quem É o profissional da informaÇÃo?* · pela federação internacional de informação e...

9
ARTIGOS QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* WHO IS THEINFORMATlON PROFESSIONAL? Maria das Graças TARGINO** RESUMO Considerando a importância de se conhecer o pelfil do profissional da informação como forma de fornecer a bibliotecários e cientistas da informação diretrizes para uma atuação compatível com o contexto mundial, em que impera a denominada sociedade da informação, após a necessária contextualização, discutem-se as questões conceituais que rOlldam a expressão - profissiollal da illformação. A seguir, arrolam-se os requisitos básicos e as atribuições passíveis de serem exercidas por esses profissiollais 110 século que se avizillha, o que pressupõe rever a formação dos bibliotecários, a partir da graduação. Palavras-chave: PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO - CONCEITO; PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO - REQUISITOS; PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO - ATRIBUIÇÕES; BIBLIOTECÁRIOS - FORMAÇÃO. ABSTRACT Takillg imo cOllsideration the importance of being familiar with the illformation professiollal profile, after his necessary context in the contemporary society, we discuss the ideas that hang around the expression - information professional. Following, we list the basic qualities liable to be carried out by this professional in the next century, what assumes to examine carefully the formatioll of librarians, since the graduatioll. Keywords: INFORMATION PROFESSIONAL - CONCEPTS, INFORMATlON PROFESSIONAL - REQUISITES, INFORMATION PROFESSIONAL - ASSIGNMENTS 1. INTRODUÇÃO biblioteca, acreditamos que, não obstante as denominações diversificadas ao longo dos tempos, a biblioteca é e sempre foi a instituição social a que compete exercer as funções de preservação e disseminação das informações e, por conseguinte, o bibliotecário, o profissional encarregado da concretização de tais objetivos. A princípio, julgamos essencial contextuali- zar o profissional da informação na atualidade, buscando compreender o porquê de sua emergência e em que circunstâncias isto ocorreu. Mesmo sem discorrer sobre os aspectos da história do livro e da (') Palestra proferida no I INFORMAL - I Painel AIagoano em Ciência da Informaçãoll Ciclo de Debates em Ciência da Informaçãoll Ciclo de Debates sobre a Informação em Alagoas, Maceió - AL, 23 a 27/10/00. (U)Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília - Professora Visitante da Universidade Federal do Piauí Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 61-69, julho/dezembro/2OGO

Upload: others

Post on 16-Nov-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

-

j

J

ARTIGOS

QUEM É O PROFISSIONALDA INFORMAÇÃO?*

WHO IS THEINFORMATlON PROFESSIONAL?

Maria das Graças TARGINO**

RESUMO

Considerando a importância de se conhecer o pelfil do profissional da informação comoforma de fornecer a bibliotecários e cientistas da informação diretrizes para uma atuaçãocompatível com o contexto mundial, em que impera a denominada sociedade da informação,após a necessária contextualização, discutem-se as questões conceituais que rOlldam aexpressão - profissiollal da illformação. A seguir, arrolam-se os requisitos básicos e asatribuições passíveis de serem exercidas por esses profissiollais 110século que se avizillha, oque pressupõe rever a formação dos bibliotecários, a partir da graduação.

Palavras-chave: PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO - CONCEITO; PROFISSIONAL DA

INFORMAÇÃO - REQUISITOS; PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO - ATRIBUIÇÕES;BIBLIOTECÁRIOS - FORMAÇÃO.

ABSTRACT

Takillg imo cOllsideration the importance of being familiar with the illformation professiollalprofile, after his necessary context in the contemporary society, we discuss the ideas that hangaround the expression - information professional. Following, we list the basic qualities liableto be carried out by this professional in the next century, what assumes to examine carefullythe formatioll of librarians, since the graduatioll.

Keywords: INFORMATION PROFESSIONAL - CONCEPTS, INFORMATlONPROFESSIONAL - REQUISITES, INFORMATION PROFESSIONAL -ASSIGNMENTS

1. INTRODUÇÃO biblioteca, acreditamos que, não obstante asdenominações diversificadas ao longo dos tempos, abiblioteca é e sempre foi a instituição social a quecompete exercer as funções de preservação edisseminação das informações e, por conseguinte, obibliotecário, o profissional encarregado daconcretização de tais objetivos.

A princípio, julgamos essencial contextuali-zar o profissional da informação na atualidade,buscando compreender o porquê de sua emergênciae em que circunstâncias isto ocorreu. Mesmo semdiscorrer sobre os aspectos da história do livro e da

(') Palestra proferida no I INFORMAL - I Painel AIagoano em Ciência da Informaçãoll Ciclo de Debates em Ciência da Informaçãoll Ciclo deDebates sobre a Informação em Alagoas, Maceió - AL, 23 a 27/10/00.

(U)Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília - Professora Visitante da Universidade Federal do Piauí

Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 61-69, julho/dezembro/2OGO

Page 2: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

62 M.G. TARGINO

No entanto, a expressão - profissional dainformação -, disseminada em nível mundial por teóricos,como Mason (1990) e Ponjuan (1993, 1995)e fortalecidapela Federação Internacional de Informação eDocumentação (FID), ao criar um grupo de estudodedicado ao moderno profissional da informação (MPI),é relativamente nova, haja vista que se vincula à chamadasociedade da informação ou sociedade do conhecimento.Esta caracteriza-se pela ênfase dada à informação e aoseu acesso à informação, ocasionando transformaçõesprofundas nos sistemas de produção e consolidando osetor quaternário da economia, que incorpora todos osindivíduos, instituições, processos, produtos e atividadesque fazem parte do ciclo de vida da informação desde asua geração - inovação científica, artística e tecnológica- até o seu consumo - absorção e aplicação.

Especificamente, em termos de Brasil, o próprioGoverno Federal, através do Ministério da Ciência eTecnologia, vem se preocupando, cada vez mais, emestabelecer as diretrizes de um programa de ações rumoà sociedade da informação, o que está descrito nodenominado "Livro Verde" (2000), que condensapropostas de ações abrangentes e ambiciosas,envolvendo instituições públicas e privadas, o quejustifica sua repercussão nomeio acadêmico e científico.O Programa Sociedade da Informação objetiva viabilizarum projeto de dimensão nacional para integrar odesenvolvimento e a utilização de serviços decomputação, comunicação e informação e, portanto, desuas aplicações no âmbito da sociedade, de forma aconsolidar a pesquisa e a educação (Miranda et aI.,2000), assegurando à economia brasileira condiçõesreais de competir no mercado mundial. Em síntese, é abusca de firmar a expressão sociedade da informaçãocomo modelo de processo desenvolvimentista social eeconômico, em que aquisição, armazenamento,processamento, transmissão e disseminação deinformação desempenham "...papel central na atividadeeconômica, na geração de novos conhecimentos, nacriação de riqueza, na definição da qualidade de vidae satisfação das necessidades dos cidadãos e das suaspráticas culturais" (Legey; Albagli, 2000, p. I).

Em termos teóricos e práticos, o setor quaternáriointerage com o setor primário, secundário e terciário,resultando, de forma direta ou indireta, dessacontribuição. O avanço tecnológico é decisivo noprocesso de transformação sócio-cultural, mas é asociedade que permite que isso ocorra, servindo desuporte para as inovações, uma vez que a tecnologia nãotem autonomia, pois é instrumentalizada pelo homem,em meio a relações estabeleci das entre cultura,tecnologia e sociedade. Logo, é inviável estabelecer ummodelo universal de sociedade da informação,

sobretudo, no caso dos países não desenvolvidos, onde,ao lado dos beneficiados pelas inovações tecnológicas,grassam os marginalizados, com ênfase para osanalfabetos, no sentido amplo do termo, aliados àsvítimas do analfabetismo tecnológico.

Logo, o espaço quaternário determinado pelasnovas tecnologias não é algo que se superpõe à condiçãohumana, à cultura, à sociedade, à vida. Urge enfatizarmenos a tecnologia e mais as necessidades sociais,mesmo sem repudiar oconhecimento como fundamentodo poderio econômico dos povos. A qualidade de vidae as expectativas de transformações sociais edesenvolvimento econômico - padrão de vida, trabalho,lazer, educação e mercado - dependem, crucialmente,da informação. Sem negar o advento da sociedade dainformação como decorrente da convergência entre ossetores de telecomunicações e as novas tecnologias deinformação e de comunicação, proporcionando maiorcompetitividade às empresas e à economia dos paísescomo um todo, é preciso assimilar que a sociedade dainformação caracteriza-se pela possibilidade de acessoe capacidade de utilização da informação e doconhecimento, mas privilegia a qualidade de vida dosindivíduos e das coletividades. Exemplificando, apesardo caráter revolucionário do wap, tecnologiaque permiteo acesso sem fio à Internet via telefonia móvel ouconvencional, sua consolidação depende, crucialmente,do nível de satisfação dos usuários, ao longo dos dias.

Sob tal perspectiva, tomando como referência opensamento de CasteIls (2000, p. 78), afirmamos quesão cinco os aspectos centrais do paradigma datecnologia da informação, que representam a basematerial da sociedade da informação. Em primeirolugar, a informação figura como sua matéria prima:"...são tecnologias para agir sobre a informaçÜo, nãoapenas informação para agir sobre a tecnologia... " Asegunda característica refere-se à penetrabilidade dosefeitos das inovações tecnológicas. Como a informaçãointegra o nosso cotidiano, todos os processos daexistência individuais e coletivos são condicionadospelos novos meios tecnológicos. Em terceiro lugar, estáa lógica de redes. Passível de ser implementada emqualquer tipo de processo e organização graças às novastecnologias, a rede, enquanto configuração topológica,permite estruturar o não estruturado, emborapreservando a flexibilidade, porquanto o não estru-turado é a força maior da inovação das atividadeshumanas. Em se tratando do quarto aspecto, o paradigmada tecnologia da informação fundamenta-se naflexibilidade, ou seja, prima pela capacidade dereconfiguração, tanto de instituições, como de processos,o que é decisivo para a sociedade hodierna, marcada porconstantes transformações. Finalmente, como antes

Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 61-69, julho/dezembro/2OGO

I;.

t

l

(IJ..I.

1

1

1

l

L

l

tl

r

~

!

~.

+l

,

1~

~,

i,t-

I

l

]

Page 3: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

-

QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?

I.

I.

delineado, a revolução tecnológica fundamenta-se naconvergência de tecnologias específicas para umsistema altamente integrado: microeletrônica,telecomunicações, optoeletrônica e computadoresarticulam-se aos sistemas de informação.

Diante do exposto, afirmamos que o profissionalda informação emerge pari passlt com a sociedade dainformação, que, por sua vez, apóia-se no avançotecnológico, intimamente vinculado com o processo deglobalização nos moldes atuais, porquanto aglobalização pressupõe, irremediavelmente, acessoàs novas tecnologias de informação e de comunicação,o que reforça a informação como mola propulsora dastransformações que afetam a sociedade contemporânea.A verdade é que a globalização não é um fato novo. Emais, a globalização é um fenômeno ambivalente. Dentresuas inúmeras vantagens, enunciadas pela possibilidadede uma civilização transnacional com acesso igualitárioa aplicações tecnológicas e a informações em todos osníveis, destacam-se: (a) expansão do comércio mundial,cujo crescimento é de cerca de 15vezes em volume nosúltimos 20 anos; (b) considerável fluxo de capital rumoaos mercados emergentes, ou seja, incremento deinvestimentos estrangeiros em países periféricos; (c)surgimento de zonas de alta tecnologia; e (d) reduçãodos custos das telecomunicações. Paradoxalmente,porém, vem sendo apontada como elemento esfaceladordas fronteiras nacionais ou como instrumento dedesemprego e miséria, agravando a incerteza econômicadas nações e dos indivíduos frente às crises globais(AIcântara, 2000).

No entanto, estudos sintetizados pela fontesupracitada comprovam que a globalização não podeser responsabilizada pela miséria que ainda impera,sobretudo, na África, sul da Ásia e América Latina. Aocontrário. Enquanto oBanco Mundial registra evoluçãoeconômica quando da globalização, no caso daspopulações absolutamente miseráveis, que sobrevivemcom menos de um dólar por dia, pesquisa recente deuma organização norte-americana, Fundação Heritage,prova que os países mais pobres do mundo sãoexatamente os que permanecem à margem daglobalização, quase sempre situados no continenteafricano. São nações que além de nada importarem eexportarem, não têm moeda transacionável e nem atraemcapital externo. Em contraposição, nos países maisabertos à globalização, a renda per capita, grossomodo, é 10 vezes maior do que a daqueles que tentamproteger-se da economia mundializada. Ademais, aoque parece, o capitalismo "ostra" - nacionalismoexacerbado; fechamento das economias; culto à inflação;manutenção das reservas de mercado - concorre paramuito da pobreza que os grupos antiglobalizantes, cada

J

I.

I~

J

J

f.I

~

63

vez mais freqüentes, acusam a globalização de serincapaz de amenizar ou solucionar.

Após posicionarmos oprofissional da informaçãono contexto mundial, em que globalização e novastecnologias marcam presença, no momento seguinte,discutimos as questões conceituais, estabelecendorequisitos, habilidades e atribuições passíveis de seremexercidas por esses profissionais no século que seavizinha, o que pressupõe rever a sua formação, a partirda graduação. Conhecer o perfil do profissional dainformação propicia aos discentes e docentes deBiblioteconomia e/ou Ciência da Informação, bem comoao bibliotecário, ao cientista da informação e aopesquisador, diretrizes para uma atuação mais adequadaà realidade atual, além de lhe favorecer motivações parabuscar, mais e mais, padrões pessoais e profissionais deexcelência.

2. AFINAL, QUEM É O PROFISSIONAL DAINFORMAÇÃO?

Mas, afinal, quem é o profissional da informação?O que é ser profissional da informação? Analisemos, apartir do próprio termo, considerando as palavrasconstitutivas. Profissão, do latim professione, remeteao ato ou efeito de professar e, portanto, significadeclaração ou confissão pública de uma crença,sentimento, opinião ou modo de ser, conduzindo àconcepção ampla de atividade ou ocupaçãoespecializada, que requer preparo e formação. Daí,profissional designar quem exerce uma atividade porprofissão ou ofício, isto é pessoa que exerce, como meiode vida, uma ocupação especializada.

Em se tratando de informação, a discussão ébem mais complexa e praticamente inesgotável. O termoadquire caráter "camaleônico", pois assume funções,papéis e níveis variados, sendo empregado de formadiversificada, constituindo juntamente com asconcepções de dados, conhecimento e sabedoria, o queMason (1990) chama de "hierarquia quádrupla ". Noentanto, independente da descrição detalhada acercadessas questões, constante de nossa tese de doutoramento(Targino, 1998), de forma genérica, lembramos que setrata de um termo advindo do latim informare(originalmente, a ação de formar matéria, tal comopedra, madeira e couro), e que, segundo Wurman (1992,p. 42), tem como definição mais comum "...a ação deinformar, formação ou moldagem da mente ou docaráter, treinamento instrução; ensinamento;comunicação de conhecimento instrutivo. "Sob tal óticae de forma extremamente simplista, o profissional da

1Transinformação, v. 12, nQ2, p. 61-69, julho/dezembro/2000

"

Page 4: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

.r

64 M.G. TARGINO

informação é aquele cuja ocupação especializadaconsiste em lidar com a informação.

Ressaltamos a expressão ocupaçãoespecializada. Isto porque, qualquer profissional parasobreviver no mercado de trabalho e até mesmo paramanter relações com seus pares, é forçado a assimilarum corpo de conhecimentos que se amplia a cadasegundo e a lidar, sistematicamente, com um númerorazoável de informações. A chance de enfrentar acompetição do dia a dia com o que se aprendeu nasuniversidades, em qualquer área do conhecimento, ézero. Uma carreira profissional vai de 30 a 35 anos. Noritmo atual dos avanços tecnológicos e científicos, oindivíduo atravessa quatro ou cinco revoluçõestecnológicas, o que agrava a chance de defasagem eexige extrema versatilidade, versatilidade esta, vinculadaem nível de informação que detém, a tal ponto queWurman (1992, p. 29) afirma: "Somos o que lemos.Tanto em nossa vida profissional quanto pessoal, somosjulgados pela informação que utilizamos. A informaçãoque ingerimos molda nossa personalidade, contribuipara as idéias que formulamos e dá cor à nossa visãode mundo. "

Mas, paradoxalmente, é este superdimen-sionamento da informação na sociedade da informaçãoo maior responsável por um dos males do século - aansiedade de informação -, resultante do fosso cada vezmais profundo entre o que o ser humano é capaz deapreender e o que acha que deveria compreender, diantedas expectativas dos demais. Quase todos apresentamcerto grau de ansiedade de informação, que se manifestade formas variadas e inesperadas. É a surpresa diante daconstatação de que é o único do grupo que desconheceas peripécias de certo ilusionista. É o desencanto desentir-se excluído ante a discussão da obra do romancistaque ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. É o mal-estarpela falta de conhecimento diante do último escândalopolítico. É a impossibilidade de descrever, comsegurança, o Projeto Genoma. E assim sucessivamente...Antes, durante a era industrial, o mundo era governadopelos recursos naturais. Hoje, é governado pelainformação. Mas, se os recursos são finitos, a informaçãoparece e é infinita. Mesmo assim, o homemcontemporâneo é, inexoravelmente, julgado por seupadrão de consumo informativo.

No dia-a-dia, vemos que, qualquer pessoa,independente de sua área de atuação, precisa deinformações, sem que isto o transforme em profissionalda informação. Tanto pelo fato de tratar-se de um novoprofissional (ou, pelo menos, assumindo novos papéis efunções), como por se referir a uma atividade queincorpora aspectos multidisciplinares, não consolidadosnos cursos de graduação, o profissional da informação

ainda possui conceituação frágil. Como conseqüência,há uma série de cognomes dispersos na literatura, taiscomo intérprete do cenário de informação; vendedor deserviços de informação; informatioll packager, provedore facilitador na transferência da informação; informationbroker. E mais, terminologias bem amplas, comomanager, educador; tomador de decisões, estão sendoempregadas para nomear o profissional da informação,como Guimarães (1998) enumera.

Uma prova evidente da fragilidade conceitual éa pesquisa efetivada por Witter e divulgada em 1999,com a finalidade de identificar o perfil, ou seja, ostraços característicos desse profissional, dentrebibliotecários e profissionais com formações distintas,como direito, letras, processamento de dados,administração, pedagogia, zootecnia, economia eengenharia civil, todos eles matriculados em curso deespecialização sobre gerenciamento estratégico dainformação. Quando solic.itados a definir o profissionalda informação, 30 depoentes apresentam 91 respostas.Dentre elas, oprofissional que trabalha com a informaçãoalcança o primeiro lugar, com 16pontos, seguindo-se asalternativas: presta serviço de informação (14); éatualizado; visa à satisfação do usuário (ambas, com 12menções); trabalha com suportes e meios variados (seis);é pesquisador (quatro). Daí em diante, as respostas sãonitidamente dispersas e o que é preocupante, misturamaspectos conceituais com atributos, tais como: elo deligação entre usuário e informação; facilitador deinformação; competente; gerente de informação; crítico;paciente; compreensivo; dinâmico, atencioso; educado;responsável; atuante; social; envolvente; instigador;carismático; humilde; claro; colaborador etc.

De qualquer forma, as respostas maissignificativas confirmam a nossa premissa, segundo aqual o profissional da informação refere-se àqueles quese dedicam à informação, o que implica atualização,capacidade de pesquisa e de manuseio de suportesvariados, tendo em vista, sempre, as demandasinformacionais do público. É o que justifica, cada vezmais, assegurar que profissional da informação é quemadquire informação registrada, não importa em que tipode suporte, organiza, descreve, indexa, armazena,recupera e distribui essa informação, tanto em suaforma original, como em produtos elaborados a partirdela, excluindo os produtores de informação, quaissejam, os cientistas e tecnólogos.

Assim, todos os bibliotecários são ou deveriamser profissionais da informação, mas nem todos osprofissionais da informação são bibliotecários. A eles,somam-se documentalistas, arquivistas, museólogos,administradores, contadores, analistas de sistema,comunicólogos, jornalistas, publicitários, estatísticos,

...

..

...

~

Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 61-69, julho/dezembro12000

'-

..

Page 5: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?

.

engenheiros de sistemas, sociólogos, educadores, dentreoutros, com ênfase para ocupações emergentes, comowebmasters e analistas de lógica industrial. A esterespeito, Le Coadic (1996) agrupa esses profissionaisem: (a) especialistas da informação; (b) empresários dainformação; (c) cientistas da informação. No primeirocaso, estão aqueles que, sem atuarem em bibliotecastradicionais, processam a informação, utilizandotécnicas eletrônicas de informação - computadores eredes de telecomunicação -, priorizando mais a análise,comunicação e utilização da informação do que aarmazenagem e conservação das coleções. Estão emdiferentes locais, como no setor de marketing de umafirma, no departamento de investimentos de um banco,no laboratório de uma empresa química ou numa editorade produtos de informação e, de forma similar, recebemdiferentes denominações - analistas da informaçãoe/ou de documentos; gerentes da informação;planejadores de sistemas de informação etc.

Os empresários da informação agrupam osque criam empresas de fabricação e venda de produtosou serviços de informação. Os produtos sãodiversificados - banco de informações especializadas;softwares; índices; catálogos etc. Os serviços deinformação, também, pois fornecem informaçõessegundo as necessidades dos clientes. No caso doscientistas da informação, em geral, vinculados auniversidades e institutos de pesquisa, dão ênfase aoestudo das propriedades da informação e aodesenvolvimento de novos sistemas e produtos deinformação.

4

J

j11

JJ{Jj

j

3. PROFISSIONALDA INFORMAÇÃO- REQUISITOSE HABILIDADES

A partir de então, entendendo requisitos comocondições essenciais à consecução de objetivos e finsdeterminados, o que, em última instância, significahabilidade ou capacidade para..., sintetizamos osrequisitos básicos do profissional da informação. Parafins de sistematização, seguindo o raciocínio deGuimarães (1997, 1998), a princípio, os distribuímosem quatro blocos, não excludentes ou antagônicos:visão gerencial; capacidade de análise; criatividade;atualização. Diante da discutida relevância dainformação na sociedade contemporânea, visãogerencial é atributo fundamental que permite aoprofissional da informação tomar decisões, de formaracional e eficiente, diante de questões, como o custo dainformação e o seu caráter estratégico, ao lado decapacidade de análise como subsídio para a referidatomada de decisão, face à diversificação de suportes, à

r

t\

65

multiplicidade de uso da informação e às demandasinformacionais gradativamente mais singulares eindividuais. Trata-se de adotar atitudes específicas, taiscomo, noção precisa de tempo e de espaço; conhecimentode condições financeiras e de investimentos em recursoshumanos, engenharia e administração de fontes deinformação e gestão eletrônica de documentos.

Por outro lado, criatividade é indispensável.Reiterando a tendência atual de supervalorizar oprofissional criativo e inventivo, acreditamos que ainteligência é fundamental para o sucesso, mas nãodecisiva. A prova está que o número de pessoas aItamentedotadas é bem superior ao de pessoas que se tornameminentes. Por outro lado, se criatividade elevada podeser considerada um tipo de inteligência ou advém deinteligência elevada, o oposto nem sempre ocorre, poisnem todas as aptidões que concorrem para o sucessocriativo são intelectuais. Algumas são perceptivas, dondese conclui que a criatividade inclui "ingredientes"cognitivos e perceptivos, como: originalidade,criticidade, liderança, sensibilidade diante de situaçõesnovas, flexibilidade e fluência, lembrando, como se diz,no cotidiano, que criatividade consiste,fundamentalmente, em buscar novas soluções paravelhos problemas.

Também merece atenção a capacidade deatualização dentro do processo de educação continuada.Como visto, além de ser essencial a qualquer profissão,a atualização, que requer leitura, estudo e pesquisa, yaialém dos conhecimentos técnicos. Se a alfabetizaçãoem novas tecnologias de informação e de comunicaçãoé a condição primeira para que os profissionais dainformação e, especificamente, os bibliotecários atuemcomo multiplicadores e alfabetizadores na sociedadedo conhecimento, há outras habilidades que extrapolama intimidade com o computador. É a motivação pessoal,o conhecimento de línguas estrangeiras; a tolerância noconvívio com os demais; o dinamismo; a persistência; avisão interdisciplinar; o profissionalismo; a capacidadede comunicação e de fazer alianças; a competência; aresponsabilidade; a capacidade de inovação, embora osrequisitos ora enunciados, em termos genéricos, sejambásicos para qualquer outra profissão.

4. PROFISSIONALDA INFORMAÇÃO- ATRIBUiÇÕES

Com base nos requisitos exigidos, o profissionalda informação pode desempenhar uma série deatividades. Consensualmente, os bibliotecários centramsuas ações em torno da: (a) seleção; (b) descrição; (c)interpretação; (d) disseminação; (e) preservação dosdocumentos e das informações, a tal ponto que o

Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 61-69, julho/dezembro/2000

Page 6: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

66 M.G. TARG[NO

profissional da informação prossegue executandoserviços, como empréstimo domiciliar; recuperação dainformação; indexação e resumos; serviço de orientaçãoe de treinamento de usuários e levantamentosbibliográficos on-line (FID, 1998). No entanto,concordamos com Tarapanoff (1999), quando diz queessas cinco funções primordiais e seus desdobramentosnão vão desaparecer, mas, no espaço virtual, terãonovas aplicações.

Então, preparar o profissional da informaçãopara suprir as novas exigências de mercado, dinâmicase instáveis, exige levantamentos de mercadosistemáticos, bem como estudos contínuos de oferta eidentificação de perfis específicos de emprego, o que sechama, comumente, de job profiles ou job descriptiolls.Mesmo diante da conseqüente impossibilidade deprecisar, com segurança, as atribuições do profissionalda informação neste novo mercado, a autora acimacitada arrola oportunidades de emprego para o novoprofissional: pesquisador, especialista ou gerente dacultura; consultor de informação; gerente de bases ebancos de dados; especialista em computação e/ousoftwares; editor no meio impresso e/ou na Internet;desenhista gráfico; desenhista em multimídia, imageme vídeo; relações públicas; publicitário; tradutor;pesquisador de mercado; jornalista; produtor emestações de rádio e de televisão; especialista emtecnologia da informação; gerente de informação etc.

Na verdade, são terminologias ainda imprecisas.O que importa, porém, é que o profissional dainformação, ao construir sua identidade frente a essasquase infinitas possibilidades de combinações entreprofissões há muito consolidadas na sociedade atual,como a de publicitário, relações públicas, jornalista,editor e tradutor, não perca de vista a sua característicaprimordial de responsável pelo ciclo documentário einformacional, privilegiando a busca e o acesso afontes de informação onde quer que estejam, com afinalidade precípua de suprir as necessidadesinformacionais de indivíduos e coletividades. Para tanto,bibliotecas e bibliotecários devem oferecer treinamentose cursos para que o público tire proveito dos sistemasautomatizados de recuperação da informação, vencendobarreiras, como as identificadas por Cuenca (1999), nacapacitação de usuários em buscas informatizadas numabiblioteca médica da Universidade de São Paulo, dentreas quais, destaca a existência de variadas interfaces debusca para o acesso a bases de dados; tempo de busca;campos disponíveis para recuperação e a nãofamiliaridade com o vocabulário técnico da área.

A este respeito, Le Coadic (1996) vai um poucoalém e descreve algumas atividades informacionais domomento, com a ressalva de que, com certeza, nenhum

de nós reúne condições de exercer todas elas, cabendoa cada um trilhar o seu próprio caminho, com base nasoportunidades de mercado, habilidades e, sobretudo,interesses motivacionais:

. avaliar, planejar, implantar e implementarredes de informação em empresas industriais;. efetivar buscas manuais e informatizadas emserviços de documentação;

. implantar programas de gerenciamento deinformação na automação de bibliotecas einstituições congêneres;

. implantar serviços eletrônicos decomunicação oral (a exemplo dasvideoconferências) e escrita (a exemplo docorreio eletrônico), em diferentes empresas;

. preparar, resumir e editar informações emquaisquer áreas de conhecimento, o que requerdomínio de informações especializadas,capacidade de interpretação e de redação detextos técnico-científicos;

. produzir programas audiovisuais e implantarsistemas de informação multimídia;. gerenciar a formação de coleções dasbibliotecas e similares, informatizando-as;. editar revistas técnico-científicas;. implantar a política orçamentária e de seleçãode pessoal em centros de documentação eórgãos congêneres.

~

.5. PROFISSIONALDA INFORMAÇÃO- FORMAÇÃO

..

A formação do profissional da informação, nocaso específico do bibliotecário, demanda

reestruturação imediata dos cursos de graduação. Combase em considerações históricas sobre o ensino deBiblioteconomia no Brasil, da autoria de Guimarães

(1997, 1998), apresentamos alguns pontos de reflexão.Em primeiro lugar, é preciso que os alunos estabeleçamcontato permanente com as novas tecnologias deinformação e de comunicação. Estas não devem figurarapenas como disciplina curricular ou conteúdoprogramático. Ao contrário. Precisam estar presentescomo suporte ao ensino de temas diversificados, indo,por exemplo, da indexação ao estudo de usuário, dacatalogação à geração de fontes de informação. Trata-sede uma visão ampla, coerente com o discurso damodernidade, quando Castells (2000) enfatiza que ainovação tecnológica não é um fato isolado. Integra astransformações registradas em estágios sucessivos daeconomia, com impactos significativos na redefinição

..

"

\

.Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 6[-69, julho/dezembrol2000

Page 7: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

--

QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?

.I

~

+

da posição dos homens na sociedade, e, portanto, naformação das identidades culturais, e, inevitavelmente,na formação dos profissionais.

Um outro aspecto na formação do bibliotecáriodo século XXI vincula-se à visão gerencial na <Íreadeinformação, antes mencionada, como pré-requisito doprofissional da informação. De acordo com Morin(1999), ante o novo cenário da sociedadecontemporânea, a única saída "honrosa" para decifrar opresente e se preparar para o futuro está na adoção deformas de pensar a realidade que extrapolem alinearidade, o que significa contextualizar, sempre, ofazer informacional, permitindo ao profissionalidentificar necessidades, planejar ações e gerenciaralternativas. Na mesma linha de raciocínio, está aabordagem dos suportes de informação como umtodo, eliminando-se, de vez, a idéia da informaçãorestritamente bibliográfica. Como visto, autores, comoPonjuan (1993, 1995); Tarapanoff (1999) e Witter(1999), acordam que o profissional da informação deveter domínio sobre os diferentes suportes e meios físicos,e o papel passa a ser tão-somente um entre tantos outros.

Acrescentamos, também, seguindo os passos deGuimarães (J 997, 1998), que os cursos de graduaçãonão podem perder de vista a relevância da educaçãocontinuada para os seus graduandos, quer ao longo daformação básica, quer após a sua conclusão, atuandoem conjunto com os organismos de classe e qualqueroutra instituição. Conforme discussão anterior, aatualização é o elemento-chave para a sobrevivência doprofissional e da profissão, em qualquer instância. Poroutro lado, independente do Programa Institucional deBolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq), os cursos de graduação em Biblioteconomia/Ciência da Informação precisam adotar uma posturainvestigativa, valorizando a pesquisa como elementovital à qualidade de ensino, e que pode abrir novoscaminhos para o graduado.

Enfim, no que concerne à formação dosestudantes em Biblioteconomia/Ciência da Informação,são urgentes estruturas curriculares mais flexíveis, oque já vem sendo feito pela maioria das instituições.Reduzindo os pré-requisitos entre as disciplinas, devemcomportar um número maior de matérias optativas einterdisciplinares, que permitam não apenas maiordinamismo, mas também a utilização de aportesmetodológicos de outras áreas (como Administração,Arquivística, Lingüística, Comunicação, Psicologia,Sociologia), resultando num currículo de visãointegradora, cujas partes estão intimamente relacionadase todos os conteúdos caminham para o objetivo final,qual seja, o moderno profissional da informação. Aliás,

...

j

j

67

o exemplo da Escola de Ciência da Informação daUniversidade Federal de Minas Gerais, quando dacriação do curso noturno de graduação, nos mesmosmoldes do diurno, comprova que a redução dacarga-horária das disciplinas obrigatórias e aconseqüente ampliação das optativas constituem aalternativa mais adequada para suprir as demandas dasociedade e as exigências do mercado de trabalho,condizentes com o ambiente informacional moderno,que requer perfis profissionais diversificados (Abreu;Campello, 2000).

Aqui, enfatizamos que a mudança dedenominação dos cursos não basta para atender àformação de indivíduos competentes e capacitados paralidar com as características históricas, sociais e políticasda atualidade. A formação do profissional não estácentrada apenas no alunado e no currículo, mas envolveuma série de outros fatores, com ênfase para a adaptaçãodos cursos à realidade, o aparelhamento dos laboratóriose, sobretudo, a capacitação e educação continuada dosdocentes para a operacionalização das reestruturaçõescurriculares, o que pressupõe pós-graduação, dedicaçãointegral à docência, pesquisa e extensão, além deprodução científica significativa. Em tempos deglobalização, a competitividade significa, antes de tudo,competência profissional, que, por sua vez, equivale a"...novas formas de pensar, novas formas de interagire novas formas de viver" (Franco, 1997, p. 9), o quejustifica a crescente diversidade de professores de áreasafins nos cursos de graduação e pós-graduação na nossaárea, enfatizando as características interdisciplinaresdo nosso campo de conhecimento e as atividadesmúltiplas que podem ser exercidas pelo profissional dainformação.

6. FINALIZANDO...

Para os que alegam que a sociedade humanasempre se constituiu em sociedade da informação,resta-nos esclarecer que, nos moldes atuais, ela assumenatureza revolucionária. Suas dimensões quase infinitas,seu caráter instantâneo, seu alcance global e seu volumeimensurável de fluxo informacional transcendem oalcance e controle dos cidadãos, haja vista que ainformação é, consensualmente, o fator determinantedas transformações do século recém-findo, exatamenteporque não obedece a delimitações espaciais,lingüísticas, culturais, políticas, atingindo as maisdistintas facetas da vida do ser humano. Exige, assim,dos governos, que tomem para si a responsabilidade deequacionar o papel dessa nova sociedade em prol dosindivíduos comuns, envolvendo, ainda, instituições em

Transinformação, v. 12, n2 2, p. 61-69, julho/dezembro/2000

Page 8: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

68 M.G. TARGINO

todos os níveis, como bibliotecas, escolas, universidades,empresas públicas e privadas, associações de classe,conselhos federais e regionais, dentre outras, o que trazà tona, mais uma vez, os esforços do Grupo deImplantação do Programa Sociedade da Informação noBrasil.

Neste sentido, reiteramos que o profissional dainformação emerge dentro do cenário da globalização edas novas tecnologias, substituindo o modelo debiblioteca centrado na disponibilidade, em quepredomina o just in case, com ênfase no tamanho dacoleção e na possibilidade do browsing real, por umnovo modelo centrado na acessibilidade, em queprevalece o just in time, com destaque parao intercâmbiocom as demais unidades de informação conectadas emrede e para o browsing virtual. São tentativas paraconsolidar a mudança de paradigma do acervo para ainformação, do suporte físico para a informação, massão tentativas irreversíveis, que se inserem no contextoda comunicação eletrônica, visando a fortalecer abiblioteca virtual como possibilidade real e não utopia.

Enfim, resta-nos tão somente lembrar quebibliotecas e bibliotecários têm sido profundamenteinfluenciados pelas transformações responsáveis pelasociedade da informação, o que não nos permitepermanecermos à margem do processo. Urge a adoçãode novos caminhos para suprir as necessidades deinformação do grande público, a partir daconscientização de que se este prefere a opção deconsulta às redes eletrônicas na comodidade de seuslares, é preciso assumir o treinamento que permita aousuário explorar a riqueza de possibilidades dos meioseletrônicos.

Da mesma forma que os editores comerciais,atentos para as bruscas mudanças do mercado, obibliotecário precisa adotar a postura de modernoprofissional de informação, a quem compete, conformeMason (1990), fornecer a informação certa, da fontecerta, ao cliente certo, pelo meio certo, no momentocerto e a um custo justo. Isto porque o usuário modernodispõe, cada vez mais, de uma cultura informacionalque lhe permite gerar bases de dados, navegar comfacilidade nas redes eletrônicas de informação, efetivarsua busca bibliográfica e criar o seu corpo deconhecimentos, constituindo suas próprias bibliotecasvirtuais, sem a intermediação do bibliotecário. É omomento de, como qualquer outro especialista, obibliotecário atuar com criatividade, dinamismo, visãode mundo interdisciplinar/transdisciplinar,desenvolvendo habilidades na síntese da informação econhecimentos nas áreas gerenciais e de políticas deinformação, além do domínio pleno das novastecnologias de informação. Neste sentido, passa a atuar

mais como trainer, a quem compete treinar os usuáriospara que se tornem autônomos em suas buscas nossistemas de informação automatizados, a exemplo daexperiência vivenciada por Cuenca (1999), até porque,diante do fluxo informacional anárquico que caracterizaa Internet, se não existirem elementos facilitadores,chegar até a informação desejada pode tornar-se umavla-crucIS.

Finalizando, tudo isto requer mudanças naformação do bibliotecário, desde a graduação,combatendo, prioritariamente, o enfoque muitoespecializado da profissão, quando o que se requer,cada vez mais, é uma visão ampla e polivalente domundo, através de atuação pautada pelo profissionalismono que se refere ao domínio das técnicas e processos daatividade informacional. Para tanto, são essenciais açõescotidianas e simples, como o domínio de um segundoidioma, a leitura sistemática de jornais e revistasinformativas, a conscientização do homem como centrodo universo, o olhar crítico mas não necessariamentedemolidor ante a força dos meios de comunicação, apossibilidade de estágios em realidades distintas, atéporque a experiência não pode ser preterida em prol deum diploma, em qualquer nível. Em outras palavras,parafraseando Tarapanoff (1999), precisamos, todosnós, adotar o lema de Geraldo Vandré, eternizado emsua canção A Caminhada, quando diz: "Quem sabefaza hora, não espera acontecer", sem, no entanto, perderde vista a realidade brasileira, cujo desequilíbrioeconômico e disparidades sociais inter-regionais dãoorigem a brasis distintos, onde uma parcela significativada população continua distante da modernizaçãotecnológica e de suas possibilidades, ansiando, quandomuito, pelo acesso a livros e a simples salas de leitura.

7. REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

ABREU, V. L. F. G.; CAMPELLO, B. S. Graduação embiblioteconomia: a formação do profissional da informaçãopara o século XXI. Perspectivas em Ciência da Informação,Belo Horizonte, v. 5, n. especial, p. 93-103, 2000.

ALCÂNTARA E. A grande fogueira das bobagens. Veja, SãoPaulo, v. 33, n. 40, p. 192-194, 4 out. 2000.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. 3. ed. São Paulo: Paze Terra, 2000. 617 p. (A era da informação: economia,sociedade e cultura, I).

CRICKMAN, R. D. The emerging information professional.Library Trends, [s. 1.), v. 28, n. 2, p. 311-327, fali 1979.

CUENCA, A. M. B. ° usuário final da busca informatizada:avaliação da capacitação no acesso a bases de dados embiblioteca acadêmica. Ciência da Informação, Brasília, v.28, n. 3, p. 291-299, set./dez. 1999.

..

Transinformação, v. 12, nQ 2, p. 61-69, julho/dezembrol2000

Page 9: QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?* · pela Federação Internacional de Informação e Documentação (FID), ao criar um grupo de estudo dedicado ao moderno profissional da

[QUEM É O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO?

.

FRANCO, M. A. Internet: reflexões filosóficas de uminformata. Transinformação, Campinas, v. 9, n. 2, p. 1-11maio/ago. 1997. Disponível em: <http://www.puccamp.br/-biblio/franco>. Acesso em: 27 jul. 2000.

GUIMARÃES, J. A. C. Moderno profissional da informação:a formação, o mercado e o exercício profissional no Brasil.CBF [Conselho Federal de Biblioteconomia] Informa,Brasília, v. 3, n. 2, p. 6-7, abr. 1998.

. Moderno profissional da informação: ele-mentos para sua formação no Brasil. Transinformação,Campinas, v. 9, n. I, p. 124-140,jan.labr. 1997.

INTERNATlONAL FEDERATION OF INFORMATlONAND DOCUMENTATlON (FID). Towards the newinformation society oftomorrow: innovations, challengesand impac!. In: FID CONFERENCE AND CONGRESS,49., 1998, New Delhi. [Papers...]. New Delhi: IndianNational Scientific Documentation Center, 1998.

LE COADlC, Y.-F. A ciência da informação. Brasília:Briquet de Lemos/Livros, 1996. 119 p.

LEGEY, L.-R.; ALBAGLI, S. Construindo a sociedade dainformação no Brasil: uma nova agenda. DataGramaZero:Revista de Ciência da Informação, v. I, n. 5, p. 1-16, ou!.2000. (ar!. nQ2). Disponível em: <http://www.dgzero.org>.Acesso em: 22jan. 2001.

O LIVRO Verde: a sociedade da informação no Brasil.Brasília: Soclnfo, 2000.154 f. (Digitado).

.

.

..

1

j~

I.,

1

69

MASON, R. O. What is an information professional? Journalof Education for Library and Information Science,Arlington, v. 31, n. 2, p. 122-138, 1990.

MIRANDA, A. L. C. de et aI. Os conteúdos e a sociedade dainformação no Brasil. DataGramaZero: Ciência daInformação, v. I, n. 5, p. 1-30, ou!. 2000. (ar!. nQ3). Dispo-nível em: <http://www.dgzero.org>. Acesso em: 20jan. 2001.

MORIN, E. La méthode 4. Paris: Ed. Seuil, 1999.

PONJUAN, G. Does the modern information professionalhave a life cycle? FID News Bulletin, [s. 1.],v. 43, n. 3, p. 61,mar. 1993.

. La nueva postura dei profesional de información. In:COBIB, 3., São Paulo, 1995.11 p. (Digitado).

TARGlNO, M. das G. Comunicação científica: o artigo deperiódico nas atividades de ensino e pesquisa do docenteuniversitário brasileiro na pós-graduação. 1998.387 f. Tese(Doutorado em Ciência da Informação) - Depar-tamentodeCiência da Informação e Documentação da Faculdade deEstudos Sociais Aplicados da Universidade de Brasília, 1998.

TARAPANOFF, K. O profissional da informação e a sociedadedo conhecimento: desafios e oportunidades. Transinfor-mação, Campinas, v. 11, n. I, p. 27-38, jan.labr. 1999.

WITIER, G. P. Profissional da informação: caracterização ebusca de instrumentos para avaliação. Transinformação,Campinas, v. 11, n. I, p. 47-53, jan.labr. 1999.

WURMAN, R. S. Ansiedade de informação. São Paulo:Cultura, 1992. 380 p.

Transinformação, v. 12, nQ2, p. 61-69, julho/dezembro/2000