sopro 94_ amor (flávia cera)

Upload: mateustg

Post on 24-Feb-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 SOPRO 94_ Amor (Flvia Cera)

    1/2

    9/15/2015 SOPRO 94: Amor (Flvia Cera)

    http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/amor2.html#.VfieARFVhBd 1/2

    64

    outros nmeros resenhas dicionrio crtico(verbetes)

    seo arquivo informativo contato(e colaboraes)

    Amor Flvia Cera

    Muitas formas de dizer o amor so tentadas. A coincidncia entre elas quenunca nos bastam. Compramos presentes, fazemos surpresas, gestualizamos,para que seja entendido o tamanho do amor, a quantidade do amor. Mas comoele excessivo, ele excede a prpria linguagem. E ali onde te ntamos captur-lopara torn-lo compreensvel est seu efeito encantador de nunca poder diz-lo.Amar dar o que no se tem, diz Lacan. O amor tem algo de secreto. s vezesuma dobra da coxa, um olhar, o formato do dedo do p, ou a covinha nabochecha que s se forma com um determinado tipo de sorriso. E como dizer essesecreto incompreensvel e adorado? Walter Benjamin tentou assim:

    Quem ama no se apega apenas aos erros da amada, no apenas aos caprichose as fraquezas de uma mulher, rugas no rosto, sardas, vestidos surrados e umandar desajeitado o prendem de maneira mais durvel e inexorvel do quequalquer beleza (...) E por qu? Se correta a teoria segundo a qual os

    sentimentos no esto localizados na cabea, que sentimos u ma janela, umanuvem, uma rvore no no crebro, mas antes, naquele lugar, onde vemos estamos tambm ns, ao contemplarmos a mulher amada fora de ns mesmos (...)Ofuscado pelo esplendor da mulher, o sentimento voa como um bando de

    pssaros. E assim como os pssaros procura m abrigos nos esconderij osfrondosos da rvore tambm se recolhem os sentimentos, seguros em seusesconderijos, nas rugas, nosmovimentos desajeitados e nas mculas singelas docorpo amado. Ningum ao passar, adivinharia que, justamente ali, naquilo que defeituoso, censurvel, aninham-se os dardos velozes da adorao.

    Ama-se de corpo inteiro, mas esse corpo inteiro nunca acessvel porque justamente noinapreensvel do ser que est o amor. O amor nunca completudee plenitude, a sorte do amor tranqilo nunca chega. Ele no preenche, aocontrrio, a forma mais intensa de descobrir o vazio que nos estrutura. Amar noassegura nada, amando perde-se toda a consistncia. Longe de toda posse e de

    qualquer idia de fuso, o amor pode ser compreendido na soma e nunca nasubtrao ou na supresso das singularidades. Amar projetar-se ao mundo, eno no outro. A tentativa de identificao mxima para justificar um encontro, que sempre inesperado, o que pode fazer desse amor uma burocracia tediosa.Quando se diz: somos um s, anula-se toda a diferena que sustenta o amor.Porque o amor precisa de pelo menos quatro pernas como base de sustentao.Porque amar compartilhar, partilhar com o outro, estar-junto, lado-a-lado.ntimo, porm estranho como diz Agamben:

    Viver na intimidade de um ser estranho, no para nos aproximarmos dele, paradar a conhecer, mas para o manter estranho, distante, e mesmo inaparente - toinaparente que seu nome possa conter inteiro. E depois, mesmo no meio do mal-estar, dia aps dia no ser mais que o lugar sempre aberto, a luz inesgotvel naqual esse ser nico, essa coisa, permanece para sempre exposta e murada.

    S possvel construir o eu com o outro. Toda subjetividade nasce e renasce naimagem que projetamos ao mundo e nas que recebemos do mundo. pessoal eintransfervel, est no outro apenas na forma suplementar e absolutamenteparcial. No existe totalidade que possa ser apreendida no amor. O amor selocaliza no no-lugar do outro. um no-lugar que pulsa e movimenta o desejoque permanece aberto e incompleto. uma incmoda situao devulnerabilidade, um estado de suspenso. No por acaso dizemos, quandoapaixonados, que caminhamos nas nuvens, a forma de dizer a atopia de

    AAmor ( D.H. Lawrence)

    Amor ( Flvia Cera)Antropofagia ( Jarry)

    Antropofagia ( Tejada)Assalto ao cu

    Assistentes

    BBares proletrios

    CCadeiras

    Cara de CavaloCarter

    Carto de visitaCauda, A

    ComoCoroinhas

    DDevir-animal (ou cinismo)

    EEntidadeEspelho

    Exterioridades PurasExperincia(s)

    FFetiche

    Ficha catalogrfica

    GGoogle

    H

    IIntrusos

    Intrusos (II)

    JJuridiqus

    K

    LLibelo

    MMarginal

    MetropolisMickey Mouse

    Moldura Barroca

    NNegatividade

    O

    PPgina branca

    ParfrasePartout

    PerspectivismosPesquisadorPossessoProfanao

    QQuixotismo

    R

    http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/marginal.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/exterioridades.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/espelho.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/deviranimal.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/como.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/cauda.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/assistentes.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/assalto.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/antropofagia.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/amor.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/numeros.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/resenhas.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/dicionario.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/arquivo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/informativo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/contato.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/index.htmlhttp://www.culturaebarbarie.org/http://culturaebarbarie.org/sopro/index.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/index.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/n94.htmlhttp://www.culturaebarbarie.org/http://culturaebarbarie.org/sopro/index.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/n94.htmlhttp://www.culturaebarbarie.org/http://culturaebarbarie.org/sopro/index.htmlhttp://www.culturaebarbarie.org/http://www.culturaebarbarie.org/http://www.culturaebarbarie.org/http://www.culturaebarbarie.org/http://www.culturaebarbarie.org/http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/rio.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/quixotismo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/profanacao.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/possessao.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/pesquisador.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/perspectivismos.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/partout.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/parafrase.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/pagina.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/negatividade.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/moldura.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/mickeymouse.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/metropolis.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/marginal.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/libelo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/juridiques.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/intrusos2.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/intrusos.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/google.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/ficha.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/fetiche.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/experiencia.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/exterioridades.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/espelho.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/entidade.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/deviranimal.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/coroinhas.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/como.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/cauda.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/cartao.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/carater.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/caradecavalo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/cadeiras.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/baresproletarios.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/assistentes.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/assalto.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/antropofagiatejada.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/antropofagia.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/amor2.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/amor.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/contato.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/informativo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/arquivo.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/dicionario.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/resenhas.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/numeros.htmlhttp://www.culturaebarbarie.org/http://culturaebarbarie.org/sopro/n94.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/index.html
  • 7/25/2019 SOPRO 94_ Amor (Flvia Cera)

    2/2

    9/15/2015 SOPRO 94: Amor (Flvia Cera)

    http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/amor2.html#.VfieARFVhBd 2/2

    Barthes.

    O amor inabarcvel na linguagem porque ele s se realiza no ato e no corpo.Por isso tanto Barthes quanto Agamben diro que Eu te amo performtico, ouseja, sua significao coincide com o ato de dizer. Mas isso no significa que oamor seja a sensao sublime da felicidade: viver na borda de um abismo vertiginoso. Para amar preciso a capacidade de suportar esse afeto. HlioOiticica precisou de um Parangol que o vestia dizendo: Teu amor eu guardoaqui, no corpo. Um afeto que leva a loucura: ama-se loucamente, quer-seloucamente. Nesse sentido, amar tambm padecer. Apaixonar-se deixar ocorpo aberto e sem a imunidade que tenta precaver a contaminao mundana. abrir-se a certa passividade e patologia prprias da paixo. Amar a capacidadede ser pattico.

    O amor requer de ns uma ao criadora. Talvez seja por isso a insistnciaansiosa que temos diz-lo e recri-lo: os livros, as msicas, a psicanlise, etc. Masa linguagem sempre insuficiente para explicar alguma coisa que se realiza maisno corpo que na civilidade da lngua. Amar pensar-sentir-dizer simultnea eintempestivamente. a sada pela singularidade, porque no amor se compreendeo ser tal qual ele : irreparvel, inclassificvel, inqualificvel. No por acaso seaposta tanto nele como poltica para criar outro mundo possvel. Da filosofia religio. S que o amor nada tem a ver com a lei crist: amai ao prximo como a timesmo. Amar uma deciso a ser tomada. Amar desejar compartilhar ummundo.

    [Cf. Amor (D.H. Lawrence)]

    RioRosto (de Lvinas)

    SSalincia

    T

    U

    VVestgios (I)Vestgios (II)

    W

    XXeque-mate

    Y

    Z

    Onde est sua ruptura?(Victor da Rosa)

    [ Edico integral ]

    um panfleto poltico-cultural, publicado pela editora Cultura e Barbrie:h ttp: //www.culturaebarbarie.orgDe periodicidade quinzenal, est na rede desde janeiro de 2009.Editores: Alexandre Nodari e Flvia Cera.

    http://www.sitemeter.com/stats.asp?site=s18soprohttp://www.culturaebarbarie.org/http://culturaebarbarie.org/sopro/n94.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/resenhas/divorcio.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/xequemate.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/vestigios2.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/vestigios1.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/saliencia.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/rosto.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/rio.htmlhttp://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/amor.html