pamora ma artÍstico de portugal

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Estes factos, e a decomposição das civilizações orientais sob a incidên- cia fecundante do -europcismo , são dos mais importantes para a investi- gação das forças em jogo na bio-me- cânica da história. Os factos assina- lados por Delhorbe entram exacta- mente no quadro traçado pelo autor destas notas no «Indivíduo e Colec- vitidade^ in Revista de Medicina, Lisboa, e em outros escritos sobre a teoria bio-mecânica da História. / Rablndranath Tagore, POR S TÉ- PHANIE C HANDLER (Les Cahiers du Journal des Poetes, Bruxelles) O anti-intelectualismo de Tago- rc... O homem não atingindo a verdade última pela inteligência mas pelo amor que paira acima do social, o amor que é o Templo da Humani- dade. .. A ciência que não compre- ende o que o poeta encontra na natu reza... a água que purifica o cora- ção. .. A Terra que alegra o espírito, com um contacto nao lírico, mas vivo... Tudo nasce da vida imortal, e B Vida é sinónimo de infinito... Deus assim concebido presente no Uni- verso, no fogo, na água, nos seres, e todos os seres presentes em Deus... • O palor doirado que dança na folha- Ceai»| e q ue ° amor do bem amado... A morte que 'distila na sombra o de- sejo da luz», a tempestade que 'para terminar em calma se Insurge contra ela com todas as suas forças... » Este charabia, esta logomaquia é considerada por alguns críticos como «alto pensamento», «profundo pensa- mento religioso», etc. Porém, distin- gamos. Tudo isto, no campo lógico, é puramente um amontoado de coisas sem sentido. Não é pois pensamento profundo ou superficial, mas apenas pseudo-pensamento. Tudo isto tem apenas sentido emotivo e psicológico, o que é totalmente diferente de pen- samento lógico, racional. O erro ha- bitual consiste em dar uma significa- ção lógica, on transpor para o campo do pensamento lógico, o que apenas tem sentido psicológico Ê precisa- mente o caso da preposição : -o nú- mero treze é aziago >, a qual não tem sentido lógico algum, mas apenas psicológico. Se pois se quere continuar empre- gando expressões tais como pensa- mento poético, pensamento lírico, poeta-ftlósofo, e outras análogas, não esqueçamos que tais expressões são apenas figuradas, liberdades de lin- guagem. A confusão começa quando se confunde, implícita ou explicita- mente, a filosofia cientifica, em qual- quer das suas formas, lógica, empiro- -lógica, com a filosofia psicológica. Adotemos os termos que se quiser, mas que esses termos se)am bem ex- plícitos e designem coisas bem defi- nidas. Desta forma a filosofia emotiva, a filosofia psicológica, a filosofia-arte, a metafísica retórica, o pathos meta- físico, etc, poderá exprimir-se. de- senvolver-se, ser analisado, criticado, comentado, apreciado pelos seus ama- dores, sem que do caso provenha grande mal. Tais amadores podem então deliciar-8e com o «profundo», o vertiginoso, o etéreo, o super-real, b arqul-transcendente, o ultranebu- toso, a quintessência, etc, etc, etc, sem que grande seja o prejuízo. Mas quando tais amadores, público e cri ticos, nos falam de tais coisas como se fossem filosofia lógica, então a confu- são é inextrincável e ninguém conse- gue entender-se no meio da grita e alarido, pois cada um fala uma lingua- gem diferente do vizinho, e a polé- mica, a discussão, a critica não passa de esgrima no vácuo. Dizem que Tagore é um grande poeta, e eu acredito: o caso não me interessa grandemente. S e me dizem que é um grande prosador, acredito ainda, se ajuntarem: um pensador emotivo, um pensador artista, pois que dizer pensador emotivo e dizer grande artista, 6, afinal, a mesma coisa. Mas se pretendem impingi lo como grande filósofo, filósofo «tout court», aeja-me então permitido sor- rir. .. Como todos os poetas, peque- nos e grandes, a sua mentalidade está ao nível da do selvagem, pois são hoje bem conhecidas a s seme- lhanças existentes entre a mentali- dade poética e a mentalidade selva- gem, primitiva, pré lógica ; como diz D. Seurat, Vítor Hugo foi o maior dos selvagens... Não tem pois qualquer sentido fa- lar se do «anti-intelectualismo» de Ta- gore, como de resto de qualquer ou- tro poeta- Não há anti-intelectualismo como nào há intelectualismo; o co- nhecimento da verdade e da essência, do amor e da vida, de qne falam os poetas, como os metafísicos, são pu- ros conhecimentos psicológicos, sem qualquer senlido no campo lógico e filosófico. De outra maneira cairemos em pleno filosofismo, uma das piores confusões estabelecidas no campo in- telectual. É tempo de o público ser informado de que frases tais como Deus é o Amor» ou «é a Beleza», ou a «Beleza é o Amor», ou a «Vida In- finita é Deus», etc, etc, etc , são proposições sem sentido lógico, e apenas, quando muito, com sentido psicológico. A demonstração disto pela análise lógica da linguagem está hoje feita (Carnap); e, além disso, todas estas proposições, como em geral todas as proposições metafísi- cas, enfermam do vicio capital de trabalhar no Infinito com a lógica do Finito, o que é ilegítimo, e de esten derem ao Infinito a intuição, o que é igualmente absurdo e tem como consequência apenas pseudoproble- mas e frases vazias de significação. Insistamos nisto: tal significação existe quando consideramos estas frases, conceitos e pensamentos como jngos de imagens estéticas, poéticas e líricas ; aí o Poeta tem pleno direito de Imaginar à Vontade, de conferir o sentido psicológico que quiser a esse jogo de imagens; tudo depende do valor emotivo e formal que êle con- segue, isto é, tudo depende do seu valor estético ; mas tais frases não se baseiam em outra realidade que aquela que, na linguagem comum, confere um significado a proposições tais como «o número 13 é aziago», isto é, uma associação psicológica entre um nú- mero e um agouro. Sob o ponto de vista lógico, como todos sabem, azia go não faz parte do conceito número, e não pode ser extraído dele por via analítica; enquanto, psicologicamente, podemos juntar lhe tudo aquilo que, para cada qual, possa ter psicologica- mente sentido. AUEL SALAZAR PAMORA N ESTA hora sobre todas grave, em que os po- vos se espreitam numa ânsia aniquiladora, nesta hora de desvairados idealismos, emquanto as nacionalidades se armam e procuram mascarar os seus intuitos bélicos com en- ganosas aparências de paz, en- quanto todos os sectores sociais entram numa luta decisiva e forte, é impossível traçar-se se- renas palavras de critica ou de análise. É que todo o artista, ou an- tes, todo o homem, está empe- nhado na vitória de qualquer campo, ou de qualquer sector ideológico, e de tal forma, que impossível será abstrair da sua luta a inteligência ou o poder criador. Tal é o potencial dinâmico, tão forte e impetuosa a sua ma- neira de agir; que qualquer modo de revelação da arte lhe fica, E um facto, tristemente incontestável, que o nSvel cultural do ope- rário português, é, muitíssimo inferior ao dos seus irmãos doutros países. A praga do analfabetismo, atinge de pre- ferência a única e autêntica força viva da nação — o traba- lhador. Impossibilitado de frequen- tar bibliotecas, por o horário de funcionamento destas coin- cidir com o do seu labor, ou porque habita a tal distância desses estabelecimentos que seria loucura pretender fre- quenta los, o único veículo de cultura extra-escolar, que o operário tem ao seu alcance é o jornal. Quanto ao livro, é luxo que nâo pode permitir-se. O livro neste país, é aristocrá- tico; desdenha o contacto com as camadas mal-odorosas da gente que labuta. E quando desce até elas, no mísero dis- farce de plebeu, é mais, um instrumento de sórdida espe- culação, do que um elevado propósito de beneficiar quem o lê. Se tivermos em contB, a maneira como se faz jorna- lismo, entre nós, podemos con- cluir, afoitamente, que da lei- tura dos jornais, o operário não tira nenhum proveito. Nalguns países, existe um 8 SOL NASCENTE MA ARTÍSTICO DE PORTUGAL INTRODUÇÃO por ARTUR AUGUSTO não tangencial como há alguns anos atrás, não paralelo como nos tempos medievais, mas en- trelaçado, mais ainda, confun- dido ou igualado. A arte de nossos dias par- ticipa do extraordinário poder dinâmico emprestado pelo idea- lismo social, e tanto mais bela será, quanto mais dinâmica. A critica serena, desapaixo- nada, poderemos mesmo dizer fria e cientificamente certa, ó impossível de fazer-se, deslum- brados como estamos, e presos pelo extraordinário panorama que nos depara e que de tal forma nos iníluencia. Entraram no domínio da arte, novas formas da activi- dade humana, novos factores até quási nossos dias desco- nhecidos, como sejam : o mo- vimento, com novas modalida- des de ritmo e de visão, os verdadeiro serviço de assistên- cia cultural aos desafortuna- dos, o que lhes permite um melhoramento progressivo das faculdades intelectivas. Orga- nizam-se tournêes artísticas; funcionam bibliotecas móveis, cuja acção divulgadora se es- tende aos mais longínquos lu- garejos; fazem se edições po- pulares que rivalizam com as nossas edições de luxo, e, em todas estas obras, o Estado toma o principal papel, custeando-as e promovendo a sua divulgação. Aqui, salvo a meritória acti- vidade de algumas instituições e a grandiosa e persistente obra realisada por algumas publica- ções de feição nitidamente cul- tural, nada se faz para modifi- car o vergonhoso estado mental dos trabalhadores- E já que me referi a publicações cultu- rais, quero destacar, como é de justiça, o grande esforço rea- lizado por O Diabo — a melhor e a mais ecléctica publicação do género — tendente a melho- rar e a engrandecer, incessan- temente, a mentalidade do povo português. O seu Consultório, magnifico cadinho de esclareci- mentos úteis, dá-nos a medida exacta da ânsia de saber que ruídos das sirenes, dos klaxons, dos aviões. A vida intensa e desequi- librada dos povos durante e depois da grande guerra, crian- do uma literatura riquíssima, onde aqui e além surgem lam- pejos de génio, o internaciona- lismo dado pela convivência nas trincheiras e nos acampa- mentos, a crescente actividade emigratória, são factores exclu- sivamente de nossos dias, dos quais só nós, geração criada nesse período trágico, nos aper- cebemos As descobertas científicas, revolucionando os velhos do- gmas, impuzeram-nos uma outra maneira de ver. Uma bela manhã o mundo acorda e pela voz de um novo sábio ouve as últimas verda- des : a terra já nâo é redonda, a estrela Sinus está somente sacode o país inteiro. De toda a parte acodem preguntas sobre os mais variados temas do es- pírito, e a todos, em perfeito pó de igualdadade, se procura esclarecer com grande e louvá- vel solicitude. Como isto não bastasse, quiz ainda O Diabo chamar a si o encargo de escancarar os museus, e oferecer ao povo a contemplação de todas as suas preciosidades artísticas, inicia- tiva a que está reservado o melhor êxito, pois que, o de- sinteresse do povo pelas coisas de arte é, a lógica consequên- cia de se vêr privado da ajuda de pessoas cultas, que o possam iniciar, dignamente, no estudo de tam delicada modalidade dos conhecimentos humanos. Eis uma tarefa que os rapazes de Sol Nascente podiam secun- dar, para bem de todos. / Sendo a inteligência um dom natural, que muitas vezes náo chega a revelar-se inteira- mente, por carência de cultura apropriada, e não um previlé- gio adquirido por aômas fabu- losas de dinheiro, não é hu- a três mil milhões de quilóme- tros e não a quatro mil como outros diziam. Inventou-se o raio da morte. Marconi, na Itá- lia, acende as luzes de uma vaga cidade da Austrália. Em vinte e quatro horas a cidade de Londres pode ser completa- mente destruída. E assim os po- vos vivem numeonstantesobres- salto e dominados pelo pavor. Os homens vivem numa des- confiança perene, num nervo- sismo avassalanto, numa in- quietação perturbadora. A luta entre velhos e no- vos não significa, de nenhum modo, o embate de duas verda- des de concepção, mas antes que os últimos procuram to- mar a sua posição actuante na vida, certos de que um meca- nismo novo tem mais poten- cial e resistência do que outro velho e estafado. mano nem justo privar a gente do povo das possibilidades de afirmar a sua capacidade men- tal. As duras condições em que se trabalha em Portugal, dâo- lhes direito, pelo menos, a essa bem merecida compensação. Exigem-lhe em regra, esforços incompatíveis com as suas for- ças; forçam-no à execução de trabalho para que não está mentalmente, preparado e, em que tem de socorrer-se das fa- culdades de assimilação, para lograr uma aparente equipara- ção aos operários estrangeiros. É necessário e urgente con- ceder-lhe todas as facilidades para cultivar o intelecto, por forma que possa ser útil ao país e â Comunidade Universal. É necessário que os homens de ciência que não receiam o convívio dos homens de traba- lho, e que encontram prazer em serem úteis ao seu seme- lhante, se esforcem, cada vez mais, por elevar o povo até eles; é necessário qne os ho- mens do povo, principais inte- ressados neste soberbo intento manumÍ8Sor, realizem o indis- pensável esforço para subirem até aos homens de saber. Isto contribuirá, grandemente, para a solução deste grave poblema. Luís Laranjeira. 9 SOL NASCENTE UM GRAVE PROBLEMA A ELEVAÇÃO CULTURAL DA GENTE QUE TRABALHA

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Page 1: PAMORA MA ARTÍSTICO DE PORTUGAL

Estes factos, e a decomposição das civilizações orientais sob a incidên­cia fecundante do -europcismo , são dos mais importantes para a investi­gação das forças em jogo na bio-me-cânica da história. Os factos assina­lados por Delhorbe entram exacta­mente no quadro traçado pelo autor destas notas no «Indivíduo e Colec-vitidade^ in Revista de Medicina, Lisboa, e em outros escritos sobre a teoria bio-mecânica da História.

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Rablndranath Tagore, P O R S T É -

P H A N I E C H A N D L E R (Les

Cahiers du Journal des

Poetes, Bruxelles)

O anti-intelectualismo de Tago-r c . . . O homem não atingindo a verdade última pela inteligência mas pelo amor que paira acima do social, o amor que é o Templo da Humani­dade. . . A ciência que não compre­ende o que o poeta encontra na natu r e z a . . . a água que purifica o cora­ção. . . A Terra que alegra o espírito, com um contacto nao lírico, mas vivo... Tudo nasce da vida imortal, e B Vida é sinónimo de infinito... Deus assim concebido presente no Uni­verso, no fogo, na água, nos seres, e todos os seres presentes em Deus.. . • O palor doirado que dança na folha-Ceai»| e q u e ° amor do bem amado... A morte que 'distila na sombra o de­sejo da luz», a tempestade que 'para terminar em calma se Insurge contra ela com todas as suas forças... »

Este charabia, esta logomaquia é considerada por alguns críticos como «alto pensamento», «profundo pensa­mento religioso», etc. Porém, distin­gamos. Tudo isto, no campo lógico, é puramente um amontoado de coisas sem sentido. Não é pois pensamento profundo ou superficial, mas apenas pseudo-pensamento. Tudo isto tem apenas sentido emotivo e psicológico, o que é totalmente diferente de pen­samento lógico, racional. O erro ha­bitual consiste em dar uma significa­ção lógica, on transpor para o campo do pensamento lógico, o que apenas tem sentido psicológico Ê precisa­mente o caso da preposição : -o nú­mero treze é aziago >, a qual não tem sentido lógico algum, mas apenas psicológico.

Se pois se quere continuar empre­gando expressões tais como pensa­mento poético, pensamento lírico, poeta-ftlósofo, e outras análogas, não esqueçamos que tais expressões são apenas figuradas, liberdades de lin­guagem. A confusão começa quando se confunde, implícita ou explicita­mente, a filosofia cientifica, em qual­quer das suas formas, lógica, empiro--lógica, com a filosofia psicológica. Adotemos os termos que se quiser, mas que esses termos se)am bem ex­plícitos e designem coisas bem defi­nidas. Desta forma a filosofia emotiva, a filosofia psicológica, a filosofia-arte, a metafísica retórica, o pathos meta­físico, e t c , poderá exprimir-se. de-senvolver-se, ser analisado, criticado, comentado, apreciado pelos seus ama­dores, sem que do caso provenha grande mal. Tais amadores podem então deliciar-8e com o «profundo», o vertiginoso, o etéreo, o super-real,

b arqul-transcendente, o ultranebu-toso, a quintessência, e t c , e t c , e t c , sem que grande seja o prejuízo. Mas quando tais amadores, público e cri ticos, nos falam de tais coisas como se fossem filosofia lógica, então a confu­são é inextrincável e ninguém conse­gue entender-se no meio da grita e alarido, pois cada um fala uma lingua­gem diferente do vizinho, e a polé­mica, a discussão, a critica não passa de esgrima no vácuo.

Dizem que Tagore é um grande poeta, e eu acredito: o caso não me interessa grandemente. S e me dizem que é um grande prosador, acredito ainda, se ajuntarem: um pensador emotivo, um pensador artista, pois que dizer pensador emotivo e dizer grande artista, 6, afinal, a mesma coisa. Mas se pretendem impingi lo como grande filósofo, filósofo «tout court», aeja-me então permitido sor­rir. . . Como todos os poetas, peque­nos e grandes, a sua mentalidade está ao nível da do selvagem, pois são hoje bem conhecidas a s seme­lhanças existentes entre a mentali­dade poética e a mentalidade selva­gem, primitiva, pré lógica ; como diz D. Seurat, Vítor Hugo foi o maior dos selvagens.. .

Não tem pois qualquer sentido fa­lar se do «anti-intelectualismo» de Ta­gore, como de resto de qualquer ou­tro poeta- Não há anti-intelectualismo como nào há intelectualismo; o co­nhecimento da verdade e da essência, do amor e da vida, de qne falam os poetas, como os metafísicos, são pu­ros conhecimentos psicológicos, sem qualquer senlido no campo lógico e filosófico. De outra maneira cairemos em pleno filosofismo, uma das piores confusões estabelecidas no campo in­telectual. É tempo de o público ser informado de que frases tais como • Deus é o Amor» ou «é a Beleza», ou a «Beleza é o Amor», ou a «Vida In­finita é Deus», e t c , e t c , etc , são proposições sem sentido lógico, e apenas, quando muito, com sentido psicológico. A demonstração disto pela análise lógica da linguagem está hoje feita (Carnap); e, além disso, todas estas proposições, como em geral todas as proposições metafísi­cas, enfermam do vicio capital de trabalhar no Infinito com a lógica do Finito, o que é ilegítimo, e de esten derem ao Infinito a intuição, o que é igualmente absurdo e tem como consequência apenas pseudoproble-mas e frases vazias de significação.

Insistamos nisto: tal significação só existe quando consideramos estas frases, conceitos e pensamentos como jngos de imagens estéticas, poéticas e líricas ; aí o Poeta tem pleno direito de Imaginar à Vontade, de conferir o sentido psicológico que quiser a esse jogo de imagens; tudo depende do valor emotivo e formal que êle con­segue, isto é, tudo depende do seu valor estético ; mas tais frases não se baseiam em outra realidade que aquela que, na linguagem comum, confere um significado a proposições tais como «o número 13 é aziago», isto é, uma associação psicológica entre um nú­mero e um agouro. Sob o ponto de vista lógico, como todos sabem, azia go não faz parte do conceito número, e não pode ser extraído dele por via analítica; enquanto, psicologicamente, podemos juntar lhe tudo aquilo que, para cada qual, possa ter psicologica­mente sentido.

AUEL SALAZAR

PAMORA

NE S T A hora sobre todas grave, em que os po­vos se e s p r e i t a m

numa ânsia aniquiladora, nesta hora de desvairados idealismos, emquanto as nacionalidades se armam e procuram mascarar os seus intuitos bélicos com en­ganosas aparências de paz, en­quanto todos os sectores sociais entram numa luta decisiva e forte, é impossível traçar-se se­renas palavras de critica ou de análise.

É que todo o artista, ou an­tes, todo o homem, está empe­nhado na vitória de qualquer campo, ou de qualquer sector ideológico, e de tal forma, que impossível será abstrair da sua luta a inteligência ou o poder criador.

Tal é o potencial dinâmico, tão forte e impetuosa a sua ma­neira de agir; que qualquer modo de revelação da arte lhe fica,

E um facto, tristemente incontestável, que o nSvel cultural do ope­

rário português, é, muitíssimo inferior ao dos seus irmãos doutros países. A praga do analfabetismo, atinge de pre­ferência a única e autêntica força viva da nação — o traba­lhador.

Impossibilitado de frequen­tar bibliotecas, por o horário de funcionamento destas coin­cidir com o do seu labor, ou porque habita a tal distância desses estabelecimentos que seria loucura pretender fre­quenta los, o único veículo de cultura extra-escolar, que o operário tem ao seu alcance é o jornal. Quanto ao livro, é luxo que nâo pode permitir-se. O livro neste país, é aristocrá­tico; desdenha o contacto com as camadas mal-odorosas da gente que labuta. E quando desce até elas, no mísero dis­farce de plebeu, é mais, um instrumento de sórdida espe­culação, do que um elevado propósito de beneficiar quem o lê. Se tivermos em contB, a maneira como se faz jorna-lismo, entre nós, podemos con­cluir, afoitamente, que da lei­tura dos jornais, o operário não tira nenhum p r o v e i t o .

Nalguns países, existe um

8 SOL N A S C E N T E

MA ARTÍSTICO DE PORTUGAL INTRODUÇÃO por ARTUR AUGUSTO

não tangencial como há alguns anos atrás, não paralelo como nos tempos medievais, mas en­trelaçado, mais ainda, confun­dido ou igualado.

A arte de nossos dias par­ticipa do extraordinário poder dinâmico emprestado pelo idea­lismo social, e tanto mais bela será, quanto mais dinâmica.

A critica serena, desapaixo­nada, poderemos mesmo dizer fria e cientificamente certa, ó impossível de fazer-se, deslum­brados como estamos, e presos pelo extraordinário panorama que nos depara e que de tal forma nos iníluencia.

Entraram no domínio da arte, novas formas da activi­dade humana, novos factores até quási nossos dias desco­nhecidos, como sejam : o mo­vimento, com novas modalida­des de ritmo e de visão, os

verdadeiro serviço de assistên­cia cultural aos desafortuna­dos, o que lhes permite um melhoramento progressivo das faculdades intelectivas. Orga-nizam-se tournêes artísticas; funcionam bibliotecas móveis, cuja acção divulgadora se es­tende aos mais longínquos lu­garejos; fazem se edições po­pulares que rivalizam com as nossas edições de luxo, e, em todas estas obras, o Estado toma o principal papel, custeando-as e promovendo a sua divulgação.

Aqui, salvo a meritória acti­vidade de algumas instituições e a grandiosa e persistente obra realisada por algumas publica­ções de feição nitidamente cul­tural, nada se faz para modifi­car o vergonhoso estado mental dos trabalhadores- E já que me referi a publicações cultu­rais, quero destacar, como é de justiça, o grande esforço rea­lizado por O Diabo — a melhor e a mais ecléctica publicação do género — tendente a melho­rar e a engrandecer, incessan­temente, a mentalidade do povo português. O seu Consultório, magnifico cadinho de esclareci­mentos úteis, dá-nos a medida exacta da ânsia de saber que

ruídos das sirenes, dos klaxons, dos aviões.

A vida intensa e desequi­librada dos povos durante e depois da grande guerra, crian­do uma literatura riquíssima, onde aqui e além surgem lam­pejos de génio, o internaciona­lismo dado pela convivência nas trincheiras e nos acampa­mentos, a crescente actividade emigratória, são factores exclu­sivamente de nossos dias, dos quais só nós, geração criada nesse período trágico, nos aper­cebemos

As descobertas científicas, revolucionando os velhos do­gmas, i m p u z e r a m - n o s uma outra maneira de ver.

Uma bela manhã o mundo acorda e pela voz de um novo sábio ouve as últimas verda­des : a terra já nâo é redonda, a estrela Sinus está somente

sacode o país inteiro. De toda a parte acodem preguntas sobre os mais variados temas do es­pírito, e a todos, em perfeito pó de igualdadade, se procura esclarecer com grande e louvá­vel solicitude.

Como isto não bastasse, quiz ainda O Diabo chamar a si o encargo de escancarar os museus, e oferecer ao povo a contemplação de todas as suas preciosidades artísticas, inicia­tiva a que está reservado o melhor êxito, pois que, o de­sinteresse do povo pelas coisas de arte é, a lógica consequên­cia de se vêr privado da ajuda de pessoas cultas, que o possam iniciar, dignamente, no estudo de tam delicada modalidade dos conhecimentos humanos. Eis uma tarefa que os rapazes de Sol Nascente podiam secun­dar, para bem de todos.

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Sendo a inteligência um dom natural, que muitas vezes náo chega a revelar-se inteira­mente, por carência de cultura apropriada, e não um previlé-gio adquirido por aômas fabu­losas de dinheiro, não é hu-

a três mil milhões de quilóme­tros e não a quatro mil como outros diziam. Inventou-se o raio da morte. Marconi, na Itá­lia, acende as luzes de uma vaga cidade da Austrália. E m vinte e quatro horas a cidade de Londres pode ser completa­mente destruída. E assim os po­vos vivem numeonstantesobres-salto e dominados pelo pavor.

Os homens vivem numa des­confiança perene, num nervo­sismo avassalanto, numa in­quietação perturbadora.

A luta entre velhos e no­vos não significa, de nenhum modo, o embate de duas verda­des de concepção, mas antes que os últimos procuram to­mar a sua posição actuante na vida, certos de que um meca­nismo novo tem mais poten­cial e resistência do que outro já velho e estafado.

mano nem justo privar a gente do povo das possibilidades de afirmar a sua capacidade men­tal. As duras condições em que se trabalha em Portugal, dâo-lhes direito, pelo menos, a essa bem merecida compensação. Exigem-lhe em regra, esforços incompatíveis com as suas for­ças; forçam-no à execução de trabalho para que não está mentalmente, preparado e, em que tem de socorrer-se das fa­culdades de assimilação, para lograr uma aparente equipara­ção aos operários estrangeiros.

É necessário e urgente con-ceder-lhe todas as facilidades para cultivar o intelecto, por forma que possa ser útil ao país e â Comunidade Universal.

É necessário que os homens de ciência que não receiam o convívio dos homens de traba­lho, e que encontram prazer em serem úteis ao seu seme­lhante, se esforcem, cada vez mais, por elevar o povo até eles; é necessário qne os ho­mens do povo, principais inte­ressados neste soberbo intento m a n u m Í 8 S o r , realizem o indis­pensável esforço para subirem até aos homens de saber. Isto contribuirá, grandemente, para a solução deste grave poblema.

Luís Laranjeira.

9 SOL N A S C E N T E

U M G R A V E P R O B L E M A A ELEVAÇÃO CULTURAL DA G E N T E QUE TRABALHA