memoria descritiva projecto

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    DIAGRAMAS

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    I. CONTEXTO

    O projecto com o nome de diagramas resulta do desenvolvimento terico do laboratrio de

    iniciao fotografia analgica, movimento perptuo, o tempo na imagem, espao deformao e investigao em fotografia do Ncleo de Arte Fotogrfica da Associao de

    Estudantes do Instituto Superior Tcnico tendo como tema base o movimento.

    Numa presente sociedade assente sobre a imagem ser pertinente question-la?

    Numa presente sociedade onde as nossas decises so constantemente condicionadas, quer

    seja na forma como somos conduzidos aos produtos que consumimos, quer na forma como nos

    observamos, esta redefine-nos, molda a nossa viso de ns prprios e do que nos envolve.

    Ser pertinente questionar a razo que leva ao aparecimento do corpo humano nos meios de

    comunicao de uma forma estandardizada? Porqu uma tipologia para a constituio fsica

    humana? Que consequncias ter o uso deste padro que generaliza algo singular?

    Como percepcionar e reconsiderar um corpo que est a ser constantemente reconstrudo pelos

    avanos da cincia e da engenharia?

    Figura 1 - John Lamprey, malayan male, anthropometric study, 1868-69

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    II. INTRODUO / REFERNCIAS

    Nos finais do sculo XIX questiona-se o corpo humano, sobre o lugar de direito do mesmo na

    cincia e na arte, tendo a fotografia um papel importante neste registo.

    Questes raciais, concepes de beleza, sexualidade e natureza humana, crenas de decncia e

    moralidade, conceitos de selvajaria, civilizao e lutas entre classes sociais, so temas que

    condicionam as interpretaes das fotografias que surgiam nos meios de comunicao social da

    poca () Numa poca conservadora onde a cara e as mos eram as nicas partes dos corpos

    expostas, consequentemente, aumentava o desejo da compreenso do mesmo, desenvolviam-se

    as cincias denominadas frenologia, fisiologia e antropologia. Apoiadas sobre a veracidade

    inquestionvel da fotografia, registar-se-iam sujeitos no seio das suas culturas, medindo,

    analisando e classificando as diferenas entre eles, partindo sempre do principio que o corpo a

    chave para a compreenso da raa e da cultura. (William A. Ewing, traduo do livro The Body)

    Nos finais de 1860s T. H. Huxley e John Lamprey desenharam procedimentos standards para a

    fotografia etnogrfica. O sujeito despido pousava de p e sentado, de frente para a cmara ou de

    perfil. Huxley colocava os sujeitos juntos de uma rgua e Lamprey colocava-os em frente a malha

    mtrica quadrangular.

    Figura 2 - Dr Guillaume-Benjamin Duchenne, analyse lectro-physiologique de lxpression des passions, 1852-56

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    O sculo XIX reflectiu a esperana depositada na cincia para desvendar os mistrios do corpo

    humano tal como satisfazer as altas expectativas que a fotografia criava como ferramenta. O que

    aparentemente partilharam os investigadores da poca foi o desejo de tornar visvel o invisvel.

    Wilhelm Konrad Rontgen inventou os Raios-X, fotografias do interior do corpo humano sem que

    este tivesse de ser aberto. (William A. Ewing, traduo do livro The Body)

    A partir de 1862 o professor Charcot, especialista em patologias anatmicas, no usou apenas a

    cmara para as suas funes especficas, mas como uma forma de percepo mais vasta da

    doena e tratamento. Charcot acreditava que atravs da fotografia no se obtinha uma viso

    directa e sim uma forma de percepo. As fotografias eram tiradas nas vrias fases da doena

    dos pacientes e do seu tratamento.

    Em 1882 surgiu o primeiro mtodo de registar a identidade criminosa por Alphonse Bertillon.

    Consistia em fotografias de perfil e de frente, acompanhadas das medidas do crnio, dos braos

    esquerdos, dos dedos esquerdos, dos ps esquerdos e do peso do corpo. Bertillon sabia que

    sem a estandardizao e preciso dos retratos compar-los seria insignificante, a identidade no

    seria possvel de ser criada com certeza absoluta.

    Figura 3 - Alphonse Bertillon, Measurement of the cubit, 1893 World's Columbian Exposition in Chicago

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    A photomicrografia permitiu ao cirurgio do exrcito americano H. j. Woodward demonstrar que

    o cancro a mutao de uma cela do corpo e no um organismo externo. Permitiu ao fotgrafo

    George R. Rockwood uma publicao na Photographic News intitulada teoria photo-

    phisiolgica. Analisando microfotografias do tecido cerebral, descobriu o que lhe pareciam ser

    simblos chineses ou hierglifos, imagens impressas no crebro que permitiriam, segundo ele,

    extrair de um crebro de um cadver poemas pstumos, segredos de famlia, opinies reprimidas,

    ou mesmo o segredo da vida.

    Em 1882 o fotografo Albert Londe junta-se a Paul Richer, mdico e professor de anatomia, e

    desenvolveu o mtodo fotogrfico photochronographico nos pacientes com desordens

    nervosas, mtodo que consistia em usar uma cmara de 12 lentes capturando os movimentos

    no percepcionados pelo olho humano.

    Outro dos interesses da cincia do sculo XIX o movimento: fisionomistas procuravam decifrardiversos fenmenos fsicos dos quais o movimento era a base da questo. A fotografia tem um

    papel bastante importante nesta investigao. Eadweard Muybridge, Etienne-Jules Marey,Albert

    Londe, Paul Richer e mesmo Duchenne estudavam o fsico em movimento

    Figura 3 - Eadweard Muybridge, Nude Descending a Staircase

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    A fotografia seria o instrumento que media rigorosamente amplitude, fora, durao,

    regularidade e forma. O filsofo Franois Dagognet definiu a fotografia como, capturar e traduzir

    fenmenos numa rede de inscries, onde no princpio ficou visvel, depois legvel (isso ,

    inteligvel) () dessa forma Marey esperava atingir o seu objectivo: a linguagem da

    natureza. ( William A. Ewing, traduo do livro The Body)

    Figura 4 - Etienne-Jules Marey, man walking, 1890-91

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    III. DESENVOLVIMENTO

    Uma cabea, um tronco, dois braos e duas pernas, ser certamente a descrio representativa

    do corpo humano a que estamos habituados, percepo educada segundo padres culturais e

    temporais.

    Pretendendo continuar e alargar a forma de registo do corpo humano e do movimento implcito no

    mesmo quando este se encontra imvel, partimos, desta forma, da viso arqutipo do mesmo

    fotografando-o de p sem roupa, de costas para a cmara, contra um fundo regrado. Processo

    sustentado pelos estudos cientficos realizados no passado, registam-se diferentes corpos contra

    o mesmo fundo, individualmente, com o mesmo enquadramento e mesma distncia da cmara

    produzindo um conjunto de imagens homogneas.

    O nome de ndice-lista de matrias, captulos ou termos contidos num livro; catlogo; tabela;

    rol alfabetado; relao entre duas medidas segundo o Dicionrio Porto Editora - poderia aplicar-semelhor a este projecto que diagramas, se o nosso objectivo fosse s catalogar/documentar os

    diversos corpos humanos que existem. Contudo, usamos antes o nome diagramas por

    acrescentar sntese presente no ndice uma possvel interpretao.

    Ao ultrapassar a evidente e comum barreira representativa do corpo humano as suas

    particularidades podero sobressair, atingindo-se, desta forma, a singularidade dentro de uma

    imagem plural, a possvel compreenso da unidade no seio da diversidade.

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    diagrama , s. m. representao grfica de um determinado fenmeno; bosquejo; delineamento;

    escala musical. (Dicionrio Porto Editora)

    Gilles Deleuze escreve em Francis Bacon: a lgica da sensao relativamente ao mtodo de pintar

    do mesmo, o diagrama o exemplo operatrio das linhas e das zonas, dos traos e das

    manchas assignificantes e no representativas () essas marcas, esses traos so irracionais,

    involuntrios () no so representativos, no ilustrativos, no narrativos. Mas no so

    significativos nem significantes de antemo: so traos assignificantes. So traos de sensao,

    mas de sensaes confusas (as sensaes confusas que trazemos ao nascer, dizia Czanne)

    Pretende-se com este estudo registar e mapear as diferentes tipologias do corpo humano,

    diferenas volumtricas, simetrias e assimetrias, desequilbrios e consequentes reaces fora

    da gravidade. Quer se manifestem num nico corpo, quer se manifestem na relao entre os

    vrios corpos ou at mesmo no corpo total, formado e delineado pelas diferentes alturas e

    larguras dos vrios corpos. Um corpo total que constitumos e somos, feito tambm de

    movimento continuo e relacional.

    Trata-se de registar o movimento inerente, presente microscopicamente no corpo humano que,

    mesmo em quietude e aparente silncio, conta a histria de cada indivduo. Quais as zonas com

    maior movimento, quais a com menor, as mais caracterizadas ou utilizadas, quais as suas histrias

    e memrias, quem este corpo?

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    IV. OBJECTIVOS

    No sculo XIX descreve-se a fotografia como a descrio microscpica da natureza. A palavra

    microscpica sugere uma sensao de revelao, como se nunca antes ningum observasse omundo fsico to prximo.

    Um estudo de 1986 deAndr Rouill define a diferena entre o retrato e nu, sujeito e objecto.

    Num retrato a pessoa retratada inicia uma transaco sendo o fotgrafo um mero intermedirio,

    no nu, a transaco inversa, o fotgrafo inicia o evento, o corpo despersonalizado e

    transforma-se em objecto. Semelhante fotografia cientifica e antropolgica o nu artstico uma

    imagem feita por e para a compreenso de outros.

    A fotografia como ferramenta para registar nus artsticos desenvolveu um clima de insegurana e

    de ansiedade entre os modelos pois, ao contrrio da pintura, estes no estavam dependentes da

    capacidade de interpretao do artista mas sim de uma leitura fiel da natureza. William A. Ewing, traduo do livro The Body

    Figura 6 - John Coplans, self-portrait 1984

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    Actualmente a sociedade continua a depender da lente fotogrfica para compreender a sua

    envolvente, de tal forma que esta viso condiciona a forma como nos vemos como indivduos,

    define-nos, estabelece um padro onde nos devemos enquadrar para lhe pertencer.Aoestabelecermos um registo cientfico, paraalm das j muitas interpretaes e imagens do corpooferecidas na sociedade, procuramos mostrar o corpo tal como ele . Um registo que permita a

    clareza e preciso, mas que tambm d espao singularidade e uma maior profundidade. Um

    movimento constitudo por corpos diferentes que fazem a diferena nos espaos que ocupam.

    Exterior e interiormente. A particularidade. Um espao feito atravs das histrias e

    desenvolvimentos de uma vida.

    Ao colocarmos vrias imagens do corpo nu em tamanho real, contra uma malha regrada de

    azulejos que os permite escalar, e expostas em conjunto, criamos uma nova possibilidade de

    olhar. Algo que nos to prximo e comum, porm to estranho e surpreendente. Como nos

    colocamos perante a imagem? Percepcionamos o outro, o distante, ou o indivduo, ns prprios?

    Achamos banal pela j mediatizao do corpo em si, ou atentamos ao pormenor ou relao?

    Passamos ou demoramo-nos?

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    V. FICHA TCNICA

    CRIAO FILIPE DOS SANTOS BARROCAS, MARIA JOO SOARES, ANDR ALVES, RICARDO CANELAS,

    GATA SOUSA, ISABEL CORREIA, CLUDIA LOBATO, JLIO CAINETA, RUI DUARTE E GONALO

    FONSECA PRODUO FILIPE DOS SANTOS BARROCAS, MARIA JOO SOARES, ANDR ALVES,

    RICARDO CANELAS, GATA SOUSA, ISABEL CORREIA, CLUDIA LOBATO, JLIO CAINETA, RUI DUARTE

    E GONALO FONSECAILUMINAO BRUNO GRILO

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