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MARTA PEREIRA COELHO BELO HORIZONTE 2005 DEPRESSÃO NA PESSOA DIABÉTICA: DESVELANDO O INIMIGO OCULTO

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Page 1: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

MARTA PEREIRA COELHO

BELO HORIZONTE 2005

DEPRESSÃO NA PESSOA DIABÉTICA: DESVELANDO O INIMIGO OCULTO

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MARTA PEREIRA COELHO

DEPRESSÃO NA PESSOA DIABÉTICA: DESVELANDO O

INIMIGO OCULTO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da

Escola de Enfermagem da Universidade Federal de

Minas Gerais.

Área de concentração: Enfermagem.

ORIENTADORA: PROF Drª TÂNIA C. M. CHIANCA CO ORIENTADORA: PROF Drª SÔNIA Mª SOARES

BELO HORIZONTE

2005

Page 3: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

Ficha catalográfica elaborada por: Eliana N. Hipólito – Bibliotecária CRB – 6/2075

Coelho, Marta Pereira. Depressão na pessoa diabética: desvelando o inimigo oculto/ Marta Pereira Coelho. - Belo Horizonte: UFMG, 2005.

163 f. : il.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem, 2005.

1.Diabetes : Depressão. 2. Depressão : Diabetes. 3. Hipoglicemia :

Aspectos psicológicos. I. Título.

CDU 616.379-008.64

Page 4: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

Dissertação defendida em 04 de março de 2005, pela banca

examinadora constituída pelas professoras:

Prof. Drª Tânia Couto Machado Chianca - Orientadora

Prof. Drª Maria Lúcia Zanetti

________________________________ Prof. Drª Paula Cambraia de Mendonça Viana

Page 5: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

“É m elhor tentar e falhar,

que preocupar-se e ver a vida passar.

É m elhor tentar em vão, que sentar-se fazendo

nada até o final. E u prefiro na chuva cam inhar,

que em dias tristes em casa m e esconder.

P refiro ser feliz , em bora louco, que em conform idade viver”.

Martin Luther King

Page 6: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

D E D ICA TÓ R IA SD E D ICA TÓ R IA SD E D ICA TÓ R IA SD E D ICA TÓ R IA S

Aos meus pais, Osvaldo e Mica, por me ajudarem com suas histórias de

vida a traçar a minha história de vida e por serem pessoas com quem eu sempre

pude contar, o meu amor e o meu muito obrigada.

A meus queridos filhos, razão de minha vida, Letícia, Larissa e Bernardo

pela paciência, compreensão, estímulo, apoio e amor constantes em todos os

momentos.

A você, Avary, onde estiver, pelo incentivo enquanto presente e por

plantar em meu coração a esperança de poder contribuir com o portador de

diabetes, fazendo-me crer que eu sou capaz e principalmente por me fazer acreditar

que a vida é via de mão dupla.

Aos colaboradores deste estudo, pela doçura expressa em nossa

convivência e sucesso de minha carreira, dando-me a oportunidade de crescimento

profissional e pessoal, o meu respeito e afeto.

Page 7: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

A G R A D E CIM E N TO S A G R A D E CIM E N TO S A G R A D E CIM E N TO S A G R A D E CIM E N TO S

A Deus, Senhor de todas as coisas, obrigada pelo caminho, verdade e

vida...

A querida orientadora Prof. Drª Tânia Couto Chianca pela compreensão,

dinamismo, competência e oportunidade de convívio.

A querida amiga e co-orientadora Prof. Drª Sônia Maria Soares, pelo

exemplo de conhecimento, equilíbrio, calma e segurança transmitida através de suas

palavras ternas de incentivo que tornaram minha caminhada mais tranqüila e serena.

Aos professores e colegas de mestrado em especial a Mônica e Yara pela

convivência, alegria e estímulo.

A minha mãe, porto seguro de minha caminhada, sábia e mestra maior,

que me fez através do resgate do inglês, encontrar minha auto confiança de forma

precisa.

Aos queridos filhos, Letícia pelo alento e por entender cada lágrima

derramada nos momentos de sufoco, Larissa que reviveu tudo comigo nas

digitações e a você Bernardo que contribuiu tanto nos bastidores dando-me

segurança para seguir em frente.

A minha irmã Marize, pela amizade e solidariedade nas suas

contribuições preciosas.

Aos amigos, Sinval Miranda e Cristiane pela colaboração na minha

estadia fora do lar, e ainda a Ló, Nati e Cássia, pelo aconchego e carinho, fazendo

com que a ausência dos entes queridos fosse menos sofrida.

A amiga e companheira Ana Carolina pela escuta, acolhimento, incentivo

e bom senso nos conselhos preciosos.

Page 8: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

Introdução 8

____________________________________________________________________________

A direção da Unimed de Governador Valadares pela oportunidade e

confiança depositada, permitindo este estudo e a convivência com os pacientes do

Serviço de Medicina Preventiva.

A Univale (Universidade do Vale do Rio Doce) e a direção da FACS

através da diretora e amiga Mylene Lucca, pela confiança em mim depositada.

A César Rubem Medina (in memorian) que na sua escuta contribuiu para

importantes mudanças na minha história de vida.

Aos professores e funcionários da EEUFMG/UFMG, em especial ao

Jaílton, pela atenção e disponibilidade.

Aos queridos alunos do Curso de Graduação de Enfermagem da Univale,

pela paciência nas minhas ausências e compreensão por meu empreendimento na

busca do saber.

A querida amiga Prof. Drª Claudia Jamal e Prof. Drª Cyntia Furst Leroy

pelas barras seguradas em atividades da coordenação do curso em minhas

ausências.

A companheira de jornada Andressa Masieiro pelo apoio na escuta dos

diabéticos.

A amiga incondicional Maria Luiza Muniz do Valle pelas trocas de

experiências, pelos empurrões no meu cuidar (dura com ternura), para que pudesse

buscar a qualidade de vida destas pessoas...

Aos queridos incentivadores e amigos Vasco e Tânia, Franck e Igor pelo

carinho e apoio constante a mim dados no acolhimento fazendo-me sentir sempre

em casa.

A todos os amigos e familiares que contribuíram com vibrações positivas e

torceram por mim.

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SU M Á R IOSU M Á R IOSU M Á R IOSU M Á R IO

Listas de abreviaturas e siglas

Resumo Abstract Capítulo 1- Introdução----------------------------------------------------------------------- 14 1.1- Minha trajetória e inquietações-------------------------------------------- 14 1.2-O interesse pelo tema--------------------------------------------------------- 16

1.3- Objetivo geral------------------------------------------------------------------- 26 1.4- Objetivos específicos---------------------------------------------------------- 26 Capítulo 2- Conhecendo o inimigo------------------------------------------------------- 28 2.1- A depressão------------------------------------------------------------------- 28 2.1.1- Uma visão geral da depressão-------------------------------------- 28 2.1.2- Principais aspectos históricos e epidemiológicos-------------- 31

Capítulo 3- A trajetória metodológica--------------------------------------------------- 44 3.1- O referencial teórico-metodológico--------------------------------------- 44 3.2- Conhecendo a história oral------------------------------------------------- 46 3.3- A história oral como método de pesquisa------------------------------- 47 3.4- O local e os sujeitos de pesquisa----------------------------------------- 56 3.5- O método da coleta de dados---------------------------------------------- 58 3.6- Tratamento e análise dos dados------------------------------------------ 59 3.7- Aspectos éticos da pesquisa----------------------------------------------- 62

Capítulo 4- Desvelando a depressão nos diabéticos------------------------------ 65 4.1- Caracterização dos colaboradores---------------------------------------- 65 4.2- Apresentação dos colaboradores----------------------------------------- 68 4.3- A experiência da depressão no diabético------------------------------- 91 4.3.1- Condições de vida da pessoa diabética influenciando no

aparecimento da depressão--------------------------------------------------

94 4.3.1.1- O Medo das complicações crônicas------------------------ 95 4.3.1.2- Lidando com a cronicidade do Diabetes Mellitus------- 97 4.3.2- Identificação da depressão------------------------------------------ 102 4.3.3- O Significado da depressão para o diabético------------------- 106 4.3.3.1- Fatores relacionados à depressão para o diabético---- 106 4.3.3.2- Mecanismos de enfrentamento da depressão----------- 114 Capítulo 5 – Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem------- 134 Referências Bibliográficas------------------------------------------------------------------ 142 Anexos-------------------------------------------------------------------------------------------- 156

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Lista de abreviaturas

DM - Diabetes Mellitus UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais SUS - Sistema Único de Saúde OPAS - Organização Panamericana de Saúde FID - Federação Internacional de Diabetes ANAD - Associação Nacional de Diabetes FENAD - Federação Nacional de Apoio ao Diabético SMS - Secretaria Municipal de Saúde UNIMED - Cooperativa de Trabalho Médico NANDA - North American Nursing Diagnoses Association DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders MS - Ministério da Saúde GV - Governador Valadares LER - Lesão por Esforço Repetitivo AVC - Acidente Vascular Cerebral

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RESUMO

Depressão na pessoa diabética: desvelando o inimigo oculto A depressão ocorre em portadores de DM sendo freqüentemente velada e confundida por profissionais de saúde e pelos próprios pacientes com sensações de angústia, tristeza e melancolia. Estudos mostram que a depressão pode determinar maior dificuldade de enfrentamento da doença. Este estudo teve como objetivo compreender como o portador de Diabetes Mellitus vivencia a depressão e a identifica Realizada em diabéticos tipo 2 em uso de insulina e na faixa etária acima de 50 anos acompanhados no programa do serviço de medicina preventiva da UNIMED GV (Cooperativa de Trabalho Medico de Governador Valadares), bem como descrever os sinais e sintomas da depressão relacionando-a ao DM e a vida cotidiana além de identificar os recursos de enfrentamento utilizados pelos diabéticos depressivos. O referencial teórico metodológico utilizado foi a história oral temática, proposta por Meihy. Os dados provenientes de 13 entrevistas foram analisados e os conceitos que imergiram favoreceram a identificação de três temas centrais: condições de vida da pessoa diabética influenciando na depressão, identificação da depressão e o significado da depressão para o diabético. Os sinais e sintomas de depressão apontados pelos diabéticos foram tensão, falta de apetite, irritabilidade, medo das complicações e outras. Os colaboradores identificaram a depressão com mudanças percebidas no comportamento, nervosismo, melancolia, angústia, choro sem motivo aparente, perda de interesse e de apetite, cansaço. Dificuldade de concentração, insônia e pensamento de morte. A depressão descrita por eles esteve relacionada a sentimentos de isolamento, problemas financeiros e com seus conjugues. O profissional enfermeiro precisa ser treinado a perceber e intervir precocemente no diagnóstico de depressão, elaborar plano de cuidados efetivos e adesão ao tratamento do diabetes e da depressão através de programas educativos e no emprego das mais variadas alternativas terapêuticas

PALAVRAS-CHAVE: Diabetes Mellitus tipo 2, Depressão, Enfrentamento

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ABSTRACT

Depression in diabetc people – caring the occult enemy Depression occurs in Diabetes Mellitus (DM) patients, being often attended and confounded by healthy workers and by patients themselves, with sensations of annoyance, sadness and melancholy. Studies show that depression can determine major difficult in coping the disease. The aim of this study was to undersand how the DM-type 2 patient can exist in depression and to identify it, achieved in patients using insulin, being over fifty years old, attende by the program Preventive Medicine Service – Unimed G.V. (Medical work Co-Operative of Governador Valadares), to decribe conveniently signals and symptoms of depression, relating it to DM and the daily life, as well as to identify the cope aids use by depressive diabetics. The methodological and theoretical reference use, was the oral thematic history proposed by Meihy. Data which came from thirteen interviews were analysed an the conceits which appeared held up the identification of three central themes: life condition of diabetic people influencing in depression, depression identification and the meaning of depression for diabetic patient. Signals and symptoms of depression pointed by diabetics were: tension, inappetence, irritableness, to be afraid of complications and others. The helpmates recognized depression with changes perceived in the behaviour, nervousness, melancholy, narrowness, crying without an apparent reason, loss of interest and appetite, tiredness, difficulty to concentrate, insomnia and thoughts about death. Depression described by them was related with lonesomeness feelings, familiar and financial and conjugal problems. The nurse must be trained to perceive and interview early in the depression treatment, through educative programs and in the employment of the most various therepeutical alternatives. Dey words: Diabetes Mellitus type 2 – Depression – Coping

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Introdução 13

____________________________________________________________________________

CA PÍTU L O 1CA PÍTU L O 1CA PÍTU L O 1CA PÍTU L O 1

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Introdução 14

____________________________________________________________________________

Introdução

“Eu amo tudo que foi, tudo o que já não é, a dor que já não me dói”

Fernando Pessoa

1.1 Minha trajetória e inquietações

Durante minha vida profissional desenvolvi a maioria das ações

assistenciais e de ensino na área de enfermagem sempre voltadas para pessoas

portadoras de doenças crônico-degenerativas. No início de minha vida profissional

prestei assistência a portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes

Mellitus em uma unidade básica de saúde da rede pública da Secretaria Municipal

de Saúde de Governador Valadares - Minas Gerais.

Minhas primeiras reações ao cuidar dessas pessoas foram de

inconformismo e de tristeza por achar que não valia a pena viver daquela maneira,

debilitados, dependentes de cuidados. Percebia ser o portador de doença crônica

alguém que necessitava aceitar várias restrições que a enfermidade lhe impunha;

dependia sempre de outras pessoas, era vigiado, cobrado e não possuía muitas

perspectivas para retornar à sua condição anterior de vida.

Com o passar do tempo, fui me acostumando com as dificuldades e

procurando encontrar maneiras de ajudar essas pessoas. Na minha prática diária

sempre me dediquei ao cuidado de enfermagem na área da saúde coletiva. Nos

últimos doze anos ingressei no serviço de saúde pública do município de

Governador Valadares e pude acompanhar usuários portadores de diversas

patologias crônico-degenerativas, em especial o Diabetes Mellitus (DM).

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Introdução 15

____________________________________________________________________________

Muito me chamou a atenção nos atendimentos individuais e em grupo de

portadores de DM, tanto do tipo 1 como do tipo 2, em muito deles, o desânimo, a

melancolia, a tristeza; sentimentos comuns percebidos em todos eles.

No final do ano de 1999, recebi convite da direção da Cooperativa Médica

de Governador Valadares (UNIMED), que contava com um número cada vez maior

de associados com problemas de diabetes, para desenvolver um trabalho junto a

essa comunidade. Assim, surgiu a oportunidade de elaborar e apresentar o projeto

“Conviver com o Diabetes”, aprovado imediatamente, visto que o número das

internações por diabetes representava um custo considerável para a empresa.

Contratada como enfermeira do programa, iniciei o trabalho no Serviço de Medicina

Preventiva. Recebi do Setor de Controle, Avaliação e Auditoria o registro das

internações onerosas e reincidentes por DM. Por meio do cadastro dos conveniados,

portadores de DM, iniciei o agendamento das consultas individuais e em grupo

semanalmente (dinâmicas, vivências, oficinas terapêuticas). O serviço contava, no

início de 2000, com cerca de 120 (cento e vinte) conveniados cadastrados em

acompanhamento e a maioria destes mantinham os níveis glicêmicos normais.

A depressão dessas pessoas acompanhadas por mim era percebida em

quase todas elas, às vezes na primeira consulta e, muitas vezes nas subseqüentes.

Alguns dos pacientes eram agendados em intervalos de consulta menores devido ao

fato de se apresentarem calados, tristes, arredios e depressivos, inclusive em

acompanhamento médico. Nessa mesma época reencontrei, após vinte e cinco

anos, um parente muito próximo em fase terminal de DM, portador da doença há

vinte anos. Passei a conviver com essa pessoa tão especial em todos os sentidos,

experimentando, como companheira e familiar, todas as fases deste percurso e as

marcas deixadas pela doença, observando, mais uma vez, que o diabético convive

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Introdução 16

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com limitações, tratamento e situações de controle que poderiam deprimi-lo e

influenciar na sua qualidade de vida e na de seus familiares. Fui compreendendo

melhor a necessidade e a importância do acompanhamento desses clientes, por

meio de atividades educativas e sociais, assim como a percepção da depressão,

como profissional da enfermagem para acompanhamento e educação deles próprios

e daqueles que com eles convivem e participam desta condição de vida.

Hoje, mesmo sem a presença física deste ente querido, percebo que a

convivência e sensibilização trazida para mim depois do contato com esta

experiência contribuíram na escolha e definição do tema desta pesquisa.

Enquanto enfermeira assistencial entendia a importância de considerar os

sentimentos dos pacientes, no entanto, sempre observei que colegas preocupavam-

se preponderantemente com a assistência nos atendimentos de problemas relativos

a aspectos fisiológicos e biológicos. Os conflitos emocionais eram na maioria

esquecidos, sendo lembrados somente quando a doença mental ou sofrimento

psíquico estavam instalados. Minha compreensão com relação à assistência às

pessoas, sempre foi de forma holística. Sempre considerei e visualizei o indivíduo

com um ser integral, chegando à compreensão de que as doenças tanto físicas

quanto emocionais merecem atenção, pois todas implicam sofrimento.

1.2- O interesse pelo tema

A palavra depressão, na linguagem coloquial é utilizada para designar

tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome ou

uma doença, constituindo-se em níveis diferenciados relativos ao contexto

psicossocial. A tristeza constitui-se numa resposta humana universal às situações de

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Introdução 17

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perda, derrota, desapontamento e outras adversidades (LUSTMAN, 1997). Como

sintoma clínico, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre

os quais: demência, esquizofrenia, alcoolismo e outras doenças. Pode ainda ocorrer

como resposta à situação estressante ou a circunstâncias sociais e econômicas

diversas (LUSTMAN, 1997). Como síndrome, a depressão inclui não apenas

alterações de humor (tristeza, irritabilidade, incapacidade de sentir prazer, apatia),

mas também vários aspectos incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e

vegetativas, tais como alterações do sono, apetite (ZAUSZNIEWSKI, 2001).

Além disso, presença de sintomas psiquiátricos associados a uma

doença orgânica pode ter um efeito devastador sobre a saúde física do indivíduo.

A depressão é uma patologia mental muito freqüente na população

sendo, em geral, incapacitante e nos casos mais graves, impossibilitando a pessoa

de realizar suas funções habituais, inclusive cuidar de si mesma. É potencialmente

letal, enquanto envolve risco de suicídio que, em alguns casos graves, o custo pode

ser muito alto, tanto para o paciente e sua família como para a comunidade. A baixa

produtividade das pessoas afetadas e as ausências do trabalho representam perdas

importantes (OPAS/OMS, 1999) e pode resultar em muitos dias de desabilitação e

em 12 vezes mais recidiva do que doenças crônicas do coração, hipertensão arterial,

diabetes e dores lombares (WILLIANS et al; 1999).

A depressão é uma patologia clínica de origem psiquiátrica e que não foi

ainda aceita como diagnóstico de enfermagem pela North American Nursing

Diagnoses Association (NANDA). Em 1982, Marjory Gordon propôs um diagnóstico

de enfermagem de reação depressiva situacional e a definiu como diminuição aguda

na auto-estima ou relacionada a sinal de baixa estima sensação de auto

competência (MAAS et. al, 2001)

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Introdução 18

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Trabalhos têm sido conduzidos na enfermagem no sentido de incorporar

as respostas do cliente à síndrome ou doença de depressão (THOMAS, SANJER e

WHITNEY, 1986; ZANSZWIEWSKKY, 2001). Esta deve ser vista como uma doença

ou patologia, mas deve ser também considerada como caracterização por um grupo

de reações das pessoas aos fatos da vida, agravadas muitas vezes por doenças

crônico-degenerativas debilitantes como é o caso do DM. Vários pesquisadores na

enfermagem têm recomendado que a NANDA desenvolva o diagnóstico de

enfermagem de depressão baseado nos critérios estabelecidos no DSM-IV

(Diagnoses and Statistical Manual of Mental Disorders ) (MAAS et al.; 2001).

Há vários anos tenho observado, como enfermeira, o aumento de clientes

relatando sintomatologia sugestiva de depressão, recorrendo aos serviços da rede

básica de saúde e nas diferentes clínicas e ambulatórios públicos e/ou privados.

Assim, enquanto profissional, presencio no cotidiano a falta de atendimento ao

portador de depressão, principalmente os portadores de doenças crônico-

degenerativas, neste caso o diabético. Quando este é atendido, é geralmente

acompanhado precariamente, não recebendo atenção adequada e eficaz

especialmente no que se refere ao atendimento médico e de enfermagem, sendo

considerado um chato, insistente, resistente pelos profissionais. Muitas vezes, o

cliente entra num serviço seja público ou privado e sai sem o diagnóstico de

depressão e sem tratamento adequado. Como essa situação é freqüente no

cotidiano dos enfermeiros, vislumbramos a importância e a necessidade de cuidados

e atenção especial, direcionados a pacientes diabéticos com sinais e sintomas de

depressão.

A prevalência e a incidência do DM vem aumentando de forma

assustadora e quase epidêmica, conforme as declarações da Organização Mundial

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Introdução 19

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da Saúde (OMS) e da Federação Internacional de Diabetes (FID, MS, 2002). Tem

contribuído para tal fato a atenção que a doença desperta, tanto nos meios da saúde

privada quanto no de saúde pública, aumentando o diagnóstico precoce dos casos,

que há poucos anos atrás era feito apenas após o aparecimento de uma ou mais

complicações graves, muitas vezes irreversíveis.

O diabetes tem sua prevalência no Brasil e na maioria dos países acima

de 20% da população cuja faixa etária está acima dos 60 anos, chegando em países

do Oriente Médio a ultrapassar os 30% (OMS, 2002).

Esta imensa porcentagem na população mundial de portadores de

diabetes leva a um impacto enorme na saúde pública e nos sistemas de assistência

médica, nos hospitais, nos planejamentos de custos no setor de saúde de todos os

governos, chagando a consumir cerca de 15 a 25% do total dos recursos destinados

à saúde (MS, 2001).

O impacto também se verifica pó ser a principal doença crônica que

contribui com cerca de 40% da morbidade e mortalidade por doenças

cardiovasculares, principais doenças que afetam o mundo de hoje. Assim sendo,

podemos dizer que o Diabetes Melittus é a principal doença de base presente em

pacientes internados devido a infarto agudo do miocárdio, acidente vascular

cerebral, tromboses e gangrenas de membros inferiores. Por Diabetes Melittus foram

internados pelo SUS mais de 122 mil pessoas, deste total 6,4 mil já morreram

(MS,2001).

Se o diabetes não for controlado o paciente pode ter sua expectativa de

vida reduzida em até 07 anos. O controle sistemático das taxas glicêmicas pode

reduzir os riscos de complicações em até 70% ( MS, 2000). Portanto, o DM trata-se

hoje em dia de um dos principais temas de saúde pública no Brasil, devendo ser

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Introdução 20

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objeto de estudo nas várias vertentes do conhecimento epidemiológico, sociológico,

psicológico, antropológico, entre outros. Dos portadores de diabetes tipo 2, 23% não

se submeteram a nenhum tipo de tratamento, 29% tentam controlar a doença

apenas com dieta, 41% recorrem à medicação oral e 7% usam insulina (MS, 2001).

Por falta de interesse do próprio indivíduo em detectar precocemente esta doença,

esse contingente poderia ser quatro vezes maior (MS, 2001).

Se no presente temos 150 milhões de portadores de DM em todo o

mundo, a previsão feita pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela FID

(Federação Internacional de Diabetes) é de que no ano 2025 haverá cerca de 300

milhões de pessoas com diabetes (MS, 2002). Importantes medidas devem e terão

que ser tomadas por todos os profissionais de saúde, governo e autoridades de

Saúde, entidades, indústrias farmacêuticas e principalmente em guias e diretrizes a

serem seguidas por essas entidades para o efetivo controle de diabetes (MS, 2001).

No Brasil há 10 milhões de diabéticos, dos quais 90% são portadores do diabetes

tipo 2, versão da doença muito associada ao hábitos da vida moderna. Metade deste

contingente não sabe que está doente e cerca de outros 5 milhões de brasileiros já

se encontram num estágio conhecido como tolerância reduzida à glicose, ou seja, se

não se cuidarem poderão desenvolver a doença (MALERBI, 1998).

O DM é uma síndrome complexa de etiologia múltipla que afeta múltiplos

órgãos e sistemas decorrentes de defeitos na secreção e ou ação da insulina,

caracterizada por hiperglicemia crônica e distúrbio no metabolismo de carboidratos,

lipídios e proteínas (ANDERSON, 2001). É difícil elaborar uma definição dessa

patologia, pois ela engloba um espectro de condições, cujo sintoma mais comum é a

hiperglicemia.

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Introdução 21

____________________________________________________________________________

Até pouco tempo, o diabetes era considerado uma enfermidade isolada,

mas atualmente tem sido identificada como uma doença composta de um grupo

heterogêneo de transtornos, conseqüência secundária de predisposições genéticas

e fatores precipitantes (WHITE et al, 1996). Clinicamente, os pacientes com diabetes

podem apresentar um ou mais destes sintomas: poliúria, polidipsia, perda de peso,

polifagia, visão embaraçada, prurido, aumento da susceptibilidade a infecções.

Conseqüências agudas podem acompanhar o diabetes, como cetoacidose

metabólico ou síndrome hiperosmolar (ANDERSON, 2001).

O paciente diabético pode apresentar complicações tardias como

retinopatia, com potencial perda da visão; nefropatia que pode evoluir para falência

renal; neuropatia periférica, com risco de úlceras nos pés, podendo levar a

amputação dos membros; nefropatia autonômica, causando sintomas

gastrointestinais, genito urinários, cardiovasculares e disfunções sexuais

(PINCINATO, 2003). Essas complicações comprometem a produtividade, qualidade

de vida e sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos custos no seu tratamento

e das suas complicações.

Dentre as doenças crônico–degenerativas, o DM pode ser considerado

uma das mais comuns em nossa sociedade. Os portadores de diabetes e seus

familiares deverão adaptar-se a várias mudanças, obrigando-os a encararem

algumas perdas tais como na capacidade física, no trabalho, no campo financeiro,

nos relacionamentos sociais, entre outras, o que os leva a se sentirem ameaçados

quanto à aparência individual e à própria vida. Mas, de modo geral, o paciente

aprende a conviver com sua enfermidade (BARBOSA, 1993).

Na área da enfermagem, os estudos sobre o portador de DM contam com

vasta literatura tanto nacional, quanto internacional. A maioria deles aborda

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Introdução 22

____________________________________________________________________________

questões como o autocuidado e a educação em saúde da pessoa diabética

(ALCÂNTARA e GONÇALVES, 1985; COSTA e LIMA, 1998; ZANETTI, 1990;

SILVA, 1992; TAKAHASHI. et. al., 1993; PADILHA et al, 1994; GONZALEZ, 1994;

THIES, 1999) entre outros. Tais trabalhos enfatizam as avaliações feitas por

profissionais de saúde e outros estudos voltam-se para a experiência da pessoa em

conviver com o diabetes. Foram encontrados também diversos estudos que

discutem o impacto da doença crônica na família e o enfrentamento subjacente.

Anderson e Cols (2001) concluíram que o DM praticamente duplica o risco

de depressão; um em cada trës diabéticos tem depressão; a prevalência da

depressão varia sistematicamente em função do instrumento e da amostra utilizada;

mulheres diabéticas apresentam maior risco de depressão e não houve diferença na

prevalência de depressão entre o DM tipo 1 e tipo 2 .

Aspectos psiquiátricos relacionados ao DM já foram descritos há pelo

menos um século (MAUDSLEY,1899) e podem influenciar o curso desta doença.

Mais especificamente, segundo o autor citado, sintomas depressivos poderiam

prejudicar a adesão ao tratamento, piorar o controle metabólico e aumentar o risco

de complicações do DM.

A depressão pode apresentar alterações neuropsíquicas e hormonais que

teriam efeitos hiperglicemiantes e poderiam acarretar distúrbios no metabolismo

glicêmico. As sobreposições de alterações fisiopatológicas de ambas as condições

poderia explicar a ocorrência freqüente de sintomas depressivos em pacientes

diabéticos (LEEDMOM, 1991). Em minha experiência profissional observei o

aumento considerável de pacientes relatando sintomatologia sugestiva de

depressão, recorrendo aos serviços de saúde da rede básica e nas diferentes

clínicas e ambulatórios.

Page 23: Marta Pereira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

Introdução 23

____________________________________________________________________________

Mesmo com a reforma psiquiátrica e as novas políticas de saúde mental,

as doenças psiquiátricas não recebem a devida atenção e espaço nos programas de

saúde pública e privada, principalmente no aspecto de promoção à saúde mental.

Isso não é diferente no que se refere à assistência de enfermagem em saúde mental

que parece não se preocupar com a doença mental e com a assistência de

enfermagem ao indivíduo em sofrimento psíquico. A precariedade ou ausência de

serviços de atenção à saúde mental envolve fatores políticos, econômicos, sociais,

organizacionais, comorbidade e outros. O enfermeiro geralmente é, ou deveria ser, o

profissional que primeiramente entra em contato com o cliente e a depressão é uma

doença muito freqüente na população em geral. Os conhecimentos das funções

fisiológicas, biológicas e psicológicas do organismo proporcionam maior

entendimento do processo saúde-doença dos indivíduos no seu contexto social.

Existem dois fatores que parecem estar relacionados com a depressão no

paciente diabético: a aceitação da doença e a incapacidade do paciente em lidar

com as alterações que a doença impõe sobre alguns aspectos da vida cotidiana. A

depressão é uma preocupação importante para os portadores de DM, podendo ser

precipitada nos diferentes estágios da vida, quando a doença se manifesta (BAILEY,

1996; BLACK, 1999; TALBOT, 1999). Estudos apontam que em média, a depressão,

em geral, tem início entre os 27 e 35 anos, afetando de 5 a 8% da população em

algum período da vida (ROBINS, 1991), sendo duas vezes mais prevalente nas

mulheres (CULBERTSON, 1997) e três vezes mais prevalente nos diabéticos

(GAVARD et. al.;1993).

A depressão é um distúrbio mental que tem conseqüências para o bom

funcionamento físico e psicológico da pessoa. Os estudos têm estabelecido uma

associação entre a presença de depressão e o controle glicêmico insatisfatório

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Introdução 24

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(LUSTMAN, 1996), pouca adesão às mudanças nos hábitos de vida necessárias

para o manejo do diabético, além de um risco aumentado para as complicações

crônicas do DM (CARNEY et al.; 1994; CARNEY et al.; 1995). Mesmo pelas

dificuldades inerentes de reconhecer a depressão e seus efeitos adversos nos

pacientes com DM ou por falha de equipe de saúde ou do paciente, esta situação é

diagnosticada e tratada em menos de um terço dos casos (LUSTMAN et al.; 1987).

A presença de depressão no paciente portador de DM parece relacionar-

se a alterações no curso clínico da doença. Sintomas depressivos relacionam-se a

um pior controle glicêmico, a um aumento e a uma maior gravidade das

complicações clínicas, além de piora da qualidade de vida e comprometimento de

aspectos sociais, econômicos e educacionais ligados ao DM (VAN TILBURG, 2001).

Depressão não é só diagnosticada através de abatimento moral ou físico,

tristeza, choro, desânimo, que, no caso do portador de diabetes, também podem

surgir ao mesmo tempo na detecção da doença. A confirmação do diagnóstico de

uma doença causa angústia, ansiedade, medo, negação, impotência, baixa auto-

estima.

Rajala e Cols. (1997), em um estudo populacional sobre o tema,

procuraram discutir se a relação entre DM e os sintomas depressivos têm base

fisiopatológica ou psicossocial, sugerindo que os fatores psicossociais

desempenhem um papel importante na ocorrência de sintomas depressivos no DM.

Outros fatores parecem associar-se diretamente com a presença de

sintomas depressivos no paciente diabético como o fato de ser solteiro poder ser

responsável por uma menor capacidade de aceitar a doença e as modificações

necessárias no estilo de vida (BLACK, 1999; ROY,2001; PEYROT, 1997; EATON,

1992; CONNELL, 1994). Já um menor nível de escolaridade dificulta o entendimento

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Introdução 25

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das complicações de uma doença crônica e de seu tratamento (LUSTMAN, 1997;

ROY, 2001; BLACK, 1999; PEYROT, 1997; CONNELL, 1994). Dificuldades

financeiras também se mostram relacionadas, em menor grau, com a ocorrência de

sintomas depressivos nos portadores de DM (ROY,2001). Além disso, estudos

correlacionam a presença de sintomas depressivos a um pior controle glicêmico

(VAM TILBURG et. al.; 2001; GRANDINETTI et al.; 2000).

Considerando, pois, que a depressão é uma característica velada e

confundida por muitos profissionais da área da saúde e pelos próprios portadores da

patologia com angústia, tristeza, melancolia, e dificuldade de enfrentamento.

Gostaríamos, assim, de aprofundar o conhecimento sobre a experiência social dessa

enfermidade, buscando compreender a experiência de portadores de DM no que se

refere especialmente à depressão sob sua ótica, a fim de contribuir para que a

assistência seja integral, como preconizado nos Sistema Único de Saúde (SUS).

A escassez de literatura com referência a depressão no portador de

diabetes evidencia a necessidade de pesquisa. Compreender e desvelar a

depressão nos portadores de DM é relevante para que se possa prestar assistência

adequada e para que o diabético adquira a tão almejada qualidade de vida,

conseguindo conviver com a patologia.

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Introdução 26

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26

1.3- OBJETIVO GERAL

- Compreender como o diabético vivencia a depressão.

1.4- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Descrever os sinais e sintomas da depressão relacionando-a ao

Diabetes Mellitus e a vida cotidiana;

- Identificar os recursos de enfrentamento utilizados pelos diabéticos

depressivos.

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Conhecendo o inimigo

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CA PÍTU L O 2CA PÍTU L O 2CA PÍTU L O 2CA PÍTU L O 2

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Conhecendo o inimigo

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28

Conhecendo o in im igo

“Fito-me frente a frente. Conheço que estou louco”. Fernando Pessoa

2.1- A depressão

2.1.1- Uma visão geral

De acordo com Aurélio (2000), a palavra depressão significa: ato de

deprimir-se, debilitar; enfraquecer; causar angústia abater-se; sofrer; angustiar-se.

Blakiston (1987) entende a depressão como queda ou redução da função. Em

Psiquiatria seria tristeza extrema, melancolia ou abatimento que, ao contrário do

pesar, são irreais e fora de proporção com qualquer causa alegada; pode ser um

sintoma de algum transtorno psiquiátrico ou a manifestação primordial de urna

reação psicótica depressiva ou de uma neurose.

O termo depressão, na linguagem corrente, pode designar tanto um

estado afetivo normal quanto um sintoma, uma síndrome e uma ou várias doenças.

Pode referir-se a um sintoma, a uma síndrome e a uma entidade nosológica. A

depressão enquanto sintoma pode estar associada aos quadros clínicos, tais como o

transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo ou

doenças clínicas, podendo ainda ocorrer como resposta a situações estressantes ou

a circunstâncias sociais e econômicas adversas.

Enquanto síndrome inclui não apenas alterações do humor (tristeza,

irritabilidade, falta de capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama

de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas

como sono e apetite (LAFER et al.; 2000 e LAKS,1999). Também consideram a

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Conhecendo o inimigo

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depressão como uma síndrome que pode acompanhar doenças sistêmicas,

neurológicas e/ou neuropsiquiátricas. Como um transtorno, a depressão tem sido

classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência

dos autores e do ponto de vista adotado.

Kaplan e Sadock (1997) caracterizam a depressão, como um episódio

patológico no qual existe perda de interesse ou prazer, distúrbios de sono e apetite,

retardo motor, sentimento de inutilidade ou culpa, distúrbios cognitivos, diminuição

da energia e pensamento de morte ou suicídio. Segundo Matheney e Topalis (1971),

depressão é um estado de humor caracterizado por lentidão e retardo do processo

ideativo e da atividade motora. Inicia-se com um quadro de lentidão geral associado

a sensação de tristeza, melancolia, abatimento e perda da iniciativa.

O paciente deprimido sofre de intenso sentimento de culpa, tem idéias

depreciativas sobre si mesmo e falsas crenças que o levam a acusar-se de inúmeros

delitos. Todas as pessoas passam por momentos nos quais se sentem tristes,

sozinhas ou infelizes e uma pessoa que sofreu perda de um ente querido ou

emprego pode sentir-se "deprimida", mas, na maioria das vezes, ela estará

experimentando um sentimento normal e absolutamente compreensível. Sentir-se

deprimido, nem sempre significa um processo patológico; às vezes, o paciente

desconhece ser portador de tal doença, mas quem precisa saber identificar e

encaminhar esse indivíduo é a equipe de saúde. Além disso, as formas moderadas

de depressão podem apresentar-se mascaradas, pois o cliente procura ajuda

profissional e traz como queixa principal, uma dor de cabeça persistente, uma

dispepsia com falta de apetite, constipação, gosto ruim na boca (D'ANDREA, 1986).

Por isso, o profissional que atende estes pacientes deve estar alerta.

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Lembramos que a depressão (a exemplo de outras doenças)

diagnosticada e tratada precocemente, também pode ser resolvida mais

rapidamente e não causar tantos prejuízos aos indivíduos acometidos, evitando,

principalmente o suicídio nos indivíduos deprimidos. No entanto, consideramos que

os profissionais de saúde, nos diferentes níveis de atenção, não estão preparados

para prestar atenção à saúde mental dos indivíduos e, na maioria dos casos, para

realizar diagnósticos de transtornos mentais, incluindo a depressão, embora seja

tarefa da equipe de saúde reconhecer as manifestações de comportamento do

cliente, estando ciente que a depressão pode ir de um grau leve até um grau

profundo. É uma tarefa e um compromisso ético assistir o indivíduo deprimido com

qualidade e eficiência.

Os outros profissionais de saúde também precisam fazer este diagnóstico,

portanto, a presente pesquisa focaliza a depressão do ponto de vista da

responsabilidade profissional do enfermeiro. Este, por ser um dos profissionais da

saúde que tem contato direto, prolongado e constante com os clientes dos serviços

de saúde, está em posição de fazer o diagnóstico, identificando os sinais indicativos

de depressão e o levantamento das possíveis dificuldades do seu portador. Sabendo

o profissional que o tempo normalmente designado a uma consulta raras vezes é

suficiente para permitir uma entrevista psicológica adequada, ao suspeitar de

depressão no cliente, é aconselhável fazer uma entrevista mais extensa,

assegurando que sua duração seja adequada para efetuar uma evolução

diagnostica minuciosa (MONTGOMERY, 1997).

Naturalmente é muito importante a maneira como se realiza a consulta de

enfermagem. Para tanto, a atmosfera deve ser a mais relaxante possível, de tal

modo que o paciente não se sinta amedrontado e tenha confiança, o profissional,

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Conhecendo o inimigo

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31

por sua vez, deve estar alerta e ser sensível a pistas ocultas. É preciso uma atitude

receptiva, disposição em escutar e uma observação acurada do comportamento e do

conteúdo da comunicação do outro.

2.1. 2- Principais aspectos históricos e epidemiológicos

Desde a antiguidade a depressão tem sido registrada a exemplo da

história do Rei Saul que descreve uma síndrome depressiva, assim como aversão à

comida, insônia, irritabilidade e inquietude. Os gregos acreditavam que as pessoas

com temperamento melancólico, sob influência de Saturno, secretavam "bile negra"

a qual enegrecia o humor influenciando o cérebro, dando início assim às teorias

neurobiológicas dos transtornos do humor. No início do século XIX, Esquirol

descreveu vários quadros delirantes de melancolia. Em 1882, o psiquiatra alemão

Kari Kahibaum usou o termo "ciclotimia", descrevendo a mania e a depressão como

estágios da mesma doença. No final do século XIX e início do século XX, os estudos

desenvolvidos por Kraepelin tiveram contribuições fundamentais na caracterização

dos quadros do humor como entidades nosológicas (KAPLAN e SADOCK,1997).

Os autores acima referem que nessa época Neyer cunhou o termo

psicobiologia dos transtornos mentais preferindo o termo depressão a melancolia por

contemplar os aspectos biológicos. Na década de 40, foi demonstrada a eficácia do

lítio no tratamento dos quadros de mania aguda. No final da década de 50,

redobrou-se o interesse pelos aspectos biológicos dos transtornos mentais com a

introdução da clorpromazina. Nessa mesma década, foram sintetizados os

antidepressivos tricíclicos, tendo por base sua ação anticolinérgica. Durante duas

décadas seguintes poucos avanços foram registrados e na década de 90 maior

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32

ênfase foi dada a mecanismos nucleares (moleculares) dos efeitos dos

antidepressivos e atualmente pode ser observado é que os estudos etiológicos são

direcionados para um modelo integrativo.

A depressão é reconhecidamente um problema prioritário de saúde

pública. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 1990 a depressão

maior unipolar foi a principal causa de "anos vivido com incapacitação" em países

desenvolvidos e que em 2020 será também a maior causa em mulheres e em países

em desenvolvimento (CARDOSO e LUZ, 1999). Ela é apontada como uma das

epidemias do século, aparecendo entre as primeiras colocadas. A Organização

Mundial de Saúde afirma que 20% da população mundial um dia padecerá deste

mal, pois a vida atribulada com as rápidas mudanças socioeconômicas das últimas

décadas têm gerado no homem uma série de problemas e o aumento de doenças

mentais parece ter relação com essas mudanças (PEREIRA, 1998).

Como ainda não surgiu nenhum tratamento preventivo, médicos

acreditam que vão aparecer cerca de dois milhões de novos deprimidos clínicos no

mundo a cada ano, sendo que no Brasil serão mais de 10 milhões de indivíduos

(CARDOSO e LUZ, 1999). Segundo o Sistema de Informações Hospitalares do SUS

(SIH/SUS), no período de abril/2000 - março/2001 tem-se a seguinte morbidade

hospitalar em relação aos transtornos de humor (afetivos): 52 óbitos, 33,3 dias de

média permanência, e 37.484 internações. De acordo com Cardoso e Luz (1999), a

depressão é uma patologia muito comum e que rouba vida útil da população sendo

superada apenas pelas doenças do coração.

A depressão também é apontada como uma das epidemias do século,

aparecendo entre as primeiras colocadas. A Organização Mundial de Saúde afirma

que 20% da população mundial um dia padecerá deste mal. A vida atribulada, com

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33

as rápidas mudanças socioeconômicas das últimas décadas, tem gerado no homem

uma série de problemas. O aumento de doenças mentais parece ter a ver com essas

mudanças, conforme (PEREIRA, 1998).

Segundo Katon e Sullivan (1990) muitas doenças físicas estão

associadas à depressão, entre elas as desordens endócrinas (hipotireoidismo,

hipertireoidismo, diabetes) e as desordens neurológicas (esclerose múltipla, doença

de Parkinson, enxaqueca, epilepsia, encefalite, tumor cerebral). Em tomo de 31 a

50% da população brasileira apresenta durante a vida pelo menos um episódio de

algum transtorno mental e cerca de 20 a 40% da população necessita, por conta

desses transtornos, de algum tipo de ajuda profissional. São dados que indicam a

grande importância social dos transtornos mentais (em especial a depressão), a

necessidade de seu reconhecimento e também de assistência adequada

(DALGALARRONDO, 2000).

De acordo com Montgomery (1997), a depressão é um dos processos

patológicos que se apresenta com maior freqüência na atenção primária. Ao longo

da vida ela aparece em 8 a 12% nos homens e de 20 a 26% nas mulheres e que

50% dos pacientes deprimidos buscam ajuda na atenção médica primária e

permanecem sem ter diagnósticos adequados e, portanto, sem receber tratamento,

o que repercute em excessiva carga de sofrimento, elevada morbidade e

mortalidade e contínuo risco de suicídio.

Estudos apontam que 20 % dos indivíduos com doenças graves crônicas

(diabetes, câncer e doenças do coração) desenvolvem depressão. Com freqüência,

os pacientes com depressão focalizam suas queixas sobre os componentes

somáticos de seus quadros depressivos e miniminizam ou eventualmente

negligenciam seus sintomas cognitivos e afetivos. Por outro lado freqüentemente a

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ocorrência de depressão com doenças médicas causa amplificação das queixas

somáticas (BURVILL, 1995). Estes dados reforçam nossa opinião de que há

necessidade de desenvolver ações dos profissionais da equipe de saúde (em

especial, o enfermeiro) relativas a depressão em todos os níveis assistenciais de

saúde pública ou privada.

Willians et al.; (1999) referem que a depressão tem determinado maior

custo/ benefício, resultando em muitos dias de desabilitação e em doze vezes mais

recidivas do que doenças crônicas tal como doenças do coração, hipertensão e

diabetes. O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos relatou um gasto anual

de U$ 148 bilhões para os transtornos mentais (a depressão é a mais comum), U$

128 bilhões para doenças do coração, e U$ 104 bilhões para produtividade ou U$

3000 anual por pessoa/funcionário deprimido para o empregador (GREENBERG et

al.;1993).

Na literatura encontram-se os quadros mais comuns de depressão

mencionados: transtorno depressivo maior, disritmia, depressão integrante do

transtorno bipolar l e II depressão como parte da ciclotimia (WILLIANS et al., 1999;

LAFER et al., 2000; DALGALARRONDO, 2000).

As distinções entre os transtornos do humor, anteriormente reconhecidas

na clinica foram verificadas e são oficialmente reconhecidas desde a quarta edição

do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mental (DSM-IV.1994). A

depressão, como já foi dito, é conhecida atualmente como transtornos do humor, e

os dois principais transtornos do humor são caracterizados como transtorno

depressivo maior e o transtorno bipolar l.

A maioria das pessoas, consideradas normais, experimentam uma ampla

faixa de variação dos humores acompanhados por um repertório variado de

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expressões afetivas. Esses humores e afetos ocorrem sob o controle mais ou menos

consciente da pessoa que os experimenta. Em razão disso, concordamos com

Kaplan e Sadock (1997) quando dizem que os transtornos do humor constituem um

grupo de condições clínicas caracterizadas pela perda deste senso de controle e

idéias grandiosas. No humor deprimido (depressão) há perda de energia e de

interesse, sentimentos de culpa, dificuldades para concentrar-se, perda do apetite e

pensamentos sobre morte e suicídio. Outros sinais e sintomas de transtornos do

humor incluem alterações nos níveis de atividade, capacidades cognitivas,

linguagem e funções vegetativas (sono, apetite, atividade sexual e outros ritmos

biológicos), comprometendo quase sempre o funcionamento interpessoal, social e

ocupacional da pessoa. A literatura reconhece como fatores causais da depressão

tanto os fatores biológicos, como os genéticos e os psicossociais.

A neuroquímica, nos últimos 30 anos, é a área que vem recebendo maior

destaque nas pesquisas sobre a fisiopatologia da depressão e apresentou

importante progresso. Os principais sistemas envolvidos na fisiopatologia da

depressão são os sistemas monoaminérgicos da noradrenalina, serotonina e

dopamina (LAFER et a/, 2000). Alterações neuroquímicas são estudadas durante a

fase ativa da doença (uni e bipolar), podendo representar apenas um "estado

neuroquímico" alterado que não representaria um "verdadeiro traço neuroquímico"

subjacente. KapczinskI et al.; (2000) revelam que os avanços colaboram na

adequada identificação de casos e não-casos de transtornos de humor em estudos

longitudinais.

Alguns apontam anormalidades cerebrais como alterações volumétricas,

metabólicas e de fluxo sanguíneo em pacientes com transtornos do humor. Porém,

esses estudos têm limitações metodológicas (LAFER et a/, 2000),

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Conhecendo o inimigo

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Existem aspectos genéticos e desde o século XIX, tem-se procurado

demonstrar a existência de um componente genético para as depressões. Foram

desenvolvidos estudos genético-epidemiológicos com famílias, gêmeos e adotados.

Segundo Lafer et al.; (2000), estudos com gêmeos convergem para

estimar a herdabilidade na depressão unipolar em torno de 40% e na depressão

bipolar. Entretanto, uma das dificuldades centrais é a caracterização precisa do

fenótipo (características observáveis num indivíduo), ao qual se pretende relacionar

a uma determinada constituição genética ou fenótipo.

Chamou a atenção, estudo relatado por KapczinskI et al.; (2000) no qual é

assinalado a importância da intervenção precoce nos transtornos do humor. É a

informação de que a indução de fatores dos genes de transcrição não ocorre apenas

de imediato, mas que há uma série de efeitos de longo prazo em vários

neuropeptídeos.

O desenvolvimento dos estudos descritivos contribuiu não apenas para

melhor compreensão da depressão, mas também para o seu tratamento (LAFER et

al.; 2000). Ao tentar conhecer e compreender a depressão segundo os aspectos

psicológicos envolvidos são apontadas algumas abordagens teóricas: -

comportamental (utiliza técnicas de reforço positivo ou de ausência de reforço, de

solução de problemas, do desamparo aprendido); - cognitiva (abordagem diretiva

racional-emotivo utiliza técnicas de auto-instrução e de reestruturação cognitiva); -

interpessoal (não diretiva centra-se no aqui e no agora tendo como referência a

comunicação); - construtivista (trabalha com base na reconstrução dos esquemas,

dos pressupostos e das crenças básicas) (LAFER et al., 2000).

Em geral, pacientes com depressão crônica lidam com o mundo através

de operações concretas; a visão de si mesmos depende da visão dos outros;

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conseguem dialogar com os outros, mas não conseguem analisar simultaneamente

a visão própria e da sociedade. Nesse sentido, as terapias comportamental-cognitiva

e cognitiva adaptam-se bem. As terapias construtivistas são mais indicadas para

pessoas que têm uma compreensão maior ou estão aptas a entender os diferentes

sistemas e hierarquias que influenciam seu comportamento. Sob a perspectiva

psicanalítica, a depressão é considerada um fenômeno psicopatológico de extrema

complexidade e as respostas terapêuticas são, também, muito variadas; não

permitindo uma base uniforme de observação, ou de expectativa (LAFER et al.

2000).

Do ponto de vista psicanalítico, (sem negar o papel dos

neurotransmissores) acredita-se que os processos depressivos estão associados a

fantasias inconscientes ou fruto da significação atribuída inconscientemente às

vivências emocionais, ou é o resultado final da dificuldade de elaboração, por parte

do aparelho psíquico, da ansiedade depressiva.

Quanto aos envolvidos na depressão reforça-se que acontecimentos vitais

estressantes precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de transtornos

do humor do que episódios subseqüentes. O estresse que acompanha o primeiro

episódio resultaria em alterações duradouras na biologia do cérebro com

repercussão nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e

sinalizadores intraneuronais (KAPLAN e SADOCK, 1997).

Diversos relatos apontam a relação entre o funcionamento da família e o

início e curso dos transtornos de humor, assim como o grau de psicopatologia na

família pode afetar o índice de recuperação, o retomo dos sintomas e o ajuste pós-

recuperaçâo do paciente. (LAFER et al., 2000).

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A vida moderna parece estar influindo no aparecimento e no curso de

doenças depressivas. O mundo está mais exigente, ameaçador, competitivo e

criador de grandes expectativas, mais violento e inseguro. Espera-se que cada

indivíduo seja capaz de orientar-se e defender-se no ambiente em que vive.Observa-

se o aumento de casos de cronicidade decorrentes de tratamento inadequado.

Levam-se em conta, no diagnóstico médico da depressão, sintomas

psíquicos; fisiológicos e evidências comportamentais. Montgomery (1997) sugere um

guia diagnóstico no qual se obtém um grupo de sintomas cardinais e adicionais.Os

principais sintomas cardinais são citados em vários esquemas diagnósticos são

tristeza; falta de interesse; diminuição do apetite; menor duração do sono (insônia no

início, na metade ou no final do sono); dificuldades para concentrar-se; cansaço;

pessimismo; idéias suicidas. Os sintomas cardinais não devem ser considerados um

grupo exclusivo, pois freqüentemente os pacientes deprimidos manifestam muitos

outros sinais adicionais. Se os sintomas cardinais encontrarem-se encobertos,

podem proporcionar pistas valiosas para estabelecer a natureza do transtorno.

Nos sintomas adicionais encontramos características como ansiedade,

irritabilidade, agitação ou enrijecimento psicomotor, hipersonia, moléstias e dores ou

transtornos somáticos, aumento de apetite, insegurança, incapacidade para agir

frente a uma situação e hipocondria que também devem ser considerados, mas para

se estabelecer um diagnóstico confiável, devido à natureza sindromática da

depressão, é necessária a presença de vários sintomas cardinais.

Existem esquemas diagnósticos que definem critérios rigorosos para o

diagnóstico da depressão (LAFER et al.; 2000). Alguns esquemas diagnósticos

como o DSM-111R e C1D10 requerem a presença de cinco sintomas cardinais.

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Segundo Montgomery (1997), estes critérios podem ser rigorosos demais,

excluindo um grande número de pacientes com depressão tratável. Desse modo,

sugere-se que para estabelecer um provável diagnóstico devem estar presentes

num mínimo de três (nos homens) ou quatro (nas mulheres) sintomas cardinais

durante pelo menos duas semanas. Ainda para Montgomery (1997), estes critérios

menos rigorosos podem ser justificados pela dificuldade que existe para detectar

múltiplos sintomas. Além, do que, é sabido que os homens tendem a reportar menos

sintomas que as mulheres, não obstante padecendo de uma depressão da mesma

severidade.

Convencionalmente fala-se em depressão quando estão presentes pelo

menos cinco dos seguintes sintomas, por, pelo menos, duas semanas (CID-10,

1997; DSM IV-1994): humor depressivo, perda de interesse ou prazer (um destes

dois ou ambos são obrigatórios), perda ou ganho de peso significativo, insônia ou

hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimento

de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada, indecisão ou capacidade diminuída

de pensar ou concentrar-se e pensamentos de morte recorrentes. A OPAS/OMS

(1999) com base no CID -10 classifica como depressão grave (três sintomas típicos

e quatro adicionais), moderada (dois sintomas típicos e três adicionais) e leve (dois

sintomas típicos e dois adicionais - nenhum em grau acentuado)

Segundo Lafer et al.; (2000), os sintomas no plano psíquico podem ser:

• Humor depressivo. Sensação de tristeza, autodesvalorização e

sentimentos de culpa. O humor pode ser irritável ou "rabugento" em crianças e

adolescentes. Alguns pacientes mostram-se antes "apáticos" do que tristes,

referindo-se muitas vezes ao "sentimento da falta de sentimentos". Tudo parece

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vazio e sem graça; os pacientes costumam lidar com o sentimento de que tudo lhes

parece fútil ou sem real importância.

Com freqüência, o deprimido julga-se um peso para os familiares e

amigos, muitas vezes invocando a morte para aliviar os que o assistem na doença.

As idéias de suicídio são freqüentes e temíveis. Têm como motivações para o

suicídio as distorções cognitivas (perceber quaisquer dificuldades como obstáculos

definidos e intransponíveis; tendência a superestimar as perdas sofridas) e ainda o

intenso desejo de pôr fim a um estado emocional extremamente penoso e tido como

interminável. Alguns ainda buscam a morte como forma de expiar suas supostas

culpas. Os pensamentos de suicídio vão desde o remoto desejo de estar

simplesmente morto, até planos minuciosos de se matar (estabelecendo o modo, o

momento e o lugar para o ato). Estes pensamentos de morte devem ser

sistematicamente investigados, uma vez que essa conduta poderá prevenir atos

suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito (LAFER et al.; 2000).

• Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das

atividades antes consideradas como agradáveis. Os deprimidos podem relatar

que não se interessam mais pelos seus passatempos prediletos; as atividades

sociais são freqüentemente negligenciadas e tudo lhes parece agora ter o peso de

terríveis "obrigações".

• Fadiga ou sensação de perda de energia. As pessoas deprimidas

podem relatar fadiga persistente, mesmo sem esforço físico. As tarefas mais leves

parecem exigir esforço substancial. Na execução das tarefas lentifica-se o tempo.

DALGALARRONDO (2000), classifica a fadiga, cansaço fácil e constante (sente o

corpo pesado como alterações da esfera instintiva e neurovegetativa).

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• Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar

decisões. Pessoas relatam que agora parecem custar esforços intransponíveis,

decisões antes quase automáticas. O paciente pode se demorar infindavelmente

para terminar um simples relatório, pela incapacidade em escolher palavras

adequadas. Pode estar notavelmente lentificando o curso do pensamento.

Professores experientes, por exemplo, queixam-se de não conseguir preparar as

aulas mais rotineiras, programadores de computador pedem para ser substituídos

pela atual "incompetência". Em função da fatigabilidade e déficit de atenção,

desinteresse generalizado, geralmente crianças e adolescentes têm queda em seus

rendimentos escolares (LAFER et al., 2000).

Os sintomas fisiológicos associados à depressão são descritos como

alterações do sono (com mais freqüência a insônia, podendo ocorrer também a

hipersonolência). A insônia mais típica é a intermediária (acordar no meio da noite,

com dificuldades para voltar a conciliar o sono) ou terminal (acordar mais

precocemente, pela manhã) Ainda, pode ocorrer insônia inicial. Com freqüência

menor, os indivíduos podem se queixar de sonolência excessiva, mesmo durante as

horas do dia.

Alterações do apetite podem ocorrer, sendo mais comuns a perda ou o

aumento do apetite. As pessoas precisam muitas vezes esforçar-se para comer ou

serem ajudadas por terceiros a se alimentar. As crianças podem não ter o esperado

ganho de peso no tempo correspondente, pela inapetência. Algumas formas

específicas de depressão são acompanhadas de aumento do apetite, mostrando-se

caracteristicamente aguçado por carboidratos e doces.

A redução do interesse sexual da libido (do desejo sexual) e da resposta

sexual (disfunção erétil, orgasmo retardado ou anorgasmia) podem acontecer. São

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Conhecendo o inimigo

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42

descritas ainda as alterações do comportamento como retraimento social; crises de

choro (choro fácil e/ou freqüente); sintomas afetivos como comportamentos suicidas;

Ideação negativa, pessimismo em relação a tudo; idéias de arrependimento e de

culpa; visão de mundo marcada pelo tédio ("a vida é vazia, sem sentido, nada vale a

pena"); idéias de morte, desejo de desaparecer, dormir para sempre; ideação e

planos ou atos suicidas como alterações ideativas; retardo psicomotor e lentificação

generalizada ou agitação psicomotora. A tendência a permanecer na cama por todo

o dia (com o quarto escuro, recusando visitas, etc.); aumento na latência entre as

perguntas e as respostas; lentificação psicomotora até o estupor; diminuição da fala,

redução da voz, fala muito lentificada; mutismo (negativismo verbal) e negativismo

(recusa à alimentação, a interação pessoal, etc.) como alterações da volição e da

psicomotricidade.

Sintomas depressivos parecem relacionar-se a um pior controle glicêmico,

a um aumento e a uma maior gravidade das complicações clínicas, piora da

qualidade de vida e ao comprometimento de aspectos sociais, econômicos e

educacionais ligados ao DM. Baseada nestas premissas, conduzimos este estudo

utilizando a história oral temática.

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CA PÍTU L O 3CA PÍTU L O 3CA PÍTU L O 3CA PÍTU L O 3

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A trajetória metodológica 44

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A trajetória m etodológica

“Mais triste do que acontece é o que nunca aconteceu.

Meu coração, quem o entristece? Quem faz o meu?” Fernando Pessoa

3.1- O referencial teórico-metodológico:

Em geral, o método de pesquisa a ser utilizado depende da natureza do

objetivo do problema em estudo. Como o propósito deste estudo é a compreensão

de experiência vivida, o método qualitativo parece mais adequado por este

preocupar-se com uma realidade que não pode ser quantificada, aprofundando-se

no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível,

e que não pode ser reduzido a equações e estatísticas (TRIVIÑOS, 1987; MINAYO,

1994).

Em se tratando de pesquisa em enfermagem, Gualda et al. (1995)

ressaltam que é cada vez mais evidente o interesse que enfermeiros pesquisadores

vêm demonstrando pelo uso das metodologias qualitativas, visto que as mesmas

têm como foco principal a natureza, a essência, o significado e os atributos do

fenômeno em estudo, buscando dados objetivos e subjetivos para a obtenção da

realidade das pessoas .

Para Marques (1999, p. 44), “na enfermagem, o contato com os dramas

humanos é muito próximo, beirando a intimidade. (...). Nós, profissionais de saúde

desta área, servimos de confidentes, de parceiras(os) em momentos cruciais para a

vida das pessoas (...)”. São situações concretas vividas no ato de cuidar, que

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A trajetória metodológica 45

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suscitam interrogações, problemas a “pesquisar”, dificilmente captáveis numa

redução a números e estatísticas.

Foi utilizado para coleta e análise de dados os pressupostos da história

oral por se tratar de um recurso metodológico moderno para uso nas entrevistas,

usado para direcionar a coleta e análise de dados e, neste estudo, a história oral

vem revelar aspectos ocultos, ou seja, a depressão velada no portador de DM. Este

recurso metodológico humaniza as percepções do pesquisador para com o sujeito

em questão, preocupando-se com a qualidade e não com a quantidade de dados

obtidos. É uma técnica e fonte por meio das quais se produz conhecimento, tem

abrangência multidisciplinar e pedagógica e é considerada a ciência do indivíduo

(FREITAS, 2003).

Segundo Pasternak apud Freitas (2003, p.3), “O que é escrito, ordenado,

factual nunca é suficiente para abarcar toda a verdade: a vida sempre transborda de

qualquer cálice”.

No Brasil, há uma quantidade significativa de trabalhos que utilizam a

história oral como instrumento de pesquisa e como fonte documental nas ciências

humanas. Entretanto, existem ainda dificuldades no sentido de circunscrever, mais

precisamente, os liames e particularidades dessa metodologia de trabalho

(FREITAS, 2003).

O debate sobre a história oral possibilita reflexões sobre o registro dos

fatos na voz dos próprios protagonistas. Utiliza-se de metodologia própria para

produção de conhecimento. Sua abrangência, além de pedagógica e interdisciplinar,

está relacionada ao seu importante papel na interpretação do imaginário e na

análise das representações sociais (FREITAS, 2003).

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A trajetória metodológica 46

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3.2-Conhecendo a história oral

Segundo Joutard apud Ferreira e Amado (2004, p.45-51) a primeira

geração de historiadores surgiu nos Estados Unidos nos anos 50 e seu intento era

modesto: coligir material para os historiadores futuros; seria um instrumento para os

biógrafos vindouros.

Na Itália, sociólogos como Ferraotti e antropólogos como De Martino e

Bosio, utilizam a pesquisa oral para reconstruir a cultura popular (LOZANO, 2004).

Em 1986, no Japão, foi organizado o primeiro simpósio de história oral

pela Sociedade de Ciência Histórica e, os debates teóricos e historiográficos

destacaram as possibilidades da história oral, em particular na história da última

guerra, resultando em duas publicações.

Na França e depois na Itália, a pesquisa oral tornou-se um meio

pedagógico eficaz para motivar os alunos de história, levando-os a tomar

consciência das relações que o passado mantém com o presente.

De acordo com David Dunaway apud Freitas (2003) a atual década de 90

marca o advento da quarta geração de historiadores nascida nos anos 60, que vive

“naturalmente” em um mundo de som e de oralidade, influenciada nos Estados

Unidos pelos movimentos críticos pós-modernistas, o que se traduz na valorização

da subjetividade, conseqüência ou mesmo, para alguns, finalidade da história oral.

Mas a queda do muro de Berlim e o restabelecimento da democracia no Leste

europeu também propiciaram à pesquisa oral as condições de liberdade necessárias

e novos campos de estudo sobre o período stalinista e a resistência ao stalinismo

(BROSSAT et al., 1990).

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A trajetória metodológica 47

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3.3- A História oral como método de pesquisa

O desenvolvimento da história oral iniciou-se com a antropologia, a partir

do estudo do processo de transcrição de tradições orais das sociedades, quando os

modos de comunicação ainda transitavam pelas formas de comunicação oral. A

tradição oral foi, então, objeto de conhecimento para construção da teoria

Antropologia e um meio de aproximação e interpretação das culturas abordadas.

Hoje, o âmbito interdisciplinar de ação da história oral ultrapassou o campo

específico da Antropologia e abrange as Ciências Sociais (FERREIRA, 1999).

História oral é um recurso moderno, um método que vem sendo utilizado

como forma de captação de experiências de pessoas dispostas a falar sobre

aspectos de sua vida, com o compromisso de se manter no contexto social. É usada

para a elaboração de documentos, arquivamentos e estudos referentes à vida social

das pessoas (MEIHY, 1996).

Esse autor refere-se à história oral como um conjunto de procedimentos

que se inicia com a elaboração de um projeto, passando, a seguir, para a definição

de um grupo de pessoas a ser entrevistado, que ele designa como colônia. Nessa

etapa, faz-se o planejamento da condução das entrevistas gravadas, a transição dos

relatos orais, conferência dos depoimentos, devidamente autorizados para uso na

pesquisa, o arquivamento, a divulgação dos resultados e, por final, o retorno dos

resultados ao grupo que se os originou.

O pressuposto da história oral está na percepção do passado como algo

que tem continuidade no presente, cujo processo histórico não está acabado.

Proporciona sentido à vida social dos depoentes e leitores, para que possam

compreender o seguimento histórico e identificar-se como parte dele (MEIHY, 1996).

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A trajetória metodológica 48

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A história revela análise da experiência e o uso desta, além de ensinar e

preparar a sociedade para eventos similares no futuro. De acordo com Lozano

(1996, 2004), o objeto de estudo da história oral é constituído pôr fenômenos e

eventos que oferecem interpretações qualitativas dos processos histórico-sociais,

através da oralidade.

O subjetivo da experiência humana é a parte central de estudos, no

método da pesquisa histórica, que ampliará o enfoque social da categoria de

produção dos conhecimentos históricos para os que também se identificarem e se

solidarizarem com os princípios da história popular. Fazer história oral significa

produzir conhecimentos históricos, científicos e não apenas fazer um relato

ordenado da vida e de experiências das pessoas (LOZANO, 1996).

A história oral como método de pesquisa tem de mais precioso, a

possibilidade de reconstruir a história através de suas múltiplas versões; captar a

lógica e o resultado da ação através de seus significados expressos na linguagem

do ator; ou seja, desvendar o jogo complexo das ideologias com a ajuda dos

instrumentos que nos são oferecidos pela própria ideologia (ALBERTI, 1994).

Nesse sentido, a história oral é legítima como fonte porque não induz a

mais erros do que outras fontes documentais e históricas. O conteúdo de uma

correspondência não está menos sujeito a distorções factuais do que uma entrevista

gravada. A diferença básica é que, enquanto no primeiro caso a ideologia se

cristaliza em um momento qualquer do passado, na história oral a versão representa

a ideologia em movimento e tem a particularidade, não necessariamente negativa,

de “reconstruir” e totalizar, reinterpretar o fato (ALBERTI, 1994). A história oral

remete a uma dimensão técnica e a uma dimensão teórica.

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A trajetória metodológica 49

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Trabalhar com história oral em geral consiste em gravar entrevistas e

editar depoimentos, sem explorá-los suficientemente, tendo em vista um

aprofundamento teórico-metodológico; também é comum a utilização de entrevistas,

em associação com fontes escritas, como fornecedoras de informações para a

elaboração de teses ou trabalhos de pesquisa, sem que isso envolva qualquer

discussão acerca da natureza das fontes de seus problemas.

A história oral enquanto pesquisa empírica de campo e a reflexão teórico-

metodológica estão indissociavelmente interligadas, demonstrando de maneira mais

convincente que o objeto histórico é sempre resultado de uma elaboração. Em

resumo, história é sempre construção.

O uso sistemático do testemunho oral possibilita à história oral esclarecer

trajetórias individuais, eventos ou processos que às vezes não têm como ser

entendidos ou elucidados de outra forma; são depoimentos de analfabetos,

rebeldes, mulheres, crianças, miseráveis, prisioneiros, loucos... São histórias de

movimentos sociais populares, de lutas cotidianas encobertas ou esquecidas, de

versões menosprezadas. Essa última característica permite inclusive que uma

vertente da história oral tenha se constituído, ligada à história dos excluídos.

Para Alberti (2004), o pesquisador poderá lançar mão de contribuições

oriundas de outras disciplinas, como a filosofia, a teoria sociológica, a teoria

psicanalítica, seja qual for a distância a que recorra, porém, o historiador encontrará

encaminhamentos e soluções para esse tipo de questão na área da teoria (histórica,

psicanalítica, sociológica etc), já que esta tem a capacidade de pensar

abstratamente questões oriundas da prática, filtradas pela metodologia, produzindo

conceitos que, por sua abrangência, são aplicados a situações análogas, iluminando

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A trajetória metodológica 50

____________________________________________________________________________

e transformando a compreensão da própria prática – no caso específico, do

exercício da história oral.

Abordar o fenômeno da oralidade é ver-se defronte, é aproximar-se

bastante de um aspecto central da vida dos seres humanos: um processo de

comunicação no qual ocorre o desenvolvimento da linguagem, a criação de uma

parte muito importante da cultura e da esfera simbólica humana, é antes de tudo um

espaço de contato com influência interdisciplinar, com ênfase nos fenômenos e

eventos que permitem, através da oralidade, oferecer interpretações qualitativas de

processos histórico-sociais. Fazer história oral significa, portanto, produzir

conhecimentos históricos, científicos e não simplesmente fazer um relato ordenado

da vida e da experiência dos “outros” (LOZANO, 2004).

Como acontece com outras questões mais vitais, aprende-se melhor a

história oral experimentando-a, praticando-a sistemática e criticamente; mantendo a

disposição de voltar atrás reflexivamente sobre os passos percorridos, com a

finalidade de melhorar cada vez mais o nosso desempenho. Para Streubert e

Carpenter (1999), a pesquisa histórica propicia a construção do conhecimento a

partir de informações obtidas na prática profissional e este talvez seja também um

trabalho essencial desta pesquisa: pensar na história oral como um esforço

interdisciplinar e de equipe, no qual não devem faltar os rigores da pesquisa

histórica e da etnografia, a visão global da sociologia, e a sensibilidade de

abordagem da psicanálise e da psicologia.

Segundo Alberti (2004 p.19), a entrevista de história oral documenta uma

versão do passado, supõe que essa versão e a comparação entre diferentes

versões que tenham passado são relevantes para estudos na área das ciências

humanas. Trata-se de ampliar o conhecimento sobre acontecimentos e conjunturas

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A trajetória metodológica 51

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do passado através do estudo aprofundado de experiências e versões particulares;

de procurar compreender uma sociedade através do individuo que nela viveu; de

estabelecer relações entre o geral e o particular através da análise comparativa de

diferentes testemunhos e de tomar como dado objetivo para compreender as ações,

as formas como o passado apreendido e interpretado por indivíduos e grupos.

As duas partes (entrevistado e entrevistador) constroem, num momento

sincrônico de suas vidas, uma abordagem sobre o passado, condicionado pela

reação de entrevista. O entrevistador deve ter consciência de sua responsabilidade

enquanto co-agente na criação do documento de história oral. Em razão disso, é

muito importante que o pesquisador seja capaz de sustentar um diálogo franco e

aberto com o entrevistado, respeitando-o enquanto diferente e contribuindo para que

seja produzido um depoimento de alta qualidade.

O contato inicial é muito importante porque constitui um primeiro momento

de avaliação recíproca, base sobre a qual se desenvolverá a relação de entrevista.

O pesquisador deverá tornar claro que seu depoimento é de grande relevância para

a pesquisa e que haverá muita satisfação, da parte dos pesquisadores, em ouvi-lo;

mostrar franqueza na descrição dos propósitos dos trabalhos e na condução das

entrevistas. Não convém aos pesquisadores, sob pena de prejudicar tanto esta

quanto outras relações com entrevistados, forjar uma imagem de si próprios e do

programa que não corresponda à prática efetiva. Isso porque, se a entrevista seguir

os rumos adequados a trabalhos deste gênero, haverá momentos em que será difícil

sustentar uma imagem impostada e o entrevistado poderá sentir-se ludibriado. O

pesquisador deverá evidenciar o respeito que se nutre pelo entrevistado, enquanto

sujeito produtor de significados outros que os dos pesquisadores. Como são sua

experiência e sus interpretações que se buscam em uma entrevista de história oral,

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A trajetória metodológica 52

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é preciso mostrar ao entrevistado que não se tenciona modificar ou criticar sua forma

de ver o mundo, suas crenças e opiniões.

Cabe sublinhar uma última evidência: a entrevista e a relação de

entrevista, além de se constituir num todo, é sempre única, não havendo

possibilidade de se repetir em outras circunstâncias. Segundo Daniel Beartaux apud

Alberti (2004, p.36), há um momento em que as entrevistas acabam por se repetir,

seja em conteúdo, seja na forma pela qual se constrói a narrativa. Esse é o

momento em que o autor chama de ponto de saturação a que o pesquisador chega

quando tem a impressão de que não haverá nada de novo a aprender sobre o objeto

de estudo, se prosseguir as entrevistas.

Para se encerrar uma entrevista Alberti (2004) direciona quando houver

“saturação”. Ou seja, além de esgotar os pontos do roteiro e as demais questões

julgadas relevantes, é possível verificar quando a visão que o entrevistado tem sobre

o mundo e sobre sua experiência de vida começa a se repetir, a ponto de a

entrevista não trazer mais nada de substancial àquilo que já foi gravado. Como regra

geral, o transcritor deve ser instruído para reproduzir tudo o que foi dito, sem fazer

cortes ou acréscimos.

Quanto aos registros utilizados na historia oral, estes constituem um

documento oral. Mesmo que seja transcrita, a entrevista de história oral deve ser

considerada em função das condições de sua produção: trata-se de um diálogo

entre entrevistado e entrevistadores, de uma construção e interpretação do passado,

atualizada através da linguagem falada.

O trabalho com história oral exige do pesquisador um elevado respeito

pelo outro, por suas opiniões, atitudes e posições, por sua visão do mundo enfim. É

essa visão de mundo que norteia seu depoimento e que imprime significados aos

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A trajetória metodológica 53

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fatos e acontecimentos narrados. Ela é individual, particular àquele depoente, mas

constitui também elemento indispensável para a compreensão da história de seu

grupo social, sua geração, seu país e da humanidade como um todo, se

considerarmos que existem características de universalidade nas diferenças. História

é um nome genérico para designar as histórias vividas e concebidas, diferentes ou

parecidas, criadas por pessoas em contato com o mundo.

Convém sempre listar o tipo e a aplicação das marcações utilizadas, para

orientar não só aqueles que se encarregarão do processamento, como também os

pesquisadores que consultarem o depoimento em sua forma final, que podem ser

informados sobre o significado de cada uma das convenções adotadas. Interrupção

das gravações, ênfases, silêncio, risos, emoção, trechos lidos e enunciados

incompletos devem ser registrados.

Se o emprego da história oral significa voltar a atenção para as versões

dos entrevistados, isso não quer dizer que se possa prescindir de consultar as fontes

já existentes sobre o tema escolhido.

A respeito da história oral, Meihy (1996) cita três modalidades:

História oral de vida – Enfoca a experiência de uma pessoa, a sua

vivência. É mais subjetiva; o sujeito principal desse tipo de história é o entrevistado e

depoente que fica livre para falar sobre sua experiência pessoal. Devem ser

utilizados questionários com a caracterização da pessoa, contendo perguntas

amplas, colocadas em grandes blocos, na forma indicativa dos acontecimentos e na

seqüência cronológica da trajetória do entrevistado. É fundamental que se considere

a pessoa como um caso específico.

História oral temática – Compromete-se com o esclarecimento ou

opinião do entrevistador sobre algum assunto específico, um tema pré–estabelecido.

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A trajetória metodológica 54

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A objetividade é direta. Ela aborda questões externas, objetivas, factuais, temáticas

e seu caráter específico confere-lhe características diferentes. Pode-se utilizar para

documentação fontes orais e escritas. O uso de um questionário com questões

diretivas e a condução do trabalho pelo entrevistador é o mais evidente, neste

gênero da história oral.

Tradição oral – A terceira modalidade da história oral trabalha com

valores, crenças, mitos e tradições antigas de determinada comunidade. O indivíduo

é visto como um veículo de transmissão de mitos e tradições antigas, através das

gerações futuras. Implica entrevista com uma ou mais pessoas vivas, remetendo-se

ao longínquo. É muito utilizada para trabalhos com tribos, comunidade, clãs, entre

outros.

Para realização deste estudo, a modalidade da história oral temática vem

responder à proposta do trabalho acerca dos diabéticos que apresentaram

depressão em acompanhamento no Serviço de Medicina Preventiva da UNIMED

GV, Programa “Conviver com o Diabetes”.

As entrevistas temáticas são aquelas que versam prioritariamente sobre a

participação do entrevistado no tema escolhido, enquanto as de história de vida têm

como centro de interesse o próprio indivíduo na história, incluindo sua trajetória

desde a infância até o momento em que fala, passando pelos diversos

acontecimentos e conjunturas que presenciou, vivenciou ou de que se inteirou.

Há programas de história oral que estabelecem a prática de assinatura do

documento de cessão de direitos antes de iniciar-se a entrevista, mas essa conduta

não é muito adequada, primeiramente porque uma pessoa simplesmente não pode

assinar cessão de direitos sobre alguma coisa antes mesmo de ela existir e depois,

porque o entrevistado não pode saber de antemão o que vai falar, muito menos

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A trajetória metodológica 55

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sobre o que será indagado, sendo-lhe difícil assinar um documento que garante ao

programa o uso e mesmo a publicação de um conteúdo ainda desconhecido. Em

terceiro lugar, está o fato de essa prática ser pouco apropriada para uma relação

que está apenas começando, podendo o entrevistado sentir-se virtualmente

enganado quando lhe solicitam a assinatura sobre algo que ainda vai acontecer. Por

isso, é preferível selar o contrato apenas ao final da entrevista, depois que a relação

já se estabeleceu ao longo de horas de conversa e de conhecimento mútuo, sendo

reservado ao entrevistado o direito de modificar o teor da carta de cessão, fazendo

as restrições que achar necessárias, inclusive embargando trechos cuja consulta

julgue inconveniente.

Só compete ao historiador estabelecer o que será tomado como está, o

que será reexaminado (à luz de outras fontes), posto de lado (definitivamente ou de

modo provisório para uma análise secundária ou em outro plano) e criticado (como é

mister em qualquer estudo), nada permite retirar da testemunha a posição que ela

adquiriu pelo simples fato de ela ter aceitado responder às perguntas que lhe faziam.

A compreensão do depoimento colhido requer uma explicação sociológica

e psicológica. Dessa forma, o historiador pode aceitar ou recusar uma tarefa inédita:

colaborar, por meio da entrevista histórica, na transformação do objeto em sujeito.

Estabelecendo o diálogo e deixando um pouco de lado suas curiosidades imediatas,

o historiador pode, assim, contribuir para favorecer ou acelerar a evolução do seu

interlocutor, que pode passar da afirmação de sua obscuridade e de sua

insignificância (“nada tenho de interessante para dizer”) à construção de seu próprio

relato.

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A trajetória metodológica 56

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3-4- O local e os sujeitos da pesquisa

Para realizar este estudo fiz um levantamento de todos os pacientes

cadastrados, perfazendo um numero de cento e vinte, no “Programa Conviver com o

Diabetes” - do Serviço de Medicina Preventiva da Unimed de Governador Valadares-

MG, acompanhados por mim no período de abril de 2000 a dezembro de 2002

quando ainda trabalhava neste serviço. O fluxo desse atendimento era assim

normatizado: consultas de enfermagem com a periodicidade mensal, reuniões em

grupo semanais, referência de atendimento para a psicóloga.

Os critérios adotados para escolha dos colaboradores foram as pessoas

portadoras de DM tipo 2 em uso contínuo de insulina, acima de 50 anos faixa etária

de maior prevalência da doença na população. Em virtude disso, os clientes que se

enquadraram nesses critérios foram contactados por mim e receberam informações

sobre a pesquisa, para que decidissem sobre sua participação ou não. Realizei o

agendamento das entrevistas a critério dos colaboradores e informei-os sobre as

questões éticas, solicitando-lhes o consentimento, determinando um horário e o local

para a realização das mesmas, a critério de cada colaborador, num clima de

solidariedade profissional, aberto ao aconchego, à confidência, à discrição e ao

respeito. Assim, os participantes foram informados sobre o objetivo e os

procedimentos da pesquisa, bem como sobre a garantia de sigilo quanto a seu

anonimato e, para isso, eles receberam, então, nomes fictícios, escolhidos por eles

mesmos, dentre os apresentados em uma listagem com nomes de doces mais

comuns e grande “objeto de desejo” dos colaboradores. Estes nomes passaram a

ser utilizados desde a coleta de dados, após a concordância em participar da

pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2),

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A trajetória metodológica 57

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atendendo as recomendações da Resolução nº 196/96 sobre pesquisa envolvendo

seres humanos, até a conclusão deste trabalho.

Inicialmente foram coletados dados demográficos através de um roteiro

de entrevistas especialmente elaborado para caracterizar os colaboradores (Anexo

3). As entrevistas foram realizadas após validação feita por duas especialistas. Após

a realização das entrevista, foram utilizadas questões norteadoras. A opção

metodológica selecionada para análise foi preconizada pela história oral temática

(MEIHY, 1996). Todas as pausas, silêncios, tonalidades de voz, expressões, choros

e emoções foram relatados por mim, depois de cada entrevista e não mais na

presença do paciente, quando passei a transcrever cada relato. Valorizei também as

conversas informais que ocorreram e na transcrição destas usei notas de campo

para enriquecer a análise.

A coleta de dados por meio de entrevistas, a transcrição, a utilização das

notas de campo levaram-me ao estudo dos dados obtidos na busca de semelhanças

e diferenças entre os mesmos, classificando-os de modo que o significado do

contexto fosse preservado. Já na oitava entrevista percebia-se a saturação dos

dados.

Durante o processo de transcrição das entrevistas, a caracterização dos

colaboradores e a criação das narrativas fui identificando as relações, a fé, a

religiosidade de cada um, os sentimentos, as emoções, as diferentes soluções para

o problema da depressão, que se apresentavam, os problemas familiares que

interferiam na felicidade e na qualidade de vida das pessoas segundo suas próprias

percepções.

Por tratar-se de uma pesquisa qualitativa, não houve a preocupação com

a representatividade numérica da amostra a ser investigada, mas sim com a

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A trajetória metodológica 58

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descrição da história da depressão no portador de diabetes, pois acredito que dessa

maneira será possível revelar significados importantes para esses colaboradores.

Segundo Portelle apud Freitas (2003) “A diferença da fonte oral, encontra-

se no fato de que os depoimentos não verdadeiros são psicologicamente

verdadeiros, e que esses” erros “, às vezes, revelam mais dados que o relato exato”.

3.5- O método para a coleta de dados

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas

e de observação não participante, compostas em cinco partes (Anexo 3), de forma a

caracterizar os colaboradores, obter informações e percepções sobre sua

convivência com a DM e a depressão no seu cotidiano.

I – Dados relacionados a identificação do portador de Diabetes Mellitus:

idade, sexo, raça, religião, antecedentes familiares diabéticos, local de residência

atual e habitual, tipo de moradia, tipo de casa, nº de cômodos da casa, situação de

moradia, estado civil, nº de filhos nascidos vivos, escolaridade, atividade atual,

profissão, renda salarial familiar, moradores do domicílio que ajudam no tratamento

e quem mais ajuda/incentiva/acompanha/apóia.

II – Dados referentes à condição saúde-doença do diabético e quanto à

depressão: há quanto tempo apresenta o diabetes, antecedentes familiares, se faz

uso de antidiabético oral, tipo de insulina, dose e modo de uso. Se faz uso de

antidepressivo, acompanhamento psicoterápico, hábitos alimentares, atividade

física, outros problemas ou complicações (problemas vasculares, retinopatias,

nefropatias, hipertensão arterial, dentre outras decorrentes da patologia).

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A trajetória metodológica 59

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III - Dados relacionadas às atividades diárias do diabético/depressivo:

início do tratamento do diabetes e da depressão, quem realiza os cuidados gerais

(higiene, medicação), quem financia o plano de saúde e os medicamentos e

dificuldades com exames/tratamento que o plano de saúde não acoberta.

IV - Observação do ambiente no qual o colaborador vive.

V - Questões norteadoras: ”O que é depressão para você?” “Em que

situação se sente deprimido?” Como convive com a depressão sendo diabético “?

As entrevistas, realizadas nos domicílios, foram gravadas em fita cassete,

e imediatamente após sua realização, transcritas na íntegra. A cada entrevista

transcrita, procedi à análise, identificando os pontos a serem contrastados e

validados frente à transcrição. Esses procedimentos são essenciais para garantir a

confiabilidade e a fidedignidade dos dados, com o rigor científico necessário à

pesquisa.

3.6- Tratamento e análise dos dados

Para Meihy (1996), a análise histórica pode ser revelada quando forem

considerados como fontes os depoimentos dos narradores. Para este estudo

buscamos nas falas dos pacientes portadores de diabetes com sinais e sintomas

depressivos os conceitos que surgiram a partir da questão norteadora, sem nos

dispersamos dos objetivos da pesquisa.

A análise dos dados exigiu a organização das entrevistas transcritas,

anotações das observações de campo, incluindo as reflexões e comentários da

pesquisadora e das transcrições dos dados coletados. De início, foram realizadas

leituras minuciosas e sucessivas das entrevistas, em busca do reconhecimento de

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A trajetória metodológica 60

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seus conteúdos e anotações dos conceitos emergentes, nas margens do texto. Os

conceitos que emergiram, no início, com a organização das histórias coletadas, eram

mais gerais, mas possibilitaram a construção de categorias a partir deles. Esta

construção deu-se após a identificação dos conceitos expressos nas falas. A

identificação das categorias é um elemento central do processo de análise.

Categorizar significa agrupar conceitos que parecem pertencer ao mesmo fenômeno

(MINAYO, 1994).

A trajetória histórica foi construída a partir dos conceitos, identificados e

agrupados, sobre a alteração do estado de saúde e trajetória do fenômeno doença -

depressão, de acordo com a proposta de Meihy (1996). Os dados transcritos das

entrevistas foram agrupados sob a forma de narrativas, num processo que requereu,

acima de tudo, criatividade. A leitura e releitura das narrativas foram evidenciando

um movimento nas falas que ia entrelaçando os tons vitais, conceitos e atitudes dos

colaboradores. Nestas falas, os colaboradores da pesquisa deixavam vir à tona,

relações, frustrações, inquietações, inseguranças, medos, evidentes ou não. Nesse

processo de interpretação, foi necessário ouvir, várias vezes, as vozes dos

colaboradores para compreender suas experiências e vivências.

Segundo Benner apud Alberti (2004) “aquele que interpreta não pode

escapar de suas próprias posturas e experiências, o que cria a possibilidade de uma

interpretação superficial. Aquele que interpreta é desafiado pelos movimentos

teóricos do comentário interpretativo, a encontrar nas narrativas o que antes não era

compreendido”. Quem interpreta relatos narrativos tem a seu favor o que difere das

simples respostas às questões formuladas por um pesquisador: aquilo que é narrado

é o que possui significado e, por isso, permanece armazenado na memória do

narrador (BENNER, 2004).

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A trajetória metodológica 61

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Depois de coletados os dados, realizei a caracterização dos

colaboradores estudados, contemplando as três primeiras partes do instrumento da

pesquisa, referentes a questões socioeconômicas e demográficas, informações

sobre a condição de saúde-doença e atividades diárias dos diabéticos. A quarta

parte da entrevista, constou da observação do ambiente, em que inseri notas

importantes da pesquisadora antes da análise das falas dos colaboradores. Já, na

quinta parte da entrevista, que constituiu a comunicação verbal (gravações), segui

as etapas da análise indicadas por Meihy (1996): transcrição, textualização e

transcriação. Esse autor assim as define: A transcrição é a passagem da gravação

oral para o relato escrito. Numa primeira etapa, a transcrição deve ser fiel ao fato

acontecido. A entrevista deve ser corrigida em parte, ou seja, deve ser mantida uma

dose suficiente de vícios de linguagem para o leitor sentir o tipo de narrativa. As

frases e o vocabulário do entrevistado devem permanecer indicados, mantendo o

sentido intencional dado pelo narrador que expõe seu raciocínio com as palavras.

Textualização - nesta fase, as perguntas eventuais são fundidas com as respostas,

passando o texto a ser de domínio exclusivo do narrador, que figura como

personagem único, por assumir a primeira pessoa do texto. É nesta fase que o texto

vai receber um tom vital, dado por uma frase que servirá de epígrafe para a leitura

da entrevista. Esta frase tem a pretensão de levar o leitor à percepção do conteúdo

do texto. A transcriação, que transforma o relato oral em um texto propriamente

dito, recriado em sua plenitude, segundo Meihy (1996), que também afirma haver

inferências do autor, no texto, o qual pode ser refeito várias vezes a partir de

acordos combinados com o colaborador que legitima o texto em sua conferência.

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A trajetória metodológica 62

____________________________________________________________________________

3.7- Aspectos éticos da pesquisa

O projeto desta pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa

da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/COEP, visando obter permissão

para realizá-lo. Frente à permissão para consecução do estudo pela COEP

(processo ETIC 272/04) foram agendadas e realizadas as entrevistas (Anexo3).

Para garantir o anonimato dos colaboradores da pesquisa, elaborei uma

listagem com os nomes dos doces mais comuns e desejados pelos diabéticos -

desejos estes revelados por eles mesmos, logo no primeiro contato. Percebi na

época do cadastro que a grande dificuldade do diabético não reside apenas no fato

de ter de seguir uma dieta, mas também com o grande “objeto de desejo”: os

doces... Tal decisão partiu de mim não como “perversão” ironizada por colegas de

profissão, mas como uma maneira carinhosa que achei para me referi a eles. Como

me encontro afastada do serviço há dois anos, logo que recebi autorização do

Presidente da Unimed GV (anexo 1), providenciei listagem de nomes, endereços e

telefones para localizá-los a fim de realizar as entrevistas propostas.

Todos os pacientes foram contactados por telefone e ao receberem a

ligação, todos se lembraram rapidamente de mim, demonstrando prazer, alegria e

saudade de nossos encontros, atendendo prontamente ao pedido de participação.

Expliquei rapidamente o objetivo da pesquisa e agendamos nosso encontro em dia e

horário propícios para eles. Todas as entrevistas foram realizadas nos domicílios

exceto a do colaborador Churros que preferiu ser entrevistado no consultório do

Serviço de Medicina Preventiva. As entrevistas transcorreram num clima de

participação, interesse, descontração e muita cordialidade com demonstração de

carinho a minha pessoa. Estas iniciaram-se pelo preenchimento do questionário e

antes de gravar, ofereci informações necessárias sobre a pesquisa, inclusive sobre a

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A trajetória metodológica 63

____________________________________________________________________________

necessidade de gravação da entrevista, assegurando seu anonimato. Houve

concordância de todos os envolvidos que assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Informado (Anexo 2).

Com a autorização para o uso das entrevistas, houve o cuidado com a

utilização do teor das mesmas, assegurando princípios da ética no uso dos

conteúdos somente para os fins desta pesquisa.

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CA PÍTU L O 4CA PÍTU L O 4CA PÍTU L O 4CA PÍTU L O 4

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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D esvelando a depressão nos diabéticos

“Minhas mesmas emoções são coisas que me acontecem”

Fernando Pessoa

Neste capítulo abordo a caracterização dos colaboradores do estudo aos

quais chamo de colaboradores e a análise histórica, a partir das características

definidoras da depressão no diabético.

4.1- Caracterização dos colaboradores

Participaram do estudo 13 diabéticos tipo 2, na faixa etária acima de 60

anos em uso de insulina acompanhados no Serviço de Medicina Preventiva da

Unimed de Governador Valadares, no período de abril de 2000 a dezembro de 2002.

Conforme indicadores definidos no instrumento de coleta de dados,

(anexo 3), para apresentar o perfil dos diabéticos atendidos observa-se que a idade

variou de 56 a 78 anos, com média de 66 anos; 82% são mulheres e 18% são do

sexo masculino. Entre os clientes atendidos, 82% são brancos; 9% negros, 9%

amarelos/brancos. Quanto ao tipo de moradia, 63,6% reside em casas e 36,3% em

apartamentos, sendo que todos informam residir em zona urbana e 90% em casa

alugada. O número de cômodos das residências variou de 4 a 8 cômodos.

Podemos verificar que a religião predominante (80%) é a católica, 10%

afirmaram ser evangélicos e 10% se dizem “ateus”.Quanto ao estado civil, 63,3%

são casados, 18% viúvos, 9% separados, 9% solteiros.O número de filhos variou de

1 a 7 filhos, com média de 2 filhos.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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No que se refere à escolaridade, 36,3% apenas sabem ler, 27% possuem

primário (Ensino Fundamental) completo, 27% colegial (Ensino Médio) completo

(2ºgrau) e 9% cursaram até a oitava série do ginasial (Ensino Fundamental). Em

relação ao vinculo empregatício, 90% dos diabéticos não possuíam atividade

remunerada, sendo aposentados e a renda familiar variava de um a cinco salários

mínimos, sendo que 10% exercem atividade remunerada, apesar de aposentados.

Dos colaboradores estudados, 82% vivem em companhia dos cônjuges,

9% com os filhos, 9% com irmãos, mas são independentes no que diz respeito ao

seu autocuidado e à realização das tarefas domésticas. Apenas 10% dos diabéticos

desse grupo afirmaram não participar de nenhum grupo social.

Com relação às condições de saúde-doença dos diabéticos, 100% têm

antecedentes de familiares diabéticos e a duração da doença a partir do diagnóstico

variou de 10 a 22 anos, sendo que a média foi de 15 anos, com início de do uso de

insulina variando de 2 anos a 21 anos, com média de 06 anos de terapia insulínica.

Quanto às consultas a respeito das possíveis complicações da doença, encontramos

que 54% são portadores de hipertensão arterial sistêmica, 45% têm retinopatia e

periodontite, 54% depressão e 36% dificuldade para dormir e com obesidade. Todos

os pesquisados receberam orientação sobre diabetes, sendo que 63% foram

orientados pelos médicos e 37% pelas enfermeiras dos serviços.

Nenhum dos pacientes pesquisados tem dificuldade para usar ou aplicar

a insulina e somente uma paciente não aplica a medicação, dependendo do

cônjugue para este fim, sendo a única a fazer uso de dois tipos de insulina NPH e

Regular) duas vezes ao dia.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Quanto ao fornecimento da insulina, 72% recebem do SUS e 27%

adquirem-na através de recursos próprios. A seringa própria para a aplicação de

insulina é comprada por 100% dos diabéticos com seus próprios recursos.

No que se refere à depressão, 36% tiveram o diagnóstico médico

confirmado e 63% fazem uso de antidepressivos, sem confirmação médica, 72%

adquirem o antidepressivo, com recursos próprios e apenas 18% já estiveram

internados por causa da depressão. Atualmente, 36% fazem uso contínuo de

antidepressivo.

A maioria dos pacientes, ou seja, 90% fazem acompanhamento

psicoterápico até hoje e destes, 27% não têm nenhuma complicação ou seqüela

decorrente da doença, 55% são hipertensos e fazem uso continuo de medicação

específica, 9% têm seqüela de AVC, 9% são cardiopatas, 18% foram submetidos a

cirurgia cardíaca, 9% têm nefropatia e ainda, 27% submeteram-se a cateterismo

cardíaco e 63% a angioplastia, com periodicidade de consultas médicas variando de

mensal a trimestral, com média bimensal.

No que se refere aos hábitos alimentares, 63% disseram alimentar-se

cinco vezes ao dia e 27% alimentam-se três vezes ao dia, sendo que todos

apresentam alimentação balanceada, consumindo frutas, legumes, verduras,

carboidratos e proteínas, em quantidades equilibradas diariamente.

Como atividade física, 63% fazem caminhada, pelo menos três vezes por

semana, 9% hidroginástica e 18% não praticam nenhuma atividade física.

De todos os pacientes estudados 18% são safenados, 81% não tiveram

problemas cardíacos; sendo que 63% já se submeteram a angiofluorensciografia e

36% não utilizaram deste recurso por não apresentarem complicações na retina.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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4.2- Apresentação dos colaboradores

Os 13 (treze) colaboradores do estudo receberam nomes fictícios de

doces, escolhidos pelos mesmos através de listagem prévia feita por mim, em que

não considerei o gênero e sim a simpatia e o “desejo” pelo doce escolhido.

Colaboradora: Brigadeiro

Sexo feminino, 59 anos, viúva, alegre, bem-disposta, mora em casa

própria confortável e humilde, tem sete filhos e nunca trabalhou fora, renda familiar

de um salário mínimo referente à pensão do marido falecido. Em sua casa o

ambiente é muito alegre, pois acolhe três filhas e três netos, os quais se relacionam

muito bem com ela. Diz-se humilde, porém determinada, vive para a família. Alega

ter acabado de reformar sua casa com dinheiro enviado por uma filha que reside nos

EUA. Sua casa está com móveis novos ganhos nos dias das mães.

Diabética há doze anos, usa insulina há dois, participa das atividades da

igreja católica e se refere ao diabetes como “problema superado”, pois consegue se

manter controlada com o uso da insulina, dieta balanceada, caminhada e

psicoterapia. Mostrou-se muito receptiva durante toda a entrevista, fez questão de

que eu conhecesse toda a casa e os presentes ganhos no dia das mães e após a

entrevista solicitou ao neto que nos servisse um café com queijo. Acolhe também um

irmão separado da esposa, atualmente desempregado, no terraço do apartamento.

Ao se despedir agradeceu por ter sido escolhida para esta pesquisa e convidou-me

a retornar para um churrasco de domingo e conhecer toda a família.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Brigadeiro entende que depressão é diferente de tristeza por que tem

conseguido vencer períodos de tristeza. Como seu marido já falecido teve depressão

lembra-se de que ele não conseguia se comunicar, querendo ficar isolado num canto

sozinho. Já a tristeza, acontece por alguma coisa que te magoa muito, chateia,

amola, mas passa...

Na ocasião do diagnóstico do diabetes, Brigadeiro ficou triste, chateada,

mas ao tomar conhecimento de que o controle estava em suas mãos, após as

orientações dadas pela enfermeira do programa de Medicina Preventiva,

tranqüilizou-se e preocupa-se mesmo quando pára as caminhadas e sente

dormência nas pernas. Fica apavorada e receosa de que seja o aparecimento das

complicações. Ela define a depressão como muito pior do que a tristeza e acha que

se a pessoa não se cuidar, pode chegar à morte; lembra-se com saudade do marido

que ficou durante um ano sem sair de casa, antes de vir a óbito.

Colaboradora : Palha italiana

Sexo feminino, casada, 56 anos, nacionalidade italiana. Profissão do lar,

nunca trabalhou fora, tem três filhos casados, quatro netos e uma filha solteira que

lhe dá muito trabalho. Mora só com o marido que é caminhoneiro, ficando a maior

parte do tempo sozinha.Visita seus parentes, no Rio Grande do Sul, uma vez por

ano. Gosta de costurar, faz todo tipo de trabalho manual e várias experiências

gastronômicas da cozinha diet e light.

É hiperativa, faz todo o serviço da casa, ajuda ainda as filhas de quem

tem muito apoio. Adora os netos, com quem ocupa maior parte do seu tempo.

Participa de vários grupos sociais, da igreja católica, Associação de Diabéticos e

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Serviço de Medicina Preventiva da Unimed. Sua casa é própria e situada em um dos

melhores bairros da cidade, muito bem decorada com móveis claros, modernos de

muito bom gosto. Possui também áreas verdes na frente da casa e, nos fundos têm

arvores frutíferas, que produzem matéria prima para suas compotas diet. Observei

que sua cozinha estava com muitos frascos de compota de pêssego e figo diet para

consumo próprio e para dar aos amigos diabéticos.

Diabética há dezesseis anos e usa insulina há doze. Tem antecedentes

diabéticos, sua mãe e três irmãos, dois dos quais já são falecidos também eram

diabéticos. Simpática e muito falante, e esclarecida a respeito do diabetes. Já está

tão habituada à doença que consegue ajustar as doses de insulina conforme o seu

“estado emocional”. Faz caminhadas regularmente, viaja ás vezes com o marido

quando ele faz carretos para cidades interessantes que ela não conhece. Sempre

que se sente sozinha procura os netos, ou amigos conterrâneos que possuem

restaurante na cidade. É alegre, risonha, bem-disposta e percebi que em todos os

móveis da casa tem retratos de suas filhas e netos. Refere-se a eles com muito

carinho e afeto e ao marido com desdém e impaciência.

Para Palha italiana a reação à depressão só começou após tratamento

com remédios, dos quais sentiu-se dependente por muitos anos. Relata que quando

os familiares precisavam de seus préstimos, como olhar os netos ou a casa, aquele

comprimido antidepressivo prescrito pelo médico poderia fazê-la dormir, descuidar-

se e imprevistos poderiam acontecer. Daí, ao perceber a depressão, começou a

reagir por si mesma, abandonou os medicamentos.Sua mãe também era depressiva

e a incentivou a abandonar o remedinho que a isolava do mundo.

A primeira vez que sofrera depressão foi devido a problemas familiares,

com a saída de uma filha de casa. Sentiu-se abafada e cedeu às lágrimas, até então

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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inusitadas. Isto aconteceu há seis anos. Começou com episódios de insônia e ficava

nervosa no dia seguinte, por causa da noite mal dormida. Irritava-se sem motivos,

por pequenos aborrecimentos que se transformavam em grandes problemas,

pensava em atitudes extremas. Pensava que morrendo, o impacto da própria morte

seria maior que o problema da filha e tudo voltaria à harmonia. Chorava sempre,

mas em determinado momento parou para refletir. Tomou a iniciativa de conversar

com seu ortopedista, devido a dores musculares e ele aconselhou-a a refletir sobre a

possibilidade de controlar-se sem o remédio. Resolveu autoconhecer-se e

pesquisando em revistas e jornais tudo que se referisse à depressão, chegou à

conclusão de que ela própria poderia trabalhar o seu problema. Assim, após dois

anos usando o medicamento, resolveu parar sem ao menos comunicar ao médico,

pois se considerou pronta para uma reação. Começou a retirar da formula

medicamentosa manipulada o antidepressivo, o que deu certo, abolindo-o de vez da

fórmula.

Ocasionalmente ainda tem sintomas de depressão. Deita-se bem e

levanta com angústia, ânsia, choro, temerosa de notícias ruins. Mas volta a refletir,

tenta reagir procurando serviços no jardim, na casa, vai ao portão à procura de

conversas, vê pessoas e a tristeza passa. Não sabe explicar se sua depressão está

associada ao diabetes, porém afirma que tem antecedente depressivo na família.

Também nos períodos pós-parto, sempre era acometida de depressão após os dois

primeiros meses do parto. Sentia-se isolada de todos quando ficava sozinha no

quarto e até mesmo a demora num atendimento, ao fazer compras no comércio

local, tudo era motivo para não se sentir querida. Então, à noite perdia o sono,

revivendo tudo o que tinha “sofrido” durante o dia.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Hoje em dia, percebe quando a depressão vai chegar durante a noite e já

amanhece angustiada. Às vezes, a ida ao banheiro interrompe o sono e aí chegam

as dúvidas, as inquietações com a filha e netos, sentimentos confusos e

tumultuados quase sempre ligados a eles. Tem tentado reagir raciocinando que

problemas todo mundo tem, toda família tem, mas acredita que com pensamentos

positivos tudo vai dar certo. Quando os problemas familiares se renovam, pensa que

tudo vai se reiniciar, mas reage e busca auxílio na religião, entregando a Deus o

destino de seus problemas.

Palha Italiana “acha” que a depressão pode influenciar no diabetes, pois

o nível da glicose varia de acordo com seu estado de depressão. Quando está

deprimida tem hipoglicemia, com quedas de níveis glicêmicos violentos. Diminui a

ingestão alimentar, abandonando horários e despreocupando-se da quantidade que

deve consumir, mas não dispensa os carboidratos, principalmente o pão.

Sempre reage a tempo para não voltar a depender do remédio. Toma

atitudes que ocupam sua cabeça, com atividades que lhe dão prazer como ajudar na

cozinha de conterrâneos do Sul que têm churrascaria na cidade, com conversas

divertidas e inteligentes. Evita ouvir notícias tristes quando está de baixo astral, falar

de doenças, catástrofes, avisando a todos logo que não está bem. Os familiares já

reconhecem a situação e procuram contornar, respeitando e procurando ajuda-la,

pedindo-lhe favores, percebem a mudança de temperamento e sobre ele recai

grande parte de seu mau-humor, mas a respeitam e sempre recorre às filhas em

alguns casos.

Quando nota que estão todas preocupadas, procura se concentrar,

raciocinar e voltar ao normal e isso continua acontecer em no máximo um dia.

Considera-se alegre, extrovertida, não suportando manter tais situações por muito

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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tempo. Quando se vê depressiva, sente que se transforma: fica calada, dispersa-se

na conversa, não consegue rezar, não concentra o pensamento e reage, acha que

está no momento de voltar ao bom-humor, de ser ela mesma. Freqüenta grupos que

ajudaram e ainda ajudam muito, agarra-se à religião. Ao sentir-se isolada procura a

Bíblia e nos versículos encontra sempre uma passagem que, coincidentemente,

parece dirigir-se a ela.

Palha Italiana define a depressão como um sentimento estranho em que

você se sente sozinha, abandonada, nada está bom independente do lugar que você

esteja. Nada dá prazer...Começa a fazer as coisas e já fica logo enjoado, põe defeito

em tudo, nada fica do jeito que você quer e aí você parte para fazer outra coisa para

ver se melhora e acaba se irritando mais...Tudo te irrita, conversar com as pessoas,

ver televisão, escutar os netos, que são sua vida, te chamando e o que resolve

mesmo é se isolar e ficar num canto quietinha ficar pensando em coisas boas,

coisas ruins, analisando tudo que vem a sua mente, um monte de coisas. Surge até

um pouco de raiva e até mesmo um olhar diferente dos familiares pode desencadear

uma crise. Quando começa a perceber que está “diferente”, pára e pensa em dar um

jeito na vida, cuidar-se para não deixar a coisa se avolumar. Nos momentos críticos,

já pensou em desejar a morte...”Ai que bom, que eu morresse para ficar livre...”.

Justifica o desejo da morte para ter descanso.

Palha Italiana tem certeza de que os problemas de família também

influenciam na depressão, tirando-lhe o prazer à mesa, o apetite, voltando o

pensamento para os problemas dos negócios, dos parentes, etc. Começa a sentir-se

culpada, procura saber em que parte fracassou e que a morte é a solução. Então, se

conscientiza de que precisa reagir e, mesmo sem medicamentos, desvia seus

pensamentos dos problemas, sai para visitas, reúne-se aos netos, freqüenta as

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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lojas, foge do ambiente de casa. Acha que a depressão é um fantasma que vive lhe

rodeando...

Colaboradora: Olho de sogra

Sexo feminino, 66 anos, viúva há quatro anos, mora em casa própria,

muito bem instalada. Tem auxiliar para fazer os serviços de casa. Mãe de seis filhos,

todos casados. Independente, tem renda própria oriunda de pensão deixada pelo

marido, e ainda imóveis alugados que lhe rendem um bom salário mensal. Tem o

apoio de um dos filhos para cuidar da fazenda. Ocupa grande parte de seu tempo

fazendo sabonetes artesanais e outros trabalhos manuais que são vendidos em

feirinha de artesanato local. Passa maior parte do seu tempo na “oficina” de

sabonetes muito bem instalada nos fundos da casa.

Recebe ajuda de uma neta de 12 anos na confecção dos sabonetes e

quando está cansada do trabalho “pega o carro e viaja para Belo Horizonte” para

aprender novas técnicas de sabonetes e comprar novas formas. Fala pouco dos

filhos que só a visitam aos domingos. Passa a imagem de auto-suficiência e gosta

muito de falar dos bens que possui. Ao final da visita mostrou-me os trabalhos

manuais que faz (almofadas, tricô, crochê, mochilas e etc)

Olho de sogra define depressão como um sentimento de vazio interior,

falta de vontade de relacionamento com os amigos, abandono dos afazeres,

isolamento. Sentiu os primeiros sintomas de depressão quando, após o falecimento

do marido, passou a residir numa casa muito grande, onde campainha e outros

ruídos a perturbavam, além de aborrecimentos com empregada com quem conviveu

durante 20 anos e, segundo ela, a roubou, deixando-a desiludida e frustrada com as

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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pessoas. Então, apareceu o medo de ter outra serviçal. Mudou-se para um

apartamento, mas sentiu-se isolada, apesar das visitas dos filhos aos domingos.

Decorridos dois anos da perda do marido percebeu sua depressão ao deixar de

fazer atividades habituais. Ela própria notou sua mudança e alega que a vida hoje é

assim: cada um por si.

Por isso, não esperou que alguém a alertasse. Ao invés de deitar-se de

dia como estava fazendo, dormindo durante toda a tarde, repensou este modo de

agir e pensou em fazer algo para vender, assumir responsabilidades e não esperar

como se ainda tivesse marido. Sentiu que precisava de uma ocupação para “abafar”

a falta que sentia do esposo. Deixou de freqüentar a fazenda porque se sentia

rodeada de lembranças.

Ela mesma sentiu que precisava reagir e após seis meses pensou em ir

aos Estados Unidos; mas, impossibilitada pelo visto negado pelo Consulado

Americano, resolveu trabalhar aqui mesmo com artesanato. Sempre fora a chefe clã

na família, dinâmica, ativa e achou que se reassumisse alguma atividade, iria

melhorar, independentemente de ajuda, pois todos a conheciam como forte e capaz.

Dos filhos, somente uma mulher, justamente a mais frágil, ainda era dependente

dela, o que contribuía para sua reação rápida e entrega ao estado depressivo.

Ninguém percebeu seu sofrimento psíquico com a depressão e somente

após suas idas para terapia de grupo na Unimed é que ficaram cientes ao vê-la sair.

Até hoje freqüenta o grupo por sentir-se bem. Uma médica de clínica geral medicou-

lhe um antidepressivo após ouvir suas queixas e sintomas característicos aliados a

problemas com a insônia. Acha que no momento, não há espaço para depressão;

que é capaz de reagir, está se sentindo fortalecida. Às vezes, outros fatores além da

viuvez fazem-na deprimida, como a saudade da mãe falecida e problemas com a

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amputação de um dedo do pé direito. Da última vez, que se sentiu deprimida tomou

uma resolução providencial e viajou para outra cidade onde se dedicou a aulas de

aperfeiçoamento em trabalhos manuais e, para surpresa de todos, foi de carro

sozinha, dirigindo. Julga-se bem e feliz no momento, com seus trabalhos manuais e

suas vendas em barraquinha da feira de artesanato local há dois anos.

Colaboradora: Torrone

Sexo feminino, 68 anos, profissão do lar, aposentada, mora em casa

própria em bairro pobre da cidade com uma filha e o neto. Possui ainda outros três

filhos que lhe dão muita assistência. Fala pouco e relutou em participar desta

pesquisa. Após o primeiro contato telefônico ficou de pensar sobre sua participação,

dando-me resposta positiva duas semanas após. Obesa, supervaloriza os problemas

cardíacos que têm. Mostrou-me a cicatriz da ponte safena feita há cinco anos várias

vezes. Mal humorada, semblante triste, atribui o aparecimento do diabetes ao

abandono do marido; situação que não aceita, apesar de já estar sozinha há 20

anos.

Torrone é diabética há 20 anos, em uso de insulina há 10. Submeteu-se

a duas angioplastias após a primeira cirurgia. Reclama dos medicamentos para o

problema cardíaco de uso contínuo que têm que tomar durante todo o dia. Solicitou-

me que arranjasse o do SUS, pois estava com dificuldades financeiras para

consegui-los. Retornei dois dias após para lhe entregar os medicamentos

solicitados. È católica praticante apesar de não participar de nenhum grupo religioso.

Raramente vai às reuniões da UNIMED. Recebe ajuda dos filhos para adquirir

medicamentos e as seringas para insulina. Atribui ao abandono do marido todos os

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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seus problemas, doenças e frustrações. Possui conforto necessário e não tem

nenhuma atividade diária. Cansa-se dos pequenos esforços e só vai a psicoterapia

quando agendada com muita antecedência. Poliqueixosa refere um nervosismo

constante que só passa com calmantes. Semi-analfabeta, não gosta de ver televisão

ou distrair-se, limita-se a ficar na sala “pensando na vida”.

Torrone acha que ter depressão é ter ansiedade pela não realização de

seus objetivos. Culpa o diabetes como uma das causas desta ansiedade e não

aceita a doença. Outra causa também é a separação do marido que a deixou com

cinco filhas, mudando o rumo de sua vida e alterando seu temperamento, fazendo-a

sentir-se bem às vezes e outras vezes, não, ao lembrar-se do passado. Quando vêm

as lembranças ruins fica nervosa, angustiada, não achando graça em nada. Às

vezes, esta depressão dura bastante tempo e só na religião, nas orações consegue

alivio. Aliada ao abandono, o diabetes também a deprime, mas indaga a si mesma, o

porquê da saída do marido, um boêmio de várias mulheres. Considera-se injustiçada

por ter sido boa esposa, zelosa com as filhas e o abandono do marido ter

ocasionado o aparecimento do diabetes. Desiludida com a vida agarra-se à religião

para aliviar a mente.

Ao perceber que vai ficar depressiva, além de rezar, toma calmantes

prescritos pelo médico cardiologista e se controla. Sente-se melhor quando toma “o

remédio” receitado por psiquiatra, sentindo-se mais animada. Afirma conviver bem

com o problema graças à religião, leva a vida, na certeza de que foi abandono pelo

marido a adoeceu. Acha que a depressão a faz sofrer, não deixando nada ficar bom.

Torrone tem familiares diabéticos, mas ela própria sempre foi saudável

até que, com a solidão pelo abandono do marido, apareceu o diabetes, deixando-a

mais triste. Não esperava adquirir a doença. Recusa-se a participar dos encontros

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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com a enfermeira e a psicóloga, raramente atende aos chamados do serviço de

Medicina Preventiva para participar de alguma atividade.

Colaboradora: Casadinho

Sexo feminino, 78 anos, professora aposentada, casada, mora com o

marido que é seu companheiro constante. É diabética há 28 anos e em uso de

insulina há 21. Católica praticante, participa do clube de mães e das atividades da

Unimed. Faz caminhada quatro vezes por semana e dieta balanceada.

Proprietária de uma escola de ensino fundamental que passou para a filha

caçula dos cinco filhos. Viaja muito para visitar os outros filhos sempre em

companhia do marido. Sua casa é própria e muito grande, confortável, espaçosa

onde recebe os filhos e netos nos finais de semana, e diz ajudá-la bastante a levar a

vida em frente. Reservada ao falar das questões familiares, mas relata dificuldades

quando precisa ajudar o marido com depressão. Faz acompanhamento

psicoterápico na UNIMED uma vez por semana.

Casadinho não respondeu de pronto sobre o que era depressão para ela.

Historiou a doença do marido que tivera um câncer. Sobre depressão nela própria

disse nunca ter sentido, apenas um pouco esquisita em certos momentos, com

aperto no peito, como uma grande emoção. Pensou ser da angina, mas antes do

problema nunca sentira tais sintomas.

Tal angústia acontecia mais à noite e achou que seria pressão alta.

Procurou cardiologista, foi medicada, mas a insatisfação perdura, inquietação, ânsia.

Não procurou médico para comentar sobre os sintomas e apesar de ser diabética há

30 anos, afirma que nunca estivera deprimida. Apesar da idade, sempre gostou de

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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sair, comunicar-se e não se isolar, ao contrário do marido que se retira quando as

filhas estão reunidas conversando. Considera esta atitude do marido, como de

deprimido, mas que ela nunca se comportou assim. Justifica o mal estar

(insatisfação, sentimento de mágoa) como problema de pressão ou glicemia, que

para ela, abaixo de 100, piora seu mal-estar, com tonteiras, etc, mas sem se sentir

depressiva. Não vê diferença entre tristeza e depressão.

Casadinho faz trabalhos manuais para ocupar o tempo, pois não

consegue ficar parada. Adquiriu LER e após tratamento sentiu-se impossibilitada de

continuar com muita atividade. Então, aproveitou para aposentar-se.Ao saber que

estava diabética não acreditou, isso aconteceu há mais de 20 anos. Recebe bem os

acontecimentos, de sofrimento ou alegria, graças à fé em Deus e ao sossego

proporcionado pela família (filhas).

Colaborador: Chapéu Napoleão

Sexo masculino, casado, 78 anos, católico praticante e trabalha doze

horas por dia apesar de aposentado. Atua no comércio de roupas infantis da esposa

e filha. Tem quatro filhos, muito apegados a ele, pois trabalham todos juntos, sente

neles o apoio necessário para lidar com o diabetes há 24 anos e com os problemas

cardíacos há 09 anos. Casa própria, em bairro de classe média alta da cidade, muito

bem decorada e tem na esposa, filha e sobrinha apoio de que necessita para “tornar

a vida melhor”. Participa dos eventos da igreja e do comércio varejista. É culto, lê

muito, acredita estar no seio da família a solução de todos os problemas. Muito

receptivo e educado, recebeu-me muito bem.

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Chapéu de Napoleão quando indagado como definia depressão, acha

que é um estado de espírito, em que a pessoa se sente inútil, um incapaz, alheio a

tudo ao seu redor, mas acha que nunca esteve deprimido. Preocupou-se em várias

situações, mas não se abateu a ponto de ter depressão. Nota diferença entre

tristeza e depressão. Para ele, tristeza é sentimento de momento, que logo passará,

enquanto a depressão perdura, fazendo a pessoa sentir-se afundada num problema

sem poder sair. Mesmo ciente do diabetes, não se sentiu deprimido. Descobriu a

doença por acaso, num exame de sangue, em que acusou glicose alta. Teve

antecedentes diabéticos: o pai, uma tia. Um outro irmão mais novo, posteriormente

adquiriu a doença. Justifica a doença no irmão, dizendo ter sido stress pelo tipo de

vida que levava, sem estabilidade familiar. Considera-se quase disciplinado porque

às vezes comete uns deslizes, saindo do regime e interrompendo o tratamento.

Relata que a ocupação apesar de aposentado e o apoio familiar são fatores muito

importantes para que ele nunca tenha se sentido depressivo.

Colaboradora: Moranguinho

Sexo feminino, 73 anos, costureira aposentada, casada, tem dois filhos

que moram longe. Faz todo o serviço de casa e cuida do marido que depende

inteiramente dela, porém não a impede de freqüentar as reuniões da igreja e da

Unimed. Participa ativamente das oficinas terapêuticas da UNIMED, fazendo

trabalhos manuais belíssimos que a fazem esquecer dos problemas domésticos.

Diabética há 20 anos e usa insulina há 05, faz caminhadas diariamente e segue

dieta alimentar. Mora em apartamento próprio, amplo, confortável e arejado.

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Independente financeiramente tem seu dinheiro e herança da mãe controlada pelo

marido. Separada do mesmo desde que a mãe faleceu.

Moranguinho julga-se bem-disposta, meiga, alegre e divertida apesar

dos problemas de relacionamento com o marido. Optou por não fazer psicoterapia

por estar muito velha para isso e acha que este tipo de terapêutica a faria largar o

marido.

Aos 73 anos, Moranguinho não vai à rua, não freqüenta lugar algum e

solicitada sua opinião sobre o que acha ser depressão, afirma que é tristeza, que é o

caso dela. Seu baixo astral do cotidiano vivido leva-a a este estado, devido às

atitudes do marido e ela percebe que vai entrar em depressão quando o mesmo

implica por qualquer motivo, causando medo e intimidação.

Suporta o que pode e quando não pode exprimir o que sente, sente-se

deprimida. No momento suporta um pouco mais porque o cônjuge está doente, com

incontinência urinária e outros problemas que o tornam super nervoso. É exagerado

na economia caseira e Moranguinho sente que só tem direito ao trabalho, à lida

doméstica, não tendo coragem de deixar de atendê-lo.

A primeira vez que Moranguinho percebeu a depressão foi quando

trouxe sua mãe já idosa da fazenda, mãe esta que lhe dera de herança o que

possuem, e mesmo assim o marido não aceitou a sogra em sua casa. Exigindo dela

o pagamento da refeição e, na época, ele jogava muito.

Foi assim até que um irmão levou sua mãe para a residência dele, onde

poderia visitá-la freqüentemente. Quando sente que vai ficar deprimida, procura a

igreja e se sente aliviada. Tendo a mãe falecida há 5 anos, os filhos que moram

distante vêm visitá-las vez ou outra e cientes do que ocorre dão apoio à mãe. Julga

ser inútil uma separação devido à idade de ambos, pois quando mais nova não

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conseguiu separar-se por obediência à mãe. Considera que o ambiente de casa a

deprime e que quaisquer saída como para a igreja deixam-na melhor, mesmo com o

marido querendo impedi-la de freqüentar até a igreja.

Moranguinho não aceita a interferência apesar de achar que é obrigação

da mulher, submeter-se à vontade do marido. Mesmo com grupo da terceira idade

próxima à residência, não tem permissão para freqüentar, sob alegação do marido

com saídas em demasia. Não comenta com médicos sobre seus problemas porque

eles não resolveriam nada, segundo a colaboradora. Prefere deixar como está,

relevando, cumprindo seu destino, resignada. Alegria, só fora do lar, longe do

marido. Demonstrou carinho apesar de tudo, colocando a foto dele numa porta-

retrato feito por ela mesma nas oficinas terapêuticas, não o entregando

pessoalmente, mas dispondo no móvel do quarto dele como presente do dia dos

pais. O diabetes não a aborrece, convive bem com a patologia. Somente as atitudes

do esposo avarento, que a priva de tudo que fora oriundo da família dela, suas

implicâncias já provocaram a separação de corpos há cinco anos, proposta por

Moranguinho, devido a magoa que sofrera por causa de sua mãe. Temia apanhar

do marido e uma vez ameaçou-o com uma faca. Apesar de não se sentir encorajada

a agredi-lo, julgou ser necessário intimidá-lo para impor-se um pouco.

Colaboradora: Amor em pedaços

Sexo feminino, 62 anos, casada, do lar, quatro filhos e mora em casa

própria, porém pequena, modesta, fria e escura. Atualmente encontra-se debilitada

após ter se submetido a uma cirurgia de joelho que a faz depender de muletas para

deambular. Passou por problemas com o filho usuário de drogas que já um ano atrás

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libertou-se de tais problemas. O marido é alcoólatra desde que se aposentou.

Evangélica, atuante em sua igreja, no clube de mães, no coral da Unimed e na

associação de diabéticos. Mora só com o marido e com a filha que paga seu plano

de saúde.

Amor em pedaços é muito informada, dócil, meiga, comunicativa, muito

receptiva e solidária com os vizinhos e os companheiros do grupo. Passa maior

parte de seu tempo orando e fazendo trabalhos manuais. Atualmente ainda faz uso

de antidepressivos. Sua filha nutricionista ensinou-lhe a se alimentar e sempre que

pode transmite esses conhecimentos.

Para Amor em pedaços expressar o que é depressão foi difícil por sentir

que passou por grande vazio, mente confusa, a um passo de atitude extrema, sendo

apoiada apenas pela religião. A princípio julgou ser problema de coluna, pelo

surgimento de dor intensa na região cervical. Sem opinião de ninguém procurou um

neurologista para esclarecer suas dúvidas e resolver este problema que lhe causava

um enorme incomodo. Não se comunicava com a família e, sem agressividade,

apesar de nervosa, isolava-se aos poucos. Com a intensidade da dor, quase não

dormia, o que refletia nas suas atitudes do dia seguinte. Ao ser examinada pelo

médico neurologista constatou-se tensão muscular total, devido à rigidez constante

dos dentes e sofrimento psíquico, com os relatos de aversão a ruídos, noticiários ou

qualquer comentário das pessoas que a rodeavam. O isolamento persistia e após

relato destes sinais e sintomas ao médico, este chegou ao diagnóstico de depressão

e receitou-lhe de antidepressivos. A insônia, a aversão à comida e o isolamento

agravavam-se.

Amor em pedaços, para não preocupar os familiares, evitava passar

seus problemas para outros, assimilando no “pensamento” as notícias que ouvia ao

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seu redor. A taquicardia freqüente que sentia em seu peito a alertou para a

depressão. Com a persistência da insônia no período noturno, perambulava pelo

quarto e com a inapetência começaram a surgir episódios de hipoglicemia, a aflição

se avolumava e o isolamento era total. Tem consciência de que tais sintomas

surgiram com os problemas familiares que a sobrecarregaram, como marido

constantemente alcoolizado e filho drogado. Problemas se acumulando, falta de

comunicação com pessoas fizeram-na chegar ao estado depressivo. Não

desabafava com ninguém por julgar ser inútil. Além de tantos problemas, um servira

para transbordar seu cálice de sofrimentos: A gravidez de uma das filhas. A angústia

acabou por apossar-se dela, um vazio que só foi aliviado com a ajuda de sua

religião. O filho drogado, que considerava seu problema maior, recuperara-se; com o

vício do marido aprendera a conviver, ignorando suas bebedeiras. Por medo, por

resignação, omitira-se na solução dos problemas.

Apesar de considerar o esposo, uma pessoa maravilhosa quando sóbrio,

considera que a bebida interferia no relacionamento, pela mudança de

comportamento. Com a terapia de grupo, atendimentos individuais, com a

enfermeira e a psicóloga do programa chegou à conclusão de que precisava pensar

em si própria. Até aquele momento somente se doara sem retorno, até que foi

alertada sobre depressão. A religião sempre a ajudou e apesar da quase loucura,

sua convicção religiosa a afastava de pensamentos piores. Com o diabetes, reiniciou

nova luta. Procurou auxílio médico passando a lidar bem com as doenças. Julgando-

se tão bem a ponto de não continuar o tratamento, viu-se obrigada a reiniciá-lo.

Ainda com remédios, chorava muito ao lembrar-se do vício do marido, do filho

drogado e indagava-se porque Deus a escolhera. O sintoma de angústia, respiração

curta voltavam e a solução fora procurar novamente tratamento médico.

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A princípio, Amor em pedaços resistiu ao tratamento médico, mas

acabou por aceitá-lo, além de exercícios físicos, reeducação alimentar, como

tratamento alternativo. A tensão era tamanha que sentia dor intensa nas articulações

da mandíbula, tensão expressada nos trabalhos manuais que ficavam deformados

devido a pontos muito apertados. Tudo isso só melhorou com tratamento

medicamentoso. Resistiu três anos ao uso de insulina até que aceitou, passando ela

mesma a injetar o medicamento e hoje aconselha a todos os diabéticos que dela

necessitam, não temer, porque a insulina só melhora a qualidade de vida do usuário.

Achava a princípio que usar insulina significava estar no fim, mas hoje considera o

contrário, isto é, melhora de vida. Atualmente, apoiando-se na religião, Amor em

Pedaços convive com estilo de vida do marido e com atividades manuais e físicas,

tem vida normal apesar dos diabetes.

Colaboradora: Nhá Benta

Sexo feminino, solteira, 73 anos, aposentada, mora com duas irmãs

também solteiras em apartamento amplo, recém construído no centro da cidade.

Católica praticante e atuante no Clube das Damas local, onde colabora há 20 anos

diariamente com trabalhos manuais. Participa dos encontros do Serviço de Medicina

Preventiva e reluta em participar dos atendimentos com a psicóloga quando

agendados. É tímida, fala pouco, sorri forçado e só responde ao que é perguntado

com frases curtas e objetivas. Parou de trabalhar como costureira desde que teve

AVC (acidente vascular cerebral) que lhe restringem os movimentos do membro

superior esquerdo. Diabética há 22 anos, faz uso de insulina há 10. Faz caminhadas

diariamente. Mantém sua glicemia controlada e atribui à sua disciplina alimentar.

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Nhá Benta, 73 anos, tem dúvidas quanto ao significado de depressão.

Acha que pode ser tristeza. Tem um sobrinho com este problema, quieto, triste,

inapetente. Ela própria nunca deixou a depressão dominá-la, apesar de introvertida.

Sempre muito calada, quando sente que vai ficar depressiva, sai para andar, procura

distrair-se. Como sintoma da depressão tem choro fácil, sem motivo e perde o sono.

Toma medicamento para a insônia e reage contra o sentimento de mágoa que a

aborrece, porque, por ter dificuldade de se comunicar teme piorar e então reage indo

caminhar, vendo lojas no Shopping, etc. Às vezes, os problemas familiares

provocam a depressão porque se preocupa muito e não dialoga com outros, mas

sempre reage, procurando distração fora de casa.

Nhá Benta considera que a princípio o diabetes contribuía para o

aparecimento da depressão porque ficava limitada devido à seqüela de AVC em um

dos braços, o que a impedia de fazer determinadas atividades e então ficava

deprimida, mas também desta vez a rua contribuiu, pois ao encontrar um homem

sem os dois braços, comparou-se a ele e superou a crise. Mesmo com a deficiência

física, borda durante o dia, visita parentes e assiste a programas de TV, vai à missa

todos os dias e assim não há tempo para a depressão.

Nhá Benta acredita que já superou o diabetes porque sua glicemia está

estabilizada e percebe quando a mesma vai se elevar, ao ter algum tipo de

aborrecimento. Aí então se isola, mas não deixa a depressão dominá-la.

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Colaboradora: Quindim

Sexo feminino, 68 anos, casada, cinco filhos, todos casados, mora só com

marido, católica não praticante. Do lar, nunca trabalhou fora, recebe salário mínimo

como aposentadoria. Sem antecedentes diabéticos. Diabética há dezoito anos, usa

insulina há doze anos. Mora em casa própria em bairro bom da cidade, faz todo o

serviço de casa. Tem muita afinidade com o filho caçula recém-casado. Refere-se

aos filhos com muito carinho e sente muito prazer em receber os cinco filhos em sua

casa para o almoço de domingo. Não gosta de trabalhos manuais e tem mania de

limpeza, zela por sua casa que apesar de ser humilde, é ampla, arejada, com

móveis bem dispostos. Refere-se ao marido com descaso, pois o acha muito

implicante, egoísta e seguro com as despesas da casa. Expressa alegria ao

mencionar o cuidado que os filhos têm com ela. Não freqüenta a psicoterapia nem

reuniões de grupo na Associação dos Diabéticos, “pois lá não se ganha nada”.

Quindim define depressão como ficar cabisbaixa, isolada em um canto

com o pensamento fixo em um problema. Quanto ao choro no estado depressivo,

não é seu caso, pois tem muita dificuldade em chorar. Seu receio de ter depressão é

devido ao fato de sentir sintomas do mal de Parckinson em uma das mãos.

Preocupa-se com a evolução da doença, pois precisa trabalhar nos serviços de

casa. Faz ginástica e sente melhora com os exercícios, porém, o motivo que a faz

preocupar-se mais, é o sistema de vida do esposo.

Quindim tem alta auto-estima. Reage logo quando sente que vai ficar

deprimida, pensando em si mesma, procura nas atividades do lar desviar seu

pensamento. Poupa-se, não se envolvendo em problemas que não provocou e

ignora o que ocorre à sua volta. Acha que esta indiferença é própria do seu modo de

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ver a vida. Convive com o marido porque ignora suas atitudes de esconder as

coisas, humilhando-a. Tem assistência e apoio dos filhos o que lhe dá muita

segurança. Eles a fiscalizam quando faz serviços perigosos, estando sempre por

perto.

Colaborador: Churros

Sexo masculino, 59 anos, é casado, tem cinco filhos e dois netos sob sua

responsabilidade. Aposentado. Tem casa própria. Não quis que a entrevista fosse

feita em sua casa preferindo o agendamento no consultório do serviço de medicina

preventiva da Unimed. É tímido, tem aparência triste, fala pouco, baixo e

pausadamente. È católico praticante e tem nos atendimentos com a enfermeira e

com a psicóloga da Unimed apoio para “continuar a viver” apesar de não se

considerar depressivo. Gosta de ler muito e colabora com as filhas solteiras

cuidando dos netos pequenos.

Churros relata problemas financeiros e problemas conjugais com a

esposa serem a causa de seu desânimo. Parou de beber para ver se a esposa o

aceitava, sem êxito, dorme há 5 anos separado da mesma. È diabético há cinco

anos, usa insulina há dois. Tem como hábito andar de bicicleta diariamente. Leva

todos os exames solicitados pelo médico aonde vai, apesar de ser uma enorme

pasta.

Para Churros, a depressão significa preocupação com os problemas da

vida diária. Seus sintomas são provenientes de casos que o preocupam, sem

solução momentânea. As principais situações que o levam à depressão são as

dificuldades financeiras, pois vive do salário e os encargos de família que são

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muitos: alimentar, vestir, calçar e educar filhos em número de cinco e ainda dois

netos. Quando os compromissos vão se acumulando e a receita financeira é

insuficiente percebe que a depressão vai apossar-se dele. Quando encontra uma

saída, descarta-se dela. Caso contrário recorre à psicoterapia. Sente-se ajudado ao

dialogar com a psicóloga, ao expor seus problemas, ao receber opiniões e

orientações para cuidar-se em primeiro lugar, depois vai aos problemas. Não tem

apoio da família, tão somente da psicóloga. Tem diabetes, que acha não ter nada a

ver com seus momentos de depressão. Está controlada, sem atrapalhá-lo. Ao

perceber que vai ter depressão, seu recurso é procurar a psicóloga, cujas conversas

sempre rendem em melhora.

Churros vive para os filhos, ou seja, para a família. Apesar dos conselhos

da psicóloga para procurar lazer, distração, não tem condições financeiras e prefere

acomodar-se em casa, isolando-se da sociedade. Não deixa transparecer que está

depressivo e não recorre à esposa, deixando-a resolver seus próprios problemas,

ele tentando resolver os dele. Relata com pesar a falta de vida sexual com a esposa

há mais de cinco anos.

Colaboradora: Cajuzinho

Sexo feminino aceitou a participar do estudo após vários contatos. Tem

71 anos, casada, mora só com o marido. Quatro filhos, dois casados e dois solteiros

que moram sozinhos também. Não tem religião e não participa dos cultos

evangélicos diários do marido. Demonstra ciúmes das companheiras de crença do

marido, do conjunto habitacional onde moram. Seu apartamento é próprio, pequeno,

escuro, com móveis velhos, mal-dispostos e não muito limpo. Não aceita ajuda de

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outras pessoas e ela mesma faz todo o serviço do lar. Diabética há 18 anos, usa

insulina regular há 17. Faz caminhadas diariamente e não aceita que outra pessoa

senão o marido lhe aplique insulina. Não freqüenta nenhum clube social, e só vai ás

consultas com a psicóloga quando agendada pelo programa. Emagrecida, mal

humorada, feição pesada, reclama o tempo todo da vida que tem, apesar de ter o

marido disponível durante todo o dia para acompanhá-la nas casas das filhas,

viagens e etc. Pediu que desligasse o gravador para me confidenciar problemas

conjugais.

Cajuzinho afirma nunca ter sentido depressão que para ela é isolamento

em casa, estado nervoso. Não sente estes sintomas devido à bondade e ajuda do

marido. A única discordância deles é quanto à religião, que a aborrece devido ao

fato de freqüentarem igrejas diferentes. Quanto ao diabetes, existem momentos em

que se acha triste, como na alimentação limitada. Mas vai se acostumando aos

poucos e diz-se controlada. Apesar de achar no esposo um bom companheiro, que a

ajuda em tudo, também às vezes divergem porque Cajuzinho é exigente, quer tudo

muito certinho e é brava; às vezes até por coisas mínimas reage agressivamente.

Demonstrando ciúme em determinado caso, toma atitude de domínio sobre o marido

que acata sua decisão.

Colaborador: Sonho

Sexo masculino, 41 anos, casado, possui dois filhos, mora de aluguel.

Está há três meses na Associação Santa Luzia, entidade filantrópica que o acolheu

a pedido dos familiares por não terem recursos financeiros para cuidar do mesmo.

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Era bem disposto até o início das complicações do diabetes aparecerem, tem 2º

grau completo (Ensino Médio) e trabalhava como comerciante no ramo de pedras

preciosas, aposentou-se por invalidez. Antes de ter o diabetes complicado

participava intensamente de todas as atividades do Serviço de Medicina Preventiva

da Unimed, oficinas terapêuticas, consultas com enfermeira e psicóloga, cantava no

coral e liderava todo o grupo ao qual pertencia.

Sonho tem diabetes há 15 anos, usa insulina, desde que teve

confirmação do diagnóstico. Há um ano iniciou tratamento diabético pelo SUS e se

inscreveu na fila de transplante duplo (pâncreas e rim) aguarda doador. Faz

hemodiálise três vezes por semana e recebe a visita da esposa apenas uma vez por

semana.

Estive tentando contato com Sonho por três vezes enquanto esteve

internado após convulsão por hipoglicemia. Minhas visitas não tiveram sucesso por

encontrarmos o mesmo hospitalizado após uma crise convulsiva sedado.

Aguardei alta hospitalar e retornei à instituição onde está internado. Deparei-me com

Sonho confuso, incapacitado de deambular, mal situado no tempo e no espaço,

reconhecendo-me como a mulher que conheceu na fila de inscrição para o

transplante.

4.3- A experiência da depressão no diabético

A trajetória histórica foi construída a partir das entrevistas e questões

norteadoras emergindo três temas centrais: 1) condições de vida da pessoa

diabética influenciando na depressão; 2) Identificação da depressão e 3) o

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significado da depressão para o diabético, os quais podem ser observados na figura

1 a seguir:

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Figura 1 – Depressão no paciente diabético: desvelando um inimigo oculto

Características da depressão

no diabético

Condições de vida do

diabético influenciando na

depressão

Identificação da depressão

O significado da depressão

para o diabético

Complicações Cronicidade

Fatores relacionados Mecanismos de

enfrentamento

Familiares

Conjugais

Financeiros

Sociais Socialização

e Lazer

Apoio

familiar

Apoio equipe

multidisciplinar Apoio

medicamentoso

Religião

como apoio

Morte como

solução

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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4.3.1- Condições de vida da pessoa diabética influenciando no

aparecimento da depressão

A doença tem uma construção social, com significados diferentes para

cada indivíduo e acaba por influenciar a percepção dos sintomas. No caso das

pessoas diabéticas, os sinais e sintomas que caracterizam a depressão, podem ser

evidenciados pelo aparecimento de insônia, dores no corpo, irritabilidade e angústia

dentre outros, trazendo conseqüentemente mudanças do estado de saúde, nem

sempre percebidas como tal:

“... e ele [o ortopedista] perguntou: Por que a senhora está assim? Não tem um lugar que toca na senhora que não está tenso, está tudo duro... Mesmo antes de sentir dor na nuca, eu já estava assim, andava a noite, porque se eu deitasse, era uma aflição tão grande, era pior, aí eu ficava andando e fazendo assim com a mão ó (mostrou), (falou baixinho!). Andando, então tem hora que a pressão baixa, parei de comer, já ia partir pra uma fraqueza, do cérebro, já tava fraca” .. (Amor em Pedaços) ...”Aí eu ficava nervosa porque eu não tinha dormido, aí eu já acordava irritada, nervosa e tudo que acontecia era uma coisinha à toa”...(Palha italiana).

O DM é doença silenciosa, pois nem sempre apresenta sinais e sintomas

claros. Os portadores dessa síndrome podem desconhecer que a possuem ou ainda

terem conhecimento delas, porém não aderem ao tratamento por julgarem isso

desnecessário, uma vez que não há manifestações clínicas importantes.

Segundo Moreira et. al. (2003), a depressão emerge tanto com o

aparecimento dos sinais e sintomas das complicações do DM, como também em

conseqüência de sua cronicidade. Assim, muitas vezes, as pessoas diabéticas por

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desconhecimento dos sinais e sintomas desta patologia, bem como de suas

conseqüências e da gravidade dos seus sinais e sintomas interpretam-nos como

passageiros e insignificantes. Dessa forma, tardam em procurar atendimento de

profissionais de saúde que possam diagnosticar a depressão e iniciar o tratamento

precocemente, evitando não só as complicações decorrentes do diabetes como

também da depressão, que são tardias e irreversíveis.

4.3.1.1 – O medo das complicações crônicas

O aparecimento dessas complicações acarretam medo e insegurança

para alguns colaboradores, percebidas claramente ao se referirem ao diabetes.

“ ...só que eu tenho medo, de ficar com aquele trem que fica tremendo, do diabetes [refere-se aos sintomas da Doença de Parkinson]eu tive medo no começo, agora depois que conheci a doença melhor não tenho mais medo...(Nhá Benta). ...”è, triste por isso, em pensar que algum dia, ser preciso cortar a perna, igual agora, essa minha perna ficou dormente, eu fiquei preocupada pensando que eu ia ficar até sem andar por causa do diabetes...” (Brigadeiro)

As complicações crônicas do diabetes são classificadas como

macrovasculares (coronariopatias, doença vascular periférica, acidentes vasculares

cerebrais) ou microvasculares (nefropatia, retinopatia, neuropatia). Estudos

indicaram que quanto mais jovem o paciente por ocasião do diagnóstico de diabetes,

maior o risco de ocorrência de complicações crônicas e a taxa de mortalidade.

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As mudanças corporais envolvem as alterações progressivas da doença.

Estas apresentam longo período de latência, curso clínico insidioso e prolongado

como também irreversibilidade. Associado ao processo de diabetes o aparecimento

de certas incapacidades e/ou limitações levam o paciente a procurar suporte social

para investigar o problema detectado. Essa condição envolve uma mudança na vida

da pessoa, comprometendo também as relações sociais e psicológicas. O não

monitoramento adequado dessa doença crônica, com o passar dos anos, levam ao

desenvolvimento de lesões lentas e progressivas nos órgãos. Estes deslizes no

controle do diabetes são expressos nas falas seguintes;

...”o médico já me falou inúmeras vezes que quem tem diabetes e não se cuida corre o risco de acontecer muitas coisas no nosso corpo e que podem aparecer de várias formas, dor na coluna, dormência na perna, até um simples machucadinho pode complicar”...(Brigadeiro). ....”Sei que tudo isso que já passei com meus problemas de coração são devido a esta doença”...(Torrone).

....”meu irmão que também tinha diabetes e não se cuidava morreu cedo e eu quero mais é viver”...(Palha italiana)

Uma das metas do tratamento do DM é o controle glicêmico, de modo a

prevenir as complicações, as co-morbidades (no caso de Insuficiência Renal crônica-

IRC) e a mortalidade precoce. Visa-se à melhoria na qualidade de vida do portador

de diabetes de forma que ele adquira independência e autonomia, mas, para tanto,

são imprescindíveis mudanças no estilo de vida do diabético, pois o tratamento

medicamentoso só terá sucesso se acompanhado por uma dieta adequada, pela

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prática de exercícios físicos e redução ou até abolição de problemas no seu estilo de

vida, como a ingestão de bebidas alcoólicas e tabagismo (LESSA et al., 1998).

Barreto e Carmo (1995) mencionam o estilo de vida como um modelo de

casualidade utilizado na atualidade, ou seja, a doença é compreendida como

conseqüência do modo pelo qual as pessoas vivem. Há uma série de fatores como

alimentação, sedentarismo, hábitos de fumar e ingerir bebidas alcoólicas, dentre

outros que, em associação com riscos aumentados de ocorrência, acabam

ocasionando a doença.

Para Franco (1998), uma das características do DM é a maior incidência

após os 40 anos de idade, que pode ter uma média de duração de 20-25 anos,

quando a pessoa já se encontra na velhice.

4.3.1.2 – Lidando com a cronicidade do Diabetes

Atualmente, na sociedade industrializada, as principais causas de morte e

comprometimento da qualidade de vida são as doenças crônicas, cuja etiologia e

evolução conta com claros mediadores comportamentais. A doença crônica tem

algumas características como ser irreversível, degenerativa, de longa permanência,

de caráter permanente, com incapacidade residual, ser incurável, causar

dependência contínua de medicamentos e ter caráter recorrente (FREITAS, 1999).

Exemplos de comportamentos comprometedores da boa saúde são o

tabagismo, associado ao desenvolvimento de câncer; a hostilidade, presente no

padrão de comportamento estressado, considerado um dos promotores dos

problemas coronários e do infarto agudo do miocárdio e ainda o comportamento

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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sexual do descuidado, facilitador da contaminação pelo vírus do HIV. No caso do DM

e da hipertensão não é diferente, o aparecimento destas doenças está sempre

associado aos maus hábitos na alimentação, sedentarismo e a exposição constante

a agentes estressores. Esta afirmativa pode ser evidenciada nas falas dos

colaboradores abaixo.

“...eu comia de tudo, tinha uma vida boa, mas agora tem que regrar tudo...” (Churros). “... o pior de tudo foi ter que largar o cigarro e fazer caminhadas, depois que operei da ponte safena nem caminhada dou conta de fazer, tudo me cansa!...”(Torrone) “...caminhada? Sou obrigada a fazer embora tenha muita preguiça, quando deixo de caminhar, a glicose vai lá em cima...”(Brigadeiro)

Especialmente em condições crônicas, os processos patológicos

envolvidos e as adversidades neles implícitos podem afetar profundamente o

funcionamento orgânico e mental das pessoas em diversos níveis, como o

emocional, social, vocacional e sexual. Uma doença é chamada de crônica quando

os recursos médico-farmacológicos disponíveis são insuficientes para curar a

patologia subjacente ao processo. A terapêutica oferecida apenas desacelera ou

impede o progresso da doença, alivia os sintomas e mantém o melhor nível de

funcionamento possível para o organismo afetado (DEROGATIS, FLEMING,

SUDLER, e PIETRA, 1995).

Embora haja grande variedade entre os níveis de limitações impostas

pelas doenças crônicas, em geral elas têm um efeito comprometedor na qualidade

de vida do paciente segundo Derogatis e Cols apud Kerbauy (1995, p.27). As

doenças crônicas podem dificultar o retorno ou entrada do paciente no mercado de

trabalho, gerar problemas financeiros devido aos custos do tratamento, comprometer

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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a relação do paciente com seu conjugue, filhos e familiares de modo geral, e diminuir

o prazer antes obtido em diferentes atividades (SMITH e NICASSIO, 1995; TAYLOR,

1995). Além de ameaçar a qualidade de vida do paciente, a doença crônica também

exaure seus recursos adaptativos e de enfrentamento e pode agregar uma

constelação de problemas e dificuldades específicas que às vezes extrapolam seus

próprios limites conforme podemos perceber nas falas a seguir:

....”quando a gente chega nesta idade e ainda doente (calou)... a gente vive mesmo é de teimoso”...(Quindim) ...”Desde que comecei a piorar da doença com as dificuldades com a sexualidade e com a perda dos dentes minha vida piorou muito e minha esposa quis separar de quarto”...(Churros)

“...depender de insulina para viver, não é mole! Entrei em pânico quando o médico passou para mim, achei que minha vida tinha acabado, depois me acostumei e vi que minha qualidade de vida melhorou e muito!”...( Amor em pedaços)

A demanda do trabalho do enfermeiro no cuidado com pacientes

portadores de doenças crônicas talvez seja a maior e a mais complexa dentro da

área de saúde. O atendimento ao portador de diabetes requer do profissional uma

compreensão aprimorada das peculiaridades relativas à doença que lhe permita

acompanhar os avanços terapêuticos e medicamentosos para o tratamento, os

processos relativos ao prognóstico e as implicações decorrentes para o paciente e

sua família, já que mudanças no cotidiano e a inabilidade para desenvolver algumas

tarefas são alterações decorrentes da doença crônica que necessariamente

precisam de adaptação do indivíduo e da família para a condição estabelecida. Miller

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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(2000) identifica ainda mais dois aspectos da doença que são a limitação na eficácia

da terapia médica e o seu tratamento.

Radley (1998) também se refere à doença crônica como causa de

restrições na vida, causando limitações e incapacidades nas pessoas. Embora cada

doença crônica apresente exigências únicas para o paciente e sua família, duas

generalizações podem ser feitas. Uma delas é que as pessoas com a doença

crônica têm o funcionamento múltiplo do corpo, mente e sistema espiritual

prejudicados e a outra são as exigências individuais relacionadas com a doença

nunca serem completamente eliminadas (MILLER, 2000).

Perdas de ordem pessoal, social e econômica são evidenciadas com o

acometimento de uma doença crônica, tanto para a pessoa que a vivencia quanto

para a família, dificultando os relacionamentos sociais, o desempenho profissional e

a perda da auto-estima. Muitas exigências são feitas às famílias e ao paciente que

necessita ser submetido a exames médicos relacionados com os sintomas, em

resposta às terapias empregadas, às complicações, autoconhecer-se, além de

verificar que necessita de conhecimentos para assumir o automonitoramento. A

família também necessita desenvolver e refinar habilidades para monitorar e

administrar o seu cotidiano. Finalmente, todos esses esforços precisam estar

direcionados para a manutenção e controle do problema, da ansiedade, além da

ameaça de instalação de incapacidades durante as exacerbações da doença

(MILLER, 2000). Estas falas descrevem essas situações.

‘...é duro depender das pessoas para fazer as coisas para a gente, Deus me livre de ficar assim!...”(Brigadeiro). “...a única coisa que tenho medo é de ficar em casa sozinho dependendo das pessoas e não poder trabalhar ”...(Chapéu de Napoleão)

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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“...que eu achava assim: nosso agora esse trem de diabetes capaz de não ter cura e eu vou ficar a vida toda, eu vejo falar que vou ficar aleijada, eu preocupo muito com isso. Eu tenho muito medo disso.”....(Brigadeiro)

A doença representa uma ruptura na lógica da saúde que garante ao

homem vivenciar o tempo e espaço e para o mercado ter disponível a força de

trabalho. Portanto, a doença confronta a inserção do homem no sistema produtivo.

A doença crônica está associada às condições precárias de vida da

pessoa, bem como à falta de conhecimento do adulto quanto aos primeiros sinais e

sintomas que indicam a doença e em alguns casos o tratamento tardio, podendo

ocasionar a cronicidade da patologia. O sistema público não oferece assistência

qualificada aos pacientes, levando a uma omissão de diagnósticos ou então a um

seguimento inadequado do tratamento. Esses fatores levam os indivíduos à

condição crônica da saúde, principalmente as pessoas da classe social média baixa

e baixa.

Para Smeltzer e Bare (1998), o controle da doença crônica envolve o viver

permanentemente, por longo período de tempo, com os sintomas e defeitos e, a

partir dessa condição, propiciar ajustar suas próprias identidades, mudanças de

papel na forma de lidar com a imagem corporal e alteração do estilo de vida. A

adaptação à doença e a incapacidade fazem parte de um processo contínuo.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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4.3.2- Identificação da depressão

Conhecida como “o resfriado comum das doenças mentais”, ninguém está

completamente imune ao risco de depressão, confundida, muitas vezes, com um

estado de tristeza. No entanto, as mulheres são tratadas numa freqüência duas

vezes maior do que os homens.

...”Eu acho que a tristeza é uma coisa que você sente por não ter realizado uma coisa momentânea, ou por uma pequena desavença com uma pessoa amiga, enquanto a depressão, é quando o cara afunda em coisas que ele acha que não vai conseguir nunca realizar, que ele não em forças para fazer aquilo”...(Chapéu Napoleão)

...”Depressão pra mim é tristeza é ficar muito dentro de casa, não sai para lugar nenhum, não freqüenta nada (silenciou) é como se diz fico parada demais, fico deprimida né?”...(Moranguinho) “...Tristeza até eu tenho, mas depressão, não! Sei que não tenho porque meu marido já teve e nem conversava...”(Casadinho)

Em geral, em algum momento de suas vidas, uma em cinco pessoas

experimentará um episódio depressivo suficientemente sério para conduzir a

tratamento. Assim, mesmo aqueles ainda não atingidos pessoalmente pela

depressão, com toda probabilidade lidarão com um amigo ou familiar que o foi. Os

especialistas sentem que aqueles que vivem com uma pessoa deprimida

apresentam risco de se tornarem eles próprios deprimidos (LUSTTMAM, 1997).

A depressão afeta o humor do indivíduo, a sua forma de ver o mundo e

até as funções do corpo, como o sono e a sua alimentação ou o vigor. A pessoa está

sempre triste ou preocupada e geralmente está ansiosa ou irritada, apresentado a

auto-estima diminuída e pensamentos negativos, pensam que são incapazes de

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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fazer coisas comuns no seu cotidiano. A depressão apresenta muitos sinais e

sintomas diferentes, alguns são fáceis de reconhecer, outros mais difíceis. O

primeiro sinal da doença geralmente ocorre com uma mudança de comportamento

habitual e a pessoa se torna irritada por motivos antes insignificantes; sentimentos

melancólicos, perda do interesse por atividades consideradas agradáveis

anteriormente ou por quaisquer outras atividades; perda de apetite e peso ou

algumas vezes ganho de peso; dificuldade para dormir ou excesso de sono;

agitação ou retardo psicomotor; sentimentos de cansaço ou indisposição, de

inferioridade ou culpa; dificuldade de concentração, organização do pensamento,

memória ou decisões; pensamento de morte ou suicídio.

“..ficar pensando, sei lá, coisas boas, coisas ruins, aquilo que vem na sua mente, um monte de coisa, aí você começa a ficar com raiva de um, a querer fazer num sei o que com esse, a querer fazer não sei o que com aquele outro, porque aquele outro me olhou de atravessado, acha que não gosta de mim, acho que fiz alguma coisa para ele porque (silenciou), ficou diferente comigo, você acha que as pessoas é que são diferentes com você, quando é você que não está mais receptiva às pessoas. Tudo está ruim. Nada te serve”......(Palha italiana)

...”Depressão, (parou) e, eu, eu não sei se vou saber expressar assim, por causa do que eu senti. Olha, depressão, eu, particularmente comparo assim (pausa). Um passo pra loucura (calou). Eu, não cheguei ao extremo, porque graças a Deus apesar de retardar um pouco, porque eu não estava sabendo que aquilo era o início de depressão, eu pensava que era problema na coluna, porque doída muito e quase todos falam que é isso, começa com a dor na nuca. (Calou)”....(Amor em pedaços)

Concordamos com Teixeira (1993) que os membros da equipe de saúde têm

que tomar medidas imediatas para assistir o cliente identificado com depressão, pois

o risco de suicídio é uma constante naqueles diagnosticados ou não. Para alguns a

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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depressão é indutora de isolamento e sentimentos de solidão e angústia, traduzidos

por expressões como de permanecer num canto e ficar quieto:

“ Tristeza, angústia? Ficar deprimida não consegue ver ninguém, quer ficar mais no seu canto sozinho. Pra mim é, depressão é isso”..(Brigadeiro) “ Depressão (calou), pessoa que fica muito em casa, num passeia, num é? E (calou), fico muito nervosa, eu acho que é isso (falou muito baixinho)”.....(Cajuzinho)

“ Olha, depressão que eu entendo quem tem, é ficar encostado em um canto, só preocupado, com aquela coisa na cabeça, não parar de pensar naquilo e se deixar vai indo até ficar ruim demais”.( Quindim)

Em algumas falas observam-se formas de negação de depressão.

“...eu até entendo que falar que depressão que fica chorando, eu não choro, sou ruim pra chorar demais. Então eu fico assim, com aquele aperto no peito, assim sabe?...”( Quindim) “...Eu sei que nunca tive isto porque meu marido que já fez tratamento de depressão e até remédio tomou, mas ele só ficava parado, nem assistir televisão ele dava conta, e eu nunca fiquei assim não, Deus me livre!...Esse trem, não me pega não!...”(Casadinho) “...Meu marido já sofreu deste mal, só ficava no quarto deitado, não queira nem conversar com os filho, morreu sem nunca ter se curado...”(Brigadeiro)

Na opinião de Silva (2001), a negação de uma situação é um mecanismo

de defesa, que pode ser considerado como uma etapa do enfrentamento do

estresse provocado pela ameaça a que a pessoa está sendo submetida.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Outros sentimentos relacionados à depressão são as sensações de

impotência, de culpa, de pessimismo, de desânimo ou também irritabilidade e

nervosismo com pessoas e fatos, observados nas falas seguintes:

“...Você faz um pouquinho você fica enjoado, põe defeito, nada fica do jeito que você quer, você parte para outra coisa, escutar os outros conversar te irrita, a televisão te irrita, tudo te irrita...”(Palha Italiana)

“ Depressão, eu acho que é um estado de espírito, que a pessoa sente quando ela acha que não está sendo útil e que não está conseguindo realizar coisas que ela queria realizar...”(Chapéu de Napoleão) ...”Depressão pra mim é o que eu já sempre falo, que uma coisa que você sente dentro de você, uma coisa que só no seu interior, que você sente que tudo está muito difícil, você não tem vontade de encontrar com as amigas, acha chato, você só lembra é da cama, você quer cama, você não quer nada”...( Olho de Sogra) ”... eu acho que ela sente um vazio, como se fosse um desânimo, um pessimismo muito grande, não é?”...(Chapéu Napoleão) ...”Quando as coisas não vão bem, ou tem um probleminha com o marido, ou com os negócios, ou alguma coisa que aconteça com as filhas, aí pronto começa. Você já não dorme direito, senta para comer e não pensa na necessidade nem prazer de comer, você simplesmente senta e come, pensando o tempo todo”...(Palha italiana) “...Então você fica remoendo, remoendo, aquele problema e começa a se sentir mal e tenta achar o porque do problema, pensando onde foi que eu errei? O que eu fiz para minha”...(Palha italiana)

Às vezes as situações de pressão acabam levando as pessoas a se

sentirem depressivas conforme se pode identificar nestas falas:

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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...”eu percebo porque compromissos vão cobrando, e de repente eu não encontro saída para solucioná-los, é isso que provoca essa crises de depressão”.....(Churros) ...”Eu só tive quando (calou), meu pai morreu, eu tive uma surdez na hora, que nem sabia que os outros falavam”.....(Casadinho) ...”É, pois é (riu). Eu luto contra isso, que eu sei que eu tenho tendência, por causa assim, do meu gênio, né, que eu num sei abrir assim, falar o que eu sinto, se estou aborrecida (calou)”....(Nhá Benta) ...”Não, não, ninguém falou nada e porque a gente se isola, se fecha, hoje ninguém esta preocupado com ninguém, a vida hoje é assim, cada um esta sufocado nos seus afazeres, nas suas responsabilidades. Eu não olho o outro não, se eu esperasse que alguém visse me socorrer ou falar: Ó, você não pode ficar assim? Você é uma mulher ativa, uma mulher viva, você morreu? Não, eu mesma senti que não estava bem, eu mesma”......(Olho de sogra)

4.3.3- O significado da depressão para o diabético

4.3.3.1- Fatores relacionados à depressão para o diabético

- Reação ao sentimento de solidão: Isolamento social

Todos nós temos momentos de solidão que podem ser benéficos. Em tudo

você deve trilhar o caminho do meio e nunca os extremos. O caminho do meio

sempre te leva ao equilíbrio. Estar só, permanentemente, pode se tornar patológico.

O homem é um ser social e tem que se comunicar com as outras pessoas, caso

contrário pode ter stresse e depressão (MORTARI, 2004).

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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Tessari apud Rossi (2004) fala das pessoas que, em conseqüência dos

acontecimentos da vida, escolhem ficar sozinhas, aproveitando os momentos de

solidão como uma chance a si próprias. O autor procura entender o que leva

pessoas adultas a ficarem reclusas, solitárias em suas casas.

A solidão pode atrapalhar a vida das pessoas, depende de vários fatores

e um deles pode ser em relação à pessoa ter um problema de saúde como uma

doença crônico-degenerativa ou uma incapacidade física causada por complicação

de alguma dessas doenças. Quando a pessoa precisa de um tempo para ficar

consigo mesma, refletindo acerca de algum problema, ficar sozinha ajuda. Porém,

isso pode atrapalhar quando ela não quer pensar em problemas ou quer fugir deles.

Outros fatores complicadores são a liberdade e a independência. Certamente, nada

melhor do que viver sozinho! Às vezes, as pessoas optam por viverem sozinhas

provavelmente porque se sentem pressionados nos ambientes em que vivem. Por

não poderem fazer tudo o que desejam, por terem limites e regras impostas pelo

tratamento do DM e não aceitá-las. Na verdade, ninguém opta por viver solitário,

mas busca-se a solidão quando o convívio social não propicia satisfação, alegria ou

bem estar.

O ser humano é, essencialmente, um ser social que gosta de viver e de

conviver com grupos. Quando ele se afasta do convívio social, por livre e

espontânea vontade, certamente existe algum problema em relação a estes grupos

ou então a pessoa tem algum problema e não quer que seu grupo de amigos ou

conhecidos tenha conhecimento do mesmo.

Nas falas a seguir podemos perceber o sentimento dos colaboradores

quanto ao isolamento social, solidão pessoal e solidão a dois.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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...”alguém para ouvir a gente, alguém para também dar suas opiniões nesses momentos.......(Churros) ...”Isso aconteceu já tinha dois anos que meu marido tinha morrido’....(Olho de Sogra)] ...” Nossa vida fica restrita. A gente não tem assim, alegria, não tem satisfação de estar no meio social”....(Churros)

..’ Aqui dentro de casa não houve como isolar, agora da rua, eu isolei, porque eles estavam dentro de casa, mas, mas iam notando, olhando, Mãe: O que está acontecendo com a senhora? Eu falava: Nada!”.... (Amor em Pedaços) ...”A tristeza não, a tristeza você conversa com gente, e depressão não. Você quer ficar sozinho no seu canto. Então é pior, pra mim é pior que a tristeza”...(Brigadeiro) ...”É igual assim, por isso que eu falo, que leva a loucura, porque eu fiquei uma pessoa assim ó, só com a mão assim, andando e, e ia direto e tudo que eu ouvia, uma notícia, um repórter, aquilo eu já tava pedindo pra eles desligarem, eu num podia ouvir mais nada. Aquilo gravava na minha mente, eu, eu num dormia”....(Amor em pedaços) ...”Eu era toda cheia de vida, alegre, muito sadia, depois que eu fui saudável, depois que eu comecei a sofrer tanto assim que apareceu a diabetes e fui ficando triste e mais triste, cada vez mais triste, ai pronto”...(Torrone) ...”Pra mim, depressão é quando você começa se sentir sozinha, abandonada, nada está bom, aquilo que você gostava de fazer, você começa fazer, (pausa) já não te dá prazer. O que te deixa bem, é sentar num canto quietinha e ficar pensando. (Pausa)”.....(Palha Italiana)

Percebe-se que o sentimento de solidão pode ser despertado em uma

pessoa quando ela é excluída socialmente. Se isso acontece, ela acaba se sentindo

solitária e sofre com isso, pois, o ser humano necessita sentir-se um membro

participante de grupos. Exatamente porque a sociedade a exclui, ela sofre e muito

justamente, porque não optou pela solidão.

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- Os problemas familiares

A família possui atribuições, como entidade intimamente relacionada à

sua origem e estrutura, que por vezes podem ser confundidas. Dentre as atribuições

descreve-se a função biológica de prover cuidados que assegurem a sobrevivência;

função psicológica de prover alimento afetivo para manter o equilíbrio psíquico,

sendo o ancoradouro para as ansiedades existenciais, função esta que pode ser

confundida com as funções sociais de transmissão da cultura e de preparação para

o exercício da cidadania (OSORIO, 1996).

Mota (1997) afirma que ao buscar a compreensão dos significados

percebidos pelo paciente e sua família é possível reconhecer que a doença afeta e

desarticula o mundo familiar e os sonhos de futuro, refere ser a família “constituída

pela comunhão do ser-com-o-outro, cujas premissas básicas da relação são o afeto,

a lealdade, a responsabilidade com o outro, caracterizando-se como uma relação

social dinâmica, permeada por crenças, valores e normas da sua tradição

sociocultural e pelo seu momento histórico de vida (p.176)” sendo este momento,

para a autora, o impacto de uma doença, será o enfrentamento que levará esta

família a redimensionar sua vida.

A depressão pode causar impactos nas relações familiares demonstradas

nas falas destes colaboradores:

...”Desencadeou, devido a um apanhado de tudo que eu já passei, que eu tive problema (pausa), filho drogando! Eu tive, tenho (falou firme) ainda problemas. Eram os dois, né. Filhos se drogando e marido, é alcoólatra. Então foi assim, eu fui tendo resistência, fui tendo resistência, agüentando, quer dizer, eu ainda pensei: Meu Deus, por que isso num (pausa) aconteceu, como é que eu passei aquilo tudo num tive uma depressão? Mas essa depressão, já era uma carga (calou), de (pausa), lá no princípio’....(Amor em Pedaços)

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...”Ah! Eu acho que é assim. Família todo dia, a gente tem um problema, né, isso num tem jeito, né? Qualquer problema de família assim, me deixa assim mais (calou), triste, né ? (riu). Eu sou muito preocupada também....(Nhá Benta)

...”Ah (pausa) quando (pausa) as coisas não vão bem, ou que tem um probleminha com o marido, ou com os negócios, ou que aconteceu alguma coisa com uma filha sua, aí pronto, aí que começa....]”E aí não, eu aí começo a revirar na cama, aí eu começo a pensar, aí vem o pensamento da filha, aí vem o pensamento do neto, aí vem o pensamento da neta”....(Palha Italiana) ...’Sempre foi, porque minha vida sempre foi muito difícil, tudo é concebido através de emprego, para educar filho, alimentar casa, construir casa, então tudo isso é motivo, é porque eu me sinto às vezes sofrendo essa depressão”...(Churros) ...’Mas eu num falava nem com o marido, nem com a filha, com ninguém, quer dizer então, eu fui piorando”....(Amor em pedaços) ...’Vou ficando coagida, vou ficando calada, magoada com tudo, com o mundo e dá tristeza, mas tem certa hora que eu não agüento, então eu respondo...(Moranguinho)

É importante dizer que os problemas familiares, desavenças ou

desordens de qualquer natureza podem proporcionar uma maior possibilidade de

descontrole glicêmico e também fazer com que o paciente desencadeie um episódio

depressivo.

- Os problemas conjugais

...”E o diabetes que eu não tinha, que deu problema da diabetes e esse passado, de ser abandonada sem motivo justo. Ele era boêmio, me deixou com cinco filhas e eu fiz tudo sendo uma boa esposa e procuro assim, um motivo dele ter me deixado e não encontro. O ruim era ele, era não, é...(Torrone)

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...’Lógico fazendo as coisas que ele gosta, do jeito que ele quer, dando tudo na mão, (calou), e vamos levando a vida assim, (calou) nem tem outro modo, fazendo o que ele quer! (expressou raiva)”....(Moranguinho)

....”Ah! Então é só ele que tem defeito? Não, eu to falando num é de defeito pessoal, estou te falando, defeito de bebida, isso aí é a parte. Que o homem que bebe, a pessoa que bebe tem duas personalidades, você vive com um marido de duas personalidades. (Calou) e, com a bebida ele é uma coisa, sem a bebida, ele é outra.”....(Amor em pedaços) ...’Mais porque, ele freqüenta uma igreja que eu não gosto de participar, eu queria estar na outra igreja lá da sede e ele num vai”....(Cajuzinho)

Geralmente a depressão está relacionada com uma mudança no

comportamento. Indivíduos deprimidos relatam que é mais difícil interagir com os

demais. Estudo (BALL, 2002) demonstra que as pessoas deprimidas olham menos

nos olhos, falam mais devagar e suavemente, também falam com monotonia e seu

discurso pode ser dominado por pensamentos negativos, incluindo tristeza e falta de

esperança.

Segundo Kelsey (2004), a doença geralmente é acompanhada por

queixas conjugais e, de modo geral, as interações entre pessoas deprimidas e seus

cônjugues são caracterizadas por agressividade acima do normal. Problemas

conjugais parecem ter grande influência na evolução da depressão, no entanto o

apoio conjugal pode proporcionar uma melhora mais eficiente e duradoura dos

sintomas depressivos, já que a participação e o apoio do parceiro(a) podem fazer

grande diferença na diminuição dos sintomas da depressão.

A separação, o abandono ou divórcio são experiências das mais

traumáticas pelas quais podem passar os seres humanos, pois nessa fase, todas as

certezas se desfazem, como se a vida da pessoa sofresse um impacto sísmico.

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Levam-se anos para recuperar-se emocionalmente de uma separação,

sobretudo as mulheres. O abalo maior é, sobretudo, o da perda da confiança em si e

nos outros, podendo isso ser tão forte que nunca mais se consiga recuperar o bem-

estar, a capacidade de amar outra pessoa ou até a si mesma, ficando a salvação de

um casamento com problemas na dependência do discernimento e da capacidade

de um dos parceiros não perder contato com a realidade e tentar restabelecer a

relação por ele mesmo ou pedindo ajuda externa (MATARAZZO, 1997).

Considerando os colaboradores do estudo observa-se que as mulheres se

submetem às vontades de seus cônjuges, não por amor, mas sim por estarem

acostumadas à rotina ou por não terem coragem de enfrentá-los nem de tomar

atitudes, seja pelos filhos, seja por medo de críticas da sociedade. Nas falas de

Moranguinho e de Quindim podemos confirmar nas afirmativas a seguir.

“ ...Sabe porque eu parei de ir na psicóloga? Parei porque se continuasse iria acabar me separando às vezes é melhor se fazer de tonta e deixar o barco correr...Já estava começando a enfrentar ele e o negócio não estava ficando bom...” (Moranguinho) “...este homem é minha cruz, se tivesse só os meninos seria muito melhor...Ele só abre a boca para criticar os filhos e até esconde as coisas de comer no domingo quando nos reunimos aqui em casa. Não dá nem para acreditar, fica calada o tempo todo que estão aqui, parece cuime...”(Quindim)

- Os problemas financeiros

A doença leva o indivíduo a incapacidades que o afastam de funções

sociais, como o trabalho. Em geral o afastamento do trabalho por problemas de

saúde ou da ajuda nas atividades rotineiras em casa se aposentado acarretam uma

série de problemas financeiros imediatos, como o desconforto de estar parado, a

sensação de inutilidade ou a dificuldade de obter dinheiro, para aqueles com

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atividade autônoma, não aposentados e que aí precisam de ajuda financeira de

familiares e amigos para as despesas com alimentação, manutenção do pagamento

do plano de saúde e dos medicamentos. O ato de deixar de trabalhar, sobretudo

para o gênero masculino, fere a posição de provedor da casa, já as mulheres

dependem da ajuda dos filhos para as despesas extras com a doença.

Estes colaboradores descrevem com clareza essas dificuldades que

acabam por levá-los a depressão.

....”As situações que me deixam sempre deprimido, é a situação financeira, necessidade de filhos, que necessitam de ajuda e às vezes eu me encontro sem condições de ajudá-los. Fico mais satisfeito quando eu tenho condições de atender as suas necessidades”....(Churros) ...”È ele implica com tudo, até mesmo com o gás do fogão ele implica. È economia demais da conta, uma coisa exagerada e eu não tenho direito a nada, só tenho direito de trabalhar, de fazer as coisas e dar a ele na mão entendeu?”...(Moranguinho)

“...Ainda bem que tenho minha aposentadoria, depois que meu marido ficou velho anda numa miséria que você não pode imaginar, até para os filhos e netos tem pão durismo”...(Quindim)

...”única coisa que me faz ficar mais pensativa é por causa do sistema do meu marido, sabe? É uma avareza impressionante...Mas, mais nada. Eu penso: Ah! Azar dele.”....(Quindim)

A redução na renda familiar causada pela aposentadoria, o compromisso

de ajudar os filhos, a falta da colaboração e compreensão dos conjugues, faz com

que as pessoas se sintam depressivas e incapazes de reagir.

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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4.3.3.2 Mecanismos de enfrentamento da depressão

Na linguagem cotidiana, enfrentar e enfrentamento são termos usados

com diferentes significados (confrontar; lutar contra algo ou contra uma situação;

encarar de frente; arrostar; defrontar; olhar de frente, encarar sem medo; resistir a,

suportar, tolerar, agüentar), implicando sempre em uma reação a algo difícil, a um

problema, ou a uma situação desafiante. Nos textos científicos escritos em

português usa-se o termo enfrentamento, traduzido do termo em língua inglesa

“coping”. O conceito foi originalmente estabelecido por Lazarus apud Arruda (2002)

como “um conjunto de estratégias para lidar com uma ameaça eminente (GIMENES,

1997, p.112.) De acordo com a teoria de Lazarus e colaboradores, o termo

enfrentamento descreveria ”esforços cognitivos e comportamentais em constante

mudança para o manejo de exigências ou demandas internas ou externas que são

avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos pessoais do indivíduo”.

O conceito de enfrentamento implica função adaptativa no comportamento e na

relação entre o organismo e o ambiente adverso e tem sido enfatizado na área de

psicologia da saúde como útil à compreensão dos efeitos do estresse e das

diferenças individuais encontradas nas reações de pessoas que vivem da depressão

uma condição estressante. Os esforços de enfrentamento dos colaboradores podem

ser observados nas falas a seguir.

...”Então pra mim quando sinto que é isto, a depressão que está se instalando, eu sei que é o princípio de uma coisa que eu tenho que parar e dar um jeito (silenciou) e me cuidar para não deixar a coisa andar. Avolumar e tomar conta de você”...(Palha italiana)

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...’ Vou mexer com serviço, lavar vasilha, agora mesmo estava arrumando cozinha do almoço, bordar, caminhar e espairecer as idéias”.....(Nhá Benta)

“...Pego uma vassoura e não quer varrer, pega uma costura, eu gosto de fazer crochê, então meus crochês, ficaram abandonados, achava aquilo tão enjoado! È muito ruim, é ruim de mais! Porque você se isola também. Ah, mais quando eu percebi isso”.....(Olho de sogra) ...” eu começo a querer chorar por qualquer coisa, aborrecida sem um motivo, aí eu tomo um remédio para dormir, porque quando eu fico assim o sono vai embora!”....(Nhá Benta)

Alguns fatores pessoais interferem na forma de enfrentamento como o

envelhecimento, personalidade, cultura, habilidades específicas para o autocuidado,

valores, crenças, estado emocional e capacidade cognitiva. Dentre os fatores

ambientais que interferem no enfrentamento estão a presença de um sistema de

suporte, o acesso aos serviços de saúde e os recursos físicos e financeiros

(MILLER, 2000).

- Morte enquanto solução

Segundo Ross (2000), com a morte é provável vislumbrar a possibilidade

de paz. Espera-se uma vida futura, em que as pessoas sejam aliviadas das dores e

sofrimentos; pensa-se ainda numa recompensa dos céus e se tivéssemos sofrido

muito na terra seríamos reconhecidos após a morte; dependendo da coragem, da

paciência e da dignidade com que tivéssemos carregado nosso fardo. Esse

sentimento está demonstrado nas falas a seguir.

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..”De tão mal que você está, você acha que a morte é (pausa) te descansa, te dá aquela paz que você quer e que você não tem, entendeu (silenciou), então é por isso que você deseja a morte, porque a morte é você dormir, não pensar, não sabe (pausa) dormir, dormir...(Palha italiana)

“... era um problemão e a coisa foi crescendo, foi crescendo, até eu não suportar mais, porque eu tava vendo que eu ia cometer uma doideira, porque eu achava que só morte que ia acabar com isso tudo e se eu morresse, minha filha lá com o marido ia se acertar, né...” (Palha Italiana)

O resultado do estado de baixa auto-estima seguida ao rompimento de

seus sentimentos de valor próprio pode levar o ser humano a ter idéias de suicídio.

Às vezes as ameaças de suicídio são as formas que as pessoas angustiadas e

depressivas encontram para pedir ajuda e compreensão ou evitar conflitos; se

ocorrerem repetidas ameaças de suicídio, essas pessoas devem aprender outras

estratégias para atender às suas necessidades.

...”Não eu sempre fui (calou), me sentir depressiva, já tive vontade ate de suicidar...” (Moranguinho).

Muitas vezes as pessoas experimentam momentos de introspecção e

medo; esse medo pode ser da própria morte e da fragilidade da vida e do temor às

leis divinas, claramente percebidas na fala deste colaborador:

.”. Graças a Deus, nunca pensei em suicídio, isso não, porque eu temo o Senhor e tenho a sustentação dele, mas a pessoa, mesmo sendo assim, ele leva a pessoa, a maioria dos deprimidos leva...” (Amor em pedaços).

A conduta suicida, na verdade, é uma tentativa desesperada de solução

de um problema, embora seja uma alternativa inadequada. Ela pode acontecer

depois de várias tentativas de se solucionar um problema (de todas as maneiras

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possíveis e imagináveis para a pessoa). Não tendo encontrado nenhuma solução, a

pessoa vê, então, somente essa saída para solucionar o problema que está lhe

afligindo (TESSARI, 2004).

- Religião como conforto

Segundo um pároco de São Paulo, Pe. Arnaldo (2004), que afirmava

estar no evangelho que Jesus curava os doentes e lhes dizia: “tua fé o salvou!”.

Apesar do reconhecimento já secular e milenar, a medicina moderna, no mundo

ocidental, procurou desconhecer a ligação entre o ser espiritual e o ser físico da

pessoa humana. O aspecto científico da questão foi apenas um detalhe, a evolução

da medicina como um ramo comercial foi o elemento mais decisivo para que os

médicos se afastassem da espiritualidade. Dessa forma, os pobres ficaram com a fé

enquanto os mais ricos podiam dispor de tratamentos e remédios.

Recentemente essa questão esquentou os meios científicos e cada vez

mais os médicos reconhecem que a fé ajuda as pessoas no processo de sua cura

física. A ligação entre o corpo e o espírito é reconhecida pela humanidade há

milênios. Nos séculos passados, a comunidade científica considerava fé e

espiritualidade como sinais de crendice e de ignorância. Pesquisas recentes

começaram a relacionar fé com boa saúde. As conclusões “científicas” destas

pesquisas estão incentivando cada vez mais os médicos a estudar a relação entre fé

e cura (SOUZA, 1998).

De acordo com Brandão e Cols (1993), pesquisadores neste assunto

mostram, por exemplo, que aqueles que freqüentam a religião vivem, em média,

sete anos mais em relação àqueles que não têm esta prática.

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Não há nenhum estudo científico que comprove a relação entre a fé e a

cura, mas na prática, nem mesmo os médicos, geralmente considerados céticos,

negam o peso que a fé e a força de vontade têm no tratamento de pacientes que

mantêm a estima elevada e acreditam na cura. A ciência reconhece, finalmente, as

evidências de que a fé ensina a viver mais e melhor. Analisando as contribuições

dos colaboradores, percebemos a realidade destes estudos e declarações.

...”Ele falou: Ah! Parar de beber, nunca! Ele falou pra mim. Eu falei: Bom, você diz que é, que nunca, mas você num sabe o poder de Deus, eu falei com ele: O Deus que eu sirvo é um Deus vivo e que pode todas as coisas. Aí eu comecei a cantar hino, sabe? Lidando com ele e cantando.....(Amor em Pedaços) ...”Fico em casa evito sair para que ele não fique nervoso, mas agora tenho Deus na minha alma está entregue...”.(Moranguinho) ...”É, essas coisas, você olha pra trás, você vê sempre coisas bem piores do que da gente. Tem que dar graças a Deus que ainda posso fazer muita coisa, bordar mesmo, graças a Deus, eu bordo mesmo com as mãos assim, e quem não tem os dois braços igual eu vi outro dia? É ou não é oportunidade de Deus?...” (Nhá Benta)

O paciente que tem fé maneja melhor as adversidades da vida, já que a

espiritualidade tem um aspecto positivo. Se não curar a pessoa, certamente vai

melhorar a qualidade de vida dela e viver de modo positivo é muito melhor, uma vez

que a crença é considerada um complemento, não uma solução isolada, os

tratamentos nunca podem ser abandonados. (BUZAID, 2004).

Alguns colaboradores têm a fé e a religião como consolo e ajuda nas

adversidades de suas vidas.

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...”Oh, minha filha, ajuda, porque quem tem fé em Deus, a gente pede a Deus pra dá força, tirar esses desgosto da mente, do coração, é, ajuda. Eu tenho muita fé em Deus...”(Torrone)

...”Se eu começasse a pensar eu falava: Senhor, antes dela ser minha, ela é sua. Então, é o Senhor é que sabe o que é bom para ela. Eu estou aqui pra aceitar, então o Senhor que põe as mãos na vida dela, orienta a vida dela, entendeu? E aí eu deitava e dormia...”..(Palha Italiana)

...”Eu rezo muito, peço muito a Deus pra esquecer do que não presta, aí me controlo. Só isso...”..(Torrone)

...”eu tenho muita fé em Deus, tenho muita força de vontade, consigo sim. Solução é pedir a Deus e conviver, porque fazer o que né? Ir vivendo”...(Torrone)

...”Eu sou católica, entendeu? Leio muito a Bíblia, então nos casos assim, por exemplo estar sozinha, não querer sair, não quer nada com nada, aí eu começo ler as passagens da Bíblia (pausa) graças a Deus, o Divino Espírito Santo, me inspira muito, e sempre eu pego uma passagem que (pausa) nossa! Parece que foi escrito pra mim naquela hora, entendeu? Então isso me ajuda demais, me ajuda muito e aí eu consigo superar, graças a Deus”....(Palha Italiana).

Percebemos que todos os colaboradores estudados têm religiões de

demandas coletivas como o catolicismo e o protestantismo segundo Rabelo (1993),

e que ajudam manter um convívio social.

- A socializaçâo e lazer

Suporte social pode ser definido como o apoio disponível no ambiente

familiar, laborativo e interpessoal, visando a manutenção de um funcionamento

global adequado do indivíduo, principalmente em situações adversas. A falta de

suporte social parece ser um fator também associado com a presença de sintomas

depressivos em pacientes diabéticos. Diversos autores (BAYLEY, 1996; MIYAOKA,

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1997, CONNEL, 1994) relataram que pacientes com melhor suporte social

apresentam menos sintomatologia depressiva.

Este convívio apresenta-se de várias formas, em grupos de igreja, clubes

de serviço, grupos de medicina preventiva que além de proporcionar o convívio com

outras pessoas trabalham na prevenção de complicações das doenças crônico-

degenerativas, oficinas de trabalhos manuais, dentre outros.

...”Volto, porque aí, você vê uma coisa e outra, distrai. E saio para andar lá pro bairro longe perto do shopping, por causa disso que é”....(Nhá Benta)

...”Eu saio, procuro distrair, fazer uma visita (calou), não ficar assim, ficar parada dentro de casa, que aí eu acho que é pior...”(Nhá Benta) ...”Eu procuro desviar meu pensamento, penso nas coisas boas, vou pra casa da minha filha, fico lá com meus netos, arranjo brincadeira, num vejo televisão, não vejo nada, num escuto música, nada, nada. Eu só quero brincar, sair, vou pras lojas, vou andar, vou lá pro shopping, sento lá, faço um lanche gostoso lá, entendeu, essas coisas...”. (Palha Italiana).

Peyrrot e Cols (1997) observaram que a simples participação de

pacientes em programas educacionais para diabéticos leva à melhora dos sintomas

depressivos.

- Apoio familiar

Na intenção de compreender a família, será necessário, primeiramente

aceitar que esta possui diferentes significados para as pessoas, apresenta diversas

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definições para estudiosos de diferentes correntes de pensamento, estando

vinculada com as dimensões social e cultural de que representam.

Considerada por Osório (1996) como viga mestra no processo evolutivo

do ser humano e ainda guardiã de nossas ansiedades e medos é a família o suporte

para melhorar o relacionamento humano entre seus membros e também superar

tabus. Para isso, será imprescindível revitalizá-la e repensá-la para transcender a

condição humana e buscar na família as saídas para o mal-estar em que vivemos,

parece ser uma tendência contemporânea.

Para Elsen e Althoff (1998), a família faz parte de nossa vida cotidiana,

construída dentro de uma realidade social em que a variabilidade nas estruturas e

organizações leva-nos a pensar em famílias com múltiplas composições, o que para

as autoras parece um desafio à formulação de qualquer definição de família.

Referem-se à família como uma unidade dinâmica, constituída por pessoas que,

primeiramente se percebem como família, além disso, convivem por um espaço de

tempo como uma estrutura e organização em transformação, estabelecendo

objetivos comuns e construindo uma história de vida.

Os membros da família poderão ser unidos por laços consangüíneos, de

interesses ou afetividade, possuem uma identidade própria, e além de criar, também

transmitem crenças, valores e conhecimentos, influenciados pela cultura e nível

socioeconômico. A família vive em uma sociedade ou num ambiente em interação

com outras pessoas e famílias, acrescentam a escola, posto de saúde e outras.

Define seus objetivos, tem direitos e responsabilidades e promove meios para o

crescimento e desenvolvimento de seus membros e da comunidade.

O fortalecimento da família como ambiente de suporte poderá ser

alcançado pela presença do ser-enfermeiro, como profissional atuante nos serviços

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sociais e de saúde, responsabilizando-se pela informação e educação. Este será o

mediador na relação dialógica, vislumbrando as possibilidades para cada pessoa

tornar-se e estar melhor.

...”eu nunca me senti deprimido porque tenho o apoio de minha esposa e de meus filhos que nunca me deixam sozinho”...(Chapéu de Napoleão) ...”Ah! (silenciou), eu não penso no problema. Eu procuro desviar meu pensamento, penso nas coisas boas, vou para casa da minha filha, fico lá com meus netos, arranjo brincadeira, num vejo televisão, não vejo nada, num escuto música, nada, nada. Eu só quero brincar, sair, vou pras lojas, vou andar, vou lá pro shopping, sento lá, faço um lanche gostoso, entendeu, essas coisas”....(Palha Italiana) ...”Que com as meninas eu ainda procuro assim, amenizar mais a coisa, mas com ele coitado, vai tudo pra cima dele (risos), entendeu, então aí ele já alerta as meninas, ô, sua mãe não esta bem, sua mãe não ta bem. Aí uma telefona, a outra vem cá, aí pronto, aí eu já começo não, todo mundo preocupado, então eu tenho que dá a volta por cima (risos)”... (Palha Italiana) ...” se os meus meninos verem eu lavando aqui fora, chega toma da minha mão e fala: Mãe, se eu pudesse eu batia na senhora (risos) viu? E se senhora escorregar ai, dá mais trabalho pra nós, ai toma a mangueira e lava, outra hora se não puder lavar arranca a mangueira da torneira pra mim não lavar, é gostoso ver essa preocupação com a gente!”...(Quindim)

No início, às vezes é difícil aceitar que alguém próximo esteja sofrendo de

depressão e a primeira barreira a superar é a de aceitar o problema e os efeitos que

a depressão exerce no indivíduo; em seguida, é possível parar de lutar contra esses

efeitos, e começar a trabalhar construtiva e positivamente para ajudar quem sofre do

problema.

Todas as famílias funcionam como um sistema e, dessa forma, um

problema enfrentado por um membro irá afetar todos os demais integrantes. Um

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conjunto de expectativas específicas a cada família em especial é fundamental ao

funcionamento desse sistema. Assumindo a família como um sistema, fica claro que

a experiência de cada um dos seus membros afeta o sistema familiar, dado que o

comportamento de cada pessoa afeta e isso é recíproco. Nessa perspectiva a

enfermagem deve focalizar interações com os outros subsistemas (profissionais de

saúde, parentes, amigos) ao invés de estudar e interagir com a pessoa doente.

- Apoio da equipe multidisciplinar

Sabe-se de equipes multiprofissionais na Inglaterra, nas quais alguns

profissionais enfermeiros especialistas, e que trabalham em centros de diabetes,

dividem com o médico, as responsabilidades do tratamento (MALERBI, 1992),

desenvolvendo atividades de apoio, inclusive no ajuste terapêutico. No Brasil, há

propostas de seguimento das mesmas condutas realizadas na Inglaterra e EUA,

através do Programa Nacional de Doenças Crônico-Degenerativas do Ministério da

Saúde (MALERBI, 1992) e atualmente multiplicado pelo Programa Harvard/ Joslin e

Sociedade Brasileira de Diabetes – Educação em Diabetes no Brasil. Sua

divulgação e multiplicação inicial foram feitas através de Cursos de Formação de

Educadores em Diabetes, no qual reuniram-se representantes da grande maioria

dos Estados do Brasil, em São Paulo, no ano de 1997 e posteriormente, está sendo

disseminado pelas diversas regiões da nação brasileira.

Sobre essa questão são muito oportunas as afirmativas de Almeida et al

(1995), ao realizarem uma avaliação dos conhecimentos teóricos dos diabéticos de

um programa interdisciplinar. Os autores salientaram que “embora a equipe acredite

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que a aquisição do conhecimento não é garantia de aplicação dos mesmos na vida

diária, a mudança dos hábitos de vida requer tempo, conscientização e aceitação da

doença”. Se a pessoa com diabetes ou depressão não assumir com autenticidade

sua condição, possivelmente ela se colocará numa situação de risco pelas

complicações, até mesmo através da falência de múltiplos órgãos, decorrentes da

falta de um cuidado que poderia ser suprido pela ação educativa.

Lembrando que nenhuma ação educativa é passiva, pois sempre gera

reação, a pessoa com diabetes, inicialmente e até mesmo depois de um período de

convivência com a doença e com o educador enfermeiro, ainda terá dúvidas,

ressentimentos, dificuldades e conflitos. É isto, no entanto, o que provocará a

mudança, pois não há transformação apenas interna (introspectiva), mas através

dos comportamentos.

A enfermagem, como área que integra as ciências da saúde, tem o

compromisso de auxiliar na transformação dessa situação, buscando mobilizar

pessoas, inspirando reflexões acerca da prática cotidiana, a fim de, segundo Passos

(1995), aplicar o que o código de ética profissional tenta conseguir, ou seja, uma

ética reflexiva considerando os valores históricos, baseados nas condições materiais

de existência das pessoas.

As abordagens psicológicas enfocam o desenvolvimento do problema e

as estratégias de enfrentamento e/ou idéias que lhe possibilitem lidar com situações

estressantes. Os tratamentos psicológicos também analisam questões interpessoais

que possam estar contribuindo para a depressão. Há vários tipos diferentes de

psicoterapia disponíveis e cada uma trabalha com um conceito diferente de

depressão e adota variados estilos de intervenção. Encontramos a terapia

behaviorista que analisa como o indivíduo estrutura as atividades diárias de modo a

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se fortalecer com o que faz. O papel da pessoa na terapia é ativo, pois ela aprende

com as outras. A terapia cognitiva (bahaviorista) abrange técnicas comportamentais

como a automonitoração entendendo o papel que as cognições desempenham na

definição dos sentimentos. A terapia assertiva consiste em dominar técnicas de

comunicação e auto-expressão; ensina a pessoa a como se conscientizar do que

quer numa situação e expressar seus sentimentos e necessidades de modo mais

direto. Muitas vezes, a ansiedade atua como uma barreira à assertividade e são

ensinadas estratégias para reduzi-la. A psicoterapia psicanalítica enfatiza os

processos inconscientes da mente, explora conflitos, sentimentos e fantasias

associadas à primeira infância e outras experiências. A terapia geralmente é

conduzida por vários anos com sessões pelo menos uma vez por semana. Temos

ainda a terapia conjugal e familiar que considera os efeitos da depressão nos

demais membros da família e analisa padrões de relacionamento. Além de terapia

individual, existem programas de grupo para tratar a depressão, discutir seus

sentimentos e preocupações com terceiros pode ser uma experiência valiosa.

As diversas modalidades de terapia disponíveis são de suma importância,

e sua compreensão pelo profissional enfermeiro que trabalha no seu cotidiano com a

população acometida pelo diabetes, tem condições de realizar muitas dessas

atividades, após treinamento específico. Na área da enfermagem ainda é incipiente

o desenvolvimento de ações autônomas. Gostaria de salientar a importância

imprescindível da atuação do profissional enfermeiro nestes programas educativos e

preventivos, não apenas nas atividades de reajuste terapêutico (ajuste de dose).

Atualmente a abordagem do enfermeiro restringe-se às ações educativas durante

seu exercício profissional na conscientização dos cuidados intrínsecos da pessoa

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com a enfermidade, no desenvolvimento de habilidades e destreza psicomotora para

a prática da aplicação da insulina, entre muitas outras atividades essenciais.

A utilização de programas psicoeducacionais para pacientes com DM,

associado ou não a outras formas de tratamento, também pode levar a uma melhora

da sintomatologia depressiva. Conflitos, controvérsias, condições sociais adversas,

internalização da doença, depressão e perda do senso de auto-estima e

supercompensação são situações vividas pela clientela em apreço, interferem

negativamente nas respostas às atividades educativas. Este fato intervirá e

interagirá de forma preventiva/educativa, assumindo junto ao grupo, papel relevante

na conquista das metas educacionais. A importância deste apoio multiprofissional é

percebida nas falas de alguns colaboradores a seguir.

...”Eu não sinto esse apoio, em casa não, porém com a psicóloga sim... Ah, ultimamente tenho sido ouvido pela psicóloga, e transmitir, esclarecido esses problemas para ela e ela dando suas opiniões, tem sido força para mim”....(Churros) ...”Depois que comecei a freqüentar este programa minha vida mudou, só não venho mais porque o marido reclama...” (Moranguinho) ...”Sei que não tenho uma voz boa, mas adoro cantar neste coral...” (Churros)

...”Gosto mesmo é da aula de trabalhos manuais”... (Quindim)

...”a gente se sente importante quando conversa com você que é tão atenciosa”... (Torrone)

....”Quando tem essas brincadeiras aqui a gente volta até mais leve para casa... “ (Brigadeiro)

...”adoro fazer receitas diet novas na aula de culinária especial para nós diabéticos que o programa oferece”...(Amor em pedaços)

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....”minha vida só tomou rumo, conseguindo superar as dificuldades da depressão e da viuvez depois que comecei a freqüentar este programa, agora já faço até exposição em feira livre dos meus trabalho manuais, pode?”... (Olho de sogra)

Com relação ao apoio psicoterapêutico vê-se que terapia cognitivo-

comportamental (TCC) associada a um programa psicoeducacional para pacientes

diabéticos mostrou-se uma abordagem terapêutica eficaz (LUSTMAN, 1998). A TCC

baseia-se em estratégias comportamentais para re-envolver pacientes em atividades

físicas e sociais agradáveis; treino em solução de problemas para resolver situações

“estressantes” e, tem técnicas cognitivas para identificar padrões de pensamento

distorcidos e mal adaptativos e substituí-los por crenças mais acuradas, adaptativas

e úteis. Assim esse tipo de tratamento pode, a longo prazo, levar a alterações

significativas no controle metabólico do diabético depressivo. Ao contrário dos

psiquiatras, os psicólogos e enfermeiros não estão qualificados a prescrever

medicamentos, de modo que tradicionalmente sua ênfase de ação reside nas

estratégias de enfrentamento.

A psicoterapia não tem apenas a função de remover os sinais e sintomas

depressivos, restabelecer o desempenho ocupacional e social do indivíduo, sendo

também sua função promover o estabelecimento de uma percepção mais coerente e

menos distorcida do seu mundo interno e da sua realidade externa. A psicoterapia

não se limita aos sintomas de depressão, mas também procura enfatizar e tratar as

angústias e o conflito interno, causadores da síndrome depressiva (GUARIENTE,

2000). Abordando e tratando as angústias e os conflitos internos originais

pertinentes à crise psicopatológica, os sintomas específicos tendem a diminuir e a

desaparecer.

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Segundo Guariente (2000), para que a psicoterapia tenha sucesso é

necessário chegar aos conflitos originais de depressão e, esse trabalho é uma tarefa

difícil. O paciente chega ao consultório mostrando, falando e queixando-se de seu

estado - são os sintomas e sinais psíquicos, somáticos e sociais, comunicados por

diversas linguagens.

Por fim, melhorar depende do paciente, porque ele pode controlar o que

pensa e, portanto, como se sente. Ao mudar o padrão de suas convicções, é

possível obter maior controle sobre sua vida; é uma experiência estimulante

perceber que se tem o poder de mudar o próprio destino e isso pode dar a

oportunidade e a esperança de novos horizontes e uma filosofia de vida mais

adaptável.

- Apoio medicamentoso

A terapia medicamentosa tem com objetivo a redução e, se possível,

remoção de todos os sintomas e sinais da síndrome depressiva e ainda, a

restauração do desempenho ocupacional e psicossocial.

Geralmente, a terapêutica medicamentosa fica a cargo do médico

psiquiatra, cuja função é a de diagnosticar, medicar e acompanhar o

desenvolvimento dos sinais e sintomas depressivos desde a fase aguda até a

estabilização do tratamento.

A farmacologia da depressão é centrada na medicação de

antidepressivos que intercedem na transmissão de um estímulo nervoso de um

neurônio para o outro neurotransmissor. Caso seja necessário, os antidepressivos

podem ser associados a outras drogas, sempre a critério do médico responsável. Há

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situações dentro de um quadro depressivo, exigindo do paciente fazer uso de

medicamento como os quadros profundos de depressão ou mesmo uma depressão

endógena (de origem biológica).

A ação dos medicamentos ocorre através de transmissão sinóptica que

podem acontecer de duas formas: elétrica em que a fenda sinóptica é muito menor,

os estímulos nervosos são transmitidos por neurotransmissores através de íons e

ainda de forma química (descoberto por Otto Lowei em 1921) quando os estímulos

nervosos são transmitidos por neurotransmissores em que as substâncias são

armazenadas em vesículas e liberadas para a transmissão (GRALFF, 1997).

O sucesso terapêutico só pode ser apropriado após uma ou duas

semanas de tratamento. Se fracassar, o médico responsável, após ser informado,

deverá rever o diagnóstico, a posologia, hábitos alimentares como o consumo de

psicoestimulantes, como o café - muito usado pelos pacientes estudados. Nestas

falas os colaboradores demonstram o preconceito e resistência em aceitar os

recursos medicamentosos como ajuda no tratamento da depressão.

...”Poxa, um comprimidinho desse vai tirar as coisas que não dão prazer, num vai não! Aí eu comecei a reagir por mim mesma...Hoje eu consigo reagir, sem medicamento. (falou com voz firme)...É, eu reajo a tempo pra não depender do remédio”... (Palha Italiana) ...“O médico receitou o antidepressivo e marcou tempo para voltar, mas nisso, só com antidepressivo, aí eu vim pra casa e tal, tomei o antidepressivo e (pausa) não dormia, olha, no final eu já estava partindo para não alimentar, eu já estava deixando de comer (falou baixinho) olha para você ver, em que situação que eu já estava, já não queria comer, num tinha comida que me atraía comer ou não comer era a mesma coisa e eu já não conversava com ninguém, eu não queria ver e nem conversar.”.... (Amor em pedaços) ...”Não sei. Rezo, tomo calmante, depois eu controlo...” (Torrone)

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...”Esse ai, é pra moderador de apetite e calmante também. Eu estou sentindo melhora com ele, tanto no apetite, como também assim, menos nervoso...” (Torrone)

È muito importante que os familiares e a equipe multiprofissional estejam

atentos à resistência em aceitar a terapia medicamentosa, já que a motivação para o

tratamento é essencial e uma interrupção precoce ou a redução das doses, sem o

consentimento médico, resultam em fracasso no tratamento. As melhoras registram-

se, em geral após 2 a 3 semanas de tratamento contínuo. Em casos mais

complicados, quando não há apoio ou quando é detectada gravidade da depressão,

será necessário internamento hospitalar.

Todo tratamento ansiolíticos é transitório, exceto em situações especiais

e, por isso, devemos orientar o paciente a não fazer interrupções brutais, exceto se o

uso for inferior a duas semanas. Os antidepressivos são medicamentos que ajudam

a restaurar o equilíbrio químico no cérebro, melhorando gradualmente a depressão.

O médico vai usar informações sobre seus sintomas, saúde física, histórico familiar e

resposta anterior a medicamentos para escolher o antidepressivo certo para o

paciente.

È ainda importante saber que os antidepressivos não são a cura, e que a

depressão tende a ocorrer novamente. É vital não parar de tomar o medicamento se

os sintomas aparentemente melhorarem rapidamente, nem se não melhorarem. Os

antidepressivos devem ser tomados de acordo com a orientação médica para que

funcionem corretamente e para evitar que a depressão retorne.

Os primeiros antidepressivos amplamente usados foram os tricíclicos,

muito eficazes, mas causam efeitos colaterais porque afetam substâncias químicas

do cérebro não relacionadas com a depressão. Entre esses efeitos estão a boca

seca, constipação, visão embaçada, pressão arterial baixa, sonolência diurna e

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ganho de peso. Os triciclicos também são perigosos em caso de dosagem

excessiva.

Desde 1989, vários novos antidepressivos foram desenvolvidos, com o

objetivo de afetar somente a serotonina, uma substância química do cérebro. São

mais seguros e mais bem tolerados do que os triciclicos e raramente causam

aumento de peso. O mais popular desses novos antidepressivos é composto por

cloridrato de fluoxetina. Esses novos medicamentos também têm possíveis efeitos

colaterais como insônia, náusea, nervosismo e agitação e, como a maior parte dos

deprimidos tem dificuldade de dormir, esses efeitos colaterais podem incomodar.

Infelizmente, nem todas as pessoas com depressão reagem ou toleram bem os

antidepressivos existentes (CORDIOLI, 2000).

Entretanto, tem havido muitos avanços na pesquisa sobre a serotonina,

nos últimos anos e vários novos antidepressivos têm trazido novas esperanças aos

pacientes, já que com uma dessas drogas recentemente comercializadas, eles

possivelmente sofrerão menos com os transtornos mentais.

Embora existam há várias décadas, pode-se dizer que desde os anos 80

seu uso foi assimilado por todos os médicos, sendo tantas as indicações dos

antidepressivos, que praticamente todos os médicos de qualquer especialidade já os

receitaram, em alguma ocasião.

Foi por causa de seu desenvolvimento, das descobertas dos mecanismos

de ação dos medicamentos no cérebro, da compreensão do funcionamento dos

neurônios e, portanto, das doenças da neuroquímica cerebral, que esta década

chamou-se a década do cérebro.

O tratamento da depressão nas pessoas com diabetes, apesar de não ser

de cunho curativo, quando realizado com responsabilização e comprometimento de

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Desvelando a depressão nos diabéticos

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todos os envolvidos no mesmo, tende a manter uma melhor condição para a vida

dessas pessoas. O paciente é acometido por várias alterações no decorrer do

processo de doença, as opções de tratamento trazem mudanças dolorosas, sofridas,

angustiantes, necessitando de suporte formal e informal, além das dificuldades

encontradas no cotidiano. A enfermagem deve atuar na assistência destas pessoas

e no seu processo educativo junto à família, já que o resgate da pessoa diabética

depressiva como cidadã deve ser trabalhada em equipe interdisciplinar, oferecendo

a ela condições para se autocuidar e viver com dignidade na sociedade.

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CA PÍTU L O 5CA PÍTU L O 5CA PÍTU L O 5CA PÍTU L O 5

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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134

R eflexões e im plicações do estudo para a enferm agem

D e tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estava sem pre com eçando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrom pido antes de term inar. F azer da queda um passo d e dança, do m edo, a

escada; do sonho, um a ponte; da procura, um encontro.

F ernando P essoa,

A palavra história vem do grego ISTWR, histos - que sabe; o que será que

as histórias sabem? No momento em que um contador conta uma história, esta

mesma história conta algo da verdade do contador. Mas, como se pode contar algo

da verdade se histórias são ficções? E o que é uma ficção senão simulação,

imaginário, fantasia, invenção, criação? Enfim, ficção é simulacro, é fantasma ou

fantasia e seus conteúdos provêm do inconsciente, nas suas mais diversas

formações; sonhos, lapsos, atos falhos, esquecimentos, etc.

Nos últimos anos, os estudos sobre depressão têm aumentado e suas

conclusões apontam para a geração de três hipóteses, sendo a primeira a

intensidade e competência dos regimes de tratamento repetitivos sobrecarregando

os pacientes e fazendo parte de sua vida diária; a duração da DM proporcionando

estresse permanentemente e ainda o número de complicações da doença que

aumentam com o tempo e afetam a qualidade de vida do indivíduo. Lembramos que

o DM e a depressão são partes de um conjunto de desordens metabólicas comuns,

podendo estar associadas entre si envolvendo vários fatores da vida cotidiana.

O DM está associado a um aumento de sintomas depressivos e de

depressão clínica e sabe-se que a influência dessa associação abrange desde o

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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impacto direto no controle metabólico até aspectos adaptativos, educacionais e

socioeconômicos. É difícil o estabelecimento de uma relação causal entre os

sintomas depressivos, o controle glicêmico e as complicações do DM. O que parece

existir é uma relação cíclica, na qual o agravamento de um tem efeitos diretos, e

também indiretos sobre o outro.

Os indivíduos têm características orgânicas e históricas próprias que

servem referencial para o sentido da vida e, ao receberem o diagnóstico de diabetes

é como se a vida interrompesse seus projetos, desejos e expectativas, passando o

indivíduo a sentir-se desprotegido, dependente e a vivenciar modificações na sua

vida que repercutem em sentimentos de desespero, raiva, culpa, insegurança e o

medo das complicações e até da morte.

Entretanto, passado o período de negação ele aceita a nova condição e

continua seu percurso referindo-se a problemas de toda ordem e considerando que

a vida é permeada por dor e prazer, felicidade e sofrimento, esperança e desespero

e o sentido desses valores podem ser encontrados em cada situação e tempo

variados de suas vidas. É necessário distinguir a depressão como uma resposta

normal ao estresse intermitente que dura poucas horas ou possivelmente um ou dois

dias, da depressão doença, estado prolongado de desânimo caracterizado por

vários sintomas afetivos e somáticos.

A história de cada um dos colaboradores é uma interpretação de suas

experiências em busca de significados para compreender como os diabéticos têm

convivido com a depressão, suas idéias e condutas, o que significa assumir que não

operamos como informantes, mas também como intérpretes.

Esta interpretação nos coloca diante de uma verdade, a de que o outro é

uma realidade falada e subjetiva agindo em nossos pensamentos. O ato subjetivo do

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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oralista, em tentar compreender o sentido dos acontecimentos re-contados, envolve

capturar a experiência pessoal dos outros, num esforço contínuo para formar uma

interpretação e compreensão de um fenômeno particular.

A presença do passado no presente imediato das pessoas revela-nos os

significados que são atribuídos às experiências e como elas são re-construídas a

partir das convenções culturais. A vida re-contada nada mais é do que o principal

modo de buscar o sentido da experiência vivida e que foi compartilhada com os

outros. As histórias temáticas contadas pelos colaboradores trazem consigo o

universal particularizado por cada sujeito que as contou e escutou. Um contar e um

escutar marcados pelas experiências subjetivas.

Percebi que os pacientes diabéticos deprimidos pouco respondem aos

programas destinados a mudar os hábitos não saudáveis, e que o tratamento

paralelo da depressão pode ser importante para o sucesso nestas intervenções no

estilo de vida. Além da depressão outras mudanças psicológicas acompanham o

passar dos anos e também poderiam contribuir para uma menor adesão ao

tratamento e mau controle metabólico.

Quem conta uma história sempre conta de si, quem a ouve nela se

reconhece, já que quando contamos uma história estamos falando de nós mesmos.

Além disso, as histórias universalizam o dilema humano para o paciente,

amenizando sua solidão frente ao desamparo, ao mesmo tempo em que fazem

compreender que é mesmo só que ele terá que fazer suas escolhas.

Os conhecimentos e questionamentos são transmitidos através de

gerações em forma de histórias que retratam experiências de vidas. Experiências

estas que partem do universal, mas precisam ser particularizadas, singularizadas,

subjetivadas.

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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Na enfermagem atual, influenciada pelo referencial das relações

humanas, o enfoque deixa de ser apenas o físico/biológico da doença, passando a

considerar a pessoa num contexto de relações do paciente, relações, nas quais o

enfermeiro estaria explorando o seu “ser” profissional como instrumento de

assistência. A humanização do cuidar faz-se necessária. Conhecer o paciente,

identificando suas necessidades é tarefa imprescindível para a enfermagem e

demais profissionais da área da saúde. A enfermagem psiquiátrica e a assistência

de enfermagem à saúde mental dos indivíduos não devem existir como algo

separado da enfermagem em geral e vice-versa. A interação na relação enfermeiro

e pessoa com diabetes contribuem para o processo de adaptação, uma vez que

auxilia na promoção de respostas adaptativas, servindo desta forma como base para

direcionar as ações de enfermagem.

As ações de enfermagem junto às pessoas diabéticas com depressão

merecem reflexões profundas, discussões e amadurecimento por parte dos

profissionais enfermeiros, uma vez que o cuidar holístico é busca incessante do

saber próprio da enfermagem. As orientações fornecidas num processo educativo

sejam individuais ou em grupo auxiliam na compreensão da realidade, sendo

essenciais para que o educando, no caso a pessoa com diabetes, consiga vencer

suas resistências e reconstrua valores, e este processo leva tempo. A enfermagem

realmente é efetiva nas relações interpessoais, através do processo interativo.

Acentuo esta característica do profissional enfermeiro para explicar que se realiza

uma interação com a pessoa diabética depressiva, uma vez que valoriza as

opiniões, pontos-de-vista, através da comunicação. Ele é o elo de interligação entre

os diversos profissionais, pois é o profissional que mais realiza o intercâmbio entre

pessoa com diabetes e os demais profissionais, a fim de complementar suas

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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necessidades para a promoção da saúde. Dessa forma, além de encaminhar as

pessoas aos demais profissionais (nutrição, endocrinologia, dermatologia, urologia,

oftalmologia, ginecologia e outros) reforça os cuidados que são realizados de modo

integrado. Por isso, acredito que a partir do despertar da consciência, as pessoas

não cumprirão mais determinações sem questioná-las, sendo essencial que este fato

ocorra para que se vençam as resistências, a fim de consolidar as mudanças.

Para que as pessoas com diabetes e com manifestações depressivas

venham a aderir às condutas indispensáveis para o controle da enfermidade, o

processo educativo deve ser pautado nas reais necessidades das pessoas, sendo

necessário que se estabeleça uma interação entre os profissionais e a pessoa, a fim

de promover um bem-estar físico, psicológico, social e espiritual.

À medida que os profissionais de enfermagem incorporem na práxis a

condição multifacetada das pessoas com diabetes e que percebam o significado da

depressão valorizando sua cultura, singularidade, seu contexto social, possibilitarão

uma vida com melhor qualidade a estes seres humanos. Diante das ações propostas

e desenvolvidas pelo profissional enfermeiro tive autonomia para a avaliação,

conduta terapêutica e elaboração do plano de cuidados. Vejo isto como relevante,

pois ocorreu intercâmbio de informações entre os membros da equipe

multiprofissional para efetivação e reconhecimento deste trabalho.

Devemos colaborar com os pacientes assistidos no sentido de que eles

reconheçam que é sua responsabilidade procurar tratamento quando necessário e

que quanto mais tempo adiarem essa decisão, mais difícil será para quebrar os

hábitos associados à depressão, que existem abordagens psicológicas e biológicas

ao tratamento da depressão, além de alternativas de tratamento totalmente viáveis e

adequadas a todos.

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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O compromisso da enfermagem é com a vida, ou seja, com a qualidade

de vida cotidiana do indivíduo em sofrimento psíquico sob nossos cuidados,

independentemente da gravidade diagnosticada de cada caso e do tempo que ele

dispõe.

Percebi que nossos colaboradores tinham muitas limitações, poucas

alternativas ou opções de sair da posição cômoda que adquiriram com o passar do

tempo, mas que estão sendo perseverantes no que conseguiram apreender apesar

do medo de mudanças. Todos procuraram demonstrar em suas falas, cheias de

otimismo e esperança, fazendo-nos crer que programas deste tipo proporcionam

alternativas terapêuticas apesar dos percalços encontrados.

No momento oportuno, quando não se observavam opções ou saídas

houve o investimento neste programa com a intervenção do profissional enfermeiro

que transformou toda esta realidade. É com muita alegria e orgulho que presenciei

estes colaboradores inteiramente adaptados, menos depressivos e o mais

importante, independentes, receptivos e saudosos das contribuições carinhosas

recebidas por mim, enquanto juntos.

Espero ter contribuído para a melhora da qualidade de vida destas

pessoas e também para o crescimento profissional de outros profissionais de saúde.

Acredito que o mais importante de tudo que foi apreendido neste estudo é a maior

contribuição para a enfermagem, fato constatado nas percepções de Rogers (1997)

que afirma serem os profissionais enfermeiros capazes de fazer a diferença.

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Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem

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M ensagem F inal

A ndo devagar porque já tive pressa E levo este sorriso porque já chorei dem ais.

H oje m e sinto m ais forte, m ais feliz quem sabe Só levo a certeza de que pouco sei, eu nada sei. Conhecer as m anhas e as m anhãs e as m anhãs,

O sabor das m assas e das m açãs, É preciso am or para poder pulsar,

É preciso paz para poder sorrir, É preciso chuva para florir.

P enso que cum prir a v ida seja sim plesm ente Com preender a m archa e ir tocando em frente.

Com o um velho boiadeiro levando a boiada E u vou tocando os d ias pela longa estrada eu vou ,

E strada eu sou ... ...Todo m undo am a um dia, todo m undo chora

U m dia a gente chega e no outro vai em bora. Cada um de nós com põe a sua h istória

Cada ser em si carrega o dom de ser capaz E ser feliz ...

A lm ir Sather

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R eferências B ibliográficas

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Anexos

_______________________________________________________________________

156

A N E X O SA N E X O SA N E X O SA N E X O S

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Anexos

_______________________________________________________________________

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Anexo 1

Solicitação para coleta de dados

Governador Valadares, 12 de Janeiro de 2004.

Exmo.Sr. Presidente da Unimed de Governador Valadares.

Prezado Dr,

Sou aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) e estou desenvolvendo um trabalho de

pesquisa para obtenção de título de Mestre em Enfermagem.

Este estudo será realizado dentro de uma abordagem qualitativa,

tendo como título provisório: “Depressão no portador de Diabetes

Mellitus: O Inimigo Oculto”. Os participantes desta pesquisa serão os

portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 que usam insulina na faixa etária de

40 a 70 anos do programa “Conviver com o Diabetes” do Serviço de

Medicina Preventiva da Unimed Governador Valadares, escolhidos

independente de sexo, raça e cor.

As informações obtidas serão utilizadas para estudo e os

participantes terão garantido o anonimato, sigilo do que informarem, assim

como o atendimento à resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Diante do exposto venho solicitar, pela presente, sua autorização

para realizar a pesquisa a que me proponho.

Agradecendo sua colaboração, solicito ainda o seu de acordo neste

documento.

Atenciosamente,

Marta Pereira Coelho

Ilmo.DR.José do Carmo Filho

Presidente Unimed GV.

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Anexos

_______________________________________________________________________

158

Anexo 2

Termo de Consentimento Informado

Título do trabalho: “Depressão no portador de Diabetes Mellitus:

Inimigo Oculto”

Autora: Marta Pereira Coelho (aluna do Curso de Mestrado em

Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenadora e

professora do Curso de Enfermagem da Univale).

Sumário do projeto: O estudo consta de uma pesquisa qualitativa com

pressuposto da história oral, com vistas à obtenção do título de mestre em

enfermagem. Tem como objetivo compreender a depressão velada no

portador de Diabetes Mellitus. A população de estudo será constituída

pelos pacientes que participam do programa de Medicina Preventiva da

Unimed “Conviver com o Diabetes”. A coleta de dados será feita por meio

de entrevistas que serão realizadas na sede da Unimed e se, necessário

no domicílio desses pacientes. Será mantido o anonimato dos

participantes, com a utilização de nomes fictícios, em todas as etapas do

estudo.

A participação no estudo não se reverterá em benefícios pessoais

aos participantes, mas em muito contribuirá na ampliação do conhecimento

sobre a experiência vivenciada pelo portador de diabetes.

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Anexos

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Termo de consentimento Informado

Concordo em participar deste estudo e declaro ter recebido as

informações necessárias sobre o estudo, seus objetivos e que estes foram

compreendidos por mim.

Fui informado (a) que tenho direito de interromper minha

participação no projeto, a qualquer momento, sem prejuízo para a

assistência do meu tratamento/acompanhamento neste serviço.

Se persistir alguma dúvida a respeito dos meus direitos como

participante desta pesquisa, poderei contactar o Comitê de Ética em

pesquisa (COEP/UFMG) no telefone: (31)-3499-4592, em Belo Horizonte

ou com a pesquisadora nos telefones: (33)32753870 ou (33)99896284

(celular).

Local---------------------------------------Data:- -- /--- /---.

Assinatura do participante

Assinatura da pesquisadora

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Anexos

_______________________________________________________________________

160

Anexo 3

ROTEIRO PARA A ENTREVISTA

Iniciais do diabético: ___________________________ Nº questionário ______________ Data da entrevista: _____/_____/_____ Início: _____________ Termino: _______________ Entrevistador: ________________________ Observação: ____________________________________________________ I – Caracterização e perfil social do diabético:

Religião: ______________ Antecedentes familiares:______________ 1. Idade: ______ anos Data de nascimento: _____/_____/____ 2. Sexo (1) Masculino (2) Feminino 3. Raça: (1) Branca (5) Branco-Negra (2) Negra (6) Amarela (3) Amarelo-Branca (7) Índio (4) Amarela/Negra ( 8 ) _____________________ 4. Local de Residência Atual: (1) Urbana (2) Rural Bairro: _________ 5. Tipo de Moradia: (1) Casa (3) Instituição (2) Apartamento (4) Outro: _______________ 6. Mora em casa: (1) Própria ( 4 ) Casa cedida (2) Alugada ( 5 ) Outros ______________ (3) Financiada 7. Números de cômodos da casa: _______________ 8. Números de banheiros da casa: _______________ 9. Estado civil: (1) Solteiro (4) Separado (2) Casado (5) Outros ______________ (3) Viúvo 10. Números de filhos vivos: ________________ 11. Escolaridade: ( 1 ) Analfabeto ( 2 ) Sabe ler/escrever ou grupo incompleto ( primário)

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Anexos

_______________________________________________________________________

161

( 3 ) Grupo completo ( 1ª à 4ª série completos) ( 4 ) Ginásio incompleto ( 5ª à 8ª série incompletos) ( 5 ) Ginásio completo ( 5ª à 8ª série completos) ( 6 ) Colegial incompleto ( 2º grau incompleto) ( 7 ) Colegial completo ( 2º grau completo) ( 8 ) Curso superior incompleto ( 3º grau incompleto) ( 9 ) Curso superior completo ( 3º grau completo) (10) Pós graduação: Qual :__________________________________________ 12. Tem trabalho remunerado atualmente? ( 1 ) Sim, exercendo atividade ( 2 ) Sim, também aposentado ( 3 ) Sim, afastado ( 4 ) Não, só pensionista ( 5 ) Não, só aposentado ( 6 ) Não, só dona de casa ( 7) Outra profissão. Qual: ________________________________ 13. Profissão: __________________________________________ 14. Renda salarial familiar: ( 1 ) 01 salário mínimo ( 2 ) 02 a 04 salários mínimos ( 3 ) 05 a 07 salários mínimos ( 4 ) 08 ou mais salários mínimos ( 5 ) Outro. Qual? __________________ II – Sobre o Diabetes 15. Moradores do mesmo domicílio. Listados conforme grau de parentesco e relação de ajuda para acompanhar o tratamento de diabetes:

GRAU DE PARENTESCO

SEXO

IDADE

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Anexos

_______________________________________________________________________

162

16. Alguém mais ajuda?

QUEM

SEXO

IDADE

1-

2-

3-

4-

5-

17. Participa de algum grupo/associação de diabéticos? ( ) Sim ( ) Não Qual: ______________________ 18. Há quanto tempo sabe do diagnóstico de diabetes? ___________________ 19. O(a) Senhor(a) no momento tem algum destes problemas? ( 1 ) Pressão alta ( 2 ) Retinopatia ( 3 ) Periodontite ( 4 ) Depressão ( 5 ) Nefropatia ( 6 ) Tabagismo ( 7 ) Alcoolismo ( 8 ) Dificuldade para dormir ( 9 ) Obesidade (10) Impotência (11) Outros: ____________________________________ 20. Recebeu algum tipo de orientação sobre a diabetes? ( ) Sim ( ) Não Quem: ___________________________________ 21. Hábitos alimentares: ( 1 ) Quantas refeições por dia: _____________________________ ( 2 ) Tipo de alimentação: __________________________________ ( 3 ) Horários das alimentações: _____________________________ 22. Hábitos de atividades físicas____________________________________ 23. Faz hemodiálise? ( 1) Sim ( 2 ) Não Há quanto tempo: ____________

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Anexos

_______________________________________________________________________

163

24. Fez angiofluorescênciografia? ( 1) Sim ( 2 ) Não Quantas vezes: _____ 25. Já fez cateterismo? ( 1) Sim ( 2 ) Não 26. Ponte Safena? ( 1) Sim ( 2 ) Não 27. Periodicidade das consultas médicas? ( 1) Mensais ( 2 ) Bimensais ( 3 ) 6 em 6 meses ( 4 ) 1 vez por ano ( 5 ) Outros: _____________________________ III – Atividades relacionadas às despesas 28. Início do uso de insulina: _______________________________________ 29. Profissional que orientou sobre DM? ( 1 ) Médico ( 2 ) Enfermeiro ( 3 ) Outros __________________ 30. Quem aplica a insulina? ( 1 ) Próprio diabético ( 2 ) Familiares ( 3 ) Outros: ______________ 31. Quantas vezes toma insulina por dia: ( 1 ) 1 vez ( 2 ) 2 vezes ( 3 ) 3 vezes ( 4 ) 4 vezes ( 3 ) Outros: ____ 32. Qual tipo de insulina usa? ( 1 ) Regular ( 2 ) NPH ( 3 ) Outros: _________________________ 33. Tem dificuldades em usar a insulina? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Qual (is): ________________________ 34. Quem fornece a insulina? ( 1 ) SUS ( 2 ) Próprio paciente ( 3 ) Doações ( 4 ) Outros: ________________________________________________ 35. Diagnóstico médico da depressão: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 36. Faz uso de antidepressivos? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Quantas vezes:________ Qual:____________ 37. Quem fornece os antidepressivos? ( 1 ) SUS ( 2 ) Próprio paciente ( 3 ) Doações ( 4 ) Outros: _____________________________

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Anexos

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38. Já esteve internado por causa da depressão? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Quantas vezes:______________ 39. Faz acompanhamento psicoterápico? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Com quem? __________________________ 40. Tem alguma dessas complicações? ( 1 ) Cegueira ( 2 ) Amputação – MMII ( 3 ) Cardiopatia ( 4 ) HAS ( 5 ) AVC ( 6 ) Outros: __________________________________________ IV – Acompanhar como é o ambiente domiciliar do colaborador V – Questões norteadoras:

a) O que é depressão para você? b) Em que situação se sente deprimido? c) Como convive com a depressão sendo diabético?