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Page 1: Senso incomum 23 bx

sen so in com um

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFU - ANO 06 - Nº 23 - AGOSTO/SETEMBRO-201 4

NovosOlhares

55..88..1100..

( ) Português ( x ) Libras

“Aquele abraço” Orkut

Capoeira: patrimônio cultural

FFOOTTOO:: BB

ii aannccaaJJuuddii ccee

Enquadramento da representaçãodo negro contextualizado pela

narrativa da história. Pág. 06 e 07

Page 2: Senso incomum 23 bx

As chuvas escassas no segundo semestre de 201 4 mos-traram que aquela velha história que diz que o Brasi l tem águapara dar e vender não é tão real . A combinação de pouca chu-va e dias quentes é o cenário ideal para contribuir para a faltade água. Quanto menos chove, mais quente fica. Quanto maisquente fica, mais água a população gasta para se refrescar. Eo que se escuta dos gestores públ icos? Que não há risco.

Os depoimentos dos governos se tornam incompatíveiscom os de moradores. Se por um lado, autoridades descartamo risco de racionamento, por outro, moradores de São Paulorelatam que já se tornou comum não ter água nas torneirasem determinados períodos do dia.

Não é preciso exempl ificar apenas com o baixo nível deágua no Sistema Cantareira, em outubro. Em Uberlândia, oDepartamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), responsá-vel pela captação e distribuição de água, adotou, em setembro,a distribuição racionada de água e o uso de advertências paraquem for pego desperdiçando, como um fato moral , no con-texto social .

O problema é a falta de controle na distribuição. Recente-mente, a Unidade de Atendimento Integrado (UAI ) do bairroMartins ficou sem água durante um período. Embora um ca-minhão pipa tenha demorado a chegar, principalmente por setratar de um hospital , nada ficou diferente, a população já sa-bia que estava em um hospital públ ico, sabia que o atendi-mento é demorado e que a espera seria grande.

Até parece que tem algo errado no ciclo da água. Apósevaporar e condensar, a precipitação deve estar ocorrendo só

na casa de quem deveria pensar soluções para contornar oproblema de falta de chuva. Não é possível que eles não este-jam vendo a seca e que não se esforcem para encontrar me-didas adequadas para evitar que em lugares como hospitais eescolas não falte água.

Nenhuma falta de água é surpresa para o governo. Já sesabe que em determinados períodos do ano os níveis de águade represas abaixam, as vazões dos rios diminuem e as pes-quisas indicam, na maioria dos casos, os problemas cl imáti-cos que ocorrerão. É possível , então, enfrentá-los através dapreparação para períodos em que a quantidade de chuva di-minui .

I nsti tutos de pesquisas desenvolvem projetos relacionadosao setor hídrico, mas não há o devido aproveitamento dos re-sultados. Pesquisadores especial izados no assunto não têm apossibi l idade de sugerir opções alternativas para o abasteci-mento de água das cidades, visto que os interesses políticossão maiores do que a vontade de resolver o problema de for-ma efetiva.

Falta de preparo para enfrentar a situação, desperdício deágua, omissão na cobrança de medidas para contornar oquadro, fal ta de fiscal ização e uma série de fatores podem serconsiderados a causa do problema. São Pedro não é o culpa-do pela seca e isso pode ser faci lmente dito, já que notícias dedesmatamento e práticas ambientalmente irresponsáveis sãomais frequentes do que ações sustentáveis. A responsabi l i -dade é do governo. A responsabi l idade é da população. Umpor ser omisso e outro por aceitar a omissão.

Editorial

São Pedro não é o culpado

Marcelo França

2OP IN I ÃO I Nn. 23ago/set

201 4

RReeiittoorr:: Elmiro Santos Resende / DDiirreettoorrddaa FFaacceedd:: Marcelo Soares Pereira da Silva /CCoooorrddeennaaddoorraa ddoo CCuurrssoo ddee JJoorrnnaalliissmmoo:: AnaCristina Menegotto Spannenberg /PPrrooffeessssoorraa ddaa ddiisscciipplliinnaa :: Ingrid Gomes /JJoorrnnaalliissttaa rreessppoonnssáávveell:: Ingrid Gomes MTB

41 .336 / EEddiittoorreess--cchheeffee:: Luisa Caleffi eMarcelo França / PPrroodduuççããoo ddee AArrttee:: ÉrikaAbreu, Bianca Judice e Rinaldo Augusto /CCoollaabboorraaççããoo ddee rreeppoorrttaaggeemm:: Bruna Pratali,Caroline Bufelli, Jhonatas Elyel Silva eMuntaser Khalil / RReeppóórrtteerreess:: Luisa Caleffi e

Marcelo França / CCrrôônniiccaa :: Talita Vital /EEddiittoorriiaa ll:: Marcelo França / FFoottooggrraaffiiaa ::Bianca Judice, Caroline Bufelli e RenatoPinheiro / CCaappaa:: modelos Érika Abreu eGabriel Ribeiro / DDiiaaggrraammaaççããoo,, ttrraattaammeennttooddee iimmaaggeennss ee FFiinnaalliizzaaççããoo:: Danielle Buiatti.

Expediente

É preciso ter novos olhares? Claro! Este jornal éum exemplo disto. Lembrar daquela primeira capamostra a diferença que separam não apenas estesquatro rápidos anos de publ icações, como tam-bém o amadurecimento e evolução.

E, como sempre, há muitos erros e acertosnestes 23 jornais experimentais. Mas em umabreve pesquisa, percebi o quanto cada edição foiimportante para compor esta história chamadaJornal ismo UFU. Discussões sobre homossexua-l idade, movimento feminista, assistência social ,saúde mental , entre tantos outros assuntos ma-cros que, editorialmente, precisam se tornar mi-cros, e que não perdem a sua importância para aconstrução social de cada indivíduo.

Assim como esta publ icação. Falar sobre a re-presentação do negro no contexto histórico, mos-trar a Capoeira, esta arte tão intrínseca à culturabrasi leira e exibir os primeiros passos de uma cri-ança de 9 anos, a Libras, que ainda engatinha nonosso país, encerra com chave de ouro mais umaedição do jornal . É necessário refletir. Muitas vezes,mudar o foco não basta. É mais que fundamentalter novos olhares.

José Pedro Bezerra - Jornalista do Praia Clube

Ombudsman

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Crise no sistema hídrico

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Page 3: Senso incomum 23 bx

Tem quem faça xixi no banho

Talita Vital

Aquela que foi embora...

Todos os dias começavam com aminha irmã mais velha perguntando sea roupa estava legal para mais um diade trabalho, e em seguida eu recebiainúmeras lambidas dos meus dois ca-chorros que dormiam comigo, talvezcom o intuito de dizerem: bom dia!

Acordar daquela maneira era tudopra mim, fazer meu próprio café da ma-nhã e brincar com os cães, era a melhorparte do dia. Eu me sentia independentee amada de uma maneira incondicional ,e esses momentos faziam da minha ca-sa um lugar de descanso, de privacida-de, de alegria, de conversas, de brigas,gri tos, era o lugar onde eu não temia asfortes tempestades. Era o lugar onde eupodia ser quem eu sou.

Entretanto, decid i seguir meu sonho,como qualquer adul to que almeja o “seralguém na vida”, e sai de casa por cau-sa da faculdade, troquei-a por um pe-queno quarto em um pequenoapartamento que divid ia com pessoasestranhas. E na primeira semana, des-cobri que minha casa era meu lugar fa-vorito.

Só visi tava minha casa e minha fa-míl ia um final de semana por mês, eagora meu antigo quarto era vazio, frioe não cheirava mais aquele odor típicode cachorro, mas sim, lavanda industri-al izada de materiais de l impeza. A ca-ma é a da minha irmã que agora dormeem uma cama de casal , meu travessei-ro e guarda roupa ainda marcam suaausência, um enfei tando e outro na tin-tura do quarto. Até a porta que conti-nha meu nome, hoje não identi fica omeu quarto na casa, mas sim um quar-to qualquer destinado a “hóspedes”.Somente a estante de l ivros e o mensa-geiro de vento revelam que um dia eumorei al i .

Era isso que eu era agora, uma hós-pede em minha própria casa. Nada al iera como antes, minhas noites não ti-nham mais a companhia dos cachorros,as manhãs não eram regadas de úmi-dos “bom dia” e minha irmã nem se im-portava em pedir minha opinião sobre olook. Além da estranheza de sentar paraalmoçar e não reconhecer mais as pes-soas a minha frente e lado e desconhe-

cer os assuntos que eles comentavam.Tudo isso me fazia sentir culpada poralgo que é só mais uma consequênciada distância.

Pena que meu eu − hóspede − nãopercebeu isso antes, eu achava quequando voltasse para casa à saudadeseria tanta que todos reivindicariam mi-nha atenção e presença, não imaginavaque com o passar do tempo minha au-sência se adequaria ao repertório e aspessoas se acostumassem com as rá-pidas visi tas mensais.

Ainda bem que agora meu eu −hóspede − sabe que isso não vai mu-dar, que aquele lugar que eu chamavade casa não será mais a minha casa eque aquelas pessoas não mudaram,quem mudou foi eu. E eu sei que dóinão olhar para trás toda vez que vouembora, mas sei que dói mais aindaolhar e me imaginar novamente al i , en-tão em toda despedida me convençode que as mudanças são necessárias eque com o passar do tempo tambémme adaptarei com adeus e bei jos dedespedidas.»

OP IN I ÃO3

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Marcelo França

Com certeza algumas pessoas já praticam atitudes sus-tentáveis, mas não percebem ou preferem não revelar para asoutras pessoas. Às vezes, mesmo sem querer, pessoas consi-deradas por alguns como “mais porcos” dão uma ajuda para anatureza. Quem nunca chegou ao banheiro e viu aquela lem-brança deixada pelo usuário anterior? Vai ver ele não esqueceuou deixou lá apenas por preguiça de apertar a descarga. E seele pensou em ser sustentável e economizar a água da des-carga?

Claro que essa situação pode parecer exagerada. Não éagradável usar o banheiro sujo. Além de falta de higiene, é fal-ta de respeito. Mas o velho papo de cada um fazer sua parte eque as pequenas ati tudes realmente podem ajudar o meioambiente é certo. Numa descarga, o gasto de água é de oito a1 2 l i tros, ou seja, uma grande quantidade de água l impa e tra-tada vai pelo esgoto, l i teralmente.

Voltando ao papo de não perceber a prática de ações sus-tentáveis, que tal fazer xixi no banho? Nojento, aceitável ounormal? Particularmente, não sou da turma que diria “normal”,mas a organização não-governamental SOS Mata Atlânticadefende essa ideia. Caso você não seja da minha turma, a en-quete lançada no site www.xixinobanho.org.br lhe surpreende-rá. Mais de 70% dos visi tantes do site responderam que fazemxixi no banho.

Especial istas dizem que há dois lados nessa história. O pri-meiro é que não há problema, visto que a urina é compostapor 95% de água e 5% de outras substâncias. A água leva aurina embora e como se trata de um banho, a sujeira será l im-pada. O outro lado é que o contato constante com urina propi-cia o aparecimento de microrganismos e, caso o rejunte dopiso esteja mal colocado, o xixi poderá ficar preso embaixo da

cerâmica, favorecendo o desenvolvimento de bactérias e ger-mes.

Independente de ser adepto do xixi no banho ou não, o sitedá dicas de outras ações sustentáveis como abrir a torneiraapenas quando necessário, el iminar vazamentos, não deixar aporta da geladeira aberta e preferir embalagens reuti l izáveis.Já o caso do xixi , por não ser apenas uma questão de mudan-ça de ati tude e envolver higiene, cada um pode fazer sua es-colha. Se optar pelo xixi apenas no vaso sanitário, pense nasoutras possibi l idades. Qualquer forma de ajudar o meio ambi-ente é bem vinda.

I N n. 23ago/set201 4

ILUSTRAÇÃO:Erika

Abreu

Page 4: Senso incomum 23 bx

UFU instala coletores de pilhas ebaterias nas secretarias dos cursos

Descarte Sustentável

FOTOS: Bianca Judice

4at ual i d ad es I Nn. 23ago/set201 4

Luisa Caleffi e Marcelo França

Visando a destinação correta das pi lhas e bate-rias, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU)instalou coletores nas secretarias dos cursos oulocais próximos a elas. Segundo a resolução 257do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)é proibida a destinação final das pi lhas e bateriasatravés da queima, a céu aberto e em locais comocursos d’água, cavidades subterrâneas e redes deesgoto, visto que esse tipo de resíduo possui ele-mentos que causam danos à natureza.

A UFU optou pela terceirização dos serviços decoleta e destinação final dos resíduos sól idos aoinvés de real izar o tratamento na insti tuição. Se-gundo o diretor de sustentabi l idade da UFU, Eucl í-des Honório de Araújo, a universidade não possuicondições de fazer o tratamento e os resíduos se-rão acumulados para que as empresas terceiriza-das façam o recolhimento para dar a destinaçãoadequada.

Em relação aos locais para instalação dos cole-tores, Eunir Augusto Reis Gonzaga, coordenadorde planejamento de gestão ambiental da Diretoriade Sustentabi l idade (Dirsu) , expl ica que foi con-cluído num estudo da área ambiental , que os cole-tores deveriam ser colocados nas secretarias doscursos, com o intuito de faci l i tar o recolhimentoperiódico quinzenal . “Se encher e não for feito odescarte, o próprio secretário pode entrar em con-tato”, acrescenta.

Segundo Júl io César Costa, técnico em meioambiente responsável pelo Laboratório de Resídu-os que funciona no bloco 5J do campus SantaMônica, chegou-se a pensar em instalar os coleto-res em locais públ icos, por exemplo, nos Centrosde Convivência, mas como poderia haver vandal is-mo, a opção mais prática foi colocá-los nas secre-tarias para depois encaminhar os resíduos para olaboratório.

O estudo “Gerenciamento de Resíduos Consti-tuídos por Pi lhas e Baterias Usadas”, real izado porNivea Maria Veja Longo Reidler, especial ista emEngenharia Ambiental , e Wanda Maria RissoGunther, especial ista em Engenharia da Saúde Pú-bl ica, apresentado no XXVI I Congresso Interameri-

cano de Engenharia Sanitária e Ambiental edisponível no site do Ministério do Meio Ambiente,mostra que a destinação inadequada de pi lhas ebaterias que contêm mercúrio, níquel e cádmio,metais pesados, são prejudiciais. “Podem provocardanos ao meio ambiente e representam riscos àsaúde públ ica, pela possibi l idade dos metais pe-sados atingirem o organismo através da cadeiaal imentar”.

“Uma das principais preocupações com a dis-posição de resíduos de diversas origens em solosé a possibi l idade de contaminação por metais pe-sados”, d iz Bruno Teixeira Ribeiro, doutor em Ci-ência do Solo, especial ista na área de Manejo eConservação do Solo e Água e professor da UFU.Ele completa dizendo que os metais pesados po-dem ter efeitos deletérios sobre as plantas, ani-mais e humanos.

A bióloga Jaquel ine Raymondi Si lva aponta osproblemas que a destinação inadequada de resí-duos, como as pi lhas e baterias que contêm mer-cúrio, podem causar ao meio ambiente. Segundoela, o mercúrio causa danos, principalmente aosistema nervoso e no caso de descarte inadequa-do, pode atingir os cursos d’água e ser ingeridospor animais. A bióloga completa dizendo que omaior problema é o aumento da concentração doelemento ao longo da cadeia al imentar, “O últimoelo da cadeia al imentar é aquele que receberá asmaiores concentrações de mercúrio”.

“Atualmente a preocupação com a segurançaal imentar é destaque em todo o mundo”, esclareceRibeiro. O metal pode entrar na corrente sanguíneaatravés da ingestão e, após isso, terá contato comvários órgãos. Caso atinja o sistema nervoso, podelevar à vida vegetativa ou morte.»

Coletores de pilhas chegam aos corredores da instituição

SSEERRVVIIÇÇOO::

Os coletores podem ser identificados pelacor laranja e recebem pi lhas e baterias usadastanto nos insti tutos e laboratórios da universi-dade quanto as que são uti l izadas fora da UFU.

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AT UAL I D AD ESI N n. 23ago/set201 4 5

Carol Bufelli

Em pleno século XXI , várias são aspessoas conectadas em seus apare-lhos tecnológ icos em todo o mundo,inúmeras informações ci rcu lam osmeios de comunicação, os meios ele-trôn icos e chegam até as pessoas to-dos os d ias. Avanços científicos,econômicos e acadêmicos acontecemao redor do planeta e um surdo, noBrasi l , a inda precisa lutar mui to parater um espaço reconhecido.

No País, segundo dados do IBGE, de2000, 4,6 mi lhões possuem deficiênciaaud i tiva e 1 ,1 mi lhão são surdas, com-pondo um cenário que somente em 24de abri l de 2002 teve decretada a lei nº1 0.436 pelo Congresso Nacional , regu-lamentada pelo decreto n° 5.626 de 22de dezembro de 2005, reconhecendocomo meio legal de comunicação aLíngua Brasi lei ra de Sinais, Libras, eoutros recursos de expressão a ela as-sociados no Brasi l , um reconhecimen-to que ainda não completou nem dezanos.

As insti tu ições de ensino superior,então, precisaram se reformular. Comisso, surg iu a necessidade de inclu i r aLibras nas grades curricu lares, a for-mação superior de professores e ins-trutores de Libras e pensar em todauma estrutura para o ingresso e per-manência do estudante surdo no ensi-no superior.

Na Universidade Federal deUberlân ida (UFU) , O Centro de Ensino,Pesquisa, Extensão e Atend imento emEducação Especial , Cepae, é um exem-plo sobre programas inclusivos que vi-sam à educação especial , de modo quese forme um espaço para reflexões edebates acerca desse cenário, a parti rda ideal ização de um centro que envol-vesse não só aqueles que dependemda educação especial por qualquer ne-cessidade, como também os profissio-nais da área.

Segundo a coordenadora do Cepae,El iamar Godoi , doutora em EstudosLinguísticos, e Especia l ização em Edu-cação Especial , existem hoje na Uni-versidade, sete alunos surdos nagraduação – seis presentes no campide Uberlând ia e um em I tu iutaba – emais quatro alunos surdos matricu la-dos em Cursos de Pós-graduação,sendo um no Doutorado e três noMestrado.

Esses alunos recebem o acompa-nhamento de moni tores, que real izama mediação entre o conteúdo ensinado

em sala e o seu entend imento. Atual-mente, o Cepae coordena cerca de dezmoni tores, entre bolsistas e estag iári-os, e nove intérpretes, que acompa-nham os moni tores quando esses nãosabem a Libras, e real izam a função deinterpretação na Universidade, atuandoem Uberlând ia e em I tu iutaba.

Com o crescimento das redes soci-ais e dos apl icativos com mensagemde texto, ficou mais fáci l para o surdohoje em dia se comunicar com outraspessoas, sejam elas surdas ou não. OTDD, TS ou telefone de texto, comotambém é conhecido, é um telefonepara surdos, com um teclado acoplado,que permite ao usuário a possibi l i dadede escrever aqu i lo que quei ra comuni-car. Os alertas são real izados a parti rde luminosos e alguns aparelhos po-dem ser encontrados também em lo-cais públ icos, como rodoviárias eaeroportos.

Mais ainda, a possibi l i dade de seusar a webcan para a comunicação aparti r da Libras também faci l i tou a tro-ca de informações entre o surdo e de-mais pessoas, sejam elas deficientesaud i tivas ou ouvintes, j á que a imagemtransmitida permite a real ização dosmovimentos necessários na LínguaBrasi lei ra de Sinais.

O professor da UFU, Kleyver TavaresDuarte, Mestre em Educação de Sur-dos e especial izado em Educação Es-pecia l pela Universidade Federal deUberlând ia , perdeu sua aud ição aostrês anos de idade, por conta de me-ning i te. Ele destaca a importância das

redes sociais, que se baseiam nocomparti lhamento de informações vi-suais, e o uso de míd ias como o You-tube, ferramenta importante para ocomparti lhamento da Libras atravésdos vídeos, servindo como uma redede auxíl io para quem está aprendendoa Língua, por exemplo.

No entanto, Duarte destaca que omaior problema é a questão de identi-dade e cul tura. “Embora a premissamais forte que sustente a oral idadeseja a integração do surdo na comuni-dade ouvinte, ela não consegue ser al-cançada na prática, pelo menos pelagrande maioria de surdos. I sso acabarefletindo, principalmente, no desen-volvimento de sua l inguagem, sendoentão o surdo si lenciado pelo ouvinte,por mui tas vezes não ser compreend i-do. ”

Assim, é preciso destacar que umsurdo não tem sua comunicação re-sumida aos aparatos tecnológ icos. Emfarmácias, transportes públ icos, hos-pi ta is, bares e rodas de amigos mui tasvezes, quase que em sua total idade, aacessibi l i dade se faz ausente e o surdoacaba enfrentando as mais d iversasd i ficu ldades para consegui r se ex-pressar e entender aqueles que estãono seu entorno. “Em todos os lugareshá barrei ras na comunicação. Temosque acabar com isso, mas estamosengati lhando as mudanças que con-seguimos em lutas pelos nossos d i rei-tos, aos poucos, e vencendo opreconcei to que no passado era mai-or”, comenta Duarte.

Desde 2005 a Língua Brasileira de Sinais reivindica espaço no cotidianoeducacional

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Para além da fala oralInclusão pelos sinais

Alunos e intérpretes em reunião no Cepae

FOTO:C

arolBufelli

Page 6: Senso incomum 23 bx

A luta por umarepresentação satisfatória

Num país com mais da metade de pessoas negras, o professorGuimes coordena o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFU,

que busca defesa e fortalecimento de identidade

6 I Nn. 23ago/set

201 4

Marcelo França

Na última sala do segundo andar do Insti tuto de Químicada Universidade Federal de Uberlândia (IQUFU), o professorGuimes Rodrigues Fi lho se dispõe a dar uma entrevista, semhora marcada, sobre sua história e projetos de inclusão sócio-cultural-racial que desenvolve e participa. Com o barulho dasobras na UFU, surge a possibi l idade de real izar a entrevista nasala do Núcleo de Estudos Afro-Brasi leiros da UFU (Neab-UFU), do qual é coordenador desde 2006. No caminho, mostrao bom humor e comenta o trânsito dentro da universidade “Is-so é coisa de maluco!”.

Assunto não falta. Em pouco menos de uma hora, Guimes,54 anos, fala sobre diversos temas como política, rel ig ião, cul i-nária, educação, meio ambiente e medicina. “O Neab traz dis-cussões. Nós precisamos discutir abertamente”. Ele acredita,também, que para conhecermos nossa his-tória, precisamos conhecer a do outro. “Ahistória do Brasi l é a história do negro, doindígena, do asiático”.

Andando pela UFU, é fáci l reconhecê-lo.Seus longos dread-locks demonstram suarepresentação identi tária e, para alguns, oNeab é um lugar de defesa e fortalecimentodela. Guimes acredita que o corpo fala. “En-quanto (o corpo) está falando com cabeloal isado, ele está dando uma resposta à re-pressão que está sofrendo”. Ele exempl ificacom o caso de meninas, antes com cabelosl isos, e que agora, participando das ativida-des do Neab, usam trançados, rastafári oublackpowers. “I sso altera a cabeça das pes-soas, é um lugar de fortalecimento de iden-tidade”.

Núcleo de Estudos Afro-BrasileirosEm 2003, o governo federal sanciona a lei

1 0.639, a qual modifica as leis de diretrizes e

bases da educação e, em 2004, com sua re-

gulamentação, todos os níveis de ensino

passam a ser obrigados a ensinar história e cultura africana.

Guimes lembra que pouco estava sendo feito. “Na verdade era

uma daquelas leis da época da escravidão, pra inglês ver”. O

professor expl ica que, numa tentativa de alterar a situação, o

Ministério da Educação (MEC) cria uma l inha de fomento, a

partir de 2006, para educação continuada de professores e

publ icação de material para tratar de forma adequada a ima-

gem do negro.Quando chegou à universidade, há 1 7 anos, Guimes já

praticava a capoeira regional e durante seu mestrado em Quí-mica na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) , em1 988, conheceu um grupo de “capoeira angola”. Após retornara Uberlândia, o professor iniciou um projeto de extensão em

Entrevista perfil

Há oito anos, professor Guimes coordena o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro (Neab)

FOTOS: Bianca Judice

Page 7: Senso incomum 23 bx

A luta por umarepresentação satisfatória

Num país com mais da metade de pessoas negras, o professorGuimes coordena o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFU,

que busca defesa e fortalecimento de identidade

7I N n. 23ago/set201 4

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escolas da periferia da cidade, onde ensinava

capoeira angola com o objetivo de criar a iden-

tificação das crianças e combater o racismo.Antes da criação efetiva do Neab, o qual ,

segundo Guimes, ainda não está no organo-grama da universidade, “ele existe, mas nãoexiste”, assim como o projeto de capoeira an-gola, professores e técnicos da universidadereal izavam ações ind ividuais. Em 2005, o pro-cesso de aglutinação das ações ind ividuaisdeu origem ao Neab. “A gente tinha grupos deprofessores que atuavam individualmente, ca-da um no seu quadrado. É importante ter onúcleo porque aglutina essas ações espar-sas”.

Conquistas e desafiosGuimes luta pela criação de pol íticas afi r-

mativas para a comunidade negra. Em 2009,junto com o Neab, criou o Fórum de Promoçãode Igualdade Racial , que possibi l i tou a criaçãode Comissões de Igualdade Racial na CâmaraMunicipal e na Ordem dos Advogados Brasi-lei ros (OAB) , além do Conselho Municipal deIgualdade Racial . Embora ainda não tenha ob-tido sucesso, busca a criação do feriado no

dia 20 de novembro, d ia de Zumbi , em Uber-lândia.

Uma das conquistas do fórum é a criaçãodas cotas raciais para ingresso na UFU. Foramquatro anos de discussão para que, em 2007,a universidade optasse apenas pelas cotas ra-ciais. “Se você não tem esse lugar que nucleiaessas discussões, não acontece nada. Nem ascotas sociais i riam acontecer”. Guimes apontaque com o fim do Programa de Ação Afi rmati-va de Ingresso no Ensino Superior (PAAES) ,in icia o programa de cotas raciais.

O trabalho do Neab, apoiado pelo professorGuimes enfrenta desafios. O coordenadoraponta que na UFU, para a orientação em re-lação à segurança da comunidade acadêmica,criou-se uma carti lha, na qual o suspei to eraassociado ao negro. “Nós estamos no séculoXXI , é uma universidade, que é pra ajudar asociedade, faz um negócio desses! ”. Em Ribei-rão Preto, a pol ícia mi l i tar fez algo semelhantecriando uma carti lha de orientação para segu-rança dos usuários de ônibus coletivos, naqual o negro era colocado como “modelo desuspei to”. Fatos que devem ser desleg i tima-dos pela sociedade.

Busca-se, também, a representação nosórgãos governamentais. “Hoje somos 50,7%da população, nós temos que estar represen-tados em todos os espaços”. Há o desejo deretomar o Partido Negro e não ser dependentede outros partidos. “I sso não é divisionismo”.Guimes ci ta o exemplo dos indígenas que es-tão se organizando para criar um partido indí-gena, tal como a representação homossexualexistente. “Cada setor da sociedade está pro-curando se representar. Queremos ver negrosministros da educação, da fazenda”.

Guimes final iza defendendo que devemosaprender com o povo que faz a cul tura. Paraele, é preciso dar voz às mães de santo, paisde santo, indígenas, qu i lombolas, para poder-mos aprender a história e cul tura deles. “Efe-tivamente, a formação cidadã não ocorre.Quando vai acontecer? Quando a gente estiverd ialogando com os indígenas, qu i lombolasdentro dos nossos cursos”. Cul inária e medi-cina não são fei tos apenas nos grandes cen-tros de pesquisa. “Os indígenas nãocontatados não têm hospi tal , celu lar, internet,mas têm medicina porque os caras estão vi-vos até hoje. É medicina de al to nível . ”

Neab busca criar políticas de ações afirmativas para a comunidade negra

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8 cot i d i an o I Nn. 23ago/set

201 4

Jhonatas Elyel Silva

Desl igaram os aparelhos há poucomais de dois meses, pois o pacienteagonizava já há alguns anos. A fraseanterior poderia muito bem se referi r aum ser humano em estado terminal ,mas o paciente no caso era o Orkut.

Foi com pesar que mi lhões depessoas, receberam no final do mês dejunho de 201 4 uma notícia que já seesperava há algum tempo. O Orkutseria descontinuado no úl timo dia desetembro. “Fiquei triste, mas por poucotempo”, afi rma o estudante de Direi toda UFU, Geovani Bennato. “Quandouma decisão dessas é tomada eveicu lada pela própria dona da redesocial , no mínimo um mi lagre serianecessário para mudar isto. ”

Assíduo frequentador desde ostempos de ouro do Orkut, Geovani eraum dos mi lhões de uti l izadores da rede

que, ao entrar em choque com oFacebook em 2009, entrou emdecadência e saiu de cena, mas nãototalmente. Em alguns dias seu perfi lrecebia visi tantes, mas nas úl timassemanas antes do fim o número seestabi l izava na casa do zero.Resumindo: o retrato de uma “cidadeem ruínas”. Porém, ainda assim elesresisti ram, e conseguiram, inclusive, sed iverti r.

Grande parte desta diversão

permanecia nas contas fake. O ato de

se fing i r de outra pessoa não é nada

novo, veja-se o início do teatro, na

Grégia Antiga, mas nem todos os

usuários do mundo “falso” estavam al i

“brincando”. Alguns perfis, como o do

próprio Geovani , uti l i zaram e ainda

uti l izam a rede para exerci tar sua

capacidade criativa e, é claro, para fugi r

das mazelas da vida. Seus perfis eram

uti l izados para jogos de RPG

interpretativo. “Apesar de eu ter a conta

que me pertencia como pessoa física,

por ind icação de amigos eu me

aventurei aos jogos de RPG com

personagens inspirados em l ivros,

fi lmes ou animes. E confesso que sair

dos tabulei ros e dados para os fóruns

foi uma mudança agradabi l íssima! As

melhores lembranças estão

relacionadas às amizades e os bons

momentos que eu passei nos jogos de

interpretação nas comunidades. Sim,

era tudo fantasia, mas fugir do mundo

real e relaxar no mundo surreal sendo

quem você quer ser em tramas

l indamente elaboradas foi , de verdade,

mui to d ivertido! ” descreve Geovani ao

longo da conversa.Após tantas experiências, sejam no

mundo fake dos Gandal fs eHermiones, ou no mundo real , onde aspessoas adoravam quando o l imi tedos álbuns aumentava ou quandorecebiam dezenas de depoimentosnuma batalha sobre qual dos amigosficaria com “o topo”, é um poucoimpensável declarar oficia lmente queo Orkut, apenas por ter saído domercado tenha fracassado. Afinal ,redes socia is são produtos com datade val idade. O Orkut veio, cumpriu asua proposta e saiu porque, assimcomo as relações sustentadas nessasplataformas, elas próprias têm umtempo de duração muito curto. É algoinstantâneo; isso é uma característica,inclusive, do momento histórico em quese vive.

Orkut se despede com a marca das comunidades na rede

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Foi o fim ...ILUSTRAÇÃO:E

rika

Abreu

“Zeeeeeeeiro. É goool do Cruzeiro. ” O local é um barzinhopopular da cidade, lotado de estudantes e torcedores apaixo-nados. A comemoração, porém, não vem de nenhum homemvestido com a camisa azul do clube mineiro, barbudo, dos queentendem do assunto. A voz fina e estridente que comemorade maneira fervorosa é de Karina Ol iveira, 21 , estudante deengenharia civi l da Universidade Federal de Uberlândia.

A paixão pelo futebol (e pelo Cruzeiro) é antiga. A estudante,natural de Belo Horizonte, conta que por influência do pai e doirmão, desde criança acompanha os jogos do time do coração eaos poucos foi aprendendo as regras do esporte: “Sempre gosteide futebol. Meu pai me levava aos jogos no Mineirão e foi meexplicando sobre os jogadores e eu acabei me apaixonando.”

A torcida feminina no futebol obteve um crescimento ex-pressivo nos últimos quatro anos. Dados do IBGE de 201 0mostravam que do total de 1 92,4 mi lhões de brasi leiros 51 %são mulheres. Em número bruto 98,2 mi lhões e que, desse to-tal , 67,6 mi lhões declararam-se torcedoras de algum time de

futebol . Uma pesquisada real izada pela Pluri Consultoria di-vulgou ainda que o Flamengo é o time com maior número detorcedoras, com 1 4,1 mi lhões, equivalente a 1 4,4 % da popu-lação brasi leira. Os números, porém, não garantem a assidui-dade das mulheres.

Jul iane Trajano, 20 anos, aluna de direi to da UFU, é umexemplo. Torcedora do São Paulo a estudante também co-meçou a torcer por influência da famíl ia. “Cresci com meni-nos, na rua. Jogava futebol na rua, mas por brincadeira. ”Apesar de se declarar torcedora, a estudante diz não acom-panhar os campeonatos e não ter vontade de assistir aos jo-gos em estádios.

O futebol, contudo, ainda é um esporte que discrimina asmulheres. Quando questionada sobre o assunto, a estudante dedireito final iza: “O sexismo diminuiu muito, mas ainda existenesse meio. Se alguma repórter erra, ela é criticada por ser mu-lher, não pela falha que cometeu. Se um repórter erra ele é criti-cado por outros motivos, nunca porque ele é um homem.”

Luisa Caleffi

Torcida feminina avança no futebol

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po lít i cA9I N n. 23ago/set201 4

Muntaser Khalil

O Brasi l é o maior produtor e exportadorde cana-de-açúcar no mundo. Exportandomais da metade da produção de açúcarmundial , os dados só crescem a cada ano,principalmente quando o assunto dizrespeito à produção de etanol , já que oconsumo do combustível mundialmente sócresce.

Apesar de todo esse boom econômico, ascondições de trabalho semiescravo nessaárea canavial pouco mudaram. Umtrabalhador pode chegar a cortar diariamente1 5 toneladas de cana para o aumento de suarenda mensal. Alguns entram no mundo dasdrogas na intenção de “esquecer a vida” econseguir enfrentar as condiçõesdegradantes existentes no trabalho.

A mente pode resistir, mas o corpo não ealguns chegam a morrer devido ao grandeesforço na esperança de dar uma vidamelhor para suas famíl ias que aguardam odinheiro no final do mês. Apesar de amaioria das usinas de cana usarem,atualmente, métodos mais modernos emecanizados, os abusos ainda continuamem outros trabalhos relacionados à área,como na apl icação de defensivos agrícolas.

A prática da queima da palha da canapara faci l i tar na colheita é outro fator queprejudica os trabalhadores que infel izmenteinalam gases altamente tóxicos l iberadosnesse processo, como o gás carbônico, deacordo com informações do Grupo Cultivar.

A migração de trabalhadores donordeste vem ocorrendo de formacrescente com o passar dos anos na cidadede I tuiutaba, Minas Gerais. Segundo dadosda Secretária Municipal deDesenvolvimento Social a maioria chega deAlagoas e do Piauí. Alguns dessesmigrantes trazem suas famíl ias em épocasde safras, que duram em média seis meses,e quando esse período acaba retornampara suas cidades.

Esse período entre safras também setornou fonte de renda para algunsmoradores de I tuiutaba, que encontraramno retorno dos trabalhadores um meio paraganharem dinheiro e empreender. Dessaforma, existem algumas empresas para otransporte dos migrantes no retorno àssuas cidades em viagens que duramgeralmente três dias em ônibus lotados,velhos e sem conforto.

Problema ambientalO meio ambiente também sai perdendo

nesse processo de queimada da cana, poisa queima el imina toda a cobertura vegetalno solo, fazendo com que aumente achances de erosões. Ocorre, assim, umdesequi l íbrio ecológico, já que esseprocesso também aumenta o número deervas daninhas no solo, criando anecessidade de um maior uso deherbicidas, segundo Francisco Franco,produtor rural e pesquisador na áreacanavial .

Os animais também são atingidos nesseprocesso. “Além de todos os gases l iberadosna atmosfera, é importante sal ientar osdanos causados à fauna. Tendo em vistaque vários animais morrem e acabamperdendo seu habitat”, expl ica LázaraDayane Muntaser, estudante de geografia daUniversidade Federal de Uberlândia epesquisadora na área ambiental .

É fato que a cana-de-açúcar possuiimportância para a economia nacional , mastambém vale lembrar que a necessidade demais canaviais acaba ultrapassando osl imites ambientais e prejudicando cidades epessoas. Diante disso tornam-senecessárias políticas e leis mais rígidas queas atuais relacionadas ao plantio e colheitada cana-de-açúcar, como também leistrabalhistas especificas e complementarespara os cortadores.

Trabalhosemiescravo eprejuízo ambientalevidenciamausências depolíticas públicasna produção doetanol e do açúcarde todo o dia

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Açúcar amargoDireitos humanos e Direito ambiental

ILUSTRAÇÃO:Erika

Abreu

Page 10: Senso incomum 23 bx

É fáci l identificar uma roda de capo-

eira. A música cantada, acompanhada

pelas palmas, instrumentos e os movi-

mentos dos capoeiristas tornam a união

de música, dança e luta uma expressão

artística brasi leira e única. No entanto, o

preconceito que ainda existe, fruto da

repressão exercida na época de sua cri-

ação, torna a capoeira mais valorizada

no exterior do que em algumas regiões

do Brasi l .Desenvolvida como forma de prote-

ção, a luta surgiu durante o período deescravidão e era praticada próximo àssenzalas e nas capoeiras, locais commato baixo e pequenos arbustos. JoãoEdson de Melo, conhecido como mestreCaranguejo, conta que, devido ao misti-cismo, as mortes dos capitães do matonas tentativas de buscar os escravosfugitivos eram atribuídas ao local deno-minado capoeira. O local e o misticismoderam nome à luta.

Caranguejo expl ica, ainda, que a ca-poeira não era uti l izada apenas paraproteção contra os escravizadores. Porhaver escravos de diferentes origens, aslutas por mulheres e melhores lugarespara dormir eram por meio da capoeira.Porém, como os escravos eram proibi-

dos de pra-ticarqualquerluta, assima dança erausada co-mo disfarcee real izadacom oacompa-nhamentoda música.

Os es-cravostrouxeram arel ig ião,dança emúsica.Nas rodasde capoeira,o berimbaué um dosinstrumen-tos. Jerôni-

mo Cândido Da Si lva, o Mestre Tuchê,lembra a expressão “O berimbau ensina”e aponta que o atabaque, pandeiro eagogô acompanham o ri tmo tocadopelo berimbau , que é tocado pelo mes-tre da roda.

Como a capoeira era uma práticaproibida, surgiu a tradição de dar apelidospara os praticantes. Os capoeiristas uti l i -zam cordões para a graduação, sendoque a ordem das cores varia de acordocom a região. A primeira troca é chamadade batismo e nela é dado o apelido. “Oscordões significam a valorização doaprendizado e é representada com coresde elementos danatureza. Já obatismo é ummomento defesta pela gra-duação do Ca-poeirista”, d izTuchê.

Para alémdo precon-ceito

Embora acapoeira sejaconsiderada pa-trimônio culturalbrasi leiro, ela

não está l ivre de preconceitos. Elementoda cultura afro-brasi leira, a luta nãodeixou de ser recriminada após a abol i-ção da escravidão e já foi consideradacrime. Atualmente, praticada tanto porquem tem interesse em melhorar o de-sempenho físico quanto por quem bus-ca a valorização da cultura brasi leira, acapoeira pode ser encontrada em aca-demias e rodas ao ar l ivre. Mas a pro-cura ainda não é representativa. “Umdos maiores problemas é a falta de mí-dia”, aponta mestre Tuchê.

A inclusão da luta em projetos soci-ais está cada vez mais frequente e aaceitação é surpreendente. De acordocom mestre Tuchê, responsável por umprojeto na cidade de Uberlândia, aquantidade de adeptos está aumentan-do.

A professora Jaluza Maria Lima Si l-va, conta que os fi lhos, praticantes decapoeira, tiveram benefícios físicos emelhor percepção da cultura brasi leira.Ela percebe mais preconceito na suageração do que na dos fi lhos e que ascrianças, quando conhecem a luta,crescem entendendo e defendendo acultura ensinada nela e por ela.

Mestre Caranguejo assume que játeve preconceito com a capoeira, masapós entender a luta, não parou de pra-ticar. “O pessoal mais antigo sofria maispreconceito. Hoje ela precisa ser maisreconhecida e valorizada”, expl ica. Mes-tre Tuchê ressalta a importância da ca-poeira e conclui que ela contribui para ofortalecimento da identidade culturalbrasi leira.

Projetos sociais apostam na prática de capoeira

10cu lt u raesport elaz er I Nn. 23ago/set

201 4

Marcelo França

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Capoeira é mais que laço da identidade negra, tornou-se patrimôniocultural

Legitimamentebrasileira!

FOTOS:R

enatoPinhe

iro

A cor do cordão varia de acordo com a região

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cu lt u raesport elaz er11I N n. 23ago/set201 4

Resenhas

Estação Carandiru

não é, nem de longe, um

l ivro cético. Lançado em

1 999, escri to pelo médico

Drauzio Varel la após seus

anos de trabalho voluntá-

rio de prevenção a AIDS

na Casa de Detenção de

São Paulo, traz inúmeras

histórias de personagens

ímpares: doentes que

passaram por ele, presos

que auxi l iavam na enfer-

maria, alguns funcionári-

os − rostos da, então,

maior penitenciária brasi leira.O l ivro inicialmente apresenta a geografia do “Carandiru” –

basicamente, a distribuição dos mais de sete mi l homens quelá estavam. O autor descreve não só sobre as condições devida dos detentos, como também as razões que levavam cadapreso a se dirig ir a determinado pavi lhão, dentre os nove quecompunham a penitenciária.

Na sequência da lei tura, suti lmente se iniciam as histórias.Sem fazer juízo de valor, Drauzio Varel la conseguiu dar voz aosquais ele conheceu. Mais ainda, humaniza seus personagens,dando mais atenção ao que tinham para contar, e menos aoscrimes que os levaram até lá.

Nos capítulos finais, Varel la trata da invasão da PM, apósuma briga no pavi lhão nove, no dia dois de outubro de 1 992. Ainvasão, que final iza a obra, traz a versão dos presos e, comojá dito, não é, nem de longe, um l ivro cético. Estação Carandirué escri to sem meias palavras e por isso, incomoda. É sobredor, sobre justiça (ou injustiça) e sobre aqui lo que a televisãonão conta. É um l ivro sobre marginais – aqueles que estão àmargem – e sobre como, apesar das circunstâncias, semprehá algo para se ouvir e saber em profundidade.

O preso em focoCarol Bufelli

FOTO:D

ivulga

ção

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A peça de teatro I smênia: a primeiraigualdade é a justiça, apresentada pelogrupo teatral Artimanha, formado pormembros do Direi to da UFU, contou ahistória de I smene, uma mulher que lu-tava incessantemente pelos di rei toshumanos em Patrocín io (MG) e entor-nos. A história mostra como Ismêniafoi torturada e, posteriormente, morta,por defender causas, como a dos cam-poneses, que iam de confronto com aclasse detentora de posses na épocada Ditadura no País.

O elenco se empenhou em repre-sentar a história dos envolvidos no ca-so real de I smene, com um misto deveracidade e fantasia, para trazer asensibi l idade de todo o públ ico para as

causas que ainda se encontram omis-sas pela Di tadura Mi l i tar (1 964-1 985) .

A peça traz, a todo momento, o sen-timento de orgulho e memória da mu-lher, rompendo com a expl icação para amorte da advogada, descri ta como “au-toestupro” e envenenamento. Essesmotivos levaram o grupo Artimanha aresgatarem as reais causas da mortede I smene, para que sua memória sejal impa, justa e nobre.

A peça não é ind icada à crianças, jáque contém cenas tensas do estupro etortura. Por outro lado é importante aopúbl ico em geral , pois traz a reflexão detodos os que sofreram e mantém suamemória obscura por todo o si lênciocausado pela Di tadura Mi l i tar.

IsmeneBruna Pratalli

FOTO:D

ivulgação

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I rreverente. O fi lme Tim Maia, de MauroLima, que retrata a trajetória de vida e acarrei ra do irreverente cantor, é desboca-do, explosivo, arrebatador e eletrizanteassim como a personal idade de SebastiãoRodrigues Maia. Narrado por Cauã Rey-mond, o fi lme tem fotografias e maquia-gem mais que eficientes.

O ponto al to do fi lme se deu pela in-terpretação fantástica de Robson Nunesna fase jovem do cantor combinada à deBabu Santana na fase adul ta. Além da se-melhança física, Babu Santana encara TimMaia de maneira real ista desde sua as-cendência até a fase mais obscura do“sínd ico” do Brasi l . A tri lha sonora do fi lmese mistura com a narração de Cauã Rey-

mond, intérprete de Fábio Stel la , amigo deTim Maia. Os maiores sucessos do cantorembalam as cenas dos seus shows de su-cesso na carrei ra e de fracasso na vida pes-soal .

O “mulato Brow”, como o próprio se inti-tu la, é retratado no fi lme fielmente como ho-mem e artista. Suas embaladas paixões, ainfância d i fíci l , a i rresponsabi l idade, a genial i -dade de suas composições, o auge do su-cesso e sua perda, encaixados com afotografia emocionante, torna o fi lme incan-sável e encantador. Para assisti r Tim Maia énecessário despir-se de preconcei tos e dovocabulário rebuscado. De Tião Marmita a umdos maiores cantores do Brasi l , Tim Maiaetern iza personal idade e música.

E para presidente, Tim Maia!Luisa Caleffi

FOTO: Divulgação

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I Nn. 23ago/set

201 412EXPRESSÃO&arT E

FOTOS: Bianca Judice

A vida como nós a conhecemos não existe sem água. Seres hu-manos, an imais ou vegeta i s . Não há quem escape. El a é vi ta l , porémfin i ta . A cri se do si stema hídri co nos ú l timos meses preocupa e nosfaz pensar na efemeridade da vida e, pri ncipa lmente, no quanto so-mos agentes responsávei s por esse cenário e o quanto podemos mu-dá- lo com poucas ati tudes.

As fotos a segu i r retratam cinco ações que estão presentes emnossa vida , d i ari amente, e que podem passar despercebidas. Para queelas ocorram é necessári a mu i ta água . Responsabi l i dade e consciên-ci a são tão vi ta i s quanto a água , basta apropri ar-se d i sso e usá- l as .Água é fonte de vida , de esperança e renovação. Água preci sa de cu i-dado, atenção e respei to. Acima de tudo, preci sa de preservação.

QUERO ÁGUA

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Luisa Caleffi e Marcelo França