abordagem saÚde renovada
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ABORDAGEM “SAÚDE BIOLÓGICA RENOVADA”(BASEADA NA APTIDÃO FÍSICA).
A abordagem “saúde biológica renovada” tem por paradigma a aptidão
física relacionada à saúde e por objetivos: informar, mudar atitudes e promover
a prática sistemática de exercícios. Embora a axiologia e a teleologia sejam
semelhantes ao modelo biológico confrontado na década de 1980 (promoção
da saúde por meio de atividades implementadas nas aulas de Educação
Física), alguns aspectos distinguem esta proposição mais recente, conferindo-
lhe um caráter renovado. Isto se deve principalmente à incorporação de certos
princípios à proposta, como o da não-exclusão (BRASIL, 1999). Deve-se
considerar, todavia, que a simples associação de tal princípio a essa proposta
não lhe confere propriamente um caráter não-excludente, mas uma intenção
explícita de não propiciar a exclusão dos alunos das aulas do componente
curricular; preocupação que diferencia essa abordagem de alguns dos
pressupostos de sua predecessora.
O objetivo de favorecer a autonomia no gerenciamento da aptidão física,
a partir desse princípio, deve abranger todos os alunos e não somente os mais
aptos. A partir desse pressuposto e considerando que modalidades esportivas
e jogos são aspectos fundamentais para o componente curricular, mas não
devem ser “substitutos” para o programa de Educação Física como um todo
(Nahas, 1997), as estratégias elegidas são atividades físicas não excludentes.
A ênfase passa a ser sobre as dimensões conceituais, atitudinais e
procedimentais vinculadas à aptidão física (BRASIL, 1999). Convém explicitar
que a denominação para a abordagem voltada à saúde “biológica renovada”,
adotada nesse trabalho, deve-se a analise crítica realizada por Darido (2001),
posteriormente renomeada abordagem “saúde renovada” (DARIDO, 2001), e
que o entendimento textual das concepções biologistas é derivado de uma
crítica apreendida em BETTI (1999).
Outro aspecto díspar nesta abordagem é que algumas competências
são sugeridas, direcionadas a alunos adolescentes, com a temática da Cultura
Corporal, além da aptidão física: refletir sobre informações específicas da
Cultura Corporal, discernindo e reinterpretando-as em bases científicas,
assumindo uma postura autônoma para a otimização da saúde; compreender
as diferentes manifestações da Cultura Corporal, reconhecendo e valorizando
as diferenças de desempenho, linguagem e expressão; demonstrar autonomia
na elaboração de atividades corporais, assim como capacidade para discutir e
modificar regras, reunindo elementos de várias manifestações de movimento e
estabelecendo uma melhor utilização dos conhecimentos elaborados sobre a
Cultura Corporal, notadamente com uma preocupação acerca da manutenção
e da promoção da saúde (BRASIL, 1999).
De acordo com os PCNs para o Ensino Médio, a Educação Física
Escolar está inserida na área denominada “Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias”, assim como as artes e as línguas portuguesa e estrangeira. Os
mesmos autores desse documento (BRASIL, 1999), em outra obra (MATTOS;
NEIRA, 2000), apresentam o caráter renovado da proposta, justificando-o pela
substituição da concepção esportiva sustentada na repetição gestual
mecanicamente. Nesse trabalho, que inclui sugestões para a prática docente
nos ciclos finais do Ensino Fundamental, além do Ensino Médio, a abordagem
da Educação Física parece voltada à formação para a cidadania e para as
relações trabalhistas.
Entretanto, ao se tratar a Educação Física como uma linguagem deve-se
considerar possíveis discrepâncias entre as áreas da Cultura Corporal de
Movimento e da Aptidão Física Relacionada à Saúde, pois podem gerar certa
confusão pela dualidade de propostas que parecem estar apenas justapostas
nos documentos do Ensino Médio (BRASIL, 1999). Estritamente quanto à
aptidão física, propõe-se que a Educação Física Escolar deveria: propiciar a
elaboração de conhecimentos sobre atividade física para o bem estar e a
saúde; estimular atitudes positivas em relação aos exercícios físicos;
proporcionar oportunidades para a escolha e a prática regular de atividades
que possam ser continuadas após os anos escolares; promover independência
(auto-avaliação, escolha de atividades e de programas, por exemplo) em
atividades físicas relacionadas à saúde (NAHAS, 1997).
Os testes de aptidão física usuais são os instrumentos recomendados
para a avaliação no meio escolar (NAHAS, 2001). Contudo, seu uso deve
enfatizar todo o processo, requisitando aos alunos uma auto-avaliação que
favoreça a auto-estima em relação ao progresso individual. Para o professor, a
avaliação é tida como referencial, mas também voltada a inferências acerca do
progresso individual dos alunos. Já nas manifestações expressivas corporais
características da cultura corporal de movimento, e suas derivações em
“conteúdos” compreendidos como sinônimo de “conhecimento” (SOARES et
alii, 1992), estão incluídas temáticas sociais similares aos temas transversais
propostos para a Educação Básica nos PCNs. Mas a apropriação dos
conteúdos da Cultura Corporal pela abordagem biológica renovada (BRASIL,
1999; MATTOS; NEIRA, 2000; NAHAS, 2001) parece tratá-los como meros
elementos mediadores da melhoria da aptidão física e, conseqüentemente, da
qualidade de vida dos alunos.
Seria necessário, nesse sentido, que as diferentes linguagens que
podem constituir discursos coerentes nas aulas do componente curricular
Educação Física fossem analisadas criticamente a fim de averiguar suas
limitações ou desacordos, o que não foi feito em quaisquer das obras
verificadas. Parece, assim, que a ordenação dessas diferentes propostas pode
ser vista como complementar (TANI, 1998), sem no entanto ser necessário
aferir as incoerências ou desnivelamentos presentes em discursos que se
seguem no tempo e se modificam mutuamente (FOUCAULT, 2000).
Ao comparar a abordagem biológica renovada às proposições
biologistas anteriores, e a algumas contemporâneas cujo caráter “renovado”
não é tão notório (FARINATTI, 1999; GUEDES; GUEDES, 1997, 2001), pode-
se perceber que a teoria pedagógica que a subsidia permanece a mesma,
liberal. A tendência tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como
função a preparação de “recursos humanos” mais qualificados (LIBÂNEO,
1985). Pode-se analisar tal asserção sob a ótica sistêmica (Demo apud
LOUREIRO; DELLA FONTE, 1996), inferindo que o uso das técnicas
aprendidas no sistema escolar se daria no supersistema trabalhista. Assim, seu
interesse imediato é o de produzir indivíduos competentes para o mercado de
trabalho, aliás, algo um tanto explícito nos Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio: “(...) área de grande interesse social e mercado de
trabalho promissor; (...) restituição das cargas de trabalho profissional”
(BRASIL, 1999). O utilitarismo e a propedêutica notórios nesses excertos dos
documentos do Ensino Médio não são encontrados nos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental – área de Educação Física
– de forma acintosa, mas a tendência pela “terceirização” das aulas de
Educação Física (RESENDE, 1994) pode ser indício de uma preocupação
análoga também abrangendo os ciclos anteriores da Educação Básica.
PRINCÍPIOS:
NÃO EXCLUSÃO;
APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE;
INFORMAR;
MUDAR ATITUDES;
PROMOVER PRÁTICAS SISTEMÁTICAS DE EXERCÍCIOS.
AUTONOMIA NA GESTÃO DA ATIVIDADE FÍSICA;
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – NÃO SÓ ESPORTE E JOGOS;
TESTES DE AVALIAÇÃO FÍSICA.