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ENTREVISTADA: Gilmara Ap. Guedes dos
Santos Dadie, 33 anos - Mestranda na Faculdade de Educação - USP,
Especialista em Educação Especial pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro; Bacharel e Licenciada em Letras pela USP, Pedagoga pelo
CEUCLAR e formada no Magistério pelo CEFAM.
Atua a treze anos na educação pública com as seguintes funções:
professora de Ensino Fundamental I, de Educação de Jovens e Adultos e
Educação Infantil. Também como coordenadora de escola de Educação
Infantil e Coordenadora de área (Literatura) no Ensino Médio EAD e
presencial; Atuou também como professora de idioma (espanhol) e
Literatura Brasileira. Prestei serviço como consultora pedagógica ao MEC e
autora de livro didático de Literatura Brasileira para EJA.
ENTREVISTADORAS
Bianca Mulero da Sillva, estudante do curso de
pedagogia da Faculdade de Educação da USP.
Flavia Saul Da Costa Teixeira rios, atual estudante do
curso de pedagogia da Faculdade de Educação Da USP; Bacharel e
Licenciada em Letras pela USP; Professora da rede Municipal de Ensino De
São Paulo
Perguntas:
1-Como você observa as alterações na alfabetização nos quase 30 anos
desde que foi publicada as primeiras idéias de Emilia Ferreiro sobre a
língua escrita?
Tanto minha formação inicial no magistério quanto meu trabalho
pedagógico (docente e de formadora) teve as idéias de Emilia Ferreiro como
referência. No entanto, percebo, comparando com a educação que recebi no
Ensino Fundamental, através do estudo da própria história da educação e
dos diferentes materiais didáticos ou utilizados para fins pedagógico que
circulam ou circulavam; que a pesquisa e as idéias de Emilia Ferreiro foram
um marco para que se questionasse a educação, aquilo que era dado como
natural, correto e absoluto. A partir deste questionamento passamos a
refletir sobre a realidade da escola, da alfabetização. Começou-se a olhar
para o aluno de outro modo, como alguém que de fato detêm conhecimento,
elabora hipóteses, reflete sobre o código ainda que não o domine e tendo
este novo olhar sobre as crianças aprofundamos a reflexão sobre como
ensinar, sobre o que ensinar, sobre quais materiais, textos e contextos
utilizar para ensinar.
Não há como negar que após as publicações das idéias de Emilia
Ferreiro algo mudou na alfabetização. Todo professor alfabetizador de
algum modo foi “tocado” por essas pesquisas e certamente as têm de
alguma forma como referência.
2-O que se espera do saber ler e escrever também mudou com essas
idéias?
Certamente. Ampliou-se o olhar sobre o que significa escrever, ler,
decodificar, etc. Ampliou-se a noção inclusive do que é texto, de quais
textos devem ser lidos, devem ser “trabalhados’, rompeu-se uma “hierarquia
textual”, a qual supunha que somente textos didáticos eram considerados.
Ampliou-se a noção do que significa escrever, de como escrever.
É certo que nem toda mudança veio das pesquisas de Emilia, mas
certamente as pesquisas que foram realizadas posteriormente neste sentido
de alguma maneira também a tem como referência, dialogam com ela. Deste
modo, suas idéias contribuíram para esta mudança de paradigma do que é
ler e escrever.
3- Como você observa a importância do letramento e a sua relação com
a alfabetização?
O letramento é essencial. Não basta dominar o código e ser incapaz
de fazer seu uso. Não basta decodificar um texto, por exemplo, é
fundamental conseguir interpretá-lo, estabelecer relações, ler suas
entrelinhas, considerar seu contexto histórico e de produção, etc.
Ambos (letramento e alfabetização) se complementam e se
completam. Precisamos propor momentos nos quais se reflita sobre o
código, sobre seus usos, regras, etc. e ao mesmo tempo é fundamental haver
momentos de reflexão sobre gêneros, portadores textuais, uso social da
linguagem, interpretação, produção, análise, etc.
Acredito que é fundamental temos clareza (didaticamente) sobre o
objetivo principal que desejamos alcançar naquele momento, porém
alfabetização e letramento não precisam ser elementos estanques, que se
auto excluem. Ouvi certa vez que devemos alfabetizar letrando, e realmente
acredito nesta possibilidade.
4- Com sua experiência nas redes públicas de ensino, quais as
dificuldades encontradas pelos educadores para a alfabetização na
atualidade?
Alfabetizar dentro da nova proposta requer muito aprendizado,
formação de qualidade tanto inicial como continuada, muito esforço, tempo
de reflexão, de preparação de situações pedagógicas desafiadoras e
significativas; de planejamento, (re)planejamento, avaliação, registros; é
necessário refletir sobre as intervenções necessárias e de um olhar
individualizado para cada aluno, para saber onde cada um está,o que precisa
e como intervir para que possa avançar em suas hipóteses.
Diante destas necessidades é fundamental haver disponibilidade de
tempo por parte do professor, recursos materiais, físicos e humanos, etc. É
essencial um número reduzido de alunos por sala para que o professor possa
olhar realmente para cada um, fazê-lo com 36 ou 42 crianças na sala é no
mínimo um desrespeito com todos os envolvidos no processo. Tanto a
formação inicial quanto a continuada ainda precisam melhorar. Quem
aprendeu a analisar atividades na faculdade?
Certamente se o professor pudesse dedicar-se exclusivamente a uma
turma recebendo um salário que lhe suprisse as necessidades, ele o faria.
Deste modo, todos os problemas presentes na Educação de algum modo
contribuem para as dificuldades encontradas pelos educadores no trabalho
com a alfabetização.
5-Como é vista a questão do letramento na educação infantil?
O letramento é essencial e deve ser desenvolvido com as crianças
desde os primeiros anos de Educação Infantil. O uso de textos e materiais
com as quais vivenciamos no dia a dia além do acesso a livros e diferentes
gêneros devem fazer parte da rotina de nossas crianças, inclusive os
menores. As crianças pequenas também estão inseridas na sociedade, e
ainda que não saibam ler ou escrever convencionalmente podem se
apropriar do uso social dos diferentes textos, portadores e gêneros textuais.
6- O que você acha um professor alfabetizador não pode deixar de fazer
em classe?
Promover diversos momentos de reflexão sobre a língua escrita,
sobre a leitura, ler e contar histórias e principalmente propiciar o acesso às
crianças à diversidade de materiais e diferentes tipos de textos.