versus magazine #12 fevereiro/março 2011

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(PDF contêm o videoclip "Doppelgänger" dos Portugueses FORGOTTEN SUNS) DOWNLOAD: http://www.mediafire.com/?dr0lgi2113h3ter Edição nº12 da Versus Magazine c/ Silent Stream of Godless Elegy, Helrunar, Forgotten Suns, Witchery, Crushing Sun, Mourning Lenore, Tristania, Mirror of Deception, Dr Salazar, Conspiracy, Hate Disposal e muito mais.

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VERSUS MAGAZINE

A/C Ernesto MartinsVERSUS MAGAZINEAlameda da Azenha de Cima,116 - 3D4460 - 252 Senhora da HoraPortugal

Telem.: 918 481 127E-Mail: [email protected]: BREVEMENTE MySpace: /versusmagazineFacebook: BREVEMENTE

PUBLICAÇÃO BiMESTRALDownload Gratuito

DIRECÇÃOErnesto MartinsAndré Monteiro

GRAFISMOA.Monteiro - Design & Multimédia www.andremonteiro.com.pt

EQUIPAAndré MonteiroCarla FernandesCarlos FilipeCristina SáDaniel GuerreiroDicoEduardo RamalhadeiroErnesto MartinsHenrique PintoJoão FerreiraJorge CastroLuís FerreiraPaulo EirasPaulo MartinsPedro AlmeidaPedro SáRenato Conteiro

FOTOGRAFIACréditos nas Páginas

[email protected]

Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGA-ZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a Obras De-rivadas 2.5 Portugal.

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Nesta edição da VERSUS Magazine voltamos a insistir uma aposta menos óbvia: os Silent Stream of Godless Elegy. O regresso em grande forma não só motivou a atribuição das honras de capa à formação checa, como também distinguiu «Návaz» como Álbum do Mês.Sendo este o primeiro número de 2011, é o local propício para vos dar a conhecer – pela primeira vez na VERSUS – a opinião da nossa equipa sobre o que de melhor se publicou em 2010.Mas há mais nesta 12ª edição: para além das onze entrevistas e de um número consideravelmente maior de críticas de discos, na seccão retro-Versus recordamos duas pérolas discográficas (dos Metallica e Megadeth) que celebram este ano as bodas de prata.Ah, e atenção também ao passatempo alusivo ao novo trabalho dos For-gotten Suns. Enviem-nos a vossa opinião para [email protected]. Todo o feedback é bem-vindo.Boas leituras. Ernesto Martins

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A Versus Magazine tem para oferecer 5 cópias de «Revelations», o novo trabalho dos Forgotten Suns, aos primeiros cin-co leitores que respon-derem correctamente à seguinte pergunta:

Segundo a entrevista ao guitarrista Ricardo Falcão, publicada nas páginas desta edição, de que álbum dos Forgotten Suns foi retirado o tema “Betrayed”?

As respostas devem ser enviados por email para [email protected], indicando nome e endereço postal completo.

Este passatempo termina às zero horas do dia 26 de Fevereiro, data em que serão divulgados os premiados em www.myspace.com/versusmagazine.

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Manowar Regresso a Portugal Doze anos após a última passagem pelo nosso país, os Manowar estão de regresso a Portugal tendo data marcada para 2 de Abril do corrente, segundo o site oficial da banda. Para além dos clássicos, a banda vai interpretar na totalidade o álbum “Battle Hymns” nos vários concertos que irá efectuar em 2011. Miss LavaNovo trabalho em 2011Depois do sucesso alcançado com “ Blues for the Dangerous Miles ”, que culminou com duas di-gressões em Inglaterra e abertura de um con-certo para Slash, os Miss Lava voltam à estrada antes de entrarem em estúdio para gravar o seu 2º álbum de originais.Para já as datas conhecidas são as seguintes:- 04 de Fevereiro, Rock n’Shots, Cascais, pelas 23h;- 12 de Março, Bafo de Baco, Loulé, pelas 23h;- 26 de Março, Hard Club, Porto, pelas 23h;

Ava Inferi novo álbum / novo som «Onyx» é o título do novo álbum dos portu-gueses Ava Inferi, com data de lançamento prevista para 14 de Fevereiro. Com mistura e masterização a cargo do guru Dan Swanö, o 4º registo de originais da banda nacional, traz com ele, segundo o guitarrista e principal composi-tor da banda Rune Eriksen, a promessa de uma sonoridade mais vintage e mais em linha com o som clássico de algum metal dos anos 80.

Urban Tales Novo álbum “Loneliness Still is the Friend”Mais de dois anos depois do lançamento do aclamado “Diary of a No”, os Urban Tales estão de volta com o seu segundo trabalho, “Loneli-ness Still is the Friend”.A data de lançamento está marcada para 7 de Março, e o trabalho irá apresentar 10 novas can

ções. Pode ouvir/ver o primeiro single “Stand Alone” no site oficial da banda (www.urbanta-lesmusic.com), enquanto o segundo single “Fly away” conquista as rádios nacionais.

Heavenwood Single e novo baixista “Morning Glory Clouds (In Manus Tuas Domine)”, é o primeiro tema a ser extraído do novo álbum dos Heavenwood, “Abyss Masterpiece”, o qual se encontra disponível online para audição exclu-siva no myspace da banda. Entretanto a banda portuense revela ainda que Paulo Chanoca (De-mon Dagger/ Decrepidemic) será seu novo baix-ista de sessão.

Leaves Eyes Novo album “Meredead” Os Leaves Eyes, banda formada pela ex-vocalis-ta dos Theatre of Tragedy, Liv Kristine Espenaes Krull, e por membros dos Atrocity, definiram “Meredead” como o título de seu novo álbum, com lançamento previsto para 22 de Abril. O produtor e co-vocalista Alexander Krull trata também da mistura final do CD nos Master-sound Studio. A arte gráfica do álbum foi criada por Stefan Heilemann.

Watain escuridão sem lei dá prémio Por causa do último álbum, «Lawless Darkness», os Watain acabam de ser galardoados, na sua Suécia natal, com um Grammy na categoria Hard Rock. Na cerimónia de entrega do prémio, que decorreu a 17 de Janeiro, em Estocolmo, o frontman Erik Danielsson afirmou que “sempre pensei que os critérios de elegibilidade dos can-didatos a estes prémios fossem a conformidade e a insipidez, por isso estou surpreso… é sem dúvida um vitória para o Diabo!”

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Qual foi o objectivo do lançamento deste EP em 2010?Ricardo Falcão: «Revelations» é uma espécie de lu-fada de oxigénio para os seguidores da banda entre produção de LP’s e a forma de algumas músicas que tínhamos guardadas das antigas sessões de «Inner-gy» encontrarem um lugar digno na nossa discogra-fia. Desta feita mantemos a comunicação aberta com o público, com os media e ganhamos mais tempo de qualidade para continuar a trabalhar afincadamente no próximo álbum.

O 1º single é “Doppelgänger”. Qual o significado do tema?A ideia surgiu do facto de observar constantemente muitas semelhanças físicas nas pessoas com quem nos cruzamos na rua. Quem é que ainda não viu al-guém tão parecido ao ponto de julgar que seria de facto essa pessoa? Dias mais tarde, após conversar com o sujeito em questão, é que chegamos à con-clusão que afinal não era... que essa pessoa nunca

estivera nesse lugar a tais horas.Um dia resolvi investigar e descobri que existe mes-mo uma lenda com factos reais e relatos, uma espécie de clone maléfico, diz-se que quando alguém avista o seu próprio ‘Doppelgänger’ que é um presságio de morte... essa é a parte mais interessante, e a música é sobre isso.

No seguimento da pergunta anterior, fala-nos um pouco do vídeo. Que significado tem a mudança de cores – Branco/Preto?O conceito do vídeo segue o conceito original da

“Prog Nation”

Depois do lançamento de «Innergy», eis que os Forgotten Suns nos pre-senteiam com «Revelations», um EP lançado em 2010, com (excelentes) te-

mas gravados nas sessões de «Innergy». Já com 20 anos de carreira e antes do lançamento de um novo álbum, Ricar-

do Falcão acedeu a “falar” à Versus.

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música – a dualidade entre o bem e o mal. No vídeo, a partir do momento em que o poder do Doppel-gänger se apodera de nós, todos sofremos alterações (efeitos especiais) e passamos a estar amaldiçoados como se da lenda se tratasse. Todas as pessoas têm um ‘dark side’, essa é uma das mensagens do vídeo que capta também toda a energia, dinâmica e por-menores dos músicos com os seus instrumentos. Trabalhámos com o Horta do Rosário, um jovem re-alizador, e um craque de After Effects que é também um fã da saga Star Wars na qual esta batalha entre a Força e o Dark Side estão também muito presentes.

Foi um privilégio e uma honra podermos trabalhar com alguém tão dedicado à sua arte e tão talentoso como ele. Realizar este vídeo foi um verdadeiro tra-balho de equipa do qual estamos todos muito orgul-hosos.

Ainda sobre o tema anterior, “Doppelgänger” foi alvo de uma re-estruturação, algum motivo espe-cial para a escolha recair sobre este tema como 1º single?Não foi bem uma re-estruturação mas mais um re-mistura e a escolha foi simples. Não temos de facto muitas músicas com um formato tão convencional para promoção ‘easy listening’ dada a natureza pro-gressiva da banda que nos leva a compor temas sem limites e também porque achamos que é uma das faixas mais poderosamente concentrada, sem dúv-ida uma das melhores referências da capacidade camaleónica da banda se re-inventar de tema para tema.

“Prog Nation”

Depois do lançamento de «Innergy», eis que os Forgotten Suns nos pre-senteiam com «Revelations», um EP lançado em 2010, com (excelentes) te-

mas gravados nas sessões de «Innergy». Já com 20 anos de carreira e antes do lançamento de um novo álbum, Ricar-

do Falcão acedeu a “falar” à Versus.

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Neste EP, vocês acabam por “reciclar” um tema de “Fiction Edge”. Como é que foi feita a transição para este novo lançamento?Sabíamos que “Betrayed” era uma faixa extra em «Fiction Edge», um tema que usámos muitas vezes para fechar concertos da banda e uma das músicas preferidas dos fãs. Assim que começámos a estru-turar o EP ficou claro que poderia ser um dos bons upgrades e uma forma das pessoas perceberem o quanto esta banda evoluiu desde o ano 2000. Com um cuidadoso trabalho de samples, alguns arranjos mais modernos, a parte II (Grey Zone) e uma per-formance mais apurada penso que conseguimos dar ao tema o brilho que sempre desejámos.

Há alguma história subjacente a este tema, agora que juntaram neste EP a parte I e II?Todas as nossas músicas têm uma história por de-trás, um conceito. Quando compomos é como se estivéssemos a seguir um guião não escrito mas que se vai materializando conforme a criatividade musi-cal nos vai conduzindo ao longo do processo. “Be-

trayed” é uma história de ficção ao jeito da ‘Disney’ em que um rapaz descobre uma caixa de música com uma bailarina pela qual fica encantado. Ao de-sejar estar tanto com ela acaba por se ver enfeitiçado e transportado para um mundo encantado, apenas no fim ele vai descobrir que a bailarina é malévola, roubando-lhe a alma e aprisionando-o para sempre no seu mundo – a música foi originalmente com-posta em 95 e foi um dos primeiros temas que es-crevemos. Ao juntarmos a parte II, que é mais re-cente, o tema fica completo e finalmente após tantos anos é revelado ao público.

A edição já não é feita pela ProgRock mas sim pela vossa própria editora. Como é ser independente?Dá mais trabalho mas é um sinal dos tempos, é im-portante sermos independentes agora porque não podemos andar ao sabor de vontades alheias e que não seguem a direcção que pretendemos.

Este acaba por ser o vosso primeiro trabalho a ser promovido internacionalmente. Como já vi tan-

“Todas as nossas músicas têm uma história por detrás, um conceito. Quando compomos é como se estivéssemos a seguir

um guião (...)”

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tas bandas a queixarem-se da promoção (ou falta dela) como está a ser, neste aspecto, o trabalho de-senvolvido pela Metal Revelation? A receptividade tem sido boa?Sim, fantástica. Dá para perceber o quanto a banda cresceu e termos a Metal Revelation connosco é vital para chegarmos cada vez mais longe e a mais pes-soas.

Segundo li, já se encontram a trabalhar num novo disco. Podes adiantar alguma coisa sobre a sonori-dade? Será mais pesado? Conceptual?O próximo álbum será conceptual e pouco mais posso revelar por agora. O material deste novo ‘full length’ é totalmente novo, ideias frescas e provav-elmente um dos trabalhos musicais mais arrojados que fizemos até à data. Estamos a trabalhá-lo com muito cuidado porque sabemos que vai ser sem dúvida uma ‘masterpiece’.

Três perguntas para terminar: Que tens a dizer às bandas de garagem que esper-am, um dia, poder afirmar-se?Se têm um sonho, força de vontade e algo a dizer

através da musica...não desistam ao primeiro de-saire, sejam fiéis aos vossos princípios, estudem e estejam preparados para dar a volta por cima em qualquer situação.

Achas que se faz boa musica de Rock/Metal pro-gressivo em Portugal?Acho que o underground nacional tem muitas ban-das interessantes mas bastante desvalorizadas pelo público em geral. Existem infelizmente centenas de músicos que tocam apenas para as paredes, que não vivem o sonho e isso não é ser-se músico de uma forma completa.

Desde já obrigado pelo teu tempo e peço-te que deixes uma palavra final aos leitores da Versus Magazine, podes sempre imaginar que estas a pro-mover o EP ou o novo álbum!Espero que gostem do novo EP «Revelations» e que a curiosidade despertada por este trabalho vos con-duza a conhecer o mundo dos Forgotten Suns!

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

“Acho que o underground nacional tem muitas bandas interes-santes mas bastante desvalorizadas pelo público em geral. (...)”

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Sol glacial

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A última vez que entrevistei os Helrunar falei com o Dionysos (guit.). Porque é que ele já não se encon-tra na banda?Skald Draugir: O Dionysos tinha ideias diferentes das nossas relativamente à música e aos conceitos líricos. Foi por isso que abandonou os Helrunar. Ag-ora somos apenas dois: o Alsvartr e eu, e a nossa co-operação tem sido perfeita dado que estamos sem-pre em sintonia. Aliás, não podíamos estar a melhor como banda, e mesmo os nossos músicos de sessão – o Discordius, o Harcon e o Samiel – têm dado um contributo inestimável quando tocamos ao vivo.

O novo álbum, «Sól», é sem dúvida um trabalho monumental no verdadeiro sentido do termo. O que nos podes dizer sobre a génese deste 4º álbum dos Helrunar?É, definitivamente, um ponto de viragem para nós! Começamos a trabalhar neste disco no Verão de 2008, altura em que surgiram as primeiras ideias para o conceito geral de «Sól», mas nesse momento não havia maneira de antecipar que resultaria num duplo álbum. As primeiras composições saíram

mais negras, mais Black Metal, mas à medida que fo-mos avançando o processo criativo evolui, rompeu com fronteiras e abriu-nos novos horizontes, tanto musicais como líricos. Voltei a usar símbolos da mitologia nórdica, mas o álbum contém também influências de poesia moderna, principalmente ex-pressionista e surrealista. No final de 2009 começou a tornar-se evidente que um CD não seria suficiente para apresentar todo o material já escrito até então. Mas nós não queríamos deixar nada de fora, uma vez que tudo era bom e tudo tinha o seu lugar no conceito. O lançamento em duplo CD pareceu nesta altura inevitável. O processo criativo terminou no início de 2010 e os retoques finais foram dados já em estúdio. Em Agosto terminei a edição do livro de 50 páginas que acompanha a edição principal de «Sól».

«Sól» é bastante diferente do álbum anterior, «Baldr ok Íss»: não é tão extremo e parece favorecer uma abordagem mais atmosférica. O que nos po-des dizer sobre estas mudanças? Será que foi uma questão de deixar a música fluir de forma a reflec-tir o conteúdo lírico da melhor maneira possível?

Depois de uma década na obscuridade, 2011 poderá ser finalmente o ano de viragem para os Helrunar. Alterações recentes na formação cri-aram condições para uma revisão do paradigma black metal de origem, abrindo caminho a uma dinâmica criativa que culminou na maior obra até agora do grupo germânico: o duplo-álbum «Sól».Para nos guiar através das passagens escuras e tortuosas deste quarto registo de originais, ninguém melhor do que Skald Draugir, o vocalista e mentor lírico da banda.

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Sim, foi. Neste álbum a música e as letras relacion-am-se de forma muito íntima. Desta vez também tentamos evitar os chamados riffs catchy. Quisemos sobretudo criar atmosferas intensas e música mui-to emocional com o dom de transportar o ouvinte numa viagem mental. Trata-se duma abordagem que desenvolvemos neste disco e que tentaremos aperfeiçoar em trabalhos futuros. No passado a nossa música esteve muito orientada para as estru-turas rock convencionais. Agora acho que integra-mos mais influências clássicas, de música ambiente e bandas sonoras.

Do ponto de vista lírico, este álbum parece ser bastante diferente de tudo o que os Helrunar fiz-eram até aqui. Fala-nos um pouco do conceito sub-jacente a «Sól»?Este álbum encerra várias “camadas” de significados. Podes interpretá-lo numa perspectiva mitológica, social, espiritual, histórica ou até psicológica. Ba-sicamente, revolve em torno dos conflitos de um indivíduo; tanto os conflitos internos como os con-flitos com o mundo exterior. Tem a ver com uma es-pécie de processo iniciático de busca do verdadeiro eu. Contudo há outros significados possíveis – tentei

deixar os textos bastante abertos a outras interpre-tações de modo que cada ouvinte possa reflectir por si próprio. Nesse sentido penso que consegui tirar partido de estilos literários que ainda não tinha ex-plorado, e através dos quais pintei com novos tons a base mítica e simbólica que caracteriza este álbum.

Os Helrunar sempre se expressaram em alemão (ou em norueguês). No entanto, dado que as letras de-sempenham neste álbum um papel preponderante, é provável que os fãs sintam, agora mais do que nunca, que o idioma os impede de apreciar a vossa arte em todas as dimensões. O que pensas disto? Alguma vez pensaram em cantar em inglês? Achas que isso iria de encontro ao conceito da banda?Bem, a todos os fãs que não percebem alemão, só posso dizer que lamento… Mas como com-preenderão, trata-se da minha língua natal e é por-tanto nela que me expresso melhor. Não, o inglês não iria contrariar o conceito inerente à banda e até é provável que um dia venha a escrever algumas canções em inglês. No entanto acho que escrever le-tras em inglês é, de certa maneira, demasiado fácil. Podes cantar facilmente a maior merda em inglês que soa sempre muito “cool”. Escrever boas canções

“[«Sól»] é, definitivamente, um ponto de viragem para nós”

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em alemão é um desafio muito maior… e penso que o mesmo se aplica a outras línguas que não o inglês. Assim, para todos os que nos ouvem e que não en-tendem alemão, aqui fica o meu conselho: tentem captar o som das palavras e a atmosfera da música. Verão que isso chega para que consigam interpretar vocês mesmos o essencial de «Sól».

Presumo que as diferenças musicais entre os dois CDs, «Sól I» e «Sól II», estejam ligadas às letras. O que nos podes dizer sobre isso? Será que o mate-rial presente em cada um dos CDs foi composto em tempos diferentes?Não, toda a música foi escrita ao mesmo tempo, em-bora duma forma faseada. No entanto o alinhamen-to do álbum foi fixado apenas quando a trama lírica ficou estabelecida. Cada um dos temas ficou com as letras adequadas, e cada música tem o seu lugar certo no conceito lírico. A primeira parte, «Sól I», é a mais black metal e é a que expressa os conflitos internos do indivíduo. A segunda parte, «Sól II», é um pouco mais experimental, e reflecte os conflitos com o mundo exterior.

Algumas partes dos temas “Aschevolk” e “Die Müh-le”, incluídos em «Sól II», fazem lembrar, na minha opinião, o estilo dos vossos compatriotas Secrets of the Moon. Reconheces esta semelhança?Achas mesmo? Não me tinha apercebido disso. Pen-so que os Secrets of the Moon fazem um black metal diferente do nosso, e nem os consideramos como uma grande influência. Mas gostamos muito do que fazem, e eles até são uns tipos porreiros!

Sendo «Sól» um duplo álbum conceptual, porquê disponibilizar também as suas duas partes, «Sól I» e «Sól II», em separado? Não achas que a estraté-gia comercial pode ferir a integridade do conceito artístico?É um bom ponto de vista... O lançamento em dois CDs separados constituiu uma espécie de compro-misso. A edição principal é uma artbook edition, que contém os dois CDs mais um livro de 50 pá-ginas, profusamente ilustrado, onde expandi todo o conteúdo lírico. Os lançamentos de «Sól I» e «Sól II» em separado destinam-se mais aos fãs que estão interessados exclusivamente na música, e não estão dispostos a pagar o custo adicional (substancial)

do livro. Podia-se ter pensado numa edição com os dois CDs e sem o livro, mas como o orçamento já ia alto, chegou-se à conclusão que era mais económico optar pela edição independente dos dois CDs. De qualquer maneira penso que assim está bem pois o conceito inclui de facto duas partes que se podem separar musicalmente e liricamente.

Vejo que voltaram a gravar com o Markus Stock e, mais uma vez, o resultado foi impressionante. Quão diferente foi o processo de gravação de «Sol» em comparação com o «Baldr ok Íss»? Quando en-traram em estúdio já levavam tudo escrito ao de-talhe?Sim, já tínhamos tudo composto. No estúdio, em Maio, só afinamos alguns detalhes. As gravações foram relativamente rápidas: gravamos tudo em duas semanas. Regressamos ao estúdio em Agosto para dar os toques finais e fazer a mistura e a master-ização. O Discordius, o nosso guitarrista de sessão, deu uma grande ajuda nas gravações, e o Markus compreendeu bem quais eram as nossas intenções para este disco relativamente a som e atmosfera. Como sempre foi muito bom trabalhar com ele.

Ia exactamente perguntar-te sobre o Discordius; acho que ele apresenta aqui um trabalho notável. O solo de 5 minutos no tema “Sól” é particularmente brilhante. O que nos podes dizer mais sobre ele?Ah esse solo não é do Discordius; foi tocado pelo Alsvartr! De qualquer maneira estou de acordo contigo: ele é um guitarrista muito bom. E também trouxe para as sessões de gravação algumas boas ideias, assim como equipamento que contribuiu de forma muito positiva para o som do álbum. O Dis-cordius esteve até agora envolvido em vários projec-tos de pequena dimensão, de entre as quais o mais importante é talvez o seu grupo de doom/post rock, Melon Kallisti.

Muito obrigado pelo tempo que dispensaste à Ver-sus Magazine. Queres deixar aqui uma mensagem final para os leitores?Saudações e obrigado a todos. Lembrem-se que o conhecimento é uma arma. Portanto, armem-se!

Entrevista: Ernesto Martins

“Podes cantar facilmente a maior merda em inglês que soa sempre muito ‘cool’”

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Slava! Primeiro do que tudo, gostaria de congrat-ular a banda por um magnífico lançamento após tantos anos de silêncio. Têm continuado por tantos anos, possuem muita qualidade e merecem mais apreciação. Infelizmente, nem toda a gente pôde conhecer os SSOGE… Assim, diz-nos por que razão decidiram ter tão fantástico nome? Pensam que é fácil de lembrar e que embeleza o espírito quando o dizemos? De qualquer maneira, possui toda a magia que podemos esperar ouvir nas vossas músi-cas…Radek Hajda: Não há nenhum segredo por detrás do nome da nossa banda. Simplesmente éramos jovens rapazes há quinze anos atrás, entusiastas das ban-das Doom com um nome comprido como My Dy-ing Bride, In the Woods e cenas como essas. Assim, lembro-me de estar a pensar num título que pode-ria descrever a nossa música, e que fosse comprido como o inferno. De certeza que não é fácil de ser

O invocar de um feitiço que a todos une

Surgidos em 1995, na parte mais a leste da República Checa, a Morávia, os Silent Stream of Godless Elegy têm criado, desde o início, preponderantes el-egias à sua cultura ancestral. Providenciando a cada álbum fervor, carácter

e qualidade, demonstram com o seu sexto lançamento, «Návaz», que a ascen-são para além das fronteiras do seu país pode não ter sido fácil, mas que têm tudo para serem considerados como os criadores de um dos melhores álbuns do ano e avançarem rumo a maiores metas. Respondendo à Versus, o guitar-

rista e fundador dos SSOGE, Radek Hajda:

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O invocar de um feitiço que a todos une

Surgidos em 1995, na parte mais a leste da República Checa, a Morávia, os Silent Stream of Godless Elegy têm criado, desde o início, preponderantes el-egias à sua cultura ancestral. Providenciando a cada álbum fervor, carácter

e qualidade, demonstram com o seu sexto lançamento, «Návaz», que a ascen-são para além das fronteiras do seu país pode não ter sido fácil, mas que têm tudo para serem considerados como os criadores de um dos melhores álbuns do ano e avançarem rumo a maiores metas. Respondendo à Versus, o guitar-

rista e fundador dos SSOGE, Radek Hajda:

lembrado e isso é uma maneira de falarem de nós, muitos dos nossos fãs usam simplesmente “Silent”. Eu sei que Silent Stream of Godless Elegy não é o melhor nome para posters, publicidade ou catálogos mas, como dizes – tem a magia…

No início, a banda tinha algumas influências de Paradise Lost, Anathema e My Dying Bride, mas progrediram o vosso som, inspirados no folclore da região onde vivem. O que consideras ser a mais provável definição para SSOGE?Sim, tens razão. Na verdade, nós crescemos a partir de bandas de Doom/Death metal mas olhamos cada vez mais para a fusão da nossa música folk e rock/metal, ainda com um forte toque doom. É disso que gostamos e queremos fazer. A conexão entre a nossa música e a terra onde vivemos é inteiramente óbvia. Partimos da memória folclórica e cultural e da her-ança dos nossos antepassados. Podem encontrar na

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nossa música e líricas, motivos folclóricos tal como motivos da literatura verbal folk. Penso que se pode criar a melhor música quando esta surge do íntimo. E nós somos da Morávia, a parte mais a leste da República Checa.

Alguma vez pensaram que a banda seria consid-erada uma das melhores e mais originais bandas de Folk-Metal a nível mundial? Além de terem aparecido em ’95, longe desta moda…Honestamente, eu não gosto desse cliché mas é uma maneira natural para nós. Cada vez mais estamos in-teressados nas nossas raízes e isso tem de transpar-ecer na nossa música também. Não tem a ver com o facto do “folk-metal é uma moda agora”. Existimos há mais de quinze anos e ainda vamos pelo nosso caminho, não olhando para o que os outros fazem. E eu afirmo que o nosso estilo é mesmo único pois não conheço nenhuma banda semelhante. Olha para as bandas folk-metal recentes – é um alegre “pub” met-al, “pirata” metal ou black-metal com líricas folk. Eu não compreendo isso. Eu gosto de bandas que criem música em que eu possa sentir as suas raízes tal como fazem Orphaned Land ou Amorphis, ou como os noruegueses Gaate fizeram. É disso que eu gosto.

Desde os anos 90, conseguiram aparecer em di-versas compilações. Como é que isso tudo surgiu? Acham que foi um grande esforço promocional que fez com que a banda fosse mais conhecida? Alguns outros convites para tal?No início de 1997, foi a «Breath of Doom», a com-pilação de bandas Doom-Metal checo desse período. Depois, em 2000, foi «A Tribute to Master’s Ham-mer», o que foi realmente muito divertido porque não havia nem uma banda de Black-metal nesse tributo. Depois disso houve dois outros tributos - a White Zombie e a Led Zeppelin – que nos ajudou com a promoção, especialmente nos EUA, já que ambos foram editados pela Dwell Records. White

Zombie? Ok, nenhum de nós estava a ouvi-los mas, Led Zeppelin? Isso é um culto genuíno! Assim, ti-ramos prazer disso o máximo possível! Ambas as canções (WZ – “Blood, Milk & Sky”; LZ – “Kash-mir”) excitaram muitas respostas ambivalentes – al-guns gostaram, outros detestaram. E isso é exacto: cem pessoas, cem gostos pessoais… Para dizer a verdade, costumávamos tocar Kashmir ao vivo por muito tempo como um bónus e a audiência adorava! A última compilação em que entramos foi «Caroh-rani…».

Foi estranho serem convidados para o CD de fol-clore «Carohrani aneb z Korenu Moravskeho Folk-loru vzesle» sendo SSOGE uma banda de metal? Já agora, que música usaram? Quais foram os comen-tários depois?Bem, foi um tanto fora do comum já que éramos a única banda de metal lá. No entanto, também foi uma honra já que estão lá “grandes nomes” da músi-ca folclórica checa e da cena alternativa como Iva Bittova ou Hradistan. Assim, muitas pessoas desco-briram que existimos mesmo. Usamos uma versão-demo da música “Gigula”. A versão normal saiu no nosso álbum anterior: «Relic Dances».

Tendo ganho dois Grammys (ou Andĕl, como é chamado desde 2005) na categoria Hard N’ Heavy, conseguiram ser mais conhecidos no vosso país e também fora dele? De qualquer maneira, a primei-ra vez que o venceram, com o álbum «Themes», isso pareceu pôr um certo stress na banda já que a maior parte dos membros saiu… Da segunda vez, com «Relic Dances», as coisas pareceram ser mais seguras. Esperam ganhar outra vez com esta edição de 2011?Em 2000 ajudou-nos de uma forma estranha já que eu tive de despedir a maior parte da banda. Não havia outra maneira. Eu detesto quando alguém age como uma estrela do rock. No entanto, tive muito sucesso com o renascimento e assim, retroactiva-

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mente, valorizo isso como um momento positivo. Em 2005, tudo estava bem e este prémio ajudou-nos de forma muito prazenteira. Com uma formação estável, começamos a tocar nos maiores festivais da cena checa, tivemos um concerto de duas horas numa televisão nacional e muitas entrevistas nas maiores magazines. Um momento excelente… Para dizer a verdade, em relação às nossas expectativas, nada esperamos. Criamos música porque adoramos música. Se existe algum prémio para nós, porreiro, mas isso nada significa comparado com o facto de que gravamos um outro bom álbum e finalmente encontramos uma editora grande e respeitada como a Season of Mist.

Há cerca de dois anos foram também convidados para colaborar no filme “Labyrinth” . Infelizmente, até agora ainda não foi lançado. Gravaram duas faixas para ele mas apenas mostraram uma ao público expectante: “Dufay”. Porquê? Já agora, sabem alguma coisa em relação a quando é que o filme irá ser lançado?Sim, o azarado “Labyrinth”. Fomos convidados a compor alguma música para o filme e também a providenciar algumas faixas-demo do nosso futuro álbum. O realizador discutiu com os produtores, cada um foi para o seu lado, depois houve proble-mas com os direitos e o dinheiro, uma nova empresa de produção, novas lutas… Realmente não sei se este filme irá alguma vez ser lançado. Na verdade, eles ainda nos devem dinheiro. Em relação à nossa música, nós compusemos e gravamos duas faixas mas apenas uma, intitulada “Dufay” está sob o nome de SSOGE. A segunda faixa foi o resultado inicial do nosso (refiro-me a alguns membros dos SSOGE) projecto paralelo na onda do Rock/Alternativo.

Como referem no vosso website, é um tipo de thrill-er… O realizador disse-vos que género de atmos-fera era preciso para as músicas ou em que partes do filme estariam? Como “Dufay” concede ao ou-vinte um belo panorama, não me importaria de ouvir a outra faixa. Imaginam criar uma banda sonora integral para um filme?Sim, sabíamos que tipo de filme e atmosfera seria. Uma banda sonora integral? Soa muito atractivo mas receio que tal não é possível devido à nossa vida actual. Sabes, temos os nossos empregos, famílias…

mas se eu tiver a música como o meu emprego, não há problema, iria apreciar esse tipo de trabalho, é um desafio…

Tendo um álbum editado pela Season of Mist é um prémio há muito tempo merecido que irá impul-sionar a banda até um maior espectro de público. Como é que esse acordo surgiu? Alguma vez pen-saram que iria ser possível? Afinal de contas, ex-istem cinco CDs editados anteriormente e outros cinco anos de ausência…A esperança morre quando o último…. Sempre tentamos propor os nossos álbuns a várias editoras estrangeiras mas sem qualquer sucesso. Assim dis-semos “foda-se!”, e tentamos ficar focados apenas na música. Compusemos, ensaiamos arduamente, arranjamos a música com o nosso produtor Tomas Kacko e convidados musicais. Depois reservamos os GrapowStudios e gravamos o álbum com o próprio Roland Grapow. Com algumas faixas misturadas, propusemos a nossa música outra vez às editoras e, finalmente, tivemos sucesso. Tivemos algumas propostas e escolhemos a Season of Mist dado que gostamos do seu rol de edições e trabalho. E se men-cionas essa ausência – sabes, embora pareça que é quase seis anos desde o nosso último álbum, «Relic Dances», não é como se estivéssemos a trabalhar todo esse tempo no novo álbum. Simplesmente es-tivemos a apoiar o álbum anterior por algum tempo, a viver as nossas vidas, tu sabes – casamentos, divór-cios, crianças, apartamentos, hipotecas, ganhando dinheiro… Assim, acho que foi apenas nos últimos dois anos que pusemos o cérebro a trabalhar e a ar-ranjar o nosso material.

Quanto tempo levaram a gravar? Embora fizessem uma pré-produção antes de entrarem em estúdio, outras ideias apareceram enquanto estavam a gra-var?Penso que estivemos a gravar durante duas semanas, depois o Roland trabalhou na mistura por algum tempo e após isso fizemos a mistura final. Sim, fize-mos uma pré-produção. Referindo isto, julgo que não estivemos tão bem preparados para gravar do que desta vez. Tudo devido ao nosso trabalho árduo e toneladas de sessões de gravação no computador de casa. Realmente, aprendemos muito…

“A conexão entre a nossa música e a terra onde vivemos é in-teiramente óbvia. Partimos da memória folclórica e cultural e

da herança dos nossos antepassados”

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O título do álbum, «Návaz», refere-se a um amu-leto tradicional feito de cabelo, folhas de amora silvestre, cinza e outros ingredientes. Em que é que esse amuleto era usado, e porque é que decidiram dar esse nome ao álbum? Além da primeira faixa, que é o tema-título, será que se relaciona com algu-ma outra música, criando assim um certo conceito?Este amuleto costumava ser feito para proteger em Nav, que é um termo slavónico para o mundo in-ferior na nossa mitologia, sendo colocado entre as raízes do grande carvalho. Quando pensamos acer-ca de um título para o álbum, estivemos a procurar uma palavra que poderia “conectar” todas as músi-cas. Descobrimos uma palavra muito antiga – não sendo usada actualmente – “Návaz”. Um talismã. Sendo também substantivo, “Návaz” é derivado do verbo “navazovat” que significa “conectar algo” ou “se unir” na nossa língua. E, como dizes correcta-mente, esses talismãs antigos eram feitos unindo flo-res com cabelo, penas, cinza, etc. Gostamos de saber que tivemos sucesso em vir com um segundo senti-do com o título do álbum: «Navaz», “o ajuntamento” em inglês – nós nos juntamos (conexão) ao nosso passado, às nossas raízes. Este álbum é um talismã para todos vocês.

Após o álbum «Relic Dances», por que foi decidido que as líricas fossem escritas em checo?Sabes, foi um grande dilema em relação à língua já que antes costumávamos cantar em inglês, mas, afinal de contas, decidimos usar a nossa língua ma-terna pois parece um passo lógico – tocamos música com fortes raízes folclóricas, então porquê devería-mos usar o inglês? No entanto, para dizer a verdade, é um tanto traiçoeiro já que é muito mais difícil es-crever e cantar líricas em checo (do que em inglês). Não obstante, penso que é o caminho certo e iremos continuar assim.

A que se referem as líricas no novo álbum? Após alguma pesquisa no vosso website, indago-me se os títulos foram mudados ou decidiram gravar músi-cas diferentes enquanto estavam no estúdio… Se assim aconteceu, porquê?Penso que nenhum título foi modificado. [NR: difer-entes traduções dos títulos no site]. Todas as líricas, escritas pela nossa vocalista, Haneke, se situam em antigos tempos pagãos e, se existe algo que as una, é o respeito pela Natureza e pelo culto da Mulher. Por exemplo, “The Mother Earth” (Mokos em checo) é a Deusa da Terra, o seu equivalente sendo Hera na

mitologia grega e Juno na romana. Na nossa história é usado um tipo de metáfora pois ela é esposa e mãe ao mesmo tempo. Estando enraivecida devido aos guerreiros (os seus filhos) verterem sangue, ela rec-usa-se a receber os seus corpos de volta. Eles pedem pelo seu perdão, as suas esposas rezam por eles. No final, a Mãe-Terra, ferida e suja devido ao sangue de-les, perdoa-os e deixa-os descansar no seu amplexo, no lugar de onde surgiram. Na verdade, esta história é sobre a paz, aquela universal bem como a da alma. Entrem na Mãe Terra…

Desde há algum tempo que têm uma formação es-tável, sendo o violinista Pavel Zouhar o último a entrar em 2008. De qualquer maneira, eu lembro-me de ver um vídeo no YouTube, adicionado em Fevereiro de 2008, em que tocam a música “Slava” com a antiga violinista no Masters of Rock 2007, e que está no alinhamento do vosso álbum. Com-puseram a maior parte das músicas para este lan-çamento desde essa altura?Sabes, passamos metade das nossas vidas a compor músicas e ficamos mais velhos. Alguns membros an-tigos escolheram uma vida familiar, alguns carecem de persistência e, claro, existem – de tempos a tem-pos – conflitos humanos e musicais. Eu tenho or-gulho em agirmos como uma família por quase dez anos, de uma certa maneira somos um círculo fechado. Se despendes horas e anos com alguém numa sala de ensaios, numa carrinha, no palco, ex-iste uma espécie de ligação que as pessoas de fora não podem compreender. Penso que é difícil vir a ser – ou ficar – um membro nesse tipo de banda. Como mencionaste Pavel, sim, ele é o último a en-trar na banda pois a nossa antiga violinista, Petra, decidiu ter uma família e agora ela tem duas lindas crianças. Assim, fizemos um concurso e Pavel foi quem ganhou. Ele é um músico talentoso com ex-periência em vários grupos folclóricos. Em relação à composição, embora algumas faixas sejam antigas, é apenas desde há dois anos que estamos a trabalhar arduamente no novo álbum.

Após mais de quinze anos concedendo-nos tantos lançamentos de qualidade, agora na Season of Mist e provavelmente tendo mais concertos agendados, existe algum plano para lançar um DVD, já que se-ria um grande passo para mostrar a todos que não vos podem ver ao vivo, o que a banda é?Porque não? Mas, como somos um certo tipo de pedantes e ambiciosos em relação à visão artística,

“Este álbum é um talismã para todos vocês”

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temos de fazer disso um ponto essencial para que um excelente DVD seja feito. Assim, não estamos realmente com pressa.

Como está a tua editora: a Redblack? A compilação de aniversário “Redblack” CD+DVD foi editada e com uma versão vossa? Se sim, diz-nos mais acerca disso…Tenho de clarificar isto. A Redblack não é a minha editora. Eu só trabalhei para eles por algum tempo e isso é passado desde há muitos anos para mim. Para dizer a verdade, não existe qualquer marca recente da actividade deles, o que é uma pena… Em relação à compilação, sim, foi há quase 2-3 anos atrás que nos foi proposto fazer uma versão de uma música para essa edição, mas depois – silêncio… Acerca da nossa versão, concebemos isso de maneira livre. Assim fizemos uma divertida Aerosmith’s “Taste of India”. No entanto, temo que não será alguma vez editada…

Planeiam gravar algo com o agrupamento musical Slovácko ml, ou meramente tocar ao vivo? Existe algum vídeo do vosso concerto com eles disponível na net?É difícil, sabes. Somos um monte de entusiastas e não podemos providenciar a esses agrupamentos nada mais do que o nosso entusiasmo. E, quando se fala acerca do dinheiro que poderá surgir, é ver-dadeiramente mau. Assim, tocamos 2-3 concer-tos com o grupo Slovacko e acabou. Como não é a nossa primeira experiência negativa, tivemos de administrar tudo isso de uma outra forma. Assim, quando pensamos em gravar o nosso novo álbum, falamos com alguns músicos de folclore amigáveis e credíveis e fizemos um tipo de grupo “virtual” contendo o dulcimer, alguns violinos e violoncelo. Como funcionou bem no estúdio, acho que iremos continuar assim a não ser que encontremos alguns fanáticos similares a nós.

Como descreves o Metal no teu país? Existem mui-tos festivais, lugares para concertos ou algumas bandas que devemos ter em conta?Se me perguntasses isso há mais de dois anos atrás, eu poderia responder numa muito longa frase já que era o gerente de uma loja de Metal em Brno e es-tava no “centro” dos eventos. Agora, tendo movido para Ostrava, trabalhando no negócio de IT, infeliz-mente não tenho qualquer pista sobre o que está a acontecer por aqui. Assim, só posso presumir seg-undo o que posso ver em relação às actividades dos SSOGE. Existem duas grandes magazines impres-sas, algumas boas e-magazines e algumas estações de rádio que estão disponíveis para tocar Metal. Em relação à TV, tudo desabou, maldição! Em relação a concertos, existem muitos festivais (posso mencio-nar Masters of Rock ou Brutal Assault como os mais conhecidos) e clubes aqui, mas, sabes, isso depende da posição da banda. E – somos ainda um pequeno país, pouco interessante para o negócio da música, algures no leste longínquo.

Agradeço-te por responderes à entrevista. Diz-nos os teus feitiços para os momentos vindouros… Mantém o espírito inflamado!!!E agradeço-te pelo teu apoio! Para dizer a verdade, indagamo-nos sobre o que irá acontecer no futuro recente. Termos o álbum publicado através de uma grande editora como a Season of Mist e estarmos na mesma lista dos Septic Flesh, Cynic ou Morbid An-gel, soa como um sonho. Assim, só existe uma coisa da qual tenho a certeza – temos de trabalhar ardu-amente cada vez mais. Mas amamos o que fazemos. A música é uma parte integral das nossas vidas, as-sim, estamos ansiosos pelo futuro. Mergulhem na corrente, ouçam a elegia!

Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro

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Findo mais um ano, é tempo de passar em revista o que de melhor 2010 nos trouxe. Depois de vários dias a revirar pilhas de discos e a ouvir muitos gigabytes de ficheiros mp3 – o que quase lhes valeu um envenenamento com metais pesados – o staff da VERSUS Magazine revela finalmente as selecções dos melhores álbuns do ano, a nível internacional e nacional.

André Monteiro1- A DAY TO REMEMBER - «What Separates Me from You»2- MORE THAN A THOUSAND - «Vol.4 Make Friends and En-emies»3- THIS OR THE APOCALYPSE - «Haunt What’s Left»4- WOE, IS ME - «Number[s]»5- OF MICE AND MEN - «Of Mice and Men»Carla Fernandes1- CEREBRAL BORE - «Maniacal Miscreation»2- CEPHALIC CARNAGE - «Misled by Certainty»3- DECAYED - «Chaos Underground»4- INHERIT DISEASE - «Visceral Transcendence»5- DECREPIT BIRTH - «Polarity»Carlos Filipe1- MAR DE GRISES - «Streams Inwards»2- EREB ALTOR - «The End»3- DIMMU BORGIR - «Abrahadabra»4- ORPHANED LAND - «The Never Ending Way of ORwarriOR»5- LES DISCRETS - «Septembre et ses Dernières Pensées»Cristina Sá1- LANTLOS - «.neon»2- IMPERIUM DEKADENZ - «Procella Vadens»3- JALDABOATH - «Rise of the Heraldic Beasts»4- DEATHSPELL OMEGA - «Paracletus»5- CONSPIRACY - «Irremediable»Eduardo Ramalhadeiro1- NEVERMORE - «The Obsidian Conspiracy»2- OVERKILL - «Ironbound»3- IRON MAIDEN - «The Final Frontier»4- BLIND GUARDIAN - «At the Edge of Time»5- PAIN OF SALVATION - «Road Salt One»Ernesto Martins1- IHSAHN - «After»2- ORPHANED LAND - «The Never Ending Way of ORwarriOR»3- LANTLOS - «.neon»4- DIMMU BORGIR - «Abrahadabra»5- SHINING - «Blackjazz»

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Findo mais um ano, é tempo de passar em revista o que de melhor 2010 nos trouxe. Depois de vários dias a revirar pilhas de discos e a ouvir muitos gigabytes de ficheiros mp3 – o que quase lhes valeu um envenenamento com metais pesados – o staff da VERSUS Magazine revela finalmente as selecções dos melhores álbuns do ano, a nível internacional e nacional.

Jorge Ribeiro de Castro1- FOREST STREAM - «The Call of Winter»

2- HORNED ALMIGHTY - «Necro Spirituals»3- GNAW THEIR TONGUES - «L’Arrivée de la Terne Mort

Triomphante»4- OCTOBER TIDE - «A Thin Shell»

5- THE VISION BLEAK - «Set Sail to Mistery»Luis Almeida Ferreira

1- ANATHEMA - «We’re Here Because We’re Here»2- PAIN OF SALVATION - «Road Salt One»

3- ALCEST - «Écailles de Lune»4- ORPHANED LAND - «The Never Ending Way of the

ORwarriOR»5- THE DILLINGER ESCAPE PLAN - «Option Paralysis»

Renato Conteiro1- AVANTASIA - «Wicked Symphony»

2- BLIND GUARDIAN - «At the Edge of Time3- IRON MAIDEN - «The Final Frontier»

4- MÄGO DE OZ - «Gaia III»5- NEVERMORE - «The Obsidian Conspiracy»

André Monteiro1- MORE THAN A THOUSAND - «Vol.4 Make Friends and

Enemies»2- HILLS HAVE EYES - «Black Book»

Carla Fernandes1- CRUSHING SUN - «Tao»

2- DECAYED - «Chaos Underground»Carlos Filipe

1- GWYDION - «Horn Triskelion»2- PAINTED BLACK - «Cold Comfort»

Cristina Sá1- GWYDION - «Horn Triskelion»

2- MOURNING LENORE - «Loosely Bound Infinities»Ernesto Martins

1- CRUSHING SUN - «Tao»2- GWYDION - «Horn Triskelion»

Renato Conteiro1- TARANTULA - «Spiral of Fear»

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Da perpétua “caça às bruxas”

Patrik Jensen, um verdadeiro “homem dos sete instrumentos”, veste a pele de guitarrista e fundador dos Witchery, para nos falar do último produto das “malas artes” da banda. «Witchkrieg» apresenta o atractivo suplementar de ser o primeiro álbum a contar com Legion como vocalista. De uma forma divertida, que lhe é peculiar, o nosso en-trevistado explica-nos as transmutações da “caça às bruxas”.

Todos vocês fazem parte de grandes bandas, para além de renderem vassalagem a Witchery. Qual é a diferença entre estar nessas outras bandas e partici-par neste projecto particular? Patrik Jensen: Na minha opinião, a principal diferença reside no facto de não associarmos esta banda a tra-balho, ao contrário do que acontece com as nossas out-ras bandas. Por outras palavras, estar nas outras ban-das também é divertido, mas é com esse trabalho que

pagamos as nossas contas. Fazer parte dos Witchery é só divertimento, talvez até porque nos juntamos pou-cas vezes, devido aos conflitos de agenda com as nossas outras bandas.

A música que vocês fazem parece intrigar muito os que pretendem atribuir-vos uma etiqueta. Como de-screves o vosso estilo? Será que varia de álbum para álbum?

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Da perpétua “caça às bruxas”

Patrik Jensen, um verdadeiro “homem dos sete instrumentos”, veste a pele de guitarrista e fundador dos Witchery, para nos falar do último produto das “malas artes” da banda. «Witchkrieg» apresenta o atractivo suplementar de ser o primeiro álbum a contar com Legion como vocalista. De uma forma divertida, que lhe é peculiar, o nosso en-trevistado explica-nos as transmutações da “caça às bruxas”.

festa e b) tem de ser adequado para ouvires no teu mp3 quando andares a passear num velho cemitério à noite. Ora aí tens uma descrição perfeita!

Como conseguem fazer tanta coisa ao mesmo tem-po? Qual é o segredo por trás da magnífica “sobre-vivência” dos Witchery?A minha teimosia [risos]. Gosto de estar ocupado. E escrever um álbum dos Witchery não é assim tão difícil, quando nos juntamos os cinco. Temos gos-tos musicais muito semelhantes, pelo menos dentro do género que tocamos nesta banda, portanto todos sabemos o que fazer com as ideias que cada um de nós produz.

Qual é a relação entre o nome da banda, a vossa música e os temas das vossas letras?Não sei, a sério! Nunca pensei nisso. Todas as ban-das em que tenho estado têm nomes relacionados com fantasmas ou mortos vivos ou o sobrenatural: por exemplo, Seance, The Haunted e Witchery. Não sei dizer-te a razão. Acho giro, é tudo!

«Witchkrieg» é o vosso quinto longa duração. Não posso deixar de dizer que gostei muito do álbum. Parece ter uma atmosfera muito diferente da do anterior, que também lançaram com a Century Media. Na tua opinião, de onde vem a diferença?Eu acho que cada um dos nossos álbuns tem a sua atmosfera própria. Por exemplo, «Dont Fear the Reaper» é mais negro e assustador que «Witchkrieg», «Restless and Dead» é mais brutal, etc. «Witchkrieg» talvez seja mais equilibrado do que o álbum anteri-or. Por outras palavras, se o ouvires todo seguido, de uma ponta à outra, vais senti-lo como uma unidade.

Por que razão Toxine [o anterior vocalista] aban-donou os Witchery?Estava farto de ensaiar e tocar ao vivo, apesar de não o fazermos muitas vezes. Estamos muito contentes por termos o Legion connosco agora.

E que acrescentou ele à vossa “feitiçaria”?Uma malignidade ameaçadora… Penso que ele dá mais força às nossas canções que o Toxine. O nosso anterior vocalista era muito bom nas faixas lentas e atmosféricas. O Legion é mais agressivo, na forma de cantar e na sua postura.

«Witchkrieg» parece ser um álbum político. Con-cordas?Não, não o vejo assim. Para mim, os nossos álbuns são um meio para escapar à realidade durante 40 e alguns minutos. A capa do álbum evoca a propagan-da soviética dos anos 40: é uma foto de Estaline com

Ser uma banda que ninguém sabe classificar é um sonho que se transformou em realidade! Isso deve sig-nificar muito simplesmente que temos um som muito próprio. [risos]! Pelo menos é assim que vemos esse facto. Não sei descrever a nossa música. Apenas es-crevemos o que nos apetece escrever. No entanto, te-mos dois critérios para filtrar o material: a) tem de fazer com que as pessoas sintam vontade de tocar uma guitarra ou uma bateria virtuais e de ouvir o CD numa

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uma caveira no lugar da cabeça. A faixa que deu o tí-tulo ao álbum fala sobre a necessidade de te manteres fiel a ti próprio, de defenderes a tua opinião, o que era completamente proibido nos estados comunistas. E, há uns séculos atrás, se te mostrasses excêntrico e tivesses opiniões muito fora do habitual, acusavam-te de bruxaria e queimavam-te. Mas a nossa música serve apenas um meio de fugir à realidade. As letras das canções todas juntas formam uma mensagem e cada uma delas é uma história de horror em min-iatura.

As capas dos vossos álbuns anteriores faziam lem-brar ilustrações de romances de terror, mas o estilo desta é mais realista. Foi feito intencionalmente?As capas dos nossos últimos três álbuns foram feitas pelo Andreas Pettersson, meu amigo desde a infân-cia. Ele também criou o logo para os The Haunted e as capas dos três primeiros álbuns deles. Compreen-demo-nos muito bem e ele adora fazer capas para ál-buns de metal, para descansar do seu habitual trabal-ho publicitário para multinacionais. Tem uma grande capacidade de ver o que funciona realmente. Foi ele que criou o conceito de «The Haunted Made Me Do It», que causou grande sensação. Portanto, eu confio nele a 100%. Foi ele que teve as ideias de base, tanto para «Don’t Fear the Reaper», como para o «Witch-krieg». É dele a ideia de usar a foto de Estaline e de imitar o estilo gráfico dos soviéticos: por exemplo, usar duas cores e um vermelho que não era bem ver-melho, porque eles não tinham os meios necessários para usarem essa cor nos folhetos da propaganda. As capas do Andreas são sempre intencionais.

Por que aparece sempre um esqueleto nas capas dos vossos álbuns?É uma espécie de mascote, como o “Eddie” dos Iron Maiden ou o “Vic Rattlehead” dos Megadeth. A nossa chama-se Ben Wrangle e, de facto, até agora tem sur-gido em todas as nossas capas. Não sei se será sem-pre assim! Mas ele está connosco desde o início e nós temos querido que ele faça parte de todas as nossas aventuras.

Por que convidaram tantas celebridades para par-ticipar neste álbum?Essa é fácil: porque podemos fazê-lo. Convidámo-los, eles viram o que queríamos que fizessem, gostaram e aceitaram participar. Era um sonho nosso, que con-

seguimos concretizar. Ainda ficaram alguns músicos para uma próxima ocasião, portanto é provável que os Witchery voltem a ter convidados.

Vi no youtube o vosso vídeo oficial para “Return of the Conqueror”.Por que escolheram esta música e não a faixa que deu o título ao álbum? É a vossa música favorita? E por que fizeram o vídeo num con-certo?De facto, também fizemos um vídeo para a faixa do título, até antes deste. Mas pareceu-nos boa ideia ha-ver vídeos para duas canções e escolhemos esta para o segundo. Fizemo-lo num concerto, porque o orça-mento disponível era pequeno, como é habitual nos dias que correm, em que já quase ninguém compra CDs. Sobrou algum dinheiro do vídeo da «Witch-krieg» e nós gastamo-lo a fazer este segundo vídeo no Gothenburg’s Metaltown Festival.

O que vão fazer para promover o vosso álbum? Acham que vão conseguir fazer alguns concertos nos intervalos das digressões das vossas outras bandas? Também vi que planeavam lançar um DVD ao vivo. Como vai esse projecto?Vamos tentar fazer o máximo de concertos que pu-dermos, mas vai ser realmente difícil, porque todos temos uma agenda muito carregada com The Haunt-ed, Arch Enemy e Opeth. Vamo-nos concentrar nos festivais, porque nos permitem tocar para muita gen-te num só dia. Gostávamos muito de fazer uma di-gressão dos Witchery, mas, para já, fica no reino dos sonhos, porque não temos tempo livre.

O Legion já actuou em Portugal, quando era vocal-ista dos Marduk. E os outros membros da banda? Já cá vieram? Que tal vos parece a ideia de virem ofi-ciar num dos templos da cena metal portuguesa?Já estivemos muitas vezes em Portugal com os The Haunted e o mesmo aconteceu com os Arch Enemy e os Opeth. Os Witchery tocaram no Porto e em Lis-boa, em 2000, a fazer a primeira parte de concertos dos Moonspell e dos Kreator. Temos boas record-ações de Portugal e gostaríamos muito de voltar a to-car no vosso país. Portanto, convençam um festival a contratar-nos e nós iremos de certeza.

Entrevista: CSA

“ [A nossa música] tem de ser adequado para ouvires no teu mp3 quando andares a passear num velho cemitério à noite”

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Consciência do caminho

Apesar do percurso dos Crushing Sun ter já alguns anos, só em 2007 é que assinaram pela Major Label Industries, lançando um split com os E.A.K intitulado «Bipolar». Três anos depois, lançam o seu álbum de estreia, «TAO», com onze faixas recheadas de uma secção rítmica incrível. Depois deste lançamento falamos com o Bruno Silva, front-man do quarteto vila-condense, procurando saber as reacções a este álbum e projectos futuros.

Boas Bruno! Para quem conhece os Crushing Sun só de concertos, fala-nos um pouco sobre este pro-jecto.Bruno Silva: Boas! Crushing Sun (CS) nasce em 2003, pela mão dum grupo de pessoas que, embo-ra não partilhassem um passado comum, tinham o mesmo objectivo e os mesmos gostos musicais. Com o passar dos anos fomos refinando a nossa so-noridade, isto é, vincando uma personalidade, um som próprio, assim como uma atitude diferente, uma forma de estar diferente no underground na-cional, embora seja demasiado redutor falar apenas no nosso underground. Tudo o que temos feito até agora é acima de tudo uma tentativa de criação de algo com que os membros de CS – e por CS não me refiro à Comunicação Social – se identifiquem, que gostem, obviamente por extensão e como nenhum de nós se acha diferente aos olhos do mundo, cer-tamente existirão pessoas com os mesmos gostos e filosofia que nós. O nosso som é para nós e para es-sas pessoas.Falando um pouco em relação à dita sonoridade, muita gente tem dificuldade em catalogar o que faze-mos, nós próprios não temos um rótulo definido e não o queremos ter. Se disséssemos que éramos uma banda assumidamente Death, Sludge, Black, Core, seja o que for, não só estaríamos a impor barreiras, como estaríamos a condicionar quem ouve. Gosta-mos de estimular os nossos sentidos e de quem nos ouve, tanto tocamos/compomos músicas “agressi-

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vas”, como musicas mais “trippy”. Visto incorporar-mos diferentes géneros e subgéneros no nosso som, penso que a melhor forma de nos definir enquanto banda seria Metal sem palas.

Após lançarem o split em 2008, sentiram-se pre-parados para realizarem um trabalho mais pro-fundo, como este álbum?Sim, sem dúvida. O «Bipolar» permitiu à banda crescer e saber o que é estar em estúdio. Trouxe dis-ciplina à banda. Além do mais ajudou a definir um rumo; a termos uma visão crítica muito mais apura-da do que tínhamos até à gravação do split. Embora em termos sonoros o «TAO» esteja bastante difer-ente do «Bipolar», se não fosse este último, dificil-mente sairia o álbum que saiu.

Sei que houve uma grande evolução vossa como banda. Vocês tiveram essa noção de estar a formar uma base mais consistente e específica dentro do vosso género?Nós tivemos a noção de estarmos a criar algo difer-ente, algo com identidade. A consistência do nosso trabalho é uma consequência lógica de todos estes anos em que fomos evoluindo juntos, sempre com a mesma formação.

Depois do lançamento do álbum quais estão a ser as reacções de quem vos tem ouvido nestas onze faixas? Como chegaram ao nome “TAO”?

O feedback que nos tem chegado tem sido exce-lente, principalmente fora de Portugal. Lá “fora” parecem apreciar o nosso trabalho, aqui nem tanto, isto é, existem pessoas a gostar e a apoiar, mas não tantas como se vê noutros subgéneros do Metal aqui em Portugal. Mas se vivêssemos obcecados com isso tocávamos Thrash e fazíamos 30 datas a tocar no mesmo sítio, para as mesmas pessoas e apan-hávamos altas borracheiras em todos os concertos. Talvez este álbum venha a ter a atenção que merece, em Portugal, quando a banda deixar de existir, ou se fizermos carreira lá por fora. Quanto ao nome do álbum, tem a ver com a temáti-ca do Taoismo, ainda que apenas tenha servido de base, não é um álbum focado nessa mesma temática exclusivamente e aprofundadamente. Mas “TAO” significa, literalmente, “O Caminho”, algo que está representado quer liricamente, a par da temática, quer no artwork do álbum.

Neste momento estão em divulgação deste álbum, mas há já algum projecto futuro em mãos?Neste momento queremos saborear o momento e tocar o máximo possível. Eventualmente e porque é inevitável para a evolução da banda, iremos tentar uma tour lá por fora.

Entrevista: Inumater

“…nós próprios não temos um rótulo definido e não o quere-mos ter”

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A esperança no meio do desespero

«Loosely Bounded Infinities» é o seu álbum de estreia, lançado em Setembro passado, pela Major Label Industries. A banda – com raízes nos Açores e uma história de dois anos – destaca-se por um death/doom melódico de contornos bem especiais e por letras que, desde logo, acusam o toque da poesia nacional. Estes dados levaram a Versus Magazine à conversa com João Arruda (guitarra) e João Galrito (voz/guitarra).

Sei que vens dos Açores e que fazes parte da cena local, sobejamente conhecida. Que peso tem essa filiação na música feita pela banda?João Arruda: Efectivamente quando formei os Mourning Lenore já trazia alguma bagagem. Nos Açores, havia sido vocalista/guitarrista de uma banda – Schism – que chegou a ter alguma pro-jecção para o pouco tempo que esteve activa (cerca de 2 anos). Também criei o website Metalicídio.com, que me permitiu manter contacto com uma enorme panóplia de músicos, estar na frente da or-ganização de eventos, etc. Naturalmente, esta ex-periência foi importante, pois já sabia muito bem o que era estar numa banda e conhecia as armas para batalhar contra as dificuldades que uma banda am-adora enfrenta.

Numa das entrevistas que li, afirmavas que o doom metal não desperta tanto interesse no públi-co português como outros subgéneros do metal. Que razões encontras para tal fenómeno, já que os Portugueses são tidos por melancólicos e nos-tálgicos?JA: Se calhar por os portugueses serem tão mel-ancólicos e nostálgicos por natureza procuram música que lhes permita explorar outros sentimen-tos (risos). Sinceramente, não faço a menor ideia e até é algo relativamente estranho, pois em Portugal há bandas deste género com enorme qualidade.

Apesar de «Loosely Bounded Infinities» ser o vosso álbum de estreia, têm feito vários concertos pelo país, acompanhando bandas com nome na cena metal europeia. Em que medida essa experiência de palco vos ajudou a lançar o vosso álbum de es-treia?JA: Os concertos são sempre uma componente es-sencial da vida de qualquer banda pois ajudam-nos a perceber até certo ponto se estamos a con-seguir passar ao público a nossa mensagem. Além disso, são sempre uma oportunidade para trocar impressões com outros músicos sobre como tra-balham a sua música, a sua imagem e palco, que

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A esperança no meio do desespero

«Loosely Bounded Infinities» é o seu álbum de estreia, lançado em Setembro passado, pela Major Label Industries. A banda – com raízes nos Açores e uma história de dois anos – destaca-se por um death/doom melódico de contornos bem especiais e por letras que, desde logo, acusam o toque da poesia nacional. Estes dados levaram a Versus Magazine à conversa com João Arruda (guitarra) e João Galrito (voz/guitarra).

material usam, etc. e, nessa perspectiva, todos os concertos são bons, sejam com bandas nacionais ou internacionais.

Como reages às críticas sobre «Loosely Bounded Infinities» que referem a presença de elementos de rock e doom metal dos anos 90, ligeiras influên-cias progressivas e psicadélicas e até toques jazzy?JA: Não podia reagir melhor, as influências rock, prog e jazz sempre foram assumidas por nós. Até fico particularmente orgulhoso por as termos con-seguido exprimir de modo a que fossem notáveis (risos).

E, por falar da vossa música, quem é responsável pela composição nos Mourning Lenore? JA: Por regra trabalhamos na sala de ensaios riffs que o Galrito ou eu trazemos de casa e aí, em con-junto, compomos os temas.

As críticas são essencialmente favoráveis à banda, destacando a qualidade musical e vocal do vosso trabalho. Mas todos sabemos que qualquer tra-balho tem defeitos. O que gostariam os Mourning Lenore de rever e melhorar no próximo álbum?JA: Sinceramente ainda não paramos para pen-sar nas críticas, digeri-las, processa-las e repensar (ou não) o nosso trabalho, pois o processo de pro-moção ainda está a decorrer a todo o gás. Natural-mente que apreciaremos com cuidado as críticas, é exactamente para isso que elas servem, para nos ajudar a crescer, mas, por outro lado, tudo faremos para nos mantermos fiéis a nós próprios.

Adorei as letras das vossas canções. Quem as es-creveu?

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JA: Eu e o Galrito.A propósito de Mourning Lenore, evoca-se Poe. É do seu poema que vem o nome da banda? É pos-sível encontrar a sua influência neste álbum?JA: O nome da banda faz efectivamente uma alusão a Edgar Allan Poe, mas algumas pessoas levam isso muito a peito, o que as pode levar a esperar coisas que não correspondem à realidade. Consideramos que há uma alusão ao universo Poeiano na nossa música, mas não de uma maneira expressa ou di-recta. É uma questão de atmosfera.

Curiosamente, as letras de duas das vossas can-ções (“Contours of a dream” e “Reminiscence”) fizeram-me lembrar a poesia simbolista/decaden-tista de Mário de Sá-Carneiro, contemporâneo e amigo de Fernando Pessoa. Que pensas desta as-sociação?João Galrito: Atrevo-me a dizer que Fernando Pes-soa sim, teve e tem um impacto enorme em mim – enquanto escritor, enquanto pensador, enquanto sofredor de inúmeras questões que se interligam e identificam com a minha vida pessoal. De facto, é

evidente a forma como as letras estão carregadas de ícones, texturas e metáforas que se traduzem na mente de quem as lê.

As funções de baixista, em Mourning Lenore, são desempenhadas por uma mulher. Que podes diz-er-nos sobre a presença feminina na cena metal actual, em Portugal e no estrangeiro. O que mu-dou, se é que te parece que alguma coisa mudou?JA: A presença feminina na cena metal actual, a meu ver, já é algo perfeitamente natural. Nos dias que correm, já há um sem fim de mulheres em bandas de metal, mais marcadamente nos estilos de contornos góticos, mas também em bandas ex-tremas. E finalmente! Eu pessoalmente não olho a sexos na música. Penso que é uma questão abso-lutamente irrelevante, na medida em que cresci a ouvir imensas bandas que tinham elementos femi-ninos e isso, para mim, sempre foi algo tão natural como o sol ou a chuva.

Entrevista: CSA

“As influências rock, prog e jazz sempre foram assumidas por nós.” (JA)

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ANTIMATTER«Alternative Matter»(2010 / Prophecy Productions)

Dez anos após o primeiro álbum, os Antimatter lançam uma com-pilação de temas não gravados e versões alternativas compiladas por Mick Moss. Esta compilação é composta por dois CDs e nela podemos encontrar uma versão de Dead Can Dance, várias versões ou remixes para a mesma música e versões raras ao vivo. De re-alçar a participação de Duncan Patterson (ex-Anathema). «Alter-native Matter» é uma excelente compilação semi-acústica, a fazer lembrar Anathema ou Opeth («Damnation») que merece, verda-deiramente, ser ouvida com muita atenção. A ter em conta![8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

CRUSHING SUN«Tao»(2010 / Major Label Industries)

Esqueçam o que ouviram em 2008 no split com os EAK, pois estes são os novos Crushing Sun. Em lugar de rajadas disparadas em todas as direcções, o que o colectivo apresenta agora é um metal moderno e vigoroso, mais contido na agressão, mas que não pre-scinde da sua dose letal de riffs death. Mais importante é sem dúvida a nova abertura a um espectro de influências mais alargado – que não compromete a coerência do todo – bem como a ad-mirável progressão na qualidade das composições. Uma das boas surpresas nacionais do ano. [8/10] Ernesto Martins

HOLY GRAIL«Crisis In Utopia»(2010 / Prosthetic Records)

«Crisis in Utopia» é o álbum de estreia dos californianos Holy Grail. Influenciados pelo NWOBHM, speed e thrash Metal e com um EP na bagagem, os Holy Grail são uma típica banda de puro Heavy Metal, que tem em «Crisis In Utopia» uma sólida e consistente proposta. Os temas desfilam numa miscelânea de estilos que conseguimos reconhecer aqui e ali. Não acrescentam nada de novo ao panorama do Metal, limitando-se a conseguir apresentar uma nova roupagem ao já muito caracterizado som heavy metal. Acima de tudo, «Crisis in Utopia» é uma demonstração cabal de eficiência, poder, veloci-dade e virtuosismo. Resta agora os mesmos conseguirem talhar e caracterizar o seu som no futuro.[7.5/10] Carlos Filipe

MIRROR OF DECEPTION«A Smouldering Fire»(2010 / Cyclone Empire)

São uma das mais antigas formações germânicas de doom metal tradicional, e acabam de regressar com nova proposta centrada em riffs graves e massivos e cadências arrastadas ao bom velho estilo de bandas como Candlemass e Saint Vitus. Introspectivo, vaga-mente psicadélico, e claramente mais variado do que «Shards», este é um registo de altos e baixos, que tanto contém as melhores composições de sempre do quarteto, como temas relativamente pobres e desinteressantes.[7.5/10] Ernesto Martins

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MORBID CARNAGE«Night Assassins»(2010 / Pulverised Records)

Apesar de não estarmos certamente perante uns Evile ou uns Pitch Black, e de já não haver pachorra para esta imagem estafada de machões violentos e acéfalos, há que reconhecer nestes húngaros alguma capacidade para reavivar o entusiasmo pelo velho thrash metal. Sem surpresas, «Night Assassins» é uma torneira aberta de malhas sujas e rasgadas, energicamente articuladas por uma maquinaria infernal bem oleada, que nos transporta até às glórias dos 80s protagonizadas por lendas como Slayer e Kreator. Uma estreia decente, mas só para fanáticos do género.[6.5/10] Ernesto Martins

NIGHTFALL«Astron Black And The Thirty Tyrants»(2010 / Metal Blade Records)

Os gregos Nightfall apresentam-nos no ano de 2010 o seu trabal-ho «Astron Black And The Thirty Tyrants». Melodias de peso, voz presente e todo um misto de velocidade e calma, com a vertente mística das letras aliada ao progresso e exploração. Os cerca de vinte anos deste grupo, sempre em constante mudança, mostram-se carregados de sabedoria e trabalho, e culminam neste registo agradável aos ouvidos.[8/10] Daniel Guerreiro

THULCANDRA«Fallen Angel’s Dominion»(2010 / Napalm Records)

Pelos vistos Steffen Kummerer, dos Obscura, é tão doente pelos Dissection que montou, com a ajuda de alguns amigos, este pro-jecto com o intuito de fazer algo “inspirado” na banda de Jon Nod-tveidt. Pena é que a mão lhe tenha escorregado e a alegada in-spiração tenha dado lugar a uma cópia a papel químico do estilo característico da histórica formação sueca. Claro que competência não lhe falta para recriar com sucesso a atmosfera gelada e as tor-rentes melódicas de blast-beats legadas para a posteridade num «The Somberlain». O problema é que, por melhor que ele o faça, o original é sempre preferível.[6/10] Ernesto Martins

UNITOPIA«Artificial»(2010 / InsideOut)

Unitopia é o projecto de Mark Trueack e Sean Timms, que, depois de um primeiro álbum promissor, só volvidos 10 anos e pela mão da InsideOut, é que os Unitopia levantaram finalmente do chão. «Artificial» é o terceiro álbum (segundo pela InsideOut) e um mas-terpiece de Rock progressivo. A riqueza musical aqui presente é magnífica e de um requinte de qualidade musical elevadíssima. Os Unitopia conseguem incorporar na sua música elementos tão dis-pares como música do mundo, jazz, heavy rock ou groove, fazendo com que «Artificial» nos surpreenda em cada música.[9/10] Carlos Filipe

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Um Caminho Evolutivo

Sempre a desafiar os limites da própria banda e do seu Metal Gótico, os Tristania têm com «Rubicon» um novo opus, onde acrescentam mais uma camada musical à sua já longa carreira. Com uma secção vocal completamente renovada e mantendo a mesma estrutura criativa, os Tristania conseguiram-nos brindar com uma música mais fresca e mainstream, mas sempre vincadamente Tristania. A conversa com o mentor da banda e baixista, Ole Vistness.

Como vêem hoje todo o caminho evolutivo feito pelos Tristania, desde o álbum de estreia em 1997 «Tristania» até ao actual lançamen-to de 2010, «Rubicon»? Ole Vistness: Cada álbum novo dos Tristania é sempre uma encruzilhada, ou damos um passo em frente, para cima ou para os lados em relação ao álbum anterior. Com «Rubi-con», decidimos seguir em frente e afastar-mo-nos da agressividade e obscurantismo de «Ashes» e da atmosfera mais sombria de «Ilu-mination». Tal como «Ashes», com a sua so-noridade mais crua, potente e simples era uma reacção aos coros e sintetizadores megalóma-nos de «World of Glass»; «Rubicon» é uma reacção a «Ilumination» e o abrir da porta sin-fónica, já de nós conhecida dos anos 90. A ha-bilidade em evoluir, crescer e explorar novos territórios musicais desconhecidos, foi sempre uma forte faceta dos Tristania. Mantemo-nos sempre criativos e atentos, enquanto procura-mos avidamente por novos conceitos. Com isto em mente, só posso dizer que estamos orgulhosos do nosso nome e do nosso legado como banda. É por isso que acho que você usa a frase perfeita para descrever a nossa viagem musical: Um caminho evolutivo.

Como é que vês a transição dos Tristania desde os primeiros dias até hoje? A razão da minha questão, prende-se com o facto de ha-ver sempre os fãs mais nostálgicos e obstina-dos que continuam acorrentados aos primei-ros álbuns dos Tristania, argumentando que eles continuam a ser os melhores álbuns, es-quecendo que a banda tem de avançar para poder crescer – claro, isto sem comprometer o seu passado. Suponho que com o passado dos Tristania e a sua progressão ao longo destes anos todos, este problema, provavelmente seja recorrente em cada álbum novo. Qual a tua opinião acerca destes sentimentos nostál-gicos? Tal como havia dito na resposta anterior, nós Tristania, estamos sempre num caminho evo-lutivo. Daí, consideramos que qualquer tran-

sição na nossa música seja algo de natural. E as razões são variadas. Primeiro, porque já não temos 17 anos e desde então decorreram anos de experiência nas nos-sas vidas, ambas musicais e pessoais. Segundo, criamos música com os nossos corações. É uma atitude ínte-gra que reflecte aquilo que somos como pessoas, num dado momento, num dado local, quando estamos a criar música. Nada soaria mais artificial ou forçado, se com os nossos trinta e tais anos fizéssemos a mesma música que fazíamos quando éramos adolescentes. Não obstante, respeito totalmente a opinião das pes-soas que gostam mais dos nossos primeiros álbuns. Nós estamos a falar de música, e cada indivíduo tem o direito a ter uma opinião. No entanto, há sempre pessoas a ficarem bastantes zangadas quando as suas

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Um Caminho Evolutivo

Sempre a desafiar os limites da própria banda e do seu Metal Gótico, os Tristania têm com «Rubicon» um novo opus, onde acrescentam mais uma camada musical à sua já longa carreira. Com uma secção vocal completamente renovada e mantendo a mesma estrutura criativa, os Tristania conseguiram-nos brindar com uma música mais fresca e mainstream, mas sempre vincadamente Tristania. A conversa com o mentor da banda e baixista, Ole Vistness.

Quais são as tuas expectativas com o presente lançamento, «Rubicon»? Estamos extremamente satisfeitos com o ál-bum que fizemos e acho que conseguimos tudo aquilo a que nos propusemos fazer ao nível criativo e de produção. Estas eram as nossas expectativas e elas foram completa-mente preenchidas. O nosso pensamento ag-ora é fazer uma tournée, a mais longa quanto possível, de forma a divulgar «Rubicon». A nossa primeira tournée Europeia já é história, neste momento procuramos tentar ir a outras paragens e abraçar todas as ofertas para tocar em festivais.

Onde é que colocas «Rubicon» no seio da dis-cografia dos Tristania? Eu não tenho nenhuma lista com os meus álbuns favoritos de Tristania. «Rubicon» é o primeiro álbum em que estive envolvido, e, por isso, é-me bastante especial. Mas, tal como já disse, é o álbum mais perfeito e único que poderíamos fazer hoje. O nosso próximo ál-bum será a seu tempo, o mais perfeito álbum a ser feito por nós. Eu sei que é um cliché, mas se tu puderes fazer o teu melhor álbum de cada vez que fazes um, porque é que haverias de fazer somente um álbum perfeito? Este é o nosso objectivo e onde coloco «Rubicon»: Um passo natural depois de «Illumination» e um álbum que apresenta os novos membros e faz sobressair a banda, continuando a sermos fiéis ao legado dos Tristania.

O álbum está nos escaparates desde final de Agosto 2010. Quais têm sido as reacções até agora?As reacções têm sido extraordinariamente boas, pelo facto de ser o primeiro álbum com Mariangela e Kietil nas vozes. Eu questiona-va-me como seria a reacção dos fãs e da imp-rensa ao álbum. Quando as pessoas seguiram a banda tantos anos é compreensível que uma mudança na linha da frente da mesma possa resultar numa repulsa, não necessariamente com a música, mas sim com o facto da sua

bandas favoritas afastam-se daquilo que eram quando as descobriram e se apaixonaram por elas e a sua músi-ca. As pessoas reagem diferenciadamente nestas situ-ações, umas interiorizam o facto de as “suas bandas” mudarem, e perdem o interesse, outras ficam de tal maneira irritadas que acabam por lançar comentários depreciativos e odiosos na Internet. Algumas das min-has bandas favoritas mudaram de sonoridade e estilo ao longo dos anos, e mesmo que eu ficasse instintiva-mente desapontado e traído, depois de ouvi-los com uma mente aberta, tenho de reconhecer que a música continua excelente. E os antigos álbuns, aqueles pelos quais me apaixonei no início, continuam aí para serem ouvidos vezes sem conta. Posso ouvi-los as vezes que me apetecer.

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“… Tal como «Ashes», com a sua sonoridade mais crua, po-tente e simples, era uma reacção aos coros e sintetizadores

megalómanos de «World of Glass»; «Rubicon» é uma reacção a «Ilumination» e o abrir da porta sinfónica, já de nós conhecida

dos anos 90.”dois compositores e um letrista principal, passámos a funcionar como um todo, onde todos contribuem de igual modo na componente criativa. Eu e o Anders, escrevemos a maior parte da música, os vocalistas escreveram a maior parte da sua componente vocal – o que não acontecia antes. No que toca à direcção geral e sonoridade da banda, nós somos uma democ-racia forte, onde todas as decisões são efectuadas com todos envolvidos. Graças a isto, «Rubicon» é um produto inspirado e desenvolvido por nós todos jun-tos, novos e antigos membros em equidade.

Como foi trabalhado «Rubicon» até este atingir a fase de estúdio e produção?«Rubicon» foi escrito e arranjado quase completa-mente antes de termos entrado em estúdio. A forma como o fazemos é através da Internet. Gravamos id-eias e músicas, e enviamo-las uns aos outros para re-visão ou para alguém brincar e experimentar. Apesar deste processo criativo funcional, o cerne da criação e escrita das músicas acontece quando eu e Anders jun-tamos forças na sala de ensaios. É aqui que as ideias nascem e são trabalhadas até termos uma música. Depois desta fase, a música é apresentada aos vocal-istas, eles acrescentam as suas ideias para compor a parte vocal e os seus respectivos arranjos. A seguir organizamos uma sessão de pré-produção/arranjos

banda favorita já não ser a mesma de quando a desco-briram. E de facto isso aconteceu com esta transição, em que alguns fãs expressaram tristeza e raiva. Feliz-mente, estes constituem uma curta minoria. O que ressalta de isto tudo, para onde quer que nos viremos, é que as reacções foram boas e as pessoas sentem que demos passos importantes como banda, mantendo a mesma veia e atmosfera que fez os Tristania.

Musicalmente falando, eu diria que «Rubicon» é um álbum sólido e com uma sonoridade fresca. Acho-o ligeiramente diferente de «Illumination», marcando definitivamente um novo tom para os Tristania. De que modo todas estas mudanças na banda afecta-ram a música, composição e letras?Obrigado! Um dos cumprimentos que me deixa pes-soalmente mais contente é dizerem que «Rubicon» é fresco. Num género sobrepovoado, é muito comum as bandas apresentarem um som idêntico. Eu espero realmente, que as outras bandas olhem para o nosso caso e que saibam interpretar-nos da mesma forma, ou seja, que interiorizem que trouxemos algo de novo para cima da mesa, que exploramos os confins daquilo que é o Metal Gótico. As mudanças na ban-da, desde «Illumination» tiveram algum impacto na direcção musical definida para «Rubicon». A maior delas, e a mais importante, foi: ao invés de termos

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com o Waldemar [Sorychta], em que a última des-tas sessões tem lugar dias antes de entrar em estúdio, onde cada pedra é virada e cada ideia aperfeiçoada. Assim, ao entrarmos em estúdio, restam-nos alguns detalhes para limar, o que nos deixa uma liberdade total para nos focarmos 100% na performance, per-mitindo que façamos cada música a melhor e mais potente possível.

Mencionaste a participação como co-produtor de Waldemar Sorychta. Um dos factores chave que se mantém intacto de «Illumination» é a sua con-tribuição como co-produção. Quanto profundo foi a contribuição de Waldemar com os Tristania e quais as mudanças que ele introduziu em «Rubicon»?Waldemar desempenhou um papel importante du-rante as gravações como co-produtor, consultor téc-nico e participou na gravação das partes vocais de Mariangela. Mas, a sua contribuição mais significante foi durante a pré-produção, onde trabalhamos cada uma das músicas, cada parte, cada detalhe, sempre com o objectivo de encontrar a melhor das soluções e eliminar todos os elementos desnecessários da can-ção, essencialmente aqueles elementos musicais que se poderiam tornar cegos para nós – após termos con-vivido com a música ao longo de meses. Como tudo na arte, para extrairmos o melhor possível da nossa criação, temos de por vezes eliminar aquilo que nos é mais chegado, deixar cair ideias das quais nos apa-ixonamos, porque só assim conseguiremos ter a mel-hor canção possível. A melhor forma de encarar este desafio é trazer alguém de fora em quem confiamos. Para nós, Waldemar é essa pessoa. Nós confiamos no seu julgamento, mesmo que por vezes discordemos e não seguimos o seu conselho. É excelente ter um par de “orelhas novas” para nós apontar os pontos fracos.

Ouvindo o álbum todo, consigo extrair duas coisas: Há menos partes guturais masculinas e uma inter-pretação feminina excelente por parte da Mariange-la Demurtas, que arrebata o álbum todo. Como foi definido esta centralidade na Mariangela? Concordo com o facto de a Mariangela brilhar em «Rubicon». Ela dá às músicas intensidade e profun-didade, conseguindo ao mesmo tempo revelar todo o potencial da sua voz. Mas, apesar da força de Mari-angela, não acho que «Rubicon» esteja centrado à sua volta. O álbum é muito mais diversificado e conta

igualmente com as fortes vozes de Østen e Kjetil, para não esquecer da performance de Pete Johansen no vi-olino. No fundo, para mim, o cerne do álbum, aquilo que é a essência nos meus ouvidos, são as músicas. Cada execução, vocal ou instrumental está marcada para fazer de cada canção a melhor, onde cada de-talhe musical é focado minuciosamente naquilo que pede a canção. Conta-nos como foi a chegada de Mariangela à ban-da? Qual o seu background?Depois da saída de Vibeke, a banda tirou umas férias. Com isto, muitas cantoras mostraram o seu interesse em ocupar o lugar deixado pela Vibeke nos Tristan-ia. Mariangela foi uma de entre muitas centenas que enviaram uma demo tape, e de imediato emergiu do lote como uma das candidatas mais fortes. Ela e outras duas raparigas foram convidadas a vir até Stavanger na Noruega, para ensaiar connosco. Após alguns dias de intenso trabalho, ficou claro que havia uma quími-ca entre ela e a banda. Era definitivamente a pessoa certa e a sua voz era perfeita para levar os Tristania a novos territórios. O seu background musical é mais orientado para o Blues e o Soul, no entanto, ela tem uma forte paixão pelo Metal. Desde que começámos a escrever e trabalhar o material novo, ela sofreu uma grande evolução, tornando-se numa cantora com um repertório vocal enorme. Com «Rubicon», Mariange-la aprendeu novas formas de cantar e ver a música.

Quando é que poderemos ver finalmente os Tristania em Portugal? Será que isso irá acontecer na tournée de «Rubicon»?A primeira parte da tournée “Rubicon Tour” tomará parte na Noruega e Europa durante Outubro 2010. Infelizmente não foi possível incluir nenhuma data para Portugal. Temos datas confirmadas para Ingla-terra, Israel e novamente Noruega., isto antes de par-tirmos para uma tournée nos Estados Unidos. A seg-unda parte da tournée que terá lugar durante 2011 e ainda não está confirmada. Espero sinceramente que possamos passar por Portugal, quando esse tempo vier.

Entrevista: Carlos Filipe

“ … Nada soaria mais artificial ou forçado, se com os nossos trinta e tais anos fizéssemos a mesma música que fazíamos

quando éramos adolescentes. “

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Fogo Lento

São uma das formações mais antigas de doom clássico na Alemanha e citam

o nosso José Saramago como uma das principais influências líricas. Para

nos falar sobre o mais recente trabalho, «A Smouldering Fire», que marca o

20º aniversário do quarteto, chegamos à fala com o guitarrista Jochen Fopp.

Para uma banda agora a completar já a segunda dé-

cada de existência, os Mirror of Deception (MoD)

contam com um número invulgarmente reduzido de

álbuns na discografia: apenas quatro. Porquê?

Jochem Fopp: Bem, nos nossos primeiros dez anos

gravámos um total de cinco demos e um mini-CD. O

primeiro álbum só viria a surgir em 2001, já com três

anos de atraso. Penso que não fossos propriamente

preguiçosos; o problema é que não suscitamos muita

atenção na fase das demos.

O novo álbum, «A Smouldering Fire», parece ser o

mais variado de sempre da banda. Além do doom

clássico por que os MoD são já conhecidos, temos

aqui algumas surpresas como o “Bellwethers in

mist”, uma faixa baseada numa bela melodia folk.

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Fala-nos um pouco disto.O novo álbum é realmente muito variado, o que também não significa que os discos ante-riores tenham sido unidimensionais. O “Bell-wethers...” é uma espécie de homenagem aos Primordial, uma banda de que todos gostamos muito. Na verdade sempre tivemos um pouco de influências folk no que toca às melodias. Para nós o doom é muito mais do que um simples andamento ou um simples estado de espírito. O doom pode existir segundo várias formas e várias cores – é como a vida.

Por outro lado, “Lauernder schmerz” soa como uma vulgar canção de rock, e por isso é de estranhar num disco dos MoD. Porquê este tema?A música para essa faixa resultou duma jam, e gostamos dela exactamente porque tem esse feeling diferente. Foi por isso que decidimos incluí-la no álbum. Em geral só completamos canções que achamos suficientemente boas para suportar o teste do tempo num álbum.

Desta vez incluíram um total de três temas in-strumentais. Porquê?Bem, os álbuns «Foregone» e «Shards» tam-bém contaram com algumas pequenas peças instrumentais. Desta vez incluímos três temas assim, distribuídos entre as restantes faixas, porque achamos que dão um pouco mais de atmosfera e fluência ao álbum.

A banda cita o escritor português José Sara-mago como uma das suas principais influên-cias. Que livros do nosso prémio Nobel é que serviram de inspiração neste novo álbum? Em que temas é que os seus escritos são usados?O texto do tema “Unforeseen” é vagamente ba-seado no romance “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. Não é que siga exactamente a linha narrativa do livro; é mais uma espécie de cenário inspirado no livro. Devo admitir

que esse foi o único romance do Saramago que li até agora. Fiquei tão absorvido pelo livro que o devorei em pouco tempo. Em breve vou começar a ler outra obra dele: “A Caverna”.

Há dias, apercebi-me que os vossos com-patriotas Doomshine incluíram no álbum mais recente uma cover dum tema dos MoD: “Vanished”. O que nos podes dizer sobre isto? Vocês conhecem pessoalmente os membros dos Doomshine?Já conhecemos os tipos dos Doomshine há muito tempo dado que somos da mesma região da Alemanha. Claro que nos sentimos muito honrados pelo facto deles terem incluído uma cover dum tema nosso no álbum deles. Tudo começou em 2005, no concerto comemora-tivo do nosso 15º de aniversário. Nessa altura convidamos os Doomshine, os Voodooshock e os Blackpuzzle para actuar, e desafiamo-los a preparar uma cover dum tema dos MoD. Os Doomshine escolheram o “Vanished” e apre-sentaram ao vivo uma fantástica interpretação dessa canção. Mas o que mais nos surpreendeu é que eles gostaram tanto do tema que fizeram questão de o gravar no último álbum [NR: «Piper at the Gates of Doom»]. Curiosamente, o disco onde o original do “Vanished” aparece, o EP «Conversion», foi gravado em 2003, ex-actamente no estúdio do baixista dos Doom-shine.

Este ano os MoD celebram o seu 20º an-iversário. Quais são, para ti, as grandes re-cordações destas duas décadas na banda?Tem sido maravilhoso conhecer e partilhar o palco com grupos que nos influenciaram mui-to no início, como é o caso dos Count Raven, Solitude Aeturnus e Revelation, bem como fazer amizade com alguns dos membros des-tas bandas. Os concertos no estrangeiro são sempre especiais para nós, particularmente quando nos permitem algum tempo para faz-

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“… o doom é muito mais do que um simples andamento ou um simples estado de espírito”

er também um pouco de turismo. A Irlanda e a Fin-lândia foram grandes experiências. Outras grandes recordações que guardo com afecto são as primeiras vezes em que tive nas mãos a nossa primeira demo e, depois, o primeiro álbum. Foram momentos muito especiais.

Que planos é que há para celebrar esta data?A melhor maneira de celebrar é mesmo com este novo álbum, que vem acompanhado de um CD bó-nus de edição limitada, que é uma espécie de presente especial de aniversário para os fãs e para nós mesmos. Mas, claro, também vamos festejar este aniversário a tocar ao vivo. Vamos fazer um concerto que envolv-erá ex-membros dos MoD bem como alguns amigos da banda Dreaming.

Uma das coisas que os fãs devem estar já a sentir falta na produção dos MoD é um DVD. Há planos para isso?É bem provável que um dia façamos um DVD, mas não será tão cedo. Para já vamos continuar a juntar material para ele e a pensar entretanto num bom plano para o apresentar.

Qual é a tua percepção acerca do interesse que o doom metal tem despertado nas editoras? Muitos dos fãs mais novos associam de imediato o doom metal ao hibrido doom-death, esquecendo que as formas seminais de doom foram criados pelos Can-

dlemass, Trouble, etc. Que pensas disto?Acho que a situação melhorou bastante nos últimos dez anos. Há por aí algumas pequenas editoras a in-teressar-se por doom. Duma forma geral o doom tem sido alvo de maior atenção. Não estou muito preocu-pado se as pessoas acham que tudo começou com o doom-death. Se essas pessoas estiverem mesmo in-teressadas em saber, elas irão mais longe na sua pes-quisa e seguirão o género até às suas raízes.

Da experiência que adquiriste com a organização do festival Doom Shall Rise, como é que vês a evolução do doom metal nos últimos dez anos?Penso que há mais bandas e mais fãs. De outro modo o Doom Shall Rise e outros festivais do género não seriam possíveis. A internet faz uma grande diferen-ça. Actualmente é muito mais fácil promover bandas e festivais. Mas é claro que o doom continua a atrair apenas uma minoria entre os fãs de metal. Penso que isso nunca vai mudar.

Entrevista: Ernesto Martins

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Para começar gostaria de saber porque é que este segundo álbum levou tanto tempo a concluir. Seg-undo informação no vosso myspace, este interregno de quatro anos entre os dois discos foi algo forçado externamente. O que vos atrasou ao certo?Manuel d’Albuquerque: O que nos atrasou foi ba-sicamente o facto de nenhuma editora apostar na banda e sermos obrigados a custear os nossos dis-cos bem como todo o trabalho inerente à promoção, embora tenha havido um retorno que acaba por ir suportando o projecto. Um caso caricato sucedeu com o 1º álbum quando a Música Activa fechou e ficámos com imensos discos no armazém. Fizemos uma proposta às FNACs para colocarem o disco à venda à consignação - ou seja não teriam despesa nenhuma nem prejuízo - e mesmo assim recusaram. Acabámos por vender 1300 CDs pela internet e nos concertos. Também demorámos mais tempo a che-gar ao 2º álbum por força da mudança de elementos, embora a formação base se tenha mantido. Musicalmente falando, que diferenças mais salientes

“Banda Maldita”Apesar de marcados por constantes dificuldades causadas pelas temáti-cas controversas que sempre orientaram as suas canções, os Dr Salazar persistem firmes na sua luta, contra ventos e marés, tendo voltado re-centemente à carga com o novo álbum «Lápis Azul».A propósito deste sucessor de «Antes & Depois», Manuel d’Albuquerque, vocalista e mentor da polémica formação de Lisboa, falou-nos da surdez da imprensa, de discos com distribuição recusada e de espectáculos boi-cotados.

podes apontar entre o «Lápis Azul» e o 1º álbum?O som do «Lápis Azul» é mais actual; não é tão old school, embora se mantenham os traços originais que são a marca da banda. Por várias vezes obtive-mos prémios de originalidade. No «Lápis Azul» eu só canto, enquanto que no 1º álbum tocava guitarra também. Agora a vocalização está mais solta, e o re-forço do Costa na guitarra faz um bloco melhor com o Marco. Fundamentalmente este álbum está mais maduro. É o resultado de muitas horas na estrada. Em breve os Dr.Salazar incluirão um elemento de apoio nas teclas e máquinas: o Francisco, ex: Prison Flag, e antigo colaborador no álbum «Antes & De-pois».

Um dos aspectos singulares e inescapáveis nos Dr Salazar são as temáticas interventivas das letras. Neste aspecto a vossa atitude é um pouco semelhan-te à das bandas de hardcore. Que achas?As nossas letras são de crítica social com roupagem de metal industrial. Até já nos disseram que é inter-ventivo. É bem possível fazer a mesma coisa noutros

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géneros musicais. O Zé Mário Branco nunca teve nada a ver com o metal, penso eu. O Sérgio God-inho, com as suas letras compridas e meio faladas, quase que fazia rap antes dele ter surgido.

O aspecto que nunca deixa me de surpreender é o facto de apresentarem canções sobre temas que remetem para a ditadura salazarista. Qual é a vossa motivação para cantar sobre estes assuntos em par-ticular? Será que pode dizer-se que assumem para vocês mesmos a missão de recordar este lado do nosso passado às gerações mais novas? O nome Dr. Salazar está associado aos primeiros temas da banda, que abordavam a guerra colonial. Queríamos um nome diferente, de fixação fácil, e como estávamos a falar de coisas da ditadura o nome Dr. Salazar veio mesmo a calhar. Claro que notámos desde logo que este nome nos iria trazer al-guma hostilização, mas agora tem a vantagem de ser um dos nomes mais conhecidos do underground. No pós-25 de Abril pretendeu-se criar a ideia de que na ditadura estava tudo errado e que com a rev-olução dos cravos tudo passaria a ser bem feito. Hoje é óbvio que não é assim, e muito provavelmente os democratas já cometeram mais erros que o Salazar. Quanto à liberdade de expressão, que de facto não existia, também é óbvio que continua a não existir, embora os mecanismos de limitação sejam outros. Portugal está hoje numa situação péssima, e em muito o deve aos erros cometidos com a democra-cia, mas isso não é politicamente correcto dizer. Va-mos tentando pôr as pessoas a pensar, estabelecer um paralelismo; há muita informação disponível e seria bom que as pessoas não se ficassem pelo jornal gratuito (esse é mesmo duvidoso). Já agora, o jornal Destak recusou noticiar a saída do álbum dos Dr. Salazar, à semelhança do que fez o Jornal da Região

com o «Antes & Depois». Porque terá sido???

Acham que faz sentido falar ainda nesse símbolo da censura que foi o lápis azul? Na vossa opinião é real-mente verdade que “O lápis ganhou outras cores”? Há sinais claros disso. Toda a informação e cultura que não alinha pela esquerda, dificilmente se faz ou-vir. Há uma formatação à esquerda até no ensino, e os miúdos voltam a usar a camisola do Che Guevara mesmo ignorando quem ele foi realmente. Existem mecanismos nos dias de hoje que são LÁPIS AZUIS a fazer o mesmo que no antigo regime. Não se man-dam as pessoas para o Tarrafal ou Caxias – compra-se o patrão delas.

Neste novo álbum as temáticas ligadas ao tempo da ditadura salazarista já não são tão fortes. Será isto um sinal de que o tema se está a esgotar para os Dr Salazar?De maneira alguma. Matéria para o estilo interven-tivo dos Dr.Salazar é o que não falta. O novo álbum descola da guerra colonial e os temas não contam histórias passadas. Há uma reflexão sobre aspectos mais actuais e a conjuntura até ajuda. Por este andar haverá mais nódoas a apontar/limpar da democ-racia do que do antigo regime. Até já apareceu um partido denominado ‘Nova Democracia’; será que esta já não presta?

Como já referiste, os Dr Salazar sempre foram víti-mas de algum ostracismo ao longo da sua carreira. Entre outras coisas, isso traduziu-se na recusa da distribuição do álbum «Antes & Depois». Podes ex-plicar-nos o que aconteceu exactamente? Que tipo de exclusão é que a banda tem sentido?Bastante cedo começámos a sentir os efeitos da es-colha corajosa do nome Dr.Salazar, sem no entanto

“Existem mecanismos nos dias de hoje que são LÁPIS AZUIS a fazer o mesmo que no antigo regime. Não se mandam as pes-

soas para o Tarrafal ou Caxias – compra-se o patrão delas”

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“… na final de um concurso de bandas da C. M. de V. F. de Xira, ouvimos…: «É pá, que ganhe um qualquer, menos os do

Dr.Salazar». Azar dele porque ganhámos mesmo o 1º prémio!”fazermos a apologia do ditador ou assumirmos uma atitude de provocação. Já dissemos imensas vezes que não somos extremistas e não pertencemos a nenhuma organização neo-qualquer-coisa. Somos livres e temos a perfeita noção de que a nossa ex-istência no antigo regime não era possível. No ál-bum «Antes & Depois» falamos do Tarrafal (prisão politica) e agora no «Lápis Azul» falamos de cen-sura, temas que certamente nos garantiam um lu-gar na Prisão de Caxias. Temos a certeza que quem nos exclui pelo nome não conhece as nossas letras. É uma cegueira parva.Em 2003, estávamos na final de um concurso de bandas da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e ouvimos o elemento da Câmara (supomos que era um vereador) que iria entregar os prémios a dizer: “É pá, que ganhe um qualquer, menos os do Dr.Salazar”. Azar dele porque ganhámos mesmo o 1º prémio!Na Queima das Fitas da Universidade do Algarve fomos retirados do programa a uma semana do concerto. O nosso interlocutor disse-nos apenas que eram ordens de cima, sem mais nenhuma ex-plicação. No festival de Coruche fomos abordados por elementos locais dizendo que era uma vergonha estar ali uma banda com este nome.A imprensa em geral ignora os nossos emails e as notícias divulgadas para os media pela produtora com quem trabalhamos simplesmente não saem, nem mesmo quando lançamos discos. Com excep-ção dos jornais O Crime e o Correio da Manhã, que nos entrevistaram, não há sinais. Televisão, nem pensar. Resta-nos a internet e concertos ao vivo, bem como programas de rádio específicos na área do Heavy Metal.

Apesar das dificuldades do passado parece que as coisas estão a melhorar para o vosso lado – desta vez estão com a Compact Records a distribuir. Como é que isto aconteceu?Chegámos à Compact Records pela mão do António de los Santos, antigo membro da Música Activa, e de facto ficámos surpreendidos por nos terem aceite de imediato. Julgamos que se começa a dissipar essa id-eia errada que têm de nós, e também começa a haver menos gente com a cabeça quadrada, que vê tudo bem de um lado e tudo mal de outro. Sabemos hoje que Salazar não era um papão assim tão grande, e que, por outro lado, temos entre os nossos democra-tas alguns verdadeiros bandidos. Não se pode meter

tudo no mesmo saco e não se deve ter medo de ser livre.

E quanto a editora? Ainda nenhuma das editoras na-cionais mostrou interesse nos Dr Salazar? Até agora não, mas isso não será totalmente pelo nome, porque temos a noção de que o nosso per-fil não tem a componente comercial suficiente para motivar uma editora ao investimento. Poderá acon-tecer um dia mas é preciso que a banda tenha procu-ra e para isso precisa de ser divulgada. O estatuto mais certo é o de banda maldita e aí as coisas podem mudar. Os Mão Morta editaram muitos discos sem editora, pela mesma razão.

No álbum anterior o “Culpa do sistema” foi talvez o tema mais emblemático. Neste novo disco eu es-colheria o “Aqui d’hell rei” ou mesmo o “Lápis azul” como as faixas mais fortes. Estás de acordo ou tens outras preferências? Sim, concordo. É aquilo que normalmente se diz de serem temas orelhudos. O «Lápis Azul» tem um re-frão brutal – o “corta corta” funciona à primeira – e o “Aqui d’el Rei” tem ainda mais força porque nos saiu melhor a produção. Pessoalmente, gosto imenso do “Erupções” por ter uma estética que aponta mais para o futuro. Temos também um tema, o “Ponto mais alto”, que nos parece mais radiofónico, mas du-vidamos que alguma vez faça parte de uma play list de uma estação de rádio dita grande, embora o tra-balho tenha sido entregue a todas as rádios.

Para terminar, uma questão mais do foro pessoal: pelo que sei, tu és o pai do Pedro Neto (bateria). Como é que pai e filho funcionam numa banda? En-tretanto, vejo que há agora outro Neto na banda: o Costa. Será também familiar?Ok, eu sou pai do Pedro Neto e o parentesco acaba aqui. Tudo funciona muito bem entre nós. O Pe-dro começou a tocar comigo aos 7 anos num outro projecto, e os instrumentos lá em casa são como os móveis: estão por todo o lado. Se calhar o pai é mais tipo irmão mais velho. O Costa Neto (novo guitar-rista da banda) e o 2º baixista da banda, o Ricardo João Neto, embora tenham o mesmo apelido, não têm nenhuma relação familiar entre si nem com os restantes elementos.

Entrevista: Ernesto Martins

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«Peace Sells… But Who’s Buying?», segundo álbum da banda de Dave Mustaine e primeiro pela Capitol Records é um portento do Thrash Metal. Lançado há 25 anos, o sucessor do frenético álbum debutante, «Killing is My Business… And Business is Good!», foi a prova da dimen-são dos Megadeth, naquela altura, já que a independente Combat Records não foi capaz de o misturar correcta-mente, nem tinha a capacidade de o distribuir conveni-entemente. «Peace Sells…» foi o primeiro grande trabalho de Mustaine, à época de lançamento de outros dois ícones Thrash – «Reign in Blood», dos Slayer e «Master of Pup-pets», dos Metallica –, e é um item essencial para qualquer fã de heavy metal.«Peace Sells…» é o primeiro dos grandes clássicos de Megadeth, e é, a par de «Rust in Peace», um dos melhores lançamentos de Dave Mustaine e seus capangas. Com um complexo e soberbo trabalho de guitarras, solos de cortar a respiração, bruscas mudanças de tempo, composições jazzísticas, uma feroz e inquieta secção rítmica, este é, tam-bém, um álbum marcado pelas letras, onde Mustaine es-creve sobre temáticas obscuras, como a adoração ao diabo ou rituais de bruxaria. Bem se sabe que o frontman nunca foi conhecido pelos seus dotes vocais, e muita gente há que os ache irritantes, mas, de alguma forma, ele sempre arran-

25 anos de MEGADETH « Peace Sells… But Who’s Buying?»

Se há um álbum que, pela sua importância no Heavy Metal, é indiscutivelmente o número um, esse álbum só pode ser «Master of Puppets» dos Metallica. (Quem nunca o ouviu, pare por favor de ler e vá ouvi-lo primeiro!...). «Master of Puppets» reúne a agressividade e a velocidade de «Kill ‘em All» com a técnica de «Ride the Lightning» em composições extremamente elaboradas, riffs pesados, frené-ticos e solos complexos. Numa altura em que o Metal estava ainda em idade “adolescente” foi com este lançamento que se fez “homem”. Numa época onde reinavam as hair bands, «Master of Puppets» foi como uma pedrada no charco e os Metallica passaram de banda culto de garagem a super-ban-da!Como é óbvio, não se pode dissociar este disco da morte de Cliff Burton. Apesar de ter sido O Ano dos Metallica, 1986 foi também o ano mais triste e trágico devido à morte de Cliff Burton, baixista que, segundo James Hetfield, influen-ciou fortemente a imagem e músicas iniciais dos Metallica. «Master of Puppets» é um álbum conceptual que aborda o tema do domínio, controlo e abuso do poder. Dos oito temas presentes – oito épicos, todos eficazes à sua maneira – não há dois semelhantes. Apesar da sua complexidade, «Master of Puppets» consegue ter riffs acessíveis ao ouvido e de fácil memorização!

25 anos de METALLICA «Master of Puppets» Quando o Metal se fez “homem”

jou maneira de dar a volta à situação, e isso é tão patente neste lançamento de 1986, no qual ele faz o melhor uso de uma das suas imagens de marca – o snarling (rosnar, numa tradução livre). É também aqui que a mascote da banda, Vic Rattlehead, faz a sua primeira aparição.A faixa de abertura, “Wake up dead”, é uma lição de riffs heavy metal e duelos de solos. Como outros pontos fortes do álbum temos “Peace sells” (quem não se lembra daquela linha de baixo?), “Devils island” (um clássico de Megadeth, grandes riffs, grandes solos e um refrão catchy a ajudar), a velocíssima “Bad omen” (ainda a lembrar algo de «Killing is My Business…») e “My last words” (uma introdução atmosférica bastante bem conseguida, a ex-plodir no que de melhor o Speed Metal tem para ofer-ecer).«Peace Sells…» só não é mais reconhecido devido a «Master of Puppets» ter sido lançando no mesmo ano. Contudo, é um marco na história dos Megadeth, e um marco na história das (nossas) sonoridades mais pesadas. Felizes bodas de prata, senhor Mustaine!

Luis Almeida Ferreira

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Se há um álbum que, pela sua importância no Heavy Metal, é indiscutivelmente o número um, esse álbum só pode ser «Master of Puppets» dos Metallica. (Quem nunca o ouviu, pare por favor de ler e vá ouvi-lo primeiro!...). «Master of Puppets» reúne a agressividade e a velocidade de «Kill ‘em All» com a técnica de «Ride the Lightning» em composições extremamente elaboradas, riffs pesados, frené-ticos e solos complexos. Numa altura em que o Metal estava ainda em idade “adolescente” foi com este lançamento que se fez “homem”. Numa época onde reinavam as hair bands, «Master of Puppets» foi como uma pedrada no charco e os Metallica passaram de banda culto de garagem a super-ban-da!Como é óbvio, não se pode dissociar este disco da morte de Cliff Burton. Apesar de ter sido O Ano dos Metallica, 1986 foi também o ano mais triste e trágico devido à morte de Cliff Burton, baixista que, segundo James Hetfield, influen-ciou fortemente a imagem e músicas iniciais dos Metallica. «Master of Puppets» é um álbum conceptual que aborda o tema do domínio, controlo e abuso do poder. Dos oito temas presentes – oito épicos, todos eficazes à sua maneira – não há dois semelhantes. Apesar da sua complexidade, «Master of Puppets» consegue ter riffs acessíveis ao ouvido e de fácil memorização!

25 anos de METALLICA «Master of Puppets» Quando o Metal se fez “homem”

“Damage Inc.”, é rápido, pesado, frenético e técnico, um exemplo clássico do que era o Thrash Metal dos anos 80.«Master of Puppets» representou para os Metallica musicalidade, paixão e intensi-dade, e por tudo aquilo que deu à música merece, indiscutivelmente, ser considera-do o número um do Heavy Metal. “Cannot the Kingdom of Salvation Take Me Home”Cliff Burton: 10/02/1962 - 27/09/86

Eduardo Ramalhadeiro

“Battery” abre com um segmento acústico, com um certo “sabor” a Flamengo, explodindo depois em riffs pesados, lin-eares e aparentemente simples mas de uma tremenda eficá-cia, resultando num dos melhores temas interpretados ao vivo. “Master of puppets”, a faixa-título, é uma combinação perfeita de riffs épicos com outros que “encaixam” no ouvido e de fácil memorização. Seria indiscutivelmente o melhor tema dos Metallica não fosse... “One”. Baseado num conto de H.P. Lovecraft, “The thing that should not be”, fala sobre uma batalha contra o controlo de forças sobrenaturais. “Welcome home (Sanitarium)”, baseado na obra de Ken Kesey “Voando sobre um ninho de cucos”, é um tema melancólico, calmo com um solo (quase) interminável. “Disposable heroes” é mais um épico de 8m30seg, rápido, pesado, aumentando de intensidade à medida que a música chega ao término. “Leper messiah” aborda a tele-evangelização e o controlo que esta exerce sobre os espectadores. Não é tão rápido como “Mas-ter…” ou “Disposable…” mas é igualmente pesado. “Orion” é um instrumental de grande maturidade e disciplina, com várias mudanças de ritmo e tempo, melodias e harmonias simplesmente perfeitas e um soberbo trabalho de baixo. O solo, quase que “sussurrado” no início, como que “avelu-dado”, acaba numa simbiose perfeita entre as guitarras e o baixo, fazendo de «Orion» uma obra-prima. O último tema,

jou maneira de dar a volta à situação, e isso é tão patente neste lançamento de 1986, no qual ele faz o melhor uso de uma das suas imagens de marca – o snarling (rosnar, numa tradução livre). É também aqui que a mascote da banda, Vic Rattlehead, faz a sua primeira aparição.A faixa de abertura, “Wake up dead”, é uma lição de riffs heavy metal e duelos de solos. Como outros pontos fortes do álbum temos “Peace sells” (quem não se lembra daquela linha de baixo?), “Devils island” (um clássico de Megadeth, grandes riffs, grandes solos e um refrão catchy a ajudar), a velocíssima “Bad omen” (ainda a lembrar algo de «Killing is My Business…») e “My last words” (uma introdução atmosférica bastante bem conseguida, a ex-plodir no que de melhor o Speed Metal tem para ofer-ecer).«Peace Sells…» só não é mais reconhecido devido a «Master of Puppets» ter sido lançando no mesmo ano. Contudo, é um marco na história dos Megadeth, e um marco na história das (nossas) sonoridades mais pesadas. Felizes bodas de prata, senhor Mustaine!

Luis Almeida Ferreira

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Há já bastantes anos que fazes parte da cena metal europeia. Como tiveste a ideia de formar uma banda de BM num país integrado na ex-União Soviética?Carpathian Wolf: Durante a vigência do regime so-viético, era estritamente proibido comprar LPs de metal. Felizmente, o irmão do baterista da banda era marinheiro e trazia-nos – clandestinamente – tudo o que lhe pedíamos. Por outro lado, nos anos 80, as pessoas que tinham familiares nos EUA e no Canadá e que estavam autorizadas a ir visitá-los traziam cas-setes. Portanto, eu tive acesso a toda a música que queria ouvir. A maior diferença entre a cena metal em Moscovo e em paragens remotas do Oeste da Ucrânia (de onde sou oriundo) era que, na capital, já se podia tocar em concertos e assistir a eles e nós nem sequer podíamos sonhar com isso. Havia bandas russas que actuavam regularmente, como os Aria ou os Black

Em guerra contra a intolerância

Fundador dos Conspiracy e único membro da banda durante muito tem-po, Carpathian Wolf (ou, na versão latina, Lupus Carpatius) fala-nos do seu terceiro longa duração – «Irremediable» – e recorda para a Versus Magazine um percurso musical que começou nas encostas nevadas dos Cárpatos, na Ucrânia, e prossegue na Holanda, incluindo algumas par-agens memoráveis.Cabe ao leitor curioso seguir-nos nesta viagem musical, para com-preender como a música – e a arte em geral – podem ser motivo para reflexão sobre a vida e armas contra a intolerância.

Coffee. Lembro-me de ter sido espancado pela polí-cia da minha cidade por usar na rua uma t-shirt dos Judas Priest. Dois anos mais tarde, em 1988, fui a Moscovo, com os amigos, assistir ao concerto dos Black Sabbath. Portanto, como vês, as coisas mudar-am muito para a cena metal antes e depois do início da “perestroika”. Em 1988, fortemente influenciado por bandas como Venom, Celtic Frost, Destruction, Razor, Sodom e Death, formei a minha primeira banda – Hell Raiser. Nessa altura, estava fascinado pelo satanismo e pelo ocultismo que vira nos filmes de terror dos anos 80 – Evil Dead e Hell Raiser.Depois de ter estado no exército, já em 1994, formei a minha actual banda – Conspiracy.

Por que razão a tua banda se desfez ao fim de um ano? Sabes o que aconteceu aos outros membros?Entrámos em conflito depois de um concerto. As

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nossas divergências eram demasiado grandes para podermos continuar juntos. Portanto, separámo-nos e eu fui juntar-me aos Melechesh. Dois outros membros da primeira formação têm as suas própri-as bandas, gravam álbuns e fazem concertos ao vivo. Mas não esperem que lhes faça publicidade.

Qual a importância da tua passagem pelos Me-lechesh como Al’Hazred para Conspiracy?Aprendi a concentrar-me mais no trabalho, em vez de o ver como um sonho. Melechesh é uma banda muito disciplinada, muito profissional. Os seus membros são muito exigentes consigo próprios, o que dá sempre bons resultados, quer no estúdio, quer no palco. Depois de 12 anos com os Melech-esh, eu sei como funciona a indústria do metal. É claro que todo o conhecimento que adquiri e as competências que desenvolvi são muito importantes para a carreira dos Conspiracy.

A música dos Conspiracy é descrita como tendo evoluído do BM para um hard rock com traços deste subgénero e depois integrado ainda out-ras influências. Esta descrição parece-te ad-equada?Por que não? Pela parte que me toca, não perco tem-po com definições. Esse trabalho cabe aos média e aos fãs.Não passo tempo a pensar: “Ora bem! Agora vou pegar numa passagem de hard rock e misturá-la com BM e acrescentar alguma orquestração.” A música forma-se na minha cabeça. Porquê e como? Não faço a mínima ideia. Limito-me a transferi-la para o mundo material, quando tenho tempo e disposição para o fazer. Conspiracy resultou de uma indagação que tem ocupado toda a minha vida e que visa criar uma versão original de metal combinando elemen-tos negros e extremos, mas agradáveis ao ouvido.No que se refere a este último álbum, posso acres-centar à tua lista o termo “progressivo”, por causa do recurso, em simultâneo, a arranjos musicais pouco ortodoxos, complementados pela orquestração, a solos de guitarra característicos do heavy metal e a diferentes estilos vocais, entre os quais os gritos ásperos típicos do BM.

O facto de viveres na Holanda teve alguma in-fluência nessa evolução?É apenas o país onde eu vivo actualmente. Gosto imenso de viver aqui. Tanto o país em si, como as pessoas têm muitos aspectos positivos. Mas isso tem pouco a ver com a minha música.

Como conheceste Aryan Blaze? Que papel desem-penha ele na vossa conspiração musical? Por outras palavras, o que há agora em Conspiracy que não ex-istia antes da vinda dele?Encontrei-o numa loja onde fui comprar equipa-mento para o meu estúdio. Fiquei maravilhado com a forma como tocava guitarra: estava apenas a mos-trar a um miúdo como tirar o maior proveito de um equipamento de som.Se comparares os álbuns anteriores de Conspiracy com o nosso terceiro CD – «Irremediable» –, verás logo a diferença, que reside na orquestração profis-sional e na excelente técnica de guitarra. Foi isto que ele trouxe aos Conspiracy. Ele tem conhecimentos de música clássica, de onde provêm elementos que sempre tentei incorporar nas minhas canções. Com ele no meu projecto, Conspiracy deu mais um passo na direcção desejada.

Sei que a vossa música aborda temas como o ódio pelo monoteísmo e o satanismo. Não te parece que há aqui uma contradição? Afinal, o satanismo é uma forma de monoteísmo, ou não?Não, não é. O satanismo tem muitas formas difer-entes. Há um satanismo simbólico e as práticas satânicas ligadas ao ocultismo. Para mim, Satanás é o símbolo do pensamento livre, o inimigo e o acu-sador de Deus, que eu vejo como um símbolo da opressão e do controle exercidos pelas instituições religiosas sobre a Humanidade submissa. Não adoro Satanás, literalmente falando. Uso o satanismo como uma forma de protesto, que pode levar as pes-soas a pensar pelas suas próprias cabeças e a detestar qualquer tipo de religião. A religião não é compatív-el com a democracia moderna. O monoteísmo devia ser proibido e, assim, poderíamos viver em paz. Lê o “Devil’s Notebook”, de LaVey, se quiseres saber mais sobre a minha perspectiva.

E onde encontras a inspiração para a tua po-esia heróica e guerreira? Provém da cultura do teu país, como no pagan ou folk metal?Não preciso de ir tão longe. Venho do país que gan-hou a Segunda Guerra Mundial. Todas as famílias da antiga União Soviética perderam pelo menos um membro nessa Guerra. Morreram 25 milhões de ci-dadãos soviéticos para libertar a Europa das garras dos Nazis. Venho de uma família em que todos os homens serviram no exército. O meu avô foi oficial durante 30 anos, o meu pai e os meus tios também e eu estive na tropa durante 3 anos.O álbum anterior – «Concordat» – tinha muitos te-

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mas de poesia guerreira. Tratavam, sobretudo, da Segunda Guerra Mundial e da forma como o Vati-cano e as autoridades católicas, de um modo geral, ajudaram a legitimar o que os Nazis estavam a fazer, enquanto os ateus da minha pátria lutavam contra eles e defendiam a Europa.

Passando agora ao vosso último longa du-ração – «Irremediable» –, que me agradou muito, numa entrevista que li, falavas da sua estrutura, dizendo que era constituído por seis faixas de BM, uma peça clássica e duas canções de heavy metal. Até indicavas os nomes destas duas canções, que são fantásticas e as minhas faixas favoritas neste álbum. O que te levou a fazer esta combinação?Se ouvires todo o álbum, canção após canção, vais logo perceber qual é a razão. Tenho um problema de personalidade múltipla [risos].Na minha opinião, esta estrutura gera uma experiên-cia auditiva única. O novo álbum compreende treze faixas e todas elas têm um estilo diferente e geram emoções diferentes. Há poemas de Charles Baude-laire, de Aleister Crowley e outros mestres da po-esia clássica que eu muito admiro. Não conseguiria exprimir todas as minhas emoções e as deles tam-bém usando apenas um subgénero do metal. Algu-mas das canções são agressivas e outras épicas ou apenas sinistras.

O som do vosso álbum anterior é descrito como sendo “muito cru, pouco trabalhado e de pouca qualidade”. Estas características resultaram das condições de trabalho que tinhas na altura ou de opções tuas?Das duas causas. Não quero comparar a minha música à dos Venom ou Bathory, mas eu adoro as suas canções, apesar de os álbuns serem brutais e a produção de má qualidade. Ainda gosto mais das suas primeiras criações, por serem aquelas em que o som é menos trabalhado. Gostaria que as pessoas aceitassem as minhas composições tal como elas são,

mas nem toda a gente suporta a falta de uma exce-lente produção. Há críticos musicais que ouvem um álbum durante um só minuto e julgam que podem tirar conclusões capazes, só porque não gostaram de “Concordat”. Não quero saber disso para nada. Só faço a minha música para os milhares de fãs que gostam dela e que deixam comentários maravilho-sos no myspace.

Neste terceiro álbum, o som é muito diferente. Estás de acordo com esta ideia?Os elementos de orquestração exigiam um tipo de som diferente. São muito mais instrumentos a tocar-em ao mesmo tempo, portanto o som tinha de ser mais claro. Usámos bateria pré-gravada tocada por Dirk Verbeuren, o baterista dos Aborted. As batidas ferozes, esmagadoras e rápidas como relâmpagos deste baterista fizeram com que o som deste álbum fosse muito melhor que o dos dois anteriores.

A informação sobre «Irremediable» faz refer-ência à influência de Baudelaire e de Crowley. Conheço especialmente o poeta francês, porque estudei a sua obra e sou uma grande fã da colectânea “Les Fleurs du Mal”. Onde podemos encontrar, no teu álbum, a influência deste po-eta sofisticado? Baudelaire viu o lado demoníaco da Humanidade – a consciência de que se estava a praticar o Mal. É conscientemente que matamos, enganamos, rou-bamos e, em geral, fazemos sofrer os outros. E há também a questão do destino e do livre arbítrio. Será

“Uso o satanismo como uma forma de protesto, que pode le-var as pessoas a pensar pelas suas próprias cabeças e a detestar

qualquer tipo de religião. A religião não é compatível com a democracia moderna”

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que Deus nos programou e ao mundo para sermos assim?Podes encontrar Baudelaire no título do álbum e na faixa correspondente. Também usámos um quadro de um dos seus amigos – o pintor satânico Félicien Rops – para a capa do álbum e o livro que acom-panha o CD.

No mesmo texto, «Irremediable» é apresentado como um álbum a não perder para os fãs de King Diamond, Bathory e dos Cradle of Filth na sua primeira fase. Que pensas disto?Sou um grande fã de King Diamond e conheci pes-soalmente o meu guitarrista favorito – Andy La Rocque – quando os Melechesh gravaram no seu estúdio. Há duas canções neste álbum onde é pos-sível encontrar elementos da primeira música de KD – «Irremediable» e “Bukovina”. Não queria im-itá-lo, mas sim fundir este tipo de heavy metal com as minhas ideias originais. Muitos fãs que ouviram essas canções e o resto do álbum gostaram imenso da atmosfera especial por elas criada.No que se refere a Bathory, as minhas canções “Faith” e “Courage”, que fazem parte do segundo álbum dos Conspiracy [“Concordat”], têm uma atmosfera semelhante às de algumas baladas de Bathory ou Manowar. Mas, neste terceiro álbum, não há traços deles. Detesto repetir o que já fiz e cada álbum meu nunca é uma cópia do anterior.Há quem mencione CoF como influência, cada vez que ouve BM rápido e melódico com recurso a tecla-dos. Parece-me uma forma um pouco básica de ver a

música. Mas concordo que, provavelmente, os fãs de CoF também vão gostar do «Irremediable».

A capa deste álbum é muito diferente das dos CDs anteriores. Por que razão usaram, de for-ma tão próxima do original, o quadro de Fél-icien Rops? (Tenho de confessar que fui ver esse quadro na net.)O design da capa dos três álbuns foi feito pelo mes-mo artista – Warmaster of Necrodaemon –, mas as capas dos dois álbuns anteriores são da autoria de Dan Seagrave. Pedi-lhe que pintasse algo para a capa deste terceiro álbum, mas ele recusou, dizendo que queria afastar-se dos temas satânicos e que estava demasiado ocupado. Portanto, resolvi eu próprio o assunto, escolhendo uma obra de Rops, por este ter sido amigo de Baudelaire e o quadro me parecer adequado. Mas foi preciso dar à pintura um ar mais frio e mais cósmico, para complementar a atmosfera criada pela música do álbum. Acho que Warmaster fez um trabalho maravilhoso nesta capa.

Vão fazer uma digressão para promover este álbum? Incluíram Portugal no roteiro dessa di-gressão?A minha música não é feita para o palco. O melhor lugar para a ouvir é o teu automóvel, quando fazes uma longa viagem e podes pensar na vida, sem nada para perturbar a tua imaginação.Há bebidas alcoólicas, como a cerveja, que se sab-oreiam melhor num bar confortável e cheio de gen-te. Outras sabem melhor, quando as bebemos nas noites tenebrosas de Inverno, diante da lareira. Até agora, nunca senti a necessidade de fazer di-gressões. Mas, se alguma vez pensar em fazê-lo, não me esquecerei de pôr Portugal no nosso reoteiro. Adoro o vosso país, que já visitei, e admiro a sua herança cultural e os vinhos do Dão e do Douro. Obrigado pelo interesse pela nossa música.

Entrevista: CSA

“A música forma-se na minha cabeça. Porquê e como? Não faço a mínima ideia. Limito-me a transferi-la para o mundo

material, quando tenho tempo e disposição para o fazer”

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posteriormente para me juntar a eles. Nessa altura pretendia-se que a banda praticasse mais um Speed Thrash ao estilo de Slayer. O conceito de banda tam-bém não estava muito solidificado e nem um nome surgia naturalmente. Na brincadeira alcunhávamos a banda de Xicão Band que era uma espécie de hom-enagem ao gato do Valter. Mais tarde o Valter aban-donou a banda. O irmão do Sérgio também pre-cisava de mais tempo para se dedicar a outra banda onde se inseriu e ficámos reduzidos a dois. Foi então que decidimos enveredar por uma banda totalmente nova e, desta feita, de Death Metal. Nascia então Hate Disposal e, com a banda, uma era de críticas negativas que englobavam fundamentalmente frases como: “Isso não vai a lado nenhum”. Para mim não foi o primeiro projecto. Já tinha tido um grupo que preferia jogar à bola e ir para a praia, a ensaiar. Para o Sérgio foi. Tiveram um processo de formação algo controverso iniciando-se apenas com dois elementos, nessa fase já havia material na gaveta de algum dos elemen-tos? Como foi fomentar o actual grupo, sendo este formado por quatro elementos?Sérgio: Nessa altura o Luís já tinha composições das quais algumas foram aproveitadas e outras refeitas de raiz. Quanto ao grupo, o resto dos elementos sur-giram gradualmente. A irmã do Luís, a Vera, que ac-tualmente preenche o lugar de baixista como guest player nos concertos, entrou pouco depois como membro para o lugar do baixo. Foi preciso mais um ano, depois de tudo isto, para encontrarmos um vo-

VingançaHate Disposal trazem na bagagem apenas demos home made, mas uma força de vontade enorme e um empenho invejável, para so-lidificar um projecto explosivo, ainda sem editora. Num misto de revolta e luta entrei numa conver-sa com o guitarrista e o baterista, Luís e Sérgio, respectivamente, para nos transportarem por três anos de luta em nome da Música.

Hate Disposal é um nome extremamente recente dentro do universo underground português. Como foi o nascimento desta banda? Foi o primeiro pro-jecto para todos os elementos?Luís: A ideia começou depois de um amigo nosso, o Valter, que é guitarrista, ter entrado em contacto com o Sérgio para se juntar a ele e ao irmão nu-mas jam sessions. O Valter contactou-me também

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calista e só vários meses depois encontrámos um guitarrista. Entretanto ocorreram algumas contra-riedades e antipatias que fizeram com que o grupo sofresse uma separação. O Luís continuou com o projecto e encontrou o Steve, actual guitarrista. Mais tarde resolveram-se incompatibilidades, eu voltei a integrar o grupo assim como o Bruno, actual vocal-ista. De momento estamos desprovidos de baixista permanente e apenas contamos com a Vera para concertos quando a mesma se disponibiliza.

Torna-se difícil classificar-vos quanto a um género especifico, já que têm influencias algo diversifica-das, como Dimmu Borgir, Metallica, Arch En-emy,(….). Vocês assumem-se facilmente em algum género dentro do Heavy Metal?Luís: Não. Gostamos de bandas de muitos estilos diferentes, de facto. Tanto ouvimos na nossa sala de ensaio Chimaira e Necrophagist como Cannibal Corpse, Metallica , Dimmu Borgir ou Dream Theat-er. Provavelmente isso reflecte-se na criação dos temas e, consequentemente, também não consegui-mos ouvir aquilo que fizemos no fim e dizer com certeza absoluta: “Somos do género X de metal”. Asseguramo-nos apenas de que o que fazemos tem peso e se possa dizer com toda a certeza que é metal pesado. Mas penso que andamos mais pelo Death Metal com influências de Thrash e Black.

Já tiveram oportunidade de partilhar o palco com bandas como Switchtense e Darkside of Innocence, nomes bem conhecidos dentro do Heavy metal tuga.

Como descrevem o sentimento não só de poderem tocar com estas bandas mas também da reacção do público perante a vossa prestação?Sérgio: Nós gostamos de partilhar o palco tanto com uma banda mais conhecida, como Darkside of In-nocence ou Switchtense, como com outra banda menos conhecida no Heavy metal em Portugal. O que procuramos é mostrar o nosso trabalho, criar impacto e, claro, criar novas amizades com as ban-das com quem tocamos, se bem que por vezes não é fácil.Quanto ao público, até hoje, de forma geral, aquele com quem fomos tendo contacto foi muito receptivo às nossas actuações. Esperamos que assim continue, pois trabalhamos de forma a marcar a diferença de forma positiva.

Se surgir a possibilidade de realizarem uma demo, já existe material suficiente para isso? Na criação do vosso material existiu algum tema específico ou vários? Luís: Sim, existe material suficiente para realizar uma demo em estúdio. Em relação aos temas, as músicas que são criadas, não o são logo com um tema em mente. Geralmente são criadas tendo em conta apenas uma sonoridade agressiva. Depois de criado ouvimos o material e debatemos sobre que tema nos faz pensar. Já aconteceu fazerem-nos pen-sar em eventos apocalípticos ou mensagens de re-volta para com o conformismo geral, por exemplo.

Entrevista: Inumater

“Asseguramo-nos apenas de que o que fazemos tem peso e se possa dizer com toda a certeza que é metal pesado”

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SILENT STREAM OF GODLESS ELEGY«Návaz»(2011 / Season of Mist)

O início deste ano dá-nos a conhecer o sexto lançamento dos pioneiros do Doom/Folk, Silent Stream of Godless Elegy, que, surgidos em 1995 na região da Morávia, na Republica Checa, nos presenteiam com mais um magnífico ma-nancial de músicas inspiradas na tradição e folclore locais. Apesar dos proble-mas a nível de membros da banda, que saíram entre os álbuns «Themes»(00) e «Relic Dances»(04), deixando apenas o guitarrista Radek Hajda e o violon-celista Michal Sýkora, o agrupamento conseguiu ganhar dois Grammys (a partir de 2005 designados por Andĕl) com esses dois lançamentos no seu país de ori-gem. E este álbum não foge à qualidade com que o agrupamento já nos presen-teou. Vertendo reconfortantes tonalidades naquele aperto que nos aproxima da dor, descobre-se uma ilustre beleza em cada música. Além do soberbo con-traste entre os vocais masculino e feminino, os instrumentos (entre os quais se evidenciam o dulcimer, o violino e o violoncelo) por vezes impregnam-nos com um sentimento tão épico que nos fazem acreditar que cada melodia deste álbum tenha o condão de nos aquecer para além de qualquer inverno. Talvez o lugar onde vivem seja mesmo mágico se inspirou o agrupamento a criar músi-cas tão maravilhosas, embora tenha a certeza que os SSOGE sempre estiveram para além do mundano. Bem-vindos de volta!

[9.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

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CONTROL DENIED«The Fragile Art of Exis-tence»(2010 / Relapse Records)

«The Fragile Art of Existence» (TFAoE) é o único projecto paralelo do genial, e malo-grado, Chuck Schuldiner (CS) – Death - que nasceu da ne-cessidade de concentrar (ain-da mais) a sua genialidade no que diz respeito à composição e guitarra. Ao contrário dos Death, CS não divide as vo-calizações com a guitarra, em vez disso, entregou tal tarefa a Tim Aymar. A voz cumpre muito bem, melódica, muito competente e encaixa (qua-se) na perfeição, uma vez que este registo é mais meló-dico e progressivo que os De-ath. É quase perfeito porque imagino as vocalizações se-rem feitas pelo Warrel Dane – Nevermore. Se a voz de CS ficaria melhor? A resposta se-ria não, da mesma maneira que a voz de Tim Aymar não encaixaria nos Death! As le-tras são mais pessoais e in-trospectivas e mostram uma clara separação da visão que CS tem dos Death. Sobre os temas: o que se espera dos temas compostos por CS e interpretados por músicos como Richard Christy, Steve DiGiorgio e Shannon Hamm!? Esta reedição contém um CD extra (e que CD) com todas as demos de TFAoE, apesar de serem temas onde se no-tam algumas falhas (quase imperceptíveis) próprias de quem está a ensaiar, digo: tomara muitas bandas lan-çarem álbuns com uma qua-lidade destas demos. Os te-mas “Consumed”, “Breaking the broken”, “The fragile art

DEMONIC RESURRECTION«The Return to Darkness»(2010 / Candlelight)

of existence” são totalmen-te instrumentais e há ainda uma segunda versão de “Bre-aking the broken” com CS na voz. No último tema, “Tunel of Evil”, é o próprio diabo a tocar bateria, guitarra e a cantar. Para um CD de demos a som está excelente e com qualidade acima da média. Para os acérrimos defensores de Death, poderá não ser um álbum que se ouve logo à pri-meira, talvez por faltar a voz de CS, mas será sempre uma obra-prima do Grande Génio que foi e para sempre conti-nuará imortal!“Support music, not rumours” - Chuck Schuldiner (13/05/67 - 13/12/01)[10/10] Eduardo Ramalha-deiro

Quem teve a oportunidade de ver o documentário “Global Metal”, de Sam Dunn, deve estar pelo menos vagamente familiarizado com o nome De-monic Resurrection, um dos colectivos mais activos da flo-rescente cena metal na India. Contando já com uma déca-da de existência, tornaram--se recentemente na primeira banda daquele ponto do glo-bo a assinar por uma editora ocidental de peso, e a romper fronteiras com este novo re-gisto de originais. O que fa-zem é basicamente um black metal sinfónico, colado por vezes a Dimmu Borgir, com nuances de Cradle of Filth, mas que reverte frequente-mente para outros modos de operação mais em linha com

o death e o progressivo, e até com tiques ocasionais de po-wer metal. Tirando o melhor partido desta sopa de influên-cias, a formação de Bombaim apresenta um trabalho sólido e fluente, que impressiona pela musicalidade ao longo dos sessenta e tal minutos da sua duração. Individual-mente, há que destacar o lí-der do grupo, Sahil Makhija, pela manifesta versatilidade vocal, bem como a excelente prestação do guitarrista solo de descendência portuguesa, Daniel Rego. Por outro lado, o disco soa também dema-siadamente calculado e pre-visível. Para um grupo já no terceiro álbum seria de espe-rar pelo menos algum arrojo para além dos padrões ex-plorados e seguros, já para não falar de alguma infusão de motivos locais capazes de conferir à sonoridade uma identidade distinta. De qual-quer modo, este é um álbum interessante, duma banda com um talento inquestioná-vel que vale a pena manter debaixo de olho.[8/10] Ernesto Martins

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DR SALAZAR«Lápis Azul»(2010 / Independente)

Para os que não conhecem os Dr. Salazar, deixo aqui a necessidade que urge de cor-rerem para descobrir esta excelente banda nacional de Metal Rock Industrial. Forma-dos em 2002, os Dr. Salazar conseguiram amealhar uns quantos concursos de bandas e lançar em 2006 o seu pri-meiro álbum, «Antes & De-pois», fazendo então alguma sensação no meio metálico nacional e fora dele, essen-cialmente pelo nome polé-mico da banda – O fantasma do verdadeiro ainda paira por aí – mas acima de tudo pela tenacidade e acutilância so-cial das suas letras. Assim, é com grande regozijo que anuncio o seu segundo opus, de produção própria, chama-do «Lápis Azul». Apesar de ao nível das letras os Dr. Salazar estarem ao mesmo nível que os caracteriza e os projecta, abordando vários temas da nossa sociedade ou do antigo regime – como acontece com a música título – mas revistos nos nossos dias, aquilo que mais emerge à primeira audi-ção de «Lápis Azul» é a matu-ridade do som dos Dr. Salazar, ao nível da personalização da sonoridade (quer por via mu-sical, quer por via vocal) e das músicas, que soam muito mais coesas e melhor cons-truídas. Sente-se o progres-so nesta banda do primeiro álbum para este segundo. No outro lado da balança está a própria evolução desta sono-ridade Metal Industrial Inter-ventivo – como já apelidado,

que a meu ver está bastante menos industrial e mais alter-nativo, Groove e progressivo, enfim, mais actual – isto para nem abordar a vertente inter-ventiva – e ao estilo bem “re-volucionário” preconizado pe-los Dr. Salazar. No fundo, um estilo musical muito próprio e característico que ainda fervi-lha em plena ebulição. «Lápis Azul» é um excelente traba-lho dos Dr. Salazar, revelando maturidade a todos os níveis, mostrando-nos que estes Lis-boetas estão no bom cami-nho. Todo o álbum está nive-lado por cima com canções que já são autênticos hinos como «Lápis Azul», «Casa da vergonha» ou «Aqui d’el Rei». Definitivamente, os Dr. Salazar não ficaram “à espera do milagre de nosso senhor”.[9/10] Carlos Filipe

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Caso curioso no rock pesado nacional, os Dr Salazar es-tão prestes a completar os primeiros dez anos de uma carreira marcada tanto pela teimosia em persistir num caminho deveras singular na música de intervenção, como pelas alegadas dificuldades que a postura polémica lhes tem causado. Depois dum in-terregno de quatro anos, o grupo está de regresso com um álbum que remete desde logo para o universo históri-co da ditadura salazarista, temática que sempre foi, por assim dizer, a raison d’etre do colectivo da Amadora, mas que já surge aqui em dose mais moderada. “Lápis Azul” conta com dez novos temas de hard rock acutilante e musculado, com alguns riffs de recorte industrial e apon-tamentos bem colocados de sintetizadores que conferem um leve toque sci-fi. A pro-gressão em relação ao álbum anterior, “Antes & Depois”, acusa um vago amadureci-mento que é patente quer nos temas com refrães con-tagiosos que incitam a acom-panhar, como “Aqui d’hell rei”

e a faixa-título, quer noutros, mais contidos, como é o caso de “Erupções”. Contudo, o disco também tem momentos que não parecem funcionar muito bem. Por exemplo, há segmentos em “Casos” e em “Todos querem falar”, onde o texto declamado pelo Manuel d’Albuquerque, ou é despro-vido de qualquer musicali-dade, ou está em completa dissonância com a restante sonoridade, surgindo força-do e anacrónico no contexto. Trata-se de um arranhar de ouvido que não é novidade nos Dr Salazar, mas que sur-preende mais por se tratar do segundo álbum.[7/10] Ernesto Martins

Com mais de 20 anos de car-reira, os Forgotten Suns (FS) são das melhores bandas pro-gressivas em Portugal, tendo sido algo esquecidos e de al-guma maneira subestimados. Depois do lançamento do ex-celente «Innergy», eis que ganha vida «Revelations» um EP com 5 temas que resul-tam das sessões do trabalho anterior. De facto, “Doppel-gänger” foi alvo de uma nova mistura e é o primeiro single de «Revelations». É o tema com maior potencial e easy--listening do EP. “Phenotype” é a música mais “leve”, melo-diosa, com um bom trabalho de voz, especialmente na par-te do chorus, acabando num registo bem pesado e rápido.

FORGOTTEN SUNS«Revelations»(2010 / Pathfinder Records)

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“Pinpoints” e “The hill” – com uma entrada a fazer lembrar os Dream Theater do tempo de «Images and Words» – são duas faixas muito pare-cidas estruturalmente, aquilo a que poderemos chamar de power ballads. Por fim, “Be-trayed” – um tema “reciclado” do álbum «The fiction Edge», a melhor faixa do álbum. Este tema sofreu um upgra-de, havendo agora uma parte 2 – “Grey zone”. O tema foi originalmente composto em 1995 e com esta nova parte, a história do tema fica, final-mente, completa. Excelente EP dos FS como que a “abrir o apetite” para 2011. Espe-ramos, ansiosamente, pelo novo lançamento do FS.[8/10] Eduardo Ramalha-deiro

A existência prova que, por mais luz que nos possa guiar, é difícil nos afastarmos de certas obras tão monstru-osamente inspiradas cuja pretensão não é apenas nos arrepiar a pele mas cobrir a nossa consciência com a mais vil mortalha e crivar no nosso âmago aquela fragilidade in-sondável que nem a noite tar-dia pôde antes ensinar. Nada nos surge como lampejo de sanidade e avançamos agar-rados ao nosso corpo tentan-do não sentir um quezilento frio que se auto-glorifica ao morder sem pudor… Conheci-do pela qualidade deste pro-jecto, o multi-instrumentista Mories expurga um quinto

GNAW THEIR TONGUES«L’Arrivée de la Terne Mort Triomphante»(2010 / Candlelight)

lançamento onde transcorre uma soturna ambiência que se refugia por entre melo-dias contagiantes lastimadas por insinuações industriais. Aqui, conspurcadas por uma toada black-metal onde os gritos são perversidades que sorriem, a morte é um con-ceito primordial que pouca esperança de redenção nos transmite. Não que precise-mos dela quando nos confor-tamos com a ebriedade ins-piradora desta edição. Apesar das influências, as mais ób-vias sendo In Slaughter Nati-ves, Blood Axis e Sunn O))), existe aquele algo mais que se torna único com cada au-dição. Tal é muito devido às diferentes camadas sonoras que abrigam mais realidades do que se poderia enunciar se não houver a descontrac-ção suficiente, ou impiedosa sujeição, que nos afaste da realidade do dia-a-dia.[9/10] Jorge Ribeiro de Cas-tro

Diretamente do moshpit vem uma ode a todos os head-bangers. Inicia-se com uma introdução que nos deixa expectantes. Em “Storm Of Steel” é-nos apresentada a fórmula do álbum: bateria a dois mil à hora, sempre acompanhada por pesadas guitarradas, solos potentes e uma poderosa voz gritada. São de realçar as faixas “The Killing Is Faceless”, onde se destacam os rápidos e técni-

GOF DETHRONED«Under The Sign of the Iron Cross»(2010 / Metal Blade Records)

cos solos e a voz se mostra imperial; e “Under The Sign Of The Iron Cross”, com um começo agradável que re-lembra o metal clássico, mas que depressa volta ao trilho das faixas anteriores. A in-tercalação de voz limpa está também presente entre a sel-va de cordas desenfreadas. À medida que avançamos, re-para-se que a última metade do álbum parece não igualar o que a primeira parte pro-porcionara, sentindo-se uma perda de qualidade no impac-to. Já nos últimos momen-tos, somos brindados com um final orquestral, suave e limpo, mas com o mesmo poder presente até então. O conteúdo lírico é baseado na Primeira Guerra Mundial, to-cando um pouco em todos os pontos, desde as estratégias às consequências e passando ainda por todos os soldados glorificados. Um álbum rico em conteúdo histórico, reple-to de guitarras frenéticas mas repetitivas, com solos furio-sos mas bem apresentados, e uma voz bem executada mas algo monótona. Apresentan-do uma construção de faixas bem pensada embora peque na sua transição, trata-se as-sim de um registo com altos e baixos.[7/10] Daniel Guerreiro

Começando a sua carreira no início de 2002, este agrupa-mento dinamarquês de Bla-ck/Thrash-Metal tem pon-tuado o underground com dissonantes imponências que

HORNED ALMIGHTY«Necro Spirituals»(2010 / Candlelight)

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fascinam qualquer fã do gé-nero pela sua ultrajante qua-lidade. Como a peste que fi-brilha por entre os poros de um fanático religioso que escarnece da escuridão, Hor-ned Almighty corrói qualquer glorioso projecto advindo de miríades celestiais e o torna um podre adjectivo moribun-do. Isso porque nos remete a dimensionalidades extremas onde nenhum preceito es-clavagista os agrilhoa… Sem sensibilidade para qualquer harmonia ou conceitos des-proporcionais à mais justa imoralidade, este seu quarto álbum pode não expandir ho-rizontes, muito pelas influên-cias de Celtic Frost, Bathory e Darkthrone, mas descarre-ga uma bem-vinda fúria que repele qualquer insípida lan-guidez. A escuridão que se agarra à alma concede menos prazer do que a caótica diver-são que Horned Almigthy nos presenteia neste lançamento pois sempre existe quem de-teste a pálida sociedade que tanto descrédito merece pela forma como tenta automa-tizar a todos. Ouvindo este CD sem parar, libertamo-nos do que existe para além do recinto onde estamos, mas somos trucidados por ritmos exponenciais à tempestade enquanto os vocais rasgam os mais inspirados trilhos. Não importam os traumatis-mos, sorrimos por estarmos embriagados por convulsões carismáticas e o corpo brilhar pela transpiração.[8.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

James LaBrie é um dos no-mes mais importantes do rock progressivo dos últimos 20 anos, isto porque milita como vocalista na banda de metal progressivo mais im-portante dos últimos 20 anos, os Dream Theater. Engane-se quem pense que vai ouvir algo similar a DT no trabalho a solo de LaBrie; vai encon-trar pequenos trejeitos, vá lá. Mas é por isso mesmo que se enceta em projectos a solo, para trabalhar em aspectos que não se podem espelhar numa banda com um som extremamente característico. Este novo lançamento do vo-calista é já o quarto na sua carreira a solo, e é o sucessor de «Elements of Persuasion», de 2005. É, também, o mais pesado e energético até à data. «Static Impulse» é, no fundo, Melodeath. Com a aju-da do seu co-compositor Matt Guillory, que aqui acumula as funções de teclista e vocalis-ta secundário, do guitarrista Marco Sfogli (que, por mo-mentos, faz esquecer Petruc-ci), do baixista Ray Riendeau (Rob Halford) e do baterista Peter Wildoer (Darkane, ex--Majestic e ex-Arch Enemy) nas vocalizações berradas (e atrás da bateria, claro está), LaBrie conjuga aqui peso e melodia de uma maneira ex-traordinária. É nos refrões cantados e catchy, carregados de teclados que o frontman molda o seu som, à cadência do Death Metal Melódico mais recente – algo que podemos encontrar nos últimos álbuns de In Flames, por exemplo. Este novo lançamento é bas-tante consistente; não tem músicas más, mas, ao termos que apontar alguns trunfos, atentemos a “Jekyll or Hide”, “Euphoric”, “Who you think I am” ou “Just watch me”. Um disco que, de certo, agradará aos fãs – é que LaBrie soa ex-tremamente bem em «Static Impulse», e há que lhe dar crédito por se ter munido de grandes músicos e ter conse-guido um espantoso e refres-cante álbum.[7.5/10] Luís Almeida Fer-reira

JAMES LABRIE«Static Impulse»(2010 / InsideOut)

Como uma viagem que nos separa do esplendor das ho-ras claras e bebe conforto de um cansaço que carece de agonizantes arrepios, Mour-ning Lenore nos dá a conhe-cer o seu primeiro álbum cuja qualidade prima pela satisfa-ção. Tendo em conta que é uma banda com pouco mais de dois anos, ter um álbum editado que esteja acima da mediania já é um grande ponto a favor. As seis mú-sicas com que nos presen-teiam, as duas últimas como bónus tendo sido anterior-mente editadas aquando do split com Insaniae referente ao aniversário da “Daemo-nium Zine”, nos conquistam pela sua faustosa cadência. Embora estas não se rebelem contra os elegantes cânones do que é normal no Doom--Metal, demonstram que a banda possui bons músicos e que inspiração para algo mais não lhes falta. Ao ouvir o ál-bum, somos acariciados por melodias que conquistam à primeira audição, sendo, no entanto, fácil de reconhecer a rispidez de barreiras cujas arestas rasgam certas seme-lhanças com as nuances mais cruas de Paradise Lost, Ana-thema e Katatonia. O impor-tante é que, beber de certas influências não pressupõe uma roupagem totalmente igual e o agrupamento vinga sem alguma vez pender para um descarado aborrecimento. Este pode não ser um álbum ultra-sublime mas tem muito para agraciar os amantes do

MOURNING LENORE«Loosely bounded infinities»(2010 / Major Label Indus-tries)

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género, só se esperando que o próximo lançamento não seja tão lento quanto a mú-sica.[7.5/10] Jorge Ribeiro de Castro

Um álbum invulgar, sem dú-vida, tendo em conta o meio extremo em que se insere, mas que não surpreende face ao percurso artístico da ban-da em causa. De facto, depois do alucinogénio «Assassins», a opção por uma abordagem menos psicadélica e mais rock‘n’roll patente neste se-gundo tomo de «Black Me-ddle», soa até como um se-guimento natural. Da estética extrema do black metal que moldou originalmente o co-lectivo norte-americano, res-ta agora pouco mais do que a voz rouca do líder Blake Judd, bem como um som carac-teristicamente sujo que, na verdade, joga muito a favor do hard-rock retro que pauta mais de metade dos temas. Na sua maior parte «Addicts» é um álbum cheio de compo-sições padronizadas mas ple-nas de balanço, com refrães apunkalhados que não nos saem mais da cabeça, e gan-chos que soam bizarros de tão catchy, havendo até espaço para alguns devaneios pop. Aquele loop incessantemente ondulante em «No funeral» fica para a posteridade como um das ideias mais descon-certantes em todo o álbum. E os solos muito vintage saídos das seis cordas dos convi-dados Matt Johnson (Phara-

NACHTMYSTIUM«Addicts: Black Meddle pt.2»(2010 / Candlelight)

oh) e do ex-Pentagram Russ Strahan conjuram da melhor maneira o espírito revivalis-ta que a banda pretende in-vocar. À primeira impressão, «Addicts» poderá soar como uma incursão excessiva em universos distantes, mas no fim a sensação que perdura é a de uma combinação muito bem conseguida entre o rock/punk dos 70s e a crueza típi-ca das sonoridades mais ne-gras do metal. [9/10] Ernesto Martins

Antes de mais, Nucleus Torn não é uma banda de rock, muito menos metal. Podere-mos definir como experimen-tal avant-garde, neo-clássi-cal, folk. O mentor por trás deste projecto é o suíço Fredy Schnyder. Em «Androme da Waiting» os temas são iden-tificados, simplesmente, por números romanos. Música ambiente, atmosférica, cal-ma, etérea, de alguma ma-neira medieval com as voca-lizações femininas a cargo de Maria D’Alessandro. Entre os instrumentos que compõem os dois álbuns podemos en-contrar: guitarras (eléctrica, clássica e acústica), hamme-red dulcimer, violoncelo, vio-lino, flauta e bandolim, entre outros.No que diz respeito a «Travel-lers», esta é uma compilação que reúne alguns temas de trabalhos anteriores, assim como dois temas nunca an-tes lançados, e encontra-se

NUCLEUS TORN«Andromeda Waiting» e«Travellers»(2010 / Prophecy Produc-tions)

dividida em 4 partes: os pri-meiros quatro temas, perten-centes ao EP com o sugesti-vo nome de “Krähenkönigin”, são divididos em I a IV. São totalmente acústicos, com excelente produção, captan-do todos os pormenores da viola acústica. A segunda parte é composta pelos te-mas “Silver”, “Beggar”, “Wit-ness” e “Nucleus torn”, todos pertencentes ao EP «Silver». Com excepção de “Silver”, que segue a linha do EP an-terior, todos os outros temas são semi-acústicos “salpica-dos” com voz num registo quase progressivo. “Neon-li-ght submission” e “Traveller’s rest”, são duas faixas instru-mentais que fazem parte da demo «Submission». Apesar de manterem a atmosfera avant-garde/folk são as mais progressivas desta compila-ção, apresentando alguma distorção nas guitarras, fun-dindo muito bem estes três géneros musicais. Por fim, “Leadless” e “Lurking”, duas faixas novas, mantêm o mes-mo registo folk, semi-acústi-co, não instrumental, com a voz competente e um solo de saxofone em “Leadless”.[7.5/10] Eduardo Ramalha-deiro

Antes de mais «Road Salt One» não pode ser ouvido e analisado como um típi-co álbum de Pain of Salva-tion (PoS), no género de «Remedy Lane» ou «The Perfect Element pt.1». É uma abordagem comple-

PAIN OF SALVATION«Road Salt One pt. 1 – Ivo-ry»(2010 / InsideOut)

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tamente diferente que já vinha ganhando forma com «Scarsick» – uma re-invenção com tudo o que de negativo pode traz-er (ou não). No entanto, «Road Salt One» não de-ixa de ser um álbum pro-gressivo mas com grandes influências de Rock/Blues dos anos 70/80, com par-tes a fazer lembrar Frank Zappa, Anathema e até Marillion. É um álbum emo-cional, triste, melancólico que se “aprende” a ouvir, precisa de ser “digerido” e a produção é “crua” pa-recendo sair directamente da garagem. De destacar, ainda, os temas «Sisters», «Sleeping with the stars» e «Road salt». Uma ultima palavra para as vocaliza-ções – soberbas![8.5/10] Eduardo Rama-lhadeiro

SPIRITUAL BEGGARS«Return to Zero»(2010 / InsideOut)

Após um interregno de cinco anos eis que a ban-da de Michael Amott (Car-cass/Arch Enemy) surge com «Return to Zero». Este álbum parece ter che-gado directamente das dé-cadas de 70/80, revelando uma mescla de influências – Black Sabbath («Lost in Yesterday»), orgão Ham-mond a fazer lembrar Jon Lord (Deep Purple) mas menos intenso, Rainbow («Coming home»), Iron Maiden («Spirit of the wind») e géneros musi-cais – Rock, Doom e Sto-ner Metal. O resultado é um álbum retro muito bem

produzido com riffs pode-rosos e um fantástico tra-balho de Michael Amott, tanto a nível de composi-ção como de guitarra, esta em perfeita harmonia com as teclas. De referir que este não seria um grande álbum sem uma voz com-petente e Apollo Papatha-nasio (Firewind) faz esse trabalho na perfeição. De destacar, por fim, os te-mas menos bons: «Believe in me» e «Dead weight» (todas as outras são exce-lentes). Uma palavra para «Spirit of the wind», um tema diferente que vale a pena ser ouvido.[9/10] Eduardo Ramalha-deiro

STAR ONE«Victims Of Modern Age»(2010 / InsideOut)

Foram necessários espe-rar oito longos anos para podermos desfrutar de mais um capítulo do pro-jecto Space Opera de Ar-jen A. Lucassen, projecto em que cada música se re-fere a um filme de Ficção Científica. Categorizado como uma vertente mais pesada e operático do que os Ayreon – de onde deri-va, Star One constitui-se desde o primeiro dia como um projecto muito inte-ressante e sempre repleto de figuras conhecidas do mundo do metal. Assim, em 2010 temos o segundo opus «Victims of Modern Age», com praticamente o mesmo lineup e três dos quatro vocalista do 1º ál-bum, Sir Russell Allen, Da-mian Wilson e Floor Jan-

sen, sendo a novidade a introdução de Dan Swanö. Sendo um projecto lateral de Arjen, a sonoridade de «Victims of Modern Age» sofre infelizmente da sua “marca” musical. Esta co-lagem ao universo Arjen é mais do que evidente e talvez a maior decepção em relação a este lança-mento. Penso que se per-deu alguma originalidade e distanciamento da so-noridade mãe conseguido no primeiro álbum. Salvo a veia mais pesada, e a introdução de mais con-vidados do que os lá pre-sentes, tais como Tony Martin, Mike Andersson e Rodney Blaze, este pode-ria ser mais um álbum dos Ayreon. Posto isto de lado, «Victims of Modern Age» constitui um excelente ál-bum de Space Metal, com um naipe de músicas bas-tantes ecléticas ao mes-mo tempo que contribuem para que «Victims of Mo-dern Age» seja um álbum integro e de inspiração conceptual. Está lá tudo, ao seu melhor nível, da-quilo que se espera de Ar-jen A. Lucassen e compa-nhia.[7.5/10] Carlos Filipe

THE ACACIA STRAIN«Wormwood»(2010 / Prosthetic Records)

Surgiu em mim uma certa dificuldade em compre-ender como o sentimento “raiva” se pode interligar tão bem com a amálgama de ritmos e melodias que este agrupamento de De-

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athCore criou em “Wor-mwood”. Sim, é esta a condição primordial que a Prosthetic Records indica como pólo atractivo dando a entender que uma metra-lhadora a meio gás, calma-mente manejada por de-trás de uma colina, supera qualquer fúria desmedida invocada pela intensidade do momento. Pondo isso de parte, o certo é que o quinto álbum dos The Aca-cia Strain nos lidera por terrenos arenosos, por vezes lamacentos, onde cada toada hipnotizante nos pretende conjurar um grito de auxílio, algo que talvez nem possamos fa-zer devido às atribulações que soerguem detrás de uma cortina de trevas e fumo enquanto ouvimos hediondos trovões gritan-do monotonamente para que fujamos. Pois, ouvir alguém rasgar as cordas vocais dizendo que odeia a tudo e todos enquanto parece estar além da re-alidade assistindo o lento trucidar do vento num dia de chuva pode não pa-recer assim tão doloroso mas, ao surgir da noite, tal se torna inequivocamen-te enlouquecedor. Apesar de não ser um estilo que oiça muito, surgiu-me um enigmático sorriso ao sen-tir-me arranhado por me-lodias contagiantes que prestigiam a qualidade deste agrupamento. The Acacia Strain apresenta--nos uma estranha forma de nos libertarmos de toda a carga negativa que este mundo oferece…[8/10] Jorge Ribeiro de Castro

THE FEW AGAINST MANY«Sot»(2010 / Pulverised Records)

Para um músico prolífico como Christian Alvestam, que já operou em mais de uma dezena de bandas, in-cluindo os Scar Symmetry, Incapacity e Torchbearer, o que mais poderia servir de motivação para formar um novo projecto? Bom, desta vez nada de mais prosaico do que a vontade de gravar e publicar ma-terial que, ao longo dos anos, foi ficando na gave-ta por não se adequar às formações em que o gui-tarrista/vocalista estava a trabalhar no momento. Dito desta maneira até pa-rece que estamos peran-te uma banda de segunda apanha e um disco feitos de sobras. Mas na verda-de não é o caso dado que os TFAM apresentam uma proposta de death metal melódico com pelo menos dois aspectos relevantes. Um tem a ver com os ar-ranjos orquestrais (cordas e coros, típicos de algum black metal), bastante invulgares no contexto do género, cuja delicade-za acentua bem o peso e a densidade da restante sonoridade. O segundo aspecto é que, apesar de toda a melodia, cujas par-tes de teclados fazem lem-brar o trabalho a solo de Dan Swano (Moontower), a brutalidade mecânica das guitarras, as ocasio-nais explosões devastado-ras de blast-beats e o gru-nhido gutural de Alvestam

(que prescinde aqui do re-gisto limpo do tempo dos Scar Symmetry), a par de uma produção a condizer, conferem a este disco uma aura visceral e ameaça-dora que remete de certa forma para os clássicos old school do death metal sueco. Com quase todos os temas interpretados na língua materna do colecti-vo, «Sot» apresenta uma forma relativamente dife-rente de fazer death metal com melodia, e recomen-da-se especialmente aos fãs do género.[7/10] Ernesto Martins

THE SHADOW THEORY«Behind The Black Veil»(2010 / InsideOut)

Nas palavras de Devon Graves (DG) - “So turn down the lights. Light a candle and some incense. Sit in a comfortable chair. Turn it up loud, and pre-pare for our first rock ci-nema (...)”. DG (Psychotic Waltz e Deadsoul Tribe) criou um álbum conceptu-al onde um homem acorda de pesadelo em pesadelo até que não consegue dis-tinguir onde o sonho aca-ba e a realidade começa. A combinação de estilos mu-sicais (e todo o conceito que o rodeia) é por demais evidente, thrash, psicadé-lico, progressivo e sinfóni-co fazem deste álbum dos melhores do ano 2010. Os temas são negros, esqui-zofrénicos, melódicos (a utilização da flauta trans-versal faz lembrar, obvia-mente, Jethro Tull) e o tra-

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balho das vozes é soberbo. Temas como “Welcome”, “The sound of flies” ou “Ghostride” com o seu começo tímido e acústico levam-nos para outro ní-vel de agressividade com o desenrolar da música. Apesar de «Behind the Black Veil» ser um álbum muito coeso, destacam--se os temas “Open up my eyes” e “Snakeskin” – de algum modo esquizofré-nicos, com riffs pesados e soberbos, “Ghostride” o mais pesado e “thrashy” do álbum, e por fim “A symphony of shadows” o tema mais sinfónico e or-questrado. De realçar, por fim, a orquestração e o ambiente criado pelo te-clista Demi Scott.[9/10] Eduardo Ramalha-deiro

TRISTANIA«Rubicon»(2010 / Napalm Records)

Sempre desafiando-se a si próprios na ânsia de rege-nerar o som da banda, os Tristania têm conseguido acrescentar sempre algo de novo à já sua extensa discografia. «Rubicon» é mais uma camada musi-cal que acrescentam, por vezes mais mainstream, por outras mais Tristania – Prova disto são «Year of the Rat» e «Exil» respec-tivamente, mas sempre metal gótico e neste lança-mento de 2010, claramen-te diferente dos dois ante-riores álbuns, «Ashes» e «Illumination». Atacando

as hostilidades em «Rubi-con» com um line-up re-novado, novos vocalistas, Mariangela e Kjetil e novo segundo guitarrista, Gyri; e contando com a partici-pação do conhecido pro-dutor Waldemar Sorychta, «Rubicon» é uma propos-ta deveras actual e sólida dos Tristania, não defrau-dando em nada as expec-tativas, isto se, tivermos paciência para ouvirmos o álbum com um espíri-to aberto umas quantas vezes. O álbum não entra logo à primeira por cau-sa da componente mais mainstream e só a partir de «Exil» – música 5 – é que os nostálgicos se sen-tirão em casa. De facto, apesar de «Rubicon» ser uma proposta consistente, existe uma linha invisível que divide o álbum entre as quatro primeiras músi-cas e as restantes, o que prejudica o todo e incute uma percepção errada ao ouvir somente as primei-ras canções.[8/10] Carlos Filipe

WATAIN«Lawless Darkness»(2010 / Season of Mist)

Se «Sworn to the Dark», o álbum anterior dos Wa-tain, soou como uma co-lagem estilística evidente mas ainda assim bem-vin-da a bandas como Dissec-tion e Dawn, o mesmo já não se poderá dizer deste novo registo de estúdio. O que não é propriamen-te motivo para alarme: os fãs daquelas magníficas

melodias desoladas ce-lebrizadas pela banda do malogrado Jon Nordveit, podem dormir descansa-dos pois estas continuam a surgir aqui no seu me-lhor por entre riffs old--school, embora de uma forma mais subtil. Mas embora dependa muito menos desses elementos, o que se salienta em «La-wless Darkness» é o arse-nal de influências thrash e heavy tradicional que o trio sueco recupera do seu passado remoto, traduzin-do-as em malhas tão ines-peradas que por vezes nos esquecemos que estamos a ouvir uma banda de bla-ck metal. É o que acontece de forma notória no am-bicioso “Waters of Ain”, em especial naquele gran-de final apoteótico, bem como nos leads de “Total funeral”. Outros temas dignos de nota são os bri-lhantes “Hymn to Qayin” e “Kiss of death”, estes sem solos, e mais em linha com o que ouvimos do colec-tivo de Uppsala nos dois discos anteriores. Apesar de modesto no que toca a aspectos de originalidade, este quarto longa duração ganha pelo nível superior de composição que exibe, tanto nas passagens me-lódicas de beleza diabóli-ca, como nos segmentos mais furiosamente puni-tivos. Liricamente, não há surpresas: este é mais um monumento erigido às forças da escuridão, com uma intensidade blasfema suficiente para pulverizar de um sopro meia dúzia de congregações religiosas.[8.5/10] Ernesto Martins

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No passado dia 7 de Dezembro de 2010 o BE (Bar do Estudante da Universidade de Aveiro) foi palco para mais um evento realizado pela MYOproductions. Desta feita, o cartaz contou novamente com os Motim para a abertura dos concertos com uma actu-ação no mínimo caricata, própria desta banda que prima não só pela música, mas tam-bém pela boa disposição. Seguiram-se os After Hate que com os seus riffs carregados de peso e influências de metal e hardcore conseguiram cativar o público e aquecer o ambiente.A terceira banda a pisar o palco foram os espanhóis Farm School Holocaust com o seu estonteante math core. Impressionante a performance desta banda que consegue deixar o público exausto devido à construção das suas músicas. Muita rapidez de de-dos, técnica excepcional e muita matemática convertida em música. Os elementos mais entusiastas do público não conseguiram deixar de ‘dançar’ ao som de músicas como ‘Epic Fail’, ‘Iron Storm’ ou ‘After the Spark’.O último concerto coube aos Skypho que conseguiram juntar uma enorme multidão em frente ao palco. Já fazia bastante tempo desde a última vez que esta banda oriunda de Albergaria marcara presença em Aveiro. Grande actuação, marcada pelo seu som bastante característico e abrangente que apresenta influências de metal, rock, alterna-tivo e tribal. Destaque especial para o momento em que tocaram os temas mais anti-gos como ‘Nowhere Neverland’ ou ‘My Insomnia’. Músicas bem conhecidas do público aveirense.De parabéns ficam também todos os envolvidos na produção do evento além da equipa da MYOproductions, tais como Rui Carvalho (técnico de som), Bleeding Heart, entre outros indivíduos que fizeram questão de colaborar.

Texto: Bernardo LeiteFotografia: Bernardo Oliveira Leite

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Ser medíocre por opção – II

Sendo a música uma área de natural exposição pública não surpreende que, a partir do momen-to em que os executantes se tornam conhecidos, tripliquem a “carteira” de “amigos”. Reproduzem-se como coelhos. Passa instantaneamente a haver uma legião de tubarões interesseiros auto-intitu-lados “amigos” do músico “X”, ainda que ambos só hajam privado escassos minutos uma vez na vida. Quando tocava nos Dinosaur, entre 1990 e 1992, o recorde de pessoas a conviver em simultâneo no meu quarto de 10m2 (onde se encontrava monta-da a bateria) foi 13, entre amigos genuínos (dois), conhecidos e sanguessugas oportunistas (todos os restantes). Quando abandonei o grupo só os verdadeiros amigos permaneceram (julgava eu!), tendo as restantes “espécies” debandado calma e ordeiramente, sem que eu sequer lhes sentisse a falta. Fora dos Dinosaur, a minha figura já não era atractiva para os tubarões exibirem à família e aos amigos, qual bichinho de circo.Após esse episódio comecei a organizar a for-mação dos Orion Belt – projecto que seria a génese dos Powersource – com o meu amigo e guitarrista Rui Lourenço. Certo dia recebi uma chamada de um amigo de longa data, a que chamarei “M2”. Falávamos do meu abandono dos Dinosaur e da dificuldade em completar a formação dos Orion Belt quando, sarcástica e maldosamente, “M2” afirmou, num riso nervoso e com voz estridente, “nunca conseguirás formar uma banda tua. Podes tentar mas não vais conseguir, ha, ha”. Esta atitude maldosa, de amesquinhamento pre-meditado, surpreendeu-me e chocou-me pro-

fundamente. Mal consegui retorquir. Seria capaz de por as mãos no fogo por “M2” que, percebi naquele momento, era apenas mais um tubarão. À semelhança de outros, durante muito tempo este…”amigo” havia-se alimentado do protagonis-mo dos Dinosaur. Frustrado, vivera dos holofotes que o apanhavam de raspãoNos tempos áureos, “M2” passara longas horas na minha casa. Gabava-se publicamente de pri-var com a banda, de assistir aos ensaios e de ver concertos gratuitamente. Sentindo-se traído pelo meu abandono do grupo (facto que o impedia de continuar a alimentar o ego inchado) resolveu vingar-se tentando arrastar-me para o fundo do poço. Obviamente, a amizade terminou nesse mesmo telefonema. Vários anos mais tarde, já após eu ter fundado os Powersource (facto que “M2” afirmara ser impos-sível, recordam-se?) e ter gravado com os Sacred Sin, eu e esse ex-amigo encontrámo-nos casual-mente duas vezes, tendo-se ele manifestado arre-pendido da sua atitude. Queria reatar a amizade. Tentei fazê-lo, de ambas as vezes, dando-lhe o benefício da dúvida, mas já éramos pessoas tão diferentes, com valores radicalmente opostos nal-guns casos, que não fazia sentido algum levar por diante uma amizade sem alma. Afastei-me, de forma natural. Às vezes é melhor assim.

reflexões musicais

dico

Antigo jornalista e crítico de música, fundador dos blogues “Metal Incandescente” e “A a Z do Metal Portu-guês”, Dico publica actualmente no blogue “SounD(/)ZonE” o texto “Breve História do Metal Português”. Disponibilizado em quatro partes, cada uma delas in-cidindo numa década específica – desde os anos 60 até à década de 90 – este trabalho visa dar a conhecer os verdadeiros primórdios da música pesada nacional e sua evolução no tempo. Segundo o autor, “ao contrário do que muitos fãs julgam a génese do Metal português não reside na década de oitenta. Com efeito, há toda uma vasta história pré-anos 80 escrita a sangue, suor e lágrimas por grupos cuja existência deve ser lembrada e preservada”. Os artigos, compostos por textos de con-textualização história, política, social e musical, bem como por biografias das bandas retratadas, são dis-ponibilizados online com uma periodicidade bimes-tral, sofrendo actualizações quando necessário. Os tex-tos sobre os anos 60 e 70 (até ao 25 de Abril) já podem ser lidos em http://soundzonemagazine.blogspot.com

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Ser fã de música é:Primeiro que tudo, ser um animal com palas nos olhos, é como quem diz, abominar a diversidade musical, ou seja, adorar cegamente um ou dois estilos musicais e odiar ferozmente tudo o resto.Em segundo lugar, mandar postas de pescada, bacalhau e salmão a tudo e mais alguma coisa. Ou porque não são como “estes” ou porque é o mesmo de estar a ouvir “aqueles”.E por fim, arranjar confusões do meio do nada, puxan-do assuntos que em nada se relacionam com conversas a decorrer.Se segues estas três regras de ouro, parabéns, és um ver-dadeiro fã de música aos olhos da sociedade do mun-do atual. Agora se pelo contrário ouves um pouco de tudo, respeitas todo e qualquer artista e o seu trabalho, mesmo que não gostes nem um pingo do que este faz, és civilizado e tentas manter uma discussão saudável e aberta com quem tiver algo de inteligente e racional a dizer, amigo, revê os teus valores porque, neste mundo, não és nada.A atualidade crucifica quem tem espírito crítico con-strutivo e mente aberta enquanto vai glorificando todo aquele que insulta, rebaixa, se mostra ignorante e idola-tra ideais vazios, clichés e estereótipos.Todos nós já abrimos fóruns de discussão, ou simples-mente lemos uma notícia online com possibilidade para comentar, e deparámo-nos com as maiores bar-baridades, cometidas não só pelos conhecidos como haters, mas também por aqueles do outro lado da lin-ha que separa os extremos, ou seja, quem endeusa os artistas e não aceita qualquer tipo de falha nos mes-mos. Vê-se em cada esquina das comunidades music-ais cibernéticas, guerras entre estas duas fações, ainda que com algumas pessoas sensatas metidas ao barulho, ninguém lhes dá ouvidos, fala-se sempre do mesmo, sempre em busca do porquê, da razão que leva um ar-tista a fazer música de certa forma, mas não querendo realmente saber a resposta. É dizer que o que buscam é nada mais que querer mostrar-se superiores a artistas e a fãs, demonstrando assim a grande lacuna de respeito

que envolve o mundo de hoje. E agora falando num campo mais próximo de to-dos nós, o panorama nacional. Basta iniciarmos uma pequena e rápida vista de olhos ao top nacional de dis-cos para termos uma ideia de que a variedade não é algo que consta da dita lista, mas gostos são gostos e quem compra, compra com gosto. No entanto, rara é a pessoa que se fica pelos seus próprios gostos numa con-versa, e depressa uma discussão pacífica se torna num autêntico campo de batalha onde não se fala de gos-tos, ataca-se, com puro ódio e argumentos descabidos, tudo o que não coincide com as características do gosto pessoal. Ingressa-se assim numa batalha onde o mais hipócrita, ignorante e desrespeitoso se sagra vitorioso.Portugal, reis do Pimba e senhores do Fado, mas será que por isso teremos de ficar por aqui? Muitas são as mentes que responderiam afirmativamente a esta questão. Mas essas mesmas mentes, não querendo gen-eralizar, babam-se perante a presença do Pop e talvez do Kizomba, esfolando completamente sonoridades mais pesadas como o Metal ou até mesmo o simples e velho Rock. Tende-se a dizer que o que é nacional é bom, mas seguindo essa linha de raciocínio era necessária a acei-tação de toda e qualquer coisa que fosse nacional, tal implicaria que não fosse apenas o que é mais popular. O que se ganha com a exclusão e agressão de alguns estilos musicais? Esta questão não tem barreiras, to-dos nós, em algum aspeto, atacamos o que não gosta-mos, independentemente do que quer que seja; o que é necessário focar é nada mais nada menos que o facto de que a criação de “grupos restritos” que impedem a intervenção de alguns estilos musicais empobrece a mentalidade de quem deles faz parte, neste caso, quem aceita uma parte do mundo da música mas rejeita por completo tudo o resto.Um apelo a todos os fãs de música: se não gostam ou não compreendem a maneira como um artista faz a sua música, e se têm preguiça de tentar entender, ou ainda se simplesmente não conseguem, ao menos respeitem.

Obrigado.Daniel Guerreiro

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