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GRUPO MOM - PESQUISA MTS/FINEP 2011-2012 Transcrição das Conversas individuais N o 02 – Ana Paula M. e Ligia conversam com Tarcísio 5 Segunda conversa Data da entrevista 01 fevereiro 2011 Entrevistadores Ana Paula Maciel, [email protected] , 9321 3156 Lígia Milagres, [email protected], 9681 7502 Data da transcrição Janeiro 2012 Responsável pela transcrição Patrícia Nardini, [email protected], 8479 0981 Débora Andrade, [email protected], 9752 1850 Revisão da transcrição Materiais complementares fotos + áudio + relato 1

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GRUPO MOM - PESQUISA MTS/FINEP 2011-2012Transcrição das Conversas individuais No 02 – Ana Paula M. e Ligia conversam com Tarcísio

5 Segunda conversa

Data da entrevista

01 fevereiro 2011

Entrevistadores

Ana Paula Maciel, [email protected], 9321 3156

Lígia Milagres, [email protected], 9681 7502

Data da transcrição

Janeiro 2012

Responsável pela transcrição

Patrícia Nardini, [email protected], 8479 0981

Débora Andrade, [email protected], 9752 1850

Revisão da transcrição

Materiais complementares

fotos + áudio + relato

Obs.: Os comentários direcionados ao revisor têm essa marcação em highlight amarela. As partes em que achamos duas possibilidades diferentes de interpretação aparecem assim: 1a interpretação / 2a interpretação [?].

5.4 Transcrição 2

[0’] Mas é o povo então que vem…

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Quem mora assim são: quem mora longe e trabalha aqui na região, outros são os que vão embora daqui e voltam (que vai e arrepende), mas esse negócio… não sei se força, sei lá como é que é, a pessoa a sair daqui, mas acabam voltando porque vão morar longe [?] e não consegue nada por lá.

Mas tem muito caso assim? Você tem alguém aqui que é...

Não, que já veio procurar aqui tem vários, mas desse jeito aí, por enquanto, não tem ninguém ainda, não. Mas que já veio vários aqui, ou seja área de risco, na época da chuva, mesmo, aparece direto pessoas aqui [?].

Era gente que estava morando em predinho?

Não, não. De predinho não apareceu, ainda não. Só quem, por exemplo, foi indenizado, compraram longe e arrependeram. Mas do predinho, em si, não. Outros é desses lugar mais simples, casebre [?], na época da chuva ____________ [0’ 55’’]; que as pessoas chegavam, à noite, com três, quatro filhos. Na casa não cabia [?], fazer o quê? Não dava pra fazer nada.

[1’] Você sabe de quanto que é essa indenização Tarcísio?

Não, eu comecei acompanhar esse negócio, depois eu larguei pra lá, vi que esse negócio não ia pra frente nunca, né?

[risos] Porquê? Como que você acompanhou?

Olha eu acompanhei, eu fui em várias reuniões. Várias, várias, várias e várias.

Que eram promovidas pela prefeitura?

Pela prefeitura, teve com um ministro disso, ministro daquilo outro, com o Lula… Uma vez a gente foi lá pra um trabalho __________ pra estar no Palácio das Artes. Palácio das Artes _________ [1’ 25’’] pagar imposto e hoje, agora, não tem, não [?].

[risos]

É… mas, até hoje, isso tem o quê? Era para ter entregar com três anos, já deve ter uns quatro ou cinco já.

Você foi de grupo de referência?

[Tarcísio confirma.]

Você já foi então?

Já.

Mas você largou…

Já larguei pra lá, ________ [1’ 45’’] não adianta fazer isso, não resolve nada.

Como eles chegam assim? Como é que esse grupos de referência são formados? Como que eles chegaram até você?

[2’] Aqui foi através da Associação de Moradores, eu conheci o Seu Gonçalo / Seu Gustavo [?] e o Seu Vicente, aí comecei a conversar com eles sobre isso, comecei lá. Ele me convidou, queria que eu fizesse parte, eu fui umas vezes pra entender o que eles faziam. Daí apareceram outras e outras e outras, no final das contas acabou tudo. Nem a obra saiu, nem a associação também, que parece que não foi pra frente, pelo jeito. Sumiram todo mundo ________ [2’ 20’’]; a ajuda, [?] do mesmo jeito que ela chega, ela some.

[risos] Seu Vicente, que era...?

Vicente, é. Você conhece ele, né?

Não, não conheço não.

Você não conhece ele, não?

Não. Você conhece, Ligia, o Seu Vicente?

Não.

Ele é da Associação de Moradores daqui, tem uma crechezinha lá na frente.

Essa Associação tinha a ver com a Dona Socorro?

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Olha, esse negócio é mais ou menos parecido, mas eu não sei qual a ligação, a diferença que tem entre os dois. Por que o Seu Vicente diz que fazia parte da associação, conselho, sei lá o que que era. E a Socorro também fazia, mas só que a Socorro era mais atuante.

E Seu Vicente um pouco mais...

Seu Vicente é mais calmo, então não tem muito resultado o serviço dele, não. A Dona Socorro, não, ela fez muita coisa; o que tem aqui, praticamente, foi ela que conseguiu.

[3’] Ela morava nessa rua?

Morava na frente ali, a filha volta e meia tá aí / só a filha dela está no meio. [?] [3’ 10’’]

Ah! Pois é, a gente quer saber onde que é a casa da filha dela pra gente conversar. Mas e agora? Pode falar... Mas e agora.. pode falar. [risos] Te interrompi.

Não ia falar, não. Ia falar abobrinha, pode falar.

Não! E agora que as obras voltaram? Parece que estão mexendo...

Agorinha mesmo eu fui lá olhar, parece que agora tá indo.

Mas tá indo o quê?

Só não pode soltar duas tartarugas, que uma vai embora, né? Mas parece que agora está… devagarzinho, devagarzinho, mas não sei. Agorinha, agorinha, eu estava lá.

É? Dando uma olhada.

Só uma olhada, pra ver o que eles estão fazendo, se está saindo mesmo. Eles estão fazendo; estão fazendo espaços de _____________ [3’ 50’’], mas eu não sei se eles...

Estão falando em remoção de alguém?

[Tarcísio confirma.]?

[4’] De que pedaço?

Só de baixo da rede da Cemig ali em cima, é área de risco lá em cima, debaixo da rede. Agora, lá nas pirambeiras aí para baixo, eu não vi ninguém falar desse negócio não, a não ser que tenha pra lá, né? Pode ser que tenha, mas não vi ninguém falando nesse negócio, não.

Mas não tem nenhuma família que você diz assim: ‘Ah! Essa vai ser removida’? Já tem alguém que sabe que vai ser removido?

De baixo da rede? Tem, já assim [?], várias.

Mas já está com data marcada?

Está marcado, né?

Não, não. Isso aí, já marcaram várias vezes. Ele, mesmo, já marcaram a casa dele, aí depois ele _________, mandou desmarcar, depois sei lá o que que eles arrumaram. Dizem que é pra sair, mas meu irmão sai, ele ________________ [4’ 35’’], ele sai. Mas, só isso.

Seu irmão? Aquele que ajudou aqui, que você tinha falado?

Também, é. Ele ajudou também, ele ajudou, foi ele que é mais a parte operacional, ele que entende mais.

Operacional? O que é a parte operacional?

Pedreiro.

[risos] Ah! Ele entende mais de obra?

Entende, ele trabalha com isso.

[5’] Ele trabalha em construtora?

______.

A gente queria saber isso mesmo, como é que foi essa parte operacional [risos] e de pensamento. Quando você pensou aqui, nas quitinetes, como é que foi esse seu processo? Você falou que tinha planejado tudo, nesse momento em que você ficou pensando como que seria, o seu irmão ainda não estava na história?

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[Tarcísio confirma.]

Que que você fazia?

A parte de queimar os neurônio foi comigo, ai eu fui pensando. Sempre fui bom de observar, eu vou num lugar, (na sua casa, se começar ficar olhando pra cima, vocês não preocupa não!) [risos], aí eu ficava olhando. Sempre que eu ia no lugar, olhava, pegava uma parte que eu achava que dava certo; ia em outro lugar, pegava outra parte que dava certo, fui e juntei as partes.

Em lugares daqui ou lugares de fora?

Também, em outros lugares também, a gente vê outras coisa em algum lugar...

Dá um exemplo de um lugar que você viu e pegou de referência.

[6’] Eu morei uma vez, um certo tempo lá em Contagem, lá no Riacho.

Aonde?

No Riacho, lá em Contagem. Lá tinha umas quitinetezinhas também, tinha uma coisa parecida com isso aqui, mas só que não era bem isso não, aí eu fui olhando em outros lugares. E daquela, eu peguei e fiz umas adaptações, só isso.

A ideia de fazer quitinetes foi de lá?

De lá também, mas esse negócio já… tem vários e vários lugares que tem esse tipo de coisa. Só que é em modelos diferentes, não é assim essa trabalheira toda, igual eu fiz aqui.

O que você acha que têm de diferente nas outras, que deu menos trabalho?

Vamos supor, igual aqui, se eu tivesse feito todas embaixo, por exemplo, uma parte embaixo e outra parte em cima ia ficar mais barato, mais prático [?].

Como assim, Tarcísio?

Se eu quisesse fazer dois cômodos aqui embaixo e fosse juntar esse com esse aqui.

Ah, ‘tá! Uma casa seria embaixo...

Aí fica uma casa embaixo, e eu fazia só uma escada, com acesso pra cima. Ficava mais fácil, mais prático.

E por que você não fez assim?

É porque eu não quis que um ficasse em cima do outro.

[7’] Por quê?

Ah! Eu trabalhei em condomínio muito tempo, eu sei que aquilo ali é uma favela de rico, mas é só briga, né? _______________ [7’ 10’’].

[risos] Entendi.

Você mora lá, né?

Eu moro numa dessas aí. [risos] A gente ouve barulhos terríves, cada coisa que você fica louco.

__________________ [7’ 20’’]. Não pode nem deixar uma moeda cair no chão que o de baixo reclama.

Foi então pensando nisso que você decidiu?

Foi, só nisso, passei muito tempo, foram quinze, vinte anos que eu trabalhei em condomínio como porteiro. Então eu já vi muita coisa boa nesse negócio.

Quinze, vinte anos?

É, mais ou menos isso. Já vi muita coisa boa nesse negócio de apartamento. Aquilo é uma beleza, né? No primeiro dia que chega.

Primeiro dia que chega... [risos]

Aí depois, daí pra frente é só problema. Então, eu estava falando [?] disso, porque tudo mundo ia ficar me enchendo o saco, ainda mais que tudo é meu [?]. Ia ficar me enchendo assim: ‘Ah, fulano tá fazendo barulho lá’.

Você seria o síndico né?

Infelizmente, infelizmente, vai cair encima de mim, então… [risos] Vou sair com esse negócio aí, sai, pode sair.

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[8’] Sindico, ‘Estou fora', né?

Por falar em síndico, aqui as pessoas contribuem com alguma coisa coletiva, pra mexer aqui em partes que não são... Tem essas coisas de condomínio aqui?

Aí é comigo, não. Aí é comigo, é nós que arca com essas partes aí, todas.

Tem muita coisa pra fazer?

Tem, sempre tem.

Tipo o quê?

Pouco tempo depois que vocês vieram aqui, já não tive esse piso aqui, já refiz ele todo de novo?

É, fez a pintura, que a gente está vendo, né?

Fiz a pintura. O que mais que nós fizemos? Mexemos lá em cima, vários riscos, vários riscos [?] de vazamento.

Na cobertura?

Na cobertura, vazamento. A gente, na época, colocou manta asfáltica, mas eu não revesti ela, ela ressecou, sabe como? Deu, engatei um tratamento, está até hoje [?].

Porque que você não revestiu?

Dinheiro…

[risos] Mas agora você teve que comprar manta asfáltica?

Não, nós está tentando recuperar ela. Meu filho disse que vai construir lá em cima, aí não está fazendo muita coisa, não. Meu cálculo [?] era tirar ela toda e colocar de novo, mas como ele diz que vai construir lá em cima…

[9’] Aqui em cima?

[Confirma.]?

E a estrutura? Vocês fizeram..

A estrutura, nós fizemos uma estrutura boa. Aí que eu quero chegar com vocês, numa parte: vocês tem como verificar estrutura de casa, assim? Igual está essa aqui?

A gente tinha que saber é [se], quando você fez (aí faz parte do planejamento que você planejou), você pensou nos pilares, em quanto de ferro que você ia pôr.

Também pensei, isso foi pensado.

Como é que foi isso, na época?

[10’] A gente pensou, mas só a parte nossa, porque nós não tem parte prática nenhuma, né? A parte nossa é só operacional, mesmo. Aí a gente pensou: ‘Vamos fazer os tubulões com tal fundura, assim, assim’; foi feito, alguns até mais fundos do que a gente imaginava. Foi feito uma sustentação embaixo e com vários pilares, porque esses pilares iam ter em excesso, mas aí ficou vários que ficou perdidos, por causa que [?] fez eles e ainda não bateu como a gente queria, mas como o buraco já estava pronto, eles queriam enterrar e eu não deixei ___________________, [10’ 15’’] ficou mais na parte da segurança. E a ferragem também foi toda feita, mais ou menos, baseado, de acordo com aquilo que esses pessoal que trabalha nessas obras aí fazia, né?

Mas, seu irmão, que tem costume de mexer com obra, perguntou para alguém? Para um armador da obra que ele trabalha? Perguntou assim: ‘Que que eu faço aqui, que você acha’?

Perguntou. Mas, por exemplo, você chega aqui na vila, se você passar um terreno para as pessoas que trabalham com isso, eles já te dão uma casa pronta! Eles já tem, praticamente, como se fosse uma cartilha na cabeça deles, que eles já sabem tudo de material, que que eles vão gastar, ferragem.

Ele, os pedreiros?

[11’] Os pedreiros aqui da vila, por exemplo [?]. Quando eles vão para obras, no caso, vocês que são arquitetas, vocês vão acompanhar e vão passar aquilo de acordo com ordens suas pra ele, aí ele vai fazer em cima daquilo. E aqui, eles vão fazer com a deles, sem essa parte aí.

Você contratou um pedreiro, um pedreiro te ajudou, foi empreito?

Não, não o Celso eu paguei foi por dia [?] ____________. [11’ 25’’]

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E ele te ajudou? Ele sabe falar assim: ‘Ó, esse pilar tem que ter tanto de ferro, ele tem que ter esse tamanho X’?

É, nessa parte. ‘Esse tamanho X’.

Como é que você explicou a idéia para ele? Para ele poder te auxiliar?

No projeto aqui, no caso? Ah, isso aí, enquanto não chegou na segunda laje, ninguém entendia nada.

Mas olha só, isso é que a gente está querendo entender.

Vocês também não estão entendendo nada também, né? [risos]

[12’] Porque você ficou pensando, você teve a idéia de fazer as quitinetes, ficou pensando como é que seria, baseado nos exemplos que você olhou... Qual que foi o ponto de partida? Você tinha esse espaço aqui.

Tinha.

Que era um lote que você comprou?

Era. Vamos do começo, começar do começo, começado.

Isso é bom. [risos]

Aqui era uma casa velha, tinha uma dona que ela e a irmã dela moravam aqui. Ela adoeceu, ficou internada um bom tempo, morreu, foi para cima; a irmã dela já tinha morrido antes. E ficou esse casa velha aqui, eles deram pra vender, nós pedimos preferência e compramos a casa velha. Mas não aproveitava nada dela mesmo, não, era uma casa de adobre ainda da época, de treliça, de ________ [12’ 45’’], então não aproveitava nada. Ela ficou alugada um certo tempo, até recuperar o dinheiro que a gente deu pra comprar (tinha que ser à vista), o dinheiro que nós tínhamos, nós investimos aqui.

Era dinheiro que vocês tinham guardado?

[13’] Isso, isso.

Não pediram empréstimo, não?

Não, não não. Nós compramos, ficou alugado durante acho que um ano, um ano e pouco, depois é que a gente pegou e demolimos tudo. Já estava pensando isso, quando ela estava aqui. De vez em quando eu vinha aqui, tirava as minhas medidas aqui, olhava e calculava.

Tirava medidas?

Tirava, eu tenho medida que, nossa senhora! Que eu já medi isso aqui várias e várias e várias vezes.

Com trena e tal?

Trena, no passo, qualquer coisa que eu achasse que dava pra fazer as medidas, eu fazia. Aí eu fui calculando, calculando e dividindo.

Como que você chegou ao número de quitinetes que cabia?

Eu medi a parte toda e dividi em partes iguais. Aqui eu via que cabia [?] dezesseis metros, mais ou menos, dá dezesseis metros daqui lá. E eu dividi dezesseis, deu quatro.

E como é que foi? Você fez no próprio terreno, ou você foi traçando isso no papel e fazendo umas contas, anotando? Como é que foi?

[14’] Eu anotava sempre, praticamente, eu não coloquei nada no papel; agora, conta eu fiz demais. Mas para construir, geralmente, era ele. O pedreiro colocava a parte dele, que era a parte de alinhamento, de prumo, esse tipo de coisa que não era comigo, era com ele. Agora, a parte onde que ia ser dividido, esse tipo de coisa, já era comigo.

Mas, então, você ia definindo já na hora?

Definindo na hora. Não! Mas eu já sabia, na minha cabeça eu já sabia, mas só que eu explicava, explicava e explicava e ninguém entedia nada.

Mas como que você ia explicar? Finge que eu sou pedreiro e eu tenho que fazer essa parte de baixo. Como que você me dá a instrução?

Eu pegava e marcava no chão, fazia assim, assim, assim. Aí eu falava assim: ‘Aqui, vai ser assim e aqui, vai ser assim’. Igual ali, aqui no caso, teve que fazer os buracos pra fazer os pilares, depois teve que fazer o muro de arrimo, porque aqui é um aterro, deve dá mais ou menos um metro de altura. Essa parte todo pedreiro já sabe,

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não precisa de a gente falar nada, que eles já sabem o que eles fazem: os tipos de bloco, tipo de coisa, tipo das pedra, tudo, tudo, ferro, ferragem, aí já é com eles. Quando chega nessa parte, agora, tem que ver é comigo, já deixou a ponta dos ferro pra subir, aqui, que eu já comecei a medir. No caso dele, ia até [?] nessa parede aqui, já está, começou de lá, veio até aqui, aqui tem um pedaço de sustentação também.

[15’] Os quatro metros, né?

É, os quatro metros.

Termina aqui?

É fez aqui, até aqui eles entendiam. Depois, quando veio essas partes aqui, é que ninguém entendia nada; aí já fez depois também, essas paredes aqui já ficou, praticamente, só de divisória mesmo, ela não tem sustentação nenhuma em cima delas. Igual…

Sei. Essa do banheiro?

É, essa parte aqui. Essa aqui também, não, olha. Elas são só pra encostar lá em cima, só pra fechar.

Você quer dizer que não tem pilar naquela quina.

Não, não tem pilar. Essa aqui é de sustentação, essa aqui é de sustentação. Essa aqui não, essa aqui é só de enchimento, só pra fechar.

Mas quando você diz que a parede é de sustentação é porque ela tem pilar no meio?

Tem pilar e ela pega mais peso no caso, né? Elas desce tudo em cima desse… / Elas têm a cinta em cima, desce aqui, assim, e cava. [?]

[16’] Mas ela não é daquele bloco que a gente chama bloco estrutural, não?

Não, não.

Ela é de tijolo?

Tijolo furado, mesmo. Bloco estrutural, que você fala, é aquele de cimento, né?

Ele tem de cerâmica também.

Aquele levinho, como é que chama aquele?

Aquele levinho é bloco sical. Ele também é alvenaria estrutural.

Também? Tem boa resistência?

Dizem que sim, o bom dele é que ele é leve. É mais leve que o cerâmico. Ele é muito levinho e ele é maior, então rende bem a construção, sabe?

Mas pedreiro não gostam de trabalhar com ele, que diz que é ruim de trabalhar, que ele entorta demais.

Que ele entorta?

É, diz que entorta, se colocar alguma coisa, que ele entorta muito.

Ah! Isso eu não sei te falar...

Bom, diz eles, não sei, isso não é parte comigo, não. [?] No caso do meu filho, vai construir em cima é com esse tijolo.

É legal, porque ele é mais leve, né? Pesa menos a sua estrutura.

Vai, ele vai construir com esse tijolo e vou colocar a laje também de isopor.

[17’] Como é que você teve essas referências? Do bloco sical e da laje de isopor, por exemplo? De onde você ficou sabendo que existia?

[risos] Já tem muito tempo. A porta aberta é ruim demais [?] [Parece ser um comentário sober os ruídos do local.]

[risos] Tem que voltar no calendário.

Nossa senhora! (Arrancou meus dois ouvidos que eu tenho / …dois neurônios que eu tenho.) [?] Mas nisso, a gente vai observando, nas obras vai observando. No caso desses pedreiros, que já tem conhecimento, de vários e vários. Esse menino que está aqui na frente, é pedreiro também, de muitos anos de obra.

Esse que está morando aqui? Sei.

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Ele trabalha em obra grande. Geralmente, fica na rua e fica conversando. Isso dá certo, aquilo não dá, esse já é assim, e esse já não é, aqui já dá com esse, mas ali já não dá. Porque a mão de obra toda está aqui, né? Então é daqui que sai a turma que faz a mão de obra. No casos dos pedreiros, de engenheiro da turma [?] só faz no papel, mas parte estrutural...

É o povo daqui, mesmo.

…é o povo daqui.

Então você só trabalha com gente daqui mesmo?

[18’] Só daqui. Aqui você acha de tudo. Até engenheiro, tem aqui na favela. Através disso, você vai conversando daqui dali, daqui dali. Um faz passa pro outro a gente já pergunta, já conhece todo mundo que está construindo, e vai lá: ‘O que é que você fez na sua casa?’ ‘Fiz isso e isso, assim.’ ‘Prestou, prestou?’ ‘Não.’ ‘Prestou?’ ‘Ficou mais ou menos.’ ‘Prestou?’ ‘Prestou’. Aí a gente já vai tendo aquela referência já (daquele tipo, aquela marca, aquele material, o jeito que ele fez) através da rede aqui dentro, só do pessoal daqui de dentro, mesmo. A gente vai tendo todas as referências.

Então, mais vizinhos, gente que está construindo...

Vizinhos, vizinhos, a comunidade mesmo, daqui, mesmo.

Você olha assim uma pessoas, que você gosta do jeito das coisas que ela faz, vai la é pergunta?

[19’] Também; ou pedreiro, é a mesma coisa. Você vai pegar o pedreiro, você vai ver que aquele pedreiro que tem condições de fazer, que você já tem referência do serviço dele, o que que ele já fez para que melhore o currículo dele. No caso, igual esse que fez pra mim aqui, ele é um bom pedreiro (tanto é que todo mundo viu as coisas que ele fez e ficou bem feito; serviço grande e ficou bem feito, até que ele fez rápido) e ele não tinha referência. A partir daqui, agora, ele passou a ser referência.

Virou o currículo dele.

Virou o currículo dele, isso aqui passou a ser a referência dele.

Muita gente vem ver?

Vem. Desde quando começou, desde quando ninguém entendia nada. Passou a ser um quebra-cabeça pra turma, que eles chegavam e perguntavam. Somente de quando você começa a fundação, já começa gente querendo alugar.

Igual a gente está te alugando aqui, né? [risos]

É, você explica, e explica, e explica, e explica, e vem uns, entende, a maioria fala que entende, mas não entedeu coisa nenhuma, e por aí vai. Aí vai o negócio de boca a boca.

E o depósito? Você tem informação lá também?

[20’] Não o depósito eu não gosto, não. Primeiro, porque o negócio dele é vender né? Eles vem aí, vende até na rua na gente. Então não vai nessa onda de depósito, não, que a gente só leva ferro nessa aí.

Você fica então um pouco desconfiado?

Fica. Se bem que eu conheço os pessoal do depósito aqui, tudo. Tenho contato com eles, dois depósito que a gente tem: tem um aqui, o outro mais lá na frente um pouquinho. Eu tenho um bom relacionamento com eles, mas mesmo assim… Eles só sabe vender, quer dizer, se for pra vim pra cá pra explicar alguma coisa na obra, eles não sabem.

Ah, tá. Então não é que você fica achando que eles vão querer te estocar um produto. É que você acha que eles não sabem mesmo, que eles estão só vendendo.

O negócio deles é vender. Justamente, eu preciso comprar um produto impermeabilizante, eles vão me vender mas justamente aquilo que o outro vendedor já vendeu pra eles, aquele representante comercial daquela indústria já vendeu pra eles. E aquilo não tem garantia nenhuma, só tem garantia que o técnico testou lá no pedacinho desse tamanhanhozinho, ficou dois dias com água lá em cima. Mas eles não tacou para ele pegar sereno, ele pegar sol, ele pegar chuva, gente pisar em cima dele e acontecer o que acontecer, para ver se aquilo que ele está vendendo tem alguma credibilidade. Então é ai que entra a turma da favela aqui.

[21’] Que de fato aplicou o negócio.

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É o boca a boca. Porque um coloca, quando é bom, todo mundo já vai em cima: ‘Esse negócio é bom’; quando é ruim, também, já detona logo.

A gente esteve lá, conversando. Eu vi que o produto que está saindo muito agora é um tal de M7, você conhece?

M7.

Você aplicou esse negócio aqui?

Não, estou com pé atrás com ele, ainda. Porque na chuva…

É, eu não conheço nada dele não. [risos]

Já me falaram, eu já perguntei várias vezes. Outro dia mesmo, eu perguntei o engenheiro de impermeabilizante do prédio que eu trabalho (ele trabalha com impermeabilização, é engenheiro dessa área). Ele estava lá, aí eu, conversando com ele, diz ele que o M7 é apenas uma cola que já existia a muito tempo no mercado, eles pegou e passou ela, hoje em dia, deu cor nela.

Deu nome novo.

Não é uma manta asfáltica?

[22’] É uma manta asfáltica, de acordo com aquilo que ele falou, mas eu não estou levando muita fé nele também, não. Eu estou levando mais fé, porque já teve pessoas que aplicou na chuva e ela garantiu.

Você está falando do M7 ou outra coisa?

Do M7. Na água, ela garantiu, quem aplicou teve um boa referência dela na água. Agora, vem o outro teste nela, que é o sol. Ela agora vai ter que pegar seis, oito meses de sol para ver se ela passa no teste, para ver se ela não vai rachar toda.

Mas de qualquer forma... É, eu não sei como é que o M7.

Pois é.

Você tem que cobrir, né? Eu não sei te falar.

Mas pra você passar M7, vamos supor, você pega M7 e passa ela, que ela é muito clara. Você passa ela toda, na casa toda. Para você fazer o revestimento nela, é melhor você colocar uma manta asfáltica logo, que é um negócio muito mais garantido.

Que deve ser mais barato?

[23’] E fica mais barato. Porque uma lata de M7 de doze quilos, um dia eu pesquisei dava uns duzentos e alguma coisa. E o rolo de manta asfáltica, uma manta asfáltica de quatro milímetros de qualidade boa, ela está na faixa do quê? Vi o preço outro dia, foi centro e trinta o rolo, quer dizer que está ficando mais barato. O balde de M7 rende dez metros quadrados e a manta também, o rolo dela é para dez metros quadrados. E você vai ter que cobrir, vai acontecer a mesma coisa.

Entendi. E você, além da impermeabilização, não pensa em uma outra forma de cobrir?

Muita gente fala no telhado, que diz que é o jeito melhor. Mas eu não confio em telhado, no alto.

Por quê?

Eu tenho medo do telhado no alto.

Por quê?

Medo do vento chegar e levar aquele negócio todo.

Mas se você fizer aquela estrutura que eles fazem, de madeira embaixo, madeiramento, mesmo assim? E amarrar as telhas?

Mesmo assim, eles falam que é um negócio que é caxote, um negócio que eles falam, que caxote é aquele negócio que ela fica toda coberta, você não deixa pega nenhuma para que o vento entre, mas mesmo assim, não confio muito, não.

[24’] Por quê? De onde vem essa desconfiança sua?

Essa desconfiança minha, é que eu morava na roça; uma vez, nós estavamos jogando bola e bateu uma tempestade, nós escondemos dentro do grupo. Aí veio uma tempestade e arrancou aquele negócio, até as parede foi embora. Arrancou tudo, nós tivemos que ______, literalmente, ______ [24’ 20’’].

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Nossa! Com a sua família?

Não, era com uma turma. Só uma turma de jovens, estava jogando bola. Aí nós, para correr para casa, que ficava um pouco a baixo do nível da rua, ___________ [24’ 30’’], não tirei muita coisa não. Tinha uma cerca de arame, o vento pegava e jogava nós todos encima do arame [?]; aí teve que abraçar todo mundo pra conseguir andar dez, vinte metros, pra sair…

Porque, senão, levava vocês, é isso?

É, levava nós todo. Tudo rodando assim, como se fosse uma folha de papel.

Mas aqui, na favela, você já viu caso de telha de telhado, de cobertura de telhado?

Já, várias vezes. Aqui mesmo, quando era de telha, tirou.

[25’] Aqui na sua casa?

Aqui na minha casa, quando aqui era de telha, tinha um barracão em cima que foi tirado.

Mas não era amarrada, ou era?

Era, amarrada. Quando o vento é muito forte, ele vai levando tudo. Você não achou uma pedra igual ali, ali mesmo, tinha várias vezes. Lá em cima estava tuda solto.

Aqui é a Preta, né? E a Eliane?

Olha, a Eliane ali. Se você subir aqui em cima, você vai ver várias casas com telha toda esparramada por cima do telhado, é o vento que tira. O vento é muito forte, joga mesmo, por isso que eu não confio. Eu não tenho muita confiança na telha, mesmo que ela fique toda, toda (assim, estou falando para vocês) que ela fica toda, toda coberta…

Toda amarrada.

…toda amarrada, toda, toda embutida dentro a parede, mas mesmo assim, eu não tenho muita confiança, não. E outra coisa é que aqui a gente não costuma ter espaço. Se você colocar a telha, você vai perder mais espaço ainda, quer dizer, se você ficou com a laje livre em cima, dá pra você colocar qualquer coisa lá em cima.

Tipo o quê? Você fala assim de depósito ou pra crescer?

[26’] Dá pra ser a laje club.

Laje club. [risos] Que ótimo!

Como é que é isso?

Você não sabe o que é laje club não minha filha?

[risos] Que que é a laje club?

[risos]

Sai para laje de biquini e deita e vai lá queimar.

Eu imaginei que era um solzinho [?]. Mas você faz isso? Vai lá, faz um churrasco...

Não, isso eu não faço, não. Se quiser, dá pra fazer.

Mas e o acesso pra você subir lá?

Ah, todo mundo sobe! Coloca uma escada daqui, uma escada [?] dali. Mulher quando quer fazer as coisas, Deus me livre.

Hã?

Mulher quando cisma de fazer alguma coisa.

A sua esposa já foi lá, tomar um sol?

Não, ela é meio medrosa, mas se for pra fazer, faz. Dá pra fazer, igual, sobe lá pra cima, lá você vai ficar à vontade, vai aparecer ninguém pra perturbar, não. Vai lá quando quiser, sol rachando em cima. E o telhado não tem como fazer isso, você já perde esse tipo de coisa, toda. Por exemplo, você quer guardar alguma coisa, caco velho que a gente não usa tanto assim amontoa lá em cima.

[27’] Mas que tipo de coisa? Porque aí vai pegar chuva. Coisas que podem pegar chuva?

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É, coisas que podem pegar chuva. Vamos supor, ferragem, algum tipo de ferro, uma coisa que não está servindo para muita coisa, mas você está com dó de jogar fora, aí você coloca lá em cima. No final, você joga fora mesmo, porque vai apodrecer lá em cima, mas pelo menos tem certeza que enchendo [?] o saco lá, não vai ficar, juntando mosquito. Mas se colocar, aí já perde, vai perder esses espaços.

A sua esposa, aquele dia a gente não perguntou nada sobre ela. Ela trabalha fora, né?

Trabalha.

Ela trabalha com o quê, Tarcísio?

Ela trabalha numa empresa de engenharia, também. A empresa dela presta serviço pra… Ela trabalha é na área de energia, esses negócio das [?] engenharia, multinacional.

E ela opina, aqui nesses seus empreendimentos?

[28’] Não! [risos] Ela opina sim, mas muito pouco. Eu sempre deixo mais pra ela a parte de administração e de lidar com as pessoas, eu não gosto de mexer muito com isso não. Aí fica mais pra ela.

Como assim?

Por exemplo, mexer com o pessoal, com os vizinhos, com as pessoas que moram aqui, mexer com o contrato, receber aluguel e tal. Ela fica mais é com essa parte.

Ah, ‘tá! Ela que é a síndica, na verdade?

É, ela que é a síndica.

Ela que vem cobrar o povo.

Essa parte aí é mais com ela. Não gosto de mexer com isso, não. Meu negócio é só a parte bruta. Sou um ignorante.

[risos] Mas, por exemplo, é ela que...

[Conversa paralela sobre o silêncio da Ligia, de 28’ 30’’ a 28’ 50’’.]

Você está falando desse negócios que ela vem comunicar com o povo, né? Eu lembrei do que você contou sobre os vizinhos, que você tem essa janela de vizinho aqui, né? Você teve que conversar com eles, quando foi fazer isso?

[29’] Não, falei nada não.

Falou nada?

Não, acho que eu falei com a dona antes, quando eu ia construir, falei com ela que ia construir. Mas quando eu estava construindo, eu não falei nada, não, porque eu já deixei o espaço aqui, mais ou menos, eu já respeitei o espaço. Porque igual, na favela, você já viu que ninguém respeita muita coisa, não. A maioria do pessoal fala assim: ‘Faz pra você, eles não tinha que ter levantado janela aqui’, [?] paralela com a dela. Não tinha necessidade disso, então eu fiz aqui, graças a Deus não tenho problema com ela, [?] não.

Então, você não conversou com ninguém?

Não.

Mas se você tivesse optado em fechar a janela, como é que seria? Você imagina?

Se fosse para criar caso, era só eu levantar aqui paralelo, bem juntinho, e fazer a frente para lá, para o meu lado. Em vez da frente ser para cá, vai pra lá; virar as costas da entrada [?], virar isso aqui ao contrário, entendeu? Aí fazia com ela bem juntinho aqui, para não caber ________.

[30’] Mas aí você ia perguntar?

Não.

Mas aí você ia ter que conversar.

Pois é, eu ia ter que conversar, ia dar notícia/justiça pra ela contra mim. [?]

E como é que ia ficar, hein? [risos]

Aí é que tá, ia para justiça. Eu não sei como é que vai ficar.

Isso acontece muito aqui na vila? Pessoal entrar na justiça?

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Acontece.

Como é que é?

Janela, geralmente, é esse tipo de coisa.

Mas como é que vai para justiça?

Aí tem que vir perito, tem que vir um monte de gente pra fazer análise daquele negócio, depois vai… Isso demora também.

Aqueles negócio de juizado de pequenas causas. É isso?

Também vai, é.

Além disso, vai aonde?

Só isso mesmo, só.

É isso, né? Conciliação né?

É isso, pequenas causas, conciliação, às vezes, ou o povo resolve na pancada mesmo.

Mas então, você ter colocado essa circulação aqui, esse corredor, foi pensando em não criar...

Foi pensando, é… nas duas partes.

Você optou para não criar problema?

Para não prejudicar, para não criar problema por causa dela.

[31’] Foi por causa disso?

Por causa dela, porque o dela já estava feito. Como é que ela ia desfazer isso aqui tudo? Não tinha jeito.

Isso que fez você tomar essa decisão?

É, foi, foi. E eu também não queria janela virada para o meu lado, porque tira a privacidade da gente.

Ah, ‘tá! Teve mais isso, também.

Também. Mais por isso.

Mais por causa da sua privacidade?

Também, mais por causa da minha privacidade.

E dentro da sua casa tem alguma janela desse tipo, assim que dá para o vizinho?

Para o vizinho não tem, não, porque a minha tem uma divisioriazinha (depois eu mostro para vocês lá) tem uma divisioriazinha no meu lado que ficou, mas não ficou virada para o vizinho. Fizemos um corredorzinho desses aí tem um muro de _________________________. [31’ 40’’]

Como é que era esse quando você chegou para morar na casa que você mora hoje? Essas divisões, os lotes, como é que era isso?

[32’] Ah, esse negócio aqui, há uns anos atrás, isso praticamente era tudo quase que junto. Que essa favela, praticamente, era de umas três ou quatro pessoas. Numa época, foram trocando, trocava a troco de farinha de galinha, de cachaça, aí foi dando nisso, foi ficando esse monte de coisa. Tem lugares, igual aqui, por exemplo, tem lugares que você chega que moram de cinco, seis familias: uma embaixo, uma em cima, de lado, de tudo quanto é lado. Era tudo junto.

Tudo junto, você fala, era um pedaço de terra sem demarcação?

Sem demarcação nenhuma.

Era isso?

Até hoje é, até hoje ainda está praticamente assim.

Mas quando você chegou sua casa já exisitia?

Já estava, minha casa estava. Eu morei de aluguel aqui, por muito tempo. Isso aqui era de telha, depois foram reformando minha casa também, depois eu morei de aluguel lá. Depois que nós compramos, aí que nós modificamos; era de telha, aí já colocou a laje, já fez lá. O que está lá hoje, foi feito depois.

Faz quantos anos mesmo que você veio?

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Deve ter mais ou menos uns… noventa e um é o quê? Vinte anos, né?

[33’] Nossa, anos noventa parece que está aí, né? Faz vinte anos. Porque a gente fica muito querendo saber é como que esses lotes foram marcados. Como é que você sabe que o seu pedaço é aqui?

Hoje tem, porque na época do Sergio Ferrari, ele deu título de posse para o pessoal aqui, na época. Um negócio para engalobar lá.

Um negócio o quê?

Um negócio para engalobar lá, passar uma água com açucar lá. Ele deu, então veio demarcado, aí tem o lote tal, quadra tal, depois _________________. [33’ 30’’]

Quem que é Sergio Ferrari? Eu não sei.

Foi um prefeito aqui de Belo Horizonte.

Eu não sei muito bem, não sou daqui. Mas ele demarcou aqui?

Ele demarcou, eu não sei se foi ele, através dele, na época da Socorro, tinha um deputado aqui que era bem atuante aqui na época, não sei se era Otimar Bicalho, acho que era.

Otimar Bicalho, esse eu já ouvi falar.

[34’] Esse pessoal, até fizeram algum tipo de coisa, na época da Dona Socorro, ela fez muita coisa para aqui. Uma das coisas que eles fizeram foi isso, deram esse título de posse, nessa época. Bom, mas isso é de acordo com aqueles mais velhos que moram aqui, mais velho do que eu que fez mais. [?] E deram esse tipo de coisa para aqui, para comunidade. Então tem uns que esse selo.

Esse título de posse?

Mas só que aí, eles praticamente já caducou tudo, porque a maioria desse pessoal, já morreram todos, esses que ganharam esse título de posse na época. A família continua, já está o quê? Na terceira geração, às vezes. E não tem mais nada, no caso.

Eles ficam de herdeiro.

Ficam de herdeiro, mas só que aí vão ter que fazer inventário, né?

É, aí dá confusão.

É, então, aí que está o problema.

Mas além desse negócio da posse, do título de posse, o que a gente fica curioso é saber como que é a coisa física mesmo, como é que demarcou. Por exemplo, a gente vê a casa da Dona Mirtes, que é estreitinha. A sua casa já é mais larguinha, de frente. Como é que isso aconteceu? Você sabe, você tem alguma noção? Isso vai lá para o começo.

[35’] Isso vai lá para o começo. Isso aí, eu não sei te explicar como é que é, não.

Quando você chegou já tinha casa.

Já estava, quando eu cheguei já estava tudo demarcado. Estava tudo nisso que é hoje.

Quem morava aqui, quando você chegou? Nessa rua.

Ah, da minha, praticamente, são esses mesmos. Mudar mesmo daqui, pra sair pra cá, são muitos poucos. A maioria, são alguns que morrem; mesmo assim, praticamente, são os mesmos.

Mas as casas, que casa já estava construída ná epoca que você chegou?

Essa aqui já estava, olha para você ver, já está modificando. Essa aqui, aqui já tinha. Aqui, era uma casinha também, desse lado (não está gravando, né? Estou mostrando da janela é pra nada) [?]… A de lado aqui era uma casinha. Na linha lá, essa, quando eu cheguei lá e comecei a frequentar, era só dois cômodos na frente, depois tinha um espaçozinho atrás. O que você está querendo saber é isso? A época que a pessoa comprou a área aqui, uma área razoável… Ele tinha dois cômodozinhos na frente, mas tinha uma área pra atrás. Aí, conforme a família foi crescendo, foi montuando aquele monte de…

[36’] Você está falando da sua casa?

É, da minha e de várias aqui. Foi construindo aquele monte de coisinha, aquele monte de cômodo. Foi um da família, cismava que tinha um pedacinho e construia um cômodo, o outro aparecia e já construia por cima, o outro

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já construia de lá, e foi fazendo essa confusão toda. Outro tinha um pedacinho assim e demarcava, o outro já comprava um __________ [36’ 40’’] outro lá, quando que tinha uma saída, ou um tipo de coisa assim. E foi assim, desse jeito.

E você veio de onde?

Do norte de Minas, de uma cidade que chama Joaquim Felício. Tem duas ruas: uma que chega e a mesma pra voltar.

[37’] [risos] É igual a cidade do meu pai, se você atravessar a rua e fechar o olho, acabou a cidade. Mas por que você veio? Por que você escolher viu pra cá?

Não, o norte de Minas, o quê? Nós saimos, você vê lá, dá seca [?], no caso, lá, né?

[risos] Você já estava casado? Já estava com filho?

Já estava casado.

Você só tem um menino só, né? Um menino, não, ele já é casado?

[Silêncio _ indicação visual?]

Mas aí, como você veio parar aqui na vila? Como você soube dessa casa que tinha aqui?

Eu já frequentava, tinha um parente da minha esposa que morava nessa casa aqui que nós estamos hoje. Nós passamos a conhecer ele através dela.

E deu indicação?

Deu indicação, depois eles sairam daqui, foram morar em qualquer outro lugar e nós fomos morar na casa de aluguel / da mulher, na casa dela, então nós compramos.

Vocês compraram depois de quantos anos?

Uns dois ou três anos, mais ou menos isso, em torno disso.

De uns dois anos depois que vocês chegaram?

[Silêncio _ indicação visual?]

O seu filho não mora aqui?

Não, meu filho mora em Contagem.

[38’] Ele é casado também? Tem filho?

Casado.

Tem neto?

Meu neto já veio pronto, já veio no pacote.

Ah, é? [risos] A esposa dele já tinha filho?

Tinha um menino. Hoje ele está aqui [?], está querendo construir aqui em cima, não sei se vai.

Pois é, tem que saber se você pôs ferro suficiente nesse pilares.

Aonde ele mora atualmente?

Ele mora… acho que é na Zé Faria [da Rocha], parece, o número eu não sei não, quase esquina com João César [de Oliveira, no município de Contagem.] Mais ou menos ali, bem no centro [?], ___________. [38’ 35’’]

E ele está querendo vir pra cá? Por quê?

Quer vir pra cá. É, ele já está nesse trilho aqui. [?]

Ele trabalha aqui perto?

Trabalha, trabalha perto do JK, no centro, perto da Raul Soares. Porque diz ele que, para sair de lá de Contagem e chegar no serviço de manhã, diz ele que está chegando num stress terrrível e depois, no trânsito, aí fica horas e horas.

[39’] Quanto tempo?

Ah! Diz ele que sai de casa cedo, mas o cedo dele não conta muito não… Diz ele que sai cedo, inclusive demora umas duas horas praticamente para chegar em Contagem no serviço dele.

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De ônibus ou de carro?

De carro.

E se ele vier com carro pra cá, onde que ele vai pôr o carro?

Os carros, geralmente, você paga [?] o estacionamento ______________ [39’ 20’’] ou ficam na rua, por enquanto. Aí tem que bolar um jeito de pôr garagem, também.

Tem que bolar o quê?

Um jeito pra fazer garagem.

Pois é. Aonde que você vai bolar a garagem?

Não, a minha casa mesmo, nós estamos esperando a gente ver o que vai acontecer com a demolição da Cemig, para ver o que a gente faz com a minha casa.

Ah, ‘tá! Por que, às vezes, você vai dar uma mexida lá?

Provável que vou.

Você sabe se vai ter alguma data pra essa definição?

Não _____________________________. Rapaz é até gente boa, mas não sabe. [?]

A sua casa está embaixo da linha?

Não. A minha não sabem, não vão mexer com ela, não. Dizem que não, nunca falaram nada comigo não. A minha está fora.

[40’] Mas o seu vizinho mais imediato, será?

Está.

Aquele do lado aqui?

Está, está. Depois vou mostrar vocês lá mais ou menos como é que é.

Tarcísio, só voltando no negócio das quitinetes, do seu planejamento sobre elas. Você estava falando que você pensou como seria espaço dentro, o banheiro fica aqui, o quarto fica aqui. Com relação a custo, o dinheiro que você ia usar, você já tinha uma noção?

Tinha, mas dinheiro pra construção, você não consegue chegar no número exato nunca. Sempre vai faltar, na linha [?]. E sobrar também, não precisa nem pensar! Aí a gente foi e foi fazendo. Foi fazendo, o dinheiro acabava, a gente procurava meios daqui, dali, daqui, dali…

Que tipo de meios?

Ah, pegava emprestado com um, arrumava com outro aqui; tinha um direito daqui, a gente pegava, tinha uma outra coisa, valia / dali [?], a gente pegava. O que menos usamos foi banco.

Isso que eu ia perguntar. Esse negócio de Construcard...

Não, não vai nesse negócio, não, que isso aí é fria. Pode gravar, viu?

[risos]

[41’] Quem quiser mexer com isso, não vai nisso não, que você vai pagar dobrado o dinheiro que você pegou emprestado.

Como é que você faz, você fez?

Eu sei, que nós fizemos.

Ah... Mas foi lá?

Na época, nós pegamos 5 mil, já estava nos finalmente pra acabar, pra mim parar. Nós pegamos 5 mil, nós vamos pagar quase 10 mil nesse negócio, nós pagamos. Não vai nesse negócio. Eles empurra tanta coisa na gente, tem uns tal de seguro lá, que o seguro começa com 10 centavos, no dia que você acaba de pagar, você está pagando 10 reais. Aquele negócio aumenta sem nem mais, nem menos. Mesma coisa de sacolão, você vai lá hoje, a fruta custa um real e, cada vez, aumenta um centavo. A mesma coisa é crédito bancário [?] e o seguro também, do mesmo jeito. Não mexe com isso, que isso é a mesma coisa que cartão de crédito, não mexe. Só leva pro buraco. Se quiser construir, vai construir, mas você vai ficar com a dívida eterna.

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Você foi na Caixa?

Na Caixa.

Era desses programas?

É, desse programa, Construcard.

Nesse Construcard específico.

Nesse Construcard específico.

Você não gostou?

Não. O dinheiro que nós pegamos emprestado, foi só isso. No mais, é com amigos, pega 5 mil pra um, 10 mil pra outro...

[42’] E você calculou, você fez uma conta de que você iria ter esse gasto ‘x’? Vamos supor, você gastou (estou chutando um número) 20 mil, é até baixo. Você pensou em quanto tempo que você teria esse retorno, esse dinheiro de volta? Você fez esse cálculo? Falou assim: “Ah, em três anos eu vou pagar”?

Mais ou menos, eu fiz esse cálculo. Isso aqui, na época, mais ou menos, nós calculamos... não temos certo [?], _________ [42’ 30’’] mas estava mais ou menos na faixa de 60 mil.

Tudo?

Tudo.

Antes de começar?

Não, antes de começar a gente calculou bem menos do que isso. A gente foi fazendo por etapa. A gente fazia, igual, por exemplo, a gente pegou a parte da fundação e fez, toda. Sempre planejando, falava assim: “Quando não der mais, a gente para e depois continua no momento certo”. Aí foi levando. Depois pra parte de alvenaria, a gente fez. Depois já chegou pra parte mais de laje, de cobertura, esse tipo de coisa; também foi fazendo aos pouco, né? Como o pedreiro era uma pessoa só, quer dizer que não precisava tanto dinheiro assim pra investir de imediato. O dinheiro ficou mais pulverizado, né?

[43’] Por que que você está falando isso?

É porque, por exemplo, se colocar nós três pra trabalhar, suponhamos, cada um já vai ganhar 10 reais por mês, no final do mês, vai ser 30 reais. Se for só um de nós, quer dizer que vai ser só 10.

Mas aí, ao mesmo tempo...

Demora mais a construção, mas só que fica mais fácil pra controlar. Por exemplo, se eu precisar de tomar dinheiro emprestado, eu vou subir mais uma parede. Vamos supor, você me empresta 20 reais, vou salvar ali os 20 ali sei lá quanto tempo, depois devolvo pra você. Depois, me empresta mais de 20 reais? Aí já empurra tem que pegar mais [?] ____________. [43’ 45’’] E o tempo que, se for fazer assim, mais rápido, com essa quantidade de gente, você vai ter que arrumar o dinheiro mais rápido, você não vai conseguir. Porque, no caso, você vai ter só 20 reais pra me emprestar e eu preciso de 40.

[44’] Quer dizer, você vai pegando um pouquinho, usando pouquinho.

Um pouquinho, usando pouquinho. Fica mais fácil, mais prático. Porque senão, você tem que entrar no banco. E, se entrou no banco, já era.

E essas dívidas todas você quitou, só falta o banco?

É, só banco, mas o banco é uma mixaria, isso aí é dois dia [?]. Se quiser, dá pra quitar agora, outro dia nós quitamos. [?] (Ó, os dedo inchado) [?] [44’ 25’’] Isso aqui, o cálculo de retorno aqui é mais ou menos o quê? 60 meses, né?

O quê?

Mais ou menos 60 meses que vai ter o retorno.

É? Você fez esse cálculo?

É, mais ou menos de acordo com, que aqui são quatro quitinetes, eu fiz a 250 cada um, quer dizer que dá mil reais por mês. Gastei 60 mil, 60 meses. Mais ou menos em termos disso.

Você gastou 60. E o pensamento inicial era de quanto?

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[45’] Ah, isso aí, tudo o que a gente calculou, não bateu em nada. Não adianta nem eu te falar quanto foi, porque não tem jeito. Tudo que calculou, sempre podia passar acima. E até hoje, daqui mesmo, pra nós fazer, dinheiro pra gente, saiu nada. Tudo que saiu daqui está todo investido, ou pagando conta, ou fazendo algum tipo de reajuste.

É, que é a pintura, o chão, né?

É. Já está na segunda pintura, já. Tem casa que já está pintando pela segunda vez.

Por dentro? Por quê?

É um entra e sai, que você precisa ver. [?]

Ah, porque está trocando de inquilino?

É.

E você não pede pra eles pintar? Você que pinta?

Ah, tem uns que a gente pede pra pintar, mas tem outros que a gente já fica doido que eles vão... _____ [45’ 40’’]

É um favor, estar indo embora [?].

Você já está doido pra, ó. [risos] E o que que fica mais caro, Tarcísio, nessa conta dos 60 mil? O material ou a mão de obra?

Mão de obra.

Mão de obra?

Mão de obra está caríssima ___________ [45’ 50’’].

Quanto que o cara está pedindo por dia?

Por dia, um pedreiro bom, hoje, está na faixa de, deve estar entre 100 e 150.

Mas mesmo daqui? Eles não fazem preço mais...

[46’] Mesmo aqui, mesmo naqui.

O seu cobrou isso?

Não, o meu, na época, foi 70. Ele fez aqui tudo, 70. Tem muito tempo, já, né? Mas ele, hoje, está nessa faixa, também. Como é praqui mesmo, por exemplo, se for pra trabalhar com ele, eu consigo que ele faça pra mim, uma coisa por 100 reais, eu consigo.

Sei, mas deu uma inflacionada aí, já.

Deu, e muita. Está muito caro.

Tarcísio, vamos supor, se você fosse fazer outras quitinetes em outro terreno. O que você faria igual e o que você faria diferente?

Que eu faria diferente?

É, fala três coisas que você faria diferente, por exemplo.

Três coisas da quitinete. Uma: quitinete hoje não é lucro, mais. Já parou, já está ultrapassado. A demanda está muito grande em cima, hoje, é garagem.

Ah, falta garagem.

Hoje é garagem. Pra você investir aqui hoje, você tem que investir na garagem.

Mas, assim, num lugar só de estacionamento ou uma casa com garagem?

[47’] Não, aqui mesmo, aqui mesmo, eu faria isso tudo. Se fosse pra mim construir aqui, eu não construía assim, mais. Eu fazia um galpão aqui em baixo, todo, tudo fechado aqui em baixo. Batia laje de fora a fora aqui, assim. A partir de então, eu posso fazer a quitinete em cima. Quer dizer, com o mesmo espaço, eu fazia as duas coisas.

Entendi. Que as pessoas estão vindo com carro, né?

Mas mesmo garagem pra alugar. É melhor você alugar pra garagem que você alugar pra residência. Que residência, você sabe, mexer com ser humano é complicado em todos os sentidos. E a garagem, não. O cara pôs o carro lá dentro. E é muito mais barata.

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Então, você não faria uma quitinete com garagem, você faria um estacionamento.

Um estacionamento e a quitinete em cima, com o mesmo espaço. Só a estrutura que ia ter que ser melhor um pouquinho, mas só isso.

E a vaga não seria necessariamente da quitinete?

Não, se ele quisesse ele pagava ela, também. Poderia ter direito, com desconto, entendeu?

E a segunda coisa que você não faria, que você faria diferente? Outra coisa, além da falta do carro. [PAUSA]

[48’] Segunda coisa que eu não faria?

Alguma coisa que você não gostou da construção. Do jeito que você pensou, que você dividiu o espaço...

Não, acho que, agora, a única coisa que eu faria diferente era só isso mesmo. Só o negócio da garagem, mesmo.

E o que que você achou muito bom? Que você fez, que você repetiria?

Você está pensando / apertando [?] demais, hein?

Não, é pra você pensar no seu próximo empreendimento, [risos] no seu próximo negócio.

[49’] Pode deixar. Compra o terreno lá, que eu vou te ajudar.

É? Eu vou te chamar, hein, Tarcísio? [risos]

Eu vou de graça.

Vai, nada!

Vou... Estou lembrando não, viu? Ajuda aí, vai, fala alguma coisa aí.

Uma coisa muito boa? Deixa eu pensar.

Ah, tem nada muito boa não, está tudo razoável, está tudo dentro do meu padrão, não está?

Não, ué, ela está muito bacana.

Pois é, está dentro do meu padrão. Vamos supor, coloca de um a dez, dá cinco pra tudo, que fica melhor.

Não, ela tem coisas muito bacanas. Por exemplo, a gente tinha conversado sobre a escada, que ela teve alguns problemas; não é problemas, mas você teve algumas mudanças.

A escada foi feita pra modificar ela, com espaço de tempo.

Como?

É porque nós fizemos ela de madeira e ela foi feita só provisoriamente, pra ficar poucos dias. Mas só que ela está ficando mesmo, porque, como não está dando problema, ela vai eternizando.

Mas a intenção era depois fazer de concreto?

[50’] É, vai mudar, a intenção... De concreto, eu acho nem tanto, porque ela tem que ser removível. Porque o Júlio, aí vem a modernidade, as cama box não passa nas escada hoje, a maioria não passa. Está concordando, que já sofreu com isso. [?] [risos]

Eu estou com um trambolho lá em casa também, que eu vou mudar, está difícil! [risos]

Está vendo? Por isso que a escada (daí mesmo dá pra você ver a escada lá dentro), eu tenho que arrumar um outro meio pra ela, tenho que pensar uma outra forma pra ela pra que ela seja removível. Tem um tipo de escada que ela é de roda; você encaixa ela no chão aqui e ela prende em cima. Quando você precisa do espaço, aí você destrava ela em cima e tira ela.

Onde que você viu essa escada?

[51’] Já me falaram, eu vi um outro [dia], estava indo pro meu trabalho, eu vi um encostada no chão lá. Mas não parei pra olhar, só olhei, só de relance. Mas eles já me falou sobre esse tipo de escada. Mas é assim, também não sei se usaria, não. Eu vou usar ela com dois suporte, um, assim e outro, assim. E do jeito que ela está lá, que você tira o degrau; é mais fácil. Que hoje em dia, ela está embutida na parede.

Sei. Ela está fixa, né?

Está fixa na parede, ainda tive ________ [51’ 15’’] que fez isso. Só que toda vez que você tem que tirar, você tem que pegar a parede. Está perigando, [?] vai chegar um certo ponto que não vai ter como fazer isso mais.

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Toda vez está tendo que fazer isso pra passar as camas?

Tem; quando tem as cama muito grande que não passa na escada, tem que fazer.

Nossa! Já fez isso, então.

Já, várias vezes.

Complicado, mesmo, né?

Complicado, pois é. No caso, vou ter que arranjar um meio de poder colocar dois suportes, de um lado e de outro, e a tábua fica apoiada em cima do suporte. E com qualquer coisa que der, você desparafusa a tábua, tira a tábua, e o suporte fica ali no meio ____________ [51’ 45’’]. Porque você trocar a tábua, é muito fácil.

É, pode fazer ela metálica também, se quiser você remove...

Claro.

E o povo muda muito? É rotativo demais?

[52’] É, rotativo, rotativo. Principalmente, esse aqui; esse aqui, de poucos / quantos [?] meses pra cá, já passou um, dois, três, quatro... já está na quinta pessoa, já.

Em quanto tempo?

Tem um ano e pouco, parece. Mais ou menos um ano, tem dois anos, no máximo.

Mas nunca aconteceu de ficar vazio?

Não, não fica, vazio não fica, não. Às vezes, tem até fila de espera. Tem muita gente, a demanda é muito grande.

Você tem uma listinha de pessoas?

Tenho.

Sua esposa que tem, né, Tarcísio? Ela é a síndica. [risos] Qual é o nome dela, Tarcísio?

Maria Geralda. Mas não tem, não, que geralmente, a maioria vem indicada, né? As pessoas indicam, então é mais por aí.

Você não fez uma propaganda? Isso nunca precisou?

[53’] Não, não, não precisou. Sempre fica assim. Se fica vazio, no máximo 30 dias, se ficar. Esse aqui, mesmo, essa menina que está aí agora, ela chegou, ela está vindo da região do Vale do Jequitinhonha, chegou aqui esses dias. Mas ela tinha vindo, aí foi um menino que mora aqui que indicou. Tinha saído um pessoa daqui. Eles já tinham um casal da Bahia (que foi o menino da frente que tinha indicado), que tinha acabado de chegar de lá, aí não deu certo aqui e voltaram pra lá de novo. Saíram um dia, o menino, esse ___________ [53’ 30’’] aqui viu, já indicou pra outro que já traz o marido dela que tinha alugado [?]. Só ficou três dias vazio.

Só no boca a boca, então. Mesmo quando você estava construindo já tinha gente interessada?

Já tinha, vários. Só que daquela turma da época, não veio ninguém. Só vinha, confirmava, mas daqueles, mesmo, não vieram ninguém, não. Daqueles de quando eu estava construindo, apareceu ninguém, não. Depois que foram aparecendo.

[54’] Tarcísio, você falou pra gente que a obra aqui funciona de um jeito diferente da obra quando tem um engenheiro, um arquiteto... Conta pra gente o que que você acha que é diferente no processo.

O processo é o que já tinha falado anteriormente; é o boca a boca entre as pessoas daqui que trabalham na área. Quer dizer, que eles vão pra lá adquirir conhecimentos dentro disso aqui, do espaço. Cada um vai pra um lugar, cada um trabalha numa função, daqui sai profissionais de todos os tipos que você imaginar sai daqui de dentro. Desde o vendendor de droga como o engenheiro, sai tudo daqui. Cada um tem um tipo de conhecimento de um lugar que ele vai, um tipo de coisa que ele faz. Um já vai mexer com viaduto, outro já vai mexer com ponte, outro já vai mexer com prédio, outros é com reforma, outros já faz tudo.

E o que que o pessoal comenta que é diferente numa obra que é feita aqui na vila, entre os moradores, e uma obra no trabalho lá mesmo, com construtora?

[55’] Porque a de lá, geralmente eles fazem pra comércio, no caso, pra vender. Então, tudo que eles colocar lá não importa a qualidade, importa mais é a estética, né? Então, vamos supor, a gente aqui vai comprar um granito de uma qualidade razoável ou então aquele mais baratinho, que está estragado, tem alguma coisa estragada

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nele, que ele vai sair bem mais barato pra gente. E lá, não. Vamos supor, a gente vai pagar 10 reais naquele granito, porque tem uma pontinha quebrada, tem isso, tem aquilo outro aqui; a gente dá um jeito e esconde aquele negócio. E lá, não, pra eles lá não serve, eles vão comprar aquele negócio por 100. A diferença vai cair ali; ali é o comércio. Tudo o que ele fizer a mais, que ele colocar a mais ali, tem como ele repassar aquilo. E aqui, a gente não tem. Mais ou menos por isso.

Mas você está falando de acabamento, você deu um exemplo de acabamento. Por exemplo, na hora de estruturar a casa, na hora de... O que é diferente?

[56’] Olha, é diferente, porque aqui na favela, por exemplo, um pedreiro que trabalhar numa construção desses, de um prédio desses daí, se você trouxer ele aqui, ele não faz nada. Se trouxer um pedreiro desse que trabalha, vamos supor, numa construtora dessa da vida aí, se puser ele pra trabalhar aqui na favela, ele não faz nada.

Por quê?

Porque aqui você tem que construir de acordo com o espaço que tem. As casas aqui não tem esquadro, não tem nada, é todo torto! Igual aqui, pra você ver, olha, o cúmulo desse negócio aqui (está gravando? A gente está mostrando negócio aqui, que está tudo torto). Aí você tem que acompanhar. O cara que vai vim colocar cerâmica, o que que vai dar? ‘Ah, não vai passar ali nunca!’ Por isso que o cara que vem de lá não sabe, ele não sabe trabalhar aqui.

Mas esses pedreiros que você contratou também trabalham em construtora, não trabalham?

Trabalha, trabalha também. Mas só que ele trabalha aqui também; ele trabalha mais aqui. Esse que eu contratei, parece que só fica aqui mesmo. _________________.

[57’] É, porque muita gente daqui está trabalhando em construtora, né?

Também, também. A maioria, né?

Você nunca trabalhou, não?

Eu, em construção civil não mexi ainda, não. Nunca trabalhei em construção civil, não.

E você não ficou mexendo com construção aqui, não? Você ficava só...

O quê? O quê??

Você pegava, punha a mão na massa?

Hã?

[risos] Você pôs a mão na massa?

Gente, eu começava a trabalhar aqui cinco horas da manhã e ia, lá pra quê? Lá pras nove, dez horas da noite, todo dia!

É? Mas o que você fazia?

Tudo, eu que era o servente. Eu que tinha que sair pra comprar o material, eu tinha que receber, eu que tinha que carregar o material, fazer o negócio dar certo. E fazer a massa pro pedreiro, o pedreiro só colocava os tijolos no lugar e fazia o negócio lá, o resto tudo, era comigo.

Você ficava de servente então.

Também, quando eu tinha tempo.

E comprava os negócio?

Comprava.

E revestimento, você sabe fazer? Ou não, ele que fazia também?

O revestimento já é outra pessoa que faz. Já não é aquele pedreiro mais, não, já é outra pessoa.

[58’] Você contratou outra pessoa que veio só pra fazer o acabamento.

Outra pessoa só pra acabamento. Aqui, vamos supor, foi o pedreiro que fez parte de alvenaria, esses negócio aí. Já veio outra pessoa, que tem uma coisa nessa área de [?] hidráulica, um profissional da área. Pra pintar, já é outro agora, com conhecimento também na área de pintura. A área de revestimento lá em cima já foi outra, com conhecimento também, tudo profissional, na área.

Da impermeabilização?

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Também, já nesse negócio, nessa área ali. Ele está tentando tirar os vazamentos lá. E por aí vai.

Eles que ficavam dando dicas também, trocando informação. Eles, além da sua conversa com os vizinhos?

Eles que ficavam, também. ‘Isso aqui que vai dar certo’... Hoje, quase todos que estão aqui, também, tem conhecimento em construção civil; inclusive o marido dela trabalha na construção civil.

Você fala, quase todos que estão alugando aqui?

[59’] É, maioria tem construção civil, marido dela trabalha em construção civil, tem um bom conhecimento. Menino ali da frente, tem mais ainda. Lá na frente, tem um menino também que tem bom conhecimento. Só esse daqui que, ele sabe alguma coisinha, mas muito pouco. Ele é muito novinho, ele tem 19 anos, não tem nem como você cobrar muito dele, não. Mas é por isso que falo com você, que a área aqui, mais é um faz uma coisa e o outro pergunta se deu certo. Aqui você tem todos os condicionantes. E, praticamente, a gente conhece eles todos. O Paulo, ele não vem fazer serviço, mas ele vem dar dica pra gente de como é que faz. Ele chega e fala assim: ‘Você compra isso, compra aquilo, compra aquilo outro, compra aquilo outro’.

As pessoas ficam bem interessadas nesse assunto? Todo mundo gosta de trocar ideia?

Fica, troca. Tanto que, se estiver fazendo uma coisa na vila aqui, se estiver fazendo, se chamar ou qualquer coisa que você quer, ele vem te ajudar. Antigamente, ele ajudava de graça, por exemplo, laje, você ia bater laje aqui, não você não pagava nada; hoje em dia ele não está assim mais, não. __________ Chegava na rua, estava aquele tantão de gente, _________ [59’ 55’’] num instantinho. Hoje não está assim mais, você tem que pagar. E nem acho que tem gente que paga. [?]

[60’] Não tem mais essa coisa, de juntar com os amigos e bater laje?

Não, não. Tem não, esse negócio, você até consegue fazer isso [?], mas hoje é muito difícil.

Você já fez isso? Com sua casa, por exemplo?

Já, já.

Que você não teve que pagar ninguém?

É, na minha casa foi assim. Essa aqui, não, essa aqui já foi tudo pago. Mas essa aqui também, eu não faço muita questão de nada de graça, não, porque isso aqui é mais pra comércio, né? Quando é pra gente morar, se fosse pra gente, morar, é diferente. Mas você fazer pra, vamos supor, pra comércio, pra dinheiro, você fazer isso, você está explorando as pessoas.

Pois é. Mas na sua casa teve ajuda, então.

Na minha casa teve, muita ajuda.

Mas, se você tivesse ajuda pra sua casa hoje em dia, isso já não acontece tanto, é isso?

Acontece, não. Você pode até conseguir, mas não tanto.

E por que você acha que isso acontece hoje?

Ah, eu não sei nem te explicar, porque que isso está acontecendo, porque isso saiu. Sei lá, parece que a turma que era mais amigos, hoje foram sumindo, foi saindo, foi desaparecendo todo mundo que estava morando do seu lado, perdendo...

[61’] Mas a sua vizinhança, você falou que mantém quase a mesma...

É, mas aqueles mais velhos, às vezes, a gente nem aguenta fazer nada mais. Foi perdendo tempo, foi tirando eles do mercado.

As pessoas não estão contando mais com isso, tanto?

Não, não. Mas ainda tem, muita gente ajuda, ainda.

E quando faz esse tipo de mutirão, é só pela amizade, mesmo? Ou você dá um almoço?

Só pela amizade… almoço, é. Faz qualquer coisa.

Quase vira uma festinha também, né?

Vira festa, mais festa.

[risos] Dá uma cachaça...

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Faz uma feijoada lá, uma cachaça.

Faz uma feijoada... é um perigo o povo cair de cima da laje!

Ah, tem problema não, morre não. Você quebra todo, mas não morre, não.

Morre, não, quebra tudo, mas não morre, não... [risos] Ai, Tarcísio! Voltando lá pra fundação, você conhece vários tipos de fundação? Você escolheu algum tipo? Como é que foi? Como é que você pensou a fundação da casa? O primeiro passo construtivo?

[62’] Primeiro passo construtivo da fundação...

Você fez que tipo de fundação?

Olha, a fundação nossa aqui foi justamente o tubulão pro pilar. E a gente fez ele, mais ou menos, entre o entorno de dois metros de profundidade, por sessenta, oitenta, uns ficava até mais disso de espessura, largura. E fizemos um muro de arrimo aqui, na parte de baixo, (você não está gravando, né?) tem mais ou menos três metros _________ [62’ 30’’]. Fizemos um muro de arrimo de mais ou menos um metro de altura, cintamos, fizemos cintamento nele todo. Levantou já com ferragem, ferragem acho que era cinco desesseis [5/16’’], acho que era, nem lembro mais. E cintou toda, todas com pilar. Um espaço de 16 metros tem, quer ver, quantos pilar? Um, dois, três, quatro, cinco... acho que é cinco pilares. 16 por cinco, vai dar o quê? Três metro, né? Três metros, mais ou menos. E vai cintar ela toda cintada em baixo e cintar ela na primeira laje e na segunda. Quer dizer que tem três cintas, a cinta ficou mais ou menos o quê? Com três, três, né? Três metros, de uma pra outra.

[63’] Três, de três em três, porque três é a altura do vão, né?

É, do vão.

Quem que definiu essa altura?

A altura, praticamente, é padrão, né?

Mas é padrão de onde? Daqui?

É padrão daqui já. Os pedreiros que vieram, praticamente todo lugar que eles constroem é assim, mais ou menos. Depende da pessoa, se quiser mais alto também, fazem, ou mais baixo.

É, eu estou perguntando isso porque três metros é uma altura boa, né?

É uma altura muito boa.

E, se você diminuísse, vamos supor, uns quarenta centímetros, continua sendo uma altura boa.

Mas esquenta muito.

[64’] Ah, esquenta? Será? Eu estou te falando isso por causa da escada. Às vezes, funcionaria, porque a escada ficava mais fácil de funcionar, sabe?

Vamos ver, poderia. Mas não sei.

Isso que eu fiquei pensando quando vi esses três metros daqui. E eu queria muito saber de onde que vinha esse padrão. É uma coisa que eles fazem, você não pensa, você não falou pra eles fazerem assim, eles que falaram?

É, isso é; praticamente, quando eles já trabalha, eles já ganha, é mais ou menos nesse sentido. Quer ver ali, olha? Dá pra contar pelos tijolos ali?

Você está falando de onde?

Daquela casa da Preta, lá.

[Ana conta os tijolos.] É, acho que até a laje, uns 16. Até aquela lajezinha.

É isso tudo? 16? Não, 16, aquele tijolo lá, o de hoje é 20 centímetro cada um. Vai dar o quê? Vai dar três metros e alguma coisa, aquela dela ali. Três e... [Tarcísio calcula a altura até a laje.] Três e alguma coisa, né? É, três e vinte!

[65’] Três e vinte, se for 15 centímetros. Quer dizer, está todo mundo...

É, de 20. Três e vinte. É, mas quer dizer que está, mais ou menos, no mesmo padrão.

É, a Dona Mirtes a gente mediu, era três e setenta e cinco.

Nossa! A dela parece que é muito alta, mesmo.

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É porque a gente começou a mexer com esse negócio das escadas, a gente estava até vendo a escada da Romênia, e a gente ficou pensando: se a altura fosse menor, a escada ia ser mais simples.

E nas construções em outros lugares, às vezes, eles fazem dois e oitenta...

É. Se não me engano, a lá de cima, tem mais ou menos acho que é dois e oitenta, acho que lá em cima não chega três, não; a parte de cima. Aqui é três, aqui acho que é três.

Que também foi o cara, o pedreiro que definiu?

É, foi mais ou menos assim, foi esse negócio. Que eles conta que esquenta muito.

[66’] E com a sua experiência nas quitinetes, na sua construção, você viu alguns jeitos de fazer que podiam ser simplificados ou melhorados? Você pensou em alguma coisa assim?

Um dos jeitos que tem que ter, no estar em cima pra buscar melhoria, é na parte de madeira.

Madeira?

Porque o desperdício é muito grande. É muito, muito, muito grande.

De forma, que você está falando?

É, em geral; desde quando você começa uma fundação, você já perde muita madeira. É um jeito que a pessoa pra construir, ele vai ter que ser um artista pra ele economizar nisso aí. Porque é uma das coisas que ele toma muito prejuízo. Porque corta, mas corta demais, mesmo.

Você tomou?

Estou, porque não tem como. Porque, de repente, ele precisa de um pedaço de madeira, e ele está lá em baixo, com um montão de madeira junto, num vai lá tirar ele, vai cortar outra madeira; e depois, você vai precisar daquela que ele cortou. Aí que está o prejuízo. Hoje tem uma peça de três metros, você precisa de um pedaço de vinte centímetros. Como o outro está agarrado, você não consegue pegar ele, você vai cortar vinte centímetros, aquilo vai ficar com dois e oitenta. Depois você vai precisar de três, dali a dois minutos!

[67’] [risos] Aí complica, né?

É. É um negócio, vocês que estão nessa área aí pode buscar meios pra melhorar essa parte aí. Hoje em dia tem bloco já aberto, não sei mexer naquele troço, que faz a cinta nele sem precisar de forma mais, né?

Qual bloquinho, esse? Não sei o que você está falando.

Você não sabe não? É uma espécie de um U.

Ah, tá! Sei. É uma canaletazinha.

É, aquele troço lá.

Tem o da laje que é uma cumbuquinha, você esta falando de um que é uma forma pra viga?

É.

Eu não sei como é que chama não, é uma forminha pré-fabricada?

É, isso mesmo.

Não sei como é que chama não, mas é plástica né? É uma coisa plástica...

Não, eu acho que aquilo parece que é de, acho que é de cimento, também.

Que usa para fazer verga?

É, aquele. Usa para fazer bloco, né?

Ah! É um pré-moldado, que você compra pronto

[68’] É, esse troço aí, mas eu não sei se funciona, porque, por exemplo, você faz a parede com tijolo de dez centímentros, você coloca (outro dia eu até estava comentando isso com um pedreiro aqui). A parede é de dez centímetros, a espessura do tijolo é de dez centímetros, dez não porque hoje já robaram e, hoje em dia, são nove.

[risos]

Mas todos estão roubando mesmo, o tijolo que era de vinte hoje é de dezenove, o que era de trinta é de vinte e nove, o que era de dez centímetros hoje em dia, ele é nove.

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É porque, eu acho que eles contam por causa da massinha que põe no meio, que aí contando a massa, mais cimento, mais ele dá...

Mas eles vendem para gente é como vinte.

É porque eles não informam.

Pois é. No caso, igual, voltando a esse negócio lá. O tijolo é dez centímetros, aí com aquele troçozinho lá você vai perder mais ou menos um centímetro ou dois em cada lado. Quer dizer, vai ficar o quê? Sete centímetros, oito centímetros, no máximo, aquela vergazinha no meio. E aquele trem lá aguenta?

Eu não sei te responder.

[69’] Pois é, aí é que está, enquanto colocar com a forma, ela vai ficar com dez, porque ela vai pegar por fora do tijolo. Só que é muito mais fácil e mais prático, né?

É, porque você economiza em tudo.

Principalmente nessa parte da madeira.

Que mais? Além da parte da madeira?

Para economizar?

Para simplificar, economizar. Para simplificar na hora de construir, economizar.

Isso é uma maneira boa de simplificação, essa aí, usar esse troçozinho lá em cima. Que mais? Outra coisa também, que dá para melhorar um pouco é não comprar meio tijolo.

Não comprar?

Não comprar, porque você paga nele o preço de um tijolo inteiro. Também vale a pena, um pouco.

Você chegou a comprar meio tijolo?

Comprei, mas foi muito pouquinho. No começo, nós até queriamos comprar; mas como às vezes não tinha, às vezes esquecia de pedir, não veio. Quando a gente comprou, a gente arrependeu por isso. Por que meio tijolo você vai pagar como se fosse um.

[70’] Então você não compra mais?

Não compensa. O que mais?

O que mais? É que as vezes dá um branco na gente, mas aposto que tem um monte de coisa. [risos]

Vocês que perguntaram, eu só respondo. Mas e agora? Vai!

Eu não sei não. Você está querendo saber o que você achou da sua experiência aqui, uai. [risos]

Vamos, Lígia.

Eu não posso ajudar vocês, eu não tenho nada para falar nesse momento. Estou aqui pensando, também.

Não, eu não tenho… tem que ser da sua experiência aqui. Mas, se não lembrar, também...

[71’] Não, aqui foi tudo facilitado, aqui nós compramos tudo o mais simples possível. A janela foi tudo da pior qualidade que tinha. Para ficar mais barato, mas tem que trocar daqui a uns dias porque estão apodrecendo [?] todos. O tanque é a mesma coisa, a porta é a mesma coisa, a janela é a mesma coisa. As verga em cima… isso aí não tinha jeito, porque foi montada, e depois que ela estava montada, nós não confiamos na ferragem que veio com elas e fizemos a nossa ferragem em cima dela. Praticamente, deu certo ali, a espessura da que vem com ela, mas não usamos não, só jogou lá em cima, só.

Está falando da laje pré-fabricada?

É, da pré-fabricada. Nós compramos ela para piso, quer dizer que [?] ela vêm com a ferragem já própria para isso, mas aí nos trançamos ferro em cima dela todo de novo.

Trançarada no contra piso?

No contra piso, exatamente.

E de onde que vem? Que vocês compram isso? Não vende no depósito, né?

Não, tem um rapaz que vem, mas só fazer uma encomenda, e ele também encomenda num outro lugar. Então quer dizer é melhor já ir na fábrica.

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Ah! Você foi na fábrica.

É, é na Barão aqui. Tem vários lugares que vendem na Barão.

[72’] E eles entregam?

Entregam. Para fazer uma construção dessa só com telefone você resolve tudo.

Hoje em dia tudo é assim, né?

É mesmo, daqui de dentro de casa você resolve tudo, pede tudo aqui dentro.

Você tem internet aqui?

Tenho não. Em casa eu não tenho não.

Que, às vezes, a internet tem também.

Também. Internet é melhor, que você pesquisa mais, né? Mas você pesquisando mais, em compensação, às vezes você vai achar um preço bom lá em Betim.

É.

Aí não vai adiantar nada. É assim, você vai achar um preço bom, mas o lugar está muito longe, não compensa. Só se for muita coisa, mas quando é pouco. E aqui também, tem uma outra coisa também, que você está falando. Aqui a obra era praticamente uma obra grande, então a gente comprava em quantidades também grande, né? Aí ajuda porque, suponhamos que for comprar aqui, vou fazer um lugarzinho pequeno, vou comprar dez sacos de cimento, aqui a gente comprava cem. Nem que não viesse tudo de uma vez. Tijolos, nós gastamos quase que cinco mil tijolos aqui, eu ia lá e comprava, vamos supor, eu comprava mil tijolos, mas o cara já sabia que eu já queria mais um tantão, e fazia a diferença para mim. As janelas, onde é que eu ia comprar as janelas? Vamos supor, se eu achasse janelas de cem reais num só, mas como eu comprei esse monte aqui, acho deu oito, já tinha desconto em tudo; das portas a mesma coisa, dos tanques a mesma coisa. Porque era muita coisa e, se eu fosse fazer de um em um, eu ia pagar aquele preço de mercado.

[73’] É, isso foi bom para você.

Foi, nesse ponto foi. Dava pra negociar mesmo, qualquer tipo de coisa que eu ia fazer, eu negociava, buscava referência de vários lugares mas, geralmente, eu acabava nesse depósitos aqui mesmo, pessoal já me conhecia e sabia que eu tava comprando muito, então ele me ajudou, que eu pagava tudo à vista.

Você pagava tudo à vista? Não parcelava nada?

Não, nos depósitos eu não comprei nada parcelado [?], tudo à vista. Isso ajuda pra caramba.

[74’] Você achava melhor, então, pegar às vezes emprestado com alguém conhecido, mas não ficar devendo para o banco.

É. Porque no depósito eles tem várias formas de pagamento, você vê, eles vendem para gente um carnezinho que eles têm lá dentro, conforme a pessoa, né? Confiança. Tem o cartão de crédito e tem os boletos. ________________ [74’ 20’’] arrebenta qualquer um. Aí, você comprar a vista é melhor, você consegue comprar, vamos supor, você vai comprar cem sacos de cimento, se você consegue um real de desconto em cada um.

É. Cem reais! Isso faz diferença.

Justamente é o que gasta mais, é o cimento. Cimento, o dia que você começa a obra até o dia que você termina está sempre com ele, a gente não precisa nem tomar banho não porque não adianta. Não sai ele. Fica todo cinzento.

[risos]

[75’] [Convesa paralela sobre o silêncio da Ligia, de 74’ 55’’ a 75’ 35’’]

Tarcísio, mudando um pouco de assunto. O que você faz de lazer aqui? Você sai em algum lugar, você fica na rua conversando?

Às vezes, a gente fica na rua e conversa um pouco com o pessoal, não faço muita coisa não, sou mais de casa, mais caseiro.

Sua esposa também?

Também, ela sai mais que eu, mas eu não gosto de sair.

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[76’] Vocês ficam lá vendo um filminho?

Às vezes.

Vocês frequentam igreja?

Não… Sou católico não praticante, vou na igreja uma vez a cada dez anos, dez anos.

Só no casamento do povo?

Quando testemunha alguém, batizar alguém.

Quando é padrinho de casamento...

É isso aí.

Você acha aqui seguro?

Acho, para quem mora aqui, esse é o lugar mais seguro. Para quem mora aqui.

Para quem não mora não?

Para quem não mora também, igual, no seus casos assim, todo mundo já te conhece vocês aqui, tem problema não; você pode chegar aqui e sair a qualquer hora. Mas, para quem mora aqui, é tudo aberto.

A casa?

É tudo aberto, o portão aí fica aberto, a casa minha estava aberto agora [?] toda aberto. Pode ficar tudo aberto.

Você fala aqui dentro ou povo na rua mesmo?

Também! Qualquer lugar fica aberto, ninguem mexe com nada. Nada, nada _____________________ [76’ 55’’] a noite toda aí.

Criança na rua.

[77’] Também. O ruim o de criança na rua aqui é moto, passar por cima. Aqui tem moto pra caramba, pra todo lugar que você vai tem moto pra danar, então, o perigoso é isso: bicicleta, esse tipo de coisa, e criança pequena. Mas em questão de roubo, assim, violência, não é aqui não. [?]

Mas mudou ao longo do tempo? Era de um jeito e hoje em dia, já não é?

Bom… parece que mudou, eu nunca tive problemas aqui não. Tem vinte anos que eu moro aqui e nunca tive nada aqui. Nunca, nunca, nunca, nunca.

Polícia fica muito andando aqui?

Fica, as vezes a polícia aparece por aqui. Mas não é tão frequente.

Que você acha disso?

A história já diz, favelado e polícia não dá certo, né? [risos] Então é um negócio que é muito complicado, né? Porque, igual, no caso, eu trabalho no bairro, dois bairros, Gutierrez, esse bairros mais sofisticados aí. Gutierrez nem tanto, mas o Lourdes é.

[78’] Você trabalha, você é porteiro em dois lugares?

Não, eu só estou no Gutierrez, mas eu já trabalhei, mais de quinze anos, foi no Lourdes, lá já é mais sofisticado. A polícia quando chega lá ela pede licença, ele bate na porta e aqui eles chutam a porta.

Mas já aconteceu com você?

Não, eles nunca entraram na minha casa, não.

Mas já entraram de alguém da rua, assim?

Já! Quantas e quantas vezes, eles chegam e metem o pé na porta, derrubam tudo e entram.

Mas porquê? Qual que é o motivo dessa abordagem?

Porque se eles cismam que tem alguma coisa, ou alguém as vezes fala que tem droga, qualquer tipo de coisa. Eles não tem mandato, eles não tem nada, mandato é a botina. Porque para tudo tem um limite, né? Para eles também têm, eles têm até horário de entrar, tem que tá nas horas que pode entrar, sei lá o horário que é, não sei não. Mas tem horário para bater, tantas horas pode entrar. A partir de aí, então, não, e com mandato judicial. Mas isso, aqui, não existe, não.

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Page 27:  · Web viewSai para laje de biquini e deita e vai lá queimar. Eu imaginei que era um solzinho [?]. Mas você faz isso? Vai lá, faz um churrasco... Não, isso eu não faço, não

GRUPO MOM - PESQUISA MTS/FINEP 2011-2012Transcrição das Conversas individuais No 02 – Ana Paula M. e Ligia conversam com Tarcísio

[79’] Costuma ter muito conflito aqui por conta de droga? Policia?

Conflito, até que não tem, não. Acho que, antigamente, já que teve muito; hoje em dia, até que não está tendo, não.

Não tem isso por aqui.

Não. Tem uns pessoal que mexe com isso aí, mas conflito não tem, não.

[Ana Paula M. e Lígia agradecem a Tarcísio.]

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