mecanismos de diluição e transferência de riscos...

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Mecanismos de diluição e transferência de riscos: modelagens para risco de desastres e o mercado de seguros Dilution and risk transfer mechanisms: disaster risk modeling and the insurance market Renata Maria Pinto Moreira 1 , doutoranda FAU-USP, [email protected] 1 mestre em planejamento urbano e regional e doutoranda na área de Habitat pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

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Mecanismosdediluiçãoetransferênciaderiscos:modelagensparariscodedesastreseomercadodeseguros

Dilutionandrisktransfermechanisms:disasterriskmodelingandtheinsurancemarket

RenataMariaPintoMoreira1,doutorandaFAU-USP,[email protected]

1mestreemplanejamentourbanoeregionaledoutorandanaáreadeHabitatpelaFaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPaulo

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SESSÃO TEMÁT ICA 8 : TÉCNICAS E MÉTODOS PARA ANÁLISE URBANAE REGIONAL

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

RESUMO

O artigo apresenta o contexto em que foram desenvolvidos modelos de previsão de riscos dedesastres, atrelado à história e evolução da indústria de seguros, e a consequente evolução deprodutos financeiros derivados desse mercado. A análise parte da compreensão eproblematização das diretrizes de políticas internacionais deGestão, de Redução e de ProteçãoFinanceira a Risco de Desastres (GRD, RRD e PFD), que contém um duplo conceito fundante:relativoà reduçãode riscos,pautadapela racionalidadedoplanejamento territorialedagestãourbana;relativoàdiluiçãoderiscos-doscustosdosdanos,pautadapelaracionalidadefinanceiraedomercadodeseguros.Asmodelagensfuncionamtambémcomesseduplosentido,enãosãoneutras nesse processo. Surgem para orientar a precificação do mercado de seguros e foramassimiladas posteriormente como ferramentas nas atividades de planejamento. Alimentam odesenvolvimentodeinformaçãoemesferasgovernamentais,umavezqueareduçãoderiscosdedesastreséumapautarecentequevemsefortalecendonasagendasdeplanejamentoterritorial.Namesmamedida,fomentamummercadodeseguroscadavezmais imaterial,quedependedeinformaçõesparasediversificaremprodutosfinanceirossecundários.

PalavrasChave: reduçãoderiscos,diluiçãoderiscos,gestãoderiscos,seguroscontradesastres,modelagensderiscodedesastres.

ABSTRACT

Thearticlepresentsthecontextinwhichdisasterriskforecastingmodelsweredeveloped,linkedtothehistoryandevolutionofthe insurance industry,andtheconsequentevolutionoffinancialproducts derived from this market. The analysis starts from the understanding andproblematizationof the international policy guidelines ofManagement, Reduction and FinancialProtectiontoDisasterRisk(DRG,DRRandPFD),whichcontainsadoublefoundingconcept:onriskreduction,basedontherationalityoftheterritorialplanningandurbanmanagement;concerningthe dilution of risks - of the costs of damage, based on financial rationality and the insurancemarket.Modelingalsoworkswiththisdoublesense,andtheyarenotneutralinthisprocess.Theyarisetoguidethepricingoftheinsurancemarketandwerelaterassimilatedastoolsinplanningactivities.Theyfeedthedevelopmentofinformationingovernmentalspheres,sincethereductionof disaster risks is a recent agenda that has been strengthening issue in brazilian territorialplanning.To thesameextent, theypromotean increasingly immaterial insurancemarket,whichreliesoninformationtodiversifyintosecondaryfinancialproducts.

Keywords/Palabras Clave: Risk reduction, risk dilution, risk management, disaster insurance,disasterriskmodeling.

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REDUÇÃO OU DILUIÇÃO DE RISCO? A POLÍTICA INTERNACIONAL DE GESTÃO E DEPROTEÇÃOFINANCEIRAARISCODEDESASTRE

Documentos relativamente recentes2organizadospeloBancoMundial paradiversospaíses, comrecomendações para políticas de gerenciamento de riscos de desastres (GRD) e proteçãofinanceiraariscodedesastres (PFD), trazemcomopanoramaumcenáriode incertezacrescentenaprevisibilidadeclimáticae,consequentemente,naprevisibilidadedeperigoseriscosassociadosàs ocupações urbanas - seja pelas incertezas propriamente climáticas ou pelo descontroleterritorial.

As recomendações incluem desenhos urbanos mais resilientes 3 e melhoria nos desenhosinstitucionaisparaimplementaçãodeaçõesdegerenciamento:organizaçãodeinformaçõessobredesastres, planejamento da resiliência e da proteção financeira. Indicam também mudança deparadigma nas formas de ajuda da comunidade internacional: da concentração nas ajudas àresposta ao desastre para ajudas na prevenção e preparação; o incentivo ao desenvolvimentotécnico (metodológico) e financeiro; e a criação de aparato legal regulatório pararesponsabilizaçãopelavulnerabilidade.

AnálisedoAtlasBrasileirodeDesastresNaturais(CEPED,UFSC,2013)apontaqueapartirde2010os registros de inundação, secas emovimentos demassa concentraram-se emmaior número ecom maiores impactos do que os registros de todo o período entre 1990 e 2000. O contextoapresentadoécríticonoBrasil,etambéménomundo,paraosanosde2010e2011.Apesardadiminuiçãodoregistrodeperdasdevidashumanas,ampliou-seoimpactoemperdaseconômicas,sobretudoempopulaçõesvulneráveis, indicandoqueadistânciaseguraentreocupaçãohumanaconcentrada (urbana) e os perigos naturais tem diminuído, seja pela maior quantidade deexposiçãoaoperigo,peloaumentodassituaçõesdeperigo(descontrolenousodosrecursos)oupelaampliaçãodavulnerabilidadedosconjuntosurbanos(cf.BANCOMUNDIALb,2012).Ofatodepopulaçõesmais vulneráveis serem sistematicamente atingidas, no caso brasileiro, define perfilemquegastosnarecuperaçãosãosobretudogastospúblicos(cf.BANCOMUNDIAL;GovernodoEstado de Santa Catarina, 2012; BANCO MUNDIAL; Governo do de Alagoas, 2012, BANCOMUNDIAL;GovernodoEstadodePernambuco,2012,BANCOMUNDIAL;GovernodoEstadodoRiode Janeiro, 2012). A vulnerabilidade sistemática associa-se a riscos igualmente sistemáticos, e,sobretudo,frequentes(principalmentenascamadasdebaixorisco).

O aumento da incidência de desastres e a tendência de relativizar a eficiência e eficácia demedidasestruturais4,erelativizaraprópriavalidadederegistroshistóricos5,ampliamumcampode

2 BANCO MUNDIAL a, 2012; BANCO MUNDIAL b, 2012; BANCO MUNDIAL c, 2012. A síntese destes documentosdesenvolvidos em 2012 compõe boa parte das análises deste estudo. O ano de 2012 é crítico, reflete as reações dacomunidadeinternacionalparaoacúmulodeeventosquedesde2004(tsunaminaIndonésia,FuracãoKatrina,TsunaminoJapão, Furacão Sandy e, no Brasil, desastres em Santa Catarina, Região Serrana do Rio de Janeiro, Santa Catarina,Pernambuco e Alagoas) assumiram proporções catastróficas tanto nos danos e perdas causados, como na capacidadefinanceira de reconstrução. Os documentos indicam algumasmudanças de paradigmas no tratamento das questões derisco,principalmentenarelaçãoqueseestabeleceentrereduçãoediluiçãoderiscos.3NosdocumentosdoBancoMundialaquimencionados,pode-seconsiderarqueousodotermo“resiliente”correspondeaumparadigmatecnológicocujofocoestánoestabelecimentodemedidasnãoestruturais,deconvíviocomeventoscríticos,promoçãodeconjuntourbanoadaptávelecomintuitodereduzirdanos.4Medidas estruturais são definições de projeto derivados demétodos de cálculo probabilísticos baseados em registroshistóricos. Em drenagem, por exemplo, asmedidas estruturais são aquelas que interferem diretamente no controle dofluxodaágua,aindaquenãonecessariamentesejamdeengenhariapesada(ex.:buffers).Sãocalculadascombaseemumacapacidadelimitedoprojeto,estabelecidapelaescolhadedeterminadaprobabilidade/frequênciaaceitávelnasestatísticasdo histórico de eventos. Se um risco nunca pode ser integralmente previsto - e as tendências indicam cada vezmenoscapacidadedeprevisão - há sempreuma capacidadedeprojetoestabelecida (e garantidora absolutaparadeterminada

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incertezas, que permite, por exemplo, avaliar riscos pouco freqüentes como riscos freqüentes,açãofundamentalparacompreendermecanismosdemercadodesegurosanti-catástrofe.

A política de gestão do risco de desastres (GRD) proposta pelo BancoMundial organiza-se emtornodediretrizesquevisamoaumentodaproteçãofísicalocalemanutençãodasaúdededadosnospaísesaderentes:

- identificaçãodo risco - avaliar e comunicar deperdas e danos, estabelecermetodologias paraavaliaçãodeperdasedanos.

-reduçãodorisco-medidasestratégicas,estruturaisenão-estruturais.

- investimento empreparação - sistemas de alerta e planejamento de contingências (resposta);modernizaçãodecapacidadesinstitucionais.

-organizaçãodaproteçãofinanceira-reduçãodepassivosfinanceiros,apropriaçãodeprocessosde avaliação de perdas e danos e estabelecimento de camadas de risco; identificação deinstrumentosfinanceirosex-anteeex-postutilizadosejáestabelecidos;programasparaaumentoda capacidade financeira dos Estados para responder a emergências garantindo proteção aoequilíbrio fiscal; aprofundamento dos mercados de seguros e proteção social das camadas debaixarenda.

- processos de reconstrução resilientes - planejamento como precaução, investimento empesquisadesoluçõesalternativas.

- gestão integrada - decisões equilibradas entre medidas estruturais e não estruturais,necessariamente ligadas a políticas e práticas de gerenciamento e planejamento territorial eurbano; mudanças nos métodos de gestão tradicionais, com coordenação das dinâmicas detomadadedecisãoemnívelnacional,regionalelocal.

AimplementaçãodepolíticasnosmoldesdeGRDpermitecriarumcampodeconfiabilidadeparaimplementaçãodemedidasdeProteçãoFinanceiraaDesastres(PFD),sejaporinteressesinternosaosgovernosouinteressesdoBancoempromoveramplamentepolíticasdesuportedeproteçãofinanceiraetransferênciaderiscosagovernos.

Nas propostas de PFD apresentadas para o Brasil a partir da avaliação de perdas e danos de 4eventosextremos(SantaCatarina,RegiãoSerranadoRiodeJaneiro,PernambucoeAlagoas), foiaplicada uma metodologia padrão (DaLA Damage and Loss Assessment - CEPAL) em que, pelaavaliaçãodasperdasedanosdesses4eventosextremos,foidefinidaaperdaanualmédiaparaolocal (PMA).Apartir daPMA, se estabeleceu a categorizaçãode riscos em camadas, relativas à

probabilidade)quepoderásersuplantada.Portanto,quandomedidasestruturaissãodefinidas,sempreháriscoresidualsobaparênciadeumcontroleabsolutoparacertafrequênciaprevista.Esseconceitoéoquejustifica,nosdocumentosdoBancoMundial,atransferênciadaênfasedeinvestimentosdasmedidasestruturaisparaasmedidasnãoestruturais,quese adequam ao princípio de precaução. Esta formulação não leva em conta interações existentes entre as medidasestruturais e não estruturais, mais facilmente compreensível quando se usa os termos gestão da oferta e gestão dademanda.5ORelatórioEspecialdoIPCCsobreEventosExtremosapresenta-secomoomaisrecenteconsensocientíficoarespeitodoimpactodasmudançasclimáticassobreosriscosdedesastres,afirmandoquemudançasdoclima levamaalteraçõesnafrequência,intensidade,extensãoespacial,duraçãoeocorrênciadeeventosedecondiçõesmeteorológicasextremasquepodem resultar em fenômenos de efeitos sem precedentes, afirmação que relativiza a pertinência do uso exclusivo dedadoshistóricos.

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probabilidadedo riscoe seu impacto,e,então, traçadasestratégiasdeproteção financeiraparacadacamada:

-camadadebaixoriscoealtíssimoimpacto-CATDDO6doBancoMundial;

-camadaderiscomédioealtoimpacto-FundoFederal-aaprimorar

- camada de risco alto e baixo impacto - procedimentos dotação orçamentária municipais eestaduaisjáexistentes.

Nasestratégiaspropostas,diferenciadasporcamadasderisco, leva-separaoportfóliodobancoapenas os riscos de menor probabilidade de ocorrência e maior probabilidade de dano. Seconsiderarmosque,paradefinirestascamadasderisco,partiu-sedemédiasanuaisdeperdascomdesastres e estas, por sua vez, foramdefinidas pela avaliação de perdas e danos dos últimos 4eventosextremosdopaís7,pode-seconsiderarquehápossibilidadedeexagerosnaavaliação.

Ouseja,aparentementeestariamtransferidosaobancoapenasosriscosmenosprováveis,ouosmais improváveis possíveis - se não improváveis de fato. Embora seja claro o real interesse doBancoMundialemdarsuportefinanceiroagovernosparaenfrentarcenáriosfiscaiscríticosdiantededesastres igualmentecríticos,aquantificaçãoecategorizaçãode riscosempregada reproduz,emcertamedida,alógicadeinteressesdeinvestidoresdomercadodeseguroseriscos.

Os CAT-DDO equivalem aos Catastrophe bonds, ou CAT Bonds. São títulos que funcionam navinculaçãode segurosde riscos, e transferemdeterminadoconjuntode riscos seguradosdeumpromotor (que detém a gestão de uma situação de risco, como o gestor de um fundo anti-calamidades,seguradorasouoempreendedordealgumaatividadederisco)ainvestidores.

CAT-DDOsãousadoscomoinstrumentosdeempréstimodePolíticadeDesenvolvimento.Parateracesso a esse crédito os países devem estar envolvidos em programas abrangentes de GRD. Oinstrumento de desembolso rápido - Componentes Contingentes de Resposta a Emergência -permiteaosfundosseremrapidamenterealocadosparaatividadesdeemergênciaerecuperação.OBancoMundialpropõeprogramasnacionaise regionais como intuitodeajudara transferirorisco de desastres do governo para omercado financeiro, por meio de serviços de consultoriafinanceira,deseguridade,eparaodesenvolvimentodeestratégiasdefinanciamentointegradoderiscosdedesastrescombaseemparceriaspúblico-privadas;epeloMecanismoGlobal ÍndicedeSeguro - um fundo fiduciário de múltiplos doadores gerido pela Corporação FinanceiraInternacional para apoiar o desenvolvimento de soluções de seguros agrícolas baseadas emindicadores.

“Para incentivarumamaiorutilizaçãodas soluçõesbaseadasnomercado,oBancoMundialforneceserviçosdeintermediaçãoparaastransaçõesdeGRD.OBancointernacionalparaReconstruçãoeDesenvolvimento(BiRD)começoua fornecer serviços financeirosparaoMecanismodeSeguroparaoRiscodeCatástrofeem2007, intermediandopermutasdecatástrofe.Em2008,oBIRDe aAID introduziramderivativos intermediários do clima, umprodutoque aRepúblicadoMalawiusounosúltimosquatroanosparageriroriscodesecaseveraecatastrófica.Ambasasiniciativasrepresentamasopçõesmaisamplasde soluções financeiras adaptadas para ajudar a proteger os recursos de

6Definiçõesaolongodotexto.7BANCOMUNDIAL;GovernodoEstadodeSantaCatarina,2012;BANCOMUNDIAL;GovernododeAlagoas,2012;BANCOMUNDIAL;GovernodoEstadodePernambuco,2012;BANCOMUNDIAL;GovernodoEstadodoRiodeJaneiro,2012.

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desenvolvimentoeosinvestimentosdogoverno.Pararesponderàdiversidadedademandanessaárea,podesernecessárioampliaroescopodosserviçosdeintermediação e os tipos de produtos oferecidos. Em particular, o BancoMundial procura oferecer Permutas CAT e derivativas climáticas, concebidaspara abordar as necessidades mais amplas, aplicáveis a todos os perigosnaturais.OTesourodoBancoMundialeoDepartamentodeDesenvolvimentodo Setor Privado (FPD) estão trabalhando em conjunto com a CorporaçãoFinanceira Internacional (IFC) paradesenvolver produtosdemicrosseguros esegurosagrícolas,bemcomosoluçõesinovadoras(...)paraajudaraaumentara capacidade de resistência das instituições financeiras e facilitar arecuperaçãomaisrápidaapósumeventosísmicograve.”(BANCOMUNDIAL,2012-SendaiReport.)

Títulosdecatástrofeemercadodeseguros:comofuncionam?

Os CAT bonds - catastrophe bonds - surgiram com a necessidade de companhias de segurosaliviaremriscosassumidos,nocasodeenfrentarocorrênciassimultâneasemgrandescatástrofes,cujosdanospodemficardescobertospelaavaliaçãodosprêmios8estabelecida,eteremretornosimpossíveis.

Uma companhia de seguros emite um título através de um Banco de Investimentos, que érepassadoainvestidores.Ostítulossãointrinsecamentearriscadoseascondiçõesdeacionamentosão vinculadas a parâmetros de catástrofes extremas. Se a catástrofe não ocorre no períododeterminado e dentro de parâmetros das condições de acionamento específicas estipuladas(condiçõesdesimultaneidadedeeventosoudedanos),os investidoresresgatamostítulos,comvalorespagospelaseguradora.Seocorre,os investidoresperdemovalor,easeguradoraosusaparacobrirdanosdosvaloresebenssegurados.Funcionamcomoumaalternativaaosresseguros.

Osinvestidoresmaisusuaisdessestítulossão9:

-fundosdecobertura(hedgefunds,quegerenciaminvestimentoseportfóliosinstitucionais),

- fundos criados para a cobertura de catástrofes (de indústrias, seguradoras ou governos, quetambémcostumamseremissores),

-gestoresderecursos.

Quanto maior a quantidade de catástrofes críticas e de baixa probabilidade, mais cresce omercadodeCATbonds, emaioréoambienteparadiluiçãodos riscos.Àmedidaquecat-bondspassamaseropçãobanalnadiversificaçãodeinvestimentos,oescopoevolumedossegurosdeveser ampliado, assim como dos títulos de seguros e das possibilidades de arranjos de portfóliosdesenvolvidos por fundos de cobertura. A estratégia de empresas de gestão de fundos ecoberturas10éassegurarqueosinvestidoresestãosendoadequadamentecompensadosaoaceitarmontantesapropriadosderiscoidentificável,eevitarriscosnãocompensadossuficientemente.

8Prêmioéovalorpagopeloseguradoaosegurador,paraqueassumadeterminadosriscosespecificadosnaapólice.9USGAO,2002;LEWIS,M,2007.10Os fundos de cobertura são entidades passíveis de serem entendidas como pouco transparentes, pouco sujeitas acontrole regulatório ou submetidos a procedimentos de registros como outra atividade de investimento. Novas regrasregulatóriasestabelecidasnosEUAeEuropaapartirde2010requeremquegestoresdefundosdecoberturarelatemmaisinformaçõessobresuasatividades.

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Masadiluiçãodosriscosdesegurosparacoberturadecatástrofestemsuasparticularidades.Istoporque as catástrofes de grandes proporções trazem problemas além do que os meios decomercializaçãoeprecificaçãoda indústriade segurosdispõe tradicionalmente.Paraos segurosmais convencionais, o princípio é simples: nenhum acidente de carro, por exemplo, pode serprevisto individualmente, mas o número total de acidentes de carro sobre uma determinadapopulação é bastante previsível pelas experiências acumuladas em históricos. A lógica dascatástrofes, no entanto, aparenta ser semelhante, mas é diversa: o evento de desastre podecausardanosdentroda razoabilidade,ounenhumdano,ouatingir efeitos encadeadosemumaescalacatastróficaparaumaseguradoranoreestabelecimentododanoaosclientes.Sehouvesseumgrandenúmerodecidadesricasnoplanetaparaasquais fosseplausívelpreversituaçõesdedanos em escala catastrófica, o segurador poderia diluir essa exposição às perdas vendendoseguros contra furacões a todos eles, e as perdas sofridas emuma cidade seriam compensadaspelas perdas não sofridas em outras cidades, como é feito com carros. Mas o contexto dedesastresnaturaisnãoéesse:riscosdeterremotos-efuracões-sãoextremamenteconcentradosempoucoslocais.

NapropostadoBancoMundialparadiversificarpaísesemseuportfóliodeCATDDO,ficaclaronaavaliação de Perdas e Danos AnuaisMédias apresentadas que a probabilidade é exacerbada (oextremo é tomado comomédia). Os Painéis deMudanças Climáticas do IPCC - que expressamconsensonacomunidadecientífica - corroboramnocontextode fermentaçãodapercepçãodosriscos - eles aumentam probabilidades, sobretudo em quantidade; e a combinação deinvestimentosemriscoscruzadoséoantídotoqueosdilui.Aincertezaé,portanto,umamatériapoderosaparaomercadodeantídotoaosriscos.

O mistério das vinculações entre títulos de seguros está na precificação: tanto dos prêmios,quantodaavaliaçãodoriscoedosdanosprováveis (ograudeprobabilidadedoeventodefinidoparaoacionamento).Emúltimainstância,tambémdasregrasdeflutuaçãodostítulosderivadosdosseguros.

Ao tentar compreender procedimentos do mercado financeiro, de seguros, e de fundos decobertura, são apresentados tanto argumentosque afirmamqueessa flutuação responde a ummercado de ferramentas de previsão 11 - oriundos de modelos de previsão climática,hidrometeorológica, associados a perigos geológicos ou condições daocupaçãodo solo urbano,pormeiodasferramentasdeavaliaçãoderisco,osmodelos -comoargumentosdequetantoaprecificaçãoquantoasflutuaçõesindependem,cadavezmaisemesmocompletamente,dasreaissituações geradoras de riscos extremos, sendo, então, baseados em probabilidades padrão dascarteiras e portfólios dos investidores, e modelagens de estatísticas mais relacionadas aoscomportamentosdetrocadosmercadosdetítulos.

“Eu posso ter compensações de portfólio emuma região, para determinadahipótese, porque eu tenho uma correlação na composição de um fundo decobertura entre produtos de riscos diversos. Um cai, o outro sobe. Se vocêmedir unicamente o prêmio, pode estar medindo um valor afetado porapostas complementares. Por exemplo, após um furacão, a atividade da

11KEUCHEYAN,R.(2014)desenvolveumaanálisequeconfereimportânciasignificativaaopapeldasagênciasdeavaliaçãoemodelagem de riscos de desastres naturais no estabelecimento de bonds. ParaMUIR-WOOD, R. (2014), omercado desecuritização de riscos cresceu e mudou seu patamar - se inseriu no circuito financeiro - apenas como resultado daconfiançaadquiridaemmodelagensderiscosdecatástrofe.Paraele,seriaimpossívelorganizartransações,calcularperdasesperadas e desenvolver preços para os títulos sem modelos confiáveis. CLARKE, D. (2014) afirma que modelos sãoamplamenteutilizadospelosetorprivado,eondequerquehajatomadadedecisãoacercaderiscosdedesastres,elessãosignificativos-comoexemplo,omercadodeseguroseressegurosdedesastres.

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construçãociviléintensa.Eseobancotivercomprado,comohedge,nasduashipóteses?Podevendersegurosaumpreçomaisbaixo,porqueoportfóliosediluiu nas duas atividades complementares. Por isso, o portfólio é rei. Asanálises de dados históricos em relação ao risco real de eventos só vãoapontar para o senso comum. Os dados são omais importante para que omercadoglobaldebancosdeinvestimentosejamumcartel:ouvocêtem120anosdedados,ouvocênãotem!Semovolumemínimooperacionalesemosdados,nãodáparaconcorrer.Ouvocêmodelaegerenciaorisco,ou,noleilãonaturaldodia,vocêrepassaoriscoparaalguémquepensadiferentedevocê.Mas não são dados ligados a situações concretas, pois os dados ligados àsituaçãoconcretaseaproximamaruído.Servemàespeculação,apenas.Orealé o que é negociado. Nem toda operação de risco sobrebonds de furacõespassouporumamodelagemderiscosfísicos.Àsvezeseuencontrodoisladose um intermediário, contrato seu risco por X e revendo por 2X, porque euconheciaasduaspartesindependentementedeconhecerosventos!Eaívema magia dos movimentos secundários; você tem suas estatísticas e seusmodelos, outro banco de investimentos idem... E outro tem estatísticas emodelosnãodosriscosemsi,masdoatodecomprardeAevenderparaB!Ouseja,possoserexpertemrepassarriscoclimático,masnãolidocomriscoclimático,apenascomestatísticasdecompraevenda.Posso,ainda,contratarsegurosparaaminhaoperação,esemuitos fizeremcomoeu,obancodeveestabelecerumbalcãodesegurosparanegociadoresdebondsclimáticosdeAparaB,etemqueavaliaroriscodoriscodorisco.EseosegurodosegurodoseguroemNovaIorqueformaiscaro?Osegurodoseguroficamaiscaro.Eosegurotambém.Masfoiporcausadovento?Não!Existemoutrosfatoresnosdesdobramentosdomercado.Ventoé isso,ventoéespecularsobreofuturopróximoprovável,nãoéplanejaracoberturaderiscoparao longoprazodoportfólio.Comoobondédeterminadopelacomposiçãoeanálisesestatísticasdosativosdobanco,essas consultoriasquemedemvento contamcom isso,porqueelassabemqueumsinistrograndetrariaumadiferençaentreopreçoinstantâneo do bond e o recálculo dos preços futuros, conforme a novaestatísticadoseventospassados.Elesnãovendemconhecimentooriginal.Sesoltam uma informação de grandes probabilidades de desastre, o que vocêfaz?Vendeseus títulos!Essaéa informaçãoque importa,eprevisãoaíé sóespeculação.Sabendoexatamentequeosprêmiosdomercadosãopuramenteestatísticos,vocêestimaovalordobondnãoparaoferecê-locomoemissor,esimparaespecularcomocomprador/vendedor.Enãonecessariamenteondehámenosriscoéondevaiestarmaisbarato.Poisasecuritizaçãonãoéoatodeprevero futuro,éoatodediluirasalternativasdo futurodeuma formaqueelasseanulem.Portfólioégeridoquandoexisteneledezenasdemilharesde instrumentos,e faz-seomáximoparaagrupar regiões tãodistintasde talforma que não sejam necessários dados reais sobre regiões específicas”.(trecho de entrevista com profissional atuante emmontagem de fundos decobertura).

Opapeldosmodelosdeprevisãonomercadodeseguros

Umresgatedohistóricorecente12sobreatransformaçãodosmétodosdeprecificaçãodesegurosetítulos de seguros face ao problema da precificação real dos riscos, ilumina esta questão dapertinência de aspectos mais concretos, como as modelagens, sobre aqueles imateriais nadefiniçãodosprodutosfinanceiros.

12OresgatedessehistóricoaquirelatadoutilizafundamentalmentooartigodeLEWIS,M.(2007).

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OeventodofuracãoAndrew,queatingiuaFlóridaem1992,foiopontodeinflexãodamudança,construindo na comunidade financeira um cenário de preocupação pela ameaça crescente degrandes catástrofes. 12 seguradores foram à falência após o evento de 1992 por não teremantecipado amagnitude das perdas. Esse fato ajudou realizadores das áreas demodelagem decatástrofes(CLARKE,2014).Oproblemaqueseapresentavaenorteavaessedesenvolvimentoera:comocontrolaraexposiçãoaoriscodeumacompanhiadeseguros?

Anos antes, em 1985, um estudo13alertava para o fato de que companhias de seguros nãoempreendiamestimativasfactíveiscomosdanosaquedefatopoderiamestarexpostasemumasimples tempestade, pois seumecanismo implicava emprecificar risco de catástrofe damesmaformacomoseprecificaumbemqualquerobjetodeapólice,esuaestratégiaresultavaemvenderomaiornúmerodeapólicesquepudesse.Issosignificavaapenasmaisexposição,nãodiluição.

Paramelhorar o julgamento do custo potencial de uma catástrofe, tal estudo propunha que aindústria se voltasse aos dados históricos de longo prazo de eventos, que não estavam sendousados pela indústria de seguros. A autora propôs e empreendeu o desenvolvimento de umaferramenta de avaliação rudimentar, mas poderosa: combinava registros históricos de longoperíodopara furacões com informaçõesde exposiçãodepropriedades - custosde reposiçãodeconstruções por código postal, relatórios de empresas de engenharia, códigos de construçãolocais. Este instrumental servia tanto para estimar a probabilidade de uma catástrofe atingirdeterminadaáreaquantoparapreverperdasimplicadasnoevento.

OsresultadosproduzidospelosmodelosdeClarkindicavamqueasperdaserammaisdedezvezesmaioresqueasperdasnormalmenteestimadaspelascompanhiasdeseguros,e tambémqueasprobabilidades de ocorrência eram maiores do que previsto nas décadas anteriores. Foramprojetadascatástrofesqueocorreramnopassadoparaascondiçõesatuaisdeurbanização,eparasituaçõesdepopulaçãomaisenriquecidaeemáreasmaispopulosasdoque foramatingidasnopassado. O contexto indicava que a precificação estava completamente equivocada, e que apermanência ativa das seguradoras não passava de um jogo de sorte, por não ter, ainda,enfrentadoagrandecatástrofequesempreestánohorizonte.

ApósofuracãoAndrew(Florida,1992),foifundadanosEUAaAppliedInsuranceResearch-AIR-umaempresadeprevisõesedadosparaprevisãoe seguros, quepassoua comercializarnão sódadosna formade resultados,mas tambémmodelos deprevisão (softwares).Outras empresasposteriormentecompetidorasnessemercado-EqecateRiskManagementSolutions-permitiramampliar a incorporação de mais áreas da ciência no mercado de previsões - meteorologistas,sismólogos, oceanógrafos, físicos, engenheiros e estatísticos - e avançaram no escopo dassituaçõesderisco-defuracõeseterremotosparainundações,incêndios,tempestadesdeinvernoextremas,tornados,tsunamis,terrorismo14.

Osmodelos físicosdessasempresaspartemdeumprincípio:aaceitaçãodopassadocomoumaorientação imperfeita para o futuro. Pode ser quede fato nenhum furacão tenha atingido umalocalidade, mas pode ser apenas que registros detalhados sobre o evento não tenham sidorealizadosecoletados.Ou,defato,podemnãoterocorrido,masextrapolaçõesporsimilaridadesde zonascontíguaspodem indicarumaprobabilidade forados registrosda localidade -previsãopossívelsevinculadaamodelosfísicos.

13Em1985,KarenClarkhaviaescritoopaper“Aformalapproachtocatástroferiskassessmentinmanagement”,citadonoartigodeLEWIS,M.(2007).

14LEWIS,M,2007;KEUCHEYAN,R.,2014.

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Asmodelagens,emborajáexistissemnocampodaengenhariaparacálculosdedimensionamentodeprojetos,nãohaviamsidoassociadassistematicamenteesimultaneamenteabancosdedadosextensos e cruzados, incluindo valores de imóveis e dados históricos com possibilidade deextrapolações físicas e temporais. Essas ferramentas permitiam a montagem de cenários comvariedades de dados e abrangência espacial e temporal em uma escala de alternativas inédita,sobretudonumaatividadeselvagem,comoadeseguros.Eestãotendo,cadavezmais,penetraçãonos processos de planejamento territorial, em diversos países e diversos setores deinfraestruturas.

O propósito dos modelos é prover um catálogo síntese de eventos extremos, projetando umalargamentode10.000ou100.000anosdeatividade, comoummeiode relacionaroperigodeuma localização à perda que ela geraria de acordo com a natureza da exposição ao perigo. Epuderamtrazerrespostasaduasquestõeschavequerodeiamsegurosdecatástrofes:1)qualéopreço técnico a cobrar pelo risco que representa o custo anual de todos os danos potenciais,acrescidosdetaxasapropriadas?2)Qualocapitalqueoseguradordeveriamantercontraperdaspotenciaisextremas,queocorrem,porexemplo,acada200anos?(MUIR-WOOD,2014).

Umavezqueosmodelosdecatástrofesetornaramconfiáveis,puderamtrazerordemaomercadoderiscos,poisopreçotécnicodorisconomodelopodeserrebaixadoerevelarquaispreçossãoestáveis, mesmo em períodos de perdas mais baixas. Podem, também, desencorajar umasupervalorização de preços nos períodos de rescaldo de grandes catástrofes. A flutuação dosbondspodepassaratercontrole.

As diferentes empresas de previsões passaram a fornecer estimativas com ordem de grandezasuficientemente semelhantes para estabelecer com relativa confiabilidade como as seguradorasdeveriam traçar suas expectativas de exposição a riscos em situação de desastres. As previsõesforam ferramentas importantesparapromover, porumperíodo15, omovimentona indústria deseguros, embora para os operadores de mercado possam não passar de ferramentas decomprovaçãodosensocomum.ConvergemparaofatodequefuracõesnosEUA,terremotosnaCalifórnia,tempestadesdeinvernonaEuropaeterremotosnoJapãoconstituemas4situaçõesdeperigos naturais que ultrapassam qualquer habilidade das companhias de seguros de osassegurarem.

A concentração de riqueza nessas áreas desafiava a lógica dos seguros; e o risco dos grandesdesastresdoséculo21nãopodiaserdiversificadofacilmentepelomecanismodosresseguros.Osuportenecessárioaessasexposiçõesaoriscoexigiaespalharamplamenteosriscos,transferindo-osdocircuitodaindústriadesegurosaocircuitodomundofinanceiro.

Asmodelagensforamopontofundante, inicial,dessesmecanismosfinanceiros.Masmuitocedorevelavamasincertezasqueascercavam.

Nomercado financeiro, é necessário estimar osmecanismos que influenciam as trocas,mesmoqueessesmecanismossejamumadistorçãodascausasfísicasconcretas.OeventocomofuracãoKatrina,em2005, reveloua falha insanáveldosmodelosdeprevisão:acondiçãocatastrófica foiatingidaporfalhasencadeadasnosmecanismosdecomportasdacidade.Osmodelosdeprevisãonão incorporam reações em cadeia, que são imprevisíveis e vivenciadas nas situações críticas,como também ocorreu no tsunami em Sendai, 2011. E, para um investidor, o bom senso nasexpectativasdeperdasfinanceirasépouco:elesnãodizemnadasobreretornosdeinvestimentos,

15Nosprocessosdeplanejamentoterritorial,aeconomiadosmodelosémaisduradoura.

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queexistemapenasnamedidaemqueinvestidoressentemaquehápossibilidadedevantagemaseufavordentrodeumjogonoqualoazarsegueaummodeloaceitável,emqueexistaalgumarazãológicadecomoperdereganharnaprecificaçãodorisco.Aimponderabilidadedoseventosemagnitude de consequências, mesmo após a disseminação das ferramentas de modelagem,apontavam para a necessidade de avançar o circuito da seguridade a um jogo de aposta comalgumaregra(LEWIS,2007).

Paraserelevadoàrotinadastransaçõesdeinvestimentosdomercadofinanceiroedeportfóliosdefundosdecobertura,eranecessárioconfiguraressestítuloscomascaracterísticasdeumjogode vantagens e falhas. Se os tomadores de risco deveriam recebermais por esse risco, quantomaisseriajustorecebernessejogo?

DofuracãoAndrewem,1992,atéoeventoKatrina,em2005, jáseemitiamtítulosCAT,masem2005osinvestidoresemitiammuitomenostítulosdoqueseriamnecessáriospararessegurarpordissipação os riscos a que estavam expostos. O risco de um seguro de desastre natural seracionadoéreal,físicoequantificáveldentrodelimitesdeeventualidadesaceitáveis,eacadaanonão sofre grandes variações. O que operadores da indústria de seguros americana estavamfazendo, até o evento Katrina, eramanter consigo os riscos e cobrar seus clientes demaneiraretroativa, repondo custos das apólices nas atualizações de preço após eventos extremos queeram registrados, e recusando algumas praças de seguros demaior risco. Isso fazia com que apenetraçãodomercadodesegurosrecrudescesse,diminuindoomercadodeapólicesnovarejoeo volume para diluição. O mercado de seguros estava quebrado: os clientes pagavam segurosmuito altos e sem cobertura real, na esperança de que o governo socorreria numa situação decriseimprevista.

Osprocedimentosusuais na cotaçãodeapólicesdomercadode seguros consistiamematribuirumvaloraleatório,de4a5vezesdovalorseguradopelafrequência(probabilidade)doevento.Alógica do jogo passou a ficar mais atraente a investimentos quando se passou a combinar, namesma apólice, riscos mais e menos frequentes, contextos de simultaneidade que permitiamvisualizar vantagensna formade correr riscos,damesma formaque se compõemos fundosdecobertura.

Porexemplo, seumclientequerassegurar2propriedades (novalorde5milhõesemcada)emlocalidadesdiversas, ambas com risco relativamente frequentedeeventos, de formaaquenãofossem as duas perdidas em desastres que ocorressem simultaneamente, e pedisse, para essasituação, ter como cobertura 10milhões. Como poderia ser avaliado o valor de sua apólice? Arespostabanalseriaavendadeumaapóliceparacadapropriedadecompreçobaseadonoriscodecadalocalidade(probabilidadedeocorrênciadoevento,porexemplo,1vezacada10anosemambososcasos).Aplicandoesseriscosobreomontanteseguradoemcadaum(5milhões)comamajoraçãousualdemercado(de4a5vezesovalordaperdaestimada),seriam:1emdezem10milhões,ou1milhãoemperdasassumidas,numaapólicede4milhõesparaasduaspropriedades.Entretanto,emboraoseventosfossemfrequentes(1em10anos),aprobabilidadedequeosdoiseventosocorressem simultaneamenteeramais remota, 1 em100 anos (10anos x 10 anos), e oclienteassumiapoderperderumadaspropriedades,masnãoasduasaomesmotempo.Quandose combina riscos usuais, simula-se riscosmenos prováveis, e altera-se as condições da aposta.Então,amesmacontaparaumahipótesemenosprovávelresultariaemumaapólicede400mil,enãomais4milhões,desdequevinculadaà condiçãodeacionamento:2eventos simultâneos.Acombinação desse arranjo permitiria que o proprietário se assegurasse da condição dupla decatástrofe (uma a cada dez anos para uma localidade, e uma a cada 100 anos para as duas

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localidades)aumcustode2,4milhões,enão4milhões,comareposiçãode10milhõesparaessacondiçãoespecífica,comoesperado(Lewis,2007).

Esse é o mecanismo da diluição de riscos, que nada mais é que a combinação de diferenteseventos com diferentes frequências numa mesma aposta, para variadas condições deacionamento,oudeclientes,ouregiões.Eessarudimentardemonstraçãoémaispersuasivaauminvestidorparao fatodequeháumaregra razoávelpara jogarcomriscosdecatástrofedoqueferramentas de previsão cada vezmais acuradas - pois elas nunca dizem quando o evento vaiacontecer. Além disso, havia a própria oportunidade de momento: as companhias de segurosestavamcobrandoaltoseusclientes,eosevitandoemlugardedividiredistribuirseusriscos.Ogestorde títulosqueassumissea funçãodessadistribuição (comapostasnaatividadediluidora)estariaemvantagem.

“Para securitizar seu risco você dirige-se a um Banco de Investimentos ecategorizaseusriscos,entraemdetalhestécnicos.Obancoavaliaadisposiçãoapagardomercado,precificaejogaopapelnomercado.Paga-seumaluguelpara repassar o risco de um evento extraordinário específico, não qualquerevento.Éumaaçãodegestãoderiscodoteuportfólio,edespreadtotalparao banco de investimento. É um produto muito específico do mercadofinanceiro. São coberturas de bancos para bancos que determinam aexposição da carteira a eventos estatísticos. Pode ter a ver com políticapública em relação a seguro obrigatório.Mas diretor de produto financeironunca avalia nada comcientista que trabalha commodelos, ele nempode -existem várias regulamentações que proíbem o pensamento original nodesenvolvimento de produtos financeiros. Eles utilizam estatísticas dosbancos.Quem lidacom issocommaisdetalheéaseguradora.Ouseja: todomundoavaliaventoatravésdeconsultorias,masnãoparaescolheropreço,esim para análises superficiais. Eu posso considerar que o risco na Costa doGolfoéalto,masterumportfóliobom,forte,ecobrarbembaratonocatbonddaquela região,para trazermaisvolumepraminhaoperação.É tudomágicaestatística, é por isso que banco contrata físico quântico, matemático,engenheiro, e não urbanista. Nenhuma massa de capital trabalha comconhecimento original; isso leva à falência. ” (Trecho de entrevista comprofissionalatuanteemmontagemdefundosdecobertura).

Osmodelos, entretanto, não são ferramentas que desaparecem. Apenasmigram suas funções.Depois de um evento com grandes perdas, um significativo processo de aprendizado deve serempreendido,usandoinformaçõescoletadasdeacionamentodesegurosafimderefinarechecaras vulnerabilidades definidas anteriormente (MUIR-WOOD, 2014). A incerteza na estimativa decatástrofesnuncapodesersanada,masaanálisedevulnerabilidadeseexposiçãoaoperigo,esuaavaliação em termos de custos em perdas prováveis, pode ser sempre aprimorada nasmodelagens.

Modeloscriammercadosdeváriasmaneiras.Enquantoemoutrasáreasda indústriadesegurosajudaramatrazerordemestávelasistemasdesecuritizaçãopreexistentes,nocasodosmodelosde catástrofes essa ordem foi temporária,mas permitiu a criação da securitização de riscos decatástrofeesistemasdetransferênciaderiscosembases indexadas-ex.CaribbeanCatastropheRiskInsuranceFacility(www.ccrif.org)(MUIR-WOOD,2014).Tambémcriaramoportunidadeparaodesenvolvimentovariadodenovosmodelos,eumnúmerodeagentesdispostosalicenciá-los.Noiníciodosanos1990,amaioriadasorganizaçõesdeseguroseressegurosconsumiamprodutosdemodelagens, apenas recebendo relatórios de seus resultados. Logo migraram para modeloslicenciadospróprios,seapropriaramdaferramenta,quetambémsãoutilizadasnosprocessosdeplanejamentocomfoconareduçãoderiscos(MUIR-WOOD,2014).Afronteiradeexpansãoestá

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tantonosmercadosdecoberturaderiscosemseusefeitossecundários,empaísesquejátêmumaprósperaindústriadeseguros,comonaexpansãodemodelagensderiscoapaísesdebaixarendaeemdesenvolvimento.

A transferência de riscos aomercado financeiro não é nova. O que é novo é a relação que seestabeleceentreaavaliaçãoderiscosparasuadiluiçãoeaspolíticasmaisrecentesdereduçãoderiscos.

NaspropostasdaspolíticasdoBancoMundial,primeiroseavaliaasituaçãocujosriscospretende-se diluir, e depois atua-se na implementação de medidas para sua redução. Essa ordem éimportante: diluir risco não é reduzir risco,mas a redução posterior de uma a situação a diluiravaliadaanteriormenteampliaosganhospossíveisdadiluição.

Areduçãoderiscosenvolveprincipalmente(masnãonecessariamente)gastospúblicos;adiluiçãoimplicanecessariamenteemganhosprivadosnomercadodesecuritizaçãoefundosdecobertura.

Mas pode haver ganhos públicos também16. Considerando-se um processo em que o interesseeconômicoestánadiluiçãoderiscosdeumportfóliointernacional,umelementodeinteressedaregulação nacional estaria na preparação institucional que permitisse manter controle dosdetalhes técnicosdacategorizaçãode risco,dasmetodologias.Oquedeveser reguladoporumgoverno que pretende assegurar-se em sua capacidade (e das capacidades domercado privadoque o serve) de cobrir situações catastróficas? Seria possível o desenvolvimento interno de umcontextodediluiçãodessas inseguranças, semsubmissãoaummercadomaior,quepossuimaisriscoseépotencialmenteagressivo?

AanálisedoprocessoapresentadonosdocumentosdoBancoMundialenohistóricodaevoluçãodomercadodesegurosamericanodemonstraumdeslocamentodasresponsabilidadesdereduçãoderiscodosEstadosemcriseparamecanismos financeirosdetransferênciaediluiçãoderiscos.Tendênciaque,porumlado,podepromoveralgumadissociaçãodeaçõesconcretasemrelaçãoàstradições do planejamento territorial, que, no Brasil, já não é historicamente pautado pelogerenciamento de riscos de desastres. Por outro, pode criar rotinas e sistematizações paraestruturareviabilizaraçõesque,sim,favorecemprocessosdediluiçãoderiscos,maspodemserbastantepositivosnoscontextostécnicosdereduçãoderiscos.

MODELAGENS E DESENVOLVIMENTO DE INFORMAÇÕES ENTRE A REDUÇÃO E ADILUIÇÃODERISCO

Oqueapresentamosaquiéainvestigaçãodeumprocessoeconômico:decriaçãodeummercadoque tem como basematerial o uso dos desastres naturais, e que se diversifica. A indústria deseguros, os produtos financeiros para de resseguros e a própria atividade de modelagem deprevisãocompõemestemercado.

16NoMéxico,CATBondseoutrosmecanismosfinanceirosforamdesenvolvidosparafinanciarareconstrução.NoeventoTabascoFloods,2007,ogovernoinvestiupesadamenteemdefesacontrainundaçãonoestadoparaprotegerpropriedadesagrícolas, infraestruturas e habitações contra inundações recorrentes. 3 anos depois, eventos de chuva parecidosaconteceram,masos investimentosajudaramaminimizarosdanos, comuma reduçãodeperdas3 vezes maiorqueocustodaconstruçãodedefesas.OmodelostiverampapelimportantenassoluçõesdemercadoparareduçãoderiscosdedesastresdoFundoNacionalparaDesastresNaturais(Fonden),noMéxico,criadofinaldosanos1990.Em2007,essefundotraçouestratégiaderesseguroscomaSwissRe,elançoucatbondsnomercadodeseguros,permitindoreinvestimentoemprevençãoereconstrução(MUIR-Wood,2014;WILKINSON,2014).

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Este processo dependeu, em determinado momento, do desenvolvimento das modelagens deprevisãoderiscosdedesastres,comointuitodecorrigirasdistorçõesnaprecificaçãodosprêmiosde seguros que ameaçavam a própria indústria de seguros. A diversificação necessária pararessegurar esta indústria - os produtos financeiros derivados, como títulos de catástrofe - sedesenvolveu, entretanto, num campo cada vez mais liberado das previsões e atividadesnecessárias às modelagens, embora cada vez mais dependente da ampliação do mercado deseguroscontracatástrofe,quepassapelaampliaçãodasincertezasdentrodocampocientíficodasprevisões.

A investigação desse aspecto econômico é algo ausente nas teorias da sociologia do risco, queorientam sua crítica às possibilidades de uma nova esfera política que reflita os riscos da pós-modernidade.Nocampodosestudosurbanos,ohorizontedas investigaçõesemdesastresdeveestar na redução de riscos. No entanto, é importante tomar consciência dos processos queparticipam na construção de um cenário de diluição de riscos, e algumas posturas teóricas,principalmente na definição do que seja resiliência urbana e sociedade de risco (alarmista,catastrofista e com foco em grandes eventos catastróficos) que recusam compreender essesmecanismos de diluição, se mantém em esferas apartadas e distantes destes processos.Contraditoriamente,favorecemoopostodoquedeveserasuapremissa:poromissão,alimentamprocessosdediluiçãoeseafastamdareduçãoderiscocomohorizonte.Poisdeixa-sedepercebercomo,eporquaismeios,osparâmetroseprocessosfinanceirosinternacionaisdediluiçãodoriscoestão ou não determinando processos de planejamento e redução de riscos, e novos arranjosinstitucionais. Melhor dizendo, não permitem questionar que processos geraram essedesenvolvimentoequeprocessos estão sendoalimentados. Tentamos, aqui, ilustrar esse efeitoparaocasodasmodelagensdeprevisão.

Não só os produtos das modelagens, mas seus inputs, como a sistematização de informações,servem às duas lógicas distintas que se relacionam com políticas de GRD: planejamento egerenciamentotêmcomoobjetivoareduçãoderiscosebenefíciossociaisdiretos;mecanismosdemercado têmcomoobjetivoadiluiçãode riscos, tantoassegurando financeiramenteeconomiassujeitasadespesasdedimensõesimprevistas(benefíciossociaisindiretos),comomovimentandoesedissolvendonomercadofinanceiro.Ambassebeneficiamdaorganizaçãodeinformações,masosfinssãodistintosacadaumadelas.

OestudodasdiretrizesdepolíticasinternacionaispelosdocumentosdoBancoMundialindicaquehá interesse em disseminar amplamente, inclusive o Brasil, contextos de sistematização deinformações que permitam a formação de um mercado do risco nos moldes do mercadointernacional.

Ocontextoamericanotrazumcenáriodedesenvolvimentoavançadodomercadodeseguros,compolíticaspúblicasparasoluçõesprivadasnacoberturadedanos.Noentanto,conformemostramos casosmais recentesdedesastresdegrandesproporções– comooFuracãoSandy,em2012,associadoàrevisãodalegislaçãodeseguroscontrainundação-traztambémumcontextodecrisedessemodelo,somadoaresultadosindesejáveisemtermosdejustiçasocial.

NoplanodeemergênciaadesastresdoEstadodeNova Iorquevigenteem2012,propunha-seacompradecasasatingidasnasáreasmaisafetadasdesapropriandofamíliaspelovalorintegraldoimóvel antes do evento, e de acordo com os mapas de um novo zoneamento. Àqueles queaceitassem reconstruir suas casas em suas cidades de origem, fora deNova Iorque ou do país,seria dado um bônus de 5% sobre o valor original. Aqueles que recusassem e decidissempermanecer,estariamsujeitosaaltastaxasdeseguros,emfunçãodalocalizaçãoemáreadealto

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riscoedosnovoscritériosrevistosnalegislaçãoepolíticafederaldeseguroscontrainundação.Aquem ficasse, seria oferecido um auxílio para a construção de certas estruturas à prova deinundações - obrigatórias apenas a partir do evento - mas um auxílio não suficiente para areconstrução total do imóvel. O plano, mais próximo de uma ação de indução de mercadoimobiliário, poderia, muito provavelmente, resultar numa situação de gentrificação da faixacosteiraefrentesaquáticas:osmoradoressemrecursosparaarcarcomareconstruçãointegraldesuascasas,apesardoauxílioparaestruturasespeciais,deveriamencontraroutraslocalidades;osmoradorescommaisrecursosteriammelhorescondiçõesdeusufruirdoauxíliopúblicoeampliara segurançade suas residências, e permaneceriamnas áreas reconstruídas, então liberadasdosmoradores sem recursos para habitar situações ambientalmente vulneráveis (ANGOTTI, 2013;MARCUSE, 2013). Exemplo de como situações de risco e mecanismos de proteção financeirapodemserusadasafimdealcançardeterminadosresultadosespaciais.Estratégiasderenovaçãourbanacomoestacontémsentidossociaispositivosenegativos.Positivo,aotransferirocustodasconstruçõesresilientesaosmoradoresdemaisaltarenda,configurandoumaformadebenefíciocoletivodessesgastosprivados.Esentidosocialnegativo,naexpulsãodemoradoressemrecursospara tal intervenção construtiva. Ponderar o saldo desses sinais é papel importante deprofissionaisepesquisasnocampodoplanejamento,ouqueatuamnaproduçãodecartografiasque embasam zoneamento de riscos. Há necessidade de refletir sobre possíveis compensaçõescriativasparacorrigirdimensõesdeinjustiçaurbanaemprocessosdessanatureza.

NoBrasil, a indústria de seguros é bastante incipiente, assim comoo ambiente de informaçõessobredesastres,tantoparaosaspectosdediluiçãocomoparareduçãoderiscos.Seriadesejável,emnossocontexto,queodesenvolvimentode informaçõessobreriscosdedesastresalcançasseaomenosumpatamaradequadoparaobomdesenvolvimentodepremissasdereduçãoderiscosdedesastres,comclarezasuficienteparacompreendercomoopaísseinsereouseprotegedeumpossívelmercadoderiscosextremamenteagressivo.

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