thiago figueiredo polari pessoa - puc-rio de sólidos (gravel packing e stand alone) instalados em...
TRANSCRIPT
Thiago Figueiredo Polari Pessoa
Análise Numérica de Medidas de Contenção de Sólidos em
Rochas Produtoras de Óleo do Brasil
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil.
Orientador: Prof. Eurípides do Amaral Vargas Jr Co-orientadora: Raquel Quadros Velloso
Rio de Janeiro
Agosto 2011
Thiago Figueiredo Polari Pessoa
Análise Numérica de Medidas de Contenção de Sólidos
em Rochas Produtoras de Óleo do Brasil
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo citada.
Prof. Eurípedes do Amaral Vargas Jr Orientador
Departamento de Engenharia Civil - PUC-Rio
Dra. Raquel Quadros Velloso Co-orientadora
Departamento de Engenharia Civil - PUC-Rio
Prof. André Luís Muller Departamento de Engenharia Civil - PUC-Rio/Tecgraf
Dr. Mauro Bloch
Cenpes/Petrobras
Prof. José Eugenio Leal Coordenador Setorial do Centro
Técnico Científico- PUC-Rio
Rio de Janeiro, 19 de Agosto de 2011
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou
parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor
e do orientador
Thiago Figueiredo Polari Pessoa
Graduado em Engenharia Ambiental pela PUC (Pontifícia
Universidade Católica) em 2009.
Ficha Catalográfica
CDD: 624
Pessoa, Thiago Figueiredo Polari Análise numérica de medidas de contenção de sólidos em rochas produtoras de óleo do Brasil / Thiago Figueiredo Polari Pessoa ; orientador: Eurípedes do Amaral Vargas Jr ; co- orientadora: Raquel Quadros Velloso. – 2011. 142 f. il. (color.) ; 30 cm Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil, 2011. Inclui bibliografia 1. Engenharia civil – Teses. 2. Geomecânica. 3. Produção de sólidos. 4. Elasto-plasticidade. 5. Análise numérica. I. Vargas Junior, Eurípedes do Amaral. II. Velloso, Raquel Quadros. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Civil. IV. Título.
Aos meus pais e minha família por todo suporte, amor e dedicação.
“...Depois que uma mente se abre para uma nova idéia ela jamais retornará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado força para realização deste
estudo.
Aos meus pais, Hélio e Teresa, que sempre me apoiaram nos momentos mais
difíceis da minha vida e sempre me deram suporte para que eu possa seguir
minha vida e correr atrás dos meus sonhos. À minha irmã, Priscilla, pelas
conversas e desabafos e por ser sempre um exemplo para mim. Obrigado por
estar sempre por perto.
À Tassiana, minha vida. Pelo apoio, incentivo e compreensão durante muitos
momentos de ausência. Sem você eu não teria ido tão longe.
Ao meu orientador Prof. Eurípedes do Amaral Vargas Jr. que eu tanto admiro.
Agradeço por todo tempo disponibilizado, ensinamentos, confiança depositada
durante os momentos difíceis, estímulo, conselhos, ideias, soluções e
paciência durante esse período. Enfim, obrigado pela amizade.
À Raquel por todo tempo disponibilizado, ensinamentos, conselhos e por todas
as ideias sugeridas para que o trabalho pudesse continuar andando. Obrigado
pela amizade e por ter me ajudado tanto na tese!
Aos professores do departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio pelos
conhecimentos transmitidos ao longo do curso de mestrado.
Paula, Johnny, Eric, Thiago, Louise, Carla, Débora porque sem vocês o
mestrado não teria sido o mesmo!
Aos meus amigos pelos tempos de lazer e divertimento!
Agradeço a todos os funcionários do departamento de Engenharia Civil da
PUC-Rio pela paciência e as conversas durante esses últimos anos.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pela bolsa concedida.
Enfim, a todos aqueles que de algum modo contribuíram para a realização
deste trabalho de forma direta ou indireta.
Resumo
Pessoa, Thiago Figueiredo Polari; Vargas Jr., Eurípedes do Amaral; Velloso, Raquel Quadros. Análise Numérica de Medidas de Contenção de Sólidos em Rochas Produtoras de Óleo do Brasil. Rio de Janeiro, 2011. 142p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Durante a vida produtiva de um poço de petróleo, problemas devido à
produção de sólidos podem ocasionar gastos excessivos por danos nos
equipamentos ou redução de produtividade do poço. Por causa destes
problemas, a instalação de sistemas de contenção de sólidos na etapa de
completação é uma das mais complexas e fundamentais fases na construção do
poço. A alteração no estado de tensões atuante sobre a formação é uma das
principais fontes de carregamento dos sistemas de contenção mecânica de
sólidos. Este trabalho visa simular as tensões atuantes no sistema de contenção
de sólidos (gravel packing e stand alone) instalados em uma formação com
potencial de produção de sólidos, permitindo a otimização de projetos para este
tipo de sistemas. Para isso foi utilizado o modelo de Mohr Coulomb solucionado
numericamente no software comercial de elementos finitos Abaqus que foi
escolhido devido a sua enorme capacidade de resolver problemas não lineares.
Os resultados obtidos foram então comparados com ensaios experimentais que
apresentaram comportamento bastante semelhante com os obtidos
numericamente. Além disso, foi observada a capacidade do gravel packing de
suportar as tensões até determinado estado de tensões.
Palavras-chave
Geomecânica; Produção de sólidos; Elasto-plasticidade; Análise Numérica.
Abstract
Pessoa, Thiago Figueiredo Polari; Vargas Jr., Eurípedes do Amaral (advisor); Velloso, Raquel Quadros (co-advisor).Numerical Analysis of Sand Control Methods in Oil-Producing Rocks. Rio de Janeiro, 2011. 142p. M.Sc. Dissertation – Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
During the production steps of a petroleum well, issues regarding sand
production may have hight costs due to damages in the equipment or reduction
of the well’s productivity. Such problems make the application of sand control
systems in the completion phase one of the most complex and essential parts in
the construction of the well. This work aims to simulate the behavior of different
sand control methods (gravel packing and stand alone) taking into account
mechanical interaction between the formation and sand control screens. For the
development of the present study, elastoplastic (Mohr Coulomb) models are used
to represent granular materials with the commercial FEM software Abaqus,
chosen due to its versality in the solution of non-linear problems named out
previously. Numerical simulations were compared to experimental tests which
presented similar behavior regarding the numerical analysis. In addition, it was
observed the capability of the gravel packing to withstand the stresses up to a
certain state of stress.
Keywords
Geomechanics; Sand Control Methods; Elastoplastic; Numerical Analysis.
Sumário
1 Introdução 23
1.1. Objetivo 24
1.2. Relevância do Trabalho 24
1.3. Organização do Trabalho 25
2 . Produção de sólidos em poços de petróleo 26
2.1. Perfuração de Poços 26
2.2. Completação de Poços 27
2.2.1. Mecanismos de Produção de Sólidos 29
2.2.2. Classificação na Produção de Sólidos 30
2.2.3. Consequências Decorrentes da Produção de Sólidos 31
2.2.4. Medidas de Controle 32
2.2.4.1. Controle da Pressão de Fluidos Entre a Formação e o Poço e a Taxa
de Produção 33
2.2.4.2. Consolidação Química 34
2.2.4.3. Frac-Pack 35
2.2.4.4. Gravel Packing 37
2.2.4.5. Stand Alone 39
2.2.4.5.1. Tubos Ranhurados (Slotted Liners) 40
2.2.4.5.2. Telas Não-Expansíveis 41
2.2.4.5.2.1. Telas Wire-Wrapped 41
2.2.4.5.2.2. Telas Pré-Empacotadas 41
2.2.4.5.2.3. Telas Premium 42
2.2.4.5.3. Telas Expansíveis 43
3 . Modelos Constitutivos 45
3.1. Noções de Elasticidade 45
3.2. Noções de Plasticidade 47
3.2.1. Função Escoamento 48
3.2.2. Lei de Endurecimento-Amolecimento 49
3.2.3. Lei de Fluxo 50
3.3. Modelo de Mohr-Coulomb 53
3.3.1.1. Critério de Ruptura 53
3.3.1.2. Função de Escoamento 54
3.3.1.3. Lei de Fluxo 56
4 . Modelo Numérico 58
4.1. Solução de Problemas Não Lineares 58
4.1.1. Solução Implicita - Não Linearidade Segundo Abaqus 59
4.1.2. Solução Explícita 62
4.1.3. Grandes Deformações 62
4.1.4. Contato 63
4.2. Validação do Programa Abaqus 65
4.2.1. Poço Vertical – Solução Analítica (Kirsch) 65
4.2.2. Poço Vertical – Análise Numérica (Kirsch) 68
4.2.3. Poço Vertical – Solução Analítica (Ruptura em Rocha) 71
4.2.4. Poço Vertical – Análise Numérica (Ruptura em Rocha) 75
4.3. Procedimento Experimental 78
4.3.1. Ensaio na Condição de Tela Centralizada 78
4.3.2. Ensaio na Condição de Tela Encostada 79
4.3.3. Ensaio na Condição Stand Alone 80
4.4. Modelagem Numérica 81
4.4.1. Descrição do Modelo Numérico 81
4.4.1.1. Geometria Analisada 81
4.4.1.1. Malhas Utilizadas 82
4.4.1.2. Propriedades dos Materiais 84
4.4.1.3. Carregamento, Condições de Contorno 87
5 . Resultados e Discussões 89
5.1. Resultados das Análises do Modelo Numérico 89
5.1.1. Resultados Obtidos na Condição de Tela Centralizada 89
5.1.2. Resultados Obtidos na Condição de Tela Encostada 99
5.1.3. Resultados Obtidos na Condição Stand Alone 113
5.2. Comparação Numérico-Experimental 127
5.2.1. Comparação na Condição de Tela Centralizada 127
5.2.2. Comparação na Condição de Tela Encostada 130
5.2.3. Comparação na Condição Stand Alone 133
5.3. Comparação dos Resultados dos Ensaios na Condição de Tela
Centralizada e Encostada 135
6 . Conclusões e Oportunidades de Estudos Futuros 138
7 Referências 141
Lista de figuras
Figura 1 - Esboço da perfuração através do tubo e do revestimento do poço
(Fjaer, 2008). 28
Figura 2 - Etapas da produção de sólidos (Kim, 2010). 29
Figura 3 – Medidas de Controle (Silva, 2008). 32
Figura 4 - Esquema de canhoneio (Villarroel, 2009). 34
Figura 5 - Esquema da pré-consolidação do arenito (Borges, 2007 apud
Villarroel, 2009). 35
Figura 6 - Frac Pack (apresentação Halliburton – Lorenzo Minissa). 36
Figura 7 - Atuação do Gravel Packing (Barreto, 2007). 36
Figura 8 - Gravel Pack (Silva, 2008). 37
Figura 9 - Poço horizontal com Gravel Pack (Silva, 2008). 39
Figura 10 - Geometria do tubo ranhurado (Silva, 2008). 40
Figura 11 - Esquema de poço aberto com tubo ranhurado e foto do tubo
(Villarroel, 2009). 40
Figura 12 - Tela wire-wrapped (Machado, 2003). 41
Figura 13 - Telas Pré-empacotadas (Weatherford, 2008 apud Villarroel, 2009). 42
Figura 14 - Telas Pré-empacotadas (Machado 2003). 42
Figura 15 - Foto Tela Premium (Machado, 2003). 43
Figura 16 - Tela premium (Santos, 2007). 43
Figura 17 - Tela expansível (Santos, 2007). 44
Figura 18 - Comportamento elasto-plástico de um metal (Atkinson & Bransby,
1978). 47
Figura 19 - Representação da superfície de escoamento em um espaço de
tensões (adaptado do Naylor, 1981). 48
Figura 20 - Representação da lei de endurecimento em uma condição uni-
axial (adaptado do Naylor, 1981). 49
Figura 21 - Lei de Fluxo associado (adaptado do Naylor, 1981) . 51
Figura 22 - Lei de Fluxo Não-Associado (adaptado do Naylor, 1981). 52
Figura 23 - Círculo de Mohr: Envoltória de Mohr Coulomb (Mendonsa, 2005). 54
Figura 24 - Superfície de Plastificação de Mohr-Coulomb. 54
Figura 25 - Fluxo potencial plástico no plano desviador (Willam e Menetrey,
1995 apud Abaqus Theory Manual). 57
Figura 26 - Primeira interação com o incremento (adaptado do Abaqus, 2010).60
Figura 27 – a) Força externa P em uma simulação b) Força interna atuando
em um nó (Abaqus, 2010). 60
Figura 28 - Segunda interação com o incremento (adaptado do Abaqus,
2010). 61
Figura 29 – Mapeamento da malha (adaptado do Abaqus, 2010). 63
Figura 30 – Contato entre superfícies (adaptado do Abaqus, 2010). 64
Figura 31 – Fluxograma de contato utilizado no Abaqus. 64
Figura 32 - Tensões ao redor de um poço (Brady & Brown, 2005). 66
Figura 33 - Esquema de tensões em um poço vertical para o problema
estudado. 67
Figura 34 - Variação das tensões principais ao longo da parede do poço para
solução analítica de Kirsch. 67
Figura 35 – (a) Malha com 4366 elementos quadrilineares e (b) Condiçoes de
contorno do modelo. 68
Figura 36 - Distribuições de tensões horizontais do modelo numérico. 69
Figura 37 - Variação de tensão radial ao redor da parede do poço para o
modelo numérico. 69
Figura 38 - Distribuições de tensões verticais do modelo numérico. 70
Figura 39 – Variação de tensão tangencial ao redor da parede do poço para o
modelo numérico. 70
Figura 40 – Comparação dos resultados numéricos (Abaqus) X analíticos
(Kirsch) para tensão radial e tangencial ao redor da parede do poço. 71
Figura 41 – Campo hidrostático de tensões de um Maciço Rochoso. 72
Figura 42 – Tensões em um elemento infenitesimal considerando
coordenadas polares. 73
Figura 43 – Esquema e dados para o problema estudado. 74
Figura 44 – Variação das tensões principais ao longo do poço (solução
analítica para ruptura em rocha). 75
Figura 45 – Região da zona fraturada. 76
Figura 46 – Distribuição de tensões horizontais para o modelo numérico de
ruptura em rocha. 76
Figura 47 – Distribuição de tensões verticais para o modelo numérico de
ruptura em rocha. 77
Figura 48 – Comparação dos resultados numéricos x analíticos para rocha
fraturada. 77
Figura 49 – Ensaio com a tela centralizada (cortesia Chavez, 2011). 79
Figura 50 – Esquema de aplicação de tensão com a tela centralizada. 79
Figura 51 – Ensaio com a tela encostada (cortesia Chavez, 2011). 80
Figura 52 – Esquema de aplicação de tensão para tela encostada. 80
Figura 53 – Ensaio para o caso stand alone (cortesia Rafael Chavez, 2011). 81
Figura 54 – Esquema de aplicação de tensão para o modelo com a tela
centralizada. 82
Figura 55 – Malha do modelo 2D: (a) Tela Centralizada; (b)Tela Encosada;
(c) stand alone. 83
Figura 56 – Ajuste da variação do módulo de elasticidade do gravel com o
carregamento aplicado em um ensaio triaxial (Abaqus). 85
Figura 57 – Comportamento do gravel. 86
Figura 58 – Malha do modelo 2D: (a) Etapa inicial (condição inicial); (b) Etapa
confinamento – aplicação das tensões de confinamento; (c) Etapa de
Acréscimo – aumento da tensão na direção Y. 88
Figura 59 – Tela Centralizada: (a) Sem carregamento; (b) Ao final do
carregamento (modelo distorcido em 20 vezes). 90
Figura 60 – Detalhe Tela Centralizada: (a) Sem carregamento; (b) Ao final do
carregamento (modelo distorcido em 20 vezes). 90
Figura 61 – Deslocamento vertical na condição de tela centralizada. 91
Figura 62 – Detalhe do deslocamento vertical na condição de tela
centralizada (fator de aumento nas setas - 20 vezes). 91
Figura 63 – Deslocamento horizontal na condição de tela centralizada. 92
Figura 64 – Detalhe do deslocamento horizontal na condição de tela
centralizada (fator de aumento nas setas - 20 vezes). 92
Figura 65 – Tensão (MPa) X Deslocamento radial (mm) – tela centralizada
(convenção Abaqus). 93
Figura 66 – Deformação horizontal na condição de tela centralizada. 94
Figura 67 – Detalhe da deformação horizontal na condição de tela
centralizada. 94
Figura 68 – Deformações verticais na condição de tela centralizada. 95
Figura 69 – Detalhe das deformações verticais na condição de tela
centralizada. 95
Figura 70 – Tensão (MPa) X Deformação Tangencial – tela centralizada
(convenção Abaqus). 96
Figura 71 – Deformação plástica equivalente para condição de tela
centralizada. 96
Figura 72 – Detalhe da deformação plástica equivalente na condição de tela
centralizada. 97
Figura 73 – Deformação Plástica Equivalente (PEEQ) X Tensão Vertical –
tela centralizada. 97
Figura 74 – Tensão máxima principal na condição de tela centralizada. 98
Figura 75 – Tensão mínima principal na condição de tela centralizada. 98
Figura 76 – Tensão Tangencial (MPa) X Distância da parede do poço – tela
centralizada. 99
Figura 77 – Tela Encostada: (a) Sem carregamento; (b) Ao final do
carregamento (modelo distorcido em 20 vezes). 100
Figura 78 – Detalhe Tela Encostada: a) Sem carregamento; b) Ao final do
carregamento (modelo distorcido em 20 vezes). 100
Figura 79 – Deslocamento vertical na condição de tela encostada. 101
Figura 80 – Detalhe do deslocamento vertical na condição de tela encostada
(fator de aumento nas setas - 20 vezes). 101
Figura 81 – Deslocamento horizontal na condição de tela encostada. 102
Figura 82 – Detalhe do deslocamento horizontal na condição de tela
encostada (fator de aumento nas setas - 20 vezes). 102
Figura 83 – Deslocamentos verticais e horizontais na tela para condição de
tela encostada. 103
Figura 84 – Tensão (MPa) X Deslocamento Radial (mm) – tela encostada
(convenção Abaqus). 104
Figura 85 – Deformações verticais na condição de tela encostada. 105
Figura 86 – Detalhe das deformações verticais na condição de tela
encostada. 105
Figura 87 – Deformações horizontais na condição de tela encostada. 106
Figura 88 – Detalhe das deformações verticais na condição de tela
encostada. 106
Figura 89 – Deformações verticais e horizontais na tela para condição de tela
encostada. 107
Figura 90 – Tensão (MPa) X Deformação Tangencial – tela encostada
(convenção Abaqus). 107
Figura 91 – Deformação plástica equivalente na condição de tela encostada. 108
Figura 92 – Detalhe deformação plástica equivalente na condição de tela
encostada. 108
Figura 93 – Deformação plástica equivalente (PEEQ) X Tensao Vertical
(MPa) – tela encostada. 109
Figura 94 – Tensões horizontais e verticais na tela para condição de tela
encostada. 109
Figura 95 – Tensões máxima e mínima principais na tela para condição de
tela encostada. 110
Figura 96 – Tensão ao longo do trecho AB para condição de tela encostada
(Abaqus). 111
Figura 97 – Comparação dos resultados numéricos para tensão ao redor do
poço (tela centralizada e encostada). 112
Figura 98 – Detalhe da comparação dos resultados numéricos para tensão
ao redor do poço (tela centralizada e encostada). 112
Figura 99 – Equilíbrio das energias internas e externas para o modelo quase
estático no Abaqus. 113
Figura 100 – Stand Alone: (a) Antes do carregamento; (b) Após o
carregamento. 114
Figura 101 – Detalhe Stand Alone: (a) Antes do carregamento; (b) Após o
carregamento. 114
Figura 102 – Deslocamento vertical na condição stand alone. 115
Figura 103 – Detalhe do deslocamento vertical na condição stand alone. 115
Figura 104 – Deslocamento horizontal na condição stand alone. 116
Figura 105 – Detalhe do deslocamento horizontal na condição stand alone. 116
Figura 106 – Deslocamentos verticais e horizontais na tela para condição
stand alone. 117
Figura 107 – Tensão (MPa) X Deslocamento Radial (mm) – stand alone
(convenção Abaqus). 117
Figura 108 – Figuras sequenciais da alteração da geometria da formação e o
contato tela-formação. 118
Figura 109 – Deformação horizontal na condição stand alone. 119
Figura 110 – Detalhe da deformação horizontal na condição stand alone. 119
Figura 111 – Resultado da simulação da deformação vertical para o modelo
stand alone. 120
Figura 112 – Detalhe da deformação vertical para o modelo stand alone. 120
Figura 113 – Deformações verticais e horizontais elásticas na tela na
condição stand alone. 121
Figura 114 – Tensão (MPa) X Deformação Tangencial - stand alone
(convenção Abaqus). 121
Figura 115 – Deformação plástica equivalente na condição stand alone. 122
Figura 116 – Deformação plástica equivalente na condição stand alone e
analogia com modelo físico. 122
Figura 117 – Deformação plástica equivalente (PEEQ) X Tensão Vertical
(MPa) - stand alone. 123
Figura 118 – Tensão horizontal na condição stand alone. 124
Figura 119 – Tensão vertical na condição stand alone. 124
Figura 120 – Tensões horizontais e verticais na tela para condiçãos stand
alone. 125
Figura 121 – Tensão principal maior na tela para condição stand alone. 126
Figura 122 – Tensão principal menor na tela para condição stand alone. 126
Figura 123 – Tensão X Deslocamento por Chavez (2011): a)bloco A-1a;
b)bloco A-1b; c)bloco A2; d)bloco A3. 127
Figura 124 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos
01 e 02 (resultados experimentais e obtidos numericamente na condição de
tela centralizada). 128
Figura 125 – Tensão X Deformação na condição de tela centralizada por
Chavez (2011). 129
Figura 126 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos
pontos 01 e 02 (resultados experimentais e obtidos numericamente na
condição de tela centralizada). 129
Figura 127 – Tensão X Deslocamento por Chavez (2011): a)bloco B-1;
b)bloco B-2; c)bloco B3. 130
Figura 128 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos
01 e 02 (resultados experimentais e obtidos numericamente na condição de
tela encostada). 131
Figura 129 – Tensão X Deformação na condição de tela encostada por
Chavez (2011). 132
Figura 130 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos
pontos 01 e 02 (resultados experimentais e obtidos numericamente na
condição de tela encostada). 132
Figura 131 – Tensão X Deslocamento por Chavez (2011). 133
Figura 132 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos
01 e 02 (resultados experimentais e obtidos numericamente na condição
stand alone). 133
Figura 133 – Tensão X Deformação por Chavez (2011). 134
Figura 134 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos
pontos 01 e 02 (resultados experimentais e obtidos numericamente na
condição stand alone). 134
Figura 135 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos
01 e 02 (comparação dos resultados obtidos numericamente na condição de
tela centralizada e encostada). 135
Figura 136 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos
pontos 01 e 02 (comparação dos resultados obtidos numericamente na
condição de tela centralizada e encostada). 136
Figura 137 – Tensões verticais aplicadas e tensão principal máxima no ponto
01 (comparação dos resultados obtidos numericamente na condição de tela
centralizada e encostada). 136
Lista de tabelas
Tabela 1 – Comparação dos métodos de contenção de sólidos. 33
Tabela 2 - Dados de entrada e geometria do problema. 68
Tabela 3 – Geometria dos modelos. 82
Tabela 4 – Propriedades dos materiais. 87
Tabela 5 – Convenção adotada pelo programa e pelo ensaio. 93
Lista de variáveis
a
c
c|0
D
dWp
dε
dεe
dεp
dσ
dλ
ϵ
e
E
f´p
F
G
h
I1,I2,I3
K
p´
pa
q´
Q
r
Rmc
Rmw
r´
S
wp
ε
Raio do poço
Coesão para o modelo de Moh-Coulomb
Coesão no início da plastificação
Matriz constitutiva elástica
Incremento de trabalho plástico
Incremento de deformação total
Incremento de deformação elástica
Incremento de deformação plástica
Incremento de tensão
Parâmetro plástico (escalar positivo)
Parâmetro relacionado a excentricidade
Excentricidade
Módulo de Young
Função escoamento em termos de trabalho
plástico
Função escoamento
Módulo cisalhante
Parâmetro de endurecimento
Primeiro, segundo e terceiro invariantes de
tensão respectivamente
Razão entre tensão horizontal maior e menor
Tensão equivalente
Pressão atmosférica
Tensão equivalente de Mises
Função potencial plástica
Distância radial a partir do eixo do poço
Medida da tensão desviadora
Função desviadora elíptica
Terceiro invariante da tensão desviadora
Tensão desviadora
Trabalho plástico
Deformação
εp
φ
ѵ
θ
σ
σ1
σ3
σn
σr
σθ
σrθ
r
ψ
R
a
pr
Deformação plástica
Deformação plástica equivalente
Ângulo de atrito
Coeficiente de Poisson
Ângulo do sistema de coordenadas cilíndricas
Tensão
Tensão principal maior
Tensão principal menor
Tensão normal a um plano
Tensão radial
Tensão circunferencial ou tangencial
Tensão cisalhante em coordenada cilíndrica
Tensão cisalhante
Componente de tensão cisalhante
Ângulo de dilatância
Raio até a região elástica
Espessura região plástica
Pressão radial
1 Introdução
A demanda contínua e crescente de energia e a disponibilidade de
recursos de hidrocarbonetos coloca o petróleo como uma importante fonte não
renovável da matriz energética mundial para as próximas décadas do
século XXI.
Atualmente, a maior parte das reservas de petróleo e gás descobertas
concentra-se em águas profundas e ultraprofundas. Para viabilizar a exploração
do petróleo nestes ambientes, pesquisas e estudos, principalmente no campo da
pesquisa operacional, foram e são desenvolvidos com o intuito de servir como
ferramenta de apoio nos processos de tomada de decisão.
Alguns dos problemas observados na indústria de petróleo estão
relacionados com a estabilidade de poços que podem conduzir a gastos
excessivos nas etapas de perfuração, completação e produção. Mais
especificamente na etapa de produção, problemas como a produção de sólidos
em arenitos pouco consolidados são observados e vários métodos têm sido
propostos a fim de prevenir estragos com equipamentos e aumentar a produção
do reservatório.
Dentre os diversos sistemas para exclusão de sólidos os mais utilizados
em poços horizontais são: o open hole gravel packing, a instalação de telas
stand alone, expansíveis ou slotted liners e o frac packing.
Neste trabalho serão abordados somente os dois primeiros tipos
supracitados (open hole gravel packing e stand alone). Esta dissertação é
sequência do estudo numérico realizado por Rapello (2007). Além disso, o
trabalho experimental realizado por Villarroel (2009), que foi estendido por
Chavez (2011), será comparado com os resultados obtidos numericamente no
presente estudo.
Introdução 24
1.1. Objetivo
Esta pesquisa tem como objetivo avaliar as tensões atuantes no sistema
de contenção de sólidos (gravel packing e stand alone) instalados em uma
formação com potencial de produção de sólidos. Com essa finalidade, foi
utilizado o software comercial de elementos finitos Abaqus CAE (Computer
Aided Engineering) para simulação de um modelo elastoplástico 2D. O critério de
ruptura utilizado foi o de Mohr Coulomb devido a sua simplicitade.
Esta pesquisa será comparada junto aos resultados obtidos
experimentalmente por Chavez (2011).
1.2. Relevância do Trabalho
Hoje em dia, problemas com a estabilidade de poços podem ocasionar
gastos excessivos nas etapas de perfuração e até mesmo redução de
produtividade devido à produção de sólidos. Assim, o risco de rompimento do
conjunto de telas é um evento economicamente catastrófico que acarreta o
fechamento do poço.
Devido a esse problema, a carência por estudos numéricos nesta área é
de grande importância. A grande dificuldade das soluções numéricas, apesar de
conseguirem agregar vários eventos que podem intervir na produção de sólidos,
é dar proximidade a este tipo solução com a realidade, pois estas dependem de
modelos que consigam representar com mais fidelidade um dado fenômeno.
O tema proposto para este trabalho foi escolhido devido a grande
demanda da indústria de petróleo ao dimensionamento do sistema de contenção
de sólidos quanto aos carregamentos impostos pela formação e a redistribuição
de suas tensões pela parede do poço.
Introdução 25
1.3. Organização do Trabalho
Este trabalho está dividido em 7 capítulos. O primeiro capítulo aborda de
maneira introdutória o tema da dissertação, além de descrever os objetivos e a
relevância do trabalho em questão.
No capítulo 2, é realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema de
produção de sólidos. Nele, foram abordadas de maneira sucinta as etapas de
construção de um poço de petróleo offshore com um enfoque maior nas técnicas
de contenção de sólidos utilizadas pela indústria de petróleo.
São apresentados no capítulo 3 fundamentos teóricos sobre
elastoplasticidade, ferramentas necessárias para o entendimento do trabalho.
Já no capítulo 4 é apresentado a explicação do funcionamento do
programa a ser utilizado (Abaqus) para solução de problemas não lineares com
a utilização do solver implícito e explicito, problemas de grandes deformações e
contato. Ainda neste é apresentado todo o modelo experimental realizado por
Chavez (2011) e a descrição do modelo numérico com suas etapas e as
hipóteses adotadas. Além disso, foi realizada neste capítulo a validação do
programa para uma solução analítica linear elástica e elastoplástica.
No capítulo 5 são apresentados os resultados obtidos pela simulação bem
como sua comparação com o modelo experimental obtido por Chavez (2011).
Por fim, os capítulos 6 e 7 apresentam, respectivamente, as conclusões do
trabalho e as referências do mesmo.
2. Produção de sólidos em poços de petróleo
A produção de partículas sólidas, em poços de petróleo produtores,
durante a extração de fluídos em um campo de petróleo é denominada produção
de areia ou produção de sólidos.
Este fenômeno pode ocorrer em diferentes tipos de rochas como, por
exemplo, o carvão e as rochas calcáreas, todavia, ocorre mais comumente em
arenitos não consolidados.
A produção de sólidos é um processo que depende de maneira geral das
características da formação e dos fluidos a produzir. Logo, as forças de coesão
intergranular das rochas têm um papel muito importante, visto que a
movimentação das partículas ocorre somente se essas forças forem superadas
pelas forças que tendem a desagregar os grãos (Silvestre, 2004).
Para que este fenômeno seja mais bem compreendido, será descrito de
forma sucinta as etapas de perfuração e completação de um poço de petróleo.
2.1. Perfuração de Poços
A perfuração de um poço de petróleo é realizada através de uma sonda,
uma grande estrutura que contém diversos equipamentos responsáveis pela
elevação do óleo.
Na perfuração do tipo rotativa, as rochas são perfuradas pela ação da
rotação e peso aplicados a uma broca existente na extremidade de uma coluna
de perfuração. Os fragmentos da rocha são removidos continuamente através de
um fluido de perfuração ou lama. Este fluido tem como uma de suas funções
limpar o fundo do poço dos fragmentos originados, estabilizar a parede do poço,
além de resfriar e lubrificar a broca e a coluna de perfuração.
O fluido é injetado por bombas para o interior da coluna de perfuração
através da cabeça de injeção, ou swivel, e retorna à superfície através do
espaço anular formado pelas paredes do poço e da coluna. Ao atingir
determinada profundidade, a coluna de perfuração é retirada do poço e a sapata
e o espaço anular entre os tubos do revestimento e as paredes do poço são
Produção de sólidos em poços de petróleo 27
cimentados, garantindo o isolamento hidráulico entre as zonas permoporosas e
permitindo então o avanço da perfuração com segurança.
Após a operação de cimentação, a coluna de perfuração é novamente
descida no poço, tendo na sua extremidade uma nova broca de diâmetro menor
do que a do revestimento para o prosseguimento da perfuração.
Concluídas as estapas de perfuração, seguem-se às atividades de
completação, que consistem no conjunto de serviços efetuados no poço desde o
momento em que a broca atinge a base da zona produtora de produção.
2.2. Completação de Poços
Denomina-se completação a transformação do esforço de perfuração em
uma unidade produtiva completamente equipada e com os requisitos de
segurança atendidos, pronta para produção.
O requisito mínimo para que possa haver algum sucesso na completação
de um poço é o estabelecimento de uma comunicação limpa e efetiva entre o
poço e a formação. Os tipos de completação são divididos em 3 grupos: quanto
ao posicionamento da cabeça do poço; quanto ao revestimento de produção e
quanto ao número de zonas explotadas. Para o estudo em questão, nos
interessa saber mais sobre a completação quanto ao revestimento de produção
que pode ser a poço aberto; com liner rasgado e/ou canhoneado; e por
revestimento canhoneado. Dentre as técnicas, a mais comumente utilizada é
conhecida como canhoneio, gun perforation ou jet perforation. Ela se refere à
perfuração do revestimento, do cimento e da formação através de cargas
explosivas. Abaixo são abordadas de maneira breve as 3 técnicas de
completação:
a) Poço Aberto (Thomas, 2004)
Quando a perfuração atinge o topo da zona produtora, uma tubulação de
revestimento é descida no poço e cimentada no espaço anular. Em seguida,
conclui-se a perfuração até a profundidade final, e o poço é colocado em
produção com a(s) zona(s) produtora(s) totalmente aberta(s). Este tipo de
completação é utilizada somente para formações muito bem consolidadas, com
pouco risco de desmoronamento. Suas principais vantagens são a maior área
aberta ao fluxo e a redução dos custos do revestimento e do canhoneio. Em
contrapartida, sua falta de seletividade impede futuras correções.
b) Com liner rasgado ou canhoneado (Thomas, 2004)
Produção de sólidos em poços de petróleo 28
O liner pode ser descido previamente rasgado, posicionando os tubos
rasgados em frente às zonas produtoras, ou então cimentados e posteriormente
canhoneados nas zonas de interesse. Suas vantagens são similares ao poço
aberto, acrecidas de poder sustentar as paredes do poço frente à zona
produtora.
c) Com revestimento canhoneado
O processo convencional de canhoneio é baseado fundamentalmente no
emprego de cargas explosivas montadas em série em um suporte metálico e
introduzidas em uma peça tubular (também conhecida como canhão),
responsável pelo isolamento entre o explosivo e o poço.
O canhão é então descido no poço, tensionado por um cabo elétrico, que
por sua vez conduz um pulso acionador das cargas, originando perfurações
desde o revestimento até a formação, ou seja, para poço não aberto.
Inicialmente, estas perfurações apresentam um orifício de aspecto fino e
alongado (figura 1). No entanto, com a exploração do poço, este vai aumentando
sua cavidade, implicando na perda de material e originando o processo de
produção de sólidos, portanto, deve-se estudar cautelosamente os impactos
deste tipo de canhoneio na formação (figura 2).
Figura 1 - Esboço da perfuração através do tubo e do revestimento do poço (Fjaer,
2008).
Produção de sólidos em poços de petróleo 29
Figura 2 - Etapas da produção de sólidos (Kim, 2010).
2.2.1. Mecanismos de Produção de Sólidos
De acordo com muitos dos trabalhos publicados sobre produção de areia,
existem dois mecanismos principais responsáveis pela produção de sólidos:
ruptura por tração e ruptura por cisalhamento. Estes dois processos estão
relacionados com a diferença entre a pressão estática no reservatório e a
pressão de fundo de poço (drawdown), as forças de percolação e as
propriedades do meio poroso (Mendonza, 2003).
A ruptura por cisalhamento é relativa à variação de poro-pressão
(drawdown) junto às tensões in-situ atuantes no sistema. Ela ocorre quando as
tensões tangenciais na parede do poço são maiores do que o valor da
resistência à compressão da formação.
A ruptura por tração refere-se a força de tração desencadeada
exclusivamente à força de arraste causado pela drawdown, promovendo a
desagregação de grãos da formação (em geral em arenitos não consolidados).
Estes dois mecanismos estão intimamente ligados, por exemplo, a
depletação de um reservatório diminui a poro-pressão e, por consequência,
aumenta a tensão efetiva. Logo, essa diminuição da pressão no reservatório
minimiza o problema de ruptura por tração, porém, aumenta os problemas
relacionados à ruptura por cisalhamento (reduz a resistência ao cisalhamento).
Segundo Morita (1989), quanto maior a tensão maior a probabilidade de ruptura
por cisalhamento.
Em resumo, observa-se que o mecanismo de produção de sólidos está
relacionado:
Produção de sólidos em poços de petróleo 30
• Ao tipo de formação, ou seja, a resistência da rocha atrelada à magnitude
das tensões in situ e a plastificação do material devido ao nível de tensões;
• A vazão/ velocidade do fluido devido ao drawdown, à permeabilidade
local, à viscosidade do fluido; todos esses fatores afetam diretamente a migração
de finos;
• Ao gradiente de pressão e forças capilares;
• Ao procedimento de produção e depletação do reservatório;
• Ao tipo de completação (poço aberto ou revestido).
Para poços revestidos, os principais mecanismos de produção de sólidos
em rochas são (Dusseault & Santarelli, 1989 apud Felipe, 2004):
• O processo de canhoneio provoca deformações que destroem o cimento
mineral entre os grãos, disponibilizando as areias para a produção, levando à
instabilidade mecânica e à ruptura pela concentração de tensões ao redor do
poço (zona plastificada). Esse processo leva ao aumento das tensões efetivas,
acarretando o aumento das deformações plásticas e causando uma ruptura por
cisalhamento da formação;
• O processo de canhoneio provoca ruptura por tração causada por
tamponamento dos poros em fluxo;
• O processo de canhoneio provoca aumento das tensões efetivas de
tração na direção radial devido às forças de percolação.
2.2.2. Classificação na Produção de Sólidos
A produção de sólidos pode ocorrer das seguintes formas: os sólidos
podem ser produzidos no primeiro fluxo do poço e então cessar; a produção de
sólidos pode começar após um período de tempo, geralmente após o início da
produção de água ou a areia pode ser produzida continuamente ao longo da
vida do poço.
Segundo Fjaer (2008), a produção de sólidos, baseada na observação de
campo, pode ser classificada em três tipos:
• Produção de areia transiente - caracterizada, inicialmente, por uma alta
taxa de areia que vai diminuindo e equalizando até se tornar constante. É
frequentemente observada logo após a perfuração, com a alteração nas
condições de produção (geralmente na redução da pressão do poço) e após o
avanço da água no poço;
Produção de sólidos em poços de petróleo 31
• Produção de areia contínua – produção contínua que segue uma taxa
relativamente constante;
• Produção de areia catastrófica – ocorre quando a areia é produzida com
taxas muito elevadas que ocasionam o colapso do poço.
É importante salientar que em uma produção contínua de areia, mesmo
pequenas gramas por metro cubico, podem ocasionar centenas de quilos por
metro no poço após alguns anos de produção. A remoção desta quantidade de
sólidos altera o tamanho e a forma das cavidades da produção.
2.2.3. Consequências Decorrentes da Produção de Sólidos
Dentre os problemas decorrentes da produção de sólidos podem-se
destacar os seguintes aspectos (Dusseault & Santarelli, 1989 apud Felipe,
2004):
• Colapso da zona produtora e tamponamento do poço;
• Bloqueio parcial das ranhuras do revestimento;
• Abrasão e desgaste de ferramentas, hastes e equipamentos, tantos os
internos ao poço como aqueles colocados na plataforma;
• Problemas ambientais derivados da necessidade de disposição de
resíduos impregnados por hidrocarbonetos.
Quando o fluxo não tem energia para carrear a areia, pode ocorrer
entupimento do canhoneio, acarretando na restrição ao fluxo e levando a
necessidade de operações de limpeza. Já quando o fluxo tem energia para
carrear a areia, pode ocorre um entupimento de equipamentos na superfície,
levando a uma operação de limpeza, ou podem ocorrer danos aos
equipamentos, acarretando em problemas de segurança e meio ambiente
(Felipe, 2004).
Entretanto, como aspecto positivo, a produção de sólidos pode remover o
reboco do poço, e também criar bandas de alta porosidade, o que aumenta a
produtividade do poço em 10 a 30%, sobretudo em reservatórios contendo óleos
pesados (Dusseault & Santarelli, 1989 apud Felipe, 2004).
Produção de sólidos em poços de petróleo 32
2.2.4. Medidas de Controle
Devido à necessidade de minimizar os impactos causados pela produção
de sólidos, foram criadas algumas técnicas de controle tais como:
• Gravel Packing;
• Frac-Pack;
• Consolidação química ou injeção de resina;
• Tubos Ranhurados e Telas (sistema Stand Alone Screen);
• Telas Expansíveis;
• Controle da pressão de fluidos entre a formação e o poço e a taxa de
produção.
Todos estes métodos, que podem ser observados na figura 3, são
aplicáveis em cenários específicos, dependendo da geometria do poço (vertical
ou direcional revestido; horizontal aberto), das características do arenito
(granulometria, quantidade de finos, laminações, gradiente de fratura, etc), vazão
esperada, dentre outros fatores.
Além disso, todas essas medidas de controle de produção de sólidos
podem resultar em uma diminuição da produtividade dos poços, e um
consequente aumento dos gastos das empresas de petróleo.
Figura 3 – Medidas de Controle (Silva, 2008).
Dentre as medidas acima citadas, a mais difundida mundialmente é o
Gravel Packing. Esta consiste no preenchimento dos canhoneados (caso existir)
e anular do tubo telado/revestimento com uma areia (gravel) de granulometria
Produção de sólidos em poços de petróleo 33
bem selecionada que atua como um filtro e impede a movimentação dos grãos
da formação.
As técnicas acima apresentadas, apesar de controlarem a produção de
sólidos, podem apresentar um alto custo de implementação bem como uma
redução na produção do poço. Tornam-se então necessários métodos de
predição de produção de sólidos que são baseados em observações de campo,
ensaios de laboratórios e/ou modelos teóricos (Morita, 1989).
Com relação a seleção do método de contenção de sólidos, o aspecto
fundamental no projeto e dimensionamento é referente a granulometria do
agente de contenção. Assim, a metodologia mais utilizada é o critério de Tiffin
(1998), no qual ele propôs o Critério de Seleção (D10/D95) que indica o grau de
seleção de um arenito. No entanto, existem várias outras metodologias tais como
Bennett (2000) que foi melhorado por Bianco (2003) e se aproxima de um
procedimento mais geral para esta seleção (Santos, 2007).
Este trabalho estará focado no sistema de exclusão de sólidos Gravel
Packing que será mais detalhado adiante. Na tabela 1 são apresentadas as
vantagens e desvantagens das medidas de controle citadas acima.
Tabela 1 – Comparação dos métodos de contenção de sólidos.
Método de Contenção Vantagem Desvantagem
Controle da pressão de fluidos
Custo Limitação por poder tornar a produção economicamente
inviável Tubos Ranhurados e
Telas Custo Limitação baixa
permeabilidade Telas Expansíveis Produtividade Custo
Consolidação química Custo; Execução Limitação de temperatura e aplicação; Impermeabilização
Gravel Pack Mais difundido;
Não deteriora com o tempo; Eficiente
Custo de instalação e remoção; Redução do
diâmetro interno do poço
Estas medidas serão abordadas separadamente nos itens a seguir.
2.2.4.1. Controle da Pressão de Fluidos Entre a Formação e o Poço e a Taxa de Produção
O controle da pressão e a taxa de produção podem ser realizados de duas
maneiras: aumentando a área de fluxo ou diminuindo a restrição da vazão de
produção. No caso de poços com revestimento, o aumento do fluxo está
Produção de sólidos em poços de petróleo 34
associado a um maior diâmetro do poço ou a uma maior densidade do
canhoneado (maior quantidade de furos em um mesmo intervalo). Quando o
poço não possuir revestimento, o comprimento da área do canhoneado deverá
ser maior.
Com relação a restrição da vazão de produção, esta é limitada pela vazão
crítica do poço onde a partir deste ponto a produção de sólidos é excessiva
(Villaroel, 2007).
Esta técnica tem como principal vantagem a simplicidade de aplicação e o
baixo custo e como desvantagem sua limitação por poder tornar a produção
economicamente inviável.
A figura4 exemplifica a densidade do canhoneio na zona produtora.
Figura 4 - Esquema de canhoneio (Villarroel, 2009).
2.2.4.2. Consolidação Química
A consolidação química consiste na injeção, na formação, de resinas
especiais no intuito de aumentar a resistência no local de aplicação sem que isto
afete a permeabilidade do local (figura 5). É de simples execução e baixo custo,
Produção de sólidos em poços de petróleo 35
requer o uso de poucos equipamentos e tem uma razoável durabilidade
(Villaroel, 2009).
Apesar destas vantagens, possui limitações de temperatura (máximo de
135ºC), limitações de aplicação (intervalos pouco espessos, de 2 a 3 metros),
reduz a permeabilidade e torna possível a produção economicamente inviável
devido a impermeabilização do arenito (Machado, 2004 apud Villaroel, 2009).
Figura 5 - Esquema da pré-consolidação do arenito (Borges, 2007 apud Villarroel, 2009).
2.2.4.3. Frac-Pack
O Frac-Pack é uma técnica de estimulação e contenção de sólidos,
resultante de duas outras técnicas originalmente distintas: o faturamento
hidráulico e o Gravel Pack. Nesta, o poço revestido é canhonado para permitir a
comunicação do poço com o reservatório, por isso, o Frac-Pack é muito eficaz
em formações de baixa permeabilidade, visto que aumenta a permeabilidade da
rocha. Assim, seu objetivo é transformar o fluxo radial do poço em fluxo linear,
através da criação de pequenas fraturas, diminuindo então a produção de
Produção de sólidos em poços de petróleo 36
sólidos. As figuras 6 e 7 ilustram a transformação do fluxo radial em linear e o
esquema do poço com o Frac Pack equipado.
Figura 6 - Frac Pack (apresentação Halliburton – Lorenzo Minissa).
Figura 7 - Atuação do Gravel Packing (Barreto, 2007).
Este método somente pode ser utilizado em poços revestidos e
cimentados e além de criar uma alta condutividade hidráulica altera o estado de
tensões ao redor do poço e aumenta a compactação da rocha naquela região
(Villarroel, 2009).
O Frac-Pack é mais utilizado em poços verticais e direcionais. Contudo,
atualmente, algumas companhias já estão aplicando estas técnicas em poços
horizontais.
Uma das restrições da aplicação deste é a existência de aquífero em
contato com a zona produtora. A aplicação do Frac-Pack, neste caso, não é
Produção de sólidos em poços de petróleo 37
recomendada devido ao risco de comunicação da zona produtora de
hidrocarbonetos com o aquífero através da fratura, incorrendo na produção
indesejada de água já no início de produção do poço.
Uma das vantagens da utilização de poço direcional equipado com Frac-
Pack em relação ao uso de poço horizontal equipado com Gravel Pack a poço
aberto é o seu menor custo.
2.2.4.4. Gravel Packing
O Gravel Packing é dos métodos mais antigos e mais eficazes no controle
de sólidos. Esta técnica basicamente consiste em colocar gravel entre peneiras
centralizadas, tanto em poços abertos como em poços revestidos e
canhoneados ou perfurados onde o gravel tem como função reter os sólidos
oriundos da formação e as peneiras têm como função reter o gravel.
Este sistema, esquematizado na figura 8, apresenta excelentes resultados
podendo ser utilizados em combianação com a técnica de fraturamento
hidráulico, denominada Frac-Pack, como comentada anteriormente. Deve-se
ressaltar que ao utilizar a técnica Frac-Pack, torna-se necessário a utilização de
um material mais resistente, devido as pressões de bombeamento que são
superiores as da formação, o que se reflete nos custos da completação.
Figura 8 - Gravel Pack (Silva, 2008).
As principais vantagens do Gravel Packing em relação aos outros métodos
são:
• Maior eficiência em longos intervalos;
Produção de sólidos em poços de petróleo 38
• Suporta a maioria das reações desenvolvidas em um tratamento químico
e não deteriora com o tempo;
• Apresenta melhores resultados nas aplicações em poços antigos com
histórico de grande produção de sólidos;
• É menos afetado pelas variações de permeabilidade da formação.
As principais desvantagens do Gravel Packing são as seguintes:
• Redução do diâmetro interno do poço;
• Reparos ou workovers requerem a remoção do conjunto;
• As telas estão sujeitas a corrosão devido às altas velocidades de fluxo ou
a produção de fluidos corrosivos;
• Apresentam maior dificuldade no isolamento de futuros produtores de
água.
Para obter um bom desempenho numa operação de Gravel Pack deve-se
dimensionar o gravel para conter completamente a movimentação do sólido na
formação, formar um pacote compacto de gravel, com o maior raio possível e
maximizar a produtividade minimizando os danos à formação.
O tubo telado tem por função manter o pacote de gravel na posição
adequada. Deve conter centralizadores no meio e em cada extremidade.
A quantidade de gravel utilizada deve ser prevista para preencher o
volume do anular do tubo telado, os canhoneados e os espaços atrás do
revestimento.
A figura 9 mostra um esquema de poço horizontal com o Gravel Pack.
Produção de sólidos em poços de petróleo 39
Figura 9 - Poço horizontal com Gravel Pack (Silva, 2008).
2.2.4.5. Stand Alone
Técnica muito utilizada devido a sua simplicidade de instalação e sua
eficácia em formações com granulometria homogênea. Consiste basicamente na
utilização de um tubo ranhurado ou uma tela para contenção diretamente com a
formação. Vale ressaltar que essas telas devem ser utilizadas em formações
com pouca quantidade de finos caso contrário essas partículas podem causar
redução da permeabilidade do sistema e consequente da produtividade do poço
(Machado, 2004 apud Villarroel, 2009).
As telas stand alone constituem uma alternativa de custo reduzido (quando
comparada ao Gravel Packing ou expansíveis) para a instalação de sistemas de
contenção de sólidos em arenitos moderadamente selecionados (Santos, 2007).
A instalação da tela consiste em sua descida e assentamento no poço sem
a instalação do Gravel Packing. Neste caso, haverá o contato da superfície da
tela com a formação, seguido de um espaço anular no restante do poço. Assim,
com o início da produção, haveria o colapso da formação sobre a tela,
preenchendo o espaço anular com a areia da formação.
Na indústria de petróleo existem alguns tipos de tubos/telas com
apresentadas a seguir.
Produção de sólidos em poços de petróleo 40
2.2.4.5.1. Tubos Ranhurados (Slotted Liners)
São tubos nos quais são feitos cortes longitudinais ou transversais
dimensionados em função do diâmetro dos grãos da formação por uma
ferramenta de alta precisão, como pode ser observado nas figuras 10 e 11
abaixo.
Figura 10 - Geometria do tubo ranhurado (Silva, 2008).
Figura 11 - Esquema de poço aberto com tubo ranhurado e foto do tubo
(Villarroel, 2009).
Embora o tubo ranhurado tenha normalmente menor custo comparado
com as telas wire-wrapped, ele tem uma menor área aberta ao fluxo. Tubos
ranhurados também são conectados mais facilmente que as telas e são usados
onde a produtividade do poço é baixa e o custo não pode suportar o uso de
telas.
Produção de sólidos em poços de petróleo 41
2.2.4.5.2. Telas Não-Expansíveis
São um grupo formado por telas wire wrapped, pré-empacotadas e
premium. Apresentam uma maior área aberta para o fluxo, porém reduzem o
diâmetro interno do poço.
2.2.4.5.2.1. Telas Wire-Wrapped
Esta tela é constituída por um tubo base perfurado envolvida por uma
jaqueta (resistente à corrosão) feita com fios de arame de soldagem helicoidal ao
redor das hastes (figura 12).
Figura 12 - Tela wire-wrapped (Machado, 2003).
2.2.4.5.2.2. Telas Pré-Empacotadas
As telas do tipo pré-empacotadas são compostas por duas camadas de
telas de arame concêntricas, com espaço anular entre eles, preenchidas com
gravel de granulometria selecionada (figuras 13 e 14).
Produção de sólidos em poços de petróleo 42
Figura 13 - Telas Pré-empacotadas (Weatherford, 2008 apud Villarroel, 2009).
Figura 14 - Telas Pré-empacotadas (Machado 2003).
2.2.4.5.2.3. Telas Premium
Consiste em um sistema de várias camadas de malha metálica
sobrepostas ao redor de uma tela wire-wrapped, que confere suporte mecânico
ao conjunto. A malha filtrante é protegida por uma carcaça externa instalada
para garantir a sua integridade durante a descida, evitando a abrasão da malha
pelo contato com o poço aberto (figura 15).
A aplicação destas telas incluem poços de alta pressão, completações de
poços abertos ou fechados, poços com raio de curvatura pequeno, sidetracks ou
multilaterais e poços em reservatórios compactados (Villarroel, 2009).
Produção de sólidos em poços de petróleo 43
Figura 15 - Foto Tela Premium (Machado, 2003).
A figura 16 apresenta uma vista amplificada das camadas que constitui
uma tela premium comercialmente disponível no mercado.
Figura 16 - Tela premium (Santos, 2007).
2.2.4.5.3. Telas Expansíveis
Consiste em uma tela que se deforma plasticamente (figura 17) e ao
expandir provoca um empacotamento dos grãos da rocha de formação.
As telas expansíveis são descidas e instaladas após a perfuração do poço
aberto sendo posteriormente deformadas à frio até atingirem um diâmetro
próximo ao diâmetro final do poço. Assim, podem ser utilizadas em poços que
Produção de sólidos em poços de petróleo 44
possuem maior diâmetro e apresentam menor perda de carga por atrito.
Todavia, ainda não é muito utilizada nos campos brasileiros.
Figura 17 - Tela expansível (Santos, 2007).
3. Modelos Constitutivos
A complexidade envolvida no estudo da deformação de solos e rochas é
um dos grandes desafios da engenharia. No entanto, apesar da diversidade
desse comportamento, observações experimentais de ensaios triaxiais apontam
um aspecto singular onde dependendo da história de carregamento e tensões
atuantes no solo, deformações elásticas (reversíveis) e plásticas (irreversíveis)
podem coexistir, justificando então a aplicação de modelos elasto-plásticos em
equações constitutivas.
Devido à dificuldade de delinear o comportamento dos solos e rochas,
busca-se a adequação de teorias já desenvolvidas para materiais de
comportamento bem definido, como os metais, para que se possa determinar as
suas variáveis de influência.
Para definir de forma mais realística o comportamento dos solos e rochas,
é necessário que se tenha conhecimento das teorias que representam as suas
condições em determinado estado. Para isso, é necessário que se domine
assuntos como a teoria da elasticidade e plasticidade.
Este capítulo apresenta uma revisão bibliográfica concisa dos conceitos de
elasticidade e plasticidade do ponto de vista geotécnico assim como as
características e particularidades quando estes conceitos são submetidos aos
critérios de modelagem elasto-plástica junto ao programa de elementos finitos
Abaqus 6.10. Este capítulo foi todo baseado nas seguintes bibliografias: Desai
(1979), Naylor (1981) e Chou & Pagano (1967); inclusive as equações e o
formalismo apresentados.
3.1. Noções de Elasticidade
O comportamento de um material elástico pode ser descrito por uma
relação única entre tensão e deformação, ou seja, onde as tensões podem ser
determinadas pela deformação. Por exemplo, caso a tensão normal atue
somente na direção x (σx), temos a relação conhecida como lei de Hooke
(equação (3.1)).
Modelos Constitutivos 46
x xEσ ε= (3.1)
A constante E é conhecida como módulo de elasticidade ou módulo de
Young e pode ser determinada experimentalmente através de valores de tensão
e deformação medidos em um ensaio uniaxial. O módulo de elasticidade
corresponde a inclinação do gráfico tensão-deformação gerado pelo ensaio.
A relação entre tensão e deformação pode ser muito complexa e
principalmente dependente dos tipos de materiais e condições de carregamento.
Para um estado geral de tensões, a parcela elástica da relação tensão-
deformação, conhecida como Lei de Hooke generalizada, é governada pelas
equações 3.2 a 3.7 (Chou & Pagano, 1967).
( )1xx xx yy zz
Eε σ ν σ σ = − + (3.2)
( )1
yy yy xx zzE
ε σ ν σ σ = − + (3.3)
( )1zz zz xx yy
Eε σ ν σ σ = − + (3.4)
1
2
xy
xy xyE G
σνε σ
+= = (3.5)
1
2
yz
yz yzE G
σνε σ
+= = (3.6)
1
2
xzxz xz
E G
σνε σ
+= = (3.7)
sendo:
,xx yy zzeε ε ε as deformações totais normais a direção x,y e z
,xy yz xzeε ε ε as deformações totais cisalhantes em cada eixo
,xx yy zz
eσ σ σ as componentes das tensões normais as direções x,y e z
,xy yz xzeσ σ σ as componentes das tensões cisalhantes em cada eixo
ν – coeficiente de poisson
E – módulo de elasticidade
G – Módulo Cisalhante
Nota-se que nessas equações três constantes elásticas (E, ѵ e G)
governam a relação tensão-deformação para um material elástico isotrópico,
mas são necessários somente dois destes parâmetros, um vez que ѵ e G podem
ser relacionados de acordo com a equação 3.8 (Chou & Pagano, 1967).
Modelos Constitutivos 47
2(1 )
EG
ν=
+ (3.8)
3.2. Noções de Plasticidade
Os três conceitos básicos da plasticidade são: critério de escoamento
(yield function); lei de endurecimento ou amolecimento (Hardening/softenning
law); lei de fluxo (flow rule, engloba potencial plástico);
Antes de descrê-las detalhadamente, vale fazer uma distinção entre
deformações elásticas e plásticas. Isto é comumente realizado com o
comportamento de metais, como pode ser observado na figura 18 abaixo.
Figura 18 - Comportamento elasto-plástico de um metal (Atkinson & Bransby, 1978).
Como pode ser observado, para tensões menores que σy, o
comportamento do material é classificado como linear elástico, ou seja, quando
carregado e descarregado suas deformações são totalmente recuperáveis.
Acima das tensões de σy começa a ocorrer deformações plásticas e o material
se comporta como elastoplástico. Assim, se este material for descarregado no
ponto G, ocorrerão deformações elásticas e plásticas. A tensão σy é conhecida
com tensão de escoamento e este aumento verificado do ponto Y para o ponto G
é conhecido como endurecimento.
Modelos Constitutivos 48
3.2.1. Função Escoamento
O critério de escoamento define o limite entre a zona de comportamento
elástico e plástico do material em questão. Sendo assim, o primeiro passo para
os modelos matemáticos é estabelecer esse limite.
Para um estado de tensões uniaxial (figura 18), a tensão de escoamento σy
indica o início das deformações plásticas. Para uma situação multiaxial não
existe uma tensão de escoamento já que existem componentes em outras
direções, assim, torna-se necessário definir uma função escoamento (F).
A função escoamento define o limite entre o comportamento elástico e o
comportamento plástico de um material, como demonstrado na figura 19, e é
expresso pela equação (3.9). Nesta equação (3.9) observa-se que F é função
das componentes de tensão, tensões principais ou invariantes de tensão.
( )~
0F σ = (3.9)
onde:
F – é a função escalar da tensão escoamento
~σ – representa as componentes de tensão, tensões principais ou invariantes de
tensão.
Figura 19 - Representação da superfície de escoamento em um espaço de tensões
(adaptado do Naylor, 1981).
Modelos Constitutivos 49
Como F é uma função escalar das tensões principais, o critério de
escoamento pode ser interpretado como uma superfície. Portanto, quando F<0
implica em um comportamento elástico do material e quando F=0, ou seja,
estando as tensões localizadas na própria superfície de escoamento, implica em
um comportamento plástico. Sendo F>0 caracteriza-se uma situação impossível
(Naylor, 1981).
3.2.2. Lei de Endurecimento-Amolecimento
A lei de endurecimento-amolecimento indica como o limite de escoamento
varia de acordo com a deformação plástica. Em uma situação elastoplástica
uniaxial, como na figura 20, a tensão de escoamento aumenta com o aumento
da deformação plástica (“endurecimento”).
Figura 20 - Representação da lei de endurecimento em uma condição uni-axial
(adaptado do Naylor, 1981).
Segundo Naylor (1981), em uma situação multi-axial, a função escoamento
não é somente função das tensões como também das deformações plásticas.
Em sua forma mais geral pode ser escrita como:
( )~
, 0F hσ = (3.10)
ou
Modelos Constitutivos 50
( )~ ~
, 0pF σ ε = (3.11)
onde h representa uma função escalar da deformação plástica conhecida
como parâmetro de endurecimento e ~
pε corresponde as componentes da
deformação plástica.
3.2.3. Lei de Fluxo
No exemplo uniaxial apresentado no item 3.2, não era necessário discutir a
direção da deformação plástica, pois ela tem a mesma direção da tensão
aplicada. Isto pode não acontecer em uma condição multiaxial onde as tensões e
deformações contabilizam 6 componentes. Logo, para especificar a direção da
deformação plástica existe a lei de fluxo.
Quando o estado de tensões atinge a função plastificação (F), o material
sofre deformações plásticas. Isto é definido como fluxo plástico. Segundo Naylor
(1981), na teoria da plasticidade, a direção dos vetores de deformação plástica é
definida através da lei de fluxo. Assim, o incremento de deformação plástica
pode ser determinado através de uma lei de fluxo, como na expressão (3.12).
Esta lei é expressa por:
( )
~
~
~
p
Fd d
σε λ
σ
∂=
∂ (3.12)
Onde:
d~
pε : representa os componentes dos incrementos da deformação plástica;
dλ: escalar positivo
Esta equação (3.12) pode ser definida graficamente como pode ser visto
na figura 21, na qual o vetor normal a superfície de escoamento possui
componentes dos incrementos da deformação plástica.
Modelos Constitutivos 51
Figura 21 - Lei de Fluxo associado (adaptado do Naylor, 1981) .
Nota-se que na equação (3.12), dada a direção das tensões, não é
possivel determinar os valores das componentes das deformações plásticas,
apesar de definirem suas direções. Logo, a lei de fluxo pode ser dividida em dois
casos: associado e não associado.
Quando a direção das deformações plásticas está associada à superfície
de escoamento, a lei de fluxo representada pela equação (3.12) também é
conhecida como lei de fluxo associada. Esta expressão também é conhecida
como condição de normalidade.
Para os materiais geotécnicos é comum que a função de escoamento não
reproduza a condição de normalidade. Neste caso, adota-se outra função, e a lei
de fluxo é classificada como não associado.
Então, quando a direção das deformações plásticas não estão associadas
à superfície de escoamento ou função escoamento, esta é conhecida como lei
de fluxo não-associado. Para isso, assume-se a existência de uma função
chamada de potencial plástico (Q), à qual os componentes de deformação
incremental são ortogonais como pode ser observado na figura 22. Então, os
incrementos da deformação plástica podem ser expressos como:
Modelos Constitutivos 52
( )
~
~
~
p
Qd d
σε λ
σ
∂=
∂ (3.13)
sendo:
dλ: escalar positivo
Q: função potencial plástica
Figura 22 - Lei de Fluxo Não-Associado (adaptado do Naylor, 1981).
Vale lembrar que o incremento da deformação total é composto por uma
parcela elástica e outra plástica. A parcela elástica, relacionada a Lei de Hooke,
pode ser expressa como:
1
~ ~
e
ed D dε σ−= (3.14)
sendo:
De: matriz constitutiva elástica do material
~d ε : vetor incremento das componentes da deformação elástica
~d σ : vetor incremento das componentes de tensão
Logo, a relação constitutiva elastoplástica é difinida pela equação 3.15.
( )~ ~ ~
~
p
ed D d dσ ε ε= − (3.15)
Modelos Constitutivos 53
onde:
~ ~ ~
e pd d dε ε ε= − (3.16)
3.3. Modelo de Mohr-Coulomb
Um dos critérios de ruptura mais utilizados na área geotécnica é o critério
de Mohr - Coulomb e é um dos modelos adotados pelo programa de elementos
finitos Abaqus.
3.3.1.1. Critério de Ruptura
Este modelo, proposto por Coulomb em 1773, é representado em termos
da tensão cisalhante e da tensão efetiva normal no plano de fratura satisfazendo
a seguinte igualdade:
tanN cτ σ ϕ≤ + (3.17)
onde c, φ são a coesão e o ângulo de atrito interno do material
respectivamente.
A equação (3.17) não é usualmente utilizada em elementos finitos visto
que se torna necessário definir a orientação do plano de fratura antes da
utilização da equação (Naylor, 1981). Logo, a equação (3.17) pode ser expressa
em termos de tensões principais efetivas ou de invariantes:
( ) ( )1 31 sin 1 sin 2 cos 0cσ ϕ σ ϕ ϕ− − + − = (3.18)
onde φ é o ângulo de atrito interno do material e c é a sua coesão.
Observa-se que a superfície de plastificação independe da tensão principal
intermediária σ2. Este modelo é definido como elastoplástico perfeito, mas
diferentemente de outros modelos, pode assumir ou não a lei de fluxo associada
(Mendonsa, 2005).
Modelos Constitutivos 54
Figura 23 - Círculo de Mohr: Envoltória de Mohr Coulomb (Mendonsa, 2005).
A Figura 24 apresenta a superfície de plastificação de Mohr-Coulomb.
Figura 24 - Superfície de Plastificação de Mohr-Coulomb.
A implementação do modelo elastoplástico de Mohr-Coulomb pelo Abaqus
está baseado na equação (3.18), como relatado anteriormente. Todo o
formalismo utilizado nos itens a seguir estão de acordo com o Abaqus Theory
Manual, 6.10.
3.3.1.2. Função de Escoamento
A função escoamento segundo Abaqus (2010) segue o critério de ruptura
demonstrado anteriormente. Para estados mais gerais de tensão é mais
conveniente adotar o modelo em termos de três invariantes de tensão como
segue:
' 'tan 0mcF R q p cϕ= − − = (3.19)
Modelos Constitutivos 55
onde:
( )1 1
, sin cos tan3 3 33 cos
mcRπ π
θ ϕ θ θ ϕϕ
= + + +
(3.20)
( )3
cos 3r
qθ
=
(3.21)
Sendo:
Rmc a medida de tensão desviadora;
θ o ângulo polar desviador segundo Chen and Han (1988) apud Abaqus Theory
Manual.
e os invariantes são:
- Tensão Equivalente :
( )' 1
3p tr σ= − (3.22)
- Tensão equivalente de Mises:
( )' 3:
2q S S= (3.23)
- Terceiro invariante de tensão desviadora:
1
3' 9
. :2
r S S S
=
(3.24)
Sendo a Tensão desviadora:
S pI I matriz Indentidadeσ= + ∴ = (3.25)
Em relação as operações descritas acima, a seguinte convenção é
adotada pelo Abaqus:
- um ponto (.) representa multiplicação entre vetores ou matriz;
- dois pontos (:) representam a multiplicação das componentes conjugadas
correspondentes de duas matrizes aos pares onde o produto é somado.
Modelos Constitutivos 56
3.3.1.3. Lei de Fluxo
A lei de fluxo assumida pelo Abaqus é:
pl
pl d dQd
g d
εε
σ
−
= (3.26)
onde:
1
:Q
gc
σσ
∂=
∂ (3.27)
( ) ( )2 2
0tan tanmwQ c R q p= Ψ + − Ψò (3.28)
( )( ) ( )
( ) ( ) ( )
22 2
2 2 2 2
4 1 cos 2 1, ,
32 1 cos 2 1 4 1 cos 5 4mw mc
e eR e R
e e e e e
θ πθ ϕ
θ θ
− + − =
− + − − + −(3.29)
3 sin
3 sine
ϕ
ϕ
−=
+ (3.30)
sendo:
Q: é a função potencial plástica
ϵ: parâmetro relacionado à excentricidade que define a taxa com que a
função Q se aproxima de uma assíntota (a função potencial tende a uma linha
reta à medida que a excentricidade se aproxima de zero).
ψ: ângulo de dilatância medido no plano p-q
Rmw: função desviadora elíptica
e: excentricidade que descreve o contorno da função potencial plástica no
plano octaédrico.
c|0: coesão no início da plastificação
: deformação plástica equivalente
Segundo Menétrey e Willam (1995) apud Abaqus Theory Manual, é
adotada a função desviadora elíptica em que demonstra ser contínua e suave no
plano octaédrico (plano π) e garante apenas uma direção de fluxo, como
apresentado na figura 25 abaixo.
Modelos Constitutivos 57
Figura 25 - Fluxo potencial plástico no plano desviador (Willam e Menetrey, 1995 apud
Abaqus Theory Manual).
4. Modelo Numérico
Grande parte dos problemas de engenharia pode ser formulada através
dos princípios gerais da Mecânica do Contínuo. Os princípios da física são
descritos sob a forma de equações diferenciais, onde os efeitos da constituição
do material somente são levados em conta de forma macroscópica, por meio de
equações constitutivas do material.
A necessidade da solução de problemas de engenharia desta natureza
levou ao desenvolvimento de modelos matemáticos (métodos numéricos) que
possibilitam a discretização dos meios contínuos e a resolução de equações
diferenciais supramencionados. Para resolver estes problemas existe os
Métodos das Diferenças Finitas, os Métodos dos Elementos Finitos (MEF), os
Métodos dos Elementos de Contorno, etc.
O MEF consiste na divisão do meio contínuo em um número finito de
elementos com comportamento especificado por um número finito de
parâmetros, resolvendo o mesmo número de equações governantes em cada
elemento iterativamente até a convergência segundo um critério pré-
estabelecido (Santos, 2007).
Este capítulo apresenta, de maneira breve e sucinta, a solução de
problemas não lineares, bem como alguns conceitos e características, levando
em conta principalmente, particularidades adotadas pelo programa Abaqus,
ferramenta de trabalho utilizada nesta tese. Caso seja necessário um maior
aprofundamento, podem-se consultar os seguintes autores: Desai (1979); Bathe;
(1982); Fish (2007) e Frind (1993).
4.1. Solução de Problemas Não Lineares
A discretização de equações dá origem a um sistema de equações
algébricas não lineares. Muitos são os métodos de linearização para solução de
tais problemas.
Uma análise linear só é valida quando a estrutura sofre apenas pequenas
deformações e deslocamentos e seu material tem comportamento elástico linear,
Modelo Numérico 59
obedecendo a Lei de Hooke. Quando os deslocamentos e deformações
aumentam ou o comportamento do material apresenta fenômenos como
plasticidade e fissuração, os efeitos não lineares ganham importância.
No caso mais geral, tanto a não linearidade geométrica (devido aos
grandes deslocamentos) como a não linearidade física (causada pelo
comportamento mecânico do material) precisam ser considerados.
No presente trabalho, dados os altos níveis de tensão e a possibilidade de
plastificação do material, optou-se por considerar o arenito, o gravel e o latão
como materiais de comportamento elastoplástico (não linearidade física). No
entanto, os modelos na condição de tela centralizada e tela encostada que foram
analisados por Chavez (2011), não apresentaram plastificação no latão.
Em uma análise não linear, a solução não pode ser obtida com a resolução
de um único sistema de equações, como em problemas lineares. Por isso, para
a utilização do método implícito, torna-se necessário a solução de métodos
iterativos como, por exemplo, o Método de Newton-Raphson (default no Abaqus
Standard). Em contrapartida, com a utilização do método explícito, a iteração
não é necessária, visto que a solução é realizada explicitamente. Porém, o custo
computacional é muito maior devido ao menor passo do incremento.
4.1.1. Solução Implicita - Não Linearidade Segundo Abaqus
Em problemas de não linearidade geométrica, a análise pode ser realizada
partindo da configuração inicial da estrutura e determinando os deslocamentos,
tensões e esforços à medida que a carga é aumentada.
Em razão da não linearidade da resposta é necessário utilizar um
procedimento iterativo onde incrementos interativos de carga são aplicados, a
fim de definir o caminho de equilíbrio do modelo (figuras 26 e 28). Nesse
processo, em cada passo da busca pela solução, incrementos de força são
aplicados e os respectivos deslocamentos são calculados pelas relações
descritas a partir das equações de equilíbrio.
Para um corpo estar em equilíbrio, a força resultante em cada nó deve ser
zero. E para isso acontecer, deve haver um equilíbrio entre a força externa (P) e
a força interna (I), de acordo com a equação abaixo:
0P I (4.1)
A resposta não linear de uma estrutura a um pequeno incremento, ΔP, é
apresentada na Figura 26 que utiliza a tangente da curva (K0) no ponto u0, para
Modelo Numérico 60
determinar o valor de correção do deslocamento (ca). O valor de ca é obtido
utilizando o incremento de força (ΔP) e o ponto “a” na figura 26. Com isso, o
Abaqus calcula as forças internas (I) e obtém o valor do resíduo (Ra) que, em
uma análise não linear, nunca será zero (Abaqus, 2010).
Figura 26 - Primeira interação com o incremento (adaptado do Abaqus, 2010).
Logo após a primeira iteração, o Abaqus determina o critério de
convergência atualizando seus valores com o acréscimo dos incrementos e
calcula a força residual (Ra) para a iteração de acordo com a seguinte equação:
a aR P I (4.2)
Onde:
Ra= força residual ou força desbalanceada
P= força externa (figura 27)
Ia= força interna (força atuante em um nó)
a) b)
Figura 27 – a) Força externa P em uma simulação b) Força interna atuando em um nó
(Abaqus, 2010).
A força externa P representa a força aplicada em uma determinada região
do modelo e a força interna I representa a força atuante em um único nó. Essa
força interna está relacionada à tensão sofrida no elemento e repassada para o
Modelo Numérico 61
nó pertencente a este elemento. A força atuante em um nó pode ser decomposta
em Ia, Ib, Ic e Id como especificado na figura 27-b.
Com isso, o valor obtido da força residual é comparado com o valor de
tolerância (0.5% da força média). Caso o valor de Ra esteja abaixo do valor de
tolerância, P e Ia estão em equilíbrio. Contudo, antes que o Abaqus Standard
aceite a solução, é avaliado um novo critério de convergência onde o valor de
correção do deslocamento (ca – figura 26) é comparado com a seguinte
equação:
0a au u u (4.3)
Sendo:
ua e u0 os deslocamentos devido ao carregamento;
Δua o incremento do deslocamento.
Caso ca seja maior que 1% do incremento do deslocamento, é realizado
uma nova iteração. Para que ocorra a convergência, os dois critérios devem ser
satisfeitos. Enquanto isto não ocorrer, uma nova interação será realizada para
que a equação Rb (força residual) e o valor de cb (correção do deslocamento -
Figura 28) sejam satisfeitas até que o sistema esteja em equilíbrio.
Figura 28 - Segunda interação com o incremento (adaptado do Abaqus, 2010).
Para cada iteração da análise não linear é calculada a matriz de rigidez do
modelo e solucionado o sistema de equações. Isso significa que o custo
computacional da solução de cada iteração é equivalente ao custo
computacional de uma análise linear.
Modelo Numérico 62
4.1.2. Solução Explícita
A utilização do método explícito facilita a convergência em alguns casos de
não linearidade, visto que sua solução é realizada explicitamente, eliminando a
necessidade de processos interativos.
A solução explícita foi utilizada para o modelo stand alone, que será
detalhado no item 4.3.3, devido à plastificação e às grandes deformações
observadas por Chavez (2011). Além disso, foram feitas algumas tentativas na
utilização do solver implícito do Abaqus, mas por causa das grandes
deformações o modelo não convergia (chegava a 50% da análise). Por isso, foi
adotado para este modelo o solver explícito do Abaqus.
Para o modelo explícito foi utilizado uma análise quase-estática, isto é, um
modelo dinâmico com fator de amortecimento usado para estabilizar as forças
internas e externas a cada incremento, como apresentado na seguinte equação:
0Mu I P (4.4)
Sendo:
M – massa da estrutura
ü – aceleração da estrutura
I – Força Interna
P – Força Externa
A inclusão da força de inércia (Mü) na equação de equilíbrio é a maior
diferença entre a análise estática e a dinâmica.
Para o modelo quase-estático, o amortecimento é aplicado em cada passo,
logo, é de suma importância cuidar da velocidade do carregamento (forças
externas). Se a velocidade desse carregamento for muito alta, o modelo não
ficará próximo ao estático, originando grandes oscilações.
Para melhor reproduzir o modelo estático, é analisada a frequência natural
do sistema. Essa análise é realizada no Abaqus utilizando o step *frequency.
Com esse resultado, é possível verificar o melhor tempo de aplicação do
carregamento para que o modelo consiga equilibrar suas forças internas e
externas e eliminar a energia cinética originada pelo carregamento.
4.1.3. Grandes Deformações
Em análises com elevado grau de não linearidade geométrica, por
exemplo, é comum observarmos grandes distorções na malha devido às
Modelo Numérico 63
deformações sofridas durante a análise. Os problemas de grande deformações
podem ser resolvidos de várias maneiras. No item anterior, controlou-se o
problema de grandes deformações utilizando um modelo explícito quase-
estático. Por default, o Abaqus/Explicit checa a velocidade relativa das grandes
deformações em cada elemento, já que dependendo da velocidade isso pode
acabar acarretando em uma deformação fora da realidade ou em um resultado
irreal. Quando a razão da velocidade de deformação e da velocidade da onda
ultrapassa 0.3, o Abaqus entende que a relação constitutiva do material, que é
puramente mecânica, não é mais válida e é utilizada a equação do estado
termomecânico. Tudo isso pode ser mais aprofundado no item 6.3.3 do Manual
do Abaqus – Analysis (Explicit dynamic analysis), onde é explicada a teoria de
grandes deformações utilizada pelo Abaqus.
Outra técnica não utilizada, mas que também poderia resolver o problema
de grandes deformações, seria o mapeamento da malha (figura 29) que está
limitada ao Abaqus/Standard. Com essa técnica é possível controlar a distorção
dos elementos, refazendo a malha para continuação da análise.
Figura 29 – Mapeamento da malha (adaptado do Abaqus, 2010).
4.1.4. Contato
Por default, o Abaqus utiliza um algoritmo de contato onde se declara uma
superfície principal (Master Surface) e uma superfície solidária (Slave Surface).
Modelo Numérico 64
Para o algoritmo, o contato é realizado no nó de cada superfície, ou seja, o
espaço entre dois nós da superfície solidária pode ser penetrado pela superfície
principal, como apresentado na figura abaixo.
Figura 30 – Contato entre superfícies (adaptado do Abaqus, 2010).
A interação mais simples entre superfícies que pode ser criada no Abaqus
é a que considera todo o movimento rotacional e translacional transmitido entre
as superfícies em contato, ligadas entre si como se estivessem coladas. O
fluxograma na figura 31 apresenta o processo iterativo para a convergência de
um modelo com contato.
Figura 31 – Fluxograma de contato utilizado no Abaqus.
Visando a simplificação do modelo, para o contato formação-gravel-tela
foram consideradas somente forças normais, desprezando as forças tangenciais
(atrito), pois seriam mais um dado a ser arbitrado para o modelo. Em simulações
futuras, esse parâmetro pode ser modificado para introduzir a influência do atrito.
Modelo Numérico 65
4.2. Validação do Programa Abaqus
A validação dos resultados obtidos pelo programa Abaqus será feita
através da avaliação de tensões as quais está submetido um poço vertical, em
condição de tensões hidrostáticas.
4.2.1. Poço Vertical – Solução Analítica (Kirsch)
Nesta seção, é apresentada uma solução analítica do estado de tensões
atuante na parede do poço e a metodologia adotada. Para isso foi uitilizado o
pacote de computação algébrica comercial Matlab. Nele, foi implementada a
solução de Kirsch (1898).
A solução clássica de Kirsch para o estado de tensões ao redor do poço,
na forma de uma circunferência de raio a, de um meio elástico infinito regido por
um estado de deformações planas e submetido a um estado de tensões
principais, pode ser representada pela figura 32 e pelas seguintes equações:
2 2 4
2 2 4
4 31 1 1 1 cos 2
2r
p a a ak k
r r r
(4.5)
2 4
2 4
31 1 1 1 cos 2
2
p a ak k
r r
(4.6)
2 4
2 4
2 31 1 sin 2
2r
p a ak
r r
(4.7)
Onde:
σr é o componente normal de tensão na direção radial
σθ é o componente normal de tensão na direção circunferencial
τrθ é o componente de tensão cisalhante
θ é o ângulo medido no sentido anti-horário no plano xy e a partir da
direção y
r é a distância radial a partir do eixo do poço
p é a pressão
a é o raio do poço
k é a razão entre tensão horizontal maior e menor
Modelo Numérico 66
Figura 32 - Tensões ao redor de um poço (Brady & Brown, 2005).
Foi considerado um caso simples da indústria de petróleo em que, em
compatibilidade com o modelo a ser utilizado, as seguintes hipóteses foram
adotadas:
- Estado de tensões hidrostático;
- Poço vertical;
- Comportamento linear-elástico da rocha de formação;
- Meio homogêneo, isotrópico e contínuo.
Aplicando as hipóteses simplificadoras do problema, as soluções para
tensão radial e tangencial ficam da seguinte forma:
2
21r
ap
r
(4.8)
2
21
ap
r
(4.9)
0r (4.10)
Os dados utilizados, bem como a geometria do problema, podem ser
observados na figura 33.
Modelo Numérico 67
Figura 33 - Esquema de tensões em um poço vertical para o problema estudado.
A variação da tensão radial e tangencial em função do raio em uma seção
AB de um poço vertical em uma formação homogênea, isotrópica com
comportamento linear elástico e com σH = σh obtida nas simulações é
apresentada na figura 34. Pode-se observar que tanto as tensões tangenciais
quanto as radiais chegam ao seu extremo próximo à parede do poço e tendem
ao valor de carregamento aplicado após 4 a 5 vezes o comprimento do raio do
poço.
Figura 34 - Variação das tensões principais ao longo da parede do poço para solução
analítica de Kirsch.
Modelo Numérico 68
4.2.2. Poço Vertical – Análise Numérica (Kirsch)
O mesmo problema do item anterior foi solucionado através do pacote de
elementos finitos Abaqus. Devido à simetria do problema foi considerado
somente ¼ do poço.
Nos itens (a) e (b) da figura 35, é possível observar uma malha com 4366
elementos quadrilaterais e condições de contorno necessárias para validação do
problema. Para as condições de contorno, tanto a base no eixo x quanto a lateral
esquerda no eixo y tiveram o deslocamento restringido nas direções y e x,
respectivamente (condições de simetria). Da mesma forma, as setas indicam a
aplicação das tensões ao redor do poço.
(a) (b)
Figura 35 – (a) Malha com 4366 elementos quadrilineares e (b) Condiçoes de contorno
do modelo.
A tabela 2 apresenta os dados de entrada (parâmetros elásticos e pressão
aplicada) utilizados no programa bem como a geometria aplicada.
Tabela 2 - Dados de entrada e geometria do problema.
Dados de entrada
(Abaqus) Valores Geometria Valores
E 2.4 GPa Comprimento 60 cm
ѵ 0.3 Raio 30 mm
Pressão 12,41 MPa Diâmetro 60 mm
Modelo Numérico 69
Os resultados obtidos podem ser observados nas figura 36 a 39. Nota-se
que as tensões tangenciais e tensões radiais tendem a um valor próximo após 4
a 5 vezes o comprimento do raio do poço, como analisado anteriormente pela
solução analítica. Da mesma forma, percebe-se o efeito de concentrações de
tensões próximas à parede do poço.
Figura 36 - Distribuições de tensões horizontais do modelo numérico.
Figura 37 - Variação de tensão radial ao redor da parede do poço para o modelo
numérico.
Modelo Numérico 70
Figura 38 - Distribuições de tensões verticais do modelo numérico.
Figura 39 – Variação de tensão tangencial ao redor da parede do poço para o modelo
numérico.
Os gráficos da solução numérica foram superpostos aos da solução
analítica (figura 34) com a finalidade de apresentar de uma maneira mais clara a
comparação entre as duas soluções. Nesse, observa-se uma coincidência
Modelo Numérico 71
positiva entre os resultados alcançados através das duas soluções (numérica e
analítica).
Figura 40 – Comparação dos resultados numéricos (Abaqus) X analíticos (Kirsch) para
tensão radial e tangencial ao redor da parede do poço.
4.2.3. Poço Vertical – Solução Analítica (Ruptura em Rocha)
Neste item, é apresentada uma solução analítica para ruptura do maciço
rochoso em um campo hidrostático de tensões. Esta solução possibilita a
consideração da elastoplasticidade e sua comparação com o modelo numérico
utilizado no Abaqus. A solução foi implementada no pacote de computação
algébrica comercial Matlab.
O critério de ruptura pode ser dividido inicialmente em dois itens:
1) Critério de Ruptura de rocha intacta
1 2 cos
1 1r
sen c
sen sen
(4.11)
2) Critério de Ruptura de rocha fraturada (não tem coesão)
Modelo Numérico 72
1
1r
sen
sen
(4.12)
Figura 41 – Campo hidrostático de tensões de um Maciço Rochoso.
Sabendo que a equação de equilíbrio em coordenadas polares pode ser escrita
como:
22
rr rr r r r rsen
r
(4.13)
Modelo Numérico 73
Figura 42 – Tensões em um elemento infenitesimal considerando coordenadas polares.
Logo, a equação fica:
rr
r r
(4.14)
Como 0r
r
, r e assim deduz-se que 1 .
Substituindo (4.12) em (4.14):
1
11
r
r
sen r
sen r
(4.15)
11
1
sen
sen
r Cr
(4.16)
onde C é uma constant oriunda da integral.
Em uma condição onde r=a’, r ap e assim:
1
11
'
a
sen
sen
pC
a
(4.17)
Dividindo (4.16) por (4.17), temos para o regime plástico:
11
1
'
sen
sen
r a
rp
a
(4.18)
11
11
1 '
sen
sen
a
sen rp
sen a
(4.19)
Em uma condição onde r=R, r rp e assim:
Modelo Numérico 74
11
1
'
sen
sen
r a
Rp p
a
(4.20)
Sendo:
pr pressão radial
R raio até a região elástica
a’ espessura da região plástica
Para o regime elástico:
2 2
2 21 r
R Rp p
r r
(4.21)
2 2
2 21r r
R Rp p
r r
(4.22)
Como r=R, temos que:
r rp (4.23)
2 rp p (4.24)
Substituindo (4.24) em (4.11):
2 cos2
1
11
1
r
cp
senp
sen
sen
(4.25)
Os dados utilizados e a geometria do problema podem ser vistos na
Figura 43.
Figura 43 – Esquema e dados para o problema estudado.
A figura 44 traz a variação da tensão radial e tangencial em função do raio
em uma seção AB de um poço vertical em uma formação homogênea, isotrópica
com comportamento elastoplástico e com σH = σh obtida nas simulações.
Modelo Numérico 75
Figura 44 – Variação das tensões principais ao longo do poço (solução analítica para
ruptura em rocha).
Pode-se observar que tanto as tensões tangenciais quanto as radiais
aumentam de forma distinta quando próximas da parede do poço (região
plástica) e tendem a um valor comum na região elástica da rocha. Observa-se
também que a tensão tangencial pula de 12MPa para 16MPa na transição do
regime plástico para o elástico, o que pode ser justificado pelas diferentes
equações utilizadas em cada regime, pois no regime elástico existe o acréscimo
do efeito da coesão do material.
4.2.4. Poço Vertical – Análise Numérica (Ruptura em Rocha)
Da mesma forma, foi realizada uma simulação utilizando as condições da
solução analítica para rocha fraturada, como apresentado no item anterior. Para
tanto, foi usado o pacote de elementos finitos do Abaqus.
A simulação seguiu o mesmo princípio utilizado no item 4.2.2 onde foi
considerado ¼ do poço e condições de simetria no eixo x (base do modelo) e y
(lateral esquerda). O raio do poço e a condição hidrostática de tensão foram
mostrados na figura 43.
Na sequência, são apresentados os resultados do modelo numérico para
ruptura do maciço rochoso em um campo hidrostático de tensões. A figura 45
apresenta, em vermelho, a zona fraturada que possui expessura de 1m (na
solução analítica a’=1m). A parte em azul representa região elástica, isto é, a
região que não apresentou plastificação.
Modelo Numérico 76
Figura 45 – Região da zona fraturada.
Os resultados das distribuições das tensões podem ser percebidos nas
figuras 46 e 47. Nelas, notam-se os efeitos das concentrações de tensões
próximas à parede do poço.
Figura 46 – Distribuição de tensões horizontais para o modelo numérico de ruptura em
rocha.
Modelo Numérico 77
Figura 47 – Distribuição de tensões verticais para o modelo numérico de ruptura em
rocha.
A figura 48 apresenta a comparação entre os resultados obtidos
numericamente e analiticamente no item anterior. É possível notar que o Abaqus
consegue reproduzir bons resultados mesmo para um problema que inclua um
material com comportamento elastoplástico.
Figura 48 – Comparação dos resultados numéricos x analíticos para rocha fraturada.
Modelo Numérico 78
4.3. Procedimento Experimental
Neste item, são apresentados os procedimentos dos ensaios realizados
por Chavez (2011) para condição de tela centralizada, tela enconstada e stand
alone. Para os ensaios com a tela centralizada e tela enconstada, o espaço
anular rocha-tela foi preenchido com um material granular conhecido como
gravel pack.
Este experimento foi realizado utilizando uma câmera poliaxial no CENPES
(PETROBRAS) e teve como objetivo medir os deslocamentos e as deformações
no interior da tela, através de transdutores de deslocamento e strain gages.
O presente estudo tem como um dos objetivos a simulação numérica dos
três ensaios supramencionados, que serão descritos brevemente a seguir. Caso
haja necessidade de um maior aprofundamento, basta consultar o capítulo 5 de
Chavez (2011).
4.3.1. Ensaio na Condição de Tela Centralizada
Este ensaio teve como finalidade estudar as deformações transmitidas à
tela e o comportamento do gravel pack na mesma formação, sob condições
anisotrópicas de tensão. Neste ensaio, a tela está centralizada em relação à
formação e o espaço anular entre a formação e a tela foi preenchido pelo gravel
pack como pode ser observado na figura 49.
Para medir as deformações em cada ensaio, foi colocado um transdutor de
deslocamentos dentro do tubo, além de sensores de deformação no interior do
mesmo. Vale salientar que o ensaio ocorre com a porta da câmara poliaxial
fechada, ou seja, em estado plano de deformações.
Modelo Numérico 79
Figura 49 – Ensaio com a tela centralizada (cortesia Chavez, 2011).
O ensaio tem início com aplicação de tensão confinante (σv=σh), no qual o
acréscimo só é realizado quando a variação do deslocamento mensurado na tela
estabilizar. A aplicação da tensão confinante chega até 4,13 MPa. A partir desse
nível de tensão, o eixo onde é aplicada a tensão horizontal é fixado, ou seja, não
há deslocamento no eixo x e tem início o acréscimo na aplicação de tensão
vertical, chegando ao total de 11,03 MPa, como segue na figura 50.
Figura 50 – Esquema de aplicação de tensão com a tela centralizada.
4.3.2. Ensaio na Condição de Tela Encostada
Este ensaio teve a mesma finalidade e seguiu os mesmos passos do
anterior (tela centralizada), porém, com uma geometria diferente, isto é, tendo a
tela encostada na formação como nas figura 51 e 52 abaixo.
Modelo Numérico 80
Figura 51 – Ensaio com a tela encostada (cortesia Chavez, 2011).
Figura 52 – Esquema de aplicação de tensão para tela encostada.
4.3.3. Ensaio na Condição Stand Alone
Segundo Chavez (2011), este ensaio teve como finalidade observar os
processos da produção de sólidos no espaço anular da formação e da tela que
fica encostada na parede do poço sem a presença do gravel, de maneira a
avaliar as deformações transmitidas à tela, sob condições anisotrópicas de
tensão. Este ensaio difere dos demais devido aos maiores carregamentos
aplicados. Durante a etapa de confinamento, as tensões aplicadas foram de 6,8
Modelo Numérico 81
MPa, enquanto na segunda etapa (fase de acréscimo de tensão vertical) o valor
final da tensão vertical foi de 48,3 MPa.
Figura 53 – Ensaio para o caso stand alone (cortesia Rafael Chavez, 2011).
4.4. Modelagem Numérica
Neste sub item é apresentada a modelagem dos casos estudados. Para as
simulações dos modelos nas condições de tela centralizada e tela encostada, foi
utilizado o Abaqus Standard enquanto para as simulações do modelo
stand alone, devido a sua alta nãolinearidade, utilizou-se o Abaqus Explicit.
4.4.1. Descrição do Modelo Numérico
4.4.1.1. Geometria Analisada
Foram utilizados modelos 2D para representar o experimento, uma vez
que o ensaio na câmera poliaxial foi realizado com a porta fechada, ou seja,
estado plano de deformação. Os modelos contam com um plano de simetria que
permite utilizar a metade do poço para os casos de tela encostada e stand alone
e ¼ do poço para o modelo na condição de tela centralizada. Dessa forma, o
Modelo Numérico 82
número de equações a serem calculadas e, consequentemente, o tempo
computacional requerido foram reduzidos.
A geometria do poço, detalhada na figura 54, foi criada como um corpo do
tipo deformável e possui as dimensões apresentadas na tabela 3:
Tabela 3 – Geometria dos modelos.
Diâmetro do Poço 6 cm
Altura Formação 30 cm
Comprimento Formação 30 cm
Espessura Tela 0.52 mm
Diâmetro Tela 38 mm
Figura 54 – Esquema de aplicação de tensão para o modelo com a tela centralizada.
4.4.1.1. Malhas Utilizadas
Os elementos utilizados para a geração da malha são contínuos
bidimensionais, lineares, quadrilaterais do tipo CPE4R (estado plano de
deformação) e com número fixo de nós (quatro). Como a região de concentração
de tensões fica ao redor da parede do poço, foi realizado um refinamento da
malha neste local.
Durante as análises, foi feita uma análise de sensibilidade, na qual
observou-se que a utilização de elementos quadráticos apresentavam os
P
P
P
P
30
cmc
m
6cm
Gravel
19mm
30 cm
19mm
Modelo Numérico 83
mesmos resultados dos elementos lineares, porém com um custo computacional
mais elevado.
Nos modelos de tela centralizada, encostada e stand alone foram
utilizados 2520, 4080 e 3720 elementos, respectivamente. Detalhes da malha do
poço podem ser vistos na figura 55.
(a) (b)
(c)
Figura 55 – Malha do modelo 2D: (a) Tela Centralizada; (b)Tela Encosada; (c) stand
alone.
Modelo Numérico 84
4.4.1.2. Propriedades dos Materiais
Para a simulação do modelo de elementos finitos é necessário o
conhecimento de propriedades do material constituinte da formação, do gravel e
da tela. A formação e a tela foram consideradas como materiais de
comportamento elasto-plástico, devido às deformações plásticas observadas por
Chavez (2011) para o ensaio stand alone.
Em razão da dificuldade de se realizar um ensaio para obtenção de
parâmetros do gravel, já que se faz necessária a aplicação de tensão na ordem
de MPa, só foi possível obter as propriedades da formação e da tela. Na falta de
referências mais precisas e considerando que o gravel possui as mesmas
características da areia, foram arbitrados, de acordo com a literatura, valores
para o ângulo de atrito, para coesão e para o coeficiente de poisson.
Feito isso, foram realizadas algumas análises e essas foram comparadas
com os ensaios de tela centralizada e encostada. Observou-se, então, que, para
um determinado valor do módulo de elasticidade, o gravel gerava bons
resultados para um dos ensaios, mas para o outro ensaio era necessário utilizar
um módulo de elasticidade diferente. Dessa forma, foi possível concluir que o
gravel tem um comportamento elástico não linear.
Assim, durante as simulações e comparações com os resultados
experimentais, foi possível obter diferentes valores do módulo de elasticidade
para o gravel até encontrar uma faixa de valores compatíveis com os resultados
dos ensaios alcançados por Chavez (2011). Com isso, foi desenvolvida uma
sub-rotina no Abaqus que faz o ajuste entre a variação do módulo de
elasticidade e o carregamento aplicado. A figura 56 apresenta o funcionamento
da sub-rotina para um ensaio triaxial.
Modelo Numérico 85
Figura 56 – Ajuste da variação do módulo de elasticidade do gravel com o carregamento
aplicado em um ensaio triaxial (Abaqus).
Pelo gráfico, observa-se que a variação do módulo de elasticidade no
Abaqus não considera o incremento da deformação do passo anterior. Ou seja, o
valor da tensão final determina o valor da deformação final (linhas azul e rosa). A
subrotina usa a variação do módulo de elasticidade somando o valor da
deformação anterior.
A partir dessa subrotina, foi possível simular um ensaio de compressão
uniaxial para obter as curvas de Tensão (MPa) X Defomação e Deformação
Volumétrica X Defomação Axial do gravel (figura 57), comprovando a não
linearidade do gravel.
Modelo Numérico 86
Figura 57 – Comportamento do gravel.
Os valores utilizados para os diferentes materiais do modelo estão
especificados na tabela 4 e seguem os valores obtidos nas análises de Chavez
(2011) e Villarroel (2009).
Modelo Numérico 87
Tabela 4 – Propriedades dos materiais.
Propriedades Formação Gravel Tela
Módulo de Elasticidade (E) 2,7GPa 0,9 – 200 MPa 90,64GPa
Coef. Poisson (nu) 0,27 0,34 - 0,35 0,32
Coesão (c) – Mohr Coulomb 5,51 0 -
Ângulo de Atrito (Mohr
Coulomb) 28º 32º -
Tensão de Escoamento - - 484 MPa
Diâmetro do Poço 6 cm
Altura Formação 30 cm
Comprimento Formação 30 cm
Como no ensaio stand alone ocorreu o breakout, torna-se necessário
conhecer o comportamento do material após seu ponto de escoamento (pós-
pico). Como esses dados não foram obtidos experimentalmente foi preciso
estimá-los. Verificou-se que a formação sofre amolecimento após a plastificação
da mesma.
4.4.1.3. Carregamento, Condições de Contorno
Com o objetivo de reproduzir os testes experimentais, algumas condições
de contorno específicas foram utilizadas. Por default, o Abaqus considera uma
etapa inicial para atribuição das condições de contorno iniciais, sem aplicação de
carregamento (figura 58 - a). Com isso, durante o primeiro passo (figura 58 - b),
foi aplicada uma pressão de confinamento nas direções X e Y. Após esta etapa
de confinamento, a extremidade direita da formação, onde houve a aplicação da
pressão na direção X, foi restringida de movimentar-se na direção X. Assim,
começa a aumentar a pressão na direção Y (etapa de acréscimo). As etapas
podem ser observadas na figura 58.
Modelo Numérico 88
Figura 58 – Malha do modelo 2D: (a) Etapa inicial (condição inicial); (b) Etapa
confinamento – aplicação das tensões de confinamento; (c) Etapa de Acréscimo –
aumento da tensão na direção Y.
Além disso, para a condição de contorno do modelo stand alone, foi
necessário garantir que a tela estivesse colada à formação, caso contrário
qualquer perturbação faria com que a tela mudasse de posição (lembrando que
nesse modelo foi simulado metade do poço). Com isso, foi utilizado no Abaqus
uma restrição do tipo Tie no contato tela-formação na base do anular, garantindo
que os nós que estão no contato da tela com a formação não se separariam
durante a análise.
Gravel Gravel
Gravel
(a) (b)
(c)
5. Resultados e Discussões
Neste capítulo, serão apresentados e analisados os resultados obtidos na
simulação e, em seguida, será feita uma comparação dos mesmos com o
resultado experimental.
5.1. Resultados das Análises do Modelo Numérico
Os resultados da análise numérica serão apresentados separadamente
para cada tipo de ensaio, conforme indicado no item 4.3.
5.1.1. Resultados Obtidos na Condição de Tela Centralizada
A simulação realizada para condição de tela centralizada adotou, devido à
sua simetria, somente ¼ do modelo original, no intuito de reduzir o número de
equações a serem resolvidas pelo programa. Para visualização do modelo
completo, foi utilizado o espelhamento do restante do mesmo.
Foram analisadas as seguintes variáveis: deslocamento vertical e
horizontal; deformação vertical e horizontal; tensão vertical e horizontal; tensão
principal máxima e mínima. Também foi analisada a deformação plástica
equivalente, que nada mais é do que uma norma de medida de plastificação
adotada pelo Abaqus.
A figura 59 apresenta o modelo na condição de tela centralizada antes da
aplicação das tensões e a figura 60 mostra com detalhe os pontos a serem
avaliados.
Resultados e Discussões 90
(a) (b)
Figura 59 – Tela Centralizada: (a) Sem carregamento; (b) Ao final do carregamento
(modelo distorcido em 20 vezes).
Para facilitar o entendimento e a visualização do comportamento da tela, a
figura 60 (b) teve seu fator de escala aumentado em 20 vezes.
(a) (b)
Figura 60 – Detalhe Tela Centralizada: (a) Sem carregamento; (b) Ao final do
carregamento (modelo distorcido em 20 vezes).
Os deslocamentos verticais podem ser visualizados nas figuras 61 e 62.
Devido à maior tensão aplicada verticalmente, o deslocamento no bordo superior
do modelo (ponto 01) foi maior do que no bordo inferior do modelo simplificado
(ou na zona central da figura 61), que em alguns pontos foi nulo. Esses
deslocamentos verticais nulos podem ser explicados devido às condições de
contorno adotadas na simulação, visto que para a simetria do modelo (1/4 do
poço) foram colocadas restrições do deslocamento no eixo Y na borda inferior.
Resultados e Discussões 91
Figura 61 – Deslocamento vertical na condição de tela centralizada.
Figura 62 – Detalhe do deslocamento vertical na condição de tela centralizada (fator de
aumento nas setas - 20 vezes).
Resultados e Discussões 92
Da mesma forma, os deslocamentos horizontais, que podem ser
observados nas figura 63 e 64, apresentaram maiores valores na parede do
poço (setas em vermelho).
Figura 63 – Deslocamento horizontal na condição de tela centralizada.
Figura 64 – Detalhe do deslocamento horizontal na condição de tela centralizada (fator
de aumento nas setas - 20 vezes).
Resultados e Discussões 93
A figura 65 apresenta a variação do deslocamento nos pontos 01 e 02 em
função do carregamento aplicado. O programa adota tensões de compressão
como números negativos e tensões de tração como números positivos segundo
a tabela 5, abaixo:
Tabela 5 – Convenção adotada pelo programa e pelo ensaio.
Convenção Compressão Tração
Abaqus Negativo Positivo Experimental Positivo Negativo
É importante salientar que foram analisados os deslocamentos radiais no
ponto 01 (valores do U2) e no ponto 02 (valores do U1), como apresentado na
figura 60. Dado que o modelo físico mede o deslocamento em relação a cada
eixo, os deslocamentos medidos em cada ponto foram multiplicados por dois
para ficar de acordo com os dados obtidos por Chavez (2011).
Figura 65 – Tensão (MPa) X Deslocamento radial (mm) – tela centralizada (convenção
Abaqus).
Na figura 65, durante a primeira etapa do processo (confinamento), os
deslocamentos radiais nos pontos analisados foram nulos ou próximos de zero.
Isso pode ser justificado pelo comportamento do gravel, que é comprimido
durante o confinamento e acaba suportando as tensões oriundas da formação.
A seguir são apresentados os resultados das deformações horizontais e
verticais para condição de tela centralizada. Nas figuras 66 e 67, é possível
observar maiores deformações no bordo inferior no contato formação/gravel
destacado em vermelho.
Com relação aos resultados obtidos para deformação vertical,
apresentados nas figura 68 e 69, nota-se maiores deformações na região
Resultados e Discussões 94
superior do gravel, causadas por maiores tensões verticais aplicadas, ou seja, o
gravel tende a sofrer maiores deformações para suportar essa tensão.
Figura 66 – Deformação horizontal na condição de tela centralizada.
Figura 67 – Detalhe da deformação horizontal na condição de tela centralizada.
Resultados e Discussões 95
Figura 68 – Deformações verticais na condição de tela centralizada.
Figura 69 – Detalhe das deformações verticais na condição de tela centralizada.
É importante ressaltar que foram analisadas as deformações tangenciais
nos pontos 01 e 02, como apresentado na figura 60. A figura 70 mostra a
variação da deformação tangencial nos pontos 01 e 02 em função do
carregamento aplicado.
Resultados e Discussões 96
Figura 70 – Tensão (MPa) X Deformação Tangencial – tela centralizada (convenção
Abaqus).
Como pode ser observado, durante a primeira etapa (confinamento - até
4,13 MPa), a deformação tangencial tanto no ponto 01 quanto no ponto 02
esteve próxima de zero. Após esta etapa, a deformação tangencial no ponto 01
apresentou valores muito próximos de zero até aproximadamente 7,58 MPa,
chegando à deformação máxima de -7,2x10-4 enquanto a deformação tangencial
no ponto 02 a 11,03 MPa ficou em -1,3x10-3. Logo, pode-se concluir que a tela
sofre contração nos dois pontos analisados.
Figura 71 – Deformação plástica equivalente para condição de tela centralizada.
Resultados e Discussões 97
Os resultados apresentados na figura 71 são referentes à deformação
plástica equivalente (PEEQ). Essa deformação é uma norma de medida utilizada
pelo Abaqus e é determinada pela relação:
1
:pl pldc
(4.26)
A figura 73 mostra que o escoamento da formação ocorreu com uma
tensão aplicada no topo do bloco de 6,48 MPa .
Figura 72 – Detalhe da deformação plástica equivalente na condição de tela
centralizada.
Figura 73 – Deformação Plástica Equivalente (PEEQ) X Tensão Vertical – tela
centralizada.
Em seguida, são apresentados os resultados da distribuição das tensões
máximas e mínimas principais na tela. Observa-se que as tensões máximas
principais apresentaram valor máximo de -0,33 MPa (compressão) na parte
interna da tela e mínimo de -2,84 MPa na parte externa da mesma (assinalado
Resultados e Discussões 98
na figura 74). Igualmente, na figura 75 observa-se que tensões principais
mínimas estão concentradas no interior da tela, chegando a valores máximos de
compressão de -72,6 MPa e mínimos de -136,8 MPa.
Figura 74 – Tensão máxima principal na condição de tela centralizada.
Figura 75 – Tensão mínima principal na condição de tela centralizada.
Resultados e Discussões 99
A variação da tensão radial ao longo do eixo AB, que inclui o sistema
tela/gravel/formação, é apresentada na figura 76. Observa-se que existe um
acréscimo de tensão radial na região do gravel e que as tensões se concentram
no contato gravel-formação.
Figura 76 – Tensão Tangencial (MPa) X Distância da parede do poço – tela centralizada.
5.1.2. Resultados Obtidos na Condição de Tela Encostada
A análise realizada para o modelo na condição de tela encostada adotou,
como hipótese simplificadora, somente ½ do modelo original, devido à simetria
de sua geometria, reduzindo o número de equações a serem calculadas pelo
Abaqus. A figura 77 apresenta o modelo antes e depois do carregamento. A
visualização da figura 77 (b) está com seu fator de escala aumentado em 20
vezes.
Foram analisadas as seguintes variáveis: deslocamento vertical e
horizontal; deformação vertical e horizontal; tensão vertical e horizontal; tensão
Resultados e Discussões 100
principal máxima e mínima. Também foi analisada a deformação plástica
equivalente.
(a) (b)
Figura 77 – Tela Encostada: (a) Sem carregamento; (b) Ao final do carregamento
(modelo distorcido em 20 vezes).
A figura 78 (b) apresenta uma visualização amplificada do modelo.
Percebe-se a mesma ovalização apresentada no modelo de tela centralizada.
(a) (b)
Figura 78 – Detalhe Tela Encostada: a) Sem carregamento; b) Ao final do carregamento
(modelo distorcido em 20 vezes).
Os deslocamentos verticais podem ser vistos nas figuras 79 e 80. É
importante salientar que as unidades apresentadas no resultado dos
deslocamentos do modelo de tela encostada estão em metro.
Como esperado, devido à maior tensão aplicada na vertical, o
deslocamento radial no bordo superior do modelo (ponto 01) foi maior do que no
bordo inferior, causado pelas maiores tensões aplicadas verticalmente e pela
Resultados e Discussões 101
restrição do deslocamento no eixo Y no bordo inferior do modelo. Da mesma
maneira, os deslocamentos horizontais, que podem ser observados nas figuras
81 e 82, apresentaram maiores valores na parede do poço (setas em vermelho
no ponto 02). Percebe-se também que a formação desloca o gravel para a
direção oposta ao deslocamento da tela no ponto 02.
Figura 79 – Deslocamento vertical na condição de tela encostada.
Figura 80 – Detalhe do deslocamento vertical na condição de tela encostada (fator de
aumento nas setas - 20 vezes).
Resultados e Discussões 102
Figura 81 – Deslocamento horizontal na condição de tela encostada.
Figura 82 – Detalhe do deslocamento horizontal na condição de tela encostada (fator de
aumento nas setas - 20 vezes).
Resultados e Discussões 103
Para validação do modelo, o que mais interessa são os deslocamentos
que ocorrem na parede do poço. Logo, a figura 83 apresenta os resultados dos
deslocamentos verticais e horizontais na parede do poço.
Nota-se que o deslocamento radial no ponto 02 chega a ser uma ordem de
grandeza menor que o deslocamento radial no ponto 01. Esses resultados
podem ser observados na figura 84.
É importante frisar ainda que os valores obtidos do deslocamento radial no
ponto 01 tiveram que ser corrigidos, visto que o Abaqus mede o deslocamento
de um nó em relação a seu eixo de origem. Durante a simulação, o furo do poço
se deslocou alguns milímetros em relação ao eixo de origem, assim, foi
considerado o deslocamento relativo entre os pontos opostos.
Vale lembrar que devido à simetria, o deslocamento radial no ponto 02 foi
multiplicado por dois para comparação com o modelo físico.
Figura 83 – Deslocamentos verticais e horizontais na tela para condição de tela
encostada.
Resultados e Discussões 104
Figura 84 – Tensão (MPa) X Deslocamento Radial (mm) – tela encostada (convenção
Abaqus).
Durante a primeira etapa (confinamento – até 4,13 MPa), apesar do
deslocamento radial do ponto 02 ser nulo, o do ponto 01 apresentou um
pequeno deslocamento, provavelmente devido à geometria do modelo. Ou seja,
como a tela encontra-se encostada a formação, as tensões verticais terão maior
influência no comportamento da mesma. Além disso, como comentado por
Chavez (2011), o gravel tende a se depositar na região inferior entre a tela e a
formação, provocando maiores tensões nesse ponto.
A seguir, são apresentados os resultados das deformações horizontais e
verticais para tela encostada. Nas figuras 85 e 86, é possível observar a região
do gravel que apresentou as maiores deformações.
Resultados e Discussões 105
Figura 85 – Deformações verticais na condição de tela encostada.
Figura 86 – Detalhe das deformações verticais na condição de tela encostada.
As deformações horizontais são apresentadas nas figuras 87 e 88. Nelas,
nota-se a concentração dessas deformações próximas à parede do poço e nas
regiões de contato.
Resultados e Discussões 106
Figura 87 – Deformações horizontais na condição de tela encostada.
Figura 88 – Detalhe das deformações verticais na condição de tela encostada.
Para melhor visualização dos resultados, a figura 89 apresenta os
resultados das deformações verticais e horizontais ao longo da tela. As
deformações verticais apresentaram valores máximos (em azul) na zona central
da tela (ponto 02), enquanto as deformações horizontais apresentaram valores
máximos na região do topo (ponto 01) e na parte inferior da tela. Os valores e a
trajetória das deformações podem ser vistos na figura 90.
Resultados e Discussões 107
Figura 89 – Deformações verticais e horizontais na tela para condição de tela encostada.
Figura 90 – Tensão (MPa) X Deformação Tangencial – tela encostada (convenção
Abaqus).
Durante a primeira etapa (confinamento – 4,13 MPa), a deformação
tangencial tanto no ponto 01 quanto no ponto 02 foi nula. Após essa etapa, a
deformação tangencial do ponto 01 apresentou valores positivos, ou seja, o
ponto 01 sofreu extensão até aproximadamente 8,96 MPa. Posteriormente a
esse estado de tensões, a região do ponto 01 começou a sofrer compressão
atingindo a deformação tangencial máxima de -6,4x10-4. Da mesma forma, após
a etapa de confinamento, a deformação tangencial medida no ponto 02
apresentou valores negativos (-1,5x10-3 para tensão de 11,03 MPa), mostrando
que essa região sofreu contração.
Resultados e Discussões 108
Em seguida, são apresentados os resultados referentes à deformação
plástica equivalente (figuras 91 a 93). Esses resultados foram muito similares
àqueles obtidos na simulação com a tela centralizada.
Figura 91 – Deformação plástica equivalente na condição de tela encostada.
Figura 92 – Detalhe deformação plástica equivalente na condição de tela encostada.
A figura 93 mostra que o escoamento da formação ocorreu com uma
tensão aplicada no topo do bloco de 6,82 MPa. No gráfico pode-se observar que
a deformação plástica equivalente estabiliza ao atingir o valor 0,01046, assim
como ocorreu na simulação da tela centralizada.
Resultados e Discussões 109
Figura 93 – Deformação plástica equivalente (PEEQ) X Tensao Vertical (MPa) – tela
encostada.
A seguir, são apresentados os resultados da distribuição das tensões
principais máximas e mínimas (figura 95), bem como das tensões horizontais e
verticais na tela (figura 94). Observa-se que as tensões principais máximas se
concentraram na parte interna da tela e apresentaram valores máximos e
mínimos de -0,22 MPa e -2,64 MPa, respectivamente. Da mesma forma, as
tensões principais mínimas foram de -65,3 MPa e -134,1 MPa, respectivamente.
Figura 94 – Tensões horizontais e verticais na tela para condição de tela encostada.
Resultados e Discussões 110
a)
b)
Figura 95 – Tensões máxima e mínima principais na tela para condição de tela
encostada.
Resultados e Discussões 111
As variações das tensões radiais e tangenciais ao longo do eixo AB foram
plotadas para visualização e comparação entre os resultados obtidos para
condição de tela centralizada e encostada (figura 96). Ao longo do trecho AB,
observa-se maiores tensões tangenciais em relação às tensões radiais. No
entanto, estas tensões tendem a um valor constante conforme se afastam da
parede do poço.
Figura 96 – Tensão ao longo do trecho AB para condição de tela encostada (Abaqus).
A figura 97 apresenta a comparação entre os modelos numéricos para
condições de tela centralizada e encostada.
Resultados e Discussões 112
Figura 97 – Comparação dos resultados numéricos para tensão ao redor do poço (tela
centralizada e encostada).
Figura 98 – Detalhe da comparação dos resultados numéricos para tensão ao redor do
poço (tela centralizada e encostada).
Resultados e Discussões 113
Os resultados do modelo da tela encostada mostram que as tensões
tangenciais ao longo do trecho AB são menores do que os apresentados na tela
centralizada.
5.1.3. Resultados Obtidos na Condição Stand Alone
A solução explícita foi utilizada para o modelo stand alone, dado que o
modelo não convergia nas tentativas utilizando o solver implícito do Abaqus,
devido aos altos níveis de tensão e deformação. Para simular a análise
utilizando o Abaqus explícito, foi necessário o uso de um modelo quase estático,
a fim de evitar o efeito da variação de energia, como explicado no item 4.1.2.
Com isso, a figura 99 apresenta o equilíbrio das forças externas e internas
para comprovar que o modelo está em equilíbrio a todo o momento (efeito do
amortecimento).
Figura 99 – Equilíbrio das energias internas e externas para o modelo quase estático no
Abaqus.
Foram analisadas as seguintes variáveis: deslocamento vertical e
horizontal; deformação vertical e horizontal; tensão vertical e horizontal; tensão
principal máxima e mínima. Também foi analisada a deformação plástica
equivalente.
As figuras 100 e 101 apresentam o modelo antes e depois da aplicação do
carregamento. Para observar o comportamento do tubo, foram aplicadas
maiores tensões (59 MPa), além do carregamento aplicado em laboratório
(48,26 MPa). Isso explica a deformação significativa presente nas próximas
figuras.
Resultados e Discussões 114
(a) (b)
Figura 100 – Stand Alone: (a) Antes do carregamento; (b) Após o carregamento.
(a) (b)
Figura 101 – Detalhe Stand Alone: (a) Antes do carregamento; (b) Após o carregamento.
Os deslocamentos verticais podem ser visualizados nas figura 102 e 103.
Percebe-se que a região do ponto 01 (figura 101) sofreu deslocamento positivo,
afastando-se do ponto de origem devido à plastificação e consequente contato
formação-tela. Da mesma forma, a região do ponto 02 sofreu deslocamento
negativo, o que pode ser visto nas figuras 104 e 105. Nelas, observa-se que o
deslocamento horizontal na formação é constante, exceto na região de
plastificação.
Resultados e Discussões 115
Figura 102 – Deslocamento vertical na condição stand alone.
Figura 103 – Detalhe do deslocamento vertical na condição stand alone.
Resultados e Discussões 116
Figura 104 – Deslocamento horizontal na condição stand alone.
Figura 105 – Detalhe do deslocamento horizontal na condição stand alone.
A figura 106 apresenta os resultados dos deslocamentos ao longo da tela.
Os deslocamentos verticais apresentaram valores máximos (em vermelho) no
topo da tela (ponto 01), enquanto os deslocamentos horizontais apresentaram
valores máximos na região central da tela (ponto 02). Os valores e a trajetória
dos deslocamentos podem ser observados na figura 107 a seguir.
Resultados e Discussões 117
Figura 106 – Deslocamentos verticais e horizontais na tela para condição stand alone.
Figura 107 – Tensão (MPa) X Deslocamento Radial (mm) – stand alone (convenção
Abaqus).
Os deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02 começam a ocorrer no
contato entre a formação e a tela. Esse contato ocorre a uma tensão vertical
aplicada de 27,58 MPa. Após 48,26 MPa, o deslocamento radial tanto no ponto
01 quanto no ponto 02 tende a diminuir devido ao contato formação-tela no
ponto 01, localizado no topo da tela. Isso se deve à plastificação que ocorre
próximo ao ponto 02 e que permite o contato no topo da tela. A figura 108
apresenta imagens sequenciais da geometria em consequência da deformação
sofrida pela formação.
Resultados e Discussões 118
Figura 108 – Figuras sequenciais da alteração da geometria da formação e o contato
tela-formação.
A seguir são apresentados os resultados das deformações horizontais e
verticais para a condição stand alone. Nas figuras 109 e 110, nota-se que a
Resultados e Discussões 119
deformação horizontal ocorre com valores máximos (em vermelho) na região de
plastificação da formação (próximo ao ponto 02 – ocorrência do break-out).
Figura 109 – Deformação horizontal na condição stand alone.
Figura 110 – Detalhe da deformação horizontal na condição stand alone.
As deformações verticais são apresentadas nas figuras 111 e 112. Nelas,
nota-se a concentração dessas deformações na região em vermelho no topo da
parede do poço. O contorno em azul, que define a região de plastificação,
apresenta deformações verticais mínimas.
Resultados e Discussões 120
Figura 111 – Resultado da simulação da deformação vertical para o modelo stand alone.
Figura 112 – Detalhe da deformação vertical para o modelo stand alone.
Como as medidas do modelo físico foram realizadas na parte interior da
tela, as figuras 113 e 114 apresentam os resultados das deformações
tangenciais horizontais e verticais na parede do poço para os pontos 01 e 02,
respectivamente.
Resultados e Discussões 121
Figura 113 – Deformações verticais e horizontais elásticas na tela na condição stand
alone.
Figura 114 – Tensão (MPa) X Deformação Tangencial - stand alone (convenção
Abaqus).
A deformação tangencial (figura 114) só inicia após o contato formação-
tela, que ocorre quando a aplicação da tensão vertical chega a 24 MPa. Nessa
figura, pode-se relacionar o resultado obtido com o do ensaio com a tela
encostada, onde inicialmente o ponto 01 sofre tração, adquirindo valores de
deformação tangencial positivos, e depois sofre compressão (a partir de
55,16 MPa). Nesse caso (stand alone), a tela também sofre compressão no
ponto 01 inicialmente e depois extensão.
Resultados e Discussões 122
Com relação à deformação tangencial no ponto 02, a mudança da
tendência apresentada até a tensão de 53,78 MPa pode ser justificada pelo
contato formação-tela no topo da tela (ponto 01), resultando em deformações de
contração no ponto 02.
A seguir, são apresentados os resultados referentes à deformação plástica
equivalente (PEEQ). Esses valores foram maiores do que os obtidos na
simulação para os casos de tela centralizada e encostada.
Figura 115 – Deformação plástica equivalente na condição stand alone.
Figura 116 – Deformação plástica equivalente na condição stand alone e analogia com
modelo físico.
Resultados e Discussões 123
A plastificação da formação ocorreu de maneira bastante similar à descrita
por Chavez (2011) para o modelo físico. A figura 116 apresenta os resultados da
plastificação equivalente na tela e nela observa-se que as maiores deformações
foram nas regiões em verde e vermelho destacadas.
A figura 117 mostra que o escoamento da formação ocorreu com uma
tensão aplicada no topo do bloco de 7,41 MPa. No gráfico pode-se observar que
a deformação plástica não se estabiliza como nos outros modelos. A deformação
plástica máxima foi de 1,2, valor 100 vezes maior do que o obtido nos outros
ensaios. Vale lembrar que a etapa de confinamento e o acréscimo de tensão
aplicadas nessa simulação foram maiores do que nos outros modelos.
Figura 117 – Deformação plástica equivalente (PEEQ) X Tensão Vertical (MPa) - stand
alone.
Nas figura 118 a 120, são apresentados os resultados da distribuição das
tensões horizontais e verticais na formação e na tela. Observa-se que as
tensões horizontais foram maiores no contato da tela com a região de
plastificação da formação. Em relação às tensões verticais (figura 119), essas se
concentraram no entorno do poço, com alguns picos no contato com a tela
(amarelo). Os valores das tensões verticais e horizontais nas telas podem ser
visualizados na figura 120.
Resultados e Discussões 124
Figura 118 – Tensão horizontal na condição stand alone.
Figura 119 – Tensão vertical na condição stand alone.
Resultados e Discussões 125
Figura 120 – Tensões horizontais e verticais na tela para condiçãos stand alone.
Os resultados das tensões ao longo da tela (figura 120) mostram que as
regiões que apresentaram as maiores tensões (233 MPa para tensão horizontal
e 2100 MPa para tensão vertical) coincidiram com as regiões de plastificação na
tela do poço mostradas anteriormente. Isso se deve à tensão de escoamento
adotada para o material da tela, que foi de 484 MPa.
Em seguida, são apresentados os resultados da distribuição das tensões
principais na parede da tela (figura 121 e figura 122). Observa-se que a tensão
principal maior apresentou valor máximo na região de plastificação da tela,
chegando a 105,4 MPa. Da mesma forma, as tensões principais menores se
concentraram na parte inferior da tela atingindo 13,2 MPa.
Resultados e Discussões 126
Figura 121 – Tensão principal maior na tela para condição stand alone.
Figura 122 – Tensão principal menor na tela para condição stand alone.
Resultados e Discussões 127
5.2. Comparação Numérico-Experimental
Nesta seção são realizadas comparações entre os resultados dos modelos
numéricos com os resultados obtidos experimentalmente por Chavez (2011).
5.2.1. Comparação na Condição de Tela Centralizada
A Figura 123 apresenta os resultados obtidos por Chavez (2011) para os
deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02 dentro do tubo (tela centralizada).
Figura 123 – Tensão X Deslocamento por Chavez (2011): a)bloco A-1a; b)bloco A-1b;
c)bloco A2; d)bloco A3.
O item (b) da figura 123 apresenta valores bastante discrepantes dos
demais gráficos devido à ruptura sofrida pelo bloco durante o ensaio. Para a
comparação dos resultados numérico-experimental (figura 124), foi utilizado o
gráfico (d) da figura 123.
Como apresentado na figura 124, durante a etapa de confinamento (até
4,13 MPa) não foram observados grandes deslocamentos. No modelo numérico,
isso se deve ao comportamento não linear do gravel, que apresenta um módulo
de elasticidade inicial de 900 kPa e que aumenta conforme o crescimento da
pressão aplicada (200 MPa). Assim, o gravel, nesta primeira etapa, tende a se
Resultados e Discussões 128
deformar mais e a suportar as tensões hidrostáticas aplicadas. Já na etapa de
acréscimo de tensão vertical, o enrijecimento do gravel acaba transmitindo as
tensões para a parede da tela.
As curvas obtidas na simulação numérica para os deslocamentos radiais
nos pontos 01 e 02 foram bastante satisfatórias quando comparadas aos
resultados experimentais. Até a aplicação da tensão vertical de 6,89 MPa, os
valores foram bastante condizentes e o comportamento do modelo numérico foi
muito parecido com aquele observado.
A diferença obtida para os valores finais (11,03 MPa), tanto para os
deslocamentos verticais quanto para os horizontais, pode ser justificada pelo
Abaqus ser um programa de elementos finitos e, por isso, não conseguir
representar fielmente o gravel. Além disso, a utilização do modelo constitutivo de
Mohr Coulomb pode não ser o ideal para a simulação.
Figura 124 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02
(resultados experimentais e obtidos numericamente na condição de tela centralizada).
A figura 125 mostra os resultados das deformações tangenciais obtidos
experimentalmente. Vale lembrar que o programa adota compressão como valor
negativo e tração como positivo, o oposto ao adotado no experimento.
Resultados e Discussões 129
Figura 125 – Tensão X Deformação na condição de tela centralizada por Chavez (2011).
Figura 126 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos pontos 01 e 02
(resultados experimentais e obtidos numericamente na condição de tela centralizada).
A comparação dos resultados da simulação numérica é apresentada na
figura 126 e indica valores próximos em relação aos experimentais. Até a tensão
de 9,65 MPa, a deformação tangencial no ponto 01 se comportou de maneira
bastante similar àquela medida no modelo físico. Com relação à deformação
tangencial do ponto 02, apesar da concordância não ter sido tão boa quanto a do
ponto 01, apresentou valores finais muito próximos.
Resultados e Discussões 130
5.2.2. Comparação na Condição de Tela Encostada
Nesta seção são comparados os resultados apresentados no item 5.1.2
com aqueles obtidos no modelo físico por Chavez (2011). A figura 127 ilustra os
resultados laboratoriais para os deslocamentos radiais dentro do tubo (ponto 01
e 02 da figura 78). O item (a) dessa figura mostra valores exagerados com
relação aos demais gráficos devido à ruptura sofrida pelo bloco durante o ensaio.
Para comparação dos resultados, tanto a parte numérica quanto a experimental
(figura 127 item c) foram sobrepostas, gerando a figura 128 a seguir.
Figura 127 – Tensão X Deslocamento por Chavez (2011): a)bloco B-1; b)bloco B-2;
c)bloco B3.
Resultados e Discussões 131
Figura 128 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02
(resultados experimentais e obtidos numericamente na condição de tela encostada).
Como apresentado na figura 128, durante a etapa de confinamento (até
4,13 MPa), foram observados pequenos deslocamentos tanto para a análise do
modelo físico quanto para a análise numérica. No modelo numérico, isso se deve
ao modelo constitutivo utilizado e à não linearidade do gravel.
Assim, no início, o gravel suporta maiores deformações devido ao seu
baixo módulo de elasticidade e evita que as tensões sejam transmitidas para a
tela. Como a geometria do modelo permite que haja contato entre a tela e a
formação no bordo inferior da mesma, os deslocamentos radiais no ponto 01 são
diferentes de zero na etapa de confinamento. Já na etapa de acréscimo de
tensão vertical, o enrijecimento do gravel, provavelmente, acaba transmitindo as
tensões na parede da tela e, como pode ser observado, o deslocamento radial
no ponto 01 acaba sendo maior do que no ponto 02.
A figura 129 apresenta os resultados das deformações obtidas
experimentalmente.
Resultados e Discussões 132
Figura 129 – Tensão X Deformação na condição de tela encostada por Chavez (2011).
Figura 130 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos pontos 01 e 02
(resultados experimentais e obtidos numericamente na condição de tela encostada).
A figura 130 mostra a comparação entre os resultados das deformações
obtidas experimentalmente e numericamente. Os resultados numéricos, apesar
de não serem precisos nos valores finais, apresentaram o mesmo
comportamento obtido experimentaemente, ou seja, o ponto 02 (figura 78) sofreu
extensão e depois contração, enquanto o ponto 01 sofreu apenas contração.
Resultados e Discussões 133
5.2.3. Comparação na Condição Stand Alone
A figura 131 apresenta os resultados obtidos por Chavez (2011) para os
deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02 dentro do tubo (stand alone).
Figura 131 – Tensão X Deslocamento por Chavez (2011).
Figura 132 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02
(resultados experimentais e obtidos numericamente na condição stand alone).
Como comentado no item 5.1.3, os detritos oriundos da ruptura da
formação só entram em contato com a tela na tensão de 27,58 MPa. Isso difere
um pouco da figura 131, onde percebe-se o início do deslocamento radial do
ponto 01 (azul – horizontal) a 13,79 MPa e a 20,68 MPa no ponto 02 (vermelho –
vertical). O fato de o modelo utilizado ser de natureza contínua e não considerar
a natureza discreta da produção de sólidos, pode não reproduzir de forma fiel os
detritos originados da formação, explicando a diferença nos resultados.
Resultados e Discussões 134
No entanto, o comportamento da tela tanto para o modelo numérico
quanto para o experimental foram bastante semelhantes, apresentando as
mesmas tendências. Como as tensões utilizadas no modelo numérico foram
além das utilizadas no experimento, até 34,47 MPa, o modelo pode ser validado.
Conclui-se que, para fins de engenharia, o programa consegue reproduzir bem o
comportamento do sistema formação-tela.
A figura 133 apresenta os resultados das deformações obtidos
experimentalmente. As medições de deslocamento e deformação foram feitas
em blocos diferentes, logo, observa-se que os níveis de tensão atingidos para
deformação (48,26 MPa) foram maiores do que os atingidos para o
deslocamento (34,47 MPa – figura 131).
Figura 133 – Tensão X Deformação por Chavez (2011).
Figura 134 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos pontos 01 e 02
(resultados experimentais e obtidos numericamente na condição stand alone).
Resultados e Discussões 135
A figura 134 mostra a comparação entre os resultados das deformações
obtidos experimentalmente e numericamente. Os resultados numéricos
apresentaram a mesma tendência dos valores obtidos no modelo físico, ou seja,
o ponto 01 (figura 101) sofreu extensão e depois começou a sofrer contração,
enquanto o ponto 02 sofreu apenas contração.
5.3. Comparação dos Resultados dos Ensaios na Condição de Tela Centralizada e Encostada
Neste item, os resultados obtidos numericamente para os modelos na
condição de tela centralizada e encostada serão comparados e analisados.
A figura 135 mostra a comparação entre os deslocamentos radiais na tela
centralizada e encostada. Observa-se que o deslocamento radial do ponto 01 da
tela centralizada é menor do que na tela encostada, no entanto, o deslocamento
radial no ponto 02 da tela centralizada é bastante parecido com o da encostada.
O fato do deslocamento radial no ponto 01 ser maior para a tela encostada se
deve ao contato formação-tela, que transmite diretamente os esforços, uma vez
que o gravel suporta as tensões de confinamento do modelo.
Figura 135 – Tensões verticais aplicadas e deslocamentos radiais nos pontos 01 e 02
(comparação dos resultados obtidos numericamente na condição de tela centralizada e
encostada).
Da mesma forma, a figura 136 apresenta a comparação entre as
deformações tangenciais para a tela centralizada e encostada. Os resultados,
apesar de próximos, mostram que a tela centralizada apresenta maiores
Resultados e Discussões 136
deformações nos pontos analisados do que a tela encostada. Apesar disso, os
resultados finais para os dois modelos foram muito similares.
Figura 136 – Tensões verticais aplicadas e deformações tangenciais nos pontos 01 e 02
(comparação dos resultados obtidos numericamente na condição de tela centralizada e
encostada).
Com a validação dos modelos da tela centralizada e encostada, é
interessante analisar o comportamento das tensões atuantes na tela. Para isso,
a figura 137 apresenta a variação da tensão principal máxima de cada modelo
de acordo com a aplicação do carregamento. Por coincidência, o ponto 01 foi o
local onde foi observado o maior valor da tensão principal maior no final da
aplicação do carregamento (tensão vertical) nos dois modelos.
Figura 137 – Tensões verticais aplicadas e tensão principal máxima no ponto 01
(comparação dos resultados obtidos numericamente na condição de tela centralizada e
encostada).
Resultados e Discussões 137
De acordo com a figura 137, nota-se que em 6,89 MPa (tensão vertical
aplicada), a tela encostada chega a valores quatro vezes maiores de tensão
principal maior do que na tela centralizada (tela centralizada – 1,5 MPa; tela
encostada – 5,63 MPa). No entanto, a tela centralizada acaba sofrendo maiores
tensões de compressão no final da simulação, apesar desses valores serem
muito próximos dos obtidos na simulação da tela encostada.
6. Conclusões e Oportunidades de Estudos Futuros
O presente trabalho buscou avaliar as tensões atuantes no sistema de
contenção de sólidos (gravel packing) e stand alone instalados em uma
formação com potencial de produção de sólidos. Para isso, foram utilizados o
modelo elastoplástico 2D e o critério de ruptura de Mohr Coulomb.
Inicialmente, foi realizada uma análise elástica, somente com a formação,
que apresentou resultados satisfatórios em comparação com a solução analítica
de Kirsch, ratificando os resultados apresentados pelo programa Abaqus. Nestes
resultados, pode-se observar que as tensões tangenciais e radiais tendem a um
valor próximo ao carregamento aplicado após 4 a 5 vezes o comprimento do raio
do poço, como analisado anteriormente pela solução analítica. Da mesma forma,
observa-se o efeito de concentrações de tensões próximas à parede do poço.
Após isso, foram realizados 3 tipos de simulação em analogia aos ensaios
de Chavez (2011) nas condições de: tela centralizada, tela encostada e stand
alone. Nos experimentos realizados por Chavez (2011) não foram analisados
valores de deformabilidade e resistência (modelos constitutivos) para o gravel e
valores de pós-pico para o arenito sintético (formação). Logo, foi preciso estimar
esses dados que não foram encontrados na literatura. Esta estimativa foi
embasada nos resultados alcançados nos ensaios experimentais.
A resistência ao colapso da tela foi analisada considerando apenas o tubo
base (latão/tela) como o responsável pela rigidez do conjunto telado. Para os
ensaios nas condições de tela centralizada e encostada foi utilizado o gravel
packing no espaço anular entre o latão/tela e a formação.
Para o caso da tela centralizada, os resultados obtidos numericamente
foram comparados com os resultados de Chavez (2011). Observou-se que,
durante o confinamento, o gravel não transmite as tensões oriundas da formação
no latão. Assim, o gravel, nessa primeira etapa, tende a se deformar mais e a
suportar as tensões hidrostáticas aplicadas e na etapa de acréscimo de tensão
vertical, a compactação do gravel acaba repassando as tensões na parede da
tela.
Conclusões e Oportunidades de Estudos Futuros 139
Com relação à tela encostada, o mesmo comportamento é notado.
Todavia, a geometria do modelo permite que haja contato entre a tela e a
formação no bordo inferior da mesma, permitindo os pequenos deslocamentos
observados.
Os resultados referentes à deformação tangencial da tela nos pontos
estudados mostraram que para o ensaio da tela centralizada, o latão sofre
compressão devido ao “enrijecimento” do gravel. Já no ensaio da tela encostada,
devido à sua geometria, no bordo superior do latão, observa-se que este ponto
sofre inicialmente extensão e, em um determinado estado de tensões, sofre
contração. Nos dois ensaios, foi percebida uma pequena plastificação da
formação.
A tela encostada apresentou maiores valores de deslocamento radial no
ponto 01 e deformações tangenciais no ponto 02 quando comparada com os
resultados da tela centralizada. Da mesma forma, observa-se que a plastificação
sofrida pela formação ocorre antes no modelo da tela centralizada. No entanto,
observou-se que apesar da tela centralizada e da tela encostada apresentarem
deformações e deslocamentos próximos, as tensões sofridas pelo latão foram
bastante diferentes para cada ensaio.
O algoritmo do tipo explícito é utilizado para o modelo stand alone devido à
alta não linearidade e às grandes deformações sofridas na simulação. Os
resultados obtidos para o modelo stand alone apresentaram o mesmo
comportamento apresentados por Chavez (2011). Entretanto, os valores
medidos em cada análise (numérico e experimental) podem ser validados até um
determinado estado de tensões. Isso acontece por causa da plastificação e
consequente produção de sólidos que ocorre no modelo experimental. Tal
fenômeno não pode ser fielmente representado pelo modelo constitutivo
utilizado, visto que foi utilizado um programa de elementos finitos que não
representa fielmente o processo de ruptura.
Por fim, a modelagem tela/gravel/formação com o comportamento
elastoplástico leva a bons resultados quando comparados aos ensaios, apesar
de não representar o comportamento de materiais granulares como discreto, e
das limitações do critério de ruptura utilizado.
Conclui-se que a utilização do sistema de contenção utilizando gravel
packing pode trazer maior estabilidade ao poço, dado que as tensões
hidrostáticas eram suportadas pelo gravel que se deformava e não as repassava
para a tela.
Conclusões e Oportunidades de Estudos Futuros 140
Com este estudo foi possível avaliar o comportamento do gravel bem como
o comportamento pós-pico da formação e com isso pode-se observar os
esforços relacionados às propriedades geomecânicas da formação,
possibilitando, assim, o dimensionamento do tubo de acordo com as suas
condições de operação.
Para trabalhos futuros, é sugerido o uso de outro modelo constitutivo que
não seja Mohr Coulomb. A maior desvantagem do modelo de Mohr-Coulomb é a
existência dos vértices (pontos de inflexão), o que requer tratamentos numéricos
especiais. Sob um ponto de vista computacional, seria vantajoso suavizar estas
regiões.
Seria também interessante implementar um comportamento não linear
para a parcela elástica da formação.
Outro fator limitante do modelo numérico foi a dificuldade de obter os
parâmetros do gravel. Sugere-se a realização de ensaios para obtenção de
parâmetros da deformabilidade do gravele de valores do comportamento pós-
pico da rocha para comparação com os valores utilizados no modelo (stand
alone).
A utilização de elementos finitos pode não representar de forma adequada
o comportamento de materiais granulares. Então, é indicada a utilização de uma
análise FEM-DEM que simule o comportamento granular do gravel e da
plastificação da formação observada no modelo stand alone.
Além disso, sugere-se o desenvolvimento de um modelo que considere
atrito nas regiões de contato formação-gravel e formação-tela. Em sequência,a
utilização de um modelo 3D com diferentes tipos de telas, como a tela premium,
e um modelo experimental com essas telas para comparação dos resultados.
7 Referências
Abaqus - Theory manual, version 6.10. Abbassian F.; S.H.L. Parfitt. A simple model for collapse and post-collapse behavior of tubulars with application to perforated and slotted liners. SPE 51188 Drilling & Completion, Volume 13, Number 3, sep. 1998, p.190-196. Atkinson, J. H. and P. L. Bransby.The Mechanics of Soils, An Introduction to Critical State Soil Mechanics, McGraw-Hill, London, 1978 Barreto, J.B.; Silvia, S.V.; Guimarães H.J.S.; Silvia, F.C.; Paixão, C.R.; Nogueira, L.S. Elaboração de um projeto de gravel pack como sistema de contenção de areia em poços de petróleo: estudo de caso na bacia de campos - uma visão por gerência de projetos. Enegep, 2007. Bathe, K.J. Finite element procedures in engineering analysis, Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1982. Bennett, C; Gilchrist, J.M.; Pitoni, E.; Burton, R.C.; Hodge,R.M.; Troncoso, J.; Ali, S.A; Dickerson, R.; Parlar, M.; Smith, C.P. Design methodology for selection of horizontal open-hole sand control completions supported by field case histories, SPE 65140 European Petroleum Conference, 24-25 oct. 2000. Brady, B.H.G; Brown, E.T. Rock mechanics for underground mining, 3rd ed. London: Klumer Academic Publishers. 2005 Chou, P. C., Pagano, N. J. Elasticity: Tensor, dyadic and engineering approaches. Princeton: Van Nostrand, 1967. 290p. Desai C.S. Elementary finite element method. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1979. Chavez, R.R.L. Ensaios em célula cúbica de grandes dimensões para estudo de medidas de contenção de sólidos em poços de petróleo. 2011. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
Felipe, G.A.; Vasconcellos K.V.; Barroso, E.V.; Vargas, E.A.; Santos, J.B. Estudo da contribuição do fabric de arenitos na susceptibilidade ao processo de produção de areia. 3° Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, 2005. Fish,J.; Belytschko,T. A first course in finite elements, 2nd Ed , [s.l.]: John Wiley & Sons, 2007, 241p. FJÆR, E.; Holt, R. M.; Horsrud, P.; Raaen, A. M.; Risnes, R. Petroleum related rock mechanics, 2nd Ed , [s.l.]: Elsevier Science, 2008.
Revisão Bibliográfica 142
Frind, E.O. Groundwater Modelling (Numerical Methods), University of Waterloo, 1993 Kim, S.H. A predictive model for sand production in poorly consolidated sands. 2010. 80p. Master of Science in Engineering, University of Texas, Austin, 2010. Kirsch, G. Die Theorie der Elastizität und die Bedürfnisse der Festigkeitslehre . Zeitschrift des Vereines Deutscher Ingenieure, 42:797–807, 1898. Machado, F.A. Desenvolvimento de critério para seleção de material para empacotamento de gravel em poços produtores horizontais não revestidos. 2003. 154p. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Norte Fluminense, Rio de Janeiro,2003. Mendonsa, H.M.X. Sobre a modelagem de problemas da engenharia geotécnica pelo método de elementos finitos. 2005. 157p. Dissertação de Mestrado,Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Morita, N. et al. Realistic Sand-production Prediction: Numerical Approach, SPE Production Engineering, Volume 4, Number 1, feb. 1989, p.15-24. Naylor, D.J.; Pande, G.N.; Simpson, B.; Tabb, R. Finite elements in geotechnical engineering, Swansea: Pineridge Press, 1981, 245p. Rosa, F.S. N.; Bianco, L.C.; Barata, P.A. New well design using expandable screen reduces rig time and improves deep water oil production in Brazil. SPE 79791-MS, 2003. Santos, A.R. Análise do colapso de telas utilizadas em sistemas de contenção de areia em poços horizontais. 2007. 123p. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Silva, F.S.B. Análise paramétrica da aplicabilidade da tecnologia de controle da produção de areia em poços de petróleo. 2008. 104p. Dissertação de Graduação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Silvestre, J.R. Análise numérica de estabilidade de poços de petróleo com relevância a produção de areia. 2004. 133p. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004 Thomas, J.E.; Triggia, A.A.; Correia, C.A.; Verotti, C.; Xavier, J.A.D.; Machado, J.C.V.; Souza, J.E.; de Paula, J.L.; De Rossi, N.C.M; Pitombo, N.E.S.; Gouvea, P.C.V.M.; Carvalho, R.S. Barragan, R.V. Fundamentos de engenharia de petróleo, 2nd Ed , Rio de janeiro: Interciência: PETROBRAS, 2004. Tiffin, D. L.; King, G. E.; Larese, R. E.; Britt, L. Kl. New criteria for gravel and screen selection for sand control, SPE Formation and Damge Control Conference, Louisiana, 18-19 feb. 1998. Villarroel, F.M.G. Simulação física do comportamento mecânico de poços de petróleo. 2009. 123p. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.