vinte ficÇÕes breves.pdf

Upload: claudia-simoes-mariano

Post on 06-Jul-2018

245 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    1/211

    VINTE FICÇÕES BREVESantologia de contos argentinos e brasileiros contemporâ

    Organização deVioleta Weinschelbaum

    VEINTE FICCIONES BREVESantología de cuentos argentinos y brasileños contemporá

    Compilación deVioleta Weinschelbaum

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    2/211

    Livros Grátis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grátis para download.

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    3/211

    © UNESCO 2002 Edição publicada pelo Escritório da UNESCO no Brasil

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    4/211

    VINTE FICÇÕES BREVESantologia de contos argentinos e brasileiros contempo

    Organização deVioleta Weinschelbaum

    VEINTE FICCIONES BREVEantología de cuentos argentinos y brasileños contemp

    Compilación deVioleta Weinschelbaum

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    5/211

    EdiçõesUNESCO BRASIL

    Conselho Editorial da UNESCO no Brasil

    Jorge WertheinCecilia Braslavsky Juan Carlos Tedesco Adama OuaneCélio da Cunha

    Comitê para a Área de Cultura

    Jurema de Souza MachadoMarta Pavese PortoMary Garcia Castro

    Revisão: Mirna Saad Vieira e Luz Maria Pires da Silva Assistente Editorial: Larissa Vieira LeiteDiagramação: Paulo Selveira Projeto Gráfico: Edson Fogaça

    © UNESCO, 2002Vinte Ficções Breves: Antologia de contos argentinos e brasileiros contemporân

    /organizado por Violeta Weinschelbaum.– Brasília : UNESCO, 2002.224p.

    ISBN: 85-87853-61-9

    1. Literatura Argentina 2. Contos Argentinos 3. Literatura Brasileira

    4. Contos Brasileiros I. UNESCO II. Weinschelbaum, Violeta.CDD 860

    Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Representação no BrasilSAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar.70070-914 - Brasília - DF - BrasilTel.: (55 61) 321-3525

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    6/211

    Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07

    Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

    Presentación . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    1. Aqueles dois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21Caio Fernando Abreu

    2. Duchamp en México . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31César Aira

    3. Como o máscara de ferro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55Marina Colassanti

    4. Un ciudadano en la tormenta . . . . . . . . . . . . . . . . 59Marcelo Cohen

    5. Família é uma merda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Rubem Fonseca

    6. Muchacha punk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83Fogwill

    7. Incompreensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Ana Miranda

    8. Vivir en la salina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109Elvio Gandolfo

    SumárioSumário

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    7/211

    9. Duelo antes da noite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 João Gilberto Noll

    10. La fiesta ajena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125Liliana Heker

    11. O jardim das oliveiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131Nélida Piñón

    12. Antieros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151Tununa Mercado

    13. Informe de um gago . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .157Sergio Sant’Anna

    14. La nena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161Ricardo Piglia

    15.Curare

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167Olga Savary

    16. Con el desayuno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .169 Juan José Saer

    17. Atualidades francesas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175Moacyr Scliar

    18. Amsterdam, 79 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179Matilde Sánchez

    19. Conto de verão n° 2: bandeira branca . . . . . . . . 203Luis Fernando Veríssimo

    20. ¿Cómo vuelvo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207Hebe Uhart

    BiografiasBiografías . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    8/211

    This book is an anthology of contemporary ArgentineanBrazilian stories. Through a selection of a wide variety of authors,aims to point out the way literature takes part in certain contemdebates. Brazil and Argentina are countries that have similar ssome ways and very different in others. This diversity in traditioninfluences and asymmetry are what make them both such rich cThis selection does not seek to push homogeneity. It seeks to hthe pluralism, diversity and representative factors of both countranthology encompasses human rights, the culture of peace and against physical violence, torture and repression as well as thagainst inquisition, discrimination and oppression in any form. T

    does not aim to create a pedagogical effect. On the contrary, the idemonstrate the impact that narrative stories can have. That is wthat merely use fiction as an excuse to send a political or ideologsage were purposely not selected.

    The authors that make up this anthology are: Caio FernAbreu, César Aira, Marcelo Cohen, Marina Colassanti, FogwillFonseca, Elvio Gandolfo, Liliana Heker, Tununa Mercado, Ana M João Gilberto Noll, Ricardo Piglia, Nélida Piñón, Juan José Saer,Sánchez, Sergio Sant’Anna, Olga Savary, Moacyr Scliar, Hebe ULuis Fernando Veríssimo.

    Abstract

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    9/211

    Como assegura com propriedade o Relatório Mundial da UNsobre a Diversidade Criadora, nenhuma cultura é uma entidade camente fechada. Todas as culturas influenciam outras e são pinfluenciadas. Ademais, a pluralidade e a diversidade devem scomo condições privilegiadas de enriquecimento da vida e da ados saberes. Mais ainda, a diferença deve ser vista como possibpotencialidade de exploração de novos horizontes para a ressigda utopia e da esperança.

    No marco desses princípios, emerge a necessidade de proo diálogo entre as nações e suas culturas por meios das difexpressões e formas artísticas. Como a busca de uma cultura dena raiz da criação da UNESCO e constitui a matriz geradora dações nas diferentes amplitudes de seu mandato, a UNESCOem sua luta incessante de perseguir o impossível, pensou e concprojeto de organizar e editar um livro de contos de autores brasargentinos que abordasse, de diferentes ângulos, a temática doshumanos e da tolerância. Coube a Violeta Weinschelbaum a taorganizá-lo, o que o fez com extrema sensibilidade e conhecimcampo literário.

    Além do objetivo de organizar um livro de contos que retpela ficção o esforço humano por um ideal de paz e não violênciase também, como diz sua organizadora, destacar o modo cliteratura participa de determinados debates contemporâneodúvida, a literatura continua a exercer o seu papel no destisociedades. Escritores e poetas como Sarmiento, Euclides da Otávio Paz, Borges, Guimarães Rosas e tantos outros, que com

    extraordinário acervo da literatura latino-americana, continuaexpressões legítimas de aspirações e sonhos que foram prom

    Apresentação

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    10/211

    A escolha dos autores para integrar esta Antologia de Conpoderia ter sido melhor. O critério foi o da diversidade e o do plmesmo porque será na riqueza da diferença que haverá de ser ca nova ética. Acrescente-se o critério da "autonomia estética"cindível nas políticas de cultura. Ademais, a antologia proporleitor a experiência de diversos pontos de vista para favorececâmbio, a reflexão conjunta e a possibilidade de conhecimenentre Brasil e Argentina, países com origens diferentes, que lutafuturo comum, qual seja, o de fortalecimento democrático

    sociedades e de suas identidades na perspectiva de cenárioeconomia, caminhando “pari-passu” com a cultura, consiga dtodas as pessoas o sentido prospectivo da vida.

    Jorge WertheinDiretor da UNESCO no Brasil

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    11/211

    PresentaciónComo dice con propiedad el Informe Mundial de la UNE

    sobre la Diversidad Creadora, ninguna cultura es una entidad hemente cerrada. Todas las culturas se influyen mutuamente y sinfluir. Además, la pluralidad y la diversidad deben ser conscomo condiciones privilegiadas de enriquecimiento de la vidaampliación de los saberes. Más aún, la diferencia se debe pensposibilidad y potencialidad de exploración de nuevos horizonresignificar la utopía y a la esperanza.

    En el ámbito de esos principios, surge la necesidad de estimdiálogo entre las naciones y sus culturas utilizando sus difexpresiones y formas artísticas. Ya que la búsqueda de una cultu

    está arraigada en la creación de la UNESCO y es la matriz gende sus acciones en toda la amplitud de su mandato, la UNESCOen su lucha incesante por perseguir lo imposible, pensó y conproyecto de hacer una antología de cuentos de autores brasiargentinos que abordase, desde diversos ángulos, la temáticderechos humanos y de la tolerancia. Violeta Weinschelbaum rcompilación, con extrema sensibilidad y conocimiento del campo

    Además del objetivo de editar un libro de cuentos que retrtravés de la ficción, el esfuerzo humano por un ideal de paz y no vse intentó también, como lo afirma su antóloga, destacar el modla literatura participa de determinados debates contemporáneduda, la literatura continúa ejerciendo su papel en el destinosociedades. Escritores y poetas como Sarmiento, Euclides daOctavio Paz, Borges, Guimarães Rosa y muchos otros que com

    el extraordinario conjunto de la literatura latinoamericana, cosiendo expresiones legítimas de aspiraciones y sueños que

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    12/211

    La selección de los autores que integran esta antología deno podría haber sido mejor. El criterio fue la diversidad y el plya que la nueva ética se construirá en la riqueza de la diferenciatambién el criterio de la "autonomía estética", imprescindiblepolítica de cultura. Además, la antología proporciona al lector encia de diversos puntos de vista para favorecer el intercambioión en conjunto y la posibilidad de mutuo conocimiento entry Argentina, países con diferentes orígenes que luchan por ucomún, el del fortalecimiento democrático de sus sociedades

    identidades en la perspectiva de escenarios donde la economzando codo a codo con la cultura, pueda devolverles a todassonas el sentido prospectivo de la vida.

    Jorge WertheinDirector de la UNESCO

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    13/211

    As antologias têm sido pensadas, muitas vezes, de modo cafico, como mapas traçados para orientar o leitor em uma deterliteratura, com um rumo específico; ou então para abandoná-bússola, no meio de um território escolhido e limitado. Não obsMapa a que tendem, platônicos, os mapas, Borges já o disse cotêm as dimensões do império e coincidem pontualmente com Os vinte contos que escolhi entre a totalidade que compmapa da ficção breve contemporânea argentina e brasileira apontam um dos caminhos, teimoso e volúvel. Como toda teimopercurso tem sua própria lógica e suas marcas.

    Interessa-me destacar o modo como a literatura particideterminados debates contemporâneos. O Brasil e a Argentpaíses com histórias que, sob alguns aspectos, se parecem e, emapresentam diferenças notáveis. Nessa diversidade, nas tradiçinfluências recíprocas e nas assimetrias, os dois se enriquecem.presente seleção não quis forçar a homogeneidade mas, pelo cdestacar o pluralismo, a diversidade e a representatividade. Eantologia tenha por eixos os direitos humanos, a cultura da pazcontra a violência, a discriminação e a opressão em qualquer formas, não busca em absoluto um efeito pedagógico. Por isso,

    interessantes os textos que usam a ficção como mera escutransmitir uma mensagem política ou ideológica.

    Na infância, esta região vulnerável, inteligente, pícara, despe ingênua, a discriminação, a injustiça ou a violência parecem a crueldade. Os contos de Luis Fernando Veríssimo, Liliana H João Gilberto Noll põem a infância em primeiro plano e mostratrês enfoques distintos, o diálogo com o universo dos adultos. O

    de verão nº 2" apresenta uma certa imunidade das crianças em resistema discriminatório dos grandes; Noll, em "Duelo antes da

    Prólogo

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    14/211

    casos, se reproduzem, como num espelho, as estruturas adultasnas relações da infância.

    O Brasil é um país construído a partir da diversidade, mpor suas heranças culturais e étnicas. Um dos modos de reivdiferença é acentuar seus traços distintivos. Em "Curare", Olgcoloca no primeiro plano a brasilidade como valor, a recupetelúrico e do indígena através da mitologia e da inclusão dTambém do ângulo da experimentação formal, "O jardim das oavança em torno à violência física, à tortura, à repressão e à i

    como disparadores narrativos. Embora não se trate de umclaramente político, é quase impossível não estabelecer um vínaqueles contos que tomam por tema a violência gerada pelostotalitários, as ditaduras, as perseguições políticas. Nessa inscrevem, evidentemente, as histórias de Saer, Sánchez organizadas a partir de diferentes modos de viver, recordar ouconseqüências das ditaduras argentinas e brasileiras e, no casodesayuno", também das seqüelas da guerra.

    A discriminação supõe que uma certa ordem foi voluntinvoluntariamente transgredida. Essa única ordem admissível –chamar-se "normalidade" física, heterossexualidade, superiorhomem sobre a mulher, beleza, inteligência, simpatia – assilimite. Fora dele, está o outro, o estrangeiro. Essa grande catealheio está desenvolvida explicitamente em vários dos se lecionados. "Como o máscara de ferro" é prístino nesse Paulatinamente, a personagem se converte, ele próprio, no orosto se transforma na face de um chinês, tornando-se, assim, ia convivência com o estrangeiro. Fogwill, de seu lado, traestrangeirismo na linguagem, sua correlação sintática, e a impoda tradução.

    Infelizmente, a atualidade da América Latina está muito lcrises econômicas e políticas que resultam numa forte opressEsta forma de violência, freqüentemente ignorada como tal, fo

    um dos eixos desta antologia. A personagem de "Duchamp en amaldiçoa os imperativos do turista e passeia procurando

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    15/211

    para mostrar o cruzamento entre a violência física, as hierarquiasarbitrárias e o mundo difícil dos trabalhadores das salinas. Puoriginalmente em uma revista que não costuma incluir textos nao conto de Marcelo Cohen é uma exceção no conjunto da sua obrescolhe um gênero – uma forma particular do realismo – e o quEssa experimentação formal declarada parece ser a maneira comciudadano en la tormenta" constrói a realidade argentina atua

    * * *

    Para preparar esta antologia, precisei aprofundar-me no Braque me abre uma e outra vez as suas portas magnânimas, e mergsua literatura. Quero agradecer aos que me ajudaram nas etapadiversas desta tarefa feliz e inconclusa: Paula Arellano, João BWagner Carelli, Péricles Cavalcanti, Lídia Chaib, Michel LaubMattoso, Arnaldo Niskier, Rubem Portela e Caetano Veloso.

    A Graciela Speranza quero agradecer por ter sido umvaliosíssimo, de maneira involuntária, sem a preocupação codo elevado grau de seus préstimos.

    Por fim, agradeço profundamente a Carlos Bustos sua prinvariável; a Hernán Díaz, sua amizade, os votos e os vetos;Gurian, o apoio incondicional; e a Jorge Werthein, a confianç

    Violeta Weinschelbaum

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    16/211

    Las antologías han sido pensadas, a menudo, de manera cafica, como mapas trazados para orientar al lector en una deterliteratura, con un rumbo específico; o para abandonarlo, sin brúmedio de un territorio elegido y acotado. Sin embargo, el Mapaque tienden, platónicos, los mapas, ya lo ha dicho Borges con rigel tamaño del imperio y coincide puntualmente con él.Los veinte cuentos que elegí entre la totalidad que compmapa de la ficción breve contemporánea argentina y brasileseñalan uno de los caminos, caprichoso y voluble. Este recorridtodo capricho, tiene su lógica propia y sus mojones.

    Me interesa destacar el modo en que la literatura particideterminados debates contemporáneos. Brasil y Argentina son phistorias que, en algunos aspectos, se parecen y, en otros, dnotablemente. En esa diversidad, en las tradiciones, en las infmutuas y las asimetrías, se enriquecen. Así, esta selección no qula homogeneidad sino, por el contrario, destacar el pluralisdiversidad y la representatividad. Si bien la antología tiene porderechos humanos, la cultura de paz, la lucha contra la violediscriminación y la opresión en cualquiera de sus formas, no babsoluto un efecto pedagógico. Por eso, no son interesantes lo

    que utilizan la ficción como mera excusa para transmitir un mpolítico o ideológico.

    En la infancia, esa región vulnerable, inteligente, pícara, degida y naïf, la discriminación, la injusticia o la violencia pexacerbar su crueldad. Los cuentos de Luis Fernando VeríssimoHeker y João Gilberto Noll ponen la infancia en primer plmuestran, con tres enfoques diferentes, el diálogo con el univer

    adultos. "Conto de verão n°2" plantea cierta inmunidad de loscon respecto al sistema discriminatorio de los grandes; Noll, en

    Prólogo

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    17/211

    manifiesto cómo, en algunos casos, se reproducen en espejo lasestructuras adultas en las relaciones de la infancia.

    Brasil es un país constituido a partir de la diversidad, marcsus herencias, culturales y étnicas. Uno de los modos de reivdiferencia es la acentuación de sus rasgos distintivos. En "CuraSavary pone en primer plano la brasilidad como valor, la recupelo telúrico y de lo indígena a través de la mitología y la inclusióTambién desde la experimentación formal, "O jardim das Olavanza en torno a la violencia física, la tortura, la represión y l

    ción como disparadores narrativos. Si bien no se trata de unetamente político, es casi imposible no establecer un vínculo cocuentos que tematizan la violencia generada por los regímenes tlas dictaduras, las persecuciones políticas. En esa línea se imanifiestamente, los relatos de Saer, Sánchez y Scliar, organpartir de diversos modos de vivir, recordar o sufrir las conseculas dictaduras argentinas y brasileñas y, en el caso de "En el detambién de las secuelas de la guerra.

    La discriminación supone que cierto orden ha sido voluninvoluntariamente transgredido. Ese único orden admisible – qllamarse "normalidad" física, heterosexualidad, superioridad desobre la mujer, belleza, inteligencia, simpatía- señala un límiteél, el otro, el extranjero. Esta gran categoría de lo ajeno está dexplícitamente en varios de los cuentos seleccionados. "Como de ferro" es prístino en ese sentido. Paulatinamente, el persconvierte, él mismo, en el otro: su cara se transforma en la de y se torna, por lo tanto, ineludible la convivencia con el exFogwill, por su parte, trabaja la extranjería en el lenguaje, su sintáctico y la imposibilidad de la traducción.

    Infelizmente, la actualidad de América Latina está muy ligcrisis económicas y políticas que derivan en una fuerte opresiEsta forma de violencia, a menudo ignorada como tal, fue tambilos ejes de esta antología. El personaje de "Duchamp en M

    maldice los imperativos del turista y pasea tratando de evinevitable: el consumo. "Vivir en la salina", en cambio, se aleja

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    18/211

    laborales y el mundo difícil de los trabajadores de las salinas. Poriginalmente en una revista que no suele incluir textos narrativosde Marcelo Cohen es una excepción en el conjunto de su obraelige un género – una particular forma del realismo – y lo cuEsta declarada experimentación formal parece ser la manera co"Un ciudadano en la tormenta" construye la realidad argentina a

    * * *

    Para realizar esta antología necesité adentrarme en Brasque me abre una y otra vez sus magnánimas puertas, y ahondliteratura. Quiero agradecer a quienes me ayudaron en las muyetapas de esa feliz e inconclusa tarea: Paula Arellano, João BWagner Carelli, Péricles Cavalcanti, Lídia Chaib, Michel LaubMattoso, Arnaldo Niskier, Rubem Portela y Caetano Veloso.

    A Graciela Speranza quiero darle las gracias por haber sisin proponérselo, una valiosísima guía.

    Por último, agradezco profundamente a Carlos Bustos, por su pinvariable; a Hernán Díaz, por su amistad, los votos y los vetosGurian, por su incondicional apoyo y a Jorge Werthein, por la co

    Violeta Weinschelbaum

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    19/211

    Para Rofran Fernandes

    – "I announce adhesiveness, I say it shall be limitless, unloosen’d

    I say you shall yet find the friend youwere looking for." (Walt Whitman: So Long!)

    IA verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses

    não no começo, um deles diria que a repartição era como "um de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se eE longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentárias mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigolista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, crelógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expechampanha nacional em copo de plástico. Num deserto de

    também desertas, uma alma especial reconhece de imediato atalvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferen

    qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhprimeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que nãopreparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo paraentendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ouum pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a es

    Aqueles Dois *(História de aparente mediocridade e repre

    Abreu, Caio Fernando

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    20/211

    Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum fide um noivado tão interminável que terminara um dia, e umfrustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostenormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boespanhol. E cinema, os dois gostavam.

    Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, masencontraram durante os testes. Foram apresentados no primeirtrabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depo

    é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Masporque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe opisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando lse a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, umbom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisaastros, sinais, quem saberá? – conspirava contra (ou a favor,não?) aqueles dois.

    Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um dealmas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmserem humanos, sem querer justificá-los – ou, ao contrário, justos plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dopouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturaremo que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.

    IIEram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Sau

    vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, dodo leste – e com isso quero dizer que esse detalhe não os t

    especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos otinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante.

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    21/211

    outra –, a não ser a si próprios. Diria também que não tinhammas não seria inteiramente verdadeiro.

    Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um tocacom rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Sautelevisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho,tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na paquarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquelecom a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as táassoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul

    vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindofotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmosempre, era nessas ocasiões que desenhava.

    Eram dois moços, bonitos também, todos achavam. As muda repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretcontrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhumbarriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datpapéis oito horas por dia.

    Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um poucodefinido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmmas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desEram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem

    exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavamais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de deum estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Cohouvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.

    IIICruzavam-se silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térm

    Vinte Ficções Breves: Antologia de Contos Argentinos e Brasileiros Contemporâneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    22/211

    voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia uao outro, e quase sempre trocavam frases com tanta vontade mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempoE teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quaseera um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.

    Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendvago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistinvelho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um riapenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase

    apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o tecmáquina e perguntou: que filme?Infâmia, Saul contou baixo, AudreyHepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? ee gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no qudaquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais queparecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram ssobre o filme.

    Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmense de alguma forma fosse inevitável, também vieram históriaspassados, alguns sonhos, pequenas esperanças e sobretudo Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tade sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinna pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa paa curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segquando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menoque sequer sabiam claramente ter sentido.

    Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas adepois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa dcasa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, ma

    sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantouTú Me

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    23/211

    banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela pvez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do nantigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansatodas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exmesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o qcom elas.

    Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem teleInquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente d

    gelados, cantando baixinhoTú Me Acostumbraste , entre inúmeros cafés emeio maço de cigarros a mais que o habitual.

    IVOs fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no m

    um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone,coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Ddepois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outrofazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineiraempregada deixara pronta no sábado. Foi dessa vez que, ácidos falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se coSaul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímcair da noite. Mas quem cantou foi Raul:Perfídia, La Barcae, a pedidode Saul, outra vez, duas vezes,Tú Me Acostumbraste . Saul gostavaprincipalmente daquele pedacinho assimsutil llegaste a mí como una tenllenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, pvolta das nove, Saul se foi.

    Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anteriofalaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moçasespiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Ness

    pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quisquarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas

    Vinte Ficções Breves: Antologia de Contos Argentinos e Brasileiros Contemporâneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    24/211

    juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo deppretexto de assistir aVagas Estrelas da Ursana televisão de Saul, Raulentrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolsodo paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, qprestaram atenção no filme. Não paravam de falar. CantarolanIo Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reproduVan Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Nãoperguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.

    Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vAlmoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o temEnquanto Raul cantava – vezenquandoEl Dia Que Me Quieras , vezen-quandoNoche de Ronda –, Saul fazia carinhos lentos na cabecinhaCarlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhE sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormsofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molchuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários bardesalentados trocaram alguns olhares que os dois não sacompreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem onem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos parasaíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Ja

    VQuando começava a primavera, Saul fez aniversário.

    achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vezfazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu atinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reproduçãGogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma co

    No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul mele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagd d fi d l f ã i h

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    25/211

    Vinte Ficções Breves: Antologia de Contos Argentinos e Brasileiros Contemporâneos

    em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Àem seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vdesenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciavGardel. Bebeu bastante, nessa semana. E teve um sonho: caminhas pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemenpróximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensanele é que devia estar de luto.

    Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou

    repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo prparecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha dbarba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho duro, tinha o rosto quase de menino. Beberam muito nessa noifalou longamente da mãe – eu podia ter sido mais legal com elanão cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorsaber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percededos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo parpreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que umsentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechadSaul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão dtocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis mcabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvtorneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele sem compreender.

    Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu nãmais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como vocmim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes – ninguémsempre – e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhandolhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não preir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou

    horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em caciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco an

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    26/211

    confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.

    Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntosando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul umdução doNascimento de Vênus , que ele colocou na parede exatamente oestivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chaOs Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foiNossas Vidas ,prestando atenção no pedacinho que diziaaté nossos beijos parecem bquem nunca amou.

    Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinRaul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunvai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocandno banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raupara ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, dissbaixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia veracesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir paranão percebesse suas fundas olheiras.

    Quando janeiro começou, quase na época de tirarem fétinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Sficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção osperto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi dassunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e os"desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psdeformada", sempre assinadas porUm Atento Guardião da Moral . Saulbaixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parealto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavranunca, antesque o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, dfrio: os senhores estão despedidos.

    Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala desertdo almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    27/211

    Vinte Ficções Breves: Antologia de Contos Argentinos e Brasileiros Contemporâneos

    olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guaseu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a Tú Me Acostumbraste , escrita à mão por Raul numa tarde qualqueragosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

    Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e aparecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cimcolegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul destavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns mifrente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abr

    porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Masouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando

    parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céumais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos altinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    28/211

    De turista en México, ¡otra vez! ¡no puedo creerlo, la repmadre que lo parió! ¡Otra vez! ¡Otra vez la trampa...! El cofrcabeza de payaso que salta, pero al revés: con el resorte apuntadentro, y yo con él. Un palacio, ¡clac! ¡Adentro conmigo! Un¡clac! Un museo,¡clac! Se cerró la tapa, y yo la miro desde eatontado, incrédulo. ¿Cómo pude caer otra vez en la misma tramexactamente "la misma", y es exactamente "otra vez". Eso es lome duele. Si ya sabía de qué se trataba, ¿cómo pude dejarme co¿Y por quién? ¿Por mí mismo? No hay otro. La única explicacióme ocurre es que haya sufrido una especie de desdoblamientosido mi socías nuevo el que vino. Uno cree que la experienci

    aprovechar, que va a aprender algo de sus errores y después la cqueda atrás, en un avatar caduco de uno mismo, y en el presenteexactamente en la misma piedra. Que México sea el presente, yen él, me escandaliza. ¡Cómo pude ser tan imbécil, tan atoloNinguna recriminación es excesiva.

    En fin. Queda lo práctico. Aprovechar mientras estoy aquí,será por mucho tiempo. Me he puesto a escribir para pasar elencontrar por lo menos el consuelo de una actividad habitual y mque puedo hacer sin pensar y al mismo tiempo me absorbe. Tpodría buscar un provecho más tangible: hacer compras. El cambeneficia a los turistas argentinos, aquí han devaluado de modo hoy por hoy todo está increíblemente barato. Pero habría que tganas y la energía de ponerse a buscar cosas que valgan la pensean baratísimas –porque uno se pone más y más exigente, la veahorro automático no hace más que estimular a ir más lejos, cavaro al revés que funcionara como un avaro de todos modos... Ytrabajo de ponerse a hacer compras es agotador, de nunca acab

    Duchamp en México* Aira, César

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    29/211

    fin no se disfruta del viaje, porque los locales o centros de compque hay que pasarse el día son como los de cualquier otra parte d

    Sin embargo, es inescapable. Es inescapable como una anen cierto modo se confunde con la angustia general de estarturista, como un pelotudo, en lugar de haberme quedado en mi

    La cuestión se complica con lo precario de mi economíados años que no me compro un par de zapatos, y ando con laagujeradas, es bastante obvio que debo cuidar mi dinero argenque mi familia no pase hambre. Y después de todo el dinero m

    lo he comprado con el argentino; no importa que el de aquí hojarasca devaluada. Aunque me dieran un millón por uno, nocondiciones de tirar ese "uno", y por lo tanto tampoco ese "mCon todo, creo que aquí está la respuesta a la pregunta que mantes. Si vine, fue por codicia, la codicia del pobre. Porque sabíatodo estaba baratísimo. Para poder comprarme un millón de pzapatos. Alojada en lo más profundo del inconsciente, esa ideala menor posibilidad de hacerse real. Salir a comprar zapatos, ootra cosa de las que necesito, sería demasiado humillante y mi se agravaría hasta límites intolerables.

    Quedan los libros. Los libros, por supuesto, están en el plano de mis expectativas, o mejor dicho en el único plano podemás lo compraría por obligación, llevado de la mano de un perverso; con los libros en cambio me entiendo personalmente.todas mis expectativas tengan el desengaño por destino, las lite

    estar excluídas, pueden señalar la vía de una superación. Los libuna cualidad de universal que debería escapar a la maldiciónY yo soy un especialista en libros. Claro que soy especialista cosas... Ya el solo hecho de manifestarme especialista en lo debería ponerme en guardia.

    Nadie se ha hecho rico comprando libros baratos. Si yo he tan ardientemente ser rico, fue para salir de esta subjetividaddonde caer en una trampa es lo normal. Desde la trampa, desdees difícil evaluar los movimientos que nos sacarán de ella. Unun poco al azar, sin retroceder ante las maniobras más absurda

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    30/211

    donde se lleva a cabo el combate, el error no conduce a una en(lo que por otra parte acentuaría la subjetividad) sino que ymateria misma de la acción, tal como queda registrada.

    Pues bien, hubo un pase de magia, y me objetivé. Estoy acbrado a estos triunfos a lo Pirro. Me objetivé, pero no en el scorrecto, como los mexicanos objetivados que veo fluir a mi atodo el tiempo, sino al revés, como un sujeto abstracto bajo exauna conciencia segunda. Trataré de mostrar cómo pasó en unbrevísimo, o menos que un relato, su esquema. Si yo fuera capa

    de construir un relato encarnado, no estaría todo perdido, coestá. Lo único que me queda es la anotación inconexa, la maproximada de los hechos.

    El punto de partida es esta pregunta que sigo haciéndomehacer? ¿Qué hacer, Dios misericordioso?

    Podría decirse, a modo de consuelo: la situación es adecuhasta: es ideal) para reflexionar, ya que no queda otra cosa queaprovechar para poner en claro las ideas sobre el mejor modo de mi vida... Pero sería un completo error. Porque no hay nada queni reflexionar. Hay que actuar. La meditación sólo sirve de algoes su propia acción. O, dicho al revés, la acción no tiene un penspreparatorio.

    Quizás bastaría con hacer muy poco. Quizás poquísimpequeño toque de acción, un detalle, y que con eso baste. Si edebería bastar.

    No hay acción pequeña. La eficacia se extiende y ramificava o negativa, a todo el resto.En este momento se me ocurre la siguiente posibilidad: bron

    Oscurecer con el concurso del sol la piel blanco-rosada que mClaro que eso implica todo un programa de vida...

    Nada premeditado puede salir bien.... Otra vez la trampa que se cierra sobre mí con un ¡clac!

    bromista. Palacios, iglesias, museos... Los edificios están inctorcidos, acentuando esa ilusión de voltereta maligna... Si se pubala de cañón en el piso de cualquiera de las viejas iglesias, se

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    31/211

    mojara previamente en tinta china, o tinta de mole, haría un dmás bien una escritura, que tal como estoy viendo las cos"argentino pelotudo". El horror que me produce esta edificaciómitiga un pequeño descubrimiento que hice: en la ciudad han ncada piedra, cada sillar, cada moldura, de cada una de las innuviejas iglesias. Lo han hecho con unos discretos números rojos pequeños y colocados en los sitios menos visibles pero es impnotarlos a la larga. El propósito debe ser volver a armar las iotro terremoto las echara abajo, como una especie de juego de

    desarmar, cuyas piezas una Providencia juguetona se complrevolver como desafío al ingenio de los hombres.Querría escribir estas páginas sin estilo, sin empaque

    anotaciones improvisadas, casi sin frases... Y sin embargo, sintodo se hace frases, todo se hace pomposo y académico. Si algupudiera escribir sin estilo, podría vivir. Pero bien sé que nunpoder escribir como quiero. Estoy escribiendo en mi cuarto de la Calle Madero; aunque el cuarto no da para la calle, oigo el del mendigo que vi hace un rato en la vereda de enfrente; él tohombre joven, pequeñito), y una niña de cinco o seis años le platillo a los que pasan. Suena casi como un organito: siempremás ritmo que el de la repetición, sin melodía perceptible. Sódecirse: es un acordeón, y alguien lo toca. No vi que nadie le dy si es por lo que hace, yo diría que no se lo merece; pero propone por lo que hace sino por lo que es: un mendigo. Me p

    hasta qué hora seguirá.Es un acordeón, y alguien lo toca. El mínimo de sentidoconfusión universal inherente al mínimo se produce un movcualquiera, que puede ser el de desprenderse de unos centavacordeón, hasta qué hora seguirá. Me pregunto, y alguien lo to

    Pero el objeto de esta anotación, que será muy breve, es rcompra, única y múltiple, que hice. Antes, una explicación másno caiga totalmente en el vacío.

    Contra toda ilusión de estilo, tengo a mi favor la convicque no vale la pena contar lo que cuento. El tiempo está ates

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    32/211

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

    lapsos y sostenerse unas a otras como se sostiene un sistemainteracción de sus piezas. Pero una historia sacada de su sistemsu procedimiento de objetivación, no le interesa a nadie y no esvalor agregado del estilo se agrega a la nada, y debo cultivar como mi única ventaja en las actuales circunstancias.

    No sé si ya lo anoté, pero esta historia se basa en la situacien los últimos tiempos ha venido dándose cada vez con mayor fry más acentuada, de encontrarse uno en un lugar donde su dinede cambiarlo, vale muchísimo más de lo que vale en su patri

    efecto de los experimentos en macroeconomía a los que se entrgobiernos de nuestros países latinoamericanos. Las cosas rinconcebiblemente baratas, y se desencadena una necesidad de hacer compras, actividad desligada en este caso de la lógicacompaña habitualmente. La situación en sí tiene algo de abcomo para desmentir el valor de la historia que pueda sucederA esta abstracción, o esquematismo, contribuye el comportadel tiempo: por necesidad, uno está pocos días en esos lugares;dinero le alcanzaría para seguir comprando y gastando indefinidPara meter ese virtual infinito en una semana, el tiempo debe por dentro, de modo asintótico. Y las historias en cuestión tomtinte absurdo.

    Yo puedo seguir comprando y leyendo libros indefinidamAunque ahora tengo plata y puedo comprar todos los libros queme ha quedado de la juventud un reflejo de avidez que me hace i

    resistir a una pichincha. No bien hube llegado a México, y dejé men el hotel y crucé a un Sanborn’s a comprar una tarjeta telefónilibro... lo di vuelta para mirar el precio... una bicoca, como ypreparado para esperar, un regalo... noventa y nueve pesos, lo que a dólares era noventa y nueve veces nada... Había algo que no cun detalle que me hizo vacilar. La forma estaba bien, pero el cohacía un pequeño grumo en el verosímil. Porque se supone quea México uno debe comprar libros mexicanos... Y éste era uimportado, un libro de arte sobre Duchamp, grande y con tapasNo Rivera, ni Orozco, ni Frida Kahlo ni el Dr. Atl, sino Ducham

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    33/211

    Duchamp es mi artista favorito, por más motivos de los queenumerar aquí. Dudé apenas un instante, y me lo compré. El priestaba dado. Lo demás se daría por sí solo, casi sin mi interveprimer paso tiene sus bemoles. Es un pequeño abismo sui genhay que saltar o no saltar. Uno se puede quedar toda la vida aho no. Es la válvula por la que se infla el tiempo.

    Esta sed malsana de experiencia, ¿a dónde nos puede lleaniquilación.

    Habría que equilibrarla con períodos vacíos, de asimila

    elaboración.Yo quería estar en el vacío, pero el vacío se volvía experieacosaba. A partir de ese momento, mi estado de ánimo empezóprecipitadamente.

    Los pasos subsiguientes fueron sucediendo en una crdepresión. Inútil extenderme. ¡Tantos lo han hecho ya! Ademáes hacer nada más un esquema, como dije. No podría hacer opero haciendo de necesidad virtud, y además recuperando una que he venido alentando desde hace años, descubro en este momlimitarme al esquema puede tener un propósito, que es el siguel futuro, puede haber un escritor, profesional o aficionado, quel mismo predicamento que yo: solo, aburrido, deprimido, en unhorrenda. La trampa seguirá existiendo, si no ésta otra equiventonces mi esquema podrá servirle de guía, para hacer algo yhoras muertas sin necesidad de exprimirse demasiado el cer

    esquema de novela para llenar, como un libro para colorear. Dque podrá encerrarse en su cuarto de hotel, con este delgado (porque me ocuparé de hacerlo imprimir; esa decisión tambiénde tomar) y un cuaderno, y tendrá un entretenimiento creativodo, sin la incomodidad de tener que ponerse a inventar nadapreocupa lo remoto de la posibilidad de que se repita mi casocontrario; a ese hermano en la desgracia puedo imaginármelejano que cercano: dentro de diez siglos por ejemplo, cuando tvuelto a ser igual que ahora, pero mi modesto esquema haya tprestigio de una antigüedad. Quizás su prestigio radique e

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    34/211

    larizarse. En realidad, es un género nuevo y promisorio: no lasde las que ya no puede esperarse nada, sino su plano maestro, pla escriba otro; y el que la escriba, no lo hará por vanidad o por (porque la cosa quedará en privado) sino como arte del pasatcomo ejercicio literario o batalla ganada contra la melancobeneficio está en que ya no habrá más novelas, al menos coconocemos ahora: las publicadas serán los esquemas, y las desarrolladas serán los ejercicios privados que no verán la lpublicación tendrá un sentido; uno comprará los libros para ha

    con ellos, no sólo leerlos o decir que los lee.Volviendo a lo mío, diré que me sentía bastante feliz ccompra, y con el trámite fluido entre impulso y acción que habíaa ella. ¿No es maravillosamente elegante, comprarse un libcapricho, porque sí, por un impulso momentáneo? Riéndose de cutible verdad de que un libro es para siempre, hasta la muerteallá) sobre todo por lo difícil que resulta sacárselos de encima.

    Ese mismo día, a la tarde, volví a ver ese mismo libroDuchamp en otro lado. Era mi primera jornada en la ciudad, y haber sido la mejor, en razón del declive que se iniciaba, pero elpesaba todavía, por la diferencia horaria y el aturdimiento de noche en el avión. De cualquier modo, estaba explorando, cocuriosidad... Qué paradójico que en una exploración, en la percelo nuevo y extraño, mi mirada fuera a descubrir algo tan habituun libro, y además un libro que había visto y comprado esa m

    Seguramente fue por eso mismo. Me acerqué, lo di vuelta, y cuámi sorpresa al ver que el precio aquí era un poco inferior a dhabía comprado: noventa y cinco. Si el precio en sí era insignificmi ilusoria opulencia de extranjero, la diferencia lo era más todos modos era una diferencia; no se me ocurría qué podía halos cuatro pesos de "ganancia", pero eso no va al caso, porque ade diferencia se habla de la suma ideal de todas las diferencias.que sin pensarlo más, pero todavía un poco menos que antes, loy salí con mi Duchamp bajo el brazo.Mi ánimo desmejoraba. Y al mismo tiempo mejoraba. N

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    35/211

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    36/211

    cuenta de que en esa réplica estaba la solución de mis problemassi me historizo, si historizo mi futuro y mi agenda, ya no tengo nque hacer ni de qué preocuparme.

    Claro que no es tan fácil. Lo que pasa es que aquí ya no sde teorías o del esquema abstracto de los hechos, sino de la prála realidad. Y la práctica, como lo sabe cualquier marxista, requde la autointerlocución. Es decir que debería ver por el otro lad"espalda", a mi depresión, a mi pesimismo, como un bailarín obeshiciera filmar para poder verse, con la inútil esperanza de mejorar

    El libro era de tamaño grande, con la tapa roja, visible desdEncontré el tercer ejemplar al día siguiente, en el sector librocentro de compras. Esta vez mi curiosidad se manifestó de moestructurado. Por aquello de "no hay dos sin tres", ya que el precdistinto, pero lo que me preguntaba era si sería un precio menordos anteriores. En los dos primeros casos la secuencia se habíamayor a menor y podría haber sido al revés: había tantas posiben un sentido como en el otro. En el tercer caso... No sé haccálculos, que son bastante complicados; pero evidentemeposibilidades de que se mantuviera la escala descendente dismaun así, qué casualidad, descendía: eran ochenta y cinco pecompré, sin pensarlo ya casi nada. Si algo ocupaba mi mente, cucaminando con mi libro bajo el brazo, era la suma de las difercómo hacerla. La primera diferencia había sido de cuatro penoventa y nueve a noventa y cinco), la segunda de catorce (de n

    nueve a ochenta y cinco); entre ambas estaba la diferencia entre ey el tercero (de noventa y cinco a ochenta y cinco): diez. El totveintiocho pesos. Las razones sucesivas del ahorro al comprar elejemplar me habían llevado a acumular tres veces más la dioriginal, es decir a multiplicar ésta por cuatro. Pero no debía caerror de multiplicar ahora por cuatro las nuevas diferencias establecían; es decir, sospechaba que sería un error, aunque másporque la operación debía hacerse sólo con sumas (sumas qrestas), y el carácter mecánico de la multiplicación estaba fueraestéticamente. De modo que seguí calculando paso a paso. La d

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    37/211

    tercer precio disminuía diez pesos (a setenta y cinco), y el segveces diez, es decir también a setenta y cinco; hasta ahí, era lacación por cuatro: cuarenta pesos. Pero antes estaba el primer sobre el cual esta segunda diferencia revertía tres veces, es disminuía el precio de noventa y nueve a setenta y nueve. El tocuarenta más treinta, o sea setenta pesos, que se sumabadieciséis del día anterior. Pero ahí no paraba la cosa, porque diferencia "máxima", entre el primero y el tercero, de noventa ochenta y cinco: catorce pesos. Esa cifra revertía sobre el preci

    haciéndolo bajar a setenta y uno. Y, como en el caso anteriordoblemente (veintiocho pesos) sobre el segundo precio y trip(cuarenta y dos) sobre el primero, pero aquí no volvían automáta setenta y uno, sino, respectivamente, a setenta y siete y cincueDe modo que el total de ahorro generado por esta tercera compincluir: los veintiocho pesos del ahorro bruto, más los setentdiferencias sumadas entre la segunda y la tercera compra, más ly ocho de las sumadas entre la primera y la tercera (aquí se sveintiocho y cuarenta y dos, dos veces catorce, una vez por doriginal y otra por reversión sobre el precio mínimo). La suma dnoventa y seis pesos, más los dieciséis generados por la segunddoscientos doce pesos. Y esto era parcial todavía, porque me fmás difícil: hacer los mismos cálculos sobre el total gastado, qnoventa y nueve pesos más noventa y cinco más ochenta y cincdoscientos setenta y nueve. Por lo pronto, la diferencia daba un

    positivo, porque el total gastado todavía era mayor que el total aSalí de la positividad esa misma noche, cuando en otro Sencontré el cuarto, y para mi inmensa sorpresa, que ya empezabtan inmensa, el precio era ligeramente inferior, ochenta y dos pchances debían ir multiplicándose de modo exponencial en mi cde que el precio fuera distinto, porque ya se hacía evidente qsistema mexicano de comercialización de libros importados nprecio fijo, sino de que yo me los fuera encontrando en ordeorden sin orden de mis paseos melancólicos, de mis recriminachaber cometido el error de haber venido. No voy a hacer el rela

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    38/211

    de mis estados de ánimo. Mi único propósito es dejar anotada para que el día de mañana le sirva, como ya dije, de esquema dea alguien que esté pasando lo que me pasa a mí o algo equivalente,a su época futurista. Justamente, si hiciera el relato completo y elas circunstancias, estaría bloqueando la actividad de mi "cadelantándome a ella. Este esquema aritmético se llenará de huy patetismo, de color y de volumen, sólo cuando lo empiece pretar, escribiendo, ese desconocido del provenir, dentro de mil

    No me hago ilusiones con la posteridad. No creo que esta

    del libro único y múltiple de Duchamp tenga un valor especialcreo en el valor supremo de lo primero, del gesto original. El rela Ley de los Rendimientos Decrecientes es la omnipotenciprimera acción. Y, valga lo que valga este nuevo género de los Epara Escribir Novelas, este esquema es el primero y por ello ltodo, lo tiene todo abierto frente a él. El destino natural de lo pes volverse un mito; pero los mitos no se escriben, lo que le empresa un aspecto imposible, o por lo menos paradójico. Cocreo que es por eso que estoy escribiendo aquí, en el hotel, a que pasan las cosas, sin darme tiempo para reflexionar y estartísticamente la experiencia. Lo estoy viviendo. Lo estoy improAunque el aire de ceremonia neurótica que tiene el asunto lo ala vida libre y repentista; es más bien el ritual de un mito extrasin embargo está saliendo a la luz en el mismo proceso.

    Pues bien. Basta de autobiografía. Vamos a los números,

    con ellos alcanza para hacer el esquema. Cada uno de los que una novela a partir de este esquema se ocupará de poner la casangre y las lágrimas de la imaginación donde yo pongo la señal el punto por el que se traza la curva o se apoya el volumen. Donun cinco, pondrá una sonrisa, donde un nueve un disparo en la donde un seis, el amor... Él sabrá extraer todas las posibilidaquince (el sonido de la lluvia) podrá ser la suma del ocho (el divel siete (un corte de pelo). Etcétera. Debo aclarar que para anteriores son ejemplos al azar y por completo absurdos.Ochenta y dos. Ése fue el precio del cuarto ejemplar, e

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    39/211

    ochenta y cinco pesos, era de tres. La secuencia de diferenciahora tenía tres términos: cuatro, diez, tres. Quiero mostrar unaa manera de resumen parcial, cómo se acumulan las diferecomprar el segundo ejemplar había ahorrado cuatro pesos: al ctercero, había ahorrado diez pesos respecto del segundo, catorcdel primero. Al comprar ahora el cuarto, ahorraba, en línea asctres pesos, trece pesos y diecisiete pesos. Sumando estos míobtenía un ahorro de sesenta y un pesos. Pero esto sin acumuacumulación era la clave. Por ejemplo, del cuarto al primero habí

    diecisiete pesos, ¡pero no sólo al comprar el cuarto! Porquteniendo toda la serie a la vista, podría decir que al comprar elno sólo había ahorrado cuatro pesos, sino también diecisietmismo al comprar el tercero. Y, más sorprendente, al commismísimo primero; porque el primero me había costado nonueve pesos, pero ahora, en el cuarto momento, me costaba dpesos menos: ochenta y dos; y como el libro seguía siendo el ahorro valía para todos los ejemplares. Al tener cuatro en mi ppodía multiplicar diecisiete por cuatro (y cuatro por cuatro, y cuatro, y tres por cuatro, y catorce por cuatro, y trece por cuatrque no multiplicaba, sino que simplemente sumaba: aunque sepoco más lento me daba más seguridad. A esta altura la cuendifícil de hacer mentalmente, pero me absorbía en su placer y men mis paseos a pie, que tendían a hacerse interminables.

    Es innecesario decirlo, pero lo diré de todos modos, que in

    colección de tickets de compras. Ya tenía cuatro. Los metí en No tomé notas: mi colección sería mi único registro, y lo demconfiaría a la memoria. En otra época habría llenado cientos dey hasta me habría comprado lapiceras especialmente para lacuadernos en cantidad excesiva, porque siempre después de comveía otro que me gustaba más (o era más barato), y los emborronado sin cesar, del derecho y del revés. Sin darme ccambiado. En este nuevo proyecto lo único escrito eran los tcolección, y no lo escribía yo, ya venía impreso por una máqhecho, el libro que me propongo publicar podría consistir única

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    40/211

    el libro en cuestión sobre Duchamp. Eso debería ser suficiente (breve explicación preliminar) para reconstruir toda la aventura:lo haría a su gusto, con sus rasgos personales y sus propios cálcpese a la fama de impersonal de las matemáticas salen siempresegún quién los haga, es decir según quién decida qué operacioy con qué números. La "breve explicación preliminar" es ésta qhaciendo, y si me extiendo más allá de la página o página y msería estéticamente aconsejable, es por afán de claridad. Pero a aquí, como todas las explicaciones ya han sido dadas, acelero e

    El quinto libro saltó a mi vista con la aceitada presencia maître d’hôtel. Su precio, ochenta pesos. Seguíamos bajando. CTicket. Ya estaba en mi tercer día de estada en la ciudad, un sábjornada produjo un solo libro. No es que yo anduviera a la caza,contrario. De hecho, creía que la serie había tocado a su fin, chabía creído después de cada una de las compras anteriores. Qusiguiera apareciendo tenía para mí algo de prodigioso, aunque enatural del mundo. Me sorprendía su identidad, que después de tlo que había que esperar, porque un ejemplar de los miles que couna edición es exactamente igual a todos los otros. Cuando sones imposible distinguirlos. La única diferencia para mí estaba en een la cronología con que se iban sucediendo. En eso sí eran dino podían serlo más. Y esta diferencia en el tiempo conllevabadel precio. Ahí sí había algo que merecía mi perplejidad: quetemporal coincidiera con la serie descendente de los precios. P

    vez comprados, volvían a la identidad inicial. En mi cuarto del hapilaba sobre la mesa, y no importaba que se mezclaran, por ejlas mucamas deshacían la pila y la volvían a hacer. ¡Si eran idéla sucesión no podía mezclárseme por el curioso hecho que ya sque en la sucesión, y conformando lo que para mí era sucesprecios iban disminuyendo. De modo que ordenando los ticketscantidades pagadas, de mayor a menor, tenía el orden de la histoquinto establecía con el primero una diferencia de diecinueve p

    Como dije, hacía la cuenta de memoria, sin ayuda del paphacía cada vez toda entera, no sólo la parte correspondiente a l

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    41/211

    resultados parciales: el último ahorro revertía sobre todos los ay los cálculos previos se hacían inútiles; aunque no era inútil hcada tramo, porque de ellos dependía la continuación. En realbastante torpe con las cuentas; aunque descubría capacinsospechadas en mí, los errores menudeaban, y debía recommonótonas columnas mentales. La menor distracción me hacíahilo. Así que empecé a usar las distracciones como recursos mnicos. Me metía en alguna vieja iglesia torcida., me sentaba eny sumaba, con la mirada perdida, durante horas. Los numerit

    pintados en las piedras hacían eco a los míos, invisibles.Con todo no se me escapaba que tenía que haber una fóCon una fórmula la cuenta se haría automática, o, lo que es más paquí, no sería necesario hacerla. Sería algo así como el plande los números, así como los números son el plan maestro de Mi ignorancia de las matemáticas me veda el hallazgo de la(no sabría ni por dónde empezar), pero no me opongo a su contrario, la considero el paso siguiente lógico y natural de la oya que si ésta consiste en hacer las cuentas para no escribir llo que viene después tiene que ser usar la fórmula para no hcuentas. Y todavía tendría que haber un tercer paso, que hiciera iusar la fórmula. Así se llegaría a no hacer nada, a no hacerse ppor nada, y, por fin, a ser feliz.

    No quiero extenderme en lo que sería un tema ajeno informe, pero dejo sentado el hecho de que, mediante estas m

    el libro sobre Duchamp se iba volviendo un objeto extraño... Tlo es, por la conjunción de unidad y multiplicidad y por las aca las que uno se libra con ellos, pero en este caso la extrañeza secasi hasta el límite de lo inconcebible y lo impensable.

    (Siguen unos dibujos.) Esta edificación barroca que hace elde la ciudad de México, que he calificado subjetivamente de está en efecto en proceso de cerrarse. El derrumbe, que parece a los que han enumerado sus piezas, es secundario. Lo princ"cierre", que es el proceso constitutivo de sus volutas y estípitetonterías. Es tan primordial que empezó antes de la construcci

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    42/211

    El secreto de la industria del turismo, a la que este país le dimportancia, está en miniaturizar los tesoros nacionales, paravisitante pueda comprarlos y llevárselos en la valija. Eso es lo funcionar al turismo en la sociedad de consumo. Los modos deturizar son muy variados; entre todos ellos se establece un contiel que se desliza el turista en tanto turista. Todas las ilusionerepresentación participan del conjunto. No importa que los atrsean demasiados grandes, porque se echa a andar un juego de mque siempre resulta eficaz, como el darwinismo. Con los pai

    pueden hacer rompe-cabezas, con las montañas dijes. Ya mi vDuchamp, ese precursor, metió aire de París en una ampolla de vsi lo que tiene para ofrecer un país es la vida regalada de sus placon hacer a escala reducida una representación del tiempo. Uncircuito sumamente práctico es miniaturizar el valor de la monedinero de Liliput aun los turistas pobres como yo están en condde comprar todas las miniaturas que se les antojen, y hasta algupara llevar de regalo.

    No sé si será por deformación profesional, pero yo pienstodo el continuo, tarde o temprano, pasa por el libro, que es laprimitiva y original de la miniatura. El libro no sólo miniatumundo, sino que además de hacerlo lo dice y explica cómo se me ha ocurrido en estos días la idea poética de hacer un catátesoros nacionales, naturales y artísticos, en forma de señaladlibros (aquí los llaman, como si se me hubieran anticipado,

    radores"). Y no hablo de meras fotografías o dibujos, sino de mivolumétricas. Son los libros los que deberían adaptarse a ellosseguro de que, por la ley de la evolución, lo harían tan bientransformación afectaría no sólo a la forma sino también al cony a partir de él a nuestra concepción del mundo y la vida. Un seo separador se mete entre las páginas de un libro cuando uno intla lectura antes de llegar al fin. Y se saca cuando uno retoma laEs decir que su utilidad es la de un lapso de tiempo de saca y poformas del tiempo son imprevisibles porque se dan por la negativaciado dentro del cual calzan los hechos. Hoy estuve rondand

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    43/211

    las tapas de piedra fue marcando el paso de las horas hasta la noque el diseño de los relojes tal como los conocemos es barrocmaqueta de implosión.

    Cuando me torturo por las desorganizaciones que me afcuando pienso que mi vida es una catástrofe por culpa mía, y men complicados planes pueriles para remediarla, estoy actuando mejor dicho estoy pensando, sólo pensando, sin actuar. Deberpráctico. Debería ser feliz. ¿Para qué preocuparse? ¡Si todo es todo el tiempo es el mismo tiempo y vale lo mismo, las p

    grandes como las chicas.Según el cálculo que fui haciendo por la calle Madero, conde Duchamp número cinco bajo el brazo, la cantidad de pellevaba acumulada con las sucesivas rebajas de precio (¡tan espontáneas!), era enorme, de varias decenas de miles. Pero devaluación del peso mexicano, que el monto real seguíainsignificante. Con todo, las cantidades también tienen sus umtransmutación (o ellas lo tienen par excellence) y podía llegar elen que me encontrara rico... Rico en negativo, de acuerdo, pepobre. Los santos posados en sus arboletes de oro me miraban altares; por momentos parecía que ellos me rezaban a mí.

    Al día siguiente, domingo, hubo una aceleración tan espcomo todo lo anterior, o más si es posible. El siguiente ejemcompré a setenta y nueve pesos, uno menos que el anterior, lo mucho ni siquiera dentro de mi maqueta personal microeco

    pero lo mucho o lo poco no contaban en los cálculos: sólo coinferior, así sea un centavo, o el centavo de un centavo. La situaalgo de dejà-vu costumbrista: a quién no le ha pasado algucomprar algo a un precio que le parece adecuado, y después que en otro lado está más barato... En el caso del turista que moneda que se cambia cuantiosamente, la cosa tiene menocuencias. Puede decirse que "de todos modos, no pierde nada"igual la primera vez le costó nada, o el equivalente a nada. Aunqestá el que va a decir: "no es por la plata, es por el hecho". Pueque se empeñe en tomar en consideración el hecho (es decir el

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    44/211

    clase de gente difícilmente tomaría por objeto un libro, y con otrya no sería lo mismo. Hasta diría que no sería lo mismo con otque no fuera sobre Duchamp.

    Mientras hacía las cuentas correspondientes a este nuevo avprecio, hice el descubrimiento de una operación extra que hastame había escapado. Contribuyó el hecho casual de que aquí la dfuera de un peso. Era lo siguiente: el ahorro más recientementede actuar por reversión sobre todos los precios anteriores (eahora, por este ahorro de un peso, el primer precio de la serie p

    ser de noventa y ocho pesos, así como en la quinta compra había ser de noventa y siete, al asimilar el ahorro de dos pesos), tactuaba, por reversión de la reversión, sobre los resultados de la (o sea que el primer precio, después de bajar a noventa y ocreversión, bajaba también a noventa y siete por reversión de la rEsto habría sido imposible de calcular, al menos mentalmente, psuerte había un modo fácil de hacerlo, ya que la cantidad de revde segundo grado coincidía con la cantidad de operaciones quehecho. De modo que lateralmente debía llevar la cuenta de la cansumas y restas que fuera haciendo, y al final multiplicar el total uno de los ahorros brutos hechos a lo largo de la serie. Aquí sí (la única vez) debí recurrir al expediente facilongo de multiplicasi no me volvía loco.

    El séptimo, que encontré inesperadamente horas después, tprecio para el asombro: sesenta y dos pesos. Un salto hacia a

    diecisiete. Respecto del primero, una diferencia de nada mentreinta y siete pesos, más del tercio; ya de por sí era notable. Y rde mi estada en la ciudad; me hacía ver la importancia que había pesar de todo, a pesar de mis ganas de volver, que yo siguMéxico; aun una resistencia de unos pocos días había producidfrutos sorprendentes. La "importancia" a la que me refiero es dpunto de vista relativo, claro está. Estos nuevos diecisiete pesoslas cuentas a una dimensión diferente. Una rápida suma prelimdiferencias brutas y reversiones directas me dio un resultado decientos cuarenta y cuatro mil pesos. Y, además de todas las su

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    45/211

    empezar a hacerme cargo de las reversiones "por rebote" o "feEl total prima facie, sin refinar, era de ciento noventa y siete to treinta y seis millones de pesos. Aun esta cifra astronómicacosa, en moneda mexicana; era prácticamente nada. (Aunque elun obrero aquí es de veintitrés pesos.) Pero estaba el "hechopor más que me resistiera a la evidencia, mi estada en el fontrampa estaba hecha de "hechos en sí". Por eso la pregunta ("¿cómo pude caer?") no tiene respuesta. Cada resorte de lacada implosión, es un hecho en sí. De paso diré que el poco

    la moneda era lo que me permitía sobrellevar con desenvoltura lbles errores que se colaban en mis cuentas con frecuencia Cuando me daba cuenta, y cuando no me daba cuenta tambiénaba para mis adentros "¡Qué problema me voy a hacer, por unde más o de menos! ¡Si no valen nada!".

    Como un vago recuerdo sin sustancia, como un recueotra vida, me llegaba el viejo anhelo, que tanto he cultivado,muchísimo dinero, cantidades inagotables: una fuente que nunde manar. Es infantil, ¿pero quién no lo ha alentado, así sefantasía? Mis fantasías son barrocas, pero a la vez simples: seuna línea central, que es el deseo en estado puro. Lo que se dvolutas, son las acciones o hechos con los que invento la mela provisión infinita.

    Pues bien, de tan lejos me llega eso a las actuales circunque la más reciente ocurrencia en ese sentido es casi irreconoc

    fantasía diurna. La anoto aquí, haciendo la salvedad de que no tque ver con el esquema o plan maestro que estoy trazando. Alda un pedacito de carne cruda, rosa y ocre, una lonja entera de centímetros de largo, que lleva adherida una fungosidad amcomo de grasa. Es fláccida y repugnante, pero no está podridamal olor ni es especialmente inmunda. Pues bien, resulta quvíscera de la Virgen María. Nada menos. Eso me puede servir ptodo el dinero que yo quiera, toda mi vida. No vendiéndola, que sefácil, sino de algún otro modo, como quien saca las conclusionesdel cuento de la gallina de los huevos de oro. Hay que ponerla a

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    46/211

    para siempre, se ven realizados. Sólo hay un problema, que se mcuando recuerdo dónde estoy (en la trampa)... ¿Cómo pasar lacon eso? Puedo correr el riesgo de un contrabando hormiga, lleen el bolsillo por ejemplo, pero con la mala suerte que tengo, hmis fantaseos, y sobre todo en ellos, estoy seguro de que la van aHay una sola solución, y es la más difícil: cambiar la composiciónde las células de esa carne, y transformarla en una víscera de to

    La pequeña víscera preciosa, con su productividad infinitmodelo original de todos los señaladores o separadores de li

    alguien me preguntara para qué quiero llevar la reliquia a mdonde no hay creyentes, en lugar de ponerla a trabajar aquí en donde abundan, podría responderle: ¿y para qué quiero ser México? ¿Para seguir comprando indefinidamente el mismo libya soy rico, y sigo sin serlo.

    Claro que una miserable víscera de tortuga, en la Argentincualquier parte, sólo haría reír. Es la trampa de la trampa: adenvale nada; afuera, menos. Si decido explotarla aquí, de todos podría hacerla reproducir en piedra, del tamaño de una moncomercializar en el exterior sus fotografías...

    Pero no es con la piedra, ni con el papel, ni con la tijera queiniciar mi libro. Es con el arte. Sigo haciendo descubrimientoshoy es que no tiene importancia lo que yo crea, la sustancia en creencias. Importa el arte. Y trato de descubrir qué es el arte esta Duchamp. Aun aquí, aun en la depresión y la vergüenza en

    encuentro, sigo firme en mi busca de las raíces del arte. Insistoesta pequeña historieta intercalada no tiene nada que ver con maestro que estoy exponiendo; el plan maestro, desnudo, puro npuro tickets, es el esquema al que se atendrá el novelista entramun futuro remoto (que no será novelista como lo definimos hoy, sespecie nueva). Él se ocupará de la "carne" y las "vísceras" del ryo. Pero justamente, mi trabajo es ver también las cosas desdelado, desde el lado de la acción, para que la planificación resultPara él yo seré objeto de una profunda arqueología; tendrá que asi tiene el cerebro para hacerlo, las casi infinitas capas acumu

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    47/211

    de la raíz del arte. Salvo que él contará con los beneficios del al que contribuyo modestamente con mis escritos, y no caerá epa (entre otras cosas porque aquí se lo estoy diciendo) de refersustancia psíquica supuesta, y hablar de creencias, sino que aprendido a ver la indiferencia que lo preside todo en el artepráctico, la historización... A eso contribuye la desnudez seca dma, manifiesta en mi colección de tickets. En resumen, lo quedando es el beneficio de lo mecánico, o automático.

    "Sesenta y dos" parecía un récord difícil de batir. Desp

    todo, hay un mínimo... ¿o no? El mínimo es el precio de costo el costo unitario al que se realizó la importación. Pero quién se a esta altura del precio de costo, en una economía hecha de devae inflación galopante? La inflación es devastadora con la msupongo que por un instinto de defensa, porque de otro modouna sobrecarga mental que terminaría mezclándolo todo. Admuy común que los libros, más que otros bienes, pasen a la cat"ofertas" y se vendan a precisos cada vez menores, hasta irrisopor debajo del umbral del costo, inclusive en mercados con movalor estable. ¿Hasta dónde se podría bajar en México entoncehabía mínimo. Aunque este lujoso libro de arte no parecía de loa las mesas de oferta; y de hecho no lo estaba. No se vendía ede la calle ni en librerías de ocasión, sino en sitios elegantes,Sanborn’s y las tiendas de los museos... Hay a quienes lesorprender que esta aventura me sucediera justamente en Méxi

    renombrada por su falta de buenas librerías. Pero quizás es porque hay libros en todas partes, y los Duchamp me salían al pamenos los esperaba.

    Entre paréntesis, es curioso pero no vi otro libro sobre DuSólo ése. Y dada la ocupación intensiva que me daba, perdí toden otros libros. No me importaba, porque ya tengo demasiadosy muchos todavía esperando que los abra. A veces me pregunsirve leer "otros" libros. ¿Para qué hacerlo, si nunca podemos gcompetencia de cultura o erudición? En cualquier situaciónplantee, sobre cualquier tema, nuestro interlocutor siempre ha

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    48/211

    las conversaciones, no se puede hacer un recuento y balance y dle que a pesar de no haber leído precisamente esos libros que élmencionando, hemos leído más libros que él. Es imposible demporque habría que hacer listas larguísimas de nunca acabar. Npuede ganar. Así uno haya leído diez libros, y el otro haya leídlibros en toda su vida, ¡gana el otro! Porque de esos cinco librpuede haber leído cuatro, pero no el quinto, y ese libro es el quecita, y se pone a contarlo y describirlo y elogiarlo, y uno queda burro, ¡y hasta tiene que prometerle que lo va a leer!

    El siguiente... Porque hubo un siguiente. La lotería seguía ssiempre en sentido descendente... la ruleta en línea recta... fue de y nueve pesos.

    Lo compré y fui a ponerlo en la pila, y al ticket en el sobpequeños tesoros conceptuales. Como un avaro transtemporalacumulando. Después hubo otro, es decir el mismo de cincuenpesos. Si me hubiera acompañado mi esposa, me habría dicho: ¿hay que recorrer, y no comprar en el primer lugar? Postura muya la que yo le he hecho in pectore graves objeciones. Porque loaun siendo objetos industriales, tienen un régimen de aparición caprichoso, y suele pasar que el libro que uno encuentra al prinrecorrido, y aunque intensamente deseado desdeña comprar p"no lo voy a cargar todo el tiempo, lo compro después en cuparte", no aparece más, y nos obliga a un penoso regreso al ppartida. ¡Si lo sabré! Esta vez, por hallarme solo y entregad

    arbitrio, había actuado de acuerdo con mis convicciones, y despuseguido actuando de acuerdo con el arte y las matemáticas.Después, otro más, siempre el mismo: cincuenta y tres.

    suponer que, en la anarquía de precios, también había sitios dlibro de Duchamp estaba en venta a precios superiores, o zigza(quiero decir, e inferiores a otros), inclusive superiores a los nnueve pesos del primero. Pero no tropecé con esos ejemplarevendedores; lo que no tiene nada de extraño, con la dimensiónciudad, y lo reducido de mi radio de acción a pie. Pero igual tiede extraño y de hecho ésa fue la razón por la que me decidí inic

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    49/211

    un borrador sin estilo ni forma, es todo un trabajo, y nadie lo esi no considera el argumento lo bastante extraño como para qupena. Dicho a la inversa, cuando algo es demasiado extraño papensamiento lo acepte y lo integre al resto de la experiencia,simple de hacerlo entrar es volverlo argumento de un escrito.hice (a medias, porque no escribí el relato sino que tracé lamaestras, el esqueleto matemático, para que otro lo hiciera).

    Por la vía de esta inversión (no escribo sobre algo extraque es extraño porque lo escribo) llegué a una explicación de e

    de los precios siempre descendentes, que me había parecido cnatural. No la desarrollaré, en parte por una cuestión de espaparte porque sería una intrusión en la tarea del novelista aficiofuturo que tomará estas líneas como una guía de pasatiempo. Bque los precios no se habían dado necesariamente en orden dessólo el tiempo los había ordenado así, el tiempo miniaturizadoaventura, del cual el modelo en tamaño natural son los sigtranscurrirán hasta que mi esquema se vuelva un mito operativ

    El próximo lo encontré, o se materializó ante mí, en... No idónde. Eso, junto con todos los demás detalles, lo dejo a cargoescriba la novela. Lo compré a cincuenta y tres pesos. Comnúmero diez, antes de seguir con el once, el doce, etcétera, vouna pausa para tratar de poner en claro los números correspondhe venido dejando en blanco ese aspecto durante las últimas cosido para avanzar más rápido, pero no significa que no hiciera lo

    in mente. ¡Vaya si los hacía! Eran mi única ocupación, y una interapia para el estado de ánimo calamitoso en el que me hallab¿Estado de ánimo? Más bien estado a secas. Me preservab

    todo. Mi idea fija era llegar a estar sentado en el avión con dBuenos Aires. Todo se subordinaba a eso. Cada minuto que paun minuto ganado. Aunque en el fondo no me hacía muchas iCuando lograra salir de la trampa iba a volver a sentirme insatinadecuado, igual que en México, o peor. Pero trataba de no peso, para no deprimirme más. Me concentraba en el presente, ycaso me decía que lo que viniera después no podría ser tan ma

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    50/211

    Veinte Ficciones Breves : Antología de Cuentos Argentinos y Brasileños Contemporáneos

    En fin. Los diez ejemplares habían sido comprados a diez distintos, en escala descendente: noventa y nueve, noventa y cincy cinco, ochenta y dos, ochenta, setenta y nueve, sesenta y doscincuenta y seis, y cincuenta y tres. La serie de diferencias unide cuatro, diez, tres, dos, uno, diecisiete, tres, tres, tres. La sumcuarenta y seis, que era, por supuesto, la diferencia máxima ahasta ese momento, entre el primer precio (noventa y nueve) y e(cincuenta y tres). La serie completa de estas diferencias máxiatrás para adelante", era: cuarenta y seis, cuarenta y dos, treint

    veintinueve, veintisiete, nueve, seis y tres, esas tres series constrenza original sobre cuyas curvas recurrentes tenía lugar todo ede metamorfosis numéricas. Ya sé que no parece muy racional, peen que alguien, alguna vez, va a ponerse a hacer las cuentas, unacomo las hice yo, y quizás para él, al contrario de lo que me pala realidad se vuelva real.

    México, 28 de noviembre de 1996

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    51/211

    Muito lentamente ao longo de anos, sem que no princíppróprio percebesse, um rosto chinês está invadindo meu rosto.

    Não, por favor, sem simplismos. Não sejamos óbvios. Nqualquer antepassado chinês em minha nem tão frondosa genealógica. Nenhuma antepassada que tenha feito viagens ao Nenhum chinês que tenha estado em nossa pequena cidade. Etudo – eu sabia que fingindo hesitar, por pura hipocrisia, chegaaí – minha mãe nunca teve um amante chinês. Como posso gPeço, não nos percamos em detalhes mesquinhos. Digo que e aceitem minha palavra. Afinal, seria tão mais fácil para mtudo não passasse de um comum encontro extraconjugal,

    que um só.O rosto chinês que está usurpando o meu me foi atribuíforma obscura, que nunca saberei.

    Em criança, um querubim. Cachos, olhões abertos sobre o mE a pele rosada, esse menino parece uma flor. O rosto, que aosse faria afilado como o de todos os homens da minha família, acomme sem outras alterações que não as impostas pelo tempo. Semdaqueles que todos reconhecem de imediato na velha foto em gruno colégio.Na maturidade, porém. Nada que eu pudesse chamar de altEra como se os zigomas, até então insignificantes se alargassemà idade, um efeito visual causado pelo emagrecimento da face. Mforça lenta e desconhecida parecia empurrar por dentro do crânioo passar dos dias eu me surpreendia, diante do espelho, vena ênfase do meu rosto, até então centralizada na boca, desloprogressivamente para o alto.

    Como o Máscara de Ferr*Colassanti, Marina

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    52/211

    A boca, aliás, sofreu processo inverso. Carnuda, delargo, quase maior que o devido, abria-se em largo sorriso, distmeu rosto. Não tive certeza a princípio, pelo contrário, duvminha percepção mas, por estranho que fosse, pareceu-mecomissuras se faziam mais estreitas, menos generosas, e que a que a boca encolhia.

    Digo isso, e pode parecer que meu rosto, como borracha oespecial de cinema, se torcia, se esticava, mudava de feitio sob apavorado. Hoje penso que teria sido melhor. Comoção tão

    teria me obrigado a procurar um médico de imediato, um proque, acompanhando o processo com seus próprios olhos, pudelhe remédio, ainda que à força de bisturi. Mas não. Tudo se pratravés de avanços infinitesimais, tornando impossível qualqude socorro. A procurar um médico e dizer doutor, meu rosto…risco de passar por louco.

    Louco não sou. Olho para essa pela gordurosa e lisa – nincorrerei no erro de dizê-la amarela, eu que a examino a todadetidamente – e me pergunto quem a esticou assim tensa e bsobre aquela outra, aquela que aqui e ali começava a afrouxar saquela manchada pela sombra da barba espessa, que eu escanhdia amorosamente, aquela que era minha.

    Os olhos, é claro. Vocês esperam que eu fale dos olhos. Cnão conhecessem o olho chinês, o ângulo fechado da pálpebra e aexata como uma concha. Os olhos, é claro. Duas fendas, com

    com os que eu tinha. Duas fendas através das quais vejo agorade outra forma, recortado, estreito, como se os meus próprios olhosestivessem aprisionados em pura órbita. Dois grãos ainda na c

    Embora eu gastasse horas me examinando, comparando matual com aquele dos retratos mais recentes, as pessoas ao rpareciam importunadas. Nenhuma pergunta indiscreta ou simpcuriosa, nenhum o que houve com você? A normalidade, e mPelo menos no começo, quando eu ainda recorria a pequenoscomo o de aumentar o tamanho dos óculos escuros e mantê-losmesmo depois do pôr-do-sol ou usar boné para impedir q

  • 8/17/2019 VINTE FICÇÕES BREVES.pdf

    53/211

    me, deixei minha cidade. O rosto com