livro de ecopedagogia

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Page 1: Livro de ecopedagogia

 

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ECOPEDAGOGIA: EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE  

 

Page 4: Livro de ecopedagogia

 

 

 

 

Conselho Editorial EAD 

Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) 

Mara Lúcia Machado 

José Édil de Lima Alves 

Astomiro Romais 

Andrea Eick 

 

 

Obra  organizada  pela  Universidade  Luterana  do 

Brasil.  Informamos que  é de  inteira  responsabilidade 

dos autores a emissão de conceitos. 

A violação dos direitos  autorais  é  crime  estabelecido 

na Lei nº  .610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código 

Penal. 

 

 

ISBN: 978‐85‐7838‐035‐9 

Edição Revisada 

 

Page 5: Livro de ecopedagogia

 

APRESENTAÇÃO

O homem possui uma sensação de poder e dominação na sua relação 

com o   meio ambiente e inúmeras vezes se esquece de que ele é parte 

integrante desse ambiente. Porém, a partir de uma visão de integração, 

surge  a  necessidade  de  se  implementar  cada  vez mais  a  Educação 

Ambiental nas escolas e nas comunidades. 

Com vistas a fornecer subsídios que possam fortalecer essa integração, 

surgiu  a  necessidade  de  implementação  deste  material,  como  uma 

base, um apoio à  realização de atividades  teórico‐práticas em Educa‐

ção Ambiental. 

Com um apanhado geral de conceitos, leis, relatórios e de bibliografias 

específicas da  área,  inúmeras  características  e problemáticas  ambien‐

tais são apresentadas como forma de promover uma atuação ambiental 

responsável, visando garantir qualidade de vida às gerações  futuras, 

por meio da Educação Ambiental. 

Estas são premissas conhecidas mundialmente, que a cada dia tornam‐

se mais atuais por tratarem de temas emergentes nas questões ambien‐

tais, e que serão trabalhadas na disciplina de Ecopedagogia: educação 

e meio ambiente. 

Desejo a todos ótimos momentos de reflexão e estudo.  

Lívia Lucina Ferreira Albanus 

 

Page 6: Livro de ecopedagogia
Page 7: Livro de ecopedagogia

 

SOBRE O AUTOR

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Lívia Lucina Ferreira Albanus é pedagoga com  formação em orienta‐

ção educacional e especialista em Gestão Ambiental pela Universidade 

Luterana do Brasil  (Ulbra). Nessa mesma  instituição, atua  como pro‐

fessora do curso de Pedagogia nas modalidades de ensino a distância 

(Canoas) e presencial (São Jerônimo). 

Cristiane  Lengler  Zouvi  é  psicóloga  e  pós‐graduada  em  Psicologia 

Hospitalar. Atua  como professora da disciplina de Psicologia do De‐

senvolvimento e da Aprendizagem na modalidade de ensino a distân‐

cia de cursos da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). 

 

Page 8: Livro de ecopedagogia
Page 9: Livro de ecopedagogia

 

SUMÁRIO

1 RELAÇÃO HOMEM - AMBIENTE ....................................................................... 11

Atividades .................................................................................................... 16

2 HISTÓRICO AMBIENTAL .................................................................................. 17

2.1 Seminário em Belgrado (1975) ................................................................ 19

2.2 Congresso de Tbilissi .............................................................................. 20

Leitura complementar ................................................................................... 23

Atividades .................................................................................................... 27

3 AGENDA 21 ................................................................................................... 28

3.1 A educação na Agenda 21 ....................................................................... 32

Leitura complementar ................................................................................... 32

Atividades .................................................................................................... 34

4 ECOPEDAGOGIA ............................................................................................ 36

Leitura complementar ................................................................................... 38

Atividades .................................................................................................... 42

5 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................. 43

Leitura complementar .................................................................................. 45

Atividades .................................................................................................... 46

6 CORRENTES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................................................... 48

6.1 Tipos de correntes ................................................................................... 50

Leitura complementar ................................................................................... 55

Page 10: Livro de ecopedagogia

 

 10

Atividades .................................................................................................... 59

7 PROJETO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................................... 60

Atividades .................................................................................................... 64

8 OBJETIVOS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................... 65

8.1 Metodologia na educação ambiental ....................................................... 67

Leitura complementar ................................................................................... 70

Atividades .................................................................................................... 73

9 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TEMAS TRANSVERSAIS ............................................ 74

9.1 A interdisciplinaridade na educação ambiental ....................................... 75

Leitura complementar ................................................................................... 78

Atividades .................................................................................................... 86

10 AMBIENTE, APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO: UM PROCESSO SÓCIO- HISTÓRICO ....................................................................................................... 87

10.1 Percepção, atenção e memória .............................................................. 91

Atividades .................................................................................................... 94

REFERÊNCIAS NUMERADAS .............................................................................. 95

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 98

GABARITO ...................................................................................................... 100

 

Page 11: Livro de ecopedagogia

  

1 RELAÇÃO HOMEM - AMBIENTE

Lívia Lucina Ferreira Albanus

A  relação  do  homem  com  o  ambiente  evoluiu  de  inúmeras  formas 

durante milhares de anos e começou a ser desenhada a partir da Pré‐

História, quando esta ocorria de maneira natural. O homem era parte 

integrante da natureza, não a transformando ou controlando, pois, no 

início desse período histórico, o homem era essencialmente caçador e 

coletor,  portanto,  nômade,  uma  vez  que  ainda  não  possuía  conheci‐

mento  para  transformar  o  ambiente  no  qual  ele  vivia,  necessitando 

andar muito para encontrar o seu alimento. Díaz afirma que: “A espé‐

cie humana adapta‐se às condições ambientais não apenas por meio de 

suas  ferramentas  técnicas, mas  também, às vezes,  em maior medida, 

em razão de suas formas de organização social e de aproximação sim‐

bólica do mundo natural”1. 

Com a sua evolução, o homem aprendeu a dominar o fogo – um dos 

elementos da natureza – e,  com o passar dos  tempos, dominou  tam‐

bém a agricultura, a princípio de forma acidental, tendo em vista que 

grãos coletados e perdidos ou descartados germinavam dando origem 

a novas plantas. Ainda segundo esse autor, 

Na época pré‐filosófica, por exemplo, o ser humano deixou considerar‐se inferior ao 

animal  para  se  ver  em um  contexto  de  igualdade  com  animais  e  plantas  e,  por 

último, para ver‐se como superior aos demais seres. Isso explica o enorme respeito 

do homem primitivo em relação à natureza, o que hoje se apresenta como um valor 

que precisamos resgatar. 

O homem aprendeu a compreender e controlar a natureza e, transfor‐

mando‐a  para  manter  a  sua  sobrevivência,  aprendeu  a  reproduzir 

grãos e a domesticar e criar animais. Com  isso, originaram‐se as pri‐

meiras  tribos, que viviam em comunidade e desenvolviam o  trabalho 

de forma cooperativa: os homens caçavam e as mulheres plantavam e 

colhiam. Esse processo contribuiu  significativamente para o aumento 

populacional e para o surgimento de vilas e cidades que se dedicavam 

Page 12: Livro de ecopedagogia

 

 12

à agricultura. Esse evento ficou conhecido na história como “A Revo‐

lução Agrícola”. 

A  relação homem‐ambiente,  levando‐se em conta o modelo de  socie‐

dade estabelecido nas tribos, ficou registrada claramente na carta escri‐

ta pelo chefe indígena Seattle, em 1854, como resposta ao então presi‐

dente  americano F. Pierce, que  tentava  comprar  suas  terras. O  chefe 

indígena Seattle afirma: 

Como  é  que  se pode  comprar  ou vender  o  céu,  o  calor da  terra? Essa  Ideia nos 

parece um pouco  estranha. Se não possuímos o  frescor do ar  e o brilho da água, 

como é possível comprá‐los [...]. 

O  ar  é  precioso  para  o  homem  vermelho,  pois  todas  as  coisas  compartilham  o 

mesmo  sopro: o animal, a árvore, o homem,  todos compartilham o mesmo  sopro. 

Parece  que  o  homem  branco  não  sente  o  ar  que  respira.  Como  um  homem, 

agonizante há vários dias, é insensível ao [seu próprio] mau cheiro.3 

Observa‐se, pela carta, a perfeita harmonia e a relação de respeito e de 

interdependência do homem  indígena com o meio ambiente, e a rela‐

ção antagônica explicitada na carta, que define o homem branco, então 

colonizador,  como um predador,  como uma  raça que promove a de‐

gradação  ambiental  escondida  sob  a  bandeira  do    desenvolvimento, 

conforme pode‐se observar, nas palavras do chefe Seattle: 

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de 

terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um  forasteiro 

que vem à noite e extrai da terra tudo que necessita. A terra, para ele, não é sua 

irmã, mas  sua  inimiga  e,  quando  ele  a  conquista,  extraindo  dela  o  que  deseja, 

prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se 

incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa [...]. Seu 

apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.4 

Com o advento da agricultura, as paisagens foram se modificando, as 

populações  foram  crescendo  e  se  aglomerando,  formando  cidades, 

geralmente  próximas  aos  rios,  o  que  garantia  a  fertilidade  do  solo, 

proporcionando colheitas cada vez maiores. 

Quando o homem deixou de ser parte integrante da natureza, ele o fez 

com o sentimento de dominação,  força e poder. E quanto mais o ho‐

mem dominava o ambiente, maior era o seu poder e a sua força. Esse 

ponto  de  vista  imperou  por muitos  anos,  e  a  degradação  ambiental 

ficou envolta em um completo descaso. Porém, no período de 1970 a 

1980, essa mentalidade começou a ser questionada,  fazendo com que 

emergisse a consciência ambiental, a princípio por meio de cientistas e 

estudiosos e, em seguida, por órgãos representativos de países de todo 

o mundo.  

Page 13: Livro de ecopedagogia

 

13

Essa consciência ambiental, nos últimos 30 a 40 anos, está latente, oca‐

sionando  números  expressivos  de  debates,  congressos,  seminários  e 

estudos sobre questões ambientais.  

Ao mesmo tempo em que a consciência ambiental evolui, a degradação 

também evolui e de forma bem mais ágil e rápida, tendo em vista que 

são  esgotados  cada  vez mais  os    recursos,  na  busca  incessante  pelo 

poder. 

Segundo Díaz, 

Ao longo da história, e mais particularmente da história recente, a produtividade 

tem  sido  sinônimo  de  vitalidade  social  e  de  progresso,  sendo  o  crescimento 

econômico o único  indicador, sem que se dê  importância ao  impacto negativo no 

meio  e na própria  sociedade. Na década de 60,  e com mais  força na de 70,  soam 

vozes de alarme que questionam  esse modelo desenvolvimentista dilapidador dos 

recursos  e  desintegrador,  como  se  pôde  constatar  mais  tarde  [...]  destruímos 

culturas para estabelecer economias. 5 

Quando fecha os olhos para o apelo insistente que o planeta lhe faz, o 

ser humano evolui para o caos, dando demonstrações de força e poder, 

observáveis em grandes catástrofes ambientais. 

É o planeta dando a sua resposta ao completo descaso do homem para 

com o meio ambiente, do qual ele é parte. 

Tozoni‐Reis afirma: 

Atualmente,  a  vida  humana  e  a  de  outras  espécies  encontram‐se  concretamente 

ameaçadas.  Essa  profunda  crise,  a  maior  crise  da  história  humana  pela 

abrangência planetária, traz consequências para a área da educação [...]. A crise do 

ambiente,  que  é  uma  super  crise mundial,  exige  uma  nova  abordagem  para  a 

educação, colocando a educação ambiental como dimensão da educação.6 

Acredita‐se  que  a  educação  tem  o  poder  de  promover  uma  grande 

mudança para o  futuro do planeta,  tendo  em vista que  a  “educação 

forma tanto o povo, quanto os seus líderes”, pois, segundo Mizukami, 

“O homem chegará a ser sujeito através da reflexão sobre seu  ambien‐

te concreto: quanto mais ele reflete sobre a realidade, sobre a sua pró‐

pria situação concreta, mais se torna progressiva e gradualmente cons‐

ciente,    comprometido  a  intervir na  realidade para mudá‐la”7,  sendo 

este um dos papéis da Educação Ambiental, estabelecido no relatório 

da Unesco, elaborado em Estocolmo (1972), que no seu Princípio nº 19 

orienta: 

É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, dirigida tanto às 

gerações jovens como aos adultos, para expandir as bases de uma opinião pública 

Page 14: Livro de ecopedagogia

 

 14

bem  informada  e  propiciar  uma  conduta  dos  indivíduos,  das  empresas  e  das 

coletividades,  inspirada  no  sentido  de  responsabilidade  quanto  à  proteção  e 

melhoria do meio em toda sua dimensão humana.8 

Este material foi pensado e elaborado para os que acreditam que edu‐

cação  é  o  caminho do  sucesso  para  o  futuro do  nosso  ambiente  em 

comum. Sato e Carvalho afirmam: 

A condição primeira de toda história humana é, naturalmente, a existência de seres 

humanos  vivos  [...].  Toda  história  deve  partir  dessas  bases  naturais  e  de  sua 

modificação pela ação dos homens ao longo da história. Os homens produzem seus 

meios de existência, o que os distingue dos animais. Ao produzirem esses meios de 

existência, estão produzindo o meio no qual vivem. Em outras palavras, o homem 

não vive em uma natureza original – que não existe mais –, vive em uma natureza 

transformada por sua ação, ‘modificada pela história’. A ‘natureza que antecede a 

história humana [...] de nossos dias não existe mais em lugar algum, exceto talvez 

em  alguns  atóis  australianos’.  O  homem  se  encontra  ‘sempre  diante  de  uma 

natureza que é histórica e de uma história que é natural’. A história do homem é 

natural,  pois  é  a  história  da  forma  como  os  homens,  coletivamente,  produzem, 

transformando  a natureza,  o mundo no  qual vivem. A natureza, por  sua vez,  é 

‘histórica’ porque o que chamamos de ‘natureza’ não é uma natureza original, mas 

o resultado da ação histórica dos homens sobre a natureza. As paisagens ‘naturais 

que vemos, os campos e as florestas onde passeamos carregam a marca do homem’.9 

O  excedente  produzido  e  colhido  deu  origem  à  primeira  forma  de 

comércio, que acontecia por meio da troca entre mercadorias, o escam‐

bo. Estabelecido, o então  comércio  foi evoluindo, adquirindo, em  sua 

base, características financeiras e mercadológicas. 

O homem foi aprimorando o seu sistema de produção e com  isso au‐

mentando a sua lucratividade, o que, segundo Marx, citado por Sato e 

Carvalho, “coloca o homem em oposição à natureza na forma da pro‐

dução capitalista”10. 

A partir do momento em que o homem descobriu que os  lucros obti‐

dos com a dominação e com a exploração do ambiente eram enormes, 

houve uma utilização desregrada dos recursos, o que originou o cená‐

rio em que vivemos hoje. 

Sato e Carvalho afirmam que: 

Assim, torna‐se possível a ideia de uma natureza externa ao homem – a matéria de 

um lado, o espírito de outro, como em Descartes – a de uma luta entre a natureza e 

o  homem.  Essa  exterioridade,  porém,  é  também  o  resultado  de  um  trabalho  de 

separação  produzido  pelo  homem,  que  construiu  essa  ideia  da  natureza.  É, 

portanto,  também  a  expressão  de uma  certa  relação  do  homem  com  a natureza, 

relação marcada por uma vontade de dominação.11 

Page 15: Livro de ecopedagogia

 

15

E o homem domina tudo... o próprio homem, o comércio, a produção, 

os lucros e o meio ambiente. Domina sem preocupar‐se com os impac‐

tos, como se houvesse uma fonte inesgotável de recursos disponíveis.  

Sato e Carvalho afirmam que: 

A natureza não  é um  objeto  eterno  e  imutável. Na  forma  que  a  conhecemos  em 

cada  época,  é  o  resultado  da  ação  coletiva  de  transformação  do  mundo  pelos 

homens. É também, em cada época, lugar de projeção dos desejos e das angústias e, 

no inconsciente humano, o lugar onde se confrontam desejo de fusão e aspiração à 

dominação. 

Hoje  em  dia  há  uma  corrida  em  busca  da  dominação  cega  da  natureza,  que  é 

também,  na  lógica  analisada  por Marx  e Engels,  uma  busca  de  dominação  dos 

homens e uma tentativa de impor um modelo de sociedade.12 

Nessa  busca  incessante de dominação,  o homem  julga  ser  o próprio 

“Deus”, o “Dono da Terra”, o “Senhor do Mundo”. 

Despreocupado com o impacto que está gerando ou com o legado que 

ele  deixará  para  as  futuras  gerações,  o  homem  desconhece  os  seus 

limites e evolui para o caos.  

Segundo  Moura:  “Constata‐se  ao  longo  da  história,  que  o  homem 

sempre utilizou os recursos naturais do planeta e gerou resíduos com 

baixíssimo  nível  de  preocupação:  os  recursos  eram  abundantes  e  a 

natureza aceitava sem reclamar os despejos realizados [...]”13. 

Para refletir 

O lobisomem só aparece nas noites de lua cheia. Ataca o primeiro bicho que passar; 

mas do que ele mais gosta é o homem. Se o lobisomem fosse só lobo, não seria tão 

mau. Mas é lobo e homem, e um homem mau é muito mais do que um lobo mau. É 

por isso que nas noites de lua cheia os lobos vão para o alto do morro, uivar. Eles 

têm medo do homem: do homem no lobo.14 

 

Page 16: Livro de ecopedagogia

 

 16

Atividades

 

1) Como você percebe a  interação do homem com o meio ambiente 

através dos tempos? 

 

2) Por meio  da  citação  de  Díaz  (2002),  “destruímos  culturas  para 

estabelecer economias”, o que podemos compreender? 

 

3) Pesquise em sua região como se deu a relação do homem com o 

meio ambiente. 

Page 17: Livro de ecopedagogia

  

2 HISTÓRICO AMBIENTAL

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Como foi possível verificar no capítulo anterior, o histórico da relação do homem com o ambiente tem evoluído de forma descontrolada  nos 

últimos tempos, devido ao advento da industrialização e do capitalis‐

mo, resultando na utilização desregrada de matérias‐primas e na des‐

tinação  incorreta  dos  resíduos  gerados  pelo  processo  de  produção, 

elevando assim os índices de degradação do ambiente. Mas a preocu‐

pação com as questões ambientais não data de muito tempo. Foi neces‐

sário  o  acontecimento  de  uma  catástrofe  ambiental,  que  provocou  a 

morte de 8.000 pessoas, em Londres, entres os dias 4 e 13 de dezembro 

de 1952, para que ficasse constatada a relação entre a poluição e a per‐

da de vida de inúmeras pessoas. 

Conforme Moura, 

A percepção, de que  a degradação  ambiental  já  estava passando  a  causar graves 

problemas  de  saúde,  ficou  evidenciada  por  um  evento  ocorrido  na  Inglaterra, 

região de Londres, entre 4 e 13 de dezembro de 1952. Nessa época, grande parte 

das  indústrias, sobretudo as de geração de energia elétrica, e residências, usavam 

carvão para produção de  energia  que,  em  sua  queima,  sem posterior  tratamento 

dos  gases,  emitia  grande  quantidade  de  enxofre  e  material  particulado  na 

atmosfera,  ocasionando um  fenômeno denominado  ‘smog’.Cerca de 8000 pessoas 

faleceram como consequência direta do smog. As principais causas dessas mortes, 

identificadas nesse estudo foram bronquite, enfisema pulmonar, gripe, pneumonia 

e  ataques  cardíacos.  Foi  a  primeira  constatação  científica  relacionando  um 

determinado  tipo de poluição a perdas de vidas humanas  em grande  escala, pois 

somente no dia 13 de dezembro ocorreram cerca de 4000 mortes.1 

Esse evento ambiental, que culminou com um número expressivo de 

mortes,  serviu de  alerta,  e  fez  com que  as décadas  seguintes  fossem 

caracterizadas pela emergência da consciência ambiental e de ativida‐

des regulamentadas de controle ambiental. 

Tornava‐se cada vez mais urgente definir os impactos ambientais cau‐

sados pelo uso indiscriminado e desregrado dos recursos naturais, nos 

Page 18: Livro de ecopedagogia

 

 18

processos de produção  industrial e na expansão demográfica e social 

dos  centros  urbanos.  “Os  problemas  ambientais  foram  criados  por 

homens e mulheres e deles virão as soluções”2. 

A questão da degradação ambiental estava latente e gerava um enorme 

desconforto  nas  comunidades  científicas,  que,  preocupadas  com  a 

situação, decidiram unir esforços para mapear os impactos ambientais, 

e  assim  tentar  estimar  a  duração  das  reservas  naturais.  Com  esses 

objetivos, surgiu, em 1968, o Clube de Roma. 

Segundo Reigota,  

Em  1968,  foi  realizada  em  Roma  uma  reunião  de  cientistas  dos  países 

desenvolvidos  para  discutir  o  consumo  e  as  reservas  de  recursos  naturais  não 

renováveis e o crescimento da população mundial até meados do século XXI. 

As conclusões do ‘Clube de Roma’ deixam clara a necessidade urgente de se buscar 

meios  para  a  conservação  dos  recursos  naturais  e  controlar  o  crescimento  da 

população, além de se investir numa mudança radical na mentalidade de consumo 

e procriação. 3 

Os dados levantados pelo Clube de Roma por muito tempo foram alvo 

de  inúmeras críticas, pois enfatizou‐se que deveria haver um controle 

no crescimento populacional dos países do Terceiro Mundo, para que 

os países industrializados continuassem a produzir. 

Meadows, Meadows e Randers afirmam que: 

Nesse  ambiente,  o  alerta do  clube de Roma de  que não vivíamos no melhor dos 

mundos, bem ao contrário, caiu como um raio em céu azul. 

Com a base na análise de cinco grandes tendências globais (e de suas interações) – 

industrialização  acelerada,  rápido  crescimento  demográfico,  subnutrição 

generalizada, erosão dos recursos não renováveis e destruição do meio ambiente – o 

estudo concluía que, se mudanças radicais não fossem introduzidas nos modelos de 

produção  e  consumo,  os  limites  do  crescimento  seriam  alcançados  em  algum 

momento dos próximos 50 anos.4 

As principais  constatações auferidas pelo Clube de Roma deram ori‐

gem à publicação do livro Limites do crescimento, que, por trazer em seu 

conteúdo questões alarmistas sobre a degradação ambiental, serviu de 

base para que, em 1972, na cidade de Estocolmo, 113 países se reunis‐

sem na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, tendo 

como principal tema de discussão a poluição ocasionada pelas  indús‐

trias. 

Conforme Moura,   

Page 19: Livro de ecopedagogia

 

19

Em 1972,  ocorreu  a Conferência das Nações Unidas para  o Meio Ambiente,  em 

Estocolmo,  com  a  participação  de  113  países. Nessa  conferência,  evidenciou‐se 

uma diferença  entre os  ricos  e pobres na visão do problema ambiental. Os  ricos, 

achando que deveriam ser realizados controles internacionais rígidos para reduzir 

a poluição que atingia níveis alarmantes, e os pobres, não aceitando esse controle, 

por  interpretá‐lo  como  um  freio  ao  seu  desenvolvimento.  Essa  foi,  por  sinal,  a 

posição inicial do Brasil cujos representantes entraram na conferência acreditando 

que  os  países  ricos,  após  se  aproveitarem  de  seus  próprios  recursos  naturais, 

tentariam  impedir os outros de  fazê‐lo e com uma posição de que o Brasil não se 

importaria em aceitar uma degradação ambiental para manter seu crescimento.5 

O Brasil vivia na época um período muito fértil de expansão industrial, 

o “milagre econômico”, situação que fez os seus governantes defende‐

rem a ideia de que a poluição era o preço a ser pago pelo desenvolvi‐

mento e pelo progresso. Segundo Moura, foi também durante a reali‐

zação  da  conferência  de  Estocolmo  que  surgiu  a  necessidade  de  se 

convencionar  a  Educação  Ambiental.  A  conferência  foi  organizada 

pela  ONU  (Organização  das  Nações  Unidas)  por  meio  da  Unesco, 

órgão responsável pela divulgação e pela realização de diversos semi‐

nários na área ambiental em  todo o mundo, visando a propagar uma 

nova perspectiva educativa por meio de uma base pedagógica e filosó‐

fica,  concreta  e  integrada,  como  forma  de  solucionar  os  problemas 

ambientais. 

Tozoni‐Reis afirma que: 

Nessa  conferência,  a  educação  dos  indivíduos  para  o  uso mais  equilibrado  dos 

recursos  foi  apontada  como  uma  das  estratégias  para  a  solução  dos  problemas 

ambientais. A partir dessa conferência, a Organização das Nações Unidas para a 

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) assumiu a organização de discussões 

regionais e internacionais de educação ambiental, realizando, entre outros eventos, 

o Seminário  Internacional  sobre Educação Ambiental  em Belgrado  (Iugoslávia), 

em  1975,  e  a  Conferência  Intergovernamental  sobre  Educação  Ambiental  em 

Tbilisi (Geórgia – URSS), em 1977.6 

A Unesco realizou os principais seminários ligados à Educação Ambi‐

ental, os quais serão apresentados na sequência. 

2.1 Seminário em Belgrado (1975)

Foi realizado, em Belgrado, um seminário entre inúmeros especialistas 

da educação e representantes dos países membros da ONU, para defi‐

nirem  os  rumos da Educação Ambiental. Dos  acordos  estabelecidos, 

relatados na Carta de Belgrado, Tozoni‐Reis afirma que: 

No  Seminário  de  Belgrado  discutiu‐se  a  necessidade  de  se  desenvolverem 

programas  de  educação  ambiental  em  todos  os  países‐membros  da  ONU.  A 

Page 20: Livro de ecopedagogia

 

 20

principal  preocupação,  naquele  momento,  foi  divulgar  a  importância  de  uma 

política de educação ambiental de abrangência regional e internacional; a partir de 

diretrizes  gerais,  enfatizava‐se  o  papel  das  ações  regionais. A  carta  de Belgrado 

define a  estrutura  e os princípios básicos da  educação ambiental,  identificando o 

crescimento  econômico  com  controle  ambiental  como  o  conteúdo  da  nova  ética 

global. A educação ambiental é colocada ali como um dos elementos fundamentais 

para a  investida geral contra a crise ambiental alardeada pelo Relatório de Clube 

de Roma.7 

A Carta de Belgrado veio a  ratificar o desenvolvimento da  evocação 

ambiental como uma das formas mais eficazes para que os problemas 

ambientais do mundo possam ser revertidos mais rapidamente, como 

pode‐se observar na citação de um trecho extraído dela: 

A reforma dos processos e sistemas educacionais é central para a constatação dessa 

nova  ética  de  desenvolvimento  e  ordem  econômica  mundial.  Governantes  e 

planejadores podem ordenar mudanças e novas abordagens de desenvolvimento e 

podem melhorar as condições do mundo, mas tudo isso se constituíra em soluções 

de  curto  prazo  se  a  juventude  não  receber  um  novo  tipo  de  educação.  Isto  vai 

requerer um novo e produtivo relacionamento entre estudantes e professores, entre 

a escola e a comunidade, entre o sistema educacional e a sociedade... É dentro desse 

que  devem  ser  lançadas  as  fundações  para  um  programa mundial  de  Educação 

Ambiental  que  possa  tornar  possível  o  desenvolvimento  de  novos  conceitos  e 

habilidades,  valores  e  atitudes,  visando  à  melhoria  de  qualidade  ambiental  e 

efetivamente à elevação da qualidade de vida para as gerações presentes e futuras. . 

2.2 Congresso de Tbilissi

Em  Tbilissi,  aconteceu  o  primeiro  congresso  mundial  de  Educação 

Ambiental,  com o objetivo de divulgar os diversos  trabalhos  realiza‐

dos, nos vários países vinculados à ONU e à Unesco, sobre a Educação 

Ambiental, que dessem segmento e  fortificassem os acordos estabele‐

cidos em Estocolmo (1972) e em Belgrado (1975). 

A  Declaração  da  Conferência  Intergovernamental  sobre  Educação 

Ambiental criou consciência e compreensão sobre os problemas ambi‐

entais e estimulou a formação de comportamentos positivos. Retoma‐

ram‐se  os  objetivos  da  Educação  Ambiental  da  Carta  de  Belgrado, 

reformulando‐os para a consciência de conhecimentos, comportamen‐

tos, aptidões e participação.9 

Segundo Moura,  “a década de  80  foi marcada  sendo  aquela  em que 

surgiram, em grande parte dos países, leis regulamentando a atividade 

industrial  no  tocante  à  poluição,  fato  evidenciado  no  Brasil  com  a 

promulgação de  leis, decretos e resoluções pertinentes ao meio ambi‐

ente”10, tais como: 

Page 21: Livro de ecopedagogia

 

21

A Lei nº 6.938/811, promulgando a Política Nacional do Meio Ambiente, que 

em seu art. 2º estabelece os seus objetivos. 

[...] 

Art.  2º  – A  política Nacional  do Meio Ambiente  tem  por  objetivo  a 

preservação, melhora e recuperação da qualidade ambiental propícia à 

vida,  visando  assegurar,  no  País,  condições  ao  desenvolvimento    

socioeconômico aos  interesses da  segurança nacional e à proteção da 

dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:  

I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, consi‐

derando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessa‐

riamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; 

II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;  

III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; 

IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representa‐

tivas; 

V  –  controle  e  zoneamento das  atividades potencial ou  efetivamente 

poluidoras; 

VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o 

uso racional e à proteção de recursos ambientais; 

VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental; 

VIII – recuperação das áreas degradadas; 

IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação; 

                                                                  1 Para ler a Lei nº 6.938/81, na íntegra, acessar o site: 

<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L6938.htm>. 

 

Page 22: Livro de ecopedagogia

 

 22

 

X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educa‐

ção da comunidade, objetivando capacitá‐la para participação ativa na 

defesa do meio ambiente. 

A Resolução nº  001/842, que  aprova o  regimento  interno do 

Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). 

Inúmeras  resoluções  do  Conama  trazem  disposições  legais  sobre  o 

meio ambiente, organizadas em documentos e legislações públicas. 

A Lei nº 7.347/853 do Código Civil disciplina a ação civil pú‐

blica de responsabilidade de danos causados ao meio ambien‐

te. 

O  sistema  jurídico  ambiental  brasileiro,  em  sua maioria,  visa  a  dar 

suporte  no  combate  à  degradação  ambiental  e  a  fornecer  subsídios 

para o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente. 

No Rio de Janeiro, em 1992, aconteceu a Conferência das Nações Uni‐

das  sobre  o meio  ambiente  e  desenvolvimento,  a  Rio‐92,  que  tinha 

como objetivos  retomar,  recontextualizar e ampliar princípios e  reco‐

mendações pertinentes ao meio ambiente. 

Moura afirma que: 

Foi,  sobretudo,  a  partir  dessa  conferência,  que  passou  a  ser melhor  entendida  a 

mútua dependência entre o desenvolvimento e um meio ambiente ecologicamente 

em  equilíbrio,  com  conservação  dos  recursos  para  as  gerações  futuras 

(desenvolvimento  sustentável,  pois  sem  os  recursos  da  natureza  não  existirá 

desenvolvimento  a  longo  prazo)  e  a  necessidade  do  desenvolvimento  para  que 

existam tecnologias que permitam a solução de problemas ambientais crescentes.11 

O Desenvolvimento sustentável admite a utilização dos recursos natu‐

rais necessários hoje, a fim de permitir boa qualidade de vida, porém, 

sem o comprometimento da utilização desses recursos pelas gerações 

futuras. 

Na Rio‐92,  ficou estabelecido e  registrado um acordo entre  represen‐

tantes dos governos membros da ONU, no relatório Declaração do Rio 

                                                                  2 Para ler a Resolução nº 001/84, na íntegra, acessar o site: <http://www.lei.adv.br/001‐84.htm>. 3 Para ler a Lei nº 7.347/85, na íntegra, acessar o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L7347orig. 

htm>. 

 

Page 23: Livro de ecopedagogia

 

23

sobre  Meio  Ambiente  e  Desenvolvimento,  elaborado  pela  Unesco, 

contendo inúmeros temas importantes sobre a Educação Ambiental.  

Merecem destaque, nesse documento, a integração de disciplinas pela organização 

multi e interdisciplinar dos currículos, o desenvolvimento de método de ensino e, 

principalmente,  a  comunicação. O  ensino  básico  é muito  valorizado:  entende‐se 

que a universalização do acesso à educação básica é uma estratégia de promoção da 

equidade e compensação das disparidades econômicas, sociais e de gênero.12 

Esse relatório afirma que é necessária a integração entre o ambiente e o 

desenvolvimento como um dos princípios básicos da Educação Ambi‐

ental. 

O relatório reafirma e reconhece a Educação Ambiental como um direi‐

to de todos os cidadãos, abrangente a todas as idades, convocando as 

populações a assumirem suas responsabilidades ambientais de  forma 

individual  e  coletiva,  atuando de  forma  local  e  global.  “A  educação 

ambiental deve  estar organizada,  segundo a  recomendação do docu‐

mento,  em  educação  formal,  não‐formal  e  informal,  e  para  todas  as 

idades, exigindo a democratização dos meios de comunicação e  inte‐

grando conhecimentos, aptidões, valores, atitudes a ações”13. 

A Rio‐92  é  também  reconhecida  pela  elaboração  de  inúmeros  docu‐

mentos, tais como A Carta da Terra e a Agenda 21, que, segundo Mou‐

ra,  

[...]  é um documento  que  estabelece um programa de  ação para  implementar  as 

decisões  da  conferência,  sobretudo  com  ações  de  governos.  Propõe  o  uso  mais 

racional  de matérias‐primas  e  de  energia  para  a  produção  de  bens  e  serviços,  a 

realização de pesquisas sobre novas formas de energia, além de motivar a visão de 

desenvolvimento sustentável para prevenir as necessidades das gerações do século 

21.14 

Mas, sobre a Agenda 21, falaremos no próximo capítulo.  

Leitura complementar

A Carta da Terra

Preâmbulo

Estamos  diante  de  um momento  crítico  na  história  da  Terra,  numa 

época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que 

o mundo  torna‐se  cada  vez mais  interdependente  e  frágil,  o  futuro 

enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para 

seguir  adiante, devemos  reconhecer que, no meio de uma magnífica 

diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana 

Page 24: Livro de ecopedagogia

 

 24

e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar 

forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respei‐

to pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômi‐

ca e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é  imperativo 

que  nós,  os  povos da  Terra,  declaremos  nossa  responsabilidade  uns 

para com os outros, com a grande comunidade da vida e com as futu‐

ras gerações. 

Terra, Nosso Lar

A humanidade  é parte de um vasto universo  em  evolução. A Terra, 

nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da 

natureza  fazem da existência uma aventura exigente e  incerta, mas a 

Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. 

A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem‐estar da 

humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com 

todos  seus  sistemas  ecológicos, uma  rica variedade de plantas  e ani‐

mais,  solos  férteis,  águas  puras  e  ar  limpo. O meio  ambiente  global 

com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pes‐

soas. A  proteção  da  vitalidade,  diversidade  e  beleza  da  Terra  é  um 

dever sagrado. 

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devas‐

tação  ambiental,  redução  dos  recursos  e  uma  massiva  extinção  de 

espécies. Comunidades  estão  sendo arruinadas. Os benefícios do de‐

senvolvimento  não  estão  sendo divididos  equitativamente,  e  o  fosso 

entre  ricos e pobres está aumentando. A  injustiça, a pobreza, a  igno‐

rância e os conflitos violentos  têm aumentado e são causa de grande 

sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem 

sobrecarregado os  sistemas ecológico e  social. As bases da segurança 

global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevi‐

táveis.  

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa:  formar uma aliança global para cuidar da Terra e 

uns dos outros ou  arriscar  a nossa destruição  e  a da diversidade da 

vida.  São  necessárias  mudanças  fundamentais  dos  nossos  valores, 

instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as neces‐

sidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será pri‐

mariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento 

e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos  im‐

pactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global 

Page 25: Livro de ecopedagogia

 

25

está criando novas oportunidades para construir um mundo democrá‐

tico  e  humano.  Nossos  desafios  ambientais,  econômicos,  políticos, 

sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções 

includentes. 

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido 

de  responsabilidade universal,  identificando‐nos com  toda a comuni‐

dade  terrestre  bem  como  com  nossa  comunidade  local.  Somos,  ao 

mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual 

a dimensão  local e global estão  ligadas. Cada um compartilha da res‐

ponsabilidade pelo presente e pelo  futuro, pelo bem‐estar da  família 

humana e de todo o mundo dos seres vivos.  

O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é 

fortalecido quando vivemos  com  reverência o mistério da  existência, 

com  gratidão  pelo  dom  da  vida  e  com  humildade,  considerando  o 

lugar que ocupa o ser humano na natureza. 

Necessitamos  com  urgência  de  uma  visão  compartilhada  de  valores 

básicos para proporcionar um  fundamento ético à comunidade mun‐

dial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes 

princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida susten‐

tável  como  critério  comum, através dos quais a  conduta de  todos os 

indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnaci‐

onais será guiada e avaliada. 

Princípios

 I.  Respeitar e cuidar da comunidade da vida  

1) Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade. 

2) Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão 

e amor. 

3) Construir  sociedades democráticas que  sejam  justas, partici‐

pativas, sustentáveis e pacíficas.  

4) Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as fu‐

turas gerações. 

Integridade ecológica 

Page 26: Livro de ecopedagogia

 

 26

5) Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da 

Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e 

pelos  processos naturais que sustentam a vida. 

6) Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de pro‐

teção  ambiental  e,  quando  o  conhecimento  for  limitado,  as‐

sumir uma postura de precaução.  

Democracia, não violência e paz 

7)    Fortalecer  as  instituições  democráticas  em  todos  os  níveis  e 

proporcionar‐lhes transparência e prestação de contas no exercício 

do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso 

à justiça. 

8)    Integrar, na educação  formal e na aprendizagem ao  longo da 

vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um 

modo de vida sustentável.  

9)  Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração. 

10)    Afirmar  a  igualdade  e  a  equidade  de  gênero  como  pré‐

requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o aces‐

so universal à educação, à assistência de saúde e às oportunidades 

econômicas. 

11)   Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas 

a um  ambiente natural  e  social,  capaz de  assegurar  a dignidade 

humana, a    saúde  corporal  e o bem‐estar  espiritual,  concedendo 

especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias. 

12)   Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz 

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar 

um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta 

da Terra. Para cumprir esta promessa,  temos que nos comprometer a 

adotar e promover os valores e objetivos da Carta. 

Isso  requer  uma mudança  na mente  e  no  coração. Requer  um  novo 

sentido  de  interdependência  global  e  de  responsabilidade  universal. 

Devemos desenvolver e aplicar com  imaginação a visão de um modo 

de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa 

diversidade  cultural  é  uma  herança  preciosa,  e  diferentes  culturas 

encontrarão  suas  próprias  e  distintas  formas  de  realizar  esta  visão. 

Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da 

Page 27: Livro de ecopedagogia

 

27

Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e 

conjunta por verdade e sabedoria. 

A vida muitas vezes  envolve  tensões  entre valores  importantes.  Isso 

pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar cami‐

nhos  para  harmonizar  a  diversidade  com  a  unidade,  o  exercício  da 

liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de 

longo prazo. Todo  indivíduo,  família, organização e comunidade  têm 

um  papel  vital  a desempenhar. As  artes,  as  ciências,  as  religiões,  as 

instituições    educativas,  os meios  de  comunicação,  as  empresas,  as 

organizações não‐governamentais e os governos são todos chamados a 

oferecer uma  liderança  criativa. A parceria  entre  governo,  sociedade 

civil  e  empresas  é  essencial  para  uma  governabilidade  efetiva  Para 

construir  uma  comunidade  global  sustentável,  as  nações  do mundo 

devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com 

suas  obrigações,  respeitando  os  acordos  internacionais  existentes  e 

apoiar  a  implementação  dos  princípios  da Carta  da  Terra  como  um 

instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e 

ao desenvolvimento. Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar 

de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcan‐

çar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz e 

a alegre celebração da vida. 

Fonte: BRASIL, 2008 

Atividades

1) Na Conferência de Estocolmo, em 1972, ficou estabelecido que “a 

educação dos indivíduos para o uso mais equilibrado dos recursos 

foi  apontada  como uma das  estratégias para  a  solução dos pro‐

blemas  ambientais”. Você  acredita  na  educação  como  forma  de 

promover novas práticas ambientais? Como? 

 

2) Por que a Educação Ambiental deve estar organizada em educa‐

ção  formal, não‐formal e informal? 

 

3) Na  leitura complementar, o  texto A Carta da Terra estabelece que 

devemos integrar, na educação formal e na aprendizagem ao lon‐

go da  vida,  os  conhecimentos,  valores  e  habilidades  necessárias 

para um modo de vida sustentável. Na sua opinião, como conhe‐

cimentos, valores e habilidades podem auxiliar na educação vol‐

tada ao ambiente? 

Page 28: Livro de ecopedagogia

  

3 AGENDA 21

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Na Rio‐92, ficou estabelecida a Agenda 214 , conforme vimos no capítu‐

lo anterior. 

A Agenda 21 é um documento elaborado e assinado por representan‐

tes de 179 países, por meio da ONU e da Unesco, com o objetivo de 

preparar  o mundo  para  os  desafios  do  século  XXI,    promovendo  o 

desenvolvimento sustentável, conforme podemos ver: 

A Agenda 21 está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo, 

ainda,  de  preparar  o  mundo  para  os  desafios  do  próximo  século.  Reflete  um 

consenso  mundial  e  um  compromisso  político  no  nível  mais  alto  no  que  diz 

respeito  a  desenvolvimento  e  cooperação  ambiental. O  êxito  de  sua  execução  é 

responsabilidade,  antes  de  mais  nada,  dos  Governos.  Para  concretizá‐la,  são 

cruciais  as  estratégias,  os  planos,  as  políticas  e  os  processos  nacionais.  Nesse 

contexto, o sistema das Nações Unidas tem um papel fundamental a desempenhar. 

Outras  organizações  internacionais,  regionais  e  sub‐regionais  também  são 

convidadas  a  contribuir  a  tal  esforço.  A  mais  ampla  participação  pública  e  o 

envolvimento  ativo  das  organizações  não‐governamentais  e  de  outros  grupos 

também devem ser estimulados.1 

A Agenda 21 está estruturada em quatro seções, que orientam sobre: 

Dimensões  sociais  e  econômicas  – Envolve discussões  sobre 

combate à pobreza e à miséria, mudança nos padrões de pro‐

dução  e  consumo,  inter‐relação  entre  sustentabilidade  e  di‐

nâmica demográfica, melhoria da  saúde pública  e da  quali‐

dade de vida. 

Conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento – 

Enfoca o uso dos recursos naturais (solos, rios,  mares,    ener‐

gia), de resíduos e de substâncias tóxicas.  

                                                                  4 Para ler a Agenda 21, na íntegra, acessar o site: <http://www.mma.gov.br/index.ph 

p?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575>. 

Page 29: Livro de ecopedagogia

 

29

Fortalecimento do papel dos grupos sociais – Aborda as ações 

necessárias para promover a participação de segmentos soci‐

ais relevantes (jovens, povos indígenas, ONGs, trabalhadores, 

comunidade científica e tecnológica, agricultores, empresários 

etc.). 

Meio de  implementação  – Discorre  sobre os mecanismos  fi‐

nanceiros e  instrumentos  jurídicos existentes e a  serem  cria‐

dos para implementar programas e projetos. 

Encontram‐se divididos nas 4 seções os 40 capítulos da Agenda 21, que 

definem a seguinte estrutura: 

Capítulo 1 – Preâmbulo. 

Seção I – Dimensões sociais e econômicas. 

Capítulo 2 – Cooperação internacional para acelerar o desenvolvimen‐

to  sustentável  dos  países  em  desenvolvimento  e  políticas  internas 

correlatas. 

Capítulo 3 – Combate à pobreza. 

Capítulo 4 – Mudança de padrões de consumo. 

Capítulo 5 – Dinâmica demográfica e sustentabilidade. 

Capítulo  6  –  Proteção  e  promoção  das  condições  da  saúde 

humana. 

Capítulo 7 – Promoção do desenvolvimento  sustentável dos 

assentamentos humanos. 

Capítulo 8 –  Integração entre o meio ambiente e desenvolvi‐

mento da tomada de decisões. 

Seção II – Conservação e Gestão dos Recursos para o Desenvolvimen‐

to. 

Capítulo 9 – Proteção da atmosfera. 

Capítulo 10 – Abordagem integrada do planejamento e do ge‐

renciamento dos recursos terrestres. 

Capítulo 11 – Combate ao desflorestamento. 

Page 30: Livro de ecopedagogia

 

 30

Capítulo 12 – Manejo de ecossistemas  frágeis à  luta contra a 

desertificação e a seca. 

Capítulo 13 – Manejo de ecossistemas frágeis: desenvolvimen‐

to sustentável das montanhas. 

Capítulo 14 – Promoção do desenvolvimento rural e agrícola 

sustentável. 

Capítulo 15 – Conservação da diversidade biológica. 

Capítulo 16 – Manejo ambientalmente saudável da biotecno‐

logia. 

Capítulo 17 – Proteção de oceanos e de todos os tipos de ma‐

res. Uso racional de seus recursos vivos.  

Capítulo 18 – Proteção da qualidade e do abastecimento dos 

recursos hídricos: aplicação de critérios  integrados no desen‐

volvimento, manejo e uso dos recursos hídricos. 

Capítulo 19 – Manejo ecologicamente  saudável das  substân‐

cias químicas tóxicas.  

Capítulo 20 – Manejo ambientalmente saudável dos resíduos 

sólidos perigosos.    

Capítulo 21 – Manejo ambientalmente saudável dos resíduos 

sólidos e questões relacionadas com esgotos. 

Capítulo 22 – Manejo seguro e ambientalmente saudável dos 

resíduos radioativos. 

Seção III – Fortalecimento do papel dos grupos principais. 

Capítulo 23 – Preâmbulo 

Capítulo 24 – Ação mundial pela mulher, com vistas a um de‐

senvolvimento sustentável equitativo. 

Capítulo 25 – A  infância  e a  juventude no desenvolvimento 

sustentável. 

Capítulo 26 – Reconhecimento e fortalecimento do papel das 

populações indígenas e suas comunidades. 

Page 31: Livro de ecopedagogia

 

31

Capítulo 27 – Fortalecimento do papel das ONGs: parceiros 

para um desenvolvimento sustentável. 

Capítulo  28  –  Iniciativas das  autoridades  locais  em  apoio  à 

Agenda 21. 

Capítulo  29  –  Fortalecimento  do  papel  dos  trabalhadores  e 

dos seus sindicatos. 

Capítulo 30 – Fortalecimento do papel do  comércio e da  in‐

dústria. 

Capítulo 31 – A comunidade científica e tecnológica. 

Capítulo 32 – Fortalecimento do papel dos agricultores. 

Seção IV – Meios de Implementação. 

Capítulo 33 – Recursos e mecanismos financeiros. 

Capítulo 34 – Transferência de tecnologia ambiental. 

Capítulo 35 – A ciência para o desenvolvimento sustentável. 

Capítulo  36  – Promoção do  ensino, da  conscientização  e do 

treinamento. 

Capítulo 37‐ nacionais e cooperação  internacional para o for‐

talecimento institucional nos países em desenvolvimento. 

Capítulo 38 – Arranjos institucionais internacionais.  

Capítulo 39 – Instrumentos e mecanismos jurídicos internaci‐

onais. 

Capítulo 40 – Informação para a tomada de decisões. 

 

 

 

 

 

Page 32: Livro de ecopedagogia

 

 32

3.1 A educação na Agenda 21

De acordo com o nosso propósito, trabalharemos, no momento, com o 

capítulo  36 da Agenda  21, que  estabelece  a promoção do  ensino, da 

conscientização e do treinamento. 

Segundo Tozoni‐Reis, 

Os documentos sobre educação ambiental pactuados durante a Rio‐92, o capítulo 

36 da Agenda 21  ‘Promoção do ensino, da conscientização e do  treinamento’ e o 

‘Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade 

Global’  também  contribuíram  para  a  definição  das  categorias  de  análise,  pois 

apontaram  ideias  fundamentais  para  organizar  as  atividades  de  educação 

ambiental: sustentabilidade, participação, conscientização e interdisciplinaridade.2 

Leitura complementar

Conforme descrito no capítulo 36 da Agenda 215: 

Promoção do ensino, da conscientização e do treinamento

Introdução

O  ensino,  o  aumento  da  consciência  pública  e  o  treinamento  estão 

vinculados virtualmente a todas as áreas de programa da Agenda 21 e 

ainda mais próximas das que se referem à satisfação das necessidades 

básicas,  fortalecimento  institucional  e  técnica,  dados  e  informação, 

ciência e papel dos principais grupos. Este capítulo formula propostas 

gerais,  enquanto  que  as  sugestões  específicas  relacionadas  com  as 

questões  setoriais  aparecem  em  outros  capítulos. A Declaração  e  as 

Recomendações da Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre a 

Educação Ambiental, organizada pela Unesco e pelo Pnuma,  celebra‐

da em 1977, ofereceram os princípios. 

As áreas de programas descritas neste capítulo são: 

1)   Reorientação do ensino no sentido do desenvolvimento susten‐

tável; 

2)  Aumento da consciência pública; 

3)  Promoção do treinamento. 

 

                                                                  5 Para ler o capítulo 36 da Agenda 21, na íntegra, acessar o site: 

<htp://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/cap36.pdf>. 

Page 33: Livro de ecopedagogia

 

33

Áreas de programa

a) Reorientação do ensino no sentido do desenvolvimento sustentá‐

vel 

Base para a ação

O ensino,  inclusive o ensino  formal, a consciência pública e o  treina‐

mento devem ser  reconhecidos como um processo pelo qual os seres 

humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas poten‐

cialidades. O  ensino  tem  fundamental  importância  na  promoção  do 

desenvolvimento  sustentável e para aumentar a  capacidade do povo 

para  abordar  questões  de meio  ambiente  e  desenvolvimento. Ainda 

que o ensino básico sirva de fundamento para o ensino em matéria de 

ambiente e desenvolvimento, este último deve  ser  incorporado  como 

parte essencial do aprendizado. Tanto o ensino formal como o informal 

são indispensáveis para modificar a atitude das pessoas, para que estas 

tenham capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento sus‐

tentável  e abordá‐los. O  ensino  é  também  fundamental para  conferir 

consciência ambiental e ética, valores e atitudes,  técnicas e comporta‐

mento em consonância com o desenvolvimento sustentável e que favo‐

reça  a participação pública  efetiva  nas  tomadas de decisão. Para  ser 

eficaz, o ensino sobre o meio ambiente e desenvolvimento deve abor‐

dar a dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do soci‐

oeconômico e do desenvolvimento humano (que pode incluir o espiri‐

tual),deve  integrar‐se  em  todas  as  disciplinas  e  empregar  métodos 

formais e informais e meios efetivos de comunicação. 

Objetivos

Reconhecendo‐se que os países e as organizações regionais e internaci‐

onais determinarão suas próprias prioridades e prazos para implemen‐

tação, em conformidade com suas necessidades, políticas e programas, 

os seguintes objetivos são propostos: 

a)   Endossar as recomendações da Conferência Mundial sobre En‐

sino para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendi‐

zagem (Jomtien, Tailândia, 5 a 9 de março de 1990), procurar asse‐

gurar o acesso universal ao ensino básico, conseguir, por meio de 

ensino formal e  informal, que pelo menos 80 por cento das meni‐

nas e 80 por cento dos meninos em idade escolar terminem a esco‐

la primária e reduzir a  taxa de analfabetismo entre os adultos ao 

menos pela metade de seu valor de 1990. Os esforços devem cen‐

tralizar‐se na redução dos altos níveis de analfabetismo e na com‐

pensação da falta de oportunidades que têm as mulheres de ensino 

Page 34: Livro de ecopedagogia

 

 34

básico, para que seus  índices de alfabetização venham a ser com‐

patíveis com os dos homens; 

b)   Desenvolver consciência do meio ambiente e desenvolvimento 

em todos os setores da sociedade em escala mundial e com a maior 

brevidade possível; 

c)    Lutar para facilitar o acesso à educação sobre meio ambiente e 

desenvolvimento, vinculada à educação social, desde a idade esco‐

lar primária até a idade adulta em todos os grupos da população.  

d)     Promover a  integração de conceitos de ambiente e desenvol‐

vimento,  inclusive a demografia, em todos os programas de ensi‐

no,  em  particular  a  análise das  causas dos principais  problemas 

ambientais e de desenvolvimento em um contexto local, recorren‐

do para  isso às melhores provas científicas disponíveis e a outras 

fontes apropriadas de conhecimentos e dando especial atenção ao 

aperfeiçoamento do treinamento dos responsáveis por decisões em 

todos os níveis. 

Fonte: BRASIL, 2008. 

Como podemos ver, a Agenda 21 possui por si só uma gama de temá‐

ticas que podem ser aproveitadas e desenvolvidas por meio de proje‐

tos de ensino ou de atividades práticas nas escolas e nas comunidades.  

São temas emergentes que dizem respeito à degradação ambiental, às 

formas de atuação responsável, tendo em vista garantir a qualidade de 

vida das futuras gerações. 

Atividades

1) A Agenda 21 (BRASIL, 2008c) divide‐se em 4 seções, que ori‐

entam  sobre dimensões  sociais  e  econômicas,  conservação  e 

gestão dos  recursos para  o desenvolvimento,  fortalecimento 

do papel dos grupos sociais e meios de implementação. Como 

podemos  utilizar  as  temáticas  contempladas  na Agenda  21 

em sala de aula? 

2) O Capítulo 36 da Agenda 21  (BRASIL, 2008c)  reporta‐se ex‐

clusivamente à promoção do ensino, da conscientização e do 

treinamento, estabelecendo que, para ser eficaz, o ensino vol‐

tado para o meio ambiente deve promover uma  consciência 

ambiental, valores e atitudes,  técnicas e comportamentos em 

Page 35: Livro de ecopedagogia

 

35

consonância  com o desenvolvimento  sustentável. Como  isso 

deve ocorrer na prática de sala de aula?  

3) A Agenda 21  (BRASIL, 2008c) visa a promover a  integração 

de  conceitos  de  ambiente  e  desenvolvimento,  em  todos  os 

programas de ensino, por meio da análise dos problemas am‐

bientais  locais. Justifique a  importância de trabalhar as ques‐

tões ambientais locais. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 36: Livro de ecopedagogia

  

4 ECOPEDAGOGIA

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Este  capítulo  foi elaborado  tendo em vista a Carta da Ecopedagogia, 

com a qual constituímos o  texto, pelo  fato desta ser o marco de  refe‐

rência tanto para a Ecopedagogia quanto para a Educação Ambiental. 

Denominamos a pedagogia voltada para o meio ambiente de ECOPE‐

DAGOGIA.  

A Ecopedagogia deve  promover  a  educação  pelo  olhar das  pessoas, 

pela  forma  como  as pessoas observam o meio  ambiente  e  interagem 

com ele, visando à  formação do homem, como um agente parceiro e 

integrado, que por meio de vivências e atitudes voltadas para a redu‐

ção dos danos e impactos, consegue disseminar a importância da Eco‐

pedagogia, na formação desse ser atuante.  

A pedagogia da cidadania ambiental da era planetária extrapola, em consequência, 

os  estreitos  limites  da  educação  tradicional  centrada  na  lógica  da  competição  e 

acumulação  e  na  produção  ilimitada  de  riqueza  sem  considerar  os  limites  da 

natureza e as necessidades dos outros seres do cosmos.1  

A  Ecopedagogia  tem  como  um  de  seus  fundamentos  proporcionar 

inúmeras relações e interações por meio da consciência ecológica, que 

visa a estabelecer responsabilidades éticas e a solidariedade do homem 

no  intuito de proteger a vida na Terra,  formando assim a consciência 

da  cidadania ambiental ou planetária,  conforme explicitado na Carta 

da Ecopedagogia. 

Segundo Pereira et al,  

Uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção de uma 

cultura  da  sustentabilidade,  isto  é,  uma  biocultura,  uma  cultura  da  vida,  da 

convivência  harmônica  entre  os  seres  humanos  e  entre  estes  e  a  natureza.  A 

cultura  da  sustentabilidade  deve nos  levar  a  saber  selecionar  o  que  é  realmente 

sustentável em nossas vidas, em contato com a vida dos outros. Só assim seremos 

cúmplices  nos  processos  de  promoção  da  vida  e  caminharemos  com  sentido. 

Page 37: Livro de ecopedagogia

 

37

Caminhar com sentido significa dar sentido ao que fazemos, compartilhar sentidos, 

impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana e compreender o sem sentido de 

muitas  outras  práticas  que  aberta  ou  solapadamente  tratam  de  impor‐se  e 

sobrepor‐se a nossas vidas cotidianamente.2  

Para tanto, a Ecopedagogia deve ser estabelecida levando‐se em consi‐

deração a integração entre o homem e o   meio ambiente onde ele está 

inserido,  favorecendo  a ocorrência dessa  integração por meio de um  

aprendizado significativo. 

Segundo Pereira et al, 

A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem também 

de uma consciência ecológica e esta da educação. A sustentabilidade deve ser um 

princípio  interdisciplinar  reorientador da  educação, do planejamento  escolar, dos 

sistemas  de  ensino  e  dos  projetos  político‐pedagógicos  da  escola. Os  objetivos  e 

conteúdos  curriculares devem  ser  significativos para o(a)  educando(a)  e  também 

para a saúde do planeta. 3 

A Ecopedagogia deve formar a consciência de que todos pertencem a 

uma grande e única comunidade, e que esta deve se desenvolver com 

solidariedade, proporcionando assim a emergência da  cidadania pla‐

netária ou planetariedade, que se reporta ao planeta e a todos os seus 

seres como vivos. 

Ainda segundo o mesmo autor: 

A planetariedade deve  levar‐nos a sentir e viver nossa cotidianidade em conexão 

com o universo e em relação harmônica consigo, com os outros seres do planeta e 

com a natureza, considerando seus elementos e dinâmica. Trata‐se de uma opção 

de vida por uma  relação  saudável  e  equilibrada  com o  contexto,  consigo mesmo, 

com os outros, com o ambiente mais próximo e com os demais ambientes.4 

A Ecopedagogia deve estar voltada a todos os cidadãos e não somente 

aos  educadores ou  aos  sistemas de  ensino,  tendo  em vista que deve 

promover uma modificação nas  relações humanas e  socioambientais, 

promovendo assim a Educação Ambiental, com o objetivo de formar o 

pensamento  crítico  e  a  atitude  sustentável,  desenvolvendo  nos  cida‐

dãos a consciência ambiental local e global.  

Segundo o mesmo autor:  

A ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver 

a  atitude  de  observar  e  evitar  a  presença  de  agressões  ao meio  ambiente  e  aos 

viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. 

para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a 

cultura  do  descartável.  Experiências  cotidianas  aparentemente  insignificantes, 

como  ma  corrente  de  ar,  um  sopro  de  respiração,  a  água  da  manhã  na  face, 

Page 38: Livro de ecopedagogia

 

 38

fundamentam as relações consigo mesmo e com o mundo. A tomada de consciência 

dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma tanto quanto 

ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para recuperarmos a 

consciência  dessas  experiências  cotidianas. Na  ânsia  de  dominar  o mundo,  elas 

correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a relação que nos 

liga a ele for apenas uma relação de uso.5 

Ecopedagogia deve favorecer inúmeras mudanças de mentalidade e de 

comportamento em relação ao meio ambiente, por meio da Educação 

Ambiental. O papel da Ecopedagogia então é  fazer‐se valer dos estu‐

dos, métodos e práticas pedagógicas, em  favor da Educação Ambien‐

tal, conscientizando os formadores do cidadão crítico e ambientalmen‐

te envolvido. 

Leitura complementar

Pedagogia: o ato de ensinar e o de aprender (por Eurilda Dias Roman)

O que  importa hoje em educação não é a aprendizagem de um só ponto de vista, 

senão  a habilidade de  aprender múltiplos pontos de vista  e  as habilidades  que  o 

acompanham. 

‐ Cadiz, 1990, p. 43. 

Bordenave  (1995) afirma que “comunicação não é um ato  isolado ou 

uma série de atos  individuais desconexos, mas um  fluxo contínuo de 

muitas origens e direções, com conteúdos e formas em constante mu‐

tação”. Por conseguinte, estudar a significação do ato de ensinar e de 

aprender  se  torna  relevante,  uma  vez  que  o  processo  de  ensino  e 

aprendizagem se solidifica no momento em que as interações em sala 

de aula acontecem e são influências das características biopsicossociais 

de seus agentes e externadas pelo processo de comunicação.  

O sentido da docência

Segundo Crippa  (1990), as escolas medievais  tornaram‐se universida‐

des  a  partir  do momento  em  que  se  tornaram  uma  “corporação  de 

mestres e alunos”. Ensinava‐se e aprendia‐se. São esses os dois aspec‐

tos da atividade que uniu a  todos numa corporação. No ensinar e no 

aprender, e não em outras atividades acidentais, fundava‐se a comuni‐

dade acadêmica. Essa  intencionalidade pedagógica não só alimentava 

o espírito dos membros da corporação do saber, como  também presi‐

dia a organização e a vida escolar. 

Essa  intencionalidade pedagógica, por sua vez, nutria‐se das certezas 

fundamentais que formavam o universo medieval. A referência consti‐

Page 39: Livro de ecopedagogia

 

39

tutiva das coisas, das pessoas e das instituições ordenava‐se dentro de 

um mundo de valores, por todos aceito e amado. Inseridas nesse mun‐

do  cultural,  as  escolas,  em  geral,  e  as  universidades,  em  particular, 

podiam  cumprir  sua missão docente e  formadora  com  relativa  facili‐

dade.  

A ação dos mestres ou dos professores não se resume à simples comu‐

nicação de conhecimentos e de ideias ou à transmissão de algum saber. 

O  saber humano não  se  reduz  a uma  soma de  conhecimentos. Uma 

máquina  registradora  ou  um  computador  pode  acumular  e  oferecer 

ilimitados conhecimentos, mas  jamais alcançará o nível da humanida‐

de. O saber só é humano se nele estiverem envolvidos e comprometi‐

dos uma consciência e um destino pessoal. 

Para Crippa (1990),  

Mestre  é aquele que  conduz o aprendiz através de  todas as  etapas que  levam ao 

saber. Etapas que ele percorreu antes. A docência não é um esforço mais ou menos 

impessoal de  transportar uma certa quantidade de conhecimentos da  inteligência 

de  um  para  a  inteligência  de  outrem.  A  docência  é  um  gesto  humano, 

marcadamente  pessoal,  pelo  qual  o  mesmo  procura  conduzir  aqueles  que  o 

acompanham à mesma visão da  realidade  e ao mesmo  encontro  com a verdade a 

que foi pessoalmente conduzido. A cada novo gesto de ensinar, renova‐se o mesmo 

esforço, a mesma atenção e o mesmo desvelo da primeira experiência pessoal ou da 

vidência que inaugurou um novo saber. 

Crippa (1990) afirma que o saber não se evade do mestre para se ani‐

nhar  na  inteligência  dos  alunos. O  conhecimento  é  sempre  pessoal, 

seguindo‐se ao esforço de cada um. Se chegar ao saber, o discípulo o 

fará pelo próprio esforço, atualizando, pela ação do mestre, as potenci‐

alidades de suas faculdades intelectivas. A admiração, o temor, a curi‐

osidade,  a    busca,  o  esforço,  a  coragem  e  o  amor  tanto devem  estar 

presentes  no  gesto  de  aprender  como  jamais  devem  ausentar‐se  do 

gesto de ensinar. 

A docência é a  reiteração do processo  interior  realizado pelo mestre. 

Um permanente retomar o caminho já feito. O mundo pessoal é desco‐

berto e revelado aos alunos. Através das exposições, das explicações e 

das demonstrações, o mestre procura  refazer  e  revelar arquitetonica‐

mente  a  realidade. A  admiração  e  a  sábia  ignorância  dos  primeiros 

momentos são seguidas de muita dedicação e trabalho, de sacrifícios e 

renúncias, de desesperos e sofrimentos, até a manifestação da verdade 

buscada.  

Nesse  esforço  e nessa  busca,  às  vezes dolorosa,  às  vezes  amorosa,  o 

mestre se faz, e o discípulo se engrandece diante da sabedoria. 

Page 40: Livro de ecopedagogia

 

 40

Crippa  também  ensina  que o mestre  é uma  espécie de demiurgo. O 

caos, as águas, a terra, o fogo, os números, o infinito reordenam‐se de 

maneira singular, em obediência às novas palavras. Cria‐se uma nova 

via de  acesso  à  realidade  e  inaugura‐se uma  nova  visão do mundo. 

Mestre é o que faz da docência um permanente esforço de recriar essa 

visão, inserindo inteligências e vontades numa nova ordem de verda‐

des e de valores. Risco? Certamente. Se a visão do mestre  for  falha e 

deficiente, também o será a visão dos discípulos. Mas é um risco gran‐

dioso, sem o qual nem ciência, nem filosofia, nem conhecimento algum 

teriam progredido. O discípulo nunca permanece enclausurado dentro 

do mundo do mestre. Ao menos para os melhores, o ponto de chegada 

do mestre é o ponto de partida para os novos riscos e as novas aventu‐

ras espirituais. Para os demais, sequer põe‐se a questão. Serão apenas 

ouvintes e repetidores de um saber que jamais alcançarão.  

Segundo Crippa (1990),  

A  docência  é,  fundamentalmente,  uma  ação  criadora,  educando  e  formando 

inteligências e vontades. No homem, a inteligência e a vontade não são faculdades 

estanques. Sabemos  que  a  educação  saber‐virtude não  é verdadeira. O mais  alto 

conhecimento, mesmo  em questões morais, pode coexistir com  erros  e distorções. 

Toda vez que  isto ocorre, porém,  é  a  integridade do humano que  é ameaçada. O 

homem é uma totalidade que deve engrandecer‐se na multiplicidade das instâncias 

reais  que  as  faculdades  permitem.  É  da  sabedoria  e  da  santidade  harmonizar 

plenamente o saber e o fazer. 

Sendo  o  homem  uma  totalidade,  a docência,  independentemente do 

âmbito em que ocorra, não pode estar desligada da  formação do ho‐

mem. Não  há  um mero  ensinar.    Também  educam  os mestres  que 

imaginam  prescindir  de  qualquer  posição  e  julgamento  valorativos. 

Mal educam, mas educam. 

Menciona, ainda, Crippa (1990): 

Com  o  ato  de  ensinar,  ou  por  causa  dele,  algo  de  misterioso  constitui‐se  na 

interioridade dos alunos. O gesto desencadeador é a ação do professor: suas ideias, 

suas  convicções,  suas  palavras,  seu  comportamento.  Não  importa  o  objeto  da 

exposição, da investigação ou do debate. Mesmo quando não cria um saber novo, o 

professor não pode  ser  reduzido  à  condição de mero  transmissor de um  saber  já 

feito. Não  pode  ser  equiparado  à  página  de  um  livro  nem  às  vibrações  de  um 

aparelho eletrônico. No mundo humano, o professor é sempre um educador. 

Para  tanto,  torna‐se  interessante  entender‐se  e  estudar  as  interações 

dos mestres com seus alunos, considerando‐se aspectos da comunica‐

ção.  

Page 41: Livro de ecopedagogia

 

41

Conforme Rodriguez (1989), “comunicação e ensino estão estreitamen‐

te vinculados, e o adequado manejo de uma  repercute na eficácia da 

outra”. Portanto, possui grande importância a análise de alguns aspec‐

tos‐chaves que singularizam essa relação.  

Relacionamento interpessoal e comunicação se implicam mutuamente, 

e não se pode definir um sem fazer referência à outra. A comunicação é 

o  que  possibilita  uma  relação  pessoal  e  importa muito mais do  que 

uma mera transmissão de símbolos.  

Hoz, citado por Rodriguez (1989), afirma que  

[...]  toda relação humana é comunicação. Na relação que se estabelece através da 

comunicação,  a  conduta  comunicativa  dos  participantes  pode  ter  distintos 

propósitos  e  cumprir  diferentes  funções.  Uma  delas  é  o  mero  intercâmbio  de 

informações entre os interlocutores sem maior intenção que a de servir de nexo, de 

união ou simplesmente de compartilhar. 

Distinto é o caso da comunicação pedagógica, que assume característi‐

cas próprias e distintas. Como finalidade, a comunicação pedagógica é 

utilizada  para  designar  o  intercâmbio  de mensagens  verbais  e  não‐

verbais entre professores e alunos em uma sala de aula. 

Hurt,  citado por Rodriguez  (1989), define a  comunicação pedagógica 

“como o processo mediante o qual a pessoa estimula  significados na 

mente da outra através de mensagens verbais e não verbais”. 

Sem dúvida, qualquer processo de ensinar é um ato comunicativo. Por 

isso,  toda comunicação requer capacidade expressiva e compreensiva 

por parte do comunicante. Desse modo, a relação entre comunicação e 

ensino  é  uma  relação dupla: de  uma  parte,  o  ensino  é  um  processo 

comunicativo  e, de outra, uma das  funções do  ensino  é desenvolver 

capacidades comunicativas. 

 

Page 42: Livro de ecopedagogia

 

 42

Atividades

1) No contexto da Ecopedagogia, o que é a cidadania planetária? 

 

2) A Ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, 

isto  é, desenvolver  a  atitude de  observar  e  evitar  a presença de 

agressões ao meio ambiente, levando‐se em consideração as expe‐

riências  cotidianas  aparentemente  insignificantes que  fundamen‐

tam as relações do indivíduo com ele mesmo e com o mundo (DÍ‐

AZ, 2002). Como podemos explorar as experiências cotidianas pa‐

ra desenvolver a Ecopedagogia?  

 

3) Qual é o papel da Ecopedagogia? 

Page 43: Livro de ecopedagogia

  

5 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Por meio  dos  inúmeros  documentos  elaborados,  nos mais  diversos 

congressos e seminários vinculados à ONU e à Unesco, sobre as ques‐

tões ambientais, ficam claramente estabelecidas a urgência e a  impor‐

tância  da  Educação Ambiental  como  um  processo  de  integração  do 

homem com o meio ambiente, em que 

O  processo  educativo  ambiental  pode  ser  compreendido  com  base  nas  reflexões 

empreendidas  sobre  as  relações  entre  o homem  e  a natureza  e  sobre  a  educação. 

Quanto mais  abstrações  (teoria) pudermos pensar  sobre  essas  categorias  simples 

(relação homem‐natureza  e  educação), mais próximos  estaremos da  compreensão 

plena do processo educativo ambiental.1 

Baseada também nessa relação, a Carta de Belgrado (1975) define que 

“É na relação entre a escola e a comunidade, entre o sistema educacio‐

nal  e  a  sociedade,  onde  devem  ser  lançadas  as  fundações  para  um 

programa mundial de educação ambiental”2. As primeiras ações perti‐

nentes à educação foram divulgadas no I Congresso Mundial de Edu‐

cação Ambiental, em Tbilissi. Foi plantada então a “semente” da cons‐

ciência  ambiental  no  solo  fértil  da  Educação Ambiental  para  que  a 

mesma cresça, fortifique‐se e se multiplique.  

A Educação Ambiental é parte do movimento ecológico. 

Surge  a  preocupação  da  sociedade  com  o  futuro  da  vida  e  com  a  qualidade  da 

existência das presentes e futuras gerações. Nesse sentido, podemos dizer que a EA 

é  herdeira  direta  do  debate  ecológico  e  está  entre  as  alternativas  que  visam 

construir  novas  maneiras  de  os  grupos  sociais  se  relacionarem  com  o  meio 

ambiente.3 

E, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, um tratado seria estabelecido, 

o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis que, 

em seu princípio nº 3, estabelece: “A Educação Ambiental é individual 

e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e 

Page 44: Livro de ecopedagogia

 

 44

planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania 

das nações”. 

Sendo assim, essa ideia ficou registrada em um documento elaborado 

por representantes de diversas nações, por meio da ONU e da Unesco, 

estabelecendo o poder da Educação Ambiental no desenvolvimento de 

atividades locais (regionais) e para uma melhor compreensão e posici‐

onamento na questão global.  

Segundo Reigota, 

Para que possamos realizar a educação ambiental, é necessário, antes de mais nada, 

conhecermos as concepções de meio ambiente das pessoas envolvidas na atividade 

[...]  

A  educação  ambiental  deve  orientar‐se  para  a  comunidade.  Deve  procurar 

incentivar o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu 

contexto de realidades específicas.4 

Tomando como base a citação de Reigota, a Educação Ambiental deve 

estar  ligada  à  identificação  e  à  busca  de  solução  para  os  problemas 

ambientais  locais,  e  a  relação desses problemas  com  a população do 

entorno,  ou  seja,  os  impactos  na  convivência  cotidiana  dos  grupos 

humanos com a natureza. 

Na proposta para essa convivência eficiente entre o homem e o ambi‐

ente, fica bem estabelecido como um dos papéis da Educação Ambien‐

tal a  formação do  indivíduo, conforme citado na Política Nacional de 

Educação Ambiental (Lei nº 9.795/996), que define a Educação Ambien‐

tal como sendo essencial à sustentabilidade. 

[...] 

Art.  1º Entendem‐se  por  educação  ambiental  os  processos  por meio  dos  quais  o 

indivíduo  e  a  coletividade  constroem valores  sociais,  conhecimentos, habilidades, 

atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso 

comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. 

[...] 

Uma vez que Carvalho afirma que “a educação acontece como parte da 

ação  humana  de  transformar  a  natureza  em  cultura,  atribuindo‐lhe 

sentidos na compreensão e na experiência humana, existindo a neces‐

sidade de se promover o desenvolvimento sustentável”5, Díaz afirma:  

                                                                  6  Para ler a Lei nº 9.795/99, na íntegra, acessar o site: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9795.htm>. 

Page 45: Livro de ecopedagogia

 

45

A  finalidade  da  educação  ambiental  é,  de  fato,  levar  à  descoberta  de  uma  certa 

ética, fortalecida por um sistema de valores, atitudes, comportamentos, destacando, 

entre  os  primeiros,  questões  como  a  tolerância,  a  solidariedade  ou  a 

responsabilidade. A  educação ambiental  também deveria permitir o progresso na 

busca  dos  valores  mais  adequados  a  um  verdadeiro  desenvolvimento 

(desenvolvimento sustentável).6 

As citações anteriores definem de forma diferente e ao mesmo tempo 

estabelecem  uma  relação  de  interdependência  de  uma  com  a  outra, 

determinando os inúmeros conceitos em Educação Ambiental. 

A valorização do ambiente pela educação é estabelecida por meio de 

temas que levam em conta o bem e o seu valor para as nossas gerações 

e as futuras. 

Para  elucidar os  termos  bem  e  valor,  tomemos, por  exemplo, um dos 

trechos da carta do chefe indígena Seattle, na qual expressa o valor que 

um bem ambiental  tem para o  índio. Valores esses que, segundo ele, 

deveriam ser repassados por meio da educação a todas as crianças. 

Vocês devem  ensinar  às  suas  crianças que  o  solo  a  seus pés  é  a  cinza de nossos 

avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com a 

vida de nosso povo.  

Ensinem  às  suas  crianças  o  que  ensinamos  às nossas:  que  a  terra  é nossa mãe. 

Tudo o que acontecer a Terra acontecerá também aos filhos da terra. Se os homens 

cospem no solo, então estão cuspindo em si mesmos.7 

Este é o papel da Educação Ambiental: formar cidadãos responsáveis e 

conscientes, que deem VALOR AO BEM AMBIENTAL para as gera‐

ções que hoje habitam o planeta e também para as futuras gerações. 

Leitura complementar

Tratado de educação ambiental para sociedade sustentável e responsabilidade global

Introdução

Consideramos que a Educação Ambiental para uma  sustentabilidade 

equitativa  é  um  processo de  aprendizagem  permanente,  baseado  no 

respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações 

que contribuem para a transformação humana e social e para a preser‐

vação  ecológica.  Ela  estimula  a  formação  de  sociedades  socialmente 

justas  e  ecologicamente  equilibradas, que  conservam  entre  si  relação 

de  interdependência e diversidade.  Isto requer responsabilidade  indi‐

Page 46: Livro de ecopedagogia

 

 46

vidual e  coletiva em nível  local, nacional e planetário. Consideramos 

que a preparação para as mudanças necessárias depende da compre‐

ensão coletiva da natureza sistêmica das crises que ameaçam o futuro 

do  planeta. As  causas  primárias  de  problemas  como  o  aumento  da 

pobreza, da degradação humana e ambiental e da violência podem ser 

identificadas  no modelo de  civilização dominante,  que  se  baseia  em 

superprodução  e  superconsumo  para  uns  e  subconsumo  e  falta  de 

condições para produzir por parte da grande maioria. Consideramos 

que são  inerentes à crise a erosão dos valores básicos e a alienação e 

não‐participação da quase totalidade dos indivíduos na construção de 

seu futuro. É fundamental que as comunidades planejem e implemen‐

tem suas próprias alternativas às políticas vigentes. Dentre essas alter‐

nativas está a necessidade de abolição dos programas de desenvolvi‐

mento, ajustes e reformas econômicas que mantêm o atual modelo de 

crescimento com seus terríveis efeitos sobre o ambiente e a diversidade 

de espécies,  incluindo a humana. Consideramos que a Educação Am‐

biental  deve  gerar  com  urgência mudanças  na  qualidade  de  vida  e 

maior consciência de conduta pessoal, assim como harmonia entre os 

seres humanos e destes com outras formas de vida. 

Princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global

1) A educação é um direito de todos, somos todos aprendizes e edu‐

cadores.  

 

2) A Educação Ambiental deve ter como base o pensamento crítico e 

inovador, em qualquer  tempo ou  lugar, em  seus modos:  formal, 

não‐formal e  informal, promovendo a transformação e a constru‐

ção da sociedade. 

 

3) A Educação Ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de 

formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem 

a autodeterminação dos povos e a soberania das nações. 

 

Atividades

1) A  Carta  de  Belgrado  (BRASIL,  2008a)  estabelece:  “É  na  relação 

entre a escola e a comunidade, entre o sistema educacional e a so‐

ciedade, onde devem ser  lançadas as  fundações para um progra‐

ma mundial de educação ambiental”. Justifique essa afirmativa. 

 

2) A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99) defi‐

ne a Educação Ambiental como sendo essencial à sustentabilida‐

de, pois proporciona a construção de valores sociais, conhecimen‐

Page 47: Livro de ecopedagogia

 

47

tos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conser‐

vação do meio ambiente. Como podemos observar isso na prática? 

 

3) “A Educação Ambiental é  individual e coletiva. Tem o propósito 

de  formar cidadãos com consciência  local e planetária”. Explique 

os  termos  “individual  e  coletiva”  e  “consciência  local  e planetá‐

ria”. 

 

 

Page 48: Livro de ecopedagogia

  

6 CORRENTES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Livia Lucina Ferreira Albanus

O  homem,  por meio do  processo  natural de  evolução,  foi desenvol‐

vendo  a  capacidade  de  interagir  e  de  aprender  com  os  fenômenos 

naturais. Assim, a educação evoluiu através de milhares de anos, como 

forma de observação, interação e reprodução de conhecimentos adqui‐

ridos por meio de  inúmeras  relações,  sejam  elas  sociais,  culturais ou 

cognitivas. 

Por exemplo, a noção sociobiodiversidade é uma das tentativas de apreender essas 

interações  complexas  entre  a  sociedade  e  a  natureza,  associando  as  ideias  de 

biodiversidade  (diversidade  biológica  da  vida  natural)  e  sociodiversidade 

(diversidade social formada pelos diferentes grupos sociais e culturais que habitam 

o  planeta).  Tal  noção  auxilia‐nos  a  traduzir  a  indissociável  interação  entre  o 

mundo natural e o social, da qual resultam as condições de vida humana na terra e 

as  marcas  dessa  presença  na  natureza,  as  quais  criam  permanentemente,  no 

mundo, novos cursos de vida,  fluxos de comunicação  e paisagens  tanto naturais 

quanto culturais.1 

As observações e  relações estabelecidas entre o ambiente e o  seu  im‐

pacto  na  formação  do  homem  foram  evoluindo  e  aprimorando‐se, 

dando  origem  a  inúmeras  formas  de  representação  do  pensamento 

sobre o meio ambiente. Carvalho estabelece duas  linhas de percepção 

do homem com relação ao meio ambiente: a natural, que observa “A 

percepção da  natureza  como  fenômeno  estritamente  biológico,  autô‐

nomo, alimentando a  ideia de que há um mundo natural constituído 

em oposição ao mundo humano”2, e a socioambiental, em que “a natu‐

reza e os humanos, bem como a sociedade e o ambiente, estabelecem 

uma  relação  de mútua  interação  e  copertença,  formando  um  único 

mundo”. 

Ainda conforme Carvalho: 

A  visão  socioambiental  orienta‐se  por  uma  racionalidade  complexa  e 

interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo de natureza intocada, 

mas  como um  campo de  interações  entre  a  cultura,  a  sociedade  e  a  base  física  e 

Page 49: Livro de ecopedagogia

 

49

biológica dos processos vitais, no qual todos os termos dessa relação se modificam 

dinâmica e mutuamente. 3 

Por meio  da  relação  socioambiental,  a  educação  se  desenvolveu  de 

forma  a  levar  em  consideração  vários  aspectos  naturais  que  foram 

arraigando‐se  nos  processos  educacionais.  Quanto  mais  o  homem 

adquiria conhecimento por meio da sua relação com o meio ambiente, 

maior era a percepção desse meio sob diferentes aspectos. 

Segundo Mizukami, 

Toda  interpretação do  fenômeno vital, quer seja biológica, sociológica, psicológica 

etc.,  resulta  de  uma  relação  sujeito‐ambiente,  isto  é,  deriva  de  uma  tomada  de 

posição epistemológica em relação ao sujeito e ao meio. Subjacentes ao conceito de 

homem, de mundo, de aprendizagem, conhecimento, sociedade, cultura etc., estão 

presentes – implícita ou explicitamente – algumas dessas posições. Essas diferentes 

posições,  por  sua  vez,  podem  implicar,  do  ponto  de  vista  lógico,  diferentes 

aplicações pedagógicas.4 

Mizukami afirma  ser a  relação do  sujeito  com o meio o que  forma o 

conceito de homem e o conceito de mundo, o que impacta diretamente 

na  aprendizagem,  à medida  que,  por meio  desses,  desenvolvem‐se 

outros  inúmeros  conceitos  sociais,  culturais  etc., de  forma que deve‐

mos conceber o processo educativo como um processo  inacabado por 

natureza, que ocorre conforme o ser humano se desenvolve no decor‐

rer da vida por meio de relações humanas, sociais, técnicas, cognitivas, 

emocionais, sociopolíticas, culturais, com múltiplas implicações e rela‐

ções.5 

Sauvé, citado por Carvalho, identifica diversas correntes para a Educa‐

ção Ambiental,  levando  em  consideração  as diversas maneiras de  se 

promover a ação educativa ambiental, e propõe estabelecer um mapa 

do “território” pedagógico, agrupando as correntes por características 

semelhantes,  apesar  de  cada  uma  possuir  grupos  de  características 

específicas. 

Segundo Sauvé, citado por Carvalho, existem 15 correntes em Educa‐

ção  Ambiental,  algumas  com  tradição  mais  “antiga”,  surgidas  nas 

décadas de 70 e 80, e outras mais atuais,  trazendo consigo preocupa‐

ções mais emergentes.“A noção de corrente refere‐se aqui a uma ma‐

neira geral de conceber e de praticar a educação ambiental”6. 

Page 50: Livro de ecopedagogia

 

 50

6.1 Tipos de correntes

Existem  dois  tipos  de  correntes:  as  tradicionais  e  as mais  recentes. 

Algumas correntes serão apresentadas em função de sua concepção de 

meio ambiente e do enfoque sobre Educação Ambiental. 

Correntes tradicionais

As tradicionais dividem‐se em: 

1. Naturalista; 

2. Conservacionista/recursista; 

3. Resolutiva; 

4. Sistêmica; 

5. Científica; 

6. Humanista; 

7. Moral/ética. 

Corrente naturalista

Centrada  na  relação  com  a  natureza  de  diversas  formas:cognitivas 

(atividades sobre a natureza); experienciais  (atividades com a nature‐

za); afetivo/artístico  (inspiração e criatividade aplicadas às atividades 

para e com a natureza). 

Segundo Sauvé, citado por Carvalho, “A  tradição da corrente natura‐

lista é certamente muito antiga, se consideramos as ‘lições de coisas’ ou 

a aprendizagem por imersão e imitação nos grupos sociais cuja cultura 

está estreitamente forjada na relação com o meio natural”7. 

Dentro  da  corrente  naturalista,  observamos  o  desenvolvimento  de 

atividades  experienciais  cognitivas  e  afetivas  em um meio natural,  a 

fim de compreender fenômenos naturais e de desenvolver vínculo com 

a natureza. 

Por exemplo: passeios e trilhas. 

Corrente conservacionista/recursista

Baseada na conservação dos recursos tanto em sua quantidade quanto 

em  sua  qualidade  (água,  ar,  solo,  energia, plantas  e  animais). Nessa 

Page 51: Livro de ecopedagogia

 

51

corrente, a natureza é vista como um recurso, devendo ser administra‐

da. 

Segundo Sauvé, citado por Carvalho, 

A ‘educação para a conservação’ certamente sempre foi parte da educação familiar 

ou  comunitária  nos meios  onde  os  recursos  são  escassos.  Entre  outras,  ela  se 

desenvolveu  em  situações de guerra  em meados do último  século – por  exemplo, 

fundindo velhas panelas para fazer munições (triste reciclagem!) – e ao constatar 

os  primeiros  sinais  de  esgotamento  dos  recursos  do  boom  econômico,  após  a 

Segunda Guerra Mundial, nos países desenvolvidos.8 

As  atividades  de  Educação Ambiental,  que  têm  por  base  a  corrente 

conservacionista, baseiam‐se no programa ambiental  três Rs – Redu‐

ção, Reutilização e Reciclagem –, direcionados para a gestão dos recur‐

sos naturais.  

Por exemplo: artesanato com material reciclado. 

Corrente resolutiva

Evoluiu após a revelação da amplitude da problemática e da gravidade 

dos problemas ambientais, em que o meio ambiente é visto como um 

conjunto de problemas (escassez de recursos, aquecimento global etc.). 

A  Unesco,  em  seu  programa  internacional  de  Educação Ambiental, 

estabelece a si mesma o dever de informar sobre os problemas ambien‐

tais, assim como o de desenvolver habilidades para resolvê‐los. 

As atividades nessa corrente  favorecem o estudo por meio da análise 

do problema e das prováveis resoluções para o mesmo.  

Por exemplo: estudo de caso sobre uma questão ambiental. 

Corrente sistêmica

Essa corrente permite ver o meio ambiente como um sistema  integra‐

do, com vários componentes, e a relação existente entre eles (biofísico, 

social, econômico etc.), permitindo uma visão geral e ampla. 

As atividades desenvolvidas devem ser  interdisciplinares, de  forma a 

possibilitar  inúmeras  possibilidades  e  probabilidades  de  tópicos  em 

um problema. 

Por exemplo: em relação à água, o seu sistema hídrico, a captação e o 

tratamento, poesia e música, conta da água (matemática) etc. 

Corrente científica

Page 52: Livro de ecopedagogia

 

 52

Proposição de Educação Ambiental com ênfase na cientificidade, com 

o estudo pontual das  realidades e problemáticas ambientais,  identifi‐

cando principalmente as relações de causa e efeito. 

Por  exemplo: atividades desenvolvidas por meio de projetos de pes‐

quisa  e  experimentos  em  que  formulam  e  verificam‐se  hipóteses  a 

partir de observações, “o meio ambiente é o objeto de conhecimento”, 

para a resolução ou para a melhoria de um problema.  

Corrente humanista

Reporta‐se à dimensão humana do meio ambiente, sendo apreendido 

na relação que corresponde a um meio de vida, e sendo observadas as 

dimensões históricas,  culturais, políticas,  econômicas  etc.,  levando‐se 

em consideração o seu valor simbólico. 

A corrente humanista estabelece uma aliança entre a criação humana, 

os materiais e as possibilidades da natureza. Trata da relação entre o 

homem e o seu meio, das contribuições que esse meio causa ao homem 

e da  evolução dos  sistemas naturais  e das populações humanas  que 

estabeleceram suas trajetórias na natureza. 

As  atividades  da  corrente  humanista  têm  como  objetivo  explorar  o 

meio ambiente como meio de vida, estudar a evolução desse meio e a 

forma como o homem se adapta a ele, tendo interagido no decorrer do 

tempo, estabelecendo vínculos históricos.  

Por exemplo: linha do tempo sobre a interação do homem com o ambi‐

ente através da história (pescadores – ontem, hoje e amanhã). 

Corrente moral/ética

Baseada  principalmente  em  um  conjunto  de  valores  conscientes,  a 

corrente moral/ética convida para a adoção de uma “moral” ambiental, 

estabelecendo  um  comportamento  socialmente  correto  na  questão 

ambiental. Trata‐se, antes de mais nada, de estabelecer  seus próprios 

valores em relação ao seu atuar, pois a relação ética e responsável em 

relação  ao meio  ambiente  aponta  para  o  desenvolvimento moral  do 

homem. 

As  atividades  são  desenvolvidas  levando‐se  em  consideração  a  con‐

frontação em situações morais e éticas relacionadas ao ambiente, dan‐

do ao homem a possibilidade de escolhas ao agir e de justificá‐las.  

Por exemplo: debates, com análise, discussão e solução, e  júri simula‐

do, com acusação e defesa, para problemáticas ambientais. 

Page 53: Livro de ecopedagogia

 

53

Correntes mais recentes

As correntes mais recentes dividem‐se em: 

1. Holística; 

2. Biorregionalista; 

3. Práxica; 

4. Crítica; 

5. Feminista; 

6. Etnográfica; 

7. Da ecoeducação; 

8. Da sustentabilidade. 

Corrente holística

Refere‐se à totalidade de cada ser, de cada realidade, em uma rede de 

relações que une em conjunto os seres entre si, dando‐lhes sentido. Isso 

faz com que a corrente holística necessariamente não seja homogênea, 

tendo em vista a existência de uma relação ímpar e íntima com o meio 

ambiente.  

As atividades são desenvolvidas de forma a promover o aprendizado e 

o comprometimento com o ambiente e com todos os seres, ao partici‐

par  de  vivências  que  desenvolvam  atividades  criativas  associadas  à 

natureza. 

Por  exemplo:  passeios  temáticos  que  evidenciem  as  relações  entre 

homem e ambiente com diversas esferas, formando uma rede de rela‐

ções  em  que  um dependa do  outro,  bem  como  atividades  artísticas, 

agrícolas etc.  

Corrente biorregionalista

Corrente que foi inspirada por uma premissa estipulada no capítulo 28 

da Agenda 21, que define um dos maiores chavões do meio ambiente, 

“pensar global e agir local”. 

Como descreve Sauvé, citado por Carvalho, 

A corrente biorregionalista inspira‐se geralmente numa ética ecocêntrica e centra 

a Educação Ambiental no desenvolvimento de uma relação preferencial com o meio 

local ou regional, no desenvolvimento de um sentimento de pertença a este último 

e no compromisso em favor da valorização deste meio.9 

Page 54: Livro de ecopedagogia

 

 54

Na  corrente  biorregionalista,  a  escola  é  um  dos  principais meios  de 

desenvolvimento social, ambiental, cultural e histórico de uma  locali‐

dade,  tendo  em vista que  faz o  chamamento das  suas  ações para os 

pais  e  à  comunidade  como  um  todo,  buscando melhorias  primeira‐

mente para o seu entorno, podendo aumentar a sua área de alcance. 

Por  exemplo:  levantamento  histórico  dos  impactos  ambientais  locais 

por meio de passeios dirigidos, debate com moradores antigos, exposi‐

ção de fotos antigas etc. 

Corrente de crítica social

Assemelha‐se muito  à  corrente  biorregional,  tendo  em  vista  que  seu 

objetivo é a atuação crítico‐social local, que se dá pela análise da dinâ‐

mica  nas  relações  sociais,  em  que  podem  ser  encontradas  diversas 

realidades e problemáticas ambientais, que ocasionam inúmeros ques‐

tionamentos  e  posicionamentos,  nas  quais  é  necessária  uma  postura 

crítica  como  forma  de  transformação  da  realidade.  Na  escola,  essa 

corrente propõe atividades centradas na pedagogia de projetos  inter‐

disciplinares, aliando teoria e prática por meio de um saber‐ação, para 

a solução de problemas e para o desenvolvimento local. 

Por  exemplo:  projetos  comunitários,  passeios  orientados,  pesquisas 

locais etc. 

Corrente etnográfica

Corrente  que  leva  em  consideração  o  caráter  cultural  da  relação  do 

homem  com  o meio  ambiente,  pois  a  cultura  das  populações  e  das 

comunidades envolvidas serve como referência. 

Sauvé, citado por Carvalho, afirma que “A corrente etnográfica propõe 

não  somente  adaptar  a  pedagogia  às  realidades  culturais  diferentes, 

como  se  inspirar nas pedagogias de diversas  culturas que  têm outra 

relação com o meio ambiente”10. 

As  escolas  que  seguem  a  corrente  etnográfica  propõem  atividades 

voltadas à cultura de uma determinada população e às  formas como 

essa cultura é passada adiante. 

Por exemplo: educação em regiões pantaneiras, indígenas, amazônicas, 

ribeirinhas, agreste etc., por meio de estratégias educacionais próprias 

de cada cultura regional e na sua inter‐relação com o meio ambiente. 

Page 55: Livro de ecopedagogia

 

55

Corrente da sustentabilidade

Surge  com  o  advento  do  conceito  de  desenvolvimento  sustentável 

(1980), em que o enfoque está na utilização de forma consciente e raci‐

onal dos recursos disponíveis hoje, de forma a garantir as necessidades 

do amanhã.  

Segundo  Sauvé,  citado por Carvalho,  “A  educação  ambiental para o 

consumo sustentável preocupa‐se sobretudo em proporcionar a  infor‐

mação sobre os produtos (os modos de produção, os possíveis impac‐

tos  ambientais,  os  custos  de  publicidade  etc.)  e  em  desenvolver  nos 

consumidores capacidades de escolhas entre diferentes opções [...]”11.  

Por exemplo: a corrente da sustentabilidade é mais frequente nas esco‐

las que  trabalham  com atividades de  reciclagem,  seleção e  separação 

de resíduos, projetos escolares sobre consumo consciente, entre outros. 

Sauvé, citado por Carvalho, estabelece um quadro sobre a diversidade 

das correntes ambientais e suas aplicações metodológicas na Educação 

Ambiental, conforme podemos acompanhar, pela Leitura Complemen‐

tar.12 

Leitura complementar

A tabela a seguir destaca os principais aspectos de cada uma das cor‐

rentes em Educação Ambiental. 

 

Continuação

Page 56: Livro de ecopedagogia

 

 56

 

CORRENTES 

CONCEPÇÕES 

DO M

EIO 

AMBIENTE 

OBJETIVOS DA 

EJA 

ENFOQUES 

DOMIN

ANTES 

EXEMPLOS DE 

ESTRATÉGIA 

Naturalista 

Natureza 

Reconstruir uma ligação 

com a natureza 

Sensorial. 

Experiencial. 

Afetivo. 

Cognitivo. 

Criativo/Estético 

Imersão. 

Interpretação. 

Jogos sensoriais. 

Atividad

e de descoberta 

Conservacionista 

Problema. 

Desenvolver 

habilidad

es de 

resolução de 

problemas (RP): do 

diagnóstico à ação. 

Cognitivo. 

Pragmático. 

Estudo de casos: 

análise de 

situações –

problema.  

Experiência de RP 

associad

a a um 

projeto. 

Sistêmica 

Sistema 

Desenvolver o pensamento 

sistêm

ico: análise e síntese 

para uma visão global. 

Compreender as realidad

es 

ambientais, tendo em vista 

decisões apropriad

as. 

Cognitivo 

Estudo de casos: análise dos 

sistem

as ambientais. 

Científica 

Objeto de estudos. 

Adquirir conhecim

entos 

em ciências ambientais. 

Desenvolver habilidad

es 

relativas à experiência 

científica. 

Cognitivo . Experim

ental 

Estudo de fenômenos.  

Observação. 

Dem

onstração. 

Experim

entação. 

Atividad

e de pesquisa 

hipotético‐ded

utiva. 

Page 57: Livro de ecopedagogia

 

57

Human

ista 

Meio de vida. 

Conhecer o seu m

eio de vida e 

conhecer‐se melhor em relação a ele.  

Desenvolver um sentido de pertença.  

Sensorial.  

Cognitivo. 

Afetivo. 

Experim

ental. 

Criativo/Estético 

Estudo do m

eio . 

Itinerário ambiental. 

Leitura de paisagem

Moral/Ética 

Objeto de valores 

Dar prova de ecocivismo. 

Desenvolver um sistema ético. 

Cognitivo.  

Afetivo.  

Moral 

Análise de valores. 

Definição de valores.  

Crítica de valores sociais 

Holística 

Total.  

Todo. 

O ser. 

Desenvolver as múltiplas dim

ensões de seu ser em interação 

com o conjunto de dim

ensões do m

eio ambiente. 

Desenvolver um conhecim

ento “orgân

ico” do m

undo e um 

atuar participativo em unidad

e com o m

eio ambiente. 

Holístico. 

Orgân

ico. 

Intuitivo. 

Criativo. 

Exploração livre.  

Visualização. 

Oficinas de criação. 

Integração de estratégias complementares. 

Page 58: Livro de ecopedagogia

 

 58

Biorregionalista 

Lugar de pertença.  

Projeto comunitário. 

Desenvolver 

competências em 

ecodesenvolvim

ento 

comunitário, local ou 

regional.  

Cognitivo.  

Afetivo. 

Experim

ental. 

Criativo 

Exploração do m

eio. 

Projeto comunitário. 

Criação de 

ecoem

presas. 

Prática 

Cad

inho de 

ação\reflexão 

Aprender em, p

ara 

e pela ação.  

Desenvolver 

competências de 

reflexão. 

Práxico. 

Pesquisa‐ação. 

Critica 

Objeto de 

ação/reflex

ão 

realidad

es 

socioam

bie

ntais, 

visan

do a 

tran

sform

a

r o que 

Práxico.  

Refletivo. 

Dialogístic

o. 

Análise de 

discurso.  

Estudo de 

casos. 

Debates. 

Pesquisa‐

ação. 

Fem

inista 

Objetivo de solicitude. 

Integrar os valores 

feministas à relação com o 

meio ambiente. 

Intuitivo. 

Afetivo. 

Sim

bólico. 

Espiritual. 

Criativo/Estético 

Estudo de casos. 

Imersão. 

Oficinas de criação. 

Atividad

es de intercâm

bio 

de comunicação. 

Etnográfico 

Território.  

Lugar de identidad

e. 

Natureza/ 

cultura 

Reconhecer a estreita ligação entre 

a natureza e cultura. 

Clarear sua própria cosm

ologia.  

Valorizar a dim

ensão cultural de 

sua relação com o m

eio ambiente. 

Experiencial. 

Intuitivo.  

Afetivo. 

Sim

bólico.  

Espiritual. 

Criativo/Estético 

Contos, narrações e lendas.  

Estudo de casos. 

Imersão. 

Modelização.  

 

Page 59: Livro de ecopedagogia

 

59

Fonte: Sato, Carvalho, 2005 

Atividades

1) Como se dá a percepção socioambiental na relação homem/ ambi‐

ente? 

 

2) Por  que Mizukami  (1986)  admite  ser  o  processo  educativo  um 

processo inacabado por natureza? 

 

3) Elaborar um estudo de caso  levando em consideração a corrente 

etnográfica. 

Ecoed

ucação 

Pólo de interação para form

ação pessoal.  

Cad

inho de identidad

Experim

entar o m

eio ambiente para experim

entar‐

se e form

ar‐se no e pelo m

eio ambiente. 

Construir uma melhor relação com o m

undo 

Experiencial. 

Intuitivo. 

Afetivo. 

Sim

bólico. 

Criativo. 

Relato de vida. 

Imersão. 

Exploração. 

Introspecção. 

Escuta sensível. 

Alternân

cia subjetiva/objetiva. 

Brincadeiras 

Projeto de desen

volvim

ento 

sustentável 

Recursos para o desenvolvim

ento 

econômico. R

ecursos compartilhad

os. 

Promover um desenvolvim

ento 

econômico respeitoso dos aspectos 

sociais e do m

eio ambiente.  

Contribuir para esse desenvolvim

ento. 

Pragmático. 

Cognitivo. 

Estudo de casos. 

Experiência de resolução de 

problemas. 

Projeto de desen

volvim

ento 

sustentável.  

 

Page 60: Livro de ecopedagogia

  

7 PROJETO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Como pudemos verificar nos capítulos anteriores, a Educação Ambien‐

tal começou a ser delineada e discutida a partir da conferência interna‐

cional sobre o meio ambiente,  realizada em Estocolmo, em 1972. Vinte 

anos  depois,  no  Brasil,  o  tema  Educação Ambiental  foi  amplamente 

debatido  na  Rio‐92,  evento  em  que  ficou  estabelecido  o  Tratado  de 

Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, que define tópicos 

fundamentais para  a  elaboração do projeto pedagógico da Educação 

Ambiental. 

Segundo Carvalho, 

No  Brasil,  a  EA,  que  se  orienta  pelo  Tratado  de  Educação  Ambiental  para 

Sociedades Sustentávei,s  tem buscado construir uma perspectiva  interdisciplinar 

para compreender as questões que afetam as relações entre os grupos humanos e 

seu  ambiente  e  intervir  nelas,  acionando  diversas  áreas  do  conhecimento  e 

diferentes  saberes  –  também  os  não  escolares,  como  os  das  comunidades  e 

populações  locais  –  e  valorizando  a  diversidade  das  culturas  e  dos  modos  de 

compreensão e manejo do ambiente.1 

O  tratado de Educação Ambiental explicita que os princípios que ele 

traz  devem  ser  trabalhados  “a  partir  das  realidades  locais,  estabele‐

cendo as devidas conexões com a  realidade planetária, objetivando a 

conscientização para a transformação”. E é basicamente no estabeleci‐

mento dessa relação “local e global” que deve estar alicerçado o proje‐

to pedagógico da Educação Ambiental, que segue a mesma  linha dos 

demais projetos pedagógicos existentes hoje no Brasil, ou seja, a plena 

adaptação  ao mesmo  contexto  social,  histórico,  econômico  e  cultural 

em que está inserido. Isso como forma de estabelecer um forte elo entre 

os valores estabelecidos pela comunidade e o seu impacto nas atitudes 

tomadas. 

Page 61: Livro de ecopedagogia

 

61

Segundo Díaz, 

Não  se  pode  esquecer  que  os  valores  e  as  atitudes  sempre  são  adquiridos  em 

contextos  de  realidade  e  interação  da  pessoa  com  seu  ambiente,  como  projetos 

ideais  de  comportar‐se  e  de  existir  que  o  indivíduo  aprecia  e  busca  ao mesmo 

tempo,  orientando  sua  atividade. Daí  a  importância da  relação dinâmica  com  os 

problemas  da  realidade;  o  problema  ambiental  é  um  dos  mais  significativos  e 

socialmente  preocupantes,  junto  com  outros muito  ligados  a  ele:  o  consumo,  o 

subdesenvolvimento ou a desigualdade.2 

O projeto pedagógico da Educação Ambiental deve  então partir das 

prioridades locais, visando a adaptação da escola ao ambiente onde ela 

está inserida, proporcionando o envolvimento e a atuação da comuni‐

dade no processo.  

Um projeto pedagógico de Educação Ambiental, para    realmente  ser 

efetivo, deve contemplar as  concepções e as percepções das questões 

ambientais,  que  contribuam  para  a  formação  do  indivíduo  crítico, 

capaz de transformar a sua realidade. 

Segundo Carvalho, 

Nessa definição, a prática educativa é processo que  tem como horizonte  formar o 

sujeito  humano  enquanto  ser  social  e  historicamente  situado.  Segundo  tal 

perspectiva,  a  educação não  se  reduz  a uma  intervenção  centrada no  indivíduo, 

tomando como unidade atomizada e solta no mundo. A formação do indivíduo só 

faz  sentido  se  pensada  em  relação  com  o mundo  em  que  ele  vive  e  pelo  qual  é 

responsável.3 

A Educação Ambiental deve ter um projeto pedagógico que contemple 

as  inúmeras  formas  de  aprendizagem  estabelecida  na  relação  ho‐

mem/ambiente. Baseando‐nos em Paulo Freire, que afirma  ser essa a 

relação  formadora  de  leitura  que  o  homem  faz  do mundo,  estando 

situado nele, um ser que se estabelece na ação e na reflexão sobre suas 

atitudes para com o mundo, com o objetivo de transformá‐lo. 

Para que o projeto pedagógico de Educação Ambiental se desenvolva 

bem adaptado ao contexto no qual está inserido, é necessário levar em 

consideração diversos aspectos sociais, culturais e ambientais. 

Dessa perspectiva  ampla do  contexto, pode  ser  interessante destacar 

alguns de seus aspectos que devem ser levados em conta para as dife‐

rentes dimensões que o  integram: social, econômica,  física etc. São os 

seguintes: 

Page 62: Livro de ecopedagogia

62

Contexto físico:

Situação geográfica.

Características físicas do meio.

Uso do território e recursos.

Problemática ambiental imediata (contaminação, resíduos etc.).

Contexto socioeconômico e cultural:

Antecedentes históricos.

Nível da população (cultural e econômico).

Problemática social comum.

Demandas da população.

Instituições e serviços.

Contexto escolar:

Características físicas e estruturais.

Características sociais e organizacionais.

Relações com o ambiente.

Recursos disponíveis.

Aspectos pedagógicos gerais (linhas gerais).

Díaz propõe que, por meio da análise da relação entre os três grandes contextos citados, pode-se contribuir para uma maior adequação do projeto pedagógico ao meio.4

Para isso, será necessário estabelecer objetivos, metas que levem em consideração as questões pedagógicas, sociais e institucionais de forma integrada, construídas de forma participativa, como define Vascon-cellos5.

O Projeto Político-Pedagógico (ou Projeto Educativo) é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É

Page 63: Livro de ecopedagogia

 

63

um instrumento teórico‐metodológico para a intervenção e mudança da realidade. 

É  um  elemento  de  organização  e  integração  da  atividade  prática  da  instituição 

neste processo de transformação.6 

Processo de  transformação que, na  cultura  contemporânea, está dire‐

tamente ligado à forma como o indivíduo vai “compreender” o ambi‐

ente onde ele vive, na forma como vai buscar, analisar e interpretar as 

informações. E é na escola que esse processo de transformação se forti‐

fica, toma sentido, levando‐se em consideração que o mesmo tem um 

começo, mas que nunca tem um fim. O que nos leva a buscar sempre 

mais as formas mais elaboradas de conhecimento da realidade e de nós 

mesmos.  

Segundo Hernández e Ventura7, a construção de um projeto pedagógi‐

co deve ser significativo para os envolvidos, podendo abranger inúme‐

ras temáticas definidas em grupo por meio de debates e seminários em 

que  todos  são  coparticipantes,  estabelecendo‐se  assim  um  enfoque 

global e relacional na atuação do homem com o ambiente. Para o autor, 

na caracterização de um projeto pedagógico: 

parte‐se de um  tema  ou de um problema  negociado  com  a 

turma; 

inicia‐se um processo de pesquisa; 

buscam‐se e selecionam‐se fontes de informação; 

estabelecem‐se critérios de ordenação e de  interpretação das 

fontes; 

recolhem‐se novas dúvidas e perguntas; 

estabelecem‐se relações com outros problemas; 

representa‐se o processo de elaboração do crescimento que foi 

seguido; 

recapitula‐se (avalia‐se) o que se aprendeu; 

conecta‐se com um novo tema ou problema. 

Page 64: Livro de ecopedagogia

 

 64

Atividades

1) Por que o projeto pedagógico da Educação Ambiental deve  levar 

em consideração o contexto social, histórico, econômico e cultural? 

 

2) Um dos papéis do projeto pedagógico da Educação Ambiental é 

formar o  indivíduo crítico, capaz de  transformar a sua realidade. 

Justifique. 

 

3) Por que, segundo Hernández e Ventura (2007), o projeto pedagó‐

gico deve ser participativo e significativo para os envolvidos? 

 

 

 

 

 

Page 65: Livro de ecopedagogia

  

8 OBJETIVOS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Lívia Lucina Ferreira Albanus

A partir da seleção de um tema ou de um problema a ser trabalha‐

do  e desenvolvido  pelo  grupo,  estabelecem‐se  então  os  objetivos 

que nos orientam sobre o que, como e quando fazer. 

Os objetivos devem garantir a realização concreta do projeto peda‐

gógico.  

Na Carta de Belgrado,  foram estabelecidos os objetivos da Educa‐

ção Ambiental, sendo descritos por  formas de atuação do homem 

para com o ambiente.1 

Os objetivos da Educação Ambiental são: 

Conscientização  –  Contribuir  para  que  os  indivíduos  e 

grupos  sociais  adquiram  consciência  e  sensibilidade  em 

relação ao ambiente como um todo e a problemas relacio‐

nados a eles. 

Conhecimento – Propiciar aos indivíduos e grupos sociais 

uma compreensão básica sobre o ambiente como um todo, 

os problemas a ele relacionados e a presença e o papel de 

uma  humanidade  criticamente  responsável  em  relação  a 

esse ambiente. 

Atitudes  – Possibilitar  aos  indivíduos  e  grupos  sociais  a 

aquisição  de  valores  sociais,  de  fortes  vínculos  afetivos 

com o ambiente e de motivação para participar ativamen‐

te na sua proteção e melhoria. 

Habilidades – Propiciar aos indivíduos e aos grupos soci‐

ais condições para adquirirem as habilidades necessárias à 

solução dos problemas ambientais. 

Page 66: Livro de ecopedagogia

 

 66

Capacidade de  avaliação  – Estimular  os  indivíduos  e  os 

grupos  sociais  a  avaliarem  as  providências  relativas  ao 

ambiente e aos programas educativos, quanto aos  fatores 

ecológicos, políticos, econômicos, estéticos e educacionais. 

Participação – Contribuir com os  indivíduos e grupos so‐

ciais no sentido de desenvolverem senso de responsabili‐

dade e de urgência em relação aos problemas ambientais, 

para assegurar a ação apropriada para solucioná‐los. 

Estes  são  os  objetivos  estabelecidos  em nível  “global”, mas, para 

garantir na prática  a  aplicação  eficiente do projeto pedagógico,  é 

importante e necessário estabelecer objetivos “locais”, que direcio‐

nem  ações visíveis  e  aplicáveis na  comunidade na qual o projeto 

venha a ser desenvolvido.  

A preocupação  com  os problemas  ambientais  locais  faz  com  que 

surjam  inúmeros  questionamentos  e  posicionamentos,  estabeleci‐

dos na relação entre escola e sociedade. 

E as questões “como”, “quando” e “o quê” fazer localmente ratifi‐

cam a necessidade de objetivos para a Educação 

Ambiental local, como estabelece Carvalho2: 

Promover a compreensão dos problemas socioambientais 

em suas múltiplas dimensões: geográfica, histórica, bioló‐

gica e social, considerando o meio ambiente como o con‐

junto de  inter‐relações entre o mundo natural e o mundo 

social, mediado por saberes  locais e tradicionais, além de 

saberes científicos. 

Contribuir  para  a  transformação  dos  atuais  padrões  de 

uso  e  distribuição  dos  recursos  naturais,  em  direção  a 

formas mais  sustentáveis,  justas  e  solidárias  de  relação 

com a natureza. 

Formar uma atitude ecológica dotada de sensibilidades es‐

téticas,  éticas  e  políticas  atentas  à  identificação dos  pro‐

blemas  e  conflitos  que  afetam  o  ambiente  em  que  vive‐

mos. 

Implicar os  sujeitos da educação na  solução ou melhoria 

desses problemas e conflitos, mediante processos de ensi‐

no/aprendizagem formais ou não‐formais que preconizem 

Page 67: Livro de ecopedagogia

 

67

a construção significativa de conhecimentos e a formação 

de uma cidadania ambiental. 

Atuar no cotidiano escolar e não‐escolar, provocando no‐

vas questões, situações de aprendizagem e desafios para a 

participação na resolução de problemas, a fim de articular 

a escola com os ambientes locais e regionais onde está in‐

serida. 

Construir processos de aprendizagem significativa, conec‐

tando  a  experiência  e  os  repertórios  já  existentes  com 

questões  e  outras  experiências  que  possam  gerar  novos 

conceitos e significados para quem se abre à aventura de 

compreender o mundo que o cerca e se deixa surpreender 

por ele. 

Situar o educador, sobretudo, como mediador de relações 

socioeducativas, coordenador de ações, pesquisas e refle‐

xões – escolares e/ou comunitárias – que possibilitem no‐

vos processos de aprendizagens sociais, individuais e ins‐

titucionais. 

A adaptação da situação ambiental local aos objetivos faz com que 

exista  uma maior  aderência  entre  o  projeto  pedagógico  e  a  ação 

local. 

O importante é que os objetivos gerais das etapas estejam em con‐

sonância com as próprias finalidades do Projeto Educativo do cen‐

tro, e estas com as gerais da educação ambiental. Para isso, deverão 

ser tomadas decisões de adequação ou interpretação desses objeti‐

vos, à luz das finalidades e do contexto. 3 Ou seja, a plena adaptação 

do contexto local às ações educativas ambientais. 

8.1 Metodologia na educação ambiental

Para podermos elaborar uma metodologia aplicada ao meio ambi‐

ente, devemos levar em consideração os valores e as vivências dos 

envolvidos, fazendo com que sejam determinados ou modificados 

estes valores  constituídos por meio da observação, da  interação e 

da atuação responsável em prol do meio ambiente. 

O  esclarecimento  de  valores  engloba  um  ‘conjunto  de  procedimentos,  cuja 

finalidade  é  ajudar  alunos  e  alunas  a  fazer uma  reflexão  orientada  a  tomar 

Page 68: Livro de ecopedagogia

 

 68

consciência  de  suas  valorações,  opiniões  e  sentimentos.  Trata‐se,  pois,  de 

promover o autoconhecimento e a expressão dos próprios valores...’. 

Pode  ser  feito  com  materiais  simples,  como  os  relacionados  com  frases 

acabadas. No entanto, existem muitas outras possibilidades, tais como: 

a dramatização; 

os jogos de simulação; 

a autoanálise; 

os  comentários  em pequenos grupos  (sobre um  texto ou 

uma situação); 

as atividades fora da classe.4 

É por meio do esclarecimento de valores que podemos ampliar a 

percepção do ambiente no que diz respeito às mudanças de atitu‐

des necessárias para desenvolvermos a sua sustentabilidade. 

A metodologia ou a forma como devem se desenvolver as ativida‐

des de  Educação Ambiental  precisa  promover  inúmeros  questio‐

namentos e dúvidas em relação aos problemas ambientais locais. 

A metodologia compreenderá pelo menos os seguintes passos: 

definir o dilema; 

pensar as possibilidades alternativas; 

prever as consequências de cada uma delas; 

demonstrar a probabilidade de que realmente ocorram; 

considerar os efeitos positivos e negativos; 

decidir  sobre  a  possível  solução,  em  função  das  conse‐

quências e benefícios.5 

Para que a metodologia seja significativa, devemos proporcionar a 

emergência de temas atuais, simples e com inúmeras possibilidades 

de solução para os problemas. Podemos utilizar como base  traba‐

lhos anteriores já realizados. 

Segundo Dolz, citado por Díaz, 

Page 69: Livro de ecopedagogia

 

69

[...] será preciso utilizar os métodos que ofereçam aos alunos experiências de 

aprendizagens  ricas  de  situações  de  participação,  nas  quais  possam  dar 

opiniões e assumir responsabilidades,  levantar e resolver conflitos,  formar‐se 

definitivamente, como seres autônomos e críticos diante das opções que a vida 

vai lhes colocando.6 

A metodologia aplicada ao meio ambiente deve promover mudan‐

ças  significativas  nas  atitudes  e  valores,  por  meio  de  exemplos 

simples do cotidiano aplicados na prática, formando a consciência 

ambiental, por uma aprendizagem significativa. Exemplos: 

Alimentação (orgânica, transgênica, agrotóxicos etc.). 

Lixo: reciclagem (projeto de reciclagem escolar). 

Reaproveitamento (artesanato e jogos de sucata). 

Poluição: ar (efeito estufa, fumo). 

Água (vazamento de óleo, mortandade de peixes). 

Clima (tsunami, tornados, furacões). 

Degradação: terra (erosão, queimadas). 

Florestas (desmatamento, queimadas). 

A  metodologia  voltada  para  a  aprendizagem  significativa  deve 

contemplar as vivências pessoais, as dúvidas e a pesquisa, a análise 

e a reflexão da situação, a atuação ética e responsável, entre outros. 

Inúmeras  são  as  temáticas  ambientais  que  podem  ser  abordadas 

nas atividades pedagógicas, tais como: 

A cidade como um ecossistema. 

Animais urbanos e rurais. 

Os fenômenos naturais. 

A vegetação urbana e rural. 

A terra. 

Os seres vivos. 

Energia elétrica. 

Page 70: Livro de ecopedagogia

 

 70

Qualidade do ar. 

Efeito estufa. 

Qualidade da água. 

Erosão. 

Agrotóxicos. 

Alimentos. 

O ambiente através da história. 

Arte natural. 

Poluição. 

Leitura complementar

Díaz (2002) estabelece objetivos pedagógicos para a Educação Am‐

biental, conforme podemos ver: 

Objetivos de conhecimentos, relacionados com os conteúdos de caráter conceitual

a) conhecimento  dos  sistemas  naturais  (trata‐se  essencial‐

mente  de  noções  de  ecologia  fundamental),  como,  por 

exemplo: 

descrever o meio de vida de um organismo determinado, 

levando em conta as características do meio; 

pôr em evidência as  interações entre os  fatores do meio, 

de um lado, e entre os fatores do meio e os seres vivos, de 

outro; 

descrever os  ciclos da matéria  e o papel dos  seres vivos 

em relação a eles; 

enumerar  as  principais  fontes  de  energia,  sua  origem  e 

condição de renovável ou não‐renovável; 

especificar a estrutura da comunidade viva  (biocenose) a 

que pertence uma espécie determinada, assim como as in‐

ter‐relações no seio dessa comunidade; 

Page 71: Livro de ecopedagogia

 

71

mostrar que, em um determinado ecossistema, existe um 

equilíbrio dinâmico. 

b) conhecimento dos sistemas humanos: 

estabelecer uma  correlação entre as necessidades e ações 

humanas no que se refere ao meio ambiente; 

descrever o funcionamento do sistema econômico; 

descrever as estruturas e o mecanismo do sistema social; 

levar  em  conta  os  fatores  socioculturais,  atividades  de 

ócio, conservação do patrimônio, aspirações religiosas e fi‐

losóficas das pessoas  e dos grupos  em uma  situação de‐

terminada. 

c) conhecimento das ações de ser humano sobre o meio: 

avaliar  as  consequências do  consumo descontrolado dos 

recursos naturais e propor soluções alternativas; 

avaliar o  impacto da  contaminação  e dos  resíduos  sobre 

um sistema, as consequências da destruição do biótipo, da 

redução ou eliminação de uma espécie animal ou vegetal, 

ou da introdução de uma espécie externa; 

comparar os diversos meios de salvaguarda de uma espé‐

cie determinada e definir suas características próprias; 

avaliar os custos econômicos, sociais e ecológicos da con‐

taminação, dos processos de  fabricação, dos  circuitos de 

distribuição dos produtos, dos trabalhos de infraestrutura 

etc.;  

analisar os  fatores que  intervêm na ordenação do  territó‐

rio e escolher as soluções ecologicamente mais aceitáveis. 

Objetivos de saber fazer, relacionados com conteúdos procedimentais

reconhecer situações‐problema e  formular  indagações so‐

bre essas; 

pôr em evidência os métodos de pesquisa adequados para 

resolver os problemas; 

Page 72: Livro de ecopedagogia

 

 72

lançar  hipóteses  explicativas  diante  de  um  determinado 

problema, conceber um processo de verificação e interpre‐

tação dos resultados; 

buscar os fatores susceptíveis de intervir em uma situação 

determinada, encontrar uma correlação entre certos fatos; 

apresentar  os  resultados  das  pesquisas  de  forma  clara, 

acessível e correta; 

trabalhar  em  grupo,  respeitando  as  regras de  comunica‐

ção,  compartilhando  os  interesses  e  capacidades  com  os 

outros. 

Objetivos de atitudes, relacionados com conteúdos comportamentais

ser  conscientes  de  nosso  vínculo  com  o mundo  natural, 

cuja  sobrevivência depende de nossa maneira de viver e 

de atuar; 

ser solidário em relação ao restante da humanidade e das 

gerações futuras; 

levar  em  conta  as necessidades  coletivas de  salvaguarda 

da natureza no momento de exercer uma ação ou decisão; 

em  face de  um  problema determinado,  analisar  os  fatos 

com um espírito crítico, verificar sua autenticidade; 

reconsiderar nosso próprio sistema de valores, explicitan‐

do‐os; 

tomar medidas para prevenir ou lutar contra a contamina‐

ção; 

participar na  tomada de decisões em  função de determi‐

nados objetivos. 

Page 73: Livro de ecopedagogia

 

73

Atividades

1) Por que é importante estabelecer objetivos locais? 

 

2) Segundo  Carvalho  (2004),  devemos  construir  processos  de 

aprendizagens significativas. Como isso se reporta à Educação 

Ambiental? 

 

3) Na  sua opinião,  como o meio ambiente o  influenciou na  for‐

mação de seus valores e de suas aprendizagens significativas? 

 

Page 74: Livro de ecopedagogia

  

9 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TEMAS TRANSVERSAIS

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Para  que  a  aprendizagem  e  a  reflexão  sobre  as  questões  ambientais 

fossem mais amplamente discutidas, elas foram incluídas pelo MEC no 

currículo escolar, por meio das determinações contidas nos Parâmetros 

Curriculares Nacionais, levando‐se em consideração a localidade. 

O currículo ganha em  flexibilidade e abertura, uma vez que os  temas podem ser 

priorizados  e  contextualizados  de  acordo  com  as  diferentes  realidades  locais  e 

regionais e outros temas podem ser incluídos.1 

A importância de inúmeras temáticas locais com as disciplinas básicas 

faz com que a aprendizagem torne‐se mais significativa, ou seja,   inú‐

meros temas, que dialogam entre si, dialogam com o currículo e com a 

localidade onde a escola está inserida. A esses temas, o MEC denomi‐

nou de temas transversais. 

É  importante  elaborar  esquemas  de  conhecimento  escolar  de  caráter  integrador, 

organizados  em  torno  de  problemas  socioambientais  relevantes,  que  não  apenas 

respondam ao nível de desenvolvimento operacional dos alunos e alunas, mas que 

também  contenham  significados  específicos,  em  um  determinado  nível  de 

complexidade  [...].  Será  preciso  estabelecer  diferentes  níveis  de  formulação  do 

conhecimento  escolar,  que  abranjam  desde  significados  mais  próximos  aos  dos 

alunos  e  alunas,  até níveis mais  elaborados. Em  cada um deles,  e  em  função da 

etapa  educativa,  os  conteúdos  devem  ser  organizados,  formando  tramas 

integradas, pré‐disciplinares [...].2 

As temáticas que compõem o conjunto de temas transversais são: ética, 

meio ambiente, pluralidade cultural, saúde e orientação sexual. Todas 

são igualmente importantes de serem trabalhadas, dada a sua urgência 

e dimensão.  

Todas advêm de temas atuais e emergentes, determinando assim uma 

maior amplitude de propostas metodológicas. 

Page 75: Livro de ecopedagogia

 

75

Considerando esses  fatos, experiências pedagógicas brasileiras e  internacionais de 

trabalho  com  educação  ambiental,  orientação  sexual  e  saúde  têm  apontado  a 

necessidade de que tais questões sejam trabalhadas de forma contínua e integrada, 

uma  vez  que  seu  estudo  remete  à  necessidade  de  se  recorrer  a  conjuntos  de 

conhecimentos relativos a diferentes áreas do saber. 

Diante disso, optou‐se por  integrá‐las no currículo por meio do que se chama de 

transversalidade: pretende‐se que esses temas  integrem as áreas convencionais de 

forma  a  estarem  presentes  em  todas  elas,  relacionando‐as  às  questões  da 

atualidade.3 

Os  temas  transversais vieram ratificar o que nos afirma a Agenda 21: 

“devemos pensar global e agir  local”, por meio da  incursão do  tema 

meio ambiente na transversalidade e, portanto, na obrigatoriedade do 

desenvolvimento dessa  temática, na base curricular comum, estabele‐

cida nos Parâmetros Curriculares Nacionais4. 

As questões ambientais desenvolvidas como temas transversais devem 

considerar o sistema de valores da comunidade escolar. 

Ao  falar  de  valores  ambientais,  devemos  começar  referindo‐nos  àqueles  que,  de 

alguma  forma,  servem  de  base  à  própria  educação  ambiental  e,  por  extensão,  a 

outros temas transversais, em um sentido  integrador. Trata‐se de valores como a 

solidariedade, a cooperação, o respeito à diversidade, a autonomia, a participação, a 

responsabilidade,  a  tolerância  e  tantos  outros  que  configuram  o  tronco  de  uma 

educação integral, moral e cívica. 5 

Para trabalharmos o meio ambiente de forma transversal, é necessário 

criar  uma  visão  global  e  abrangente  que  inclua  todas  as disciplinas, 

que se espalhe por meio de uma prática educativa global e abrangente 

de Educação Ambiental, viabilizando a  formação de conceitos e valo‐

res  com atividades e procedimentos vinculados especialmente  com a 

realidade do entorno e com o cotidiano, formando cidadãos conscien‐

tes e participativos, em decorrência da necessidade de  integração dos 

temas ambientais com as diversas áreas do saber. 

9.1 A interdisciplinaridade na educação ambiental

Em  todos os documentos elaborados pela Unesco, que contemplam a 

Educação Ambiental, fica estabelecido que esta deve ocorrer de forma 

interdisciplinar. A  recomendação nº 1 do  relatório da Conferência de 

Tbilissi diz que: 

A  educação  ambiental  é  o  resultado de uma  orientação  e  articulação de diversas 

disciplinas e experiências educativas que  facilitam a percepção  integrada do meio 

ambiente,  tornando  possível  uma  ação  mais  racional  e  capaz  de  responder  às 

necessidades sociais  [...]. Para a realização de  tais  funções, a educação ambiental 

Page 76: Livro de ecopedagogia

 

 76

deveria  [...]  enfocar  a  análise  de  tais  problemas  através  de  uma  perspectiva 

interdisciplinar  e  globalizadora,  que  permita  uma  compreensão  adequada  dos 

problemas ambientais.6 

A  interdisciplinaridade  encontra‐se  destacada  nos  demais  relatórios 

elaborados pela Unesco, definindo o importante papel desta para uma 

Educação Ambiental eficiente. 

O item 96 da Conferência de Estocolmo (1972) estabeleceu que “a edu‐

cação  ambiental  de  enfoque  interdisciplinar  deve  envolver  todos  os 

níveis de ensino e se dirigir ao público em geral”2. Em Belgrado (1975), 

ficou estabelecido no Princípio de Orientação aos Programas de Edu‐

cação Ambiental que esta deve “assumir um enfoque interdisciplinar”, 

ratificado na Rio‐92, em que os objetivos estabelecidos estão em parce‐

ria  com  os  objetivos  da  Educação  Ambiental  contidos  na  Lei  nº 

9.795/99,  que  estabelece  a  transversalidade  e  a  interdisciplinaridade, 

como podemos ver nos artigos 4º, III; e 10º, §1º: 

[...] 

Art 4º ‐ São princípios básicos da educação ambiental: 

[...] 

III –  o pluralismo de  ideias  e  concepções pedagógicas, nas perspectivas de  inter, 

multi e transdisciplinaridade; 

[...] 

Art  10º  ‐ A  educação  ambiental  será  desenvolvida  como uma  prática  educativa 

integrada,  contínua  e  permanente  em  todos  os  níveis  e modalidades  do  ensino 

formal. 

§1º A educação ambiental não deve ser  implantada como disciplina específica no 

currículo de ensino. 

[...] 

O meio ambiente é o resultado da interação de inúmeros fatores: tem‐

po, espaço, cultura e sociedade.  

A  interdisciplinaridade,  estabelecida nos  relatórios da Unesco,  tem  a 

função  de  formar  uma  rede  de  relações,  estabelecendo  um  contexto 

geral, em que uma informação interage com outras informações, viabi‐

lizando  um  processo  de  intercomunicação  e  intercâmbio  entre  elas. 

Para Carvalho, 

Page 77: Livro de ecopedagogia

 

77

[...]  a  EA  vem  sendo  valorizada  como  uma  ação  educativa  que  deveria  estar 

presente,  de  forma  transversal  e  interdisciplinar,  articulando  o  conjunto  de 

saberes, formação de atitudes e sensibilidades ambientais.7 

A  interdisciplinaridade tem o papel de ampliar o bloco de discussões 

que leva em conta conceitos, contextos teóricos, atitudes, procedimen‐

tos etc., de forma global, ou seja, vinculado a várias disciplinas e sobre 

diversos aspectos, facilitando a troca de experiências. 

Para Santomé, 

alunos  e  alunas  com uma  educação  interdisciplinar  estão mais  capacitados para 

enfrentar problemas que  transcendem os  limites de uma disciplina concreta para 

detectar,  analisar  e  solucionar  problemas  novos[...]  pois  qualquer  situação  que 

preocupar ou interessar os estudantes poderá transformar‐se em objeto de estudo.8 

Sendo assim, é possível prever que a interdisciplinaridade proporciona 

um espaço de mediação de conhecimentos e de articulação dos sabe‐

res,  estabelecendo uma  relação de mútua  coordenação  e  cooperação, 

além de conexões de uma mesma situação com diversas disciplinas.  

A aplicabilidade da  interdisciplinaridade é completamente pertinente 

na Educação Ambiental, à medida que proporciona uma  forte  intera‐

ção entre o homem e o ambiente onde ele vive. 

Essa  interação do homem com o meio ambiente se dá principalmente 

por meio das  relações pessoais diretamente  ligadas às  relações socio‐

culturais que, segundo Santomé: 

É  constituído pelos  fatos,  conceitos,  explicações  e  interpretações  elaborados pelos 

alunos  a  partir  de  experiências  pessoais  em  suas  casas,  famílias  e  das  práticas 

culturais comunitárias às quais têm acesso. Com este conhecimento de fundo eles 

compreendem e interpretam o conhecimento e as experiências oferecidas em outras 

instituições, como, por  exemplo, as  escolares.  Isto deve  ser  levado  seriamente  em 

conta,  pois  a maioria  dos  professores  conhecem  a  importância  das  experiências 

familiares e de bairro e o modo como elas influenciam o comportamento na sala de 

aula; as expectativas com as quais meninos e meninas vão às instituições de ensino 

e  como  elas  afetam  o  seu  rendimento.  É  imprescindível  prestar  atenção  a  esta 

modalidade  de  conhecimento,  especialmente  em  sociedades  nas  quais  convivem 

culturas e povos diferentes.9 

A  aprendizagem,  para  ser  significativa,  deve  acontecer  quando  os 

novos  conhecimentos  e  as  novas  informações  estiverem  diretamente 

relacionados com as vivências adquiridas ou com aquilo que a pessoa 

já  sabe.  A  interdisciplinaridade  assume  um  papel  fundamental  na 

promoção da aprendizagem significativa, fazendo com que tudo o que 

Page 78: Livro de ecopedagogia

 

 78

vivenciamos na vida se reflita no que somos, em como nos  tornamos 

homens pela relação com o ambiente. 

Paulo Freire define o tipo de seres humanos que somos e a forma como 

nos relacionamos. 

Somos seres humanos. Somos seres únicos, singulares e, como tais, diferentes uns 

dos  outros. Somos  seres  históricos,  datados  e  situados. Somos  seres  planetários. 

Somos seres culturais.  

Somos seres pensantes. Somos seres de relação, relacionamo‐nos com o(s) outro(s), 

com o contexto e conosco mesmos. Somos sujeitos e, pela mediação da linguagem, 

construímos  conhecimentos,  passamos  informações  que  poderão  se  processar  em 

conhecimento,  e  assim  sucessivamente.  Somos  seres  humanos  inacabados,  ‘num 

processo social de busca’.10 

A  Educação  Ambiental  interdisciplinar,  além  de  fazer  com  que  as 

temáticas ambientais sejam trabalhadas em um regime de cooperação 

entre  as disciplinas, deve  levar  sempre  em  consideração  as  questões 

socioculturais no processo de desenvolvimento do  indivíduo. Ressal‐

tando assim as possibilidades da aprendizagem significativa por meio 

do diálogo entre os saberes. 

Essa  relação  sociocultural  nos  reporta  à  teoria  histórico‐cultural  de 

Vygotsky, que:  

[...] ressalta o papel decisivo desempenhado pelos adultos, pelo meio social e pela 

instrução  na  aprendizagem  e  desenvolvimento  humanos.  A  aprendizagem, 

considerada um processo profundamente social, necessita adaptar as estratégias e 

conteúdos dos projetos curriculares ao contexto histórico  e cultural  específico no 

qual os alunos vivem; esta é a forma de poder utilizar seus conceitos espontâneos, 

fruto  das  interações  cotidianas  em  seu meio  social,  e  de  vinculá‐los  aos  novos 

conceitos que instituições docentes facilitam.11 

A teoria histórico‐cultural de Vygotsky e a forma como podemos utili‐

zá‐la em contribuição para a Educação Ambiental, por meio das rela‐

ções do homem com o seu meio, são os assuntos que veremos no pró‐

ximo capítulo. 

Leitura complementar

Lei nº 9.795, de 27 de abril 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental

Dispõe  sobre  a  educação  ambiental,  institui  a  Política  Nacional  de 

Educação Ambiental e dá outras providências. 

Page 79: Livro de ecopedagogia

 

79

O presidente da república Faço saber que o Congresso Nacional decre‐

ta e eu sanciono a seguinte Lei: 

Capítulo I – Da Educação Ambiental

Art.  1º  Entendem‐se  por  educação  ambiental  os  processos  por meio 

dos quais o  indivíduo e a  coletividade constroem valores  sociais,  co‐

nhecimentos,  habilidades,  atitudes  e  competências  voltadas  para  a 

conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial 

à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.  

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanen‐

te da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, 

em  todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter 

formal e não‐formal. 

Art. 3º Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direi‐

to à educação ambiental, incumbindo:  

I – ao Poder Público, nos  termos dos arts. 205 e 225 da Constituição 

Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambien‐

tal, promover a educação ambiental em  todos os níveis de ensino e o 

engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do 

meio ambiente; 

II  –  às  instituições  educativas,  promover  a  educação  ambiental  de 

maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem;  

III – aos órgãos  integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – 

sisnama, promover ações de  educação ambiental  integradas aos pro‐

gramas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; 

IV – aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e 

permanente  na  disseminação  de  informações  e  práticas  educativas 

sobre meio ambiente e  incorporar a dimensão ambiental em sua pro‐

gramação; 

V – às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, 

promover  programas  destinados  à  capacitação  dos  trabalhadores, 

visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, 

bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambi‐

ente;  

VI – à sociedade como um todo, manter atenção permanente à forma‐

ção de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação indivi‐

Page 80: Livro de ecopedagogia

 

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dual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de 

problemas ambientais. 

Art. 4º São princípios básicos da educação ambiental: 

I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; 

II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a 

interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, 

sob o enfoque da sustentabilidade;  

III – o pluralismo de  ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva 

da inter, multi e transdisciplinaridade; 

IV  –  a  vinculação  entre  a  ética,  a  educação,  o  trabalho  e  as  práticas 

sociais; 

V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; 

VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo; 

VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, 

nacionais e globais; 

VIII  –  o  reconhecimento  e  o  respeito  à  pluralidade  e  à  diversidade 

individual e cultural. 

Art. 5º São objetivos fundamentais da educação ambiental: 

I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambi‐

ente  em  suas múltiplas  e  complexas  relações,  envolvendo  aspectos 

ecológicos, psicológicos,  legais, políticos, sociais, econômicos, científi‐

cos, culturais e éticos; 

II – a garantia de democratização das informações ambientais; 

III – o estímulo e o  fortalecimento de uma consciência crítica sobre a 

problemática ambiental e social; 

IV  –  o  incentivo  à  participação  individual  e  coletiva,  permanente  e 

responsável, na preservação do  equilíbrio do meio ambiente,    enten‐

dendo‐se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável 

do exercício da cidadania; 

V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em ní‐

veis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma socieda‐

de ambientalmente equilibrada,  fundada nos princípios da  liberdade, 

Page 81: Livro de ecopedagogia

 

81

igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e 

sustentabilidade;  

VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tec‐

nologia;  

VII  –  o  fortalecimento  da  cidadania,  autodeterminação  dos  povos  e 

solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. 

Capítulo II – Da Política Nacional de Educação Ambiental

Seção I – Disposições Gerais

Art. 6º É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental. 

Art.  7º A  Política Nacional  de  Educação Ambiental  envolve  em  sua 

esfera  de  ação,  além  dos  órgãos  e  entidades  integrantes  do  Sistema 

Nacional de Meio Ambiente –  sisnama,  instituições educacionais pú‐

blicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, 

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não‐

governamentais com atuação em educação ambiental. 

Art. 8º As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Am‐

biental devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação 

escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter‐relacionadas: 

I – capacitação de recursos humanos; 

II – desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; 

III – produção e divulgação de material educativo; 

IV – acompanhamento e avaliação. 

§ 1º Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambi‐

ental serão respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei. 

§ 2º A capacitação de recursos humanos voltar‐se‐á para: 

I – a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização 

e  atualização  dos  educadores  de  todos  os  níveis  e modalidades  de 

ensino; 

II – a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização 

e atualização dos profissionais de todas as áreas; 

Page 82: Livro de ecopedagogia

 

 82

III  –  a  preparação  de  profissionais  orientados  para  as  atividades  de 

gestão ambiental;  

IV – a  formação, especialização e atualização de profissionais na área 

de meio ambiente;  

V – o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade 

no que diz respeito à problemática ambiental. 

§  3º  As  ações  de  estudos,  pesquisas  e  experimentações  voltar‐se‐ão 

para: 

I  –  o  desenvolvimento  de  instrumentos  e  metodologias,  visando  à 

incorporação  da  dimensão  ambiental,  de  forma  interdisciplinar,  nos 

diferentes níveis e modalidades de ensino; 

II  –  a  difusão  de  conhecimentos,  tecnologias  e  informações  sobre  a 

questão ambiental; 

III  –  o  desenvolvimento  de  instrumentos  e metodologias,  visando  à 

participação dos  interessados na  formulação e execução de pesquisas 

relacionadas à problemática ambiental; 

IV – a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacita‐

ção na área ambiental; 

V – o apoio a  iniciativas e experiências  locais e regionais,  incluindo a 

produção de material educativo; 

VI  –  a montagem  de  uma  rede  de  banco  de  dados  e  imagens,  para 

apoio às ações enumeradas nos incisos I a V. 

Seção II – Da Educação Ambiental no Ensino Formal 

Art 9º Entende‐se por  educação ambiental na  educação  escolar a de‐

senvolvida no âmbito dos currículos das  instituições de ensino públi‐

cas e privadas, englobando: 

I – educação básica: 

a) educação infantil; 

b) ensino fundamental e 

c) ensino médio; 

II – educação superior; 

Page 83: Livro de ecopedagogia

 

83

III – educação especial; 

IV – educação profissional; 

V – educação de jovens e adultos. 

Art.  10. A  educação  ambiental  será  desenvolvida  como  uma  prática 

educativa  integrada, contínua e permanente em todos os níveis e mo‐

dalidades do ensino formal.  

§ 1º A educação ambiental não deve  ser  implantada  como disciplina 

específica no currículo de ensino. 

§  2º Nos  cursos de pós‐graduação,  extensão  e  nas  áreas  voltadas  ao 

aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessá‐

rio, é facultada a criação de disciplina específica. 

§ 3º Nos cursos de  formação e especialização  técnico‐profissional, em 

todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética am‐

biental das atividades profissionais a serem desenvolvidas.  

Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de  forma‐

ção de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. 

Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação 

complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender 

adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política 

Nacional de Educação Ambiental. 

Art. 12. A autorização e supervisão do  funcionamento de  instituições 

de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, observarão o 

cumprimento do disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei. 

Seção III – Da Educação Ambiental Não‐Formal Art. 13. Entendem‐se 

por  educação  ambiental  não‐formal  as  ações  e  práticas  educativas 

voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais 

e  à  sua  organização  e  participação  na  defesa  da  qualidade  do meio 

ambiente. 

Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e muni‐

cipal, incentivará:  

I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em 

espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de  informa‐

ções acerca de temas relacionados ao meio ambiente;  

Page 84: Livro de ecopedagogia

 

 84

II – a ampla participação da escola, da universidade e de organizações 

não‐governamentais na  formulação e execução de programas e ativi‐

dades vinculadas à educação ambiental não‐formal; 

III  –  a  participação  de  empresas  públicas  e  privadas  no desenvolvi‐

mento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, 

a universidade e as organizações não‐governamentais;  

IV – a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de 

conservação;  

V – a sensibilização ambiental das populações  tradicionais  ligadas às 

unidades de conservação; 

VI – a sensibilização ambiental dos agricultores; 

VII – o ecoturismo. 

Capítulo III – Da Execução da Política Nacional de Educação Ambiental

Art.  14. A  coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental 

ficará a cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamen‐

tação desta Lei. 

Art. 15 São atribuições do órgão gestor: 

I – definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional; 

II  –  articulação,  coordenação  e  supervisão  de  planos,  programas  e 

projetos na área de educação ambiental, em âmbito nacional; 

III  – participação na negociação de  financiamentos  a planos, progra‐

mas e projetos na área de educação ambiental. 

Art. 16. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua 

competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas 

e critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e obje‐

tivos da Política Nacional de Educação Ambiental. 

Art.  17. A  eleição  de  planos  e  programas,  para  fins  de  alocação  de 

recursos públicos vinculados à Política Nacional de Educação Ambien‐

tal, deve ser realizada levando‐se em conta os seguintes critérios: 

I – conformidade  com os princípios, objetivos e diretrizes da Política 

Nacional de Educação Ambiental;  

Page 85: Livro de ecopedagogia

 

85

II – prioridade dos órgãos integrantes do sisnama e do Sistema Nacio‐

nal de Educação; 

III – economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recur‐

sos  a  alocar  e  o  retorno  social  propiciado  pelo  plano  ou  programa 

proposto. 

Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem 

ser contemplados, de forma equitativa, os planos, programas e projetos 

das diferentes regiões do País. 

Art. 18. (vetado) 

Art.  19. Os  programas  de  assistência  técnica  e  financeira  relativos  a 

meio  ambiente  e  educação,  em  níveis  federal,  estadual  e municipal, 

devem alocar recursos às ações de educação ambiental. 

Capítulo IV – Disposições Finais

Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias de 

sua  publicação,  ouvidos  o  Conselho Nacional  de Meio Ambiente  e  o  Conselho 

Nacional de Educação.  

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

Page 86: Livro de ecopedagogia

 

 86

Atividades

1) Por que a Educação Ambiental é um tema transversal? 

 

2) Segundo a Unesco, qual a função da interdisciplinaridade? 

 

3) Para Santomé  (1998), “alunos e alunas  com uma educação  inter‐

disciplinar  estão mais  capacitados para  enfrentar problemas que 

transcendem os  limites de uma disciplina concreta para detectar, 

analisar e solucionar problemas novos”. Justifique. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 87: Livro de ecopedagogia

 

87

 

  

10 AMBIENTE, APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO: UM PROCESSO SÓCIO- HISTÓRICO

Lívia Lucina Ferreira Albanus

Neste capítulo, temos como pretensão entender um pouco da obra de 

Vygotsky referente ao desenvolvimento e à aprendizagem do ser hu‐

mano,  à  sua  aplicação  na  Educação  Ambiental,  bem  como  às  suas 

relações interpessoais. 

O autor busca a compreensão do ser humano e do seu desenvolvimen‐

to desde a sua origem, também busca entender o processo psicológico 

ao  longo da história da espécie humana, por meio da história  indivi‐

dual  das  pessoas  e  nas  relações  que  elas  desenvolvem  com  o meio 

onde vivem, ou seja, no seu contexto social e histórico. A abordagem 

que  estuda  o  processo  do  desenvolvimento  humano  é  chamada  de 

abordagem genética; esse  termo  também é comum a outras abordagens 

psicológicas. Uma  abordagem genética  em psicologia não  é  centrada 

na transmissão hereditária de características psicológicas, mas no pro‐

cesso de  construção dos  fenômenos psicológicos  ao  longo do desen‐

volvimento humano.  

Conforme Oliveira, para Vygotsky, desde o nascimento, o aprendizado 

está  relacionado  ao  desenvolvimento  e  é  “um  aspecto  necessário  e 

universal  do  processo  de  desenvolvimento  das  funções  psicológicas 

culturalmente  organizadas  e  especificamente  humanas”1.  Existe  um 

movimento  único  e  pessoal  que  está  relacionado  ao  aprendizado  e 

outro  relacionado  à maturação  do  organismo,  pertencente  à  espécie 

humana. O aprendizado possibilita o despertar de processos  internos 

do desenvolvimento os quais, caso não houvesse o contato do  indiví‐

duo  com  certo  ambiente  cultural,  não  ocorreriam.  Podemos  afirmar 

então que o homem aprende  com o ambiente onde vive e, por meio 

dessa relação, desenvolve‐se,  interage e assimila o seu entorno, o seu 

referencial sócio‐histórico refletido pelo meio onde vive.  

Page 88: Livro de ecopedagogia

 

 88

Todos  somos  parte  integrante  do  meio  ambiente,  reafirmados  pela 

forma  como  evoluímos  ligados  a  ele,  pela  necessidade  de  estarmos 

sempre em contato com nossos referenciais de cultura, de história, de 

sociedade e de todas as formas como o meio nos  invade, construindo 

assim uma aprendizagem significativa.  

Podemos observar a relação de aprendizagem levando‐se em conside‐

ração a teoria sócio‐histórica de Vygotsky e o meio onde o ser humano 

se desenvolve, por meio do exemplo de uma criança que  ingressa em 

uma  escola  que  deseja  desenvolver  a  consciência  ecológica  em  seus 

alunos. Nesse  contexto,  ela  irá aprender  com a  instituição  comporta‐

mentos que  estejam  relacionados  à preservação do meio ambiente,  e 

outras crianças  inseridas nesse mesmo meio  terão vivências e experi‐

ências semelhantes. Assim, é possível entender o aprendizado a partir 

da cultura e do meio, ou seja, aprendemos no convívio social com as 

outras  pessoas.  Por  exemplo,  num  grupo  de  colegas  da  escola  com 

princípios  ecológicos,  todos  os  alunos  comem  verduras  e  legumes 

oferecidos pela escola nas refeições. Esse tipo de alimentação fará parte 

do cotidiano dessas crianças, ou seja, fará parte da sua cultura.  

O significado de aprendizado para Vygotsky, citado por Oliveira, “É o 

processo  pelo  qual  o  indivíduo  adquiriu  informações,  habilidades, 

atitudes, valores etc. A partir de seu contato com a realidade, o meio 

ambiente, as outras pessoas”2. 

Agora, passaremos a  entender  como o aprendizado desperta os pro‐

cessos  internos dos  indivíduos  relacionados à  interação sociocultural, 

com o ambiente em que vive e com a sua posição como organismo que 

não  evolui  e  não  se  desenvolve  completamente  sem  o  contato  com 

outros  indivíduos  de  sua  espécie. A  importância  que  o  autor  dá  às 

relações no desenvolvimento e na aprendizagem vem ao encontro de 

sua teoria da zona de desenvolvimento proximal: aprendemos enquan‐

to nos desenvolvemos no  contexto  sócio‐histórico  e ambiental,  tendo 

em vista que uma relação está inteiramente ligada à outra. 

Esta  se  refere, assim, ao  caminho que o  indivíduo  irá percorrer para 

consolidar as suas funções, que estão em processo de amadurecimento, 

ou seja,  torná‐las maduras e desenvolvidas no seu nível de desenvol‐

vimento real. Aprendemos com o meio onde estamos inseridos.  

Para o autor, devemos  também observar o nível de desenvolvimento 

potencial, isto é, a sua capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda 

de  adultos  ou  de  companheiros mais  capazes. Há  tarefas  em  que  a 

criança precisará da ajuda de alguém mais  experiente, pois,  sozinha, 

ela não terá a capacidade de realizá‐las sem alguém lhe dar instruções, 

Page 89: Livro de ecopedagogia

 

89

fazer uma demonstração, fornecer pistas, ou dar assistência durante o 

processo. Para tal, frisamos a importância do professor, que auxilia no 

desenvolvimento da criança, promovendo a aprendizagem significati‐

va por meio das relações entre os seus pares. 

Por exemplo, no caso da construção de um quebra‐cabeça, se um adul‐

to der instruções para a criança (“você pode primeiro separar as peças 

da mesma  cor,  depois  tentar  encaixá‐las”)  ou  se  ela  observar  outra 

criança  tentando  encaixar  as  peças  para  formar  a  figura  desejada,  é 

possível que consiga um resultado mais avançado do que aquele que 

conseguiria se realizasse a tarefa sozinha. 

A zona de desenvolvimento proximal está sempre em  transformação: 

se  a  criança  aprender uma  tarefa  com  a  ajuda de  alguém,  em  outro 

momento poderá executá‐la sozinha. Por esse motivo, a importância de 

um professor que entenda as necessidades de uma  criança, para que 

possa facilitar o seu desenvolvimento. Dessa forma, parece que o pro‐

cesso de aprendizagem é mais rápido do que o processo de desenvol‐

vimento, que se  tornarão parte das  funções psicológicas consolidadas 

do indivíduo.  

As  pessoas mais  experientes  estarão  constantemente  interferindo  na 

zona  de  desenvolvimento  proximal  das  pessoas menos  experientes, 

participantes da cultura do meio onde estão inseridas. Vygotsky, cita‐

do por Oliveira, diz que “A zona de desenvolvimento proximal define 

aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão presen‐

tes em estado embrionário. Essas  funções poderiam ser chamadas de 

‘brotos ou flores’ do desenvolvimento, ao invés de frutos do desenvol‐

vimento”3.  

O processo de  ensino‐aprendizagem deve  ser  construído  a partir do 

nível de desenvolvimento real da criança, e o conteúdo a ser desenvol‐

vido pela escola deve estar adequado, conforme a faixa etária, ao nível 

de conhecimento e habilidades de cada grupo de crianças e conforme o 

seu contexto social, histórico e ambiental. Essa trajetória também deve‐

rá respeitar o nível de desenvolvimento potencial das crianças. O pro‐

fessor  tem o papel de  intervir explicitamente na zona de desenvolvi‐

mento  proximal  dos  alunos,  promovendo  o  desenvolvimento  e  o 

aprendizado que não ocorreriam espontaneamente 

Para promovermos a consciência ambiental na criança, é necessária a 

interação do professor com o meio, fazendo com que as crianças expe‐

rimentem  inúmeras  imagens  do  ambiente,  da  sociedade,  da  história 

etc. 

Page 90: Livro de ecopedagogia

 

 90

Segundo Vygotsky, citado por Oliveira, “o único bom ensino é aquele 

que se adianta ao desenvolvimento”4. Os procedimentos adotados na 

escola  promovem:  assistência,  fornecimento  de  pistas  e  instruções, 

sendo estas fundamentais na promoção do “bom ensino”. A interven‐

ção de outras pessoas é necessária para o desenvolvimento da criança, 

não tendo esta condições de aprender sozinha. No ambiente escolar, a 

intervenção dos professores e das outras crianças é fundamental para a 

promoção do desenvolvimento do indivíduo, de acordo com Oliveira.5  

Por exemplo,  se o professor dá uma  tarefa  individual aos alunos em 

sala de  aula, havendo  troca de  informações  e de  estratégias  entre os 

alunos,  esta pode  tornar‐se uma  tarefa ou um projeto  coletivo  extre‐

mamente produtivo para  cada  criança. Qualquer  forma de  interação 

social, quando integrada num contexto (meio) realmente voltado para 

a promoção do aprendizado e do desenvolvimento, deve ser utilizada 

posteriormente. 

Vygotsky  trabalha  também  com  outro  aspecto  da  atividade  infantil 

que tem fortes relações com o desenvolvimento: o brinquedo.6   

Segundo Oliveira, a situação de brincadeira parece pouco estruturada 

e sem uma função explícita na promoção de processos de desenvolvi‐

mento.  Sabemos  que  o  brinquedo  cria  e  possibilita  a  ocorrência  da 

zona de desenvolvimento proximal na  criança. Vygotsky privilegia a 

brincadeira de “faz‐de‐conta” quando fala sobre o papel do brinquedo 

no  desenvolvimento.  O  comportamento  das  crianças  é  fortemente 

influenciado pela  vida  concreta  –  como  vivem  e  onde  vivem  –,  e  só 

depois que  adquirem  a  linguagem  conseguem utilizar  as  representa‐

ções  simbólicas. Numa  situação  de  brincadeira  de  “faz‐de‐conta”,  a 

criança entra em um universo imaginário, em que a situação é definida 

pelo significado estabelecido pela criança e não pelos elementos reais 

concretos; é o mundo da fantasia, em que ela se experiencia e reproduz 

o seu meio. Por exemplo, quando brinca de professor, a criança imagi‐

na  como  seria  essa  condição  e  reproduz  a  situação  na  brincadeira. 

Podemos perceber que para a brincadeira  existem  regras que devem 

ser cumpridas.7 

“No brinquedo, a criança comporta‐se de forma mais avançada do que 

nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e signi‐

ficado”8. O que na vida real é normal e passa despercebido, na brinca‐

deira torna‐se regra e contribui para que a criança entenda o universo 

particular  dos  diversos  papéis  que  desempenha.  Sendo  assim,  para 

Vygotsky,  a  brincadeira  é  uma  fonte  da  zona  de  desenvolvimento 

proximal e ocorre de forma constante e deliberada.9 

Page 91: Livro de ecopedagogia

 

91

10.1 Percepção, atenção e memória

As  ideias  básicas  de  Vygotsky  geraram  um  programa  de  pesquisas 

desenvolvidas pelo próprio autor e por  seus colaboradores. Seu  inte‐

resse particular pela gênese, função e estrutura dos processos psicoló‐

gicos superiores levou a um interesse maior para os temas clássicos da 

psicologia, como percepção, atenção e memória, numa abordagem que 

relaciona  desenvolvimento  e  aprendizado,  distinguindo  os mecanis‐

mos mais elementares daqueles mais  sofisticados,  tipicamente huma‐

nos. 

A mediação simbólica e a origem sociocultural dos processos psicoló‐

gicos superiores são pressupostos fundamentais para explicar o funci‐

onamento da percepção. A visão humana, por exemplo, está organiza‐

da para perceber  luz, que revelará pontos,  linhas, cores, movimentos, 

profundidade;  a  audição permite  a percepção de  sons  em diferentes 

timbres, alturas e  intensidades; o  tato permite perceber pressão,  tem‐

peratura, textura. Os limites dessas e das demais sensações são defini‐

dos pelas características do aparato perceptivo da espécie humana.10 

O  bebê  humano  nasce,  então,  com  suas possibilidades de percepção 

definidas pelas características do sistema sensorial humano. Ao longo 

do desenvolvimento, entretanto, principalmente por meio da internali‐

zação da linguagem, dos conceitos e significados culturalmente desen‐

volvidos, a percepção deixa de ser uma  relação direta entre o  indiví‐

duo e o meio, passando a ser mediada por conteúdos culturais. Intera‐

gimos com o meio através da percepção.  

Ao percebermos elementos do mundo real, fazemos inferências basea‐

das  em  conhecimentos  adquiridos  previamente  e  em  informações 

sobre  a  situação presente. Por  exemplo,  quando  olharmos para uma 

árvore,  não  veremos  suas  copas,  números de  galhos  que  estão deri‐

vando do tronco e o número de raízes que brotam do chão, mas vemos 

imediatamente uma árvore.  Isto  é, a nossa percepção de mundo não 

ocorre por meio de atributos físicos  isolados, mas em termos de obje‐

tos, eventos e situações mediados pela linguagem e categorizados pela 

cultura.11 

A  atenção,  segundo  Oliveira,  inicialmente  baseada  em mecanismos 

neurológicos inatos, vai gradualmente sendo submetida a processos de 

controle  voluntário,  em  grande  parte  fundamentados  na  mediação 

simbólica.12 

Os organismos estão  submetidos a uma  imensa quantidade de  infor‐

mações do ambiente. Em  todas as atividades do organismo no meio, 

Page 92: Livro de ecopedagogia

 

 92

entretanto,  ocorre  um  processo  de  seleção  das  informações  com  as 

quais  o  indivíduo  vai  interagir.  Caso  não  ocorresse  essa  seleção,  a 

quantidade de  informações seria  tão grande e desordenada que seria 

impossível uma ação organizada do organismo no mundo.  Isso quer 

dizer que o aprendizado significativo ocorre quando há uma represen‐

tação do meio onde a criança se encontra inserida. 

A  relevância  dos  objetos  da  atenção  voluntária  estará  relacionada  à 

atividade  desenvolvida  pelo  indivíduo  e  ao  seu  significado.  Sendo 

assim, essa atenção é desenvolvida ao  longo do desenvolvimento do 

indivíduo em interação com o meio em que vive. Por exemplo, a crian‐

ça presta atenção em um besouro durante uma brincadeira, enquanto o 

adulto volta a sua atenção para o seu trabalho. 

Apesar da aquisição de processos de atenção voluntária, os mecanis‐

mos  de  atenção  involuntária  continuam  presentes  no  ser  humano: 

barulhos  fortes e  repentinos e movimentos bruscos continuam a des‐

pertar a atenção do indivíduo. Podemos perceber que a atenção do ser 

humano em relação a determinados aspectos passam a ser considera‐

dos  como  involuntários. Por  exemplo, quando ouvimos  alguém  cha‐

mar  o  nosso  nome,  automaticamente  voltamos  a  nossa  atenção para 

quem o verbalizou. 

Vygotsky,  citado  por Oliveira,  diz  que  a memória  também  trabalha 

com a importância da transformação dessa função psicológica ao longo 

do desenvolvimento e com poderosa  influência dos significados e da 

linguagem. A memória não‐mediada, assim como a percepção sensori‐

al e a atenção involuntária, é mais elementar, mais claramente presente 

nas  determinações  inatas  da  espécie  humana,  sendo  semelhante  à 

memória existente nos outros animais. Essa memória  refere‐se ao  re‐

gistro não‐voluntário de  experiências, que permite o  acúmulo de  in‐

formações  e  o uso dessas  informações  em momentos posteriores, na 

falta das situações vividas anteriormente. Por exemplo, quando o bebê, 

que  faz movimentos de  sucção  ao  ver  sua mamadeira,  reage direta‐

mente à mamadeira como estímulo. Esse estímulo produz a reação de 

sucção por haver uma  lembrança da  conexão mamadeira/ato de ma‐

mar registrada na memória do bebê. Já a memória mediada permite ao 

indivíduo  controlar  seu próprio  comportamento por meio da utiliza‐

ção de instrumentos e signos que provocam a lembrança do conteúdo 

a ser resgatado, de forma deliberada.13  

É  interessante mencionar um exemplo fictício que  integre os três pro‐

cessos psicológicos discutidos nesta seção – percepção, atenção e me‐

mória –, identificando justamente a similaridade dos seus mecanismos 

de funcionamento e as estreitas relações entre eles. Exemplo: um indi‐

Page 93: Livro de ecopedagogia

 

93

víduo está caminhando por uma longa rua, onde está procurando dos 

dois  lados da  rua um  supermercado em que  já esteve uma vez, mas 

sua atenção está deliberadamente focalizada na busca de um determi‐

nado supermercado. Isto é, não é qualquer edifício na rua que chama a 

sua atenção; as casas, lojas e prédios formam uma espécie de “pano de 

fundo”, no qual irá se destacar o supermercado que está sendo intenci‐

onalmente procurado. Sua  lembrança de  supermercado não é apenas 

uma imagem mental diretamente relacionada. Está mediada pelo pró‐

prio  conceito  de  supermercado,  que  o  auxilia  a  focalizar  a  atenção 

apenas  nos  elementos  relevantes da paisagem  e,  eventualmente, por 

outras  informações  paralelas,  tais  como:  “tem  uma  casa  amarela  na 

frente ou é perto de uma praça.” O indivíduo sabe que está procuran‐

do um determinado  supermercado. A  rotulação por meio da  lingua‐

gem  e  a  relação  com um  conhecimento  anteriormente possuído diri‐

gem a sua atenção e a sua memória de  forma deliberada, orientando 

sua percepção e facilitando a realização da tarefa.  

Entendemos que, para Vygotsky, citado por Oliveira, as funções psico‐

lógicas superiores, típicas do ser humano, são, por um lado, apoiadas 

nas  características  biológicas  da  espécie  humana  e,  por  outro  lado, 

construídas  ao  longo  de  sua  história  social  pela  sua  relação  com  o 

meio. E a inserção do indivíduo num determinado ambiente cultural é 

parte essencial de sua própria constituição como pessoa. Então, pode‐

mos  concluir que, para Vygotsky, o desenvolvimento da  espécie hu‐

mana e do indivíduo dessa espécie está, pois, baseado no aprendizado 

que, para o autor, sempre envolve a interferência, direta ou indireta, de 

outros indivíduos e do meio na reconstrução pessoal da experiência e 

dos significados.14 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 94: Livro de ecopedagogia

 

 94

Atividades

1) “Para modificar um pensamento  [...], precisamos modificar uma 

cultura”. Dê um exemplo relacionado à ecologia. 

 

2) Por  meio  do  brinquedo  podemos  nos  desenvolver  como  seres 

humanos? 

 

3) Cite alguns  exemplos de brinquedos através dos quais a  criança 

interage com o meio. 

Page 95: Livro de ecopedagogia

 

REFERÊNCIAS NUMERADAS

Capítulo 1   

DÍAZ, 2002, p. 22. 

Id. 

CENTRO UNIVERSITÁRIO 

DE CARATINGA, 2008. 

Id. 

DÍAZ, 2002, p. 39. 

TOZONI‐REIS, 2004, p. 8. 

MIZUKAMI, 1986. 

BRASIL, 2008a. 

SATO; CARVALHO, 2005, p. 66. 

Id. 

Ibid., p. 67. 

SATO; CARVALHO, 2005, p. 69. 

MOURA, 2002, p. 2. 

NESTROVSKI, 2002, p. 16. 

Capítulo 2 

MOURA, 2002, p. 3. 

REIGOTA, 2006. p. 12. 

Ibid., p. 13. 

MEADOWS; MEADOWS; 

RANDERS, 2007, p. 7. 

MOURA, 2002, p. 5. 

TOZONI‐REIS, 2004, p. 4. 

Ibid., p. 5. 

BRASIL, 2008d. 

TOZONI‐REIS, 2004, p. 6. 

MOURA, 2002. 

Ibid., p. 11. 

Page 96: Livro de ecopedagogia

 

 96

TOZONI‐REIS, 2004, p. 6. 

Ibid., p. 29. 

MOURA, 2002. 

Capítulo 3 

BRASIL, 2008d. 

TOZONI‐REIS, 2004. 

Capítulo 4 

GUTIÉRREZ; PRADO, 1999, p. 38. 

PEREIRA et al, 2007. 

Id. 

Id. 

Id. 

Capítulo 5 

TOZONI‐REIS, 2004, p. 22. 

BRASIL, 2008a. 

CARVALHO, 2004, p. 51. 

REIGOTA, 2006, p. 21. 

CARVALHO, op. cit. 

DÍAZ, 2002. 

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA, 2008. 

Capítulo 6 

CARVALHO, 2004, p. 82. 

Ibid., p. 36. 

Ibid., p. 36‐37. 

MIZUKAMI, 1986, p. 2. 

Id. 

CARVALHO, 2004. 

Id. 

Id. 

Id. 

Id. 

Id. 

Id. 

Capítulo 7 

CARVALHO, 2004, p. 54. 

DÍAZ, 2002, p. 33. 

CARVALHO, op. cit., p. 156. 

DÍAZ, op. cit. 

Page 97: Livro de ecopedagogia

 

97

VASCONDELLOS, 2006. 

Ibid., p. 114. 

HERNÁNDEZ; VENTURA, 2007. 

Capítulo 8 

BRASIL, 2008a. 

CARVALHO, 2004, p. 158‐159. 

DÍAZ, 2002, p. 114. 

Ibid., p. 115‐116. 

DÍAZ, 2002, p. 99. 

Id. 

Capítulo 9 

BRASIL, 1998. 

DÍAZ, 2002, p. 87. 

BRASIL, op. cit. 

Id. 

DÍAZ, 2002, p. 97. 

BRASIL, 1998. 

CARVALHO, 2004. 

SANTOMÉ, 1998. 

Id. 

FREIRE, 1999, p. 61. 

SANTOMÉ, 1998, p. 40. 

Capítulo 10 

OLIVEIRA, 1993. 

Id. 

Ibid., p. 97. 

Id. 

Id. 

Id. 

 

Id. 

Id. 

Id. 

Id. 

Ibid., p. 73. 

Id. 

Id. 

Id

Page 98: Livro de ecopedagogia

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus 

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DÍAZ, A. P. Educação ambiental como projeto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.  

Page 99: Livro de ecopedagogia

 

99

DIREITO AMBIENTAL. Resoluções Conama. Resolução Conama nº 001, de 5 de junho de 1984. Disponível 

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2005.  

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2004. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 100: Livro de ecopedagogia

 

GABARITO

Capítulo 1 

1.  Para  respondermos,  podemos  nos  reportar  à  evolução  da  relação  do  homem  com  o meio  ambiente 

através dos tempos, utilizando referenciais históricos diversos. 

2.  Podemos  ter  como  base  para  a  resposta  dessa  questão  a  situação  do  indígena  no  Brasil,  desde  o 

descobrimento até os dias de hoje, para demonstrar a relação da economia e do progresso na destruição de 

culturas.  

3. Podemos explorar a evolução da relação do homem com o meio ambiente por meio de relatos históricos 

locais, tendo por base questões simples, como, por exemplo, “como era antes e como está agora”. 

Capítulo 2 

1. Opinião pessoal. 

2. Devemos considerar que, para a Educação Ambiental acontecer de  forma efetiva,  todos os ambientes 

devem ser explorados. 

3. A formação de valores e habilidades que favoreçam a Educação Ambiental deve ser trabalhada desde o 

início da vida, pela  integração do homem com o meio ambiente, e ampliada cada vez mais por meio do 

papel da escola, da mídia etc.  

Capítulo 3 

1. A Agenda 21 possui 40 capítulos que podem e devem dar origem a inúmeras atividades e projetos em 

sala de aula, tendo em vista a diversidade de temas ambientais abordados.  

2. Devemos proporcionar à criança uma  integração permanente com o meio ambiente e estabelecer, por 

meio  dessa  relação,  o  desenvolvimento  da  consciência  que  irá  refletir  sobre  os  valores  e  atitudes 

ambientais. 

3. A criança reconhece o mundo por meio de suas vivências locais. As relações social, histórica e ambiental 

que ela mantém com o meio  têm  fundamental  importância no desenvolvimento do ser humano. Tudo o 

que nos é próximo é mais familiar e nos auxilia a compreender melhor um contexto global.  

Capítulo 4 

1.  Uma  educação  para  a  cidadania  planetária  tem  por  finalidade  a  construção  de  uma  cultura  de 

sustentabilidade,  isto  é, uma biocultura, uma  cultura da vida, da  convivência harmônica  entre os  seres 

humanos e entre estes e a natureza. 

2. Por meio de atividades que desenvolvam a percepção do ambiente e a sua valorização,  identificando 

seus maiores  problemas  e  agindo  de  forma  participativa  para  saná‐los.  Por  exemplo:  trilhas,  passeios 

temáticos, visitas a parques históricos, demonstrando como era o ambiente e como está nos dias atuais etc. 

3.  Proporcionar  inúmeras  relações  e  interações  por  meio  da  consciência  ecológica,  visando  ao 

estabelecimento de responsabilidades éticas e a solidariedade do homem no intuito de proteger a vida na 

Terra, formando assim a consciência da cidadania ambiental ou planetária. 

Capítulo 5 

1. A Carta de Belgrado prevê que as atividades ambientais globais devam acontecer como  resultado do 

esforço  na  aplicação  de  inúmeras  atividades  ambientais  locais,  como  peças  de  um  quebra‐cabeça  para 

compor um “todo”. 

Page 101: Livro de ecopedagogia

 

101

2.  Por  meio  das  atividades  educativas  propostas  em  ambientes  diversos  (escola,  parques,  empresas, 

sociedade  etc.) para proporcionar a  formação de valores  sociais,  conhecimentos, habilidades, atitudes  e 

competências voltadas para a conservação do meio ambiente. 

3. Educação ambiental individual é a que elaboramos por meio de nossas vivências na formação de nossos 

valores  e  da  consciência  ambiental,  geralmente  por meio  do  convívio  familiar;  a  educação  ambiental 

coletiva  ocorre  quando  grupos  desenvolvem  em  conjunto  trabalhos  ambientais,  seja  em  sala  de  aula, 

ONGs ou associações de moradores de bairro, nas mais diversas localidades.  

Capítulo 6 

1. Segundo esse ponto de vista, a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o ambiente, estabelecem 

uma relação de mútua interação e copertença, formando um único mundo. Essa lente vai nos possibilitar, 

entre outras coisas, repensar a  ideia de evolução, percebendo‐a como uma  interação entre a natureza e a 

ação das espécies que estão e foram surgindo, particularmente a humana. 

2.  “Só  sei  que  nada  sei”,  frase  dita  por  Sócrates. A  única  certeza  que  podemos  ter  é  a  de  que  nunca 

saberemos tudo, por isso o processo educativo é inacabado por natureza.  

3. Relatar um caso que demonstre a regionalidade e as características ambientais de um determinado local 

– de preferência o que está situado em sua comunidade –,  tendo em vista a diversidade cultural, social, 

histórica e ambiental desse nosso imenso Brasil. 

Capítulo 7 

1. Todo o projeto pedagógico deve ser elaborado levando‐se em consideração o contexto local. Isto faz com 

que a aprendizagem seja significativa.  

2. Se nos basearmos em Paulo Freire, poderemos perceber a importância de o projeto político‐pedagógico 

da Educação Ambiental ser vinculado à comunidade onde a escola está  inserida, como uma maneira de 

proporcionar discussões e o levantamento de problemas para a consequente solução. Segundo esse autor, 

a relação do homem com o ambiente é a formadora da leitura que o homem faz do mundo estando situado 

nele,  tornando‐o um ser que se estabelece na ação e na reflexão sobre suas atitudes para com o mundo, 

com o objetivo de transformá‐lo.  

3.  Porque  deve  proporcionar  a  discussão  de  temáticas  definidas  em  grupo  por  meio  de  debates  e 

seminários em que  todos são coparticipantes, estabelecendo‐se assim um enfoque global e  relacional na 

atuação do homem com o ambiente. 

Capítulo 8 

1.  Para  formar  uma  atitude  ecológica  dotada  de  sensibilidades  estéticas,  éticas  e  políticas  atentas  à 

identificação dos problemas e conflitos que afetam o ambiente em que vivemos.  

2.  Por  meio  da  conexão  da  experiência  e  dos  repertórios  já  existentes  com  questões  e  com  outras 

experiências que possam gerar novos conceitos e significados, atuando no cotidiano escolar e não escolar, 

provocando novas questões,  situações de  aprendizagem  e desafios para  a participação na  resolução de 

problemas, a fim de articular a escola com os ambientes locais e regionais onde está inserida. 

3. Opinião do aluno. 

 

 

Capítulo 9 

1. Porque deve  levar em  consideração a  importância de  inúmeras  temáticas  locais e  interagi‐las  com as 

disciplinas  básicas,  para  que  a  aprendizagem  torne‐se mais  significativa,  ou  seja,  inúmeros  temas  que 

dialogam entre si, com o currículo e com a localidade onde a escola está inserida.  

2. A articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitem a percepção  integrada do 

meio ambiente, tornando possível uma ação mais racional e capaz para responder às necessidades sociais, 

devendo realizar a análise de problemas por meio de uma perspectiva interdisciplinar e globalizadora, que 

permita uma compreensão adequada dos problemas ambientais.  

3.  Alunos  e  alunas  que  convivem  com  uma  educação  interdisciplinar  possuem  conhecimentos  mais 

abrangentes, desenvolvem uma visão mais ampla das  situações e problemáticas em que  se envolvem e 

promovem uma atuação mais consciente e crítica. 

Capítulo 10 

Page 102: Livro de ecopedagogia

 

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1. Um  exemplo que deixo  a vocês  é o das  sacolas plásticas dos mercados.  Sabemos que  são  altamente 

impactantes ao meio ambiente, mas é uma prática utilizada por tanto tempo que se transformou em uma 

cultura.  Para modificarmos  o  nosso  pensamento  e  tentarmos  reduzir  esse  impacto,  devemos mudar  a 

cultura de pegar as sacolas descartáveis oferecidas pelos mercados e sim optarmos por sacolas que podem 

ser reutilizadas como, por exemplo, as de pano, lona, palha etc. 

2. O comportamento das crianças é  fortemente  influenciado pela vida concreta – “como vivem” e “onde 

vivem” – e somente depois de adquirirem a  linguagem conseguem utilizar as representações simbólicas. 

Numa situação de brincadeira de “faz‐de‐conta”, a criança entra em um universo  imaginário, em que a 

situação é definida pelos significados que a criança estabelece e não pelos elementos reais concretos. É o 

mundo da fantasia, em que ela experimenta e reproduz o seu meio.  

3. Passeios em parques ou  trilhas, educação artística com  reciclagem, passeios em  rios ou plantações da 

localidade, exploração dos diversos ambientes nas proximidades escolares etc.