o castel de castro laboreiro por joão aníbal henriques

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João Aníbal Henriques Castro Laboreiro Parque Nacional da Peneda-Gerês

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Apontamento histórico e etnográfico sobre o Castelo de Castro Laboreiro, Melgaço, Viana do Castelo, da autoria de João Aníbal Henriques.

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Page 1: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

João Aníbal Henriques

Castro LaboreiroParque Nacional da Peneda-Gerês

Page 2: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

por João Aníbal Henriques

Existem lugares que estão prenhes de memórias

e de vida. Neles subsistem memórias ancestrais,

marcadas nas rochas firmes que as sustentam,

em laivos de ritos que se repetem milenarmente

e que quase tocam a eternidade. Castro

Laboreiro, no Concelho de Melgaço, no Norte de

Portugal, é um excelente exemplo de um espaço

assim. Nele convivem muitas gerações que se

cruzam nos seus quereres, nos seus sonhos e nas

suas emoções, repetindo-se num monumento

cíclico eterno que surge perenes nas paredes, no

chão e nas rochas do lugar.

Castro Laboreiro

Page 3: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

Com uma história ancestral, provavelmente contemporânea do nascimento da espécie humana na Terra,

Castro Laboreiro ganha o seu topónimo do seu velho e vetusto castelo – ou castro – que estrategicamente

colocado no topo do morro nos deixa perceber que importância teve este lugar na definição dos limites

territoriais do nosso País.

Castro Laboreiro

Page 4: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

Castro LaboreiroO castelo ou castro, atribuído na literatura mais antiga ao

período romano, surge durante o romantismo como sendo de

origem árabe, facto que se sustenta na efectiva influência que

os norte-africanos tiveram na consolidação do espaço

territorial do El-Andaluz. Sabe-se hoje, no entanto, que o

castelo é muito mais velho do que isto e que, no deambular

transumante da pré-história, seria já um local de extrema

importância, pelo menos durante o período de veraneio.

As suas raízes celtas, imbuídas no espírito das muitas tribos

que aqui estavam sedeadas e que se digladiavam de forma

permanente protegendo-se nos fortes e contra-fortes que as

serranias proporcionavam, é uma certeza inultrapassável que

ajuda a percebe melhor a forma consentânea que o espaço

apresenta quando relacionada com a existência ambígua dos

seus primeiros ocupantes.

Parque Nacional da Peneda-Gerês

Page 5: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

Hoje, milhares de anos depois desse período áureo de Castro Laboreiro, a população continua a viver de forma

cruza entre as “inverneiras”, ou seja, os espaços de habitação situados nos vales que envolvem o lugar,

como Bico, Cailheira, Curveira, Bago de Cima e Bago de Baixo, Ameijoeira, Laceiras, Ramisqueira, João Lavo,

Barreiro, Acuceira, Podre, Alagoa, Dorna, Entalada, Pontes, Mareco, Ribeiro de cima e Ribeiro de Baixo e as

“brandas” os espaços ocupados durante o período estival e situados na regiões mais altas que envolvem a

localidade. As principais “brandas” são Vila, Várzea Travessa, Picotim, Vido, Portelinha, coriscadas, Falagueiras,

Queimadelo , Outeiro, Adofreire, Antões, Rodeiro, portela, Formarigo, Teso, Campelo, Curral do Gonçalo, Eiras,

Padresouro, Seara, e Portos. O ritual de passagem de trecos e tarecos entre as duas casas pelas famílias

castrejas, repete-se ainda hoje numa espécie de ritual cíclico que perpetua a própria Alma Lusitana neste lugar

tão especial.

Castro Laboreiro

Page 6: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

Os dólmenes situados junto à localidade, ainda

hoje motivo que redobra o interesse por uma

visita, atestam e testemunham a herança simbólica

e sagrada de um espaço que provavelmente só

assim explica a sua longevidade.

De facto, com uma situação geográfica extrema,

Castro Laboreiro viveu durante milénio num

isolamento muito profundo, facto que

contextualiza a excelente preservação dos seus

monumentos mas, também, a manutenção quase

se poderia dizer inusitada de uma estrutura de

pensamento que se consolida à medida em que os

séculos vão passando. Certo, no entanto, é que as

agruras do tempo e do clima e até a própria

produtividade da terra são insuficientes para

explicar a teimosia humana em permanecer por

aqueles lados, isto se não tivermos em linha de

conta a beleza natural que envolve todo o espaço e

que é de tal forma impactante que se torna difícil

de descrever.

Situada em pleno Parque Nacional da Peneda-

Gerês, que seria por si só motivo que chegaria para

explicar o interesse de a visitar, a localidade de

Castro Laboreiro vale ainda a pena pelos seus

excelentes restaurantes e magnífica gastronomia

que oferecem aromas e sabor a uma visita ao local.

Page 7: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

Mas no alto, alcandorado nas penhas que protegem a fronteira, o castelo sobrevive ainda, assente nas

ruínas que sobreviveram a um raio que o destruiu por completo no Século XIV e que Dom Dinis mandou

reconstruir.

O caminho íngreme e difícil, num acesso que só é possível fazer-se durante o Verão, transporta-nos até a

mais de 1000 metros de altura, deixando antever, aqui e ali, pequenos panos das antigas muralhas. Só

quando chegamos lá acima, já bem perto das enormes rochas onde está alicerçada a entrada principal,

começamos a perceber o assombroso daquele local. Uma paisagem sem fim, num conjunto de planos

infinitos que reforçam a sensação de pequenez e de insignificância que este tipo de locais sempre nos trás.

Classificado como Monumento

Nacional desde 1944, o Castelo de

Castro Laboreiro foi conquistado por

Dom Afonso Henriques em 1141

que lhe terá construído uma torre

de menagem isolada que lhe

conferiu a configuração tradicional

dos castelos românicos.

Castro Laboreiro

Page 8: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

Castro LaboreiroDepois de consolidada a Nacionalidade e de

terminadas as lutas fratricidas que deram

corpo à independência de Portugal, Castro

Laboreiro nunca perdeu da sua importância

estratégica, facto que se percebe através de

uma análise linear à forma como se situa a

sua muralha relativamente à fronteira galega.

No seu interior, abaixo do marco geodésico

que ocupa o espaço onde estava outrora a

torre medieval, existe ainda o redil onde se

juntava o gado das redondezas, protegido

pelos muros grossos das investidas sempre

terríveis de inimigos e animais selvagens.

Em suma, Castro Laboreiro e o seu velho

castelo são uma das pérolas inesquecíveis de

Portugal. Valem a distância necessária para lá

chegar e justificam por si só o passar por lá

uns dias de férias.

Parque Nacional da Peneda-Gerês

Page 9: O Castel de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques

João Aníbal [email protected]

http://portugalidade.blogspot.com

Tel. +351 96 251 95 14