tendinose calcificante do mÚsculo supra- espinhoso … · prof. cattelan , pelas incríveis...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL TENDINOSE CALCIFICANTE DO MÚSCULO SUPRA- ESPINHOSO EM CÃES Maria Lígia de Arruda Mestieri Orientador: Prof. Dr. João Guilherme Padilha Filho Co-orientadores: Prof. Dr. Martin Kramer JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Novembro de 2008 Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Cirurgia Veterinária.

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Page 1: TENDINOSE CALCIFICANTE DO MÚSCULO SUPRA- ESPINHOSO … · Prof. Cattelan , pelas incríveis sugestões e palavras amáveis no exame de qualificação. Prof. Gener , pelas correções

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA F ILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CÂMPUS DE JABOTICABAL

TENDINOSE CALCIFICANTE DO MÚSCULO SUPRA-

ESPINHOSO EM CÃES

Maria Lígia de Arruda Mestieri

Orientador: Prof. Dr. João Guilherme Padilha Filho

Co-orientadores: Prof. Dr. Martin Kramer

JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Novembro de 2008

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Cirurgia Veterinária.

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Mestieri, Maria Lígia de Arruda

M586t Tendinose calcificante do músculo supra-espinhoso em cães / Maria Lígia de Arruda Mestieri. – – Jaboticabal, 2008

xii, 139 f. : il. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Ciências Agrárias e Veterinárias, 2008 Orientador: João Guilherme Padilha Filho

Banca examinadora: Júlio Carlos Canola, Paola Castro de Moraes, Naida Cristina Borges, Fernando de Biasi

Bibliografia 1. Cão. 2. Tendinose. 3. Supra-espinhoso. I. Título. II.

Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias.

CDU 619:616.75:636.7 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal.

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“Com o poder da sua mente, determinação, instinto e experiência, você pode voar

muito alto”

Ayrton Senna

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Dedico à minha família:

Meu querido esposo, João Paulo, que apesar da Meu querido esposo, João Paulo, que apesar da Meu querido esposo, João Paulo, que apesar da Meu querido esposo, João Paulo, que apesar da

distância e obstáculos para realização deste distância e obstáculos para realização deste distância e obstáculos para realização deste distância e obstáculos para realização deste e de outros e de outros e de outros e de outros projetoprojetoprojetoprojetossss pessoa pessoa pessoa pessoaisisisis, me , me , me , me

apoiou apoiou apoiou apoiou total e total e total e total e incondicionalmente. A você, não incondicionalmente. A você, não incondicionalmente. A você, não incondicionalmente. A você, não apenasapenasapenasapenas este humilde trabalhoeste humilde trabalhoeste humilde trabalhoeste humilde trabalho

hoje...hoje...hoje...hoje... mas meu amor mas meu amor mas meu amor mas meu amor, sempre, sempre, sempre, sempre....

Aos meus amados pais e irmã, Maria José, Agenor e Maria Júlia, em quem me Aos meus amados pais e irmã, Maria José, Agenor e Maria Júlia, em quem me Aos meus amados pais e irmã, Maria José, Agenor e Maria Júlia, em quem me Aos meus amados pais e irmã, Maria José, Agenor e Maria Júlia, em quem me

espelho como pessoa e encontro, sempre, um porto espelho como pessoa e encontro, sempre, um porto espelho como pessoa e encontro, sempre, um porto espelho como pessoa e encontro, sempre, um porto ensolarado de lealdade e ensolarado de lealdade e ensolarado de lealdade e ensolarado de lealdade e

segurançasegurançasegurançasegurança....

Ao meu adorado Ao meu adorado Ao meu adorado Ao meu adorado amigoamigoamigoamigo de todas as horas, de todas as horas, de todas as horas, de todas as horas, Lucca, do qual a realização deste Lucca, do qual a realização deste Lucca, do qual a realização deste Lucca, do qual a realização deste

trabalho me privou de trabalho me privou de trabalho me privou de trabalho me privou de desesperadoresdesesperadoresdesesperadoresdesesperadores, frios e irreversíveis 12 meses de sua , frios e irreversíveis 12 meses de sua , frios e irreversíveis 12 meses de sua , frios e irreversíveis 12 meses de sua

deliciosa deliciosa deliciosa deliciosa e insubstituível companhiae insubstituível companhiae insubstituível companhiae insubstituível companhia. . . .

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Agradeço

A Deus, que me deu força, determinação, saúde e condições para terminar essa

pesquisa.

Aos meus orientadores:

Prof. João Guilherme Padilha Filho, Prof. Júlio Carlos Canola e Prof. Martin

Kramer que, cada um à sua maneira, permitiram e contribuíram fundamentalmente na

realização deste trabalho.

Aos meus amigos:

Prof. JG, sempre amável e solidário em partilhar suas experiências, tanto

profissionais como pessoais, por mais de sete anos de convívio e supervisão.

Prof. Canolinha, muito mais que um professor competente, mas um amigo e

conselheiro em tempo integral, de quem já sinto saudades.

Profa. Cíntia, por toda prontidão em me ajudar, não somente no exame de

qualificação, mas desde “os tempos da odonto”. É bom saber que nossa amizade

transcorre o tempo.

Prof. Gerwing, que me acolheu em Giessen, diferentemente dos demais, como

uma colega profissional, sempre com respeito e gentileza.

Dani (Cardiobozo), Lingüiça, Dedo, Beto, Andrezão, Andrigo, Gustavinho,

Aladim, Gaúcho, Daniel Gerardi, Luis, Serginho, Cida, Emílio, Tassila, Carol, Bituca e

aos recentes integrantes do Antro do HV que praticamente adotoram meu Hirórinho e

deram muita força pro Jpep, quando eu estive fora do Brasil.

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Paula (Paul), companheira de longa data e antigas desventuras, que conhece,

melhor que ninguém, a falta que fez terra, amigos, sol e sorrisos no período que

realizamos nosso projeto.

Virgínia, Marcão e Maria Júlia, nova família e padrinhos que trouxeram alegria às

nossas vidas e cujos encontros tornaram nossos dias mais leves e produtivos.

Friedericke, grande amiga, que comprovou que a barreira da língua e dos

costumes pode ser muito bem transposta, quando se tem boa vontade, carisma e

companheirismo.

Antje Wigger, Cornelia Hübler, Steffanie Klenner e Andreas Fischer, mais que

simples colegas de trabalho, amigos que se permitiram maior contato e algumas boas

risadas. Vocês fizeram a diferença.

Diana Goeck, Tanja Grisier, Sandra Klein, Nadine, Verena Ostermayer, Michael

Zwick, Charlotte Günther, Payam e Feri, Tanja Golla, Martin Schmidt e Miriam Scheich

que, direta ou indiretamente, me ajudaram no dia-a-dia em Giessen e na realização

deste projeto.

Profa. Paola, mais que um membro da banca... Alguém que sei que posso contar

e tem sangue de orientadora correndo em suas veias.

Profa. Naida, foi uma honra tê-la conosco, seu otimismo, amizade e

profissionalismo são e serão sempre muito bem-vindos. Saudades das tardes no “copo

sujo”...

Prof. Fernando, bom saber que de tempos difíceis se extraiu uma boa amizade.

Obrigada pelos ensinamentos em Rio Preto e pelas considerações neste trabalho.

Prof. Cattelan, pelas incríveis sugestões e palavras amáveis no exame de

qualificação.

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Prof. Gener, pelas correções da análise estatística.

Aos meus familiares:

Pertencentes à família Arruda e Mestieri, que fizeram uma corrente positiva para

que tudo relacionado a esta pesquisa se desenrolasse da melhor forma possível.

Pertencentes às famílias Exaltação, Pascon, da Paz e Teixeira, que sempre são

uma grande torcida organizada do bem, quando se trata de dar suporte para realização

dos nossos sonhos e, além disso, apoiaram muito nosso João Paulo durante minha

ausência.

Ao apoio financeiro:

CAPES, pela bolsa de doutorado no Brasil e na Alemanha.

FAPESP, pelo auxílio pesquisa concedido.

Outros:

Aos professores da UNESP, todos sem exceção, que contribuíram, ao longo de

todos esses anos, para minha formação, pós-graduação e vontade de me tornar,

também, professora.

À Pós-graduação em Cirurgia Veterinária, que permitiu a realização do sonho de

me tornar doutora nesta área.

A todos os animais que, involutariamente, foram incluídos no presente trabalho e

contribuíram para que se ampliasse o conhecimento sobre a afecção estudada.

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SUMÁRIO

Página

LISTA DE TABELAS ..................................................................................... iii

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................... v

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................... 1

1.1 Anatomia do ombro canino ................................................................ 1

1.2 Anatomia comparada ......................................................................... 3

1.3 Etiopatogenia da tendinose calcificante do m. supra-espinhoso ....... 4

1.4 Importância clínica da tendinose calcificante do m. supra-espinhoso 7

1.5 Referências ........................................................................................ 9

CAPÍTULO 2 - ESTUDO RETROSPECTIVO DE TENDINOSE

CALCIFICANTE DO MÚSCULO SUPRA-ESPINHO EM CÃES ................... 15

RESUMO .......................................................................................................

ABSTRACT ...................................................................................................

15

16

2.1 Introdução e revisão de literatura .................................................... 17

2.2 Material e Métodos .......................................................................... 24

2.2.1 Animais e local ..................................................................... 24

2.2.2 Variáveis estudadas ............................................................. 24

2.2.2.1 Avaliação clínico-epidemiológica .............................. 24

2.2.2.2 Avaliação radiográfica ............................................... 25

2.2.2.3 Avaliação ultra-sonográfica ....................................... 26

2.2.3 Descrição dos achados ........................................................ 27

2.3. Resultados ................................................................................... 27

2.3.1. Achados clínico-epidemiológicos ........................................ 27

2.3.2 Achados radiográficos .......................................................... 37

2.3.3 Achados ultra-sonográficos .................................................. 44

2.4 Discussão ..................................................................................... 52

2.5 Conclusões ................................................................................... 62

2.6 Referências .................................................................................. 63

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ii

CAPÍTULO 3 - DIAGNÓSTICO POR IMAGEM DE TENDINOSE

CALCIFICANTE DO MÚSCULO SUPRA-ESPINHOSO EM CÃES .............. 72

RESUMO ....................................................................................................... 72

ABSTRACT ................................................................................................... 73

3.1 Introdução e revisão de literatura .................................................... 74

3.2 Material e métodos .......................................................................... 82

3.2.1 Animais e local ........................................................................ 82

3.2.2 Avaliação clínico-epidemiológica ............................................ 83

3.2.3 Protocolo anestésico .............................................................. 83

3.2.4 Avaliação radiográfica ............................................................ 84

3.2.5 Avaliação ultra-sonográfica .................................................... 85

3.2.6 Avaliação por tomografia computadorizada ........................... 87

3.2.7 Avaliação por imagem de ressonância magnética ................. 90

3.2.8 Avaliação das imagens e análise estatística .......................... 91

3.3 Resultados ...................................................................................... 92

3.3.1 Achados clínico-epidemiológicos ............................................ 92

3.3.2 Achados radiográficos ............................................................ 95

3.3.3 Achados ultra-sonográficos .................................................... 98

3.3.4 Achados da tomografia computadorizada .............................. 104

3.3.5 Achados à ressonância magnética ......................................... 108

3.4 Discussão ........................................................................................ 113

3.5 Conclusões ..................................................................................... 128

3.6 Referências ..................................................................................... 129

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iii

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Capítulo 2 Página

Quadro 1. Classificação radiográfica das lesões observadas no tendão do m. supra-espinhoso, por meio de radiografias em projeção médio-lateral, de cães ...................................................................

26

Tabela 1. Descrição das alterações presentes no tendão do m. supra-espinhoso de cães, observadas por meio de radiografia e ultra-sonografia ..................................................................................... 49

Capítulo 3

Tabela 1. Relação de cães atendidos na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da JLU, Alemanha, entre julho de 2006 e julho de 2007, portadores de tendinose do m. supra-espinhoso e os procedimentos de diagnóstico por imagem neles realizados .......

82

Tabela 2. Cães atendidos na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, durante 12 meses, distribuídos segundo raça, idade, sexo, membro acometido por tendinose do m. supra-espinhoso, grau de claudicação ao exame clínico e membro acometido, alterações ortopédicas concomitantes ...............................................................................

93

Tabela 3. Descrição das alterações ultra-sonográficas presentes no tendão do m. supra-espinhoso dos cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007 .....................................

99

Tabela 4. Descrição das dimensões e respectivos desvios padrão das calcificações localizadas no tendão do m. supra-espinhoso, observadas e mensuradas por meio de tomografia computadorizada nos cortes dorsal, sagital e transversal nas janelas de tecidos moles e ósseo, de cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade de Giessen, Alemanha, julho 2006 a julho 2007 ................................

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iv

Tabela 5. Descrição das medidas mínimas, máximas e médias de

atenuação com seus desvios padrão, expressas em HU, observadas nas calcificações localizadas no tendão supra-espinhoso, mensuradas no centro e periferia da estrutura, por meio de tomografia computadorizada nos cortes dorsal, sagital e transversal nas janelas de tecidos moles e ósseo, de cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007 ..............................................................................................

107

Tabela 6: Descrição das alterações observadas às seqüências T1, T2 e STIR, no plano sagital, no tendão do m. supra-espinhoso e estruturas adjacentes de cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007. As medidas das calcificações se encontram descritas em milímetros ..............................................

109

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v

LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1 Página

Figura 1: Representação anatômica da disposição dos músculos e tendões do manguito rotador do cão. A, vista lateral; B, vista medial. Fonte: EVANS, 1993 ...................................................................................

2

Capítulo 2

Figura 1: Distribuição do número de cães radiografados de janeiro de 1996 a julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha, com suspeita de alteração ortopédica no ombro e sua divisão em dois grupos, segundo a observação de alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso ........................................................

26

Figura 2: Percentual de cães com sinais radiográficos de tendinose do supra-espinhoso atendidos na rotina hospitalar da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, entre o período de janeiro de 1996 e julho de 2006, distribuídos de acordo com a raça. (Gde: cães de diferentes raças grandes, com poucos exemplares de cada; Rott: Rottweiler; Past: grandes Pastores; Bern: Montanhês de Berna; Retr: Retrievers; SRD: cães sem raça definida; Med: cães de raças médias e pequenas).

29

Figura 3: Percentual de cães atendidos na rotina hospitalar da Clínica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, entre o período de janeiro de 1996 e julho de 2006, distribuídos segundo a faixa etária quando do diagnóstico radiográfico de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso .................................................

30

Figura 4: Percentual de cães com tendinose do m. supra-espinhoso nos cães atendidos entre janeiro de 1996 e julho de 2006, na rotina da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, de acordo com o sexo ...................................................

31

Figura 5: Percentual de cães com alteração radiográfica na região do tendão do m. supra-espinhoso bilateral (Bil.), no ombro direito (Dir.) e no ombro esquerdo (Esq.) presentes no estudo retrospectivo (janeiro de 1996 a julho de 2006) realizado na base de dados da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha .........................................................................

32

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vi

Figura 6: Distribuição do número de cães radiografados de janeiro de 1996 a julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha. Em destaque (negrito), o número de cães sintomáticos portadores de alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso (SP) e aqueles nos quais nenhuma outra alteração ortopédica foi diagnosticada ..................................................................................

34

Figura 7: Percentual de cães pertencentes ao estudo retrospectivo (janeiro de 1996 a julho de 2006) realizado na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, distribuídos segundo a conduta adotada em relação à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso. (Espec: tratamento específico – excisão cirúrgica; inesp: tratamento inespecífico; out diag.: indicação de outro método de imagem, não realizado) .......................................

35

Figura 8: Percentual de cães com sinais radiográficos de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso associado à manifestação de sinais clínicos atendidos na rotina hospitalar da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, entre o período de janeiro de 1996 e julho de 2006, distribuídos de acordo com suas raças. (Out gde: um ou dois representante de cada raça envolvida – Boxer, Dálmata, Montanhês de Berna, Dobermann, Grande Pastor Suíço, Pittbull; SRD gde: cão sem raça definida com mais de 30 kg de peso corporal; Rott: Rottweiler; Past: Pastor alemão; Retr: Retriever) ......................................................

36

Figura 9: Percentual de cães atendidos na rotina hospitalar da Clínica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, entre o período de janeiro de 1996 e julho de 2006, que apresentaram sinais radiográficos e manifestação clínica de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso, distribuídos segundo faixa etária ...................

37

Figura 10: Distribuição do número de cães radiografados entre o período de janeiro de 1996 e julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha, com suspeita de alteração ortopédica no ombro. Em destaque (negrito), o número de ombros cujas películas radiográficas e laudos foram reavaliados no presente estudo ................................

38

Figura 11: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães com alterações de grau 1. (A) Notar discreta esclerose, de margens indefinidas, na área de inserção do tendão do m. supra-espinhoso, no tubérculo maior (setas brancas); (B) Notar discreta reação periosteal ao longo da curvatura do tubérculo maior (setas brancas). Outras alterações irrelevantes, como irregularidade do sulco intertubercular (setas brancas de início redondo) e alterações artróticas na margem caudal da cabeça umeral (seta branca de início quadrado), são observadas.

39

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vii

Figura 12: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do

ombro de dois cães com alterações de grau 2. (A) Notam-se pontos radiopacos na curvatura do tubérculo maior e cranial ao mesmo (setas), interpretados como pontos de calcificação na área do tendão do m. supra-espinhoso; (B) Notar esclerose à margem da curvatura do tubérculo maior e pontos de calcificação isolados cranial ao mesmo (seta) ...................................................

40

Figura 13: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães com alterações de grau 3. (A) É possível visibilizar pequena área mais radiopaca (calcificação), de forma arredondada, sobre o tubérculo maior (seta); (B) Notar pequena área de calcificação cranial ao tubérculo maior (seta), região do tendão do m. supra-espinhoso ......................................................

40

Figura 14: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães com alterações de grau 4. (A) Notar área de calcificação sobre o tubérculo maior, intensa radiopacidade, forma levemente ovalada e bordos irregulares (seta branca); (B) Grande área calcificada é notada à curvatura do tubérculo maior (seta branca). Na mesma imagem, ínicio de sinais radiográficos de artrose sobre a superfície caudal da cabeça umeral (setas brancas de início redondo) ..............................................................

41

Figura 15: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães com alterações de grau 5. (A) Notar presença de duas áreas mais radiopacas, sobre e cranial ao tubérculo maior, de forma levemente ovalada e alongada, respectivamente, na região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso (setas); (B) Distuinguem-se múltiplas áreas de maior radiopacidade, ou calcificadas, sobre e cranial ao tubérculo maior, região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso (setas) ...........................................................................................

42

Figura 16: Percentual das alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso, distribuídas segundo classificação proposta no presente estudo (dados provenientes do arquivo de laudos e películas radiográficas da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006). **Significativo (p≤0,01), quando somados os números de radiografias cujas lesões foram classificadas como de grau 3 e 4, pelo teste das proporções .......................................

43

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viii

Figura 17: Percentual das alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso, distribuídas segundo classificação proposta no presente estudo avaliadas no grupo de cães que manifestaram sinais clínicos e nenhuma outra alteração ortopédica diagnosticada (dados provenientes do arquivo de laudos e películas radiográficas da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006). **Significativo (p≤0,01) quando somados os números de radiografias cujas lesões foram classificadas como de grau 3 e 4 pelo teste das proporções.........

44

Figura 18: Distribuição do número de cães radiografados entre o período de janeiro de 1996 e julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha, com suspeita de alteração ortopédica no ombro, aqueles com suspeita radiográfica de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso e, em destaque (negrito), o número de ombros cujos exames ultra-sonográficos foram reavaliadas no presente estudo

45

Figura 19: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso normal de cão, eixo longitudinal, realizada por meio de probe linear de 10 MHz. O tendão normal apresenta-se como área ovalada hipoecóica (setas) e homogênea, que se insere no tubérculo maior .............................................................................

46

Figura 20: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz, em eixo longitudinal. Notar heterogeneidade do tecido (setas), que normalmente apresenta-se mais hipoecóico, na inserção tendínea no tubérculo maior .........................................................................

46

Figura 21: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz em eixo longitudinal. É possível a visibilização de pontos hiperecóicos (seta) próximos à inserção tendínea no tubérculo maior umeral. O restante do tecido apresenta ecogenicidade normal, caracterizada por área arredondada hipoecóica ...............................................................

47

Figura 22: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz, eixo longitudinal. Notar área de hiperecogenicidade e contorno irregular (setas brancas), acompanhada de sombra acústica distal densa (delimitada pelas setas brancas tracejadas) .............................................................

47

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ix

Figura 23: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz em eixo longitudinal. É possível visibilizar área hiperecóica arredondada (seta branca), de superfície irregular, acompanhada de sombra acústica distal densa (setas brancas de início redondo) e circundada por halo hipoecóico (setas brancas tracejadas) sugerindo a presença de reação ao redor da calcificação .......................................................................

48

Capítulo 3

Figura 1: Imagem fotográfica (A) do aparelho de raios X utilizado para produção das radiografias; (B) do dispositivo que possibilita a digitalização da imagem; Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007 ......................................

85

Figura 2: Imagem fotográfica (A) do aparelho de ultra-som utilizado na produção das imagens dos tendões examinados; (B) do cão anestesiado, tricotomizado e posicionado para procedimento ultra-sonográfico do ombro; Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007......................................

86

Figura 3: Imagem fotográfica de cão anestesiado e submetido à tomografia computadorizada dos ombros. Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007......................

87

Figura 4: Imagem obtida por meio de tomografia computadorizada em janela de tecidos ósseos, plano dorsal, do ombro esquerdo do cão número 3 e direito do cão número 4, respectivamente. A, É possível observar como foram realizadas as medidas (mensurações perpendiculares) de dimensão da calcificação, denominadas medida máxima (7,6mm) e mínima (5,3mm). B, é possível verificar como foram realizadas as medidas (delimitação da calcificação) de área (19,2 mm2) e HU média (577,8 HU) na calcificação. Clínica Cirúrgica de pequenos animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007 ..........................................................

89

Figura 5: Imagem fotográfica do aparelho de ressonância magnética utilizado no exame dos cães incluídos neste estudo. Clínica cirúrgica de pequenos animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007 .............................................................................

91

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x

Figura 6: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral dos ombros direitos dos cães número 7 e 3, respectivamente. A, notar leve reação periosteal difusa ao longo da curvatura do tubérculo maior (setas brancas), lesão classificada como grau 1; alterações artróticas sobre a porção caudal da cabeça do úmero e cavidade glenóide (setas brancas tracejadas) e leve esclerose no sulco intertubercular podem ser notadas (seta branca de início redondo). B, notar leve aumento de radiopacidade, em forma de estria, sobre o tubérculo maior (seta branca); lesão graduada como 2..................

96

Figura 7: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral do ombro direito do cão de número 2. Notar pequena estrutura de radiopacidade aumentada sobre o tubérculo maior do úmero (seta branca), caracterizando alteração de grau 3 ................................................

97

Figura 8: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral do ombro esquerdo do cão de número 4 (A) e do ombro direito do cão de número 5 (B). (A) Notar lesões de grau 4, caracterizadas por aumento bem delimitado de radiopacidade, de formato ovalado, sobre o tubérculo maior (seta branca), além de múltiplas calcificações em sua adjacência (setas brancas tracejadas). (B) Observar presença de múltiplas estruturas calcificadas, sobreposto ao tubérculo maior e cranial ao mesmo (setas brancas), caracterizando lesões de grau 5. Notam-se, também, exostoses no sulco intertubercular (seta branca de início redondo) e tubérculo supraglenóide (seta branca tracejada) .........

97

Figura 9: Imagem ultra-sonográfica em plano longitudinal do tendão do m. supra-espinhoso do ombro esquerdo do cão número 4, obtida com transdutor linear de 12MHz e magnificada. Notar que o tendão do m. supra-espinhoso (delimitado por setas brancas) apresenta-se heterogêneo em toda sua extensão .........................

101

Figura 10: Imagem ultra-sonográfica em plano longitudinal do tendão do m. supra-espinhoso do ombro direito do cão número 6, obtida com transdutor de linear 12MHz. Notar pequenos pontos hiperecóicos (setas brancas), sem sombra acústica distal, na transição músculo-tendínea; à direita da imagem (setas tracejadas), o tubérculo maior do úmero ...............................................................

101

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xi

Figura 11: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso direito do cão número 5 em plano longitudinal, obtida com trasdutor linear de 12 MHz. Notar estrutura de superfície irregular hiperecóica (setas brancas), com sombra acústica distal (setas brancas de início redondo), na transição músculo-tendínea e irregularidades à superfície do tubérculo maior do úmero (setas brancas tracejadas) ................................................

102

Figura 12: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso esquerdo em plano longitudinal do cão número 4, obtida com trasdutor linear de 12 MHz e aplicação de Doppler colorido, o qual não detectou evidências de vascularização local .................

102

Figura 13: Imagem ultra-sonográfica em plano transversal do tendão do m. bíceps braquial do ombro direito do cão número 5, obtida com trasdutor linear de 14 MHz. A distenção moderada da bainha tendínea (setas brancas) por acúmulo de líquido, notado pela pesença de área anecóica (seta branca tracejada), associado à heterogeneidade intra-tendínea (seta branca de início redondo) denotam a existência de tenossinovite bicipital de grau 3 (Kramer et al., 2001) ......................................................................

103

Figura 14: Imagem ultra-sonográfica em plano transversal do tendão do m. bíceps braquial (setas brancas tracejadas) do ombro direito do cão número 3, obtida com trasdutor de 12 MHz. Notar que a calcificação presente no tendão do m. supra-espinhoso (setas brancas) apresenta contato com a bainha tendínea bicipital (seta branca de início redondo) .............................................................

103

Figura 15: Imagem tomográfica do ombro direito do cão número 1, em plano transversal, em janela para tecidos moles (A) e para osso (B). É possível observar a calcificação sobreposta ao tubérculo maior, no tendão do m. supra-espinhoso, e as avaliações númericas (área em mm2 e atenuação média em HU) fornecidas pelo Software da TC ..................................................

105

Figura 16: Imagem tomográfica do ombro esquerdo do cão número 4 após recontrução tridimensional das estruturas ósseas. É possível observar a calcificação (setas brancas) na região de inserção do tendão supra-espinhoso no tubérculo maior (A, vista lateral; B, frontal; C, medial) .....................................................................

108

Figura 17: Imagem obtida por ressonância magnética em corte sagital, seqüencia T1, do ombro direito do cão número 8. Notar calcificação (setas brancas) no tendão do m. supra-espinhoso caracterizada por hipointensidade de sinal ..................................

110

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xii

Figura 18: Imagens obtidas por ressonância magnética em corte sagital do ombro direito do cão número 8. (A) Seqüencia T2, notar presença de líquido (setas) no tendão do m. supra-espinhoso caracterizada por hiperintensidade de sinal. (B) Sequência com supressão de gordura (STIR), notar presença de líqüido (setas) no tendão do m. supra-espinhoso caracterizada por hiperintensidade de sinal ..............................................................

111

Figura 19: Imagem obtida por ressonância magnética em plano transversal, sequência T1, do ombro direito do cão número 5. Notar calcificação (�) identificada como estrutura mais hipointensa que o tendão d m. supra-espinhoso (seta branca tracejada) e sua proximidade à bainha do tendão bíceps braquial, que se encontra distendida (setas brancas de início redondo). O tendão bíceps braquial propriamente dito, é notado como estrutura central à bainha, mais hipointensa (seta branca) .........................................

112

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1

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 ANATOMIA DO OMBRO CANINO

A articulação do ombro é considerada uma articulação livre. Permite ao membro

torácico a realização de curvas no espaço, possibilitando movimentos em três

diferentes planos: extensão - flexão, adução - abdução e rotação limitada, garantindo,

assim, a locomoção (ROOS et al., 1993).

Sua estabilidade é dependente da cápsula articular, dos ligamentos

glenoumerais lateral e medial e dos músculos (mm.) adjacentes, cujo conjunto é

denominado “rotator cuff” ou manguito rotador. Na espécie canina, o manguito rotador é

constituído pelos mm. supra-espinhoso e infra-espinhoso, os quais se encontram,

respectivamente, nas fossas supra-espinhosa (cranial) e infra-espinhosa (caudal) da

escápula, inserindo-se na face cranial e lateral do tubérculo maior do úmero; m.

subescapular, que ocupa a fossa subescapular distalmente à face serrátil e se insere no

tubérculo menor; e m. bíceps braquial, mais cranial, originado na tuberosidade

escapular e que atravessa a fossa intertubercular sob o ligamento intertubercular

(Figura 1). Os tendões dos mm. acima descritos apresentam íntimo contato com a

cápsula articular. Além destas estruturas, outras como os músculos deltóide,

coracobraquial, redondo menor e maior proporcionam suporte à articulação, embora

não possuam contato direto com sua cápsula (CLAIR, 1986; BUTTERWORTH &

COOK, 2006).

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Figura 1 : Representação anatômica esquemática da disposição dos músculos do manguito rotador do cão e seus tendões. A, vista lateral; B, vista medial. Fonte: EVANS, 1993.

Os mm. do manguito rotador, estudados por Vasseur et al. (1982) por meio de

análise in vitro realizada em ombro de cadáveres de cães, pouco interferiram na

estabilidade estática desta articulação, após sua remoção. Embora sejam estruturas

reconhecidamente importantes para a função da articulação in vivo, seria necessário,

segundo os mesmos autores, dano à cápsula articular propriamente dita para que se

detectasse frouxidão articular. Contraditoriamente, Evans (1993) afirma que o m. supra-

espinhoso apresenta importância na estabilização e prevenção do colapso da referida

articulação, além de atuar na extensão e movimentos de avanço do membro e

demonstrar-se ativo, por meio de eletroneuromiografia, em até 65-80% dependendo da

posição.

O músculo supra-espinhoso se insere no tubérculo maior por meio de seu tendão

(EVANS, 1993). Tendões são formados por feixes de fibras colágenas unidas por tecido

conjuntivo, vasos sanguíneos e nervos. Enquanto a força tensora muscular corresponde

a 80 libras por polegada quadrada, a dos tendões atinge até 225 vezes mais, de forma

que grandes massas musculares atuem eficientemente por meio de seus pequenos

tendões (BANKS, 1992). O colágeno é o principal componente da matriz tendínea e

B

A

Músculo supra-espinhoso

Tendão do m. supra-espinhoso

Tendão do m. bíceps braquial

Músculo infra-espinhoso

Tubérculo maior do úmero

Tubérculo maior do úmero

Músculo subescapular

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constitui, aproximadamente, 75% do peso seco do tendão. Em um tendão normal, o

colágeno encontrado é do tipo I e sua estrutura diferencia-se em fibrocartilagem antes

da inserção tendínea no osso (FAN et al., 1997). A manutenção da matriz extracelular

dos tendões é realizada pelos tenócitos, responsáveis por sua síntese e degradação

mediante processo constante e bem regulado, essencial para a preservação das

propriedades estruturais do tecido (RILEY, 2005). Próximo à sua inserção no tubérculo

maior, o tendão do m. supra-espinhoso, em especial, possui região hipovascular, como

observado em estudo microangiográfico realizado por Kujat (1990).

1.2 ANATOMIA COMPARADA

Ao ser comparada a anatomia do ombro do cão à humana, nota-se que nesta

última, o ombro é dotado de vasta amplitude de movimentos tri-dimensionais e de

rotação, possibilitados pela existência de estabilizadores estáticos (cápsula articular e

seus ligamentos) e dinâmicos da articulação (TERRY & CHOPP, 2000; RONAI, 2002;

BEALL et al., 2003). Os músculos supra-espinhoso, infra-espinhoso, subescapular e,

especificamente na espécie humana, o redondo menor, com seus respectivos tendões,

são denominados de estruturas do manguito rotador e apresentam função primária de

manter a cabeça umeral dentro da cavidade glenóide da escápula, permitindo a

movimentação e garantindo a estabilidade articular (FONGEMIE et al., 1998;

CRUSHER, 2000; HALDER et al., 2002).

Estas estruturas atuam como estabilizadores dinâmicos, pressionando a cabeça

do úmero no sentido da cavidade glenóide, contrapondo-se assim, à força de abdução

do músculo deltóide, capaz de subluxar a cabeça umeral em caso de lesão de algum

destes músculos ou tendões (TERRY & CHOPP, 2000; VOLK & VANGNESS, 2001;

RONAI, 2002). O músculo supra-espinhoso atua em conjunto com o deltóide na

elevação do membro, entretanto, contribui em apenas 14% do total de força rotacional

do ombro (TERRY & CHOPP, 2000).

Apesar das diferenças anatômicas entre o ombro de cães e de humanos,

existem inúmeras semelhanças histológicas referentes ao tendão do m. supra-

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espinhoso nestas espécies. Em decorrência destas semelhanças, cães têm sido

utilizados como modelos experimentais de alterações das estruturas do manguito

rotador na medicina (SAFRAN et al., 2005). A matriz é composta predominantemente

por colágeno tipo I, representando cerca de 60% do peso seco do tendão supra-

espinhoso humano. O colágeno tipo III constitui apenas 1-2% do peso seco,

apresentando-se em proporções aumentadas após danos teciduais, particularmente

durante a fase de reparação tendínea. Fan et al. (1997) observaram que a região de

inserção do tendão supra-espinhoso possui maior quantidade de colágeno tipo III,

possivelmente por estar sujeita a maior estresse. Em seres humanos, tal qual em cães,

é possível observar a presença de região hipovascular próxima à inserção tendínea

(REES et al., 2006).

1.3 ETIOPATOGENIA DA TENDINOSE CALCIFICANTE DO M. SUPRA-ESPINHOSO

Tendinose calcificante, tendinite calcárea ou tenocalcificação do m. supra-

espinhoso foi primeiramente relatada em cães em meados da década de 1990, como

doença de origem idiopática (MUIR et al., 1996). Anos mais tarde, diversas teorias

sobre sua origem foram descritas na medicina e consideradas, apesar das diferenças

anatômicas, como possíveis etiologias na espécie canina (ANDERSON et al., 1993). A

primeira delas, a “teoria vascular”, baseou-se no fato de tendões serem tecidos

metabolicamente ativos e dependentes de suprimento sangüíneo, cujo

comprometimento poderia levar à degeneração (REES et al., 2006). O tendão do m.

supra-espinhoso, devido às suas características anatômicas, é considerado um dos

tendões mais predispostos ao comprometimento vascular. Tanto em seres humanos

quanto em cães, este tendão possui região hipovascular próxima ao tubérculo maior,

conhecida como “zona crítica”, onde há maior susceptibilidade à ocorrência de

alterações degenerativas e neovascularização (KUJAT, 1990; RE & KARZEL, 1993;

DANOVA & MUIR, 2003; REES et al., 2006).

De acordo com a “teoria vascular”, a hipóxia tendínea consistiria no fator inicial

para deposição de material calcificado, como hidroxiapatita, cursando com degeneração

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fibrocartilaginosa (HAZELMAN, 1990; KJELLIN et al., 1991; ANDERSON et al., 1993;

RE & KARZEL, 1993; FARIN, 1996).

Outra teoria, conhecida como “teoria mecânica”, também foi relatada. Esta

pressupõe que lesão por esforço repetitivo, excesso de uso e trauma repetido

acarretem fadiga do tendão e, eventualmente, levem à degeneração e conseqüente

mineralização distrófica (COFIELD, 1985; FLO & MIDDLETON, 1990 ; KJELLIN et al.,

1991; PIERMATTEI & FLO, 1999).

Muir & Johnson (1994) mencionaram que fatores mecânicos, tais como trauma

tendíneo ou ruptura, poderiam alterar a vascularização e levar à hipóxia do tendão

supra-espinhoso canino. Hipóxia pode acarretar o remodelamento do colágeno

tendíneo em fibrocartilagem, com subseqüente osteogênese condrócito-mediada. Neste

caso, os fatores vascular e mecânico atuariam em conjunto.

Mais recentemente, foi proposta a “teoria neural”. Sua fundamentação foi

baseada na observação isolada de inúmeros eventos: o fato óbvio de tendões

possuírem inervação; o uso em excesso poderia resultar em estimulação nervosa

excessiva, com degranulação de mastócitos; e os elevados níveis de substância P

(neurotransmissor), encontrada em tendinopatias do ombro em humanos, apontada

como mediador pró-inflamação. O significado destas observações ainda não foi

determinado e esta teoria ainda requer mais estudos (REES et al., 2006).

Paralelamente às teorias anteriores, acredita-se que alteração na atividade dos

tenócitos possa ter relação com a fisiopatologia da tendinopatia. Sabe-se que tenócitos

sintetizam e degradam a matriz extracelular do tendão, por meio de processo de

metabolização contínuo, bem regulado e fundamental para a manutenção das

propriedades estruturais do tecido. Desbalanço deste mecanismo pode estar envolvido

em condições degenerativas, como demonstrado por Riley (2005). Adicionalmente, Fu

et al. (2002) comprovaram que tendões patelares degenerados apresentam expressão

aumentada da metaloproteinase 1 (MMP1) e diminuída de inibidores de

metaloproteinases (TIMPs), condição favorável à degradação de colágeno.

Uhthoff & Loehr (1997) e Rupp et al. (2000) descreveram, entretanto, que a

afecção tem origem ativa, e não passiva, quanto à formação da calcificação. Segundo

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esta linha de pensamento, muito aceita atualmente (BITTMAN, 2004; PORCELLINI et

al., 2004; FREDBERG & STENGAARD-PEDERSEN, 2008), a alteração segue ciclo de

evolução com três fases distintas e bem determinadas, conhecidas como pré-

calcificação (fase de formação), calcificação (fase de repouso) e pós-calcificação (fase

de reabsorção). Segundo os autores, hipóxia local seria o fator inicial, levando à

conversão dos tenócitos em condrócitos (metaplasia condróide), os quais produziriam

maior quantidade de proteoglicanos caracterizando a fase de pré-calcificação. A fase de

calcificação é determinada pela deposição, proveniente dos condrócitos, de cristais de

hidroxiapatita na matriz extracelular, evoluindo para a fase de repouso, de tempo

indeterminado. Sobrevêm, então, a fase de reabsorção, na qual vasos sanguíneos são

formados na periferia da calcificação, permitindo aos macrófagos e células gigantes a

reabsorção do material calcificado. O processo consistiria, portanto, na calcificação

multifocal mediada por células do tendão vivo ou seja, não degenerado, geralmente

culminando em reabsorção fagocítica espontânea (HURT & BAKER, 2003).

Além de todas estas teorias, somam-se a predisposição genética e a relação

com o grupo sangüíneo, com maior incidência de casos de degeneração tendínea em

pacientes pertencentes ao grupo O, já descrita em seres humanos (JOZSA et al., 1989;

SPEED & HAZELMAN, 1999).

Também em humanos, destaca-se o fator anatômico relacionado ao formato do

acrômio, o qual apresenta, em alguns pacientes, curvatura acentuada, diminuindo o

espaço subacromial e pressionando o tendão do m. supra-espinhoso acarretando,

cronicamente, degeneração e, na minoria dos casos, calcificação (LOCHMÜLLER et al.,

1997; HURT & BAKER, 2003). Outros fatores também envolvidos na espécie acima são

idade, sexo e presença de doenças sistêmicas, especialmente o diabetes mellitus

(HURT & BAKER, 2003; RILEY, 2005; REES et al., 2006).

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1.4 IMPORTÂNCIA CLÍNICA DA TENDINOSE DO M. SUPRA-E SPINHOSO

Embora algumas afecções de origem nervosa e tendínea, envolvidas na

etiopatogenia da claudicação dos membros torácicos, sejam bem estabelecidas e

conhecidas, o diagnóstico clínico é considerado um desafio. Aliado às dificuldades

diagnósticas, afecções ainda pouco conhecidas, como a tendinose calcificante do m.

supra-espinhoso, complicam ainda mais a determinação da origem da claudicação

(SCHULZ, 2001). Os diagnósticos diferenciais da dor na articulação do ombro são

variados e difíceis de se determinar, especialmente quando envolvem tecidos moles

adjacentes à articulação (ALASAARELA et al., 1997; BEALE, 2002; COGAR et al.,

2008).

Em relação à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso, a afecção foi descrita

em cães como lesão relativamente rara e de relevância clínica obscura (MUIR &

JOHNSON, 1994; KRIEGLEDER, 1995; MUIR et al., 1996; PIERMATTEI & FLO, 1999).

Em seres humanos, as tenopatias calcificantes são, entretanto, já bem conhecidas.

Foram primeiramente relatadas em 1907 e afetam, sabidamente, diferentes tendões.

Estas lesões são particularmente prevalentes no tendão do m. supra-espinhoso,

atingindo até 10% da população, além de serem consideradas a causa de dor em até

54% dos pacientes com lesões no ombro (RE & KARZEL, 1993; SPEED & HAZELMAN,

1999; HURT & BAKER, 2003).

Em cães, a presença de calcificação no tendão do m. supra-espinhoso pode

resultar em claudicação do membro torácico e dor. Todavia, muitos animais

permanecem assintomáticos apesar das evidências radiográficas da calcificação.

Nestes casos, as alterações são caracterizadas como achados radiográficos acidentais

(FLO & MIDDLETON, 1990; SKVORAK, 1993; MUIR & JOHNSON, 1994). Além de

radiograficamente, a lesão foi também descrita por meio de avaliação ultra-sonográfica

por Gerwing & Kramer (1994), no entanto, nenhum relato sobre a aplicação de outra

técnica de diagnóstico por imagem no estudo desta alteração em cães foi encontrado

nesta revisão.

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Desde sua descrição em cães até os dias atuais, são escassos os artigos

científicos sobre a tendinose calcificante do m. supra-espinhoso disponíveis na

literatura. Tais artigos são, em geral, relatos de casos ou estudos epidemiológicos

contendo, no máximo, 24 cães (FLO & MIDDLETON, 1990; ANDERSON et al., 1993;

MUIR & JOHNSON, 1994; KRIEGLEDER, 1995; LAITINEN & FLO, 2000). A

obscuridade acerca do tema na espécie canina, levou à proposta da realização deste

estudo, visando a descrição epidemiológica da afecção por meio de análise

retrospectiva e a descrição morfológica comparativa das lesões calcáreas, avaliadas

por meio de diferentes técnicas de diagnóstico por imagem (radiografia, ultra-

sonografia, tomografia computadorizada e imagem por ressonância magnética),

presentes no tendão supra-espinhoso em casos clínicos da rotina hospitalar.

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1.5 REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 2 – ESTUDO RETROSPECTIVO DE TENDINOSE CALC IFICANTE DO

MÚSCULO SUPRA-ESPINHOSO EM CÃES.

RESUMO – A tendinose calcificante do músculo supra-espinhoso é pouco

conhecida em cães. Sua apresentação e relevância clínicas, bem como os padrões

epidemiológicos, permanecem obscuros nesta espécie. Neste estudo, objetivou-se a

descrição clínico-epidemiólogica da afecção e dos padrões radiográficos e ultra-

sonográficos das lesões. Para tal, foi realizado levantamento retrospectivo em 2164

cães submetidos à avaliação radiográfica dos ombros, atendidos na Clínica Cirúrgica de

pequenos animais da Universidade de Giessen, Alemanha, no período compreendido

entre janeiro de 1996 a julho de 2006. Alterações radiográficas compatíves com

tendinose calcificante do supra-espinhoso foram observadas em 144 cães. Observou-

se, dentro da população estudada, que 93% dos cães era de raças de grande porte,

especialmente Rottweilers, concentrados na faixa de 4 a 7,9 anos e machos. As lesões

foram diagnosticadas unilateralmente em mais de 80% dos cães, sendo que 70%

apresentavam sinais clínicos. A maioria destes cães (75%) era portadora de outra

afecção ortopédica, destacando-se a fragmentação do processo coronóide medial da

ulna, dificultando a confirmação da tendinose como causa da manifestação clínica.

Adicionalmente, foram revisadas imagens radiográficas de 138 ombros acometidos pela

afecção e ultra-sonográficas de 21 ombros, a fim de se detalhar os padrões de imagem

existentes. As lesões observadas por meio de radiografia foram classificadas em cinco

graus. Na maioria dos cães sintomáticos, não portadores de outra afecção ortopédica,

as lesões foram classificadas como de graus 3 e 4 à radiografia e mostraram-se como

áreas hiperecóicas com sombreamento acústico à ultra-sonografia. A avaliação ultra-

sonográfica permitiu acessar o parênquima tendíneo com detalhes e a presença de

hipoecogenicidade circundante à área calcificada foi sugestiva de processo inflamatório.

Palavras-Chave: tenopatia do músculo supra-espinhoso, predisposição racial,

apresentação clínica, radiografia, ultra-sonografia.

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CHAPTER 2 –SUPRASPINATUS CALCIFYING TENDINOSIS IN D OGS.

RETROSPECTIVE STUDY.

ABSTRACT – Supraspinatus calcifying tendinosis is a relatively unknown

disorder in dogs. Its clinical presentation, relevance and epidemiological pattern remain

unclear. In the present study, we aimed its clinical-epidemiological, radiological and

sonographic description performing a retrospective study in dogs presented to the Small

Animal Surgery Clinics of the Giessen University, Germany, between January 1996 and

July 2006. In 2164 dogs which shoulders were submitted to radiographies, 144

presented lesions compatible to supraspinatus calcifying tendinosis. It was observed

that 93% were large breed dogs, specially Rottweilers, male, aging between 4 and 7,9

years old. The calcifying lesions were unilateral in 80% of the cases; 70% of the dogs

showed clinical symptoms however, a great amount (75%) of them presented also some

other orthopedic abnormality, speccially ulnae fragmented coronoid process, which was

considered the clinical signs cause. Additionally, 138 shoulder radiographies and 21

shoulder sonographies were reviewed and their findings described. A radiological

classification system in five degrees was proposed, according to the lesion appearance.

In the major part of the symptomatic dogs, not affected by other orthopedic abnormality,

the lesions were radiologically classified in degree 3 and 4 and showed a dense distal

shadowing by sonographic evaluation. Sonography also allowed tendon parenchyma

evaluation, providing tissue details. The presence of hypoechoic area surrounding the

calcific lesion was sugestive of infflamatory process.

Key words: Supraspinatus muscle tendinopathy, breed predisposition, clinical

presentation, radiography, ultrasound.

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2.1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA

Tendinose calcificante consiste de lesão crônica de etiologia desconhecida,

comumente encontrada nos tendões dos músculos supra-espinhoso, calcâneo comum

(Achilles) e patelar em seres humanos. Histologicamente, tendões afetados contém

fibras colágenas desorganizadas e descontínuas, degeneração mixomatosa, metaplasia

fibrocartilaginosa de tenócitos e deposição extracelular de cristais de cálcio (LAITINEN

& FLO, 2000; FRANSSON et al., 2005). Mineralizações no tendão do músculo (m.)

supra-espinhoso já foram descritas em diferentes espécies além da humana, como a

eqüina e canina (MUIR & JOHNSON, 1994). Em cães, no entanto, os relatos e estudos

sobre a alteração ainda são escassos e, assim, seu significado clínico permanece

quase tão obscuro quanto sua fisiopatologia (MUIR & JOHNSON, 1994; KRIEGLEDER,

1995; LAITINEN & FLO, 2000).

No homem, a tendinose calcificante do m. supra-espinhoso é desordem bem

documentada. Sua prevalência apresenta grande flutuação (2,7 a 20%), sabidamente

resulta em dor em até 54% dos casos e pode ser bilateral em 10% dos pacientes (RE &

KARZEL, 1993; SPEED & HAZELMAN, 1999; HAAKE et al., 2002; HURT & BAKER,

2003). Todavia, outros estudos indicam que 2,5 a 20% dos pacientes com

mineralizações neste tendão não apresentam sinais de dor ou perda de função articular

(HAAKE et al., 2002).

Em cães, a ocorrência ou não de sinais clínicos causados pela tendinose ainda é

assunto controverso (FLO & MIDDLETON, 1990; MUIR et al., 1996; LAITINEN & FLO,

2000; SCHULZ, 2001). As manifestações clínicas, quando presentes, se caracterizam

por início insidioso e evolução para claudicação intermitente crônica do membro

torácico, de graus discreto a moderado. Os sinais de dor e claudicação surgem, em

geral, após atividade física ou ao longo do dia, contrariamente às manifestações

observadas em condições osteoartríticas (MUIR & JOHNSON, 1994; MUIR et al., 1996;

PIERMATTEI & FLO, 1999; LAITINEN & FLO, 2000; FRANSSON et al., 2005).

Dor à manipulação do ombro afetado foi o sinal clínico mais observado por Muir

& Johnson (1994), em estudo clínico com cães portadores de tenocalcificação do m.

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supra-espinhoso. Segundo Anderson (2006), a palpação direta sobre o tubérculo maior

do úmero, local de inserção do tendão, pode causar reação dolorosa em alguns animais

e, além disso, atrofia muscular generalizada no ombro afetado pode ser notada

eventualmente. Testes clínicos específicos para a avaliação do tendão do m. supra-

espinhoso não são utilizados na rotina veterinária, ao contrário do que acontece na

avaliação clínica de humanos (CRUSHER, 2000).

Na espécie humana, a manifestação de sinais clínicos já foi relacionada à fase

da doença (MUIR & JOHNSON, 1994; CRUSHER, 2000). Gartner & Simons (1990),

Crusher (2000) e Seil et al. (2006) descreveram que a fase inicial, de formação da

calcificação, é raramente sintomática. Em geral, os sinais clínicos são associados à

fase mais tardia, conhecida por fase de reabsorção, na qual ocorre invasão vascular e

migração de células fagocitárias, causando edema e conseqüente aumento de pressão

intratendínea. Laitinen & Flo (2000) também mencionaram a presença de reação

inflamatória no tendão, ao redor da calcificação, como possível causa de claudicação e

dor em cães. Outros autores contestam esta hipótese e relatam que a dor crônica é

resultado da fase de repouso da calcificação e a dor aguda, decorrente da fase de

reabsorção (MAIER et al., 2003).

A tendinose do m. supra-espinhoso é classicamente observada em cães adultos

de raças grandes, especialmente Rottweilers e Labrador retrievers (MUIR & JOHNSON,

1994; KRIEGLEDER, 1995; LAITINEN & FLO, 2000). Embora a claudicação, quando

presente, seja freqüentemente unilateral, a afecção é, em muitos casos, diagnosticada

por meio de radiografias em ambos os ombros (LAITINEN & FLO, 2000; LAFUENTE et

al., 2007).

De acordo com os relatos de Laitinen & Flo (2000), alterações concomitantes,

como a osteoartrose do cotovelo e/ou fragmentação do processo coronóide medial da

ulna, podem coexistir com a tendinose do m. supra-espinhoso, dificultando a

confirmação da causa dos sinais clínicos no paciente. Por isso, a avaliação radiográfica,

não somente dos ombros, mas também dos cotovelos é importante quando da suspeita

de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso. Além disso, deve-se excluir a

ocorrência de tenossinovite do m. bíceps braquial, alteração tendínea mais freqüente

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em ombro de cães (BRUCE et al., 2000). Tenossinovite bicipital pode, inclusive, ocorrer

por conseqüência de irritação mecânica da mineralização, localizada profundamente no

tendão do m. supra-espinhoso, à bainha do tendão do m. bíceps braquial, conforme

descrito por Kriegleder (1995).

As projeções mais comumente requeridas para exame do ombro de cães são a

médio-lateral e a caudocranial (BREE & GIELEN, 2006). Projeções radiográficas médio-

laterais são capazes de revelar mineralização do tendão do m. supra-espinhoso como

irregularidades ovais a arredondadas, próximas ao sulco intertubercular ou

perifericamente ao tubérculo maior (ANDERSON et al., 1993; SKVORAK, 1993;

KRIEGLEDER, 1995; PIERMATTEI & FLO, 1999; FARROW, 2003). A projeção cranio-

proximal-cranio-distal flexionada ou tangencial, também conhecida por “sky line”, pode

otimizar a aparência da lesão e auxiliar na distinção de calcificação da bainha do tendão

do m. bíceps braquial (FLO & MIDDLETON, 1990; ANDERSON et al., 1993;

PIERMATTEI & FLO, 1999; ANDERSON, 2006). A incidência de alterações

radiográficas compatíveis com tenocalcificação do m. supra-espinhoso em radiografias

de ombro de cães com histórico de claudicação do membro torácico é de 2,78%

(MAYRHOFER, 1987).

Desde a primeira observação radiográfica em humanos, descrita por Paiter em

1907, várias classificações foram propostas e baseadas no tamanho da calcificação,

estágio do processo patológico e na aparência morfológica à avaliação radiográfica da

mineralização no tendão m. supra-espinhoso (RUPP et al, 2000; LAM et al., 2006). As

alterações podem ser classificadas, de acordo com o tamanho da calcificação, em

pequenas (< 0,5 cm), médias (0,5-1,5 cm) ou grandes (> 1,5 cm). Podem, também, ser

classificadas em focais ou difusas, de acordo com sua forma estrutural (RUPP et al,

2000). Gärtner & Heyer (1995) propuseram, após modificação de um sistema de

classificação já descrito por De Palma & Kruper (1961), a caracterização da calcificação

em três tipos. A presença de depósito mineral, visibilizado à radiografia, com densidade

elevada e de margens bem delimitadas seria classificado como tipo 1. Ao exame

radiográfico, se a calcificação se apresentasse com limites imprecisos e porções

radiolucentes, seria classificada como tipo 3. O tipo 2 incluiria as calcificações com

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aparências radiográficas intermediárias entre os tipos 1 e 3, apresentando alterações de

limites imprecisos porém bastante radiopacas, ou de limites precisos mas menos

radiopacas. Esta classificação é amplamente empregada e bastante útil na escolha da

terapia a ser empregada, que varia de acordo com a morfologia da lesão (MAIER et al.,

2003). Nenhum sistema classificatório da calcificação do tendão do m. supra-espinhoso

em cães foi encontrado nesta revisão.

Long & Nyland (1999) reportaram que o diagnóstico de alterações do ombro,

muitas vezes, é baseado no histórico de claudicação e nos achados de exames físico e

radiográfico. Entretanto, observações resultantes do exame clínico são, conforme

anteriormente mencionado, inespecíficas (MUIR & JOHNSON, 1994). Além disso,

alterações dos tecidos moles não são facilmente diagnosticadas por meio de

radiografias, ou mesmo artrografias, que fornecem apenas informações limitadas

(SCHAEFER & FORREST, 2006).

A ultra-sonografia apresenta custo relativamente baixo, é não-invasiva e

freqüentemente aplicada como meio diagnóstico em diferentes espécies. Em cães e

cavalos, auxilia na avaliação de injúrias musculares e tendíneas e, em geral,

caracteriza-se como o método mais sensível e específico que a radiografia para tal fim

(KRAMER et al., 1999; BRUCE et al., 2000; KRAMER et al., 2001; BITTMANN &

ENGERT, 2006).

Como descrito por vários autores, deve-se preferir a utilização de transdutores

lineares, com no mínimo 7,5 a 10 MHz, associada à sedação ou anestesia geral do cão

para a realização de exame sonográfico dinâmico do ombro (KRAMER et al., 1997;

LONG & NYLAND, 1999; KRAMER et al., 2001).

Em relação à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso, Gerwing & Kramer

(1994) descreveram sua aparência ultra-sonográfica como a presença de calcificação

nítida, caracterizada por estrutura hiperecóica, acompanhada ou não de sombra

acústica distal, em geral sem reação tecidual circundante, localizada na transição

músculo-tendínea. Os autores afirmam a importância da avaliação sonográfica na

confirmação da localização da lesão.

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Confirmado o diagnóstico de tendinose como causa da claudicação, dentre as

opções terapêuticas, têm-se a utilização de drogas antiinflamatórias esteroidais ou não

esteroidais associadas ao repouso (MUIR & JOHNSON, 1994; KRIEGLEDER, 1995;

PIERMATTEI & FLO, 1999). Esta terapia deve ser tentada, de acordo com Laitinen &

Flo (2000), por três meses consecutivos no mínimo. Em humanos, o tratamento

conservativo atinge sucesso em mais de 90% dos casos (HOSFTEE et al., 2007).

Administração local de acetato de metilprednisolona (20mg), por meio de injeções,

associada ao repouso não atingiu êxito nos casos descritos por Kriegleder (1995), cuja

mineralização localizava-se profundamente no tendão do m. supra-espinhoso e levou à

tenossinovite bicipital secundária.

Técnica alternativa foi utilizada por Danova & Muir (2003), que aplicaram ondas

de choque extra-corpóreo sobre a área tendínea alterada, com conseqüente melhora

clínica da claudicação. Esta técnica é utilizada com sucesso clínico em humanos com

tenocalcificação do m. supra-espinhoso desde 1992 (HAAKE et al., 2002; LAM et al.,

2006) e foi reportada como útil no tratamento de tenossinovite bicipital quando utilizada

em um cão Montanhês de Berna (VENZIN et al., 2004). O princípio é o mesmo utilizado

na litotripsia de cálculos renais, com ondas acústicas focais induzindo a fragmentação

dos depósitos e conseqüente reabsorção (DAECKE et al., 2002; PERLICK et al., 2003).

Entretanto, neste interim, nenhum estudo controlado em cães foi encontrado na

literatura.

Recentemente, Paoloni et al. (2005) observaram que a aplicação tópica de

gliceril trinitrato, associada à programa de reabilitação, resultou em melhora nos sinais

de dor, amplitude de movimento e força do ombro de pacientes humanos portadores de

tendinose do m. supra-espinhoso, em comparação à aplicação do programa de

reabilitação isolado. Nada a respeito deste agente tópico foi encontrado na literatura

para tratamentos de tendinopatias em cães.

De acordo com Flo & Middleton (1990) e Muir et al. (1996), quando nenhuma

melhora é obtida com o tratamento conservativo, a afecção pode se tornar crônica e o

acesso cirúrgico para retirada dos depósitos de cálcio pode ser benéfica. O tratamento

cirúrgico consiste de incisão de pele longitudinal, de aproximadamente três a quatro cm,

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centralizada sobre o tubérculo maior do úmero; as fibras musculares do braquiocefálico

são separadas, expondo o tendão do m. supra-espinhoso. Pequenas incisões

longitudinais devem ser efetuadas no tendão para que o material calcificado se revele, o

qual após identificado, é facilmente retirado. Segue-se diérese de rotina (KRIEGLEDER,

1995; LAITINEN & FLO, 2000).

A exérese cirúrgica da calcificação traz, com freqüência, melhora clínica, mas em

alguns casos é ineficaz (ANDERSON et al., 1993; KRIEGLEDER, 1995). Não obstante,

Laitinen & Flo (2000) observaram recidivas do acúmulo de cristais de cálcio após a

intervenção cirúrgica embora, não necessariamente, tenham evoluído com retorno de

sinais clínicos. Por estes motivos, nenhum método de tratamento é considerado ideal

até o momento (MUIR et al., 1996).

De acordo com Seil et al. (2006), apesar de o tendão do m. supra-espinhoso ser

extracapsular, a destruição da calcificação por meio de artroscopia, é uma opção

recentemente descrita e de sucesso terapêutico superior a 90% em humanos.

Entretanto, a localização da lesão pode ser problemática, especialmente nos casos de

depósitos minerais pequenos, nos quais intervenção cirúrgica convencional pode ser

necessária (AMBACHER et al., 2007). Nenhuma técnica semelhante foi encontrada na

literatura veterinária.

Maier et al. (2003) referem que a escolha do tratamento mais adequado em

seres humanos depende da fase da calcificação, determinada normalmente, por meio

de sistemas de classificação à avaliação radiográfica.

Diante da escassez de informações acerca da tendinose calcificante do supra-

espinhoso em cães e dos estudos clínico-epidemiológicos disponíveis apresentarem

número reduzido de animais avaliados, decidiu-se pela realização de levantamento

retrospectivo abrangendo o período de dez anos. Com o presente estudo, objetivou-se

a caracterização epidemiológica descritiva, contendo informações sobre a raça

acometida, idade, sexo, manifestação ou não de sinais clínicos, presença de afecções

ortopédicas concomitantes, tratamento preconizado e evolução clínica do cão. Além

disso, a descrição dos achados radiográficos e ultra-sonográficos, quando existentes e

passíveis de reavaliação, dos cães portadores de tendinose calcificante do m. supra-

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espinhoso, também foi realizada. Foi observado, ainda, se a aparência radiográfica das

lesões seguiram algum padrão morfológico e com isso, propôs-se sistema de

classificação destas lesões adequado para a espécie estudada.

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2.2 MATERIAL E MÉTODOS

2.2.1 Animais e local

Foram revisadas 2164 fichas clínicas, radiografias e laudos radiográficos dos

cães com suspeita clínica de afecção músculo-esquelética do ombro, apresentados à

rotina hospitalar da Clínica de Pequenos Animais (Kleintierklinik), setor de cirurgia de

pequenos animais, da Universidade Justus-Liebig (JLU) em Giessen, estado de

Hessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 a julho de 2006. Destes casos,

apenas 144 cães apresentaram alterações radiográficas sugestivas de tendinose

calcificante do m. supra-espinhoso e foram incluídos no estudo. Adicionalmente, foram

revisadas as imagens ultra-sonográficas e os laudos de ultra-sonografia do tendão do

m. supra-espinhoso (21 ombros).

2.2.2 Variáveis estudadas

2.2.2.1 Avaliação clínico-epidemiológica

Foram estudados os fatores raça, idade, sexo, membro acometido, manifestação

ou não de sinais clínicos, presença de outra afecção ortopédica concomitante no

membro com tendinose do m. supra-espinhoso, a conduta adotada nos cães que

apresentaram dor no ombro e/ou claudicação do membro torácico. Os dados

encontrados foram apresentados em gráficos e as frequências calculadas em

percentagens.

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2.2.2.2 Avaliação radiográfica

Todos os pacientes incluídos neste estudo foram submetidos à avaliação

radiográfica dos ombros, em projeção médio-lateral, e cotovelos, nas projeções médio-

lateral e craniocaudal. Na clínica cirúrgica de pequenos animais da JLU, Giessen, os

cães submetidos ao exame radiográfico do ombro são concomitantemente submetidos

ao dos cotovelos (e vice-versa). Houve, ocasionalmente, a realização adicional de

projeção craniocaudal, tangencial e artrografia do ombro. Todavia, como estas outras

projeções foram realizadas em parcela pequena dos casos, optou-se por se detalhar as

alterações observadas à projeção médio-lateral do ombro, comum a todos os cães.

Quando o exame clínico do paciente sugeriu alteração neurológica ou ortopédica de

outra localização, como discopatia cervical ou alteração em carpo ou falanges, também

foram realizadas as projeções radiográficas pertinentes, sob anestesia geral quando

necessário.

As imagens radiográficas, digitalizadas com “scanner”1 específico, foram, então,

reavaliadas juntamente com os laudos radiográficos, quanto à aparência das lesões na

região do tendão do m. supra-espinhoso. Procurou-se delinear os padrões radiográficos

das alterações, observadas na projeção médio-lateral, presentes na região do tendão

do m. supra-espinhoso e classificá-las em cinco categorias diferentes, numeradas em

graus de um a cinco, de acordo com a sua extensão e importância, como descrito no

Quadro 1.

1 iCR – 1000 SL – iCR Company

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Quadro 1: Classificação radiográfica das lesões observadas no tendão do m. supra-espinhoso, por meio de radiografias em projeção médio-lateral, de cães.

Classificação das lesões em graus Alterações radiográficas

1 Esclerose ou discreta radiopacidade difusa sobre tubérculo maior, acompanhada ou não de leve reação periosteal.

2 Ponto ou pontos de radiopacos, sobre ou cranial ao tubérculo maior, interpretados como pontos de calcificação no tendão do m. supra-espinhoso.

3 Pequena área radiopaca, acompanhada ou não de pontos calcificados em sua adjacência, localizada sobre ou ligeiramente cranial ao tubérculo maior.

4 Área de calcificação de tamanho médio a grande, bem delimitável e distinguível, apresentando radiopacidade média a intensa sobre ou ligeiramente cranial ao tubérculo maior.

5 Múltiplas calcificações, variando de tamanho médio a grande, radiopacidade média a intensa, localizadas sobre ou cranialmente ao tubérculo maior

Após classificadas as alterações radiográficas, foi calculada a freqüência

percentual de ocorrência de cada um dos graus no total de cães e na parcela de

sintomáticos sem alterações ortopédicas concomitantes.

2.2.2.3 Avaliação ultra-sonográfica

O estudo retrospectivo incluiu também a reavaliação de imagens e laudos ultra-

sonográficos, quando existentes. O exame ultra-sonográfico do tendão supra-espinhoso

foi realizado utilizando-se três diferentes aparelhos, diferentes operadores e sem

padronização de técnica quanto à frequência da probe escolhida e magnificação da

imagem.

Nas imagens arquivadas, procurou-se avaliar a homogeneidade do tendão do m.

supra-espinhoso, a presença ou não de pontos ou áreas de calcificações, suas medidas

(quando descritas), existência ou não de sombra acústica e se a calcificação possuía

área hipoecóica circundante, a qual caracterizaria reação inflamatória. Os achados

ultra-sonográficos também foram comparados aos radiográficos.

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27

2.2.3 Descrição dos achados

Os dados referentes à avaliação epidemiológica, achados radiográficos e ultra-

sonográficos encontram-se apresentados sob a forma descritiva, ilustrados por gráficos,

tabelas e figuras. Foram analisados pelo percentual apresentado (teste das

proporções), com a finalidade de se obter maiores informações sobre a tendinose

calcificante do m. supra-espinhoso em cães. O teste exato de Fischer (PETRIE &

WATSON, 2006) foi aplicado, em comparações pareadas, para avaliar a possível

associação entre a manifestação de sinais clínicos e raça, faixa etária, sexo, lado

acometido, alterações ortopédicas concomitantes e grau de lesão do tendão do m.

supra-espinhoso à radiografia. Para realização da análise estatística, utilizou-se o

programa estatístico SAS 9.12 (SCHLOTZHAVER & LITTEL, 1997) em dois níveis de

significância.

2.3 RESULTADOS

2.3.1 Achados clínico-epidemiológicos

Foram revisadas as fichas clínicas, as radiografias e os laudos radiográficos de

2164 cães com suspeita de afecção músculo-esquelética do ombro, os quais foram

radiografados desde o início de 1996 a julho de 2006 na Clínica Cirúrgica de Pequenos

Animais da JLU, Giessen, Alemanha.

Destes cães, 144 ou 6,65% (Figura 1) apresentaram alterações radiográficas

caracterizadas, em sua maior parte, por presença de áreas com radiopacidade

aumentada, sugestivas de calcificação ou presença de tecido metaplásico, próximo ao

tubérculo maior, visibilizadas na projeção médio-lateral da articulação. As imagens

2 SAS Institute Inc., Cary, NC.

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radiográficas, nestes casos, foram consideradas compatíveis com tendinose calcificante

do m. supra-espinhoso.

Figura 1 : Distribuição do número de cães radiografados de janeiro de 1996 a julho 2006, na JLU,

Giessen, Alemanha, com suspeita de alteração ortopédica no ombro e sua divisão em dois grupos, segundo a observação de alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso.

Com relação à raça, observou-se que 23,61% dos 144 casos destacados na

Figura 1, (34 cães) eram da raça Rottweiler; 14,58% (21 cães) grandes pastores, como

Pastores Alemães, Brancos, Belgas ou Holandeses; 11,11% (16 animais) cães

Montanheses de Berna; 9,72% (14 cães) eram Retrievers (Golden, Labrador ou Flat

coated); e a mesma quantidade, cães sem raça definida (SRD), todavia considerados

de porte grande (peso superior a 30 Kg).

Os demais cães, 24,31% do total (35 animais), foram agrupados na classe de

cães grandes e eram representados em quantidade de um, dois ou três exemplares, de

raças diferentes como o Boxer, Dobermann, Pittbull, Hovawart, dentre muitas outras;

além destes, 10 outros cães (6,94%) foram classificados como de raças de médio ou

pequeno porte (American staffordshire, Teckel, Border Collie, Yorkshire). A distribuição

racial encontra-se na Figura 2.

A incidência foi considerada maior (p≤0,05) apenas para raça Rottweiler,

segundo o teste das proporções. Os cães de raças grandes (somatória dos cães

Rottweiler, Pastores, Montanhês de Berna, Retrievers, SRD de grande porte, Boxer,

Dobermann, Pittbull, Hovawart, dentre outras raças) apresentaram incidência maior

2164 cães submetidos à exame radiográfico dos

ombros

144 cães com alterações

radiográficas no tendão supra-espinhoso

2020 cães sem alterações radiográficas no tendão

supra-espinhoso

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29

(p≤0,01) de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso do que os cães de raça média

ou pequena.

24,31 23,61*14,58

11,11 9,72 9,72 6,94

0

25

50

75

100

Per

cent

agem

Gde Rott Past Bern Retr SRD Med

Raças

Figura 2: Percentual de cães com sinais radiográficos de tendinose do m. supra-espinhoso atendidos na

rotina hospitalar da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006, distribuídos de acordo com a raça. (Gde: cães de diferentes raças grandes, com poucos exemplares de cada; Rott: Rottweiler; Past: grandes Pastores; Bern: Montanhês de Berna; Retr: Retrievers; SRD: cães sem raça definida; Med: cães de raças médias e pequenas). *Significativo (p≤0,05) pelo teste das proporções.

Outra variável avaliada foi a idade dos cães frente ao diagnóstico radiográfico da

alteração. A idade variou de 5 meses (3 animais) até 13 anos (1 animal). Os dados

relativos à faixa etária estão expressos na Figura 3. O diagnóstico de tendinose

calcificante do m. supra-espinhoso esteve concentrado, segundo o teste das

proporções, em cães na faixa de 4 a 7,9 anos de idade (p≤0,01), somando 65 cães

(50,78%). A faixa etária definida por cães com 0 a 3,9 anos foi representada por 41

cães (32,03%). Cães com idade igual ou superior a 8 anos foram representados por 22

indivíduos (17,19%). Em 16 cães, não foi possível a definição da idade, pois as fichas

clínicas encontravam-se incompletas e foram considerados parcelas perdidas.

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30

32,03

50,78**

17,19

0

25

50

75

100P

erce

ntag

em

0 - 3,9 4 - 7,9 acima de 8

Faixa etária (anos)

Figura 3: Percentual de cães atendidos na rotina hospitalar da Clínica de Pequenos Animais, JLU,

Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006, distribuídos segundo a faixa etária quando do diagnóstico radiográfico de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso. **Significativo (p≤0,01) pelo teste das proporções.

Quanto ao sexo (Figura 4), observou-se maior prevalência (p≤0,01) da tendinose

calcificante do m. supra-espinhoso nos machos (88 cães, 61,54%) do que nas fêmeas

(55 casos, 38,46%). Apenas em um (1) caso o sexo não foi mencionado na ficha clínica,

este foi considerado parcela perdida.

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31

88**

55

0

25

50

75

100

Per

cent

agem

Machos Fêmeas

Sexo

Figura 4: Percentual de cães com tendinose do m. supra-espinhoso atendidos entre janeiro de 1996 e

julho de 2006, na rotina da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, de acordo com o sexo. **Significativo (p≤0,01) pelo teste das proporções.

Com relação ao antímero acometido, constatou-se calcificação amorfa em ambos

os ombros em 24 cães, ou seja, 17,91% de casos com tendinose calcificante do m.

supra-espinhoso bilateral. Em 110 animais, a alteração radiográfica compatível com

tendinose do m. supra-espinhoso foi observada unilateralmente, 53 (39,55%) cães no

antímero direito e 57 (42,54%) no esquerdo. Nenhum dos antímeros foi considerado de

maior prevalência (p>0,05), segundo o teste das proporções. Entretanto, a ocorrência

de unilateralidade de tendinose do supra-espinhoso foi caracterizada como significativa

(p≤0,01) em relação ao aparecimento bilateral da lesão. Em 10 cães, as fichas clínicas

encontravam-se incompletas ou as películas radiográficas não foram localizadas,

tornando-se impossível determinar o lado acometido. As frequências acima descritas

estão ilustradas na Figura 5.

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32

42,54 39,55

17,91

0

25

50

75

100

Per

cent

agem

Esq. Dir. Bil.

Membro acometido

Figura 5 : Percentual de cães com alteração radiográfica na região do tendão do m. supra-espinhoso bilateral (Bil.), no ombro direito (Dir.) e no ombro esquerdo (Esq.) presentes no estudo retrospectivo (janeiro de 1996 a julho de 2006) realizado na base de dados da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha.

A presença ou não de sinais clínicos, nos 144 cães estudados, 89 (70,08%)

apresentavam sinais de dor à manipulação do ombro ou claudicação do membro

radiograficamente afetado; 38 cães (29,92%) não evidenciavam sinal clínico de

desconforto, dor no ombro ou claudicação do membro acometido, de forma que os

achados radiográficos foram considerados acidentais (Figura 6). Um montante de 17

cães apresentou histórico incompleto, impossibilitando qualquer conclusão sobre a

presença de sinal clínico, bem como sua caracterização no momento do exame

radiográfico.

Não foi observada associação (p>0,05) entre a manifestação de sinais clínicos e

a raça do cão, sexo, faixa etária, membro acometido ou presença de alteração

ortopédica concomitante, segundo o teste exato de Fischer.

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33

Os históricos e as radiografias dos 89 cães sintomáticos (Figura 6) que

apresentaram calcificação cranialmente ou sobre o tubérculo maior, foram estudados

detalhadamente, a fim de se excluir outras possíveis causas das manifestações

clínicas. Em 67 destes pacientes (75,2%) notou-se a presença de alterações

radiográficas ortopédicas concomitantes, as quais justificariam os sinais clínicos

manifestados e, assim, foram consideradas causa primária destes sinais. Tais

alterações consistiram na presença de calcificações, esclerose ou irregularidades no

sulco intertubercular (possível causa ou alteração secundária à tenossinovite bicipital);

displasia de cotovelo de graus diferentes (incluindo fragmentação do processo

coronóide medial da ulna, osteocondrose/osteocondrite dissecante dos côndilos

umerais, incongruência rádio-ulnar e/ou artrose do cotovelo), artrose do ombro,

osteocondrose da cabeça umeral, discopatia cervical ou panosteíte e, muitas vezes,

duas ou mais destas alterações associadas. Apenas 22 cães (24,8%) (Figura 6)

apresentaram alteração radiográfica na região do tendão do m. supra-espinhoso,

acompanhada de sinais clínicos, e nenhuma outra alteração ortopédica concomitante foi

revelada ao exame radiográfico.

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34

Avaliou-se a conduta adotada nestes 22 cães (Figura 6) e observou-se que em

apenas dois foi realizado tratamento específico, consistindo de excisão cirúrgica do

depósito de material calcificado. Ambos evoluíram para melhora clínica no pós-

cirúrgico, com o desaparecimento dos sinais de claudicação moderada do membro e

2164 cães submetidos à

exame radiográfico dos

ombros

144 Cães com alterações

radiográficas no tendão SP

2020 cães sem alterações

radiográficas no tendão SP

89 cães sintomáticos

38 cães assintomáticos

17 com sintomatologia indeterminada

22 cães sem outras alterações ortopédicas

67 cães com alterações ortopédicas concomitantes

Figura 6: Distribuição do número de cães radiografados de janeiro de 1996 a julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha. Em destaque (negrito), o número de cães sintomáticos portadores de alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso (SP) e aqueles nos quais nenhuma outra alteração ortopédica foi diagnosticada.

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dor em aproximadamente três semanas. No entanto, em um destes casos, houve

recidiva dos sinais clínicos e da calcificação no tendão do m. supra-espinhoso decorrido

um ano do ato operatório. Em cinco cães, adotou-se tratamento inespecífico, baseado

na administração de analgésicos ou antiinflamatórios não esteroidais e repouso. Em 11

cães, foi indicada e realizada ultra-sonografia sob anestesia geral, no entanto, não foi

encontrada nenhuma referência sobre a conduta adotada após a avaliação ultra-

sonográfica. Estes dados encontram-se ilustrados na Figura 7. Em quatro cães, a

conduta não foi determinada, pois as fichas clínicas encontravam-se incompletas e,

portanto, foram excluídos da pesquisa.

Figura 7 : Percentual de cães pertencentes ao estudo retrospectivo (janeiro de 1996 a julho de 2006)

realizado na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, distribuídos segundo a conduta adotada em relação à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso. (Espec: tratamento específico – excisão cirúrgica; inesp: tratamento inespecífico; out diag.: indicação de outro método de imagem, não realizado).

O grupo de 22 cães (destacados na Figura 6) com evidência radiográfica de

tendinose do m. supra-espinhoso, manifestação de sinal clínico e sem outras

anormalidades ortopédicas diagnosticadas no membro, era composto em sua totalidade

por raças grandes (Figura 8).

9,09

23,73

50

0

25

50

75

100

Per

cent

agem

Espec. Inesp. Out diag.

Conduta adotada

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36

45,45

18,18 13,64 13,64 9,09

0

25

50

75

100P

erce

ntag

em

Out gde SRD gde Rott Past Retr

Raças

Figura 8: Percentual de cães com sinais radiográficos de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso

associado à manifestação de sinais clínicos atendidos na rotina hospitalar da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006, distribuídos de acordo com suas raças. (Out gde: um ou dois representante de cada raça envolvida – Boxer, Dálmata, Montanhês de Berna, Dobermann, Grande Pastor Suíço, Pittbull; SRD gde: cão sem raça definida com mais de 30 kg de peso corporal; Rott: Rottweiler; Past: Pastor alemão; Retr: Retriever).

Estes cães apresentaram sinal clínico unilateral (claudicação discreta e/ou dor à

manipulação do ombro), embora a calcificação no tendão do m. supra-espinhoso fosse

bilateral em cinco dos casos. Houve manifestação de dor e/ou claudicação no membro

torácico direito em 13 cães (59,09%) e no membro torácico esquerdo em nove

(40,91%). Segundo o teste das proporções, não houve diferença (p>0,05) quanto ao

antímero afetado. Em relação ao sexo, 13 cães (59,09%) eram machos e 9 (40,91%),

fêmeas, não havendo prevalência de nenhum dos sexos (p>0,05).

Quanto à idade destes 22 cães (Figura 9), notou-se que a maioria (15 cães ou

68,18%) apresentava-se na faixa etária de 4 a 7,9 anos (p≤0,01). A faixa compreendida

entre 0 a 3,9 anos foi representada por 4 cães (18,18%) e aqueles com mais de 8 anos

por 3 cães (13,64%).

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37

18,18

68,18**

13,64

0

25

50

75

100P

erce

ntag

em

0 - 3,9 4 - 7,9 acima de 8anos

Faixa etária (anos)

Figura 9: Percentual de cães atendidos na rotina hospitalar da Clínica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006, que apresentaram sinais radiográficos e manifestação clínica de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso, distribuídos segundo faixa etária. **Significativo (p≤0,01) pelo teste das proporções.

2.3.2 Achados radiográficos

Embora 144 animais compusessem o estudo epidemiológico, 24 cães

apresentaram diagnóstico positivo de lesão bilateral, totalizando 168 ombros

acometidos por tendinose do m. supra-espinhoso. Deste total de ombros, trinta não

foram reavaliados, pois as películas radiográficas não se encontravam no arquivo ou se

achavam em mau estado de conservação, impossibilitando a visibilização de detalhes.

Portanto, 138 ombros tiveram seus exames radiográficos reavaliados (Figura 10).

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38

Em 36 ombros (26,09% dos 138 ombros) as alterações radiográficas foram

classificadas como de grau 1, exemplificadas pela Figura 11. Em 16 ombros (11,59%)

foram detectadas alterações de grau 2 na região do tendão do m. supra-espinhoso

(Figura 12). Em outros 34 ombros (24,64%) as anormalidades radiográficas foram

classificadas como de grau 3 (Figura 13). Em outros 39 ombros (28,26%), detectaram-

se alterações de grau 4. As áreas radiograficamente alteradas apresentaram-se, em

geral, arredondadas ou ovaladas com margens regulares ou irregulares (Figura 14).

Alterações classificadas como de grau 5, visibilizadas em 13 ombros (9,42%), estão

ilustradas na Figura 15. A maior parte das alterações (52,9%) foi classificada como de

graus 3 e 4, segundo o teste das proporções (p≤0,01), como ilustra Figura 16. O teste

exato de Fischer não indicou associação entre a manifestação de sinais clínicos e a

classificação radiográfica das lesões (p>0,05).

2164 cães submetidos à

exame radiográfico dos ombros

144 cães com alterações

radiográficas no tendão supra-espinhoso

2020 cães sem alterações

radiográficas no tendão supra-

espinhoso

138 ombros cujas películas radiográficas foram

reavaliadas

Figura 10: Distibuição do número de cães radiografados no período de janeiro de 1996 e julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha, com suspeita de alteração ortopédica no ombro. Em destaque (negrito), o número de ombros cujas películas radiográficas e laudos foram reavaliados neste estudo.

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39

Figura 11 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro

de dois cães com alterações de grau 1. (A) Notar discreta esclerose, de margens indefinidas, na área de inserção do tendão do m. supra-espinhoso, no tubérculo maior (setas brancas); (B) Notar discreta reação periosteal ao longo da curvatura do tubérculo maior (setas brancas). Outras alterações irrelevantes, como irregularidade do sulco intertubercular (setas brancas de início redondo) e alterações artróticas na margem caudal da cabeça umeral (seta branca de início quadrado), são observadas.

A B

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40

Figura 12 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães com alterações de grau 2. (A) Notam-se pontos radiopacos na curvatura do tubérculo maior e cranial ao mesmo (setas), interpretados como pontos de calcificação na área do tendão do m. supra-espinhoso; (B) Notar esclerose à margem da curvatura do tubérculo maior e pontos de calcificação isolados cranial ao mesmo (seta).

Figura 13 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães com alterações de grau 3. (A) É possível visibilizar pequena área mais radiopaca (calcificação), de forma arredondada, sobre o tubérculo maior (seta); (B) Notar pequena área de calcificação cranial ao tubérculo maior (seta), região do tendão do m. supra-espinhoso.

A B

A B

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41

Figura 14 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois

cães com alterações de grau 4. (A) Notar área de calcificação sobre o tubérculo maior, intensa radiopacidade, forma levemente ovalada e bordos irregulares (seta branca); (B) Grande área calcificada é notada à curvatura do tubérculo maior (seta branca). Na mesma imagem, ínicio de sinais radiográficos de artrose sobre a superfície caudal da cabeça umeral (seta branca de início redondo).

A B

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42

Figura 15 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral da articulação do ombro de dois cães

com alterações de grau 5. (A) Notar presença de duas áreas mais radiopacas, sobre e cranial ao tubérculo maior, de forma levemente ovalada e alongada, respectivamente, na região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso (setas); (B) Distuinguem-se múltiplas áreas de maior radiopacidade, ou calcificadas, sobre e cranial ao tubérculo maior, região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso (setas).

A Figura 16 elucida a proporção dos cinco diferentes graus de alteração

radiográfica visibilizada nos ombros dos animais pertencentes ao estudo.

B A

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43

26,09

11,59

24,64** 28,26**

9,42

0

25

50

75

100

Per

cent

agem

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Classificação das alterações radiográficas

Figura 16: Percentual das alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso,

distribuídas segundo classificação proposta no presente estudo (dados provenientes do arquivo de laudos e películas radiográficas da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006). **Significativo (p≤0,01), quando somados os números de radiografias cujas lesões foram classificadas como de grau 3 e 4, pelo teste das proporções.

Foi também possível reavaliação e classificação das alterações radiográficas do

grupo de 22 cães sintomáticos anteriormente destacados (Figura 6). Em quatro cães

(18,18%) a lesão detectada se enquadrou como de grau 1; lesão caracterizada como de

grau 2 foi observada em apenas um caso (4,55%). Nove cães (40,91%) tiveram as

alterações radiográficas da região do tendão do m. supra-espinhoso classificadas como

de grau 3. Seis animais (27,27%), foram classificados como portadores de alteração

radiográfica de grau 4. Apenas dois cães (9,09%) possuíam as alterações radiográficas

classificadas como grau 5 (Figura 17). Mais uma vez, a maior proporção das lesões

(68,18%) foi concentrada nas classificações de graus 3 e 4 (p≤0,01).

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44

18,18

4,55

40,91**

27,27**

9,09

0

25

50

75

100

Per

cent

agem

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Classificação das alterações radiográficas

Figura 17: Percentual das alterações radiográficas na região do tendão do m. supra-espinhoso,

distribuídas segundo classificação proposta no presente estudo avaliadas no grupo de cães que manifestaram sinais clínicos e nenhuma outra alteração ortopédica diagnosticada (dados provenientes do arquivo de laudos e películas radiográficas da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, JLU, Giessen, Alemanha, no período de janeiro de 1996 e julho de 2006). **Significativo (p≤0,01) quando somados os números de radiografias cujas lesões foram classificadas como de grau 3 e 4 pelo teste das proporções.

2.3.3 Achados ultra-sonográficos

Dos 144 cães que fizeram parte do estudo, 41 ombros foram submetidos ao

exame ultra-sonográfico, entretanto, em apenas 21 deles houve a documentação, por

meio de imagem digitalizada ou descrição nos laudos, da aparência do tendão supra-

espinhoso. Nos demais (20 ombros), o examinador apenas documentou alterações

referentes ao tendão bíceps braquial, plexo braquial, tendão infra-espinhoso ou cabeça

do úmero (Figura 18).

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45

As alterações ultra-sonográficas do tendão supra-espinhoso foram facilmente

visibilizadas em planos longitudinais com utilização de transdutor linear de 10 MHz. A

Figura 19 ilustra a aparência sonográfica de um tendão supra-espinhoso normal de cão,

para que as alterações observadas possam ser comparadas. Dentre as alterações, a

presença de heterogeneidade tendínea foi detectada em cinco (23,8%) dos 21 cães

(Figura 20). Pontos de hiperecogenicidade foram observados em apenas dois destes

(9,5%), exemplificados pela Figura 21. Na maioria dos tendões (17 cães), 81% dos

casos, foi identificada área(s) de hiperecogenicidade, com medidas realizadas em 10

dos casos e variando de dois a 20 milímetros. Nestes 17 animais, as alterações

induziram a formação de sombra acústica em 10 dos tendões (Figura 22) e observou-se

área hipoecóica circundante à calcificação, sugestiva de reação inflamatória, em seis

casos (Figura 23). Quanto à forma estrutural, as calcificações variaram de

arredondadas e únicas a irregulares e múltiplas.

2164 cães submetidos à

exame radiográfico dos

ombros

144 cães com alterações

radiográficas no tendão supra-espinhoso

2020 cães sem alterações

radiográficas no tendão supra-

espinhoso

21 ombros cujos exames ultra-sonográficos foram

reavaliados

Figura 18: Distribuição do número de cães radiografados entre o período de janeiro de 1996 e julho 2006, na JLU, Giessen, Alemanha, com suspeita de alteração ortopédica no ombro, aqueles com suspeita radiográfica de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso e, em destaque (negrito), o número de ombros cujos exames ultra-sonográficos foram reavaliadas no presente estudo.

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46

Figura 19 : Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso normal de cão, eixo longitudinal, realizada por meio de probe linear de 10 MHz. O tendão normal apresenta-se como área ovalada hipoecóica (setas) e homogênea, que se insere no tubérculo maior.

Figura 20 : Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz, em eixo longitudinal. Notar heterogeneidade do tecido (setas) na inserção tendínea no tubérculo maior.

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47

Figura 21 : Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão

portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz em eixo longitudinal. É possível a visibilização de pontos hiperecóicos (seta) próximos à inserção tendínea no tubérculo maior umeral. O restante do tecido apresenta ecogenicidade normal, caracterizada por área arredondada hipoecóica.

Figura 22 : Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz, eixo longitudinal. Notar área de hiperecogenicidade e contorno irregular (setas brancas), acompanhada de sombra acústica distal densa (delimitada pelas setas brancas tracejadas).

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Figura 23 : Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso de cão portador de tendinose calcificante, realizada por meio de probe linear de 10 MHz em eixo longitudinal. É possível visibilizar área hiperecóica arredondada (seta branca), de superfície irregular, acompanhada de sombra acústica distal densa (setas brancas de início redondo) e circundada por halo hipoecóico (setas brancas tracejadas) sugerindo a presença de reação ao redor da calcificação.

A Tabela 1 relaciona os achados ultra-sonográficos com os graus de lesões

obtidas na classificação radiográfica do tendão, segundo classificação abordada no item

2.3.2.

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Tabela 1 : Descrição das alterações presentes no tendão do m. supra-espinhoso de cães, observadas por meio de radiografia e ultra-sonografia.

Alterações Ultra-sonográficas Caso RX (Grau)

Heterogêneo Pontos hiper Área hiper

s/n mm Sombra

s/n Halo hipoec.

s/n Observações

1 I X Não Não Não Ecogenicidade levemente aumentada

2’ I X Não Não Sim

3 I Sim Não Não Pouco delimitável

4 I Sim 20x10 Não Sim Irregular, próxima à bainha bicipital

5 II X Não Não Não Imagens má qualidade

6 III Sim Não Não

7’ III Sim 5 Sim Sim Estrutura irregular

8 III Sim 3 Não Não Várias estruturas arredondadas

9’ III X Sim 4 Sim Não Estrutura arredondada

10’ III Sim Indet. Não

11 III Sim 10x15 Sim Não Várias estruturas irregulares e tenossinovite

bicipital 12’ IV Sim Não Não Estrutura irregular

13 IV X Não Não Não Imagens má qualidade

14’ IV Sim 6 Sim Não

15’ IV Sim 4 Sim Não Estrutura irregular e tenossinovite bicipital

16’ IV Sim 20x10 Sim Sim Localização profunda no tendão

17’ IV Sim 5 Sim Não Superficície irregular

18’ IV X Sim Sim Sim Várias estruturas de diferentes

tamanhos/formas 19 IV X Sim Indet. Indet. Imagens má qualidade; tenossinovite bicipital

20’ V Sim Sim Sim Tenossinovite bicipital

21 V Sim 10 Sim Não Estrutura irregular, ecogenicidade média à

intensa

Total 5 2 17 10 6

Pontos hiper: pontos hiperecóicos; Área hiper: área hiperecóica; Sombra: sombra acústica; Halo hipoec: halo hipoecóico circundante à calcificação; Sim: presença; Não: ausência; Indet.: indeterminado; casos acompanhados de linha (‘) : manifestaram sinais clínicos e nenhuma outra alteração ortopédica diagnosticada no membro.

49

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50

Quatro cães (19%) apresentaram alteração radiográfica do tendão do m. supra-

espinhoso caracterizada como de grau 1 (casos 1, 2, 3 e 4 da Tabela 1). A reavaliação

das imagens ultra-sonográficas indicam que em um destes cães (Caso 2) foi detectada

presença de pontos hiperecóicos no tendão do m. supra-espinhoso, enquanto nos

outros dois, houve área de hiperecogenicidade. Nenhuma das alterações resultou em

formação de sombra acústica e, em dois destes cães (Casos 2 e 4), observaram-se

áreas hipoecóicas circundantes à porção hiperecóica.

Apenas em um cão (4,8%), cuja lesão fora classificada radiograficamente como

de grau 2, foi submetido à avaliação ultra-sonográfica e a aparência do tendão do m.

supra-espinhoso foi descrita como de padrão heterogêneo, não revelando pontos ou

áreas hiperecóicas (Caso 4 da Tabela 1).

Em seis cães (28,6%), as anormalidades foram classificadas, ao exame

radiográfico, como de grau 3 (Casos 6, 7, 8, 9, 10 e 11 da Tabela 1). As imagens ultra-

sonográficas do tendão do m. supra-espinhoso de todos estes cães revelaram a

presença de área hiperecóica, acompanhada, em três deles (Casos 7, 9 e 11), de

sombra acústica distal e, em apenas um cão, de halo reacional circunjacente.

Oito dos cães submetidos à ultra-sonografia do tendão supra-espinhoso (38%)

apresentaram alterações de grau 4 (Casos 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19). Apenas em

um destes cães (Caso 13) observou-se pontos hiperecóicos no tendão do m. supra-

espinhoso. Nos outros sete, foi notada área hiperecóica, somada à heterogeneidade do

tecido em um dos casos. Houve presença de sombra acústica na lesão em cinco cães

(Casos 14, 15, 16, 17 e 18), em dois dos quais (Casos 16 e 18) notou-se a presença de

área hipoecóica ao redor da calcificação.

Em dois animais (9,5%), as alterações radiográficas do tendão do m. supra-

espinhoso foram classificadas como de grau 5 (Casos 20 e 21). Em ambos foram

detectadas, por meio das imagens ultra-sonográficas, áreas hiperecóicas no tendão

supra-espinhoso com sombra acústica distal. Hipoecogenicidade circundante foi

observada em apenas um destes casos (Caso 20).

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As áreas hiperecóicas foram mensuradas em dez dos 21 cães. Suas medidas,

realizadas no corte longitudinal, variaram de três a 20mm, apresentando média

aritmética de 9,2mm.

Dentre estes 21 cães, 11 animais (52,4%), enumerados na Tabela 1 como 2, 7,

9, 10, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 20 (assinalados com ‘), manifestaram sinais clínicos no

membro, caracterizados por claudicação e/ou dor à palpação ou manipulação do ombro

e não demonstraram, à avaliação radiográfica, nenhuma outra lesão concomitante,

além da tendinose calcificante do supra-espinhoso. Estes cães apresentaram, na

grande maioria dos casos (10 cães ou 90,9%), exceto caso número 2, área hiperecóica

no tendão supra-espinhoso à avaliação ultra-sonográfica. Em oito destes 11 cães

(72,7%), houve formação de sombra acústica (Casos 7, 9, 14, 15, 16, 17, 18 e 20) e em

cinco deles (45,5%), presença de reação inflamatória (Casos 2, 7, 16, 18 e 20).

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2.4 DISCUSSÃO

Em 1872 Duplay descreveu a, então denominada, tendinite calcificante do ombro

como causa de dor em seres humanos (KRASNY et al., 2005). Embora esta primeira

descrição seja bastante antiga, ainda na atualidade, não existe completa compreensão

da etiologia da afecção e os dados epidemiológicos publicados são conflitantes. A

literatura científica humana refere-se à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso

como afecção cuja prevalência descrita reflete grande flutuação, de 2 a 20% (KRASNY

et al., 2005; AMBACHER et al., 2007). Dados mais específicos relatam que a afecção

está presente em 2,7% da população humana assintomática e em até mais de 50% dos

pacientes com dor em ombro (RUPP et al., 2000; KRASNY et al., 2005; CACCHIO et

al., 2006; HOFSTEE et al., 2007).

Burbank et al. (2008) referem que fatores como idade, sexo e ocupação do

paciente devem ser considerados em pacientes humanos com dor em ombro, pois

auxiliam na suspeita diagnóstica. De acordo com Fahie (2005) no entanto, informações

relacionadas à importância epidemiológica de pacientes caninos clinicamente afetados

por alterações tendíneas, em geral, não estão prontamente disponíveis na literatura

veterinária. Embora tais alterações apresentem relevância clínica, a dificuldade

diagnóstica comumente leva à frustrante evolução do caso.

Muir & Johnson (1994) realizaram um estudo com 183 cães e observaram

tendinopatia calcificante dos mm. supra-espinhoso e bíceps braquial em 12 destes,

descrevendo, assim, que as alterações ocorreram em cerca de 7% da população

estudada. Em outro levantamento retrospectivo referente ao período de nove anos, foi

observada a ocorrência de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em 24 cães.

Todavia, não há referência quanto ao número total de cães estudados, impossibilitando

o cálculo da prevalência desta afecção (LAITINEN & FLO, 2000). No presente trabalho,

observou-se percentagem semelhante à relatada por Muir & Johnson (1994), dos 2164

cães submetidos ao exame radiográfico de ombro, 6,65% revelaram alterações

radiográficas sugestivas de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso.

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Os parcos artigos sobre tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em cães

encontrados nesta revisão relatam a ocorrência em raças grandes (MUIR & JOHNSON,

1994; KRIEGLEDER, 1995; MUIR et al., 1996; LAITINEN & FLO, 2000), ressaltando

maior predisposição entre Labradores e Rottweilers e citando o diagnóstico da alteração

também em Pastores Alemães, Boxers, Border Collies e mestiços (FLO & MIDDLETON,

1990; ANDERSON et al., 1993; SKVORAK, 1993; MUIR & JOHNSON, 1994; LAITINEN

& FLO, 2000; BEALE, 2002; BREE & GIELEN, 2006). No presente estudo, as

observações em relação à raça corroboram os autores anteriormente listados e revelam

que a prevalência da afecção foi significativamente maior em cães de raças grandes

(p≤0,01), destacando-se os da raça Rottweiler (p≤0,05).

É válido salientar que, dentre os cães sintomáticos e sem outra afecção

ortopédica no membro acometido pela tendinose, todos eram de raças grandes. Além

disso, a tendinose foi diagnosticada em raças ainda não relatadas, tais como Pastores

Belgas, Brancos e Holandeses, Montanheses de Berna, Golden e Flat Coated

Retrievers e, em proporções bem menores, Dobermann, Pittbull, Hovawart, além de

casos esporádicos em American Staffordshire, Teckel e Yorkshire. Tais observações

decorrem, provavelmente, do tamanho da população estudada, superior a dos outros

estudos (MUIR & JOHNSON, 1994).

De acordo com Riley et al. (1996), que avaliaram 60 tendões de mm. supra-

espinhosos macroscopicamente normais, obtidos de cadáveres humanos com idades

entre 11 e 95 anos, há acúmulo progressivo significativo de cálcio e fósforo inorgânicos

na matriz tendínea associado à idade. Desta forma, seria esperado que indivíduos

idosos fossem proporcionalmente mais afetados, se o envelhecimento fosse o fator

determinante. Mas tal afirmativa não foi confirmada durante esta compilação de dados.

Sabe-se que, em seres humanos, a faixa compreendida entre 30 e 60 anos é mais

acometida, ou seja, indivíduos de meia-idade (HUGHES & BOLTON-MAGGS, 2002;

CHAN et al., 2004; AMBACHER et al., 2007; HOSFTEE et al., 2007). Bree & Gielen

(2006) mencionam que a afecção pode acometer cães de qualquer idade. Outros

autores fazem referência à média de idade observada em seus estudos: 3,8 ± 1,6 anos

(LAITINEN & FLO, 2000) e 5,3 anos (KRIEGLEDER, 1995). Encontram-se também

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citados cães portadores da afecção com idades de dois até 11 anos (FLO &

MIDDLETON, 1990; SKVORAK, 1993). Entretanto, nenhum artigo consultado fez

referência à idade ou faixa etária de maior risco para a afecção. No presente trabalho,

observou-se que a faixa entre 4,9 e 7 anos esteve importantemente afetada,

compreendendo a maior parte dos cães estudados.

Quanto ao sexo dos cães, notou-se maioria de machos em relação à população

total, todavia em relação ao subgrupo de maior relevância clínica (sintomáticos e sem

outra alteração ortopédica diagnosticada) a proporção de machos não diferiu da

quantidade de fêmeas afetadas. Dentre os artigos consultados não há nenhuma

descrição de predisposição sexual à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso

(KRIEGLEDER, 1995; LAITINEN & FLO, 2000) e em alguns deles, o sexo do cão não é,

ao menos, especificado (FLO & MIDDLETON, 1990; MUIR et al., 1996). Em seres

humanos, predisposição sexual é fato bem documentado e muitos são os relatos de

maior ocorrência em seres do sexo feminino, em proporção de 1,5:1 em relação ao

sexo masculino (RUPP et al., 2000; KRASNY et al., 2005; LAM et al., 2006;

AMBACHER et al., 2007).

A articulação do ombro é considerada a articulação mais utilizada do corpo

humano no cotidiano. Movimentos envolvendo estresse articular e força podem

culminar em rupturas de fibras do tendão do m. supra-espinhoso e acarretar

degeneração (UHTHOFF & LOEHR, 1997). Talvez por este fato, o membro dominante

em seres humanos tenha sido relatado como mais afetado por tendinose calcificante do

m. supra-espinhoso (LOCHMÜLLER et al., 1997; RUPP et al., 2000).

Laitinen & Flo (2000) observaram que o membro torácico esquerdo foi mais

afetado que o direito em 24 cães com a alteração tendínea. Os mesmos autores

referiram ser este fato inexplicável, uma vez que nenhum trabalho comprova a

existência de dominância entre antímeros em caninos. Os autores ressaltaram a

importância de outros estudos epidemiológicos que comprovassem suas observações.

Outros autores relatam que a afecção é comumente bilateral, porém com manifestação

clínica unilateral (FLO & MIDDLETON, 1990; MUIR & JOHNSON, 1994; MUIR et al.,

1996; BEALE, 2002; FRANSSON et al., 2005; LAFUENTE et al., 2007). No presente

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estudo, no entanto, observou-se que apenas 17,9% dos cães apresentaram alterações

radiográficas bilaterais compatíveis com a tendinose. A unilateralidade da lesão foi

marcante e notada em mais de 82% dos cães não havendo, entretanto, diferença entre

as proporções de membros torácicos esquerdos e direitos afetados. Estes dados

corroboram as observações de Lafuente et al. (2007) os quais, estudando cães com

tendinose calcificante e não calcificante do m. supra-espinhoso em 24 cães,

diagnosticaram lesões bilaterais apenas em um animal.

A manifestação de sinais clínicos decorrentes da afecção estudada deve ser

abordada com demasiada cautela devido à divergência de opiniões existentes na

literatura. Bree & Gielen (2006) relatam que a tendinose é raramente causa de

claudicação. Outros autores relatam que cães portadores de tendinose calcificante do

m. supra-espinhoso podem manifestar ou não dor ao exame clínico e claudicação (FLO

& MIDDLETON, 1990; KRIEGLEDER, 1995). Anderson et al. (1993), Beale (2002),

Danova & Muir (2003) e Anderson (2006) referem que atrofia muscular discreta da

musculatura do ombro e descorforto à palpação do tubérculo maior e à manipulação,

em especial à flexão, podem estar presentes. Além disso, discreta claudicação, que

pode ser permanente ou intermitente, crônica , com piora relacionada à atividade física

foi observada por Kriegleder (1995), Laitinen & Flo (2000), Beale (2002) e Fransson et

al. (2005). Paralelamente, tais artigos científicos relatam a alteração em poucos cães e,

não obstante, alguns destes cães possuíam outras alterações ortopédicas

concomitantes, dificultando a identificação da causa dos sinais clínicos (LAITINEN &

FLO, 2000).

De acordo com Muir (1997) e Kunkel & Rochat (2008), o diagnóstico específico

de afecção ortopédica pode ser difícil na prática, especialmente se os sinais clínicos

estiverem presentes por várias semanas. Falha na detecção dos sinais clínicos durante

o exame físico de cães com claudicação aguda ou crônica é a causa mais comum de

falha no diagnóstico específico. Diante disso, o Muir (1997) também ressalta a

importância da descrição de predisposições racias e etárias, por exemplo, que elevam a

habilidade do clínico em interpretar informações provenientes do exame físico. Segundo

ele, mineralização presente no tendão do m. supra-espinhoso é causa de claudicação

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em membros torácicos a ser investigada em cães médios ou grandes de meia-idade ou

idosos. Todavia, outras afecções comuns como displasia do cotovelo e tenossinovite do

m. bíceps podem causar sinais semelhantes em cães de faixa etária semelhante

(SCHULZ, 2001; JOHNSON & HULSE, 2002).

Neste trabalho, cerca de 70% dos cães estudados manifestou sinal clínico,

caracterizado por dor à manipulação do ombro e/ou claudicação discreta do membro

afetado. No entanto, por se tratar de estudo retrospectivo, é válido ressaltar que os cães

foram examinados por diferentes examinadores os quais, embora na teoria seguissem o

padrão de exame clínico ortopédico preconizado, padronizado e exigido na instituição,

efetuaram anotações, não raras, incompletas, dificultando conclusões sobre o tipo de

sinal clínico mais observado e o grau de claudicação dos cães. Adicionalmente, em

mais de 75% destes cães sintomáticos, houve o diagnóstico de outra(s) alteração(es)

ortopédica(s) no membro acometido pela tendinose, dentre elas tenossinovite bicipital,

displasia de cotovelo ou artrose do ombro em diferentes graus, osteocondrose da

cabeça umeral, discopatia cervical e/ou panosteíte considerada(s), em todos os casos,

causa primária dos sintomas. Na instituição onde foi realizado este estudo, a tendinose

calcificante do m. supra-espinhoso é, tradicionalmente, considerada achado radiográfico

sem importância clínica.

Diante da conduta adotada nos casos incluídos neste estudo retrospectivo, é

possível concluir que apenas 22 dos 144 cães estudados, manifestaram sinais clínicos

causados pela tendinose e, diante disto, apenas 15,3% da população afetada teria

apresentado alterações clínicas em decorrência da afecção, sendo que nos outros

cães, mais de 84% dos casos, a tendinose foi considerada clinicamente irrelevante. Tal

conclusão difere, todavia, enormemente da importância clínica da afecção na espécie

humana. Acredita-se que, no máximo, 20% dos humanos afetados sejam

assintomáticos e, dentre estes, cerca de 30 a 45% se tornarão sintomáticos com o

decorrer do tempo e desenvolvimento da lesão (RUPP et al., 2000). Comparações

semelhantes dentro da espécie canina não são possíveis devido à carência de artigos

publicados sobre a afecção e aos poucos estudos epidemiológicos existentes

compreenderem populações pequenas ou de tamanho indeterminado (MUIR &

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JOHNSON, 1994; LAITINEN & FLO, 2000). No entanto, devido às semelhanças

histológicas e microangiográficas do tendão do m. supra-espinhoso entre humanos e

cães, os últimos são utilizados como modelos experimentais (SAFRAN et al., 2005).

Dentre as alterações ortopédicas concomitantes encontradas nos cães

portadores da tendinose, todas, com exceção de incongruência rádio-ulnar e discopatia

cervical (situações em que técnicas cirúrgicas específicas foram realizadas e

acompanhadas de analgesia por opióides), foram tratadas com antiinflamatórios não

esteroidais (AINEs) e repouso por pelo menos quatro semanas. Este tratamento foi

precedido, em muitos cães, por artroscopia ou artrotomia do cotovelo, em casos de

displasia, tenotomia do bíceps braquial, em casos de tenossinovite bicipital grave ou

acompanhado por restrição dietética, em casos de panosteíte. É extremamente

importante ressaltar que as terapias conservativas, dentre elas, a administração

sistêmica prolongada de AINEs, são consideradas primeira escolha para tratamento de

tendinose calcificante do m. supra-espinhoso, apresentando elevadas taxas de

sucesso, de até 90%, em pacientes humanos (HURT & BAKER, 2003; LAM et al., 2006;

BETHUNE et al., 2007; HOFSTEE et al., 2007).

Também em cães, a terapia conservativa baseda em AINEs é indicada como de

primeira escolha e deve preceder a decisão de excisão cirúrgica de calcificação no

tendão do m. supra-espinhoso, segundo Muir & Johnson (1994), Kriegleder (1995),

Piermattei & Flo (1999), Laitinen & Flo (2000). Além disso, entre 6,4% a 32% dos

pacientes humanos, há resolução espontânea da calcificação e dos sinais de

desconforto por ela causados (ROMPE et al., 2000; HUGHES & BOLTON-MAGGS,

2002; CHAN et al., 2004; KRASNY et al., 2005; AMBACHER et al., 2007).

Diante dos fatos mencionados, acredita-se que a tendinose calcificante do m.

supra-espinhoso possa ter sido subestimada como causa dos sinais clínicos nos cães

estudados, visto que o tratamento medicamentoso proposto para estes cães coincidiu

com o tratamento inicial preconizado para a tendinose em questão. Além disso, existe a

possibilidade de ter havido resolução espontânea da afecção e, assim, também das

manifestações clínicas. Não houve reavaliação das lesões calcáreas por meio de

técnicas de imagem seriadas, a fim de se observar suas evoluções ao longo do tempo.

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Acredita-se que falta de conhecimento sobre a afecção, aliada aos raros estudos

existentes em cães e ao fato das raças mais acometidas serem também predispostas à

outras alterações ortopédicas comuns em membros torácicos, tais como a displasia de

cotovelo e tenossinovite do bíceps braquial (DAVIDSON et al., 2000; COOK, 2001;

SCHULZ, 2001), tenham dificultado o diagnóstico de tendinose calcificante do m. supra-

espinhoso como causa de claudicação.

Achados radiográficos de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso foram

primeiramente descritos por Painter em 1907. Desde então, diversas classificações

foram propostas, baseadas no tamanho, estágio do processo patológico e aparência

morfológica da calcificação em seres humanos. Os sistemas de classificação funcionam

como guia útil e prático para assegurar que a terapia a ser prescrita é adequada para

cada caso. Sabe-se que a tendinose calcificante pode ser multifocal e polimórfica, pode

acometer diferentes partes do tendão e apresentar-se, simultaneamente, em diferentes

estágios de evolução dentro do mesmo tendão (KAINBERGER & WEIDEKAMM, 2005;

LAM et al., 2006; AMBACHER et al., 2007).

O sistema de classificação radiográfica de Gärtner é bastante empregado e

divide as calcificações em três tipos (I, II e III), correlacionando-os aos achados

radiográficos, consistência das calcificações e a terapia mais adequada a ser aplicada.

O tipo I representa calcificações radiopacas e de margens bem definidas, apresentam

consistência rígida e são bastante responsivas ao tratamento com ondas de choque

extra-corpóreo. O tipo III é representado por mineralizações mais radioluscentes,

margens de difícil delimitação, apresentam consistência cremosa à líqüida e não

respondem bem à terapia de ondas de choque extra-corpóreo, mas sim à punção

aspirativa, pois já encontram-se em fase de reabsorção. O tipo II inclui as calcificações

consideradas de padrão intermediário, entre I e III. Há necessidade de que o sistema de

classificação seja aplicável e reprodutível, visto que a morfologia da calcificação

influencia a decisão terapêutica (RUPP et al., 2000; MAIER et al., 2003).

No decorrer da presente revisão, nenhum sistema de classificação das

alterações radiográficas observadas no tendão do m. supra-espinhoso de cães foi

encontrado. Os sistemas descritos para a espécie humana, como o de Gärtner, o da

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Sociedade Francesa de Artroscopia e o de Depalma & Kruper (RUPP et al., 2000;

HUGHES & BOLTON-MAGGS, 2002; HURT & BAKER, 2003; LAM et al., 2006;

HOFSTEE et al., 2007) não foram aplicáveis às imagens radiográficas incluídas no

presente trabalho, cujas mineralizações apresentaram-se morfologicamente mais

diversificadas, com margens difíceis de serem avaliadas quanto à definição e não foram

submetidas à punção ou avaliação artroscópica para estudo de sua consistência. Aliado

à grande diversidade morfológica das calcificações observada nos cães, encontra-se o

fato de que os sistemas de classificação utilizados em humanos já foram contestados

quanto à sua difícil reprodutibilidade (MAIER et al., 2003). Desta forma, a proposição de

um sistema que melhor se adequasse às alterações observadas nos ombros estudados

foi considerada prudente.

A classificação das alterações radiográficas presentes na região do tendão do m.

supra-espinhoso em cinco graus foi desenvolvida após a reavaliação das radiografias,

mediante as alterações observadas neste trabalho. Por meio deste método de

classificação, foi possível a graduação de todas a lesões encontradas. Sua

reprodutibilidade, bem como associação ao sucesso terapêutico, deve, porém, ser

avaliada com outros estudos.

A maioria das alterações radiográficas foi classificada como de graus 3 e 4,

caracterizadas, respectivamente, pela presença de pequena área radiopaca

acompanhada ou não de pontos calcificados em sua adjacência e pela presença de

pontos focais únicos de calcificação de tamanho médio a grande, bem distinguível,

apresentando radiopacidade média a intensa. Segundo Kriegleder (1995) e Hughes &

Bolton-Maggs (2002), o tamanho da calcificação não apresenta relação com a

manifestação de sinais clínicos ou com a gravidade dos mesmos, tanto em cães quanto

em humanos. Também no presente trabalho, não observou-se associação entre

manifestação de sinais clínicos e o grau radiográfico da lesão, de acordo com o teste

exato de Fischer. Faz-se pertinente a realização de outros estudos para verificar a

veracidade de tal afirmação.

Cintilografia, ressonância magnética e ultra-sonografia poderiam ser úteis na

diferenciação entre tendão ativamente inflamado e mineralização assintomática

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(LAITINEN & FLO, 2000; BURBANK et al., 2008). A primeira técnica, embora disponível

na instituição, não foi indicada para nenhum dos cães estudados. A cintilografia seria de

grande valia, especialmente em cães com mais de uma alteração ortopédica, pois

poderia se determinar qual delas representara, naquele determinado momento,

processo ativo (LAITINEN & FLO, 2000; BEGGS, 2004; GILBERT, 2007). Segundo

Dayanandan & Ho (2005), aumento de atividade localizada na área do depósito mineral

durante a fase inicial da cintilografia, seria indicativa de reação inlamatória local.

Imagem por ressonância magnética não foi indicada em nenhum dos cães, uma

vez que o método tornou-se disponível na instituição somente a partir do ano de 2006.

Ultra-sonografia do ombro foi realizada em 41 dos 144 cães, entretanto as alterações

no tendão do m. supra-espinhoso foram documentadas em apenas 21 deles.

Embora a técnica ultra-sonográfica tenha melhorado ao longo dos anos, a

anatomia sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso e estruturas adjacentes não foi

atualizada desde as primeiras publicações acerca do assunto (GERWING & KRAMER,

1994; TURRIN & CAPPELLO, 1997). A aparência ultra-sonográfica das lesões

calcificantes do tendão do m. supra-espinhoso, descrita no presente trabalho,

apresentou-se mais variada em relação à descrição de Gerwing & Kramer (1994) e Burk

& Feeney (2003), os quais a caracterizaram por estrutura hiperecóica nítida,

acompanhada ou não de sombra acústica distal. Observou-se, em algumas lesões,

padrões mais discretos, representados sonograficamente por heterogeneidade tendínea

ou presença de pontos hiperecóicos. Estrutura hiperecóica, especificada como área

hiperecóica na Tabela 1, foi observada na maioria dos cães (em 17 dos 21 cães

submetidos à ultra-sonografia), estando acompanhada ou não de heterogeneidade

tendínea, sombreamento acústico e halo hipoecóico reacional.

Segundo Beggs (2004), calcificações nos tendões do manguito rotador produzem

foco ecogênico à avaliação ultra-sonográfica. A maioria apresenta-se, em humanos,

puntiforme ou em forma de arco com sombra acústica. Ausência de sombra acústica,

ou sutileza da mesma, indica que a calcificação possui consistência menos sólida,

podendo ser aspirada. O mesmo autor menciona, no entanto, que a observação de

sombreamento acústico pode ser de difícil acesso se a calcificação estiver muito

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próxima ao córtex do úmero. Sombra acústica foi detectada e documentada em 10 dos

cães estudados; em todos estes casos, a classificação radiográfica foi de grau 3, 4 ou

5. O inverso, no entanto, não é verdadeiro, pois algumas outras lesões classificadas

radiograficamente como grau 3 ou 4 não formaram sombra acústica.

Com relação à presença de halo reacional, caracterizado por área hipoecóica

circujacente à calcificação e indicativo de reação inflamatória ao redor da mesma, foi

observado por meio de ultra-sonografia em seis dos 21 cães examinados. Em cinco

destes, houve manifestação de sinais clínicos e nenhuma alteração radiográfica no

membro sugestiva de afecção ortopédica concomitante. Como já hipotetizado por

Laitinen & Flo (2000), a aparência ultra-sonográfica da lesão parece ser útil na

diferenciação de processo inflamatório ativo e mineralização assintomática. Nenhum

artigo associando halo reacional ao redor da calcificação e manifestação de sinais

clínicos em cães foi encontrado durante esta compilação. Diante dos casos avaliados,

acredita-se que a presença de halo reacional seja forte indicativo de reação inflamatória

e deve ser correlacionada à manifestação de sinais clínicos.

A tendinose calcificante do m. supra-espinhoso ainda é pouco estudada em cães.

Acredita-se que as observações e hipóteses levantadas pelo presente estudo serão

úteis, em especial, por dar suporte a futuros estudos relacionados.

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2.5 CONCLUSÕES

Diante das observações contidas no presente trabalho, é possível concluir que:

- A tendinose calcificante do m. supra-espinhoso afeta, predominantemente, cães

de raças grandes, especialmente Rottweilers.

- Predisposição sexual para machos e etária, detacando-se idade entre 4 e 7,9

anos, é observada nos cães afetados.

- A lesão calcificante do tendão do m. supra-espinhoso apresenta tendência a

ocorrer unilateralmente.

- A tendinose calcificante do m. supra-espinhoso ocorre associada a outras

afecções ortopédicas, o que dificulta sua confirmação como causa da manifestação

clínica dos cães.

- As alterações radiográficas observadas no tendão do m. supra-espinhoso

podem ser classificadas em cinco graus.

- A avaliação ultra-sonográfica permite maiores informações sobre o parênquima

tendíneo. A identificação de hipoecogenicidade circundante à área calcificada pode ser

sugestiva de reação inflamatória.

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CAPÍTULO 3 – DIAGNÓSTICO POR IMAGEM DE TENDINOSE CA LCIFICANTE DO

MÚSCULO SUPRA-ESPINHOSO EM CÃES.

RESUMO - A tendinose calcificante do músculo supra-espinhoso é pouco

conhecida na espécie canina. As descrições radiográfica, ultra-sonográfica, tomográfica

e por meio de ressonância magnética das lesões em cães não estão estabelecidas na

literatura. O presente trabalho caracterizou-se pela descrição das observações obtidas

por meio de radiografia, ultra-sonografia, tomografia computadorizada e ressonância

magnética de dez cães portadores de tendinose calcificante do supra-espinhoso,

atendidos na rotina da Clínica Cirúrgica de pequenos animais da Universidade de

Giessen, Alemanha, entre julho de 2006 e julho de 2007. A radiografia foi método útil

como primeiro exame dos animais e classificação das lesões. A ultra-sonografia foi de

fácil execução e eficaz, além de possibilitar a observação de alterações em todos os

tendões avaliados e permitir a avaliação do tendão do músculo bíceps braquial. A

tomografia computadorizada também foi de fácil e rápida execução, porém não permitiu

o detalhamento de lesões discretas. A técnica pôde ser utilizada para mensuração da

área das lesões calcificadas e forneceu suas medidas de atenuação. A técnica utilizada

na ressonância magnética foi de difícil padronização e de tempo bastante prolongado. A

orientação sagital na seqüência T1 foi a melhor para a identificação das lesões

calcificadas do tendão do m. supra-espinhoso e a supressão de gordura (STIR) é

recomendável para identificação de líqüido intra-tendíneo.

Palavras-Chave: tenopatia do m. supra-espinhoso, radiografia, ultra-sonografia

tendínea, tomografia computadorizada, ressonância magnética.

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CHAPTER 3 –SUPRASPINATUS CALCIFYING TENDINOSIS IN D OGS. DIAGNOSTIC

IMAGING PROCEDURES.

ABSTRACT – Supraspinatus calcifying tendinosis is a relatively unknown

disorder in dogs. Its radiological, sonographic, tomographic and magnetic resonance

imaging descriptions are not found in the literature. In the present study, we aimed the

calcifying lesion description in ten affected dogs presented to the Small Animal Sugery

Clinics, Giessen University, between July 2006 and July 2007, using digital radiography,

ultrasonography, computed tomography and magnetic resonance imaging. The

radiological study was useful as first imaging method and on lesions calssification. The

ultrasonography was efficient and easily performed, showing alterations in all examined

tendons, allowing also biceps brachii tendon evaluation. Computed tomography was

easily and quickly performed, however it was not possible the detail discrete lesions.

This technique allowed the calcified area measurements and attenuation. Magnetic

resonance imaging standartlization technique was considered difficult and took a long

time. The T1 sequence at sagittal plan was the best to supraspinatus tendon calfication

detection. Fat suppression sequence (STIR) was advisable to intratendineous fluid

diagnosis.

Key words: Supraspinatus muscle tendinopathy, radiography, ultrasound,

computed tomography, magnetic resonance imaging.

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74

3.1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA

Mineralização dos tendões dos mm. subescapular, redondo menor, infra-

espinhoso e supra-espinhoso (estruturas do manguito rotador) é referida como a causa

mais comum de dor no ombro em seres humanos. Ocorre com maior freqüência no

tendão supra-espinhoso, apresenta grande importância clínica, embora possa ser

diagnosticada em indivíduos assintomáticos (ANDERSON et al., 1993; HOSFTEE et al.,

2007). Em cães, a relevância clínica da afecção não foi determinada e, durante muitos

anos, acreditou-se tratar apenas de achado radiográfico (FLO & MIDDLETON, 1990;

SKVORAK, 1993; MUIR & JOHNSON, 1994; KRIEGLEDER, 1995).

Em seres humanos, acredita-se que a manifestação de dor, comumente

observada, esteja mais relacionada à resposta inflamatória local que irritação mecânica

direta causada pelo depósito mineral (HURT & BAKER, 2003). Atualmente, assume-se

que a tendinose calcificante do m. supra-espinhoso pode levar à claudicação em cães,

usualmente relacionada à atividade física e após longo tempo em posição quadrupedal

(FRANSSON et al., 2005).

Seu diagnóstico é, no entanto, considerado difícil uma vez que os cães afetados

podem ou não manifestar sinais de dor ao exame clínico, mesmo que claudiquem em

decorrência da tendinose (KRIEGLEDER, 1995). Além disso, as observações possíveis

ao exame clínico, tais como atrofia muscular e dor à palpação do tubérculo maior, são

consideradas inespecíficas (SCHULZ, 2001; ANDERSON, 2006). Diferentemente do

observado em cães, a sensibilidade do exame clínico para detecção de tendinose do

supra-espinhoso é de 90% em humanos quando dois ou mais testes clínicos

específicos são positivos (DINNES et al., 2003). A especificidade do exame clínico

quanto ao tipo de lesão existente no tendão, no entanto, não ultrapassa 54% (DINNES

et al., 2003; MOOSIKASUWAN et al., 2005). Testes clínicos específicos para avaliação

do tendão do m. supra-espinhoso não existem na medicina veterinária, dificultando até

mesmo a suspeita da afecção.

Diante disto, a utilização de imagens no diagnóstico de alterações tendíneas faz-

se fundamental, particularmente na veterinária. Procedimentos não invasivos como

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radiografia e ultra-sonografia são recomendados. Técnicas adicionais como tomografia

computadorizada e imagem por ressonância magnética também podem ser incluídas,

quando disponíveis (SCHULZ, 2001).

Em relação à avaliação do ombro, radiografias tecnicamente excelentes de

ambas as articulações devem ser produzidas, quando da suspeita de claudicação com

origem nesta articulação. Falha na percepção de alterações é comumente decorrente

de má-qualidade técnica das radiografias, resultantes de sub ou superexposição,

posicionamento impróprio ou quantidade insuficiente de projeções. Em geral, é

necessária sedação ou anestesia para o correto posicionamento do paciente (BREE &

GIELEN, 2006).

As projeções radiográficas indicadas para o diagnóstico de tendinose calcificante

do m. supra-espinhoso em cães são a médio-lateral, na qual se observa a

mineralização adjacente ao tubérculo maior, e a projeção tangencial ou “sky line”, a qual

permite a localização da lesão em relação ao sulco intertubercular (FLO &

MIDDLETON, 1990; PIERMATTEI & FLO, 1999; ANDERSON, 2006). O aspecto da

lesão é comumente descrito como focal e bem delimitado, com formato ovóide ou

irregular e diferentes localizações ao longo da estrutura tendínea (ANDERSON, 2006).

Radiograficamente, mineralização do tendão do m. supra-espinhoso é visibilizada

sobreposta ou cranial ao tubérculo maior nas projeções médio-lateral e tangencial. À

projeção caudocranial, a alteração é dificilmente diferenciada de calcificação do tendão

do m. bíceps braquial (SKVORAK, 1993).

Avaliação radiográfica é também importante no diagnóstico diferencial de outras

anormalidades concomitantes à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso,

especialmente doença articular degenerativa, osteocondrose do ombro e displasia de

cotovelo, afecções menos raras que podem ser a real causa da claudicação (LAITINEN

& FLO, 2000).

O uso de contrastes positivos intra-articulares pode, adicionalmente, auxiliar na

localização precisa dos depósitos minerais, ao delinear o tendão do m. bíceps braquial

possibilitando, dessa forma, demonstrar eventual contato da mineralização com a

bainha deste tendão (ANDERSON et al., 1993; ANDERSON, 2006). Artrocentese e

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análise do líqüido sinovial não auxiliam no diagnóstico, uma vez que o tendão supra-

espinhoso é extracapsular, mas podem ser úteis na avaliação de outras possíveis

causas da claudicação (LAITINEN & FLO, 2000).

De acordo com Farrow (2003), localizar radiograficamente mineralizações

presentes em tecidos moles é possível. No entanto, pequenos fragmentos decorrentes

de fratura, osteófitos, sesamóides vestigiais e fragmentos osteocondrais podem não ser

diferenciados com clareza em todos os casos.

Segundo Burk & Feeney (2003), a ultra-sonografia pode ser utilizada na

determinação da natureza e extensão de alterações em tecidos moles. Artigos sobre

sua utilização, no diagnóstico de lesões tendíneas do ombro humano, datam do final da

década de 1970 e já descreviam o método como muito eficaz, com 92 a 94% de

diagnósticos corretos, confirmados por meio de cirurgia (TEEFEY et al, 2000). Sua

aplicação na ortopedia de pequenos animais foi efetuada apenas da década de 1990,

com as descrições dos aspectos anatômicos ultra-sonográficos das articulações do

quadril e do ombro de cães. A ultra-sonografia permite a avaliação precisa de tendões e

músculos, exatamente como a radiografia o faz em tecidos ósseos (KRAMER &

GERWING, 1996).

Embora estudos clínicos tenham indicado a ultra-sonografia como método

insensível (RIVERS et al., 1992), o advento de transdutores de maior resolução fornece

informações valiosas na investigação de diversas afecções de tecidos moles. Ultra-

sonografia músculo-esquelética é largamente utilizada no campo médico. O exame de

alterações de tecidos moles do ombro, especialmente relacionadas às estruturas do

manguito rotador, é rotineiramente realizado por meio desta técnica, cuja sensibilidade

diagnóstica é comparável à da ressonância magnética e artroscopia. Sua aplicação tem

sido gradativamente difundida na medicina veterinária (STILES & OTTE, 1993; TYSON,

1995; KRAMER et al., 1997; LONG & NYLAND, 1999; BRUCE et al., 2000; TEEFEY et

al., 2000; KRAMER et al., 2001; IANNOTTI et al., 2005).

Os custos deste exame são relativamente baixos, é rapidamente efetuado,

oferece capacidade de avaliação dinâmica em diferentes planos, posições e

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movimentos específicos do membro, além de ser capaz de focalizar a região a ser

examinada (DINNES et al., 2003; PAPATHEODOROU et al., 2006).

A técnica ultra-sonográfica correta utilizada na avaliação do ombro é dependente

de diversos fatores, dentre os quais: o correto posicionamento do paciente, a

proposição do protocolo de varredura adequado para cada um dos tendões e partes

anatômicas a serem avaliadas (PAPATHEODOROU et al., 2006). A padronização do

exame sonográfico do ombro de cães foi descrita por Gerwing & Kramer (1994) e

preconizava, desde então, a necessidade de sedação ou anestesia do paciente. O

posicionamento deve ser em decúbito lateral, com o ombro a ser avaliado para cima,

tricotomizado da metade da escápula até metade do úmero e coberto com gel para

ultra-som.

O exame ultra-sonográfico é dinâmico e deve ser realizado com transdutor linear

de, no mínimo, 7,5 MHz (KRAMER et al., 1997, KRAMER et al., 2001). A observação de

calcificações como estruturas hiperecóicas no tendão supra-espinhoso, de delimitações

irregulares, formando ou não sombra acústica, na maioria dos casos sem reação

inflamatória circundante, localizadas na transição músculo-tendínea denotam a

presença da afecção (GERWING & KRAMER, 1994).

Em se tratando de tendões, por meio de exame ultra-sonográfico, é possível,

adicionalmente, a diferenciação de alterações como ruptura parcial ou completa,

formação de tecido fibroso, abscesso, metaplasia, neoplasia, inflamação e calcificação,

sendo também útil na distinção entre inflamação ativa e calcificação assintomática

(GERWING & KRAMER, 1994; KRAMER et al., 1997; LAITINEN & FLO, 2000;

KRAMER et al., 2001; DINNES et al., 2003; BEGGS, 2004).

Estudos recentes com tendinose do Achilles em humanos indicam a aplicação de

Doppler colorido na realização do exame ultra-sonográfico. O Doppler colorido revelou a

presença de neovascularização na área dolorosa do tendão, em todos os casos de

tendinose (BOESEN et al., 2006; HOKSRUD et al., 2006). Sinal anormal produzido por

meio de avaliação com Doppler colorido ao redor da calcificação no tendão do m.

supra-espinhoso apresentou correlação positiva com a presença de dor em seres

humanos (BEGGS, 2004). Nenhuma informação sobre a aplicação de Doppler colorido

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na avaliação do tendão do m. supra-espinhoso em cães foi encontrada na revisão

compilada.

Segundo Rupp et al. (2000), a ultra-sonografia apresenta elevada sensibilidade

no diagnóstico de depósito mineral em tendões e sua aparência é dependente de sua

capacidade física em ecoar ou não as ondas, proporcional à sua densidade. Existe,

assim, correlação entre a consistência da mineralização e aparência sonográfica da

mesma. Entretanto, de acordo com Farin (1996), o melhor método para avaliação da

consistência dos depósitos minerais no tendão do m. supra-espinhoso é a tomografia

computadorizada (TC).

Muitos pesquisadores assumem como maior vantagem da TC, a reconstrução

computadorizada que a acompanha, capaz de gerar cortes seriados transversais. Tal

qualidade praticamente elimina a incerteza tridimensional, comumente problemática

para o radiologista que avalia imagens bidimensionais (KROHMER, 1989;

STOCKBURGER, 2004).

A técnica de TC baseia-se na densitometria dos raios-X e utiliza os mesmos

princípios básicos da radiografia convencional. Nos aparelhos mais modernos de TC

helicoidal, o paciente é submetido à varredura pelo sistema tubo-detector rotacional,

enquanto é transportado por uma mesa através do tubo. O procedimento é rápido,

todavia, de custo relativamente alto e requer anestesia geral quando realizado em cães

(OHLERTH & SHARF, 2007).

A atenuação dos raios-X pelos tecidos pode ser, posteriomente, mensurada em

unidades denominadas unidade Hounsfield (HU) ou números de TC. Sendo o valor da

atenuação da água considerado zero HU, o do ar -1000 HU e o valor dos tecidos

dispostos sempre em relação a estes valores. Desta forma, preto, branco e diferentes

tons de cinza apresentam diferentes valores em HU (OHLERTH & SHARF, 2007).

A tomografia computadorizada adicionou outra dimensão à avaliação de

alterações músculo-esqueléticas. Sua habilidade em discernir mudanças sutis nas

densidades teciduais associada à capacidade em demonstrar estruturas em planos

axiais, melhorou muito a chance de diferenciação de alterações teciduais

(RIDDLESBERGER & KUHN, 1983). Sua utilização é justificável, especialmente, em

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situações nas quais a sobreposição de estruturas ósseas deve ser evitada, quando há

necessidade em se avaliar a extensão das lesões ou em determinar o tipo de

calcificação ou fragmentos observados em radiografias simples (BREE & GIELEN,

2006).

Segundo Farin (1996), por meio desta técnica, é possível a diferenciação entre

as duas principais fases envolvendo a fisiopatologia da tendinose calcificante do m.

supra-espinhoso em seres humanos: fases de formação e de reabsorção da

mineralização. Comparando-se as diferenças em HU nas margens e a capacidade de

atenuação (medida em HU) das calcificações, os autores notaram que calcificações

bem delimitadas e homogêneas eram indicativas da fase de formação; ao passo que

aquelas pouco definidas, mal-delimitadas e de baixa densidade indicavam a fase de

reabsorção, geralmente associada ao quadro clínico agudo da doença.

Extrapolando-se para a área da urologia, os valores de atenuação de cálculos

renais, obtidos em HU, são utilizados na predição do sucesso terapêutico de ondas de

choque extra-corpóreo na fragmentação destes cálculos. Observou-se que quanto

maior o valor da atenuação, menor a chance de sucesso com esta terapia (JOSEPH et

al., 2002; PAREEK et al., 2003). Entretanto, TC fornece, fundamentalmente,

informações relativas às alterações traumáticas do ombro e possibilita avaliação

limitada dos tecidos moles desta região (KING & HEALY, 1999; BEGGS, 2004).

Nenhum estudo envolvendo TC e tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em

cães foi encontrado na literatura consultada.

Em se tratando da articulação do ombro, a imagem por ressonância magnética

(IRM) atingiu aceitação mundial como o método não invasivo de escolha, por avaliar

com exatidão ligamentos e tendões e apresentar, além disso, elevada sensibilidade e

especificidade no diagnóstico de várias afecções destas estruturas em seres humanos

(KJELLIN et al., 1991; GÜCKEL & NIDECKER, 1998). É referida como método de

eleição na avaliação de pacientes com dor em ombro, todavia limitada pelos elevados

custos e tempo prolongado de execução (LONG & NYLAND, 1999; ZLATKIN, 2006).

Desenvolvida na década de 70, a IRM consiste de imagens originadas da

interação entre o campo magnético externo, ondas de rádio e núcleos de hidrogênio do

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corpo. O contraste tecidual observado por meio deste método é baseado nas diferenças

entre as propriedades magnéticas de cada tecido. Resoluções superiores de imagem e

sua capacidade em gerar imagens em planos, fizeram da IRM a técnica não invasiva

principal para avaliação de alterações articulares (SCHAEFER & FORREST, 2006).

Alterações na aparência do tendão do m. supra-espinhoso em pacientes

humanos com dor em ombro são achados comuns em exames de IRM. KJELLIN et al.

(1991) observaram que alterações de imagem produzidas pela IRM de tendões obtidos

de cadáveres humanos, tais como espessamento ou estreitamento do tecido,

correspondiam bem aos achados histopatológicos. Também esclareceram que

depósitos de cálcio estavam associados à degeneração eosinofílica e, em geral,

apresentavam-se, à ressonância, como áreas tendíneas hipointensas, circundadas,

muitas vezes, por áreas hiperintensas.

Vários estudos relatam que o tendão do m. supra-espinhoso humano normal

apresenta intensidade baixa e uniforme de sinal à IRM. Por meio deste método, é

possível o diagnóstico de ruptura parcial, total, tendinite e degeneração, já que a

principal vantagem da IRM é sua habilidade em distingüir as substâncias que fazem

parte do tendão (LIOU et al., 1993).

Embora um atlas geral de anatomia canina em IRM esteja disponível, nota-se a

carência de descrição anatômica detalhada sobre os componentes ligamentares e

tendíneos do ombro canino (ASSHEUER & SAGER, 1997). Apenas um trabalho,

realizado em cadáveres, que descreve a anatomia do ombro de cães à IRM foi

encontrado nesta revisão (SCHAEFER & FORREST, 2006).

Para a realização da varredura, o cão deve se encontrar sob anestesia geral,

posicionado em decúbito lateral e ser submetido a forte campo magnético externo,

geralmente entre 0,5-3T (SCHAEFER & FORREST, 2006). O protocolo de rotina para

avaliação do ombro humano inclui as sequências T2, T2* gradient echo e T1. A

sequência T2 parece ser mais útil, pois proporciona maior contraste de estruturas

articulares (ZLATKIN, 2006). Muitos centros utilizam imagens produzidas por T2, em

planos coronais, como seqüência padrão para avaliação das estruturas do manguito

rotador (PARSA et al., 1997).

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Zlatkin (2006) refere que em imagens obtidas por T2, a gordura apresenta-se

hiperintensa e, portanto, sua diferenciação do sinal produzido por presença de líqüido, é

difícil. Por este motivo, técnicas que suprimem o sinal da gordura são comumente

adicionadas ao exame. Os tipos mais comuns de supressão de gordura são o short tau

inversion recovery (STIR) e a saturação de gordura. O autor descreve que métodos

como STIR T2 podem melhorar a visibilização de alterações nos tendões do ombro em

humanos. Imagens com supressão de gordura melhoram a diferenciação entre gordura

e fluido, aumentando a sensibilidade diagnóstica de lesões e reduzindo formação de

artefatos (SAHIN-AKYAR et al., 1998). No entanto, imagens com supressão de gordura

possuem menor contraste de imagem (KIJOWSKI et al., 2005). Nenhum trabalho

envolvendo IRM e tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em cães foi encontrado

na literatura consultada.

Objetivou-se, com o presente estudo, a descrição detalhada de lesões

calcificadas de tendinose do m. supra-espinhoso em casos clínicos observados na

espécie canina, por meio de diferentes métodos de imagem (radiografia, ultra-

sonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética). Paralelamente,

objetivou-se determinar os protocolos, ainda inéditos, de TC e IRM na avaliação do

tendão do m. supra-espinhoso de cães. O intuito final foi de se avaliar qual dos métodos

de imagem aplicados apresentou-se mais adequado para avaliação das lesões de

tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em cães.

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3.2 MATERIAL E MÉTODOS

3.2.1 Animais e local

Foram acompanhados os casos clínicos atendidos no setor de Ortopedia de

pequenos animais no período de julho de 2006 a julho de 2007, na Clínica Cirúrgica de

Pequenos Animais da Universidade Justus-Liebig (JLU) em Giessen, Alemanha. Dez

cães foram selecionados após exames clínicos e indícios de alterações radiográficas

inerentes ao tendão do m. supra-espinhoso. Em concordância com os respectivos

proprietários, os animais foram submetidos a outros métodos de diagnóstico por

imagem sob anestesia geral (Item 3.2.3). Ultra-sonografia do ombro foi efetuada em

todos os dez cães e utilizada como método confirmatório das lesões previamente

observadas nas radiografias; em nove dos cães, foi possível a realização de tomografia

computadorizada e em sete, ressonância magnética do ombro afetado (Tabela 1).

Tabela 1: Relação de cães atendidos na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da JLU, Giessen, Alemanha, entre julho de 2006 e julho de 2007, portadores de tendinose calcificante do m. supra-espinhoso e os procedimentos de diagnóstico por imagem neles realizados.

Caso RX US CT IRM 1 X X X Não 2 X X X X 3 X X X X 4 X X X X 5 X X X X 6 X X X X 7 X X X X 8 X X X X 9 X X Não Não 10 X X X Não

RX: exame radiográfico; US: exame ultra-sonográfico; TC: exame por tomografia computadorizada; IRM: exame por imagens de ressonância magética; Não: exame não realizado.

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3.2.2 Avaliação clínico-epidemiológica

Em cada um dos dez cães determinou-se o grau de claudicação, classificando-o

na escala de 0 a 4 (grau 0: livre de claudicação; grau 1: claudicação discreta; grau 2:

claudicação moderada; grau 3: claudicação grave; grau 4: incapacidade de apoio do

membro), segundo método adotado na própria instituição. Estes achados, adicionados

à raça, idade, sexo, especificação do membro acometido pela tendinose calcificante do

supra-espinhoso, do membro que manifestou sinais clínicos e informações acerca de

outras afecções ortopédicas correlatadas foram descritos. Nestes cães foram efetuados

exames clínicos ortopédico e neurológico completos. Como exame de triagem, foi

utilizado a radiografia dos ombros e cotovelos. Quando da suspeita de outras alterações

ortopédicas, houve a confirmação por meio de ultra-sonografia, tomografia

computadorizada, artroscopia ou ressonância magnética, sob anestesia geral (Item

3.2.3).

3.2.3 Protocolo anestésico

Quando da necessidade de anestesia, os cães foram submetidos à pré-

medicação com clorpromazina3 (1 mg/kg IM, máximo 25mg por animal) e indução com

propofol4 (6mg/kg IV) para adequado posicionamento e realização da ultra-sonografia

dos tendões dos mm. supra-espinhoso e bíceps braquial e de tomografia

computadorizada dos ombros. Quando necessário, os cães receberam doses extras,

em bólus, do agente indutor (1mg/kg a cada 5 minutos). Nos casos encaminhados para

realização de ressonância magnética, optou-se pela manutenção em sistema fechado

de inalação de gases, com isofluorano5, devido à longa duração do procedimento. Na

maioria dos casos, os animais foram submetidos apenas uma vez à anestesia geral e

os exames de imagem realizados na seqüência: ultra-sonografia, tomografia

computadorizada e, por último, ressonância magnética. 3 Megaphen – Bayer AG, Leverkusen - Alemanha 4 Propofol 1% - Fresenius Kabi, Bad Homburg - Alemanha 5 Isoflurane – Aventis Pharma, Frankfurt am Main - Alemanha

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3.2.4 Avaliação radiográfica

Foram realizadas radiografias6 digitalizadas bilaterais das articulações do ombro

na projeção médio-lateral, e cotovelos nas projeções craniocaudal e médio-lateral,

mesmo quando os sinais clínicos foram unilaterais, seguindo recomendações de FLO e

MIDDLETON (1990) e LAITINEN e FLO (2000). As exposições radiográficas, KVp e

mAs, foram estabelecidas em função da espessura e da região a ser radiografada e as

unidades utilizadas seguiram valores pré-estabelecidos e configurados no comando do

aparelho de raios-X (Figura 1).

Na análise radiográfica, procurou-se localizar neoformações ósseas, craniais ou

sobrepostas ao tubérculo maior, caracterizá-las quanto à radiopacidade, forma

estrutural e quantidade, classificando-as em cinco graus segundo proposto no item

2.2.2.2, capítulo 2. As radiografias também foram utilizadas no diagnóstico diferencial

de outras afecções, tais como osteocondrose ou osteocondrite dissecante do ombro,

doença articular degenerativa do ombro ou do cotovelo, displasia do cotovelo e nas

suspeitas de tenossinovite do m. bíceps braquial.

6 GE Televix 1600, combination x-ray and fluoroscopy machine. General Eletric (Fairfield), Inc3135 Easton Turnpike, CT 06828, USA; PCR Eleva software, Philips Healthcare (Best), P.O. box 10000, 5680 DA, Holanda.

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Figura 1: Imagem fotográfica (A) do aparelho de raios X utilizado para produção das radiografias; (B) do dispositivo que possibilita a digitalização da imagem; Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007.

3.2.5 Avaliação ultra-sonográfica

Os exames sonográficos foram realizados com transdutor multifreqüencial linear

de 7,5 a 14 MHz7, 4,5 cm de comprimento, utilizando-se, para avaliação dos tendões,

as opções 12 e 14 MHz. O paciente foi submetido à anestesia geral e toda a região ao

redor da articulação do ombro foi tricotomizada e coberta por gel (Figura 2). O animal foi

posicionado em decúbito lateral, com o membro a ser examinado para cima. Efetuou-se

a varredura com o ombro em posição neutra (KRAMER & GERWING, 1996; KRAMER

et al., 1997; LONG & NYLAND, 1999), obtendo-se imagens digitalizadas8 nos planos

transversais e longitudinais do tendão do m. supra-espinhoso.

Avaliou-se, especialmente, a possibilidade de detecção de calcificação no

tendão, sua aparência, formação ou não de sombra acústica e de reação inflamatória

circunjacente. Em cinco cães, utilizou-se o Doppler colorido centrado sobre o tendão do 7 Logic 9, GE: General Eletric (Fairfield), Inc3135 Easton Turnpike, CT 06828, USA. 8 Digital Programme SonowinR, MESO Ingenieurbüro Medizinische Software GbR (Berlin), 19 Wichertstrasse, D 10439, Alemanha.

A B

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m. supra-espinhoso em plano longitudinal (BOESEN et al., 2006; HOKSRUD et al.,

2006), com intuito de se determinar a presença de neovascularização local.

Em todos os cães, foi avaliado o tendão do m. bíceps braquial nos planos

longitudinal e transversal, com o membro em flexão e abdução segundo técnica descrita

por Kramer et al. (2001), na tentativa de se observar eventual contato da calcificação

com sua bainha e se realizar o diagnóstico diferencial para tenossinovite bicipital.

Figura 2 : Imagem fotográfica (A) do aparelho de ultra-som utilizado na produção das imagens dos tendões examinados; (B) do cão anestesiado, tricotomizado e posicionado para procedimento ultra-sonográfico do ombro; Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007.

A

B

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3.2.6 Avaliação por tomografia computadorizada

Nove cães foram submetidos à anestesia geral, posicionados em decúbito lateral

direito, cabeça direcionada ao tomógrafo9 (Figura 3), conforme padronização local da

técnica. A varredura de cada cão foi programada para apresentar 300 mm de

comprimento, 400 mm de altura e 1 mm de espessura de corte, com centralização no

esterno, de modo que ambos os ombros fossem incluídos no exame. Aplicou-se 120

kVp e 60 a 80 mA para obtenção das imagens em planos transversais, sagitais e

dorsais. Posteriormente, realizou-se a reconstrução em janelas de tecidos moles,

tecidos ósseos e imagens tridimensionais.

Figura 3: Imagem fotográfica de cão anestesiado e submetido à tomografia

computadorizada dos ombros. Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007.

9 Brilliance™ CT: 6-Slice; Philips Medical Systems (Cleveland), Inc. 595 Miner Road. Highland Heights, OH 44143, USA.

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88

Primeiramente, procurou-se determinar as alterações presentes no tendão supra-

espinhoso e caracterizá-las. Em seguida, as calcificações foram avaliadas quanto à

localização, forma estrutural e dimensionadas por meio de duas medidas

perpendiculares entre si realizadas nos eixos maior (medida máxima) e menor (medida

mínima) em milímetros (Figura 4A), da área (mm2) e quanto à capacidade média de

atenuação dos raios-X (unidade Hounsfield - HU), como ilustra Figura 4B, nos três

diferentes planos de imagens bidimensionais (dorsal, sagital e transversal) e nas

janelas para tecidos moles e ósseos em software apropriado10. Cada região calcificada

forneceu duas medidas distintas de atenuação, pois foi mensurada a atenuação do

centro e na periferia da estrutura. Essas medidas foram obtidas após a escolha

aleatória de três pontos de cada uma das regiões, de forma que fossem estabelecidos

os valores superior e inferior de HU observados no centro e na periferia. Os dados

foram obtidos na imagem cuja visibilização foi considerada ótima, nas janelas de

tecidos moles e ósseo, nos cortes dorsal, sagital e transversal.

10 Philips viewer: Philips Medical Systems (Cleveland), Inc. 595 Miner Road. Highland Heights, OH 44143, USA.

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89

Figura 4: Imagem obtida por meio de tomografia computadorizada em janela de tecidos ósseos, plano dorsal, do ombro esquerdo do cão número 3 e direito do cão número 4, respectivamente. A, É possível observar como foram realizadas as medidas (mensurações perpendiculares) de dimensão da calcificação, denominadas medida máxima (7,6mm) e mínima (5,3mm). B, é possível verificar como foram realizadas as medidas (delimitação da calcificação) de área (19,2 mm2) e HU média (577,8 HU) na calcificação. Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007.

Por não ter sido encontrada, na literatura consultada, padronização da técnica de

TC na avaliação da calcificação presente no tendão supra-espinhoso em cães,

procurou-se avaliar metodologia empregada utilizando-se análise dos próprios valores

encontrados neste estudo.

A B

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90

3.2.7 Avaliação por imagem de ressonância magnética

Foram obtidas imagens por meio de ressonância magnética11 (Figura 5) dos

ombros de sete cães (Tabela 1). Os animais foram anestesiados e posicionados em

decúbito lateral, com o ombro a ser avaliado para cima. Uma bobina circular

desenvolvida para pequenas regiões anatômicas12 do corpo humano foi utilizada ao

redor do ombro a ser avaliado. Três planos (sagital, transversal e dorsal), em cada série

de pulsos, foram usados no delineamento da sequência das imagens desejadas,

tomando por referência anatômica a articulação do ombro propriamente dita e o

tubérculo maior. A largura estabelecida para cada plano de corte (SW) foi de 3,0 mm,

intervaladas por espaço de 0,3 mm (Gap). As imagens T1 foram obtidas utilizando-se

tempo de duração do eco (TE) de 15 ms, repetidos (TR) de 650 a 1700 ms e num

ângulo de 90 graus (FA). As imagens T2 foram obtidas com TE de 100 ms, TR com

variação de 2500 a 5300 ms, FA de 90 graus. Adicionalmente, para confirmação da

suspeita de edema intratendíneo sugerido na seqüência T2, imagens com supressão de

gordura (STIR) foram obtidas no plano sagital, aplicando-se TE de 50 ms, TR de 2500

ms e FA de 90 graus.

Na realização da IRM buscou-se verificar a possibilidade de detecção da

calcificação no tendão do m. supra-espinhoso nas diferentes sequências de imagens

(T1 e T2), bem como a descrição de sua aparência em cada sequência e a

determinação da existência de edema intratendíneo e de contato da calcificação com a

bainha do tendão do m. bíceps braquial. Procurou-se avaliar metodologia empregada

avaliando-se as próprias imagens obtidas neste estudo.

11 0.5 Tesla-NMR-device (cylinder system) - refurbished - Philips GYROSCAN NT 0.5, magnet and table for patients: Philips Medical Systems (Cleveland), Inc. 595 Miner Road. Highland Heights, OH 44143, USA. 12 Sense Flex M Coil 14x17 cm: Philips Medical Systems (Cleveland), Inc. 595 Miner Road. Highland Heights, OH 44143, USA.

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91

Figura 5: Imagem fotográfica do aparelho de ressonância magnética utilizado no

exame dos cães incluídos neste estudo. Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, 2007.

3.2.8 Avaliação das imagens e análise estatística

As observações decorrentes dos exames radiográficos, ultra-sonográficos,

tomografia computadorizada e imagem por ressonância magnética estão apresentados

sob as formas descritiva, tabelas e figuras.

As variáveis de dimensão da calcificação em milímetros (medidas mínima e

máxima), obtidas por meio da tomografia computadorizada, foram comparadas nos

diferentes planos (sagital, transversal e dorsal) e janelas de reconstrução (tecidos moles

e ósseo) pelo teste de Tukey, com 95% de probabilidade. A capacidade de atenuação

dos raios-X em unidade Hounsfield (medidas máxima e mínima), mensuradas em duas

diferentes regiões da calcificação (centro e periferia) foram submetidas à análise de

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92

variância (ANOVA) e suas médias comparadas pelo teste de Tukey, com 95% de

probabilidade, levando-se em consideração as janelas utilizadas na reconstrução da

imagem, (tecidos moles e ósseo) e planos de corte (sagital, transversal e dorsal). Os

valores médios das áreas das calcificações e HU médio foram comparados quanto à

janela de reconstrução utilizada (tecidos moles e ósseo) pelo teste pelo teste de Tukey,

com 95% de probabilidade, para se estabelecer diferença entre as mensurações

dependendo da janela de recontrução aplicada (PETRIE & WATSON, 2006). Além

disso, estas duas medidas (área e atenuação média) foram testadas pelo teste de

correlação de Pearson, a fim de se estabelecer possível relação entre elas. O programa

utilizado para análise estatística foi o SAS, versão 9.113 (SCHLOTZHAVER & LITTEL,

1997).

3.3 RESULTADOS

3.3.1 Achados clínico-epidemiológicos

Os casos incluídos neste estudo estão distribuídos segundo a raça, idade, sexo,

grau de claudicação, membro acometido e alterações ortopédicas concomitantes na

Tabela 2.

13 Versão 2003, para Windows XP. SAS Institute Inc., Cary, NC.

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Tabela 2 : Cães atendidos na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, durante 12 meses, distribuídos segundo raça, idade, sexo, membro acometido por tendinose do m. supra-espinhoso, grau de claudicação ao exame clínico e membro acometido, alterações ortopédicas concomitantes.

Caso Raça Idade (anos) Sexo

Membro acometido tendinose

supra-espinhoso

Grau de claudicação e

membro

Alterações concomitantes

1 Boxer 3 Macho Direito 2 MTD FCP bilateral

2 SRD 3 Macho

castrado Direito 2 MTD

FCP bilateral, mineralização m. infra-espinhoso

bilateral, inflamação m. serrátil ventral dir

3 Rottweiler 7 Macho

castrado Direito 1 MTD FCP bilateral, artrose

ombro bilateral

4 Labrador 6 Macho Esquerdo 4 MPE

FCP e artrose cotovelo bilateral,

artrose ombro bilateral, OCD e

artrose tarso bilateral

5 Montanhês de Berna

6 Fêmea Bilateral 2 MT bilateral Tenossinovite bíceps grau III bilateral

6 SRD 9 Macho Direito 2 MTD FCP bilateral

7 Pastor Australiano

7 Fêmea

castrada Esquerdo 1 MTE

Tenossinovite bíceps esquerdo, artrose

ombro bilateral

8 Labrador 1,5 Macho Direito 0 FCP e OCD cotovelo

direito, OC ombro direito

9 Rottweiler 2 Macho Esquerdo 1 MTD, 2 MTE FCP bilateral

10 Rottweiler 3,5 Macho

castrado Bilateral 0 FCP direito,

discopatia cervical MTD = membro torácico direito; MTE = membro torácico esquerdo; MPE = membro pélvico esquerdo; FCP = fragmentação do processo coronóide medial da ulna; OC = osteocondrose; OCD = osteocondrite dissecante; SRD = sem raça definida.

Dos dez cães com suspeita radiográfica de tendinose calcificante do m. supra-

espinhoso, três eram da raça Rottweiler (30%), dois Labradores (20%), dois sem raça

definida (SRD, 20%), um Boxer (10%), um Montanhês de Berna (10%) e um Pastor

Australiano (10%). Todos os animais apresentaram peso corpóreo superior a 20 kg,

tendo o mais leve 21 kg (Caso 7) e o mais pesado 50 kg (Caso 9).

Com relação à idade, houve variação de 1,5 a 9 anos. A maioria dos cães

apresentou-se na faixa etária entre 3 a 7 anos (70% dos casos). Oito cães eram

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machos (80%), sendo cinco não-castrados e três castrados. Os dois animais restantes

eram fêmeas (20%), sendo uma não-castrada e outra castrada.

Observaram-se, por meio de radiografia, em cinco casos (50%), alterações

compatíveis com tendinose calcificante do m. supra-espinhoso somente no ombro

direito (Casos 1, 2, 3, 6 e 8); em três casos (30%), o ombro acometido foi o esquerdo

(Casos 4, 7 e 9); e em dois cães (20%) foi possível identificar as alterações

bilateralmente (Casos 5 e 10).

Em 70% dos cães (Casos 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 9) o membro claudicante correspondia

ao antímero portador de alterações radiográficas compatíveis com tendinose do m.

supra-espinhoso. O grau de claudicação destes pacientes foi classificado em grau 1

(dois cães, 29%) ou 2 (cinco cães, 71%), claudicação considerada como discreta a

moderada. Os casos 8 e 10 não apresentaram claudicação no momento do exame

clínico, porém ambos tinham histórico de claudicação discreta do membro torácico

esquerdo relatado pelos proprietários. O cão número 4 apresentou claudicação apenas

no membro pélvico esquerdo.

Quatro dos cães (Número 2 lado direito, 5 ambos os ombros, 6 direito e 7

esquerdo) manifestaram dor ao exame físico do ombro, em especial à extensão da

articulação. Dois cães não apresentaram nenhuma alteração clínica digna de nota

(Casos 1 e 10) no momento do exame físico. Cinco cães manifestaram reação de dor à

pressão da região medial da articulação dos cotovelos (3 bilateral, 4 bilateral, 6 cotovelo

direito, 8 direito e 9 bilateral), acompanhado de espessamento articular ou distenção

capsular e diminuição de amplitude de movimento da mesma articulação (Casos 4 e 9

bilaterais). Adicionalmente, notou-se dor e grave espessamento da articulação do tarso

esquerdo do cão número 4.

Em todos os cães, foram diagnosticadas, com auxílio de métodos de imagem,

afecções ortopédicas concomitantes à tendinose calcificante do m. supra-espinhoso.

Em 80% deles (Casos 1, 2, 3, 4, 6, 8, 9 e 10), as alterações consistiram de

fragmentação do processo coronóide medial da ulna (FCP), com diagnósticos positivos

à tomografia computadorizada, seguida de artroscopia dos cotovelos. Em um caso (cão

10), a FCP foi acompanhada por histórico de hérnia de disco cervical (C6-7), tratada

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cirurgicamente pela técnica de fenda ventral seis semanas antes. Osteocondrose do

ombro e osteocondrite dissecante do cotovelo (Caso 4) e dos tarsos (Caso 8) foram

observadas por meio de radiografias e confirmação com tomografia computadorizada.

Em um cão (Caso 2), diagnosticaram-se outras alterações musculares, caracterizadas

pela suspeita de calcificação do músculo infra-espinhoso e inflamação, de causa

indefinida, do músculo serrátil ventral (diagnosticados por imagem de ressonância

magnética). Tenossinovite do bicipital foi confirmada, por meio de ultra-sonografia, nos

outros 20% restantes (Casos 5 e 7). Adicionalmente, em quatro ombros (Casos 3

bilateralmente, 4 e 7) observaram-se alterações radiográficas secundárias à discreta

osteoartrose.

3.3.2 Achados radiográficos

Dentre os dez cães avaliados, dois apresentaram alterações radiográficas

condizentes com tendinose do m. supra-espinhoso em ambos os ombros (Casos 5 e

10) totalizando, assim, doze articulações afetadas.

Em dois ombros (Casos 6 e 7), as alterações radiográficas foram unilaterais

(Tabela 2) e discretas, caracterizadas por perda de definição do contorno do tubérculo

maior, classificadas como lesões de grau 1 (Figura 6A). Em outros quatro ombros

(Casos 1, 3, 8 e 9), notou-se a presença de pequenas estruturas discretamente

radiopacas, de limites imprecisos, localizadas na porção cranial do tubérculo maior

(Figura 6B). Tais alterações foram classificadas como de grau 2. Observou-se em dois

ombros (Casos 2 e 10, lado direito) a presença de estrutura radiopaca pequena,

arredondada sobreposta à margem do tubérculo maior, de fácil diferenciação e

classificada como de grau 3 (Figura 7). Classificaram-se as alterações como de grau 4

em dois ombros (Casos 4 e 5, lado esquerdo) nos quais se observou estrutura

radiopaca grande localizada sobre a região do tubérculo maior e alguns pontos

radiopacos em sua adjacência (Figura 8A). Em dois casos (número 5 lado direito e 10

lado esquerdo) foram diagnosticadas anormalidades radiográficas consideradas

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marcantes, com presença de múltiplas estruturas radiopacas localizadas sobre o

tubérculo maior ou ligeiramente cranial ao mesmo, ao longo do tendão do m. supra-

espinhoso, e classificadas como de grau 5 (Figura 8B).

Figura 6: Imagem radiográfica em projeção médio-lateral dos ombros direitos dos cães número 7 e 3, respectivamente. A, notar leve reação periosteal difusa ao longo da curvatura do tubérculo maior (setas brancas), lesão classificada como grau 1; alterações artróticas sobre a porção caudal da cabeça do úmero e cavidade glenóide (setas brancas tracejadas) e leve esclerose no sulco intertubercular podem ser notadas (seta branca de início redondo). B, notar leve aumento de radiopacidade, em forma de estria, sobre o tubérculo maior (seta branca); lesão graduada como 2.

A B

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Figura 8 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral do ombro esquerdo do cão de número 4 (A) e do ombro direito do cão de número 5 (B). (A) Notar lesões de grau 4, caracterizadas por aumento bem delimitado de radiopacidade, de formato ovalado, sobre o tubérculo maior (seta branca), além de múltiplas calcificações em sua adjacência (setas brancas tracejadas). (B) Observar presença de múltiplas estruturas calcificadas, sobreposto ao tubérculo maior e cranial ao mesmo (setas brancas), caracterizando lesões de grau 5. Notam-se, também, exostoses no sulco intertubercular (seta branca de início redondo) e tubérculo supraglenóide (seta branca tracejada).

Figura 7 : Imagem radiográfica em projeção médio-lateral do ombro direito do cão de número 2. Notar pequena estrutura de radiopacidade aumentada sobre o tubérculo maior do úmero (seta branca), caracterizando alteração de grau 3.

A B

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3.3.3 Achados ultra-sonográficos

A detecção de alteração do tendão supra-espinhoso foi possível, com transdutor

nas frequências 12 e 14 MHz, em 100% dos casos. O exame durou cerca de dez

minutos em cada ombro e foi efetuado nos 12 ombros afetados. Devido às variações de

aparência sonográfica do tendão supra-espinhoso encontradas em cada caso, optou-se

por descrevê-las individualmente (Tabela 3).

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Tabela 3: Descrição das alterações ultra-sonográficas presentes no tendão do m. supra-espinhoso dos cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007.

Alterações Ultra-sonográficas Caso

Heterogêneo Pontos hiper

Área hiper s/n mm

Sombra Formato

calcificação Doppler colorido

Tendão bíceps braquial

1 __ __ Sim 3 Sim Arredondado Nenhuma vascularização

Ndn

2 __ __ Sim 4 Sim Arredondado Não realizado Ndn 3 __ __ Sim 6 Sim Irregular

Nenhuma vascularização Contato com bainha, ndn

4 Sim __ Sim 5 Sim Irregular Nenhuma

vascularização Levemente heterogêneo, sem

contato com bainha

Dir. Sim __

Sim

10

Sim

Irregular Não realizado 5

Esq. __ __ Sim (várias)

5 Sim Irregular Não realizado

Ambos: Tenossinovite grau 3, exostoses sulco, sem contato

com bainha

6 Sim Sim __ __ __ Puntiforme Não realizado Ndn

7 Sim Sim __ __ __ Puntiforme Não realizado Tenossinovite grau 3

Exostoses sulco,

8 __ __ Sim (2) 2 Sim Limites imprecisos

Não realizado Ndn

9

__ __ Sim 2 Sim Arredondado Nenhuma

vascularização Heterogêneo

Dir. __ __

Sim

2

Sim

Arredondado

Nenhuma vascularização

Ndn

10

Esq. __ __ Sim 5 Sim Irregular Nenhuma

vascularização Contato com bainha, exostose

sulco, tendão Ndn Pontos hiper = pontos hiperecóicos; Área hiper = área hiperecóica; Sombra = sombra acústica; Sim = presença; — = ausência; Ndn: nada digno de nota

99

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Em quatro casos (Cães número 4, 5 ombro direito, 6 e 7), ou seja, 33,3%, o

tendão do m. supra-espinhoso apresentou-se heterogêneo (Figura 9); nos outros

ombros, a aparência do tendão foi considerada homogênea. Nos casos 6 e 7 (16,6%),

não foi possível a delimitação de área hiperecóica, notando-se, respectivamente, pontos

hiperecóicos e heterogeneidade tendínea, não mensuráveis e não acompanhados de

sombra acústica ou evidências ultra-sonográficas de reação inflamatória, caracterizada

pela presença de halo hipoecóico circunjacente à área calcificada (Figuras 9 e 10). Em

todos os outros tendões examinados (83,4%), houve a identificação de áreas

hiperecóicas, que variaram de dois a 10mm em comprimento ao corte longitudinal,

sempre acompanhadas por sombra acústica, mas sem evidências sonográficas de

reação inflamatória circundante (Figura 11). As calcificações variaram, quanto ao seu

formato estrutural, em irregulares, arredondadas e puntiformes. Nos cinco cães (Casos

1, 3, 4, 9 e 10), nos quais foi realizada ultra-sonografia com modo Doppler colorido, não

foi detectada neovascularização intratendínea (Figura 12).

Em relação à manifestação de alterações secundárias no tendão do m. bíceps

braquial, em cinco ombros, 41,7% do total, (Casos 4, 5 bilateral, 7 e 9) o tendão

encontrava-se alterado, apresentando-se discretamente heterogêneo (Caso 4),

moderadamente heterogêneo (Caso 9) e com tenossinovite de grau 3 (Casos 5 bilateral

e 7), ilustrada na Figura 13. Possível contato da mineralização presente no tendão do

m. supra-espinhoso com a bainha tendínea do m. bíceps braquial foi observada apenas

nos casos 3 e 10 (Figura 14), cujos tendões não apresentaram alterações dignas de

nota.

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Figura 9: Imagem ultra-sonográfica em plano longitudinal do tendão do m. supra-espinhoso do ombro esquerdo do cão número 4, obtida com transdutor linear de 12MHz e magnificada. Notar que o tendão do m. supra-espinhoso (delimitado por setas brancas) apresenta-se heterogêneo em toda sua extensão.

Figura 10: Imagem ultra-sonográfica em plano longitudinal do tendão do m. supra-espinhoso do

ombro direito do cão número 6, obtida com transdutor de linear 12MHz. Notar pequenos pontos hiperecóicos (setas brancas), sem sombra acústica distal, na transição músculo-tendínea; à direita da imagem (setas tracejadas), o tubérculo maior do úmero.

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Figura 11: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso direito

do cão número 5 em plano longitudinal, obtida com trasdutor linear de 12 MHz. Notar estrutura de superfície irregular hiperecóica (setas brancas), com sombra acústica distal (setas brancas de início redondo), na transição músculo-tendínea e irregularidades à superfície do tubérculo maior do úmero (setas brancas tracejadas).

Figura 12: Imagem ultra-sonográfica do tendão do m. supra-espinhoso esquerdo em plano longitudinal do cão número 4, obtida com trasdutor linear de 12 MHz e aplicação de Doppler colorido, o qual não detectou evidências de vascularização local.

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Figura 13: Imagem ultra-sonográfica em plano transversal do tendão do m. bíceps braquial do ombro direito do cão número 5, obtida com trasdutor linear de 14 MHz. A distenção moderada da bainha tendínea (setas brancas) por acúmulo de líquido, notado pela pesença de área anecóica (seta branca tracejada), associado à heterogeneidade intra-tendínea (seta branca de início redondo) denotam a existência de tenossinovite bicipital de grau 3 (Kramer et al., 2001).

Figura 14: Imagem ultra-sonográfica em plano transversal do tendão

do m. bíceps braquial (setas brancas tracejadas) do ombro direito do cão número 3, obtida com trasdutor de 12 MHz. Notar que a calcificação presente no tendão do m. supra-espinhoso (setas brancas) apresenta contato com a bainha tendínea bicipital (seta branca de início redondo).

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104

3.3.4 Achados da tomografia computadorizada

Imagens por tomografia computadorizada (TC) foram obtidas em nove cães,

porém em dois casos (cães 5 e 10) em ambos os ombros, totalizando, assim, 11

articulações examinadas. A duração do exame foi, em média, de cinco minutos em

cada cão, levando-se em consideração o tempo dispendido para posicionamento do

animal. Não se visibilizou nenhuma alteração digna de nota na região do tendão do

m. supra-espinhoso do cão número 6. No caso número 7, foi observada leve reação

periosteal na região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso, entretanto

nenhuma calcificação foi passível de diferenciação ou mensuração. Portanto, as

medidas descritas na Tabela 4 não foram relizadas nos cães 6 e 7.

Em todos os outros cães avaliados, a calcificação apresentou-se como

estrutura hiperdensa, cranial ao tubérculo maior, de formatos arredondados ou

irregulares. Observou-se grande variação de tamanho da calcificação, de 1,9 mm a

15 mm, nos casos estudados. Da mesma maneira, houve grande variação quanto à

área da calcificação (2,8 a 103 mm2).

A Tabela 4 exibe as médias das dimensões máximas e mínimas em

milímetros das calcificações e suas áreas em milímetros quadrados, acompanhadas

dos desvios padrão nos diferentes cortes e janelas.

Não houve diferença (p>0,05) nas dimensões máximas, mínimas e área da

calcificação, obtidas nos diferentes cortes (dorsal, sagital e tranversal) e janelas (de

tecidos moles e tecido ósseo) utilizados na mensuração (Figura 15).

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Tabela 4 : Descrição das dimensões e respectivos desvios padrão das calcificações localizadas no tendão do m. supra-espinhoso, observadas e mensuradas por meio de tomografia computadorizada nos cortes dorsal, sagital e transversal nas janelas de tecidos moles e óssea, de cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007.

Dimensões das calcificações

JANELA CORTE MIN (mm) MAX (mm) ÁREA* (mm 2)

Dorsal 3,80 ± 1,43a 5,22 ± 1,72a 16,0 ± 11,32a

Sagital 3,45 ± 1,27a 5,94 ± 3,78a 19,9 ± 23,17a Tecido ósseo

Transversal 4,42 ± 1,44a 6,36 ± 2,43a 20,95 ± 16,43a

Médias ± DP 3,88 ± 1,39 A 5,80 ± 2,66 A 18,75 ± 16,77A

Dorsal 3,83 ± 1,17a 5,84 ± 3,59a 26,67 ± 29,33a

Sagital 4,21 ± 1,18a 6,21 ± 3,57a 28,97 ± 29,64a Tecidos moles

Transversal 4,92 ± 1,50a 6,93 ± 1,84a 30, 91 ± 20, 68a

Médias ± DP 4,30 ± 1,32 A 6,31 ± 3,05 A 28,78 ± 26,02 A

*variável transformada em logarítmo da observação + 1; MIN = dimensão mínima; MAX = dimensão máxima; DP = desvio padrão. Letras minúsculas: comparação entre médias da mesma coluna. Letras maiúsculas: comparação entre as médias das diferentes janelas. Quando seguidas de mesma letra, não diferem pelo teste de Tukey (p>0,05).

Figura 1 5: Imagem tomográfica do ombro direito do cão número 1, em plano transversal, em janela para tecidos moles (A) e para osso (B). É possível observar a calcificação sobreposta ao tubérculo maior, no tendão do m. supra-espinhoso, e as avaliações númericas (área em mm2 e atenuação média em HU) fornecidas pelo Software da TC.

A B

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106

As medidas inferiores da capacidade de atenuação do centro das

calcificações variaram de 313 a 1930 HU, porém não apresentaram diferença

(p>0,05) em relação aos cortes (dorsal, sagital e transversal) nos quais se realizou

as mensurações, mas sim em relação às diferentes janelas, tecidos moles e ósseo,

utilizadas na reconstrução (p≤0,05). Em relação às medidas superiores de

capacidade de atenuação encontradas na mesma região, centro da calcificação,

observou-se variação de 380 a 2150 HU, com diferença entre as imagens obtidas

nas janelas de tecidos moles e ósseo (p≤0,05), mas sem diferença (p>0,05) nas

medidas realizadas nos diferentes cortes, dentro da mesma janela (Tabela 5).

A região periférica da calcificação apresentou variação de atenuação entre

170 e 1150 HU, em relação às medidas inferiores encontradas, com diferença

(p≤0,05) entre as janelas de tecidos moles e ósseo. Todavia, dentro de uma mesma

janela, não houve diferença (p>0,05) de valores obtidos nos diferentes cortes

(dorsal, sagital e transversal). Quanto às medidas superiores de atenuações obtidas

na periferia das calcificações, observou-se variação de 170 a 1900 HU e diferença

(p≤0,05) entre os valores obtidos nas janelas de tecidos moles e ósseo. Dentro de

uma mesma janela, não se observou diferença (p>0,05) entre as medidas obtidas

nos diferentes cortes (Tabela 5).

As atenuações médias variaram de 247 a 1210 HU, com diferença (p≤0,05)

entre os valores observados nos cortes transversal e sagital quando comparadas as

janelas utilizadas. Quando as comparações foram realizadas dentro de uma mesma

janela, levando-se em consideração apenas os diferentes cortes utilizados, não

houve diferença (p>0,05) nas médias de atenuação em HU das calcificações (Tabela

5).

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107

Tabela 5 : Descrição das medidas mínimas, máximas e médias de atenuação com seus desvios padrão, expressas em HU, observadas nas calcificações localizadas no tendão supra-espinhoso, mensuradas no centro e periferia da estrutura, por meio de tomografia computadorizada nos cortes dorsal, sagital e transversal nas janelas de tecidos moles e ósseo, de cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007.

JANELA CORTE Centro Mín (HU)

Centro Máx (HU)

Perif. Mín (HU)

Perif. Máx (HU)

Média (HU)

Dorsal 1059 ± 384,47 a

1331,81 ± 451,54 a

558,18 ± 260,15 a

851,18 ± 443,05 a

746,65 ± 247,22 a

Sagital 1094,44 ± 426,66 a

1489,22 ± 394,34 a

581,0 ± 275,4 a

993,55 ± 375,96 a

864,4 ± 231,45 a

Tecido ósseo

Transversal 1107,88 ± 456,26 a

1480,77 ± 389,60 a

529,22 ± 261,56 a

949,11 ± 370,09 a

829,13 ± 246,88 a

Médias ± DP 1085,17 ± 405,77 A

1426,89 ± 407,86 A

556,27 ± 256,56 A

925,75 ± 391,74 A

808,79 ± 239,15 A

Dorsal 631,5 ± 289,62 a

958,7 ± 344,05 a

287,6 ± 54,47 a

443,5 ± 127,41 a

488,27 ± 152,37 a

Sagital 709,77 ± 206,81 a

1043,11 ± 287,35 a

273,77 ± 47,31 a

443,33 ± 88,64 a

477,01 ± 170,94 a

Tecidos moles

Transversal 697,77 ± 329,26 a

992,77 ± 325,32 a

287,66 ± 62,27 a

458,77 ± 164,75 a

489,95 ± 137,32 a

Médias ± DP 677,96 ± 272,07 B

996,79 ± 310,71 B

283,17 ± 53,33 B

448,35 ± 125,83 B

485,19 ± 148,38 B

Centro Mín = atenuação mínima encontrada no centro da calcificação; Centro Máx = atenuação máxima no centro; Perif. Mín = atenuação mínima encontrada na periferia na calcificação; Perif. Máx = atenuação máxima na periferia; DP: desvio padrão. Letras minúsculas: comparação entre cortes dentro da mesma janela. Letras maiúsculas: comparação entre as médias das diferentes janelas. Quando seguidas de mesma letra, não diferem pelo teste de Tukey (p>0,05).

Observou-se, por meio do teste de correlação de Pearson, que não houve

correlação entre a área da calcificação e seu valor médio de atenuação (p>0,05).

As mineralizações do tendão do m. supra-espinhoso foram observadas em

todos os planos de imagem e janelas. No caso 3, o corte dorsal permitiu o

detalhamento da imagem, caracterizando-a como calcificações multifocais sobre o

tubérculo maior, ao contrário do observado nos outros cortes. O corte transversal

permitiu melhor localização anatômica da calcificação em relação ao tubérculo maior

e o sulco intertubercular, confirmando a localização da lesão na região do tendão

supra-espinhoso.

Com a finalidade de melhor ilustrar a localização da mineralização, foi

efetuada reconstrução trimendional (Figura 16), confirmando sua localização sobre a

região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso no tubérculo maior nos ombros

estudados.

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108

Figura 16 : Imagem tomográfica do ombro esquerdo do cão número 4 após recontrução tridimensional das estruturas ósseas. É possível observar a calcificação (setas brancas) na região de inserção do tendão do m. supra-espinhoso no tubérculo maior (A, vista lateral; B, frontal; C, medial).

3.3.5 Achados à ressonância magnética

Oito ombros foram submetidos ao exame de IRM, unilateralmente em seis

cães e bilateralmente no caso 5 (Tabela 1). Este exame teve, em média, 150

minutos de duração em cada ombro.

Foi possível a identificaçao do tendão do m. supra-espinhoso no plano sagital

em todos os ombros e em todas as sequências realizadas (Figuras 17 e 18); por

este motivo, as alterações observadas nas seqüências T1, T2 e supressão de

gordura (STIR) foram descritas nas imagens obtidas neste plano (Tabela 6).

Também no plano sagital, foram possíveis a diferenciação e mensuração da

calcificação em todos os casos, com exceção dos cães número 6, no qual nenhuma

alteração foi observada, e número 7, no qual apenas exostoses no sulco

intertubercular foram notadas.

A B C

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109

Tabela 6: Descrição das alterações observadas às seqüências T1, T2 e STIR, no plano sagital, no tendão supra-espinhoso e estruturas adjacentes de cães examinados na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade de Giessen, Alemanha, julho de 2006 a julho de 2007. As medidas das calcificações se encontram descritas em milímetros.

Alterações observadas por meio de IRM

T1W-TSE T2W-TSE Caso

Aparência Medida mm Aparência Medida mm STIR sagital

2 Calcificação bem definida,

hipointensa.Tendão infra-espinhoso hipointenso

5

Calcificação com limites imprecisos, hipointensa. Duas

áreas irregulares de hiperintensidade de sinal no m.

serrátil ventral.

4 Hiperintensidade de sinal em 2 regiões do

m. serrátil ventral

3

Calcificação bem definida, de intensidade mediana à hipointensa

6

Calcificação de difícil diferenciação, composta por dois

fragmentos hipointensos. Hiperintensidade de sinal no

tendão

4 e 4,2 Hiperintensidade de

sinal

4

Tendão levemente heterogêneo, calcificação intensidade média de

sinal de difícil diferenciação. Exostose sulco intertubercular

7 Área de hiperintensidade de sinal

na inserção tendínea 8

Hiperintensidade de sinal. Quantidade

líquido sinovial aumentada

Esq. Calcificação bem definida,

hipointensa. Irregularidades sulco intertubercular

6,8 Calcificação bem definida,

hipointensa. Exostoses sulco intertubercular.

7,3 _ 5

Dir. Calcificação bem definida,

hipointensa. Coleção sinovial exacerbada

13 Várias calcificações,

hipointensas. Possível contato com bainha bicipital

4 a 8 _

6 Nenhuma alteração _ Nenhuma alteração _ _

7 Exostoses sulco intertubercular _ Exostoses sulco intertubercular _ _

8 Calcificação bem definida,

intensidade mediana à hipointensa 7

Área intensidade mediana à hiperintensa na inserção

tendínea. Frágil contato bainha bicipital

8

Hiperintensidade de sinal. Quantidade

líquido sinovial aumentada

109

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110

Em relação às seqüências aplicadas, a calcificação presente no tendão supra-

espinhoso foi visibilizada com maior facilidade na sequência T1, na qual a

mineralização se caracterizou por estrutura de intensidade de sinal média à hipointensa,

comumente bem definida (Figura 17). Apenas nos cães número 6 e 7, não foi possível

observar alteração no tendão do m. supra-espinhoso; foram notadas apenas exostoses

no sulco intertubercular no cão número 7.

Na seqüência T2, as mineralizações foram caracterizadas como hipointensas nos

cães 2, 3, 5 bilateral. A sequência T2 revelou hiperintensidade de sinal no tendão dos

casos 3, 4 e 8 (Figura 18A), sugestivo de edema intra-tendíneo, confirmado pela

realização da seqüência STIR (Figura 18B). As mineralizações não foram diferenciáveis

do tendão em todos os cães nas imagens produzidas em T2.

Figura 1 7: Imagem obtida por ressonância magnética em corte sagital, seqüência T1, do ombro direito do cão número 8. Notar calcificação (setas brancas), caracterizada por hipointensidade de sinal, localizada no tendão do m. supra-espinhoso.

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111

No plano dorsal, o tendão do m. supra-espinhoso não foi diferenciado com

clareza de outros tecidos moles nas seqüências T1 e T2. Tal qual, não foi possível a

nítida diferenciação entre mineralização e artefato de técnica.

No plano transversal, embora o tendão do m. supra-espinhoso tenha sido

observado nas seqüências T1 e T2 em todos os ombros, a calcificação nele presente foi

visibilizada apenas nos cães número 3 (em T2), número 5 ombro esquerdo (em T1 e

T2) e ombro direito (apenas em T1) e número 8 (em T1). Hiperintensidade de sinal do

tendão do m. supra-espinhoso em T2, no plano transversal, foi observada apenas no

cão número 4. O plano transversal foi especialmente útil na avaliação do tendão do m.

bíceps braquial e constatação de contato entre a calcificação presente no tendão do m.

Figura 1 8: Imagens obtidas por ressonância magnética em corte sagital do ombro direito do cão número 8. (A) Seqüencia T2, notar presença de líquido (setas) no tendão do m. supra-espinhoso caracterizada por hiperintensidade de sinal. (B) Sequência com supressão de gordura (STIR), notar presença de líqüido (setas) no tendão do m. supra-espinhoso caracterizada por hiperintensidade de sinal.

A B

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112

supra-espinhoso e a bainha bicipital, como observado no ombro direito do cão número 5

(Figura 19) e no cão número 8.

Figura 19 : Imagem obtida por ressonância magnética em plano transversal, sequência T1, do ombro direito do cão número 5. Notar calcificação (�) identificada como estrutura mais hipointensa que o tendão do m. supra-espinhoso (seta branca tracejada) e sua proximidade à bainha do tendão do m. bíceps braquial, que se encontra distendida (setas brancas de início redondo). O tendão do m. bíceps braquial propriamente dito, é notado como estrutura central à bainha, mais hipointensa que mesma (seta branca).

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113

3.4 DISCUSSÃO

Todos os cães apresentados neste estudo eram de raças grandes, com peso

superior a 21 Kg, sendo 30% da raça Rottweiler, assemelhando-se às observações de

Muir & Johnson (1994), Kriegleder (1995) e Laitinen & Flo (2000). Notou-se que a

maioria (70%) esteve compreendida na faixa de 3 a 7 anos de idade, pertencendo ao

sexo masculino (80%), porém relatos que relacionam idade e sexo à ocorrência de

tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em cães não foram encontrados na

literatura consultada. Sabe-se que em humanos, no entanto, a afecção é comumente

diagnosticada em mulheres com idade entre 30 e 60 anos (HUGHES & BOLTON-

MAGGS, 2002; LAM et al., 2006; HOSFTEE et al., 2007).

Dentre os cães incluídos neste estudo, a tendinose calcificante do m. supra-

espinhoso não apresentou nenhuma manifestação clínica específica ao exame físico

capaz de induzir o examinador à sua suspeita. Embora apenas quatro cães tenham

manifestado dor à extensão do ombro, o exame radiográfico do ombro foi efetuado em

todos por padronização de conduta. Na instituição, todos os cães com suspeita clínica

de alteração em cotovelo, são também submetidos à radiografia dos ombros, com

intuito de padronização de conduta e diminuição da ocorrência de diagnósticos

equivocados. Entretanto, em todos os cães, houve a observação de outras alterações

ortopédicas importantes, corroborando os achados de Laitinen & Flo (2000) sobre a

impossibilidade de confirmação da tendinose como causa dos sinais clínicos.

Independentemente deste fato, o estudo de imagens da lesão tendínea foi realizado,

tornando-se o foco deste trabalho.

O exame radiográfico foi fundamental na seleção dos animais incluídos neste

estudo, uma vez que a avaliação física, isoladamente, não revelou alterações que

pudessem ser interpretadas como sugestivas de lesão no tendão do m. supra-

espinhoso. Além disso, não houve necessidade de sedação ou anestesia geral para sua

execução. Embora a literatura ressalve a necessidade de pelo menos duas projeções

radiográficas para avaliação de alterações presentes no tendão do m. supra-espinhoso

(PIERMATTEI & FLO, 1999; HURT & BAKER, 2003; BITTMAN, 2004), apenas a

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projeção médio-lateral foi realizada, pois não requer anestesia geral e, uma vez

selecionado para fazer parte do estudo, o cão seria avaliado por outras modalidades de

imagem complementares à radiografia, como a tomografia computadorizada, capaz de

fornecer imagens tri-dimensionais da lesão tendínea. Diante disto, a projeção médio-

lateral dos ombros mostrou-se suficiente para triagem dos animais.

Uhthoff & Loehr (1997) mencionaram que o estudo radiográfico não apenas

confirma a presença de depósitos de cálcio, como também permite acessar a extensão,

margens e densidade dos mesmos. À avaliação radiográfica, todavia, as lesões

calcificantes presentes no tendão do m. supra-espinhoso apresentaram-se, no presente

estudo, bastante diversificadas quanto à aparência e foram passíveis de classificação

em graus de 1 a 5, conforme proposto neste estudo, mas não à caracterização de suas

margens ou padrões de densidades. Segundo Farin et al. (1996) e Lam et al. (2006), a

avaliação radiográfica é imprescindível para classificação das lesões em humanos e,

uma vez estabelecida a classificação, na decisão terapêutica.

De acordo com Hurt & Baker (2003), radiografias seriadas são importantes e

utilizadas em humanos para acessar o estágio da afecção e observar progressão ou

reabsorção dos depósitos calcificados. No presente trabalho, o acompanhamento das

lesões ao longo do tempo não foi efetuado devido ao curto prazo de 12 meses

dispendido para sua realização na universidade estrangeira.

Outra importante modalidade diagnóstica por imagem de estruturas do manguito

rotador, a ultra-sonografia, tem se desenvolvido desde meados de 1980, quando de seu

primeiro relato por Farrar. Suas indicações principais são a avaliação de tendinose

calcificante, de alterações associadas à tenossinovite bicipital e alterações

degenerativas ou pós-traumáticas do manguito rotador (BOHN et al., 1992; RUPP et al.,

2000; HEDTMANN & FETT, 2002; JACOBSON et al., 2004). Na última década, a ultra-

sonografia músculo-esquelética tornou-se o método padrão para avaliação tendínea na

espécie humana (JACOBSON et al., 2004; KANE et al., 2004).

Segundo Dinnes et al. (2003), a ultra-sonografia tendínea consiste na técnica

diagnóstica que apresenta melhor custo benefício devido à sua alta sensibilidade na

detecção de alterações no manguito rotador em humanos. Kainberger & Weidekamm

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115

(2005) também consideram a técnica como de escolha para o diagnóstico de alterações

presentes em músculos e tendões superficiais. Além de muito sensível e específico, o

método é não invasivo, não radioativo, permite exame dinâmico das estruturas, exame

comparativo com o tendão do antímero contra-lateral e apresenta-se, adicionalmente,

menos oneroso que técnicas de sensibilidade similar, como a ressonância magnética

(STIELER, 2001; FRIEDMANN et al., 2002; FREDBERG & STENGAARD-PEDERSEN,

2008).

Corroborando as afirmações sobre a aplicabilidade e alta sensibilidade da técnica

ultra-sonográfica para avaliação tendínea acima relacionadas, fez-se possível neste

estudo, a visibilização de alteração do tendão do m. supra-espinhoso em todos os cães,

confirmando a suspeita radiográfica, inclusive nos casos de lesões consideradas

radiograficamente discretas (grau 1). A técnica, realizada de acordo com Gerwing &

Kramer (1994) e Kramer & Gerwing (1996), mostrou-se de fácil aprendizado,

reprodutível e rápida. As lesões, no entanto, apresentaram-se mais diversificadas em

relação à descrição destes mesmos autores. Em quatro cães (Cães 4, 5 ombro direito,

6 e 7), observou-se heterogeneidade tendínea e em dois deles (Cães 6 e 7), apenas

presença de pontos hiperecóicos ao longo do tendão.

Estes achados corroboram os relatos de Hedtmann & Fett (2002), que

descreveram a heterogeneidade tendínea como achado ultra-sonográfico comum em

humanos, sugestivo de alteração degenerativa relacionada à idade ou decorrente de

impregnação calcárea difusa devido à tendinose calcificante. Neste último caso, os

autores afirmam ser a radiografia necessária para confirmação diagnóstica. Friedmann

et al. (2002) referem que heterogeneidade tendínea difusa é notada em calcificações

caracterizadas como “leitosas” e pode ser, por vezes, confundida com rupturas

tendíneas e, diante disso, métodos de imagem adicionais são recomendáveis. Em

nenhum dos cães acima mencionados houve a suspeita de ruptura tendínea, ao

contrário, os tendões foram visibilizados por completo e apresentaram integridade de

suas fibras e nenhuma área hipoecóica sugestiva de hematoma.

Em dez dos doze ombros avaliados (exceção dos cães número 6 e 7), verificou-

se a presença de área hiperecóica no tendão do m. supra-espinhoso à avaliação

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longitudinal do tendão, condizente com os achados de Gerwing & Kramer (1994), de

comprimento variando de dois a 10 milímetros. Segundo Kriegleder (1995), no entanto,

o tamanho da calcificação não é importante, pois não tem correlação com a

manifestação de sinais clínicos.

Tais áreas hiperecóicas foram consideradas de limites imprecisos em um ombro

(Cão número 8), arredondadas em quatro (Cães 1, 2, 9 e 10 ombro direito), irregulares

em cinco tendões (3, 4, 5 ambos os ombros e 10 ombro esquerdo) e apenas como

pontos hiperecóicos em dois outros tendões (Cães 6 e 7). Chiou et al. (2002)

descreveram que a calcificação do tendão do m. supra-espinhoso humano pode ter

formas estruturais mais variadas, tais como forma de arco, fragmentada, puntiforme,

nodular ou cística. Os mesmos autores suspeitaram que as formas estruturais poderiam

ter relação com a manifestação de sinais clínicos. Dentro deste contexto, nenhum

trabalho foi encontrado na literatura veterinária.

Notou-se a formação de sombra acústica densa em todas as áreas hiperecóicas,

mas não nos pontos hiperecóicos. Farin & Jaroma (1995) classificaram as lesões em

três tipos de acordo com o padrão de sombra acústica formado: áreas hiperecóicas

acompanhadas de sombra acústica densa, de sombra acústica discreta ou sem

sombremaneto acústico. Farin (1996) demonstraram que a aparência sonográfica das

lesões calcificantes apresentou boa correlação com a consistência das mineralizações.

O autor refere que de 11 depósitos minerais acompanhados por sombra acústica

densa, nove eram sólidos e de nove depósitos não foram acompanhados por

sombreamento nítido, sete eram macios ou leitosos à punção. Assim, nota-se que

mineralização com alta densidade de cristais de hidroxiapatita, pobremente intermeada

por células ou conteúdo líquido, irá apresentar alta impedância acústica e refletir as

ondas de ultra-som (RUPP et al., 2000).

Embora nenhum estudo correlacionando aspectos ultra-sonográficos e

consistência da calcificação tenha sido encontrado durante esta compilação de dados, é

possível, de acordo com os autores previamente mencionados e mediante às

características sonográficas observadas, que a maioria das calcificações observadas

neste estudo apresente-se sólida à punção, com exceção daquelas com aparência

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puntiforme e não acompanhadas de sombreamento acústico. A predição da

consistência dos depósitos calcáreos é importante na seleção de terapia apropriada.

Segundo Maier et al. (2003), se a calcificação encontra-se na fase de reabsorção,

tratamentos invasivos são contra-indicados, uma vez que a resolução espontânea é

provável; ao passo que, quando se encontra na fase de formação ou de repouso,

quando é mais sólida, são indicados tratamentos mais direcionados, como punção,

terapia com ondas de choque extra-corpóreo ou extirpação cirúrgica.

Embora Uhthoff & Loehr (1997) tenham relatado a ultra-sonografia como técnica

mais sensível que a radiografia para observação de mineralizações no tendão do m.

supra-espinhoso em seres humanos, foi possível notar alteração na região do tendão

do m. supra-espinhoso por meio de ambos os métodos de imagem em todos os cães

estudados.

Em nenhum dos tendões avaliados sonograficamente foi observada reação

inflamatória circunjacente à calcificação. Durante atualização bibliográfica realizada ao

longo deste trabalho, verificou-se a aplicação de Doppler colorido no diagnóstico de

neovascularização em tendinoses de Achilles e patelares em seres humanos (BOESEN

et al., 2006; HOKSRUD et al., 2006). Nesta espécie, a avaliação por meio de Doppler

colorido é recomendada para diagnóstico, localização e acompanhamento de tendinose

de Achilles. A observação de fluxo, caracterizada como hiperemia, é considerada

anormal e foi associada à manifestação de dor local (BEGGS, 2004; KAINBERGER &

WEIDEKAMM, 2005; BOESEN et al., 2006).

Além disso, segundo Chiou et al. (2002), por meio de ultra-sonografia de alta

resolução com Doppler colorido, é possível diferenciar as fases de formação e

reabsorção da tendinose calcificante e, desta forma, esta seria a técnica indicada para

acompanhamento dos casos a longo prazo. Os autores graduaram entre 0 e 3, o sinal

observado com Doppler colorido em tendinoses calcificantes do m. supra-espinhoso em

humanos e notaram correlação positiva entre tais achados e a manifestação de sinais

clínicos. Embora técnica semelhante não tenha sido descrita em cães para avaliação do

tendão do m. supra-espinhoso, optou-se por tentar adaptá-la no presente estudo.

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118

Apenas cinco dos cães foram submetidos à ultra-sonografia com Doppler

colorido, pois os outros já havia sido examinados quando do conhecimento da técnica

de Chiou et al. (2002). Não foi observado fluxo anormal em nenhum dos tendões

avaliados. É aconselhável, entretanto, a repetição da técnica em maior número de

casos para conclusões mais precisas. Acredita-se que o conhecimento de sua

aplicação deva ser difundido no meio veterinário, permitindo a realização de futuros

trabalhos que testem sua utilidade na avaliação tendínea, pois, de acordo com Kane et

al. (2004), a ultra-sonografia com Doppler colorido é método promissor na detecção e

graduação do processo inflamatório tendíneo.

Kriegleder (1995) e Fransson et al. (2005) relataram que a presença de

calcificação ou aumento de volume localizado profundamente no tendão do m. supra-

espinhoso pode causar irritação por contato à bainha do tendão do m. bíceps braquial e

deslocamento do mesmo, levando à tenossinovite bicipital. Kriegleder (1995) observou

tais alterações durante o ato cirúrgico para retirada da calcificação do tendão do m.

supra-espinhoso e Fransson et al. (2005) utilizaram imagens por ressonância magnética

para confirmarem o contato da calcificação com a bainha do m. biceps braquial. Diante

disto, decidiu-se por avaliar também o tendão do m. bíceps braquial por meio da ultra-

sonografia, seguindo a técnica descrita por Kramer et al. (2001). Notou-se

heterogeneidade tendínea em dois tendões (Cães número 4 e 9, Tabela 3) e

tenossinovite bicipital de grau 3 em outros três ombros avaliados (Número 5, ambos os

ombros, e 7). A tenossinovite bicipital de grau 3 caracteriza-se por distenção moderada

da bainha sinovial por acúmulo de líquido e heterogeneidade intra-tendínea moderada,

comumente acompanhadas por alterações secundárias como irregularidades ou

exostoses do sulco intertubercular (KRAMER et al., 2001).

Sonograficamente, porém, não notou-se contato direto da calcificação do tendão

do m. supra-espinhoso à bainha tendínea do m. bíceps braquial nos casos acima

citados, mas sim em outros dois ombros, cujos tendões bicipitais apresentavam-se, no

entanto, sem alterações dignas de nota (Cães número 3 e 10 lado esquerdo). Vale

lembrar que não foi encontrada nenhuma descrição de técnica sonográfica para

avaliação do contato da calcificação presente no tendão do m. supra-espinhoso com a

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bainha do tendão do m. bíceps braquial. A tentativa de se verificar tal proximidade, foi

efetuada durante o exame do tendão do bíceps braquial, quando a articulação do ombro

encontrava-se semi-flexionada e em máxima abdução, muito diferente da posição

anatômica do membro. É possível que o posicionamento do membro durante o exame,

o qual em muito difere da posição anatômica normal, possa influenciar na aproximação

ou distanciamento da calcificação do tendão do m. supra-espinhoso à bainha tendínea

bicipital, gerando erros de interpretação.

Ao contrário do mencionado sobre a ultra-sonografia, a tomografia

computadorizada apresenta papel limitado no diagnóstico de alterações em estruturas

do manguito rotador. A técnica apresenta baixa resolução em relação ao contraste de

tecidos moles da região e, em geral, radiografia, ultra-sonografia ou ressonância

magnética são preferidas para avaliar tais estruturas (BEGGS, 2004). É especialmente

útil, em humanos, na avaliação anatômica do formato do acrômio e da distância entre

este e o úmero, fatores predisponentes ao aparecimento de tendinose do m. supra-

espinhoso nesta espécie (LOCHMÜLLER et al., 1997).

Nenhum relato envolvendo sua utilização na avaliação de tendinose calcificante

do m. supra-espinhoso de cães foi encontrado nesta revisão. Portanto, não havia

técnica padronizada a ser seguida, tanto em se tratando do algoritmo de reconstrução

tecidual a ser utilizado (janela de tecidos moles ou óssea) como do plano de corte no

qual a mineralização deveria ser avaliada.

Uma vez acumuladas as imagens produzidas pela tomografia computadorizada

helicoidal (TC), essas devem passar por um filtro algoritmo como parte do processo de

reconstrução. Toda unidade de TC disponibiliza diversos algoritmos, cada um capaz de

otimizar determinadas partes do corpo analisado ou de tipos de tecido. Exemplificando,

a janela de tecidos moles proporciona a reconstrução de imagens mais suaves,

otimizando o contraste entre os tecidos moles, enquanto a janela de tecido ósseo irá

delinear bem as margens ósseas mas terá pouco contraste de tecidos moles. É

possível processar as imagens sequencialmente em diferentes filtros, sem adição de

tempo à obtenção das imagens ou prolongamento da exposição do paciente à radiação

(CINNAMON, 2002).

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Assim, todas as mensurações foram realizadas em janelas de tecidos moles e

óssea em três diferentes planos (dorsal, sagital e transversal), cujas médias foram

comparadas entre si, afim de se estabelecer se houve diferença entre as medidas de

comprimento efetuadas nos diferentes planos e janelas. As médias dos valores de

dimensões máxima, mínima e área da calcificação obtidos nos diferentes planos e

janelas não diferiram entre si. Portanto, acredita-se que tais mensurações possam ser

realizadas em qualquer um dos planos ou janelas, não havendo a necessidade de

repetí-las nas diferentes imagens, o que prolongou o tempo dispendido na avaliação.

Embora a janela de tecido ósseo tenha capacidade de delinear bem estruturas de

densidades ósseas, as calcificações foram melhor delineadas na janela de tecidos

moles, possivelmente por apresentarem área calcificada relativamente pequena e ser

circundada por tecidos moles, fato que pode ter aumentado seu contraste.

Em ambas as janelas de reconstrução, as calcificações apresentaram-se

hiperdensas, de formatos ovalados ou irregulares. Em dois casos (cães número 6 e 7),

não foi possível a diferenciação das lesões, corroborando a afirmação de Beggs (2004)

quanto à resolução relativamente baixa da tomografia computadorizada na avaliação de

estruturas do maguito rotador e contrariando Cahir & Saifuddin (2005) que descreveram

a aparência das calcificações intra-tendíneas como de chama ou cauda de cometa à

TC. As calcificações variaram de 1,9 a 15 mm de comprimento. Embora Kriegleder

(1995) não tenha relacionado o tamanho das calcificações à manifestação clinica de

sinais em cães, Farin et al. (1996) afirmaram que calcificações com 15 mm ou mais,

sabidamente promovem aparecimento de sinais em seres humanos. Acredita-se que tal

suposição deva ser futuramente estudada em cães, por meio de trabalhos que incluam

maior número de animais.

Cahir & Saifuddin (2005) também relataram a TC como útil quando a radiografia

não estabelece diagnóstico definitivo, pois a consideram mais sensível que este último

método. Fato incontestável é a capacidade de avaliação tridimensional permitida por

meio deste exame, revelando detalhes das lesões como, por exemplo, estrutura

caracterizada radiográfica e sonograficamente (avaliações bi-dimensionais), como única

(cão número 3) era formada, na realidade, por pequenas calcificações muito próximas.

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Além disso, as imagens proporcionaram grande precisão na localização da lesão em

relação ao tubérculo maior e sulco intertubercular do úmero, especialmente ao corte

transversal e após reconstrução tridimensional. Porém, não foi possível observar as

lesões em dois cães (Cães 6 e 7), ambos com lesões radiográficas de grau 1 e, diante

disto, a tomografia computadorizada não mostrou-se mais sensível que a radiografia

convencional no presente estudo, dados que contrariam Cahir & Saifuddin (2005).

De acordo com Farin (1996), a TC é o método mais preciso para predição da

consistência das calcificações. Segundo o autor, calcificações “leitosas” apresentaram-

se, em sua maioria, com densidade média de 166 HU, enquanto nas mais sólidas

notou-se densidade média de 476 HU. Sua metodologia não detalha, entretanto, qual o

algoritmo de reconstrução e plano de corte utilizados ou local da calcificação onde

foram realizadas tais mensurações. Embora seja o único trabalho, encontrado na

presente compilação, que correlacione os valores de densidade da calcificação intra-

tendínea à sua consistência, é importante detalhar que foi realizado em apenas 11

pacientes, não podendo ser utilizado como referência comparativa e sendo

considerado, assim, apenas estudo preliminar.

No presente estudo, determinou-se a densidade ou atenuação mínima e máxima

observadas tanto no centro quanto na periferia da calcificação, nas duas janelas de

reconstrução e nos três diferentes planos de corte. Observou-se densidade média de

808,79 ± 239,15 HU na janela óssea e 485,19 ± 148,38 HU na janela de tecidos moles.

Houve grande variação das medidas de densidade, dependendo do local da

calcificação submetido à avaliação (centro apresentou valores mais elevados e

periferia, valores menores) e da janela utilizada, não observando-se valores inferiores a

170 HU ou superiores a 2150 HU.

A diferença dos valores de atenuação, segundo o algoritmo de reconstrução

(janela de tecidos moles e óssea) aplicado, foi significativa e era esperada. De acordo

com Tanrikut et al. (2004), a imagem obtida por meio de TC é formada por matriz de

milhares de pixels. Cada pixel possui um número associado a ele, mensurado em

unidade Hounsfield (HU). Imagem ideal deveria ser formada por diferente tom de cinza

para cada ponto com diferente medida de HU. Todavia, o olho humano é incapaz de

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perceber e distinguir as 2000 tonalidades de cinza presentes na imagem formada pela

tomografia e, por este motivo, existem as diferentes janelas de reconstrução. Em cada

uma delas, as unidades Hounsfield são dispostas dentro de escala numérica pré-

determinada e distribuídas mediante as tonalidades de cinza disponíveis no algoritmo

escolhido. Sabe-se, por exemplo, que a janela óssea apresenta escala númerica mais

longa em relação à janela de tecidos moles e, por este motivo, um mesmo pixel

mensurado em HU nas duas janelas apresenta valores distintos. Portanto, para

realização de estudos futuros que avaliem tal parâmetro em calcificações do tendão

supra-espinhoso, será necessária padronização inicial da técnica e a escolha do

mesmo algoritmo de reconstrução para avaliação de todos os pacientes e do local a ser

avaliado dentro da calcificação.

Não houve diferença, dentro de um mesmo algoritmo de reconstrução, entre os

valores obtidos nos diferentes cortes (dorsal, sagital e transversal). Portanto, mediante

estes resultados, nota-se que a mineralização do tendão do m. supra-espinhoso pode

ser avaliada, não apenas quanto a sua dimensão, mas também quanto à sua

capacidade de atenuação, em qualquer um dos planos corte efetuados, sem

necessidade de padronização prévia da técnica, podendo-se escolher a imagem na

qual a lesão melhor se apresente. Embora maiores conclusões acerca dos valores

obtidos na avaliação das lesões calcificantes do tendão do m. supra-espinhoso dos

cães incluídos neste trabalho não seja factível pela carência de artigos relacionados,

acredita-se que o presente estudo possa se tornar um guia útil em avaliações similares

futuras.

Paralelamente, métodos de tratamento amplamente empregados em humanos,

como terapia de ondas de choque extra-corpóreo e punção aspirativa, possuem taxa de

sucesso estreitamente relacionada à consistência da lesão calcárea (MAIER et al.,

2000; MAIER et al., 2003; LAM et al., 2006; HOSTFEE, et al., 2007). Terapia de ondas

de choque extra-corpóreo foi utilizada também com sucesso também em dois cães com

tendinose calcificante do m. supra-espinhoso (DANOVA & MUIR, 2003). Até o

momento, os trabalhos em humanos utilizam a classificação radiográfica na predição da

consistência da mineralização e escolha da terapia a ser empregada (MAIER et al.,

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2000; KAINBERGER & WEIDEKAMM, 2005; AMBACHER E et al., 2007). Há, no

entanto, muita controvérsia quanto à esta conduta, pois a classificação radiográfica é

subjetiva e pode ser de difícil reprodutilidade (MAIER et al., 2003).

Atualmente, medidas de densidade em HU obtidas por meio de TC são utilizadas

na avaliação de cálculo urinário antes da aplicação de choque extra-corpóreo. Sabe-se

que quanto maior o valor da atenuação, menor a chance de sucesso na fragmentação

do cálculo (JOSEPH et al., 2002; PARREK et al., 2003; ZARSE et al., 2004). Embora

cálculos e depósitos calcificados em tendões difiram tanto quanto à composição como

em relação à uniformidade de sua consistência (MAIER et al., 2000), estudos que

correlacionem a densidade das calcificações intra-tendíneas com a consistência das

mesmas e a resposta mediante diferentes terapias serão úteis para a medicina e

medicina veterinária. Possivelmente, tais estudos poderão trazer maior precisão às

análises, visto que a avaliação da atenuação por meio de TC é numérica e não

subjetiva, como a classificação radiográfica.

A técnica para obtenção das imagens por tomografia computadorizada mostrou-

se de fácil aprendizado, rápida e proporcionou diversas mensurações, impossíveis de

serem obtidas por outros métodos de imagem, corroborando as observações de

Linsenmaier et al. (2002). A limitação esteve na falta de padronização de técnica e de

estudos similares, sobretudo na literatura veterinária, prolongando o tempo de avaliação

das lesões e impossibilitando análise comparativa dos achados.

A indicação de ressonância magnética (IRM) para avaliação de estruturas do

sistema músculo-esquelético, particularmente ombro, aumentou consideravelmente nos

últimos anos. Contraste excelente de tecidos moles e aquisição multiplanar promovem

acesso ótimo aos músculos, tendões, cartilagem hialina e fibrosa, cápsula articular,

gordura, bursa e medula óssea (VAHLENSIECK, 2000; BURBANK et al., 2008).

Embora a difusão do método para avaliação do ombro seja consistente na espécie

humana, em cães as escassas publicações relacionadas visaram a descrição de lesões

osteocondrais (BREE et al., 1993; BREE et al., 1995) e apenas um estudo visando a

descrição anatômica à RMI das estruturas do manguito rotador no cão foi encontrado

na literatura veterinária. Este estudo foi realizado em ambos os ombros de três

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cadáveres de cães, os quais não apresentavam alterações no ombro (SCHAEFER &

FORREST, 2006).

Segundo a técnica utilizada na avaliação do tendão do m. supra-espinhoso

humano, deve-se obter, no mínimo, imagens em dois planos (paralelo e perpendicular

ao curso do tendão) por meio de sequências T1 e T2 com supressão de gordura

(SCHRÖDER et al., 2003; KAINBERGER & WEIDEKAMM, 2005; ZLATKIN, 2006).

Assim, estruturas mais profundas podem ser investigadas e há possibilidade de

identificação detalhada de anormalidades estruturais e edema intra-tendíneo

(KAINBERGER & WEIDEKAMM, 2005).

No presente trabalho, foram realizadas imagens obtidas em três diferentes

planos (dorsal, sagital e transversal) em relação ao curso do tendão do m. supra-

espinhoso, em ambas sequências T1 e T2. Contrariando Zlatkin (2006), o tendão não

foi bem visibilizado em imagens nos planos dorsais, mas sim no plano sagital. O autor

refere que as imagens seriadas geradas em plano dorsal, porém oblíquo, são bastante

úteis para avaliação de tendões do ombro humano, entretanto não foi possível a

diferenciação precisa do tendão supra-espinhoso nos cães avaliados neste plano de

corte. De acordo com Schaefer & Forrest (2006), entretanto, o plano dorsal é mais

importante no exame dos ligamentos glenoumerais lateral e medial nos cães.

O plano sagital foi capaz de gerar imagens mais nítidas e com maior contraste,

permitindo a diferenciação das estruturas anatômicas de interesse no trabalho atual. Os

resultados concordam com as observações de Schaefer & Forrest (2006) que

descreveram o plano sagital como o mais útil para avaliação dos tendões do mm.

supra-espinhoso, infra-espinhoso e bíceps braquial em cães.

Três possíveis motivos podem ter influenciado tais observações. Primeiramente,

a diferença entre a anatomia do ombro canino e do ser humano; no cão, o tendão do m.

supra-espinhoso corre praticamente paralelo ao eixo escápula-tubérculo maior,

enquanto no humano, embora o tendão também se insira no tubérculo maior, ele corre

paralelo à clavícula (a qual se localiza perpendicular ao tubérculo maior), curvando-se

ventralmente à medida que se aproxima de sua inserção (ZLATKIN, 2006). Outra razão

pode ser relacionada à bobina utilizada, pois em humanos existe bobina especialmente

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desenvolvida para avaliação do ombro (SAHIN-AKYAR et al., 1998; KIJOWSKI et al.,

2005). No entanto, ainda não está disponível no mercado bobina apropriadamente

desenvolvida para avaliação do ombro canino e, assim, houve a necessidade de

adaptação de bobina circular, indicada para avaliação de pequenas regiões anatômicas

de seres humanos, para realização deste estudo. Sabidamente, uma bobina

desenvolvida especificamente para a parte a ser avaliada resulta em imagens de maior

detalhamento (PETERSON et al., 1999; SCHAEFER & FORREST, 2006). Além disso, o

desenvolvimento e aprendizado da técnica de obtenção das imagens foram

considerados difíceis. Os cães estudados foram os primeiros nos quais se realizou a

ressonância de ombro na instituição onde se desenvolveu o trabalho, de modo que a

inexperiência para com a técnica deve ser considerada.

As imagens obtidas no plano transversal permitiram a visibilização da

mineralização apenas em quatro dos ombros avaliados e apenas no número 5, lado

esquerdo, em ambas as sequências T1 e T2. Em dois casos, no entanto, (número 5

lado direito e 8), as imagens sugeriram contato da mineralização com a bainha do

tendão bíceps braquial. Segundo Schaefer & Forrest (2006), o plano transversal é o

mais indicado para avaliar a relação entre os tendões dos mm. supra-espinhoso e

bíceps braquial no cão, mas não o melhor para avaliar cada tendão individualmente.

Sabe-se que o sinal observado em tendões humanos é reduzido em todas as

sequências, ou seja, tendão normal apresenta-se hipointenso à RMI (VAHLENSIECK,

2000; HURT & BAKER, 2003; KAINBERGER & WEIDEKAMM, 2005). Nos cães

estudados, o tendão supra-espinhoso apresentou-se hipointenso em T1 em todos os

casos. A mineralização, diferenciável em todos os cães ao plano sagital, à exceção dos

número 6 e 7, apresentou intensidade de sinal menor que o tendão propriamene dito à

sequência T1, corroborando as afirmações de Loew et al. (1996), Hurt & Baker (2003) e

Zlatkin (2006). Os autores descreveram ser a calcificação presente no tendão do m.

supra-espinhoso, mais hipointensa que o tendão à sequência T1 e, de acordo com

Loew et al. (1996), a sequência T1 é capaz de reproduzir os depósitos minerais

presentes no tendão supra-espinhoso com 95% de sensibilidade.

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Rupp et al (2000) e Zlatkin (2006) afirmaram, porém, que depósitos minerais

podem ser de difícil diferenciação da estrutura tendínea, uma vez que ambos

apresentam baixo sinal à RMI, sobretudo se os depósitos forem pequenos, devido à

falta de contraste entre as duas estruturas. Este fato justifica a não visibilização das

alterações presentes nos tendões dos cães número 6 e 7, ambas discretas e

previamente classificadas como de grau 1 à avaliação radiográfica.

Os tendões foram também avaliados à sequência T2, pois, de acordo com Loew

et al. (1996), Rupp et al. (2000), Vahlensieck (2000) e Schröder et al. (2003), a

realização das sequências T1 e T2 é necessária, visto que a acomparação do contraste

entre elas é importante no estabelecimento do diagnóstico. Os tendões apresentaram-

se novamente hipointensos, bem como as calcificações neles presentes, em quatro dos

sete ombros examinados (Tabela 6). Nestes cães, as mineralizações foram passíveis

de diferenciação, embora com limites imprecisos no caso número 2.

Em três ombros (número 3, 4 e 8) no entanto, notou-se hiperintensidade de sinal

nos tendões dos mm. supra-espinhosos e nestes casos, a visibilização da

mineralização ficou prejudicada (cão 3) ou impossibilitada (cães 4 e 8). Aumento de

sinal da estrutura tendínea à sequência T2 é sugestiva de acúmulo de líqüido e ocorre

na presença de alteração da substância tendínea (LIOU et al., 1993; LOEW et al., 1996;

SPIELMANN et al., 1999; MAIER et al., 2000; RUPP et al., 2000; HURT & BAKER,

2003; SCHRÖDER et al., 2003; CAHIR & SAIFUDDIN, 2005; ZLATKIN; 2006). O

aumento da intensidade de sinal do tendão em T2 pode decorrer de edema, hemorragia

ativa ou acúmulo de gordura (VAHLENSIECK, 2000; CAHIR & SAIFUDDIN, 2005;

ZLATKIN; 2006). Por esta razão, sequências que suprimem a hiperintensidade do sinal

da gordura, como é o caso da STIR, são comumente adicionadas ao exame.

A sequência STIR apresenta a vantagem de aumentar a intensidade relativa de

sinal de fluidos e eliminar o sinal proveniente de tecidos gordurosos, mas há a

desvantagem da formação de imagens com pouco contraste (SAHIN-AKYAR et al.,

1998; KIJOWSKI et al., 2005). A sequência STIR foi realizada nos três ombros que

apresentaram hiperintensidade de sinal no tendão do m. supra-espinhoso com o intuito

de diferenciar se hiperintensidade de sinal decorrera da presença de líqüido ou do

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acúmulo de gordura na região. As imagens revelaram, à STIR, aumento da intensidade

de sinal no tendão, confirmando tratar-se de acúmulo de líqüido, interpretado como

edema intra-tendíneo. Adicionalmente, no cão número 2, observou-se duas áreas com

aumento de sinal localizadas no músculo serrátil ventral, também interpretadas como

edema, de origem indeterminada.

A técnica de IRM de ombro mostrou-se de padronização, aprendizado e

realização complexos. A duração do exame foi, em média, de 150 minutos, dificultando

a inclusão de cães no estudo, devido à necessidade de anestesia geral prolongada, não

autorizada por muitos proprietários. Entretanto, a avaliação à RM forneceu informações

concernentes à substância intra-tendínea, caracterizada pelo diagnóstico de edema,

não acessadas pelos outros métodos de imagem utilizados no estudo.

Foi possível notar que cada uma das técnicas de imagem forneceu informações

únicas e complementares entre si. Acredita-se que o presente trabalho possa ser

considerado preliminar na avaliação do tendão do músculo supra-espinhoso em cães e

que, a partir dele, muitos outros possam ser desenvolvidos tentando-se correlacionar os

estudos de imagem, evolução das lesões, sua relevância clínica e o melhor tratamento

a ser aplicado em cada caso específico.

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3.5 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no presente trabalho, permitem as seguintes conclusões:

- A radiografia é método adequado como primeiro exame de cães com tendinose

calcificante do m. supra-espinhoso e possibilitando a identificação da alteração e sua

classificação em cinco graus.

- A ultra-sonografia é método eficaz na avaliação de tendinose calcificante do m.

supra-espinhoso em cães, permitindo identificar lesões classificadas radiograficamente

como de grau 1, não detectadas à tomografia computadorizada e ressonância

magnética.

- A tomografia computadorizada permite a observação tridimensional das lesões

calcificadas presentes no tendão do m. supra-espinhoso, fornecendo informações

númericas quanto à área e sua capacidade de atenuação dos raios-x.

- As lesões calcificadas são identificadas com maior nitidez à tomografia

computadorizada em algoritmo para tecidos moles.

- Em relação à ressonância magnética, a alteração tendínea estudada é melhor

visibilizada ao plano sagital e sequência T1 e a sequência STIR é recomendável para

confirmação de líqüido intra-tendíneo.

- Os métodos de imagem fornecem informações complementares entre si na

avaliação da tendinose calcificante do m. supra-espinhoso em cães.

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