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Chiara Frugoni VIDA DE UM HOMEM: FRANCISCO DE ASSIS

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Universidade Estadual de Ponta Grossa Trabalho apresentado na disciplina de História Medieval História - Licenciatura 1º Ano Juliana Soares Ketlyn de Oliveira Heymowski Leandro da Silva Soares

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Chiara Frugoni

VIDA DE UM HOMEM: FRANCISCO DE ASSIS

FRUGONI, CHIARA. A VIDA DE UM HOMEM: FRANCISCO DE ASSIS. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 2011.

Um livro de Chiara Frugoni, de 1995,

reimpresso em 2011. Com tradução de Federico Carotti; dividido em 7

capítulos e prefaciado por Jacques Le Goff1.

Título original: Vita di un uomo: Francesco d’Assini.

1 Historiador francês, especialista em Idade Média. Uma de suas obras: São Francisco de Assis.

Capítulos:

1. Infância e Juventude

2. O Afastamento

3. É isso que eu quero! É isso que eu peço!

4. Os companheiros, as primeiras regras, Clara

5. Damietta e Greccio

6. Os Estigmas: descoberta autêntica, relato piedoso ou invenção ousada?

7. O Adeus

Nasceu em Pisa, dia 04 de fevereiro de 1940.

Historiadora italiana, especialista em História Medieval e História da Igreja. Foi professora de História Medieval nas Universidades de Pisa, Roma e Paris.

CHIARA FRUGONI

Além de “Vida de um Homem: Francisco de Assis”: Francesco e l’invenzione delle stimmate2

(Einaudi, 1983). Storia di Chiara e Francesco (Einaudi, 2011). Invenções da Idade Média – Óculos, Livros,

Bancos, Botões e Outras Invenções Geniais (Editora Zahar, 2007).

Mille e non più mille. Viaggio fra le paure di fine millennio3 (Rizzoli, 1999).

Etc..2Prêmio Viareggio 1984.

3Colaboração com Georges Duby.

Nada explica melhor o que Le Goff diz sobre o livro, do que suas próprias palavras:

“No século XIII e depois, desde o final do século XIX, Francisco de Assis fascinou homens e mulheres; e continua a fazê-lo ainda hoje, até mais do que antes. Já há alguns anos o santo tem inspirado diversas biografias, algumas excelentes. A de Chiara Frugoni, porém, revela um personagem, se não realmente desonhecido, pelo menos mal conhecido.

História de um homem milagroso, este pequeno livro parece um milagre. O milagre é, antes de mais nada, mostrar um homem imerso no seu tempo, ressuscitado por uma informação e doutrina sem falhas e por uma excepcional sensibilidade histórica, ao mesmo tempo revelando-o como homem do nosso tempo.”

PREFÁCIO DE LE GOFF

Sobre o Francisco de Assis que Chiara apresenta:“O homem Francisco que a autora encontra e redescobre não é anacrônico, nem dessacralizado. Em Francisco, o santo e o homem são uma coisa só, com ‘suas fraquezas e defeitos de caráter’.”

E ele ainda finaliza dizendo que se fosse para uma ilha deserta e pudesse levar apenas um livro

sobre a vida de Francisco de Assis, levaria o de Chiara Frugoni.

1. INFÂNCIA E JUVENTUDE

O primeiro biógrafo de Francisco de Assis foi Tomás de Celano, que recebeu de Gregório IX tal tarefa, que

deveria ser entregue a tempo da cerimônia de canonização em 16 de Julho de 1228. Sua narrativa

inicia-se com uma reprodução do início do livro de Jó4.

“Havia em Assis, no vale de Spoleto, um homem chamado Francisco.”

Ele apresenta Francisco aos 25 anos, ou seja, perto de sua conversão. Portanto, para se conhecer a infância do Santo, é necessária uma dose de imaginação a partir de

alguns poucos fatos que os antigos biógrafos nos deixaram.

4“Havia, na terra de Hus, um homem chamado Jó...” (Jó 1, 1)

A PRIMEIRA BIOGRAFIA

Através da Legenda trium sociorum (Legenda dos Três Companheiros – Ângelo, Rufino e Leão),

conhece-se que Francisco recebera da mãe o nome de João, e que nascera quando o pai estava na França a negócios. Quando este retornou, passou a chamá-lo

de “o Francisco”, que quer dizer “o francês”.

INFÂNCIA

Quanto aos motivos de tal apelido, são diversas as hipóteses. Sendo a mãe uma nobre de origem francesa, um dos possíveis motivos para tal ato pode ter sido a vontade de Pietro de Bernardone de evocar o país de procedência da esposa no nome do filho. Pode ter sido esse também, o motivo pelo qual Francisco gostava de se expressar em francês. Essa hipótese é a preferida por diretores de cinema, no

entanto, não possui bases sólidas.

Outra hipótese aponta uma possível vontade de desejar ao filho lucros futuros, em lembrança aos bons negócios que teve na França,

quando o pequeno nasceu.

Ou ainda, um complexo de inferioridade, e ao chamá-lo “o francês” estaria tornando-o único em sua família de comerciante enriquecido.

No entanto, o apelido pode ter-lhe sido atribuído já na vida adulta, devido ao fato de gostar do idioma francês.

Foi mandado a uma escola próxima de onde morava, junto à Igreja de

San Giorgio5. Lá, sob instrução rigorosa, aprendeu latim.

Provavelmente brincava na pracinha em frente. Como naquela época as casas eram pequenas, as pessoas

consideravam o espaço algo precioso e, portanto, acabavam passando

muito tempo nas ruas.5Local onde Francisco foi provisoriamente sepultado; foi destruída e reconstruída, transformada no que

hoje é a capela do Santíssimo Sacramento na basílica de Santa Chiara.

A autora segue raciocinando que deveria ser bom aproveitar a paisagem de Assis. E a descreve:

“O verde dos prados, bosques e dos olivais se mesclava no verão aos campos de trigo maduro, às manchas coloridas das flores. No ar, o forte som dos sinos se sobrepunha às vozes e gritos dos homens, marcando o tempo da oração e do trabalho. Os arautos com as trompas passavam de vez em quando para anunciar as decisões das autoridades; havia apresentações esporádicas de saltimbancos e menestréis com pífaros, violas e tambores.”

Ela ainda imagina o quanto Francisco poderia ficar admirado com os cavalos, que para uma criança

parecem enormes, e como os nobres poderiam parecer à ele.

Ele pode ter achado os cavaleiros pessoas imponentes, almejado ser como eles. E, quem sabe, em suas

brincadeiras ele se imaginasse da mesma maneira.

Em 1160, o Imperador Frederico I (Barba Ruiva) percebeu que não poderia contar com a lealdade de seu tio, portanto, tirou dele Assis e as redondezas, um território

estrategicamente importante.

Em Assis construiu-se a Cidadela.

Com a morte do filho do Barba-Ruiva o poder Imperial na Itália se desagregou.

Em Assis, a intenção foi derrubar a Cidadela. Teve-se início uma Guerra Civil, plebeus e os novos burgueses6 contra os

“homens de bem”7.6Homines populi.

7Boni homines.

ASSIS E AS GUERRAS

Parte dos boni homines foi morta, outros fugiram. À essa altura, Francisco tinha cerca de 17 anos e

quem sabe tenha até lutado ao lado do povo.Pode também ter aprendido a erguer muros, habilidade que lhe foi útil na recuperação de

Igrejas mais tarde.Algumas das famílias foragidas foram acolhidas pela inimiga Perúgia. E a guerra civil tornou-se

uma contenda entre Assis e a Perúgia.

Na batalha de 1203, na Ponte de San Giovanni sobre o Tibre, Francisco foi capturado e levado ao cárcere

inimigo. Por lá permaneceu durante um ano.

JUVENTUDE

De acordo com os Três Companheiros, Francisco teria exercido o ofício do pai. No entanto, de maneira

diferente, pois era alegre. Cantava e se divertia, gostava de sair com os amigos e esbanjar dinheiro em festas e roupas. Os pais o censuravam, mas como eram ricos, para não desagradá-lo, tratavam-no com indulgência.

Adota para si uma espécie de código de conduta com base nos cavaleiros. Doa aos pobres devido à esse código, e não

por compaixão.

“Um dia apareceu na loja um mendigo pedindo caridade pelo amor de Deus, num momento em que Francisco estava muito ocupado vendendo tecidos. O rapaz negou-lhe a esmola, tomado pelo desejo de lucro e pelo negócio que estava em vias de finalizar. Mas imediatamente, como que tocado pela graça divina, arrependeu-se daquele gesto rude dizendo a si mesmo: ‘Se aquele pobrezinho tivesse me pedido auxílio em nome de um grande conde ou barão, certamente eu o teria atendido. Com maior razão deveria tê-lo atendido, por respeito ao Rei dos reis e ao Senhor de todos!’”

Durante a crise que precedeu sua conversão, Francisco foi à Roma.

Ao ver quão humildes pareciam as oferendas à São Pedro, fez sua oferta com estardalhaço, para

causar admiração nos presentes.Com seus modos procurava posição social. Suas roupas eram de misturas de tecidos baratos com

os mais caros, como que tentando se distanciar de sua posição sem renegá-la.

Durante o período preso na Perúgia, mostrou-se com um determinado cavaleiro, o que mostrava

que Francisco escolhia suas amizades.

Enquanto seus companheiros cativos entravam em depressão, Francisco mostrava-se alegre, como se gostasse das condições em que se

encontrava.

Um dos prisioneiros viu o comportamento de Francisco como uma afronta e perdeu as

estribeiras. Francisco respondeu-lhe simplesmente:

“O que achas que me tornarei na vida? Serei adorado no mundo todo!”

Depois de liberto, Francisco e seus companheiros retornam à Assis. Precisamente depois da Carta de Paz, que fazia com que tudo voltasse a ser como era

antes de 1198.Volta da Perúgia extremamente enfermo.

Ao recuperar-se parcialmente, sai e percebe que aquilo que antes lhe era agradável, não mais o era.

Quando voltou da prisão, tudo o que Francisco mais queria era reencontrar seu lar e sua família. Mas ao

chegar lá, parecia que nada mais o satisfazia; que não tinha objetivo de vida.

Quando um nobre da Púglia pede ajuda para recuperar a tutela do filho de Henrique VI, Francisco tem um sonho em que ele possui tudo do melhor, ele logo imagina que era um presságio de que logo seria um “príncipe”, sem imaginar que o sonho poderia ter um outro significado.

Francisco parte para a Púglia e no meio do caminho, enquanto descansava questionaram-lhe onde ia, Francisco contou sobre o seu sonho e então lhe

disseram que o que ele acreditava ser o significado de seu sonho não o era.

2. O AFASTAMENTO

Francisco retorna a Assis. Essa volta, para sua família e amigos, é sinônimo de fracasso. Para retirar tal imagem, gasta ainda mais do que

costumava em banquetes e festas com os amigos.

Numa dessas noites, retorna com semblante reflexivo.Quando questionado se o motivo de tal concentração seria um planejamento de casamento, ele responde que se casará com a mais nobre e formosa dama.

Continua a trabalhar para o pai, no entanto, se torna mais piedoso.

Em meio a sua crise, Francisco se retira para uma gruta, no entanto percebe que ainda não está preparado para deixar o passado para trás.

Depois disso, ao encontrar com um leproso, invés de passar longe como costumava fazer, desce do

cavalo e até se deixa ser abraçado.

“O Senhor concedeu a mim, frei Francisco, começar assim a fazer penitência, pois, estando eu em pecado, parecia-me demasiado amargo ver os leprosos; e o próprio Senhor me conduziu a eles e tive misericórdia para com eles. E, afastando-me deles, o que me parecia amargo se transformou em doçura de alma e corpo. E depois permaneci um pouco, e saí do mundo.”

“E depois permaneci um pouco, e saí do mundo.”Essa citação pode demonstrar o quanto ele ainda

encontrava-se receoso de deixar sua família.

Francisco, ao entrar numa igreja em San Damiano, acredita que Cristo conversou com ele e que, ao dizer que sua casa estava desmoronando se referia à igreja

física e a partir daí passa a colaborar com reconstruções de igrejas, a iniciar pela de San Damiano. Primeiro dando dinheiro, posteriormente pedindo esmolas e

fazendo trabalho braçal.

O pai, ao descobrir, tenta trazer seu filho “rebelde” de volta para a casa.

Pietro de Bernardone não aceitava a nova vida que Francisco havia escolhido. Então o comerciante Pietro

resolve exigir de volta tudo que já havia dado a Francisco. Ele recorreu aos magistrados, no entanto Francisco

respondeu que agora tinha de prestar contas à Igreja, portanto, foi na presença do bispo que o rompimento

definitivo aconteceu:

“Ouvi todos e prestai atenção. Até agora chamei de pai a Pietro de Bernardone, mas, como me propus a servir somente a Deus, devolvo a Pietro de Bernardone o dinheiro pelo qual tanto se afligiu e as roupas que me deu; de agora em diante, sempre direi ‘Pai Nosso que estais nos céus’, e não mais ‘pai meu, Pietro de Bernardone”.

Pietro pegou o dinheiro e as roupas e fugiu para casa.Já o bispo, abriu os braços e cobriu Francisco.

Certa vez Francisco embrenhou-se na mata cantando louvores a Deus. Foi abordado por

ladrões, que ao perguntarem que ele era receberam como resposta:

“Sou o arauto do Grande Rei!”8

Ao receberem tal resposta, os bandidos reagiram espancando-o e jogando-o numa

vala.

Quando os ladrões se foram, Francisco apenas saiu da vala e sacudiu a neve da roupa antes de continuar seguindo seu

caminho cantando louvores.

8Referência a “Lancelot” de Chrétien de Troyes.

Francisco deixa a Instituição Igreja e vai para o leprosário.

Pode-se considerar que Francisco se alternou entre o atendimento aos doente e as reformas das igrejas.

Enquanto procurava pedras para a restauração, entoava alegres cânticos ao seu Senhor.

O pai de Francisco não se conformava com a escolha do futuro santo e sempre que o via, insultava-o

publicamente.

“Deus bem pode me dar um pai que me abençoe em teu lugar, tu que continuas a me amaldiçoar!”

Francisco inicialmente não tinha coragem de bater à porta de seus antigos amigos para pedir esmolas, no entanto, logo admitiu a covardia e voltou até onde os

mesmos se encontravam e pediu em francês pelo amor de Deus um pouco de azeite para a lamparina da igreja.

“Vinde, Ajudai-me nesses trabalhos! Sabei que em San Damiano haverá um mosteiro de Damas e, pela fama de suas vidas santas, nosso Pai celestial será glorificado em

toda a Igreja”.

Embora ele se referisse à Virgem Santa, os biógrafos encaram como a materialização de uma profecia, já que justamente em San Damiano, anos mais tarde Clara e

suas companheiras adotariam o estilo de “damas pobres e virgens santas”.

Francisco tinha uma maneira especial de falar à multidão: era simples, espontâneo e alegre; ele sabia usar bem as palavras e assim, conseguia prender a

atenção dos seus ouvintes.

“O santo inspirado por Deus saiu do vale de Spoleto para ir à Romanha com Frei Leão, seu companheiro; no caminho, passou aos pés do castelo de Montefeltro. Ouvindo a solenidade que se realizava e onde estavam reunidos muitos senhores de diversas regiões, são Francisco disse a frei Leão: ‘Vamos subir até a festa, pois com a ajuda de Deus teremos algum fruto espiritual’. Entre os senhores que vieram das redondezas para aquela festividade estava um grande fidalgo da Toscana chamado Orlando da Chiusi de Casentino, o qual, pelas coisas maravilhosas que ouvira sobre a santidade e os milagres de são Francisco, tinha-o em grande devoção e sentia muita vontade de vê-lo e ouvi-lo pregar.

Chegando ao castelo, são Francisco entra e vai até a praça, onde estava reunida toda a multidão desses senhores, e com espírito fervoroso subiu numa mureta e começou a pregar, apresentando

como tema de sua pregação as seguintes palavras em vernáculo: ‘Tamanho é o bem que espero, que

toda pena me é alegria’. E, por inspiração do Espírito Santo, pregou tão devota e

profundamente sobre o tema, demonstrando-o com diversas penas e martírios dos santos

apóstolos e dos santos mártires, com as duras penitências de santos confessores, e com muitos tormentos e tentações das santas virgens e dos

outros santos, que todas as pessoas ficaram com a mente e os olhos presos em sua direção, como se

fosse um anjo de Deus a falar.”

Para Francisco o conhecimento era perigoso pois faz esquecer o espírito de solidariedade e caridade.

Quando ficou sabendo que o martírio de seus frades numa missão ao Marrocos seria narrado num livro, Francisco não

aceita, pois se lembra de uma passagem de Lancelot:“Não é digno de um homem valoroso louvar o próprio ânimo para exaltar suas ações, pois as ações se louvam por si”.

Devido à preferência de Francisco de estar só, cria-se um tipo de convivência entre os frades, onde seriam 3 ou 4, dois sendo as “mães” que cuidam de tarefas práticas e

alimentação e os “filhos” rezam. Essa prática é alternada conforme for oportuno.

“Pessoas de ambos os sexos, ricos e laicos, despindo-se de todas as posses por Cristo, abandonaram o mundo.

Chamam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo papa e pelos cardeais. Não se

ocupam de coisas temporais, mas, pelo contrário, dedicam-se diariamente, com fervoroso desejo e veemente empenho,

a libertar das vaidades mundanas as almas que estão prestes a naufragar, atraindo-as para suas fileiras. [...]

Durante o dia, [os frades] entram nas cidades e vilarejos, trabalhando ativamente para conquistar outros para o

Senhor; à noite retornam aos eremitérios ou a algum local solitário para dedicar-se à contemplação. As mulheres, por sua vez, moram juntas em asilos próximos às cidades; não

aceitam doação alguma, mas vivem do trabalho das próprias mãos. Não é pequena sua aflição e inquietude ao

se verem admirados por clérigos e laicos mais do que gostariam.”

3. É ISSO QUE QUERO! É ISSO QUE PEÇO!

“Francisco, ao ouvir que os discípulos “não devem possuir ouro nem dinheiro,

não carregar farnel nem pão, nem cajado para o caminho, nem ter

calçados, nem duas túnicas, mas apegar pregar o Reino de Deus e a penitência”,

exultante de Espírito Santo, prontamente exclamou: “É isso que quero, é isso que peço, é isso que anseio fazer de todo coração!”.”

“E depois que o Senhor me concedeu alguns frades, ninguém me, mostrava o que devia fazer;

mas o próprio Altíssimo revelou-me que devia viver segunda a forma do Santo Evangelho”.O habito torna-se um sinal de transformação.

Francisco optou por não escolher, queria se vestir mal, e sem usar “uniforme” ou qualquer coisa que lhe atribuísse uma categoria ou que ele fosse de alguma ordem. Nem sequer escolheu uma cor

definida para a túnica.

Francisco possuía apenas uma túnica (como prescreve o Evangelho) usava uma corda na

cintura, onde antes era uma cinta de couro, já não usava mais o cajado, tinha intenção de deixar que a túnica se parece ao máximo com a imagem da cruz.

Clérigos e monges eram expressamente proibidos de mendigar.

Mas Francisco não era nenhum dos dois, mesmo se comprometendo com a vida religiosa.

Não buscava por privilégios da Cúria, nem mesmo em seu leito de morte.

Respeitava os sacerdotes, inclusive os de pouco caráter, sempre mantendo certa distância.

“... Considero régia dignidade e insigne nobreza seguir aquele Senhor que, mesmo sendo rico,

fez-se pobre por nós”.

“Senhor, se tivéssemos bens, precisaríamos dispor também de armas para defendê-los. É da riqueza

que provêm as discussões e brigas, e assim impede de muitas maneiras tanto o amor a Deus quanto o amor ao próximo. Por isso não queremos possuir

nenhum bem material neste mundo”.

Francisco passa por vários lugares, cidades e campos, fazendo seus sermões e ajudando os trabalhadores. Atraindo homens e mulheres.

O projeto“No projeto do santo - outro ponto a ser ressaltado- é

apenas pelo exemplo positivo que se pode induzir alguém a mudar e se corrigir; pelo exemplo, mais do

que pelas palavras, as quais, de qualquer forma, nunca devem soar como critica ou acusação, mas

apenas como fraterna exortação de igual para igual”.* “Do trabalho de tuas mãos comerás, tranquilo e

feliz”.** “Quem não quer trabalhar também não há de

comer”.

* Salmo 127, 2** Paulo, capitulo 10, versículo 3

Trabalhar manualmente era uma obrigação.Os primeiros frades faziam um pouco de tudo auxiliando os trabalhadores, e ajudando nos

leprosários.Quem antes de entrar na Irmandade, era artesão, devia se dedicar a sua atividade deste que fosse

honesta.Homens analfabetos, depois de se tornarem

frades, não podiam aprender a ler.Mas caso não soubessem trabalhar, deveriam ser

ensinadas as técnicas necessárias.

Francisco possuía certa hostilidade ao conhecimento.

Frades não deveriam possuir livros, Francisco “temia o saber como fonte

se soberba e domínio”

Francisco não tinha a intenção de fundar uma Ordem.

Seus companheiros não eram adeptos convertidos, sua comunidade não

tinha uma estrutura (pelo tempo que foi possível) sua irmandade era laica,

sem diferenciação independentemente no nível social anterior do frade

ingresso. Após a morte de Francisco, a tradição

foi clericalizada , Inocêncio IV estabeleceu que iletrados não

poderiam participar da Irmandade, chegando a colocar alguns Menores

em centros universitários.

Como Francisco era contra o uso de livros, as Cartas, Admoestações, e a

Regra deviam ser decoradas.Primeiro isso deixava todos no mesmo nível, segundo porque

reforçava a reflexão.“Melhor receber diretamente de Deus com a oração e a reflexão pessoal do que pela mediação tortuosa de palavras alheias”.Era uma grande renuncia a de Francisco, pois ele gostava

muito de poesias e romances.

A respeito do trabalho;Os frades poderiam receber o

necessário para viver, mas nunca deviam guardar as sobras, nem receber

dinheiro, exceto quando o destino deste era alimentar e ajudar os

leprosos. Quando algum frade infligia esta regra,

Francisco não hesitava em punir.

Mas a comunidade de Francisco não estava baseada em punições, mas

sim na alegria.“Que os irmãos evitem se mostrar

exteriormente tristes e hipocritamente melancólicos, mas que se mostrem alegres no Senhor,

risonhos e convenientemente agradáveis”.

Francisco amava sua pobreza, pois ela era libertadora, imune a sede de domínio, a violência e as obrigações cotidianas. uma pobreza voluntária.

“Assim como devemos evitar o excesso de comida, que faz mal ao corpo e a alma, da mesma forma, e

ainda mais, devemos evitar a abstinência excessiva, pois o Senhor prefere a misericórdia ao sacrifício”.

Com a velhice Francisco precisa cada vez mais de cuidados, inclusive se permite as vezes pedir por alguma

guloseima.Os frades não gostavam da tarefa de

enfermeiros, e a atmosfera alegre inicial foi se desgastando.

4. OS COMPANHEIROS, AS PRIMEIRAS REGRAS, CLARA

Outros companheiros passaram a unir-se a Francisco, conquistados pelo seu

entusiasmo. “Tomás de Celano aponta com pesar o

contraste entre aquela e a primeira irmandade de homens totalmente

empenhados e fervorosamente entusiásticos, dispostos a qualquer

sacrifício, e a multidão de frades de sua época, esquecidos daquele heróico

passado”.

Francisco era um sucesso, isso atraia muitas pessoas, algumas tornavam-

se Menores apenas para compartilhar um pouco desta fama, e

não por crer no caminho que Francisco indicava.

Mas apesar de disso, a pequena comunidade vivia feliz.

Em 1209 ou 1210 => Os franciscanos chegaram ao numero 12 participantes (o mesmo numero de

discípulos que Cristo teve).concluíram que agora era necessário uma autorização papal para pregarem.

Em um documento (Legenda Maior) há um relato em que se descreve

como Francisco foi ignorado inicialmente pelo papa, sendo

inclusive aconselhado a se afastar.Mas após um sonho do pontífice, este pediu a seus servos para encontrar Francisco e leva-lo a sua presença.

Sonho da Palma: pagina 87Relato dos porcos: pagina 88

Mas o consentimento da Regra foi apenas oral, pois o papa não se convenceu com a proposta de

Francisco, prometendo que a aprovação seria mais “segura” quando visse resultados das

pregações na comunidade.

Sonho de Inocêncio III => um homem de aparência insignificante , sustenta a Basílica de San Giovanni in Laterona sobre os ombros para

não deixa-la cair.O papa então contou o sonho a Francisco, que sem conhecer as

simbologias da Igreja não compreender o significado do sonho.

Assim concluíram que a Igreja precisava de uma restauração e que a participação de Francisco era de

suam importância.

Francisco se decepcionou com a aspereza dos romanos, frustrado, decidiu pregar a palavra de Deus aos pássaros que encontrou na

periferia da cidade Roma.

Ele convidou os animais a se juntarem a ele, estes aceitaram e ouviram a pregação atentamente.O fato se repetiu por três dias, os

romanos, diante do fato, passaram a integrar Francisco na cidade, foi então que a fama de Francisco

espalhou-se.

Na mentalidade medieval, cada espécie de pássaro representava uma camada social. Francisco faz uma analogia entre as cotovias e os frades. A cotovia possuí penas cor de terra, e quando encontra um grão, não importa

aonde ele esteja, a cotovia o come.

Para realizar as pregações, o clero exigiu de Francisco que ele e seus frades

fizessem um a tonsura.Mesmo com autorização, antes de fazer

suas pregações, ele pedia permissão para o bispo ou sacerdote responsáveis pelas igrejas próximas, para fazer os sermões.

Solicitava aos frades que procedessem da mesma forma, para não despertar ciúmes

no clero.

Francisco possuía muitas amizades femininas, o que levantou muitas

criticas em relação a ele, especialmente sobre Clara.

Página 97: Reflexão sobre Adão, Eva e o fruto proibido.

5. DAMIETTA E GRECCIO

Em 1215, Inocêncio III proclamou o IV Concilio na basílica de San Giovanni in Laterona, em Roma, para delinear uma

nova reforma na Igreja e iniciar a Quinta Cruzada a Terra Santa.

Para evitar maiores conflitos, durante o Concílio, foi estabelecida a proibição de

novas ordens.Francisco não foi afetado por essa

proibição, pois conseguiu valer sua Regra.

Não se sabe se Francisco participou das reuniões.

O número de frades teve um aumento significativo.

Quando eram em pequeno número, se encontravam duas vezes por ano em Porziuncola. Em 1217 realizou-se na cidade uma reunião, que tinha como intuito estruturar a fraternidade. Dois encontros ao ano com todos os frades era difícil. Determinou-se então quando exatamente seriam

os encontros.Depois a Itália foi dividida em províncias e

estabeleceu-se missões fora do pais para ampliar o campo do apostolado.

No dia de Pentecostes e no dia de São Miguel (o arcanjo).

Francisco foi para a França junto com o frei Masseo, mas logo frei

Ugolino foi buscá-lo, pois o prelado acreditava que a Ordem era muito

frágil para se permitir ficar sem seu líder, assim Francisco retorna a

Assis.

O inicio das missões foi difícil, não havia uma organização. Os frades se

dirigiam a países dos quais não sabiam o idioma e costumes,

sofreram humilhações e espancamentos, e muitas vezes

foram acusados de hereges, não por suas condutas e sim pela falha de

comunicação. No entanto as missões prosseguiram,

com o tempo se tornaram mis organizadas e preparadas. Agora

tomavam a precaução de incluírem nas missões, ao menos um frade que soubesse o idioma do pais que iriam.

Página 106 cita um fato na Alemanha.

Francisco retomou seu projeto (de evangelização dos infiéis) em 24 de

junho de 1219, embarcou em Ancoma, e depois chegou ao Egito.

Foi a Damietta, no campo dos cruzados, na tentativa de impedir

novos combates. O povo acostumado com as batalhas estranha a atitude

de Francisco.Antes de qualquer coisa, Francisco

acreditava nas obras e no bom exemplo.

Tomás de Celano registra um gesto do santo, a tentativa de conversão do sultão Malik-al

Kamil. Há dois relatos sobre o encontro dos dois.

1º Os frades teriam sido espancados pelos sentinelas do sultão.

2º Os frades teriam sidos acolhidos pelo sultão.Segundo registros o sultão se admirou com as palavras de Francisco, o suficiente para tentar

deixa-lo o mais confortável possível. Esse registro é mais próximo do segundo relato.

Existe muitas iconografias de Francisco e o sultão.Francisco ficou por algum tempo em território mulçumano, na tentativa

de evangeliza-los, vendo que não tinha progressos voltou as terrar cristãs.

A maioria dos frades não possuíam o entusiasmo de Francisco.

Muitos eram contra as improvisações, queriam uma vida

regrada e que Francisco estipulasse os dias em que deveriam fazer jejum,

e quando poderiam comer carne. Mas ele continuou a manter seu

ritmo.

Francisco percebe que já não consegue mais manter a Ordem. Decide procurar o

papa Honório III, na tentativa de repensar a Regra.

Quando se aproxima na cidade de Bolonha, soube que frades estavam morando em uma

bela casa, não quis sequer vê-los apenas ordenou que todos se retirassem dali.Honório III anulou inovações dos dois

vigários, e instituiu um representante da Santa Sé (Ugolino)

Quando retornou a Assis, viu que haviam construído uma casa para os

frades, imediatamente subiu no telhado e começou a destrui-la com a ajuda de

alguns seguidores fiéis, mas os soldados o impediram alegando que aquele edifício pertencia a cidade de Assis, assim Francisco desiste de se

opor.

Um frade lhe perguntou por que ele não se opunha contra as mudanças, ele alegou que seu estado de saúde

era frágil e por esse motivo entregou a ordem nas mãos de Deus.

Era um pretexto, pois ele mesmo doente conseguiria guiar os frades se

eles assim quisessem. Ele simplesmente não encontrava mais

um consenso.

Francisco continuava a conquistar multidões, mas já não tinha mais o mesmo entusiasmo e sua saúde não

contribuía.Com o tempo teve que redigir suas pregações, pois não possuía forças

para ir ate seu povo.Os frades queriam uma reformulação da Regra, Ugolino foi escolhido para

ser embaixador junto a Francisco.Francisco foi irredutível nesta reunião alegando que a Regra era de acordo com o caminho que Deus havia lhe

dado.

Mas ele teve que se dobrar, reformulou a Regra, que não foi aceita e ficou como, não bulada. Após varias reformulações, e muitas discordâncias dos frades, enfim Francisco consegue a aprovação da Regra final em 1223, que recebe a aprovação do papa

Honório III. Era basicamente um resumo da primeira Regra, só que com termos mais

jurídicos, com muitas censuras, sem citações do Evangelho, não se falava em leprosos e

nem em respeitar a pobreza, ou de trabalhar manualmente, a abolição dos livros e

retirada.

Francisco passa cada vez mais a se afastar de seus irmãos, sendo muitas vezes áspero e duro com eles. Dirige-se alugares ermos,

prefere ficar sozinho. A partir de 1223, segundo os biógrafos, se inicia a faze da

“grande tentação”, em que Francisco esta a ponto de desistir de tudo. Mas a momentos

de remissão como no natal de1223 no eremitério de Greccio, em que ele montou

um presépio vivo e fez uma grande celebração.

Tomas de Celano encerra a primeira parte da vida de Francisco com ele

capitulo. Apoiando Francisco, dizendo que ele estava certo em

querer reedificar sua proposta de vida, errados era aqueles que o

abandonaram, e reclamavam por facilidades e bibliotecas, mas que

não ajudavam os pobres e deficientes.

6. OS ESTIGMAS: DESCOBERTA AUTÊNTICA, RELATO PIEDOSO

OU INVENÇÃO OUSADA?

Após a morte de Francisco, na madrugada do dia 4 de Outubro de 1226, frei Elias, então vigário-geral da Ordem,

comunica seu falecimento aos frades, numa espécie de carta-circular. Informando também sobre o milagre dos

estigmas:

Nesta carta Frei Elias, exalta com grande alegria o milagre dos estigmas, dizendo que tal prodígio só havia acontecido

com o Filho de Deus, Jesus Cristo.

Descreveu que antes da sua morte apareceu no corpo de Francisco os estigmas de Cristo, que seriam as marcas das feridas, causadas pelos pregos, quando Cristo morreu na cruz. Francisco possuía as feridas nas mãos, nos pés e no

seu flanco a marca do golpe de uma lança que frequentemente vertia sangue.

Segundo a carta, escrita por Elias, ele afirma de forma verdadeira que Francisco possui as marcas de Cristo, porém a notícia deixa muitas desconfianças,

pois o fato era tido como inacreditável.Com base nesta carta Elias afirma que um ser

humano se tornará semelhante a Deus, que sua carne pecaminosa se tornara a carne de Cristo.

Segundo as fontes do séc.XII e início do XIII, várias pessoas tentaram “forjar” falsos estigmas através da

auto flagelação, então a igreja punia com extremo rigor, aquele que quisesse se comparar a Cristo.

Elias sabia que a Igreja não se manifestaria sobre o pronunciamento de milagres, tão pouco sobre os estigmas,

porém Elias sabia que a divulgação do prodígio dos estigmas aumentaria o prestigio do fundador e de toda a

Ordem Franciscana.

O processo de canonização e o pontífice Gregório IX, não deram fé a carta de Elias.

Quarenta anos depois São Boaventura, na sua biografia sobre Francisco, destaca que Gregório IX antes da

canonização de Francisco (ainda há dúvidas sobre os estigmas), destaca que Gregório olhava com certa

desconfiança devido a marca da lança, pois Elias afirma que Francisco se tornara semelhante a Cristo.

Segundo Boaventura, o pontífice, teve uma visão, onde Francisco apareceu olhando de forma severa

no seu rosto e entregou-lhe um frasco com o sangue que brotava de seu peito. Logo através desta visão o incrédulo pontífice, passa a ser

devoto fervoroso pelo milagre das estigmas, não deixando admitir que houvesse dúvidas.

A autora aponta que Boaventura senão inventou o fato, talvez tivesse datado de maneira incorreta, pois as incertezas de Gregório não se dissiparam

antes da canonização.

O pintor Giotto foi o primeiro a pintar o sonho do pontífice narrado por Boaventura (presente no ciclo de afrescos dedicado a ilustrar a vida de São Francisco, na Basílica

Superior De Assis).Giotto pintou depois da canonização de Francisco, para

seguir uma sequência histórica correta dos acontecimentos, partindo das dúvidas do pontífice em relação ao milagre.

Boaventura destaca ainda que a mão esquerda de Francisco cobre o flanco à direita. No evangelho segundo João, não é

comentado em qual lado Cristo foi transpassado. Na imagem de Cristo a marca da ferida, causada pela lança,

fica sempre a direita, ou seja, não do lado que está o coração, para desencorajar a ideia de que Cristo tivesse

morrido com o golpe da lança de um soldado.

Devido aos costumes da época não podiam permanecer corpos crucificados no dia da Páscoa, por isso os dois

ladrões tiveram as pernas quebradas, para acelerar suas mortes. Já Cristo foi poupado, pois já havia morrido e então

um soldado fere com a lança, para certificar-se de sua morte. Cristo, não poderia estar vivo, para se cumprir a

profecia: “Nenhum osso lhe será quebrado.”

Boaventura destaca que a chaga ao lado, não foi causada por nenhuma mão humana ou qualquer objeto,

demonstrando na figura de Francisco o próprio Cristo, revelando através daquela chaga o sacramento da

“redenção” e da “regeneração”.

Gregório demorou cerca de uma década para se decidir sobre o milagre dos estigmas. A autora apresenta dois

pontos para que Gregório aceitasse o milagre dos estigmas:

O 1º é de que ele estava convencido, devido a multiplicação dos milagres realizados por Francisco.

O 2° é que nesta época, em torno do ano de 1236, havia-se agravado os conflitos com o imperador Frederico II e o afastamento da Cúria

Romana, devido à contínua instabilidade política, logo a Igreja buscava aliados.

Neste período duas ordens mendicantes (franciscanas e dominicanas) estavam em grande expansão e

concorriam entre si.Os dominicanos alimentavam dúvidas sobre a

veracidade do milagre dos estigmas.E os franciscanos sabiam que deveriam extinguir essa

rivalidade importuna, pois enfraquecia a sua reputação, pois com o passar do tempo, os frades menores eram

tidos como uma corrente fundamental dentro da Igreja, pois a Igreja buscava uma participação mais intensa e ativa na vida religiosa, tal como pretendia a sociedade

da época.

Os estigmas só são tidos como verdadeiros no ano de 1237, quando Gregório IX envia as três

primeiras bulas, sendo uma delas endereçadas aos dominicanos, confirmando a veracidade do milagre.Em 1291 é enviado nove bulas se dirigindo contra os céticos, severamente advertidos e condenados.

O clero temia a concorrência de uma nova ordem, os sacerdotes temiam a diminuição dos fiéis nas suas

igrejas, pois com o tempo, eles passariam a se confessar, ir à missa, rezar e ser sepultado nas igrejas dos

franciscanos, doando-lhes os bens e as propriedades.Os dominicanos queriam de qualquer forma tirar o

prestigio dos franciscanos.

Dentro da própria ordem, haviam os franciscanos titubeantes, alguns pintores relutavam em pintar os sinais dos estigmas e quando pintados eram apagados pela mão de fiéis desconhecidos. Logo é possível encontrar pinturas

com e sem estigmas.

Após 135 anos passados da morte de Francisco, o monge Leonardo Mattiolli de Foligno, foi condenado por rejeitar a

realidade dos estigmas.

A desconfiança em relação as cinco chagas foi longa e persistente, muitos a consideravam uma blasfêmia contra

Cristo ao invés de milagre.

O primeiro relato escrito a respeito dos estigmas deve-se a Frei Leão, confessor de Francisco.

Em seu comentário Frei Leão afirma que após Francisco ter falado e visto um serafim e apareceram as marcas dos estigmas. Frei Leão afirma que Francisco recebeu os

estigmas ainda em vida, já Elias não menciona o serafim nem a visão de Francisco, relacionando assim os estigmas

com sua morte.

Não se sabe ao certo, quando Frei Leão registrou suas observações e as circunstâncias, porém, é notável que não foi feito para sua lembrança, pois ele sabia que se tratava

de um manuscrito original do santo, através do pergaminho, acredita-se que Frei Leão o modificou e escreveu a respeito do serafim e a manifestação dos

estigmas.

Tomás de Celano, na sua obra “Primeira Vida”, certamente conhecia a versão do Frei Leão e a carta do Frei Elias, o biografo não podia deixar de lado o testemunho do confessor e amigo do Santo. Vendo

que os relatos de Frei Leão e de Frei Elias não se assemelham então ele contorna a situação.

Tomás de Celano, aponta cravos de carne semelhantes aos cravos que haviam atravessado a carne de Cristo (cabeça dos pregos).

Tomás descreve as marcas dizendo que não eram as perfurações dos cravos, mas os cravos formados de sua própria carne.

Tomás especifica que as feridas nasciam do corpo de Francisco. Já Elias quis atestar que as feridas haviam sido feitas por algo externo,

por uma intervenção divina.

Tomás de Celano diz que os cravos de Francisco é uma Manifestação do sofrimento interior do santo, exclusivo da sua natureza espiritual.

No final da vida, Francisco se sentia cada vez mais oprimido pela Igreja, pois queria pôr em pratica um projeto

de vida cristã voltada a pratica da pobreza e do amor evangélico e se este fosse posto em pratica, teria sido

revolucionário e perigoso para a estrutura eclesiástica da época.

Francisco sentia-se ignorado pelos frades e isso aumentava seu desalento, na sua Ordem nem todos os seus membros partilhavam de suas escolhas, pois eram homens limitados

pelas suas culturas, distante do ideal do seu líder espiritual.

Tomás de Celano diz que esse momento de enfraquecimento da Ordem esta atribuído a um certo desânimo de Francisco,

comprando-o a Jesus no Horto das Oliveiras.

São Boaventura na intenção de sanar as fissuras e dissidências que abalavam a Ordem, obteve no Capítulo Geral de Paris em 1226 a garantia que somente a biografia feita por ele seria transmitida e

determinou a destruição de todas as outras obras referente a vida do santo, no século XIX, casualmente foram encontradas algumas cópias das biografias condenadas, apontando vários pontos de vista, obtendo

novas interpretações.

Boaventura identifica os estigmas de Francisco como sentido físico, já Tomás de Celano diz que Francisco imitou Cristo nas suas ações de

vida, logo deveria sofrer as mesmas dores de Cristo na paixão.

O Serafim descrito por Frei Leão, é referente a Caridade de Deus, que não abandona o homem pecador, mas ao contrário entrega seu único

filho Jesus, para ser crucificado, Francisco se deixa levar pela caridade e mesmo sofrendo segue seu ideal de se entregar a pobreza e

em favor dela.

As condições de saúde de Francisco tinham se agravado. As chagas aumentavam, os acessos de febre da malária se multiplicavam. Continuava a atender os leprosos e provavelmente teria contraído a doença. Os

cravos (estigmas) descritos por Tomás de Celano, podiam ser crescências leprosas. Apesar de todos estes

problemas, Francisco continuava seu trabalho de caridade e amor ao próximo.

Tomás de Celano não anotou nenhuma testemunha que tivesse visto os estigmas enquanto o santo ainda estava em

vida. Ele aprova que Francisco jamais disse ter tido os estigmas, pelo contrário, sempre desencorajou qualquer

comparação neste sentido, aqueles que perguntavam sobre as manchas de sangue, ele respondia:

“Curam habe de facto trio” (Cuida da tua vida)

Elias compra Francisco a Cristo, pois seria uma maneira de não ter que lembrar do fundador apenas como um homem

triste, martirizado. Promovendo assim as chagas à estigmas, estes dados por Deus.

7. O ADEUS

Um dia feliz por ter a certeza de ter ganho o céu, devido seu sofrimento, Francisco em “Louvor a Deus” dedicado as suas criaturas, das quais se servimos todos os dias e sem elas não podemos viver e sabendo que a espécie humana

ofende o Criador, pois se mostra ingrata pela graça da vida e não louvamos o Criador, agradecendo a Deus pela vida.

 

Devido a fragilidade da sua saúde, não podia mais viajar, então através de cânticos e poesias atrai a atenção dos

ouvintes.

Considerava a natureza bela e bondosa, pois é através dela que o homem vive.

Com o Cântico “Irmão Sol”, Francisco louva os quatro elementos essenciais de toda as formas de vida: Fogo, Agua,

Terra e Ar.Para Francisco a mais bela das criaturas, é o sol, pois é através

dele que a luz o faz assemelhar a Deus, o sol da justiça.

Francisco quando soube que o prefeito e o bispo de Assis (Guido II), estavam em guerra a golpes

de excomunhões e banimentos, acrescenta no seu cântico.

Francisco que privilegiava o amor ao próximo, pede para o bispo e o prefeito de Assis, para se reunirem no pátio

claustro do palácio episcopal, pediu para que os frades cantassem o “Cântico do Irmão Sol”, as palavras e as

melodias convenceram os dois antagonistas, que pediram mutuas desculpas.

Francisco mesmo enfermo, nem sempre permaneceu em Assis. Foi obrigado a fazer pequenas viagens e submeter-se

a diversos tratamentos.

Os médicos aplicavam remédios experimentais e inúteis. Para tentar deter o mal dos olhos, foi submetido à uma cauterização com ferro ardente, entre as orelhas e as têmporas, sem anestesia. Mesmo na dor, Francisco se

dirige ao “Irmão Fogo” com palavras gentis e afetuosas, suportando as queimaduras com serenidade.

Tendo certeza da sua morte Francisco deixou um pequeno testamento:

“Em memória da minha benção e de minha última vontade, que os frades sempre se amem e queiram bem uns aos outros e respeitem sempre a Santa Pobreza, nossa Senhora. Sejam sempre fiéis e submissos aos seus prelados e

a todos os clérigos da Santa Mãe Igreja”

Para Francisco em primeiro lugar vinham o amor caridoso e o estado de pobreza, pois assim os frades poderiam receber o

deserdado, o pobre, o leproso e partilhar com facilidade e afeto sua vida. Depois recomenda a obediência a Igreja, pois para ele,

Deus concedia o amor e a igreja era uma estrutura de organização.

Francisco ditou um segundo testamento, no qual reafirma fidelidade a sua primeira Regra, ao trabalho manual, assistência

aos leprosos e o respeito entre os frades.

Depois de alguns períodos de pregações em alguns vilarejos da Umbria e das Marcas, Francisco retorna a Assis. Devido

suas doenças, isola-se em uma cela, sente a morte se aproximando, suas dores aumentam, renuncia aos seus

amigos, recorrendo a sua amiga Clara, se entregando aos cuidados das irmãs franciscanas.

Apesar do contato com as mulheres, a autora destaca que não é possível imaginar algum tipo de intimidade, pois pela Regra, era imposto que os frades evitassem os perigos e as

situações ilícitas do convívio feminino.

Os habitantes de Assis, temiam que se Francisco morresse a noite, os frades levariam seu corpo para outra cidade,

então vigiavam Francisco, fazendo rondas em torno do local onde ele se encontrava.

Depois de saber que lhe restava pouco tempo de vida, Francisco manda chamar Frei Ângelo e Frei Leão, para que cantassem seu poema, a qual dedicou uma estrofe a morte.

As “Filhas de Francisco” desejavam ouvir as pregações do mestre e num certo dia Francisco as atendeu, ergueu os

olhos aos céus em silêncio, depois espalhou cinzas no chão, fazendo um círculo em volta de si, então aspergiu sobre sua cabeça. Recitou o “Misere” e foi embora se despedindo das

irmãs e da vida.

As cinzas inspiradas no Genesis tomam o significado da passagem onde Deus diz a Adão: “Tu és pó e ao pó

voltarás”.

Um dia feliz por ter a certeza de ter ganho o céu, devido seu sofrimento.

Ao clamor do milagre dos estigmas e aos prantos das irmãs e de sua amiga Jacoba de Setessoli, sucedeu-se o funeral

em San Giorgio.

Após sua morte floresceu os milagres e dois anos depois o pontífice Gregório IX o canonizou. Nesse tempo Frei Elias começou a construir uma grandiosa basílica dupla, cujas

paredes, entre os séculos XIII e XIV, recobriram-se de pinturas.

Quatro anos após sua morte, Gregório IX, com a bula “Quo elongati”, de 1230, retirou ao testamento o valor de texto vinculante e complementar à Regra. O pontífice Ugolino,

protetor da Ordem desde 1220, afirmou que os frades não eram obrigados a observar as últimas vontades de

Francisco, sobretudo o problema da pobreza.

Os frades então se dividem entre Espirituais (que desejavam a mais estrita observância da Regra) e os

Conventuais (consideravam que a Ordem poderia possuir bens), durante séculos, alguns franciscanos em defesa de suas ideias pagarão com a prisão perpétua e até a morte.

De Porziuncola conservou-se a igrejinha. Nem a casa da morte, para onde o corpo do santo foi levado em 1230,

respeitaram a pobreza e a humildade de Francisco.

Melhor lembra-lo na sua simplicidade e no seu sorriso, dizendo seu difícil Adeus.

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