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13 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Quimiorreflexo e receptores AT 1 : papel no controle cardiovascular de animais recuperados da restrição proteica sedentários e treinados Renato Willian Martins Sá Ouro Preto 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Quimiorreflexo e receptores AT1: papel no

controle cardiovascular de animais

recuperados da restrição proteica

sedentários e treinados

Renato Willian Martins Sá

Ouro Preto

2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Quimiorreflexo e receptores AT1: papel no

controle cardiovascular de animais

recuperados da restrição proteica

sedentários e treinados

Autor: Renato Willian Martins Sá

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Máximo Cardoso

Dissertação apresentada ao programa de Pós

Graduação do Núcleo de Pesquisas em

Ciências Biológicas da Universidade Federal

de Ouro Preto, como parte integrante dos

requisitos para obtenção do título de Mestre

em Ciências Biológicas, Área de concentração:

Bioquímica Metabólica e Fisiológica.

Ouro Preto

2015

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Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Fisiologia Endócrina e

Cardiovascular em parceria com o Laboratório de Hipertensão, ambos do

Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, com

auxílio da CAPES, CNPq, FAPEMIG e UFOP.

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Agradecimentos

Ao meu orientador, professor Dr. Leonardo Máximo Cardoso, pela amizade,

confiança, oportunidade e por ter sido a principal referência ao meu processo de

aprendizagem ao longo de todos os anos de trabalho em conjunto.

A professora Dra. Lisandra Brandino de Oliveira pelo incentivo e pelas contribuições

cientificas e materiais que tanto contribuíram para realização desse trabalho.

A professora Dra. Andréia Carvalho Alzamora pelo apoio científico e principalmente

pela disponibilização de recursos laboratoriais.

Aos professores Dr. Vagner Roberto Antunes e Dra. Lenice Kappes Becker Oliveira

por gentilmente aceitarem compor a banca.

Aos meus amigos e colegas de laboratório Paula, Giovana, Rafael, Nadia, Marcone,

Milede pela convivência agradável e por contribuírem de forma direta e indireta para

realização deste trabalho.

Ao Centro de Ciência Animal CCA/UFOP pelo fornecimento dos animais.

Aos Laboratórios do NUPEB: Laboratório de Hipertensão e Laboratório de Bioquímica

e Biologia Molecular pela disponibilização de recursos materiais para realização dos

experimentos.

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Resumo

Neste trabalho investigamos o quimiorreflexo arterial e o possível envolvimento

de receptores AT1 na sua modulação em ratos recuperados da restrição proteica pós

desmame submetidos ao treinamento físico crônico. Para tanto, ratos Fischer foram

divididos em grupos controles sedentários (C105 S) e treinados (C105 T), e recuperados

sedentários (R-RP S) e treinados (R-RP T). Os ratos recuperados foram alimentados

com dieta hipoproteica (caseína - 8%) por 35 dias após o desmame e, em seguida,

recuperados com dieta normoproteica (20%) por 70 dias. Os grupos controles

receberam apenas dieta normoproteica por 105 dias. O programa de treinamento

físico de natação foi realizado diariamente (5 dias por semana) durante oito semanas,

cumprindo normativas de intensidade e volume progressivos. 48 horas após a cirurgia

de canulação, a pressão arterial média (PAM) e a frequência cardíaca (FC) foram

registradas em ratos acordados. O quimiorreflexo foi estimulado por injeções

intravenosas (i.v.) de KCN (20-160µg/kg) imediatamente antes (basal) e após 75

minutos do bloqueio de receptores AT1 com losartan (20 mg/kg, i.v.). Em ratos

sedentários, as respostas pressora e bradiarrítmica evocadas pela dose de 60 µg/kg

de KCN foram maiores no grupo R-RP S em relação ao grupo C105 S [25 ± 5 mmHg;

-27 ± 9 bpm (C105 S) e 45 ± 4 mmHg e -76 ± 14 bpm (R-RP S)]. A administração

de losartan não modificou estas respostas. Em ratos treinados, não foram observadas

diferenças na resposta pressora para a mesma dose de KCN entre os grupos R-RP T

e C105 T. Contudo, a resposta bradiarrítmica foi maior no grupo C105 T em relação ao

grupo R-RP T [-166 ± 44 bpm (C105 T) e -44 ± 36 bpm (R-RP T). O losartan também

não alterou a magnitude destas respostas. Em conclusão, a restrição proteica seguida

pela recuperação alimentar eleva a sensibilidade do componente cardiovascular do

quimiorreflexo arterial por mecanismos que parecem não depender de receptores AT1.

O treinamento físico crônico foi capaz de normalizar a sensibilidade do componente

pressor do quimiorreflexo arterial em ratos recuperados de restrição proteica pós-

desmame sugerindo que o treinamento físico possa estar corrigindo ou compensando

alterações do quimiorreflexo arterial geradas pela restrição/recuperação.

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Abstract

In the current study, we tested the effects of low protein intake after weaning

followed by a recover protocol combined with exercise on cardiovascular responses to

chemoreflex activation before and after systemic AT1 receptors blockade. Male Fischer

rats were randomly divided into sedentary (C105 S) and trained (C105 T) control groups,

and sedentary (R-RP S) and trained (R-RP T) recovered groups. Recovered rats were

fed low protein (8% casein) diet for 35 days after weaning and refed normal protein

(20%) diet for 70 days. Control rats received normal protein diet for 105 days. The

training protocol was performed daily (5 days per week) for 8 weeks. Training volume

and intensity were progressively increased along the weeks. 48 hours after cannulation

surgery, mean arterial pressure (MAP) and heart rate (HR) were acquired by digital

recording system in freely moving rats. Chemoreflex was elicited by intravenous (i.v.)

KCN (20-160µg/kg) just before and 75 minutes after AT1 receptors blockade with

losartan (20 mg/kg, i.v.). In sedentary rats, the pressor and the bradycardic responses

elicited by KCN (60 µg/kg) were higher in R-RP S than in C105 S [25 ± 5 mmHg; -27

± 9 bpm (C105 S) e 45 ± 4 mmHg e -76 ± 14 bpm (R-RP S)]. Losartan did not affect

these responses. In trained rats, pressor responses to chemoreflex activation were

similar between C105 T and R-RP T. However, the bradycardic response elicited by

KCN (60 µg/kg) was higher in C105 T than in R-RP T [-166 ± 44 bpm (C105 T) e -44 ±

36 bpm (R-RP T). Losartan did not affect this response. In conclusion, low protein

intake after weaning followed by recover increases the sensitivity of the cardiovascular

component of arterial chemoreflex independently of AT1 receptors. Exercise training

normalizes the pressor component of arterial chemoreflex in recovered rats.

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Lista de figuras

Figura 1. Representação do comportamento da pressão arterial sistólica (mmHg) e

do intervalo sistólico (em segundos) em função do tempo de um rato movendo-se

livremente...................................................................................................................16

Figura 2. Protocolo alimentar aplicado ao grupo restrição proteica (RP) e ao grupo

recuperado (R-RP). ....................................................................................................25

Figura 3. Representação esquemática dos equipamentos utilizados para a aquisição

de dados cardiovasculares. .......................................................................................27

Figura 4. Representação esquemática dos equipamentos utilizados para a aquisição

de dados ventilatórios.................................................................................................28

Figura 5. Protocolo experimental desenvolvido para a aquisição dos dados

cardiovasculares.........................................................................................................29

Figura 6. Massa corporal e ingestão de ração...........................................................34

Figura 7. Animais RP e R-RP apresentam níveis elevados de frequência cardíaca

derepouso...................................................................................................................36

Figura 8. Animais RP não apresentam alterações no controle neuro-humoral do tônus

vasomotor...................................................................................................................41

Figura 9. Animais R-RP apresentam aumento da participação do sistema nervoso

simpático e de angiotensina II na regulação do tônus vasomotor................42

Figura 10. Respostas cardiovasculares evocadas pela ativação do quimiorreflexo por

KCN............................................................................................................................44

Figura 11. A sensibilidade do componente cardiovascular do quimiorreflexo arterial é

elevada em animais R-RP por mecanismos independentes de receptores

AT1..............................................................................................................................45

Figura 12. As alterações no controle ventilatório em animais R-RP não são mediadas

exclusivamente por mecanismos dependentes de receptores AT1.............................47

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Figura 13. A sensibilidade do componente ventilatório do quimiorreflexo arterial não

se difere em animais R-RP em relação aos animais C105............................................49

Figura 14. O treinamento físico normaliza a frequência cardíaca de animais

recuperados................................................................................................................68

Figura 15. O treinamento físico normaliza a participação do sistema nervoso simpático

e da angiotensina II na regulação do tônus vasomotor em animais

recuperados................................................................................................................72

Figura 16. A sensibilidade do componente cardiovascular do quimiorreflexo arterial é

aumenta em animais C105 T e reduzida em animais R-RP T........................................74

Figura 17. Receptores AT1 participam na manutenção da pressão arterial em animais

R-RP T........................................................................................................................76

Figura 18. Receptores AT1 participam na manutenção do tônus vasomotor em animais

R-RP T........................................................................................................................79

Figura 19. Losartan não modifica a sensibilidade do componente cardiovascular do

quimiorreflexo arterial em ratos treinados...................................................................81

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Lista de tabelas

Tabela 1. Composição de nutrientes a cada 100g de ração normoproteica e

hipoproteica................................................................................................................24

Tabela 2. Os níveis elevados de variabilidade da pressão arterial sistóilica em animais

R-RP não são controlados pelo losartan.....................................................................38

Tabela 2. O treinamento físico normaliza a variabilidade da pressão arterial sistólica

de animais recuperados..............................................................................................70

Tabela 3. Losartan não modifica a variabilidade no domínio do tempo da PAS, do IS

e o ganho do barorreflexo espontâneo em ratos treinados..........................................77

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Lista de abreviaturas

SNC – Sistema Nervoso Central

CC – Corpúsculo Carotídeo

SHR – Ratos Espontaneamente Hipertensos

NTS – Núcleo do Trato Solitário

RVLM – Região Rostroventral do Bulbo

NA – Núcleo Ambíguo

SRA – Sistema Renina Angiotensina

ECA – Enzima Conversora de Angiotensina

SBR – Sensibilidade do Barorreflexo

PAS – Pressão Arterial Sistólica

IS – Intervalo Sistólico

VLF – Muito Baixa Frequência

LF – Baixa Frequência

HF – Alta Frequência

FFT – Transformada Rápida de Fourier

PAP – Pressão Arterial Pulsátil

PAM – Pressão Arterial Média

FC – Frequência Cardíaca

VE – Volume-minuto Respiratório

VT – Volume Corrente

fR – Frequência Respiratória

KCN – Cianeto de Potássio

i.v. – Intravenoso

PBS – salina tamponada com fosfato

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Sumário

Capítulo I ............................................................................................................... 15

1. Introdução ............................................................................................................. 14

1. 1. Princípios da regulação autônoma cardiovascular ........................................ 15

1. 1. 1. Quimiorreflexo arterial ............................................................................ 17

1. 1. 2. Sistema renina-angiotensina .................................................................. 20

1. 2. Hipótese ......................................................................................................... 21

2. Objetivos ............................................................................................................... 22

2. 1. Objetivo geral ................................................................................................. 22

2. 2. Objetivos específicos ..................................................................................... 22

3. Metodologia ........................................................................................................... 23

3. 1. Modelo Animal ............................................................................................... 23

3. 2. Grupos Experimentais ................................................................................... 23

3. 3. Procedimento de aquisição dos dados cardiovasculares .............................. 26

3. 4. Procedimento de aquisição dos dados ventilatórios ...................................... 27

3. 5. Administração de drogas ............................................................................... 29

3. 6. Análise dos parâmetros cardiovasculares ..................................................... 30

3. 7. Análise espectral ........................................................................................... 30

3. 8. Análise dos parâmetros ventilatórios ............................................................. 31

3. 9. Análise estatística .......................................................................................... 32

4. Resultados ............................................................................................................ 33

4. 1. Massa corporal .............................................................................................. 33

4. 2. Ingestão de ração .......................................................................................... 33

4. 3. Pressão arterial e frequência cardíaca .......................................................... 35

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4. 4. Sensibilidade do barorreflexo espontâneo e a variabilidade do PAS e do IS no

domínio do tempo .................................................................................................. 37

4. 5. Análise espectral do intervalo sistólico .......................................................... 39

4. 6. Análise espectral da pressão arterial sistólica ............................................... 40

4. 7. Respostas cardiovasculares induzidas pela ativação do quimiorreflexo arterial

............................................................................................................................... 43

4. 8. Ventilação ...................................................................................................... 46

4. 9. Taquipnéia induzida pela ativação do quimiorreflexo .................................... 48

6. Discussão .............................................................................................................. 50

Capítulo II .............................................................................................................. 13

1. Introdução ............................................................................................................. 58

2. Objetivos ............................................................................................................... 61

2. 1. Objetivo Geral ................................................................................................ 61

2. 2. Objetivos específicos ..................................................................................... 61

3. Metodologia ........................................................................................................... 62

3. 1 Grupos Experimentais .................................................................................... 62

3. 2. Protocolo de treinamento físico ..................................................................... 62

3. 3. Procedimento cirúrgico .................................................................................. 63

3. 4. Procedimento de aquisição dos dados cardiovasculares .............................. 64

3. 5. Administração de drogas ............................................................................... 65

3. 6. Análise dos parâmetros cardiovasculares ..................................................... 65

3. 7. Análise espectral ........................................................................................... 66

3. 8. Análise estatística .......................................................................................... 66

4. Resultados ............................................................................................................ 67

4. 1. Efeito do treinamento físico sobre a pressão arterial e frequência cardíaca .. 67

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4. 2. Efeito do treinamento físico sobre a sensibilidade do barorreflexo espontâneo

e sobre a variabilidade da PAS e do IS no domínio do tempo ............................... 69

4. 3. Efeito do treinamento físico sobre a variabilidade do IS no domínio da

frequência .............................................................................................................. 71

4. 4. Efeito do treinamento físico sobre a variabilidade da PAS no domínio da

frequência .............................................................................................................. 71

4. 5. Efeito do treinamento físico sobre a sensibilidade do quimiorreflexo ............ 73

4. 6. Efeito do losartan sobre a pressão arterial e frequência cardíaca de ratos

treinados ................................................................................................................ 75

4. 7. Efeito do losartan sobre a sensibilidade do barorreflexo espontâneo e sobre a

variabilidade da PAS e do IS no domínio do tempo de ratos treinados ................. 75

4. 8. Efeito do losartan sobre a variabilidade do IS no domínio da frequência ...... 78

4. 9. Efeito do losartan sobre a variabilidade da PAS no domínio da frequência... 78

4. 10. Efeito do losartan sobre a sensibilidade do quimiorreflexo arterial .............. 80

5. Discussão .............................................................................................................. 82

6. Conclusão ............................................................................................................. 86

Referências ............................................................................................................... 87

Anexos

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Capítulo I

A hipersensibilidade do quimiorreflexo em ratos

recuperados da restrição proteica pós-desmame não

está associada à sinalização via receptores AT1

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1. Introdução

As proteínas são consideradas moléculas de estruturas bastante complexas

que constituem cerca de 50% do peso celular (GIACOMELLI e MARÇAL-NATALI,

1999). Além de serem importantes para a regulação das funções biocatalisadoras, tais

como crescimento, digestão, absorção e transporte celular, estas moléculas também

são fundamentais para o desenvolvimento estrutural dos órgãos e tecidos, para o

controle das funções imunológicas, para a regulação dos processos de coagulação

sanguínea e do equilíbrio osmótico e, principalmente, para o processo de

comunicação intercelular e entre sistemas mantenedores da homeostasia

(GIACOMELLI e MARÇAL-NATALI, 1999).

A restrição da ingestão de proteínas durante fases inicias de desenvolvimento

pode, além de prejudicar a estrutura e a capacidade funcional de órgãos e sistemas

(HOPPE et al., 2007; ALAMY e BENGELLOUN, 2012; PENITENTE et al., 2013),

modificar a atividade de mecanismos homeostáticos relacionados com o controle do

sistema cardiovascular e respiratório, predispondo o organismo ao desenvolvimento

de doenças que acometem estes sistemas na vida adulta (ALVES et al., 2014).

Estudos experimentais presentes na literatura mostraram que ratos submetidos

a desnutrição proteica pós-desmame apresentam alterações na sensibilidade do

quimiorreflexo arterial e também na responsividade do sistema renina angiotensina

(SRA) (PENITENTE et al., 2007; GOMIDE, J. M. et al., 2012). Como será descrito com

mais detalhes nos próximos capítulos, tanto as vias autonômicas moduladas pelo

quimiorreflexo arterial quanto os hormônios derivados da cascata do SRA formam

respectivamente um conjunto de mecanismos que são fundamentais para a regulação

da ventilação e da pressão arterial. No entanto, tem sido demonstrado também que a

presença de anormalidades na atividade destes mecanismos parecem estar

correlacionadas com a fisiopatologia da hipertensão arterial (LI et al., 2008; MOREIRA

et al., 2008; ABDALA et al., 2012; ALVES et al., 2014).

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1. 1. Princípios da regulação autônoma cardiovascular

A porção autônoma do sistema nervoso central desempenha papéis

fundamentais na integração e no processamento da maioria das funções fisiológicas

necessárias para a manutenção da homeostasia cardiovascular (VALENTI et al.,

2007; GOLDSTEIN et al., 2011). Esta porção é composta por grupamentos neuronais

localizados em regiões hipotalâmicas, bulbares, medulares e também na ponte que

modulam de forma tônica e reflexa a atividade elétrica dos nervos simpáticos e

parassimpáticos que se projetam perifericamente ao coração e aos vasos sanguíneos

(REID, 1992; DAMPNEY et al., 2001; ANGELIS et al., 2004; DUN et al., 2004; COSTA

et al., 2014).

A estimulação do sistema nervoso simpático induz a liberação de

noroadrenalina pelas terminações pós-glanglionares simpáticas. A sinalização da

noroadrenalina aos receptores pós-sinápticos presentes no coração (receptores β1) e

nos vasos sanguíneos (receptores α1) ativa cascatas de eventos intracelulares que

estimulam a contração do musculo cardíaco e do liso, favorecendo a elevação da

pressão arterial pelo aumento do débito cardíaco e da resistência vascular periférica

(BARROS et al., 1999; ANGELIS et al., 2004). Antagonicamente, a ativação do

sistema nervoso parassimpático induz a liberação de acetilcolina pelas terminações

nervosas parassimpáticas, que ao se ligar a receptores muscarinicos (tipo M2)

presentes no coração favorecem a diminuição da pressão arterial por meio da redução

do débito cardíaco (OLIVEIRA, 1994; DAMPNEY et al., 2001; STRATTON et al.,

2003).

A participação do sistema nervoso autônomo no controle cardiovascular pode

ser quantificada de forma indireta pela análise espectral da variabilidade da pressão

arterial sistólica (PAS) e do intervalo sistólico (IS) (JÚNIOR e SILVA, 2000). Para a

realização desta técnica, usualmente utiliza-se um algoritmo matemático denominado

transformada rápida de Fourier (FFT) que permite a obtenção de espectro de potência

em função da frequência, a partir dos padrões complexos de oscilações destas

variáveis. Neste espectro, verifica-se a ocorrência consistente de bandas de baixa

frequência (LF) e de alta frequência (HF) em diferentes espécies de animais contidas

em séries temporais como as representadas na figura 1. Apesar das diferenças quanto

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à faixa de frequência em que ocorrem, estas bandas são identificáveis em diferentes

espécies de mamíferos e usualmente atribuídas à modulação da pressão e arterial e

frequência cardíaca por elementos autonômicos. É observado em humanos e outros

mamíferos que a modulação do sistema nervoso simpático sobre o coração e os vasos

sanguíneos está relacionada às bandas LF da variabilidade do IS e da PAS

respectivamente (JÚNIOR e SILVA, 2000; JULIEN, 2005; GOLDSTEIN et al., 2011;

CARRASCO-SOSA e GUILLÉN-MANDUJANO, 2012). O efeito da modulação vagal

sobre o coração e o efeito mecânico da ventilação sobre a parede dos vasos

sanguíneos na caixa torácica são os responsáveis pelo surgimento das bandas HF

nos espectros de ambas as séries temporais (PARATI et al., 1995). Adicionalmente,

tem sido demonstrado que a participação de mecanismos humorais no controle

cardiovascular, tais como angiotensina II e catecolaminas circulantes, induzem o

aparecimento de ondas de muito baixa frequência (VLF) nos espectros de ambas

séries temporais (LANGAGER et al., 2007).

Os reflexos cardiovasculares são os principais mecanismos de controle rápido

da pressão arterial pelo sistema nervoso autonômico. Estes mecanismos são

compostos por estruturas sensoriais localizados em diferentes regiões do sistema

circulatório que sinalizam aos centros autonômicos a necessidade de ajuste da

pressão arterial e/ou da ventilação (MACHADO et al., 1997; COSTA et al., 2014). Os

componentes sensoriais periféricos dos principais reflexos cardiovasculares são

formados por estruturas celulares de terminações nervosas livres capazes de

Figura 1. Representação do comportamento da pressão arterial sistólica (mmHg) e do intervalo

sistólico (em segundos) em função do tempo de um rato movendo-se livremente.

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codificar, em sinal neuronal, o nível de estiramento vascular em leitos de alta pressão,

como os barorreceptores, ou de baixa pressão, como os receptores

cardiopulmonares, e também por células quimiossensíveis especializadas em

codificar eletricamente as modificações da pressão parcial de gases e do pH no

sangue arterial (quimiorreceptores arteriais) (CAMPAGNOLE-SANTOS e HAIBARA,

2001). Os impulsos elétricos originados a partir destes sensores são conduzidos ao

sistema nervoso central por meio dos nervos glossofaríngeo e vago e, em seguida,

são processados de maneira a produzir ajustes apropriados na atividade eferente do

sistema nervoso simpático e parassimpático (IRIGOYEN et al., 2001).

1. 1. 1. Quimiorreflexo arterial

Os quimiorreceptores compõem a estrutura sensorial do quimiorreflexo arterial.

Esta estrutura localiza-se bilateralmente em corpúsculos presentes nas bifurcações

carotídeas e, em uma menor quantidade, no arco da artéria aorta. É sabido que os

corpúsculos carotídeos (CC) são constituídos, principalmente, por células do tipo I,

denominadas também de células de glomus, e do tipo II, conhecidas como células

sustentaculares (PRABHAKAR e OVERHOLT, 2000; WIDDOP et al., 2003). Sabe-se

que as células de glomus são as principais unidades sensibilizadas pelos níveis de

oxigênio presentes no CC, enquanto que as células sustentaculares exercem função

crucial na manutenção e na sustentação da estrutura física do CC (PRABHAKAR e

OVERHOLT, 2000). Além das células do tipo I e II, estão presentes no CC células

neuronais adjacentes que formam vias aferentes de comunicação entre os

quimiorreceptores e o SNC via nervo glossofaríngeo (KATZ et al., 1993; COSTA et al.,

2014).

A estimulação dos quimiorreceptores arteriais pode ocorrer devido a alterações

do gradiente de pressão de gases no sangue arterial, como ocorre em condições de

hipoxemia ou hipercapenia, pela acidemia e também pelo aumento da osmolaridade

sanguínea (MACHADO et al., 1997; ALLEN, 1998; DUN et al., 2004). Corneille

Heymans e colaboradores demostraram, na primeira metade do século passado, que

os quimiorreceptores arteriais também podiam ser ativados por um conjunto de

agentes químicos como o sulfato de sódio, nicotina, lobelina e cianeto de potássio

(KCN), que eram capazes de produzir respostas ventilatórias e cardíacas ao serem

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administrados por via intra-arterial em cães. Seus experimentos também

demonstraram que estas repostas eram dependentes da integridade das inervações

neuronais presentes nos quimiorreceptores, sugerindo que estes sensores poderiam

agir reflexamente em centros respiratórios e cardiovasculares no SNC (HEYMANS et

al., 1930; 1931).

Ao longo dos últimos anos, muitas investigações a respeito do funcionamento

do quimiorreflexo arterial foram conduzidas em animais de experimentação,

ampliando a compreensão das vias centrais responsáveis pelo processamento deste

reflexo (COSTA et al., 2014). É sabido que os quimiorreceptores, ao serem

estimulados, enviam sinais aferentes ao bulbo, em uma região conhecida como núcleo

do trato solitário (NTS), onde interagem com diferentes subpopulações de neurônios

pós-sinápticos conectados a centros autonômicos cardiovasculares e respiratórios

(ACCORSI-MENDONÇA e MACHADO, 2013). Em essência, a ativação dos neurônios

integrados a via do quimiorreflexo no NTS possibilita a deflagração de estímulos

excitatórios que são conduzidos a neurônios pré-simpáticos localizados no núcleo

rostral ventrolateral (RVLM) que estimulam diretamente os neurônios simpáticos da

coluna intermédio lateral (IML), produzindo resposta simpato-excitatória e aumento da

pressão arterial. Estímulos que partem do NTS para o grupamento respiratório ventral

(VRG) eleva a atividade elétrica do nervo frênico produzindo taquipneia e inspiração

e expiração forçadas. Sabe-se também que durante a hipoxemia severa são

deflagrados estímulos excitatórios do NTS para neurônios pré-ganglionares

parassimpáticos localizados no núcleo ambíguo (NA), produzindo resposta

parassimpatoexcitatória e bradiarritmia (MACHADO et al., 1997; COSTA et al., 2014).

É particularmente interessante o fato de que o componente cardiovascular do

quimiorreflexo arterial parece estar envolvido com a gênese da hipertensão arterial.

Estudos têm demonstrado que a desnervação do CC promove atenuação dos níveis

exagerados do tônus simpático basal e também da pressão arterial em ratos

espontanemente hipertensos (SHR) (ABDALA et al., 2012). Estes dados corroboram

com estudos anteriores demonstrando que a inibição de neurônios integrados a via

do quimiorreflexo arterial no NTS promove redução significativa da atividade simpática

e da pressão arterial em SHR (SATO et al., 2001; SATO et al., 2002). Estes estudos

sugerem que mudanças na atividade do quimiorreflexo arterial parecem estar

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envovidas com a produção de transtornos no controle autônomo cardiovascular e com

a gênese da hipertensão arterial.

Foi reportado na literatura que a magnitude das respostas cardiovasculares

induzidas pela ativação do quimiorreflexo arterial por KCN é maior em ratos

submetidos a restrição proteica (ingestão de dieta com 6% de proteína) pós-desmame

ao final de 35 dias comparado a ratos normonutridos da mesma idade (PENITENTE

et al., 2007). Neste estudo, os autores também observaram que as alterações no

quimiorreflexo eram acompanhadas de aumentos nos níveis basais de pressão

arterial média (PENITENTE et al., 2007). Adicionalmente, o mesmo modelo de

restrição proteica pós-desmame foi capaz de produzir alterações no controle

autônomo cardiovascular produzindo aumento do tônus simpático e redução do tônus

parassimpático (MARTINS et al., 2011), o que vem sendo associado, pelos autores, a

um maior risco de hipertensão arterial e desenvolvimento de doenças

cardiovasculares.

No intuito de testar esta hipótese e de verificar se as alterações adaptativas

ocorridas durante a restrição proteica permanecem após a recuperação,

desenvolvemos um modelo de recuperação destes mesmos animais sob restrição

proteica (6% de proteína na dieta) por um período de 70 dias após o término da

restrição. Nossos dados mostraram que os níveis de pressão arterial foram

semelhantes ao do controle ao final do protocolo e que, apesar disso, alterações na

sensibilidade do componente cardiovascular do quimiorreflexo permaneceram após a

recuperação (SÁ et al., 2014). Em conjunto estes estudos sugerem que a desnutrição

proteica pode provocar anormalidades, aparentemente não reversíveis, no

funcionamento do quimiorreflexo arterial.

Os mecanismos fisiológicos que explicam a relação entre a recuperação

alimentar, após a restrição proteica, e a sensibilidade do quimiorreflexo arterial ainda

são pouco entendidos, talvez, por serem pouco estudados. Entretanto, já é sabido que

o aumento da responsividade do sistema renina angiotensina parece ser um elemento

central para a origem de transtornos cardiovasculares observados em diferentes

modelos de restrição proteica (LANGLEY-EVANS e JACKSON, 1995; GOMIDE, J. M.

C. et al., 2012; SOUZA et al., 2014). Logo, presumimos que as alterações no

quimiorreflexo observadas em ratos recuperados da restrição proteica possa guardar

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alguma relação com alterações sistêmicas em mecanismos angiotensinérgicos

ocorridas durante a restrição proteica.

1. 1. 2. Sistema renina-angiotensina

O sistema renina-angiotensina (SRA) é um importante mecanismo do controle

humoral da homeostasia cardiovascular e do balanço hidroeletrolítico (RIBEIRO e

FLORÊNCIO, 2000). A atividade deste sistema está ligada aos efeitos fisiológicos

exercidos por diferentes peptídeos formados a partir da conversão de moléculas de

angiotensinogênio (sintetizadas pelo fígado) em angiotensina I pela enzima renina

(FYHRQUIST e SAIJONMAA, 2008). A principal via de produção e secreção de renina

na corrente sanguínea ocorre pelas células justaglomerulares renais em resposta a

redução expressiva da pressão de perfusão renal, ao aumento da atividade simpática

e também a redução da concentração de sódio na mácula densa. Sabe-se também

que o SRA pode ser ativado localmente por diferentes mecanismos regulatórios em

algumas regiões do sistema nervoso central, nos rins, no coração, nos vasos

sanguíneos e também em glândulas endócrinas (WIDDOP et al., 2003; FYHRQUIST

e SAIJONMAA, 2008; SOARES et al., 2011).

Um dos peptídeos mais potentes formados a partir da cascata enzimática

iniciada pela renina é a angiotensina II. Este octapeptídeo é produzido a partir da

clivagem de dois aminoácidos da extremidade C-terminal da cadeia polipeptídica da

angiotensina I pela enzima conversora de angiotensina (ECA) produzida pelos

capilares pulmonares (OIGMAN e NEVES, 2000). Os efeitos provocados pela

angiotensina II podem se distinguir de acordo com o tipo de receptor ao qual ela se

liga. A ativação de receptores AT1 induz a vasoconstrição, aumento do débito

cardíaco, estimulação da liberação de noradrenalina pelos nervos simpáticos,

aumento da liberação de vasopressina e aldosterona, sede, fibrose e crescimento

celular (REID, 1992; RUPP e JÄGER, 2001; FYHRQUIST e SAIJONMAA, 2008). Por

outro lado, a ativação de receptores AT2 medeia vasodilatação, liberação de oxido

nítrico e inibição do crescimento celular (FYHRQUIST e SAIJONMAA, 2008). Sabe-

se que devido a uma predominância da expressão de receptores AT1 no coração e

nos vasos sanguíneos de animais a partir do nascimento, os efeitos cardiovasculares

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ligados a ativação destes receptores se sobressaem em relação aos dos receptores

AT2 (WIDDOP et al., 2003).

Estudos suportam a ideia de que os receptores AT1 estão presentes em grande

parte das células que compõem o corpúsculo carotídeo (CC), o que permite que a

angiotensina II exerça um efeito potencial na regulação da excitabilidade dos

quimiorreceptores por vias dependentes de fosfolipase C/cálcio (LEUNG et al., 2003).

De fato, a alta expressão de receptores AT1 no CC provoca hipersensibilidade do

quimiorreflexo arterial em animais submetidos a hipóxia crônica intermitente (LEUNG

et al., 2000; LEUNG et al., 2003). Considerando o fato que animais submetidos a

restrição proteica (6%) pós-desmame exibem uma maior sensibilidade a angiotensina

II exógena e uma maior expressão de receptores AT1 nos vasos sanguíneos

(GOMIDE, J. M. C. et al., 2012), é possível que elementos estruturais do

quimiorreflexo arterial possam ser afetados de forma irreversível por estas

anormalidades, o que poderia contribuir para a manutenção da pressão arterial destes

animais durante a restrição proteica e após a recuperação alimentar.

1. 2. Hipótese

Tomando-se como base o exposto, nossa hipótese é de que as alterações nos

mecanismos angiotensinérgicos ocorridas durante a restrição proteica possa levar a

alterações no quimiorreflexo e que essas alterações possam se perpetuar após a

recuperação da restrição proteica. Logo, isso culminaria um mecanismo

quimiorreflexo que produz respostas cardiovasculares e respiratórias distintas

daquelas observadas em animais que não passaram pela restrição proteica durante o

desenvolvimento.

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2. Objetivos

2. 1. Objetivo geral

Avaliar a participação dos receptores AT1 sistêmicos na sensibilidade do

quimiorreflexo arterial e na regulação autonômica cardiovascular de ratos recuperados

da restrição proteica pós-desmame.

2. 2. Objetivos específicos

Avaliar, por meio da análise espectral, a participação do sistema nervoso

autônomo na regulação cardiovascular de ratos sob restrição proteica (RP, 8% de

proteína na dieta) e recuperados da restrição proteica (R-RP).

Avaliar o efeito do bloqueio sistêmico de receptores AT1 com losartan sobre a

regulação cardiovascular de ambos os grupos.

Quantificar as respostas cardiovasculares e ventilatórias do quimiorreflexo em

ratos R-RP.

Avaliar o efeito do bloqueio sistêmico de receptores AT1 com losartan sobre o

componente cardiovascular e ventilatório do quimiorreflexo em ratos R-RP.

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3. Metodologia

3. 1. Modelo Animal

Ratos Fischer com 21 dias de idade (pós desmame) foram obtidos do Centro

de Ciência Animal (CCA) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em

conformidade com protocolo aprovado pelo Comitê de Ética em Uso Animal (protocolo

nº 2013/24). Os animais foram gerados e mantidos no CCA em gaiolas coletivas, com

ração e água ad libitum, ciclo claro-escuro de 12h e temperatura média de 23°C, até

a realização dos procedimentos experimentais. Animais individuais dentro de uma

mesma gaiola foram distintos uns dos outros por marcação da pelagem com solução

1% de ácido pícrico.

3. 2. Grupos Experimentais

Os animais foram divididos randomicamente nos seguintes grupos: restrição

proteica (RP), que foram alimentados com dieta hipoproteica (8% de proteína na dieta,

sob a forma de caseína) durante 35 dias (n=9); recuperados (R-RP), que receberam

dieta hipoproteica por 35 dias e, em seguida, receberam dieta normoproteica (20% de

proteína na dieta) por 70 dias (n=10). Os respectivos grupos controles receberam

apenas dieta normoproteica durante 35 (C35, n=8) e 105 (C105, n=10) dias (ver figura

2 para distribuição dos grupos). As dietas hipoproteica e normoproteica foram

mantidas isocaloricas (16,52kJ/g) por meio da reposição de caseína por amido (tabela

1). A massa corporal e a ingestão de ração foram monitoradas durante todo o período.

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Dieta normoproteica

Quantidade (g/100g)

Dieta hipoproteica

Quantidade (g/100g)

Valor calórico total (Kcal) 395 395

Caseína 20 8

Amido 53 65

Sacarose 10 10

Óleo de soja 7 7

Mistura de vitaminas 1 1

Mistura de minerais AIN-93G 3,5 3,5

Celulose 5 5

Bitartarato de colina

0,25 0,25

Cistina

0,3 0,3

Tabela 1. Composição de nutrientes a cada 100g de ração normoproteica e hipoproteica. AIN-

93G: American Institute of Nutrition-93 G. As dietas normoproteica e hipoproteica foram mantidas

isocaloricas – 16,52kJ/g (3,95 Kcal/g) por meio da reposição de caseína por amido.

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3. 3. Procedimento cirúrgico

Ao final do período de tratamento destinado a cada grupo (35 ou 105 dias), e

dentro de um período de 3 dias, os animais foram anestesiados com injeção

intraperitoneal de uma mistura de quetamina (80mg/kg) com xilazina (7mg/kg).

Cânulas de polietileno foram implantadas na artéria e na veia femorais esquerdas para

mensuração da pressão arterial pulsátil (PAP) e para administração de drogas,

respectivamente, em conformidade com procedimentos descritos previamente

(CARDOSO et al., 2009). Para a confecção das cânulas, foram utilizados tubos de

polietileno PE-50 (com dimensões ajustadas de acordo com o tamanho do animal)

previamente soldados a tubos de polietileno PE-10 de 1 cm.

Em suma, a cirurgia consistiu de uma incisão ventral da pata traseira esquerda

onde a artéria e a veia foram dissecadas e cateterizadas utilizando-se a porção PE-

10 das cânulas. As extremidades PE-50 foram transpassadas sub-cutaneamente na

região lateral, com o auxílio de um trocater, para a cintura escapular e exteriorizadas

no dorso, próximo ao pescoço. Após a cirurgia, analgésico (cetoprofeno, 4mg.kg−1,

RP Restrição Proteica

21 dias 35 dias

Amamentação

Início do protocolo

de restrição

R-RP Recuperados

21 dias 35 dias

Amamentação

Fim do protocolode recuperação

Dieta normoproteica(20% de proteína)

70 dias

Dieta

hipoproteica(8% de proteína)

Dieta

hipoproteica(8% de proteína)

Fim do protocolo

de restrição

Início do protocolo

de restrição

Fim do protocolo

de restrição

Figura 2. Protocolo alimentar aplicado ao grupo restrição proteica (RP) e ao grupo recuperado (R-RP).

Respectivos grupos controles receberam apenas dieta normoproteica por 35 (C35) ou 105 (C105) dias.

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0.1mL intramuscular) e antibióticos [benzilpenicilina benzatina (600.000 UI),

benzilpenicilina procaína (300.000 UI), benzilpenicilina potássio (300.000 UI) e

estreptomicina sulfato (500 mg) 0,1mL subcutâneo] foram administrados. Cada animal

se recuperou da cirurgia em gaiolas individuais por um período de 48 horas com livre

acesso a água e comida.

3. 3. Procedimento de aquisição dos dados cardiovasculares

Findadas as 48 horas de recuperação da cirurgia, os animais foram levados à

sala de registro e ali permaneceram por pelo menos uma hora para adaptação às

condições ambientais do laboratório. Imediatamente antes do início do registro, 0,1

mL de uma solução de heparina em salina isotônica (1000 UI/mL) foi injetada na

cânula arterial (pela extremidade do PE50 exteriorizada) para evitar a formação de

coágulos durante o registro. A cânula arterial foi conectada a um sistema “spin”,

desenvolvido e construído pelo próprio laboratório, e este a um transdutor de pressão

(MLT0699) ligado a um sistema digital de aquisição de sinais biológicos PowerLab

(ADInstruments Pty Ltd, Austrália) (figura 3).

Os dados de pressão arterial foram aquisitados pelo transdutor de pressão e

pré-amplificados por um pré-amplificador (BridgeAmp). Os dados analógicos foram

convertidos a variáveis discretas por um conversor analógico para digital

(ADInstruments Pty Ltd, Austrália). Os dados foram registrados pelo software LabChar

7 for Windows e estocados em arquivos individuais para cada animal. A amplitude

(resolução espacial) da janela de digitalização foram configurados para 20 mV e os

dados foram digitalizadas com resolução temporal de 1 ms (1000 Hz).

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3. 4. Procedimento de aquisição dos dados ventilatórios

Em um grupo separado de animais recuperados (R-RP, n=8) e controles (C105,

n=8), dados de frequência respiratória (fR), volume corrente (VT) e ventilação (VE)

foram obtidos pelo método de pletismografia de corpo inteiro para pequenos animais

(BARTLETT e TENNEY, 1970). Para tanto, os animais foram colocados no interior de

uma câmara pletismográfica adaptada para ratos (volume ocupado pelo animal 5%)

ligado a um transdutor de pressão (ML141Spirometer, PowerLab, ADInstruments,

Bella Vista, NSW, Australia), conectado a um pré-amplificador (BridgeAmp) e a um

conversor de sinal analógico para digital (ADInstruments Pty Ltd, Austrália).

Antes do início dos experimentos, os animais foram mantidos por um período

mínimo de 15 minutos no interior da câmara pletismográfica para familiarização com

ambiente experimental. Durante o experimento, a câmara foi completamente selada

Pré-amplificador analógico (BridgeAmp)

Conversor de sinal (analógico/digital)

Computador equipado com o software LabChart® Pro (v. 7)

Oscilações de pressão arterial pulsátil, média e frequência cardíaca. Resolução espeacial: 20

mV. Resolução temporal: 1ms (1000 Hz)

Cânulas de polietileno (PE50)

Transdutor de Pressão

(MLT0699)

2

3

4

1

Cânulas de polietileno (PE50/PE10) implantadas na artéria e veia femoral.

Figura 3. Representação esquemática dos equipamentos utilizados para a aquisição de dados

cardiovasculares. A cânula arterial foi conectada a um sistema “spin”, desenvolvido e construído pelo

próprio laboratório, e este a um transdutor de pressão (1), ligado a um pré-amplificador analógico (2),

a um conversor de sinal analógico (ADInstruments Pty Ltd, Austrália) (3) e a um computador equipado

com o software LabChart® Pro 7.0 (4).

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por períodos curtos (2 minutos aproximadamente) para que fosse possível registrar

as oscilações de pressão no interior da câmara, causadas pela diferença de

temperatura entre o gás inspirado (25ºC, aproximadamente) e expirado (~37ºC,

aproximadamente). As oscilações de pressão no interior da câmara geraram ciclos

curtos de pressão que foram usados para as análises dos parâmetros ventilatórios.

Os sinais foram digitalizados com resolução temporal de 1 ms em um computador

equipado com o software LabChart 6.0 for Windows (figura 4).

Conversor de sinal (analógico/digital)

Computador equipado com o software LabChart® Pro (v. 6)

Oscilações de pressão usadas para a determinação do volume corrente e da

frequência respiratória. Resolução espeacial: 20 mV. Resolução temporal: 1ms (1000 Hz)

Transdutor de Pressão

(ML141Spirometer)

2

3

4

1

Ar expirado

(~37ºC)

Pressão no interior da câmara

Ar inspirado

Pressão no interior da câmara

(~23ºC)

Câmara pletismográficaadaptada para ratos

Pré-amplificador analógico (BridgeAmp)

Figura 4. Representação esquemática dos equipamentos utilizados para a aquisição de dados

ventilatórios. A câmara pletismográfica foi conectada a um transdutor diferenciado de pressão

(ML141Spirometer, 1), ligado a um pré-amplificador analógico (2), a um conversor de sinal analógico

(ADInstruments Pty Ltd, Austrália, 3) e a um computador equipado com o software LabChart® Pro 6.0

(4).

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3. 5. Administração de drogas

Doses de cianeto de potássio (KCN - 20, 40, 60, 80 e 160 μg/kg), foram

randomicamente injetadas intravenosamente (i.v.) para a estimulação das respostas

cardiovasculares à ativação dos quimiorreceptores arteriais. As doses de KCN foram

baseadas em nosso estudo prévio (SÁ et al., 2014). A estimulação do quimiorreflexo

foi iniciada 60 minutos antes (basal) e após 90 minutos do bloqueio de receptores AT1

por meio da administração periférica de losartan (20 mg/Kg, i.v.) (figura 5.A). Para os

ensaios ventilatórios, as doses de 60 e 80 μg/kg de KCN foram utilizadas (figura 5.B).

Injeções de KCN

Losartan

15

registro pré-KCN

20 30

Basal Pós-losartan

17 3222

60 µg/kg 80 µg/kg

20 mg/kg

Injeções de KCN

registro pré-KCN

60 µg/kg 80 µg/kg

minutos: (33-40) 55 57 60 62 70 72

= registro de ventilação. Tempo máx: 2min

Injeções de KCN

20, 40, 60, 80 e 160 µg/Kg

Losartan20 mg/Kg i.v.

Injeções de KCN

20, 40, 60, 80 e 160 µg/Kg

15min

registro da PAP

1h30min 2h30min 2h45min 4h 5h

Basal Pós-losartan

registro da PAP

Figura 5. Protocolos experimentais desenvolvidos para a aquisição dos dados cardiovasculares (A) e

ventilatórios (B).

(A)

(B)

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Um intervalo mínimo de 10 minutos foi respeitado entre cada injeção. As drogas foram

preparadas usando salina tamponada com fosfato (PBS), pH 7,20 como veículo. O

volume injetado para cada droga variou entre 0,08 a 0,12 mL (para KCN) e 0,2 a 0,4

mL (para losartan), de acordo com o peso corporal de cada rato.

3. 6. Análise dos parâmetros cardiovasculares

A pressão arterial média (PAM) e a frequência cardíaca (FC) foram registrados

durante o basal de forma continua por um período de 75 minutos após 15 minutos de

adaptação. Após o bloqueio dos receptores AT1, estas variáveis também foram

registradas por um período de 75 minutos após 15 minutos da injeção de losartan. A

sensibilidade do barorreflexo (SBR) espontâneo foi analisada por meio do método

descrito por Parati e colaboradores (PARATI et al., 1988), e reportado por nós

previamente (SÁ et al., 2014). O barorreflexo espontâneo foi analisado utilizando-se

seguimentos estáveis de registro da PAP que apresentavam janela temporal mínima

de 40 minutos. As respostas cardiovasculares geradas pela estimulação do

quimiorreflexo foram quantificadas detectando-se o pico máximo de variação da PAM

e da FC como resultado das injeções de KCN. A análise do quimiorreflexo foi iniciada

60 minutos antes (basal) e após 90 minutos do bloqueio dos receptores AT1.

3. 7. Análise espectral

A variabilidade no domínio da frequência da pressão arterial sistólica (PAS) e

do intervalo sistólico (IS) foi avaliada pela análise espectral. Para tanto, sequências

de valores consecutivos de PAS e IS foram extraídos de segmentos de no mínimo 40

minutos do registro da PAP e analisados pelo software CardioSeries v2.4. As séries

temporais da pressão arterial sistólica (PAS) e do intervalo sistólico (IS) foram

redimensionadas para 10 Hz, dividas em segmentos contínuos de 512 valores e

sobrepostos a 50%. Os espectros da PAS e do IS foram calculados usando o algoritmo

transformada rápida de Fourier (FFT). Três componentes oscilatórios majoritários

foram observados a partir do espectro: bandas de muito baixa frequência (VLF; 0 a

0,20 Hz), de baixa frequência (LF; 0,20 a 0,75 Hz) e de alta frequência (HF; 0,75 a

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3,00 Hz). As potências máximas dessas bandas foram comparadas entre os grupos.

A análise espectral foi realizada durante o basal e 15 minutos após a injeção de

losartan.

3. 8. Análise dos parâmetros ventilatórios

Os ciclos de pressão detectados no interior da câmara pletismográfica foram

analisados manualmente em conformidade com os procedimentos realizados por

estudos recentes (SILVA et al., 2015). Para a determinação do VT, a amplitude média

de ciclos consecutivos de pressão, presentes em um segmento de 30 segundos do

registro, foi analisada e inserida em uma fórmula reportada previamente por estudos

de Granjeiro (2009), desenvolvida a partir de estudos de Drorbaug e Fenn

(DRORBAUG e FENN, 1955):

𝑽𝑻 = 𝑽𝑲 ×𝑷𝑻

𝑷𝑲×

𝑻𝑪 × (𝑷𝑩 − 𝑷𝑨)

𝑻𝑪 × (𝑷𝑩 − 𝑷𝑨) − 𝑻𝑨 × (𝑷𝑩 − 𝑷𝑪)

Onde: VT = volume corrente;

VK = volume de ar injetado na câmara para calibração;

PT = deflexão de pressão associada a cada volume de ar corrente;

PK = deflexão de pressão associada a cada volume de ar injetado para

calibração;

TC = temperatura corporal;

TA = temperatura do ar dentro da câmara do animal;

PB = pressão barométrica;

PA = pressão de vapor de água à temperatura da câmara;

PC = pressão de vapor de água à temperatura corporal.

𝑽𝑬(𝒎𝑳. 𝒌𝒈−𝟏. 𝒎𝒊𝒏−𝟏) = 𝑽𝑻(𝒎𝑳. 𝒌𝒈−𝟏) × 𝒇𝑹(𝒄𝒑𝒎)

Onde: VE = volume-minuto respiratório;

VT = volume corrente;

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fR = frequência respiratória.

Para a análise da fR, a quantidade de ciclos presente no mesmo segmento de

30 segundos foi multiplicada por 2 para a estimativa da quantidade de ciclos em um

minuto (ciclos por minuto, cpm). VE foi quantificado por meio da multiplicação do VT

pela fR. As análises dos parâmetros ventilatórias foram conduzidas 1 minuto antes e

15 minutos após a administração de losartan (20 mg/kg). A taquipnéia induzida pela

ativação do quimiorreflexo arterial foi analisada contando-se a quantidade ciclos

existentes em cada segmento de 2 segundos no período correspondente entre 6

segundos antes e 18 segundos após a injeção de KCN. A quantidade de ciclos em

cada segmento foi expressa em cpm (SILVA et al., 2015). As respostas máximas

evocadas pelo KCN (segundo 2) foram comparadas entre os grupos C105 e R-RP.

3. 9. Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas no software GraphPad Prism 6.01 for

Windows. Os resultados foram representados como média ± erro padrão da média

(SEM), e as comparações foram feitas utilizando a análise de variância (ANOVA) de

duas vias seguida do teste de Holm-Sidak. Diferenças entres pares de médias foram

considerados estatisticamente significativas quando valores de p foram menores do

que 5% (p<0.05).

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P á g i n a | 33

4. Resultados

4. 1. Massa corporal

Na figura 6 (A) estão apresentados os dados de massa corporal dos animais

R-RP e C105 a partir do desmame (dia 0) até o centésimo dia de tratamento. O grupo

R-RP obteve um aumento de massa corporal menor do que o grupo C105 durante a

maior parte do período analisado. Próximo ao término da fase de restrição proteica,

dia 30, os ratos R-RP pesavam 49% menos do que o grupo C105 [180 ± 5 g (C105) e

92 ± 9 g (R-RP) P < 0,0001]. A realimentação possibilitou os animais R-RP atingirem

apenas 87% da massa corporal total observada no grupo C105 no centésimo dia de

tratamento [328 ± 11 g (C105) e 287 ± 5 g (R-RP P < 0,0001]. Os animais R-RP tiveram

o ganho de massa corporal reduzido em relação aos animais do grupo C105 durante

todo período analisado da restrição proteica (figura 6.B). No 30º dia, os resultados

obtidos foram: [48 ± 2 g (C105) e 8 ± 4 g (R-RP) P < 0,0001]. No entanto, foi observado

no início da fase de recuperação, nos dias 50 e 60, que os animais R-RP exibiram

valores de ganho de massa corporal elevados em relação aos animais do grupo C105.

No 60º dia, os resultados obtidos foram: [30 ± 2 g (C105) e 43 ± 2 g (R-RP) P = 0,0301].

4. 2. Ingestão de ração

Os valores absolutos de ingestão de ração mostraram que os animais R-RP

consumiram menos ração do que o grupo C105 durante a maior parte da primeira

metade do tratamento (figura 6.C). No entanto, a relação entre ingestão de ração e

massa corporal (figura 6.D) revelou haver redução significativa apenas no 30º dia

[0,101 ± 0,002 (C105) e 0,062 ± 0,009 (R-RP) P = 0,0305].

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0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 0

0

5 0

1 0 0

1 5 0

2 0 0

2 5 0

3 0 0

3 5 0

C 1 0 5 (n = 1 6 ) R -R P (n = 1 7 )

A p ó s o d e s m a m e

D ie ta n o r m o p r o te ic a

D ia s

Ma

ss

a c

orp

ora

l (g

)

* **** ** **

A p ó s o d e s m a m e

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 0

0

2 0

4 0

6 0

D ia s

Ga

nh

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e m

as

sa

co

rp

ora

l (g

)

D ie ta n o r m o p r o te ic a

**

*

*

*

D ie ta n o r m o p r o te ic a

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 0

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

A p ó s o d e s m a m e

D ia s

Ige

stã

o d

e r

ão

(g

/dia

)

* *

**

D ie ta n o r m o p r o te ic a

A p ó s o d e s m a m e

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 0

0 .0 0

0 .0 5

0 .1 0

0 .1 5

D ia s

Ing

es

tão

de

ra

çã

o/

ma

ss

a c

orp

ora

l

*

(A ) (B )

(C ) (D )

Figura 6. Massa corporal (A), ganho de massa corporal (B), ingestão de ração (C) e ingestão de ração/massa

corporal (D) dos animais R-RP ( ) e C105 (●). A faixa colorida representa o período em que os animais R-RP

foram alimentados com dieta hipoproteica (8% de proteína). Dados foram representados como média ± erro

padrão da média (SEM). *P < 0,05 comparado com C105 por ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc

de Holm-Sidak.

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P á g i n a | 35

4. 3. Pressão arterial e frequência cardíaca

A pressão arterial média (PAM) não foi diferente entre os grupos RP e C35, tanto

no basal quanto após o losartan (figura 7.A). No entanto, foi observado que frequência

cardíaca (FC) foi maior nos animais RP do que nos animais C35 durante o basal [392

± 9 bpm (C35) e 431 ± 10 bpm (RP) P = 0,0236], mas não após losartan. O losartan

induziu taquicardia no grupo C35 [392 ± 9 bpm (basal) e 432 ± 8 bpm (pós-losartan) P

= 0,0024] e no grupo RP [431 ± 10 bpm (basal) e 457 ± 10 bpm (pós-losartan) P =

0,0234].

A PAM foi similar entre os grupos R-RP e C105 durante o basal e após o losartan

(figura 7.B). Contudo, foi observado que o losartan reduziu a PAM no grupo C105 [115

± 2 mmHg (basal) e 104 ± 2 mmHg (pós-losartan) P = 0,0036], mas não no grupo R-

RP [115 ± 2 mmHg (basal) e 108 ± 2 mmHg (pós-losartan)]. Os animais R-RP

apresentaram níveis elevados de FC em relação ao grupo C105 durante o basal [332

± 7 bpm (C105) e 371 ± 10 bpm (R-RP) P = 0,0445] e após o losartan [363 ± 13 bpm

(C105) e 420 ± 13 bpm (R-RP) P = 0,0031]. O losartan também produziu taquicardia

nos animais C105 [332 ± 7 bpm (basal) e 363 ± 13 bpm (pós-losartan) P = 0,0053] e

nos R-RP [371 ± 10 bpm (basal) e 420 ± 13 bpm (pós-losartan) P < 0,0001].

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P á g i n a | 36

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

5 0

7 5

1 0 0

1 2 5

1 5 0

C 3 5 (n = 8 )

R P (n = 9 )

2 0 m g /k g ( i.v .)

PA

M(m

mH

g)

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

3 0 0

3 5 0

4 0 0

4 5 0

5 0 0

FC

(bp

m)

2 0 m g /k g ( i.v .)

***

**

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

5 0

7 5

1 0 0

1 2 5

1 5 0

C 1 0 5 (n = 1 0 )

R -R P (n = 1 0 )

PA

M(m

mH

g)

2 0 m g /k g ( i.v .)

**

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

3 0 0

3 5 0

4 0 0

4 5 0

5 0 0

FC

(bp

m)

2 0 m g /k g ( i.v .)

***

*

**

(A )

(B )

R-R

PR

P

Figura 7. Animais RP e R-RP apresentam níveis elevados de frequência cardíaca de repouso. Pressão

arterial média (PAM) e frequência cardíaca (FC) referente aos grupos RP e C35 (A), e R-RP e C105

(B). As médias foram coletadas no basal e após o losartan (20mg/kg, i.v.). Os dados foram

representados como média ± SEM. *P < 0,05 comparado com controle; **P < 0,05 comparado com

basal. ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc de Holm-Sidak.

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P á g i n a | 37

4. 4. Sensibilidade do barorreflexo espontâneo e a variabilidade do PAS e do IS

no domínio do tempo

A sensibilidade do barorreflexo (SBR) espontâneo, assim como a variabilidade

da PAS e do IS no domínio do tempo, não foram diferentes entre os grupos RP e C35,

tanto no basal quanto após o losartan (tabela 2). Comparando o efeito do losartan em

cada grupo individualmente, foi observado uma redução da SBR espontâneo no grupo

RP [0,49 ± 0,03 ms/mmHg (basal) e 0,33 ± 0,03 ms/mmHg (pós-losartan) P = 0,0362],

mas não no grupo C35 [0,50 ± 0,13 ms/mmHg (basal) e 0,55 ± 0,17 ms/mmHg (pós-

losartan)].

Nos ratos R-RP, a variabilidade da PAS foi maior do que a do grupo C105 no

basal [27,7 ± 2.8 mmHg2 (C105) e 47,2 ± 8 mmHg2 (R-RP) P = 0,0206] e após o losartan

[22,7 ± 1,8 mmHg2 (C105) e 41,6 ± 5,6 mmHg2 (R-RP) P = 0,0252]. Contudo, não foram

detectadas diferenças na variabilidade do IS e na SBR espontâneo. Comparando o

efeito do losartan em cada grupo individualmente, foi observado uma redução na SBR

espontâneo e na variabilidade do IS no grupo R-RP em resposta a injeção, mas não

no grupo C105 (tabela 2).

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P á g i n a | 38

C35 (n=8) RP (n=9) C105 (n=10) R-RP (n=10)

Basal

Pós-

losartan Basal

Pós-

losartan Basal

Pós-

losartan Basal

Pós-

losartan

Variância, PAS (mmHg2) 32 ± 6 41 ± 10 26 ± 3 24 ± 2 27 ± 2 22 ± 1 47 ± 8* 41 ± 5*

Variância, IS (ms2) 70 ± 38 47 ± 26 17 ± 11 30 ± 22 11 ± 3 19 ± 9 22 ± 6 7 ± 1**

SBR espontâneo (ms/mmHg)

0,54 ± 0,13

0,59 ± 0,16 0,49 ±

0,03

0,33 ±

0,03**

0,42 ± 0,03

0,37 ± 0,04

0,46 ± 0,07

0,33 ±

0,03**

Tabela 2. Os níveis elevados de variabilidade da pressão arterial sistóilica em animais R-RP não são

controlados pelo losartan. PAS: Pressão arterial sistólica; IS: intervalo sistólico; SBR: sensibilidade do

barorreflexo. Valores foram representados como média ± SEM. *P < 0,05 comparado com controle;

**P < 0,05 comparado com o basal. ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc de Holm-Sidak

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P á g i n a | 39

4. 5. Análise espectral do intervalo sistólico

A potência das bandas VLF, LF e HF do espectro do IS não foram diferentes

entre os grupos RP e C35 [VLF: 0,50 ± 0,13 ms2/Hz (C35) e 0,51 ± 0,14 ms2/mmHg

(RP)]; [LF: 0,43 ± 0,07 ms2 (C35) e 0,41 ± 0,13 ms2 (RP)] e [HF: 1,29 ± 0,31 ms2 (C35)

e 1,06 ± 0,24 ms2 (RP)]. O tratamento agudo com o losartan não produziu diferenças

significativas nestes resultados.

Os animais R-RP, quando comparados aos C105, também não apresentaram

diferenças significativas na potência das bandas de VLF, LF e HF do espectro do IS

durante o basal [VLF: 0,38 ± 0,08 ms2/Hz (C105) e 0,67 ± 0,14 ms2/Hz (R-RP)]; [LF:

0,35 ± 0,12 ms2/Hz (C105) e 0,75 ± 0,21 ms2/Hz (R-RP)] e [HF: 0,87 ± 0,34 ms2/Hz

(C105) e 1,27 ± 0,2 ms2/Hz (R-RP)], permanecendo inalterados após o losartan.

Analisando o efeito do losartan isoladamente no grupo R-RP, foi observado que este

fármaco reduziu significativamente o pico da potência das bandas de VLF e de LF do

espectro do IS [VLF: 0,67 ± 0,14 ms2/Hz (R-RP, basal) e 0,24 ± 0,05 ms2/Hz (R-RP,

pós-losartan) p = 0,0252] e [LF: 0,75 ± 0,21 ms2/Hz (R-RP, basal) e 0,34 ± 0,09 ms2/Hz

(R-RP, pós-losartan) p = 0,0206]. Em todas as comparações realizadas, a intensidade

da banda HF não se apresentou alterada.

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4. 6. Análise espectral da pressão arterial sistólica

Os animais do grupo RP, comparados ao C35, não apresentaram diferenças na

potência das bandas de VLF, LF e HF da PAS, tanto no basal quanto após o losartan

(figura 8).

Espectro de potência em função da frequência, a partir dos padrões complexos

de oscilações da PAS obtidos no basal (figura 9.A) e após o losartan (9.B) Os animais

R-RP exibiram picos da potência das bandas VLF e LF elevados em relação aos

animais C105 durante o basal [VLF: 5,33 ± 0,62 mmHg2 (C105) e 10,75 ± 1,92 mmHg2

(R-RP) p = 0,0020] e [LF: 4,89 ± 0,71 mmHg2 (C105) e 11 ± 1,64 mmHg2 (R-RP) p =

0,0191] (figura 9.C), mas não após o losartan [VLF: 5,55 ± 0,39 mmHg2 (C105) e 7,19

± 0,63 mmHg2 (R-RP)] e [LF: 7,69 ± 0,97 mmHg2 (C105) e 11,82 ± 2,36 mmHg2 (R-RP)]

(figura 9.C). Losartan reduziu significativamente o pico da potência das bandas de

VLF nos ratos R-RP. A potência das bandas de HF do espectro da PAS foi similar nos

grupos RP, R-RP e em seus respectivos grupos controles, tanto durante o basal

quanto após o losartan.

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B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

5

1 0

1 5

C 3 5 ( n = 8 )

R P (n = 9 )

2 0 m g /k g ( i.v .)

VL

F d

a P

AS

(mm

Hg

2)

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

5

1 0

1 5

LF

da

PA

S

(mm

Hg

2)

2 0 m g /k g ( i.v .)

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

2

4

6

HF

da

PA

S

(mm

Hg

2)

2 0 m g /k g ( i.v .)

(A )

(B )

(C )

Figura 8. Animais RP não apresentam alterações no controle neuro-humoral do tônus

vasomotor. Valores absolutos do pico da potência das bandas de VLF (A), LF (B) e HF

(C) do espectro da pressão arterial sistólica (PAS) dos grupos RP (vermelho) e C35 (preto),

durante o basal e após o losartan (20 mg/kg, i.v.).

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0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0 1 .2 1 .4 1 .6

0

1 3

2 6

3 9

5 2

6 5

R -R P (n = 1 0 )C 1 0 5 (n = 1 0 )

L F

H F

V L F

H z

Po

tên

cia

Es

pe

ctr

al

(mm

Hg

2/

Hz

)

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

5

1 0

1 5

2 0 m g /k g ( i.v .)

VL

F d

a P

AS

(mm

Hg

2)

* **

0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0 1 .2 1 .4 1 .6

0

1 3

2 6

3 9

5 2

6 5

L F

H F

V L F

H z

Po

tên

cia

Es

pe

ctr

al

(mm

Hg

2/

Hz

) B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

5

1 0

1 5

2 0 m g /k g ( i.v .)

LF

da

PA

S

(mm

Hg

2)

*

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

1

2

3

4

5

2 0 m g /k g ( i.v .)

HF

da

PA

S

(mm

Hg

2)

(C )(A )

(B )

B a s a l

P ó s -lo s a r ta n

Figura 9. Animais R-RP apresentam aumento da participação do sistema nervoso simpático e de angiotensina

II na regulação do tônus vasomotor. Espectro da pressão arterial sistólica (PAS) dos grupos R-RP (vermelho)

e C105 (preto) durante o basal (A) e após o losartan (B). Nos gráficos à direita (C), estão apresentados os

valores absolutos do pico da potência das bandas de VLF, LF e HF do espectro da PAS dos animais R-RP e

C105, durante o basal e após o losartan. Os resultados foram representados como média ± SEM. *P < 0,05

comparado com controle; **P < 0,05 comparado com o basal. ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc

de Holm-Sidak.

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P á g i n a | 43

4. 7. Respostas cardiovasculares induzidas pela ativação do quimiorreflexo

arterial

As alterações na PAM e na FC induzidas pela estimulação do quimiorreflexo

arterial, pelo KCN, não foram diferentes entre os grupos RP e C35, durante o basal e

após o losartan (figura 11, A e B).

O perfil das respostas cardiovasculares evocadas pela injeção de KCN (60

μg/kg) está apresentado na figura 10. As doses de 60 e 80 µg/kg de KCN geraram

respostas pressóricas mais elevadas no grupo R-RP em relação grupo C105 [60 µg/kg:

25 ± 5 mmHg (C105) e 45 ± 4 mmHg (R-RP) p = 0,0002; 80 µg/kg: 47 ± 3 mmHg

(C105) e 60 ± 6 mmHg (R-RP) p = 0,0265] (figura 11.C). O losartan não afetou a

magnitude dessas respostas. Além disso, as doses de 60, 80 e 160 µg/kg de KCN

também geraram respostas bradiarrítmicas mais elevadas no grupo R-RP em relação

ao grupo C105 [60 µg/kg: -27 ± 9 bpm (C105) e -76 ± 14 bpm (R-RP) p = 0,0144; 80

µg/kg: -66 ± 7 bpm (C105) e -120 ± 19 bpm (R-RP) p = 0,0071; 160 µg/kg: -120 ± 16

bpm (C105) e -173 ± 13 bpm (R-RP) p = 0,0082] (figura 11.D). O losartan também

não afetou a magnitude dessas respostas.

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P á g i n a | 44

50

100

150

200

PA

P(m

mH

g)

KCN (60µg/kg)

C105

(A)

50

100

150

200

PA

P(m

mH

g)

KCN (60µg/kg)

PAM

(m

mH

g)

FC (

bp

m)

Basal Pós-losartan

PAP

(m

mH

g)

50

100

150

200

PA

P(m

mH

g)

(B)

50

100

150

200

PA

P(m

mH

g)

5 segundos

R-RP

KCN (60µg/kg) KCN (60µg/kg)

50

100

150

200

PA

P(m

mH

g)

Basal Pós-losartan

PAP

(m

mH

g)

FC (

bp

m)

PAM

(m

mH

g)

Figura 10. Traçados representativos da pressão arterial pulsátil (PAP), pressão arterial média (PAM) e frequência

cardíaca (FC) mostrando o perfil das respostas cardiovasculares evocadas pela injeção de KCN (60 μg/kg de massa

corporal) em um animal do grupo C105 (A) e em um do grupo R-RP (B). As setas indicam o exato momento da injeção.

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0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

C 3 5 (p ó s - lo s a r ta n )

C 3 5 (b a s a l)

R P (p ó s -lo s a r ta n )

R P (b a s a l)

20 40 60 80 160

K C N ( g /k g d e m a s s a c o r p o r a l)

P

AM

(mm

Hg

)

0

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

C 1 0 5 (p ó s - lo s a r ta n )

C 1 0 5 (b a s a l)

R -R P (p ó s -lo s a r ta n )

R -R P (b a s a l)

20 40 60 80 160

K C N ( g /k g d e m a s s a c o r p o r a l)

PA

M(m

mH

g)

0

*

*

-2 5 0

-2 0 0

-1 5 0

-1 0 0

-5 0

0

20 40 60 80 160

F

C(b

pm

)

0

-2 5 0

-2 0 0

-1 5 0

-1 0 0

-5 0

0

20 40 60 80 160

F

C(b

pm

)0

*

**

R P R -R P

(A ) (C )

(B ) (D )

Figura 11. A sensibilidade do componente cardiovascular do quimiorreflexo arterial é elevada em animais

R-RP por mecanismos independentes de receptores AT1. Respostas pressóricas (A e C) e bradiarrítmicas

(B e D) evocadas pela estimulação do quimiorreflexo por KNC (20, 40, 60, 80 e 160 µg/kg de massa

corporal, i.v.) dos animais RP (n = 9) e C35 (n = 8) – gráficos à esquerda, e dos animais R-RP (n = 10) e

C105 (n = 10) – gráficos à direita. As médias foram coletadas na condição basal (símbolos preenchidos) e

após losartan (símbolos vazios). Resultados foram representados como média ± SEM. *P < 0,05

comparado com controle (em sua respectiva condição). ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc de

Holm-Sidak.

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4. 8. Ventilação

O presente estudo fornece resultados a respeito da ventilação apenas dos

animais R-RP e C105. Na condição basal, VT e VE foram 30% e 49%, respectivamente,

mais elevados nos animais R-RP em relação aos animais C105 (figura 12) [VT: 12,2 ±

0,6 mL.kg-1, VE: 856 ± 39 mL-1.kg-1.min (C105) e VT: 17,1 ± 1,6 mL.kg-1, VE: 1274 ±

126 mL.kg-1.min (R-RP)]. No entanto, não foram detectadas diferenças na fR durante

o basal.

Os valores de VE permaneceram elevados no grupo R-RP após o losartan [903

± 61 mL-1.kg-1.min (C105) e 1450 ± 165 mL-1.kg-1.min (R-RP) p = 0,0046], porém VT

foi normalizado [14,1 ± 1,5 mL.kg-1 (C105) e 18,6 ± 1,5 mL.kg-1 (R-RP)]. Além disso,

os resultados mostraram que os ratos R-RP apresentaram níveis elevados de fR após

o losartan [65 ± 3 cpm (C105) e 77,6 ± 1,6 cpm (R-RP) p = 0,0278].

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B a s a l P ó s - lo s a r ta n

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

f R(c

pm

)

2 0 m g /k g ( i.v .)

*

C 105 (n = 8 )

R -R P (n = 8 )

B a s a l P ó s - lo s a r ta n

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

VT

(mL

.kg

-1)

2 0 m g /k g ( i.v .)

*

B a s a l P ó s - lo s a r ta n

0

5 0 0

1 0 0 0

1 5 0 0

2 0 0 0

VE

(mL

.kg

-1.m

in-1

)

2 0 m g /k g ( i.v .)

**

(A )

(B )

(C )

Figura 12. As alterações no controle ventilatório em animais R-RP não são mediadas exclusivamente

por mecanismos dependentes de receptores AT1. Frequência respiratória (fR), volume corrente (VT) e

ventilação por minuto (VE) dos animais R-RP (vermelho) e C105 (preto). As médias foram coletadas na

condição basal e após o losartan (20 mg/kg, i.v.). Os resultados foram representados como média ± SEM.

*P < 0,05 comparado com controle. ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc de Holm-Sidak

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P á g i n a | 48

4. 9. Taquipnéia induzida pela ativação do quimiorreflexo

Os dados apresentados na figura 13 mostraram que o pico das respostas de fR

(segundo 2) evocadas pela estimulação do quimiorreflexo arterial, por KCN (60 e 80

µg/kg i.v.), foram similares entre os animais R-RP e C105, na condição basal [60 µg/kg

de KCN: 255 ± 22 cpm (C105) e 311 ± 29 cpm (R-RP), e 80 µg/kg de KCN: 313 ± 21

cpm (C105) 330 ± 29 cpm (R-RP)] e após o losartan [60 µg/kg e KCN: 341 ± 17 cpm

(C105) e 318 ± 37 cpm (R-RP), e 80 µg/kg de KCN: 365 ± 33 cpm (C105) 346 ± 17 cpm

(R-RP)].

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-6 -4 -2 0 2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

C 1 0 5 (n = 8 ) R -R P (n = 8 )

T e m p o (s )

fR

(cp

m)

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

T e m p o (s )

fR

(cp

m)

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

T e m p o (s )

fR

(cp

m)

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

T e m p o (s )

fR

(cp

m)

(A )

(B )

B a s a l P ó s -lo s a rta n

K C N (6 0 g /k g )

K C N (8 0 g /k g ) K C N (8 0 g /k g )

K C N (6 0 g /k g )

K C N (6 0 g /k g )

K C N (8 0 g /k g )

B a s a l P ó s -lo s a rta n

Figura 13. A sensibilidade do componente ventilatório do quimiorreflexo arterial não se difere em

animais R-RP em relação aos animais C105. Curso temporal da frequência respiratória durante a

estimulação do quimiorreflexo arterial, por KCN (60 e 80 µg/kg de massa corporal) nos grupos R-RP

( ) e C105 ( ), no basal (A) e após o losartan (B).

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6. Discussão

Os principais resultados obtidos no presente estudo revelaram que ratos

submetidos a restrição proteica (8%) pós-desmame, seguida por um protocolo de

recuperação com dieta normoproteica (20%), apresentaram níveis elevados de FC de

repouso, de variabilidade da pressão arterial e de magnitude das respostas

cardiovasculares evocadas pela ativação do quimiorreflexo arterial. Além disso, o

nosso estudo mostra pela primeira vez que o volume-minuto respiratório é

significativamente elevado nos animais R-RP, sugerindo que o controle da ventilação

também é afetado pela restrição proteica/recuperação. O bloqueio dos receptores AT1

por meio da injeção intravenosa de losartan não foi capaz de normalizar nenhum dos

parâmetros mencionados acima, sugerindo que a sinalização por angiotensina II via

receptores AT1 pode não estar diretamente relacionada com os transtornos

cardiorrespiratórios observados nos animais R-RP. Por outro lado, a atividade

espontânea do barorreflexo nos animais RP e R-RP foi reduzida para níveis abaixo

do normal pelo losartan, o que pode indicar que receptores AT1 desempenham um

certo papel na manutenção da função do barorreflexo nestes animais.

A massa corporal tem sido amplamente utilizada na literatura científica como

um indicador, ainda que geral, do estado nutricional de ratos (PLAGEMANN et al.,

2000; LOSS et al., 2007; MIÑANA-SOLIS e ESCOBAR, 2008; RODRIGUES et al.,

2012). Observamos que o presente protocolo de restrição proteica/recuperação

resultou em uma redução consistente da massa corporal dos ratos R-RP durante o

período avaliado. A redução da massa corporal devido à restrição de nutrientes

durante as fases iniciais de desenvolvimento já fora reportada na literatura por outros

autores (HUIZINGA et al., 2000; MIÑANA-SOLIS e ESCOBAR, 2008). Por outro lado,

o mesmo não foi observado em nosso estudo prévio realizado em animais

recuperados de um protocolo mais severo de restrição proteica (ingestão de dieta

contendo apenas 6% de proteína) (SÁ et al., 2014). Tal discrepância pode sugerir que

o processo de recuperação do peso corporal de animais alimentados com dieta com

8% de proteínas pode ser mais longo do que o de ratos alimentados com dieta

contendo apenas 6% ou que o presente protocolo de restrição proteica (8%) induz a

diferentes rearranjos compensatórios no metabolismo dos animais. Observamos que

o presente protocolo alimentar também induziu uma redução transitória e voluntária

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da quantidade de calorias ingeridas durante a fase de restrição. Isto porque os valores

de ingestão de ração, quando expressados em proporção a massa corporal, se

apresentaram reduzidos no 30º dia no grupo R-RP. No entanto, os mecanismos que

explicam este comportamento permanecem desconhecidos.

Um estudo recente realizado por Sant’ Helena e colaboradores (2014)

demonstrou que ratos alimentados com dieta hipoproteica (8%), a partir do desmame

até o nono mês de idade exibiam taquicardia de repouso a qual era observada no 3º

(início do período de análise), 4º e 5º meses de idade (SANT’HELENA et al., 2014).

Nossos dados sugerem que a taquicardia induzida por este tipo de dieta pode ocorrer

até mesmo antes do 3º mês idade. Isto porque os procedimentos experimentais nos

animais RP foram conduzidos logo após o 35º dia pós-desmame e, desta forma, é

aceitável presumir que a taquicardia de repouso pode estar ligada principalmente a

anormalidades autonômicas, como um desequilíbrio simpato-vagal, ou cardíacas

geradas pela restrição proteica no período antecedente ao 35º dia pós-desmame,

como documentado por outros estudos realizados em ratos submetidos a restrição

proteica mais severa (MARTINS et al., 2011; RODRIGUES-BARBOSA et al., 2012;

PENITENTE et al., 2013; SILVA et al., 2015). Nossos resultados também mostraram

que os animais recuperados (R-RP) exibiram taquicardia de repouso em relação ao

grupo C105, sugerindo que essa anormalidade funcional gerada pela dieta hipoproteica

(8%) permanece após a recuperação da restrição proteica.

O bloqueio seletivo dos receptores AT1 por meio da injeção intravenosa de

losartan (20 mg/kg) aumentou a frequência cardíaca de repouso em todos os grupos

experimentais do presente estudo. Este efeito foi acompanhado por uma redução de

aproximadamente 10 mmHg na PAM nos animais C105. Estudos realizados por

Davisson e colaboradores demonstraram que o losartan, na dose de 20 mg/kg (i.v.),

foi capaz de reduzir aproximadamente 15 mmHg na PAM em camundongos

normotensos (DAVISSON et al., 1999). Portanto, nossos resultados estão

consistentes com o que é reportado pela literatura para animais controles. Por outro

lado, um certo cuidado deve ser exercido para a interpretação desses resultados,

porque nenhuma diferença na PAM foi observada nos animais C35, RP ou R-RP,

indicando que a hipotensão induzida pelo losartan pode depender da idade ou do

estado nutricional dos animais. Sugerimos também que o incremento na frequência

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cardíaca após a administração de losartan possa ser resultado de um ajuste

compensatório no débito mediado pelo barorreflexo em função da vasodilatação dos

leitos de resistência, na tentativa de manter os níveis de pressão arterial.

O aumento da variabilidade da pressão arterial tem sido amplamente reportado

como um prognostico de doenças cardiovasculares. (VERDECCHIA et al., 1996;

MIAO et al., 2006; TATASCIORE et al., 2007; PIERDOMENICO et al., 2009). Nós

observamos que os animais R-RP apresentaram níveis elevados da variabilidade da

PAS (como notado pelas análises no domínio do tempo) quando comparados aos

C105. Observações similares foram feitas por estudos prévios conduzidos em ratos

submetidos a restrição proteica (6%) durante 35 dias após o desmame (OLIVEIRA et

al., 2004). No entanto, nós não detectamos diferenças na variabilidade da PAS dos

animais RP, sugerindo que a modificação do comportamento da pressão arterial nos

animais R-RP poderia ser resultado do processo de recuperação e à readaptação da

ingestão de níveis normais de proteínas na dieta.

O presente estudo não identificou mudanças na sensibilidade do barorreflexo

espontâneo em nenhum grupo experimental durante a condição basal. Desta forma,

nossos resultados sugerem que o presente protocolo de restrição

proteica/recuperação, no ponto temporal em que avaliamos, afetaria de maneira

seletiva a atividade do quimiorreflexo arterial, sem alterar o ganho barorreflexo

espontâneo. Mostramos recentemente que ratos recuperados de um protocolo de

restrição proteica pós-desmame mais severo (6%) tiveram um aumento no ganho do

barorreflexo espontâneo (SÁ et al., 2014). Corroborando estes dados, estudos

anteriores demonstraram que a ativação do barorreflexo por injeção em bolus de

fenilefrina (0,25 a 4,0 μg/kg, i.v.) gerava repostas bradiarrítmicas que eram mais

intensas em animais submetidos a restrição proteica (6%) pós-desmame em relação

aos animais normonutridos (LOSS et al., 2007). Em adição, foi demonstrado que ratos

submetidos ao mesmo protocolo de restrição proteica (6%) exibiam diferentes padrões

de ativação neuronal em núcleos bulbares (medido por expressão de proteína cFos)

em resposta a estimulação intermitente do barorreflexo, indicando a participação do

sistema nervoso central na mediação das anormalidades barorreflexas em ratos sob

restrição proteica severa (6% de proteína na dieta) (RODRIGUES-BARBOSA et al.,

2012). Em conjunto, os resultados indicam as alterações no barorreflexo em ratos

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expostos à restrição proteica nas fases iniciais da vida, mesmo depois de

recuperados, pode depender da severidade da restrição em si, sugerindo mecanismos

adaptativos distintos com consequência ou sequelas distintas.

Os resultados também mostraram que o losartan reduziu a variabilidade do IS

e a SBR espontâneo no grupo R-RP, sugerindo que a sinalização por angiotensina II

endógena via receptores AT1 pode estar envolvida com a atividade do barorreflexo

nos animais R-RP. O losartan também diminuiu a SBR espontâneo no grupo RP. De

forma conjunta, estes achados suportam a ideia de que o envolvimento da

angiotensina II na manutenção do ganho do barorreflexo em ratos desnutridos pode

não ser revertido pela recuperação da restrição proteica. É possível que tal

observação seja resultado de uma complexa interação entre angiotensina II,

receptores AT1 e o processamento central do barorreflexo, uma vez que a habilidade

deste fármaco em atravessar a barreira hematoencefálica em doses menores a

utilizada no presente estudo já fora demonstrada anteriormente (ZHUO et al., 1994).

Por outro lado, o conhecimento a respeito do papel dos receptores AT1 centrais na

atividade do barorreflexo é limitado e os estudos têm fornecido resultados conflituosos

(PATON e KASPAROV, 1999; WANG et al., 2007). Todavia, não podemos descartar

a possibilidade de a angiotensina II, produzida centralmente, desempenhar um papel

maior no processamento central do barorreflexo nos animais RP e R-RP comparados

a seus grupos controles.

Os resultados da análise espectral revelaram que os componentes VLF e LF

da variabilidade da PAS se apresentaram elevados nos animais R-RP, o que poderia

sugerir um aumento da resistência vascular periférica (LANGAGER et al., 2007;

STAUSS, 2007). Ambos os componentes VLF e LF da variabilidade da PAS

correspondem a flutuações no tônus vasomotor que são induzidas por fatores

miogênicos (formando as ondas de VLF) ou pela atividade do sistema nervoso

simpático (ondas LF) (LANGAGER et al., 2007; STAUSS, 2007; ABDALA et al., 2012).

Sabe-se que as catecolaminas circulantes e a angiotensina II são os principais fatores

miogênicos ligados às bandas VLF (LANGAGER et al., 2007). O losartan normalizou

o componente VLF da variabilidade da PAS nos animais R-RP, sugerindo que um

aumento da ação da angiotensina II ou mesmo nos seus níveis plasmáticos poderiam

provocar aumentos relevantes na resistência vascular periférica neste grupo, apesar

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dos valores de pressão arterial se apresentarem normais. Sugerimos que mecanismos

vasculares angiotensinérgicos são alvos mais susceptíveis para adaptações

fisiológicas durante a restrição proteica e o retorno à ingestão de uma dieta com

conteúdo normal de proteínas poderia não restaurar completamente sua função

normal. De fato, mudanças em mecanismos angiotensinérgicos induzidos por

diferentes modelos de desnutrição têm sido já demonstradas por outros autores

(LANGLEY-EVANS e JACKSON, 1995; WOODS et al., 2001; SAHAJPAL e ASHTON,

2005). Especificamente em modelos de desnutrição gestacional, estas alterações

estão correlacionadas com a manutenção da hipertensão arterial em ratos adultos,

sendo esta hipertensão dependente de angiotensina II visto que o tratamento crônico

com captopril é capaz de revertê-la (LANGLEY-EVANS e JACKSON, 1995).

A relação entre desnutrição proteica (6%) pós-desmame e a elevação da

magnitude das respostas cardiovasculares geradas pela ativação do quimiorreflexo

arterial foi demonstrada previamente por estudos conduzidos por Penitente e

colaboradores (PENITENTE et al., 2007). Os autores atribuíram este achado a três

mecanismos potenciais: i) falha na síntese de oxido nítrico, ii) redução

neurotransmissores em sinapses das vias do quimiorreflexo ou iii) devido ao aumento

dos níveis teciduais e plasmáticos de angiotensina II. Neste modelo de restrição

proteica (6% de proteína na dieta), a recuperação não foi capaz de normalizar as

respostas do quimiorreflexo (SÁ et al., 2014). Os dados do presente estudo, mesmo

utilizando um modelo de restrição mais brando, reproduz, apesar das peculiaridades,

estas observações, especialmente porque nós demonstramos que a magnitude das

respostas pressóricas e bradiarrítmicas do quimiorreflexo são maiores nos animais R-

RP do que nos C105. Estes dados sugerem que vias simpáto-excitatórias e

parassimpáto-excitatórias ativadas pelo quimiorreflexo arterial poderiam estar mais

sensíveis ou excitáveis em animais R-RP.

Evidências experimentais mostram que o aumento da expressão de receptores

AT1 no corpúsculo carotídeo está associada com o aumento da atividade aferente dos

quimiorreceptores em ratos submetidos a hipóxia crônica (LEUNG et al., 2000;

LEUNG et al., 2003). No presente estudo, o losartan (20 mg/kg, i.v.) não produziu

nenhum efeito na curva dose-resposta para o KCN em nenhum grupo experimental,

sugerindo que os efeitos imediatos induzidos pela sinalização da angiotensina II via

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receptores AT1 podem não estar associados com a exacerbação das respostas

pressóricas e bradiarrítmicas do quimiorreflexo nos animais R-RP como sugerido

pelos dados de animais sob hipóxia crônica intermitente.

A restrição proteica durante o desenvolvimento perinatal eleva o VE e as

respostas ventilatórias geradas pela ativação do quimiorreflexo arterial por hipóxia

(ALVES et al., 2014). No presente estudo, VE foi maior no grupo R-RP em relação ao

grupo C105, mas nenhuma diferença foi detectada na taquipnéia induzida pela ativação

do quimiorreflexo pelo KCN (60 e 80 µg/kg). Nossos resultados podem indicar apenas

que as mudanças respiratórias induzidas pelo presente protocolo de

restrição/recuperação podem não depender das alterações da sensibilidade do

quimiorreflexo. Se o aumento da ventilação durante o repouso é consequência de

rearranjos de vias neuronais que controlam o sistema respiratório é algo que ainda

precisa ser confirmado. Embora a fR de repouso do grupo R-RP tenha se tornado maior

do que a do grupo C105 após o losartan, nenhuma diferença foi notada quando

analisamos o efeito da droga de forma individual no grupo R-RP ou no grupo C105,

sugerindo que as anormalidades no controle respiratório observadas nos animais R-

RP podem não estar associadas diretamente com os efeitos da sinalização dos

receptores AT1.

Alguns estudos defendem a ideia de que o controle central respiratório pode

ser afetado pela desnutrição durante as fases iniciais do desenvolvimento, o que pode

levar a transtornos fisiológicos no controle da respiração (GAULTIER e GALLEGO,

2005; ALVES et al., 2014). O núcleo do trato solitário (NTS) é a primeira estação

sináptica onde os impulsos aferentes provenientes do corpúsculo carotídeo são

processados (MACHADO et al., 1997; ALVES et al., 2014). Sugere-se que o L-

glutamato seja o principal neurotransmissor excitatório liberado no NTS pelos

impulsos aferentes dos quimiorreceptores, e este neurotransmissor pode produzir

diferentes respostas fisiológicas, dependendo do tipo de receptor ou neurônio pós-

sináptico ao qual ele se liga (VARDHAN et al., 1993; MACHADO et al., 1997). Uma

vez que o aumento da ventilação basal nos animais R-RP não foi acoplado a

mudanças na resposta taquipnéica pelo KCN, nós hipotetizamos que os ratos R-RP

podem exibir: i) diferentes configurações neuronais em regiões do sistema nervoso

central responsáveis pelo controle da ventilação; ii) uma atividade glutamatérgica

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maior em áreas responsáveis pelo processamento ventilatório. A segunda hipótese

apresenta precedentes na literatura uma vez que estudos prévios demonstraram que

a redução da neurotrasmissão glutamatérgica no NTS, pela microinjeção de ácido

quinurênico, produz uma redução significativa na frequência e na duração da atividade

do nervo frênico no repouso, sem alterar a resposta taquipnéica pela ativação do

quimiorreflexo (COSTA-SILVA et al., 2010). Por esta razão, nós sugerimos que o

aumento da ventilação de repouso nos animais R-RP poderia estar correlacionado

com um possível aumento da sinalização glutamatérgica no bulbo, especialmente nas

vias relacionadas com o “drive” ventilatório. No entanto, estudos futuros serão

necessários para melhor entender a fisiologia envolvida nas anormalidades

respiratórias observadas nos animais R-RP e para provar se estas alterações

poderiam estar, de fato, relacionadas com o aumento da sinalização glutamatérgica

no bulbo.

Em suma, este modelo de restrição proteica (8%) pós-desmame seguida pela

recuperação eleva a FC de repouso, a variabilidade da pressão arterial, o volume-

minuto respiratório e a magnitude das respostas cardiovasculares ativadas pelo

quimiorreflexo arterial em ratos. Este estudo destaca o fato de que o bloqueio agudo

dos receptores AT1 não é capaz de normalizar estes parâmetros, sugerindo que as

mudanças na sinalização de mecanismos angiotensinérgicos podem não estar

envolvidos diretamente as anormalidades observadas no controle cardiorrespiratório.

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Capítulo II

O treinamento físico crônico reduz a sensibilidade

do quimiorreflexo arterial e a frequência cardíaca de

repouso de ratos recuperados da restrição proteica

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1. Introdução

A prática regular de exercícios físicos tem sido amplamente reportada como

uma importante medida não farmacológica para mitigar e prevenir doenças

cardiovasculares (VÉRAS-SILVA et al., 1997; RONDON e BRUM, 2003; MONTEIRO

et al., 2007; LATERZA et al., 2008; CALVERT e LEFER, 2013). Estudos realizados

em humanos e em animais mostraram que o treinamento físico crônico de intensidade

moderada promove relevantes adaptações hemodinâmicas e histológicas que incluem

o remodelamento tecidual do coração e também a melhoria do controle autônomo

cardiovascular, proporcionando aumento da capacidade contrátil do coração, redução

da frequência cardíaca de repouso e também redução da pressão arterial em casos

de hipertensão (BRUM et al., 2004; MARTINS-PINGE, 2011; CRUZ et al., 2013;

D’SOUZA et al., 2014; TOTOU et al., 2015).

Dados de nossos estudos revelaram que ratos submetidos a um protocolo de

restrição proteica pós-desmame, seguido de um protocolo de recuperação, exibem

níveis elevados de FC de repouso, variabilidade da pressão arterial e magnitude das

respostas cardiovasculares evocadas pelo quimiorreflexo arterial (dados ainda não

publicados, referentes ao capítulo I). Embora não haja evidencias mostrando que o

treinamento físico poderia contribuir para a normalização do funcionamento do

quimiorreflexo neste modelo experimental, estudos conduzidos em animais com

insuficiência cardíaca crônica (CHF) mostraram que a hipersensibilidade do

quimiorreflexo, também notada na CHF, é completamente normalizada pelo

treinamento físico (ZUCKER et al., 2004; LI et al., 2008)

Ainda que a relação entre exercício físico e o quimiorreflexo arterial tenha sido

pouco explorada, algumas evidências sugerem que as vias autonômicas ativadas pelo

quimiorreflexo durante o treinamento físico são fundamentais para a mediação da

plasticidade de neurônios oxitocinérgicos pré-autonômicos no núcleo paraventricular

do hipotálamo (PVN), os quais parecem estar ligados com o aumento da atividade do

sistema nervoso parassimpático e, consequentemente, com a gênese da bradicardia

de repouso em animais normotensos e hipertensos (CRUZ et al., 2013). Em adição,

estudos têm fornecido resultados que ressaltam a habilidade do treinamento físico

crônico em modular a sensibilidade do quimiorreflexo arterial, muito embora,

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resultados distintos ligados ao modelo experimental e ao método de ativação dos

quimiorreceptores tenham sido documentados. Harthmann e colaboradores

mostraram que a ativação dos quimiorreceptores de ratos saudáveis por doses

crescentes de KCN (60, 80 e 100 µg/Kg) gerava respostas pressóricas e

bradiarrítmicas que eram mais intensas em animais treinados em relação aos

sedentários, sugerindo que a sensibilidade dos componentes para- e

simpatoexcitatório do quimiorreflexo arterial se torna elevada pelo treinamento físico

(HARTHMANN et al., 2007). No entanto, experimentos realizados em coelhos

treinados, também saudáveis, não observaram diferenças em relação aos sedentários

na frequência de disparos das fibras aferentes do corpúsculo carotídeo, na atividade

do nervo simpático renal e na ventilação durante a ativação dos quimiorreceptores

carotídeos por hipóxia (ZUCKER et al., 2004; LI et al., 2008).

Como mencionado anteriormente, diferente do que foi reportado em animais

controles saudáveis (HARTHMANN et al., 2007), o treinamento físico crônico reduz a

sensibilidade do quimiorreflexo arterial de animais com CHF (LI et al., 2008). Foi

demonstrado que habilidade do treinamento físico em reduzir a magnitude da resposta

simpatoexitatória à estimulação dos quimiorreceptores neste modelo experimental

está ligada com o aumento da expressão da enzima óxido nítrico sintase neuronal

(nNOS) no corpúsculo carotídeo (CC), a qual exerceria um papel fundamental na

redução da atividade elétrica aferente do CC (LI et al., 2008). De fato, estudos

mostraram que a administração de inibidores de isoformas da óxido nítrico sintase

(NOS) aumentava a atividade elétrica dos quimiorreceptores carotídeos por meio da

ativação de correntes de Ca2+ (elevando a [Ca2+]i), enquanto que essa reação era

claramente deprimida por meio de doadores da NOS (PRABHAKAR et al., 1993;

CHUGH et al., 1994; WANG et al., 1994).

Nossos resultados também apontaram que a restrição proteica/recuperação

eleva o envolvimento dos receptores AT1 na manutenção da sensibilidade do

barorreflexo espontâneo e na regulação do tônus vasomotor, sugerindo que a

angiotensina II poderia exercer algum papel diferenciado no controle autonômico

cardiovascular destes animais. A habilidade do treinamento físico crônico em

modificar o envolvimento da angiotensina II na regulação central e periférica do

sistema cardiovascular tem sido mostrada em estudos prévios conduzidos em

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P á g i n a | 60

diferentes modelos experimentais (BECKER et al., 2005; LI et al., 2008). Ratos

normotensos treinados apresentam um aumento da resposta pressórica produzida em

resposta à microinjeção de angiotensina II no núcleo rosto-ventrolateral do bulbo

(RVLM), o que tem sido entendido como uma resposta à redução da angiotensina II

endógena e ao aumento da expressão de receptores AT1 no RVLM (BECKER et al.,

2005). Em contrapartida, foi demonstrado que o treinamento físico crônico também é

capaz de normalizar a alta expressão de receptores AT1 na aorta de animais com CHF

(LI et al., 2008). De forma conjunta, estes achados indicam que as adaptações

humorais induzidas pelo treinamento físico crônico podem ser acompanhadas por

uma complexa dissensão entre a responsividade central e periférica da angiotensina

II. Contudo, se tais adaptações poderiam alterar o envolvimento dos receptores AT1

na regulação do barorreflexo e na responsividade do quimiorreflexo arterial de animais

recuperados de restrição proteica ainda não é estabelecido na literatura e embasado

por evidências experimentais.

Diante das evidências mencionadas neste capítulo, aventamos a hipótese de

que o treinamento físico crônico poderia normalizar a sensibilidade do quimiorreflexo

arterial, assim como abolir envolvimento dos receptores AT1 na manutenção do ganho

do barorreflexo e na regulação autonômica cardiovascular de animais recuperados da

restrição proteica pós-desmame.

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P á g i n a | 61

2. Objetivos

2. 1. Objetivo Geral

Avaliar o papel do treinamento físico sobre os mecanismos de controle

cardiovascular que envolvem angiotensina II e o quimiorreflexo arterial em animais

recuperados da restrição proteica pós desmame.

2. 2. Objetivos específicos

Avaliar, por meio da análise espectral, a participação do sistema nervoso

autônomo na regulação cardiovascular de ratos recuperados treinados.

Avaliar o efeito do bloqueio sistêmico de receptores AT1 sobre a regulação

autonômica cardiovascular em ratos recuperados treinados.

Quantificar as respostas pressóricas e bradiarrítmicas do quimiorreflexo em ratos

recuperados treinados.

Avaliar o efeito do bloqueio sistêmico de receptores AT1 sobre o componente

cardiovascular do quimiorreflexo em ratos recuperados treinados.

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P á g i n a | 62

3. Metodologia

Ratos Fischer com 21 dias de idade (pós desmame) foram obtidos do Centro

de Ciência Animal (CCA) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em

conformidade com protocolos aprovados pelo Comitê de Ética em Uso Animal

(protocolo nº 2013/24). Os animais foram gerados e mantidos no CCA com ração e

água ad libitum, ciclo claro-escuro de 12h e temperatura média de 23°C, até a

realização dos procedimentos experimentais. Animais individuais dentro de uma

mesma gaiola foram distintos uns dos outros por marcação da pelagem com solução

1% de ácido pícrico.

3. 1 Grupos Experimentais

Os animais foram divididos randomicamente nos seguintes grupos:

recuperados sedentários (R-RP S), que foram alimentados com dieta hipoproteica (8%

de proteína) durante 35 dias e, em seguida, com dieta normoproteica (20%) por 70

dias (n=10); recuperados treinados (R-RP T), que passaram pelo mesmo protocolo

alimentar do grupo anterior, mas com a adição de um protocolo de treinamento físico

durante as 8 semanas finais do período de recuperação (n=8). Os respectivos grupos

controles receberam apenas dieta normoproteica por 105 dias e foram mantidos como

sedentários (C105 S, n=10) ou treinados (C105 T, n=7). As dietas hipoproteica e

normoproteica foram mantidas isocaloricas (16,52kJ/g) por meio da reposição de

caseína por amido (tabela 1).

3. 2. Protocolo de treinamento físico

O programa de treinamento físico de natação com intensidade progressiva foi

realizado durante oito semanas, cinco sessões por semana, cumprindo as normativas

apresentadas abaixo. O treinamento foi realizado em baldes plásticos com dimensões

de 50 cm de diâmetro e 90 cm de profundidade, contendo água pré-aquecida a 30ºC.

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P á g i n a | 63

Em cada balde foram mantidos um número máximo de três animais durante as

sessões de treinamento.

1ª semana: o tempo de exercício variou de forma crescente ao longo da semana,

sendo que no primeiro dia os animais se exercitaram durante 10 minutos e, nos dias

seguintes, este tempo foi progressivamente aumentado (10 minutos por dia) até atingir

50 minutos. Não foi adicionado carga extra corporal.

2ª semana: o tempo de exercício foi mantido em 60 minutos por sessão durante toda

a semana, sendo que este tempo foi prescrito em 2 séries de 30 minutos (cumprindo

um intervalo de 15 minutos entre cada série). Não foi adicionado carga extra corporal.

3ª semana: 2 séries de 30 minutos. Carga extra de 1% do peso corporal foi anexada

à cauda.

4ª semana: 2 séries de 30 minutos. Carga extra de 1,5% do peso corporal.

5ª semana: 2 séries de 30 minutos. Carga extra de 2% do peso corporal.

6ª semana: 2 séries de 30 minutos. Carga extra de 2,5% do peso corporal.

7ª semana: 2 séries de 30 minutos. Carga extra de 3% do peso corporal.

8ª semana: 2 séries de 30 minutos. Carga extra de 3,5% do peso corporal.

3. 3. Procedimento cirúrgico

Ao final do período de tratamento destinado a cada grupo (35 ou 105 dias) e,

dentro de um período de 3 dias, os animais foram anestesiados com injeção

intraperitoneal de uma mistura de quetamina (80mg/kg) com xilazina (7mg/kg).

Cânulas de polietileno foram implantadas na artéria e na veia femorais esquerdas para

mensuração da pressão arterial pulsátil (PAP) e para administração de drogas,

respectivamente, em conformidade com procedimentos descritos previamente

(CARDOSO et al., 2009). Para a confecção das cânulas, foram utilizados tubos de

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polietileno PE-50 (com dimensões ajustadas de acordo com o tamanho do animal)

previamente soldados a tubos de polietileno PE-10 de 1 cm.

Em suma, a cirurgia consistiu de uma incisão ventral da pata traseira esquerda

onde a artéria e a veia foram dissecadas e cateterizadas utilizando-se a porção PE-

10 das cânulas. As extremidades PE-50 foram transpassadas sub-cutaneamente na

região lateral, com o auxílio de um trocater, para a cintura escapular e exteriorizadas

no dorso, próximo ao pescoço. Após a cirurgia, analgésico (cetoprofeno, 4mg.kg−1,

0.1mL intramuscular) e antibióticos [benzilpenicilina benzatina (600.000 UI),

benzilpenicilina procaína (300.000 UI), benzilpenicilina potássio (300.000 UI) e

estreptomicina sulfato (500 mg) 0,1mL subcutâneo] foram administrados. Cada animal

se recuperou da cirurgia em gaiolas individuais por um período de 48 horas com livre

acesso a água e comida.

3. 4. Procedimento de aquisição dos dados cardiovasculares

Findadas as 48 horas de recuperação da cirurgia, os animais foram levados à

sala de registro e ali permaneceram por pelo menos uma hora para adaptação às

condições ambientais do laboratório. Imediatamente antes do início do registro, 0,1

mL de uma solução de heparina em salina isotônica (1000 UI/mL) foi injetada na

cânula arterial (pela extremidade do PE50 exteriorizada) para evitar a formação de

coágulos durante o registro. A cânula arterial foi conectada a um sistema “spin”,

desenvolvido e construído pelo próprio laboratório, e este a um transdutor de pressão

(MLT0699) ligado a um sistema digital de aquisição de sinais biológicos PowerLab

(ADInstruments Pty Ltd, Austrália) (figura 3).

Os dados de pressão arterial foram aquisitados pelo transdutor de pressão e

pré-amplificados por um pré-amplificador (BridgeAmp). Os dados analógicos foram

convertidos a variáveis discretas por um conversor analógico para digital

(ADInstruments Pty Ltd, Austrália). Os dados foram registrados pelo software LabChar

7 for Windows e estocados em arquivos individuais para cada animal. A amplitude

(resolução espacial) da janela de digitalização foram configurados para 20 mV e os

dados foram digitalizadas com resolução temporal de 1 ms (1000 Hz).

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P á g i n a | 65

3. 5. Administração de drogas

Doses de cianeto de potássio (KCN - 20, 40, 60, 80 e 160 μg/kg), foram

randomicamente injetadas intravenosamente (i.v.) para a estimulação das respostas

cardiovasculares à ativação dos quimiorreceptores arteriais. As doses de KCN foram

baseadas em nosso estudo prévio (SÁ et al., 2014). Um intervalo mínimo de 10

minutos foi respeitado entre cada injeção. A estimulação do quimiorreflexo foi iniciada

60 minutos antes (basal) e após 90 minutos do bloqueio dos receptores AT1 por meio

da administração periférica de losartan (20 mg/Kg, i.v.). Os protocolos estão

sumariados na figura 5. A. As drogas foram preparadas usando salina tamponada com

fosfato (PBS), pH 7,20 como veículo. O volume injetado para cada droga variou entre

0,08 a 0,12 mL (para KCN) e 0,2 a 0,4 mL (para losartan), de acordo com o peso

corporal de cada rato.

3. 6. Análise dos parâmetros cardiovasculares

A pressão arterial média (PAM) e a frequência cardíaca (FC) foram registrados

durante o basal de forma continua por um período de 75 minutos após 15 minutos de

adaptação. Após o bloqueio dos receptores AT1, estas variáveis também foram

registradas por um período de 75 minutos após 15 minutos da injeção de losartan. A

sensibilidade do barorreflexo (SBR) espontâneo foi analisada por meio do método

descrito por Parati e colaboradores (PARATI et al., 1988), e reportado por nós

previamente (SÁ et al., 2014). O barorreflexo espontâneo foi analisado utilizando-se

seguimentos estáveis de registro da PAP que apresentavam janela temporal mínima

de 40 minutos. As respostas cardiovasculares geradas pela estimulação do

quimiorreflexo foram quantificadas detectando-se o pico máximo de variação da PAM

e da FC como resultado das injeções de KCN. A análise do quimiorreflexo foi iniciada

60 minutos antes (basal) e após 90 minutos do bloqueio dos receptores AT1.

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P á g i n a | 66

3. 7. Análise espectral

A variabilidade no domínio da frequência da pressão arterial sistólica (PAS) e

do intervalo sistólico (IS) foi avaliada pela análise espectral. Para tanto, sequências

de valores consecutivos de PAS e IS foram extraídos de segmentos de no mínimo 40

minutos do registro da PAP e analisados pelo software CardioSeries v2.4. As séries

temporais da pressão arterial sistólica (PAS) e do intervalo sistólico (IS) foram

redimensionadas para 10 Hz, dividas em segmentos contínuos de 512 valores e

sobrepostos a 50%. Os espectros da PAS e do IS foram calculados usando o algoritmo

transformada rápida de Fourier (FFT). Três componentes oscilatórios majoritários

foram observados a partir do espectro: bandas de muito baixa frequência (VLF; 0 a

0,20 Hz), de baixa frequência (LF; 0,20 a 0,75 Hz) e de alta frequência (HF; 0,75 a

3,00 Hz). As potências máximas dessas bandas foram comparadas entre os grupos.

A análise espectral foi realizada durante o basal e 15 minutos após a injeção de

losartan.

3. 8. Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas no software GraphPad Prism 6.01 for

Windows. Os resultados foram representados como média ± erro padrão da média

(SEM), e as comparações entre basal e após losartan foram feitas utilizando a análise

de variância (ANOVA) de duas vias, seguida do teste post-hoc de Holm-Sidak. As

comparações entre animais sedentários e treinados foram feitas utilizando ANOVA de

uma via, seguida do teste de Tukey. Dados foram considerados estatisticamente

consideráveis quando o valor de p foi menor do que 5% (p<0.05).

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P á g i n a | 67

4. Resultados

4. 1. Efeito do treinamento físico sobre a pressão arterial e frequência cardíaca

Os valores de PAM não foram diferentes entre os grupos R-RP S, R-RP T e

seus respectivos grupos controles, C105 S e C105 T (figura 14. A). Os animais R-RP S

apresentaram níveis elevados de FC de repouso em relação ao grupo C105 S [332 ± 7

bpm (C105 S) e 371 ± 10 bpm (R-RP S) P = 0,0349] (figura 14. B). No entanto, o mesmo

não foi observado entre os grupos R-RP T e C105 T [326 ± 12 bpm (C105 T) e 332 ± 11

bpm (R-RP T)]. Animais R-RP T apresentaram níveis reduzidos de FC de repouso em

relação aos animais R-RP S [371 ± 10 bpm (R-RP S) e 332 ± 11 bpm (R-RP T) P =

0,0481].

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P á g i n a | 68

Figura 14. O treinamento físico normaliza a frequência cardíaca de animais recuperados. Pressão

arterial média (PAM) e frequência cardíaca (FC) de animais R-RP S, R-RP T e seus respectivos

grupos controles (C105 S e C105 T). Os resultados foram representados como média ± SEM. *P <

0,05 comparado controle normonutrido; #P < 0,05 comparado com sedentário. ANOVA de uma via

seguida pelo teste de Tukey.

FC

(bp

m)

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

5 0 0#

S e d e n tá rio s T re in a d o s

*

PA

M(m

mH

g)

0

5 0

1 0 0

1 5 0

C 1 0 5 S (n = 1 0 )

R -R P S (n = 1 0 )

C 1 0 5 T (n = 7 )

R -R P T (n = 8 )

(A )

(B )

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P á g i n a | 69

4. 2. Efeito do treinamento físico sobre a sensibilidade do barorreflexo

espontâneo e sobre a variabilidade da PAS e do IS no domínio do tempo

A sensibilidade do barorreflexo (SBR) espontâneo não foi diferente entre os

grupos R-RP S, R-RP T e seus respectivos grupos controles (tabela 3). A variabilidade

da PAS foi maior nos ratos R-RP S em relação aos ratos C105 S [27,7 ± 2,8 mmHg2

(C105 S) e 47,2 ± 8 mmHg2 (R-RP S) P = 0,0408]. No entanto, nenhuma diferença foi

encontrada entre os grupos R-RP T e C105 T. Além disso, a variabilidade da PAS foi

menor no grupo R-RP T em relação ao grupo R-RP S [47,2 ± 8 mmHg2 (R-RP S) 20,2

± 3 mmHg2 (R-RP T) P = 0,0050]. A variabilidade do IS também foi menor no grupo

R-RP T em relação ao grupo R-RP S [22,5 ± 6 mmHg2 (R-RP S) 3,8 ± 1 mmHg2 (R-

RP T) P = 0,0269].

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C105 S (n=10) R-RP S (n=10) C105 T (n=7) R-RP T (n=8)

Variância, PAS (mmHg2) 27 ± 2 47 ± 8* 19 ± 2 20 ± 3

#

Variância, IS (ms2) 11 ± 3 22 ± 6 4 ± 1 3 ± 1

#

SBR (ms/mmHg) 0.42 ± 0.03 0.46 ± 0.07 0.528 ± 0.1 0.525 ± 0.1

Tabela 3. O treinamento físico normaliza a variabilidade da pressão arterial sistólica de animais

recuperados. PAS: Pressão arterial sistólica; IS: intervalo sistólico. Valores foram representados

como média ± SEM. *P < 0,05 comparado controle normonutrido; #P < 0,05 comparado com

sedentário. ANOVA de uma via seguida pelo teste de Tukey.

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P á g i n a | 71

4. 3. Efeito do treinamento físico sobre a variabilidade do IS no domínio da

frequência

A potência das bandas VLF, LF e HF do espectro do IS não foram diferentes

entres os grupos R-RP S e C105 S [VLF: 0,38 ± 0,08 ms2/Hz (C105 S) e 0,67 ± 0,14 ms2

(R-RP S)]; [LF: 0,35 ± 0,12 ms2 (C105 S) e 0,75 ± 0,21 ms2 (R-RP S)] e [HF: 0,87 ±

0,34 ms2 (C105 S) e 1,27 ± 0,2 ms2 (R-RP S)] e também entre os grupos R-RP T e C105

T [VLF: 0,54 ± 0,18 ms2 (C105 T) e 0,51 ± 0,13 ms2 (R-RP T)]; [LF: 0,52 ± 0,15 ms2

(C105 T) e 0,33 ± 0,08 ms2 (R-RP T)] e [HF: 1 ± 0,3 ms2 (C105 T) e 0,57 ± 0,1 ms2 (R-

RP T)].

4. 4. Efeito do treinamento físico sobre a variabilidade da PAS no domínio da

frequência

Os animais R-RP S exibiram picos da potência das bandas VLF e LF elevados

em relação ao grupo C105 S [VLF: 5,33 ± 0,62 mmHg2 (C105 S) e 10,75 ± 1,92 mmHg2

(R-RP S) p = 0,0131] e [LF: 4,89 ± 0,71 mmHg2 (C105 S) e 11 ± 1,64 mmHg2 (R-RP S)

p = 0,0074]. Contudo, nenhuma diferença foi notada entre os grupos R-RP T e C105 T

[VLF: 6 ± 0,8 mmHg2 (C105 T) e 6,4 ± 0,8 mmHg2 (R-RP T)] e [LF: 7,6 ± 1,8 mmHg2

(C105 T) e 5,5 ± 0,8 mmHg2 (R-RP T)] (figura 15). O pico da potência das bandas HF

foi similar entre os grupos.

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Figura 15. O treinamento físico normaliza a participação do sistema nervoso simpático e da

angiotensina II na regulação do tônus vasomotor de animais recuperados. Valores absolutos do

pico da potência das bandas de VLF, LF e HF do espectro da PAS dos animais R-RP S, R-RP T

e seus respectivos grupos controles (C105 S e C105 S). Os resultados foram representados como

média ± SEM. *P < 0,05 comparado controle normonutrido; #P < 0,05 comparado com sedentário.

ANOVA de uma via seguida pelo teste Tukey.

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P á g i n a | 73

4. 5. Efeito do treinamento físico sobre a sensibilidade do quimiorreflexo

Os resultados apresentados na figura 16.A mostraram que a resposta pressora

(Δ PAM) evocada pela estimulação do quimiorreflexo arterial por KCN (60 µg/kg, i.v.)

foi maior em animais C105 T em relação aos animais C105 S [25 ± 5 mmHg (C105 S) e

45 ± 7 mmHg (C105 T) p = 0,0153]. Além disso, as respostas bradiarrítmicas (Δ FC)

ativadas pelas doses de 60, 80 e 160 µg/kg de KCN foram maiores no grupo C105 T

em relação ao grupo C105 S [60 µg/kg: -27 ± 9 FC (C105 S) e -166 ± 44 FC (C105 T)

p < 0,0001; 80 µg/kg: -66 ± 7 FC (C105 S) e -170 ± 27 FC (C105 T) p = 0,0005; 160

µg/kg: -120 ± 16 FC (C105 S) e -241 ± 8 FC (C105 T) p < 0,0001].

Os resultados apresentados na figura 16.B mostraram que as respostas

pressóricas evocadas pelas doses de 60 e 80 µg/kg de KCN se apresentaram

reduzidas no grupo R-RP T em relação ao grupo R-RP S [60 µg/kg: 45 ± 4 mmHg

(R-RP S) e 23 ± 6 mmHg (R-RP T) p = 0,0042; 80 µg/kg: 60 ± 6 mmHg (R-RP S) e

37 ± 6 mmHg (R-RP T) p = 0,0029]. A magnitude das repostas bradiarrítmicas não

foram diferentes entre os grupos R-RP S e R-RP T. As curvas dose-respostas para o

KCN foram similares entre os grupos R-RP T e C105 S (figura 16.B).

A resposta pressora evocada pela dose de 60 µg/kg de KCN foi maior em

animais R-RP S em relação aos animais C105 S [25 ± 5 mmHg (C105 S) e 45 ± 4

mmHg (R-RP S) p = 0,0442] (figura 16.C). Contudo, não foi observado diferença

significativa para a comparação realizada entre os grupos R-RP T e C105 T. Por outro

lado, a resposta bradiarrítmica evocada pela mesma dose KCN (60 µg/kg) foi

consideravelmente menor em animais R-RP T em relação aos animais C105 T S [-166

± 44 bpm (C105 T) e -44 ± 36 bpm (R-RP T) p = 0,0442]. As respostas bradiarrítmicas

ativadas pelas doses de 60, 80 e 160 µg/kg de KCN foram mais elevadas no grupo

C105 T em relação ao grupo C105 S [60 µg/kg: -27 ± 9 FC (C105 S) e -166 ± 44 FC

(C105 T) p < 0,0001; 80 µg/kg: -66 ± 7 FC (C105 S) e -170 ± 27 FC (C105 T) p = 0,0016;

160 µg/kg: -120 ± 16 FC (C105 S) e -241 ± 8 FC (C105 T) p = 0,0002].

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P á g i n a | 74

-2 5 0

-2 0 0

-1 5 0

-1 0 0

-5 0

0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

F

C(b

pm

)

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

K C N (g /k g d e m a s s a c o rp o ra l)

P

AM

(mm

Hg

)

R -P R S (n = 1 0 ) C 1 0 5 S (n = 1 0 )

R -P R T (n = 8 )

#

#

(A )

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

K C N (g /k g d e m a s s a c o rp o ra l)

P

AM

(mm

Hg

)

C 1 0 5 T (n = 7 )

C 1 0 5 S (n = 1 0 )

#

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

K C N (g /k g d e m a s s a c o rp o ra l)

P

AM

(mm

Hg

)

C 1 0 5 T (n = 7 )

C 1 0 5 S (n = 1 0 )

#

R -R P S (n = 1 0 )

R -R P T (n = 8 )

*

#

-2 5 0

-2 0 0

-1 5 0

-1 0 0

-5 0

0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

F

C(b

pm

)

##

#

-2 5 0

-2 0 0

-1 5 0

-1 0 0

-5 0

0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

F

C(b

pm

)

##

#

*

(B ) (C )

Figura 16. A sensibilidade do componente cardiovascular do quimiorreflexo arterial é aumenta em animais C105 T e reduzida em animais R-RP T.

Respostas pressóricas (Δ PAM) e bradiarrítmicas (Δ FC) evocadas pela estimulação do quimiorreflexo por KNC (20, 40, 60, 80 e 160 µg/kg de massa

corporal, i.v.) nos animais C105 S e C105 T (A), R-RP S e R-RP T (B) e combinados (C). Os resultados foram representados como média ± SEM. #P <

0,05 comparado com sedentário; *P < 0,05 comparado com controle normonutrido. ANOVA de duas vias seguida do teste post-hoc de Holm-Sidak.

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P á g i n a | 75

4. 6. Efeito do losartan sobre a pressão arterial e frequência cardíaca de ratos

treinados

A PAM não foi diferente entre os grupos R-RP T e C105 T no basal nem após o

a administração de losartan (figura 17. A). Contudo, o losartan (20 mg/kg, i.v.) reduziu

a PAM em animais R-RP T [117 ± 2 mmHg (R-RP T, basal) e 112 ± 1 mmHg (R-RP

T, pós-losartan) P = 0,0236], mas não em animais C105 T [112 ± 1 mmHg (C105 T,

basal) e 107 ± 2 mmHg (C105 T, pós-losartan)]. A FC também não foi diferente entre

os grupos R-RP T e C105 T durante o basal nem após a administração de losartan,

mas foi notado que o losartan produziu taquicardia em ambos os grupos: [326 ± 12

bpm (C105 T, basal) e 369 ± 15 bpm (C105 T, pós-losartan) P < 0,0001] e [332 ± 11 bpm

(R-RP T, basal) e 368 ± 11 bpm (R-RP T, pós-losartan) P = 0,0003] (figura 17. B).

4. 7. Efeito do losartan sobre a sensibilidade do barorreflexo espontâneo e sobre

a variabilidade da PAS e do IS no domínio do tempo de ratos treinados

Os resultados sumarizados na tabela 4 mostraram que a administração de

losartan não modificou a sensibilidade do barorreflexo espontâneo e a variabilidade

da PAS e do IS no domínio do tempo em animais C105 T e R-RP T.

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B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

5 0 0

2 0 m g /k g ( i.v .)

FC

(bp

m) **

**

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

5 0

7 5

1 0 0

1 2 5

1 5 0

C 1 0 5 T (n = 7 )

R -P R T (n = 8 )

2 0 m g /k g ( i.v .)

PA

M(m

mH

g)

**

(A )

(B )

Figura 17. Receptores AT1 participam na manutenção da pressão arterial em animais R-RP T.

Pressão arterial média (A) e frequência cardíaca (B) dos animais R-RP T (vermelho) e C105 T (preto).

As médias foram coletadas no basal e após administração de losartan (20mg/kg, i.v.). Dados foram

representados como média ± SEM. **P < 0,05 comparado com basal. ANOVA de duas vias seguida

do teste post-hoc de Holm-Sidak.

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C105 T (n=7) R-RP T (n=8)

Basal Pós-losartan Basal Pós-losartan

Variância, PAS (mmHg2)

19 ± 2 23 ± 3 20 ± 3 18 ± 3

Variância, IS (ms2) 4 ± 1 3 ± 1 3 ± 1 1 ± 0,3

SBR espontâneo (ms/mmHg)

0,528 ± 0,09 0,528 ± 0,1 0,525 ± 0,1 0,362 ± 0,06

Tabela 4. Losartan não modifica a variabilidade no domínio do tempo da PAS, do IS e o ganho do

barorreflexo espontâneo em ratos treinados. PAS: Pressão arterial sistólica; IS: intervalo sistólico;

SBR: sensibilidade do barorreflexo. Valores foram representados como média ± SEM.

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4. 8. Efeito do losartan sobre a variabilidade do IS no domínio da frequência

A potência das bandas VLF, LF e HF do espectro do IS não foram diferentes

entres os grupos R-RP T e C105 T no basal [VLF: 0,54 ± 0,18 ms2/Hz (C105 T) e 0,51 ±

0,13 ms2/Hz (R-RP T)]; [LF: 0,52 ± 0,15 ms2/Hz (C105 T) e 0,33 ± 0,08 ms2/Hz (R-RP

T)] e [HF: 1 ± 0,3 ms2/Hz (C105 T) e 0,57 ± 0,1 ms2/Hz (R-RP T)] nem após a

administração de losartan [VLF: 0,21 ± 0,07 ms2/Hz (C105 T) e 0,21 ± 0,06 ms2/Hz (R-

RP T)]; [LF: 0,27 ± 0,08 ms2/Hz (C105 T) e 0,27 ± 0,06 ms2/Hz (R-RP T)] e [HF: 0,65 ±

0,1 ms2/Hz (C105 T) e 0,63 ± 0,14 ms2/Hz (R-RP T)].

4. 9. Efeito do losartan sobre a variabilidade da PAS no domínio da frequência

Os resultados apresentados na figura 18 mostraram que a potência das bandas

VLF, LF e HF do espectro da PAS foram similares entre os grupos R-RP T e C105 T

no basal e após a administração de losartan. Contudo, foi observado que os animais

R-RP T apresentaram uma redução do pico da potência das bandas VLF em reposta

ao losartan [VLF: 6,4 ± 0,8 mmHg2 (R-RP T, basal) e 3,1 ± 0,8 mmHg2 (R-RP T, pós-

losartan) p = 0,0155] figura 18. A, e um aumento do pico da potência das bandas LF

[5,5 ± 0,7 mmHg2 (R-RP T, basal) e 8,5 ± 1,2 mmHg2 (R-RP T, pós-losartan) p =

0,0268, figura 18.B]. O losartan não modificou a potência das bandas HF em nenhum

grupo experimental.

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Figura 18. Receptores AT1 participam na manutenção do tônus vasomotor em animais R-RP T. Valores

absolutos do pico da potência das bandas de VLF (A), LF (B) e HF (C) do espectro da PAS dos animais

R-RP T e C105 T. As médias foram coletadas no basal e após o losartan (20mg/kg, i.v.). Os resultados

foram representados como média ± SEM. **P < 0,05 comparado com basal. ANOVA de duas vias

seguida do teste post-hoc de Holm-Sidak.

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

2

4

6

8

C 1 0 5 T (n = 7 )

R -P R T (n = 8 )

2 0 m g /k g ( i.v .)

VL

F d

a P

AS

(mm

Hg

2)

**

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

5

1 0

1 5

2 0 m g /k g ( i.v .)

LF

da

PA

S

(mm

Hg

2) **

B a s a l P ó s -L o s a r ta n

0

1

2

3

4

2 0 m g /k g ( i.v .)

HF

da

PA

S

(mm

Hg

2)

(A )

(B )

(C )

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4. 10. Efeito do losartan sobre a sensibilidade do quimiorreflexo arterial

Os resultados apresentados na figura 19 mostraram que a administração de

losartan não alterou de maneira significativa a magnitude das respostas pressóricas e

bradiarrítmicas evocadas pela estimulação do quimiorreflexo em animais C105 T e R-

RP T.

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0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

K C N (g /k g d e m a s s a c o rp o ra l)

P

AM

(mm

Hg

)

C 1 0 5 T (b a sa l)

R -R P T (b a s a l)

C 1 0 5 T (p ó s -lo s a rta n )

R -R P T (p ó s - lo s a rta n )

-3 0 0

-2 5 0

-2 0 0

-1 5 0

-1 0 0

-5 0

0

4 0 6 0 8 0 1 6 0

F

C(b

pm

)

(A )

(B )

Figura 19. Losartan não modifica a sensibilidade do componente cardiovascular do quimiorreflexo

arterial em ratos treinados. Respostas pressóricas (A) e bradiarrítmicas (B) evocadas pela estimulação

do quimiorreflexo por KNC (20, 40, 60, 80 e 160 µg/kg de massa corporal, i.v.) nos animais R-RP T

(vermelho, n = 8) e C105 T (preto, n = 7). As médias foram coletadas na condição basal (linhas contínuas)

e após o losartan (linhas tracejadas). Os resultados foram representados como média ± SEM.

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5. Discussão

O ponto de partida para nossa análise dos efeitos do treinamento físico foi a FC

basal de ratos dos grupos R-RP T e C105 T. Os resultados não revelaram diferença

significativa entre os valores médios obtidos a partir dos dois grupos, sugerindo que o

treinamento físico crônico foi eficaz em normalizar a FC de repouso dos ratos

recuperados. A redução da FC basal em resposta ao exercício físico crônico tem sido

apontada como resultado de alterações no balanço autonômico sobre o sistema

cardiovascular, onde o tônus simpático sobre o coração e os vasos sanguíneos é

reduzido e o tônus parassimpático ao coração é aumentado (MEDEIROS et al., 2004;

MASTELARI et al., 2012). Contudo, evidências mais recentes demonstraram, por

meio de experimentos conduzidos in vitro, que a redução de correntes despolarizantes

na membrana das células do nodo sinoatrial, dada pela dessensibilização de canais

HCN4, seria o principal mecanismo mediador da redução da frequência de disparos

das células do nodo sinoatrial dos animais treinados (SOUZA et al., 2014) e, portanto,

contribuiria enormemente para a bradicardia de repouso observada neste grupo.

O presente protocolo de treinamento físico não induziu bradicardia de repouso

nos animais C105 T, sugerindo que a intensidade de treinamento adotada neste estudo

poderia ter sido superior as normativas de intensidade ideais para redução efetiva da

FC em animais normonutridos. De fato, estudos mostram que ratos espontaneamente

hipertensos (SH) submetidos a um protocolo de treinamento físico com a intensidade

configurada a 85% do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) não apresentavam

bradicardia de repouso, enquanto que esta adaptação era claramente observada em

ratos SH exercitados a 55% do VO2máx (VÉRAS-SILVA et al., 1997). Embora a

intensidade de esforço não tenha sido investigada no presente estudo, evidências

recentes corroboram nossos achados, mostrando que ratos Fischer normonutridos

submetidos a um protocolo de natação com carga de até 3% do peso corporal não

desenvolviam bradicardia de repouso (SOARES et al., 2011). Com base nestes

achados, postulamos que a normalização da FC basal nos ratos R-RP T possa ter

decorrido de processos adaptativos em mecanismos distintos aos apresentados na

literatura ligados ao treinamento físico de intensidade moderada (HARTHMANN et al.,

2007; MASTELARI et al., 2012; CRUZ et al., 2013; CHAAR et al., 2015) uma vez que

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ratos normonutridos não apresentam bradicardia de repouso, mas ratos que passaram

pela restrição e foram recuperados apresentam redução da FC basal.

Dados da literatura têm mostrado que o treinamento físico crônico realizado em

esteira promove melhorias significativas na sensibilidade do componente taquicárdico

e bradicárdico do barorreflexo de animais normotensos e hipertensos (CAVALLERI et

al., 2011). Contudo, estudos de Soares e colaboradores (SOARES et al., 2011)

demostraram que a resposta bradicárdica do barorreflexo não é alterada em ratos

normotensos submetidos a um protocolo de treinamento físico de natação com carga

de até 3% do peso corporal. Os nossos resultados se assemelham a este achado,

especialmente porque demonstramos que o ganho do barorreflexo espontâneo não

foi afetado pelo treinamento de natação em nenhum grupo experimental. Contudo, a

capacidade de o losartan reduzir a atividade deste reflexo, como observado

previamente nos animais R-RP S, não foi notado nos ratos R-RP T, sugerindo que a

participação da angiotensina II na regulação do barorreflexo espontâneo possa ter

sido minorada pelo treinamento físico de natação em ratos recuperados.

O treinamento físico crônico é eficaz em reduzir a concentração dos níveis

circulantes de angiotensina II e da atividade sérica da enzima conversora de

angiotensina (ECA) em ratos com insuficiência cardíaca crônica (CHF) (GOMES-

SANTOS et al., 2014). É possível que o treinamento físico também reduza os efeitos

da angiotensina II em ratos recuperados da restrição proteica, uma vez que o aumento

na intensidade da banda VLF do espectro da PAS, como observado no grupo R-RP

S, não foi notado no grupo R-RP T. Contudo, as anormalidades em mecanismos

angiotensinérgicos provocados pela restrição/recuperação não são completamente

controladas pelo treinamento físico. Os resultados mostraram que o bloqueio dos

receptores AT1 provoca uma redução significativa na potência das bandas VLF ao

mesmo tempo que aumenta a intensidade da banda LF no espectro da PAS de

animais R-RP T. Estes dados podem indicar que a angiotensina II exerce algum papel

na manutenção da pressão arterial por meio da regulação do tônus vasomotor, e uma

vez bloqueada, justificaria o aumento compensatório da participação do sistema

nervoso simpático na regulação da pressão arterial e, consequentemente, na

intensidade da banda LF no espectro da PAS.

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Os resultados obtidos a partir da análise do quimiorreflexo arterial mostraram

que as respostas pressóricas e bradiarrítmicas evocadas pelo KCN (60µg/kg, i.v.)

foram mais intensas no grupo C105 T do que no grupo C105 S, indicando que o

treinamento físico é capaz de aumentar a sensibilidade do componente cardiovascular

do quimiorreflexo em animais normonutridos. A elevação da magnitude das respostas

para- e simpatoexitatórias evocadas pela administração de KCN em animais treinados

fisicamente foi demonstrado previamente por estudos de Harthmann e colaboradores

(HARTHMANN et al., 2007), o que tem sido sugerido ser resultado de alterações no

controle autônomo cardiovascular, de adaptações na via aferente do quimiorreflexo

ou de alterações crônicas no funcionamento dos quimiorreceptores devido as

constantes mudanças de concentração de gases e metabolitos geradas pelas sessões

de treinamento (HARTHMANN et al., 2007). Curiosamente, os ratos R-RP T

apresentaram uma redução da sensibilidade do quimiorreflexo arterial em

comparação ao grupo R-RP S, sugerindo que a restrição proteica/recuperação

poderia afetar diretamente a maneira como o quimiorreflexo responde ao treinamento

físico crônico. No entanto, consideramos também que este efeito poderia ocorrer

indiretamente devido a diferenças relativas de intensidade de esforço exercida pelos

grupos C105 T e R-RP T.

A elevação da expressão de receptores AT1 no corpúsculo carotídeo está

associada com a hipersensibilidade do quimiorreflexo arterial em animais com CHF

(LI et al., 2006). Entretanto, é observado que o treinamento físico crônico é capaz de

normalizar a expressão destes receptores e, consequentemente, a sensibilidade do

quimiorreflexo arterial no mesmo modelo experimental (LI et al., 2008). Contudo,

baseando-se em nossos resultados, os quais mostraram que o losartan (20mgkg, i.v.)

não alterou a magnitude das respostas cardiovasculares evocadas pelo KCN em

nenhum grupo experimental, sugerimos que os receptores AT1 não estão associados

com as anormalidades na sensibilidade do quimiorreflexo arterial em animais R-RP S

e R-RP T.

Em suma, mostramos pela primeira vez que um protocolo de treinamento físico

crônico de natação com carga é eficiente em normalizar a FC de repouso e a

variabilidade da pressão arterial sistólica no domínio do tempo e da frequência em

animais recuperados da restrição proteica pós-desmame. Os nossos resultados

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permitiram concluir também que o treinamento físico crônico reduz a sensibilidade do

quimiorreflexo arterial neste modelo experimental, assim como inibe a participação da

angiotensina II na modulação do barorreflexo espontâneo.

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6. Conclusão

Tendo em vista os resultados apresentados no presente estudo, determinou-se

que a restrição proteica (8%) pós-desmame, seguida por um protocolo de recuperação

alimentar, eleva a FC de repouso, a variabilidade da pressão arterial, o volume-minuto

respiratório e a magnitude das respostas cardiovasculares ativadas pelo

quimiorreflexo arterial em ratos. Logo, sugere-se que o retorno a uma dieta com

conteúdo normal de proteína após a restrição proteica pelo período avaliado define

um comportamento diferenciado do componente cardiovascular do quimiorreflexo

arterial. Curiosamente o componente ventilatório não foi alterado, apesar da alteração

basal do volume-minuto, sugerindo que o protocolo de recuperação/restrição altera o

controle basal da ventilação pulmonar. Também sugere-se que o comportamento

diferenciado do quimiorreflexo parece não envolver ativação de receptores AT1 pela

angiotensina II.

Os resultados também mostraram a habilidade do treinamento físico crônico de

natação, aplicado durante a recuperação, em normalizar a FC de repouso e a

variabilidade da pressão arterial em ratos recuperados da restrição proteica pós-

desmame. Além disso, o presente estudo ressalta o fato de que as adaptações

induzidas pelo treinamento físico crônico são acompanhadas por uma redução da

responsividade do quimiorreflexo arterial neste modelo experimental, possibilitando

assim uma normalização das respostas cardiovasculares evocadas pela ativação dos

quimiorreceptores por KCN entre animais recuperados treinados e controles treinados

ou sedentários.

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