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trabalho do Caboratório de Anatomia Patológica e medicina Cegai da Faculdade de medicina do Porto

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CARGOS D£ CRSCRO f><■ i ïRTûï îCS

]*taneha$ dç $an$uç

( Seu diagnóstico em medicina Cegai )

R E A C Ç Õ E S DE P R O B A B I L I D A D E E DE C E R T E Z A

Dissertação inaugural apresentada á faculdade de JVIedícína do porto

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JGÏ f*t¥ P O B T O

6scola Cípográfíca da Oficina de S. 'José Rua Alexandre Herculano

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FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

DIRECTOR

Cândido Augusto Correia de Pinho

PROFESSOR SECRETÁRIO

Álvaro Teixeira Bastos

CORPO DOCENTE

Professores Ordinaries e Extraordinários

l.a classe-Anatomia j Luiz de Freitas Viegas f Joaquim Alberto Pires de Lima

2.a classe Fisiologia e Histologia. I António Plácido da Costa | José de Oliveira Lima

3.a classe — Farmacologia Vaga

4.a classe — Medicina legal e Anatomia! Augusto Henrique de Almeida Brandão Patológica j Vaga

5.» c lasse-Higiene e Bacteriologia .1 J o S o L o p e s d a S i l v a M a r , i n s J u n i o r

| Alberto Pereira Pinto de Aguiar

6 a classe-Obstetrícia e Ginecologia.! Ç â n d i d o Augusto Correia de Pinto | Álvaro Teixeira Bastos

l Roberto Belarmino do Rosário Frias 7.a classe — Cirurgia Carlos Alberto de Lima

I António Joaquim de Sousa Júnior

1 José Dias de Almeida Júnior 8.a classe - Medicina , José Alfredo Mendes de Magalhães

' Tiago Augusto de Almeida

Psiquiatria António de Sousa Magalhães e Lemos

Professores jubilados

José de Andrade Qramaxo Pedro Augusto Dias

Maximiano Augusto de Oliveira Lemos

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í

A Faculdade não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.

(Regulamento da Faculdade de 23 de Abril de 1840, art. 155.0)

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Admiração sem igual pelas vossas nobres qualidades. O meu maior orgulho é ser vosso filho.

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/7o /77eo intimo amigo

Dr. Francisco Antonio de Magalhães

Sei quanto vos devo e sei iambem quanto vos estimo.

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Aos velhos e dedicados

Dr. Arnaldo Ferreira

Dr. Joaquim Araújo e Castro

Dr. Eduardo Silveira

Aos meus companheiros de laboratório

Dr. Abel Salazar

Dr. Francisco Coimbra

AOS MEUS CONDISCÍPULOS

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Ao particular amigo

Dr Manoel Lourenço (domes

Homenagem ás suas altas qualidades de inteligência, saber e carácter

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Ao professor

Dr. A'varo Bastos

Çonhecer-vos é estimar-vos.

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Ao meu muito digno presidente de tese, o Ex.mo Snr.

Dr. Augusto Henrique de Almeida Brandão

Çste meu trabalho a Vós o devo. Contraí uma divida enorme. Oxalá eu possa mostrar quanto reconhecido vos sou.

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Ao ilustrado corpo docente

da

FACULDADE de MEDICINA

do PORTO.

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graves palavras

Todo aquele que pela primeira vez tenta ocu-par-se de qualquer trabalho laboratorial, por mais simples que ele seja, vê-se a braços com um sem numero de dificuldades que passo a passo o mortificam e o desanimam.

Experiências que se eternizam e se malogram, tudo á porfia, tenta acabrunhar o espirito, e criar em nós a dúvida de bom êxito.

O diagnóstico das manchas de sangue^ problema aliás complicado, ainda hoje mal seguro, com diver­gências de opiniões, requesita, da parte do analista, qualidades que, infelizmente, se não adquirem em pou­cos meses de prática.

Tentar fazer o seu estudo completo e consciente, só é admissível quando se disponha de anos, nos quais

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um trabalho aturado, uma vontade de, ferro sejam sem­pre companheiros inseparáveis do analista.

g Quantos anos de porfiadas e inteligentes pesqui­sas não representam os trabalhos daqueles cujos nomes ficaram imorred.ouramen.te ligados á história da medi­cina legal?

Era intuito meu dedicar-me única e exclusiva­mente ao estudo da reacção anafilática do sangue, nas suas relações com a medicina legal. O meu interesse, porém, e o desejo de conhecer todos os dados modernos, de mais facilmente relacionar e verificar as vantagens de todos os métodos, levaram-me a procurar fazer um estudo pormenorizado de todas as reacções que pudes­sem ser aproveitadas como recursos úteis na diagnose das manchas de sangue.

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Segui passo a passo essas reacções, experimen-tei-as largamente, tanto quanto os recursos de ocasião mo permitiram.

Reconheci em breve a vastidão do assunto e notei quão difícil seria fazer dum só lance, tudo quanto se liga com o delicado problema médico - legal das manchas.

Um só caminho tinha a seguir. Dividi-lo em duas partes, já que o assunto a isso se

prestava pela diversidade de carácter das suas reacções. Dum lado as reacções físico-quimicas, doutro as

reacções biológicas. Na primeira publicação tratarei de generalidades

sobre as manchas de sangue, e suas reacções de 'proba­bilidade e certeza.

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Ás reacções de, especificidade, farão parte doutro trabalho, que em breve 'publicarei.

Este trabalho representa longos dias de prepa­ração, de esforços e desânimos e é naturalmente um trabalho de compilação, mas no qual as reacções foram largamente verificadas com experiências que se suce­deram, interminavelmente. Uma única utilidade tem: mostra quão falíveis são a maior parte dos processos ainda ontem tidos como óptimos, e como será preciso proceder a muitos, muitíssimos trabalhos, para poder tomá-los seguros.

Que o digno júri a quem vai ser confiado o julgamento deste trabalho, me leve em conta o pouco tempo de que dispus e se lembre que a mi­nha ainda reduzida vida de laboratório, não me

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poderá ter dado qualidades de analista seguro, me­diocre sequer.

Sinto-me feliz em poder patentear aqui o meu agradecimento a todos os que me auxiliaram e me cederam recursos incalculáveis, sem os quais natural­mente não levaria a cabo o meu trabalho.

Ao Ex.m0 Snr. Dr. Henrique de Almeida Brandão, que não só foi incansável, fornecendo-me todo o material de laboratório, mas até levou o seu auxilio a incitamentos e conselhos preciosos, aqui lhe fica consignada a minha mais profunda gratidão.

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Ao Ex.»10 Snr. Dr. Álvaro Bastos a minha estima e reconhecimento pela maneira liai e desinte­ressada com que me forneceu todos os importantes ele­mentos ao sen alcance.

Agradeço também sinceramente ao Ex.mo Snr. Dr. Alberto de Aguiar a amável disposição com que me atendeu, dissipando-me várias dúvidas.

Reconhecido me mostro ao professor Lecha-Marzo de Valladolid, pela bondade com que acolheu os meus pedidos, fornecendo-me dados de grande utilidade.,

i fmfim, não esquecerei o valioso auxílio prestado por .o meu particular e inteligente amigo Marques de Abreu, na tiragem- das gravuras que acompanham este trabalho.

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CAPITULO I

Generalidades

RESUMO

I Resumo histórico. II Caracteres e aspectos das manchas de sangue.

III Forma das manchas. IV Solubilidade das manchas. V Idade das manchas.

VI Colheita das manchas. VII Protecção e transporte das manchas.

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Generalidades

Resumo histórico Depois que Donné, B a y a r d e Devergie

mostraram o alcance médico-legal do estudo das manchas de sangue, só Charles Robin conseguiu, servindo-se do microscópio, dar um forte impulso ao complicado problema do seu diagnóstico.

Charles Robin marca, pois, uma época nova para a medicina legal, e positivamente, ás suas experiências se deve a orientação tomada por Vibert e Lacassagne nos seus completos trabalhos sobre este assunto. Fácil é de compreender que não é muito longa a história das manchas, visto que são relativa­mente recentes todos os trabalhos de pesquisa,

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4 MANCHAS DE SANGUE

efectuados sobre as qualidades e propriedades do sangue.

A notícia seriada de todas as reacções, de todos os métodos aparecidos como eficazes para a diagnose do sangue nas manchas, além de inútil, é fastidiosa, mas a titulo de curio­sidade, convém citar que, inclusivamente, até o próprio cheiro serviu a Fourcroy e Barruel para investigarem a origem duma mancha sanguínea.

Hoje, ó vasto o problema médico-legal das manchas, por serem mais bem conhecidas as propriedades físicas, químicas e biológicas do sangue. Não se limita a pesquisa á verificação pura e simples de sangue, vai-se mais longe, conseguindo-se apurar se êle ó ou não humano.

Se vamos buscar á positividade dos méto­dos fundados nas propriedades físico-químicas e histológicas, a certeza absoluta da presença de sangue, as suas qualidades biológicas bela­mente aproveitadas, resolvem o problema da origem, da especificidade.

As reacções biológicas do sangue decifra­ram, pois, o intrincado problema da origem do sangue, fazendo cair á margem todos os outros processos há pouco citados como únicos e que

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Manchas de sangue.

Fig. a \ mão ensanguentada sacudida junto Fig. b f a uma parede.

Fig. c f i impressões dig i taes

Fig. d f

EST. IV (Siiiiili-gnivura Marques Abreu)

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GENERALIDADES 5

se baseavam no seu diferente poder de coagula­ção, na resistência a acção dos alcalis, nas dife­rentes formas de cristais de hemoglobina, etc.

C a r a c t e r e s e a s p e c t o s Milhares são das manchas de sangue a s causas que

con t r i buem para dar ás manchas de sangue aspectos dife­rentes, alguns dos quais vêm modificar com­pletamente a sua feição característica. Alem das causas externas, outras há que modificam extraordinariamente a sua forma e os seus caracteres, como sejam a qualidade do sangue, o seu poder de coagulação e a sua riqueza em hemoglobina, fibrina e em soro. Acrescente-se a isto a extrema variedade de suportes das manchas e ver - se -há quão difícil se torna estabelecer um tipo próprio, subordinado a aspectos próprios e específicos.

E certo que uma mancha fresca, feita num pedaço de pano absorvente, cujas malhas rete­nham abrigados os glóbulos rubros, tem uma coloração, que pode não deixar dúvidas a seu respeito., mas as investigações médico-legais vão cair na maior parte das vezes em manchas adulteradas pelo tempo, pela luz, pela humi-

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6 MANCHAS DE SANGUE

dade, pela temperatura, quando não tenham sido mesmo lavadas e submetidas a reagentes próprios para desviarem de si todas as aten­ções.

São, pois, todas estas razões que tornam dificílimos os exames para as colheitas e dia­gnóstico.

Em geral, as manchas diferem muito, segundo o objecto em que se encontram. Se a mancha está em um pano branco, toma uma forma mais ou menos arredondada, depen­dendo então o seu tamanho, quer da quan­tidade de sangue, quer mesmo das suas qua­lidades.

Quando se trata, por exemplo, dum sangue pouco denso, como pode acontecer num hidré-mico, num anemiado, ou mesmo no sangue que goteja dum coágulo, a mancha alarga-se e depois de seca, pouca consistência dá ao tecido.

Ainda assim mesmo, se vê uma parte cen­tral menos concentrada e limitada por dois cir-culos, o mais interno dos quais bem corado, faz um contraste apreciável com o externo, esbran­quiçado, quasi na sua totalidade çonstituido por soro. O sangue em geral, quando cai sobre

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GENERALIDADES 7

um pano, trespassa-o, embora dum dos lados a mancha seja muito mais nítida.

Este facto não sucede com tintas de óleo, que muitas vezes podem semelhar-se a man­chas de sangue. Se o tecido não é branco, todos estes caracteres de coloração desaparecem e em muitos, senão na totalidade dos casos, só a maior consistência do pano no logar da man­cha e a inspecção á luz reflectida, a podem denunciar.

A côr habitual nos tecidos escuros é seme­lhante á côr de bôrra de café. É particular­mente nas manchas dispostas sobre objectos escuros que se observa melhor uma das cara­cterísticas do sangue seco, o seu brilho.

A forma arredondada das manchas de san­gue, embora muito frequente, não é a única. Lembremo-nos das manchas produzidas, quer por mãos, quer por objectos ensanguentados, que foram limpos em panos.

O brilho das manchas está numa relação muito directa com a natureza do suporte.

Quanto menos absorvente este fôr, tanto maior é o brilho da mancha.

Os tecidos de algodão e linho quasi não dão brilho nenhum ás manchas. O mesmo

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8 MANCHAS DE SANGUE

* acontece ás manchas que se tentaram disfarçar com a lavagem.

Os tecidos de lã e seda dão um brilho muito intenso e por vezes é fácil descascar pequenas partículas sólidas de sangue seco.

Estas manchas, quando se dobram, dão bem uma sensação da sua inabilidade.

Nos objectos impermeáveis, tais como pe­dras, objectos de aço, navalhas, punhais, etc., teem as manchas aspectos muito diferentes e muitas vezes difícil se torna distingui-las.

Encontram-se casos em que o sangue secou em largas placas, que se fendem e destacam facilmente.

Nas lâminas, aparece quasi sempre o sangue em pequenas gotas, seriadas como são as cadeias de estreptococos, secas, o que é devido á quasi vulgar tentativa de limpeza das mesmas para ocultar o crime. Quando as lâminas conteem ferrugem, o seu isolamento é difícil e só as diferentes reacções sanguíneas conseguem distingui-las e assegurar a presença de sangue.

Convém lembrar que a luz difusa e refle­ctida é a melhor para observar esta espécie de manchas.

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UENERALIDADES 9

A côr das manchas varia muito com os agentes externos, mas a sua modificação obe­

dece vulgarmente á idade, ao local em que são conservadas, á temperatura, á luz e grau de humidade.

As diferentes modificações observadas podem resumir­se aos seguintes tipos :

Parda. Castanha.

„ avermelhada. „ esverdeada.

Rosea. Verde azeitona. Acinzentada.

Toda a mancha, mesmo conservada em boas condições, tende a tornar­se escura, côr de café.

Há manchas em que a transformação em hematina foi quási total. Nestas deve­se procu­

rar sempre observar o dicromismo. Na realidade, estas manchas dão á luz reflectida e difusa uma côr esverdeada e á luz directa e mesmo por transparência, um tom avermelhado.

A luz reflectida, fazendo­se variar a posi­

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10 MANCHAS DE SANGUE

ção do foco luminoso, pode-se muito bem obser­var um forte brilho irisado.

Resumindo, diremos que em geral, as man­chas novas teem uma côr vermelho-rosea, com um brilho esverdeado e que a idade, principal­mente auxiliada pela luz, a vai fazendo passar por castanho avermelhado, castanho franco e por ultimo castanho escuro.

Quando o sangue das manchas tem grande quantidade de hematina, estas teem um aspecto muito semelhante á ferrugem.

O aspecto das manchas varia, pois, essen­cialmente com as condições a que estiveram sujeitas. Tudo deriva e se filia nas transforma­ções que a hemoglobina sofre. De todas as acções externas, a de maior influência é sem duvida a da luz. Manchas que conservei fora do contacto da luz, mantiveram durante meses quási o seu aspecto primitivo. A luz tem até uma acção muito superior a humidade.

F o r m a d a s m a n c h a s Neste caso, tem uma acção prin­

cipal a natureza do suporte. Ainda há pouco, notei que o facto de serem ou não absorventes os objectos sobre que assentam as manchas,

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GENERALIDADES 11

tinha uma acção inteiramente sensivel sobre a sua forma e até sobre a sua coloração.

Os objectos absorventes, tais como panos etc., alargam a mancha e modificam aprecia­velmente a sua forma. Não repetirei agora qual a forma especial das manchas sobre panos.

O próprio acto da lavagem duma mancha, alem de a descorar fortemente, alarga-a muito. O facto de o suporte não ser absorvente faz com que a mancha, ao secar, conserve a sua forma inicial. Mesmo nas manchas feitas em tecidos, estas conservam muitas vezes a sua forma inicial.

É o que se observa quando a quantidade de sangue foi muito reduzida, ou então mesmo quando a mancha está sobre um pano gomado, por exemplo colarinhos, punhos, etc.

Nos objectos, tais como navalhas, paus, etc., o sangue condensa-se Das suas anfractuo-sidades, nas suas ranhuras.

Além da natureza do suporte, temos ainda a considerar a maneira como a mancha foi fei­ta. O sangue pode ter caído em gotas verticais, ou ter sido projectado em jacto continuo, duma artéria aberta, ou ter procedido de mãos, ou

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1(2 MANCHAS DE SANO UE

de objectos ensanguentados, que se limparam, ou sacudiram.

Pode ter sido mesmo lançado dum indi­viduo em marcha, de diferentes alturas e a incidência pode ter sido muito variada. Nos estudos sobre este assunto, tratei de fazer as minhas experiências, fazendo cair e projectar sobre papeis, sangue humano, sangue de coelho e de carneiro. Nenhuma diferença se pode esta­belecer, quanto á natureza do sangue, — a for­ma da mancha não nos fornece dados de espé­cie alguma sobre a origem animal da mesma.

Se me refiro a este facto, é tão somente por Naumann e Day quererem, pela forma do sangue seco, pelo seu fendilhado, obter um meio de diferença e de especificidade sanguí­nea. O fendilhado duma mancha seca mesmo pelo calor, está em relação com o grau de densidade e poder de coagulação do sangue e nós sabemos, mesmo no género humano, quanto isso é variável de indivíduo para indi­víduo e até dentro do próprio indivíduo.

Fiz também limpar mãos ensanguentadas e navalhas a panos.

Nas Estampas de I a VI vão as fotogra-vuras dos originais.

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GENERALIDADES I.")

Examinando a Estampa I, onde se vê a forma das manchas de gotas caídas sobre pla­no horizontal e oblíquo a -45°, facilmente se nota que entre as que incidem numa direcção perpendicular ou oblíqua, existem diferenças palpáveis. As que incidiram perpendicular­mente teem uma forma regular, com pequenos laivos sanguíneos orientados no prolongamento dos raios terminados por pequenas gotas aces­sórias e ocupando regularmente toda a perife­ria da mancha. A propria altura do ponto onde foi despedida a gota, não deixa de ter influência, pois quer o tamanho da mancha, quer mesmo o seu crenulado e irisado aumentam proporcio­nalmente á altura. Á altura de 10 cent, não se nota o crenulado.

Note-se que estas manchas (fig. á a e) são provenientes do mesmo sangue e tinham o mesmo volume de gota, pois eram medidas por um conta-gôtas.

Se estas manchas estivessem em cartão, ou mesmo em pedra, a coloração da parte central era muito mais uniforme. O papel que usei encarquilhou e formou planos de declive, que mascararam e modificaram os pontos de concentração do sangue.

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14 MANCHAS DE SANGUE

Note-se ainda, e este facto é importante, que as gotas caíram dum indivíduo parado. Na mesma Estampa I, nas figuras (e e / ) se observa a forma da mancha provocada por gota caída dum indivíduo parado, mas inci­dindo sobre um plano, oblíquo a 45° — Nestas manchas, o irisado ocupa só um dos poios da mancha e esta mostra-se muito mais corada na porção referente ao irisado. Neste caso mesmo, a altura tem influência muito especial­mente sobre o tamanho dos laivos projectados — A figura g da Estampa I, mostra o efeito duma gota pendente num plano oblíquo.

Teem ás vezes formas bizarras estas man­chas. O sangue serpenteia dando aspectos inte­ressantes.

Um dos casos mais interessantes a tratar é o do sangue gotejando duma mão ensanguen­tada dum indivíduo em movimento. Toma aspectos e formas um pouco diferentes, mas só são facilmente concludentes, quando se tem uma porção enorme de manchas, por exemplo, manchas deixadas num passeio, na terra, etc. Nestes casos, o irisado e os laivos sanguíneos, que saem da mancha dirigidos segundo a mar­cha do individuo, são tanto maiores quanto

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EST. I

Gotas de sangue sobre plano horisontal : a 25 cm. (fig. a) a 50 cm. (fig. b) a tOO cm. (flg. c) a 150 cm. ffig. d)

Gotas de sangue sobre plano obliquo a 45° — a 50 cm. (fig. e) a 100 cm. (fig. f)

GÔtas pendentes sobre o mesmo plano (fig. g)

(Simili­gravura Marques Abreu)

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GENERALIDADES 15

mais rápida for a marcha. É o que se observa nas figuras 1, 2 e 3, da Estampa II.

Estas manchas confundem-se com as man­chas formadas em planos oblíquos, mas se repararmos atentamente nas primeiras, os laivos sanguíneos, embora com predominio no polo que fica voltado para o individuo, também existem, no resto da periferia da mancha, embora sejam de menor grandeza.

Quando as manchas estão em grande extensão, este predominio do irisado apresen-ta-se muitas vezes com direcções opostas, mas a direcção do maior numero é que nos dá o verdadeiro sentido da marcha. O facto de se apresentarem algumas manchas com direcção diferente, é devido aos movimentos dos braços-

Gôta que caia, quando o braço se dirige para trás, tem naturalmente os laivos diri. gidos em direcção oposta á do movimento do indivíduo.

Tratemos agora do sangue projectado, quer por artéria, quer mesmo por mãos, ou por qualquer objecto que foi sacudido.

A forma das manchas faz então uma diferença grande das que acabamos de des­crever.

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16 MANCHAS DE SANGUK

Examinemos as que são formadas pelo sangue saído em jacto duma artéria.

Servi-me para estas experiências, do san­gue da artéria carótida do coelho. Recebi o jacto sobre papel, ás distâncias de trinta e cin­quenta centímetros. Estas manchas teem um aspecto diverso, conforme a proximidade e a quantidade do sangue jorrado e ainda é depen­dente do ângulo de incidência.

Na Estampa III dão-nos as figuras a e b, o sangue colhido respectivamente a 30 e 50 cm. e com um plano de maior obliquídade em b. Em c, na mesma Estampa o sangue colhido numa direcção perpendicular. Todas estas man­chas teem as virgulas características, ou an­tes a verdadeira forma de pontos de admiração, com a pequena extremidade voltada em direc­ção oposta ao topo arterial que sangra, Mas estes pontos de admiração aumentam muito com a distancia, com a quantidade de sangue jorrado e com a obliqùidade da incidência.

Estas manchas são um pouco característi­cas e encontram-se ás vezes na face interna dos colarinhos, vestuário de assassinados, em paredes etc., no caso de crimes em que se cor­tam artérias. E preciso estar prevenido tam-

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GENERALIDADES 17

bem contra o facto de poderem aparecer estas mesmas formas á superficie externa dos fatos dos próprios assassinados. Este caso dá-se quando o assassino vibra o segundo golpe com a lâmina ensanguentada. É o impulso da mão que faz despedir gotas da lâmina e que apre­sentam um aspecto semelhante. J á se vê que do predomínio ou não dos pontos de admira­ção e do local onde se encontram, se tiram as provas certas se sim ou não o sangue foi pro-niente duma artéria.

A forma destas manchas é sem duvida devida á pulverização e projecção do sangue.

Esta forma de pontos de admiração en-contra-se também nas manchas deixadas por mãos e objectos ensanguentados sacudidos, fortemente.

A Estampa V mostra duma maneira evi­dente (fig. a e b) como ó fácil um engano num caso semelhante.

Nessa Estampa, vê-se bem o cordão ensan­guentado formado pela projecção do sangue e as manchas apresentam aspectos diferentes, conforme foram feitas no primeiro ou ultimo tempo da sacudidela.

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As primeiras, as que ocupam a parte

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18 MANCHAS DE SANGUE

superior das figuras, dão o aspecto de gotas caídas num plano oblíquo, as inferiores simu­lam admiravelmente os pontos de interroga­ção. E que as feitas no primeiro tempo não levavam uma velocidade tão grande, como as feitas no ultimo tempo da sacudidela.

Além destas manchas derivadas da pro­jecção de sangue, temos ainda a considerar as feitas por toques de mãos ensanguentadas e por facas, que se limparam. Estas manchas raras vezes teem características, mas no entanto casos há em que se pode depreeuder alguma coisa de útil. Quando as manchas são feitas, quer por toques, quer mesmo pelo limpar das mãos, é sempre útil investigar impressões digi­tais, muito principalmente quando se trate de suportes pouco absorventes. Os dedos, ao limpa-rem-se, deixam muitas vezes manchas, onde é fá­cil reconstituir as impressões deixadas pelas fa­ces ventrais dos mesmos. Na Estampa V, fig. c, observam-se impressões sanguíneas separadas por sulcos descorados relativos ás pregas dos dedos. Pelo contrario, já as manchas da Estam­pa VI, fig. a e principalmente a da fig. b} não fornecem elementos, donde se possam tirar con­clusões sobre a origem das mesmas,

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Diversos aspectos de manchas de sangue projectado por carótidas de coelhos.

Incidindo numa direcção perpendicular, a 50 cm. (Fig. c)

Incidindo numa direcção obliqua :

(Fig. b) a 50 cm. com forte inclinação. (Fig. a) a 50 cm. com pequena inclinação.

(Simili­gravura Marques Abreu I

EST. Ill

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GENERALIDADES 19

As facas, ao limparem-se, dão manchas, que não deixam de ser interessantes. Em geral, lim-pam-se, apertando-as e fazendo-as deslisar entre os dedos indicador e polegar da mão esquerda. Examinando a Estampa V, fig. a e b, observa-se que estas manchas são constituidas por arca­das, separadas por uma linha média mais descorada, ou inteiramente limpa, linha corres­pondente ao dorso da lâmina, e nota-se que a arcada da direita da gravura é maior no sentido vertical. Esta arcada marca a posição do dedo indicador, que é o que toma maior contacto com a faca. A outra corresponde ao polegar.

Se se tratasse, pois, dum indivíduo esquer­do, as ai'cadas tomavam a posição inversa.

Escusado será dizer-se que tudo isto pode deixar de suceder assim, com a regularidade apontada.

Em resumo, podemos tirar as seguintes conclusões :

l.o As formas das manchas são múltiplas. As que dão algumas características são as for­madas por gotas caídas ou projectadas, mas essas mesmas características estão dependen­tes da altura da queda, da violência da pro-

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jecção, da maior ou menor obliquidade do plano suporte receptor.

2.° A projecção violenta do sangue, por exemplo mãos e laminas ensanguentadas sacu­didas com violência, podem simular o jacto duma artéria.

3.0 A direcção do jacto, ou do caminho dum ferido, ou criminoso, só pode em certos casos ser estabelecida, quando haja um con­junto razoável de manchas.

Solubilidade das manchas Nas expe­riências a

que procedi, para avaliar a solubilidade do san­gue, servi-me de manchas produzidas por san­gue de placenta humana, ás quais fiz variar o seu modo de conservação.

Feitas umas em panos de algodão branco, outras, em casimiras azuis escuras, vieram mos-trar-me á evidência, quão grande é a acção do suporte sobre o prolongamento da solubilidade das manchas. Como se verá, dos resultados obtidos pode-se concluir que as cores escuras dos tecidos conservam durante mais tempo a solubilidade das manchas em água distilada.

Descrevendo o modo como procedi nas

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GENERALIDADES 21

minhas experiências, é preciso dizer primeiro o que quero significar, quando me refiro a uma solubilidade completa duma mancha.

Chamo solubilização completa ao facto do desaparecimento da substancia corante do su­porte, até leves vestígios de mancha.

Sobre as amostras citadas, fiz incidir, numas, a acção da luz difusa, do ar, do sol directo, da humidade, a outras conservei-as fora da acção dos agentes externos, devida­mente cobertas por papel de filtro e acondicio­nadas em pequenas caixas.

Eis os resultados obtidos :

ACÇÃO DO AR E LUZ DIFUSA (x)

Mancha 1 - datando de 3 de Abril — pano branco de algodão. » 2 — » de 3 de » — casimira azul.

Solubilização Solubilização completa em completa em água distilada K.OH a 1 p. c.

Mancha 1 — 1 hora — 3/i hora — 9 de Abril » 2 __ l / 2 » — 1/4 » — 9 de » » 1 — 1 1/2 » — 1 V* » — 18 de » * 2 — 1 » — V2 » — 18 de »

(!) Estas manchas foram expostas dentro das vitrines do museu de atomia patológica.

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S o 1 u bilização Solubilização completa em completa em água distilada K.OH a 1 p. c.

Mancha i — 2 i/2 hora — 2 V* hora — 2 de Maio. » 2 — 2 » — 1 3/4 » _ 2 de » » 1 — 3 » — 3 » — 2 de Junho. » 2 — 2 V4 » ­ 2 Vi » —

Pouco solúvel

2 de »

Mancha 1 — 24 hora — 24 hora — 3 de Agosto. » 2 — 1 8 » — 18 » —

ACÇÃO n o SOT ntRFr­m M

3 de » a

Mancha 3 — datando de 5 de Abril — pano branco de algodão » 4 — * de 5 de » — casimira azul.

Solubilização Solubilização em água dis­ em K. OH a — tilada — — 1 p. c, —

Mancha 3 — 4 ­

6 horas 4 >»

6 horas 4 »

insoladas durante 3 dias. » » 3 »

Água disti­

lada.

M 3 — 36 horas M 4— 24 » M 3 — pouco sol. M 4— » M 3 —­ insolúvel — M 4— » —

Sol. de K.OH Sol. de K.OH a 1 p. c. a 33 p. c. Soluto de CiK

■ 36 horas — 10 horas —insoladas 7 dias. ­ 24 » — 7 » — > 7 » pouco sol. — pouco sol. — » 11 »

> » — ­f­ sol. — » 11 » pouco sol. — 11

11

(i) Estas manchas foram insoladas, protegidas por cam­pânula de vidro.

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EST. V

pressões deixadas por lâminas ensanguentadas nos panos onde foram l impas. Fig, a \

Fig. b t

Fig. c — impressões feitas por mão ensangúentad

I Si mill­gravura Mariiueg Abreu

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GENERALIDADES 23

ACÇÃO DA HUMIDADE E DA LUZ DIFUSA (!)

Mancha 5 — datando de 5 de Abril — pano branco de algodão. » 6 — » de 5 d e » — casimira azul.

Sol. em água distilada

Mancha 5 — 6 horas — 8 dias de câmara húmida. » 6 — » . » — 8 » » » » » 5 — 8 » — 1 5 » » » » > 6 — » « — 1 5 » » » »

— _ _ ACÇÃO DO CALOR

Mancha 7 — pano branco de algodão. Insolúvel em água distilada. ) aquecimento Pouco solúvel em K . O H a i %. > a 100 graus Solúvel em K.HO a 33 %. ' 1 Va horas.

CONSERVAÇÃO FORA DA ACÇÃO DA LUZ E HUMIDADE

Mancha 8 — datando de 3 de Abril — pano branco de algodão. » 9 — » de 3 d e » — casimira azul.

Mancha

Sol u bilizaçao completa em aguí i distilada

8 -- 10 minutos -- 10 de Abril. 9 -- 10 » — - 10 de » 8 -- 15 » — - 11 de Maio. 9 -- 15 » - 11 de » 8 -- 30 » -- 9 de Junho 9 -- 30 » - 9 de »

(!) Estas manchas foram conservadas em câmara húmida.

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Destas pequenas experiências se deduz facilmente que o calor e a luz do sol são os agentes que mais insolubilizam as manchas. Estas experiências não podem ser tomadas como base para estabelecer um quadro refe­rente á solubilização das manchas, porque as proprias estações do ano, quer pelo seu diferente grau de humidade, quer pela sua diferente temperatura e grau de luminusidade, influem poderosamente na modificação das manchas.

Em regra, referindo-nos á acção da luz, podemos dizer com Leers, que dias de acção directa do sol correspondem a semanas de luz difusa. Nas manchas expostas á luz do sol, é preciso notar que além da luz, se deve contar com a acção do calor, a qual não é menos modificadora, em relação ao poder de solubilidade.

Leers com 14 dias de insolação, não pôde obter nenhum espectro da solução duma mancha.

O poder de solubilidade duma mancha está ainda em relação estreita com a natureza do suporte. É bem sabido que as manchas feitas em objectos de ferro, dificilmente se solubili-zam, o que é devido muito provavelmente ás

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h-to i.L,

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GENERALIDADES 25

combinações insolúveis, formadas com o auxílio da ferrugem.

A madeira, a argamassa, a cal das pare­des também tornam facilmente insolúveis as manchas.

A podridão adiantada actua semelhante­mente á acção da luz, mas podemos dizer que o sangue, sujeito a acção do ar húmido, con­serva ainda durante bastante tempo o seu poder de solubilidade na água distilada.

Várias tem sido as soluções indicadas como próprias para a solubilização das man­chas. As mais usadas são as de potassa a 1 °/0, 2 % , ou mesmo a 33 % . A hematina dissolve-se com facilidade nas soluções de cianeto de potássio e de hidrato de cloral. Alguns autores modernos chegam a indicar o acido sulfúrico como dissolvente de manchas muito antigas.

Outros, como Sehultz, aconselham que se faça a redução com zinco, numa solução de potassa, em banho-maria.

Estes métodos são pouco usados, pois em geral, as manchas que chegam ao médico legista, são, na sua quási totalidade, relativa­mente recentes.

Nas manchas de que tenho feito uso para

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o meu estudo, servi-me sempre de soluções de potassa, cuja acção auxiliava por um calor brando.

NOTA. — Ultimamente, tive ocasião de ava­liar num crime efectuado no logar do Bacelo, Campanhã, — a influência bem precisa do ca­lor e luz sobre as manchas de sangue. 0 lugar onde o indivíduo foi ferido, dista uns 170 metros do ponto onde caiu morto.

No seu trajecto, teve que passar e saltar por cima dum muro, onde deixou extensas manchas de sangue. Este muro, além de estar abrigado pela sombra duma arvore, foi revestido, depois do crime, por uma camada de silvas, a fim de impedir que os curiosos o avançassem.

No local onde o assassinado morreu, havia manchas nas portas e paredes da casa, onde tinha ido bater por socorro. No chão encontra-vam-se uns trapos de pano escuro ensanguen­tados.

Todo este local, virado ao sul e bastante desabrigado, está sob a acção directa dos raios solares. Colhi amostras de todas estas manchas, que se dissolveram mais ou menos facilmente

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na água, mas as que foram retiradas do muro dissolveram-se rapidamente, dando uma colo-í^ação bastante carregada, ao passo que as outras, mais custosas de dissolver, deram solu­ções mais fracas.

Note-se ainda que as manchas do pano escuro se dissolveram melhor que as das portas e estas melhor que as das paredes de cal bran­ca. Todas estas ultimas estiveram durante 7 dias expostas ás mesmas condições externas, mas o suporte era diferente, pois o pano, como disse, era escuro, vermelhas as portas e brancas as paredes. Este facto teve uma acção sobre o grau de solubilidade das manchas.

I d a d e d a s m a n c h a s Nada mais incerto, nada mais difícil

que avaliar com exactidão a idade duma mancha.

Os dados de que se lança mão, de ordiná­rio são fornecidos, quer pela coloração, quer pelo poder de solubilidade das manchas. Ora, no mesmo prazo de tempo, a mesma mancha pode sofrer diversas alterações, conforme as circunstâncias externas que a cercaram.

Só quando estas condições são-bem conhe-

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cidas, é que o médico legista pode atribuir-lhe uma idade aproximada.

Tomellini, fundado na variação de côr que uma mancha sofre com o tempo, fez uma escala onde se observam as diferentes colorações do sangue, de horas até meses de idade. Mas Tomel­lini não fez escalas de coloração em manchas expostas á infinita variedade de agentes exter­nos modificadores e para cada caso em par­ticular, seria preciso construir escalas especiais.

Obtida mesmo que fosse esta infinidade de escalas, seria ainda assim necessário o conhe­cimento exacto do ambiente a que esteve submetida a. mancha, cuja idade quiséssemos avaliar.

O ilustrado professor Lecha Marzo de Val-ladolid, indica como meio útil, dar-se uma picada num dedo e esperar que a mancha obtida tenha a mesma coloração que a outra dava na escala de Tomellini. Como se vê, os meios não são rigorosos, nem absolutos, mas o médico legista pode dizer: se esta mancha esteve em tais circunstancias . . . deve ser t a l . . . a sua idade aproximada.

Leers avalia a idade aproximada duma mancha, quer pela sua solubilidade na água

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distilada, quer pela natureza do aspecto da sua solução. Assim divide-as em :

manchas frescas — facilmente solúveis em água distilada e dando o espectro da oxi-hemo-globina ;

manchas com dias — dissolvem-se mais lenta­mente e dão o espectro da met-hemoglo bina ;

manchas com semanas — dissolvem-se com difi­culdade, mais facilmente em K. OH a 2 % e no espectro revela-se somente o hemo-cromogénio, quando se dissolve a parte média da mancha, onde se podem ainda ver glóbulos vermelhos pouco alterados ;

manchas velhas — dissolvem-se só em K.OH a 33 % , auxiliadas pelo aquecimento, não se vêem glóbulos vermelhos na parte média e a periferia da mancha dá o espectro do hemocromogénio.

Estas averiguações fá-las Leers, servin-do-se do micro-espectroscópio.

J á vimos, porem, que a luz do sol, a tem­peratura êtc. dão em pouco tempo ás manchas as mesmas transformações que a luz difusa

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30 MANCHAS DE SANfJUE

prolongada durante semanas e até meses. O método do Leers é como os outros, um método de aproximação, nada mais. O médico legista deve dar importância ao modo como as man­chas estiveram conservadas, para com maior aproximação poder determinar a sua idade. Ás vezes, sangue datando da mesma ocasião, proveniente do mesmo indivíduo, como no caso de Campanhã, apresenta aspectos muito diferentes, conforme o lugar e o suporte que teve. Só o conhecimento destes factos pode levar o médico legista a conclusões seguras.

Colheita d a s m a n c h a s Só ao médico le­gista devia per­

tencer este difícil e importante trabalho. Do exame ao local do crime, colhem-se sinais, dados, de extraordinária importância, que in­fluem poderosamente no resultado final das pesquisas. Ás vezes pequeninos nadas, resti­tuem ao crime a verdadeira scena. Milhares de exemplos podia chamar aqui, para mostrar a importância absoluta destes exames. É que só no logar do crime, o médico legista pode fazer uma ideia verdadeira da topografia das manchas. O agrupamento, numero, disposição,

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GENERALIDADES 31

forma e grandeza das manchas, o estudo dos suas relações, só por um técnico habilitado, por um médico legista emfim, devem ser obser­vadas, de molde a retirar delas toda a sua importância.

E se manchas há, que bem visiveis se tor­nam a olhos profanos, outras existem duma dificuldade enorme de percepção e para as quais é preciso usar de artifícios. 0 exame mé­dico-légal não deve ser feito só aos pontos man­chados; deve estender-se a todos os objectos que os cercam. 0 médico legista deve sistema­ticamente observar, por exemplo dentro dum quarto, as portas, paredes, chão, o próprio teto, cadeiras, moveis, quadros, tapetes, chaves, puxadores das fechaduras etc.

Deve pela seriação, pela localização e forma das manchas, saber se o lugar do encon­tro do cadaver corresponde ao lugar do assas­sinato. Deve tirar fotografias, croquis, decalcar mesmo as manchas pequenas com películas fotográficas, com papeis gelatinados, etc.

A fotografia é um auxiliar de grande importância nestes casos. Além de ser o melhor documento, pode, quando perfeita, dar todas as variantes de coloração duma mancha,

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variantes muito importantes em manchas que se tenham tentado dissimular pela lava­gem. Para conseguir estas fotografias, de-vem-se escolher chapas apropriadas aos di­ferentes assuntos.

Assim, manchas sobre fundos claros de côr verde, azul e castanho podem ser impres­sionadas com chapas vulgares. Se o fundo é azul escuro, cinzento escuro ou preto, podem usar-se ainda as mesmas chapas, mas é pre­ciso impressioná-las com um écran azul. Final­mente, para os fundos amarelo-escuros, verdes escuros e vermelhos, só as chapas ortocromá-ticas com écran amarelo, podem dar boas foto­grafias.

O decalque pode fazer-se com papel trans­parente, no qual com picadas de alfinete, se desenham todos os contornos. Sobre estes con­tornos e já depois de retirado o papel de cima das manchas, se faz um traço a tinta.

Nestes descalques deve fazer-se o possivel por conservar entre os desenhos as mesmas relações que as manchas ocupam entre si.

Um dos melhores processos de recolher pequenas manchas, é sem dúvida o utilizado e proposto pelo professor Lecha-Marzo. Este

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distinto professor serve-se de películas fotográ­ficas, ás quaes se retira todo o sal de prata por meio dum banho de hiposulfito de sódio a 20 % .

Entende-se bem que se trata de películas ainda não impressionadas e que a sua prepa­ração se faz no quarto escuro. Depois de bem lavadas e secas, são cortadas em tamanhos semelhantes aos das laminas usuais e acaute­ladas de qualquer conspurcação. Também se podem usar papeis gelatinados de cloreto de prata, papeis celoidina, etc.

E-lhes retirada a prata, á luz difusa, num banho de hiposulfito a 15 °/0. Lavam-se em se­guida até completa eliminação do hiposulfito, o que se pode avaliar, fazendo actuar um soluto de permanganato de potássio a 1/imt)1 sobre a água de lavagem.

Pequenas gotas da solução de permanga­nato conservam a sua côr vinosa, quando não há hiposulfito na água.

Pronto este material, nada mais resta do que fazer uma compressão, com as películas ou papeis humedecidos em água distilada, sobre as manchas. Por este processo, do qual me ser­vi algumas vezes, obtem-se uma figura absolu­tamente semelhante á da mancha.

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Feita sobre uma película, depois de seca, pode ser utilizada como negativo para a obtenção de cópias.

Este processo de extraordinário alcance, poupa muito material e serve, quer para reacções cristalográficas, quer mesmo para exames espectrais (espectro-microscópio).

Quando as manchas são transportadas directamente para- os papeis, temos que nos servir do aparelho de Florence a fim de fazermos o seu exame microscópico. É inte­ressante o processo e de grandes comodidades.

Em várias experiências, convenci-me de que o uso das películas é muito mais vantajoso que o dos papeis, pois que além de poderem servir como negativos, observam-se muito bem ao microscópio, em virtude da transparência da celuloide. O tempo que leva a fazer o trans­porte varia com a antiguidade da mancha, mas posso dizer que é mais fácil fazer um bom transporte sobre uma película, do que obter uma razoável solução.

Coma mesma película, quando mal impres­sionada, pode-se repetir a compressão na mes­ma mancha. Deve-se, sempre que se possa, impressionar diferentes películas. Todas as

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reacções do sangue, tais como, Van Deen, Kas-tle Meyer Adiei-, etc., podem ser feitas sobre estas películas. Obtive com grande facilidade cristais de iodidrato de hematina, com o trans­porte sobre a película, de uma mancha de san­gue existente numa folha de navalha de barba.

Convém, por ultimo dizer que este processo deve sêr de preferência empregado em man­chas existentes em madeira, paredes lisas, espelhos, armas etc. Terminando esta descrição, cumpre-me recomendar aos médicos legistas este tão útil como cómodo processo, devido aos trabalhos dos ilustres professores Lecha Marzo e Maestre.

No exame a um cadaver, deve haver todo o cuidado em observar detidamente as dispo­sições das manchas e numerá-las, se possível fôr. Procurem-se sempre vestígios do assassino, mesmo no corpo do próprio assassinado, e in-vestiguem-se e fotografem-se impressões di­gitais.

Estas impressões devem sempre ser res­peitadas e evitar que se disfarcem, ou se maculem, com as mãos do observador. Nos fatos e vestuários, quando se julgue, ou sus­peite que foram lavados, devem-se procurar

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vestígios de sangue, quer nos bolsos quer nas costuras. Os trajes dos assassinos nem sempre apresentam manchas de sangue, o que é devido ao facto dos vestuários dos assassinados evita­

rem que o sangue saia em jacto. A propósito da ausência de manchas nos fatos dos assassinos, convém lembrar um caso descrito por Taylor, no qual o assasino se despia por completo, para levar a cabo os seus projectos, sem que deixasse vestigios, ou manchas que pudessem servir para uma orientação judicial. Leers recomenda que se averigúe se o assassino, ou sua familia, fizeram lavagens extraordinárias de roupas.

Nas armas, facas, lâminas deve­se procu­

rar o sangue em todas as depresões, nomea­

damente na ranhura situada no dorso, desti­

nada á sua abertura. 0 aparelho de Florence deve sempre ser usado nestes casos, pois mesmo em lâminas lavadas é possivel desco­

brir glóbulos rubros. ■ O exame não se deve limitar ás armas,

deve­se estender a, tudo que as acompanha : detritos de madeira, palha, erva, etc. Gross cita um caso, onde o crime foi descoberto por um pequeno fragmento de erva, que vinha numa lâmina dum sabre.

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GENKRALXDADKS 37

Apesar de não haver na espada vestígios de sangue, o pequeno fragmento de erva levou-o a procurar no local do crime, sangue na relva e assim reconstituiu o crime.

Protecção e transporte A protecção e das manchas transporte das

m a n c h a s e objectos, sobre os quais estão depositadas im­pressões digitais e outras, constitui um dos pontos essenciais do problema médico-legal.

Um mau transporte, uma má embalagem, podem desfigurar por completo dados impor­tantes para a reconstituição dum crime.

0 médico legista deve abster-se de tocar nos objectos manchados, para os não conspur­car, ou até para lhes não fazer desaparecer as suas características. Deve-se evitar um grande contacto das mãos e estas, segundo o conselho de Dervieux e Leclercq, devem estar enluvadas.

Deve-se evitar todo e qualquer atrito da mancha com o seu invólucro, e este nunca será feito de papeis de jornais.

A polícia alemã tem para seu uso caixas com um material completo. Desde as garrafas, frascos, até ás lâminas e pipetas esterilizadas,

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38 MANCHAS DE SANGUE

nada lhes falta. As suas instruções são de molde a recolher, com o máximo esmero e cui­dado, tudo quanto possa ser causa de crime.

O isolamento das diferentes peças é feito em fino e puro papel branco e com talas de madeira. Leers cita ainda como útil o isola-lamento e secagem das manchas frescas com algodão hidrófilo puro. N'estas, depois de foto­grafadas, deve-se fazer uma larga aspiração com pipetas esterilizadas, que depois se fecham á lâmpada.

O resto da mancha deve ser absorvido em papel de chupar, ou mesmo papel de filtro de boa qualidade. Para o transporte de terra ensanguentada, usam frascos, ou recipientes esmaltados, onde recolhem larga e totalmente a mancha.

Este facto é importante, quando se trata de avaliar com aproximação a quantidade de sangue derramado. Nas manchas secas e exis­tentes em superficies lisas, como folhas de arvore etc., aconselha Gross a redução a pequenos fragmentos e o amolecimento com soro fisiológico. Nos tapetes, madeira, cal, etc. o melhor é cortá-las o mais longe pos-sivel dos seus limites. Só em último caso, se

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CÍENERALIDADES 39

deve tentar destacar a mancha, porque párti-camente está averiguado que se perde uma larga quantidade de sangue.

A justiça pode e deve requisitar tudo quanto lhe seja útil, de maneira que o mé­dico legista nunca deve, só por espirito de con­servação, abster-se de trazer ou de deteriorar os suportes onde se encontram as manchas. Stockis, de Liége, nas suas completas instru­ções á polícia, dá conselhos preciosos.

"É preciso, diz elle, que nada do que apa­reça de extranho sobre um objecto, possa ser imputado ao seu manuseamento, embalagem ou transporte. Tudo deve ser conservado na íntegra, para melhor desenvolvimento das pes­quisas médico-legais.

Os objectos sobre os quais, no seu curioso e tão útil edital, faz recair a atenção, divide-os Stockis em sete grupos :

1.° GRUPO. Garrafas, copos, chávenas, pratos, travessas, candieiros, globos de vidro, bibelots de vidro, porcelana ou metal liso, pequenas caixas, como as de fósforos e final­mente pequenos cofres.

Manda que estes objectos sejam tomados

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40 MANCHAS DE SANGUE

pelas arestas onde não haja vestígios de man­chas. Servirem-se de luvas, tomarem os obje­ctos com o máximo dos cuidados e colocá-los em caixas limpas, apoiando uma das extre­midades no fundo das mesmas, tendo o cui­dado de ajustar, com bocados de madeira, cor­tiça, ou papel, a sua outra extremidade contra a parede oposta da caixa. Desta maneira, o objecto fica suspenso pelas suas extremidades, sem que as suas outras paredes sofram o menor atrito. Para os copos, na falta de caixas, pode-se ainda com dois cartões fortes e mais largos que o diâmetro do copo, aplicá-los forte­mente apertados com fios, nas suas extremida­des, fazendo assim uma espécie de gaiola.

Para as garrafas, ainda nos podemos servir de grandes cartões (um calendário de parede, por ex.).

Colocando a garrafa em cima, deste cartão, íazem-se,. incisões radiadas a partir do seu cen­tro, separadas três a quatro centímetros umas das outras. Vergam - se estes retalhos sobre o gargalo, onde se ligam com uma fita, tendo o cuidado de os deixar arqueados, de maneira a não tocarem nas paredes das garrafas. Para transportar globos de vidro, abat-jours, metem-se

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GENERALIDADES 41

em duas caixas de chapéus, voltadas uma sobre a outra e fortemente apertadas com fios.

Quando as caixas, onde se colocam os objectos, forem pequenas, deixam-se os mesmos sobre fios, que facilitam depois a sua extracção. Todas as caixas devem ser apertadas com fio e nunca seguras com pregos, afim de evitar todo e qualquer choque.

2.° GrEUPO. Papeis, cartas, livros e car­tões. Não devem ser dobrados, mas sim seguros em caixas com alfinetes, ou com punaises, tal como foram encontrados. Podem ainda ser transportados entre cartões, separados por pe­quenos fragmentos de madeira e fortemente apertados com fios.

3.° GrEUPO. Quadros, espelhos, janelas fragmentos de móveis, etc.

Transportam-se isolados, em armações de madeira, evitando todo o atrito.

4.° GEUPO. Fragmentos de vidro, ou por­celana, pequenos espelhos, etc.

Não se devem embrulhar em papeis, mas sim transportá-los em caixas e colocados oblí-

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42 MANCHAS DE SANGUE

quamente, de maneira, a não tocarem as pare­des senão pelos seus bordos.

5.° GEUPO. Instrumentos, armas e ferra­mentas. Liguem-se estes objectos, a cartões, ou melhor, em tampas de caixas, com duas laçadas, que atravessem buracos apropriados, feitos na ocasião e em que o nó esteja de lado de fora da tampa.

Objectos pequenos podem-se introduzir em frascos e embrulhados em papel de filtro. Armas, revólveres devem ser transportados em caixas, imobilizados e travados com voltas de fio entre o gatilho e cão, quando tenham ainda cargas.

(5.° GEUPO. Vestidos, fatos, panos, etc. Não se devem amarrotar, com o pretexto

de se lhes diminuir o volume. Devem-se trazer estendidos em caixas, quando possivel fôr, ou então enrolados, com uma folha de papel bran­co de permeio, a fim de evitar que as manchas se misturem umas com as outras.

7.° GEUPO. Pedaços de estuque, impres­sões de panos, rodas, etc., levantam-se larga-

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GENERALIDADES 43

mente e transportam-se em caixas, em cima de papel e palha. Todas estas amostras devem ser devidamente etiquetadas e remetidas com a máxima urgência aos laboratórios medico­legals.

Deve-se evitar tanto quanto possivel o transporte em caminho de ferro. Transpor-tem-se na mão, tendo o cuidado de não os vol­tar, a fim de que se não desloquem.

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CAPITULO II

Reacções de probabilidade

R E S U M O

I Acção da água distilada. II Acção do amoníaco.

III Acção da potassa cáustica. IV Acção do ácido hipoclorôso. V Pesquisa do azote e ferro do sangue.

VI Pesquisa da albumina, fibrina e serina. VII Reacção do hipobromito de sódio.

—VIII Reacção da água oxigenada. —IX Reacção de Van Deen.

X Reacção de Kastle-Meyer. XI Reacçjo da fluoresceína.

XII Reacção de Bourquelot. XIII Reacção do ácido pirogálhico. XIV Reacção da benzidina. XV Reacção da aloina.

XVI Reacção da parafenilanima. XVII Reacção de Donogany.

XVIII Reacção do sulfato hidrazina. XIX Reacção da alizarina. XX Reacção de Ganassini.

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Reacções de probabilidade

Acção da água dis t i lada Todas as ve­zes que faça­

mos a solução de manchas para obter, quer as diferentes reacções corantes, quer as es-pectroscópicas, podemos observar, alem do poder de solubilização, a chamada prova da água distilada, á qual Grlenard e Cazeneuve tanta importância deram. Fundada no alto poder de sulubilidade da materia corante do sangue, embora não seja duma especificidade útil para o seu diagnóstico, consegue muitas vezes diferençar manchas doutra natureza.

Se nós lançarmos, num tubo fino de ensaio, água distilada e se depois, com cuidado fizermos sobrenadar um fragmento da mancha, obser-

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48 MANCHAS DK SANGUE

vamos num curto prazo de tempo, a formação de pequenas estrias coradas, que sendo duma grande difusibilidade, desaparecem á menor agitação do tubo. Este facto é quasi constante, quando se trate de manchas de sangue e a de­mora do seu aparecimento está em relação .com a sua antiguidade e condições de exposição. Há contudo, manchas que não mostram esta pro­priedade. São as que foram submetidas á acção do calor, que foram lavadas com água a ferver, que estão em lâminas enferrujadas, ou que sofreram acções químicas devidas ao seu su­porte, ou a reagentes tais como o tanino. A pró­pria gordura modifica esta reacção, sendo de aconselhar nestes casos a mistura duma peque­na porção de amoníaco á água distilada.

A técnica que apontei, deve ser modi­ficada, quando a mancha tenha sido raspada, por exemplo, duma parede.

Neste caso, deve-se deitar logo por cima da água um pouco de algodão hidrófilo e em cima deste o produto da raspagem. Quando se trate de porções mínimas de sangue, po-de-se usar um tubo de calibre quási capilar, uma pipeta, por exemplo.

Este processo não é absolutamente es-

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 49

pecífico do sangue, pois que com manchas recentes de permanganato de potássio, conse-guem-se sempre resultados semelhantes. Flo­rence inclina-se a que o aparecimento das estrias vermelhas é exclusivo quási constante do sangue, seja qual fôr a sua idade.

Acção do amoníaco O amoníaco não muda a côr ás man­

chas de sangue. Aumenta o seu poder de solu­bilidade e serve em muitos casos para o distin­guir de sucos de frutos, de flores, de manchas de cochonilha, permanganato de potássio, de sulfocianeto de ferro, etc.

Todos estes corpos mudam de côr pela acção do amoníaco e recuperam-na pela adição dum ácido.

Sobre as manchas produzidas por estes corpos, tem pois, uma acção manifesta que nós podemos resumir :

Sobre os frutos e flores — dá côr verde ou violeta.

Sobre o sulficianeto de ferro ) , -, cor azul

Sobre o permanganato de potássio! Sobre a cochonilha — côr escarlate.

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50 MANCHAS DE SANGUE

Acção da potassa, cáust ica O poder de solu­

bilidade do sangue aumenta extraordinariamen­te com a adição de solutos de potassa. Emprega-se para dissolver manchas antigas, fazendò-se variar a, sua concentração de 1 até 33 por cento.

A potassa torna dicroicas as soluções san­guíneas, dando-lhes á luz reflectida uma côr esverdeada. Este facto torna-se muito apre­ciável, quando o observamos em larga super­fície, num vidro de relógio, ou numa placa de Petri. Nas próprias manchas secas sobre panos é possível examinar este dicromismo, que apa­rece, como já disse, em manchas muito anti­gas, mesmo sem a adição da potassa. Este dicromismo é devido á transformação da maté­ria corante do sangue em hematina alcalina.

Acção do ácido hipoclorôso 0 ácido hipoc lo-

rôso, apesar da sua acção enérgica, como des-còrante sobre uma infinidade de corpos, tem sobre o sangue uma acção manifestamente con­trária. Em vez de o descorar, torna-o muito mais escuro, mas no entanto, no fim dalguns

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 51

minutos, este ácido pode descorar o próprio sangue. E preciso notar no entanto, que esta acção é muito lenta, sobre soluções sanguíneas muito concentradas. Persoz dava-a quási como específica, mas Orgila averiguou que o sueco de Chelidonium e várias misturas, como de car­vão e de gordura de garança e óleo de papoila, dão quási a mesma reacção. O próprio Persoz nos diz que as nódoas de colcotar, gordura e ferrugem resistem muito tempo á acção do ácido hipoclorôso, mas que são descoradas pelo cloreto de estanho, que não tem acção análoga sobre o sangue.

P e s q u i s a d o a z o t e , As manchas de san-e ferro do sangue Sue dâo> quando sê"

cas pelo calor, um cheiro amoniacal e se nós fizermos o seu aque­cimento num tubo de ensaio fechado por uma rolha de algodão atravessada por papel verme­lho de tornesol, vemos que este azula rapida­mente. O mesmo resultado se obtém fazendo actuar a potassa sobre sangue seco. Pode-se ainda obter, pela acção combinada da potassa cáustica e carbonato de potássio, o cianeto de potássio que nós evidenciamos, se fizermos

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52 MARCHAS DE SANGUE

actuar sobre a solução uma mistura de sulfatos ferroso e férrico. Forma-se um precipitado amarelo ocre solúvel em ácido cloridrico.

A solução, que tem uma côr azul esver­deada dá pelo repouso um pequeno deposito de azul da Prússia.

0 ferro pode-se pôr em evidencia por vá­rios reagentes usados em quimica analitica.

Pesquisa de albumina, Quando nós fibrina e serina d i s s o l v e m o s

u m a mancha de sangue dum pano, vemos que fica sem­pre sobre este uma. substancia, branco-acinzen-tada, que se pode retirai' com um bisturi. Esta substancia examinada sobre uma lamina, apre-senta-nos um aspecto filamentoso.

Estes filamentos, submetidos á acção do ácido acético, tumefazem-se, tornam-se trans­parentes, gelatinosos, e pela acção da água iodada tornam-se azuis.

Estes filamentos, são formados por*fibrina, que se agarrou ás malhas do tecido. Este pro­cesso ó simples e mostra-nos com relativa faci­lidade a presença de fibrina nas manchas.

A albumina do sangue põe-se em evidên-

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 53

cia, usando todos os reagentes que a coa­gulam.

Os reagentes de Tanret, Esbach, Millon, modificam o aspecto das soluções sanguíneas pela precipitação da sua albumina.

O calor modifica as soluções sanguíneas, descõràndo-as, fazendo-lhes tomar uma côr cinzenta. A melhor maneira de verificar a pre­sença da albumina nas soluções sanguíneas, obtem-se fazendo actuar o calor lento (65° a 70°), a banho-maria, durante meia hora e usando soluções diluidas das manchas.

Observa-se então, em vez de um precipi­tado, uma turvação nitida que pela adição de potassa, diminue a t é ao desapareccimento completo.

Para se pesquizar a serina, podemos agitar num tubo de ensaio, partes iguais de éter e de solução sanguínea e deixar repousar algum tempo. No ponto de separação dos líquidos, aparece-nos um coágulo solúvel em potassa e precipitavel em excesso do mesmo reagente.

Florence liga grande importância ao chei­ro a corno queimado, que se obtém pela acção combinada da potassa e do calor, sobre uma crosta de sangue.

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54 MANCHAS UK SANGUE

Esse cheiro é devido á acção da potassa sobre a albumina do sangue.

Manchas que não deem este cheiro, não são, segundo Florence, compostas de sangue.

Reacção d o hipobromito Esta reac­ção , em­

bora não específica, é todavia, ama das mais interessantes e das mais fãceis que se podem obter com uma mancha de sangue dum tecido qualquer. Florence dá-lhe algum valor e consi-dera-a, quando negativa, suficiente para a exclusão da presença de sangue numa mancha.

Pode obter-se directamente com uma solu­ção suspeita, ou então fazer-se com o próprio tecido manchado. Para isso, dissociam-se com duas agulhas uns fios do tecido, tendo o cui­dado, depois de os depositar numa lâmina, e de os cobrir com uma lamela. Por um dos cantos da lamela e com o auxilio de uma pipeta vae-se deitando gota a gota o hipobromito de sódio. Mal este toma contacto com o tecido, começa-se a formar um verdadeiro cacho de bolhas gasosas. Estas (Est. VI I ) , vão aumen­tando de volume, mantendo-se sempre agarra­das aos fios do tecido.

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(Fig. 1)

EST. VII (Fig 2)

Reacção do hipobromito de sódio.

(Fig. 1) tecido muito dissociado. (Fig. 2) tecido mal dissociado.

Símili-nTRUiiji Mingues Alireu)

Manchas de sangue humano, datando de 20 dias.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 55

Esta observação, que se faz ao microscópio pocle-se também verificar, quando tenhamos uma grande mancha, fazendo actuar o hipobro-mito sobre um pedaço da mesma, num tubo de ensaio. A água de Javel dá o mesmo resultado.

O hipobromito pode-se preparar com ante­cipação misturando ; lexívia dos saboeiros, 50 centímetros cúbicos ; bromo, 5 centímetros cú­bicos ; água distilada, 100 centímetros cúbicos.

Todas estas reacções são interessantes e embora sirvam muitas vezes para excluir a presença de sangue de manchas, são falíveis, nada especificas, positivas não só com sangue, como com muitos outros corpos. Não são re­acções, mesmo todas combinadas, donde algu­ma coisa de útil possa vir ao médico legista.

Hoje ainda alguns médico legistas se ser­vem delas, mas são os primeiros a afirmar a sua pouca segurança, até quando negativas. São para reputar como perigosas, todas as conclusões feitas á sua custa. Algumas delas podem ser observadas por mero interesse scien-tífico, nada mais.

Hoje a medicina legal recorre a outras reacções que, quando positivas, nos dão a plena certeza da presença do sangue. É interessante

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56 MANCHAS DE SANGUE

dizer que essa positividade só aparece com as reacções cristalográficas, espectrais e micros­cópicas.

Reacção de Schcenbein ou Em 1863, de Richter (agua oxigenada) descreveu

S c h c e n ­bein a interessante propriedade que tinha o sangue de, em contacto com a água oxige­nada, libertar-lhe o oxigénio.

Esta propriedade, como todas as qualida­des novas do sangue, foi logo estudada por bastantes médico legistas, que a aproveita­ram para as pesquisas sobre manchas de san­gue. Esta reacção deve sêr abandonada, pelas varias razões que se depreendem do conheci-duma infinidade de corpos que a dão positiva Experientei-a com manchas de sangue de dife­rentes idades, em diferentes estados de putrefac­ção e submetidas á acção do calor e de ácidos (acético, clorídrico, azótico e sulfúrico). A reac­ção é muito nítida, quando se trata de sangue muito recente, ou então de sangue de manchas conservadas ao abrigo da luz e humidade. E pou­co nítida com sangue putrefacto, ou muito an­tigo e exposto á luz do sol. É nula em manchas

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KEACÇÕES DE PROBABILIDADE 57

tratadas pelo ácido sulfúrico, acético e azótico, mesmo diluidos, e em manchas sobreaquecidas.

Mas, alem do inconveniente desta reacção não ser positiva, mesmo com sangue alterado, outro aparece, porque há uma infinidade de corpos que reagem de maneira semelhante ao sangue. No quadro abaixo vão os corpos que dão esta reacção muito positiva.

Pus saliva suor esperma suco pancreatico suco de cogumelos óxidos de prata mercúrio manganês ferro culturas microbianas levaduras

secreções orgânicas reacção muito positiva

soluções coloidais

ferrugem

prata— ouro ródio —

! platina francamente positiva

-muito positiva

- muito positivo

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58 MANCHAS DE SANGUE

Tive ocasião de experimentar com soluções de pus, saliva e com soluções coloidais — elec-tragol (e prata coloidal) e o lautol (ródio coloi­dal.) Todas elas dão lima reacção bem intensa e absolutamente semelhante á do sangue. Esta, reacção é inútil e de maneira nenhuma pode servir mesmo quando negativa, como moio de exclusão.—A sua técnica é das mais fáceis. Basta deixar cair uma gota de água oxigenada sobre uma mancha de sangue. Imediatamente começa a desprender-se oxigénio, formando bolhas cujo conjuncto dá uma espuma rosea.

Nas soluções sanguíneas devemo-nos ser­vir de pequenos tubos de ensaio e lançar com uma pipeta no fundo do tubo a água oxige­nada. Então vemos aparecer pequenas bolhas gasosas que sobem á superficie, onde se aglo­meram numa franca espuma.

Leclercq manda que se empregue uma água oxigenada de reacção absolutamente neu­tra, ou levemente alcanizáda com amoníaco, ou potassa.

Esta reacção é devida á presença no san­gue de um fermento, uma catálase, a hómase de Senter, que foi bem averiguada por Loew, Shoenfeld e Yandervelde.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 59

Esta cata la se é destruída pelo calor e pelos ácidos.

A respeito da sensibilidade desta reacção, o professor Alberto de Aguiar diz-nos, na memória apresentada ao congresso de medi­cina de Lisboa (1906), que a reacção ainda é nitida na proporção de uma gota de sangue para 1.500 gr. de água distilada, desde que haja o cuidado de depositar cem uma pipe­ta, a água oxigenada no fundo do tubo de ensaio.

Ainda este professor julga útil, para o descobrimento de pequenas gotas de sangue nos tecidos escuros, a sua pulverisação com água oxigenada, que embranquecendo-as, as torna visiveis.

Leclercq e Dervieux dizem-nos que a água oxigenada transforma o sangue em com­postos tais, que tornam dificílimas, se não impossíveis, todas as pesquisas ulteriores so­bre o mesmo sangue.

É esta ainda uma das desvantagens a ajuntar ás muitas outras a p o n t a d a s . Este método, além de inútil, é perigoso e portanto melhor será pô-lo de parte nas pesquisas labo­ratoriais.

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60 MANCHAS DE SANGUE

Reacção de Van-Deen Esta reacção, sem dúvida uma

das mais seguras reacções corantes do sangue, foi sempre alvo das maiores atenções por parte dos analistas.

A tintura de gaiaco foi pela primeira vez utilizada por Schõnbein na pesquisa do ozone. Mais tarde, Arnold, diferençava com ela, o leite fervido do leite cru. A honra da sua utilização para as pesquisas de sangue, cabe a Van-Deen (1860), muito embora depois dele, Liman em 1863 e Taylor em 1770, fizessem importantes trabalhos.

Esta reacção, que, como varias outras corantes, é devida a oxidação enérgica dum corpo químico, que por essa razão muda de côr, funda-se na propriedade que teem os peróxidos, tais como, a terebintina ozoni-zada, a água oxigenada, etc., de mudar a côr á tintura de gaiaco, transformando-a num belo corpo azul, em presença dum fermento existente no sangue (porta-oxigénio).

Este fermento, retirando o oxigénio dos peróxidos, leva-o á tintura de gaiaco, onde o fixa energicamente sobre o ácido gaiacónico,

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 61

que entra na composição da resina com que se faz o reagente.

O produto desta enérgica oxidação, ex­traordinariamente complexo, ainda não está estudado.

Não é infelizmente, esta reacção duma bôa especificidade, Numerosos corpos a dão positiva e portanto todo o cuidado será necessário. Nunca só por esta reacção, pode o analista, no caso de ser positiva, afirmar que o soluto sus­peito tem sangue.

Leport cita numerosos corpos que teem a propriedade de azular a tintura de gaiaco, mas muitos deles oxidam-na sem a presença dos peróxidos.

A saliva, o pus, o muco dão uma reacção idêntica á do sangue, mas como se sabe, as manchas produzidas por estas secreções são sempre descoradas.

Também a bilis dá a mesma reacção mas as suas manchas são verdes, ou amareladas. Leport diz até que o próprio vinho azula a tintura de gaiaco, mas a reacção dá-se só horas depois e a côr azul é pouco intensa.

Leclercq e Dervieux citam uma lista nume­rosa de corpos que dão esta reacção. Experi-

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mentei uma grande parte deles, mas convém dizer que fazem sempre diferença da reacção dada com o sangue.

A maior parte deles actuam directamente sobre a tintura, e dão reacções, ora extraordi­nariamente rápidas, ora lentas.

Outros comportam-se identicamente ao sangue.

Os peróxidos, segundo Tarugi, coram dire­ctamente a tintura de gaiaco, formando talvez o ácido de Caro (H s S0 5 ) .

Todos os corpos, nos quais entra o grupo sulfocianogénico, dão reacção idêntica á do sangue e saliva. Na urina, que muitas vezes dá a reacção, a sua sensibilidade está em relação com a quantidade de sulfocianogénio que contem. A reacção com estas substancias sulfocianogenadas é lenta, não se dando em geral, senão no fim de 15 a 20 minutos.

A eôr azul dada pelo sulfocianeto de potássio desaparece com o aquecimento e volta com o arrefecimento. O sangue nestas condições não retoma a côr azul pelo arre­fecimento.

Vitali atribúe aos compostos ferrosos, transformados em férricos pela ebulição e que

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 63

pelo arrefecimento voltam, em frente do redu­tor sulfocianeto, a ferrosos, a propriedade de fazerem retomar a côr azul á tintura de gaiaco.

Sucos de vegetais, fécula de batata, fungos etc. e em geral todos os corpos que encerram oxidases, dão como a hemoglobina, a reacção de Van Deen mas perdem esta propriedade pelo aquecimento. Num pequeno quadro, pode­mos dizer quais os corpus que dão a côr azul á tintura de gaiaco.

CORPOS QUÍMICOS

Sulfocianetos. Permanganato de potássio. Perboratos. Persulfatos. Perácidos. Sais de ferro e derivados (ferrugem).

1manganês prata chumbo

Brometos. Arsenitos. Perricianeto /

. Perrocianeto \ 1

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64 MANCHAS DE SANGUE

Sais de mercúrio Cloro, bromo e iodo Amoníaco Esponja de platina Aldeídes e ácidos orgânicos

COEPOS OBGÁNIOOS

Goma arábica Caseina Leite cru Fécula de batata Fungos diversos Extracto de malte Glúten Saliva, pus, urina suor, esperma etc.

Como bem se pode avaliar, a especi­ficidade da reacção quasi nula é, mas no en­tanto podemos por meio de artifícios, desviar algumas causas de erro.

Adiante daremos noticia das precauções usadas para este fim.

Leclercq cita uma interessante causa dé erro, descoberta por Ogier nas suas experiên­cias. Ogier tinha a tintura de gaiaco numa

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 65

seringa metálica, para com maior facilidade poder borrifar uma larga impressão duma mancha, em papel Joseph.

Pois esta tintura em presença do metal da seringa, tinha-se alterado de tal maneira, que só por si, dava a côr azul, com a essência de terebintina.

No ponto onde as gotas de terebintina caíam, formava-se uma côr azul intensa, com a forma absoluta das mesmas gotas, forma que nada se parecia com a das manchas suspeitas. O papel embebido unicamente etn essência de terebintina, tornava-se inteiramente azul com a tintura de gaiaco que estava na seringa. Leclercq e Dervieux fizeram depois disto,.um interessante estudo da acção dos metais sobre a tintura de gaiaco. Aproveitaram-se para isso de moedas de ouro, prata, niquel e cobre.

As impressões feitas com estas moedas dão uma reacção rápida e intensa com a tintu­ra de gaiaco e a terebintina ozonizada.

As impressões obtidas com as mesmas moedas limpas e decapadas, dão a mesma re­acção, embora menos intensa e mais demorada (5 minutos).

Um interior dum bolso, onde estiveram

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66 MANCHAS DE .SANGUE

muito tempo várias moedas, deu também uma reacção rápida e positiva.

Esta prova é interessante e quando feita pela impressão da moeda em papel Joseph hume­decido, desenha nitidamente os contornos e saliências das moedas.

É preciso contar com um factor importante nesta acção dos metais sobre a tintura do gai-co. As moedas podiam ter retido o suor das mãos por onde passaram, e como se sabe, o suor dá a reacção de Van-Deen.

É preciso acrescentar este dado á acção que os metais de por si só, teem sobre a tintura de gaiaco.

Os metais no estado coloidal dão também a reacção de Van Deen.

Vários processos tem sido usados para desviar e impedir a acção dos compostos fer­rosos e oxidases sobre a tintura de gaiaco.

Weber trata primeiro a mancha suspeita pelo ácido acético e por um soluto etérico de hidrato de cloral.

Após a junção de água, aquece o soluto evaporando assim o éter.

Neutraliza o soluto pela soda cáustica e * aquece-o novamente para expelir o clorofórmio

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 67

que se formou. A matéria corante do sangue é assim precipitada sem conter produtos fer­rosos.

Dissolve-se este precipitado no éter aci­dulado pelo ácido acético e usa-se este soluto na reacção de Van Deen. Villenz, Liman, Vitali e Utz aconselham o aquecimento do soluto suspeito a 80.°, temperatura que destrce as oxidases.

Vitali também preconiza o emprego do sulfato de hidrazina, para o mesmo fim.

Podemos pois juntar a um soluto suspeito a tintura cie gaiaco, aquecê-lo algum tempo, dois ou três minutos, e vêr se assim azula. Neste caso, há oxidases diferentes das da hemo­globina..

Se não azular, juntamos então a água oxi­genada, que nos dará ou não a côr azul ao soluto, conforme este tenha ou não sangue.

Difícil é contudo, eliminar todos os erros possiveis. Labat referindo-se a estes méto­dos, diz que para nos capacitarmos de que é impossível desviar todas as causas de erro, basta lembrarmo - nos que até os perboratos e persulfatos dão uma reacção idêntica á do sangue.

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(is MANCHAS DE SANGUE

*

É esta reacção, como se depreende desta leitura, pouco ou nada específica. A sua sensi­bilidade é relativamente grande, mas essa mes­ma está sujeita a também não menores va­riantes. Leers dá-a como sensível até 1 por 25.000, mas nas experiências a que procedi, verifiquei que a mais de 1 por 10.000 se tor­nava impossível a avaliação da côr azul. Mesmo nestas proporções, a côr era extraordinaria­mente fugaz e era preciso observar-se contra um papel branco.

Esta sensibilidade decresce muito com a putrefacção e envelhecimento do sangue. O san­gue fortemente aquecido perde-a, dando mui­tas vezes reacção nula. Sujeita a mil perigos, pode hoje considerar-se como uma reacção de pouco valor. Mesmo quando negativa, não nos dá a. exclusão da presença de sangue. É contudo, pela sua fácil realização, uma das reacções corantes que mais se pratica, sendo seguida por muitos autores nas suas pesquisas. Talvez de todas as reacções corantes seja esta a que deu lugar a maiores discussões e estudos

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 69

todus tendentes a mostrar o seu pouco valor específico.

MODO DE PREPARAR O REAGENTE

Resina de gaiaco — 5 gramas Alcool a 95° — 100 Filtre-se, depois de dissolução completa.

A resina deve ser raspada com um bocado de vidro e aproveitar-se a parte central dum bloco. Deve-se evitar o seu contacto com metais e depois de pesada, auxilie-se a sua dissolução num almofariz. Não é muito solúvel e mesmo nestas percentagens indicadas, não se pode fazer uma solução completa.

Filtra-se depois por um papel de filtro de bôa qualidade e conserva-se em frasco de vidro com rolha de borracha e a coberto da luz.

O reagente tem uma côr amarelo-acasta-nhada e, se usarmos das precauções indicadas, conserva-se útil por largos meses. Reagentes que fiz em Abril ainda estavam utilizáveis em fins de agosto. É bom verificar o seu estado de conservação, fervendo-o num tubo de ensaio. Se não azular, pode-se usar sem receio.

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70 MANCHAS DE SANGUE

O reagente, contrariamente á opinião de muitos analistas, não deve ser muito concen­trado, para evitai- que a, sua côr escura modifi­que a reacção.

Mesmo autores há, que afirmam que a resina de gaiaco, quando em excesso, impede a reacção, actuando como redutora.

Como agente que ceda o oxigénio para a reacção, empregam uns analistas a essência de terebintina, outros e em maior numero, ser-vem-se da água oxigenada.

A ozonização da essência de terebintina pode-se levar a cabo por dois processos. Um, o lento, reduz-se a deixar durante dias um frasco de essência do comércio, ao contacto do ar. Outro, mais rápido, consiste em agitar e bater uma pequena porção de essência, com vareta de vidro num copo graduado. Quando bem ozonizada, deve dar uma bela côr azul com um soluto de bicromato de potássio fortemente aci­dulado pelo ácido sulfúrico. Deve também des­corar uma solução de índigo.

Numerosos corpus teem sido empregados para substituir a essência de terebintina. Entre elles, citam-se, o éter ozonizado ou éter auto-zono (Taylor), a água de Colónia ozonizada, a

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 71

essência de eucalipto, o éter sulfúrico metilado, a água oxigenada e Húhnerfeld usa uma mis­tura de :

Essência de terebintina] Álcool [ aná 1 0 c 3

Clorofórmio ) Ácido acético j ; 3

Água distilada j

Contudo, o melhor meio é usar-se a água oxigenada. Labat dá-lhe a preferência, fundan-do-se para isso nos contras que oferece a es­sência de terebintina, ou outros corpos se­melhantes.

A essência de terebintina ozonizada, além de ser um reagente muito instável e de fácil oxidação, tem o oxigénio debaixo de três for­mas diferentes :

1.° No estado de dissolução e deslocável por outro gás.

2.° Debaixo duma combinação pouco estável.

3.° No estado de combinação de produ­tos resinosos (Berthelot).

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71 MANCHAS DE BANQUE

O oxigénio que está contido na forma 2, dá água oxigenada ao contacto da água disti­lada, mas é difícil, se não impossível, obter com a essência de terebintina um reagente sempre igual.

Alem disso, como ó um corpo resinoso, dificilmente se junta ás soluções suspeitas.

Juntem-se a isto as inúmeras vantagens que provêm do facto de podermos obter sem­pre uma bôa água oxigenada, da sua maior estabilidade, da sua fácil ligação com os solu­tos, e veremos que é a água oxigenada a que deve indubitavelmente ser preferida.

TÉCNICA DA EEACÇÃO

Esta reacção torna-se muito visível, se a fizermos em godets de porcelana, ou na falta destes, em vidros de relógio colocados sobre papel branco. Dados os conhecimentos que apontei, escusado será dizer-se que todas as precauções serão poucas, quando se pratica esta reacção.

Deve, primeiro que tudo, todo o analista conscencioso, verificar a qualidade dos reagen-

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 73

tes que vai empregar. Para isso, serve-se de três godet nos quais deita :

No primeiro, uma gota do soluto sanguíneo diluido e uma gota da tintura de gaiaco ; no segundo, uma gota da tintura e outra de essên­cia de terebintina, ou água oxigenada ; no ter­ceiro, uma gota do soluto sanguíneo diluido, uma gota de tintura de gaiaco e finalmente outra de essência, ou água oxigenada.

No primeiro godet,sòmente se deve apre­ciar o aparecimento dum precipitado amarelo, que não modifica o seu aspecto com o tempo.

No segundo, não se deve dar modificação nenhuma.

No terceiro, deve aparecer uma côr azul, ao fim de poucos momentos.

Esta mudança de côr, isto é, o apareci­mento da côr azul, deve obter-se, ou rapida­mente, ou num curto lapso de tempo, e deve intensificar-se ao fim de segundos.

Verificada assim a bôa qualidade dos rea­gentes, podemos passar a usá-los com as solu­ções ou manchas suspeitas.

Se nós pudermos obter uma solução da mancha, faremos a reacção em tubo de ensaio, ou em godet, conforme a quantidade do soluto.

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74 MANCHAS DE SANGUE

Se empregarmos os tubos de ensaio, deve­mos juntar a 1 centímetro cúbico da solução, 1 centímetro cúbico da tintura de gaiaco e esperar algum tempo, a vêr se se dão modi­ficações importantes.

No caso de o líquido ficar só com um precipitado amarelo, juntam-se então umas gotas de água oxigenada.

Se houver sangue nesse soluto, imediata­mente aparece a côr azul, que se torna cada vez mais forte. Muitas vezes esta côr não é a primitiva,, pois pode aparecer primeiro uma ligeira côr esverdeada.

Se, por termos pequena quantidade de solução, fizermos uso dos godets, nada mais teremos que modificar as quantidades dos reagentes, guardando contudo as mesmas pro­porções.

Em vez de centímetros cúbicos, fazemo-la com gotas. Duas gotas de soluto suspeito, duas dê tintura e uma de água oxigenada.

E importante não modificar a ordem indi­cada no emprego dos reagentes, pois, como já se disse, a tintura do gaiaco só por si, não azula o sangue, mas azula muitas outras substâncias. No caso de o soluto suspeito azular com a tin-

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 75

tura de gaiaco, teríamos probabilidades de se não tratar de sangue, mas no entanto era pre­ciso seguir os métodos, atrás citados, de Vitali e de Weber, para poder tirar uma melhor con­clusão. O tempo de demora de aparecimento tem também uma grande importância. No caso de se tratar de sangue, este aparecimento é rápido, quasi imediato, poucos segundos depois, o máximo.

Se azular só ao fim de minutos, nenhuma conclusão se pode formular.

*

Taylor descreveu um método pessoal, para obter esta reacção com manchas, cujo suporte impedisse a sua solubilização. Trata-se de manchas sobre objectos metálicos, sobre ma­deira, cal, etc. Serve-se para isso, de bom papel de filtro Joseph, o qual, previamente humedecido com água distilada, se aplica submetido a uma certa pressão, sobre a mancha suspeita. É preci­so não molhar a mancha, não deitar água sobre ella, o que a dispersa, mas sim humedecer o pa­pel que nós anteriormente podemos ter verifi-

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76 MANCHAS DE SANGUE

cado como indiferente perante os reagentes que se vão empregar.

Depois de feita uma compressão, cujo tempo varia com a antiguidade da mancha, deitamos ainda pela mesma ordem, gotas de tintura e agua oxigenada. Se se trata de san­gue, as manchas impressas no papel dese-nham-se a azul ao fim de momentos. Mesmo com manchas que sobre o papel deram impres­sões invisíveis, consegue-se várias vezes o apa­recimento da côr azul.

Este método é excelente, pois alem de poupar material, serve muitas vezes para des­cobrir pequeníssimas manchas, que não se. podem observar directamente sobre os tecidos.

O novo processo de Lecha-Marzo, pelas impressões em películas, ou papeis fotográficos, dá o mesmo bom resultado.

Podemos até, no caso de pequena quanti­dade de soluto suspeito, fazer esta reacção so­bre papel de filtro, dispensando assim o auxílio dos godets.

No caso de tecidos com manchas mui­to antigas, podemos fazer a compressão, que tem de sêr demorada, numa prensa de foto­grafia.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 77

Binda dá de conselho que se observe o papel de filtro ao microscópio, podendo-se desta maneira verificar a presença da côr azul embora em quantidades mínimas.

Otto Leers diz que o processo não traz vantagens. O que me parece útil é a sua veri­ficação com o aparelho de Florence, com o que se descobrem sobre o papel, glóbulos de sangue.

Mas quando a côr azul não é nítida, então dificilmente podemos só com o auxilio desta reacção tirar alguns conhecimentos úteis.

Convém por ultimo dizer que o papel que se empregar, deve sempre ser previamente experimentado, o que se consegue com facili­dade, humedecendo-o com água distilada e dei-tando-lhes depois gotas de tintura de gaiaco e água oxigenada.

Se o papel não azula, pode-se empregar então.

Embora pareçam coisas mínimas, todos estes conselhos, devem ser bem observados, para que esta reacção possa dar alguma coisa de vitil no diagnostico das manchas de sangue.

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7S MANCHAS ])E SANGUE

MODIFICAÇÕES DO MÉTODO DE VAN DEEN

As mais importantes modificações feitas a método referem-se, como já disse, ao agente oxidante. Enumerei a série de reagentes apro­veitados, entre os quaes figura o de Híihner-feld, que é talvez o melhor. Disse como êle se preparava e agora convém descrever o seu emprego. A reacção feita num tubo de ensaio ó orientada da seguinte maneira : Juntam-se um centímetro cúbico de tintura de gaiaco, outro do reagente de Húhnerfeld e depois com o auxilio duma pipeta depositam-se lentamente dois centímetros cúbicos do soluto suspeito, de modo que se não misture com os reagentes. Se se trata de sangue, aparece um anel azul na zona de separação.

Shoer, usando também o liquido de Hùh­nerfeld, fá-lo actuar sobre um filtro, onde se depositou o precipitado obtido pela acção da tintura de gaiaco sobre o soluto suspeito.

São tudo modificações pessoais de pequeno resultado e médiocres vantagens práticas.

Hoje ó uso corrente empregar-se só a água oxigenada, que dá os melhores resul­tados.

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R E A C Ç Õ E S D É P R O B A B I L I D A D E 7 9

Alem destas modificações, outras referen­tes ao processo de dissolução da mancha, obti­veram e conseguiram vantagens, que contri-buiram para diminuir as causas do erro desta reacção. Já expus os processos de Vitali, de Weber e de Willenz.

Siefert modificou o processo de Willenz, tornando-o complicadíssimo.

Dissolve a mancha de sangue em 10 centí­metros cúbicos de alcool a 96°, acidulado com dez gotas de ácido sulfúrico. Evapora depois este líquido em banho-maria. Alcaliniza com uma solução de potassa o residuo e filtra vá­rias vezes.

Junta finalmente uma solução concentrada de cloreto de cálcio e faz com esta mistura a reacção de Van Deem Julgou assim obter um grau de especificidade, pois destruía com este processo as oxidases orgânicas, retinha os me­tais no filtro e decompunha vários corpos quí­micos, que por ventura estivessem na solução, mas afinal, Schiitze e Ziemke mostraram que este método não tinha nenhuma acção sobre os permanganatos, sulfato e cloreto de ferro e vá­rios outros corpos que dão reacção de Van Deen positiva.

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80 MANCHAS DE SANGUE

Em resumo, vê-se que todos estes métodos pouco ou nada adiantam, não tornando por isso mais específica a reacção O defeito está na reacção e não no modo de a fazer, f, Como seria possível afastar as mil e uma causas de erro ?

Esta, como varias outras reacções do san­gue, devia ser posta de parte, mas ainda hoje analistas, como Florence, a julgam pre­ciosa.

Não dá, quando positiva, a certeza da pre­sença do sangue e nem quando negativa a ex­clue. Com efeito, nós sabemos que alguns deri­vados da hemoglobina, o sangue putrefacto, sobreaquecido, etc., não dão reacção positiva.

Única e simplesmente tem um valor histó­rico. É uma reacção elegante que podemos experimentar, sem contudo confiar nos seus resultados.

Reacção de Kastle-Meyer Em 19 03, isto é, dois

anos depois do aparecimento do trabalho de Kastle, intitulado uLa phenolphtaline, reactif des ferments oxydants,„ observou Meyer, quando estu­dava as propriedades oxidantes do pus, que o

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 81

sangue purulento dos leucémicos produzia uma oxidação enérgica da fenolftalina. Continuando com as suas experiências, Meyer conseguiu assim provar que o sangue normal tinha, quan­do em frente de pequenas quantidades de água oxigenada, as mesmas propriedades.

Meyer atribuia aos leucócitos as proprie­dades do sangue dos leucémicos.

Esta propriedade do sangue foi muito aconselhada por Albarran, para, no uso clínico, se descobrirem pequenas quantidades de san­gue na urina.

Utz também em 1903 fez um largo estudo do reagente fenolftálico, concluindo que a re­acção era positiva com outros corpos diferentes do sangue, tais como pus e substancias onde existissem leucócitos e fossem de origem ani­mal. Benoit de Lille fez sobre este assunto um belo trabalho de observação meticulosa.

Diversas foram as aplicações desta reac­ção, embora em medicina legal tenha sido onde mais estudada e revista foi.

Levy — emprega-a para o diagnostico de hemorragias ocultas do aparelho digestivo.

Albarran, Buy 1-Blanc—para a pesquisa de quantidades mínimas de sangue nas urinas.

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82 MANCHAS D li SA NO UK

Triboulet — para a pesquisa do sangue nas matérias fecais.

Vamos restringir porem, as nossas observa­ções ao campo médico-legal fazendo-as entrar no assunto próprio deste trabalho.

PEEPAEAÇÃO DO EEAGENTE

A redução da fenolftaleína pelo hidrogé­nio nascente, dá origem a um novo corpo, a fenolftalina, que dissolvida num soluto alca­lino, constitui propriamente o reagente de Kastle-Meyer.

A ftaleína do fenol em solução, é usada em química analítica como reagente indicador. Todos nós sabemos que este soluto se torna róseo ou vermelho, quando se faz actuar sobre êle um álcali. Se este álcali é em excesso tor-na-o a descorar.

Adicionando-lhe uma solução ácida, re­adquire a côr vermelha, que desaparece com excesso de ácido. O calor sobre estes solutos descorados por excesso de álcali, tem também uma influência interessante. Faz-lhes, enquanto quentes, retomar a côr? que desaparece de novo

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 83

a frio. Adiante veremos a aplicação deste co­

nhecimento. A fenolftaleína obtem­se, fazendo actuar o

anidrido itálico sobre o fenol

CO C'H< O'H' .OH

' H ' Q j 0-l-2C6H5.0H = H 2

0 + C O ^ yc

CO O C sH«.OH

anidrido fenol fenolftaleína

A fenolftaleína dá a fenolftalina pela acção do hidrogénio nascente

O M . C H C C I H O H - C I P x y C W - C O . O H

C C O ­f H "■ = C

OH.CH*' O ^ O H ­ C W ' ^ H ftaleína do fenol ftalina do fenol

Este hidrogéneo nascente é produzido pela acção da potassa cáustica em soluto aquoso, sobre o zinco em pó.

In + 2 K O H = In (KO)2+H2 .

Assim desta maneira se obtém um soluto alcalino de fenolftalina, donde em virtude da sua insolubilidade nos meios neutros ou ácidos,

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84 MANCHAS DE SANGUE

se pode precipitar pela acção do ácido clorí­drico forte. Filtrando depois, obtem-se um cor­po sob a forma de grumos brancos.

Benoit — diz que este método tem incon­venientes, pois em virtude da alta temperatura ocasionada pela neutralização da potassa pelo ácido clorídrico, o precipitado que se obtém ó uma mistura de fenolftaleína e de fenolftalina.

Evita estes inconvenientes, fazendo-a pre­cipitar pouco a pouco com um sohito de Cl H a ! % e mantendo a solução de fenolftaleína numa mistura frigorífica de baixa temperatu­ra. O precipitado, lava-o imediatamente num frasco de água distilada fria, privada de ar pela fervura e depois a filtragem fá-la numa atmosfera de azote. Assim obtém Benoit a fe­nolftalina, pó branco muito leve, solúvel sem coração em meio alcalino.

O oxigénio gasoso, o ar atmosférico não oxida a fenolftalina rapidamente, quando em solução alcalina.

Os oxidantes enérgicos, tais como os per-sulfatos. dão ao reagente uma côr vermelha, que indica a sua transformação em fenol­ftaleína.

A água oxigenada e a essência de terebin-

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 85

tina ozonizada não actuam de per si sós sobre a fenolftalina, mas sim quando em presença de coxpos, tais como a hemoglobina.

É esta a causa de se empregar a fenol­ftalina em meio alcalino, como processo de pesquisa do sangue.

Para, finalmente, indicarmos como se deve preparar este reagente, diremos que se pode aproveitar a fenolftalina em pó, dissolvida num soluto de potassa cáustica, ou então preparar o reagente partindo da fenoltaleína do comércio.

Este segundo método é muito de aconse­lhar, pois além de mais seguro ('), fica sempre em boas condições de utilização. Acrescente-se que não se encontra facilmente á venda a fenolftalina. Hoje a casa Kahlbaum, de Berlin, tem entre os seus inúmeros produtos uma fenolftalina muito pura.

Benoit aconselha-a, dizendo-a duma gran­de estabilidade.

(!) Só ainda ha pouco tempo é que se pode obter ftalina do fenol pura. Hoje, tendo-se bôa fenolftalina, o primeiro pro­cesso é mais cómodo e mais seguro.

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86 MANCHAS DE SANGUE

As proporções em que deve ser dissolvida diferem segundo os autores.

Kastle dissolvia cinco centigramas de fenolftalina em dez centímetros cúbicos de solução fraca de soda cáustica. Meyer usava o mesmo reagente.

Benoit emprega-a na seguinte formula :

Fenolftalina pura — 1 grama. Soluto de potassa cáustica a 10 °/0—-140 c. c.

Benoit aumentou muito a percentagem de álcali, fundando-se nos seguintes factos :

1.° estabilidade do reagente.

Esta estabilidade é realmente aumentada, quando o álcali está um pouco em excesso, porque impede a oxidação lenta da fenolftalina ao contacto do ar, mas julgo que também torna o reagente menos sensível, pois, como se sabe, o álcali em excesso descora a fenolfta-leína, que por ventura se forme em pequenas quantidades. Como se vê, se por um lado há vantagens, também o método de Benoit dimi­nui um pouco a sensibilidade do reagente.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE «7

E sendo esta oxidação muito lenta, bas­taria, para isso usar sempre o reagente feito na ocasião.

2.° diminuição, ou aniquilação de certos fer­mentos solúveis.

Segundo Duclave, a acção destes fermentos é entravada pelos álcalis cáusticos.

3.° transformação de diversos derivados da hemoglobina em hematina alcalina, que dá uma bela reacção.

Benoit, além disso, substituiu a soda por potassa, porque esta torna a reacção mais enér­gica e mais duradoira.

Ora, como já atrás disse, não é fácil ob-ter-se a fenolftalina da casa Kahlbaum, em todas as localidades, de maneira que se torna muito útil o saber preparar o reagente, partin­do da fenolftaleína.

E bem certo que o reagente preparado com a fenolftalina pura, é mais límpido e fica isento de saís metálicos, mas nós podemos pre­pará-lo, partindo da fenolftaleína, de maneira

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88 MANCHAS DE SANGUE

a poder servir bem para as pesquisas médico-legais.

Benoit aconselha o uso da seguinte for­mula :

Ftaleïna do fenol — 2 gramas Água distilada — 100 c. c. Potassa cáustica —20 gramas Pó de zinco impalpável — 10 „

Numa garrafa de Erhenmeyer, lança-se a potassa cáustica, dissolvendo-a nos 100 centí­metros cúbicos de água distilada.

Esta dissolução faz-se com o auxílio do calor. Deve-se fazer este reagente nas garrafas de Erhenmeyer, porque, pelo seu formato cóni­co, evitam que a espuma que se forma no decor­rer da operação, se escape pela tubuladura.

Peita a dissolução da potassa, deita-se o pó de zinco e espera-se que o soluto entre em ebulição e haja desprendimento de bolhas gasosas. Só então se lança a fenolftaleína pouco a pouco. Usei sempre a fenolftaleína previamente dissolvida em alcool a 95°. Lan-çava-a na garrafa por intermédio dum frasco conta-gotas, pouco a pouco e de maneira que

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 89

caísse directamente no meio do liquido, sem tocar as paredes. Benoit dá de conselho que se lance com o auxilio de um cartão dobrado, mas deste modo ha o inconveniente de deixar aderir a fenolftaleína com facilidade, á tubuladura da garrafa, desviando-a assim do hidrogénio re­dutor.

A fenolftaleína dá ao soluto de potassa uma côr vermelho-vinosa. No fim de certo tempo, que Benoit diz ser de cinco minutos, mas que na realidade sempre me passou de 10 minutos e ás vezes muito mais (15 e 20 minu­tos), todo o soluto se descora, ficando absolu­tamente límpido. E preciso durante esta opera­ção, regular com cuidado o calor, porque o soluto com facilidade irrompe da garrafa.

Se ao deitar à fenolftaleína, se deixa por descuido ficar alguma parcela no gargalo, é preciso lavá-lo com água distilada, por meio dum jacto de pipeta. Retirado o soluto do fogo, a espuma formada, que muitas vezes ao con­tacto do ar se oxida dando côr vermelha, desce, misturando-se com a solução e descora-se em absoluto.

Decanta-se uns momentos e passa-se a solução para um frasco de vidro de gargalo

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largo e bem seco. Parafina-se a rolha, se é de cortiça, mas o melhor é usar rolhas de borracha, que fazem uma vedação completa. E preciso notar que o volume do soluto deve ser levado depois da operação, ao seu volume primitivo, usando-se para esse fim água distilada, á qual se expurgou o ar, por uma ebulição prolon­gada. Convêm depois cobrir o reagente com uma bôa camada de óleo de vaselina. Muitos autores aconselham que se deixe ficar algum pó de zinco no fundo do frasco.

Quando se quiser retirar reagente para as experiências, deve-se fazê-lo com pipetas muito limpas. O reagente é nos primeiros momentos, um a dois dias, incolor. Ao fim deste tempo começa-se a tornar amarelo, mas está ainda bom para o uso. Assim, com os cuidados expos­tos, o reagente conserva-se por muito tempo em bom estado. Podemos dizer mesmo que é utilizável por meses.

Para a confecção deste reagente, deve-se empregar sempre fenolftaleína, potassa e zinco de bôa qualidade. O zinco deve ser em pó impalpável, que além de se misturar muito melhor com o soluto, tem uma acção muito mais rápida.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 91

A limalha de zinco em pó grosso não deve ser utilizada.

Em geral, os dez gramas de pó de zinco são suficientes, mas casos há, que naturalmente se explicam pela impureza do zinco ou pela sua menor divisão, em que é preciso, a meio da operação, deitar mais dois ou três gramas de pó de zinco. Este pode ser substituido por alumínio, ou magnésio em pó. Com o ma­gnésio a reacção faz-se a frio.

Benoit diz que o reagente assim preparado se conserva incolor durante anos. Apezar de sempre tomar todas as precauções indicadas, os meus reagentes tornavam-se amarelo-cas-tanhos ao fim de algum tempo. Muitas vezes com a acção do tempo, o reagente pode tor-nar-se levemente róseo. Neste caso uma nova ebulição com pó de zinco torna-o incolor.

* *

O reagente assim obtido tem uma densi-sidade que varia entre 1020 a 1023. É inodoro, tem um sabor extraordinariamente desagradá­vel e cáustico, o que aconselha uma prudente

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ÕÊ MANCHAS DE SANGUE

aspiração com as pipetas. Não dá, nem com a água distilada, álcool ou glicerina, qualquer mudança de côr, ou precipitado.

Misturado com um soluto sanguíneo não muda de côr; nem forma precipitado. Junto também só com a água oxigenada, ou essência de terebintina ozonizada, não sofre modifi­cação, mas torna-se imediatamente vermelho, ou róseo, quando se junta com sangue e água oxigenada. É neste facto que se funda esta reacção.

A hemoglobina, em presença dum corpo rico em oxigénio e instável, retem-no, para logo depois o ceder a fenolftalina, transformando-a em fenolftaleína, que, como está em meio alcalino, dá a coloração rosea, ou vermelha,

A hemoglobina goza portanto da proprie­dade de ser transportadora de oxigénio, ceden-do-o facilmente a corpos de oxidação também fácil, como a fenolftalina.

Há um facto importante e que merece ser discutido. O sangue fresco, acabado de retirar dum organismo vivo, tem a propriedade de oxidar directamente a fenolftalina, sem o con­curso da água oxigenada.

Meyer atribui esta qualidade, ou antes

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REACÇÕES DE PROBABILIDAUE 93

esta propriedade, aos leucócitos. Sangue que não tivesse pelo menos 19.000 leucócitos por milímetro cúbico, não seria capaz de dar a oxidação, sem o concurso dum peróxido. Numerosas experiências demonstraram, porem, que este facto era independente da riqueza do sangue em leucócitos. O que parece, é que este fenómeno esteja ligado com a presença da oxi-hemoglobina no sangue. Sangue antigo, um pouco putrefacto já, não dá de por si só a reacção de Kastle-Meyer.

Sangue que sofreu a acção duma tempe­ratura de 90 a 100 graus, também perde esta propriedade.

Benoit sustenta que os compostos oxige­nados do sangue fresco actuam como verda­deiros peróxidos.

De mais a mais, a experiência provou que, com pequeníssima quantidade de água oxige­nada se pode obter uma reacção franca.

Assim, uma gota de soluto cie água oxige­nada a 10 volumes e a Viowo dá ainda uma reaccção nítida com sangue a Vwooooo.

Ora, uma tão pequena quantidade de água oxigenada não pode, sem o concurso dos com­postos oxigenados do sangue, dar uma oxida-

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ção suficiente para tornar a reacção nitida­mente positiva.

Todos estes fermentos, como a catálase, a hémase, que foram trazidos por diversos auto­res para explicarem a reacção, afinal nada explicam, porque sangue aquecido a cem graus dá, depois de frio ainda uma reacção positiva. Ora a esta temperatura os fermentos são destruídos.

Ainda depois vieram os fermentos metáli­cos, ferro, manganês, em ínfimo estado de divi­são. Como se verifica, os metais coloidais dão positiva a reacção de Kastle-Meyer.

Ora os trabalhos de Cardan, Boussingault e Pelouze mostraram á evidência a presença de bastante ferro no sangue humano.

Em média, encontraram estes notáveis in­vestigadores, por indivíduo, três gramas de ferro.

Wurzer descobriu o manganês no sangue. — Duclaux, referindo-se a estes factos, diz que esta reacção é principalmente devida, não á matéria orgânica, mas á mineral, que funciona como uma diastase.

Benoit considera que a hemoglobina, nesta reacção, actua como um agente catalítico tnetalífero.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 95

A hemoglobina deve a sua propriedade ao ferro e manganês da sua molécula, os quais se encontram num estado coloidal.

Funda-se a sua hipótese nos seguintes dados :

1.° O poder oxidante indirecto do san­gue não está ligado á integridade da sua hemo­globina. Aparece também com a hemoglobina reduzida-, met-hémoglobina, hematima e hemo-cromogénio.

2.° A reacção desaparece, quando se eliminam os elementos metálicos pela acção dos ácidos concentrados, o ácido sulfúrico, por exemplo, que transforma a hematina em hema-toporfirina (hematina sem ferro).

3.° A clorofila, pigmento proximo da hematoporfirina, e que também não tem ferro, não dá a reacção de Kastle Meyer.

TÉCNICA DA REACÇÃO

Dissolvida a mancha, ou diluido o liquido suspeito em água distilada, recolhem-se num tubo de ensaio um ou dois centímetros cúbicos do soluto. Com uma pipeta retira-se o reagente do frasco sem que toque ao sahir no gargalo, e

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!)() MANCHAS DE SANGUE

mistura-se aproximadamente um centímetro cúbico do reagente com um centímetro cúbico do soluto suspeito, num tubo de ensaio. Não deve haver modificação alguma na côr, no caso de se tratar de sangue que não seja absoluta­mente novo, isto é, colhido dum indivíduo, na própria ocasião do exame.

Depois, com uma nova pipeta, deitam-se uma ou duas gotas de agua oxigenada a 10 volumes.

Imediatamente, aparece uma côr rosea, que se vai tornando cada vez mais intensa, adquirindo o seu máximo de intensidade no fim de um minuto, quando no soluto haja san­gue. Nas manchas feitas em tecidos brancos, podemos tentar a reacção no próprio pano, ou então proceder de igual forma á que se usa nas impressões de Taylor (').

É de boa regra experimentar primeiro o papel de filtro. Em algumas das minhas expe­riências, notei que papéis de filtro há que aver­melham o reagente de Kastle-Meyer. Pre-

í1) Este método é um pouco delicado, porque o reagente oxida-se facilmente ao contacto do ar.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 97

cauções devemos tê-las e todas serão poucas, para se fazer um diagnóstico seguro. 0 calor altera o reagente. É preciso que o líquido sus­peito seja examinado a uma temperatura infe­rior a 30°. Quando tenhamos feito a reacção a essa ou a temperatura superior, devemos espe­rar um momento, até arrefecer. Quando a côr aparecer só em virtude da temperatura, desa­parece também com o arrefecimento.

É preciso também que o soluto empregado e a própria água oxigenada não tenham re­acção ácida, que poderia mascarar, ou fazer desaparecer a côr rosea. Para evitar este incon­veniente, devemos alcaliniza-los com amoníaco, ou potassa cáustica.

A reacção para ter valor deve ser positiva imediatamente, ou passados alguns segundos.

Quando aparece tardiamente, não tem va­lor algum, para qualquer conclusão.

SENSIBILIDADE DE EEACÇÃO

De todas as reacções corantes do sangue, sem dúvida a mais sensível é a de Kastle Meyer. Benoit com sangue humano fresco, conseguiu obter reacção apreciável até Vioooooo.

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98 MANCHAS DE SANGUE

O autor confessa que neste grau de diluição, a cor rosea é extremamente fugaz, e que só se torna perceptível sobre fundo negro. Nas minhas experiências, fiz diluições de Vm», Viooo, /10000, /íooooo, /aooooo, /30000o, Aooooo, /50000o, /eooooo,

/«MOOO, /100000o. A sensibilidade da reacção é nítida até Vaooooo. Depois desta diluição, torna-se muito ténue e a partir de V500000 julgo quási impossível obter uma coloração suficiente. Talvez que o defeito estivesse em empregar o reagente obtido com a fenolftaleína e não feito com a fenolftalina pura. Mas seja como fôr, '/50000o é já uma diluição enorme, que na prática não temos necessidade de ultrapassar. Obtemos sempre soluções mais concentradas.

Se com uma mancha, não se pudessem obter senão diluições tão elevadas, também de nada serviria a reacção, porque de per si só não nos dava a certeza da presença de sangue, e com diluições de Vsoooo não se obteriam as verdadeiras reacções do sangue, que nos dão um diagnóstico seguro.

Com sangue fresco, diz Benoit que a sen­sibilidade da reacção pode ir até VÍOOOOOOO. Não pude, como já disse, observar este prodígio de sensibilidade.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 99

ESPECIFICIDADE DA BEACÇÃO

Infelizmente, esta, como as outras reac­ções oxidantes do sangue, peca por pouco específica. Numerosos são os corpos que a dão positiva e todos os métodos para desviar as causas de erro, teem sido improfícuos.

Nos produtos de origem animal, esta reacção é mais específica que a de Van Deen, mas no reino mineral existem numerosos cor­pos que a dão positiva.

A saliva, não dá a reacção de Kastle usual­mente. Numa série de experiências que fiz em dias variados, consegui por várias vezes obter uma reacção positiva, è, Seria devida a pequenas partículas alimentares, ou a porções reduzidas de sangue vindo das gengivas? Benoit explica desta maneira a positividade da reacção com a saliva.

0 pus colhido sem mistura de sangue (pun­ção dum abcesso frio com termo-cautério), não da reacção positiva.

Com o pus duma uretrite blenorrágica, consegui obter reacção nitidamente positiva e o exame microscópico não denunciava a pre­sença de glóbulos rubros.

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100 MANCHAS DE SANGUE

O leite não dá também reacção positiva, a não ser o leite tirado na mulher, por meio de bombas de aspiração. É muito provável que venha algum sangue de mistura.

Esta reacção é neste ponto superior á de Van Deen, que com estes produtos dá sempre reacção positiva.

No reino vegetal aparecem muitos produ­tos que tornam positiva a reacção de Kas-tle-Meyer.

As batatas, as farinhas de trigo, centeio, a maior parte de cereais, a goma arábica dão reacções positivas, aparecendo uma côr roseâ alvacenta.

Com as batatas, a reacção é muito franca e imediata.

Já a goma aráhica dá uma reacção muito lenta e fraca, que de maneira nenhuma se con­funde com a dada pelo sangue.

A clorofila não dá reacção positiva. Como já atrás referi, a-clorofila não tem

ferro na sua molécula. (').

(!) O espinafre, que tem grande quantidade de ferro não dá a reacção de Kastle-Meyer. Daqui se vê que não se pode atri­buir ao ferro todo o poder oxidante dos vegetais,.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE lOt

Todos estes produtos de origem vegetal perdem a propriedade de dar uma reacção po­sitiva, quando levados a uma temperatura de 100 graus.

É que actuavam pela presença de diastases que são destruídas entre 80 e 100 graus. Basta, pois, ferver durante alguns minutos o líquido suspeito, para se excluir a acção das diastases.

Entre os produtos químicos, há um certo número que dá a oxidação do reagente, sem o intermédio da água oxigenada. Outros compor-tam-se única e exclusivamente como o sangue.

Oxidam directamente o reagente :

Persulfatos alcalinos Ferrocianeto de potássio Peróxido de chumbo Peróxido de ósmio

Nas minhas experiências, só pude, deste grupo, observar as reacções com os ferro — e ferricianetos de potássio.

A reacção é muito mais rápida com o ferri-cianeto. Pode considerar-se mesmo instantânea.

Com o ferrocianeto, embora seja muito nítida, é contudo mais lenta,

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Não são, pois, muito fáceis de confundir com o sangue, porque este só actua em presen­ça da água oxigenada.

É no grupo seguinte que existem analo­gias no modo de actuar, mas as diferenças são, no meu modo de vêr, muito nítidas.

Oxidam o reagente, com o auxilio de água oxigenada :

Sais de cobre Bicarbonatos alcalinos Sulfato de magnésio Brometo de potássio

Entre outros, dos sais de cobre, servi-me do sulfato, que dá uma reacção muito singular e que merece ser descrita.

Se deitarmos um pequeno cristal de sul­fato de cobre num tubo de ensaio, com metade de água distilada, observamos, quando junta­mos o reagente de Kastle-Meyer, a formação de um prcipitado azul escuro, denso, ocupando o fundo do tubo. Quando depois lhe juntamos a água oxigenada, este precipitado passa a flocoso verde-garrafa e no fim de 3 a 4 segundos, a vermelho. Muitas vezes, no tubo fica um preci-

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 103

pitado fiocoso de côr de vinho, que ocupa o fundo e a superfície do tubo de ensaio, dei­xando no seu intervalo um líquido transpa­rente e vermelho.

Agitando, e deixando repousar um dia, todo este precipitado se acumula no fundo do tubo de ensaio.

Com a essência de terebintina, não dão reacção os sais de cobre.

Com os bicarbonatos, como o-de sódio, a reacção é nítida e rápida, principalmente se o reagente ó antigo.

Reagente recente não dá reacção com os bicarbonatos. Com o sulfato de magnésio, a reacção é lenta. Quando se lança o reagente de Kastle Meyer, forma-se um precipitado fiocoso, branco, que, pela adição de água oxige­nada, toma lentamente uma côr rosea.

Com os bromêtos de potássio e de sódio, a reacção é fraca e lenta.

* * *

Esta reacção de Kastle Meyer embora não específica, quando se lhe dedique toda a

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atenção, consegue definir se se trata ou não de sangue, porque a reacção com este ultimo, muito mais rápida e nítida, não forma precipi­tados, e também se pode fazer com a terebin­tina ozonizada.

Sendo de todas as reacções* corantes a mais sensível, chega a ser imprópria para as pesqui­sas médico-legais, pois segundo Dervieux, "a sua extrema sensibilidade ultrapassa os limites duma reacção puramente electiva do sangue,,.

Mas o facto é que, embora muitos compos­tos deem a reacção de Kastle-Meyer, há sempre uma possibilidade de os distinguir, em muitos casos, do sangue. E indubitavelmente superior á reacção de Van Deen, porque ó mais especí­fica do que esta.

Sabemos que os compostos que tem oxi­dases, podem dar esta reacção, mas sabemos também que pela ebulição, esta causa de erro será posta de parte.

A saliva, o leite cru, o suco gástrico, o esperma, o muco nasal, podem por esta razão dar um Kastle-Meyer positivo. Acresce ainda a grande possibilidade de estes productos poderem arrastar pequenas quantidades de san­gue. Neste caso, a fervura, a temperatura mes-

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mo a 100.o não destruía a positividade da reacção.

O sangue em qualquer estado (salvo em solutos ácidos), dá sempre reacção positiva. A hemoglobina e qualquer dos seus derivados, exceptuando a hemato-porfirina, comportam-se sempre de maneira a dar uma reacção nítida.

Dervieux obteve reacção positiva com san­gue de 26 anos.

Nas minhas experiências, obtive o mesmo resultado com um macerado duma peça mumi­ficada e existente há largos anos no museu de anatomia patológica da nossa Faculdade.

O calor muito prolongado não impede a reacção positiva do sangue.

Auctores, como Benoit e Baltazard, conse­guiram uma reacção positiva com sangue calci­nado. Labat afirma que se a calcinação é com­pleta, a reacção nunca é positiva. Dervieux e Leclercq fizeram sobre este assunto, largas experiências, calcinando ossos, músculos, fe­tos inteiros e verificaram que, quando a cal­cinação é completa, a reacção é absolutamente negativa.

Os álcalis e os ácidos (excepto S 0 4 H 8 ) não tem efeito nenhum sobre o resultado final

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da reacção, quando depois se opere em meio francamente alcalino.

A ferrugem, a terra, a clorofila não dão reac­ção positiva, mas sim os bicarbonatos alcalinos e várias águas minerais. Benoit demonstrou com experiências que esse facto só se dava quando o reagente estava alterado pelo longo contacto com o ar.

* * *

Para obstar ás diversas desvantagens deste método, propuseram-se várias modifica­ções, mas de pouco interesse médico-legal. Sarda, verificando que o sangue em. soluções concentradas dava uma reacção pouco enérgica, ou mesmo nula, aconselha as seguintes modi­ficações. A três centímetros cúbicos da solução que pretende examinar, junta-lhe um volume egual de álcool acético.

Ácido acético crist. — 2 c. c. Álcool a 90.° — 98 c. c.

Depois de agitar alguns momentos, pro­cede então á reacção de Kastle-Meyer.

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Assim e por intermédio do álcool acético, dilui e destrui os glóbulos rubros, pondo em liberdade a hemoglobina.

Balthazard aconselha que se opere, nos casos difíceis e duvidosos, da seguinte maneira : "Dissolva-se a mancha numa pequena quanti­dade de água, leve-se á ebulição e divida-se depois o soluto por dois tubos de ensaio. Num, tente-se a reacção de Kastle-Meyer, noutro a de Adler com a benzidina,,. A reacção de Adler, sendo negativa com os sais de cobre, deve servir de verificadora da de Kastle-Meyer, quando a mancha esteja sobre um suporte metálico de cobre.

Foi esta a única modificação útil apare­cida, mas mesmo assim, é preciso considerar que a reacção, com os sais de cobre, é bastante diferente da do sangue.

*

Em resumo, podemos verificar que, em­bora esta reacção tenha vantagens sobre a reacção de Van Deen, pois além de ser um pouco mais específica, é mais viva, mais visí-

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vel e consente a preparação mais antecipada do reagente, entra, como outras, no grupo das que unicamente podem dar ao médico legista um sinal de probabilidade, ou possibilidade e nunca uma certeza absoluta.

Casos há, em que mesmo tratando-se de sangue, a reacção é negativa, pois, devemos lembrar-nos do sangue calcinado, tendo sofrido a acção do ácido sulfúrico, ou do sulfidrato de amónio. Este ultimo composto altera por com­pleto a fenolftalina, sulfurando-a.

Não é, pois, sobre o sangue que o sulfidra­to de amónio vae exercer a sua acção impedi­dora. Quando se tenta, por meio do persulfato de amónio, oxidar a fenolftalina, o sulfidrato de amónio impede, com a sua presença, esta reacção.

São várias as causas de erro, mas o médico legista pode tomar algumas precau­ções, que lhe desviem conhecidos erros de diagnóstico.

Deve, segundo julgo, verificar se o soluto suspeito é ou não alcalino.

No caso de dar reacção ácida, devemos neu­tralizá-lo com a potassa cáustica. Não se deve também desprezar a acção do calor. O soluto

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE Í09

suspeito deve-se ferver, a fim de eliminar a presença de catálases e oxidases.

R e a c ç ã o d a f l u o r e s c e í n a È devida esta r eacção aos

trabalhos de Fleig sobre as ftaleínas e seus derivados. É uma reacção corante que apre­senta desvantagens, como todas as outras, e que em nada veio beneficiar o problema médi-co-legal. Muito embora Fleig diga que, debaixo do ponto de vista de sensibilidade, esta reacção seja mais apurada que a de Kastle - Meyer, Dervieux é o primeiro a afirmar que não. A fluorescência que se obtém com soluções muito diluídas, é muito mais difícil de examinar que a coloração rosea do reagente de Kastle-Meyer. Alem disto, é um reagente absoluta­mente instável. Nunca consegui utilizá-lo por mais de dois a três dias, apesar de ter tomado todas as precauções, para evitar a sua oxida­ção. Conservado com uma camada protectora de óleo de vaselina, livre do contacto do ar, em frascos bem parafinados e fora da acção da luz, nem assim mesmo se mantinha em bom estado. Não se podia atribuir este defeito á má qualidade da fluoresceína, pois sempre a usei

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' 110 MANCHAS DE SANGUE

de origem, da casa Oogit. Apresentava rapida­mente fluorescência, de maneira que não podia ser utilizado com segurança. Verdade é que aquela augmentava muito com as soluções sanguíneas, pouco diluidas, mas como digo, é um reagente extraordinariamente instável. Estando alguns minutos em contacto com o ar, mesmo ainda na pipeta de que me utilizava, obtinha em breves momentos um aumento muito sensivel da fluorescência. Não tem nada de específica, dá lugar aos mesmos erros e desconfianças que o reagente de Kastle-Meyer e com soluções ácidas, como as de ácido acético, dá uma forte fluorescência. Nenhumas vantagens tem sobre as outras reacções des­critas. É de uma preparação difícil, e de uma conservação impossível.

O mecanismo desta reacção é absoluta­mente idêntico ao de Kastle Meyer. Para a sua preparação, é preciso usar das mesmas precau­ções que se usam ao fabricar o reagente de Kastle-Meyer.

Também neste caso se reduz a fluoresceína pelo hidrogénio nascente. Este ultimo é obtido, fazendo actuar o zinco em pó fino, a quente, sobre uma solução de potassa.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 111

Pode-se substituir o zinco por alumínio, ou manganês em pó. Numa garrafa de Erhen-Meyer lançam-se cem gramas de soluto de potassa a 20 °/0. Quando estiver em ebulição, junta-se o pó de zinco pouco a pouco e logo que se come­cem a desenvolver bolhas gazosas de hidrogé­nio, com todo o cuidado e com o auxílio dum cartão dobrado, deitam-se 0,25 gramas de bôa fluorescoína.

A mistura fica verde, mas no fim de um certo tempo, dez a quinze minutos, a descòra-ção é completa. Imediatamente se deve decan­tar e passar pára um frasco de largo bocal, tondo o cuidado de lançar algum pó de zinco no fundo. Rectificam-se com água destilada e fervida, os cem centímetros cúbicos e cobre-se o líquido com óleo de vaselina.

Tapa-se com rolha de borracha, ou rolha « de cortiça bem parafinada e quando se fizer

uso do reagente, deve-se retirar com o auxílio de uma pipeta bem limpa e seca.

A formula do reagente é pois :

Soluto de potassa a 20 % — 100 gramas Pó de zinco — 10 „ Pluoresceína — 0,25 „

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í l â MANCHAS DE SANGUE

Este reagente oxida-se, com uma facili­dade assombrosa, ao contacto do ar.

Quando na sua fabricação se acaba de des­corar o reagente, é preciso acondicioná-lo no frasco próprio, muito rapidamente. Várias vo­zes, uma pequena demora "de minutos, foi o bas­tante para produzir uma oxidação bem visível. De novo o levava á ebulição com uma nova o pequena quantidade de pó de zinco, deseòran-do-se então mais rapidamente.

Como se pode bem depreender, este reagente é mesmo perigoso, pois o contacto com o ar en­quanto está na pipeta, é suficiente para o oxidar.

A técnica da reacção é das mais simples. Tudo se reduz a lançar umas gotas do

reagente em 1 centímetro cúbico do soluto a examinar e juntar depois uma gota de água oxigenada a 10 volumes. Se se trata de sangue, aparece imediatamente uma maior ou menor fluorescência, correspondente á quan­tidade de sangue do soluto.

A flluorescência deve aparecer muito rapi­damente, para a reacção ter algum valor, o máximo dentro de segundos e não minutos, como Dervieux assegura. Deitando este reagen­te em simples água distilada observei, muitas

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 113

vezes, no fim de dois ou três minutos, uma ver­dadeira, fluorescência.

Sujeita como está a graves erros, esta re­acção só traz perigos e desvantagens para os analistas.

Reacção de Bourque lo t Es t a reacção, que pouco va­

lor tem, porque é difícil de obter no caso de manchas antigas, ó fundada na mudança de côr que sofre o sangue das manchas, quando sobre elas se faz actuar uma gota de água gaiacolada e outra gota de água oxigenada. O reagente, fácil de obter, consegue-se dissolven­do 1 grama de gaiacol em 100 centímetros cú­bicos de água distilada. Agita-se durante algum tempo com uma vareta, de modo a tornar a solução o mais perfeita possível. O sangue tor-na-se nesta reacção vermelho castanho escuro.

Entre varias desvantagens deste método, verifiquei :

l.o que é difícil de observar em sangue muito velho, pois a mudança de côr obtida não é distinguível.

Como se sabe, as manchas velhas têm uma côr semelhante á produzida nesta reacção.

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1 I 4 MANCHAS DE SANGUE

2.° que a água oxigenada, que se usa nes­ta reacção, vem, pela producção de bolhas gaso­sas mascarar completamente a mudança de côr.

Em solutos sanguíneos, mais difícil se tor­na a sua observação. Ainda assim, obtive-a positiva com sangue de ] , 6 e 8 meses.

Em sangue levado a 60° e 120°, mos-trou-se absolutamente negativa.

Mesmo nos solutos, é mais flagrante a reacção da água oxigenada, do que a reacção de Bourquelot. A água oxigenada actua neste reagente como actuaria, quando empregada só.

Não é pois, uma reacção de escolha. No grupo das reacções corantes, é das mais infe­riores. É visível em manchas, ou solutos muito recentes, principalmente em todos aqueles que conservem ainda a côr rosea da oxi-hemoglo-bina. Só nestes casos se pode apreciar com grande nitidez. A titulo de curiosidade a cito, e só essa razão me levou a descrevêl-a.

R e a c ç ã o d o á c i d o Uma solução fraca pirogálhico d e á c i d o P i r°gálhico

erh água distilada, cora de pardo no fim de dois a três minutos, com máximo de intensidade no fim de dez, as

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 1 15

soluções sanguíneas. É preciso empregar ácido pirogálhico puro e que não esteja amarelecido pelo tempo.

O reagente não se conserva quási tempo nenhum, ganhando ao fim de horas uma côr acastanhada. Tem de ser preparado na oca­sião de se usar. Quando perfeito e utilizável, é absolutamente incolor.

Como a reacção anterior, esta é muito pou­co apreciável em manchas antigas.

A razão disto é fácil de compreender. Sendo pardas as manchas antigas, ou os seus solutos, o ácido pirogálhico só pode escurecê-las um pouco, o que se avalia confrontando com man­chas, ou solutos testemunhas. A reacção deve ser rápida. Quando apareça no fim de '/2 ou 1 hora, não tem o menor valor. Nas experiências a que procedi, verifiquei que só era muito níti­da em manchas recentes e em solutos muito concentrados. Em sangue recente e seco em lâ­minas de vidro, pode-se observar com precisão. Absolutamente negativa com sangue fervido, ou aquecido a 60° e 120° é, contudo, apreciável em manchas de 1 mês, e 6 meses.

Não a pude obter com manchas de 8 me­ses e que tinham sido insoladas.

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116 MANCHAS DE SANGUE

Esta reacção é muito pouco específica. Numerosos são os corpos, quer da química

mineral e orgânica, quer de origem animal, que se tornam pardo-escuros com o ácido piro-gálhico. Não deve ser usada, pois além de não ser positiva, até em casos de sangue bem averi­guado, seria uma causa de infinitos e perigosos erros. Como aparece citada por vários autores, também a experimentei e a estudei e por essa razão a ela me refiro, embora convencido da sua inutilidade. Esta reacção observa-se, quan­do se procuram obter cristais de hemocromo-génio em meio acidulado pelo ácido pirogálhico (Lecha-Marzo).

R e a c ç ã o d a b e n z i d i n a E x t r e m a m e n t e f d e A d l e r ) sens íve l , e s t a

reacção é uma das mais elegantes que se podem obter com soluções sanguíneas, mesmo muito diluídas. Devida aos trabalhos de Adler, de quem con­serva o nome, foi aplicada á medecina legal por Merkol, Bordas e Macweeney.

Data de muito poucos anos esta sua apli­cação, pois Adler só em 1904 a descreveu o a aconselhou em pesquisas de ordem clínica.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 117

Pode este reagente ser preparado por várias formas e maneiras. Autores o preparam, saturando o álcool a 95° pela benzidina, outros fazem a substituição do álcool pelo ácido acético. Altera-se rapidamente, tendo que ser preparado na ocasião do seu emprego, e requer uma benzidina pura, muito branca. Schumm observa que os médicos legistas devem requi­sitar benzidina própria para esta reacção, por­que não se obtém facilmente o mesmo efeito, com a maior parte da benzidinas do comércio. A benzidina da casa Cogit, por mim experi­mentada, dá com toda a segurança esta reacção.

O ácido acético, segundo a opinião de muitos analistas conserva incolor o reagente, mas tendo preparado soluções alcoólicas e acéticas, verifiquei que ambas se coravam ao fim de horas, dando um líquido turvo e ama-relo-escuro. Fiz uso da formula seguinte, pre-parando-a no momento das observações :

Benzidina — 1 grama Álcool a 90.° —30 Acido acético glacial — 20 „ Perborato de sódio — 5 decigramas

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118 MANCHAS DE SANGUE

Esta formula tem a vantagem de poder prescindir da água oxigenada. No acto da reacção, o perborato de sódio fornece o corpo oxigenante, a água oxigenada.

Dervieux e Leclercq anunciam que há hoje á venda, pequenas pastilhas de perborato de sódio e benzidina doseadas a um decigrama de cada uma destas substancias e que se dissol­vem na ocasião do seu emprego, em dez cen­tímetros cúbicos de acido acético glacial (').

Mas não ha necessidade absoluta do perbo­rato de sódio, porque a reacção produz-se com a essência de terebintina ozonizada, ou com água oxigenada.

A técnica da reacção muda, conforme os autores. Se tivermos bastante quantidade de solução suspeita, fazemos a reacção em tubos de ensaio. A um centímetro cúbico do soluto a examinar juntamos 1 centímetro cúbico do reagente. Havendo sangue, corn grande rapidez todo o líquido toma uma côr esverdeada, que se

(]) Embora as tenha requisitado á casa Cogit, não as encon­trou esta á venda. Contudo são fáceis de fazer e aqui mesmo se poderiam fabricar.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 119

modifica passando a azul escuro e mais tarde a castanho. Usando a formula acima citada, dispensa-se a adição da água oxigenada. Quando a quantidade de liquido suspeito é diminuta, faz-se a reacção numa pipeta, cuja ponta seja capilar e longa. Aspira-se uma pequena porção do liquido e a seguir o rea­gente já com o perborato de sódio, ou água oxi­genada. No ponto de separação dos dois líqui­dos, vê-se um anel opalino branco que se torna esverdeado, com tendência a azular, se no líquido existe sangue (Ascareli). Macweeney faz actuar directamente a benzidina oxigenada sobre fragmentos da mancha suspeita.

Ultimamente, apareceram uns papeis de benzidina, os quais são usados como reagentes do sangue. Não são úteis em medicina legal, porque a benzidina adultera-se facilmente e deste modo, poderia dar origem a erros gravís­simos. Esta reacção presta-se para ser feita em manchas transportadas para papel de filtro e obtem-se nitidamente em manchas impressas em películas e papel fotográfico, pelo processo do professor Lecha-Marzo. Quando tivermos manchas pequenas e sobre panos escuros, onde dificilmente são visíveis, podemos torná-las sa-

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120 MANCHAS DE SANGUE

lientes, usando papel de filtro enbebido numa solução de benzidina, aplicado fortemente sobre o tecido. Ao fim de algum tempo de contacto, retiramo-lo e borrifamo-lo com água oxigenada. Nos pontos correspondentes ás manchas de sangue, apai*ece uma côr esver­deada.

A sensibilidade desta reacção é notável. Com um soluto, resultante da maceração duma peça de anatomia patológica, datando de muitos anos e conservada pelo processo de mumificação, ainda obtive reacção nitida­mente positiva, mais nítida do que a obtida com o reagente de Kastle-Meyer.

Com manchas de 1 até 8 meses de idade, abandonadas durante este prazo á acção des­truidora' do tempo, obtive em diluições fraquís­simas, reacções muito positivas.

Manchas insoladas, aquecidas a 120°, sangue em diferentes estados de putrefacção, deram sempre reacção muito nítida. Esta infelizmente não é específica. O pus, o suco de vários frutos, a batata, os espinafres, a pêra, dão uma reacção positiva. Notei, todavia, que esta reacção é mais fraca com estes pro­dutos e com o pus ó difícil saber se a reacção

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 12i

seria positiva, era casos em que este não tivesse a mínima parcela de sangue.

A saliva, o suor e o muco dão reacção negativa.

Os metais coloidais, como o electragol, o lantol dão reacção nitidamente positiva.

O talco, a pedra pomes em pó, os sulfocia-netos, o percloreto de ferro, o ferrociaueto de potássio, dão também uma reacção positiva, formando em alguns casos leves precipitados. Mas os sais de cobre, contrariamente á reacção de Kastle-Meyer, não tem influência nenhuma sobre a benzidina. Lambert e Balthazard apro­veitam este facto, para, em suportes de cobre, pesquisarem manchas de sangue.

É, como as outras reacções corantes, uma reacção de probabilidade, mas n u n c a de certeza.

É preciso pois, não firmar nenhum dia­gnóstico na sua positividade.

R e a c ç ã o d a a l o í n a Esta reacção, talvez um pouco menos sen­

sível que a de Van Deen, apresenta muitos inconvenientes. Alem de não sêr uma reacção específica, pois como a de Van Deen, perante

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Wl MANCHAS DE SANGUE

muitos e variados compostos, dá uma reacção positiva, muito semelhante á que dá com o san­gue, é muito mais tardia no seu aparecimento e menos fácil de distinguir. Compreende-se que, sendo róseas algumas das soluções sanguíneas e sendo também rosea, ou vermelha a reacção, não existe o contraste evidente da reacção de Vau Deen, que dá uma coloração azul. Para se preparar o reagente, basta dissolver 4 gramas de aloína em 100 centímetros cúbicos de álcool a 95.°. O reagente tem uma côr ligeiramente amarelada, mais tenue que a do reagente de Van Deen.

Esta côr não modifica, nem pode diminuir a intensidade da reacção.

Pode também fazer-se a solução de aloína em hidrato de cloral a 75 °/0, em água disti­lada. O veículo isto é o dissolvente, não modi­fica as qualidades da reacção, não aumenta a sua estabilidade, nem a torna mais sensível ou rápida. Este reagente altera-se duma ma­neira rápida ao contacto do ar, dando um líquido de côr avermelhada, o que é consi­derado por muitos como desvantajoso. O fa­cto cia sua alteração rápida não me parece ser o seu grande defeito, pois todos estes

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 123

reagentes oxidantes, no meu modo de enten­der, devem ser preparados na ocasião das pes­quisas.

Não devemos esquecer o que sucede com o reagente de Kastle-Meyer que, com a anti­guidade, embora não perca as suas quali­dades, ganha em compensação outras, tais como o apresentar reacção positiva com os alcalinos.

A qualidade da aloína também influi muito na côr do reagente. Diversas que ensaiei davam, em percentagens idênticas de dissolu­ção, cores variadas ao reagente. Esta reacção é positiva e nítida nas soluções sanguíneas, quer com a essência de terebintina ozonizada quer com a água oxigenada. Diga-se de passa­gem que é mais rápida e mais intensa com a água oxigenada.

Para se ensaiarem os solutos suspeitos, basta, depois de prévia verificação da bôa qua­lidade dos reagentes, lançar sobre um centíme­tro cúbico do soluto, um centímetro cúbico do reagente e depois cinco a dez gotas de água oxigenada. No caso de reacção positiva, apare­ce uma côr vermelho-pálida, que passa por di­ferentes fases, até chegar ao vermelho vivo.

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124 MANCHAS DE SANGUE

Esta reacção é bastante demorada no seu aparecimento.

Demora minutos, nunca excedendo quatro, e só ao fim de seis a dez, ó que se nos apresen­ta no máximo de intensidade.

Num macerado duma peça mumificada e pertencente ao museu de anatomia patológica, embora o líquido filtrado não desse uma re­acção positiva, avermelliavam-se contudo os fragmentos que tinham sido retidos na filtra­gem. Deu reacção fracamente positiva, já cóm sangue fervido, já com o mesmo aquecido a 120o.

Manchas bastante insoladas e de 6 meses de idade, deram uma reacção positiva, mas fraca. Reacção intensa e nítida, obtive-a com manchas recentes e com sangue de 1 mês. Esta reacção também se verifica duma maneira nítida, directamente sobre as manchas, ou seus pequenos fragmentos. Os processos e modifi­cações feitas na maneira de dissolver as man­chas, para evitar ou antes diminuir as causas de erro, são os mesmos que são usados na reacção de Van Deen. Isto equivale a dizer que esta reacção não tem mais especificidade que a de Van Deen.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 125

R e a c ç ã o d a p a r a f e - Esta reacção é bas-n i l d i a m i n a - tante sensível, mas

não é positiva com o sangue fervido, sangue em adiantada putre-facção, sangue sobreaquecido e é relativamente fraca com o sangue largamente insolado. Espe­cificidade nula. Numerosos corpos químicos dão uma reacção positiva. É uma reacção oxidante, que não apresenta sequer as van­tagens de muitas outras já descritas. 0 rea­gente, de fácil preparação, obtem-se dissol­vendo em cem gramas de água distilada, cinco decigramas de parafenildiamina. Como peró­xido, tanto dá resultado a essência de tere­bintina ozonizada, como a água oxigenada. Absolutamente de fácil alteração, deve .sem­pre sêr preparado no acto do seu emprego.

A. técnica da reacção é, como se vae vêr, bem fácil. Se a uma solução sanguínea, não fervida ou aquecida, juntarmos alguma gotas do reagente e outras tantas de água oxigenada aparece-nos uma coloração esverdeada, que, passados momentos se torna azul violeta.

É interessante o aparecimento no soluto sanguíneo de estrias verdes correspondentes a água oxigenada, quando se lance esta com cui-

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\°26 MANCHAS DE SANGUE

dado, gôta a gôta. Agitando-se a mistura, tor-na-se esta inteiramente verde com tendência a escurecer. Boas manda que se dissolva a man­cha em éter, para que a reacção seja mais intensa. Nas minhas experiências, nenhuma diferença notei, pelo emprego deste, ou daquele dissolvente. No fim de cinco minutos,a côr azul da reacção transformava*se em castanho escuro.

Esta reacção foi fracamente positiva, com o macerado duma peça mumificada e datando de longos anos. Com soluto de manchas de 1, 6 e 8 meses, foi muito fracamente positiva, espe­cialmente com o último.

Não é, pois, uma reacção de aconselhai'. Só tem desvantagens sobre todas as outras.

Reacção de D o n o g a n y A reacção de Donogany, pou­

co apreciável em soluções sanguíneas diluidas é, contudo, interessante em soluções concen­tradas, em sangue seco em lâminas de vidro.

Funda-se na côr vermelho-alaranjada, que o sangue toma em presença da piridina e do sulfidrato de amónio.

A côr usual amarela do sulfidrato de amó­nio, embora se use este ultimo em pequena

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 127

quantidade, impede que esta reacção seja bem visível, em solutos sanguíneos diluídos. Nas manchas ainda secas e nos suportes, é que pro­priamente se torna bem visível. Pode ainda apreciar-se em sangue seco em lâminas e com observação microscópica. Pouco a pouco se vê a sua transformação em vermelho-alaranjado. Esta- reacção é nítida com manchas antigas.

Não tem especificidade, nem tão pouco é usada como meio de diagnóstico da presença de sangue nas manchas.

Reacção dp sulfato Esta reacção é fun­de hidrazina- d a d a n 0 P o d e r 1ue

o sulfato de hidra-zina, dissolvido numa solução de potassa cáus­tica, tem de transformar em hemocromogénio, a hemoglobina do sangue.

O hemocromogénio dá aos solutos uma coloração rosea. Esta reacção é difícil de obser­var em solução de manchas recentes, porque estas apresentam também já de per si uma coloração rosea. De mais a mais, a coloração rosea dada pela reacção, é muito fugaz, bas­tando agitar o tubo contendo a solução, para que desapareça imediatamente. 0 facto resulta

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ÍÍ28 MANCHAS DE SANGUE

de que o hemoci'omogénio, ou hematina redu­zida em soluto alcalino, muito instável, se oxida rapidamente. É pois esta reacção difícil de apreciar, mas serve para a pesquisa dos exames espectrais. Nas minhas experiências, verifiquei-a mais facilmente, fazendo-a em pequena escala, numa lamina cavada porta-objectos. Lançava uma.gota de solução san­guínea e três ou quatro do reagente e cobria depois com uma lamela. Então, colocando a lamina no microscópio, com um pequeno aumento via bem o aparecimento da côr rosea. Substituindo depois a ocular, pela ocular espetroscópica, tive ocasião de observai1 o espe­ctro do hemocromogénio.

O reagente, que é preparado horas antes, obtem-se dissolvendo cinco decigramas de sul­fato de hidrazina em cem centímetros cúbicos de soluto de potassa cáustica a 10 % e jun-tando-lhe depois 10 gramas de álcool a 95.°.

Em resumo, a sua formula é :

Sulfato de hidrazina — 0,5 gramas Potassa cáustica — 10 „ Água distilada — 90 „ Álcool a 95° — 10, ,,

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 129

Este reagente é absolutamente incolor. Deve-se preparar esta mistura cinco a seis

horas antes e filtra-la no fim deste tempo. Para provocarmos a reacção, devemos num

tubo de ensaio fazer uma mistura de 1 centime­tre cúbico da solução suspeita, para 10 de rea­gente. Havendo sangue, aparece primeiro uma leve côr amarelo-esverdeada, ligeira, e que se torna rosea. É preciso não agitar o tubo, pois então nem sequer a reacção se dá. Aban­donada a si mesmo, a côr rosea desapare­ce rapidamente. Quando as manchas sejam antigas e insolúveis em água distilada, observa Dervieux que se lance um fragmento da mesma, no próprio reagente. Este se colorirá em róseo, se houver sangue na mancha. Esta reacção, não sendo fácil de obter, não tem carácter prático, mas serve para observar os espectros da hema-tina alcalina e da hematina reduzida, ou hemo-cromogénio.

Quando se examina o espectro do líquido, após a reacção e no momento do aparecimento da côr rósea, verificamos a existência do espe­ctro do hemocromogénio.

Agitando-se a mistura, desaparece a côr rósea e o espectro modifica-se, pela transfor-

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130 MANCHAS DE SANGUE

mação do hemocromogénio em hematina alca­lina. Deixamos em repouso e no fim de algum tempo aparece a côr rósea e com ela o espectro do hemocromogénio. Esta reacção, observada assim, deixa de sêr uma reacção de probabi­lidade, para passar a reacção de certeza, mas é pouca usada, porque os espectros do hemo­cromogénio e da hematina alcalina, embora não sejam difíceis de observação, requerem uma boa prática.

Reacção da alizarina Esta moderna reacção devida a

Baecchi, pertence, como as passadas, ao grupo das reacções corantes e como elas, tem pouca especificidade. Numerosíssimos são os corpos em que ela ó positiva e não passa de uma reacção de fraca possibilidade. O Dr. Alva­rez de Toledo dá-nos, numa interessante me­mória, os resultados de várias e bem orde­nadas pesquisas que fez, com o fim de saber até que ponto ia a sua especificidade. Embora não tenha repetido todas as suas experiências, fiz as que julguei necessárias, para poder formar uma opinião segura acerca do seu va­lor. È urna reacção atraente e que goza de bas-

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REACÇÕES DE PROBABIUDADE 131

tante sensibilidade. Foi sempre positiva, com todas as soluções sanguíneas, algumas de uma extraordinária diluição. Com diluições de san­gue obtido por picada no dedo e no momento das reacções, verifiquei que se conservava nítida, mesmo com soluções sanguíneas tão diluídas, que eram absolutamente incolores. Dr. Alvarez dá-a como sensível até 1/6000 muito embora Baecchi, o seu inventor a tenha obser­vado em diluições até '/2000o. Nas minhas expe­riências, notei que a sua sensibilidade ia até 78000, pois ainda, neste caso se observava a reacção, embora ligeira. Com um macerado duma peça mumificada, pertencente ao nosso museu, dava também uma bela reacção.

Creio bera que a sensibilidade está em relação com a qualidade da alizarina, e mesmo com a riqueza, em hemoglobina, do sangue empregado, pois com sangue de diferentes indivíduos e em diluições semelhantes, obtinha reacções de diferentes sensibilidades.

O reageute obtem-se dissolvendo azul de alizarina S, em água distilada, de modo a obter uma solução fraca, de côr amarelo-acastanhado.

As soluções fortes não dão com uma niti­dez absoluta esta reacção e creio mesmo que

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132 MANCHAS DE SANGUE

o reagente ganha mais sensibilidade com fraca concentração, ou então, como fica menos cora­do, deixa ver com mais facilidade todas as mudanças de côr. Altera-se rapidamente, não se conservando utilizável por mais de algumas horas. Deve-se fazer na ocasião do emprego. Como peróxido, emprega-se a água oxigenada.

Segundo o Dr. Alvarez de Toledo a água oxigenada a 3/10o é suficiente. Eu nunca obtive a reacção com a água oxigenada nessa propor­ção, tendo que me servir de água oxigenada a 10 vol. Só com essa ó que a reacção era nítida.

A técnica desta reacção reduz-se a depositar, com uma pipeta, a solução sus­peita, á superficie duma mistura de dois ou três centímetros cúbicos do reagente, e de um centímetro cúbico de água oxigenada. No ponto de separação dos liquideis, aparece rapi­damente um anel de cór azul escuro, que se transforma em roxo ao fim de três a cinco minutos, se a solução suspeita contiver sangue.

A água oxigenada desenvolve também inúmeras bolhinhas gasosas.

Com pequenas quantidades de soluto sus­peito, aspira-se este numa pipeta e a seguir o reagente com a água oxigenada. A reacção

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BBACÇÕES DE PROBABILIDADE 133

é rápida, devendo aparecer no fim de 1 minuto, o máximo. Obtive-a com manchas de sangue recente e de 8 meses, sem notar diferença de intensidade. O sangue fervido, aquecido a 120°, putrefacto, tratado pelos ácidos acético, clorídrico, azótico e sulfúrico diluidos, deu-me sempre reacção positiva tanto menos intensa, quanto mais concentrada estava a solução ácida.

Pode obter-se em impressões de manchas dos papeis de filtro vulgares. Baecchi obteve-a positiva, com sangue aquecido a 170° durante meia hora, dissolvendo-o depois ém álcool clorídrico.

Alvarez de Toledo confirma este facto. — O mecanismo desta reacção é seme­

lhante ao das outras reacções corantes do sangue.

A água oxigenada, pela acção do sangue, cede o oxigénio, que vae oxidar o corpo corante. Baecchi explica esta reacção do seguinte modo :

O azul de alizarina S, obtido do azul de alizarina, pela junção de duas moléculas de sulfito ácido de sódio, dá em presença do oxi­génio, novamente azul de alizarina insolúvel.

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134 MANCHAS DE SANGUE

CH CO COH

CM / W V . O H

CH

CH CO C

CH2

N-SO'Na

H \ / C H Í

CH.SO'Na Azul de alizarina S

Isto é, pela adição de oxigénio, liberta-se de novo o azul de alizarina insolúvel e regene­r a t e o sulfito de sódio.

CH CO COH / \ c / \ c / \

CH (f V ^ >/ \ . O H

CH

\/c\y c\ CH CO c

N - S03Na

- H + 0*

- S03Na H

+o

H C \ /CH

CH

- S03Na

- H + 0*

- S03Na

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 135

Este azul insolúvel p e r m a n e c e pouco tempo na reacção, porque n a t u r a l m e n t e a acção oxidante do oxigénio o transforma em derivados solúveis, explicando-se assim as mudanças de côr, que a reacção toma com o tempo.

Esta explicação, teórica sem duvida, satis­faz e segundo Alvarez de Toledo, é fácil encon­trar no líquido resultante da reacção, sulfato de sódio, o que vem em favor desta maneira de a explicar.

Alvarez de Toledo experimentou a reacção em 170 corpos diferentes, chegando á conclu­são que só o ácido crómico e o bicromato de potássio dão uma reacção absolutamente pare­cida e análoga á do sangue.

Considera, pois, esta reacção sujeita ame­nos erros, que as outras reacções corantes do sangue e preconiza o seu emprego já em clíni­ca, já em medicina legal.

Entre os corpos que não dão esta reacção, figuram os seguintes, mais usuais :

Ácidos acético, clorídrico, azótico e sul­fúrico

Ferrocianetos e ferricianetos

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136 MANCHAS DE SANGUE

Sulfato de cobre, de magnésio Macerados de batatas, cebolas, laranjas,

pimentos, etc. Urina, urina albuminosa, pus, muco nasal,

esperma, fezes humanas.

Entre os que dão reacção positiva apare­cem-nos :

Ácido crómico ) reacção análoga á Bicromato de potãssio ) do sangue Sulfidrato de amónio Ciaueto de potássio Perborato de sódio Permanganato de sódio Arrenal

!

Sódio Potásio Estrôncio

Arseniato de sódio Cacodilato de sódio, etc.

Reacções cora­das, mas di­ferentes das do sangue

Embora numerosos corpos actuem sobre este reagente, todos eles fazem, excepto o ácido crómico e o bicromato de potássio, diferenças, quer na côr, quer na duração e modificações,

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REACÇÕKS DE PROBABILIDADE 137

que com o tempo toma a reacção, separan-do-se assim do sangue.

É pois útil, fazer um estudo aprofundado desta reacção, a fim de a livrar destes poucos erros, a que está sujeita. Hoje, tal como se nos apresenta, não constitui senão uma reacção de probabilidade, sujeita contudo, a menos erros que as suas congéneres.

Reacção de Ganassini Muito embora não possa dei­

xar de descrever esta reacção, proposta ul­timamente por Ganassini e revista por o professor Lecha-Marzo, em primeiro lugar con­fessarei que, apesar de seguir com toda a minú­cia e cuidados a preparação do reagente, nunca me foi possível obtê-lo em condições de dar reacção com o sangue.

Fi-lo e repeti-o por bastas vezes, usando muitas eosinas, umas da casa Cogit, outras da casa Grrubler, de inteira confiança, mas os meus trabalhos foram infrutíferos. 0 reagente, posto em contacto com o sangue, em soluções, quer concentradas, quer diluídas, não apresen­tava modificação de espécie alguma. Pois tudo, até ao momento da reacção, concordava em

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iâô MANCHAS UE SANUUU

absoluto com as declarações feitas nas suas memórias já por Ganassini, já por Lecha-Marzo.

6 Má técnica, má qualidade dos reagentes'? <-;A que atribuir os meu malogros? Apesar de novos e rigorosos cuidados, do máximo escrú­pulo na preparação do reagente, até hoje ainda não" obtive resultado que me desse coragem para novas pesquisas ('). Mas estes malogros não são de molde a desanimar totalmente e em breve recomeçarei as minhas experiências sobre esta reacção. Julgo conveniente- repetir aqui, em resumo, todos os trabalhos e discussões originadas por este reagente, descrevendo-lhe, quer a sua preparação, quer o seu modo de emprego.

O reagente prepara-se, segundo Cxanassini, dissolvendo 20 centigramas de eosina pura e cristalizada, em 200 gramas de soluto a 20 %

(l) O distinto professor Lecha-Marzo, a quem me dirigi, interrogando-o sobre o máu resultado das minhas experiências, respondeu-me o seguinte, que transcrevo na integra. «El reactivo asi preparado en los ensayos qui hice anteriormente á la publicacion de mi nota, servia muy bien para la obtencion de la reaccion. Despues he vuelto á prepararlo y la nueva cantidad de reactivo no era utilizable . . . todavia no he averiguado la causa por la cual preparamos mal el reactivo en estos casos.

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ítEACÇÓBS DE PROBABILIDADE 139

de potassa cáustica. Por intermédio de 55 cen­tímetros cúbicos de ácido clorídico, obtem-se um precipitado fiocoso, de côr amarelo-ala-ranjada.

Este precipitado, lavado em água disti­lada, é dissolvido em 25 centímetros cúbicos de álcool a 95°.

Assim se forma este reagente, que tem côr amarelo-alaranjada com fluorescência verde.

Com todas as eosinas que experimentei, obtive sempre o mesmo precipitado, da mesma côr, com as doses acima indicadas. Adavagem, fi-la umas vezes no papel de filtro onde o reti­nha na sua filtragem, outras vezes procedendo de forma idêntica á que se procede para a lava­gem dos glóbulos rubros.

O reagente tem uma reacção ligeiramente ácida. Alcalinízei-o por meio da potassa cáus­tica, ligeiramente. Quer em solução ácida, alca­lina ou neutra, nunca me deu reacção com solutos sanguíneos. Mostremos, porém, a reac­ção tal como a descrevem Ganassini e Lecha-Marzo.

"Quatro centímetros cúbicos da solução suspeita, tratados num tubo de ensaio por duas gotas de reagente e duas de potassa

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cáustica a 20 0/°, dão origem a uma coloração azul índigo, que se transforma em amarelo ouro, imediatamente, ao juntar-se-lhe uma gota de água oxigenada a 5 0/°, se a solução que submetemos ao ensaio contem sangue.„ Segundo os mesmos autores, esta reacção pode sêr obtida em manchas sanguíneas sobre panos, madeira, cartões, etc. Uma gota de reagente em conctato com a mancha dá a cô.r azul escura, com a junção de potassa a 20 %, passando a amarelo, pela adição de água oxigenada.

A putrefacção, a potassa, soda, amoníaco, cloreto de sódio, não modificam em nada o aspecto da reacção.

Os líquidos orgânicos que não contêm sangue, os sucos de plantas e flores, a maior parte das soluções metálicas, não dão com este reagente, reacção semelhante á do sangue.

Bellussi obteve reacções positivas com os saes de cobalto e de cobre em soluções dilui -das, ou mesmo com solutos de manchas produ­zidas por estes sais. Granassini diz que, contudo estes sais não dão uma reacção tão rápida como o sangue. A mudança da côr azul para amarelo ouro, é mais lenta, com os solutos de sais de cobre.

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 141

Lecha-Marzo nota que a reacção ó muito difícil de interpretar e que feita sobre um fun­do branco, se torna muito mais nítida. Com o fim de a tornar mais visível aconselha que se proceda da seguinte maneira: "Numa cápsula de porcelana, depositem-se 4 centímetros cúbi­cos da solução sanguínea, com duas gotas de KO H a 20o/,, e uma gôta de água oxigenada a 5'%. Lançando-se em seguida uma gôta de reagente, de modo a cair um pouco de alto no meio da cápsula, vêetn-se imediatamente ondas concêntricas de cor azul, que passam rapida­mente a amarelo-ouro. Repetindo o numero de gotas, outras vezes se observa a reacção.

O ácido acético e o bicloreto de mercúrio impedem esta reacção. Os resultados do traba­lho de Lecha-Marzo sobre este assunto, leva-ram-no ás seguintes conclusões :

Urina, muco, pús — reacção negativa Solução de cloreto de cobalto-—precipita

pela acção da potassa e água oxi­genada.

L( , . [ sulfato de cobalto i formam preoipi-bolucoes , , ( nitrato de cobalt0 ! tados

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142 MANCHAS DE SANGUE

Lecha-Marzo dá alguma importância a esta reacção. Na sua memoria podemos 1er o seguinte. "Si no se puede admitir por su resultado positivo la certidumbre absoluta de la existência de la sangre, és mucho más específica que las otras reacciones colorantes. „

Relatei, pois, tudo quanto de importante se oferece na memoria apresentada pelo profes­sor Lecha- Marzo. Infelizmente, nada posso de pessoal apresentar nesta reacção, da qual vol­tarei a ocupar-me brevemente.

*

Todas estas reacções tratadas neste segun­do capítulo,são, como se viu reacções de proba­bilidade e não consentem, quer isoladas, quer conjuntas, um diagnóstico seguro.

Mal do analista que fundando-se nelas, quisesse tirar conclusões seguras em qualquer caso médico-legal. Dia a dia, novos trabalhos vêem surgindo, mostrando novos defeitos des­tas reacções.

c Mas porque será que ainda hoje, grande parte dos analistas lançam mão delas nas suas pesquisas? Naturalmente porque são reacções..

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REACÇÕES DE PROBABILIDADE 14S

auxiliares e porque muitos autores as julgam úteis, para, pelo menos quando negativas, po­derem excluir a presença de sangue. Observa­mos que mesmo este valor que lhes teem dado, é falso para a maior parte delas.

A reacção do Van Deen, não é positiva com sangue em determinadas circunstâncias, como em putref acção adiantada, sangue aque­cido etc.

O mesmo sucede com quási todas as outras. A reacção de Kastle-Meyer é impedida pela presença do sulfidrato de amónio. Como se depreende, nem sequer teem grande valor, quando negativas.

Outras reacções, que vão sêr descritas noutro capitulo, têm incontestavelmente toda a supremacia sobre as corantes. São aquelas que classifico como certas e seguras, quando positivas.

Quando negativas, deixam de ter o mesmo valor, porque neste caso a sua negatividade pode ser devida a uma má técnica e má obser­vação, ou a uma exiguidade de material, com o qual não se podem conseguir resultados garan­tidos. Seja como for, é nesse grupo que o ana­lista deve fazer as suas pesquisas, deixando as

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144 M A M ; H A S D E S A N G U E

reacções corantes á parte, sem que isto queira dizer que se abandonem de todo. 0 seu estudo, o seu aperfeiçoamento, devem sêr tentados e quem sabe se, num futuro próximo, se encon­trará uma reacção corante do sangue, abso­lutamente específica. Hoje, no estado actual da sciencia médico-legal, não teem mais do que um valor histórico. Entre as reacções corantes uma há, que algum valor tem : é a reacção do sulfato de hidrazína. Difícil de observar, presta-se, ainda assim, a ensaios espectrais concludentes. Notemos, porem, que como reacção corante, considerada só por este lado, perde completamente todo o interesse. Bastante razão tem Otto Leers para afirmar que "um bom exame feito com uma lupa, por um indivíduo prático, é o melhor exame preliminar que pode haver.,,

Não se deve, pois, desperdiçar tempo e material com as reacções corantes, que segundo o meu modo de vêr só podem levar a graves erros.

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CAPITULO I I I

— Reacções de certeza

R E S U M O

I Reacções espectrais. 11 Reacções cristalográficas.

I l l Processos histo-microscópicos. 1 V Manchas confundíveis com as de sangue.

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Reacções de certeza

R e a c ç õ e s e s p e c t r a i s A luz natural ou artificial, quando é

obrigada a passar por soluções de algumas substâncias, apresenta modificações no seu espectro.

Aparecem faixas, linhas de absorção, espe­cíficas para cada soluto.

Este facto, aproveitado em medicina legal para as pesquisas de sangue, constitui, sem dúvida, o método mais simples e eficaz, para descobrir a presença de sangue em solutos suspeitos.

0 defeito que muitos autores lhe atribuem, de necessitar grandes quantidades de sangue, é hoje bem remediável, já pela perfeição dos

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148 MANCHAS DE SANGUE

aparelhos modernos, já mesmo porque, pon-do-se em prá t ica pequenos nadas, modificando os recipientes empregados para o exame das soluções, se consegue dar a solutos diluidos, uma espessura suficiente para obter um espe­ctro ní t ido.

Além disso, a ocular espectromicroscópica pode examinar parcelas mínimas de manchas suspeitas, ou gotas de solução das mesmas.

E verdade que soluções sanguíneas averi­guadas , muitas vezes não dão espectros con­cludentes. Leers, com manchas insuladas du­rante 16 dias consecutivos, não conseguiu, com as suas soluções em cianeto de potássio, obter o espectro de ciano-hematina. Estes casos, porêní, são raros e com outros dissolventes, tais como o ácido sulfúrico, em último caso, consegue-se obter um espectro específico.

0 que é facto, é que seguramente este é o método mais simples, mais fácil e seguro, de que podem lançar mão os analistas.

As soluções devem ser feitas, de preferência em água disti lada fria. A solução ópt ima, segundo Dervieux, é a que se aproxima da solução de sangue a Vioo. A concentração da solução sanguínea deve sêr francamente corada

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REACÇÕES DE CERTEZA 149

(côr de flor de pecegueiro.) Tem sêr de forma a dar um espectro bem visível, mas também a sua concentração não deve ultrapassar certos limites, o que só faria escurecer o espectro, a tal ponto, que seria impossível a sua observação.

As soluções, porem, podem ser examina­das em diferentes espessuras, o que faz com que uma solução dada, possa produzir diferen­tes tonalidades de côr, fazendo-se variar a sua espessura. O uso de um écran amarelo dá, segundo ainda verificação pessoal, um certo relevo ás faixas de absorção, tornando-as mais visíveis. Observei este facto pela primeira vez, quando tentei reduzir o espectro da oxi-hemo-globina com o sulfureto de amónio. Este ultimo corpo, de côr amarela e tingindo de amarelo as soluções sanguíneas, dava, enquanto era insufi­ciente para reduzir a oxí-hemoglobina, um espectro mais visível, fazendo sobresair as faixas de absorção da oxi-hemoglobina. Mais tarde verifiquei, fazendo uso dum écran amarelo, quão útil se tornava o seu emprego nestes exa­mes, muito principalmente na observação do espectro da oxi-hemoglobina.

As soluções examinadas devem ser abso­lutamente límpidas. Muitos auctores mandam

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150 MANCHAS I)E SANGUE

filtrá-las por papel Joseph, outros decantam-nas e recolhem com todo o cuidado, o liquido lím­pido numa pipeta.

Os recipientes empregados para o exame devem ser de vidro de bôa qualidade, sem defei­tos e devem estar rigorosamente limpos. Diver­sos são os tipos de reservatórios empregados.

Usando-se tubos de ensaio, torna-se pouco cómoda a observação.

É preferível usar sempre vidros de fa­ces paralelas. Estas cuvas tem usualmente uma espessura constante de 5 mm, o que requer uma solução sanguínea de côr um pou­co forte.

O professor Alberto de Aguiar usa no seu serviço laboratorial uns recipientes extraordi­nariamente cómodos, que lhe permitem obser­var as soluções em diferentes espessuras, gas­tando uma pequena quantidade de soluto. Uns, (Estampa VIII, fig. a) são constituídos por paralepípedos alongados, de vidro de bôa qua­lidade, tendo numa das faces um pequeno bocal, com rolha de vidro. De 1 centímetro de espes­sura, teem respectivamente 2,5, 5 e 10 cm. de comprimento. Levam, para o seu enchimento completo, pequenas porções de solução e, como

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REACÇÕES DE CERTEZA 151

acima referi, quando examinados no seu .com­primento máximo teem a grande utilidade de, em pequeno volume de solução, darem uma grande espessura. Na mesma Estampa (íig. &), se vêem outros recipientes, um de forma trian­gular, tendo 1,5 cm. de espessura máxima, por 10 cm. de comprimento e 4,3 cm. de altura, que permite a observação dos solutos em diferentes espessuras. Finalmente, vê-se o representado na fig. c, da mesma Estampa e que é de es­pessura constante, de faces paralelas, medindo 2cm,5 por 2mm,5. Com estes recipientes, podem examinar-se soluções extraordinariamente di-luidas e em pequena quantidade. O distinto professor Alberto de Aguiar serve-se nas suas pesquisas, destes recipientes, com exclusão de quási todos os outros. E na verdade, as manchas que, em geral, são levadas aos laboratórios pa­ra se proceder ao seu exame, são quási sempre suficientes. Como diz Dervieux, manchas peque­níssimas, que se encyontrem, quer nos vestuários, quer em outros objectos, não são úteis para, por si só formarem uma causa, um argumento importante, num crime.

Segundo o seu conselho devem sêr des­prezadas.

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Em ultimo caso, porém, lançaremos mão do espectromicroscópio, para essas manchas de dimensões míninas.

A sensibilidade das reacções espectrais vai longe. Hoppe-Seylee afirma que a hemo-

\ / v \

^ \

Estampa V I I I

V /

globina oxigenada dá, em soluto a Yioooo um espectro facilmente analisável.

Benoit e muitos outros dão como limite máximo, para um indivíduo normal e exerci­tado, a solução a 75000. A afirmação de Hop-pe-Seyler é exagerada.

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REACÇÕES DE CERTEZA 153

Soluções mais concentradas, a y80oo, Vax», não dão um espectro sequer razoável.

Na prática corrente são usados diversos modelos de espectroscópios. Todos eles se fun­dam no mesmo princípio e diferem pela sua construção, que os torna aptos para uns certos fins e mais ou menos cómodos. Podemos refe­ri-los aos seguintes tipos :

Grande espectroscópio ; espectroscópios de visão directa, figurando entre estes o de volume variá­vel; microespetroscópio.

GRANDE ESPECTEOSCÓPIO

Este aparelho, de uma perfeição absoluta, compõe-se de três tubos situados no mesmo plano horizontal e convergentes numa caixa cilíndrica central, onde se encontra um grande prisma. Na Estampa IX, fig. 1, encontra-se desenhado um esquema, onde se pode seguir a discrição deste espectroscópio.

O tubo 0, munido duma ocular, é desti­nado a receber a imagem real do espectro,' proveniente dos raios luminosos, que atra­vessaram o prisma P. Estes raios luminosos foram recebidos pelo tubo A, tubo que tem

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na sua extremidade distai uma placa (fig. 2) munida de uma fenda regulável pela acção do parafuso J. A fenda vertical encontra-se no foco principal duma lente convergente situada no interior do tubo A. Posta em frente da fenda uma fonte de luz, entra por ela um feixe de raios luminosos divergentes, que se tornam paralelos ao atravessar a lente conver­gente, e assim são obrigados a passar através do prisma P. O tubo F é portador de uma escala graduada o fotografada sobre vidro. É pois um micrómetro, que sendo iluminado, projecta os seus raios, tornados paralelos pela acção de uma lente convergente, sobre o prisma P, sofrendo uma reflexão total, que os envia ao tubo C, onde se sobrepõem aos prove­nientes do tubo B. Isto é, a imagem do espectro e a do micrómeti'0 são examinadas na luneta C ao mesmo tempo. Os tubos C e P, são móveis, permitindo a mobilidade de P colocar a imagem da escala em qualquer ponto do espectro. A mo­bilidade de C traz consigo a grande vantagem de se poder examinar um ou outro extremo do espectro, em separado e em maior extensão.

0 parafuso sem fim E incumbe-se dos movimentos da luneta C. O parafuso G, servido

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Estampa IX is*5

GRANDE ESPETROSCÓPIO. FIGURAS ESQUEMÁTICAS

(asado no laboratório do prcf. Alberto de Aguiar).

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por uma mola helicoidal, regala os movimentos do micrómetro.

O Tubo A é imóvel, de comprimento fixo, e tem a sua fenda dividida em duas partes. A superior é vedada por um prisma de reflexão total. A inferior ó livre. Esta disposição permite obter ao mesmo tempo espectros de duas fontes luminosas distintas. Compreendesse a vanta­gem que se pode tirar deste aperfeiçoamento. Um dos espectros pode ser tomado como espectro de referência, para facilitar assim comparações que se tenham que fazer.

A "mise au point,, deste espectroscópio não é inteiramente fácil. Requer paciência e hábito do aparelho. Deve-se fazer antes de tentar qual­quer exame.

Primeiro que tudo, regula-se a posição das duas fontes luminosas, de maneira a colocá-las no eixo dos tubos. A luz usada é a artificial, obtida por mangas de incandescência, que teem a enorme vantagem de dar uma inten­sidade fixa e permanente.

Conseguida a imagem do espectro, deve fo-car-se este com o auxilio do parafuso D e por in­termédio do botão E, escolhe-se a zona do espe­ctro que convém examinar. Vem depois a foca-

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REACÇÕES DE CERTEZA 157

gem do micrómetro. A fonte de luz usada para a sua iluminação costuma ser dada por um bico (borboleta) de gás. É preciso não o aproximar muito do micrómetro, pois corre-se o risco de deteriorar, pela acção do calor, a escala micrométrica, que é feita em placa de vidro gelatinado. A escala pode ocupar qualquer lugar do espectro, porque é móvel com o para­fuso G. Deve ser fracamente iluminada, a fim de sobresair com nitidez no espectro. A marcação 60 da escala deve ser colocada na raia do sódio, que nós podemos provocar, quei­mando álcool com cloreto de sódio em solução. A risca do sódio obtem-se de muitos modos.

Queimando um bocado de papel, quei­mando um cristal de cloreto de sódio num fio de platina etc.

Esta risca aparece quasi sempre, seja qual fôr a natureza da fonte luminosa, o que é devido á presença de saes de sódio no ar.

Compreende-se que a escala micrométrica pode ocupar diferentes posições no espectro e daí o costume de os analistas alemães coloca­rem o 100.° da escala na risca do sódio e de outros, como os franceses, a colocarem no 60 e 80 da escala.

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A referência é dependente da vontade do observador, mas este tem sempre que indicar qual o numero de que se serve, para marcar a risca do sódio. Só desta maneira se podem comparar os resultados.

O aparelho, depois de bem regulado, está então em condições de servir, para o exame espectral.

Os tubos, ou recipientes com as soluções suspeitas, são colocados de maneira a interce­ptarem os raios luminosos, antes da sua entra­da no tubo A. Uns colocam-nos em tripés apropriados, outros colocam-nos directamente com a mão, encostando-os á fenda. A solução tipo é colocada de maneira que atravesse os raios que se dirigem para o prisma de reflexão total existente na placa do tubo A e dá-nos o espectro que ocupa na luneta C o logar inferior.

ESPECTEOSCÓPIOS DE VISÃO DIEEOTA

Estes espectróscópios são, na essência, idênticos ao que acabei de descrever. Mais portáteis, mais baratos, servem contudo, para os exames médico-legais vulgares. São consti­tuídos por um tubo, que se aplica deante dos

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REACÇÕES DE CERTEZA 159

olhos visando qualquer fonte de luz artificial, ou visando mesmo o céu. Na extremidade dis­tai, fica colocado o recipiente contendo a solução suspeita. Alguns destes espectroscópios tem um tubo micrométrico acessório. São ver­dadeiros espectroscópios de mão.

Ha contudo um espectroscópio vertical, muito cómodo e que merece uma descrição especial. Refiro-me ao espectroscópio de volume variável (Estampa X).

Tem um formato semelhante aos dos microscópios. A luz natural, depois de refle­ctida num espelho, é obrigada a atravessar ver­ticalmente, de baixo para cima, um sistema prismático. A solução suspeita é deposta num cilindro de vidro. Dentro deste cilindro, mer­gulha todo o sistema do espectroscópio, defen­dido por um novo cilindro de fino vidro. Desta maneira, as soluções nunca tocam no sistema de lentes convergentes, que guarnecem a extre­midade inferior do tubo central.

Este tubo é móvel verticalmente, podendo, pois, estar mais ou menos mergulhado no cilindro de vidro, onde está a solução suspeita, variando-se deste modo a espessura do liquido a examinar.

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Os raios luminosos dados pelo espelho, atravessam a solução suspeita, são concentrados e tornados paralelos nas lentes convergentes e ao depois lançam-se num prisma P (Estampa X) que existe no interior do tubo central. Uma ocular situada na extremidade superior do tubo, permite examinar o espectro. No suporte, existe um sistema graduado, com um nónio, que permite avaliar a espessura, em que se examina a solução.

Este microscópio, usado no laboratório do Professor Aguiar é extraordinariamente cómodo. (') Os espectros são fáceis de verificar, mas necessitam duma quantidade apreciável de soluto.

Deve-se começar o exame, colocando a a escala lateral no zero e depois, pouco a pouco, subir o tubo central até à percepção dum espectro razoável. Assim é muito mais fácil de notar todas as mudanças que se vão dando no espectro.

í1) O professor A. Aguiar tem em uso no seu laboratório uma preciosa coleção de espectroscópios. Á sua amabilidade devo eu os esquemas que acompanham este assunto, e que retirei ao examinar os seus aparelhos.

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ESPETROSCÓPIO VERTICAL DE VOLUME VARlAVEL

(asado no laboratório do prof. Alberto de Aguiar).

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ESPEOTKOMIOEOSCÓPIO

Este espectroscopia- é um espectrosoópio de visão directa, em que o tubo distai é feito de maneira a poder-se adaptar a (malquer micros­cópio, como se fora uma simples ocular. É um aparelho perfeitíssimo e delicado. Fornecido de uma luneta mierométrica de escala móvel, iluminada por um espelho lateral, tem uma fenda a meio do seu tubo principal, munida de de um espelho de reflexão total, que envia os seus raios luminosos ao prisma de refracção, podendo desta maneira dar um. espectro do referência.

Em frente desta fenda, existem umas mo-las-garras, onde se colocam pequenos frascos cilíndricos, com as soluções tipos. 0 espectro assim obtido ocupa a metade superior da ima­gem observada na ocular. Um parafuso lateral permite retirar este espectro acessório, quando isso se torne necessário. O espectro que é pro­duzido pelos raios luminosos que atravessam o microscópio, pode sêr também reduzido no com­primento e espessura por um sistema de para­fusos, que existem no corpo principal do espe­ctroscópio, A Estampa XI mostra-nos este

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EST. XI

Ocular espectroscópica da casa "Leiz'', montada num microscópio vulgar

tSimili-gravura Marques Abreu)

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REACÇÕES DE CERTEZA 163

aparelho montado num microscópio vulgar, pronto a ser utilizado.

Afinal, em pequena escala, reúne todas as perfeições do grande espectroscópio. Mais adian­te, voltarei a tratar do seu emprego, depois de estudar os diferentes espectros da hemoglobina e seus derivados

ESPEOTEOS DA HEMOGLOBINA

E SEUS DEEIVADOS

Na hemoglobina, ou em qualquer dos seus derivados, embora os seus espectros sejam específicos, a intensidade e largura das faixas de absorção variam com a concentração do so­luto sanguíneo.

Muitas vezes, com os solutos concen­trados as faixas são escuras e largas, con-fundindo-se numa só, quando próximas. O es­pectro escurece extraordinariamente, não se distinguindo senão o vermelho, o alaranjado e o amarelo. Se a concentração diminui, as fai­xas perdem a sua intensidade, separam-se e o espectro aparece com toda a nitidez. Os bordos das faixas não são em geral muito nítidos. Só a sua parte central é que se deve referir á

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escala micrométrica, a fim de evitar erros. A escala micrométrica pode estar, como já disse, de maneira a marcar a risca D do sódio com o 60, 80 ou 100 da sua graduação. Nas nossas descrições, contaremos sempre com a divisão 80 na risca D do sódio.

ESPECTEO DA OXI-HEMOGLOBINA

O sangue fresco, diluido em água distilada, contem sempre hemoglobina oxigenada.

O espectro da oxi-hemoglobina caracteri-za-se por duas faixas de absorção situadas entre as riscas D e E do espectro. Referindo-nos á escala micrométrica, estas faixas ocupam, uma, de 81 a 87, outra, de 97 a 106. A primeira ocupa o alaranjado e parte do amarelo, a se­gunda o limite do amarelo e verde do espectro.

ESPECTEO DA HEMOGLOBINA EEDUZIDA

O espectro da hemoglobina reduzida ó caracterizado pela presença da chamada faixa de Stokes. Tem, pois, uma única faixa, muito larga, de bordos pouco nítidos e ocupando o espaço intermediário das duas faixas da oxi-he-

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REACÇÕES DE CERTEZA 165

moglobina. Muito mais pálida, muitas vezes não se consegue vêr em soluções em que as fai­xas da oxi-hemoglobina eram pouco sensíveis.

Como agente redutor do sangue, empre-ga-se mais vulgarmente o sulfidrato de amó­nio. Este redutor é enérgico e rápido.

Stokes empregava como redutor uma solu­ção neutralizada pelo amoníaco, de 5 °/„ de protocloreto de estanho, adicionada de ácido tartárico.

O hidrosulfito de sódio, redutor rápido, pode também ser usado.

A solução de Stokes altera-se e turva o soluto sanguíneo, embaraçando a reacção. Todos estes redutores deixam ao fim de algum tempo, depois de misturados com o sangue, de ter uma acção eficaz sobre a hemoglobina que ao contacto do ar, se oxigena de novo.

Estas mudanças de espectros pela acção dos redutores, permitem separar o espectro da oxi-hemoglobina facilmente transformável, do espectro do picrocarmin, que não se modi­fica pela acção dos redutores.

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166 MANCHAS DE SANGUE

ESPECTRO DA HEMOGLOBINA

OXI-CARBONADA

Este espectro apresenta duas faixas de absorção muito semelhantes á da oxi-hemoglo­bina, mas um quasi nada desviadas á direita. Praticamente, é impossível notar a diferença dos dois espectros. Só os redutores por exemplo o sulfidrato de amónio, não modifica o espectro da hemoglobina oxi-carbonada, o que se não dá com o da oxi-hemoglobina. A quantidade de óxido de carbono existente no sangue modi­fica um pouco o espectro, conforme está á saturação, ou não.

No sangue saturado, o espaço entre as duas faixas, é muito mais nítido do que no caso contrário.

Quando a oxicarbonação não foi completa, caso pouco vulgar, como muito bem o afirma Dervieux, no sangue existe alem da hemoglo­bina oxi-carbonada a hemoglobina oxigenada.

De espectros quási iguais, estes sobre-põem-se, mas o da oxi-hemoglobina vem pouco mais á esquerda, obscurecendo o intervalo das

fduas faixas. Quando se junta o redutor, então a hemoglobina reduz-se e dá a faixa única que se

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6 0 x 8 0 100x120

Oxi-hemoglobina

Hemoglobina reduzida (faixa de Stokes)

Hemoglobina oxi-carbonada á saturação

Hemoglobina oxi-carbonada parcialmente

Met-hemoglobina (solução ácida)

Met-hemoglobina (solução alcalina)

Hematina (solução ácida)

Hematina (solução alcalina)

Hemocromogénio (Hematina reduzida em solução alcalina)

Hemato-porfírina (solução ácida)

Hemato-porfirina (solução alcalina)

EST. XII

Espectros da hemoglobina e seus principais derivados.

(Símili-gravura Marques Abreu)

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REACÇÕES DE CERTEZA 167

vem interpor ás duas faixas da hemoglobina oxí-carbonada. Compreende-se que, quanto menor fôr a quantidade de oxi-hemoglobína existente no sangue, tanto menos visível será o espectro da sua redução, tornando-se por este facto mais claro o espaço situado entre as duas faixas da hemoglobina oxi-carbonada.

Quando a quantidade de hemoglobina oxí-carbonada fôr pequena, as suas duas faixas confundem-se em intensidade com as de Stokes, tornando difícil a sua observação. Neste caso, sò a medida total da faixa poderá prestar auxílio.

Sabendo-se que a faixa de Stokes vai na escala, de 87 a 97, se esta se prolongar de 81 a ]06, é porque o sangue contêm óxido de car­bono, embora em pequena quantidade.

ESPECTEO DA MET-HEMOGLOBINA

A hemoglobina transforma-se, com a pu-trefacção do sangue, num derivado, que apre­senta um espectro próprio. Trata-se da cha­mada met-hemoglobina, que apresenta espe­ctros diversos, se está em solução alcalina, ou ácida.

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Uma faixa no vermelho, 68 da escala, com desaparecimento do espectro a partir do 100, quando em solução ácida.

Quando em solução alcalina, aparece uma faixa pouco intensa, junto á risca do sódio em 80.

É preciso notar que raras vezes, na putre-facção, a hemoglobina se transforma total­mente em met-hemoglobina. Ficam sempre restos de hemoglobina oxigenada, cujo espectro nos aparece também ao mesmo tempo.

ESPECTRO DA HEMATINA

A hematina que existe na p u t r e f a c ç ã o adiantada do sangue, dá também dois espectros.

Em solução ácida, dá uma forte faixa no 58 da escala, obscurecendo o espectro a partir do 60.

Em solução alcalina dá uma faixa larga no 58 de escala, mas o espectro só desaparece a partir do 105.

ESPECTRO £0 HEMOOROMOCIÉNIO

A hematina reduzida em solução alcalina, ou hemocromogénio, apresenta-nos duas impor­tantes faixas de absorção.

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Uma, muito intensa, mas estreita no 98, outra, larga, mal defenída no 112. Esta segun­da faixa aumenta com a concentração do soluto sanguíneo. Não existe nas soluções fra­cas. É de todos os espectros o mais nítido e de fácil observação.

A hemoglobina oxi-carbonada dá um espe-tro semelhante, mas usando a escala micromé-trica, vê-se bem que se torna fácil a sua distin­ção. É preciso, pois, estar prevenido, para evitar erros deploráveis.

ESPECTEO DA HEMATOPORFIRINA

O conhecimento perfeito do espectro deste derivado é de grande vantagem para o analista, porque com manchas muito antigas e insolúveis nos meios vulgares, lança-se mão do ácido sul­fúrico, a fim de obter um soluto contendo um derivado da hemoglobina— a hematoporfirina.

Manchas existentes em tecidos queimados, muitas vezes com o intuito de ocultarem um crime, também só dão, no'exame espectral, a hematoporfirina. Destes factos, se conclui a necessidade de conhecer bem o espectro da hematoporfirina.

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170 MANCHAS Í)E SANGÙIÎ

A hematoporfirina pode obter-se em solu­ção ácida, ou alcalina.

Quando fazemos actuar sobre o sangue o ácido sulfúrico, a hematoporfirina formada imediatamente, fica em solução ácida.

Pela adição de água distilada, precipita em flocos brancos.

Lavados sobre filtros, dissolvem-se em potassa cáustica a 10 ou 20 %, obtendo-se desta maneira a sua solução alcalina.

O espectro da hematoporfirina, em soluto ácido, apresenta-nos três faixas de absorção, correspondentes aos números 80, 100 e 13 8 da escala microméfcrica. As faixas 80 e 118 são pálidas. A 100 é a mais intensa.

A hematoporfirina em soluto alcalino dá também três faixas no seu espectro. A primeira, no 92, com bordos pouco nítidos, a segunda estreita e pálida, no 108 e outra, a última, escura e larga, no 135. A partir do 170, o espectro escurece por completo.

— Esta reacção espectral é, sem dúvida, complicada, mas, em compensação, é mais sensível, não por si, mas por se poder conseguir com manchas muito velhas.

Deve-se tentar sempre, isto é, todas as

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REACÇÕES DE CERTEZA 171

vezes que as outras forem negativas, por se usarem soluções fracas provenientes de man­chas pouco solúveis. É o ultimo recurso das reacções espectrais.

ESPECTROMICBOSCOPIA

O espectromicroscópio serve para se tra­balhar com quantidades mínimas de sangue e é duma aplicação e uso mais fácil que o grande espectroscópio. É preciso notar, que sendo o seu espectro de um comprimento reduzido, a sua observação torna-se delicada, e necessita de uma bôa prática.

Por essa razão, havendo como há, um es­pectro muito visível, nítido e específico — o do hemocrómogénio — é este que se procura obser­var com o espectromicroscópio.

Tudo está, pois, em transformar toda a hemoglobina, em hematina reduzida em solu­ção alcalina, ou hemocrómogénio.

Nas manchas antigas, a transformação da hemoglobina em hematina é constante; nas recentes, pelo contrário, existe a hemoglobina ainda intacta.

Se as tratarmos, porem, pela potassa, obte-

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remos uma solução alcalina de hematina, que nós, com o auxílio do sulfidrato de amónio, po­demos transformar em hemocromogénio.

Fundamentalmente se resume nisto o em­prego do espectromicroscópio. É contudo, ne­cessário expor com mais amplidão a maneira de operar, porque varia com a natureza das manchas.

Se a mancha está sobre um pano, teremos que fazer o exame directamente. Nos tecidos brancos e transparentes sem operação prévia, nos tecidos escuros e densos, após uma disso­ciação feita com agulhas de platina, numa solução de potassa.

O uso de agulhas de platina desvia os erros, que são frequentes, derivados de se juntar ferrugem á preparação.

Se a mancha está em madeira, aço etc., ou é bastante espessa, descasca-se e leva-se um fragmento duma crosta ao microscópio, dissol-vendo-o previamente num soluto de potassa e juntando a seguir uma gota de sulfidrato de amónio..

Repetindo : a mancha., dissociada ou não, ó colocada numa lâmina e dissolvida em po­tassa. Depois de coberta por uma lamela, com

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uma pipeta, faz-se entrar por capilaridade uma gota de sulfidrato de amónio. Examina-se pri­meiro com um pequeno diâmetro (ocular 1 e objectiva 3) e escolhe-se o melhor ponto da preparação, que deve sêr bem iluminada. Se a mancha é muito pequena, substitúi-se a obje­ctiva n.° 3 por a n.° 6. Foca-se bem e escolhe-se um espaço entre as malhas do tecido, quando este é muito denso. Depois com cuidado substi­túi-se a ocular por o espectromicroscópio.

Se se trata de sangue, imediatamente se vê o espectro do hemocromogénio. Hoje, a casa Leitz fabrica os espectromicroscópios com escala graduada, o que torna muito mais fácil as referências das faixas de absorção.

Embora este aparelho, pela pequenez do espectro não se preste a trabalhos dum rigor absoluto, serve muito bem no uso da prática corrente. Lembremo-nos que o espectro do hemocromogénio é inconfundível; bem nítido, específico e só aparece depois da adição do sulfidrato de amónio.

Um acidente faz desaparecer este espectro : é a presença de sais de ferro, que pela acção do sulfidrato de amónio dão produtos verdes escuros, que impossibilitam todas as pesquisas.

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As manchas de sangue podem ser exami­nadas, depois de impressas em papel de filtro, ou então em películas fotográficas, pelo pro­cesso de Lecha-Marzo.

Por meio deste método, analisaremos quer manchas, cujo suporte seja o ferro, madei­ra, cartão etc,, quer manchas feitas em panos.

A ferrugem, sendo insolúvel, não virá liga­da ás impressões obtidas nos papeis e películas fotográficas.

Como se sabe, a ferrugem, tratada pelo ácido clorídrico, dissolve-se, dando um corpo amarelo, o percloreto de ferro, que em presença do ferrocianeto de potássio dá um precipitado azul.

Deve-se fazer esta reacção, quando haja dificuldades em distinguir manchas de fer­rugem.

Em resumo, diremos que o espectromicros-cópio é um aparelho útil, pela sua sensibilidade e por ser dum uso relativamente simples.

Nas minhas experiências obtive belos espe­ctros de oxi-hemoglobina, hemoglobina reduzi­da, òxi-carbonada e hemocromogénio. (Usando um écran amarelo, consegue-se vivificar as fai­xas de absorção da oxi-hemoglobina).

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Estou absolutamente certo, que o seu uso muito brevemente entrará na pratica corrente, constituindo um elemento de primeira ordem no diagnóstico médico-legal das manchas de sangue.

Reacções cristalográficas Em 1853, prestou Tei-

CRiSTAis DE HEMiNA chmam com a sua desco­

berta, um incalculável benefício á medicina legal. A descoberta dos cristais de cloridrato de hematina, mais vulgarmente conhecidos por cristais de hemina, constitui um dos métodos mais seguros para o diagnóstico da presença de sangue.

Pena é que os processos usados até hoje não sejam fáceis de executar.

Há sempre uns "quês,, uns modos ocultos de fazer as reacções cristalográficas e que só a prática pode fazer conhecer. ^Quantas vezes se repete a reacção para conseguir em certos ca­sos, os cristais de hemina ?

A variedade sem numero de processos, descritos por este e por aquele autor prova bem a falta de um método seguro e fácil, que

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todos sigam sem distinção. Mas embora com trabalho, o analista consegue sempre, ao cabo de algum tempo de pertinácia, encontrar um processo que lhe agrade e com o qual chegue a obter os cristais com segurança. Pequenas v a r i a ç õ e s na técnica, pequenos nadas, no entanto difíceis de descrever, variando com cada analista, tornam esta reacção um pouco difícil.

Estou certo que a temperatura muitas vezes exagerada, a dificuldade da sua escolha, são a causa dos malogros na preparação destes cristais.

São sempre reacções delicadas, í-eacções microscópicas, muito sensíveis e por essa razão também susceptíveis e impedidas pelo menor desvio de técnica. Hoje obteem-se outros sais de hematina, seguros também para o diagnóstico e que não necessitam cuidados tão extremos. Refiro-me aos cristais de iodi-drato de hematina.

Estes últimos obteem-se com grande fa­cilidade e não errarei, afirmando que se pro­duzem com soluções sanguíneas mais diluídas, sendo por esse motivo muito mais sensível a sua reacção. Entre os derivados da hematina,

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figura o hemocromogénio, que também é sus­ceptível de cristalização rápida e constitui hoje um dos processos de diagnóstico das man­chas do sangue. Em breve me refirirei a todos, mas embora eu julgue que estes novos processos virão num futuro próximo, substituir a reacção de Teicbmano, considero ainda esta ultima como segura, sujeita a poucos erros e muito bem estudada, o que não acontece com as outras. Merece, como se vê, uma menção especial.

Ainda hoje é, em segurança, a primeira das reacções cristalográficas.

*

Os cristais de hemina não são absoluta­mente constantes, nem na forma nem nas dimensões, nem na côr que apresentam. Pode­mos referi-los a tipos vulgares. Dão-nos o aspecto de prismas romboidais alongados na maior parte das reacções, o que não impe­de que se encontrem cristais de hemina com formas de losango e hexagonos. Em geral, só os romboidais alongados é que se reúnem em formas estreladas, em cruz etc. Estou em crer

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que a temperatura pela qual se obtém a re­acção, influi poderosamente na forma dos cris­tais. Nas experiências a que procedi neste sen­tido, usando o processo de Lecha-Marzo que adiante descreverei, obtive sempre cristais com forma predominante de losango.

Ora, neste processo, a temperatura a que se faz a reacção é relativamente alta. Quando seguia métodos lentos, com fraca temperatura, raras vezes se produziam cristais desta forma. Nesses casos, o predomínio absoluto pertencia aos cristais alongados e romboidais.

Como dimensões normais, difícil será estabelecer números certos. Dentro da mesma preparação, encontram-se cristais com compri­mentos que variam de 1 a 20 micras, tendo uma largura também com variações correspon­dentes.

A sua côr é vermelho-escuro, mas encon­tram-se cristais com tonalidades muito diferen­tes. Alguns quási incolores, outros amarelos, outros acastanhados e outros vermelho-carre-gados. Tudo está em relação com a espessura dos cristais. Estes são fáceis de conservar e aumentam de volume se se manteem em meio húmido,

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A potassa destrói e impede a sua forma­ção. São insolúveis no éter, no álcool, água e glicerina.

O processo, que muitas vezes se segue para dissolver manchas antigas com solutos de potassa, não serve para esta prova cristalo-gráíica.

O melhor processo consiste em dissolver em água distilada as manchas, de modo a ohter um soluto tão conceutrado quanto possível. Muitos autores aconselham que se faça esta solução em soro fisiológico, outros que se lancem pe­quenos cristais de cloreto de sódio sobre a pre­paração.

Fundam-se em que o cloreto de sódio exis­tente no sangue não é suficiente para a produ­ção dos cristais.

Dervieux e Corin não fazem uso do cloreto de sódio. Nos meus trabalhos, consegui sempre obter os cristais de hemina, sem que fosse ne­cessária a adição de cloreto de sódio. Este, alem de desnecessário, tem o inconveniente de impedir e mascarar a reacção, quando em excesso.

Lecha-Marzo também não faz uso do clo­reto de sódio, no seu novo e rápido processo.

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180 MANCHAS DE SANGUE

Não vou descrever aqui o processo parti­cular a cada indivíduo, pois são no seu conjun-cto todos semelhantes, unicamente com varia­ções pessoais de somenos importância.

Relatarei os processos mais vulgares e que julgo mais úteis.

A maneira de obter o soluto da mancha, varia com o estado e suporte desta. Ou se trata do macerado dum pano ensanguentado, ou do macerado do produto duma raspagem, quando a mancha está sobre madeira, cal etc. Para cada caso especial, é preciso fazer a solução da ma­neira mais conveniente. Seria inútil fazer uma descrição minuciosa da maioria dos casos, que se nos podem apresentar.

Obtida a solução em água distilada, com e auxilio duma pipeta depositam-se pequenas gotas em lâminas de vidro. Deixam-se secar á temperatura do laboratório, ou em estufas, mas com o cuidado de não ultrapassar 50 a 55° centígrados. A 60° centígrados dá-se a coagula­ção da albumina, que dificulta enormemente a reacção. A secagem pode fazer-se a uma lâm­pada de alcool, ou bico de Bunzen, tendo o cui­dado de regular sempre a temperatura, o que é fácil. A lâmina de vidro deve ter uma tempera-

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tura tal, que seja facilmente suportável pelo dorso da mão. Deve-se aquecer a lâmina na periferia da gota, de maneira a evitar que esta se alastre. Contudo, o melhor processo ê aban­doná-las á temperatura do laboratório. Mais demorado sem dúvida, mas mais seguro. Se a gota depois de seca, não apresenta uma coloração razoável, podemos sobrepor uma nova gota e deixar secar. Esta operação, em caso de necessidade, deve ser repetida mais vezes. É preciso acentuar que os cristais de hemina não se obteem com soluções muito descoradas, mas este processo da sobreposição consegue dar sempre gotas secas bem coradas.

Uma variação- deste método que me deu resultado, obtive-a servindo-me directamente de soluções sanguíneas depostas em lâminas cavadas e sobre as quais fiz actuar o ácido acético, elevando a sua temperatura até á pro­dução de vapores.

Quási sempre consegui belos cristais de hemina e muito rapidamente.

Em geral, descrevem-se dois processos como mais usuais.

Um, o processo lento, outro intitulado processo rápido.

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18°2 MANCHAS DE SANGUE

O processo lento obtem-se da seguinte ma­neira : depois de conseguirmos ter uma pequena gota bem seca, de concentração razoável, deposta numa lamina, com o auxílio duma pipeta lançamos uma gota de ácido acético cristalizável em cima da mancha, tendo o cuidado de evitar que o ácido saia de cima do sangue.

Para isto, basta manter a lâmina bem horizontal e proceder ao seu aquecimento, começando pela sua periferia.

Não se deve aquecer directamente o cen­tro da preparação, porque o ácido acético salta fora e alastra a mancha, o que não é conve­niente. Só o aquecimento periférico da prepa­ração conseguirá manter o ácido acético em contacto permanente com o sangue.

Evaporado este ácido, repete-se a operação varias vezes (8 a 10), até que o exame micros­cópico nos distinga os cristais de hemina. É delicada, mesmo muito delicada esta ma­neira de obter estes cristais. Ogier mandou construir uma platina especial para evitar, ou antes, para facilitar este trabalho. Não é mais do que uma modificação da platina de Ranvier, Compõe-se de uma lâmina metálica

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(Fig. t)

EST. XIII (Fig. 2)

Cristais de hemina—Fig. 1-tamanho grande Fig. 2-tamanho médio

(Obtida com manchas de 3 meses)

(Símili-gravura Marques Abreu)

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REACÇÕES DE BERTEZA 188

de forma rectangular, com uns buracos de 10 a 12 milímetros de diâmetro, e situados na linha média. Esta platina é sustentada por um sis­tema de três parafusos, que permitem uma horizontalidade perfeita do aparelho, e é aque­cida por um pequeno bico de gaz numa das extremidades.

Sobre esses buracos, coloca-se a parte da lâmina que contem a preparação sanguínea ou suspeita. Como fica em contacto com o ar esta zona da lâmina está sempre a uma tempe­ratura inferior á da sua periferia. Assim, uma gota de ácido encontra na sua periferia uma zona muito mais aquecida, onde a evaporação rápida impede o seu alastramento.

Dervieux diz que este aparelho, apesar de modificar e facilitar o método, não impede que este seja extremamente delicado e longo.

O processo rápido é também muito delicado e difícil.

Nele a maceração pode ser feita directa­mente sobre uma lâmina de vidro, com peque­na quantidade de água e o seu tempo de demo­ra varia com o estado da mancha.

O pano em que está a mancha pode ser espremido mas, como diz Dervieux, não é ne-

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184 MANCHAS DE SANGUE

cessário que o soluto, isto é a gota, fique de dimensões muito reduzidas.

Bastará que as suas dimensões sejam infe­riores ás da lamela, que vai servir para cobrir a preparação. Podemo-nos servir de campanulas, onde se faz o vácuo, para concentrar as soluções diluidas, ou podemos concentrá-las pela eva­poração a quente, mas de modo a não atingir temperaturas superiores a 60° centígrados. Logo que a preparação esteja bem seca, cobre-se com uma lamela e, com uma pipeta fina, faz-se entrar entre aquela e a lâmina uma gota de ácido acético cristalizável. Colo-ca-se então a lamina sobre uma platina, aque­cida levemente e espera-se a evaporação do áci­do acético. É preciso que, logo que seja atingido o ponto de ebulição, se retire a lâmina, para evitar que o ácido atire fora a lamela. Tam­bém se deve evitar que o calor actue quando a preparação esteja seca.

Repete-se esta operação duas a três vezes e por último deita-se uma gota de ácido acético, não se levando a preparação á platina.

Espera-se que o seu arrefecimento seja total e observa-se então ao microscópio.

Este processo pouco mais rápido é, mas

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não necessita dos mesmos cuidados na sua aplicação.

O exame das preparações deve ser cuida­doso e deve-se do preferência vigiar os bordos da preparação. É aí que de ordinário se amon­toam os cristais. Devem ser examinadas com um aumento forte, porque os cristais podem sêr muito pequenos. Use-se a ocular 1 ou 2 e a objectiva 6. A periferia da preparação san­guínea é o logar onde o ácido acético mais actuou e apresenta um aspecto fendilhado escu­ro. Repito, é nesse ponto onde aparecem mais cristais. Quando se emprega o cloreto de sódio em excesso, aparecem-nos os seus cristais cú­bicos e outros agrupados de maneira a formarem uma verdadeira folha de feto. Estes últimos são de acetato de sódio. Os cristais de hemina for-mam-se lentamente, a frio, e redissolvem-se no ácido acético a quente. Quanto mais lenta fôr a evaporação final, tanto maiores e mais nume­rosos serão os cristais de hemina. Deve-se espe­rar pelo arrefecimento total da preparação e deitar por último, a frio, uma nova gota de ácido acético. Examinando ao microscópio as preparações obtidas, vêem-se os cristais for­ni ar-se e aumentar progressivamente.

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186 MANCHAS DE SANGUE

Se o exame nos sair negativo, não devemos concluir nada, sem repetir cuidadosamente as preparações.

*

Os cristais de hemina podem obter-se com quantidades mínimas de sangue e com sangue de muitos anos (10, 20, 30 e 40 anos, Dr. Lande) Q).

Há, porém, casos, em que é impossivel obter-se cristais.

É o que acontece com o sangue misturado com ferrugem, gordura, suor, que tenha sofrido a acção dos ácidos fortes, álcalis, que tenha apodrecido antes de secar, ou que tenha sido exposto a um calor seco intenso. Notarei, con­tudo, que obtive cristais de hemina com sangue aquecido a 120°.

O tanino impede também a formação destes cristais.

Daqui se depreende que a reacção, quando negativa, não exclue a presença de sangue.

(!) Vitali obteve cristais de hemina com sangue datando de 1600 anos.

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EST. XIV Fig. 2

Fig. 1-cristais de hemina-bôrdo de preparação. Fig. 2 - cristais de iodidrato de hematina.

(Strzyzowski).

{Simili-grav uni. Marques Abreu!

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Além disto, ha cristais que se confundem com os de hemina.

São os cristais de "murexina,,. Estes, em­bora vermelhos, còrám-se de violeta pela acção da potassa.

Convêm notar que os cristais de murexina não se formam no sangue pela acção do ácido acético e nós podemos examinar, antes da reacção, a lâmina com sangue e vêr se existem alguns cristais. Degoust descobriu uma outra causa de erro, a qual é muito mais frequente e perigosa.

Observou que tecidos azuis corados pelo índigo, davam, macerados em água distilada e pela acção do ácido acético, cristais muito semelhantes aos de hemina.

Dervieux aconselha, para desviar esta cau­sa de erro, que se faça a reacção com o mace­rado do pano azul, em lugar onde não tenha sangue. Morache manda que se examinem os cristais á luz polarizada. Os cristais de hemina apresentam-se claros em fundo negro, isto é, são anisótropos, que não acontece com os outros cristais que, sendo isótropos, não apare­cem á luz polarizada.

Como se vê, há sempre forma de os cara-

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188 MANCHAS DÉ SANGUE

cterizar e as causas de erro são poucas e podem sêr desviadas.

*

Várias modificações teem sido introduzi­das neste método, todas tendentes a abreviá-lo, a facilitá-lo. Bichter manda deixar a mancha suspeita, em ácido acético a 40n, durante algu­mas horas.

Corin trata as manchas por amoníaco. O soluto obtido é evaporado lentamente e o resi-duo tratado pelo ácido acético.

Guming e Van Geun dissolvem a mancha em iodeto de potássio e precipitam por meio do acetato de chumbo, um coipo sobre o qual preparam os cristais de hemina.

Otmann lava a mancha com éter, dissol­vendo assim qualquer gordura, a que atribui a maior parte dos seus malogros.

Strassmann evapora rapidamente o ácido acético e, com uma nova gota, deixa íazer uma segunda evaporação lenta — Este pro­cesso deu-me sempre um resultado muito satis­fatório.

Carracido, de Madrid, substitui o ácido acético pelo ácido clorídrico. Experimentei vá-

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REACÇÕES DE CERTEZA 189

rias vezes este método, sem conseguir resul­tados úteis

Lecha-Marzo de Valladolid—obtém cris­tais de hemina, fazendo uma evaporação muito rápida com o ácido acético, ou ácido fórmico, em sangue seco em laminas porta-obje-ctos. C) A preparação é mais fácil com o ácido fórmico que com o ácido acético. A evaporação faz-se á chama duma lâmpada de álcool, ou bico de Bunzon. É preciso retirar a prepara­ção antes que os ácidos desapareçam. Nas minhas experiências sobre este tão rápido método, verifiquei que é conveniente lançar uma nova gota de ácido, deixando-a evaporar lentamente. Muito me apraz deixar aqui exposto este novo processo, que tão bons resultado me deu. Os cristais que se obtém são numerosos e raras vezes me foi preciso repetir a operação.

As outras e mais importantes modificações merecem uma descrição mais pormenorizada.

í1) Tenho em meu poder belas microfotografias de cristais obtidos por estes processos, amavelmente cedidas pelo professor Dr. Lecha-Marzo.

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190 MANCHAS DE SANGUË

CRISTAIS DE STRZYZOWSKI, OU DE IODIDRATO

DE HEMATINA

Estes cristais em forma de losango, de dimensões inferiores aos de Teichmann, obteem-se com o reagente proposto por Strzy-zowski, que tem a seguinte fórmula:

Álcool a 90°. j Água distilada âná 1 c. c. Ácido acético glacial ) Ácido iodídrico incolor — 2 gotas.

Se o ácido iodídrico estiver avermelhado, convêm deitar 3 a 4 gôtas, para obter um bom reagente.

Esta reacção ó muito mais sensível que a de Teichmam. Pode fazer-se (fig. 2 Estampa XIV e Estampa XV), com fragmentos do tecido, onde estiver a mancha.

Basta dissociar com duas agulhas finas uns fios do pano manchado, colocá-los entre u m a l â m i n a e u m a lamela bem limpa, depositando com uma pipeta, no ângulo da lamela, uma gota do reagente. Este, por capila­ridade, molha todo o espaço ínfralamelar. Â.que-

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EST. XV

Cristais de Strzyzowski

(obtidos com mancha de 4 meses)

(Simili gravura Marques Ahr«u)

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REACÇÕES DE CERTEZA 191

ce-se depois brandamente até á emissão de vapores, tendo o cuidado do renovar o reagente, evitando que a preparação possa secar. Esta reacção é muito rápida e sensível e obtem-se com parcelas ínfimas de sangue. Obtive-a posi-com fragmentos duma peça mumificada do mu­seu, depois de os ter lavado pelo éter, afim de evitar que a gordura impedisse a formação des­tes cristais.

Dervieux obteve cristais com fragmentos de uma múmia de 4 mil anos. O reagente de Strzyzowski altera-se no fim de algumas horas. É necessário prepará-lo sempre de fresco.

*

Estes cristais são facílimos de obter e é interessante citar que Teichmam já indicava que o cloreto de sódio podia ser substituido por iodeto ou brometo de sódio, obtendo-se assim respectivamente o iodidrato e bromidrato de hemina. De todos os processos cristalográ-ficos, parece-me ser este o que vem destronar o de Teichmam.

Impõe-se a todos os outros pela sua simpli­cidade, dando resultados garantidos e rápidos.

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192 MANCHAS DE SÀNGÚtí

Além disso, é duma especificidade e sensi­bilidade assombrosa. Basta citar que foi a úni­ca reacção que Dervieux conseguiu obter com uma múmia de 4.000 anos.

Não quere isto dizer que se não tente todas as vezes a obtenção dos cristais de hemi-na, mas é preciso notar que estes últimos são difíceis de obterem numerosos casos, e estão dependentes de tours de main de preparação.

CRISTAIS DE CLOEO, BROMO

B IODO-HEMATINA

Ao professor Lecha-Marzo se devem os melhores trabalhos sobre este assunto.

A sua infatigável pertinácia levou-o á des­coberta de novos processos, que hoje vão sendo postos em prática.

Guiado pelos seus esplêndidos trabalhos, consegui repetir com êxito as suas experiên­cias e compreender o grande alcance que num futuro rápido obterão os seus métodos.

Lecha-Marzo baseia os seus novos métodos no tratamento do sangue por redutores e halogénios.

Como redutores, serve-se da piridina e do

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REACÇÕES DE CERTEZA 193

sulfidrato de amónio e os halogénios, encontra-os no iodo, cloro e bromo. Variando de halogénio, obtém cristais de iodo, cloro, bromohematina, misturados com cristais de hemocromogénio.

Com o iodo, formam-se cristais de cor violeta ; com o cloro, cristais de côr vermelha intensa e finalmente com o bromo, cristais mais nítidos ainda que os de iodo-hematina.

Para obter os cristais de iodo-hematina, serve-se da solução iodo-iodetada aquosa da seguinte formula :

Iodo — 1 gr. Iodeto de potássio — 2 gr. Água distilada — 100 gr.

Também se pode fazer uso da solução alcoólica, que tem a seguinte formula :

Iodo — 4 gr. Iodeto de potássio — 2 gr. Álcool a 90« —100 gr.

Na lâmina de vidro, concentra-se por eva­porações sucessivas a solução sanguínea, ou suspeita.

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194 MANCHAS DE SANGUE

Junta-se uma gota de qualquer destes solutos, a seguir uma gota de píridina e em quantidade menor o sulfureto de amónio. Cobre-se com uma lamela e observa-se ao microscópio. A cristalização não se faz espe­rar, podendo vêr-se os cristais de íodo-hematina de mistura com os de hemocromogénio.

Se substituirmos o reagente iodado pela água clorada, ou bromada, assim obteremos cristais de cloro ou bromo-hematina.

Eossi considera estes métodos como exce­lentes para a prática médico-legal. Rossi em vez da água clorada, serve-se dum soluto de clorato de potássio a 3 °/0.

Lecha-Marzo, servindo-se destes reagentes, obtém cristais com sangue recente, ou pu­trefacto.

Sarda e Obregon obtiveram cristais com manchas de 8, 10, J5 e 37 anos de idade.

Rossi contudo, julga este método superior au de Teichmam, só quando as manchas são solúveis em água distilada, mas quando se tenha que recorrer aos dissolventes alcalinos, tais como, soda, amoníaco, etc., não lhe encon­tra nenhumas vantagens.

Lecha-Marzo trata estas manchas insolú-

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EST. XVI

Hemocromogénio ácido Cristais obtidos a frio, tratando o sangue por piridina, hidroquinòna e ácido fórmico.

(Sínrili-gravura Marques Abreu)

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*»,

REACÇÕES DE CERTEZA 195

veis em água, directamente pela piridina. Para isso, serve-se de uma pequena parcela do tecido manchado, um fio por exemplo, e leva-o debaixo de uma lamela ao microscópio.

A acção da soda e do amoníaco não con­traria a obtenção destes cristais, auxília-a até muitas vezes.

O uso do amoníaco como dissolvente é até muito de aconselhar.

E um dissolvente de primeira ordem, mes­mo de sangue velho, putrefacto; não dissolve a ferrugem, nem o índigo e torna os tecidos muito transparentes, próprios para exames microscópicos. Acresce ainda a circunstância de se poder volatilizar com extrema facilidade.

*

Estes métodos são sensíveis e fáceis de obter. 0 calor muito moderado auxilia a for­mação dos cristais, mas o calor intenso impede a sua realização, redissolvendo os cristais for­mados. Estas reacções clão-se a frio, mas a cristalisação ó lenta e os cristais formados são de tamanho inferior aos que se obtêem, auxi­liando a reacção com um calor muito brando.

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196 MANCHAS DE SANGUE

Podemos afirmar que, no excesso de tempe­ratura, está a causa de todos os malogros.

Constitui um método deveras interessante e útil em medicina legal. As minhas expe­riências mostraram-me que, para se conse­guir sempre um êxito seguro, é preciso aliar aos conhecimentos citados uma prática longa das reacções. Há, como já disse, maneiras de fazer, pequenos tours de main, que não podemos descrever facilmente.

CEISTAIS DE HEMOOEOMOGÉNIO

Nas paginas anteriores referi-me várias vezes aos cristais de hemocromogénio, que são extraordinariamente interessantes. Obti-nham-se juntamente com os de cloro iodo-e bromo-hematina, dos quais, porém, se distin­guiam pelo seu agrupamento, côr carregada e diferentes dimensões.

Obtidos por meio de redutores como a piridina, soda e sulfidrato de amónio, forma-vam-se, portanto, em meio alcalino.

Em 1907, o ilustre professor Lecha-Marzo, propunha a obtenção destes cristais em meio ácido,

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REACÇÕES DE CERTEZA 197

Tratava o sangue humano pela piridina e por ura soluto aquoso e fraco de ácido pirogá-lhico. Novos trabalhos devidos ao mesmo autor, vieram tornar importantes todas estas pesqui­sas, que podem ser aplicadas em medicina legal.

Segundo Lecha-Marzo, os cristais de hemo-cromogénio obtidos em meio alcalino não são estáveis, desaparecem ao contacto do ar etc.

Obtendo-os em meio ácido, tornam-se mui­to mais resistentes, pois sustentam a acção da piridina e xilol.

Lecha-Marzo apresenta uma enorme lista de corpos químicos, que provocam a formação e cristalização do hemocromogénío.

l.° Tratamento do sangue pela piridina e hidroquinôna (soluto aquoso). Cristali­zação abundante e rápida.

2.° Piridina, hidroquinôna e ácido acético. Cristais largos, agrupados em estre­las, simulando vegetações.

3.° Piridina, hidroquinôna e ácido fórmico. Cristalização rápida a frio.

4.° Piridina hidroquinôna e ácido láctico. Cristalização rápida, menos sen­sível que a anterior.

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198 MANCHAS DE SANGUE

5.° Piridina, hidroquinôna e ácido cítrico. 6.° Piridina, hidroquinôna e ácido oxálico. 7.° Piridina e ácido cítrico, 8.° Piridina e ácido oxálico — Rosetas de

cristais ovóides. 9.° Piridina e ácido tánico (necessita ser

auxiliada por calor brando). 10.° Piridina, ácido tánico e ácido acético. ll.o Piridina. e nitrato de piridina (sol.

aquosa). 12.° Piridina, nitrato de piridina e ácido

pirogálhico (orist. a frio, ou a quente).

Os reagentes devem sêr preparados na ocasião.

Todos estes métodos dão o hemocromo-génio cristalizado na forma de agulhas, estre­las ou cristais ovóides. As Estampas XVI, XVII e XVIII mostram diferentes aspectos dos cristais de hemocromogénio. Quasi todos foram obtidos a frio, porque o calor embora ajude a reacção, torna-a delicada pela dificuldade que há em regular bem a sua temperatura.

A técnica usada foi a seguinte, que aliás é aconselhada pelo próprio autor: "Concentra-se e seca-se o sangue, ou material suspeito, numa

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EST. XVII

Fig. 1 — Grande cristal de hemocromogénio, obtido tratando o sangue por piridina hidroquinôna e ácido acético.

Fig. 2 — Hemocromogénio obtido tratando o sangue por piridina, hidroquinôna e ácido fórmico.

íSíoiiJi-gravura Marques Abreu)

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REACÇÕES DE CERTEZA 199

lâmina de vidro. Junta-se-lhe sucessivamente uma gota de cada um dos reagentes indicados nos diferentes métodos, cobre-se com uma lamela, e aquece-se lentamente a calor muito brando. Momentos depois, já se podem observar cristais de hemocrómogénio.

Quando a reacção se faz a frio, tem que se parafinar o bordo da preparação.

Com o método da piridina, hidroquinôna e ácido fórmico, devem-se fazer observações repetidas, sendo a ultima vinte e quatro horas depois.

Dos métodos que ensaiei, é este o mais cómodo e que melhores resultados me deu. São métodos interessantes, mas como meios práticos julgo-os inferiores aos citados pro­cessos de cristalização de cloro-bromo e iodo-hematina.

A reacção de Strzyzowski ó mais fácil de obter e depende também de uma pequena quantidade de material. As fotogravuras que acompanham este assunto, foram feitas com sangue humano de diversas idades, e em diferentes estados de conservação. O professor Lecha-Marzo cedeu-me algumas fotografias, de hemocrómogénio cristalizado, que teem

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u200 MANCHAS DE SANGUE

uma semelhança absoluta com as minhas provas obtidas segundo os seus métodos.

Os cristais, alguns de grandes dimensões, conservam sempre uma côr vermelha escura, raras vezes castanha e encontram-se mistu­rados com cristais de hemina etc. É o que se observa nas Estampas, XVII fig. 1 e XVIII fig. 2.

P r o c e s s o s h i s t o - Os processos histo-mi-m i c r o s c ó p i c o s croscópicos são de um

notável alcance no es­tudo médico legal das manchas. A verificação directa dos elementos, que normalmente cons­tituem o sangue, é a melhor e mais segura pro­va da sua presença em qualquer mancha.

0 exame histológico deve, pois, tratar de descobrir glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e fibrina.

Raras vezes se apresentam ao analista manchas frescas, onde o exame directo é sufi­ciente para provar a sua natureza. Na. maior parte dos casos, as manchas estão envelhecidas, deterioradas pelos inúmeros agentes externos, modificando-se totalmente o aspecto dos seus glóbulos. Os glóbulos brancos resistem mais,

*

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EST. XVIII

Fig. 1 - Hemocromogénio - Tratamento do sangue por piridina e hidroquinôna (a frio)

Fig. 2 - Hemocromogénio - Grande cristal obtido com piridina, hidroquinôna e ácido acético {a frio)

(Sfmiligravura Marques Abreu)

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REACÇÕES DE CERTEZA 201

mesmo muito mais, que os rubros e não nos devemos esquecer de os procurar sempre com cuidado, muito especialmente quando os glóbu­los rubros desapareceram em virtude de proces­sos hemolíticos.

O processo de dissecação das manchas faz variar o modo de investigar microscopicamente a sua natureza,

Quatro casos se podem dar :

1.° Sangue estendido em camada fina — seca rapidamente, formando uma espécie de verniz, que protege os glóbulos rubros, conservando-os intactos. Inves­tigação directa pelo aparelho de Florence.

2.° Manchas pouco extensas, mas ricas de sangue—secam menos rapidamente. Somente existem glóbulos Íntegros de­baixo da crosta. Preparações histológicas, para pôr em evidencia os glóbulos rubros.

3.° Sangue seco em más condições—Desapa­recimento dos glóbulos rubros por hemólise. Investigar a presença de glóbulos brancos e de fibrina.

4.° Sangue putrefacto. Resultado negativo nos exames histológicos.

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*m •MARCHAS DE SANGUÈ

De várias maneiras podemos, pois, pro­ceder nos exames histológicos das manchas. È preciso antes que tudo observar que os gló­bulos rubros raramente se encontram intactos. As modificações na forma e dimensões são grandes e embora se usem reagentes próprios para a sua reconstituição, esta nunca atinge uma perfeição razoável sequer.

Apresentam-se reduzidos, crenulados, en­carquilhados, partidos, umas vezes isolados, outras agrupados em montões, ou dispostos co­mo moedas empilhadas.

Regenerá-los completamente ó impossível, mas ainda assim, é muito útil a aplicação de vários reagentes, que facilitam o seu exame.

Com esses reagentes, se fazem as macera­ções. Quando estão suficientemente coradas, dissocia-se uma porção do tecido e juntamente com uma gota do macerado, faz-se uma obser-uação microscopia. Os glóbulos rubros, desco­rados, encontram-se juntamente com a fibrina e glóbulos brancos agarrados ás malhas do teci­do. A fibrina forma uma verdadeira rede de fila-lamentos granulosus, de côr cinzenta. Os gló­bulos vermelhos não resistem as bases e aos áci­dos. Convêm, pois, não os levar ao contacto das

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KEACÇOES DE CERTEZA 203

preparações, excepto quando se queira desviar um erro frequente, que se comete confundindo os glóbulos rubros com os esporos arredonda­dos e acastanhados, de alguns fungos. Estes re­sistem á acção dos ácidos e bases e estão dis­postos topo a topo, aos 2 ou 3.

Muitos e muitos são os solutos que se teem proposto, com o fim de conservar e rege­nerar os glóbulos.

Desde o soro sanguíneo, cujo uso pode levar a erros, porque é impossível uma filtra­gem completa, de modo a retirar-lhe todos os glóbulos rubros, até ao liquido amniótico, peri­goso por ter sempre células e leucócitos, tudo tem sido aconselhado por diferentes autores. Compreende-se que, sendo menos sujeitos a erros, são preferíveis os soros e líquidos arti­ficiais.

Nas minhas experiências servi-me de várias soluções, obtendo bons resultados muito espe­cialmente, com o soro fisiológico a 8 °/oo e com o líquido de Vibert, cuja formula é :

Bicloreto de mercúrio — 0,5 gr. Cloreto de sódio — 2 gr. Água distilada — 100 cent. cub.

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204 MANCHAS DE SANGUE

Tem contudo, este líquido o inconveniente de ser demorado na produção de um macerado rasoável e produz muitas e numerosas granula­ções na preparação.

Citarei também outros reagentes, cujo uso foi muito preconizado pelos seus admira­dores.

LÍQUIDO DE EOUSSIN

Glicerina — 300 gr. Ácido sulfúrico cone. — 100 gr. Água distilada —q. b. para obter uma

densidade de 1,028

SOLUTO IODADO DE RANVIER

Água distilada —100 cent. cub. Iodeto de potássio — 2 gr. Iodo — 9 1. p. soturar.

LIQUIDO DE PACINI

Bicloreto de mercúrio — 1 gr. Cloreto de sódio — 2 gr. Água distilada — 200 cent. cúb.

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REACÇÕES DE CERTEZA 205

Este reagente é muito semelhante ao de Vibert, mas dá maior numero de granulações.

SOLUTO DE TAILOB

Glicerina — 10 gr. Água distilada — 30 gr.

Solutos aquosos de sulfato de sódio a 5 °/o Solutos de potassa cáustica a 32 ou 33 %

(recomendado por Wirchow). Soluções de sulfato de sódio, goma arábica

e acucar, com densidade da mistura de 1,020.

SOEO DE SCHULTZE

Líquido amniótico corado levemente por tintura de iodo.

Este método é perigoso.

LÍQUIDO DE AFANASSIEW

Peptona —0,6 gr. Cloreto de sódio — 0,75 gr. Água distilada —-100 cent, cúbicos

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°206 MANCHAS DE SANGUÉ

Violête de metílo na proporção de Viaooo até y2o.ooo e aquecer o líquido até fervura franca.

LÍQUIDO DE HAYEM

Sublimado corrosivo — 0.5 gramas Sulfato de sódio — 5 Cloreto de sódio — 1 Água distilada — 200 c. c.

O Dr. Pacheco de Miranda, no seu traba­lho sobre este assunto, elogia-o e aconselha-o. Pela minha parte, direi que não obtive resulta­dos melhores que com a potassa simples, ou com o liquido de Vibert.

SORO DE MALASSEZ E POTAIN

Solução de goma arábica, de densidade 1,020 — 10 centimètres cúbicos.

Sol. de sulfato de sódio ) de densida-j Sol. de cloreto de sódio i de 1,020 \aná 2 0 c ' c '

Por cada 15 c. c. do soro, uma gota de soluto de sub-carbonato de potássio a 50 %.

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REACÇÕES DE CERTEZA 207

LÍQUIDO DE PUPPE

Lexívia de potassa ) _. ,. aná 20 c. c. Formalina Moser — manda meter as manchas, depois

de cortadas em pequenos fragmentos, numa mistura de álcool e éter, durante 12 a-24 ho­ras. Depois, com uma lâmina, um bisturi, reti-ra-se uma ligeira camada de sangue e coloca-se em glicerina pura, ou em :

Água — 100 c. c. Glicerina — 20 gr. Licor de acetato de potássio — 10 gr.

Córa-se com uma solução aquosa de eosina e observa-se ao microscópio.

O Dr. Lande (Bordéus) aconselha três pro­cessos diferentes :

1.° Raspar a mancha, ou dissociar um pequeno fragmento. Separá-lo bem com o auxilio de agulhas, numa lami­na de vidro bem limpa pelo álcool e éter. Juntar- lhe uma gota de alcool

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208 MANCHAS DE SANUUE

absoluto e evaporar a calor brando. Os fragmentos ficam assim fixos á lamina e coram-se pelo Leishmann, pela eosina, ou tionina fenicada.

— Este processo é útil, quando se trata de manchas recentes, nas quais os glóbulos estejam levemente deformados. É um processo rápido e cómodo.

2.° Fazer um macerado da mancha em cloreto de sódio a 8 ou 9 °/oo e esperar que obtenha uma coloração suficien­te. Centrifugar, e examinar o depósito numa lâmina, depois de fixo e corado pelos processos vulgares.

Experimentei várias vezes este método — Realmente, presta bons serviços e consegue fazer uma preparação rica em glóbulos.

3.° Fragmentar a mancha em pequenos rectângulos.

Fixar uma hora em álcool absoluto, passar depois outra hora a benzina, ou xilol.

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REACÇÕES DE CERTEZA 209

Incluir em parafina fusível a õ4.°. Duas horas a 58.°, na estufa.

Proceder finalmente- aos cortes. A fim de se obstar ao esfarelamento do tecido, quando se fazem os cortes, pode-se trata-lo pelo áci­do fórmico, ou formol, e substituir a benzina pela acetona. Os cortes são fixos com gelatina formolada, desenbaraçados de parafina e lava­dos pelo álcool absoluto.

F i n a l m e n t e , coram-se pelos processos usuaes.

Experimentei largamente este novo método e vi quão difícil era obter cortes finos, sem reduzir o tecido a fragmentos impossíveis de reter na lâmina. Além disso, o processo é demorado não compensando pelos seus resul­tados todo o trabalho.

Em várias tentativas, só umas quatro ou cinco vezes obtive preparações razoáveis.

Convêm citar ainda o método da impressão das manchas em películas fotográficas, ou mesmo em papeis gelatinados.

Pena é que estas preparações não se prestem muito a ser coradas, o que torna mais difícil a descoberta dos glóbulos.

A observação das películas faz-se no

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210 MANCHAS DE SANGUE

microscópio, a dos papeis com o aparelho de Florence.

As películas dão melhor resultado para estes exames, pela simples razão de serem transparentes.

Os caracteres dos glóbulos sanguíneos são demasiadamente conhecidos e por essa razão abstenho-me de os citar. As suas dimensões, que variam largamente com os diferentes auto­res, não teem importância nenhuma em medi­cina legal, como meio de diagnóstico dife­rencial.

APARELHO DE FLORENCE

M. Florence inventou um aparelho simples, de iluminação interna e lateral, que tem a van­tagem de poder servir para examinar directa­mente o sangue em objectos opacos, taes como lâminas, fragmentos de porcelana, pedras, pe­daços de estuque, papeis, etc.

A Estampa XIX representa um esquema dessa objectiva. Como se vê, consta essencial­mente dum prisma de reflexão total, situado dentro da monture da objectiva, enviando os raios recebidos, através desta para o cam­po microscópico. Esse prisma reflecte os raios

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J ESQUEMA DO APARELHO DE FLORENCE

A — Tubo recétor B — Diafragma L — Lente convergente P — Prisma de reflexão total

O — Objectiva n.o 7 C — Anel de segurança que se aplica directa­

mente ao revolver do microscópio D — Botão de pressão

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212 MANCHAS DE SANGDE

luminosos, tornados paralelos pela lente conver­gente L, situada no eixo do tubo metálico A/

A.

Este tubo tem na sua extremidade distai um diafragma íris, excêntrico. O aparelho é munido duma objectiva N.° 7.

Para montar este aparelho tiram-se as objectivas dum microscópio vulgar e aparafu-sa-se no revólver o pequeno anel C, de segu­rança.

Ao depois, com todo o cuidado, intro-duz-se no anel C, a parte cilíndrica F do aparelho e aperta-se com o botão D, de maneira que o tubo A fique imobilizado na direcção da fonte luminosa.

Para focar o aparelho, é preciso tomar certas precauções, para impedir a deteriori-zação da objectiva. O campo só começa a sêr iluminado, quando a objectiva está muito próxima do objecto (1 mm.)

O melhor é aproximar primeiro a objectiva a 1 mm; do objecto a examinar e em seguida dispor a fonte luminosa de maneira que se encontre ao mesmo nível e a uma distancia de 25 a 50 cm. conforme o seu poder iluminante.

Verifica-se que nesta situação, só uma parte do campo é iluminada, mas, focando

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REACÇÕES DE CERTEZA 213

bem, as minúcias aparecem e o campo ilumi-na-se uniformemente.

O diafragma serve para regular a entrada da luz. Nos meus trabalhos, notei que este aparelho é tanto mais sensível, quanto menor fôr a sua iluminação, isto dentro de certos limites.

Com uma iluminação intensa, os detalhes desaparecem.

*

Este aparelho vem, sem duvida, prestar valiosos auxílios, mas é de um emprego delicado e difícil. Em geral, os objectos a examinar não são nada planos e a focagem é penosa e pouco nítida. Além disso, a própria mancha tem saliências e depressões, que mais aumentam as dificuldades em obter bons resultados. Junte-se ainda a dificuldade em distinguir os glóbulos quando estão alterados e depois se compreenderá quão laboriosas são estas pes­quisas.

Muitas vezes, creio que será preciso adi­vinhar os glóbulos rubros. Em preparações frescas, ou recentes, feitas para demonstrações, então obtem-se belos resultados.

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214 MANCHAS DE SANGUE

Servi-me deste aparelho para examinar unia pedra ensanguentada, que tinha servido como arma num assassinato. Desanimei, porém, no fim de várias tentativas, por não poder ob­ter um foco nítido.

As rugosidades do granito ameaçavam sempre partir, ou arranhar a objectiva.

Em lâminas, é mais fácil obter um bom foco, quando estas não tenham uma secção triangular exagerada. A Estampa XXI é a foto-gravura de uma preparação obtida numa lâmi­na de navalha Gilette. Apesar de ter sido lava­da várias vezes conservava ainda, junto da fer­rugem, numerosos glóbulos rubros.

Fraenckel descobriu glóbulos rubros numa arma, datando de 1779, que tinha sido decla­rada isenta de sangue por Liman.

Dominicis, diagnosticou a natureza de pe­quenas manchas, de 1 7 anos de idade. O mesmo aplicava o aparelho de Florence nas pesquisas de sangue em tecidos, papéis, cartões etc.

Em suma: o aparelho de Florence pode ser útil em muitos casos, mas não pode servir correntemente na prática médico-legal. 0 seu manuseamento é delicado, difícil e algumas ve­zes impossível.

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EST. XX

Aparelho de Florence montado num microscópio vulgar.

Iluminação por meio da lâmpada de Ernest.

(Siniili-gravura Marques Abreu)

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REACÇÕES DË CERTEZA 215

Manchas c o n f u n d í v e i s A ferrugem ocu-com as de sangue Pa ° Pr iraeir0

~~ lugar entre as substâncias que podem dar manchas semelhan­tes ás do sangue no seu aspecto externo. Observemo-las nas lâminas e nos tecidos.

Nas lâminas, apresentam uma côr acasta­nhada ou mesmo avermelhada e embora rugo-sas teem muitas vezes um brilho semelhante ao do sangue.

Tratadas pelo ácido clorídrico desapare­cem, limpando o metal.

O pó obtido da sua raspagem é insolúvel em água, solúvel em ácido clorídrico, dando-lhe uma côr amarela (percloreto de ferro),.

Esse soluto precipita em azul, (azul da Prussia), pelo ferrocianeto de potássio, e em negro pelo tanino (tanato de ferro).

Nas lâminas, também o citrato de ferro (muitas vezes resultante de se ter cortado um limão) semelha manchas de sangue. Tem uma côr pardo-avermelhado e as suas manchas des-tacam-se facilmente pelo aquecimento a 30.o, como acontece ao sangue. Estas manchas são insolúveis na água, solúveis no ácido clorídrico, donde se pode, com a noz de galha, obter um

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precipitado violete e com os álcalis um preci­pitado vermelho, ou verde, conforme o ferro se acha no estado de sexquióxido, ou de protóxido.

A ferrugem nos panos assemelha-se a man­chas de sangue lavadas, mas não são solúveis em água e desaparecem com a acção do ácido clorídrico.

Florence aconselha a tratál-as por ácido cloiídrico, evaporar o excesso de ácido, juntar água e fazer actuar o sulfocianeto de potássio, que dá uma coloração rosea, ou vermelha, conforme a quantidade de ferro existente.

Os excrementos de pulgas,mosc&s e percevejos dão origem a manchas de aspecto idêntico ás do sangue, mas que facilmente se distinguem por um exame atencioso.

As manchas produzidas pelas pulgas, sâo arredondadas, mais ou menos ovais, cobertas duma crosta rugosa e irregular teem uma côr de tijolo, vermelho castanha e apresentam na sua parte média e central uma pequena saliência.

Dissolvem-se com dificuldade, dão o espe­ctro da oxi-hemoglobina e dão origem aos cris­tais de hemina.

O exame microscópico revela a presença

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de finas granulações avermelhadas, ou amare­las e de grande refrangibilidade. Estas granu­lações são insolúveis na água, ácido acético e solúveis no éter e álcool quente.

Vibert, Vulpian e Brouardel encontraram nestas manchas, glóbulos rubros isolados e intactos. Vilbert atribui estas manchas a pe­quenas hemorragias consecutivas á picada das pulgas e pensa que muitas vezes é impossível dizer se se trata de sangue puro, se de excre­mentos de pulgas.

Os percevejos e moscas deixam também man­chas de aspecto duvidoso. No exame espectral, revelam a oxi-hemoglobina e dão a reacção de Teichmam. Ao microscópio revelam glóbulos rubros, cristais prismáticos, romboidais e peque­nas gotas secas, cujo diâmetro é de 1 a 10 micras.

São esféricas ou ovóides, de côr verme-lho-castanho, umas vezes isoladas, outras aglomeradas.

Estas manchas teem grande quantidade de ácido úrico, o que não sucede com as de sangue (Florence).

As manchas de suor, que dão muitas vezes uma côr amarelada aos panos brancos,

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também se podem confundir com as de sangue, mas o seu local e ausência de reacções san­guíneas diíerençam-nas facilmente. Os pontos onde se encontram essas manchas são ao nível das axilas, nos punhos, colarinhos etc.

O suor nos tecidos azuis dá manchas de côr avermelhada.

O vinho dá manchas violâtes, que se coram de vermelho pela acção dum ácido fraco e retomam a côr azul pela acção duma base.

Cerejasy groselhas e framboezas dão também manchas coradas. Dissolvem-se com dificuldade na água distilada, não dão o dicromismo com a potássa e teem um cheiro muitas vezes especial.

Ao exame microscópico revelam grãos de amido, fragmentos de vegetais.

Os grãos de amido, que tendo uma côr amarelada, foram muitas vezes confundidos com glóbulos rubros, tumefazem-se com o líquido de Wirchow e coram-se de violeta com a água iodada. As manchas amiláceas dão a reacção da albumina e de Van Deen.

As matérias fecais dão manchas de côr amarelada, ou castanho-escuro, conteem coles-terina, células epiteliais, detritos animais e vegetais e granulações biliares.

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EST. XXI

Glóbulos sanguíneos existentes numa lâmina Gi le l te de navalha de barba, que t inha sido

lavada várias vezes.

Aparelho de Florence.

(Símili-gravura Marques Abreu)

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— São, pois, muitas as substancias que pro­duzem manchas semelhantes ás do sangue e algumas com reacções muito idênticas.

Citam-se as das pulgas, percevejos e mos­cas, que dão reações espectrais, eritalográficas e denunciam ao exame microscópico a pre­sença de srlóbulos vermelhos.

São de todo confundíveis e só o critério, do analista poderá intervir, para duma maneira razoável dár o seu diagonóstico.

Parece que essas pequenas manchas, quan­do não tenham pelo seu agrupamento um carácter especial (jacto de artéria etc), devem sêr abandonadas. Este é o conselho de Dervieux e parece muito ajuizado.

A prática e bom senso do analista decidi­rão estes casos com todo o escrúpulo.

* *

Concluindo, julgo necessário dar uma notícia seriada e em conjuncto das reacções proprias para establecer o diagnóstico seguro de uma mancha de sangue.

Como observações preliminares, julgo dis-

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pensáveis, se não perigosas, todas as chama­das reacções de probabilidade do sangue.

Um analista hábil e prático faz mais com os olhos do que com essas reacções todas.

A melhor probabilidade de se tratar duma mancha de sangue é tirada do seu exame externo.

Como reacções de certeza, vmicas que im­porta fazer, temos as cristalográficas, espectrais e microscópicas. Quer umas, quer outras, são excelentes e devem-se tentar sempre todas, para melhor segurança dum diagnóstico.

A reacção de Strzyzowski é absolutamente prática, fácil es ensível. As reacções cristalográ­ficas dos sais de hematina e hemocromogénio devem constituir uma contra-prova útil.

Entre os espectros, tentaremos conseguir o da oxi-hemoglobina e reduzi-lo para contra­prova.

O espectro do hemocromogénio servirá para as pequenas manchas, em observação es-pecti omicroscópica.

Os exames histo-microscópicos serão usa­dos, sempre que seja possível, porque alem de constituírem a melhor prova, quando positivos, dispensam novas pesquisas.

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proposições

Anatomia descritiva — A artéria anastomótica de Salvi é a mais importante anastomose entre os grupos tibial anterior e posterior.

Anatomia topográfica —O centro da linguagem não é o pé da 3.a frontal, mas sim uma fracção deste, que está por determinar.

Histologia—O corpúsculo para-nuclear é mais cons­tante na célula glandular altamente dife­renciada.

Fisiologia — O aumento do poder de coagulação dp sangue das grávidas explica a rápida trom­bose venosa e fisiológica na dequitadura.

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Patologia geral — O estudo da bacteriologia leva-nos a condenar os antissépticos.

Anatomia patológica — O histo-diagnóstico diferencial entre os poliadenomas e carcinomas é por vezes impossível.

Matéria médica — O lantol é preferível aos outros coloidais.

Patologia externa — A helioterapia modifica a evolu­ção da doença de Paget.

Patologia interna — A enterite muco-membranosa é a doença da moda.

Higiene — A demolição dos prédios insalubres ím-põe-se como medida preventiva contra a tuberculose.

Operações — Na pilorestomia, a laqueação da coro­nária estomáquica não deve constituir o primeiro tempo da operação.

Clínica cirúrgica — Á colecistostomia deve preferir-se a colecistectomia.

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Clínica médica —A alimentação bera regulamentada é o factor principal da cura da maior parte das doenças.

Partos — O exame seriado do pulso no post-partum, é mais importante cpje o da temperatura.

Medicina-legal — O estudo dos poros e orifícios sudo­ríparos nas impressões digitais constitui um elemento útil de identificação.

grandão. pinho.