myer pearlman joao o evangelho do filho de deus

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Page 1: Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus

M Y E R P E A R L t v l A N

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SÉRIEComentário

Bíblico

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Bíblico

SÉRIEComentário

CPAD

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I mios os Direitos Reservados. Copyright <r> 1995 para a língua portuguesa da t 'asa Publicadora das Assembléias de Deus.

C 'apa: Hudson Silva

226.5 - JoãoPearlman, Myer

PHAj João, o Hvangelho do Filho de Deus... /Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995. p. 236. cm. 14x2 1 ISBN 85-263-0025-3

I. Comentário Bíblico. 2. João

CD D - 226.5 - João

Casa Publicadora das Assembléias de DeusCaixa Postal 33 120001-970, Rio de Janeiro, RJ. Brasil

I 1 I dição/1995

Page 5: Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus

índice1. Jesus, Filho de D eus e C r ia d o r ....... 72. Os Primeiros Discípulos ................... 173. O Prim eiro M ilagre de Cristo .........274. Jesus e N ic o d e m o s ...............................375. Jesus e a M ulher S a m a r i ta n a ........... 496. O Paralítico do Tanque de Betesda .. 597. Jesus, o Juiz que FTá de V i r .............698. Jesus, o Pão da V id a ........................... 799. Jesus na Festa dos Tabernáculos ... 91

10. Jesus, o L ib e r tad o r ........................... 10111. O Cego de N a s c e n ç a ...................... 10912. Jesus, o B om Pastor ......................... 11913. A Ressurreição de L á z a r o .............. 13114. Jesus é Ungido por M a r i a .............. 14115. Jesus, o Rei dos R e i s ........................ 15116. Jesus, o Servo ......................................16117. Jesus nos D á o C o n s o la d o r ............171

Page 6: Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus

18. Jesus É a V id e i r a .............................. 18119. Jesus, o In te rc e s s o r .......................... 19320. A Crucificação .................................... 20321. Jesus, o R cssu rrc to .............................21122. Jesus D issipa as D ú v id a s ................ 21723. Jesus A parece a Sete Discípulos

na G a l i l c ia .............................................227

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Jesus, Filho de Deus e Criador

T exto: J o ã o 1 .1 -1 4

Introdução

E m João 20.31, o evangelista declara o seu propósito, que c oferecer um a série de evidências que com provem a natureza c a missão divinas de Jesus. Os prim eiros 18 versículos do livro são um prefácio cm que anuncia o seu tema: “C om o o Filho de Deus foi manifestado ao m undo” . Este prefácio apresenta as três grandes idéias que percor­rem o evangelho inteiro:

1. A revelação do Verbo, v. 1-4.2. A rejeição do Verbo, v. 5-11.3. A aceitação do Verbo, v. 12-14.

1 - A R evelação do Verbo (Jo 1.1-4)

/. Seu relacionam ento com Deus. “No princípio era o V erbo” . Esta expressão nos leva de volta a Gênesis 1.1, onde se lê: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” João nos inform a que, na época da criação, o Verbo já

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8 João, o Evange lho do Filho de Deus

existia: “E o Verbo estava com D eus” , existia cm relacio­nam ento com Deus, o que sugere a eterna com unhão entre o Pai e o Filho. “E o V erbo era D eus” não significa que o Verbo é o Pai, porque o Pai e o Filho, sendo um quanto à sua natureza, são, porém , distintos quanto às suas persona­lidades. O Verbo c da m esm a natureza do Pai, ou seja, divino.

A palavra do hom em é o m odo de ele se exprimir, de se com unicar com outras pessoas. Pela sua palavra, faz conhecidos seus pensam entos e sentimentos; pela sua pa la ­vra, dá ordens c efetua a sua vontade. A palavra que ele fala transm ite o im pacto do seu pensam ento e caráter. Um hom em pode ser conhecido de m odo com pleto pe la sua palavra, c ate um cego pode conhecê-lo perfeilam ente as­sim. Ver a pessoa não daria muitas inform ações quanto à sua personalidade a alguém que não a tivesse ouvido falar. A palavra da pessoa é seu caráter recebendo expressão. Da m esm a forma, a “ Palavra de Deus” (ou "V erbo de D eus” , expressão que a tradução bíblica cm português em prega quando se trata de um a referência direta a Jesus Cristo na sua vida terrena) é sua m aneira de exprim ir sua inteligên­cia, vontade c poder. Cristo é aquele Verbo, porque Deus revelou sua atividade, vontade c propósito através dele, e porque é por meio dele que Deus entra cm contato com o mundo. Nós nos exprim im os por m eio de palavras; o Deus eterno se exprim e através de seu Filho, que é “a expressa im agem da sua pessoa” (Hb 1.3). Cristo c o Verbo de Deus porque revela Deus, dem onstrando-o pessoalmente. Ele não som ente traz a m ensagem de Deus - Ele é, pessoalm ente, a m ensagem de Deus.

D eus se revelara m ediante a pa lav ra dos profetas, e através de sonhos, visões e m anifestações temporárias. Os hom ens, porém , ansiavam por um a resposta a inda mais com preensível à sua pergunta: C om o é D eus? C om o res­posta a esta pergunta, ocorreu o evento mais estupendo da história do mundo: “E o V erbo se fez carne” (Jo 1.14). O

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Jesus, Filho de D eus e Criador 9

eterno V erbo de Deus tom ou sobre si a natureza hum ana c se fez hom em , a fim de revelar o Deus eterno através de um a personalidade hum ana (Hb 1.1,2). Assim sendo, d ian­te da pergunta “C om o é D eus?” , o cristão responde: Deus é com o Cristo, porque Cristo c o Verbo - a expressão do conceito que o próprio Deus faz de si mesmo.

2. Seu relacionam ento com a criação. “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” . “Ele estava no princípio com Deus” , ou seja, j á na época em que o Universo estava para ser criado (cf. Hb 1.2; Cl 1.16; 1 Co 8.6). A quem falou Deus em Gênesis 1.26?

3. Seu relacionam ento com os hom ens. “N ele estava a vida” . Ele dá vida a todos os organismos vivos, e guia todas as operações da natureza. O Pai é fonte original da vida; e toda a vida está reservada nElc, com o num a cisterna de arm azenam ento. O universo de coisas vivas veio a existir por meio do Verbo, e é sustentado pelo seu poder. A cura do paralítico (Jo 5.1-9) e a ressurreição de Lázaro são ilus­trações do poder do Verbo.

“E a vida era a luz dos hom ens” . T oda a luz que já veio aos hom ens m ediante a consciência, a razão ou a profecia, foi irradiada pelo Verbo de Deus, m esm o antes dele entrar no mundo.

II - A R ejeição do Verbo (Jo 1.5-11)

7. R ejeitado com o a luz dos hom ens. “E a luz resp lan­dece nas trevas, e as trevas não a com preenderam .” A luz era derivada do Verbo, e pela capacidade recebida da parte dEle podiam reconhecer o que era útil à sua natureza espi­ritual. M esm o assim, fecharam os olhos à Fonte da luz, como o olho doentio que rejeita a luz natural, em bora aquela fosse a vida deles. A queda foi um obstáculo, na história da hum anidade, ao entendim ento da Palavra de Deus, porque envolveu o m undo em trevas m orais e espirituais, de tal

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10 Joao, o Evange lho do Filho de D eus

m odo que os hom ens, criados por Deus, não podiam mais en tender as instruções de seu Criador, tendo sido obscure- cidas as suas m entes pelo efeito do pecado e da ignorância.

O p e n sa m e n to b ás ico do trecho é in te rro m p id o pelos ve rs ícu lo s 6-8, que en fa t izam a p o s ição de João B atis ta com o te s tem u n h a c re f le to r da luz, e não com o M essias . A lguns dos seus d isc ípu los se ap eg a ram tanto a ele que, a d espe ito da adver tênc ia con tida no te s tem u n h o que deu de si m esm o em Jo ão 3 .25-30 , te im aram em sus ten ta r ser João B atista o M essias , e, p o s te r io rm en te , fo rm aram a seita dos m an d eu s , da qual ex is tem a in d a segu ido res no O rien te .

V o ltan d o ao p en sa m e n to básico : “ E stava no m u n d o , c o m un d o foi le ito po r ele, e o m u n d o não o c o n h e c e u ” . Os h o m en s tinham tão pouco e n ten d im en to da o r igem do seu ser, a p ren d e ram tão p ouco ace rca da razão da sua ex is tênc ia , que não reco n h ec e ram seu C riad o r q u an d o Ele surg iu no m eio deles. A c iv il ização ro m a n a re g is ­trou seu nasc im en to , lançou-o no cadas tro dc pessoas físicas para fina lidades dc im postos , m as não tom ou o m ín im o c o n h ec im e n to dE le com o sendo o p róp r io D eus reve lado cm seu m eio.

2. R e je ita d o com o M essia s de Israel. “ Veio p a ra o que e ra seu, c os seus não o r e c e b e ra m ” . Jesus en s in o u esta verdade na p a ráb o la dos lavradores m aus (Mt 21 .33- 43). Q ue tragédia! A nação que ag u a rd av a a v in d a do M ess ias , o rando a rd e n tem e n te p o r este aco n tec im en to , can tan d o e p ro fe t iz an d o ace rca da sua vinda, não quis receb ê -lo quan d o chegou! (C f Is 53 .2 ,3 ; Lc 19.14; At 7 .51 ,52).

I l l - A A ceitação do Verbo (Jo 1.12-14)

1. O dom da filiação . “Mas, a todos quantos o recebe ­ram , deu-lhes o poder de serem feitos filhos dc Deus; a saber: aos que crêcm no seu nom e” . Estes vieram a ser

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Jesus, 1'ilho de Deus e C riador 1 1

filhos de Deus, não por serem descendentes de Abraão (“não nasceram do sangue” ), nem por geração natural (“nem da vontade da carne” ), nem pelos seus próprios esforços (“nem da vontade do varão”). Sua adoção na fam ília d ivina foi um dom gratuito c sobrenatural da parte de Deus, mediante u m a nova v ida im plantada neles pelo Espírito Santo, com o s e rá e x p l i c a d o a d ia n te n a e n t r e v i s t a de J e s u s co m Nicodem os, no capítulo 3.

2. A visão da glória. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” . Literalmente: “E o V erbo foi feito carne, e ta- bernáculo entre nós” . O Filho de Deus habitou num taber- náculo (“ tenda”) entre nós, o tabernáculo sendo seu pró ­prio corpo (cf. Jo 2.19; 2 Co 5.1,4; 2 Pe 1.13,14). Assim com o a glória de Deus habitava no Tabernáculo antigo, assim tam bém , quando Cristo nasceu neste m undo, sua d i­vina natureza habitava no seu corpo com o num templo.

“E vimos a sua glória” (caráter divino), não m eram ente a glória externa revelada na transfiguração (2Pc 1.16,17), mas, tam bém , o esplendor do seu divino caráter. Não era um a glória refletida, com o a glória de um santo, e sim a “glória do unigenito do Pai” . U m filho participa da m esm a natureza do pai; Cristo, com o Filho de Deus, tem a própria natureza de Deus. Este divino caráter estava “cheio de graça e de verdade” . A graça é o favor divino, o am or inabalável de Deus, a m isericórdia divina, c a verdade não som ente é a fala leal, sincera c veraz, com o tam bém a conduta à al­tura.

Por qual ato, ou meio, o Filho dc Deus veio a ser Filho do hom em ? Qual m ilagre poderia trazer ao m undo “o se­gundo h o m em ” , que é o Senhor do Céu (1 Co 15.47)? A resposta é que o Filho de Deus entrou no mundo, como Filho do hom em , por meio da concepção no ventre de Maria mediante o Espírito Santo, independentem ente de pai hu ­mano. No fato do nascim ento virginal baseia-se a doutrina da encarnação (Jo 1.14).

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12 João, o Evange lho do F ilho de D eus

IV - E n sinam entos Práticos

1. Cristo, a nossa Vida. “Nele estava a vida” . Cristo é a verdadeira fonte de vida espiritual. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham cm abundância” (Jo 10.10). Para esta finalidade o Filho de Deus tornou-se Filho do hom em : a fim de que os filhos dos hom ens possam ser feitos filhos dc Deus. “Q uem tem o Filho, tem a vida” .

Esta vida dc Cristo cm nós p recisa tom ar a prim azia; enquanto subjugam os pela Fonte a vida do próprio-eu, sus­tentam os a vida de Cristo em nós; quanto mais a lim enta­mos cm nossa vida a de Cristo, a vida do próprio-eu vai passando fome. M iguelângclo, o grande escultor, d iz ia das lascas dc m árm ore que iam caindo em grandes quantidades no chão do seu estúdio: “Enquanto o m árm ore vai se des­gastando, a está tua vai c rescendo .” Enquanto nós, m ed ian­te a abnegação, tiramos lascas da nossa velha natureza, a vida dc Cristo se torna m anifesta cm nossos corpos m o r­tais.

Cristo, para ilustrar esta verdade, fez alusão à prática da poda: “T oda vara cm mim que não dá fruto, a lira; e lim pa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15.2). O objetivo da poda c canalizar a vida dc partes inúteis para partes úteis. A parte da planta que antes m onopolizava o vigor da planta sem dar resultados, de repente c cortada, a fim de que a seiva vital passe de m odo ativo às partes frutíferas. A abnegação c um tipo de poda espiritual m ed i­ante a qual as energias antes m albaratadas em atividades pecam inosas ou sem proveito são postas a serviço da vida espiritual.

Enquanto conservarm os nosso contato com Cristo, que é a nossa vida, temos a vida abundante. Se deliberadam en- tc nos separam os dele, perdem os esta vida. A árvore não se a lasta da folha; é a folha que cai da árvore. Ciásto não abandona ninguém; são os hom ens que o abandonam .

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Jesus, Filho de D eus e C r iador 1 3

Com o nutrir a vida divina que há em nós? Pela leitura da Palavra, pe la oração, observando diligentem ente todos os meios da graça.

2. Cristo, nossa Luz. “Ali estava a luz verdadeira, que alum ia a todo o hom em que vem ao m undo” (Jo 1.9). Por que Jesus é com parado à luz?

2.7. A luz é pura. Brilha nos lugares mais im undos sem perder sua pureza. Cristo foi cham ado “o amigo dos peca­dores” , sem que a m ínim a m ancha de pecado lhe tenha m aculado o caráter. A luz brilhou nas trevas, sem nunca por elas ser vencida, obscurecida. Longe de afastá-lo dos pecadores, sua pureza fez com que sentisse sim patia por eles. Os verdadeiros hom ens de Deus sempre dem onstram ternura pelas pessoas que caíram cm erros.

2.2. A luz é meiga. A luz pode tocar num a teia de ara­nha sem fazer trem er um único fio. Cristo sem pre dem ons­trava m eiguicc ao tocar vidas quebradas, para sarar e não para esm agar (cf. Mt 12.20). T odos os verdadeiros cristãos são pessoas m eigas, pacíficas (Tg 3.17). M uitas vezes o conceito de poder se confunde com o da violência; a mei- guicc, porem, é um poder construtivo.

2.3. A luz. revela. Quão grande é o alívio para o viajante tateando na noite escura, quando rom pe a aurora! Quão grande a a legria para o peregrino nas sendas desta vida quando a luz da revelação divina esclarece os problem as da vida! “Eu sou a luz do m undo; quem m e segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).

3. “O hom em , este d e sco n h ec id o " . Foi este o título que o cirurgião c cientista Dr. Alexis Carrel, de renom e m u n ­dial, deu a um livro seu que teve enorm e aceitação. Nele, indica que as dificuldades pelas quais a hum anidade passa são devidas ao fato de que o hom em , sábio quando se trata de invenções, é proporcional m ente ignorante quanto à na ­tureza do seu próprio ser. Há algum tempo, um notável biólogo fez u m a declaração semelhante. Expressou o re ­

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14 Joao, o E vange lho do Filho de Deus

ceio de que a nossa civilização esteja cam inhando para a ru ína porque o hom em , com tantos conhecim entos quanto ao em prego dos objetos materiais, a inda perm anece sendo um “mistério b io lógico” .

A razão por que o hom em não conhece a si m esm o é não conhecer o seu Criador. Assim com o João escreveu: “Estava no mundo, e o m undo foi feito por ele, c o m undo não o conheceu” (Jo 1.10). Jesus “sabia o que havia no h o m em ” (Jo 2.25). Sabe, tam bém , o que é m elhor para o hom em . Seu ju g o é suave porque, diferentem ente do jugo do pecado, se adapta à alma.

4. D eus m anifestado na carne. N arra-se a história de um culto hindu, que, passeando dcsprcocupadam entc , foi olhar de perto um formigueiro. Q uando se abaixou, sua som bra assustou as formigas e elas correram em todas as direções. Tendo um a natureza simpática, o hindu pensou consigo mesm o: “G ostaria de poder conversar com estas pequenas criaturas, para dizer-lhes que não quero lhes fa­zer nenhum m al” . Mais um a vez, aproxim ou-se delas, e elas, com o da prim eira vez, se am edrontaram . Q uando ele recuou um pouco, recom eçaram as atividades do form iguei­ro. Sua mente, com o que brincava com o incidente: “G o s­taria de poder falar àquelas cria turinhas” , voltou a pensar. Então ocorreu-lhe o pensamento: “Não poderia falar com elas m esm o se possuíssem inteligência; a inda que possuís­sem um a língua, c que eu pudesse aprender tal língua, não consegu ida mc com unicar com elas, porque os meus pen­samentos não são os pensam entos delas. Meus term os de expressão não seriam com preensíveis a e las.” Sua im ag i­nação continuou trabalhando: “Se eu pudesse vir a ser um a form iga com o elas, c a inda reter m inha própria personali­dade c consciência, então, vivendo entre elas, co n seg u id a com unicar-m e, e elas entenderíam pelo menos a lgum a coi­sa dos meus pensam entos” . O seguinte pensam ento raiou- lhe de súbito: “E exatam ente isto que estes ensinadores cris­

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Jesus. Filho de Deus e C riador I 5

tãos querem nos di/.er: que Deus se fez hom em a fim de revelar se a nós c salvar-nos” . E, assim, sob a influência da própria ilustração que ele m esm o viu, o hindu veio a acei­tar a fé cristã.

A encarnação c um mistério que desafia a lógica. Para nossa fé, porém , basta saberm os que Deus se revelou por meio de Cristo, a fim de abrir-nos o cam inho da salvação.

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Os Primeiros Discípulos

T exto: J o ã o 1 .35-42

Introdução

O apóstolo João declara o propósito de escrever seu evangelho: “Listes, porem, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, c para que, crendo, tenhais vida cm seu nom e” (Jo 20.31). João transmite-nos todo o volum e de testem unho que o convenceu, c a outros da sua geração, quanto à d iv indade de Cristo, e tem confi­ança de que outros, igualmcnte, serão inspirados com a m esm a convicção.

O apóstolo apresenta três séries de testem unhos: 1) Os milagres de Cristo, que cham a dc “sinais” , porque dem ons­tram a d iv indade de quem os opera. Q uantos m ilagres operados antes da crucificação João registra no seu livro? 2) As asseverações dc Jesus quanto à sua natureza e m is­são. Note quantas vezes João registra as re ivindicações dc Jesus, que com eçam com as palavras “eu sou” . 3) João registra os testem unhos de outras pessoas - de João Batista, dos prim eiros discípulos c daqueles que receberam a cura da parte dc Jesus.

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1 8 Joao, o E vangelho do Filho de Deus

Este trecho c um exem plo da terceira série de ev idenci­as. C itam -se aqui os testem unhos de João Batista c Andrc, irmão de Pedro.

Q u an d o Jesus em erg iu da vida p a rticu la r pa ra en tra r no m in is té rio púb lico , não t inha nenhum adep to ou se ­guidor. Deus, porém , en v iara um p ro fe ta para p rep a ra r o c am in h o d ian te dele - João Batista , para “p rep a ra r ao S en h o r um povo bem d isp o s to ” (Lc 1.17). Foi no m eio dos co nver tidos de João B atista que Jesus recebeu seus p r im eiros d isc ípu los. N osso trecho b íb lico co n ta com o três desses d isc ípu los (inc lus ive o d isc ípu lo não m e n c i­onado pelo nom e) deixaram a esco la p repara tória de João B atista para se to rnarem estudan tes da e sco la super io r de Jesus.

I - U m a D eclaração Q ue C ham a a A tenção(Jo 1.35,36)

“No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos [André c João]; c, vendo passar a Jesus, disse: Fis aqui o Cordeiro de D eus” . Estudemos o significa­do desta proclamação, examinando as palavras, uma por uma.

1. “EIS aqui o Cordeiro de D eus” . Fiteralm ente, “veja” . O evangelista apela ao pecador que veja o Crucificado e, contem plando-o , lam ente os pecados que causaram sua morte.

2. “ Eis O Cordeiro de Deus” . Os sacrifícios de animais não operavam a perfeita redenção, haja vista que sempre tinham de ser repetidos. Nenhum sacerdote de Israel, can ­sado por causa do serviço ao redor do altar, podería voltar para casa, dizendo: “M inha esposa, finalm ente ofereci o sacrifício final; o povo está com ple tam ente perdoado e purificado” . No entanto, qualquer um dentre os sacerdotes que obedeciam à fé (At 6.7) poderia ter dito isso, porque o Cordeiro perfeito, do qual os dem ais eram apenas s ím bo­los, já fora oferecido (cf. 11b 10.1 1,12).

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Os Prim eiros D isc ípu los 1 9

3. “Eis o C O R D E IR O dc D eus” . O cordeiro era um animal sacrifical; João, portanto, identificava Jesus com o Sacrifício enviado da parte dc Deus, “que tira o pecado do m undo” . Leia Isaías 53, que c um ponto alto na doutrina do sacrifício, por profetizar que o próprio M essias em pes­soa havería dc se tornar a expiação pela raça hum ana. C om pare com Atos 8.32-35. Talvez João tam bém se refe­risse ao cordeiro da Páscoa (cf.l Co 5.7). No início do p e ­ríodo da Lei, há o cordeiro da Páscoa, cuja acciLação por parte da nação de Israel red im iu-a do meio da nação gen ­tia; quase no fim do período da Lei, há outro Cordeiro, rejeitado pelos israelitas - c, p o r causa deste pecado, fo­ram espalhados entre os gentios.

4. “Lis o Cordeiro dc D E U S " . U m a das mais marcantes d ife re n ç as en tre a fé c r is tã e o p a g a n ism o é que os adoradores pagãos trazem sacrifícios na tentativa de se reconciliarem com os seus deuses, enquanto a m ensagem do Evangelho declara que o próprio Deus enviou um sacri­fício em nosso favor a fim de nos reconciliar consigo (Rm 8.32; 2 Co 5.19). Deus trouxe a nós o sacrifício que nos coloca mais perto de Deus, e até o A ntigo Testam ento apresenta a expiação com o sendo a dádiva da graça divina: “Porque a a lm a da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas a lm as” (Lv 17.11).

II - U m a A presentação Inesquecível (Jo 1 .37-39)

1. Os d iscípu los que procuram . “E os dois discípulos ouviram -no dizer isto, e seguiram a Jesus.” A congregação de João com eçou a deixá-lo; ele, no entanto, não sentiu ciúmes porque, afinal, foi ju s tam en te esta obra dc apontar às pessoas o M essias que viera fazer: “E necessário que ele cresça e que eu d im inua” (cf. Jo 3.25-30). O fiel obreiro cristão conduz as pessoas a Cristo, e não a si m esm o.

2. A p erg u n ta perseru tadora . “E Jesus, voltando-se c vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Q ue buscais?” O

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20 .hum, o Hvangelho do Filho dr Dens

Senhor não deixa que ninguém o siga cm vão; m ostrará o seu rosto àqueles que o seguem em sinceridade. Note que as palavras "que buscais?” são um gracioso convite aos que o procuram , para que abram o seu coração a Ele. Ele a todos pergunta: "Que buscais?” Estão procurando verda­de. poder, perdão, amor, paz, vitória, esperança, forças? Ele pode nos oferecer tudo quanto buscam os e de que necessi­tamos. Além disso, a pergunta é um desafio, no sentido de ver se estam os procurando as coisas certas, porque ele procura discípulos sinceros e que entendam o que estão fazendo.

d. A pergun ta tím ida. "E eles disseram-lhe: Rabi (que, traduzido quer dizer. Mestre), onde m oras?” A pesar de se sentirem um pouco acanhados na sua presença, os jovens ficaram tão im pressionados cm seu prim eiro contato com Jesus que desejavam saber mais acerca dele; queriam saber o seu endereço, v isando a um a visita mais prolongada. Eição: não devem os nos limitar a um a olhada passageira em Cristo; devem os saber onde Ele habita, para que nos receba com o hóspedes.

4. O convite gracioso. "E ele lhes disse: Vinde, e vede.” Este convite é a m elhor resposta aos que duvidam e aos interessados é o apelo à experiência. Podem os dar às pes­soas uma excelente receita culinária, c fazer grande esforço de descrever quão delicioso é certo prato, mas nada se com para com levar o próprio ouvinte a experim entar a com ida por si mesmo. “Provai, c vede que o Senhor é bom ” (SI 34.8)

III - U m a E ntrevista Q ue Transform a a V ida(Jo 1.39)

“Foram, e viram onde morava, c ficaram com ele aque­le dia” . O escritor inspirado não nos conta os detalhes daquela inesquecível visita; sabem os, no entanto, que o contato com o radiante M estre contribuiu com algo de vital

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Os Prim eiros D isc ípu lo s 21

à vida de André. N unca mais foi o m esm o depois daquela entrevista. “Senti um calor estranho no meu coração” , d is­se João Wesley, descrevendo seu primeiro contato vivo com Cristo, c certam ente André sentiu-se assim durante a sua festa espiritual com o M estre. Q uem aceitar o convite de Jesus (“V enha ver” ) receberá outro convite (“V enha cear”). O prim eiro é para os que a inda não são do seu rebanho; o segundo é para os que já entraram no seu aprisco.

IV - U m a G rande D escoberta (Jo 1.40)

André saiu daquela casa transbordando com um a pode­rosa convicção e, enlevado pela descoberta que tanto o em ocionara, foi correndo falar com o seu irm ão Pedro, anunciando as novas que fariam palpitar o coração de qual­quer verdadeiro israelita: “A cham os o M essias” . Muitos judeus podem dizer, até hoje: “Crem os na vinda do M es­sias, oram os c ansiam os por aquele acontec im ento” , mas nenhum ju d eu que não crê em Jesus pode dizer, ju n tam en ­te com André: “A cham os o M essias” .

Note que A ndré veio a ser testem unha de Cristo no dia da sua conversão. As coisas m aravilhosas que Cristo sus­surra nos ouvidos do hom em , em segredo, ficam ardendo no seu íntim o até que ele conte aos outros.

V - Um Serviço de A m or (Jo 1.42)

A ndré não se restringiu a contar as novas: queria que seu irmão as experim entasse por si mesm o. Lemos, portan­to: “E levou-o a Jesus” - o serviço mais gentil que uma pessoa pode fazer a outra. N ão é necessário que alguém seja grande pregador ou gênio espiritual para assim fazer.

André com eçou o trabalho em seu próprio lar: “Este achou p rim eiro a seu irm ão” . O m elhor preparo a um m is­sionário é com eçar cm casa; se não consegu im os levar

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22 Joao, o E vangelho do Filho de Deus

outras pessoas a Cristo cm nossa própria terra, com o o farem os em outras terras? Q uando o endem oninhado liber­to por Jesus quis seguir v iagem com Ele, o M estre respon­deu: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e com o leve m isericórdia de li" (Mc 5.19).

VI - U m a R ecepção G raciosa (Jo 1.42)

“E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás cham ado Celas (que quer dizer Pedro)." Celas, em hebraico, quer dizer “pedra" ou “rocha". O que Cristo quis dizer com isto?

I. Na Bíblia, a m udança de nom e frequentem ente sig­nificava m udança da natureza da pessoa, da sua situação ou experiência (Gn 32.28). Este encontro com Jesus se constituiu em ponto crítico na vida de Pedro - a hora em que ele passou a ser de Cristo.

Dan C raw lord conta acerca do valor que os Congoleses dão a nomes:

“ O h o m e m q u e se t r a n s f o r m a m u d a ta m b é m de nom e . Um jovem p e r to de m im re c e b e u um a u m e n to sa la r ia l , e to m ou d in h e iro a d ia n ta d o pa ra c o m p ra r um n o m e . P a ra ele , o n o m e e ra um p a t r im ô n io tão v a l io s o c o m o um im ó v e l , p c r tc n c c n d o - lh e c o m o se fo sse seu c a c h o r ro ou sua a rm a . O jo v em q u e r ia c o m p rá - lo so- lc n c m e n tc , à v is ta . N a tu ra lm e n te qu e p o s s u ía n o m e , m as a c h a v a seu n o m e de n a sc im e n to po r d e m a is in ­fan til: não c v e rd a d e que p a ra d a d o p o r c o n je c tu ra , e sem o c o n s e n t im e n to d e le? N ão é v e rd a d e que o n o m e d ev e ser um le g í t im o re f le x o do c a r á te r da p e s s o a ? . . . N ão c de se e s t r a n h a r , p o r ta n to , qu e q u a n d o v o cê d iz ao a f r ic a n o qu e no ecu te re m o s u m a n o v a n a tu re z a , e s te re sp o n d e : ‘D e v e m o s , p o r ta n to , re c e b e r u m n o m e n o v o ” ' (ve r Ap 2 .17 ) .

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Os P rim eiros D isc ípu los 23

2. A m udança dc nom e foi, ncslc caso, um a prom essa de poder transform ador. T a lvez Pedro pensasse, consigo mesmo, na presença do Mestre: “C om o poderei eu, hom em tie caráter fraco c instável, ser digno de entrar no reino do M essias?” (cf. Lc 5.7,8). O Senhor, percebendo os temores íntimos de Pedro, queria dizer: “Sei que o hom em cham a­do Sim ão é conheeidam ente impulsivo, im petuoso e instá­vel. Tenha, porém , bom ânimo. Assim com o sei quem é você, assim tam bém sei o que você será. V enha a mim assim com o você é, c eu o farei um a pedra firme no meu Reino. C om o sinal desta prom essa, seu nom e será C elas .”

O Senhor sem pre é o m esm o: recebe-nos em nossa fra­queza, sabendo que poderá nos tornar fortes.

3. O novo nom e foi sinal da autoridade de Cristo exercida sobre Pedro, assim com o um rei pode alterar o nom e dc alguém que levou cativo (cf. Dn 1.7). Daquele m om ento em diante, Pedro ficou pertencendo a Cristo c, com lodo amor, cham ava-o de Mestre.

V II - E nsinam entos P ráticos

1. A m a io r n ece ss id ad e do h om em . S acrif íc ios , a l ta ­res c tem p los em todas as terras e época te s t if icam esta verdade: os h o m e n s sem pre sen tiram o falo de as co isas an d a rem e rrad as no seu re la c io n a m e n to com o poder superior, e que a ap resen tação dc um sac rif íc io com d e r ­ram am en to de sangue é n ece ssá r ia pa ra re t if ica r a s i tu ­ação. C ada pessoa que hon es tam en te ex am in ar o seu p ró ­prio co ração sen tir-sc -á c o n s tran g id a a d ize r “ A m é m !” à d ec la ração b íb lica : “ Pois todos p eca ram c desti tu ídos estão da g ló ria dc D eu s” (R m 3.23). M uitos rem éd ios têm sido o fe rec id o s para cu ra r a falta de h a rm o n ia que há na a lm a h u m an a ; João B atista , porém , ap o n to u o re ­m édio d iv ino : “Eis o C o rd e iro dc Deus, que tira o p e c a ­do do m u n d o !”

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24 João, o E vange lho do Filho de Deus

2. U m a p e rg u n ta p e rsc ru ta d o ra . “Q ue b u sca is? ” Esta p e rg u n ta sugere duas lições. 1) A n ecess id ad e de te rm os n ítida co n sc iên c ia de qual é o nosso ob je tivo na vida. M uitas pessoas são levadas à d e riv a pe la vida, im p u ls i ­onadas pe las c ircuns tanc ias ; sabem quais as suas n e c e s ­sidades im ed ia tas ; não podem , po rém , apon tar um o b je ­tivo su p rem o para a ting ir, nem m en c io n a r um grande p ro p ó s ito que con tro le a sua vida. Jesus, para d esp e r ta r nas pessoas o reco n h ec im en to de quão fútil é a v ida que vão levam , pe rgun ta -lhes: “Q ue b u sca is? ” 2) A p e rg u n ta d e sa f ia as pessoas a sc to rnarem d isc ípu los sérios. M a r ­cos D ods escreve:

“C ris to dese ja scr segu ido com toda a seriedade. T a n ­tos o seguem p orque um a m ultidão e s tá indo atrás dele, levando outras pessoas consigo ; tan tos o seguem p orque está na m oda, sem possu írem o p in ião própria ; m uitos o seguem com o por ex per iênc ia , c vão ficando pa ra trás quando surge a p r im eira d ificu ldade; m uitos seguem com idéias errôneas quanto àquilo que esperam da parte dElc... C ris to não m anda n in g u ém e m b o ra s im p lesm en te pe la sua len tidão em en ten d e r quem é E le e o que Ele tem feito pe los p ecadores . C om esta pergun ta , no en tan to , nos faz en tender que aq u e la a tração vag a c m is te r io sa que, qual ím ã esco n d id o , atrai a ele as pessoas, deve ser t rocada por um a co m p reen são n ít ida quan to ao que nós m esm o s espe ram os receb e r dE lc pa ra suprir as nossas n ecessidades . E le não re je ita rá p e sso a a lg u m a que re s ­ponda , com s inceridade; “B u scam o s a Deus, b u scam o s a san tidade , b u scam o s serv iço con tigo , b u scam o s a ti."

J. “Vinde, e v e d e ”. É um desafio aos que duvidam e questionam. Certo cristão aceitou o desafio de um não-crente para debater com ele em público. Depois do discurso do não-crente, o cristão, sem falar um a palavra, tirou um a laranja do bolso, descascou-a, com eu-a e depois pe rgun­tou: “ Bem, com o estava a laranja?” “C om o vou saber?” ,

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Os P rim eiros D isc ípu los 25

retrucou o não-crente. “Nem sequer provei de la” . R espon­deu o crente: “C om o o senhor pode conhecer o Cristianis­mo quando não o experim entou?”

Um interessado pode ouvir e ler acerca de Cristo; o melhor cam inho, no entanto, é chegar dire tam ente a Ele para experim entar seu poder. Para se explicar aos índios da floresta tropical o que c o gelo, mais Valeria um pedaço para exam inarem do que um a hora de preleções sohrc o assunto.

4. T es tem u n h o de C risto . O tes tem u n h o de A n d rc su ­gere três lições: 1) “Este achou p rim eiro a seu i rm ão ” . Q uan to m ais estre itos os laços de pa ren tesco en tre quem te s tem u n h a e q u em ouve, m ais en fá tico será o te s tem u ­nho. H á m ais fo rça de c o n v icção en tre os que se c o n h e ­cem in t im a m e n te do que na m en sag em fa lada cm p ú b l i­co. Q uan d o a lg u ém en co n tra C ris to de fo rm a tão real que sua a leg r ia é tão ó b v ia co m o q u ando en co n tra um ex ce len te e m p reg o ou vaga un ivers itá ria , seu te s tem u ­nho não d e ix a rá de c o n v en ce r aos que o co n h ecem . 2) O te s tem u n h o p esso a l é p rova da co n v icção pessoa l; q u a n ­do a lguém tem p ro fu n d a co n v icção , não pode ficar tran- qiiilo até co m p ar t i lh á - la com ou tra pessoa . 3) O te s te ­m unho p essoa l faz parte do p lano de Deus pa ra a evan- gc lização do m undo . No sécu lo que se seguiu à era ap o s ­tólica, não houve notícia de “g ran d es” evangelis tas c m is ­s ionários; não h á reg is tro de c am p an h as cv an g e lís t icas ab ran g en d o c idades inteiras. A Igreja, no en tan to , c re s ­ceu com ritm o veloz. A e x p licação é que cad a cris tão conside rou ser d ev er e p r iv i lég io te s tem u n h a r de Cristo . O escravo te s tem u n h av a p e ran te seu dono; o operário , ao seu co m p an h e iro ; o v endedor , aos seus fregueses; o filho, aos pais. Os pastores , evan g e lis ta s c m iss ionár io s se d es tacam na l ide rança da o b ra de g an h ar a lm as para Cristo, m as não podem ficar sem a co laboração dos m e m ­bros das suas co ngregações .

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0 Primeiro Milagre de Cristo

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T exto: J o ã o 2 .1 -11

Introdução

O milagre da transform ação da água em vinho ilustra o propósito do Evangelho de João, a saber: despertar a fc na divindade de Cristo e em Cristo, eom o o Messias. João nos conta eom o este milagre o convenceu, jun tam en te com os demais discípulos, da natureza divina de Cristo (2.1 1), e registra o incidente para que a nossa fc tam bém possa ser despertada c aumentada.

I - A Feliz O casião (Jo 2.1,2)

"E, ao terceiro dia (do incidente em 1.51), fizeram-se umas bodas em C aná da Galilcia, c estava ali a mãe de Jesus. E foi tam bém convidado Jesus e os seus discípulos (ver capítulo 1) para as bodas.” A presença do nosso S e­nhor no casam ento sugere as seguintes lições:

1. Jesus aprova a vida social. Jesus não era um relig i­oso som brio com rosto desagradável que se esqu ivava do contato com as pessoas. C om ia jun tam en te com fariseus e

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28 Joao, o E vange lho do EiIfio de Deus

publicanos com sociabilidade imparcial. Não consta ter recusado a hospitalidade de quem quer que seja, a ponto de os formalistas levantarem a acusação de ser ele “glutão e bebedor de vinho, am igo de publicanos e pecadores” . Não era verdadeira a acusação, mas pelo m enos ressaltou a verdade de que Cristo não aborrecia o convívio de grupos sociais, e que gostava de estar com pessoas. P rocurava a com panhia das pessoas a fim de espalhar a sua influência e doutrina, c para deixar que as pessoas o conhecessem e, por meio dele, à graça de Deus. O Senhor Jesus acreditava cm “ sep a ra ç ã o ” tão p ro fu n d am e n te co m o os p ró p r io s fariseus (que form avam o partido “da separação” ); mas, enquanto estes se afastavam dos peca d o res e continuavam a dar guarida ao pecado no coração (Mt 23.25-28), Jesus se conservava separado do pecado c dava as boas-vindas aos pecadores, a fim de salvá-los. Noutras palavras, ele estava in ferionnen íe separado dos pecadores, enquanto m antinha com eles contato exterior. D evem os seguir seu exem plo nesta matéria. Som os o sal da terra, mas, a fim de sermos eficazes, p recisam os en trar em contato com aquilo que precisa ser salgado; para sermos pescadores dos hom ens, devem os ir para onde estão os peixes; para sermos luz do mundo, devem os aparecer c brilhar.

2. C risto aprova o casam ento. N enhum relacionam ento hum ano tipifica um mistério espiritual tão profundo (ver Jo 3.29; Mt 9.15; 22.1-14; 25.10; Ap 19.7; 22.17; 2 Co 11.2). É digno, portanto, da mais e levada honra. Cristo previu, tam bém , que surgiríam na igreja aqueles que m enospreza­riam o casam ento (1 T m 4.3), ou que não perceberíam toda a dignidade c honra da família cristã. Lição prática: a p re­sença de Cristo é essencial ao casam ento feliz.

3. C risto aprova a a legria inocente. E m bora nosso Senhor fosse hom em de dores, carregando, lá no íntimo, o fardo do pecado c da tristeza do m undo inteiro, parece que era o lado alegre da sua natureza que ele apresentava às

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O Prim eiro M ilagre de Cristo 29

pessoas. Seu nascim ento foi anunciado com o boas-novas dc grande alegria. Um a das suas exortações favoritas era:

Tende bom ân im o” ; a pa lavra “alegria” ocupava um lugar de honra no seu vocabulário. Não há dúvida de que Ele dirigia os pensam entos dos hom ens às realidades solenes da vida, mas, ao m esm o tempo, oferecia-lhes gozo inefável e cheio de glória. U m a ilustração do Reino dos Céus que Ele freqiicntem ente citava era a dc um banquete de casa­mento, e quando os discípulos dc João queriam saber por que os de Jesus não je juavam , em pregou a m esm a ilustra­ção: “Então chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que je juam os nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não je juam ? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém , virão em que lhes será tirado o esposo, c então je ju a rão ” (Mt 9.14,15).

II - A Falta E m baraçosa (Jo 2.3 5)

“E, faltando o vinho, a m ãe de Jesus lhe disse: Não tem vinho.” O esgotam ento do suprim ento dc vinho pode ter surgido por três razões: o núm ero inesperado dos d iscípu­los de Cristo, o pro longam ento da festa por sete dias, se­gundo o costum e ou as dificuldades financeiras do noivo c da noiva.

7. A sugestão ansiosa. M aria, decerto, tem íntim a cone­xão com a fam ília que celebrava o casam ento, com o sc percebe do seu conhecim ento da falta de vinho e das or­dens que deu aos serventes. A falta de vinho em tal ocasião seria um a desonra para o hospedeiro c para o casam ento que estava sendo festejado. Assim , Maria sussurrou, ansi­osamente, a inform ação: “Não têm vinho” . Lem brando-se das declarações proféticas feitas acerca da g randeza do seu Filho (Lc 1.30-35), ela acreditava ter ele poderes sufic ien­tes para suprir a necessidade e tirar o hospedeiro do em ba­raço. Maria, vendo o seu Filho cercado pelos seus d iscípu­

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los, sente a esperança secreta que nutria cm silencio duran­te tantos anos irrom per em ardor flamejante, e volta-se a ele, dem onstrando um a bela fé cm seu poder para ajudar, m esm o na pequena necessidade do m om ento. Será que ela j á p r e s e n c i a r a a lg u m a m a n i f e s t a ç ã o do seu p o d e r m iraculoso? Leia o versículo 1 1.

2. A firm e ressalva. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que te­nho eu contigo? ainda não c chegada a minha hora” . Tal linguagem não dá a entender nenhum a falta de respeito porque a palavra “m ulher” , equivalente a “ senhora” , foi a m esm a que Jesus dirigiu a ela nos m om entos finais de sua vida terrestre: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19.26J. Lra um termo de respeito que se em pregava ate quando se d i­rigia a um a rainha.

M esm o assim, a linguagem dá a en tender um a m udança de relacionamento entre Jesus c Maria. Ela já não era “m ãe” , e sim “m ulher” . O período de sujeição a Maria chegou ao fim. Ele agora é o Messias, o Servo do Senhor, c seu re ­lacionam ento é o de Messias c discípulo (cf. At 1.14).

Jesus, por assim dizer, indicava: “É verdade que o re la­cionam ento natural entre nós c o de mãe c filho; lembre-se, porém, de que a m inha vida é vivida na esfera de um re ­lacionam ento mais alto (cf. Lc 2.48,49). C om o Filho de Deus, devo doravante agir e trabalhar segundo o tem po e a m aneira que meu Pai manda. O tem po c a m aneira do m eu ministério dependem de considerações mais altas do que as de carne c sangue” (cf. Ml 12.46-50).

M uitas vezes acontece que um a m ãe chega ao reconhe­cimento, talvez doloroso, de que quem foi seu “m enino” entrou num a esfera de vida mais ampla, além de influência c controle, da qual ela não pode participar.

3. A hum ilde aquiescência . M aria rap idam ente en ten ­deu a situação e aceitou-a com doçura c hum ildade; em seguida, disse aos serventes: “Fazei tudo quanto ele vos d isser” . Sua fé lançou m ão daquela pequena centelha de esperança - “ainda não” (v. 4) - e fê-la transform ar-se em

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O Prim eiro M ilagre cie Cristo 3 1

cham a viva. C om firme confiança, apesar da suave cham a­da de atenção recebida, M aria deixou tudo nas mãos de .lesiis. Nós tam bém devem os nos subm eter a Ele, confian­do que a tenderá às nossas petições, e isto com o c quando lhe convier.

III - O Su prim ento M ilagroso (Jo ão 2 .6 -1 0 )

“E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as pu ­rificações dos judeus (para lavarem -se cerim oniahnentc) e cm cada um a cabiam dois ou três alm udcs (ou metretas, medida correspondente a 38 litros). Disse-lhes Jesus: Enchei d ’água essas talhas. E cncheram -nas to ta lm entc .”

1. A realidade. As circunstâncias do milagre dissipam qualquer dúv ida quanto à sua realidade: as talhas eram especificam ente para água, não havendo a possibilidade de se sugerir a p resença de sedim entos no fundo que em pres­tassem o gosto de vinho à água; sua presença ali era nor­mal, c não prem editada, de acordo com o costum e dos judeus de lavagem (Mt 15.2; Mc 7.2-4; Le 1 1.38); a quan­tidade era enorm e, muito mais do que se poderia ter trazido secretamente; as talhas estavam vazias, e os em pregados sabiam que foi com água que passaram a enchê-las.

2. O m istério. O processo pelo qual a água foi transfor­m ada em vinho era divino; nenhum a palavra foi escrita sobre o m étodo da operação do milagre, nem sequer se m enciona que o m ilagre foi operado; s im plesm ente nos é inform ado o que aconteceu antes e depois do milagre. Jesus não enun­ciou qualquer pa lavra de ordem , nem em pregou qualquer meio: bastava o silencioso exercício da sua vontade para que a m atéria se transform asse segundo o seu beneplácito. A operação do poder criador do Senhor Jesus foi feita m ediante sua simples vontade íntima.

3. A adm iração. “E, logo que o m estre-sala provou a água feita vinho [não sabendo donde viera, sc bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água], cham ou o

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32 J ock), o Evange lho do Filho de Deus

m estre-sala ao esposo, c disse-lhe: Todo hom em põe pri­m eiro o vinho bom e, quando já tem bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho” . O mes- tre-sala, dirigindo o andam ento da festa, não aludia a qual­quer excesso da parte das pessoas presentes naquela festa específica, porque Jesus não teria abençoado com sua pre­sença qualquer bebedice. Simplesmente faz alusão ao costu­me normal, mediante o qual os hóspedes, depois de uma su­ficiência de vinho superior, já não poderíam discernir a infe­rioridade do vinho oferecido no fim da festa.

IV - O Propósito Superior (Jo 2.11)

O propósito imediato de Jesus em operar o m ilagre era libertar um jovem casal do em baraço c da vergonha. O versículo 1 1 sugere o propósito superior do milagre: a re­velação da glória de Cristo. "Jesus principiou assim os seus sinais cm C aná da Galiléia, e m anifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele” . Foi esta a prim eira dem o n s­tração do poder milagroso de Jesus, revelando a sua natu­reza divina. lrrom pcram -sc agora, visivelmente, a d ivina natureza e a glória que antes se escondiam sob o vcu de carne, e os discípulos viram “a sua glória, com o a g lória do unigenito do Pai” (1.14). O m ilagre revelou a operação do poder criador, cuja origem somente podería ter sido de Deus.

/. A um entou-se a f é dos d iscípulos. “E os seus d iscípu­los creram nele” . Já tinham crido; senão, não seriam discí­pulos (1.50). Agora, porém , sua fé ficou mais p rofunda e mais forte. Acreditavam em Jesus, porém agora mais do que nunca. Nossa fé é aum entada (Lc 17.5) ao ver o S e­nhor operando cm poder milagroso.

V - E nsinam entos P ráticos

1. P oder a través da obediência. Q uando Jesus m andou os serventes encherem as talhas d 'á g u a e levarem -nas até

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O Prim eiro M ilagre de Cristo 33

i» m cstre-sala para suprir a falta dc vinho, estes teriam molivos justos para se recusar a fazê-lo, ou para exigir al­gum a explicação ou garantia de que Jesus enfrentaria as eonseqüências. O bedeceram assim mesm o, e sua fé obedi­ente fez com que se tornassem colaboradores de um m ila­gre; ficaram sabendo que nenhum a ordem de Cristo é inú­til ou sem propósito.

Nós tam bém ternos que passar por experiências sem e­lhantes para aprendermos a m esm a lição. A Palavra de Deus ordena que façam os coisas aparentem ente desarrazoadas e além das nossas possibilidades. Por exemplo, tem os de ser santos, em bora saibamos que assim com o o leopardo não pode m udar suas manchas, não podem os, por nós mesm os, purificar a nossa alma. Quase temos vontade de dizer: Como pode a substância da natureza hum ana, que é com o a água, ser transform ada cm vinho digno de ser derram ado como oferta no altar de Deus?

N osso pape l é o b ed ece r sem q u e s t io n a r ou ex ig ir e x ­p licações. Os servos tiraram a água, lev aram -n a ao m es- tre -sa la , c o S e n h o r fez o res to . A ss im co m o a v o n tad e de C ris to p e rm e o u a água , a té im b u í- la de n o v as q u a ­lidades, ta m b é m é sua v o n ta d e p e rm e a r a n o ssa a lm a, co n fo rm a n d o -a ao seu p ropós ito . “Fazei tudo q u an to ele vos d is se r” - é e s te o seg red o da o p e ra çã o de m ilag res . F aça-o , e m b o ra p o ssa dar a im p re s sã o dc e s ta r g a s ta n ­do cm vão as suas e n erg ias , ou v ir ser ob je to de e sc á r ­nio. F aça-o , e m b o ra você não ten h a em si m e sm o a c a ­p ac id a d e dc re a l iz a r o seu p ro p ó s i to . F aça-o to ta lm en - tc, co m o se fo sse você o ún ico ob re iro , co m o se D eus não v iesse su p r ir as suas fa lta s , de m odo que q u a lq u e r fa lh a da sua p a r te fosse fa ta l à obra. N ão f iq u e e s p e ­ran d o que D eu s o faça, p o rq u e é em vo cê e a trav és de v o cê que E le faz a sua o b ra en tre os h o m e n s . N ão p o d e m o s fa z e r a o b ra de D eu s , e não é p lan o dc Deus fazer a p a r te que d es t in o u a nós.

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34 João, o E vange lho do Filho de Deus

Excelente lem a para o cristão encontra-se nestas pala­vras: “Fazei tudo quanto ele vos disser!”

2. A san tificação da vida diária. É significativo que Cristo revelasse a g lória do seu poder criador num banque­te de casam ento, ocasião festiva v inculada a um re laciona­m ento hum ano com um . Assim ficamos sabendo que Ele não veio esm agar os sentim entos hum anos: veio elevá-los ao com partilhar deles; não veio destruir relações hum anas: veio enobrecê-las m ediante a sua presença; não veio aca ­bar com os afazeres e convív ios da v ida coletiva: veio purificá-los; não veio abolir inocentes alegrias e recreios: veio santificá-los segundo os princípios do Reino de Deus.

Não podem os dividir nossas atividades em duas c las­ses: a “espiritual” e a “ secular” . C ada esfera da vida pode c deve ser consagrada a Cristo. Se houver qualquer ativ i­dade ou aspecto da nossa vida sobre a qual não possam os invocar a sua bênção (Cl 3.17), tal a tividade ou c totalmen- tc errada, ou contem elem entos que precisam dc scr rem o ­vidos. Já convidam os nosso Senhor para nossa próxim a reunião de am igos? Ou será que a sua presença estragaria nossos planos?

3. O m elhor ainda está p o r vir. Chegarem os um dia a falar ao M estre aquilo que o m cstrc-sala falou ao noivo: “G uardaste até agora o bom vinho” (cf. Pv 4.18). Por mais cheios de gozo espiritual que tenham sido os anos passa­dos de experiência cristã, o m elhor ainda está no porvir. Jesus guarda seu m elhor vinho até ao fim; muitas almas tristes c desiludidas vão sempre descobrindo que o m undo faz exatam ente o oposto, seduzindo as pessoas para que sejam escravas do m undo, vítimas do mundo, m ediante prom essas deslum brantes c deleites dc curta duração que, mais cedo ou mais tarde, perdem seu brilho traiçoeiro e se tornam insossos - c muitas vezes bem amargos! “ Até no riso lerá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza” (PvI 1.13). A coisa mais m elancólica do m undo é a velhice

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O Primeiro M ilagre de Cristo 35

vivida longe de Deus. c uma das eoisas mais belas, o cal- inn pôr-do-sol que tantas vezes glorifica um a vida piedosa que foi repleta de coisas feitas para Jesus, e de provações suportadas com paciência, com o lendo sido enviadas por Ele... Em tal carreira, o fim é m elhor do que o com eço. E quando a vida chegar ao fim, c passarm os à nossa m orada celestial, esta m esm a palavra brotará de nossos lábios, com surpresa e gratidão, quando descobrirm os que tudo é m ui­tíssimo m elhor do que o m elhor em nossa imaginação: "Guardaste até agora o bom vinho".

4. A transform ação de co isas com uns. O m esm o Cristo que transformou a água cm vinho vermelho e cintilante pode transformar as coisasda vida cm bênçãos gloriosas. Ele pode transformar a água da alegria terrestre no vinho da bem- aventurança celestial. Ele pode transform ar a água am arga da tristeza no vinho de alegria. Pode lançar mão de uma série de circunstâncias da vida que nos perturbam , trans­formando-as cm brilhantes oportunidades.

Os deveres que cabem a nós, dia após dia, nos parecem cansativos e monótonos? Levemo-los a Jesus, c Ele os trans­figurará m ediante a sua presença. Onde está Jesus, ali há alegria.

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Jesus e NicodemosT exto: J o ã o 3 .1 -2 1

E sboço e Exposição

Um dos propósitos que guiaram o escritor do quarto evangelho foi o de registrar as impressões que o Senhor Jesus deixou nas pessoas com quem leve contato. E m nos­so segundo estudo, vimos com o Jesus im pressionou seus discípulos com sua natureza c missão divinas; no terceiro estudo, exam inam os o m ilagre que os convenceu do seu poder criador.

A conclusão do segundo capítulo, no entanto, refere-se a outro tipo dc impressão que produziu um tipo de fé de Cristo não ju lgava satisfatório: “E, estando ele cm Jerusa­lém pela Páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. M as o m esm o Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia” (Jo 2.23,24). Por que o Senhor não encorajava a fé desse hom ens dc Jerusa­lém ? V iu q u e e les não o e n te n d ia m ; r e c o n h e c e u o m undanism o nos seus corações c propósitos, e não perm i­tiu que entrassem na m esm a intim idade que já estabelecera

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com os cinco galileus dc coração singelo. Os ju d eu s dc Jerusalém estavam dispostos a ficar de acordo com qual­quer pessoa que dem onstrasse a probabilidade dc trazer hon­ra à sua nação, e sua crença nEle era o crédito que os h o ­m ens dão a um estadista cuja política apoiam. Se nosso Senhor tivesse encorajado tais hom ens, mais tarde teriam se decepcionado com Ele; foi melhor, portanto, que os ti­vesse recebido de m odo um pouco mais frio, dando-lhes um a pausa para meditação. Realm cnte, os próprios m ila­gres dc Jesus estavam sendo um em baraço por a tra írem o tipo errado de pessoas - os hom ens superficiais e m unda­nos (cf. Jo 4.48; 6.14-27,66).

Na p esso a dc N ico d em o s tem os um exem plo de fé imperfeita, pois o d iscipulado que produziu era secreto (cf. Jo 19.38). M esm o assim, esta fé da parte de N icodem os é um a resposta antiga à objeção que os judeus dos nossos dias levantam: “Se Jesus foi realm cnte o Messias, com o é que nenhum dos nossos estudiosos c sábios Leve o bom senso suficiente para perceber este fa to?” A resposta está no Evangelho de João, no relatório da entrevista de Cristo com N icodem os e na declaração: “ A pesar dc tudo, até m uitos dos principais creram nele, m as não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da s inago­g a” (Jo 12.42).

I - C ontato Pessoal: o P esquisador D istinto(Jo 3.1,2)

“ E h a v ia e n tre os f a r is e u s um h o m e m , c h a m a d o N icodem os, príncipe dos judeus."

1. Um líder religioso. N icodem os era um fariseu, m e m ­bro d a fra te rn idade re lig iosa o rgan izada sob ju ra m e n to solene para observar escrupulosam ente a lei e as tradições dos antigos. Era m em bro do “partido o rtodoxo” entre os judeus. Era um “principal” , um m em bro do Sinédrio, da corte eclesiástica do m undo juda ico . Foi esta corte que

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Jesus e N icodem os 39

condenou Jesus à morte, e da qual Saulo dc Tarso era, mui provavelm ente, mem bro.

2. Um inquiridor secreto. “Este foi ter de noite com Jesus” . Fala-se da covardia de N icodem os cm vir à noite. Devemos, no entanto, dar valor ao fato dc ele ter procura­do a Jesus, m esm o daquele modo. Mais tarde, foi ele quem tomou sobre si a defesa de Jesus perante o Sinédrio (Jo 7.50,51) e ajudou a enterrar o seu corpo (Jo 19.39). Em am bos os trech o s , Jo ão v o l ta a se re fe r i r ao fa to dc N icodem os ter vindo a Jesus, da prim eira vez, à noite. M ostra, assim, que N icodem os estava ficando mais firme na fé, chegando a dem onstrar mais devoção do que os próprios discípulos que fugiram , quando veio a judar a se­pultar o corpo de Cristo.

3. Um inquiridor representativo. “Rabi, bem sabemos que cs Mestre, vindo de Deus; porque n inguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” . O plu­ral “sabem os” permite-nos im aginar que talvez vários líde­res religiosos, impressionados com os ensinamentos de Jesus c querendo saber mais acerca dEle sem, no entanto, criar um a sensação pública nem tom ar partido publicam ente , tivessem nom eado N icodem os para ser um a “com issão de inquérito” de um só m em bro , de modo sigiloso (cf. Jo 12.42).

4. U m a a lm a n ecessita d a . As p a lav ras in ic ia is de N icodem os revelam várias em oções lutando no seu íntimo, e a declaração repentina dc Jesus (v. 3), longe dc ser um a m udança de assunto, foi um a resposta - não às palavras, m as sim ao coração de N icodem os. Tais palavras revelam: 1) Fom e espiritual: canseira com os cultos da sinagoga, sem vida espiritual, aos quais frcqiicntava sem achar satisfação para a sua fome. Sente que a glória se afastou dc Israel; que há falta de visão; que o povo perece e que, po r menos que N icodem os saiba sobre Jesus, seus ensinos lhe pene­traram o coração, c ele acha que os milagres de Jesus com ­

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provam ser Ele M estre vindo da parte de Deus. 2) Falta de p rofunda de convicção. N icodem os sente sua necessidade, mas p rocura um m estre , mais do que um Salvador. A se­m elhança da m ulher samaritana, quer a água da vida (Jo 4.15), m as precisa igualm ente ficar sabendo que é um pe­cador e que necessita ser purificado e transformado (Jo 4.16- 18). 3) Certa com placência quanto à sua própria pessoa, com o se dissesse a Jesus: "Creio que foste enviado para restaurar o reino a Israel, e vim oferecer conselhos quanto ao plano de ação e sugerir certas operações” . Provavelmente considerava que ser israelita e filho de Abraão eram qu a ­lificações suficientes para ser considerado membro do Reino de Deus.

II - E xplicação: o N ovo N ascim ento (Jo 3 .3 -1 0 )

/. O fa to do n o v o n a s c im e n to . “ Je su s r e s p o n d e u , e d is s e - lh e : N a v e rd a d e , na v e rd a d e tc d ig o q u e a q u e le q u e n ã o n a s c e r de n o v o , não p o d e v e r o r e in o de D e u s ” . J e s u s e x p l ic a q u e N ic o d e m o s não p o d e f i l ia r - se ao g ru p o d E le a s s im c o m o u m a p e s s o a f i l ia - s e a u m a o r g a n iz a ç ã o q u a lq u e r . S e r d i s c í p u lo de J e s u s d e p e n d e do tipo de v id a que se leva. A c au sa de C ris to é a do R e in o de D e u s , o n d e n ão se p o d e e n t r a r sem p a s s a r p o r u m a t r a n s f o r m a ç ã o e s p i r i tu a l . O R e in o de D e u s e ra b em d i f e r e n te d a q u i lo q u e N ic o d e m o s i m a ­g in a v a , c o m o d o de c s t a b e le c c - lo e de c h a m a r p e s ­soas a s e re m seu s c id a d ã o s t a m b é m

Jesus salientou a necessidade m ais p rofunda e universal do hom em : um a m udança radical e com ple ta da totalidade da natureza e do caráter. A natureza total do hom em foi torcida pelo pecado, em decorrência da queda, e esta per­versão se reflete na sua conduta individual e nos seus vá­rios relacionam entos. A ntes de poder viver um a v ida que agrade a Deus, sua natureza p recisa passar por um a m u ­dança tão radical que é nada m enos do que um segundo

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Jesus e N icodem os 41

nascimento. O hom em não pode efetuar sem elhante m u­dança por si mesm o. A transform ação deve vir de cima.

“Disse-lhe Nicodem os: C om o pode um hom em nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre dc sua mãe, e nascer?” N icodem os tem razão ao tirar a con­clusão de que c necessário um m ilagre para a lguém entrar no Reino de Deus, mas não entende como isso se faz. Pen­sava, decerto: “Sou um hom em com muitos anos de vida, com hábitos dc pensar e viver bem arraigados em mim, bem com o m uitas ligações sociais e costum es e idéias antigos que nossos antepassados nos legaram. O nasc im en­to tal com o tu falas é tão im possível quanto o nascim ento físico dc um hom em dc idade, tão prepóstero quanto seria a idéia dc en trar segunda vez no ventre da m ãe para nascer de novo. A natureza hum ana não pode ser m udada desta forma. Jerem ias, afinal, declarou: ‘Pode acaso o ctíopc mudar a sua pele, ou o leopardo as suas m anchas? ’ Sc é esta a tua exigência para que sc possa entrar no leu Reino, quem poderá ser considerado candidato ace itável?”

2. Os m eios do novo nascim ento . “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” N ascer da água significa passar por um a p rofunda experi­ência dc purificação (cf. E f 5.26). N ascer do Espírito sig­nifica passar por um a p rofunda experiência de receber a v ida divina. A alm a hum ana precisa ser lavada de toda im pureza e vivificada pela vida celestial, antes de estar pronta para o Céu. Deus nos salvou: 1) pela “lavagem da regeneração c 2) da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5).

O ensino era novo e, ao m esm o tempo, antigo. “Não te maravilhes dc te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? Jesus respondeu, c disse-lhe: Tu cs mestre de Israel, e não sabes isto?” (v. 7,9,10). Jesus queria dizer: “Com o você fica sur­preso, com o se eu pregasse algum a estranha doutrina? Ccr-

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lamente, como ensinador da Lei c dos Profetas, deve ter lido da prom essa de Deus anunciada por Ezcquicl: 'Então espa­lharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatu tos’, (Ez 36.25-27). Você sabe muito bem que, em bora Israel se tenha jactado de ser o povo de Deus, filhos de Abraão, os mem bros da nação são impuros e, portanto, in­dignos do Reino de Deus. O profeta declara que os israelitas, antes de poderem entrar no Reino de Deus, precisam ‘nascer da água’ e ‘nascer do Espírito’, precisam ser purificados e receber vida nova. O que é verdade no que diz respeito a Israel, é verdade para você, individualmente. Você deve nas­cer de novo” .

J. A razão do novo nascim ento . Jesus não procurou explicar o com o do novo nascim ento; explicou o p o rq u ê : “O que c nascido da carne c carne, e o que é nascido do Espírito é espírito .” A carne e o Espírito pertencem a cam ­pos diferentes, c um não pode produzir o outro. A natureza hum ana pode gerar mais natureza hum ana, mas é som ente o Espírito Santo que pode produzir um a natureza espiritu­al. A natureza hum ana nada poderá produzir além de natu­reza hum ana, e nenhum a criatura pode se erguer acim a da natureza que lhe c própria. A vida espiritual não pode ser transm itida de pai para filho através da procriação natural; é transm itida da parte de Deus para os hom ens m ediante o novo nascim ento espiritual.

A natureza hum ana não pode se erguer acim a daquilo que ela é. C ada criatura tem certa natureza conform e sua espécie, de term inada por sua descendência. Esta natureza que o animal recebe dos pais determ ina, logo de início, as capacidades c a esfera da vida dele. A toupeira não pode levantar majestoso vôo na direção do sol com o se fosse águia, c a ave que sai do ovo da águia não pode escavar debaixo da terra com o faz a toupeira. N enhum curso de tre inam ento poderá fazer com que a tartaruga corra tão

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velozmente quanto a corça, nem com que a corça tenha a força do leão. N enhum animal poderá agir de forma supe­rior a sua própria natureza.

O m esm o p rinc íp io ap lica -se ao h om em . O destino suprem o do h o m em é v iv e r com D eus para sem pre; a na tureza h u m an a , no en tan to , não possui cm si as c o n ­d ições n ecessá r ia s para v iv e r no R eino ce les tia l; assim sendo, a v ida celestia l tem de ser traz ida do Céu para transfo rm ar a v ida h u m a n a na terra, p re p a ran d o -a pa ra o Reino de D eus.

4. () m is tér io do novo n a scim en to . E m b o ra o com o do novo n a sc im en to es te ja a lém do a lcance do rac io c í­nio h u m an o , este m is té r io não p rec isa ser m o tivo de tropeço para N icodem os: “O ven to assop ra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem , nem para onde vai; assim c todo aq u e le que é nasc ido do E sp ír i­to .” N outras palavras, o m ovim en to do vento é algo muito real para nós, m as c m is te r io so e a lém de nosso c o n tro ­le; assim tam b ém é a a tuação do E sp íri to sobre a n a tu ­reza hum an a . P rim eiro , o novo n asc im en to é m is te rioso quan to à sua origem : “não sabes d o nde v e m ” ; e, em se ­gundo lugar, há m istério q u an to à sua consum ação : “ não sabes .. . p a ra o n d e v a i” . A ss im sendo , Jo ão e sc rev e : “ A m ados, ag o ra som os filhos de D eus, c a in d a não é m an ife s tad o o que h av em o s de ser” (1 Jo 3.2). M esm o assim , a a tu ação do E spírito é real: “O uves a sua v o z” (cf. At 2 .3 ,4 ; 1 Co 12.7; G1 5 .22 ,23).

III - C onfirm ação: a Base do N ovo N ascim ento(Jo 3 .1 1 -1 5 )

D uas p e rg u n tas d ev em ter na tu ra lm en te oco rr ido a N icodem os: C o m o Jesus sabe destas co isas? O que Ele faz para levar as pessoas a e x p e r im en ta rem o novo n a s ­c im en to?

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1. A experiência esp iritua l de Cristo. “Na verdade, na v e rd a d e te d ig o q u e nós d iz e m o s o q u e s a b e m o s e testificam os o que vimos; e não aceitais o nosso tes tem u­nho” (o plural “nós” talvez indique a presença de alguns discípulos). Jesus, concebido m ediante o Espírito Santo, batizado no Espírito, cheio do poder do Espírito, continu- am ente m ovido pelo Espírito, podia falar com autoridade cm m atéria de Espírito. Que pena que tantos que p rofes­sam ser seus seguidores tenham dogm atizado o assunto sem desfrutar das operações do Espírito cm seu íntimo!

“Sc vos falei de coisas terrestres, c não crestes, com o c re re is , se vos fa la r das c e le s t ia i s ? ” Je su s e x p l ic a a N icodem os que, se ele se preocupa apenas com a form a e a m atéria do novo nascim ento , só poderia conversar sobre coisas terrestres porque, em bora o nascim ento espiritual venha de cima, ocorre na terra e faz parte dos fatos da vida. A explicação do “co m o ” deste assunto tem a ver com os e te rn o s p ro p ó s i to s de D eu s (co isas c e le s t ia is ) , e N icodem os não está pronto para tais ensinos, porque ainda não aceitou o fato da necessidade do novo nascim ento (coi­sas terrenas).

2. A origem celestia l de Cristo. “Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Eilho do hom em , que está no e cu ” . Cristo tinha estado no Céu antes de sua m is­são na terra, podendo , portanto , fa lar acerca de coisas celestiais a partir de um a experiência pessoal.

E m bora “o Filho do hom em , que está no céu” , estivesse na terra, seu lar real sem pre foi o Céu, e são celestiais sua origem e natureza.

3. A obra expia tória de Cristo. Jesus j á tratara de um erro fundam ental de N icodem os c dos seus com panheiros: im aginavam que, pela sua conexão natural com o o povo escolhido, teriam de se filiar ao Reino de Deus; o Senhor Jesus, no entanto, declarou que devem entrar no Reino m e ­diante o novo nascim ento. A gora dissipa o segundo erro:

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Nicodem os acreditava que o M essias, na sua vinda, seria “levantado” ou exaltado num trono, para salvar Israel da total derrota política. Jesus, no entanto, ensinou que, em primeiro lugar, o M essias teria que ser levantado de modo bem diferente: “E, com o M oisés levantou a serpente no deserto, assim im porta que o filho do hom em seja levanta­do; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” O Messias teria de ser levantado num a cruz para salvar a nação do perecim ento espiritual.

Qual a c o n ex ão entre a c ru c if icação do F ilho do h o ­m em e a reg en e ração dos f i lhos dos h o m e n s? Q uando Deus criou o hom em e lhe soprou nas na rinas o fôlego da vida, t ran sm itiu a este não som ente a v ida m enta l e fís ica, com o tam b ém o E sp ír i to Santo . A d ão foi criado perfeito , e c e r tam en te deve Ler receb ido o E sp íri to S an ­to, pois sem ele a p e rso n a lid ad e h u m an a é in co m p le ta d ian te de D eus. Q uando p eca ram nossos p r im eiro s pais, in ic iou -se a m orte esp ir itua l e deixou de h ab ita r neles o E sp íri to San to . Q uando , p o rtan to , veio o R eden to r , sua m issão e ra re s tau ra r ã h u m a n id a d e a p re sen ç a do E sp í­rito. “C ris to nos resga tou da m a ld ição da lei, fazendo-se m a ld iç ão po r nós; p o rq u e e s tá esc rito : M a ld i to todo aquele que fo r p e n d u rad o no m adeiro . P a ra que a b ê n ­ção de A b raão chegasse aos gen tios p o r Jesus C ris to , e pa ra que p e la fé nós receb am o s a p ro m essa do E sp ír i to ” (G1 3 .13 ,14). C ris to m orreu na cruz a fim de rem o v e r o obs tácu lo que não p e rm itia qu e a v ida h u m a n a recebesse a p resen ça de D eus. Este o bs tácu lo e ra o pecado .

V - E nsinam entos Práticos

/. P regando o novo nascim ento. Segue-se um esboço de com o se pode aplicar, de m odo prático, a doutrina do novo nascimento.

1.1. U m a vez que você reconhece a seriedade e a degra­dação dos seus pecados e o poder que exercem sobre você,

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sua situação dc im potência dos seus pecados, c que lhe aguarda a e ternidade no inferno, se você m orrer no seu atual estado de pecado;

1.2. E quando, com genuíno arrependim ento , vocc acei­ta a expiação m ediante o sangue dc Jesus Cristo com o sua única esperança, recebendo Cristo de modo perm anente c sem reserva, com o seu Salvador c Senhor, que pagou a penalidade dos seus pecados, sofrendo em seu lugar;

1.3. Então ocorre dentro de vocc um tríplice milagre: 1) Você c purificado dc todos os seus pecados; liberto do poder deles sobre vocc; revestido da ju s tiça dc Cristo. V ocê rece­be esperança, paz, gozo e um novo propósito na vida - o dc viver e trabalhar para ele, com issionado para ser seu e m ­baixador c testem unha por onde quer que você vá, dc tal m odo que sua vida se torna útil, necessária c cheia de es­perança . V ocê recebe forças para vencer o “ velho h o ­m em ” no seu íntimo, para v iver a v ida cristã c crescer na graça. Por suas p róprias forças, você fracassaria , mas, m ediante este milagre, pode ter absoluta certeza de que, enquanto ele precisar de você nesta terra, ele o preservará, sustentará, fortalecerá, guiará e protegerá.

2) Jesus Cristo vive em você, de m odo real e literal.3) V ocê c regenerado. N a realidade, torna-se nova cri­

atura. Literalm ente, nasceu de novo para entrar no Reino de Cristo. Você se torna santo, um filho de Deus, m em bro da igreja verdadeira.

1.4. C om o resultado deste tríplice milagre, você é sal­vo, dc m odo literal e definitivo. V ocê tem a vida eterna, c pertence ao Senhor. Agora, poderá com eçar a viver a vida cristã - a vida “oculta jun tam en te com C risto” - em Deus.

2. C ristianism o, a relig ião do novo nascim ento . N as re ligiões pagãs, declara-se un iversalm ente que o caráter hum ano é imutável. E m bora tais religiões de term inem p e ­nitências e rituais que oferecem ao hom em a esperança de

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Jesus e N ico d e m o s 47

com pensar os seus pecados, não existe nenhum a prom essa de haver v ida e graça para transform ar a sua natureza. Som ente a religião de Jesus Cristo tom a a natureza decaída do hom em , regenerando-a m ediante a vida de Deus, que passa a habitar nele porque o seu Fundador é Pessoa di­vina e viva, que salva to talm ente os que por Ele chegam a Deus.

Não há analogia entre a religião cristã e, o budism o e o m aom etism o, no sentido de dizer: “Q uem tem Buda tem a v id a ” . Os l íd e re s d e s ta s r e l ig iõ e s p o d e m e x o r ta r à moralidade, estimular, impressionar, ensinai- e orientar, mas nada de novo é acrescentado à a lm a de quem professa suas doutrinas, que são desenvolvidas pelo h o m em natural e moral. O Cristianism o é tudo isso m ais a d iv ina Pessoa.

A missão do Senhor Jesus pode ser resum ida na breve proposição: Jesus Cristo veio ao m undo rom per o poderio do pecado e in troduzir na raça hum ana um a nova fonte de vida espiritual (cf. Gn 2.7; 1 C o 15.45; Jo 20.22; El 2.1). E isto nos leva a pensar na m issão dom inante dos discípu­los de Jesus - fazer com que hom ens pecam inosos sejam transform ados pelo poder de Deus.

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Jesus e a Mulher Samaritana

T exto: J o ã o 4 .4 -3 0

Introdução

Jesus deixou Jerusalém porque seus m ilagres estavam atraindo as pessoas do tipo errado - espectadores curiosos que tinham do Reino um conceito errado. Foi, portanto, para os distritos rurais, onde o povo tinha mais s im plic ida­de c seriedade de coração. Ali ganhou muitos, que se co n ­verteram a Ele e aceitaram o batismo. Mais um a vez, p o ­rém, seu próprio sucesso fez periclilar o propósito do seu ministério. Os fariseus, ouvindo a notícia de que grandes multidões acorriam ao seu batism o, ficaram com inveja e a lim entaram um a discussão entre os discípulos de Jesus e os de João Batista (cf. Jo 3.25; 4.1,2). Jesus, desejando evitar um a contenda com os fariseus, deixou a Judéia. Não havia finalidade cm que ele se revelasse com o M essias diante dos fariseus, porque, com suas mentes cheias de idéias preconcebidas, teriam entendido os seus ensinos de m anei­ra errada. Era diante de pessoas de mente sincera c coração fam into com o a m ulher sam aritana que Jesus se sentia li-

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50 João, o E vange lho do Eilho de Deus

vrc para rcvclar-sc, cm ve/, dc entrar cm controvérsias te­ológicas com os fariseus.

Este trecho, bem com o o que estudam os no capítulo anterior, são exem plos dos ensinam entos dc Cristo sobre o poder rcgencrador do Espírito Santo. No capítulo anterior, ouvim os Jesus instruindo N icodcm os com respeito ao novo nascim ento; agora, estudarem os a sua entrevista com um a m ulher samaritana. Ele era um m em bro da sociedade que desfru tava de grande respeito; ela, um a m ulher proscrita. Ela, era um hom em da mais severa m oralidade; ela, uma m ulher v ivendo no pecado. Ele era um culto ensinador de Israel; ela, uma analfabeta das classes inferiores. A m bos têm a m esm a necessidade - a transform ação espiritual para entrar no Reino dc Deus.

Este trecho descreve os passos m ediante os quais o suprem o C onquistador de almas conseguiu a conversão da m ulher samaritana.

I - C onseguindo a A tenção (Jo 4 .5 -9 )

“Eoi pois a uma cidade, dc Samaria, chamada Si car, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do cam inho, assen­tou-se assim jun to da fonte. Era isto quase a hora sexta” . Esta m enção do cansaço dc Jesus é a evidencia de que, quando com partilhou da natureza hum ana, o fez com toda seriedade: realm ente tom ou sobre si nossa natureza, e ex ­perim entou todas as limitações e fraquezas a que a carne hum ana está sujeita (menos as que são fruto direto do nosso pecado). “ Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28) foi dito por aquElc que sabia com o é a dor dc músculos cansados e latcjanles.

“ Veio um a m ulher de Sam aria tirar água; disse-lhe Je ­sus: D á-m e dc beber” . O propósito do Senhor era levar a m ulher necessitada à água espiritual que satisfaz a sede da alma; assim, fez seu primeiro contato com ela ao pedir água.

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Jesus e a M u lh er Sam ari tana 5 1

Ele de que tom ar a iniciativa, porque a mulher, de si m es­ma, não teria falado com Ele primeiro. Existiam quatro barreiras que im pediríam sem elhante conversação, e que o Senhor p rim eiram ente teria de romper. 1) A barreira do sexo. Os próprios discípulos ficaram atônitos ao ver Cristo agir con tra riam en te às bem conhecidas a titudes de sua época, falando assim a um a m ulher cm público (v. 27). Geralm ente, os preconceitos dos rabinos proibiam que as mulheres recebessem educação superior. 2) A barreira da nacionalidade. Não havia com unicação entre os judeus e os samaritanos. 3) A barreira do caráter moral. A mulher sam aritana sabia que nenhum rabino judeu chegaria perto de um a pecadora com o ela. 4) A barreira da ignorância.

No decurso da conversação, foram rom pidas todas as barreiras. A mulher recebeu novos horizontes para a sua vida, seu caráter foi transformado, c sua alma, iluminada.

Note a habilidade do Senhor em abrir cam inho para esta conversação. Pediu um favor da parte dela, fazendo-a sentir- se, por um m om ento , em condições de superioridade. M e­diante um apelo à simpatia da mulher, criou am biente apro­priado para conversar sobre assuntos espirituais.

Foi um a grande surpresa para a m ulher quando a pessoa junto à fonte - que ela reconheceu como sendo um judeu - , fez um pedido a uma m ulher sam aritana de sua condição. “Com o, sendo tu judeu , mc pedes de beber a m im , que sou sam aritana? (porque os judeus não se com unicam com os sam aritanos)” . Em bora Jesus, com o Messias, viesse da tri­bo de Judá, nunca se cham ou "Filho de Israel” ; sem pre c cham ado de "Filho do hom em \ da hum anidade inteira. Não havia lugar cm sua mente c em seu coração para o p recon­ceito.

II - D espertando o Interesse (Jo 4 .1 0 -1 4 )

7. O desa fio surpreendente. A mulher sam aritana apro­veitou para se rir um pouco daquele ju d eu que, segundo

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52 Joel a, o E vange lho do Filho de D ens

pensava, fora forçado a mostrar franqueza c atnabilidadc por causa da intensa sede que sentia, c de não ter condi­ções de conseguir água. Surpreendeu-se, no entanto, por I21c não se mostrar em baraçado; pelo contrário, suas pa la ­vras c que a deixaram intrigada: “Se tu conheceras o dom de Deus. c quem é o que te diz: D á-m e de beber, tu lhe pedirías, e ele te daria água viva.”

“Se tu c o n h e c e ra s ” . H á p e sso as que não p e rceb em q u an to s p o d e res e o p o r tu n id a d e s ja z e m e sc o n d id o s ao n o sso redor. P o r não re c o n h e c e rm o s q u an tas b ên ção s se nos oferecem , pe rdem os m ilhares delas! “O meu povo foi d e s tru íd o , p o rq u e lhe fa ltou o c o n h e c im e n to ” (Os 4 .6 ). A m u lh e r s a m a r i ta n a e s ta v a fa lando face a face com a q u E le que sa t is fa r ia a todos os seus an se io s de paz c de v ida - e não o sabia . I lá m uitas p e sso as que p assam pe la v ida bem perto d aq u ilo que p o d e r ia r e v o ­lu c io n a r sua ex is tên c ia , e f icam a lh e ias á v e rd a d e ira b c m -a v c n lu ra n ç a por falta de sab e r e de co n s id e ra r . Em do is a ssu n to s , e sp e c if ic a m e n te , fa l tav a c o n h e c im e n to à m ulher.

1.1. Não conhecia o dom de Deus, aquilo que Deus queria graciosam cntc dar a ela. A pobre m ulher nem espe­rava bênçãos da parte de Deus. Desiludida, esgotada, sem caráter, sem alegria, praticava a enfadonha rotina dos ser­viços diários. O uvira falar sobre Deus, mas nem sequer sonhava que Ele estivesse disposto a entrar na sua vida, fazendo com que sua existência valesse a pena.

A ág u a “v iva” c a que flui ou que jo r r a de u m a fonte - a ág u a cm m ov im en to , cm co n tra s te com a água p a ra ­da (ef. G n 26.19; Zc 14.8). S im b o liza a v ida d iv in a que flui m ed ian te o contato com Deus (Jr 2.13; Ap 7.17; 21.6; 22.1). A ss im com o a água natura l sa tisfaz a sede fís ica, o E sp ír i to Santo sa tisfaz a a lm a que anse ia por D eus (cf. SI 42 .1 ,2 ) .

1.2. A mulher não conhecia a identidade daquele que disse: “D á-m c de beber” . A vinda do M essias era a espe­

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Jesus e ei M u lh er Sam ariU m a 53

rança dos samaritanos, c não som ente dos judeus, c ambas as nações tiraram encorajam ento c Ibrças desta promessa: suportavam os males do presente, sustentados pela visão do futuro, que se centralizava ao redor da Pessoa do M es­sias. Agora, o M essias estava falando com esta m ulher sem que ela o percebesse. Muitos são os que têm fam iliaridade com as palavras de Jesus, ouvindo-as com o se escutassem uma canção. Não são transform ados, porém, porque não se apercebem rea lm cnte de que as palavras que ouvem não são as de um m estre hum ano, c sim as do próprio Filho de Deus. O xalá soubessem quem c o que lhes fala!

2. A p erg u n ta fe ita com surpresa. R efutando a sugestão de ela ser ignorante quanto ao dom de Deus, a m ulher responde: “Senhor, tu não tens com que a tirar, c o poço é fundo; onde, pois, tens a água da vida?” A resposta a esta pergunta se encontra nos versículos 13 c 14. Quanto a ser acusada de ignorância sobre a Pessoa que fala com ela, a m ulher responde: “Es tu m aior do que o nosso pai Jaeó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, c o seu gado?” Os versículos 25 c 26 respondem à objeção da mulher. C om o N icodem os, objeta: “C om o pode suceder isto?” Q uando se trata das coisas de Deus, os que possuem boa educação não têm vantagem sobre os iletrados. Todos, igualm enlc, precisam do “Espírito que provem de Deus, para que pudéssem os conhecer o que nos é dado gra- tuilam ente por D eus” (1 Co 2.12).

3. A com paração ejue ilum ina. Jesus lança mão de um a com paração para esclarecer o significado das suas palavras: “Q ualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele um a fonte d ’água que salte para a vida e terna” . A água natural é m encionada aqui com o sím bolo das fontes de prazer que há aqui na terra, e que só proporcionam satisfação m om entânea. A totalidade da vida hum ana se com põe de desejos interim tentes que recebem apenas parcial satisfação: anseios e

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54 .loao, o E vange lho do Filho de F eu s

sacicdadc, enfado e novos desejos fortes se seguem num círculo vicioso. Realm ente, nunca houve verdadeira satis­fação para os desejos hum anos; a a lm a hum ana nunca se aquieta, senão cm Deus. As fontes da terra podem oferecer satisfação temporária, mas c som ente depois de o homem ler achado a Deus que ele pode declarar ter satisfação co m ­pleta c eterna. Jesus ensina à m ulher que a água no poço de Jacó ja z sem vida ou m ovim ento nas profundidades, en ­quanto a água celestial que ele oferece, em bora fique nas profundezas da personalidade hum ana, não fica parada ali; vem bro tando à superfície, reve lando sua p resença aos outros, fluindo com mais e mais força até que, na vida do porvir, o indivíduo recebe a p lenitude desta benção.

A fonte f ic a no indivíduo. O prazer do m undano depen­de das coisas ex ternas ; a Fonte da satisfação do cristão está dentro dele, independe das circunstâncias. A vida eterna, no Evangelho de João, é vinculada â fé cm Jesus (Jo 3); provém da ação de com er da sua carne e beber do seu sangue (Jo 6); é dádiva direta da parte dElc (Jo 10; 17). Neste capítulo, é considerada com o resultado da vida do Espírito no hom em , o fruto da vida espiritual, que é d ife­rente da vida hum ana cm qualidade, perm anência e m atu­ridade.

I ll - A C onsciência da N ecessidade (Jo 4.15-18)

/. O pedido urgente. “Disse-lhe a mulher: Senhor, dá- me dessa água, para que eu não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la.” A m ulher a inda não havia percebido o âm ago do ensino de Jesus. Nem sequer sonhava que Ele, falando sobre “água”, queria dizer algo diferente daquilo que ela carregava no seu cântaro. Ela a inda não percebera nada além dos seus desejos físicos e de suas necessidades diárias. C om eçou a sentir a convicção de que aquele estra­nho talvez a pudesse livrar da sua vida exaustiva de ter de

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Jesus c a M u lh er Samarila iu i S>

cam inhar ate o poço com seu cântaro pesado. Seria um alívio ter a água bem à mão! Em bora não tivesse com pre­endido o inteiro significado do dom prom etido, entendeu, pelo menos, que se lhe oferecia uma grande vantagem - e seu desejo foi despertado.

2. Unia declaração perseru íadora . Agora, Jesus leva a m ulher a dar um passo adiante, despertando seu sentim en­to de necessidade espiritual. Faz com que ela se recorde de sua vergonhosa vida de pecados para que, esquecendo- se da água do poço de Jacó, lenha sede daquilo que a ali­viaria da sua vergonha c miséria. ‘‘D isse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, c disse: Não tenho m arido; porque tiveste cinco m aridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” .

Jesus trata do assunto do pecado a fim de que a m ulher veja a causa da sua infelicidade. A nova vida deve com eçar com base na veracidade c na honestidade. O passado tem que ser enfrentado, por mais desagradável que seja, e o lixo da vida anterior deve ser varrido para longe.

IV - C risto R evela a Si M esm o (Jo 4 .1 9 -2 9 )

/. A expressão de perp lexidade. A mulher, a tônita d ian­te do discern im ento de Jesus, exclama: ‘‘Senhor, vejo que cs profeta” , c passa a levantar um problem a religioso, da controvérsia entre os sam aritanos e judeus: “N ossos pais adoravam neste m onte [Gcrizim] e vós dizeis que é cm Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” A pergunta surgiu não som ente do desejo de desviar o p rob lem a do pecado dela para o cam po de generalidades teológicas, com o tam ­bém de um real desejo de saber com o procurar com unhão com Deus e se erguer acim a da sua baixa situação moral. A proveitou a presença de um profeta para esclarecer suas dúvidas. Jesus, em resposta, m ostrou que a verdadeira ad o ­

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56 João, o E vange lho cio Eilho de Deus

ração c matéria dc atitudes certas, c nao do lugar certo; não se trata de onde , c sim de como.

2. C risto revelado. Cheia dc alegria pelas verdades que ouve, a m ulher se lem bra do que se lhe contou acerca dc um grande M estre que haveria dc vir, enviado da parte de Deus: “Eu sei que o Messias (que se cham a o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo con tigo” . Jesus não podia se revelar aber- lam entc aos fariseus porque estes não percebiam as própri­as carências espirituais. No entanto, sempre estava d ispos­to a se lazer conhecido a todos aqueles que sentissem ne­cessidade dElc (cf. Mt 1 1.25-27). Cristo sempre se revela àqueles que am am a sua vinda. Foi assim que revelou-se aos prim eiros discípulos (Jo 1), c a N icodem os (Jo 3.13; 9.35-38).

d. C om eça o serviço cristão. A m ulher im ediatam ente tornou-se missionária do Profeta c Messias que acabara de descobrir. “ Deixou pois a m ulher o seu cântaro” - m ostran­do que, na alegria de descobrir a Agua Viva, esquecera-se da sua procura pela água natural _ “e foi â cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um hom em que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não c este o Cristo?” (cf. Jo 1.41). Nada mais natural do que alguém que recebeu a Agua Viva para beber levar outros à m esm a Fonte.

V - E nsinam entos Práticos

1. Fontes escondidas. A m ulher sam aritana não sabia que falava ao Messias, e que a poucos passos dela eslava a Fonte de Agua Viva; mas sua ignorância não alterava a realidade dos fatos. As águas do Rio A m azonas entram oceano adentro com tanta força que a inda há água doce a grande distância da praia. Certo navio não tinha mais água potável a bordo, c os tripulantes, longe da terra firme, fi­zeram sinal a outro navio, pedindo água. D em oraram mui-

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Jesus e a M u lh er SanuiriUuui 6 /

lo tempo para acreditarem na resposta: “ D esçam os baldes no oceano, porque é de água doce” . F inalm ente experim en­taram fazer isto e descobriram que realm ente estavam cer­cados por água doce. Nós tam bém estam os cercados em Iodos os lados por Deus, sustentados por Fdc e vivendo nEle, c tantas vezes não tom am os conhecim ento deste fato. deixando de lançar nossos baldes para receberm os a p len i­tude da sua graça. O Senhor Jesus abriu os olhos da m ulher samaritana para que ela enxergasse a fonte das águas v i­vas, c fará o m esm o por nós. No cansaço, Fie nos mostrará um a fonte de refrigério; na tristeza, um a fonte de consola­ç ão ; n a e n f e r m i d a d e , u m a fo n te de c u ra ; no descncorajam ento, um a fonte de esperança (cf. Gn 21.16- 19; Ex 17.1-6; N m 20.9-11; Is 43.19).

2. Sede chi alma. “Q ualquer que beber desta água torna­rá a ter sede” . Se nos co locássem os de vigia num a esquina, exam inando o rosto de cada um dos inúm eros transeuntes, veriam os escrito nos sem blantes da m aioria desassossego, descontentam ento insatisfação. A maioria das pessoas se­gundo parece, sofre a dor das ânsias não satisfeitas. Procu­rando a satisfação que seus corações tanto reclam am , uns vão ao c inem a, outros p rocuram as drogas, outros p rocu­ram se esquecer dos problem as m ediante vários tipos de atividades febris. Se rcalm cnte soubessem ler seu próprio coração, diriam, jun tam ente com o salmista: “A m inha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (SI 42.2). O Espírito Santo é a Á gua V iva que satisfaz a alma, e Jesus Cristo veio a este m undo para nos levar “para as fontes das águas da v ida” (Ap 7.17).

3. O E spírito que habita em nós. Spurgeon escreveu:

“O poder do Espírito Santo que habita cm nós é supe rior a todos os reveses, com o um rio que não pode ser forçado a ficar debaixo da terra, por mais que procurem os represá-lo... Q uando o Senhor dá de beber a nossas almas,

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58 João, o E vange lho do Eilho de D eus

das fontes que brotam da grande profundidade do seu pró ­prio am or eterno, quando nos dá a bênção de possuirm os cm nosso íntimo um princípio vital de graça, nosso ermo se regozija, e desabrocha cm flores com o a roseira, c o deserto ao nosso redor não pode m urchar o nosso cresci­m ento verdejante; nossa alma fica sendo um oásis, m esm o quando tudo ao nosso redor é secura infrutífera.

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0 Paralítico do Tanque de Betesda

T exto: J o ã o 5 .1 -1 4

Introdução

C om o já notam os num estudo anterior, João cham a os milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são selecionados pelo evangelista: a transform ação da água em vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do p a ­ralítico; a m ultiplicação dos pães para a lim entar a m ulti­dão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a res­surreição de Lázaro.

Este nosso estudo trata do terceiro destes milagres, que nos oferece as seguintes lições acerca de Cristo: Ele é o doador da vida, e, com o o paralítico oüviu a voz de Cristo e foi restaurado, assim, no fim dos tempos, os mortos ou ­virão a voz do Filho de Deus, e viverão (Jo 5.25).

I - O Sinal (Jo 5.1-9)

I . A cena que entristece o coração. “Ora, em Jerusalém há, próx im o à porta das ovelhas, um tanque, cham ado em

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60 Joao, o E vange lho do Filho de Deus

hebreu Bctcsda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jaz ia um a m ultidão de enferm os; cegos, m ancos e ressicados, esperando o m ov im en to das águas. Porquanto um anjo descia em certo tem po ao tanque, e agitava a água, c o prim eiro que ali descia, depois do m ovim ento da água, sarava de qualquer enferm idade que tivesse''. Trata-se de um a fonte intermitente, que possuía - ou cria-se que pos­suía - poderes de cura, ao redor da qual a lgum a pessoa benevolente edifieara cinco pórticos para servirem de abri­go à multidão de enferm os que aguardava o m ovim ento da água.

A m ultidão ao redor do tanque faz lem brar que o m u n ­do está cheio de pessoas que sofrem das mais variadas enferm idades , sendo, porém , todas elas doentes; s im bo li­za o m undo que se ag lom era, com um a ansiedade que c quase desespero , ao redor de qua lquer coisa que p rom eta solução, po r mais vaga que seja, no sentido de a judar e de curar.

2. A pergun ta que desperta a esperança. Num dia de festa religiosa, Jesus se encam inhou para este “hospital natural” . Assim com o o olhar experiente do cirurgião rapi­dam ente seleciona o pior caso na sala de espera da sua clínica, Jesus logo fixou seus olhos em “um hom em que, havia trinta e oito anos, se achava en ferm o” . Era um alei­jado , provavelm ente um paralítico. Passara todo esse tem ­po esperando, ouvindo a conversa m onótona dos outros en ­fermos, descrevendo detalhes dos seus sofrimentos que nin­guém mais queria ouvir.

Jesus, chegando a este hom em , aborda-o com a pergun­ta em ocionante: “Queres ficar são?” A pergunta parece es­tranha porque, após trinta c oito anos de sofrim ento e es­pera, nada mais natural do que pensar que era a única coisa que o hom em desejava. A pergunta, no entanto, tinha vá ­rias razões para ser feita:

2. /. Para despertar a esperança. O coitado esperara tanto tempo e sofrerá tantas decepções, que a esperança

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O Para lí t ico do Tanque de B elesda 6 1

m irrara dentro dele, assim eom o era m irrado o seu corpo. Era necessário, portanto, que Jesus despertasse nele novas esperanças, a judando-o a ter a fé necessária para receber a cura.

2.2. Para despertar a Jé. Cristo não era com o certos milagreiros que operam suas maravilhas m ediante um p re ­ço, sem levar em conta a atitude ou condição moral da pessoa. Q uando possível, Jesus exigia que a pessoa a ser curada tivesse fé. O propósito principal de Jesus em curar o corpo era transformar a alma, porque m esm o quando vivia na terra era o Salvador e, com o tal, requeria a fé com o elo espiritual que vinculasse o paciente à sua Pessoa. Note eomo a cura neste caso foi acom panhada por um a advertência ao hom em , que deixasse de levar a vida de pecado que fora a causa de sua aflição (v. 14).

2.4. P ara te s ta r a s in ce r id a d e do dese jo . Q u an d o J e ­sus p e rg u n to u ao pa ra lí t ico se q u e ria ser cu rado , a p e r ­gu n ta e ra s ince ra c real p o rq u e ex is tem en fe rm o s que não dese jam ser curados. Os m éd ico s se o fe recem para cu ra r g ra tu i ta m e n te as fe r idas do m end igo , eo m o ato de car idade , c são re je itadas as suas ofertas; m esm o o e n ­fe rm o que não usa sua en fe rm id a d e com o fon te de ren ­da, m ed ian te a m en d icân c ia , tende a tirar van tagem da s im pa tia e ind u lg ên c ia dos am igos , a pon to de o cará te r f icar tão fraco, que ele c o m e ç a e sq u iv a r-se do trabalho. Há, po rtan to , m uitos que, po r u m a ou o u tra razão, p re ­ferem ter saúde fraca.

A pergunta de Cristo significava: “V ocê está disposto a ser restaurado a um a condição que o capacitará a assumir as tarefas e responsabilidades da vida?”

3. O m andam ento c/ne dá vida. Enquanto o hom em res­ponde, re lem brando os anos de sofrimento e o lato de não ter escolhido aquela situação, as palavras de Jesus soam nos seus ouvidos: “Levanta-te, tom a a tua cama, c anda” . A prim eira vista, pode-se im aginar ser um a zom baria man

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dar um paralítico levantar-se e andar; devem os, no entanto, levar cm conta que quem falou estas palavras tinha poder para curar o hom em , c que o hom em tinha fé em quem falou com cic. O hom em creu, e m anifestou a sua fé m e­diante um alo de obediência a um m andam ento que parecia impossível cumprir. Se Deus nos m andasse passar através dc um m uro de pedra, nossa obediência fiel nos levaria a traspassá-lo com o se fosse um a folha dc papel de seda, sem pre na condição de termos a certeza de que a ordem partiu de Deus! A fé é crer c obedecer em tudo o que diz respeito àquilo que sabem os ser a Palavra de Deus. O pa­ralítico obedeceu c “ logo aquele hom em ficou são; e to­mou a sua cama, e partiu” . A fé é o elo entre a incapaci­dade hum ana e a onipotência divina.

II - A Sequela (Jo 5.10,11)

/. A condenação. Os milagres dc Jesus eram sinais, mas nem sem pre estes sinais foram entendidos. Ele alimentou as multidões e sentia-se decepcionado porque poucos per­ceberam ser Ele o Pão enviado do céu para nutrir as almas hum anas (Jo 6). Curou o cego, dem onstrando assim ser a Luz do Mundo, mas os fariseus hostis queriam apagar aquela Luz (Jo 9). Ressuscitou Lázaro dentre os mortos, m ostran­do ser a Ressurreição c a Vida, e este milagre provocou no Sinédrio o desejo dc m atar o A utor da Vida. N a ocasião aqui estudada, Jesus operou um milagre que dem onstrou ser Ele o que opera a vontade divina em restaurar a vida c a saúde, e os judeus queriam matá-lo por operar um a cura no sábado! (v. 16).

"E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha curado: É sábado, não te é lícito levar a cam a” . Estes judeus tinham apoio nas Escrituras, nas pa la ­vras de Jeremias: “G uardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de sábado” (Jr 17.21). N aluralm ente, a p ro i­b i ç ã o dizia respeito a cargas que faziam parte de em preen ­

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O P aralít ico cio Tanque de B elesda 63

dim entos com ercia is , m as os judeus, no seu exagerado literalismo, levaram o m andam ento ao extremo.

2. A vindicação. O hom em lançou a responsabilidade sobre Jesus, e respondeu: “A quele que m e curou, ele p ró ­prio disse: T om a a tua cam a, c anda.” N outras palavras: “Foi aquele que m e deu as minhas forças o m esm o que me m andou com o em pregá-las .” Que lógica magnífica! Na sua simplicidade, o hom em acabou enunciando um a regra do discipulado cristão: aquEle que nos sarou e salvou tem o direito de dirigir a nossa vida. Se Cristo é a fonte da nossa vida, é tam bém a fonte da nossa lei.

E nsinam entos Práticos

/. C o n so la ç ã o no va le cie lá g r im a s . B e te s d a , com os seus p a v i lh õ e s c h e io s de e n fe rm o s de to d a e s p é ­c ie , o n d e e c o a m os s u s p i r o s e g e m id o s de d o r e d e ­se sp e ro , é um e x e m p lo d e s te va le de lá g r im a s em que v iv e m o s . N o m e io d a v id a , s o m o s c e r c a d o s p e la m o r te ; no m e io da s e g u r a n ç a , p o d e m o s ser a t in g id o s p e la c a la m id a d e ; no m e io d a f a r tu r a , p o d e m o s ser a p a n h a d o s p e la m is é r ia . “ M as o h o m e m n a sc e p a ra o t r a b a lh o , c o m o as f a í s c a s das b ra sa s se le v a n ta m p a ra v o a r ” (Jó 5 .7 ) .

Um provérbio de origem sérvia diz, com acerto: “Quem quisesse chorar todos os males do m undo logo ficaria sem olhos” .

Neste quadro triste, no entanto, brilha um raio de luz: há alguém passando no meio dos doentes, perguntando a cada um: “Queres ser cu rado?” Deus enviou Cristo a este m undo para sarar nossos pecados e enferm idades, c para nos m ostrar o cam inho de libertação, de vida e de paz! A ssim com o o anjo agitava as águas para lhes dar poder para curar, tam bém o Filho de Deus oferece a fonte que loi aberta para a casa de Davi para rem over o pecado e a

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im pureza (Zc 13.1). Estas águas sc m oviam som ente cm certos m om entos, mas a expiação de Cristo está disponível todo o tempo. Quanto às águas agitadas pelo anjo, som ente a pessoa que chegou prim eiro teve a boa fortuna; na expi­ação de Cristo, porem , o mundo inteiro está convidado a entrar dc um a só vez.

2. A voz que transform a. O paralítico freqüentava o tanque dc Betesda havia muitos anos, c viu muitas pessoas receberem a cura enquanto ele perm anecia tão doente com o no dia cm que chegou pela prim eira vez. Esta situação c típica de milhares de pessoas que frequentam as igrejas sem receberem bênçãos: a inda estão tão fracas espiritualmente com o no dia em que com eçaram a ir à igreja. N a teoria, creem no poder da graça divina; na prática, não têm fc cm Deus suficiente para receberem milagres dc transform ação que fariam delas obreiros fortes e vigorosos na causa de Deus.

Este milagre dem onstra que há cam inho mais curto para a saúde do que a m era frequência às cerim ônias da igreja. E a voz dc Cristo que precisam ouvir. Muitos têm espera­do por muito tempo ao lado da fonte cham ada Batism o no E spírito Santo. Veem as águas se agitarem e outras pesso ­as entrarem para receberem a bênção, enquanto outros se sentem secos c sem poder. Depois, certo dia, ouvem a voz do próprio Filho dc Deus e são im ediatam ente libertados daquela interminável espera! O que im porta na vida cristã c ouvir a voz do Filho de Deus. T em os ouvido a sua voz ultim am ente?

J. A cham ada à benevolência. “Senhor, não tenho ho ­mem algum que, quando a água c agitada, me m eta no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes dc m im .” “Não tenho n inguém ” - estas palavras exprim em quanta solidão e egoísm o existem no mundo. Dc todos aqueles já curados por meio daquela fonte, não sobrou nenhum que em prestasse ao seu antigo com panheiro de dores um pouco

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O P aralít ico do Tanque de B elesda 65

da sua força recém -adquirida, para colocá-lo na água na hora certa. Quão triste seria este m undo se não existisse ninguém que sentisse prazer em ajudar ao próxim o! O ego­ísmo faz com que o mundo seja um lugar m uito pequeno, um cantinho m uito frio, infrutífero e escuro. N ão há dúvi­da de que este m undo c lugar de egoísmo, mas a inda há boa quantidade de genuína bondade entre os hom ens.

Jesus Cristo veio ao m undo para lançar o saneamento que é o am or nas águas am argas do egoísmo, sendo que “andou fazendo bem, e curando a todos os oprim idos do d iabo” (At 10.38). Os seguidores de Jesus seguem o seu exemplo, e têm com paixão do hom em sozinho e abando­nado que não tem ninguém para ajudá-lo a chegar às águas que o saram. “Q uando te converteres, fortalece os teus ir­m ãos” . Q uem j á foi curado por Cristo se preocupará em cuidar para que outras pessoas se dirijam à m esm a fonte de bênçãos; não havendo esta vontade, é porque lhe falta a energia sobrenatural que aquece e com ove o coração com o divinal am or que tem longo alcance.

4. “Q ueres f ic a r sã o ? ” É surpreendente o núm ero dc pessoas que não se interessam em obter saúde, po r falta de desejo de assum ir as responsabilidades que a vida acarreta. Existem muitos cristãos, tam bém , que estão dispostos a perm anecer espiritualm ente paralíticos porque recuam d i­ante do serviço cristão árduo que sc requer dos seguidores dc Cristo. M uitos há que não querem ser feitos espiritual- mente sãos, porque se esquivam das obrigações da vida cristã; outros hesitam em buscar um a cxpcricnc ia mais profunda por m edo de surgirem, jun tam ente com ela, no ­vas exigências morais. Outros, ainda, não aceitam para si a consagração total, receando que o Senhor os m ande para o cam po missionário. “Queres ficar são?” é um a pergunta que nos perseruta, c que significa: “Queres ser capacitado para o que há dc mais puro e nobre na v ida?” O M estre continua falando ao nosso coração: “Queres ser santifica­

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66 João, o E vange lho do Filho de Deus

do?” “Queres ser espiritualm cntc forte?” “Q ueres ser ple- nam ente consagrado?” O que é que nos im pede de respon­der com um eterno “s im ” ?

5. Q uando D eus m anda , ide capacita . O h o m e m j u n ­to ao tanque e ra to ta lm cn te incapac itado . P o rém , q u a n ­do Jesu s disse: “ L evan ta- te , to m a a tua cam a, e an d a” , e le o b ed eceu e andou . A e x p licação é que e le t inha fé cm Jesus, e o p o n to de vis ta que a fé ado ta é que, por m ais difícil ou m e sm o im possíve l que seja a ta refa , o S e n h o r nos cap a c i ta rá a c u m p rir sua vontade . Q uando p ro cu ram o s fazer aqu ilo que sab em o s com ce r tez a ser a v o n tad e do M estre , d e sc o b r im o s que nossa cap ac id ad e e s tá á a ltu ra deste dese jo , c que nossas forças bastam pa ra o c u m p rim e n to do dever. “ Dá o que tu d e te rm inas , e m an d a o que tu d e se ja s” , d isse um an tigo p en sad o r cris tão .

O bedeça a Cristo, e você achará forças suficientes para isso. C reia que Ele tem poder para lhe dar vida nova, e você a receberá. Mas não hesite, não questione, não protele.

6. “Torna a liui c a m a ”. Talvez o paralítico curado pos­sa Ler pensado: “A gora m e sinto bem, mas não sei por quanto tem po vou m e sentir assim; seria m elhor deixar o leito aqui, caso venha a precisar dele mais tarde” . Seja como for, tal pensam ento foi rap idam ente expulso m ediante a ordem: “T om a a tua cam a” , que significa que o hom em não deveria p revenir-se contra um a possível recaída! O Se­nhor, para dar mais força e clareza a esta instrução, disse- lhe, mais tarde, ao encontrá-lo no templo: “Eis que j á estás são; não peques mais, para que não tc suceda a lgum a coisa p ior” .

M uitas pessoas ficam afastadas da graça e da m isericór­dia de Deus porque não vão se afastando da cena das suas antigas derrotas c enferm idades. Em vez de avançarem , ficam olhando para trás, p revendo fracassos c tom ando as respectivas providências, e isto por falta de confiança total

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O Para lí t ico do Tanque de l ie tesda 67

no poder de Cristo. Na vida cristã, fazer os preparativos para o fracasso é convidar o fracasso. “Não tenhais cuida­do da carne” (Rm 13.14). H á aqueles que se levantam do seu leito de fraqueza espiritual, avançam alguns passos na vida cristã, c então voltam para preparar a sua cam a no m eio da vida diária normal do m undo. Já levam os para longe o nosso leito de dores?

7. O nosso R eden tor é o nosso Soberano. Q uando os judeus protestaram que não era lícito àquele hom em carre­gar seu leito no sábado, ele respondeu: “A quele que me curou, ele próprio disse: T om a a tua cama, e anda.” Quem nos salvou c nos deu vida c força tem autoridade para nos dizer com o em pregar a vida que veio da parte dele. Tem absoluta autoridade de fazer o que deseja com os nossos poderes espirituais restaurados, pois que foi Ele quem no- los concedeu. Seu dom ínio decorre de seus benefícios; é nosso Rei porque c nosso Salvador. R ege aqueles que redimiu. Q uando o cristão recebe as críticas dos m undanos por ser tão consciencioso, por recusar-se a participar das coisas do m undo e por agir de m odo contrário às tradições e aos costum es da sociedade, sua defesa deve ser: “Aquele que me curou, ele próprio d isse” . Para o cristão, a palavra de Cristo c o argum ento único c conclusivo.

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Jesus, o Juiz que Há de Vir

T exto: J o ã o 5 .1 9 -4 7

Introdução

No capítulo cinco, temos um sinal (v. M 4 ) c um ser­mão (v. 19-47) que se explicam c ilustram m utuam ente. O milagre registrado na primeira parte do capítulo mostra dois aspectos de Cristo: prim eiro, com o D oador da Vida. O hom em que fora paralítico ouve a voz do Filho de Deus c recebe a vida (v. 25). Segundo, com o Juiz. O hom em cu ­rado fica diante do Juiz, e recebe a absolvição: “Eis que já estás são; não peques mais, para que não tc suceda algum a coisa p ior” .

Q uando os judeus objetavam que Jesus tinha violado o sábado ao curar o paralítico, ele pregou um serm ão expli­cando o significado do m ilagre c asseverando a sua auto­ridade para operá-lo.

I - As B ases da A utoridade de Cristo(Jo 5 .1 5 -2 0 )

Q uando o hom em que fora paralítico soube quem o curara, contou o fato às autoridades dos judeus, que, por

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70 João, o E vange lho do Filho de Deus

sua vez, queriam prender Jesus sob a acusação de ter vio lado o sábado. N a sua defesa, Jesus levanta os seguintes argum entos:

/. Sua unidade com o Pai. “E Jesus lhes respondeu: M eu Pai trabalha ate agora, c eu trabalho tam b ém ” . N ou­tras palavras: Deus trabalha no sábado, sustentando o U ni­verso, com unicando vida, abençoando os hom ens, respon­dendo às orações. Perguntou um zom bador, em conversa com um rabino judeu: “Por que Deus não guarda o sába­do?” Respondeu o rabino: “Não é perm itido que um ho ­mem se locom ova dentro do seu próprio lar? O lar de Deus é o universo inteiro, de alto a baixo. Deus não precisa do sábado; é um a bênção que ele concede às suas criaturas, para a felicidade de las” . E esta superioridade sobre o sába­do que Jesus tam bém considerou privilégio seu. Sua ativi­dade é tão necessária para o m undo com o a de Deus Pai; realmente, ao efetuar a cura no sábado, estava m eram enle agindo cm nom e do Pai.

Os judeus entenderam , corretam ente, epic Jesus estava declarando sua própria d ivindade m ediante tal resposta. Se estivesse s im plesm ente a rgum entando que, já que Deus trabalha no sábado, ele tam bém , com o ju d eu piedoso, p o ­dia trabalhar no sábado, sua defesa teria sido absurda. A declaração da sua própria deidade, no entanto, deu con teú ­do real à sua defesa.

Jesus declarou, portanto, que a cura do paralítico era um a obra do Pai, c que os judeus, ao acusá-lo da quebra do sábado, estavam realm cntc fazendo a acusação contra o Pai.

2. Sua com unhão com o Pai. “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si m esm o não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz igualm ente” . Cristo vivia em tão perfeita harm onia com o Pai que lhe era impossível operar qual­quer m ilagre por sua própria iniciativa, ou do seu próprio desejo. Ele estava tão acostum ado a subm eter-se ao propó-

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Jesus, o Juiz que H á de Vir / I

silo divino que eslava fora de cogitação a idéia de Ele entender mal a vontade de Deus ou se opor a ela. O Filho nada pode fazer de si m esm o, não por lhe faltar poder, e sim porque lhe falta o desejo de agir independentem ente de Deus. A sua expressão é semelhante ã de um hom em eonseieneioso que, quando alguém insiste com ele para que faça algo errado, responde: “Não posso fazê-lo” . Poderia, se desejasse, mas seu caráter reto e justo lhe proíbe tal coisa.

A atitude filial de Cristo é correspondida pelo am or do Pai: “Porque o Pai ama o Filho, e m ostra-lhe tudo o que faz” . O Filho tem sido um espectador contínuo das obras do Pai nos corações e vidas dos homens. Estava tão pro- fundam ente enfronhado nos conselhos do Pai que sabia ins- linlivam ente qual era a vontade do Pai cm todos os casos. Assim , um a só olhada na direção do hom em paralítico bastava para convencê-lo de que era da vontade do Pai a realização da cura, apesar de ser no dia de sábado.

II - () A lcance da A utoridade de C risto(Jo 5.21-30)

“ F ele lhe mostrará m aiores obras do que estas, para que vos m aravilhe is” . A nova vida com unicada ao paralí­tico era um sinal que indicava o poder de Jesus para com u­nicar a vida eterna a quem ele quisesse. A vida física assim transmitida apontava para sua capacidade de transmitir a vida espiritual também.

As “obras m aiores” de Cristo se m anifestam em duas esferas:

/. N a vivificação dos m ortos. Dois tipos de ressurreição se m encionam nestes versículos - a espiritual e a física. O pecado causa a morte espiritual, bem com o a morte física; Cristo, Salvador dos pecadores, dá a vida eterna à a lm a (v. 24) c a im ortalidade na ressurreição (v. 25). Os versículos 21 a 25 aplicam -sc à ressurreição física e à espiritual. O

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Filho de Deus exerce estas prerrogativas porque “assim com o o Pai tem vida em si m esm o, tam bém concedeu ao Filho ter vida em si m esm o ” .

2. N o exercício do ju lg a m en to . “E tam bém o Pai a nin­guém ju lga, m as deu ao Filho todo o ju íz o ” . Isto inclui o ju lgam en to que os hom ens pronunciam contra si m esm os quando rejeitam a Cristo, bem com o o ju ízo que será rea ­lizado no dia final. O propósito desta atribuição é “para que todos honrem o Filho, com o honram o Pai” . Q uando consideram os as declarações de Cristo acerca dc si mesm o, não podem os fugir do mistério da Trindade. Dizer que o Filho deve ser honrado com o o Pai, é dizer que o Filho c o Pai são um, com os m esm os poderes e honras, muito em bora Jesus, nos dias em que viveu na terra, estivesse sujeito ao Pai dc acordo com o plano divino.

H á aqueles que pensam da seguin te forma: sou um hom em , com as fraquezas humanas, passando por um a vida cheia dc dificuldades. Deus, lá no Céu, é perfeito e livre dc qualquer tentação. C om o poderia Ele s im patizar com meu ponto de vista? A resposta de Cristo c: “E deu-lhe o poder dc exercer o ju ízo , porque é o Filho do h o m em ” . Noutras palavras: no dia do ju ízo os hom ens com parecerão diante de quem já viveu na natureza deles, experim entou as tris­tezas deles, enfrentou as tentações deles, e que sabe por experiência o que é a vida hum ana.

“Eu não posso de m im m esm o fazer coisa a lgum a” , por causa do perfeito vínculo de com unhão entre Jesus e o Pai. D esejando que haja a m esm a com unhão entre ele m esm o e os seus discípulos, Jesus disse: “Sem m im nada podeis fa ­zer” (Jo 15.5).

T a lv ez a lguns dos ouv in tes se q u e ix assem , d izen d o que C ris to e ra m uito severo ou d o g m á tico ao ju lg a r as pessoas , a ss im com o h á aqueles que lev an tam a ob jeção dc serem as pa lav ras de Jesus em M ateus 23 m uito d u ­ras pa ra aquE le que veio salvar, e não condenar . A re s ­

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Jesus, o Juiz que Há de Vir 73

posta dc C ris to foi c co n t in u a sendo: “C om o ouço, a s ­sim ju lg o ; e o m eu ju íz o é ju s to , p o rq u e não busco a m inha von tade , m as a v o n tad e do Pai que m e en v io u ” . Cristo se re fe re às suas d ec la raçõ es de ap ro v ação e de condenação , de fin indo o que é certo e o que é errado. T inha, po r exem plo , au to r id ad e pa ra dizer: “ Estão p e r­doados os teus p e c a d o s” ; “A tua fé te sa lv o u ” ; “ M elhor seria pa ra tal hom em não te r n a sc id o ” ; “V in d e a m im ” ; “Aparta i-vos de mim, m alditos, para o fogo e te rno” . Estes e outros ju lg a m e n to s p ro n u n c iad o s , no que diz respeito aos fariseus, aos h ipócritas , a P ila tos e H erodes , a J e ru ­salém , ao m u ndo , aos d em ô n io s , são ex p ressõ es da v o n ­tade do Pai, e não de re s se n tim en to pessoa l. São a ve r­dade ira e in fa líve l ex p ressão da von tade d iv ina .

III - E nsinam entos P ráticos

1. A d iv in d a d e de C risto . No trecho aqui e s tudado , tem os um exem plo das trem endas asseverações feitas po r C ris to com respeito a si m esm o , dec la rações que so m en ­te D eus p o d e fazer com razão . N o en tan to , as a f irm a­ções fo ram tão s ingelas c na tura is com o, po r exem plo , quando P au lo dizia: “ Eu sou ju d e u ” . P a ra ch eg a r-se à co n c lu são de que C ris to é d iv ino , basta re c o n h ec e r duas coisas: p r im e iro , que Jesus não e ra um h o m e m mau. S egundo , que Jesus não e ra louco. Se a leg asse sua p ró ­p ria d iv in d ad e , en quan to so u b esse não ser D eus, não p ode ria ser um hom em bom ; se fa lsam cn tc im ag inasse ser D eus, sem que isso c o rre sp o n d esse à rea lidade , não p o d e r ia ser um hom em m en ta lm en tc são. P o s to que n e ­n h u m a p e sso a séria pode d u v id a r da p e rfe ição do c a rá ­ter dc Jesus , nem da sup er io r id ad e da sua san idade , não nos re s ta o u tra conc lusão senão a de que e le e ra o que dec la rav a ser - o Filho dc D eus, no sen tido espec ia l e re se rv ad o d a palavra .

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2. O a lua i ju ízo de Cristo. No plano da salvação, há ín tim a relação entre o presente c o futuro. A plenitude da vida eterna c a possessão que receberem os no futuro, e m ­bora com ece aqui c agora. A quele que crc em Cristo “ tem a vida e terna” . A condenação final a inda aguarda os p eca ­dores não a rrependidos, m as co m eça aqui e agora. No entanto, agora, a ira de Deus perm anece sobre o descrente (Jo 3.36).

E s ta verdade foi ilustrada na vida terrestre de nosso Senhor. T oda pessoa que apareceu na sua p resença foi ju lg ad a - ou recebeu aprovação, ou foi condenada. Lem os que os fariseus, cheios de suspeita, queriam subm eter Jesus ao escrutínio; mas, na realidade, eles é que foram subm e­tidos ao ju lgam ento . Lem os que Jesus foi levado perante Hcrodcs, mas, na realidade, tratava-se de H crodcs com pa­recendo perante Jesus! (Lc 23.8-11). Jesus foi levado a Pilatos, mas, na realidade, Pilatos é que foi ju lgado por Jesus. L em os sobre o processo de Jesus perante o Sinédrio, mas, realm cntc, ju lgava-se a autoridade moral do Sincdrio. Lm todos os casos, foram invertidos os papéis, porque c Ele agora o Exaltado, e eles, os condenados.

Na p resença de Jesus, portanto, os hom ens são ju lgados de acordo com a sua atitude para com Ele. L Ele a inda é a pedra de toque das nossas vidas. Certo visitante altivo e crítico estava exam inando um a co letânea de obras-prim as de pin tura num a galeria de arte. “N ão vejo nada de espe­cial nesses quadros” , disse, com ar de desprezo. O curador respondeu, tranquilam ente: “Senhor, aqui não está cm cau­sa a qualidade dos quadros, e sim a dos observadores” . Os críticos procuram subm eter o caráter divino ao m icroscó­pio, m as são realm ente eles o objeto de escrutínio. U m a boa p ergunta a dirigir a um cético seria: “O que você pensa de Cristo?” Mas a pergunta mais importante é: “O que Cristo pensa de você?”

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Jesus, n Juiz que Há de Vir 75

3. “Vindo, depois disso, o ju í z o ” (H b 9.27). Lemos em João 3.17: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o m undo, mas para que o m undo fosse salvo por ele". Em João 5.22, lemos: “E tam bém o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o ju íz o ” . Não há nenhum a contradição aqui. É da vontade de Deus que todos sejam salvos, e Jesus provou a morte em prol de todos os homens. Q uando, porém , os hom ens re je itam a cura do pecado, têm de sofrer a sua penalidade; quando zom bam da oferta da m isericórdia divina, não há escape da conde­nação divina.

Pessoas há, hoje, que duvidam do ju ízo v indouro tanto quanto os hom ens da época de Noé, m as nem por isso deixou de vir o dilúvio, nem deixará de vir o dia do ju ízo final.

4. “D a m orte para a v id a ” (v. 24). A ssim com o um cadáver pode ser cercado por flores e enlutados, sem com eles ter o m ínim o contato, assim tam bém um a alma morta pode ter coisas espirituais ao seu alcance, sem, porém, tomar a m ínim a consciência da sua presença. “M as a que vive cm deleites, v ivendo está m orta” ( lT m 5.6). “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas c pecados” (Ef 2.1). A ssim com o um m ineral está morto no que diz respeito ao reino vegetal, tam bém o hom em não convertido está morto com respeito ao Reino de Deus.

Cristo veio possibilitar a transição do h o m em da morte pa ra a vida: “A quele que crê no F ilho tem a v ida e te rn a” (Jo 3.36). E esta verdade que faz a d is tinção en tre o C ris ­t ian ism o c todas as dem ais re lig iões . E o h o m e m m enta l c m oral m a is a p esso a de C ris to ; é a no v a v ida tra n sm i­tida ao h o m e m esp ir itua l, u m a qu a lid ad e b em d ife ren te do que q u a lq u e r outra co isa ex is ten te no m u n d o (cf. Jo 14.20-23; 15.5; 1 Co 6.15; 2 Co 13.5; G1 2 .20). C ris to é a fonte da nossa vida. N e n h u m hom em espiritual alega, em hipótese algum a, que a sua esp ir itua lidade é dele mes-

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m o. “E vivo não m ais cu, m as C ris to v ive em m im ” (G1 2.20). Q uando a lguém verdadeira c s ince ram en te se volta do p e ca d o para C ris to , p assa da m orte pa ra a v ida.

5. A cer te za da vida e terna . Na da ta d es ta tradução , n o tic ia -se a m orte de um russo que v iveu 168 anos. É um p e r ío d o m u ito g ran d e de tem po, cm que h o u v e p ro ­fundas m o d if icaçõ es em todas as nações da terra , m as não p a ssa de a lguns p o u co s segundos em c o m p aração à v ida e terna , que é o p re sen te receb id o por todos os que tem fé cm C risto . M uitos re je i tam a v ida e terna, não por não c re rem que e la se ja boa , m as p o rq u e a acham boa d em ais pa ra ser v e rdade ira . O utros go s ta r iam que fosse ve rd ad e ira , m as não têm base só lida pa ra fu n d am en ta r as suas e speranças . R o b er to E. Ingerso ll, d e s tacad o in i­m igo d a B íb lia c do C ris t ian ism o , na ocas ião do en terro do seu irm ão, fez um discurso decla rando não existir nada que ap o ie o conce ito da v ida a lém -tú m u lo . D epois , d is ­se: “A q u e le que aqui j a z c o n fu n d iu a ap ro x im a çã o da m orte co m a vo lta da saúde, e sussu rrou , com seu d e r­rade iro alento: ‘Já s a re i ’. O x a lá p o ssam o s crer, a d e sp e i­to das d úv idas e d o g m as, das lág rim as e tem ores , que sejam v e rdade iras estas p rec io sas p a lav ras , no que diz respe ito a todos os incon táve is m o r to s” . Este d ese jo de ter a lg u m a esperança , da p a r te de quem re je itou as E s ­critu ras , é a só lida seg u ran ça de quem co n h ece a C ris to : “P o rque eu vivo, e vós v iv e re is” (Jo 14.19).

6. O coração sem nuvens. “O m eu ju ízo é justo porque não procuro a m inha p rópria vontade, c sim a daquele que me enviou” . Com estas palavras, Jesus revelou a inexistência de m otivos errados cm seus ju lgam entos. Tudo quanto d i­zia c fazia era isento da influencia do egoísm o que distorce todas as coisas.

A ssim com o a poluição do ar vai obscurccendo a nossa vista ao derredor, tam bém o egoísm o, o m edo e a am bição form am um a nuvem que obscurecc o raciocínio e perverte

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Jesus, o Juiz que H á de Vir 7 7

o juízo. Não havendo qualquer defeito ou lesão específica, sempre terão sanidade mental as pessoas que têm pureza de coração.

Feliz o hom em que nega-sc a si mesmo c que pode dizer: “Não busco a m inha própria vontade, mas a vontade do Pai que m e e n v io u ” . Tal c o n sa g ra ç ã o d e sa n u v ia rá nosso discernimento c julgamento e alimentará o espírito (Jo 4.34), iluminando o entendim ento (Jo 7.17) e dando descanso ao coração (Ml 1 1.29).

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Jesus, o Pão da Vida

T exto: J o ã o 6

Introdução

A leitura com pleta do sexto capítulo de João nos a juda­rá a colocar o sermão de Jesus (v. 26-37), que receberá nossa atenção especial neste estudo, no seu exato contexto. O capítulo registra muitas coisas grandiosas:

/. Um grande m ilagre. Depois de os apóstolos voltarem da sua breve viagem evangelística, Jesus os levou para o ermo, a fim de passarem jun tos uns breves períodos de des­canso c com unhão espiritual. Não havia, no entanto, ne­nhum descanso para os cansados; seus m ovim entos foram observados, e o povo acorreu ao lugar onde desem barca­ram, correndo pela praia ao redor do mar da Galiléia, como se tem esse que eles escapassem . H avia ao todo cinco mil hom ens. Cerca de 15 mil pessoas, contando-se tam bém as mulheres c as crianças. E aquEle que revelou seu poder criador, transfo rm ando a água em vinho, exerceu este m esm o poder, a lim entando aquela multidão com uns pou­cos pães e peixes.

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80 João, o Evange lho do Filho de Deus

2. O grande entusiasm o. Ate esta altura, a popularidade do Senhor tinha crescido com velocidade sem pre maior. D epois de o povo ver este milagre, seu entusiasm o ficou até febril. C hegaram à conclusão de que Ele, ao repetir o m ilagre da a lim entação sobrenatural de Israel no deserto, revelou-se com o o Messias. Saudaram -no com o Rei, e se p rontificaram a escoltá-lo a Jerusalém para sua coroação, esperando que Ele expulsasse os rom anos da Palestina e exaltasse Israel acim a das nações.

d. A g ra n d e tem p esta d e . Jesus im ed ia tam en te re c o ­nheceu o inc iden te co m o sendo m ais um a a r t im an h a da pa rte de S a tanás , p a ra ten tá -lo a to m ar o trono sem a ce i­tar a c ruz . R a p id a m e n te m an d o u e m b o ra a m u ltidão , o rd en o u aos d isc íp u lo s que se a fas tassem num barco e depo is subiu a um a m o n ta n h a p a ra orar. N esse ín terim , lev an to u -se um a tem p es tad e que im p ed ia os d isc ípu los de rem ar c am ea ç av a v ira r o barco . A tem p es tad e p re ­n u n c iav a a ex p e r iên c ia que e s tav a para lhes sobrevir. D entro em breve, ra jadas de im p o p u la r id ad e soprariam co n tra o M estre e seu grupo , am eaçan d o sossob ra r- lhes a fé. L o g o te r iam de re s is t ir aos ven tos c às ondas , para não serem levados em d eb an d a d a à ru ína, pe lo fu racão da apostas ia . No en tan to , o M estre não se e sq u e c e ra dos d isc ípu los; seu o lh a r v ig iava o barco , e, no m o m e n to da necessidade , in te rve io em prol deles. Jesus n unca se d e s ­cu id a dos seus fié is , q u ando estão p a ssan d o pelas águas de tr ibu lação .

4. Um grande serm ão. Cristo estava no auge da popu­laridade, era o “hom em do m om en to” . Certam ente, segun­do o pensam ento popular, quem Linha poderes para a lim en­tar m ilagrosam ente cinco mil pessoas seria ideal para res­taurar a prosperidade da nação e oferecer ao povo tudo quanto necessitava. Satanás conhecia muito bem os senti­mentos do povo quando sugeriu que Jesus lançasse mão de seus poderes pa ra transform ar pedras em pão. N aquela

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Jesus, o Pão dei Vida X 1

ocasião, com o tam bém no incidente aqui registrado, Jesus declarou que o hom em não obterá m ediante a com ida na tural a sua verdadeira vida, que c espiritual (M t 4.3,4; Jo 6.27).

O Senhor não queria que alguém o seguisse sem ter o conceito correto quanto à sua pessoa; todos deviam saber com certeza que tipo de M essias era Ele. Em vista disto, pregou um serm ão m uito claro para estabelecer qual era a sua posição. Não veio com o M essias político para dar nova vida à política da nação, e sim com o M essias espiritual, para oferecer vida espiritual ao seu povo. Q uando Jesus alim entou o povo com pão físico, dem onstrava, sim bolica­mente, seu desejo de a lim entá-lo com o Pão espiritual que produz a vida eterna.

5. A g rande triagem. A m ensagem que Cristo pregou foi u m g o lp e m o r ta l c o n t r a a su a p o p u l a r i d a d e ; deliberadam ente , destruiu o apoio de um a grande parte da população: “ Desde então muitos dos seus discípulos torna­ram para trás, c j á não andavam com ele” (6.66). Seus ensinam entos estavam além do alcance deles, e suas ações não se harm onizavam com a idéia que tinham de como deveria se com portar o M essias. Muitas pessoas pensavam: “Se é assim o Messias, não querem os saber de le” . Isto não se constituiu cm surpresa para o Senhor: afinal de contas, p lanejara sem elhante crise deliberadam ente, porque, apesar dos seus anseios pela salvação de todos os hom ens, dese ­jando que todos chegassem a Ele para receber a vida, não aceitaria pessoa a lgum a que não se consagrasse ao Senhor. P rocurava aqueles que lhe eram dados por Deus (6.37), en­sinados p o r Deus (6.45) e trazidos por Deus (6.44), saben­do que som ente os tais perm aneceríam na sua Palavra.

6. Uma grande p rova de fé . O M estre estava sendo abandonado por muitos seguidores decepcionados. Será que os apóstolos também seriam levados pela onda de apostasia? Jesus co loca diante deles a questão: “Q uereis vós tam bém

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retirar-vos?” Três âncoras seguravam os discípulos, firmes, durante esta tem pestade de apostasia: primeiro, sua since­ridade real - verdadeiram ente queriam o melhor que Deus tinha para eles; segundo, a consideração das alternativas - “Para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida e ter­na” ; terceiro, sua convicção de que Jesus era tudo o que dizia ser - “E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de D eus” .

I - Jesus C orrige um C onceito Falso (Jo 6 .2 6 -2 9 )

Veja os versículos 22-25. A m ultidão alim entada per­maneceu no local durante toda a noite. Logo de manhã, percebeu, surpresa, que Jesus tinha ido embora. Logo che­gou um a flotilha de barcos (talvez para vender m antim en­tos) e, em barcando neles, foram procurar Jesus. Achando- o finalmente, perguntaram: “Rabi, quando chegaste aqui?”, querendo saber com o viajara tal distância cm tão pequeno espaço de tempo. T inham visto Jesus subir sozinho o m on­te, enquanto os discípulos partiram sem Ele. Não com pre­enderam com o Ele poderia ler a travessado o mar, pois nenhum barco ficara disponível depois da partida dos d is­cípulos. Im aginavam que, por certo, o operador do m ilagre dos pães fizera a travessia de m odo milagroso, sem, p o ­rem, lerem tom ado conhecim ento do fato de Ele ter andado por sobre o mar.

/. C ondenação. “Jesus respondeu-lhes, e disse: N a ver­dade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque com estes do pão e vos saciastes” . Estes hom ens, em vez de perceberem no milagre um sinal da divindade de Cristo, encararam -no sim plesm ente com o um a m aneira de receberem alimentos para seu corpo físi­co. Souberam ver os p ã es no sinal, e não o sinal nos pães. Seguiam a Jesus visando propósitos m undanos c motivos egoístas. Jesus conhecia o coração hum ano, não se de ixan­

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Jesus, o Pao da Vida SJ

do iludir com o entusiasm o popular. Percebia as suas aspi rações sem espiritualidade, com paráveis às atitudes daque­les que dese jam o milagre da cura divina sem alm ejarem a salvação da alma.

Os versículos 26 c 27 servem com o com entário do tex­to: “N ão só de pão viverá o h o m em ” . Precisa de pão, mas precisa tam bém de outras coisas; é-lhe necessário ter v íve­res, com o tam bém ter visão. Se o hom em fosse apenas corpo, bastar-lhe-ia o pão; sendo tam bém alma, ele precisa de Deus.

2. Exortação. “Trabalhai, não pela com ida que perece, mas pela com ida que perm anece para a vida eterna, a qual o Filho do hom em vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” . Os ouvintes tinham corrido uma distância tão g ran ­de por causa da com ida que perece e que, portanto, não pode produzir a imortalidade; deveriam ler m ostrado igual interesse cm procurar a com ida que nutre a alm a para a vida eterna. Jesus não quer d izer que não se deve trabalhar para ganhar a vida, inclusive a com ida diária, mas não quer que as coisas naturais sejam o alvo principal do hom em . Assim com o existe um a fonte de água que jo rra para a vida eterna (Jo 4.14), assim tam bém existe um a com ida que, ao ser assim ilada, transmite à a lm a a vida divinal. Sabem os que Cristo nos oferece tal com ida, porquanto "o Pai, Deus, o selou” . Este selo é o sinal da aprovação daquilo que é genuíno, c da exclusão daquilo que é errado. Através do milagre da m ultiplicação dos pães, Deus dá seu carim bo de aprovação que com prova ser Jesus o D oador do Pão da Vida. A desc ida do Espírito Santo, a voz do céu e a ope­ração de poderosos milagres eram evidencias que provavam que o Pai dedicara Cristo para ser Salvador do mundo.

3. Interrogação. “Disseram-lhe, pois: Que faremos, para executarm os as obras de D eus?” (Ou seja, obras aprovadas por Deus, e que nos aproxim am de Deus.) A pergunta surgia

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com naturalidade entre os judeus, cujo conceito da salva­ção era que a escrupulosa observância de um currículo inteiro de deveres, cerim ônias e outras obras lhes daria o direito a ela. M esm o assim, a pergunta dem onstrava algum interesse na questão, e queriam esforçar-se neste sentido. Sem elhante pergunta vem irrom pendo do fundo do cora­ção de todos aqueles que, tendo com eçado com um a atitu­de de total indiferença, j á fizeram algum progresso na di­reção de procurarem um a vida santa que agrade a Deus.

4. E xp licação . “Jesus respondeu , c d isse-lhes: A obra de D eus é esta: Q ue c re ia is naquele que ele e n v io u ” . A fé é a ob ra de D eus p o rque é D eus quem a ex ige e a p ro ­va. Sem fé, é im poss íve l ag radar- lhe . Note que Jesus d isse que crer c “a o b ra ” - c não um a das obras - de Deus. A fc é aque la ún ica obra de onde p rocedem todas as d em ais obras genu ínas , lí a p ró p r ia fc não c m érito nosso; é dom de Deus. A fé é a m ais sub lim e q u a lid ad e de obra, po rque por e la o h o m em se en trega a D eus, e não há nada m ais nobre para um ser livre fazer do que dar-se a si m esm o. T iago ressa lta que “a fé, se não tiver as obras, é m orta em si m esm a" (Tg 2.20). Paulo re ssa l­ta que as obras, sem a 1c, estão m ortas (Rm 3.20; cf. Hb 3.20). São verdadeiras am bas as p roposições . A fé v iva p ro d u z irá obras vivas; c obras v ivas, ace itáveis d ian te de Deus, devem p ro ced er de um a fé que rea lm en te vive. D isse M artinho Lutero: “F ica r co n f ian d o na P a lav ra de Deus, de tal form a que o co ração não fique a te rro r izado d ian te do pecado c da m orte , m as, pe lo con trá rio , confie e cre ia cm D eus, é a lgo m ais severo c d ifícil do que todas as ex igênc ias das o rdens m o n á s t ica s .”

Note que o supremo objeto da fé é Jesus Cristo, o Filho de Deus. O judeu ortodoxo afirm a que, enquanto agrada a Deus, não tem necessidade de Cristo. Com o, no entanto, poderá agradar a Deus se rejeita o seu M ensageiro? (cf. Dt 18.18,19).

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./exits, o / ’l io da Vida 85

II - Jesus D esperta o V erdadeiro D esejo(Jo 6 .3 0 -3 4 )

/. Um desafio. “D isseram -lhe pois: Que sinal pois fazes tu, para que o vejam os, c erciam os em li? Que operas tu? Nossos pais com eram o m aná no deserto, com o está escri­to: Deu-lhes a com er o pão do céu” (cf. Ex 16.4; SI 78.24). Q ueriam provas da parte de Jesus quanto à veracidade das suas palavras c à certeza de que Valeria a pena eles se entregarem totalm entc a ele. Os judeus, através de toda a sua história, sem pre tiveram a tendência de procurar um sinal sobrenatural, desejando a lgum a irresistível prova que despertaria neles a fé invencível, assim com o o grego sem ­pre procurava o raciocínio irrefutável (1 Co 1.22).

Em bora tivessem visto a m ultip licação dos pães, queri­am um sinal a inda mais espetacu lar, m enosprezando o milagre operado por Jesus c dando a en tender que, se Jesus quisesse que eles o seguissem com o sendo m aior do que M oisés, leria de fazer algo com parável ao m ilagre de ali­m entar um a nação inteira durante 40 anos, considerado o m aior m ilagre da história dos judeus, o qual o M essias de ­veria repetir.

2. Uma correção. “ Disse-lhes pois Jesus: N a verdade, na verdade vos digo: M oisés não vos deu o pão do céu; mas m eu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao m undo .” Jesus faz as seguintes ressalvas: 1) Não foi M oisés quem lhes deu pão do Céu - dom de D eu s , e não de Moisés. 2) O m aná não era pão celestia l, pois que susten tava apenas o corpo, e não a alma. O verdadeiro pão celestial é o Sal­vador, que desceu do céu para a terra, para salvar as almas hum anas (Jo 3.16). O m aná era apenas um outro tipo de pão: com o o m aná, desce do Céu; d iferen tem ente do maná, dá a vida - não a um a nação, e sim ao m undo inteiro; não por poucos anos de vida hum ana, e sim pela eternidade (v. 49,50).

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3. Uma oração. Esta declaração, com o a que a mulher sam aritana ouviu (Jo 4.1.6), despertou o desejo nos cora­ções dos ouvintes, que exclam aram : “Senhor, dá-nos sem ­pre desse pão” . Queriam este pão, de quantidade ilimitada, que é fonte dc vida, a lim ento da vida eterna, que satisfaz toda a fome, abolindo toda a pobreza c vencendo o tem or da morte.

III - Jesus O ferece a V erdadeira Vida (Jo 6.35)

“E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a m im não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede.”

Jesus descreve sua obra dc salvação mediante a expres­são figurada dc Pão celestial entrando no m undo para ali­m entar almas hum anas, dando-lhes a vida eterna.

/. A descida do Pão celestial. “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome ” . Jesus ensina aqui a doutrina da encarnação: que o eterno Filho dc Deus assum iu a natureza hum ana a fim de viver entre os homens. O Filho dc Deus se tornou Filho do h o ­mem, a fim de que os filhos dos hom ens pudessem ser feitos filhos de Deus (cf. Jo 1.12-14).

2. O Pão celestia l é partido. O pão tem dc ser partido quando alguém o come. O Filho de Deus Encarnado tem de oferecer sua vida cm sacrifício antes de os hom ens verdadeiram ente se a lim entarem dele. O Verbo de Deus, que se fez carne c foi crucificado na carne, é a v ida do m undo. Na C eia do Senhor, c o m em o ram o s aquele ato mediante o qual foi quebrado o corpo de Cristo para, as­sim, dar vida ao mundo.

3. A eficácia do Pão. Cristo c o Pão da vida porque veio do céu trazer ao m undo um a nova fonte de vida; o pão, ao sustentar a vida, cum pre sua finalidade, e o que há de es-

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Jesus, o Pão da Vida X /

pccial neste Pão c que sustenta a vida eterna. Os que co mem do Pão da vida perdem o pavor da morte.

4. A apropriação do Pão. O pão só pode sustentar a nossa vida física quando o co m em o s ; Cristo nos dá a vida eterna quando crem os nele. “Aquele que vem a mim não terá fome; c quem ere cm mim nunca terá sede” . “C om er a carne do Filho do hom em e beber o seu sangue” (v. 53) c crer na eficácia da sua m orte expiatória.

5. A ascensão do Pão da Vida. Veja o versículo 62. O Pão que desceu do céu deve subir de volta para lá, para ser, em escala m uito maior, o Pão da vida eterna; Jesus derra­ma sobre todas as almas famintas no erm o espiritual, que c o nosso m undo, o m aná celestial para a lim entar a todos.

IV - Jesus C ensura a D escrença (Jo 6 .3 6 ,3 7 )

1. A acusação. “Mas já vos disse que tam bém vós m e vistes, e contudo não credes” (cf. v. 26). A m ultiplicação dos pães era milagre suficiente para satisfazer a exigência de um sinal da parte dEle; m esm o assim, recusaram -se a crer. A situação é que viram sem perceber. O pecado c o p re c o n ce i to ceg a ra m os o lh o s de les , d is to rc e n d o seu discernim ento.

2. A certeza. “Todo o que o Pai m e dá virá a m im ” . Todos os que se chegam a Cristo, accitando-o com o M es­tre, fazem -no porque o Espírito Santo os atraiu a ele, e, assim sendo, foram -lhe “d ad o s” por Deus. T odos os que rcalmcnte estão sendo guiados pelo Espírito de Deus for- çosam ente terão que aceitar a Cristo com o seu único Sal­vador: se estes hom ens não estavam chegando a Ele é po r­que havia a lgum em pecilho nas suas vidas que os impedia se entregarem a Deus (Jo 5.38; 6.44,45; 8.42,47).

3. A prom essa . “E o que vem a m im de m aneira nenhu­m a o lançarei fora” . O Pai e o Filho trabalham cm conjunto na salvação das almas: o Pai as atrai, e o Filho as recebe.

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Note que estas palavras tam bém dão a entender que Cristo tem poder para excluir da sua com unhão c do seu Reino (Ml 8.12; 22.13). No entanto, não rejeitará pessoa algum a cujo coração tenha sido com ovido ao arrependim ento pela atração do Espírito de Deus.

V - E nsinam entos Práticos

/. O dom e o D oador. Os judeus estavam procurando as dádivas, ou seja. os pães, mas as palavras dirigidas a eles por Jesus revelam que não procuravam o Doador. Nós tam ­bém com etem os sem elhante erro? Procuram os a benção, ou aquele que abençoa? Procuram os o dom, ou o Doador do Espírito? Procuram os a cura, ou aquElc que cura? Pro­curam os um a coisa, ou a p e ss o a l O xalá que possam os procurar Cristo por am or a Ele mesm o.

2. A suprem a basea da vida. “Trabalhai, não pela com i­da que perece...” . Há milhares de anos, Isaías, profetizando acerca da tentação que o luxo c a magnificência de Babilônia viriam a ser para os exilados, fez a seguinte advertência; “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? c o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfa­zer?” (Is 55.1,2). Aqui se levanta a eterna questão: em prol de que deve viver o hom em ? Qual deve ser o alvo dos seus mais sublimes esforços? Um a vez que o hom em é destina­do para a eternidade, logo, a atividade mais sublime da sua vida tem de ser a busca daquilo que é celestial e eterno. Nada menos do que isto satisfará completamente a sua alma. Infclizmcntc, existem muitos com etendo o m esm o erro do rico fazendeiro que considerou seu corpo com o se fosse a alma, dizendo: “Alma, tens em depósito muitos bens para m uitos anos” . O epitáfio que Deus lhe p reparou dizia: “Louco” !

C om o cristãos, devem os renovar a nossa consagração e frequentem ente perguntar a nós m esm os se estamos v iven­do à altura daquilo que Jesus ordenou cm M ateus 6.33.

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Jesus, o Pão chi Vida 89

3. Satisfeitos, porém fam intos. No deserto central da Austrália há um a planta estranha cham ada nardoo, que tem folhas pareeidas com as do trevo. Dois ingleses, Burke e Willis, fazendo pesquisas na região, seguiram o exem plo dos nativos quando lhes faltou comida, com endo as raízes e as folhas daquela planta. Parecia saciar-lhes a fome, cn- chendo-os com a sensação de bem -estar e satisfação. Não sentiam mais fome, mas, m esm o assim, com eçaram a sur­gir os efeitos da inanição. Seus corpos foram ficando debi­litados e suas forças foram dim inuindo até que pouco mais energia tinham do que um recém -nascido. Finalm cntc, um morreu, e o outro foi resgatado no último instante, o que ilustra os resultados fatais da tentativa de a lim entar a alma com coisas mundanas!

Com que se a lim enta o hom em não convertido? Em Oséias, apascenta o vento (Os 12.1); em Provérbios, se apascenta de cstultícia (Pv 15.14); em Lucas 15, quer se fartar das alfarrobas; c, em Isaías 44.20, se apascenta de cinza. A tais pessoas Cristo se oferece com o o Pão da Vida.

4. N ossa relig ião nos sa tis fa z? A lesta espiritual que recebem os na igreja deve nos satisfazer a alma, transfor- m ando-nos de tal maneira que outras pessoas tam bém quei­ram participar das bênçãos. “Provai e vede que o Senhor é b o m ” (SI 34.8). Chegue-se a Ele com seu coração faminto. Ele o alim entará, e você sairá satisfeito.

5. A obra de Deus. Q uando os judeus perguntaram o que deveríam fazer para agradar a Deus, Jesus disse que deveríam crer. Eles perguntaram sobre as obras; Jesus in­dicou a única obra - confiar. Isto sim plifica a religião. Se a salvação depender das obras, quem poderá saber que já fez o suficiente? Por outro lado, a pessoa sabe muito bem quando está confiando em Cristo. Esta fé, sendo genuína, produzirá por si m esm a as necessárias obras.

O hom em é mais im portante do que a obra; a motivação é mais im portan te do que a ação; o caráter é mais profundo

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90 João. o Frnnf>elho do Filho de Deus

do que a conduta. T em os de estar certos antes dc fa z e r o certo; e, para ficarmos certos com Deus, temos de entregar a Ele o nosso coração: “ Visto que com o coração se crê para a ju s tiça” (Rm 10.10).

O Cristianism o é, fundam entalm ente , o relacionam ento pessoal com Deus, possibilitado por Cristo c transform ado cm realidade mediante a fc.

6. O significado da predestinação . As palavras: “Todo o que o Pai me dá virá a m im ” significam que Deus des­tinou para a salvação não este ou aquele indivíduo, c sim todo aquele que erê no seu Filho. Isto poderia incluir todas as pessoas, no m undo inteiro, pois Deus quer que seja as­sim: todos os que crêcm, são salvos. Portanto, Deus elege não os indivíduos, e sim os meios, de m aneira que todos os que lançam mão dos meios oferecidos por Deus são salvos. Deus predestinou todo aquele que quiser aceitar, e a pró­pria aceitação é dom de Deus (E f 2.8).

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Jesus na Festa dos Tabemáculos

T exto: J o ã o 7 .1 -5 3

Introdução

No capítulo nove, João descreveu a crise na Galiléia, m ostrando com o a pregação simples c declarada de Cristo fez um a triagem entre os discípulos. No capítulo sele, João procede à descrição do sentim ento para com Jesus ex isten­te cm Jerusalém , onde as nuvens de descrença se am onto­aram até desencadearem um a tem pestade de violência c ultraje. Este capítulo nos a juda a atingir o ponto de vista certo, m ediante a dem onstração das várias estim ativas que se faziam da obra c da pessoa de Jesus, bem com o das opiniões que se podiam ouvir com respeito a Ele cm toda a Jerusalém .

O propósito de João é m ostrar com o Jesus se revelou de todas as m aneiras apropriadas para que a fé fosse desper­tada naqueles homens, e o resultado foi que alguns creram e outros não. Dê um a rápida olhada na narrativa do E v an ­gelho para perceber com o o apóstolo, inspirado, registra os resultados dos milagres de Cristo, bem com o dos seus d is­

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92 Joao, o E vange lho do Eitho de Deus

cursos. Os primeiros versículos deste capítulo nos mostram a im pressão que Jesus orig inalm ente causava aos seus p ró ­prios familiares.

I - O D esafio C arnal (Jo 7 .2 -1 0 )

/. O desafio. V eja os versículos 3 e 4. Os irm ãos de Cristo, que deveriam ter sido os prim eiros a en tender o seu caráter, dem oraram a crer nEle. Souberam apenas ficar ir­ritados pelas diferenças que havia entre Jesus c eles. Ao m esm o tempo, pensavam eles, se porventura fossem ver­dadeiras as reivindicações dEle, seria agradável a situação de irmãos do Messias. Desta forma, sentem preocupação em obter um pronunciam ento oficial sobre o caso, queren­do que Jesus fosse dirc lam cntc à autoridade central, cm Jerusalém , em ve/, de lazer um trabalho local na Galiléia, que tão poucos resultados dem onstrou. Não conseguiram aceitar a idéia de o irmão deles ser o Rei tão esperado, mas, tendo em vista os relatos fidedignos acerca de tudo quanto fizera de extraordinário, sentiram que havia nEIc algo de misterioso, e queriam pôr fim ao suspense, persu- adindo-o a ir a Jerusalém . Para tanto, zom bavam dele, d i­zendo que quem realm ente acha m erecer a atenção do gran­de público deve ir com os discípulos aos lugares onde as grandes multidões possam publicam ente aclamá-lo.

“Porque nem m esm o os seus irm ãos criam nele” foi o triste com entário de João, adm issão esta que testifica a sinceridade dos escritores dos Evangelhos. Q uando é que finalmcntc chegaram a crer? (cf. At 1.14; 1 Co 9.5; G1 1.19). M edite neste fato profundo c significativo: os próprios fa­miliares de Jesus, criados com Ele, que o viram na p len i­tude da sua hum anidade, c inieialm enle não criam nEle, só depois chegaram a adorá-lo, reconhecendo-o com o Senhor c Mestre. Qual é a explicação desta m udança? Veja Atos 2.32,33.

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Jesus na Festa dos T abernáeu los 93

2. A resposta . Jesus deu a en ten d e r o seguin te: “O tem po não es tá p ron to para a m in h a en trad a em J e ru sa ­lém com o M ess ias . Tal ato d a ria vazão à h o s t i l id ad e dos líderes que m c m atariam antes da hora p lane jada . Vocês podem subir, p o rque estão em perfe ito acordo com o e sp í r i to , a lv o c p a d rõ e s d a é p o ca . V o cês e s tã o tão en fro n h ad o s com o m undo , que podem fa la r o que q u i­serem e q u an d o qu iserem . V ocês não es tão indo con tra n en h u m dos co n ce ito s m u n d an o s , não estão d e rru b an d o n en h u m ídolo . Eu, porém , p rec iso supo rta r a h os ti l idade e a an tip a tia que são o q u in h ão de q u a lq u e r p ro fe ta que d e sm asca re a m a ld ad e c a h ip o c r is ia de sua época . Vão, c partic ipem das cer im ônias do tem plo. C h eg u em a T e m ­po para faze r os tabernáeu los . V ocês, a final, não têm n e ­n h u m a m e n s a g e m a p r e g a r c o n t r a a c o r r u p ç ã o do san tíss im o cu lto ou a h ip o c ris ia do r i tu a l” .

“E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia. Mas, quan­do seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu ele também, não m anifestam ente, mas com o cm oculto” . Jesus não fez a “ subida” ou viagem oficial com o grupo de pe­regrinos da Galiléia; foi para lá de m odo tranqüilo, aben ­çoando os leprosos, conso lando almas c ensinando aos espiritualm ente ignorantes. C hegou com atraso deliberado e não apareceu no templo até que a lesta j á havia com eça­do, quando, então, com a autoridade e destem or de um profeta , su rg iu de rep en te c com eçou a ensinar. Seus ensinam entos tratavam da sua própria missão c a atitude dos judeus para com ela (Jo 7.14-36).

II - O C onvite E spiritual (Jo 7 .3 7 -3 9 )

I . A ocasião. O convite do nosso Senhor é a inda mais marcante quando o exam inam os à luz de um dos atos mais marcantes da Festa dos Tabernáeulos, a saber, quando a água era tirada do tanque de Siloé com um a bacia de ouro c levada em procissão para o Tem plo, onde era derram ada

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94 Joao, o livangclho do Filho de Deus

ao som das trom bctas locando cm triunfo c das exclam a­ções de “Aleluia!” da parle dos assistentes. O regozijo nesta altura da cerim ônia era tão grande que os judeus tinham um ditado: “Q uem não sentiu júb ilo no m om ento de ser derram ada a água tirada do tanque de Siloé, nunca na sua vida sentiu jú b ilo ” . O derram am ento da água tinha um sig­nificado tríplice: 1) R econhecim ento e agradecim ento pe ­las bênçãos divinas reveladas nas chuvas da sem enteira e da colheita. 2) C om em oração do m ilagroso suprim ento de água que os israelitas receberam no deserto. 3) Era o s ím ­bolo profético do futuro derram am ento do Espírito sobre o povo de Deus, que, segundo os israelitas espirituais, seria o cum prim ento das palavras cantadas pelos sacerdotes en ­quanto tiravam a água do tanque: “E vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação” (Is 12.3).

No último dia da festa, a bacia voltara vazia, com em o- rando-sc assim a entrada de Israel num a terra de fontes de água; provavelm ente foi àquela altura que “Jesus pôs-se em pé, e clam ou, dizendo: Sc alguém tem sede, venha a m im , e beba” (v. 37).

E nquanto o Senhor falava tais palavras, por certo deve ter o lhado entre a m ultidão os rostos de israelitas s in ce ­ros que, pelo seu sem blan te , rev e lav am ter u m a sede espiritual que não fora dessedentada . Israelitas havia, com seriedade tie p ensam en to , que reconhec iam que no T e m ­plo, apesa r de lodo o seu esp len d o r e do apara toso e q u i­pam en to para os sacrif íc ios , não hav ia fonte para a l iv i­a r-lhes a sede - falta esta s im b o lizad a pelo fato de os sacerdo tes te rem de sair do T e m p lo a fim de traze r a água. Q ueriam saber quando se cu m p rir íam as pa lav ras dos p rofetas , tais com o: “Sa irá um a fonte da casa do S e n h o r” (J 1 3 .18); e que um g rande c p ro fundo rio sa ir ía deba ixo do lim iar do tem plo (Ez 47 .1-5). D e c e p c io n a ­dos com a m era fo rm a exterior, t inham sede da rea l id a ­de. Qual não deve ter sido o efeito sobre e les da voz

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Jesus na Festa dos T abernácu los 95

au to ritá r ia que, corno em re sp o s ta aos seus dese jos não p ro n u n c iad o s , exc lam ou : “Se a lguém tem sede, v enha a m im , e beba. Q uem crê em m im , com o diz a Escritura , rios d ’ág u a v iva co rre rão do seu v en tre” (v. 37,38).

2. O convite. Jesus, neste convite, dem onstrou ser ele o verdadeiro T em plo de Deus, e o Espírito Santo que dElc procede, a fonte da vida eterna. O próprio Jesus é o Siloé espiritual (Jo 9.7), o Enviado de Deus, e convida a todos quantos quiserem a se aprox im ar dEle para tirar água viva. Os que assim fazem não som ente recebem o suficiente para sua própria sede, com o tam bém ficam sendo um a fonte de vida para seu próxim o; não som ente a água dada por Cristo se torna neles fonte que jo rra para a vida eterna, como tam bém transform a as pessoas cm rochas de onde brotam águas vivas para o refrigério dos outros (cf. Is 55.1; 43.19- 20; Jr 2.13; Jo 4.10; 1 Co 10.4,21; E f 5.18).

Com esta ilustração, Jesus declara ser aquE le que satis­faz a todos os anseios da a lm a que deseja a vida, o gozo, a paz, o poder, a sabedoria c a com unhão com Deus. Cristo revela seu poder para suprir cada aspiração, cada desejo piedoso, cada necessidade espiritual de nossa com plexa natureza humana. Esta declaração corajosa da parle de Jesus, oferecendo-se com o a adequada solução a todos os p roble­mas hum anos c a satisfação a toda sede dos hom ens, tem sido testada c com provada com o verídica através das expe­riências de 20 séculos de história humana. I loje, pelo mundo inteiro, há inúm eras pessoas que podem testificar que C ris ­to é verdadeiro, e que supre to talm ente todos os anseios da alma.

3. A p ro m essa . “Q uem crê cm m im , co m o diz a E s ­c r itu ra (o con sen so dos ensinos b íblicos con tidos cm tre ­chos, tais com o: S a lm o 78 .16 ; 105.41; Z aca r ia s 14.8 c Isa ías 4 3 .1 9 ,20 ) , rios d ’ág u a v iva co rre rão do seu v e n ­tre .”

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96 João, o Hvangetho do h i lho de Deus

Q uem confia em Cristo sc torna sem elhante àquEle cm quem eonlia. Quem recorre àquela Fonte, recebe, m ediante o Divino Espírito da parte de Cristo, a vida no seu íntimo, que sc transform a cm “ fonte que jo rra para a vida eterna". Provérbios 14.14 diz que o hom em de bem se satisfaz com seu próprio proceder, mas isto acontece som ente quando ele tem Cristo no seu coração, quando, então, pode dizer: “E vivo não mais eu, mas Cristo vive em m im ” . Todo aquele que recebe de Cristo o Espírito Santo fica sendo, por sua vez, e de m odo limitado, um a fonte de vida espiritual, tra­zendo reli igério a outras almas sedentas.

4. A explicação. “E isto disse ele do Espírito que hav i­am de receber os que nele cressem; porque o Espírito San­to ainda não fora dado, por a inda Jesus não ter sido glo- r if icad o ." (cf. Jo 16.7; Ec 24 .49; At 1.4,5). Já que a Bíblia registra que o Espírito Santo veio sobre Moisés, Davi e os profetas, c que João Batista foi cheio do Espírito S an­to já no ventre materno, exam inem os as palavras “o Espí­rito Santo ainda não fora dado” . Assim com o o Filho de Deus existiu no céu c sc m anifestava na terra de certas m aneiras antes de nascer na m anjedoura, e, quando da encarnação, entrou no m undo de m odo novo e d iferente para travar novas relações com a raça hum ana, com seu novo nom e - Jesus -, tam bém o Espírito Santo estava ope­rando no mundo, inspirando muitas pessoas, antes do dia dc Pcntccostes, antes de vir ao m undo de m odo novo e diferente após a ascensão dc Jesus, com seu novo aspecto dc Espírito do Cristo vivo - o Espírito que sc revela cm conexão com aquElc que sofreu, morreu, ressuscitou e su­biu de volta ao Céu. Assim , Ele tam bém recebeu um novo nom e - “o Consolador", o “Espírito de Cristo” .

Da m esm a forma, torna-se claro o significado da decla­ração dc João quando consideram os que sc ressalta a pa la ­vra “dado” . Antes da ressurreição de Cristo, o Espírito Santo

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Jesus na Festa dos T abernáeu los 97

ainda não era dado para scr perpétua possessão do indiví­duo. N a época da Antigo Testam ento , o Espírito era, por assim dizer, “emprestado” por Deus a membros do seu povo, mediante operações intermitentes; vinha sobre as pessoas para equipá-las para algum a tarefa específica, deixando-as cm seguida, ou voltando a visitá-las em outras ocasiões necessárias. Depois do dia de Pentecostes, porém . Cristo derram ou o Espírito Santo com o dádiva perm anente para scr possuída e desfrutada: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco p a ra sem ­p r e ” (Jo 14.16).

III - E nsinam entos Práticos

/. Irm ãos, m as não crentes. “P orque nem m esm o seus irm ãos criam n e le” . À p rim eira vista, pa rece su rp re en ­den te não te rem os p róprios fam ilia res de C ris to lhe o fe ­rec ido sua fé; decerto que foi m o tiv o de tr is teza pa ra o S enhor, e um m isté rio para seus d iscípu los. O reg istro deste fato d o lo roso , no en tan to , p o d e rá dar a lg u m a co n ­so lação àqueles que têm pa ren tes não salvos que fazem co m que sua v ida cris tã em casa seja m u ito d ifícil. O p róprio Jesus supo rtou dúv idas, m a l-en tend idos e talvez opos ição da parte dos seus entes queridos no p róp r io lar: “ U m que, com o nós, em tudo foi ten tado , m as sem p e ­c a d o ” ( t lb 4 .15). M esm o ass im , nosso Senhor co locou a v on tade de D eus em p r im eiro lugar na sua v ida (Ml 12.47-50) e, m ais tarde, seus irm ãos vieram a scr d isc í­pu los m uito fiéis.

2. H á tem po p a ra tudo. “A in d a não é ch eg ad o o meu te m p o ” . A v ida do M estre sem pre era d ir ig ida pe la v o n ­tade do Pai, de tal fo rm a que sem pre faz ia a co isa certa, da m ane ira cer ta e no tem po certo . U m a co isa ce r ta pode to rna r-se e rrada, quando fe ita no tem po errado . As v e ­zes e rram os dev ido à nossa p ressa ; às vezes a fa lha está

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98 João, o E vange lho do l i l h o de l)eus

cm nosso atraso . N ada hav ia de e rrado na ten ta tiva dos is rae li tas de en tra r cm C an aã (N m 14.40-45), po rem a ten ta t iv a foi fe ita ta rd e dem ais e resu ltou cm fracasso (N m 14.1-10). N ad a hav ia de e rrado q u an d o as v irgens n ésc ia s ba te ram na p o r ta p ed in d o en trad a (M t 25.1 1), só que ch eg a ram ta rde dem ais . N ada m ais re co m en d áv e l do qu e a n u n c ia r qu e C ris to c o M ess ias e co n ta r sobre a sua t ran sf ig u ração ; m as, se os d isc íp u lo s t ivessem fe ito a s ­sim an tes da re ssu rre ição , o re su ltad o p o d e r ia ter sido d e sa s tro so (M t 16.20; 17.9). F ica r ia fo ra da p ro g ra m a ­ção de C ris to . O fracasso de m uitos e m p re en d im en to s po d e ser exp licad o pe las pa lavras: “ Não reco n h eces te a o p o r tu n id a d e ” (Lc 19.44).

3. U m a ta re fa ingra ta . “ M as ele [o m undo] m e a b o r ­rece a m im , p o rq u a n to dele testif ico que as suas obras são m á s” . É um a ex p e r iên c ia fam ilia r a de que os que co n s is tc n tc m cn tc co n tam a ve rdade ace rca dos pecados das pessoas são mal receb idos e até en co n tram ódio e v io lênc ia . A c o n sc iên c ia fe rida qu e r ferir o m ensage iro . Q u an d o os pecad o res são levados a od ia rem a si m e s ­m os, p o d em c o m eç a r a od iar o p regador. Q u an d o a P a ­lavra de D eus rev e la quão r id ícu lo é o m undano , ele, p o r sua vez, p ro cu ra rá fazer com que seja co n s id e rad o rid ícu lo o próprio C ris tian ism o . O p reg ad o r que fala com c la reza não será o p reg ad o r mais po p u la r , m as a cu lpa não será dele: “ Ai de vós q u an d o todos os ho m en s de vós d is se rem bem , p o rque ass im faziam seus pais aos falsos p rofetas” (Lc 6.26). Sc a verdade dói, tam bém cura; p o rém deve ser d i ta com am o r (E f 4 .15), e não com m ald ad e , irr itação ou m au hum or.

“ De graça lhe darei da fonte da água da vida” (Ap 2 1.6); “Jesus pôs-se em pé, c clam ou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, c beba” . O convite tinha os seguintes aspectos:

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Jesus na Festa dos T abernácu los 99

3.1. F oi o fe rec id o com g ra n d e fervor. Li com um o caso dc a lgucm que sc a fo g a grita r com angústia , e n ­quanto os que querem a judá- lo estão ca lm os e quietos. Aqui, a s ituação é bem d ife ren te : c o L ib e r tad o r quem c lam a, e n q u an to os que dL le p rec isam não se m a n ife s ­tam. A gem co m o sc t iv essem tudo , e Ele, co m o se p a s ­sasse n ece ss id ad es . Jesus c lam o u , e x p r im in d o o forte dese jo da sua a lm a: dar a redenção . Ele tem m ais d isp o ­sição para p e rd o a r do que o p ecad o r para receb e r o p e r ­dão. Q uando a D iv indade e s ten d e as m ãos p a ra im p lo rar à h u m an id ad e , c para sa lv á -la da te rríve l co n denação ; g rande será a ru ín a daqueles que d e sp rezam sem elh an te apelo (Pv 1.24-28).

3.2. É u n iversa l. “Se a lg u ém tem sed e” . “A lg u é m ” po d e ser um ateu, um cético , um idólatra , um descren te ; pode ser a lguém que está ab a tido porque estão e sg o ta ­das as suas c is ternas; pode ser a lguém que se desilud iu com as fontes às quais recorria ; pode ser um proscrito da soc iedade , p ro ib ido dc sc ap ro x im ar dos bebedouros dos hom ens, ou um d esv iad o que de ixou a fonte das águas v ivas - o co n v ite dc Jesus é d ir ig id o a todos: “ V enha a m im ” .

3.3. E um a pessoa que cham a, e não um a cerim ônia. Depois de cum prido o ritual, Jesus cham a a atenção para a sua própria pessoa: “V enha a m im " . Aos pagãos, com seus sacrifícios; aos ritualistas, cum prindo sua rotina de cerim ô­nias; aos ascetas, procurando m erecer a salvação mediante flagclos dolorosos e prolongados jejuns, Jesus diz: “V enha a m im ”.

Q uem tem sede deve ir pessoalm ente a Cristo; não bas­ta ir à igreja, às suas ordenanças, às reuniões para oração c louvor. É preciso ir mais à frente, mais para o alto, para entrar em com unhão pessoal com o Cristo. Isto porque, sem Ele, tudo o mais na religião cristã não tem valor algum. A m ão hum ana pode tirar a pedra do túmulo, revelando a

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lüü Joao, o E vange lho do Filho de Deus

presença do defunto, mas som ente Jesus pode dizer: “Saia e viva” . É diretamente com Cristo que teremos de nos haver.

4. É um convite à ação. “Venha ”, não para olhar a água, nem analisar a água, nem adm irar a água, nem conversar acerca da água, nem para criticar a água - mas para heher\ M uitos ouvem falar acerca de Cristo, leem a respeito de Cristo, mas não chegam a Cristo.

Q uando o Senhor Jesus falou da água viva fluindo do interior dos crentes, queria dizer que não som ente os c ren ­tes deveriam receber a bênção, com o tam bém teriam de se transform ar em bênção para outras pessoas. A p len itude c abundância do Espírito Santo se revelam na pessoa quando ela transborda um a quantidade suficiente para levar refri- gério a outras pessoas. A Fonte sem pre está fluindo. Será que nós sem pre estam os sentindo sede e bebendo? Sc não, a verdade é que, além de furtar-nos a nós mesm os, estamos privando nosso p róx im o das bênçãos que recebería por nosso intermédio.

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Jesus,o Libertador

T exto: J o ã o 8 .3 1 -5 9

Introdução

O incidente da mulher surpreendida em adultério (Jo 8.1-11) parece ilustrar de m aneira com ovente o tem a do trecho agora esLudado, ou seja, a liberdade espiritual. Os líderes religiosos, orgulhando-se da sua liberdade com o filhos de Abraão, trazem a Jesus um a m ulher que conside­ram com plctam ente escravizada pelo pecado. Quando, p o ­rém, Jesus lhes ensina um a lição, retiram -se do cenário, presos pelas correntes de uma consciência culpada, enquanto a m ulher fica ali, transbordando de felicidade na liberdade que Cristo lhe concedeu. Sem elhantem ente , o presente tre­cho (Jo 8.31-59) com eça com o quadro de um grupo de judeus que se consideravam livres, mas que logo revelam- se escravos do pecado.

A conversação registrada nos versículos 31-59 revela as diferenças essenciais entre os que queriam se apegar à Antiga Aliança, e Cristo, que veio cumpri-la. Enfatizavam o lado histórico da religião; Jesus exalta o lado espiritual. Apelam

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10,. .loüo, o Evange lho do F ilho de Deus

aos privilégios externos da religião; Jesus ressalta as qualifi­cações morais. Dão muito valor à liberdade política; Cristo oferece a liberdade espiritual. Quando estes semicrentes des­cobrem que Jesus exige uma completa transformação do seu coração, o rompimento com o judaísm o ortodoxo c a fé pes­soal nElc como Filho eterno de Deus, o sentimento deles para com Jesus sctransform a-sc em ódio violento.

Jesus, para corrig ir o ponto de vista errôneo deste grupo, ensina-lhes lições - sobre o verdadeiro discipulado, a verdadeira liberdade e o verdadeiro caráter.

I - O V erdadeiro D iscipu lado (Jo 8 .3 1 ,3 2 )

“Jesus d iz ia pois aos ju d eu s que criam nele” . Estas pessoas reconheceram a veracidade das declarações de Jesus quanto a ser Ele o M essias, mas in terpretavam suas p ro ­m essas segundo os preconceitos nacionalistas. Jesus, dese ­jan d o aprofundar e purificar a lc dos seus ouvintes, disse: “Se vós perm anecerdes na m inha palavra, verdadeiram ente sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade, c a verda­de vos libertará.” Jesus j á lhes dissera que m orreriam nos seus pecados se não tivessem fé nEle (v. 24). Agora, exp li­ca-lhes que se não perm anecerem firm em ente na sua P a la ­vra, nos seus ensinos, não poderão escapar da escravidão que para Ele está bem patente, m esm o que eles não a re ­conheçam .

Som ente a verdade pode libertar a mente da ignorância, do preconceito e dos m aus hábitos. Q uando a Luz do m u n ­do brilha nos lugares tenebrosos do coração, não apenas são reveladas as correntes que am arram a alma; tais cor­rentes são rompidas pe la m esm a luz. Ver o pecado confo r­me cie realmente é, pode ser o suficiente para que o peca­dor l iquc com nojo dele.

As palavras de Jesus ofenderam estes seus ouvintes, porque ele deu a entender: 1) que teriam de consertar suas

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Jesus, o L i ber t ador 103

vidas sc quisessem perm anecer na doutrina dEle, enquanto consideravam -se im pecáveis cm sua conduta; 2) que eram ignorantes quanto às verdades da salvação, enquanto im a­ginavam dom iná-las totalmcntc; 3) que não tinham liber­dade religiosa, porque estavam supcrsticiosam ente presos à letra da Lei mosaica.

II - A V erdadeira L iberdade (Jo 8.33-36)

Os orgulhosos judeus replicaram: “Som os descendência de Abraão". O rgulhavam -se desta descendência, com o se sua certidão de nascim ento fosse passaporte para o Céu (cf. Mt 3.9). Certa lenda ju d a ica descreve A braão sentado jun to ao portão do inferno para im pedir que qualquer judeu desgarrado pudesse chegar ate lá, c o livro de orações da sinagoga declara: “A totalidade de Israel tem um quinhão no mundo do porvir.”

Protestaram que nunca estiveram escravizados a n in­guém: “C om o dizes tu: Sereis livres?” Os judeus, no en­tanto, j á tinham sido subjugados pelos egípcios, babilônios, sírios, e naquele m om ento histórico estavam sob o dom í­nio de Roma. O que queriam dizer é que, m esm o com seu país subjugado por nações gcntílicas, nunca aceitaram tal situação, recusando-se a curvar seu espírito diante delas. Os judeus sempre se sentiram superiores aos seus opresso­res.

Respondendo a esta jae tânc ia nacionalista, Jesus afirma o verdadeiro significado da liberdade: “Todo aquele que com ete pecado é servo do pecado” . Atos pecam inosos re­velam que quem os comete está sob o jugo do pecado. Cada pecado fabrica mais um grilhão para a alma; os pecadores são escravos. O pecado, e não Roma, era o verdadeiro inim igo de Israel.

Nos versículos 35 e 36, Jesus explica aos judeus que um escravo, diferentemente de um filho, não faz parte da

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1 04 João, o E vange lho do F ilho de Deus

família, podendo scr vendido à vontade. Seus ouvintes, escravos do pecado e da letra m orta da Lei, não eram ver­dadeiros m em bros do R eino do M essias, e dele seriam expulsos. Som ente o Filho de Deus pode lhes dar a liber­dade, transform ando-os em m em bros da família divina, En- tão, passariam a ser verdadeiram ente livres.

Paulo ensina a m esm a lição com respeito a Ismael e Isaque. Aquele, nascido de forma natural, tipifica os que se am arram à letra e às cerim ônias da Lei mosaica; Isaque, nascido de forma m ilagrosa, tipifica o povo espiritual que recebeu da parte de Cristo a libertação do pecado c do form alism o (Cl 4.21-31).

III - O V erdadeiro C aráter (Jo 8.37-44, 56-59)Neste trecho, c com o se Jesus estivesse dizendo: “Vocês

se jactam da sua descendência de Abraão, sem levar cm consideração que a descendência física não traz consigo a sem elhança espiritual. Somente os que agem como Abraão são a sua descendência espiritual, enquanto sua atitude para com igo c com meus ensinos dem onstra que vocês não têm o m esm o espírito que tinha o seu ancestral. Pelo contrário, vocês expressam aquele espírito de ódio à verdade e de vi­olência que é próprio do diabo” (cf. Jo 8.44; Gn 3.3-7; Tg 4.1-7; 1 Pe 5.8; Ap 2.10; 9.11; 12.9; 13.6-8; 20.7-9; 2 Pe 2.4; Jd 6; 2 Ts 2.9-11; 2 Co 11.3,13-15).

D esenvolvendo estas verdades, Jesus disse: “A braão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e a legrou-se” (cf. G n 12.1-3; G1 3.7-9; Hb 11.13,39). Sc os judeus não gos tavam que Jesus se exaltasse acim a de Abraão, leriam de reconhecer, m esm o assim, que A braão olhava para J e ­sus com o sendo o cum prim en to de todas as prom essas divinas, enquanto eles, a legando serem fiéis descendentes de A braão, pensavam honrar a este em detrim ento de J e ­sus.

Os ju d e u s , to m an d o as pa lavras de Jesus no sen tido literal, d isse ram -lhe : “A in d a não tens c in q ü en ta anos, e

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Jesus, o L ib er ta d o r 1 (

viste A b ra ão ? ” E n tre os ju d e u s , n inguém era c o n s id e ra ­do m aduro - com capac idade in te lec tua l c d isce rn im en to - antes dc a ting ir a idade de c in q u en ta anos. “A in d a não tens c inq ü cn ta a n o s” é o m o d o oriental dc dizer: “V ocê a inda é jo v e m ” .

“Disse-lhes Jesus: Em verdade, cm verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou” . A expressão “Eu sou” significa uma existência que ultrapassa o tempo, e nesta declaração Jesus declarou ter a m esm a divindade do gran­de “Eu Sou” , o Senhor, cujo nom e significava “aquele que existe e ternam ente” .

Os judeus teriam saudado com júbilo a notícia dc ser Jesus o M essias, mas sua pretensão à deidade deixou-os dispostos a apedrejá-lo por blasfêmia. No entanto, sua hora a inda não chegara, e a fúria deles nada podia fazer; diante da sua m ajestosa presença, os guardas do templo recuaram, envergonhados.

IV - E nsinam entos P ráticos

/. A p ersevera n ça , um teste do d isc ip u la d o . A p e rse ­v e ran ça c o segredo de v en ce r qu a lq u er d if icu ld ad e , c o seg redo da p e rsev e ran ça é p e rm a n e c e r n aq u ilo que se faz. “Se vós p e rm an ece rd es na m in h a pa lav ra , v e rd a d e i­ram e n te se re is m eus d is c íp u lo s ” . A c o n s tâ n c ia c um p ro fu n d o teste dc caráter. A braão , Davi, P ed ro e outros san tos p o d em ser cu lpados de fracassos; no en tan to , le­v an ta ram -se após sua q u ed a c co n tin u a ram a segu ir ao Senhor. M uito s deslizes na v ida cris tã se d e v em ao fato de os convertidos não p rossegu irem na consagração , a fas­tando-se m ais c m ais da b e ira do poço de onde fo ram re t irad o s p o r Jesus. A v a n ça r é a m e lh o r g a ra n t ia con tra as recaídas .

2. A liberdade encara com coragem os Jatos. “Somos des­cendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém” . Estes ju

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I 06 João, o E vange lho do F ilho de Deus

deus eram cegos demais paia verem a escravidão e a necessi­dade espiritual em que jaziam. Quanto a isso. assemelhavam- se à maioria das pessoas; cada pessoa tem o amor-próprio que tende a torná-la cega diante de suas próprias fraquezas.

Al Capone tinha fam a de crim inoso implacável, mas sua própria análise de si m esm o era: “Dcdiquei os m elhores anos da m inha vida olerccendo às pessoas os prazeres mais alegres, ajudando-as a se d ivertirem ” . Poucos crim inosos nas prisões se consideram pessoas más. O desejo se ju s t i ­ficarem de se jus tif icar é enorme!

Por que tantas pessoas não tem a m ín im a consciência da sua escravidão ao pecado? Pode ser que nunca tenham com preendido o que é desfrutar da liberdade espiritual, ou que tanto tempo tenha passado desde a época cm que se sentiam mais limpas de consciência, que a escravidão já lhes pareça algo natural; podem lam bem sentir, lá no fundo do coração, um a falta de disposição para enfrentar as res­ponsabilidades que a liberdade acarreta consigo. Narra-se a história de certo santo que andava pela Itália, p regando c curando os cegos, aleijados e m udos. Certo dia, o povo de um a aldeia viu dois coxos fugindo apressadam ente. Q u an ­do a lguém lhes perguntou qual o m otivo de tal pressa, re s­ponderam : “O santo vai passar nesta aldeia, e dizem que ele tem poder para curar os coxos. Se ele nos curasse, o que seria do nosso m eio de v ida?”

T em po houve na vida do Filho Pródigo em que ele teria repudiado com ressentim ento a m ínim a sugestão de ser um escravo; afinal de contas, não tinha saído de casa para ganhar a liberdade? M as, certo dia, caiu cm si e percebeu sua verdadeira situação. Foi este o com eço da sua libertação.

Q uando alguém se dispõe a enfrentar a verdade acerca de si m esm o, a verdade o libertará.

d. A declaração de independência do cristão. ” Se pois o Pilho vos libertar, verdadeiram ente sereis livres” . M uitas nações fazem com em orações anuais da libertação de a lgu­

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Jesus, o L iber tador 10/

m a tirania externa, com o o nosso Sete de Setembro, mas o Novo Testam ento vai mais fundo, ao deelarar que a pessoa que peca é escrava do pecado. Esta verdade se percebe facilmente no caso dos pecados mais grosseiros da carne, pois por eles a alm a fica presa em grilhões de aço até nunca mais desejar a liberdade. Até os antigos gregos, sem a Bíblia, reconheciam esta verdade, a qual exprim iram na lenda de Circe. Esta, após atrair os hom ens m edian te seus encan ­tos, para desfru ta rem dos prazeres que oferecia, transfo r­m ava-os em porcos e lobos. Q ualquer pecado, no entanto, tem este poder de escravizar, e spcc ia lm en te os m enos vi­síveis e mais p rofundos, a saber, os pecados secretos da alma.

C o m p a re Pau lo , o ap ó s to lo , co m o im p e ra d o r Ncro. Q ual de les e ra v e rd a d e iram e n te livre: o ap ó s to lo na p r i ­são, com sua a lm a livre dos g r i lh õ es do p e ca d o , ou o im p e ra d o r no seu trono, e sc rav o das suas p a ix õ es? C om to d a a sua l ib e rd a d e , o im p e ra d o r n u n ca foi um h o m e m livre; com to d as as suas p r isõ e s , o ap ó s to lo n u n c a foi rc a lm c n lc um p r is io n e iro . P a ra todos nós, d e ix o u re ­g is trad a a seg u in te d ec la ra ç ão de in d e p en d ên c ia : “ Estai p o is f i rm es na l ib e rd a d e c o m que C ris to nos libertou , e não to rne is a m eter-vos deb a ix o do ju g o da se rv id ão ” (G 1 5.1).

A liberdade é a prerrogativa de todo aquele que perten­ce a Deus. O que foi escrito com respeito a Israel é verda­deiro com respeito a cada crente: “Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu prim ogênito . E eu tc tenho dito: D eixa ir o m eu filho, para que me sirva” (Ex 4.22,23). E stam os desfru tando desta liberdade, ou con tinuam os a carregar fardos, quando temos direito a viajar na condução celestial?

4. A graça não é hereditária. Certo pastor protestante na Itália, cansado de ouvir os m em bros da sua congregação ufanarem -se das glórias dos seus antepassados, disse Imiti

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108 Joao, o E vange lho do Filho de Deus

mente: “Voces são com o batatas: a m elhor parte de voces está debaixo da terra” . Bra esta a situação dos judeus m en ­cionados neste trecho bíblico: queriam aquecer-se no calor irradiado pelo seu pai Abraão, sem levar em conta que ser um filho de Abraão incluía a responsabilidade de viver como ele. D ev iam ler levado em conta que Ismael tam bém era filho de Abraão, sem, porém , fazer parte do povo esco lh i­do. A estirpe moral vale mais diante de Deus do que a estirpe natural.

M uitas pessoas se ja c tam do seu parentesco, sem se lem brarem que é o caráter que revela quem são os filhos de Deus, irm ãos de Cristo. V ocê dem onstra os traços c as feições de qual família? (cf. 1 Jo 3.10).

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OCego de Nascença

T exto: J o ã o 9

Introdução

Chegam os agora ao sexto “sinal” deserilo pelo Evange­lho de João - a eura do eego de naseença. A interpretação do sinal c declarada pelo Senhor: “Eu sou a luz do m undo” . Aquele que abriu os olhos ao hom em que sofria de cegueira física pode também abrir os olhos aos que são cspiritual- mente cegos. O mesm o Cristo que abriu os olhos deste ho ­mem para que contemplasse o sol, mais tarde concedeu-lhe visão espiritual para ver a “Luz do m undo” (9.35-38).

I - A Preparação Para o S inal (Jo 9.1-5)/. O doloroso quadro. “E, passando Jesus, viu um ho

m em cego de naseença” . O bviam ente, era um bem conhc cido m endigo que havia m uito p roclam ava a todos que era cego de nascença (v. 8). F icava ali, com o que um símbolo da nação a que Jesus ministrava e da raça hum ana cm geral, cuja cegueira é patente aos olhos de Jesus, c que nem se quer pode ser iluminada, revelando quão profundos loram

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i 111 ,i I vi in^elho do F ilho de Deus

o s danos feitos à hum anidade. Evocava de Jesus o seu poder curador. A cegueira física faz pensar nas outras formas de cegueira que há no m undo: a vaidade esconde defeitos e fraquezas radicais; o orgulho faz o pecador cego às suas próprias transgressões; a cegueira tem porária quanto a enor­mes pecados é um dos sintomas de um a transgressão g ros­seira, com o fora a de Davi, e todos sabem quão cego e surdo é o preconceito.

2. A pergun ta dos curiosos. “E os seus discípulos lhe perguntaram , dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Os discípulos, vendo um caso tão digno de dó, im edia tam ente com eçaram a pensar o que poderia ter causado tam anha desgraça, e, sabendo que há um a conexão nas Escrituras entre o pecado c a calamidade, chegaram à conclusão apressada de que a aflição deste hom em fora causada por algum pecado específico com eti­do por ele ou pelos seus pais. N ão há dúvida quanto ao vínculo que há entre a prática do mal e o sofrimento; é verdade, também, que os filhos m uitas vezes sofrem por causa dos pecados dos pais. Não ocorre sem pre, porem , o caso de doenças e calam idades serem conseqüências im e­diatas de a lgum pecado específico . F reqücn tem en te , os grandes pecadores passam pela vida com um m ínim o de sofrim entos, enquanto os grandes santos sofrem mais. Jó solreu a perda dos filhos, das propriedades e da sua própria saúde - no entanto, segundo o testem unho do próprio Deus com respeito a ele, era hom em de conduta inculpável. A sua experiência nos de ixa entender que o sofrim ento nem sem pre c o resultado do pecado: pode ate ser enviado por D eus para nos refinar, testar a fé c ensinar algum as das mais profundas lições da vida.

N ote que os discípulos com eteram dois erros: 1) O erro in te lectual de a tribuir este caso de sofrim ento a a lgum pecado específico. 2) O erro prático de levantar o debate

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() Cego de Nascença 1 1 I

teológico, em vez de terem com paixão do hom em . Quantas vezes falamos quando deveriam os ajudar!

3. A resposta com autoridade. “Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se m an i­festem nele as obras de D eus.” A cegueira deste hom em não era resultado de algum pecado específico; bastava aos discípulos saberem que a sua aflição serviría de oportuni­dade para a m anifestação da operação m ilagrosa de Deus. Eles não precisavam indagar por que Deus perm itiu tanto sofrimento: mais importante seria testem unhar com o Deus transform aria o mal cm bem. Em poucos instantes, não som ente estariam abertos os olhos físicos deste hom em , com o tam bém , pelos olhos da alma, ele estaria con tem ­plando o Filho de Deus.

Os sofredores não devem ser alvo de debate teológico; devem ser considerados objetos merecedores da benevo­lência cristã.

4. A d ec la ra çã o solene. “C onvém que eu faça as obras d aq u e le que m e enviou , en q u an to c dia; a noite vem, quando n inguém pode traba lhar ." A qui, o “d ia” é a parte da v ida do hom em em que ele está cap ac itad o para o serv iço ; a “n o ite ” se re fe re à m orte, que põe fim à obra do hom em na terra. D ev em o s fazer o bem sem pre que surge um a oportun idade . E m b o ra C ris to tivesse d ian te dele, além da c ruz c da sepu ltu ra , toda um a e te rn id ad e para que d e rram asse bênçãos sobre o m undo , t inha os d ias con tados pa ra o traba lho e spec íf ico qu e rea l iza r ia e n q u an to v ivesse na terra. N ós, labu tando sob as l im ita ­ções da m orta lidade , d ev em o s reco n h ecer , na b rev id ad e da vida, m ais um m otivo pa ra o serv iço d ed icad o c con tínuo.

“ Enquanto estou no mundo, sou a luz do m u n d o ” . <) ministério de Cristo aqui no m undo chegaria ao fim. I.le procurava, portanto, todas as oportunidades de brilhai visi velm cnte entre os homens, deixando-os ver Deus .

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1 12 João, o E vange lho do Filho de D eus

II - A O peração do Sinal (Jo 9.6,7)

1. Uma ajuda à fé . O cego, com a capacidade de escutar própria dos cegos, deve ter prestado atenção a esta conver­sação acerca dc Jesus, de tal m odo que a fé nasceu no seu coração. E o Senhor passou a fortalecer esta fé inicial: “T en­do dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego” . C ertam ente que o barro assim um edccido não foi aplicado com o remédio para curar um ccgo dc nascença. Então por que foi aplicado? O ser hum ano tem corpo c alma, e o Senhor, para operar na alma, às vezes lança m ão de meios que operam através dos sentidos físicos (cf. Is 38.21; M c 7.33). É por esta m esm a razão que devem os ungir com óleo os doentes quando por eles oram os (Tg 5.14), ou im por-lhes as mãos. O Senhor, ao o rdenar o batismo c a C eia do Senhor, faz uso dc meios m ateria is para ap ro fundar as im pressões espirituais. Os meios externos nenhum poder tem em si mesmos: são como que escadas para nos a judar a ler mais fé e subir ao Cristo vivo.

2. Um leste da fé . “E disse-lhe: Vai, lava-tc no tanque dc Siloé (que significa o E nv iado)” . O m ilagre não ficou com ple to no m esm o instante. O pacien te a inda tinha que ir lavar-sc no tanque dc Siloé. João nos in form a o significado do nom e “Siloé”, por ver cm Jesus o Enviado de Deus, a quem devem os recorrer cm todas as necessidades. O h o ­m em foi m andado ao tanque para testar:

2.1. Sua obediência. O uvira a voz dc Jesus, e sentira seu toque; mas a luz não lhe chegou até que obedecesse aos m andam entos de Jesus.

2.2. Sua fé . Talvez duvidasse que este tanque, que co ­nhecia desde seus dias de menino, pudesse possuir poderes tão m aravilhosos; decerto pensaria que as pessoas zom ba­riam dele se fosse para lá, como se isto o curasse. D a m esm a forma, os que conheciam a Jesus desde sua infância, ti-

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O Cego de N ascença 1 1 3

nham dificuldade em ver nEle o Enviado de Deus: “C o­nhecem os este hom em , de onde ele é. “Não é este o filho do carpinteiro? Como, pois, agora diz: Desei do céu?” Os judeus o conheciam com o m enino, e tinham dificuldade em reconhecer a divindade que se escondera sob a forma tranqüila e m eiga de um jovem . Desta m esm a maneira, seus pais desprezavam “as águas de Siloé que correm branda­m ente” (Is 8.6) porque não havia estrondos e inundações para im pressioná-los.

2.3. Sua persevera n ça . Im ag ine o h o m em , os olhos cobertos de lodo, tateando em m eio à zom baria do povileu, para chegar ao tanque. Estava, porém , independente da opinião dos hom ens, e não cu idava da zom baria. Leia os versículos 24-33 para pe rceber quão f irm em ente tom ou posição diante dos fariseus que queriam intimidá-lo.

3. O ga lardão da fé . D iferentem ente de N aam ã 2 Rs 5.11,13), este hom em não desprezava os meios simples de term inados por Jesus. O bedeceu im ediatam ente: “Foi, pois, c lavou-se, e voltou vendo” . E um exem plo de cura que Jesus operou à distância.

III - O R esu ltado do S inal (Jo 9.8-11)

1. C om oção. “ Flntão os vizinhos, e aqueles que dantes tinham visto que era cego, diziam: Não é este aquele que estava assentado e m endigava? Uns diziam: E este. E ou ­tros: Pareee-se com ele. Ele dizia: Sou eu” . O verdadeiro convertido sem pre despertará a em oção e a curiosidade dos que o conheciam antes; se sua profissão de Cristo não o transform ou, de m odo tão facilm ente notado por todos, decerto a inda falta m uita coisa.

2. O interrogatório. “D iz iam -lhe pois: C om o se te abri ram os o lhos? Ele respondeu, e disse: O hom em , cham ado Jesus, fez lodo, e untou-m e os olhos, c d isse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi” . Note

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1 14 João, o E vange lho do Filho de Deux

quão direta c s ingela foi esta resposta. A quele hom em passou por um a experiência real c definida, e sabia do que falava porque estava no meio do acontecido! M uitas coisas havia que não sabia - teologia, astronomia, história e de outras ciências - c. por enquanto, pouca coisa sabia acerca de Jesus. M esm o assim, face aos eclesiásticos que queriam intimidá-lo, soube testificar: “ U m a coisa sei, c c que, ha ­vendo eu sido cego, agora vejo” . Estava com os fatos!

3. A perseguição. Disseram os fariseus: “Dá glória a Deus; nós sabem os que esse hom em é pecador” . O conhe­cim ento deles era ignorância; a luz deles era escuridão. Jactavam -se de possuírem ilum inação espiritual, quando na realidade eram espiritualm ente cegos. A prim eira parte do capítulo narra com o foram abertos os olhos de quem bem sabia que era cego; a parte final mostra com o se cerravam mais c mais os olhos daqueles que pensavam que possuíam discernim ento (v. 39-41). Os cegos não podem ver, mas, às vezes, os que têm olhos nem querem olhar. E m elhor re­conhecer nossos defeitos e receber de Jesus a solução do que encobri-los c ficar sem a benção.

O hom em foi excom ungado, ou seja, expulso da com u­nhão da sinagoga. Rejeitado pelos judeus, foi recebido por Cristo.

IV - E nsinam entos Práticos

/ . A c o m p a ix ã o va le m a is d o q u e a e sp e c u la ç ã o . J e su s m o s tro u q u e d e b a te r a o r ig e m do s o f r im e n to c m e n o s im p o r ta n te do que sua re m o ç ã o . O m al e x is te no m u n d o c se c o n s t i tu i cm p r o b le m a te o ló g ic o ; p a ra os s eg u id o res de C ris to , no e n tan to , d ev e ser su a o p o r ­tu n id a d e de r e a l iz a r as o b ra s de D eu s qu e d e s t r o e m as o b ra s do d ia b o . A p re s e n ç a do m al, do p e c a d o e do s o f r im e n to no m u n d o nos c o n c la m a à d e d ic a ç ã o da n o ssa v o c a ç ã o : se ja q ua l fo r a sua o r ig e m , d ev e d e s p e r ta r em nós o m e lh o r q u e p o s s a m o s o f e r e c e r ao

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O Cego de N ascença 1 1 5

s o f r e d o r - s im p a t ia , d e d ic a ç ã o , te rn u ra , c o m p a ix ã o , p e rd ã o . U ns p o u c o s m o m e n to s de g e n u ín a s im p a t ia v a le m m a is do q u e um d ia de d e b a te f i lo s ó f ic o a c e r ­ca do m is té r io do s o f r im e n to . U m te s t e m u n h o p e s s o ­al so b re o p o d e r de D eu s p a ra p e r d o a r o p e c a d o e c u ra r a a f l iç ã o v a le m u ito m a is do q u e q u a lq u e r d e ­b a te a c e rc a da o r ig e m e da n a tu re z a do p e c a d o .

2. O lim ite h um ano é n o ssa o p o rtu n id a d e . “C onvém que eu faça as obras d aq u e le que mc e n v io u ” (Jo 9.4). E s ta deve ser n o ssa a titude quan d o su rge a lguém que p rec isa da n o ssa ajuda. F a zem o s as obras de D eus q u a n ­do, com a sua a juda, e v an g e l iz am o s os pob res , p ro c la ­m am os a l ibe r tação aos ca tivos e a re s tau ração da v is ta aos cegos, e co lo cam o s cm liberdade os o p rim id o s (Lc 4 .18). T o m a n d o pe la m ão, co m toda a s ince ridade , os que estão em situação d ifícil, p o d e rem o s, e n q u an to os a judam os, levá- lo s a ter g ra to s p en sam en to s para com Deus; e, m esm o não co n se g u in d o tal re su ltado , podem os saber que não há m elhor m a n e ira de fazê-los p ensa r cm D eus, p o rq u e foi este o m é to d o de C ris to , que , sem dar ex p licaçõ es de ta lh ad as das suas obras de m ise ricó rd ia , d e ix av a -as fa la r po r si m esm as , de tal m odo que o povo g lo r i f icav a a Deus. D em o n s tran d o a p len itu d e do am or cris tão , p o d em o s in sp ira r pessoas a c re rem no am or de D eus. B oa p e rg u n ta para e x am in a rm o s a nós m esm os em q u a lq u e r s i tuação seria: estou rea l izan d o as obras de D eus?

3. '‘R em indo o tem po" (E f 5 .16). “A noite vem, quando ninguém pode trabalhar” . Fam oso moralista inglês mandou gravar no m ostrador do seu relógio de pulso as palavras "a noite vem ” , a fim de que, cada vez que olhasse para saber as horas, se lem brasse de com o era limitado o tempo di­vida; j á que a morte pode term inar de m odo súbito com as nossas atividades, im porta fazer tudo que puderm os de real valor. “T udo quanto te vier à mão para fazer, laze o eon

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I 16 Joao, o E vange lho do Filho de D ens

forme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria a lgum a” (Ec 9.10). Q uando am igos do piedoso missionário João G. Paton insistiam com ele para que dim inuísse seus extenuantes trabalhos, este respondeu: “Vocês dizem que trabalho demais, mas não m e sobra m uito mais vida para servir a Jesus. G ostaria de conseguir forças para, a cada dia, fazer três vezes mais da sua obra, mediante a fé na sua prom essa quanto às forças necessárias: ‘E eis que estou convosco todos os dias até à consum ação dos sécu los” ’.

Um a boa oração para nós seria a seguinte: “Ó Deus, dá- m c um trabalho teu até o fim da m inha vida, c dá-m e vida ate com pletar este traba lho” ’.

4. C o n h ec im en to a tra vés cia o bed iênc ia . O cego foi cu rado m ed ian te a fé em C risto , e tal íc foi d em o n s trad a pe la sua o b ed iênc ia . Sab ia p ouco acerca de C ris to , e quase nada acerca da relig ião e de coisas esp ir itua is, mas o uv ira as pa lav ras de C ris to e re ceb e ra a sua o rdem ; e, ag in d o à a ltura, e s tav a cm co n d içõ es de receb e r mais. N ote quão ráp id a c s is tem a ticam en te c resceu o seu c o ­n h ec im en to de C ris to : “O h o m em , ch am ad o J e s u s ” (v.I 1 ); “é p ro fe ta” (v. 17); “ é de D eu s” (v. 33); “é o F ilho de D eu s” (v. 35-37).

Este incidente contém um a m ensagem para todos os que tateiam nas trevas, cercados por problem as teológicos e dúvidas religiosas. Existem tantas coisas que não sabem, mas o segredo c aceitar e seguir o que sabem c entendem, c assim receberão mais luzes. Não nos será revelada mais luz se deixarmos de andar na luz que já recebemos.

5. A certeza da experiência. Tem os aqui um exem plo de quem recebeu um a experiência, e que muito bem o sabe. Q uando a pessoa sabe. e sabe que sabe, é a certeza que possui. Primeiro, quando os vizinhos levantaram perguntas quanto à sua identidade, o cego curado respondeu: “Sou eu". Sabia muito bem a condição anterior cm que vivera

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O Cego ele Nascença 1 17

tanto tempo, com o cego incurável. Segundo, linha plena certeza da m udança que sobreviera à sua vida: “Havendo eu sido cego, agora vejo” . Terceiro, tinha certeza de que quem operou um m ilag re era de Deus: “ D esde que há mundo, jamais se ouviu que alguém lenha aberto os olhos a um cego de nascença” . Q uarta certeza: "Preciso aceitá-lo com o meu Senhor” . As certezas deste hom em podem tam ­bém ser as nossas certezas.

Justino Mártir, filósofo cristão do segundo século, foi lançado no cárcere pelo seu destemido testem unho de C ris ­to, q u a n d o um m in is t ro do im p e ra d o r p e rg u n to u - lh e , ironizando: "Tu im aginas que após ler sido decepada a tua cabeça, irás dirc tam ente ao C éu?” Justino replicou: “Se eu im agino isso? Liu o se i!” T odos os que receberam a expe­riência do poder transform ador de Cristo podem dizer: “ Pu sei em quem tenho crido” .

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Hüü

Jesus,o Bom Pastor

T exto: J o ã o 10

Introdução

A cura do cego, descrita no capítulo anterior, serve com o pano de fundo ao discurso de Jesus registrado aqui. Os líde­res religiosos já haviam determinado que qualquer pessoa que confessasse ser Jesus o Messias fosse excomungada, expulsa da sinagoga (Jo 9.22). Quando o cego curado persis­tiu na sua lealdade a Jesus, “expulsaram -no’' (9.34). Existi­am vários graus de excomunhão; a forma mais severa, cha­m ada querem , fazia com que o excom ungado fosse contado com o virtualmentc morto: não tinha licença de estudar com outras pessoas, e ninguém devia lhe oferecer convívio - nem sequer indicar-lhe a direção a seguir quando viajava. E m bo­ra lhe fosse permitido com prar os mantimentos para a sobre­vivência, proibia-se que outras pessoas com essem ou bebes­sem com ele. O cego curado fizera a escolha certa, em bora possa ter sentido pesar por ser rejeitado pelos líderes religi osos, repudiado por todos que o viam passando pela rua e sem o direito ao convívio com hom ens bons, o que o aju daria cm sua nova vida.

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1 20 João, o Evange lho do Eilho de Deus

C) Mestre, no entanto, não o deixou desamparado. Q uan­do os falsos pastores o eolocaram fora do aprisco deles, Jesus, o Bom Pastor, p roeurou-o para abrigá-lo no seu aprisco. Fechou-se a porta da sinagoga; abriu-se a porta do reino dos ecus. E em face a tal situação que Jesus declara: “Eu sou a porta das ovelhas... Eu sou o bom Pastor” . O próprio M essias, o Pastor de Israel, ofereceu acesso à se­gurança e ao gozo espiritual, cancelando a sentença in­justa dos falsos dom inadores do rebanho, que nenhum a autoridade tinham para admitir ou demitir pessoas na vida espiritual e na verdadeira com unhão. Jesus é a suprem a autoridade em assuntos espirituais, e quem nElc crc está livre da tirania de falsos líderes religiosos.

Jesus, revelando tais verdades, aplica a si m esm o duas expressões figuradas: Ele c a porta do aprisco das ovelhas e o Pastor das ovelhas. Tratarem os das duas figuras indivi­dualmente.

I - A Porta do A prisco das O velhas

/. A p o rta ao m inistério . “N a verdade, na verdade vos d igo que aquele que não en tra pe la porta do curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, c ladrão e salteador. A quele , porém , que entra pe la po rta c o pasto r das ov e ­lhas. A este o porte iro ab re” . Jesus sem pre usava com o ilustrações assuntos que seus ouvin tes pudessem en ten ­der.

/ . / . A ilustração. A cena pertence à vida diária da Pa­lestina. A noite, as ovelhas são levadas para o aprisco, um abrigo com altos muros e portão bem protegido com ferro- lhos, onde descansam sob a vigilância de um porteiro. De m anhã, cada pastor chega e é adm itido pelo porteiro m edi­ante um sinal com binado; então, cada um cham a suas p ró ­prias ovelhas. As ovelhas seguem -no ao reconhecer a sua voz; não reconhecem a voz de um estranho, e o próprio

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Jesus, o Bo m Baslor 121

porteiro não adm itiría um estranho. Deste modo, qualquer falso pastor, querendo furtar as ovelhas, teria de pular o muro.

1.2. A interpretação. O Senhor indica as características da liderança espiritual: há modos lícitos e ilícitos de se obter acesso às pessoas e assum ir autoridade sobre elas. H á o cam inho certo, divino, para entrar no ministério cristão, e há o cam inho errado e hum ano. Q uem quiser ministrar às almas dos hom ens deve passar por (d isto, a Porta, sendo vocacionado e enviado por ele, com ovido pelo seu espírito de com paixão. É através dele que os pastores assistentes têm acesso ao rebanho. O ministério de Paulo deu frutos porque ele entrou pela Porta, mediante a cham ada de C ris­to; por outro lado, os filhos de C eva “tentaram invocar o nom e de Jesus” sem serem servos de Cristo, e fracassaram (At 19.13-16).

Jesus cham a de ladrão c salteador o pastor falso que entra no ministério por motivos egoístas não para fazer o bem às ovelhas, c sim para tirar vantagens delas, visando seus próprios propósitos (Ml 7.15; Al 20.29,30). O Senhor dá a en tender que muitos queriam assum ir a condição de pastor diante do rebanho de Deus sem ter vocação na alma. Eles insistiam nos seus próprios privilégios e direitos, pen ­savam que as estreitas tradições que representavam eram os m andam entos de Deus, afligiam as almas famintas e angustiadas com suas próprias interpretações da Palavra de Deus c dem onstravam , de m odo geral, não possuir acesso a lgum aos corações hum anos. As palavras de Jesus se re ­ferem im ediatam ente aos líderes religiosos dos seus dias, que excom ungaram um pobre cego pela sua corajosa leal dade àquEle que lhe abrira os olhos, mas suas advertências devem ser aplicadas aos eclesiásticos tirânicos de todos os tem pos e lugares. N inguém pode cuidar do seu próxim o com o verdadeiro pastor se não possuir real simpatia por ele.

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122 Joao, o E vange lho do Eilho de D ens

“Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e sal­teadores; mas as ovelhas não os ouviram ” (v. 8). Certa- m ente não há aqui nenhum a palavra eontra os profetas c outros hom ens de Deus que vieram ao povo antes de Cris­to. Jesus se refere, em prim eiro lugar, aos falsos profetas c falsos messias que arrogavam direitos que pertencem so­mente a Cristo; em segundo lugar, refere-se a líderes reli­giosos sedentos pelo poder, que a legam ter o dom ínio so­bre as almas hum anas que só a Cristo pode pertencer; cm terceiro lugar, há alusão aos sacerdotes e fariseus dos seus dias, que usurpavam o direito de expulsar do apriseo os que reconhecessem ser Jesus o Cristo. Isto foi por causa do seu santo zelo e da sua paixão pelas almas? Não. Segundo o próprio Cristo, foi por ciúm es da sua própria autoridade e prestígio (cf. M t 23.1-33; Jo 1 1.47-53; 12.10,1 1). Quem é representado pela figura do “porte iro” ? T alvez seja o Espírito Santo, supervisionando a obra de vocacionar ho ­mens para o ministério cristão (cf. Jo 16.14; At 20.28; 13.2).

2. A poria p ara a salvação. “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-sc-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (cf. Jo 14.6). O cego curado deve ter pensado: “Graças a Deus! Os anciãos da s inagoga nenhum dano me podem fazer; não podem adm itir ou excluir ninguém do Reino de Deus. Porém este personagem , tão com passivo, tão sem elhante a Deus, tão poderoso - Ele é a Porta.” Note as três bênçãos que decorrem do ato de passar pela Porta para desfrutar da viva com unhão com Cristo:

2. /. A segurança. “Salvar-se-á” . No contexto da vida na terra, "salvo” significa seguro, são, protegido por Cristo e cm Cristo, até que nossa com unhão com Ele, além dos li­mites da morte, se revele na form a de salvação eterna. Pela sua contínua proteção, “o Senhor m e livrará de toda a m á obra, c guardar-me-á para o seu reino celestial” (2 T m 4.1 8).

2. A liberdade. “Entrar e sair” é frase freqüentem entc em pregada para expressar o livre uso da m oradia por parte

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Jesus, o tíoiu Pas tor 123

de quem habita no seu lar. O crente que entra em co m u ­nhão com Deus, recebendo a salvação, não “entra c sai” com respeito àquele relacionam ento, e sim, com o filho de Deus, desfru ta da fam iliaridade da com unhão com Deus.

3. O sustento. “A chará pastagens” . A cham -se em Cristo todas as coisas de que a alm a necessita para seu c resc im en­to espiritual. A idéia de “pastagens” pode ser aplicada tam ­bém aos “meios da g raça” - a oração, a Palavra, a co m u ­nhão com o povo de Deus nos cultos públicos.

II - C risto, o P astor das O velhas

O relacionamento das almas com Cristo é comparado ao da ovelha com o pastor. Tal ilustração é corriqueira nas Escrituras (SI 23; 80.1; Is 40.1 1; Ez 34; Mq 5.4; Zc 13.7; 1 Ib 13.20; 1 Pc 2.25). A ilustração fala muitas coisas ao nosso coração, especial mente quando levam os em conta certas semelhanças entre as ovelhas e os homens. Os homens ten­dem a seguir um líder; facilmente se extraviam (espiritual­mente); precisam de proteção; necessitam dc sustento. N ote­mos o que o Pastor faz em prol das suas ovelhas.

1. C onduz suas ovelhas. “ E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (v. 4). C om o disse Davi: “ G u ia-m e m ansam ente a águas tranquilas... guia-m c pelas veredas da jus tiça por am or do seu n o m e” (SI 23.2,3).

1.1. Ele guia e conduz m ediante o seu exem plo. Esta a mais sublim e form a de liderança (Jo 13.15; 1 Pe 2.21; 1 Jo 2 .6 ).

1.2. D iferentem ente dos falsos pastores que buscam a popularidade, Ele conduz as ovelhas, vai adiante delas, e não as segue. O falso pastor dá às ovelhas o que elas que rem; o verdadeiro pastor dá-lhes aquilo dc que necessitam A rão era um verdadeiro sacerdote, mas caiu em grave crio quando seguiu as vontades do povo (Ex 32.1-5).

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1 24 João. o F vange lho do Filho de D eus

1.3. C onduz , e não impede. Um a das características do Messias é sua ternura e m ansidão (Is 40.11; cf. lP e 5.2).

2. C onhece suas ovelhas. ' ‘As ovelhas ouvem a sua vo/,, e cham a pelos nom es às suas ovelhas... e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. M as de m odo ne­nhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (v. 3,4,5). C om o disse Davi: "O Senhor é o m eu pastor” .

2. 1. A s a lm as sequiosas im edia tam ente reconhecem seu Pastor (1 Pc 2.25). Certo hindu que confessou a Cristo como Salvador, logo ao ouvir o prim eiro sermão, disse que havia quatro anos estava procurando a vida eterna: “M inha vida estava repleta de im perfeições e pecados. M inha consciên­cia de culpa m e sobrecarregava. D urante dias c noites eu derram ava lágrimas amargas. Finalm cntc, num a agonia de desespero, lancci-m c ao chão c clam ei ao Poder que me deu a existência, pedindo que enviasse alguém para mc salvar. Clamei por m isericórdia c confessei o meu pecado. N aquele instante, deixei tudo por conta daquele Poder. M uitas vezes lenho imaginado com o seria aquEle que o Poder Sublime enviaria a mim. Reconheci-o, portanto, im e­diatamente, ao ouvir o sermão. Faz alguns anos que já estava confiando cm Jesus, sem, porem , saber por qual nom e deveria cham á-lo” .

O hom em ouviu a voz do Pastor através do sermão, reconhecendo-o im ediatam ente.

2.2. Ele nos conhece pelo nom e (Is 43.1; 45.3; 49.1; Ap 3.5; Ap 2.17). Tem ístocles gabava-se de conhecer os no ­mes dos vinte mil cidadãos de Atenas. O Pastor Divino conhece os nom es dos seus m ilhões de ovelhas, bem como cada aspecto de suas personalidades. Várias pessoas na Bíblia tiveram a ín tim a experiência de serem chamadas pelo nom e em conversa com o Senhor: Abraão, M oisés, Saulo de Tarso, Ananias (At 9) e Pedro, M aria (Jo 20) e Samuel, entre outras.

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Jesus, o Bom Bastar 1 25

2.3. A s ovelhas o conhecem e o seguem . Viajantes no Oriente Próximo têm com provado muitas ve/,cs que nenhum disfarce dc roupas, voz, gestos, de saber os nom es das ovelhas, faz com que as ovelhas se confundam quanto ao seu verdadeiro pastor. Naquelas regiões, há profundos la­ços dc simpatia, afeição e reconhecim ento entre o pastor c suas ovelhas; o pasto r reconhece cada um a das ovelhas, que parecem idênticas at) olhar do estranho, c elas, apesar da sua pouca inteligência, reconhecem o pastor.

3. Ele dá vida às ovelhas. “O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” . O Senhor ainda tem em mente o falso pastor, o ladrão das almas - o homem que, sem real amor pela causa, se estabelece como líder religioso baseado no seu próprio egoísmo, o homem que não deseja que as ovelhas tenham livre acesso ao Reino dos Céus (Mt 23.13).

No sentido mais amplo, a palavra " lad rão” pode rep re­sentar Satanás, o inimigo das nossas almas, que quer nos despojar da nossa paz e alegria, e dar o golpe derradeiro em nossa vida espiritual.

Km contraste com a obra dos falsos pastores, Jesus declara: “ Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” . Jesus oferece a plenitude da vida. O m elhor com entário acerca destas palavras encontra-se no Salmo 23, o Salmo do Bom Pastor. Não fomos vocacionados para viver um a vida de fraqueza c incapacidade; e sim para que te ­nham os a vida abundante, a vida vitoriosa. Muitas pessoas s im plesm ente existem; Cristo quer que vivam.

4. () P a s to r m orre p e la s ovelhas. “Eu sou o bom Pas tor; o bom P as to r dá a v ida pelas o v e lh a s .” Jesus assim se d e s ta c a do m e r c e n á r io (v. 12), q u e p e n sa se r o p a s t o r a d o u m a p r o f i s s ã o , c o m o a d e p o r q u e i r o , v inha te iro , pedre iro , advo g ad o , m éd ico ou negocian te . O m ercen á r io não se p reo c u p a co m as ove lhas; p rocura apenas salário . S ua d isp o s ição não é ver o quan to pode

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I 26 Jocio, o E vange lho do Eilho de D ens

dar dc si às o ve lhas , c sim o q uan to pode a rran ca r delas. 12 natural qu e fuja quando se a p ro x im a o perigo , po rque o m otivo d o m in an te no seu traba lho c a au topreservação . Em con tras te com tal a titude , o ob je tivo do ve rdadeiro pasto r c p ro c u ra r pa ra suas ove lhas um a v ida m ais ab u n ­dan te . N a P a le s t in a , a d e v o çã o dos p a s to re s às suas ove lhas m uitas vezes tem levado a lguns de les a m orrer na luta con tra feras ou sa lteadores.

O Senhor Jesus co n s id e ra a raça h u m an a necess itada com o reb an h o seu (Mt 9.36), fazendo pelas suas ovelhas o suprem o sacrif íc io . Não som en te m orreu cm prol d e ­las, com o ta m b é m ressu sc i to u pa ra lhes da r a v ida (Hb 13.20) - vo ltou pa ra o C éu com a in tenção dc levá-las cons igo . R e m o v e u a p e ço n h a da taça da m orte , para t ran s fo rm á-la em sim ples sopo ríf ico v isando o desp e rta r saudável, de m odo que seus segu ido res po ssam dizer, com o Davi: “A in d a que eu ande pelo vale da so m b ra da m orte , não tem erei mal nenhum , po rque tu estás c o m i­g o ” .

II - E nsinam entos Práticos

/. “Eu sou a p o r ta ”. O cego curado foi expulso da igre­ja oficial, mas sua excom unhão o prom oveu, porque pas­sou da sinagoga para o Salvador. Podiam excluí-lo de uma instituição, mas não do Céu. “Eu sou a porta” , disse Jesus. Muitas pessoas piedosas e tementes a Deus têm sido exclu­ídas das igrejas durante a história da cristandadc, e isto não c de se estranhar, porque o próprio Senhor tem sido exclu­ído dc tantas delas! Veja A pocalipse 3.20. Certas igrejas, com o a dc Laodicéia, que deixam Cristo fora da porta, são mais clubes religiosos do que igrejas dc Cristo, e há mais vantagem espiritual cm ficar fora delas.

Ao longo dos séculos, a igreja m undana tem excom un­gado e destruído a muitos, denunciando-os com o “hereges” , por terem deixado a consciência, iluminada pela Palavra de

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Jesus, o Horn Pastor 1 27

Deus, ser o árbitro das suas vidas. Líderes eclesiásticos, pensando possuir as “chaves do reino do C éu ” , im aginam que podem excluir pessoas do céu. Não podem , no entanto, separar de Cristo estas nobres almas, nem afastá-las daque­le que c “ santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e n inguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3.7).

O Senhor Jesus se opõe a qualquer forma de exclusão injusta: repreendeu os discípulos quando queriam afastar as crianças dos seus ternos cuidados e quando queriam ex ­cluir um obreiro desconhecido do privilégio do serviço (Lc 9.49,50).

2. P rofissiona lism o religioso. Por que os fariseus ex co ­m ungaram o cego curado por sua lealdade a Cristo? Seja qual tenha sido a explicação deles, Jesus mostrou, no seu discurso, que o m otivo real foi o profissionalism o. Os líde­res religiosos haviam caído no erro que prende os potenta­dos eclesiásticos, a saber, que o povo existe cm prol deles, e não eles para servir ao povo. Quando, portanto, o cego curado não se dobrou diante das vontades d e les , quando não aceitou suas opiniões, quando refutou os seus a rgu­mentos, então deram vazão à sua ira, com ultrajes e exc lu ­são de privilégios religiosos.

O profissionalism o surge quando o pastor usa sua posi­ção e as pessoas com o tram polim para sua autoprom oção, realização profissional cm posição e salário. Passa a ser o “m ercenário” que vive às custas das pessoas, e não em prol delas. Não entra no m inistério através da porta que é C ris ­to; força cam inhos por meios hum anos. O obreiro cristão é dom inado pelos únicos motivos aceitáveis: am or a Cristo e paixão pelas almas.

3. O velh a s d o en tes são logradas. Pas to res no O rien te d izem que em caso de d o en ça as o v e lh as p o d em ser induz idas a seguir um falso pastor . O m esm o se pode d izer da v ida espiritual. E m bora seja possíve l crentes sin

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ccros serem levados a segu ir um falso m estre d is fa rçado cm m anto de p ied ad e e f id e lid ad e à sã dou trina , é geral- m en te quan d o as pessoas ficam longe da c o m u n h ão com Deus c c sp ir i tu a lm en tc frias que se tornam presas fáceis de falsas seitas e invencionices religiosas (cf. 1 Tm 1.5,6; 2 Tm 3.5,6). P au lo d ese ja a rd en tem en te que cada crente seja cd if icado : “A té que todos ch eg u em o s à un id ad e da fé, c ao c o n h ec im en to do F ilho de Deus, a varão p e rfe i­to, à m ed ida da es ta tu ra co m p le ta de Cristo . Para que não sejam os m ais m en inos inconstan tes , levados em roda por todo ven to de doutrina , pe lo engano dos hom ens que co m as túc ia e n g an am frau d u lo sa m en tc " (F f 4 .13 ,14).

4. A s o re lh a s ouvem a sua voz. Estas pa lav ras su g e ­rem o teste do d isc ipu lado ; a p a lav ra “o u v ir” s ign ifica ler a tenção c obed iênc ia . Sc som os ove lhas de Cristo , o b e d ec e m o s e s eg u im o s a Ele. Se som os o v e lh as de C ris to , o P as to r nos p ro cu ra rá e c h am ará m esm o quando andam os de sg a rrad o s c d e sobed ien tes . As vezes Ele nos acha cm s ituações ve rgonhosas : d ias passados sem o ra ­ção, com co ração endurec ido , p en sam en to s c ín icos, p e ­can d o por co m issão ou por om issão . Q uan tas vezes a sua voz já nos d espertou para u m a renovação esp ir itua l, cm vida c obed iênc ia!

5. C om unhão e serviço . “ E ntrará , e sa irá” . H á dois lados na v ida esp ir itua l. Para te rm os um m in is té r io bem equ ilib rado , p rec isam o s “e n tra r” em m o m en to s de p ro ­funda com unhão com D eus e “sair” para nossa obra cristã en tre nossos sem elhan tes . E x is te a ten d ên c ia aos e x tre ­m os: a lguns “e n tra m ” , m as não “ saem ” cm serv iço a t i ­vo; outros sem pre estão “ sa in d o ” cm a tiv idades en é rg i­cas, m as não “e n tra m ” para recebe rem a ren o v ação das fo rças e in sp iração . O S en h o r Jesus é nosso exem plo q uan to a isto: an tes do ra iar do sol, e s tava a s<5s, em co m u n h ão com Deus; du ran te as horas ú teis do res tan te do dia, serv ia aos hom ens.

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Jesus, o Bom Pastor 129

6. A vida m ais abundante. C om o cristãos, possuím os a vida; será, porem , que já possuím os toda a sua plenitude e abundância? Tem os a verdadeira alegria de viver? Estamos tendo sucesso em nos sobrepujar às provações? Estamos servindo ao Senhor segundo o nosso próprio e fraco modo, ou na força do seu poder? Cristo nos oferece a vida mais abundante. Podem os assum ir os deveres da nossa vocação em Cristo, sabendo que Ele não nos lançará em rosto as nossas fraquezas, porque prometeu: “ Recebereis poder” .

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A Ressurreição de Lázaro

T exto: J o ã o 11

Introdução

A série de milagres de Cristo, realizados antes da c ru­cificação c registrados no Evangelho de João, ehega ao seu ponto alto com o sétimo m ilagre - o da ressurreição de Lázaro. Coroa os demais milagres de modo triste, e de modo alegre.

É o m ilagre cu lm inante, no sentido triste. Os dez ca­pítulos an teriores indicam de que m aneira Jesus se reve­lou aos ju d eu s , de todos os m odos diferentes que p u d es­sem inspirar a verdadeira fé, e narram com o cada nova revelação só servia para enchê-los de am argu ra c dureza, a té q u e a h o s t i l i d a d e d e le s c h e g a s s e a um p o n to desesperador. Jesus se m anifestou com o D o ad o r da vida, m as não queriam chegar a E le a fim de receberem esta vida; Jesus declarou-lhes ser o Pão da Vida, mas não ti­nham apetite por com ida espiritual; Jesus p roc lam ou ser a Luz do m undo, mas eles p referiram andar nas trevas; Jesus disse que era o Bom Pastor; eles, porém , não que-

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132 João, o E vange lho do Filho de D eus

riam ouvir a sua voz nem ser guiados por Ele. Agora, f inalm ente , c o m p ro v a ser R essu rre ição c a V ida, c p lane­ja m condená-lo à morte. C rim e dos crim es: m ataram o A utor da vida! (At 3.15).

A ressurreição de Lázaro é o milagre culm inante, no sentido alegre: é o sinal externamente visível de que o Cristo de Deus já venceu a morte e a sepultura. D epois da opera­ção deste milagre, bem podem os exclamar: “O nde está, ó morte, o leu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua v itória?” (1 Co 15.55).

I - Jesus e o Sofrim ento (Jo 11.1-16)

1. O recado. “Senhor, eis que está enferm o aquele que tu am as” . Foi este o recado que M arta e M aria enviaram para seu M estre e amigo, enquanto Ele estava na região além do Jordão.

2. () atraso. “O uvindo pois que estava enferm o, ficou ainda dois dias no lugar onde es tava” . Parece estranho este deliberado atraso, cm vez da pressa para chegar ao lado do leito de dores daquele a quem amava. Im agine os senti­m entos das irm ãs enquanto as longas horas fo ram se pas­sando sem que Jesus aparecesse, enquanto a v ida do irmão estava regredindo. Talvez tenham ficado sujeitas à tenta­ção de levantar a dúvida: “Será que ele realm ente se im ­porta?” O Senhor, porém, tinha um propósito específico nesta demora: o poder e a glória de Deus estavam para ser revelados m ediante a ressurreição de um hom em que m or­rera havia quatro dias. Foi atraso apenas segundo as apa­rências hum anas; segundo o horário planejado por Deus, Jesus chegou na hora com binada.

3. O apelo. Quando, depois de dois dias, o Senhor anun­ciou seu propósito de ir para a Judéia, os d iscípulos fize­ram -lhe um apelo no sentido de que evitasse co locar em risco a sua vida. A resposta de Jesus dá a en tender o se­

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A R essurre ição de Lázaro 133

guinte: “O tempo determ inado para o exercício do meu m i­nistério não se esgotou; portanto, estarei seguro na Judeia, e vocês tam bém ; esgotado este prazo, então correrei perigo de m orte” (v. 9,10).

4. A notificação. Jesus proclam ou seu propósito de res­suscitar Lázaro da morte. “Lázaro está morto; e fo lg o , por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis” . O leitor tam bém está alegre porque Jesus não estava ali quando Lázaro morreu? Por quê?

II - Jesus e os Q ue Sofrem (Jo 11.17-28)

Jesus, chegando ali, encon trou a segu in te situação: Lázaro j á estava na sepultura, c M aria c M arta estavam enlutadas na casa de amigas. Quando chegou a elas a no­tícia de que Jesus se aproxim ava, “ouvindo pois M arta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou as­sentada em casa” (v. 20).

/. A delicada censura. “ Disse pois M arta a Jesus; S e ­nhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria m orrido” (v. 21). Provavelm ente, havia no íntimo de M arta um a luta entre a confiança c a dúvida. A resposta de Jesus, ao rece­ber a notícia da enferm idade de Lázaro, fora: “Esta enfer­m idade não é para morte, mas para a glória de Deus; para que o Filho de Deus seja glorificado por e la” (v. 4). Agora, porém , o irmão dela estava morto. C om o harm onizar a prom essa de Jesus com as condições reais?

Marta viu sua fé submetida a três provas. A primeira: a ausência de Jesus. Todos poderíam ter faltado, mas a p re­sença dElc ao lado do irmão era indispensável. A segunda: a dem ora de Jesus. Esperava-se que ele com parecesse ju n ta m ente com o mensageiro que fora procurá-lo; Ele, porém, adiou a viagem. A terceira: a perda do ente querido. O irmão estava morto, mas poderia estar com vida se Jesus eslives se presente. A noite era escura, sem nenhum a luz a não sei

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a da futura ressurreição, que parecia tão perdida na distân­cia. Ela não tinha percebido quão perto estava a R essurrei­ção!

2. A g loriosa prom essa . “D isse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar” (v. 23). Jesus se referia ao m ilagre que es­tava para operar; M arta, no entanto, não com preendeu, e replicou: “Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último d ia” . Então declarou Jesus: “Eu sou a ressurreição c a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá” . Marta acreditava que Jesus p o d ería ter sido a R essurreição (v. 21), e que, no fim do mundo, seria a Ressurreição. O Se­nhor Jesus Cristo, em virtude da sua natureza divina, diz: Eu sou. Não é tarde dem ais para ressuscitar Lázaro, nem é cedo dem ais para a ressurreição; hoje m esm o, Eu sou a ressurreição deste irm ão (cf. Ilb 13.8). Note que "a ressur­reição c a v ida” representam causa c efeito: Jesus c a res­surreição porque é a vida. É a vida que produz a ressurrei­ção.

Jesus c a ressurreição; segue-se, portanto, que “quem erê em mim, a inda que esteja morto, v iverá” . Os que m or­rem no Senhor continuam a viver, a despeito da desinte­gração do corpo, e passarão a ter um corpo espiritual (Fp 1.23; 2 Co 5.1-6; 1 Ts 4.13,14). Jesus é a vida; segue-se, portanto, que “todo aquele que vive, e crê em m im , nunca m orrerá” . Os crentes cm Cristo nunca m orrem no sentido com um do conceito da morte; para eles, a morte não é o fim; é o passar de um estado de vida para um estado mais sublime. Não há nenhum instante de interrupção da sua vida de fé e de com unhão com Deus; o crente adorm ece no que diz respeito a esta vida e, neste m esm o instante, já está despertado na vida eterna, a lém do túmulo.

3. O testem unho da fé. “Crês tu isto?” pergunta Jesus. M arta crê que Jesus é o Senhor da vida e da m orte? A sua le nas verdades divinas da ressurreição e da vida eterna após a morte está centralizada na pessoa de Cristo? M arta

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A R essurre ição de L ázaro 135

respondeu: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao m undo” . Note que M arta estava aprendendo a crer - não tanto cm fa tos, m as sim na p essoa de Jesus Cristo. Q uem tem o próprio Cristo, possui todas as coisas que E le oferece; quem tem o próprio Doador, recebe todas as dádivas.

M ar ta se sen tia sa tisfe ita e p lena de ce r teza ao o u v ir as g rac iosas pa lav ras do M estre , c o te s tem u n h o que deu dc sua fé co m p le to u - lh e a paz c a legria: “E, dito isto, p a r t iu ” (v. 28). T ão logo chegou em casa, cham ou sua irm ã, M aria . S en tia fogo celestia l na a lm a, e sua taça de a legria transbordava. Por isso sentiu forte dese jo de c o m ­p art i lh a r com a lg u ém a sua fe lic idade . A g enu ína fé em C risto é c o m u n ica tiv a (cf. Jo 1.36-42; 4 .28-30) . “ Partiu , e cham ou em segredo (hav ia outras pessoas na casa) a M aria , sua irm ã, d izendo: O M estre es tá cá, e te c h a ­m a ” . A q u e le recado é o que a ig re ja de C ris to transm ite a todos os que estão v iv en d o no m eio do pecado , da tr is teza ou das trevas esp ir itua is : “O M es tre está cá, e tc c h a m a ” (cf. M c 10.49).

III - Jesus e a M orte (Jo 11.38-44)

7. A em oção. Enquanto Jesus contem plava a p rofunda tristeza de Maria c dos am igos enlutados, duas em oções lhe perturbavam o espírito. A primeira, um a m istura de tristeza e simpatia: “Jesus chorou” (v. 35). A segunda era um a m istura de indignação e perturbação: Jesus “m oveu-se muito em espírito, e perturbou-se” (v. 33,38). Aqui, a p a ­lavra “m oveu-se” contém o significado de “indignar-se” , segundo o grego bíblico original. Sua indignação se dirigia contra a origem da morte, da doença e do sofrimento - contra o próprio pecado. C ontem plava os horrores da morte com o salário do pecado, as angústias do mundo, das quais tinha diante de si um a pequena amostra. P ensava cm todos os enlutados do mundo. Sim, estava para enxugar as lágrimas

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das pessoas ali presentes. Estava para lhes oferecer alegria em lugar de tristeza, mas isto não alterava a situação de m odo perm anente: Lázaro ressurgiría, mas voltaria a p ro­var a am argura da morte. As lágrimas voltariam a correr - c quantos choram sem ter o Salvador por perto para enxugá- las, ainda que só um a vez? Jesus sentiu assim grande in­dignação contra o causador de todos estes males e quis im e­diatam ente en trar na luta contra o diabo e seus poderes ne­fastos revelados na desgraça hum ana. C om eça a saquear os despojos do m aligno, com o prova de que chegou o mais forte (M t 12.29).

As lágrim as de Jesus reve lam sua co m p aix ão pelas nossas aflições, e sua com oção revela indignação contra o pecado, que causa todas as desgraças.

2. A ordem . “Jesus pois, m ovendo-se outra vez muito em si m esm o, veio ao sepulcro; e era um a caverna, c tinha um a pedra posta sobre ela. D isse Jesus: Tirai a pedra” (v. 38,39). Jesus muito facilmente poderia ter m andado Lázaro passar direto pela porta de pedra, mas não fará aquilo que podem os fazer por nós m esm os; é nosso priv ilegio coope­rar com Cristo em sua obra; é nosso exercício para nosso crescim ento espiritual; é nossa oportunidade de ter mais íntim a com unhão com Ele.

3. A ressalva. “M arta, irm ã do defunto, disse-lhe: Se­nhor, j á cheira mal, porque é j á de quatro d ias” (v. 39). C onhecendo a ráp ida decom posição dos cadáveres cm pa­íses quentes, M arta estrem ece ao pensar com o estaria o corpo do seu irmão; não podia crer que Jesus já tinha to­mado sobre si o zelo pelo cadáver no túmulo, protegendo- o da corrupção.

Jesus põe fim a tal descrença com a suave censura: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de D eus?” (v. 4,25,26). Logo passou a dem onstrar que tinha poderes para destruir o poder da morte, tirando-lhe o aguilhão, procla­mando que a morte é um in im igo derrotado. N ote-se que a

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A R essurre ição de Lázaro 137

admocstação de Jesus era: “Se creres, verá s”, o exato oposto do ditado popular: “É preciso ver para crer.”

4. A oração. “E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou, por m e haveres ouvido. Eu bem sei que sem pre m e ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu m e enviaste” (v. 41,42). Esta não era um a petição, e sim ação de graças pe la petição respondida. Jesus, na sua inabalável certeza, j á agradece o milagre, com o se este já tivesse sido operado (cf. 1 Jo 5.14). A oração proferida em público deu aos presentes a oportunidade de averiguar se Jesus seria um im postor a ser rejeitado ou o M essias a ser aceito e adorado (cf. v. 45; 1 Rs 18.36,37).

5. O m ilagre. “E, tendo dito isto, clam ou com grande voz: Lázaro, sai para fora” . Era a voz da D ivindade ch a ­m ando coisas que não são, com o se já existissem (cf. Jo 5.28,29; 1 Co 15.51,52; 1 Ts 4.16). A voz do Senhor, re- verberando pelo túmulo, profetiza que um dia a voz do Criador há de ser ouvida ecoando no m eio de todo o rei­nado da morte.

“ E o defunto saiu, tendo as m ãos c os pés ligados com faixas, c o seu rosto envolto num lenço. D isse-lhe Jesus: D esligai-o , e deixai-o ir” (v. 44). L ázaro conseguiu sair do seu túm ulo, m as não das m ortalhas - t ip ificando certos novos convertidos que foram alvos da poderosa a tuação do Espírito de Deus, sem, porém , ter en trado na p len itude do gozo da liberdade cristã. O Senhor, após d esperta r tais pessoas da m orte esp ir itua l, env ia-as ao pastor da igreja, com a ordem : “D esa ta -o s” . Quais são os laços que os prendem , quais as a taduras? A ignorância, que devem os esclarecer; a tristeza, que devem os conso lar; as dúvidas, que devem os dissipar; os m aus hábitos, que dev em ser desarraigados. Se todos os crentes que Icmi coisas am arrando a sua v ida fossem libertos das suas m ortalhas, o m undo in teiro se despertaria de súbito pum

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138 Joau, o E va n g e lh o do Filho de Deus

prestar atenção. V occ c um e ren te am arrado? A quele que nos libertou da m orte pode lam bem libertar do pecado c da frieza espiritual.

IV - E n sinam entos P ráticos

/. C risto va le m a is do que o credo. Q u an d o Jesus decla rou : “T eu irm ão há de re s su sc i ta r” , M arta recitou, de m odo m u ito triste, um artigo do c redo ju d a ic o : “Eu sei que h á de re s su sc i ta r na re ssu rre ição do ú ltim o d ia ” . O único a lív io que sen tia e ra um a e sp e ran ça pa ra o fu ­turo d is tan te , b a se a d a n u m a dou trina . Jesus, no en tan to , fez com que e la d e sv ia sse sua a tenção do a rt igo do c re ­do para f ix á - la nElc: “Eu sou a re ssu rre ição e a v id a ” , o que nos faz en ten d e r que o C ris t ian ism o consis te mais cm co n fia r n u m a P essoa d iv in a do que a ssen tir a p ro p o ­s i ç õ e s t e o l ó g i c a s . N ã o h á p r o v e i t o c m p r o c u r a r a sscn h o rca r-sc da teo log ia sem prim eiro ace ita r C ris to com o Senhor. P o d em o s c rer n u m a d o u tr in a sem en tre ­g a r n o s sa v id a a e la em p le n a c o n f ia n ç a ; p o d e m o s en ten d e - la sem que ela nos tran s fo rm e o co ração ; com o M arta, p o d e m o s c re r na re ssu rre ição sem ter v e rdade ira fé n aquE lc que 6 a R essu rre ição c a Vida.

2. Viveremos, porque Ele vive. “Eu sou a ressurreição c a vida; quem crê cm mim, ainda que esteja morto, viverá” . Com tais palavras, Jesus assegurou a Marta e M aria que seu irmão não tinha realmentc perecido, que estava seguro. O m esm o Jesus que tivera doce com unhão com Lázaro durante a vida, c que tem poder sobre a morte, não toleraria que a morte destruísse o doce c espiritual convívio cristão.

Existem m uitos argum entos formais que com provam a doutrina da imortalidade; o que, porem, nos dá mais certe­za do que a fria lógica é saberm os que estam os cm profun­da com unhão com Deus e com Cristo. Im aginem os o servo de Cristo que andou com Ele durante m uitos anos de fer-

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A R essurre ição Je Lázaro 139

vorosa com unhão espiritual, chegando finalmcnte ao seu leito de morte. C om o seria possível que Cristo de repente declarasse rom pidos os laços de amor? M uito pelo con trá­rio: os que estão “em C risto” ( I Ts 4.14-17) não podem ser separados dElc, nem pela vida, nem pela morte (Rm 8.38). É impossível a idéia de que quem desfrutou da presença de Cristo neste mundo tão alheio às coisas espirituais possa ser separado dElc na gloriosa eternidade, que o am or de Deus que nos sustenta no tempo possa ser cancelado na eternidade.

Se alguém pertence a Cristo, tudo quanto é dEle será operante tam bém na sua vida: se Cristo é a Ressurreição e a Vida, esta realidade será transmitida ao crente. Estamos vinculados a Jesus Cristo mediante o Espírito, a vida e ter­na já raiou em nossa alma, c estam os cam inhando para a vida eterna, no Céu.

4. A s lágrim as de Jesus. “Jesus chorou” . C onsiderare­mos:

3.1. A causa das lágrim as áe Jesus. Tais lágrimas fa­zem parte da hum anidade de Jesus. A pesar de ser Eilho de Deus, Ele sofreu todas as aflições dos hom ens, em bora sem a prática do pecado. “E o V erbo se fez carne” . Sua h u m a­nidade não era fictícia; participou realm ente da nossa n a tu ­reza. As lágrimas brotaram de real com paixão, foram a resposta do coração de Jesus ao apelo da tristeza. Suas lágrimas tam bém foram causadas pela tristeza - tristeza pelos danos causados pelo pecado c pe la morte. N a cria­ção, viu que tudo quanto fizera era m uito bom; com o, portanto, o bom se transform ou cm m aldade? “U m inimigo fez isso” (Mt 13.28).

3.2. A natureza das lágrim as de Cristo. Jesus chorou com calm a, c não com am arga c desesperada angústia Podem os chorar nossos entes queridos, sem, porém, dai vazão ao desespero que é característica dos pagãos. Jesus chorou dc modo reservado : deu clara vazão à simpatia, sem

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140 João, o E vange lho do Filho de D eus

partic ipar dc lam entações ostensivas. Jesus chorou sem sentir que seria algo vergonhoso. Podia ter escondido as lágrimas c a tristeza, mas não c da sua doutrina reprimir a personalidade hum ana, estrangulando os sentim entos de am or c com paixão . O cstoicism o, que esconde a ternura, pertence ao orgulho carnal; c a insensibilidade ao sofri­mento não faz parte do heroísmo.

3.3. A s lições tiradas das lágrim as de Jesus. São uma am ostra da e terna natureza de Cristo, da sua com paixão, graça e m isericórdia, que con tinua derram ando sobre nós (Hb 4.15,16). São nosso exem plo. As lágrimas dc Jesus nos ensinam a dem ostrar sim patia aos corações tristes, ofere­cendo o nosso consolo; nosso am or é nada com parado ao do Filho de Deus, mas não deixa dc a judar m aravilhosa­mente.

4. C rer é ver. “Não tc hei dito que, se creres, verás a g lória dc D eus?” A vida m icroscópica existe invisível ao olho hum ano, e o m esm o se dá com incontáveis estrelas. Usando o m icroscópio e o telescópio, podem os contem plar esses aspectos do Universo, e n inguém ousaria negar sua existência por não ter ao alcance tais instrumentos. As eter­nas coisas dc Deus, no entanto, precisam ser exam inadas através da lente da visão espiritual cham ada 1c. Com o, pois, os hom ens do m undo, que a legam só aceitar o testem unho dos “fatos aver iguáve is” , ousam negar a ex istênc ia das coisas espirituais, quando nunca experim entaram os instru­mentos da fc? Q uerendo en tender mais de Deus, devem os rogar a Ele: “Senhor, aum enta-nos a fé!”

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T exto: J o ã o 12 .1 -9 ; M a te u s 2 6 .1 3

Introdução

Depois cia ressurreição de Lázaro, parecia que todos os habitantes de Betânia c de Jerusalém chegariam a crer no Senhor Jesus, e muitos creram mesmo. Outros, porem, foram levar relatório aos fariseus, e estes convocaram um conci­lio que determ inou matar Jesus. O que o Mestre dissera com respeito a um outro Lázaro certam cntc se aplica à situação retratada aqui: “Sc não ouvem a M oisés e aos profetas, tam pouco acreditarão, ainda que a lgum dos m or­tos ressuscite” (Lc 16.31).

Jesus, no entanto, tinha muitos amigos entre o povo de Betânia, e eles lhe ofereceram um a ceia, talvez de gratidão c solidariedade. N aquela ceia, Marta, tip icam ente dentro do seu papel, servia, enquanto Maria, caracteristicamcntc, estava aos pés de Jesus (cf. Lc 10.38-42). E Lázaro, em bo­ra não tenha falado nada durante o incidente, estava pre­sente e com vida, testem unha visível do poder c virtudes de Jesus.

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1 42 João, o E vange lho do Filho de Deus

I - O A to de D evoção (Jo 12 .1-3)

/. A r e a liza ç ã o do a to . E n q u a n to M ar ta e s tá o c u ­p a d a c o m o a s s u n to de q u e m e lh o r e n te n d e , s e rv in d o os p ra to s , M a r ia , q u ie ta e re t r a íd a , m e d i ta so b re co m o e la ta m b é m p o d e e x p re s s a r su a d e v o ç ã o ao M es tre . “ E n tão M a r ia , to m a n d o um a r ra ie i de u n g i ic n lo de n a rd o p u ro , de m u ito p re ç o , u n g iu os pés de J e su s , c e n x u g o u - lh e os pés co m os seu s c a b e lo s ; e c n c h e u -s c a c a sa do c h e i r o do u n g ü e n to ” . O ato de u n g ir a c a b e ­ça e ra u m a fo r m a de h o m e n a g e m a p e s so a s i lu s tre s q u e se p r a t ic a v a m u ito no O r ie n te . A q u i, no e n tan to , h a v ia a sp e c to s que , à p r im e i r a v is ta , p a re c ia m e x a g e ­ra d o s . O v a lo r do p e r fu m e e ra m u ito e le v a d o . A n a tu ­re z a do frasco : fe ito de p re c io s o a la b a s l ro (um tipo de m á rm o re ) , o g a rg a lo t in h a q u e ser q u e b ra d o p a ra l ib e ­ra r o seu p re c io s o c o n te ú d o , q u e e n tão t in h a q u e ser u sad o de u m a só vez. O m o d o da unção : u n g ir os pés , a lém da c a b e ç a , ia m u ito a lém das m ais a l ta s e x ig ê n ­c ias da h o s p i ta l id a d e ; a lém d is to , so lto u os c a b e lo s ( c o n s id e ra d o um a to im p ró p r io p a ra um a m u lh e r jud ia fa z e r cm p ú b l ic o ) , e n x u g a n d o c o m e les os pés de J e ­sus ( f a c i lm e n te a c e s s ív e is a e la e n q u a n to f ic a v a cm pé a trás d e le , p o is to m a v a - s e as r e fe iç õ e s re c l in a n d o - se cm d iv ã s ) .

2. A n a tu r e z a do a to . O a to de M a r ia n ão e ra u m a o s te n ta ç ã o , n ão e ra v a id a d e p a r a c h a m a r a a te n ç ã o p a ra si m e s m a ; e ra o t r a n s b o r d a r de d e d ic a ç ã o ao M e s tre , p r e s te s a se r r e m o v id o p a r a lo n g e d e la , p e la m o r te . M ar ia , d e s ta fo rm a , d e m o n s t r o u as s e g u in te s e m o ç õ e s :

2.1. A fe ição baseada não em sen tim enta lism o efusivo, e sim decorrente do m aravilhoso toque dos ensinos de Jesus nas cordas de seu coração. Os discípulos tam bém tinham sentido aquele toque m aravilhoso quando disseram: “S e­

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Jesus é Ungido p o r M aria 143

nhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (6.68).

2 .2 . G r a tid ã o . A g r a d e c i a to d o s os b o n d o s o s a to s de J e s u s , i n c lu s iv e a r e s s u r r e i ç ã o de L á z a r o , c q u e ­r ia d e m o n s t r a r su a g r a t i d ã o de m a n e i r a i n c o n f u n d í ­ve l.

2.3. In te ira consagração . L onge de p ro cu ra r con tar um as poucas gotas com sov ina res trição , derram ou a to ­ta lidade do co n teú d o do frasco todo o p rec ioso p e r fu ­me. Foi sua m an e ira de s im bo lizar a to ta lidade da sua a lm a a dc rram ar-sc d ian te de C ris to em inteira c o n sa ­gração.

2.4. A renúncia das posses. Por mais valioso que fosse o perfume, M aria considerava que nada poderia ser bom demais para seu Senhor.

II - A C rítica Vil (Jo 1 2 .4 -6 )

O eg o ísm o m a l-h u m o rad o e s in is tro de Judas fo rm a um pano de fundo escuro para o brilho da pureza do ato de M aria. A b ondade sem pre p ro v o ca o mal a se revelar; atos de d ed icação sem pre d e sp e r ta ram críticas dos s áb i­os c dos que p rocuram os bens deste m undo . A crít ica de Judas era:

1. A p a ren tem en te razoável. “ Pintão um dos seus d is ­c ípu los , Judas Iscario tes , filho de S im ão , o que hav ia de tra í-lo , disse: Por que não se ven d eu este u n gücn to por trezen tos d inhe iros e não se deu aos pobres? M ateu s e M arco s m en c io n am que esta ob jeção surgiu da parte dos d isc ípu los. João , po rém , esc la rece quem deu o r ig em ao m u rm ú rio deles. À p rim eira v ista , p a rece h aver a lg u ­m a lógica . Jesus v iv ia na te rra sem ter bens, c ta lvez a lguém pudesse d izer que n ecess ita r ia de um lar para m ora r c do va lor em dinheiro do perfum e, e que dem ons trações com o aquela eram reservadas exclusivam entc para

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144 João, o E vange lho do Filho de D eus

p rín c ip es c p e sso as da m ais d e s ta c ad a im p o rtân c ia , não sendo cab íve is no caso de quem era tão h u m ild e de a t i­tudes e aparênc ia . A lém d isso , re inava g ran d e pob reza em toda a Pa les t ina .

2. F u n d a m en ta lm en te in sincera . A in s in cer id ad e da o b jeção c e x p l ic ad a p o r João c pe las pa lav ras que Jesus fa lou cm d e fe sa de M aria. O ún ico “p o b re ” com que se p re o c u p av a Ju d as e ra ele m esm o! A m aior pa rte dos c r í ­ticos que re sm u n g am quando se gasta d inhe iro na c o n s ­trução de tem plos c em cam panhas de reav ivam ento , p o u ­ca co isa fazem cm prol dos pob res , às custas de les m es­mos.

“O ra e le d isse isto, não pe lo cu idado que t ivesse dos pob res , m as p o rq u e era lad rão , e tinha a bolsa , c tirava o que ali se la n ç a v a .” O m esm o h o m em que linha obje- ções con tra o m au em p reg o de 300 m oedas e s tav a para v en d er Jesus por apenas 30. Ju d as revelou sua irr itação . D ecerto pen sav a ser te sou re iro rico e po d e ro so no re ino m ess iân ico , e ficou a m arg u rad o q u ando Jesus re je itou a p o ss ib i l id ad e de ser co roado rei após o m ilag re da m u l­t ip licação dos pães. Sentiu que ser ia m e lh o r sa lv a r a sua s i tuação d ian te das au to ridades c a in d a tirar um peq u en o lucro . Tais p en sa m e n to s f ize ram com que Judas se irr i­tasse com o “d e sp e rd íc io ” de d in h e iro que p o d e r ia ler p a ssad o para o bo lso dele, e de ram ao d iabo o p o r tu n id a ­de de m an ipu lá -lo .

I l l - A V igorosa D efesa (Jo 12.7 ,8)

M aria não foi deixada à m ercê de um desalm ado traidor e dos discípulos sem discernim ento . O M estre tom ou a palavra:

1. R ep reen d eu os críticos. “D e ix a i-a ” . Não e ra a p r i ­m eira vez que M ar ia se to rn av a alvo de críticas , M ar ta se que ixava do desperd íc io de tem po de M aria (Lc 10.38-

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Jesus c U ngido p o r M aria 145

42). A gora , Judas a a cu sav a de d e sp e rd iça r d inhe iro . Os que q u e rem segu ir f ie lm en te ao S en h o r não devem se sen ti r su rp re so s q u a n d o se to rn am a lvos de c r í t ica s , po rque “o h o m em vê o ex ter io r; porem o S e n h o r , o c o ­ração ” .

2. Elogiou o ato. “Ela lc/.-me boa obra” (Mc 14.6). Cristo viu a preciosidade do ato, e não a do perfume; viu o in ­com parável preço de um a vida consagrada; viu o espírito de quem ofereceu a hom enagem .

3. Explicou o propósito . “A ntecipou-se a ungir o meu c o rp o p a r a a s e p u l t u r a ” (M c 14 .8 ) . M a r ia , c o m d iscern im en to espiritual, sentia que seria esta a ú ltim a oportunidade de se prestar hom enagem ao Senhor durante a sua vida na terra, revestido de carne mortal. Jesus, em sua resposta, deixou transparecer que só ela chegou cm tempo de lhe oferecer o carinho final, o que outros não conseguiríam fazer (Lc 23.56; 24.3).

4. R e fo rm u lo u a sug estã o . “ P orque os pobres sem pre os tendes convosco , m as a m im nem sem pre me te n d es” . A suges tão e ra boa, c os d isc ípu los a in d a teriam m uitas o p o rtu n id ad es pa ra fazer o bem aos pobres , não d e v e n ­do se e sq u iv a r deste m ister; naq u e le m om en to , po rém , es tav am se esg o tan d o as o p o r tu n id ad es de dar a lgo ao F ilho do h o m em , an tes da c ru c if ic ação . M ar ia co rr ia m enos pe rigo de se e sq u ece r dos pob res do que os d is ­c ípu los ; quem d em o n s tra am o r e ca r in h o com o S en h o r não d e ix a rá de ser gen ero so para com o seu p róx im o .

IV - O G lorioso G alardão (Ml 26.13)

“Em verdade vos digo que, onde quer que esle evange­lho for pregado, cm lodo o mundo, lam bem será referido o que ela fez, para m em ória sua” . Maria, no cum prim ento daquele gesto de amor, nem de longe sonhava que haveria de receber o galardão da lam a universal por ioda a história

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146 Jo ã o , o E v a n g e lh o do E ilh o de D im s

hum ana. Não linha a mínima intenção de ser retribuída. Estava apenas pensando no Senhor. Ele, porém, não deixa nenhum gesto de bondade passar sem a devida recom pensa (Mt 10.42).

Por que o registro do ato de dedicação e altruísm o da parte dc M aria tinha que acom panhar a pregação do Evan­gelho em todo o m undo? Porque c um exemplo do espírito que é a essência do Evangelho - o espírito de abnegação, altruísmo, dedicação.

Há tam bém a lgum a sem elhança entre o espírito do ato dc Maria e o que levou Jesus a m orrer na cruz.

1. Sem elhança de motivo. Assim como o mais puro amor levou M aria a derram ar o perfum e, assim tam bém o amor divino levou Jesus a derram ar sua vida em sacrifício na cruz.

2. Sem elhança de abnegação. O valor do perfum e é ressaltado por três evangelistas; era o equivalente ao salá­rio de um ano, um a soma vultosa cm si m esm a e uma despesa enorm e para Maria. Não foi à loa que Jesus disse: “ Esta fez o que podia” (Mc 14.8). C om preendia c dava valor á abnegação dela, porque Ele também fez o que pôde, derram ando tudo quanto era c tinha para remir a hum ani­dade. Esvaziou-se a si mesmo; fez-se pobre; tornou-se cm todos os aspectos semelhante aos filhos dos hom ens a fim de redimi-los.

J. Sem elhança de m agnificência . O que os discípulos consideravam desperdício, era a grande e generosa m agn i­ficência do amor. Cristo não m ediu seu sangue em gotas na proporção do núm ero de pessoas que aceitariam seu sa­crifício, nem limitou o alcance da salvação obtida na cruz; ofereceu um a expiação suficiente para dar cobertura aos pecados do m undo inteiro. O Evangelho proclam a seu ato de amor ao m orrer pelos pecadores, é a boa-nova para o m undo inteiro. A ss im com o o pe rfum e de M aria , não

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Jesus é Ungido p o r M aria 147

m edido cm gotas, expandia-se pelo am biente inteiro, Jesus quis que o suave arom a do seu sacrifício fosse espalhado por todas as nações, produzindo um a a tm osfera de salva­ção.

V - E nsinam entos P ráticos

/. A c r í t ic a e a c o n sa g r a ç ã o c r is tã . A s c r í t ic a s provocadas pelo ato de devoção de M aria nos ensinam que todos aqueles que se consagram plenam cnlc ao Senhor e vivem à altura dessa dedicação podem saber que os conhe eidos, sem d iscern im ento espiritual, lhes perguntarão: "Por que tanto desperdício?” N inguém fala cm desperdício quan­do se arriscam vidas e se gastam fábulas cm viagens espa­ciais. Q uando, porém, pessoas dedicam e dão suas vidas pela causa de Cristo, há fortes clamores de indignação contra tal “desperd íc io” . Q ualquer pessoa que já fez algo de espe­cial para o Senhor, que lenha lhe custado tempo, dinheiro ou esforço penoso, pode testificar que houve quem pro tes­tasse. Não sigam os a religião de Judas. Sc nossa ação tem a aprovação do Mestre, não nos importa o que o m undo disser.

2. H om enagem póstum a. Alguns discípulos loram ungir Jesus depois da sua morte. Jesus defendeu a ação de Maria explicando que ela queria ungi-lo enquanto Lüe ainda esti­vesse com vida, a fim de que pudesse tirar alento do gesto. D evem os m ostrar nosso apreço aos nossos entes queridos enquanto estão com vida, precisando da nossa afeição c apreciação. As flores enviadas depois da m orte não pode­rão encobrir nossos rem orsos por não term os m ostrado o nosso carinho quando a pessoa estava cm condições de recebê-lo.

3. O rig inalidade no amor. Judas, seguido pelos demais discípulos, só conhecia um a m aneira de aplicar dinheiro na prática do bem. M aria, com a orig inalidade do verdadeiro

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148 João. o E vange lho do Eilho de D eus

amor, achou nova maneira dc honrar o Mestre. O amor sem pre descobre novas maneiras dc servir; o am or que o general Booth sentia levou-o a descobrir meios dc atingir os favelados em nom e de Cristo; o am or que W esley sentia levou o a penetrar com avivam ento espiritual nas classes operárias da Inglaterra; com o M aria, não deixaram de ser alvos de críticas.

O povo de Deus precisa dc mais originalidade c since­ridade cm pregar, contribuir c a judar cm todos os aspectos da obra dc Cristo. E isto será alcançado, não com mais treinamento, mais oportunidades e cérebro, e sim com mais coração. Q uando o am or dc Deus é derram ado ricamcntc sobre a igreja, esta com eça a transbordar com bênçãos es­pirituais que atingem muitas pessoas cm derredor.

4. P ro c u ra n d o as o p o r tu n id a d e s . A o p o r tu n id a d e p e rd id a d if ic i lm e n te volta . Os d isc íp u lo s se q u e ix a ram do que p e n sa v a m ser d e sp e rd íc io de M aria , q u an d o rea lm en te a o p o r tu n id a d e dc h o m e n a g e a r Je su s e s tav a ch eg a n d o ao fim - e n q u an to a dc a ju d a r aos pobres , que eles achavam mais im portan te , estaria no m eio deles dia após dia, p o r toda a sua v ida . M aria , p o r tan to , a p ro ­ve itou a o p o r tu n id a d e sem igua l, c re ceb eu um g a la r ­dão sem igual.

As oportunidades diferem quanto ao seu valor c à sua importância. Sábio c quem consegue interpretar seu valor relativo, rapidam ente escolhendo aquela que nem sempre se nos oferece. A lgum as oportunidades se oferecem a cada dia; outras aparecem um a única vez na vida, e desapare­cem para sempre. O rei Saul tinha a oportunidade dc o fe­recer sacrifícios diante dc Deus dia após dia. mas somente um a única oportunidade se lhe ofereceu para de ixar de oferecer sacrifícios, para obedecer à Palavra de Deus. Per­deu a oportunidade, fazendo o que poderia ter feito em qualquer outra ocasião (1 Sm 13.8-14). H á coisas que p o ­dem ser feitas a qualquer hora; outras têm de ser feitas

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Jesus c Ungido p o r M aria 149

agora ou nunca. As atividades que temos a oportunidade de fazer a cada dia não devem nos im pedir de desenvolver a lgum a coisa especial, quando surge a oportunidade que nunca m ais voltará.

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Jesus,o Rei dos Reis

T exto: J o ã o 1 2 .1 2 -1 9

Introdução

O capítulo doze c o ponto crítico do Evangelho de João. Os prim eiros onze capítulos narram com o Jesus se revelou aos hom ens de todas as maneiras, para lhes despertar a ie. Essas manifestações levaram muitas pessoas a terem fé nEle; outras, porem , ficaram endurecidas c hostis. O milagre suprem o - a ressurreição de Lázaro - deu novos impulsos à popularidade de Jesus entre os habitantes de Jerusalém , m as tam bém levou os líderes dos judeus a tom ar a reso lu­ção de matá-lo.

Três incidentes registrados no capítulo doze ilustram esta culm inação de amor c de hostilidade: 1) A história de M aria ungindo Jesus dem onstra que havia um grupo de d iscípu­los a cujos corações Jesus era muito querido, c que perpe­tuariam a sua memória e obra. A própria presença de Lázaro, cuja ressurreição aprofundou a lealdade dos discípulos, tam bém levou ao ponto culm inante a in im izade dos líderes judaicos (Jo 12.1-11). 2) A história da en trada triunfante

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1 52 João, o E vange lho do h i l lw de D eus

dem onstra a im pressão que Jesus causara cm grande parte do povo judeu , a lém de revelar o desalento que isto causou aos fariseus (Jo 12.12-19). 3) No terceiro incidente, a in­fluencia de Jesus c ilustrada pelo pedido dos gregos que queriam vc-lo (Jo 12.20-26).

I - O Program a do Rei

/. A necessária proclam ação. Em bora a prim eira vinda de Jesus, dentro do plano divino da salvação, fosse em hum ilhação c sofrimento, m esm o assim ele era Rei, e Rei para todos os que o aceitam com o tal. Era necessário que publicam cntc proclam asse sua soberania, para dar aos ju­deus a oportunidade de aceitá-lo. Não podiam ter a descul­pa dc não saber ser Ele o M essias c Filho de Deus.

2. A m udança de program a. Antes do m om ento aqui descrito, Jesus ainda não tinha proclam ado à nação cm geral sua própria soberania. Pelo contrário, até se afastara quan ­do as multidões queriam forçá-lo a aceitar o trono, e, de ­pois dc Pedro confessá-lo com o Messias, proibiu seus dis­cípulos de pregar publicam ente ser Ele o Rei de Israel tão esperado (Ml 16.20). Por quê? E que o povo tinha um conceito errôneo da natureza do seu Reino. A pública pro­clam ação dc Cristo com o Messias leria dado origem a um a revolta contra Roma, que term inaria na m atança dc boa parte do povo judeu. Agora, porém, já não havia mais perigo dc tumulto, porque Cristo chegara ao fim do seu m inisté­rio, e, já por esta altura, tanto os judeus com o os rom anos sabiam que Pde não era nenhum líder dc revolta, c sim dc um reino espiritual (Jo 18.33-37).

3. O p lano divino. Talvez pareça estranho, mas a verda­de é que Jesus tom ou esse passo visando apressar a sua própria morte. Sabia que sua entrada espetacular na Cidade Santa e a subseqüente purificação do Tem plo aguçaria a

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Jesus, o Rei 1 53

hostilidade dos líderes juda icos até o ponto do assassinato. U m a pessoa que assim íi/.esse seria considerada despreve­nida c insensata; no caso de Cristo, porém , en tendem os a sua conduta à luz do fato de ter Ide vindo ao m undo a fim de m orrer pelos hom ens; que sua m orte já fora p lanejada antes da sua vinda ao m undo; que Ele m esm o j á profetiza­ra o fato e a necessidade da sua morte; que estava cum prin ­do um program a definido e p lanejado cm toda a sua c rono ­logia lá no Céu. H avia a “hora certa” da sua morte, segun­do a c ronologia d ivina (Jo 13.1). Sabendo que a hora esla ­va próxim a, o Senhor Jesus agiu à altura, dc acordo com as instruções dc D eus e as profecias registradas.

4. O últim o apelo. A entrada triunfal pode ser conside­rada o último apelo dc Jesus. Era a ú ltim a manifestação visando despertar a 1c, c, tendo sido rejeitadas as dem ais pela nação com o um lodo, esta foi a derradeira tentativa de conquistar os corações obstinados. M esm o sabendo por d ivina prcsciência que haveria rejeição, Ele não deixou dc fazer tudo quanto lhe era possível. D esejando de todo co ­ração salvar quantos pudesse, Jesus foi até as últimas nas suas tentativas de levar os hom ens ao arrependim ento.

II - A E ntrada do Rei (Jo 12 .12 -16 )

João nos inform a que a entrada triunfante rea lm ente com eçou cm Jerusalém , e que foi resultado direto do en tu­siasm o despertado pela ressurreição dc Lázaro. Pessoas v inham em grande núm ero de Jerusalém a Bclânia para ver o hom em que Jesus ressuscitara dentre os mortos. D epois elas, ju n tam en te com outras pessoas que estiveram em Betânia c que presenciaram o milagre, voltaram a Jcrusa lém e espalharam a notícia de que Jesus estaria chegando no dia seguinte, vindo de Betânia, e assim foi organizada a procissão dc boas vindas.

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A m ultidão dem onstrou seu rceonhee im cn to à sobera­nia de Jesus, p rim eiram en te ao abanar ram os de p a lm ei­ras - s ím bolo de vitória c regoz ijo - e tam bém ao cantar: “ Hosana! Bendito o rei de Israel que vem cm nom e do S en h o r” . Jesus nada fez para re frear o en tusiasm o p o p u ­lar, sabendo serem corretas as suas m anifestações . Ao m esm o tem po, sab ia que não se pod ia fiar cm d em o n stra ­ções populares, que sem pre são levadas a ex trem os, reu ­nindo pessoas que gritam e ac lam am sem saber do que se trata. Ele bem sabia que m uitos havia naquela m ultidão que, decepc ionados quanto à sua esperança de libertação política do ju g o de Roma, c lam ariam mais tarde: “C ruc i­fica-o!” E por isso que chorou à vista de Jerusa lém , sa ­bendo que seus habitantes rejeitariam a oferta da salvação (Lc 19.41-44). “A lcgra-tc muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusa lém ; eis que o teu Rei virá a ti, ju s to e Salvador, pobre, e m ontado sobre um jum ento, sobre um asninho, filho de ju m e n ta ” (Ze 9.9). O profeta queria d i ­zer que o Rei não dom inaria seus súditos de m odo tirâni­co e cruel. Ele é “hum ilde" , ou seja, livre da arrogante asseveração de p repo tência e o rgu lhosa jac tânc ia , com um ao d iscurso dos tiranos. Os ju d eu s deveriam ler sabido que, ao ver um rei se p roc lam ar c chegar a eles do m odo descrito acim a, deveriam aceitá-lo . Só queriam saber de um rei tem poral, no entanto, e desp rezavam os aspectos das profecias que tra tavam dos sofrim entos do M essias. Cristo não entrou cm Jerusa lém cavalgando um cavalo (s ím bolo de um re ino beligeran te), c sim um ju m e n to (s ím bolo de um líder pacíf ico). C ontraste-se â en trada triunfal dos generais rom anos; atrás deles sem pre havia um a esteira de sangue e de terras e lares destru ídos, de opressão e extorsão. Atrás da en trada triunfal de Cristo havia todo um histórico de res tauração de alm as, de co n ­solação a corações quebrantados, de cura a sofredores. Sua en trada era cond izen te com sua obra de hum ilde ded ica ­ç a o e abnegação.

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III - O Triunfo do Rei (Jo 12.17-26)

João registra o eleito da entrada triunfal teve sobre vários grupos de pessoas.

1. Sobre os discípulos. “Os seus discípulos, porem , não en tenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glori- íicado, então se lem braram de que islo eslava escrito dele, e que isto lhe fizeram ” . Os discípulos eslavam tão envo l­vidos com os eventos, que não tinham a perspectiva neces­sária para aquilatá-los em seu contexto total. Depois da as­censão, no entanto, já estavam em condições de olhar no conjunto todos os eventos passados e perceber com o cada aspecto da entrada triunfal se enquadrara perfeitam ente no p rogram a profetizado desde a A ntiguidade, b regozijaram - se ao saber que tam bém haviam tido a lgum a participação naquele programa.

2. Sobre as m ultidões. Leia os versículos 17 c 18. As te s te m u n h a s da re s su r re iç ã o de L áza ro c o m e ç a ra m a testificar às multidões, contando o que Jesus fizera, c estas logo foram entusiasticam ente ao seu encontro. Nota-se que foi João quem contou o papel desem penhado pela ressur­reição nestes eventos. Decerto, antes de escrito este E van­gelho, Lázaro já havia morrido, estando fora do alcance da v ingança dos judeus, pois certam ente lem brariam seu pa ­pel vital nos eventos.

3. Sobre os fa r ise u s (v. 19). Os fariseus se d ilaceravam em raiva e desespero. Fracassaram todas as suas tentativas de desacreditar a influência de Jesus sobre o povo, c agora só lhes restava o desígnio sem escrúpulos dos principais sacerdotes (Jo 1 1.47-53).

4. Sobre os gentios. A en trada de Jesus m ontado num jum ento e ra um a decla ração de que o seu dom ín io não depend ia de conquistas , e sim de m ansidão . No incidente que se segue, ensina que sua soberan ia sobre os hom ens base ia-se no seu au to-sacrifício , c que seus súditos devem p a lm ilha r o m esm o cam inho para a ting ir a glória.

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“O ra hav ia a lguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa” (v. 20). Provavelm ente eram con­vertidos ao ju d a ísm o ; esco lheram Filipe para esta aborda­gem por ser ele de D ecápolis , de civ ilização grega, tendo um nom e tip icam en te grego.

“Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, c rogaram-lhe: Senhor, queríamos ver a Jesus” (v. 21). Filipe consultou André, conterrâneo seu, talvez por hesitar quanto à atitude de Jesus diante de tal pedido sem precedentes da parte de gentios (cf. Mt 15.21-23). E rcal- mente o que Jesus disse foi m esm o algo diferente do que Filipe poderia ter imaginado. A ndré pode não ter sido um estudioso brilhante ou um grande pregador, mas sabia levar pessoas a Cristo (cf. Jo 1.40,41; 6.8,9).

Assim com o a declaração de fé do ccnturião abriu dian­te de Jesus a vista das multidões de gentios que haveríam de crer nElc (Ml 8.10,1 1), tam bém o pedido dos gregos era com o uma jan e la estreita através da qual Jesus via miríades de gentios chegando com o pedido: “Senhor, queríamos ver a Jesus” . Neste grupo de interessados sinceros, viu Ele as priinicias de um a grande colheita.

C om a chegada dos gregos, Jesus disse: “E chegada a hora cm que o Filho do hom em há de ser g lo rif icado .” Ou seja, ap rox im ava-se a hora em que, por m eio da cruz, atrairía a si todos os hom ens (v. 32), quando sua morte do lorosa c hum ilhan te fosse segu ida pela g lo riosa ressu r­reição. O que parecia ser um a vergonhosa derro ta era re ­a llocate a v itória sobre os poderes do mal.

Os fariseus tinham se queixado: “Eis aí vai o mundo após e le” . Realm ente, conform e João registra, a obra de Cristo estava se estendendo até limites nem im aginados por eles. Nações distantes com eçavam a perguntar por aquele que os fariseus rejeitavam.

A esta altura, esses gentios decerto se constituiriam em encorajam ento para o Mestre. Os fariseus, os saduccus, a

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ignorância, a inconstância, a covardia c a indiferença rcjei- tavanvno . E agora estes gregos, sem convite ou com bina­ção previa, im ploram o privilégio de serem apresentados a Ele. Seria com o um a fonte de água cristalina no cam inho de um viajante num deserto de areia quente.

A visita dos gregos traz à m ente do M estre a p lena lem ­brança do preço que teria de pagar pela salvação do m undo (v. 24). A ssim com o um grão de trigo precisa ser desfeito na terra antes de produzir fruto, tam bém o Filho do hom em precisa m orrer e ser sepultado antes de as almas crescerem, am adurecem e serem ceifadas. A vida divina em Jesus foi liberada cm proveito dos pecadores m ediante a sua morte.

Sem elhantem ente , os seguidores do Senhor, para serem frutíferos os seus esforços em prol da conversão do m u n ­do, não devem se apegar à sua própria vida (v. 25; cf. Mt 16.21-28). A com unhão com Cristo inclui “a comunhão com seus sofrim entos” (cf. 1 Pe 2.21-25; 4.1; Cl 1.24).

Leia o versículo 26. Ser discípulo de Jesus significa seguir a Jesus, e segui-lo significa andar pelo cam inho da cruz. Este caminho, no entanto, leva â glória. Os que c a r­regam sua cruz receberão a coroa.

E nsinam entos P ráticos

/. Uma visita real. Há dezenove séculos, a cidade de Jerusalém recebeu a visita do Rei dos reis. Enquanto Jesus foi atravessando as ruas, encontrou-se com várias ca tego­rias de pessoas, representando o povo todo - os discípulos que ficaram com Ele até o Calvário; os discípulos que lhe deram vivas, mas que depois o abandonaram ; a multidão que saudava: “H osana!” e, depois, “Crucifica-o!” ; no T e m ­plo, havia pessoas dedicadas a negócios que não m erecerí­am a aprovação de Jesus; c os oponentes, procurando le­vantar controvérsias.

Enquanto Jesus anda em triunfo por este mundo, no meio de que classe de pessoas Ele nos achará?

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2. O fracasso dos ímpios. “V cdc que nada aproveitais! Eis aí vai o m undo após e le” . H á um a profecia inconscien­te escondida nestas palavras, assim com o ocorre na inscri­ção de Pilatos e no conselho de Caifás (Jo 1 1.51). A ver­dade expressa nas palavras dos fariseus pode muito bem ter sido dirigida a perseguidores c descrentes de todos os tempos. Antes do reavivam ento wesleyano, m uitos homens cultos anunciavam a morte do Cristianismo, dcscrcvcndo- o com o uma religião do passado. O reavivam ento, no en­tanto, despertou a Igreja da sua frieza mortal, derrotando as vãs esperanças dos ímpios. Voltaire predisse, certa vez, que a Bíblia logo cairia cm descrédito; hoje, porém, no m esm o lugar onde os escritos deste filósofo eram impressos, g ran­des quantidades de Bíblias estão sendo produzidas. Antes da segunda vinda do Senhor, podem os ter a certeza de que os ímpios farão um ataque violento contra Cristo e sua religião, e, depois de tudo, ouvirão um a voz dizendo: “Vede que nada aproveitais! Eis aí vai o m undo após ele".

3. M orrendo para si m esm o e vivendo p ara Deus. D u­rante a sua vida na terra, o Filho de Deus exerceu influen­cia espiritual de grande alcance porque era poderoso em palavras c obras. Mas isto não foi nada com parado 'a ex ­tensão do seu Reino a partir da sua morte e ressurreição. Os resultados da sua obra surgiram não tanto do seu fazer, e sim do morrer.

Talvez não tenham os a oportunidade de selar o nosso testem unho com o nosso sangue; m esm o assim, há o m or­rer para o pecado, o próprio-eu e o mundo, que é essencial à fruição espiritual. Pensar em m orrer talvez não seja agra­dável, mas devem os tam bém pensar na recom pensa.

3 .J . A m orte é o cam inho da glorificação. Foi assim na carreira de Jesus. Carregou a cruz antes de vestir a coroa. E verdade que o Filho de Deus sem pre era glorioso, mas, ao aceitar a natureza hum ana para sofrer a morte expiatória,

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recebeu nova glória diante dos olhos de todos, no Céu c na terra.

Em certo sentido, temos de m orrer a eada dia, a fim de que a be leza e o poder de Cristo sejam revelados em nós. Respeitam os aqueles que fizeram grandes coisas na causa de Deus, e às vezes desejamos saber o segredo do seu poder. Lendo suas biografias, ficam os sabendo que a explicação da sua exem plar vida com Cristo foi atingida mediante o m orrer para si m esm o (cf. 2 Co d. 10-12).

3.2. A m orte é a cura da solidão. O grão de trigo, se não morrer, “fica ele só” . H á pessoas que se queixam da solidão, e atribuem o fato a várias causas. Em muitos casos c devido ao fato de terem elas vivido para si m esm as, c não para seu próxim o. Não se sem eou na sepultura da abnega­ção diária.

3.3. A m orte é o cam inho para a fru ição . "M as se morrer, dá m uito fru to” . A fruição na vida espiritual vem com o resultado do negar-se a si m esm o. Sc querem os salvar aos outros, não devem os procurar salvar-nos a nós m esm os. Se querem os fazer o precioso perfum e de Cristo espalhar-se pelo m undo, devem os aceitar o papel de vasos quebrados. Os galhos mais frutíferos são aqueles dos quais foram re­tirados os brotos desnecessários pela m ão firme do podador, para que a seiva se acum ulasse nas gem as vegetativas que depois produziríam frutos.

3.4. A m orte é a p o rta p a ra a vida. “Q uem am a a sua vida perdê-la-á, c quem neste m undo aborrece a sua vida, guardá-la-á para a v ida e terna.” A v ida não c errada, não c pecado; mas o apego à vida pode se constituir cm pecado. É um desperdício, um a perda, dedicar nosso am or só a esta vida, porque ela se perde; cada pessoa tem certa quan tida­de de tem po, energia, saúde, e som ente a parte dedicada às coisas espirituais tem valor eterno; p reservar a vida terres­tre, a troco de negar ideais eternos, dc nada vale; nosso

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am or nao dcvc ser desviado das coisas eternas para a vida terrestre.

4. () d ever e o destino. No versículo 26, Cristo dá um resum o facilm ente assimilável do dever c destino da vida.

4.1. O d ever da vida. “Sc alguém mc serve, siga-m e” . Não há dúvida na m ente de ninguém quanto a seguir Cristo no sentido de praticar as virtudes que Ele ensinou. Aqui, porém , Cristo tem em vista o segui-lo pelo cam inho da cruz. O essencial no diseipulado é negar-se a si m esm o em total consagração a Deus, e cm prol do seu próxim o. A cruz é a expiação pelos nossos pecados e exem plo para nossas vidas. Não pregam os um Evangelho com pleto se não incluímos am bos os aspectos.

Como, porém , a frágil natureza hum ana atingirá as al­turas para onde o Eilho de Deus quer nos levar? Jesus d is­se: “S iga-m e” . O poder de obedecer à lei de Cristo provém de amá-lo. Cristo nos ajuda a fazer aquilo que nos mandou fazer.

“Sc alguém me serve” . O Senhor se refere á oração e ao culto? Refere se aos atos de benevolência para com os que têm necessidades espirituais ou materiais? Estas coisas estão incluídas, porém mais profundo c fundamental é confor­m ar nosso caráter ao dEle. Enquanto crescerm os segundo a sua semelhança, não faltaremos em nenhum ato de culto ou benevolência.

4.2. () destino da vida. “O nde eu estiver, ali estará tam ­bém o meu servo” . Quem segue a Cristo, mais tarde pas­sará a ficar para sem pre com Ele; quem anda no m esm o caminho, chegará ao m esm o destino. Cristo é a recom pen­sa por todas as tristezas, todos os esforços, todas as dores, toda a nossa vida de peregrinos (Fp 1.21,23).

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Jesus, o Servo

T exto: J o ã o 1 3 .1 -2 0

Introdução

L eia F il ipenses 2.1-1 1. H avia a lg u m as p equenas dis- sensõcs na ig re ja de F il ipos. A lguns dos seus m em bros es tavam fazendo as co isas po r inve ja e porfia , po r d is ­córdia, in s in ceram en te . F a ltava-lhes u m a a titude m en ta l hum ilde , pois não e s tav am sabendo co n s id e ra r “os o u ­tros superio res a si m e sm o ” . Para co rr ig ir esta cond ição , Pau lo c o lo co u d ian te de les o ex em p lo de Jesus , que “ sendo em fo rm a de D eus não teve por usu rpação o ser igual a Deus, mas an iq u ilo u -se a si m esm o , to m an d o a fo rm a de se rv o ” .

As p a lav ras dc P au lo são o c o m e n tá r io in sp ira d o do in c id e n te d esc r i to no tex to em pau ta . E s tam o s v en d o Jesus , S e n h o r c M es tre , fazendo com c o n d e s c e n d ê n c ia a ta re fa m a is servil, d an d o ass im e x e m p lo de se rv iço h u m ild e e am o ro so a todos os seus seg u id o res , em to ­dos os séculos. Ao narra r este inc iden te , o apósto lo João

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e s tá d iz e n d o a c a d a um de nós: “D e so rte q u e h a ja cm vós o m e sm o sen t im en to q u e h o u v e tam b ém em C ris to J e s u s ” .

I - P reparando-se para a A ção (Jo 13.1,2)

1. A ocasião. 1) “Ora, antes da festa da p áscoa” . Logo a seguir, m ilhares dc cordeiros estariam sendo sacrificados, cm com em oração ao dia em que a aspersão do sangue nas vergas e nas om breiras das portas redimiu o povo de Deus do castigo que caiu sobre o Egito - uma noite que marcou a sua redenção e o com eço da sua existência com o nação. Foi um a ocasião apropriada para o sacrifício do Cordeiro de Deus que tais sacrifícios profetizavam. 2) “Sabendo Jesus que já era chegada a sua hora dc passar deste m undo para o Pai” . A leitura dos Evangelhos nos leva a perceber que a vida do Senhor foi regulada de acordo com um program a divino, de tal m odo que muitas vezes a ira dos seus inimi­gos nada podia contra ele, porque “ainda não era chegada a sua hora” (Jo 7.30; cf. Jo 2.4; Lc 22.14). 3) “E, acabada a ceia” . A lavagem dos pés, um dever com um da hospita­lidade naqueles tempos, era feita no início das refeições. Por causa do grande calor, usavam -se sandálias abertas, e a poeira das estradas sujava os pés dos viajantes. Quando a pessoa chegava de visita, o hospedeiro mandava um escravo remover as sandálias do visitante, lavando-lhe os pés, elimi­nando assim a sensação desagradável da poeira quente.

2. A negra tra ição . “T endo j á o d iabo posto no co ra ­ção dc Judas Iscario tes, filho de Sim ão, que o tra ísse” . C ris to sabia disto, mas, m esm o assim, não o denunciou aos outros, sua única arm a era o amor. Na pessoa dc Judas, a expressão m áx im a do ódio do m undo vem con tra Ele, e sua resposta é a bondade. L ava os pés dc Judas ju n ta m e n ­te com os dos outros discípulos, e, no jard im , quando Jesus recebe dele o beijo tra içoeiro , o cham a dc “a m ig o ” . C ris ­to tem com paixão pelo m ise ráve l tra idor que vendeu, não

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a Ele, c sim a sua própria alma! Neste contexto, o relato da traição serve com o pano de fundo para o inefável am or de Cristo.

d. O a m or constante. “T endo am ado os seus que esta­vam no m undo, am ou-os ate ao fim ” . Se já existiu um hom em no m undo com justos motivos para preocupar-se com seus próprios assuntos, este era o Senhor Jesus. A som bra negra da traição, da fuga dos discípulos, da conde­nação e da crucificação eram um peso para a sua alma; ele, porém, preocupava-se apenas com o bem-estar dos seus d is­cípulos. D esconsiderava seus próprios fardos a fim de en ­corajar os discípulos c prepará-los para as provações dos próxim os dias.

4. O p a n o de fu n d o desalentador. A atitude dos apósto­los nesta ocasião ajuda a ressaltar e explicar a ação de Cristo cm lavar os pés dos seus seguidores, assim com o o veludo preto dá realce à beleza de um brilhante. Por que ninguém tinha se oferecido para lazer este trabalho? Lucas nos in ­forma que, jus tam ente na época da Ultima Ceia, “houve tam bém entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o m aior” (Lc 22.24). Se qualquer um deles se tivesse ofere­cido para lavar os pés dos demais, teria se colocado na posição de servidor dos outros - exatam ente o oposto do que cada um deles queria! Estavam procurando um servo - c acharam! (cf. Jo 13.4,5; Mc 10.45). O Senhor viu que seus mais íntimos seguidores não estavam cm condições de participar da Santa Ceia e de escutar suas últimas pala­vras solenes antes de ser levado para a cruz; o espírito de cada um deles estava cheio de vis am bições c ciúmes. Algo de drástico devia ser feito para limpar seus corações tão manchados. É aí que passa a lavar-lhes os pés.

II - A A ção Levada a E feito (Jo 13 .4 -11)

1. A condescendência de Cristo. “Levantou-se da ceia, tirou os vestidos, e, tom ando um a toalha, cingiu-sc. Depois

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deitou água num a bacia, e passou a lavar os pés aos d iscí­pulos, c a enxugar-lhos com a toalha com que estava cin- g ido” . O Senhor levou a efeito esta tarefa servil em plena consciência da sua majestade divina - “Sabendo que o Pai tinha depositado nas suas m ãos todas as coisas, c que ele h a v ia sa ído de D eus e ia p a ra D eu s” . E s te inc iden te exem plifica a obra redentora de Cristo. Tirou a vestimenta, assim com o já se despojara da sua glória celestial; sua condescendência em lavar os pés aos discípulos c uma ilus­tração da hum ilhação de si m esm o a fim de purificar os hom ens pecadores; a ação de tom ar as vestes de novo re­presenta a sua volta à sua glória celestial.

2. A surpresa de Pedro. Pedro ficou olhando boquiaber­to enquanto seu Senhor c M estre abaixava-se para lavar- lhe os pes sujos. Finalmcntc, recuando os seus pes, conse­guiu exclamar: “Senhor, tu lavas-m e os pés a m im ?” Estas palavras dem onstram a reverência dos d iscípulos para com o Mestre. Não podiam suportar a idéia da troca da posição entre M estre e servo. Foi um choque para eles — c era o que Jesus queria, pois pretendia ensinar-lhes um a lição ines­quecível.

3. A exp lica çã o de C risto . “ O que eu faço não o sa ­bes tu agora , m as tu o saberás d e p o is .” A h es i tação de Pedro foi tra tad a com o a de Jo ão Batista: “Eu é que p rec iso ser ba tizad o por ti, e tu vens a m im ? ” , d isse o Batista . “M as Jesus lhe re sp o n d eu : D eixa p o r enquan to , p o rq u e assim nos co n v ém cu m p rir toda a ju s t i ç a ” (M l 3 .14 ,15). Jesus da rá as e x p lic açõ es depois; o im p o r tan te é de ixá-lo fazer a sua obra.

4. A p resu n çã o de Pedro. C om típica im puls iv idade , Pedro exclam ou, sem pensar: “N unca m c lavarás os p é s” (et. M t 16.22). Esta expressão de obstinação, o rgulho e ju s t iç a p róp r ia era um duplo golpe contra Cristo: 1) Era con trá ria ao esp ír ito da obra exp iado ra de Cristo . Pedro não queria saber de nada que não estivesse à a ltura da

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dign idade pessoal de Cristo; se, porém , achava que Jesus não devia se abaixar para lim par-lhe os pcs, teria tam bém de aehar que Jesus não dev ia passar pe la ignom ín ia da cruz para lim par-lhe a alma. 2) Era con trá ria ao senhorio de Cristo: C risto não pode ser Senhor, se seu discípulo ousa dizer-lhe: “Tu nunca farás ass im ” . O requisito pri­m ário do d iscípulo é a en trega de si m esm o ao seu M es­tre. N a prática, Pedro d iz ia ao seu Senhor: “Seja feita não a tua vontade, mas a m in h a” .

5. A advertência de Cristo. "Se eu te não lavar, não tens parte com igo” . Os que não querem se entregar ao Mestre em atitude de am orosa obediência não podem pertencer à com panhia dos seus. Pedro não poderia participar da Últi­m a Ceia antes de passar por aquela experiência que lhe ensinaria a humildade.

6. Pedro se entrega. “Senhor, não só os meus pés, mas tam bém as mãos e a cabeça” . Pedro, a larm ado com esta am eaça de exclusão, vai rap idam ente ao outro extrem o e, com a m esm a im pulsiv idade de antes, oferccc-sc para um a lavagem inteira, com o se dissesse: “Se o discipulado de­pende da lavagem, podes mc lavar o quanto qu iseres” . Pedro, com suas emoções e impulsividade, sempre deixava sua língua eolocá-lo em situações difíceis. Se tivesse sabi­do ficar quieto, deixando Cristo levar a sua obra adiante, sem interferências e sugestões suas, feitas com o se tivesse sabedoria superior, a situação teria sido bem melhor. A Pedro faltava ainda a lição de mciguicc e hum ildade; ha ­via, no entanto, por detrás da im pulsiv idade de Pedro, fer- vente am or pelo seu Mestre — c Jesus bem sabia disto.

7. C risto tranqüiliza os discípulos. “A quele que já está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.”

7.1. A ilustração. Q uem saísse de casa para visitar al­guém, tendo se banhado c vestido da m elhor m aneira pos sívcl, sujaria os pcs pelo cam inho, mas, ao chegar á casa

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do hospedeiro , som ente precisaria lavar os pés, c não de um banho completo.

7.2. A explicação. Jesus sabia que seus discípulos esta­vam cspiritualm ente lim pos m ediante seu m inistério (Jo 15.3) e que, nos seus corações, am avam -no. No entanto, a am bição apcgara-sc a eles pelo caminho, e Cristo, tom ando a bacia c a toalha, estava mais interessado em limpar os sentim entos de orgulho, que estragariam a espiritualidade da reunião de despedida, do que cm lavar os pés. Não se recusava a com er com os que não se lavavam devidam ente (M t 15.1,2), m as não podia aceitar cear no meio dos discí­pulos enquanto estes olhavam com ódio uns para os outros, recusando-se a conversar e demonstrando de todos os modos possíveis m aldade c am argura de espírito. A lavagem dos pés redundou na lavagem dos corações; o grupo de ho­mens orgulhosos e ressentidos voltou a ser a com panhia de discípulos hum ildes e am orosos, lí assim que o Espírito de Cristo continua operando nos corações hum anos!

7.3. A aplicação. Pessoas salvas (“lim pas” ) podem co ­llier várias form as de im undícias do m undo por onde vão passando; portanto, precisam da lavagem diária dos pés, ou seja, precisam do perdão de Cristo pelas atitudes e ações m undanas que praticam no am biente do m aligno.

Q uando Cristo fez a ressalva: “Nem todos estais lim ­pos” , era porque Judas, por mais limpos que seus pés es­tivessem após a lavagem, não tinha deixado Cristo limpar seu coração.

I I I - O Sign ificado da A ção (Jo 13 .12 -17 )

7. D evem os considerar sua ação. "Depois que lhes la­vou os pés, c tom ou os seus vestidos, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Vós m e cham ais M estre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou” . Com estas palavras Jesus prepara o cam inho para

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Jesus, o Servo 1 67

inculcar o sentido espiritual da lição prática que acabara dc dar; faz os discípulos cônscios de que sua ação não fora um esquecim ento da dignidade da sua posição, e sim um a dem onstração real da sua natureza de Filho de Deus e Salvador.

2. D evem os segu ir o sen exem plo. “O ra se eu, Senhor c Mestre, vos lavei os pés, vós deveis lam bem lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exem plo, para que, com o eu vos fiz, façais vós tam bém . Na verdade, na ver­dade vos digo que não é o servo m aior do que seu senhor, nem o enviado m aior do que aquele que o env iou '7. C om estas palavras Jesus tira as desculpas dc qualquer discípulo que im agina ser im portante dem ais para fazer qualquer hum ilde serviço. Se o Senhor c Mestre deixou dc lado sua posição de dignidade e honra para servir hum ildem ente , qual servo que poderá recusar-se a tomar a m esm a atitude? Assim com o ele disse a Pedro: “Se eu te não lavar, não tens parte com igo” , tam bém queria que os discípulos en ­tendessem que, recusando-se a lavar os pés uns aos outros, recusando-se a servir uns aos outros cm amor, não leriam parte com ele.

Lavar os pés aos irm ãos significa servi-los em hum ilda­de c am or (cf. A t 20.35; Rm 12.10; 15.1-3; 1 Co 9.22; G1 5.13; 6.1,2). Jesus quer dizer que devem os estar dispostos, com o nosso Mestre, a deixar dc lado os nossos direitos c privilégios e nossa preocupação com as honras que quere­mos receber dos outros, e, vestindo a hum ildade e o amor, trabalhar para tirar nosso próxim o do lamaçal dc infortúni­os cm que o pecado o m ergulhou.

Pedro, nas suas Epístolas, faz frcqüenles alusões a a lgu­mas das suas experiências narradas nos Evangelhos. Por exemplo, com pare 1 Pedro 5.8 com Lucas 22.31,32 c 1 Pedro 5.2 com João 21.15-17. É muito provável que Pedro tivesse cm m ente o incidente da lavagem dos pés quando escreveu aos cristãos: “Sem elhantem ente vós, mancebos.

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168 Joao, o E va n g e lh o do Filho de D eus

scdc sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, c revesti-vos de hum ildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos hum ildes” (1 Pc 5.5). No grego original, a pa lavra traduzida po r “cingir” provém de um term o que descreve o avental usado pelos escravos em ser­viço, de m odo que se pode interpretar assim a expressão; “Vistam o avental da hum ildade para servir uns aos ou ­tros” . Foi exatam ente isto que o Senhor Jesus fez quando lavou os pés aos discípulos.

3. O ga lardão de quem segue o seu exem plo. “Sc sabeis estas coisas, bem -aventurados sois se as fizerdes” (v. 17). U m a coisa é ficar em ocionado com a história do evange­lho, ser tom ado de adm iração pelo exem plo consistente de Cristo c pela sublim idade dos seus ensinos; outra coisa, c bem mais difícil, c sair no m eio do m undo ím pio e m ate­rialista e Jazer tudo quanto aprendem os de Jesus. A m aio­ria das pessoas sabe mais do que real mente põe cm prática; devem os, portanto, transform ar nossa adm iração por Cristo em imitação de Cristo. A verdade brilha mais quando é vivida do que quando apenas form ulada em palavras. So­mente ã m edida que vivem os a verdade é que podem os transform á-la cm rea lidade pa ra nós m esm os e para os outros.

IV - E nsinam entos P ráticos

/. R espeitando Cristo com o Senhor. Pedro, ao excla­mar: “N unca me lavarás os p é s” , estava fazendo do seu próprio raciocínio c consciência a regra suprem a da sua conduta, violando assim o princípio de obediência que re­quer que a vontade do Senhor, um a vez conhecida a nós, seja suprem a em nossas vidas, quer com preendam os sua razão de ser e seus motivos justos, quer não. O princípio da disciplina m ilitar - “O bedeçam às ordens e façam as per­guntas depois” - tam bém pode ser aplicado à v ida cristã.I lá muitas coisas nos ensinos de Cristo que parecem , à

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Jesus, o Servo 1 69

prim eira vista, contrárias à razão c im possíveis de ser p ra ­ticadas. Sc fôssem os tom ar a atitude de Pedro, diriamos a Cristo que Ele não deveria ensinar doutrinas tão místicas ou fixar padrões de conduta tão idealistas. Q uando Pedro recebeu, em época posterior, um a ordem divina que, se­gundo lhe parecia, contrariava a Lei de Moisés, respondeu: “ De m odo nenhum , Senhor” (Al 10.14), sem perceber que a expressão “de modo n enhum ” não condiz com a palavra “Senhor” . Cristo é nosso Senhor exatam ente até onde lhe obedecem os implicitam ente; desobedecer-lhe é deixar de considerá-lo Senhor. N ão devem os temer: se obedecerm os às suas ordens, Ele tom ará a responsabilidade pelos resu l­tados, e nós não perderem os o galardão.

2. A hum ilhação de C risto - pedra de tropeço p ara muitos. Assim como Pedro achava que a exaltada posição de Cristo não condizia com o hum ilde serviço de lavar os pés, há m uitas pessoas que acham inaceitável Deus ter chegado a nós na Pessoa de seu Filho para sofrer hum ilha­ção, rejeição e morte a fim de salvar a raça humana. Tal conduta, pensam , não condiz com a majestade divina. A resposta para tais c a m esm a que Pedro recebeu: “Se eu tc não lavar, não tens parte com igo” . Sc não aceitamos a obra expiatória de Cristo, que inclui sua hum ilhação, seus sofri­mentos e a sua morte, não há nenhum a lavagem de rege­neração para nossa salvação.

3. A purificação é essencia l à com unhão. “Sc eu te não lavar, não tens parte com igo” . Som ente ao reconhecer que precisam os ser purificados, e ao perm itir que Ele nos p u ­rifique, é que conseguim os ter com unhão com Cristo e uns com os outros: “Mas, se andarm os na luz, com o ele na luz está, tem os com unhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1.7). Q uem quiser sentar-se à m esa com Cristo precisa ser l im ­po. C om o os discípulos, entra no ecnáculo com a poeira do mundo, m as deve permitir que Jesus purifique a sua alma de toda mancha.

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170 João, o E vange lho do Filho de D eus

4. O gracioso ju lg a m en to de Cristo. “Vós cslais lim­pos” , disse Cristo a um grupo de hom ens imperfeitos, que m om entos antes tinham sobre si a im undícia da am bição e dos motivos indignos, e que continuavam com as m anchas das imperfeições. Cristo não confunde as m anchas m om en­tâneas com a habitual impureza, nem a m ancha parcial com a im pureza total. Entende a d iferença entre a verdadeira apostasia e um sentim ento passageiro que por uns m o m en ­tos perturba a com unhão. Não sentencia que caímos da sua graça porque cometemos um pecado, expulsando-nos da sua presença. Não! conhecendo o nosso coração, e reconhecendo que fomos completamente limpos pela regeneração, leva-nos a entender que os nossos pés — que representam o nosso ca­minhar diário - precisam ser lavados. O que mais tarde acon­teceu a Pedro, que tornou necessário que Cristo lhe lavasse os pós, de modo espiritual? (cf. Ml 26.69-75).

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Jesus nos Dá o Consolador

T exto: J o ã o 14

Introdução

No íim da Ultima Ceia, Jesus disse aos discípulos que a hora da sua partida estava próxima, que estava para ir a um lugar que, por enquanto, estaria fora do alcance deles. Tristeza e desespero tomaram seus corações, enquanto imaginavam quão indefesos c solitários ficariam sem Ele. Nos capítulos 14 a 16, vemos Jesus, o M edico das almas, receitando a cura para sua condição dcsoladora. A cura para os corações perturbados é receitada cm João 14. E3. A cura para a sen­sação de desam paro c solidão c definida nos seus ensinos a respeito do Consolador, que nos demonstra a vida de Jesus e que é a força que em presta capacidade à nossa vida.

I - O A ju dad or V indouro (Jo 14.16,17)

Os discípulos temem ser abandonados com a ausência de Cristo; tem em ficar sem condições para enfren tar o mundo, m as ele os tranqüiliza com a p rom essa da vinda do Espírito, para ficar com eles durante a sua ausência.

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172 João, o E vange lho do Filho de D eus

/. O E sp írito e o Pai. “ E eu rogarei ao Pai, c ele vos dará outro C o n so lad o r” . A pa lav ra orig inal traduz ida por “ro g a r” dá a en tender a ap resen tação dc um desejo ou ped ido dc igual para igual; a p a lav ra denota o sen tido dc ap rox im ação e p resença, e descreve a obra m ed iado ra de C ris to na p re sen ça do Pai. Sugerem -sc , ine idcntalm entc , três lições: 1) A d iv indade de Cristo. Pede a D eus, cm term os de cond ição dc igualdade, que o Espírito Santo seja doado à hum anidade . 2) A Trindade. T ra ta -se aqui das três Pessoas Divinas: C ris to roga ao Pai, e Ele envia o C o n so lad o r D iv ino . 3) O E sp íri to é um a dádiva, ou doação: "Ele vos da rá” . O Espírito é oferecido com o dom, e não com o priv ilég io que pode ser m erecido p o r m eio dc obras ou m éritos. A obed ien te fé é a m ão vazia estend ida que aceita o p resente .

2. O E sp ír ito e C risto . O E sp ír i to é c h a m a d o de “C onso lador” que, no original, tem o seguinte significado: “alguém cham ado para ficar ao lado de uma pessoa para ajudá-la dc qua lquer modo, m orm ente em processos civis e p en a is” . O Espírito, portan to , vem com o A judador e Advogado, preenchendo as necessidades dos apóstolos, que se sentiam fracos e indefesos ao pensar na partida de Cris­to. E cham ado de “outro” Consolador porque seria, de modo invisível e espiritual, aquilo que Cristo tinha sido para eles de m odo visível e literal durante três anos e m eio de con­vívio. Hoje, o Espírito é para os crentes o que Jesus de N azaré era para os apóstolos.

3. O E sp ír ito e os d isc íp u lo s. Qual o re la c io n am en to do Espírito co m os d iscípu los? 1) Perm anecería pa ra sem ­pre com eles, em co n tra s te com a b reve v ida dc C ris to na terra, entre eles. 2) “ Vós o conheceis, porque ele habita c o n v o sc o ” . A p rep o s ição “c o m ” tem o sen tido de c o m u ­nhão. Os d isc ípu los , m ed ian te o con ta to p e sso a l com C ris to e o re c eb im e n to do p o d e r m ilag roso (M t 10.1), co n h ec iam as m an ife s taçõ es do E sp íri to Santo . A partir

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Jesus Nos Dá o Conso lador 173

do dia dc P cn tecos lcs , o E sp íri to hab itava neles em toda a sua p len itude , dc um m odo que nunca hav iam ex p e r i­m entado . “E es ta rá cm vós" (cf. Jo 7 .39). O E sp íri to de C ris to não p o d ia es ta r ne les en q u an to e s tivesse cm p e s ­soa com eles. Foi po r isso que Jesus disse: “C onvém que eu vá" (16.7), m uito e m b o ra en q u an to C ris to , cheio do Espírito , p o d ia -se d izer que o Espírito tam bém estava v ivendo “com eles" .

4. O E sp írito e o m undo. Os nom es dados ao Espírito revelam os seus vários ofícios. Por exem plo , quando é cham ado de Espírito “S an to” , há especial refe rência à sua o b ra san ti f icad o ra ; q u ando é c h am ad o o E sp ír i to “dc Deus", refere-se ao lato dc ter vindo da parte dc Deus; quando é cham ado o “C onsolador” , pensam os no seu papel dc R epresen tan te de Cristo. No versícu lo 17, é cham ado o “ Espírito da verdade", ou seja, aquele que nos ensina a verdade acerca de Deus. Ele está p ronto a ensinar a todos. No caso daqueles que de libe radam ente fecham os olhos e endurecem os seus corações, ap licam -se as palavras: “que o m undo não pode receber, po rque não o vê nem o co ­nhece". H om ens m undanos, que co n s id e ram as coisas visíveis a única realidade, não d iscernem nem en tendem as operações do Espírito (cf. 1 Co 2.14).

II - O Senhor Presente (Jo 14 .18-24)

/. A p rom essa da m anifestação espiritual.1.1. A volta espiritual. “ Não vos deixarei órfãos". Nos

seus discursos de despedida, o Senhor trata os discípulos com o um pai trata seus filhinhos (Jo 13.33). V endo seus rostos tristes (Jo 16.6), prom ete-lhes que não ficarão sem os seus cuidados paternais. Tranqüiliza-os, dizendo: “ V ol­tarei para vós” . Neste contexto, as palavras de Cristo refe- rem -se principalm ente á sua m anifestação espiritual entre eles e à com unhão através do C onsolador (cf. v. 21).

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174 Jotw , o E va n g e lh o do Filho de Deus

1.2. A visão espiritual: “A inda um pouco, c o mundo não m c verá mais, m as vós m e vereis” ; o prim eiro cum pri­m ento destas palavras deu-se quando Jesus apareceu aos discípulos, depois da ressurreição (At 10.41), c o cum pri­m ento mais p rofundo refere-se à revelação de Jesus aos seus cm m anifestação espiritual (cf. G1 1.16).

1.3. A vida espiritual. “Porque eu vivo, e vós vivereis” . M ediante a m anifestação do Espírito Santo, terão plena certeza de que Ele vive no Ccu, e esta certeza lhes servirá de garantia de que, agora e para todo o sempre, gozarão a vida eterna. A certeza da im ortalidade não p rovém de a r­gum entos abstratos, c sim do contato vital com o Espírito de Cristo. O especialista em lógica pode dizer: “ M inha conclusão é a de que certam ente deve existir a vida futu­ra” ; mas aquele que tem o Espírito pode dizer: “Tenho a verdadeira sensação da vida e terna” .

1.4. O conhecim ento espiritual. “Naquele dia conhecereis que eu estou cm m eu Pai, e vós cm mim, e eu em vós” . Os discípulos tinham sentido dificuldade para en tender as re­ferências quanto ao re lacionam ento de Cristo com o Pai, e ao re lacionam ento deles com Cristo; depois da vinda do Espírito da V erdade, no entanto , com preenderíam tudo, com o se vê no testem unho nítido de Pedro, no Dia de Pen- tccostcs (At 2.33,36), dia que Jesus profetizara com a se­guinte expressão: “Naquele d ia” . O derram am ento do Es­pírito foi com o um grande holofote que iluminou com cla­reza m erid iana o terreno que tinha estado escuro aos olhos.

2. A condição prév ia de ta l m anifestação espiritual.2.1. A declaração. “A quele que tem os m eus m anda­

m entos e os guarda, esse é o que m e ama; c aquele que me am a será am ado de m eu Pai, c eu o amarei, e m e m anifes­tarei a e le” . A m edida que os discípulos dem onstram seu am or por meio da obediência, Cristo revela-se a eles, no íntim o da sua consciência (cf. A p 3.20).

2.2. A p erg u n ta . “D isse - lh e Judas (não o Iscario tes): Senhor, d onde vem que tc hás de m an ife s ta r a nós, e não

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Jesus Nos Dá o C onso lador 175

ao in u n d o ?” Judas, com o os dem ais , d em orou a e n te n ­der o sen tido esp ir itua l das pa lav ras de Cristo . Sab ia que Jesus e ra o M essias , e que p ro fec ia s anu n c iav am que ele viria de m odo v isíve l aos ho m en s , m as não en ten d ia a reve lação de Jesus a apenas a lgum as poucas pessoas.

2.3. A resposta . “Jesus respondeu , c d isse-lhe : Se a l ­guém m e am a, gu a rd a rá a m inha pa lav ra , e m eu Pai o am ará, c v irem os para ele, e farem os nele m orada . Q uem m e não am a não gua rda as m inhas pa lav ras ; ora, a p a la ­vra que ouv is tes não é m inha , m as do Pai que m e e n ­v io u ” . Judas não co n seg u ia en ten d e r que o M estre e s ta ­va fa lando de um a m an ife s tação esp ir itua l, e não da sua im ed ia ta m an ife s tação pessoal c física. S o m en te as p e s ­soas que f icassem “em h a rm o n ia ” com Ele, m ed ian te a obed iênc ia , esta riam cm co n d içõ es de recebe r tal m an i­festação. D esta forma, o m undo em geral seria exclu ído (cí. v. 17).

III - O E nsinador D ivino (Jo 14.25,26)Cristo poderia ter dado mais explicações, mas os d iscí­

pulos não estavam espiritualm cntc em condições de en ten ­der tudo quanto Jesus queria ensinar-lhes no pouco tempo que ainda sobrava. Para explicações adicionais, fez re fe ­rencia ao Ensinador que estava por vir - o Espírito Santo, que daria um testem unho inspirado das palavras de Jesus: “T e n h o -v o s dito isto, e s ta n d o c o n v o sco . M as aq u e le Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em m eu nome, esse vos ensinará todas as cousas [o que levou à escrita das Epístolas], c vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito [o que levou à escrita dos E vangelhos]” .

IV - A Paz Q ue Perm anece (Jo 14.27,28)1. A bênção prom etida. “ Deixo-vos a paz, a m inha paz

vos dou: não vo-la dou com o o m undo a dá” . A paz c a íntima segurança da alma, baseada na reconciliação com

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1 76 João, o E va n g e lh o do Filho de Deus

Deus. Cristo j á obteve para nós esta paz. Note que Ele disse: “m inha paz” . A pesar das tristezas, tentações c persegui­ções que enfrentou neste mundo, para o nosso eterno bem, Ele sem pre levava consigo a sua própria paz. N ossa expe­riência neste m undo pode ser assim, também.

2. A bênção dada. Foi deixada com o herança de Cristo na sua partida, no seu último testam ento, assinado e selado com o seu próprio sangue. E um a dádiva, c não algo como o salário do nosso trabalho, fruto do nosso esforço. D esfru­tam os dessa herança à m edida que a aceitamos pela fé.

3. A bênção com parada. “N ão vo-la dou com o o m un­do a dá” . A saudação com um daqueles dias era: “Paz seja con tigo” . O Senhor, no entanto, rcalm cntc estava dando a paz, c não apenas a desejando para alguém . Era a paz que o m undo não pode en tender nem oferecer, pois a única paz que o m undo conhece é a que se vincula á prosperidade financeira, que qualquer reviravolta pode destruir. A paz de Deus, entretanto, independe de circunstâncias ex terio­res; conserva o coração livre das preocupações m esm o cm meio às dificuldades.

4. A bênção aplicada. Essas últimas palavras talvez te­nham feito com que os d iscípulos m ostrassem tristeza, pensando na separação; então, o Senhor disse: “Não sc turbe o vosso coração, nem se atem orize. Ouvistes que eu vos disse: Vou, e volto para vós. Se m e amásseis, certam ente exultarieis por ter dito: Vou para o Pai; porque o Pai é m aior do que eu ” . Estas palavras não d im inuem a verdade sobre d ivindade de Cristo; rea lm enlc a ensinam, porque ne­nhum hom em teria a necessidade de declarar que o Deus Onipotente é m aior do que ele. Por exemplo, um filho adulto pode ser considerado igual a seu pai, sendo participante da m esm a natureza; da m esm a forma, Cristo é igual ao Pai por participar da perfeita natureza divina. No entanto, por ser Pilho, ocupava um a posição de subordinação enquanto vivia na terra (cf. 1 Co 15.28). O propósito prático das

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Jesus Nos Dá o C onso lador 177

palavras de Jesus era oferecer aos discípulos a certeza de que a partida de Cristo redundaria na extensão da sua obra redentora, porque, no Céu, Ele participaria da onipotência do Pai.

V - E nsinam entos P ráticos

1. O C risto Vivo. Pessoas há que reconhecem perfeito o caráter de Cristo, adm iram a m oralidade ensinada por Ele e desejam seguir os seus passos. A lgum as, no entanto, têm dificuldade em crer no Cristo realm ente vivo aqui e agora, p ron to a socorrê-las esp ir itua lm ente . A ccilam -no com o Ensinador, com o aquEle que m ostra o cam inho para Deus; precisam, no entanto, aceitá-lo com o Salvador, como aquEle que lhes dá as forças necessárias para trilhar aquele cam i­nho. Para ser verdadeiram ente salvo, o hom em deve achar a conexão entre si m esm o c Deus.

Sem dúvida, o form alism o que im pera cm muitas partes da cristandade tem levado muitos a duvidarem do real poder do Cristianismo. As igrejas precisam de um poderoso ba ­tismo de força espiritual que fará com que Cristo seja re­cebido com o viva realidade nas almas hum anas. Então, as igrejas voltarão a ter o fu lgor perdido do Cristianismo.

2. E xperim entando a d ivindade de Cristo. Muitas obras teológicas têm sido escritas para com provar a divindade de Cristo, c estas têm certa utilidade; mas, apesar de tudo, c a experiência cristã que m elhor nos ensina a doutrina cris­tã. O re lacionam ento que existe entre o Cristo c o Pai c algo de que podem os tom ar consciência: “ N aquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós cm mim, e eu cm vós” .

Um pregador simples, m orador de um a zona rural, com pareceu diante da com issão de ordenação, e perguntaram lhe: “C om o sabes que Cristo é d iv ino?” Respondeu ele: “Que dúvida! Ele me salvou a a lm a!” E a resposta valeu

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I 78 Joãn, o /■A'tinf’etho <lo h ilho de D eus

tanto quanto a m elhor definição que um teólogo poderia dar. O que Cristo faz c a melhor indicação de quem Ele é.

d. A am orosa obediência é o cam inho da experiência espiritual. “Se a lguém me ama, guardará a m inha palavra, e meu Pai o am ará, c viremos para ele, e faremos nele m orada” . Esta foi a resposta à pergunta de Judas, que que­ria saber com o Jesus podia ser visível aos seus discípulos, sem ser visível ao m undo em geral.

Jesus estaria p resente cspiritualm cnle após a sua ressur­reição, mas som ente o m agnetism o de um coração am oro­so poderia atrair tal presença. Q uando se trata de ver e entender a Cristo, um ato de am orosa obediência vale mais do que muitas horas de especulação c considerações filosó­ficas: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela m esm a doutrina conhecerá sc ela é de Deus, ou se eu falo de mim m esm o” (Jo 7.17).

4. “Que o m undo não pode receber''. O m undo pode receber e dar valor a muitas coisas boas na natureza, na arte, na literatura, na conduta hum ana - , mas, m esm o as­sim, não reconhece o Espírito Santo. Jesus explica de duas maneiras esta conduta estranha:

4.1. “Porque não o v ê ”. Esta é a principal objeção do hom em natural aos ensinos acerca do Espírito Santo. “Não posso ver o Espírito Santo” , diz. O vento, porém, apesar de não ter corpo sólido c de ser invisível, não deixa de ser real. “E verdade” , responde o interlocutor, “mas podem os sentir o vento, ver seus m ovim entos nas folhas c escutá-lo assobiando entre as árvores” . Exatam ente da m esm a m a­neira a presença do Espírito Santo é reconhecida quando faz vibrar os corações dos hom ens (G1 5.22,23).

Q uando a Sra. Catherina Booth-Clibborn fazia reuniões evangclísticas cm Paris, um francês cético aproxim ou-se dela e disse: “ Indique qual é o fruto que a natureza c a educação não podem produzir, e eu crerei” . A evangelista citou as palavras de Lucas 6.27-29: “Amai a vossos in im i­

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Jesus N os Dá o C onso lador 179

gos, fazei o bem aos que vos aborreeem. Bendizei os que vos m aldizem , c orai pelos que vos caluniam. Ao que tc ferir num a face, oferece-lhe tam bém a outra” . O francês, com um a m esura de cortesia, disse: “ A senhora tem razão; tais coisas não existem na natureza hum ana.”

4.2. “N em o c o n h ec e ”. O hom em do mundo não passou por qualquer experiência com o Espírito Santo c, portanto, nada conhece dEle. E um desperdício de palavras procurar descrever a m úsica a um surdo, sem que ele possa ouvi-la por si m esm o, e nunca poderem os explicar as cores a um a pessoa cega de nascença. Para conhecer e dar valor a co i­sas espirituais, faz-se necessária um a m udança de coração (1 Co 2.14).

5. P ara a obra e sp ir itu a l precisam os de p o d er esp ir i­tual. Q uando D. L. M oody fazia reuniões em Birmingham, Inglaterra, certo líder denom inacional ficou espantado com os trem endos resultados, c disse a M oody que a obra ccr- tamente procedia de Deus, porque nenhum a relação havia entre a capacidade pessoal de M oody e a obra realizada. Foi esta um a prova da realidade do A judador prom etido por Cristo. Se procurarm os produzir resultados naturais, bastarão as forças que o m undo fornece; se desejarm os resultados espirituais, nada poderem os fazer sem o Espírito Santo.

H á bem mais de um século, o m issionário Roberto M orrison em barcou no navio que o levaria à China, a fim de i n i c i a r u m a t a r e f a q u e , p a r a m u i to s , p a r e c i a desesperadora. “Você im agina” , disse-lhe o capitão do na ­vio, “qu e vai c o n v e r te r a C h in a ? ” "N ã o " , re sp o n d e u M orrison, “mas creio que Deus o fará” . A ssim falou quem se sentiu incapacitado sem o Ajudador! Q ualquer pessoa, jun tam en te com a presença do Espírito Santo, pode ser um obreiro espiritual!

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Jesus E a VideiraT exto: J o ã o 15

Introdução

Cristo c seus discípulos haviam acabado dc participar da Ceia. Ele anunciara que era m ister a sua partida, c p ro ­meteu que enviaria o C onso lador para ser a invisível repre­sentação da sua presença. As expressões de incom preensão e tristeza nos rostos dos d iscípulos levaram Cristo a dar- lhes a mais simples ilustração da p rom essa do C onsolador e da sua contínua presença entre eles, rem ovendo o tem or da total separação com as palavras: ‘‘Eu sou a videira, vós as varas” .

A ilustração também serviu para ensinar-lhes que seu sucesso com o obreiros cristãos dependia de sua união com Ele.

I - A Natureza da Com unhão coin Cristo (Jo 15.1-3)

A com unhão com Cristo, em toda a sua abrangência, c explicada pelas três seguintes ilustrações: 1) A Videira, 2) o A gricultor e 3) os ramos.

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I 8 2 João, o lÍYiingellw do Filho de F>eus

/. A Videira: C risto. “Eu sou a v ideira verdadeira" . O que o Senhor tinha em mente ao dizer estas pa lavras? T a lvez pensasse nas vinhas do m onte das O liveiras c na quan tidade de galhos podados que ali se que im avam ; ou na videira de ouro, sím bolo de Israel, que o rnam en tava um dos portões do tem plo; ou, ainda, talvez m editasse sobre o produto da videira, o vinho, que naquela C eia veio a ser s ím bolo da sua m orte sacrifieal.

Por que Jesus afirm ou ser a “v ideira verd a d e ira ”? Foi porque as eoisas boas desta terra não passam de som bras das realidades eternas. O pão natural que a lim enta o cor- po não passa de um im perfeito s ím bolo de Cristo, o ver­dad e iro Pão que a lim enta a alm a. A água natural, que satisfaz a sede do corpo, é apenas um a leve sugestão de Cristo , a A gua V iva , que satisfaz a sede da alm a. O S e­nhor, d izendo ser a Videira verdadeira, ensinou que, as­sim com o a v ideira natural é a fonte de vida c fruição para seus ram os, tam bém era Ele a verdadeira fonte tia vida frutífera dos seus seguidores.

2. O A gricu ltor: D eus Pai. “ M eu Pai é o lavrador” . N estas pa lavras , Deus c descrito com o sendo D ono e C ultivador da vinha, com o exercício das seguintes fun­ções: 1) Ele plantou a videira, ou seja, foi Ele quem enviou seu Filho a este m undo para ser fonte de vida. 2) Ele corta os ram os infrutíferos: “Toda a vara, em mim, que não dá fruto, a tira". Assim com o se rem ove os ram os inúteis, tam bém são rem ovidos os cristãos professos que não têm vida espiritual. Foi este o ju ízo divino pronunciado contra a n ação de Israel (Ec 13 .6-10 ; Rm 11 .17-21) . Ju d as Iscariotcs é exem plo destacado de alguém que foi cortado do convívio com Cristo (At 1.16-20). A aplicação se vê em 1 C o rín t io s 5 .1-5 ; 11.29,30; 1 T im ó teo 1.20; M ateu s 18.34,35; 25 .24-30; e 2 Pedro 1.8-10 (cf. Rm 8.9; G1 5.22,23). 3) Ele lim pa (poda) o ram o frutífero: “E limpa ioda aquela que dá fruto, para que dê mais fru to” . Poderí-

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amos supor que os ram os frutíferos ficariam livres da se­veridade, por serem m otivos de satisfação para o A gricu l­tor. No entanto, assim com o videiras boas são podadas sem hesitação, a fim de concentrarem a seiva nos cachos, tam ­bém os filhos de Deus muitas vezes recebem severas d is­ciplinas a fim de se tornarem mais eficazes na obra cristã. M ediante a aplicação da disciplina, o Pai rem ove da alm a hum ana os em pecilhos ã vida c ao crescim ento - as am bi­ções desta vida, a tra içoeira influência das riquezas, as concupiscências da carne e as paixões da alm a (Hb 12.6-I 1). 4) Neste ponto, Cristo tranqüiliza seus discípulos: “Vós

já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado” . T i­nham seguido os seus ensinos, estavam cm com unhão com Ele (Jo 13.8-1 1).

3. O s ram os. “Vós sois os ram o s” . Os d iscípulos são os m eios através dos quais o próprio C ris to produz o seu fruto neste m undo, sendo para Ele o que os ram os são para a videira . Sua obra pessoal tinha sido treiná-los c, por assim dizer, transm itir- lhes a seiva da d iv ina v ida e verdade, e a parte que lhes cab ia e ra transfo rm ar a seiva em uvas. O Pai env iara o Eilho ao m undo a fim de dar vida, e o Eilho j á a transm itira aos seus d iscípulos; agora, na sua ausência , a obra deles seria ceder ao Espírito e p roduzir fruto. E sta união de Cristo com seus d iscípulos é esp iritua l, a união da v ida d iv ina com a vida hum ana; é real e vital, não sendo um assunto de m eram ente se afiliar a a lgum a organização; é m útua, po rque devem os consen tir em aceitar a união com ele; é m uito es tre ita , não podendo haver união m ais estreita do que a união entre a v ide ira e seus ramos.

II - A Im portância da C om unhão com C risto(Jo 15.4,6)

“Estai cm mim, e eu em vós; com o a vara de si m esm a não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim nem

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vós, sc não estiverdes cm m im ” . N aquele momento, os d is­cípulos estavam cm estreito contato com Cristo, mas dev i­am perm anecer sem pre assim para cum prir a sua obra es­piritual no mundo.

1. A razão. “Q uem está cm m im , e eu nele, esse dá muito fruto” (v. 5). O fruto é a propagação do Evangelho c a conquista de almas. Inclui-se a santidade pessoal (G1 5.22,23), que c um dos meios de produzir frutos, conservar c desenvolver a obra de Deus. D ar fruto, ou seja, produzir reais resultados espirituais, é o propósito da religião de Cristo c, portanto, o teste prático da sinceridade c capaci­dade espiritual dos que dizem ser seus discípulos. Q uando o “ fazer” quer tom ar o lugar do “crer” , c errado c mau; quando, porém, é o e leito da fé em ação, é bom c precioso. Qual a prova real da qualidade de uma árvore frutífera? E o fruto que produz. “ Porque sem mim nada podeis fazer". Indirctamcntc, estas palavras ensinam a divindade tie C ris­to, t) Onipotente. D iretamente, ensinam que, fora do conta­to com Cristo, não temos vida, apoio, inspiração ou resul­tado espirituais c verdadeiros no ministério cristão.

2. A advertência. “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, com o a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem ” . Tal é a penalidade de afastar-se de Cris­to. E um a lei que sc percebe cm toda a natureza - que a faculdade que não é exercitada fica paralisada, atrofiada. C onservam os as nossas faculdades ao empregá-las, c, dei­xando de excrcc-las, perdem o-las.

Note quão gradual e progressivo é este processo: falta de fruto, secar, ser lançado fora, ser apanhado, ser que im a­do. O que sim boliza o queim ar neste versículo? Refere-se aos ensinos de M ateus 18.34,35 c 25.30, e Lucas 12.45,46? Ou explica-se nas seguinte passagens bíblicas - 1 Coríntios U 2-15; 5.4,5; 11.29-32; Hebreus 12.5-11; Lucas 12.47,48? Seja qual for a conclusão, não pode haver dúvida quanto às

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graves conscqüências de se ficar de fora de com unhão com Cristo.

III - O s R esu ltados da C om unhão com C risto(Jo 15.5,7,8)

1. Q uanto aos d iscípulos. 1 ) Os que perm anecem cm Cristo dão fruto genuíno e abundante. A vida de Cristo na a lm a do crente produz resultados m arcantes e reais. 2) Sucesso na oração. “Se vós estiverdes em m im [conservan­do a com unhão com Cristo], e as minhas palavras estive­rem em vós [se os ensinam entos de Cristo controlam nos­sos pensam entos c idéias ate se transform arem em nossa orientação c inspiração], pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” . Unidos com Cristo, pedim os cm nome dele, ou seja, de acordo com a sua vontade, e con fo rm e os melhores interesses do seu Reino c do nosso bem espiritu­al. 3) O diseipulado com pleto. “E assim sereis meus d iscí­pulos” . Discípulos, não m eram ente cm palavras, mas na realidade.

2. Q uanto ao Pai. “Nisto é glorificado meu Pai, que deis m uito fru to” . O agricu lto r c respeitado , c sente-se satisfeito quando a lavoura dá bons frutos. Q uando os cren­tes vivem c co laboram com o devem, são testem unhas vi­vas da realidade c do poder de Deus c de Cristo. O que acontece quando os crentes fracassam ? V eja 2 Sam uel 12.14.

IV - O P adrão da C om unhão (Jo 15.9,10)

1. O padrão do amor. “C om o o Pai m e am ou, tam bém eu vos am ei a vós; perm anecei no m eu am o r” . E com o se Jesus dissesse: “Vocês observaram com o o Pai tem ficado com igo durante meu ministério na terra, e com o seu amoi me tem acom panhado desde o Céu até à terra. Assim Iam bém é grande c terno o m eu am or por vocês. Vivam dc

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m odo que nada venha im pedir a continuação deste derra­m am ento de am or celestial cm suas vidas” .

2. O p a d rã o da obed iênc ia . “Sc guardardes os m eus m an d am en to s , p e rm an ece re is no m eu am or; do m esm o m odo que eu tenho g uardado os m an d am en to s de meu Pai, e p e rm an eço no seu a m o r” . A obed iên c ia c o seg re ­do de p e rm a n ec e r no am or de C ris to . O S en h o r nunca incum biu os d isc íp u lo s de q u a lq u e r d ever que E le m e s ­mo não se d isp u se sse a cum prir . Portan to , ap o n ta pa ra o exem p lo da sua p ró p r ia o b ed iên c ia aos m an d am en to s do Pai.

V - Os Frutos da C om unhão com Cristo

Certas coisas decorrem da com unhão com Cristo:/. A p len itude da alegria. No versículo 1 1 cxplica-se o

duplo motivo dos ensinos de Cristo quanto à frutificação: 1) “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo perm aneça cm vós” . A continuação do júbilo cristão no coração do crente depende de um a vida frutífera. M esm o naquela hora, Cristo sentia júbilo por seus discípulos, em bora cspiritual- mente imaturos, assim com o o agricultor se sente satisfeito com os cachos de uvas quando ainda são pequenos, verdes e sem valor comestível, vendo neles a prom essa das uvas maduras. Cristo transmite sua alegria aos discípulos: a a le­gria da com unhão com Deus, da perfeita obediência, do perfeito amor, da abnegação c da dedicação. 2) “E o vosso gozo seja com ple to” . A perfeita alegria é dada àquele que frutifica para Cristo. E o servo fiel que ouvirá as palavras: “Entra no gozo do teu Senhor” .

2. O m andam ento do amor. “O meu m andam ento c este: Que vos ameis uns aos outros, assim com o eu vos am ei” . O Senhor quer ensinar a seus discípulos que perm anecer no am or uns dos outros é quase tão necessário ao seu bem espiritual com o o fato de cada um deles perm anecer nElc

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pela fé. As divisões, partidarism os e ciúm es teriam efeitos fatais na sua obra. O padrão: “assim com o eu vos am ei” . Cristo am ou seus discípulos com am or forte, terno, pacien ­te, perseverante e sacrifical, ao ponto assim descrito: “N in ­guém tem m aior am or do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus am igos” .

3. A am izade de Cristo. "V ós sereis meus am igos” . Segundo a Lei, o re lacionam ento entre Deus e seu povo era o de senhor para com os seus servos. O Senhor Jesus passou a estabelecer um novo relacionam ento, que acres­centa divinal d ignidade àqueles que trabalham por Ele: "Sc fizerdes o que eu vos m an d o ” . G eralm entc o senhor dá or­dem aos servos, c não aos amigos; Cristo, porém, não pode ser despojado da sua autoridade: Ele é nosso Amigo, e tam ­bém o nosso Rei. O resultado da amizade: “Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos cham ado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” . A intim idade da conversação é sinal da amizade. Cristo linha revelado seu coração aos d iscípulos, con tando-lhes a lgum as das coisas mais profundas dos planos divinos (cf. Ex 33.1 1).

4. O c o n h e c im e n to da e le iç ã o d iv in a . “ N ão m e escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós” . A eleição refere-se ao fato de ser escolhido por Deus. Cristo cham ou seus discípulos de amigos, m as longe estava de colocá-los cm pé de igualdade com Ele. Suas palavras aqui m ostram que sua posição de amigos não decorre de qualquer m ere­cim ento da parte deles, e sim dos graciosos propósitos de Cristo. Tudo quanto são e serão, devem -no ao seu Senhor. Note os propósitos da eleição: “E vos nom eei, para que vades” . Foi seu plano que fossem pregar o Evangelho, sa­indo por toda parte (Ml 28.19,20). “E deis fru to” , o que se refere p rincipalm ente a ganhar almas e aos eleitos do seu ministério. “E o vosso fruto perm aneça” . Seu ministério deve produzir resultados permanentes. Por exem plo, a con

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versão dc D. L. M oody foi o fruto perm anente de certo jo v em pregador que eslava achando acanhados os frutos do seu ministério. O Peregrino foi o fruto das m editações dc John Bunyan enquanto estava encarcerado pela sua fc, fru­to este que tem perdurado até agora, c que decerto será apreciado enquanto existirem cristãos neste mundo. “A fim dc que tudo quanto em meu nom e pedirdes ao Pai ele vo- lo conceda” . Os crentes podem ter a certeza dc que tudo quanto precisam para produzir frutos espirituais está ao seu a lcance m ediante a oração. Pedir em nom e de Cristo signi­fica pedir de acordo com a sua vontade, dependendo da sua intercessão cm nosso favor, e em prol dos mais altos interesses do seu Reino.

VI - E nsinam entos Práticos

/. Som os a vinho de Deus. Em cada etapa do c resc i­mento, c a cada estação do ano, o viticultor tem algo a fazer com suas videiras. E qual o seu propósito? Tudo c feito na esperança dc virem os frutos. Não havendo frutos, seu interesse entra cm colapso, e todos os cuidados se trans­formam em desperdício de tempo. Na realidade, os ramos vazios podem ate ser motivo para os vizinhos zom barem do viticultor.

Deus c com o o viticultor. Não criou o m undo c os hom ens com o vão passatem po. Criou-nos a fim de que venham os a produzir caráter e atos de seu agrado. E este o fruto que justifica o trabalho e cuidados que Ele dedicou a nós. Caso contrário, a decepção de Deus será a que se ex ­pressa em Isaías 5.4: “Que mais se podia fazer à m inha vinha, que eu lhe não tenha feito? c como, esperando eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas?"

Nossas vidas c ações estão dando ao nosso C riador os frutos que Ele merece, depois dc tudo o que fez por nós?

2. '‘Porque nenhum de nós vive p a ra si ” (Rm 14.7). Os crentes, com parados aos ram os da videira, não som ente

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dependem de Cristo, com o tam bém uns dos outros. D eve­mos aceitar nossa situação de ramos porque não podem os nos separar c fo rm ar nossas próprias raízes. O braço corta­do fora do corpo, o ram o cortado fora da videira - c assim0 hom em que quer viver para si mesmo. Será deixado em frio isolamento. N ossa vida só pode ser vivida p lenam ente quando reconhecem os que fazemos parte de um todo, e que não existim os na terra para levar adiante os nossos próprios p lanos nem para acum ular bens para nós m esm os, mas para p rom over causas que beneficiem a todos c agra­dem a Deus.

3. L im pos p e la palavra. V eja João 15.3 e Salm o 1 19.9. Os ensinamentos administrados aos apóstolos, quando Cristo repreendia seus erros, corrig ia as suas falhas e purificava os seus m otivos, tinham poder para santificá-los.

Nós tam bém podem os sentir o poder sanlificador da Palavra. Por exem plo, estam os perturbados, com preocu­pações e tem ores? Então, um “banho” cm M ateus 6.19-34 nos fará bem. Estam os carregados com descrença e dúv i­das? D evem os, então, tom ar um bom “banho” em I lebreus1 1, para nos sentirmos cheios de fé c esperança. Certo hom em leu 1 Coríntios 13 um a vez por sem ana durante três meses, e isso transform ou-lhe a vida. É um dos muitos exem plos de quão real c prática é a experiência expressa nas palavras: “Vós já estais limpos, pela pa lavra que vos tenho falado” .

4. C ondições p ara p ro d u zir fru to . Fomos, po r natureza, ram os de um a videira degenerada; pela regeneração, fomos separados do antigo tronco e enxertadós na V ideira verda­deira. M esm o assim, precisam os dos contínuos cuidados do Agricultor, po r causa dos seguintes perigos:

4.1. O ram o pode soltar-se; daí a adm oestação: “Estai em m im ” . O enxerto não som ente é am arrado ao tronco, com o tam bém coberto, no ponto de junção , com cera ou algo sem elhante, para excluir qualquer e lem ento estranho.

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190 João, o E vange lho do Filho de Dens

Assim tamhcm na vida espiritual. Nada deverá perturbar a nossa firmeza cm Cristo.

4.2. O segundo perigo é que o ram o pode voltar a ser um galho silvestre, correndo pelo chão na form a de cipó, que produz m adeira e folhas sem fruto. Quem desconhece as videiras poderia considerar um desperdício a quantidade de sarmentos e folhas que se corta c lança fora cm monturos. A poda, no entanto, leva a videira a ganhar muito mais do qu e p e rd e p o rq u e é fe ita p a ra a u m e n ta r o p ro d u to . Sem elhan tem en te , os sofrim entos c a d isciplina que os crentes precisam enfrentar geralm ente tem efeito depurati- vo, com o se fossem resultado da divina faca de poda, cor­tando os brotos da vida egoísta, a fim de que todas as energias da alma possam m anifestar a vida de Jesus (cf. Fp 3.10; Hb 2.10; 12.5-12).

5. A perseverança elos santos. “Sc alguém não estiver em mim, será lançado fora, com o a vara” . Existe a possi­bilidade de alguém ter conexão com Cristo e depois ser separado dElc. E a experiência religiosa aborliva, que não é verdadeira conversão. A culpa c do discípulo, e não do Mestre; o Mestre não abandona ninguém ; seja qual for a nossa fraqueza, ou desvantagens naturais, Deus nos levará á vitória final, se nossa vontade for entregue a Ele.

6. “Sem mim... nada ''. Havia um costum e em M unique, Alemanha, de se levar a um a instituição de caridade qua l­quer criança achada na rua esm olando. Fazia-sc um retrato da criança na condição em que foi achada e, um a vez co m ­pletada a sua educação, era solta, com a condição de levar consigo, c guardar para sempre, o retrato daquilo que era antes de ser alvo da misericórdia. Aqui há um a lição para todo crente. Muitos crentes chegam a ter grande sucesso mediante a graça c poder de Cristo, e então com eçam a gloriar-se nas suas próprias realizações. Precisam lembrar- s e tie quem os transformou, voltando-se para Ele antes que as vitórias sejam transformadas em fracassos.

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7. C ondições para a oração respondida. Leia o versículo 7. A disposição de Deus quanto a responder às nossas o ra­ções é um convite a pedir. Sugerem se as seguintes condi­ções, para que a oração possa ser atendida por Deus:

7.1. A g lória do P ai (Jo 14.13). N enhum a oração tem possibilidade de chegar à fruição se não for inspirada pelo desejo de fazer com que o Pai seja conhecido, am ado c adorado; Deus honra aos que o honram.

7.2. Em nom e de C risto (Jo 14.13). Nas Escrituras, o “nom e” representa a “natureza” . Orar em nom e de Cristo c orar conform e nos inspira nossa natureza cristã, c não nosso próprio-eu carnal. O rar em nom e de Cristo é orar no Espírito de Cristo.

7.3. P erm anecendo em C risto (Jo 15.7). Quando per­m anecem os com Cristo cm com unhão diária, a unção (“sei­va”) do Espírito Santo, aprofundando nossa com unhão com o Senhor invisível, p roduzirá em nós desejos c petições sem elhantes aos que Ele incessantem ente apresenta ao Pai. Ele nunca poderá pedir coisas que não seriam apropriadas ao Pai conceder.

7.4. A conform idade com os ensinos de Cristo. “Se... as minhas palavras estiverem cm vós” . Os ensinos de Cristo são com o ju izes, exam inando cada petição antes que che­guem ao M estre. Por exem plo, um a petição egoísta seria devolvida com o pronunciam ento: “Mas buscai prim eiro o reino de Deus, e a sua ju s tiça” . U m a oração m anchada por sen tim en tos de m á vontade pode ser re t if icad a com a injunção: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem ” . A oração em nom e de Cristo deve conform ar- se aos seus ensinos.

7.5. A oração deve relacionar-se com nosso serviço cris tão (v. 16). A oração atinge o nível mais alto quando tem a finalidade de nos ajudar a servir aos outros na propaga ção do Reino de Deus.

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X. A perseverança p roduz o gozo perfeito. “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo perm aneça cm vós, c o vosso gozo seja com ple to” . Estas exigências quanto à vida frutí- ie ra visam transform ar o júbilo de um recém -convcrtido no gozo estável, p leno e com pleto do cspiritualm cnte maduro. A perfeita felicidade c para quem venceu a luta, para o ceifeiro depois de com pleta a colheita, para o atleta que ganhou o prêm io da força, da perícia c da velocidade.

P e rseverando cm fazer o bem , ouvirem os a voz do Senhor, dizendo: “Entra no gozo do teu Senhor” .

9. A perfeita amizade. Note com o Jesus nos oferece todos os elem entos da perfeita amizade.

9.1. M antém a casa aberta p ara nós. Muitas casas têm o aviso: “ Não se recebem m endigos ou vendedores” . Este Am igo, porem, avisa: “Pedi, c dar-sc-vos-á” .

9.2. Jesus sem pre olhava o lado m elhor da conduta dos seus discípulos. Havia muitas ocasiões de fracasso entre os discípulos, como no Getsêmani, mas Jesus, cm vez de acusá- los, reconheceu suas limitações: “O espírito está disposto, mas a carne é fraca” .

9.3. Jesus en tende as a legrias e as tristezas dos seus am igos. Seu recado: “Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro" (Mc 16.7) m ostra com o entendeu os sentimentos do seu apóstolo desencorajado.

9.4. Jesus tem p lena confiança nos seus am igos, e este é um teste im portantíssim o de am izade. Disse o Senhor com respeito a Abraão, seu “am igo” : “Ocultarei a A braão o que estou para fazer?” Os que entram no recôndito da sua pre­sença sabem que o segredo do Senhor está com os que o temem.

9.5. Jesus é um A m igo que nunca abandona os que o am am . “C om o havia am ado os seus, que estavam no m un­do, am ou-os até ao f im ” (Jo 13.1). Podem os saber que, lam bem neste ponto, Ele é o m esm o ontem, hoje e para sempre.

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Jesus,o Intercessor

T exto: J o ã o 17

Introdução

Cristo acabara de tom ar a Última Ceia com os d iscípu­los, c, agora, p rega sua últim a m ensagem na terra. Chega o momento mais solene, em que os leva à presença de Deus, proferindo em prol deles sua últim a oração na terra. É verdadeiram ente um a oração sacerdotal, em que ora, não som ente por eles, com o tam bém por todos os m em bros futuros da sua Igreja. Já ouvim os, neste evangelho, Jesus falando ao povo, aos inimigos e aos discípulos; agora, o ouvim os falando ao Pai.

Por certo, a oração foi pronunciada de m odo audível (v. 13), e havia motivo para isto. E m bora se tratasse de m om entos de íntim a com unhão entre o Filho e o Pai, era, ao m esm o tempo, uma lição solene que o M estre ensinava aos discípulos. Na crise suprem a da obra do Senhor, li nham licença de escutar o significado mais profundo da sua missão, e de ficar sabendo o papel que lhes era rescr vado.

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194 João, o E vange lho do Filho de Deus

A oração revela, com naturalidade, tres divisões: 1) a oração de Jesus por si m esm o (v. 1-5); 2) a oração de Jesus pelos seus discípulos (v. 6-19); 3) a oração de Jesus pela Igreja (v. 20-23).

I - A O ração de Jesus por Si M esm o (Jo 17.1-5)

“Pai, é chegada a hora [da glorificação pela morte]; g lo­rifica a teu Filho, para que tam bém o teu Filho tc glorifi­que a ti” . Cristo pede ao Pai que o glorifique por meio da aceitação do sacrifício representado pela sua morte e da sua ressurreição dentre os m ortos. Feito isto, o Filho glo- rificará o Pai, m ediante a conversão de pessoas de todas as nações.

Deus glorificou a Cristo ao conceder-lhe autoridade para poder m orrer cm prol dos pecados do m undo e proclam ar à hum anidade a graciosa oferta de salvação da parte do Pai: “Assim com o lhe deste poder sobre toda a carne [a hum anidade em sua fraqueza e mortalidade], para que de a vida eterna a todos quantos lhe deste” . E m bora Cristo te­nha recebido autoridade para salvar todos os hom ens, nem todos aceitam a salvação.

“E a vida e terna c esta: que te conheçam |não inlelec- lualmentc, mas por experiência espiritual], a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” . A vida física é resultado do contato vital com o am biente físico; com o dano de algum órgão vital, rom pe-se tal contato, e seguc-sc a morte. A vida eterna provém do contato com o ambiente espiritual. Noutras palavras, decorre da com unhão com Deus e com Cristo.

A distinção entre a im ortalidade e a vida eterna: a im or­talidade refere-se ao corpo e significa “não estar sujeito à m orte” ; neste sentido, somos todos mortais; porém , na res­surreição, nossos corpos serão m udados e seremos imortais

não sujeitos à morte. A vida eterna diz respeito primari-

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Jesu s , o In t e r c e s s o r 195

ainente à alma, c passa a pertencer à pessoa do m om ento da conversão cm diante. A gora mesm o, nós, que somos filhos de Deus, temos a vida eterna; na vinda do Senhor, teremos imortalidade.

“Eu glorifiquei-te na terra, tendo consum ado a obra que m e deste a fazer” . M ediante uma vida de absoluta obed iên­cia, Jesus revelou o Pai, glorificando-o, portanto.

No versículo 5, Jesus ora para que, tendo com pletado sua missão, o Pai o transporte de volta deste m undo de pecado e tristezas para o estado glorioso que deixou para trás quando se tornou hom em (cf. Fp 2.5-11).

II - Jesus O ra Pelos D iscípulos (Jo 17.6-19)

A oração pelos discípulos baseia-sc na tríplice declara­ção do que cies cram cm relação a Cristo (“M anifestei o teu nom e aos hom ens” ), cm relação ao Pai (“eram teus” ) e cm relação a si m esm os (“eles têm guardado a tua pa la ­vra” ) (v. 6).

O versículo 9 não sugere que haja limitação quanto ao am or de Cristo; trata-se, sim plesm ente, de um a petição que som ente pode ser aplicada aos discípulos - para o mundo, pode-se pedir a conversão; som ente para os discípulos c que se pode rogar que sejam santificados c guardados.

Note com o Jesus exalta o caráter dos discípulos; testifica que eram hom ens piedosos, dados por Deus, com a cham a­da divina. “Eram teus, e tu mos deste” . Este caráter dá testem unho da sua pe rseverança na santidade c da sua obediência. E este elogio é feito apesar das suas muitas falhas.

A petição diz respeito à sua santificação: primeiro, no sentido negativo de separação do mal (v. 1 1-16); segundo, no sentido positivo de dedicação ao serviço de Deus (v. 17-19).

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196 J o a o , o E v a n g e lh o d o F ilh o de D e u s

1. A p reservação do mal. Jesus, enquanto estava com os discípulos, exercia sobre eles um a influencia santificadora. Agora, está pa ra sair do m undo e entrar num a nova esfera, c pede que Deus os guarde do mal que há no mundo. C ham a Deus de “Pai S an to” , porque c o Sanlifieador dos hom ens; pede que Deus os conserve em seu nome, ou seja, na sua própria natureza c força (ef. SI 79.9; Pv 18.10; Is 64.2; Jr 14.7,21; Ez 20.9,22; Mt 6.9). Um grupo de hom ens preser­vados assim pelo poder de Deus tam bém partic iparia da natureza divina (cf. 2 Pc 1.4), atingindo assim a unidade de amor, vontade e experiência. A ssim ora Jesus: “Q ue tam ­bém eles sejam um cm nós” . A ssim com o as Pessoas da T rindade são uma, apesar de distintas, assim deve ser a situação dos m em bros do Corpo de Cristo.

Jesus conservara todos os apóstolos, menos um - Judas Iscariotcs. Judas foi cham ado para ser apóstolo, mas se tornou apóstata. Q uanto aos dem ais discípulos, o Senhor sabia que teriam de enfrentar um m undo corrupto e hostil, m as não pediu que Deus os tirasse do m undo porque, caso contrário, perderíam a oportunidade de anunciar aos perd i­dos a salvação. O que pede é que Deus os guarde do mal que há no m undo (v. 14-16; ef. 1 Co 5.9-1 1).

2. D edicação ao serviço. “Santifica-os na verdade; a tua pa lavra é a verdade” . A pesar de sua sinceridade, os após­tolos ainda precisavam ser aperfeiçoados; assim sendo, Jesus orou para que fossem santificados na verdade, tendo em m ente aqui não tanto o seu crescim ento espiritual com o crentes individuais, m as especialm ente seu equipam ento espiritual para a obra missionária, conform e se percebe nas palavras seguintes: “A ssim com o tu m e enviaste ao m u n ­do, tam bém eu os enviei ao m u n d o ” .

A santificação dos apóstolos é v inculada não som ente à sua obra para Cristo, mas tam bém àquilo que Cristo opera neles: “E por eles m e santifico a m im mesmo, pa ra que tam bém eles sejam santificados na verdade” . Jesus descre-

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Jesu s , o I n t e r c e s s o r 1 9 7

vc aqui sua m issão com o sendo um ato dc total sacrifício dc si mesm o, visando o bem eterno de outros.

III - Jesus O ra pela Igreja (Jo 17 .20-23)

O Senhor parece ter um a visão das multidões de todas as eras históricas que chegariam a crer através do testem u­nho dos apóstolos. Faz duas petições em favor delas.

/. A união na terra. A natureza da unidade: “Que tam ­bém eles sejam um em nós” . Os m em bros da Trindade tem um só propósito e desejo, visando, na sua obra, a sal­vação da raça hum ana; cada Pessoa da Trindade tem seu ofício distinto; porém , onde um opera, os demais co labo­ram também. É este o alto ideal colocado diante da Igreja — muitos m em bros vinculados pelo único Espírito c coope­rando para a m esm a finalidade.

Note cspccialm cntc o propósito c o efeito práticos desta união: “Para que o m undo creia que tu m c enviaste” . As divisões são em pecilhos à obra dc Cristo; a união a promove.

2. A união no Céu. Leia o versículo 24. Estas palavras tem dupla aplicação: 1) Descrevem a presença com Cristo, que é o destino dos crentes que partiram deste m undo (2 Co 5.8). 2) Descrevem a reunião final, na v inda de Cristo, quando toda a família dos crentes estará reun ida no Céu (1 Ts 4.17).

IV - E nsinam entos Práticos

/. A vida eterna. “E a vida eterna é esta: que te conhe­çam, a ti só, po r único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” . Quando as Escrituras falam em vida como galardão da justiça, isto significa algo muito mais im por­tante do que a continuada existência, porque até os ímpios existirão, mas no inferno. A vida verdadeira significa viver

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cm com unhão com Deus, um a com unhão que a morte não poderá in terrom per ou destruir.

Certo hom em m undano disse a um pregador: “ Por que vocês pregadores nunca têm m ensagem para nós, os que tem em os a im orta lidade? O m ero pensam en to de nossa existência ter continuidade não consola n inguém ; ate nos horroriza. N ão se trata de não crer na im ortalidade c dese­ja r crer; trata-se de quase crer na imortalidade c preferir não crer” . Real mente, para muitas pessoas, a idéia de m e­ramente existir para sempre é terrível. Realmente, viver para sempre, sem Deus, é a vida no inferno. V iver para sempre em com unhão com Deus, entretanto, é a bem -aventurança sem fim; é o Céu; é a vida eterna. A com unhão consciente com Deus, j á aqui na terra, por si só é um a garantia e um antegozo da v ida eterna: “E todo aquele que vive, c crê em mim, nunca m orrerá” (Jo 1 1.26).

2. “Eu g lorifiquei-te na te r r a ’’. Aqui na terra, na Pales­tina, Jesus vivia em meio ao calor, pobreza, doença e ego­ísmo dos hom ens. Até os d iscípulos escolhidos revelavam muitas falhas e limitações. No seu ministério, enfrentava preconceitos, ódio e oposição. V erdadeiram ente, eram lon­ge de ser ideais as condições em que vivia; m esm o assim, no fim de seu ministério, tinha o direito de dizer: "Eu glo- rifiquci-tc na terra” .

Será bastante fácil g lorificar a Deus no Céu. A questão im portante é: sabem os glorificá-lo no am biente em que nos encontram os agora? Listamos conseguindo glorificá-lo no lar, na loja, no escritório?

3. R efle tindo a im agem do M estre. “E nisso sou glori- f icado” (v. 10). Certo ministro p iedoso disse a um grupo de pregadores: “N ão é suficiente pregar sobre Jesus Cristo; é dever dos d iscípulos dem onstrar o espírito do M estre” .

Certo m issionário pregava num a vila da índia, descre­vendo a vida e o caráter de Cristo, seu am or c sua terna com paixão pelos sofredores. A lguns ouvintes a legavam

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Jesu s , o In t e r c e s s o r 199

conhecê-lo de um colégio cristão em outra cidade; c que certo servo de Deus estava vivendo tão bem a vida cristã que, para aqueles ouvintes que nada sabiam sobre a h is tó­ria de Cristo, era a m esm a coisa que ter Cristo em pessoa entre eles. Será que o m undo pode ver Cristo em cada um de nós?

4. O m inistério do in terressão. A descrição de Jesus intercedendo pelos discípulos nos faz lembrar quão grande c o privilegio c o poder da intcrcessão. Certo missionário veterano, voltando para a C hina depois de longa ausência, recebeu a visita de um chinês que fora convertido durante seu m inistério . Este hom em trouxe consigo seis novos convertidos, que levara a Cristo, tirando-os do lamaçal da degradação - eram viciados cm ópio. “Que rem édio você conseguiu dar a eles?” perguntou o velho missionário. A única resposta do chinês foi indicar, de m odo significante, os seus próprios joe lhos. A intcrcessão é um dos mais im­portantes recursos da Igreja.

5. D esapego do m undo. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do m al” . A idéia do monasticismo era que a fuga do mundo, entrando-se num mosteiro, seria o escape das tentações que talvez viessem a im pedir que a pessoa recebesse a salvação. Cristo, no entanto, ensinou que o m undo cm geral, com sua estranha m istura de bem e mal, é, afinal de contas, objeto do am or de Deus, e que a missão dos seus discípulos é ser sal da terra e luz do mundo. Isto exige contato com o mundo, e não temê-lo ou fugir dele. Cristo, portanto, não orou para que os d iscípu­los fossem tirados do mundo, e sim preservados do mal que nele há (cf. 1 Jo 2.15-17).

E nquanto o cren te m an tiver um a vida espiritual sadia, poderá vencer o espírito do m undanism o: “M aior é o que está cm vós do que o que está no m u n d o ” (1 Jo 4.4).

6. Santificação e serviço. “E por eles m e santifico a m im m esm o, para que tam bém eles sejam santificados na

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2 0 0 J o ã o , o E v a n g e lh o d o F ilh o de D e u s

verdade” (v. 19). Jesus viveu toda a sua vida em obediên­cia deliberada à vontade do seu Pai, e agora esta obed iên­cia coloca-o frente a frente com a morte. As palavras aqui citadas revelam o m otivo que dom inou o seu coração na hora da crise: “Por e les” . Q uanto am or e dedicação! Foi a favor dos hom ens que Cristo viveu aqui na terra, e que finalm ente foi para o Calvário.

Não podem os usar esta expressão do m esm o m odo que Jesus a em pregou, mas, repetindo a sua atitude, pela sua graça, podem os dizer: “A favor do mundo, a favor dos meus irmãos, consagro-m e a um a vida de retidão, utilidade c abnegação” . O General Booth, fundador do Exercito de Salvação, disse que, quando se entregou a Deus para fazer aquela obra, visava a salvação dos outros, e não a sua pró­pria. Sem elhante é o caso do oculista que gostava muito de esportes pesados, mas, vendo que causariam a perda da delicada sensibilidade tios seus dedos, separou-se de tais atividades a fim de dedicar-se ao bom atendim ento dos que sofriam da vista.

A verdadeira abnegação não é autoflagelar-se; é ficar sempre cm boas condições morais e espirituais para ser uma bênção espiritual a outras pessoas. A santificação é muito necessária para a eficácia de nosso serviço cristão; se que­remos oferecer a nossa vida em dedicado serviço, surge a pergunta: “Q ue tipo de vida vais oferecer?”

7. A santidade e a verdade. Estas duas palavras se vin­culam no versículo 17. Ate certo ponto, c verdade que o Cristianism o é mais um m odo de vida do que um credo; mas esta vida brota da verdade eterna. Deus nos deu um a revelação, c esta revelação nos é dada na Bíblia em form a dc doutrinas. N enhum a santidade será produzida em nós mediante a crença em mentiras piegas. As boas obras bro­tam da verdadeira fé, c a verdadeira fc é inspirada pela verdade de Deus (cf. SI 1 19.1 1).

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Jesus, o In tercessor 201

Um pregador francês declarou: “A pureza do coração c da vida im porta mais do que ler a opinião correia” , ao que respondeu outro pregador francês: “A cura é mais im por­tante do que o remédio, mas, sem o rem édio, não haveria a cura” . C ertam ente é mais importante viver a vida cristã do que conhecer as doutrinas cristãs, mas não haveria ne­nhum a experiência prática e espiritual sem a fé, em prim ei­ro lugar, nas verdades do Cristianismo.

S. A unidade cristã. Jesus orou para que todos os seus discípulos fossem um. Referia-se a uma unidade espiritual produzida quando as pessoas participam da m esm a experi­ê n c ia e s p i r i t u a l . N ão b a s t a r i a l e v a r a e f e i to u m a am algam ação de igrejas. A unidade em Cristo vale mais do que a união e a uniform idade eclesiástica. M esm o nos ce ­mitérios há união, mas é a união da morte. A verdadeira unidade é um a coisa viva.

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I

A Crucificação

T exto: J o ã o 1 9 .1 6 -3 7

Introdução

A cru c if icação pode ser en ca rad a sob dois pon tos de vista: o h u m an o c o d iv ino . C o n s id e ra n d o -a pelo lado hum ano , p o d em o s d izer que o S en h o r Jesus foi c o n d e ­nado a so fre r e m o rre r por e au sa da lealdade à sua c o n ­d ição de F ilho de D eus, o M essias . Já na idade de doze anos tinha c o n sc iên c ia d isso (Lc 2.49), e a narra tiva do ev an g e lh o não de ix a dúv idas quan to a Jesus saber que e ra o F ilho de D eus c o Rei de Israel (cf. Mt 16.16,17). Q uan d o o sum o sacerdo te pe rg u n to u -lh e , sob ju ra m e n to , se e ra o Filho de D eus, Jesus selou sua p ró p r ia sorte, r e s p o n d e n d o a f i r m a t i v a m e n t e (M t 2 6 . 6 3 , 6 4 ; M c 14.61,62). Q u an d o estava sendo in te rrogado p o r Pilatos, um a s im ples negação teria lhe a sseg u rad o a so ltura , m as Ele não p o d e r ia negar aqu ilo de que t inha co nsc iênc ia : “T u dizes que eu sou rei. Eu pa ra isso n a sc i” , foi seu te s tem u n h o co ra jo so (Jo 18.33-37). “C ris to Jesus.. . d i ­ante de Pônc io P ilatos deu o te s tem u n h o de bo a c o n f is ­são ’' (1 T m 6.13).

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204 João . o 1‘A’cingc/ho d o F ilh o de D e u s

No meio dos angustiosos detalhes dos interrogatórios e da erueifieação, porem , não devem os perder de vista a verdade de que este evento fazia parte do plano de Deus para a redenção. Judas o traiu, Pedro o negou, os apóstolos abandonaram -no, o Sinedrio condenou-o, Pilatos p ro n u n ­ciou a sua sentença, os soldados rom anos crucificaram-no, os líderes zom baram dele - mas Deus, que ve o fim desde0 início, j á providenciara todos estes detalhes, colocando- os no seu plano de redenção. Foi assim que Pedro explicou esta verdade aos seus com patriotas no Dia de Pentecostcs: “A este que vos foi entregue pelo determ inado conselho c p rcsc icnc ia de D eus, tom an d o -o vós, o c ruc if icas tes e matastes pelas m ãos de injustos” (At 2.23; cf. Gn 50.20).

1 - A A gonia de C risto (Jo 19.16,17)

O 1 ugai' da crucificação era a colina cham ada G ólgota (“C alvário” ), nom e que significa “ lugar do crânio” , por ser redonda e lisa. Situava-se fora dos limites da cidade (cf.11h 13.1 1-13). Fra o lugar regular para execuções, e este lam bem pode ter sido o m otivo tio nom e que recebeu. Q uando Jesus ah chegou, certas senhoras benevolentes lhe ofereceram bebida com uma droga analgésica, para aliviar a dor da crucificação, mas ele não a aceitou; eslava reso­luto quanto a beber até às últimas escórias a laça do sofri­mento humano. Seu último ato antes de ser pregado à cruz foi recusar meios de escapar à dor.

Não se deve dem orar m uito tempo nos cruéis de ta­lhes dos sofrimentos físicos da cruz, despertando com pai­xão m eramente hum ana pelo Filho de Deus - e, afinal, seus m aiores sofrimentos eram mentais c espirituais.

II - A H um ilhação de C risto (Jo 19.18-24)

/ Os dois ladrões. “Onde o crucificaram, e com ele miiiiis dois, um de cada lado, e Jesus no m eio” . A posição

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A Cruci f i cação 205

dc nosso Senhor - no m eio — parece ter sido um a delibe­rada tentativa de hum ilhá-lo , mas, com o outros aspectos hum ilhantes da erueifieação, redundou em glória para Ide. A posição de nosso Senhor no meio dos pecadores é um a bela ilustração dc seu ministério; enquanto vivia, era o “am igo dos pecadores” ; na morte, estava lá, no meio deles. E a inda aproveitou para salvar um dos dois antes de morrer (Lc 23.39-43).

Assim com o uns o aceitaram, recebendo a vida, e outros o rejeitaram , condenando-se a si m esm os, tam bém ocorreu o m esm o neste incidente: um ladrão reconheceu-o como Rei, e morreu para o pecado, enquanto o outro o repreendeu, e m orreu em pecado - o destino dc am bos sen ­do determinado pela sua atitude para com aquEle que morria em p ro l de pecadores.

2. A inscrição problem ática. “JESUS N A ZA R EN O , REI DOS JU D E U S ” . Os judeus tinham razão em qucixar-sc de que esta era um a p ro c la m a çã o , e não um a acusação. Se­g undo e les , P ila tos d ev e r ia ter escrito : “ Este é Jesus Nazareno, que alegou ser rei dos ju d eu s” . M esm o na hora da morte, Jesus foi proclam ado Rei pelo governo! Pilatos respondeu, diante da queixa dos judeus: “O que escrevi, escrevi” , porque a lei rom ana proibia a alteração da inscri­ção de acusação, um a vez colocada. T ivesse Pilatos sabido o plano dc Deus, poderia ter dito: "O que escrevi, Deus escreveu” . A cruz era, na realidade, o trono de Cristo. Ele tornou-se Rei dos hom ens ao m orrer na cruz para salvá- los, e esta cruz se tornou o cam inho de entrada aos cora­ções de m ilhões de pessoas.

3. A s vestes repartidas. “Tendo pois os soldados cruc i­ficado a Jesus, tom aram os seus vestidos, e fizeram quatro partes, para cada soldado um a parte” . Jesus submeteu se ao extremo da humilhação, pendurado, sem roupas, na frente de um a m ultidão dc zom badores. Já com eçara a dar a lição de hum ilde dedicação quando tirou a vestim enta de rima

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206 João, o E vange lho do Eilho de D eus

para lavar os pés aos discípulos (Jo 13.1-17), c agora des- poja-sc dc tudo. Deus, porem, o vestiu com as vestimentas da glória eterna c celestial.

“A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não tinha costura. D isseram pois uns aos outros: Não a rasgue­mos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver dc quem será” . Os soldados perceberam que a peça dc roupa pouco valor teria se fosse cortada, e apelaram à “ sorte” - sem a m ínim a idéia dc que eles, cujos corações só conheciam crueldade c ganância naquele momento, estavam cumprindo mais uma profecia dentro do plano divino para a salvação da hum a­nidade: “Repartem entre si os meus vestidos, c lançam sortes sobre a minha tún ica” (SI 22.18).

I l l - A C om paixão dc C risto (Jo 19.25-27)

“ E ju n to â cru/, dc Jesus e s tav a sua mãe, e a irm ã de sua mãe, Maria de Clcofas, e M aria M adalena. Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, c que o d isc íp u lo a quem ele am av a [João] e s tava presen te , d isse a sua mãe: M ulher, eis aí o Leu f i lh o .” M aria j á e s tava en ten d en d o o que S im cão queria d izer q u an d o pro fe tizou : “ U m a espada traspassa- rá tam bém a tua p rópria a lm a” (Lc 2.35). P assan d o -se as horas, e o povo co m eçan d o a d ispcrsa r-sc , M aria e as outras m ulheres consegu iram ap ro x im ar-se m ais da cruz, e a e sp ad a da a fl ição lhe a trav essav a o co ração e n q u a n ­to f icava tão perto do filho c ruc if icado , sem h av er nada que p u d esse fazer para a liv ia r os seus sofrim entos . L o n ­ge, porém , de o S o fred o r d ese ja r para si q u a lq u e r a juda ou s im patia , Ele queria cu idar do bem -es ta r da sua mãe. Em m eio a todas as agonias da c ruc if icação , não se e s ­queceu da sua d iv in a na tu reza e m issão, e tom ou o c u i­dado de p ra ticar (c, portan to , de ensinar) um dos d e v e ­res prim ários: o cu idado para com os pais. Jesus já estava sc- d e sped indo do m undo , e só res tou mais um detalhe: cu id a r da mãe, ag o ra viúva. Jesus, então, c h am a o a p ó s ­

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A Cruci f i cação 207

tolo Joao , que en ten d e ra o seu am or m e lh o r do que q u a l­quer ou tro , e en treg a -a aos cu idados deste.

“D epois disse ao discípulo: Bis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu cm sua casa” . Por que não a en tregou aos cuidados dos próprios filhos, irm ãos de Jesus? A inda não eram crentes, c sua incom preensão teria am argurado os dias finais de Maria. João tinha condições de oferecer-lhe um lar confortável c independente, c só ele saberia preencher a vaga deixada no coração dela, sendo quase um retrato de Jesus.

IV - O Triunfo de C risto (Jo 19.28-30)

A m orte de Cristo às vezes é substituída pela expressão “ser levantado” (Jo 3.14; 12.32), o que sugere que, m esm o na morte, Cristo é triunfante. Sua morte foi um triunfo sobre o pecado, a m orte e o diabo.

/. O cum prim ento das Escrituras. “ Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam term inadas, para que a Escritura se cumprisse, disse; Tenho sede. Eslava ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre um a espon­ja, e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca” . João ressalta esse fato do cum prim ento de todas as profecias m essiânicas no que diz respeito aos sofrim entos do M essi­as na sua prim eira vinda, inclusive esta última profecia (SI 69.21), que se cum priu quando Ele disse; “Tenho sede” . Na chegada à cruz, o Senhor já recusara a bebida analgé­sica (Mt 27.34); não tinha o desejo de fugir do sofrim ento físico, e não queria entrar na morte através do sono indu zido por drogas. Pelo contrário, tinha de suportar tudo com a mente bem desperta, seus sentidos ativos, enfren tando a morte com o vitorioso C onquistador e não com o pobre ví lima, sob efeito de drogas. O grito: “T enho sede!” foi ar rançado dele pelos sofrimentos, e recebeu um pouco do vinho azedo dos soldados, que satisfez a sua sede física c

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208 Jo ã o . o F v o n g e th o do F ilho d e D e u s

deixou lúcido o seu cérebro ate o fim (cf. Jo 19.28; 7.37; Ml 27.42; 2 Co 8.9).

2. C um pridos todos os sofrim entos. “E, quando Jesus tomou vinagre, disse: Está consum ado” . Estava cum prida a obra de Jesus na terra, inclusive a redenção da hum anida­de. Isto significa: 1) que todas as profecias tinham recebi­do nEle o seu pleno cum prim ento; 2) que estava com pleta a obra que Jesus veio realizar; sua prim eira declaração, registrada nas Escrituras, foi: “N ão sabícis que m e convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2.49); c sua última declaração foi: “Está consum ado” . B em -aventurado o ho­m em que pode dizer, ao final da cam inhada da vida: “Está consum ado” ; 3) que Jesus, na cruz, com pletou a revelação de Deus que veio oferecer ao m undo (Jo 3.16; Uo 3.16). Tudo fora feito para revelar Deus aos homens.

“ E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” . A expres­são em pregada aqui sugere o fato de que sua morte foi por sua própria vontade. Jesus dissera: “Ninguém a tira de mim, mas eu de mim m esm o a dou” (Jo 10.18).

E nsinam entos Práticos

/. O d ever não tem férias. Jesus, so frendo a mais cxcruciantc agonia, dando sua vida cm prol dos pecados do mundo, ainda se d ispunha a cum prir o dever simples c prático de cuidar da sua mãe, o que nos faz lem brar que, por mais importantes que sejam as nossas tarefas, nada nos descu lpa de descu idar daqueles que dependem de nós. E nganam -se muito os que gastam longe da sua casa toda a sua bondade e doçura, ganhando um a reputação de p ieda­de. tom ando a liderança de a lgum a obra cristã, se cm seu lar todos estão m al-hum orados, irados ou indiferentes. Se Jesus, no meio da sua obra de salvar o mundo, achou tem ­po para cuidar da mãe, não há dever algum que seja tão im portante que não perm ita a um hom em m ostrar conside­ração e cuidado no lar.

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A Crucificação 209

2. “ renho sede". Em certo sentido, o Salvador ainda tem sede — sede pela obediência c lealdade dos hom ens. “E quando o Filho do hom em vier cm sua glória... Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... porque... tive sede e m e destes de beber” (M t 25.31-35). Pensando na infidelidade e deso­bediência de muitos daqueles que professam ser seguido­res de Cristo, podem os perguntar por que, quando Jesus tem sede, tantos lhe oferecem vinagre e fel, em vez de amor, obediência e dedicação.

3. O m istério da expiação. M uitos têm dificuldade cm aceitar a doutrina da expiação, porque o seu raciocínio não consegue definir exatam ente cm que sentido Cristo poderia m orrer cm nosso lugar. D evem os reconhecer que quando o Deus onisciente e infinito entra cm contato com o hom em finito, haverá mistérios. Sem entender os detalhes da lei da gravidade, muitas pessoas evitam jogar-se de um precip í­cio; obedecem à lei que não com preendem totalmenlc, c ficam cm segurança. E m bora a expiação contenha e lem en­tos além da nossa com preensão, podem os aceitá-la c rece­ber a salvação. É estranho que os m esm os críticos que com em tantas coisas no jantar, sem antes procurar saber sua origem, querem passar fom e espiritual por exigirem da fé cristã explicações que estão além da com preensão hu- mana.

4. C risto m orreu pelos nossos pecados. O grande pro ­b lem a de muitas vidas é com o ver-se livre de um a consci­ência sobrecarregada de pecados. Deus já providenciou os meios m ediante os quais pode ser rem ovida a culpa de um a consciência assim aflita: “ [Cristo] levando ele m esm o em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssem os viver para a ju s tiça” (1 Pe 2.24). A verdade já existe - que, há m uito tempo. Cristo carregou os pecados da hum anidade; nós, porém.

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210 João, o E vange lho do Filho de Deus

temos que fa z e r com que esta verdade seja nossa, mediante a fé neste fato e a confissão, nas palavras de Paulo: “Vivo- a na fé no Filho de Deus, o qual mc amou, c se entregou a si m esm o por m im ” (G1 2.20).

5. “Porque D eus am ou o m undo de tal m a n e ira ”. A cruz de Cristo ensina c dem onstra , entre m uitas outras verdades, o am or de Deus: “Nisto conhecem os o amor, cm que Cristo deu a sua vida por nós, e devem os dar nossa vida pelos irm ãos” (1 Jo 3.16). O am or de Deus, na Pessoa de Jesus Cristo, foi levado até o lugar onde im pera o peca­do, a grande desgraça da vida hum ana e a causa de todos os nossos males; enfrentou o m aligno no território que ele conquistara, derram ando o seu am or até às últimas conse- qüêneias; venceu, em nosso lugar, a morte e o pecado.

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Jesus,o Ressurreto

T exto: J o ã o 2 0 .1 -1 8

Introdução

Aqui lem os uma “reportagem ” dire tam ente do túmulo vazio, feita pelo apóstolo João, testem unha ocular naquela prim eira m anhã de Páscoa. Enquanto lemos o seu relatório, os séculos parecem desvanecer-se, e é com o se nós tam ­bém estivéssemos presentes no túmulo. A intenção do após­tolo é dar-nos esta viva impressão porque seu evangelho foi escrito para inspirar e confirm ar a fé em Jesus com o Filho de Deus.

I - O T úm ulo Vazio (Jo 2 0 .1 -1 0 )

1. M aria no sepulcro. A ressurreição de Jesus realizou- se antes da aurora, talvez bem no meio da noite. A quElc que havia de dissipar as trevas da morte ressuscitou en ­quanto as trevas ainda cobriam a terra. O ato da ressurrei­ção foi acom panhado pela descida de anjos e a rem oção da pedra.

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212 Joao, o E vange lho do Filho de Deus

“E no prim eiro dia da sem ana, M aria M adalena foi ao sepulcro de m adrugada, sendo ainda escuro, c viu a pedra tirada do sepulcro” . Parece que Maria chegara com um grupo de m ulheres (note o plural no versículo 2) c, vendo o sepulcro vazio, foi correndo avisar a Pedro c João.

“Correu, pois, e foi a Sim ão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus am ava, c disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabem os onde o puseram ” . M aria c as de ­mais mulheres v ieram ao túm ulo para em balsam ar o corpo de Jesus, o que, segundo o costum e daqueles tempos, sig­nificava espalhar especiarias perfum adas no meio das rou­pas de sepultam ento . Esta in tenção dem onstrou tanto a ignorância com o a devoção destas mulheres. Os horrores da crucificação lhes tinham anuviado a fé, e não estavam rea lm en te espe rando a ressurreição . P a rec ia- lhes que a m issão de Jesus fracassara. M esm o assim, desejavam pres­tar-lhe as últimas hom enagens. Estas mulheres foram fieis até o fim. T inha sido fácil seguir a Cristo nos dias da sua popularidade, mas agora elas estavam passando o profundo teste da verdadeira devoção.

Note que M aria continua cham ando Jesus de “Senhor” . Talvez pensasse que o sepulcro de José haveria de servir- lhe de abrigo tem porário (v. 15; cf. Jo 19.42) e que alguém teria rem ovido o corpo de Jesus para outro lugar. Certo é que a ausência do corpo não lhe parecia m otivo de espe­rança, e sim de desespero. Q uão freqüentem ente nós tam ­bém in terpretam os erroneam ente com o sendo escuros e tristes determ inados fatos que realm ente brilham com luz celestial, cegam ente atribuindo a causas desconhecidas as maravilhosas coisas que Jesus faz!

2. João e P edro no sepulcro. Note a corrida entre o Zelo (representado por Pedro) e o A m or (representado por João)! Am bos com eçaram juntos; A m or chegou prim eiro ao sepulcro, e parou; Zelo entrou no sepulcro c olhou para

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Jesus, o Ressurre to 213

o que ali havia. Então A m or o seguiu. A reverêneia fez João hesitar na entrada; o am or prático e im pulsivo levou Pedro a entrar. E assim, sua destem ida ação o encorajou. João registra no seu evangelho: “ E viu no chão os lençóis. E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte” e, quando João entrou para olhar mais de perto, “viu, e creu” . Por que João creu? Porque as mortalhas deixadas no túmulo convenceram -no de que Jesus não fora levado, com o supu­nha Maria, nem roubado, com o mais tarde diriam falsa- mente os principais sacerdotes (Mt 28.12,13). Pessoas que assim faziam não teriam perdido tempo em desem brulhar os lençóis, que eram com o interm ináveis ataduras do tipo que se vê nas múmias. João, portanto, chegou à conclusão de que Jesus m ilagrosam ente passara pelas mortalhas, dei- xando-as intactas e vazias, caídas na forma em que tinham sido eu idadosam ente em brulhadas ao redor do corpo de Jesus, sem a m ín im a perturbação ou desordem . Entendeu, portanto, que Jesus já assum ira seu corpo glorificado, não sujeito a leis terrestres, c que Jesus ressuscitara para nunca mais morrer.

Os discípulos deveriam ter deixado que o Salm o 22 os convencesse de que o M essias sofredor seria finalmentc exaltado, c que o Cordeiro de Deus veria sua descendência e prolongaria os seus dias. Alcm disso, por certo, ficou na mente deles a lgum a lem brança das palavras de Jesus p re­nunciando a sua própria ressurreição. Som ente depois de os discípulos terem visto de perto o sepulcro vazio foi que esses trechos bíblicos e as palavras de Jesus tom aram novo significado (v. 9).

E m bora fosse Pedro o prim eiro a entrar no sepulcro, foi João o prim eiro a realm ente crer. Enquanto Pedro pensava sobre o que significaria aquilo, raiou em João a fé na res­surreição, assim como foi ele o prim eiro a reconhecer o Cristo ressurreto na praia do m ar da Galiléia.

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2 1 4 João, o E vange lho do Filho de Deus

II - O Senhor R essurreto (Jo 20.11-16)

/. O C risto ausente. E nquanto os dois d iscípulos volta­vam para casa, M aria permanecia jun to à entrada do túmulo, dem onstrando pro funda tristeza e verdadeiro amor. Conti­nua enlutada pela sua perda. Talvez sentisse rem orsos por não ter ficado a noite inteira v igiando a entrada do sepul­cro. Estava tão absorta cm seus pensam entos que a presen­ça de anjos lhe parecia um incidente de som enos im portân­cia, c a pergunta deles só fez com que ela desse vazão ã tristeza que lhe m agoava o coração.

2. O C risto que se aproxim a. “E, tendo dito isto, vol- tou-sc para trás, c viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus” . Seus olhos m arejados de lágrimas só conseguiram ver, obscuram ente , um a form a hum ana, que ju lgou ser o jardineiro . C om o no caso dos dois discípulos que cam inha­vam para Em aús, “seus olhos estavam com o que im pedi­dos de o reconhecer” . O coração sobrecarregado com m á­goa âs vezes perde a consciência da presença de Cristo e se recusa a ser consolado, por não conseguir ver a Cristo no meio da tristeza.

N ote o oferecim ento de M aria para levar em bora o cor­po de Jesus. Seus braços fracos não poderíam sustentar o peso, m as o am or não leva cm conta o peso do fardo!

J. O C risto que se revela. “Disse-lhe Jesus: M aria!” Pronunciou o nom e familiar, com o m esm o tom de voz e ênfase já conhecidos a ela (cf. Jo 10.3,14). E la respondeu na l ín g u a m a te rn a que a m b o s c o n h e c ia m e am av am : “R abbon i!” - o mais alto dos títulos que os judeus davam a u m m e s t re , s ig n i f ic a n d o “ M eu g ra n d e M e s t r e ” , c raríssim as vezes falado cm público.

A expressão no versículo 17 - “Não m e detenhas; porque ainda não subi para meu Pai” - tem sido entendida de várias maneiras: 1) M aria tinha sabido da p rom essa de Jesus quanto à sua partida e fu tura volta, e Jesus agora

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Jesus, o R e s s u n e to 215

tinha dc explicar que a inda havería a ascensão antes da Segunda Vinda. 2) Jesus explicava que a antiga am izade não perm anecería na antiga base, e que Ele estava para voltar ao trono celestial. Então ela poderia sempre tocá-lo, não com o toque físico das mãos, e sim com o toque esp i­ritual da fé viva. 3) M aria, em pregando a antiga saudação, “Rabboni” , estava mantendo a antiga atitude para com Jesus, mas agora o M estre só poderia aceitar a saudação: “Senhor meu, c Deus m eu!” (Jo 20.28). M aria agora só poderia conhecê-lo com o Senhor ressurreto e glorificado.

III - E nsinam entos P ráticos

1. N o ssa n ecessid a d e at red a g ra ça de C risto . N e ­nhum olho m ortal testem unhou o ato da ressurreição. Para quem C ris to d ever ia a p a rece r p r im eiro a fim de fazer conhecidas as boas-novas? D everia ir ao palác io do sum o sacerdo te ou ao p re tó rio dc Pi latos para tr iun far sobre os in im igos b o q u iab er to s? Ou d ever ia p r im e iram e n te reve- lar-sc a a lguns dc seus segu ido res? S ua p r im eira ap a r i­ção foi rev e lad a a um a p o b re m u lh e r que nada p o d e r ia fazer pa ra ce leb ra r p u b l icam en te o tr iun fo dElc. Por que ela? P orque era a que m ais sen tia n ecess id ad e dE le , e esta sensação dc d ep en d ên c ia c o pon to m agnético que atrai a sua p resen ça até hoje . B uscar a C ris to é sen tir com o M aria sentia, re co n h ec e r com c la reza que E le é o bem m ais p rec ioso que ex is te no U niverso , e ter a c o n ­v icção de que ser com o Ele, pe la sua g raça, é a co isa m ais im p o r tan te da vida.

2. Lam entando a perda de uma bênção. Cristo apareceu a M aria enquanto ela estava ali, chorando a sua ausência. Nisto há um a lição im portante . R epetidas vezes a raça hum ana tem permitido que Cristo desapareça da sua vida, ficando com o se fosse um a vaga som bra distante. Graças a Deus, porém , sua presença pode ser restaurada com o viva c visível influência no mundo, sempre que há pessoas cons-

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cicntcs da sua ausência, e que oram com fé até ter a visão de Jesus na sua glória.

H á nisto um a lição bem pessoal para cada um de nós. As vezes descuidam os da nossa com unhão com o Senhor, c sentimos fa lta da sua presença. Quando, porém , reconhe­cem os e lam entam os que sua p resença não está sendo para nós a v ibrante realidade de antes, j á estam os no cam inho da restauração. L am entar a sua ausência é o prim eiro passo para a restauração porque serve com o convite a Ele para que volte a nós, e este convite sem pre será atendido pela sua presença.

“Por que choras?” A pergun ta dá a en tender que Maria estava chorando por causa de u m a perda existente apenas na sua im aginação. Im aginava que seu Senhor morrera, e que seu corpo tivesse sido rem ovido , quando, na realidade, Ele j á passara por um a g loriosíssim a ressurreição. Eoi as­sim que Jacó exclam ou, ao ouvir o relatório trazido pelos seus filhos: “T endcs-m c des filhado; José já não existe, e S im eão não está aqui; agora levareis a Benjam im ! Todas estas coisas v ieram sobre m im ” (Gn 42.36). N a realidade, porem , todas as coisas estavam concorrendo para o bem de Jacó. José, a quem ele considerava morto, estava com vida, preparando para ele, num país distante, um a m orada feliz para o restante da sua vida.

O Senhor não nos condena por causa das nossas lágri­mas vertidas no meio das tristezas c decepções, tão co­m uns nesta vida. Som os hum anos, afinal de contas, c é um alívio abrir as com portas para dar expressão à nossa m á­goa. H á m om entos, no entanto, cm que erroneam ente im a­ginam os o pior, e choram os na hora errada pelo m otivo errado. E nesse m om ento , então, que Jesus pergunta: “Por que choras?” M esm o quando tem os m otivos de sobra para chorar, devem os levar o assunto diretam ente a Jesus, para evitar que a m ágoa danifique a nossa espiritualidade, c para não dependerm os das falsas e traiçoeiras consolações de pessoas que não am am a Cristo.

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Jesus Dissipa as Dúvidas

T exto: J o ã o 20 .19 -31

Introdução

Ao exam inarm os a narrativa da ressurreição, notam os quão m arcantem ente as aparições do Senhor atendiam às necessidades várias pessoas. Maria, com seu coração cheio de lealdade, recebeu consolação; Pedro, o arrependido, foi perdoado e restaurado; os dois pensadores no cam inho de Em aús receberam a convicção; e os dez discípulos am e­drontados receberam confiança c forças, enquanto Tom é foi transform ado dc duvidoso cm crente firme. Para todas estas pessoas, a presença do Cristo vivo m ostrou-se sufici­ente.

I - C onsolados os D iscípu los A m edrontados(Jo 2 0 .1 9 ,2 0 )

O dia da ressurreição linha sido emocionante, com m ui­tos rumores e crescentes emoções. Ao fim da tarde, reuni­ram-se os discípulos. Trancaram tudo, com medo dos j u ­deus, pensando que a qualquer mom ento soldados romanos

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poderiam ser enviados contra eles, para levá-los presos eomo cúmplices dc Jesus Nazareno. Certam ente tais hom ens nun­ca teriam pregado a ressurreição, a não ser que tivessem absoluta certeza de que Jesus realm ente ressuscitara.

Jesus, de súbito, estava no m eio deles, falando: “Paz seja convosco” . O Senhor j á tinha um corpo espiritual, g lorificado, c não estava sujeito a limitações naturais, tais com o portas trancadas. As palavras “paz seja convosco” tinham mais força do que quando em pregadas no cum pri­m ento tradicional, pois rcalm ente aquietaram os corações perturbados. Os discípulos sentiam m edo antes da vinda de Jesus (cf. Lc 24.37), mas, agora, sua presença anunciava confiança e vitória. O aspecto de Cristo era o m esm o, c, ao m esm o tempo, diferente, dc tal fo rm a que o imediato reco­nhecim ento da sua pessoa nem sem pre acom panhava a sua m anifestação . Era necessário a lgum a coisa a mais para com ple tar a identificação: “E, d izendo isto, m ostrou-lhes as mãos e o lado” (e os pés tam bém - Lc 24.40). Estava com pleta a identificação. Era real mente o Crucificado, que voltara à vida. “ Dc sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor” . Não pode haver m aior alegria do que esta! No com eço, a notícia parecia boa dem ais para ser verdadeira (Lc 24.41), c talvez os discípulos se sentissem eom o os que sonham (ef. SI 126.1). A alegria da esperança despertada, no entanto, transform ou-se cm alegria da plena convicção.

II - A C om issão D ada aos D iscípu los Jubilosos(Jo 2 0 .2 1 -2 3 )

Lima vez dissipados os tem ores e dúvidas dos d isc ípu­los, estes estão em condições de receber instruções. A pri­m eira “paz” foi para restaurar-lhes a confiança (v. 19); a segunda “p az” 1'oi para o serviço (v. 21). Os discípulos foram:

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Jesus Dissipa as D úvidas 2 1 9

/. Enviados. “Assim com o o Pai me enviou, tam bém eu vos envio a vós” . Foram enviados para cum prir o m esm o propósito, para com pletar a obra iniciada e ocupar o m es­mo relacionam ento que Ele assum ira com o Pai. O livro de Atos registra com o Jesus, m ediante o Espírito Santo, con ­tinuou a sua obra nas pessoas dos discípulos.

2. Inspirados. “ E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.” O sopro divino c um ato criador (Gn 2.7; cf. 1 Co 15.45). N essa ocasião, portanto, os discípulos receberam do Senhor da vida um tipo de vivificação espiritual. O “D om da Páscoa” foi um toque da v ida celestial do Cristo ressurreto, c o “ Dom de Pcnlccostes” foi o revestim ento de poder da parte do Se­nhor ressurreto. Na prim eira instância, receberam a vida espiritual; na segunda, o p o d er espiritual.

3. A utorizados. “Àqueles a quem perdoardes os peca­dos, lhes serão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos” . Os apóstolos nunca assum iram a autori­dade de perdoar, no lugar de Deus, os pecados específicos de indivíduos. O próprio Pedro m andou Sim ão recorrer a D eus para pedir perdão (At 2.22). Fístas palavras por certo referem -se a ofensas contra a disciplina da igreja, e não a pecados íntimos e pessoais contra Deus. Tal conclusão se obtém da seguinte maneira: João 20.23 e M ateus 18.18 tratam do m esm o assunto, e M ateus 18.17 indica que a questão em pauta não é a das ofensas pessoais, que podem ser solucionadas sem recurso ao ministro (Mt 18.15), e sim à recusa do crente cm subm eter-se à disciplina da igreja. Tal crente tem de ser expulso da igreja. Ao arrepender-se, c recebido de volta à igreja; seus pecados são “perdoados” (cf. 1 Co 5.5 e 2 Co 2.10).

Não há base para a doutrina da “sucessão apostólica” aqui, nada que sugira terem passado os apóstolos esta au­toridade a bispos que se seguiam a eles, c que os bispos pudessem passá-la a sacerdotes. Pelo contrário, entende se

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que havia outras pessoas presentes quando esta eom issão foi dada (cf. Lc 24.35), e que as palavras supra exam inadas se aplicam à igreja como um todo. O “perdão” dado na terra só pode referir-se a transgressões contra a jurisdição e o aspecto adm inistra tivo da igreja.

I l l - A C onvicção D ada ao A póstolo D uvidosos(Jo 2 0 .2 4 -2 9 )

1. O desafio do duvidoso. “Ora, Tom é, um dos doze, cham ado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.” T om é, ou D ídim o (que significa “gêm eo ”), era de tem pe­ram ento som brio e pessim ista (Jo 11.8,16; 14.5). Deixou- se abalar com a tragédia do Calvário, e estava se ressentin­do da perda. Por enquanto, sua fé estava em m aré baixa, c sua esperança, morta. M esm o assim, não abandonara a sua lealdade nem o convívio com os apóstolos.

O uvindo os testem unhos dos demais discípulos, disse enfaticam ente: “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas m ãos e não m eter o dedo no lugar dos cravos, c não meter a m inha mão no seu lado, de m aneira nenhum a o crerei” . Pixigiu a evidência mais positiva da visão e do tato. Queria crer, mas a tragédia do Calvário abalara a sua fé. Suas palavras indicam o quanto a inda estava a sua m em ória fi­xada nos terríveis acontecim entos da crucificação. Para ele, as chagas do Senhor ainda estão abertas c sangrando. Sente necessidade de evidências positivas de feridas tão mortais terem sido saradas pela Vida. Tom é, por mais que m ereça nossa simpatia, não deixa tam bém de m erecer a nossa cen­sura pela teim osa recusa em crer na palavra de dez teste­m unhas oculares de indubitável reputação e qualificação.

Q ue Jesus considerou sinceras as dúvidas de T om é se vê na m aneira de encai'á-las: o Senhor ressurrclo aparece novam ente, para oferecer as provas pedidas pelo discípulo que estivera ausente na prim eira ocasião. Quanto aos zom-

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Jesus Dissipa as D úvidas 221

badorcs, Jesus cncarava-os de m odo bem diferente (cf. Mt 16.4). Jesus aqui fala a um discípulo sincero, cuja fé era fraca, c não a alguém de coração descrente.

2. A resposta ao duvidoso. Note-se que, em ambas as ocasiões, Jesus apareceu no prim eiro dia da semana, com o se o dia em que ressurgiu dentre os mortos tivesse sido escolhido para ser honrado de m odo especial. A expressão original traduzida como “dia do Senhor’", em Apocalipse 1.10, foi o nom e que os prim eiros cristãos deram ao do ­mingo.

Jesus, quase repetindo as palavras empregadas por Tom é para definir os termos do teste físico que pedia, oferece-se à inspeção do discípulo. Bastou um único vislum bre do am ado M estre para Tom é se prostrar em terra com a arden­te confissão: “Senhor meu, e Deus m eu!” Sua felicidade era por dem ais grande para que pensasse em fazer testes científicos! Suas dúvidas evaporaram diante da revelação da presença de Jesus, com o se dissipam as névoas da m a­drugada ao raiar o sol.

Note-se que a confissão de fé feita por T om é é a mais avançada entre as de todos os outros apóstolos durante o seu convívio com Jesus. Pela graça de Deus, aquele que sentira mais dúvidas chega à crença mais com pleta e firme.

“Disse-lhe Jesus: Porque m e viste, Tom é, creste; Bem- aventurados os que não viram e creram .” Jesus não quer com isso louvar a falta de indagações e exam e; isto seria a credulidade, e não a fé. O evangelho convida a um exam e das suas verdades fundam entais, porque “isto não se fez cm qualquer canto” ( At 26.26). O que Jesus louva é a d is­posição de aceitar a fidedignidade da ev idencia dos d iscí­pulos que o conheciam , sem exigirm os a evidência dos nossos próprios sentidos.

As palavras de Jesus a T o m é realm ente se dirigem às pessoas de todas as eras, que não tiveram o privilégio de ver a Jesus. Ele quer que en tendam os que nenhum motivo

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dc inveja tem os daqueles que tiveram a oportunidade de vc-lo, c que som ente creram depois dc terem visto.

E nsinam entos P ráticos

/. A m issão de C risto e a nossa. “Assim com o o Pai me enviou, tam bém eu vos envio a vós” . A quem foram ditas estas palavras? A hom ens que já tinham visto o Senhor, que haviam sentido o toque das suas mãos e experim en ta­do a paz que excede todo o entendim ento . A quelas eram as qualificações para serem enviados cm nom e de Cristo, e tam bém são as nossas, em bora cm nosso caso o contato com Cristo seja espiritual.

A lg u m as ig re jas c o n s id e ra m apenas os sace rd o tes , p as to res ou anc iãos com o rep re sen tan te s o f ic ia is “e n v i­a d o s” por C ris to , conce ito que é es tranho ao ens ino do N o v o T e s tam en to no que diz re spe ito ao serv iço cristão. É indispensável um m inistério de dedicação integral, mas, afina l, um a das suas funções p r inc ipa is é levar os c re n ­tes à m a tu r id ad e esp ir itua l, a fim de que po ssam ser p re ­pa rados para o serv iço . “T a m b é m eu vos env io a vós” , d isse Jesus, e suas pa lav ras re fe rem -se a todos aqueles que tiveram um a v isão do S enhor, se a leg ra ram com a sua p resen ça c receb e ram a sua bên ção nos seus c o ra ­ções.

Para que propósito som os enviados ao m undo? Para produzir em nossas vidas um a cópia fiel da atitude que Cristo revela para com Deus c o mundo. Certo hom em piedoso declarou que era seu desejo suprem o viver de tal m odo que a sua própria vida p rovasse a veracidade do Evangelho.

A atitude de Cristo dem onstrada na vida diária do cren­te é um argum ento irrefutável cm prol do Cristianismo.

2. O Cristo vivo e as p o rta s trancadas. Reflitam os pri­meiro sobre este falo: foram os amigos de Cristo, e não os

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Jesus D issipa as D úvidas 223

seus inimigos, os prim eiros a trancarem as portas para o Ressurrcto. Não som ente estavam trancados entre as qu a ­tro paredes de um quarto, com o tam bém nas cadeias do medo, da aflição e da decepção. Lem os, no entanto: “C er­radas as portas... chegou Jesus” .

Repetidas vezes a Igreja, com zelo falso ou em ignorân­cia do plano do Senhor, tem trancado as portas para Ele. M ediante avivam entos espirituais, porém, as portas de p re ­conceitos tem sido arrom badas. “Cerradas as portas... che ­gou Jesus” .

C e r to n e g o c ia n te , q u e d u ra n te an o s v iv e ra c o m o agnóstico, disse que sentiu o toque do Senhor exatam ente com o se alguém lhe tom asse a mão enquanto andava na rua, para falar intim am ente a ele. Daquele m om ento em diante, sua vida foi com plc tam ente transformada. “C erra­das as portas... chegou Jesus” .

M uitos entre nós, cedendo à depressão, excluem o S e­nhor sem se aperceber; Ele, porém, chega para nos elevar do nosso abatimento. E podem os testificar: “Então Jesus veio a m im , m esm o estando as portas trancadas” .

3. P o d er e sp ir itu a l p a ra a obra esp ir itu a l. Q uando C ris to soprou sobre os d isc ípu los , e s tav a qu e ren d o d i ­zer: “P essoas esp ir i tu a lm en te m ortas não podem trazer a outros a v ida esp ir itua l. A ssim sendo, eu v iv if ico vocês e sp ir i tu a lm en te ” . T odos os que se d ed icam em g anhar a lm as p a ra C ris to reco n h ecem a ve rdade das pa lavras do Senhor: “S em m im nad a podeis fa z e r” . N in g u ém p ro c u ­rou h o n e s ta m e n te t ra n s fo rm a r-s e em tu d o aqu ilo que C ris to quer que ele seja, sem ter chegado a gem er, quase d e se sp e ra d o : “Q u em é su f ic ien te p a ra es tas c o is a s ? ” E m b o ra e s ta a ti tu d e fa ç a m a l ao o rg u lh o p ró p r io , é b e n é f ic a à n o ssa a lm a. É co m o c lam ar: “ S en h o r, o m eu cân taro está vazio; po r favor, encha-o para m im .” Sua re sp o s ta vem sem dem ora : “ B em -av en tu rad o s os pobres de esp ír ito , porque deles é o re ino dos céus... Bem -aven

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tu rados os que têm fom e e sede de ju s t iça , p o rq u e eles serão fa r to s” (ML 5.3 ,6).

Jesus disse: “ Recebei o Espírito San to” . C om o? Segun­do as palavras de Isaías: "Os que esperam no S en h o r reno­varão as suas forças” .

4. P roclam ando o p erd ã o aos arrependidos. U m dos possíveis sentidos do versículo 23: c direito c tam bém dever de todo cristão p roc lam ar ao m undo que Cristo foi m ani­festado para tirar o pecado, que aquele que crê será salvo ("os pecados lhes são perdoados” ), e que quem não crer será condenado (são “re tidos” os pecados).

Que pensam ento solene - saber que temos autoridade para d izer ao pior dos pecadores: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do m un d o ” !

5. O fa lto s o . “ O ra, T o m é, um dos doze , c h am a d o D ídim o, não estava com eles quando veio Jesus” . Q ue hora para faltar á reunião! Decerto T o m é nem im aginava quão m aravilhoso haveria de ser o culto! Talvez pensasse que os dem ais discípulos falariam sobre o Cristo morto. Existem hoje, nas igrejas, pessoas para as quais Cristo não é uma realidade viva, e im aginam , portanto, não haver vida esp i­ritual na igreja, fa l tam , não por indiferença, nem por se sentirem satisfeitas cspiritualm entc, mas por falta de espe­rança.

Contrariam ente às expectativas de Tom é, no entanto, os discípulos tiveram um a reunião m aravilhosa, porque Jesus estava ali. Tom é perdeu muita coisa: um a dem onstração da certeza da vida futura, o gozo de grande enlevo espiritual, a dádiva da paz, a vocação ao ministério da p regação e o sopro do Espírito Santo. É triste para a igreja quando os crentes com eçam a faltar aos cultos.

6. C rer é ver. A incapacidade de ver pode ser explicada por um dos dois m otivos seguintes: ou nossa visão é boa e o objeto a ser visto é obscuro; ou é claro o objeto, e infe­rior a nossa visão.

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Jesus D issipa as D úvidas 2 2 5

Qual foi o caso de T om é? A evidência era suficiente­m ente c lara porque tinha o testem unho unânim e de dez hom ens que conhecia há anos, e isto não som ente pelas palavras deles, com o tam bém pelos seus rostos transform a­dos de júb ilo espiritual. A dificuldade, portanto, não eslava na evidência, e sim na atitude dc Tom é. Jesus, portanto, disse: “Não sejas incrédulo, mas crente” .

As pessoas talvez digam que não podem crer nisto ou naquilo, e talvez estejam sendo sinceras. A pergunta mais importante, em tal caso, é: “Você realm ente quer saber se isto é verdade? E estaria disposto a conform ar sua conduta com os fatos, um a vez averiguados?”

O olho sadio verá a luz. O coração sadio perceberá a verdade.

7. Im pondo c ondições a Deus. T om é errou g randem en­te em querer estipular condições cm que Cristo leria de vir a ele. “Sc eu não... de m aneira nenhum a crerei” . Definiu o cam inho pelo qual Jesus leria dc vir a ele, e não quis pe r­ceber a p resença do Senhor, a não ser que fosse por aquele caminho. É certo que Cristo se adaptou às fraquezas do melancólico discípulo, mas nem por isso devem os repetir tal erro. Não podem os ditar ao Senhor os m étodos que deverá em pregar para tratar conosco. O papel da criatura é confiar no Criador, e não procurar lim itar o Onipotente.

8. A vista nem sem pre é a visão. Leia o versículo 29. Esta época materialista exige fatos concretos, mas, m esm o na vida cotidiana, há d iferença entre ver e perceber. M ui­tas pessoas passam nas galerias dc arte sem perceber nada de especial nas obras-primas, não reconhecendo nelas qual­quer significado ou valor.

M ilhares de pessoas viram Jesus enquanto estava aqui na terra, mas nem todas perceberam ser Ele o Filho dc Deus. Em contraste, milhares dc pessoas hoje, que nunca viram a Jesus fisicam ente, reconhecem -no pelos olhos da fé, dc form a que Ele lhes é tão real com o um am igo na terra.

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“Não posso crer” , disse um jovem descrente a D. L. M oody. “Fm quem você não pode c re r?” pe rgun tou o evangelista. Respondeu hem! O Cristianismo apresenta, cm primeiro lugar, um a Pessoa que m erece nossa confiança, c não tanto um a serie de proposições abstratas a serem acei­tas. Q uando um am igo telefona dizendo que chegará a tal hora, vamos para a estação nos encontrar com ele. Cristo nos avisou que se encontrará conosco no local cham ado Fe, c ali o acharem os.

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Jesus Aparece a Sete Discípulos na Galiléia

T exto: J o ã o 2 1 .1 -2 4

Introdução

Nós, que pertencem os ao Jesus ressurreto, podem os ter certeza de que, enquanto labutamos nos mares desta vida, Ele está nos olhando da praia além, pronto a dar as instru­ções que nos garantirão o sucesso. T alvez não cheguem os a ver os resultados até o raiar da aurora final, quando mãos angelicais recolherão o fruto ao Celeiro eterno. Estêvão viu Jesus à mão direita de Deus, e Ele se revela a todos que buscam a sua face. Nosso Senhor, entronizado, dirige de lá a batalha cuja vitória final j á c garantida; c a partir desta vitória que podem os proc lam ar o Evangelho: “Ora, o Se­nhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e as- sentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, p rega­ram por toda parte” . O m esm o Senhor vitorioso que está nas alturas, tam bém está lutando ao lado dos seus fiéis, “cooperando com eles o Senhor, c confirm ando a palavra com sinais que se segu iram ” (Mc 16.19,20). Em bora este jamos no m eio do mar bravio, c Ele no Céu, há entre o Senhor e nós a plenitude da união e da com unhão, e reco

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bcrcm os da parte dEIc ilim itados suprimentos de forças, g raça c bênçãos, se reconhecerm os a sua presença, confes­sarmos a nossa insuficiência, obedecerm os a Ele e esperar­mos a sua bênção.

I - A Festa In esperada (Jo 2 1 . 1 1 4 )

/. Uma expedição infrutífera. Os apóstolos, obedecen­do as ordens do Mestre, foram para a Galiléia, onde Ele prom etera encontrá-los. D urante a espera, Pedro, sempre impaciente, falou, com característica impulsividade: “ Vou pescar” . Se ele achava que, enquanto esperava o Mestre, deveria aproveitar o tem po para cu idar dos negócios, fazer um pouco de exercício c tom ar o ar fresco do mar, então conseguiu bastante exercício c ar fresco, mas nenhum re­sultado no negócio da sua especialidade, a pesca: “N aquela noile nada apanharam ” . A cham os que talvez o Senhor ti­vesse algo a ver com aquelas redes vazias; não queria que seus futuros missionários se dedicassem demais às antigas ocupações.

2. O alegre encontro. “ Filhos [lilcralmcntc, ‘rapazes’], tendes a lgum a coisa de com er?” perguntou o desconheci­do, cm pé, na praia. R ecebendo resposta negativa, fez a seguinte sugestão: “Lançai a rede para a banda direita do barco, e achareis” . De fato, fizeram um a pesca de cento e cinquenta e três grandes peixes. João, com seu discernimento e sensibilidade espiritual, olhou bem para o desconhecido na praia c reconheceu-o, exclam ando: “E o Senhor” ! Pedro não parou para duvidar, debater ou investigar: im puls iona­do pelo seu am or ao Mestre, saiu do barco de um só salto para dentro da água, c logo chegou à praia. Não sc im por­tava mais com a pesca ou os peixes - queria Cristo!

M u ita s vezes , em n ossas v ia g en s pelo o c ea n o da vida, n o sso lab o r to rn a -se in fru t í fe ro ; en tão , q u an d o a lg u ém nos d ir ig e aos fru tos, e x c la m a m o s co m jú b ilo :

I o S e n h o r !”

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Jesus A p a rec e a Sele D isc ípu los na Galilé ia 229

3. O g ra c io so convite . Pedro , ch eg an d o à praia, viu que hav ia um fogo aceso (“ um as b ra sa s” ) em que Jesus p rep a rav a u m a re fe ição , bem d ife ren te do fogo (“b ra se i­ro” ) ao lado do qual P edro q u e ria se a q u ece r no pátio do sum o sacerdo te . A q u e la ocas ião fora pa lco de tristeza, ten tação e negação de Jesus; agora, hav ia g lória , s eg u ­rança c a re s tau ração da c o m u n h ão com C ris to . Pedro sen tia-se m uito m ais con fo rtáve l aqui, à be ira -m ar, ao lado do m ilag re da c o n d esc en d ê n c ia d iv ina . O e terno Filho de D eus, C r iad o r do U n iverso , en ten d e tão bem nossa fraca s ituação hum an a , p rep a ra um a refe ição e diz, so rriden te : “V inde, j a n ta i ” . O S enhor g o s tav a de cu idar dos seus, segundo suas p róp r ias pa lavras: “ Pois o p r ó ­prio F ilho do hom em não veio para ser serv ido , mas para servir, e da r a sua v ida cm resga te po r m u ito s” . N osso Senhor, no Céu, co n tin u a com a m esm a d isp o s ição em nos a tender, co n fo rm e Ele m esm o decla rou : “ B em -av en ­turados aqueles servos, os quais, q u ando o Senhor vier, achar v ig iando! Em v e rd a d e vos digo que se c ing irá , e os fará a ssen ta r -se à m esa , e, c h eg an d o -sc , os se rv irá” (Lc 12.37).

II - O C ulto da O rdenação (Jo 21.15-17)

A refeição que Pedro tom ou ao lado de Cristo talvez s im bolize aquela profunda c contínua com unhão que seria necessária ao seu futuro ministério. Nós tam bém devem os aceitar o a lim ento que Cristo nos prepara se quiserm os ter condições de a lim entar as suas ovelhas.

E s tudarem os a res tau ração pública de Pedro no seu ofício, posição que ele m esm o considerava sacrificada pela sua tríplice negação de Cristo. A restauração cm público era tão necessária com o a que recebeu cm particular (Lc 24.34), a fim de os dem ais apóstolos reconhecerem -no cm sua posição de autoridade espiritual.

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230 .loan, o E vange lho do Filho de Deus

/. O interrogatório . A Bíblia contém perguntas bem diretas e profundas, com o por exem plo: “O nde estás?” “Onde está Abel, teu irmão?” “Que fazes aqui, Elias?” Aqui temos o tríplice interrogatório, com Jesus perguntando três vezes: “Simão, filho de João, am as-m c?” Esta pergunta era:

/ . / . Uma lem brança. Jesus, deixando de lado o nome de Pedro (que representa a força espiritual que seria ao edificar-sc firm em ente na rocha, que c Cristo), que Ele m esm o lhe dera, voltou a em pregar o nom e de “Sim ão” , com o que o lem brando das suas antigas fraquezas, e per­guntando se está disposto a ser Pedro, a rocha — não pelas suas próprias forças, e sim m ediante a firm eza que apenas Cristo lhe pode dar. As três reiterações da pergunta seriam a retratação da tríplice negação, e as palavras “am as-m e mais do que estes?” serviríam de lem brança a Pedro, de que não devia jactar-sc da sua própria lealdade: “Ainda que todos se escandalizem cm ti, eu nunca rne escandalizarei” (Ml 26.33). E: “A inda que todos se escandalizem , nunca, porem, eu” (Mc 14.29).

1.2. Um leste Antes de Pedro ser enviado em nome de Jesus para cuidar das ovelhas, precisava ter certeza de estar cm harm onia com o Sumo Pastor. O am or tem de ser o vínculo entre Cristo c seus obreiros. Amor, c não im agina­ção apenas. Amor, e não som ente um rígido senso do de ­ver. Amor, e não um sentimento romântico. Paulo descre­ve assim a essência do Cristianismo: “A fc que atua pelo am or” (Cl 5.6). O teste suprem o da nossa experiência cris­tã é nosso real am or por Cristo.

2. O exam inando. Jesus em prega a palavra a m a r , que tem, na língua original, vinculação com o am or divinal c puro, e Pedro, na sua resposta, em prega a pa lavra am ar mais com um , que representa a amizade. A quela terrível noite no pátio do sum o sacerdote, quando Pedro, aconche- gando-se aos confortos dos inimigos de Cristo, negou-o quando menos o imaginava, j á o havia curado da confiança

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Jesus A p a rec e a Sele D isc ípu los na Galilé ia 23 1

cm si m esm o. N a terceira pergunta, Jesus volta à palavra mais com um , com o se para testar a au toconfiança dc Pedro até no tocante à sua sim ples e leal amizade. Pedro ficou triste, m as respondeu apenas: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te am o” . Pedro já não depende da confiança que tem em si m esm o; fora de Cristo, ele nada pode; seu am or se alicerça no am or que Ele lhe deu, c seu caráter depende daquele aspecto m elhor do seu íntim o que Cristo conhece, podendo ensiná-lo a am ar devidam ente . Aqui há consolação para nós: quando as pessoas criticam nossas atitudes, com o se estivessem dizendo que não é assim que o servo dc Cristo deve agir, é um a bênção poderm os dizer, cm oração: “Tu sabes que eu te am o ” .

3. A obra. Pedro, recuperado quanto às suas forças es­pirituais, deve dcdicá-las ao serviço da Igreja de Cristo. A ntes da negação, Cristo admoestou-o: “Tu, quando te con­verteres, confirm a os teus irm ãos” (Lc 22.32); depois da negação, a adm oestação c: “A pascenta as minhas ovelhas” . Pedro, lem brando-se das próprias fraquezas, cheio dc g ra­tidão pelo am or dc Cristo, que o perdoou, c sentindo as necessidades dos seus com panheiros m ediante a com pre­ensão dc que suas próprias falhas lhe ensinaram a encará- las com simpatia, an im ado pelo am or de Cristo, teria agora dc scr um herói, a fim de fortalecer os demais. Muitos anos mais tarde, Pedro transm itiu este m esm o recado, esta m es­ma incum bência, aos líderes das muitas igrejas que ex isti­am: “A os presbíteros, que estão entre vós, adm oesto eu, que sou tam bém presbítero com eles... A pascentai o reba­nho de Deus, que há entre vós... E, quando aparecer o Sum o Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória” (1 Pe 5.1-4).

Há, nas três incum bências, certa progressão dc pensa­mento: 1) “A pascenta as m inhas ove lhas” . Isto referc-se cspecialm cnte a crentes jovens e imaturos, que devem ser guiados m ansam enlc c alim entados com o genuíno leite cs

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piritual, que é u Palavra (1 Pc 2.2). 2) “A pascenta as m i­nhas ovelhas” . Guiar, dirigir, p ro teger de inimigos os dis­cípulos mais m aduros que saem a enfrentar o m undo, con­servando tam bém a disciplina do rebanho. 3) “Apascenta as minhas ovelhas” . As vezes há crentes antigos que tem tantas fraquezas ou tentações, que exigem mais atenção pastoral que os próprios cordeirinhos.

E nsinam entos Práticos

1. Trabalhando durante a noite. Os infrutíferos esfor­ços dos discípulos durante a noite inteira lem bram -nos que os obreiros cristãos mais bem -sucedidos têm muitas expe­riências de fracassos c decepções. M esm o quando estamos lutando contra a maré, no meio das ondas e na noite escu­ra, Jesus está nos olhando, e de um m om ento para o outro pode nos revelar sua presença e m ostrar-nos que, enquanto perseveram os com paciência e esperança, nossa obra feita para o Senhor não é em vão.

2. A consideração de Cristo. Os Evangelhos trazem todos os sinais da veracidade: nenhum a imaginação piegas, ne­nhum inventor de lendas teria pensado cm pintar um qua­dro do Senhor ressurreto preocupando-se com algo tão co ­mum e insignificante com o cozinhar peixe para seus segui­dores. Não há. entretanto, nada de artificial, forçado ou desnalurado cm nosso Senhor glorificado; o que é do nos­so interesse, interessa a Ele. O que é suficientem ente im ­portante para ocupar a nossa séria reflexão é suficiente­m ente im portante para Ele. O Senhor tem com paixão das nossas enferm idades, dos nossos sentimentos, po r mais tri­viais que pareçam ser. Isto nos incentiva a orar sobre todo e qualquer assunto - lançando sobre Ele os nossos fardos!

3. A necessidade hum ana — a oportunidade do Senhor. Guando Jesus perguntou: “Filhos, tendes algum a coisa de com er?” , já sabia que a resposta teria que ser negativa; sua

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Jesus Ap a re c e ct Sele Discípulos na Ga/ i lé ia 233

pergunta visava despertar neles o reconhecimento do seu próprio fracasso. Muitas vezes, o Senhor tem que desferir um golpe mortal em nosso orgulho c autoconfiança, a fim de nos preparar para receber da parte dEle as suas forças. Quando nosso eu chega ao fim, Ele pode começar. Nosso limite é a oportunidade do Senhor. “Sendo tu pequeno aos teus olhos... o Senhor tc ungiu” (1 Sm 15.17)

4. “Lançai a rede à destra do barco ”, Se, após sofrcr- mos algum fracasso, nos d ispuserm os a escutar a voz do Senhor, Ele nos m ostrará o modo certo de servi-lo. Ele não quer repreender, denunciar, criticar; deseja, sobretudo, nos orientar. “ E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça- a a Deus, que a todos dá libcralmentc, e o não lança cm rosto, c ser-lhe-á dada” (Tg 1.5). Certa m issionária desco­briu que, a despeito do seu muito esforço na organização, pregação c ensino, seu m inistério era um fracasso. Sentiu- se, então, levada a deixar de lado algum as atividades para dedicar algum as horas ã oração. Houve, com o resultado, um a revolução total no seu ministério. Fora levada a lançar a sua rede no lado certo! Q uando surgem os fracassos, como ãs vezes acontece, devem os levá-los ao Senhor (cf. Mc 9.28,29).

5. A pós a tem pestade, a bonança. As incertezas do mar tem pestuoso seguidas pela segurança da praia firme; a noite de labuta seguida pelo brilho da aurora; a ausência de Cristo seguida pela sua presença pessoal; a dolorosa fom e segui­da pela refeição que satisfaz — todos estes aspectos fazem com que a narrativa seja um a bela figura da nossa chegada ao Céu, após a tem pestuosa viagem pela vida.

6. O am or, m otivação suprem a da vida cristã. “Simão, filho de Jonas, am as-m e?” Jesus poderia ter perguntado: “Sim ão, j á te arrependeste?” ; ou: “Sim ão, finalm ente te hum ilhaste?” ; ou: “Sim ão, tens certeza de ter o conceito correto quanto à m inha pessoa?” ; ou: “Simão, prometes que nunca mais me negarás?” ; ou: “Simão, sem pre m e obede

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c e rá s? ” Ao contrá rio , s im p lesm en te pergunta: “S im ão, a n u is-m eT ’ No entanto, aquela pergunta tão singela atinge o próprio coração da vida cristã. Cristo busca cm primeiro lugar o nosso coração, a entrega de nossos afetos, pois, um a vez que assim acontece, seguir-se-ão naturalm ente o arrependim ento , a lealdade, a obediência c o serviço.

Quantos deveres cristãos são deixados de lado quando se d im inui a frequência à igreja ou quando as ofertas vão eseasseando. Podemos achar uma centena de desculpas para explicar o descuido. Muitas vezes, porém, a verdadeira razão pode ser definida nas seguintes palavras: “Deixaste o teu prim eiro am or” (Ap 2.4). M esm o assim, a consciência de nossa falta de am or não deve nos desencorajar a buscar o Senhor; temos plena consciência das nossas falhas passa­das; hesitam os quanto a oferecer ao Senhor os nossos afe­tos tão minguados. Jesus Cristo, no entanto, aceita nossos m inguados recursos de amor, porque Pile pode transformá- los cm plenitude de abundância.

7. R econhecendo o Senhor. Qual foi a dem onstração concreta da verdade de ser o Senhor a pessoa que estava na praia? Resposta: “C hegou pois Jesus... e deu-lho” . Jesus c sobretudo o grande Doador. Neste m esm o evangelho, Ble diz com respeito ao seu Pai: “Porque Deus am ou o m undo de tal m aneira que deu” . Este é um sinal da divindade de Cristo, que “a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto” . Dá aos homens cm suas necessidades; quando os sedentos estão desmaiando, Pile faz brotar as águas, m esm o no meio do deserto ou das duras rochas. M uitos cristãos, recebendo uma bênção espiritual inesperada ou um a ex­pressão da divina providência na sua vida, podem excla­mar: “E o S e n h o r”!

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ApêndiceO Evangelho ele Jesus Cristo segundo João é o mais conheci­

do, o mais amado livro do mundo. Essa obra tem induzido mais pessoas a seguirem a Cristo e inspirado mais crentes a servirem ao Senhor que qualquer outra, através dos séculos. Se se conside­ra Lucas “a mais bela obra literária do mundo”, João é ainda mais elevada, mais sublime. Ao passo que suas histórias cativam as crianças, suas lições são insondáveis aos filósofos. João é o Evan gelho Eterno, o Evangelho de Deus.

O a u to r d o q u a r to E v a n g e lh oO escritor deste livro foi o apóstolo João, que, com Pedro e

Tiago, era um dos três valentes e mais ilustres do Eilho de Davi (Mc 5.37; Mt 17.1; 26.37; ver 1 Cr 1 1.10-47). Seu pai, Zebedeu, um pescador no mar da Galiléia, parece homem abastado; pos­suía, talvez, casa em Bctsaida e tinha servos (Mc 1.20). Salomé, a mãe de João (Mt 27.56; Mc 15.40; 16.1), foi uma das mulheres que acompanhavam a Cristo e seus discípulos e o serviam com suas fazendas (Lc 8.3; Mc 15.40,41). Eoi esta mesma mulher, santa e querida, que, com outras, na manhã da ressurreição, levou aromas para embalsamar o corpo de Cristo (Mc 16.1). João era, sem dúvida, no início, um discípulo de João Batista. Depois foi escolhido para ser um dos 12 apóstolos (Mt 10.2). AquEle que conhece os corações dos homens, deu a João e seu irmão, Tiago, o nome de Filhos do trovão (Mc 3.17). Eoram assim chamados.

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236 João, o Evange lho do Filho de Deus

talvez, por causa elo poder com que testificavam do Cristo, o Tro­vão entre os hebreus, dignificando a voz do Pai. João foi conhe­cido corno aquele que Jesus amava (Jo 13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20). Foi a ele que o Mestre confiou o cuidado de sua querida mãe antes de morrer (Jo 19.26,27). Foi um dos discípulos que perse- veravam unanimemente em Jerusalém em oração e súplicas (At1.13,14). Foi, com os outros, no dia de Pentccostc, batizado no Espírito Santo (At 2.4). Continuava na constante companhia de Pedro (At 3.4; 4.1 3; 8.14,1 7). A história da Igreja concorda em que João residia em Éfcso, de onde dirigia a obra das igrejas. Foi de lá banido à solitária ilha de Patmos, “por causa da palavra de Deus. c pelo testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1.9). Sobreviveu a todos os outros apóstolos, por muitos anos, sendo o único deles que não morreu mártir.

A d a ta d o liv ro d e J o ã oJoão escreveu seu evangelho, provavelmente, nos anos 85 a

90 a.D., quando todo o Novo Testamento estava completo, a não ser a parte que ele mesmo escreveu. De maneira extraordinária, seu evangelho leva todos os quatro evangelhos ao maior grau de glória e de instrução prática. Sua primeira epístola é o ponto culminante das epístolas. O Apocalipse c o selo e o apogeu de toda a Bíblia. João, com meio século de experiência como pastor e evangelista, depois da crucificação, ficou melhor preparado para escrever sua obra acerca do Mestre. Suas palavras nos estimulam ainda mais, se nos lembramos do que ele tinha experimentado quando escrevia. Reclinara a cabeça no seio do Senhor c compar­tilhava intimamente os sentimentos de seu coração amoroso. Se­guira o Senhor ao seu julgamento, quando todos os outros discí­pulos tinham fugido (Jo 18.15). Fora o único a ficar ao pé da cruz para receber a mensagem do Salvador, antes de Ele expirar. Pre­senciara a ascensão. Fora um dos 120 discípulos maravilhosa- mente batizados no Fspírilo Santo, no glorioso derramamento do Pentccostc. Acolhera a mãe do Senhor em casa. até ela morrer. Vira a dispensação judaica findar e a destruição da cidade santa. F, não muito depois de escrever seu evangelho, foram-lhe conce­didas as visões vibrantes e preciosíssimas do Apocalipse. Verda­deiramente, se estudarmos, lembrando do que João tinha visto, do que sentia no coração quando escrevia, desfrutaremos muitas vezes mais das bênçãos e da alegria do Espírito Santo.

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Apênd ice 237

O v e r s íc u lo -c h a v e d o livroPara se desfrutar das riquezas de qualquer livro da Bíblia é

necessário possuir, primeiramente, a chave própria do livro. As vezes a chave está na fechadura da porta, na frente, como no livro de Atos, esperando que abramos a porta para entrar. A chave do livro de João, contudo, está bem no fundo: “Pistes porém, foram escritos para que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

Não é, todavia, somente no fim do livro de João que se encontra o propósito da obra. No primeiro capítulo está registra­do que “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito que está no seio do Pai, esse o fez conhecer” (v. 18). O alvo, por­tanto, dos sublimes “retratos” do Filho unigênito que se encon­tram no livro de João, é que os homens conheçam o Pai do Filho unigênito, Deus.

No Fragmento Muratoriano consta como o apóstolo João es­creveu seu evangelho “solicitado pelos bispos e colaboradores” e somente depois de um tempo de jejum e oração. Não ambici­onava lugar entre os literatos de renome, mas antes um lugar para Cristo no coração dos homens. Escrevia, não para divertir os homens, mas para levá-los à convicção, mesmo como Lucas escrevera para levá-los à confirmação (Le 1.3,4). Queria que ficássemos convictos do ofício divino e da natureza divina de Jesus. Estes foram escritos para que creiais que Jesus é o Cris­to. o Filho de Deus.

A d iv isõ e s d o livroJoão, como Lucas, divide-se, naturalmente, em sete partes

principais:I. Prólogo ou prefácio: Jesus, o Cristo, é o Verbo eterno

feito em carne (Jo 1.1-14).11. O testemunho de João Batista (Jo 1.15-34).

III. O ministério público de Cristo (Jo 1.35-12.50).IV. O ministério oculto de Cristo entre os discípulos (Jo

13.1-17.26).V. O sacrifício de Cristo (Jo 18.1-19.42).

VI. Cristo se manifesta ressuscitado (Jo 20.1-31).VII. O epílogo ou fecho do livro: Cristo se manifesta como

o Mestre da vida e do serviço (Jo 21.1-25).

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238 .font), o Evange lho do I ' i lho do Dens

J o ã o c os S in ó tic o sSinótico quer dizer: O que dá uma vista geral de tudo, ou da

parte principal. Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) são assim chamados porque nos fornecem uma vista geral - ou resumo - da vida de Cristo. Ksses três livros narram a vida de Cristo no mesmo esboço geral. Cada um dos três salienta seu ministério na Galilcia e conta resumidamente a sua obra na Judeia e na Pcrcia. O Kvangelho de João, ao contrário, dá ênfase ao que Ele fez na Judeia e na Perdia, e abrevia seu relato do que fez na Galiléia. Os pontos de contraste principais entre João e os sinóticos são:

O s S in ó tic o sTodos escritos antes dc 70 a.D.Salientam biografia Relatam muitas parábolas Narram 23 milagres Enfatizam discursos públicos Contam o que Jesus fez IJm panorama de Jesus, servindo

J o ã oEscrito cerca de 90 a.D.Salienta doutrinaNão relata nenhuma parábolaNarra apenas 7 milagresEnfatiza entrevistas ocultasConta por que o fezUma radiografia da pessoa dc Jesus

Q u e c o liv ro d c J o ã o p a ra n ós?Cremos realmente que Jesus Cristo c o Filho de Deus? Te­

mos vida em seu nome? (Jo 20.31). Temos essa vida em abun­dância? (Jo 10.10). Transbordamos ate produzir muito fruto? (Jo 15.2). O propósito de João é sobremaneira prático. Quer não somente produzir fé em nós, mas demonstrar a vida que essa fé deve produzir. Os sete ou oito milagres registrados são verda­deiros “sinais” (Jo 2.11). Ainda mais, são símbolos da vida trans­mitida por Cristo. O primeiro milagre foi leito nas bodas em

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Apênd ice 239

Caná para enfatizar a alegria da vida cristã e como Cristo nos transforma. Temos essa alegria? Nossa vida está transformada? A cura do paralítico de Betesda (Jo 5) nos fala não somente do poder a nós concedido sobre a mais grave enfermidade, mas também do poder concedido aos caídos, para que se levantem e andem espiritualmente. Temos esse poder, sobre o físico e o espiritual? Ou ficamos paralisados espiritualmente, escravizados pelo temor, pelo desalento, pelo ódio? Que significam, para nós, os sublimes retratos do Filho de Deus, nesse livro? Formam apenas uma obra literária, de extraordinária fama? Ou são, para nós, um desafio a pôr em ação esse mesmo poder, tanto na parte física quanto na espiritual, em nosso serviço?

O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em Cristo, isso Jazei; e o Deus de paz será convosco.

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SÉRIEComentário

Bíblico

OÃOM Y E R P E A R L M A N

Por que João tornou-se o mais conhecido dos Evangelhos?Por que o autor sagrado não se preocupou em apresentar a genealogia de Jesus? Por que é o único evangelista a chamar Jesus de o Verbo de Deus?O que torna este Evangelho tão especial?Você encontrará as respostas neste livro, escrito por um israelita que, à semelhança de João, também veio a reconhecer Jesus como o Filho de Deus. Aproveitando sua experiência no judaísmo, o pastor Myer Pearlman empresta um sabor todo especial a este comentário. E um judeu falando daquEle “que veio para o que era seu, e os seus não o receberam”.

O AutorOriundo de uma fam ília israelita, o pastor M yer Pearlman tornou-se consagrado

teólogo pentecostal. Seus livros já form aram gerações de obreiros e crentes.

É autor de seis outros livros desta série.

ISBN 85-263-0025-