trabalho de ensino religioso - lite · web viewoutra professora disse ter alunos que se proclamam...
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TTRABALHORABALHO DEDE E ENSINONSINO R RELIGIOSOELIGIOSO Adriana Mion
Adriana Vieira Miranda
Beatriz Gracioli Andrade
Gláucia Cristiane Bérgamo
Paula Pinheiro Travaini
IINTRODUÇÃONTRODUÇÃO
A religiosidade é um assunto que, na era em que vivemos, tem despertado
preocupações, impulsionando com isso, um volume considerável de estudos e
produções teóricas, visando buscar e encontrar respostas para as questões
que pautam nossa vida em relação ao Transcendente.
O ser humano, buscando responder a essas indagações existenciais e
compreender situações de vida, desenvolve conhecimentos, que transforma a
si próprio e a seu meio, desencadeando a produção de cultura.
Nesse sentido, o Ensino Religioso é componente curricular que trabalha a
dimensão da religiosidade, presente em todas as culturas. Evidentemente o
que basicamente caracteriza o Ensino Religioso é que ele é uma atividade
educativa que se desenvolve na escola, buscando refletir a dimensão natural
do ser humano, expressa numa cultura. Nesta atividade, ligada ao ensino-
aprendizagem, é fundamental que o profissional tenha clareza dos seguintes
conceitos: o Fenômeno Religioso (O Ensino Religioso, como disciplina escolar,
tem como objeto o Fenômeno Religioso que se estrutura na relação
bidimensional de cultura e tradições religiosas), a Religiosidade (A religiosidade
busca viver a religião de uma forma espontânea, variável, ligada ao cotidiano
da vida, a ritos, costumes, festas, folclore, como parte integrante da cultura
tradicional), a Fé (a fé é a opção, escolha que o sujeito faz) e a Religião (a
Religião acompanha o homem desde o começo de sua história. Pertence a sua
essência – sua cultura –).
Assim, o Ensino Religioso escolar visa proporcionar ao educando,
experiências, informações e reflexões que o ajudem a cultivar uma atitude
dinâmica de abertura ao sentido mais profundo de sua existência em
comunidade, e o encaminhe a uma organização responsável do seu projeto de
vida. Acredita-se que esta disciplina ajuda a vivenciar práticas transformadoras,
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removendo eventuais obstáculos à fé. Desta forma, compreendidas as diversas
expressões religiosas, é importante valorizar a própria crença, para ter
condições de exercer consciência crítica, praticar diálogo e o respeito para com
os outros.
O que se quer é ensinar a religiosidade e entendê-la, ter capacidade de ir
além da superfície das coisas, dos acontecimentos, gestos, ritos, normas e
formulações, para interpretar toda a realidade em profundidade crescente e
atuar na sociedade de modo transformador e libertador. Este é todo um
processo educativo que precisa ser desenvolvido com o educando na área de
Ensino Religioso.
Sendo assim, este trabalho é um exercício de pesquisa para que nós alunos
ponhamos em prática as técnicas formais que aprendemos nas aulas de
“Psicologia, Educação e Pesquisa”. Como um exercício de iniciação científica,
sabemos que não se espera de nós que sejamos originais, mas mesmo assim
procuramos realizar um trabalho que traga contribuições; se não para os
especialistas no assunto, que contribua pelo menos para a formação de nossos
colegas e, que nossas experiências em pesquisa científica sirvam de
orientação aos que ainda ingressarão neste caminho.
A partir do Artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
referente à liberdade de pensamento e de religião das pessoas, e a partir de
algumas discussões entre este grupo de pesquisa e o professor, decidimos
fazer um trabalho que ligasse tal direito à educação, que é o nosso campo de
atuação. Decidimos então observar o Ensino Religioso nas Escolas Públicas de
Campinas e verificar se o referente artigo da DUDH* vem sendo respeitado
pelos professores desse ensino.
Foi um trabalho iniciado do zero, pois desconhecíamos a legislação
que regulamenta o ensino religioso e os parâmetros curriculares para o
desenvolvimento do mesmo.
Assim, começamos por uma pesquisa bibliográfica (ver “Quadro Teórico”) e
só depois disso, decidimos quais as metodologias que empregaríamos (ver
“Metodologia”). Partimos finalmente, para a pesquisa em campo (ver
* DUDH é a abreviação de Declaração Universal dos Direitos Humanos e assim como no livro “OS DIREITOS HUMANOS NA SALA DE AULA: A ÉTICA COMO TEMA TRANSVERSAL” nós também preferimos usar a forma abreviada para facilitar o trabalho escrito.
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“Apresentação e Análise dos dados coletados”), ou seja, fomos às escolas
públicas estaduais para verificar como esse ensino vem sendo realizado na
prática.
O problema da nossa pesquisa ficou definido na seguinte pergunta: “Os
professores de Ensino Religioso (das escolas públicas) respeitam o direito à
liberdade de pensamento e de religião dos seus alunos?”.
Partimos do pressuposto de que os professores não são neutros, têm as
suas próprias crenças, descrenças e valores e, portanto, essas influenciariam
sua atuação como professores de ensino religioso. A resposta a essa pergunta
estará no final deste trabalho (ver “Considerações Finais”).
Portanto, com este trabalho de pesquisa, estamos cientes de que não se
esgotou o assunto, porque informações de pesquisas que estão surgindo e
surgirão sobre o referido assunto, com certeza, trarão novas informações que
poderão alterar os conceitos e conclusões já obtidas até o presente momento.
QQUADROUADRO TEÓRICOTEÓRICO: A R: A RELIGIÃOELIGIÃO EE OO E ENSINONSINO R RELIGIOSOELIGIOSO
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O termo “religião” vem do latim: “religare”, que significa “amarrar”: amarrar o
homem a Deus. Toda Religião, para atender a essa finalidade, possui um
conjunto de crenças e práticas: mitos, ritos, festas, símbolos, normas de
conduta, instituições, elementos que exercem a função de “amarrar” o que
realmente é importante na vida. Assim, a religião é parte integrante da vida de
todos os povos.
Nos últimos anos, como nunca, milhares de livros foram escritos e centenas
de revistas tratam das múltiplas religiões que vêm orientando os povos em sua
relação com Deus e com seus irmãos de fé, contudo, ninguém consegue
esgotar este assunto.
Alguns pesquisadores fazem comparações a fim de descobrir o que
caracteriza o conceito de religião em si: Schleiermacher (2001) afirma que “a
religião é um sentimento ou uma sensação de absoluta dependência”; já Tiele
(2001) declara que “religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-
humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se
expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações
(culto e ética)”; enquanto Glasenapp (2001) registra que “a religião é a
convicção de que existem poderes transcendentes, pessoais ou impessoais,
que atuam no mundo e se expressam por insight, pensamento, sentimento,
intenção e ação”.
Na Antigüidade, entre os gregos, a discussão sobre o mundo e a harmonia
cósmica produziu doutrinas práticas que procuravam orientar a ação dos
indivíduos para uma vida voltada para o bem, a virtude e a harmonia com a
natureza. Já era uma questão moral, por isto consideravam que deveria haver
uma lei moral no mundo que permitisse ao homem se realizar como homem.
Sócrates, com sua preocupação moral expressa no lema “conhece-te a ti
mesmo” (lema que não era teórico, mas prático, pois buscava um
conhecimento puro e uma sabedoria de vida), acentuou a especificidade da
moral frente à cosmologia.
Como se percebe, a religião grega, como muitas outras religiões antigas, era
ainda muito naturalista, sendo os deuses geralmente apenas personificações
de forças naturais, como o raio, a força, a inteligência, o amor e até a guerra.
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Já o cristianismo, que surgiu na derrocada do Império romano, o conceito de
religião foi adequado, o que aconteceu pelos padres da Igreja (católica),
principalmente Santo Agostinho, de acordo com a idéia central do evangelho: a
essência da religião cristã consiste na fé, na esperança e no amor, não se
reduzindo somente a um conjunto de observações. Assim, na medida em que
se convencionou chamar a Idade Média européia o período cristão do
Ocidente, o conhecimento ético está, portanto, todo ligado à religião, à
interpretação da Bíblia e à Teologia.
Na Idade Moderna, que coincide com os últimos quatro ou cinco séculos,
apresentam-se duas tendências à busca de uma ética leiga: seja ela racional
(apenas) muitas vezes baseada numa lei natural ou seja baseada numa
estrutura (transcendental) da subjetividade humana que se coloca comum a
todos os homens.
Foi, através destes séculos, que surgiu a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. A DUDH, aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembléia
Geral das Nações Unidas, foi o mais importante e completo documento
concebido em favor da humanidade até esta data. Através dos tempos, por
ocasião de conclaves internacionais, continuaram sendo elaborados
documentos objetivando a melhoria nas relações entre os homens e os povos.
Os princípios contidos na Declaração estão inseridos em todas as
Constituições do mundo moderno e constituem parâmetros para a democracia.
Neste trabalho o enfoque recai sobre o Artigo XVIII:
“Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos rituais, de modo isolado ou coletivo, em público ou em particular”.
Sendo assim, “ninguém pode ser forçado ou coagido a abraçar (nem a
abandonar) uma modalidade específica de religiosidade, por quaisquer
motivos. Inclusive, o direito de não ter religião deve ser igualmente respeitado.
Isso porque se alguém é livre para pensar, é livre também para, no plano da
consciência, recusar a afiliação a esta ou àquela doutrina religiosa.
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O artigo XVIII propõe ainda que tais estratégias de difusão do ideário
religioso podem se dar de forma isolada ou em comunhão com outros,
podendo acontecer tanto em espaços públicos (ruas, praças etc.) como em
locais reservados (igrejas, capelas). O que não se pode admitir, sob hipótese
alguma, é que as religiões possam ser tomadas como justificativa para a
discriminação e a intolerância: o avesso absoluto de toda e qualquer crença
plausível”. (ARAÚJO E AQUINO, 2001)
A Idade Moderna, ainda, pode ser definida como um tempo de grandes
realizações e, neste contexto, várias ciências tem dado sua contribuição. A
área da psicoterapia, por exemplo, estuda comportamentos substitutivos da
natureza, objetivando compreender melhor o pensamento humano. Jung, por
exemplo, comenta que entre todos os seus pacientes de mais de trinta e cinco
anos não havia nenhum cujo problema não fosse de natureza religiosa. “A raiz
da enfermidade de todos está em terem perdido o que a religião deu a seus
crentes em todos os tempos; e ninguém está realmente curado enquanto não
tiver atingido, de novo, o seu enfoque religioso” (WILGES, 1996). Pavlov (idem)
parece confirmar as considerações de Jung quando escreve: “Não considero
minha falta de fé como uma vantagem, mas antes como uma desvantagem
para mim pessoalmente, em comparação com os que tem fé”, sugerindo
conviver com dificuldades advindas de uma eventual negação da religiosidade.
Sendo assim, a Psicologia da Religião estuda a origem e a natureza da
mentalidade religiosa, da experiência religiosa, do sujeito religioso e os vários
fenômenos que se verificam no indivíduo que realiza a experiência religiosa,
como vemos nos estudos de Jung, Pavlov ou mesmo Freud.
No Brasil, a religião veio trazida pelos europeus no ano de 1500.
Conquistado e colonizado pelos portugueses, o Brasil foi catequizado pelos
missionários, os padres jesuítas tornando-se, assim, um país oficialmente
católico. O Papa concedeu, na época, à Coroa portuguesa o direito de ministrar
o catolicismo nas terras conquistadas, fazendo com que a evangelização se
juntasse com a dominação colonial.
O rei de Portugal tinha a incumbência, dada pelo Papa, de conquistar, junto
com as novas terras, novos fiéis. Tinha de construir templos e mosteiros, dotá-
los de padres e religiosos e, principalmente, nomear os bispos. Os padres e
bispos eram funcionários públicos e remunerados como tais. Neste período
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colonial, a Igreja dependia mais do Estado português do que do Vaticano. As
leis e diretrizes chegavam ao Brasil por meio da administração portuguesa,
cabendo ao rei português selecionar as orientações e leis vindas de Roma,
antes de serem publicadas na colônias.
A educação, nesta época, era fortemente marcada pelos ensinamentos
religiosos dos jesuítas (Companhia de Jesus) que se baseavam no Ratio
Studiorum. O currículo, se assim podemos chamar, se baseava em: curso de
Humanidades, curso de Filosofia, curso de Teologia e, por fim, viagem à
Europa.
O importante a ressaltar neste instante, é que a formação intelectual
oferecida pelos jesuítas, e, portanto, a formação da elite colonial, será marcada
por uma intensa “rigidez” na maneira de pensar e, consequentemente, de
interpretar a realidade.
A postura portuguesa, portanto, fez com que o catolicismo se tornasse a
religião oficial do Estado brasileiro, o que (teoricamente) só deixou de
acontecer no final do século XIX, quando o regime monárquico foi substituído
pelo republicano. Diz-se teoricamente, pois até a segunda metade do século
XX, o ensino caracterizava-se como evangelização, aula de religião,
catequese, ensino bíblico. A lei de Diretrizes e Bases n.º 4.024/61 refletiu essa
concepção.
Com o novo regime, o povo conquistou a liberdade social e de pensamento.
Sendo assim houve uma grande expansão da Igreja que, até então, estava
sufocada pelo controle estatal. O povo teve, assim, liberdade de associação,
liberdade de reunião, liberdade expressão coletiva e livre concorrência entre as
organizações religiosas.
Com a desvinculação total entre a Igreja e o Estado, portanto, a educação
passou a ser vista como um fator de mobilidade social, pois o quadro do país
passava por profundas transformações, sobretudo com a urbanização; fazendo
com que a população sentisse a necessidade de uma maior escolarização que
aparecia como meta almejada para alcançar as carreiras burocráticas e
intelectuais.
Foi, a partir dos anos 80, com o advento da LDB, Lei 5692/71, que o Ensino
Religioso caracterizou-se como pastoral, aula de ética e valores e o
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conhecimento veiculado foi o da formação antropológica da religiosidade, pelo
saber em relação a si próprio, a Deus, ao mundo e à natureza.
A Constituição Federal de 1988 estabelece a obrigatoriedade do Ensino
Religioso para a formação básica da criança e do adolescente no ensino
fundamental, cabendo a escola garantir matrícula facultativa para o mesmo. “O
Ensino Religioso de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental”.(Constituição Federal,
Capítulo III, Seção I, Artigo 210 – parágrafo 1º).
Com a instalação do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso
(1995) e respondendo às exigências da educação para o século XXI, elege-se
como objeto de estudo o fenômeno religioso, e o conhecimento veiculado é o
entendimento dos fundamentos desse fenômeno que o educando constata a
partir do convívio social. Neste contexto, o Ensino Religioso é entendido como
área do conhecimento da Base Nacional Comum, conforme a LDB n.º 9394/96,
parecer 04/98 e a resolução 02/98 da Câmara de Educação Básica. O artigo 33
da lei, orientando os currículos escolares, estabelece as áreas temáticas para
capacitação dos profissionais do Ensino Religioso. Assim descreve a lei: “O
Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação
básica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedada quaisquer formas de proselitismo”.
O aspecto mais importante para o desenvolvimento de nossa pesquisa é que
a LDB estabelece que são vedadas quaisquer formas de proselitismo
(conforme sublinhado). “Isto significa que a Escola pública não pode impor aos
alunos práticas religiosas desta ou daquela Igreja ou Religião. O termo
proselitismo significa fazer adeptos ou seguidores. E conforme a lei, é proibido
no Ensino Religioso fazer catequese ou práticas religiosas com o propósito de
influenciar os alunos a conversão ou adesão a alguma Religião ou Igreja”
(ASSINTEC-PR).
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Já, de acordo com a Resolução SE-21, de 29 de Janeiro de 2002 e, a
Deliberação CEE n.º 16/2001 fica explicitado que o Ensino Religioso busca
enfocar a História das Religiões. O conteúdo dado fica a cargo do professor
devendo ser trabalhado transversalmente. As aulas correspondem à apenas
um dia na carga horária do aluno. Essa resolução fica melhor explicada à partir
dos Parâmetros Curriculares Nacionais que propõem o estudo de culturas e
tradições religiosas – a partir da Filosofia, História, Sociologia e Psicologia, da
tradição religiosa; Escrituras Sagradas e/ou Tradições Orais – “estão ligados ao
ensino, à pregação, à exortação e aos estudos eruditos” (PCN’s); a Teologia -
divindades, as verdades em fé e vida além da morte; Ritos - rituais, símbolos e
espiritualidade - e Ethos – alteridade, valores e limites.
“Portanto, na escola atual o Ensino Religioso tem a função de garantir a
todos os educandos a possibilidade deles estabelecerem diálogo. E, como o
conhecimento religioso está no substrato cultural, o Ensino Religioso contribui
para a vida coletiva dos educandos, na perspectiva unificadora que a
expressão religiosa tem, de modo próprio e diverso, diante dos desafios e
conflitos.
E, é dessa estrutura comum que são retirados os critérios para organização
e seleção dos conteúdos e objetivos do Ensino Religioso. Assim, na pluralidade
da escola brasileira esses critérios são eixos organizadores para os blocos de
conteúdos” (PCN’s).
Nos PCN’s procuramos verificar se os conteúdos sugeridos respeitam a
diversidade de religiões e se propõe o respeito à liberdade de pensamento e de
religião dos alunos. Segundo o especialista na tradução dos PCN’s, Marcos
Cordiolli, professor do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Positivo
(UnicenP), de Curitiba, é difícil conciliar tantos interesses numa mesma
proposta pedagógica. "Poucos professores ou currículos incorporam de fato as
religiões de origem africanas. Um número um pouco maior já trata das religiões
asiáticas. Mas ainda verificamos diferenças significativas quanto aos materiais
didáticos, programas curriculares e encaminhamentos pedagógicos", afirma.
Cordiolli vê uma dificuldade ainda maior no caminho. "O professor em sala de
aula dificilmente consegue ter alteridade suficiente para respeitar as outras
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religiões e promover uma atuação dentro das propostas" (Fonte: Aprendiz –
Gilmar Piolla – Sexta, 09 de maio de 2001).
Enfim, como pudemos perceber, o Ensino Religioso se adapta de acordo
com o seu tempo e reflete os interesses que estão em jogo dentro de uma
dada sociedade. Sendo assim, com essa secularização do mundo nos tempos
modernos e o processo científico, o lado sagrado do sentido da existência
humana, o religioso, não ficaram ocultos?
Para uma maior reflexão por parte do leitor e, esclarecendo que estes não
se constituem o objeto de estudo desta pesquisa, propõe-se: Qual a função do
Ensino Religioso? O Ensino Religioso na educação poderá oferecer respostas,
abertura neste campo?
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PPROCESSOSROCESSOS M METODOLÓGICOSETODOLÓGICOS NANA P PESQUISAESQUISA DEDE C CAMPOAMPO
Para alguns, o Ensino Religioso precisa ser encarado como parte integrante
de um processo didático-pedagógico, pois sua história no contexto escolar
ficou muito no autodidatismo. Outros porém, contrariamente, acreditam que
este ensino não deve fazer parte da grade curricular uma vez que os conteúdos
abordados não condizem com que deve ser ensinado na escola. Sentimento de
solidariedade, ética, valores sociais são conceitos que se estruturam em outros
ambientes das relações humanas. O que vemos, portanto, é que existem
opiniões contrárias a esse ensino.
Hoje, com tantos desafios sociais, como o pluralismo religioso, a
fragmentação social e religiosa, a infinidade de movimentos religiosos, de
seitas, proselitismo, é papel da educação fornecer elementos que ajudem o
educador a educar seu “ser religioso”. Como atividade educativa, o Ensino
Religioso deve criar condições favoráveis para que cada pessoa desenvolva
suas capacidades. Por isso, o Ensino Religioso está sujeito aos critérios
pedagógicos da escola. Isto explica um conteúdo definido, com uma
metodologia própria da escola que dê identidade e o caracterize como
realmente deve ser.
Caracterização da Pesquisa
Esta pesquisa constitui um estudo de caráter multimétodos com vistas ao
levantamento, análise e interpretação das respostas dadas pelos professores
de Ensino Religioso de Escolas Públicas de Campinas e por um professor de
Ensino Religioso da Rede Estadual de Minas Gerais à respeito do papel do
professor no Ensino Religioso; ou seja, se este professor aceita a liberdade de
pensamento e de religião de seus alunos, respeitando assim o artigo XVIII da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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Evidenciamos que esta pesquisa possui um caráter multimétodos na medida
em que a coleta de dados foi trabalhada à partir de entrevistas, observações e
análises documentais.
Instrumentos
A entrevista foi obtida à partir de um questionário pré-elaborado pelo grupo e
contava com questões abertas (onde o entrevistado tinha a liberdade de
responder às perguntas) e fechadas (com alternativas passíveis de respostas
sim/não), perfazendo um total de 14 questões (este número não é fixo, varia
conforme o entrevistado), aplicada no mês de abril de 2003. Este método foi
usado, pois a entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta
de dados. Como aponta Menga Lüdke, “a grande vantagem da entrevista sobre
outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação
desejada ... “ (1986, p. 34). Para a pesquisa que foi desenvolvida, ela se tornou
o melhor método.
Fizemos também uma observação direta da aula de Ensino Religioso
ministrada pelos professores e professoras entrevistados procurando analisar
os elementos que melhor respondesse ao problema da pesquisa. A observação
foi um bom método para estabelecer com os entrevistados um contato mais
direto e pessoal, sendo por isso possível uma coleta dos dados mais eficaz.
Além disso, também foi feita uma busca pela Internet à respeito dos
Parâmetros Curriculares Nacionais e da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, relativos ao Ensino Religioso, buscando, portanto, avaliar se essas
leis são realmente cumpridas, efetivando o propósito deste Ensino. A análise
documental foi de importância fundamental, já que desconhecíamos como
vinha se desenvolvendo esse tipo de ensino e o conhecimento de tais
documentos embasa toda a pesquisa.
Descrição da Amostra
A amostra que integrou esta pesquisa é composta por professores e
professoras de Ensino Religioso de Escolas Públicas da cidade de Campinas:
Escola Estadual Professor Luís Galhardo
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Entrevistada: Alessandra
Escola Estadual Tomás Alves
Entrevistado: Beto
Escola Estadual Professor Adalberto Nascimento
Entrevistada: Maria do Carmo
Além disso, foi possível contar com a participação de alguns outros
entrevistados e entrevistadas, conhecedores do assunto em questão:
Professor de Ensino Religioso da Rede Estadual de Minas Gerais
Entrevistado: Cícero Clarindo de Souza
Profª. Dr.ª. Maria Izabel Galvão
Contribuição: Integrante da Comissão de Direitos Humanos da USP
Caracterização da Amostra
Optou-se por professores e professoras de Escolas Públicas por
entendermos que este ambiente deveria possuir uma maior “autonomia”. Isso
quer dizer que, diferentes das Escolas Particulares onde o Ensino Religioso
corresponde à concepção de religião da instituição, a Escola Pública possui
uma maior variedade na escolha da metodologia adotada fazendo o educador,
ou educadora, ter maior liberdade na exposição do conteúdo da aula.
Mas na opinião da Profª. Dr.ª Maria Izabel Galvão, “independentemente de
um ensino formal de religião, o que se constata nas escolas públicas ditas
leigas, desde a educação infantil, é a presença de símbolos e práticas
religiosas nas situações cotidianas: por exemplo, escolas em que se faz os
alunos rezarem para agradecer o alimento; outras em que se coloca a cruz da
igreja católica em determinados locais destacados da escola. Nessas práticas,
passa-se a naturalização de uma determinada religião, o que me parece pouco
contribuir para a tolerância com as demais”.
Por fim, é de importância revelar que os dados foram colhidos pelas
integrantes do grupo separadamente, cada qual com uma instituição ou
entrevistado. A coleta fora também realizada em dias diferentes, sob as
condições impostas pelas instituições ou de acordo com a disponibilidade dos
envolvidos ou envolvidas.
Veja como ficaram a apresentação e a análise dos resultados.
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AAPRESENTAÇÃOPRESENTAÇÃO DADA A ANÁLISENÁLISE DOSDOS D DADOSADOS DADA P PESQUISAESQUISA DEDE C CAMPOAMPO
Formação
De todos os professores entrevistados apenas o professor de Minas Gerais *
é formado em Filosofia, todos os outros são formados em História.
Nesse aspecto todos os professores correspondem ao estabelecido na
deliberação CEE n.º 16/2001 que estabelece em seu artigo 2º: “consideram-se
habilitados para o exercício do magistério de ensino religioso, nas quatro
primeiras séries do ensino fundamental: os portadores de diploma de
magistério em normal médio; b) os portadores de licenciatura em Pedagogia,
com habilitação no magistério de 1ª à 4ª séries do ensino fundamental” e no
seu artigo 3º: “são habilitados para o exercício do magistério de ensino
religioso nas séries finais – 5ª à 8ª - do ensino fundamental, os licenciados em
História, Ciências Sociais ou Filosofia”.
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso e Capacitação
Apenas a professora Alessandra declarou não conhecer os PCN’s para o
ER, por outro lado, ela diz que tem feito cursos de capacitação para esse
ensino: “Estamos sendo inclusive ajudados por um grupo de pesquisa da
UNICAMP que elaborou um projeto para ser aplicado nas escolas. É o projeto
CUIDAR. Mas o problema é que só agora estamos recebendo o material; por
isso o que eu fiz foi um outro projeto chamado “Sonhar para Ser” “. O fato de a
professora só estar recebendo o material agora se confirma em uma matéria do
jornal O Estado de S. Paulo que fala do material produzido por professores e
* “Atualmente, temos uma formação plural em Minas Gerais. Temos na prática, a convivência de três tipos de professores de ER. a) Professores licenciados em qualquer área + comprovante de credenciamento expedido pelo CONER/MG ou por autoridade religiosa que o represente regionalmente junto a CRER; b) Professores licenciados em qualquer área + especialização latu sensu em Ensino Religioso e, c) Professor licenciado em curso superior com habilitação em Ciência da Religião ou Pedagogia com ênfase em Ensino Religioso. Contudo, esta última situação atualmente só é preenchida pelo Curso de Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso, da PUC Minas” (trecho da entrevista do Prof. Cícero sobre a formação exigida para dar aula de ER em Minas Gerais).
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especialistas da UNICAMP seguido do comentário “Embora elogiada por
especialistas, as medidas vêm com seis meses de atraso” e mais “Muitos
docentes, mal preparados, acabam passando um pouco de sua experiência
pessoal e não uma visão multireligiosa”, diz o professor de história da Escola
Estadual Antônio Valdemar, em Suzano, e membro de uma associação que
tenta preparar profissionais para a matéria (O Estado de S. Paulo –
09/09/2002).
Os demais professores entrevistados, mesmo os que dizem não conhecer os
PCN’s profundamente, declaram concordar com as idéias e temas nele
sugeridos. Mais uma vez, o Professor Cícero que nos deu uma entrevista
bastante informativa, diz considerá-los importante: “Melhor com eles do que
sem eles. Segundo, eles são precários – frutos do esforço dos profissionais da
área, visto que são extra-oficiais. Diferentemente, dos parâmetros de outras
áreas, os de Ensino Religioso são frutos de esforço dos professores e não de
atuação do MEC – que pagou caras consultorias para as outras áreas do
conhecimento”.
Como são realizadas as aulas
Apesar dos parâmetros, cada professor escolheu sua própria forma de dar
aulas e o conteúdo a ser dado. A professora Maria do Carmo propõe discutir
problemas sociais como guerras, miséria, violência, confrontando-os com a
visão religiosa. A professora Alessandra diz que trabalha os “Códigos da
Modernidade”, ou seja, as habilidades que eles precisam desenvolver para
atuar como futuros profissionais. O professor Beto diz trabalhar com os pontos
negativos e positivos de cada religião apontados pelos alunos. “Eu faço com
que eles falem, e não que eu ensine, porque cada um tem uma religião e não
há certo e errado. Caso haja uma discordância entre algum aspecto de
diferentes religiões, eu tento saber mais sobre o assunto e trago para a classe
de volta depois”. O professor Cícero diz trabalhar com a história das religiões,
ele acredita que se os alunos compreenderem as características principais de
cada religião preconceitos com o outro e com as diferentes religiões pode ser
rompido.
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As religiões dos alunos
A resposta dos professores sobre a religião dos seus alunos foi quase
unânime, a maioria dos alunos de ER constituem-se de católicos e evangélicos.
Apenas um dos professores declarou ter uma “parcela reclusa de afro-
brasileiros”.
Esses dados não nos surpreenderam uma vez que a maioria da população
se constitui de católicos e evangélicos. Isso se confirma pelos dados do censo
de 2000 que informa que “o País tinha 124 milhões de católicos - ainda o maior
grupo religioso brasileiro - e 26 milhões de evangélicos. É nos 20 milhões
restantes da população que estão os adeptos de grupos orientais e de outras
religiões, como o espiritismo, as religiões afro e vários outros cultos” (O Estado
de S. Paulo – 24/02/2003).
Alunos Ateus
Uma das professoras não sabe se tem alunos ateus e diz que acha que não
teria problemas se algum aluno se confessasse ateu, por que ela não fala de
religião em suas aulas, mas de ética e valores. Outra professora disse ter
alunos que se proclamam ateus, mas que eles confundem ser ateu com não
seguir a religião de batismo. Essa mesma professora afirma que “se um dia eu
tiver um aluno ateu " mesmo" ... bom..realmente não sei te dizer como
farei...Mas vou procurar fazer com que ele tenha esperança e vontade de
vencer e que queira bem o seu próximo. Só de saber que ele tem amor no
coração...pra mim já ta bom”. O professor mineiro diz que tem alunos que se
dizem sem religião e que não tem nenhum problema em ter aluno ateu, o
importante é que o aluno seja autêntico consigo mesmo. O professor também
informa que o número de pessoas sem religião vem crescendo na população
brasileira. Essa informação se confirma: “O número de ateus e sem religião
cresceu 52% no Brasil na década passada, segundo o Censo. Mas eles ainda
representam uma minoria, em torno de 7% da população, e muitas vezes são
vistos com desconfiança como se tivessem uma falha de caráter. (O Estado de
S. Paulo – 05/10/2002). Já o professor Beto pergunta a entrevistador se ateu é
aquele que não acredita em Deus, a entrevistadora confirma, então ele
responde que tem um aluno ateu, mas que vai ”mudar a cabeça dele até o fim
do ano”.
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Ensino Religioso necessário nas escolas
Todos os entrevistados declaram que o ER é necessário nas escolas. Para o
professor Cícero, “o Ensino Religioso é fundamental na escola. (...) O Ensino
Religioso convida a pessoa a realizar vários encontros: com ela mesma, com o
outro, com a natureza (mundo) e com o transcendente. A pessoa que
consegue fazer estes encontros é mais feliz, isto é, mais si-mesma, mais
autêntica”. Para a professora Maria do Carmo, “Os jovens de hoje, precisam ter
na escola esse tipo de educação. Pois, as famílias estão muito desestruturadas
e essa falta de diálogo e afetividade causa uma carência e uma revolta muito
grande, gerando esse alto índice de violência que agente vê por ai... O papel
do professor tem mudado muito dentro da escola”. A professora Alessandra
conta que pais de alunos a procuraram para perguntar se o ER é obrigatório e
ela responde dizendo que não, mas que é necessário. O professor Beto diz que
“Sim (o ER é importante), claro e deve continuar. Os alunos mudaram a
cabeça, eles achavam que aula de religião a gente ia ficar lendo a Bíblia, mas
não tem nada a ver”.
Religião dos professores e Grau de Interferência destas nas aulas
Todos os professores entrevistados são católicos, mas a professora Maria
do Carmo diz seguir “(...) duas crenças. Fui batizada na Igreja católica, mas
freqüento também um centro espírita”. Todos os professores dizem acreditar
que sua religião não interfere nas aulas e que procuram respeitar o direito a
liberdade de pensamento e crença dos seus alunos.
A professora Maria do Carmo fala: “Quanto ao fato de interferir nas minhas
aulas, acredito que não, pois procuro respeitar a fé dos meus alunos em
relação às outras religiões (...)”. A professora Alessandra: “Eu tenho religião
sim! Eu sou católica e, inclusive uso adereços da religião católica.
Sinceramente não acredito que isso interfira em minhas aulas, mesmo porque
meus alunos não sabem que eu sou católica; a menos que me perguntem!”.
O professor Cícero diz “Procuro estar consciente de que sou religioso, de
que tenho uma religião e, nesta condição, não fazer uso dela. Creio que
religião é para ser vivida e não para ser “berrada” aos quatro ventos. (...)
Portanto, melhor do que “puxar a brasa para a minha sardinha” é não puxar a
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brasa para lado nenhum é procurar a equanimidade na relação com o outro
diferente”. E por fim, o professor Beto que diz que acha que sua religião não
interfere em suas aulas.
AANÁLISENÁLISE DOSDOS D DADOSADOS DADA P PESQUISAESQUISA DEDE C CAMPOAMPO
Segundo Menga Ludke, “a análise de dados não deve se restringir ao que
está explicitado no material, mas procure ir mais a fundo, desvelando
mensagens implícitas, dimensões contraditórias e temas sistematicamente
‘silenciados’” (1986, p. 48).
À partir desta idéia, procurou-se analisar os dados coletados não só pelo
que os entrevistados disseram, mas pelas impressões que nos foram
causadas. Isso porque, na entrevista com a professora Alessandra e na
entrevista com o professor Beto, o trabalho de busca das “mensagens
implícitas” foi facilitado devido às observações das aulas por eles ministradas.
Por outro lado, na entrevista com o professor Cícero, não foi possível
verificar tais mensagens uma vez que a entrevista foi concedida pela Internet,
via e-mail.
Assim, partindo do artigo XVIII da DUDH, referente às concepções de
religiosidade, elaboramos o seguinte problema de pesquisa: “Os professores
de Ensino Religioso, das Escolas Públicas, respeitam a liberdade de
pensamento e religião de seus alunos?”
À partir das respostas encontradas nas entrevistas para o referido problema,
estabeleceu-se que as categorias de análise são:
1. Respeito à liberdade de pensamento e religião;
2. Não respeito à liberdade de pensamento e religião;
Assim, a análise dos dados se caracteriza como pós-determinadas.
Veja, a seguir, como foi classificada cada entrevista de acordo com as
categorias de análise propostas:
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Entrevista de Maria do Carmo (E.E. Professor Adalberto Nascimento)
concedida à Adriana Mion: Categoria de análise 1
A professora Maria do Carmo respeita a liberdade de religião de seus alunos
conforme pudemos perceber nas suas respostas. Ela afirma que sua religião
não interfere na hora de dar aula e isso pode se visto pelo modo como ela
trabalha. Em uma das questões (06) ela diz: “o ensino religioso na escola vem
com uma propósito não de propor ao aluno uma específica religião, mas sim
lhe mostrar que através das práticas religiosas é possível desenvolver o lado
afetivo e a sociabilidade do aluno na sociedade”, assim como os Parâmetros
sugerem, ou seja, o professor deve trabalhar a sociabilização do aluno
“baseando-se no pressuposto de que o Ensino Religioso é um conhecimento
humano e, enquanto tal, deve estar disponível à sociabilização...” (PCN’s).
Na questão 08 (“Como você abrange as diferentes religiões?”), ela diz:
“procuro não lidar com as diferenças entre as religiões”, mas sim buscar
assuntos que possam ser abordados pelas diferentes crenças, respeitando a
forma como cada uma pensa.
Pudemos perceber também que, no caso de um aluno ateu, ela não parece
dar muita importância ao fato de ele não acreditar em Deus, mas sim aos fatos
que levam esse aluno a pensar de tal maneira; ou seja, ela respeita a decisão
dele, mas tenta perceber se há algo implícito em sua vida que o leve a pensar
assim. Aqui, mais uma vez procura desenvolver o lado afetivo e emocional dos
estudantes.
Na verdade, portanto, ela deixa bem claro que o objetivo é despertar o lado
afetivo e emocional dos seus alunos, independendo da religião de cada um.
Entrevista de Cícero (Rede Estadual de Minas Gerais) concedida à Adriana
V. Miranda: Categoria de análise 1
O professor Cícero, em sua entrevista, repete várias vezes que o respeito é
fundamental para os professores de ER. Para ele a "religião é para ser vivida e
não ‘berrada’ aos quatro ventos. (...) melhor do que ‘puxar a brasa para a
minha sardinha’ é não puxar a brasa para lado nenhum, é procurar a
equanimidade na relação com o outro diferente".
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Ele não tenta evangelizar/catequizar os seus alunos. Suas aulas têm por
objetivo romper preconceitos que possam existir em relação ao outro e às
diferentes religiões.
É verdade que nós, no caso deste professor, não pudemos confrontar suas
respostas com a observação de suas reações uma vez que sua entrevista nos
foi concedida por e-mail; no entanto, nós acreditamos que esse professor leva
o Ensino Religioso muito a sério, já que possui uma extensa formação nessa
área. Isso de deve ao fato de dar aulas nesse tipo de ensino há quase 10 anos
e por coordenar um grupo de Ensino Religioso, onde professores trocam
informações e experiências.
Entrevista de Alessandra (E.E. Professor Luís Galhardo) concedida à
Gláucia C. Bérgamo: Categoria de análise 1
A entrevista da professora Alessandra pode ser categorizada como ‘respeito
à liberdade de pensamento e religião’, porque o conteúdo dado em suas aulas
baseia-se no trabalho da ética, dos valores e da cidadania, o que a professora
acredita ser o fundamento de todas as religiões. Além disso, por ser católica,
Alessandra não prega em suas aulas nada que diga respeito à religião, ou à
história das religiões. O conteúdo a ser enfocado baseia-se no
desenvolvimento da criticidade do aluno enquanto ser humano, portanto,
agente social.
Também é necessário notar que, Alessandra faz questão de mostrar aos
alunos bem como aos familiares destes alunos que esse conteúdo abordado
não influencia na liberdade de crença, mas que trabalha a ética, os valores e as
normas de conduta necessários para viver na sociedade (pós) moderna.
A veracidade das proposições de Alessandra pôde ser verificada, uma vez
que sua aula foi submetida à observação por parte do grupo desta pesquisa.
Entrevista de Beto (E.E. Tomas Alves) concedida à Paula P. Travaini:
Categoria de Análise 2
Na entrevista feita com o Prof. Beto percebemos um “não respeito” com a
liberdade de pensamento e religião dos alunos. Apesar de ele dizer no início
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(questão 1 : “Você tem alguma religião? Se sim, ela interfere na hora de dar
aula?) que sua religião não interfere no momento de dar aula, na questão 10
(“Você tem algum aluno ateu? Como você trabalha com ele? Se não, o que
você faria se tivesse?) ele afirma que vai fazer com que seu aluno ateu acredite
em Deus, ou seja, ele fura nesse momento a liberdade desse aluno de não
acreditar em Deus.
Observando uma aula de Ensino Religioso da mesma escola, o
estudante de Teologia Igor – ajudante do professor nas aulas – cita com
constância Deus, além disso faz o uso de uma passagem da Bíblia para
complementar suas aulas. Isso demonstra, também, uma interferência àqueles
que não acreditam em Deus e de certa maneira dá ênfase às religiões que
seguem a Bíblia.
Um outro fator que chamou a atenção do grupo é que o professor conta
com o auxílio de dois estudantes do curso de Teologia (de uma Faculdade
Batista), mas segundo os PCN’s, os professores devem ter formação de
História, Filosofia ou Ciências Sociais. Por causa disso, indiretamente esses
estudantes tendem suas discussões e idéias para as religiões cristãs.
22
CCONSIDERAÇÕESONSIDERAÇÕES F FINAISINAIS
Na introdução, nós dissemos que talvez nossa pesquisa não trouxesse
alguma inovação, contudo não encontramos nenhum outro trabalho que tenha
ido diretamente aos professores de Ensino Religioso para verificar se eles
estão tentando impor alguma religião (ou não-religião????) aos seus alunos.
Entretanto, nossa pesquisa faz parte de um conjunto de trabalhos relacionados
aos Direitos Humanos.
A nossa pesquisa, portanto, teve o intuito de verificar se os professores de
Ensino Religioso das escolas públicas respeitam a liberdade de pensamento e
de crença de seus alunos. O que nós encontramos dentre os entrevistados foi
que a maioria respeita tal direito, pois acredita que o Ensino Religioso deve ter
um caráter informativo e que através desse conhecimento os preconceitos
possam ser destruídos.
Após constatar tais resultados, pudemos construir (ou reconstruir) nossa
opinião a respeito de se deve ou não ter Ensino Religioso nas escolas.
Diante da crise de valores pela qual a sociedade atual vem passando, é
necessária a “construção de relações sociais mais justas, solidárias e
democráticas, que respeitem as diferenças físicas, psíquicas ideológicas,
culturais e socio-econômicas de seus membros “ que “passe necessariamente
pela a incorporação, nas práticas cotidianas, de princípios e valores já
conhecidos mas que nunca foram de fato consolidados por nenhuma cultura,
como os que foram consagrados em 1948 na DUDH” (Araújo e Aquino, 2001).
A partir disso, compreendemos a relevância de se manter o Ensino Religioso
nas escolas públicas, como um espaço que possibilite a reflexão sobre a ética
e os valores, visando uma educação para a paz e a cidadania. Sendo a escola
um dos lugares em que as crianças e jovens passam grande parte de seu
23
tempo e percebendo a importância e a possibilidade de resgatar o interesse
pela religiosidade através de um conhecimento maior sobre a busca da
transcendência para a vida humana, a escola deverá visar à valorização do ser
humano como um todo, incluindo a importância dos valores éticos e morais
para melhor convivência em sociedade, valorizando a cultura religiosa em cada
um.
Entretanto, reconhecemos que o Ensino Religioso, apesar de ter seu lado
positivo, também apresenta riscos para a educação, considerando o mau uso
que se poderia fazer desse ensino. Em geral, quando adotada pela escola
como disciplina, o Ensino Religioso tropeça em uma série de carências. Entre
elas, está a questão do conteúdo a ser trabalhado, geralmente fragmentado e
desvinculado de uma perspectiva interdisciplinar, visto como doutrina e
atrelado a dogmas confessionais. Assim, o Ensino Religioso não pode ser
utilizado como um instrumento para professores sem escrúpulos pregarem
suas crenças, de acordo com seus interesses, deixando de visar o bem comum
e desrespeitando dessa forma a liberdade de crença e pensamento de seus
alunos.
Cabe a nós, futuros educadores, fazermos com que prevaleça o lado
positivo do Ensino Religioso nas escolas públicas. Para isso, não é possível
definir uma proposta pedagógica para tal ensino sem antes reconhecer a
diversidade religiosa dos alunos e sem levar em conta a realidade na qual
estão inseridos, a cultura e os valores envolvidos; ou seja, na globalidade da
qual faz parte a educação religiosa (SUBRACK e ASSUMPÇÃO, 2001).
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AANEXOSNEXOS EntrevistasProfessora Alessandra: E.E. Prof. Luís Galhardo1. Você tem alguma religião? Você acha que causa interferência na hora de dar aula?
Eu tenho religião sim! Eu sou católica e, inclusive uso adereços da religião católica.
Sinceramente não acredito que isso interfira em minhas aulas, mesmo porque meus alunos
não sabem que eu sou católica; a menos que me perguntem! Inclusive eu já dei aula no
Colégio Adventista e acredito que isso não interferiu diretamente no meu trabalho.
2. Qual sua formação profissional?
Eu sou formada em História pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e em
Biblioteconomia e Ciência da Informação em São Paulo. Como você vê, eu tenho uma
formação bastante variada. Em Biblioteconomia eu aprendi bastante sobre tecnologia e
administração empresarial, além de informática o que hoje me ajuda bastante a dar as aulas.
3. Você acha que ela é suficiente para você atuar como professor de religião?
Da maneira como eu encaro o Ensino Religioso, a minha formação é bastante
suficiente, pois eu não estou dando especificamente o conteúdo de religião, mas tratando
com os alunos a busca da ética e dos valores, o que eu acho que é o fundamento de todas as
religiões.
4. Qual deve ser a formação de um professor de Ensino Religioso?
Quanto mais preparado for um professor, não importa se de Ensino Religioso, ele
deve ter consciência de que aquilo que passa aos alunos interfere decisivamente em sua
vida. Portanto, quanto mais preparado, melhor!
5. Você conhece os PCN’s para o Ensino Religioso?
Sinceramente, não conheço os PCN’s para o Ensino Religioso!
6. Quais os conteúdos que você acha que deveriam ser trabalhados no Ensino
Religioso?
Eu acredito que não se deve pregar uma ou outra religião. O que deve ser ensinado é
aquilo que os faz crescer enquanto seres humanos e agentes sociais!
7. Como você trabalha nas suas aulas?
Trabalho com aquilo que acredito ser o fundamento de tudo; a ética e os valores.
Inicialmente tive muita dificuldade em ministrar o Ensino Religioso, pois os alunos
acreditavam que eu ensinava religião. Com o tempo, eles viram, ou ficaram sabendo, que o
que eu fazia era me basear em projetos que trabalhasse os conteúdos que te falei. Estamos
sendo inclusive ajudados por um grupo de pesquisa da UNICAMP que elaborou um projeto
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para ser aplicado nas escolas. É o projeto CUIDAR. Mas o problema é que só agora estamos
recebendo o material; por isso o que eu fiz foi um outro projeto chamado “Sonhar para Ser”.
Todas as aulas eu trabalho na sala de informática e faço o material no Power Point. Eu
trabalho os “Códigos da Modernidade”, ou seja, as habilidades que eles precisam
desenvolver para atuar como futuros profissionais. Pedi recortes em revistas e depois passei
à pesquisas pela Internet. Eu acredito sinceramente que isso esteja dando resultado, porque
eles começaram a ficar mais participativos, mais tolerantes uns com os outros (por que antes
havia muitas brigas) e, principalmente, começaram a cuidar mais do mobiliário da escola.
8. Como você abrange as diferentes religiões?
Eu acredito que por não dar nada relacionada a alguma religião, fica mais fácil
trabalhar com os alunos.
9. Os seus alunos são de diferentes religiões?
Sim, eu tenho alunos de diferentes religiões. São católicos, evangélicos.
10. Você tem algum aluno ateu? Como você trabalha com ele? Se não, o que você faria
se tivesse?
Sinceramente não sei se tenho aluno ateu.
11. Como você trabalha a diversidade de crenças na sala de aula?
A diversidade passou a ser trabalhada quando eu percebi que trabalhando com os
valores cada um passou a ser mais tolerante com os outros.
12. Você fez algum curso de capacitação para o Ensino Religioso?
Estou fazendo.
13. Você considera o Ensino Religioso necessário nas escolas?
Quando eu comecei a ministrar o Ensino Religioso, eu percebi que os alunos que
vinham estavam mais interessados em brincar com o computador do que prestar atenção na
aula. Inclusive, vieram muitos pais conversar comigo que não queriam que seus filhos
participassem da aula, pois eles acreditavam que eu iria influenciá-los. Esses pais achavam
que eu falaria sobre religião e não queriam que seus filhos seguissem uma crença que não a
sua. Então eu expliquei que o que eu faço na aula é trabalhar os valores e a ética. Mesmo
assim há alunos que não freqüentam as aulas! Por isso, muitos vieram me perguntar se eu
acho o Ensino Religioso obrigatório, eu respondo que é necessário. Espero que entendam!
14. Em uma de suas aulas você propões que seus alunos escrevam sobre Deus. Um
deles, muito bom em redação, disserta sobre as comprovações científicas de que Deus não
existe. Como você lida com essa questão?
Nunca ocorreu nada semelhante, mesmo por que eu não falo de religião. Acredito
que nunca irá acontecer, pois o meu conteúdo é outro!
Professora Maria do Carmo: E.E. Prof. Adalberto Nascimento1. Você tem alguma religião? Se sim, ela interfere na hora de dar aula?
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Na verdade, eu sigo duas crenças. Fui batizada na Igreja católica, mas freqüento
também um centro espírita. Quanto ao fato de interferir nas minhas aulas, acredito que não,
pois procuro respeitar a fé dos meus alunos em relação às outras religiões e nas minhas
aulas, me preocupo em integrar o aluno na sociedade desenvolvendo o lado humano e social.
2. Qual sua formação profissional?
Me formei no curso de Historia, pela PUCCAMP.
3. Você acha que ela é suficiente para você atuar como professor de religião?
Acredito que sim, pois as aulas de ensino religioso trabalham muito com a
interligação da evolução da religião com o desenvolvimento da sociedade. Mas, é muito
importe que o profissional responsável pelas aulas de ensino religioso mantenha-se sempre
informado sobre as exigências em relação a essa prática.
4. Qual deve ser a formação de um professor de religião?
Ao meu ver, mais importante que a formação do professor, é a capacidade que esse
professor tem em interagir os alunos a sociedade que eles pertencem. Fora essa
necessidade básica... O ideal é que o professor seja formado em Historia, Sociologia,
Teologia ou Filosofia.
5. Você conhece os parâmetros curriculares para o ensino de religião?
Conheço, mas não tive a oportunidade de fazer uma leitura detalhada... Mas sei quais
são as idéias a serem seguidas.
6. Se sim, qual sua opinião sobre eles? Se não, quais os conteúdos você acha que
deveriam ser trabalhados no ER?
Concordo com muita coisa, principalmente na idéia de que o ensino religioso na
escola vem com um propósito de não propor a ao aluno uma especifica religião, mas sim lhe
mostrar que através das praticas religiosas é possível desenvolver o lado afetivo e a
sociabilidade do aluno na sociedade.
7. Como você trabalha nas suas aulas?
Procuro trabalhar com temas em destaque no mundo como, por exemplo, as
guerras, a miséria, a violência, entre outros... E a partir desses temas, desenvolvo com os
alunos projetos para solucionar ou pelo menos conscientizar a população. Gosto também de
promover debates que confrontem a visão da religião com a visão da sociedade... No último
debate que fizemos, discutimos a visão da religião e da sociedade em relação ao aborto. Foi
muito interessante, pois a partir desse gancho que tive, pude trabalhar com os jovens a
questão da sexualidade e as formas de prevenção contra doenças e a gravidez. Para isso, fiz
uma parceria com a professora de biologia que me ajudou bastante.
8. Como você abrange as diferentes religiões?
Na verdade, procuro não lidar com as diferenças entre as religiões... Prefiro buscar um
assunto e a partir dele conversar com os alunos, respeitando a forma que cada religião em
particular trabalha.
9. Os seus alunos são de diferentes religiões? Quais?
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A maioria é dos meus alunos são católicos, mas também tenho alunos evangélicos.
10. Você tem algum aluno ateu? Como você trabalha com ele? Se não, o que você faria
se tivesse?
Claro... encontro muitos alunos que se dizem ateus, mas no fundo percebo que
crêem em algo e isso pra mim já é o mais importante. Eles confundem muito o ser ateu com
não freqüentar as práticas oferecidas pela religião de batismo. Mas acredito que isso não é
o mais importante, para mim o essencial é que esses jovens tenham fé... E isso a maioria
tem. Mas, se um dia eu tiver um aluno ateu" mesmo" ... bom..realmente não sei te dizer
como farei...Mas vou procurar fazer com que ele tenha esperança e vontade de vencer e
que queira bem o seu próximo. Só de saber que ele tem amor no coração...pra mim já ta
bom. Na rede pública, onde trabalho, é muito difícil conseguir que esses jovens tenham
esperança...Então, essa é a minha principal meta.
11. Como você trabalha essa diversidade de crenças na sala de aula?
Uso isso para transformar minhas aulas em sessões culturais... os alunos se sentem
muito atraídos pelas outras religiões e crenças... e essa atração é muito importante, pois
torna a aula mais atrativa e rica.
12. Você fez algum curso de capacitação para ER?
Não... Não fiz nenhum curso não. Sempre fiz parte da entidade assistencial da minha
Igreja, então acho que isso me ajudou bastante a trabalhar com esse lado mais social em
sala de aula.
13. Você considera o ER necessário nas escolas?
Sim... Claro. Os jovens de hoje, precisam ter na escola esse tipo de educação. Pois,
as famílias estão muito desestruturadas e essa falta de diálogo e afetividade causa uma
carência e uma revolta muito grande, gerando esse alto índice de violência que agente vê por
ai... O papel do professor tem mudado muito dentro da escola.
14. Em uma de suas aulas você propõe que seus alunos escrevam sobre Deus. Um
deles, muito bom em redação, disserta sobre comprovações cientificas que Deus não existe.
Como você lida essa questão?
Nossa... essa é difícil... Em primeiro lugar vou buscar a fonte que esse aluno buscou
para comprovar essas afirmações, a partir daí, vou procurar integra-lo nas discussões da sala
e sentir se essa resistência em aceitar a existência de Deus é real ou apenas uma forma de
manifestar uma revolta Interna... Respeitarei a decisão do aluno, mas mais uma vez vou
procurar desenvolver seu lado afetivo e emocional.
Professor Beto: E.E. Dr. Tomas Alves
1. Você tem alguma religião? Se sim, ela interfere na hora de dar aula?
Sim, sou católico. Eu acho que ela não interfere não.
2. Qual sua formação profissional?
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História.
3. Você acha que ela é suficiente para você atuar como professor de religião?
Não.
4. Qual deve ser a formação de um professor de religião?
Eu acho que deve ser Teologia. Por isso, eu trago dois estudantes de Teologia para
dar aula comigo, a aula fica mais rica.
5. Você conhece os parâmetros curriculares para o ensino de religião?
Sim. Entregaram apostilas, de até 3 volumes, com o que devíamos ensinar. Mas é
tudo muito supérfluo e vago, eles jogam na gente e nem ligam mais.
6. Se sim, qual sua opinião sobre eles?
Eu acho que eles são bons, abrangem vários temas que devemos tratar com os
alunos.
7. Como você trabalha nas suas aulas?
Eu faço com que eles apontem os pontos positivos e negativos de cada religião e
trago a discussão para uma roda. Eu faço com que eles falem, e não que eu ensine, porque
cada um tem uma religião e não há certo e errado. Caso haja uma discordância entre algum
aspecto de diferentes religiões, eu tento saber mais sobre o assunto e trago para a classe de
volta depois. Como a maioria é evangélica, eles estudam muito a Bíblia, então eu prefiro que
eles tragam as discussões porque senão eu falo alguma coisa errada, aí já viu né?
Eu avalio eles conforme a participação em sala, mas não tem prova. E na verdade,
essa matéria não reprova, se eles ficam com zero não tem problema, mas eu falo que reprova
para eles virem, se não, não vem ninguém.
Às vezes, também, vem uma moça tocar violão com eles, canta umas músicas e tal.
8. Como você abrange as diferentes religiões?
Eu trabalho com os pontos positivos e negativos de cada uma, pedindo para que eles
escrevam sobre cada uma; eu também gosto de ressaltar bem a diferença entre religião e
igreja. Na verdade eu prefiro não falar muito de religião, prefiro falar mais de Deus.
9. Os seus alunos são de diferentes religiões? Quais?
Sim. Na maioria evangélicos e católicos, mas alguns foram batizados na igreja
católica e hoje não freqüentam, mesmo assim acreditam em Deus.
10. Você tem algum aluno ateu? Como você trabalha com ele? Se não, o que você faria
se tivesse?
Ateu é aquele que não acredita em Deus? Bom, tem um, mas eu falo que vou mudar
a cabeça dele até o fim do ano. Ele fala que se o pai dele não mudou até hoje, não sou eu
que vou mudar, mas eu tento né? Eles não acreditam em Deus, eles falam que as coisas
acontecem por causa deles, por uma força interna deles.
11. Como você trabalha essa diversidade de crenças na sala de aula?
Eu trabalho com os pontos positivos e negativos de cada uma, pedindo para que eles
escrevam sobre cada uma; eu também gosto de ressaltar bem a diferença entre religião e
igreja. Na verdade eu prefiro não falar muito de religião, prefiro falar de Deus.
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12. Você fez algum curso de capacitação para ER?
Sim, quer dizer, eu não fiz antes de dar aula, depois que começaram essas aulas às
vezes vem uns tutores da Unicamp para trabalhar com a gente. Eles dão umas dicas de como
trabalhar e tal. Eles são especialistas em religião, tem mestrado e doutorado nisso. Eles falam
que os evangélicos são os mais críticos de todos.
13. Você considera o ER necessário nas escolas?
Sim, claro e deve continuar. Os alunos mudaram a cabeça, eles achavam que aula de
religião a gente ia ficar lendo a Bíblia, mas não tem nada a ver.
Eu dou essa aula em duas escolas, aqui (E.E. Dr. Tomás Alves) e em Joaquim
Egídio. Aqui eles ficam muito presos ao que o padre disse ou ao que o pastor disse, mas lá
eles falam mais da vida nessa aula, eu acho mais interessante dar aula lá.
14. Em uma de suas aulas você propõe que seus alunos escrevam sobre Deus. Um
deles, muito bom em redação, disserta sobre as comprovações científicas que Deus não existe.
Como você lida com essa questão?
Primeiramente eu respeito a opinião dele porque cada um tem uma e nós não
podemos interferir, mas depois eu demonstraria que a Bíblia não é científica e que ela não
tenta provar que Deus existe, ela já começa afirmando que Ele existe (me mostra a 1ª frase do
Gênesis quando fala que Deus criou a Terra). Ta vendo? Ela já fala que Ele criou a Terra, ela
não tenta provar nada, ela só conta como foi. (quem respondeu essa questão foi a estudante
de Teologia que dá aula com o professor).
Observação de uma aula de ensino religioso na Escola Estadual Dr. Tomás Alves. Exemplo de “Não
respeito pela liberdade de pensamento e religião”
Esta aula é ministrada por um professor de história (o entrevistado), mas quem realmente
dá a aula são dois estudantes do curso de teologia de uma faculdade Batista de Campinas. A
aula assistida contava com apenas um deles.
Segundo o professor a aula geralmente tem grande aceitação, com um número de
estudantes em torno de 17, mas no dia da observação contava apenas com 9, sendo 8
meninas e 1 menino.
O estudante de teologia (Igor) pede que um dos alunos escreva na lousa uma passagem da
Bíblia, já pré-estabelecida por ele (“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela
oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus
que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus. /
Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo
o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente
ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam,
receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês”).
Depois da passagem escrita na lousa, Igor escreve ao lado o assunto que será discutido na
aula: “ANSIEDADE”, e escreve também os tipos de ansiedade (aguda, crônica, normal,
neurótica, moderada e intensa), ele discute com os alunos os tipos de ansiedade explicando
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cada uma e pedindo exemplos se eles já tinham sentido algum desses tipos. O estudante que
dava a aula seguia um livrinho de apoio Refletindo sobre as questões do momento, de Sérgio e
Magali Leoto.
Falando sobre ansiedade, ele diz que muitas vezes algumas pessoas quando estão em
estágios avançados se questionam “Deus não me ama”, ou “Dependa apenas de si mesma”, e
pergunta para a classe se eles podem resolver seus problemas sozinhos, a maioria responde
que não, que precisam de Deus, mas outros dizem que precisam deles mesmo. Ele só ouve e
não fala nada. Seguindo a seqüência que sugeria o livro, ele lê a passagem escrita na lousa e
pede que os alunos leiam junto. Ele pergunta para os alunos como levar os problemas para
Deus, e eles respondem que é através da reza, pedindo, suplicando dentre outros. Assim, Igor
na questão da fé para acreditar nas coisas, que só através dela que conseguimos e
acreditamos nas coisas. O estudante explica cada frase da passagem, a qual refere-se à
ansiedade, e termina a aula falando que Deus da importância de Deus para não ter ansiedade.
Entrevista concedida via e-mail pelo professor Cícero, da Rede Estadual de Minas Gerais
Meu nome é Cícero Clarindo de Souza, sou professor de Educação Religiosa (ER) na Rede
Estadual de Minas Gerais desde 1994. Agora, passo a responder ao seu questionário.
1. Qual sua formação profissional? Você acha que ela é suficiente para você atuar como
professor de ensino religioso?
Minha formação profissional é a de Bacharel Licenciado em Filosofia (PUC Minas) e
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Ciências da Religião com Ênfase em Ensino Religioso
(UEMG). Acrescente-se a essa formação acadêmica que, também, fiz Teologia (ISTA - Belo
Horizonte), mas esta formação teológica não conta para o processo de "nomeação de
professores" na Rede Estadual - o que, em parte, acho correto. Creio que a formação
acadêmica que tenho é suficiente para minha atuação. Entretanto, acrescento que, acabamos
de realizar um Seminário Estadual de Ensino Religioso onde a questão da formação dos
docentes de Ensino Religioso foi debatida. Atualmente, temos uma formação plural em Minas
Gerais. Temos na prática, a convivência de três tipos de professores de ER. a) Professores
licenciados em qualquer área + comprovante de credenciamento ex pedido pelo CONER/MG
ou por autoridade religiosa que o represente regionalmente junto a CRER; b) Professores
licenciados em qualquer área + especialização lato sensu em Ensino Religioso e, c) Professor
licenciado em curso superior com habilitação em Ciência da Religião ou Pedagogia com
ênfase em Ensino Religioso. Contudo, esta última situação atualmente só é preenchida pelo
Curso de Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso, da PUC Minas. Entretanto, diante da
realidade complexa do Ensino Religioso, tenho a convicção de que mais importante do que a
formação acadêmica é a postura do professor. Não adianta o professor preencher apenas os
critérios de licenciatura e habilitação se ele for fechado, “tapado” para o diálogo de um mundo
plural onde as religiões e as culturas são extremamente variadas. Quando o professor for
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incapaz ele deve ser afastado; obviamente, não só o de Ensino Religioso mas o de qualquer
área.
2. Você conhece os parâmetros curriculares para o ensino religioso? Se sim, qual sua
opinião sobre eles? Se não, quais os conteúdos você acha que deveriam ser trabalhados no
ER?
Sim, conheço. Primeiro, acho que são importantes. Melhor com eles do que sem eles.
Segundo, eles são precários – frutos do esforço dos profissionais da área, visto que são
extra-oficiais. Diferentemente, dos parâmetros de outras áreas, os de Ensino Religioso são
frutos de esforço dos professores e não de atuação do MEC – que pagou caras consultorias
para as outras áreas do conhecimento. Contudo, acho importante dizer isto, a experiência
continuada com o Ensino Religioso no estado de Minas Gerais já fez com que surgissem
belos trabalhos. Lembro-me de dois: 1) O “Ensino Religioso – Conteúdos Básicos (Ciclo
Básico de Alfabetização à 4ª Série do Ensino Fundamental)”, de 1995 e 2) o “Ensino
Religioso - Programa para o Ensino Fundamental (5ª à 8ª Série, Opcional para o Primeiro Ano
do Ensino Médio)”, de 1998. Foram frutos de traba lho coletivo – os professores e a
Secretaria de Estado da Educação. Portanto, ser profissional do Ensino Religioso, é também
saber/conhecer a história que vem sendo tecida com muita dedicação por gente que sonha e
luta por um mundo melhor – mais justo e mais fraterno.
3. Como você trabalha nas suas aulas?
Em minhas aulas, de início, procuro conhecer as pessoas com as quais vou trabalhar.
Aprendi que o aluno é, assim como eu, um sujeito sócio-cultural. Quero saber o nome e a
história de cada um, de que gosta e de que desgosta, quais são seus interesses presentes e
quais seus desejos/sonhos de amanhã. Assim, questões do tipo “Quem é você?”, “De onde
você vem?”, “Para onde você vai?”, “Qual é o espaço que você habita?” são fundamentais
para que eu conheça os sujeitos com os quais vou interagir como professor. Assim, minhas
aulas são, em grande medida, encontros em que o “corpo a corpo” entre professor e alunos
se dá cotidianamente. Metodologicamente, não sei como trabalhar a não ser dessa forma:
dialogal. Tenho trabalhado também as habilidades de concentração e escuta – minha e dos
alunos. É preciso aprender a ouvir o outro, meu semelhante, humano, assim como eu. Tenho
aprendido que o ser humano é um mistério – uma caixinha de surpresas. Como é gostoso ver
o processo de tornar-se mais humano. E, para tornar-se mais humano não há limites pré-
estabelecidos quanto ao conteúdo curricular. Tudo, absolutamente tudo, é assunto a ser
dialogado, experienciado no Ensino Religioso. O objetivo de fundo é perceber o sentido que a
vida tem; buscar este sentido vital.
4. Como você abrange as diferentes religiões?
Em minha aula inaugural costumo diferenciar Ensino Religioso de Religião. Digo que
uma coisa é uma e que outra coisa é outra. O Ensino Religioso busca o sentido da vida,
independente da pessoa ser religiosa ou não, já a Religião é o espaço do encontro com a(s)
divindade(s). Ora, para perceber isso com maior clareza, sugiro o estudo de algumas grandes
religiões da humanidade (p. ex.: o hinduismo, o budismo, o judaísmo, o cristianismo, o
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islamismo, o espiritismo, o esoterismo, as religiões afro-brasileiras e outras de mais difícil
sistematização – por exemplo: testemunhas de Jeová, baha'i, mórmons...). Geralmente,
sugiro uma pesquisa através de grupos de estudo onde os temas são sorteados. Os grupos
devem perceber as características principais da religião, quando e onde surgiu, quem são as
personagens principais – divinas e humanas – que ela apresenta, qual a sua concepção de
Deus e do ser humano... por fim, devem fazer uma síntese e apresentar à classe. O objetivo
deste tipo de trabalho é, por um lado, trabalhar a capacidade de procurar, pesquisar
cientificamente e, de outra parte, romper preconceitos em relação ao outro diferente, no caso,
religiões diferentes da que professo, confesso.
5. Os seus alunos são de diferentes religiões? Quais?
Em sua grande maioria, meus alunos são cristãos, com grupos significativos de
evangélicos (a maior parte de igrejas recentes – Deus é Amor, Assembléia de Deus, Casa da
Benção, Varões de Guerra, etc - e, muito poucos de igrejas históricas, como a Luterana, por
exemplo) e católicos. Há uma parcela de Testemunhas de Jeová e outra bastante reclusa de
Afro-brasileiros.
6. Você tem algum aluno ateu? Como você trabalha com ele? Se não, o que você faria
se tivesse?
Tenho alunos que se dizem sem religião. Aliás, estatisticamente, este grupo vem
crescendo na população brasileira. Seria, talvez, fruto de menor pressão da sociedade e de
uma visão de um Deus menos terrível, mais acolhedor, mais misericordioso. As interrogações
são várias. Bem, não vejo nenhum problema em ter algum aluno ateu. Como, disse acima
(Questão 3), o aluno é antes de tudo um sujeito sócio-histórico e como tal ele tem a sua
idiossincrasia, isto é, o seu jeito próprio de ser. O que julgo importante é que ele seja
autentico consigo mesmo. Aliás, recordo-me que perguntaram ao Dalai Lama se ele achava
que toda pessoa deveria ter religião. Ele disse que não achava isso fundamental, mas
almejava que toda pessoa fosse uma boa pessoa. No passado eu fui frade noviço e
estudante na Ordem dos Pregadores, os dominicanos (parte d a Vida Religiosa na Igreja
Católica Romana), lá o Frei Mateus Rocha – que era o provincial – perguntado sobre o que
era necessário para ser frade dominicano dizia, em primeiro lugar deve ser gente, depois
cristão, católico e, só então, dominicano. É isso, nossa primeira condição é que somos todos
da mesma espécie: somos gente. Ninguém é melhor nem pior por ser ateu. Obviamente, esta
constatação deve ser motivo de um questionamento muito profundo por parte de quem é
religioso. Afinal, em que uma pessoa religiosa se diferencia de uma não-religiosa? Deveria,
penso, se diferenciar pela tolerância e pelo amor.
7. Como você trabalha a diversidade de crenças na sala de aula?
Como disse nas Questões 4 e 5, respeitando as diferenças. Na realidade, penso que
a religião que a pessoa tem deve ser a melhor religião do mundo para ela. Se ela considerar
que o mesmo se dá para o outro que tem uma crença diferente, creio que respeitará o outro e
sua crença. Por fim, creio que somente a insegurança leva à agressividade violenta. Só
quando não estou convicto é que ataco, defensivamente, o outro. Isto vale para a dimensão
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religiosa, assim como para a esfera da afetividade-sexualidade. O medo leva à violência. A
convicção de que somos diferentes – nem piores nem melhores -, leva à tolerância.
8. Você fez algum curso de capacitação para ER?
Como dito acima (Questão 1), fiz. Primeiramente, um “Curso de Filosofia e
Metodologia do Ensino Religioso”, dado pelo CONER-MG e, posteriormente, fiz pós-
graduação “lato sensu” em Ciências da Religião. Além disso participo regularmente de grupos
de estudo e discussão sobre o Ensino Religioso e sua prática. Na realidade educacional, pelo
que sei, somos a única parcela do magistério que tem, sistematicamente, pelo menos 16
horas de estudo e troca de experiências com os pares durante o ano. Na Rede Municipal em
que trabalho, nós nos encontramos durante quatro horas todo mês.
9. Você considera o ER necessário nas escolas? Por que?
Com certeza o Ensino Religioso é fundamental na escola. Ainda há mal-entendidos
quanto ao seu quefazer, entretanto, quanto mais os professores forem sendo capacitados e a
sua especificidade for sendo conhecida, tanto mais ele será benéfico à vida escolar, digo, à
vida de alunos e professores. O Ensino Religioso convida a pessoa a realizar vários
encontros: com ela mesma, com o outro, com a natureza (mundo) e com o transcendente. A
pessoa que consegue fazer estes encontros é mais feliz, isto é, mais si-mesma, mais
autêntica.
10. Você tem alguma religião? Se sim, ela interfere na hora de dar aula?
Eu sou cristão – participo da Igreja Católica Romana. A interferência que minha
prática religiosa tem em minhas aulas é – como dizer isto – pela via negativa. Procuro estar
consciente de que sou religioso, de que tenho uma religião e, nesta condição, não fazer uso
dela. Creio que religião é para ser vivida e não para ser “berrada” aos quatro ventos.
Recordo-me do ditado popular “Faça o que falo, não faça o que faço!” Penso que ele está
muito ligado a determinadas práticas religiosas: fala-se muito, pratica-se pouco. Portanto,
melhor do que “puxar a brasa para a minha sardinha” é não puxar a brasa para lado nenhum
é procurar a equanimidade na relação com o outro diferente.
11. Em uma de suas aulas você propõe que seus alunos escrevam sobre Deus. Um
deles, muito bom em redação, disserta sobre as comprovações científicas que Deus não existe.
Como você lida com essa questão?
Com naturalidade. Como professor de Educação Religiosa não fui constituído
advogado de Deus. Ora, se o mesmo existe – e, penso e creio que existe – e é quem é, e
mesmo assim ele é capaz de respeitar a diversidade que existe na realidade, por que eu iria
ter atitude diferente. Acredito que a aula de Ensino Religioso é espaço de liberdade, de
crescimento, acolhimento e não de tolhimento, de cerceamento. O professor de Educação
Religiosa deve, na medida de suas possibilidades, dar espaço para a manifestação livre dos
alunos. Só assim eles serão autênticos, pois não terão medo de dizer o que pensam. A aula
de Ensino Religioso deve ser um oásis de liberdade.
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BBIBLIOGRAFIAIBLIOGRAFIA
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Ensino Religioso. Frederico Westphalen, Ed. URI, 2001
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CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. Deliberação n.º 16. SEE/SP, 2001.
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