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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A BISSEXUALIDADE DAS ALMAS POR: MARIA CATHARINA SILVA DOS SANTOS ORIENTADORA DAYSE SERRA RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A BISSEXUALIDADE DAS ALMAS

POR: MARIA CATHARINA SILVA DOS SANTOS

ORIENTADORA

DAYSE SERRA

RIO DE JANEIRO

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A BISSEXUALIDADE DAS ALMAS

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialização em ARTETERAPIA EM EDUCAÇÃO E SAÚDE Por: Maria Catharina Silva dos Santos

RIO DE JANEIRO

2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a você, Claudinha, amiga e grande

incentivadora, que me indicou o curso de Arteterapia em

Educação e Saúde como sendo “a minha cara.” Você

acertou!

Agradeço também ao meu marido e meu filho por

serem os meus instrumentos de trabalho, de luta, de dor, de

amor e de redenção.

À dona Maria Auxiliadora amiga e companheira de

reflexões.

Às minhas irmãs, a minha sobrinha Bárbara e

João, meu pequeno e grande amigo.

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DEDICATÓRIA

Enquanto estive mergulhada na reflexão deste

trabalho, as minhas dores e as minhas feridas da alma

vieram sendo amorosamente tratadas pelo médico das

almas. Não que estas antes não tenham sido cuidadas, mais

consciente agora, do poder de seus ensinamentos, dedico a

ti, SENHOR JESUS, o resultado desta reflexão.

E, se não estou curada ainda é porque o processo

de evolução e crescimento não acabou.

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RESUMO

O presente trabalho pretende analisar os elementos psicológicos – na visão Junguiana, além da simbologia dos mitos, como ferramenta de análise, no desenvolvimento e evolução da personalidade do homem e da mulher. Estudar-se-á as noções de anima e animus, cujos autores serão mencionados no decorrer deste trabalho, tais como: Jung, Johnson, Boechat e outros; ver-se-á que esses elementos, presentes no inconsciente de ambos, ou seja, os componentes femininos e masculinos, serão visitados e revisitados através da simbologia do mito de “Parsifal e a Busca do Santo Graal”, na personalidade masculina; dos mitos de Afrodite, Psiquê e Eros, na personalidade feminina, e do mito do Andrógino, na personalidade de ambos. Em decorrência dessa análise, o leitor se deparará com o momento em que se dará o equilíbrio entre eles (feminino e masculino), o caminho percorrido e as descobertas feitas. Faz-se aqui necessário enfatizar que maior clareza será observada nesses elementos (feminino e masculino), quando voltar o seu olhar para o passado e se reportar ao equilíbrio e harmonia da personalidade do Cristo, pois ninguém dialogou tanto e tão bem com seu mundo interior como Ele. Essa integração do masculino e feminino em seu Ser impulsiona a criatura humana na busca, na procura da sua outra metade, do desejo em decodificar as mensagens do seu mundo interior, de encontrar-se com a sua divindade e principalmente, a descoberta da sua capacidade de amar não só a si mesmo, como também aos outros.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi, dentre

outras, a leitura e seleção de livros, artigos sobre o assunto escolhido.

As aulas teóricas e as vivências adquiridas, no decorrer do curso de

Arteterapia em Educação e Saúde, serviram como ponto de partida para este

estudo.

As trocas de opiniões entre os alunos e professores em relação ao

tema dilataram mais ainda a vontade em abordar este assunto.

O desejo em perceber com clareza a maneira, os caminhos e as

abordagens dos autores; como eles veem e analisam o tema em questão, o tipo

de linguagem utilizada, as questões levantadas, e as respostas dadas ganharam

dimensões maiores.

A reflexão sobre o tema, seguindo diferentes caminhos, como: a

mitologia, a psicologia, a simbologia, a arteterapia e ao mesmo tempo

estabelecendo uma relação, um elo com letras de músicas, que cuidavam também

do tema.

Investigou-se, também, na internet, artigos, opiniões, que também

falassem sobre o assunto estudado.

Por fim, fez-se uma pequena reflexão sobre os costumes no tempo de

Jesus, para melhor compreender a sua personalidade.

Compreendendo, assim, finalmente, o significado do ensinamento,

“Conhece-te a ti mesmo”, para depois conhecer aos outros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7 CAPÍTULO I 9 A BISSEXUALIDADE DAS ALMAS CAPÍTULO II 14 A ANIMA CAPÍTULO III 22 O ANIMUS CAPÍTULO IV 33 A GRANDIOSIDADE DE JESUS CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 38 ÍNDICE 42

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INTRODUÇÃO

A busca do conhecimento humano é um desafio proposto aos seres

humanos pela própria natureza, há uma busca voltada para o seu

autoconhecimento e que pode abrir grandes possibilidades para uma maior

compreensão das dificuldades, das fraquezas, dos defeitos, das qualidades, dos

sentimentos e das emoções.

A busca é natural, e a percepção juntamente com a aprendizagem

amplia a importância do autoconhecimento, dos relacionamentos humanos, na

vida e no crescimento pessoal.

Também vai depender do estágio pessoal do indivíduo esta

compreensão total ou parcial desta caminhada rumo ao autoconhecimento, este

processo utiliza-se de inúmeros recursos, várias ferramentas e do grau de

preocupação do homem com a sua evolução pessoal.

Os mitos podem auxiliar e desmistificar mensagens e análises sobre a

vida, sobre o pensamento e vivência humana das formas de como ele sente, por

que sente, por que age e reage, se desta ou daquela maneira.

Este trabalho pretende ressaltar estes pontos e estabelecer o estudo,

visto que, muitos estudos já foram feitos a esse respeito e muitos ainda hão de vir.

O que não se deve esquecer que a psiquê humana é constituída de

consciente e inconsciente, e é a partir desta ótica que os processos psíquicos

serão estudados.

O trabalho proposto se inicia mostrando que tanto o homem, quanto a

mulher têm um elemento oposto na sua psiquê (masculino/feminino), o qual deve

dar a devida atenção. Que há uma necessidade de se buscar o “outro”, para o seu

crescimento, e isto não é uma tarefa fácil, pois é preciso acreditar na riqueza deste

processo e compreender que cada ser humano é o realizador da sua própria

evolução, e perder ou aproveitar às oportunidades deste crescimento está

somente em suas mãos.

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Pode-se entender melhor os processos de evolução e crescimento

pelos quais o ser humano deve passar, aceitando o que a vida propõe diante dos

rituais de iniciação em cada fase da vida, e esse entendimento e aceitação podem

auxiliar a deixar os velhos padrões de lado e incentivar o ser a buscar o novo, e o

inesperado, que sob o ponto de vista do ser: que não quer se aventurar, pode vir a

ser perigoso, (se este não se preparar pra a maior jornada: que é a vida), porque

toda experiência humana é revestida numa existência enriquecedora. É importante

para o ser empenhar-se nesta ação de atingir o equilíbrio emocional e psicológico,

todavia este esforço requer muita coragem, afastamento dos medos e receios, das

negativas, dos desenganos, e colocar-se disponível a decodificação e

interpretação das mensagens que vão se apropriando ao longo do caminho.

O autoconhecimento imprime uma busca na vivência e deflagra várias

etapas do crescimento e da evolução humana.

Esta caminhada envolve muita dor, muita persistência. Dor para

enfrentar os medos, os desenganos, decodificar e interpretar as mensagens que

ao longo do percurso da vida vão se apresentando. O silêncio também é uma fase

desta jornada, ele pode expandir o campo de visão do ser, quando este ser

compreende a importância do silêncio e inicia o diálogo subjetivo.

Este é um instante de interação, por isso torna-se tão especial, pois

estabelece a possibilidade de integrar o homem a divindade existente dentro dele,

para tecer as linguagens do Amor e desenvolver as capacidades de Amar, não

somente do seu ponto emocional, mas também como dos outros que estão a sua

volta, e dos que poderão fazer parte desta convivência humana.

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CAPÍTULO I

A BISSEXUALIDADE DAS ALMAS

“A alma é o ponto de partida de todas as experiências humanas, e

todos os conhecimentos que adquirimos acabam por levar a ela. A alma é o

começo e o fim de qualquer conhecimento.” (DINIZ, 2009, p.19)

1.1 Na Psicologia

Desde a idade média dizia-se que “todo homem trazia dentro de si uma

mulher.” (BOECHAT, 1997, p. 36). A esse elemento feminino na alma do homem,

Jung chamou de anima.

A questão da identidade do homem e também da mulher remete às pioneiras idéias que ele elaborou com relação ao arquétipo do contra-sexo, ou seja, da anima e do animus, estes guias de almas, mediadores entre o ego e o self na individuação. (BOECHAT, 1997, p. 11)

“Assim como o psiquismo masculino teria uma contraparte feminina no

inconsciente; também a mulher, com a consciência feminina teria um inconsciente

matizado por um elemento masculino.” (BOECHAT,1997, p.12)

O ser traz dentro de si essas duas faces da polarização sexual, embora

um deles se torne mais marcante no decorrer da vida.

1.2 Na Mitologia

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Essa bissexualidade de todo ser humano antes de ser aceita pela

ciência, já era uma intuição antiqüíssima, diz Drª Nise da Silveira, em seu livro

sobre Jung. Remete ao mito dos Andróginos – seres bissexuais que Zeus chegou

a temê-los e, para reduzir-lhes a força, dividiu-os em duas metades: masculino e

feminino.(NUNES FILHO, 1994, p. 6, 7)

Todos nós nutrimos a fantasia de que em algum lugar deste pequeno planeta alguém está esperando, olhando para o mesmo céu e, sem nem saber que a gente existe, pensando em nós... A cara metade. A alma gêmea. O pedaço de mim. Quem é este Outro que deveria nos completar? E por que, apesar dos nossos esforços, ele parece sempre resistir. Sempre um pouco adiante, mais longe e mais longe... sempre tão outro, tão distante de mim. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. O que será que a gente espera deste encontro? Queremos tudo. Nada menos do que a plenitude, nem uma migalha faltando para nos sentirmos completos, inteiros e justificados... (BELOTTI, 2010, p.1)

O Mito do Andrógino do filósofo grego Platão mais do que ser um e

outro, homem (andros) e mulher (gyno), como em geral se pensa, é ser um só.

Andrógino é o ser quase perfeito, porque, assim como os deuses, ele contém em

si mesmo todas as oposições, ele se basta e, completo e fecundo, dá a luz a si

próprio.

Diz a história, que no início, não havia dois sexos, mas três: homem,

mulher e a união dos dois. E esses seres tinham um nome que expressava bem

essa sua natureza e hoje perdeu seu significado. Andrógino. Essa criatura

primordial era redonda: suas costas e seus lados formavam um círculo e ela

possuía quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com duas faces exatamente

iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num pescoço redondo. A

criatura podia andar ereta, como os seres humanos fazem, para frente e para trás.

Mas podia também rolar e rolar sobre seus quatro braços e quatro pernas,

cobrindo grandes distâncias, veloz como um raio de luz. Eram redondos porque

redondos eram seus pais: o homem era filho do sol, A mulher, da terra. E o par,

um filhote da lua.

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Sua força era extraordinária e seu poder, imenso. E isso os tornou

ambiciosos. E quiseram desafiar os deuses. Foram eles que ousaram escalar o

Olimpo, a montanha onde vivem os imortais. O que deviam fazer os deuses

reunidos no conselho celeste? O grande Zeus reagiu: deixam que vivam! Tenho

um plano para deixá-los mais humildes e diminuir seu orgulho. Vou cortá-los ao

meio e fazê-los andar sobre duas pernas. Isso com certeza irá diminuir sua força,

além de ter a vantagem de aumentar seu número, o que é bom para nós. E mal

tinha falado, começou a partir as criaturas em dois, como uma maçã. E à medida

que os cortava, Apolo ia virando suas cabeças, para que pudessem contemplar

eternamente sua parte amputada. Uma lição de humildade. Apolo também curou

suas feridas, deu forma ao seu tronco e moldou sua barriga, juntando a pele que

sobrava no centro, para que eles lembrassem do que haviam sido um dia.

E foi aí que as criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de

desespero. Abraçavam-se e deixavam-se ficar assim. E quando uma das partes

morria, a outra ficava à deriva, procurando, procurando... , Zeus ficou com pena

das criaturas. E teve outra idéia. Virou as partes reprodutoras dos seres para a

sua nova frente. De agora em diante, se reproduziriam um homem numa mulher.

Assim a raça não morreria e eles descansariam. Com o tempo eles esqueceriam o

ocorrido e apenas perceberiam seu desejo. Um desejo jamais inteiramente

saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de

um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que seu anseio

jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união perfeita renasceria.

E saber como um dia foram um todo, inteiros e plenos. Tão poderosos

que rivalizavam com os deuses. É a história de como um dia, partidos ao meio,

viraram dois e aprenderam a sentir saudades – e é a razão dessa busca sem fim,

do abraço que se fará sentir de novo e uma vez mais, ainda que só por alguns

momentos, a emoção da plenitude que um dia, há muito tempo, perderam.

Desde então, cada um procura ansiosamente a sua metade. O homem

e a mulher sofrem esse mesmo sentimento expresso pelo mito, o de serem

incompletos quando sozinhos; pois que, a natureza do homem pressupõe a

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mulher e a natureza da mulher pressupõe o homem. Platão (apud Belotti, 2010,

pp.1 e 2)

A letra da música a seguir remete à profundas reflexões, faz com que,

quem a ouve, se reporte à história desse mito, a dor da separação e a angústia da

procura de sua metade, o que possibilitou o atual estudo, por isso torna-se

pertinente reproduzi-la aqui, neste momento.

PEDAÇO DE MIM (BUARQUE DE HOLANDA, 1978) Oh, pedaço de mim Oh, metade afastada de mim Leva o teu olhar Que a saudade é o pior tormento É pior do que o esquecimento É pior do que se entrevar. Oh, pedaço de mim Oh, metade exilada de mim Leva os teus sinais Que a saudade dói como um barco Que aos poucos descreve um arco E evita atracar no cais. Oh, pedaço de mim Oh, metade arrancada de mim Leva o vulto teu Que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu Oh, pedaço de mim Oh, metade amputada de mim Leva o que há de ti Que a saudade dói latejada É assim como uma fisgada No membro que já perdi Oh, pedaço de mim Oh, metade adorada de mim Leva os olhos meus Que a saudade é o pior castigo E eu não quero levar comigo A mortalha do amor, adeus

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Pode-se, através da letra da música “Pedaço de mim” e a história do

mito do Andrógino, entender que “a androginia talvez seja a mais desejada, e

também a mais difícil das condições humanas” (BOFF; MURARO, 2002, p. 252),

pois se entende que ser andrógino é caminhar pela dualidade, é ser capaz de

viver o drama de morrer e nascer de novo para uma nova vida, uma nova

organização psíquica; é sentir dor e alegria por saber da existência do “outro”, do

seu “par” masculino/ feminino e conseguir reorganizar os seus opostos dentro de

si.

Compreender que é necessário superar as culpas e as angustias por

aquilo que não soube ou não pôde viver, sentir e dividir. Só assim, conseguirá

fortalecer-se para alcançar e viver a plenitude da sua vida.

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CAPÍTULO II

A ANIMA

2.1 Definição

O termo anima, é a forma latina de alma, etimologicamente é um

substantivo feminino que significa sopro, ar.

Anima é o equivalente semântico do grego psique, que também

significa sopro, ar.

“A alma é bissexual: como princípio masculino, significa o centro

energético do pensamento; como princípio feminino, é a portadora da vida.”

(JUNG in BOECHAT, 1997, p. 49).

“O termo anima significa princípio vital, sopro vital, alma.” (MAGNE in

BOECHAT, 1952, p. 46).

2.2 O Feminino Inconsciente no Homem

Jung afirma que a anima é o arquétipo do feminino tem papel

particularmente no inconsciente do homem; é a imagem da alma, o arquétipo da

vida, a feminilidade inconsciente.

Representa uma disposição íntima, espécie de personalidade interior ou

individualidade oriunda da ação do arquétipo que, quando projetado, contamina o

relacionamento com o “outro” e com o mundo, em geral.

Chevalier e Gheerbrandt argumentam que mesmo no plano da

sexualidade, nem o homem, nem a mulher são totalmente masculinos ou

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femininos: o homem comporta um elemento feminino e a mulher um elemento

masculino. (CHEVALIER; CHEERBRANDT, 1990, p.49).

O feminino consiste na capacidade de viver o complexo, de elaborar sínteses, de cultivar o encantamento do universo, de cuidar e venerar o mistério da vida, de elaborar um desenvolvimento com a natureza e não contra ela. (BOFF in BOECHAT, 1997, p.104)

“O princípio feminino é sanador e libertador, seu paradigma básico é a

vida.” (BOFF in BOECHAT, 1997, p.104)

“O princípio masculino está associado à vontade, ao temperamento e

identidade. Está relacionado à expressão do espírito, da consciência. É o princípio

orientador no processo existencial.” (BOECHAT, 1997, p.19)

Por isso, seja masculina ou feminina, a alma, como mensageira da vida,

vai impulsionando a viver e a aprender.

A letra da música a seguir sugere ao homem rever a sua anima.

MASCULINO E FEMININO (GOMES, 1985)

Ser um homem feminino

Não fere o meu lado masculino

Se Deus é menina e menino

Sou masculino e feminino

Olhei tudo que aprendi

E um belo dia eu vi

Que ser um homem feminino

Não fere o meu lado masculino

Se Deus é menina e menino

Sou masculino e feminino

Olhei tudo que aprendi

Que um belo dia eu vi

E vem de lá o meu sentimento de ser

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Meu coração mensageiro vem me dizer

Salve, salve a alegria

A pureza e a fantasia

Vou assim todo o tempo

Vivendo e aprendendo

Para o homem aceitar que tem esse lado feminino, sensível

mencionado na letra da música acima, é muito difícil. É da sua própria natureza

não admitir o seu oposto, pois que se orgulha da sua masculinidade.

Se debater em angústias, dúvidas faz parte do seu crescimento.

Enquanto se debate ele percebe, mesmo inconscientemente, que existe algo que

ele ainda não compreende na sua psiquê, esse o chama para um diálogo, porque

muitas vezes se esquece que sua psiquê é andrógina, isto é, tem sempre o seu

par à espera de cuidado, de atenção.

A aceitação do seu oposto dependerá do seu entendimento e

compreensão da vida.

2.3 Os Componentes Femininos da Personalidade do Homem

Há seis relacionamentos básicos que o homem mantém com o mundo

feminino. Os seis lhe são úteis e cada um tem a sua nobreza. Os problemas e as

dificuldades surgem quando um se mistura com o outro. E essas dificuldades são

essenciais na passagem do homem pela vida. Os seis elementos femininos no

homem são:

- Sua mãe natural. É a mulher real, física, que o gerou.

- Seu complexo-materno. Isso diz respeito unicamente a algo dentro

dele mesmo. É sua característica regressiva, o retorno à dependência materna e a

ser criança novamente, é o desejo de fracassar que está dentro dele, sua

característica de derrota, sua fascinação subterrânea pela morte ou pela

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fatalidade, sua necessidade de ser cuidado. É puro veneno na psicologia do

homem.

- Seu arquétipo-mãe – é puro ouro, é a metade feminina de Deus. A

generosidade que emana livremente, que nunca nos falha. Confortável sempre.

- Sua formosa donzela. É o componente feminino na estrutura psíquica

de todos os homens, a companhia interior ou a inspiração de sua vida. É branca

flor.

- Sua esposa ou parceira. É a parceira de carne e osso que partilha sua

jornada pela vida.

- Sophia. É a deusa da sabedoria, a metade feminina de Deus.

(JOHNSON, 2009, p.90, 91)

2.4 O Mito de Parsifal e a Busca do Santo Graal

É a história de um reino devastado, pois seu soberano, o Rei pescador,

está ferido gravemente desde a juventude. Ele só será curado quando um jovem

tolo e ingênuo chegar à corte e fizer uma pergunta muito específica. É o reino de

Graal, em cujo Castelo está guardado o Santo Graal, o cálice utilizado na última

ceia de Cristo. E o mito conta a jornada de Parsifal, adolescente, pobre e ingênuo,

que vive com a mãe, e, ao conhecer alguns cavaleiros do rei, resolve segui-los.

Por uma série de circunstâncias, Parsifal é sagrado cavaleiro da corte do Rei

Arthur e vence o temido cavaleiro Vermelho. Encontra, ainda, um padrinho que o

ensina a tornar-se um verdadeiro homem e orienta-o no caminho a seguir. Parsifal

precisa desligar-se do complexo materno e integrar seu lado feminino, aqui

representado pela donzela Branca Flor.

Ao chegar ao Castelo de Graal, que representa a felicidade plena e

absoluta, Parsifal não faz a pergunta necessária e perde uma grande

oportunidade. Por isso, fica por muitos e muitos anos amadurecendo, vivendo

diversas situações, sofrimentos e decepções, até que, na meia-idade tem

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novamente a chance de entrar no Castelo e fazer a pergunta, transformando,

assim, a sua vida, curando o rei e trazendo felicidade a todo reino.

Cada um dos personagens da história representa aspectos do universo

masculino, carregados de simbolismo. Parsifal em sua jornada vai se

desenvolvendo e conhecendo a si mesmo até chegar o momento de sua

integração com diferentes aspectos.

Parsifal oscila entre o masculino empunhar de lança ou espada – e a

ânsia feminina de achar o Graal, e terá que encontrar o equilíbrio e integrar a

agressividade masculina com a alma feminina, que busca o amor e a união.

O mito do Graal trata da psicologia masculina, e tudo quanto acontece

dentro da lenda pode ser tomado como parte integrante do homem. Mas isso não

quer dizer que seja restrita ao homem, pois a mulher também participa com seu

lado masculino interior. Tanto a masculinidade da mulher como a feminilidade do

homem estão mais próximos do que se possa imaginar.

O mito está dizendo que é a parte inocente do homem que o curará da

sua ferida Rei-Pescador. Se alguém pretende curar-se deverá reencontrar algo no

seu interior eu tenha a mesma idade e a mesma mentalidade de quando foi ferido.

Para realmente sarar ele precisará permitir a entrada em seu

consciente de algo completamente diferente dele mesmo, para que esse algo

venha a mudá-lo.

É necessário que o homem aceite olhar seu lado inocente, tolo,

adolescente, para conseguir curar-se.

O nome Parsifal tem um significado profundo, é aquele que mantém os

opostos juntos, aquele que “cura”. (JOHNSON, 2009, pp. 9 e 10)

2.5 A Infância, a Adolescência e a Maturidade do Homem

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O menino, no seu processo de crescimento, para tornar-se adulto,

precisa aprender a domar o seu lado mais rude, mais primitivo e conscientizar-se

dessa terrível tendência masculina que leva o homem à agressão, e de posse

desse entendimento integrar esta energia agressiva à sua personalidade com

mais propriedade.

Precisa também neste momento do crescimento conseguir libertar-se

do complexo materno. Deve procurar dentro de si mesmo o caminho que o levará

até lá, e afastar-se emocionalmente da mãe, para poder conseguir a sua

“maioridade” emocional.

Sua independência afetiva só se dará após ter ele atingido e transferido

este afeto para uma mulher, a interior, ou seja, seu lado feminino, ou a exterior,

uma companhia feminina mais ou menos da mesma idade que ele.

Da mesma forma que o processo de crescimento se dá no menino,

podemos verificar como aconteceu com Parsifal, quando, sai em busca de sua

mãe e encontra Branca Flor, que representa a motivação para a sua vida. Ela é a

sua amada e a sua inspiração; o princípio animador da vida.

A essa musa inspiradora dentro do âmago do homem, Jung chamou

poeticamente de anima. É ela que dá sentido e colorido a vida dele, é a fonte da

vida no seu coração. Tudo que ela faz é ficar em seu castelo como um símbolo de

inspiração, talvez, como um talismã da representação do afeto.

O lado feminino existe para conectá-lo com as profundezas do seu ser.

Há um lugar correto para a mulher interior na psicologia do homem: é ela a

mediadora entre os valores luminosos do mundo interior. De acordo com a

simbologia do mito, entende-se que O Castelo do Graal é o local da mais preciosa

feminilidade, e o Graal é a síntese de tudo o que é feminino. (JOHNSON, 2009,

p.81).

2.6 O Equilíbrio entre o Feminino e o Masculino

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É doloroso ver um rapazinho dar-se conta de que o mundo não é feito

só de alegria e felicidade, como pensava e observar a desintegração do seu

frescor infantil, de sua fé, de seu otimismo. Triste, porém necessário.

De acordo com a tradição, potencialmente existem três estágios no

desenvolvimento psicológico do homem.

O padrão arquetípico é aquele em que um ser passa da perfeição

inconsciente da infância para a imperfeição consciente da meia idade para depois

atingir a perfeição consciente da velhice. Assim, o ser caminha partindo de uma

plenitude ingênua, na qual o mundo interior e exterior estão unidos, para um

estágio em que se dá a separação e a diferenciação entre esses dois mundos,

denotando, portanto, a dualidade da vida, para, finalmente, atingir a iluminação,

quando acontece uma reconciliação consciente do interior com o exterior, em

harmoniosa totalidade.

Gilberto Gil em uma das suas inúmeras canções retrata muito bem este

tema, onde pontua o momento em que o homem se dá conta de seus equívocos

masculinos. Esta canção é o “SUPER-HOMEM, A CANÇÃO.” (GIL, 1979)

Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria

Que o mundo masculino tudo me daria

Do que eu quisesse ter

Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara

É a porção melhor que trago em mim agora

É o que me faz viver

Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera

Ser o verão no apogeu da primavera

E só por ela ser

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória

Mudando como um Deus o curso da história

Por causa da mulher

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Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória

Mudando como um deus o curso da história

Por causa da mulher

Assim, como foi sinalizado, o momento em que ocorre o

desenvolvimento psicológico no homem, como ele se dá; no mito, pode-se

perceber este processo, quando Parsifal oscila entre um masculino empunhar de

lança, ou espada, e uma ânsia feminina de achar o Graal. Essas duas tendências

se entrecruzam com freqüência. No Castelo, Graal e lança são guardados juntos,

o que representa a integração da agressividade masculina com a alma do homem,

sempre na busca de amor e união. Se essas duas tendências não conseguirem

equilibrar-se, provocarão grandes conflitos interiores.

O Graal é uma sutil e disfarçada imagem de Deus, a representação

terrena do Divino, ou em termos junguianos, o self.

Torna-se humilde aprender, que só fica sabendo sobre esse centro

interior, quando se está preparado para ele e quando se cumpre o dever de

formular uma pergunta coerente.

O objetivo da vida não é a felicidade, mas servir a Deus ou ao Graal.

Todas as buscas do Graal são para servir a Deus. No momento em que

se perceba isso, e se jogue fora essa noção de que a finalidade da vida é a

felicidade pessoal, então se dará conta de que essa fugidia qualidade está ao

alcance de qualquer mão.(JONHSON, 2009, p.124)

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CAPÍTULO III

O ANIMUS

“Cada alma traz em si sua claridade ou sua sombra, seu paraíso ou seu

inferno”. (DENIS, 2002, p.27)

3.1 Definição

“Animus – palavra latina que para os romanos teria o sentido de o sopro

da consciência.” Onians (in BOECHAT, 1997, p.19); inclinações, paixões e afetos,

pertencem também à esfera do animus, assim como a vontade, o temperamento e

a identidade – esta como princípio espiritual.

O animus é, portanto, a expressão do espírito, a expressão da

consciência.

3.2 O Masculino Inconsciente na Mulher

O arquétipo do animus tem-se manifestado na mulher mais

intensamente. O feminino e o masculino que habita em todo o ser, mesmo

projetado de uma forma inconsciente, podem servir de crescimento na construção

da psique. Enquanto que a anima produz caprichos, o animus produz opiniões,

ambos brotam de um fundo obscuro do inconsciente. (SANTOS, 2008, p.54).

O animus é uma espécie de sedimento de todas as experiências

ancestrais da mulher em relação ao homem.

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O animus atua na mulher de forma semelhante a anima do homem,

pois que representa o masculino dentro do psiquismo feminino, e condensa as

experiências e as vivências da mulher com o homem no curso dos milênios.

Manifesta-se no psiquismo feminino pelos aspectos da lógica, objetividade,

julgamento, crítica e discriminação, conferindo à mulher a capacidade de reflexão,

avaliação crítica e abstração, levando-a buscar o mundo impessoal do intelecto e

do espírito, servindo como um guia que aponta um caminho ou conduz a ele. A

maioria das mulheres projeta a metade que lhes falta, o elemento masculino, em

um homem, como se o outro pudesse formar sua totalidade masculino/feminino.

Contudo, essa totalidade deve ser encontrada, em primeiro lugar, dentro de cada

um, no próprio desenvolvimento individual, para que seja possível um verdadeiro

encontro com o outro tal como ele é.

Esta é a grande tarefa da Psiquê e de todas as mulheres; integrar seu

animus, para tornarem um ser humano inteiro. (JONHSON, 2009, pp, 12 e 13).

Toda mulher sentir-se-á como Psiquê e se identificará com todos os

seus anseios e sua necessidade de amadurecimento para a vida e para o

relacionamento. Em outros momentos, perceberá em si Afrodite, a deusa do amor

e da beleza, com suas vaidades, seu poder e seu ciúme. Ainda, com Eros,

perceberá, seu animus, seu parceiro, ainda imaturo e infantil.

Para viverem como deuses, Eros e Psique necessitam empreender esta

caminhada de autoconhecimento e de integração. A caminhada que todos, seres

humanos, está fazendo desde tempos imemoriais na busca da tão sonhada

felicidade.

3.3 O Mito de Eros e Psiquê

É uma história de amor de mais de dois mil anos, que aborda o desenvolvimento de uma jovem e linda donzela, Psique, que é condenada por sua beleza, pela deusa Afrodite, a desposar a Morte. Contrariando os desejos de sua mãe Afrodite, Eros, o deus do amor, apaixona-se por Psique, salvando-a de seu destino e

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desposando-a. Mas, a jovem curiosa procura ver o rosto de seu amado, quebrando uma promessa feita a ele. Decepcionado, Eros, abandona-a e refugia-se nos braços de sua mãe, que impõe uma série de tarefas quase impossíveis a Psique, para que ela se redima. (JOHNSON, 2009, p.11).

Cada tarefa vai auxiliar o crescimento e o amadurecimento da donzela,

pois trará um aprendizado necessário para que se transforme em uma mulher

mais inteira e madura. Psique passará por provas e será auxiliada por forças

internas e externas, até que alcance o seu objetivo. Enfrentará medos, ansiedades

e fragilidades. Aprenderá a confiar em si mesma e em todo o seu potencial para

transformar-se na mulher que está escondida dentro da donzela. (OLIVEIRA,

2009, p.115).

3.4 Os Elementos Míticos – Afrodite e Psiquê

Cronos, o filho caçula de Urano – o deus dos céus - cortou os genitais

de seu pai e arremessou-os ao mar, assim fertilizando as águas e permitindo o

nascimento de Afrodite; na plena majestade de sua feminilidade, aparece em pé

em uma concha, emergindo das ondas.

Eis a origem divina do princípio feminino em sua forma arquétipa. Já

Psique, concebida quando uma gota de orvalho do céu caiu sobre a terra.

A diferença entre esses dois nascimentos revela a diversidade de

natureza desses dois princípios femininos.

Afrodite, em termos psicológicos reina no inconsciente, simbolizado

pelas águas do mar. Por isso raramente é acessível em termos conscientes; é

difícil atingir a natureza de Afrodite, como feminilidade primitiva ou conviver com

ela.

Psique por ser humana terá a tarefa de integrar e suavizar essa

feminilidade arquetípica.

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Toda mulher tem dentro de si uma Afrodite, reconhecida por sua

irresistível feminilidade, por sua intensa, impessoal, inatingível majestade. Suas

principais características são a vaidade, a fertilidade e a tirania, quando

contrariada.

Afrodite é a grande deusa-mãe, como é vista pelos olhos de sua futura

nora (Psique). Quando uma mulher intermedeia a beleza e a graça para o mundo,

é a energia de Vênus ou Afrodite em ação. Mas quando é confrontada com a nora,

a deusa se torna ciumenta, competitiva, determinada a criar obstáculos o tempo

todo para Psique.

Esse drama envolvendo sogra e nora representa uma das irritações

psíquicas que mais contribuem para o crescimento de uma jovem. Conseguir lidar

com o universo de sua sogra significa, para ela, atingir a maturidade. (ibidem

JONHSON, 2009, pp. 21à 24).

3.5 O Desenvolvimento Psicológico e Mítico da Mulher

A natureza de Psique é tão original e pura, que é adorada, mas não

cortejada.

Existe uma Psique em toda mulher, o que significa ser muito só.

Quando uma mulher se vê solitária e incompreendida, quando percebe que as

pessoas são afáveis para com ela, mas mantêm um certo distanciamento, acaba

descobrindo o seu lado Psique. E como dói! As mulheres tornam-se por vezes

agudamente conscientes desse dolorido estado de alma. Ficar preso neste

aspecto do caráter feminino significa permanecer intocável e privar-se de

relacionamentos afetivos.

3.6 Eros

Pode-se analisar Eros sob vários pontos de vista: como o homem

exterior, o marido ou o homem em qualquer relacionamento; como o homem

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interior, o animus da mulher, a sua masculinidade interior. Ou também se pode vê-

lo como o princípio da união e harmonia.

“Eros tem uma missão com a alma. É o deus personificado do amor.

Traz em si inquietude e insatisfação.” (BRANDÃO, 1997, p.209).

“Age como aquele que mostra o caminho, encontra o caminho e é, o

próprio caminho.” (HILLMAN, 1984, p.82).

O amor é um arquétipo que, psicologicamente, tem a função do

relacionamento. Sabe-se por Jung que a saúde da alma (psique) e sua integridade

psicológica está profundamente enlaçada a Eros, que é o fator integrador que

mantém e une os opostos. Eros é plural, mostra-se em muitas fases e faces.

Ciente das faces e fases de Eros, o indivíduo poderá nutri-lo dentro de

si, equilibrando o seu modo de viver. Assim sendo, é somente por meio do

comprometimento consigo mesmo, com o outro e com o mundo que o indivíduo

compreenderá a sua existência, a dinâmica psíquica do amor – Eros e seu

processo de individuação. (SANTOS, 2008, pp. 75 e 78).

3.7 As Ferramentas da Mulher

Todo marido é a “morte” para sua esposa, porque representa a

destruição da donzela que ela ainda é e a impele na direção da maturidade, como

mulher. É paradoxal sentir ao mesmo tempo gratidão e ressentimento em relação

a quem a força a percorrer o próprio caminho de crescimento.

Raramente o homem entende que o casamento é ao mesmo tempo a

“morte” e ressurreição para a mulher, ou seja, que ele esteja matando Psiquê

dentro de sua esposa, e isso é algo que ele deve fazer mesmo, para o seu bem,

para o seu crescimento.

Eros extermina a ingenuidade e a inocência da mulher.

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A história da vida de uma mulher pode ser contada através da sua luta

para evoluir em relação ao princípio masculino de vida, seja encontrando-o fora de

si mesma, na figura de um homem, ou dentro de si, através do animus.

Chegar a um acordo com o elemento masculino tem um roteiro

previsível.

O primeiro contato de uma mulher com o masculino foi-lhe

proporcionado pelo pai, provavelmente vem depois, a masculinidade “devoradora”,

no seu casamento com a “morte”, e, em seguida, por meio de Eros, que lhe

promete o paraíso com a condição de não lhe fazer qualquer pergunta.

Ao examinar-se a história de vida de uma mulher, ver-se-á, no primeiro

capítulo ou cenas da sua vida, como ela se apaixonou; no segundo capítulo, a

descoberta e a perda do jardim paradisíaco e para finalmente, acompanhar com

alegria a sua redescoberta, exatamente como lhe fora prometido um dia na

chegada de sua maturidade.

A perda do jardim paradisíaco, para o mito Psique se deu quando esta

cai na trama de suas irmãs e retira a redoma do seu marido, desobedecendo-o e

quebrando a promessa feita, de jamais ver seu rosto. Diz a história, que Psique ao

deparar-se com a beleza do marido, deslumbra-se, mas ao mesmo tempo enche-

se de culpa, pois descobrira um deus, o deus do amor. A mais bela figura de todo

o Olimpo. Aterrorizada, desajeitada, derruba a faca (uma das ferramentas de

Psiquê); colocada a seu lado na cama, para cortar-lhe a cabeça, enquanto dormia,

conselho das irmãs, e ao tentar pegá-la, espeta o dedo em uma das flechas de

Eros e apaixona-se perdidamente pelo marido. A outra ferramenta que está ao seu

alcance é a lâmpada, que ao afastá-la bruscamente, deixa cair no ombro de Eros,

uma gota de óleo, que percebe o que sucedera, acorda com dor e como tem asas,

voa para longe.

Psiquê é punida com o seu afastamento. Eros voa para a sua mãe

Afrodite.

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No mito, as irmãs representam aquelas vozes rabugentas, que

resmungam sem parar, dentro de cada um, executando a dupla tarefa de destruir

o velho e trazer a consciência do novo.

A sombra obriga a mulher a questionar o jardim paradisíaco e dá-lhe

algumas ferramentas maravilhosas, mas ao mesmo tempo terríveis para usar em

seu propósito: a lâmpada e a faca – esta um símbolo masculino.

A lâmpada significa sua habilidade para o que quer que seja, sua

capacidade para conscientizar-se. A luz – símbolo da consciência, esteja ela nas

mãos do homem ou da mulher.

Das duas ferramentas, Psique só faz uso da primeira, jamais da

segunda. É um sábio conselho que dá o mito. A faca serve só para uso pessoal,

para o discernimento, para a clareza, para abrir caminho através do nevoeiro.

Para uso interno.

Se a mulher souber usar bem suas ferramentas, produzirá o milagre da

transformação.

Quando a mulher acende a lâmpada da consciência vê o animus, e o vê

bem. Assim como Psiquê ela se apavora, ver-se esmagada pela grandiosidade

que ele representa.

Esse evento na vida de Psiquê e na vida da mulher tem algo a ver com

a primeira visão que Parsifal teve no Castelo do Graal. Vê um mundo magnífico,

além da imaginação, mas não pode permanecer nele, assim como Psiquê perde

Eros, logo após haver descoberto sua real, magnificente natureza. (JONHSON,

2009, p.49,50).

3.8 Etapas Evolutivas da Mulher e sua Redenção

As quatro tarefas que Psiquê deverá passar significam a sua redenção.

Eventos psicológicos vêm num pacote: ingenuidade, problema, espera

e solução. São perfeitamente conseguidos em uma estrutura coerente.

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Psicologicamente falando, a carga das tarefas imposta por Afrodite à

pobre Psiquê é a mais pesada registrada na literatura.

A primeira tarefa destinada a Psiquê é uma enorme montanha de

sementes de diferentes tipos, todas misturadas, em que Afrodite diz-lhe que

deverá separar e selecionar as sementes antes do cair da noite e sozinha. Senta,

chora e decide pelo suicídio. De repente, aparece em seu socorro um exército de

formigas, que selecionam e separam as sementes com grande rapidez e aptidão.

O simbolismo mostra que o desafio da mulher é o de fazer prevalecer a

ordem e o método. É a natureza formiga, não é o intelecto, não tem regras a

seguir. É primitiva, instintiva, silenciosa. Esse atributo de selecionar sementes faz

parte da masculinidade interior da mulher. Fazer uso de tal função discriminatória,

fria, seca é própria de seu animus.

A segunda tarefa diz respeito a ida de Psiquê a um campo e juntar um

pouco de lã de ouro dos carneiros. Uma vez mais ela se desestrutura e pensa em

suicídio. Ao se aproximar do rio, os juncos que o margeiam, falam-lhe e lhe dão

conselhos. Diz para que não se aproxime dos animais enquanto houver luz do dia.

À noitinha conseguiria facilmente recolher a lã que ficava presa aos arbustos.

O carneiro representa uma característica masculina, poderosa,

elementar, instintiva, que pode entrar em erupção quando menos se espera.

O mito diz que não se deve arrancar ou usar a lã enquanto ela estiver

no carneiro. O mito adverte para que se tome o poder, essa energia masculina,

somente na necessidade de seus propósitos, sem qualquer jogo de poder.

Há mulheres que precisam de uma porção maior de masculinidade, isso

significa abrir mão de uma parte de sua feminilidade. A mulher deve manter-se

centrada em sua identidade feminina e só usar sua força masculina para

beneficiá-la, como uma ferramenta consciente.

A terceira tarefa, Afrodite manda-lhe encher uma taça de cristal com a

água do Estige – um rio que desce do alto de uma montanha, (que é guardado por

um monstro perigosíssimo), passa pelas profundezas abissais do inferno, retorna

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à montanha. Fiel a sua força de reagir, Psiquê, desestrutura-se, mas desta vez,

nem chorar consegue, porque ficou completamente entorpecida pela derrota. È

então que aparece a águia de Zeus. Desejando proteger seu filho Eros, Zeus pede

à águia que assista Psiquê. Ela voa até a jovem, que está perdida em sua aflição,

e pede que lhe dê a taça de cristal, alça vôo para o centro do rio, mergulha-a

naquelas águas turbulentas e perigosas, enche-a e a devolve para Psiquê. Tarefa

cumprida.

Esta tarefa mostra a forma feminina de agir, que é fazer uma coisa de

cada vez, bem feita e com ordenação.

A quarta tarefa – a mais difícil e a mais importante. E muito poucas são

as mulheres que conseguem atingir esse estágio de evolução. Essa é a última

prova pela qual deverá passar Psiquê. Afrodite a instrui para que vá ao mundo

infernal e peça a Perséfone – deusa do inferno, a misteriosa, a eterna donzela, a

rainha dos mistérios – um cofrinho, onde ela guarda seu ungüento de beleza. Mais

uma vez se desestrutura e se dirige a uma torre muito alta com o propósito de

atirar-se de lá. E é exatamente essa torre, que dá a Psiquê as instruções de que

ela tanto necessita para chegar ao mundo dos mortos. De posse das

recomendações, Psiquê segue para o palácio de Plutão, deus dos infernos,

levando o que fora sugerido pela torre. Toda essa fortaleza era necessária, pois

Psiquê iria passar por provas muito difíceis. E o preparo é essencial. Além disso,

não deveria prestar ajuda a ninguém no caminho (somente durante esse estágio

de seu crescimento), pois é um período difícil para a mulher. Deverá recusar

qualquer comida que não seja frugal, enquanto estiver no reino dos morto.

E assim foi feito. Psiquê desce até o rio, depara-se com as dificuldades

as quais a torre a tinha advertido, porém, não obedece aos seus impulsos de

generosidade, recusando ajuda, poupando assim suas energias – essa jornada

requer descanso e introspecção, e assim cumprindo cada etapa. Reuniu forças

para estar cara a cara com a deusa do reino dos mortos. Finalmente, vê-se diante

de Perséfone, recusa a hospitalidade que a deusa lhe oferece. Aceita somente a

mais simples das iguarias e senta-se no chão para comê-la.

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As tarefas anteriores haviam-na fortalecido – e Psiquê cresce em

sabedoria e força. Passa na prova e pede a deusa o ungüento de beleza. Na

última das instruções dadas pela torre, Psiquê desobedece ao sábio conselho e

abre o cofrinho, já no finalzinho de sua jornada. E assim ao abri-lo não encontra

nada dentro dele. O nada sai e recai sobre ela sob a forma de um sono mortal

vindo do inferno. Psiquê cai totalmente inconsciente.

Eros, refeito de seu sofrimento, toma ciência do desastre ocorrido e

encontra a saída para o aprisionamento de Psiquê. Voa até ela, apaga aquele

sono mortal de suas faces e o recoloca no cofre. Adverte-a de a ter sucumbido à

curiosidade e que vá até Afrodite e lhe entregue o misterioso cofrinho. Eros casa-

se com Psiquê, que no tempo devido dá a luz a uma filha, cujo nome é Prazer.

Essa última tarefa representa o passo mais significativo na evolução de

uma mulher. É um degrau que vai gerar poder interior.

Os três primeiros auxiliares de Psiquê eram elementos da natureza – a

formiga, o junco e a águia. A torre é um elemento feito pelo homem e representa o

legado cultural de nossa civilização. Ela ajuda saber como foi que outras

mulheres, em épocas distantes, conseguiram completar sua quarta tarefa.

O problema que parecia insolúvel foi resolvido enquanto a protagonista

estava ocupada em resolver coisas práticas. (JOHNSON, 2009, pp. 80 a 101).

Descobrir caminhos, fortalecer-se, guardando as energias para os

momentos propícios, resistir aos impulsos primitivos, reconhecer a sua herança

cultural, vencer desafios, fazer prevalecer a ordem e o método, seguir o instinto e

ao mesmo tempo ser feminina, fazer uma coisa de cada vez, crescer em

sabedoria e força, eis todo o caminho que a mulher deve percorrer para o seu

crescimento, para a sua evolução. Crescimento esse que é solitário, silencioso,

doloroso.

Pode-se entender através da letra da música a seguir o percurso, a

trajetória de psiquê para o seu crescimento, a busca e a procura de si mesma.

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Caçador de Mim (Milton Nascimento, Sergio Magrão)

Por tanto amor, por tanta emoção

A vida me fez assim

Doce ou atroz, manso ou feroz

Eu, caçador de mim

Preso a canções

Entregue a paixões

Que nunca tiveram fim

Vou me encontrar longe do meu lugar

Eu, caçador de mim

Nada a temer

Senão o correr da luta

Nada a fazer

Senão esquecer o medo

Abrir o peito à força

Numa procura

Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai sonhando demais

Mas onde se chega assim

Vou descobrir o que me faz sentir

Eu, caçador de mim

Nada a temer

Senão o correr da luta

Nada a fazer

Senão esquecer o medo

Abrir o peito à força

Numa procura

Fugir às armadilhas da mata escura

Vou descobrir o que me faz sentir

Eu, caçador de mim

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CAPÍTULO IV

A GRANDIOSIDADE DE JESUS

4.1 A Anima e o Animus de Jesus

“O ser mais perfeito, enviado por Deus como modelo e orientador, o

mestre Jesus, cuja personalidade é ímpar, e para estudá-la é preciso meditar todo

o seu Evangelho”, o que não cabe aqui, neste estudo, mas uma pequena reflexão

sobre a sua anima e seu animus.

Quem é Jesus?

Uns dizem ser a pessoa mais simples que já viveu entre os mortais. Outros, que foi o maior gênio da humanidade. Quaisquer que sejam as declarações e opiniões, uma é incontestável: a principal fonte de informações históricas sobre ele, certamente são os quatro evangelhos. (BRASILEIRO, 2006, p.23).

Cristo foi um ser humano verdadeiro, ao mesmo tempo histórico e

cósmico, que também passou por agonias e aflições, assim como todo ser

humano passa.

Este homem, hebreu de coração e alma, que fez com que nações inteiras abraçassem suas mensagens, assimilassem em suas leis e códigos, preceitos de conduta, baseados nos ensinamentos dele. Ensinamentos que mostravam o homem que ele é, na sua grandeza de criatura feita à imagem e semelhança do próprio Criador, e que deveria, durante sua vida, transformar-se na imagem e no modelo de seu paradigma: Deus. (BRASILEIRO, 2006, p.26).

É de essencial importância, para o destino comum da humanidade,

refletir sobre os exemplos e as palavras de Jesus. Se elas são doces, fraternas,

cheias de amor, são também duras e decisivas.

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Nota-se em Jesus a convivência fascinante da ternura e do vigor.

Mostra-se a ternura própria do feminino e do materno para com as crianças, os

doentes e os marginalizados; por outro lado a determinação ao denunciar a

manipulação do religioso e da imagem de Deus, no masculino. (BOFF, 1995,

p.105).

Em Jesus, se encontram, sensibilidade, capacidade de amar e perdoar,

compaixão para com os sofredores (pobres, oprimidos).

Desde o início da sua pregação, as mulheres o seguem. Quebra vários

tabus que pesavam sobre as mulheres. Mantém uma profunda amizade com

Marta e Maria, conversa publicamente com uma herege samaritana, a sós,

causando perplexidade aos discípulos, e deixa-se tocar e ungir os pés por uma

conhecida prostituta, Madalena, subvertendo o costume daquela época. São

várias as mulheres que foram beneficiadas com o seu cuidado e carinho.

Admira-se a sensibilidade feminina de Jesus, o seu enternecimento

diante dos necessitados, o seu profundo sentido espiritual da vida, a ponto de ver

a sua ação providente em cada detalhe da vida, nos lírios do campo e nos sinais

atmosféricos, deve-se, então, também supor que ele aprofundou esta dimensão

após o seu contato com as mulheres, aprendendo com elas e vendo a realidade a

partir da sensibilidade delas.

A mensagem e a prática de Jesus significam uma ruptura com a

situação imperante e a introdução de um novo tipo de relação, fundado não na

ordem patriarcal da subordinação, mas no amor indiscriminado que inclui a

igualdade entre o homem e a mulher. (MURARO. BOFF, 2002, p.97 a 101).

Jesus é o arquétipo do inconsciente coletivo, pois é o inspirador da

alternativa do bem para toda a humanidade.

O homem está sendo convocado a revisitar sua anima, e junto com o

animus construir uma história de integração, onde se definirá pelas características

da sua personalidade, feminina / masculina, mais solidária e cooperativa, sentir-se

um ser espiritual, capaz de dialogar com o seu Profundo e escutar as mensagens

que vêm de lá.

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Integrado na diversidade masculino / feminino, pode irradiar uma vida

com mais inocência, ou seja, sem o poder destrutivo, com mais chances de ser

feliz, pois que, as duas naturezas se misturam dentro do homem: a humana e a

divina. (BOFF, 1995, p.106).

“Deus está na criatura, e a criatura nele”. (DENIS, 1992, p.36).

O grande símbolo das duas naturezas: a humana e a divina é o Cristo,

e as dimensões dessa realidade são expressas no simbolismo da doutrina cristã.

Nela é dito que Deus veio habitar o mundo físico e o redimiu. Deus torna-se

humano. Isso implica em dizer que esse mundo físico, este corpo material e a vida

que se leva na terra também são sagradas; que os seres humanos têm o seu

próprio valor intrínseco, o mundo físico tem sua própria beleza e suas próprias leis

para serem observadas.

O caminho para a iluminação, para a alma é encontrado dentro desta

vida mortal, na simplicidade da vida e nos relacionamentos com pessoas comuns.

Vive-se essa natureza dual de uma forma ou de outra, consciente ou

inconscientemente. (JOHNSON, 2009, pp. 225 e 226).

O maior de todos os ensinamentos está em conhecer a si mesmo, pois

quando o homem conhece a si mesmo, ele conhece a Deus, disse Clemente de

Alexandria em tempos remotos. Jung (apud Johnson, 2009, p.107 e 108).

E Monoimos, na sua carta a Theophrastus, escreve:

Busca por Ele fora de ti e descobre quem é que comanda tudo dentro de ti, e compreenderás por que razão existe dor e alegria, amor e ódio... e por que te irritas quando não querias te irritar, e te apaixonas quando não querias te apaixonar. E, se observares atentamente tais coisas, tu O encontrarás dentro de ti, o Um e o Todo. (Jung in Monoimos apud. Johnson, 2009, p.108).

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CONCLUSÃO

Pretendeu-se mostrar com este trabalho, que masculino e feminino

existem em cada ser humano, como forças; realizadoras de identidade e de

diferenças.

Foi possível constatar que homens e mulheres precisam perceber e

trabalhar essas forças, na medida certa, pegar a quantidade suficiente para usá-

las na sua psiquê, como ferramentas para o seu crescimento pessoal e do outro,

não contra o outro; que homens e mulheres nascem equipados com uma estrutura

psicológica, que inclui a riqueza de ambos os lados, com os pares de capacidades

e forças, pois que a psiquê é andrógina.

Percorrendo brevemente as definições e conceitos de anima e animus

pode-se compreender que nenhuma qualidade ou característica da personalidade

humana é completa em si: cada uma deve se fazer acompanhar de seu “par”

masculino ou feminino, numa combinação, que passa pelo nível da consciência,

isto, se quiserem alcançar o equilíbrio.

Neste estudo destacou-se, também, a importância da colaboração e

parceria da mulher, no que diz respeito às qualidades femininas, porque são estas

que trazem significado à vida: no relacionamento com outros seres humanos, com

a sua habilidade em suavizar o domínio do homem e a sua sublime capacidade de

amar; com a consciência dos sentimentos e valores interiores e a procura

introspectiva da sabedoria interior, visto que, cada ser tem o seu próprio

testemunho no caminho da vida.

Evidenciou-se, também, que o feminino no homem e na mulher é

aquele momento do mistério, é a capacidade de repouso, de cuidado, de

conservação, de profundidade, de decifrar mensagens escondidas, sob sinais e

símbolos, de guardar no coração, de plenitude interior, de espiritualidade.

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Mostra-se no masculino na mulher e no homem, o outro lado do ser

humano. O da objetividade, da ordenação, do poder, da materialidade, do

movimento para a transformação, para o trabalho e até para a agressividade.

Constatou-se que no feminino – sempre no homem e na mulher - a

viagem é para dentro, para o coração; no masculino, a viagem é para fora, para o

universo.

Reverencia-se no feminino o mistério da vida e de Deus. O desejo, a

vontade em conhecer e decifrar todos os mistérios da vida se encontram no

masculino.

Através das leituras feitas, entendeu-se que a alma seja, do homem ou

da mulher pode fazer somente aquilo que está na sua essência, no seu âmago.

A alma do homem exige que ele seja, e que ele viva, cada uma das

personagens do seu inconsciente: o que ama e o que é amado, o que sofre e o

que renasce de si mesmo e o que busca as respostas para suas perguntas.

Assim, no caminhar humano, será muito bom, se ele puder dar a cada

uma das suas características; a masculina e a feminina a devida atenção.

Aceitando o limite, que essas o sugere, a grandiosidade desenvolvida e

enriquecida ao longo do tempo, perceber a necessidade de cada uma delas.

Reverenciando ambas.

Aí, então, o homem, como símbolo do masculino, e a mulher, como

símbolo do feminino, poderão sempre e a cada encontro, se olharem, se

abraçarem, se desejarem, para mais adiante tornarem agradecidos pela presença

um do outro, conhecendo o outro, conhecendo a si, conhecendo a Deus.

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ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 1 AGRADECIMENTOS 2 DEDICATÓRIA 3 RESUMO 4 METODOLOGIA 5 SUMÁRIO 6 INTRODUÇÃO 7 CAPÍTULO I 9 A BISSEXUALIDADE DAS ALMAS 1.1 Na Psicologia – A Anima e o Animus 9 1.2 Na Mitologia – O Mito do Andrógino 9 CAPÍTULO II 14 A ANIMA 2.1 Definição 14 2.2 O Feminino Inconsciente no Homem 14 2.3 Os Componentes Femininos da Personalidade do Homem 16 2.4 O Mito de Parsifal e a Busca do Santo Graal 17 2.5 A Infância, a Adolescência e a Maturidade do Homem 18 2.6 O Equilíbrio entre o Masculino e o Feminino 19 CAPÍTULO III 22

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O ANIMUS 3.1 Definição 22 3.2 O Masculino Inconsciente na Mulher 22 3.3 O Mito de Eros e Psiquê 23 3.4 Os Elementos Míticos – Afrodite e Psique 24 3.5 O Desenvolvimento Psicológico e Mítico da Mulher 25 3.6 Eros 25 3.7 As Ferramentas da Mulher 26 3.8 As Etapas Evolutivas da Mulher e a sua Redenção 28 CAPÍTULO IV 33 A GRANDIOSIDADE DE JESUS 4.1 A Anima e o Animus de Jesus 33 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 38 ÍNDICE 42