o pai da razão

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O Pai da Razão - Série BereshitAuthor: Eliy Wellington Barbosa da SilvaEnquanto a ciência e a filosofia estão baseadas no ser humano, em seu intelecto e em suas interpretações lógicas do mundo; a Bíblia mostra para a razão que ela precisa ser purificada pela fé e, por conseqüência, pelaGraça de Deus.Considerando que o homem não pode fazer nenhuma coisa para merecer o perdão e a Graça de Deus, a fé pode ser vista como a segura confiança que se pode alcançar Deus com base em Seus atos.Ninguém não pode alcançá-Lo enquanto permanecer no mundo ou domínio natural. Somente a aceitação d’Aquele que pode conduzi-lo até Deus, que é Jesus, pode revela-Lo. Não se pode alcançar Deus a não ser por meio da fé. Em Jesus Cristo descobrimos a majestade e a infinidade de Deus. Não há base bíblica que possa legar outro meio de alcançar Deus. Pois se alcança Deus, com base exclusiva no que Ele fez por nós através de Jesus Cristo (Romanos 5.1).

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O PAI DA RAZÃO

SÉRIE BERESHIT

ELIY WELLINGTON BARBOSA DA SILVA

Page 3: O Pai da Razão

Copyright © 2005 por Eliy Wellington Barbosa da Silva

Todos os direitos reservados.

Direitos exclusivos deste e-book para FONTE DE ÁGUAS VIVAS

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P ro j e to e D i agram ação • Fonte de Águas Vivas

Aprov ação f i na l • Pastores Clenilson Barbosa da Silva & Marck Stefania

Martini

Ministério Fonte de Águas VivasRua São Paulo 241 • CentroJaguapitã • PR • 86.610-000

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SUMÁRIOSUMÁRIO!! A Fé e a Razão 05

!! A Necessidade da Fé 07

!! A Subjetividade da Fé 10 !! Além do Limite Pessoal 13

!! Teologia 18

!! A Teologia e as Ciências 23

!! A Sabedoria 29

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A FÉ E A RAZÃOA FÉ E A RAZÃO

““Religião sem ciência é cega e ciência sem religiãoReligião sem ciência é cega e ciência sem religião é aleijada”.é aleijada”. (Albert Einstein)

“AGORA PODEMOS ter uma correta definição da fé se dizermos que ela é um conhecimento firme e constate da benevolência divina em direção a nós, que é fundamentada na verdade da graciosa promessa de Deus em Cristo, revelada em nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo”. 1

Esta é a definição da fé por Calvino, que traduz a belíssima simplicidade do escritor aos hebreus: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hebreus 11.1).

A fé, que é possível ser descrita em termos simples e abstratos é a atividade cujo fim é criar meios de apropriar-se dos elementos espirituais necessários para cada pessoa. Fé é a condição necessária de intercâmbio entre a humanidade e Deus. Fé é a única condição eterna da vida humana alcançar a salvação em Cristo Jesus.

A fé é um processo do qual participam a humanidade e Deus. Apesar de ser concedida por Deus, neste processo o homem com sua própria ação, com o seu posicionamento impulsiona, regula e controla seu intercâmbio com Deus. E através da fé Deus faz então do ser humano uma de suas forças. Deus utiliza as forças

1 William W. Menzies & Stanley M. Horton. Doutrinas Bíblicas - Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 31. 2ª Edição. 1996

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naturais de cada pessoa imprimindo-lhe uma vida útil a Sua obra.

Atuando através da fé o homem modifica a natureza externa, a história, a situação, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Pois a fé desperta os dons espirituais entorpecidos pela natureza humana.

Se a manifestação de Deus fosse plena não haveria lugar para a fé. Deus é mais que um símbolo que transcende os limites da nossa condição terrena. O que sabemos sobre Deus preenche a nossa alma através de Cristo Jesus. E o que desconhecemos nos estimula a buscá-Lo.

Deus é uma lógica desconhecida para a visão racional. Entendê-lo pela razão é montar uma equação com unidades de medidas diferentes! É tentar somar 10 minutos com 50 gramas multiplicado por 25 centímetros.

A unidade é impossível de explicar a totalidade , ao menos que a totalidade se revele a unidade. O homem nunca vai revelar Deus, pois Deus é um ser que se auto-revela. E essa revelação é alcança, aceita e entendida através da fé.

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A NECESSIDADE DA FÉA NECESSIDADE DA FÉ

““Intellige ut credas, crede ut intelligas:Intellige ut credas, crede ut intelligas: Compreende para crer, crê para compreender”.Compreende para crer, crê para compreender”. (Agostinho, sermão 43)

Qual é o preço da fé?

Muitos encontram na razão o dom mais elevado da humanidade e o próprio contexto social exige isso. Mas as Escrituras mostram a fé como um dom de Deus, concedido por Deus e que conduz cada pessoa à Deus (I Coríntios 1.27-09).

A utilização da fé é a própria fé. Enquanto a fé se projeta para o centro do poder do Universo, que é o Criador; a razão se projeta para o centro da finitude, que é o homem.

Porém estas relações não implicam a inferioridade de uma e a superioridade de outra. Se recebemos o dom da razão, devemos usá-lo; e se temos o dom da fé, devemos despertá-lo. Pois quem não manifesta a fé, despreza Deus, visto que Ele é o doador da fé.

Enquanto a ciência e a filosofia estão baseadas no ser humano, em seu intelecto e em suas interpretações lógicas do mundo; a Bíblia mostra para a razão que ela precisa ser purificada pela fé e, por conseqüência, pela Graça de Deus.

Considerando que o homem não pode fazer nenhuma coisa para merecer o perdão e a Graça de Deus,

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a fé pode ser vista como a segura confiança que se pode alcançar Deus com base em Seus atos.

Ninguém não pode alcançá-Lo enquanto permanecer no mundo ou domínio natural. Somente a aceitação d’Aquele que pode conduzi-lo até Deus, que é Jesus, pode revela-Lo. Não se pode alcançar Deus a não ser por meio da fé. Em Jesus Cristo descobrimos a majestade e a infinidade de Deus. Não há base bíblica que possa legar outro meio de alcançar Deus. Pois se alcança Deus, com base exclusiva no que Ele fez por nós através de Jesus Cristo (Romanos 5.1).

A fé viva tem de apoderar-se da natureza humana e arrancá-la de sua inércia, e transformá-la em despenseiro real e efetivo das bênçãos de Deus. Através da fé Deus se apropria da natureza humana e de acordo com Sua finalidade empresta-lhe força para que esse possa cumprir a Sua obra. Pois o crente ao ter fé torna-se verdadeiramente o que era apenas potencialmente.

A obra de redenção da humanidade (Gênesis 3.15) teve início com a chamada de Abraão (Gênesis 12.1). Abraão é dignamente considerado pela Bíblia o Pai da fé e é chamado de Amigo de Deus. Porém, do ponto de vista divino, Abraão não tinha nada do que se orgulhar – nenhuma de suas obras fez com que tornasse aceitável perante Deus (Romanos 4.2).

A Bíblia simplesmente afirma que Abraão “creu em Deus”. E isso foi suficiente para que Deus anulasse seus pecados e o declarasse justo, sem culpa (Romanos 4.3). Pois a fé é o preço imposto por Deus para se alcançar Suas bênçãos.

Foi com Abraão que aprendemos que por mais pareça improvável que se cumpra uma promessa de Deus,

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devemos simplesmente crer e confiar (Romanos 4.19). Abraão nunca foi dono de um palmo de terra

sequer, a não ser o lugar da sua sepultura. Mas mesmo assim a sua fé e confiança tornaram-se cada vez mais fortes (Romanos 4.20), pois estava plenamente certo que Deus tinha todo poder para fazer qualquer coisa que prometesse (Romanos 4.21).

Qual a necessidade da fé? A fé é um princípio que vivifica e estimula. Por isso não temos nada a perder e o Céu a ganhar se mantivermos a fé.

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A SUBJETITIVADE DA FÉA SUBJETITIVADE DA FÉ

““A iluminação do intelecto faz o homem culto; aA iluminação do intelecto faz o homem culto; a iluminação da alma faz o homem sábio”.iluminação da alma faz o homem sábio”. (Raphael Zambroti)

Quais são os limites da fé? Até que ponto a fé é

necessária, moralmente e espiritualmente para a razão?

Ao se apoiar no senso de valores de Deus (Mateus 6.26), a fé torna-se mais uma questão moral do que intelectual. Mas se alguém resolver não aceitá-la, recusará todas as evidências aqui apresentadas. Além de implicar em uma humilde submissão da razão, a fé pode fazer do homem um feliz esperançoso.

Buscar Deus através da fé é mais do que uma tentativa de atribuir sentido as coisas deste mundo e de nossas vidas. Deus está muito além da atribuição de função de vigia de um sistema moral. Mas sem uma referência absoluta qualquer escolha é a correta. No caso os cristãos atribuem a Deus o fundamento do critério para fazer as escolhas certas.

Apesar da fé possuir a mais profunda convicção para que ocorra uma mudança no comportamento humano, não se pode mensurá-la somente quanto ao que pode ser acrescido à nossa moral. Pois acima de tudo a fé está relacionada com a nossa confissão da dependência de um Salvador. Está justamente na fé, e não na razão, a norma de vida e fonte de salvação (Atos 16.31).

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Não se pode desconsiderar que assim como a razão, a fé também é uma experiência humana e, como tal, pode estar intensamente carregada por sentimentos confusos e antagônicos. Também como a razão, pode chegar a conclusões contraditórias e opiniões contrastantes, fazendo com que muitos se julguem os únicos donos da verdade. Pois através da fé, as verdades objetivas são aplicadas de forma subjetiva, nos limites de cada indivíduo.

Existem muitos argumentos lógicos contra a fé. Assim como existem muitos argumentos lógicos, motivados pela razão, a favor da pedofilia. Perguntem isso aos filósofos gregos.

Assim como a ciência tem produzido homens...

4 obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus (II Timóteo 3.4)

A religião criou homens que apenas...

5 tem a aparência de piedade, mas negam a eficâcia dela (II Timóteo 3.5)

Quanto a esses dois casos, a Bíblia aconselha...

6 Destes afasta-te. (II Timóteo 3.6)

Os racionalistas...

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7 aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade (II Timóteo 3.7)

E muitos religiosos...

8 resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto a fé (II Timóteo 3.8)

Porém, ambos não irão...

9 avante, porque a todos serão manifesto o seu desvario (II Timóteo 3.9)

A verdade, a quem pertence?Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) dizia

que a verdade é essencialmente subjetiva, contestando a existência de haver uma razão acima ou além da humana. Segundo Hegel, não existem verdades eternas.

Deve-se concordar que existem muitas “verdades”, e elas se apresentam em quatro formas diferentes: íntegras, distorcidas, exageradas ou mutiladas. A razão e a crença lançam fundamentos nos mais diversos terrenos, como a verdade, a mentira e a hipótese.

Todavia, qualquer Verdade para ser reconhecida como cristã, tem que estar baseada em premissas seguras, indubitáveis e definitivas contidas na Palavra de Deus.

A Verdade sempre transcende a própria razão, pois enquanto que a razão é mutável, a Verdade é imutável. E o ponto de partida para a aceitação da Verdade é a fé, que

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se encontra baseada em revelações, algumas incompreensíveis à razão, e não em um campo lógico.

Pois existem Verdades que são indispensáveis para a salvação do homem. E a existência de Deus é uma verdade indispensável para a salvação do homem.

Quando se afirma que os homens duvidam da Verdade, se quer dizer que suas definições de verdade não correspondem com as da Bíblia. Mesmo considerando a Verdade bíblica como eterna, é difícil não a interpretar a partir da fé subjetiva. Mas como definiu Evans, “fé não é um sentido, nem vista, nem razão – é tomar a Deus na sua Palavra”. 2

2 Cowman, Lettie. Mananciais no Deserto. Ob. Cit. Pág. 10.

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ALÉM DO LIMITE PESSOALALÉM DO LIMITE PESSOAL

““Nissi credideritis non intelelligetis: Se não credes,Nissi credideritis non intelelligetis: Se não credes, não compreendereis”.não compreendereis”.

Para toda pergunta é possível encontrar inúmeras

respostas. Isto porque o homem não é uma máquina que reproduz sons e imagens de forma perfeita ou com exatidão. Não vê as coisas como realmente são, mas as vê pelo o que elas significam para ele.

As pessoas vêem o que querem ou precisam para defenderem-se e aproximarem-se de seus objetivos. E isto depende dos níveis de intuição, sentimento e consciência de cada indivíduo.

Os sentidos não reproduzem fielmente aquilo que eles percebem. E o que se percebe não é apenas armazenado como informação, mas se adapta às “formas” de sensibilidade do indivíduo.

Em “Eruditionis Didascalicae libri I”, Hugo de São Vitor, afirmou que o espírito humano transcende os dados adquiridos através dos sentidos. Então, pode-se afirmar que quanto a capacidade de percepção não se admite nenhuma dúvida.

Em função de sua estrutura cognitiva, o homem está inevitavelmente atribuindo significado às coisas – como inútil e útil, mau e bom... Por isso diferentes povos têm concepções diferentes das coisas, tendo como base as suas realidades concretas e seus valores.

São justamente os valores de cada homem que determinam seus objetivos e condicionam suas ações, pois

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como ser ativo, o homem reage conforme sua escala de valores. Por exemplo, se os cristãos procuram transformar o mundo, é porque ele não corresponde aos valores da Bíblia. E os que querem que o mundo permaneça como está, assim desejam por se beneficiarem dele.

Todo ser capaz de percepção, por mais pleno ou deficiente que sejam seus sentidos, está preso em si mesmo e limitado por sua subjetividade. As percepções que cada um experimenta, é exclusivo de cada ser, por isso fundamentalmente subjetivas. Apenas os objetos percebidos são comuns a todos.

Em geral se ignora que a percepção é subjetiva e os objetos percebidos são objetivos: mesmo que a percepção não represente fielmente o que o objeto percebido é, o objeto não deixará de ser aquilo que é. Por isso, a cor vermelha nunca deixará de ser vermelha, mesmo que um daltônico a perceba como verde.

Existiria algum objeto cuja percepção fosse comum a todos? Em “De Libero arbitrio”, Agostinho aponta a matemática como sendo este objeto. Pois mesmo que não existissem 10 coisas contáveis, não deixaria de ser verdade que 6 mais 4 são 10. Assim Agostinho concluiu que a matemática transcende a percepção dos sentidos.

Como seres temporais, contingentes e mutáveis poderiam conhecer verdades eternas, necessárias e imutáveis? Existe uma verdade além da nossa?

Esse grau de perfeição pertence exclusivamente a Deus e a Sua Palavra. Pois a Verdade da Bíblia independe da fé nela depositada ou da razão que a analisa.

As Palavras de Deus sempre serão a Verdade e a Justiça, independente de quem as discuta (Romanos 3.4;

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Salmo 51.4). A Verdade é indestrutível e imune ao pecado, pois está sempre um passo adiante do erro. Pois assim como não “determinamos” que 2 mais 2 são 4, mas apenas “descobrimos”; não “inventamos” também que o Eterno tem primazia sobre o temporal.

É árdua a missão de separar o objetivo do subjetivo, que é sempre subordinado aos conceitos e preconceitos pessoais. Cada cristão mantém-se isolado em seu conhecimento, sua compreensão e sua interpretação de Deus, mas sempre moldados na Palavra de Deus.

A Teologia tem o ideal de colocar a Verdade acima da crença pessoal, pois a objetividade, em seus limites, tem preferência e precedência sobre a subjetividade.

Mas de alguma forma, mesmo nas ciências e na Teologia, o consenso continua sendo o teste da verdade, pois nenhuma ciência é unicompreensiva. O teólogo Hugo de São Vítor, em “De sacramentis prol.”, mostra que os homens de Deus, de todos os tempos, “pelejam por um só Rei, seguem a mesma bandeira, lutam contra o mesmo adversário e serão coroados com a mesma vitória.”

A fé é o fundamento da Verdade pessoal, pois Deus vive e é Vivo no poder de nossa fé. Ela torna-se, como registrou Tito Flávio Clemente, uma antecipação de certas verdades ignoradas pela razão.

A Bíblia possui um caráter supra-racional, pois existem Verdades para as quais a fé precede a razão e outras nas quais a razão precede a fé. Tito Flávio Clemente via a necessidade de utilizar argumentos lógicos para guiar os neófitos até a fé. Em sua concepção, assim como a Graça não veio abolir a Lei, mas cumpri-la, a fé não veio suprimir a razão.

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Como observou Ives Gandrada, não existe, “portanto um choque entre a fé e a ciência. Antes, por vir esta sempre atrás daquela, termina por confirmar as verdades reveladas pela primeira (...)”. 3

A fé é o maior bem que o homem descobriu no transcendente, e a ciência o maior bem descoberto no imanente. Mas, por mais profundos que sejam os conhecimentos humanos, eles não conseguem alcançar a verdadeira sabedoria. Pois a Bíblia é aceita pela fé e depois pela razão (Lucas 24.25; I Pedro 1.21; I Timóteo 3.16).

É essencial apoiar a ciência em sua utilidade, mas condená-la veementemente em sua futilidade. A luta da fé cristã é contra o obscurantismo, a ignorância, a ilusão do conhecimento e a preguiça intelectual. Não contra a ciência, pois o oposto do conhecimento é a ignorância e não a fé.

Mas a Igreja já teve seus excessos, representados por homens como Pedro Damião, que em “De sancta simplicitate” afirmou que a filosofia, assim como a própria gramática, eram obras de Satanás.

A fé consegue demarcar certos limites para a razão, que são invioláveis enquanto a fé pessoal for viva. E para se ter um relacionamento com Cristo é necessário, antes de tudo, uma iluminação intelectual suficiente para satisfazer a razão. É mediante a fé que acolhemos e aceitamos tudo quanto contém a Palavra de Deus.

É inegável então, que o conhecimento é um ato de fé, e que a razão possui uma função soteriológica. Pois

3 Cultura e fé. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo/SP. Agência Estado. Pág. A2. Ano 121. Num. 38975. 03 de julho de 2000. Artigo de Ives Gandrada Silva Martins.

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como demonstrou Pedro Abelardo, qualquer saber universal deve ter por base o saber particular. A fé é a perfeita razão para todo aquele que crer. Mas é necessária a razão para descobrir o real significado oculto debaixo das palavras da Bíblia.

A ciência é útil e necessária para a humanidade, porém jamais será a única interpretação válida e suficiente. A ciência ou o cientifismo tem a pretensão de ser poderoso o suficiente para explicar os fenômenos naturais sem nenhuma menção a Deus.

Muitos homens vivem guiados exclusivamente pela própria razão, como se Deus não existisse ou agisse no mundo. Aliado a isso, as culturas atuais, impregnadas pelo pecado, deformam os valores e significados da ciência.

Da mesma forma que o inferno se veste de santidade, é possível a mentira se vestir de verdade. Muitos “adaptam” a Bíblia conforme sua exclusiva vontade! A ciência também sofre análises subjetivas, moldadas nos limites culturais e espirituais de quem a interpreta.

Muitos têm como meta suprema o deleite carnal. Mas com os olhos carnais só se vêem coisas carnais. Por isso a ciência se contenta com o que vê: os bens do corpo (Romanos 1.21-25). Assim as riquezas da fé superam, em muito, as da razão. As descobertas da ciência são poucas, pouquíssimas diante dos mistérios que a fé pode revelar e do que o homem pode alcançar em Cristo Jesus.

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TEOLOGIATEOLOGIA

““Fides quaerens intellectum: Fé procuraFides quaerens intellectum: Fé procura compreender”.compreender”. (Anselmo, Arcebispo de Cantuária)

Parafraseando Hugo de São Vítor, em “Eruditionis

Disdascalicae”, pode-se afirmar que a teologia trata das causas invisíveis das coisas visíveis, das causas em seus efeitos e seus efeitos em suas causas e, das formas invisíveis das coisas visíveis.

Enquanto isso “ciência”, que vem de “scientia”, é o “conhecimento” da observação do mundo exterior. Já Teologia é um conjunto de conhecimentos acerca do fundamento e aplicação do Evangelho.

Os ocidentais, em geral, possuem um domínio da Teologia, mesmo que pequeno, superficial e folclórico. Em geral a “teologia popular” acaba por produzir pensamentos sobre Deus indignos dEle.

É impossível converter o poder do Evangelho em doutrinas filosóficas, em um sistema de estudo fechado. Sem o vento do Espírito o ar se torna abafado. Por isso para muitos a teologia é completamente supérflua. E assim como as ciências, a teologia chegou a ser reputada por invenção diabólica.

A Teologia se baseia na revelação, a ciência lida com a observação e a filosofia com a concepção.Mas enquanto cabe ao cientista interpretar objetivamente a natureza, cabe ao teólogo tornar a Bíblia compreensível. A tendência da Teologia é limitar-se aos problemas que não estão sujeitos ao controle experimental.

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A observação e a interpretação das coisas é condicionada pela consciência individual. E a teologia, em sua objetividade, separa o que vê do que sabe. Nos aproximamos da Bíblia para refletir e conhecer mais do que as aparências. Somente assim o teólogo pode empenhar-se em fazer declarações sobre o mundo que não vê. Considerando sempre a finitude e a falibilidade do indivíduo, a fé vê as obras da criação sintonizando-as para além das aparências. O que vemos nem sempre é real, por isso a teologia tenta conciliar aquilo que vê com o que sabe através da Bíblia.

Muitos questionam a validade e a necessidade, não só da Igreja, mas também dos teólogos. O que é um teólogo?

Teólogo não é apenas um transmissor de informações ou um inventor de fórmulas. O Cristianismo é permeado por conhecimentos que vão do hábito à tradição, mas tudo o que a Teologia cria, pensa e diz é derivada da Bíblia.

Como reconheceu Pedro Abelardo em “Theologia Christiana” (volume 3), todas as analogias empregadas pelos teólogos não passam de meras sombras da Verdade. Por isso, parodiando Georges Gusdorf, pode-se afirmar que o teólogo tem a “função primacial de testemunha e indicador da Verdade, do Bem e do Belo”. 4

É comum, inclusive entre os cristãos, por não perceberem ou alcançarem os valores dos argumentos teológicos, desprezarem-nos baseados unicamente em suas decepções. Esquecem que diante da Bíblia é necessária uma postura científica: no sentido de analisar,

4 Gusdorf, Georges. Professor Para Quê? Lisboa. Moraes Editores. Pág. 8. 1970.

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experimentar e compreender. Como diria Pedro Abelardo, “condenam o que ignoram e censuram o que desconhecem”.

Ou seja, o mundo classifica como loucura o que é incapaz de entender. Completando Pedro Abelardo diria “confundem a aparência com a verdade, e o erro com o argumento”.

Todos têm o direito e o dever de conhecer o poder da fé, em toda sua beleza e profundidade. Porém é um indescritível perigo buscar a verdade sem um guia seguro.

Há milênios tem-se discutido qual a relação ideal entre a fé e a razão, expressados através da teologia e as demais ciências com suas descobertas e conclusões. Mas é somente pela fé que alcançamos a Verdade e é através da razão que compreendemos à própria verdade. As únicas autoridades superiores a razão são a fé e a revelação divina (a Bíblia).

Agostinho em sua obra “De libero arbitrio” (388-395), concluiu que acima da razão está a Verdade, que julga e modera a razão. Pois entre a interpretação falsa de um filósofo, cientista ou teólogo e a razão, deve-se ficar com a razão.

A credulidade apóia-se em coisas imaginárias, a crença em uma aquiescência intelectual e a fé na Palavra de Deus. Não podemos priorizar o academicismo teológico e relevar a comunhão com o Espírito Santo em nossas vidas à um plano inferior. A razão é falível, a fé pode ser deturpada, mas a Revelação Divina, a Verdade é íntegra!

Por isso Paulo recomenda que cada cristão continue...

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9 E retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convercer os contradizentes. (Tito 1.9)

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A TEOLOGIA E ASA TEOLOGIA E AS CIÊNCIASCIÊNCIAS

““Religião sem ciência é cega e ciência sem religiãoReligião sem ciência é cega e ciência sem religião é aleijada”.é aleijada”. (Albert Einstein)

Durante milênios a filosofia cristã vem discutindo

as questões relativas ao problema “fé e ciência”. E passando por períodos que são desesperadamente ingênuos ou rigidamente críticos.

Justino, filósofo e mártir do século II afirmava que a ciência da época (representada pela filosofia grega), não somente conheceu, mas também praticou a Verdade. Partindo da afirmação do apóstolo João (que o Logos é “a luz verdadeira que alumia a todo o homem que vem ao mundo” – João 1.9), Justino “reconheceu” que os gregos possuíam também esta verdade, apesar de imperfeita e incompleta.

Estudante das escolas filosóficas, Justino teve por mestres os estóicos, os peripatéticos, os pitagóricos e os platônicos. A filosofia estóica afirmava que o mundo era regido por uma “inteligência cósmica” ou “racionalidade divina” (o logos), que estava intimamente relacionada com a razão humana.

Por isso Justino via nas obras de Sócrates, Platão, Heráclito e dos estóicos, σπερµα του λογου ou seja, um “germe” ou uma “semente” do Logos. Dentro deste pensamento, estes filósofos não somente haviam

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conhecido, mas também praticado a verdade através de suas obras.

Ele chegou a denominar estes filósofos de “cristãos antes de Cristo”, afirmando que a comunidade cristã sempre existiu, em todas as culturas. Esta foi a defesa de Justino em sua primeira apologia, redigida em 155 d.C.

Tito Flávio Clemente (150-212), o Clemente de Alexandria, numa tentativa de justificar a origem divina do pensamento filosófico, criou uma fórmula simplista em “Stromata” (composta após 202 d.C.): a revelação cristã é a união do Antigo Testamento com a razão, pois “o caminho da verdade é um só”.

Para Clemente o termo “sabedoria deste mundo” (utilizado pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 3.19), aplicava-se somente ao filósofo grego Epicuro. Os trabalhos dos demais filósofos conteriam “sementes da Verdade”.

Pedro Abelardo em “Theologia Christiana” acreditava no pleno caráter cristão da doutrina dos filósofos, em especial Platão. Compara os filósofos com os profetas entre os judeus, concluindo assim como Justino, que os antigos filósofos seriam cristãos antes de Cristo.

O filósofo judeu Fílon, de Alexandria, ao tentar explicar a Bíblia do ponto de vista da filosofia grega, adotou a idéia estóica da Razão (Logos), a qual chamou de “segundo Deus”. A Razão seria um intermediário entre Deus e o mundo. Já o filósofo francês Pierre Abelardo (1079-1142), por enfatizar a razão sobre a fé, terminou sendo culpado por heresia em 1140.

Mas logo surgiu uma corrente antagônica a estes pensamentos, principalmente a geração posterior a Clemente de Alexandria. Os partidários desta corrente

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passaram a encontrar na Bíblia motivos para separar a teologia das demais ciências. Pois era a teologia, e não a filosofia, que ao lado da fé sempre procurou entender a Verdade da parte de Deus.

Porém houve o permanente consenso de jamais renunciar estas ciências. Antes, assim como os hebreus se apoderaram dos vasos de ouro e prata dos egípcios (por ocasião do Êxodo – Êxodo 12.35-36), todo cristão deveria tomar conhecimento das ciências em prol do Evangelho de Cristo.

Logo surgiu uma corrente radical que contestava: que concórdia há entre Atenas e Jerusalém? Ou que parte tem a Academia com a Igreja? (numa referência à II Coríntios 6.14-16).

Essa linha de pensamento conclui que seria injustificável o uso de “crenças profanas” ao lado da teologia. Por isso durante a Idade Média a Igreja Católica monopolizou o conhecimento científico.

Mas em suas epístolas, Paulo jamais teve a intenção de estabelecer contrastes entre a fé e a razão. E mostra a diferença entre a sabedoria divina e a sabedoria mundana. Por isso insistia na debilidade das especulações humanas frente à Jesus Cristo – a sabedoria de Deus (I Coríntios 1.30).

Sob esta óptica as ciências passam a ser vistas como servas da verdadeira Sabedoria. E serão muito úteis para a verdadeira Sabedoria enquanto condizentes com a fé. Ou seja, ao submeter toda a força e conhecimento ao serviço da cruz.

Torna-se também atrativa a definição que Agostinho fez de “ciência” em “De Trinitate”: ciência é a arte que nos auxilia a usar bem as coisas temporais. Sim,

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as coisas temporais, pois toda sabedoria mundana ou pagã, apesar de descobrir respingos do conhecimento de Deus, está condenada ao fracasso (Isaías 19.11; Ezequiel 28.2; Obadias 8).

Mas o perigo em ver a Teologia (e não a Sabedoria), como a ciência suprema, é opinar sobre a fé e a religião sem conhecer suas distinções e suas relações mútuas. Pois sem sabedoria a ciência é vã, e sem ciência (inclusive a Teologia) não há sabedoria.

As heresias têm origem na arrogância que todos se julgam aptos a discutir as Escrituras. Para deter este mal, existe um conjunto de critérios rigorosos que compõe a Teologia. Isto faz com que as múltiplas denominações cristãs e teológicas do mundo, dentro das inevitáveis exceções, mantenham uma incrível unidade e coerência.

E a Teologia, aliada com a fé, tornam um excelente preventivo e antídoto contra a indolência espiritual e a ignorância. A fé nos protege, até certo ponto, de erros em questões essenciais. Cabe a fé aceitar as verdades por Deus reveladas, e à razão analisar e aplicar estas verdades no cotidiano. Somente assim a Verdade será vista como coerente, pois haverá correlação com a realidade e, finalmente, será pragmática – transformará pessoas e situações.

Desde que o filósofo René Descartes popularizou a máxima “Cogito, ergo sum” (“Penso, logo existo”), o “pensar” passou a decidir a existência. Esta máxima culminou com a idéia de separar a ciência e a religião, dando origem ao Iluminismo, no século XVIII.

O Renascimento também ajudou a “provar” que o conhecimento humano tem origem nas experiências pessoais, e não em velhos e empoeirados pergaminhos

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bíblicos. E hoje, o discurso científico oficial exige uma total “independência”, não tolerando qualquer menção à religião. Fato compreensível ao considerar que a base da ciência é o poder do pensamento, da razão, e não o poder da fé. Mas o homem termina por separar a fé da razão, em uma inútil tentativa de estar isento do comando de Deus na história.

A ciência construiu uma permanente crítica sectária e impiedosa para a fé, mas é notório que a Teologia possui um compromisso exclusivo com a Verdade. E a Verdade não é exclusividade de um povo, de uma ciência ou de uma filosofia. Contudo, ao contrário das demais ciências, a Teologia possui um caminho certo para a Verdade.

Segundo o dualismo, o Universo só se explica como um todo, formado por dois elementos distintos e irredutíveis. Para o filósofo grego Platão (428-347 a.C.) esses dois elementos eram a idéia e a matéria. Platão acreditava ser possível chegar à um conhecimento seguro através da razão, que considerava eterna e universal.

Para Descartes, era a inteligência e a matéria. Já para Hegel, eram as condições espirituais que conduziam à uma mudança material. Enquanto que para Karl Marx eram as condições sociais que determinavam, finalmente, também as espirituais.

A queda do homem não destruiu o homem como ser humano, pois o capítulo 4 de Gênesis mostra os descendentes de Caim (de uma geração corrupta), desenvolvendo técnicas agrícolas, pecuárias, musicais, arquitetônicas e administrativas. Como observou Lawrence O Richards, a “queda destruiu, isto sim, a capacidade

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humana de ver o ‘sobrenatural’, de ter experiências que exigem que o egoísmo seja imerso no amor divino”. 5

A promessa de vida dos Evangelhos não promete uma nova humanidade, isto é, ninguém se torna mais do que um ser humano por crer em Jesus. Ninguém se torna mais intelectual ou capaz por receber uma nova vida em Cristo.

A Graça de Deus faz com que a incorrigível vida humana encontre, em Cristo a melhor variável que pode existir de cada um de nós. Não ocorrerá também um processo de ajuste aos valores sociais e culturais dominantes. Pois existe um abismo intelectual e espiritual que distingue a nova vida que se recebe em Cristo.

O que muda é “a capacidade de compreender e se aprofundar no significado da vida como Deus a planejou. Como pessoas mortas nós nem tínhamos esta capacidade, como também não a de experimentar tudo o que as outras religiões consideram ideais distantes”. 6

Por isso a fé cristã nunca será um mero elemento filosófico, mas o incrível fator gerador da confiança em Deus.

5 Richards, Lawrence O. Teologia da Educação Cristã. São Paulo/SP. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. Pág. 13. 2ª Edição. 1983.

6 Richards, Lawrence O. Teologia da Educação Cristã. Ob. cit. Pág. 14.

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A SABEDORIAA SABEDORIA

““Neque enim quaero intelligere ut credam, sedNeque enim quaero intelligere ut credam, sed credo ut intellingam: Não se compreende para crer, mas,credo ut intellingam: Não se compreende para crer, mas, ao contrário, crê-se para crer”.ao contrário, crê-se para crer”. (Anselmo, Arcebispo de Cantuária)

7 A sabedoria é a cousa principal: adquire pois a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o conhecimento. 8 Exalta-a, e ela te exaltará; e, abraçando-a tu,

ela te honrará. (Provérbios 4.7-8)

Biblicamente a sabedoria é um dom de Deus (I Coríntios 1.27-29), sendo aperfeiçoada pelo Espírito Santo: “porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (I Coríntios 2.10-12; João 16.13). Por isso a Sabedoria – assim como a força, o conselho e o entendimento em seu sentido pleno – pertencem exclusivamente a Deus (Jó 12.13; Daniel 2.20-23).

A fé é o único elemento que nos permite agradar a Deus. A verdade está para nós na mesma proporção da fé que possuímos. Sem fé é impossível alcançar plenamente a Revelação. Por esse motivo a Sabedoria ou Temor ao Senhor é fruto de uma viva e ativa fé.

A Sabedoria de Deus governa processos naturais (Isaías 28.23-29) e históricos (Isaías31.2). E todo cristão deve buscar a sabedoria para estar sempre preparado

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15 para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós. (I Pedro 3.15)

Sem soar redundante, é possível afirmar que a Teologia tem a missão de transformar aquilo que é naquilo que deve ser, e aquilo que não deve ser naquilo que é. A Sabedoria, através da teologia, é a descoberta de coisas eternas e imutáveis. E a ciência é a descoberta e a utilização das coisas temporais.

São então duas as maneiras de lidar com as coisas temporais: através do imanente (a sabedoria mundana) ou do transcendente (a sabedoria divina). Como disse Spurgeon, “sabedoria é o correto uso do conhecimento. Pois apenas conhecer não é ser sábio”.

Mas enquanto a ciência é fruto da inteligência inferior, a Sabedoria vem do alto, da inteligência superior. Em “De trinitate”, Agostinho chama as ciências de “ratio scientiae”, ou seja, razão inferior.

Mas existe uma linha tênue que não pode ser ignorada: sem sabedoria a ciência é vã, porém sem ciência não há sabedoria. Em suas obras “De Arithmetica libri II” e “Quomodo Trinitas unus Deus ac non Tres Dii”, afirma que sem o conhecimento das ciências naturais não é possível chegar até a sabedoria.

Em geral o resultado da ciência termina em conhecer e utilizar as coisas por si mesmas, vã gloriando-se e às vezes mentindo contra a Verdade. A ciência, na maioria das vezes, gloria-se em si mesmo, enquanto a Teologia gloria-se em Deus.

A fé tem por meta suprema a glória de Deus, enquanto a ciência busca a glória terrena, a glória do

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homem. Com isso a ciência torna-se o exemplo da sabedoria mundana, animal e diabólica (Tiago 3.14-15), a qual ensina o homem à viver para si mesmo, e não para Deus. E por encontrarem uma “verdade” satisfatória na injustiça, desconhecem Deus.

Porém, a sabedoria divina gloria-se em Deus. A meta de nossos esforços intelectuais é um contínuo aperfeiçoamento do conhecimento de Deus. Pois não são os avanços das ciências e sim as obras de Deus que são admiráveis, gloriosas e misteriosas.

Todos devem aproximar-se progressivamente de Deus e esforçar-se para, que através de Cristo Jesus, se assemelhem à Ele (Provérbios 2.6-7).

6 Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não porém a sabedoria deste mundo (...)

7 Mas falamos a sabedoria de Deus oculta em mistérios, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória (...) 10 Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito...

(I Coríntios 7.6, 7,10)

Um dia a ciência irá descobrir o verdadeiro caminho e a verdadeira sabedoria que é Deus, congregando em si o conhecimento das naturezas mutável e imutável, material e imaterial. Então ciência e fé estarão ligadas, não somente por palavras, mas pelo mesmo Poder.

Pois os bens espirituais são mais preciosos que os materiais, por isso os homens deveriam buscá-los. Os bens materiais podem preservar a vida e dar conforto ao

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corpo. Mas alegria autêntica e profunda é um bem espiritual, concedido exclusivamente pelo Espírito Santo de Deus.

Se o homem não houvesse caído, a força natural que ampliaria suas capacidades seria a alegria divina. Houve uma inversão da ordem natural: os homens passaram a confiar mais em si mesmos, em seus esforços, saber e aparentes triunfos, do que em Deus, em sua alegria espontânea, em sua fé e na sua vitória. A frustração do conhecimento humano torna-se evidente pelo fato de não conseguirem melhorar o nível (moral, social e espiritual) da humanidade.

A filosofia e as ciências, em si mesmas, não produzem uma nova vida. No melhor de seus aspectos podem dar um bom suporte para a vida material, no mesmo sentido que os ossos dão suporte ao corpo. Porém, sozinhos são ossos secos, desprovidos de corpos e de vida.

Percebendo o perigo que rodeia a ciência, Albert Einstein alertou que “devemos ter o cuidado de não fazer do intelecto nosso deus; ele sem dúvidas tem músculos fortes, mas nenhuma personalidade”.

Durante a vida, o homem passa por sentimentos variados que caracterizam o que ele é: uma criatura. Parafraseando a máxima de Descartes pode-se afirmar: “Existo, logo penso. E penso do modo que penso porque sou o que sou, uma criatura”.

Por esta razão, como registrou o comentarista João de Oliveira, o entendimento do homem “além de ser insignificante, é deturpado por causa da natureza adâmica, além de mal dirigido, em comparação com a mente de Deus. Nosso mal consiste muito em querer

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julgar a Deus, e querer compreendê-lo com a nossa mente terrena, humana, defeituosa e afetada pelo pecado e seus males”. 7

Como conseqüência, o Reverendo Ricardo Barbosa cita que “muitos acabam vivendo de forma limitada e às vezes medíocre, porque sua visão do mundo e compreensão da realidade é condicionada pelas percepções igualmente limitadas impostas a todos nós pelo pecado”. 8

A Bíblia afirma que muitos possuem uma visão tão limitada quanto as orientações e informações que recebem. Por esta atitude pagam um alto preço: não crescem, não produzem frutos, não amadurecem, sua existência e seu universo são limitados e pequenos (Jeremias 17.5-9).

Somente sob esta óptica é possível encontrar as origens das “invenções” da ciência. A ciência não deveria “inventar”, ela deveria descobrir, analisar e pesquisar. Se for considerado que uma hipótese, que não pode ser testada quantitativamente através de experimentos, sempre será uma hipótese; então não deveria haver na ciência, espaço para o subjetivismo na interpretação de suas idéias. Não deveriam existir hipóteses maravilhosas ou vulgares, mas simplesmente verdadeiras ou falsas.

Apesar da obra e avanço da ciência serem grandiosos (em geral externados por construções teóricas bem elaboradas), ela continua repleta de argumentos

7 Estevão, o moço mártir. Lições Bíblicas. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 45. 20 de junho de 1982. Comentários de João de Oliveira.

8 Bendito o homem que confia no Senhor. Revista VINDE. Rio de Janeiro/RJ. VINDE. Pág. 44. Ano III. Num. 36. Novembro de 1998. Artigo de Ricardo Barbosa de Souza.

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pretensiosos e inverossímeis. Fato lamentável para quem pretende ser a língua oficial universal para todas as comunidades.

Mas a Bíblia, ao mesmo tempo em que revela a futilidade da criação, demonstra que não é simplesmente a razão que separa o homem da fé. Pois nem todos os empenhos da razão conduzem unicamente ao erro.

Conforme expressou Antônio N. Mesquita, “hoje só a estreiteza do dogmatismo ou a pressa de alguns sábios poderá fazer reviver o conflito entre a Bíblia e a ciência”. 9

Em “De divisione naturae” (escrito em 5 volumes), Scoto Erigena afirmou que é impossível haver contradições na verdadeira razão.

Existe uma mutabilidade essencial no homem. Embora todos criados sem distinções, acabam diversificando-se em função do livre-arbítrio. Orígenes acreditava que as emoções estão subjugadas/sujeitas ao juízo racional. Mas onde há razão também existe a liberdade de escolha, porém escrava da concupiscência. Os impulsos da concupiscência alcançam a vontade e determinam os desejos.

E somente o Espírito de Deus pode fazer o homem totalmente livre. Pois a razão pode desaprovar e rejeitar o que lhe desagrada, bem como aprovar e reter o que lhe agrada; mesmo assim nem sempre governa as ações. De certa forma, emocionar-se é reagir à vida e expressar-se diante do que ela oferece.

É impossível negar que a visão que temos da vida está mais relacionada com as emoções do que com uma

9 Mesquita, Antônio Neves de. Estudo no Livro de Gênesis. Ob. Cit. Pág. 32.

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análise racional da realidade. E junto com as emoções estão as imaginações e desejos. Por isso supondo-se extremamente racionais, os homens refugiam-se em um mundo de fantasia.

19 Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus.

20 Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, 21 Na esperança de que também a mesma

criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. (Romanos 8.19-21)

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