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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ FILIPE KLÜPPEL COSTA MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA E AGROECOLOGIA: APONTAMENTOS A NOVOS RUMOS PARA UMA SOCIEDADE EM RISCO CURITIBA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

FILIPE KLÜPPEL COSTA

MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA E AGROECOLOGIA: APONTAMENTOS A

NOVOS RUMOS PARA UMA SOCIEDADE EM RISCO

CURITIBA

2018

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FILIPE KLÜPPEL COSTA

MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA E AGROECOLOGIA: APONTAMENTOS A

NOVOS RUMOS PARA UMA SOCIEDADE EM RISCO

Monografia apresentada ao curso de Graduação em

Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas,

Universidade Federal do Paraná, como requisito

parcial para a obtenção do título de graduação.

Orientado: Prof. Dr. José Cerveira

CURITIBA

2018

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Aos amores da minha vida que independente do tempo que me acompanham estão

presentes me apoiando em todas minhas conquistas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me acompanhar nessa jornada. Ao familiares, mãe, pai e irmãos

que com paciência aguentaram todos meus humores.

Aos amigos que mesmo distantes continuam presentes.

A minha namorada que com carinho me ajuda a superar as dificuldades.

Ao meu orientador que com muita paciência me ajudou chegar até aqui.

E a todos os professores e mestres, que dia após dia cooperam para que o mundo seja

um lugar melhor.

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No início, o Universo foi criado. Isso irritou

profundamente muitas pessoas e, no geral, foi encarado

como uma péssima ideia. Douglas Adams

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RESUMO

O trabalho trata da dicotomia que há entre desenvolvimento humano, e o uso dos bens

naturais, com o intuito de atentar para a integração dos conceitos da Agroecologia e da

atuação socioambiental diante da alta produção industrial, e da necessidade de medidas

ecológicas para se desenvolver a sustentabilidade nas sociedades. Caracteriza-se a

Agroecologia como um processo da Modernização Ecológica, onde, através das lentes de

teorias das Ciências Sociais, se enxerga os riscos que a sociedade moderna está sujeita, e

as mudanças para a manutenção do meio ambiente partindo de parâmetros da Sociologia

e afins, entendendo que a degradação ambiental não é natural e sim um processo social.

Por fim encontra-se um possível aliado ao desenvolvimento da sustentabilidade, a partir

das relações socioambientais que a Agroecologia visa para o processo civilizatório, e

entende-se que Modernização Ecológica e Agroecologia partilham de um mesmo

caminho, apesar de elaborados de formas diferentes, apontam rumos ecológicos e

sustentáveis para as sociedades modernas.

Palavras Chave: Sustentabilidade, Ecológicos, Agroecologia, Modernização Ecológica.

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ABSTRACT

This paper deals with the dichotomy between human development and the usage of

natural resources, with the aim of focusing on the integration of Agroecology concepts

and socio-environmental performance in the face of high industrial production and the

need for ecological measures to develop the sustainability in societies. Agroecology is

characterized as a process of Ecological Modernization, where, through the theory lenses

of the Social Sciences, one can see the risks that modern society is subjected, and the

changes for the maintenance of the environment starting from parameters of Sociology

and related, understanding that environmental degradation is not natural but a social

process. Finally, there is a possible ally for the development of sustainability, based on

the socio-environmental relations that Agroecology aims at the civilizing process, and it

is understood that Ecological Modernization and Agroecology share the same path,

although elaborated in different ways, point out ecological and sustainable directions for

modern societies.

Key Worlds: Sustainability, Ecological, Agroecology, Ecological Modernization.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................9

1.1 OBJETIVOS...........................................................................................................11

1.1.1 Objetivo Geral........................................................................................................11

1.1.2 Objetivo Específico................................................................................................11

1.2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................12

2 METODOLOGIA.................................................................................................13

3 DESENVOLVIMENTO.......................................................................................14

3.1 RISCOS NA SOCIEDADE MODERNA...............................................................14

3.2 MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA........................................................................27

3.3 AGROECOLOGIA................................................................................................37

3.3.1 Agricultura Orgânica e Certificação.......................................................................42

3.3.2 Sistemas Agroflorestais..........................................................................................47

3.3.3 Permacultura...........................................................................................................49

3.3.4 Agricultura Biodinâmica........................................................................................53

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................55

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................57

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1. INTRODUÇÃO

A modernidade trouxe o progresso, mas a que custo? Hoje a humanidade se

encontra em uma época onde é possível construir quase tudo, bastando imaginação e

recursos financeiros. Desde carros que andam sozinhos a robôs com cidadania, a

população mundial vem caminhando em um desenvolvimento tecnológico que é

exponencial e contínuo.

Porém, como não é possível criar sem extrair antes, o progresso fabril das

indústrias requer muita matéria prima e sem pensar em sua manutenção, se encontram em

uma lógica onde mais extrai do que se consegue repor, ou se é que repõe. O consumo em

excesso é o contribuinte principal para que se agrave a situação.

A modernidade colocou os seres humanos em comodidade, hoje basta haver um

pouco de dinheiro e ir em alguma loja adquirir o produto de sua necessidade. As cidades

industriais e mais desenvolvidas encontram-se sob o domínio das indústrias, sem elas o

progresso para. Alta demanda de energia, de alimentos e produtos, distribui para a

humanidade o risco de se pôr todo o processo evolutivo em colapso.

A alimentação hoje em regime de larga escala, reconfigurada pelas indústrias, foi

alocada na sociedade para a idealização onde só importa a quantidade. A qualidade dos

alimentos foi posta de lado, hodierno encontram-se postos em prateleiras, Organismos

Geneticamente Modificados, tratados sob abundância de insumos químicos, e embalados

com edulcorantes, conservantes, sorbato de potássio, glutamato monossódico, entre

outros. Isso realmente é comida?

Segundo o dicionário da Academia Brasileira de Letras, a definição de alimento é

substância nutritiva. Contudo a forma com que são produzidos permite que sejam

enquadrados dessa forma? Aonde o progresso se encontra se mostra cada vez mais

insustentável, havendo a necessidade das sociedades se rearranjarem, internamente ao

processo da modernidade em que ela se depara.

A sucessão para um desenvolvimento sustentável vem de forma gradativa. A

ruptura não é mais uma inevitabilidade. A ciência já dispõe de teorias e pesquisas que

apontam novos rumos às cidades. Em busca disso a gnose global assimilou o impacto

ambiental ao universo social. Compreendendo que em seu cerne constata-se uma relação

de ação e reação, onde o impacto é causado e sentido pela própria humanidade.

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Dentro desses saberes um dos estudos para promover a ecologia nas sociedades,

foi estabelecida uma área do saber chamada de Agroecologia, um recurso da ciência que

convida a sustentabilidade e ecologia a se integrarem às sociedades. Tomou-se

conhecimento dela a partir do Encontro Regional de Agroecologia, ao qual se participou

e as ruas se gritou “Agrotóxicos Não”. Assim percebeu-se que a qualidade de vida vem

sendo reestruturada através dos conhecimentos difundidos pela Agroecologia. Ela

promove que não haja diferenças entre os humanos e coloca a alimentação e meio

ambiente em segurança. Com suas vertentes de agricultura sustentável, estipula maneiras

de cultivo onde não é necessário uso de insumos químicos nem de plantas transgênicas.

Apesar dos propósitos da Agroecologia, não ser apenas o da agricultura, como seu

próprio nome já diz ela é agro. Não a no mundo quem não depende da agricultura, mas

como ela se encontra hoje ela está realmente caminhando para frente? Apesar de se ter

superado a necessidade de quantidade de alimentos para suprir a população mundial,

quais as consequências trazidas pela revolução verde e a modernização da agricultura?

O processo da Revolução Verde trouxe consigo o benefício de se produzir em

larga escala, o custo disso foi conseguir manter a produção sem ataque de pragas e

doenças. A solução encontrada foi o uso de agrotóxicos, “remédios” que se usavam nas

lavouras para matar qualquer agente que causa algum dano na plantação. Em conjunto

com isso vieram as plantas geneticamente modificas, plantas que são manipuladas

geneticamente em laboratório para aguentar algum tipo de produto ou não ser agradável

a um tipo de praga e/ou doença. E as geneticamente melhoradas, que são cruzamentos de

espécies a fim de se obter outras mais fortes.

Assim o processo de Modernização chegou aos campos agrários, e as produções,

passaram a estar dispostas em latifúndios, intoxicadas com substâncias químicas que

fazem a manutenção dessas lavouras para se conseguir suprir a carência alimentar

mundial. Porém, mesmo a Modernização tendo embarcado a humanidade em um

processo fundamental para o progresso, ate que ponto isso foi algo benéfico?

As melhorias que essa era trouxe acarretou em muitos riscos, hoje o planeta

encontra-se ameaçado, e a saúde alimentar em cheque. Algo, em relação a evolução da

modernidade precisa ser feito. Tendo as sociedades sido industrializadas, inclusive na

produção agraria, não se cabe mais no planeta tanta poluição e descaso.

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Dessa maneira, através da lente da Modernização ecológica, onde o sistema passa

por uma atualização em seu interior para que se promova o uso de tecnologias

sustentáveis e as empresas arquem com a poluição e degradação que geram. Enxerga-se

a Agroecologia como uma possível aliada nos desdobramentos para uma sociedade

sustentável e ecológica. Porém questiona-se, é a Agroecologia um possível caminho para

a sustentabilidade?

Nesse sentido as escolhas dos rumos a se seguir vêm do próprio ser humano, nas

teorias da Modernização ecológica uma de suas ênfases é a de que o Estado, por seu

caráter legitimador, deve ser o agente impulsionador do movimento ecológico no mundo,

porém não só, a mesma maneira a sociedade pode, a partir da regulação de seu consumo,

estabelecer através de cobranças, que o processo de produção seja com o uso de

tecnologias sustentáveis, trabalho justo, e ecologicamente correto.

Nesse novo cenário une-se social e ambiental no ideal de se reproduzir uma

sociedade, que forneça para a população e para o planeta condições de se prosseguir.

Assim apresenta-se para conhecimento, um desenvolvimento sobres as teorias citadas,

elaborando uma maneira de se ver o mundo social a partir do ponto de vista ecológico,

em que é possível estabelecer um vínculo entre meio ambiente e cidade, como proposta

de indicar quais os possíveis rumos é possível tomar.

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Compreender a dinâmica da Agroecologia na sociedade, sob a lente da Modernização

Ecológica, à luz da teoria de riscos

1.2.2 Objetivos Específicos

Debater os problemas de degradações socioambientais;

Pontuar os riscos ambientais como uma situação social, e não natural;

Analisar as perspectivas de conservação do meio-ambiente e centros urbanos.

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1.4 JUSTIFICATIVA

A percepção perante os problemas ambientais voltada às ciências naturais, dispõe

de um discurso em que os processos de degradação que o mundo enfrenta atualmente são

causas naturais. Abordar as causas das degradações a partir da pesquisa e da visão social,

permite a construção da consciência de que o mundo natural está em declínio por

consequência do impacto das ações da espécie humana.

A exposição que se vê atualmente do planeta a fatores de riscos ambientais,

encontra seu encalço no modelo civilizatório baseado na produção industrial. “As

principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente são os padrões

insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos países industrializados”.

(Barbieri, 2007, p. 97)

Para que se consiga um estilo de sociedade saudável e sustentável, a

industrialização do universo urbano e rural precisa ser repensada a uma maneira onde

vida social e natural se unam e se fortaleçam. Reestruturando a concepção de que o uso

indiscriminado dos recursos do planeta não o afeta, integrando o homem ao ambiente

onde vive para que extraia somente o que precisa e forneça de volta condições para que

ele se restaure.

Situações agravantes de riscos à saúde e ao meio ambiente, são cada vez mais

comuns, e não mais fica localizada em seu lugar de produção, a percepção é de que os

danos se espalhem pelo planeta inteiro, atingindo até os que estão fora do contexto. Há

necessidade então de se voltar os assuntos ambientais como problemas sociais, e

reestruturar a sociedade para que parem de produzir mais agravantes.

Agroecologia e Modernização ecológica dispõe, teorias e pesquisas cientificas,

para que o processo da modernização não seja interrompido, apenas continuado sob novas

facetas. Integrando a preocupação com o meio ambiente com o desenrolar das civilizações

e da modernização, atualizando o desenvolvimento a um modo ecológico e sustentável.

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2. METODOLOGIA

Neste trabalho, se realizára uma pesquisa qualitativa, que visa uma interpretação

dos dados levantados, relacionando-os para compreender quais possíveis caminhos se há

no desdobramento da evolução da espécie humana, com o enfoque de descrever as

características da Modernização, sob a perspectiva da Sociologia Ambiental, procurando

apontar quais riscos ela trouxe para a humanidade e para o planeta. Desse modo, foi feito

um levantamento bibliográfico sobre as principais teorias acerca dos assuntos, Teoria dos

Riscos, Sociologia Ambiental, Modernização Ecológica e Agroecologia, se inspirando

em obras dos autores Beck (2010), Moran (2011), Lenzi (2006), Giddens (1996) e

Caporal (2009). Alguns fatos contemporâneos consultados em sites de noticiários, como,

El País, Carta Capital e portal da ONU, em Documentários, como, O Mundo Segundo

Monsanto e Food Inc, assim como em artigos científicos, com autoria de Giuvant (2012)

e Milanez (2009), permitiram o acesso ao conhecimento sobre a atualidade do debate,

utilizou-se essa perspectiva como ferramenta para fundamentação da pesquisa.

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3. DESENVOLVIMENTO

3.1 RISCOS NA SOCIEDADE MODERNA

A humanidade passou por longos períodos de mudança durante sua construção,

até chegar aos dias atuais. Para conseguir tal façanha adaptou e sobrepôs outros sistemas,

ocupando cada vez mais espaço e necessitando cada vez mais recursos. Antes de tudo ser

como é, as populações dependiam de caçadores-coletores para sobreviver. Eles traziam

alimentos e nutriam o povo. Conseguiram com essa técnica a estabilização da espécie no

planeta, pôde também, desenvolver outras capacidades e habilidades.

Moran (2011) conta o processo histórico de como as sociedades se

desenvolveram. Com o sucesso dos caçadores-coletores em conseguir nutrir a população

para que essa pudesse viver e reproduzir, as populações puderam crescer e se desenvolver

a tal ponto de ocupar cada vez mais espaço no planeta.

Porém não só detinham a técnica de caça, haviam também as habilidades de

reprodução vegetal, tamanha era a população que seus métodos de conseguir alimentos

foram deslocados. Não mais a caça e coleta na natureza selvagem era algo profícuo a

humanidade, não conseguia mais abastecer as populações, e agregava muito risco pessoal

a quem se disponibilizava, o que limitou cada vez mais esse modo de viver.

Para o povo, ficava cada vez mais difícil obter alimento, nem todos possuíam

habilidades físicas e motoras para conseguir ir à caça, muito menos detinham o

conhecimento necessário para tal. Entretanto, tendo conseguido se estabelecer,

conseguiram desviar o modo de viver para a reprodução vegetal, dando início a

agricultura. Alguns caçadores-coletores, que já detinham essa capacidade, se deslocaram

e sedentarizaram-se para conseguir alimento através do plantio e cultivo de suas próprias

terras.

De acordo com Moran (2011), “a primeira transformação importante nos sistemas

ecológicos sociais – de caça-coleta para a agricultura – resultou do crescimento

populacional” (p.22). Haviam se tornado muitos e com isso ocupavam mais territórios.

Menos riscos era desejado obter para sobreviver. Lentamente transformaram,

readaptaram suas capacidades e necessidades, conforme se espalhavam.

Após algum tempo, concluindo a troca de um meio para outro. A produção

agrícola enfim estava em desenvolvimento e começando a dar frutos. A agricultura

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permitiu “a evolução das instituições comunitárias, as mudanças no escopo da

reciprocidade e da confiança, a domesticação das plantas, e a sedentarizaram”. (Moran,

2011, p. 23). Basicamente esse processo todo deu início ao modo como é conhecida a

sociedade de hoje.

Conforme a vantagem de haver terras para sua cultivação se mostrava, tendeu-se

cada vez mais a manter essa posse. De geração em geração as terras eram passadas e o

controle delas eram mantidos, contemplando a hereditariedade das terras de melhor

qualidade. Isso deu início a criação de formas lineares de estrutura, baseada em

consanguinidade. Para assegurar tal estratégia novas tecnologias eram adaptadas ao

sistema, como irrigação por exemplo, possibilitando mais facilidade na agricultura e mais

vantagens a quem a detinha.

Com o avanço tecnológico cada vez mais apurado, adaptou a agricultura para um

sistema mais intensivo, ao contrário de extensivo. A essa maneira de vida, agregou regras

às comunidades, o que fez surgir a estratificação social e a exclusão de recursos para

apenas uma parte da população. Uma parte prestigiada, acumulando capital para si.

Foi então “o crescimento populacional, que implicou maior uso da tecnologia na

produção para impedir a escassez e ao mesmo tempo satisfazer as necessidades básicas

da população cada vez maiores”. (Moran, 2011, p. 24-25). Devido ao processo de

crescimento, as competições por terras se intensificaram, havia cada vez mais necessidade

de armazenar suprimentos e provisões, excluindo a ideia de deslocamento para sua

obtenção.

As competições passaram de lutas por terras a guerras por territórios, visando

conseguir as que estavam perto de rios ou montanhas recrutando mais pessoas às suas

comunidades. Assim as redes de comunidades vieram a surgir e com elas a forma como

conhecemos a organização política, já que consigo trouxe o que Moran (2011) descreve

como cacicazgos, que foram unidades autônomas, abrangentes a diversas aldeias ou

comunidades, detendo o controle delas como um chefe supremo. Chegou o processo de

desenvolvimento do Estado.

No ventre das sociedades modernas está a agricultura. E foi apenas uma questão

de tempo até que as comunidades fossem transformadas em cidades. Elas representavam

para os povos o lugar ideal para se estruturar. Pois foi com “as áreas urbanas que

constituíram um local para o comércio e a troca de informações, para especialistas de

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diversas áreas satisfazerem as necessidades de uma sociedade tecnologicamente mais

intensiva e para redefinir a natureza das interações ecológicas sociais”. (Moran, 2011, p.

26)

A agregação de tecnologias cada vez mais capazes de manter uma produção dos

bens necessários a manutenção da população humana, entrou em um processo de

evolução complexo que dominou quase todas as cidades, porém deu início ao progresso

de um possível colapso das sociedades. A partir dessa nova estrutura dos povos,

desestabilizou as interações ecológicas sociais em relação ao ambiente do planeta.

Assim, revolucionaram o processo de produção no mundo e entrou em ação o que

ficou conhecido como Revolução industrial, um grande agente desestabilizador da

ecológica global. Esse contexto social das cidades, trouxe, muitas inovações tecnológicas,

e a descoberta do uso de combustíveis fósseis para a energização das máquinas que as

fábricas adquiriram, contemplando a produção de bens materiais desejados.

A descoberta e utilização de combustível fóssil, impulsionou as sociedades à

modernização, e houve grande progresso em relação a sua estrutura. Carros, aviões,

navios, energia elétrica, entre tantas outras coisas puderam ser idealizadas e construídas,

entretanto começou uma época catastrófica para a ecologia, devido à alta emissão de

gases poluente no ar. A partir dessa perspectiva, Moran descreve.

Parecia uma situação em que todos ganhariam, e, sem dúvida, permitiu o

enorme aumento da quantidade de energia aproveitável pelo homem para fins

produtivos. Infelizmente, a exploração de grandes quantidades de

combustíveis fósseis escondidos em bacias subterrâneas durante períodos de

tempo geológicos, assim como a emissão na biosfera dos subprodutos gerados

por seu uso contribuíram para mudanças biogeoquímicas na atmosfera, que

levaram séculos para serem sentidos e hoje ameaçam nosso planeta. (2011, p.

28)

Através dessas mudanças, a modernidade e seus avanços tecnológicos entraram

na história. E por sua vez, as sociedades agora modernas, entraram em um novo processo

de transformação social. “Assim como no século XIX a modernização dissolveu a

esclerosada sociedade agrária estamental, ao depurá-la, extraiu a imagem estrutural da

sociedade industrial, hoje a modernização dissolve os contornos da sociedade industrial

e, na continuidade, surge uma outra configuração social” (Beck, 2010, p. 12-13). Vinda

através do desencantamento do entendimento científico e tecnológico da sociedade

industrial clássica, como aconteceu no século XIX com os privilégios estamentais e as

imagens religiosas. (Beck, 2010).

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Porém nesse novo contexto as sociedades entraram em um processo que como

Giddens (1991) diz, “é um fenômeno de dois gumes” (p. 13). Mesmo essa era das

sociedades, que criou oportunidades melhores para os seres humanos se desenvolverem

possui um lado sombrio também, que seria a o potencial destrutivo do meio ambiente,

através das forças de produção.

Não sendo só esse, o autor acima referido, ainda dispõe do conhecimento de a

esfera politica ter sido uma das fortes consequências do mundo moderno. Em seus

escritos, descreve o totalitarismo atingido pelos políticos dessa nova era como agentes de

uma destruição em massa, pois foi através desses poderes políticos que vieram as guerras

mais marcantes de toda a história, tanto a primeira quando a segunda guerra mundial.

Foi através da industrialização do mundo que as sociedades modernas puderam

chegar no processo de desenvolvimento de armamentos pesados para a guerra, a inovação

industrial junto do poder militar, trouxeram à tona armas de destruição em massa que

passam os limites da compreensão humana do quando pode-se se destruir, os armamentos

nucleares puderam existir, pensando apenas em ganho de poder. Giddens (1991) alerta.

O mundo em que vivemos hoje é um mundo carregado e perigoso. Isto tem

servido para fazer mais do que simplesmente enfraquecer ou nos forçar a

provar a suposição de que a emergência da modernidade levaria à formação de

uma ordem social mais feliz e mais segura. A perda da crença no "progresso",

é claro, é um dos fatores que fundamentam a dissolução de "narrativas" da

história. Há, aqui, entretanto, muito mais em jogo do que a conclusão de que a

história "vai a lugar nenhum". Temos que desenvolver uma análise

institucional do caráter de dois gumes da modernidade. Fazendo-o, devemos

corroborar algumas das limitações das perspectivas sociológicas clássicas,

limitações que continuam a afetar o pensamento sociológico nos dias de hoje.

Para Ulrich Beck (2010), esse novo contexto social do desencantamento aparece

devido aos riscos emergentes que a sociedade industrial acarreta em seu desenvolver. A

grande produção de lixo das indústrias, as fórmulas físico-químicas recém desenvolvidas,

a prática de plantio em monocultivo de espécies geneticamente modificadas e

quimicamente tratadas, e o arrojo da ciência de embarcar o mundo em uma era com

energia e armamento nuclear, são alguns exemplos.

O processo industrial, não só gera as riquezas que se veem distribuídas por aí, “A

reboque das forças produtivas exponencialmente crescentes no processo de

modernização, são desencadeados riscos e potenciais de auto ameaça”. (Beck, 2010, p.

23). Em cada objeto produzido há alguma matéria prima extraída da natureza e convertida

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em bem material. Como o plástico que é produzido a partir do petróleo, e que possui a

capacidade de ficar inteiro por até 300 anos antes de se decompor.

Ainda se observa que não só as indústrias de bens materiais geram riscos, mas as

indústrias de alimentos também. Florestas inteiras são destruídas para produção de pastos

e lavouras geneticamente modificados para melhor render sua produção. “Cedo ou tarde

na história social começam a convergir (...) os conflitos sociais de uma sociedade ‘que

distribui riquezas’ com os de uma ‘que distribui riscos’”. (Beck, 2010, p. 25,)

Mesmo que fossem só esses os riscos produzidos pela modernização e

industrialização de uma sociedade, o lixo e a degradação desse modelo de produção, afeta

o planeta inteiro dividindo esse risco em pequenas partes que circulam sem ser notado.

Porém os riscos vão muito além a partir do momento em que se descobriu a fissão nuclear,

armas e energia nuclear começaram a ser produzida junto com seu lixo, que não mais é

plástico, mas matérias nucleares extremamente nocivas. O risco cada vez mais se

aproxima da perspectiva de destruição da vida no planeta. (Beck 2010)

Sobre esse contínuo processo de modernização, “não se trata mais, portanto, ou

não se trata mais exclusivamente de uma utilização econômica da natureza para libertar

as pessoas de sujeições tradicionais, mas também e sobretudo de problemas decorrentes

do próprio desenvolvimento técnico-econômico.” (Beck 2010, p. 24). Quanto mais os

meios de produção são industrializados, mais riscos surgem em torno da população. Dessa

maneira os riscos distribuem-se amplamente, não há mais segurança perante a saúde.

Principalmente para quem vive perto de fábricas onde os níveis de contaminação por

chumbo são críticos.

Nesse novo modelo de sociedade troca-se tudo aquilo que é seguro e proveitoso,

por outras que oferecem o risco e a depreciação do próprio ser, quase como se a dignidade

do ser humano passa a ser vendida e o que interessa são apenas as riquezas e seus frutos.

Os detentores de padrões altos de vida, fornecem a imagem do quão bom e feliz são

aqueles que detém o capital e as aquisições feitas com ele. Mas o sistema dos riscos não

só afeta os pobres, podem ser esses os primeiros a senti-los, só que não os únicos.

Todos os efeitos novos da sociedade industrial e moderna circulam o globo e sua

distribuição é geral. “Riscos, assim como riquezas, são objetos de distribuição,

constituindo igualmente posições – posições de ameaça ou posições de classes”. (Beck,

2010, p. 31,). Em uma entrevista dá ao noticiário El País, Stephen Hawking, ao ser

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indagado sobre qual o destino da espécie humana responde, “Creio que a sobrevivência

da raça humana dependerá de sua capacidade para encontrar novos lares em outros lugares

do universo, pois o risco de que um desastre destrua a Terra é cada vez maior.”

Nessa nova fase da modernidade, colocado por Beck (2010) como modernidade

tardia, as instituições seguem um novo processo social, onde agora se distribui riscos,

trocando a perspectiva de distribuição de riquezas em que a modernidade foi pensada.

Nesse novo momento, os conflitos e problemas da era passada foram sobrepostos pelos

que surgiram a partir da produção, definição e distribuição de riscos científico-

tecnológico produzidos.

Para o autor a lógica dessa passagem encontra-se no fato de as forças produtivas,

humanas e tecnológicas, terem alcançado um alto nível de produção, e permanecerem em

crescimento exponencial. Beck (2010). Devido a transformação de matéria prima em

produtos comerciais, os processos necessários para que isso ocorra geram diversos

poluentes, descartados ou liberados com pouca ou nenhuma regulação.

Nesse novo momento, Beck (2010) coloca que, o tipo histórico de pensamento e

ação são recobertos por outros, transformando a Sociedade de Classes em uma Sociedade

de Risco. A explicação para esse processo encontra-se no fato de que os riscos produzidos

são globais, não mais pertence a uma seleta parte da população, como são as riquezas na

Sociedade de Classes. Apesar, de atingir a população carente primeiro, os ricos e a alta

sociedade também serão atingidos, o que define a ordem agora, é o tempo.

Porém, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento científico-tecnológico da

sociedade é vista como problema, também a é como um tema. Em poucas linhas Ulrich

Beck coloca: “os problemas são decorrentes do próprio desenvolvimento técnico-

econômico. A modernização se torna reflexivo, converte-se em tema e problema” (2010,

p. 24). Existe nessa frase uma palavra chave, que é o desenvolvimento. A modernidade

foi pensada com o propósito de evoluir as cidades, desenvolvê-las a ponto de torná-la

melhor para a espécie. Assim Beck indaga: “Como podemos lidar com os riscos, que são

produzidos pelos mesmos setores que fornecem o progresso? Como acabar com um sem

acabar com outro?” (idem)

Em novos tempos, questões de antigamente como o desenvolvimento e emprego

de tecnologias são sobrepostas por como manejar, política e cientificamente, os riscos

produzidos pelas tecnologias já empregadas e pelas que possivelmente serão empregadas.

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Beck (2010). Exemplificando isso o autor expõe que no lugar da fome, para muitas

pessoas, surge os problemas do excesso de peso. Sendo assim descreve: “A modernização

se priva do seu fundamento de legitimidade, até então vigente. O combate à miséria

gritante, em razão da qual se dispunha a arcar com certos efeitos colaterais (já não

inteiramente) imprevistos” (Beck, 2010, p. 25).

Nesse contexto, o autor percebe que as fontes de riquezas estão contaminadas

pelas ameaças colaterais que passaram desapercebidas pelos esforços de combater a

miséria. São essas mesmas fontes que, no processo de modernização, desencadearam

forças destrutivas. Com isso, notou, no decorrer do processo de modernização, que, as

situações e os conflitos sociais de uma sociedade que distribui riquezas convergiu, com

os de uma que distribui riscos. E, na medida que essa transformação se consuma, chega-

se, a uma transformação social que se distancia das categorias e trajetórias habituais de

pensamento e ação. (Beck, 2010).

Acontece que nesse novo momento, os riscos, não mais são específicos de um

lugar fixo. Exposto pelo autor referido, o desmatamento, como um exemplo, acontece

globalmente. Com a agilização dos países de conseguirem se locomover com facilidade

pelo globo, as matérias primas podem se deslocar de um ponto a outro. Por esse motivo

os riscos da modernização, são um produto de série do maquinário industrial do

progresso, sendo sistematicamente agravados com seu desenvolvimento ulterior. (Beck

2010). O autor coloca, “No que diz respeito à comoção que produzem, eles já não estão

vinculados ao lugar que foram gerados, à fábrica. De acordo com seu feitio eles ameaçam

a vida do planeta, sob todas suas formas”. (Beck, 2010, p. 26).

Resumidamente o autor em questão define os riscos a partir de 5 itens. (1) Os

instrumentos e posições de definição dos riscos tornam, nesse novo momento, posição

chave em termos sociopolíticos. Sendo por vezes invisíveis, os danos acabam por ser

apresentados apenas conforme o conhecimento que se tem sobre eles. (2) São dotados do

efeito bumerangue, implodindo o esquema de classes. (3) São usados como um

meganegócio. Os riscos são um barril sem fundo de necessidades. É produzido em uma

sociedade industrial, as situações de ameaça e o potencial político da sociedade de risco.

(4) Com essas situações de ameaça, o conhecimento adquire novo valor político, muito

mais relevante agora. (5) A sociedade de risco é uma sociedade catastrófica. O manejo e

prevenção dos efeitos colaterais podem reorganizar o poder no mundo. Ameaçando, o

estado de exceção converte-se em normalidade.

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Apesar de todo o lado social dos riscos ser envolto por características

sociopolíticas. “A discussão em torno da destruição da natureza e do meio-ambiente, em

geral, ainda é exclusiva ou predominantemente conduzida de acordo com categorias e

fórmulas das ciências naturais” (Beck 2010).

As abordagens existentes em torno dos riscos, são exclusivas ou

predominantemente conduzidas pelas categorias e fórmulas das ciências naturais. Mesmo

sendo nas sociedades altamente desenvolvidas que se originam sua produção (Beck

2010). Esse tipo de caso restringe a interdisciplinaridade da ciência. Forçando uma

convenção entre a população de que se há uma visibilidade dos problemas do mundo,

sendo que grande parte deles estão escondidos embaixo dos panos.

Isso acarreta no problema da não percepção das ações humanas a favor do

processo de produção dos riscos. Esse discurso agrega a convicção de que os riscos, são

um produto gerado organicamente. Enquadrado na sistemática de que são processos

naturais do planeta. Para Beck (2010) Esse tipo de ação atrofia a discussão à natureza,

afastando o ser humano das causas, não questionando o sentido sociocultural da situação.

E enquanto assim ela for abordada escaparão, os conteúdos sociais, políticos e culturais

dos impactos ambientais.

Em uma rápida pesquisa, o que se acha por problema ambiental na internet são

situações como o efeito estufa, superpopulação, extinção de animais, desmatamento e

degradação do solo. O que se percebe é que dentre esses cinco fatores, não há um que

seja realmente um problema que surgiu no meio-ambiente devido a um problema dele

próprio. Em comum todos estes são antrópicos. Se destrinchar cada um separadamente,

chega-se facilmente a essa percepção.

Em meio a tantos, o risco mais notório e envolvente à toda população está

agregado à alimentação, parte necessária à vida e ao prazer também algumas vezes.

Segundo reportagem de Marina Rossi para o El País, no Brasil 70% dos alimentos in

natura consumidos estão contaminados por agrotóxicos, sendo que 28% destes contém

substâncias não autorizadas, segundo dados da ANVISA.

Aprofundando o assunto, uma jornalista montou um documentário intitulado “O

Mundo Segundo a Monsanto”, onde ela explora as questões dos OGM (organismos

geneticamente modificados) e do produto Roundup, criado pela própria Monsanto para

ser usado em combine com suas próprias plantas, produzidas em laboratório. Um dos

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dados mais alarmantes de sua pesquisa, foi o relato de Robert Bélle, pesquisador francês

do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), que ao investigar os efeitos do

Roundup, constatou que este herbicida desempenha um papel importante no mecanismo

que controla a divisão das células, induzindo o surgimento das primeiras etapas que levam

ao câncer, cujo aparecimento se dará dentro de 30 ou 40 anos.

Mas da onde vieram os agrotóxicos? A partir do ideal capitalista de reprodução

de lucros, a agricultura passou a ser reformulada e contextualizada nos paradigmas

industriais. Para atingir esse ideal adotaram inovações tecnológicas nas lavouras.

Começou a partir daí o uso de maquinários pesado nas plantações assim como os

melhoramentos de sementes, desde a manipulação genética a reprodução assistida, e o

uso de herbicidas, fungicidas, inseticidas e fertilizantes, que são os então denominados

agrotóxicos. (Andrades e Ganimi, 2007)

Esse foi o contexto que iniciou a Revolução Verde. Ela surge a partir do momento

em que se modernizaram a agricultura, mudando seus parâmetros de pequena e familiar,

para, extensa e industrial. Dessa maneira as lavoura não mais eram simples plantações

que onde se produziam alimentos, se tornaram também um âmbito onde se girar a

economia.

Como consequência essa Revolução, trouxe a tona, como já dito, os agrotóxicos,

novas técnicas de se reproduzir os vegetais, agora em larga escala e “a maximização do

lucro, através da monopolização de fatias cada vez maiores do mercado; e a aquisição de

royalty, por intermédio dos pacotes tecnológicos.” (Andrades e Ganimi, 2007, p. 44).

Uma questão notória nessa questão da Revolução Verde é o aumento da

produtividade, a partir dela as sociedades passaram a produzir muito mais do que

consomem, a escassez de alimento trouxe consigo o desperdício. Percebe-se então que a

agricultura não foi mais concebida para a solucionar o problema da fome, ao invés disso,

passou a ser desenvolvida para reproduzir o capital.

Junto consigo a Revolução Verde trouxe problemas sociais, como aumento da

concentração de renda e da terra, exploração da mão de obra no campo, envenenamento

dos agricultores, êxodo rural. Como consequências ambientais, vieram a contaminação

dos ecossistemas, rios, lagos, lençóis freáticos, compactação e empobrecimento dos solos.

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A partir daqui há a compreensão de que os produtos consumidos não são

produzidos naturalmente ou sequer são produtos naturais, a partir da Revolução Verde, e

consequentemente da industrialização da agricultura, uma planta é construida em níveis

moleculares para alcançar um resultado desejado, manipulando sua genética para

conseguir evitar determinadas pragas e doenças e aplica-se a isso o uso de um “remédio”

para que estas possam se desenvolver com maior eficiência, implica o risco de os

alimentos consumidos, não conciliarem com os limites e as necessidades do corpo

humano.

Em meados do ano de 1930, nasce um novo modo de se produzir e comercializar

comida, foi nessa época em que surgiu a mais famosa cadeia de alimentos do mundo o

Mcdonalds. Sua lógica de produção revolucionou o comércio de alimentos. Tudo é

produzido em extrema rapidez e semelhança. Food Inc. um documentário produzido por

Robert Kenner, explora esse contexto, e explana que quando o Mcdonalds padronizou o

alimento que se vende, na ideia de vender uma imagem ou um referencial, gerou diversas

consequências para o universo dos alimentos. Sua principal abordagem é em relação a

necessidade de se subsidiar essa cadeia de alimentos, que se tornou mundial. “This big

big food chains want big suppliers and now there are essentially a handful of companies

controlling our food system” (Robert Kenner em Food Inc.). Traduzindo: “Essas grandes

cadeias de alimentos querem grandes fornecedores e agora há essencialmente um

punhado de empresas controlando nosso sistema alimentar”.

Na época em que o documentário foi produzido, um dos dados apresentados é de

que 80% de toda a produção de carne de gado e porco é controlada por apenas 4 empresas.

Dessa maneira a produção de alimento não mais gira em torno de pequenos agricultores

cultivando pequenas quantidades de alimentos por vez, agora são produzidos de maneira

e em escala industrial.

O mundo em geral está enfrentando uma crise global com as novas perspectivas

de produção industrial, não vê mais no mundo a produção como uma forma de subsídio

para atenda às necessidades das populações nas sociedades, ao contrário disso, a produção

passou a ser algo em larga escala, e consequentemente a extração de matérias primas e

liberação de poluentes aumentou considerável e preocupantemente.

Nessa nova época das sociedades muito se pensa e pouco se faz em relação a

remediação ou solução definitiva dos problemas que geram todos os fatores agravantes

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para a situação ambiental do planeta. A alta emissão de gases CO² ameaçam a

biodiversidade e até as próprias cidades.

Elucidando melhor essa questão vale ressaltar os estudos de Moran (2011) onde

diz

A queima de combustíveis fósseis resulta na emissão de grandes quantidades

de dióxido de carbono e outros gases causadores do aquecimento global, que

estão mudando a atmosfera e a produtividade da vegetação terrestre por

apresentarem os níveis mais elevados vistos nos últimos quatrocentos

milênios. Emprega-se na agricultura uma quantidade de nitrogênio maior do

que a fixada naturalmente em todos os ecossistemas terrestres (Crutzen, 2002).

As frotas de barcos pesqueiros exauriram cardumes de diversas espécies,

eliminando mais de 2,5% da produção primária em regiões oceânicas muito

piscosas (Crutzen, 2002), e a pesca está sofrendo um colapso. A irrigação e

outras alterações da água da superfície e do subsolo tem elevado a

vulnerabilidade dos sistemas hidrológicos, assim como o das pessoas que

dependem desses preciosos mananciais (Crutzen, 2002). As atividades

agrícolas resultaram no maciço desmatamento e na mudança da cobertura da

terra em escala gigantesca – a quantidade de terras destinadas à agricultura

quintuplicou em comparação a três séculos passados. Em suma, as atividades

humanas são tão invasivas que podem modificar o sistema planetário,

alterando a viabilidade dos processos de as espécies dependem. (2011, p. 30)

Apesar de todos os esses problemas acontecerem na natureza, mesmo havendo

discursos por parte das ciências naturais de que o meio ambiente do planeta está em

declínio, os grandes causadores por trás de toda essa poluição e destruição são os seres

humanos. Não há em nenhum desses fatores citados acima, algum que exclui o ser

humano de alguma ação causadora de qualquer agravante.

As sociedades dispõem-se de massivas quantidades de tecnologias para

produzirem o que bem entenderem, porém, a lógica das sociedades capitalista é apenas a

de gerar lucro. Sendo o ponto de partida dessa situação a produção industrial e

comercialização de bens, a sociedade passou a transformar matéria prima em lixo ou

poluente. Tamanha virou a questão do lixo que, em galápagos, um arquipélago

importantíssimo aos estudos biológicos de Darwin, abrigando 2017 espécies únicas desta

região, encontra-se lixo de vários outros lugares do planeta.

Segundo matéria do site da ONUBR “restos de plástico foram recentemente

encontrados em ninhos de fringilídeos de Darwin e nos estômagos de tartarugas marinhas

e albatrozes, durante uma investigação em curso conduzida em conjunto pela Direção do

Parque Nacional de Galápagos e pela Universidade San Francisco de Quito”.

Ainda nessa mesma matéria estima-se que 13 milhões de toneladas de plástico são

jogados nos mares todos os anos. Soma-se isso a 50 milhões de toneladas de lixo

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eletrônico, mais todo o resto de lixo que consegue se imaginar e chega-se aos 1,3 bilhão

de tonelada de lixo descartados todos os anos pela população mundial, segundo a ONU.

Moran (2011) atribui o problema ambiental no mundo como uma situação de

aumento populacional, descreve que um cidadão europeu consome 25 vezes mais que

qualquer outro cidadão de países menos desenvolvidos. Nessas condições o problema de

fato do meio ambiente deixa de se tornar algo natural, ele é entendido como uma situação

social de que há agentes causadores que agravam cada vez mais a situação do planeta.

Há paralelo entre sociedade e meio ambiente, onde a humanidade apenas extrai e

consome, deixando de lado as questões ambientais, para satisfazer suas necessidades.

Muito se pensa, em como fazer para melhorar a situação, mas ainda é pouco, muitas vezes

não sendo efetivo. Como é o caso do Protocolo de Kyoto, que visa os governos regularem

em seus países as indústrias para que estas diminuam os gases responsáveis pelo efeito

estufa. Porém nem todos os países entraram no acordo, como é o caso do Estados Unidos,

que se recusou a assinar o termo de adesão ao protocolo. (Moran, 2011)

Parte desse problema é apontado pelo mesmo autor como sendo um problema do

individualismo que o país criou dentro de si, países Europeus, por exemplo, que não

valorizam esse modo de ser, aceitam o acordo com mais facilidade. Se muito

provavelmente o mundo deixasse de ser individualista, se conseguiria maior

entrosamento entre homem e natureza conseguindo preservar e manter um ambiente

saudável.

Um dos desafios que precisamos encarar é repensar o modo como enxergamos

o meio ambiente. O pensamento dicotômico leva-nos a ver as pessoas

separadamente da natureza de controlá-la para os propósitos humanos – e, o

que é fundamental, fora da dinâmica inerente ao sistema do planeta. Com esse

erro teve início grande parte da espiral rumo à destruição que se seguiu à

Segunda Guerra Mundial. (Moran 2011, p. 33)

A crítica em relação a isso é; as comunidades humanas precisam se unir para que

haja oposição a acumulação ambiental, e cuidados com a natureza como um bem maior,

é preciso, integrar o humano a natureza, considerar que são parte orgânica do planeta.

Pois, cuidar da natureza é cuidar se si mesmo, caso esse caminho do cuidado seja tomado,

a terra nutrira, caso contrário, apenas se prejudica a capacidade de prover os próprios bens

necessários à humanidade moderna (Moran 2011).

Anthony Giddens (1996) discute sobre os movimentos ecológicos, emergentes

pós industrialização, mostrando ideias de autores como Murray Bookchin, que visam o

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mundo ecológico como algo necessário à humanidade, devido a necessidade da natureza

para a sobrevivência, tanto do mundo natural como da vida pessoal. Na visão deste autor

uma sociedade ecológica seria aquela que o equilíbrio e a integridade da biosfera seriam

preservados ou restaurados.

Como resultado do industrialismo e a sua constante necessidade de geração de

lucros, insaciável pelos tutores do sistema, se obteve a quebra dos valores naturais e à

destruição de todo bem ecológico que essa biosfera possui. Alguns autores como Alain

Lpietz, em uma citação no livro de Giddens (1996), diz sobre os crimes contra a natureza

estarem em alta e que cada um desses crimes são um crime contra a humanidade. Como

sobreviveríamos sem ela? E como é possível continuar a usá-la sem destruí-la por

completo?

As vidas cada vez mais conectadas a um sistema que emprega a necessidade dos

seres humanos aglomeraram meios urbanos cada vez mais altos e extensos só tem gerado

mais destruição para a ecologia e a natureza em si. Conforme as sociedades assentaram

um sistema de produção e aquisição, mais as ideias de manutenção da natureza e a

integração sociedade-natureza foi vista como ultrapassada e sem valor. Autores como

Edward Goldsmith, como mostrado em Giddens (1996), já pensam em sociedades que ao

invés de caminharem o progresso para cidades cada vez maiores e mais cheias de

tecnologia, caminham em direção às sociedades tradicionais, pelo menos como

inspiração, para que o sentido de uso do meio natural possa ser revido e reorganizado.

Para alguns a natureza pode não significar muito, ou mesmo estar aqui só para a

satisfazer as necessidades do sistema, mas para outros ela está associada ao sentido da

vida, podendo não só conter um ideal materialista. Assim afirma Giddens (1996), que as

teorias verdes são compostas por uma certa falta de precisão devido a não haver definição

científica para o termo “natureza” ou ser entendida de uma maneira excessivamente

aberta. Porém alguns filósofos com Goodin, citado por Gidden (1996), que se simpatiza

com as políticas verdes, onde contextualiza haver uma teoria verde de valor coerente, o

que permite deixar algumas perspectivas mais sem noção de lado.

Em sua teoria Giddens (1996) expõe Goodin, que explica os recursos naturais

como algo de valor, por possuírem atributos naturais, tornam-se valiosos por serem

resultados de um processo natural e não humano. Para explicar melhor isso propôs um

exemplo, em que descreve uma área de extração de minério. Pós extraídos esses minérios

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toda a área está destruída, degradada, mas as empresas responsáveis pelo processo se

responsabilizam por voltarem a área, o máximo possível, do modo como era antes.

Com esse exemplo o autor faz um paralelo dessa situação com as mercadorias

falsificadas, dizendo que por mais fiel que a cópia seja ao produto original ela nunca terá

o mesmo valor que a peça autêntica. Colocado por Giddens (1996), Goodin ainda coloca

que, o fato de que essa paisagem, como parte de um mundo natural contextualiza as

pessoas a um sentido e padrão para suas vidas. Descrevendo ainda que, “O que é

especialmente valioso nos produtos de processos naturais é que eles são produtos de algo

maior que nós mesmos” (p. 233). Porém para que isso seja verdadeiro a natureza não pode

ser tiranizada pelos humanos.

Esses danos ambientais, por cientistas e leigos, são vistos como efeitos colaterais.

O desenvolvimento agrega riscos ambientais imprevistos. Riscos que podem ser

avaliados e seus níveis de perigo controlados. Para isso ser possível é necessário a

delimitação de tempo e espaço onde os níveis de poluição podem chegar e agir em cima

disso. Porém há um impasse nesse sentido que é o tempo em que perduram as substâncias

liberadas pela poluição. Os efeitos desse processo só seriam descobertos talvez muito

mais tarde da data que ocorreram.

A discussão que pretendeu, Giddens (1996), em sua obra, foi que apesar de a

humanidade degradar cada vez mais o ambiente, não é possível voltar atrás na história,

não se pode mais voltar à natureza nem às tradições, mas é possível pensar futuramente e

aceitar as artificialidades dos tempos atuais e repensá-los de uma forma conveniente para

se mantê-las integradas ao meio natural - tão valorizado por uns e desvalorizado, em certa

medida, por outros. Cabe assim as próximas políticas a saberem mediar essas questões

colocando os rumos da humanidade para a construção de uma melhor visibilidade do

futuro do que a que se pretende hoje, havendo no mundo apenas a ideia de políticas de

extração.

3.2 MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA

Foi no final dos anos 70 que começou a se estudar uma nova linha de pensamento,

surgiu então a sociologia ambiental, como uma crítica à sociologia contemporânea. Como

Lenzi (2006) mostrou foram Catton e Dunlap que começaram a desenvolver uma nova

perspectiva para a criação dessa nova área.

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Para esses autores jamais houve, na história da sociologia, uma preocupação com

a base ecológica da sociedade. Colocando em dúvida o caráter de negligência das

Ciências Sociais em relação a fatores físicos e biológicos do ambiente, enxergaram que

“a substituição progressiva de explicações deterministas ligadas ao ambiente físico por

explicações socioculturais (...) teria levado a Sociologia a desprezar os fatores ambientais

que estão embebidos na vida social.” (Lenzi 2006, p. 26)

A partir dessa época ficou entendido que os seres humanos não estão alheios ao

mundo natural, e fazem parte dele como um todo, em uma relação de interdependência.

Antes o que se havia era a crença de que homens eram superiores a animais. Os estudos

sociológicos posteriores a 1970, distinguiam homem e natureza, partilhavam teorias

antropocêntrico, onde colocavam a natureza como uma objeto a ser usado.

Catton e Dunlap enquadraram essa perspectiva sobre o termo Human

Exceptinalism Paradigm ou simplesmente HEP, para eles as categorias inseridas nesse

paradigma foi o que dificultou os sociólogos de abordarem os problemas ecológicos.

Dificilmente as teorias sociológicas atuais à época davam atenção aos recursos naturais.

O meio ambiente acabava por ser inserido em pressuposto de ambiente simbólico ou até

social.

Em contraponto ao HEP, surgiu outra realidade, denominada de New

Environmental Paradigm (NEP). O NEP nasceu dos estudos de vários outros autores da

mesma década, e assim definiram juntos que “o estudo da interação entre o meio ambiente

e sociedade é o núcleo da sociologia ambiental” (Lenzi 2006, p. 27, apud Catton e Dunlap

1978)

Em comparação um com o outro, enquanto na perspectiva HEP, os seres humanos

são considerados os únicos dentre as criaturas da terra, diferenças são socialmente

induzidas antes do que congênitas, podendo ser socialmente alteradas quando necessário

e vendo o progresso como um processo ilimitado e todos os problemas solucionáveis. Na

visão do NEP os seres humanos são uma espécie comum a todas as outras,

interdependente à comunidade biótica, causadora de consequências não intencionadas por

ações intencionadas, inserida em um mundo finito com limites físicos e biológicos. (Lenzi

2006)

Em referência ainda a Catton e Dunlap, Lenzi (2006) percebeu a necessidade de

melhor definir quais as propriedades de um estudo da Sociologia Ambiental, questões

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como, comportamento no lazer, sociologia aplicada e movimentos sociais já não eram

suficientes, foi preciso classificar os estudos dessa área como o estudo das interações

entre meio ambiente e sociedade.

O problema dessa temática, é que ela se apresentava ampla demais, “o que faria

com que os sociólogos tivessem que investigar um leque bastante diversificado de

fenômenos” (Lenzi, 2006, p. 28). Assim os sociólogos do ramo, conceituaram um novo

fator o complexo ecológico, que foi uma proposta de inter-relacionar múltiplas áreas do

conhecimento; população, organizações, ambiente e tecnologia. Essa perspectiva foi o

que alocou o pensamento biológico e ecológico para dentro do sociológico.

Dentro desses novos parâmetros a Sociedade não mais é integrada apenas de

humanos. Com os estudos sobre sociologia ambiental de Catton e Dunlap começou a ser

investigado a perspectiva de que humanos são seres dependentes do mundo, estando eles

entrelaçados com toda a rede de vida do planeta. Que através de suas ações causam

consequências a todos inclusive a si mesmos.

Esse importante passo da racionalidade, apresentou o ser humano como agente

causador das consequências ambientais. Antes disso pensava-se o mundo como algo

inacabável, e que se fosse preciso poderia ser restaurado. Com a Sociologia Ambiental,

o homem, que antes detinha o caráter dominador, precisa de vigilância, para que se

previna suas ações de impacto ambiental.

Pensando a favor da prevenção do meio-ambiente. Estudioso e pensadores da área,

definharam a racionalidade da ME como um objeto de estudos. Segundo Lenzi (2006),

ela teve surgimento na década de 80, como um discurso político, devido às séries de

mudança da década anterior.

As mudanças que levaram ao surgimento da ME, foram os discursos do

movimento ambientalista que detinham um caráter ambíguo. Por um lado, defendiam

maiores investimentos na ciência e em tecnologias, por outro apresentavam uma crítica

ao consumismo a inovação tecnológica

Essa mistura de sentimentos, foi a essência para que os movimentos ambientalistas

alterassem sua lógica. A partir 1980 eles passaram a ser menos radicais e se envolveram

mais politicamente falando, ao invés de simplesmente confrontar o Estado, passaram a

apresentar propostas para reverter a situação.

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Essas alterações passaram a acontecer por consequência à recessão econômica que

apareceu na década de 70, isso colocou os grupos ambientais em uma situação onde foi

preciso conciliar reestruturação econômica e proteção ambiental. Passou-se a considerar

então, estratégias de confronto, um atraso para a causa.

Houve ainda uma consciência política sobre o meio ambiente na época,

reconheceu-se que as políticas ambientais estavam repletas de falhas, deixavam situações

relacionadas a poluição, sem solução ou ainda piores do que antes. Essa realidade

provocou um fortalecimento do discurso da ME.

O que possibilitou o discurso ir em frente foi ele ter se tornado de fácil acesso.

Várias instituições começaram a abordá-lo, tanto instituições acadêmicas quando ONGs

e organizações transnacionais. Isso permitiu que se estruturar a problemática ambiental

de uma nova maneira possibilitando seu caminhar. Segundo Lenzi (2006)

As ideias da modernização ecológica (...) já tinham superado seus entraves

iniciais. Trabalhos em círculos acadêmicos e organizações de especialistas

providenciavam agora uma linguagem conceitual alternativa e prometiam

soluções concretas que sugeriam caminhos pragmáticos de superar problemas

ambientais. (apud Hajer, 1995, p. 95)

A Modernização Ecológica, passou a visar uma relação entre proteção ambiental

e desenvolvimento econômica, o que a ajudou a ser construída. Organizações, como ONU

e OECD, que passaram a enxergar a poluição como uma questão de ineficiência das

indústrias e tecnologias, contribuíram para o seu firmamento.

Assim a ME tomou forma para que se pudesse ser passada adiante. Repassando

suas ideias a frente, tornou possível a compreensão de compatibilizar desenvolvimento

econômico com proteção ambiental. Manteve essa linha narrativa como foco e, vê a crise

ambiental como resultado de falhas ou deficiências das instituições das sociedades

modernas, mas que acredita que as reformulações dessas instituições poder promover um

processo de proteção ambiental”. (Lenzi, 2006, p. 60)

Spaargaren (2000) coloca, citado por Lenzi (2006, p 61), “que a crise ambiental

se transforma num veículo para um processo de racionalização profundo, que novos

subsistemas surgem para ‘lidar’ com as questões (ecológicas)”. O principal processo da

ME é a ecologia, ou melhor colocando, “emancipação ecológica” (id.). Nessa fase da

modernização essa emancipação torna-se um processo racional das sociedades, junto à

racionalidade econômica do mundo.

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Mudanças sociais como essas, são vistas por parte das teorias de modernização,

como processos de diferenciação funcional e racionalização. Como em um processo de

atualização, onde se altera ou reformula algum contexto para que outro se forme

melhorado. Inspirado por Giddens (1991), Lenzi (2006) descreve, “com o advento da

modernidade, as relações sociais foram desencaixadas de seus contextos tradicionais e

reencaixadas em novos padrões em termos de distância tempo-espaço”. A ME passa a ser

vista como uma reestruturação do sistema industrial, superando a colonização da natureza

pela esfera tecnológica. Lenzi (2006, apud Mol, 1995).

Por essa razão, a ME é vista como uma solução para os problemas ambientais

decorrentes do mundo moderno. Inicialmente a idade moderna chegou e rompeu com um

modelo de organização social e se sobrepôs. Mas, o discurso do ME é outro. Ao contrário

do que muitos pensam, para a modernização ecológica “é possível compatibilizar

crescimento econômico com proteção ambiental”. (Lenzi, 2006, p. 65).

Cresce dentro desse discurso ecológico a ideia de se melhorar o que já se tem,

seria muito complicado acabar com todo o processo industrial, implementando novas

tecnologias para se colocar no lugar. A proposta que se tem então é a de restaurar o

sistema moderno para que ele passe a produzir com sustentabilidade.

Com uma proposta de se manter o sistema econômico e ainda assim controlar as

empresas para que se regulem suas ações degradantes. Jacobs, citados por Lenzi, descreve

uma maneira de atingir o objetivo. Agregar ao PNB (Produto Nacional Bruto) - um dos

componentes que medem a renda dos países – um novo valor, o CIA (Coeficiente de

Impacto Ambiental). Dessa forma esclarece.

O CIA é definido por Jacobs (1991) como o ‘grau de impacto (ou a soma de

impacto ambiental) causado pelo aumento de uma unidade de renda nacional’.

Uma operação que o CIA exige é a medição do consumo e da capacidade

ambiental. Esta última nada mais é que o potencial do ambiente do ambiente

de realizar suas diferentes funções (recursos, assimilação de lixo, serviços

ambientais. Já o consumo ambiental corresponde ao uso dessas funções sem

necessariamente desrespeitar sua capacidade de manutenção (Lenzi 2006 p.

68, apud Jacobs, 1991, p. 73)

Com CIA, seria possível perceber quais componentes do PNB estão crescendo e

quais são importantes para o meio ambiente. Possibilitaria saber quais setores da

economia que geram mais ou menos impactos para o meio ambiente. Lenzi (2006)

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Um dos apontamentos da Modernização Ecológica, é a percepção de que existem

avanços tecnológicos suficientes, capazes de frear as degradações ambientais, mas que

pouco são usadas ou difundidas. Seus estudiosos percebem então que a prática da

sustentabilidade não é só uma questão de implementação técnica, mas também política.

Para que se forme nas sociedades indústrias capazes de gerar seus produtos sem

ou com quase nenhum impacto ambiental, seria necessário a implementação de políticas

para que este setor fosse motivado a fazer tais mudanças. Sabendo que há maneiras de se

conseguir esse processo, com a própria Agroecologia, por exemplo. O ato da

modernização ecológica começaria na esfera política, partiria de dentro do Estado.

Define-se então a ME como um processo institucional que visa trocar técnicas

curativas por outras preventivas, e pressupõe um crescimento econômico ecológico.

Propondo em um nível macro “descrever e promover uma mudança no caráter estrutural

da economia das sociedades mais industrializadas, fazendo com que indústrias intensivas

em recursos e energia sejam substituídas por indústrias intensivas em conhecimento e

valor” (Lenzi, 2006, p. 71)

Nesse sentido a economia se tornaria ecológica pelo fato de se basear em bens

imateriais com o conhecimento, informação e alto valor agregado de produtos,

contrariando a lógica de volume de produção. Formando o que ficou chamado de

crescimento qualitativo do setor industrial, que se baseia em valores agregados ao que se

é produzido.

Em citação a Jänicke (1990) Lenzi (2006) descreve que a “produção e troca de

informação podem deslocar a produção de bens tangíveis como foco primário das

atividades econômicas. A mudança estrutural na economia deve levar, assim, ao declínio

das indústrias poluentes e estimular o domínio de industrias não-poluentes”.

Como Lenzi descreve, existem duas categorias em que essas tecnologias podem

ser separadas, de controle ou preventivas. As tecnologias de controle são aquelas que

visam administrar o problema já criado, “curando” assim o estrago que foi feito ao meio

ambiente, tais como capturadores de poluentes do ar. A segunda, tecnologia preventivas,

são as mais necessárias no momento, são elas que reestruturaram o processo de produção

para que nem se chegue a danificar mais a natureza.

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Para (Milanez 2009), Modernização Ecológica é representada pelo debate de que

seria ideal, o desenvolvimento tecnológico do mundo, seguir inovando a partir de

preceitos ecológicos. Em meio a tantos riscos que as sociedades correm, seria eficaz obter

tecnologias alinhadas com a ideia de se evitar problemas ambientais ao invés de remediá-

los posteriormente.

A modernização ecológica não cria regras para se constituir um modelo seguro

para o meio-ambiente e sociedade. O que existe é um debate sobre teorias que percebem

o mundo de hoje, se consumindo por dentro. E ainda assim não é visto um controle por

parte dos donos dos meios de produção.

A transformação gradual seria interna ao próprio sistema existente. Havendo um

investimento por parte das indústrias e meios de produção para que se produzam de forma

ecológica, adotando tecnologias sustentáveis, que consumam menos do mundo para

conseguir chegar-se ao mesmo resultado.

Sendo as indústrias os principais causadores da destruição do mundo, o enfoque

da teoria é justamente voltado para essa parcela do sistema que se encontra em atividade.

Pensando em um futuro onde as perspectivas são de um meio ambiente devastado pela

extração, produção e consumo desenfreado por parte da população, a ME aparece e

defende que se haja

1) confiança no desenvolvimento científico e tecnológico como principal

estratégia para solucionar problemas ambientais; 2) desenvolvimento de

soluções preventivas para os problemas ambientais; 3) possibilidade de se

alcançar, simultaneamente, objetivos ambientais e econômicos; e 4) tomada de

decisão baseada no envolvimento direto e cooperativo dos grupos interessados

(Milanez 2009)

Nessa nova fase da linhagem histórica das sociedades, as empresas necessitam

tomar medidas diante de problemas que afetam o planeta. Problemas como o incidente da

Vale em Mariana – MG, que destruiu o Rio Doce e a vida de milhares de pessoas, devido

a ações inconsequentes da empresa e seus gestores.

O dia 5 de novembro será para sempre marcado como um dia de tristeza,

indignação e dor. Em 2015 rompeu-se a barragem do Fundão, de propriedade

das empresas Samarco / Vale / BHP Billiton. 19 mortos. Dois distritos de

Mariana, Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, destruídos. Milhares de

hectares de áreas de plantio e de uso para outras atividades produtivas

impactados, possivelmente, de modo irreversível. Milhares de agricultores,

comerciantes e pescadores sem trabalho. Mais de um milhão de pessoas

atingidas. Diversas cidades em Minas Gerais e Espírito Santo sem

abastecimento de água potável por semanas. Todo o Rio Doce destruído. A foz

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do Rio Doce, berço de diversas espécies, com o ecossistema completamente

comprometido. (Silva e Andrade, 2016)

Outra mineradora que pôs mais riscos ao mundo foi a Hydro Alunorte. Maior

fábrica de alumínio do mundo. Admitido pela próprio CEO da empresa gestora da fábrica

a Norsk Hydro. Verteu-se água de chuva e da superfície não tratada ao Rio Pará. Sendo

essa água uma lama vermelha com níveis elevados de alumínio e metais tóxicos.

Situações como essas se espalham pelo planeta desde muito tempo. Graves

acidentes nucleares como o acontecido em Goiás no ano 1987, onde a radiação de uma

cápsula de radioterapia mal descartada foi aberta e mais de 100 mil pessoas foram

contaminadas. Ou em Chernobyl, o mais lembrado de todos, onde em 1986, um reator de

uma usina apresentou problemas e explodiu liberando uma nuvem tóxica com 70

toneladas de urânio e 900 de grafite na atmosfera. Nesse acidente, mais de 2,4 milhões de

pessoas morreram e até hoje o local não é habitável.

Na agricultura, a industrialização trouxe os agrotóxicos, que são um composto

químico cujo princípio ativo acaba com diversos tipos de pragas e doenças que

prejudicam a produtividade. O que acontece é que esses pesticidas são tóxicos, daí o nome

agrotóxicos. Independente dos compostos que são utilizados para sua produção, acabam

sendo produtos danosos para a saúde do meio ambiente e dos seres humanos. Em relação

ao meio ambiente um dos principais agravantes relacionados ao uso dos agrotóxicos é a

contaminação do solo, lençóis freáticos, rios e lagos, devido o solo absorver o produto

após das aplicações.

Um exemplo para conseguir enxergar a gravidade do problema é observar o

funcionamento de inseticidas. Sendo compostos por organoclorados e organofosforados,

dois compostos que são bioacumulativos, ou seja, eles permanecem no organismo do

inseto afetado mesmo após sua morte. Caso algum outro animal se alimente deste

infectado, ele também estará contaminado, esse ciclo se perpetua indefinitivamente.

Agindo diretamente no solo os agrotóxicos tem uma significativa contribuição

para o empobrecimento do solo, reduzindo a capacidade deste de fixação de nitrogênio

nas plantas, que são realizadas por micro-organismos, para se resolver isso se usa mais

agentes químicos, por sua vez são necessários os fertilizantes. Todo esse ciclo se torna

vicioso, até que um dia os solos não mais serão úteis acarretando em uma possível

desertificação.

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Quanto a saúde humana os agrotóxicos podem afeta-la de maneiras distintas,

durante sua fabricação, aplicação e consumo, pois os vegetais e frutas que se consomem

comumente estão contaminados com esses produtos. Alguns problemas, apontados pela

revista da Academia Americana de Neurologia (2010), como Mal de Alzheimer, estão

associados a exposição a inseticidas organofosforados, assim como transtornos de déficit

de atenção com hiperatividade em crianças.

Esses, e tantos outros, mostram o como as tecnologias usadas pelo modelo de

sociedade atual podem ser catastróficos à própria humanidade e seu planeta. O processo

de modernização ecológica, então, está diretamente ligado ao desenvolvimento

tecnológico das indústrias, devendo essas se atualizarem e adaptarem suas técnicas e

tecnologias para que o desgaste do meio ambiente seja amplamente reduzido, assim

havendo mudanças em como o planeta é consumido e como os descartes serão feitos.

Esse novo processo social, se desenrola no universo institucional. Começa a

desenvolver-se uma nova perspectiva a partir do momento da tomada de atitudes das

empresas, devido a todo papel que ocupam nas sociedades hoje. Após o processo de

modernização ter sido gradualmente evoluído, as empresas ocuparam não só o posto de

produção de bens, também são as que repassam valores em larga escala. E hoje ocupam

a maior parte do cenário urbano atual. Assim:

Um dos fatores que tornam a empresa um ator-chave, está no seu poder de

transmitir valores e influenciar tomadas de decisão, ao mesmo tempo em que

inovam motivados pela pressão que recebem dos consumidores, desenvolvem

produtos e adotam tecnologias limpas (Tomiello; Guivant 2012, apud

Spaargaren, 1996)

Porém, as empresas, por si não farão a “revolução”, muito menos tomarão

consciência dos problemas mundiais que causam a produção desenfreada de bens

materiais e a necessidade absurda de gerar lucros cada vez mais escandalosos. Para que o

processo dessa modernização se desenvolva, as empresas necessitam ser cobradas,

alavancando um processo de causa e consequência caso não se adequem.

Existem então duas representações para assegurar que a modernização ecológica

seja desenvolvida. A política e a sociedade civil. Essas duas partes da civilização moderna

constituem a parte de agentes de cobrança das empresas e indústrias, para que se pensem

e se usem novas tecnologias e abordem as produções de uma maneira sustentável.

Gert Spaargaren, um dos principais difusores da Teoria da Modernização

Ecológica. Equaliza essa relação buscando os autores fundamentais dessa ciência. Martin

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Jänicke e Joseph Huber, cada um desses autores aproxima os estudos da TME para uma

perspectiva.

Jänicke descreve a modernização ecológica como uma modernização política.

Para ele a crise ambiental é uma crise do Estado moderno. A inabilidade deste de lidar

com os problemas ambientais, está correlacionado com a legitimação e as direções da

crise do Estado nacional. E é ele quem pode e deve conceber uma nova racionalização

para a intervenção estatal. Assim a modernização ecológica teria o devido suporte do

estado provendo políticas ambientais para as indústrias. Visando haver uma expansão

estatal para que haja o devido suporte ao processo da modernização. (Spaargaren, 2000)

Contrariando essa visão, Huber descreve que, a reforma ambiental não se

aproxima de uma modernização política, pois já se foram feitas várias tentativas de

negociação entre os movimentos ambientais e os setores industriais. Sendo mais efetivo,

em alguns casos, a pressão do consumidor, reforçando o uso de novas tecnologias por

parte das empresas, para que produzam de uma maneira ecológica. (Spaargaren, 2000).

Nos estudos de Tomiello e Guivant (2012) a inovação tecnológica é, para Huber, o que

torna possível a transpor a crise ambiental e mantendo alinhado o processo de

modernização e desenvolvimento tecnológico.

No desenvolvimento ecológico perspectivas aparecem em meio a sociedade

visando integrar sociedade e desenvolvimento sustentável, colocando ambiental e social

lado a lado, elas abrem a possibilidade de encaixar a humanidade em um processo novo,

que seja, justo e ecológico.

3.3 AGROECOLOGIA

Com a Revolução Verde e seus desdobramentos, atingiu-se muito a maneira de se

produzir alimentos, com ela as industrias chegaram ao campo, e visando quantidade e não

qualidade, os alimentos de uma certa forma precarizados, hoje em dia não há mais como

saber do que se alimenta quando se compra um produto em uma prateleira de

supermercado, há ditos populares que dizem, “se souber do que uma salsicha é feita,

nunca mais a comeriam”. São esses tipos de alimentos que se encontram hoje distribuídos

por ai e resolvendo a questão da alimentação para as sociedades modernas.

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Como uma forma sustentabilizar a indústria do alimento, sob os parâmetros da

Modernização Ecológica está a Agroecologia, revisando essa questão de colocar a

quantidade a frente da qualidade, em questões de produção, ela reestrutura essa questão

reelaborando a maneira com que os alimentos são produzidos e as sociedades são disposta

no campo, revertendo as perspectivas de exploração do trabalho e possibilitando que

mesmo os que possuam uma renda mais baixa consigam implementa-la, trazendo para

espécie humana alimentos naturais e de maior valor nutricional.

Para esse fim Agroecologia é a área do saber que visa as sociedades sob

parâmetros ecologicamente corretos, socialmente justo e economicamente viável. Em

busca desse processo, ela caracteriza-se por colocar o desenvolvimento sustentável em

prática. Faz isso agora de forma consciente, continuando na óptica da modernidade ela

coloca o ser humano em outros eixos. Não deixa de lado a pesquisa científica para seguir

as normas da natureza, ao contrário disso adentra esse universo com a ciência e elabora

meios para que se compartilhem mutuamente o espaço no planeta.

Há uma vasta deterioração social e ambiental nas sociedades modernas, como

apresentado nos capítulos anteriores, que precisa ser revisto. A Agroecologia se enquadra

nessa luta, a mesmo modo que a ME, por buscar a inserção do sustentável e ecológico, e

envolver as sociedades em um processo onde o homem e natureza podem desenvolver-

se, perpetuando através das gerações, fornecendo manutenção ao meio ambiente ao

mesmo tempo às sociedades, produzindo alimentos de maior qualidade e valor nutricional

e espaços de convívio onde o trabalho não é sob exploração.

Com sua pesquisa ela não mais do que reelabora a dicotomia em que a

modernidade colocou seres humanos. Com suas maneiras de enxergar propõe apenas que

a humanidade repense sua caminhada, elencando novas formas do saber e de ver o mundo.

Sob perspectiva da Modernização ecológica, ela entra no processo de atualização das

sociedades propondo novas maneira de se lidar com o meio, da mesma maneira, olha para

as sociedades com preocupação e elabora atributos para reverter a situação.

Agroecologia, então, é uma ciência, e visa inter-relacionar diferentes áreas do

conhecimento em prol da sustentabilidade e vida ecológica, assim como propõe a

Modernização Ecológica. Muitos acreditam que ela não passa de um sistema agrícola,

visando um melhoramento das produções. Distante disso, esse modo de pensar e agir,

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integra social e ambiental em um sistema mútuo, onde cada parte recebe e doa o que pode,

ajudando a cada um dos lados crescer e se desenvolver com saúde e sem degradação.

Cabe então elencar, seguindo os passos de Caporal (2009) o que não é

Agroecologia. Muitos a confundem com um sistema de agricultura alternativa, apesar de

agriculturas alternativas serem agroecológicas, a Agroecologia é muito mais que isso. Em

um contexto matemático, as agriculturas alternativas estão inseridas na agroecologia, e

esta, por sua vez, é um conjunto externo e maior.

Muitos outros a confundem com adoção de determinadas técnicas e práticas

agrícolas ou com um modelo de agricultura. Para esses, ela é vista como um sistema que

segue uma lógica de não uso de agrotóxicos ou insumos químicos, equivocam seu

significado e a simplificam, mascarando seu potencial de desenvolvimento rural

sustentável.

Distanciando-se destas perspectivas, o enfoque agroecológico é classificado como

“holístico e de uma abordagem sistêmica” onde se pretende “contribuir para que as

sociedades possam redirecionar o curso alterado da coevolução social e ecológica, nas

suas mais diferentes inter-relações” (Caporal, 2009, p. 17)

Segundo Assis e Romeiro, a agroecologia é uma ciência que surgiu na década de

1970 estabelecendo uma base teórica para movimentos da agricultura alternativa,

alertando que mesmo sendo um termo conjunto às correntes de agricultura, não se deve

entendê-la como uma prática agrícola. (Assis e Romeiro, 2002, p. 71)

Distanciando-se de ser apenas uma prática agrícola, a ciência Agroecológica

busca desenvolver agro ecossistemas sustentáveis:

Assim, a agroecologia, através de uma metodologia própria e tendo os

agroecossistemas como unidade de estudo, procura compreender o

funcionamento e a natureza dessas unidades, integrando para isso princípios

ecológicos, agronômicos e socioeconômicos na compreensão e avaliação do

efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo.

(Assis e Romeiro, 2002, p. 72)

Em suma os agroecólogos são detentores de uma visão plural, metodologicamente

falando. Buscam integrar em seus estudos múltiplas partes do conhecimento científico,

analisando uma ampla realidade. Abrangendo conhecimentos históricos e científicos, são

capazes de abordarem o desenvolvimento de uma forma muito mais ampla e estabelecer

estratégias variadas, permitindo a integração de múltiplas ciências, inclusive a social, para

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reproduzir contextos onde a ecologia está presente e as condições de vida adornam o bem-

estar de cada ser vivo.

Sevilla Guzmán e Ottman (2004) elencam, na visão de Caporal (2009), os

elementos centrais da agroecologia em três dimensões, “a) ecológica e técnico-

agronômica; b) socioeconômica e cultural; c) sócio-política.” (p. 18). Mesmo que estes

aspectos apareçam separados, o caráter da agroecologia não contempla uma função

isolada para cada um desses aspectos, todos eles formam um emaranhado de

conhecimento que se fortalecem, para uma compreensão multifacetada de seu campo de

estudo. Em citação a Morin (1999), Caporal (2009) coloca:

A Agroecologia, como matriz disciplinar, se encontra no campo do que Morin

identifica como do ‘pensar complexo’, em que ‘complexus significa o que é

tecido junto’. O pensamento complexo é o pensamento que se esforça para

unir, não na confusão, mas operando diferenciações. (p. 19)

Reconhecer que as relações entre os seres humanos e o meio ambiente precisam

ser vistos de uma maneira ampla e não reducionista ou cartesiana como se está

convencionado a pensar, é o principal aporte da Agroecologia. Esta ciência projeta uma

visão de que há na vida a inter-relação entre seres vivos, e estes com o meio ambiente,

aproximando do mundo uma perspectiva onde se é possível viver em comunhão. “Deste

modo a Agroecologia, como matriz disciplinar, vem aportando as bases para um novo

paradigma científico, que ao contrário, do paradigma convencional da ciência, procura

ser integrador, rompendo com o isolacionismo das ciências e das disciplinas gerados pelo

paradigma cartesiano”. (Caporal, 2009, p. 20)

Aparece com a Agroecologia uma nova perspectiva para olhar o mundo.

Acostumados com uma ciência excludente que visa as disciplinas em caixinhas isoladas,

essa ciência quebra essa visão e modo de lidar com o mundo. Unir não só o que é de

caráter científico, mas também tornar científico a sabedoria do povo que passada de

geração em geração agrega muita experiência e valor.

Com ela dá início a uma revolução paradigmática, um paradigma que a partir do

processo de ecologização e desenvolvimento sustentável reorientam o curso da co-

evolução homem natureza. “Trata-se de uma transformação do modo de pensar do mundo

do pensamento e do mundo pensado” (Morin 1998, apud Caporal 2009, p. 20)

Não se vê uma evolução social sem a ambiental de seu lado, em momentos

fundamentais para a humanidade o meio ambiente esteve presente como uma base para

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essa decorrência. Pôde, a humanidade, evoluir a partir do uso de matérias primas vindas

da natureza, a partir do cultivo do solo, da reprodução animal, da pesquisa de

medicamentos elaborados a partir de plantas. Essa dependência da evolução com a

natureza, é visada pela Agroecologia como um importante fator em seu sistema, e adentra

esse universo com a pesquisa científica, para que agora ele seja estabelecido de normas

que regem a sustentabilidade e ecologia.

Caporal (2009) entende que os mundos, biológico e social, cresceram unidos, que

ambos possuem um potencial agrícola, desenvolvido pelos agricultores sob tentativa e

erro, obtendo um aprendizado seletivo e cultural. Esses mundos unidos desenvolveram

uma dependência estrutural entre si, e agora o estudo dos sistemas agrários munidos do

conhecimento de ciências sociais e experiencias agregadas com o tempo pôde se

desenvolver e melhorar seus sistemas.

Dessa forma essa ciência percebe que há uma importância na construção histórica

do conhecimento gerado pela humanidade. Sendo, estas questões, o que formam a base

epistemológica desse novo modo científico de estudo. O enfoque da Agroecologia

aparece em para Caporal (2009) como um apoio dos modelos de agricultura atuais e

convencionais, para um desenvolvimento mais sustentável.

A Agroecologia então contribui fundamentalmente ao processo de ecologização

do mundo, passa por um processo de integração dos saberes universais e adere modelos

de agricultura destinados a melhorar o ambiente sem a voracidade de gerar lucros. Coloca

a sociedade em novos rumos, entendo a mutualidade entre seres humanos e natureza,

dispondo do entendimento de pesquisar e reproduzir culturas sustentáveis e abrangentes,

que não denigram nem ser humano nem meio ambiente.

A proposta gerada não é só a de colocar no campo plantas para crescerem sem

insumos químicos ou agrotóxicos, como se costuma pensar. Há todo um ideal de manejo

sobre a sociedade e a natureza que implementa uma visão integradora. Procura-se

mudanças multilineares e superar as monoculturas agroquímicas excludentes e sócio

ambientalmente insustentáveis, assim como a adoção de tecnologias e princípios

ecológicos, e rearranjar o processo político, econômico e sócio cultural.

Agrega-se social e ecologia, para formar um ambiente plural para todos os seres.

Uma sociedade acostumada a enxergar apenas a produção em massa de produtos para

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prateleiras de supermercados e commodities, gerou uma indústria que dispõe de vastas

extensões de terras para uma só família produzir.

Agora nessa nova perspectiva imbuída de socialização e compreensão científica,

afasta-se das perspectivas de produção para geração econômica. Assim, entende-se que

A transição agroecológica implica não somente na busca de uma maior

racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades biofísicas

de cada agroecossistema, mas também de mudanças nas atitudes e valores dos

atores sociais com respeito ao manejo e conservação dos recursos naturais e

nas relações sociais entre os atores implicados. (Caporal, 2009, p. 26)

Na perspectiva de se contribuir para um mundo cada vez mais sustentável e

ecológico a Agroecologia surge com parâmetros, para conciliar sociedade e natureza.

Desenvolve-se com ela a perspectiva de se construir um mundo onde é possível agregar

valores de diversas experiências acumuladas com o tempo, aplicando-as e contribuindo

para a manutenção do mundo social e natural, sem que haja mais degradações e

explorações infindas com propósitos ínfimos e egoístas, que segue a lógica de se render

monetariamente uma área com potencial de ser usada para alimentar bocas e não bolsos.

Adentrando a Agroecologia sob a perspectiva da Modernização ecológica, ela se

mostra uma grande aliada, seus processos em busca da sustentabilidade e ecologia,

demonstram serem capazes de lidar com múltiplas facetas de uma sociedade em risco. Ao

agregar o homem a natureza é capaz de fazer o processo de modernização ser revisto e

repensado, pois, essa parte do processo evolutivo, que atingiu sua estrutura através da

segregação entre o antropomorfo e o biológico, consegue continuar trilhando o caminho

de deter o controle do saber, e ser direcionado a perspectiva do desenvolvimento

sustentável.

Nessa lógica a Agroecologia permite que a modernidade continue sendo ela

mesma, restitui a conexão que o homem possui com o meio, sem deixar escapar a ciência

de suas mãos. Garante com isso que o processo modernizador continue avançando, mas

estabelece maneiras conscientes de uso da Terra e da vida.

Para que se fique ciente dos processos agroecológicos e do que eles podem fazer

em prol, apresenta-se algumas das direções que ela tomou. São as agriculturas

sustentáveis, que a partir da pesquisa científica, possibilitam seguir o caminho da ecologia

e reaplicar o homem a natureza de forma consciente.

3.3.1 Agricultura Orgânica e Certificação

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Uma forma de reproduzir a agroecologia é produção de alimentos orgânicos. Que

visa uma solução para diversos problemas relacionados à alimentação, incluindo meio

ambiente, sociedade e saúde.

Desde muito tempo o que se vê nas prateleiras são produtos vindos de grandes

monocultivos, inseridos na lógica de produção em larga escala, com o auxílio de produtos

químicos em sua plantação. Os produtos orgânicos, tem como alternativa, a produção de

um alimento saudável que evite a sua modificação genética e a sua manutenção a partir

de produtos químicos conhecidos como agrotóxicos.

Um produto cultivado através de agricultura orgânica se enquadra em:

Um conjunto de processos de produção agrícola que parte do pressuposto

básico de que a fertilidade é função direta da matéria orgânica contida no solo.

A ação de microrganismos presentes nos compostos biodegradáveis existentes

ou colocados no solo possibilitam o suprimento de elementos minerais e

químicos necessários ao desenvolvimento dos vegetais cultivados. (Ormond,

2002, p. 5)

A ideia principal dessa produção é produzir alimentos cada vez mais próximos de

sua forma natural, dando a eles meios para que cresçam como na própria natureza, não

afetando sua estrutura genética nem seus compostos químicos.

O objetivo é trabalhar com e alimentar sistemas agrícolas complexos onde as

interações ecológicas e sinergismos entre os componentes biológicos criem,

eles próprios, a fertilidade do solo, a produtividade e a proteção das culturas.

(Ormond, 2002, p. 5)

Procura-se então envolver uma produção em uma série de condições para que

ocorra um desenvolvimento natural da plantação, onde ela usará a seu benefício, os

microrganismos próprios do solo e ambiente em que se estão instaladas.

As condições de umidade e aeração e o equilíbrio do meio ambiente são fatores

determinantes para a sobrevivência desses microrganismos e,

consequentemente, sua utilização como agentes protetores e preservadores do

solo. Por essa razão, uma das principais práticas utilizadas nos cultivos

orgânicos é o fornecimento e/ou preservação de microrganismos do solo, para

que as condições ideais de transformação biológica sejam asseguradas.

(Ormond, 2002, p. 5)

O que pode contrariar essa produção são os insumos que tenham por base recursos

minerais não-renováveis ou compostos sintéticos que “não é compatível com esse

processo, pois representa uma intervenção brusca nas características do solo, na fisiologia

das plantas e animais e, consequentemente, no ambiente. (Ormond, 2002, p. 6)

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Para que haja o controle de pragas, doenças e infestações no cultivo, por base

escolhe-se espécies e variedades apropriadas, rotação, processos mecânicos de cultura,

fogo, disseminação de predadores, entre outros.

Em referência a um sistema de produção orgânica agropecuária e industrial, o

ministério da agricultura considera

Todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso dos recursos

naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por

objetivo a auto sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos

benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis

e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos,

organismos geneticamente modificados (OGM)/transgênicos ou radiações

ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de

consumo, e entre os mesmos privilegiando a preservação da saúde ambiental e

humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da

transformação. (Ormond, 2002, p. 6)

Ressalta-se a inclusão e a importância dos termos benefícios sociais e

socioeconômicos. Não só, os orgânicos contemplam o lado da agricultura, incluindo em

sua dinâmica a melhoria social. Atingindo esse contexto, os orgânicos desvinculam o

produtor rural de expor a si mesmo a produtos químicos, como agrotóxicos. Colocam

alimentos sem esses produtos à mesa da sociedade, combatem a concentração fundiária e

de renda e melhora o ambiente em que se vive.

A agricultura orgânica possui o diferencial de não usar nenhum elemento que

possa ser tóxico para os seres que se alimentam dela. Em conformidade com isso os

orgânicos passam por uma série procedimentos para que sejam regulados e um produto

livre de agrotóxicos possa chegar à mesa.

Como diz Ormond (2002), o consumidor prefere um produto orgânico por suas

vantagens nutricionais e ausência de toxicidade. Há a confiança de que foi se produzido

de forma a preservar esses fatores. Assim ele é um bem de confiança, entre produtor e

consumidor.

Porém, o contato entre produtor e consumidor tende a distanciar nas sociedades

modernas, “necessitando, portanto, de um terceiro elemento que assegure ao distribuidor

e ao consumidor a veracidade das informações sobre o processo de produção” (Ormond,

2002, p 19)

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Isso passa a acontecer através de certificações. O que dá acesso ao produtor, a um

selo de garantia na embalagem do produto, comprovando que está em conformidade com

as normas necessárias para se produzir um alimento orgânico, atestando a adequação do

produtor e seu produto.

A ideia da certificação dos orgânicos, é conseguir comprovar para o comprador

que o produto é digno de sua confiança, ele realmente está comprando algo produzido

ecologicamente. Segundo o Manual de Aplicação do Selo Oficial para Produtos

Orgânicos, “O selo visa identificar os produtos orgânicos em que a avaliação da

conformidade foi realizada por organismos credenciados pelo Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento.”

O selo do SisOrg dá ao produtor a permissão de este poder vender seu produto em

supermercados, lojas, restaurantes, hotéis, indústrias, internet assim como em feiras, lugar

em que também se pode comercializar o produto orgânico sem o selo de certificação.

Para obter o selo, de acordo com informação retirada do site¹ do MAPA

(Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) requer-se a contração de uma

Certificadora por Auditoria ou se ligando a um Sistema Participativo de Garantia - SPG,

que deverá estar sob certificação de um Organismo Participativo de Avaliação da

Qualidade Orgânica – OPAC

O ponto de partida para uma produção ser certificada como orgânica são as

Instruções Normativas 007/99, fornecidas às certificadoras pelo ministério da agricultura.

A partir do momento em que o produtor deseja produzir orgânicos, contata-se a

certificadora desejada e dá-se início ao processo, enviando a documentação requerida e

pagamento de taxa de inscrição.

Após o recebimento do pedido, no qual deverá constar o plano de manejo

orgânico ou plano de conversão da área, a instituição envia um técnico à

propriedade com o objetivo de verificar as condições existentes e as medidas

necessárias para que a produção possa ser certificada, O técnico elabora um

relatório sobre a situação da propriedade e o encaminha ao Conselho de

Certificação da própria entidade, que decide sobre sua concessão. (Ormond,

2002, p. 20)

A Instrução Normativa 007/99, instituída pelo Ministério da Agricultura para a

adequação de uma produção orgânica, é a referência que define o que é uma produção

orgânica perante o Estado, esclarecendo à população como se produzir dessa maneira.

Visando “estabelecer as normas de produção, tipificação, processamento, envase,

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distribuição, identificação e de certificação da qualidade para os produtos orgânicos de

origem vegetal e animal, conforme os Anexos à presente Instrução Normativa” Art. 1°

A Normativa, exige então, para que uma produção seja considerada orgânica,

períodos de adaptação às normas técnicas de produção, para que haja desintoxicação de

resíduos químicos da terra onde se deseja plantar. São 12 meses para produção de

hortaliças, culturas anuais e pastagens e 18 meses para culturas perenes.

Nesse período é possível que os produtores encontrem alguns entraves, como diz

Ormond, (2002), não é necessário que, nesse período, a área seja mantida inativa, mas

tende-se a ter uma queda de produção e até risco de perda total da produção devido a

suspensão do uso de fertilizantes químicos e defensivos, afetando diariamente a renda do

produtor. Tornando-se assim um investimento não monetário que tem reflexos

financeiros no empreendimento. Não encontrando nenhuma linha de crédito possível para

o setor, essa parte do processo se torna uma barreira à entrada de novos produtores na

atividade.

Apesar de o Estado fornecer gratuitamente o selo de certificação ao produtor

devidamente regulamentado nas normas vigentes, é necessário bancar todo o custo dos

certificadores. O que pode variar de acordo com critérios adotados pela certificadora.

Leva-se em consideração a taxa de filiação, tamanho da área a ser certificada, despesas

com inspeção (transporte, alimentação e hospedagem), elaboração de relatórios, análise

laboratorial do solo e da água, visitas de inspeção e acompanhamento e emissão do

certificado. Todos esses procedimentos acabam por se tornar dispendiosos para o

produtor de baixa renda.

Para que se evite gastos excessivos com a certificação, uma das certificadoras

credenciadas, Rede Ecovida de Agroecologia, desenvolveu um modelo alternativo de

certificação denominado Certificação Participativa.

A família que deseja se converter começa a compartilhar das reuniões do grupo

local e permanece um ou dois anos no processo de transição. Nesse período,

deve seguir as normas da Ecovida. A própria família faz um mapa da

propriedade e preenche um cadastro descrevendo-a com detalhes. Então, um

agrônomo da prefeitura ou do serviço social de extensão deve acompanhar a

propriedade periodicamente fazendo visitas e depois elaborar um laudo. Logo

após o coordenador local encaminha à comissão de ética para esta realizar a

visita na propriedade. Feita a visita, a avaliação é encaminhada para a

coordenação regional. Caso não haja problemas, a instância fornece o aval e a

família pode obter o selo. (Ramdowsky, 2013, p. 305)

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Na Certificação Participativa a proposta, demonstrada pela própria Rede Ecovida

de Agroecologia, tem sido trabalhar de uma maneira pedagógica, onde, técnicos,

agricultores e consumidores, se unem na intenção de desenvolverem um trabalho de

qualidade. Resultando em uma dinâmica social que surge da integração dos envolvidos

com a produção.

3.3.2 Sistemas Agroflorestais

Sistemas Agroflorestais, representam um tipo de cultivo agrário que tem como

característica a plantação de espécies arbóreas em meio às herbáceas. A ideia, como o

próprio nome diz, é reproduzir um agrário como um sistema florestal, mantendo a

naturalidade do modo de vida das plantas, que se encontram unidas, compartilhando um

só meio.

Esse é um sistema de plantio que tem por objetivo a regularização do solo e

maximização dos nutrientes gerados pelas próprias plantas, devido a decomposição da

matéria orgânica que estas produzem conforme suas folhas se espalham pelo chão.

As Agroflorestas, como expõe Alves (2009), são muito visadas para melhorar a

fertilidade do solo, otimizar o uso da energia solar, reciclagem de nutrientes, manutenção

da umidade do solo e proteção deste em relação a erosão e lixiviação. Também carrega

consigo a característica da manutenção da biodiversidade, contrariando a cultura de

plantio em monocultivos.

Nos estudos de de Paula e de Paula (2003), é visto como vantagens desse modelo

de agricultura, não só as questões físicas e biológicas de cultivo, mas também as sociais,

elencaram eles as principais, sendo elas,

Aumento da renda do produtor rural; maior variedade de produtos e (ou)

serviços; melhoria na alimentação do homem do campo; redução de riscos de

insucesso; redução dos custos de plantio; melhoria na distribuição de mão-de-

obra rural; redução das necessidades de capinas. (de Paula e de Paula, 2003)

Em comparação aos sistemas convencionais eles representa um modelo bem

vantajoso para a população. Quebrando a lógica de extensões enormes de plantio que

visam a retirada de recursos naturais para produção de grande quantidade de recursos

financeiros, as Agroflorestas colocam em prática uma perspectiva de se conciliar homem

natureza, integrados em um modo onde cada um se ajuda como pode.

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Outro importante aspecto desse modo de cultivo, é a relação dele com a

biodiversidade local. Não se estigmatiza a maneira de plantar, aplicando-a onde quer que

se vá, como se vê nos plantios do agronegócio. A plantação é pensada de uma maneira a

integrar a realidade local do bioma em questão. Tem-se então uma plantação relativa à

região onde se pretende compô-la, fortalecendo assim a cultura florestal do local

permitindo sua manutenção e a não destruição das matas.

Aplica-se Agroflorestas como um sistema sustentável e ecológico. Quando

implantada de forma a se reproduzir um plantio adensado de árvores, com maior

estabilidade ecológica e econômica, rapidamente acumulando matéria orgânica e obtendo

maior flexibilidade mudanças, ela é vista como uma vertente Agroecológica. Alves

(2009). Com esses fatores em questão ela é inserida nas maneiras de se reproduzir uma

sociedade ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável.

Assim, os SAF são

Sistemas sustentáveis de uso da terra que combinam, de maneira simultânea

ou em sequência, a produção de cultivos agrícolas com plantações de árvores

frutíferas ou florestais e/ou animais, utilizando a mesma unidade de terra e

aplicando técnicas de manejo que são compatíveis com as práticas culturais da

população local. (King e Chandler, 1978, p. 2)

Nota-se esse modelo de cultivo como um importante aliado em se combater as

degradações ambientais que acarretam os modelos convencionais de agricultura.

Propondo estabilidade e/ou sustentabilidade ecológica, o sistema agroflorestal, viabiliza

as reproduções vegetais com uma maneira natural de inserção no meio ambiente,

fortalecendo a diversidade biológica, e a vida social.

3.3.3 Permacultura

A Permacultura é um termo cunhado na década de 70, por dois autores, Bill

Mollison e David Holmgren. Diferente das outras vertentes expostas acima ela não só

relaciona o modo de cultivo com a terra, mas é elaborada como uma ética para aqueles

que a desejam implementá-la.

Nesse sentido suas características como éticas, são as de cuidar da terra, cuidar

das pessoas e partilha justa, no sentido de se atentar ao consumo, reprodução e

redistribuição do excedente. Holmgren (2013). Os seus cultivadores são pessoas que

trabalham em prol de se repassar esses valores e construir em volta de si uma sociedade

onde meio-ambiente e sociedade sejam fundamentalmente integradas com uma relação

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mútua. Indo nessa direção, a permacultura é proposta como um design, visando elaborar

um modo de vida ecológico e sustentável para as sociedades.

A lógica que a permacultura segue é bem mais elaborado que outras composições

de estilo de vida sustentável. Suas maneiras de lidar com o mundo são arranjas a um modo

em que suas lições se aplicam a múltiplas áreas abrangentes a uma sociedade. Seu jeito

de ser visa uma estruturação de uma civilização baseada em princípios éticos elaboradas

pensando na comunhão entre o social e natural, assim como entre social e social.

Seu sistema foi elaborado de uma forma a compor uma flor, reconhecida como a

Flor da Permacultura, ela elucidada todas as áreas que essa racionalidade propõe

mudanças, na busca de se conseguir cultivar uma cultura sustentável. Como se vê na

figura 1. Elaborou-se uma forma complexa de se relacionar múltiplos conhecimentos,

para que se integre ao desenvolver da vida uma estrutura abrangente. Nas palavras do

fundador

Num sentido mais limitado, mas também importante a permacultura não se

resume à paisagem, ou mesmo às técnicas da agricultura orgânica, ou às formas

de produção sustentáveis, às construções eficientes quanto ao uso da energia,

ou ao desenvolvimento das eco-vilas, mas ela pode ser usada para projetar,

criar, administrar e aprimorar esses e todos outros esforços feitos por pessoas,

famílias e comunidades em busca de um futuro sustentável. (Holmgren, 2013,

p. 3)

David Holmgren para organizar o pensamento permacultural, descreveu 12

princípios de design. São um conjunto de ideias, com a proposta de se descrever os fatores

que regem a moralidade desta cultura, como forma de se propagar os valores e fazer

perpetuar suas concepções.

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Figura 1.

Fonte: Os Fundamentos da Permacultura. 2013

O primeiro princípio é Observe e Interaja. Nele é proposto que se atente a

observar como as pessoas e a natureza estão agindo no design, o fundamento é estar

atento ao objeto de observação e aprendendo com isso, moldando suas atitudes de uma

forma relativas ao problema observado.

O segundo princípio, Capte e Armazene Energia, propriamente dito, visa a

produção autônoma de energia, o ideal desse processo é que se combata o desperdício

de energia das sociedades industriais, repensando seu uso promovendo reflexões de

quanto, como e de que maneira se produz e usa energia.

O terceiro princípio, Obtenha Rendimento, nas palavras do próprio Holmgren,

“adverte que devemos planejar qualquer sistema para que ele nos proporcione

autossuficiência em todos os níveis (incluindo nós mesmos), utilizando energia

capturada e armazenada manter o próprio sistema” (2013, p. 13)

O quarto princípio. Pratique a Auto Regulação e Aceite Feed Back. Neste o

autor propõe que se desenvolva designs que sejam os mais autônomos possíveis ou seja

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sistema que se regula naturalmente, evitando assim trabalhos dispendiosos em ações

corretivas e a dependência de emprego de tecnologia.

Quinto princípio. Use e Valorize os Serviços e Recursos Renováveis, esse

princípio, requer que para o desenvolver do sistema se utilize os recursos excedentes e

as funções passivas da natureza. Alguns exemplos desse princípio, são o uso de

madeiras de baixa qualidade que a própria natureza derruba no chão, utilizando a função

do sol para seca-las, e a preparação do terreno de plantio com porcos e galinhas.

Não Produza Desperdícios, é o sexto princípio. Ele segue o ideal de não produzir

com demasia, para que não falte no futuro, propõe consumir só o que é necessário,

cuidando dos bens materiais dispostos pela natureza.

O sétimo princípio, é o Design Partindo de Padrões para Chegar aos Detalhes.

Ele reflete sobre a questão de se olhar os fatores naturais à distância, com isso chegar-se

a uma conclusão do que será mais propício fazer naquela área integrando o sistema ao

ambiente em que ele será instalado

O oitavo princípio, diz sobre Integrar ao Invés de Segregar. A ideia neste, é

alcançar um sistema onde as relações dos componentes sejam integradas entre si.

Dispondo assim de um lugar onde possa obter algo e ao mesmo tempo fornecer algo.

O nono princípio, Use Soluções Pequenas e Lentas. Elabora a percepção de se

fundamentar estratégias de manejos que sejam pequenas e que os resultados venham

devagar, mas que sejam eficazes. “Mobilidade e velocidade nos países ricos têm se

tornado tão prejudiciais que movimentos do tipo ‘Alimento Lento’ e ‘Cidades Lenta’ já

surgiram”. (Holmgren, 2013, p. 22).

O décimo é Use e Valorize a Diversidade. Na evolução da natureza, animais e

plantas dispõem de habilidades e ferramentas tão úteis para o dia a dia quanto para,

possuí nela uma gama muito grande e variada de espécies e características únicas que se

cultivadas podem se tornar aliadas no combate a pragas e doenças. Nesse princípio se

dissemina a ideologia de implantar policulturas, a favor das múltiplas formas de vida

interagindo para manter um sistema.

Use as Bordas e Valorize os Elementos Marginais, intitula o décimo primeiro

princípio. Visa valorizar os encontros entre os meios, por serem lugares de grande

energia, são muito ricos em vida e energia. Exemplificando;

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Os estuários nas zonas da maré constituem uma interface complexa entre a

terra e o mar e podem ser vistos como um grande mercado ecológico de trocas

entre esses dois grandes domínios de vida. A água rasa permite a penetração

luz solar que possibilita o crescimento de algas e plantas, proporcionando

também áreas onde as aves aquáticas e outros pássaros buscam alimentos. A

água doce dos rios que drenam as micro bacias escoa sobre a água salgada, que

é mais densa e que oscila para lá e para cá entre as marés, redistribuindo

nutrientes para as inúmeras formas de vida que pululam nesse habitat.

(Holmgren, 2013, p. 24)

O décimo segundo e último princípio, Use Criativamente e Responda às

Mudanças, propõe um ideal de se constituir um design que seja adaptativo e flexível,

pois para Holmgren, “a permacultura diz respeito à durabilidade de sistemas vivos

naturais e da cultura humana, mas essa durabilidade paradoxalmente depende em grande

parte de certos graus de flexibilidade e mudança.” (2003, p. 25)

Vê se na permacultura, uma complexidade de fatores elaborados para que a

ecologia e sustentabilidade de um meio possa perdurar e propagar por geração. Aliando-

se a vida natural esse sistema se mostra mais completo no quesito de se estruturar uma

região para a manutenção do meio ambiente. Entende-se ela como uma forte aliada a

combater os excessos produzidos pela sociedade industrial, bem como alinhar as

sociedades para a um rumo saudável a vida humana e da natureza.

3.3.4 Agricultura Biodinâmica

A Agricultura Biodinâmica, é um método agrícola elaborado por Rudolf Steiner,

a partir da visão Antroposófica elaborada por ele mesmo. Nessa perspectiva, homem,

natureza e universo estão todos interligados por uma espiritualidade continua. Seguindo

essa racionalidade o autor percebeu uma maneira de se lidar com plantas de uma forma a

interligar plantações com o ciclo da natureza e universo.

Para uma plantação biodinâmica é visado que ela constitua policulturas, consórcio

de culturas rotação de plantas, adubos verdes, preparos de compostos também

biodinâmicos, e alguns fatores ligados a paisagem como plantio de cercas vivas. Nesse

modelo de agricultura, a integração com a natureza é maximizada a uma forma onde o

plantio obedece ao ciclo da natureza e universo. Como por exemplo o ciclo da lua e

astrológico.

Biodinâmico é uma palavra que vem da junção de duas outras, biológico e

dinâmico. Biológico, que é relativo a biologia os estudos dos seres vivos. E dinâmico,

relativo a movimento, que se modifica continuamente. Essa junção então representa o

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movimento cíclico natural que os seres vivos possuem interligados ao meio ambiente do

planeta e universo.

Para uma plantação biodinâmica fazer-se valer, o agricultor precisa confluir seus

saberes espirituais relacionados à energia da natureza do planeta Terra e forças astrais da

lua e outros astros, até mesmo de constelações do zodíaco. Seus métodos devem estar

alinhados a integração das plantas com a natureza que elas pertencem, elaborando um

sistema que cultive a própria natureza.

O esse modelo de agricultura, visa que o plantio não seja algo alheio a natureza,

plantado de uma forma objetificada, as plantas são tratadas como parte integrante do meio

ambiente e devem compor seu estado natural, sendo manipulado apenas seu ciclo de vida

para ser ordenado conforme a lua.

Em seu cerne a Agricultura Biodinâmica segue os fatores da natureza e insere o

homem como um agente consciente dos padrões da natureza e apenas a manipula para

adequar ou ajustar o ciclo de vida das plantas de uma forma integrada com a rotatividade

do universo, colocando-as em um eixo onde maximiza-se suas forças produtivas e

consoam suas estruturas a estarem ordenadas.

O ser humano, nessa visão, não adentra a natureza como um ser alheio, mas

integrado, contrariando a ideia antropocêntrica de que o meio ambiente está para ser

usado e extraído sem precedentes. A espécie homo sapiens é vista como detentora de

consciência e saberes que o permite colocar a vida em um estado elevado de naturalidade,

manipulada para que ela se encaixe na cíclica universal externa ao planeta.

Em síntese, a agricultura biodinâmica baseia-se numa compreensão profunda

das leis que regem a vida, tendo como pano de fundo a fecundação das forças

terrestres pelas forças cósmicas. Essa ciência agrícola não consiste num

simples método ou conjunto de receitas, é antes um caminho, uma arte de

cuidar da terra, para a qual cada agricultor precisa desenvolver percepção e

sensibilidade abrangentes. Com ambas, é possível adaptar a prática agrícola às

condições concretas de cada região e entender o que se passa no seu solo.

(Vieira e De Fazio, 2014)

Para uma Agricultura Biodinâmica bem estruturada, a ainda a preocupação com

os compostos usado. Em sua adubação, rejeita-se o uso de qualquer fertilizante e adubo

químico, e aplica-se o uso de compostos biodinâmicos, que são produtos de baixa

concentração que agem “homeopaticamente nas plantas homeopaticamente no plano vital

ou energético do solo, agindo diretamente no conjunto orgânico e biológico dos recursos

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naturais do ecossistema local e geral envolvido na produção agrícola” (Vieira e De Fazio,

2014)

Vê-se com esse modelo, uma maneira de se lidar com a natureza de forma

integradora, onde ser humano e natureza tornam-se um só. Não só afetando a relação

homem-natureza, mas como colocando o ciclo social em outras linhas, a Agricultura

Biodinâmica, propõe um restabelecimento das noções de plantio e cultivo, onde uma

sociedade bem nutrida e conectada se faz presente.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após revisar dados que mostram a organização social como se deu, seu

desenvolvimento e amadurecimento social, nota-se na atualidade que a espécie humana

se tornou afoita pelo largo crescimento consumista. Com o advento da industrialização

ocorreu um desmatamento global, subestimando a força natural do sistema chamado

Terra. Muito o homem aprendeu e evoluiu, ao ponto de esquecer a verdadeira interação

homem-natureza, onde uma parceria com o devido respeito seria muito bem-vinda. O

gosto pelo tecnológico e pela aquisição de bens de consumo comuns caracterizou a

modernidade como a era do desenvolvimento, porém com um custo alto.

O desenvolvimento técnico econômico propõe uma modelagem de suprimentos

industrializados que, de certa forma, são viáveis e necessários para o avanço da

humanidade, principalmente quando se fala em saúde, o que possibilitou que houvesse

um aumento da expectativa de vida.

Em contrapartida, poliu-se o planeta em excesso e alimenta-se de maneira pior –

a mesa dos cidadãos recebe pela agricultura convencional, cargas de agrotóxicos, com o

discurso de que, para se alimentar o mundo precisa investir em fertilizantes e Organismos

Geneticamente Modificados para se produzir mais.

Os grandes centros sofrem pelo acumulo de população e os problemas sociais

inerentes à alta densidade populacional. A partir do controle de tecnologias, as cidades

chegaram a um patamar elevado de desenvolvimento que possibilita a reprodução em

larga escala. Porem esse processo passou por cima meio ambiental, e hoje o mundo é

visto como dicotômico, separado entre homem e natureza.

O crescimento industrial é de suma importância para o avanço tecnológico e

moderno do mundo atual, porém, conceitos falidos sobre desenvolvimento colocam o

mundo em risco. Não se comporta mais tantas poluições e degradações ambientais. Assim

se fez necessário novas perspectivas para os rumos da modernidade.

Eis que surge a proposta da Modernização Ecológica, a qual tem em seu discurso

o uso da tecnologia, como proposta para a sustentabilidade. E a apresentação de

iniciativas com o intuito de conservar e preservar o meio ambiente com um entrelace de

participação pública e privada inserida em seu contexto. Dessa forma o avanço se

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propagaria de forma a aliviar os impactos do alto consumismo humano, e da dependência

dos produtos industrializados.

Ao mesmo tempo aparece a Agroecologia, que a partir da pesquisa cientifica inseri

no mundo, novas maneira de se ver a socialização, conectando-a a parâmetros

socioambientais é aliada a Modernização ecológica na busca de uma sociedade

sustentável. Buscando em seu cerne a revitalização do planeta, esses dois processos se

fundem para formar um só. O termo modernização ecológica poderia sofrer uma

modificação de significado, para Modernização Agrosocioecológica, onde se teria

agregado desenvolvimento rural, econômico, ambiental e social.

Agroecologia, assim como a Modernização ecológica, é um importante processo

na luta contra a desolação do meio ambiental. Ao contrário do que muitos pensam ela é

tão composta por questões sociais quanto agrárias. Indo até um pouco além da ME, com

usas demandas, a Agroecologia, restitui a ordem da modernização abrangendo não só a

utilização de tecnologias sustentáveis na indústria, ela visa também a integração social

com o ambiental.

A maneira como é colocada a Modernização ecológica, sem querer importunar o

capitalismo e o sistema industrial, reduz sua voz no combate às forças destrutivas das

sociedades desenvolvidas. O tom que se percebe em sua descrição é o de que estão ali,

mas não para incomodar, estando no mesmo lado da mesa, a ME é ser passada por cima.

A união da Modernização ecológica com a Agroecologia, sobre a perspectiva

ecológica, fortaleceria ambas as teorias, e possivelmente adaptariam as sociedades a

sustentabilidade, possibilitando para o ser humano espaços ecologicamente corretos,

socialmente justos e economicamente viáveis.

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