãoeranosatirarmosumnooutroapenasparasaberseeraissomesmo,eraacontecerlentamente.Semdata,permissãoouporquê.

Eramquasesetedamanhãquandopareiemumpostodepoisdoavisodo

tanquebaixo,umadasmulheresquecuidavadasbombasseaproximoudajanelacomum sorrisopreparado atémever, seu sorrisodesapareceumais rápidodoquehaviasurgido.

–Tanque cheio por favor. –Sai do carro indo em direção ao caixa a

poucosmetros.ElapassouumlongotempoencarandooladodeAlex,provavelmenteo

vendodormircomoumdeusgrego.Issomefezsentirumapontadadeciúmesoqueeranatural,entregueimeucartãoevolteiaobserva-la,sorriuemdireçãoajanela e acenou. Então Alex estava acordado, não sei quanto tempo mas eleestava,seajeitounobancoemeencaroucomummeiosorriso.Eunãoconseguiretribuir,estavaemumazonadecrimenomomento.

Amorenaseaproximouda janelae fezalgumasperguntas,elepareceu

responde-lacomeducaçãoantesdeacenarparamimeelaencontrarmeuolharem seguida, ele saia do carro se esticando. Fazendo sua camisa se levantarmostrandooqueumaboaacademiapoderiafazercomumapessoa.

Tenteinãoquebrarmeucartãocomaforçaquefazia,assimquecheguei

perto o suficiente para estar a sua frente, Alexme puxou levemente para eleenterrandoonarizemmeucabelo,issomepegoudesurpresa.

–Tudobem?–Perguntou.Elesabiaqueeuestavanervosa.Issoeraoque

omomentopósBabymecausou.Assenti.–Eporaqui?–Passeiumolharparaamorena.–Tudoótimo.–Podemosir?–Perguntei.–Sim. –Alex me soltou entrando no carro de novo. Era idiota mas a

encareiantesdaravoltaeocuparmeulugar.Alexsorria,mepuxouparaoseucoloondefiqueiporalgunssegundos

antesdelenostrocardelugartomandoadireção.–Oqueeladisse?–Perguntei.–Elamefezumaproposta.–Sorriu.–Queproposta?–Leva-lacomigoedeixa-la.–Riu.Eunãopareciasurpresa,eutinhacerteza.–Emaisalgumascoisasquenãovemaocaso,comparaçõessevocême

entende.–Claro.–Meafundeinobanco.

–Eu disse que não te trocaria por nenhuma outra. –Sua voz soou

tranquila.–Elapareceuentender.Sorri.–Obrigada.Elefezdenovo,aqueleafagoemmeuscabelos.Eugostavadesentirseus

dedosdeslizandoporeles,elenãopareciaperceberoquefazia,apenasfazia.–Nãovamosseguirumalinhareta.–Falou.–Não?–Não.Voudescerumpouco,vamospegarMissouri,Indianaporaí.Isso é, teríamosmais tempo juntos.E issome fez sorrir.Ligueiomp3

poucotempodepois,nãotínhamosnadaparadizereissonãopareciaserruim,eraonossosilencioconfortável.Sentifaltadeseusdedosemmeucabelo,eosencareiquasesuplicandoisso.Nãotivemosmaisparadaseviatardecaireempoucotempoanoiteescurecendoaestrada.Alexparounoacostamentoeabriuomapanovamente,entãooporta-luvaspegandoumpequenocaderno.Seusolhosvoltaramaomapa.

–Oquefoi?Estamosperdidos?Sorriudelado.–Não.Estouconferindoumendereço.–Deonde?–Umamigo,temumbar.–Fezcareta.–Algunsquilômetros,esperoque

nãoseimportedetermosnossoprimeirotrabalho.–Umbar?Penseiquemequisesselongedebares.–Aqueroomaispertopossíveldemim.–Suamãoapertouminhacoxa.Encareiseusolhosesentioarnãosaberemquedireçãocirculardentro

demim,minhacabeçaestavapesadapelapressão.Semquepercebesse,respireilentamente e desviei o olhar apenas assentindo como uma idiota. Você sabecomoissofunciona,issonãoélegalSam,pensei.Vocêvaisemachucarcomodaprimeiravez.Mascomopossoafirmarisso?Baseandonoprimeiroefracassadoamor?Quesedane,eumesmadissequetudopoderiaacontecer,nãovouvoltaratrásagora.

–Quantotempoatélá?–Três horas, pelas fotos não é algo grandioso e sim, é nomeio de um

pasto.Oupelomenosparecia.–Issovaiserperfeito.–Zombei.Achei um álbum de fotografias no porta-luvas, eram fotos de Alex

pequeno,haviaumacomelequandodeviaterunscincoanostomandobanhonoquintal e uma legenda dizendo que ele era sexy. Bloqueiemeus pensamentosparaohomemadultodomeuladoqueabriuummeiosorrisomesmosemolharparafotografia.Alexpareciasaber.AsseguinteseramdelenoHallowen,festasdeaniversários.Ele comospais,Alex tinhaumamistura fortede ambose eupodiaimaginaroquantoseupaieraprotetorcomsuamãeapenaspeloolharqueelepassavaemtodasasfotosqueestavamjuntos.Alextinhaessemesmoolhar.

ConheciAda,eraumagarotaquedecaravocêsaberiadizerqueelanão

possuíafiltro.Seusorrisoeralargo,eraumpoucopálidaetudooquetinhamemcomumeraosorrisonoolhar.Adaerabonita,issoexplicavaasuperproteçãodeAlex.

Entãoasfotosforamficandomaispessoaisainda,elenãomeobservava

mais,dealgumamaneiraeleestevemeobservando.EramfotosdelecomJoyce,elarealmenteeralinda.Queriaignorarapequenapontadaquesentiaopassarasfotos,elesnapraia,emumrestaurante,comamigos,emumteatro,nobale.Issoestava me sufocando e era idiota demais, toda a sensação. E quasedolorosamentechegueiaúltimafoto,elaestavasentadaemseucoloagarradaemseupescoçoeobeijando.Eratãoincrívelaformaquevocêenxergavaoamordeambosquequalqueresperançaerareduzidaanada.Fecheioálbumeovolteiaoporta-luvas.

Orestodaviagemfoisilenciosaatépararmos,entramosemumcaminho

de terra a duzentosmetros da estrada principal. Trailers estavam estacionadosumdoladodooutroealgunsmaisaolonge.Alexencarouocadernoeconferiuoendereçoantesdedestravarasportas.

–Estáfrio.–Avisoudepoisquesaiu.–Pegaomeucasacoeocoloque.–

Issosoouautoritário.–Você não manda em mim. –Deixei escapar. Deixei escapar o ciúme

irracional.Nãoerahorapraisso.Nãocomele,nãoagora.–Algum problema? –Perguntou quandome juntei a ele.Alex ajeitou o

casacoemmeupescoçoesentiseutoquemefazerarrepiar.–Não.Sóestoucansada.–Certeza?–Absolutaeparedefalarcomoseeufosseumacriança.–Nãoestoutetratandocomoumacriança.–Passouafrenteeosegui.O"bar"maispareciaumatabernaeradascavernas.Motoscomeçarama

surgiratrásdostrailersumadoladodaoutra.Alexsegurouminhamãoquando

percebeu quem era os frequentadores assíduos do local e entramos. Cigarros,uísqueebebidabarata,eraoquecheiravacadacantodo lugar.Luzesbaixasemúsicasvariadastocavamemumajunckbox.

Alex encarou cada rosto eme senti sendo despida com alguns olhares

antes de voltarmos a caminhar em direção ao balcão. Uma senhora sorriuamareloparanós,aseuladoumsenhorcomumatatuagemdedragãocobrindoobraçolevementeenrugadopelaidade.

–Boanoite,oquevãoquerer?–Boanoite.–Alexseapoiounobalcão.–Estouprocurandoduaspessoas.–Quemseria?–Asenhorasorriu.–LilaeFernando.Asenhoraencarouohomemaseulado.–Ahsim,nossosantigossócios.–Elesnãosãomaisdonosdaqui?–HaviadecepçãonotomdeAlex.–Não. Lila queria ir embora depois do nascimento dos gêmeos e

venderamapartedeles.Eassim,poderíamosdaradeusaoemprego.–Oquequeriam?–Estamos pegando a estrada e fazendo pequenas paradas. –Alex

explicou.–Contávamoscomumempregodedoisdiasnomáximo.–Oquesabemfazer?–Ohomemseaproximoumais.

–Tudo.–Passeiafrente.–TrabalhamosemVegas.Alexmeencarou.–É,trabalhamosemVegas.Servindomesaselimpandoosalão.ObrigadaAlex,seelesnosmandaremlimparesselugareuachoquenão

teremosumaviagememdupla.–Issoparecebom.–Ohomemfalouseafastando.–Issopareceumsim.–Asenhorafalou.–SouAlicia,aqueleéRobert,ele

émeioranzinzamesmomastemumbomcoração.Porhoje,podemoscuidardetudo, já que vão ficar por aqui acho que precisam de um lugar para dormir,certo?

–Seriabom.–Alexsejuntouamim.–Venhamcomigo.Oencarei.Saímosparaofriodanoiteatéafilade trailers,Alicia tirou

ummolhodechavesdoaventalenosafastandounsvintemetrosatéumtrailerazul.Elaoabriueumachuvademosquitosvooudeládedentro.Acendeualuzenosencarou.

–Estáfechadoaalgumassemanas,mastemlençóisali.–Apontouparao

pequenoarmárioespremidocomaúnicacamaquehavia.–Achoqueporumanoitedá.

–Obrigado,asenhoraémuitogentil.–Alexsorriu.Charme.Certo.

–Tenhamuma,boanoite.–Piscou.–Ounosvemosdepois.AceneieAlexfechouaporta.–Gentil.–Gentil?Você jogou charme para uma senhora que tem idade para ser

suaavó.–Elanãoétãovelhaassim.–Faloupuxandooslençóis.Mesenteiobservandoseuserviço,ummeninoprendado.Alextrocouos

lençóiseajeitouosdoistravesseiros.Aproveiteiadeixaparatomarumbanho,nãodurariamuitojáqueaáguaeraracionada.Quandosai,Alexestavausandoopequenofogão,acamisaenroladanacinturaascostasmarcadascomumsimplesmovimento.Oobserveiparadacomoumaidiotanaportaatéeleperceberminhapresençaeantesquepudessedizerqualquercoisabateramnaporta.

Alexdesligouofogoefoiatender,dojeitoqueestava,umagarotaentrou

no trailer sem aomenos olhar para os lados. Era um poucomais alta que eu,usando uma mini saia e camisa xadrez enrolada acima da barriga. Ela sorriuquandopercebeuAlexparadonaportapegodesurpresapelopequenovendavaldentrodonossoatéentão"quartodedoisdias".

–Me desculpe, pensei que foi o Alan. Quem é você? – Perguntou

enrolandoapontarosadeseucabelo.–Alex.Achoquenãotefalaram...–Nãofalarammesmo,euacabeidechegar.SouRose.–Obeijounorosto.

Quandoocumprimentonormalseriaumapertodemãos.Eujáfuiadolescente.PorDeus,elaestavatocandonele.Alexseafastoulentamente.–EssaéSam.–Alexapontouamim.Maselaolhoutãorápidoqueduvido

quetenharealmentemevisto.–Sóvimbuscaraquelacaixaali.–Apontouparacaixanocantodacama.

–Podemeajudar?Alexmeencarou.–Etraze-laatémeutrailer?Claro,porquenão?Ésóalinotrailerdela.–Eunãodemoro.–Alexavisou.Oencareidizendoalgocomo:vocênãoprecisafazerisso.Elapodelevar

sozinha.Maséclaroqueelapode.Mesenteinacamaquandosaíram.Eunãomeimportava de parar em lugares onde só houvessem homens. Nas próximasparadasnadaquetenhaminisaiasenempernasenormes,porfavor.

Cinco minutos e perdi a fome, literalmente. O trailer ficava em outro

estado?EmNarnia ou algo assim? Já havia desistido de esperar algum tempodepois,tireimeuchineloemeencolhinacamapuxandoocobertorcheirandoaamaciante–pelomenosalgolimpo.Umalagrimaqueriaescaparechegueiarirdisso,eratãoirracional.

Ofatoeraqueeunãoconseguiaconfiaremninguém.Etinhaodireitoda

leidadúvida.Ouvi a porta se abrir pouco depois e a luz mais fraca ser acesa

iluminandoapenasopequenoquadradoondeficavapiaefogão.Quasepodiavê-lo parado atrás de mim antes de sair entrar no banheiro, o chuveiro ligado eminutosdepoisaportadobanheirosebaterlevemente.Elepercebeuqueeunãocomi, então senti o colchão afundar um pouco, seus malditos dedos que euqueriaarrancarnosdentestocarmeucabelo.

–Euseiqueestáacordada.–Sussurroucomhumoremsuavoz.

Sentiumnónagarganta.–Evocênãocomeu.Nãomemexi.–Sam. –Eu odiava esse tom. –Vamos lá não me obrigue tira-la dessa

cama.–Vaiproinferno.–Meupensamentoescapou.Alexsorriudivertido.–Depoisquevocêcomer,ousevirarpramim.–Por que não volta de onde veio? Eu estava dormindo. Eu não quero

comereeunãovoudesmaiar.Sentiseusdedosfazendoforçaemmeucabelo,suaoutramãotentando

mevirarparaele.Seelesoubesseoqueestavafazendocomigo.–Sam!–Eujáfaleipramedeixarempaz!–Medesculpesedemorei.Bufei.Eletentoumevirarmaisumavezetenteisoca-lo,nuncafuimuito

boaemvencerumabriga.Alexprendeumeuspulsosesorriu.–Abraosolhos.–Não.Apenasmesolteevoltepralá.

–Nãoestouafimdecarregarcaixaseouvirumaadolescentefalandono

meuouvindo.Sorriironicamente.–Sei.–Estácomciúmes?–Não.–Entãoabraosolhos.–Não.Osentiseaproximar,seuslábiostocandominhaorelha.–Abraosolhos,Sam.–Seudesgraçado,mesoltaagoraAlex!Agora!Elesorriu.–Vocêficaencantadoracomciúmes.Eugostodisso.–Eunãoestoucomciúmesdevocê.–Oencarei.Eraclaroqueeuestava.

–Podevoltarprasuaadolescente...–...Alex?estáacordado?Podemeajudaremmaisalgumascoisinhas?–

Sorriu.Oencarei,algumascoisinhas?

–Você...–Senti seus lábios pressionando os meus e a garota gritando

insistentementedoladodefora.Alexseafastousegundosdepois.–Nãopossousarasmãos,elavaiembora.Fecheiosolhospuxando todooarqueconseguia.Eelanãoparou,ela

nãoiaparar.–Elaéimportante?Eujuroquevoumatá-la,seelanãocalaraboca.–Nãopode,elaénetadosdonos.–Quebelaporcariadelugarqueparamos.Essanotíciaéperfeita.–Seeutesoltar,vocêvaificarquietinha?Assenti,maséclaroqueeunãoia.Estavacommuitaraivaepeloqueme

lembroeledissequeeupoderiameexpressarcasonãogostassedealgo.Sentimeuspulsoslivroseseucorpocairdelado.

–ALEX.–Cantarolou.Daformaquemostraqueelesfizerammaisdoque

algumascoisinhas.Antesqueeuconseguisse saltar sobreele,Alexmepuxoudevoltapra

camacaindosobremimemepresandocontraele.–Eu vou calar essa garota agora, ou você sai e a leva para bem longe

daqui.–Shhh,elavaiteouvir.Eeunãovoualugarnenhum.–Eleestavarindo

dissotudo.–Elaquerrepetirascoisinhasquefizeram.Nãoentendeuainda?

–Vocêestáadorável.–Deslizouseuslábiospelosmeus.–Vocêbebeu?–Não.A ouvi gritar de novo e antes que eu pudesse gritar, Alex estava me

beijando de novo. Não era só tocar nossos lábios. Era um beijo de verdade,sentindo a temperatura do meu corpo mudar drasticamente a ponto de nãoconseguiracompanhar.Suasmãosprendendomeuscabeloscomforça,enquantoseucorposemovimentavalentamenteparameprenderaele.Mefazendosenti-lo.

–Vocêestámebeijando...–Sussurrei.Jáhavíamosesquecidoagarota.–Estou.Me...–Não ouse pedir desculpas. –O puxei de volta. –Eu não estou

reclamando.Elesorriucontrameuslábios.–Ótimo.

16Alex

Rose parou de chamar, havia me esquecido dela quando Sam e eu

começamos a nos beijar, o medo e a ansiedade era tanta para o momento"natural" chegar, que não nos tocamos quando ele veio. Sam era realmentepequenaechegueiapensarqueasufocariacommeupeso,mesmoassimelamemantinhaagarradoaelaatéprecisardear,meucorpotomboudeladoeelasorriutímida.

–Issofoi...–Aconteceu.–Mefitou.–Amanhãpodemosesquecer.Eraassim?–Certo.Não foi tão ruimpara umaprimeira vez. –Seus lábios tocaram

meupeito.Afagueiseucabelolentamenteaproveitandoassensaçõesqueelamepassava.–Achoqueagoravocêpodedormir.

–Boanoite,Alex.–Boanoite.Estariamentindodizendoque consegui dormir, passei a noite emclaro

vendoosprimeirosraiosdesolentrarpelajanela.Samsemexeulentamentemedando as costas, eu não queria acorda-la sabendo o quanto uma, boa noite desono a faria bem.Arrumeiminhamochila e fui para umbanho frio. SegundoAlicia,tínhamosumporãoparalimpar,deixeiumbilheteaoladodotravesseiroesai.

Roseestavasentadaemseutraileraalgunsmetros,assimquemeviuse

levantou as pressas correndo em minha direção. Rímel forte e mini camisetamostrandoabarrigaeumalongatatuagememsuacintura.Roseerabasicamenteumnúcleodeconfusão.

–Alex,bomdia.–Bomdia.–Faleiseguindoparaobar.–Eutechameiontem.–Fezcareta.–Vocênãomeescutou?Escutei e te salvei damorte.Sorri ao lembrardeSamdeumamaneira

quepenseiquenuncaveria.Brava.–Euestavacansadodemais,pegueinosono.–Menti.–Certo.Temosumporãoparalimparhoje.–Sorriu.–Vovómedeixouno

comando.Queótimo.–Aquelagarota...–Minhaamiga.–Sóamigos?Assenti.–Elajáfoiembora?–Não.Empurreiasportasduplasencontrandoosalãovazio,Rosecaminhouaté

obalcãopegandoachaveemeempurrandocomelaparaasescadasquedavamparaosegundoandar.Haviaumaportamediaqueprovavelmentenoslevariaaoporão.

–Elavaivir?–Parounocaminhomeencarando.

–Sim,trabalhamosjuntos.Roseacendeualuziluminandoaescadaatéláembaixo.Elanãoparoude

falardurantetodoocaminho,queriasaberquantotempoficaríamoseparaondeiriamos.Tenteiaomáximoserautomático.Oporãocheiravaaálcoolepoeira,haviamuitacaixaforadolugarepequenosinsetospassandodeumladoaoutro.Roseindicoupordataascaixasquedeveríamoslevarparacima.

–Vocêfaziaissosozinha?–Não,meuprimoAlanmeajudava.Masodesgraçadofoipracidadee

nãodeuascarasdesdeontem.Vocêfoiumanjoporteraparecidojustonodiadereposição.–Tocoumeubraço.

–Tentareiajudar.–Pegueiaprimeiracaixarumoasaída.Eusabiaqueprecisariademuitapaciência,elanãodeveriasertãodifícil

quantoBabyera.Deixeiaprimeiracaixaevoltei,Roseestavasentadaemcimadeumamesaapenasobservandooserviço,daquartavezquesubiSamestavanobalcãomeencarou.

–Bomdia.–Faleimeaproximando.–Bomdia.Porquenãomeacordou?–Vocêestavacansada.–Eunãoiamatarsuanovaamiguinha.–Sorriu.–Ficofelizemsaberdisso.–Sussurreiemsuaorelhadandoumbeijoem

suatesta.Roseapareceunaportadoporão,seusorrisolargoagoraalgodistorcido.

Samapenasaencarava.

–Vocêacordou,jácoloqueitudooqueprecisanobanheiro.–Avisou.–Como?–Obanheiro,ficoupravocê.Alexeeuestamoscarregandoascaixasdo

porão.–Rosetentavapareceradonadolugarquedavaordensetudomais.–Claro,banheiro.–Sammeencarou.–Porquenão?Segureiseubraçoquandopassoupormim.–Nãoprecisafazerisso.–Algumproblema?–Roseperguntou.–Nosdêalgunsminutos.–Pedi.Sammeacompanhouatéoladodefora

dobar.Ela chutava o chão arremessando algumas pedrinhas ligeiramente

irritada.–Podemosirembora.–Não,precisamosdedinheiro.–Apertouosdedos.–Vocênãoprecisalimparbanheiros.–Nãotemosescolhas.–Meencarou.–Vocêpodemeajudarnoporãoseeufalarcomela.Riu.

–Elaésóumaadolescenteachandoquemandaemalgumacoisa.Eusou

ocarabonitoqueasadolescentesgostam.Agoraelariudeverdade.–Claro.Achaqueelavaitrocarestarsozinhacomocarabonitoparaeu

estarjunto?Não.UmacaminhoneteestacionouapoucosmetrosdenóseRoseapareceuna

soleira, ela havia retocado amaquiagem.O garotomoreno pulou da parte domotoristaebateuaportanosencarando.EletinhaquaseamesmaalturadeAlex,seu cabelo era umabagunça para todos os lados, as covinhas fundas surgiramquandosorriu.

–Bomdia.–Bomdia.–Falei.–Turista?Roseentrounafrente.–EsseéoAlex.–Sorriutocandomeuombro.–Eagarotavocêfezquestãodeignorar.–Ogarotosorriu.–Vocêé?–Sam.–SouAlan.Perdidos?–Não,elesestãodepassagem.Porsinal,Alexestámeajudandonoseu

trabalho.

Alansorriu.–Ficofeliz,minhacolunaagradece.–Então,euachoquepodemosvoltarao trabalho.–Rosesegurouminha

mão.–Eupreciso...–TudobemAlex,podeir.–Samnãomeencarou.Issoestavaumsaco!Tenteicarregaromáximodecaixaparaosalão,ignoreiavozdeRosee

cheguei a ser um pouco ignorante.Vi Samduas vezes, ela estava limpando obanheiro feminino enquanto Alan xingava alto limpando omasculino. Ela riadissodemodoqueseencolhia.Emeignoroutambém.

–Achoquealguémestásedivertindo.–Rosemebloqueounasaída.–Sua

amigaestásedivertindo.Alanémuito,muitobomcomasgarotas.Solteiacaixa.–Vocêdeveriasedivertirtambém.–Euprecisofazermeutrabalho,Rose.–Eu sei. –Tocou meu rosto. –Mas alguns minutos não fazem mal a

ninguém.–Nãome leveamal,mas...–Elanãomedeixou terminar.Emsegundos

tinhaumaadolescenteenroladaemmeupescoço.Quando consegui afasta-la ela percebeu que eu estava falando sério.

Pegueiacaixanochãoeaempurreidelicadamente.–Porfavor,nãofaçamaisisso.–Mas...Adeixeipara trás levandoaúltimacaixa.Samnãoestavamaisquando

eusai,aprocureinosegundoandareelahaviadesaparecido.Rosenãosaiudoporãodepoisdisso.EncontreiSamnahoradoalmoço,elaestavaaoladodeAlancomendo silenciosamente e bebendo mais do que eu poderia me lembrar serpossívelelabeber.

–Sam.–Meencarou.–Podemosconversar.–Não.Tenhoumsalãoparalavaremalgunsminutos.–Euteajudo.–Alaniráfazerisso.–Falouvoltandoacerveja.–Rose não vai desgrudar de você hoje. Ela está encantada depois do

primeirobeijocomoturista.–Alancomentousorridente.Droga!Eunãoacredito.Elesviram!–Podemosconversaragora,depoisvocêvaiprosalão.–Estamosindo.–CutucouAlan.–Nãoé?–Prajáprincesa.Princesa? Okay. Ela ia me ignorar agora e descobriria que minha

paciência tinha limite.Voltei ao trailer e arrumei nossas coisas, havíamos tidoumapéssimaparadaentãonãopassaríamosmaisnenhumdiaali.Enfieinossas

coisasnocarroeespereiquevoltasse.Quaseseisdatardequandoelaentrounotrailerpiscandolentamenteecheirandoaálcool.

–Porquebebeutanto?–Porqueissoébom.–Meencarou.–Euvoutomarumbanhoevouvoltar

pralá.–Não,nósvamosembora.–Porque?–Porquevocêestáchateada.Eeunãoquerooutrabriga.Gargalhou.–Eu não estou chateada, estou ótima.Me sintomuito bem.Agora vou

tomarbanhoemearrumarporquemeutrabalhoaindanãoacabou.Segureiaporta.–Vocênãovaialugarnenhum.–Vocênãomandaemmim.–Tentouparecerfirme.–Vouserobrigadoaissosenãomeouvir.Nãoqueroarrasta-lapradentro

daquelecarro.–Aideiadepararfoisua!–Uma péssima ideia por sinal. Estou tentando consertar essa merda,

entãoparedebancaracriançaemeescuta.Nós.vamos.embora!Meencarou.

–Voumearrumar,tenhomesasparaservireeusouapessoasemdinheiro

aqui.–Meempurrouentrandonobanheiro.–DrogaSam!–Gritei.Esperei o chuveiro ser desligado e esperava que a água fria tenha

ajudado. Samantha deixou o pequeno espaço enrolada na toalha e procurandosuamochila.

–Ondeestá?–Meencarou.–Nocarro.–Porfavor,vocêpodetraze-la?–Sam...–Vamoscomeçar?–Vocêprecisamedizerporqueestáassim.Euestoucomeçandoagostar

dofatodenãotermosparadasporqueissosónosfazbrigar.Eunãoquerobrigarcomvocê,nãosãoessesosmeusplanos.

Seusolhosestavamvermelhos.–Nãoestamosbrigando.Sóqueroumaroupaevoltaraotrabalho.–Vocênãoprecisatrabalhar.Eujáfalei,vamosvoltarpraestradaagora.Bateram na porta e não a deixei atender. Alan tinha o mesmo sorriso

idiotanorostoquandomeviu.–Elanãovai,podeavisarqueestamosindoembora.

–Oqueaconteceu?–Elanãoestábem...–Alex!–Sammepuxoumasnãosolteiaporta.–Obrigado por nada. –Bati a porta. – Pode se arrumar. Nós vamos

embora.Elasesentounabeiradadacamaesegurouacabeça.Ficouassimporum

tempo.–Euestragueitudo...medesculpe.–Não,vocênãoestragounada.–Porqueabeijou?Penseiquequisesseselivrardela.–Elameagarroueagoraestáenvergonhadaobastanteparanãoaparecer

poraqui.Elaésóumagarota.Seficarmosmaisumdiaascoisasirãodesandar.Voupegarumaroupapravocê,estámelhor?

Assentiu.–Alex. –Chamou arrastado quando segurei a maçaneta. Se levantou

vindoemminhadireçãoemeabraçou.–Vamossairdaquiemelembredemantê-lalongedoálcool.Vocêéfraca

praisso.

17

Samantha

Eratãoidiotaaformaqueeuestavaagindo,eusabiadissomelhordoque

ninguém.Enãosabiaexplicarpramimmesmaoqueestavaacontecendo.Seishoras que deixamos nossa parada, Alex não quis pegar o dinheiro do nossotrabalho, simplesmenteme jogou no carro e pegou a estrada. Eu não poderiadizerqueestavatudobem,porqueestavasobefeitodeálcoolequalquercoisaqueeudissesse,sairiaerrado.

Estavaescuroenãotrocamosnenhumapalavra,começouaesfriarentão

passei para o banco de trás pegando uma manta enrolada em mil formasdiferentesembaixodobanco.ElacheiravaaAlex,eunãosouo tipodegarotaque levanta a placa dizendo que gosta do perfumomasculino, digo o natural.Acho um pouco anti-higiênico porque todo mundo sabe como esse perfumechega. Alex cheirava a sabonete normal e colônia e se inspirasse bem fundo,sentiriaseuperfumenatural.Osuficienteparaseragradávelenaturalenãoumavisãodeumacarabanhadoasuor–oquenãoérealmentecheiroso.

Repousei meus pés no banco e encarei o teto, meu celular estava

carregadoeasmensagenspararamdechegarhaviaalgunsdias.Estavaocupadademaisparamepreocuparcomelasemesentiaumpoucomelhorparalê-laseouvi-las.Coloqueimeusfonesefuinaprimeiramensagem.

"Vocêdeveestarmeodiandomuito,eusei.–Beatriz–Eutenteitecontar

umdia,eutenteitecontarotempotodomassemprequedecidia,algumacoisaacontecia.Comooacidentedoseupai,vocêselembra?Euteligueiedissequeprecisávamos conversar.Ou quandome afastei duas semanas e te ignorei, euqueriasabersepodiaabrirmãodesuaamizade,oumelhor,seconseguiria.Eunãoqueriaquemeodiasse...vocêeracomoumairmãpramimemearrependomuitodisso...maseuoamavaeestavacega..."

"Soueudenovo,vocêsumiuenãopossoiratésuacasa.PorDeus,Sam,

nãofaçanadadeerradoeunãovoumeperdoarporisso.Podemosconversar?Eusóqueroconversar."

Próximamensagem."Conseguiumemprego,novo...Voupassarumtempoforaevoltoemum

mês. Não é um tempo, talvez seja o meu tempo para te dar tempo.Me liguequandoconseguirfalarcomigonovamente."

AcabouasmensagensecomeçouasdeDave,sentimeupeitoseapertar

deformaassustadoraeminhacabeçadoer.AslagrimasvieramlogoemseguidaeagradeciminhaposiçãoevitandoqueAlexmevissechorar.

"Se não me disser onde está eu vou te caçar Sam, você precisa me

escutar.Eunãoqueroqueas coisas fiquemassime vocêmeconhece.Eu soufracocomovocêé,nãoerapranadadaquiloteracontecidomasaconteceueeumearrependo.Você fugiu, vocêque sempredisse ser forte fugiu.Eeu seiquevocêé,entãoporfavorpelomenosmedigaqueestábem."

"Sam, você estáme deixando louco. Eu sinto sua falta, todos os dias,

todosos segundos.Eu fuiumcanalha,massempre teameievocê sabedisso,talvez não acredite mais, mas eu te amo demais e isso está doendo em mimtambém."

"Você deixou seu pai e eu não posso falar com ele, Dora disse que

poderia causar um enfarte caso me aproxime... Eu não desfiz do nossoapartamento, estou te esperandopara conversamos.Onde quer que esteja, euquero que esteja bem e que me avise quando quiser conversar. Eu não voupensar duas vezes para busca-la. Eu te amo e por favor não me odeie porisso...játemgentedemaisfazendoisso."

"Eumedemitiesaidecasa,estounoapartamentovendonossascoisas.

Meuspaisestãomeodiandomasabrimãodetudoemeafasteidetodos.Sóvourecomeçar quando consertarmeus erros, eu preciso de você Sam. Eu precisoquemeperdoeequemeescute.Euteamo."

Minhacabeçadeuumnóeporalgunssegundosfiqueicomfaltadear,toda a vontade de chorar agora parecia multiplicada por mil e gritei fazendoAlexpararnomeiodarodovia.

–Continua.–Sussurrei.–Euvouencostar.–Continua.–Oencarei.–Porfavor,sócontinua.Liquasetodasasmensagens,eramaisfácilfazerissoagora.Tinhauma

noção de como as coisas estavam agora depois de semanas. Alex parou emalgummomento, apenas arvores nos cercava, desligou os faróis e fechou umpoucoosvidrospassandoparaobancodetrásondeeuestavasesentandoameulado.Ageadaembaçouosvidros,elemeencarouporalgunssegundos.

–Querfalaroquetedeixeiassim?Neguei.–Sãoaquelaspessoas?Sim,masvocênãoprecisaseenvolver.–Nãoconfiamaisemmim?–Euconfio.–Entãoporquenãomeolhamais?–Suavozfezmeucorpotremer.Respireifundo,minhacabeçaestavaconfusa.–Vemaqui.–Mepuxouparaoseucolodeformaqueseucorpogrande

tentouocupartodoobanco.

Davenãofaziaisso,nãoespontâneoeeuamavaisso.Aomesmotempo

meassustava.Seusdedosfrioslevantarammeurostoescovandomeucabeloparatrás.Avontadedechorarapenasaumentou.Vocêsabecomoissovaiterminar?Com o coraçãomachucado de novo. Sabe por que? Porque seu coração quernutrir algopor umcara que temachucou aomesmo tempo, implora pelo caraquevaitedeixardepoisqueessaviagemacabar.Umcaraqueamoualguémquenão vai voltar e que não tem pressa para dar espaço para outra. Ele é apenashomem.

–Eu não gosto de te ver chorando. – Seus olhos, seu jeito. Isso era

inexplicável.–Choraréoqueeumaisfaço,achoqueos70%deáguadomeucorpose

reduziua20%.Alexsorriutocandooslábiosemminhatesta.–Temvontadedevoltarpracasa?–Nãosei.–Sussurrei.–Nãoestáoscilando?–Meencarou.Respireifundo.–Talvez.Eunãoqueroacharquetudooquefizfoierrado,masseagente

pararparapensarnasnossasatitudes,essaéaprimeiracoisaquevemàcabeça.Queestamosfazendotudoerrado.

–Achaerradoestáaquicomigo?A vontade de chorar voltou. Meus dedos estavam cravados em seus

ombros,achoqueissorespondiaasuapergunta.

–Esta?–Issoésóumacarona,nãoé?–Estoufalandodeeuserumerro,Sam.–Vocênãoé,nãodessamaneira.–Edequemaneiraseria?Nãomefaçadizerissoquandoseiquevoumemagoarmais.Porfavor.–Eunãosei.–Senti seusdedosse fechando lentamentememinhanuca

puxandofiosdecabelo.–Vocêsabe.–Minha cabeça está uma bagunça e quando acho que está tudo bem, a

novarealidadedizquenão.–Quenovarealidade?–Nãosejacomoeles,sejaalgonovoacadadia.–Supliquei.Eledeveria

entender.Osentiquererseafastaremeagarreiaele.–Nãoporfavor,nãoassim.–Sam...–Vocêéaúnicacoisaquemefazbemagora,mesmoconfusaeidiotaeu

precisodevocê.–Oencarei.–Evocêacaboudemefazerconfessarisso.–Eusouocaradesconhecido.–Sentiseuslábiossemoverememminha

bochecha.–Nosúltimosdias,eunãomeimporto.–Meuslábiosroçaramosseus.

Senti sua mão puxar com um pouco de força meus cabelos e quase

lentamente me jogar para ele. Nosso terceiro beijo pareceu mais íntimo demaneiraqueeunãosaberiaexplicar,masestarcomAlexmefaziabem.Bematédemais para quem tinha uma realidade batendo de frente. As pontas de seusdedosbrincaramemminhascostaseamantaforadeixadadelado.Minhasmãossubiram para seu pescoço o puxando pra mim, como se estar perto daquelamaneiranãofosseosuficiente.

MepressioneicontraAlexquandoosentiseafastaretocarmeupescoço,

lábiosoulínguafaziamumcaminhomornoporalieissomecausavaarrepios.Jáhaviaperdido todososmeussentidosquandopassamosumpoucodos limites.Elenãopareciaquererultrapassa-losminutosantes.Agoraeletinhaosolhosemchamas e mordeu meu lábio inferior quase o reivindicando. O arranhei semquerereouviosombaixoescapardesuagarganta.

–Sam...–Achoqueouviumarisadaemsuavozapreensiva.Opuxeiainda

mais,eraumavisodequeestavatudobem.Seu corpo se consertou no banco e joguei minhas pernas de lado

apertando–asemvoltadas suas.Suamãoaindapuxavameucabelo levementecomo para me manter ali enquanto a outra me apertava pela cintura. Nãoimportaria o que poderia acontecer ali e antes que eu pudesse concluir meuspensamentos,umaluzatingiuajanelanosassustando.

–Droga...–Alexmurmurou.Ouvimososdoistoquesnajanelaemejoguei

deladofrustradaovendopassarparaobancodafrente.–Algumproblemaaqui?Euqueriasocarosvidros.–Não.–Alexrespondeu.–Tudocerto.–Eagarota?

–Estou bem. – Falei entregando minha voz rouca e cheia de desejoreprimido.

Oguardaenfiouacabeçana janelaeprovavelmenteviuumamulherà

beira da combustão. E eu sabia que isso não se repetiria. Droga! Mil vezesdroga.

–Vocêédemaior?–Sou.–Puxeiminhamochilanochãopegandominhaidentidade.–Certo.–Medevolveu.–Seestãocomproblemasnocarroachomelhor

chamarumguincho,esaiamdolocalissoéumaaéreapreservada.Voudeixá-lospassarporessamasdapróximaveztereideaplicarumamultaeporessashorasébemperigoso.

–Simsenhor.–Alexcontinuouemtomnormal.Eunãodeveriadizernada

pelaspróximascincohorasouatétomarumbanhofrioemerecuperar.–Tenhamuma,boanoite.–Osenhortambém.Por favor fiqueseuguarda,nãovai!Ele foi.Alexmeencaroucomum

meiosorriso.–Tudobem?–Tudo ótimo. Pensei que isso só aconteceria naminha adolescência. –

Resmungueipuxandoamanta.–Achomelhorsairmosdaqui.Euqueriaestarmortaagora!

18

Alex

Dirigi dois quilômetros até encontrar uma cidade e dispensar motéis,

acheiumapensãologonaentradadacidaderodeadadejovenssentadosnaportaprovavelmente vindo ou indo pra noitada as duas da manhã. Sam estavadormindonobancode tráseeuquasesubiacalçadaaobservando.Estacioneiganhandoalgunsolharesantesdesair.

–Boa noite. –Os cumprimentei. –Sabemme dizer se estão atendendo a

essahora?Umaloiradetrancinhasnocabelosoltouomorenoaseuladoedesceu

doisdegrausdasoleira.–Turista?–Sim. Estou acompanhado, viajei alguns quilômetros até aqui.

Precisamosdeumlugarparadormir.–Bom,osdonosestãodormindoaessahora.Mastrabalhonarecepção,

possoentregarumquartocontantoqueestejamaquipelamanhãparamepagarepreencherafichadecadastro.

–Tudobem.Samseremexeunocarroquandoachamei,elademoroualgunssegundos

atéabrirosolhosemeencarar.

–Oquefoi?Aconteceualgumacoisa?–Acheiumlugarpragentedormir,masprecisamosserrápidos.Seusolhosseguirampraentrada.–Outromotel?Sorri.–Não.Umapensão,melhoreprovavelmentemais limpoqueumquarto

demotel.Passamos pelo grupo na entrada jogando conversa, Samantha piscou

algumas vezes, sim aquele lugar era melhor do que um motel. A garota nosencarouporalgumtempoantesdeabrirumsorrisoeseguirparaobalcãologonaentrada.Samsesentouemumdossofásdasalaeapoiouacabeçanasmãosfechandoosolhosnovamente.

–Viagem longa? –A garota me passou a chave. –Antes que eu me

esqueça,Dana.–Alex.–Aperteisuamão.–Esim,éumaviagemlonga.Samnosencarou,Danadeuavoltanobalcãoeestendeuamãoparaela.–Esperoquesesintamemcasa.SouDana.–Samemuitoobrigada.–Bom, vou deixá-los se achar. Estamos tendo um tempo livre caso

percamosonoequeiramsejuntaranósnacozinhadaquiameiahorateremospizza.

–Issoéumconvitetentador,masachoquemeusononãoentende.–Samsorriu.–Muitoobrigada.

–Bom,mesmoassim já sabeondenosachar.Boanoite.–Dana saltitou

paraforanovamente.Samsorriu.–Elaélegal.–Deusouviuminhaspreces.–Sussurrouseguindoparaescada.Nosso quarto era grande, uma cama grande e cheirosa. Samantha se

limitou a tirar os lençóis se jogandonela dequalquer jeito e puxandoumdostravesseiros.

–Cheirosoeconfortável.–Murmurou.–Issoéasombradoparaíso.–Temosumbanheirocomáguaquente.–Aviseideixandoobanheiro.–

Umbanheironoquarto.–Precisamosdeumbanho.–Falousesentandonacama.Sam não era inocente, eu sabia disso. Porem ela tinha todas aquelas

feiçõesdelicadasdealguéminocente.Issoestavapirandoaminhacabeçacomoaconteceunocarro,umassuntoquenãoprosseguiu.

–Podeirprimeiro.Estoulevandoaideiadapizzamuitoasério.Elasorriu.–Quefeiosenhor,Alex.–Elaconvidou.

A vi se arrastar da cama e entrar no banheiro.Aproveitei para colocar

meu celular no carregador e ajeitar algumas coisas namochila.Não demoroumuito ela estava de volta, ignorei minhas mensagens a fim de um banhotambém,provavelmenteaencontrariadormindodepoisquedeixasseobanho.

Errado!Samestavasentadanacamafolheandoumarevista.Meencarou

comumenormesorriso,elatinhaumsorrisoencantador.–Eu ouvi um barulho no andar de baixo, acho que a pizza chegou. –

Abafouumsorriso.–QuefeioSamanthaAlison,estádeolhonoquenãoéseu.–Tive quem me ensinar. –Zombou. –Mas se queremos comer mesmo,

achomelhordescermos.Todoogrupodemaiscedoestavareunidonacozinhadapensão.Dana

eraaquemaisfalavaealtosempretendoalguémfazendosonscomabocaparaque ela se calasse ou falasse baixo. Sam estava envergonhada e como umapessoacorajosa,elamejogounafrenteeissomefezrirchamandoatenção.

–Vocêsvieram.–Danaseaproximoupegandonossasmãos.–Heipessoal,

nossoshospedesresolveramdescer.Passamospelapartedeconhecimentomasmeesquecidetodososnomes

no segundo em que abriram as bandejas de pizza. Sam me encarava semconseguirconterorisoeapuxeiparamaisperto.

–Eentão,paraondeestãoindo?–Umaruivanapontadamesaperguntou.

Ela tinha uma enorme tatuagem subindo do pescoço até seu rosto para umagarotaumtantodelicada.

–NovaYork.–Samrespondeu.–Eleestáapenasrodandoopaís.

Umsomdeaprovaçãoecoou.–Rodandoopaís?Issoéinteressanteecorajoso.–Édivertido.–Falei.–OquevaifazeremNovaYork?–Danaperguntou.Sammordeuolábioantesdeabrirummeiosorrisoementir.–Férias.–Entãovocêsnãosãonamorados?–Aloiranosencarouconfusa.–Não.–Massepegam?–Aruivacontinuou.NãoencareiSam,poissabiaqueelaestariasemcoraessahora.–Achoqueestamosemzonavermelha.–Danasorriu.–Nãoprecisamse

envergonhar. É normal, duas pessoas viajarem juntas acabar se envolvendo. –Mordeusuapizza.–Eumeenvolveria.

Certo, ela não tinha filtro algum. Outro assunto começou e Sam

conseguiu acompanha-lo.Os "caras" resolveram falar de jogos e campeonato,tentei acompanha-los também mesmo não tendo futebol como meu esportefavorito.Sentimeucelularvibrandoemmeubolsoemeafastei.

–Ada?–Eleaindausaocelular.–Me desculpe, só consegui parar agora. Algum problema? Você está

bem?–Estou.Mas precisamos conversar.Me dê um segundo. –Ouvi alguém

falandoaofundoesegundosdepoiselaestavadevolta.–Janeligou.–Jane?Praque?Oqueaconteceu?–Gregoriestámal.Euseiqueeleera seu sogro,equevocês sedavam

bem,masissonãoéumaresponsabilidadesua.–Oqueeletem?–Outro ataque do coração. Eu fui vê-lo, uns dois atrás e só te liguei

porqueseiquenãopoderiamentirsobreisso.ChegoemChicagoemdoisdiaseficoláporumasemana,ondeestá?

–OquevaifazeremChicago?–Visita.Eentão?–EstouentrandoemIowa.–Oquefoi?–Nada.–Euseiqueéalgumacoisa,entãomedizlogo.EncareiSammeobservandodooutrolado.Droga!–EuteencontroemChicago.–Sai.–Vocêsabequenãoprecisa,eudissequevocêestáviajando.Vocênão

quer nada deles, certo? Então não tem porque voltar, mesmo eu sentindo sua

falta.Seusfantasmasnãoprecisamteacompanhardenovo.–Euvou,Ada.Sóprecisofazerumacoisaantes.Elaxingoubaixinhoarrependida.–Oqueporexemplo?–Precisodeixarumapessoaemumaeroporto.–Quepessoa?–Umaamiga.–Alex?Comumaamiga?Vocêconheceuumagarotaenãomedisse?!–

Gritou.–Elanãoéimportante.Sódeiumacarona,elafoiassaltadaeagoraestá

semdinheiro.Voudeixa-lanoprimeirovooparaNovaYorketeencontro.–Não!Vocênãopodedeixa-la.Alex,tentegravarsuavozeveráqueestá

lutando contra isso. Gregori vai ficar bem com a família dele. Ele não é tãoimportantequantoessagarota.

–Eleé.EumalaconheçoAda,entãovoudeixa-lae teencontro.Estou

comsaudadestambém.–Alex,nãovejoproblemaemtraze-la.–EuestouvoltandopracasaAda,elaestáindoemdireçãocontraria.Elagritou.–Dapróximavezmelembredeperguntarasnovidades.Seeusoubesse

queestavacomumagarotaeujamaisteriaditonada.Sorri.–Mas disse e eu fico grato por isso. Vou ligar pra Jane assim que eu

conseguir,euseiquedeveestarsendodifícilpraela.–Comoeudisse,ele temfamília.Eumafamíliagrandeporsinal.Você

nãoospertencemais.Eusei.–EleestevecomigoquandoeupreciseiAda,podeentenderisso?–Penseiquenãogostassededespedidas.–Eunãogosto.Mas se foi umpedido, achoqueposso tirar da lista de

umadascoisasquenãofizemearrependi.–Vocêtemumasemanaprapensar.Agoramedizcomoelaéememanda

umafoto.Estãoaquantotempojuntos?–EuteligodepoisAda.–Alex!Desliguei. Voltei a cozinha, Sam não estava entre as garotas e talvez

tivesseidomeprocurar,antesqueeupudessedizerqualquercoisaDanapassouafrente.

–Elasubiu.–Algumproblema?

–Eladissequeestavaumpoucocansada,maselaestavatãobem.–Obrigado.Aluzdoquartoestavaapagadaquandoentrei,Samestavaenroladanos

lençóis.–Sam?Tudobem?–Sim,sóestoucomsono.–Temcerteza?Respiroufundo.–Sómedeixedormir,tudobem?–Eu...–Boanoite,Alex.Nãoestánadabem.

19

Samantha

Tenhaemmente:Jamaiscrieexpectativaemcimadaquiloquenãoéseu.

Eporsegurança,nãoocobicetambém.Achoquenãodormi,melevanteieram

setedamanhãeAlexdormiaameulado.Suarespiraçãoprofundaesilenciosa,minhasmãosdoeramparaseenfiaremseucabelo.Masmecontivequandotudoveioemmentenovamente.

Euprecisavadarumjeitonisso.EncontreiGeórgianocorredor,elaestavacomoscabelosruivospresos

noaltodacabeçaeumsorriso radiantedequemdormiumuitobem.Passouobraçopormeuombroemedesejouumbomdiaanimado.

–Hei, não pegou o bonitão essa noite? Por favor, as camas daqui são

confortáveis.–Somosapenasamigos.Orestodaturmaestavanasala,encarandoaTV.Danaacenoudacozinha

comumaespátulaefuiarrastadaatélá.Pareciamserasmesmaspessoasdanoitepassada.

–Comofoi?–DanaperguntoucomamesmaempolgaçãodeGeórgia.–Nãofoi.–Elessãoapenasamigos.–Geórgiarepetiu.–Euseiquenãosãoevocê

sabequenãoé.Elepareceupreocupadoontemànoite.Eleachaqueissoéumaobrigação.–Achoquevamoscomeçarbemamanhã.Companquecasdechocolatee

café,lánomeuquarto.Queriasaberseeraidiotademaisquererchorarotempotodoquandoas

pessoas eram legais comigo. Era tão diferente do que eu estava acostumada,queriaabrira torneiraedeixarumagrande inundaçãoacontecercomofizcomAlex só que dessa vez, para garotas como eu. Eu nuncame abri com garotas

alémdaquelaquemetraiu.–Certo, são sete e dez damanhã. Pode começar a se abrir. –Daname

serviu.Seuquartoeramaisíntimoqueomeu.Grandedemaisparaalguémquesóestáhospedadoali.

–Precisodeumempregotemporário.Elasmeencararam.–Porque?Resolveramficar?–Euvouficaratéconseguirdinheiroosuficienteparavoltarpracasa.–Tudobem,vamospelocomeço.Oqueaconteceu?Jáque erapara contar tudo, euo fiz.Contei cadadetalhedesdeminha

saídadecasaatéondeestavaagora.Contei todaminhavidaparaduasgarotasquenuncahaviavisto antesmasquepareciammais receptivasdoqueaquelasqueconheci.Dizeroquantosuavidaeravazia,eraumaliçãodevida.Tenteinãodeixarnadadefora,nãohaviamotivode teraquilosópramim,eunãoqueriamais.

–Entãoelevaitedeixaremumaeroportoeacabou?–Elesóestátentandomeajudar.–Não!Elesabequevocêstêmmaisdoqueumatensãosexualeestána

caraqueeleéumhomemdiferenteequenãotentarianadasóporquevocêéumagarotabonita.Masissonãojustificaeledizeroquedisseesimplesmentetedizerum atémais.Ele deve possuir algum sentimento, ou é um cara que joga tudofora.Vocêsquasesepegaramemumtraileretentaramrepetiremumcarro,qualé?–Danafalavasemcontrole.

–Eucanseideaspessoasestaremcomigoporalgummotivoedepoisse

cansaremefazeremalgonasminhascostasparasentirbem.Seeletemqueir,eunãovoutentarmudarisso.

–Nãoeraissoqueeuesperavaouvir.–Geórgiabateuamãonatesta.–Eunãosouimportante.Danadissequeiriameajudar,descobritambémqueseustioseramdonos

dapensãoentãotudosetornavamaisfácil.Nuncaritantoemesentibemcom"garotas"comomesenticomelas.Garotascompletamentediferentesdemim.

–Vamosterumfestivalaquiamanhã.TiaBernavaivenderboloseessas

coisas,vocêpodevir comagente.Nossabanda favoritavai tocar,nãoénadafamosinhomasvocêvaigostar.

–Segostardeindie,éclaro.–Georginameencarou.–Eugosto.–Vamosdarumavolta,vocêquervir?Quantomaisadiarumaconversa–sehouvesse–comAlex,melhor.–Euvou,sóprecisodeumbanho.–Vamosnomelhorrestaurantedacidade.Medeicontadequepassamosamanhatodaconversando,depoisdefalar

sobremimeuconheciumpoucodecadaumadelas.ErahoradeenfrentarAlexeeleestavaparadonaportadoquartoquandodeixeioquartodeDana.Aportaestavaaberta,entãoapenasentreieelemeseguiu.

–Penseiquenãoaveriahoje.

–Estavacomasmeninas.Abri minha mochila em busca de alguma coisa para vestir. Qualquer

coisarápida.–Vaisair?–Perguntousesentandonacamaemeencarando.–Vou.–Passarodiacomas"garotas".Puxeiumvestidofloridoojogandoemcimadoombro.–É.–Penseiqueficaríamosjuntos.–Fazendonadacomosempre?Não,obrigada.Seguiparaobanheirocontandomentalmenteatécem.Achoquefizisso

duasvezesatédeixaraquelemetroquadrado.Alexestavanomesmolugarcomos braços apoiados nos joelhos e as mãos repousando o queixo. Peguei meusapatoembaixodacamaejogueitudooqueprecisavaemumacarteiramedia.Eusabiaqueeleestavameobservandoesetocássemosnovamentenoassunto,as coisas sairiam do lugar. E se ele não disse nada até omomento, então eraporqueseriaumadespedidasemaviso.

–Quermedizeroqueestáacontecendo?–Vocêquermedizer?–Mevireiparaele.–Vocêestáestranhadesdeontem.Epareceirritadacomigoagora.Deus!

–Euvousairemedivertir,apenasisso.–Porqueestámeevitando?–Estouadiantandooseulado.–Minhavozsaiuumpoucoalta.–Doqueestáfalando,Sam?–Dequeeunãomeimportariadevoltarenão tevermaisaqui.Vamos

tornar as coisas mais fáceis do meu jeito. Eu não preciso que me deixe noprimeiroaeroportoqueencontrar,nãoprecisoquecompreminhapassagempraNovaYork.Euvouficarevouconseguircommeudinheiroirpraqualquerlugarqueeuqueira ir agora.Eunãoprecisoda sua solidariedade,desde jáobrigadaportudo.

–Sam...–Meesquecetalegal.–Eunãopossochorar.–Euiatecontar.Entãoelerealmenteiamedeixar.–Nãoprecisamais.–Sevocêpassarporessaporta,euvouacreditarrealmentequenãoquer

meouvir.Euqueriagritar,masapenassai.

20

Alex

Depois que Sam saiu, senti isso como um aviso definitivo de que eu

deveria ir embora.Havia sidoumaescolhadela e analisando tudonasúltimassemanas, eu era o errado. Porque voltei para busca-la, pra ficar com ela dealgumamaneiraenaprimeiraligaçãodeAda,eracomoseumrodotivessesidopassadonaminhacabeçaeeuadeixeidelado.Masnãoerapraserassim,soarassim,parecerassim.MasSamanthaAlisoneracomoumfiltro,euestavasendoalgoruimagoraeelanãomedeixariaentrar.

Dispenseialmoçarnapensãoepagueipelanossanoite,dirigiatéocentro

da cidade e comi emuma lanchonete qualquer. Passei a tarde dentro do carrocirculandoemedandotempoparapensar.Vocênãoestáfazendonadadeerrado,pensei. E Ada tem razão, a maior parte do tempo ela tem razão. Uma novamensagemchegounaminhacaixapostaleeraela,sembroncasdessavez.

"Hei,ligueiparaJane.Eladissequenãoprecisavasepreocuparesim,

eumeintrometinisso.Gregorivaipracasaeeleestábem.Estátudobem,okay?Teamo."

Repetiamensagemalgumasvezes,maspreciseiligarparaJaneparater

certeza.Passamosquaseduashoras falando ao telefone atémeucelular avisarqueestavadescarregando.VolteiapensãoeSamaindanãohaviavoltado,entãoAdamandoumensagemumaatrásdaoutranãoesperandoporrespostas,apenasmandava.

–Elaouviuminhaconversa.–Faleidepoisdeligarpraela.–Elaachaque

eunãoaachoimportanteeelamemandouembora.–Evocênãofeznada?Alex,vocênãodissenadacomoresposta?–Oquevocêqueriaqueeudissesse?Hámaisportrásdessahistóriado

quepareceAda,Samnãoéumagarotaqualquer...–ElatambémnãoéaJoyce.–Eunãoestoudizendoqueelaé.–Umconselhodeirmã,vocêestáhámuitotemposozinhoeeunãovou

contarasgarotasquervocêestevenosúltimosanos.Entãovocêaachoueissosoatãobemeagoraestádeixandoqueelamudetodooquadroquepintouaseurespeito.VocêgostadelaAlex,nãoestoufalandodeatração.Vocêfoiumbabacacomela evoltoupara consertar as coisas evocê já foi umbabaca comoutrasgarotas.Vaiatrásdelaeesperovê-losemChicagoembreve.

–Eseelanãoquiserfalarcomigo?–Nadamaislegaldoquesercaladacomumbeijo.Colocatudoprafora.

Agoraeuprecisodesligar,tenhoalgumascoisasparafazer.Euamovocê.–Tambémamovocê.Encareiorelógio,oitodanoite.Fiqueinoquartopormaisduashorase

nem sinal de Sam voltar do seu "almoço". Nos primeiros sinais de vozesfemininaseumelevanteivestindoumcasacoemsaindoomaisrápidopossíveldoquarto.Danaestavasorrindosegurandoalgumassacolaslogoatrásaruivaeoutragarotaquenãomelembravadetervistoontemouhojepelamanhã.OfatodenãoverSamentreelasjámepreocupavademais.

–Dana.–Chamei.Elameencarouporumsegundoantesdeseaproximar

daescada.–Samanthanãoestácomvocês?–Não. Ela ficou na cidade, conseguiu um quarto de hotel e disse que

voltariaamanhã,talvez.–Porque?–Vocêdeviasaber.–Aruivapassoupornós.–Bom,elavai ficarprofestival.Elapreferiu ficar lá,eu insistiparaela

nosacompanharmaselanãoqueria.–Quehotel?–Nãoachoumaboaideiavocêiratéláagora,elaestavacansada,ésério

nósandamosmuitoe...

–Quehotel,Dana?Éimportante.–Tudobem.–Seafastouindoatéamesadecentroeafastandoojarrode

floranotandooendereçoemumpedaçodepapel.Elameentregoueseusorrisodivertindovoltouaseurosto.

–Obrigado.–Nãovaifazermaismerda.Aencarei.–Garotas.–Sorriudelado.Sam contou a elas. Sam contou a elas? Contou? Eu treinei algumas

coisasqueeuqueriadizereacadasegundopareciacertotodasascertezasquedançavamemminhacabeça.Eugostodavozdela,doolhar,do jeito inocenteportrásdeumagrandemulher.Dapersonalidadeeforçaquetentaatodocustonãodeixar cair.Eugostode estar comela e afastarqualquerperigo.Eugostodela de uma maneira diferente que parecia ser novo, e eu não sei se estouapaixonadomaseugostodessaversãodemulher.NãoécomoJoyce.Joycenãodependiademimenãoqueeladependa,maseusintoanecessidadedemantê-lapertoesaberseestátudobem.

Sameradiferentedequalquergarotaqueeutenhaconhecido.Elaparecia

tão certa pramim.O tempo todo. O hotel nãome assustou como pensei queaconteceria,ficavaemumapartemovimentadadacidade.Encareiorelógionopaineldetempoquealertavaotrânsitoejáeraonzedanoite.Estacioneiemumavagailegalparamimesalteiparadentrodohotelsemsequerverificarasportasdocarrotrancadas.Umasenhorameencaroudospésàcabeçaantesdeperguntaremquepoderiameajudar.

–QueriasaberoquartodeSamanthaAlison,elaacaboudesehospedar

aqui.Girei o celular na mão algumas vezes antes dela me dizer

demoradamenteondeficavaoquarto.Eranosegundoandareachoqueestavaemforma,poischegueibemrápidoaele.Aúltimaportaeraadela,número38.Respireifundoalgumasvezessentindoumpontofixoemminhacabeçadoer.Seelafor irredutível?Elapodeser.Elafoisaindodecasa.Eufui idiotaentãoelapodesersequiser.Batinaportaduasvezeseesperei.Samdemoroumuitotempoaté abrir o mínimo possível me dando a liberdade de não deixa–-a fecharnovamente.

–Oquefazaqui?–Seusolhosestavamvermelhos.–Precisamosconversar.–Nãotemosoqueconversar,Alex.Estátudobem.–Vocêmentemuitomal.Achoque contar segredinhos para suas novas

amigasémaisfácildoqueseabrircomigo.Bufeiencostandoacabeçanaporta.–Euapenasquisficaraquihoje.–Porque?–Porquebrigamosenãovejologicadividirumquartocomvocê.Então

vocêpodeirembora.–Eu não vou embora enquanto não falarmos como homem emulher e

nãoadolescentes.–Eunãoseidoqueestáfalando.–Você sabe. –Entrei deixando a porta se fechar atrás de mim. –Estou

falandodissoqueestáacontecendo.Denósdois.

–Jáfalamossobreissoontem.–Falamos de dúvidas e não de certeza. –Falei a vendo se encostar na

cômodacomoumpontofixodeapoio.Samerafácildeserdesmontada,vocêsóprecisadeumolharoudeuma

simplespalavra.Elairiafacilmenteaochãoeenquantoobservavasuasreações,murosforamseerguendodentrodemimetudooqueeumenosqueriaagoraerameperderdentrodeles.

–Se está aqui pelo que aconteceu, com medo de seja como foi na

primeiravez.Vocêpodeficartranquilo,ascoisasnãoserãoassim.Euvouvoltarpracasa...–Encarouochão.–Euvouconsertarascoisas.

–Consertarascoisas?Consertarquecoisas,Sam?Asuavida?–A...minhavida.–Suavozsooutremula.–Sam...–Ésóaporcariadaminhavida,Alex.Isso...vocênãotemqueestaraqui

sepreocupandocomigo.Eunãosouadrogadeumapessoaimportante.–Você é importante! –Gritei. –Sómediz que você não fez amerda de

ligarparaaquelesdesgraçados.Sómedizquevocênãoquerumaconversadereconciliaçãosóporquenãodemoscertonaquelemomento.

Suarespiraçãoeraaltaatésetransformaremchoro.Podiaveraforçaque

elausavacontraseusbraçosparamantê-losemumabraço.–Sam?Vocênãofezissofez?Meencarou.

–Medizquevocênãofez.–Nãomedeixesentiressaculpaagora.

21

Samantha

Umasúbitaalegriametomouaovê-loparadoemminhaporta.Haviamedadoumprazodecostume,nãovê-lopelorestododiameajudariaanãotê-lomais depois que fosse embora. Mas ele estava ali, visivelmente preocupado.Nossaconversanãocomeçariadaformamaisdoce.Entãoasprimeiraslagrimasmeprovaramisso.

–Não...–Vocênãoligou?Encareimeucelularnacamaaluzpicandoavisandoquealigaçãohavia

sidocompletada.Alexfoiatéelaeencarouatelaporalgunssegundos.–Éissoquevocêquer?–Perguntoudecepcionado.Neguei.Eeledesligou.–Você ia fazer não era? Ia voltar correndo pra casa porque está

procurandoadrogadeumportoseguro.Maselenãoéoseuportoseguro,eleéodesgraçadoquetransoucomsuamelhoramiganodiadoseucasamento.Porumsegundovocêchegouapensarnisso?–Suavozeradura.Emecortava.

–Eunãoquerosaberoquervocêpensa!–Gritei.Quandomedeicontajáestavacolocandotodaaminharaivapraforao

socandoondeeuconseguiaacertar.Eraumacargamuitogrande, erammedos,raiva,lagrimas.Nãoerapraele,maseraeleali.

–Coloquetudopraforaedepoiseuassumoocontrole.

Eunãoentendibemoqueelequeriadizer,atétermeuspulsospresosem

suasmãos.Meucoraçãoestavabatendoemalgumlugardentrodaminhacabeçaeminhagargantaestavaqueimandocomoseeutivessecorridoquilômetrossemágua.Tudopareciagirarporalgunssegundosquandomevipresadentrodeumabraço.Eracomosearealidadeestivessevoltandopramim,era loucodemais.Estranhodemais.

–Vocênãoprecisarecorreraisso.–Você vaimedeixarmesmo. –Um soluço escapou.Tinha água demais

emmeusolhos.–Eunãovou.–Alex...–Tenteimesoltar.–Euestoufalandoqueeunãovou.–Eu ouvi tudo! Você vai me mandar pra casa...você não se importa

comigo.Eusouapenassuacarona!Temcoisamaisimportantedoqueeuláfora.–Nãotem!–Gritousegurandomeurosto.–Prestaatençãoeolhapramim.

–Pediu.Eunãoestava conseguindocontrolar todas as emoçõesquehaviamme

tomado. Não havia controle. Parecia que a cada novo rumo a conversa seapertavaemesufocava,porquesaberqueelepoderiamedeixarmedeixavasemchão. Eu não queria admitir, mas eu estava amando o cara que me deu umacarona,quedividiuseucarrocomigo.Quartosdehotelemotel,quemefezrircomonuncapenseiserpossívelnovamente–nãoagora.Estavameapaixonandopor um homem maravilhoso que não precisava se afundar em outro abismonovamenteeeueraumabismo.

Eumal sabia o que era minha vida até ter de aprender a cuidar dela.

Havia acabado de sair de um encanto para omundo real. E omundo realmeassusta.

–Quandoeupegueiaestradaminhamenteeraumburacoenemsabiase

eraacoisacertaasefazer.Eudeixeitudopratrás, inclusiveaúnicacoisaquetenho agora.Eu tentei viver cada segundo, com cada pessoa que encontrei nomeiodocaminhonofimdodiaounofimdopercursoeeusorriacomtudoissoeachavaengraçadoasensaçãodemesentirbemdenovo.Masmeviasempreprocurandooutropassageiroperdidoparaapenassergentileleva-loaondequerqueelefosseapenasporcompanhia.

Eunãoesperavaquedepoisdetrêsdiassozinhopudesseencontrarvocê.Eu faria a mesma coisa que fiz com todos os outros e te daria um até maisquandochegasseemseudestisno.Masvocênãotinhadestino,vocêsedecidiurealmente para onde iria dentro daquele carro e comigo. Eu soube naqueleinstantequevocênãoerasóumacarona,vocêeracomoeunocomeçodetudo.VocêestáperdidaSameeuseicomoéestarassim,nãotínhamosumadataparadizer atémais, não temos umadata porque posso adia-la omáximode tempopossívelseestarcomigotefazbem.

Porque você é como uma dessas garotas que as pessoas acham nãoexistir, essas que sentem medo de tudo e pensam demais antes de agir e sesentembemtendooutrapessoaagindoporela.Porsegurança,poracharqueapessoa está fazendo certo e você provavelmente estaria fazendo errado. Masvocêéadrogadeumamulhercorajosa,vocênãoprecisaesperarpelaspessoasenemestarcomelasporqueelassãofortes.Vocêéforte.Bemmaisfortequeelaseeuviessecrescimentoaolongodessetempoevocêmudoutudo.

Acho que todo o ar estava em círculo em meus pulmões. Eu não

conseguiarespirareeleestavamesegurando.–Eu não pensei no fim dessa viagem, tudo o que pensei eramanter o

máximodedinheiroqueeuconseguisseemantê-labem.Eunãofaleipormal,apenas queria dizer a mimmesmo que eu poderia deixa-la ir quando fosse ahora.EuqueriadizerissoaAdademaneiraconvincente,maselanãoacreditou.

Comoeunãoacreditei,mesentiaumpassodeentraremalgocertomasestavaparadonaportaobservandoatéessamanhã.Atévocêdizertudoaquiloeme jogar pra fora, não era dessamaneira que eu queria que fosse,mas talvezfossedessamaneiraamaneiracerta.Praeupoderenxergarqueháumagrande

possibilidadedeeuestarapaixonadonovamente.Porumagarotaquemeencantapela falsa inocência, pelo olhar verdadeiro, pela compreensão, pela voz. Pelasimples presença, eu pensei que nunca sentiria isso novamente porque diz alendaquesónosapaixonamosumavez.Euachoqueissoéapenasumalenda,porque as coisas estão acontecendo rápido demais e pensar em não tê-la essanoite perto de mim ou o resto dessa viagem, ou depois dela. É como se euestivesse deixando uma grande parte que achei faltando emmim para trás denovo.Issoéumamerdadesentimentalismoclichê,masétudooquetenhoquecolocarprafora.Entãoeunãovoualugarnenhumsemvocêenãovoudeixa-laaqui,nãovoumanda-laparaNovaYork.Vocêé importantepramimachoquedesde que entrou no meu carro aquele dia no posto abandonado no meio daestrada.Apenasdigaqueaindaacreditaemmim.

Eutinhamuitacoisaparadizer,masmalsabiaporondecomeçar.Havia

guardado tudo pra mim quando decidi seguir sozinha. E agora tudo o queconseguiaerachorareabraça-locomtodasasminhasforçaspedindoparanãoserumailusão.

Seus braços contornaramminha cintura apertando com força, eu podia

sentir seu perfume e era perfeito pra mim. Como tudo, isso parece diferentetornandooquetivenopassadoumnada.Seuslábiosbeijavammeurosto,minhatesta,meu cabelo, a ponta domeunariz antes de encontrar seu olhar.Ele nãoprecisava me pedir permissão para seguir em frente, não mais. Na verdade,nuncaprecisou.

Eusentifaltadisso,Deus!Eusentifaltadessehomemcomonuncasenti

porninguémemtodaminhavida.Nocomeçoeraalgocalmo,ninguémavançouo perímetro, mas ambos descobrimos que nosso limite estava muito longedaquelequesempremantivemos,entãoeu literalmenteme jogueiaomomentosentindo cada parte de seu corpo tocar o meu. Senti seu grande e poderosoabraçoetodaaquelaconfiançaqueviaemseusolhosagoracirculandoportodoele.

Alexmetiroudochãofazendocomqueminhasestruturasbalançassem

atéeuestarapoiadanacômoda–quehaviameesquecidoexistiratrásdemim.Enlacei sua cintura com minhas pernas e o puxei para mais perto. Tocando,sentindo, literalmente sentindo.Euqueria rir, gargalharde tanta felicidadeque

crescia em meu estomago explodindo para fora. Sua boca desceu para meupescoço quando precisei de ar e ali ficou, deixando pequenos sinais. Eu nãoqueroacordaragora,eunãoqueroacordarnuncamais.

–Eusentiasuafalta.–Seusolhosprofundosmeencararamenquantosuas

mãosmeapertavamprovandosuapalavra.–Issonãoéumsonho?–Não. –Enlaçoumeu pescoço depositando um beijo emminha testa. –

Tenteacreditarnarealidade,vaiperceberqueelamachucabemmenosquandopassamosaenxerga-lamelhor.

–Eunãogostodarealidade.–Confessei.–Agoraeuestouaqui.–Mebeijou.–Eelanãofaránadacomvocê.–Eu... Eu preciso de você, semmais nenhumminuto. – Admiti. Alex

sorriu.–Temcerteza?–Nãomesubestime.–Puxeimeuvestidopelacabeça.Seus olhos estavam em meus seios, meus amiguinhos estavam acesos

comodoisfaróis.Alexpareciaabeiradoprecipício,entãocaiuesmagandoseuslábiosnosmeus.Seuapertometirandodolugarsemnosafastar.Issoerabom,estarcomeleerabom.

–Vocêé...linda.–Prova.Ele sorriu tirando sua camisa.Meus sentidos estavam em alertas, cada

parteemmimformigando.–Teprovaréumadasmissõesessanoite.–Beijoumeupescoço.–Você

nãomedeixadormirhámuitotempoSamanthaAlison,achoqueéaminhavez.

22

AlexDuasemeiadamanhã,ignoreitodasasmensagensdeAda.Samestava

encolhidaagarradaamim,respirandofundoepelojeitonãoacordariamais.Umalivio havia me tomado, ainda era difícil explicar o que estava acontecendo,entãopareidepensar.Nãoprecisavademuitoparasaberporqueelaprecisavademim, muito mais do que eu imaginava. Tomei a liberdade de vasculhar seucelular,erarecheadodefotosdeumsenhor,queapesardeparecerumavôparaela,eu tinhacertezaqueeraseupaieela ficava lindasorrindo.Tambémtinhacertezadequeamaioriadasfotosforamtiradasquandoelaerafeliz.Eutentariatê-lodevolta.

Cadamensagemque li – e não forammuitas – havia sido o suficiente

para saber o quão fundo era o abismo que ela estava. Algumas de suasmensagenseradesuapsicóloga,nenhumarespondida.Eramvelhasmensagensbeirando com as atuais, desliguei o celular o deixando sobre a cômoda e apuxandoparamim.Pareciatãocertoestarali.Seucorpoaindaestavaquente,ossonsqueemitiuaindarondavamminhamente.

A forma como seus lábios se abriu, comome segurou a ela, comome

olhava.Comometorturouatéseuúltimogritoenchernossoquarto.Elanãoerafrágil,doce,nãofrágil.Eraminhaeeudela.

Nãomelembroquandopegueinosono,apenasmedesligueitotalmente

dessavez.

**Dana ligou pelamanhã vezes o suficiente parame fazer levantar. Sam

estava sentada na ponta da cama sorrindo com o celular colado a orelha dealgumapiadaqueagarotadeveterfeito.Mesenteiaoladodelaobservandoseusemblantemelhoragora,eracomoseumaborrachativessesidopassadadanoitepassada.

–Tudobem,euaindaestouaqui.Nãoprecisa sepreocupar.Nosvemos

mais tarde. –Avisou antes de desligar. – Ela queria saber se eu precisava deajuda.–Sorriu.

–Precisa?–Pergunteimesentandoebeijandoseupescoço.Negou.–Oquevamosfazeragora?–Perguntou.–Vamos a um festival e depois viajar. Tenho uma irmã ansiosa para

conhece-la.–Beijeiseucabelomelevantando.Sammeseguiuatéobanheiro.–Vocêvaimelevar?Aencarei.–Oqueacha?Aindanãoentendeuquevouleva-lacomigoparaondeeu

for?

Ela abriu o maior sorriso que eu poderia presenciar em toda a minhavida. Eu amava essa mulher e isso estava me deixando preocupado. Nãoconseguiacontrolarmeuspensamentosmais, comoseminhacaixadepandorativessesidoaberta.

–Se eu disser que a amo, vai parecermeio louco? –Ajeitei seu cabelo

atrásdaorelha.–Não.–Beijoumeupeito.–Euamovocê.Enãoseassustecomisso.Elasorriucontrameupeitofazendomeuestomagodarvoltas.–Euamovocêtambém.Possotomarbanhocomvocê?–Estámeprovocando?Negou, mas sim, ela estava e eu amava isso. Tomamos café em uma

cafeteriaantesdevoltarapousada.Samtinhaosdedosentrelaçadosaosmeuseeu tinha certeza que ela estava desconfortável, porém não soltouminhamão.Danaabriuumsorrisoconstrangedor.

–Olhaquemapareceu.Penseiquenãovoltariammais.Sam.–Achamou

comodedo.–Precisamosconversar.Samanthameencarou.–Vailá.–Beijeiseucabelo.–Elavaitetorturarsóumpouco.–Sussurrei

emseuouvido.–Depoisvocêserásóminha.Sorriquandoelanãomeencarou.Estava longedela,mesmosendopor

algum tempome causava um certo desconforto. Estava disposto a aguenta-lo,medariatempoparaorganizaracabeça.

23

Samantha

Eupoderiarepetiramimmesmaotempotodoquenãoestavasonhando,

mesmo assim me sentindo mergulhada em um sono profundo. Não conseguicontar direito como havia sido a minha noite, Dana queria todos os detalhespossíveis mas eu não tinha muito a dizer sobre o que ela queria saber. Eraíntimo.

NãoviAlexdepoisdeteraconversadegarotas,Geórgiameajudoucom

umaroupaparairaofestivalemesmoachandocurtademaiseuaceitei.Eraumvestidopretomuitoacimadojoelhorodeadodefloresbrancas,eutinhacertezaqueumventoofariasubir.

–Euprefirouma trança.–Faleimeencarandonoespelho.–Meucabelo

nãoémuitogeneroso.–Nadaqueumaescovanão resolva.–Encareiosecadoremsuamão.–

Essanoitetemquefecharcomchavedeouro.–Eunãovoudormircomele....tãorápidonovamente.–Eunãosei.–Issopodeacontecer.–Danaseguroumeusombros.–Eeleéhomem,e

eleteama.Homensapaixonadosqueremestarcompletoscomamulherqueama.–Esenãoacontecer.–Geórgiaseaproximou.–Vocêpelomenosvaiestar

detirarofolegoofazendorepensarumasegundavez.–Sorriu.E eu deixei queme fizessem de boneca. Depois demuitos puxões de

cabeloeligaedesligadesecadoreuestavapronta.Alexestavaparadonaportado quarto quando as meninasme deixaram, uma covinha se formou em suasbochechas quandome encarou.Deixei as risadas de lado quando ele entrou efechouaportaatrásdesi.

–Vocêestálinda.–Elasderamumaforcinha.Seu sorrisocresceuemseus lábiose suasmãosmepuxaramparamais

perto,meucoraçãoperdeualgumasbatidas.–Porqueestátremendo?–Perguntouroçandooslábiosemminhaorelha.–Eusempretremipertodevocê.–Minhavozsaiutremula.–Comonuncapercebiissoantes?–Beijoumeupescoço.–Eunãosei.–Minhasmãosganharamvidaemseuscabelos.Alexsorriuquandosedeucontadeoquantoestavausandoforçacontra

seucabelo.Vendoagora,eunãoameiDavedessamaneira.Nemumpouco.Euprecisavabeija-lo, precisava senti-lo denovopelomenosdessamaneira.Alexprendeumeu lábio inferior nosdentes eme encarou, suasmãosme apertandocomforçaminhacintura.Eupenseiqueeleapenasmeencarariadaquele jeito,por um segundo pensei em desistir de festival e amigos e ficar ali com ele.Mesmoqueapenasoencarando.Alexestavamebeijandonovamente.

O deixei me guiar até a cama e acabei rindo quando minhas costas

bateram no colchão. Ele continuou a me segurar junto a ele, sua mãobagunçandoaobradeartedeDana.Euestavaperdidanaformacomoeleestavame beijando, como sua mão livre passava por minha perna levantando meuvestido e tocando minha pele nua. Meu coração estava batendo rápido, e eugostavadisso.Suamãoapertouminhacinturaedeixeiumsomescapar,minhasunhasarranhandoseupescoço.

Puxei todoo ar quando sua bocamudoude direção descendopormeu

pescoço,mordendo,beijando.Mesentiadesintegrandoembaixodele,mesentiasendotocadademaneiranãoconhecidapormim–massempredesejada.Alex

era formal, mas isso não o impedia de ser o que gostaria de ser entre quatroparedes.Daveeracertinhoemtudo–pelomenoscomigo.Atéumsimplesbeijopareciasofisticadoparanósdois.Eeugostavadoquetinhaagora,desertocadaebeijadadessamaneira.

Ohomemquemebeijava,mefezvirarumanimal,noitepassada.Eleme

fezmulherdeverdadesemprecisardemuito.Alexparouamãoemminhacostela,elenãoqueriaseguiremfrente,mas

dane-se eu queria deixa-lo ter o que quisesse de mim. Segurei sua mão afechando naminha e o ajudei a seguir. Até o lugar em que eu sabia que elequeria tocar, seus beijos ficaram lentos como que calculando o que eu estavafazendo.Equandochegueiaomeuseio,espereiquefizessealgo,maseusabiaqueeleiameencarar.Elemepediriapermissãoeelenãoprecisava,aperteisuamãoeelegrunhiu.

–Sam...–Calaaboca.–Choraminguei.Sódesentirsuamão,jámedeixavasem

ar.Alex sorriu contra meu pescoço e voltou a me beijar explorando seu

toque.Euqueriasenti-loporinteiroeeutinhacertezadequeeletambémqueria.Masbateramnaportaeavozagudasoou.

–Heicasalzinho,estamosatrasados.–Danagritou.ChoramingueiquandoAlexajeitoumeuvestido tirandoopesodecima

demimlentamente.Droga!–Temosqueir.–Mebeijoudeleve.–Elanãovainosdeixarempaz.–Vamos.–Melevantei.Alexajeitoumeuvestidoatrásemeucabelo,eletinhaaquelesorrisoque

medeixavasemjeito.Comodoisadolescentesqueacaboudeaprontar.–Elasvãomeintimidardenovo.Porterdandoumjeitoemseucabelo.–

Beijouminhabochecha.–Maseunãomearrependo.–Aculpafoidelas.–Avisei.–Elasdisseramqueeutinhaquefazerisso,

vocêiagostar.–Gosteitanto,quenãoquerodeixa-lasairagora.–Issoéumaboaideia.Maselasestãonaporta.–Murmureiquandovia

sombrapassar.Alexsegurouminhamãodepoisdeseolharnoenormeespelhoanossa

frente e saímos. Georgina tinha um sorriso rasgando a cara e deixei opensamento livre. Seguimos em silencio até o primeiro andar onde todospareciamansiososparasair.Alexavisouqueíamosnocarrodele,elenãoqueriaseespremercomorestantedopessoal.Oueraumadesculpaparaficarmosasósnovamente.

Eu tinha certeza que meu sorriso não iria embora nem tão cedo. Nos

perdemosdosnossosnovosamigos,meiahoradepoisde terchegadona festa,crianças e casais estavam por todos os lados. Alex segurou minha mãoentrelaçando nossos dedos, apenas caminhando para todos os lados, era umasensaçãoboaestarcomeledessejeito.Esquecerumpoucoqueeuestavaaumpassodacombustão.

–Danadissequequerapresentarseusamigos.–Falei.–Achoque jáosconhecemos.–Alexpassouobraçopormeuombro.–

Podemosteranoitesónossa.–Eseelasechatear?–Vocêtemamim.–Beijoumeucabelo.

Havia barracasmontadas em todos os lugares eAlex se interessoupor

umadelas,eraalgocomoatiraremumapilhade latase levarumprêmio.Elequeriaumelefanterosa,eleinsistiu,quaseseajoelhouparairnessabarracaatéeu concordar.Alexpagou suas fichas e esperouo rapaz a sua frente fazer seutiro.Eleerabom.

Ele seposicionounamesade apoioe fezumbom tiro,o rapaz sorriu,

aquele típico sorriso de competição e teve sua vez. Alex o encarou algumasvezes em um olhar parcial. Eu não entendimas eles continuaram dando seustirosequandoafichasdonossoamigoterminou,elecomproumaisalgumas.Eupenseiemdizerquenãoprecisavadoursoquepoderíamosirembora,masAlexfeztodososseustiros.

–Você foi bom.–Falei descruzandoos braços. –Masnãoprecisa gastar

maisnenhumdinheirocomigo.Elesorriu,umenormesorriso.–Queprêmiovocêescolheu?–Orapazperguntoumeencarando.Eleera

umpoucomaisaltoqueAlexeseusolhoseramduaspedrasnegras.–O elefante. –Falei automaticamente. Ele se virou para menina dos

prêmiosapontandoparaourso.Emeentregou.Alex o encarava de braços cruzados, e todos ali pareciamme encarar

enquantoumursoeraestendidoamim.–Eunãopossoaceitar.–Tudo bem, eu estava apenas passando o tempo. –Continuou me

apontandoourso.Eopegueiquandomaisolharesvieram.Eu deviamas estava sem saber o que fazer depois de todas asminhas

negativas.

–Obrigada.Elesorriu.–Nãohádeque.SouJeremy.Me aproximei de Alex, ele ainda estava nos encarando. Essa era a

primeiravezqueoviaassim.–SouSameesseéoAlex.–Foiumprazer.–Jeremysorriueseafastouquandoumgrupogritouseu

nomeapoucosmetros.Alex fez o caminho contrário passando a frente e o segui. Ele estava

andandorápidodemaisepreciseicorrerparaacompanha-lo.–Hei,meespera.–Segureiseubraçoofazendoparar.–Oquefoi?–Era

meio idiota perguntar porque eu sabia, mas não podia deixar um buraco nomomento.

–Você ainda pergunta? Um cara acabou de dar um urso pra minha

namorada.Oursoqueprometidar.Namorada?Certo,podemosfalardissodepois.–Eunãoiaaceitar.–Eporqueaceitou?Respireifundo.–Estavamtodosolhando.

–Dane-se.–Desdequandovocêéidiotaassim?–Sussurrei.Eu não sabia se ficava feliz com seu ciúme ou seme irritava. Porque

ciúmes temdois lados.Geórgia saltouemnossa frenteenosencarousumindoumpoucodaempolgaçãoquepareceuexistir.

–Atrapalho?–Não.–Falei.–Aconteceualgumacoisa?–Oshowvaicomeçaragora.Danaconseguiuumbomlugar,vocêsnão

vêm?–Sim.–Falei.–EuvouesperarnabarracadeGloria.–Alexmeencarou.Gloriaeratia

deDana.–Vejovocêsdaquiapouco.Droga!–Oqueaconteceu?–Geórgiaseguroumeubraço.–Umcara que eununcavi na vida atrapalhounossomomento, ganhou

esseursoemedeu.Eraoursoqueeleiamedar.Alexficoucomraivaporqueaceitei.

–Isso não foimuito legal,mas eu te entendo.Vamos ao show, ele vai

ficarbemeatéanoiteacabarvocêsestarãonosegundoround.–Sorriu.Euesperavaporisso.EncontramosDanaumtempodepoiseparaminha

surpresa, Jeremy estava com ela e todos os outros. Encarei Geórgia quase

passandopelamultidãoeindoatrásdeAlex.Masestávamospertodemais.–Demoraram.–Sam.–Jeremysorriupramim.–Seconhecem?–Danaperguntou.–Eleganhoupramim.–FaleideumavezeGeórgiameencarou.–Você...–Sim.–Jeremyaindasorria.–Masocaradelanãogostoudisso.–Geórgiafalou.–Elatemnamorado,

entãoprocurealguémlivreJeremy.–Eusóquisserlegal.–Geórgia.–Aencarei.Amúsicacomeçoueoassuntomorreu,mesentidesconfortávelporele

estaraliedomeulado.Eunãoqueriaimaginareleestandonomesmolugarquenós.Sefosseumhospede?Umhospedeamigoeantigo?Alexsurtaria,eutinhacerteza disso.Umamúsica animada começou eGeórgia puxoumeu urso paradançarcomele,aspessoasprocuravamparesnomeiodamultidãoepraguejeiquandoJeremymetirouparadançar.

–Eunãoseidançar,estoubemaqui.–Faleidandoumpossoatrás.–Issoécomoandardebicicleta.–Mepuxou.–Euteajudo.Era pra ser uma noite legal, seria uma noite legal.Quando a banda se

retiroudopalcoimprovisadovoltamosabarracadeGloria,estavamtodosrindo

eelogiandooshow,nemafinagaroapareciaincomodar.Desdequemeafasteide Jeremy até o urso me incomodava então chamei Geórgia e disse que elapoderiaficarcomele.Eelaentendeuperfeitamentebem.

–Voutentarmantê-loafastado.–Eleéhospede?Assentiu.–Amigo, sempre vem pra cá. Mas não se preocupe, eu posso dar um

jeito.–Obrigada.AlexestavanobalcãoconversandocomGloria eumagarotaque fazia

sucos. Ele estava sorrindo, aquele sorriso que fazia suas covinhas aparecer.Agarota lhe deu um leve tapa no braço e se afastou pegando um copo e oenchendo com o suco, e o passando a ele. Nos aproximamos com a mesmabagunça da saída do show e ele me achou e claro, encontrou Jeremy com agente.

–Oi.–Mesenteinobancoaseulado.–Oi.–Faloumeencarandodelado.Agarotavoltou.–Umpontopramim.–Falouaele.–Doisaum.Tentei entender o quer falavam, Gloria aumentou o som do pequeno

rádioealgumtimehaviafeitoumgol.Alexsorriupraela.–Vamosganharessa.OtimedeNYéomelhor.

–Vamosver.–Agarotaseafastouaindarindo.Elesfalaramsobreojogoatéofimdele.AgarotaganhoueAlexlhedeu

algumdinheiro.Nãonosfalamosnessetempo,nãoquandoamesadeDanaeradestacada pelas vozes dela e de Jeremy contando histórias do passado. Merecuseiamesentarcomeles,euqueriavoltarpracasaevoltarpranossabolha.Euqueriachorar.

–Sequiserpossoleva-lapracasa.–Vocênãovem?–Perguntei.–VouajudarGloria.–Mexeuemseucopo.–Voudepois.–Vaiajudá-laouestátentandoficarlongedemim?–Sam...–Euvoupracasa.–MeafasteiignorandoosgritosdeGeórgiaeparando

oprimeirotaxiqueviseaproximar.Se ele precisava ficar sozinho, a melhor saída era deixa-lo sozinho.

Ignoreialgunshospedesnaentradaquandocheguei, seguidiretoparaoquartotrancandoaportaedeixandoaroupapelocaminho.Tudooqueprecisavaeradeumbanhoedormir–mesmosabendoqueiriaespera-lochegar.

Passei um longo tempo agachada embaixodo jato de águaquente, uns

vinteminutosatéeuresolversairpensandonacontaquevirianofimdomês.Meenroleinatoalhaedeixeiopequenometroquadrado.Alexmeassustou,estavasentadonabeiradadacama,eunãoqueriabrigarcomele.Eratãocedopraissoacontecer.Meafasteiindodireçãoaminhamochila,massuamãosefechouemvoltadopulsomefazendovoltar.Caisentadaemseucolo.

–Euprecisotrocarderoupa.

–Medesculpe.Encareiochão.–Olhapramim.–Seguroumeuqueixo.–Medesculpe.–Eunãoestoucomraiva.–emparte.–Estámentindo.–Eu só não queria brigar, ainda é cedo pra sermos partes ruins um do

outro,nãoacha?–Ofitei.Assentiu.–Eunãoestavapreparadopraisso.–Eunãogostei de ter ganhado aqueleurso, eu sóqueria ser educada e

sairdelá.Penseiemfazerumapiadasarcásticacomomomentomasvocênãomepermitiu.Depoisnãoquisiraoshowcomigo...

–Eeledançoucomvocê.–Faloutrincandoosdentes.–Eeledançou comigo e foi desagradável, poderia ter sidovocê.Então

você não quisme acompanhar e preferiu usar esse tempo conversando com aajudantedecozinha.Íamosbrigarseosdoiscontinuassealieesseésóonossoprimeirodiaoficial.

–Posso fazer meu pedido amanhã. –Beijou meu ombro nu. –Pra ser

diferente.Oencarei.

–Eupenseiemalgoprahoje,masachoqueestragueitudo.–Vocênãoestragou,ascoisasaconteceramassim.–Me sintoumdoente em relaçãoavocê.Porqueeuposso tever como

umagarotinhaeaomesmotempotenhopensamentossujos.–Sorriutorto.–Eupensoagoraqueosoutroscarastenhamessespensamentostambém.

Euri.–Podemosesqueceressapartedanoiteemanterosplanos.–Falei.–Vaiesquecerquefuiumidiota?Assenti.–Certo. –Me virou para ele se esquecendo que eu estava apenas de

toalha.Uma toalha saindodo lugar.–SamanthaAlison,quer serminhagarota,estarcomigoaondequerqueeuvá,dividirmomentoseoagoradavida?Aceitaserminhanamorada?

–Issoquasesooucomoumpedidodecasamento.–É uma ótima ideia. –Sorriu me encarando. Eu queria beija-lo.–Mas

aindaécedoparaassusta-la.–Aceito.Aceitoserqualquercoisa,contantoquenãomedeixeagora.Suasmãosenlaçaramminhascostasmepuxandoparamaisperto.–Eunãovoutedeixarnemagora,nemnunca.Temosumnuncadentrode

umtempo.–Mebeijou.–Agoranãovaisoarcomoloucuraeudizereuteamootempotodo.

–Agoranãovaisoarloucuraeumeirritarcomcadagarotaquevermosnaestrada.–Sorri.

–Contantoquenãomateninguém.–Eunãovou.–Oencareisegurandoalgunsfiosdecabeloespetadopara

trás de sua cabeça. –Eu estive com um pouco de medo dos meus própriospensamentos em relação a ter alguém de novo, nunca pensei que teria essaopção.Nuncaespereiquefossevocê,enuncamesentitãopreparadaparaumanova/velhaexperiência.–Minhasmãosestavamtremendo.

–Nova/velhaexperiência?–Umarugaseformouemsuatesta.Prendiminhaspernas em sua cintura e tirei asmãosde sua cabeçame

afastando poucos centímetros desfazendo o pequeno enrolo que fiz na toalha.Entãoadeixeicairnochãoevolteiaenlaçarseupescoço.Alexmeobservavadeumamaneira que aqueceu cada parte domeu corpo e ele fazia cada pequenodetalhejáconhecido,parecernovo.

–Sam...–Não seja um cavalheiro. –O beijei. –Eu preciso colocar isso pra fora,

semformalidade.–Seusbraçosmeprenderamenossobeijoseaprofundou.Elerespiroufundo,sualínguatocouaminha,eelecravouosdedosem

meus quadris, trazendo-me com força contra ele. Todo meu corpo parecia sedesfazer,emeussentidosiamjuntos.Eujápodiasentirqueeuestavaprontaparaele,definitivamente,quedessavezpoderiaserdiferente.Eleseriameueeuseriadeleagora.

24

Samantha

Consigo sentir sua respiração emmeupescoço, enquantominhasmãos

não param de tremer conhecendo cada pedaço de seu corpo. Segurei o risoquandoformuleitudoempensamento,issoeraloucura.Umaverdadeiraloucura.

–Me dê um segundo. –Sussurrou contra meus lábios se afastando

gentilmente.Aproveiteiomomentoparaapagaraluzeacenderoabajuraoladodacama.

Ouvi seus passos e minhas pernas tremeram novamente, Alex estava

vestido domesmo jeito que havia saído.Um sorriso cresceu em seus lábios esuspireialtodemaisentregandoainquietaçãoemmeuíntimo.Tenteinãofecharosolhosquandoseusjoelhostocaramomeiodacama,meusjoelhosseuniramautomaticamente e meu coração bateu surdo dentro de mim. Eu havia ditorápido,mas ele nãoparecia querer assim, e seus olhosme engoliramantes deseuslábiostocarosmeus.

–Euseioquequer,eutedareioquequer.–Escovoumeucabelocomos

dedos.–Masprimeiro,euprecisofazerdomeujeito.Pisquei tentandoaliviar a ardênciaemmeusolhos, seus lábios tocaram

lentamentemeu ombro, depois o outro até perceber que estava deitada e nãomais parecendo uma idiota encolhida em meus joelhos. Alex sorriu meencarando.

–Oquefoi?–Perguntei.

–Eu não sei se vou conseguir deixá-la sair dessa cama nas próximas

horas.–Suavozsoourouca.Issofaziaoqueimoaumentardentrodemim.–Eu não tenho planos para as próximas horas. –Afundeiminhas unhas

emseubraço.–Ébomsaberdisso.–Alexmebeijou,lento.Mantive meus olhos fechados enquanto percebia seus movimentos se

tornaremprecisos,eusabiaoqueeleestavafazendo.Estavaesperandoporisso,pormuito tempoenãoeravergonhosoadmitir, issovinhamuitoantesde tudoisso.Euodesejei,acho,quedesdeaprimeiravezqueovi.Foiomeuprimeirodesejo.

Seus olhos voltaram a me encarar e assenti sabendo o que ele estava

perguntandomesmosemmedizerumapalavra.Meusdedos traçavamcírculosemsuanuca,enquantoeutentavaacalmaramimmesma.Podiaadmitirtambémque eu estava completamente apaixonada por Alex, e que eu não conseguiriaimaginar outra dor semelhante a que passei no passado caso isso tudodesmoronasse.

Pois eu tinha certeza que doeria muito mais sendo ele, não querendo

cuspirnopratoquecomi,masachoquenuncaameialguémdeverdade,comooamo.Fecheimeusolhospegadesurpresaquandosentiseubeijoemmeuíntimo.Ocalorentreminhaspernaseratudooquememantinhaalerta.Seutoque,suagentileza. Alex estava sendo uma experiência nova pra mim, estava sendodiferente porque tracei um pensamento diferente pramim ao longo dos anos.Nãoconseguiapensarnessemomentocomoutrohomemeaquiestoueu,comoutrohomem.

–Tudo bem? –Seus lábios pastaram em minha bochecha. Assenti o

sentindomepreencher.–Issomepareceumbomlugar.SorrisentindomeucorpotremendocomosimplesgestoeAlexgrunhiu.

–Euamoisso.–Oque?–Pergunteiemumsussurro.–Osomdasuarisada.Segureiseurostoentreasminhasmãosofazendomeencarar,penseiem

dizeralgo,mas tudosumiudaminhacabeçaquandoencareiseusolhos.Haviasidosugadaporeles,meusolhossefecharamautomaticamentequandoosentisemovimentarlentamentesobremim,podiajurarqueumsorrisoestavarasgandomeurostodiantedasensaçãoquemeucorpoestava tomando.Abafeiumgritoquandoseusmovimentosmetomarammaisrápidos.

Suas costas estavam escorregadias tão rápido quanto a formação de

pensamentos em minha cabeça. Minhas pernas tremiam automaticamenteentrelaçadasemsuacinturabuscando impulso inimaginávelparamantê-lasemsincronia.Alex estavamemostrando o que era amor e droga, ninguémnuncahaviamemostrado isso antes.Evendo agora, isso doía, aomesmo tempomedeixavaemumestadodetorporporserele.Porquetinhaqueserele.

Seuslábiosesmagaramosmeusparacontrolarossonsqueescapavamde

ambos.Umadesuasmãosmemantevepresaaeleporumlongotempoetudooque conseguia trabalhar – ou tentar – eraminha respiração. Estava à beira doabismo por diversas vezes antes de ouvi-lo trovejar deixando meus lábiosinchados, choraminguei enquanto minhas mãos procuravam apoio em seupescoçoopuxandoparamim,afundandoemseupescoço,sentindoseucoraçãobaterrápidocontraomeu.

–Eu amo você garota...–Sussurrou contrameu pescoço algunsminutos

depois.–PorDeus,euamovocê.Sorri.–Issoétudooquetemparameoferecer?Alex se levantou, apoiando o peso do corpo nos cotovelos e sorriu

beijandominhatesta:–Achoquetemosmuitotempoparaaproveitaressacama.–Issoébom.–Opuxeiparamim.–Porqueeugosteidisso.

25Alex

Sam estava dormindo quando acordei pela segunda vez, já eramanhã.Suarespiraçãoestavapesadaeeutinhacertezadequeelanãoacordarianemtãocedoeeununcaqueriadeixa-laentãonãomeimportavadeficarenroscadonelapelo tempoqueelaprecisasse.Fecharosolhosmefaziavoltaranossanoiteereviveraversãoatéentãodesconhecidapormimdagarotaqueestavaemmeusbraços.Eusabiaqueelapodiasermaisdoqueelajáera.

Sempresoube.Edepoisdessanoiteminhadecisãoestava tomada,mesmo tendomedo

de tudo que poderia acontecer não poderia deixa-la ir embora, e não meimportavasesuadecisãofossevoltarpracasa,euiriacomela.Iriaaondequerqueelaquisesseir,porqueestavadispostoanãoperde-laumasegundavez.

–Oqueestápensando?–Suavozsooupreguiçosa.Abaixeioolharpara

encara-ladeolhosfechados.Seuslábiosestavaminchadoseissofezmeupeitoinflarorgulhoso,oqueeraidiota.

–Nossanoite.Elasorriuescondendoorostoemmeupeito.–Vocêfoiincrível.–Alex...–Gemeu.–Certo.–Beijeiseucabelo.–Quertomarumbanho?–Comvocê?–Nadadoqueeujánãotenhavistoeconhecidocadapequenodetalhe.Sam tremeu levemente se sentando e puxando o lençol com ela, que

puxeidevoltagentilmente.

–Você não devia se envergonhar. –Apoiei os braços atrás da cabeçaenquantoaviamastigarolábio.–Eunãosouumestranho.

–Issoéestranho.–Nãomais. –Me aproximei beijando seu ombro. Suamão afagoumeu

cabelo.–Quandoeudissequeoamava,eununcafaleitãosérioemtodaminha

vida.–Eusei.–Afitei.–Não.–Piscou.–Euestoudizendodeformaincondicional,achoqueeu

estou completamente apaixonada por você, Alex e isso me assustou por umlongo tempo. Porque estou acostumada a perder coisas, não quero acordaramanhãeterdemedespedirporquevocêcaiuemsi.

–Issonãovaiacontecer.Euprometo.–Eugostoda formacomovocêmemantem,comoacredita emmim.–

Suaspalavraseramsinceras.–Àsvezessóprecisamosdealguémqueconfieemnossacapacidadede

sermosmelhores,maisdoquejásomos.Masnãofuieuquemtemostrouisso,vocêsabe.Semprefoivocê.

–Obrigada.Melevanteiapuxandocomigo.–Disponha.Depoisdobanhoagradável,descemosparanos juntar–mesmoeunão

querendomuito– comosoutros na cozinha.Sam tinhaos dedos entrelaçadosaosmeuseseusorrisorasgouorostoquandoganhouumolharcumplicedesuasnovasamigas,estavamepreparandoparadeixa-laassimqueelasaconfiscasse.Eranossoúltimodia–depoisdemedecidirmuito–antesdepartirmos.

–Café ou chá? – Dana perguntou apontando para as garrafas sobre a

mesa.–Café.–Estendiminhaxicara.–Pensei que tinham ido embora. Estava quase querendo mata-los. –

Comentou.–Vamosaoentardecer.–Samavisou.Danafezumacaratristeantesdeseusombrostombarem.–Écedoainda,podiamficarmaisalgunsdias.–Seria bom, mas temos que ver minha irmã. Estamos partindo para

Chicagoeaviagemserálonga.–Vãovoltaralgumdia?–Sim.–Samtocousuamão.–Vocêsforamlegaiscomagente.–Essa foi a primeira parada em que ela não quis matar ninguém. –

Brinquei.Samsocoumeuombrodeleveebeijeisuamão.–Issoétão...–Danafezumolharapaixonado.–Menosmenina.–Geórgiapegouumaxicarapassandopornós.–Espero

vê-losdenovo,ejáqueéonossoúltimodiajuntas,precisamosconversar.

Samabriuumsorrisoenvergonhado.–Ah,claro.Deiumarevisadanocarroefuiatéocentrodacidadeparaabastecere

comprar algumas coisas, Sam havia sido confiscada como imaginado entãoestavasendoumpoucochatonãotê-la–mesmoqueemsilencio–domeulado.Sem contar que nosso adorável amigo da noite passada estava lá,mas elameamavaeeraobastante.Adaligoueconfirmeinossaida,podiaouvirseusgritosdooutroladodalinhaantesdedesligar.

Quandovoltei,Samterminavadefecharsuamochilaetinhaumsorriso

brincandoemseuslábios.–Voltei.–Aviseientrandonoquarto.–Elasmeliberaram.Sabecomosãoasgarotasquandoqueremsaberde

tudo.–Enrolouocabeloemumcoqueapertando.–Eu devo imaginar. –A peguei no colo suas pernas enlaçando minha

cintura.–Prontaparaconhecerminhafamília?–Esenãogostaremdemim?–Umarugaseformouemsuatesta.–Eles vão gostar e se não gostar, temostro entre quatro paredes quem

temaobrigaçãodeteaceitaraqui.–Mordiseuqueixoouvindosuarisada.–Adaestáansiosa.

–Eutambémestouansiosaparaconhece-la.Vaiserdivertido,euacho.Aapertei.–Será.

–Edepois,vamoscontinuarrodandoouvamosatéela?Elaerasuamãe.Essaeraapartequemeassustavaporqueeunãosabia

seelarealmenteestavapreparadaparaumnovoencontro.Nãohaviaummotivoparaeumesimpatizarcomela,elanãohaviadadoummotivoparaisso.Samfoiabandonada, semmais nemmenos eminha opinião a respeito era contra tudoisso,partedemimqueriaprotege-la,aoutra simplesmentediziaqueeraoseudireito.Dane-seodireito,elanãopodiamaissemachucar,issoeraerrado.

–Adecisãoésua.Euestouaquiparaservi-la.Mordeuolábiopensativa.–Estáemdúvida?–Apenaspensandoemcomovaiser.–Porque?–Sóumpoucodemedo.–Suspirou.–Temostodootempodomundo.Sorriu.–Obrigada.O resto do dia passamos guardando nossas coisas no carro e nos

despedindo,Samligoupracasaepassoulongosminutosfalandocomamulherquecuidavadeseupai.Entãoerahoradepartir.

–Meligue.–Danaaabraçou.–Estoufalandosério.–Euvouligar.

–Cuidedela.–Geórgiamemandouemtomameaçadorantesdeabrirum

sorriso.–Podedeixar.Samentrounocarroeacenoudajaneladepoisquemepusaseulado,ela

ficouemsilencioporpelomenosvinteminutosantesdesuspiraralto.–Oquefoi?–Pensandopositivo.–Fechouosolhosesticandoaspernasparaapoia-las

nopainel.–Elessãolegais.–Afagueisuacabeça.–Eusei,massemprequevoltamosaestradaalgumacoisaacontecesse.–Euprometoquedessavezserádiferente.Seusolhosmeencararam.–Esenãoder,vamostentarresolver.–Vamos.–Afirmei.–RumoaChicago,então.–RumoaChicago.

26

SamanthaPassamos o primeiro dia com apenas uma parada em um posto de

gasolina.Alexnãoparecia cansado, estavamaispara ansioso, aoanoitecer eleestacionou em uma pequena campina nomeio da estrada eme puxou para obanco de trás.Apenasme acariciava e esperava que eu pegasse no sono,masisso demorou acontecer. Eu não estava com sono, estava nervosa porquecomecei ame lembrar que um tempo atrás ele disse que apenas a família domaridodeAdamoravaemChicago.MasAlextambémtinhafamíliaporlá.

Seriaestranhoquandoquestionassemsobremim,nãoqueeleseimporte.

Tenhocertezaquenão.Masseriaestranhodequalquerjeito.Pelamanhã,ligueipra casa, eu não consegui falar por dez minutos seguidos, enquanto meu paifalavadooutroladodalinha.Nãohavianadaquemetornasseumapéssimafilhaem sua voz, apenas o quanto ele sentia minha falta e me amava e por um

segundo,eudeixariatudopratrásevoltariapracasa.Eleeratudooqueeutinha.Alex me abraçou até que eu voltasse ao normal, afagou meu rosto e

pegamos a estrada novamente. Era a segunda vez que eu realmente prestavaatençãonasmensagensemmeucelular,mecausavaumincomodomasnadaquemefizessehiperventilar.

–Oqueestápensando?–Alexmefitou.–Nada.–Sussurrei.–Saudadesdecasa?–Todososdias.–Confessei.Não era mentira. Depois de muito insistir, consegui pegar a direção e

dirigirporpelomenosquatrohorasatépróximarodoviaquandoparamosemumhipermercado nomeio da estrada. Alexme levou para os fundos de uma daslojas onde barracas de camping estavam montadas eram umas dozeexageradamentearquitetadaspelasminhascontas.

–Oquevaifazer?–Pergunteidepoisqueovijogarnossascoisasdentro

deumadelas.–Euprecisodeumbanho,evocêprecisadescansar.–Aqui?–O que tem? Podemos dizer que estamos testando elas. –Beijou meu

pescoço. –Eu vou procurar um banheiro de funcionário e tomar um banho ouvocênãovaimeaguentarmais.

–Você ainda está tolerável. –Brinquei. Mas não era mentira, Alex

cheiravaaperfume48h.

–Sei.–Mepuxoucomeleparaoscorredores.Pessoaspassavampornósotempotodo,entãoelemedeixouemumcafé

posicionadonomeiodalojaeacenouantesdesumirporumaárearestrita.AlexnãoeranenhumgalãdeHollywood,maselesabiachamaratenção,porqueeleeramaisnaturalqueumgalãdeHollywood.

Meu celular tocouminutos depois, restrito, geralmente era alguma loja

que errava o número do verdadeiro cliente e calhava cair pra eu receber ascobranças.Haviaumfiltronomeucérebro,filtrandocoisasruinsdesdequeAlexchegou,foiessefiltroquemefezatender.

–Alo?–Sam.–Senti umpesono estomagoeminhaboca ficou seca.Eu sabia

queestavapreparadaapenasmentalmenteparaisso.–Porfavornãodesliga.–Dave. –Soou baixo. Meus olhos estavam ardendo e minha cabeça

girando.–MeuDeus,vocêestábem?Euseiqueéidiotaperguntarisso,maspor

favormedigaqueestábem.–Suavozcarregavaarrependimento.–O...quevocêquer?–Euestoudesesperadopornotícias,Sam.Eunãoestoudormindo,estou

na lama em todos os sentidos cheio de culpa. Você não sabe o que estoupassandodesdequesumiu.–Suavozeradesesperada.

–Sintomuito.–Euestoumesentindomal,euprecisovê-la,precisofalarcomvocê.–NãoDave,vocênãoprecisa.

–Essasituação...vocêvaivoltarpracasaumdiaSam,comovamosficarnessasituação.Euvouaondevocêestiverapenasparaconversar.

–Vocêmemachucou! –Gritei.Vários olhares se direcionaram amim e

meencolhi.–Comoachaquepossoquererfalarcomvocê?–Euseiquenãoquer,masépreciso.Foramanos...–Denada.Anosdeilusão,anosachandoqueeuteamavaehojeseique

nuncateamei.–Mentira.–Verdade. –Um riso escapou. –Eume senti amada duas noites atrás e

mesmohojenãosendocomoaqueledia,euaindamesintoamada.–Oqueestádizendo?–Estou dizendo que tenho outra pessoa.Queme amou,Dave.Queme

mostrourealmenteoqueédarereceber.–Vocêviroualguma...–Não!–Chiei.–Maseuacheialguém.Alguémqueeurealmentequero

pramimcomonuncapenseiquerernavida.Eeleapenasmeama.–Vocêestáficandolouca,Sam,suasterapias...–Eu não sou louca! Pare de tentarmexer com aminha cabeça porque

vocênãovaiconseguir!EunãovouvoltarpravocêDaveesevocêfosseoúnicohomemnafacedaterra,vocêseriaoúnicoserhumanovivonafacedaterra.Eumesintovivaagora,acheiumlugarpramim.Esselugarébom.

–Ligueprasuaterapeuta.

–Não.–Não faça por mim, faça por você. Você está me dizendo que achou

alguémporaíesimplesmenteestábrincandodeamoraventureiro.Vocênemoconhece...

–Vocênãomeconhece!–Gritei.–Vocêestámedeixandopreocupado.–Deveriasepreocuparquandometraiu.–Sequeiumalagrima.–Agoraa

únicacoisaquevocêdevefazerémeesquecer.–Eunãovouesquecerenquantovocêestivercometendoloucuras.–Eunãosoulouca!Senti o celular sendo arrancado de minhas mãos e todo o meu corpo

tombar para um lado só.Alex estavame segurando pelos ombros procurandoalgum sinal errado emmim,mas tudo o que eu conseguia fazer era chorar esoluçar.Queriameafastardeleporumtempo,apenasporumtempo.

–Oqueaconteceu?Euviroascostasporumsegundoealgograndioso

acontece.Me debrucei contra a mesa sentindo meu estomago se revirar, eu era

capazdevomitaralimesmosódeouviravozdeDave.–Sam. –Alex se agachou ameu lado afagandomeu cabelo. –Me diz o

queaconteceu?Aconteceuqueeuestouficandoloucarealmente.Aconteceuqueeunão

estou pensando em nada, apenas seguir essa viagem e eu não sei realmenteaondeelavaidar.Aconteceuquemesmoqueeumesintabem,algumacoisalá

nafrentevaimefazermal.Acontecequeeunãoseiseestarcomvocêéocerto.Masvocênãoprecisasaberdisso.

–Vem,vamosprabarraca.Ignorei todos os olhares e o deixei me levar para onde estava nossas

coisas,Alexdissequeeraporapenasalgumashorasentãovoltaríamosaestrada,erasómaisumdiaeestaríamosemChicagodepoisdetrêsdias,trêslongosdias.Medeitei emcimadenossasmochilas e o vi voltar pouco tempodepois comdoiscafésquenteseumpãomagro.Eunãoestavacomfomeeissoofezperderadeletambémseaninhandoameuladomeenvolvendoemseubraço.

–Odeioseusilencio.Respireifundosentindoseuperfumedorecémbanhotomado.–Vocêsabequenãodevemeescondernada,nãosabe?–Eununcadeviateraceitoessacarona.–Droga,oqueaconteceuSam?–Eleestavaentremagoadoeassustado.–Aconteceuqueeusoumanipulável.–Estádizendoquetemanipulei?–Seafastoualgunscentímetros.–Éque...–Apenasmedêumarespostacompleta.Achaquetetrouxeatéaqui,que

dormicomvocê,quetetoqueitodoessetempocomoumamanipulação?–Seusolhos.Seusolhosestavammejulgando.

–Não.–Minhavozsaiuengasgada.

–Vocêprecisadeumtempo,euvou tedaresse tempo.Mas...chegadepensaremcoisaserradas.Issoquevocêestáfazendodenovoéerradoeeuseioqueé.

–Alex...–Voltoemalgumtempo,descanse.–Eunãoqueroquesaia.–Segureiseucasaco.–Euquerosair,Sam.–Soltouminhasmãos.Ahdroga!Voltamosaestradaalgumashorasdepois,Alexnãofaloucomigonesse

tempo e sempre que isso acontecia eu me obrigava a dormir. Dessa vez euapenas liguei o celular e o formatei com apenas um toque, depois de ligadonovamente eu entrei em um site de busca e digitei seu nome. Eu devia teralgumaredesocial,aspessoashojeemdiatêmmaisdeuma.Eusouatrasadaemtodos os sentidos.Uma lista começou a surgir com datas de quando a pessoaadquiriu a linha.Algumas se encaixavamno tempo, outras não então passei anoite e o começo damanhã fazendo isso, passando páginas e procurando portemposmaislongos.

Abri minha mochila pegando um pequeno caderno de anotações e

comeceia listarosnúmerosqueachava.MeesquecideAlexedanossabriga,esquecideDave,esquecidetudo.Minhamãeeracomoumadroga,euseiquemefariamaldepois,masporenquantoelamantinhaminhamenteocupada.

Alex parou na hora do almoço, mas me mantive em meu lugar

concentrada, assimqueeledeixouocarrocomeceia fazer ligaçõese riscandonúmeros que não valiammais, foram sete no total até ele voltar. Tentaria emalgumasparadas,poisnãoqueriaqueelesoubesseoqueeuestavafazendo.

–Temosmaisumasquatrohoraspelafrente.–Avisoumeentregandouma

sacolacomcomidaquente.

Eunãotinhaoquedizer,entãosópegueiasacolaecomisilenciosamente

nobancodetrás.ElizabethAlison,vocênãodeveriaparecerestranhapramim,mãe.Pegueinosonoeacordeicomocarroestacionado.Alexestavaprontoparamechamarquandoanunciou.

–Chegamos.Sentimeusossosprotestaremquandomeespreguicei,acasaeraparecida

com a minha, não era grande, também era não pequena. Algumas criançasgritavam da soleira avisando queAlex havia chegado entãome preparei parapelomenosparecerapresentável.Pegueiminhamochilae saidocarroquandoumgritoecooudoendomeusouvidos.EraacópiadeAlex femininacomumabarrigaredondacorrendoemnossadireção.

Alex se afastou algunspassospara segura-la assimqueAda se chocou

contra ele chorando como uma menininha de cinco anos. Era um momentofamília,sódeles.

–Eu não acredito que está aqui. Olhe pra você, parece cansado. –

Segurouseurostoentreasmãos.–Euestoubem.–Alexafagouseurosto.Adaoafastoumeencarando,ela

tinhaoolharmaisferoz.Alexnãotinhaesseolhar.–VocêdeveseraSamantha?–Elestinhamomesmotomdecabeloeo

mesmojeitoencantador.–Sam. –Estendi amãome afastandodo carro.Adamepuxoupara um

abraçoapertado.–Obrigadaporcuidardele.–Sussurrouemmeuouvido.–Sejabem-vinda.

–Seafastoucomumsorrisograndioso.–Acasaestácheia?–Alexperguntoupegandonossascoisas.

–Digamosqueasfamíliasestãoreunidas,masnãosepreocupe,arrumei

umquartoparavocêsdois antesquedissessemqueviriam.–Sorriu segurandominhamãoemepuxandoparadentro.

Acasa estava realmente cheia, eme senti umpeixe forad'agua.Todos

vieramemdireçãoaAlexe erade repente como se só ele estivesse ali, entãoagradeciquandoAdamepuxouparaaescada,nosesquivamosdemaiscriançasno corredor. Ela me explicou onde ficava o banheiro antes de abrir a últimaporta. Era um quarto pequeno que cabia apenas uma cama de casal e umacômoda,tinharoupasnacamaeAdaxingoubaixinhoantesdejuntarejoga-lasnochãopertodaporta.

–Pessoasfolgadaseucostumonãotolerar.–Bufoueabriuumsorriso.–

Vocêdeveestarcansadaecomfome,nãoé?–Estoubem.Adameencarouporalgunssegundoseumalagrimasdesceu.–Medesculpe,euestoucomosnervosàflordapele,sãooshormônios.–Euentendo.–Realmenteentendia.–Masemparteeuestou felizpormeu irmãoestar aqui, e ele te trouxe

entãoquerdizerqueeleestábem.–Elenãodeixariadevir.–Nosúltimosanoseucostumoouvirissoeessaéaprimeiravezqueele

veio realmente. E se ele veio com alguém, é porque ele está ficando bom denovo.

–Alexsóquerviverláfora.

–Não,elequerfugir.–Sesentouameulado.–Eeunãoqueroqueelefujaprasempre.Elenãoprecisadisso.

–Eleteamadeverdade.–Afagueisuamãoinchada.–Eusei,eugostodesaberquevocêestácomeleequevocêmechecom

ele.–Sorriu.Eusouanovapartecomplicadadele.–Estamostendoalgumacoisa...–Não precisa se envergonhar, sei a forma que se conheceram e toda

formadeamoréaceita.Nossaissofoiclichê.–Gargalhamos.–Massério,vocêoama?

–Alexéamelhorcoisaqueaconteceunaminhavida.Eleexpulsoumeu

eu para fora de mim. –O que não era mentira. – Eu o amo, mais do que eupoderiaacharpossível.

–Entãonãoodeixe, eleprecisadevocê.Eleprecisadealguém,é algo

queeunãopossoajudar.–Voumeesforçar.–Obrigada, bom fiz torta de maça quer ir buscar? Então eu posso te

deixarempazpravocêdescansar.–Vocênãomeincomoda.Sair do quarto era deixar sua zona de conforto, mas segui Ada até a

cozinhaonde algumaspessoas falavamalto enquantopassavampara fora compratosdecomida.Adaachoua tortacortandoumbelopedaçoecolocandoemum pequeno pote o tampando, abriu a geladeira pegando uma cerveja e aempurrandoamim.

–Issoaquidáparaaguentaressabagunça.–Afagoumeurosto.–Qualquer

coisaésógritar,sinta-seemcasa.EuqueriaAlexagoraecomoseodestinosoubessedisso,ovinavaranda

rodeadodepessoasrindoalto.Chegueiasorrircomissosenãofossepelagarotaque era grandedemais para parecer uma criança e vulgar demais para parecerinocentesentadaemseucoloenquantoelebebiaumacerveja.AntesqueAdaouqualquerumalipercebesseminhareação,eumevireicomumfalsosorriso.

–Eu...estousubindo.–Certo,temroupasminhaemumadasgavetas,masnãosepreocupesão

deantesdagravidez.Casoqueiraalgoconfortável.Etoalhastambém.–Obrigadamaisumavez.Adamejogouumbeijoebateupalmasfalandocomamulheraseulado

quandoeusaidacozinha.Assimquechegueinoquartoconferiobanheiroantesdedeixarascoisasnacômodaeprocuraralgoparadormir.Ésóafamíliadele,vocêsbrigaramenãoháporqueeleestaraquicomvocê.MaseunãoconheçoninguémalémdeAdaeissofazmesentirpior.

Tomei um longo banho, dessa vez não era nada apressado, aproveitei

cada segundo. Comimetade da torta demaça e bebi toda a cerveja enquantovoltava as minhas ligações tempo depois. Fiquei nessa até o sono chegar,apagueialuzemeencolhinacamapuxandoocobertorparamim.

Sentiocolchãoafundar,nãohaviamaisbarulhoenemvozeseoperfume

debanhotomadoencheuminhasnarinas.Obraçofortepassouminhacinturamepuxando para mais perto e meu coração pesou toneladas. Alex estava seaconchegandoemmim,segureisuamãoparaafasta-lo,maselenãosemoveu.

–Nãomemandasair.

–Sai.–Mandei.–Estouatrêshorastentandodormirnochão,maseunãoconsigo.–Problemaseu,ousepreferireudurmo.–Murmurei.–Medesculpe.Belisqueisuamãocomforça.–Ada já memachucou, então não precisa tentar fazer isso. Eu fui um

idiota.–Você foi... vocêmedeixoudroga... você estava lá comaquelagarota.

E...ahAlex!Seubraçomepuxouatéeuquemevirasseparaele,seuslábiospastando

emminhaslagrimas.–Eubebimuitomaisdepoisdisso,porquetendoaseridiotaquandonão

consigocontrolarascoisas.–Controlaroque?–Você. –Me fitou. –Sente. –Colocouminhamão em seu peito. –Isso é

medoeansiedade.Seucoraçãobatiarápido,pesado.–Estásendodifícilpramimnãofalarcomvocê,porqueseiquepravocê

o silencio é como um amigo. Então você não vai se incomodar, mas eu meincomodo.Eutenhomedoquevocêmedeixe,eeuestouapaixonadoporvocêpravocêmedeixaragora.–Uma lagrimadeslizoupor seu rostobonito.–Nãoimporta quantasmulheres cheguem perto demim, não será nada se nenhuma

delasforvocê.–Alex...–Eusóqueroqueconfieemmimemedeixecuidardevocê.Eunãome

importodecarregarseusfantasmasedomarseusmonstros.Nãomeimportodecarregarseusmedos,porqueeu teamo.Eé issoquefazemosquandoamamosumapessoa,nóscuidamosdela.

Abafeimeuchorocomacobertaantesdesuasmãosmepuxarparacima

dele.Afundeimeurostoemseupescoçosentindoseucoraçãobatendo.Eunãopoderiairalugaralgumsemele,eunãosaberiamaisestarnaestradasemele.

–Euteamo.–Sussurreiemseuouvido.–Eusentisuafalta.–Meusdedos

seafundaramemseucabelo.Eugostavadesenti-lo,cadapartedemimgostavadesenti-lo.–Euprecisodevocê,agora.–Oencarei.Umbrilhoiluminouseusolhos.–Soutodoseu.Apenasseu.–Beijoumeuqueixo.Alexmefaziaperderasanidade,mefaziasonhardenovo.Mefaziaser

clichêdamaneiraquepasseiarepudiar.Alexapenasmedeixavaviver.

27

Alex

Sam ainda dormia quando acordei pela manhã, era sempre a mesma

sensaçãodecontentamentoquandoavia,erabomsaberqueelaaindaestáali.Permaneci emmeu lugar até ela acordar e tomarmos umbanho juntos, descersozinhomefariaterqueenfrentaraprimademeucunhadoecolegaSoraya,elagrudaria emmimcomonanoite passada e eu nãoqueria outro problema comSam.

–Suairmãsentesuafalta.–Falouenquantosetrocava.–Elamemostrou

issoontem.–Eusei,maseunãopossoviveràsombradela.–Nãopensaemficarporaqui?–Mefitou.–Vocênãovaiquererficar.–Masvocêvai.Aencarei.–Estámedispensando?–Não!–Entãocomoachaquevamosviverseparados?

–Nãopensomuitonisso.–Eupenso, então semchancesde isso acontecer agora eporum longo

prazo.Adaterminavadearrumaramesaemcimadeprotestosquandoentramos

na cozinha, ela parecia realmente cansada e uma hora, teríamos demandar asvisitasembora.Aabraceialisandosuabarrigalevemente.

–Oqueaconteceu?–Beijeisuatesta.–Eunãoosaguentomais.–Murmurou.–Elessóqueremcomeredeixar

ascoisasparamim.–Possodarumjeitonisso.–Dessa vez não me oponho. –Falou se encostando na pia. –Olá Sam,

comodormiu?–Perguntouseurostoseiluminando.EncareiSamporumsegundo.–Perfeitamentebem.–Estãoplanejandoumsobrinhoparamimtambém?–Ada.–Chameisuaatenção.–Qualé,Alex?Samélinda,vocênãoédesejogarfora.Seráumlindo

sobrinho.–Achoquenãoéahora.–Aparei.Tomamoscafénóstrêssozinhosnacozinhaenquantoofalatóriovinhado

lado de fora,Adamarcou de fazer compras e ela não queria ir sozinha, então

convidou Sam e eu o que era bom estar longe um pouco de todas aquelaspessoas.

Já havia me esquecido como era maravilhoso seguir as mulheres em

lojas, sóquedessavez,Adaentravaem lojas infantisonde soltavagritinhosacada novidade que via. Os olhos de Samantha cresceram algumas vezesencantada com uma coisa ou outra eme perguntei se ela queria isso para elatambém. Eu não me importava de começar a tentar. Paramos algumas vezes,entre uma ligação deAda e outra onde ela gritava alto chamando atenção detodos. Sam estava sentada emmeu colo rindo das atitudes dela, eu falei queminhairmãeraumpoucoforadesiasvezes.

–Estácansada?Podemosvoltarparacasa.–Sussurreiemseuouvido.–Estoubem.–Afagoumeubraço.–Estamosnosdivertindo.–Eutambém.Umarisadaescapoudeseuslábios.–Vocêéumgrandementiroso.–Mebeijou.–Eusei.–Retribui.–Umdiaquandofornósdois,eunãovoumecansar,

vamoscomprartudooquetivermosdireito.–Vocêquerserpai?–Seafastouparameencarar.–Vocênãoquersermãe?Seusbraçosdescansaramemvoltadomeupescoço.–Jápenseisobreissoumdia.–Eunãosouele,entãoteproíbodematarseussonhosporcausadeum

idiota.–Euseiquenãoéele,masfilhos?Beijeiseuombro.–Seria uma linda garotinha comolhos espertos e inocentes. Ela teria a

mesmadelicadezadamãe.–Euprefiroqueelasejafortecomoopai.–Afagouseurostonomeu.–Não.–Afitei.–Nossogarotoserácomoeu,vouensina-loacuidardas

damasdafamília.Samsorriueeladavasorteporestarmosempúblico,oufaríamosnossos

filhosalimesmonomeiodapraçadaalimentação.–Deixemde ser tão fofos, sério eu estou emocional e vocês assimnão

estãoajudando.Samsorriumesoltando.ObrigadaAda.–Achoqueestoucomfome.–Anunciou.–Vouprocuraralgoparacomer.–Querqueeuvábuscar?–Perguntei.–Não,voltemaosplanos.Voltojá.Assim que deu as costas, puxei Sam para o meu colo. Seus dedos

traçavamdesenhos pormeu braço, ela estava pensando seriamente no assuntopaisefilhoseeununcafaleitãosérionaminhavida.

–Quantotempoeuprecisoparapedi-laemcasamento?–Apoieioqueixo

emseuombro.Asentitensaporumsegundo.

–Casamento?–Sim, eu não quero fugir disso também.Mas quero saber quando vou

poderfazeressepedido.–Vocêtemcertezaquemeama?–voltouameencarar.–Nunca tive tanta certeza na vida. Só preciso de um pouco mais de

confiança,asvezessintoquetemmedodemim.–Eunãotenhomedodevocê,tenhomedodeperdervocê.–Sedependerdemim, issonãovaiacontecer.Masqueroquesejamais

abertacomigo,euquerocuidardevocê.Adavoltoucomdois sanduichesenormes,depoisdecomerelanos fez

andarpormaisumahoraantesdevoltarmosparacasa.Ascoisasestavammaiscalmasporlá,leveisuascomprasparaoquartoeSamficounacozinhacomelaenquantopreparavaumsanduiche.

–Euachoqueestãoliberados.–Adafaloucomabocacheia.–Vocêstêm

umamissãoaseguir.Aencarei.–Meussobrinhos.–Falou.Sam segurou minha mão escondendo a risada. Assim que a risada

escandalosa de Soraya entrou pela cozinha, vi o clima mudar. Sam apertouminhamãoeaencarou,possodizerquefoiaprimeiravezqueaviolharalguémdaquelejeito.

–Aí estão vocês, aonde foram? – Soraya jogou os cabelos escuros em

cimadosombrosesorriu.

–Compras.–Adafalouaencarando.–Porquenãomechamaram?–Falouacusatório.–Porquê de gorda já basta eu, não caberia nós quatromais sacolas no

carro.Sorayaaencarou.–Eunãosougorda.Sou,Alex?Precisodeumaopiniãomasculina.Sammeencaroucomassobrancelhaserguidas.–Achoqueapenasnãocaberíamostodosnocarromesmo.–Falei.–Estámechamandodegorda,também?–Fezumbicoforadocomum.–Achoquetemosumamissãoaseguir.–Samficounapontadospéseme

beijou.–Vamos?Adadeixouumarisadaengasgadasair.–Que missão? –Soraya se debruçou na bancada mostrando o silicone

recémcolocado.–Fazer sobrinhos paramim. –Adamordeu outro grande pedaço de seu

sanduiche.–Tambémquerosertia,elesvãopraticar.Samestavacorando,masnãoiadarobraçoatorcer.Adeixeimelevar

paraescadaesolteiminharisada,mesmoaouvindobufar.–Vamosrealmentepraticar?–Pergunteiquandofecheiaportadoquartoa

trancando.

Samtirouaroupaalimesmonomeioquartoficandoapenasdecalcinha

e sutiã de renda, me encarou antes de entrar no banheiro, segundos depoiscolocandoacabeçaparafora.

–Porqueelanãovaiprocuraralguémlivre?–Porquenãoétododiaqueseverumcaralegalcomoeu.–Seriaumapena se esse cara legalpertencesse amim.–Falouum tom

maisalto.–Estácomciúmes?Negou.–Admita.–Não.Vocênão é isso tudo. –Entrounobanheiro.Tireiminha roupa a

deixandodoladodasuaeentreinobanheiro.–Temcerteza?–Segureiseurabodecavaloavirandoparamim.–Quasecerteza.–Fechouosolhos.–O que você fez comigo, senhorita Alison? –Toquei seus lábios. Eu

gostavadesenti-lasedesfazeremmeusbraços.–Oqueeufiz?Teamei?Aprenseicontraparede.–Roubouminha alma emeu coração. –Sussurrei contra seus lábios. O

quenãoeramentira,elarealmentehaviafeitoisso.–Eagoraeuamovocê.

28

Samantha

Alex dormia a meu lado, ainda era cedo, não passava das onze. Me

peguei sorrindo todas as vezes que as imagens de seu pequeno ataque nobanheiro me pegavam de supressa, seus toques, seus beijos, sua força contramim.Eugostavadisso,gostavatantoquechegavaadoer.Toqueisuascostasdeleveapenasparasentirsuapelenapontademeusdedos,eunãopodiaestarmaisfelizdoqueagora.Seucorposemexeuelentaepreguiçosamenteeleseviravaparamim.Sorri.

Suamãomepuxouparaseupeitoepodiajurarqueseusolhosestavamse

fechandonovamente,eleapenasqueriamefazerdormirtambém.Masmeerguisobreseupeitoofitando,tocandoseusdetalhescomaspontasdosdedos,aindaemminhapesquisaminuciosaconstatandoqueeleeraperfeitoparamim.

–Oquefoi?–Vocêtemcertezaquequerficarcomigo?–Certezaabsoluta.–Seusdedossefecharamemvoltadomeupulso.–Temcertezaquequersecasareterfilhos?Sorriu.–Outracerteza.Beijeiseupeito.–Podemosimporcondiçõesnisso?Seusdedosafagarammeucabelo,atésefecharemefazerencara-lo.–Todasascondiçõesdomundo.

–Eunãoquerovoltarparacasa,mastambémnãoqueroficaraqui.–Faleicalmamente.

–Paraondequerir?–Qualquer lugar onde eu possa termeu pai comigo, pelomenos umas

cincocasasdepoisdaminha.–Eunãopodiadeixa-lo.–Pormim,tudobem.Apenasisso?–Nãopodemedarascostascasoeusurte.–Vocênãovaisurtar.–Mebeijou.–Podemostertrêsfilhos.–Eraumsonho.Seusorrisoaumentou.–Achojusto.–Podemosnoscasaremqualquerlugar,menosnaigreja.–Eunãomeimportocomolugar,amenosquetenhaopções.Neguei.–Podemos passar uma temporada na estrada sempre que pudermos,

mesmodepoisdeeuterfilhoseficargorda.–Agordamaissexyqueeutereiconhecido.–Beijoumeunariz.Monteiemcimadele,suasmãosapertandoacarneemminhacintura.Era

umalistadecondições,asmaiscomplicadaseleestavalevandosemperguntas.

–Podemos nos casar assimque deixarmos aqui. –Me puxou contra seupeito,seusdedosaindapresosemmeucabelo.

Eupodiasenti-lo,eoqueria.–Podemos nos casar agoramesmo. –Murmurei contra seus lábios. –Eu

nãomeimporto.Suamãolivremepuxouapenasalgunscentímetrosparabaixoantesque

todo o ar dosmeus pulmões parasse aome tomar.Alex estavam em todos oslugaresemesentiapequenadentrodeseusbraços.Nãoconsigorespirarquandoelemeaperta,suarespiraçãoemmeupescoço,antesdealiviareacariciarmeurosto.Seusolhoseramprofundoseselvagenseeunãotinhamaisvergonhadeencara-los,pelocontrário,eugostavadisso.

Cravei as unhas em seu ombro quando me movimentou lentamente e

ganhei algum credito com isso, me erguendo aos poucos até me sentir nocontrole.Suasmãospousadasapertadascontraminhacintura,umalinhafinaecaóticadesuorbrincaremsuatesta,minhavisãoestavacomeçandoaficarturvae as borboletas lutavam para deixar minha barriga. Todo meu corpo estavaacordando.

Oprovoqueicomumbeijo,meafastandosemprequeelechegavamais

perto, isso causavaumaestranha sensaçãode contentamento emmim, até queseusbraços se fecharampossessivamenteao redordomeucorpodeixandoumgritoescapar.Nãoeranadacomparadoaosgemidose sussurrosdemaiscedo,esse eu tinha certeza que havia sido escutado. Prendi seus cabelos entremeusdedosemeafundeiemseupescoçoenquantoeletrabalhavacontramimeacadainvestidaeusentiaqueprecisavademais.Euapenasprecisavademaisdele.Otempotodo.

Sua mão se fechou mais uma vez contra meu cabelo, expondo meu

pescoçoparabeijar,morderesugar.Memarcar.Seusdentesprendiammeulábioinferioreseusolhosseabriramsoltandoumbrevesomabafado.Eusabiaoqueestavaporvir,porqueo sentiamepreencheratéaalmae issomedespertouoconhecido que sempre seria desconhecido a cada nova experiência com ele.Demosmaisumavezanossaentregaemaisumaveznãolimiteimeugrito,eu

precisava colocar isso para fora, mesmo me sentindo terrivelmenteenvergonhadadepois.

Meu corpo estava latejando minutos depois e me sentia febril, Alex

acariciavaminhascostasenquantoeulutavaparamantermeusolhosabertos.Eletinha um sorriso enorme nos lábios rosados e inchados, toquei seu peito edeslizeimeudedoporeleatéomeiodeseuumbigo.

–Vocêestácansada.–Sorriuengasgado.–Só...observando.–Querqueeu teajudenobanho?–Seaproximoubeijandomeucabelo.

Assenti.–Medêmaisalgunsminutos.–Fecheiosolhos.Sentimeucorposendoerguidopoucodepois.Alexestavamelevandono

coloparaonossopequeno–eabençoado–banheiro.Mesenteinaprivadaeoobservei ligar o chuveiro e o chuveirinho, a água estavamorna atémudar detemperatura. Quente! Fechei meus olhos mais uma vez, agora apenas pararelaxar, senti o perfume do sabonete e o shampoo enquantomassageavameucabelo.

–Amanha.–Sussurrei.–Oquetemamanhã?–QueroirparaNovaYork,amanhã.Suarespiraçãoeralenta,maseusabiaqueeleiaconcordar.Mesmoissoo

frustrandoepreocupando.Estavamesentindobemcomosnovosplanos,queeunãoqueriavercomoplanos.Deixarminhamãeentrarnaminhavida,outira-lade vez, dependia de mim.Mesmo não precisando mais disso como prova desobrevivência,partedemimqueriapertenceraalguém.Eessealguémeraela,a

peçaquefaltoutodosessesanosondeeumeagarravaaumalascadelaeferiaminhasmãos.

–Tudobem.–Beijouminhatesta.–Nósvamosvê-la.–Euvouficarbem.–Beijeisuamão.–Confieemmim.–Euconfio.Mesmoestando commedo, depois dali teríamos a nossa vida.Eu teria

umavidaagora.

29Alex

Coloqueinossasmalasnocarro,AdapassouamanhãagarradaaSameu

odeio despedidas tanto quanto elas, então tentei parecer bem com tudo issoquando entramos no carro e dei partida. Sam ainda estava em silêncio, umsilênciomeioperturbador,afagueisuamão.

–Eunãoseioquevoudizeraela.–Falou.–Àsvezesnãoéprecisodizer.–Eupensei sobre isso anoite todae agora, eu realmentenão seioque

voudizer.Talvez,olá.–Vocêéesperta,sabeoqueestáfazendo.–Euacho.Ainda eramuito cedo então a fiz fechar os olhos e relaxar um pouco.

Meusolhosnãosedesviaramdaestradaemnenhumsegundo,penseiempegaracosta quando estivéssemos perto de Nova York, eu realmente queria alongarnossaviagemporquealgomediziaqueabriríamosumburaconelaeapesardeeumeachartotalmenteemsuavida.Euaindanãopertenciaaela.

Algumas horas depois, ela estava se sentando a meu lado novamente,

seus cabelos caindo ao redor de seu rosto pequeno eme desconcentrando umpouco, ela era linda quando acordava. Suspirou alto e fechou os olhosencostandoacabeçanajanela.

–Podemospararumpouco?–Perguntou.

–Precisairaobanheirooucoisaassim?Negoumeencarando.–Oqueentão?–Precisoficarcomvocê,umpouco.Precisodeatenção,sóisso.Estávamosnomeiodaestrada,estacioneiacedendoosfaróisepassando

paraobancode trás onde elame acompanhou se aninhando amimcomoumgato.Eusabiaoquantosuacabeçadeviaestarperturbada.

–Euseioqueestáfazendo.–Sussurroucontrameupescoço.–Tedandotempo.–Eu sei. –Me encarou. –Mas se fizermos de forma rápida, isso pode

terminarlogo.Entãovoltaremospracasa,vocêvaiconhecermeupai.Vaificartudobem.

Eucontavacomisso.Nosso segundo dia de viagem começou mal, Sam passou meia hora

gritandoaocelulareeu jásabiaquemera,poremme impediudechegarpertoquando pensei em toma-lo de suas mãos. Nossa parada obrigatória foi umpequenohotelemalgumlugarpertodeToledo.

–Eunãoqueroessesilêncio.–Falei.Elaestavasentadanomeiodacama

abraçadaaosjoelhos.–Achoquejápodemosconversar,foiumlongodia.–Eunãoqueroconversaragora.–Quandoentão?Porqueeujuroquenãoaguentomaisisso,eleouelaque

tenha te ligado está fazendo as mesmas coisas de antes. Te controlando e te

dizendooquevocêdeveounãofazerevocêcismaemseguiradrogadasregrasdeles!–Tenteinãogritar.

–Eunãoestouseguindoasregrasdeles!–Não?Temcertezadisso?Olhecomoestádiferentecomigo,Sam.–Medesculpe,eu...sóestouconfusa.–Com o que? Se você quiser desistir, podemos ir pra qualquer lugar

agoramesmo.Vocêsóprecisamedizer.Masnãomedeixenessesilêncio,eunãovouaceitarteperder,estámeouvindo?

Sódepensarnapossibilidade jámemachucava.Sódepensarqueeles

eram íntimos o suficiente para faze-lamudar de ideia sobre tudo.Esperei quedormisse,elaestavacansadademaisparaalongarnossaconversaeeunãoquerialevarissoadiante.Minhasmãosestavamsuandosegurandoseuaparelho,estavaquebrandotodasasregrasdeprivacidade.Maserahoradepôrumfimnisso.

Oscorredoresestavamsilenciososquandodeixeioquarto,volteiaocarro

estacionado a algunsmetros do hotel e conferi as últimas chamadas de Sam,todas eram domesmo número e apenas apertei para retomar a chamada. Trêstoqueseeleatendeu.

–Sam?–Olá.–Quemé?Precisavamanteracalmaouquebrariaoaparelhoemminhasmãos.–Alguémquevocênãovaigostardeconhecer.

–Essenúmeroédaminhanoiva.Umarisadaescapou.–Vocêestáquerendodizerdamulherquevocêtraiunodiadocasamento

dela?Damulher que confiou em você uma vida toda e você foi um verme apontodetrai-lacomamelhoramigadela?Damulherquenãoémaisnadasua.

–Vocêéo loucoqueestá alimentandoas alucinaçõesdela?Vocênãoa

conhece,Samnãoprecisadeninguémdandocordaparaascoisasqueelaquerfazer porque no fim ela sempre se machuca e nunca sabe lidar com isso! –Gritou.

–Porqueelacontavacomaspessoaserradasparaisso.–Euseiqueeuerrei, seide todososmeuserroscomela.Maselasabe

quemearrependiequerendoounão,elaaindasenteamesmacoisapormim.–Vocêdáasortedeestarlongedela.–Eunãoseioqueeladizpravocê,masseioqueeladizpramim.Todas

as nossas conversas, ela para. Ela me escuta e não voume cansar de faze-laentenderqueestouarrependido.Porqueelameama,sóestámachucadaeaculpaéminha.Voudartodootempodomundoqueelaprecisar,masentendaqueelanuncapoderásersua.Porqueéumaescolhadela.

–Aescolhadelafoiestarlongedevocês.–Você foiapenasalguémqueelaencontrounomeiodocaminhoquea

incentivou seguir em frente, se não fosse isso ela estaria de volta.Conversaríamosetentaríamosnosresolver,vocênuncavaientenderisso,porqueéumamadornomeiodetodaahistória.Maseuvoubusca-laaondequerqueelaestejaeelavaiquerervircomigo,porqueelanãodissenãomaiscedo.

–Se tentar chegar perto dela, eu acabo com você. – Ameacei. Eu não

estavabrincando.–Issotambémnãoéumaescolhasua.Não consegui pregar os olhos depois que voltei ao quarto, não podia

pedir ajuda aAda ela provavelmente gritaria comigo até sua cabeça explodir,masestavaempartedecidido.Conseguiumcomputadornarecepção,paratodososefeitosnossocarroquebrou.CompreiduaspassagensparaNovaYorksairiapelofimdamanhã,ocarrovoltariapracasaemumaviagemfretada.Nãoestouentregando os pontos, só não posso continuar sem entender o que estáacontecendocomtodosnós.

Eu posso ser realmente só o cara que disse que ela podia seguir em

frente,mas quandome virar de costas e deixa-la ir sozinha, posso ser apenasisso. Sua coragem limitada. E eu não quero ser a coragem dela, eu quero serdela.Mas não posso obriga-la a isso, não posso deixa-la sob as dúvidasmaisumavez.Aceitoqualquercoisaqueadeixebemnofinal.

–Sóvoutomarumbanho,epodemossair.–Avisou.–Nãoprecisaterpressa,vamosdeavião.Sesentounacamameencarando.–Avião?Porque?–Ocarroquebrou.–Nãotemosummecânicoporaqui?–Omotorestámuitoquente,nãopodemosseguirviagem.Sammeencarouporalgunssegundosantesdesairdacamae irparao

banheirobatendoaporta,doissegundoseelaestavadevoltameencarando.

–Vocêestámentindo,nãoestá?–Cruzouosbraçoscomraiva.Neguei.–Você está, Alex! O carro estava bom até ontem. O que você fez? –

Gritou.–Senãoacredita,váatéarecepção.Eupediajudaaeles.Respiroufundo.–Podemefalaraverdade?–Vocêpode?–Rebati.–Oquequersaber?–Passouosdedospelocabeloosprendendonanuca.Agora?Nada.–Temosduashoras,euvouverseestátudocerto.–Pegueiminhacamisa

nochãoecalceimeuschinelos.Nãoqueriabrigarcomela,nãoqueriafazerperguntasporqueelasaberia

me responder a ponto deme fazer aceitar e eu não queria aceitar nada vazio.Volteivinteminutosdepois,elaestavasentadanacamasegurandoocelularcomforça fazendoosnósde seusdedos aparecerem.Falar comelamedoía, entãoseguiparaobanheiroedemoreiomáximodetempoquepodia.

Nosso taxi chegou as onze emponto, ela não argumentou.Era para as

coisasseremmaisfáceis,mastudooqueviaeraumamontanhanossoterrando.Nãohaviaconfiança,nãoquandodeveriahaver.Eupoderiaapenasdeixa-laeirembora,maspartedemimnãoqueriaisso,asonzeevinteestávamosdecolando.Asvezesseusolhosmeencontravam,maslogosedesviava,nãonostocamoseissoeraquaseamortepramim.Haviaumacertanecessidade.

HorasdepoisestávamospousandoemNovaYork,foiaprimeiravezqueelametocouquandosegurouminhamãocomforça,seusolhosestavamcomasbordas vermelhas de quem iria começar a chorar, mas ela segurou bem cadalagrima. Assim que pegamos nossas malas, ela tirou uma folha de papelamassadaepassouumtempoobservandoapróprialetra.

–Me deixe ver.–Peguei o papel. Conseguimos um taxi e mostrei ao

motoristaoendereço.Sam estava ameu lado abraçada amochila, já havia roído as unhas e

paroudemexeraspernas.Pegamosumônibusdepoisdeumpontoeseguimosviagem,estávamospassandodomovimentadocentrodacidadebemperto.

Menos de dez minutos depois estávamos em frente a uma casa dois

andares,tinhaumbalançonoquintaleumcachorroenormelatindoandandodeumladoaoutro.Samencarouopapelmaisumavez,eunãopodiafazermuitacoisa,afinalestávamosaondeelaqueriaestar.

–Sam!Olhamos para trás, eu tinha aquela sensação de que não precisava de

apresentações para saber quem era que estava ali. Não só pelo olhar deSamantha,masportudo,eusabiaqueeraele.

–Oquevaifazer?–O–oqueestáfazendoaqui?–Oscilou.–Vim te impedirde cometer essa loucura. –Falouofegante. –Por favor,

meescuta,seiquenãoquer.Massódessavez,eutedissequejátenteiisso,quejáestiveaquiantes.–Eletentou.

Daveeratudooqueelamedisse,desdeogelnocabeloloiroaosgestos

politicamentecorreto–irônico,não?

–Ta, mas agora sou eu. Você fez tantas coisas que... eu não possoacreditaremvocê.

–Dessavezeuqueroqueacredite,vocêvaisemachucartentandoatenção

dealguémquenãoseimporta.Elanãoseimporta.–Eleseaproximou.Umgarotoapareceunasoleira,gritoualguémdentrodecasaetodosse

voltaram a eles. Samestava umpasso à frente deDave e eu e ele continuavadandopalavrasdeincentivoparaelavoltaratrás.

–Me escuta. –Segurou seus ombros. –Pensa no seu pai, pensa que ele

sabequeissopodeacontecerevocêpodesemachucar.–Euqueroisso.–Samsussurrou.–Quersemachucar?–Venhofazendoissoaolongodosanos.–Seforpormim,eumearrependodetudo.Nãoestoupedindoparame

perdoar de nada. Estou pedindo para recuar e deixar isso tudo pra lá. Essaloucuradeviagem,desairpelomundo.IssoéloucuraSam,issoécolecionardorevocêsabedisso.Elafezisso.–Apontouparacasa.

–É uma parte de mim incompleta, quero consertar minha vida e ela

começaaqui.Continueiparadoemmeulugarobservandoacena,eurealmenteestava

defora.Apenasobserveiamulheraparecernasoleiraeeusabiaqueeraquemela tantoprocurava, os traços eram iguais.Dave a seguiu e elanãoomandouparar era como se eu não estivesse ali, não sei quanto tempo se passou, nãoestavasentindomuitosobremim.

–Livre?–Pergunteiaomotoristadotaxi.Osenhorassentiu.

–Praonde?–Perguntou.Ajeiteiminhamochilanascostas.–Aeroporto.–Eamoça?Encareiacasa,apenasocachorrolatindonoquintal.Aportasefechou.–Elanãovem.Elanãovaivoltarcomigo.

30

SamanthaPensei em várias formas de começar uma conversa com minha mãe

desde que eu tinha cinco anos e percebi que ela não voltariamais. Pensei deformainocente,durantemuitosanos,penseiemumabraçoantesdemaisnada.Mas diante dela, eu não era nada além de uma estranha, me sentia estranha.Observei a garota parada ao lado da escada, ela tinha alguns traços dela, osolhos, o cabelo, era como o garoto e tentei adivinhar sua idade. Dezoito ecatorze?

–Queméela?–Perguntou.–Sobeosdois.–Elizabethmandou.–De novo de segredinho com essas pessoas estranhas? –A menina

insistiu.–Sobeparaoseuquartoagora,Darina.Nãomedeixemandardenovo.E

vocêtambém.–Encarouomenino.–Certo.–Darinaergueuasmãosemprotesto.–Podenãoseesquecerque

hojeéomeutreino?–Eunãoesqueci.Solteioarlentamente,euqueriatertidoessesmomentosmãeefilha.Eu

queria terapenasaquelemomento.Osvisubiraindaemprotestosantesdemevoltaraela,aindacomasensaçãodevaziopesandoemmeuestomago.

–Samantha.–Falouemumsussurro.–Oquefazaqui?–O que faço aqui? Eu cansei de esperar você me pegar na escola. Se

passarammuitotempo,vocêsabequanto?Suaexpressãoerapacifica.Esperavaalgumaemoção,maseunãoachei.–Dezoitoanos, idadedasua filhanãoé?–Umnóse formouemminha

garganta.–Eusempresoubequevocênãoqueriamaisnadacomomeupai.Maseu era algo importante no meio disso tudo, ou pelo menos me inocência medeixavapensarassim.Sempreestiveerrada,nãoémesmo?

–Seupaieeununcademoscerto.Etemachucareraaúltimacoisaqueeu

queriae isso iriaacontecerseascoisascontinuassemcomoestavam.Elesabiaqueumahoratudoteriaqueterumfim.

–Eueraoseufim?–Tinhaumnóemminhagarganta.–Elesaberiacuidardevocêmelhordoqueeu.–Elenãopodiatedartudooquequeria.–Encareiaenormesala.–Isso.

Essa vida, filhos perfeitos, roupas caras. Que marca é o seu carro? –Minhasmãosestavamsuando.–Vocêodeixousemolharparatrás.Vocêmedeixousemseimportarqueeueraapenasumameninaquenãoseimportavacomascoisasque estavam acontecendo porque eu amava meus pais. Eu amava você,Elizabeth.Euteameiportodosessesanosatéagora.

–Eumearrependodemuitascoisas.Mearrependodeterconhecidoum

homemtãobomquantoseupai,masnãoeraaquelavidaqueeuqueria.Vocêéjovem,devemeentender.

–Seeutivessepartedemimforademim,eujamaisadeixariaparatrás.Seuolharcaiu.

–Eununcaquisaquelavida,maseuteamava.–Você nunca me amou. Eu tenho vinte e três anos, Elizabeth. Nesses

últimos dezoito anos eu descobri as coisas de garota sozinha, ganheiresponsabilidades,eucuideidomeupaiquesofreudepoisquevocêfoiemboraequeatéhojesofreasconsequênciasdisso.Euignoreitodososassuntosemquemãeseram relacionados.Mepriveideprocura-laporumapelodomeupaidequeissopoderiamemachucartantoquantoomachucou.Espereiquenodiaqueaencontrasse,ouvissealgoquemefizessemudarde ideiasobre todososanosemqueestevefora,masolhandopravocê.Vejoquenuncaseimportou.

–Eurecomecei,comodesejeiquerecomeçasse.–Digaissoaumagarotaquevocêprometeuvoltar.Digaissoaopassado

cercadodepromessas.Euachoquemesintoumpoucomelhorcomtudoisso,esintoumapenaenormedomeupaiporteramadotantoumapessoatãoegoístacomovocê.

–Sam...–Vocêpoderiatersimplificadotudoeditoassimquemeviuqueeuera

umerro.Mandandoumacarta,umtelefonema.Eunãolevariaissocomigoportantosanos,suavidaéperfeitademaisparavocêselembrardisso.–Aslágrimasestavamqueimandomeurosto.

–Eunãopoderiadaravidaquevocêqueria.Eunãopoderiatedarduas

vidas.–Eu não me importava com quantas vidas era possível eu viver, eu

apenasqueriaestarcomvocê.Sentiaslagrimasmemachucarem.Eunãoqueriachorar,maselanemse

importavacomisso.Elanãoseimportavacomnada.Ouviaportasebateratrásdemim,masnãomemovi,asombraganhouformadeumbelohomemdemeiaidadeeempoucossegundosDarinaeseuirmãoestavamdevolta.Elizabethnãofaziamaispartedemim.

–Temosvisitas.–Falousimpático.–Simeestamosatrasados.–Darinaoabraçou.–Umaamigadamamãe.–Ahsim, Joseph.–Estendeuamão,mas fui incapazde reagir.–Algum

problema?Elizabethpareciatocada,pelaprimeiravez.Maseujánãomeimportava

mais,sóprecisavasairdali.Aconversaquepenseiquedurariahoras,nãolevoumaisdoquealgunsminutossufocantesempénomeiodasala.

–Não...euestoubem.–Menti.–Vocêpareceumpoucopálida...–Eusóestoudelutoporumaperdarecente.–Faleifria.–Minhamãe.–Eusintomuito.–Foimelhorassim.Darinamefitou.–Credo,esperonuncateperdermamãe.Asobserveiantesdemeviraresairsemdizernada,empurrandoDave.

Eu precisava deAlex, precisava dizer que eu consegui apesar de todos teremrazão.Eunãoprecisavamaissofrercomisso,maselenãoestavameesperando.Emnenhumlugar.

Umasemanadepois...–Vocêdevialigarpraele.–Levanteimeuolhardojantarquejaziaameia

horaemmeuprato.Estava de volta,mas não parecia aminha casamais.Não pareciameu

lugar,nadahabitávelpramim.–Elefoiembora...elenuncavoltapracasa.Éumacordoqueelefezcom

ela...–Comovocêsabequeelenãovoltoupracasa?–Porqueeunãoseiondeéacasadele,porqueelenãoretornaasminhas

ligações.Mesentitãovaziaquandonãoovi,eumesintovazia.–Eleachouqueestavatudobempravocê...–Eleachouqueerapossívelnessadrogadevidaeuviverbemsemele?

EleachouquedepoisdetudoeupoderiaolharparaDaveelhedizer:Euaindaamo você, sou uma otária e vou esquecer tudo o que me fez. Alex deveriaentenderqueeuoamo,agoraeleestá láforaemalgumlugarnopaís tentandomeesquecer.

–Vocêdissequeeletemumairmã...–Não posso dar os meus problemas para ela, Ada estava gravida e

qualquercoisaadeixaaérea.–Eoquevaifazer?Nãotinhaoquefazer.–Nãotemoquefazer.

31Alex

“Hei, já faz mais de duas semanas, eu sei que não quer atender a

nenhumadasminhas ligaçõesmas eu sei como te encontrar.Alex, eu sou suairmã.Vocênão temqueseesconderdemimesofrersozinho.Tambémseiqueprecisotedarumtempo,masagradeçoasuabebedeiraportefazermeligarnomeio da noite e me contar em detalhes o que aconteceu. Eu realmente gostodela,eseiquevocêtambémgosta.Eaminhaopiniãovocêjásabe,agoraporvocê vou te dar três dias até você me responder pelo menos uma mensagemantesdeeuapareceraí,nãoimportaoquantominhaspernasestejaminchadas.Estoupreocupada.”

EraavigésimamensagemdeAda,elasempreterminavadizendoqueme

dariaumtempomasligavanosegundoseguinte.Meucelularrealmenteestavapassandomaistemponocarregadordoqueeradecostume.Eupenseiquenuncamaisconseguiriavoltarpracasaeaquiestoueu.Évazio,maseujáesperavaporisso,meucarrochegoumasnãohaviaumroteiro,nãohaviamaisumlugarqueeuquisesseirsozinhoporpelomenosumapausanotempo.

Minhasnoitesse resumiamaumagarrafadequalquerbebidaatépegar

no sono, acordar e não termais nada para fazer.Ela ligouduas vezes, apenasessasduasvezesquandotivevontadedepegarocelulareretornarsóparaouvirsuavoz.Issofaziameucoraçãobaterforteequasemealegrava,masvoltavadeondehavíamosparado.Sempremefizdefortepornuncaquererdemonstrarmeumedodeperderascoisas,porquesempreachoquenofiméexatamenteissoqueiráacontecer.

Conseguiumpequenoempregonaoficinadeumvelhoamigo,achoque

precisavaverpessoaseseusseisfilhoseramumnúmerobemgrande.Deixeiassemanasapenaspassaremsemprestaratençãorealmenteemcomoelasestavamseguindo,nofimdodiaestavacansadoosuficienteparanãomeimportarcommaisnada.Adaparoucomasmensagens,pelomenospordoisdias.

–Alex.–Amorenadecabelosencaracoladossorriapramimsegurando

doiscoposdesuco.Eraafilhacaçuladomeumaisnovochefe.–Margo.Meestendeuocopo.–Suco para repor as energias. –Falou se sentando no banco do carro a

frente.Margoeraumameninabonita,tinhaumsorrisoharmoniosoeseusolhos

tinhamumbrilhoqueencantavaqualquerserdaterra.Issoexplicavaoexcessodeciúmesnafamília.

–Vocêdeviaseenturmarmais.–Falousegurandoseucopo.–Papaidisse

quevocênãoeratãosilenciosoassim.–Seupainãosabedenada.–Sorri.–Nãoodeixeescutarisso.Maseuacreditonele,háalgoemvocêquediz

isso.Fiqueisabendoqueesteveviajandopelomundo.–Pelopaís.–Temboashistóriasentão.–Algumas.–Soutodaouvidos.–Sorriu.

Contei como tudo começou, o princípio. Margo parecia surpresa e

elogiavaminhacoragemdepassarnoitesemlugaresnãotãohospitaleirosassim.Ela fazia bastante perguntas, havia sempre uma enorme curiosidade em suaspalavras,eracomosefossepegaroprimeirocarroeseguirmeuspassos.

–Pretendefazerissodenovo?–Não sei. –Não tinha mais vontade, não agora pelo menos. –Tenho

planosdeseguirparaAustráliaembreve.–Brevequando?–Dias,horas,semanas.–Qualéasensaçãodecairnomundoassim?–Liberdade.–Possoircomvocêparaessaliberdade?Tudooqueeumenosprecisavaagora,eradeumacompanhia feminina

emumalongaviagem.–Umdia.–Umdiaquerdizernunca.–Chutoumeupé.–Um dia quer dizer: quando os homens da família não quiserem me

matarporestarlevandoaprincesinhadelesparaumalongaviagem.Margosorriu.–Bom, já te ocupei demais por algumas horas. Está afim de sair mais

tarde?–Onde?–TheRock,nocentrodacidade.Algunsamigosvãoeeuestoucansada

deseraveladoscasais.Vocêpodemefazercompanhiaenquantoalgunsamigostocam.Émelhordoqueficaremcasavendootempopassar.–Suspirou.

Vocêprecisaseocupar.–Tudobem.–Certo.–Abriumaisseusorriso.–Asoito.–Asoito.Comecei a perceber que era errado o caminho que estava levando, eu

sabiaqueestava tentandopreencherovazioqueSamhaviadeixado–queporincrívelquepareça,erabemmaiordoqueoprimeiro.

PegueiMargoasoitoemponto,elaeraumameninafalanteetudomevia

emcomparação.Samnãofalava,elaprefirafalarcomosolhos,elapreferiametocaresorrir,ousimplesmenteparecerumpequenoursosonolentoaomeulado.Euamavaseusilencio,amavaa formacomoelaagiaasvezes,quando tudooque era importante era apenas nossa companhia. Não importava palavras,geralmentenão.

–Vocênãoémuitofalante.–Falou.–Geralmentenão.–Será que depois da terceira bebida vocême fala a parte oculta dessa

viagem?

Aencareiquandoestacionei.–Aparteemquevocêconhecealguémimportante.–Desceu.–Euseique

temalguém.–Nãotem.Meencarou.–Talveztenha,masfoideixadoparatrásassimcomotodaviagem.–Certo. –Cruzou os braços me esperando. –Vamos falar dessa parte

então,comofaloudaviagem.–Segurouminhamão.Despreocupadamente.Eu deveria para-la assim que fui apresentado a seus amigos. Deveria

voltar pra casa e me dar mais algum tempo antes de seguir para qualquercaminho,masapenasmedeixeilevar.EstavadeixandoMargocontrolaranoite,nãoestavameimportandomais.

***

Foiinteressantesaberqueteriadeesperardoisdiasatéconseguirocarro

que aluguel, mesmo tentando não pensar muito, quando cheguei a terrasAustralianas, sabia quehavia deixadoboaparte demimpara trás e pormuitopouco não faria uma burrada para suprir a outra quando Margo tentou umaúltimavezmconvenceralevá-lacomigo.

Conseguiumtaxierodamosporumlongoatémeucelularmeinformar

umhotelrápido,ficavaavinteminutosdarededecarrosalugados.Ohotelnãoeraodosmelhores,masjáestiveemlugarespioresdoqueesse,otempotodotentandomanteramentefuncionando.Aindaeracedo,deixeiminhascoisasemalgumcantodoquartoerecoloqueiocelularnocarregadorantesdemejogarnacamaedormir.

Eram quase quatro da tarde quando acordei, haviam batido na portaalgumas vezes, serviço de quarto. Preferi descer do que ficar flertando com amulher demeia ideia e simpática que resolveu contar sobre sua vida,mesmogostandodeouvirhistórias,euestavadispensandoaquelas.Arecepçãoerabemmovimentada,assimcomoosalãoprincipal.Mesenteiemumamesavaziaefizmeu pedido enquanto a garotinha namesa a frente acenava envergonhada nomodo automático. Ela faltava dois dentes do meio e suas bochechas eramenormes.

EupenseiemSam,eunãodeviapensar,maspenseiemcomoseriauma

pequenagarotinhacomoela.Minhamãesempremediziaqueeudeveriaparardecriar expectativas,maseununcaa escutei.Porque sempreespereiquealgodessecertoenraizadonessasexpectativas.Samanthaerauma,eraagarotaqueme fez esquecer um amor, e agora estou vazio. Literalmente.Meu pedaço debolo chegou e quando levantei o olhar, a bochecha vermelha estava parada aminhamesa,mostrandoosdoisdentesquefaltavam.

–Olá.–Minha irmã mandou dizer que você é bonito. –Falou enrolando os

cachinhosnegros.–Maselaéidiota,entãonãoolhapraela.Abafeioriso.–Suairmãnãoiriagostardeouvi-lafalarassim.Sesentounacadeiraaminhafrente.–Eusei.Maselaé,elamemandouaquieeusótenhoseisanos.Sorri.–Certo,evocêprecisavoltarcomalgo.Assentiu.

–Vocêpodeiratéláedizerquesoucomprometido.–Elavaifalar:eunemgosteidelemesmo.–Faloumexendoosombros.Típicoessetipodereação.–Vocêestásozinhoaqui?–Perguntousegundosdepois.–Sim.–Nãotemmedo?–Soubemgrandinho,nãotenhomedo.Uniuosdedosesuspirou.–Eutodefériascomamamãeeopapai,agentevaivisitaravovó.–Estágostandodasférias?–Euvougostarquandoeuveroscangurusnoparque.Opapaidisseque

sãolegais,eununcavium.–Suaemoçãoerapalpável.Passamoslongosminutosconversandoatéasuamãesedarcontadeque

ela não estavamais amesa e vir busca-la pedindo desculpas pelo falatório dagarotinha.Elaacenouegravoumeunomeantesmesmoqueeupudesselembra-la de como se falava. Passei mais um tempo ali observando mais famílias ecasaisocupandoasmesasque ficavamvaziasantesdeme levantarevoltaraoquarto.

Ada deixou algumas mensagens perguntando aonde eu estava, como

estavaese jáhaviame instalado.Parabemdelaedoseuestresse,oculteiboaparte da minha viagem. Retornei minha ligação ao consorcio para garantir

realmentemeucarroeestava tudocertoquantoa isso.Deiumavoltademeiahorapelacidadeantesdevoltaraohotelecairnacamamaisumaveztentandonãopensarmuitonascoisas.Memanterocupadoajudavabastante.

Pela manhã recebi uma ligação da concessionária, meu carro estava

prontomaiscedodoqueoprazoquehaviammedado,entãodesciapenasparatomarcaféesairlogoemseguida.Minhapequenacolegadodiaanteriorestavalánovamenteaoladodecepcionada,airmãadolescente,aceneiantesdedeixarohotelemdireçãoaotaxiquemeesperava.

Meu celular tocou algumas vezes emmeu bolso fazendomeu coração

saltar pela boca. Até tomar coragem e pega-lo constando que não era ela. Onúmero era desconhecido. Mas reconheci a voz do outro lado, Adriel, meuantigochefe.Eunãoprecisavarelembrarminhashorasemumescritório,maselaparecia gostar disso então foram longos vintes minutos até a concessionária.Adriel era um amigo, antes de chefe e agora, depois de todo esse temporetornava com uma proposta promissora de emprego. Eu poderia esquecer aAustrália e voar direto para Londres e ocupar um bom cargo em um dosescritóriosespalhadospelacidade.Oujogartudoproaltoecontinuarnaestradaesperando achar pessoas que preencham meus dias até que tudo se tornecansativoeeutenhaquevoltarpracasadamesmaformaquesai.Vazio.

–Não veja como pressão, você é livre para tomar suas escolhas, eu te

apoieinessaideiamalucadesairpelomundo.Sónãosabiaqueseriaagora,vocêé um bom rapaz e pode recomeçar sem perder a cabeça. Pense nisso, te doualgumashorasevocêdevialerseuse-mails.

–Euvoupensarsobreisso.–Nosvemosembreve,euespero.–Atémais.–Desliguei.Passeiumtempoapenasobservandootempo.Eunãoestavadividido,até

ali.Eupoderiarecomeçaragora,emLondres.

32

SamanthaQueeuiriameperdernãoeraumanovidade,conseguiumhoteldepois

dequatrohorasquehaviachegadonacapital.Adanãomeligouemeutelefonenãofazianenhumaligaçãoparaforaporquenãoconfigureieleparaisso,entãoapenas me sentei na calçada e segurei o choro por tempo suficiente. Minhacabeçapareciaumabombaqueexplodiriaaqualquermomentoenãoerahorademedizerparamanteracalma.

Conferioquartoantesdecairnacamaeencararoteto,ligueiparaminha

operadoraeelesmederamumahoraaté tudovoltaraonormal,masmesentiaansiosademaisparaesperar.MeobrigueiaprocurarumcomputadornarecepçãoedesejeiqueAdavisseseuse-mails,mandeiumdizendoquehaviachegadoenãosabiaporondecomeçarminhabuscaporAlex.Edroga!Elenunca ficavamais do que três horas em um lugar, eu não fazia a mínima ideia de ondecomeçaraprocura-lo.

Abri o caderno de anotações que fiz com coisas que Ada havia me

passado, precisava achar uma rodoviária e tirar na sorte qualquer ônibus quefossepararnasprincipais rodoviasdopaís.Eracomoprocurarumaagulhanopalheiro e tentava a todo tempo não pensar que tudo isso era uma perda detempo.

Doisdiasdepoiseuestavasentadaemumbancoderodoviáriaesperando

meu ônibus sair, eu não tive medo disso um dia, agora parecia me sufocar.Algumaspessoasmeencravamcomosesoubesseoquantotudoissoestavameassustando.Asoitodanoiteestavaembarcandoemumônibusquepassarianosprincipaisestadosdentrode trêsdias.AdamerespondeuumahoradepoisqueAlexnãoentrouemcontatoequeelanãofaziaamínimaideiaparaqueladoelehaviaido.Apenasrespireifundoepenseiemalgobom.Penseiemrevê-loeisso

erabom.Acordei suada pela manhã, o ônibus estava parado e poucas pessoas

falavam dentro dele. Ajeitei meu cabelo e sequei as lagrimas, peguei minhamochilaedesci.Seguiparaotelefonepúblicoquandoconstateimeucelularsembateriaenãoteríamostempopararecarrega-lo.Ligueipracasaementidizendoque estava bem, depois deixei algumasmensagens na secretaria eletrônica deAda e não consegui não deixar transparecermeumedo.Quando terminei,mearrastei até o guichê e mostrei a foto de Alex, ninguém havia o visto ali,nenhumadaquelaspessoas.

Estávamosnosegundodiaevipessoasentraremsairdaqueleônibus,e

eunãopareciairparalugarnenhumatéosimpáticomotoristameperguntarseeuestavaperdida.Achoqueestavaesperandoalguémmequestionarsobreisso.

–Estouprocurandoumapessoa.Sorriu.–Naestrada?–Isso é basicamente a vida dele, foi assim que o conheci e assim será

comovoureencontra-lo.–Podememostra-lo?Consegui fazer meu celular não se desligar quando o liguei, o senhor

olhouporuminstantemasnegou tê-lovistoemsuasparadasdepostosouemqualquerestaçãoqueparamos.Entãoeumearrastavaparaofundodoônibuseesperavaoutraparadaqualquer.

Ninguémoviu,epensarqueelepoderianãoestarnaAustráliacomeçou

adeixarminhacabeçaconfusa.Quatrodiasenemsinal,ninguémsabiaquemeleera. Alex era o caramais comunicativo que já vi em todaminha vida, provadisso,elemedeuumacaronaatrocodenada.Seeupudessevoltaratrás,porumsegundo.

Meencolhinobancodeesperaquandochegamosa rodoviáriapertode

Armidale,nãoeraumacidadegrande,eraoqueparecia.Aspessoascomeçaramaandardeumladoaoutroesemisturarem.Abraceiminhamochilae ligueiocelular,conseguicarrega-lonaúltimaparada.HaviaumamensagemdeAda,enãoespereiparaouvi-la.

“Hei, Sam, falei comAlex essamanhã,na verdade elemedeixouuma

mensagemdepoisdeameaçá-lomuitoparaisso.Euestoutãonervosa,eunemsei por onde começar.Alex alugou um carro, então eleme enganouquanto arodoviária e vários ônibus,mas... eu falei comAdriel, eu não sei se ele faloudelepravocê,maseleseramamigos.AlémdeAdrielserseuantigochefe,bom,elesvoltaramase falareAlexrecebeuumapropostadeemprego.Elenãomedisseseaceitou,mas...euachoqueeleaceitou.EuachoqueelenãoestámaisnaAustrália.”

“Sam,podeme ligarpor favor?Vocêestábem?MeuDeus,eupreciso

sabersevocêestábem.Apenasmeligueevamosconversar.”–Vocêestábem?Pisquei deixando as lagrimas caírem e assenti a voz domeu lado.Me

encolhi aindamaisnobanco,apoiandominhacabeçanaparedee fechandoosolhos.Alexfoiembora,eratudooquepensava.Elenãoestámaisaqui,tudoissofoiinútil.

Eu vi pessoas entrando e saindo da rodoviária, continuava ali apenas

observando, era tudo o que eu sabia fazer.Meus olhos estavam apertados detantochorar,minhacolunanãodoíamaiscomoestavanamadrugadaeosolqueestavafazendojáhaviamefeitoesquecerofrioquepasseianoite.Euperdimeuônibus,apenasisso.

Encarei o banheiro imundo, antes de tomar coragem para ir até a pia

velhaelavarorostoeescovarosdentes.Meuestomagodeualgumasvoltascomo cheiro que vinha dos banheiros ao lado. Apertei as alças da mochila e sai,haviapequenoscarrinhosdelanchesemcadaponto,nãoeraoquepoderíamos

chamardehigiênicosmaseraoquetinhaali.Desistifaltandoduaspessoasparaminhavezdefazeropedido.

Fiquei pelo que pareceumais uma hora sentada emumdos bancos de

espera, antes de me levantar e acenar aos carros que pesavam em busca decarona.Euprecisavavoltarpracasamasnãopagariaporoutrapassagemquemefariaprovavelmenterodaroestado.Eninguémparou,entãoandeiporcercadetrêshorasatémeuspéscomeçaremadoer.Engoliochoroevolteiacaminhar.

Algunsquilômetrosdepoisumtaxi,foicomoestarnoparaísoquandome

senteieapenasomandeiseguirparaoprimeirohotelqueeleachasse.Eraumafortunaqueeuiriapagaretodoomeudinheiroqueiriaembora.

–Estáperdida?–Maisoumenos.–Bom,chegamos.–Falouestacionandoaoladodeumhotelcarodemais

para mim. Mas eu sabia que mais longe do que isso, eu dormiria na rua dequalquerjeito.

Contei o queme sobrou da corrida e desci do carro, acenei quando se

afastou então tudo desabou. De novo. Meu celular estava descarregado, odinheiroerapoucoeeuestavasozinha.Euprecisavaapenasdecarganocelularparamemanter, ou surtaria.Então entrei e implorei por issopara o garotodarecepção,eledissequepoderiamanteroaparelhoporapenasumahoraedepoiseu teria de pega-lo. Me sentei do outro lado da rua abraçada aomeu joelhoesperandootempopassar.

Estavagritandopordentroeninguémviaisso.Efiqueialiporumahora,

Alex estavame fazendo falta a cada segundo que se passava e eu não queriagritar isso para todos, não sairia da formamais normal de um ser humano seexpressar.

Comoemumpassedemágicaotempofechou,encareiocéuporalguns

segundosantesdemeajeitarevoltarandar.Poderiaacharumlugarparadormir,

issomefariaeconomizardinheiro,precisavavoltarpracasadequalquerjeito.A chuva engrossou depois de algunsminutos que havia começado,me

enfiei em uma cabine telefônica, não estava frio, um vento quente varria oespaço. Deixei uma mensagem para Ada, eu não queria preocupa-la e nãoconseguiriaexplicarmeuataquedepânicodanoitepassada.Fingirqueestavatudobem,estavaficandoboanissoacadadiaquesepassava.Quandoestavaboaobastanteparaencara-la,eudeixeiacabineecontinueiacaminharparaalgumlugar,aceneiatodososcarrosquepassavam,masosqueparavamnãopareciamboaspessoasentãofingiapedirumainformaçãoevoltavaacaminhar.

Precisava de um banho, precisava dormir. Respirei fundome sentando

emumdosbancosemumpontodeônibusprotegidoporumtoldo.Eudesistodetudo,foioquedisseemaltoebomtomquandoanaliseitodaaminhasituação.Eu chorei tudo o que tinha que chorar e perdi tudo o que descobri de maispreciosoquetinha.Alexprovavelmenteachariacomfacilidadeumamulherqueoamassedeverdade.Ele tinhaodomdeserumcavalheiro,elepoderia tentarseropiorhomemdafacedaterra,masnãoconseguiria.

Mearrependiporcadasegundopreciosoqueperditentandomeencontrar

quando ele erao suficientepara euviver o restodadrogadaminhavida.Portodaela,eusóvivimaravilhosamentebemcomele, sobaestrada.Naestrada,rindo,chorandoemeapaixonandoporcadadetalhedele,porsensaçõesqueeunem sabia que existia. Eu estava completamente apaixonada por AlexanderLensendesdeoprimeirodiaqueovi.

Meusolhosestavamfixosemumaúnicadireçãoesperandoalgumônibus

ou um carro decente para cidade quando avistei um vindo ao longe. Estavapensando seriamente em esperar um ônibus e nãome decepcionar novamentecomumolharestranhoqueprovavelmenteviriadobancodomotorista.Aperteiasalçasdamochilaeespereiqueseaproximasseeacenei.

Ajanelaestavafechada,penseiemrecuarquandoeleparou.–Eu perdi meu ônibus. –Minha voz estava tremula e um soluço

involuntário escapou. –Eu preciso de uma carona até a cidade... eu estouperdida...–Ovidroseabaixoulentamente,etodomeucorpotremeu.Cadaparte

dele,comoseochãoestivessesumindoembaixodosmeuspéseminhacabeçativessesendocomprimida.

Umformigamentosubiupormeurostoeaslagrimasestavamembaçando

minhas vistas, as palavras se esforçavam para deixar minha boca. Eu estousonhando,oclimaestáfazendoissocomigoporqueestouvulnerável.

–Alex?–Sooucomoumsussurro.

33Alex

HaviadezenasdeligaçõesperdidasdeAdaemmeucelular.Eusabiaque

não era uma alerta maternidade porque Ben prometeu que seria ele a ligarquandoessediachegasse,enãopodiafalarcomminhairmãagora.Nãoquandoelapoderiamefazermudar todososmeusplanos.Minhadecisãoeramanteraviagem,eunãoqueriarealmentememanterdentrodeumescritório,mesmonãosendomeuantigoescritório,seriaamesmacoisa.Sempreé!

Passeiodiadirigindo,eunãoparei.Porváriasvezespegueiocelulare

deixeiseunúmerocomochamadarápidanãotivecoragemdediscarseunúmeroeouvirsuavoz.Nãoqueriamedestruirassimnovamenteeelaestavatentandose encontrar – se ela se encontrou. Eu não poderia invadir a vida dela agora.Mesmonãosendominha,elaeraoqueeutinhademaisimportante.

Jáeramanhãquandoacordeicomumguardabatendonovidrodocarro,

pegueinosonosemperceber.Dirigiatéumpostodegasolinavoltandoarotina,banhoemumbanheiroescasso,cafédamanhãemumalojadeconveniênciaevoltar a estrada. Irpara lugarnenhumnãoera loucura, era seacharemalgumlugar.

Haviaparadoduasvezesnaestradadesdequeodiacomeçou,umgrupo

de turismo e um casal que estava fazendo corrida e provavelmente achariamalgumamontanhaparaescalar.Eramótimaspessoasporsinal,tenteimelembraro quanto isso um dia haviame feito bem, parecia estranho agora, ter pessoasfalantes o tempo todo. Fiz amizade em um posto de gasolina, parecia que ouniversoestavavoltandoascoisasparamim,masdamaneiraerrada.Agarotaloira sentada descontraidamente em uma das mesas da loja de conveniênciatendoomesmoobjetivoqueomeu.

Sophie.Elamedeuumlugaraseulado,tinhaumsorrisofáciletudonelaparecia

feliz.Estavanaestradahápoucassemanasepretendidarodaromundo,porquêaAustrália era só o começo. Eu sabia que ela queria uma carona mas nãoperguntei.Porqueeunãoqueriaoutrapessoafazendoessaviagemcomigo,elanãoestavaperdida,elanãotinhasegredos.Elafalariaaviagemtoda,parariaemtodosospontosparatirarfotosepostaremalgumaredesocial.Elanãosaberiaaproveitarosilêncio,elanãoestavaperdida.Aminhagarotaestava.

–Podemosnosverporaí.–Haviaumapontadadetristezaemsuavozque

abafeiprofundamente.–Tenhocertezaquesim.Talvezseeuoferecesse,eunãoestariasozinho.Masnãoeraoobjetivo?

Eunãosabiamaisoquepensar.UmavezmeupaimedissequenaAustrálianãochovia,eleestavaerrado.Totalmenteerrado.Estacioneiemumencostamentoefiqueialiatéelacessarobservandoosraioscortandoocéuclaroqueemalgumashorasouminutosmostrariaotãofamososoldopaís.Conferiminhaschamadasemensagens e Ada parou de ligar, eu não sabia se isso me assustava ou mealiviava.Volteiaestradamaisrápidodoquepenseiquevoltaria.

Pareideobservarasplacas,nãopensavamuitoemqueviapegar,apenas

pegava uma e ia. Já havia sido umamanhã inteira emetade de uma tarde, asjanelas estavam fechadas enquanto o ar-condicionado fazia seu serviço. Aolongealguémacenou,eunãoqueriaparar, tentaria ignorar issoedeixarpra lámasestávamosnomeiodeumaestradaondepoucoscarrospassavam.

Fui desacelerando, antesmesmoquepudessedescer a janela e ouvi-la,

aquelavozconseguiupenetraroisolamentodocarro.Falandosemparar,comofaziaquandoestavanervosa.Quandoalgumacoisa saiado lugar.Eracomosemeucorpo tivessevirado líquido, enquanto automaticamente a janela se abria.Aquelesolhosespantados,aquelejeitomedroso,eusópodiaestarsonhando.

–Sam?Elaestavasorrindo,echorandoeolhandoparatodososladosantesdese

voltaramim.Nãoéela,elanãoestáaquieminhacabeçaestámexendocomigo.Apenasisso,ésóisso,euseiqueéaformamaisfácildetortura.Maseuestavafora do carro em dois segundos, porque mesmo que fosse uma miragem, euqueriaverdeperto.Estava sentindodeperto, quando seusbraços forampararemvoltadomeupescoço.Desdequandoela tinha tanta forçaassim? Issonãoimportava,elaestavaali.

–Medizquenãoestousonhando?–Porquevocêmedeixou?–Choramingouemmeupescoço.–MeuDeus,

porquenãomeesperou?Issoéreal?VocênãoestáemLondres.–Sussurrouaúltimaparteparasimesma.

Queriaesmaga-laemumabraço,maseunãotinhaforças.Eraasensação

maisestranhaquetiveemtodaaminhavida.Eraamelhorsensação.–Como chegou até aqui? –Afaguei seu cabelo, quando seu choro

diminuiu.Deus,eusentisuafalta.–Vocêsumiu.–Fungou.–E..enãomeatendia.Eu...euestavapirando,eu

pensei que nuncamais ia te ver de novo e que todos os nossos planos nuncairiam se realizar. Eu perdi contato... não sabia mais o que fazer. Estava commedo de tudo vir abaixo de novo. –Seus ombros balançavam enquanto aspalavras eram atropeladas. –Adame encontrou, eu juro que quasemorri, nãoimportava aonde você estivesse ou com quem estivesse. Eu iria atrás de vocêparadizer tudooquenãodisse,porquesouuma idiota.–Engoliuseco.–Eu te

amo,teamotantoquechegaadoer.Nãoqueroquemedeixe,mesmoeusendoumaloucasemrumo.EuamovocêeprecisodevocêeachoqueDeusmeamamuitoporqueeuperdiumônibus,denovo.

Encarouocéu.–Não tenho dinheiro suficiente, de novo, para memanter aqui porque

acheiqueseriafácilteencontrar.Adamedeuapiornotíciadetodaaminhavidanoitepassadaetudooquepensavaeraquenuncamaisoveriadenovo,quevocêiria encontrar alguémque o amede verdade e eu não seriamais nada depois.Todasasvezesqueestouprestesadesistir,vocêestáaquidenovoedessavezeunãoquerodeixa-loir...

–Eupensei...–Queeuvoltariapraminhavida?Euestavaprestesacomeçaruma,eu

nãopoderiavoltaratrásAlex.Elanãomequis.–Suavozeramagoada.–Euteespereievocênãovoltou.Entãoeuvolteipracasavaziadenovo,agoraestouaqui...mesmoquenãomequeiramais,medeixeapenasficarcomvocê.

Meu coração estava batendo tão rápido que me sufocava, havia um

sorriso rasgandomeu rosto e eu não queria que isso soasse idiota, mas era aúnicacoisaqueeusabiafazer.Nãoeraumsonho,elahaviavoltadopramim.

–Deus, eu senti sua falta. –Esmaguei seus lábios nos meus. –Nunca,

nuncamaismedeixeforadasuacabeça.Nuncamais,entendeu?Assentiu.–Euprecisoquemedêacertezadequerficar,eunãovoudeixa-laseme

disserquequerficar.–Euqueroficar,aondequerqueesteja.Respireiemseucabelo,seuperfumequetantomeperturbou.

–Nuncamais vou deixa-la sair de perto demim.Minha vida não faria

maissentido.Droga,euteamogarota,emeuspioresdiasforamlongedevocê.–Agoraestouaqui.–Enãovaialugaralgum.

34

SamanthaEle me disse: Eu te amo. Mais vezes do que meu cérebro havia

computado um dia. Era a formamais doce quemeus ouvidos conseguiam selembrar.Eu te amo.Repeti issomentalmente, várias vezes, o tempo todo.Eracomo estar sonhando, estava esperando a hora que minha falta de sorte mejogasse na realidade. Ela estava sendo generosa, porque ele ainda estava ali.Aindame olhava como se eu fosse a única coisa importante nomundo, seusdedosaindaestavamentrelaçadosaosmeus,meucoraçãoaindaestavabatendoaltodemaisparaumbatimentonormal.

–Obrigado. –Agradeceu a recepcionista pegando a chave em suamão.

Mesmotendoinsistindoparacarregarminhaprópriabagagem.Alexfezquestãodecarrega-la.

Tenteiaomáximonãoencara-lomuito,ouveriaoquantoeuestavasendo

idiota.Pordentro,euhaviasoltadomaisfogosquetodosospaísesjuntosnoAnoNovo. Eu estava saltando, batendo emminhas próprias paredes e gritando aomundooquantoeueraamulhermaisfelizdetodaaterra.

Nossoquartoeraumdosprimeiros,eupenseimuitoemumquartoantes

devê-lonovamente.Agoraestavaobrigandomeucorpoaaguentaromáximodetempopossível,comoseestaracordadameajudasseaficarnailusãoquecrieiaoredordemimequeseudormisse,correriaoriscodeperdertudoisso.Semsoltarminhamão,nossascoisasforampostasnochãoaoladodaporta,entãopegadesurpresa,Alexmepegounocolomeassustando.Depositouumbeijoemminhatestaesorriucontraamesmafazendoborboletasganharvidaemmeuestomago.

–Oqueestáfazendo?–Treinandonossaentrada.–Queentrada?Meucorpodeslizousobreoseuemeuspésestavamnovamenteemsolo

firme, suas mãos se fecharam ao redor do meu rosto e seus olhos estavambrilhando. Alex agora era um livro aberto para mim, como se não houvessemedodemedizeralgo.Perdimuitotempo,porqueissoémaravilhoso.

–Achoquenãoquerocorreros riscosdeperde-lanovamente.Entãoeu

queromecasarcomvocênaprimeiraigreja,capela,santooqueforqueapareceremnossafrente.Eunãomeimporto,apenasqueroacordartodasasmanhaseverquenãocorremosoriscodenosperdemosnovamente.Eumeprepareiparaissocontáveisvezes,nãoeraumpedidodecasamentoainda,masquemseimportaseeuquasepireilongedevocê.

Sorri.–Euquero te darmeunome, uma casa emqualquer lugar, pode ser na

estrada.Nossos filhos e qualquer bichode estimaçãoque eles queiram ter.Eunãoqueroregras,nãoquero isolamento.Queroolharparaessesolhos todososdiasevêqueestoufazendoacoisacerta.Quesoucapazdefazeramulherdaminha vida feliz. Só quero ficar comvocê, pelomáximo de tempo possível ecomoseiqueDeusmeamamuitoessetemposeráparasempre.

Controlei minhas lagrimas, senti meu estomago se revirando eminhaspernastremendo.NãoéumsonhoSamantha,éreal.

–Quersecasarcomigo?Assenti.–Quero ouvi-la. – Seus braçosme puxaram para cima fazendominhas

pernas irem de encontro a sua cintura. Alex me carregava como se eu nãopesassenada.

–Sim.Euqueromecasarcomvocê,quero terquantos filhospudermos

ter.–Sorri.–Querocontinuarnaestrada,queroiaondequerqueesteja.Contantoquesejacomvocê,euprometoseramelhoresposadessemundoeteamarpelosemprequeDeusiránosdar.–Sorri.–Euqueroficarcomvocê,Alex.Essaéaúnicacertezaquetenhonavidaagora.

Fecheiosolhosquandonosgirounomeiodoquarto.Suabocaestavana

minhaantesmesmoqueeupudesseprotestar,minhascostasrepousandocontraocolchão e sua mão escovando meu cabelo para longe do meu rosto, eu nãoconseguiatirarosorrisodomeurosto.Eunãoconseguiapensar.

–Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu tentei ao

máximonãoserumidiotaotempotodo,achoqueconsegui.–Omelhor idiotaque já conheci. –Afaguei seu cabelo. –Eu senti a sua

falta,todososdias.Eeunãoseiexplicaroqueestousentindo...,maseuprecisodevocê.

Seu corpo se virou me deixando no controle, suas mãos agilmente se

livrandode tudooquenos impediadesentirpeleapele.Eragentil, comomelembrava.Nãohaviaumpingodevergonhaemmim,eapesardetudo,eupenseiquesentiria.Elesorriudepoisdemeolhardecimaabaixoemepuxarparaelenovamente,suasmãosagoraafagandomeucabelo,mepuxandocadavezmaisperto. Como se fosse possível. Então ele estava no controle novamente, semdeixarmeuslábiosoviselivrardoqueaindamevestiaantesdeselivrardesuas

roupas.Seus beijos começaram por minha coxa, brincando nas laterais e

voltandoaoseucaminho.Cadaterminaçãonervosadomeucorporespondiadevolta,Alexdepositouumbeijoemminhabarrigademoradoemolhadoantesdesubir, lenta e perigosa antes da minha boca novamente. Beijou meus olhos,minhatestaemeencarou,aquelesolhosprofundosquenãoprecisavademuitoparamefazermeperderemalgumlugarnoespaçodetempo.

Me apertei contra ele, sentindo toda a carga que ambos estavam

guardando a tempos. Eu não queriamais esperar, ele sabia disso e se divertiacomisso.Opuxeiparamimobeijandocomforça,implorando,atésenti-lomecompletandonovamente.Meucorposeperdeuentreolençolemesentipequenaembaixodele.Suasmãos firmesmesegurando,eunão iriaa lugaralgum.Eleestavaali.

Nãoconseguiconterossonsqueescapavamdemeupeito, issoparecia

faze-loficarmaisforadaterraeinvestircontramim.Seusbraçosaomeuredor,seuslábiosbrincandoemmeupescoço,suarespiração,seucoraçãobatendocomomeu.Eunãopoderiaestarnomelhorlugar,terasmelhoressensações.Comose um buraco tivesse se aberto embaixo de mim, eu caio. Sentindo minharespiraçãoseperdertambém,apenasosentindo.

Alex me beijou uma, duas vezes enquanto meu mundo ia se

reconstruindo. Seu corpo ainda sobre mim, seus lábios descendo por meupescoço, até encontrar meu alvo mais próximo de sensibilidade. Seus lábiosdeslizavam no vão emmeu peito, antes de respirar contra eles e se fechar aoredordecadaum.Minhasmãossefecharamemseucabeloegrunhi,minhavoznão passava de um rouco. Estava chegando aomeu limitemais uma vez, tãorápido quanto achei possível. Eu estava acostumada a apenas receber e Alexgostava disso, ele queria me dar isso, mas antes que eu chegasse lá, o sentinovamentepreenchendominhasestruturas.

Sua respiração emmeu pescoço, sua mão fechada contra meu cabelo,

enquantoaoutramantinhaminhamãopresaacimademinhacabeça.Sentiseusimpulsos, lentos, senti suas ondulações, sua voz rouca em meu ouvido mechamando. Eu sabia o que ele queria, eu lhe daria isso, acompanhei seus

impulsos.Uma,duas,trêsvezesantesdeperdernovamente.Juntocomeledessavez,deslizandoemalgumlugar,apenassentindoseucorpofirmecontraomeuesuarespiraçãoacelerada.Tudooqueconseguiafazer,erasorrir.Eleestavaaliepertencíamosumaooutroagora.

35Alex

Eladormiu,seusbraçosrelaxaramumpoucodepoisqueosonoatomou

profundamente, aninhada em meu peito, respirando lentamente como desejeitodososdiasdaminhavidadesdequeadeixei.Eunãoqueriaqueelamevissechorando,nãoeranadarelacionadoamachismoeego,Sameratãosensívelqueeusabiaqueumsimplesatocausariamuitasreaçõesemminhagarota.Elanãoprecisava saber que por dentro eu chorei o tempo todo desde que a vinovamente.Queeupoderiapararomundoapenasparadizerissoaspessoas.Foiumalongacaminhadasozinhoatéela.

Eunãosaberiadizeroquantomeassustasabercomoavidaé,queexiste

apartefatalqueénaturalmentenecessáriaequeexisteacontecimentos.Elanãoprecisavasaberqueeutinhamedodeperde-la,sejapeloqueforentãotê-laalijáme fazia chorar porque ela voltou. Eu não sou um cara de sorte diante disso

tudo,eunãochamodesorte.Peguei no sono em algum momento, quando acordei Sam estava me

encarando,sentadanacama.Oscabelosestavamparatodososladosterminandoaoredordeseurostopequeno.Elaabriuumsorrisoedeslizouasmãospormeupeitoantesdeseabaixarebeijarminhatesta.

–Bomdia.–Bomdiasenhora,Lansen.Sorriu.–Comodormiu?–Perfeitamentebem.–Comfome?–Temumseraquidentrodevorandomeuestomago.–Podemosdesceretomarcafé.–Depois que eu tomar um banho. –Falou se levantando, enrolada no

lençol.–Oqueeuiafazeragora.Opuxeieelasorriuparamim.–Companhia?–Vaiselembrardequeestoucomfome?–Perguntoudelado.–Podemos dar um jeito nisso. –Me arrastei da cama alcançando e a

jogandoemmeuombro.

Nosso banho demorou um pouco mais do que o previsto. Assim que

descemos para o restaurante fizemos nossos pedidos, Sam comia quaseenvergonhada por estar nomeio de todas aquelas pessoas.Ela iria perder issocomo tempo, conseguir estarpertodaspessoasqueelanãoconhecia,nãoeranecessariamente se socializar. Era mais, poder estar em um lugar como todomundo.Passeitempodemaisaobservandoemeesquecendodetomarmeucaféque já estava frio.Gostava de observar cada detalhe que ela possuía, eramosdetalhesmaislindosquejávi.

Sampertenciaaminhanovavida,entãoeunãopodiameacharhorrível

pordizerqueelaeratudoparamim.Elaestáaquieeuprecisavaviverporelaagora. Ada ligou e encaramos o celular sobre amesa, Sam o pegou,masmeencaroucomoumapermissãoparaatende-loeassenti.

–Alo.–Elasorriu.–Simsoueu.PorDeus,Ada,respire.Sorriestendendoamãoparaoaparelho.–Euesperoqueestejapensandoemmeusobrinho,entãorespiregarota.–Como assim? ALEXANDER! POR QUE NÃO ME LIGOU? ELA

ESTÁCOMVOCE?EUVOUMATA-LOS!MEUDEUS!ELATEACHOU?VOCEACHOUELA?VOCENÃOIAPARALONDRES?

Demos algum tempo a ela até eu conseguir falar.Ada estava chorando

novamente e era missão de Ben faze-la parar em algummomento. Passamoshorasfalandodepoisquevoltamosaoquarto,Samaajudavacontarahistóriaedepoisimagineiminhairmãsoltandocoraçõespelosolhos.Foiumalutafaze-ladesligareprometemosvoltarantesdobebênascer.

Samficousentadanacamaencarandoasmãoscomumsorrisobobo,ela

sempreficavaassimquandoviaalguémfeliz,elaabsorvia isso.Otempotodo.Mesenteinochãoasuafrente,seusolhosestavamemmimagora.

–Tudobem?

Assentiu.–Oqueestápensando?–Ummontedecoisa,efeliz.Adaéfeliz.–Elaachouumloucoparaaguenta-la.–Alex!–Vocêsabe.–Sorri.–Euficofelizporela,eu tinhamedodoquantoela

fosse depender de mim. Ela está bem. Só um pouco sensível por causa dagravidez.

–Elaquernosver,aquilofoiumultimato.–Daformamaisdoce.–Abeijei.–Euachoquepodemosir...edepoisvoltamos.–Pormimtudobem.Seráumavoltamemorável.Meencarou.–Porque?–Vocêestácomigo.Eestaráparasempre.Adavaigostardisso.–Beijei

aspalmasdesuasmãos.Eeumuitomais.

36

SamanthaAlexprecisavavoltar e devolvero carro,masdeixamos issoparamais

tarde.Elemelevouparaconhecerospequenoslugaresincríveis,efalamostantosobrenósmesmosquemepergunteiporquenãofalamostantoassimantes?Eugostava de olhar para as pessoas passando por nós emostrar que éramos umcasal.Eraacoisamaisidiotaqueumapessoadaminhaidadepoderiafazer,masissoeraincrível.

Seus dedos nosmeus, seu olhar, seu jeito de falar. Até a forma como

sorria,eraparamim.Eissonãoeranadaparecidocomnossoprimeiroencontro.Voltamosaohotelpoucoantesdascinco,Alexmedeixoueprecisousairpararesolver algumas coisas quehavia reservado.Aproveitei esse tempopara ligarpara casa e dizer que estava tudobem,meupai parecia umpouco empolgadodemaiscomasnovidades.Eugostavadesaberdisso,gostavadesaberqueele

estavafelizpormim.–Comprei nossas passagens. –Avisou entrando no quarto. –O taxi vai

estarnosesperandodepoisdojantar.Deslizeiparaondeestava.–Eusentisuafalta.–Beijouminhatesta.–Vocêvai seenjoardemimumdia.–Avisei.–Evousentir faltadisso,

entãopodemosdosaressesmomentos.–Não. –Apertou minha cintura. –Eu não vou me cansar. Isso é uma

promessa.–Eufaleicomomeupai,eleparecefeliz.Deumjeitofelizdemais.Alexsorriumesoltandoeindoparasuamala.–Se fosse outro, provavelmente te mandaria procurar um cara menos

idiotaparaseapaixonar.Elegostademimentão.–Sim, ele gosta.E ele sabe que te amo, então ele aceitaria até se você

fosseopiorhomemdomundo.Elesóquermeverbem.–Eusougratoporisso.–Estendeuamão.–Elemedeuumbelopresente.–Nãopodemosnosatrasar.–Avisei.–Nãovamos,euprometo.Penseiqueestariaafimdeumbanhoadois.–Daúltimavez...–Eu senti falta da última vez. –Mordeu minha orelha. –Estaremos a

tempo.Descemos atrasados para o jantar, eu não conseguia conter meu riso

quando todos os olhares estavam em nós dois. Como se estive obvio o quefizemos,Alexpediupratos leves, o tempo todoeledirecionava seuolharparamimefaziaperguntasaleatórias.Issoestavacomeçandoaparecercomum.

–Quermedizeralgumacoisa?–Pergunteiemalgummomentoquandoo

pegueisorrindodentrodocarro.–Euamovocê.–Algoquenãosejaisso.Silenciosamente,depositouumbeijoemmeupescoço.–Euamovocê.–

Sussurrou.Elemeama.Corremosparanãoperdernossovoo,meencolhiemmeulugar,Alexse

sentouameuladoignorandoamulherqueoencaravacuriosa.Eleapenassorriue se virou para mim, eu diria que aquilo era fata de educação em outrascircunstancias.Nãonessa.Voltamosaconversar,preciseimesegurarparanãoriralto em algunsmomentos com a nova versão altamente idiota deAlex. E foibreveatépegarnosono,chegaríamosemalgummomentododia,eunãotinhapressa.

Minhas costas estavam em protesto quando acordei. Alex estava

dormindototalmenteviradoparamimcomosetivessepassadoumlongotempotentandoseesquivardenossaparceiraaolado.Memexiapenasporumsegundoe seus olhos se abriram, um sorriso preguiçoso brincou em seus lábios e seusdedossefecharamcontraosmeus,comosedissessebomdia.Mesmodizendoquenãoprecisava,elemelevouatéobanheiroenosegundoemquepenseiqueapenasme esperaria dooutro lado, ele estavadentrodominúsculo espaçomeerguendocontraapequenapia.

–Estáficandolouco?–Pergunteitentandopará-lo.–Eu estou cansado daquela poltrona. E tive ummaravilhoso sonho, só

queriaterumpoucodeleagora.–Sedemorarmosmaisdoquecincominutosaqui,irãonosarrancardaqui

dedentro.–Sorri.–Elesnãovãodarpornossafalta,eessapodeserumaexperiênciaúnica.Alex havia corrompido o meu cérebro me levando a fazer coisas que

nunca pensei que faria na vida. Como transar em umminúsculo banheiro deavião, precisei de umbom tempo parame recuperar enquanto eleme ajudavacomumsorriso triunfanteemseus lábiosajeitandomeucabeloemeuvestido.Beijouminhatestaesaiuprimeiroestendendoamãoemeesperandopega-la.

Parecia que estávamos segurando uma placa em neon revelando o que

fizemosquandovoltamosaonosso lugar.Orestodaviagemfoisilenciosa,eracomeçodetardequandopousamos.Alexestavamaisanimadoporestaremcasa,maisdoqueacheipossívelpresenciar.

–Euachoquedeveria ligarparaomeupai.–Faleiquandopegamosum

taxi.–Querirparacasa?–Meencarou.–Tecnicamentevocênãotemmaisuma,segundoAda.Evocêpodeficar

comela,sãotrêshorasatéminhacasa.Alexpassouobraçopormeupescoçoenfiandoonarizemmeucabelo.–Trêshorasémuitotempo,enãotenhoplanosparamorarcomaminha

irmã. Não agora pelo menos, então até o fim do dia teremos uma situaçãoresolvida.

–Vocêpodeficarnaminhacasaentão.Meupaivaigostardevocê.–Eutenhocertezaquevai,masnãovoumorarnacasadele.Certo?Assenti.Tínhamos umquarto reservado emumdos hotéis no centro da cidade.

Alex ligou para Ada, mas passou um longo tempo falando com Ben algumassuntodehomens.Aproveitei esse tempopara tomarumbanhodeverdadeefazer tudo o que deveria ter feito em no máximo uma semana. A porta dobanheirofoiabertaeviseusorrisosurgirdooutroladodobox.

–Vamos sair. –Avisou se encostando na parede. –Ben eAda estão nos

esperando.–Algumalmoçoemfamíliaoualgoassim?–Maisoumenos,masachoquevamosterqueestarapresentáveis.Oencarei.–Vocêconheceuosuficientedaminhairmãparasaberqueseelaresolve

criarumafestaoucoisaetal,elafazessasmerdasdetodomundocaracterizado.–Ébemacaradela.Quantotempoatéessareuniãodefamília?–Umahora.Euvou sair primeiro porquepediuminha ajudapara levar

algumacoisaparaojardimdacasanova.Seimportadeseguirminhairmã?Ada não poderia dirigir, então contava com um taxi. Alex não tentou

nada no nosso banho em conjunto. Assim que deixou o quartominutos maistarde,sentiumvazioestranhoatéAdachegar.Elapareciaduasvezesmaiordoqueaúltimavezqueavi,elaestavacomaquelaenormebarrigaredondacomosefosseexplodiraqualquermomentoeseuabraço,elaconseguia teroabraçomaissufocantedoqueAlexpoderiasercapazdemedar.

–Eu vou querer saber todos os detalhes, eu não vou aceitar uma

simplificaçãodetudoisso.–Tagarelou.–Eu prometo contar. –Abri minha mala. –Então, vamos comemorar o

que?–Avoltadevocês,oquasenascimentodomeubebêeacasanova.–Então,realmentesemudaram?–Sim,euachoquenãopossomorarcomaminhatiaparasempre.Alex

tambémnãoqueriaisso,éhoradeserresponsáveleuvousermãe,sabe?–Devoimaginar.Oquevisto?Adaseaproximoucomumasacola.–Euimagineiqueroupasdecampingnãoseriamapresentáveisecomojá

aconheço, seioquanto ficariadesconfortável.Eu trouxe isso,umpresentenaverdade.

–Nãoprecisava...–Eudescobrinascompras,aminhapaz.Foidecoração.Eraumvestidobrancorendadocomfloresaquieali,ficoubememmim.

Suasmãos gordas estavam emmeu cabelo, trançando umapequenamecha aoladodacabeça.Adaestavaincrivelmentebonitaentãonãofaleinadaquandoelacismouemmedeixarbonitatambém.

–Euachoqueestamosprontas.–Falou.–Alexdeveestardizendoparaos

quatro cantos do mundo que te sequestrei. –Se afastou pegando sua pequenabolsa.

Eraprovávelqueeleestivessepensandoissomesmo.Haviaumtaxinos

esperando,Adafaloubempoucosobreacasanova,estavamaisinteressadaemcomohavíamospassadososdiasdepoisdenosencontrarmosetenteiseromaisobjetiva possível. Era engraçado ver a empolgação em seus olhos, isso medeixavabem.Comosetudooqueestavafazendo,fosseacoisacertaepormuitotemponaminhavidaeupenseiestarfazendoacoisaerrada.

Quinzeminutosdepoisestávamosentrandoemumaruasemsaída,Ada

sorriuparamimmaislargodessavezenquantoocarroseaproximavadaúltimacasa.Haviafloresdecorandooportão,eelassepareciamcomasfloresemmeuvestido.Duascriançasacenaramecorreramparadentro.EuqueriaperguntarquetipodefestaAdapoderiadarparatertodaessaorganização,masotaxiparouedesajeitadamente,eladeixouseuladonobanco.

–Pai? –Minha surpresa estava um pouco maior quando vi meu pai

sorrindoparamimparadonolugarondeantesocupouduascrianças.A última vez que vimeu pai de terno, foi uma apresentação da escola

onde ele era o único pai de terno. Ele queria parecer alguém importante paramimeissomecausoulagrimasasemanatoda,porquevioquãohumildeeleeraeoquãobomelequeriaqueaspessoasvissemqueeleeraparamim.

Adaseaproximoubeijandominhabochechaeseguindocomoumpatoa

minha frente. Senti minhas mãos suando até conseguir deixar o lugar ondeestava e dar alguns passos aonde meu pai estava. Meu olhar seguiu para ocaminhofloridoatéele.Eracomosetodoopesodomeucorpotivesseidoparaumúnicolugareeunãosabiacomolidarcomisso.Alexestavaaalgunsmetros,BenencontrouAdanomeiodocaminhoeacenouparamimrapidamente.Doraestavaalitambém,estavamtodosali,estavamtodosmeencarando.

–Pai?–Hojeéoseudiaquerida.–Sorriuafagandomeurosto.–Eleéumbom

rapaz.

–Diadeque?–Eusabiaquediaera,maseuqueriaouvirdealguém.–Diadeserfelizdeverdade.Umamúsicacomeçouatocardefundo,nãoeraafamosamúsicaquese

ouvia em todos os casamentos. Era diferente, como ele prometeu que seria.Tenteinãodeixarnenhumalagrimacair, tenteinão tropeçarnosprópriospésenem perceber todas aquelas pessoas ali e não eram muitas. Tentei não rirdescontroladamente,nãoeraumsonho,tenteinãoesquecerissotambém.

Adistância foi diminuindo, até ser apenasnósdois.Minhamão estava

tremulaquandopegueiasuaeeleaindatinhaaquelesorrisovitoriosoemseuslábios. Eu queria perguntar como ele ousou me enganar e quanto tempo elepensounissotudo.Masaspalavraseomomentonãomepermitiamisso.

–Você está linda. –Sussurrou depois de depositar um beijo em minha

bochecha.Respireifundo.–Vocêmeenganou.–Preciseiserpreciso.–Deixouumaleverisadaescapar.Era como se nada entrasse nomeu cérebro enquanto as palavras eram

ditaspelojuizdepaz.Euseiquehouveumpequenodiscursoantesdecomeçarosvotos,maseu realmenteestavapensandoaondeestive todoesse tempo.Euqueriarirdasituação,porqueaindanãoacreditavaqueestavaprestesaserumapartedeleporum“parasempre”nosso.Euoouvierepeticadafrase,demaneiraquemeobrigavaaacreditaremtodasassuaspromessas,eramreaisparaeleeele se esforçaria para ser reais paramim. Pensei que não conseguiria fazer aminhaparte.

Esse momento no passado me doeu mais do que eu poderia imaginar

doerumdia,e jureinãoodeixarserepetir,emparteelesabiadisso.Eramaisfácilfazê-losozinhodoquemeanunciar.Porqueeuteriamedoemeenxeriade

perguntas que provavelmente não nos levaria a lugar algum. Era isso que euamavaemAlex,eunãosabiaatéquandoessaaçãoduraria,masseriasempreeu,depoisele.Seriasempreoqueeuvoupensar,comovoureagir.Elesempremedar as possibilidades. Ele sempreme diz o quanto eu posso e que se algumacoisaaconteceragora,aculpanãofoiminhaeseaconteceunopassadonãoquerdizerquepodeserepetirnofuturo.

Eununcativetantaliberdadecomoelemedá.Nuncamesentitãobeme

suficientecomoelemefazsentir.Eraloucuratudodesdeocomeço?Sim,ambossabíamos disso. Ele foi a minha carona, ele era o cara preso no passado aomesmotempolivre.Elefoimeumelhoramigoantesdetudo,foioúnicoquememostrouquepossoseguiremfrentesempensarduasvezesnoquemefezpararnomeiodocaminho.Aschancesdevoltaraofundodopoçoeramtãograndesquemeassustavaseelenãotivessemeditotantacoisa.Senãotivessemedadoopções.

Entãonãoera loucuraestarperdidamenteapaixonadapelomeucarona,

pelo cara que encontrei na estrada quando eu mal sabia o queria para mimmesma.Quepoderia termeditoparavoltarparacasaao invésdeme levaraodesconhecidoqueatéeumesma temia.Nãoera loucuranenhuma,emnenhummomentofoi.

–Sim, aceito. –Eu acho que não esperamos a benção final. Acho que

esquecemosrealmenteaondeestávamos.Alexhaviametiradoochão,seusbraçosemvoltadaminhacinturaeme

beijou.Comosenãotivéssemosfeitoissotantasvezesnodia.Eratudonovo,eestranhoisso.Cadadetalheparecianovo.

–Euamovocê.Eagoraéparasempre.–Vocênãoexiste.–Aslágrimasvieram.–Existo,evoutemostrarissotodososdias.Oabracei.Alexfezsinaldepositivoaomeupaiantesdesegurarminha

mão.Agoraeraparasempre.Agoraeranósdois.

37Alex

Meupaimedisseumavez,queencontramosváriasmulheresdanossa

vidaatéacharmosacerta.Eunãoqueriaolharparatrásedizerquenãoencontreiumcertoparecido,euencontreiumamulherqueestevedomeuladopormuitotempo.Quesegurouminhamãonashorasdifíceis,quenãomedeixoudesistirquantotudooqueeuqueria,erajogartudoparaoalto.Euconhecialguémqueameimaisdoqueminhaprópriavida,elafoiosuficienteparamim.Atéavidadeixa-la,maseuaindatinhaaminhaesuperei.

Nãoesperavaquedeumahoraparaoutracairiaumanovidadeemmeu

colo.Nuncafuio tipodecaraque insisteemalgo,mas,euqueria insistircomela.Detalmaneiraquemeodieiolhandoparaomeupassado.Porqueela?Meupai tambémme disse que a mulher da nossa vida nos confunde. Era isso. Amulherdaminhavidaaindanãohavia aparecidoe talvez,nuncaapareceria senãofosseoacaso.Omelhoracasoquepoderiaacontecer.

EupenseiemtodasasformasdeloucuraquandoSamvoltou,eupensei

em sua mente vulnerável. Eu a queria para mim, não como posse, a queriacomigo. Do meu lado para o todo sempre. Ada surtou com a ideia que nãopenseiqueviriademim,maseuestavasendomovidoporela.Eeraaprimeiravez que me vi obrigado a confiar em minha irmã, fazer com que Sam nãodesconfiassedenada.Voltarparacasaaoladodela,verasurpresaemseusolhos,eutinhamedodoquantoissopoderiaassusta-la.Maselanãoseassustou.

Nemnahorado sim,quandoacheiqueganhariaumnão.Eracomose

todooarvoltasseaosmeuspulmões.Sóprecisavadeumsim.

–Você conseguiu me enganar. –Sussurrou contra meu pescoço.Estávamosemnossasegundadança.

–Adameajudou,Dora também.Eseupai, elemedisseparacuidarde

você,queeraacoisamaisvaliosaqueeletinha.Elasorriumeencarando.–Apesardeserumaenormesurpresa,foiamelhorsurpresa.Comtodoo

diaagitado.–Quersaberparaondevamos?Meencarou,umarugaseformandoemsuatesta.–Austrália?–DigamosqueaagenciadeviagemdeBenestavacomumapromoção,e

elenãopodiaviajarporcausadobebê.Éonossopresentedecasamento.–EsperoquegostemdaTailândia.–Adaapuxou.–Euiacontar,Ada.–Enroloudemaisirmãozinho.–Piscouumsorriso.–Tailândia?Sério?–Sim.Amanhãàtarde.–Esperoquesedivirtam.–Adacantarolou.Dispensamos os discursos, Sam tinha vergonha o suficiente para fazer

isso e eu já havia dito tudo o que elamerecia saber.A viagem, o casamento,

todasaquelaspessoasnosmostraramoquantoprecisávamosdealgumashorasde sono, entãonosdespedimos rumandoparaohotel.Samnãoparoude falarsobreaTailândia,divagando.Eugosteidessaversãofalante.

–Tailândia!–Riubatendonatesta.–Vocêficatão...incrívelfalandoTailândia.Ela sorriu jogando a cabeça para trás, fazendo meu corpo ganhar

pequenasvibrações.Apuxeiparaosmeusbraços.–Agora é oficial, vou acordar todos os dias ao seu lado. – Beijei seu

pescoço.–Vaisermaisfácilseacostumarcomminhasesquisitices.–Sorriu.–Eu já estou acostumado. –Bateu em meu braço. –Gosto de cada

pequenodefeitoquepossui.Meabraçou.–Eu disse que quando o encontrasse novamente, deixaria todo o meu

passado para trás. Eu tive minha última conversa com Dave, minha últimaconversa com Beatriz e todas as pessoas esnobes que conheci quando osconhecia.Eutenhovocêagora,evoucomeçaraviver.Vouacordartodososdiaseolharparaohomemqueeuamo,vourirdosclichês.Euvousermelhor,Alex.Vocêmefazmelhor.

–Vocêsemprefoiboa,issoévocê.Eagoratemamim,etemosplanos,

muitosplanosnaestrada.–Annabel–Se afastou tirando o vestido pela cabeça apresentando um

conjuntoderendabranco.Aencarei.

–Éonomedanossaprimeirafilha.VaiserAnnabel.–Porque?–Eraonomequemeupaiescolheuparamimeinfelizmentefoiignorado.

ElemechamoudeAnnabelatéostrêsanos.–Riu.–Vaiserporele.Sorri.–Tudobem.–Chuteimeussapatos.–SeránossapequenaAnnaouBel.–A

beijei.–Podemosprovidencia-laagora.Suarisadaeraosommaisfantásticodomundo.–Estáprontoparaissoagora?–Souumhomempreparado.

38

Samantha

Passeiodiaseguintecommeupai.Eleestavabem,eletinhaumbrilho

nos olhos. Dora prometeu cuidar dele até eu voltar, e eu não sabia quandovoltaria.Alexeeleconversaramsobrefutebolecoisasdehomensqueelenuncaconseguiufalarcomigo.Meupaiestavafeliz,muitofeliz.

Nossovoosaiupoucoantesdascinco,haviaumfrioinstaladoemminha

barriga e não adiantava disfarçar, estava nervosa. Alex tirou fotos minhasenquantoeudormia,falava,comia.Haviamuitafotominhaemsuascâmeras.

–Vamoschegareirdiretoparaumhotel.–Edepois?–Estavavendoumascasas,emlugaresturísticosebembaratas.Sevocê

quiser.–Podeser.VamosvertodosaquelesanimaisquepassamnaTV?–Soou

infantil,masminhaimaginaçãoerafértildemais.–Vamos.–Sorriu.Foram longas horas, nenhuma posição me agrava até que Alex me

acordou avisando que estávamos pousando. O frio na barriga voltou e toda aempolgaçãoestavadevolta,seusdedosseenrolaramcomosmeuseseguimosofluxo de saída até nossas malas. Em pouco tempo conseguimos um taxi eseguimosparaohotel.

Eratudodiferente,eraincrível.Realmenteexótico,Alexsorriucommeucontentamento. Estávamos começando, em um lugar diferente agora. Eratotalmente diferente do que pensei que poderia acontecer na minha vida.Provavelmente estaria em algum escritório trabalhando por horas e depoisvoltariaparacasaeteriaorestododiaautomático.Nuncafoialgoquesonheiealgunsmalesvemparaobem.

–Pronta?–Perguntoubeijandomeucabelo.–Pronta.–Bem-vindaaTailândia.Doismeses,estávamoshádoismesesemumapequenacidadenonorte

da Tailândia. Alex conseguiu um carro, no começo era apenas para noslocomoverdecidadeacidade,atéencontrarmosumvilarejocompoucomaisdequinhentoshabitantes.Noventaporcentoeramcriançasqueseencantavamcomele,Alextinhaodom.

Passei a ajuda-lo com as viagens até a cidademais próxima, em troca

ganhamosumapequenacasaparaficar.Jáhaviadeixadodeladorepelentesouqualquer coisa que parecia diferente para eles.Aprendi a falar como eles, eraestranho,estávamosdeixandotudoparatrás,maseuestavafeliz.ObebêdeAdahavianascido,eupenseiqueelanosculparia,maspelocontrárioelagritousuasemoçõesenosdeucomopadrinhos.Apesardemorrerde saudades, elaestavafelizpornós.

Alexme deixou ir até a cidade, eleme deixou dirigir depois demuito

protesto.Uma semana antes quando estávamosna cidade, fui arrastada para omeiodeumgrupodedança.Ganheiumcolardefloresamarelasebrancas,asmoças cantavam e riam. Quando voltamos para casa nomesmo dia, algumasmoçasmedeixarampresentes.Alexnãoentendeu,muitomenoseu,masaceiteimesmo assim. Passamos o resto da semana tentando entende-las até que euentendi,atéalguémmeexplicarnaverdade.Entãoeupreciseiiratéacidade.

–Maisum.–Falouaomeverentrandoemcasa.Alexseguravaumbarco

comconchinhas.Me aproximei pegando o barco de sua mão e analisando os detalhes,

entãosegureisuamãoeopuxeiparaacamacomigodeixandoaportabateratrásdenós.

–Elassóestãofelizes.–Expliquei.Alexriumepuxandoparaoseucolo.–Eporquenãoganhonada?–Porque não são para mim. –O encarei. Uma ruga se formou em sua

testa.–Não?Neguei.–Eparaquemsão?Segureisuamãoadeslizandoparaminhabarriga.Alexdemoroualguns

segundosparaentenderoqueeuqueriadizerantesquemeusolhosseenchessemdelágrimas.

–Vocêestá...Assenti.–AhmeuDeus.Vamoster...–Umbebê.Eu...eunãoseicomoelassabiam,masvamosterumbebê.–Um bebê? –Perguntou mais para ter certeza, sua mão pressionando

minhabarriga.–Sim,eufizoexameeespereipacientementetodaamanhã.Vamoster

umbebêeeunãoseioquepensar.Alex estava ficando meio verde e pensei em chamar ajuda até vê-lo

voltar ao normal. Um sorriso crescendo em seus lábios. Seus braços meenvolveram.

–Eu... vou ser pai. Isso. –Comemorou. –Esse é omelhor dia daminha

vida.Eujuroqueé.VamosacidadeedepoisvamosligarparaAda.Achoqueéhoradevoltarparacasa.

–Nãovamosmudarnenhumplano.–Não vamos. –Me beijou. –Só vamos ter nove meses como pessoas

normais–Sorriucontraminhaboca.–Edepois,vamosmostraranossaprincesaoqueéterumaviagemmaisdivertidaqueaDisney.

–Novemeses.–Novemeses.Era isso, teríamos nove meses, até uma nova jornada até estarmos

novamenteaondenascemosparaestar.Naestrada.Fim!

AGRADECIMENTOS

Queroagradeceratodosquemeapoiaramemeapoiamnessajornadaqueédividirmeusváriosmundoscomvocês.Obrigadadecoração,dowattpad

atéaqui.

Leiamtambém:EsposadeMentirinhaeVidasCruzadassevocêgostoudeNaEstradaamarámaisumahistoriadivertidaeapaixonante.

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