revista lapideias (estudos maçônicos)

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O NÍVEL MAÇÔNICO: UMA MISSÃO DE NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO? John Deyme de Villedieu Porto Velho - Rondônia - Brasil - Ano I - N.º 0 - Edição do Verão de 2013 Edição Inaugural da Primeira Revista de Estudos Maçônicos da Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia A MAÇONARIA EM EVOLUÇÃO Cláudio Santini ASPECTOS SIMBÓLICOS DO TRABALHO EM CANTARIA Roger Avis AS ORIGENS DO RITO YORK Hugo Borges e Sérgio Cavalcante ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER Hans Heinrich Solf À G.·. D.·. G.·. A.·. D.·. U.·.

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Revista de Estudos da Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia - GLOMARON. Editada pela Loja de Estudos e Pesquisas Geraldo Lima - N. 24

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  • 1. O NVEL MANICO: UMA MISSO DE NIVELAO OU DE UNIO? John Deyme de Villedieu PortoVelho-Rondnia-Brasil-AnoI-N.0-EdiodoVerode2013 EdioInauguraldaPrimeiraRevistadeEstudosManicosdaGrandeLojaManicadoEstadodeRondnia A MAONARIA EM EVOLUO Cludio Santini ASPECTOS SIMBLICOS DO TRABALHO EM CANTARIA Roger Avis AS ORIGENS DO RITO YORK Hugo Borges e Srgio Cavalcante ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRDER Hans Heinrich Solf G.. D.. G.. A.. D.. U..

2. PODER EXECUTIVO DA GLOMARON Gro-Mestre: Juscelino Moraes do Amaral Gro-Mestre Adjunto: Antnio Alves Pereira DELEGADOSDOGRO-MESTRADOPORJURISDIO Delegado da 1 Regio: Mrio Leme da Rocha Junior Delegado da 2 Regio: Nilton Edgard Mattos Morena Delegado da 3 Regio: Edson Vinicius Alves Delegado da 4 Regio: Joo Carlos Veris Delegado da 5 Regio: Edson Aleotti Delegado da 6 Regio: Jaime Clemente Oberdoerfer Delegado da 7 Regio: Lourival Da Lamarta Delegado da 8 Regio: Pedro Jos Bertelli Delegado da 9 Regio: Joo Carlos Volpato Delegado da 10 Regio: Afonso Soares de Albuquerque GRANDES SECRETARIAS EXECUTIVAS Relaes Interiores: Deivison Russi Relaes Exteriores: Edson Ramos Finanas: Claudio Aparecido Pinto Coordenao e Planejamento: Wladmir Jos Carranza Publicao e Divulgao: Luiz Carlos Arajo dos Santos Relaes Publicas: Noilson Neviton de Souza Bibliotecrio: Carlos Alberto da R. Nogueira Historiador: Gilberto Carlos Cantarelli Informtica: Jairo Tschurtschenthaler Costa Relaes Para-Manicas: Antnio Porphirio P. dos Santos Administrao e Patrimnio: Itamar Jos Ferreira Ritualstica: Aldino Brasil de Souza NDICE PALAVRA DO GRO-MESTRE 3 EDITORIAL4 O NVEL MANICO: UMA MISSO DE NIVELAO OU DE UNIO? 5 A vertical, garante da horizontalidade5 O estabelecimento da horizontal 7 O aplainamento como matrimnio unificador 10 Maonaria Operativa e Maonaria Especulativa 13 ASPECTOS SIMBLICOS DO TRABALHO EM CANTARIA13 As ferramentas do Canteiro 14 Relaes analgicas entre a cantaria e o trabalho interno 15 Aspectos prticos de como trabalhar literalmente pedra bruta 17 Concluso: Iniciaes nos mistrios menores e maiores19 ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRDER 21 AS ORIGENS DO RITO YORK41 A Grande Loja de Londres 41 Os primeiros maons da amrica do Norte 43 Saint Johns Lodge - a primeira Loja das Amricas 44 Os maons Ingleses e Americanos na Independncia dos Estados Unidos 46 O Rito York no Brasil 50 Os membros Fundadores 51 As Lojas Posteriores Washington Lodge 53 A MAONARIA EM EVOLUO 55 Bibliografia 60 E-Mail para contato: [email protected] Salientamos que as matrias aqui publicadas foram examinadas e no encontramos qualquer sinal de cpia no referida ou plgio. Caso haja alguma reclamao sobre este motivo, favor entrar em contato com o Editor desta revista, atravs do e-mail acima mencionado, inserindo material probatrio, que nos comprometemos a fazer a retificao possvel. Cabe lembrar que esta revista de distribuio gratuita, e que no se aufere nenhum lucro com sua distribuio, e que no temos intuito de inserir propagandas comerciais objetivando com isto conseguir numerrio para sua edio. Todos os que nela trabalharam o fizeram gratuitamente, sem o intuito de constituir, com isso, alguma renda. Caso se interesse em colaborar com a revista, atravs de matrias -dentro da proposta acima apresentada, ou de perguntas, entre em contato conosco para examinarmos o material proposto. O Editor 3. Grande Loja se manifesta sobre o 7 de setembro: Independncia do Brasil 13/09/2013 Mais de 200 maons e jovens das ordens Demolay e Filhas de J participaram na noite do ltimo sbado, do desfile de 7 de setembro, em Porto Velho. Os maons desfilaram com seus paramentos utilizados nas sesses, e levaram para o desfile um pouco da histria da participao da Maonaria no processo que culminou com a independncia do Brasil. O desfile dos maons no dia 7 de setembro faz parte da proposta da Grande Loja Manica do Estado de Rondnia de aproximar a Maonaria das comunidades e tambm serve para mostrar que a instituio tem uma participao importante na construo de uma sociedade mais justa e mais humana. A Maonaria esteve presente nos grandes acontecimentos da histria brasileira, especialmente naqueles que buscavam garantir ao povo brasileiro a liberdade inexistente no perodo colonial. Desde ento, inmeros projetos sociaisvmsendodesenvolvidospelaMaonaria, sempre contribuindo com o desenvolvimento humano e a melhoria da sociedade. A independncia do Brasil tem um significado especial para ns, maons, pois a Maonaria teve participao decisiva no movimento, quando props, em uma sesso, que se conferisse ao Prncipe D. Pedro I, o ttulo de Protetor e Defensor Perptuo do Brasil. D. Pedro aceitou o ttulo, propondo apenas a supresso do termo Protetor. Os maons, habilmente, arquitetaram o desenrolar do 7 de setembro de 1822, lanando a idia da convocao de uma Constituinte, cujo projeto foi redigido por Gonalves Ledo e Jos Bonifcio, o patriarca da Independncia. Na tarde de 7 de setembro de 1822, s margens do Ipiranga, D. Pedro atendeu s recomendaes atravs do Manifesto de Gonalves Ledo, e o grito, Independncia ou Morte, foi a denominao de uma das palavras da sociedade secreta. No desfile de 7 de setembro, em Porto Velho, os maons, bem como os jovens Demolays e Filhas de J, so saudados pelas autoridades e aplaudidos pela populao que reconhece a histria de nossa instituio e luta pela construo de uma Sociedade mais justa e perfeita com a trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre os povos e naes. JUSCELINO AMARAL GRO- MESTRE DA GLOMARON PALAVRA DO GRO-MESTRE 4. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 4 EDITORIAL J se disse que Joo Batista vivia pregando no deserto... no deserto do corao dos homens. Ns, tendo Joo Batista como nosso exemplo, mentor da Maonaria Simblica, devemos nos per- guntar o quanto de deserto carregamos em nossos coraes. A partir deste momento racional que se faa uma pergunta para que ns todos meditemos sinceramente: quem afinal isento de uma misso espiritual? Estabeleamos, desde j que a reli- gio no monopoliza a espiritualidade, que h aspectos espirituais no religiosos, no mistificado- res, no ocultistas ou fantasiosos, que a maonaria faz por bem estudar e praticar, ainda que os indique atravs de outros nomes, como caridade, ou amor fraternal, no importa. No entanto, na atualidade, quase infrtil de osis a fertilizarem as areias deste mundo, perce- bemos muitas vezes que os sonhos e ideais dos homens so castigados pelos ventos do materialis- mo, e o cotidiano vai martelando implacvel, at levar grande parte da humanidade, inclusive muitos filhos da viva, mais completa afasia. No entanto, h o conhecimento... eis a chave! A chave que abre o cofre onde est guardado um novo universo, cujo aroma rescende primeira terra molhada pela chuva que lembramos da infn- cia. E tal qual descascar uma cebola, ou se guiar por um fio atravs de um labirinto aparentemente inextricvel, pouco a pouco podemos retornar ao ncleo e despertarmos para o que somos e o que devemos fazer. Eis o conhecimento. O amor... eis a ferramenta! Qual Irmo se sente isento de uma misso espiritual? Qual maom estaria isento, aps receber a Luz, de trabalhar para um mundo melhor? Ser que no temos com- promissos com o nosso prximo e podemos deix-lo sem nosso zelo constante, pois sabemos que outros se encarregaro dele e de seu bem? Esta Revista no foi criada para aqueles que buscam se encher das coisas mundanas, achan- do-as suficientes para sua existncia. Esta pequena revista existe para aqueles que tm sede de conhecimento. Foi construda sobre o alicerce do estudo; e se sua dbil aparncia material possa impressionar desfavoravelmente aos olhos de alguns, ainda assim ela foi construda sobre o carter daqueles que tambm consideraram uma misso expressar uma mensagem de conhecimento para estas paragens e por que no dizer?- para humanidade. Voc, que nos l, tambm o artfice desta obra. E caso ainda no tenha colaborado direta- mente, ou indiretamente -o que poder acontecer num futuro prximo- ainda assim, s o fato dessa mensagem chegar a um emissor, voc, isso o torna o maior colaborador que temos! Portanto, queremos que voc, leitor, saiba que esta revista existe tal qual uma Loja, onde reno- vamos nosso compromisso com um mundo melhor, a comear de nosso mundo interior, bastio de qualquer outra mudana que queiramos proceder. Esta revista foi criada para este raro tipo de homem, que est em extino na atualidade, mas que ainda encontramos em nossos trabalhos: O homem que tem um ideal! Que no se conforma com a existncia mesquinha, onde nmeros, cifres e preocupaes so o mais importante, mas que busca uma soluo, atravs do estudo de si mesmo, para galgar os degraus da do autoconhe- cimento, que costumamos chamar escada de Jac. Boa leitura, e muito grato! O Editor 5. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 5 A vertical, garante da horizontalidade O Nvel, na Franco-Maonaria, parece-nos sobretudo conhecido como o instaurador da horizontal e, por isso, como o smbolo complementar da Perpendicular, ou Prumo, que, do mesmo modo, determina a vertical. Pode [ser] que isto explique o que as significaes que com freqncia se evocam, at hoje em dia, a propsito do Nvel, sejam uma lembrana daquilo que o sculo XVIII em seus ltimos anos via, com uma predileo sincera ou oportunista, na horizontalidade. Desta maneira, segundo um catecismo dado por um ilustre Maom antes da guerra, o Nvel tende a nivelar as desigualdades arbitrrias (1). E o Simbolismo em nossos dias unanimemente desconhecido (2), at o ponto em que outro autor, em seu Dicionrio, consagra ao Nvel uma linha e meia para nos dizer que esta ferramenta simboliza a igualdade. curta, e, sobretudo, em razo de certos hbitos mentais de nossa poca, um pouco equivocada. O nivelamento tem tanto xito depois de v- rios sculos, que fez perder de vista, em sua f- ria por achatar tudo, [inclusive] a prpria origem da palavra, quando esta origem, como se ver, revela muito bem a significao e, alm da le- tra, o esprito. Mas no s a linguagem esclarece coisas. O prprio instrumento, que serviu de mo- delo ao smbolo (3), parece-nos igualmente mui- to revelador caso se preste ateno maneira como est constitudo. Efetivamente, ele se com- pe de um esquadro cujos braos esto unidos por uma barra transversal, e de um prumo que desce do pice de tal esquadro: no momen- to em que o prumo se situa defronte linha de f, marcada na barra, que o Nvel certifica a ho- rizontalidade que tem como misso assegurar. Desta maneira, se esta ferramenta permite obter a horizontal, ela facilita, alm disso -e acima de tudo, a vertical, parecendo assim mais comple- ta que o Prumo, como por outra parte numero- sos autores o tm feito observar. Mas, ento, o que poderia surpreender que, at admitindo O NVEL MANICO: UMA MISSO DE NIVELAO OU DE UNIO? JOHN DEYME DE VILLEDIEU 6. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 6 esta superioridade, considera-se que a vanta- gem dada ao Nvel, com relao ao Prumo (4), devida to somente ao fato de que estabelece a horizontalidade, enquanto que o Prumo d a vertical. Perguntamo-nos qual pde ser o motivo que faz com que se atribua esta preeminncia a uma mais que a outra destas direes, o que vai contra ordem hierrquica habitualmente re- conhecida? Deve-se a esta nsia democrtica de nivelar indiferenciadamente tudo, segundo o mtodo confusionista, antes da subverso total? Entretanto, os mesmos dicionrios profa- nos, que so pouco suspeitos de preocupaes esotricas, deixam entrever a verdadeira signi- ficao do Nvel e, portanto, o mistrio de sua funo. Sem dvida, num certo sentido, que parece predominante para muitos hoje em dia, nivelar igualar; trata-se de por tudo no mesmo plano; fazer tbula rasa do excepcional; em suma, nive- lar por baixo. Em qualquer caso, isto o que se faz com os trabalhos de nivelamento das terras com toda a brutalidade ininteligente e antiestti- ca da tcnica moderna, e no surpreendente que nossos contemporneos, muito mais pene- trados de materialismo do que geralmente se imaginam, retenham do nivelamento, sobretudo, o ato aplanador de algo. Na realidade, nivelar no s aplainar, mas tambm, como diz o [dicionrio] Robert, medir as alturas comparativas dos diferentes pontos de um terreno com relao a um plano horizontal dado. No se pode atuar sobre as coisas pas- sando sobre elas ou as esmagando, mas sim observando o mundo ao redor, assinalando as linhas caractersticas e o relevo. Tambm, no sentido de aplainar, unificar, quer dizer unir, embora o dicionrio reconhea que este ltimo termo, no sentido de aplainar, tornou-se estra- nho [N.T. - o autor se refere ao sentido encontra- do na lngua francesa]. Unir realizar a unidade, com o qual fica manifesto tudo aquilo que separa esta significao de terreno aplanador do qual partimos (5). Quando se trata do Nvel, as definies es- to de acordo em reconhecer que seu papel con- siste em verificar a horizontalidade de um plano; e para isto que serve na prtica da maonaria. Mas, caso se deseje aprofundar na significao simblica, conveniente entrar em certos deta- lhes cuja evidncia inegvel sem dvida, em- bora os espritos distrados e enfastiados de nos- sa poca tenham perdido o costume de tom-los em considerao. Na realidade o Nvel to somente permite estabelecer se dois pontos de uma superfcie se encontram mesma altura, ou se no se en- contram; e o importante que isto se faz graas a seu prumo que, como dizamos mais acima, coincide ou no, sobre sua barra transversal, com a marca chamada linha de f. Quer dizer que a verificao da horizontalidade se opera obrigatoriamente [em relao] vertical. H aqui um ponto que quereramos estabe- lecer e que no recordamos hav-lo visto assi- nalado com a insistncia necessria, apesar de ampliar e elevar singularmente as significaes da ferramenta que estamos estudando. O N- vel, efetivamente, em seu domnio prprio, o equivalente da Balana, como o indicam noto- riamente seus nomes latinos respectivos libella (6) e libra, onde o primeiro no mais que o di- minutivo do segundo. Por outra parte, a palavra nvel (7) provm da raiz libr-, que comporta a ideia de pesagem, com o que a ferramenta ma- nica, em sua significao simblica, tem proxi- midade com a Balana. O que interessante, no que se refere ao Nvel manico e Balana tradicional, que no caso de se tratar de estabelecer a horizontal, [somente] com a ajuda da vertical que poder fa- 7. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 7 z-lo, o que assinala com nitidez a preeminncia desta vertical. Deste modo, no mnimo curio- so constatar que o inverso o que ocorre nas balanas modernas, porque neste ltimo caso o rigor da pesagem depende -acima de tudo- da exata horizontalidade do plano sobre o qual esto colocados estes aparelhos, como se, at aleatoriamente, a produo de nossa moder- na civilizao estivesse destinada subverso. Pelo contrrio, a preeminncia da vertical sobre a horizontal ainda era respeitada nas antigas ba- lanas, como a que se encontra pendurada na parede da Melancolia de Drer. Efetivamente, a horizontalidade do brao se verificava pela ver- ticalidade da agulha que se encontra fixada em ngulo reto e que, para ser vertical, devia tomar a mesma direo que o suporte onde repousava o brao, ele prprio suspenso em um ponto fixo e que, como o prumo do Nvel, o garante da verticalidade e, consequentemente, de uma justa horizontalidade. Melancolia - Drer Estando bem estabelecida a preeminn- cia da vertical quanto a sua necessidade para [a existncia] de uma justa pesagem da horizon- tal, interessante recordar que, tradicionalmen- te, esta vertical o smbolo da Vontade do Cu. Esta, para o entendimento humano, pode to- mar o aspecto de uma fora descendente e que pesa sobre o destino humano, mas tambm -e ao mesmo tempo, o aspecto de uma fora as- cendente por sua atrao; estas foras, que se exercem simultaneamente, representariam bas- tante bem a Justia rigorosa e a Misericrdia da rvore Sefirtica, respectivamente. A Vontade de que se trata por outra parte conforme a Ati- vidade do Cu, que parece descender, como a Graa, mas que na realidade incita elevao (8). Conviria agora estudar o que do ponto de vista simblico significa a verificao e, de fato, a instituio efetiva (9) da horizontal pela graa da vertical (10). Resulta, efetivamente, que o ver- dadeiro papel do Nvel, na arte manica, no se limita a constatar uma diferena de altura entre dois pontos, mas sim consiste em reduzi-la, at faz-la desaparecer. O estabelecimento da horizontal Partindo do fato j estabelecido de que a finalidade do Nvel no nem uniformizar nem achatar, mas sim aplainar, unificar, e, portanto, de unir, existe um meio para tentar compreender no que consiste verdadeiramente a instituio da horizontalidade. Para isso suficiente ater-se s significaes da pesagem levada a termo pela Balana, vocbulo de que vimos em latim sua equivalncia etimolgica com o Nvel. No comrcio, para realizar uma pesagem, antigamente ficava em um prato da balana cer- to peso estabelecido pelo pedido do cliente, e no outro prato fragmentos da mercadoria desejada at que esta fazia o peso. O ideal que a mer- cadoria escolhida devia alcanar era, em conse- qncia, da ordem quantitativa. No entanto, isso 8. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 8 Os antigos arquitetos e artesos egpcios usaram o nvel triangular e prumo nvel para garantir que todas as superfcies de construo eram niveladas e perfeitamente aprumadas. Do tmulo de Sennedjem veio um conjunto dessas ferramentas, incluindo uma haste com a me- dida do cvado real, um nvel de tringulo, dois prumos de chumbo, dois esquadros, e vrias outras peas. Sennedjem pode ter usado esses instrumentos para a construo e decorao dos tmulos de Seti I e Ramss II no Vale dos Reis, bem como do prprio lugar onde ocorreu seu esplndido enterro. Este nvel de tringulo construdo de dois pedaos diagonais de madeira unidas em ngulo reto, com um pedao horizontal entre os dois. O prumo na forma de um corao suspenso por um fio a partir do topo do ngulo recto, quando o nvel est colocado sobre uma superfcie plana, a corda do prumo iria ficar exatamente no meio das marcas de inciso no centro da pea horizontal. Se a superfcie no fosse devidamente nivelada, o prumo, ento, indicaria as correes necessrias. A inscrio, que gira em torno do tringulo pede ao deus Ptah e Re-Horakhty-Atum-Hemiunu para o enterro e benefcios em vida aps a morte para o ba de Sennedjem. (O Museu Egpcio, no Cairo) go Egito, e a prova est na arte da Idade Mdia crist, onde algumas iluminuras [imagens ilu- minadas] testemunham que a Europa, naquele tempo, conhecia o simbolismo da psicostasia. Observamos ento que a Balana, consi- derada em seu sentido material ou em seu sen- tido espiritual, tem por funo medir a adequa- o de uma coisa a seu modelo, caso se trate da adequao de certa quantidade de farinha ao peso exigido, ou da adequao de uma alma exigncia da Justia equilibrante. Compreendendo agora o que exatamen- te, do ponto de vista simblico, a pesagem da Balana, no difcil deduzir a significao que tem, com o Nvel, ou pequena Balana (libella), a instituio da horizontalidade. No se trata de elevar os operrios ao nvel social dos patres, delrio utpico ou hipcrita demagogia. No tampouco questo de rebaixar os patres ao 9. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 9 nvel dos operrios, pura especulao de dio social. O fim do Nvel promover um aplaina- mento suscetvel de resolver as dificuldades, que elas provenham de uma superfcie desigual, de uma incompreenso nas relaes sociais abrup- tas, ou, no plano espiritual, de uma opacidade rugosa que oculta ao homem suas sumidades luminosas. Aplainar, dissemo-lo anteriormente, unir, mas esta uma significao que se tentou suprimir das memrias humanas. Preferiram re- ter as ideias de acordo com um ideal de simpli- ficao e facilidade, ideias que seduzem muito especialmente o mundo moderno, porque elas so a negao de toda vida (12). Dado que o Nvel uma das ferramentas- smbolos utilizadas em uma das raras Organiza- es iniciticas que ainda existem no Ocidente, sobretudo em sua acepo espiritual que aqui nos interessa. Como proceder ento ao aplaina- mento, unificao, unio da qual antes fal- vamos? A nica maneira de unir irreversivelmen- te os homens entre si p-los em situao de intuir e posteriormente descobrir neles mesmos aquilo que os tornam verdadeiramente iguais e cuja aparncia social e de carter to somente o reflexo mais ou menos fiel, se no a caricatura mais ou menos enganosa. Queremos falar deste elemento que Mestre Eckhart chamava incriado e incrivel, e que, em cada homem, o nico elemento que o torna no s igual, mas tam- bm realmente idntico a seu prximo. Uma das utopias mais perigosas e daninhas do mun- do moderno querer igualar tudo, reunir tudo, unir tudo do exterior, mas negando a nica coisa que, no centro de cada homem, faz possvel esta unio (13). O nico e verdadeiro ecumenismo to velho como o mundo e no outra coisa que o resultado do conhecimento esotrico que per- mite perceber, sob a variao dos diversos cli- mas religiosos, a unidade essencial que trans- cende as expresses particulares para fundi-las na mesma Identidade. Se a unio entre os homens passa pelo re- conhecimento prvio daquilo que o nico que pode uni-los, evidente que o primeiro passo consiste em reconhecer no mais profundo de al- gum aquilo que o converte em verdadeiramen- te idntico a todos os outros, sem distino de sexo, raa ou religio. Uma vez reconhecido este elemento, e tendo em conta que se trata de algo eminentemente senhorial, todas as inumerveis aspiraes individuais produtoras de caos tm que se subordinar a tudo que ele suscita de as- pirao central. Isto quer dizer que corresponde a cada um realizar em primeiro lugar a unidade em si mesmo. Assinalemos aqui algo que poderia passar por uma simples coincidncia, mas que ns con- sideramos como uma confirmao do que esta- mos dizendo. Trata-se de uma semelhana con- sonantal parcial que, por intermdio da raiz LB, opera uma aproximao entre o latim libra, que designa a balana, e o hebraico leb, que designa o corao, o nico lugar que, por sua posio central, permite ao homem realizar o equilbrio harmonioso do qual falamos. A raiz hebraica de que se trata evoca por outra parte a audcia e qualquer atividade produtora interior. Quer dizer que ela expressa com bastante exatido a orien- tao da conscincia e das aspiraes humanas para seu centro espiritual (14). Esta aproximao lingstica, curiosa pelo menos, parece-nos digna de certa ateno, pois deixando parte qualquer questo de etimolo- gia, sempre permanece o fato de que tanto a Ba- lana quanto o Nvel se mostram perfeitamente capazes de velar pela transmutao espiritual de que estamos falando, podendo aparecer por isso como os instrumentos de uma converso unifi- cadora da qual s pode sugerir-se sua profundi- dade. 10. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 10 O aplainamento como matrimnio uni- ficador Contribuiremos agora algumas conside- raes complementares sobre o sentido desta sntese equilibrante a se realizar pelo homem e, em primeiro lugar, conviria no se deixar en- ganar pelas significaes que os hbitos men- tais do Ocidente moderno acabaram por impor a determinadas palavras. Por isso, necessrio guardar na memria o princpio da pesagem es- piritual que o antigo Egito, por exemplo, deixou- nos como modelo. Entre o corao humano em um lado da Balana e, no outro, a Verdade e a Lei divina, no existe, entenda-se bem, nenhum ponto de comparao salvo o que possa haver entre a Luz e um de seus brilhos. No se tra- ta de fazer uma boa mescla de suas aspiraes individuais e de sua aspirao central. A unio de que estamos falando aqui no um coque- tel. Trata-se do matrimnio do indivduo com o Si universal, e, em tal matrimnio, o indivduo se funde no Si, at o ponto em que suas aspiraes no tenham mais nada de individual nem de ml- tiplo, mas apenas se reduzam a sua aspirao essencial, que no outra que o reflexo do Que- rer divino. Assinalemos que no matrimnio do Si tudo est, por fim, aplainado, tudo est perfeitamente unido, liso e sem rugas. Entretanto, na relao de adequao do smbolo quilo que ele simbo- liza, alguns poderiam opor uma objeo. Se o Nvel permite elevar as coisas mesma altura, o que est em concordncia com o matrimnio de que estamos falando, tambm serve para ni- velar, e aqui onde se pde deslizar o sentido forado (15) que com tanta freqncia se utiliza hoje em dia, seja de uma maneira simplesmen- te pejorativa, ou de forma reivindicativa e mais ou menos rancorosa. Agora, caso se rechacem todas as utilizaes desta palavra com fins po- lticos ou sociais que, tal e como se entendem atualmente no saberamos no que poderia nos interessar, evidente que suas significaes no tm nada de pejorativo nem de rancoroso, como Nvel-Amuleto de pedreiros egpcios (Williams Colle- ge Museum of Art) 11. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 11 testemunhava o primeiro dicionrio consultado. Alm do mais, caso se considere a utilizao do Nvel para fazer descer um elemento altura de outro, encontramos uma aplicao imediata dis- so no prprio processo do matrimnio simbli- co -mas real- considerado anteriormente. Se a conscincia individual nos aparecer em pleno impulso para a sumidade, onde se far possvel a unio to desejada, existe tambm outra ima- gem que no mbito espiritual se cita com bas- tante freqncia: o homem no faz o caminho s porque Deus vem a seu encontro (16) e, por isso, deve necessariamente consentir em descer de suas alturas. Entenda-se, estas no so seno imagens que tentam traduzir o melhor possvel, em uma linguagem muito inadequada, a espera divina e a esperana humana que acabaro por reunir-se cedo ou tarde. H aqui uma convergn- cia onde seria difcil dizer qual o primeiro insti- gador se no se soubesse sempre que tudo se submete, de bom grau ou no, Vontade divina. A pesagem que mais acima evocvamos , por outra parte, uma imagem expressiva dos mo- vimentos de elevao e descida de que estamos falando. Como em qualquer deliberao (17) onde se pesam os elementos em questo, existe uma oscilao caracterstica da Balana. Entre- tanto, no terei que acreditar que esta alternn- cia de movimentos inversos sempre se resolva finalmente por uma concluso favorvel ao que pesado. Quando Maat desce em seu prato, o corao do defunto se eleva no seu, mas quando Maat se faz muito leve, tnue, inacessvel, ento o corao humano cai e sucumbe a seu peso. Isto no nega tudo que dissemos do equil- brio essencial da Balana e do Nvel. Certamen- te, na economia universal, existem elementos a depurar e outros a eliminar, mas isto jamais se faz em um ambiente denegritrio e de dio. S importa a euritmia e, para nos limitar ao simbo- lismo da pesagem, embora lhe dando uma di- menso universal, caso se desa em um ponto do cosmo, eleva-se em outro ponto, de tal forma que sempre se preserve a harmonia geral das coisas. o que a tradio chinesa denomina as aes e reaes concordantes, cujo equilbrio est situado no Invarivel Meio, equilbrio que no outro que o reflexo da Atividade do Cu evocada anteriormente (18). Vemos como o Nvel, na ordem simblica e espiritual, perfeitamente apto para cumprir a misso que aqui lhe reconhecemos, esteja, por outro lado, na mo do Maom ou na do Grande Arquiteto, o qual, do ponto de vista em que con- sideramos as coisas, deve ser o mesmo, pois sempre o Grande Arquiteto o que guia a mo do Maom, ao menos na medida em que este reali- za uma obra de Mestre. a este dever espiritual de elevao cor- retora e de condescendncia misericordiosa (19) ao qual deveria estar consagrado o Nvel ma- nico em sua acepo mais alta, e assim com toda certeza como o entendiam antigamente os melhores de nossos construtores de catedrais. Sempre h templos a elevar, como h mas- morras a cavar, e aqueles que reclamam das exigncias interiores em nada cedem s prodi- giosas construes medievais. Desta maneira, quando se prov de seu Nvel, o Maom ter aplainado em si mesmo os obstculos que o separam da nica Realidade resplandecente, quando se acha desembaraado de todas suas travas egocntricas, quando, livre enfim, verda- deiramente ser uno com seus Irmos e com to- dos os homens que, como ele, caminham pelo mundo (20). A coisa no fcil de realizar, pois, como dissemos, facilidade e simplificao, embora satisfaam preguia moderna, entretanto con- duzem para um beco sem sada. Pelo contrrio, no necessrio esperar para empreender, nem obter para perseverar, e se a via espiritual 12. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 12 pode ser larga s vezes, no faltam flores para baliz-la e compensar assim os rigores. Alm disso, como escrevia Ren Gunon, quem esti- vesse tentado a ceder ao desespero deve pensar que nada do que realizado nesta ordem pode perder-se, que a desordem, o engano e a escu- rido s podem dominar na aparncia e momen- taneamente, que todos os desequilbrios parciais devem convergir necessariamente no grande equilbrio total e que nada poder prevalecer fi- nalmente contra o poder da verdade; sua divisa deve ser a que adotaram antigamente certas or- ganizaes iniciticas do Ocidente: Vincit Omnia Veritas [a Verdade Sempre Vencer]. (21) Notas (1) Sem dvida, isto hoje em dia seria um pleonasmo, pois devido ao progresso uma opinio se foi forjando pouco a pouco, para a qual qualquer desigualdade arbitrria. (2) O desdm para com o Simbolismo a conseqncia lgica da igno- rncia de nossa poca com tudo o que tem relao com a Metafsica. (3) E no o nvel moderno, com borbulha de ar, o qual se chama nivela. (4) efetivamente, na Franco-Maonaria, ao primeiro Vigilante a quem se atribui o Nvel, enquanto que o Prumo corresponde ao segundo Vi- gilante. (5) Unificar no uniformizar, como pensa o estpido modernista: justamente o contrrio, pois para unificar necessrio sair do mundo das formas. (6) Libellus em latim popular. (7) Derivado do francs antigo livel, e inclusive do ingls level. (8) Tal , por exemplo, a Graa que desce sobre aqueles que, no Isl, seguem o caminho reto, bem conhecido por sua verticalidade e por propor uma direo ascendente. (9) Esta considerao necessria, j que no curso de suas numero- sas verificaes o que o Nvel constata o fato de que a horizontali- dade nunca est estabelecida, e consequentemente fica por realizar. (10) Poderia ser que isto mesmo no esteja muito longe daquilo que dizia Joo, o Batista, quando recomendava aplainar os caminhos do Senhor (Mateus III, 3). (11) Esta idia de elevao, que o contrrio da de nivelamento, en- contra-se no latim aequare: efetivamente, alm das significaes de aplainar, ou de unificar, de pr ao nvel de, de comparar, tambm comporta as de igualar e obter. (12) Os promotores do mundo moderno no so acaso os inimigos de toda via, de toda verdade e de toda vida? Esperam triunfar expandindo sua desordem libertria, seu pensamento falacioso e os venenos de suas sujas indstrias. (13) No se trata de uma simples utopia nascida dos crebros mais ingnuos, mas sim de um clculo premeditado, retorcido e criminoso, que parte daqueles que conduzem este mundo e que, nos fazendo ver que procuram a paz, no perdem ocasio de promover todas as frices, dios e mortes. (14) A palavra rabe lubb, que designa o ncleo, o corao, a essncia de uma coisa, parece estar formado de uma raiz semtica comum com o hebreu leb da qual estamos falando. Evoca a mesma centralidade e a mesma espiritualidade interior: por isso se diz que o sufismo o ncleo ou o corao do Isl. (15) Foi forada esquerdizando-a. Mas esta simultaneidade na ao de maneira nenhuma exclui uma sucesso lgica de dois fatos: a vontade do esquerdismo a que torna inevitvel violar a significao. (16) Desta maneira o Cristo se fez homem para salvar aos homens: ele desce para que estes possam elevar-se. (17) As duas palavras deliberao e nvel derivam da mesma raiz libr. (18) R. Gunon aborda este assunto nos Principes du Calcul infinitsi- mal, P. 105, 108. (19) Utilizamos o termo de condescendncia no sentido, desgraada- mente em desuso, de uma espcie de benevolncia para aqueles que esto menos avanados no Caminho do Conhecimento. Curiosamente, o [dicionrio] Pequeno Robert, na mesma ordem de ideias, cita a con- descendncia de um iniciado para com um profano. E tambm no mesmo sentido de compaixo e de compartilhar como ns entende- mos aqui a misericrdia. (20) Se diz que o Maom deve ser um homem livre e de bons costu- mes, e vimos que sua autntica liberao, que uma elevao, no poderia encontrar uma origem melhor que na utilizao judiciosa do N- vel. Seria ento interessante operar uma aproximao lingstica entre o termo nvel e o de liberdade, que, pelo que parece, nunca se ten- tou. O francs niveau, o ingls level e o francs antigo livel, que tm a mesma significao, pertencem mesma famlia lingstica que o latim libra (= balana, peso de 12 onas) e o grego litra, com igual sentido. Grandsaignes dHauterive no vai alm das razes libr- e litr- que de- signam, segundo ele, um objeto que serve para pesar. Anteriormente vimos como a pesagem exercida pela Balana e pelo Nvel pode ser tomada em relao com a liberdade da alma e tambm com sua Libe- rao. Agora, as palavras francesas liberao e liberdade, o latim liber e o grego eleutheros (= livre), Grandsaignes dHauterive os relaciona com a raiz indo-europea leudh-, qual d por significao a ideia de elevar-se. No deixa de ser interessante observar que se a etimologia renunciar aparentemente a relacionar entre si as ideias de nvel, de pesagem, de elevao e de liberdade, pelo contrrio o simbolismo no deixa de faz-lo, como corresponde a sua misso unificadora. (21) La crise du monde moderne, pg. 134 [final]. Traduo: Roger Avis 13. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 13 Maonaria Operativa e Maonaria Espe- culativa Na passagem da maonaria operativa para a maonaria especulativa, muitos dos detalhes da nobre arte da cantaria foram deixados de lado em prol da adaptao realizada. Os livres pensadores que adotaram os ensinos manicos no estavam interessa- dos na prtica manual do canteiro, que era um servio pesado e, portanto, buscaram simplificar no simbolismo. Esta simplificao simblica trouxe um re- lativo empobrecimento no sentido do conheci- mento da arte, onde diversos detalhes do traba- lho nos canteiros, ao serem deixados de lado, obscureceram facilitaes tericas no caminho do auto-conhecimento. Para se adentrar mais nestes aspectos, e verificar sua real importncia, devemos dizer que a palavra cantaria vem, etimologicamen- te, do latim canthus, que significa aresta (1). Desta forma, o conceito de cantaria se refere ao trabalho em pedras objetivando seu esquadreja- mento, ou a sua formatao no sentido de servir ao projeto construtivo. Na maonaria especula- tiva, simplificamos: tornar a pedra bruta em pe- dra cbica. O que do desconhecimento da maioria dos maons o fato de que o conhecimento tra- dicional sobre o trabalho operativo era transmi- tido atravs de tcnicas que sempre buscavam um sentido efetivo de aperfeioamento no s do trabalho, mas tambm do profissional, pois se entendia que a perfeio daquele passava pela perfeio deste, em todos os aspectos, dentre eles o prtico, o psquico e o intelectual. Quanto mais aperfeioado internamente, mais Aspectos Simblicos do Trabalho em Cantaria Ir. Roger Avis Se o eterno no edificar a casa, em vo trabalham aqueles que a edificam. Salmo 127:1 (Cntico das peregrinaes de Salomo) Aplicai-vos, pois, de todo o vosso corao e vossa alma a buscar o Senhor vosso Deus. Constru o santurio do Senhor Deus, para trazer a arca da aliana do Senhor e os utenslios sagrados de Deus ao templo que ser edificado ao nome do Senhor. 1 Crnicas 22:19 O Eu o mestre do eu. Cada um o seu prprio mestre e refgio, quem outro poderia ser? O completo domnio de si mesmo o nico refgio, difcil de alcanar. Sidarta Gautama (Buda) 14. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 14 perfeita ser a habilidade do obreiro e, conse- quentemente, da obra. Aqueles que estudam os textos antigos percebem que a utilizao metafrica do traba- lho comum, analogicamente relacionado es- piritualidade, algo constante nas civilizaes do passado - egpcia, caldaica ou medieval, ou por aqueles que, nos sertes mais afastados dos grandes centros urbanos, ainda empregam aquelas tcnicas artesanais tradicionais. No Oriente, por exemplo, existia toda uma explicao simblica para a prtica do ofcio da tecelagem, onde os fios paralelos, presos ao tear, so os influxos espirituais manifestados atravs das leis universais, enquanto que os fios hori- zontais, adicionados ao serem tecidos, so as atividades nos planos manifestados. Assim, sim- bolicamente, nossas aes, quando levando em conta os influxos espirituais do Grande Tecelo do Universo (2), s podero ser realmente profcuas a partir do momento em que com estas sejam harmnicas. A falha de um ponto na tecelagem poderia deitar fora todo o trabalho. Da mesma forma, no ocidente, te- mos exemplos de diversas profisses -seno todas as que existiam na antigui- dade ou idade mdia- que se utilizavam desta espcie de simbolismo para ensi- nar que, ao se trabalhar o material, tam- bm se trabalhava em outros aspectos do ser, e que era necessrio ter ateno para isto. A matria-prima artesanalmen- te trabalhada pelo obreiro era o espelho onde ele poderia apreciar seu prprio carter. Outra coisa que geralmente menospre- zada pelos estudiosos o fato da maonaria operativa ter em seu bojo aspectos filosficos profundos, e que a maonaria especulativa so- mente pde frutificar em seus estudos porque isto j era uma realidade poca de seu nasci- mento. Alguns estudiosos, inclusive, desprezam esta espcie de abordagem, entendendo que apenas com a maonaria especulativa que se obteve um aprofundamento no conhecimento, tendo em vista o advento no seio daquela ordem de pessoas letradas, pensamento com o qual, respeitosamente, no nos alinhamos. Essa espcie de perspectiva toma por base um preconceito cultural, onde se estende o olhar de nossa poca para medir todas as pocas an- teriores. E este preconceito, que no sabe en- xergar seu prprio anacronismo, faz com que os sbios de nosso tempo se limitem a uma forma de pensar estreita, sem realmente aproveitar o conhecimento oriundo da antiguidade. Mas, isto j seria a matria de um outro trabalho. Apenas mencionamos para que o leitor possa levar em conta, tambm, que se quisermos extrair a es- sncia de qualquer coisa, devemos conhec-la sem preconceitos, conforme propalado pelos mesmos ensinos manicos (3). As ferramentas do Canteiro (4) Como so desconhecidas pelos maons atuais muitas das ferramentas dos canteiros, abaixo vo exemplos de algumas poucas ferra- mentas modernas utilizadas atualmen-te no tra- balho de cantaria artesanal, fabricadas pela em- presa americana TrowHolden Company (5): Como se pode perceber, existe uma infini- dade de ferramentas utilizadas no trabalho do canteiro alm daquelas mencionadas na mao- naria especulativa. bvio que os processos de formatao da pedra bruta atravessavam uma srie muito maior de detalhes, hoje desconhe- cidos na maonaria especulativa, que levavam os mestres obreiros a situaes reflexivas no encontradas na especulao. A figura do camartelo (ferramenta pareci- da com um martelo pontiagudo, que utilizada para o primeiro trabalho, mais grosseiro, na pe- dra bruta), por exemplo, utilizada no Rito Schr- der, provm da mais antiga tradio dos maons operativos, no absorvida pelos outros ritos em 15. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 15 geral. Numa miniatura do sc. XV, do artista fran- cs Jean Fouquet, mostra-se a utilizao desta ferramenta para o desbaste da pedra bruta. O buril (6), no caso do trabalho em pedra, trata-se de uma espcie de cinzel pontiagudo [conforme o Hou-aiss, ferramenta de ao com ponta oblqua cortante (... ) para lavrar pedra], que vai dar um trato rstico na pedra, podendo ser usada aps o camartelo, ou j direta-mente (dependendo do tipo da pedra). Tambm pode ser utilizada para o incio do acabamento no caso de figuras escultricas. A abordagem que efetuamos neste ttulo serve apenas para demonstrar que os conheci- mentos relativos ao trabalho manico operativo tinham detalhes muito maiores do que os apre- sentados atualmente, e que a riqueza destes de- talhes poderia levar a aspectos desconhecidos de um simbolismo mais claro e preciso, objeti- vando, tambm, maior preciso no processo de autoconhecimento e aperfeioamento. Ativemo-nos em considerar apenas o tra- balho em pedra porque era a perspectiva do tra- balho dos canteiros, da qual a maonaria surgiu. Outras profisses tradicionais vo conter simila- ridades com o que aqui foi descrito. Relaes analgicas entre a cantaria e o trabalho interno A Extrao da pedra-bruta diretamente da pedreira muito similar escolha efetuada do profano apto a entrar na maonaria. Afinal, a sociedade profana muito se assemelha a uma pedreira, onde a multido sufoca o talento indivi- dual, fazendo com que muitas vezes o indivduo no encontre seu caminho. necessrio acrescentar que, seguindo a tradio da maonaria brasileira, os profanos so escolhidos para integrarem a sublime or- dem. Isto faz-nos considerar a maonaria como o artfice que visita a pedreira em busca do ma- terial necessrio para cumprir a sua obra, en- tendendo, queremos deixar claro, a ordem como um canal que veicula foras superiores a este estado de manifestao. Sobre este fato, podemos consider-lo ain- da de duas formas: de maneira macro-csmica ou microcsmica. No primeiro aspecto, o artfice seria o GADU que escolheria os aptos a veicu- larem seus desgnios na consubstanciao do Templo Universal. Micro-cosmicamente, o pr- prio iniciado, em seu trabalho meditativo, identi- ficaria os aspectos de seu ser que devero ser pinados de seu interior e trabalhados conforme estes mesmos desgnios, para que a verdade seja expressa. O maom deve aprender a reconhecer no emaranhado informe de sua existncia cotidiana os aspectos sublimes de seu ser, e seu trabalho reconhecer quais deles dever trabalhar du- rante sua vida para melhor expressar sua des- treza, ou sua sintonia com o Todo. A isto as pes- soas costumam chamar, talvez impropriamente, de misso. Na atualidade, o maom pode ter em sua frente uma quantidade enorme de pers- pectivas onde expressar sua vida. Contudo, somente aquelas que coadunam com seu car- ter que lhe traro a verdadeira realizao. As outras devero ser desprezadas, porque quem tudo quer, nada consegue. Se o iniciado escolheu a matria prima correta onde trabalhar, ou seja, escolheu os as- pectos de si mesmo que devero receber sua ateno de agora em diante, e que sero traba- lhados com suas virtudes, seu trabalho no ser em vo. Contudo, se h falhas na matria prima, ou seja, se no escolheu corretamente o aspec- to que dever ser trabalhado, dever retornar pedreira de si mesmo e, atravs de um estudo mais aprofundado e orientado, encontrar o ma- terial correto para seus objetivos (7). Aps um exame acurado, enxergam-se as matrias primas interiores misturadas com outros agregados psquicos, frutos estes de di- versas origens, principalmente dos preconceitos e erros que nos habituamos a aceitar e conti- nuamos a engendrar, seja da criao, seja da influncia da sociedade. A origem pode ser gros- seira (agresses, vcios, luxria, etc.) ou mais imperceptvel (costumes, sofismas, paradigmas, etc.). Logo aps de escolhida a matria prima, o maom dever fazer um desbaste acentua- do, onde as maiores imperfeies so retiradas. Podemos, simplificando, encontrar trs pontos a serem trabalhados em primeiro lugar: fsico, psquico e mental. claro que no existem fron- teiras estanques entre eles, e que os aspectos a serem trabalhados podem conter caractersticas de todos estes: um pouco mais de um, um pou- 16. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 16 co menos de outro. Por exemplo, a glutonaria: existe a ne- cessidade de se encontrar a raiz psicolgica que induziu o indivduo a tal situao para extirp-la completamente; contudo, em determinados ca- sos, se no houver uma modificao radical no jeito de se alimentar talvez a base material onde trabalhamos, que o prprio corpo, pode deixar de existir e o indivduo simplesmente morrer, an- tes de encontrar essa raiz psicolgica e extirp-la. Logo a seguir, fazemos um pequeno esboo destas consideraes acima, trazendo, de ma- neira superficial, algumas analogias necessrias Cantaria Aspecto Fsico Aspecto Psquico Aspecto Mental (8) Burilar (9) Extirpao de hbitos ex- tremamente danosos sade: fumo e drogas. Eliminao de sentimen- tos extremamente gros- seiros como dio ou ira. Considerar-se como um receptor, estando pronto ao aprendizado. Dentear Aperfeioamento dos h- bitos tendo como meta melhor sade: alimenta- o. Cultivo da pacincia e da conformao (10). Estudar os ensinamen- tos manicos, buscando compreender e memori- zar o relevante. Cinzelar Domnio de sua vida se- xual. Cultivo do amor fraternal. Meditar sobre os ensina- mentos e excluir o supr- fluo. Esmerilar Domnio sobre a respira- o. Cultivo do Amor incondi- cional. Compreender a verdadei- ra natureza do Homem. Polir Domnio sobre todos as- pectos fisiolgicos. Superao da individuali- dade. Libertao dos conceitos, em busca da Suprema Identidade. dos trabalhos da cantaria com os trabalhos que o maom deve perpetrar em si mesmo para seu crescimento e aperfeioamento: Nos exemplos acima demonstrados na ta- bela, devemos levar em conta que esta relao no finalista, apenas exemplificativa. Cada um deve aprender a conhecer seu prprio carter e, atravs do estudo sincero e objetivo, levando em conta os ensinos tradicionais, reconhecer a graduao com que deve ser efetuado do tra- balho interior. Cada um, dentro de suas carac- tersticas prprias, deve saber encontrar quais aspectos dever trabalhar dentro de si mesmo. O que devemos entender que, dentro da perspectiva manica, em todos os aspectos est envolvido um carter gradual de crescimen- to (veja o simbolismo da escada), que deve ser levado em conta a partir do momento em que se decide trabalhar sobre si mesmo. No se pas- sa para o prximo degrau enquanto o anterior no estiver trabalhado. Da mesma forma no se cinzelar enquanto o denteamento no estiver totalmente pronto. Ao se transportar perspectiva da mao- naria especulativa o trabalho de cantaria, per- cebe-se que houve uma grande simplificao, tendo em vista que j no se tratavam mais de operrios da pedra, mas de livres pensadores, que desconheciam a espcie de trabalho efetua- do, ou no queriam se ater a este. Contudo, dentro do conhecimento tradicio- nal, os trabalhos operativos tinham o objetivo meditativo, onde o arteso utilizava seu trabalho com o sentido de se aperfeioar. Como j foi descrito, havia no trabalho de transformao da pedra bruta em cbica uma dedicao de dias, variando conforme a comple- xidade do trabalho e da dureza do material, onde uma falha poderia fazer perder todo o processo. Por este motivo, havia a necessidade de se ter, em primeiro lugar, pacincia. Este trabalho de 17. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 17 Aspectos prticos de como trabalhar literalmente pedra bruta Em primeiro lugar, antes da existncia da matria prima para o trabalho do canteiro, h a necessidade da sua ex- trao na pedreira. Neste momento, o artfice escolhe na fonte de qual lugar querer extrair o material que deseja. Deve levar em conta para que propsito se utilizar a pedra, pois a escolha do lugar da pedreira j influi na espcie de matria prima que se obter. Aps a extrao da fonte, ou seja, o nascimento da pedra-bruta em sua forma individual, traa-se todo um plano em que so considerados os mtodos de trabalho no sentido de buscar como resultado a adaptao da matria-prima ao lugar em que ela est destinada. Podemos chamar de aperfeioamento, neste caso, o caminho que se faz da pedra bruta at chegar pedra polida. Este trabalho, didaticamente, poderia ser classificado em cinco partes: 1) Punoar ou burilar - neste momento, fazemos com que as grandes diferenas existentes sejam atingidas pelo buril at que fiquem pequenas. Neste trabalho, conforme mostra a figura a seguir, deixam-se normalmente estrias em diagonal; 2) Dentear - depois do burilamento, utilizamos o cinzel denteado para diminuir ainda mais as diferenas, buscando eliminar as estrias do trabalho anterior, deixando as marcas dos dentes desta ferramenta. O cinzel denteado deve ser utilizado de forma reta, no mesmo sentido das laterais da pedra utilizada. Utilizam-se para isto diversos cinzis denteados, dos de dentes maiores aos de dentes menores, at ser utilizado, finalmente, o cinzel sem dentes, mais conhecido na maonaria especulativa. Alguns chamam o cinzel denteado de buril, tambm; 3) Cinzelar - o cinzel, propriamente dito, conforme demonstrado na maonaria, utilizado neste momento. Neste caso, comea um trabalho de alisamento da pedra, eliminando a maior parte das marcas anteriores; 4) Esmerilar - a pedra de esmeril utilizada, suavizando o mximo possvel as marcas do cinzel. Na maonaria operativa, observava-se um movimento manual contnuo e circular e, aos poucos, e adicionando constantemente a gua para eliminar obstrues (escorregar), a superfcie ia ficando lisa; 5) Polir - para finalizar o servio, e a superfcie ficar totalmente lisa e espelhada, utilizam-se lixas de diversas gra- naturas (de 150, 220, 300 e 600), gradualmente da mais grossa para a mais fina. mos concluir que se tratam de processos em que a fora fundamental, sendo caracters- tico da passagem de uma fase para a outra a diminuio da fora e o aumento da destreza. Poderamos identificar desta forma: a) Burilar - mais fora e menos destreza; b) Dentear - fora e destreza na mesma medida; c) Cinzelar - mais destreza do que fora. Isso demonstra que os prprios proces- sos de trabalho no carter tambm apresentam aspectos em que determinados pontos de vista devem ser abordados. A princpio, a fora ex- tremamente necessria para excluir os defeitos mais evidentes. Dentro da maonaria especula- transformao est muito ligado, neste caso, pacincia que temos ao abordar uma determi- nada matria-prima. Se vamos impetuosamente sobre ela, podemos errar. Se utilizarmos fora minscula, podemos demorar alm do necess- rio. Neste caso, as virtudes seguintes que se ligavam ao processo de transformao eram o equilbrio e a firmeza. Podemos, assim, j neste momento, encontrar similaridades entre o traba- lho externo, na pedra, e o trabalho interno, no carter. Sobre o burilar, dentear e cinzelar pode- Figura adaptada do livro The Complete Book of Self-Sufficiency, de John Seymour. 18. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 18 tiva, os aprendizes sentam-se no lado norte, sob a gide do Irmo 1. Vigilante, que o respon- svel pela veiculao da fora numa Loja. Este fato bastante caracterstico, tendo em vista o trabalho mais forte que se deve ter quanto aos aprendizes, ainda eivados de profanidades. No entanto, com a sequencia do trabalho, j a experincia (que na maonaria o conheci- mento terico adquirido e praticado) aliada com a destreza vem se tornando muito mais impor- tante, chegando ao ponto de ser quase a nica determinante. A experincia, ou a percia, so o aprimoramento do conhecimento do artfice em sua prpria arte. O maom, no hbito de traba- lhar sobre si mesmo, encontra a prpria arte que o conduz ao aperfeioamento cada vez mais re- finado. Quando falamos nos trabalhos que efe- tuamos sobre o nosso prprio carter, sobre o cinzel e o malho, temos que levar em considera- o, tambm, os ensinamentos que a maonaria especulativa transmite aos obreiros. Abord-los, neste momento, necessrio no sentido de nos conduzirmos a um aprofundamento ainda maior sobre este trabalho. Lavagnini diz o seguinte: (... ) o malho e o cinzel, como instrumentos propriamente ati-vos, representam exatamente os esforos que, por meio da Vontade e da Inteligncia, temos de fazer para nos aproximarmos da realizao efetiva desses Ideais, que representam e expressam a perfeio latente de nosso Ser Espiritual. O malho, que utiliza a fora da gravidade de nossa natureza subconsciente, de nossos instintos, hbitos e tendncias, pois, representativo da Vontade, que constitui a primeira condio de todo progresso e ao mesmo tempo o meio indispensvel para realiz- lo. (11) Isto que Lavagnini diz simplesmente o bsico a ser mencionado sobre os aspectos da utilizao do buril e dos cinzis, juntamente com o malho. Encontraremos em diversos auto- res poucas variaes, nada substanciais. Todos eles funcionam simbolicamente da mesma for- ma (seja o buril ou os cinzis), tendo, contudo, cada um, suas caractersticas prprias, j men- cionadas. O que geralmente no se fala quem, ou o que, o responsvel pela movimentao des- sas ferramentas supra mencionadas. Gunon nos fala da Divina Personalidade, que quem Pedreiros trabalhando (miniatura do sc. XIII) 19. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 19 fala atrs da mscara - a persona, que a nossa individualidade. esta Divina Personalidade a verdadei- ra responsvel pelo manejo dos instrumentos. E no caso do trabalho operativo sobre o nosso prprio carter, a matria prima, que somos ns mesmos, a desculpa (grosso modo) necess- ria para que esta essncia real de nosso ser se manifeste. E este o verdadeiro trabalho do ini- ciado: no olhar os instrumentos vibrando na frente de seus olhos, mas perceber quem olha. No se prender vontade e inteligncia, mas suprimir esta ateno aos instrumentos, e volt- -la ao verdadeiro artfice interno (12). Falar mais sobre o simbolismo dos cinzis e do malho seria suprfluo neste momento. Di- versos manuais sobre o assunto j discorreram o suficiente para que necessitemos continuar aqui. Somente queremos alertar que o simbo- lismo deve ser visto no corao, e presenciado tambm no corao para que seja realmente efetivo. Quanto ao esmerilar e polir, que so traba- lhos onde a fora j no to importante, mas principalmente a destreza, carregam consigo um aspecto fundamental: o movimento circular. Ao movimentar a mo com o esmeril, ou com a lixa, o obreiro segue compassadamente uma ordem, onde toda a superfcie atingida para se chegar ao obje-tivo. Sabemos que o crculo o smbolo do infi- nito e da perfeio. A circularidade do movimen- to da lixa na face quadrada do cubo nos parece carregado de reminiscncia no tocante qua- dratura do crculo. O crculo vem aperfeioando a face quadrada da pedra cbica. A utilizao da gua revestida, tambm, de seu carter simblico. A gua, sendo utiliza- da como , torna-se o veculo para a perfeio. E dentro do simbolismo esotrico encontramos na alma a referncia da gua. A gua, batizando a pedra, torna-a capaz de receber a perfeio do artfice, bem como de chegar realizao do trabalho. Somente atravs da alma o esprito pode realizar a obra. O obreiro, neste ponto do trabalho, ao passar a mo pela superfcie completa da pe- dra, deve demonstrar a sensibilidade necessria para compreender que j extraiu da pedra bruta a pedra cbica. Concluso: Iniciaes nos mistrios menores e maiores Especificamente quanto ao trabalho de cantaria, da formatao da pedra, ele se relaciona ao que os gregos antigos chamavam de mistrios me- nores. A iniciao nos mistrios menores bus- cava com que o homem expressasse o mximo de sua perfeio enquanto homem. Na mao- naria simblica atual, estas consideraes esta- riam demonstradas principalmente nos graus de companheiro e aprendiz. As iniciaes nos mistrios maiores busca- vam com que o homem superasse sua condio individual e se unisse divindade. Enquanto as iniciaes dos mistrios menores apontavam o caminho perfeio humana, as dos mistrios maiores apontavam para uma perfeio divina, a do homem transcendente. Seria, neste caso, a segunda morte, apre- sentada na maonaria no magistrio manico. A iniciao nos mistrios maiores estaria simbolicamente relacionada mais diretamente ao ofcio da arquitetura e da efetiva construo, o que pode ser tema de outro trabalho. Este trabalho apenas pincelou algumas consideraes superficiais sobre o ofcio de can- teiro, que podero ser aprofundadas na no estu- do, pesquisa e meditao de cada obreiro. Cum- pre destacar que o ensinamento manico tem sido habitualmente utilizado em limites aqum de seus objetivos, e cabe a ns, maons, co- maons operativos 20. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 20 mear a mudar esses limites e parmetros esta- belecidos, sob pena de contribuirmos cada vez mais para o desaparecimento virtual e, aps, efetivo de nossa Augusta Ordem. Assim, os estudos elaborados na atuali- dade devem procurar resgatar, conforme bus- camos fazer aqui, os fundamentos do ensino, estabelecendo e renovando as conexes com a origem prstina do legado manico. E tambm, com este mesmo objetivo, queles capazes de uma obra mais abrangente e herclea, recriar as possibilidades iniciticas para as mulheres, tendo em vista que, no Oci- dente tais sociedades desapareceram, ou delas no se tem mais notcia. Mas para isso, tanto para o reavivamento do conhecimento mani- co, tanto para possibilitar uma iniciao femini- na, de acordo com as caractersticas prprias das mulheres (13), necessrio o mergulho na matria prima inicitica do ocidente, e buscar trazer tona aquilo que se ocultou em nossa poca. Notas (1) Desde a origem, podemos perceber que a tnica dos trabalhos efe- tuados pelos maons operativos sempre foi no sentido de tirar as ares- tas, e encontrar a pedra lavrada que j habita o interior da pedra bruta. (2) Usamos este nome para a divindade dos teceles apenas para fa- zer um paralelo entre este e o GADU. Este termo fictcio. Contudo, o simbolismo da tecelagem existiu na antiguidade e, at, na idade mdia. bem significativo notar sobre isso a informao de Gunon: (...) os livros tradicionais so freqentemente designados por termos que, em seu sentido geral, referem-se tecelagem. Assim, em snscrito, stra significa propriamente fio: um livro pode ser formado por um conjun- to de stras, como um tecido formado por um conjunto de fios; tan- tra possui tambm o significado de fio e de tecido, e designa mais particularmente o urdume de um tecido. Da mesma forma, em chins, king o urdume de um pano, e wei sua trama; o primeiro destes dois termos designa ao mesmo tempo um livro fundamental, e o segundo seus comentrios. Esta distino entre urdume e trama no conjunto das escrituras tradicionais corresponde, segundo a terminologia hindu, que existe entre a Shruti, que o fruto da inspirao direta, e a Smriti, que o produto da reflexo que se exerce sobre os dados da Shruti . (Ren Gunon, O Simbolismo do Tecido XIV captulo do livro O Simbolismo da Cruz). (3) Algo que deve ser levado em considerao para meditarmos sobre este assunto posteriormente, a apreciao de uma catedral gtica, que uma verdadeira enciclopdia de conhecimento, onde o corao huma- no se expressou de formas sublimes. Cremos que ignorantes de mente estreita seriam incapazes de dar cabo de tal tarefa. E somente um ideal refinado poderia impulsionar pessoas a participarem da construo de um edifcio como este durante sculos a fio, sem preocupaes imedia- tistas, to caractersticas de nossa poca. (4) Os maons operativos reuniam toda uma srie de procedimentos, que no se atinham apenas ao trabalho de cantaria, tais como a arquite- tura e a carpintaria. No entanto, todos os aspectos abordados mais abai- xo tambm podero ser aplicados analogicamente carpintaria. Quanto arquitetura propriamente dita, faremos algumas consideraes mais ao final do trabalho. (5) Citamos a empresa por termos utilizado de figura existente em sua pgina eletrnica. (6) Outras ferramentas so chamadas buril, utilizveis em outros mate- riais (madeira e metal, por exemplo) e com funes diversas. Contudo, em se tratando da maonaria, o buril que deve ser levado em conta o mencionado. claro que, com a decadncia dos trabalhos em pedra, o buril para gravao em metal ficou mais conhecido. (7) Podemos exemplificar esta situao da seguinte forma: alguns tm uma inclinao para determinado tipo de comportamento mais carac- terstico que seria, para ilustrar, o orgulho. Se ele no buscar trabalhar sobre este aspecto psicolgico negativo de imediato, e no procurar su- blim-lo e, em vez disso, escolher um outro, tal como a inveja, que no seria to importante em seu carter, pode acontecer de no conseguir se livrar nem de um, nem da outra. Por isso, a escolha sobre o que deve se trabalhar deve ser tomada criteriosamente, levando sempre em conta as virtudes e os defeitos que se tm. Virtus = fora. (8) Estes aspectos podem ser estudados dentro da mesma perspectiva do Yoga: Hatha, Karma e Jnana. (9) O burilamento a extrao das diferenas mais grosseiras, que tor- nariam o maom incapaz de aproveitar os ensinamentos a ele dirigidos. O burilado no busca a eliminao imediata das imperfeies, mas sim a formatao destas de uma forma que no impeam o apren- dizado. (10) Os primeiros resultados ainda no so o objetivo buscado, que se realiza com o tempo. Por isso a necessidade de pacincia (a famosa tolerncia manica) consigo mesmo e com os outros. (11) Manual do Aprendiz Maom Aldo Lavagnini (12) Os Upanixades oferecem um texto interessante, mostrando a im- portncia deste aspecto simblico, que muitas vezes desconsiderado na maonaria: Tendo compreendido que os sentidos so distintos da alma, e que sua ascenso e declive a eles pertence, o sbio deixa de sofrer. (...)Alm dos sentidos est a mente, alm da mente est o Ser supremo, alm do Ser supremo est o Grande Ser, alm do Grande, o Oculto. (...)Alm do Oculto est a Personalidade, o onipresente, completamente impercept- vel. As criaturas que lhe conhecem so liberadas e obtm a imortalidade. (...) Sua forma no pode ser vista, pois ningum pode lhe contemplar com os olhos. S pode ser conhecido com o corao, que se acha alm da sabedoria e a mente. S aqueles que sabem isto so imortais. (...) Quando todos os sentidos e a mente so submetidos, o sbio alcana o estado supremo. (Kata Upanishad, Segundo Adhyaya, Sexto Valli) (13) Segundo nosso entendimento, necessrio possibilidades de or- dem inicitica para as mulheres, devidamente embasadas na tradio. Tais possibilidades se estendem apenas no Oriente, enquanto que no Ocidente esto adormecidas, at o momento de serem reavivadas. En- tendemos que a maonaria no seria o lugar deste processo pelas pr- prias caractersticas da ordem. Em se conhecendo os fundamentos da ordem, fica bem claro que seus ensinamentos no serviriam para uma espcie de iniciao feminina. Tratar desiguais de forma igual um dos absurdos que grassa em nossa poca. Existem, dessa forma, ofcios femininos que poderiam servir de base a toda uma simblica de uma organizao inicitica. O cuidado que uma organizao inicitica pr-existente, tal como a maonaria, deveria ter o de proporcionar uma adaptao simblica monumental, sem escorre- gar para o campo da fantasia. Trabalho muito rduo. 21. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 21 N a Grande Loja dos Maons Antigos Livres e Aceitos (que uma das mais importan- tes componentes da Potncia Manica denominada Grandes Lojas Unidas da Alema- nha) esto em uso dois rituais oficiais e o uso de mais dois permitido. A maioria das Lojas tra- balha no Rito Schrder na verso realizada em 1960. A Grande Loja tambm publicou um ritual da Arte Real baseado na tradio Francesa, com ambos os vigilantes colocados no Oeste e com a Accia figurando no grau de Mestre. As Lojas que pertenciam a hoje extinta Grande Loja Royal York foram autorizadas a trabalhar com seus an- tigos rituais baseados no texto reformado por Fessler. Algumas Lojas da igualmente extinta Grande Loja Zur Sonne (Ao Sol) continuam trabalhando pelos seus velhos rituais. Como na Inglaterra, no h nenhuma diferena fundamen- ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRDER Hans Heinrich Solf 22. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 22 tal entre estes trabalhos, porquanto todos eles derivam de Prichards Masonry Dissected (Ma- onaria Dissecada, de Prichard) ou do Three Distinct Knocks (Trs Batidas Diferentes) tendo sido introduzidos certos elementos de algumas exposies e ainda adicionados embelezamen- tos de origem Francesa. Capa do Masonry Dissected, de Samuel Pritchard (1831) A cerimnia Passing the Chair (Passan- do pela Cadeira) nunca foi introduzida e nem o Real Arco tem-lhe dado apoio. A Grande Loja Nacional dos Maons da Alemanha (outra componente das Grandes Lojas Unidas da Ale- manha) ainda trabalha pelo sistema Sueco, que consiste de 10 (dez) graus com um fundo pro- nunciadamente Cristo. O Rito York Americano, trabalhado prin- cipalmente pelas Lojas Militares (Nas Grandes Lojas Unidas da Alemanha existem ainda uma Grande Loja Amrico-Canadense e uma Grande Loja dos Maons Ingleses, cujos componentes em quase sua totalidade so membros das tro- pas militares estacionadas na Alemanha) intro- duziu na Alemanha os graus Crypticos e Tem- plrios. O Supremo Conselho do 33 para a Ale- manha trabalha pelo Rito Antigo e Aceito, usual- mente conhecido como Rito Escocs, parecido com o Rito Escocs Retificado na Frana, que est se tornando popular de novo. O que inspirou o Irmo em dar um novo Ri- tual a Maonaria Germnica e como ele atacou esta tarefa que imps a si mesmo? Estas so as questes que sero agora investigadas. Pri- meiramente algumas palavras sobre o homem, Schrder. Ele foi como seus pais, um ator pro- dutor, que naquele tempo significava que ele era proprietrio de teatro em Hamburgo. Ele co- nhecia muito bem na Europa as regies onde dominava a lngua alem e nunca esteve na In- glaterra, Frana ou Itlia. Suas habilidades lin- gsticas eram limitadas embora ele fosse capaz de adaptar peas de teatro dos originais Fran- ceses e Ingleses. Sem conhecer Latim e Grego, ele adquiriu, entretanto um grande cabedal de conhecimento pelo auto-estudo. Acima de tudo se destacava nele o seu carter forte e sincero. O estado da Franco-Maonaria na Alemanha no tempo em que ele foi iniciado com a idade de 29 anos, era catico. Seu proponente foi Johann J. Christoph Bode, seu amigo, e sem escrutnio foi aceito na Loja Emanuel. O Rito Estrita Obser- vncia era dominante naquela poca e o carter da Franco-Maonaria Inglesa, como original- mente introduzida em Hamburgo, se tinha perdi- do. As Lojas foram dominadas pelo misticismo, alquimia, Rosa-Cruzes e Iluminados, sendo que os ltimos introduziram formas de cavalheirismo e Altos Graus importados da Frana. Mesmo os sbrios e democrticos Irmos de Hamburgo no se abstiveram de desfilar como Muito exce- lente Cavaleiro Templrio. No de estranhar que um homem srio e despretensioso como Schrder fosse radical- mente contrrio a estas excentricidades. Ele es- perava da Maonaria, educao e verdadeira mo- ralidade. Com o declnio do Rito Estrita Obser- vncia, depois da Conveno de Wilhelmsbad em 1782, a hora de Schrder tinha chegado. Segundo seus desejos os Irmos de Hamburgo decidiram: l.) Restaurar a verdadeira e antiga Maonaria, como nos foi trazida pelos nossos antepassados e espalhada daqui por quase toda Alemanha, e que existiu em Hamburgo at a reforma de 1765. Esforar-se zelosamente para elevar seus prop- sitos a um nvel mais alto e fazer com que cada um dos seus ramos sejam mais teis; isto dever ser alcanado, com amor pela pesquisa da Ver dade, seguindo com a mxima sinceridade os ensinamentos da sagrada religio Crist e pondo 23. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 23 fielmente em prtica seus deveres. 2) Melhorar a harmonia entre os Irmos, pro- curando concentrar as quatro Lojas unidas em duas, sendo uma Loja Alem e outra Francesa, e permitir a seus membros elegerem seus Mestres no Festival de So Joo. 3) Trabalhar nos trs graus da Arte Real de acor- do com o Antigo Ritual Escocs dos nossos an- tepassados, at que os Rituais organizados na Conveno Geral nos sejam comunicados. Para se ter uma idia dos problemas que envolviam uma tal deciso, aqui esto alguns exemplos das dificuldades com o Ritual que existiu em Hamburgo e em outras partes. Estes eram tirados na sua maior parte da primeira edio do livro Materialien zur Geschichte der Freimaurerei (Matria para a Histria da Franco-Maonaria), um tratado composto do 1.400 pginas. Este trabalho ainda uma mina de informaes para o historiador principalmen- te por causa dos documentos mencionados e cujos originais agora no so mais acessveis. Schrder relata, por exemplo, sobre uma Loja da cidade de Dresden que se compunha de membros da alta aristocracia, mas, entre os oficiais da Loja havia um Cozinheiro-Chefe e um Porta Caneco e em 1743 bebidas eram ser- vidas enquanto a Loja estava aberta. Em 1744 dois Diconos foram nomeados pela primeira vez na Loja Absalom em Hamburgo, presumi- velmente por causa das exposies que haviam aparecido na Inglaterra e na Frana. Naquela poca era ainda costume pagar ao Secretrio um salrio especial pelos seus discursos, que apareciam depois impressos. O oficio de Orador veio para a Alemanha da Frana. Naquele tem- po, o primeiro e o segundo grau no eram mais conferidos juntos em Hamburgo, por causa dos regulamentos que requeriam um perodo entre eles de nove meses. O compromisso de Apren- diz inclua a seguinte exigncia: Que ele devia amar seus Irmos e ainda promover seus melho- res interesses por todos os modos. Esta frase podia muito bem ter sido idealizada pela prpria Loja e se acha no Ritual at hoje. fac-smile de LOrdre des Francs-Maons Trahi (1745) A publicao da exposio L Ordre des Franc Maons Trahi (1745) fez a Loja Aos trs Globos, trabalhando num Ritual Francs, in- troduzir uma mudana que no foi, entretanto, mantida por muito tempo: a palavra Tecton e o sinal de Harpcrates (dedo indicador sobre os lbios) deveriam ser usados como uma palavra e sinal adicional. Havia uma completa incerteza acerca da colocao da venda nos olhos. O candidato geralmente era trazido para o interior da Loja com os seus olhos no vendados; o procedi- mento correto aprenderam de Londres somente em 1763. Alm do mais, ningum estava certo se as espadas eram para ser usadas dentro da Loja (na Frana elas eram consideradas como um smbolo de igualdade) ou se fogo (ordem para beber) deveria ser dado nos banquetes. O processo de escrutnio tambm no era compre- endido. Foi somente em l763 que a Grande Loja Provincial de Hamburgo decidiu que cada Irmo que colocasse uma bola preta na caixa do escru- tnio, devia informar o Mestre dos motivos de as- sim ter procedido no prazo de 3 (trs) dias. Isto habitual na Alemanha at hoje, se at 3 (trs) bolas pretas aparecerem. Painis da Loja dese- nhados em oleados somente apareceram no fim do sculo 18; em 1765 o Cobridor ou um Irmo 24. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 24 ou formato quarto por ser mais prtico para o Ritual e este est em uso ainda hoje. Ele achou que era prefervel ter um Ritual organizado pelos principais Maons do seu Tempo e aprovado pela Grande Loja Provincial de Hamburgo e que deve- riam estar disponveis para as Lojas, em vez de suas cerimnias serem baseadas em uma dzia de exposies. Schrder fez uma observao ao p da pgina: isto se refere ao Ritual usado antes de 1765; isto , antes da introduo da Estrita Ob- servncia. Entretanto como no havia ento Ri- tual escrito, tornava-se impossvel relembr-lo depois de 17 anos. De qualquer maneira aque- le Ritual no seria apropriado para o fim atual. Os balastres da Loja Absalom mostram que o Ritual ingls no era acuradamente conheci- do mesmo antes de 1763. Em 14 de maro de 1764, uma iniciao e elevao na mesma noite -como era ento praticado na Inglaterra- tiveram que ser adiadas por causa da ausncia do Irmo Bode, que era o nico capaz de dar uma expla- nao do Painel da Loja. Esta era a situao, quando Schrder comeou sua tarefa. impor- tante mencionar que o trabalho em certas Lojas, era ainda em lngua Francesa. Mas havia mais um obstculo no caminho de um comeo decidido e enrgico: o Gro-Mes- tre von Exter. Embora ainda mantivesse uma nomeao Inglesa como Gro-Mestre Provincial para a Baixa Saxnia e Hamburgo, ele estava profundamente envolvido com a Ordem Rosa- Cruz e os graus cavalheirescos e tambm in- fluenciado com idias msticas, desde a intro- duo do Rito da Estrita Observncia em 1765. A Grande Loja Provincial de Hamburgo h muito havia negligenciado suas obrigaes para com a Grande Loja Me em Londres. Finalmente o ento Grande Secretrio, Irmo Heseltine, em uma carta de 30 de maio de 1773 (UGL MS.26/ B/B/1) pediu a devoluo da Carta Constitutiva ao Gro-Mestre Provincial. No tendo recebido resposta dentro de poucos meses, o Irmo He- seltine enviou uma cpia de sua primeira carta acrescentando que a Carta Constitutiva deveria se entregue ao Irmo Sudthausen que por aca- so se achava em Hamburgo. A Grande Loja Pro- vincial de Hamburgo reagiu com diversas cartas iradas, mas, mesmo assim no enviou relatrios, nem saldou as devidas contribuies. servente ainda tinha de fazer o desenho com giz no cho. Um Diretor de Ce- rimnias foi pela primeira vez nomeado em 1774, embora na Alemanha e na Frana o seu ti- tulo era de Mestre de Cerimnias. Mais ou menos nesta poca os Diconos foram r e n o m e a d o s de Stewards (mordomos). bem co- nhecido pelos ba- lastres de uma pe- quena Loja no Castelo Kniphausen na Frsia Oriental, que um soldado da guarda do Conde foi empregado como Co- bridor e pago pelos membros da Loja. O traba- lho desta Loja era baseado no de Prichard embora o Ta- pete (Painel) tenha sido co- piado de um de- senho do livro L Ordre des Fran- c-Maons Trahi. tambm conhecido pe- las muitas averiguaes emanando de todas as partes da Alemanha, que as Lojas de Hamburgo e a Loja Provincial Inglesa, eram consideradas au- toridades em todos os assuntos ritualsticos. Esta foi provavel- mente a razo porque Schrder ti- nha seu Ritual impresso clara- mente sem abreviao ou cdigo. Ele sabia que isto no estava de acordo com a pratica Inglesa. Ele tam- bm selecionou o tamanho Busto de Johann Joachim Christian Bode (Dsseldorf, Goethe-Museum) 25. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 25 Uma vez que Schrder tomou as rdeas em suas mos esta situao mudou imediata- mente. De agosto de 1786 em diante, a Grande Loja Provincial de Hamburgo enviou regularmen- te os balastres de suas reunies para Londres. A interveno do Irmo von Grfe certamente ti- nha sido de grande ajuda nesta mudana. (UGL Ms.26/B/B/7-27). Ele tinha ditado o Ritual Ingls para o Grande Secretrio Provincial, Irmo Be- ckmann. Em seu comentrio, Schrder, faz a se- guinte anotao: ....e assim temos agora um antigo Ritual comu- nicado para ns, exceto por algumas alteraes introduzidas pelo tempo e o desejo de melhorar. De acordo com este texto, o 2 Vigilante tem seu lugar no Sul; no havia nenhuma Estrela Fla- mgera e nem mais espadas dentro da Loja. O Diretor Regional von Exter, pois ele ainda deti- nha este cargo na Estrita Observncia, no tra- balharia sem as duas Colunas (Vigilantes) no Ocidente, sem a Estrela Flamgera, sem o monte de terra e o galho de Accia, sem as aluses e promessas de uma Luz Superior e sem os vinte e mais itens muito preciosos para ele. Assim veio a Luz um Ritual at mesmo mais mstico e mais pomposo do que esse da Estrita Observncia. Estas observaes contm uma importan- te indicao. O texto Grfe no era bem o mes- mo que o bem conhecido texto do Prichard, que havia sido publicado em uma edio Alem em 1736, e que foi largamente utilizado pelas Lojas Alems e na Frana com a verso Francesa. O Irmo N. B. Spencer j apontou isto no volume Ars Quatuor Coronatorum n. 74: O apareci- mento regular de tradues de uma ou de ou- tras exposies bem conhecidas em Alemo ou Francs, encadernadas, com quase todas as c- pias dos livros Alemes da Constituio do S- culo 18, sugere de uma maneira taxativa, que os Alemes estavam usando-os como guia para as suas cerimnias, assim como ns usamos um moderno Ritual ou Monitor. Schrder escreveu para seu amigo Meyer: Eu estou surpreso que voc no achou nenhu- ma Loja em Londres na qual o 2 Vigilante senta- se no Sul ou a tal conhecida Loja dos Antigos. Durante este ano j tivemos quatro Irmos de tais Lojas como visitantes. Na verdade os Vigilantes estavam coloca- dos no Noroeste e Sudoeste respectivamente nos trabalhos da maior parte dos Rituais Con- tinentais derivados de Prichard ou das verses Francesas baseado no Masonry Dissected. Quando Schrder tornou-se membro da comis- so para elaborar uma nova Constituio, ele devotou-se a esta tarefa de maneira metdica e diligentemente e com uma considervel despe- sa pessoal. Assim ele imprimiu as suas prprias custas numa tipografia secreta em Rudolstadt, todos os Rituais disponveis para ele, bem como uma Histria da Maonaria em quatro volumes e uma exata anlise da Constituio Inglesa. Este empreendimento algo fora do comum na Histria da Franco-Maonaria e, lanar-se um pouco de luz sobre isto somente poder ser de proveito. Modelo de Tapete utilizado no Rito Schrder Schrder via a necessidade de abraar a pesquisa manica dentro da obrigao de um segredo contido nos Rituais. Investigando entre os seus Irmos de confiana verificou que a Loja Amlia, em Weimar, (Goethe e Herder eram ambos membros dela) podia ajudar. Um dos seus membros era o Irmo Wesselhft que mo- rava em Jena e que tinha o seu negcio de Im- presso e Publicaes em Rudolstadt, cidades estas prximas a Weimar. O Irmo Wesselhft fez o juramento, como tambm todos os mem- 26. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 26 bros de suas empresa, para manter o sigilo; sen- do que alguns deles foram simplesmente convi- dados a se unirem a Loja de Rudolstadt. O Irmo Conta, que era alto oficial da Policia Alem, foi nomeado para exercer a funo de supervisor e censor. As detalhadas instrues anotadas pelo Mestre da Loja, provas que Schrder forneceu o necessrio material e capital de trabalho, ainda existem. Este estabelecimento comeou a tra- balhar na ultima dcada do sculo 18 e parece ter encerrado suas atividades depois da morte de Schrder. Uma de suas publicaes foi a co- leo de Rituais em 21 volumes, dos quais, a ni- ca cpia conhecida nos dias atuais, encontra-se na Biblioteca da Grande Loja Nacional da Dina marca. Este trabalho, cerca de trinta Rituais dos ento conhecidos e dos Altos Graus, incluindo um texto do Three Distinct Knocks, que sem dvida considerado como o mais velho e genu- no Ritual Ingls, sem entretanto mencionar sua origem. O texto de Prichard identificado e a ra- zo para o anonimato do Three Distinct Knocks pode se achar na correspondncia de Schrder com Meyer, onde escreve: Pelo amor de Deus, Three Distinct Knocks (Ja- chim e Boaz s uma reimpresso da anterior) no deve se tornar conhecido porque o nosso ritual est baseado nele. Portanto eu removi es- tes dois livros do catlogo de nossa biblioteca. muito raro na Alemanha e provavelmente na Inglaterra tambm. Mas seu amigo sabia melhor; Jachim e Boaz sempre reimpresso sem alterao, ele tinha uma edio de 1800. No prefacio da edio de 1815 do seu livro Materialien zur Geschich- te der Freimaurerei (Materiais para a Histria da Franco-Maonaria), Schrder aponta que Three Distinct Knocks o ritual que trabalhado at hoje em dia por todas as velhas Lojas Inglesas na Gr Bretanha, sia, frica e Amrica. Acer- ca de Prichard ele diz que este foi o primeiro desvio do mais velho, isto do Three Distinct Knocks, mas que tinha sido usado pela maio- Frontispcios dos Livros Three Distinct Knocks e Jachin and Boaz (1865). Os dois livros foram duas exposies muito famosas da maonaria poca. 27. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 27 ria das Lojas Alems. Os Rituais Franceses, a maioria deles baseados em Prichard, foram as fontes dos Rituais de Zinnendorf e Sueco, cujos sistemas haviam aceitado os Altos Graus da Frana, tambm eram conhecidos por Schrder. Os Altos Graus reproduzidos nesta coleo, no so de nenhum interesse aqui, mas deve-se dizer que o trabalho total at hoje uma rara fon- te de pesquisa ritualstica. Como este trabalho foi destinado somente aos membros do Circulo Interno, a edio no podia consistir de mais de cem cpias e por isto que se trata de uma Obra rara e que no foi totalmente registrada por Taute e Wolfstieg que produziram uma Bi- bliografia Manica. Assim h muita razo em ser grato a Grande Loja Nacional da Dinamar ca por ter liberado sua cpia para fazer-se uma reproduo fotogrfica em 1976, que foi limita da a uma edio de trezentas cpias e no est disponvel comercialmente. Com isto chegamos a uma certa concluso: quando o trabalho come- ou em Hamburgo em 1790 para um novo Ritual, a Grande Loja Provincial subordinada a Primeira Grande Loja da Inglaterra, no possua em Ri- tual escrito em Ingls com um texto autntico. Schrder estava absolutamente convencido de que Three Distinct Knocks no era apenas ge- nuno, mas era efetivamente o mais velho Ritual existente. Como podemos ver, ele baseou todo o seu trabalho sobre este texto, tanto quanto diz respeito a estrutura ritualstica. Nas instrues do Grau de Aprendiz datado de 1801 Schrder diz: No pretendemos absolutamente proteger todas as partes do velho catecismo. Embora estejamos inclinados a preferi-lo - no todo a qualquer coi- sa nova, entretanto reconhecemos que o que foi dito em uma Fraternidade Inglesa, que consistia principalmente de arteses, no pode ser inteira- mente adequado para maons educados de ou- tro pas. Portanto corrigimos ou omitimos o que est fora do esprito ou circunstncias do nosso tempo. Ele sentia profundamente que princpios ticos e morais eram a essncia da Maonaria e ele os formulava com grande cuidado e em cola- borao com os mais educados Maons do seu tempo. Isto d ao seu Ritual um carter particular prprio, expressando as tendncias espirituais da Alemanha por volta do sculo 18. A tendncia para a Maonaria Cavalheiresca ou Templria, com um forte contedo Cristo e at mesmo Ca- tlico Romano, tinha desaparecido. Fortaleceu- -se a tendncia de que, moral elevada e princ- pios ticos, deveriam ser as essenciais caracte rsticas da Arte Real. Ignaz Aurelius Feler (1756-1839) Schrder, bem conhecido e respeitado como era, tanto profissionalmente como Diretor de um teatro de alta reputao e, tambm como Maom, estava em contato com Irmos proemi- nentes e os familiarizava com os seus planos. Sua correspondncia com seus Muitos confian- tes Irmos por todo o norte da Alemanha. era parcialmente escrita em um cdigo que foi tirado da Estrita Observncia e usado com sua prpria frase chave, a qual foi descoberta recentemen- te. Os princpios bsicos seguidos pelos dois re- formadores da Arte Real na Alemanha, por uma iniciativa paralela, foram lanados por Fessler em Berlim e sua linha de ao ser menciona- da mais tarde - pode melhor ser compreendida estudando-se a introduo do COMPACT da Grande Associao Manica de 1801 entre a Grande Loja Provincial de Hamburgo e a Grande Loja Royal York de Berlim a qual Fessler perten- cia. Embora este texto tenha sido traado por Fessler e no por Schrder, o contedo reflete fielmente as idias do ltimo: 1) Franco-Maonaria e fraternidade manica, so dois conceitos bem diferentes, como as pa- lavras cincia e escola, religio e igreja. Isto nos leva para: 28. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 28 2) Franco-Maonaria, independente de tempo e condies locais, (ouvimos a voz de Lessing) sempre una e a mesma, sempre aquilo que en- volve e coloca firmemente o homem interno entre o esquadro e o compasso, seu modo de pensar e agir e que fixa a posio moral do homem na Sociedade, embora a Franco-Maonaria possa ocasionalmente ter-se desenvolvido em direes diferentes. 3) As Grandes Lojas Provinciais Unidas no reconhecem na Fraternidade Manica o tal chamado propsito ou desgnio secreto que se diz possuir e alm dos trs graus de So Joo. Para elas o objetivo da Fraternidade Manica o mesmo: prtica, manuteno e crescimento comum da Arte; tudo isto visto pela luz de sua pura tendncia moral. Isto os mais esclarecidos Irmos tem em todos os tempos reconhecido. 4) Como no mais se pode deixar aos caprichos de Maons isolados ou Lojas em particular, a deciso e definio da natureza e tendncia da Maonaria, as Grandes Lojas Provinciais Unidas esto convencidas de que o mais velho Ritual In- gls dos trs graus o nico em que podemos confiar como fonte histrica e para compreenso da natureza e evoluo da franco-Maonaria. A razo da curta vivncia da Grande Asso- ciao Manica pode se achar na conturbada situao poltica existente naqueles dias na Ale- manha, entretanto estes princpios ainda so v- lidos hoje em dia para a Maonaria Antiga Livre e Aceita na Alemanha. Pode nesta conjuntura ser de interesse mencionar uma opinio no favorvel a Schr- der; a de um Pastor Protestante ortodoxo e ex-membro da Loja de Leipzig. De acordo com Taute este ex-Irmo, Professor Lindner deixou a Loja por causa de sua ambio no satisfeita e publicou um trabalho no qual apresentava Mao- naria e Religio num falso relacionamento ainda que um pouco melhor do que fez o Reverendo Walton Hannah em nosso dias. Assim o Profes- sor e ex-Irmo Lindner escreve: Eu tenho... impresso que o melhor do Iluminati foi aceito em sua (de Schrder) forma de Mao- naria, mas ainda necessrio mostrar-se que a forma de Schrder no se enquadra na dominan- te cultura do tempo atual, embora seja mais pro- funda que outras. Ele nos mostra uma espcie de ecletismo enfeitado com alguma filosofia de Kant, mas no h realmente nada de original ou genuno. Sua secretividade sobre assuntos pu- blicamente conhecidos bem desorientadora. Tudo isto se pode chamar uma filosofia de rigo- rismo moral, tendo nela disseminado algumas demonstraes de caridade. Mais tarde, Lindner arrependido retratou-se. A insinuao sobre Iluminati se refere ao Crculo Interno de Schrder que era para ser, no uma outra Ordem, mas somente uma Loja de Instru- o Histrica. Antes de iniciar a elaborao de novos Ritu- ais a Franco-Maonaria em Hamburgo tinha que se organizar e isto no poderia se realizar sem surgirem animosidades pessoais. S em 1790 tor- nou-se possvel nomear uma pequena comisso sobre a presidncia de Schrder e composta de representantes de todas as Lojas. Antes de tudo ele viajou para consultar seus amigos nas Lojas sobre jurisdio de Hamburgo, que haviam se espalhado alm de Hamburgo e at na Alta Saxnia.u inte- resse particular era para consultar com o Irmo Bode, que tinha se mudado de Hamburgo para Weimar de forma a estabelecer contato mais fre- qente com o Irmo Herder, um alto Clrigo no Du- cado de Weimar. Isto tornou-se somente possvel porque Schrder tinha abandonado a direo do seu teatro em Hamburgo e agora estava vivendo como fazendeiro em sua propriedade em Rellingen perto de Hamburgo. Os prximos anos de sua vida foram dedicados integralmente ao trabalho da refor- ma que deixou uma forte marca na Arte Manica da Alemanha at hoje. Uma importante contribuio para o trabalho de Schrder, veio de seu amigo de longos anos, Professor Friedrich Ludwig Wilhelm Meyer (1759- 1840). Ele era um gentil-homem de vida inde pendente tendo muito viajado por toda Europa e In- glaterra. Na Universidade de Gttingen ele foi tutor dos Duques de Sussex, Cumberland e Cambridge. Existem evidncias de que seus talentos e habili- dades lingsticas foram usados muitas vezes pelo Rei da Prssia e seus ministros, que o empregaram como agente poltico secreto. Meyer era Franco- Maom e foi membro da Loja Pilgrim em Londres de 1789 a 1791. Felizmente pode ser consulta- da sua enorme correspondncia, particularmente com Schrder. Quando ele no estava viajando vivia numa pequena cidade na ento parte dina- marquesa de Holsatia e s recentemente cerca de 700 cartas foram descobertas nos arquivos do Estado de Hamburgo. Destas, agora sabemos que Meyer traduziu a maior parte dos textos Ingleses e Franceses que seu amigo Schrder usou. Schr- der aceitava os argumentos e sugestes de Meyer de bom grado. 29. Revista de Estudos Manicos da Glomaron - Ano I - N. 0 29 Levaria muito tempo para examinar mais de perto o relacionamento entre Schrder e o Irmo Ignaz Aurelius Fessler (1756-1839). Fessler nasce- ra na Hungria. Educado pelos Dominicanos ele tor- nou-se professor de Histria e Lnguas antigas, o que lhe deu grande reputao. Em seguida a uma crise pessoal e espiritual na meia idade, tornou-se Franco-Maom, converteu-se ao protestantismo e morreu velho como Chefe da Igreja Protestante Russa. Durante sua estada em Berlim, empreen- deu a Reforma dos Rituais da Grande Loja Royal York de forma a restabelecer a pura Arte Manica ou pelo menos separ-la dos Altos Graus. Neste contexto deve ser lembrado que os sistemas ento existentes eram baseados nos sistemas hierrqui cos; as Lojas eram totalmente subservientes a um corpo mais alto e no tinham autonomia, nem ao menos para a eleio de seus oficiais. Fessler es- tava muito bem informado sobre os diferentes sis- temas, porquanto ele tinha, ao contrario de Schr- der, sido admitido maioria dos Altos Graus. Numa carta a um amigo ele declara que possua uma traduo do Three Distinct Knocks que ele pensava que era o Ritual de velha Loja Ingle- sa em York; esta confuso entre os Antigos e a efmera Grande Loja de York freqentemente encontrada na Literatura Manica Alem do pe- rodo de Fessler. Entretanto, ele no usou este texto para os seus Rituais reformados, mas ba- seou seu trabalho parcialmente sobre o tal cha- mado Ritual de Praga, verificando que sua ori- gem vinha dos textos Franceses baseados em Prichard. Como este Ritual desempenhou um importante papel na reforma da Arte Manica Alem, vale a pena consider-lo rapidamente. Seus integrantes eram membros de uma Loja de Praga chamada Zur Wahrheit und Einigkeit zu den drei gekrnten Sulen (A Verdade e Unio das trs Colunas coroadas) fundada ao redor de 1784 da fuso de duas Lojas mais antigas como o nome indica. Em 1794, a Loja publicou um Livro contendo a Constituio e os Rituais da Arte, um volume de mais de 400 pginas, que no faz referncia a Constituio Inglesa, mas a concepo dela, da prpria Loja. De incio afirmado que a Loja uma Repblica Democr- tica. A conexo com eventos na Frana bvia (1794), mas surpreendente que este livro foi impresso na ustria Imperial e no na Frana. O Ritual introduzido em 1788 est baseado no sis- tema Zinnendorf (Sueco), mas com mudanas nas explanaes morais dos smbolos numa linguagem mais