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Pró-Reitoria Acadêmica
Curso de Nutrição
Trabalho de Conclusão de Curso
Autor: Kaline Gabriela Bião Ferreira
Orientador: MSc. Maria Fernanda Castioni Gomes
Brasília - DF
2017
JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA
KALINE GABRIELA BIÃO FERREIRA
JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Artigo apresentado ao curso de graduação
em nutrição da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para
obtenção do Título de Bacharel em
Nutrição.
Orientadora: MSc. Maria Fernanda
Castioni Gomes
Brasília
2017
Artigo de autoria de Kaline Gabriela Bião Ferreira, intitulado “JEJUM
INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA” apresentado como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em Nutrição da Universidade Católica de
Brasília, em 08 de junho de 2017, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo
assinada:
Prof.ª MSc. Maria Fernanda Castioni Gomes
Orientador
Nutrição - UCB
Prof.ª. Dra. Fabiani Lage Rodrigues Beal
Nutrição - UCB
Prof.ª. MSc. Fernanda Bassan Lopes da Silva
Nutrição – UCB
Brasília
2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus em primeiro lugar, por ter fortalecido a minha fé e saúde para
concluir este trabalho.
A minha família e amigos, por todo amor, apoio e incentivo.
A professora orientadora Maria Fernanda, pela ajuda e conhecimentos passados.
SUMÁRIO
1. Introdução..............................................................................................................4
2. Material e métodos................................................................................................5
3. Obesidade e dietas da era tecnológica...................................................................5
3.1 Dieta do jejum intermitente...................................................................................6
3.1.1 Protocolos mais utilizados...............................................................................7
4. Resultados e Discussão............................................................................................8
5. Considerações finais..............................................................................................14
6. Referências bibliográficas.....................................................................................16
4
JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA
KALINE GABRIELA BIÃO FERREIRA
Resumo:
Com o crescente aumento da obesidade e do uso de dietas para emagrecimento, o jejum
intermitente surgiu na mídia como uma “dieta da moda” que consiste em privar-se de
alimentação por longos períodos e isso inclui variados protocolos, como o jejum de dia
alternado, jejum de dia inteiro, alimentação com restrição de tempo (TRF) entre outros.
Há inúmeros relatos na literatura acerca de seus benefícios à saúde, abrangendo aspectos
como glicemia, peso corporal, perfis lipídicos e de citocinas inflamatórias. Além disso,
há descrições de que o jejum intermitente proporciona impactos positivos na longevidade,
porém em alguns estudos verificou-se que a dieta levou a casos de hiperfagia em humanos
e animais. Assim torna-se imprescindível que as pesquisas sejam mais aprofundadas com
relação aos seus benefícios e malefícios à saúde a longo prazo. O presente trabalho
procura analisar por meio de revisão de literatura os possíveis efeitos metabólicos dos
protocolos de dietas que preconizam o jejum intermitente.
Palavras-chave: Jejum intermitente. Longevidade. Benefícios.
1. INTRODUÇÃO
O sobrepeso e a obesidade apresentam causas multifatoriais, incluindo fatores
genéticos, fisiológicos, metabólicos e psicológicos. Dessa forma, mudanças no estilo de
vida podem estar relacionados ao aumento significativo no número de pessoas com
sobrepeso e obesidade (GUEDES et al., 2010).
A sociedade enfatiza o ideal de magreza, com diversas propagandas na mídia
sobre dietas ditas como “milagrosas” que prometem a perda de peso de forma fácil e
rápida (APETITO et al., 2010).
A indústria do emagrecimento é responsável por propagar a ideia de um corpo
magro ou artifícios que facilitem o processo de perda de peso. Por isso, muitas vezes por
influência da mídia pessoas obesas utilizam diversos meios para emagrecer sendo através
de dietas, usando produtos light e diet, prática de exercícios intensos entre outros
(BAPTISTA, 2013).
O jejum intermitente, o jejum em dias alternados e outras formas de restrição
calórica periódica estão ganhando popularidade nos meios de comunicação entre leigos e
cientistas em razão dos seus possíveis benefícios à saúde (HORNE; MUHLESTEIN;
ANDERSON, 2015).
5
Dietas de jejum intermitente incluem padrões alimentares nos quais os indivíduos
realizam de forma alternada e por tempo prolongado, períodos de pouco ou nenhuma
ingestão energética com períodos de ingestão alimentar normal. Já o termo alimentação
com restrição de tempo (TRF) é usado para descrever um padrão alimentar em que a
ingestão de alimentos é restrita por uma janela de tempo de 8 horas ou menos todos os
dias (MATTSON; LONGO; HARVIE, 2016).
Períodos curtos de jejum poderiam ser benéficos para reutilizar reservas de
gordura e de açúcar, mas também renovaria o sistema imunitário, pela eliminação de parte
dos leucócitos e a estimulação de uma nova produção de células brancas pela medula
óssea. Esse processo poderia ser útil para a população idosa e para as pessoas tratadas por
quimioterapia por renovar o sistema imunológico e por diminuir a incidência das doenças
infecciosas ligadas ao envelhecimento ou ao câncer (PEYTAVIN, 2016).
O objetivo deste presente trabalho consistiu em analisar os possíveis benefícios e
malefícios do jejum intermitente para a saúde.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia do presente trabalho consistiu em fazer uma revisão bibliográfica
referente ao tema proposto. As buscas foram realizadas nas bases de dados bibliográficas
Scielo, Pubmed e Google acadêmico, sendo selecionados trinta e quatro artigos de revisão
e originais, três livros online e um site publicados a partir de 2004 escritos em inglês,
português e espanhol. Utilizou-se como base os termos “intermittent fasting”, “jejum”,
“longevidade”.
3. OBESIDADE E DIETAS DA ERA TECNOLÓGICA
A obesidade é motivo de preocupação ao redor do mundo devido ao aumento na
sua prevalência e na sua relação com as várias doenças. O excesso de peso corporal tende
a piorar e responder, cada vez menos, às intervenções com o passar dos anos (SILVA;
BITTAR, 2012).
Fatores como a tecnologia, urbanização e o enriquecimento da população estão
alterando os hábitos alimentares e associado a isso está o excesso do consumo de
6
alimentos, o sedentarismo que contribuem para o aumento do consumo de calorias e
consequentemente levando a obesidade (MELO et al., 2017).
A mudança no padrão alimentar da população mundial está caracterizada pelo alto
consumo de carnes processadas, frituras, alimentos industrializados e ricos em açúcar,
sendo chamada de dieta ocidental. Dessa forma, diversos estudos têm demonstrado que
isso está diretamente relacionado ao excesso de peso e suas consequências (CANUTO,
2013).
Com o aumento da prevalência da obesidade e informações nos diversos meios de
comunicação, a veiculação de dietas sem embasamento científico tem sido motivo de uma
grande preocupação para a comunidade científica (ABREU et al, 2013).
A procura da sociedade pela perda e controle de peso leva à busca de dietas por
meio da mídia. Apesar disso, muitas dessas dietas da moda podem trazer consequências
prejudiciais ao organismo humano (BETONI; ZANARDO; CENI, 2010).
Hoje em dia observa-se um aumento na busca pela beleza e pelo corpo perfeito.
As imposições da sociedade por um corpo magro, não consideraram os aspectos
relacionados à saúde. Além disso, a realização de dietas para o controle de peso pelo
público feminino está aumentando consideravelmente (WITT; SCHNEIDER, 2011).
A mídia tem participado diretamente na imposição de padrões de beleza que
influenciam no desenvolvimento de transtornos alimentares. Dessa forma, hábitos
alimentares são produzidos com o objetivo de manter disseminado os padrões divulgados
pelos meios de comunicação, como as “dietas da moda” (BARBOSA; SILVA, 2016).
3.1. DIETA DO JEJUM INTERMITENTE
O jejum intermitente reúne diversos protocolos de jejum específicos, o mais
comum é o indivíduo abster-se de alimentação por períodos mais longos do que o
habitual. Além disso, esse método vem ganhando popularidade devido aos seus aparentes
benefícios para a saúde (TINSLEY; LA BOUNTY, 2015).
Os jejuns intermitentes geralmente envolvem um dia de alimentação, onde a
comida é consumida de forma irrestrita (ad libitum) ao longo de um período de 24 horas,
alternado com um dia de jejum, em que a ingestão de alimentos é completamente restrita
ou parcialmente reduzida (VARADY, 2011).
7
Nos últimos anos, várias versões do jejum intermitente, incluindo a restrição de
energia intermitente (IER) e alimentação com restrição de tempo (TRF) tem recebido um
interesse substancial como estratégias alimentares alternativas para controle de peso e
melhora da saúde metabólica. Apesar disso, tem sido motivo de grande preocupação dos
acadêmicos devido a sua disseminação por leigos (ANTONI et al., 2017).
3.1.1. Protocolos mais utilizados
Os diversos protocolos do jejum intermitente podem ser agrupados em jejum de
dia alternado, jejum de dia inteiro e períodos alternados com horas de jejum e
alimentação. Sendo que a maioria dos estudos usou o jejum de dia alternado ou jejum de
dia inteiro em estudos com animais e humanos (PARK et al., 2016).
Quadro 1 – Mostra a comparação entre os diferentes protocolos do jejum intermitente.
Protocolos Criadores Características Períodos de jejum
Leangains ou Método
16/8 Martin Berkhan, 2010
*Janela de alimentação de 8
horas.
*Realizar 2,3 refeições ou
mais na janela de
alimentação.
*Treino com pesos 3 vezes
na semana.
*Consumir BCAA minutos
antes dos exercícios.
16 horas para homens.
14 horas para mulheres.
EAT-STOP-EAT Brad Pilon, 2007
*Jejum 1 ou 2 vezes por
semana
*Líquidos não calóricos
liberados.
*Exercícios de resistência 3
vezes por semana.
24 horas
5:2 Michael Mosley e Mimi
Spencer, 2013
Alimentação normal por
cinco dias da semana.
Dois dias consecutivos com
consumo de 500 calorias
para mulheres e 600 calorias
para homens.
Warrior Diet Ori Hofmekler, 2004
Dois ciclos: undereating
(jejum) e overeating
(alimentar-se por 4 horas).
Undereating: 20 horas
(durante o dia).
8
BCAA- aminoácidos de cadeia ramificada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Possíveis benefícios de dietas que preconizam o jejum intermitente
Alguns trabalhos procuram avaliar modificações no perfil lipídico e metabolismo
de glicose após intervenções dietéticas com jejum intermitente, o quadro abaixo destacou
alguns mais importantes.
Autor Duração e participantes Características Resultados
KEMPLEL et al., 2012
Sem grupo controle
54 mulheres obesas
10 semanas: 2 semanas com
dieta habitual e 8 semanas de
jejum intermitente.
2 grupos: (jejum intermitente + dieta
líquida) e (jejum intermitente + dieta
sólida).
6 dias da semana: 240 kcal no café da
manhã/almoço e 400-600 kcal no
jantar.
Jejum no último dia da semana
(consumo de água + 120 kcal de suco
em pó, por 24 horas).
Perda de peso média
de 3,2kg
Jejum + dieta líquida:
Colesterol: -10%
LDL: -9%
Jejum + dieta sólida:
Colesterol: -3%
LDL: - 4%
VARADY et al., 2009
Sem grupo controle
16 obesos (12 mulheres e 4
homens)
10 semanas: 2 semanas com
dieta habitual, 4 semanas com
jejum de dias alternados e 4
semanas de jejum em dias
alternados com
acompanhamento com
nutricionista.
Consumo de 25% das suas
necessidades energéticas nos dias de
jejum (1200 – 1400 calorias).
Alimentação irrestrita nos outros dias.
Perda de peso média
de 5,6 kg.
Colesterol: - 4,3%
LDL: - 9,6% (após 8
semanas de jejum).
Triglicerídeos:
-7% (2ª fase)
-6,4% (3ª fase)
ARNASON; BOWEN;
MANSELL, 2017
10 adultos com DM2
confirmada, obesos e que
faziam uso de Metformina.
Duração de 6 semanas
2 semanas de alimentação habitual.
2 semanas com jejum de 18-20h/dia e
alimentação irrestrita nas outras horas.
2 semanas de alimentação habitual
com acompanhamento.
Perda de peso médio
de - 1,395 kg
IMC = - 0,517 kg/m²
Glicose da manhã em
jejum: - 6,10%
9
Ao analisar o estudo de Kemplel et al., (2012), observou-se que o jejum interminte
combinado com a restrição calórica é uma estratégia eficaz para a perda de peso e redução
de risco cardiovascular em mulher obesas, atráves da diminuição dos seus principais
marcadores.
Os achados de Varady et al., 2009 sugerem que após três fases o jejum de dia
alternado pode ser uma estratégia possível para ajudar obesos na perda de peso e na
diminuição do risco de doenças cardiovasculares.
Apesar de ser um estudo observacional os resultados indicaram que a prática diária
do jejum intermitente, porém, a curto prazo, possivelmente seria uma intervenção
alimentar segura e tolerável em pacientes com DM2 podendo melhorar fatores como o
peso corporal e a glicemia em jejum. Entretanto, por ser uma pesquisa piloto esses
achados são exploratórios, uma investigação maior e mais longa é necessária
(ARNASON; BOWEN; MANSELL, 2017).
Rothschild publicou um artigo de revisão avaliando 11 estudos que tinham
analisado os efeitos da TRF em humanos de quatro, sete, oito, dez e dozes horas com
duração de duas e quatro semanas. Com base no quadro a seguir constatou-se que a TRF
pode ser uma intervenção dietética eficiente para melhorar alguns fatores de risco
metabólicos, como os níveis de glicose, perfis lipídicos e sensibilidade à insulina.
Destaca-se que a maioria desses estudos foram feitos durante o Ramadã e pela noite
(ROTHSCHILD et al., 2014).
Quadro 2 – Comparativo entre os estudos sobre jejum intermitente segundo estudo de revisão de Rothschild
Referências Indivíduos
TRF
e
duração
%
Perda
de peso
Colesterol
total LDL HDL TG
Fatores
glicoregulatórios
HALBERG et al,
2005
8 homens com
sobrepeso
4 hrs/
2
semanas
- - - - -
↑ absorção de
glicose
↑ supressão da
lipólise pela
insulina
RAVANSHAD et
al, 1999
91 homens
com peso
normal
7 hrs/ 4
semanas - - - - -
↓ 27% glicose
10
TEMIZHAN et al,
2000
52 – Homens
e mulheres
com peso
normal
8 hrs/ 4
semanas
↓5%
(M)
↓8%
(M)
↓11%
(M)
↑3%
(M)
↓19%
(M)
Glicose
↑18%
(M)
↓5%
(F)
↓10%
(F)
↓12%
(F)
↑2%
(F)
↓29%
(F)
↑22%
(F)
NEMATY et al,
2012
82 – Homens
e mulheres
com sobrepeso
10 hrs/
4 sem. ↓2%
↓5%
↓12% ↑11% ↓19% -
FAKHRZADEH
et al, 2003
91 – homens e
mulheres com
peso normal
12 hrs/
4
semanas
↓2%
(M)
↓24%
(M)
↓37%(
M)
↑21%
(M)
↓37%
(M)
Glicose
↓31%
(M)
↓2%
(F)
↓29%
(F)
↓35%
(F)
↑31%
(F)
↓19%
(F)
↓27%
(F)
Fonte: Adaptada de ROTHSCHILD et al, 2014.
Um estudo submeteu voluntários humanos saudáveis a 60 horas de jejum e
amostras de sangue recolhidas às 12 e 60 horas. Os autores observaram uma diminuição
da glicose plasmática em 30% e na insulina em 50%. Um aumento significativo na
extensão da lipólise e oxidação da gordura e um aumento moderado na extensão da
proteólise e oxidação de proteínas. Este aumento da oxidação da gordura fornece o
substrato para a gliconeogênese e compensa o declínio da oxidação dos carboidratos e da
glicogenólise, confirmando assim a troca de combustíveis metabólicos. A alimentação
em dias alternados é considerado uma variação de jejum completo que é mais fácil de
manter por períodos mais longos e tem benefícios metabólicos (AZEVEDO; IKEOKA;
CARAMELLI, 2013).
Foram recrutados cinquenta voluntários saudáveis (21 homens e 29 mulheres)
praticavam jejum no Ramadã para a investigação de citocinas pró-inflamatórias
circulantes, células imunes e avaliações antropométricas. As análises foram realizadas
uma semana antes do jejum do Ramadã, no final da terceira semana do Ramadã, e um
mês após o término do mês do Ramadã Ao final do estudo observou-se que houve uma
perda de peso médio de 71,82 kg (antes), de 70,58 kg (durante) e de 71,92 kg (após). Com
11
relação ao percentual de gordura corporal ocorreu um decrécimo de 24,12% (antes),
20,28% (durante) e 30,48% (após). Já com as citocinas pró-inflamatórias verificou se que
durante ocorreu uma diminuição de 78% de IL-1, 57% de IL-6 e 71% de TNF-∞. Os
valores de células imunes também diminuiram, sendo 14,1% (leucócitos), 14,1%
(granulócitos), 11,2% (monócitos) e 29,3% de linfócitos. No entanto, esse estudo
apresentou uma limitação, pois o protocolo usado provavelmente pode deixar de fornecer
uma melhor comparação entre os parâmetros em função da duração prolongada da
investigação, que durou de 10 a 16 horas para alguns, nem todos os participantes seguiram
a mesma duração (FARIS et al, 2012).
A maioria dos estudos mostrou efeitos positivos nos marcadores de saúde
metabólica e composição corporal, em parte devido aos efeitos demonstrados pelo jejum
intermitente nos tecidos metabólicos, que foram o aumento da sensibilidade à insulina e
diminuição da gordura hepática, nos vasos sanguíneos ocorreu o aumento de óxido nítrico
e diminuição do estresse oxidativo. No tecido adiposo houve aumento da deposição de
triglicerídeos e aumento da sensibilidade à insulina. Nas ilhotas pancreáticas houve um
declínio relacionado a idade metabólica. Já no músculo esquelético ocorreu um aumento
da captação de glicose e dimunuição da resistência à insulina. Assim, conclui-se que o
uso de jejum intermitente pode melhorar a perda de peso e a saúde cardiovascular de
indivíduos com sobrepeso e obesidade (BROWN; MOSLEY; ALDRED, 2013).
As hipóteses de que os regimes de jejum intermitente influenciam a regulação
metabólica ocorrem através de efeitos sobre a biologia circadiana, a microbiota
gastrintestinal e comportamentos de estilo de vida modificáveis. Alterações negativas
nesses sistemas podem produzir um ambiente metabólico hostil que predispõe os
indivíduos ao desenvolvimento da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer
(PATTERSON et al, 2015).
Alguns regimes de jejum e TRF podem impor um ritmo diurno na
ingestão de alimentos, resultando em melhores oscilações na expressão dos
genes do relógio circadiano que reprogramam os mecanismos moleculares do
metabolismo energético e regulação do peso corporal (HATORI;
VOLLMERS; ZARRINPAR et al, 2012 apud PATTERSON et al, 2015, p.7).
O jejum intermitente pode influenciar diretamente a microbiota do
intestino. Estudos sugerem que as mudanças na composição e função
metabólica da microbiota intestinal em indivíduos obesos podem permitir que
uma "microbiota obesa" adquira mais energia da dieta do que uma "microbiota
magra" e assim influenciar a absorção de energia, gastos e armazenamento
12
(FAITH; RIDAURA; REY et al, 2013; TURNBAUGH et al, 2006; KASER;
TILGER, 2011 apud PATTERSON et al, 2015, p.7).
4.2 Possíveis malefícios de dietas que preconizam o jejum intermitente
Autor Duração e objetos de estudo Resultados
CHAUSSE et al., 2014
Ratos machos
Ciclos de 24hrs de jejum intermitente
3 semanas
Hiperfagia durante os períodos de
alimentação.
Expressão aumentada de AGRP e NPY
no hipotálamo.
CERQUEIRA, 2011
100 ratos
9 meses
4 grupos - Controle: alimentação
irrestrita. Restrição calórica: 60% dieta
padrão e complementação. Restrição
completa: 60% menor e sem
suplementação. Dieta intermitente:
alimentação em dias alternados.
Animais com dieta intermitente –
hiperfagia, perda de massa muscular e
mesma quantidade de gordura visceral.
Absorviam glicose, mas aproveitavam
menos – acúmulo de radicais livres.
De acordo com o estudo de Chausse et al., 2014 foi encontrada uma expressão
aumentada dos neurotransmissores orexigênicos AGRP e NPY (responsáveis por
estimular o apetite), no hipotálamo de animais submetidos ao jejum intermitente, mesmo
nos dias de alimentação, o que poderia explicar o padrão de overeating. Juntos, esses
efeitos fornecem uma explicação para a menor eficiência de conversão de energia
observada. Dessa forma, os autores descobriram que o jejum intermitente promove
alterações na função hipotalâmica que explicam as diferenças na massa corporal e na
ingestão calórica.
Os animais que passaram pelo jejum a cada dois dias tinham oito vezes mais
peróxido de hidrogênio que adere a uma molécula chamada receptor de insulina. Que por
sua vez, pode acionar outras moléculas e fazer com que a glicose entre nas células. A
autora relata que a insulina continua se ligando ao receptor, mas a resposta do receptor é
menor que a normal e a consequência é que as células, principalmente as dos músculos,
vão receber e metabolizar menos glicose do que necessitam perdendo assim uma
adequada regulação metabólica (CERQUEIRA et al, 2011).
13
Autor Duração e participantes Características Resultados
SCHAUMBERG et al.,
2015
128 participantes
Maioria do sexo feminino
Média de 18 anos
IMC dentro da média
Consulta 24 hrs antes do jejum.
Auto monitoramento da ingestão
alimentar por 36 hrs.
Jejum de 24 hrs com bebidas não
calóricas liberadas.
25 – Comeram
exageradamente 36 hrs
antes do jejum.
4 - Comportamentos
compensatórios antes do
jejum.
28 - Comeram
exageradamente após o
jejum,
12 destes comeram muito
antes do jejum.
Os comportamentos compensatórios relatados antes do jejum incluem o uso de
laxantes, diuréticos e provocação de vômitos. As diferenças individuais na regulação
emocional ou consciência da fome e do apetite, podem servir como intermediários na
relação entre jejum e distúrbios alimentares fornecendo mais explicações sobre os fatores
que contribuem para esses comportamentos (SCHAUMBERG et al, 2015).
Ao analisar a relação do jejum com a longevidade observou-se que o mecanismo
biológico responsável pelo efeito da restrição calórica na longevidade ainda é
desconhecido, no entanto, algumas hipóteses têm sido propostas, tais como: hipótese da
redução da gordura corporal e sinalização da insulina, e hipótese da redução da produção
de espécie reativa de oxigênio e atenuação dos danos oxidativos (GENARO; SARKIS;
MARTINE, 2009).
Um estudo realizado em humanos investigou os efeitos da realização de dias
alternados de jejum durante um período de 3 anos. Nesse estudo os participantes foram
divididos aleatoriamente em dias alternados de restrição energética e em grupo controle.
O grupo da restrição energética podia consumir 1 litro de leite e 2-3 peças de fruta no dia
de jejum e aproximadamente 2300 Kcal/dia (9600 kJ/d) no outro dia. Enquanto que o
grupo controle era alimentado com aproximadamente 2300 Kcal/dia (9600 kJ/d) todos os
dias. Verificou-se que os participantes do grupo com dias alternados de jejum passaram
14
menos tempo no hospital e tiveram uma taxa de mortalidade mais baixa do que no grupo
controle (CARDOSO, 2009).
Até hoje, a restrição calórica é a única intervenção não genética que tem sido
consistentemente encontrada para prolongar a vida em uma variedade de espécies. Os
principais estudos iniciais em roedores revelaram que os ratos alimentados com dietas
com restrição calórica de 55-65% durante a sua vida apresentaram uma média 35-65%
maior e um tempo de vida máximo do que os ratos que comiam de forma irrestrita
(ANTON; LEEUWENBURGH, 2013).
Para determinar a extensão do dano oxidativo nos nervos periféricos estudou-se
os nervos ciáticos de ratos com idades de 8, 18, 29 e 38 meses mantidos em regime ad
libitum ou dieta com 40% de restrição calórica. Encontrou-se uma acúmulo de substratos
poliubiquitinados, a ocorrência destas estruturas foi menos frequente nos nervos de
roedores mantidos numa dieta de calorias reduzidas ao longo da vida. Marcadores para a
peroxidação lipídica, inflamação e infiltração de células imunitárias estão todos elevados
em nervos de ratos alimentados à vontade, enquanto que a restrição alimentar é capaz de
atenuar esses processos deletérios com a idade. Juntos, estes resultados mostram que a
restrição dietética é um meio eficiente de desafiar os danos oxidativos relacionados com
a idade e manter um estado mais jovem em nervos periféricos (OPALACH et al, 2010).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se que o jejum intermitente oferece inúmeros possíveis benefícios à
saúde como a melhora dos perfis lipídicos (colesterol total, LDL, triglicerídeos), aumento
da captação de glicose e redução de peso corporal. Houve um decréscimo de citocinas
pró inflamatórias e diminuição da resistência à insulina.
Há evidências de que o jejum intermitente está associado a longevidade, as
hipóteses estariam relacionadas com a redução da gordura corporal e de produção de
radicais livres e consequente diminuição dos danos oxidativos, além disso, ocorreu maior
sinalização da insulina.
Entretanto, alguns estudos demonstraram que ao realizar o jejum intermitente, os
animais apresentaram hiperfagia. Já em humanos, além da hiperfagia também exibiram
comportamentos compensatórios como o uso de laxantes, diuréticos e provocação de
vômitos. Contudo, o jejum intermitente pode trazer possíveis benefícios à saúde, mas seu
15
uso como intervenção nutricional ainda não está claro, visto que os estudos disponíveis
na literatura não são de longo prazo. Dessa forma, são necessárias investigações mais
aprofundadas a fim de determinar até que ponto sua aplicação é segura.
Intermittent fasting: a literature review
Abstract:
With the increasing increase in obesity and the use of diets for weight loss, intermittent
fasting has emerged in the media as the "fad diet," which consists of depriving oneself of
food for long periods and this includes various protocols such as daytime fasting
alternating, full-day fasting, time-restricted feeding (TRF), and so on. There are numerous
reports in the literature about its health benefits, covering aspects such as glycemia, body
weight, lipid profiles, inflammatory cytokines. In addition, there are descriptions that
intermittent fasting has positive impacts on longevity, but in some studies it has been
found that diet has led to cases of hyperphagia in humans and animals. However, in spite
of these results it is imperative that the research be further developed in relation to its
benefits and harms in the long term.
Keywords: Intermittent fasting. Longevity. Benefits.
16
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Edeli Simioni de et al. Parâmetros nutricionais de dietas anunciadas na
imprensa leiga destinada ao público masculino e feminino. Revista Ciência &
Saúde, Porto Alegre, v. 6, n. 3, p.206-213, set./dez. 2013. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faenfi/article/view/13479/10680>.
Acesso em: 09 maio 2017.
ANTONI, Rona et al. Effects of intermittent fasting on glucose and lipid
metabolism. Proceedings Of The Nutrition Society, Dublin, p.1-8, maio 2017.
Cambridge University Press (CUP). Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28091348>. Acesso em: 24 abr. 2017.
ANTON, Stephen; LEEUWENBURGH, Christiaan. Fasting or caloric restriction for
Healthy Aging. Experimental Gerontology, [s.l.], v. 48, n. 10, p.1003-1005, out. 2013.
Elsevier BV. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23639403>.
Acesso em: 13 abr. 2017.
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