artigo sobre embeddedness
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O IMPACTO DO GRAU DE
EMBEDDEDNESS NO
DESENVOLVIMENTO DE REDES
INTERORGANIZACIONAIS
Fabiana Ferreira Silva (UFRPE )
Marcos Gilson Gomes Feitosa (UFPE )
Virginia do Socorro Motta Aguiar (Mackenzi )
[email protected] Regina Bezerra Ribeiro (UFRPE )
As redes interorganizacionais vm consolidando um espao de cooperao,
mas tambm de competio, onde os objetivos econmicos ainda
prevalecem na anlise do desenvolvimento da rede. A pergunta que norteou
a elaborao deste ensaio terico-emprico foi: como o grau deembeddedness da rede pode impactar no desenvolvimento do Arranjo
Produtivo Local de Confeces no Agreste Pernambucano? A pesquisa
revelou que o grau de imerso social no vem gerando um desenvolvimento
inovador e sustentvel na rede analisada, uma vez que os benefcios ficam
concentrados em uma minoria e os resultados so predominantemente
econmicos.
Palavras-chaves: Embeddedness; Inovao; Redes Interorganizacionais.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
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apresentados os resultados da pesquisa; a quinta seo sistematiza as concluses do trabalho;
e, por fim, a sexta seo traz as referncias bibliogrficas que fundamentaram o estudo.
2. Fundamentao Terica
As redes constituem uma nova morfologia social e a difuso dessa lgica modifica, de
forma substancial, a operao dos processos produtivos, sociais, econmicos, culturais e de
poder nas relaes estabelecidas (CASTELLS, 2000).
As redes podem ser definidas como conjunto de ns e intersees formadas por pessoase por grupos ligados a diferentes sistemas de relaes sociais (MOTTA e VASCONCELOS
2008, p. 374). Latour (2008) acrescenta que uma rede no se reduz a um nico ator, nem a prpria
rede, que composta por uma srie diversa de elementos, animados e inanimados conectados e
agenciados. Dessa forma, a teoria do ator-rede contribui para a anlise do conjunto de atores
(instituies de pesquisa e suporte, escolas, empresas, fornecedores, concorrentes, consumidores e
governo) que participam coletivamente na concepo, desenvolvimento, produo e difuso de
bens e servios que beneficiem toda a rede (POZ, 2009).
Os atores de uma rede no se comportam ou decidem como tomos fora de um
contexto social. As suas tentativas de ao intencional esto antes incrustadas/enraizadas em
sistemas de relaes sociais concretas e contnuas (GRANOVETTER, 1985). Para o autor, o
conceito de embeddedness expressa o modo como a ao econmica est imersa em relaes
sociais que condicionam o comportamento dos atores econmicos. Originalmente, este
conceito tem sido associado aos estudos de Polanyi (1980). Esse autor destacou que, em
sociedades capitalistas, as relaes mercantis encontravam-se enraizadas nas relaes sociaise, medida que o mercado se desenvolve, este se autonomiza das estruturas sociais e molda
uma sociedade. Em vez de a economia estar enraizada nas relaes sociais, so as relaes
sociais que esto enraizadas no sistema econmico (POLANYI, 1980, p. 77).
A abordagem meramente econmica vem sendo criticada e Vizeu (2003) apresenta
outra forma de analisar as redes a partir do interesse interdisciplinar das cincias sociais no-
funcionalistas, com uma perspectiva diferente sobre o fenmeno. Incitados especialmente
pelo caso dos distritos italianos, os autores desta abordagem tm questionado o pressupostoexclusivamente econmico e instrumental adotado pelo entendimento funcionalista, aludindo
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a necessidade de se considerar, de forma mais significativa, o imperativo histrico-scio-
cultural como fundamento explicativo da efetividade das redes. Neste novo enfoque, aorientao tcnico-econmica d lugar a uma perspectiva mais subjetivista, vinculada
tradio fenomenolgica da cincia social. Assim, em vez de categorias econmicas
reificadas, so enfocadas categorias socioculturais, como as relaes afetivas de confiana, os
aspectos de identidade cultural, a dimenso intersubjetiva da interao social e as
prerrogativas histricas do territrio e/ou da comunidade.
Granovetter (1973) explica as redes sociais a partir da teoria dos laos, classificando-
os como fortes ou fracos. Para o autor, os laos fortes se caracterizam pelas relaes maisprximas e diretas, enquanto que os laos fracos so imprescindveis integrao dos atores
em uma comunidade, fazendo surgir oportunidades atravs da interao entre os diferentes
elos dos grupos. Diante do exposto, o autor destaca a importncia dos laos fracos, uma vez
que eles funcionam como pontes ampliando as ligaes dentro da rede onde existem os
chamados buracos estruturais. Segundo Granovetter (1985), os laos fracos aumentam as
fontes de conhecimento e inovao, uma vez que, enquanto h redundncia de informaes
entre os laos fortes, limitando o processo inovativo dessas empresas, os atores (laos fracos)dispersos unem e alimentam a rede com novas informaes, especialmente, porque eles
participam de diferentes crculos sociais e tm uma maior representatividade (em termos
quantitativos) do que aqueles que concentram o poder.
A partir deste trabalho, outros autores comearam a pesquisar como as relaes sociais
afetam a vida econmica. Estudando o setor de alta-costura em Nova York, Uzzi (1996)
observou que o ponto de inflexo do favorecimento do desempenho quando a imerso social
to grande que as relaes ocorrem sempre entre as mesmas organizaes, causando altograu de redundncia nas informaes. J Simsek, Lubatkin e Floyd (1995) destacam trs tipos
de embeddedness (estrutural, relacional e cognitiva), que afetam diretamente o
comportamento do empreendedor quanto ao grau de mudana implementado nas
organizaes, que negativamente correlacionado ao grau de embeddedness na rede. Para
Burt (1992), uma rede com baixa imerso local permite maior acesso a diferentes fontes de
informao, gerando mudanas radicais. Por outro lado, Krackhardt (1992) observa que uma
rede com alto grau de embeddedness tende a gerar mais confiana, maior redundncia nasinformaes trocadas e a implementao de mudanas incrementais (BRITTO, 2008).
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A lgica do capitalismo influencia, diretamente, as relaes sociais fazendo prevalecer
a racionalidade do mercado na rede. Quem no se adqua lgica instrumentalpredominante no mercado marginalizado das relaes sociais, ao mesmo tempo, esse ator
no se reconhece como parte integrante da rede. Segundo Martes (2009 apud CRUZ;
MARTINS; AUGUSTO, 2009), uma das principais contribuies dos estudos sobre redes
apresentar um tipo de abordagem alternativa, por um lado, ao determinismo cultural, na
medida em que as redes so entendidas como produto da human agency e, por outro, ao
individualismo atomizado da abordagem econmica. Portanto, a pesquisa justifica-se
teoricamente pela inexistncia de produes acadmicas que relacionem, diretamente, o grau
de embeddednessdos atores sociais aos estgios de desenvolvimento de redes.
3. Metodologia
Segundo Gil (2002, p.162) a metodologia compreende [...] os procedimentos a serem
seguidos na realizao da pesquisa. Sua organizao varia de acordo com as peculiaridades de
cada estudo. A pesquisa foi delineada, a priori, luz da classificao proposta por Vergara
(2013). Quanto aos fins, foi desenvolvida uma pesquisa exploratria, devido inexistncia deestudos na regio que analisem se o grau de embeddedness impacta na inovao e
desenvolvimento da rede; e explicativa, porque no se restringiu descrio dos fenmenos,
evidenciando tambm suas relaes, causas e possveis consequncias. Quantos aos meios, a
pesquisa foi estruturada sob a forma de estudo de caso, uma vez que investigou,
detalhadamente, determinado contexto e tambm incluiu uma pesquisa de campo, com o
mapeamento e a caracterizao dos sujeitos atravs da aplicao de um questionrio e da
realizao de entrevistas semiestruturadas a uma amostra representativa de empresrios.
Dessa forma, a pesquisa contemplou os mtodos quantitativo e qualitativo, possibilitando
uma melhor compreenso do objeto em estudo. Os mtodos qualitativos e quantitativos no se
excluem, na fase de coleta de dados, ainterao entre os dois mtodos reduzida, porm, na fase
da concluso, eles se complementam (NEVES, 1996, p. 2). O Arranjo Produtivo Local de
Confeces do Agreste Pernambucano constitudo por mais de 18.000 (dezoito mil)
empreendimentos segundo dados da ltima pesquisa realizada na regio pelo SEBRAE (2013).
Desse total, cerca de 7.000 (sete mil) localizam-se em Santa Cruz do Capibaribe, enquanto que os
11.000 empreendimentos restantes esto distribudos em outros 09 municpios. Por estas razes,
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os empreendimentos localizados nesta cidade constituem o universo desta pesquisa, uma vez que
representam 38,8% do universo. Dada a impossibilidade de investigar todos os sujeitos dessecampo, a amostra foi delimitada com base nos seguintes critrios:
foram investigados apenas os empreendimentos formais;
que desenvolvem a atividade principal do APL (confeces);
que tenham contratado e implementado servios de consultoria na empresa; e
estivessem com o cadastro ativo nas Associaes que representam os empresrios, a
saber: Cmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associao Comercial e Industrial de
Santa Cruz do Capibaribe (ASCAP).
Essas duas redes empresariais (CDL e ASCAP) tm forte atuao no municpio e
sempre organizam grupos para participarem de atividades que viabilizam a troca de
informaes e geram aprendizado. Com base nos critrios supracitados, chegou-se a uma
amostra de 51 empresrios que responderam o questionrio da pesquisa.
Os dados obtidos com a aplicao dos questionrios foram analisados e interpretados
com o auxlio de mtodos quantitativos (estatstica descritiva e inferencial) e expressos por
meio de tabelas e grficos. Alm da descrio e caracterizao dos dados coletados, foram
utilizadas tcnicas estatsticas inferenciais visando realizao de comparaes,
cruzamentos e combinaes de dados [...] com o objetivo de estabelecer concluses a respeito
das possveis relaes entre as variveis envolvidas (SOUZA; SOUZA; SILVA, 2002 apud
MOURA, 2008, p. 97). pertinente destacar que s foram realizados testes estatsticos com
as variveis diretamente relacionadas aos aspectos essenciais da pesquisa.
Em relao pesquisa qualitativa, perguntou-se aos empresrios que responderam o
questionrio, quem poderia participar de uma entrevista mais detalhada e seis se
disponibilizaram a contribuir com a pesquisa. Para Merriam (1998), a validao das
informaes em pesquisas qualitativas no exalta a quantidade dos dados, mas a riqueza de
detalhes que so obtidos conforme o propsito do estudo. Nos estudos qualitativos, que no
tm a generalizao como um de seus objetivos, prefervel utilizar amostras de pequeno
tamanho j que a inteno o entendimento do fenmeno em vez de sua amplitude.
Para a coleta dos dados, foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado. O uso
deste tipo de entrevistas permite um conjunto de questes previamente elaboradas,
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Figura 1 - Faturamento Mensal do Negcio
Fonte: Dados da Pesquisa (2010)
Quando questionados sobre a intensidade dos benefcios gerados pela atuao na rede,
constatou-se que o grau mdio predominou em todos os itens ultrapassando o percentual de
40%, enquanto que o critrio que obteve menor classificao refere-se cooperao na rede,
visto que mais de 30% classificaram como Ruim. pertinente destacar que 82,4% atriburamos
conceitos mdio e alto opo aprendizagem e inovao, conforme expresso na Figura 2:
Figura 2 - Intensidade das Vantagens de Atuar na Rede
Fonte: Dados da Pesquisa (2010)
Por outro lado, os empresrios tambm apresentaram sua percepo sobre as
desvantagens de atuao na rede (Figura 3), classificando como alta a concorrncia (72,5%) e
o oportunismo (47,1%). Os demais itens apresentaram grau de impacto mdio nas indstrias,
sendo que 54,9% dos entrevistados destacaram a existncia da centralizao de informaes,
47,1% chamaram ateno para a concentrao de poder e 33,3% para a rivalidade entre as
empresas no APL.
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Figura 3 - Intensidade das Desvantagens de Atuar na Rede
Fonte: Dados da Pesquisa (2010)
Em relao ao estabelecimento de parcerias para implementar inovaes nas empresas,
observou-se que 54,9% dos empresrios disseram que no acessaram os demais atores da rede
para buscar cooperaes inovativas, enquanto que 45,1% afirmaram ter feito parcerias
visando implementao de inovaes na empresa. Dentre os empresrios que revelaram
estabelecer parcerias para implementar inovaes na empresa, apresenta-se na Figura 4 os
principais atores da rede envolvidos, destacando que a interao com outras empresas do
grupo, com os centros de capacitao profissional e com as associaes atinge 25,3% cada.
pertinente observar que as empresas tambm estabelecem parcerias com seus fornecedores
(21,6%) e clientes (19,6%). Os ndices mais baixos ficaram com a interao com as
universidades ou faculdades (9,8%) e com os concorrentes (5,9%). A soma dos valores da
Figura 4 no cumulativa uma vez que a mesma empresa pode ter estabelecido cooperao
com mais de um ator da rede.
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Figura 4 - Tipos de Atores que as Empresas Estabeleceram Parcerias para CooperaoFonte: Dados da Pesquisa (2010)
Quando questionados sobre os objetivos desta cooperao, os empresrios destacaram
que a finalidade participar de treinamentos, realizar consultorias, desenvolver produtos,
fazer pesquisas e participar de projetos, conforme percentuais detalhado na Figura 5:
Figura 5 - Objetivo da Parceria Estabelecida com os Atores da Rede
Fonte: Dados da Pesquisa (2010)
Para verificar a relao existente entre as empresas que fazem parcerias e os tipos deinovao implementados, observou-se que a cooperao proporciona inovaes
organizacionais e processuais, uma vez que a correlao entre tais variveis foi
estatisticamente significativa (p
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Todas as finalidades de parcerias estabelecidas citadas pelos respondentes na Figura 5
constituem fontes importantes de inovao para as empresas. Entretanto, a pesquisa revelouque 70,6% dos empresrios encontram dificuldades para inovar. A falta de profissional
qualificado considerada o fator mais crtico, porm merece destaque a centralizao de
informaes em determinadas empresas. A soma dos percentuais de alto e mdio impacto da
centralizao totaliza 68,6%. Na Figura 6 esto ilustradas todas as dificuldades que os
empresrios encontram para inovar, destacando-se o ltimo aspecto uma vez que est
diretamente relacionado ao estudo do impacto do grau de embeddedness, podendo restringir a
inovao e o desenvolvimento do APL analisado.
Figura 6 - Grau de Importncia dos Fatores que Prejudicaram as Atividades Inovativas nas Empresas
Fonte: Dados da Pesquisa (2010)
Os relatos das entrevistas tambm ratificaram o problema da centralizao deinformaes. Os empresrios A, B, C e F disseram que apenas algumas empresas inovam no
APL e servem de espelho para as demais que, atravs de um processo mimtico e passivo,
comeam a buscar a melhoria para as suas atividades.
Existem algumas empresas inovadoras j conhecidas por todos, mas so poucos eisso provvel porque elas esto crescendo. E muitas pararam no tempo e esto alifazendo somente aquele feijo com arroz mesmo. O fato de estarmos atuando em umpolo deveria facilitar a inovao mas a realidade diferente, as empresas so muitofechadas, a interao e a cooperao ocorre entre grupos pequenos de empresrios
(Empresrio B, entrevista em 12.08.2010, grifos nossos).
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O depoimento supracitado apenas um exemplo para evidenciar que a inovao
concentra-se em pequenos grupos de empresas. Diante do exposto, constata-se que no hequidade na disseminao dos benefcios na rede e que esta acaba consolidando uma estrutura
de excluso no APL em estudo, visto que apenas uma minoria aproveita as vantagens geradas
no ambiente. Percebe-se que maquiar a lgica instrumental atravs de uma nova roupagem
no passa de um simulacro para a perpetuao de condutas hegemnicas.
5. Consideraes Finais
Dentre os principais resultados, constatou-se que um pequeno grupo de empresrios
aproveita os benefcios proporcionados pelo APL e, diante de um grau elevado de
embeddedness, existe uma pseudoinovao, visto que a maioria dos atores (laos fracos) da rede
so marginalizados desses benefcios. imprescindvel destacar que, apesar de foras
mimticas influenciarem a inovao (DIMAGGIO e POWELL, 1977), em uma rede onde os
benefcios ficam concentrados em pequenos grupos, o mimetismo constitui uma falsa fonte de
inovao, uma vez que o grau de imerso social (embeddedness) torna as informaes
redundantes para esses atores privilegiados, ao mesmo tempo em que exclui a maiori a (laosfracos) que impulsiona s prticas inovativas (GRANOVETTER, 1985; BURT, 1992; UZZI,
1996; BRITTO, 2008).
Quando questionados sobre a intensidade dos benefcios gerados pela atuao na rede,
constatou-se que o grau mdio predominou em todos os itens (reduo de custos, ganhos de
escala, proviso de solues) ultrapassando o percentual de 40%. Tais fatores constituem
aspectos puramente instrumentais, cujos resultados positivos do crescimento econmico
passam a maquiar as principais demandas sociais da rede (CURRS, 2009 apud
POBLACIN et al., 2009; GRAMSCI, 1980 apudMARTINS, 2008).
Os empresrios tambm apresentaram sua percepo sobre as desvantagens de atuao
na rede, classificando como alta a concorrncia (72,5%) e o oportunismo (47,1%). Os demais
itens apresentaram grau de impacto mdio nas indstrias, sendo que 54,9% dos entrevistados
destacaram a existncia da centralizao de informaes, 47,1% chamaram ateno para a
concentrao de poder e 33,3% para a rivalidade entre as empresas no APL. Percebe-se que
estes fatores inibem a construo da confiana entre os autores e, segundo Vosselman (2010),
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apesar de o ambiente de redes ser permeado por transaes econmicas calculistas e regidas
pelo autointeresse, a confiana constitui um elemento fundamental sustentabilidade dosaglomerados. Esses resultados no so positivos, especialmente porque a centralizao de
informaes e a concentrao de poder favorecem o embeddedness, limitando a disseminao
de prticas inovadoras para todos os atores da rede, dado que o grau de mudana implementado
nas organizaes negativamente correlacionado ao grau de imerso social na rede
(GRANOVETTER, 1985; BURT, 1992; KRACKHARDT, 1992; SIMSEK, LUBATKIN e
FLOYD, 1995; UZZI, 1996; BRITTO, 2008).
Tais resultados revelaram que, alm dos benefcios serem predominantementeeconmicos no APL, ainda so direcionados a poucos atores, ou seja, os principais
destinatrios dessas vantagens so aqueles mais conscientes das vantagens competitivas da
rede (PORTER, 1998; AMATO NETO, 2008) e que, na pesquisa de Souza (2008), os sujeitos
desses benefcios concentram-se nas associaes locais. Diante do exposto, conclui-se que na
unidade analisada, o grau de embeddednessimpacta e inibe o desenvolvimento sustentvel de
toda a rede, proporcionando, a uma minoria, o acesso s informaes e ao poder. vlido
destacar que o artigo revela as percepes dos sujeitos de determinado contexto,caracterizando-se como um estudo de caso cujos resultados no tm a pretenso de serem
generalizados, porm podem suscitar pesquisas posteriores em outras redes.
6. Referncias
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