a logística da fórmula 1

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A logística da Fórmula 1 Escrito Por: Leandro Callegari Coelho. Leandro C. Coelho, Ph.D., é Professor de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos na Université Laval, Québec, Canadá. Do site www.logisticadescomplicada.com Você que já assistiu a uma corrida de Fórmula 1, já parou para pensar no desafio logístico de levar todos os carros, equipamentos e pessoas ao redor do mundo? Neste post vou mostrar um pouco desse trabalho, e tentar mostrar algumas informações curiosas desse esporte. Em 2010, com o calendário da F1 apontando 19 corridas, as equipes viajarão por 3 continentes e mais de 160 mil km! Os equipamentos transportados por via aérea vão em 120 baús e contêineres, contendo mais de 10 mil peças diferentes e 32 toneladas de equipamentos por equipe para as corridas fora da Europa (este ano existem 12 equipes competindo). Boa parte deles usam um avião cargueiro 747 fretado. Algumas peças menos críticas viajam por navios, aproximadamente 10 toneladas de peças. Se algum problema ocorrer, as peças podem ser despachadas da Europa para qualquer circuito do mundo, e serão entregues pela empresa contratada em 24h. Na sequência de corridas na Europa as equipes levam em torno de 300 toneladas de equipamento, incluindo um completo Centro de Comunicações, sempre pelo modal rodoviário, usando uma frota de até 24 caminhões. As viagens para fora da Europa são mais complexas (Oriente médio, Ásia e América do Norte), e as equipes limitam-se a

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Page 1: A Logística Da Fórmula 1

A logística da Fórmula 1

Escrito Por: Leandro Callegari Coelho. Leandro C. Coelho, Ph.D., é Professor de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos na Université Laval, Québec, Canadá. Do site www.logisticadescomplicada.com

Você que já assistiu a uma corrida de Fórmula 1, já parou para pensar no desafio logístico de levar todos os carros, equipamentos e pessoas ao redor do mundo?

Neste post vou mostrar um pouco desse trabalho, e tentar mostrar algumas informações curiosas desse esporte.

Em 2010, com o calendário da F1 apontando 19 corridas, as equipes viajarão por 3 continentes e mais de 160 mil km!

Os equipamentos transportados por via aérea vão em 120 baús e contêineres, contendo mais de 10 mil peças diferentes e 32 toneladas de equipamentos por equipe para as corridas fora da Europa (este ano existem 12 equipes competindo). Boa parte deles usam um avião cargueiro 747 fretado. Algumas peças menos críticas viajam por navios, aproximadamente 10 toneladas de peças. Se algum problema ocorrer, as peças podem ser despachadas da Europa para qualquer circuito do mundo, e serão entregues pela empresa contratada em 24h.

Na sequência de corridas na Europa as equipes levam em torno de 300 toneladas de equipamento, incluindo um completo Centro de Comunicações, sempre pelo modal rodoviário, usando uma frota de até 24 caminhões.

As viagens para fora da Europa são mais complexas (Oriente médio, Ásia e América do Norte), e as equipes limitam-se a aproximadamente 30 toneladas via aviões. Isto requer embalagens extremamente bem pensadas!

O Centro de Comunicação, mesmo nas corridas fora da Europa, precisa ter uma conexão segura com a fábrica, enviando dados de telemetria em tempo real, para que os engenheiros possam ajustar o carro durante a corrida.

As peças essenciais, como os carros, motores e algumas peças de reposição são transportadas em um avião fretado pela companhia que gerencia a Fórmula 1 (FOM), um cargueiro 747. Ela leva as peças para os circuitos a partir de Londres (Inglaterra) ou Munique (Alemanha).

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Depois de uma corrida, se houver tempo hábil as peças são levadas de volta para as fábricas das equipes, caso contrário elas voam diretamente para o próximo destino, visto que algumas corridas são feitas em finais de semana consecutivos.

Para dar uma ideia da quantidade de equipamentos, o checklist da equipe Williams tem mais de 80 páginas, incluindo desde os carros, 3mil garrafinhas d’água para equipe e convidados e até guardanapos! Como a maioria das equipes, a Williams leva 3 carros para cada corrida e meia dúzia de motores, caso uma eventualidade aconteça. Cada peça tem um local específico, pois a equipe não pode perder tempo procurando determinada ferramenta. Em uma corrida típica a Williams leva 44 computadores e 100 rádios comunicadores. Só para ligar os computadores em rede são usados meio quilômetro de cabos de dados e 300 km de cabos de força.

No entanto, não apenas de peças e carros são feitas as corridas. Elas são feitas principalmente pelos mecânicos, chefes de equipe e pilotos. Nas corridas europeias as equipes contam com mais de 130 pessoas em cada GP, enquanto que nas provas fora da Europa este número é reduzido para aproximadamente 90 pessoas.

Garantir que todos terão seus uniformes é outro desafio. São mais de 200 pessoas que se revezam nessas viagens, e cada uma delas precisa de algum uniforme específico ou diferente.

No início da temporada é prevista a produção de mais de 600 camisetas, todas personalizadas com o nome do dono. Além disso, cada piloto usa em torno de 25 macacões no ano, além das roupas dos patrocinadores para eventos. Mecânicos que trabalham nos pit stops usam em torno de 50 macacões a prova de fogo.

Antes de cada viagem, cada pessoa recebe seu kit, para que a equipe tenha uma identidade visual fixa.

Garantir que todos possam chegar ao destino também é complexo: num ano são mais de 7000 viagens para organizar, comprando passagens aéreas, hotéis e vistos. Nem todos viajam juntos, alguns chegam alguns dias antes dos outros, e é preciso coordenar eficientemente as necessidades de vistos para diferentes nacionalidades.

Quando se viaja tanto, a obtenção do visto pode tornar-se um desafio: para a China, por exemplo, o visto deve ser solicitado com antecedência máxima de 2 meses, e é um processo que dura 3 dias. Obter os passaportes de 90 ou 100 pessoas disponíveis por 3 dias sem que ninguém esteja viajando neste período é só mais um desafio logístico enfrentado pelos organizadores.

Após ler estes dados aposto que você não verá a próxima corrida de F1 do mesmo jeito!

ATUALIZAÇÕES COM DADOS DE 2011 (fonte: Jornal Folha de São Paulo, edição de 27/mar/11, Caderno de Esportes)

450 litros de leite são levados pelas equipes para cada etapa do Mundial.

8.500 xícaras de café são consumidas por corrida.

135 funcionários da McLaren viajam para cada corrida europeia, enquanto nos GPs fora do continente este número caiu para 95.

Cada piloto usa por temporada:

– 8 a 10 macacões;

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– 6 sapatilhas;

– 6 capacetes;

– 16 pares de luvas

216 carros são alugados por temporada

15 mil refeições são feitas por ano nos circuitos, em média, apenas para os membros de cada equipe.

3.687 km é a distância que cada piloto deve guiar neste ano entre os hotéis e os circuitos.

125 noites em hotéis passam os pilotos, o que equivale a mais de um terço do ano.

2.880 bilhetes aéreos são comprados por temporada.

1.000 peças sobressalentes são levadas pelas equipes para cada GP.

1.800 garrafas de água são consumidas a cada corrida.

16o pedidos de visto em média, são feitos por ano por cada time.

29 toneladas de equipamentos em oito containers são levadas, em média, por cada equipe para cada etapa do campeonato.

600 camisetas personalizadas e com os nomes de todos os membros da McLaren são produzidas no início da temporada.

25 Gigabytes de informação são enviados de cada circuito para a sede das equipes, o que equivale a 35 CDs.

4.800 quartos de hotel são usados, em média, por cada equipe a cada ano.

146 horas ou pouco mais de 6 dias ininterruptos, é quanto viajam, aproximadamente as equipes durante o ano.

73.000 quilômetros mede o percurso de viagem para as 19 provas, o que equivale aproximadamente a pouco menos de 2 voltas ao mundo.

Logística nos esportes (Fórmula 1 – Ferrari)

Motivado pelo sucesso da matéria sobre a Logística da Fórmula 1, hoje vou colocar mais informações sobre a F1, especificamente sobre a equipe Ferrari, por onde já passaram Rubinho Barrichello, Michael Schumacher e onde corre atualmente o brasileiro Felipe Massa.

Você sabe dizer, por exemplo, se a equipe viaja de volta para a Europa depois de uma corrida na Ásia, sabendo que haverá outra corrida naquele continente em 15 dias? Nesta matéria você descobrirá o que faz uma equipe de ponta como a Ferrari. Leia tudo a seguir:

A Fórmula 1 visitou no último final de semana a Coreia do Sul, numa estreia absoluta, visto que é a primeira vez que o país recebe uma corrida da F1 e o circuito teve obras até as vésperas da chegada dos carros.

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A cidade mais próxima, Yeongam, nunca recebeu um evento internacional desta envergadura, o que fez a busca por acomodações para pilotos e equipes ainda mais complexa.

Na equipe Ferrari, o responsável por manter toda a logística em perfeito estado é Massimo Rivola, que trabalha em Maranello (sede da fábrica, na Itália) há quase dois anos, depois de passar onze anos trabalhando na Minardi e Toro Rosso (equipes menores de F1): “Trabalhar para a Ferrari é completamente diferente do que eu fazia com a Minardi/Toro Rosso. Aprendi muito nessas equipes pois quando se trabalha para equipes pequenas, aprende-se a lidar com muitas situações distintas. Aqui a organização é muito diferente, porque lá existiam muito menos pessoas, mas há uma diferença chave. Lá sonhava vencer e agora na Ferrari, eu continuo a sonhar vencer, com a diferença que tenho mesmo que o fazer! Isso requer uma abordagem diferente e há muita pressão, mas esse é um tipo de pressão que todos querem ter. “

A fim de limitar as possíveis surpresas desagradáveis ao mínimo, quando é o caso de um novo Grande Prêmio, a Ferrari envia uma equipe de logística para ‘espiar’ o novo circuito, o local, as cidades mais próximas, hotéis e transporte terrestres. Além destes elementos, que são vitais para que a equipe opere com o mínimo de esforço. Há também a informação relacionada com o layout e espaço dos boxes, as facilidades oferecidas em termos de pontos de alimentação, espaço para escritórios e assim por diante e, finalmente e mais importante, existe o lado relativo às características técnicas da pista e da própria corrida em si. ”

“Assim que sabemos que uma nova pista foi confirmada no calendário, começamos a pedir à FIA o máximo de informações possível, para que possamos construir os nossos programas de simulação.”, diz Rivola. “O nível de simulação de hoje é tal que podemos conseguir um bom conhecimento a partir somente deste trabalho. Como diretor desportivo, informações sobre o pit lane são muito importantes, bem como a dimensão da pista, que impacto esta tem na segurança e fiabilidade da mecânica durante um evento. Garantir que se pode trabalhar num ambiente seguro é uma das minhas principais preocupações. ”

“A zona do pit lane também levanta interesse, uma vez que ela terá impacto em como se vai ‘lançar’ o carro de volta para a corrida depois de um pit stop, assim como a distância entre as equipes. Nunca é fácil obter essa informação, pois, embora os boxes e pit lane sejam muitas vezes as primeiras coisas a serem construídas num circuito novo, os detalhes finais, como as linhas brancas delimitadoras, são um dos últimos elementos a serem concluídos. Quando chegamos à pista, estou certo de que vamos encontrar algumas pequenas diferenças entre a nossa simulação, e a real. ”

“A fim de reduzir tempos de viagem desnecessários e cansativos, optamos por manter boa parte dos mecânicos e outros funcionários operacionais na Ásia após o GP do Japão”, que foi a corrida anterior à da Coréia, com diferença de 15 dias. Rivola continua: “São eles, geralmente, os últimos a sair de um circuito e também são os primeiros a chegar ao local seguinte para construir as garagens e começar tudo de novo. Por isso eles não viajam todos para a Europa, apenas para voltar para a Ásia, alguns dias depois. No entanto, os engenheiros voltaram todos para Maranello, depois do fim de semana de Suzuka para continuar o trabalho de desenvolvimento do F10 e para realizar o trabalho de simulação para esta nova pista. ”, revela Rivola.

Para a corrida inaugural da Coréia do Sul, outros aspectos precisaram passar por ajustes. Os jornalistas que cobrem todas as corridas, que tem suas reservas de hotéis feitas pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), tiveram uma surpresa. Como a pequena cidade nunca sediou um evento deste porte, não tinha rede hoteleira para atender à demanda. A cidade portuária possuía, por outro lado, uma grande quantidade de motéis (como é típico dessas regiões portuárias), e muitos jornalistas foram acomodados nestes

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motéis. Alguns reclamaram que não conseguiam dormir, ao mesmo tempo em que se divertiam vendo todo tipo de aparato para a hora H.

Adaptado de Autosport Portugal