transferÊncia gÊnica de fibroblastos, oÓcitos e …
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ANDRESSA PEREIRA DE SOUZA
TRANSFERÊNCIA GÊNICA DE FIBROBLASTOS, OÓCITOS E EMBRIÕES
SUÍNOS MEDIADA POR POLIETILENOIMINA
Tese apresentada ao Curso de Pós-graduação em Ciência Animal, do Centro de Ciências
Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV-UDESC), como requisito para obtenção de grau de Doutora em Ciência
Animal. Orientador: Prof. Dr. Carlos André da Veiga Lima
Rosa Coorientadora: Dra. Mariana Groke Marques
Lages, SC
2019
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A minha família dedico ...
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelas oportunidades que tem me
proporcionado ao longo da vida. Agradeço em especial a minha família por ter
sempre acreditado em mim e por proporcionar condições para a realização dos
meus sonhos.
Ao meu companheiro Albert, por todo amor e apoio incondicional nesta
caminhada.
A meu orientador prof. Carlos André, pela confiança e oportunidade de
obtenção deste título, aos professores do CAV que com os quais tive a oportunidade
de ampliar meus conhecimentos.
A minha amiga e coorientadora Mariana pela amizade, confiança e todos os
ensinamentos. No período que convivemos eu cresci não só como profissional, mas
também como mulher, aquela que luta pelo que acredita e não se deixa corromper,
você é meu exemplo, Muito Obrigada! Ao Dahmer, pela amizade e auxílio na
realização dos experimentos, você é um exemplo de dedicação e profissionalismo.
Agradeço também ao José e a Ana Paula, sua amizade e apoio foram muito
importantes para mim.
A todas pessoas que passaram pelo laboratório de reprodução, com quais
tive a oportunidade de aprender e que me ajudaram chegar até aqui, em especial a
Dani, Ger, Bruna S, Bruma M, Amanda, Manu, Lana, Silvana, Jéssica, Karol e Shai,
obrigada pela amizade!
Agradeço também todos os profissionais que me ajudaram no
desenvolvimento deste trabalho em especial ao Noé, Sandra, Adriana, Alexandre,
equipe do NAP e todos que contribuíram para o desenvolvimento deste. A Embrapa
Suínos e Aves e aos frigoríficos Ecofrigo e Frigolaste por possibilitarem o
desenvolvimento deste trabalho. Ao Programa de Pós-Graduação Ciência Animal/
UDESC, pela oportunidade de realizar o doutorado. Ao Programa UNIEDU pela
concessão da bolsa de doutorado.
A todos que fizeram do meu doutorado, um período de crescimento pessoal,
técnico e profissional, muito obrigada!
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RESUMO
SOUZA, A. P. Transferência gênica de fibroblastos, oócitos e embriões suínos mediada por polietilenoimina. 2019. 87p. Tese (Doutorado em Ciência Animal.
Área: Produção Animal) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de
Pós-graduação em Ciência Animal, Lages, 2019.
Diferentes metodologias são utilizadas para produzir suínos transgênicos, entre elas estão microinjeção pronuclear, transferência gênica mediada por espermatozoide,
microinjeção de vetores retrovirais em oócitos, transferência nuclear de células somáticas previamente modificadas. Todos esses métodos foram capazes de produzir com sucesso suínos transgênicos. Porém, ainda apresentam limitações,
como a baixa integração do transgene e baixo percentual de animais produzidos, ainda, algumas são caras e laboriosas. Assim, torna-se relevante o desenvolvimento
de métodos e padronizações que aumentem a eficiência e melhorem a relação custo-benefício da produção de suínos geneticamente modificados. A Polietilenoimina (PEI) é um polímero catiônico, que condensa o DNA em partículas
carregadas positivamente, formando complexos que se ligam aos resíduos de superfície aniônicos e são levados para dentro da célula por endocitose. Tem-se
descrito o uso da PEI como um bom agente transfectante numa ampla gama de tipos celulares, apesar disso, até o momento não há um protocolo desenvolvido para este polímero visando a transfecção de células na espécie suína. Diante disto, o
objetivo do presente trabalho desenvolver protocolos de transfecção celular eficiente para fibroblastos fetais, oócitos e embriões suínos. Para isso, o presente trabalho foi
realizado em duas etapas. A etapa I consistiu no desenvolvimento de um protocolo para de transfecção gênica para fibroblastos fetais suínos (FFS). Para isso foram conduzidos 3 experimentos. No experimento 1 foi avaliada a capacidade da PEI de
ser internalizada em diferentes concentrações (0,625; 1,25; 2,5; 5; 10; 20; 40 e 80µg/mL) por incubação em diferentes períodos (0,5, 1 e 2 horas). O experimento 2
foi realizado para determinar a melhor razão polímero/eDNA, sendo o grau de complexação avaliado por eletroforese em gel de agarose. No experimento 3, a transfecção foi realizada baseada nos resultados dos experimentos anteriores. Para
a transfecção, foram utilizadas as concentrações 10 e 40µg/mL, a razão N/P igual a 2, por um período de incubação de 0,5h. Não foi verificada diferença entre as
concentrações de PEI utilizadas na porcentagem de células positivas para GFP, no entanto, a concentração de 40µg/mL causou maiores danos as células transfectadas. Além disso, a GFP foi expressa por um período de 3 dias, o que
sugere que o plasmídeo atingiu o núcleo dos fibroblastos, tendo o gene sido expresso de forma não transiente. A etapa II, consistiu no desenvolvimento de um
protocolo para de transfecção gênica para oócitos e embriões suínos. Nesta etapa foram conduzidos 2 experimentos. No experimento 1 foi avaliada a capacidade da PEI de ser internalizada em diferentes concentrações (10; 20; 40 e 80µg/mL). No
experimento 2, baseado nos resultados do experimento 1, as transfecções foram realizadas utilizando as concentrações 20 e 80µg/mL, a razão de PEI/ eDNA igual a
2, por 0,5h de incubação. Nesta etapa foi demostrado que a PEI, diferente de outros agentes transfectantes, tem a capacidade de passar a zona pelúcida, sendo o protocolo desenvolvido foi capaz de produzir blastocistos transgênicos para GFP,
tanto de oócitos e embriões transfectados. Os resultados apresentados neste trabalho mostram que através da transfecção gênica mediada pela polietilenoimina
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foi possível gerar fibroblastos e blastocistos suínos transgênicos para proteína verde
fluorescente de forma eficiente. Palavras-chave: Polímero catiônico. Vetores não virais. Entrega de genes.
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ABSTRACT
SOUZA, A. P. Polyethyleneimine-mediated gene transfer in swine fibroblast, oocyte and embryos. 2019. 87p. Doctoral Thesis in Animal Science. Area of
concentration: Animal Production – Santa Catarina State University. Animal Science
Postgraduate Program, Lages, 2018.
Different methodologies are used to produce transgenic pigs, among them are pronuclear microinjection, sperm-mediated gene transfer, microinjection of retroviral vectors into oocytes, and nuclear transfer of previously modified somatic cells. These
methods are able to successfully produce transgenic pigs. However, limitations such as low transgene integration and low percentage of animals produced, furthermore
some are expensive and laborious. The development of methods and standards increases the efficiency and improve the cost-benefit ratio of genetically modified pig production becomes relevant. Polyethyleneimine (PEI) is a cationic polymer which
condenses the DNA into positively charged particles forming complexes that bind to the anionic surface residues and are carried into the cell by endocytosis. The use of
PEI as a transfectant agent in a wide range of cell types has been described, however, so far has not been yet a protocol developed for this polymer to transfect of cells into the swine species. In view of this, the objective of the present work was to
develop efficient cellular transfection protocols for fetal fibroblasts, oocytes and swine embryos. The present work was carried out in two stages. Stage I consisted of the
development of a protocol for gene transfection for swine fetal fibroblasts (FFS). Therefore, 3 experiments were conducted. In the experiment 1, the capacity of the PEI to be internalized at different concentrations (0.625, 1.25, 2.5, 5, 10, 20, 40 and
80μg / mL) by incubation at different periods (0.5, 1 and 2 hours). Experiment 2 was performed to determine the best polymer / eDNA ratio, and the degree of
complexation was evaluated by agarose gel electrophoresis. In experiment 3, transfection was performed based on the results of the above experiments. For transfection, the concentrations 10 and 40 μg / mL were used, the N / P ratio was 2,
for an incubation period of 30 minutes. No difference was found between the concentrations of PEI used in the percentage of GFP positive cells, however, the
concentration of 40 μg / ml caused greater damage to the transfected cells. In addition that, GFP was expressed for a period of 3 days, suggesting that the plasmid reached the fibroblast nucleus, and the gene was expressed non-transiently. Stage II
consisted of the development of a protocol for gene transfection for oocytes and swine embryos. In this stage 2 experiments were conducted. In the experiment 1, the
capacity of the PEI to be internalized in different concentrations (10; 20; 40 and 80μg/mL) was evaluated. In experiment 2, based on the results of experiment 1, transfections were performed using concentrations of 20 and 80μg / mL, the PEI /
eDNA ratio was 2, for 0,5 hours of incubation. In this step it was demonstrated that PEI, unlike other transfecting agents, has the ability to pass the zona pellucid, and
the protocol developed was able to produce transgenic blastocysts for GFP, both oocytes and transfected embryos. The results presented in this work show that through polyethyleneimine-mediated gene transfection it was possible to generate
transgenic fibroblasts and swine blastocysts to efficiently express fluorescent green protein.
Keywords: Cationic polymer. Non-viral vectors. Gene delivery.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Capítulo 1
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Médias das porcentagens de células que internalizaram a PEI/FITC quando
submetidas a diferentes tempos de incubação (A) e diferentes
concentrações de PEI-FITC (B). Os dados estão apresentados na forma de
média dos quadrados mínimos das porcentagens ± EP. Letras sobrescritas
representam diferença significativa (p<0,05)...............................................46
Fibroblastos fetais suínos incubados com PEI-FITC por 0,5h. Fibroblastos
incubados com 10µg/mL de PEI-FITC em luz branca (A) e luz ultravioleta
(A’). Fibroblastos incubados com 40 µg/mL de PEI-FITC em branca (B) e
luz ultravioleta (B’).......................................................... ..............................46
Eletroforese em gel de agarose de diferentes razões PEI-
eDNA............................................................................................................47
Médias das porcentagens de fibroblastos fetais suínos que expressaram
proteína verde fluorescente após incubação com os poliplexos. A:
Expressão de GFP de acordo com a concentração de PEI no poliplexo. B:
Expressão de GFP ao longo do tempo. Os dados estão apresentados na
forma de média dos quadrados mínimos das porcentagens ± EP. Letras
sobrescritas representam diferença significativa (p<0,05)...........................48
Médias das porcentagens de fibroblastos fetais suínos com lesão de
membrana citoplasmática transfectados com diferentes concentrações de
PEI ao longo do tempo. Os dados estão apresentados na forma de média
dos quadrados mínimos das porcentagens ± EP. Letras sobrescritas
representam diferença significativa (p<0,05)...............................................50
Figura 6 - Avaliação da expressão de GFP (avaliados no canal FL-1, linha
superior) e integridade de membrana plasmática (canal FL-2, linha inferior)
dos FFS após 24 horas da transfecção, realizada através de citometria de
fluxo. A’ e B’: Grupo controle (sem incubação com poliplexos). A’’ e B’’:
Fibroblastos fetais suínos transfectados com o poliplexos 1. A’’’ e B’’’:
Fibroblastos fetais suínos transfectados com o poliplexos 2. ......................50
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Capítulo 2
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Coleta de embriões suínos. Dissecção do oviduto (Figuras 1A e 1B).
Localização da entrada do infundíbulo (Figura 1C). Lavagem do oviduto
(Figura 1D). Retirada do oviduto por incisão na junção útero-tubárica
(Figura 1E). Inserção da sonda plástica para a realização de nova lavagem
(Figura 1F). Suspensão do corno uterino pela região cranial (Figura 1G).
Deslocamento do liquido por massagem em direção caudal e a ex tremidade
cranial obliterada com auxílio de pinça hemostática (Figura 1H). Coleta do
líquido que continha os embriões por gravidade pela suspenção da região
cranial do corno uterino (Figura 1I e 1J)................ ........................... ..........66
Média da concentração de PEI-FITC (média de pixels) em oócitos suínos
tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC, analisadas utilizando o
software de análise de imagens ImageJ 1.40g®. Letras sobrescritas
representam diferença significativa (p<0,05)................................. .............73
Oócitos tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC avaliados em
microscópio de fluorescência. A: Concentração 10ug/mL; B: Concentração
20ug/mL; C: Concentração 40 ug/mL e D: Concentração
80ug/mL.......................................................................................................74
Média da concentração de PEI-FITC (média de pixels) em zigotos suínos
tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC, analisadas utilizando o
software de análise de imagens Image J 1.40g®. Letras sobrescritas
representam diferença significativa (p<0,05)...............................................75
Zigotos tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC avaliados em
microscópio de fluorescência. A: Concentração 10ug/mL; B: Concentração
20ug/mL; C: Concentração 40 ug/mL e D: Concentração 80
ug/mL...........................................................................................................76
Média das porcentagens de clivagem, blastocistos e blastocisto GFP
positivos dos diferentes tratamentos. Os dados representam as médias dos
quadrados mínimos ± EP.............................................................................77
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Figura 7
Figura 8
Figura 9
Avaliação da expressão gênica do blastocisto produzido a partir de oócitos
transfectados com pmhyGENIE-5 mediado por PEI na concentração de 20
µg/mL, razão n/p=2 por 0,5h (PEI-O20). A: Blastocisto em eclosão marcado
com Hoescht em luz ultravioleta. B: Blastocisto em eclosão expressando
proteína verde fluorescente em luz ultravioleta...........................................78
Média das porcentagens, blastocistos e blastocisto GFP positivos nos
diferentes tratamentos. Os dados representam as médias dos quadrados
mínimos ± EP...............................................................................................79
Avaliação da expressão gênica do blastocisto produzido a partir de
embriões maturados in vivo transfectados com pmhyGENIE-5 mediado por
PEI na concentração de 20 µg/mL, razão n/p=2 por 0,5h (PEI20). A:
Blastocisto expandido marcado com Hoescht em luz ultravioleta. B:
Blastocisto expandido expressando proteína verde fluorescente em luz
ultravioleta................................................................................................... 79
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 23
2.1 MÉTODOS DE TRANSFECÇÃO GÊNICA ................................................................ 23
2.1.1 Métodos Virais ........................................................................................................... 23
2.1.2 Métodos físicos ......................................................................................................... 24
2.1.3 Métodos químicos .................................................................................................... 25
3 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 31
4 CAPÍTULO 1: TRANSFECÇÃO GÊNICA DE FIBROBLASTOS FETAIS SUÍNOS
MEDIADA POR POLIETILENOIMINA .............................................................................. 37
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 38
4.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................. 39
4.2.1 Reagentes e Químicos ............................................................................................ 39
4.2.2 Preparação da PEI .................................................................................................... 39
4.2.3 Conjugação PEI-FITC............................................................................................... 40
4.2.4 Cultivo celular ............................................................................................................ 40
4.2.5 Experimento 1: Avaliação da internalização da PEI-FITC.............................. 41
4.2.6 Experimento 2: Ensaio de retardo da mobilidade eletroforética ................ 41
4.2.7 Experimento 3: Transfecção de fibroblastos fetais suínos .......................... 43
4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................... 45
4.4 RESULTADOS................................................................................................................ 45
4.4.1 Experimento 1: Avaliação da internalização da PEI-FITC.............................. 45
4.4.2 Experimento 2: Eletroforese em gel de agarose .............................................. 47
4.4.3 Experimento 3: Transfecção de fibroblastos fetais suínos .......................... 48
4.5 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 51
4.6 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 56
5 CAPÍTULO 2: TRANFECÇÃO GÊNICA EM OÓCITOS E EMBRIÕES SUÍNOS
MEDIADA POR POLIETILENOIMINA .............................................................................. 61
5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 62
5.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................. 63
5.2.1 Colheita dos oócitos para maturação in vitro................................................... 63
5.2.2 Maturação in vitro ..................................................................................................... 64
5.2.3 Fecundação in vitro.................................................................................................. 64
18
5.2.4 Cultivo in vitro ........................................................................................................... 65
5.2.5 Colheita dos embriões produzidos in vivo ........................................................ 65
5.2.6 Preparação da PEI .................................................................................................... 66
5.2.7 Conjugação PEI-FITC............................................................................................... 67
5.2.8 Experimento 1: Avaliação da internalização de PEI-FITC.............................. 67
5.2.9 Experimento 2: Transfecção de Oócitos e Embriões suínos ....................... 69
5.3 ANÁLISE ESTÁTISTICA ............................................................................................... 72
5.4 RESULTADOS................................................................................................................ 72
5.4.1 Experimento 1: Avaliação da internalização da PEI-FITC.............................. 72
5.4.2 Transfecção de Oócitos e Embriões suínos ..................................................... 76
5.4.3 Desenvolvimento Embrionário e Expressão de GFP ...................................... 76
5.5 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 80
5.6 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 83
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 87
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1 INTRODUÇÃO
Animais geneticamente modificados (AGM) são organismos que por ação do
homem tenham sequências de DNA exógeno (eDNA) de outra espécie inseridas no
seu genoma, ou que seu patrimônio genético tenha sofrido qualquer alteração
engendrada e executada pelo intelecto humano (RUMPF; MELO, 2005). Suínos
transgênicos ganharam grande importância nos últimos anos. Além do interesse
zootécnico pela espécie, esta destaca-se na pesquisa biomédica, pelo fato de haver
grande similaridade com o ser humano do tamanho, fisiologia e metabolismo dos
órgãos (VAJTA, 2007), bem como na sequência de genes (BENDIXEN et al., 2010)
Modificações direcionadas no seu genoma possibilitam que estes animais produzam
tecidos ou órgãos para xenotransplante em humanos, proteínas de interesse médico
e ainda sejam modelos animais para estudo de doenças humanas (WHITELAW et
al., 1999). Além disso, suínos crescem rápido, são altamente prolíferos, e o custo de
manutenção é relativamente baixo, características que favorecem a produção de
AGM (RUMPF; MELO, 2005).
Diferentes metodologias foram utilizadas para produzir suínos transgênicos,
entre elas estão a microinjeção pronuclear (HAMMER et al.,1985), a transferência
gênica mediada por espermatozoide (LAVITRANO, et al., 2003), os vetores
retrovirais em oócitos (CABOT, 2001), a transferência nuclear de células somáticas
(TNCS) previamente modificadas (PARK et al. 2001) entre outros. Todos esses
métodos foram capazes de produzir com sucesso suínos transgênicos, porém ainda
apresentam limitações, como a baixa integração do transgene e baixo percentual de
animais produzidos, ainda, algumas são caras e laboriosas. Assim, torna-se
relevante o desenvolvimento de métodos e padronizações que aumentem a
eficiência e melhorem a relação custo-benefício da produção de suínos
geneticamente modificados.
Tem-se descrito o uso do polissomo polietilenoimina (PEI) como um bom
agente transfectante numa ampla gama de tipos celulares (YAMANO; DAI; MOURSI,
2010) e para terapia gênica (SHARMA et al., 2011). A PEI é um polímero catiônico,
que condensa o eDNA em partículas carregadas positivamente, formando
complexos que se ligam à resíduos de superfície aniônicos e são levados para
dentro da célula por endocitose (GAO; KIM; LIU, 2007). Além de apresentar
toxicidade limitada e boa eficácia in vitro (MAURISSE et al., 2010), estes polímeros
20
apresentam melhor relação custo-benefício quando comparado a outros agentes
(FUKUMOTO et al., 2010). Ainda, acredita-se que o poliplexo atue diminuindo a
tendência de fusão endossomal e favorecendo a entrada do eDNA no núcleo
(KUNATH et al., 2003). Os complexos PEI/eDNA podem ser adicionados
diretamente ao meio de cultura contendo as células, sem a necessidade de
dispositivos especializados ou equipamentos caros. Desta forma, podem oferecer
uma opção mais acessível e segura para transfecção celular. No entanto, até o
momento, apesar de sua promissora utilização, não há um protocolo padronizado
para este polímero visando a transfecção de células na espécie suína.
Devido ao seu rápido crescimento e potencial proliferativo, os fibroblastos
fetais têm sido o principal tipo celular usado na TNCS associada a transgênese.
Fibroblastos fetais usualmente são mais fáceis de serem reprogramadas do que
células adultas (HEYMAN et al., 2002). Lee et al. (2003) demostraram que a
utilização de fibroblastos fetais na TNCS de suínos, resulta em melhor
desenvolvimento embrionário quando comparado a qualquer célula doadora adulta.
Apesar da TNCS ser atualmente o método mais utilizado e preciso para produzir
suínos geneticamente modificados, a técnica enfrenta desafios que incluem a baixa
eficácia dos métodos de entrega do material genético ao genoma da célula doadora
do núcleo (BRESSAN, 2008). Desta forma, o desenvolvimento de protocolos
eficientes de transfecção para células de suínos doadoras de núcleo é fundamental
para a consolidação da TNCS na produção de suínos transgênicos.
A maturação nuclear dos oócitos de mamíferos envolve a ruptura do envelope
nuclear e a sequência de etapas que completam a meiose I (MI) até ocorrer a
extrusão do 1º corpúsculo polar, atingindo a fase de Metáfase II (MII) (OTERO,
2008). A ausência do envelope nuclear, pode facilitar o contato do eDNA com a
cromatina, permitindo uma maior eficiência na integração do gene de interesse ao
genoma. Assim, a fisiologia dos oócitos favorece a incorporação de eDNA, o que os
torna excelentes candidatos para transfecção. Ainda, nas metodologias atuais de
produção de AGM os oócitos são pouco explorados, na maioria delas, eles são
utilizados apenas como receptores de núcleo, como é o caso na transferência
nuclear de células somáticas modificadas. Os zigotos apresentam alta taxa de
divisão celular, e assim como oócitos podem ser ótimas células para transfecção.
Porém, a transfecção gênica de oócitos e embriões é um desafio, por vários motivos,
entre eles, a presença da zona pelúcida, camada espessa de glicoproteína que
21
protege estas células de agentes exteriores, e a alta sensibilidade de suas células a
agentes estressores. Atualmente a metodologia de AGM mais utilizada para
transfectar oócitos e zigotos é a microinjeção. Porém essa técnica é pouco eficiente,
difícil de ser executada e o número de células que podem ser transfectadas é
limitado (KUES; NIEMANN, 2004). O desenvolvimento de métodos alternativos e
eficientes de transfecção gênica, que superem as limitações para oócitos e
embriões, é de suma importância para o aprimoramento da produção de suínos
transgênicos
Diante disto, o objetivo deste estudo foi desenvolver protocolos de
transfecção celular eficientes e seguros, com a utilização da PEI, para fibroblastos,
oócitos e embriões suínos.
22
23
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 MÉTODOS DE TRANSFECÇÃO GÊNICA
O DNA exógeno, por apresentar carga negativa, é uma macromolécula que
não consegue passar facilmente pela membrana celular e integrar-se no genoma
celular. Por isso, devem ser implementados métodos mecânicos, físicos ou químicos
para permitir a incorporação de DNA exógeno. Por outro lado, para ser transgênico,
um animal deve apresentar o DNA exógeno em todas as suas células, incluindo os
gametas, para permitir a transmissão à progênie. O DNA exógeno deve, portanto,
estar presente em todas as células do embrião, independentemente do método
utilizado para a transferência gênica (HOUDEBINE, 2005).
Vários métodos têm sido desenvolvidos para o estabelecimento de um
eficiente sistema transferência do DNA exógeno para a célula alvo. Os sistemas
existentes incluem carreadores virais (JAENISCH et al., 1975) ou não virais, estes
podendo ser classificados em métodos físicos e químicos (HSU E ULUDAG, 2012).
2.1.1 Métodos Virais
A transfecção utilizando vetores virais constitui uma importante ferramenta
para a introdução de DNA em células mamíferas devido ao seu mecanismo natural
de ultrapassar barreiras celulares e assumir o controle da replicação, transcrição e
tradução (KUES; NIEMANN, 2011). A primeira transferência de DNA exógeno
(transgene) para um mamífero, com posterior transmissão do transgene para a
geração seguinte foi obtida através da infecção de embriões de camundongo com o
retrovírus transmissor da leucemia (JAENISCH et al., 1975).
O uso dos lentivírus para introdução do transgene tem se consolidado como
um processo mais eficiente. A transgênese lentiviral é considerada menos invasiva,
e tecnicamente menos exigente. Além disso, vetores lentivirais podem infectar uma
grande variedade de células de vertebrados, tornando potencialmente útil para criar
animais transgênicos em numerosas espécies (PFEIFER, 2004). Diversos animais
transgênicos já foram produzidos utilizando-se o sistema lentiviral, como por
exemplo, ratos (MICHALKIEWICKS et al., 2007), camundongos (LOIS et al., 2002),
24
bovinos (HOFMANN et al., 2004), suínos (HOFMANN et al., 2003) e aves
(MCGREW et al., 2004).
Apesar dos vetores virais apresentarem características interessantes, seus
componentes imunogênicos, baixa capacidade de carga gênica, capacidade de
causarem tumores, além da sua dificuldade de utilização em larga escala, podem
limitar a utilização na produção de animais transgênicos, bem como na terapia
gênica (HOUDEBINE, 2002; KUES, NIEMANN, 2011).
2.1.2 Métodos físicos
2.1.2.1 Microinjeção pronuclear
Durante anos, a microinjecção de eDNA no pronúcleo de zigotos foi
considerada o método de escolha para gerar um animal transgênico. A microinjeção
foi desenvolvida por Gordon et al. (1980), que demonstrou que o DNA do vírus símio
40 (SV40) heterólogo ao ser microinjetado em pronúcleos de zigotos murinos
integrou-se aos cromossomos, sendo capaz de replicar e ser encontrado nos
tecidos da prole. A injeção pronuclear de eDNA também foi usada para produzir o
primeiro animal transgênico de produção há mais de 20 anos (HAMMER et al.,1985).
Desde então, a tecnologia foi aplicada a outros mamíferos como, coelhos, suínos,
ovinos e bovinos (HOUDEBINE, 2002). A microinjeção consiste na injeção de vários
milhares de cópias de eDNA em pronúcleos de zigotos. Contudo, este método
apresenta problemas que incluem a baixa eficiência (KUES; NIEMANN, 2011).
A microinjeção é um procedimento delicado que necessita equipamentos
sofisticados e técnicos altamente treinados e experientes. Particularmente em
suínos, a opacidade do oócito torna a visualização do seu pronúcleo difícil,
requerendo que sejam centrifugados antes da microinjeção (HAMMER et al.,1985).
Ainda, para a microinjeção as células são manipuladas individualmente, o que pode
acarretar em danos celulares limitando o número de células transfectadas.
2.1.2.2 Eletroporação
Na eletroporação, o eDNA de interesse é incubado em solução
com as células-alvo, sendo a solução submetida a um pulso elétrico de curta
25
duração e alta voltagem, o que provoca desestabilização e a abertura de poros
transitórios nas membranas celulares, permitindo a entrada do eDNA (BRESSAN,
2008).
A eletroporação é uma técnica amplamente utilizada para a introdução de
diferentes macromoléculas tais como proteínas, hidratos de carbono, partículas de
vírus, DNA e mRNA em cultivo de células, tecidos vivos (BARRY, 2001; DEZAWA et
al., 2002) e espermatozoides (RIETH; POTHIER; SIRARD, 2000). Ao contrário da
microinjeção, onde cada célula tem de ser manipulada individualmente, a
eletroporação permite a transfecção em um grande número de células ao mesmo
tempo e a quantidade de eDNA não é um fator limitante. Uma desvantagem de sua
utilização deve-se ao fato de que a eletroporação pode produzir alta taxa de
mortalidade celular, além disso, os protocolos apresentam baixa reprodutibilidade,
fatores que podem limitar seu uso (KUES; NIEMANN, 2011).
2.1.3 Métodos químicos
Problemas de imunogenicidade associados a vírus, adicionados a questões
de produção em larga escala e controle de qualidade, levaram ao surgimento de
vetores não virais como alternativa. Os vetores químicos condensam-se com ácidos
nucléicos e formam nanopartículas para facilitar a entrega do gene, com as
vantagens da menor toxicidade, bom custo-benefício, facilidade de produção e
versatilidade para diferentes aplicações (MORILLE, et al, 2008). Vários vetores não-
virais envolvendo lipídios, polímeros e peptídeos foram desenvolvidos para uso
como carreadores não-virais de entrega de genes (WONG, PELET, PUTNAM,
2007). Os lipídios catiônicos e polímeros catiônicos estão entre os mais estudados.
Lipídeos catiônicos foram estudados inicialmente por Felgner et al (1987) e
diversas formulações lipídicas tem sido descritas desde então, bem como variações
quanto às relações de carga de lipoplexos, decorrente da molaridade do lipídio
catiônico utilizado (positivo) e da molaridade do vetor plasmidial (negativo). Ambas
características, composição lipídica e relação de carga, mostraram afetar a eficiência
de transfecção (PARKER et al., 2003). Os lípidos catiônicos são tecnicamente
simples e rápidos de formular, disponíveis comercialmente e podem ser adaptados
para aplicações específicas (MORILLE, et al., 2008).
26
Polímeros catiônicos, denominados de poliplexos, também tem sido
amplamente estudados como vetores de entrega gênica não-viral (GAO; KIM; LIU,
2007). Entre eles, a polietilenoimina é considerada um dos agentes mais eficazes,
devido à sua habilidade em mediar o escape endossomal do material genético
exógeno, decorrente do efeito esponja de prótons (AKINC et al., 2005).
2.1.3.1 Polietilenoimina
A PEI é um polímero catiônico, que condensa o eDNA em partículas
carregadas positivamente, formando complexos que se ligam à resíduos de
superfície aniônicos e são levados para dentro da célula por endocitose (GAO; KIM;
LIU, 2007). Acredita-se que o poliplexo atue diminuindo a tendência de fusão
endossomal, favorecendo a entrada do eDNA no núcleo (KUNATH et al., 2003).
Além disso, apresentam toxicidade limitada e boa eficácia in vitro (MAURISSE et al.,
2010). Os complexos PEI/eDNA podem ser adicionados diretamente ao meio de
cultura contendo as células, sem a necessidade de dispositivos especializados ou
equipamentos caros. Ainda, a PEI apresenta melhor relação custo-benefício quando
comparado a outros polímeros (FUKUMOTO et al., 2010). Desta forma, a PEI pode
oferecer uma opção mais acessível e segura para transfecção celular.
A aplicação de PEI como reagente de transfecção celular foi relatada pela
primeira vez por Boussif et al. (1995) que demonstrou que a PEI foi capaz de
transferir eDNA para o cérebro de ratos recém-nascidos, dando assim a primeira
evidência para a aplicação in vivo do polímero. Desde então, vários estudos têm
descrito o uso da polietilenoimina (PEI) como um bom agente transfectante numa
ampla gama de tipos celulares (YAMANO; DAI; MOURSI, 2010) e para terapia
gênica (SHARMA et al., 2011). No estudo realizado por Dang et al. (2011), foram
transfectadas células de ovário de hamster (CHO), células embrionárias de rim
humano (HEK293T) e fibroblastos de rim de macaco (COS) com PEI, onde
observaram-se eficiências que variaram de aproximadamente 20% a quase 40%.
Em espermatozoides suínos, nanoparticulas magnéticas revestidas com PEI,
comercialmente disponível como Polymag-1000® (Chemicell, Alemanha), foram
testadas por Fang et al. (2017). Estes autores conseguiram obter suínos
transgênicos para o gene PID1 (Phosphotyrosine Interaction Domain Containing 1),
com 29,16% de eficiência.
27
A eficácia da PEI e seus efeitos citotóxicos dependem em grande parte de
características do polímero como peso molecular, grau de ramificação, densidade de
carga catiônica, propriedades polipeptídicas, tais como como o conteúdo de eDNA,
tamanho de partícula e potencial zeta, além das condições experimentais como a
concentração de poliplexo, a presença ou ausência de soro durante a transfecção, o
tempo de incubação e o modelo de transfecção escolhido para de entrega de genes.
(HSU E ULUDAG, 2012).
2.1.3.1.1 Mecanismo de ação da PEI
A PEI, é um polímero catiônico com alta densidade de carga positiva, e está
entre os sistemas de entrega de genes mais eficientes. A PEI é capaz de condensar
eDNA aniônico em nanopartículas carregadas positivamente formando poliplexos
ligeiramente catiônicos. Esse poliplexo interage com membranas celulares de carga
negativa, e são internalizados por endocitose, através da ligação com protoglicanos
(MISLICK; BALDESCHWIELER, 1996). A liberação dos complexos PEI-eDNA
ocorre no citoplasma após sofrerem o escape endossomal pelo mecanismo
conhecido como “efeito esponja de prótons” (BOUSSIF et al., 1995).
Devido seus grupos primários, secundários e terciários, a PEI demonstra uma
alta capacidade de tamponamento em uma ampla faixa de pH. Assim, poliplexos
presentes no endossomo podem absorver os prótons que são bombeados para
dentro desta organela, e devido à protonação e consequentemente a repulsão dos
grupos amino protonados, ocorre o intumescimento do polímero. Desta forma, a PEI
previne a acidificação nos endossomos e facilita o escape endossomal dos
complexos e, portanto, o eDNA é protegido da degradação mediada por nucleases
nos lisossomos. Além disso, para manter a neutralidade de cargas dentro do
endossomo ocasionado pelo fluxo de prótons, ocorre também um fluxo equivalente
de íons cloreto (Cl -). A entrada de ambos, prótons e íons cloreto, aumenta a
osmolaridade do endossomo e causa uma maior absorção de água. A combinação
do intumescimento do polímero e do inchaço osmótico do endossomo leva a
desestabilização do mesmo e resulta no seu rompimento, com consequente
liberação do seu conteúdo no citoplasma (BOUSSIF et al., 1995; FUNHOFF et al.,
2004; AKINC et al., 2005; LUNGWITZ et al., 2005, PANDEY; SAWANT, 2016).
28
Outra possível explicação para o escape endossomal seria que a protonação
de moléculas de PEI dentro das vesículas lisossomais levem à uma expansão de
sua estrutura polimérica causando a ruptura física da membrana vesicular (BEHR,
1997). Adicionalmente, foi proposto que a carga positiva presente na estrutura de
moléculas de PEI mimetiza sinais de localização nuclear (nuclear localization signals
- NLS) o que poderia também contribuir para a maior eficiência de transfecção e pelo
fato de que complexos de PEI-eDNA serem capazes de transfectar células que não
estão em divisão (BRUNNER et al., 2002).
2.1.3.1.2 Citotoxicidade
Protocolos de transfecção gênica mediados por PEI usam complexos
catiônicos com excesso de PEI para manter o equilíbrio entre as formas complexas
e dissociadas na solução de transfecção (LEE, 2007), pois, a eficiência da
transfecção depende da quantidade de PEI que permanece na forma livre
(CLAMME, AZOULAY E MÉLY, 2003). A presença de PEI livre é essencial para a
modificação e permeabilização da estrutura da membrana endossomal (KLEMM,
YOUNG, LLOYD, 1998). Porém, o excesso de moléculas livres de PEI está
relacionada a citotoxicidade.
Foi relatado a existência de dois diferentes tipos de citotoxicidade envolvidas
na entrega de genes mediada por PEI, uma imediata e outra tardia. A citotoxicidade
imediata está associada com a quantidade de PEI livre, e afeta quase
imediatamente as células. Enquanto a tardia está associada com processamento
celular de complexos PEI/eDNA e leva mais tempo (entre 7 e 9 h), possivelmente
ligada à presença do PEI no núcleo (GODBEY, WU E MIKOS, 1999). Estudos em
mostraram que a toxicidade imediata está ligada a rápida liberação de lactato
desidrogenase (LDH) e translocação de fosfatidilserina da membrana plasmática
interna para a superfície celular externa. E a toxicidade tardia relacionada a
apoptose celular mediada por mitocôndria. O processo apoptótico foi associado à
liberação de citocromo c, após ativação caspases 9 e 3 (MOGHIMI, et al., 2005).
Lee (2007), avaliando a citotoxicidade mediada por PEI em células 293 de rim
embrionário humano, identificou que o complexo PEI/eDNA acarretou em
toxicidades imediatas e tardias, enquanto que a exposição a PEI-livre (sem
complexação) induziu apenas toxicidade imediata. O autor sugeriu que, os
29
agregados de PEI-livre na superfície da membrana plasmática podem romper a
célula, induzindo a toxicidade imediata. Enquanto a citotoxicidade tardia pode ser
relacionada intimamente com a descomplexação da PEI/eDNA. Foi sugerido que a
PEI dissociada pode interagir com vários componentes celulares com cargas
negativas. Essa interação pode interferir nas funções celulares normais e induzir a
apoptose. Portanto, a citotoxicidade do complexo PEI/eDNA pode ser estreitamente
relacionados ao nível de expressão gênica na região mediada pela PEI (LEE, 2007).
Okon e colaboradores (2014) pesquisaram a citotoxicidade de diferentes tipos
de PEI (PEI ramificada 800D e 25kD e PEI linear 20kD) em células HeLa e Vero,
expostas a diferentes concentrações de PEI (0,5 -1000 mg/mL) e avaliadas por MTT
após 24, 48 e 72 horas. O autor verificou que a toxicidade foi dependente do tipo de
PEI, linhagem celular, concentração e foi dependente do tempo. A PEI linear foi
menos tóxica que as ramificadas, em ambas as células. Todos os três polímeros
avaliados demostraram ser mais tóxicos para HeLa do que as células Vero. A maior
toxicidade foi encontrada no tempo de 72 horas, com diferença significativa para os
três polímeros e ambas as linhagens celulares (OKON et al., 2014).
Khansarizadeh et al. (2015), estudando a PEI em células de adenocarcinoma
colorretal humano (HT29), verificou que a maioria das proteínas que interagem com
PEI, como proteínas de choque, glutationa transferase e dissulfeto isomerase de
proteínas estão envolvidas no processo de apoptose em células.
Ficou evidente que a PEI leva a processos de necrose e apotose, porém
diferentes estudos demostram que a citotoxicidade também depende do tipo de
célula, grau de ramificação, concentração e tempo de incubação (MOGHIMI, et al.,
2005; LEE, 2007; KAFIL, 2011; OKON, et al., 2014). Desta forma, o
desenvolvimento de protocolos de transfecção mediados por PEI devem ser
otimizadas especificamente para cada tipo celular, levando em considerações todos
os parâmetros citados, visto, que a toxicidade da PEI está intimamente ligada a
eficiência da transfecção.
30
31
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37
4 CAPÍTULO 1: TRANSFECÇÃO GÊNICA DE FIBROBLASTOS FETAIS SUÍNOS
MEDIADA POR POLIETILENOIMINA
RESUMO
A transferência nuclear de células somáticas (TNCS) é atualmente o método mais utilizado para produzir suínos geneticamente modificados. Porém, a taxa de sucesso
permanece menor do que em outras espécies. Neste sentido, o desenvolvimento de protocolos eficientes de transfecção para células de suínos doadoras de núcleo é
fundamental para a consolidação da TNCS na produção de suínos transgênicos. Os polímeros catiônicos como a polietilenoimina (PEI) se destacam como uma alternativa para entrega segura e eficiente de genes, devido sua boa
biocompatibilidade, versatilidade e tamanho controlável de moléculas, além disso, são baratos e simples de preparar. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar
diferentes concentrações, tempo de incubação e razão polímero/eDNA visando desenvolver um protocolo utilizando o polímero catiônico, polietilenoimina como agente de transfecção de eDNA em fibroblastos fetais suínos. No experimento 1 foi
avaliada a capacidade da PEI de ser internalizada nos fibroblastos fetais suínos em diferentes concentrações (0,625; 1,25; 2,5; 5; 10; 20; 40 e 80µg/mL) por incubação
em diferentes períodos (0,5; 1 e 2 horas), para isso a PEI foi conjugada com o fluoróforo FITC. O experimento 2 foi realizado para determinar melhor razão polímero/eDNA, sendo o grau de complexação avaliado por eletroforese em gel de
agarose. No experimento 3, os fibroblastos fetais foram transfectados utilizando a combinação dos resultados dos experimentos anteriores, sendo a transfecção
gênica dos fibroblastos realizada utilizando-se duas preparações de poliplexo. O poliplexo 1 foi preparado utilizando 10µg/mL de PEI e o poliplexo 2 na concentração de 40µg/mL de PEI, ambos se utilizando da razão de PEI/eDNA igual a 2. O tempo
de incubações das células com os poliplexos foi de 0,5h. Não foi verificada diferença na porcentagem de FFS que expressaram a proteína verde fluorescente entre as
concentrações de PEI/eDNA utilizadas, sendo as taxas encontradas foram de 13,23% ±0,73 e 12,26% ±0,73, para os grupos poliplexos 1 e 2 respectivamente. Além disso, foi verificado que a porcentagem de FFS que expressaram GFP foi
semelhante ao longo de 3 dias de avaliação (24h - 14,32%±0,89; 48h - 12,23%±0,89 e 72h - 11,10%±0,89 dos FFS expressaram proteínas verde fluorescente). Quanto a
integridade de membrana plasmática, não foi observada lesão de membrana significativa para a concentração 10µg/mL nos períodos avaliados, entretanto, a concentração 40µg/mL apresentou altos índices de lesão de membrana nos
períodos de 24 e 72 horas pós transfecção (52,01%±3,36 e 43,43%±3,36 respectivamente). Conclui-se que o protocolo de transfecção constituido por PEI na
concentração de 10µg/mL, combinado com a razão N/P de 2, com incubação de 0,5h, foi capaz de transfecctar com sucesso fibroblastos fetais suínos, sendo que a porcentagem de células GFP positiva se manteve constante ao longo do tempo
avaliado, sem causar lesão de membrana significativa nos fibroblastos. Palavras-chave: Polímero catiônico. Vetores não virais. Transgenia.
38
4.1 INTRODUÇÃO
Suínos transgênicos ganharam grande importância nos últimos anos pois
além da importância zootécnica, existe o crescente interesse pela espécie na
pesquisa biomédica pelo fato de haver grande similaridade com o ser humano no
tamanho, fisiologia e metabolismo dos órgãos, bem como na sequência de genes. A
transferência nuclear de células somáticas (TNCS) é atualmente o método mais
utilizado para produzir suínos geneticamente modificados. Porém, a taxa de
sucesso permanece menor do que em outras espécies (MUENTHAISONG et al.,
2011). A TNCS associada a transgênse combina a técnica de clonagem por
transferência nuclear com a transgenia, gerando animais transgênicos clonados.
Para isso, uma célula previamente modificada geneticamente é transferida para
oócitos enucleados (LI et al., 2009). Assim, a célula doadora tem um papel
fundamental na TNCS associada a transgênese, podendo determinar o sucesso do
procedimento. Dentre as células somáticas que já foram usadas no processo de
transferência, estão as células da glândula mamária, fibroblastos fetal e adulto,
células da granulosa mural, células da tuba uterina, células do cúmulus, células
tronco embrionárias e células de Sertoli (ARAT et al., 2002; POWELL et al., 2004;
CAMPBELL et al., 2007; NEVES et al., 2010). Devido ao seu rápido crescimento e
potencial proliferativo, os fibroblastos fetais têm sido o principal tipo celular usado
(KUHHOLZER et al., 2000). Além disso, as células somáticas fetais usualmente são
mais fáceis de serem reprogramadas do que células adultas (HEYMAN et al., 2002).
Lee et al. (2003) demostraram que a utilização de fibroblastos fetais na TNCS de
suínos, resulta em melhor desenvolvimento embrionário quando comparado a
qualquer célula doadora adulta. Porém, a produção de células doadoras de núcleo
transgênicas depende de um método eficiente de transfecção. A TNCS associada a
trangênsese enfrenta desafios que incluem a baixa eficácia dos métodos de entrega
do material genético ao genoma da célula doadora do núcleo (BRESSAN, 2008).
Desta forma, a identificação de um sistema barato, simples e eficiente para entrega
de eDNA em células doadoras de núcleo impactariam positivamente nas
metodologias transgênicas baseadas em TNCS.
Entre os métodos disponíveis para a entrega de genes em células doadoras
de núcleo, estão, a eletroporação (ANDREASON; EVANS, 1989), o uso de vetores
lentivirais (BRESSAN, 2008), lipofecção (FELGNER et al., 1987) e de polímeros
39
catiônicos (PHAM; KAMEN; DUROCHER, 2006). Os polímeros catiônicos como a
polietilenoimina (PEI) se destacam como uma alternativa para entrega segura e
eficiente de genes, devido à sua boa biocompatibilidade, versatilidade e tamanho
controlável de moléculas, além disso, são baratos e simples de preparar
(LUNGWITZ et al., 2005). A PEI condensa o eDNA em partículas carregadas
positivamente, formando complexos que se ligam à resíduos de superfície aniônicos
e são levados para dentro da célula por endocitose (GAO; KIM; LIU, 2007). Entre
eles, a polietilenoimina é considerada um dos agentes mais eficazes, devido à sua
habilidade em mediar o escape endossomal do material genético exógeno
decorrente do efeito esponja de prótons (AKINC et al., 2005). Apesar de
apresentarem muitas vantagens, a eficiência de entrega depende da otimização de
parâmetros como concentração, tempo de incubação, razão de polímero/plasmídeo,
que precisam ser otimizadas para cada tipo celular. Nesse contexto o objetivo deste
trabalho foi avaliar diferentes concentrações, tempo de incubação e razão
polímero/eDNA visando desenvolver um protocolo utilizando o polímero catiônico,
polietilenoimina, como agente de transfecção de eDNA em fibroblastos fetais suínos.
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
4.2.1 Reagentes e químicos
Exceto quando indicado, todos os reagentes utilizados para este experimento,
bem como os produtos químicos para a preparação dos meios de maturação,
fertilização e cultivo in vitro foram obtidos da Sigma Chemical Co. (St. Louis, MO,
USA).
4.2.2 Preparação da PEI
Para realização dos experimentos foi utilizada polietilenoimina ramificada com
um peso molecular de 25 kDa. A solução estoque de 18mM de polietilenoimina foi
preparado diluindo 16,2 mg/mL de PEI em 20 mL de PBS com pH ajustado para 7.
40
4.2.3 Conjugação PEI-FITC
A conjugação da PEI com isotiocianato de fluorosceína (FITC) foi realizada de
acordo com Saito e Saitoh (2012). Para isso foram preparadas duas soluções. A
primeira solução, de PEI a 20 mg/mL em PBS, a qual foi mantida sob refrigeração
(4-8 °C) por 24 horas. A segunda solução, de FITC diluído em DMSO na
concentração de 10 mM. As soluções foram misturadas para obtenção da
concentração final de 0,1 mM de FITC, e mantidas sob agitação por 2,5 horas para
completa conjugação. A solução resultante foi dialisada em 1 litro de PBS gelado por
24 horas, para remoção de partículas de FITC não ligadas a PEI.
4.2.4 Cultivo celular
Fetos suínos de aproximadamente 50 dias de idade foram obtidos em
abatedouro e transportados em frascos estéreis até o laboratório. Sob fluxo laminar,
os fetos foram retirados do saco amniótico e transferidos para placas de petri
estéreis. Fragmentos de pele foram removidos assepticamente e lavados 3 vezes
em PBS com antibiótico (50 UI/mL de gentamicina) em seguida foram cortados em
pequenas frações de 2 a 3 mm e transferidos para placas de Petri (35mm) cobertas
com 2 mL de DMEM (Gibco®) suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB) e
50 UI/mL de gentamicina (DMEM suplementado). As placas foram incubadas a
37°C, 5% de CO2 em ar e alta umidade. Após 3 dias de cultivo, foi adicionado 1 mL
do meio de cultura fresco em cada placa, tomando o cuidado para não descolar os
fragmentos do fundo da placa de Petri. Ao observar aproximadamente 40% de
confluência, os fragmentos foram retirados cuidadosamente. A identificação dos
fibroblastos foi realizada através da avaliação morfológica em microscopia óptica. Os
fibroblastos permaneceram em cultivo até atingirem aproximadamente 90% de
confluência, quando foram tratados com tripsina (tripsina 0,25%, EDTA 0,025% em
PBS sem cálcio e magnésio) e replaqueados sucessivamente até atingir a 3º
passagem, sendo congelados em meio DMEM suplementado com 20% de SFB e
10% de dimetilsulfoxido (DMSO). Para os protocolos experimentais, os fibroblastos
foram descongelados e cultivados até atingirem 80% de confluência, quando foram
tripsinisados e submetidos aos protocolos experimentais.
41
4.2.5 Experimento 1: Avaliação da internalização da PEI-FITC
Na transferencia gênica mediada por polietilenoimna, a internalização
celular do DNA exógeno presente nos poliplexos ocorre por endocitose. O excesso
de cargas superficiais positivas da PEI aumenta a associação do poliplexo com a
membrana plasmática das células e facilita a sua captação. A eficácia da captação
celular pode ser melhorada através da otimização de alguns parâmetros como
tempo de incubação e/ou da concentração do polímero (HSU e ULUDAG, 2012).
Desta forma, o objetivo deste experimento foi avaliar a eficiência de captação celular
de fibroblastos fetais suínos. Para isso, a PEI foi conjugada ao fluoróforo FITC, e a
porcentagem de FFS que captaram a PEI foi avaliada por citometria de fluxo.
Após o descongelamento, os FFS foram cultivados em garrafas de 25 cm2
contendo DMEM suplementado. Ao atingirem 80% de confluência, os FFS foram
tratados com tripsina (tripsina 0,25%, EDTA 0,025% em PBS sem cálcio e
magnésio) e 2x105 células foram semeadas em placas de Petri (35mm) para compor
os tratamentos. Os FFS foram cultivados por aproximadamente 48h em meio DMEM
suplementado. O cultivo foi realizado em estufa incubadora a 37°C, 5% de CO2 em
ar e alta umidade. Ao atingirem 80% de confluência, o meio de cultura foi substituído
por DMEM (desprovido de SFB e antibiótico) suplementado com oito diferentes
concentrações de PEI conjugado com FITC (PEI-FITC), sendo 0,625, 1,25, 2,5, 5,
10, 20, 40 ou 80µg/mL. As células foram expostas as concentrações de PEI-FITC
por 3 tempos diferentes, sendo, 0,5h, 1h ou 2h. Ao final de cada período, o meio de
cultura foi retirado e a placa lavada com DMEM suplementado. Em seguida as
células foram removidas da placa com auxílio de scrap. As células foram avaliadas
através de citometria de fluxo (BD Accuri™C6). Para mensuração da porcentagem
de células que captaram PEI-FITC foram analisados 10.000 eventos na seleção
(gate) de fibroblastos fetais suínos (com base na dispersão frontal e lateral - FSC e
SSC). A porcentagem de células marcadas com FITC foi avaliada no canal FL1
(FL1: 533 ± 30 nm). Foram totalizadas 4 repetições por tratamento. As
concentrações e o tempo que proporcionaram melhores taxas de internalização
foram avaliadas quanto a integridade de membrana plasmática.
4.2.6 Experimento 2: Ensaio de retardo da mobilidade eletroforética
42
4.2.6.1 Construção, amplificação e purificação do vetor
O plasmídeo utilizado foi o vetor com integração baseada em tranposase
PiggyBac, (pmhyGENIE-5), o qual contém a transposase hiperativa de piggyBac de
mamífero e que codifica a proteína verde fluorescente melhorada (eGFP). O
plasmídeo pmhyGENIE-5 foi gentilmente doado pelo Prof. Dr. Stefan Moisyadi, da
Universidade do Havaí (Honolulu, Havaí, EUA).
O pmhyGENIE-5 foi inserido em bactérias E. coli competentes (DH5α ou
DH10β), segundo Esteves (2001) com modificações. A seleção dos clones foi obtida
pela presença de canamicina em meio Luria-Bertani (LB), referente ao marcador de
resistência a este antibiótico contido no plasmídeo construído, o gene KAN(R). O
eDNA foi isolado utilizando Kit mini preparação plasmidial (miniprep) QIAprep
(QIAprep Spin Miniprep Kit, Qiagen, Hilden, Alemanha), conforme orientações do
fabricante.
3.2.6.2 Eletroforese em gel de agarose
Um dos fatores determinantes na transfecção gênica utilizando
polietilenoimina é identificar a razão ótima entre polímero e o eDNA, também
chamado de razão nitrogênio/fosfato (N/P). Visto que, a internalização e a
estabilidade do eDNA dentro das células depende do grau de complexação destes
elementos. Neste sentido, o ensaio de retardo da mobilidade eletroforética configura-
se como uma importante ferramenta para se estudar a interação entre a PEI e o
eDNA. A técnica de eletroforese em gel de agarose permite avaliar a estabilidade
dos complexos formados em função da razão N/P, a partir da análise da mobilidade
do eDNA na matriz de gel, quando esta é submetida a um campo elétrico. A
molécula de eDNA possui carga negativa então tende a migrar para o pólo positivo,
enquanto que à medida que os poliplexos vão sendo formados, a interação
eletrostática entre o eDNA e os polímeros catiônicos começa a ser tão significativa
que todo o eDNA fica complexado e não se visualiza a migração do mesmo em
direção ao pólo positivo (SEMENSATO,2014).
Para o ensaio de mobilidade eletroforética, os sistemas foram preparados
utilizando-se diferentes proporções polímero/eDNA (razão N/P). O cálculo da razão
N/P considerou que 1 µg/µL de eDNA contém 3 nmol de fosfato e que cada 1 mM/µL
43
de PEI contém 1 nmol de amina. Os sistemas estudados foram preparados para as
seguintes razões N/P: 0,48; 0,6, 0,72; 0,84; 1; 2; 3 e 4. A partir destes dados foram
calculadas as adições de PEI (0,26 mM/µL) necessárias para cada razão, utilizando
uma quantidade fixa de 3 µL eDNA (120 ng/µL). Após 15 minutos, as amostras
foram aplicadas num gel de agarose 2%, contendo 5 µL de brometo de etídio
(10mg/mL) em tampão Tris/Borato/EDTA, (TBE) e corridos a 80 map, 100 V por 60
minutos, sendo a visualização do eDNA foi feita com iluminação UV (254 nm). O
padrão de 1 kb e de 100 pb de marcador molecular de DNA foi utilizado para marcar
o tamanho do DNA.
4.2.7 Experimento 3: Transfecção de fibroblastos fetais suínos
4.2.7.2 Preparação dos poliplexos
Os experimentos anteriores foram realizados para otimizar os parâmetros de
produção dos poliplexos afim de garantir melhores resultados na transfecção de
fibroblastos fetais suínos. Os poliplexos foram preparados utilizando a combinação
dos parâmetros otimizados nos experimentos anteriores. Foram escolhidas para
transfecção as concentrações 10 e 40µg/mL de PEI. A concentração de 10µg/mL foi
a menor concentração de PEI que possibilitou alta taxa de internalização de PEI. E a
concentração de 40 µg/mL foi selecionada porque não diferiu da concentração de 80
µg/mL, e ambas proporcionaram as maiores taxas de internalização. A razão de N/P
de 2 foi selecionada porque foi observado que não existiam cargas negativas
provenientes dos grupos fosfatos presentes no eDNA, e acredita-se que há PEI livre
para interagir com a membrana plasmática. Desta forma, foram produzidos 2
poliplexos:
Poliplexo 1: 10µg/mL de PEI complexado com 37,5µg/mL de pmhyGENIE-5
(razão N/P=2), preparados em DMEM (sem SFB e antibiótico).
Poliplexo 2: 40µg/mL de PEI, complexadas com 150µg/mL de pmhyGENIE-5
(razão N/P=2), preparados em DMEM (sem SFB e antibiótico).
44
4.2.7.3 Transfecção
Após o descongelamento, os fibroblastos foram cultivados em garrafas de 25
cm2 contendo DMEM suplementado por aproximadamente 48h. Ao atingirem 80% de
confluência, os FFS foram tratados com tripsina (tripsina 0,25%, EDTA 0,025% em
PBS sem cálcio e magnésio) e 2x105 células foram semeadas em placas de 24
poços com DMEM suplementado. O cultivo foi realizado em estufa incubadora a
37°C, 5% de CO2 em ar e alta umidade. Ao atingirem 70% de confluência
(aproximadamente 24 horas) os fibroblastos foram distribuídos para compor os
tratamentos:
Controle: FFS incubados com 200µL DMEM sem SFB (sem poliplexo) por 0,5h;
INC10: FFS incubados 200µL de pmhyGENIE-5 (37,5µg/mL) (sem exposição a
PEI) por 0,5h;
INC40: FFS incubados 200µL de pmhyGENIE-5 (150µg/mL) (sem exposição a
PEI) por 0,5h;
PEI10: FFS incubados com 200µL de poliplexo 1 por 0,5h;
PE40: FFS incubados com 200µL de poliplexo 2 por 0,5h;
4.2.7.4 Avaliação da expressão da GFP e da integridade de membrana
citoplasmática
A expressão do GFP e a integridade de membrana citoplasmática foram
avaliadas às 24, 48 e 72 horas pós o início da transfecção através de citometria de
fluxo (BD Accuri™C6). Para isso, as células foram removidas com auxílio de scrap,
centrifugas (700g/5 minutos) e ressuspendidas em 100µL de DMEM suplementado e
avaliadas imediatamente. Para avaliação da integridade de membrana
citoplasmática, 50 µL da suspensão celular foram incubados por 10 minutos com
iodeto de propídio (50µg/mL) e posteriormente avaliadas. Foram analisados 10.000
eventos na seleção (gate) de fibroblastos (com base na dispersão frontal e lateral -
FSC e SSC). A porcentagem de células que expressaram GFP foram avaliadas no
canal FL1 (FL-1: 3533 ± 30 nm) e integridade de membrana no canal FL2 (FL2: 585
± 40 nm).
45
4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A porcentagem de FFS que internalizaram a PEI-FITC, porcentagem de FFS
que expressaram GFP, porcentagem de FFS com lesão de membrana e interação
entre as concentrações de PEI estudadas e o tempo de incubação/avaliação pós
transfecção, foram avaliados por ANOVA usando PROC MIXED (SAS®). Foi
utilizado o LSMEANS (média dos quadrados mínimos) para obtenção das médias
ajustadas dos tratamentos, com comparações utilizando-se o Teste Tukey com 5%
de significância. Os dados foram apresentados na forma de média dos quadrados
mínimos das porcentagens ± EP.
4.4 RESULTADOS
4.4.1 Experimento 1: Avaliação da internalização da PEI-FITC
Não houve interação entre o tempo de incubação e a concentração da
PEI/FITC (p=0,9890). A internalização da PEI/FITC não foi afetada pelo tempo que
os fibroblastos permaneceram em contato com o polímero (p=0,6200), sendo que no
tempo de 0,5h, 50,94%±1,06 das células apresentaram marcação com FITC, o
tempo de 1h apresentou 51,10%±1,06; enquanto o tempo 2h de 52,29%±1,06
(Figura 1A).
Quanto à concentração de PEI-FITC utilizada, foi possível observar que
quanto maior a concentração maior a internalização da PEI/FITC (Figura 1B). Os
FFS tratados com as concentrações de PEI/FITC de 80 e 40µg/mL não diferiram
entre si (p= 0,8388) e apresentaram maiores taxas de internalização da PEI/FITC
(95,61%±1,74 e 92,06%±1,74 respectivamente). Enquanto as concentrações de
0,625 e 1,25µg/mL promoveram menores taxas de internalização (2,22%±1,74 e
3,62%±1,74 respectivamente) e da mesma forma não diferindo entre si (p=0,9991).
As demais concentrações 2,5; 5; 10 e 20µg/mL diferiram entre si e de todas as
outras concentrações e apresentaram taxas crescentes de internalização de PEI-
FITC (15,27%±1,74; 45,09%±1,74; 72,5%±1,74; 85,16%±1,74; respectivamente).
46
Figura 1 - Médias das porcentagens de células que internalizaram a PEI/FITC quando submetidas a
diferentes tempos de incubação (A) e diferentes concentrações de PEI-FITC (B). Os dados estão apresentados na forma de média dos quadrados mínimos das porcentagens ± EP. Letras sobrescritas representam diferença significativa (p<0,05).
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
Figura 2 - Fibroblastos fetais suínos incubados com PEI-FITC por 0,5h. Fibroblastos incubados com 10µg/mL de PEI-FITC em luz branca (A) e luz ultravioleta (A’). Fibroblastos incubados com 40 µg/mL de PEI-FITC em branca (B) e luz ultravioleta (B’).
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
47
4.4.2 Experimento 2: Eletroforese em gel de agarose
A capacidade de ligação entre a PEI e o eDNA foi analisada qualitativamente
através eletroforese em gel de agarose (Figura 3). A primeira e a última coluna
correspondem ao marcador molecular de DNA, e a coluna 2 refere-se ao controle
negativo, onde apenas eDNA está presente (N/P = 0,0). As colunas correspondentes
ao N/P 0,48 ao 0,84 evidenciam que ainda existem cargas negativas provenientes
dos grupos fosfatos presentes no DNA, sendo o polímero, nestas concentrações,
incapaz de neutralizar completamente as cargas, permitindo o deslocamento do
DNA através do gel. É possível notar que conforme a razão N/P aumenta, o
deslocamento do eDNA no gel diminui, e a partir da razão N/P de 1 os poliplexos
permaneceram estáticos sob o campo elétrico, sugerindo partículas neutras ou
positivas.
Figura 3 - Eletroforese em gel de agarose de diferentes razões PEI-eDNA.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
48
4.4.3 Experimento 3: Transfecção de fibroblastos fetais suínos
4.4.3.1 Avaliação da expressão da GFP
Não houve interação entre a concentração de PEI utilizada na preparação do
poliplexo (10 e 40µgm/mL) e o período de avaliação pós transfecção (p=0,4413) na
porcentagem de células que expressaram proteína verde fluorescente. A
porcentagem de fibroblastos que expressaram GFP não foi afetada pela
concentração de PEI (p=0,3552), nem pelo período de avaliação (p=0,0543). A
transfecção utilizando os poliplexos 1 (10µgm/mL) e 2 (40µgm/mL) proporcionaram
taxas de expressão semelhantes da proteína fluorescente (13,23%±0,73 e
12,26%±0,73) respectivamente (p=0,9722), (Figura 4A). A porcentagem de FFS que
expressaram GFP foi semelhante ao longo de 3 dias de avaliação. Após 24h de
transfecção, 14,32%±0,89 dos FFS expressavam GFP, após 48h da transfecção,
12,23%±0,89 e ao final de 72h da transfecção 11,10%±0,89 dos FFS expressaram
proteínas verde fluorescente (Figura 4B). A análise da expressão de GFP através de
citometria de fluxo está demonstrada na figura 6A (linha superior).
Figura 4 - Médias das porcentagens de fibroblastos fetais suínos que expressaram proteína verde fluorescente após incubação com os poliplexos. A: Expressão de GFP de acordo com a concentração de PEI no poliplexo. B: Expressão de GFP ao longo do tempo. Os dados estão apresentados na
forma de média dos quadrados mínimos das porcentagens ± EP. Letras sobrescritas representam diferença significativa (p<0,05).
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
49
4.4.3.2 Avaliação da integridade de membrana citoplasmática
Foi verificada interação (p=0,0074) entre a concentração de PEI utilizada na
preparação do poliplexo e os períodos de avaliação pós transfecção. Os fibroblastos
transfectados apresentaram diferentes taxas de lesão de membrana plasmática, que
variou de acordo com a concentração da PEI no poliplexo (10 e 40µgm/mL) e o
período de avaliação pós transfecção. A porcentagem de fibroblastos com lesão de
membrana encontrados no período de 24 horas para os grupos 0, 10 e 40µgm/mL
foi de 14,3%±3,36 e 19,8%±3,36 e 52,0%±3,36 respectivamente (Figura 5). Como é
possível observar às 24 horas a concentração de 40µgm/mL, diferiu do controle
(p<0,0001) e da concentração 10µgm/mL (p= 0,0002). Às 48 horas, a concentração
de 40µg/mL diferiu apenas do 0µgm/mL (p=0,0043). Sendo que porcentagem de
fibroblastos com lesão de membrana neste período para o grupo 0, 10 e 40µgm/mL
foi de 17,23%±3,36 e 25,05%±3,36 36,38%±3,36 respectivamente. Na avalição de
72 horas após a transfecção, a concentração de 40µg/mL diferiu do 0µgm/mL
(p<0,0141) e da concentração 10µgm/mL (p= 0,0118). Neste período a porcentagem
de fibroblastos com lesão de membrana do grupo 0, 10 e 40µgm/mL foi de
26,06%±3,36 e 25,78%±3,36 e 43,43%±3,36 respectivamente. As concentrações de
PEI de 40µg/mL as 24 e 72 horas não diferiram entre si (p= 0,6798) e apresentaram
a maior porcentagem de fibroblastos com lesão de membrana. A análise da
integridade de membrana plasmática através de citometria de fluxo está
demonstrada na figura 6B (linha inferior).
50
Figura 5 - Médias das porcentagens de fibroblastos fetais suínos com lesão de membrana
citoplasmática transfectados com diferentes concentrações de PEI ao longo do tempo. Os dados estão apresentados na forma de média dos quadrados mínimos das porcentagens ± EP. Letras sobrescritas representam diferença significativa (p<0,05).
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
Figura 6 - Avaliação da expressão de GFP (avaliados no canal FL-1, linha superior) e integridade de
membrana plasmática (canal FL-2, linha inferior) dos FFS após 24 horas da transfecção, realizada através de citometria de fluxo. A’ e B’: Grupo controle (sem incubação com poliplexos). A’’ e B’’: Fibroblastos fetais suínos transfectados com o poliplexos 1. A’’’ e B’’’: Fibroblastos fetais suínos
transfectados com o poliplexos 2.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
51
4.5 DISCUSSÃO
Utilizando a estratégia proposta por Saito e Saitoh (2012), foi possível verificar
que a internalização da PEI-FITC não sofreu efeito do tempo de incubação. Os
resultados sugerem que o período 0,5h de incubação do polímero com as células foi
suficiente para a entrada da PEI. Esse resultado está de acordo com outros estudos
realizados pelo nosso grupo de pesquisa. Souza et al. (2018) ao também avaliarem
fibroblastos feitais suínos incubados com PEI-FITC por 3 horas e 6 horas não
observaram diferenças na taxa de internalização. Da Silva et al. (2018) avaliando a
PEI-FITC em espermatozoides suínos, observou que 10 minutos e 2 horas de
incubação não diferiu nas taxas de internalização. Neste sentido, avaliando
diferentes tipos celulares não encontramos evidências do efeito do tempo de
incubação na internalização da PEI. A maioria dos trabalhos utilizam um período de
transfecção que varia entre 2-6 horas (FORCARTO, 2017; HSU e ULUDAG, 2012),
no entanto, os estudos com polietilenoimina não abordam o efeito do tempo, e
também não o justificam, o que dificulta a comparação de resultados. Ao avaliarem o
mecanismo de endocitose em fibroblastos de camundongo (linhagem L929), Remy-
Kristensen et al. (2001) demonstraram que os poliplexos foram absorvidos
eficientemente em menos de 10 minutos em endossomos que não excederam 200
nm de diâmetro. Em outro estudo com linhagem EA.hy926, foi demonstrado que 30
minutos após a transfecção os complexos PEI/eDNA começaram a se ligar às
superfícies celulares e formar agregados (GODBEY, WU, MIKOS, 1999). Neste
trabalho demonstramos que com 30 minutos de incubação a PEI já se encontrava no
citoplasma de fibroblastos fetais suínos. Desta forma, para as concentrações de PEI,
como as utilizadas neste estudo, deve-se reconsiderar o tempo de incubação PEI-
eDNA. Possivelmente em muitos trabalhos o tempo de incubação utilizado não era
necessário para transfecção e ainda, o excesso de tempo pode estar prejudicando
as células, visto que a citotoxicidade é um dos fatores que mais limita a transfecção,
e que pode ser afetada pelo tempo de exposição das células a PEI/eDNA. Nas
condições estudadas, foi demonstrado que para fibroblastos fetais suínos o tempo
de incubação pode ser reduzido sem prejuízo à endocitose, porém, os demais
parâmetros devem ser considerados para uma eficiente transfecção.
Ao contrário do tempo, a internalização da PEI-FITC, sofreu efeito da
concentração. Embora todas as concentrações de PEI-FITC terem sido
52
internalizadas em FFS, observamos que a porcentagem de células marcadas com
FITC aumentou proporcionalmente junto com a concentração de PEI, isto é, quanto
maior a concentração de PEI, maior o número de células marcadas FITC. Silva et
al. (2018) avaliando diferentes concentrações de PEI marcada com FITC em
espermatozoides suínos, não observou diferença na porcentagem de
espermatozoides que internalizaram PEI-FITC. Porém, o autor usou altas
concentrações de PEI marcada (0,5, 1, 2 e 4 mg/mL), provavelmente a menor
concentração foi suficiente para que grande parte dos espermatozoides
conseguissem internalizar a PEI. Neste estudo os resultados mostraram que
somente a partir da concentração de 10µg/mL de PEI foi possível atingir um grande
número de FFS marcados (72,5%). Já as concentrações de 40µg/mL e 80µg/mL
proporcionaram porcentagem de FFS marcados com PEI-FITC similares, onde
ambas atingiram mais de 90% da população de FFS, o que sugere que nas
condições estudas a concentração 40µg/mL de PEI já é suficiente para atingir o
máximo de FFS marcados. Pelo exposto acima, foram utilizadas as concentrações
de 10 e 40µg/mL para transfectar os FFS. Embora os FFS possam ser facilmente
obtidos e cultivados, a possibilidade de transfectar o máximo de células de uma só
vez impactaria de forma positiva no estabelecimento de linhagens transgênicas, uma
vez que, a triagem e seleção da população de células transgênicas, é um processo
trabalhoso.
A complexação de polímero/eDNA é conhecida como pré-requisito para a
internalização celular e uma transfecção eficiente, uma vez que, a estabilidade dos
poliplexos desempenha um papel importante na proteção do eDNA contra a
degradação por nucleases no meio intracelular (TIAN et al. 2007). Neste sentido a
eletroforese é uma importante ferramenta na avaliação da estabilidade do poliplexo,
e pode ser usada como um guia para estabelecer as condições de preparação e os
estudos de transfecção (SEMENSATO, 2014). Neste estudo verificou-se que a
medida que a razão N/P aumenta, a mobilidade do poliplexos diminuiu, e a partir da
razão N/P igual 1 os poliplexos demonstaram estar complexados e estáveis, já que
não foi mais observado mobilidade do poliplexo no gel. Em geral, a maioria dos
estudos com PEI utilizam razões N/P igual ou superior a 6, pois acredita-se que para
uma transfecção ideal, os poliplexos de PEI devem ser preparados de forma que
aproximadamente 86% do polímero permanece livre e não ligado ao eDNA. Porém,
o excesso de polímero deve ser evitado já que a fração livre não complexada pode
53
prejudicar a função da membrana citoplasmática (FISCHER et al., 1999) e levar a
apoptose (MOGHIMI, et al., 2005). Por esse motivo, foi escolhido a razão PEI/eDNA
igual a 2 para realizar as transfecções, afim de garantir que todo eDNA estivesse
complexado, mas ainda houvesse PEI livre para tornar poliplexos mais propenso à
internalização celular via endocitose. Os estudos preliminares realizados para
otimização da concentração, tempo e razão N/P, levaram a produção de dois
poliplexos onde foram utilizadas as concentrações de PEI de 10µg/mL e 40µg/mL, o
tempo de incubação de 0,5h e a razão N/P igual a 2. Assim, os FFS foram
transfectados utilizando estes dois poliplexos, e a expressão da GFP e integridade
de membrana plasmática foi avaliada ao longo de três dias.
Ambos os poliplexos foram capazes de transfectar os fibroblastos fetais,
aproximadamente 12% dos fibroblastos expressaram a proteína verde fluorescente.
Diferentes taxas de expressão de GFP são relatadas utilizando protocolos com PEI,
mas normalmente a maior parte da expressão é transiente, isto é, são observados
queda gradual na porcentagem de células que expressaram o GFP, certamente pela
não integração do gene de interesse ao material genético da célula hospedeira.
Nesse sentido um fato interessante foi observado em nosso estudo, a porcentagem
de fibroblasto positivos para GFP, não diferiu ao longo dos três dias de avaliação
pós transfecção. Esses resultados sugerem que o plasmídeo atingiu o núcleo dos
fibroblastos e o gene GFP foi transcrito e traduzido na proteína verde fluorescente e
possivelmente integrado ao genoma. Coonrod e Horwitz (1997) observaram que a
integridade do DNA que chega ao núcleo parece ser determinante para a eficiência
de transferência gênica. De fato, a degradação dos ácidos nucleicos por nucleases
citoplasmáticas durante a internalização celular ou trânsito até o núcleo, bem como a
fusão de endossomos contendo o DNA exógeno com os lisossomos é determinante
para o sucesso da transfecção (WATTIAUX et al., 2000; SANZ et al., 2011). Nesse
aspecto, o efeito “esponja de elétrons” proposto para PEI poderia constituir uma
vantagem, visto que o eDNA recebe proteção adicional contra a degradação.
Outra possível explicação para a estabilidade da transfecção pode estar
relacionada a natureza do plasmídeo. O plasmídeo utilizado foi o vetor com
integração baseada no transposon PiggyBac. Os transposons são elementos
genéticos móveis que agem através de mecanismo de transposição do tipo “corta e
cola” através da enzima transposase. As transposases reconhecem e se ligam aos
transposons flanqueadores de elementos de repetição invertidos, cortam esse
54
segmento de DNA do doador e o reinserem no genoma receptor. Essas
propriedades provaram ser uma ferramenta inestimável para entrega de genes em
aplicações como transgênese, mutagênese para pesquisa de câncer ou terapia
gênica. Marh et al (2012), demonstrou uma eficiência cinco vezes maior na
produção de camundongos transgênicos ao realizar a microinjeção pronuclear
utilizando o vetor piggyBac. Neste sentido, o mecanismo de escape lisossomal da
PEI combinado com a natureza do plasmídeo pode estar relacionado na estabilidade
da expressão de GFP mostrada neste trabalho.
O tipo celular é um fator relevante e para a eficiência da transfecção. Neste
estudo foi utilizado fibroblastos fetais suínos de um banco de células
criopreservadas em 3ª passagem. Estudos anteriores observaram que culturas
primárias de fibroblastos humanos são difíceis de serem transfectados (BAUM et al.,
1994; VEELKEN et al. 1994; JORDAN et al., 2008), enquanto células imortalizadas
HeLa são facilmente transfectadas e com alta eficiência. No trabalho realizado por
Dang et al. (2011), transfectando-se células de ovário de hamster (CHO), células
embrionárias de rim humano (HEK293T) e fibroblastos de rim de macaco (COS) com
PEI, observaram-se eficiências que variaram de aproximadamente 20% a quase
40%, sendo que a célula que melhor respondeu à transfecção foi a HEK293T. É
possível perceber que a eficiência da transfecção pode variar grandemente de
acordo com o tipo celular utilizado.
Outro aspecto com grande influência sobre a eficiência da transfecção e que
foi otimizado neste trabalho, é a razão N/P. Nos poliplexos desenvolvidos para
transfecção foi utilizando a mesma razão N/P igual a 2. É interessante destacar que
mesmo utilizando concentrações de PEI bem diferentes (10 e 40µg/mL) obtivemos
porcentagens de expressam de GFP semelhantes. E esse resultado pode estar
relacionado ao fato que ambas as concentrações foram combinadas com a mesma
razão N/P. Forcato et al. (2017), constataram que a eficiência da transfecção foi
afetada principalmente pela razão polímero/eDNA, seguida concentração de DNA e
peso molecular da PEI. Os mesmos autores obtiveram 38,4% de expressão de GFP
em fibroblastos bovinos utilizando a mesma razão N/P igual a 2. Entretanto, outro
estudo também com fibroblasto bovino obteve apenas 2,66% de expressão de GFP
utilizando a razão N/P igual a 6 (ARAÚJO; PEREIRA; CAMARGO, 2014).
Diferente da expressão de GFP, a porcentagem de FFS com lesão de
membrana sofreu influência da concentração de PEI. Observou-se que a
55
concentração de 10µg/mL não causou lesão de membrana significativa nas células
em nenhum dos períodos avaliados pós transfecção. Por outro lado, a concentração
de 40µg/mL levou uma alta taxa de lesão de membrana especialmente às 24 e 72
horas pós transfecção. Fisher et al., (1999) sugeriram que os complexos PEI/eDNA
formam agregados na superfície de membrana plasmática desestabilizando-a, o que
resulta na ruptura. Avaliando os níveis de toxicidade da PEI 25kDa, em fibroblastos
fetais bovinos, Forcato et al. (2012) verificaram que, quando as células foram
transfectadas com 2ug a 4ug/mL de PEI, os índices de células viáveis foram
significativamente diferentes (54,7% e 18,5%, respectivamente), enquanto que
1ug/mL manteve a viabilidade celular em torno de 90% sem diferença estatística
para eficiência de transfecção. Utilizado uma concentração 10 vezes superior ao
autor (10µg/mL) não foi observado lesão de membrana plasmática, o que sugere
que fibroblastos suínos podem ser mais tolerantes a toxicidade causada pela PEI.
Estudos sugerem que a PEI apresenta dois tipos de citotoxicidade, uma
imediata que está correlacionada com a lesão de membrana, e outra retardada, que
está relacionada a descomplexação da PEI dentro da célula. A PEI dissociada pode
interagir com vários componentes celulares com cargas negativas. Essa interação
pode prejudicar suas funções celulares normais e induzir a apoptose. Esses estudos
sugeriram que a citotoxicidade do complexo PEI/eDNA pode ser estreitamente
relacionados ao nível de expressão gênica (GODBEY, WU, MIKOS, 1999; LEE,
2007). No presente estudo não foi observado esse efeito, pois apenas a
concentração de 40µg/mL demonstrou ser citotóxica para as células, e está
apresentou a mesma porcentagem de células GFP positivas que a concentração de
10µg/mL, sendo que essa porcentagem não diferiram ao longo do tempo. Estudos
demostram que a citotoxicidade está relacionada a inúmeros fatores, como, tipo de
célula, peso molecular, grau de ramificação e concentração do polímero, bem como,
tempo de incubação (MOGHIMI, et al., 2005; LEE, et al., 2007; KAFIL, 2011; OKON,
et al., 2014).
56
4.6 REFERÊNCIAS
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60
61
5 CAPÍTULO 2: TRANFECÇÃO GÊNICA EM OÓCITOS E EMBRIÕES SUÍNOS MEDIADA POR POLIETILENOIMINA
RESUMO
Oócitos e embriões são excelentes candidatos para produção de suínos transgênicos devido a sua fisiologia, que favorece a incorporação do DNA, porém, a
presença da zona pelúcida e maior sensibilidade desta espécie a agentes estressores, torna a transfecção um desafio. A metodologia de OGM que utiliza oócitos e zigotos na transfecção é a microinjeção, contudo, esta metodologia
apresenta baixas taxas de transfecção, além de ser laboriosa e exigir equipamentos especializados. O desenvolvimento de métodos alternativos que superem as
limitações de utilização destas células, é de suma importância para o aprimoramento da produção de transgênicos. Os polímeros catiônicos como a polietilenoimina (PEI) se destacam como uma alternativa para entrega segura e eficiente de genes, devido
à sua boa biocompatibilidade, versatilidade e tamanho controlável de moléculas, além disso, são baratos e simples de preparar. Desta forma, o objetivo deste
trabalho foi avaliar o efeito de diferentes concentrações o polímero catiônico polietilenoimina como vetor de eDNA visando desenvolver um protocolo para transfecção de oócitos e embriões suínos. Foram realizados 2 experimentos com
objetivo de otimizar a concentração de PEI para oócitos e embriões suínos. No experimento 1 foi avaliada a capacidade da PEI de ser internalizadas diferentes
concentrações (10, 20; 40 e 80µg/mL) por um período de incubação de 0,5h. Para isso, a PEI foi conjugada com o fluoróforo FITC e incubada tanto nos oócitos quanto nos embriões. No experimento 2, os oócitos e embriões foram transfectados
utilizando as concentrações que proporcionaram maiores taxas de internalização combinadas com a razão N/P e o tempo de incubação otimizados no artigo 1. A
transfecção foi realizada utilizando-se duas preparações de poliplexo. O poliplexo 1 foi preparado utilizando 20µg/mL de PEI e o poliplexo 2 na concentração de 80µg/mL de PEI, ambos combinados da razão de N/P igual a 2, por um período de
incubação de 0,5h. Foram avaliados o desenvolvimento embrionário e a expressão de GFP dos blastocistos produzidos. Não foi verificado efeito da concentração de
PEI (20µg/mL e 80µg/mL) no desenvolvimento embrionário. Foi demonstrado que apenas poliplexo 1 (20µg/mL) foi capaz de produzir blastocistos transgênicos para GFP tanto nos oócitos quanto nos embriões. Conclui-se que o protocolo de
transfecção constituido por PEI na concentração de 20µg/mL, combinado com a razão N/P de 2, com incubação de 0,5 horas, foi capaz de ultrapassar a zona
pelúcida, transfectar oócitos maturados in vitro e embriões produzidos in vivo e gerar blastocistos transgênicos para GFP sem prejudicar o desenvolvimento embrionário.
Palavras-chave: Polímero catiônico. Vetores não virais. Transgenia.
62
5.1 INTRODUÇÃO
Oócitos e embriões são excelentes candidatos para produção de suínos
transgênicos, devido a sua fisiologia, que favorecem a incorporação do DNA.
Oócitos são células germinativas femininas produzidas no ovário durante a
oogenêse. A maturação nuclear dos oócitos de mamíferos envolve a ruptura do
envelope nuclear e a sequência de etapas que completam a meiose I (MI) até
ocorrer a extrusão do 1º corpúsculo polar, atingindo a fase de Metáfase II (MII)
(OTERO, 2008). A ausência do envelope nuclear, pode facilitar o contato do DNA
com a cromatina, permitindo uma maior eficiência na integração do gene no
genoma. Porém, nas metodologias atuais de produção de AGM os oócitos são
pouco explorados, na maioria delas, eles são utilizados apenas como receptores,
como é caso na transferência nuclear de células somáticas (TNCS) modificadas. Os
embriões apresentam alta taxa de divisão celular, e assim como oócitos podem ser
excelentes candidatos para a transfecção. Contudo, a transfecção de oócitos e
embriões é um desafio principalmente devido a presença da zona pelúcida e da
grande sensibilidade desta espécie a agentes estressores. A metodologia de OGM
que utiliza oócitos e zigotos na transfecção é a microinjeção. Porém essa técnica é
pouco eficiente, difícil de ser executada e o número de células que podem ser
transfectadas é limitado (KUES; NIEMANN, 2004). Outra alternativa tem sido o uso
de carreadores virais (HOFMANN et al., 2003), mas além dos potencias efeitos
adversos conhecidos, a necessidade de remoção da zona pelúcida, pode prejudicar
o desenvolvimento embrionário (RIBAS et al., 2006). Em vetores a base de lipídeos
catiônicos a zona pelúcida também mostrou agir como uma barreira na transfecção
de embriões (CARBALLADA; RELLOSO; ESPONDA, 2002). Assim o
desenvolvimento de métodos alternativos e eficientes de transfecção gênica, que
superem as limitações para oócitos e embriões, pode ser uma alternativa mais
barata e eficiente, além de menos laboriosa de produção de suínos transgênicos.
Tem-se descrito o uso do polissomo polietilenoimina (PEI) como um bom
agente transfectante numa ampla gama de tipos celulares (YAMANO; DAI; MOURSI,
2010). A PEI é um polímero catiônico, que condensa o eDNA em partículas
carregadas positivamente, formando complexos que se ligam à resíduos de
superfície aniônicos e são levados para dentro da célula por endocitose (GAO; KIM;
LIU, 2007). Desta forma, podem oferecer uma opção mais acessível e segura para
63
transfecção celular, devido à sua boa biocompatibilidade, versatilidade e tamanho
controlável de moléculas, além disso, são baratos e simples de preparar
(LUNGWITZ, 2005). No entanto, até o momento, apesar de sua promissora
utilização, não há um protocolo padronizado para este polímero visando a
transfecção de oócitos e embriões na espécie suína. Nesse contexto o objetivo
deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes concentrações do polímero catiônico
polietilenoimina como vetor de eDNA visando desenvolver um protocolo para
transfecção de oócitos e embriões suínos.
5.2 MATERIAL E MÉTODOS
5.2.1 Colheita dos oócitos para maturação in vitro
Os ovários foram obtidos em abatedouro localizado na cidade de Chapecó,
SC. Após a colheita, os ovários foram imediatamente lavados em solução fisiológica
(0,9% NaCl) e transportados em recipiente térmico à temperatura entre 30-32°C
para o laboratório. No laboratório, os ovários foram lavados em álcool 70% e
novamente lavados em solução fisiológica aquecida a 36°C.
Para recuperação dos complexos cumulus-oócitos (CCOs) foram aspirados
folículos de 2-5 mm de diâmetro, com auxílio de agulha 18 G acoplada em seringa
de 5 mL. O material aspirado foi depositado em tubos cônicos de 50mL e após um
período de 10 minutos, para a sedimentação dos oócitos, o sobrenadante foi
removido com auxílio de pipeta sorológica de 25 mL e o sedimento foi filtrado em
filtro celular, para remoção de partículas pequenas que atrapalham a recuperação
dos oócitos. O filtro foi lavado e o sedimento ressuspendido em meio lavagem,
composto TCM199 suplementado 10% de SFB, 4mg/mL de BSA e 50 UI/mL de
gentamicina; e distribuído em placas de Petri descartáveis de 100 mm. Os oócitos
foram localizados em esteromicroscópio e transferidos para placas de Petri de 35mm
contendo 2mL de meio de lavagem, sendo então selecionados e avaliados
morfologicamente, quanto à homogeneidade do citoplasma (granulações finas e
homogêneas) e conformação das células do cumulus (mínimo de três camadas de
células do cumulus compactas e completas). Oócitos que possuíam estas
características foram submetidos à maturação.
64
5.2.2 Maturação in vitro
Os CCOs selecionados foram submetidos à MIV em placas de cultivo celular
de 4 poços (NUNC®, Denmark) contendo 400µL de meio de maturação, em grupos
de 40-50 CCOs por poço. Durante as primeiras 22 horas a maturação foi realizada
em meio composto TCM199 suplementado com 3,05mM de glicose; 0,91mM de
piruvato de sódio; 50UI/mL de gentamicina; 0,57mM cisteína; 10% de fluído folicular
suíno (PFF), 10ng EGF/mL e 10UI hCG/mL e 10UI eCG/mL. Ao final deste período
os CCOs foram transferidos para o mesmo meio de maturação desprovido de
hormônios (hCG e eCG), onde permaneceram por mais 22 horas. Os oócitos foram
maturados em estufa a 38,5°C em atmosfera com 5% de CO2 em ar e alta umidade.
5.2.3 Fecundação in vitro
A fração rica do sêmen foi colhida pelo método da mão enluvada. Após a
colheita, o sêmen foi diluído em diluidor comercial na concentração de 35x106
espermatozides/mL e armazenado entre 15 e 18°C por 24 horas. No dia da FIV, 1mL
de sêmen foi centrifugado por 800xg por 3 minutos. Após a centrifugação, o
sedimento foi removido e centrifugado (800xg por 3 minutos) em 1mL meio de
fecundação Porcine fertilization medium (PFM - Cosmo Bio). Ao final da
centrifugação o sobrenadante foi desprezado e o sedimento ressuspendido em 1mL
de PFM. Para a inseminação, foram determinadas a motilidade (microscopia optica)
e a concentração espermática (câmera de Neubauer). Em seguida, 5x105
espermatozoides/mL foram incubados com os oócitos que tiveram as células do
cumulus previamente removida por ação mecânica, em microgotas de 100μL de
PFM cobertas com óleo mineral, sendo mantidos em estufa a 38,5°C; 5% de CO2
em ar e alta umidade. Após 30 minutos, os oócitos e espermatozoides aderidos a
zona pelúcida foram delicadamente colocados em uma nova microgota de 100μL de
PFM, sob óleo mineral. Os oócitos foram mantidos em estufa à 38,5°C; 5% de CO2
em ar e alta umidade por mais 5 horas e meia, totalizando 6 horas.
65
5.2.4 Cultivo in vitro
Para o cultivo, os prezumíveis zigotos foram lavados 3 vezes em meio
definido Porcine Zygote Medium (PZM5 – Cosmo Bio) suplementado com 4mg/mL
de BSA, e 10mg/ml EGF (PZM 5 suplementado) e colocados em microgotas de
100μL deste meio sob óleo mineral para cultivo por 7 dias. No terceiro dia após a
fecundação in vitro, foram acrescentados à microgota de cultivo 45μL do meio PZM5
suplementado (“feeding” 1). No quinto dia pós fecundação, foram retirados 45µL de
meio, e acrescentado novamente 45µL de PZM5 suplementado com 10% de SFB
(“feeding” 2). Os embriões foram cultivados em atmosfera contendo 5% de CO2 em
estufa a 38,5°C e alta umidade.
5.2.5 Colheita dos embriões produzidos in vivo
Os embriões produzidos in vivo foram colhidos de matrizes descartes em
abatedouro. Após 6 horas da detecção de cio, as matrizes receberam 50µg/mL de
GnRH para estimular o crescimento folicular e ovulação. Foram realizadas duas
inseminações com intervalo de 24 horas e 48 horas, após a detecção do cio,
respectivamente. Os úteros foram coletados abatedouro aproximadamente 24 horas
após a última inseminação.
O trato reprodutivo foi coletado e transportado até o laboratório em recipiente
térmico. Os embriões foram coletados por lavagem, conforme ilustrado na Figura 1.
Os 15 centímetros dos cornos uterinos proximais aos ovários foram dissecados
assim como os ovidutos. A extremidade distal da secção do útero foi obliterada com
auxílio de pinça hemostática. Após completa dissecção do oviduto (Figuras 1A e
1B), a entrada do infundíbulo foi localizada (Figura 1C) e nela inserida uma sonda
plástica acoplada à seringa de 20mL contendo PBS com 1% de soro fetal bovino
para a realização da lavagem (Figura 1D). O conteúdo liquido do oviduto foi
massageado em direção ao corno uterino e o oviduto retirado com uma incisão na
junção útero-tubárica (Figura 1E). Neste local, foi inserida uma sonda plástica para a
realização de nova lavagem (Figura 1F). O corno uterino foi suspenso pela região
cranial (Figura 1G) sendo o conteúdo liquido deslocado por massagem em direção
caudal e a extremidade cranial obliterada com auxílio de pinça hemostática (Figura
1H). A extremidade distal então foi liberada e inserida em um tudo cônico de
66
centrifuga de 50mL. O líquido que continha os embriões foi recuperado por
gravidade pela suspenção da região cranial do corno uterino (Figura 1I e 1J). O
lavado foi colocado em placas de Petri de 100mm e observado em
estereomicroscópio para recuperação dos embriões.
Figura 1 - Coleta de embriões suínos. Dissecção do oviduto (Figuras 1A e 1B). Localização da
entrada do infundíbulo (Figura 1C). Lavagem do oviduto (Figura 1D). Retirada do oviduto por incisão na junção útero-tubárica (Figura 1E). Inserção da sonda plástica para a realização de nova lavagem (Figura 1F). Suspensão do corno uterino pela região cranial (Figura 1G). Deslocamento do liquido por
massagem em direção caudal e a extremidade cranial obliterada com auxílio de pinça hemostática (Figura 1H). Coleta do líquido que continha os embriões por gravidade pela suspenção da região
cranial do corno uterino (Figura 1I e 1J).
Fonte: Imagem cedida por Marques, M.G. (arquivo pessoal).
5.2.6 Preparação da PEI
Para realização dos experimentos foi utilizada polietilenoimina ramificada com
um peso molecular de 25 kDa (Sigma-Aldrich). A solução estoque de 18mM de
67
polietilenoimina foi preparado diluindo 16,2mg/mL de PEI em 20mL de PBS com pH
ajustado para 7.
5.2.7 Conjugação PEI-FITC
A conjugação da PEI com isotiocianato de fluorosceína (FITC) foi realizada de
acordo com Saito e Saitoh (2012). Para isso foram preparadas duas soluções. A
primeira solução, de PEI a 20mg/mL em PBS, a qual foi mantida sob refrigeração (4-
8°C) por 24 horas. A segunda solução, de FITC diluído em DMSO na concentração
de 10mM. As soluções foram misturadas para obtenção da concentração final de
0,1mM de FITC, e mantidas sob agitação por 2,5 horas para completa conjugação. A
solução resultante foi dialisada em 1 litro de PBS gelado por 24 horas, para remoção
de partículas de FITC não ligadas a PEI.
5.2.8 Experimento 1: Avaliação da internalização de PEI-FITC
A transfecção gênica de oócitos e embriões é limitada pela zona pelúcida,
uma camada que protege estas células de agentes exteriores, neste caso eDNA.
Desta forma, a PEI-FITC foi utilizada para avaliar a capacidade da PEI em
atravessar a zona pelúcida e a membrana plasmática de oócitos e zigotos. Foram
avaliadas 4 concentrações de PEI-FITC, 80µg/mL 40µg/mL, 20µg/mL e 10µg/mL,
por 0,5h. Neste estudo, não foi avaliado o tempo de incubação, isto porque, em
todos os trabalhos realizados pelo nosso grupo de pesquisa não foram observados
efeito do tempo na internalização da PEI (SOUZA et al., 20017; SILVA, et al., 2018).
No estudo anterior (artigo 1), foi demonstrado que o período de incubação de 0,5h
foi suficiente para internalizição de PEI-FITC em fibroblastos fetais suínos. Desta
forma, utilzou-se o mesmo tempo de incubação (0,5h) para realização de todos os
experimentos deste capítulo.
5.2.8.1 Oócitos
A PEI-FITC foi avaliada em oócitos maturados conforme item 4.2.2. Ao final
da maturação in vitro, as células dos cumulus foram removidas, através de
68
sucessivas pipetagens. Posteriormente os oócitos foram lavados em 3 gotas de
meio MIV2 e distribuídos para compor os tratamentos.
Controle: Oócitos incubados com MIV2 (Sem PEI-FITC) por 0,5h;
PEI 10: Oócitos incubados com 10µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
PEI 20: Oócitos incubados com 20µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
PEI 40: Oócitos incubados com 40µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
PEI 80: Oócitos incubados com 80µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
Ao final do período de exposição os oócitos foram lavados em 3 gotas de
MIV2 e colocados entre lâmina e lamínula para avaliação da internalização de PEI-
FITC em microscópio de fluorescência. A visualização dos oócitos foi realizada
através de microscópio de epifluorescência (Axio Observer A1, Carl Zeiss AG,
Oberkochen, Alemanha) usando filtro de 470-490 nm. Os oócitos foram fotografados
e a porcentagem média de pixels fluorescentes foram analisadas utilizando o
software de análise de imagens Image J 1.40g®. Foram realizadas 4 repetições,
sendo observados 25-30 oócitos por grupo.
5.2.8.2 Zigotos
A internalização da PEI-FITC foi avaliada em zigotos produzidos in vitro
conforme descrito nos itens 5.2.3 e 5.2.4. Aproximadamente 20 horas após a
fertilização in vitro os presumíveis zigotos foram lavados em PZM suplementado e
distribuídos nos tratamentos.
Controle: Zigotos incubados com PZM5 suplementado (Sem PEI-FITC) por 0,5h;
PEI 10: Zigotos incubados com 10µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
PEI 20: Zigotos incubados com 20µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
PEI 40: Zigotos incubados com 40µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
PEI 80: Zigotos incubados com 80µg/mL de PEI-FITC por 0,5h;
Ao final do período de exposição presumíveis zigotos foram lavados e 3 gotas
PZM5 suplementado e colocados entre lâmina e lamínula para avaliação da
69
internalização de PEI-FITC em microscópio de fluorescência. A visualização dos
zigotos foi realizada através de microscópio de epifluorescência (Axio Observer A1,
Carl Zeiss AG, Oberkochen, Alemanha) usando filtro de 470-490 nm. Os zigotos
foram fotografados e a porcentagem média de pixels fluorescentes foram analisadas
utilizando o software de análise de imagens Image J 1.40g®. Foram realizadas 4
repetições, sendo observados 25-30 zigotos por grupo.
5.2.9 Experimento 2: Transfecção de Oócitos e Embriões suínos
5.2.9.1 Construção, amplificação e purificação do vetor
O plasmídeo utilizado na transfecção dos oócitos e embriões foi o vetor com
integração baseada em tranposase PiggyBac, (pmhyGENIE-5), o qual contém a
transposase hiperativa de piggyBac de mamífero e que codifica a proteína verde
fluorescente melhorada (eGFP). O plasmídeo pmhyGENIE-5 foi gentilmente doado
pelo Prof. Dr. Stefan Moisyadi, da Universidade do Havaí (Honolulu, Havaí, EUA). O
pmhyGENIE-5 foi transformado em bactérias E. coli competentes (DH5α ou DH10β),
segundo Esteves (2001) com modificações. A seleção dos clones foi obtida pela
presença de canamicina em meio Luria-Bertani (LB), referente ao marcador de
resistência a este antibiótico contido no plasmídeo construído, o gene KAN(R). O
eDNA foi isolado utilizando Kit mini preparação plasmidial (miniprep) QIAprep
(QIAprep Spin Miniprep Kit, Qiagen, Hilden, Alemanha), conforme orientações do
fabricante.
5.2.9.2 Preparação dos poliplexos
Os poliplexos foram preparados utilizando a combinação dos parâmetros
otimizados nos experimentos anteriores. Foram escolhidas as concentrações 20 e
80µg/mL de PEI, pois foram as concentrações que apresentaram as maiores taxas
de internalização da PEI-FITC. A razão de N/P de 2 foi selecionada a partir do
resultado do artigo 1, onde foi observado que não existiam cargas negativas
provenientes dos grupos fosfatos presentes no eDNA, e acredita-se que há PEI livre
para interagir com a membrana plasmática (artigo 1). Desta forma, foram produzidos
2 poliplexos:
70
Para a transfecção foram produzidos 2 poliplexos:
Poliplexo 1: 20µg/mL de PEI complexado com 150µg/mL de pmhyGENIE-5
(razão N/P=2), preparados em MIV2 ou PZM5 para transfecção de oócitos e
embriões respectivamente.
Poliplexo 2: 80µg/mL de PEI, complexadas com 600µg/mL de pmhyGENIE-5
(razão N/P=2), preparados em MIV2 ou PZM5 para transfecção de oócitos e
embriões respectivamente.
5.2.9.3 Transfecção dos oócitos
Ao final do período de maturação in vitro, os oócitos foram desnudados e
lavados em MIV2 e distribuídos para compor os tratamentos:
Controle: Oócitos incubados com PZM5 suplementado (sem poliplexo) por 0,5h;
INC-O20: Oócitos incubados com 150 µg/mL de pmhyGENIE5 por 0,5h;
INC-O80: Oócitos incubados com 600 µg/mL de pmhyGENIE5 por 0,5h;
PEI-O20: Oócitos incubados com 100 µL de poliplexo 1 por 0,5h;
PEI-O80: Oócitos incubados com 100 µL de poliplexo 2 por 0,5h;
Ao final da transfecção os oócitos foram lavados em 3 gotas de MIV2, em
seguida foram fertilizados e cultivados in vitro de conforme os itens 4.2.3 e 4.2.4
respectivamente.
5.2.9.4 Transfecção dos embriões
Os embriões foram produzidos in vivo conforme a metodologia descrita no
item 5.2.5. Após a recuperação e seleção, os embriões foram distribuídos nos
tratamentos:
Controle: Embriões incubados com PZM5 suplementado (sem poliplexo) por
0,5h;
71
INC-E20: Embriões incubados com 100 µL de solução de pmhyGENIE5
(150µg/mL) em PZM5 por 0,5h;
INC-E80: Embriões incubados com 100 µL de solução de pmhyGENIE5
(600µg/mL) em PZM5 por 0,5h;
PEI-E20: Embriões incubados com 100 µL de poliplexo 1 por 0,5h;
PEI-E80: Embriões incubados com 100 µL de poliplexo 2 por 0,5h;
Ao final da transfecção foram lavados em 3 gotas de PZM5 suplementado e
cultivados em microgotas de 100 µL de PZM5 suplementado, cobertas com óleo
mineral em estufa 5% de CO2 em estufa a 38,5°C e alta umidade por 5 dias.
5.2.9.5 Avaliação do desenvolvimento embrionário
A clivagem foi no 3º dia após a fertilização in vitro, onde foram considerados
clivados os embriões que apresentavam duas ou mais células, sem sinais de
fragmentação ou degeneração celular. As taxas de produção embrionária foram
avaliadas no 7º dia de cultivo in vitro para oócitos e no 5º dia do cultivo in vitro para
embriões.
5.2.9.6 Avaliação da expressão GFP
A expressão de GFP foi avaliada nos blastocistos produzidos a partir de
oócitos transfectados no 7º dia do cultivo in vitro. Enquanto os blastocistos obtidos a
partir da transfecção de embriões no 5º dia do cultivo in vitro. A expressão da
proteína GFP foi observada por microscopia de fluorescência usando filtro de filtro
de 470-490 nm do microscópio de epifluorescência (Axio Observer A1, Carl Zeiss
AG, Oberkochen, Alemanha).
72
5.3 ANÁLISE ESTÁTISTICA
A taxa de internalização de PEI-FITC, taxas de desenvolvimento embrionário
e expressão de GFP, foram avaliados por ANOVA usando PROC MIXED (SAS®).
Foi utilizado o LSMEANS (média dos quadrados mínimos) para obtenção das
médias ajustadas dos tratamentos, com comparações utilizando-se o Teste Tukey
com 5% de significância. Os dados foram apresentados na forma de média dos
quadrados mínimos das porcentagens ± EP.
5.4 RESULTADOS
5.4.1 Experimento 1: Avaliação da internalização da PEI-FITC
5.4.1.1 Oócitos
A internalização da PEI/FITC em oócitos sofreu efeito da concentração, ou
seja, quanto maior a concentração de PEI/FITC utilizada, maior a média de pixels
fluorescentes, indicando maior internalização da PEI (Figura 2).
Os oócitos tratados com as concentrações de PEI/FITC de 10 e 20µg/mL não
diferiram entre si (p=0,0885) e apresentaram as menores taxas de internalização de
PEI-FITC (quantificação média de 19602 e 20503 pixels respectivamente). Porém, a
concentração PEI-FITC de 10µg/mL diferiu das concentrações de 40µg/mL
(p<0.0001) e 80µg/mL (p<0.0001). Enquanto, a concentração de PEI-FITC de
20µg/mL não diferiu da 40µg/mL (p=0,1515), mas diferiu da concentração de
80µg/mL (p<0.0001). A concentração de 40µg/mL apresentou uma taxa de
internalização de PEI-FITC intermediária (quantificação média de 21280 pixels)
diferindo da concentração de 80µg/mL (p=0.0003), que apresentou a maior taxa de
internalização de PEI-FITC (quantificação média de 22693 pixels). As imagens dos
oócitos expostos as diferentes concentrações de PEI-FITC avaliados em
microscópio de fluorescência estão apresentadas na figura 3.
73
Figura 2 – Média da concentração de PEI-FITC (média de pixels) em oócitos suínos tratados com
diferentes concentrações de PEI-FITC, analisadas utilizando o software de análise de imagens
ImageJ 1.40g®. Letras sobrescritas representam diferença significativa (p<0,05).
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
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10 µg/mL 20 µg/mL 40 µg/mL 80 µg/mL
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ITC
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cito
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Concentração PEI-FITC
AAB
B
C
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Figura 3 - Oócitos tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC avaliados em microscópio de
fluorescência. A: Concentração 10ug/mL; B: Concentração 20ug/mL; C: Concentração 40 ug/mL e D:
Concentração 80 ug/mL.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
5.4.1.2 Zigotos
A internalização da PEI/FITC em zigotos sofreu efeito da concentração, e
assim como em oócitos foi possível observar que quanto maior a concentração
maior a quantificação de PEI-FITC (média de pixels), ou seja, maior internalização
da PEI (p<0,0001) (Figura 4). Os zigotos tratados com as concentrações de
PEI/FITC de 10µg/mL apresentaram a menor taxa de internalização de PEI-FITC
(quantificação média de 20933 pixels), diferindo das concentrações 20µg/mL
(p=0,0116) 40µg/mL (p<0,0001) e 80µg/mL (p<0,0001). Enquanto as concentrações
20µg/mL e 40µg/mL não diferiram entre si (p=0,3716) e apresentaram taxas
intermediárias de internalização de PEI-FITC (quantificação média de 22817 e
23673 pixels respectivamente). Mas ambas as concentrações diferiram de 80µg/mL
(p<0,0001; p=0,0020 respectivamente), a qual apresentou a maior taxa de
75
internalização de PEI-FITC (quantificação média de 25603 pixels). As imagens dos
zigotos tratados com as diferentes concentrações de PEI-FITC e avaliados através
de microscopia de fluorescência estão apresentadas na figura 5.
Figura 4 - Média da concentração de PEI-FITC (média de pixels) em zigotos suínos tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC, analisadas utilizando o software de análise de imagens Image
J 1.40g®. Letras sobrescritas representam diferença significativa (p<0,05)
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
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10µg/mL 20µg/mL 40µg/mL 80µg/mL
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Concentração PEI-FITC
A
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C
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Figura 5 - Zigotos tratados com diferentes concentrações de PEI-FITC avaliados em microscópio de
fluorescência. A: Concentração 10ug/mL; B: Concentração 20ug/mL; C: Concentração 40 ug/mL e
D: Concentração 80 ug/mL.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
5.4.2 Transfecção de Oócitos e Embriões suínos
5.4.3 Desenvolvimento Embrionário e Expressão de GFP
5.4.3.1 Oócitos
Na figura 6, estão demonstrados os resultados de desenvolvimento
embrionário e expressão de GFP de blastocistos produzidos a partir de oócitos
maturados in vitro transfectados com PEI e posteriormente fertilizados e cultivados in
vitro. Não houve diferença significativa entre os tratamentos para taxa de clivagem
avaliados no dia 3 após a fertilização in vitro (p= 0,8307). A taxas de clivagem dos
grupos controle, INC-O20, INC-O80, PEI-O20, PEI-O80 foram 54,83%±7,46,
53,01%±7,46, 45,83%±10,55, 49,17%±7,46 e 41,19%±10,55, respectivamente. A
77
taxa de blastocisto avaliada no dia 7 pós fertilização também não apresentou
diferença entre os tratamentos (p=0,9780), as taxas de blastocisto observadas foram
de 16,96±7,81, 23,68±7,81, 18,05±11,04, 21,07±7,81 e 19,52±11,04, para os grupos
controle, INC-O20, INC-O80, PEI-O20, PEI-O80 respectivamente. Quanto a taxa de
blastocisto GFP positivo, foi identificado apenas 1 blastocisto transgênico para
proteína verde fluorescente, pertencente ao grupo PEI-O20 (Figura 7).
Figura 6 - Média das porcentagens de clivagem, blastocistos e blastocisto GFP positivos dos
diferentes tratamentos. Os dados representam as médias dos quadrados mínimos ± EP.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
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Controle INC-O20 INC-O80 PEI-O20 PEI-O80
Mé
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Clivagem Blastocistos GFP
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Figura 7 - Avaliação da expressão gênica do blastocisto produzido a partir de oócitos transfectados
com pmhyGENIE-5 mediado por PEI na concentração de 20 µg/mL, razão n/p=2 por 0,5h (PEI-O20). A: Blastocisto em eclosão marcado com Hoescht em luz ultravioleta. B: Blastocisto em eclosão
expressando proteína verde fluorescente em luz ultravioleta.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
5.4.3.2 Embriões
Na figura 8, estão demonstrados os resultados de desenvolvimento
embrionário e expressão de GFP em blastocistos produzidos a partir de embriões
produzidos in vivo transfectados com PEI e posteriormente cultivados in vitro. Não
houve diferença significativa entre os tratamentos para as taxas de blastocisto
avaliadas no 5º dia do cultivo in vitro (p= 0,5525). A taxas de blastocistos dos grupos
controle, INC-E20, INC-E80, PEI-E20, PEI-E80 foram 43,33%±15,51, 68,05%±14,51,
36,11%±14,51, 53,41%±14,51 e 39,14%±14,51, respectivamente. Quanto a taxa de
blastocisto GFP positivo, da mesma forma que ocorreu na transfecção dos oócitos
foi identificado 1 blastocistos transgênicos para proteína verde fluorescente,
pertencente ao grupo PEI-E20 (Figura 9).
79
Figura 8 - Média das porcentagens, blastocistos e blastocis to GFP positivos nos diferentes
tratamentos. Os dados representam as médias dos quadrados mínimos ± EP.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
Figura 9 - Avaliação da expressão gênica do blastocisto produzido a partir de embriões produzidos in vivo transfectados com pmhyGENIE-5 mediado por PEI na concentração de 20 µg/mL, razão n/p=2
por 0,5h (PEI20). A: Blastocisto expandido marcado com Hoescht em luz ultravioleta. B: Blastocisto
expandido expressando proteína verde fluorescente em luz ultravioleta.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019.
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Controle INC-E20 INC-E80 PEI-E20 PEI-E80
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Blastocistos GFP
80
5.5 DISCUSSÃO
A entrega de ácidos nucléicos usando PEI é um processo complexo que
dependente de vários fatores, entre eles a condensação do DNA, captação celular e
a liberação do ácido nucléico. Neste sentido, a eficiência da transfecção e
consequentemente a produção de blastocistos transgênicos requer a otimização dos
parâmetros que podem influenciar na a entrega do eDNA mediado por PEI em
oócitos e embriões.
Quando se trata de oócitos e embriões a maior dificuldade das técnicas de
transfecção estão relacionadas a zona pelúcida. A zona pelúcida é uma matriz
extracelular glicoproteica que envolve os oócitos e embriões dos mamíferos. A zona
pelúcida realiza a comunicação entre oócitos e células foliculares durante a
oogênese, regula as interações entre oócitos e espermatozoides durante a
fertilização e protege oócitos e embriões durante o desenvolvimento. Por esse
motivo, ela atua como uma barreira física que evita a entrada de agentes externos,
como vetores de entrega de eDNA. Desta forma, a primeira etapa deste trabalho
consistiu em verificar a capacidade da PEI em atravessar a zona pelúcida e a
membrana citoplasmática. Foi observado que todas as concetrações de PEI
estudadas (10, 20, 40 e 80µg/mL) foram capazes de transpor a zona pelucida e
alcançarem o citoplasmade oócitos e zigotos. A taxa de internalização da PEI-FITC
foi proporcional a concentração, sendo que a concentração 10µg/mL resultou na
menor taxa de internalização, as concentrações de 20 e 40µg/mL resultaram em
taxas de internalização intermediárias e similiares enquanto a concentração de
80µg/mL proporciou a maior taxa de internalização. Este trabalho foi o primeiro a
demostrar a capacidade da PEI em atravessar a zona pelúcida de oócitos maturados
e zigotos, desta forma abrindo a possibilidade de utilização deste polimero com a
finalidade de transfecção, tendo este um grande potencial de utilização, pois
apresenta baixo custo e não requer equipamentos sofisticados, além de poder
promover a transfecção de forma rápida em um grande numero de células ao
mesmo tempo.
A partir destes resultados, foram selecionados as concentrações de 20 e
80µg/mL de PEI para preparar os poliplexos. Ambas as concentrações foram
combinadas com a razão N/P igual a 2 e o período de transfecção de 0,5h
81
(parâmetros otimizados no capítulo 1). Foram avaliados o efeito da PEI sobre o
desenvolvimento embrionário e a expressão de GFP dos blastocistos.
Foi demonstrado que ambas as concentrações de PEI estudas não
comprometeram o desenvolvimento embrionário, ou seja, nas condições avaliadas a
PEI não foi embriotóxica. Vale ressaltar que estudos envolvendo a citotoxicidade da
PEI são inexistentes para oócitos e embriões. Dentre os períodos críticos de
desenvolvimento de um organismo destaca-se a fase pré-implantacional,
possivelmente devido a existência de células ainda indiferenciadas. Um distúrbio
nesta etapa pode causar falhas na implantação ou levar a danos nos processos de
divisão celular e diferenciação que originarão os tecidos fetais (ZALGEVIČIENĖ et
al., 2012). Lesões nas células embrionárias acarretam em maior proporção de
embriões não eclodidos ou degenerados (LEIDENFROST et al., 2011). Neste
sentido, as taxas de desenvolvimento embrionário encontradas no presente trabalho
sugerem que as concentrações de PEI avaliadas (20 e 80µg/mL) não influenciaram
a cinética de desenvolvimento e a sobrevivência de embriões suínos. Este resultado
é extremamente relevante, pois existe uma carência de informações sobre o efeito
da PEI nas células avaliadas, especialmente em suínos, que é a espécie que se
destaca como modelo de estudo humano. Adicionalmente, estes resultados abrem
uma real possibilidade para que a PEI seja um agente transfectante de ácidos
nucleicos ou moléculas terapêuticas para oócitos e embriões suínos.
Quanto a expressão de GFP, observamos que a PEI foi capaz de transfectar
oócitos e embriões suínos e gerar blastocistos transgênicos para GFP. Foi verificado
que os 2 blastocistos transgênicos produzidos, foram transfectado a partir de oócitos
e embriões transfectados com o poliplexo 1 (20µg/mL de PEI; razão N/P igual a 2,
incubaçãode 0,5h). Esses resultados indicam que a PEI foi capaz de passar pela
zona pelúcida e o plasmídeo atingiu o núcleo do zigoto, sendo, o gene transcrito e
traduzido na proteína verde fluorescente de forma não transiente. Coonrod e Horwitz
(1997) observaram que a integridade do DNA que chega ao núcleo parece ser
determinante para a eficiência de transferência gênica. De fato, a degradação dos
ácidos nucleicos por nucleases citoplasmáticas durante a internalização celular ou
trânsito até o núcleo, bem como a fusão de endossomos contendo o DNA exógeno
com os lisossomos é determinante para o sucesso da transfecção (WATTIAUX et al.,
2000; SANZ et al., 2011). Nesse aspecto, o efeito “esponja de elétrons” proposto
para PEI poderia constituir uma vantagem, visto que o eDNA recebe proteção
82
adicional contra a degradação. Outra possível explicação para a estabilidade da
transfecção pode estar relacionada a natureza do plasmídeo. O plasmídeo utilizado
foi o vetor com integração baseada no transposon PiggyBac. Os transposons são
elementos genéticos móveis que agem através de mecanismo de transposição do
tipo “corta e cola” através da enzima transposase. As transposases reconhecem e
se ligam aos transposons flanqueadores de elementos de repetição invertidos,
cortam esse segmento de DNA do doador e o reinserem no genoma receptor. Essas
propriedades provaram ser uma ferramenta inestimável para entrega de genes em
aplicações como transgênese, mutagênese para pesquisa de câncer ou terapia
gênica. Marh et al. (2012), demonstrou uma eficiência 5 vezes maior na produção de
camundongos transgênicos ao realizar a microinjeção pronuclear utilizando o vetor
piggyBac. Neste sentido, o mecanismo de escape lisossomal da PEI combinado com
a natureza do plasmídeo pode estar relacionado na estabilidade da expressão de
GFP mostrada neste trabalho
Exitem poucos estudos com transfecções bem sucedidas em oócitos e
embriões com a zona pelúcida intacta. As técnicas mais utilizadas são a
eletroporação e a microinjeção (GRABAREK et al. 2002; HOFMANN et al., 2003).
Vetores virais necessitam de remoção da zona pelúcida , uma vez que esta confere
proteção contra agentes infecciosos (PFEIFER et al., 2004). Carballada, Degefa,
Esponda, et al. (2000) demostram que os lipossomas catiônicos foram capazes de
transfectar oócitos imaturos com a zona pelúcida intacta, mas oócitos maturados e
embriões precisaram da prévia permeabilização da zona pelúcida. Este trabalho
demonstrou pela primeira vez a eficiência da PEI em transfectar oócitos e embriões
com zona pelúcida intacta e gerar blastocistos transgênicos.
Um importante fator que também deve ser levado em consideração nos
resultados obtidos é a fase do ciclo celular e do estado da cromatina em que os
oócitos e embriões encontravam-se no momento da transfecção. No presente
estudo a transfecção dos oócitos foi realizada em oócitos maturados, o que sugere
que eficiência do poliplexo pode estar associado à ausência do envelope nuclear,
que é característico da MII. A ausência do envelope nuclear, pode facilitar o contato
do eDNA com a cromatina, permitindo uma maior eficiência na integração do gene
no genoma. Deste modo, os genes têm a probabilidade de serem inseridos antes da
fecundação (CHAN et al., 1998; CHAN et al., 2001). Estudos sugerem que para
embriões, o momento ideal para transfecção seria na fase S (4 a 24 horas após
83
início da fecundação) quando os sítios de integração estão mais acessíveis. Porém,
na espécie suína existe uma grande variação na duração do cio (24 a 108 horas) e
no intervalo entre o início do cio e a ovulação (16 a 96 horas) (VIANA et al., 1999).
Devido a essas questões, as coletas dos embriões produzidos in vivo foram
realizadas 1 dia após a última inseminação, no entanto, pela grande variação do
momento da ovulação, os zigotos coletados variaram entre os estágios de 1-4
células. O uso da PEI como vetor de entrega de genes em oócitos e embriões
suínos é bastante promissor como método alternativo para entrega de eDNA, devido
à sua simplicidade e boa eficiência.
5.6 REFERÊNCIAS
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CHAN, A. W. S. et al. Transgenic cattle produced by reverse-transcribed gene transfer inoocytes. Proceedings of the National Academy of Science, v. 95, p.
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86
87
6 CONCLUSÕES
O protocolo constituído por PEI na concentração de 10µg/mL, combinado com
a razão N/P de 2, com incubação de 0,5h, foi capaz de transfectar com sucesso
fibroblastos fetais suínos, sendo que a porcentagem de células GFP positiva se
manteve constante ao longo do tempo avaliado, sem causar lesão de membrana
significativa nos fibroblastos. Também foi estabelecido que o protocolo constituído
por PEI na concentração de 20µg/mL, combinado com a razão N/P de 2, com
incubação de 0,5 horas, foi capaz de ultrapassar a zona pelúcida, transfectar oócitos
maturados in vitro e embriões produzidos in vivo e gerar blastocistos transgênicos
para GFP sem prejudicar o desenvolvimento embrionário
Portanto, os protocolos de transfecção baseados em polietilenoimina
desenvolvidos neste trabalho mostraram-se eficientes e seguros para transfecção de
fibroblastos, oócitos e embriões suínos.