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1 O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA COMO DIVISOR DE ÁGUAS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Libânia Nacif Xavier FE / PROEDES UFRJ APRESENTAÇÃO Setenta anos após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nós nos reunimos aqui, em parte para celebrar o feito, em parte para rever o impacto deste documento, para fazer um balanço deste legado. Portanto, este evento 1 atesta a consagração do Manifesto de 1932 como um marco importante na história da educação brasileira. Nosso interesse em torno do tema traduz, assim, uma necessidade da vida individual e coletiva a preservação da memória e o conhecimento da história. A Memória como expressão afetiva dos feitos passados que queremos salvaguardar e a História como atitude racional de compreensão do presente pelo estudo do passado. O que está em debate, portanto, é o legado que nós, educadores deste tempo, recebemos dos educadores de gerações passadas. Uma geração que foi responsável pela expansão do movimento da Escola Nova no Brasil e, portanto, das bases do processo de organização da educação pública em nível nacional, que também foi coetâneo do processo de modernização do Estado brasileiro. Rememoramos o Manifesto com vistas a extrair deste documento os sentidos do movimento de renovação educacional dos anos 1920-1930, mas também, procuramos perceber, a partir dele, as referências com as quais os educadores de hoje elaboram as suas concepções a respeito dos problemas e das possibilidades de democratização da educação escolar em nosso país.

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    O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAO NOVA COMO DIVISOR DE

    GUAS NA HISTRIA DA EDUCAO BRASILEIRA

    Libnia Nacif Xavier

    FE / PROEDES UFRJ

    APRESENTAO

    Setenta anos aps a publicao do Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova, ns

    nos reunimos aqui, em parte para celebrar o feito, em parte para rever o impacto deste

    documento, para fazer um balano deste legado. Portanto, este evento1 atesta a

    consagrao do Manifesto de 1932 como um marco importante na histria da educao

    brasileira.

    Nosso interesse em torno do tema traduz, assim, uma necessidade da vida individual

    e coletiva a preservao da memria e o conhecimento da histria. A Memria como

    expresso afetiva dos feitos passados que queremos salvaguardar e a Histria como atitude

    racional de compreenso do presente pelo estudo do passado.

    O que est em debate, portanto, o legado que ns, educadores deste tempo,

    recebemos dos educadores de geraes passadas. Uma gerao que foi responsvel pela

    expanso do movimento da Escola Nova no Brasil e, portanto, das bases do processo de

    organizao da educao pblica em nvel nacional, que tambm foi coetneo do processo

    de modernizao do Estado brasileiro.

    Rememoramos o Manifesto com vistas a extrair deste documento os sentidos do

    movimento de renovao educacional dos anos 1920-1930, mas tambm, procuramos

    perceber, a partir dele, as referncias com as quais os educadores de hoje elaboram as suas

    concepes a respeito dos problemas e das possibilidades de democratizao da educao

    escolar em nosso pas.

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    Elegemos o Manifesto como motivao para o debate que hoje se inicia porque

    vemos este acontecimento como algo que merece ser conservado, muito provavelmente

    porque a comunidade de educadores aqui reunida o v como um documento que retm do

    passado as confirmaes de nossa unidade presente. A bandeira da educao pblica como

    fator de construo de uma sociedade democrtica continua, hoje, exercendo uma fora

    unificadora, atuando como elemento constitutivo da identidade dos educadores afinados

    com esta perspectiva.

    Abordar o Manifesto em sua historicidade ponto de partida da abordagem que

    estamos propondo. Tal opo delimita o tipo de anlise que pretendemos desenvolver ao

    mbito dos limites e possibilidades existentes naquele contexto especfico, o ano de 1932, a

    partir da anlise de um documento que o qualifica, o Manifesto dos Pioneiros da Educao

    Nova.

    Nessas condies, nosso esforo ser orientado no sentido de procurar compreender

    o teor das proposies que o grupo de signatrios do Manifesto autoriza, procurando

    relacionar os aspectos positivos do mesmo, isto , aquilo que ele proclama e afirma,

    observando, ainda, a interlocuo mais imediata e evidente que este mobilizou entre alguns

    expoentes intelectuais ligados Igreja Catlica.

    A pesquisa que estamos tomando como referncia para interveno que ora

    apresentamos foi concluda h quase 10 anos atrs, mais precisamente em 1993, ano em

    que ocorreu a defesa da dissertao de mestrado recentemente publicada em livro.2 As

    observaes que esta apresenta, assim como os aspectos que privilegia na construo de sua

    anlise configuram uma iniciativa, dentre tantas outras, de esclarecer questes relevantes

    acerca da montagem do sistema pblico de ensino no Brasil, da ao dos intelectuais e de

    sua insero junto ao Estado Republicano que se consolidava.

    A realizao de um Colquio sobre os 70 anos do Manifesto, bem como a

    publicao dos estudos apresentados nesta oportunidade colocam em pauta no s a

    interlocuo travada entre os agentes histricos de dcadas passadas, particularmente as

    dcadas de 1920 e 1930, mas, sobretudo, permite que se realize o debate acadmico por

    1 Trata-se do Colquio Nacional 70 Anos do Manifesto dos Pioneiros : um legado educacional em debate,

    realizado em Belo Horizonte e Pedro Leopoldo, em agosto de 2002. 2 Ver: XAVIER, Libnia Nacif (2002). Para alm do campo educacional: um estudo sobre o Manifesto dos

    Pioneiros da Escola Nova (1932). Bragana Paulista, EDUSF.

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    meio da apresentao de diferentes olhares sobre o movimento da Escola Nova e do papel

    dos Pioneiros na conformao do campo educacional em nosso pas. As diferentes

    abordagens do tema do a ver a complexidade do fenmeno educacional, possibilitando o

    reconhecimento das inmeras possibilidades tericas, empricas e interpretativas de se

    recortar e analisar determinadas idias e realizaes no mbito da histria da educao

    brasileira.

    A motivao que acompanhou a realizao deste estudo sobre o Manifesto dos

    Pioneiros remete-se preocupao que emergiu nos anos 1980, no mbito do debate que

    permeou a produo terica na rea da histria da educao brasileira. Este debate nos

    estimulou a empreender a reavaliao do papel dos pioneiros da educao nova na

    construo da identidade do educador profissional e do prprio campo da educao.

    A abertura democrtica, iniciada em fins da dcada de 1970 e consolidada com a

    promulgao da Constituio de 1988, reacendeu o interesse dos educadores em torno da

    (re)avaliao do legado dos pioneiros, particularmente da ao por eles desempenhada no

    interior da burocracia de Estado sobre a conduo das polticas de educao em nosso

    pas.

    O avano da histria da educao exigia que a interpretao acerca do legado dos

    pioneiros ultrapassasse a memria do movimento de renovao educacional dos anos 1920-

    1930. Memria que foi construda passo a passo, em cada crnica publicada nos jornais,

    em cada livro, em cada discurso, em cada Manifesto... pois sabemos que o Manifesto de

    1932 no foi o nico a ser publicado no perodo e, nem tampouco foi o nico a ser assinado

    pelo grupo. Os Manifestos so sempre a formalizao de um rito de transio, sua inteno

    fazer uma declarao pblica de doutrinas ou propsitos de interesse geral, marcar uma

    mudana, inaugurar um novo momento.

    Assim, se fazemos da histria o estudo das mudanas significativas da vida em

    sociedade, e se entendemos que o avano da histria da educao exige de seus estudiosos a

    percepo do passado como construo e como objeto de reinterpretao constante,

    coerente se faz a atitude de permanente reavaliao dos marcos que apresentam-se como

    expresso de tais mudanas.

    O MANIFESTO COMO OBJETO DE ESTUDO

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    Nesta seo, apresentaremos alguns pressupostos a partir dos quais o nosso estudo

    foi desenvolvido. Em primeiro lugar, consideramos que o Manifesto um documento

    histrico, mas tambm um texto literrio. Enquanto documento, ele pode ser tomado

    como um veculo por meio do qual ns podemos reconstruir o contexto histrico no qual

    ele foi gerado.

    A reconstruo do contexto histrico no qual situa-se o Manifesto permite-nos

    qualific-lo, tambm, como uma arma de combate, uma estratgia poltica por meio da qual

    se buscou reafirmar a identidade do grupo que o assinava, fundamentado-a em torno dos

    atributos relacionados competncia tcnica, e ao sentido de misso.3

    Concebendo o Manifesto como um texto literrio, nossa anlise tambm privilegiar

    a apreenso dos sentidos das metforas presentes no seu texto, buscando captar neste os

    elementos simblicos que do fora e legitimidade s idias nele enunciadas;

    Finalmente, cruzando os atributos que lhe conferem o status de documento

    histrico com as qualidades que fazem deste um texto literrio embebido em imagens e

    smbolos, chegamos a perceber de que maneira o Manifesto foi erigido em marco

    histrico, em uma espcie de divisor de guas na histria da educao brasileira,

    funcionando como limite temporal para a descrio e anlise da histria da educao

    brasileira produzida no contexto em que foi lanado e no perodo posterior sua

    publicao.

    A marca de divisor de guas no foi mero resultado dos esforos de construo

    dessa marca no texto do Manifesto ou das estratgias de divulgao do mesmo. Esse

    sentido de divisor de guas foi confirmado tambm pelos leitores contemporneos ao seu

    lanamento, tanto pelos entusiastas do Plano de Ao ali exposto quanto pelos seu

    opositores. Sua fora simblica foi permanentemente (re)atualizada pelas leituras realizadas

    3 Em estudo no qual aborda a gnese de uma intelligentsia no Brasil, Luciano Martins (1987), remete-se aos

    acontecimentos da virada do sculo XIX para o XX, quando a abolio da escravatura e a proclamao da

    Repblica exigem uma tomada de posio dos intelectuais brasileiros frente a misria do povo e

    organizao do pas. Como observa o autor, a dificuldade de se acomodar ao real, frente aos problemas

    advindos de sculos de escravido, somada ao sentimento de isolamento provocado pelo fato de viverem em

    um pas de analfabetos, levar a que os intelectuais das dcadas de 1920 / 1930 se engajem na dupla tarefa de

    interpretar a sociedade brasileira ( a partir de referenciais que no os de raa ou de meio tropical ) e, ao mesmo tempo, estruturar um campo cultural no Brasil, alimentando a idia de reforma da sociedade por meio

    da reforma do ensino.

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    nos perodos posteriores ao ano de sua publicao, como estamos vendo na presente

    ocasio.

    Tendo sido lanado em 1932, o Manifesto encontra-se impregnado pelo debate

    intelectual da poca. Uma poca de grande expectativa de renovao, de esperana por

    parte da elite intelectual de interferir na organizao da sociedade por ocasio do rearranjo

    poltico decorrente da Revoluo de 30.

    Assinado por 26 intelectuais,4 o Manifesto deu origem a esse personagem coletivo:

    os Pioneiros da Educao Nova. No entanto, como assinalou Jamil Cury (1984), os

    pioneiros no constituam um grupo homogneo e a adeso ao Manifesto registra um

    momento de compromisso no qual intelectuais de diferentes posies ideolgicas selaram

    uma aliana em torno de alguns princpios gerais que confluam para a modernizao da

    educao e da sociedade brasileiras.

    Mas, talvez, o aspecto mais importante a destacar seja o fato do Manifesto ter sido

    criado para se erigir em monumento de nossa memria educacional, e como tal parece ter

    sido aceito. Funcionando como estratgia de legitimao do grupo de educadores mais

    afeitos ao projeto de modernizao da sociedade brasileira, o Manifesto surge carregado de

    um verdadeiro arsenal simblico que atua no imaginrio social, construindo uma memria

    educacional que tem no prprio Manifesto o marco da renovao educacional no Brasil.

    Alm disso, atribui aos pioneiros o papel herico de salvar a nao pela organizao

    da cultura. Essa fora simblica foi conferida ao Manifesto, tanto por seu redator, Fernando

    de Azevedo, que considerou o projeto proposto no documento como a nica via de salvao

    nacional, quanto pela reao catlica que o tomou como prova de um crime contra a

    nacionalidade. As citaes abaixo so exemplares dos dois sentido emblemticos atribudos

    ao Manifesto:

    Se o impulso que (o Manifesto) imprimiu ao movimento de renovao

    educacional, pelo estudo de nossos problemas educacionais, no forem

    4 Foram signatrios do Manifesto:

    Fernando de Azevedo, Ansio Teixeira, Loureno Filho, Afrnio Peixoto, Paschoal Lemme, Roquete Pinto,

    Ceclia Meirelles, Hermes Lima, Nbrega da Cunha, Edgar Sussekind de Mendona, Armanda Alvaro

    Alberto, Venncio Filho, C.Delgado de Carvalho, Frota Pessoa, Raul Briquet, Sampaio Dria, Noemy

    Silveira, Atlio Vivacqua, Jlio de Mesquita Filho, Mario Casasanta, A Almeida Jnior, J.P.Fontenelle,

    Roldo Lopes de Barros, Paulo Maranho, Garcia de Rezende, Raul Gomes.

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    detidos ou entravados, mais do que o tm sido pela inrcia conservadora,

    pode-se alimentar a esperana de um triunfo sobre a estagnao e a

    rotina e de uma nova era de grandes realizaes no plano educacional no

    Brasil. [Fernando de Azevedo. Manifesto ao povo e ao governo (1932) -

    explicao necessria , p.56].

    Se as idias contidas nesse infeliz Manifesto lograrem um dia execuo

    neste pobre Brasil, indefeso ao assalto das ideologias mais mortferas, se for

    justificada a "serena confiana na vitria definitiva de nossos ideais de

    educao" que esses sectrios ostentam, ter-se- perpetrado entre ns o

    mais monstruoso dos crimes contra a nacionalidade.[Tristo de Athayde,

    Crnica de transcries: absolutismo pedaggico, p. 320].

    Atualmente, costuma-se utilizar o Manifesto como um texto que permite exemplificar

    as posies ideolgicas dos reformadores da dcada de 1930, tanto para revaloriz-los

    como para critic-los. Essa diversidade de significados atribudos ao Manifesto nos remete

    relao que se estabelece entre texto e leitura. O primeiro produzindo um sentido e o

    segundo imprimindo a este um significado a partir da forma de apropriao que se faz do

    mesmo.

    Desse ponto de vista, interessante perceber a repercusso do Manifesto atravs

    das variadas leituras que dele foram feitas, segundo a posio que cada um de seus leitores

    ocupava no mbito da sociedade brasileira da poca. Tanto a agressividade da crtica

    catlica quanto as polidas ou entusisticas manifestaes de apoio dirigidas ao Manifesto e

    a seus signatrios acabaram por imprimir a este diferentes significados.

    Captar alguns dos significado do Manifesto foi um dos objetivos de nossa

    investigao. Em funo deste, procuramos reconstituir o processo por meio do qual se deu

    a sua gnese, acompanhando, tambm, o impacto provocado pela repercusso deste

    documento.

    O MANIFESTO COMO ESTRATGIA POLTICA

    A gnese do Manifesto ocorreu em um momento de redefinio do campo

    educacional como rea de poltica setorial do Estado Nacional e tambm como espao de

    atuao de uma frao da elite intelectual.

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    O primeiro aspecto do processo por meio do qual o campo educacional foi tomando

    um novo contorno est relacionado reorganizao do Estado brasileiro aps a Revoluo

    de 1930, quando se d a definio de uma rea especfica de poltica pblica setorial, com a

    criao do Ministrio da Educao e Sade, em 1931, e de um conjunto de medidas

    governamentais, como a valorizao pblica dos congressos da ABE e o incentivo s

    reformas educacionais implantadas pelo Governo Vargas.

    O segundo aspecto corresponde redefinio de posies adquiridas no interior da

    ABE em funo do acirramento das disputas entre educadores filiados a diferentes

    concepes ideolgicas e agrupados em dois grandes blocos opostos: o bloco dos

    conservadores no qual predominavam os catlicos e o bloco dos renovadores que reunia

    educadores de perfil liberal.

    A luta pela hegemonia no interior da ABE teve o seu ponto culminante na IV

    Conferncia Nacional de Educao, e seu resultado mais imediato foi a publicao do

    Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova. Este Manifesto expressa , ao nosso ver, um

    momento significativo do processo de especializao e autonomizao do campo

    educacional.

    Interligando os dois aspectos anteriormente mencionados, delineava-se uma

    aproximao cada vez mais estreita entre os intelectuais envolvidos com a questo

    educacional e o Estado. O prprio Manifesto resultou de uma solicitao do Governo aos

    educadores reunidos na IV Conferncia Nacional de Educao para que eles fornecessem

    as bases da poltica educacional da Revoluo de 30.

    A anlise documental relativa IV Conferncia Nacional de Educao demonstra

    que, em 1931, as fronteiras entre a ABE e o Governo Federal eram de difcil demarcao.

    As cartas que partiam do prprio Ministro Francisco Campos , dirigidas aos Interventores

    dos estados, referiam-se IV Conferencia como evento convocado pela ABE, sob os

    auspcios do Governo. Tambm em comunicados da comisso organizadora distribudos

    aos jornais em 4.12.31, fala-se da IV Conferncia como evento que o governo resolvera

    patrocinar.

    Em discurso proferido na sesso inaugural, o Ministro Francisco Campos reafirmou

    a primazia da Educao vista como o problema capital da verdadeira democracia e fator

    de progresso. Mais direto em seu discurso, o Presidente Getlio Vargas solicitou aos

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    conferencistas que colaborassem com o governo provisrio na definio da poltica

    educacional, buscando por todos os meios a frmula mais feliz para a unidade da

    educao nacional sob a promessa de obterem todo o amparo da administrao sob sua

    chefia.

    Sem entrar no mrito das reais intenes do Governo, o fato que este no

    conseguiu extrair da IV Conferncia o apoio necessrio para a legitimao de sua poltica

    educacional. O recuo da ABE perante solicitao do Governo deveu-se, em grande parte ,

    ao impasse gerado pela interveno de Nbrega da Cunha, futuro signatrio do Manifesto e

    principal articulador de sua gnese.

    O relato de Nbrega da Cunha sobre sua atuao na IV Conferncia Nacional de

    Educao revela a habilidade com que ele se aproveitou dos dois discursos inaugurais

    proferidos, pelo chefe do Governo Provisrio, Getlio Vargas e pelo Ministro da Educao

    e Sade, Francisco Campos . Ele vai destacando as incongruncias dos discursos dos dois

    lderes polticos a fim de consolidar o argumento de que seria impossvel definir as linhas

    fundamentais da poltica educacional do Governo em uma Conferncia que reunia

    educadores de todo o pas com o objetivo de trocar experincias e discutir teses sobre as

    grandes diretrizes da educao popular, sobretudo porque este tema estava sendo

    entendido no seu sentido restrito, ou seja como uma das fases da obra educacional - a

    educao primria.

    Em funo disso, Nbrega da Cunha colocava em dvida a capacidade dos

    participantes da IV Conferncia de cumprir a contento uma solicitao de tal envergadura,

    conferida apenas no momento de abertura dos trabalhos . Por outro lado, procurava afirmar

    a autonomia da ABE (especialmente dos organizadores da IV Conferncia) frente ao poder

    poltico.

    A atuao de Nbrega da Cunha funcionou como uma estratgia que visava garantir

    ao grupo de educadores afinados com a renovao educacional o monoplio da

    interlocuo com o Governo, deslocando para aquele grupo em separado, a incumbncia de

    dar resposta solicitao que havia sido dirigida a todos os educadores reunidos na IV

    Conferncia Nacional de Educao.

    Utilizando como ltimo recurso um requerimento encaminhado mesa e

    Assemblia da IV CNE, Nbrega da Cunha conseguiu obter de seu Presidente, Fernando

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    Magalhes, a incumbncia de redigir um manifesto que servisse de base para o governo e

    de tema para o Congresso tcnico. Em seguida, ele transferiu essa incumbncia para

    Fernando de Azevedo, que deveria aceit-la em nome do Governo, da imprensa e do povo.

    Defendendo a antecipao de sua divulgao dentro do prazo mximo de dois

    meses, ao invs de esperar at o ano seguinte para apresentar o documento na V

    Conferncia, como fora proposto inicialmente, Nbrega da Cunha utilizava-se da ABE

    como suporte institucional para o lanamento do Manifesto .

    O MANIFESTO COMO BANDEIRA DE UM GRUPO

    No entanto, o Manifesto representava o posicionamento de apenas um dos grupos

    filiados ABE, demarcando com vigor as diferenas entre as concepes e intenes de

    seus signatrios em contraposio s concepes de outros grupos igualmente filiados

    ABE , especialmente do grupo catlico, que at aquele momento detinha o controle poltico

    da Associao. Abria-se, assim, a possibilidade de levar a repercusso do Manifesto para

    alm do campo educacional.

    Dessa forma, o Manifesto deveria lanar, em nvel nacional, o projeto de um grupo

    que reivindicava para si a liderana na conduo do processo de modernizao do pas.

    Podemos consider-lo portanto, como uma estratgia de poder, um documento que visava

    reafirmar princpios e, em torno destes, selar as alianas necessrias ao enfrentamento das

    disputas polticas do momento.

    A disputa envolveu a luta por posies no aparelho de Estado, pelo controle da

    educao escolar e por posies na memria e no imaginrio coletivo. Desenrolava-se uma

    luta renhida para ampliar e consolidar as conquistas de cada grupo, seja no mbito das

    realizaes prticas, como as reformas coordenadas por Fernando de Azevedo e em seguida

    por Ansio Teixeira no Distrito Federal, seja no mbito da construo de uma comunidade

    de idias, no intuito de obter o apoio e a legitimidade indispensveis ao coroamento de seus

    esforos e realizao de seus objetivos. O Manifesto era apresentado, ento, como uma

    bandeira revolucionria a ser empunhada por um grupo que, segundo seu redator,

    constitua o nico grupo capaz de coordenar as foras histricas e sociais do povo, seja

    pelos esforos j realizados, seja pela conscincia de sua misso social.

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  • 10

    Sendo assim, procurava-se consolidar, atravs do Manifesto, a imagem de um grupo

    coeso, unido sob um cdigo comum, inscrito na perspectiva escolanovista e informado por

    um mesmo ideal qual seja o empenho na construo de uma nao democrtica.

    O campo de identificao no qual os pioneiros se movimentavam no era dado

    apenas pelo projeto educacional que o Manifesto apresentava de forma sistematizada ou das

    concepes tericas ali reafirmadas. Podemos perceber a configurao desse campo de

    identificao tambm pela atuao concreta dos signatrios, ou seja, de sua atuao

    profissional e de seus esforos em prol da organizao do campo educacional, de sua

    interferncia direta na administrao da instruo pblica atravs das reformas educacionais

    por eles implementadas.

    Entre os signatrios do Manifesto , um grupo significativo participara da Reforma

    da Instruo Pblica no Distrito Federal dirigida por Fernando de Azevedo (1928-1930) e

    permaneceram junto a Ansio Teixeira no perodo posterior (1930-1935). Observando as

    cartas trocadas entre Ansio Teixeira e Fernando de Azevedo, podemos perceber a

    importncia do primeiro na obteno de adeses para o Manifesto.

    Na viso desses educadores, a luta pela renovao educacional assumia um duplo

    sentido e se desdobrava em mltiplas tarefas. Por um lado era necessrio consolidar o

    grupo, fortalecer as lideranas e inscrever pensamentos e aes dentro de um campo

    comum alimentado por um mesmo esprito, uma mesma bandeira a bandeira da

    renovao educacional. Por outro lado, era mister sistematizar as idias e desdobr-las em

    um plano de aes concretas.

    Era hora de lanar o Manifesto e assim, tornar mais visvel a bandeira da

    renovao educacional. Sob tal bandeira, empunhada pelo Manifesto, que foi possvel

    reunir aqueles 26 expoentes da intelectualidade brasileira da poca, conforme Fernando de

    Azevedo qualificou os pioneiros. Eram intelectuais de formaes diversas mdicos,

    advogados, jornalistas, professores - provenientes de diversos estados do pas,

    especialmente do Rio de Janeiro, So Paulo, Bahia e Minas Gerais.

    Entretanto, a aceitao do Manifesto no meio intelectual no foi unnime. Enquanto

    Monteiro Lobato refutava o que talvez lhe parecesse um pseudovanguardismo retratado no

    texto rebuscado de Fernando de Azevedo5, Carneiro Leo, responsvel pela Reforma da

    5 Carta de Monteiro Lobato a Ansio Teixeira. In Vianna e Fraiz (1986:68).

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    Instruo Pblica do Distrito Federal que antecedeu a de Fernando de Azevedo, recusava -

    se a assin-lo.6 Por outro lado, Armanda Alvaro Alberto e Edgar Sussekind de Mendona,

    mesmo com possveis restries ao papel centralizador que o Manifesto imprimia ao

    Estado, assinaram o documento, provavelmente por que priorizaram, naquele momento, a

    causa genrica da renovao educacional.7 A adeso ao Manifesto podia significar, ainda, a

    possibilidade de ser visto como membro de um grupo de reconhecida competncia nos

    assuntos da administrao da Instruo Pblica e, de forma mais ampla, no campo

    intelectual.

    Vrios signatrios tinham participao ativa em associaes de educadores

    profissionais de diferentes nveis. Todos foram, em certa medida, intelectuais que

    alcanaram alguma importncia no campo cultural. Muitos deles pertenciam a associaes

    cientfico-acadmicas nacionais e internacionais. Quase todos j haviam publicado livros

    sobre temas variados e principalmente sobre temas educacionais.8

    O MANIFESTO COMO ESTRATGIA SIMBLICA

    A inteno de transformar o Manifesto em um documento emblemtico era muito

    clara. Alguns signatrios puderam contribuir mais diretamente para a divulgao do

    Manifesto, como Ceclia Meirelles, que dirigia a pgina de Educao do Dirio de Notcias

    do Rio de Janeiro, e Jlio de Mesquita Filho, que dirigia O Estado de So Paulo, alm de

    Roquete Pinto que foi um dos fundadores da Rdio Sociedade do Rio de Janeiro.

    Como todo e qualquer manifesto, seu objetivo intrnseco era gerar repercusso,

    causar impacto. Ao lanar idias novas e clarear posies polticas o Manifesto estimulou o

    debate educacional fundamentando certas correntes de opinio e procurando neutralizar

    6 As cartas enviadas por Fernando de Azevedo a Ansio Teixeira demonstram a preocupao do primeiro em

    obter as assinaturas de Carneiro Leo e Afrnio Peixoto. Contudo, apenas Afrnio Peixoto figura como

    signatrio do Manifesto. Cf: Cartas de Fernando de Azevedo a Ansio Teixeira ( SP,14/03/1932 e 12/03/1932;

    Arquivo AT, CPDOC/FGV). 7 Em 1921, Edgar Sssekind de Mendona e Armanda lvaro Alberto fundaram a Escola Regional de Meriti,

    cujo funcionamento tinha como base a experimentao e o regionalismo. Cf: Mignot, 2002. 8 Em 1932, Loureno Filho era membro da Academia Paulista de Letras; Afrnio Peixoto era membro da

    Academia Brasileira de Letras, da Academia Brasileira de Cincias, da Academia de Medicina e do Instituto

    Histrico e Geogrfico do Rio de Janeiro; Delgado de Carvalho era membro da Sociedade de Geografia do

    Rio de Janeiro e da Academia Brasileira de Cincias; Noemy da Silveira atuava como colaboradora em

    jornais e revistas tcnicas nacionais e estrangeiras.

    UsuarioSublinhado

  • 12

    outras. Nesse sentido, o Manifesto teria introduzido um novo temrio ao debate educacional

    a partir da defesa da escola pblica, obrigatria, gratuita e leiga, e da coeducao.

    Sua proposta era a reconstruo educacional e seu objetivo a constituio de uma

    escola democrtica que funcionasse como centro irradiador de uma nova forma de

    organizar a sociedade. Ao delimitar um campo de atuao especfica a escola pblica

    reivindicado pelo grupo que ento se lanava , o Manifesto procurava legitimar nomes e

    propostas. Ao apresentar um grupo solidrio com um projeto de mudana, o Manifesto

    procurava, ao mesmo tempo, valorizar as credenciais daquele grupo.

    Retrocedendo ao ms de maro do ano de 1932, encontramos uma variedade de

    jornais de diferentes estados que publicaram, parcialmente ou na ntegra, o texto deste

    Manifesto Educacional. Alguns traziam comentrios favorveis, outros o criticavam,

    outros, ainda, o aprovavam com ressalvas.

    A repercusso negativa talvez tenha sido a mais intensa. Intelectuais ligados

    hierarquia catlica desferiam violentos ataques que iam desde a condenao das idias

    defendidas no documento at o ataque pessoal aos lderes do grupo, especialmente a

    Fernando de Azevedo e a Ansio Teixeira. Tais crticas encontram-se reunidas na revista

    catlica A Ordem, do Centro Dom Vital.9

    Negativa ou positiva, a verdade que o Manifesto obteve ampla repercusso na

    imprensa. Uma anlise dos comentrios publicados por intelectuais da poca nos revela os

    diferentes significados atribudos ao Manifesto de acordo com o leitor e o tipo de leitura

    que dele fosse feita.

    Um bom exemplo pode ser extrado de uma manifestao de apoio escrita por

    Azevedo Amaral, Em artigo d'O Jornal do Rio de Janeiro (27/03/32). Neste, Azevedo

    Amaral apontava como nica restrio ao Manifesto o fato deste ser transigente demais

    para com o esprito tradicionalista e os preconceitos do ambiente. Menotti Del Picchia,

    indo mais longe, chegava a propor uma ditadura pedaggica til para garantir a aplicao

    daquele programa no Brasil em funo da vastido territorial e da ignorncia do povo.

    9 Preocupada em reconquistar os espaos perdidos na sociedade e na poltica brasileiras, a Igreja

    Catlica vinha procurando, desde o advento da Repblica, desenvolver estratgias contra as investidas dos

    grupos sociais emergentes. Nesse contexto que se deu a articulao do Centro Dom Vital e o lanamento da

    revista A Ordem. Em artigo no qual apresenta uma anlise temtica da revista A Ordem, Monica Pimenta

    Velloso (1978) assinala que, durante o perodo de 1928 a 1934, quando esteve sob a direo de Alceu

    UsuarioSublinhado

    UsuarioSublinhado

  • 13

    Comentando o Manifesto no Dirio de Notcias (19/03/1932), Ceclia Meirelles

    valorizava o documento em funo dos nomes que o assinavam. Eles eram qualificados

    pela escritora como uma garantia de trabalho, de invulnerabilidade, de lucidez e de f... e

    os mais preparados, para a ao herica de que dependia a formao brasileira.

    Associando aspectos objetivos como lucidez e capacidade de trabalho a qualidades

    subjetivas como a invulnerabilidade de carter e f, a poetisa apresentava o grupo como o

    mais habilitado a realizar a ao herica de salvar a nao, resgatando-lhe a unidade

    incipiente.

    O MANIFESTO COMO UM PLANO DE SEGUNDAS INTENES

    Entre os crticos catlicos a repercusso seguia outro rumo. Tristo de Athayde

    (pseudnimo de Alceu Amoroso Lima) acusava o Manifesto de ser anticristo por negar a

    supremacia da finalidade espiritual; antinacional, pois desprezava a tradio religiosa do

    povo brasileiro; antiliberal porque baseado no que Athayde chamou de absolutismo

    pedaggico do Estado e na negao da liberdade de ensino. Acrescentava ainda que o

    Manifesto era anti-humano pois desconhecia a natureza superior do homem, subordinando-

    o a uma finalidade apenas material e biolgica. Por fim, o Manifesto era sim, anticatlico,

    pois pretendia impedir a Igreja de exercer qualquer interveno pblica na educao dos

    crentes (O Jornal, 23/03/1932).

    O debate sobre Educao intensificara-se, principalmente a partir de 1933, durante

    os trabalhos preparatrios da Constituinte. Nesse mesmo ano, os catlicos se retiravam da

    ABE e criavam a Confederao Catlica de Educao. Em meio luta por posies na

    constituinte, a Revista A Ordem passava a publicar, com maior freqncia, artigos que

    tomavam trechos do Manifesto como argumentos que ilustravam uma crtica mais geral aos

    valores da educao nova.

    De maneira geral, os artigos da revista A Ordem ressaltavam o comprometimento

    dos reformadores com o poder pblico institudo. Denunciava-se a estratgia dos chamados

    pedagogos oficiais que, apesar de justificarem suas propostas em funo de um

    conhecimento tcnico cientfico, queriam mesmo exercer a sua tirania tcnico-

    Amoroso Lima, a revista preocupou-se mais em ampliar o debate cultural como forma de cooptao dos

    UsuarioSublinhado

  • 14

    pedaggica e transformar a escola num instrumento de poder poltico. Os catlicos

    argumentavam que o controle do ensino pelo Estado resultaria na implantao de um

    verdadeiro Absolutismo Pedaggico, caracterstico das sociedades socialistas. Em funo

    dessa idia, procurava-se forjar uma certa imagem dos pioneiros: a de preparadores

    conscientes ou inconscientes, da pedagogia comunista.

    Alceu Amoroso Lima alertava os leitores contra os males do modernismo

    pedaggico burgus difundido pela escola nova. Exaltava a finalidade espiritual da

    educao, denunciando como materialistas aqueles que a interpretavam como um

    fenmeno social. Na falta de uma moral espiritual, denunciava, ainda, a idolatria da cincia,

    tomada pelos pioneiros, segundo alguns de seus crticos catlicos, como o fundamento da

    vida, como valor absoluto colocado no lugar de Deus .

    Nesse sentido, os catlicos criticavam o que eles interpretavam como desprezo pela

    tradio catlica do povo brasileiro, manifestado no s pela defesa da laicidade mas

    tambm pelo transplante de teorias de pases estrangeiros. Por essa via, os pioneiros eram

    tachados de desnacionalizadores e descritianizadores da infncia brasileira. Alceu

    Amoroso Lima previa como desfecho do projeto dos pioneiros, caso este vingasse, a

    remoo das ltimas liberdades de ensino particular ou confessional e a hipertrofia do

    Estado, transformado no poderoso Leviat.

    Nas entrelinhas da crtica dos catlicos, podemos ver a reao contra a investida

    dos pioneiros que, atravs do Manifesto, esperavam desencadear uma campanha de

    legitimao do projeto de modernizao da instruo pblica a nvel nacional. No entanto,

    modernizar significava alterar estruturas arraigadas no sistema educacional que refletiam,

    em grande parte, o poder exercido pela Igreja Catlica sobre a educao escolar e a

    formao espiritual do povo brasileiro desde o perodo colonial.

    Nessa investida, a laicidade constitua um elemento fundamental, na medida em

    que colocava em prtica os princpios democrticos de liberdade de pensamento e de credo,

    alm de neutralizar o predomnio que as instituies catlicas de ensino j exerciam de

    longa data. Portanto, o confronto com os catlicos era inevitvel. Como j vimos, esse

    confronto foi levado ao seu ponto mximo na IV Conferncia Nacional de Educao e

    intelectuais, o que explica em certa medida, a polmica em torno do Manifesto.

    UsuarioSublinhado

    UsuarioSublinhado

  • 15

    resultou, de um lado, no lanamento do Manifesto e, de outro, na retirada do grupo

    catlico da ABE.

    O MANIFESTO COMO PROJETO POLTICO PEDAGGICO

    Os pioneiros, assim como os seus opositores catlicos, viam-se diante de um mundo

    em crise. Crise de valores, crise social, moral e intelectual, reflexo de uma civilizao em

    movimento e em mudana. Acreditavam tambm que essa crise deveria ser sanada por meio

    da interveno das elites. Entretanto, pioneiros e catlicos divergiam quanto ao carter

    dessa interveno.

    Enquanto os pioneiros viam na cincia a chave do progresso da humanidade, os

    catlicos insistiam que a religio que se constiua em fator de progresso e viga mestra da

    civilizao. Contrapondo-se aos catlicos, que interpretavam a questo social como uma

    questo espiritual a ser solucionada a partir de uma reforma moral da sociedade, os

    pioneiros propunham a interveno racional no sistema educacional ampliando-a ao mbito

    de uma reforma social.

    Por essa via, o Manifesto prope a educao cientfica do esprito capaz de

    habilitar o homem a se compreender em meio ao tumulto social que sucedia o tumulto

    material. Ansio Teixeira e Fernando de Azevedo partilhavam uma mesma pretenso, qual

    seja: a pretenso de criar condies de tornar os homens e cada homem capazes de se

    conduzirem racionalmente adaptando-se nova situao.

    O homem visto aqui como criador e no como criao. A verdade alcanada pelo

    mtodo cientfico e no mais pela f, e a salvao da humanidade j no dependia de Deus,

    e sim da capacidade de cada homem em adaptar-se s novas descobertas tecnolgicas. De

    acordo com o Manifesto, era necessrio que esse homem adquirisse uma novo parmetro de

    interpretao da realidade, ou seja um parmetro racional de compreenso de sua vida

    individual e da sociedade como um todo. Algo como perceber e aceitar que o movimento

    da natureza e das sociedades humanas j no eram mais determinados pelo sobrenatural e

    sim pelo ritmo frentico das transformaes trazidas pelo progresso cientfico e

    tecnolgico.

  • 16

    De acordo com a viso expressa no Manifesto, a modernizao da sociedade

    dependia de uma mudana de mentalidade que s poderia ser desencadeada por meio da

    renovao educacional. O Manifesto ressalta a importncia da instituio escolar na

    promoo do livre debate de idias, na difuso de novos valores e, por fim, na formao de

    homens capazes de dar continuidade ao processo de modernizao em curso.

    Ao contrrio dos catlicos, que encaravam o passado como criador de valores e,

    portanto, como fora viva e atuante no presente, os pioneiros mostravam-se mais

    preocupados em construir o futuro da nao. Assim, enquanto os catlicos se batiam pela

    preservao do ensino religioso fundamentado no respeito tradio catlica do povo

    brasileiro, os pioneiros defendiam a adaptao constante do sistema educacional evoluo

    do mundo e da sociedade nos quais as cincias e suas aplicaes tcnicas assumiam uma

    importncia cada vez maior.

    Percebe-se a a descrio de um processo gradativo de racionalizao do sistema

    pblico de ensino. Segundo essa imagem, este vai, passo a passo, saindo do terreno

    tumulturio dos ideais vagos, das iniciativas isoladas e desconexas para o terreno da

    investigao cientfica e, finalmente, para o campo da interveno racional na realidade .

    De acordo com a interpretao de Fernando de Azevedo, o Manifesto inaugura este ltimo

    momento; o momento em que j se tornara possvel formular um plano nacional de

    reconstruo educacional.

    Neste plano, a Educao teria o papel de modelar os jovens espritos em funo dos

    ideais determinados por uma concepo racional da sociedade. Ideal esse que instaura a

    Democracia fundamentada na hierarquia das capacidades. A partir de ento, a seleo dos

    melhores seria feita com base em critrios cientficos, ou seja, com base na capacidade

    biolgica de cada indivduo em assimilar a diversidade, as inovaes e as descobertas que

    caracterizavam o seu tempo.

    Desse ponto de vista, Educao encarada como um instrumento e a Cincia

    funciona como um elo unificador. Desse binmio extraa-se o perfil do educador, a

    estrutura da instituio escolar, a identidade do grupo pioneiro e enfim, a prpria identidade

    da nao. O tom desse consenso dado pelo validade universal atribuda s intervenes

    sociais e polticas embasadas no conhecimento cientfico.

  • 17

    O MANIFESTO COMO PLANO DE RECONSTRUO EDUCACIONAL

    Formulando um Programa Nacional de Educao, o Manifesto apresenta um

    conjunto de medidas prticas atravs das quais pretendia-se fundar um novo sistema

    educacional nico, de base cientfica e sob a responsabilidade do Estado. O plano de

    reconstruo educacional previa ainda a laicizaao do ensino e a co-educao introduzindo

    dessa forma, valores realmente inditos em nossa estrutura educacional.

    Informado por uma concepo iluminista da Histria, tratada enquanto expresso

    de um processo linear e marcada pela noo de progresso, o texto do Manifesto traa uma

    linha evolutiva que aponta o momento definido como o coroamento do processo de

    modernizao do pas. O fim ltimo portanto, fundar uma sociedade civilizada -

    desenvolvida econmica e materialmente, unificada em torno da conscincia de sua

    prpria nacionalidade . Neste caso, a interveno racional nos problemas do presente,

    projeta-se para o futuro considerado como meta final da ao proposta.

    No Manifesto, a idia de progresso envolve a noo de mudana, de evoluo do

    movimento social provocada por sucessivas e inevitveis transformaes econmicas,

    polticas e culturais. De acordo com o Manifesto, estas transformaes poderiam ter efeito

    negativo ou positivo em funo da capacidade dos homens de ao em canaliz-las no

    sentido da melhoria constante e ininterrupta das condio de vida, direncionando-as rumo

    ao progresso. Por essa via, chega-se concluso de que, no caso brasileiro, o progresso fica

    condicionado aplicao prtica do programa de reforma educacional proposto no

    Manifesto.

    Contrapondo-se ao individualismo dispersivo, bem como doutrina do

    individualismo libertrio ou burgus , o Manifesto valoriza o papel da escola nova na

    constituio da sociabilidade moderna. Fundada no princpio da vinculao da escola com o

    meio social, a Educao Nova surge orientada por uma nova tica das relaes sociais

    caracterizadas pelos valores da autonomia, do respeito diversidade, igualdade e

    liberdade, solidariedade e cooperao social.

    O indivduo solidrio, ativo e integrado ao seu meio social, tal como encontra-se

    idealizado no Manifesto, diferencia-se do homem egosta burgus para identificar-se com o

    cidado, aquele que tem seus diretos assegurados pelo Estado e suas instituies principais ,

  • 18

    e que, atravs do acesso instituio escolar, torna-se habilitado a interferir e colaborar no

    desenvolvimento social.

    Ao defender a universalidade de acesso educao em todos os seus ramos e graus

    a todos os cidados, independente das diferenas sociais e das diferenas de sexo (co-

    educao), a Educao Nova deixa predominar apenas as diferenas marcadas pelas

    aptides naturais determinadas pelos caracteres biolgicos de cada indivduo assegurando,

    dentro da instituio escolar, a possibilidade de preservao da personalidade individual em

    meio ao pblico que se constitua no interior da escola, para em seguida, expandir-se pelos

    demais setores da vida social.

    Visando romper com o imobilismo da escola antiga, a escola nova concebida

    como um elemento integrador das diversas instituies e agregador de diferentes grupos

    sociais sendo, portanto, capaz de operar transformaes na organizao social,

    restaurando o equilbrio perdido.

    A escola nova apresenta-se, tambm, como uma instituio capaz de reforar as

    influncias da moderna socializao e, ao mesmo tempo, proporcionar, no seu aspecto

    intelectual, um insuspeitado alargamento de horizontes mentais. Dessa forma, o processo

    educativo estaria atuando no s sobre a personalidade individual como tambm sobre a

    ordem social.

    Entretanto, para que a escola possa cumprir tal papel, o Manifesto proclama a

    necessidade de que a Educao seja reconhecida como funo pblica e, portanto, como

    uma responsabilidade do Estado. Considerando o Estado como elemento primordial para

    efetivao de seu projeto, o Manifesto atribui a esta instncia superior a capacidade de

    viabilizar, atravs da ao dos grupos de comprovada competncia tcnica, a transformao

    da educao em uma funo social e eminentemente pblica.

    No Manifesto, o conceito de educao pblica refere-se universalizao do acesso

    educao a todos os indivduos , a partir de ento transformados em cidados. Significa

    ainda, a constituio da Educao em um campo especfico de atuao poltica e

    profissional que, absorvido pelo Estado, interfere diretamente na cultura nacional

    abrangendo tambm os demais setores da vida social pela sua fora integradora, pelo seu

    trabalho na formao de um esprito democrtico entendido como princpio de vida moral

    e social.

  • 19

    Da mesma forma que justifica a importncia de uma elite consciente da misso de

    coordenar as foras histricas e sociais do povo, o Manifesto ressalta a importncia de um

    poder estatal forte, mediador dos conflitos e promotor da igualdade, capaz de livrar o pas

    do vcios do passado e manter sob seu controle o processo de modernizao do pas com

    todas as transformaes e instabilidades que este possa gerar.

    O MANIFESTO COMO DIVISOR DE GUAS

    A memria construda no Manifesto legitima e ressalta a importncia de seu projeto

    dentro do contexto de renovao poltica que supostamente se abria com a Revoluo de

    1930. No por acaso, Tristo de Athayde considerou o Manifesto como um divisor de

    guas entre duas concepes de mundo fundadas em princpios antagnicos. Dizia ele:

    A leitura dessa declarao de princpios nos deixa uma impresso

    confortadora. Comeamos, graas a Deus, a sair do domnio da

    ambigidade. Comeam a delimitar-se os campos de ao. Passamos do

    terreno das finalidades implcitas ou inconscientes para o dos objetivos

    francamente confessados. (Athayde,1932:317)

    Por sua vez, Fernando de Azevedo erigiu o Manifesto em monumento,

    apresentando-o como a alternativa mais eficaz (se no a nica) para promover a

    transformao da sociedade brasileira, imprimindo nao uma direo definida, retirando-

    a do hiato em que se encontrava encurralada entre um regime destrudo e um futuro

    obscuro e ameaador (Azevedo, 1958:57)

    Da a noo de crise do mundo moderno, identificado como uma realidade em fase

    de transio, uma regio onde convivem elementos contraditrios como a tradio e a

    renovao, o velho e o novo, o mstico e o cientfico, o individual e o coletivo.

    Na memria construda por Fernando de Azevedo, o ano de 1932 selava, com a

    publicao do Manifesto, o compromisso pblico da vanguarda educacional em abrir

    definitivamente o caminho para a grande reforma social via renovao educacional.

    Assim, a delimitao entre o que se considerava passado, presente e futuro dada

    aqui pela publicao do Manifesto. Este, ao mesmo tempo em que reafirma a oposio

  • 20

    escola do passado se prope a orientar todas as idias e iniciativas esparsas que, segundo a

    viso de seu redator, at aquele momento apontavam para uma nova direo.

    Dessa forma, o Manifesto situado como o ncleo a partir do qual sero datados

    todos os demais acontecimentos considerados dignos de significado para a histria da

    educao brasileira. Em funo disso, a cronologia estabelecida se refere a um tempo que

    est sempre relacionado a esse acontecimento central

    Pretendia-se assim, transformar o Manifesto em lugar de memria da educao

    republicana. Da o empenho em reinterpretar o passado, diagnosticar o presente e projetar o

    futuro, procurando valorizar o programa de reforma ali apresentado. Buscava-se promover

    a reconstruo educacional do Brasil a fim de garantir-lhe um lugar na modernidade do

    sculo XX.

    O MANIFESTO E SEUS DESDOBRAMENTOS

    A ampla repercusso do Manifesto possibilitou uma rpida hegemonizao dos

    pioneiros entre os educadores que participavam da ABE. Tanto que no ano seguinte, a

    direo dos trabalhos preparatrios para a V Conferncia, a ser realizada em dezembro de

    1932 , fora retirada de Fernando Magalhes, ligado ao grupo catlico, e transferida para

    Loureno Filho, um dos signatrios do Manifesto. Mas o fato que a hegemonia dos

    pioneiros no interior da ABE j vinha dando sinais visveis de sua consolidao desde

    1931, quando a Assemblia Geral elegera Ansio Teixeira e Carneiro Leo para a

    presidncia desta Associao e viu-se amplamente consolidada com o lanamento do

    Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova.

    A mobilizao das principais lideranas do grupo dos pioneiros teria seguimento nas

    dcadas posteriores, inclusive reeditando a mesma estratgia de luta em defesa da escola

    pblica democrtica e de qualidade, com a publicao de um outro Manifesto, lanado em

    1959, com o sugestivo ttulo Mais uma vez convocados.

    A acirrada disputa em torno da organizao do ensino e da democratizao da

    sociedade brasileira que o estudo do Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova nos

    permitiu perceber, revela alguns dos obstculos inerentes formao histrico-social e

    cultura poltica brasileira, assim como aos padres de pensamento predominantes na

  • 21

    mentalidade de nossas elites intelectuais, evidenciando alguns fatores que limitariam, no

    prprio projeto dos pioneiros, a expectativa de fazer da escola um instrumento de

    democratizao da sociedade.

    AMBIGIDADES NO PROJETO DOS PIONEIROS

    De fato, nem toda a produo de discursos coerentemente articulados, nem

    tampouco a luta poltica e as estratgias simblicas mobilizadas pelo movimento de

    renovao educacional, desde a dcada de 1920, foram fortes o suficiente para romper com

    modelo de organizao escolar predominante no Brasil desde o perodo imperial. Tal

    modelo, alheio diversidade cultural existente no pas, remontaria a um projeto mais amplo

    de construo da nacionalidade, ancorado na perspectiva de homogeneizao cultural,

    tendo em vista a formao de um pas branco, ocidental e cristo.

    Apesar dos avanos alcanados, a educao pblica, em grande parte, permaneceu

    afastada do pleno cumprimento de sua misso educativa e democratizante. Esse fato nos

    autoriza a inferir que essa mobilizao resultou na derrota do projeto de democratizao da

    educao pblica brasileira defendido pela gerao dos pioneiros? Penso que a

    possibilidade de avaliao do legado destes educadores deve resultar antes de um esforo

    analtico-compreensivo, do que do enquadramento das idias e aes aqui descritas.

    De acordo com Gilberto Velho (1994:40), a noo de projeto enquanto conduta

    organizada para atingir fins especficos, destaca a dimenso consciente em que os sujeitos

    se organizam para a realizao de objetivos especficos, tendo em vista possibilidades

    scio-culturais determinadas. nesse campo de consensos e de contradies e na mediao

    entre as palavras e os gestos dos agentes que exerceram liderana expressiva no movimento

    de renovao educacional que situamos a contribuio da gerao dos pioneiros da

    educao nova.

    A gerao dos pioneiros foi tpica de um perodo de transio poltica, terica e

    institucional. Por isso, muitas vezes, a sua atuao foi ambgua, expressando a dubiedade

    de um grupo de intelectuais formado por generalistas que se tornaram especialistas; por

    funcionrios pblicos que, mesmo ocupando postos no aparelho de Estado procuraram

    contribuir para a autonomizao do campo cientfico em relao poltica estatal. Essa

  • 22

    gerao tambm era formada por laicistas que, em sua maioria, contraditoriamente,

    tiveram a formao escolar desenvolvida nos limites da pedagogia jesutica. Entre os

    pioneiros, predominava a forte convico no poder da cincia como instrumento capaz de

    orientar a formulao e conduo de polticas pblicas no sentido do aproveitamento

    inteligente das tendncias histricas do pas, em uma poca na qual as idias ligadas

    eugenia ainda exerciam influncia na conformao de noes e preceitos ditos cientficos.

    Certamente o projeto dos pioneiros no era revolucionrio na medida em que no

    rompia com as concepes autoritrias que marcaram o pensamento da poca. A proposta

    de modernizao pelo alto,10

    a concepo elitista e a perspectiva de uma simbiose entre

    elites intelectuais e Estado na conduo das massas constituem o ncleo central da

    modernizao proposta. Entretanto, por tudo o que j vimos, no podemos negar o seu

    carter inovador. No se trata aqui de reabilitar os pioneiros do ponto de vista da educao

    e da poltica contemporneas, mas de procurar entend-los dentro da rede de relaes

    tecidas no contexto em que viveram.

    Em meio a essas contradies e respondendo s questes de seu tempo, esses

    agentes foram responsveis por uma ampla mobilizao em prol da democratizao da

    educao escolar, com todos os limites, avanos e recuos que a caracterizaram. A biografia

    de algumas das lideranas do movimento da escola nova no Brasil, como Fernando de

    Azevedo e Ansio Teixeira, entre outros, reporta-nos ao obstinado enfrentamento dos

    dilemas individuais, coletivos e, acima de tudo, nacionais, configurados no contexto em que

    viveram.

    Ao mesmo tempo em que se ressentiam do parisitismo das elites nacionais, assim

    como dos defeitos polticos, econmicos e institucionais de seu meio social,

    particularmente do sistema educacional, os pioneiros apresentaram-se como uma gerao

    disposta a lutar para romper tais obstculos. Amadurecendo sob a presso dos

    acontecimentos internacionais como a Primeira Guerra Mundial e a Revoluo Russa, essa

    gerao foi levada a submeter homens, idias e fatos a um pujante processo de reviso,

    10

    Em estudo clssico, Barrington Moore Jr. (1975:499) refere-se revoluo vinda de cima como sendo uma segunda rota principal para o mundo da indstria moderna, exemplificada pelos processos caractersticos da Alemanha e Japo, onde o desenvolvimento capitalista teria ocorrido sem a presena de

    qualquer movimento revolucionrio. Ainda segundo o autor, os tipos especficos de transformao capitalista

    ali verificados no lograram firmar as formas democrticas conquistadas nos pases cujo processo de

  • 23

    conjugando reflexo e ao e, dessa forma, impulsionando uma tomada de posio em prol

    da busca de solues para os problemas do pas.

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