new dissertaÇÕes de mestrado e teses de doutorado/2003 · 2005. 12. 5. · dissertaÇÕes e teses...

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Dissertações e teses DISSERTAÇÕES Título: Um estudo sobre o desamparo: da herança ao destino Flávia Brasil Lima Orientador: Joel Birman Data da defesa: 22/1/2003 Busca-se delimitar o que está em jogo quando Freud, ao elaborar sua formula- ção inicial do desamparo biológico e, posteriormente, ao correlacioná-lo à an- gústia, formaliza a idéia do desamparo mental, postulando assim que o desam- paro concerne à condição de existência do ser humano. Compreendendo a an- gústia como a reação original ao desam- paro no trauma, ou seja, como o que marca os limites da capacidade do aparelho psí- quico em dominar a excitação pulsional, podemos situá-la como aquilo que diz respeito ao cerne do desamparo, que é a própria tensão pulsional. Esta caracteriza o resto da experiência originária de sa- tisfação que, como momento mítico do encontro entre o bebê e o próximo, tor- na-se, assim, paradigmática. E isto por- que ela revela que a concepção do de- samparo estende-se na dependência do sujeito ao Outro e que, a partir dela, ins- taura-se o princípio do prazer e seu Além, por meio do qual subsiste algo inassi- milável à cadeia representativa. É assim DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E TESES DE DOUTORADO/2003 Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Instituto de Psicologia Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica que a experiência originária permite conceber das Ding, a Coisa freudiana. Nis- so reside a divisão do sujeito, cuja marca essencial encontra-se no desamparo, pois a perda desse objeto fundamental (das Ding), além de ser o fundamento de seu próprio desejo, institui uma alteridade impossível de ser reproduzida no mun- do das representações. Assim, sustenta-se que o desamparo do ser humano não diz respeito somente a um acidente bioló- gico do tempo das origens do indivíduo, mas possui estreita ligação quanto ao pro- cesso de simbolização com a linguagem e seus limites. Título: Trauma: violência pulsional e fronteira egóica Rose Motta da Encarnação Azevedo Orientadora: Marta Rezende Cardoso Data da defesa: 22/1/2003 A noção de trauma, das mais relevantes na teoria freudiana, e presente nesta des- de os seus primórdios, proporcionou importante contribuição para a compre- ensão de questões que surgiram a partir do trabalho clínico de Freud, as quais se articulam diretamente com o problema do excesso pulsional. Estudamos essa no- ção na obra de Freud, bem como na de outros autores, procurando dar maior ênfase a um ponto de vista dinâmico, Ágora v. VII n. 1 jan/jun 2004 161-169

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  • Dissertações e teses

    DISSERTAÇÕES

    Título: Um estudo sobre odesamparo: da herança ao destinoFlávia Brasil LimaOrientador: Joel BirmanData da defesa: 22/1/2003

    Busca-se delimitar o que está em jogoquando Freud, ao elaborar sua formula-ção inicial do desamparo biológico e,posteriormente, ao correlacioná-lo à an-gústia, formaliza a idéia do desamparomental, postulando assim que o desam-paro concerne à condição de existênciado ser humano. Compreendendo a an-gústia como a reação original ao desam-paro no trauma, ou seja, como o que marcaos limites da capacidade do aparelho psí-quico em dominar a excitação pulsional,podemos situá-la como aquilo que dizrespeito ao cerne do desamparo, que é aprópria tensão pulsional. Esta caracterizao resto da experiência originária de sa-tisfação que, como momento mítico doencontro entre o bebê e o próximo, tor-na-se, assim, paradigmática. E isto por-que ela revela que a concepção do de-samparo estende-se na dependência dosujeito ao Outro e que, a partir dela, ins-taura-se o princípio do prazer e seu Além,por meio do qual subsiste algo inassi-milável à cadeia representativa. É assim

    DISSERTAÇÕES DE MESTRADOE TESES DE DOUTORADO/2003

    Universidade Federal do Rio de JaneiroCentro de Filosofia e Ciências HumanasInstituto de PsicologiaPrograma de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

    que a experiência originária permiteconceber das Ding, a Coisa freudiana. Nis-so reside a divisão do sujeito, cuja marcaessencial encontra-se no desamparo, poisa perda desse objeto fundamental (dasDing), além de ser o fundamento de seupróprio desejo, institui uma alteridadeimpossível de ser reproduzida no mun-do das representações. Assim, sustenta-seque o desamparo do ser humano não dizrespeito somente a um acidente bioló-gico do tempo das origens do indivíduo,mas possui estreita ligação quanto ao pro-cesso de simbolização com a linguagem eseus limites.

    Título: Trauma: violência pulsionale fronteira egóicaRose Motta da Encarnação AzevedoOrientadora: Marta Rezende CardosoData da defesa: 22/1/2003

    A noção de trauma, das mais relevantesna teoria freudiana, e presente nesta des-de os seus primórdios, proporcionouimportante contribuição para a compre-ensão de questões que surgiram a partirdo trabalho clínico de Freud, as quais searticulam diretamente com o problemado excesso pulsional. Estudamos essa no-ção na obra de Freud, bem como na deoutros autores, procurando dar maiorênfase a um ponto de vista dinâmico,

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    embora reconhecendo a importância dofator econômico. Pensando por que asdefesas egóicas fracassam diante dairrupção desagregadora de energiapulsional livre na situação traumática,analisa-se a questão do trauma à luz danoção de desamparo psíquico, tendo emvista que o ego pode se encontrar numestado de despreparo e submetido, sempossibilidade de resposta, à invasão pul-sional. Investigar essa posição de passivi-dade remeteu-nos às noções de “susto” ede angústia automática. Concebendo oego como uma instância que funcionacomo fronteira — em relação ao outrointerno e ao outro externo — tentou-sedemonstrar que ele lida constantementecom determinado limiar de excitação,podendo vir a fracassar ante a violênciada pulsão.

    Título: O trabalho do delírio naparanóiaAline de Alvarenga CoelhoOrientadora: Ana Beatriz FreireData da defesa: 19/2/2003

    A presente pesquisa dedica-se a estudaro fenômeno do delírio dentro da cate-goria clínica conhecida como paranóia, apartir das visadas teóricas de Freud e Lacan.No primeiro capítulo, vamos nos deterna leitura de textos freudianos em rela-ção à paranóia e suas conclusões. No ca-pítulo seguinte, faremos um exame dosprincipais escritos de Jacques Lacan so-bre a psicose e sua proposta de leitura daobra freudiana, com tudo o que isso podetrazer de novidade ao nosso campo de es-tudo. Dentro destas obras, vamos concen-trar nosso interesse nos deslocamentossubjetivos que um delírio pode operar edemonstrar que diferença pode ser ob-

    servada entre um delírio bem-sucedidoe aquele que não consegue proteger apessoa do horror que o invade. Para de-terminar essa diferença, examinaremosmais detidamente a possibilidade deconstrução daquilo que Lacan chamou de‘metáfora delirante’. Além disso, a partirda investigação do Caso Schreber, vere-mos o papel que a escrita desempenhouneste caso, também proporcionando umdeslocamento subjetivo.

    Título: A tensão temporal da análiseIsabela Braz Bueno do PradoOrientadora: Ana Cristina FigueiredoData da defesa: 19/2/2003

    Partindo da atemporalidade do incons-ciente, da descrição do conceito de re-petição e da noção de posterioridade —Nachträglichkeit — esta dissertação circuns-creve a estranha temporalidade do in-consciente assinalada por Lacan. Atravésdo artigo lacaniano O tempo lógico e a asserçãode certeza antecipada evidenciam-se a im-portância da função lógica da pressa e daexpressão tensão temporal que permitema formulação da tensão temporal da aná-lise. A experiência analítica está inseridanuma lógica essencialmente temporal queexige do analista uma postura e um ma-nejo específicos. O ato analítico, o cortee a escansão são as ferramentas privilegia-das de intervenção do analista que per-mitem passar da tensão temporal à sus-tentação da análise.

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    Título: A intervenção do discursoanalítico na estrutura de linguagemMarcia Sousa FreireOrientadora: Ana Cristina CostaFigueiredoData da defesa: 24/2/2003

    Tentaremos com esse trabalho demons-trar que o discurso analítico designa umaoperação que implica uma intervençãona estrutura de linguagem. A partir desteencaminhamento, pretendemos susten-tar a noção de intervenção analítica comoprecipitadora da ocorrência do discursodo analista. E, por fim, indicaremos que,por se tratar de uma forma específica delaço social, o discurso analítico não se li-mita ao setting analítico, podendo ocorrerem outros dispositivos. Para tal, decidi-mos realizar o seguinte percurso teórico:iniciaremos apresentando a dimensãoestrutural da linguagem e sua relação coma psicanálise, depois trabalharemos a te-oria lacaniana dos discursos na tentativade demonstrar que a formulação dos qua-tro discursos indicam quatro formas deorganização da linguagem, posteriormen-te articularemos o operador discursivo doanalista com a estrutura de linguagem afim de abordarmos a especificidade doanalítico de uma intervenção.

    Título: O corpo e suas faces: umestudo psicanalíticoCarla Fraga FerreiraOrientadora: Maria Teresa PinheiroData da defesa: 26/2/2003

    O objetivo do presente trabalho é discu-tir e estabelecer os elementos conceituaisque possibilitam sistematizar o que estáem jogo na relação do sujeito com o cor-po próprio para além da sexualidade, dafantasia e do desejo inconsciente indica-dos pela teoria da conversão histérica.Acreditamos que essa discussão pode for-necer um contorno como os transtornosalimentares, as toxicomanias e as doençaspsicossomáticas, com os quais a clínicapsicanalítica se depara cotidianamente.Partimos dos elementos em jogo na con-versão histérica para tentarmos avançar,apoiados na conceitualização do narci-sismo e da formação do eu, nas questõesimpostas à clínica psicanalítica pelos re-feridos fenômenos. Nesse desenvolvi-mento procuramos mostrar, ao recorrer-mos aos fenômenos da somatização, umaoutra face do corpo circunscrita a partirdo masoquismo, tomado não como fenô-meno mas como um modelo a partir doqual tentamos elucidar aquilo que da rela-ção com o corpo próprio escapa ao cam-po da sexualidade. Isso que escapa reme-te-nos ao terreno da pulsão de morte,cuja contribuição para o nosso estudo sedá por uma de suas manifestações: a agres-sividade. Enfim, pretendemos situar ocorpo em suas duas vertentes: ao mesmotempo em que realiza uma fantasia pelaqual o desejo inconsciente se articula,pode atualizar algo que não obtém ins-crição na cadeia significante, no que essealgo faz retorno sobre o próprio.

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    Título: A criança autista em trabalhoConsiderações sobre o Outro naclínica do autismoJeanne Marie de Leers Costa RibeiroOrientadora: Angélica Bastos GrimbergData da defesa: 26/2/2003

    Esta dissertação tem seu ponto de partidana clínica com as crianças autistas numainstituição e trata da questão do autismodo ponto de vista da psicanálise. Tomamoscomo eixo teórico central para esta pes-quisa os escritos de S. Freud e o ensino deJ. Lacan. Partindo da premissa de que osfenômenos descritos na caracterização dasíndrome autística constituem uma formade resposta ao Outro, investigamos o esta-tuto do Outro no autismo e a particulari-dade da resposta das crianças autistas aoOutro. Desenvolvemos a hipótese de queo Outro no autismo constitui-se comoexcessivo devido ao impasse na consti-tuição da simbolização primordial. Frentea este excesso, as crianças autistas realizamum trabalho: uma tentativa de inscriçãosignificante, de simbolização. Sustentan-do esta hipótese, procuramos discernir olugar do analista nesta clínica e uma possí-vel direção de tratamento, fazendo refe-rência a vários fragmentos de casos. A par-tir da aposta de que há trabalho nas ativi-dades, ditas estereotipadas, dos autistas, adireção de trabalho do analista não é o dainterpretação do comportamento ou dosditos da criança, mas a de se fazer parceirono tratamento do Outro excessivo, que acriança autista já realiza. A direção de trata-mento que propomos sustenta-se no de-sejo do analista que procura manter umlugar vazio de saber no centro da condu-ção de cada caso, permitindo que a crian-ça autista realize uma construção — pró-pria a cada caso, em sua singularidade —para tentar produzir-se como sujeito.

    Título: O primeiro ensino de Lacan: osujeito, entre saber e verdadeVanda Assumpção Rezende de AlmeidaOrientadora: Tânia Coelho dos SantosData da defesa: 21/3/20003

    Essa dissertação está circunscrita ao cam-po da teoria freudiana, à luz da orienta-ção de Jacques Lacan, a partir da leituraque efetuou sobre os textos de Freud. Oprincipal objetivo é estabelecer a relaçãoentre o sujeito da ciência e o sujeito dapsicanálise.

    Muito embora a ciência estabeleçauma disjunção entre o saber e a verdade,nisso distinguindo-se da psicanálise, va-mos estabelecer os pontos de interseçãoentre ambas, demonstrando que “o su-jeito sobre quem operamos em psicaná-lise só pode ser o sujeito da ciência”.Deste modo, o trabalho consiste em pes-quisar os principais textos freudianos eos lacanianos, dentro do período situa-do como o primeiro ensino de Lacan, atéo Seminário 11, de maneira a demonstrarque é pela via dos sonhos, do desejoindestrutível, que Freud chega ao saberinconsciente, apontando para a verdadedo sujeito, a verdade da fantasia, que ex-pressa a dimensão da subjetividade hu-mana.

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    TESES

    Título: O trágico em duas faces doalém do princípio do prazer. O simcontra o nãoMario BrunoOrientadora: Regina HerzogData da defesa: 13/1/2003

    A presente tese tem como tema o estudo,através do retorno do pensamento fran-cês a Freud, das condições para uma teo-ria do trágico que ultrapasse, no campopsicanalítico, o pathos dialético e cristão.Tal projeto implica: a) uma breve genea-logia do pensamento francês da segundametade do século XX; b) uma análise daquestão do “além do princípio do pra-zer” nas duas maiores obras que tratamdo trágico em Freud: o Seminário 7 e Dife-rença e repetição. As referidas obras foramselecionadas porque acreditamos queLacan e Deleuze intuíram que o “além dobem e do mal”, na obra de Freud, se re-solvia na problematização do “além doprincípio do prazer”. Por isso, encontramuma ética/estética do trágico em Freud evêem o conceito de Todestriebe algo inse-parável de uma teoria da repetição. Nessalinha, o conceito de Todestriebe acaba asso-ciado ao tema da criação, por ambos ospensadores. Lacan denega o pathos dioni-síaco remetendo a tragédia aos conceitosde sublimação e castração. Deleuze afirmao pathos dionisíaco aproximando o pro-blema da repetição, na Todestriebe, dos te-mas do eterno retorno e da criação donovo (do diferente), através do trágico.

    Título: Um pai para a psicose?Augusto Cesar FreireOrientadora: Anna Carolina Lo BiancoData da defesa: 25/2//2003

    Este trabalho tematiza a definição do pai,em teoria psicanalítica, em suas relaçõescom a possibilidade do tratamento dapsicose. Pretende-se demonstrar que amaneira de abordar o pai, em psicanálise,determina os limites da clínica, utilizan-do-se para isto, o exemplo da inacessi-bilidade da psicose ao tratamento na teo-ria freudiana. É apresentada a abordagemda psicose, pela via do pai, da teoria laca-niana, na intenção de indicar como a am-pliação das possibilidades da cura é tribu-tária de uma mudança na temática do pai.Para isto, as articulações da função paternacom a teoria do significante são explici-tadas pelo entendimento do pai comometáfora. Em seguida, busca-se demons-trar que, na falta da referência ao pai, ateoria freudiana é marcada por uma sériede tentativas de descrever o fenômenoclínico da psicose, sempre malograda notocante à possibilidade do tratamento,uma vez que o recurso à função paterna éprotelado em favor das noções de conflitoe defesa. Argumenta-se, porém, que oconflito é passível de atribuir à funçãopaterna, e que a defesa, em suas diversasmodalidades, é determinada por esta fun-ção. Deste modo, busca-se, na teoriafreudiana, uma formulação do pai quepermitiria o atendimento clínico das psi-coses, salientando as razões da demora doaparecimento desta na teoria freudiana.Finalmente, investigando as contribuiçõestardias de Moisés e o monoteísmo, é investigadaa possibilidade de se afirmar que a formaassumida pelo pai, a partir dali, forneceriaa Freud, houvesse tempo, a via para am-pliar o limite de sua clínica.

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    Título: Para que serve? Quanto vale?— Reflexões da psicanálise sobre acrise da arteGiselle Falbo KosovskiOrientadora: Regina HerzogData da defesa: 26/2/2003

    Em nossa pesquisa, fazemos uma releiturada crise da arte, tal como apresentada porArgan (1992), através da Teoria dos Dis-cursos de Lacan. Nossa hipótese é de quea crise da arte é um efeito do saber cien-tífico transmutado em tecnologia, queconfigura o discurso do mestre contem-porâneo. Esta crise representa o confron-to da arte com uma ordem discursiva queforaclui o espaço vazio da Coisa. Uma vezque a finalidade da arte é apresentar estevazio, em meio a um contexto culturalsuturado por gadgets e bens de consumo, aarte se asfixia. Tendo como objetivo re-encontrar sua finalidade original, a artecontemporânea nos brinda com seus es-tranhos objetos — objetos desestetizadose sem glamour, que não são facilmente con-sumidos. Deste modo, a arte insere nova-mente a dimensão real e o não-saberforacluídos pelo discurso científico.

    Título: A castração por detrás doamor — entre a razão e a causa dodesejoGraziele MaiaOrientadora: Anna Carolina Lo BiancoData da defesa: 24/3/2003

    A lógica que estrutura a escolha de obje-to e a construção das relações amorosas(bem entendido conjunção e disjunçãosexual) é examinada a partir da lógicafálica depurada na teorização da castraçãono mito edipiano em Freud e Lacan.

    Aquilo que escapa a essa lógica, irredutívelao campo do significante, é articuladoatravés dos conceitos lacanianos de obje-to a e real. A problemática das relaçõesamorosas, tendo em vista tais conceitua-ções e a cisão entre amor e desejo (Freude Lacan), planos que se sobrepõem no(des-)encontro amoroso, é situada comodeterminante na constituição do sujeitofrente à diferença dos sexos e na estrutu-ração de sua relação com o Outro.

    Título: Caráter e contemporaneidadeFábio André Moraes AzeredoOrientadora: Tânia Coelho dos SantosData da defesa: 28/3/2003

    Esta tese discorre acerca do declínio dafunção paterna e suas conseqüências naformação do caráter. Richard Sennett(1998) pergunta se é possível haver cará-ter em uma sociedade do capitalismo fle-xível como a nossa. O trabalho dessa tese éresponder a essa pergunta através da psica-nálise. Com Freud, a noção de caráter ficaaprisionada à dominância do complexode Édipo na cultura e, conseqüentemen-te, com o declínio do complexo de Édipoteríamos a corrosão de caráter que Sennettaponta. O caráter se diferencia do sintomapois ele não se oferece à interpretação,exigindo do psicanalista novas soluções,de vez que, se ficar restrito à interpretaçãoedípica, irá tomar enquanto negatividadeos pacientes que não aderem à associaçãolivre e que não acreditam no inconscien-te. Porém, a não suposição de saber a qual-quer Outro que se pretenda consistenteestá longe de ser um fenômeno isolado.Deste modo, o caráter nos suscita uma im-portante reflexão acerca do sujeito con-temporâneo daquilo que a psicanálisepode fazer com ele.

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    Título: Sintoma e gozo: da decifraçãoà responsabilização da metáforaincurávelMaria das Graças Leite Villela DiasOrientadora: Tânia Coelho dos SantosData da defesa: 28/3/2003

    O sintoma, como formação do incons-ciente, se sustenta em uma satisfação dedesejo e tem um sentido recalcado, quepode ser decifrado. Porém, o sintoma sedistingue das demais formações do in-consciente no tanto em que a satisfaçãode desejo, nele envolvida, tem um cará-ter paradoxal: é uma satisfação real, às aves-sas, remetendo ao real impossível de sersimbolizado, para além do princípio deprazer, vinculado à pulsão de morte, eque lhe confere um valor de gozo. O sin-toma, núcleo real do gozo, se apresentaentão sob dois aspectos: como modo par-ticular e central de gozo do sujeito, fren-te à falta irremediável, engendrada pelaperda do objeto primordial; e, como su-plência da perda, na função de parceiro,na estruturação da vida, dos laços sociaise dos laços amorosos na relação intersin-tomática entre os sujeitos masculinos efemininos. A trajetória de nosso trabalhopretende elucidar a passagem da decifra-ção do sintoma, que permite declinar ossignificantes-mestres que determinam eordenam a vida do sujeito, à identifica-ção com le sinthome, que permite ao sujei-to assumir a inércia do sintoma e o modoparticular de gozo frente à metáfora in-curável, responsabilizando-se por ela efazendo falar seu sinthome de outro modo,o que não deixará de ter conseqüênciasnas escolhas de sua vida.

    Título: Freud e o império das luzesHelcio de Carvalho AranhaOrientadora: Maria Teresa PinheiroData da defesa: 28/3/2003

    Parte-se de uma reavaliação das conside-rações efetuadas por S.Freud, em O mal-estar na cultura, acerca do “sentimento ousensação oceânica”, proposto pelo escri-tor francês Romain Rolland. Esta reavalia-ção se dá, principalmente, por meio dacrítica de uma determinada leitura quepretende enfatizar a filiação de Freud aomovimento iluminista, ou seja, aos filó-sofos da ilustração ou do “IluminismoClássico” (século XVIII). Propõe-se, en-tão, uma outra designação para Freud: ade “iluminista sombrio”, posto que a Psi-canálise recebeu influxo muito forte deoutro movimento, o Romantismo. Mo-vimento esse que destacou, sobretudo,o caráter noturno do homem com suaênfase nas questões do corpo, do afeto,do erotismo, em suma, no lado não racio-nal, “sombrio” do humano. Na segunda eúltima parte, intitulada “O passeio e amarcha”, abordamos aquilo que MoniqueSchneider denominou “geometria freu-diana”, que seria formada por dois ele-mentos: um espaço reticular sombrio eque teria forte influência do Romantis-mo. Essa “geometria freudiana” estariapresente em A interpretação dos sonhos. Pensa-mos que com a existência desses dois es-paços podemos comprovar a hitótese deFreud ser um pensador híbrido: umiluminista sombrio.

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    Título: À sombra do espetáculo, umadiscussão sobre as depressõescontemporâneasSandra Vilma Paes Barreto EdlerOrientadora: Anna Carolina Lo BiancoData da defesa: 11/7/2003

    O trabalho parte de uma interrogaçãooriunda da clínica sobre o crescimentodo estados depressivos na atualidade. Aclínica freudiana, fortemente apoiada noÉdipo, tem se confrontado com osurgimento de novos sintomas de configura-ção diferentes daqueles que Freud des-creveu e estudou. Embora não sejam pro-priamente novos, os estados depressivosincluem-se entre esses novos sintomas dada aforma e intensidade com que têm apare-cido, havendo a expectativa de que ve-nham a atingir, nos próximos anos, pro-porções epidêmicas. Essa questão centralabre uma trilha de estudos que parte dosignificante depressão, de amplo domíniopúblico, para situá-lo num percurso en-tre a psiquiatria e a psicanálise. A partirdaí busca-se, no texto freudiano, a even-tual especificidade deste termo em rela-ção ao luto e à melancolia. A depressãoneurótica, destacada como objeto de es-tudo, é então examinada sob o enfoquedos afetos e das paixões da alma. Alémdisso, com o desenvolvimento dos con-ceitos de supereu, desejo e gozo, as de-pressões passam a ser vistas como ummodo de gozo. Observa-se, na culturacontemporânea, um momento de exa-cerbação de gozo. Nesse contexto, duaspossibilidades são levantadas: a dosgozadores, aqueles que vivem em busca domais-de-gozar e que se exibem ao olhardo Outro, e a dos covardes, os que hesitame se esquivam e, ao contrário, deixam-seficar à sombra do espetáculo. A segunda possi-

    bilidade foi escolhida como paradigmada modalidade depressiva de gozo. O cres-cimento das depressões está relacionadoao movimento de radicalização do gozoque, nos dias de hoje, encontra-se emexpansão.

    Título: O que é produzir conceitosna psicanálise: uma investigaçãoem Freud e LacanVinicius Anciães DarribaOrientadora: Ana Beatriz FreireData da defesa: 23/7/2003

    A tese investiga o trabalho de produçãoconceitual no âmbito da psicanálise.A pesquisa tem como baliza as obras deFreud e Lacan, em que são enfocadas, res-pectivamente, as discussões em torno dosproblemas da realidade e do objeto. Bus-ca-se construir, com base nestes dois au-tores, um pensamento acerca do lugar queo conceito ocupa na psicanálise. Nestesentido, a especificidade do trabalho deprodução conceitual na psicanálise é ar-ticulada ao que é próprio da experiênciaanalítica. Em um primeiro momento, adiscussão tem como eixo a questão do‘inacabamento’ do conceito, que Freudjá destacava como marca de seu trabalho.Na seqüência, é enfocada a relação entreo conceito e a falta, a partir do exame dosconceitos da Coisa e do objeto a emLacan.

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    Título: A inquietante estranhezado Outro. Política e alteridade napsicanáliseGilsa Freiblatt Tarré de OliveiraOrientadora: Regina HerzogData da defesa: 30/7/2003

    Objetiva-se abordar o impacto ético epolítico da descoberta freudiana do in-consciente. A parte inicial da pesquisa con-centra-se no que denominamos uma ‘clí-nica do mal-estar’, defendendo a idéia deque longe de se limitar apenas a umanova modalidade terapêutica, a psicaná-lise igualmente surge no início do sécu-lo passado como uma maneira inédita depensar a cultura e os fundamentos dopolítico. Destacando-se a modernidade eseus impasses, coloca-se em discussão oentrecruzamento do discurso universal daCiência e seu ideal de totalização queadota a identidade enquanto um verda-deiro princípio de funcionamento, coma invenção da psicanálise mediante o atosubversivo de Freud de apontar para amarca do Outro como não idêntico a si.Amplia-se esse percurso com a teoria dolaço social como efeito de discurso pro-posta por Lacan, que nos conduz a umareflexão sobre o político a partir do con-ceito de sujeito e do estatuto do gozo.Estes são centrais em sua obra para darrelevo à potência subversiva da invençãofreudiana no sentido de interrogar algunssintomas da vida contemporânea como asegregação, o racismo e o retorno dos fun-damentalismos. Conforme entendemos,o singular da clínica só pode ser sustenta-do na medida que permaneçam abertasas chances de um movimento constantede interrogação acerca da posição do ana-lista na cultura para compartilhar sua expe-riência com outros saberes.

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