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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL – UFFS
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPEPG
ESPECIALIZAÇÃO EM INTERDISCIPLINARIDADE E PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
ANDRÉIA DOS SANTOS MOREIRA
A CULTURA ESCOLAR COMO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS: DUAS ESCOLAS, DUAS CULTURAS.
CERRO LARGO
2013
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ANDRÉIA DOS SANTOS MOREIRA
A CULTURA ESCOLAR COMO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS: DUAS ESCOLAS, DUAS CULTURAS.
Monografia apresentada à
Universidade Federal da Fronteira Sul
– UFFS, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em
Interdisciplinaridade e Práticas
Pedagógicas na Educação Básica.
Orientadora: Profª. Drª Sandra Vidal
Nogueira
CERRO LARGO
2013
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ANDRÉIA DOS SANTOS MOREIRA
A CULTURA ESCOLAR COMO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS: DUAS ESCOLAS, DUAS CULTURAS.
Monografia apresentada à
Universidade Federal da Fronteira
Sul – UFFS, como requisito parcial
para obtenção do título de
Especialista em
Interdisciplinaridade e Práticas
Pedagógicas na Educação Básica
Cerro Largo - RS
Abril de 2013
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________ Prof. Dr. ....................... __________________________________________ Prof. Dr. ............................. __________________________________________ Prof. Dr. ....................................
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha filha Ana Júlia,
razão de todos os esforços realizados até o
momento. Este pequeno agradecimento
representa também um pedido de desculpas,
pelas muitas horas de ausência, para que a
conclusão desta jornada fosse possível.
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AGRADECIMENTOS
Agradecer é uma forma de gratidão e de homenagem àqueles que contribuíram
para o termino desse trabalho.
Sendo assim agradeço a minha família, esposo e filha que suportaram meus
devaneios diante das atribulações do dia-a-dia, me fazendo crer que eu podia
continuar.
Agradeço às escolas que abriram suas portas para que eu pudesse “xeretar” a
vida escolar de cada uma, Escola São Luiz e Escola Cruzeiro do Sul.
Agradeço em especial as professoras que me atenderam numa tarde chuvosa
para que eu pudesse conversar com elas de forma amigável roubando-lhes o
espaço de suas famílias e de seus afazeres.
Agradeço aos colegas de curso, e em especial a minha orientadora que teve
além de paciência, persistência comigo, que confesso pensei em desistir.
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“A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os
problemas causados pela forma como nos acostumamos a ver o mundo”
(Albert Einstein)
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RESUMO
Este trabalho apresenta uma discussão acerca das diferentes culturas que pode
haver nos contextos das escolas em geral. Uma tentativa de verificar se seria
possível escolas distintas situadas num mesmo espaço, possuindo uma mesma
história pudesse internamente criar culturas distintas. O desenvolvimento da
pesquisa aconteceu em São Luiz Gonzaga em duas escolas da rede estadual de
ensino. O trabalho está dividido em três capítulos, onde o primeiro fala dos
conceitos gerais de cultura escolar, partindo dos conceitos de alguns autores
conhecidos como Laraia (2002), Geertz (1989), Souza (2007). Já no segundo
capítulo um apanhado da cultura local regional para uma melhor
contextualização do local onde as escolas pesquisadas estão inseridas, mesmo
local, mesma cultura histórica e de formação. O capítulo terceiro traz um pouco
da história de cada escola e faz uma analise dos discursos e diferentes culturas
das escolas da pesquisa. Para este capítulo usou-se os Planos Político
Pedagógico de cada escola citada na pesquisa. Nas considerações finais, é
possível perceber que é possível verificar que duas escolas inseridas numa
mesma realidade podem sim produzir distintas culturas. Estas culturas são
introjetadas nos planos políticos pedagógicos nas formas de objetivos, filosofia e
da própria atuação pedagógica de cada professor, onde este muitas vezes nem
percebe-se.
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ABSTRACT
This paper presents a discussion about the different cultures that may be in the
contexts of schools in general. An attempt to check if it would be possible to
separate schools located in the same space, having a same story could internally
create distinct cultures. The development of the research took place in São Luiz
Gonzaga in two schools in the state schools. The work is divided into three
chapters, where the first speech of the general concepts of school culture,
beginning with the concepts of authors known as Laraia (2002), Geertz (1989),
Souza (2007). In the second chapter an overview of the local culture to improve
regional context of where the schools surveyed are inserted, same place, same
historical culture and training. The third chapter brings a little history of each
school and makes an analysis of the discourses and cultures of different schools
of research. For this chapter used to Plans Educational Policy of each school
mentioned in the survey. In closing remarks, you can see that it is possible to
verify that two schools within a single reality but can produce distinct cultures.
These cultures are introjected political plans in the forms of pedagogical goals,
philosophy and own pedagogical performance of each teacher, which often do
not realize this yourself.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................
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1 A CULTURA ESCOLAR: QUESTÕES CONCEITUAIS............................... 1.1 CULTURA.................................................................................................. 1.2 CULTURA ESCOLAR................................................................................ 1.3 A INTENCIONALIDADE CULTURAL DO PROJETO PEDAGÓGICO.......
2 A CULTURA LOCAL E O PAPEL DA ESCOLA NO CONTEXTO QUE ELA SE ENCONTRA .................................................................................
2.1 O PAPEL CULTURAL-EDUCACIONAL DA ESCOLA EM UMA SOCIEDADE..............................................................................................
2.2 INSTITUIÇÃO DE ENSINO: PRODUÇÃO CULTURAL EM MASSA.........
3 O OLHAR DO PROFESSOR FRENTE AS DINÂMICAS DA CULTURA ESCOLAR DENTRO E FORA DELA.......................................................
3.1 O ESPAÇO DA PESQUISA: ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO SÃO LUIZ – ESCOLA 1.............................................................................
3.2 O SEGUNDO ESPAÇO: ESCOLA TECNICA ESTADUAL CRUZEIRO DO SUL – ESCOLA 2................................................................................
3.4 AS DIFERENÇAS CULTURAIS DAS DUAS ESCOLAS INSERIDAS NUM MESMO AMBIENTE SOCIOECONOMICO E CULTURALMENTE IGUAIS.......................................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................
11 11 16 19
22 25 27 32 32 34 35 42 43
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INTRODUÇÃO
Qual é a concepção do/a professor/a sobre a construção da cultura da
escola, na sua apropriação, atuação e seu compromisso com a qualidade no
ensino aprendizagem na escola? Como uma escola situada num mesmo
contexto social, cultural, histórico e econômico pode ter em seu interior uma
cultura diferente de outra? Isso acontece no cotidiano escolar?
Em busca dessas respostas, dessas indagações, partiu-se
primeiramente a uma discussão do termo cultura, alguns conceitos e alguns
autores trazidos a essa pesquisa que facilitou e introduziu o tema cultura ao
trabalho que se apresenta aqui. Isto está claro logo no primeiro capítulo dessa
monografia.
Diante do exposto sobre alguns conceitos sobre cultura e cultura
escolar, partimos então para uma breve apresentação de como se constituiu a
cultura do local onde estão situadas as escolas pesquisadas. Por achar que é
relevante para o estudo das diferentes culturas partindo do conhecimento que
essas escolas estão inseridas em um município e portanto com a mesma história
de formação e mesmos grupos sociais, étnicos ou credos. Este apanhado geral
sobre a cultura local vemos apresentados no segundo capítulo deste trabalho.
A pesquisa fora realizada em duas escolas chamadas ao longo do
trabalho de Escola1 e Escola 2, porém no terceiro capítulo poder-se-á entender
um pouco sobre a formação destas escolas, sua fundação e sua história. Apesar
das escolas terem sido visitadas, optou-se por recorrer a uma pesquisa, que eu
chamaria aqui de apenas um diálogo com duas professoras representantes das
escolas pesquisadas. As professoras pesquisadas atuam em suas escolas a
mais de 5 anos, pois acreditamos que em cinco anos fora possível trilhar um
caminho dentro da instituição e com isso ter mais conhecimento sobre os
valores e culturas cultivados em cada escola.
Buscou-se portanto entender como pode uma escola cultivar
internamente, cultura distinta de outra inserida num mesmo campo geográfico e
histórico. O que veremos a seguir é uma tentativa de entender esse paradoxo.
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1 A CULTURA ESCOLAR: QUESTÕES CONCEITUAIS
1.1 CULTURA
Cultura é uma palavra que possui muitos significados, tanto na
linguagem do senso comum, como na linguagem técnica da Antropologia e
Filosofia. Porém, os antropólogos buscaram encontrar uma definição a mais
objetiva possível, de modo a tornar a cultura abordável pelo método
antropológico. Uma definição de objeto que se torna adequada ao manuseio por
meio de um método dotado de procedimentos uniformes e rigorosos é a
condição para se fundar uma ciência. E foi assim que se fundou a ciência das
culturas, inicialmente chamada de Antropologia Social, depois de Antropologia
Cultural, e atualmente apenas de Antropologia. Já existia um ramo da Filosofia
conhecido como Antropologia Filosófica que especulava sobre a natureza
humana, isto é, sobre o Homem. De fato, na origem da palavra, antrophos
significa em grego ‘homem’. A novidade agora foi definir o homem como um ser
essencialmente pertencente a uma cultura. Mas o que significa cultura?
Comecemos pelo sentido da palavra cultura na linguagem do senso
comum. Você mesmo provavelmente já usou a expressão “fulano de tal possui
ou não possui cultura”. Também existe o Ministério ou secretarias estaduais ou
municipais da Cultura, encarregadas de promover eventos culturais, em geral
relacionados às artes eruditas ou populares, mas também às ciências, como é o
caso das feiras, museus ou estações de ciências. O antropólogo brasileiro
Roberto da Matta (1986) assim se refere a essa concepção corriqueira de
cultura:
Quando falamos que ‘Maria não tem cultura’, e que ‘João é culto’,
estamos nos referindo a um certo estado educacional dessas pessoas, querendo
indicar com isto sua capacidade de compreender ou organizar certos dados e
situações. Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a controle de
informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundido com
inteligência, como se a habilidade para realizar certas operações mentais e
lógicas (que definem de fato a inteligência) fosse algo a ser medido ou arbitrado
pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode falar, ou aos
quadros e pintores que pode, de memória, enumerar (...) Nesse sentido, cultura
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é uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais,
servindo como arma discriminatória contra algum sexo, idade (‘as gerações mais
novas são incultas’), etnia (‘os pretos não tem cultura’) ou mesmo sociedades
inteiras, quando se diz que ‘os franceses são cultos e civilizados’, em oposição
aos americanos que são ‘ignorantes e grosseiros1’.
A palavra cultura tem origem no latim, oriunda da tradição agrícola,
significando cultivo, cuidado com plantas ou animais úteis à sobrevivência. Foi
apenas no século XVIII que essa palavra migrou definitivamente do campo da
agricultura e pecuária para o campo do cultivo da mente propriamente, cujos
frutos seriam responsáveis pela identidade dos grupos sociais quanto ao modo
como se diferenciavam em seus hábitos, crenças e costumes. Foi na Alemanha
que a palavra cultura entrou para o vocabulário filosófico, sendo contraposta à
palavra civilização, embora na Inglaterra e França, onde o uso de ambas
começara, elas fossem consideradas como sinônimas.
A palavra civilização também deriva do latim civilis, servindo para
designar o que pertencia aos cidadãos. Porém, ao receber sua nova significação
moderna no século XVIII, na Franca e Inglaterra, o termo civilização servia para
descrever o processo progressivo de desenvolvimento humano, movimento em
direção ao refinamento científico e artístico, por oposição à barbárie e
selvageria.
Ocorre que na Alemanha chamavam-se civilizadas aquelas pessoas que
imitavam os franceses na polidez e nos modos requintados, mas nada criavam,
enquanto, por outro lado, eram chamadas de cultas as pessoas que se
desenvolviam intelectual e artisticamente, valendo-se de sua individualidade e
de sua criatividade voltada para valores alemãs.
O filósofo Immanuel Kant dizia, por exemplo: “tornamo-nos cultos
através da arte e das ciências, enquanto que nos tornamos civilizados pela
aquisição de uma variedade de requintes e refinamentos sociais”. O fato é que
foi essa acepção alemã de cultura que veio a prevalecer quando a Antropologia
interessou-se em construir um conceito rigoroso para o que viria a ser seu objeto
científico de estudo.
Na análise sobre a cultura escolar contemporânea, suas perspectivas e
1 MATTA, Roberto da. “Você tem cultura?” In: Explorações: Ensaios de Sociologia Interpretativa.
Rio de Janeiro: Rocco, 1986 (pág. 121-128)
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desafios, primeiramente torna-se importante definirmos o conceito de Cultura.
No conceito antropológico de Roque de Barros Laraia (2002), pode-se constatar
as contribuições quanto à origem e antecedentes históricos do conceito de
cultura. Para o autor há muito tempo, tem-se tentado explicar as diferenças de
comportamento entre os homens, a partir das diversidades genéticas ou
geográficas. Nesse sentido, os autores Leibniz (1986); Geertz (1989); Horton &
Hunt (1980); e Laraia (2002), em seus estudos citam os precursores do conceito
de cultura, sendo:
John Locke: defensor do relativismo cultural através do conceito de
tabula rasa. “Nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma
mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento”;
Jacques Turgot: o homem é capaz de transmitir a sua cultura;
Jean Jacques Rousseau: a educação é o caminho para a transformação
do homem;
Alfred Kroeber: o fator cultural exerce maior influência que o fator
biológico;
Edward Tylor: foi o primeiro a formular o conceito de cultura do ponto de
vista antropológico da forma como é utilizado atualmente. Sua corrente de
pensamento é conhecida como evolucionismo, enfatizou a ideia do aprendizado
na sua definição de cultura, considerava a cultura como um fenômeno natural.
Para Taylor, (1871), “Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”.
Franz Boas: desenvolveu o particularismo histórico, a Escola Cultural
Americana, com abordagem multilinear que significa que cada grupo humano
evolui a partir de seu próprio caminho;
Alfred Kroeber: ao mostrar como a cultura atua sobre o homem,
considerou que este é um ser capaz de transpor as limitações orgânicas. As
necessidades biológicas são iguais para todos os seres humanos, porém as
formas de satisfazê-las variam de uma cultura para outra. “É esta grande
variedade na operação de um número tão pequeno de funções que faz com que
o homem seja considerado um ser predominantemente cultural”. Kroeber, que
enfatiza que o processo de desenvolvimento da civilização é cumulativo,
conservando-se o antigo, apesar da aquisição do novo. O homem é o resultado
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do meio cultural em que foi socializado. A cultura determina e justifica o
comportamento do homem. O homem age de acordo com seus padrões
culturais. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos.
O homem transformou toda a terra em seu habitat, e ao adquirir cultura, sendo
este, um processo cumulativo, é dependente do aprendizado que determina o
comportamento, as capacidades artísticas e profissionais. Os gênios realizam
suas descobertas graças ao aparato cultural que dispõem, sendo este
conhecimento construído pelos indivíduos da sociedade;
Richard Leakey e Roger Lewin: a origem da cultura está na vida
arborícola;
David Pilbeam: o bipedismo diferenciou os hominídeos;
Kenneth P. Oakley: as habilidades manuais estimularam o crescimento
do cérebro atuando para sua complexidade;
Claude Lévi- Strauss: a cultura surgiu quando o homem convencionou a
primeira regra;
Leslie White: a passagem do estado de animal para a humanidade
ocorreu quando o cérebro foi capaz de gerar símbolos.
Para as Teorias idealistas, segundo Laraia (2002, p.32):
A cultura como sistema cognitivo (análise dos modelos construídos pelos membros da comunidade a respeito de seu próprio universo). A cultura como sistemas estruturais, definindo-se como sistema simbólico que é por sua vez, uma criação acumulativa da mente humana.
Pode-se perceber que com a evolução do conceito de cultura; o
determinismo biológico, bem como o geográfico são ideias que no passado
foram consideradas relevantes, porém com o passar do tempo diversas
investigações foram realizadas e chegou-se a conclusão de que estas teorias,
apesar de terem sido importantes para o entendimento de algumas dimensões
da natureza humana, apresentaram limitações e inconsistência para o
entendimento do conceito de cultura, surgindo assim, uma nova fase de estudos
e interpretações quanto a esse tema.
Também com o interesse nesta linha de análise, surge à antropologia
moderna, e uma das suas tarefas é estudar a reconstrução do conceito de
cultura. Laraia (2002, p.59), cita segundo as Teorias Modernas que:
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Culturas são sistemas de padrões de comportamento socialmente transmitidos. O homem através da cultura se adapta ao meio para sobreviver. Tecnologia, economia e sociedade constituem o domínio mais adaptativo da cultura. Os comportamentos ideológicos dos sistemas culturais poderem ter consequências adaptativas no controle da população, da subsistência, da manutenção do ecossistema, etc.
Ao discutir o que é cultura, Kluckhohn apud Geertz (1989, p. 14) enfatiza
que: “todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa e
este, é o chamamos de cultura”, ainda o autor define cultura como sendo:
“o modo de vida global de um povo; o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo; a forma de pensar, sentir e acreditar; a abstração do comportamento; a teoria elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual o grupo de pessoa se comporta realmente; o celeiro de aprendizagem em comum; o conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes; o comportamento aprendido; o mecanismo para regulamentação normativa do comportamento; o conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens, e; um precipitado da história”.
Como pode-se observar nos estudos de Laraia (2002), que o conceito de
cultura passou por vários processos distintos, até se conceber como sendo um
fator de permanente influência no comportamento social dos seres humanos,
permitindo uma adequação estrutural do pensamento e da identidade de um
povo dentro de uma concepção aberta e diversificada dos comportamentos
sociais. Para o autor supracitado “a cultura é dinâmica, cada sistema cultural
está sempre em mudança, sendo este um fenômeno natural, capaz de uma
transformação”. (2002, p. 50).
Para o autor supracitado, há dois tipos de mudanças culturais: uma que
é interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e outra que é o
resultado do contato de um sistema cultural com o outro. Para Kestering, cultura
é: “a ciência que através da análise de semelhanças e diferenças físico-culturais,
busca reconhecer e definir a identidade de grupos humanos situados em tempos
e espaços determinados”. As organizações, bem como as instituições escolares
possuem uma cultura que lhes é própria, sendo expressa por meio da visão e
missão. Sendo assim neste estudo enfoca-se o tema cultura escolar.
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1.2 CULTURA ESCOLAR
Todo o sistema cultural é dinâmico, estando num contínuo processo de
mudança, o que influência as diretrizes e práticas a serem adotadas em cada
instituição, sendo um dos instrumentos de poder utilizados pelos gestores. A
cultura é essencial a todo processo educativo, sabe-se que não há educação
que não esteja imersa na cultura da humanidade e, particularmente, no espaço e
momento histórico em que está situado.
Nos últimos trinta anos, as discussões em torno da crise dos sistemas
educacionais, impulsionadas por Bourdieu e Passeron, no famoso livro A
reprodução, editado no Brasil em 1975 pela Francisco Alves2, ou por Ivan Illich,
no não menos famoso Sociedade sem escolas, saído a lume em 1973 pela
Vozes, têm colocado como desafio ao campo educacional brasileiro não apenas
a reflexão sobre as reformas educativas (em geral tomadas na dimensão do seu
fracasso), como também a busca de novos referenciais teóricos para interpretar
o universo da escola. Nesse sentido, uma renovação de métodos vem alterando
as práticas de pesquisa na área, como, por exemplo, o recurso à investigação
etnográfica e aos estudos de caso na tentativa de se aproximarem aos fazeres
ordinários da escola; bem como os vários sujeitos da educação vêm sendo
valorizados em suas ações cotidianas, o que se explicita no aumento de
interesse pelas trajetórias de vida e profissão e no engajamento que observa em
análises organizadas em torno de questões de gênero, raça e geração.
O contexto contemporâneo é competitivo e influenciado pelas
tecnologias de comunicação e informação, a educação deve ser inclusiva e de
qualidade, porém ainda passa por um panorama de fracasso escolar. Assim o
conceito de cultura escolar instiga-nos a promoção das relações de reforma
escolar, inovações e desenvolvimento das instituições de ensino, exigindo
segundo Pol et.al. (2007, p.2), um conceito que “expressa uma situação ótima,
uma vez que enfatiza as deficiências da atual situação”.
Partindo do contexto de que a cultura escolar é essencial para o aluno,
Souza (2007, p.180), afirma que é por intermédio dos “saberes, práticas e
2 . Afrânio e Denice Catani e Gilson Pereira, em estudo sobre a apropriação de Bourdieu no campo
educacional, realizado pela análise de periódicos da área, afirmam que A reprodução é o texto mais citado do autor, presente em 67% dos artigos pesquisados (Ver Catani et al., 2001, p. 65).
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materiais escolares que se concretiza o fazer pedagógico, que está no cerne da
compreensão do funcionamento interno da escola e de sua função no tempo e
espaço sócio histórico”.
Às novas necessidades sociais tem exigido das instituições escolares,
práticas que vão já muito além da decodificação da escrita, é preciso ofertar aos
seus alunos as práticas culturais letradas com relevância e prestigio social.
Assim de nada valerá “os esforços de escrutinar a cultura material escolar se
isso não reverter em conhecimento ampliado, sistemático e aprofundado sobre o
funcionamento da escola e as mudanças na educação ao longo do tempo”.
(SOUZA, 2007, p.180). Por interferência da cultura escolar, a instituição
educacional “passa ser concebida como produto histórico da interação entre
dispositivos de normatização pedagógica e práticas” (CARVALHO, 2003, p.
270).
A cultura escolar contribui para a sistematização das práticas, que
segundo Souza (2007, p.180), é um "conjunto de normas que definem
conhecimentos a ensinar [...] e um conjunto de práticas que permitem a
transmissão desses conhecimentos e a incorporação de comportamentos". Para
Darnton (2010, p.32) “a cultura escolar é efetivamente uma cultura conforme, e
seria necessário definir a cada período, os limites que traçam a fronteira do
possível e do impossível”.
Ao relacionarmos o conceito de cultura apresentado anteriormente por
Kluckhohn com a prática escolar, surgem-nos a ideia dos padrões de
comportamento (normas), do processo de adaptação (símbolos e signos), da
tecnologia e componentes ideológicos (religião, mitos, cerimônias), ou seja, os
valores traçados e compartilhados pelos membros da organização escolar,
resultado do processo de individuação, isto é, de atitudes individuais que ao
mesmo tempo em que interfere no comportamento do grupo, interfere na atitude
individual de cada membro da instituição, resultando numa configuração impar
de cultura escolar.
Nesse sentido, enfatiza Laraia (2002), o comportamento dos indivíduos
depende de um aprendizado, de um processo chamado de endoculturação, para
o autor “um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus
hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada”. Em linhas
gerais a cultura escolar é essencial para o aluno, que nas ideias de Souza
18
(2007, p.180), é por intermédio dos “saberes, práticas e materiais escolares que
se concretiza o fazer pedagógico que está no cerne da compreensão do
funcionamento interno da escola e de sua função no tempo e espaço sócio
histórico”.
Os espaços educativos são considerados como uma organização, então
a cultura organizacional é aplicada no âmbito da escola. Para Fleury (1999, p.
06):
Cultura organizacional é um conjunto de valores e pressupostos básicos, expressos em elementos simbólicos que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elementos de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação.
Para Smircich apud Monteiro et al. (1999, p.73), a cultura organizacional
é: uma coisa que a organização tem, sendo variáveis que são independentes,
uma externa (cultura da sociedade onde a organização está inserida) e outra
interna (produtos culturais como lendas, ritos, símbolos); uma raiz da própria
organização, algo que a organização é, considerando a organização como um
fenômeno social.
Ainda para o autor,
“a cultura não é determinante nas tomadas de decisões em uma organização, mas influencia sobremaneira nas diretrizes e práticas a serem adotadas, pois é um instrumento de poder a ser utilizado pelos gestores”. (SMIRCICH apud MONTEIRO et al 1999, p.74).
Sendo assim, a cultura é o elemento intangível que permeia os
relacionamentos e o comportamento dentro de uma organização, o que deve ser
aprendido, transmitido, partilhado pelos indivíduos que nela atuam a tal modo
que a organização mantenha as características que lhe dão personalidade
própria e que a diferencia das outras estruturas.
Portanto cultura escolar é a maneira de pensar e fazer acontecer o
processo pedagógico, que é compartilhado por todos os membros da instituição
escolar, sendo uma “cultura interna” com sistema de valores, os quais são
compartilhados, dando identidade corporativa, melhorando o comprometimento
coletivo. Todo o sistema cultural está num contínuo processo de mudança e
influência as diretrizes e práticas a serem adotadas. Contrapondo-se à noção de
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transposição didática defendida por Yves Chevallard (1985), André Chervel
advogava a capacidade da escola em produzir uma cultura específica, singular e
original.
Diante do que é estabelecido no Artigo 12 da LDB, define-se a
incumbência dos estabelecimentos de ensino quanto a elaboração e execução
de seu fazer pedagógico, cabe a cada instituição escolar questionar e reorientar
o processo formativo de seus alunos, adequando-os às novas exigências
sociais, por meio de um debate coletivo que se inicia pelo traçado da cultura
escolar, sendo, que escola se quer ter e que tipo de aluno se deseja formar, e,
pela definição de quais serão as práticas pedagógicas a serem utilizadas para
garantir uma formação orientada pelos valores estabelecidos, sendo a sua
cultura escolar. Esta deve ser uma prática construída coletivamente, e expressa
em documento juridicamente reconhecido, chamado de Projeto Político
Pedagógico (PPP).
1.3 A INTENCIONALIDADE CULTURAL DO PROJETO PEDAGÓGICO
É bom lembrar, diz ainda Veiga (2002), que o Projeto Político-Pedagógico
elaborado coletivamente, sob a coordenação de um "educador" compromissado
com a escola pública de boa qualidade, não pode deixar de ser também um
projeto cultural. Para isso a escola precisa reconhecer e considerar os recursos
culturais que existem à sua volta. Abrir os portões da instituição escolar não
significa apenas fazê-lo literalmente, para que a comunidade possa usar o
espaço no final de semana, organizando jogos, festas, encontros, etc. Esta
“abertura” deve propiciar também a entrada, na Escola, dos eventos e
discussões, que estão mobilizando a sociedade no presente: falta de moradia,
direitos das crianças e dos adolescentes, discriminação racial, sexual, ecologia,
Aids, desenvolvimento científico, atuação de deputados e vereadores, crise
econômicas, crise de valores, greves, entre outros temas. Todas essas questões
podem ser trazidas para o âmbito da Escola, por meio de filmes, peças teatrais,
ou de debates, palestras e mesas-redondas, com a presença de vanguardas dos
diferentes movimentos ou instituições sociais.
Ao mesmo tempo, essa abertura dos portões significa possibilidade dos
estudantes e professores poderem sair fisicamente da escola, a fim de que
20
desenvolvam atividades como estudo do ambiente físico e social dos arredores,
excursões a pontos históricos da cidade, ida ao teatro, ao cinema ou a
manifestações de arte e folclore. Uma Escola assim, afirma Veiga (2002), aberta,
viva, em constante interação com a realidade, dirigida democraticamente, sem
excluir ou desqualificar ninguém passa a articular interesses e necessidades da
maioria da população.
Talvez a maior importância do Projeto Político-Pedagógico para a
comunidade escolar é o fato de proporcionar que a escola (pais, estudantes,
professores, funcionários de escola, equipe diretiva) saia da mesmice. Projetar é
mexer. O ato de projetar coloca-nos frente a novos desafios, nos inquieta e nos
tira da acomodação, lançando-nos para um estado de conflito, provocando
mudanças, e toda mudança nos remete a novas adaptações, remetendo-nos a
questões de sobrevivência, surgindo com isso novos caminhos, novas utopias.
Utopias que se objetivam por meio dos princípios que estruturam o Projeto
Político-Pedagógico, como por exemplo, a igualdade, a qualidade, a gestão
democrática, a liberdade e a valorização do magistério (VEIGA, 2001).
Pressupostos que têm papel fundamental nas ações sócio-políticas porque
contribuem na formação de um cidadão participativo, responsável,
compromissado, crítico e principalmente criativo.
Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico coloca a escola e, de certa
forma, o gestor escolar, na responsabilidade de propiciar igualdades de
condições aos estudantes nela matriculados. Frequentemente as crianças e os
adolescentes chegam à escola em desigualdade de condições (intelectuais,
econômicas, psicológicas, etc). Cabe á escola a responsabilidade de dar suporte
e condições de igualdade no processo de escolarização para que esses
estudantes tenham as mesmas oportunidades, como nos alerta Saviani: “só é
possível considerar o processo educativo em seu conjunto sob a condição de se
distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e democracia
como realidade no ponto de chegada” (1982, p.63).
Em síntese, o Projeto Político-Pedagógico deve evidenciar a missão da
escola, sua filosofia de trabalho, seus valores humanos e pedagógicos, o perfil
do corpo docente e discente e os resultados que se propõe a atingir e que, por
meio da racionalidade interna, a organização – administrativa, pedagógica e
financeira. Tudo isso permitirá à escola, alcançar os resultados pretendidos com
22
2 A CULTURA LOCAL E O PAPEL DA ESCOLA NO CONTEXTO QUE ELA
SE ENCONTRA
São Luís das Missões, mais tarde chamada de São Luiz Gonzaga, foi
fundada em 1687 pelo padre Miguel Fernandes, em região localizada a noroeste
do atual Estado do Rio Grande do Sul, no chamado território das Missões3, estas
criadas em decorrência da ação dos jesuítas destinada à catequese dos índios
guaranis, habitantes da época.
As missões jesuíticas se desenvolveram por largo território que atingia
Argentina e Paraguai, além do Brasil, criando uma florescente civilização de
construtores, escultores, entalhadores, pintores, músicos e outros artesãos, os
quais deixaram marcas que hoje perduram nas ruínas da denominada República
Guarani. Das trinta reduções jesuíticas existentes, sete se fixaram à margem
esquerda do Rio Uruguai depois de 1687, dando origem aos Sete Povos das
Missões, em cujos territórios hoje se situam os atuais municípios de São Luiz
Gonzaga, São Borja, São João Batista, São Nicolau, São Lourenço das Missões,
São Miguel das Missões e Santo Ângelo.
Sobreviveram até 1756, quando guaranis e jesuítas foram expulsos por
tropas portuguesas e espanholas por força da nova divisão do território entre as
duas nações estabelecida pelo Tratado de Madri4 de 1750. Com a expulsão e
morte da população indígena local pelos invasores, apesar da heróica
resistência liderada pelo chefe guarani Sepé Tiaraju5, a região passou por uma
fase de abandono e estagnação até o século XIX, quando iniciou o
desenvolvimento da atividade agrícola e pecuária, alcançando um momento de
progresso que culminou com a emancipação política em 1880.
3 Missões é uma área dentro da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul com cidades
importantes, quase todas com forte presença da colonização européia. Das antigas missões Jesuíticas do Estado, restam vestígios de São Nicolau, São João Batista e São Miguel, declarado, em 1983, patrimônio histórico da humanidade, pela UNESCO. As demais como: São Borja, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo foram encobertas pelas cidades do mesmo nome. (CHRISTENSEN, apud Tomasi, 2004, p. 35). 4 Tratado de Madrid, assinado na capital espanhola a 13 de janeiro de 1750, entre os reis de
Portugal e da Espanha. Este tratado tornou-se responsável por determinar os limites entre as duas colônias sul-americanas. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/tratado-de-madrid-de-1750/. Acesso em 10 de fev. 2013. 5 Nascido em um dos aldeamentos jesuíticos dos Sete Povos das Missões, foi batizado com o
nome latino cristão de Joseph. Bom combatente e estrategista, tornou-se líder das milícias indígenas que atuaram contra as tropas luso-brasileira e espanhola na chamadaGuerra Guaranítica. ROSSI JUNG, Roberto - Esta Terra Tem Dono, Esta Terra é Nossa: a saga do índio missioneiro Sepé Tiaraju. Porto Alegre: Editora Martins Livreiro, 2005
23
Com a chegada de importante unidade do Exército Brasileiro, o 3º
Regimento de Cavalaria, em 1905, novos fatores de progresso daí se
desenvolveram. O município, por estar situado na região das Missões, é
valorizado pelo turismo, que oferece muitos pontos de interesse para os
visitantes a partir da história local. Além disso, é lugar de belas paisagens,
cortadas por diversos arroios e rios, como o Piratini6, o Ijuí e o Ximbocu.
Na economia, São Luiz Gonzaga tem a agricultura e a pecuária ocupando
uma posição importante na economia da região e do Estado, destacando-se na
produção de grãos, como soja, milho e o trigo.
É uma cidade de pequeno porte, a população vive basicamente do
comércio, pecuária e agricultura. Há carência de emprego e a maioria da
população jovem migra para as outras cidades principalmente para a região
metropolitana de Porto Alegre, em busca de novas oportunidades. Permanecem
na cidade somente as pessoas que possuem cargos públicos, comerciantes,
alguns poucos que possuem terras e o restante da população que deste
dependem ou lhe prestam serviços.
Na educação pode-se dizer que São Luiz Gonzaga não possui déficit de
escolas, possuindo escolas particulares, da rede pública municipal e rede
pública estadual. Não existe falta de vagas, e todas as crianças em idade
escolar tem vaga garantida em alguma das escolas do município. Do mesmo
podemos dizer do quadro funcional, não havendo déficit de professores e
portanto, sendo atendidos satisfatoriamente todos as crianças e adolescentes
em idade escolar.
Quanto a cultura, podemos afirmar empiricamente que a cultura
missioneira é um mosaico de etnias. Além da presença do guarani, dos
espanhóis e portugueses, também é forte a influência da cultura alemã, italiana,
polonesa e negra. Esta mescla permite a riqueza na fisionomia do povo e nas
manifestações culturais, desde a gastronomia até a arquitetura.
Em relação aos modos de fazer, enraizados no cotidiano da comunidade
regional, observa-se que foram criados nos últimos anos diversos produtos
turísticos que visam potencializar o artesanato e a gastronomia missioneira
6 O rio Piratini é um rio brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, passa pelo município de São
Luiz Gonzaga, onde é realizado também o festival de música nativista que acontece as suas margens no Clube de Caça e Pesca Santo Humberto, onde muitas canções regionalistas tem o rio como inspiração.
24
como atrativos típicos. Neste contexto, constantemente entra em cena, o
discurso do tipo social do gaúcho missioneiro, da figura mítica de Sepé Tiaraju,
exaltação de lendas e contos.
Conforme Di Méo (1995) apud Pinto7 (2012), o patrimônio e o território
possuem um parentesco conceitual, eles escrevem no tecido social a
continuidade histórica, todos em constituição de sólidos fenômenos culturais,
acrescentam para a sociedade um duplo papel decisivo de mediação
interpessoal (ou intergrupo) e de cimento identitário.
Todo o processo pós Missões de ocupação territorial na região
missioneira aconteceu inicialmente na região dos campos, vinculada à economia
do gado. Somente no final do século XIX se iniciou o processo de colonização
na região de matas. Estes novos colonizadores iniciam uma grande modificação
na paisagem missioneira, com a implantação de grandes lavouras, como a do
trigo e soja.
Contudo, São Luiz Gonzaga, é terra de muitos artistas, nas escolas é
possível reconhecer desde pequenos alunos que se destacam no meio musical,
cantando ou tocando algum instrumento. Inclusive existe festivais de música nas
escolas, onde as disputas são acirradas e algumas crianças se destacam
elevando o nome de sua escola para todo o município e região.
As letras musicais dos festivais revelaram diversas vozes de
pertencimento à região, que representaram: a utopia, bravura e religiosidade do
espaço missioneiro; características físicas e pertencimento ao pampa;
características geográficas (terra vermelha, rios poluídos); representação da
fauna (bem-te-vi, João-de-barro e quero-quero); perda de identidade e situação
de miserabilidade dos índios Guaranis8; exaltação ao rio Uruguai e em especial
7 Muriel Pinto, « Interpretação do espaço social da Região Histórica das Missões Jesuítico-
Guarani: uma dialética com as reflexões do francês Guy Di Méo », Confins[Online], 16 | 2012, posto online em 03 Novembro 2012, Consultado em 21 Abril 2013. URL : http://confins.revues.org/7939 ; DOI : 10.4000/confins.7939 8 O termo guaranis refere-se a uma das mais representativas etnias indígenas das Américas,
tendo, como territórios tradicionais, uma ampla região daAmérica do Sul que abrange os territórios nacionais da Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e a porção centro-meridional do território brasileiro.Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guaranis. Acesso em: 21 de abr 2013.
25
de São Luiz Gonzaga também o rio Piratini, a figura mítica de Sepé Tiarajú9;
simbologia da Cruz de Lorena10; pertencimento a algumas municipalidades.
Sendo assim, pode-se afirmar que a espiritualidade e as manifestações
religiosas ainda permanecem como discursos constantes nas Missões. Estes
imaginários são sustentados através de diversos instrumentos que contribuem
para a manutenção das narrativas utópicas missioneiras, como é o caso das
instituições culturais (museus, centros de cultura) e das tradições católicas
(amparadas nas estatuárias missioneiras).
Porém, cabe aqui pensarmos como a escola inserida nesta comunidade,
neste município, neste universo se concretiza nas ações pedagógicas e como a
escola em São Luiz Gonzaga constrói sua própria cultura, e como os
professores conseguem desenvolver seu trabalho didático em função dessas
culturas, de um lado a formação de um povo, e como este mesmo povo se
constituiu no que é hoje. Do outro as ideologias educativas, a filosofia da escola,
da equipe diretiva e da comunidade escolar.
Pensando neste sentido vamos imaginar uma escola inserida numa
determinada sociedade. Qual seria a verdadeira função dela? Como uma escola
pode ou deve agir dentro de uma sociedade? A partir uma breve reflexão dos
objetivos da escola em uma sociedade.
2.1 O PAPEL CULTURAL-EDUCACIONAL DA ESCOLA EM UMA SOCIEDADE
Afinal, porque vamos à escola? Para adquirir direitos, conhecimentos, ou
para desenvolver algum tipo de competência? A escola está, portanto, diante de
um verdadeiro dilema: Promover uma educação de qualidade que atenda os
9 Símbolo da resistência indígena missioneira. foi um índio guerreiro guarani, considerado um
santo popular brasileiro e declarado "herói guarani missioneiro rio-grandense" pela Lei nº 12.366. Nascido em um dos aldeamentos jesuíticos dos Sete Povos das Missões, foi batizado com o nome latino cristão de Joseph. Bom combatente e estrategista, tornou-se líder das milícias indígenas que atuaram contra as tropas luso-brasileira e espanhola na chamada Guerra Guaranítica. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sep%C3%A9_Tiaraju. Acesso em: 19 de abr 2013. 10
A Cruz de Lorena (francês: Croix de Lorraine) é originalmente uma cruz heráldica. Esta cruz de
duas barras consiste em uma linha vertical cruzada por duas linhas horizontais menores. Na versão mais antiga, ambas as barras possuíam o mesmo tamanho. No século XX passou a ser utilizada com a barra de cima sendo menor. O nome "de Lorena" vem sendo usado para diversas variações, incluindo a cruz patriarcal, que tem suas barras próximas ao topo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_de_Lorena. Acesso em: 22 de abr 2013.
26
anseios da sociedade, e ao mesmo tempo tentar romper com a linearidade da
educação. Em outra, tenta achar um caminho que justifique o verdadeiro papel
da instituição escolar. Como descreve Enguita ao mencionar que,
“Um dos debates mais importantes e repetidos em torno da instituição
escolar sempre foi a questão de evidenciar se o papel era ‘reprodutor’
ou ‘transformador’, isto é, se contribuía para conservar a sociedade ou
mudá-la” (2004, p. 13).
A impressão é de quando falamos sobre o papel da escola, existam duas
forças agindo dentro dela. Uma com caráter reprodutivista e outra
transformadora. Mas será que essas forças motrizes, aqui elencadas estão
atendendo de forma significativa o que a sociedade espera da instituição
escolar? Elas estão contribuindo, na preparação dos sujeitos para o mercado de
trabalho cada vez mais competitivo? Procurar saber que tipo de ensino
atualmente as escolas estão proporcionando aos seus estudantes, reporta-nos a
refletir sobre o significado da instituição de ensino, que costumeiramente
chamamos de escola.
É relevante colocar que, a escola sendo lócus de relações sociais,
relações culturais, do aprendizado e do aprimoramento dos conhecimentos
acumulados, passa por transformações e atualizações pelo homem e para o
homem, que constrói e aprimora sempre a sua história de vida, sua cultura, e se
torna um ser daquele espaço, daquela sociedade. E estar ciente de que, para
que isso ocorra, é necessário um constante (re) pensar a partir da prática
exigindo dos docentes uma permanente atitude investigativa para esse fim.
Educadores que estão sempre pesquisando, mais facilmente podem transformar
o processo de ensino e da aprendizagem, formulando teorias a partir de práticas
docentes reais e retornando sempre com a prática docente a essas teorias.
2.3 INSTITUIÇÃO DE ENSINO: PRODUÇÃO CULTURAL EM MASSA
Instituição de ensino, segundo o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, é a entidade que, possuindo
personalidade jurídica ou subordinada à pessoa jurídica, oferece ensino por
meios diretos ou indiretos e tem sob sua jurisdição um ou mais
27
estabelecimentos. (cf. I GLOSED. In. Brasil. Ministério da Educação. Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP)
Escola pode se referir a uma instituição de ensino ou a uma corrente de
pensamento com características padronizadas. Formam certas áreas do
conhecimento e da produção humana.
A palavra escola, em grego, significa o lugar do ócio, e surge na Idade
Média, para atender a demanda de uma nova classe social que não precisava
trabalhar para garantir a sua sobrevivência, mas que necessitava ocupar o seu
tempo ocioso de forma nobre e digna. Este lugar é a escola, que inicialmente se
instaura como um espaço para o lazer e conseqüentemente, o prazer. Com o
passar do tempo, começa a perder esse significado, passando a ser vista como
um lugar onde se vai buscar e adquirir novas informações, na maioria das vezes,
de forma descontextualizada, tornando-se um lugar enfadonho e
desprazeiroso11. Tal afirmativa pode ser ratificada no discurso de crianças,
adolescentes e até mesmo dos adultos que necessitam ir à escola, marcando a
diferença entre o aprender com prazer fora da escola e o aprender dentro do
espaço escolar.
A “repressão simbólica” é tão violenta que, às vezes, não percebemos
que estamos internalizando um discurso onde só tem valor as aprendizagens
realizadas dentro da escola. Tudo que é aprendido fora é visto com reserva, com
desconfiança, marcando a diferença entre a aprendizagem sistemática e a
aprendizagem assistemática, que se constrói no cotidiano dos atores sociais, a
partir da interação com os signos e instrumentos presentes na sociedade.
Instrumento aqui compreendido na perspectiva vygotskiana, como elemento
mediador entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
Como diz Vygotsky,
o uso de meios artificiais – a transição para a atividade mediada –
muda, fundamentalmente, todas as operações psicológicas, assim
como o uso de instrumentos amplia de forma ilimitada a gama de
11 Segundo Saviani, esta forma de educação surgiu com o advento da industrialização e a
ascensão da burguesia. Trata-se da formação “escolar”, considerada o ulterior desenvolvimento
da Educação. (1983)
28
atividades em cujo interior as novas funções psicológicas podem
operar[...] (VYGOTSKY, 1994, p.73)
A escola procura garantir a uma parcela da população, uma mediação
com o conhecimento sistematizado, a que comumente chamamos de educação
escolar, ao atender crianças, jovens e adultos que se encontram matriculados na
escola. Ainda de acordo com Vygotsky, a respeito de alguns aspectos
específicos da educação em sala de aula, Leontiev e Luria resumem em um
ensaio a ideia de que;
O processo de educação escolar é qualitativamente diferente do
processo de educação em sentido amplo. Na escola a criança está
diante de uma tarefa particular: entender as bases dos estudos
científicos, ou seja, um sistema de concepções científicas
(VYGOTSKY, 1991, p. 147).
Durante o processo de escolarização, a criança parte de suas próprias
generalizações e significados, internalizando culturas, saberes, teorias, praticas,
habilidades e conhecimentos variados.
Na verdade ela não sai de seus conceitos, mas sim, entra num novo
caminho acompanhada deles, os refaz a partir de sua vivência anterior. Entra no
caminho da análise intelectual, da comparação, da unificação e do
estabelecimento de relações lógicas.
A transposição dos limites da sala de aula e a ampliação das experiências
transformam a busca do aprendizado com base em problemas concretos nos
quais as mudanças são constantes e velozes, e cada vez mais velozes, na era
da informação, da sociedade do conhecimento. Momento que também faz
imposição de novas competências para os profissionais.
Mas, a educação é um conjunto de atos políticos e, como tal, não são
neutros. Neste sentido, constituiu-se ao longo dos tempos um sistema de ensino
dualista, ou seja, estruturado de um lado para atender aos interesses da classe
dominante e formar os dirigentes da sociedade. De outro, um ensino elementar,
de pouca qualidade, para os filhos dos trabalhadores, aos quais bastaria pouca
instrução para a inserção no mercado de trabalho. Quando necessita de mão-
de-obra qualificada, o próprio capital se incube de prepará-la.
Evidências teóricas autorizam-nos a questionar de forma reflexiva: qual é
o papel da escola e a quem interessa verdadeiramente a produção do
29
conhecimento dentro dessas instituições? Ao fazer análises históricas, como as
que fizeram Demo (2001), Soares (2003), Chauí (1997), Araújo (2004) fica claro
que o papel da Escola Pública Brasileira, por muito tempo, sempre esteve à
mercê das políticas educacionais impostas pelo Estado e em favor dele. A
escola é uma organização orientada por suas finalidades e possui certo controle
hierárquico exercido pelo Estado. E pensando assim, como o estado consegue
ver cada comunidade separadas em si pela sua formação cultural e como pode
esse mesmo estado proclamar o certo e o necessário a ser visto nas salas de
aula de um país tão eclético, democrático e com umas das maiores diversidades
culturais do planeta.
A organização escolar, estruturada pela sociedade capitalista procura, em
última instância, a manutenção das relações sociais e de produção. Reflete as
divisões sociais existentes, com tendência a perpetuá-las e acentuá-las,
enfatizando, assim, a manutenção do poder da classe dominante (HORA, 1994).
Entendo que, como afirma Snyders:
A escola não é feudo da classe dominante, ela é terreno de luta entre
a classe dominante e a classe explorada, ela é o terreno em que se
defrontam as forças do progresso e as forças conservadoras. O que lá
se passa reflete a exploração e a luta contra a exploração. A escola é
simultaneamente reprodução das estruturas existentes, correia de
transmissão de ideologia oficial, domesticação – mas também ameaça
à ordem estabelecida e é possibilidade de libertação (SNYDERS, 1997,
p.105-106).
Logo, a escola não é apenas a agência que reproduz as relações sociais,
mas, um espaço em que a sociedade produz os elementos da sua própria
contradição. Na medida em que a educação é dialética e assume formas de
regulação ou libertação, a escola é arena onde os grupos sociais lutam por
legitimidade e poder (HORA, 1994).
A questão que Pinto (2000), entre tantos autores, realça, sem pensar, é “a
quem educar?”. Com isso coloca em evidência uma das principais questões da
educação. A resposta, formulada pelo próprio autor é construída em cada tempo
histórico, pela sociedade como um todo. Em uma sociedade onde imperam
desigualdades nas oportunidades pela força dos imperativos econômicos, pelos
processos de desenvolvimento e pelos interesses do capital prevalecendo sobre
as responsabilidades do estado, alguns acessam à educação sistematizada,
escolarizada, erudita e outros à educação não-escolar, livre, não letrada.
30
Procurar saber atualmente se a escola é reprodutora ou se seu
mister é de transformação social, reporta-nos a refletir que tipo de sociedade
almejamos. Enguita afirma que,
“até certo ponto, era trivial, pois, por um lado, nenhuma sociedade
poderia subsistir sem formar seus membros em certos valores,
habilidades, etc., e, por isso, toda educação é reprodutora; mas, ao
mesmo tempo, nenhuma sociedade atual seria, sem a escola, o
mesmo que chegou a ser com ela, e, por isso, toda a educação é
transformadora” (2004, p. 13).
Sabe-se que a escola ainda reproduz o conhecimento, muito mais que o
constrói. E, que, a prática mais comum ainda é uma prática classificatória,
excludente, e que muitas vezes não leva os estudantes a pensarem
reflexivamente, e a identificarem o contexto histórico/cultural no qual estão
inseridos. A Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988)
confere a todos os brasileiros os mesmos direitos, incluindo o direito ao acesso à
escola. Consta no Título I, Art.3º, no inciso I, o compromisso legal de construir
uma sociedade livre, justa e solidária e no inciso III, o compromisso em reduzir
as desigualdades sociais e regionais, remetendo para a escola o papel e a
responsabilidade dessa função. Portanto, uma das funções dessa instituição,
segundo os marcos legais, é zelar por esses pressupostos, inserindo essas
diretrizes no Projeto Político-Pedagógico e nas ações que contemplem e
envolvam toda a comunidade escolar.
Se a escola tem como um de seus propósitos mais relevantes, o
compromisso com a transformação dos sujeitos que produzem as
transformações sociais. Ela deve se questionar continuamente sobre sua prática,
se está transformando a sociedade ou simplesmente reproduzindo os valores
vigentes e de interesse somente de alguns e não de todos os sujeitos.
31
3 O OLHAR DO PROFESSOR FRENTE AS DINÂMICAS DA CULTURA
ESCOLAR DENTRO E FORA DELA
Este capítulo apresenta uma discussão através do depoimento de
algumas professoras de diferentes escolas da rede Estadual. Foram escolhidas
duas escolas distintas para podermos fazer as comparações. As escolas situam-
se em ponto extremos da cidade, e recebem alunos de diversas áreas do
município, inclusive alunos oriundos da zona rural.
3.1 O ESPAÇO DA PESQUISA: ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO SÃO
LUIZ – ESCOLA 1.
A Escola Estadual de Ensino Médio São Luiz localiza-se na cidade
de São Luiz Gonzaga, distante aproximadamente 580 km de Porto Alegre,
situado a Noroeste do estado, na Região das Missões. É uma cidade de
pequeno porte. A população vive basicamente do comércio, pecuária e
agricultura. Não há fábricas, portanto com dificuldade de emprego, a maioria da
população jovem migra para as outras cidades principalmente para a capital, em
busca de novas expectativas, ficando somente as pessoas que possuem cargos
públicos, comerciantes, alguns poucos que possuem terras, e o restante da
população que deste dependem ou lhe prestam serviços.
A escola foi fundada em 09 de janeiro de 1959, sob o Decreto de
Criação nº 9970, denominada como Grupo Escolar São Luiz, com sede na rua
Senador Pinheiro Machado, 1490, com o 1º artigo dizendo assim:
ARTIGO 1º - É criado um Grupo Escolar, de 1ª entrância a
4ª entrância, na zona oeste, da cidade de São Luiz Gonzaga12
.
Em 1967 a sede da escola fora para a rua Venâncio Aires ainda
sem número.
Em 1969 ou 1970 a escola passa a funcionar no atual endereço. Durante
esse período até 1973 a escola funciona apenas com duas salas de aula,
12
RIO Grande do Sul (Estado). Decreto n..9970 de 09 de janeiro de 1959. Dispõe sobre a criação do Grupo Escolar São Luiz, na cidade de São Luiz Gonzaga. Palácio do Piratini, Porto Alegre, 1959.
32
atendendo quatro turmas, uma de cada série - 1ª a 4ª - no período da manhã e
tarde. Tendo como primeira diretora a professora Darci Dalávia.
Em 01 de março de 1974, a professora Schirley Rocha Braga recebe de
Arnaldo L. Sulzbach13 a autorização de responder pelas funções de Diretora do
Grupo Escolar São Luiz, a contar daquela data, enquanto aguardaria portaria de
designação, que fora publicada no Diário Oficial apenas mais tarde, já em 11 de
julho de 1974. Ainda no mesmo ano, por decisão da comunidade escolar,
dividiu-se uma das salas de aula, e a escola passa a funcionar com três salas de
aula, sendo em caráter emergencial.
Em 18 de setembro de 1979;
O SECRETÁRIO DE ESTADO, no uso da delegação de
competência conferida pelo Decreto nº 29.008/79, e nos termos da
Resolução nº 111/74, do Conselho Estadual de Educação, reorganiza
o Grupo Escolar São Luiz, do município de São Luiz Gonzaga, criado
pelo Decreto Estadual 9.970 de 9 de janeiro de 1959 e denominado
pelo Decreto Estadual de 16.499, de 7 de março de 1964, o qual
passará a ser designado Escola Estadual São Luiz – 1ª a 4ª séries,
sob a jurisdição da 14ª Delegacia de Educação, sediada no município
de Santo Ângelo.
Celso Bernardi ( Secretário da Educação Substituto)
Com isso o Grupo Escolar passa a chamar-se Escola Estadual São Luiz.
Em 11 de junho de 1990, sob a Portaria de nº 00781, autoriza o funcionamento
da Classe especial para atendimento de deficientes mentais leves, porém a
mesma funcionava desde março de 1988 com a justificativa de sanar os
problemas de repetência e evasão da clientela da 1ª série do ensino regular, em
número expressivo de deficientes mentais, que após realizarem os programas
da “Escola Especial” – APAE, necessitavam freqüentar esta modalidade de
educação“.
A escola passou a denominar-se Escola Estadual de Ensino Médio São
Luiz de acordo com o decreto 39.906 de 30/12/99, autorizado pelo parecer nº
202 de 2000 e aprovado pelo regimento Escolar do C.E.E.D. nº 10-38/98. Em 9
de junho de 2000, foi proferida a aula inaugural do Ensino Médio, pelo então
Governador do Estado, o Senhor Olívio Dutra, juntamente com a Secretária de
13
Arnaldo L. Sulzbach era Delegado de Educação da 14ª Delegacia de Educação (DE), situada
na Cidade de Santo Ângelo, da qual São Luiz Gonzaga fazia parte. Atualmente São Luiz Gonzaga sedia a 32ª Coordenadoria Regional de Educação - 32ª CRE ( extinto o termo Delegacia).
33
Estado da Educação, a Senhora Lúcia Camini, onde realizou-se a solenidade no
salão de festas do Bairro da Gruta, onde reside a Escola.
2.1 O SEGUNDO ESPAÇO: ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CRUZEIRO DO
SUL – ESCOLA 2.
A Escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul, nominada no decorrer do
texto deste capítulo como Escola 2, foi fundada em 18 de setembro de 1959 com
sede no município de São Luiz Gonzaga, oferecendo os cursos: Ensino Médio,
Técnico em Agropecuária e Pós-médio em Agropecuária.
A escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul esta situada numa área de
terra de 287 ha, sendo toda ela ocupada pelos setores educativos de produção
animal e vegetal, contendo açudes, para o ensino de piscicultura, grande
extensão em campo para o ensino de apicultura, áreas de criação, onde se
criam, porcos, galinhas, patos, gado e ovelhas.
A escola mantém convênio com instituições que permitem a difusão de
tecnologias nas áreas de agricultura e da zootecnia. Entre outras as instituições
conveniadas destacam-se: FUNDACEP X COOPATRIGO ESCOLA TÉCNICA
ESTADUAL CRUZEIRO DO SUL no experimento de novos cultivares,
conservação do solo, melhoramento da fertilidade e da produtividade.
UERGS X CNPq X ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CRUZEIRO DO SUL, na
piscicultura com o aproveitamento das obras do beneficiamento do peixe.
EMBRAPA-CLIMA TEMPERADO/PELOTAS X ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL
CRUZEIRO DO SUL - pesquisa na cultura da alfafa.
Atualmente a UERGS e a Escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul constituem-
se em centro de referência em Agropecuária na Região das Missões.
Oriundos de famílias que trazem o cultivo da terra e da pecuária como
cultura e prática social, com a consciência de que hoje se busca a qualidade e
produtividade, com manejo e uso adequado da terra, o que a escola oferece
através do referencial teórico, pesquisa, práticas nos projetos experimentais e
estágio supervisionado.
Os alunos vêm de toda região noroeste, de instituições de ensino tanto
da rede pública quanto da rede privada de ensino, a maioria dos municípios
vizinhos como: Dezesseis de Novembro, Pirapó, Caibaté, Rolador, Roque
34
Gonzáles, Salvador das Missões, Santo Antônio das Missões, São Miguel das
Missões, etc.
Um diferencial da Escola é o fato de que os alunos ao matricularem-se,
já têm em mente o ramo que querem seguir ao término do Ensino Médio, onde
os alunos se motivam individualmente, pois já tem em mente o que buscam para
sua vida profissional.
O ensino desenvolve-se em tempo integral, assim, os estudantes
residentes em lugares mais distantes, não voltam para casa todos os dias,
permanecendo alojados em regime de internato. Atualmente o colégio conta com
38 (trinta e oito) estudantes internos, alojando-se no colégio durante a semana,
os mesmos chegam na segunda-feira pela manhã e retornam para suas casas
na sexta-feira após o horário das aulas, sendo que alguns permanecem no
colégio nos fins de semana e ajudam na manutenção geral da escola.
2.2 AS DIFERENÇAS CULTURAIS DAS DUAS ESCOLAS INSERIDAS NUM MESMO AMBIENTE SOCIOECONÔMICO E CULTURALMENTE IGUAIS.
Partimos então, de tudo que fora exposto até aqui, primeiramente alguns
conceitos sobre cultura escolar e após um breve momento de inserção na
cultura regional e local onde as escolas estão inseridas. O contexto portanto é o
mesmo, porém os significados que cada escola leva pra dentro de si são
diferentes. Uma escola trabalha a cultura da inclusão com estímulos as artes e a
outra uma escola essencialmente voltada a profissionalização dos estudantes.
Relembramos então que tudo que foi adquirido através da história, das
vivências, ou que cresce e se transforma dentro de uma sociedade, podemos
chamar de cultura. Onde podemos perceber essa diversidade cultural?
Percebemos essa diversidade através das manifestações dos hábitos,
dos valores e da ética, dos pensamentos e também na forma como cada
comunidade se organiza e convive nos espaços sociais, e como estes espaços
sociais são responsáveis pela educação dos filhos dessa comunidade.
Para podermos entender a dinâmica das culturas internas a cada escola
optou-se me recolher alguma depoimentos informais de algumas professoras
que atuam nas escolas citadas, chamadas aqui de Escola 1 e Escola 2, sendo
35
respectivamente a Escola 1 a Escola Estadual de Ensino Médio São Luiz e
Escola 2 a Escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul.
Então partimos da idéia de que a forma diferente de organização de
cada escola, a sua história diferente de formação e de atuação na sociedade e
ainda suas estratégias de ensino e sua forma de avaliação torna um conjunto de
fatores que forma a cultura de cada escola. Pois cada uma tem suas
especificidades e necessidades diversas, e atuam na sociedade de forma
diferente, produzindo diferentes culturas, as quais poderemos ver nos
depoimentos que relataremos.
- Eu vejo a escola São Luiz como um lar, onde as diferenças são respeitadas por todos, os alunos no geral respeitam as crianças que possuem alguma necessidade específica [...](depoimento de uma professora que trabalha no Ensino Médio da Escola 1).
Quando se pensa na função social da escola e pergunta-se para que ela
serve, a primeira resposta que nos vem à mente é: a escola serve para ensinar.
Mas ensinar a quem? O que ensinar? Como ensinar? Essas mesmas dúvidas
passam pela cabeça dos profissionais da educação em cada início de ano letivo,
pois, afinal, serão pessoas diferentes, com tipos de aprendizagem diferentes as
quais o professor terá que se adaptar. A cada ano que passa, a escola se
renova, os problemas que havia algum tempo atrás não são os mesmos de hoje.
A preocupação é evidente quando há esses questionamentos, porém, há
coisas que por mais que a escola queira ensinar, não consegue. Os alunos terão
que aprender com a vida, e a cultura vivenciada dentro desse contexto passada
no interior da escola reflete a realidade vivenciada fora da escola, na
comunidade que está inserida.
A comunidade vê na escola uma porta de entrada para um mundo melhor
e apostam que seus filhos os irão superá-los de alguma forma, por isso
acreditam na educação, como uma ferramenta que possibilite aos seus filhos
condições de compreender e atuar no mundo em que vivem. Cultivam essa
cultura que vem de fora pra dentro da escola.
Nas palavras de John Dewey,
Vimos que uma comunidade ou grupo social se mantém por um
processo contínuo de auto renovação, e que é o desenvolvimento
educacional dos membros imaturos do grupo que dá lugar a esta
renovação. É através de várias ações, involuntárias ou intencionais,
que uma sociedade transforma seres ignorantes e aparentemente
estranhos em firmes guardiões dos seus próprios recursos e ideais.
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Nesse sentido, a educação é um processo que consiste em adaptar,
cuidar, cultivar. Todas estas palavras significam que a educação
implica atenção às condições de crescimento. Outros termos, como
fazer desabrochar, criar, fazer crescer, também são utilizados -
exprimem a diferença de nível do que se pretende abranger com a
educação. O significado etimológico da palavra educação é apenas o
processo de conduzir, guiar ou criar. Quando pensamos no produto
desse processo, falamos em educação como uma atividade de
modelar, formar, moldar - isto é, ajustar à forma padrão da atividade
social. Neste capítulo vamos referir os aspectos gerais do modo como
um grupo social cria e conduz os seus membros imaturos até à sua
forma social própria (DEWEY, 1959)
A Escola 1 defende ações concretas na sociedade como forma de
provocar mudanças sociais, para tanto o Projeto Político Pedagógico defende
uma educação fundamentada na filosofia da escola, “Trabalhando valores,
respeitando as diferenças”, onde a interação de todos aconteça sempre com
amizade, respeito, solidariedade, justiça e cidadania. A Escola 2, como uma
representante da educação profissional, usa a filosofia de formação de
habilidade e competências que são relativas ao curso técnico ofertado, voltado
estritamente para a agropecuária e formando jovens que possam atuar no
mercado de trabalho. Como podemos observar no depoimento de uma
professora de Ensino Médio da Escola 2,
Na escola Cruzeiro eu me sinto em casa, os alunos chegam aqui buscando uma escola igualitária, onde os alunos podem andar vestidos com roupas simples, pois eles sabem que terão que ir pra lavoura, pro galinheiro ou até mesmo para onde ficam os porcos, pois terão que se sujar e as meninas que tenham alguma vaidade excessiva logo entram no clima dos veteranos. È muito engraçado perceber como elas se vestem no primeiro ano do Ensino Médio e como se vestem no terceiro ano do Ensino Médio (depoimento de uma professora de Matemática que atua na escola a 6 anos).
Na Escola 2 há uma cultura de que todos acabam sendo nivelados de
forma natural, por interferência dos veteranos que assumem a cultura do bom
acolhimento, fazendo as honras da casa aos alunos que estão entrando.
Neste sentido é que a escola trabalha sua filosofia sempre no sentido
de promoção o ser humano em suas funções laborais dentro de sua
comunidade. Com a concepção de que o homem é um sujeito histórico, agente
de transformações, que ao interagir com seus semelhantes redimensiona a
realidade em que vive. A Escola 2 tem como objetivo um ensino comprometido
com a realidade, construindo o conhecimento através da valorização do saber
popular e da cientificidade, com criticidade, dialogicidade e contextualização dos
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saberes holísticos, científicos e tecnológicas, respeitando o clima da região, a
cultura agrícola que é produzida no município, valorizando a vida e o ambiente,
fazendo com que todos e cada um construam aprendizagens significativas para
o seu desenvolvimento total e que conheçam as principais produções
agropecuárias (CRUZEIRO DO SUL, PPP, 2009).
Os Projetos Pedagógicos são resultado das expectativas das
comunidades escolares diversas tanto da Escola 1 quanto da Escola 2, onde
uma enfatiza a proposta de inclusão social, e a outra enfatiza a promoção de
habilidades e competências profissionais.
Quanto as tecnologias utilizadas para o auxilio das aprendizagens das
escolas citadas colhemos das mesmas professoras os seguintes depoimentos;
na Escola 1 a professora entrevistada argumenta que,
_ O contexto da inclusão que a escola trabalha, usa as tecnologias em
direção a esta linha de pensamento. Por exemplo utilizamos na sala de recursos computadores que ajudam os alunos a construírem seus conhecimentos a cerca de diversos assuntos[...] (Depoimento da professora da Escola 1).
As tecnologias para esta escola tem um sentido de incluir ainda mais os
alunos no mundo tecnológico disponível onde é possível buscar ainda mais
conhecimentos, incluindo assim os alunos na sua comunidade, na sociedade
tecnologicamente equipada a qual eles pertencem. Porém como relata a
professora em continuação ao seu comentário é que<
Em relação ao uso das tecnologias temos em alguns momentos alguns problemas específicos relacionado ao uso constante do celular que atrapalha as aulas. Os alunos que possuem alguma deficiência não conseguem, em muitos momentos entender que não podem utilizar o aparelho durante as aulas. Mas a empolgação com os seus aparelhos é maior que a vontade de aprender coisas que eles nem sabem se vão utilizar, devido a generalização de conteúdos escolares que não condizem com a realidade das crianças com necessidade especiais (Depoimento professora Escola 1).
No entanto a Escola 1 procura, mesmo com as adversidades, estimular
as aprendizagens escolares e à novas metodologias, um saber fazer
diferenciado, uma avaliação emancipatória sendo estes o grande desafio da
Escola (SÃO LUIZ, PPP, 2007).
Traçando um comparativo entre as duas escolas podemos destacar um
dos objetivos da Escola 2 ; “Oferecer uma educação de qualidade atendendo as
transformações tecnológicas, científicas e sociais, tendo sempre como enfoque o
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homem do campo”(CRUZEIRO DO SUL, PPP, p. 14). Neste sentido cria-se uma
cultura interna à Escola 2 de que a tecnologia acompanha a vida do homem do
campo, proporcionando melhor instrumentação para este atuar no mundo
utilizando equipamentos que facilitem o cotidiano da vida do campo. Importa
para a Escola 2 no que tange o uso das tecnologias a relação destas com a
ciência.
Quando perguntadas às professoras sobre o perfil dos alunos que entram
no Ensino Médio as professoras relatam a diferença cultural enraizada nos
alunos no momento que ingressam no Ensino Médio.
Na Escola São Luiz eu sinto que os alunos entram no Ensino Médio, pelo menos a maioria não sabem o que fazer depois que saem da Escola e sabemos que grande parte deles talvez não cursem uma faculdade, Então temos que tentar ao máximo mostrar as opções que eles podem ter pra seguir como carreira profissional. Sâo alunos que geralmente não sabem nem se vão participar de Enem. E agente tem que ficar reforçando o valor de fazer um curso superior para que atinjam melhor colocação no mercado de trabalho (Depoimento de uma professora da Escola 1).
No entanto o depoimento da professora da Escola 2 é totalmente
diferente refletindo uma realidade com objetivos traçados anteriormente em suas
famílias, em seus municípios partindo de uma cultura familiar enraizada em cada
aluno que entra no Ensino Médio na Escola 2.
Aqui no Cruzeiro, eu adoro trabalhar, os alunos praticamente todos já sabem o que vão seguir quando terminarem o técnico, alguns vão fazer Veterinária, outros Agronomia, Zootecnia, e assim por diante. Profissões que atendem na área do curso Técnico desenvolvido na escola. Os alunos são motivados por si próprios e não precisamos reforçar a todo momento o quanto é importante o aluno buscar uma formação superior (Depoimento de uma professora da Escola 2).
O compromisso com uma Educação Profissional adequada aos
interesses dos que vivem do trabalho implica desenvolver um percurso educativo
em que estejam presentes e articulados à teoria e a pratica, contemplando sólida
formação cientifica e a formação tecnológica de ponta, ambas sustentadas pelo
domínio das linguagens e dos conhecimentos sócio-históricos. Dessa forma,
permitirá ao aluno dos cursos de formação profissional, com base em nível
médio, compreender os processos de trabalho e em suas dimensões cientifica,
tecnológica e social como parte das relações sociais.
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Pensando nos dois depoimentos acima, é fácil imaginar porque o
trabalho pedagógico se torna diferente entre as escolas, pois a cultura que os
alunos trazem de seus lares, de suas experiências vividas é totalmente diferente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao chegar ao final deste estudo e depois das entrevistas realizadas nas
duas escolas é visivelmente claro que as culturas internalizadas em cada escola,
mesmo estas pertencendo a uma mesma sociedade, com mesmos costumes
culturais, mesma história, porém com ideologias diferentes.
A cultura escolar pode ser medida pelos depoimentos das professoras
entrevistadas, pois elas refletem claramente em seus discursos os caminhos que
o trabalho pedagógico busca alcançar.
Nas duas escolas que possuem diferentes culturas é possível ainda notar
que essas culturas distintas fortalecem o trabalho pedagógico no que tange ao
objetivo máximo de cada escola. Portanto é possível sim uma escola construir
em seu interior uma cultura particularizada dentro da sua comunidade escolar.
Essa cultura certamente perpassa todos os planejamentos, projetos,
planos de educação que a escola venha a desenvolver, está intrínseco,
enraizado, quase não sendo possível identificá-lo, pois se torna hábito. Assim é
toda cultura, só a vemos de fora quando nos ausentamos, pois no cotidiano
vivemos culturalmente sem nos darmos em conta, apenas vivemos aqueles
costumes, tradições, apenas temos aquele jeito de pensar, aquela forma de ver
as coisas e o mundo que nos cerca. Então para que a resposta ao problema
dessa pesquisa seja respondida, eu diria que ao professor é tão natural aquele
cotidiano escolar, e a forma como ele está inserido na sociedade que para ele
não há como se perceber de sua atuação frente a cultura local e da escola. Ele
atua simplesmente no intuito de seguir valores previamente já formulados pela
historicidade da escola, da formação daquela comunidade escolar e seus
integrantes que nem percebem-se como sujeito das ações pedagógicas.
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