revista fertilitat

44
Revista semestral do Fertilitat - Centro de Medicina Reprodutiva • Nº 05 • 2011 Fertilitat: 20 anos gerando vidas Pioneirismo marca a história da clínica Aspectos éticos do útero de substituição Quais os riscos de adiar a maternidade? A importância dos cuidados pré-concepcionais Principais dúvidas sobre reprodução humana

Upload: fabrika-de-propaganda

Post on 22-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Revista sobre fertilidade do Centro de Medicina Reprodutiva - Fertilitat.

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Fertilitat

Revista semestral do Fertilitat - Centro de Medicina Reprodutiva • Nº 05 • 2011

Fertilitat: 20 anos

gerando vidas

Pioneirismo marca a história da clínica

Aspectos éticos do útero de substituição

Quais os riscos de adiar a maternidade?

A importância dos cuidados pré-concepcionais

Principais dúvidas sobre reprodução humana

Page 2: Revista Fertilitat
Page 3: Revista Fertilitat

Expediente

Conselho Editorial

Mariangela BadalottiAlvaro PetraccoDébora Farinati

ISSN: 2178-3837

Fertilitat Centro de Medicina Reprodutiva

Av. Ipiranga, 6690, conj. 801Porto Alegre - RSFone: 51 3339 1142www.fertilitat.com.br

Redação e Edição Usina de Notícias

Projeto Gráfico e Diagramação Fábrika de Propaganda

Capa Arte sobre foto Shutterstock

Editorial

O ano de 2011 é muito especial para o Fertilitat. Estamos completando 20 anos. São 20 anos de trabalho, de conquistas e realizações. Vinte anos de aquisição e aplicação de conhecimento, de pesquisas e resultados. Vinte anos de afeto, sorrisos e novas vidas.

Queremos compartilhar com os leitores da Revista Fertilitat – Ciência & Atualidade nossa satisfação com o caminho trilhado até aqui. Quando iniciamos a clínica, em 1991, após três anos de trabalho, a reprodução assistida era uma área pouco conhecida em nosso país. A ideia de conceber um bebê em laboratório parecia algo muito distante.

Para nós, não era. Em 1989, fomos os responsáveis pelo nascimento do menino Alvaro Santos, primeiro bebê de reprodução assistida do Rio Grande do Sul. Na época, ainda éramos o Grupo de Fertilização Assistida (GFA), mas tínhamos plena confiança na importância das técnicas com as quais estávamos trabalhando. O Fertilitat nasceu, então, já com a base sólida de um resultado de sucesso.

Facilitar o caminho para a realização do sonho de ter filhos para casais com o diagnóstico de infertilidade é o objetivo que nos move. Para isso trabalhamos, pesquisamos, estudamos e investimos. Nesses 20 anos, alcançamos conquistas importantes, uma prova de que nossos esforços têm sido plenamente recompensados.

Em 1994, como resultado do trabalho do Fertilitat, aconteceu a primeira gravidez com espermatozóide extraído do epidídimo da América Latina. Em 2002, fomos responsáveis pelo nascimento do primeiro bebê por congelamento de óvulos – técnica lenta – do Brasil. O pioneirismo tem sido marca constante da clínica, resultado de nosso empenho em oferecer sempre o melhor aos nossos pacientes, em termos de atendimento, tecnologia e atualização científica.

Esta edição da Revista Fertilitat que você tem em mãos é especial – ela registra nossa história. Além disso, como de costume, traz assuntos de interesse de médicos e pacientes sobre reprodução humana. Compusemos uma pauta que deve responder a questões que surgem diariamente nos consultórios quando o tema é reprodução assistida. Ao lado deles, matérias sobre cultura, gastronomia e viagem integram essa edição.

Boa leitura!

Page 4: Revista Fertilitat

Índice5Seção de Cartas

23Especial 20 anos

32Desvendando a reprodução assistida

30O bebê chegou

36Londres – metrópole de multiculturalidade

38Cinema aborda reprodução assistida

41Gastronomia

40Vinhos

42E agora, mamãe?

21Oncofertilidade

6Útero de substituição

8Infertilidade masculina

10Maternidade tardia

11Fertilitat no Dia da Mulher

12Eu fiz reprodução assistida

14Obesidade e infertilidade

18Perfil

16Cuidados pré-concepcionais

34Direito Reprodutivo e infertilidade

22Reprodução na rede

4

Page 5: Revista Fertilitat

Olá, Amigos do Fertilitat,

A família Ribeiro Schenk está radiante com

a chegada do Pedro e gostaríamos de com-

partilhar desta alegria com vocês que fize-

ram a diferença nas nossas vidas.

A gestação foi muito tranquila e no dia 19

de maio às 6h da manhã a bolsa estourou.

Tentamos parto normal, mas não houve di-

latação suficiente. Fomos para a cesárea e

o medo e a ansiedade foram sendo dissi-

pados à medida que o Pedro chegava. Às

17h21, o Pedro deu seu primeiro suspiro

neste mundo e nós demos nosso primeiro

suspiro de amor incondicional.

Agora estamos aprendendo a ser pai e mãe.

Cada segundo, cada minuto, instante de

nossas vidas jamais será o mesmo.

Obrigada a toda equipe do Fertilitat pela de-

dicação, carinho e principalmente por con-

tinuar estudando e pesquisando o grande

milagre que é a vida, proporcionando esta

benção àqueles que a buscam.

Assim que possível, a nova família fará uma

visita!

Com carinho,

Mario Cezar, Tricia e Pedro

CARTAS

Equipe Fertilitat!!!

Gostaríamos de agradecer a dedicação,

vocês fazem parte deste sonho. Esta-

mos enviando fotos da nossa linda filha

Ana Carolina Severo Garcia Gomes.

Um forte abraço.

Papai Filipe Fialho Gomes e Mamãe

Marcia Severo Garcia

Escreva para nós!

Este espaço é seu. Colabore, envie sua mensagem, suas fotos e desenhos das crianças. Conte

sua história, comente nossas matérias e artigos. Queremos muito ouvir o que você tem a nos

dizer. Envie sua mensagem para [email protected].

Fot

os: A

rqui

vo P

esso

al

5

Page 6: Revista Fertilitat

ARTIGO

Útero de substituição, também denomi-nado gestação ou maternidade substitutiva, é a situação em que uma mulher engravida para ou-tra, em geral para um casal, que criará a criança a partir do nascimento. A ideia de uma mulher gestar um filho para um casal em que a mulher é estéril é bas-tante antiga, sendo referida na Bíblia, no Antigo Testamento: Abraão, então com 90 anos, instruí-do por Sara, sua esposa que era infértil, procura uma escrava, chamada Hagar, para ter um filho; nasce Ismael (Genesis 16, 1-15). Em outra pas-sagem bíblica, Rachel também usa sua escrava para dar um filho a Jacó (Genesis 30). Tecnicamente, útero / gestação / mater-nidade de substituição é a inseminação artificial ou a transferência de embriões fertilizados in vi-tro, para o útero de uma mulher que entregará a criança, ao nascer, ao casal que quer o filho. Nos tempos da reprodução assistida, o primeiro nascimento por maternidade substitutiva ocor-reu em 1978, fruto de inseminação artificial. O primeiro relato por fertilização in vitro é de 1985.

A maternidade substitutiva pode ser divi-dida em dois tipos: gestacional e tradicional. Na maternidade substitutiva tradicional ou parcial a criança gerada terá relação genética com a mu-lher que gestou, pois ela contribui também com o óvulo. O procedimento pode ocorrer por inse-minação artificial ou FIV, com o esperma do pai (ou de doador). Na gestação ou maternidade substitutiva total, ou FIV de substituição, a criança não será geneticamente relacionada à gestante. Através de FIV, são transferidos embriões obtidos com os gametas do casal que solicita a gravidez (ou de doadores). Este assunto gera controvérsia tanto na sociedade quanto no meio médico. Os argumen-tos a favor do procedimento são que esse ar-ranjo pode beneficiar as duas partes, e proibí-lo seria limitar a autonomia do casal infértil e das substitutas; o fato de a infertilidade e o sofrimen-to resultante serem injustos; a falta de solução

alternativa; as dificuldades da adoção; e o fato de ser a única alternativa de parentalidade gené-tica. As objeções referem-se à seleção da substi-tuta (vínculo comercial ou familiar) – a gestação substitutiva pode ser um ato de generosidade e altruísmo, ou ter finalidade apenas lucrativa; à preocupação sobre a possibilidade de explora-ção de mulheres economicamente vulneráveis, que não avaliariam adequadamente os riscos do procedimento em função da vantagem econômi-ca; aos riscos do procedimento; à possibilidade de haver disputa ou abandono do nascituro; aos possíveis malefícios para filhos já existentes e à presença de um terceiro elemento na relação conjugal, levando à perda de privacidade/intimi-dade. Quando da utilização das técnicas de re-produção assistida, em geral, deve-se levar em conta a proibição de toda e qualquer conduta que sugira a possibilidade da pessoa humana ser tratada como ‘coisa’, em respeito ao princí-pio da dignidade humana. Isto tem importância especialmente nos casos que envolvem a mater-nidade de substituição, tendo em vista que a ins-trumentalização da pessoa humana pode fazer com que ela seja tratada como meio e não como fim em si mesma. A maioria dos países não permite o pa-gamento da substituta, somente dos gastos com a gravidez; porém, alguns consideram aceitável tal remuneração. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda que as doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco de até se-gundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. Desta forma, a utilização temporária do útero não terá caráter lucrativo ou comercial. Na mes-ma resolução, o CFM determina que a doação de gametas deve ser anônima; consequente-mente não é permitida a utilização dos óvulos da substituta. Em relação ao casal que busca o filho, de-ve-se fazer uma revisão de todas as alternativas

Útero de substituiçãoMariangela Badalotti, Diretora do Fertilitat e Professora Doutora da Faculdade de Medicina da PUCRS

6

Page 7: Revista Fertilitat

de tratamento; avaliar a possibilidade de adoção em vez de útero de substituição; discutir os limi-tes de sucesso da técnica e as implicações de não ter filhos no futuro; esclarecer a totalidade dos custos do tratamento; expor os potenciais riscos psicológicos do nascituro, a curto e longo prazo; levar à reflexão sobre a possibilidade de a substituta não querer entregar a criança após o nascimento e ponderar sobre o grau de envolvi-mento que a mesma e sua família possam querer ter com o nascituro; alertar sobre a possibilidade de a criança nascer com alguma malformação; orientar sobre a importância de um aconselha-mento jurídico. Na discussão com a possível gestan-te substitutiva devem ser profundamente abor-dados os riscos médicos de uma gravidez e os potenciais riscos psicológicos da gestação subs-titutiva, diante do fato da entrega do bebê ao nascer; a possibilidade de vínculo e de querer ficar com o bebê; a chance e as implicações de gravidez múltipla; a repercussão que pode haver sobre seus filhos – o que sabem, como serão preparados, que acordos foram feitas e como os pais irão lidar com preocupações, como apego, perda, separação, ansiedade e ciúme. Também deve haver discussão sobre a motivação da substituta, com o intuito de evitar exploração ou coação emocional. No caso da possível gestante ser casada ou ter relacionamento estável, é fun-damental que o parceiro esteja totalmente envol-vido com o projeto. Consideramos que a maternidade de substituição é eticamente aceitável se for indica-da por questões médicas, se não houver paga-mento à substituta além da cobertura das des-pesas, se a gestante substituta for protegida de forma a não ser explorada, e se o bem-estar da criança nascida e das existentes for levado em conta em todos os momentos. Todas as partes envolvidas devem ser exaustivamente esclareci-das sobre possíveis riscos e consequências do procedimento. F

oto:

Shu

tters

tock

7

Page 8: Revista Fertilitat

ARTIGO

Infertilidade masculina: o progresso de duas décadas

Efetivamente o percentual de homens in-férteis e ou sub-férteis aumentou nas últimas duas décadas. Em contrapartida o arsenal se-miótico e terapêutico patenteia tamanha exube-rância a tal ponto que, na atualidade, poucos homens não terão prole. Como consequência, o número da população masculina outrora por-tadora de “infertilidade idiopática” ou causa desconhecida sofreu expressivo decréscimo.

Do ponto de vista da fisiologia testicular, admitia-se que a fabricação de um esperma-tozóide demandava mais de 70 dias e hoje há definitiva prova que dura não mais do que 64. Houve também a incontestável comprovação da presença de espermatozóide móvel e apto para reprodução no interior do testículo, sem transitar pelo epidídimo.

A biópsia testicular efetuada em indiví-duos que não ostentavam espermatozóides no ejaculado (azoospérmicos) era normalmente efetuada em um lugar somente do testículo. Descobriu-se que a gônada masculina pode ter padrão mosaico, ou seja, é capaz de produzir espermatozóide em um determinado espaço e em outro, não. Este fato determinou uma verda-deira revolução no tratamento do homem infértil requerendo coletas em múltiplos locais do testí-culo, sob microscopia, com aumento mínimo de 14 vezes. A presente tática denomina-se Micro-TESE, a qual propicia a localização específica para o resgate de células germinativas e seu uso na fertilização assistida.

O então denominado marcador testicu-lar, FSH, elevado em 3 a 4 vezes, associado à biópsia testicular negativa, efetuada em um único local, encaminhava o casal para adoção ou banco de sêmen. Hoje, a ciência oferece ou-tro marcador, a Inibina B, que, quando normal, acena com quase 50% de chance de paternida-de para esta população masculina com azoos-permia não obstrusiva (NOA).

O progresso científico esclareceu o im-pacto de vários fatores de risco para a pater-

Claudio Telöken – Urologista responsável pelo setor de Andrologia do Fertilitat, Professor Doutor e Livre-Docente de Urologia da UFCSPA

nidade, tais como faixa etária, estilo de vida e meio ambiente. Há 20 anos, acreditava-se que a idade paterna nada influenciava na reprodu-ção humana. Entretanto, há sobejas provas de que o envelhecimento masculino está asso-ciado ao aumento da aneuploidia espermática bem como diminuição da motilidade e volume do ejaculado. O risco de um homem acima de 40 anos gerar um filho com mutação autossô-mica dominante é igual a chance de uma mu-lher de 35-40 anos ter um filho com Síndrome de Down. A paternidade acima dos 40 anos proporciona 20% de chance de prole com alte-rações diversas. Além do mais, a fragmentação do DNA espermático é o dobro em homens aci-ma de 45 anos quando comparado com aque-les de 30.

Desventurados aqueles cujo estilo de vida envolve uso do tabaco, andrógenos, dro-gas recreativas (crack, cocaína, óxio, maco-nha), álcool, portadores de focos sépticos, etc. Agrega-se a isto, com efeito multiplicativo, os obesos, sedentários, portadores de apnéia do sono, expostos a pesticidas, etc. Estas circuns-tâncias supramencionadas podem gerar au-mento suprafisiológico de radicais livres (ROS), com aumento na concentração de leucócitos no ejaculado e diminuição de antioxidantes e a estas alterações atribuem-se 30 à 80% do comprometimento da fertilidade masculina pois induz estresse oxidativo (OS).

A fertilização assistida propicia paternida-de à maioria dos azoospérmicos e oligospérmi-cos severos na atualidade. Entretanto, nestes indivíduos deverá se prospectar eventuais ris-cos fetais ou incidência de abortamento.

Um teste que enriqueceu o arsenal semió-tico (não é rotina absoluta) é o da fragmentação do DNA espermático. Eventuais anormalidades no genoma masculino podem ser consecuti-vas ao dano no DNA e causa de infertilidade masculina, independente do padrão seminal. Admite-se que fragmentação abaixo de 20%

8

Page 9: Revista Fertilitat

Claudio Telöken – Urologista responsável pelo setor de Andrologia do Fertilitat, Professor Doutor e Livre-Docente de Urologia da UFCSPA

dos espermatozóides não seja responsabiliza-da por infertilidade, interrupção de gravidez ou falha de fertilização.

Anormalidades cromossômicas, por exem-plo, são responsáveis por 5% dos casos de in-fertilidade masculina e este número atinge até 15%, particularmente na população masculina azoospérmica.

As microdeleções do cromossoma Y (10 a 15% dos homens inférteis) são a maior cau-sa de azoospermia e casos severos de oligos-permia, mesmo que o cariótipo seja normal. A aneuploidia ou número incorreto de cromosso-mas é o erro mais comum entre as anormali-dades cromossômicas nos homens inférteis, especialmente naqueles com NOA.

Por exemplo, a síndrome de Klinefelter, mosaico ou não, prevalece em 5% dos homens com oligospermia severa e 10% dos homens azoospérmicos. Estima-se que 25% dos casos com mosaicismo possuem espermatozóides no ejaculado, enquanto que os não mosaicos podem ter espermatogênese residual nos túbu-los seminíferos. Com o auxílio da captura de espermatozóides no testículo (TESE) e ICSI poderão ter gravidez e este fato era completa-mente ignorado há duas décadas. Obviamente é aconselhável o diagnóstico genético pré-im-plantação (PGD) para certificar-se que a prole não seja aneuplóide.

Em duas décadas, o progresso da gené-tica enriqueceu sobremaneira a investigação do fator masculino de infertilidade, tanto faci-litando a chance de gravidez como rastreando situações que alterariam a prole. A localização do gen CFTR localizado no cromossoma 7 so-fre mutações em 60%–90% dos pacientes com ausência bilateral do deferente (CBAVD) que é uma forma de “obstrução” onde ocorre uma desconexão entre o epidídimo e o ducto ejacu-lador. A paternidade será garantida com ICSI com espermatozóides retirados do epidídimo (PESA) desde que a parceira não seja portado-

ra da mutação CFTR. O gen controlador da glo-bulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG) está envolvido na liberação e concentração dos andrógenos no testículo, os quais são decisivos no processo da espermatogênese.

Curiosamente, comprovou-se a associa-ção da insuficiência estrogênica e espermato-gênese anormal, através da investigação dos gens ESR encontrados no cromossoma 6.

A emergência recente da metabolômi-ca envolveu-se profundamente na infertilidade masculina desde que avalia a expressão de pe-quenos biomarcadores que medem a funciona-lidade da célula. A identificação de metabólitos em fenótipos inférteis desenvolverá novas téc-nicas de diagnóstico e tratamento da infertilida-de masculina.

A metabolômica já está sendo usada para identificar biomarcadores para o estresse oxi-dativo (OS), os quais se correlacionam com a qualidade do ejaculado.

Outro destacado item é a consagração da microcirurgia no que tange à reconstrução do trato reprodutivo masculino (reversão de va-sectomia, resolução de obstrução pós-infecção em epidídimo, reconstrução da via deferencial pós-trauma por arma de fogo, arma branca ou iatrogênica), pela magnificação de imagem, delgados fios (10 ou 11 zero) não reativos, ma-terial cirúrgico delicado e leve, e treinamento à disposição nas residências médicas. A mesma tecnologia microscópica ensejou, com sucesso, o resgate de células germinativas, em diminu-tos “bolsões” intratesticulares não acessados, mesmo à biópsia múltipla e decretou como pa-drão “ouro” o uso a magnificação de imagem para correção de varicocele, evitando iatroge-nia.

As novas técnicas, testadas e confirma-das, auxiliam os profissionais da saúde na bus-ca de paternidade com prole mais sadia, ao mesmo tempo que diminuem significativamente o percentual de infertilidade idiopática. F

oto:

Shu

tters

tock

9

Page 10: Revista Fertilitat

ARTIGO

Pergunte a uma mulher de classe média, na

faixa dos 20, quais seus planos para os próximos 10

anos. Dificilmente, você ouvirá a resposta: “Quero

ser mãe!”. Nesta idade, muitas estão iniciando a

faculdade e ingressando no mercado de trabalho.

Seu foco é o desenvolvimento profissional e não há

nada de errado nisso. Estão planejando suas vidas

de acordo com a realidade de seu tempo. Querem

ser independentes – logo, como planejar filhos

antes de ter uma mínima estabilidade?

Pesquisas apontam que, atualmente,

20% das mulheres esperam até os 35 anos para

iniciar uma família com filhos. Do ponto de vista

da construção de uma carreira exitosa, não há o

que questionar. No entanto, o ovário da mulher,

infelizmente, não acompanhou a revolução social e

comportamental das últimas décadas. Ele continua

envelhecendo na mesma velocidade de sempre. Ou

seja, a partir dos 35 anos, a fertilidade da mulher

começa a diminuir, a partir dos 37 essa queda é

mais acentuada, e é brusca a partir dos 40.

Esse alerta é importante porque, ao lado dos

tantos desejos da mulher contemporânea, e muitas

vezes sobrepondo-se a todos eles, está o sonho de

ser mãe. Ele pode surgir mais tarde, ou, em algumas

pessoas, nunca se manifestar, mas continua sendo

um dos principais projetos de vida de homens e

mulheres. Quem deseja postergar a maternidade

deve estar alerta para alguns cuidados importantes

com a saúde. O mesmo recado vale para os homens

– a fertilidade deles também diminui, embora em

menor proporção.

Evitar o cigarro é uma das primeiras medidas

preventivas. As chances de engravidar diminuem

em 20% para fumantes. É preciso evitar a ingestão

exagerada de álcool e a drogadição, que aumentam

a chance de infertilidade. O uso da camisinha é

fundamental – no Brasil, uma das principais causas

da doença é o fator tubário, decorrente de doenças

sexualmente transmissíveis.

Maternidade tardiaMariangela Badalotti, Diretora do Fertilitat e Professora Doutora da Faculdade de Medicina da PUCRS

Os avanços na área médica têm ampliado

muito as possibilidades de procriação para casais

que enfrentam a infertilidade. O congelamento de

óvulos é uma das técnicas mais valiosas neste

sentido. Muitas mulheres que precisam adiar a

maternidade optam por ele, para manter suas

células jovens e aumentar as chances de engravidar.

No entanto, é errada a idéia de que a

reprodução assistida é garantia de gravidez. Isso

deve ser levado em conta por quem planeja ter

filhos mais tarde. É preciso conhecer os obstáculos

que podem surgir e fazer o possível para preservar

a saúde e a fertilidade, levando em conta os limites

impostos pela idade.

Fot

o: s

tock

.xch

ng /

biew

oef

10

Page 11: Revista Fertilitat

Alvaro Petracco, diretor do Fertilitat, entre Rosane Coimbra

(esq.) e Karin Vasconcellos, da equipe técnica na clínica.

Público expressivo assistiu ao espetáculo, que encantou a todos com um humor inteligente.

Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky no espetáculo Tangos & Tragédias. Revistas e calendários do Fertilitat

em destaque no estande.

Fot

os: H

unte

r F

otog

rafia

11

FERTILITAT NEwS

Fertilitat apoia evento do Dia da Mulher do Leopoldina Juvenil

O Fertilitat foi um dos apoiadores do evento alusivo ao Dia da Mulher da Associação Leopoldina Juvenil. A edição deste ano aconteceu no dia 17 de março e contou com o espetáculo Tangos & Tragédias.

“O Dia da Mulher é especial para nós, pois trabalhamos com um das fases mais importantes de suas vidas – a maternidade. Estar ao lado delas

no Leopoldina foi uma forma de prestar nossa homenagem”, destaca Alvaro Petracco, diretor da clínica, que prestigiou o evento ao lado da esposa Christine Heckmann.

O Fertilitat esteve presente com um estande – houve distribuição de revistas e do calendário da clínica.

Page 12: Revista Fertilitat

FERTILITAT NEwS

Eu fiz reprodução assistida

“Em 2003 descobri que tinha miomas. De

imediato, começamos tratamento aqui em Laje-

ado, mas não obtivemos êxito. Então, uma ami-

ga nos indicou o Fertilitat. Chegando lá, tivemos

consulta com a Dra. Mariangela e começamos o

tratamento.

Fizemos de tudo para tentar acabar com

os miomas. Foram várias injeções, tratamentos,

sete cirurgias e quase 8 anos de frustrações,

pois nada era eficaz contra eles.

Após a última cirurgia, fomos informados

que a única maneira de realizarmos nosso so-

nho era uma “gestação de substituição”. Ficamos

chocados, pois sempre pensamos em ter muitos

filhos. Mas havia uma possibilidade ainda...

Aí começava nossa busca. Quem poderia

ser esta pessoa? Na família, não tínhamos esta

resposta. Então, começamos a pensar e buscar

alguém, que deveria ter várias características,

como por exemplo, já ter filhos, estar em idade

para reprodução, ter a anuência do marido, en-

tre outras. Não era tarefa simples. Comentamos

com diversos amigos. Enfim, após algum tempo

procurando, encontramos a quem podemos cha-

mar de “Anjo”.

“Anjo”, além de se dispor a emprestar a

barriga, durante todo o processo foi quem nos

deu força. Enquanto várias amigas

me diziam que eu estava ficando

louca, ela sempre me apoiou.

Iniciamos então o programa

preparatório. Como não havia grau

de parentesco (irmã ou mãe), o pro-

cedimento necessita ser autorizado

pelo Cremers. Este processo demo-

rou exatamente um ano.

A primeira tentativa foi em ou-

tubro de 2009, com óvulos conge-

lados, mas o resultado foi negativo.

Novamente comecei a tomar me-

dicação para produzir óvulos, mas

meu organismo não respondeu ade-

quadamente ao tratamento. Tivemos

que suspender e reiniciar no próximo ciclo. So-

mente na terceira tentativa é que conseguimos

sete óvulos, dos quais dois foram introduzidos e

os demais congelados.

O resultado veio poucos dias depois: “PO-

SITIVO”. Após tantos desejos, angústias e ten-

são, fomos presenteados com uma gravidez na

segunda tentativa! É uma alegria indescritível.

Logo na realização da primeira ultra-sonografia,

ouvirmos o coraçãozinho do bebê. Foi um mo-

mento mágico, muito emocionante! Não tenho

palavras para descrever o que senti, a emoção

tomou conta de mim.

Em 11 de dezembro de 2010, às 17h15,

nasceu nosso filho, Luiz Eduardo, perfeito e sau-

dável.

Minha história é igual a de muitas mulhe-

res. Quando decidi pela gravidez, apareceram

os problemas, mas, encontrei o Fertilitat para

solucioná-los. Somos muito gratos ao Fertilitat e

a esta amiga, que tornou nossa vida mais com-

pleta e com nova razão para viver.

Nunca desista do seu sonho, por mais im-

possível que ele possa parecer. Mais vale tentar

e falhar do que nada fazer por medo de fracas-

sar.”

Vania, Luiz Eduardo e Beto

12

Page 13: Revista Fertilitat

“A princípio, estávamos nos cuidando para

não ter filhos. Até que alcançamos uma estabili-

dade financeira e resolvemos parar com os meios

anticoncepcionais para acontecer a gravidez. Po-

rém, passaram-se vários meses e descobrimos

que tínhamos algum problema.

No começo, nós achávamos que era somen-

te conosco, que não era comum isso acontecer.

Quando fizemos mais exames com um especialis-

ta em Chapecó e ele nos disse que seria impossí-

vel ter um filho de forma natural, isso nos causou

um baque. Passaram-se alguns dias e ficamos sa-

bendo que um médico, com família em nossa ci-

dade, que era especialista em infertilidade, estava

passeando aqui e fomos conversar com ele sobre

o assunto. Ele olhou nossos exames e nos enca-

minhou a Porto Alegre, pois como eu tinha poucos

espermatozóides e minha esposa havia se tratado

de endometriose, ele nos indicou o Fertilitat.

Então fomos a Porto Alegre. Na clínica, nos

solicitaram todos os exames necessários, poste-

riormente minha esposa iniciou o tratamento. O

tratamento foi muito sofrido, pois era longe, frio,

sem conhecer ninguém na cidade, pela distância,

foram várias viagens em cinco meses e com vá-

rios medicamentos e vários exames pra que as

condições dos óvulos fossem adequadas para a

coleta.

Até que enfim, no mês de novembro de

1996 estava tudo conforme precisava pra efetu-

ar a inseminação. Além dos embriões que foram

transferidos, pudemos congelar e armazenar três,

para caso não tivesse êxito a primeira tentativa de

fertilização in vitro. Mas tudo deu certo já na pri-

meira tentativa.

A gravidez transcorreu normalmente, com

somente um dos embriões, e nove meses depois

nasceu o Gabriel Alessio, no dia 02 de agosto de

1997. O nascimento foi por cesárea, o bebê nas-

ceu perfeito e com muita saúde, e hoje somos

muito felizes e realizados por essa conquista de

um filho que a princípio parecia ser impossível

mediante as condições e também pela desinfor-

mação. Mas tudo deu certo, graças a Deus e a

toda a equipe médica do Fertilitat, que agradece-

mos de coração.”

Volmar, Gabriel e Reni

Fot

os: A

rqui

vo P

esso

al

13

Page 14: Revista Fertilitat

14

Obesidade e SOP: repercussões sobre a fertilidade

ARTIGO

O sobrepeso e a obesidade têm sido con-

siderados um problema de saúde pública em

todo o mundo devido às complicações represen-

tadas pelo diabete não insulinodependente, en-

fermidade cardiovascular, câncer, doenças gras-

trointestinais, artrite e infertilidade.

A associação entre obesidade e infertilida-

de é conhecida de longa data. Coube a Irwine

Stein e Michel Leventhal, em 1935, a descrição

de uma síndrome caracterizada pela presença

de ovários policísticos, sinais de amenorreia, hir-

sutismo e obesidade.

A irregularidade ou ausência de menstru-

ações é sintoma secundário à disfunção do eixo

endócrino nas pacientes obesas com síndrome

dos ovários policísticos (SOP), onde não raro há

dissociação na secreção de gonadotrofinas, com

ou sem resistência periférica à insulina, levando

à infertilidade por anovulação em 51% destas

pacientes.

Por outro lado, pacientes obesas com ci-

clos regulares apresentam menor índice de ges-

tação espontânea e maior índice de abortamen-

to. Ainda que a etiopatogenia dessa situação

seja discutível, acredita-se que níveis elevados

de hormônio luteinizante (LH) possam estar

associados a abortamento precoce e mesmo

a abortamentos de repetição, por alteração na

qualidade oocitária.

Outro aspecto que parece implicado na re-

dução da fertilidade é a resistência à insulina,

que leva à diminuição do insulin-like growth fac-

tor binding protein 1(IGFbp1) e da glicodelina. A

IGFBP-1 é conhecida por proteína placentária

12 (pp12), é produzida pelo endométrio e pela

decídua, e apresenta atividade parácrina que

promove adesão na interface feto-materna du-

rante o período de implantação. Já a glicodelina,

conhecida por proteína placentária 14 (pp14),

também é produzida pelo endométrio e pela de-

cídua, e apresenta importante atividade imunos-

supressora que, acredita-se, seja um fator faci-

litador do processo de implantação por inibir a

resposta imune endometrial à presença do em-

brião. Assim a resistência à insulina contribuiria

para a inibição da implantação, além de levar ao

aumento do fator inibidor do plasminogênio (PAI-

1), responsável pelo estado trombofílico dos

abortamentos.

A perda de 5-10% do peso restabelece a

ovulação em 55-100% dos casos de disovulia,

além de reduzir a resistência à insulina e favo-

recer a resposta à indução medicamentosa da

ovulação.

Ainda que o tratamento da obesidade deva

ser sempre multidisciplinar, o ponto de partida é

a mudança no estilo de vida: dieta e atividade fí-

sica. Não há consenso sobre a dieta ideal, ainda

que a proposta de dieta hipocalórica com baixo

índice glicêmico pareça ser a mais adequada. Já

a atividade física deve ser orientada por profis-

sional da área, com exercícios diários de mode-

rada intensidade e baixo impacto.

A prescrição de medicamentos adjuvantes

como o orlistat – bloqueador da lipase gástrica e

duodenal – pode ter indicação. Estudos mostram

perda de 3% de peso em 6 meses de tratamento

associado à dieta hipocalórica e hipolipídica.

Na necessidade de correção medicamen-

tosa da anovulação, a droga de eleição é o citra-

to de clomifene que restabelece a ovulação em

80% das pacientes com 40% de gravidez em 6

ciclos de tratamento.

Outra opção medicamentosa é a metfor-

mina, droga sensibilizadora da insulina, que

Alvaro Petracco, diretor do Fertilitat e Professor Doutor da Faculdade de Medicina da PUCRS

Page 15: Revista Fertilitat

15

pode ajudar na diminuição do índice de massa

corporal e cujo uso contínuo de 500 – 1500 mg

restabelece os ciclos menstruais em pacientes

resistentes ao citrato de clomifene.

Outra abordagem terapêutica, ainda que

discutível, mas largamente utilizada especial-

mente pela escola francesa, é o drilling ovariano

por laparoscopia, cujo mecanismo de ação per-

manece obscuro, mas nota-se nítida diminuição

dos níveis de LH e melhora do perfil androgênico

das pacientes. Gomel demonstrou que pacientes

obesas com SOP e resistentes a citrato de clo-

mifene apresentam 56-94% de ciclos ovulatórios

e 43-84% de gravidez após o drilling.

A reprodução assistida fica reservada a

casos especiais, especialmente onde existe

associação com outras causas de infertilidade.

Nesta situação, a estimulação ovariana contro-

lada para fertilização in vitro deve ser cuidado-

sa pelo risco da síndrome de hiperestimulação

ovariana. Com o objetivo de minorar este risco,

tem sido proposto a maturação in vitro de oócitos

e posterior fertilização com injeção intracitoplas-

mática de espermatozóides, porém o resultado

ainda é considerado pouco alentador.

Independente das possibilidades terapêu-

ticas para corrigir a anovulação, causa da infer-

tilidade da paciente obesa, é dever do gineco-

logista ter especial atenção ao peso no período

peripuberal.

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

Page 16: Revista Fertilitat

ARTIGO

Cuidados pré-concepcionais para prevenção de anormalidades congênitas e complicações perinatais

O aconselhamento pré-concepcional é

uma oportunidade para proporcionar informa-

ções e orientações que podem contribuir para

uma gestação mais tranquila e para o nasci-

mento de um bebê saudável. O planejamento

torna possível adotar medidas que diminuam

os riscos de desfechos reprodutivos adversos,

melhorando a saúde da mãe e do bebê.

O período periconcepcional inicia no mo-

mento em que as medidas anticoncepcionais

são suspensas. Os principais objetivos do cui-

dado periconcepcional são melhorar a saúde

da mulher de uma forma geral, reduzir os fa-

tores de risco para desfechos gestacionais ad-

versos, informar e aconselhar os futuros pais,

permitindo escolhas mais saudáveis.

Diversos países têm desenvolvido es-

tratégias para disponibilizar o atendimento

pré-concepcional para a população em geral

como uma importante medida de saúde públi-

ca e individual.

DOENÇAS MATERNAS CRÔNICAS

O tratamento de doenças crônicas, como

diabete, hipotireoidismo, hipertensão, epilep-

sia, tromboembolismo, depressão e ansiedade

deve ser revisado e modificado, se necessá-

rio, antes do início da gestação. Por exemplo,

sabe-se que o controle adequado do diabete

materno no período periconcepcional diminui

significativamente a ocorrência de defeitos

congênitos e complicações obstétricas.

DOENÇAS GENÉTICAS

Na avaliação pré-concepcional, deve-se

investigar histórico de doenças genéticas nas

famílias do casal, para identificar patologias

hereditárias que necessitem do apoio de um

geneticista clínico no planejamento das toma-

Maria Teresa Vieira Sanseverino – Geneticista do Fertilitat

das de decisões antes e durante a gestação.

Em muitos casos de história de doença

gênica na família, como por exemplo, na fi-

brose cística, é possível determinar se um ou

ambos os pais são portadores de mutações,

tornando possível o aconselhamento preciso

quanto aos riscos de recorrência e quanto ao

diagnóstico pré-implantacional e pré-natal.

USO PERICONCEPCIONAL

DE ÁCIDO FÓLICO

O uso do ácido fólico, iniciado antes da

concepção e até as 12 semanas, tem um for-

te efeito protetor, reduzindo em até 70% a in-

cidência de defeitos de tubo neural (DFTN),

como anencefalia e espinha bífida.

O ácido fólico é uma vitamina hidrosso-

lúvel do grupo B, sendo encontrada em folhas

verdes principalmente. No Brasil e em diversos

países, a farinha de trigo e de milho é fortifica-

da com ácido fólico para disponibilizar níveis

mais adequados desta vitamina e proteger

os bebês mesmo em gestações não planeja-

das. No entanto, a quantidade de ácido fólico

necessária para a prevenção de DFTN não é

atingida por nenhum regime dietético, justifi-

cando-se assim a sua suplementação através

de comprimidos de uso diário para qualquer

mulher planejando gestar.

ESTADO NUTRICIONAL

A alteração do estado nutricional é um

dos principais fatores de risco obstétrico po-

tencialmente removível no aconselhamento

pré-concepcional.

A prevalência da obesidade tem aumen-

tado em mulheres em idade reprodutiva, tor-

nando o sobrepeso um dos fatores de risco

obstétrico mais comuns. Mesmo o sobrepeso

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

16

Page 17: Revista Fertilitat

moderado é um fator de risco para diabetes

gestacional e doença hipertensiva, sendo

esses riscos mais acentuados em pacientes

verdadeiramente obesas. Observa-se uma

maior taxa de cesarianas e de complicações

anestésicas e pós-operatórias. Existem tam-

bém mais riscos fetais secundários à obesi-

dade, que por meio de diversos mecanismos

aumentam a mortalidade perinatal e a chance

do recém-nascido ser admitido em unidade de

terapia intensiva. Por outro lado, a perda de

peso durante a gestação não é recomendada,

e há evidências de aumento no risco de defei-

tos de fechamento de tubo neural em filhos de

mulheres que perderam peso no período peri-

concepcional e na gestação precoce. O meca-

nismo sugerido envolve a produção de corpos

cetônicos. Por isso, programas de redução de

peso são benéficos no período anterior à con-

cepção, mas não devem ser mantidos durante

a gestação.

USO DE ÁLCOOL, FUMO

E OUTRAS DROGAS

Todas as drogas recreacionais lícitas e

ilícitas são teratogênicas em diferentes graus.

O álcool é o teratógeno humano de uso mais

largamente difundido, sendo a principal cau-

sa de retardo mental passível de prevenção.

O uso crônico e em doses elevadas está as-

sociado à Síndrome Alcoólica Fetal, que se

caracteriza por malformações congênitas, re-

tardo de crescimento e retardo mental. Exposi-

ções intermediárias podem estar associadas a

Efeitos do Álcool Fetal, que incluem alterações

neurocomportamentais permanentes. Como

não existe dose segura de álcool na gestação

a melhor estratégia é a abstenção.

O tabagismo materno está associado

a complicações obstétricas, incluindo baixo

peso e prematuridade. Para alguns genótipos

fetais, quando associados ao fumo materno,

existe um risco maior de fenda palatina. As

medidas farmacológicas que auxiliam a parar

de fumar, incluindo adesivos de nicotina, não

são seguras na gestação, sendo que o período

pré-concepcional é ideal para adotá-las.

OUTRAS EXPOSIÇÕES AMBIENTAIS

Pacientes que não tiveram contato com a

toxoplasmose (IgG negativo) devem ser orien-

tadas a ter maior atenção para a exposição a

fezes de gatos, utilizando luvas ao lidar com

terra, evitando a ingestão de carne crua ou

mal cozida e de frutas e verduras cruas mal

lavadas.

Para prevenção da Síndrome da Rubé-

ola Congênita, todas as mulheres em idade

fértil devem receber a vacina contra a rubéola

e confirmar a sua imunidade através de soro-

logia.

Uma avaliação detalhada dos riscos po-

tenciais de exposições ocupacionais é reco-

mendada.

SISTEMA DE INFORMAÇÃO SOBRE

AGENTES TERATOGÊNICOS (SIAT)

O SIAT fornece informações atualizadas

a respeito do risco de exposições durante o

período pré-concepcional e durante a gesta-

ção, auxiliando no manejo de doenças crôni-

cas através da opção por medicamentos com

menor risco para o bebê (http://gravidez-segu-

ra.org).

O SIAT contribui para tranquilizar a

respeito de exposições seguras durante a

gestação.

17

Page 18: Revista Fertilitat

18

Alvaro Petracco - DiretorGinecologista, Doutor em Ciências Médicas. Pós-graduado em Ginecologia pelas Universi-dades Complutense de Madrid, Autonoma de Barcelona e de Firenze. Professor de Ginecolo-gia da Faculdade de Medicina da PUCRS. Co-

ordenador do Setor de Reprodução Humana do Serviço de Gineco-logia do HSL/PUCRS. Ex-Presidente da So-ciedade Brasileira de Reprodução Humana, Ex-Diretor Regional da Red Latinoameri-cana de Reproducción Asistida.

PERFIL

Conheça os profissionais que integram as equipes clínica e técnica do Fertilitat.

Mariangela Badalotti - DiretoraGinecologista, Mestre em Clínica Médica e Dou-tora em Patologia. Especialista em Reprodução Humana pelas Universidades La Sapienza de Roma e Degli Studi de Bolonha (Itália). Profes-

sora de Ginecologia e Coordenadora do De-partamento de Gine-cologia e Obstetrícia da Faculdade de Me-dicina da PUCRS. Pre-ceptora da Residência Médica e Chefe do Serviço de Ginecolo-gia do HSL/PUCRS.

Claudio TelökenUrologista, Doutor em Urologia pela Universida-de Federal de São Paulo. Pós-Graduado em Re-produção Humana/Infertilidade na Cleveland Cli-nic (USA). Professor Associado e Livre-Docente da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Chefe do Ambulató-rio de Andrologia e do Programa de Residência Médica em Urologia da UFCSPA. Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Porto Alegre. Membro do Corpo Editorial do International Journal of Sexual Medicine e do

Canadian Journal of Urology. Ex-pesquisa-dor da wayne State University (USA).

João MichelonGinecologista. Mestre e Doutor em Medici-na. Professor da Fa-culdade de Medicina da PUCRS. Membro do Serviço de Gineco-logia do HSL/PUCRS.

Ricardo AzambujaEmbriologista, Ph.D. em Fisiologia da Re-produção pela Texas A&M University (Te-xas USA) e Pós-Dou-tor pela Genetics and IVF Institute (Virginia USA). Membro do Co-mitê de Ética e Pes-

quisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e diretor do Laboratório de Embriologia do Fertilitat.

Rafaella Petracco, fellow em reprodução pela Yale University (USA), onde foi orientada pelos professores Hugh Taylor e Pasquale Patrizio, está retornando da Espanha para integrar a equipe do Fertilitat. Rafaella acaba de concluir o fellow do Instituto Valenciano de Infertilidade, onde estudou com o professor José Remohi.

Fot

os: J

oão

Alv

es

Page 19: Revista Fertilitat

19

Fernando BadalottiGinecologista. Espe-cialista em Repro-dução Humana pelo Serviço de Ginecolo-gia do HSL/PUCRS e pelo Instituto Valencia-no de Infertilidad - Se-villa - Espanha.

Maria Teresa SanseverinoConsultora em Gené-tica Clínica. Pediatra, mestre em Bioquími-ca e doutora em Pe-diatria. Especialista em Medicina Fetal e em Genética Clínica. Coordenadora do Sis-tema de Informações sobre Agentes Terato-gênicos (SIAT) e responsável pelo Programa de Aconselhamento Genético Pré-Natal e Reprodu-tivo do Serviço de Genética Médica do HCPA.

Débora FarinatiPsicóloga, Psicana-lista. Mestre em Psi-cologia Clínica pela PUCRS. Membro Titu-lar da Sigmund Freud Associação Psicanalí-tica.

Lilian OkadaEmbriologista. Bacha-rel em Ciências Bio-lógicas - Modalidade Médica, pela Univer-sidade Estadual Pau-lista.

Luiza DorfmanEmbriologista. Licen-ciada em Ciências Bio-lógicas pela PUCRS, especialista em Biolo-gia e Genética Foren-se pela PUCRS.

Adriana ArentGinecologista. Espe-cialista em Reprodu-ção Humana, Mestre e Doutoranda em Pa-tologia. Membro do Serviço de Ginecolo-gia do HSL/PUCRS.

Brunoberto BehsAnestesiologista. Es-pecialista em Anes-tesia Condutiva pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Virgínia Meneghini LazzariEmbriologista, gradu-ada pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Mestranda em Ciências da Saúde pela mesma instituição.

Page 20: Revista Fertilitat

20

PERFIL

Aline MedeirosEnfermeira.

Ana Maria Puperi BratkowskiGerente administrativa. Graduada em Pedagogia. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos.

Karin Vasconcellos

Técnica e acadêmica de Enfermagem.

Carine Rodrigues

Técnica de Enfermagem.

Acadêmica de Biologia.

Andressa GrasseliSecretária.

Fernanda Pinheiro Menezes

Recepcionista.

Rosane CoimbraSecretária. Graduada em Relações Públicas.

Aromi Nogueira Feijó

Serviços gerais.

Page 21: Revista Fertilitat

Oncofertilidade: nova oportunidade para pacientes com câncer

ARTIGO

A Oncologia é uma das áreas médicas em

que os avanços vêm acontecendo com maior

rapidez. Os investimentos são mais do que váli-

dos: se antes, a palavra câncer era encarada por

muitos pacientes como uma sentença de mor-

te, hoje se sabe que é possível viver bastante,

e bem, após o tratamento. Para isso, a chave

está, em geral, no diagnóstico preco-

ce das neoplasias. Alguns tipos

de câncer, como o de mama,

por exemplo, apresentam

até 95% de chances de

cura se diagnosticados

precocemente.

Por isso, além da pre-

ocupação com a sobrevida,

é fundamental pensar na qua-

lidade de vida desses pacientes

após o tratamento da doença. Uma

das questões importantes nesse sentido é a

preservação da fertilidade. Não raro, os trata-

mentos cirúrgico, de quimio e radioterapia dei-

xam, como herança, a incapacidade reprodutiva,

tanto para mulheres quanto para homens. Na ur-

gência inquestionável de solucionar a neoplasia,

muitas vezes deixa-se de pensar no futuro e to-

mar medidas que podem reduzir este risco.

Uma das formas de preservar a fertilidade

é congelar os gametas – óvulos e espermatozói-

des – antes de iniciar o tratamento cirúrgico, de

quimio ou radioterapia. A criopreservação destas

células permitirá a realização de procedimentos

de reprodução assistida, caso estes pacientes

venham a tornarem-se inférteis.

Nosso Centro foi um dos pioneiros a inves-

tir neste campo. Temos 18 anos de experiência

com congelamento de sêmen e mais de 10 anos

de experiência com congelamento de óvulos. O

primeiro descongelamento de sêmen depois de

tratamento oncológico foi feito em 1999 e resul-

tou na gravidez de um casal de gêmeos. Além

disso, somos responsáveis pelo primeiro nasci-

mento através de congelamento de óvulos por

técnica lenta do Brasil. Hoje a técnica

utilizada é a vitrificação, que pare-

ce aumentar os índices de gra-

videz.

Pode-se também con-

gelar tecido gonadal – ová-

rio e testículo – para futuro

transplante autólogo ou ma-

turação de gametas in vitro.

Além da criopreservação,

pode-se lançar mão de técnicas para

preservar os ovários nos casos em que seja

necessária irradiação pélvica, como fixação dos

mesmos fora da área em questão.

É importante lembrar também que existe

possibilidade de bloqueio medicamentoso do

ovário com vistas a reduzir o dano provocado

pela quimioterapia.

Enfim, a realização do sonho de ter filhos

pode ser uma realidade mesmo para pacientes

oncológicos cujo tratamento leve à perda da fun-

ção gonadal. O aconselhamento sobre preserva-

ção da fertilidade deve ser oferecido para todos

os pacientes com câncer que possam, em algum

momento de suas vidas, querer procriar. O pla-

nejamento prévio ao tratamento pode evitar uma

séria crise de vida, ao proporcionar a concretiza-

ção do desejo de ser pai ou mãe.

“O aconselhamento sobre preservação da

fertilidade deve ser oferecido para todos os pacientes com câncer

que possam, em algum momento de suas vidas,

querer procriar.”

Mariangela Badalotti, Diretora do Fertilitat e Professora Doutora da Faculdade de Medicina da PUCRS

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

21

Page 22: Revista Fertilitat

Reprodução na rede

A revolução nas comunicações provocada

pela Internet teve impacto direto na relação entre

médicos e pacientes. Hoje, dificilmente um casal

chega à clínica de reprodução assistida sem,

antes, ter pesquisado extensamente o assunto,

lido sites e blogs sobre o tema. “Obviamente, há

ganhos e perdas, pois muitas inverdades circu-

lam na rede. Mas, no geral, o resultado é positivo,

pois as pessoas estão melhor informadas, têm

acesso a múltiplas fontes de informação”, diz Ma-

riangela Badalotti, diretora do Fertilitat.

Além de buscar conhecimento, os pacien-

tes, muitas vezes, transformam-se em autores de

muitos dos textos sobre o assunto publicados na

Internet. Quer dizer, deixam de ser apenas re-

ceptores e passam a compartilhar suas experi-

ências e dúvidas. “Essa troca é muito importante.

Quem busca um tratamento de infertilidade está

atrás de informações técnicas, é claro, mas quer

conhecer as histórias de vida, as dificuldades de

quem já passou por isso ou ainda está passan-

do. Para nós, que vivenciamos esses relatos em

nosso dia-a-dia, também é muito enriquecedor

vê-los na forma de texto. É sempre um aprendi-

zado”, destaca a especialista.

Fertilitat online – O Fertilitat, é claro,

também está na rede, compartilhando informa-

ções e interagindo com pacientes, médicos e

pessoas interessadas no assunto. A clínica acaba

de lançar um novo site, mais dinâmico e rico em

informações, que pode ser acessado em www.

fertilitat.com.br. O centro também mantém contas

nas redes sociais Facebook (Fertilitat – Centro

de Medicina Reprodutiva) e Twitter (@fertilitat).

FERTILITAT NEwS

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

22

Page 23: Revista Fertilitat

ESPECIAL 20 ANOS

Nos idos de 1987, com o apoio da Dire-

ção do Hospital São Lucas, iniciamos a monta-

gem de um pequeno laboratório de reprodução

assistida. Sonhávamos em poder oferecer aos

casais inférteis toda as alternativas terapêuticas

disponíveis para alcançar uma gravidez. Tínha-

mos a firme convicção que seria necessário um

período experimental e formamos o Grupo de

Fertilização Assitida. Em consultórios separa-

dos, aptos a manejar com as técnicas de baixa

complexidade, pouco a pouco fomos adquirindo

os conhecimentos imprescindíveis para dominar

a técnica da fertilização in vitro.

Após quatro anos de trabalho, que já con-

tabilizava o nascimento do primeiro bebê gaúcho

de laboratório, em 1989, e os primeiros gêmeos

de fertilização in vitro, em 1990, fundamos, em

julho de 1991, o Fertilitat - Centro de Medicina

Reprodutiva, voltado à assistência e à pesquisa

na área da reprodução humana.Ao longo destes 20 anos, houve grande

evolução nas técnicas de reprodução assistida,

as quais acoplamos à nossa atividade assis-

tencial. Com isso fomos pioneiros em gravidez

com espermatozóides aspirados diretamente

do epidídimo na América Latina, e os responsá-

veis pelo nascimento do primeiro bebê brasileiro

a partir de óvulos congelados. Nossa atividade

científica e de pesquisa está documentada por

publicações e participações em congressos.

Nossa responsabilidade social foi reconhecida e

premiada pela ADVB em 2009 e pela ABRH em

2010.

Nestes 20 anos, mais de 2.500 bebês vie-

ram ao mundo com o trabalho do Fertilitat. A

atualização científica constante é uma das ca-

racterísticas de nosso centro, que é reconhecido

por seu pioneirismo e pela seriedade de seus

profissionais.

Mariangela Badalotti e Alvaro Petracco

Diretores do Fertilitat

Há 20 anos, o Fertilitat auxilia casais que buscam a realização do sonho de ter filhos.

Quando o Fertilitat foi criado oficialmente como clínica de reprodução assistida, o trabalho de sua equipe já tinha resultados concretos. Na foto, Alvaro Petracco com o menino Alvinho, primeiro bebê de reprodução assistida do Rio Grande do Sul.

Fertilitat completa 20 anos

23

Page 24: Revista Fertilitat

Vinte anos depois, se confirma a antevisão de 1991 de sucesso do trabalho conjunto, inicial-mente de Alvaro Petracco e de Mariangela Ba-dalotti. O Centro de Medicina Reprodutiva Ferti-litat, com sua seriedade científica e ética, consa-grou-se local e nacionalmente como um centro de fertilização assistida de primeira qualidade. Pioneiro em muitos aspectos, o Fertilitat tem apresentado resultados excepcionais na busca de gestações que não afloram espontaneamen-te. E o êxito nasceu da competência e da sólida formação de seus fundadores e na escolha dos médicos e outros profissionais que passaram a contribuir com a instituição.

Diferente da obra de Alexandre Dumas, em que “Vinte Anos Depois” encontrou os mos-queteiros envelhecidos e um pouco cansados, o Fertilitat está em pleno apogeu e segue pre-cursor em nosso meio dos muitos procedimen-tos que surgem a todo o momento na área da reprodução. Da fertilização in vitro com transfe-rência de embrião, de Robert Edwards (Prêmio Nobel de Medicina) e Patrick Steptoe, com cuja técnica obteve o primeiro “bebê de proveta” do Rio Grande do Sul, o Centro Fertilitat ingressou em novos caminhos: conservação de embriões para posterior implantação, técnicas sofisticadas de fertilização com gametas masculinos ainda não maduros, micromanipulações e, mais re-centemente, conservação de óvulos para futura concepção e, ainda, conservação de tecido ova-riano. Os ótimos resultados atuais de fertilização de óvulos congelados representam um grande avanço, por permitir a postergação da gestação com gametas jovens, sem que a conservação obrigue a dona dos óvulos a se ligar definitiva-mente com um “pai” que talvez não esteja com

o mesmo prestígio junto à mulher, na hora que esta decidir ter filhos. Permitir a manutenção da fertilidade pela mulher sem esse atrelamento a um homem que não mais é o seu homem no mo-

mento do desejo de ter filhos é um progresso que reputo de sensacional. Um óvulo é preser-vado para ser fecundado por espermatozóide do parceiro atual, que não existia como parceiro na época da preservação.

Muito há que se festejar neste aniversário de vinte anos, com a maioridade plena já obtida por comprovada qualificação e indiscutível com-petência. Alvaro Petracco, Mariangela Badalotti, Cláudio Telöken, João Michelon, Adriana Arent, Fernando Badalotti, Rafaella Petracco, para citar apenas aqueles com quem tive a honra de con-viver como alunos ou médicos-residentes, estão todos de parabéns pela efeméride. Nós, os seus amigos e admiradores, os cumprimentamos, as-segurando que estamos orgulhosos dessa tra-jetória.

Gustavo Py Gomes da Silveira

No ano em que completa duas décadas de atuação, o Fertilitat é objeto de reflexão dos mé-

dicos Ronald Bossemeyer e Gustavo Py Gomes da Silveira. Ambos têm participação importante na

história da clínica, pois escreveram textos de apresentação sobre o trabalho da equipe publicados

em seu primeiro informativo, ainda em 1991. Aqui, eles dividem o espaço e o pensamento para

discorrer sobre os 20 anos de trabalho do Fertilitat.

Artigo de Gustavo Py Gomes da Silveira abordou a trajetória dos médicos que deram início ao Fertilitat. O texto foi capa no primeiro informativo da clínica.

ESPECIAL 20 ANOS

24

Page 25: Revista Fertilitat

Passados vinte anos, eis-me aqui outra

vez! Naquela ocasião, nascia o Fertilitat com

objetivos inquestionavelmente os mais nobres

e alevantados e dedicado à

área do conhecimento que

recém despontava em nosso

meio. Empregando tecnologia

avançada, seus mentores vi-

savam sanar as dificuldades

impostas pelas limitações

dos métodos clássicos de

diagnóstico e tratamento da

esterilidade conjugal então

disponíveis. Não se falava

em fertilidade, palavra que,

na verdade, tinha significado

diferente. E, claro, havia já

esterileutas em nosso meio,

que eram nada mais do que

ginecologistas de escol que

se dedicavam, em especial, a

praticar a sua arte com maior

esmero, em busca de resulta-

dos que, apesar de modestos,

tinham um sabor especial. Mas, diga-se de pas-

sagem, por ser fruto da propedêutica e do empi-

rismo rudimentares daquele então, nada melhor

se poderia esperar.

À distância, em Santa Maria, acompanha-

va os passos dos pioneiros do Fertilitat, Marian-

gela e Alvaro. Bem sei que muitos outros valores

se foram agregando com o passar do tempo.

Para não ser injusto, deixarei de citar seus no-

mes enquanto reconheço seu valor, sua dedica-

ção e, principalmente, seu papel no crescimento

e funcionamento da modelar instituição. Aliás,

não poderia ser diferente, pois bem sei do estri-

to critério de seleção e aprimoramento técnico

exigido de cada um dos integrantes dos vários

setores da instituição, cuja soma de esforços

responde pela magnitude do sucesso e reco-

nhecimento alcançados pelo Fertilitat.

É de todos sabido o fato de que militamos

em áreas distintas de nossa especialidade. A

bem da verdade, interessei-me pela esterilidade

conjugal (sou daquela época) desde os primór-

dios da minha atividade profissional e docente.

E, diga-se de passagem, considero-me bem su-

cedido se levarmos em conta de que estamos

falando sobre a prática da Ginecologia de cerca

de meio século atrás. Refiro-me a técnicas hoje

consideradas rudimentares ou artesanais que

seriam, em termos atuais, de baixa complexi-

dade. Mas, temos em comum, entretanto, o fato

de sermos todos, antes de tudo, médicos, que

defendemos com afinco os princípios da ética,

do humanismo no trato com a clientela, da dedi-

cação ao trabalho em favor do seu bem-estar, da

Texto de Ronald Bossemeyer publicado no primeiro informativo do Fertilitat abordou a problemática do casal sem filhos e o trabalho pioneiro que se iniciava.

25

Page 26: Revista Fertilitat

priorização da satisfação das suas necessida-

des e da consecução dos resultados almejados,

nunca omitindo as limitações do método ou da

equipe (sempre lembrando que somos – apenas

– humanos), predicados estes que são a marca

do Fertilitat.

A necessidade de crescer, no seu sentido

mais amplo, envolve, obrigatoriamente, ampliar

o escopo das atividades do indivíduo e da ins-

tituição. Não sucedeu de forma diferente com

o Fertilitat. A imagem e projeção dos seus inte-

grantes, em âmbito local, nacional e internacio-

nal é incontestável, fruto do aprimoramento pes-

soal, da pesquisa embasada em tecnologia de

ponta, da divulgação de resultados honestos e

da difusão de conhecimentos úteis para a comu-

nidade científica e, destarte, aplicáveis a casais

desejosos de vir a ter a prole sonhada.

Alegrou-me, sobremaneira, o convite para

manifestar-me por ocasião do registro do trans-

curso destes primeiros dois lustros de atividade

do Fertilitat, tão profícua quanto meritória. Pes-

soalmente tenho muito a agradecer esta opor-

tunidade, por incontáveis razões. Tenho grande

carinho pela Mariangela e pelo Alvaro mas, por

injunções diversas, aproximei-me do Alvaro e de

suas atividades profissionais e docentes muito

antes do nascimento do Fertilitat. A identidade

de pontos de vista sobre os mais variados cam-

pos da vida pessoal, profissional e societária

logo se estabeleceu. Criou-se sólida amizade,

tenho a certeza, embasada na identidade e na

admiração mútua. Mas foi durante as demarches

de organização do Congresso da Sociedade

Brasileira de Reprodução Humana realizado em

Porto Alegre no ano de 1987 que, trabalhando

ombro a ombro, eu como presidente da entidade

nacional e do congresso e Alvaro como secre-

tário geral do evento, nos demos melhor a co-

nhecer. A negociação franca e firme com os pa-

trocinadores por ele efetuada, ao mesmo tempo

polida e inteligente, foi marcante e fez com que

laços definitivos de amizade que transcenderão

ao tempo, qual amarras, tenho a certeza, se es-

tabelecessem. Ratificou o juízo que dele sem-

pre fiz, posteriormente, a atuação correta, lisa e

progressista desenvolvida durante seu mandato

como presidente de nossa SBRH.

Mas a vida tem seus caminhos e, também,

os seus descaminhos, todos sabemos. Ainda que

a fertilidade humana continuasse sendo a nossa

maior preocupação, acabamos por enveredar

por lados opostos do seu manejo. Enquanto Pe-

tracco passou a dominar, como poucos, a fertili-

dade diminuída, eu, pelo meu lado, encantei-me

com o vasto campo da sua regulação mediante

meios que permitissem ter os filhos desejados

no momento oportuno. Entretanto, esta aparen-

te contradição nada tem de paradoxal. Ambos

propugnamos por famílias constituídas de forma

consciente e volitiva, na medida do planejado

pelo casal.

Por fim, ao manifestar o meu apreço aos

integrantes do Fertilitat, quero abraçar a todos e

a cada um felicitando-os pelo sucesso da siner-

gia dos seus esforços em prol da realização do

milagre da vida, estendido a pessoas como nós

mas que, até ser alvo da atenção deste grupo,

não havia tido a oportunidade que foi incluída

pelo Criador no pacote da vida de cada um de

nós (que temos filhos), para utilizar expressão

tão comum nos dias de hoje, empregada tão in-

conscientemente muitas vezes.

Parabéns Fertilitat; muitos anos de presta-

ção de bons serviços são meus votos.

Ronald Bossemeyer

ESPECIAL 20 ANOS

26

Page 27: Revista Fertilitat

Laboratório de reprodução assistida do Fertilitat: 20 anos de desenvolvimento científico e tecnológicoRicardo Azambuja e Lilian Okada, embriologistas do Fertilitat

O laboratório de reprodução

assistida é o coração de uma clí-

nica de reprodução humana. Em

uma área tão avançada da ciência

quanto essa, a busca pelo melhor

resultado depende do aprimora-

mento tecnológico constante. Para

o Fertilitat, não é diferente: a evo-

lução e uso de novas tecnologias

fazem parte de nossos 20 anos de

história.

Antigamente, não tínhamos

à disposição todos os medicamen-

tos que hoje são utilizados para as

estimulações foliculares. As aspi-

rações dos óvulos ocorriam no

momento em que tinha que ser,

mesmo que isto significasse entrar madrugada

adentro realizando o procedimento.

Os primeiros casos realizados na clínica

foram através da GIFT (Gamete IntraFallopian

Transfer), onde os óvulos eram captados e en-

tão transferidos para as tubas uterinas junta-

mente com os espermatozóides preparados.

Em seguida, os óvulos e os espermatozóides

passaram a ser colocados juntos, “in vitro”, e os

embriões produzidos eram transferidos para o

útero, procedimento conhecido como FIV (Ferti-

lization In Vitro) convencional.

Posteriormente, surgiram os

procedimentos de micromanipula-

ção, PZD (Partial Zona Dissection),

quando eram abertos orifícios na

zona pelúcida do óvulo, para otimi-

zar a penetração do espermatozói-

de; e SUZI (Sub-Zonal Insemina-

tion), na qual os espermatozóides

eram inseridos no espaço subzonal

do óvulo.

E por fim, a ICSI (Intra-Cito-

plasmic Sperm Injection), onde o

espermatozóide é introduzido di-

retamente no citoplasma do óvulo,

produzindo os embriões que são Laboratório de espermiologia.

Primeiro laboratório do Fertilitat

Foto: Arquivo Fertilitat

27

Page 28: Revista Fertilitat

transferidos para o útero. Para esta técnica,

utilizam-se agulhas extremamente finas e deli-

cadas, que hoje são comercializadas prontas;

porém, anteriormente, necessitavam ser feitas

no próprio laboratório, assim como os meios de

cultivos e de criopreservação.

Aos casais cujo parceiro não possui es-

permatozóide no ejaculado, seja por azoosper-

mia obstrutiva ou não obstrutiva, os procedi-

mentos de PESA (aspiração de espermatozói-

des do epidídimo), TESA (aspiração de esper-

matozóides do testículo) e MicroTESE (extração

de espermatozóides do testículo) surgiram para

beneficiá-los. O Fertilitat foi o pioneiro na con-

cepção de bebês por essas técnicas na América

Latina.

A criopreservação também teve sua evo-

lução. Iniciamos com o congelamento de esper-

matozóides, tecido testicular ou ovariano e de

embriões. Então, a partir de 2000, passamos a

oferecer aos pacientes a possibilidade de guar-

dar os seus óvulos. E em 2002, comemoramos

a chegada do nosso primeiro bebê proveniente

de óvulos congelados, que também é o primeiro

do Brasil com a técnica de congelamento lento.

Atualmente, a técnica utilizada é a vitrificação,

que aumenta as chances de gravidez.

Para se adequar às exigências propostas

pela Anvisa, segundo a resolução da diretoria

colegiada nº33, de 17 de fevereiro de 2006, o

Fertilitat passou por uma reforma, ampliando

seu espaço físico e adquirindo um sistema de

Fot

os: A

rqui

vo F

ertil

itat

Laboratório de criopreservação.

Estereomicroscópio para identificação do óvulo.

ESPECIAL 20 ANOS

28

Page 29: Revista Fertilitat

filtração de ar, tornando a qualidade do ambien-

te superior. Em 2011, uma nova resolução foi

promulgada, e o Fertilitat seguiu cumprindo to-

das as exigências da Anvisa.

No início de nossa clínica, tínhamos uma

média anual de 20 procedimentos de fertiliza-

ção in vitro. Atualmente, nossos casos giram

em torno de 600 e, para realizar um crescente

número de procedimentos e com total

excelência no serviço, contamos com

um número grande de equipamentos (6

estufas, 2 microscópios invertidos com

micromanipuladores, 9 cilindros de ni-

trogênio líquido para armazenar os ma-

teriais criopreservados) e uma equipe

técnica especializada.

Novas tecnologias estão sempre

sendo implantadas para oferecermos o

melhor a nossos pacientes: a criopre-

servação pela técnica da vitrificação, a

biópsia pré-implantacional e a matura-

ção in vitro dos oócitos são alguns des-

ses exemplos.

O nosso maior objetivo é propor-

cionar aos casais a felicidade de poder ter o

seu filho nos braços. Sabemos que o percur-

so muitas vezes é longo e penoso ao casal, de

tal modo que necessitamos estar em constante

evolução, pesquisando, em busca do melhor re-

sultado.

Laboratório de fertilização in vitro.

Micromanipulador.Microscópio de micromanipulação, com laser.

Plataforma de injeção intracitoplasmática de espermatozóide

29

Page 30: Revista Fertilitat

COMPORTAMENTO

“Positivo!”. Quanta ansiedade até ouvir essa palavra, até receber o resultado tão es-perado. Ao saberem-se grávidos, os futuros pais iniciam uma das etapas mais importantes de suas vidas: a construção da família. Não é preciso apenas modificar a casa, mas acomo-dar sentimentos, equilibrar emoções, amadure-cer... Tudo isso para receberem seu filho, para tornarem-se, finalmente, um pai e uma mãe.

Mas, e quando o tão sonhado bebê che-gar, como adequar a rotina para recebê-lo?

Como criar um ambiente de conforto e harmo-nia? De que ele precisa em seus primeiros dias de vida? Não são poucas as dúvidas dos pais, especialmente quando se trata do primeiro fi-lho. Para auxiliá-los, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou o livro Filhos – da gravidez aos 2 anos de idade. A obra, organizada pelos mé-dicos Fabio Ancona Lopez e Dioclécio Campos Júnior, traz uma série de dicas valiosas para os pais de primeira viagem.

Conheça algumas delas:

O bebê chegou!

No hospital:

- Solicitar que o bebê permaneça na sala de parto. Vários estudos destacam a importância do contato precoce e íntimo do recém-nascido com os pais ainda na sala de parto, para o es-tabelecimento de uma relação adequada para toda a vida.

- Evitar que o ambiente naturalmente festivo por ocasião do nascimento comprometa a interação dos pais com o bebê. As visitas ao bebê costumam ser frequentes na maternidade. Entretanto, muitas visitas podem causar barulho excessivo e comprometer a sua interação com o filho.

Em casa:

- Usufruir a licença-maternidade por comple-to. A licença-maternidade é essencial para que a mãe tenha tempo para cuidar de seu bebê, for-talecendo o vínculo com ele a cada dia. Além disso, é extremamente importante para propiciar o sucesso da amamentação exclusiva ao peito.

- Conhecer os variados tipos de choro. Fome: choro forte. Cólica: choro prolongado, de “dor” e com movimentos corporais para o lado e para frente. Dor de ouvido: choro com a cabeça balan-çando para os lados.

Fot

os: S

hutte

rsto

ck

30

Page 31: Revista Fertilitat

Vínculo mãe-filho

A sensibilidade materna para perceber, interpretar corretamente os sinais do bebê e responder de forma adequada é um dos fatores mais importantes na formação do vínculo.

A mãe que se adapta perfeitamente às necessidades do recém-nascido é chamada de “mãe suficientemente boa”. Ela é capaz de exer-cer três funções simultâneas que satisfazem ple-namente o bebê:

- oferta do seio materno: a mãe oferece o pei-to ao seu filho no momento em que ele deseja e, com isso, o bebê sente-se respeitado em sua totalidade;

- sustentação: ao segurar o bebê em seu colo, a mãe transmite a ele a sensação de segurança e de proteção contra perigos;

- cuidadora: ao ser cuidado pela mãe, o recém-nascido tem a sensação de bem-estar.

Vínculo pai-filho

A participação do pai no dia-a-dia do bebê é fundamental. O pai deve procurar:

- estar presente nos momentos de entrosamento e de amamentação;

- tocar o bebê e estabelecer também o contato olho a olho;

- conversar com o bebê e ver as respostas dele a sua voz;

- cheirar seu filho;

- dar colo para o bebê sentir também o calor pa-terno.

Não se desespere! A insegurança gerada pela chegada de um novo ser na família logo desapa-rece, quando todos percebem que são capazes de exercer sua função nos cuidados com o bebê. Aos poucos, a rotina da casa volta ao normal e o bebê começa a se adaptar a tudo e a todos. Com a intensa interação entre vocês, o vínculo afetivo que já estava presente torna-se mais for-te a cada dia!

31

Page 32: Revista Fertilitat

CIÊNCIA

A reprodução assistida é um dos campos da medicina que mais tem avançado nos últimos anos. Graças às descobertas científicas, são cada vez maiores as chances de um casal que enfrenta a infertilidade realizar o sonho de ter fi-lhos.

Embora o tema esteja inserido no dia a dia da sociedade, especialmente através dos meios de comunicação, muitas dúvidas persistem. Nesta página e na próxima, você conhecerá as respostas para algumas das principais dúvidas sobre o assunto.

Como vou saber se sou fértil? Em primeiro lugar, é importante ter claro que a infertilidade é conjugal, ou seja, não é do homem ou da mulher e, sim, do casal. Define-se infertili-dade como a falta de gestação após um ano de relações sexuais sem nenhum método de anti-concepção. A infertilidade acomete em torno de 15% dos casais em idade reprodutiva. A menos que se caracterize infertilidade, todos são consi-derados férteis.

Se tivermos relações sexuais durante a ovu-lação, a nossa chance de engravidar é 100%? Não. Um casal tendo relações no período de ovulação tem uma chance real de gravidez de aproximadamente 20%. Este é um índice que se chama “fecundabilidade”, que é definido como a chance de um casal normal engravidar em um mês de vida sexual regular. O índice de fecunda-bilidade diminui com o avanço da idade, sendo de 5% ao mês aos 40 anos (da mulher).

Quais são as causas de infertilidade? É importante considerar que tanto o homem quanto a mulher podem apresentar problemas que determinem infertilidade. Calcula-se que aproximadamente 30% das causas sejam femi-ninas, 30% sejam masculinas, 20% associadas e em 10% a causa é desconhecida (infertilidade sem causa aparente). Dentre as causas femini-nas, os distúrbios da ovulação, as obstruções nas trompas e a endometriose são as mais comuns. O homem pode ser infértil por produzir poucos espermatozóides, espermatozóides anormais

ou com pouca mobilidade, ou por não apresentar espermatozóides no ejaculado. As causas mais comuns são varicocele e hipofunção testicular.

O que é endometriose? A camada interna do útero é chamada de endo-métrio. É uma camada que cresce, sofre modifi-cações ao longo do ciclo menstrual e descama no período da menstruação. Endometriose são pequenos focos de endométrio que se localizam fora do seu local de origem, em geral na capa de tecido que recobre os órgãos de dentro do ventre (chamada de peritônio). Os focos de en-dometriose têm as mesmas características do endométrio, ou seja, recebem os hormônios pro-duzidos pelo ovário, se modificam e sangram no período menstrual. Alteram o ambiente da ferti-lização e, quando a doença é avançada, danifi-cam as trompas, os ovários e formam aderên-cias entre os órgãos pélvicos.

Podemos escolher o sexo do nosso filho? O processo de escolha do sexo é chamado de sexagem. Tecnicamente é possível separar o espermatozóide X e Y. O índice de acerto não é 100% e esse tipo de procedimento só encon-tra respaldo ético em casos especiais. Pode-se aumentar a chance de ser uma menina ou um menino durante um ciclo espontâneo se as rela-ções sexuais forem antes ou depois da ovulação.

Desvendando a reprodução assistida

32

Page 33: Revista Fertilitat

O sexo pode ser identificado por biópsia embrio-nária, mas o procedimento não é indicado com esta finalidade.

Não entendo a diferença entre fertilização e inseminação artificial. Inseminação artificial era originalmente a colo-cação do sêmen no colo do útero. Com o de-senvolvimento das técnicas laboratoriais, foi possível retirar os espermatozóides do plasma seminal, “energizá-los” em laboratórios e colocá--los dentro do útero ou mesmo nas trompas. Tem sua indicação nos casos em que a produção de muco não é boa, quando o número de esper-matozóides é baixo, em infertilidade sem causa, endometriose, etc.Por fertilização in vitro, entende-se que acon-tecerá no laboratório o que costuma ocorrer na trompa, isto é, o encontro do óvulo e do esper-matozóide, a fertilização, e as primeiras etapas da divisão do embrião. Após, os embriões são transferidos para o corpo da mulher, na maioria dos casos diretamente para o útero. A fertiliza-ção in vitro está indicada nos casos em que exis-tem problemas nas trompas ou quando a produ-ção de espermatozóides é bastante alterada, na endometriose grave e nos casos em que não se consegue identificar a causa da infertilidade, o que é denominado infertilidade sem causa apa-rente.

As crianças concebidas por essas técnicas são normais? Sim. Não há na literatura médica nenhuma infor-mação de que o risco de alterações genéticas seja diferente das crianças nascidas de gesta-ção espontânea, bem como não existem relatos de alteração do comportamento social ou emo-cional dessas crianças.

Até que idade posso engravidar? À medida em que a mulher avança na idade, diminui a chance de gravidez. Calcula-se que a chance de um casal gestar em um determinado mês seja de aproximadamente 20%. Esse índi-ce, chamado de fecundabilidade, diminui grada-tivamente após os 35 anos. Isso é tão evidente

que apenas 3-5% de todas as mulheres que não utilizam método anticoncepcional engravidam após os 43 anos.

O homem que fez vasectomia pode ter filhos? Sim, a reversão da vasectomia pode ser feita por microcirurgia. É uma técnica que utiliza a magni-ficação da imagem para reanastomosar o local onde foi ligado o canal deferente. Outra possibi-lidade é a retirada dos espermatozóides através de uma punção (utilizando uma agulha) e reali-zar uma fertilização in vitro.

Quanto tempo deve-se aguardar para engra-vidar após a suspensão do uso da pílula an-ticoncepcional? Não há um período de tempo definido para isso. Após a suspensão do uso dos contraceptivos orais, o ovário volta a sua função normal (pode ser que não aconteça a ovulação ou que a mes-ma não seja normal no 1º ou 2º mês da parada da pílula) e o casal com vida sexual regular pas-sa a ter chance mensal normal de gestação.

Fot

os: S

hutte

rsto

ck

33

Page 34: Revista Fertilitat

ARTIGO

Direito Reprodutivo e infertilidade

A Organização Mundial da Saúde (OMS)

define a saúde como “um estado completo de

bem-estar físico, mental e social, e não apenas

a ausência de doença”. Em 1994 na Conferên-

cia de População e Desenvolvimento do Cairo,

foi revisto o conceito de saúde reprodutiva, que

atingiu novas dimensões com o acréscimo da

saúde sexual e direitos reprodutivos.

“Saúde Reprodutiva é um estado de

completo bem estar físico, mental e so-

cial em todas as matérias concernentes

ao sistema reprodutivo, suas funções

e processos, e não simples ausência

de doenças ou enfermidades”.

A saúde reprodutiva implica,

por conseguinte, que a pessoa pos-

sa ter vida sexual segura e satisfató-

ria, tendo capacidade de reproduzir e

a liberdade de decidir sobre quando e

quantas vezes quer fazê-lo. Está implícito

nesta última condição o direito de homens

e mulheres de serem informados e de te-

rem acesso aos métodos eficientes,

seguros, aceitáveis e financeira-

mente compatíveis de planeja-

mento familiar. Dentro desta

premissa estão métodos de

regulação de fecundidade a

sua escolha e que não con-

trariem a Lei, bem como o

direito de acesso a servi-

ços apropriados de saú-

de que propiciem às mu-

lheres as condições de

passar em segurança

pela gestação e par-

to, proporcionando

aos casais uma

chance melhor de

ter um filho sadio.

Adriana Arent – Ginecologista do Fertilitat

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

34

Page 35: Revista Fertilitat

Considerando o conceito de saúde da OMS,

a infertilidade é a maior causa de diminuição de

saúde nos países pobres. O tratamento da inferti-

lidade deve ser visto como uma prioridade social.

Em países pobres informações sobre infertilidade

são muito limitadas. No que diz respeito ao aces-

so às tecnologias de Reprodução Assistida (RA),

é extremamente raro e o custo ainda mais proibi-

tivo.

Em 2001, a OMS realizou um congresso

sobre os “Aspectos Éticos e Sociais da Repro-

dução Assistida”, e abordou o tema do acesso a

RA. Foi concluído que este acesso depende de

alguns fatores, incluindo:

- o devido reconhecimento da infertilidade como

um problema de saúde pública;

- desenvolvimento de esquemas mais simples de

manejo de infertilidade;

- redução do custo dos tratamentos de RA.

Apesar de a infertilidade ser um proble-

ma universal de saúde pública, casais inférteis

– especialmente em países pobres – têm aces-

so limitado aos serviços de reprodução humana.

Justificar o fornecimento das tecnologias de RA

- que são caras e têm taxa de sucesso entre 30 e

50% - é discutível nos países em desenvolvimen-

to, onde os recursos públicos para a saúde são

limitados e ainda são assolados por problemas

infecciosos e doenças crônicas como tuberculo-

se, malária e AIDS. Desta forma os problemas

de fertilidade rotineiramente não são considera-

dos de importância. Paradoxalmente, é onde as

taxas de infertilidade são altas que o acesso a RA

está disponível em serviços privados. O fato é que

casais querem e têm direito de ter filhos. E farão

todo o possível para tê-los. Porém, os tratamentos

estão basicamente disponíveis para aqueles que

podem pagá-lo.

Nos países desenvolvidos, com exceção

dos Estados Unidos, os hospitais públicos ofe-

recem tratamento de reprodução assistida total

ou parcialmente gratuito. No Brasil, o número de

hospitais públicos com o serviço não passa de 10

e não costumam custear a medicação necessária

para o procedimento. Os casais chegam a aguar-

dar até cinco anos para serem atendidos.

A infertilidade é um grande desafio para os

estudiosos e é considerado por muitos países um

problema de saúde pública. O estado deve dar

a sua contribuição ajudando os casais de baixa

renda a terem acesso a programas eficazes de

auxílio à fertilidade. Mesmo considerando que os

países pobres tenham outras dificuldades, não

é possível ficar insensível às causas médicas

dos menos favorecidos. A ajuda do terceiro se-

tor, através de parcerias entre o setor público e

privado é necessária e bem vinda, uma vez que

o estado não dispõe de recursos que cubram a

grande demanda reprimida. É obrigação do ci-

dadão pleitear um melhor atendimento aos seus

diversos problemas. Casais inférteis precisam de

ajuda, pois o sonho de um filho não se paga. A

possibilidade de não passar sua herança gené-

tica aos seus descendentes angustia existencial-

mente a qualquer ser humano.

A necessidade de serviços que tratem a in-

fertilidade, além de programas de prevenção, é

inegável. Muitas vezes a RA é a última esperan-

ça de casais conseguirem um filho. Apesar de a

maioria dos países em desenvolvimento não te-

rem programas adequados de infertilidade, prin-

cipalmente devido a argumentos baseados nas

altas taxas de natalidade e no custo elevado da

RA, surge esperança da parceria entre os setores

público-privado. Por fim, entende-se que a gran-

de maioria dos problemas que afetam a humani-

dade neste início de século não só transcendem

as barreiras e competências dos estados nacio-

nais como não podem ser resolvidos apenas por

ações de governo ou mecanismos de mercado.

35

Page 36: Revista Fertilitat

Londres – metrópole de multiculturalidade

VIAGEM

Capital da Inglaterra e do Reino Unido, ainda que também poderíamos conceder-lhe o título de “capital dos mercados mais famosos” – tal a quantidade de mercados de rua que se espalham pela cidade.

Contando com uma população de mais de 12 milhões de habitantes (entre a área urbana e metropolitana), atualmente Londres se posicio-na em primeiro lugar no ranking de regiões mais populosas da União Européia.

Outro número interessante diz respeito ao transporte público: os londrinenses contam com uma das redes ferroviárias mais extensas e efi-cientes do planeta, além de possuir o aeroporto com maior tráfego internacional de passageiros da Europa – Heathrow Airport.

Números a parte, certo mesmo é que pôr os pés em Londres impressiona desde o primei-ro momento. O visual da cidade às margens do rio Tâmisa é surpreendente e majestoso, des-lumbrante se visto sob muitos aspectos. Veem--se bairros muito bem cuidados, uma enormida-de de lojas, museus, galerias, mercados e todo tipo de opção cultural para os mais variados gos-tos. Tudo isso acaba se configurando em uma dessas imagens de cartão postal que todos de-sejamos levar para casa e nunca mais esquecer.

Porém, como sabemos que “perfeição” não existe – e não por ser uma grande metrópole européia seria diferente –, se temos a oportuni-dade de permanecer mais tempo nesse imen-so território nebuloso, não tarda muito para que nos demos conta de que existe outra Londres. Um lugar que vive meio nas sombras, coexistin-do lado a lado, em simbiose, com esta urbe de sonhos. É a cara cinza e fria de uma cidade tão underground como suas linhas de metrô, menos amigável que a outra cara turística. Fundada por volta do ano 43 d.C., mantém uma aparência velha e decadente a escassos metros de todo aquele centro luxuoso.

Em meio a esse ar rançoso, vive uma mul-tidão de imigrantes, pessoas provenientes de to-das as partes do mundo, além de nativos, traba-lhadores que formam as classes operárias ou da construção, gente anônima que dá consistência à verdadeira Londres. É aí onde todos tentam, cada dia, encontrar seu próprio espaço, confe-rir um sentido mais além do simples glamour de pertencer a uma capital vertiginosa e contradi-tória. Mas para descobrir todos esses seus mis-térios se necessita tempo, já que se a estadia é muito curta o que ficará será aquela euforia superficial de um recém chegado.

Ainda assim, não importa. Quatro dias ou quatro semanas. Se temos chance de conhecer Londres, sempre teremos a certeza de querer voltar para seguir desvendando-a.

Tiani Trein Barbieri - Especial

Foto: Liana Aguiar

36

Page 37: Revista Fertilitat

Labirintos urbanos

Certo, o cinema é um dos maiores respon-sáveis pelos estereótipos que criamos em torno de muitos lugares do mundo. Graças às cenas imortalizadas no filme “Um lugar chamado Not-ting Hill” – comédia romântica protagonizada por Julia Roberts e Hugh Grant no final da década de 90, para os que não estão lembrados -, por exemplo, este bairro britânico ficou conhecido como um dos ícones londrinenses. Entretanto, seria muito injusto nomeá-lo como o mais im-portante da cidade, quando Londres está repleta de conglomerados urbanos charmosíssimos e prontos para serem explorados.

De todos os modos, vale à pena recordar que Notting Hill, na verda-de, até o final dos anos 50, era tachado como bairro de confli-tos, um lugar rural e margina-lizado. Esteve esquecido por muito tempo até que estúdios britânicos e hollywoodianos resolveram alçá-lo à fama. A partir daí, ir a Londres e não visitar Notting Hill é algo mais ou menos como ir a Roma e não ver o Coliseu. Trata-se de um lugar bem interessante quando o assunto é ver lojas que comercializam os mais variados produtos.

Por outro lado, como não falar do Soho, esse bairro que mistura o melhor e o pior de Londres, e talvez por isso mesmo chame tanto a atenção dos turistas. E a razão de tantas diferen-ças pode ser explicada nas sucessivas levas de imigrantes que, durante muitas décadas, a partir do século XVIII mais ou menos, desembarcavam na cidade em busca de um lugar para se esta-belecer. Pessoas chegadas de todas as partes que davam um tom multicultural ao bairro e que, com isso, começaram a atrair o meio artístico e literário. Porque Soho é feito principalmente dis-so, dessa “massa” diversificada que tanto inspira e seduz a boemia: intensa vida noturna, cultura e diversão em meio à sex shops, boutiques e ca-feterias.

A rota do conhecimento

Sem dúvidas, Londres oferece a maior oferta de museus do mundo, sobre os mais di-ferentes temas – arqueologia, ciências, história, tecnologia e um longo etc. O roteiro acaba sen-do uma grande oportunidade para que pessoas com os mais variados interesses e gostos se di-virtam e dêem mais produtividade aos inumerá-veis dias cinzentos.

A lista é interminável, porém podemos priorizar os mais interessantes e, logo, caso so-bre tempo, realizar uma pequena excursão pe-los mais modestos (muitos deles gratuitos, inclu-

sive).

British Museum é um dos maiores e mais importantes do

mundo, costuma ser também o mais visitado pelos turistas. O trio National History Museum, Victoria & Albert Museum e Science Museum são imper-díveis e estão um ao lado do

outro. Abrigam desde peças de história natural, passando

por tesouros históricos e objetos de todos os ramos da ciência. Outro

que certamente vale a pena é o Museu de Cera de Madame Tussaud, onde encontramos personalidades famosas, perfeitamente repro-duzidas, e que sem pensar nos invade o desejo de imortalizar em centenas de fotografias.

O melhor conselho para dar conta de toda essa rota e não arruinar o orçamento é comprar um London Pass, um cartão que dá direito a usufruir da maioria das atrações turísticas por um preço muito mais econômico. O London Pass pode ser adquirido para um, três ou seis dias, dependendo do tempo que cada um tem dispo-nível na cidade. Serve tanto para museus como para conhecer outros pontos emblemáticos, em um total de 55 atrações. Buckingham Palace, St.Paul’s Cathedral, London Bridge, Tower Brid-ge, Shakespeare’s Globe Theatre, entre muitos outros, fazem parte deste pacote.

Há cerca de 260 km de Londres,

em Oldham, em julho de 1978, nasceu Louise Brown, o primeiro bebê de

fertilização in vitro do mundo.

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

37

Page 38: Revista Fertilitat

Cinema aborda reprodução assistida

O tratamento da infertilidade conjugal. O

congelamento de óvulos para preservação da

fertilidade. A barriga de aluguel. A doação de

sêmen. O campo da reprodução assistida é

fértil para os cientistas e parece ser também, e

cada vez mais, para os cineastas. Nos últimos

anos, muitas produções ganharam a telona com

histórias que envolvem técnicas de reprodução

assistida. Algumas vezes, elas estão no centro

da narrativa. Em outras, servem como pano de

fundo para a ação dos personagens.

Os conflitos de quem passa por

um tratamento de infertilidade realmente

emocionam. A busca pela realização do sonho

de ter filhos é permeada por sentimentos

intensos. Quando um casal externa este

desejo, demonstra que está disposto a um

comprometimento para a vida inteira, sem

concessões. Certamente temos aí um assunto

que ultrapassa a superficialidade de nossos

desejos cotidianos. E o cinema tem sabido

explorá-lo com emoção e beleza.

FERTILIDADE E CULTURA

O filme “Plano B”, de 2010, abor-

da a vontade de Zoe (personagem vivida

por Jennifer Lopez) ser mãe. Na falta de

um companheiro, Zoe decide procurar um

especialista em reprodução humana para

uma possível gravidez. Depois de recorrer

a um banco de sêmen, a personagem en-

gravida por inseminação artificial, disposta

a criar o filho sozinha.

No mesmo dia em que recebe o re-

sultado positivo, Zoe conhece o homem

dos seus sonhos, Stan, personagem de

Produção independente

Alex O’Loughlin. As idas e

vindas do relacionamento,

permeadas por momentos

hilários, dão o tom desta

comédia, que consegue

equilibrar sensibilidade e

muitas risadas.

“A produção inde-

pendente é uma marca de

nosso tempo. Mas, mais do

que ela, o que vemos é mu-

lheres que precisam deixar

a gravidez para mais tarde,

por motivos pessoais ou

profissionais. É cada vez

maior o número de mulhe-

res solteiras que optam pelo congelamento

de óvulos para preservar sua fertilidade até

que chegue o momento propício”, salienta

o médico Alvaro Petracco, diretor do Fer-

tilitat. “O que é importante lembrar é que

dificilmente surge um momento ideal para

a gravidez. Muitas mulheres esperam de-

mais por esse momento, querem realizar

antes todos os seus projetos, e o tempo é

implacável com a fertilidade feminina”, aler-

ta Petracco.

38

Page 39: Revista Fertilitat

Em um drama comovente, “Uma pro-

va de amor” relata a luta de Sara, persona-

gem de Cameron Diaz, para salvar a vida

de sua filha Kate, que sofre de leucemia.

Como uma de suas últimas alternativas,

Sara e o marido, Brian (Jason Patric) optam

por fazer uma fertilização in vitro e transfor-

mar a criança em doadora. A menina Anna,

vivida por Abigail Breslin, desde bebê doa

sangue e medula óssea para a irmã que,

infelizmente, não vê seu quadro se alterar.

Quando chega a adolescência, Anna

se revolta com a situação e entra na justiça

para alcançar sua “emancipação médica” –

ela quer ter controle sobre o próprio corpo.

“O tema é polêmico e suscita uma série de

abordagens. De um lado, temos os pais que

lutam incessantemente pela vida da filha.

De outro, uma adolescente que não se sen-

te respeitada, mesmo sabendo que a bus-

ca dos pais é digna. Nestes casos, o que

deve prevalecer é sempre o respeito pelo

ser humano”, aponta Mariangela Badalotti,

diretora do Fertilitat.

Para segurar o casamento

Para salvar uma vida

No drama “Match Point”, de woody Al-

len, a gravidez é um sonho de Chloe (Emily

Mortimer), que atribui a crise de seu casa-

mento com Chris (Jonathan Rhys Meyers)

ao fato de ainda não terem filhos. O que ela

não sabe é que Chris vive uma relação ex-

traconjugal com Nola (Scarlett Johansson),

ex-namorada de seu irmão.

Chris e Chloe iniciam um tratamento

de reprodução assistida e ela fica comple-

tamente obcecada pela idéia de engravi-

dar o quanto antes. As relações sexuais do

casal ficam comprometidas, restritas aos

momentos com maior probabilidade de fe-

cundação. O tratamento de reprodução as-

sistida é um fato paralelo à trama principal,

que envolve, além do adultério, crimes e in-

vestigação policial.

“Quando um casal inicia o tratamen-

to da infertilidade, precisa estar atento a

seu relacionamento. Há o desejo genuíno

de que, em seguida, nasçam um pai e uma

mãe. Mas o relacionamento homem-mulher

não deve ser deixado de lado. Pelo bem do

casal e também do filho que virá”, expli-

ca Alvaro Petracco. “Não vamos entrar na

questão do adultério, porque certamente a

reprodução assistida não estaria indicada

para o casal do filme. Os problemas fami-

liares devem ser resolvidos antes da busca

por um bebê”, salienta.

Fot

os: D

ivul

gaçã

o

39

Page 40: Revista Fertilitat

VINHOS

Segundo Andrew Jefford, crítico de vinhos

inglês, a casta tinta pinot noir é a poetisa român-

tica, a temperamental.

Vamos conversar um pouco sobre ela. Ser-

rana Verges, cronista sobre vinhos no Chile, diz

que essa uva “poderia ser definida como uma

mulher sensual e elegante, porém, esquiva e ins-

tável. Poucos podem conquistá-la e obter dela o

melhor”. A enorme capacidade da pinot noir de

produzir clones faz com que se mostre diferente

em cada região segundo: tamanho dos bagos,

intensidade de cor, aromas e taninos, de modo

que dificilmente seus vinhos têm, em outros sí-

tios, a mesma grandiosidade que na sua terra

natal, a Borgonha (França). É a grande uva tin-

ta da Borgonha. Chegariam perto dos produtos

de lá, em termos de qualidade, os neozelande-

A temperamental e a onipresenteGerson Lopes

Ginecologista e sexólogo, editor do site www.vinhoesexualidade.com.br.

ses das regiões de Martinborough, Canterbury

e Central Otago e os americanos da Califórnia

(Napa/Russian River Valley) e do Oregon (willa-

mette).

Apesar de o seu nome remeter à Borgo-

nha, atualmente a pinot noir é muito popular,

sendo plantada (apesar das dificuldades) em

vários países do mundo, do velho e do novo

continente. No seu país de origem, podemos

garimpar excelentes vinhos feitos com ela na

região de Loire, assim como bons exemplares

na Alsácia e Languedoc. A PN

é cultivada também na região

de Champagne e faz parte do

corte (mistura com outras va-

riedades) que resulta na bebi-

da que leva esse nome.

Há também bons vi-

nhos dessa casta em Portu-

gal (Bairrada), Itália (Alto Adi-

ge), Espanha (Somontano) e

Alemanha (Pfalz). Na Itália, é

conhecida como pinot Nero, e

na Alemanha como spätbur-

gunder. No novo mundo, além

da Nova Zelândia e dos EUA,

surpreende cada vez mais

a produção do Chile (Casa-

blanca/San Antonio, Límari e

Bio-Bio), Argentina (Mendoza

e Patagônia) e Austrália tam-

bém apresenta muito bons

exemplares.

No Velho Mundo, os vinhos pinot noir se

mostram mais complexos, com notas terrosas,

cogumelos, fumo, chá e especiarias, além da

acidez característica, ao passo que os do Novo

Mundo são mais frutados (frutas vermelhas su-

culentas), com toques florais e algo terroso.

Fot

o: S

hutte

rsto

ck

40

Page 41: Revista Fertilitat

A culinária gaúcha conta com um dos chefs de cozinha mais refinados do

estado. Nascido na França, Phillippe Remondeau iniciou sua vida gastronômica

ainda na infância. Seus pais possuíam um restaurante e por estar sempre no

meio da cozinha e hotelaria, acabou tomando gosto pela gastronomia. Sua

trajetória iniciou aos 16 anos, quando começou a cursar o Centro Profissional

de Formação de Aprendiz de Cozinha, na França. Ao mesmo tempo, Phillippe

adquiria experiência trabalhando em restaurantes. Após outras especializações,

conquistou o certificado de cozinheiro.

Phillippe, que já trabalhou na França e Inglaterra, é proprietário do

Restaurante Chez Phillippe, há 10 anos. Além disso, o chef já lançou o livro

“Gastronomia Francesa Philippe Remondeau: 90 receitas francesas com sotaque

brasileiro”, e ministra cursos para interessados em gastronomia. “Também

organizo grupos com roteiros gastronômicos pela França. Quero proporcionar aos

gourmets a oportunidade de conhecer um pouco mais da gastronomia francesa”,

afirma.

Da França para o Brasil

GASTRONOMIA

Para o molho

Levar ao fogo o suco de maracujá (com as sementes), o caldo de peixe e o buque garni. Reduzir.

Retirar o buque garni e metade das sementes do marcaujá.

Adicionar a manteiga sem deixar ferver.

Temperar com sal e pimenta do reino.

Modo de preparoIngredientes

• 800 gramas de filé de peixe

• 1 maracujá azedo

• 300 ml de caldo de peixe

• 10 gramas de manteiga

• Sal

• Pimenta do reino

• Buque garni

Filé de peixe ao molho de maracujá com gnocchi de batata doce

Para o peixe

Temperar com sal e pimenta do reino

Grelhar cada pedaço dos dois lados.

Dica do Chef

Utilizar peixes frescos da estação, como robalo, namorado, salmão, cherne, entre outros.

Fot

o: C

rist

iano

San

t’Ann

a

41

Page 42: Revista Fertilitat

CRÔNICA

Mesa farta, casa cheia, gente feliz e falando alto. Quando eu era criança não dava muito valor para esses momentos em família. Até que mudei de cidade e passei a morar sozinha. A solidão encheu meu coração de tristeza. Os almoços passaram a ser silenciosos e muitas vezes me vi olhando com inveja para pais e filhos que se divertiam no shopping.

A idade avançava e o desejo de formar minha própria família se fortalecia. Toda vez que via um bebê sentia que o instinto materno se manifestava.

Quando vi meu filho Joaquim pela primeira vez, logo depois do parto, imediatamente lembrei de tudo isso. Não estava mais só no mundo e nunca mais iria sentir aquele vazio interior. Ainda meio anestesiada, chorei. De alegria, de medo, de ansiedade. Meu sonho finalmente se tornava realidade. Mas o que viria pela frente?

Nossos primeiros dias juntos foram cheios de dúvidas. Apesar da convivência íntima de nove meses de gestação, ainda parecíamos

E agora, mamãe?Shirlei Paravisi

www.rbstv.com.br/eagoramamae

desconhecidos um para o outro. Lembro que quando cheguei do hospital olhei para minha mãe e disse: “O que faço agora?” Não sabia como agir diante daquela pessoa diferente dentro da minha casa.

Foi preciso um tempo para me ambientar com a nova rotina. Aliás, uma rotina desafiante. Noites em claro, dias de muito sono, limitações físicas e uma fragilidade emocional. Muitas vezes me perguntei se estava preparada para ter um filho, apesar de ter desejado isso com todas as minhas forças.

Mas a natureza é sábia. A convivência foi me ensinando a ser mãe. Aos poucos passei a compreender os mais sutis sinais do meu pequeno. Muita coisa foi resolvida (e ainda é) apenas com o calor do toque, com a profundidade do olhar, com a vontade de fazer o bem.

Por vezes o coração fica apertado diante de situações inesperadas. Febre alta, choro compulsivo, dor, uma alergia que insiste em fazer companhia. Como ajudar? Como manter a calma? Nem sempre acerto. E nessas horas penso que nossos bebês têm uma incrível capacidade de perdoar nossa insegurança.

No final, tudo acaba bem. Aos poucos a rotina fica mais leve. Deixamos de lado o peso da responsabilidade e desfrutamos o prazer de ver aquele serzinho enchendo o mundo de alegria e sinceridade. O sorriso do Joaquim, que está com um ano e quatro meses, é como um sopro de esperança. A vida é mais simples e prazerosa do que antes. Quem tem um filho redescobre a felicidade.

Foto: Arquivo Pessoal

42

Page 43: Revista Fertilitat

43

Page 44: Revista Fertilitat

44