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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ENSINO DE GEOMETRIA POR MEIO DA MODELAGEM: UM ESTUDO
DAS EMBALAGENS O PARA ALIMENTO À BASE DE CEREAL.
Sônia Regina Félix (Professora PDE)1
Lilian Akemi Kato (Orientadora – UEM)2
Resumo:
Este artigo apresenta resultados acerca da implementação do Projeto de intervenção
pedagógica intitulado: “O Ensino de Geometria por meio da Modelagem: um estudo das embalagens
para alimento à base de cereal”. Apoiado na importância de um trabalho pedagógico significativo para
o aluno, este Projeto Pedagógico, desenvolveu um estudo da Modelagem Matemática no contexto da
Educação Matemática como estratégia de ensino da Geometria no Ensino Fundamental. Para tanto,
foi necessário fazer um resgate dos conceitos básicos da Geometria Espacial por meio da
apresentação de problemas do cotidiano, que despertou nos alunos o interesse de pesquisar e
produzir respostas. Para isto, os alunos confeccionaram e manusearam embalagens como: latas,
caixas, entre outros, como recurso didático para o ensino da Geometria Espacial. Neste contexto, os
alunos construíram os significados a partir de áreas e volumes dos modelos construídos. Para
finalizar a presente proposta, após desenvolver as atividades prevista na Unidade Didática, os alunos
foram desafiados a construir uma embalagem, com formas variadas, ideal para 200 gramas de cereal
matinal, com o menor consumo de material. Com base nas experiências adquiridas, durante a
implementação, obteve-se conclusões que foram importantes para a aplicação e um possível
aperfeiçoamento futuro.
Palavras chave: Modelagem Matemática; Embalagens; Geometria Espacial.
1- Introdução
O objetivo deste artigo é relatar o Projeto de Intervenção Pedagógica: “O
Ensino de Geometria por meio da Modelagem: um estudo de embalagens para
cereal matinal”, implementado no Colégio Estadual Igléa Grollmann – Ensino
Fundamental e Médio, turma de nono ano, no município de Cianorte, Pr. e também
apresentar o tema que norteou o projeto: O uso de embalagens como recurso
didático, para ensinar Geometria Espacial”.
_______________________________________
1 Professora de Matemática da Rede Estadual de Ensino e integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.
2 Professor Orientador – Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá – (UEM). [email protected]
São conhecidas as inúmeras dificuldades enfrentadas por professores e
alunos na aprendizagem dos conteúdos de geometria na educação básica.
Acredita -se, que todos os professores, em algum momento, já foram questionados
pelos alunos, quanto a aplicabilidade útil de alguns conteúdos na vida prática, e em
alguns casos, quando os professores ficam sem saber como responder ou não dão
uma resposta convincente, produzem alunos inseguros e desmotivados pelos
estudos.
Pavanello (1989), relata que antes mesmo de se estabelecer o MMM
(Movimento da Matemática Moderna no Brasil), o ensino da geometria já
apresentava problemas por parte dos conhecimentos do professor, a metodologia
utilizada, a dificuldade de relacionar a geometria prática apontada para a escola
elementar com a abordagem axiomática introduzida no ensino secundário,
entretanto ao sofrer a influência do MMM, esse problema fica ainda mais grave.
Com o objetivo de minimizar esses problemas, buscou-se ao desenvolver o
projeto de intervenção pedagógica, tornar as aulas mais motivadoras e atraentes,
com o intuito de que os alunos percebam a importância do que estudam.
Durante a efetivação do projeto de intervenção pedagógica utilizou- se como
estratégia de ensino a Modelagem Matemática, onde a intenção foi, partir de um
determinado fenômeno da realidade, através de um modelo, utilizando para isso,
como recurso didático, as embalagens.
Pesquisas mostram que a Modelagem Matemática como recurso didático,
pode proporcionar aulas mais motivadoras e interessantes, ricas em exemplos
pertencentes ao cotidiano do aluno, trazendo também sempre uma situação
problema, baseado em um modelo, estimulando assim o máximo de exploração.
Por outro lado Biembengut (1999), diz que: ”quando se propõe um modelo,
ele é proveniente de aproximações nem sempre realizadas para se poder entender
melhor um fenômeno, e tais aproximações nem sempre condiz com a realidade”.
Assim a Modelagem Matemática exige dos alunos a interpretação do
problema, aproveitando as experiências já vivenciadas por eles, buscando sempre
solucionar a situação proposta pelo professor.
No projeto de intervenção pedagógica, a proposta da Modelagem Matemática
foi a de incutir no aluno o fazer e não apenas receber pronto sem compreender os
fenômenos do cotidiano.
Desta forma, as atividades foram realizadas de forma gradativa, iniciando com
os entes geométricos e finalizando com a geometria espacial.
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008), “o conteúdo estruturante
Geometrias, no Ensino Fundamental, tem o espaço como referência, de modo que o
aluno consiga analisá-lo e perceber seus objetos para, então, representá-lo”.
Para que isto aconteça, é relevante que o professor compreenda que ele deve
ser um pesquisador, um educador matemático, compreensão esta que lhe dará
amparo ao trabalhar com o aluno no desenvolvimento do raciocínio lógico.
As Diretrizes Curriculares Estaduais, afirmam que:
Pela Educação Matemática, almeja-se um ensino que possibilite aos estudantes análise, discussões, conjecturas, apropriações de conceitos e formulações de ideias. Aprende-se Matemática não somente por sua beleza ou pela consistência de suas teorias, mas, para que, a partir dela, o homem amplie seu conhecimento e, por conseguinte, contribua para o desenvolvimento da sociedade (DCE, 2008, p.48).
Com base no exposto acima e visando um ensino onde os alunos
compreenderam que as formas geométricas são partes fundamentais da
Matemática, optou-se pela utilização das embalagens como recurso didático na
implementação do projeto, pois além de serem de fácil acesso, sua utilização é
primordial no cotidiano das pessoas.
2 – Fundamentação Teórica
Geometria é o ramo da Matemática que estuda o espaço e as figuras que
nele podem se conceber.
Etimologicamente a palavra geometria (geo+metria), significa “medição de
terra”. Na literatura, há vários registros de sua origem.
Alguns afirmam que no período da Pré-História, os grupos humanos que
tinham vida nômade aprenderam através da geometria delimitar seu espaço, ou
seja, compreenderam que já tinham condições de cultivar a agricultura e a
domesticar os animais. Desta forma, não precisavam mais mudar-se em busca de
alimentos.
A geometria como ciência vem sendo estudada há muitos anos e vem
sofrendo alterações e avanços. Ela representa uma parte do conhecimento de
fundamental importância, com uma vasta aplicabilidade.
Segundo Lorenzato (1995), algumas razões para ensinar Geometria é que ela
está em toda parte, mesmo não querendo, lidamos em nosso cotidiano com ângulo,
área, perpendicularismo, paralelismo, simetria, entre outros.
Ao desenvolver o pensar geométrico e o raciocínio visual, tornou-se um
excelente apoio às outras disciplinas: como interpretar mapas, interpretar gráfico,
etc...
Assim, o aluno precisa compreender, os conceitos de geometria: Plana,
Espacial, Analítica e noções de geometrias não-euclidianas.
Os conceitos destes conteúdos são fundamentais para que o aluno amplie
seu conhecimento e pensamento geométrico.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008), uma forte
tendência metodológica que compõem o campo da Educação Matemática é a
Modelagem Matemática.
Ao ser uma estratégia do trabalho pedagógico, pode colaborar para que o
aluno trabalhe com a problematização de situações do cotidiano, seguindo etapas,
ou seja, o conteúdo é aplicado de forma sistematizada.
A Modelagem Matemática tem sido utilizada como estratégia para moldar
alguma situação que está contemplada em outro ambiente de aprendizagem.
Dessa forma a Modelagem Matemática no ensino, pode ser um caminho para despertar no aluno interesse por tópicos matemáticos que ele desconhece, ao mesmo tempo que aprende a arte de modelar matematicamente. Isso porque é dada ao aluno a oportunidade de estudar situações-problema por meio de pesquisa, desenvolvendo seu interesse e aguçando seu senso crítico (BIEMBENGUT & HEIN, 2005, p.18).
Segundo os mesmos autores, neste processo de ensino aprendizagem, os
educandos são orientados a desenvolver o conteúdo programático a partir de um
modelo matemático.
Algumas vantagens de utilizar a Modelagem Matemática segundo
Biembengut (1999):
Para o professor, o trabalho com a Modelagem Matemática, permitirá
estar atento as dificuldades do aluno, tomando ciência dos trabalhos de forma
gradual, em especial no momento em que orienta os alunos, e muda seus critérios
de avaliação.
Para o aluno, irá aprender a fazer e não receber pronto, ao compreender o
significado do que está estudando.
Segundo os mesmos autores, algumas dificuldades serão enfrentadas. Uma
delas é a formação do professor de Matemática, que não receberam orientação em
sua formação de como trabalhar com Modelagem Matemática.
Para o aluno a falta de vivência em trabalho dessa natureza, também é um
desafio, uma vez que este método requer mais empenho nos estudos, na pesquisa e
na interpretação do contexto.
Ao trabalhar com Modelagem Matemática, o professor deverá orientar e
acompanhar os alunos no desenvolvimento do assunto, criando condições para que
eles aprendam a fazer o modelo e simultaneamente desenvolvam seus
conhecimentos.
Segundo Biembengut & Hein (2005), são cinco as etapas que podem ser
seguidas para a realização do trabalho em Modelagem Matemática.
a) Escolha do tema:
O professor pode escolher o tema ou incentivar a escolha do tema, de acordo
com o interesse e/ou afinidade dos alunos, dar destaque a um assunto abrangente,
motivador e sobre o qual seja fácil obter dados ou informações.
b) Interação com o tema;
Cada grupo deverá elaborar uma síntese do tema e entregar, por escrito
juntamente com as questões ao professor, para que ele tome ciência do tema
escolhido.
c) Planejamento do trabalho a ser desenvolvido pelos grupos:
Esta síntese não só permitirá ao professor inteirar-se do tema escolhido, mas
também orientar cada grupo, em particular, quanto à ordem das questões a serem
resolvidas.
Os alunos deverão escolher o tema, fazer a coleta dos dados, analisar a
natureza e a extensão do problema, formulando hipóteses. Desta forma poderão
verificar as soluções viáveis ou a mais conveniente para chegar a uma solução.
Se o tema que estão trabalhando refere-se a algum setor de fácil acesso,
pode-se também fazer uma visita in loco. Será uma oportunidade para o aluno
contatar o setor produtivo e viabilizar a iniciação científico-tecnológica.
d) Conteúdo matemático:
Os modelos elaborados pelos grupos utilizam-se, no mínimo, de uma parte do
conteúdo programático da disciplina. Caso algum grupo, para resolver uma questão,
necessite de um tópico matemático que não faça parte do programa, o professor
pode atendê-lo exclusivamente, porém, se for de interesse da maioria, faz-se uma
explanação para toda a classe.
e) Validação e extensão dos trabalhos desenvolvidos:
No final de cada trabalho é fundamental que cada grupo, avalie a solução
fazendo um relatório e divulgue o resultado.
Enfim, assumimos a Modelagem Matemática como uma estratégia de ensino-
aprendizagem, que promove o incentivo a pesquisa por meio daconstrução de
modelos matemáticos que interpretam o problema.
Nesta perspectiva, a Modelagem Matemática, apresenta-se como método de
aprendizagem, não só para transmitir conteúdo, mas, transformar o aluno passivo
para exercer o papel principal no processo ensino aprendizagem, ou seja formador
de opinião.
Segundo Biembengut & Hein (2005), essa comunicação que permite
representar um fenômeno através da linguagem matemática (modelo matemático),
envolve diversos procedimentos, que podem ser agrupados em três etapas, que são
subdivididas em seis subetapas:
I – Interação:
Nesta etapa, deverá ser feita uma pesquisa sobre a situação-problema a ser
estudada, para familiarizar-se com o assunto a ser modelado.
II – Matematização:
Nesta etapa, deverá analisar as informações, decidir quais os fatores a seguir,
formular hipóteses do problema, resolver em termos do modelo.
III - Modelo Matemático:
Nesta etapa deverá interpretar a solução, validar o modelo, resolver a
situação problema utilizando o ferramental matemático que se dispõe.
“Se o modelo não atender às necessidades que o geraram, o processo deve ser
retomado na segunda etapa – matematização – mudando-se ou ajustando
hipóteses, variáveis, etc”.(BIEMBENGUT & HEIN, 2005, p. 15).
Avaliação do Processo:
Segundo Biembengut & Hein (2005), o professor pode adotar uma teoria de
avaliação que leve em conta a participação, ou seja, o cumprimento das tarefas com
assiduidade.
O professor também deverá observar se houve raciocínio lógico, ou seja,
consolidação de conhecimentos matemáticos, além de observar outros aspectos
como: qualidadeda pesquisa elaborada pelo aluno; obtenção de dados sobre o
problema modelado; interpretação e elaboração de modelos matemáticos;
adequação da solução apresentada; validação das soluções fornecidas pelos
modelos.
Dessa forma, a Modelagem Matemática no ensino representa um caminho
para despertar no aluno o interesse pela matemática.
Assim, o tema proposto para o desenvolvimento do trabalho em Modelagem
Matemática foi o de explorar conceitos de geometria espacial e plana por meio das
embalagens.
Para isto, elaborou-se uma sequência de atividades apoiada pela
manipulação de diversas embalagens presente no cotidiano do aluno.
As pesquisas mostram que, ao comprar um produto também pagamos pela
embalagem.
Desta forma,quanto mais material utiliza-se na confecção da embalagem,
mais caro fica o produto. Logo, a proposta apresentada teve como objetivo propor
uma embalagem para acondicionar 200g de cereal matinal, utilizando a quantidade
mínima de material.
3 - Procedimentos Metodológicos
O Projeto de Intervenção Pedagógica foi implementado no Colégio Estadual
Igléa Grollmann – Ensino Fundamental e Médio, no Município de Cianorte, Estado
do Paraná, no período de fevereiro à julho de 2014. Em uma turma do 90ano, turno
matutino, com 28 alunos matriculados.
Para realização da intervenção em sala de aula, utilizamos uma Produção
Didático- Pedagógica elaborada para esse fim, denominada Unidade Didática, que
teve como encaminhamento metodológico a organização de onze atividades
relacionadas à geometria plana e espacial.
No início do ano letivo de 2014, apresentamos a Unidade Didática para a
Direção e Equipe Pedagógica da referida Instituição de Ensino, e durante a Semana
Pedagógica apresentamos para os demais Professores e Funcionários, objetivando
informar sobre a importância da Matemática no nosso cotidiano e simultaneamente
destacar que a Geometria é um dos conteúdos básico da Matemática e se faz
presente na arte, arquitetura, ciências, entre outros.
Particularmente, nesta proposta, propusemo-nos a trabalhar com as
embalagens, com formatos geométricos variados, como as embalagens de:
achocolatados, creme dental, conservas, biscoitos entre outros, porque ao manusear
as embalagens os educandos compreendem as relações entre retas, planos, vértice,
ângulos, triângulos, etc, buscando assim desenvolver os conceitos de geometria
plana e espacial, além de observar prazo de validade do produto, código de barras,
assim como conhecer também a história das embalagens, suas formas variadas,
beleza, durabilidade, utilidade etc.
Ao iniciar o ano letivo, o professor proponente realizou uma reunião com os
alunos matriculados no nono ano, para informar como iria desenvolver este projeto,
suas etapas, com o objetivo de informar que ele estava pautado em pesquisas,
resolução de exercícios, planificações e construção de sólidos geométricos e
também construção e planificações de embalagens.
As atividades desenvolvidas respeitaram o desenvolvimento cognitivo da
maioria da turma e simultaneamente foram trabalhados os conteúdos de finidos para
o nono ano de acordo com as DCE’s (Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná).
A proposta teve por finalidade desenvolver conceitos da geometria plana e
espacial por meio da Modelagem Matemática, ou seja, um ensino que possibilitou
aos estudantes análises, discussões, apropriações de conceitos e de ideias.
Nesta Unidade Didática o conjunto de nove atividades envolveram: História
das embalagens, um vídeo com o título “Donald no País da Matemática”, calculo de
área de figura plana, uma atividade sobre figuras bidimensionais e tridimensionais,
cálculo do valor do (Pi), três atividades para o calculo do volume de sólidos e uma
atividade sobre poliedros e corpos redondos.
A última atividade se refere à Modelagem Matemática, onde os alunos tiveram
oportunidade de aplicar todos os conceitos adquiridos na construção de uma
embalagem econômica ideal para armazenar 200 gramas de cereal matinal.
Na primeira atividade, o Professor propôs um questionário, conforme descrito
na Unidade Didática, que objetivava fazer uma sondagem dos alunos em relação
aos seus conhecimentos, sobre Geometria Plana e Espacial.
Este questionário foi respondido pelos 28 alunos da turma e apontou que na
vida escolar desses educandos, os conteúdos de Geometria foram desenvolvidos de
maneira tradicional, sem o auxílio de material manipulável.
A tabela a seguir mostra a porcentagem de acertos obtidos nesse
questionário.
Tabela I: Resultado do questionário diagnóstico
Questão/Objetivos Sim % Não % Talvez % 1 – Reconhecer que o quadrado também é um retângulo.
0 100
2 – Diferenciar figuras planas e espaciais.
50 50
3 – Definir quantidades de vértices de um cubo.
32 68
4 – Representar a figura de um cubo.
30 70
5– Justificar o que são arestas.
18 82
6 – Comprar produto pela embalagem.
93 7 0
7 – Embalagem do produto influência na hora da compra.
76 24 0
8 – Embalagens com formato diferente influência na hora da compra
61 35 4
9 – Descartam a embalagem depois de aberta
61 29 10
10 – Citar algum tipo de matéria prima que é utilizada na confecção das embalagens.
100 0 0
Os dados apresentados na tabela I fornecem uma visão acerca dos
conhecimentos geométricos dos alunos sobre: formas, medidas, aresta, além de
possibilitar conhecer a forma como os educandos interagem com o meio ambiente,
ao responder a pergunta sobre “reciclagem das embalagens”.
A partir dos resultados desse diagnóstico, o professor proponente realizou
uma retomada dos conceitos básicos da Geometria, desde os entes geométricos até
os conceitos de geometria espacial. Na sequência, iniciaram-se as atividades
conforme previsto na Unidade Didática visando o aprofundamento dos
conhecimentos de Geometria para o desenvolvimento da atividade de modelagem.
Desta forma, de acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná:
A modelagem matemática tem como pressuposto a problematização de situações do cotidiano. Ao mesmo tempo em que propõe a valorização do aluno no contexto social, procura levantar problemas que sugerem questionamentos sobre situações de vida. Por meio da Modelagem Matemática, fenômenos diários, sejam eles físicos, biológicos e sociais, constituem elementos para análises críticas e compreensões diversas de mundo”. (DCE, 2008.p.64).
Respaldada nessa necessidade humana de compreender os fenômenos e
contribuir para uma formação crítica do educando, foram desenvolvidas nove
atividades de preparação com metodologias variadas, que antecede a atividade de
Modelagem Matemática, buscando desenvolver no aluno, conhecimentos que
valham não só para uma solução específica, mas que também possa utilizar em
outras situações.
Assim, o conjunto das nove atividades, propostas na Unidade Didática,
tiveram como objetivos, despertar no aluno a motivação e a curiosidade sobre os
conceitos geométricos, através de pesquisa, e da investigação.
Ao desenvolver as atividades de preparação, que antecedeu a atividade de
Modelagem Matemática, foi possível observar nos educandos grande interesse e
satisfação pela aula, como pode ser indicados em seus comentários:
-Agora sim, professora! Consigo entender para que servem os ângulos.
-Puxa! Gostei dessa aula. Acho que todas as aulas deveriam ser assim,
prática.
Desta forma, ao perceberem que os conteúdos estavam relacionados com a
realidade sentiram-se mais motivados quando desenvolviam cálculos em busca de
uma solução.
Durante a implementação foi possível observar nos educandos, grande
dificuldades em fazer cálculos com números decimais. Alguns alunos não sabiam as
operações básicas, envolvendo números inteiros e decimais.
A figura 1, ilustra um desse caso.
Figura 1: Calculo do perímetro de um trapézio
Fonte: Autora - 2014
Outras dificuldades apresentadas foram: falta a habilidade em planificar e
construir sólidos, e o uso dos instrumentos utilizados para medir como compasso,
régua, transferidor etc...
Para finalizar a implementação, a última atividade referiu-se à elaboração de
modelo para embalagens, e como estratégia de ensino-aprendizagem os alunos
utilizaram a Modelagem Matemática, criando um modelo de embalagem que deveria
ser ideal para armazenar duzentos gramas de cereal matinal, com maior economia
de material. Optou se em confeccionar uma embalagem para alimento à base de
cereais, por se tratar de alimento que faz parte do cardápio da merenda escolar.
A professora proponente levou várias caixas em forma de paralelepípedo
confeccionada pela indústria de embalagens, com capacidade para 240 gramas de
alimento à base de cereais granulado, com o intuito que os alunos tivessem ideia do
volume que ocupa esta quantia para depois confeccionar a embalagem solicitada.
Em grupo fizeram a planificação e os cálculos dessas embalagens e
concluíram que foram utilizados aproximadamente 1 251 cm2 de papelão na sua
confecção.
Como o desafio era uma embalagem para 200 gramas, os educandos
utilizaram regra de três, deduziram que para esta quantia deveriam utilizar
aproximadamente 1041 cm2 .
Com essas informações, os alunos confeccionaram as embalagens
individualmente, aplicando os conhecimentos geométricos adquiridos, através das
atividades de preparação.
Cada aluno teve a liberdade de escolher o formato para confeccionar sua
embalagem. Alguns escolheram a forma cilíndrica, outras na forma do cubo, a mais
comum foi na forma de um paralelepípedo retângulo.
Alguns alunos preocuparam em construir a embalagem com tampa, e quando
o professor proponente indagou sobre a construção das embalagens com tampa,
eles argumentaram:
- Professora! Como vamos empacotar alimentos, todas as embalagens devem
ter tampa?
Foi interessante perceber que os alunos faziam vários cálculos com o objetivo
de aproximar se do resultado esperado.
Na tabela II, as formas e os resultados que mais se aproximaram do
solicitado.
Tabela II: Resultado das embalagens construídas pelos alunos. Forma Área de Base
Inferior (cm2)
Área de Base Superior (cm
2)
Área Lateral(cm
2)
Área Total (cm2)
Cilindro (raio 6,5 e altura 19 cm)
132,7 132,7 775,58 1040,98
Cubo (aresta 13,3 cm)
176,89 176,89 707,56 1061,34
Paralelepípedo (5,5 cm X 16 cm X 21cm)
88 88 903 1079
Embora a embalagem mais econômica para armazenar 200 gramas de
alimento à base de cereais confeccionada pelos alunos, foi a de forma cilíndrica, os
educandos não concordaram que seria uma embalagem com a forma adequada
para expor nas prateleiras dos supermercados e também para levar no trabalho,
futebol, escolas etc...
Assim, concluíram que o forma mais adequada e prática é o paralelepípedo
retângulo.
Figura 2: Embalagens econômicas construída pelos alunos.
Fonte: Autora - 2014
4 - Considerações Finais
Esta proposta de intervenção surgiu em razão dos inúmeros problemas
relacionados como ensino e aprendizagem da Geometria, principalmente no Ensino
Fundamental, tanto na metodologia como na compreensão dos conteúdos pelos
alunos, e, para tanto, as atividades propostas foram realizadas com o objetivo de
despertar o interesse do aluno pela Geometria, utilizando como estratégia de ensino
a Modelagem Matemática.
O trabalho com a Modelagem Matemática proporcionou um ambiente de sala
de aula de participação ativa dos alunos, pois os alunos adquiriram a capacidade de
analisar, interpretar, ou seja resolver situações e tomar decisões.
Assim, utilizando a Modelagem Matemática como estratégia de ensino,
observou-se que a maioria dos alunos envolvidos no processo realizaram as
atividades com prazer, interesse e dedicação, pois conseguiam verificar a
aplicabilidade do que estavam estudando, além de associar a teoria com a prática.
Ao efetivar esta mudança do ensino da matemática para essa nova
perspectiva proporcionou-se uma aprendizagem de qualidade e também
significativa. Daí a importância de ensinar a aprender, principalmente no momento
de grandes transformações tecnológicas em que vivemos.
Compreendemos que os conhecimentos geométricos são cumulativos,
podendo ser facilitado, se utilizarmos os conhecimentos anteriores ao conciliar
Geometria, Medidas e Álgebra. Para isso, nesse projeto, procuramos apresentar
atividades diversificadas e interessantes, com o propósito defazer esta integração de
conteúdos e obter aulas mais interessantes.
Desta forma, no trabalho que desenvolvemos pudemos observar que durante
as aulas de Matemática, foi possível proporcionar meios aos educandos que os
ajudaram a desenvolver o raciocínio dedutivo e a argumentação lógica, fazendo com
que eles percebessem que é possível relacionar matemática com seu cotidiano. E
para que ocorresse essa relação, foram desenvolvidas atividade de Geometria Plana
e Espacial, associadas com algo conhecido por eles, ou seja, as embalagens
utilizadas no comércio, que serviram como recurso didático, possibilitando a
compreensão dos conceitos geométricos e apropriação dos mesmos, pois ao iniciar
as atividades proposta da Unidade Didática, verificou-se uma grande defasagem
destes conteúdos.
Sabemos que muitos professores ainda não utilizam como recursos didáticos
em suas aulas materiais manipuláveis, mas quando estes recursos, se bem
utilizados e dentro de um planejamento curricular coerente com as DCE’s (Diretrizes
Curriculares Estaduais), podem tornar as aulas mais interessantes e criativas,
melhorando a mediação e consequentemente a aprendizagem.
Essa análise permitiu entender que a Geometria consegue chegar ao aluno
com mais facilidade, quando trabalha se com situações reais, provocando no mesmo
o interesse pelo ensino e aprendizagem
E, quando permitimos que os alunos tenham contato com os materiais
manipuláveis, facilitamos a compreensão entre a teoria e a realidade, melhorando o
desempenho na Matemática.
REFERÊNCIAS:
BIEMBEGUT, M. S. Modelagem Matemática & Implicações no Ensino-
Aprendizagem de Matemática. Blumenau: Editora da FURB, 1999.
BIEMBENGUT, M. S & HEIN, N. no Modelagem Matemática Ensino.4.ed.São Paulo: Editora Contexto, 2005. Disponível em: www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile .php?id=10057> acesso em 22 de maio de 2 014. LORENZATO, S. Porque não ensinar Geometria? In: Educação Matemática em Revista – SBEM, 1995, p.3 – 13. PARANÁ. Secretaria de Estado de Educação (SEED). Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Curitiba: SEED, 2008. PAVANELLO, R. M. O Abandono do Ensino da Geometria: uma visão histórica. Universidade Estadual de Campinas, 1989. Dissertação de Mestrado.