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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A. EXAME DE URINA TIPO I: FREQUÊNCIA PERCENTUAL DE AMOSTRAS QUE SUGEREM INFECÇÃO URINÁRIA Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo - 13.278-181 [email protected] [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009 Anne Elisa Amorim Profa. Ms. Jaqueline Bento Pereira Pacheco (orientadora) Profa. Ms. Thaís Teixeira Fernandes (co-orientadora) Curso: Biomedicina FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. Trabalho apresentado em VI Seminário de Iniciação Cientifica, Universidade Estadual de Goiás - UEG Trabalho apresentado no 8º. Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC – SEMESP em novembro de 2008 Trabalho premiado com o 1º. lugar na área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde no 2º. Seminário da Produção Docente e Discente da Anhanguera Educacional em dezembro de 2008. RESUMO Na detecção das infecções do trato urinário o exame de urina tipo I representa um elemento indispensável e é amplamente utilizado na prática médica. Como as infecções do trato urinário podem levar a complicações importantes, o diagnóstico precoce é de extrema importância e o conhecimento da frequência percentual que acomete determinada população promove discussões mediante dados obtidos por estudos experimentais. Dessa forma, este trabalho tem como principais objetivos estabelecer a frequência percentual de amostras que sugerem infecção urinária no grupo estudado por meio do exame de urina tipo I e verificar a distribuição em relação ao sexo e idade dos pacientes. Foram analisadas pela realização do exame de urina tipo I 270 amostras colhidas no Laboratório Central de Análises e Pesquisas Clínicas, Anápolis-GO entre os meses de março e maio de 2008, sendo que 137 apresentaram resultados normais e 133 resultados alterados. Destas 133 amostras alteradas 19% sugerem infecção urinária. As outras 83 amostras apresentaram resultados associados com outras indicações que incluem leucocitúria sem bacteriúria, bacteriúria, proteinúria, glicosúria e hematúria. O exame de urina tipo I é, sem dúvida, um excelente método que contribui para o diagnóstico de infecções urinárias. A freqüência percentual de 19% obtida nesta pesquisa é um resultado considerável que traduz a realidade epidemiológica e que ilustra o quanto é importante a utilização de métodos rápidos, com um custo reduzido e que auxiliam o clínico assistente. Palavras-Chave: Exame de urina tipo I; Frequência percentual; Infecção urinária ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008

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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.

EXAME DE URINA TIPO I: FREQUÊNCIA PERCENTUAL DE AMOSTRAS QUE SUGEREM INFECÇÃO URINÁRIA

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo - 13.278-181

[email protected] [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e

Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009

Anne Elisa Amorim Profa. Ms. Jaqueline Bento Pereira Pacheco (orientadora) Profa. Ms. Thaís Teixeira Fernandes (co-orientadora) Curso: Biomedicina FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.

Trabalho apresentado em VI Seminário de Iniciação Cientifica, Universidade Estadual de Goiás - UEG

Trabalho apresentado no 8º. Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC – SEMESP em novembro de 2008

Trabalho premiado com o 1º. lugar na área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde no 2º. Seminário da Produção Docente e Discente da Anhanguera Educacional em dezembro de 2008.

RESUMO

Na detecção das infecções do trato urinário o exame de urina tipo I representa um elemento indispensável e é amplamente utilizado na prática médica. Como as infecções do trato urinário podem levar a complicações importantes, o diagnóstico precoce é de extrema importância e o conhecimento da frequência percentual que acomete determinada população promove discussões mediante dados obtidos por estudos experimentais. Dessa forma, este trabalho tem como principais objetivos estabelecer a frequência percentual de amostras que sugerem infecção urinária no grupo estudado por meio do exame de urina tipo I e verificar a distribuição em relação ao sexo e idade dos pacientes. Foram analisadas pela realização do exame de urina tipo I 270 amostras colhidas no Laboratório Central de Análises e Pesquisas Clínicas, Anápolis-GO entre os meses de março e maio de 2008, sendo que 137 apresentaram resultados normais e 133 resultados alterados. Destas 133 amostras alteradas 19% sugerem infecção urinária. As outras 83 amostras apresentaram resultados associados com outras indicações que incluem leucocitúria sem bacteriúria, bacteriúria, proteinúria, glicosúria e hematúria. O exame de urina tipo I é, sem dúvida, um excelente método que contribui para o diagnóstico de infecções urinárias. A freqüência percentual de 19% obtida nesta pesquisa é um resultado considerável que traduz a realidade epidemiológica e que ilustra o quanto é importante a utilização de métodos rápidos, com um custo reduzido e que auxiliam o clínico assistente.

Palavras-Chave: Exame de urina tipo I; Frequência percentual; Infecção urinária

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008

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1. INTRODUÇÃO

A medicina laboratorial é um campo que tem grande importância e a análise da urina,

pode-se dizer, foi o início de tudo. Os médicos da antiguidade frequentemente eram

representados por ilustrações nas quais examinavam frascos de urina, sendo que muitos

desses médicos não tinham contato com o paciente, apenas com a amostra de urina.

Apesar de não existirem técnicas elaboradas de diagnóstico laboratorial, a

observação de aspectos como cor, odor e volume traduziam informações de grande

relevância. No entanto, as técnicas atuais que permitem a análise da urina evoluíram

bastante, e envolvem não somente o exame físico, mas também o estudo químico e

microscópico do sedimento urinário (STRASINGER, 1991, p. 1).

A invasão e multiplicação bacteriana nos tecidos do trato urinário, desde a uretra

até os rins é o padrão que define a Infecção do Trato Urinário (ITU). A ITU pode ocorrer

em qualquer idade e em ambos os sexos, embora seja mais encontrada no sexo feminino.

Além disso, a ITU é uma das infecções mais comuns na população, sendo que uma série de

fatores pode influenciar na origem ou não deste tipo de patologia. Tais fatores incluem os

biológicos e comportamentais do hospedeiro bem como as características infectantes dos

uropatógenos (HASENACK et al., 2004).

Existe um fator agravante em relação às infecções do trato urinário, pois além de

serem bastante comuns podem provocar complicações graves como insuficiência renal e

septicemia (SILVA, 2005). Além disso, características como idade do paciente e estado

físico geral podem influenciar no prognóstico (YOSHIDA et al., 2006).

A ITU acomete no primeiro ano de vida preferencialmente o sexo masculino

devido ao maior número de malformações congênitas, principalmente válvula da uretra

posterior. No entanto, durante toda a infância as meninas são mais acometidas pelas ITU.

Na fase adulta o sexo feminino ainda é o mais atingido e a incidência aumenta, sendo que

a atividade sexual, a gestação e a menopausa são fatores que estão intimamente

relacionados (HEILBERG; SCHOR, 2003). Outras características estão associadas com

predominância das ITU no sexo feminino. Na mulher, além da uretra mais curta, a

proximidade do ânus com a uretra e o vestíbulo vaginal viabiliza a colonização destes

pelos principais agentes causadores de ITU, as enterobactérias (VIEIRA NETO, 2003). O

fato das mulheres estarem mais predispostas às ITU também pode estar associado a outros

fatores como o uso de diafragmas com espermaticida, alteração do pH vaginal que pode

ocorrer com a alteração da microbiota pelo uso de antibióticos e pelo hipoestrogenismo

que, freqüentemente, ocorre na menopausa (VIEIRA NETO, 2003; HASENACK et al.,

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2004). Durante a gestação a ITU representa uma das doenças infecciosas mais comuns

devido às transformações anatômicas e fisiológicas que ocorrem no trato urinário nesse

período (DUARTE et al., 2002).

A infecção do trato urinário pode acometer um único local como a uretra,

próstata, bexiga ou rins, embora mais de um local possa estar infectado. Na mulher os

locais mais atingidos são uretra e bexiga. Alguns outros fatores que predispõem com

maior frequência à mulher às infecções urinárias são: bexiga maior, podendo armazenar

urina por mais tempo e ausência de propriedades antimicrobianas (CAMARGO et al.,

2001).

O diagnóstico clínico, muitas vezes, é baseado em sinais e sintomas que incluem

disúria, freqüência miccional, dor lombar e/ou suprapúbica, febre etc. No entanto, o

paciente pode se apresentar assintomático e o diagnóstico definitivo nos dois casos deve

envolver as análises clínica e laboratorial (SILVA PIRES, et al., 2007).

A classificação das ITU pode ser disposta da seguinte forma: a ITU complicada

que é influenciada por fatores predisponentes do indivíduo como anormalidades

anatômicas, fisiológicas ou procedimentos invasivos como o uso de catéter vesical,

cirurgias no trato urinário etc e a ITU não complicada que acomete, principalmente,

mulheres jovens e sexualmente ativas que possuem a estrutura e a função do trato urinário

normais (HÖRNER et al., 2006).

Os principais agentes causadores de ITU são os microrganismos Gram-negativos

entéricos, principalmente Escherichia coli, seguida dos demais Gram-negativos como a

Klebsiella, Enterobacter, Actinobacter, Proteus, Psedomonas etc. Em mulheres jovens

sexualmente ativas o Staphylococcus saprophyticus é associado como um dos causadores

de ITU não complicada (KAZMIRCZAK; GIOVELLI; GOULART, 2005).

A caracterização de uma infecção do trato urinário deve ser baseada em avaliação

clínica e laboratorial. Os testes laboratoriais mais utilizados envolvem a urinálise,

representada pelo exame de urina tipo I e a urocultura. Esta última tem grande

importância, pois além de indicar a ocorrência de multiplicação bacteriana no trato

urinário, também permite a identificação do microrganismo causador e o estudo da

sensibilidade frente aos antibióticos (SATO et al., 2005).

O exame de urina tipo I, quando realizado de maneira correta, é um ótimo

auxiliar no que diz respeito ao diagnóstico da infecção urinária sendo conhecido como um

teste de triagem e é uma avaliação de rotina. É um exame que envolve um custo baixo, a

amostra é de fácil obtenção e a execução é bastante simples. Além disso, permite a

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detecção de inúmeras patologias de grande importância que incluem doenças renais e do

sistema genito-urinário (COSTA et al., 2006).

O diagnóstico das ITU não complicadas em mulheres adultas na rotina dos

consultórios médicos ambulatoriais, geralmente, é realizado através de anamnese, já que a

maioria das ITU é acompanhada por sintomas como disúria e polaciúria. No entanto, é

importante ressaltar que nem sempre tais sintomas correspondem à infecção suspeitada. A

urinálise (exame de urina tipo I) de rotina envolve a avaliação macroscópica da amostra

(exame físico), a análise química obtida através de fita reagente e o exame microscópico.

Este último permite verificar a presença de hematúria, piúria, cilindrúria, bacteriúria e

cristalúria no sedimento urinário centrifugado e tem grande importância, pois auxilia o

clínico na conduta a ser adotada (HASENACK et al., 2004).

O exame macroscópico ou físico envolve a análise de aspectos como volume, cor,

aspecto, depósito e densidade. Em relação ao exame químico características como pH,

proteínas, glicose, corpos cetônicos, hemoglobina, urobilinogênio e nitrito são observadas.

Já o exame microscópico, que é de extrema importância, pode fornecer informações

importantes em relação a estruturas como leucócitos, hemácias, células epiteliais, cilindros,

filamentos de muco, cristais, sais amorfos, leveduras, espermatozóides, parasitas e

bactérias (QUEIROZ et al, 2000). O resultado da análise física pode explicar ou confirmar

os resultados dos exames químico e microscópico. O emprego de tiras reativas para a

realização da análise bioquímica da urina constitui uma forma eficiente, prática,

econômica e rápida para a caracterização dos elementos a serem investigados. O exame

microscópico do sedimento urinário é um dos principais parâmetros para a caracterização

e prognóstico de infecções do trato urinário (COSTA et al., 2006). Dessa forma, um

diagnóstico fidedigno com informações que possam auxiliar o clínico assistente na

implantação da melhor conduta é fator primordial para que complicações futuras sejam

evitadas.

Este artigo está organizado em seções. A primeira seção é essa introdução, a seção

2 apresenta os objetivos da pesquisa. A metodologia utilizada na realização da pesquisa é

apresentada na seção 3. As informações relacionadas ao desenvolvimento da pesquisa

como a revisão de literatura, o problema abordado, a solução proposta e implementada

são mostradas na seção 4. A forma de abordar os experimentos, os resultados e as

discussões são descritos na seção 5. Por fim, as considerações finais são apresentadas na

seção 6.

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2. OBJETIVO

Verificar a frequência percentual de amostras sugestivas de infecção urinária pela

realização do exame de urina tipo I em pacientes atendidos no Laboratório Central de

Análises e Pesquisas Clínicas, Anápolis-GO;

Verificar a distribuição de amostras sugestivas de infecção urinária em relação ao

sexo e idade dos pacientes.

3. METODOLOGIA

Este trabalho envolveu a análise de resultados de exame de urina tipo I de pacientes

atendidos no Laboratório Central de Análises e Pesquisas Clínicas, Anápolis-GO no

período de março a maio de 2008. Para definir o agente etiológico da infecção a técnica

ideal é a urocultura. Porém, tal método exige um tempo maior para sua execução e seu

custo é mais elevado. Sendo assim, optou-se neste trabalho por identificar amostras

sugestivas de infecção urinária através da realização do exame de urina tipo I. Foram

considerados para análise 270 pacientes, sendo 217 adultos (162 do sexo feminino e 55 do

sexo masculino) e 53 crianças (28 do sexo feminino e 25 do sexo masculino). A faixa etária

é de 1 mês a 99 anos.

Seguindo orientação do próprio laboratório as amostras foram obtidas, na grande

maioria dos casos, através da coleta da primeira urina da manhã, em recipientes

esterilizados, utilizando-se o jato médio de micção espontânea. Para a coleta de amostras

em bebês, a urina foi acondicionada em coletores apropriados devido à dificuldade de

obtenção. O material biológico foi então encaminhado ao setor de uroanálise para

realização do exame de urina tipo I pelos profissionais do próprio laboratório seguindo

técnica semelhante à descrita na literatura (STRASINGER, 1991, p. 37-99).

Todas as amostras foram submetidas ao exame físico, ao exame químico (leitura

da fita reagente Dialab – Alka Tecnologia Diagnósticos) e ao exame microscópico.

A dosagem de proteínas foi realizada pelo método Microprote (kit Doles

reagentes) para amostras que apresentaram resultado positivo pelo uso da fita reagente.

Amostras que apresentaram valores de glicose alterados foram submetidas à pesquisa de

glicosúria na urina pela técnica de Benedict (Kit Doles Reagentes).

4. DESENVOLVIMENTO

A infecção urinária é uma patologia muito frequente e acomete pessoas de todas as idades.

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No entanto, o sexo masculino é o mais acometido no primeiro ano de vida devido

às malformações congênitas. Posteriormente, durante a infância e na vida adulta, o sexo

feminino é o mais atingido pelas ITU. Os fatores que tornam as mulheres mais susceptíveis

incluem: proximidade do ânus com a vagina e uretra, atividade sexual, uretra mais curta,

gestação e menopausa (BRANDINO et al., 2007).

Em relação ao diagnóstico laboratorial das ITU, o exame de urina tipo I constitui

um método importante para identificar a presença de leucócitos na urina, através da

avaliação do sedimento urinário (DACHI, 2000). É um dos principais exames que auxiliam

na orientação terapêutica de infecções do trato urinário, pois quando realizado

corretamente permite um diagnóstico preciso (CARVALHAL, ROCHA, MONTI, 2006).

Além disso, o exame de urina tipo I possibilita a detecção de bacteriúria e piúria que

sugerem infecção urinária. Entretanto, o diagnóstico final é baseado em fatores clínicos e

laboratoriais (STAMM, LUCIANO, PEREIRA, 1997). Dessa forma, o objetivo deste

trabalho foi verificar a frequência percentual de amostras sugestivas de infecção urinária

pela realização do exame de urina tipo I em pacientes atendidos no Laboratório Central de

Análises e Pesquisas Clínicas, Anápolis-GO.

O registro dos resultados de cada paciente foi realizado em formulário próprio.

Além disso, todos os pacientes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido

autorizando a participação na pesquisa. Para os pacientes com idade inferior a 18 anos os

responsáveis assinaram o termo de consentimento.

A técnica do exame de urina tipo I consiste nas avaliações física, química e

microscópica, sendo que a análise física avalia cor, odor, volume, aspecto, depósito e

densidade (utilização do refratômetro). A avaliação bioquímica baseia-se no emprego de

tiras reagentes que analisam aspectos como proteínas, glicose, hemoglobina, corpos

cetônicos, nitrito, urobilinogênio, bilirrubinas e pH. E por fim, a análise microscópica

permite a pesquisa de diversos elementos figurados como hemácias, leucócitos, células

epiteliais, muco, cristais e bactérias (STRASINGER, 1991, p.37-89)

A execução do exame químico compreendeu os seguintes passos: a tira reagente

foi mergulhada completamente em urina previamente homogeneizada; o excesso de urina

foi retirado à medida que se encostava a tira na borda do frasco. A tira foi então mantida

na posição horizontal para não ocorrer contaminação. A análise foi procedida de acordo

com os valores de referência descritos pelo fabricante da fita reagente (STRASINGER,

1991, p. 48).

Para a realização do exame microscópico as seguintes etapas foram seguidas:

Foram centrifugados 10 ml de urina em tubo cônico graduado durante 5 minutos com

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força de 1.500 rpm (rotações por minuto). Após a centrifugação, o sedimento urinário

(cerca de 1 ml) foi ressuspenso e 10 microlitros deste material transferidos para câmara de

Newbauer para análise ao microscópio óptico (STRASINGER, 1991, p. 76).

5. RESULTADOS

Foram obtidas amostras de 270 pacientes, sendo que 80 (30%) são do sexo masculino e 190

(70%) do sexo feminino (Figura 1). A análise destes 270 pacientes revelou que 50 (19%)

apresentaram amostras sugestivas de infecção urinária, sendo caracterizadas pela presença

de leucocitúria/bacteriúria ou leucocitúria/bacteriúria/nitrito (Figura 2). Em relação a

estes pacientes cujas amostras foram associadas com a presença de infecção urinária 12

(24%) são do sexo masculino e 38 (76%) do sexo feminino (Figura 3). Em relação à idade

destes pacientes, 27 (54%) tinham idade superior a 40 anos, 17 (34%) estavam na faixa

etária de 18 a 40 anos e 6 (12%) possuíam idade inferior a 18 anos (Figura 4). Os resultados

obtidos para todos os pacientes analisados foram agrupados em 10 categorias que incluem

resultados normal, sugestivo de infecção urinária, leucocitúria sem bacteriúria, bacteriúria,

proteinúria, hematúria, glicosúria, presença de leveduras, densidade baixa e densidade

alta (Tabela 1).

30% (80 pacientes)

70%(190 pacientes)

Sexo masculinoSexo feminino

Figura 1. Distribuição do total de amostras em relação ao sexo.

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19%(50 pacìentes)

81%(220 pacientes)

Amostras sugestivas deinfecção urináriaAmostras não sugestivasde infecção urinária

Figura 2. Frequência percentual de amostras sugestivas de infecção urinária.

76%(38 pacientes)

24% (12 pacientes)

sexo masculinosexo feminino

Figura 3. Distribuição de amostras sugestivas de infecção urinária em relação ao sexo.

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Figura 4. Frequência percentual de amostras sugestivas de infecção urinária em relação às idades

Tabela 1. Freqüência percentual dos resultados encontrados.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A infecção urinária é um processo patológico extremamente importante e deve ser

diagnosticada o quanto antes em virtude de possíveis complicações. A urocultura e o

antibiograma são fundamentais parar a identificação do agente etiológico e da melhor

medicação a ser administrada, respectivamente. No entanto, para que o clínico assistente

possa ter sucesso no tratamento empregado é fundamental conhecer a realidade do

paciente, principalmente no que diz respeito às condições sócio-econômicas. Sendo assim,

a escolha de métodos rápidos e de baixo custo é fundamental para atender a população de

média ou baixa renda e o exame de urina tipo I se aplica muito bem a esta situação.

Resultado N f(%) Normal 137 51 Sugestivo de infecção urinária 50 19 Leucocitúria sem bacteriúria 3 1 Bacteriúria 52 19 Proteinúria 3 1 Hematúria 8 3 Glicosúria 6 2 Presença de leveduras 2 1 Densidade baixa 6 2 Densidade alta 3 1 Total 270 100

54%

34%

12%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

< 18 18 a 40 > 40

Idade dos pacientes

Freq

uênc

ia p

erce

ntua

l de

amos

tras

que

su

gere

m IT

U

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Em relação às ITU é importante destacar que o exame de urina tipo I,

principalmente as análises bioquímica e microscópica, auxilia de maneira extremamente

significativa na determinação de infecções do trato urinário (MACHADO et al., 1995).

Nesta pesquisa, 19% da população pesquisada apresentaram amostras sugestivas

de infecção urinária. Além disso, 76% dos pacientes com amostras sugestivas de infecção

urinária pertencem ao sexo feminino. Este último dado é similar ao descrito na literatura

que descreve o sexo feminino como alvo preferencial das infecções do trato urinário

(BRANDINO et al., 2007).

Em virtude do sexo feminino ser o mais acometido desde a infância até a vida

adulta (KAZMIRCZAK; GIOVELLI; GOULART, 2005), a indicação para a realização de tal

exame foi maior entre as mulheres, o que perfez um total de 70%.

Segundo Heilberg e Schor (2003), a ocorrência de infecção urinária tanto em

homens quanto em mulheres aumenta com a idade. Vários fatores predispõem as pessoas

de maior idade às infecções urinárias. Dentre eles, pode-se incluir nos homens o

estreitamento uretral. Entre as mulheres, a menopausa é um dos fatores predisponentes.

Dessa forma, a pesquisa demonstrou que 54% das amostras sugestivas de infecção urinária

eram provenientes de pacientes com idade superior a 40 anos.

Além de amostras sugestivas de infecção urinária, foram obtidas amostras que

sugerem outros resultados. Evidenciou-se que, 19% dos pacientes apresentou amostras

com bacteriúria somente. De acordo com Dachi (2000), tal achado não caracteriza fielmente

uma infecção do trato urinário. Alguns pacientes podem apresentar amostras

contaminadas com bactérias que estão presentes na uretra ou na região periuretral.

Pacientes que apresentaram amostras com leucocitúria sem bacteriúria

totalizaram 1%. A presença de leucocitúria estéril pode ser causada por outras patologias

como nefrite intersticial, litíase, trauma genito-urinário, glomerulonefrite, contaminação

vaginal dentre várias outras patologias (HEILBERG; SCHOR, 2003). A presença de

proteinúria perfaz 1% dos pacientes. As principais causas de proteinúria incluem elevação

dos níveis séricos de proteínas de baixo peso molecular, danos à membrana glomerular e

problemas que alteram a reabsorção tubular das proteínas filtradas (STRASINGER, 1991,

p. 53). Em relação à hematúria, 3% dos pacientes apresentaram este resultado, que

constitui uma dificuldade clínica em virtude da grande possibilidade de causas como

esforço físico e até neoplasias do sistema urinário (ABREU; REQUIÃO-MOURA; SESSO,

2007). O encontro de glicosúria perfaz 2% dos pacientes. Patologias como Diabetes Mellitus,

Síndrome de Fanconi, doença renal avançada, lesões no sistema nervoso central e gravidez

com possível Diabetes Mellitus latente são significados clínicos para glicosúria

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(STRASINGER, 1991, p. 56). Foram obtidos também resultados com densidade baixa (2%)

e densidade alta (1%). Tais resultados podem ser influenciados pelo grau de hidratação do

paciente que é uma condição não patológica ou por condições patológicas que devem ser

investigadas pelo clínico assistente (STRASINGER, 1991, p. 43). Em relação à presença de

leveduras, geralmente Candida albicans, 1% dos pacientes (sexo feminino) apresentou este

diagnóstico que é muito associado com Diabetes Mellitus e mulheres com monilíase vaginal

(STRASINGER, 1991, p. 84).

A verificação da frequência percentual de amostras que sugerem infecção urinária

em uma dada população justifica-se pelas possíveis complicações que podem ocorrer

levando a morbidade e mortalidade significativas. O diagnóstico rápido, fidedigno, a um

custo reduzido são fundamentais quando consideramos países em desenvolvimento como

o Brasil, pois as políticas públicas de saúde ainda não atingem grande parcela da

população. Dessa forma, o exame de urina tipo I é um grande aliado no que diz respeito à

implementação do tratamento adequado. O conhecimento da frequência percentual, que

neste caso foi de 19% da população é considerável e de suma importância, pois reflete um

dado epidemiológico. Como a maioria das ITU é causada por enterobactérias, a

identificação dos patógenos para fins de pesquisa e tratamento específico é de suma

importância, pois auxilia na caracterização da origem da infecção e permite, através da

realização de exames mais específicos como urocultura e antibiograma, a escolha da

melhor medicação a ser administrada pelo clínico.

PARECER DE APROVAÇÃO DE COMITÊ

Pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Anhanguera Educacional S/A –

(CEP)/AESA - em 28/04/2008 por meio do parecer: 39/2008.

REFERÊNCIAS ABREU, P. F..; REQUIÃO-MOURA, L. R.; SESSO, R. Avaliação Diagnóstica de Hematúria. J Bras de Nefrologia, v. 29 n. 3, p.158-163, 2007. BRANDINO, B. A.; PIAZZA, J. F. D.; PIAZZA, M. C. D.; CRUZ, L. K.; OLIVEIRA, S. B. M. Prevalência e fatores associados à infecção do trato urinário. Revista Newslab, v. 83, p.166-176, 2007. CAMARGO, I. L. B. C.; MASCHIETO, A.; SALVINO, C.; DARINI, A. L. C. Diagnóstico bacteriológico das infecções do trato urinário – uma revisão técnica. Medicina, Ribeirão Preto, v.34, p.70-78, 2001. CARVALHAL, G. F.; ROCHA, L. C. A.; MONTI, P. R. Urocultura e exame comum de urina: considerações sobre sua coleta e interpretação. Revista da AMRIGS, v. 50 n. 1, p.59-62, 2006.

68 Exame de Urina Tipo I: frequência percentual de amostras que sugerem infecção urinária

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 57-68

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