revista fertilitat
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Revista sobre fertilidade do Centro de Medicina Reprodutiva - Fertilitat.TRANSCRIPT
Revista semestral do Fertilitat - Centro de Medicina Reprodutiva • Nº 05 • 2011
Fertilitat: 20 anos
gerando vidas
Pioneirismo marca a história da clínica
Aspectos éticos do útero de substituição
Quais os riscos de adiar a maternidade?
A importância dos cuidados pré-concepcionais
Principais dúvidas sobre reprodução humana
Expediente
Conselho Editorial
Mariangela BadalottiAlvaro PetraccoDébora Farinati
ISSN: 2178-3837
Fertilitat Centro de Medicina Reprodutiva
Av. Ipiranga, 6690, conj. 801Porto Alegre - RSFone: 51 3339 1142www.fertilitat.com.br
Redação e Edição Usina de Notícias
Projeto Gráfico e Diagramação Fábrika de Propaganda
Capa Arte sobre foto Shutterstock
Editorial
O ano de 2011 é muito especial para o Fertilitat. Estamos completando 20 anos. São 20 anos de trabalho, de conquistas e realizações. Vinte anos de aquisição e aplicação de conhecimento, de pesquisas e resultados. Vinte anos de afeto, sorrisos e novas vidas.
Queremos compartilhar com os leitores da Revista Fertilitat – Ciência & Atualidade nossa satisfação com o caminho trilhado até aqui. Quando iniciamos a clínica, em 1991, após três anos de trabalho, a reprodução assistida era uma área pouco conhecida em nosso país. A ideia de conceber um bebê em laboratório parecia algo muito distante.
Para nós, não era. Em 1989, fomos os responsáveis pelo nascimento do menino Alvaro Santos, primeiro bebê de reprodução assistida do Rio Grande do Sul. Na época, ainda éramos o Grupo de Fertilização Assistida (GFA), mas tínhamos plena confiança na importância das técnicas com as quais estávamos trabalhando. O Fertilitat nasceu, então, já com a base sólida de um resultado de sucesso.
Facilitar o caminho para a realização do sonho de ter filhos para casais com o diagnóstico de infertilidade é o objetivo que nos move. Para isso trabalhamos, pesquisamos, estudamos e investimos. Nesses 20 anos, alcançamos conquistas importantes, uma prova de que nossos esforços têm sido plenamente recompensados.
Em 1994, como resultado do trabalho do Fertilitat, aconteceu a primeira gravidez com espermatozóide extraído do epidídimo da América Latina. Em 2002, fomos responsáveis pelo nascimento do primeiro bebê por congelamento de óvulos – técnica lenta – do Brasil. O pioneirismo tem sido marca constante da clínica, resultado de nosso empenho em oferecer sempre o melhor aos nossos pacientes, em termos de atendimento, tecnologia e atualização científica.
Esta edição da Revista Fertilitat que você tem em mãos é especial – ela registra nossa história. Além disso, como de costume, traz assuntos de interesse de médicos e pacientes sobre reprodução humana. Compusemos uma pauta que deve responder a questões que surgem diariamente nos consultórios quando o tema é reprodução assistida. Ao lado deles, matérias sobre cultura, gastronomia e viagem integram essa edição.
Boa leitura!
Índice5Seção de Cartas
23Especial 20 anos
32Desvendando a reprodução assistida
30O bebê chegou
36Londres – metrópole de multiculturalidade
38Cinema aborda reprodução assistida
41Gastronomia
40Vinhos
42E agora, mamãe?
21Oncofertilidade
6Útero de substituição
8Infertilidade masculina
10Maternidade tardia
11Fertilitat no Dia da Mulher
12Eu fiz reprodução assistida
14Obesidade e infertilidade
18Perfil
16Cuidados pré-concepcionais
34Direito Reprodutivo e infertilidade
22Reprodução na rede
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Olá, Amigos do Fertilitat,
A família Ribeiro Schenk está radiante com
a chegada do Pedro e gostaríamos de com-
partilhar desta alegria com vocês que fize-
ram a diferença nas nossas vidas.
A gestação foi muito tranquila e no dia 19
de maio às 6h da manhã a bolsa estourou.
Tentamos parto normal, mas não houve di-
latação suficiente. Fomos para a cesárea e
o medo e a ansiedade foram sendo dissi-
pados à medida que o Pedro chegava. Às
17h21, o Pedro deu seu primeiro suspiro
neste mundo e nós demos nosso primeiro
suspiro de amor incondicional.
Agora estamos aprendendo a ser pai e mãe.
Cada segundo, cada minuto, instante de
nossas vidas jamais será o mesmo.
Obrigada a toda equipe do Fertilitat pela de-
dicação, carinho e principalmente por con-
tinuar estudando e pesquisando o grande
milagre que é a vida, proporcionando esta
benção àqueles que a buscam.
Assim que possível, a nova família fará uma
visita!
Com carinho,
Mario Cezar, Tricia e Pedro
CARTAS
Equipe Fertilitat!!!
Gostaríamos de agradecer a dedicação,
vocês fazem parte deste sonho. Esta-
mos enviando fotos da nossa linda filha
Ana Carolina Severo Garcia Gomes.
Um forte abraço.
Papai Filipe Fialho Gomes e Mamãe
Marcia Severo Garcia
Escreva para nós!
Este espaço é seu. Colabore, envie sua mensagem, suas fotos e desenhos das crianças. Conte
sua história, comente nossas matérias e artigos. Queremos muito ouvir o que você tem a nos
dizer. Envie sua mensagem para [email protected].
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ARTIGO
Útero de substituição, também denomi-nado gestação ou maternidade substitutiva, é a situação em que uma mulher engravida para ou-tra, em geral para um casal, que criará a criança a partir do nascimento. A ideia de uma mulher gestar um filho para um casal em que a mulher é estéril é bas-tante antiga, sendo referida na Bíblia, no Antigo Testamento: Abraão, então com 90 anos, instruí-do por Sara, sua esposa que era infértil, procura uma escrava, chamada Hagar, para ter um filho; nasce Ismael (Genesis 16, 1-15). Em outra pas-sagem bíblica, Rachel também usa sua escrava para dar um filho a Jacó (Genesis 30). Tecnicamente, útero / gestação / mater-nidade de substituição é a inseminação artificial ou a transferência de embriões fertilizados in vi-tro, para o útero de uma mulher que entregará a criança, ao nascer, ao casal que quer o filho. Nos tempos da reprodução assistida, o primeiro nascimento por maternidade substitutiva ocor-reu em 1978, fruto de inseminação artificial. O primeiro relato por fertilização in vitro é de 1985.
A maternidade substitutiva pode ser divi-dida em dois tipos: gestacional e tradicional. Na maternidade substitutiva tradicional ou parcial a criança gerada terá relação genética com a mu-lher que gestou, pois ela contribui também com o óvulo. O procedimento pode ocorrer por inse-minação artificial ou FIV, com o esperma do pai (ou de doador). Na gestação ou maternidade substitutiva total, ou FIV de substituição, a criança não será geneticamente relacionada à gestante. Através de FIV, são transferidos embriões obtidos com os gametas do casal que solicita a gravidez (ou de doadores). Este assunto gera controvérsia tanto na sociedade quanto no meio médico. Os argumen-tos a favor do procedimento são que esse ar-ranjo pode beneficiar as duas partes, e proibí-lo seria limitar a autonomia do casal infértil e das substitutas; o fato de a infertilidade e o sofrimen-to resultante serem injustos; a falta de solução
alternativa; as dificuldades da adoção; e o fato de ser a única alternativa de parentalidade gené-tica. As objeções referem-se à seleção da substi-tuta (vínculo comercial ou familiar) – a gestação substitutiva pode ser um ato de generosidade e altruísmo, ou ter finalidade apenas lucrativa; à preocupação sobre a possibilidade de explora-ção de mulheres economicamente vulneráveis, que não avaliariam adequadamente os riscos do procedimento em função da vantagem econômi-ca; aos riscos do procedimento; à possibilidade de haver disputa ou abandono do nascituro; aos possíveis malefícios para filhos já existentes e à presença de um terceiro elemento na relação conjugal, levando à perda de privacidade/intimi-dade. Quando da utilização das técnicas de re-produção assistida, em geral, deve-se levar em conta a proibição de toda e qualquer conduta que sugira a possibilidade da pessoa humana ser tratada como ‘coisa’, em respeito ao princí-pio da dignidade humana. Isto tem importância especialmente nos casos que envolvem a mater-nidade de substituição, tendo em vista que a ins-trumentalização da pessoa humana pode fazer com que ela seja tratada como meio e não como fim em si mesma. A maioria dos países não permite o pa-gamento da substituta, somente dos gastos com a gravidez; porém, alguns consideram aceitável tal remuneração. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda que as doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco de até se-gundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. Desta forma, a utilização temporária do útero não terá caráter lucrativo ou comercial. Na mes-ma resolução, o CFM determina que a doação de gametas deve ser anônima; consequente-mente não é permitida a utilização dos óvulos da substituta. Em relação ao casal que busca o filho, de-ve-se fazer uma revisão de todas as alternativas
Útero de substituiçãoMariangela Badalotti, Diretora do Fertilitat e Professora Doutora da Faculdade de Medicina da PUCRS
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de tratamento; avaliar a possibilidade de adoção em vez de útero de substituição; discutir os limi-tes de sucesso da técnica e as implicações de não ter filhos no futuro; esclarecer a totalidade dos custos do tratamento; expor os potenciais riscos psicológicos do nascituro, a curto e longo prazo; levar à reflexão sobre a possibilidade de a substituta não querer entregar a criança após o nascimento e ponderar sobre o grau de envolvi-mento que a mesma e sua família possam querer ter com o nascituro; alertar sobre a possibilidade de a criança nascer com alguma malformação; orientar sobre a importância de um aconselha-mento jurídico. Na discussão com a possível gestan-te substitutiva devem ser profundamente abor-dados os riscos médicos de uma gravidez e os potenciais riscos psicológicos da gestação subs-titutiva, diante do fato da entrega do bebê ao nascer; a possibilidade de vínculo e de querer ficar com o bebê; a chance e as implicações de gravidez múltipla; a repercussão que pode haver sobre seus filhos – o que sabem, como serão preparados, que acordos foram feitas e como os pais irão lidar com preocupações, como apego, perda, separação, ansiedade e ciúme. Também deve haver discussão sobre a motivação da substituta, com o intuito de evitar exploração ou coação emocional. No caso da possível gestante ser casada ou ter relacionamento estável, é fun-damental que o parceiro esteja totalmente envol-vido com o projeto. Consideramos que a maternidade de substituição é eticamente aceitável se for indica-da por questões médicas, se não houver paga-mento à substituta além da cobertura das des-pesas, se a gestante substituta for protegida de forma a não ser explorada, e se o bem-estar da criança nascida e das existentes for levado em conta em todos os momentos. Todas as partes envolvidas devem ser exaustivamente esclareci-das sobre possíveis riscos e consequências do procedimento. F
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ARTIGO
Infertilidade masculina: o progresso de duas décadas
Efetivamente o percentual de homens in-férteis e ou sub-férteis aumentou nas últimas duas décadas. Em contrapartida o arsenal se-miótico e terapêutico patenteia tamanha exube-rância a tal ponto que, na atualidade, poucos homens não terão prole. Como consequência, o número da população masculina outrora por-tadora de “infertilidade idiopática” ou causa desconhecida sofreu expressivo decréscimo.
Do ponto de vista da fisiologia testicular, admitia-se que a fabricação de um esperma-tozóide demandava mais de 70 dias e hoje há definitiva prova que dura não mais do que 64. Houve também a incontestável comprovação da presença de espermatozóide móvel e apto para reprodução no interior do testículo, sem transitar pelo epidídimo.
A biópsia testicular efetuada em indiví-duos que não ostentavam espermatozóides no ejaculado (azoospérmicos) era normalmente efetuada em um lugar somente do testículo. Descobriu-se que a gônada masculina pode ter padrão mosaico, ou seja, é capaz de produzir espermatozóide em um determinado espaço e em outro, não. Este fato determinou uma verda-deira revolução no tratamento do homem infértil requerendo coletas em múltiplos locais do testí-culo, sob microscopia, com aumento mínimo de 14 vezes. A presente tática denomina-se Micro-TESE, a qual propicia a localização específica para o resgate de células germinativas e seu uso na fertilização assistida.
O então denominado marcador testicu-lar, FSH, elevado em 3 a 4 vezes, associado à biópsia testicular negativa, efetuada em um único local, encaminhava o casal para adoção ou banco de sêmen. Hoje, a ciência oferece ou-tro marcador, a Inibina B, que, quando normal, acena com quase 50% de chance de paternida-de para esta população masculina com azoos-permia não obstrusiva (NOA).
O progresso científico esclareceu o im-pacto de vários fatores de risco para a pater-
Claudio Telöken – Urologista responsável pelo setor de Andrologia do Fertilitat, Professor Doutor e Livre-Docente de Urologia da UFCSPA
nidade, tais como faixa etária, estilo de vida e meio ambiente. Há 20 anos, acreditava-se que a idade paterna nada influenciava na reprodu-ção humana. Entretanto, há sobejas provas de que o envelhecimento masculino está asso-ciado ao aumento da aneuploidia espermática bem como diminuição da motilidade e volume do ejaculado. O risco de um homem acima de 40 anos gerar um filho com mutação autossô-mica dominante é igual a chance de uma mu-lher de 35-40 anos ter um filho com Síndrome de Down. A paternidade acima dos 40 anos proporciona 20% de chance de prole com alte-rações diversas. Além do mais, a fragmentação do DNA espermático é o dobro em homens aci-ma de 45 anos quando comparado com aque-les de 30.
Desventurados aqueles cujo estilo de vida envolve uso do tabaco, andrógenos, dro-gas recreativas (crack, cocaína, óxio, maco-nha), álcool, portadores de focos sépticos, etc. Agrega-se a isto, com efeito multiplicativo, os obesos, sedentários, portadores de apnéia do sono, expostos a pesticidas, etc. Estas circuns-tâncias supramencionadas podem gerar au-mento suprafisiológico de radicais livres (ROS), com aumento na concentração de leucócitos no ejaculado e diminuição de antioxidantes e a estas alterações atribuem-se 30 à 80% do comprometimento da fertilidade masculina pois induz estresse oxidativo (OS).
A fertilização assistida propicia paternida-de à maioria dos azoospérmicos e oligospérmi-cos severos na atualidade. Entretanto, nestes indivíduos deverá se prospectar eventuais ris-cos fetais ou incidência de abortamento.
Um teste que enriqueceu o arsenal semió-tico (não é rotina absoluta) é o da fragmentação do DNA espermático. Eventuais anormalidades no genoma masculino podem ser consecuti-vas ao dano no DNA e causa de infertilidade masculina, independente do padrão seminal. Admite-se que fragmentação abaixo de 20%
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Claudio Telöken – Urologista responsável pelo setor de Andrologia do Fertilitat, Professor Doutor e Livre-Docente de Urologia da UFCSPA
dos espermatozóides não seja responsabiliza-da por infertilidade, interrupção de gravidez ou falha de fertilização.
Anormalidades cromossômicas, por exem-plo, são responsáveis por 5% dos casos de in-fertilidade masculina e este número atinge até 15%, particularmente na população masculina azoospérmica.
As microdeleções do cromossoma Y (10 a 15% dos homens inférteis) são a maior cau-sa de azoospermia e casos severos de oligos-permia, mesmo que o cariótipo seja normal. A aneuploidia ou número incorreto de cromosso-mas é o erro mais comum entre as anormali-dades cromossômicas nos homens inférteis, especialmente naqueles com NOA.
Por exemplo, a síndrome de Klinefelter, mosaico ou não, prevalece em 5% dos homens com oligospermia severa e 10% dos homens azoospérmicos. Estima-se que 25% dos casos com mosaicismo possuem espermatozóides no ejaculado, enquanto que os não mosaicos podem ter espermatogênese residual nos túbu-los seminíferos. Com o auxílio da captura de espermatozóides no testículo (TESE) e ICSI poderão ter gravidez e este fato era completa-mente ignorado há duas décadas. Obviamente é aconselhável o diagnóstico genético pré-im-plantação (PGD) para certificar-se que a prole não seja aneuplóide.
Em duas décadas, o progresso da gené-tica enriqueceu sobremaneira a investigação do fator masculino de infertilidade, tanto faci-litando a chance de gravidez como rastreando situações que alterariam a prole. A localização do gen CFTR localizado no cromossoma 7 so-fre mutações em 60%–90% dos pacientes com ausência bilateral do deferente (CBAVD) que é uma forma de “obstrução” onde ocorre uma desconexão entre o epidídimo e o ducto ejacu-lador. A paternidade será garantida com ICSI com espermatozóides retirados do epidídimo (PESA) desde que a parceira não seja portado-
ra da mutação CFTR. O gen controlador da glo-bulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG) está envolvido na liberação e concentração dos andrógenos no testículo, os quais são decisivos no processo da espermatogênese.
Curiosamente, comprovou-se a associa-ção da insuficiência estrogênica e espermato-gênese anormal, através da investigação dos gens ESR encontrados no cromossoma 6.
A emergência recente da metabolômi-ca envolveu-se profundamente na infertilidade masculina desde que avalia a expressão de pe-quenos biomarcadores que medem a funciona-lidade da célula. A identificação de metabólitos em fenótipos inférteis desenvolverá novas téc-nicas de diagnóstico e tratamento da infertilida-de masculina.
A metabolômica já está sendo usada para identificar biomarcadores para o estresse oxi-dativo (OS), os quais se correlacionam com a qualidade do ejaculado.
Outro destacado item é a consagração da microcirurgia no que tange à reconstrução do trato reprodutivo masculino (reversão de va-sectomia, resolução de obstrução pós-infecção em epidídimo, reconstrução da via deferencial pós-trauma por arma de fogo, arma branca ou iatrogênica), pela magnificação de imagem, delgados fios (10 ou 11 zero) não reativos, ma-terial cirúrgico delicado e leve, e treinamento à disposição nas residências médicas. A mesma tecnologia microscópica ensejou, com sucesso, o resgate de células germinativas, em diminu-tos “bolsões” intratesticulares não acessados, mesmo à biópsia múltipla e decretou como pa-drão “ouro” o uso a magnificação de imagem para correção de varicocele, evitando iatroge-nia.
As novas técnicas, testadas e confirma-das, auxiliam os profissionais da saúde na bus-ca de paternidade com prole mais sadia, ao mesmo tempo que diminuem significativamente o percentual de infertilidade idiopática. F
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ARTIGO
Pergunte a uma mulher de classe média, na
faixa dos 20, quais seus planos para os próximos 10
anos. Dificilmente, você ouvirá a resposta: “Quero
ser mãe!”. Nesta idade, muitas estão iniciando a
faculdade e ingressando no mercado de trabalho.
Seu foco é o desenvolvimento profissional e não há
nada de errado nisso. Estão planejando suas vidas
de acordo com a realidade de seu tempo. Querem
ser independentes – logo, como planejar filhos
antes de ter uma mínima estabilidade?
Pesquisas apontam que, atualmente,
20% das mulheres esperam até os 35 anos para
iniciar uma família com filhos. Do ponto de vista
da construção de uma carreira exitosa, não há o
que questionar. No entanto, o ovário da mulher,
infelizmente, não acompanhou a revolução social e
comportamental das últimas décadas. Ele continua
envelhecendo na mesma velocidade de sempre. Ou
seja, a partir dos 35 anos, a fertilidade da mulher
começa a diminuir, a partir dos 37 essa queda é
mais acentuada, e é brusca a partir dos 40.
Esse alerta é importante porque, ao lado dos
tantos desejos da mulher contemporânea, e muitas
vezes sobrepondo-se a todos eles, está o sonho de
ser mãe. Ele pode surgir mais tarde, ou, em algumas
pessoas, nunca se manifestar, mas continua sendo
um dos principais projetos de vida de homens e
mulheres. Quem deseja postergar a maternidade
deve estar alerta para alguns cuidados importantes
com a saúde. O mesmo recado vale para os homens
– a fertilidade deles também diminui, embora em
menor proporção.
Evitar o cigarro é uma das primeiras medidas
preventivas. As chances de engravidar diminuem
em 20% para fumantes. É preciso evitar a ingestão
exagerada de álcool e a drogadição, que aumentam
a chance de infertilidade. O uso da camisinha é
fundamental – no Brasil, uma das principais causas
da doença é o fator tubário, decorrente de doenças
sexualmente transmissíveis.
Maternidade tardiaMariangela Badalotti, Diretora do Fertilitat e Professora Doutora da Faculdade de Medicina da PUCRS
Os avanços na área médica têm ampliado
muito as possibilidades de procriação para casais
que enfrentam a infertilidade. O congelamento de
óvulos é uma das técnicas mais valiosas neste
sentido. Muitas mulheres que precisam adiar a
maternidade optam por ele, para manter suas
células jovens e aumentar as chances de engravidar.
No entanto, é errada a idéia de que a
reprodução assistida é garantia de gravidez. Isso
deve ser levado em conta por quem planeja ter
filhos mais tarde. É preciso conhecer os obstáculos
que podem surgir e fazer o possível para preservar
a saúde e a fertilidade, levando em conta os limites
impostos pela idade.
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Alvaro Petracco, diretor do Fertilitat, entre Rosane Coimbra
(esq.) e Karin Vasconcellos, da equipe técnica na clínica.
Público expressivo assistiu ao espetáculo, que encantou a todos com um humor inteligente.
Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky no espetáculo Tangos & Tragédias. Revistas e calendários do Fertilitat
em destaque no estande.
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FERTILITAT NEwS
Fertilitat apoia evento do Dia da Mulher do Leopoldina Juvenil
O Fertilitat foi um dos apoiadores do evento alusivo ao Dia da Mulher da Associação Leopoldina Juvenil. A edição deste ano aconteceu no dia 17 de março e contou com o espetáculo Tangos & Tragédias.
“O Dia da Mulher é especial para nós, pois trabalhamos com um das fases mais importantes de suas vidas – a maternidade. Estar ao lado delas
no Leopoldina foi uma forma de prestar nossa homenagem”, destaca Alvaro Petracco, diretor da clínica, que prestigiou o evento ao lado da esposa Christine Heckmann.
O Fertilitat esteve presente com um estande – houve distribuição de revistas e do calendário da clínica.
FERTILITAT NEwS
Eu fiz reprodução assistida
“Em 2003 descobri que tinha miomas. De
imediato, começamos tratamento aqui em Laje-
ado, mas não obtivemos êxito. Então, uma ami-
ga nos indicou o Fertilitat. Chegando lá, tivemos
consulta com a Dra. Mariangela e começamos o
tratamento.
Fizemos de tudo para tentar acabar com
os miomas. Foram várias injeções, tratamentos,
sete cirurgias e quase 8 anos de frustrações,
pois nada era eficaz contra eles.
Após a última cirurgia, fomos informados
que a única maneira de realizarmos nosso so-
nho era uma “gestação de substituição”. Ficamos
chocados, pois sempre pensamos em ter muitos
filhos. Mas havia uma possibilidade ainda...
Aí começava nossa busca. Quem poderia
ser esta pessoa? Na família, não tínhamos esta
resposta. Então, começamos a pensar e buscar
alguém, que deveria ter várias características,
como por exemplo, já ter filhos, estar em idade
para reprodução, ter a anuência do marido, en-
tre outras. Não era tarefa simples. Comentamos
com diversos amigos. Enfim, após algum tempo
procurando, encontramos a quem podemos cha-
mar de “Anjo”.
“Anjo”, além de se dispor a emprestar a
barriga, durante todo o processo foi quem nos
deu força. Enquanto várias amigas
me diziam que eu estava ficando
louca, ela sempre me apoiou.
Iniciamos então o programa
preparatório. Como não havia grau
de parentesco (irmã ou mãe), o pro-
cedimento necessita ser autorizado
pelo Cremers. Este processo demo-
rou exatamente um ano.
A primeira tentativa foi em ou-
tubro de 2009, com óvulos conge-
lados, mas o resultado foi negativo.
Novamente comecei a tomar me-
dicação para produzir óvulos, mas
meu organismo não respondeu ade-
quadamente ao tratamento. Tivemos
que suspender e reiniciar no próximo ciclo. So-
mente na terceira tentativa é que conseguimos
sete óvulos, dos quais dois foram introduzidos e
os demais congelados.
O resultado veio poucos dias depois: “PO-
SITIVO”. Após tantos desejos, angústias e ten-
são, fomos presenteados com uma gravidez na
segunda tentativa! É uma alegria indescritível.
Logo na realização da primeira ultra-sonografia,
ouvirmos o coraçãozinho do bebê. Foi um mo-
mento mágico, muito emocionante! Não tenho
palavras para descrever o que senti, a emoção
tomou conta de mim.
Em 11 de dezembro de 2010, às 17h15,
nasceu nosso filho, Luiz Eduardo, perfeito e sau-
dável.
Minha história é igual a de muitas mulhe-
res. Quando decidi pela gravidez, apareceram
os problemas, mas, encontrei o Fertilitat para
solucioná-los. Somos muito gratos ao Fertilitat e
a esta amiga, que tornou nossa vida mais com-
pleta e com nova razão para viver.
Nunca desista do seu sonho, por mais im-
possível que ele possa parecer. Mais vale tentar
e falhar do que nada fazer por medo de fracas-
sar.”
Vania, Luiz Eduardo e Beto
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“A princípio, estávamos nos cuidando para
não ter filhos. Até que alcançamos uma estabili-
dade financeira e resolvemos parar com os meios
anticoncepcionais para acontecer a gravidez. Po-
rém, passaram-se vários meses e descobrimos
que tínhamos algum problema.
No começo, nós achávamos que era somen-
te conosco, que não era comum isso acontecer.
Quando fizemos mais exames com um especialis-
ta em Chapecó e ele nos disse que seria impossí-
vel ter um filho de forma natural, isso nos causou
um baque. Passaram-se alguns dias e ficamos sa-
bendo que um médico, com família em nossa ci-
dade, que era especialista em infertilidade, estava
passeando aqui e fomos conversar com ele sobre
o assunto. Ele olhou nossos exames e nos enca-
minhou a Porto Alegre, pois como eu tinha poucos
espermatozóides e minha esposa havia se tratado
de endometriose, ele nos indicou o Fertilitat.
Então fomos a Porto Alegre. Na clínica, nos
solicitaram todos os exames necessários, poste-
riormente minha esposa iniciou o tratamento. O
tratamento foi muito sofrido, pois era longe, frio,
sem conhecer ninguém na cidade, pela distância,
foram várias viagens em cinco meses e com vá-
rios medicamentos e vários exames pra que as
condições dos óvulos fossem adequadas para a
coleta.
Até que enfim, no mês de novembro de
1996 estava tudo conforme precisava pra efetu-
ar a inseminação. Além dos embriões que foram
transferidos, pudemos congelar e armazenar três,
para caso não tivesse êxito a primeira tentativa de
fertilização in vitro. Mas tudo deu certo já na pri-
meira tentativa.
A gravidez transcorreu normalmente, com
somente um dos embriões, e nove meses depois
nasceu o Gabriel Alessio, no dia 02 de agosto de
1997. O nascimento foi por cesárea, o bebê nas-
ceu perfeito e com muita saúde, e hoje somos
muito felizes e realizados por essa conquista de
um filho que a princípio parecia ser impossível
mediante as condições e também pela desinfor-
mação. Mas tudo deu certo, graças a Deus e a
toda a equipe médica do Fertilitat, que agradece-
mos de coração.”
Volmar, Gabriel e Reni
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Obesidade e SOP: repercussões sobre a fertilidade
ARTIGO
O sobrepeso e a obesidade têm sido con-
siderados um problema de saúde pública em
todo o mundo devido às complicações represen-
tadas pelo diabete não insulinodependente, en-
fermidade cardiovascular, câncer, doenças gras-
trointestinais, artrite e infertilidade.
A associação entre obesidade e infertilida-
de é conhecida de longa data. Coube a Irwine
Stein e Michel Leventhal, em 1935, a descrição
de uma síndrome caracterizada pela presença
de ovários policísticos, sinais de amenorreia, hir-
sutismo e obesidade.
A irregularidade ou ausência de menstru-
ações é sintoma secundário à disfunção do eixo
endócrino nas pacientes obesas com síndrome
dos ovários policísticos (SOP), onde não raro há
dissociação na secreção de gonadotrofinas, com
ou sem resistência periférica à insulina, levando
à infertilidade por anovulação em 51% destas
pacientes.
Por outro lado, pacientes obesas com ci-
clos regulares apresentam menor índice de ges-
tação espontânea e maior índice de abortamen-
to. Ainda que a etiopatogenia dessa situação
seja discutível, acredita-se que níveis elevados
de hormônio luteinizante (LH) possam estar
associados a abortamento precoce e mesmo
a abortamentos de repetição, por alteração na
qualidade oocitária.
Outro aspecto que parece implicado na re-
dução da fertilidade é a resistência à insulina,
que leva à diminuição do insulin-like growth fac-
tor binding protein 1(IGFbp1) e da glicodelina. A
IGFBP-1 é conhecida por proteína placentária
12 (pp12), é produzida pelo endométrio e pela
decídua, e apresenta atividade parácrina que
promove adesão na interface feto-materna du-
rante o período de implantação. Já a glicodelina,
conhecida por proteína placentária 14 (pp14),
também é produzida pelo endométrio e pela de-
cídua, e apresenta importante atividade imunos-
supressora que, acredita-se, seja um fator faci-
litador do processo de implantação por inibir a
resposta imune endometrial à presença do em-
brião. Assim a resistência à insulina contribuiria
para a inibição da implantação, além de levar ao
aumento do fator inibidor do plasminogênio (PAI-
1), responsável pelo estado trombofílico dos
abortamentos.
A perda de 5-10% do peso restabelece a
ovulação em 55-100% dos casos de disovulia,
além de reduzir a resistência à insulina e favo-
recer a resposta à indução medicamentosa da
ovulação.
Ainda que o tratamento da obesidade deva
ser sempre multidisciplinar, o ponto de partida é
a mudança no estilo de vida: dieta e atividade fí-
sica. Não há consenso sobre a dieta ideal, ainda
que a proposta de dieta hipocalórica com baixo
índice glicêmico pareça ser a mais adequada. Já
a atividade física deve ser orientada por profis-
sional da área, com exercícios diários de mode-
rada intensidade e baixo impacto.
A prescrição de medicamentos adjuvantes
como o orlistat – bloqueador da lipase gástrica e
duodenal – pode ter indicação. Estudos mostram
perda de 3% de peso em 6 meses de tratamento
associado à dieta hipocalórica e hipolipídica.
Na necessidade de correção medicamen-
tosa da anovulação, a droga de eleição é o citra-
to de clomifene que restabelece a ovulação em
80% das pacientes com 40% de gravidez em 6
ciclos de tratamento.
Outra opção medicamentosa é a metfor-
mina, droga sensibilizadora da insulina, que
Alvaro Petracco, diretor do Fertilitat e Professor Doutor da Faculdade de Medicina da PUCRS
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pode ajudar na diminuição do índice de massa
corporal e cujo uso contínuo de 500 – 1500 mg
restabelece os ciclos menstruais em pacientes
resistentes ao citrato de clomifene.
Outra abordagem terapêutica, ainda que
discutível, mas largamente utilizada especial-
mente pela escola francesa, é o drilling ovariano
por laparoscopia, cujo mecanismo de ação per-
manece obscuro, mas nota-se nítida diminuição
dos níveis de LH e melhora do perfil androgênico
das pacientes. Gomel demonstrou que pacientes
obesas com SOP e resistentes a citrato de clo-
mifene apresentam 56-94% de ciclos ovulatórios
e 43-84% de gravidez após o drilling.
A reprodução assistida fica reservada a
casos especiais, especialmente onde existe
associação com outras causas de infertilidade.
Nesta situação, a estimulação ovariana contro-
lada para fertilização in vitro deve ser cuidado-
sa pelo risco da síndrome de hiperestimulação
ovariana. Com o objetivo de minorar este risco,
tem sido proposto a maturação in vitro de oócitos
e posterior fertilização com injeção intracitoplas-
mática de espermatozóides, porém o resultado
ainda é considerado pouco alentador.
Independente das possibilidades terapêu-
ticas para corrigir a anovulação, causa da infer-
tilidade da paciente obesa, é dever do gineco-
logista ter especial atenção ao peso no período
peripuberal.
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ARTIGO
Cuidados pré-concepcionais para prevenção de anormalidades congênitas e complicações perinatais
O aconselhamento pré-concepcional é
uma oportunidade para proporcionar informa-
ções e orientações que podem contribuir para
uma gestação mais tranquila e para o nasci-
mento de um bebê saudável. O planejamento
torna possível adotar medidas que diminuam
os riscos de desfechos reprodutivos adversos,
melhorando a saúde da mãe e do bebê.
O período periconcepcional inicia no mo-
mento em que as medidas anticoncepcionais
são suspensas. Os principais objetivos do cui-
dado periconcepcional são melhorar a saúde
da mulher de uma forma geral, reduzir os fa-
tores de risco para desfechos gestacionais ad-
versos, informar e aconselhar os futuros pais,
permitindo escolhas mais saudáveis.
Diversos países têm desenvolvido es-
tratégias para disponibilizar o atendimento
pré-concepcional para a população em geral
como uma importante medida de saúde públi-
ca e individual.
DOENÇAS MATERNAS CRÔNICAS
O tratamento de doenças crônicas, como
diabete, hipotireoidismo, hipertensão, epilep-
sia, tromboembolismo, depressão e ansiedade
deve ser revisado e modificado, se necessá-
rio, antes do início da gestação. Por exemplo,
sabe-se que o controle adequado do diabete
materno no período periconcepcional diminui
significativamente a ocorrência de defeitos
congênitos e complicações obstétricas.
DOENÇAS GENÉTICAS
Na avaliação pré-concepcional, deve-se
investigar histórico de doenças genéticas nas
famílias do casal, para identificar patologias
hereditárias que necessitem do apoio de um
geneticista clínico no planejamento das toma-
Maria Teresa Vieira Sanseverino – Geneticista do Fertilitat
das de decisões antes e durante a gestação.
Em muitos casos de história de doença
gênica na família, como por exemplo, na fi-
brose cística, é possível determinar se um ou
ambos os pais são portadores de mutações,
tornando possível o aconselhamento preciso
quanto aos riscos de recorrência e quanto ao
diagnóstico pré-implantacional e pré-natal.
USO PERICONCEPCIONAL
DE ÁCIDO FÓLICO
O uso do ácido fólico, iniciado antes da
concepção e até as 12 semanas, tem um for-
te efeito protetor, reduzindo em até 70% a in-
cidência de defeitos de tubo neural (DFTN),
como anencefalia e espinha bífida.
O ácido fólico é uma vitamina hidrosso-
lúvel do grupo B, sendo encontrada em folhas
verdes principalmente. No Brasil e em diversos
países, a farinha de trigo e de milho é fortifica-
da com ácido fólico para disponibilizar níveis
mais adequados desta vitamina e proteger
os bebês mesmo em gestações não planeja-
das. No entanto, a quantidade de ácido fólico
necessária para a prevenção de DFTN não é
atingida por nenhum regime dietético, justifi-
cando-se assim a sua suplementação através
de comprimidos de uso diário para qualquer
mulher planejando gestar.
ESTADO NUTRICIONAL
A alteração do estado nutricional é um
dos principais fatores de risco obstétrico po-
tencialmente removível no aconselhamento
pré-concepcional.
A prevalência da obesidade tem aumen-
tado em mulheres em idade reprodutiva, tor-
nando o sobrepeso um dos fatores de risco
obstétrico mais comuns. Mesmo o sobrepeso
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moderado é um fator de risco para diabetes
gestacional e doença hipertensiva, sendo
esses riscos mais acentuados em pacientes
verdadeiramente obesas. Observa-se uma
maior taxa de cesarianas e de complicações
anestésicas e pós-operatórias. Existem tam-
bém mais riscos fetais secundários à obesi-
dade, que por meio de diversos mecanismos
aumentam a mortalidade perinatal e a chance
do recém-nascido ser admitido em unidade de
terapia intensiva. Por outro lado, a perda de
peso durante a gestação não é recomendada,
e há evidências de aumento no risco de defei-
tos de fechamento de tubo neural em filhos de
mulheres que perderam peso no período peri-
concepcional e na gestação precoce. O meca-
nismo sugerido envolve a produção de corpos
cetônicos. Por isso, programas de redução de
peso são benéficos no período anterior à con-
cepção, mas não devem ser mantidos durante
a gestação.
USO DE ÁLCOOL, FUMO
E OUTRAS DROGAS
Todas as drogas recreacionais lícitas e
ilícitas são teratogênicas em diferentes graus.
O álcool é o teratógeno humano de uso mais
largamente difundido, sendo a principal cau-
sa de retardo mental passível de prevenção.
O uso crônico e em doses elevadas está as-
sociado à Síndrome Alcoólica Fetal, que se
caracteriza por malformações congênitas, re-
tardo de crescimento e retardo mental. Exposi-
ções intermediárias podem estar associadas a
Efeitos do Álcool Fetal, que incluem alterações
neurocomportamentais permanentes. Como
não existe dose segura de álcool na gestação
a melhor estratégia é a abstenção.
O tabagismo materno está associado
a complicações obstétricas, incluindo baixo
peso e prematuridade. Para alguns genótipos
fetais, quando associados ao fumo materno,
existe um risco maior de fenda palatina. As
medidas farmacológicas que auxiliam a parar
de fumar, incluindo adesivos de nicotina, não
são seguras na gestação, sendo que o período
pré-concepcional é ideal para adotá-las.
OUTRAS EXPOSIÇÕES AMBIENTAIS
Pacientes que não tiveram contato com a
toxoplasmose (IgG negativo) devem ser orien-
tadas a ter maior atenção para a exposição a
fezes de gatos, utilizando luvas ao lidar com
terra, evitando a ingestão de carne crua ou
mal cozida e de frutas e verduras cruas mal
lavadas.
Para prevenção da Síndrome da Rubé-
ola Congênita, todas as mulheres em idade
fértil devem receber a vacina contra a rubéola
e confirmar a sua imunidade através de soro-
logia.
Uma avaliação detalhada dos riscos po-
tenciais de exposições ocupacionais é reco-
mendada.
SISTEMA DE INFORMAÇÃO SOBRE
AGENTES TERATOGÊNICOS (SIAT)
O SIAT fornece informações atualizadas
a respeito do risco de exposições durante o
período pré-concepcional e durante a gesta-
ção, auxiliando no manejo de doenças crôni-
cas através da opção por medicamentos com
menor risco para o bebê (http://gravidez-segu-
ra.org).
O SIAT contribui para tranquilizar a
respeito de exposições seguras durante a
gestação.
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Alvaro Petracco - DiretorGinecologista, Doutor em Ciências Médicas. Pós-graduado em Ginecologia pelas Universi-dades Complutense de Madrid, Autonoma de Barcelona e de Firenze. Professor de Ginecolo-gia da Faculdade de Medicina da PUCRS. Co-
ordenador do Setor de Reprodução Humana do Serviço de Gineco-logia do HSL/PUCRS. Ex-Presidente da So-ciedade Brasileira de Reprodução Humana, Ex-Diretor Regional da Red Latinoameri-cana de Reproducción Asistida.
PERFIL
Conheça os profissionais que integram as equipes clínica e técnica do Fertilitat.
Mariangela Badalotti - DiretoraGinecologista, Mestre em Clínica Médica e Dou-tora em Patologia. Especialista em Reprodução Humana pelas Universidades La Sapienza de Roma e Degli Studi de Bolonha (Itália). Profes-
sora de Ginecologia e Coordenadora do De-partamento de Gine-cologia e Obstetrícia da Faculdade de Me-dicina da PUCRS. Pre-ceptora da Residência Médica e Chefe do Serviço de Ginecolo-gia do HSL/PUCRS.
Claudio TelökenUrologista, Doutor em Urologia pela Universida-de Federal de São Paulo. Pós-Graduado em Re-produção Humana/Infertilidade na Cleveland Cli-nic (USA). Professor Associado e Livre-Docente da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Chefe do Ambulató-rio de Andrologia e do Programa de Residência Médica em Urologia da UFCSPA. Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Porto Alegre. Membro do Corpo Editorial do International Journal of Sexual Medicine e do
Canadian Journal of Urology. Ex-pesquisa-dor da wayne State University (USA).
João MichelonGinecologista. Mestre e Doutor em Medici-na. Professor da Fa-culdade de Medicina da PUCRS. Membro do Serviço de Gineco-logia do HSL/PUCRS.
Ricardo AzambujaEmbriologista, Ph.D. em Fisiologia da Re-produção pela Texas A&M University (Te-xas USA) e Pós-Dou-tor pela Genetics and IVF Institute (Virginia USA). Membro do Co-mitê de Ética e Pes-
quisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e diretor do Laboratório de Embriologia do Fertilitat.
Rafaella Petracco, fellow em reprodução pela Yale University (USA), onde foi orientada pelos professores Hugh Taylor e Pasquale Patrizio, está retornando da Espanha para integrar a equipe do Fertilitat. Rafaella acaba de concluir o fellow do Instituto Valenciano de Infertilidade, onde estudou com o professor José Remohi.
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Fernando BadalottiGinecologista. Espe-cialista em Repro-dução Humana pelo Serviço de Ginecolo-gia do HSL/PUCRS e pelo Instituto Valencia-no de Infertilidad - Se-villa - Espanha.
Maria Teresa SanseverinoConsultora em Gené-tica Clínica. Pediatra, mestre em Bioquími-ca e doutora em Pe-diatria. Especialista em Medicina Fetal e em Genética Clínica. Coordenadora do Sis-tema de Informações sobre Agentes Terato-gênicos (SIAT) e responsável pelo Programa de Aconselhamento Genético Pré-Natal e Reprodu-tivo do Serviço de Genética Médica do HCPA.
Débora FarinatiPsicóloga, Psicana-lista. Mestre em Psi-cologia Clínica pela PUCRS. Membro Titu-lar da Sigmund Freud Associação Psicanalí-tica.
Lilian OkadaEmbriologista. Bacha-rel em Ciências Bio-lógicas - Modalidade Médica, pela Univer-sidade Estadual Pau-lista.
Luiza DorfmanEmbriologista. Licen-ciada em Ciências Bio-lógicas pela PUCRS, especialista em Biolo-gia e Genética Foren-se pela PUCRS.
Adriana ArentGinecologista. Espe-cialista em Reprodu-ção Humana, Mestre e Doutoranda em Pa-tologia. Membro do Serviço de Ginecolo-gia do HSL/PUCRS.
Brunoberto BehsAnestesiologista. Es-pecialista em Anes-tesia Condutiva pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Virgínia Meneghini LazzariEmbriologista, gradu-ada pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Mestranda em Ciências da Saúde pela mesma instituição.
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PERFIL
Aline MedeirosEnfermeira.
Ana Maria Puperi BratkowskiGerente administrativa. Graduada em Pedagogia. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos.
Karin Vasconcellos
Técnica e acadêmica de Enfermagem.
Carine Rodrigues
Técnica de Enfermagem.
Acadêmica de Biologia.
Andressa GrasseliSecretária.
Fernanda Pinheiro Menezes
Recepcionista.
Rosane CoimbraSecretária. Graduada em Relações Públicas.
Aromi Nogueira Feijó
Serviços gerais.
Oncofertilidade: nova oportunidade para pacientes com câncer
ARTIGO
A Oncologia é uma das áreas médicas em
que os avanços vêm acontecendo com maior
rapidez. Os investimentos são mais do que váli-
dos: se antes, a palavra câncer era encarada por
muitos pacientes como uma sentença de mor-
te, hoje se sabe que é possível viver bastante,
e bem, após o tratamento. Para isso, a chave
está, em geral, no diagnóstico preco-
ce das neoplasias. Alguns tipos
de câncer, como o de mama,
por exemplo, apresentam
até 95% de chances de
cura se diagnosticados
precocemente.
Por isso, além da pre-
ocupação com a sobrevida,
é fundamental pensar na qua-
lidade de vida desses pacientes
após o tratamento da doença. Uma
das questões importantes nesse sentido é a
preservação da fertilidade. Não raro, os trata-
mentos cirúrgico, de quimio e radioterapia dei-
xam, como herança, a incapacidade reprodutiva,
tanto para mulheres quanto para homens. Na ur-
gência inquestionável de solucionar a neoplasia,
muitas vezes deixa-se de pensar no futuro e to-
mar medidas que podem reduzir este risco.
Uma das formas de preservar a fertilidade
é congelar os gametas – óvulos e espermatozói-
des – antes de iniciar o tratamento cirúrgico, de
quimio ou radioterapia. A criopreservação destas
células permitirá a realização de procedimentos
de reprodução assistida, caso estes pacientes
venham a tornarem-se inférteis.
Nosso Centro foi um dos pioneiros a inves-
tir neste campo. Temos 18 anos de experiência
com congelamento de sêmen e mais de 10 anos
de experiência com congelamento de óvulos. O
primeiro descongelamento de sêmen depois de
tratamento oncológico foi feito em 1999 e resul-
tou na gravidez de um casal de gêmeos. Além
disso, somos responsáveis pelo primeiro nasci-
mento através de congelamento de óvulos por
técnica lenta do Brasil. Hoje a técnica
utilizada é a vitrificação, que pare-
ce aumentar os índices de gra-
videz.
Pode-se também con-
gelar tecido gonadal – ová-
rio e testículo – para futuro
transplante autólogo ou ma-
turação de gametas in vitro.
Além da criopreservação,
pode-se lançar mão de técnicas para
preservar os ovários nos casos em que seja
necessária irradiação pélvica, como fixação dos
mesmos fora da área em questão.
É importante lembrar também que existe
possibilidade de bloqueio medicamentoso do
ovário com vistas a reduzir o dano provocado
pela quimioterapia.
Enfim, a realização do sonho de ter filhos
pode ser uma realidade mesmo para pacientes
oncológicos cujo tratamento leve à perda da fun-
ção gonadal. O aconselhamento sobre preserva-
ção da fertilidade deve ser oferecido para todos
os pacientes com câncer que possam, em algum
momento de suas vidas, querer procriar. O pla-
nejamento prévio ao tratamento pode evitar uma
séria crise de vida, ao proporcionar a concretiza-
ção do desejo de ser pai ou mãe.
“O aconselhamento sobre preservação da
fertilidade deve ser oferecido para todos os pacientes com câncer
que possam, em algum momento de suas vidas,
querer procriar.”
Mariangela Badalotti, Diretora do Fertilitat e Professora Doutora da Faculdade de Medicina da PUCRS
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Reprodução na rede
A revolução nas comunicações provocada
pela Internet teve impacto direto na relação entre
médicos e pacientes. Hoje, dificilmente um casal
chega à clínica de reprodução assistida sem,
antes, ter pesquisado extensamente o assunto,
lido sites e blogs sobre o tema. “Obviamente, há
ganhos e perdas, pois muitas inverdades circu-
lam na rede. Mas, no geral, o resultado é positivo,
pois as pessoas estão melhor informadas, têm
acesso a múltiplas fontes de informação”, diz Ma-
riangela Badalotti, diretora do Fertilitat.
Além de buscar conhecimento, os pacien-
tes, muitas vezes, transformam-se em autores de
muitos dos textos sobre o assunto publicados na
Internet. Quer dizer, deixam de ser apenas re-
ceptores e passam a compartilhar suas experi-
ências e dúvidas. “Essa troca é muito importante.
Quem busca um tratamento de infertilidade está
atrás de informações técnicas, é claro, mas quer
conhecer as histórias de vida, as dificuldades de
quem já passou por isso ou ainda está passan-
do. Para nós, que vivenciamos esses relatos em
nosso dia-a-dia, também é muito enriquecedor
vê-los na forma de texto. É sempre um aprendi-
zado”, destaca a especialista.
Fertilitat online – O Fertilitat, é claro,
também está na rede, compartilhando informa-
ções e interagindo com pacientes, médicos e
pessoas interessadas no assunto. A clínica acaba
de lançar um novo site, mais dinâmico e rico em
informações, que pode ser acessado em www.
fertilitat.com.br. O centro também mantém contas
nas redes sociais Facebook (Fertilitat – Centro
de Medicina Reprodutiva) e Twitter (@fertilitat).
FERTILITAT NEwS
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ESPECIAL 20 ANOS
Nos idos de 1987, com o apoio da Dire-
ção do Hospital São Lucas, iniciamos a monta-
gem de um pequeno laboratório de reprodução
assistida. Sonhávamos em poder oferecer aos
casais inférteis toda as alternativas terapêuticas
disponíveis para alcançar uma gravidez. Tínha-
mos a firme convicção que seria necessário um
período experimental e formamos o Grupo de
Fertilização Assitida. Em consultórios separa-
dos, aptos a manejar com as técnicas de baixa
complexidade, pouco a pouco fomos adquirindo
os conhecimentos imprescindíveis para dominar
a técnica da fertilização in vitro.
Após quatro anos de trabalho, que já con-
tabilizava o nascimento do primeiro bebê gaúcho
de laboratório, em 1989, e os primeiros gêmeos
de fertilização in vitro, em 1990, fundamos, em
julho de 1991, o Fertilitat - Centro de Medicina
Reprodutiva, voltado à assistência e à pesquisa
na área da reprodução humana.Ao longo destes 20 anos, houve grande
evolução nas técnicas de reprodução assistida,
as quais acoplamos à nossa atividade assis-
tencial. Com isso fomos pioneiros em gravidez
com espermatozóides aspirados diretamente
do epidídimo na América Latina, e os responsá-
veis pelo nascimento do primeiro bebê brasileiro
a partir de óvulos congelados. Nossa atividade
científica e de pesquisa está documentada por
publicações e participações em congressos.
Nossa responsabilidade social foi reconhecida e
premiada pela ADVB em 2009 e pela ABRH em
2010.
Nestes 20 anos, mais de 2.500 bebês vie-
ram ao mundo com o trabalho do Fertilitat. A
atualização científica constante é uma das ca-
racterísticas de nosso centro, que é reconhecido
por seu pioneirismo e pela seriedade de seus
profissionais.
Mariangela Badalotti e Alvaro Petracco
Diretores do Fertilitat
Há 20 anos, o Fertilitat auxilia casais que buscam a realização do sonho de ter filhos.
Quando o Fertilitat foi criado oficialmente como clínica de reprodução assistida, o trabalho de sua equipe já tinha resultados concretos. Na foto, Alvaro Petracco com o menino Alvinho, primeiro bebê de reprodução assistida do Rio Grande do Sul.
Fertilitat completa 20 anos
23
Vinte anos depois, se confirma a antevisão de 1991 de sucesso do trabalho conjunto, inicial-mente de Alvaro Petracco e de Mariangela Ba-dalotti. O Centro de Medicina Reprodutiva Ferti-litat, com sua seriedade científica e ética, consa-grou-se local e nacionalmente como um centro de fertilização assistida de primeira qualidade. Pioneiro em muitos aspectos, o Fertilitat tem apresentado resultados excepcionais na busca de gestações que não afloram espontaneamen-te. E o êxito nasceu da competência e da sólida formação de seus fundadores e na escolha dos médicos e outros profissionais que passaram a contribuir com a instituição.
Diferente da obra de Alexandre Dumas, em que “Vinte Anos Depois” encontrou os mos-queteiros envelhecidos e um pouco cansados, o Fertilitat está em pleno apogeu e segue pre-cursor em nosso meio dos muitos procedimen-tos que surgem a todo o momento na área da reprodução. Da fertilização in vitro com transfe-rência de embrião, de Robert Edwards (Prêmio Nobel de Medicina) e Patrick Steptoe, com cuja técnica obteve o primeiro “bebê de proveta” do Rio Grande do Sul, o Centro Fertilitat ingressou em novos caminhos: conservação de embriões para posterior implantação, técnicas sofisticadas de fertilização com gametas masculinos ainda não maduros, micromanipulações e, mais re-centemente, conservação de óvulos para futura concepção e, ainda, conservação de tecido ova-riano. Os ótimos resultados atuais de fertilização de óvulos congelados representam um grande avanço, por permitir a postergação da gestação com gametas jovens, sem que a conservação obrigue a dona dos óvulos a se ligar definitiva-mente com um “pai” que talvez não esteja com
o mesmo prestígio junto à mulher, na hora que esta decidir ter filhos. Permitir a manutenção da fertilidade pela mulher sem esse atrelamento a um homem que não mais é o seu homem no mo-
mento do desejo de ter filhos é um progresso que reputo de sensacional. Um óvulo é preser-vado para ser fecundado por espermatozóide do parceiro atual, que não existia como parceiro na época da preservação.
Muito há que se festejar neste aniversário de vinte anos, com a maioridade plena já obtida por comprovada qualificação e indiscutível com-petência. Alvaro Petracco, Mariangela Badalotti, Cláudio Telöken, João Michelon, Adriana Arent, Fernando Badalotti, Rafaella Petracco, para citar apenas aqueles com quem tive a honra de con-viver como alunos ou médicos-residentes, estão todos de parabéns pela efeméride. Nós, os seus amigos e admiradores, os cumprimentamos, as-segurando que estamos orgulhosos dessa tra-jetória.
Gustavo Py Gomes da Silveira
No ano em que completa duas décadas de atuação, o Fertilitat é objeto de reflexão dos mé-
dicos Ronald Bossemeyer e Gustavo Py Gomes da Silveira. Ambos têm participação importante na
história da clínica, pois escreveram textos de apresentação sobre o trabalho da equipe publicados
em seu primeiro informativo, ainda em 1991. Aqui, eles dividem o espaço e o pensamento para
discorrer sobre os 20 anos de trabalho do Fertilitat.
Artigo de Gustavo Py Gomes da Silveira abordou a trajetória dos médicos que deram início ao Fertilitat. O texto foi capa no primeiro informativo da clínica.
ESPECIAL 20 ANOS
24
Passados vinte anos, eis-me aqui outra
vez! Naquela ocasião, nascia o Fertilitat com
objetivos inquestionavelmente os mais nobres
e alevantados e dedicado à
área do conhecimento que
recém despontava em nosso
meio. Empregando tecnologia
avançada, seus mentores vi-
savam sanar as dificuldades
impostas pelas limitações
dos métodos clássicos de
diagnóstico e tratamento da
esterilidade conjugal então
disponíveis. Não se falava
em fertilidade, palavra que,
na verdade, tinha significado
diferente. E, claro, havia já
esterileutas em nosso meio,
que eram nada mais do que
ginecologistas de escol que
se dedicavam, em especial, a
praticar a sua arte com maior
esmero, em busca de resulta-
dos que, apesar de modestos,
tinham um sabor especial. Mas, diga-se de pas-
sagem, por ser fruto da propedêutica e do empi-
rismo rudimentares daquele então, nada melhor
se poderia esperar.
À distância, em Santa Maria, acompanha-
va os passos dos pioneiros do Fertilitat, Marian-
gela e Alvaro. Bem sei que muitos outros valores
se foram agregando com o passar do tempo.
Para não ser injusto, deixarei de citar seus no-
mes enquanto reconheço seu valor, sua dedica-
ção e, principalmente, seu papel no crescimento
e funcionamento da modelar instituição. Aliás,
não poderia ser diferente, pois bem sei do estri-
to critério de seleção e aprimoramento técnico
exigido de cada um dos integrantes dos vários
setores da instituição, cuja soma de esforços
responde pela magnitude do sucesso e reco-
nhecimento alcançados pelo Fertilitat.
É de todos sabido o fato de que militamos
em áreas distintas de nossa especialidade. A
bem da verdade, interessei-me pela esterilidade
conjugal (sou daquela época) desde os primór-
dios da minha atividade profissional e docente.
E, diga-se de passagem, considero-me bem su-
cedido se levarmos em conta de que estamos
falando sobre a prática da Ginecologia de cerca
de meio século atrás. Refiro-me a técnicas hoje
consideradas rudimentares ou artesanais que
seriam, em termos atuais, de baixa complexi-
dade. Mas, temos em comum, entretanto, o fato
de sermos todos, antes de tudo, médicos, que
defendemos com afinco os princípios da ética,
do humanismo no trato com a clientela, da dedi-
cação ao trabalho em favor do seu bem-estar, da
Texto de Ronald Bossemeyer publicado no primeiro informativo do Fertilitat abordou a problemática do casal sem filhos e o trabalho pioneiro que se iniciava.
25
priorização da satisfação das suas necessida-
des e da consecução dos resultados almejados,
nunca omitindo as limitações do método ou da
equipe (sempre lembrando que somos – apenas
– humanos), predicados estes que são a marca
do Fertilitat.
A necessidade de crescer, no seu sentido
mais amplo, envolve, obrigatoriamente, ampliar
o escopo das atividades do indivíduo e da ins-
tituição. Não sucedeu de forma diferente com
o Fertilitat. A imagem e projeção dos seus inte-
grantes, em âmbito local, nacional e internacio-
nal é incontestável, fruto do aprimoramento pes-
soal, da pesquisa embasada em tecnologia de
ponta, da divulgação de resultados honestos e
da difusão de conhecimentos úteis para a comu-
nidade científica e, destarte, aplicáveis a casais
desejosos de vir a ter a prole sonhada.
Alegrou-me, sobremaneira, o convite para
manifestar-me por ocasião do registro do trans-
curso destes primeiros dois lustros de atividade
do Fertilitat, tão profícua quanto meritória. Pes-
soalmente tenho muito a agradecer esta opor-
tunidade, por incontáveis razões. Tenho grande
carinho pela Mariangela e pelo Alvaro mas, por
injunções diversas, aproximei-me do Alvaro e de
suas atividades profissionais e docentes muito
antes do nascimento do Fertilitat. A identidade
de pontos de vista sobre os mais variados cam-
pos da vida pessoal, profissional e societária
logo se estabeleceu. Criou-se sólida amizade,
tenho a certeza, embasada na identidade e na
admiração mútua. Mas foi durante as demarches
de organização do Congresso da Sociedade
Brasileira de Reprodução Humana realizado em
Porto Alegre no ano de 1987 que, trabalhando
ombro a ombro, eu como presidente da entidade
nacional e do congresso e Alvaro como secre-
tário geral do evento, nos demos melhor a co-
nhecer. A negociação franca e firme com os pa-
trocinadores por ele efetuada, ao mesmo tempo
polida e inteligente, foi marcante e fez com que
laços definitivos de amizade que transcenderão
ao tempo, qual amarras, tenho a certeza, se es-
tabelecessem. Ratificou o juízo que dele sem-
pre fiz, posteriormente, a atuação correta, lisa e
progressista desenvolvida durante seu mandato
como presidente de nossa SBRH.
Mas a vida tem seus caminhos e, também,
os seus descaminhos, todos sabemos. Ainda que
a fertilidade humana continuasse sendo a nossa
maior preocupação, acabamos por enveredar
por lados opostos do seu manejo. Enquanto Pe-
tracco passou a dominar, como poucos, a fertili-
dade diminuída, eu, pelo meu lado, encantei-me
com o vasto campo da sua regulação mediante
meios que permitissem ter os filhos desejados
no momento oportuno. Entretanto, esta aparen-
te contradição nada tem de paradoxal. Ambos
propugnamos por famílias constituídas de forma
consciente e volitiva, na medida do planejado
pelo casal.
Por fim, ao manifestar o meu apreço aos
integrantes do Fertilitat, quero abraçar a todos e
a cada um felicitando-os pelo sucesso da siner-
gia dos seus esforços em prol da realização do
milagre da vida, estendido a pessoas como nós
mas que, até ser alvo da atenção deste grupo,
não havia tido a oportunidade que foi incluída
pelo Criador no pacote da vida de cada um de
nós (que temos filhos), para utilizar expressão
tão comum nos dias de hoje, empregada tão in-
conscientemente muitas vezes.
Parabéns Fertilitat; muitos anos de presta-
ção de bons serviços são meus votos.
Ronald Bossemeyer
ESPECIAL 20 ANOS
26
Laboratório de reprodução assistida do Fertilitat: 20 anos de desenvolvimento científico e tecnológicoRicardo Azambuja e Lilian Okada, embriologistas do Fertilitat
O laboratório de reprodução
assistida é o coração de uma clí-
nica de reprodução humana. Em
uma área tão avançada da ciência
quanto essa, a busca pelo melhor
resultado depende do aprimora-
mento tecnológico constante. Para
o Fertilitat, não é diferente: a evo-
lução e uso de novas tecnologias
fazem parte de nossos 20 anos de
história.
Antigamente, não tínhamos
à disposição todos os medicamen-
tos que hoje são utilizados para as
estimulações foliculares. As aspi-
rações dos óvulos ocorriam no
momento em que tinha que ser,
mesmo que isto significasse entrar madrugada
adentro realizando o procedimento.
Os primeiros casos realizados na clínica
foram através da GIFT (Gamete IntraFallopian
Transfer), onde os óvulos eram captados e en-
tão transferidos para as tubas uterinas junta-
mente com os espermatozóides preparados.
Em seguida, os óvulos e os espermatozóides
passaram a ser colocados juntos, “in vitro”, e os
embriões produzidos eram transferidos para o
útero, procedimento conhecido como FIV (Ferti-
lization In Vitro) convencional.
Posteriormente, surgiram os
procedimentos de micromanipula-
ção, PZD (Partial Zona Dissection),
quando eram abertos orifícios na
zona pelúcida do óvulo, para otimi-
zar a penetração do espermatozói-
de; e SUZI (Sub-Zonal Insemina-
tion), na qual os espermatozóides
eram inseridos no espaço subzonal
do óvulo.
E por fim, a ICSI (Intra-Cito-
plasmic Sperm Injection), onde o
espermatozóide é introduzido di-
retamente no citoplasma do óvulo,
produzindo os embriões que são Laboratório de espermiologia.
Primeiro laboratório do Fertilitat
Foto: Arquivo Fertilitat
27
transferidos para o útero. Para esta técnica,
utilizam-se agulhas extremamente finas e deli-
cadas, que hoje são comercializadas prontas;
porém, anteriormente, necessitavam ser feitas
no próprio laboratório, assim como os meios de
cultivos e de criopreservação.
Aos casais cujo parceiro não possui es-
permatozóide no ejaculado, seja por azoosper-
mia obstrutiva ou não obstrutiva, os procedi-
mentos de PESA (aspiração de espermatozói-
des do epidídimo), TESA (aspiração de esper-
matozóides do testículo) e MicroTESE (extração
de espermatozóides do testículo) surgiram para
beneficiá-los. O Fertilitat foi o pioneiro na con-
cepção de bebês por essas técnicas na América
Latina.
A criopreservação também teve sua evo-
lução. Iniciamos com o congelamento de esper-
matozóides, tecido testicular ou ovariano e de
embriões. Então, a partir de 2000, passamos a
oferecer aos pacientes a possibilidade de guar-
dar os seus óvulos. E em 2002, comemoramos
a chegada do nosso primeiro bebê proveniente
de óvulos congelados, que também é o primeiro
do Brasil com a técnica de congelamento lento.
Atualmente, a técnica utilizada é a vitrificação,
que aumenta as chances de gravidez.
Para se adequar às exigências propostas
pela Anvisa, segundo a resolução da diretoria
colegiada nº33, de 17 de fevereiro de 2006, o
Fertilitat passou por uma reforma, ampliando
seu espaço físico e adquirindo um sistema de
Fot
os: A
rqui
vo F
ertil
itat
Laboratório de criopreservação.
Estereomicroscópio para identificação do óvulo.
ESPECIAL 20 ANOS
28
filtração de ar, tornando a qualidade do ambien-
te superior. Em 2011, uma nova resolução foi
promulgada, e o Fertilitat seguiu cumprindo to-
das as exigências da Anvisa.
No início de nossa clínica, tínhamos uma
média anual de 20 procedimentos de fertiliza-
ção in vitro. Atualmente, nossos casos giram
em torno de 600 e, para realizar um crescente
número de procedimentos e com total
excelência no serviço, contamos com
um número grande de equipamentos (6
estufas, 2 microscópios invertidos com
micromanipuladores, 9 cilindros de ni-
trogênio líquido para armazenar os ma-
teriais criopreservados) e uma equipe
técnica especializada.
Novas tecnologias estão sempre
sendo implantadas para oferecermos o
melhor a nossos pacientes: a criopre-
servação pela técnica da vitrificação, a
biópsia pré-implantacional e a matura-
ção in vitro dos oócitos são alguns des-
ses exemplos.
O nosso maior objetivo é propor-
cionar aos casais a felicidade de poder ter o
seu filho nos braços. Sabemos que o percur-
so muitas vezes é longo e penoso ao casal, de
tal modo que necessitamos estar em constante
evolução, pesquisando, em busca do melhor re-
sultado.
Laboratório de fertilização in vitro.
Micromanipulador.Microscópio de micromanipulação, com laser.
Plataforma de injeção intracitoplasmática de espermatozóide
29
COMPORTAMENTO
“Positivo!”. Quanta ansiedade até ouvir essa palavra, até receber o resultado tão es-perado. Ao saberem-se grávidos, os futuros pais iniciam uma das etapas mais importantes de suas vidas: a construção da família. Não é preciso apenas modificar a casa, mas acomo-dar sentimentos, equilibrar emoções, amadure-cer... Tudo isso para receberem seu filho, para tornarem-se, finalmente, um pai e uma mãe.
Mas, e quando o tão sonhado bebê che-gar, como adequar a rotina para recebê-lo?
Como criar um ambiente de conforto e harmo-nia? De que ele precisa em seus primeiros dias de vida? Não são poucas as dúvidas dos pais, especialmente quando se trata do primeiro fi-lho. Para auxiliá-los, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou o livro Filhos – da gravidez aos 2 anos de idade. A obra, organizada pelos mé-dicos Fabio Ancona Lopez e Dioclécio Campos Júnior, traz uma série de dicas valiosas para os pais de primeira viagem.
Conheça algumas delas:
O bebê chegou!
No hospital:
- Solicitar que o bebê permaneça na sala de parto. Vários estudos destacam a importância do contato precoce e íntimo do recém-nascido com os pais ainda na sala de parto, para o es-tabelecimento de uma relação adequada para toda a vida.
- Evitar que o ambiente naturalmente festivo por ocasião do nascimento comprometa a interação dos pais com o bebê. As visitas ao bebê costumam ser frequentes na maternidade. Entretanto, muitas visitas podem causar barulho excessivo e comprometer a sua interação com o filho.
Em casa:
- Usufruir a licença-maternidade por comple-to. A licença-maternidade é essencial para que a mãe tenha tempo para cuidar de seu bebê, for-talecendo o vínculo com ele a cada dia. Além disso, é extremamente importante para propiciar o sucesso da amamentação exclusiva ao peito.
- Conhecer os variados tipos de choro. Fome: choro forte. Cólica: choro prolongado, de “dor” e com movimentos corporais para o lado e para frente. Dor de ouvido: choro com a cabeça balan-çando para os lados.
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Vínculo mãe-filho
A sensibilidade materna para perceber, interpretar corretamente os sinais do bebê e responder de forma adequada é um dos fatores mais importantes na formação do vínculo.
A mãe que se adapta perfeitamente às necessidades do recém-nascido é chamada de “mãe suficientemente boa”. Ela é capaz de exer-cer três funções simultâneas que satisfazem ple-namente o bebê:
- oferta do seio materno: a mãe oferece o pei-to ao seu filho no momento em que ele deseja e, com isso, o bebê sente-se respeitado em sua totalidade;
- sustentação: ao segurar o bebê em seu colo, a mãe transmite a ele a sensação de segurança e de proteção contra perigos;
- cuidadora: ao ser cuidado pela mãe, o recém-nascido tem a sensação de bem-estar.
Vínculo pai-filho
A participação do pai no dia-a-dia do bebê é fundamental. O pai deve procurar:
- estar presente nos momentos de entrosamento e de amamentação;
- tocar o bebê e estabelecer também o contato olho a olho;
- conversar com o bebê e ver as respostas dele a sua voz;
- cheirar seu filho;
- dar colo para o bebê sentir também o calor pa-terno.
Não se desespere! A insegurança gerada pela chegada de um novo ser na família logo desapa-rece, quando todos percebem que são capazes de exercer sua função nos cuidados com o bebê. Aos poucos, a rotina da casa volta ao normal e o bebê começa a se adaptar a tudo e a todos. Com a intensa interação entre vocês, o vínculo afetivo que já estava presente torna-se mais for-te a cada dia!
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CIÊNCIA
A reprodução assistida é um dos campos da medicina que mais tem avançado nos últimos anos. Graças às descobertas científicas, são cada vez maiores as chances de um casal que enfrenta a infertilidade realizar o sonho de ter fi-lhos.
Embora o tema esteja inserido no dia a dia da sociedade, especialmente através dos meios de comunicação, muitas dúvidas persistem. Nesta página e na próxima, você conhecerá as respostas para algumas das principais dúvidas sobre o assunto.
Como vou saber se sou fértil? Em primeiro lugar, é importante ter claro que a infertilidade é conjugal, ou seja, não é do homem ou da mulher e, sim, do casal. Define-se infertili-dade como a falta de gestação após um ano de relações sexuais sem nenhum método de anti-concepção. A infertilidade acomete em torno de 15% dos casais em idade reprodutiva. A menos que se caracterize infertilidade, todos são consi-derados férteis.
Se tivermos relações sexuais durante a ovu-lação, a nossa chance de engravidar é 100%? Não. Um casal tendo relações no período de ovulação tem uma chance real de gravidez de aproximadamente 20%. Este é um índice que se chama “fecundabilidade”, que é definido como a chance de um casal normal engravidar em um mês de vida sexual regular. O índice de fecunda-bilidade diminui com o avanço da idade, sendo de 5% ao mês aos 40 anos (da mulher).
Quais são as causas de infertilidade? É importante considerar que tanto o homem quanto a mulher podem apresentar problemas que determinem infertilidade. Calcula-se que aproximadamente 30% das causas sejam femi-ninas, 30% sejam masculinas, 20% associadas e em 10% a causa é desconhecida (infertilidade sem causa aparente). Dentre as causas femini-nas, os distúrbios da ovulação, as obstruções nas trompas e a endometriose são as mais comuns. O homem pode ser infértil por produzir poucos espermatozóides, espermatozóides anormais
ou com pouca mobilidade, ou por não apresentar espermatozóides no ejaculado. As causas mais comuns são varicocele e hipofunção testicular.
O que é endometriose? A camada interna do útero é chamada de endo-métrio. É uma camada que cresce, sofre modifi-cações ao longo do ciclo menstrual e descama no período da menstruação. Endometriose são pequenos focos de endométrio que se localizam fora do seu local de origem, em geral na capa de tecido que recobre os órgãos de dentro do ventre (chamada de peritônio). Os focos de en-dometriose têm as mesmas características do endométrio, ou seja, recebem os hormônios pro-duzidos pelo ovário, se modificam e sangram no período menstrual. Alteram o ambiente da ferti-lização e, quando a doença é avançada, danifi-cam as trompas, os ovários e formam aderên-cias entre os órgãos pélvicos.
Podemos escolher o sexo do nosso filho? O processo de escolha do sexo é chamado de sexagem. Tecnicamente é possível separar o espermatozóide X e Y. O índice de acerto não é 100% e esse tipo de procedimento só encon-tra respaldo ético em casos especiais. Pode-se aumentar a chance de ser uma menina ou um menino durante um ciclo espontâneo se as rela-ções sexuais forem antes ou depois da ovulação.
Desvendando a reprodução assistida
32
O sexo pode ser identificado por biópsia embrio-nária, mas o procedimento não é indicado com esta finalidade.
Não entendo a diferença entre fertilização e inseminação artificial. Inseminação artificial era originalmente a colo-cação do sêmen no colo do útero. Com o de-senvolvimento das técnicas laboratoriais, foi possível retirar os espermatozóides do plasma seminal, “energizá-los” em laboratórios e colocá--los dentro do útero ou mesmo nas trompas. Tem sua indicação nos casos em que a produção de muco não é boa, quando o número de esper-matozóides é baixo, em infertilidade sem causa, endometriose, etc.Por fertilização in vitro, entende-se que acon-tecerá no laboratório o que costuma ocorrer na trompa, isto é, o encontro do óvulo e do esper-matozóide, a fertilização, e as primeiras etapas da divisão do embrião. Após, os embriões são transferidos para o corpo da mulher, na maioria dos casos diretamente para o útero. A fertiliza-ção in vitro está indicada nos casos em que exis-tem problemas nas trompas ou quando a produ-ção de espermatozóides é bastante alterada, na endometriose grave e nos casos em que não se consegue identificar a causa da infertilidade, o que é denominado infertilidade sem causa apa-rente.
As crianças concebidas por essas técnicas são normais? Sim. Não há na literatura médica nenhuma infor-mação de que o risco de alterações genéticas seja diferente das crianças nascidas de gesta-ção espontânea, bem como não existem relatos de alteração do comportamento social ou emo-cional dessas crianças.
Até que idade posso engravidar? À medida em que a mulher avança na idade, diminui a chance de gravidez. Calcula-se que a chance de um casal gestar em um determinado mês seja de aproximadamente 20%. Esse índi-ce, chamado de fecundabilidade, diminui grada-tivamente após os 35 anos. Isso é tão evidente
que apenas 3-5% de todas as mulheres que não utilizam método anticoncepcional engravidam após os 43 anos.
O homem que fez vasectomia pode ter filhos? Sim, a reversão da vasectomia pode ser feita por microcirurgia. É uma técnica que utiliza a magni-ficação da imagem para reanastomosar o local onde foi ligado o canal deferente. Outra possibi-lidade é a retirada dos espermatozóides através de uma punção (utilizando uma agulha) e reali-zar uma fertilização in vitro.
Quanto tempo deve-se aguardar para engra-vidar após a suspensão do uso da pílula an-ticoncepcional? Não há um período de tempo definido para isso. Após a suspensão do uso dos contraceptivos orais, o ovário volta a sua função normal (pode ser que não aconteça a ovulação ou que a mes-ma não seja normal no 1º ou 2º mês da parada da pílula) e o casal com vida sexual regular pas-sa a ter chance mensal normal de gestação.
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ARTIGO
Direito Reprodutivo e infertilidade
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
define a saúde como “um estado completo de
bem-estar físico, mental e social, e não apenas
a ausência de doença”. Em 1994 na Conferên-
cia de População e Desenvolvimento do Cairo,
foi revisto o conceito de saúde reprodutiva, que
atingiu novas dimensões com o acréscimo da
saúde sexual e direitos reprodutivos.
“Saúde Reprodutiva é um estado de
completo bem estar físico, mental e so-
cial em todas as matérias concernentes
ao sistema reprodutivo, suas funções
e processos, e não simples ausência
de doenças ou enfermidades”.
A saúde reprodutiva implica,
por conseguinte, que a pessoa pos-
sa ter vida sexual segura e satisfató-
ria, tendo capacidade de reproduzir e
a liberdade de decidir sobre quando e
quantas vezes quer fazê-lo. Está implícito
nesta última condição o direito de homens
e mulheres de serem informados e de te-
rem acesso aos métodos eficientes,
seguros, aceitáveis e financeira-
mente compatíveis de planeja-
mento familiar. Dentro desta
premissa estão métodos de
regulação de fecundidade a
sua escolha e que não con-
trariem a Lei, bem como o
direito de acesso a servi-
ços apropriados de saú-
de que propiciem às mu-
lheres as condições de
passar em segurança
pela gestação e par-
to, proporcionando
aos casais uma
chance melhor de
ter um filho sadio.
Adriana Arent – Ginecologista do Fertilitat
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Considerando o conceito de saúde da OMS,
a infertilidade é a maior causa de diminuição de
saúde nos países pobres. O tratamento da inferti-
lidade deve ser visto como uma prioridade social.
Em países pobres informações sobre infertilidade
são muito limitadas. No que diz respeito ao aces-
so às tecnologias de Reprodução Assistida (RA),
é extremamente raro e o custo ainda mais proibi-
tivo.
Em 2001, a OMS realizou um congresso
sobre os “Aspectos Éticos e Sociais da Repro-
dução Assistida”, e abordou o tema do acesso a
RA. Foi concluído que este acesso depende de
alguns fatores, incluindo:
- o devido reconhecimento da infertilidade como
um problema de saúde pública;
- desenvolvimento de esquemas mais simples de
manejo de infertilidade;
- redução do custo dos tratamentos de RA.
Apesar de a infertilidade ser um proble-
ma universal de saúde pública, casais inférteis
– especialmente em países pobres – têm aces-
so limitado aos serviços de reprodução humana.
Justificar o fornecimento das tecnologias de RA
- que são caras e têm taxa de sucesso entre 30 e
50% - é discutível nos países em desenvolvimen-
to, onde os recursos públicos para a saúde são
limitados e ainda são assolados por problemas
infecciosos e doenças crônicas como tuberculo-
se, malária e AIDS. Desta forma os problemas
de fertilidade rotineiramente não são considera-
dos de importância. Paradoxalmente, é onde as
taxas de infertilidade são altas que o acesso a RA
está disponível em serviços privados. O fato é que
casais querem e têm direito de ter filhos. E farão
todo o possível para tê-los. Porém, os tratamentos
estão basicamente disponíveis para aqueles que
podem pagá-lo.
Nos países desenvolvidos, com exceção
dos Estados Unidos, os hospitais públicos ofe-
recem tratamento de reprodução assistida total
ou parcialmente gratuito. No Brasil, o número de
hospitais públicos com o serviço não passa de 10
e não costumam custear a medicação necessária
para o procedimento. Os casais chegam a aguar-
dar até cinco anos para serem atendidos.
A infertilidade é um grande desafio para os
estudiosos e é considerado por muitos países um
problema de saúde pública. O estado deve dar
a sua contribuição ajudando os casais de baixa
renda a terem acesso a programas eficazes de
auxílio à fertilidade. Mesmo considerando que os
países pobres tenham outras dificuldades, não
é possível ficar insensível às causas médicas
dos menos favorecidos. A ajuda do terceiro se-
tor, através de parcerias entre o setor público e
privado é necessária e bem vinda, uma vez que
o estado não dispõe de recursos que cubram a
grande demanda reprimida. É obrigação do ci-
dadão pleitear um melhor atendimento aos seus
diversos problemas. Casais inférteis precisam de
ajuda, pois o sonho de um filho não se paga. A
possibilidade de não passar sua herança gené-
tica aos seus descendentes angustia existencial-
mente a qualquer ser humano.
A necessidade de serviços que tratem a in-
fertilidade, além de programas de prevenção, é
inegável. Muitas vezes a RA é a última esperan-
ça de casais conseguirem um filho. Apesar de a
maioria dos países em desenvolvimento não te-
rem programas adequados de infertilidade, prin-
cipalmente devido a argumentos baseados nas
altas taxas de natalidade e no custo elevado da
RA, surge esperança da parceria entre os setores
público-privado. Por fim, entende-se que a gran-
de maioria dos problemas que afetam a humani-
dade neste início de século não só transcendem
as barreiras e competências dos estados nacio-
nais como não podem ser resolvidos apenas por
ações de governo ou mecanismos de mercado.
35
Londres – metrópole de multiculturalidade
VIAGEM
Capital da Inglaterra e do Reino Unido, ainda que também poderíamos conceder-lhe o título de “capital dos mercados mais famosos” – tal a quantidade de mercados de rua que se espalham pela cidade.
Contando com uma população de mais de 12 milhões de habitantes (entre a área urbana e metropolitana), atualmente Londres se posicio-na em primeiro lugar no ranking de regiões mais populosas da União Européia.
Outro número interessante diz respeito ao transporte público: os londrinenses contam com uma das redes ferroviárias mais extensas e efi-cientes do planeta, além de possuir o aeroporto com maior tráfego internacional de passageiros da Europa – Heathrow Airport.
Números a parte, certo mesmo é que pôr os pés em Londres impressiona desde o primei-ro momento. O visual da cidade às margens do rio Tâmisa é surpreendente e majestoso, des-lumbrante se visto sob muitos aspectos. Veem--se bairros muito bem cuidados, uma enormida-de de lojas, museus, galerias, mercados e todo tipo de opção cultural para os mais variados gos-tos. Tudo isso acaba se configurando em uma dessas imagens de cartão postal que todos de-sejamos levar para casa e nunca mais esquecer.
Porém, como sabemos que “perfeição” não existe – e não por ser uma grande metrópole européia seria diferente –, se temos a oportuni-dade de permanecer mais tempo nesse imen-so território nebuloso, não tarda muito para que nos demos conta de que existe outra Londres. Um lugar que vive meio nas sombras, coexistin-do lado a lado, em simbiose, com esta urbe de sonhos. É a cara cinza e fria de uma cidade tão underground como suas linhas de metrô, menos amigável que a outra cara turística. Fundada por volta do ano 43 d.C., mantém uma aparência velha e decadente a escassos metros de todo aquele centro luxuoso.
Em meio a esse ar rançoso, vive uma mul-tidão de imigrantes, pessoas provenientes de to-das as partes do mundo, além de nativos, traba-lhadores que formam as classes operárias ou da construção, gente anônima que dá consistência à verdadeira Londres. É aí onde todos tentam, cada dia, encontrar seu próprio espaço, confe-rir um sentido mais além do simples glamour de pertencer a uma capital vertiginosa e contradi-tória. Mas para descobrir todos esses seus mis-térios se necessita tempo, já que se a estadia é muito curta o que ficará será aquela euforia superficial de um recém chegado.
Ainda assim, não importa. Quatro dias ou quatro semanas. Se temos chance de conhecer Londres, sempre teremos a certeza de querer voltar para seguir desvendando-a.
Tiani Trein Barbieri - Especial
Foto: Liana Aguiar
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Labirintos urbanos
Certo, o cinema é um dos maiores respon-sáveis pelos estereótipos que criamos em torno de muitos lugares do mundo. Graças às cenas imortalizadas no filme “Um lugar chamado Not-ting Hill” – comédia romântica protagonizada por Julia Roberts e Hugh Grant no final da década de 90, para os que não estão lembrados -, por exemplo, este bairro britânico ficou conhecido como um dos ícones londrinenses. Entretanto, seria muito injusto nomeá-lo como o mais im-portante da cidade, quando Londres está repleta de conglomerados urbanos charmosíssimos e prontos para serem explorados.
De todos os modos, vale à pena recordar que Notting Hill, na verda-de, até o final dos anos 50, era tachado como bairro de confli-tos, um lugar rural e margina-lizado. Esteve esquecido por muito tempo até que estúdios britânicos e hollywoodianos resolveram alçá-lo à fama. A partir daí, ir a Londres e não visitar Notting Hill é algo mais ou menos como ir a Roma e não ver o Coliseu. Trata-se de um lugar bem interessante quando o assunto é ver lojas que comercializam os mais variados produtos.
Por outro lado, como não falar do Soho, esse bairro que mistura o melhor e o pior de Londres, e talvez por isso mesmo chame tanto a atenção dos turistas. E a razão de tantas diferen-ças pode ser explicada nas sucessivas levas de imigrantes que, durante muitas décadas, a partir do século XVIII mais ou menos, desembarcavam na cidade em busca de um lugar para se esta-belecer. Pessoas chegadas de todas as partes que davam um tom multicultural ao bairro e que, com isso, começaram a atrair o meio artístico e literário. Porque Soho é feito principalmente dis-so, dessa “massa” diversificada que tanto inspira e seduz a boemia: intensa vida noturna, cultura e diversão em meio à sex shops, boutiques e ca-feterias.
A rota do conhecimento
Sem dúvidas, Londres oferece a maior oferta de museus do mundo, sobre os mais di-ferentes temas – arqueologia, ciências, história, tecnologia e um longo etc. O roteiro acaba sen-do uma grande oportunidade para que pessoas com os mais variados interesses e gostos se di-virtam e dêem mais produtividade aos inumerá-veis dias cinzentos.
A lista é interminável, porém podemos priorizar os mais interessantes e, logo, caso so-bre tempo, realizar uma pequena excursão pe-los mais modestos (muitos deles gratuitos, inclu-
sive).
British Museum é um dos maiores e mais importantes do
mundo, costuma ser também o mais visitado pelos turistas. O trio National History Museum, Victoria & Albert Museum e Science Museum são imper-díveis e estão um ao lado do
outro. Abrigam desde peças de história natural, passando
por tesouros históricos e objetos de todos os ramos da ciência. Outro
que certamente vale a pena é o Museu de Cera de Madame Tussaud, onde encontramos personalidades famosas, perfeitamente repro-duzidas, e que sem pensar nos invade o desejo de imortalizar em centenas de fotografias.
O melhor conselho para dar conta de toda essa rota e não arruinar o orçamento é comprar um London Pass, um cartão que dá direito a usufruir da maioria das atrações turísticas por um preço muito mais econômico. O London Pass pode ser adquirido para um, três ou seis dias, dependendo do tempo que cada um tem dispo-nível na cidade. Serve tanto para museus como para conhecer outros pontos emblemáticos, em um total de 55 atrações. Buckingham Palace, St.Paul’s Cathedral, London Bridge, Tower Brid-ge, Shakespeare’s Globe Theatre, entre muitos outros, fazem parte deste pacote.
Há cerca de 260 km de Londres,
em Oldham, em julho de 1978, nasceu Louise Brown, o primeiro bebê de
fertilização in vitro do mundo.
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Cinema aborda reprodução assistida
O tratamento da infertilidade conjugal. O
congelamento de óvulos para preservação da
fertilidade. A barriga de aluguel. A doação de
sêmen. O campo da reprodução assistida é
fértil para os cientistas e parece ser também, e
cada vez mais, para os cineastas. Nos últimos
anos, muitas produções ganharam a telona com
histórias que envolvem técnicas de reprodução
assistida. Algumas vezes, elas estão no centro
da narrativa. Em outras, servem como pano de
fundo para a ação dos personagens.
Os conflitos de quem passa por
um tratamento de infertilidade realmente
emocionam. A busca pela realização do sonho
de ter filhos é permeada por sentimentos
intensos. Quando um casal externa este
desejo, demonstra que está disposto a um
comprometimento para a vida inteira, sem
concessões. Certamente temos aí um assunto
que ultrapassa a superficialidade de nossos
desejos cotidianos. E o cinema tem sabido
explorá-lo com emoção e beleza.
FERTILIDADE E CULTURA
O filme “Plano B”, de 2010, abor-
da a vontade de Zoe (personagem vivida
por Jennifer Lopez) ser mãe. Na falta de
um companheiro, Zoe decide procurar um
especialista em reprodução humana para
uma possível gravidez. Depois de recorrer
a um banco de sêmen, a personagem en-
gravida por inseminação artificial, disposta
a criar o filho sozinha.
No mesmo dia em que recebe o re-
sultado positivo, Zoe conhece o homem
dos seus sonhos, Stan, personagem de
Produção independente
Alex O’Loughlin. As idas e
vindas do relacionamento,
permeadas por momentos
hilários, dão o tom desta
comédia, que consegue
equilibrar sensibilidade e
muitas risadas.
“A produção inde-
pendente é uma marca de
nosso tempo. Mas, mais do
que ela, o que vemos é mu-
lheres que precisam deixar
a gravidez para mais tarde,
por motivos pessoais ou
profissionais. É cada vez
maior o número de mulhe-
res solteiras que optam pelo congelamento
de óvulos para preservar sua fertilidade até
que chegue o momento propício”, salienta
o médico Alvaro Petracco, diretor do Fer-
tilitat. “O que é importante lembrar é que
dificilmente surge um momento ideal para
a gravidez. Muitas mulheres esperam de-
mais por esse momento, querem realizar
antes todos os seus projetos, e o tempo é
implacável com a fertilidade feminina”, aler-
ta Petracco.
38
Em um drama comovente, “Uma pro-
va de amor” relata a luta de Sara, persona-
gem de Cameron Diaz, para salvar a vida
de sua filha Kate, que sofre de leucemia.
Como uma de suas últimas alternativas,
Sara e o marido, Brian (Jason Patric) optam
por fazer uma fertilização in vitro e transfor-
mar a criança em doadora. A menina Anna,
vivida por Abigail Breslin, desde bebê doa
sangue e medula óssea para a irmã que,
infelizmente, não vê seu quadro se alterar.
Quando chega a adolescência, Anna
se revolta com a situação e entra na justiça
para alcançar sua “emancipação médica” –
ela quer ter controle sobre o próprio corpo.
“O tema é polêmico e suscita uma série de
abordagens. De um lado, temos os pais que
lutam incessantemente pela vida da filha.
De outro, uma adolescente que não se sen-
te respeitada, mesmo sabendo que a bus-
ca dos pais é digna. Nestes casos, o que
deve prevalecer é sempre o respeito pelo
ser humano”, aponta Mariangela Badalotti,
diretora do Fertilitat.
Para segurar o casamento
Para salvar uma vida
No drama “Match Point”, de woody Al-
len, a gravidez é um sonho de Chloe (Emily
Mortimer), que atribui a crise de seu casa-
mento com Chris (Jonathan Rhys Meyers)
ao fato de ainda não terem filhos. O que ela
não sabe é que Chris vive uma relação ex-
traconjugal com Nola (Scarlett Johansson),
ex-namorada de seu irmão.
Chris e Chloe iniciam um tratamento
de reprodução assistida e ela fica comple-
tamente obcecada pela idéia de engravi-
dar o quanto antes. As relações sexuais do
casal ficam comprometidas, restritas aos
momentos com maior probabilidade de fe-
cundação. O tratamento de reprodução as-
sistida é um fato paralelo à trama principal,
que envolve, além do adultério, crimes e in-
vestigação policial.
“Quando um casal inicia o tratamen-
to da infertilidade, precisa estar atento a
seu relacionamento. Há o desejo genuíno
de que, em seguida, nasçam um pai e uma
mãe. Mas o relacionamento homem-mulher
não deve ser deixado de lado. Pelo bem do
casal e também do filho que virá”, expli-
ca Alvaro Petracco. “Não vamos entrar na
questão do adultério, porque certamente a
reprodução assistida não estaria indicada
para o casal do filme. Os problemas fami-
liares devem ser resolvidos antes da busca
por um bebê”, salienta.
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39
VINHOS
Segundo Andrew Jefford, crítico de vinhos
inglês, a casta tinta pinot noir é a poetisa român-
tica, a temperamental.
Vamos conversar um pouco sobre ela. Ser-
rana Verges, cronista sobre vinhos no Chile, diz
que essa uva “poderia ser definida como uma
mulher sensual e elegante, porém, esquiva e ins-
tável. Poucos podem conquistá-la e obter dela o
melhor”. A enorme capacidade da pinot noir de
produzir clones faz com que se mostre diferente
em cada região segundo: tamanho dos bagos,
intensidade de cor, aromas e taninos, de modo
que dificilmente seus vinhos têm, em outros sí-
tios, a mesma grandiosidade que na sua terra
natal, a Borgonha (França). É a grande uva tin-
ta da Borgonha. Chegariam perto dos produtos
de lá, em termos de qualidade, os neozelande-
A temperamental e a onipresenteGerson Lopes
Ginecologista e sexólogo, editor do site www.vinhoesexualidade.com.br.
ses das regiões de Martinborough, Canterbury
e Central Otago e os americanos da Califórnia
(Napa/Russian River Valley) e do Oregon (willa-
mette).
Apesar de o seu nome remeter à Borgo-
nha, atualmente a pinot noir é muito popular,
sendo plantada (apesar das dificuldades) em
vários países do mundo, do velho e do novo
continente. No seu país de origem, podemos
garimpar excelentes vinhos feitos com ela na
região de Loire, assim como bons exemplares
na Alsácia e Languedoc. A PN
é cultivada também na região
de Champagne e faz parte do
corte (mistura com outras va-
riedades) que resulta na bebi-
da que leva esse nome.
Há também bons vi-
nhos dessa casta em Portu-
gal (Bairrada), Itália (Alto Adi-
ge), Espanha (Somontano) e
Alemanha (Pfalz). Na Itália, é
conhecida como pinot Nero, e
na Alemanha como spätbur-
gunder. No novo mundo, além
da Nova Zelândia e dos EUA,
surpreende cada vez mais
a produção do Chile (Casa-
blanca/San Antonio, Límari e
Bio-Bio), Argentina (Mendoza
e Patagônia) e Austrália tam-
bém apresenta muito bons
exemplares.
No Velho Mundo, os vinhos pinot noir se
mostram mais complexos, com notas terrosas,
cogumelos, fumo, chá e especiarias, além da
acidez característica, ao passo que os do Novo
Mundo são mais frutados (frutas vermelhas su-
culentas), com toques florais e algo terroso.
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A culinária gaúcha conta com um dos chefs de cozinha mais refinados do
estado. Nascido na França, Phillippe Remondeau iniciou sua vida gastronômica
ainda na infância. Seus pais possuíam um restaurante e por estar sempre no
meio da cozinha e hotelaria, acabou tomando gosto pela gastronomia. Sua
trajetória iniciou aos 16 anos, quando começou a cursar o Centro Profissional
de Formação de Aprendiz de Cozinha, na França. Ao mesmo tempo, Phillippe
adquiria experiência trabalhando em restaurantes. Após outras especializações,
conquistou o certificado de cozinheiro.
Phillippe, que já trabalhou na França e Inglaterra, é proprietário do
Restaurante Chez Phillippe, há 10 anos. Além disso, o chef já lançou o livro
“Gastronomia Francesa Philippe Remondeau: 90 receitas francesas com sotaque
brasileiro”, e ministra cursos para interessados em gastronomia. “Também
organizo grupos com roteiros gastronômicos pela França. Quero proporcionar aos
gourmets a oportunidade de conhecer um pouco mais da gastronomia francesa”,
afirma.
Da França para o Brasil
GASTRONOMIA
Para o molho
Levar ao fogo o suco de maracujá (com as sementes), o caldo de peixe e o buque garni. Reduzir.
Retirar o buque garni e metade das sementes do marcaujá.
Adicionar a manteiga sem deixar ferver.
Temperar com sal e pimenta do reino.
Modo de preparoIngredientes
• 800 gramas de filé de peixe
• 1 maracujá azedo
• 300 ml de caldo de peixe
• 10 gramas de manteiga
• Sal
• Pimenta do reino
• Buque garni
Filé de peixe ao molho de maracujá com gnocchi de batata doce
Para o peixe
Temperar com sal e pimenta do reino
Grelhar cada pedaço dos dois lados.
Dica do Chef
Utilizar peixes frescos da estação, como robalo, namorado, salmão, cherne, entre outros.
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CRÔNICA
Mesa farta, casa cheia, gente feliz e falando alto. Quando eu era criança não dava muito valor para esses momentos em família. Até que mudei de cidade e passei a morar sozinha. A solidão encheu meu coração de tristeza. Os almoços passaram a ser silenciosos e muitas vezes me vi olhando com inveja para pais e filhos que se divertiam no shopping.
A idade avançava e o desejo de formar minha própria família se fortalecia. Toda vez que via um bebê sentia que o instinto materno se manifestava.
Quando vi meu filho Joaquim pela primeira vez, logo depois do parto, imediatamente lembrei de tudo isso. Não estava mais só no mundo e nunca mais iria sentir aquele vazio interior. Ainda meio anestesiada, chorei. De alegria, de medo, de ansiedade. Meu sonho finalmente se tornava realidade. Mas o que viria pela frente?
Nossos primeiros dias juntos foram cheios de dúvidas. Apesar da convivência íntima de nove meses de gestação, ainda parecíamos
E agora, mamãe?Shirlei Paravisi
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desconhecidos um para o outro. Lembro que quando cheguei do hospital olhei para minha mãe e disse: “O que faço agora?” Não sabia como agir diante daquela pessoa diferente dentro da minha casa.
Foi preciso um tempo para me ambientar com a nova rotina. Aliás, uma rotina desafiante. Noites em claro, dias de muito sono, limitações físicas e uma fragilidade emocional. Muitas vezes me perguntei se estava preparada para ter um filho, apesar de ter desejado isso com todas as minhas forças.
Mas a natureza é sábia. A convivência foi me ensinando a ser mãe. Aos poucos passei a compreender os mais sutis sinais do meu pequeno. Muita coisa foi resolvida (e ainda é) apenas com o calor do toque, com a profundidade do olhar, com a vontade de fazer o bem.
Por vezes o coração fica apertado diante de situações inesperadas. Febre alta, choro compulsivo, dor, uma alergia que insiste em fazer companhia. Como ajudar? Como manter a calma? Nem sempre acerto. E nessas horas penso que nossos bebês têm uma incrível capacidade de perdoar nossa insegurança.
No final, tudo acaba bem. Aos poucos a rotina fica mais leve. Deixamos de lado o peso da responsabilidade e desfrutamos o prazer de ver aquele serzinho enchendo o mundo de alegria e sinceridade. O sorriso do Joaquim, que está com um ano e quatro meses, é como um sopro de esperança. A vida é mais simples e prazerosa do que antes. Quem tem um filho redescobre a felicidade.
Foto: Arquivo Pessoal
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