limite e continuidade
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA
ADRIANO AUGUSTO ADDARIO DOS SANTOS
JONATHAN DA SILVA CARDOZO
LIMITE, CONTINUIDADE E CÁLCULO DIFERENCIAL
Belém - PA
2012
LIMITE E CONTINUIDADE
1- Limite
Dada uma função real f estamos interessados em saber o que
acontece com o valor de f ( x ) quando x se aproxima de um ponto x0 sem,
entretanto, assumir este valor.
Se estamos interessados no valor def ( x ) é preciso que x esteja no
domínio de f mas, como x não assume o valor x0 , não é necessário que
f ( x0) esteja definido. Ou seja, não é necessário que x0 pertença ao domínio
de f . Porém, é preciso que seja possível “se aproximar de x0 ” por pontos do
domínio de f . Rigorosamente falando, se A é o domínio de f , então a noção
de limite de funções terá sentido se, e somente, x0 é ponto de acumulação de
A. Lembramos que esta condição significa que x∈ A {x0¿¿ , i.e., existe uma
sequência ( xn )n∈N⊂A {x0¿¿ convergente para x0 .
Se l for um número real, lim
x→ p
f ( x )=lsignifica que o valor de f ( x )pode ser
colocado tão próximo de l sempre que x esteja próximo de p com x≠p .
Mais precisamente, temos a seguinte definição:
Definição 1: Sejam A um subconjunto deR , f : A→R uma função e p um
ponto de acumulação de A. Diz-se que l∈R é limite de f em p se, dado
qualquer número positivo ε, existir um número positivo δ, que em geral
depende de ε e p , tal que
x∈ A ,0<|x−p|<δ⇒|f ( x )−1|<εDesigna-se tal fato por
limx→ p
f ( x )=l
Ou
f ( x )→ l quandox→ p
e também diz-se que f converge (ou tende) para l quando x converge (ou
tende) para p .
Vejamos um exemplo para analisarmos a definição acima.
Exemplo 1: Consideremos a funçãof ( x )=x ² , para x∈ R . Mostremos que
limx→ p
f ( x )=p ²=f ( p )
Devemos fazer uma estimativa de
|f ( x )−f ( p )|=|x ²−p ²|
De modo que ela se torne menor que um certo ε>0 , dado arbitrariamente,
sempre que x esteja próximo dep . Como o conceito de limite é local devemos
ter a preocupação apenas com os valores dex que estejam próximos de p .
Para iniciar, observemos que
|x ²−p ²|=|( x+ p )( x−p )|=|x+ p||x−p|
De modo que suporemos x satisfazendo|x−p|<1 . Usando a segunda
desigualdade triangular, obtém-se |x| − |p| < 1 e daí |x| <|p| + 1, donde
|x+ p|≤|x|+|p|≤2|p|+1
Em virtude da desigualdade, teremos
|x−p|<1⇒|x ²−p ²|=|x+ p||x−p|≤(2|p|+1 )|x−p|
Escolhamos
δ=δ (ε , p)=min {1 ,ε
2|p|+1 }de modo que
0<|x−p|<δ⇒|f ( x )−f ( p)|<ε ,
ou seja lim
x→p
x ²=p ². Novamente, conforme observado anteriormente temos
uma função contínua. Aqui, o valor de δ depende de ε e do ponto p.
LIMITE LATERAL
Muitas vezes, estudamos o limite de uma função f quando x tende para p,
considerando x apenas à direita de p ou apenas à esquerda de p. Quando isso
acontece, estamos considerando os limites laterais de f em p que serão
tratados nesta seção.
Definição 2: Sejamf : A→R , A⊂R ep∈R um ponto de acumulação do
conjunto A ∩ (p, p + r), para algum r > 0. O número real l+
é limite lateral à
direita de f em p se, dado qualquer ε > 0, existir δ = δ(ε, p) > 0 tal que
x∈ A ,0<x−p<δ⇒|f ( x )−l+|<ε
Designa-se isso por
limx→ p+
f ( x )=l+
Um pontop∈R que seja ponto de acumulação de A ∩ (p, p + r), para algum
r > 0, é chamado ponto de acumulação à direita de A.
Definição 3: Seja f : A → R, A⊂R , e p∈R um ponto de acumulação do
conjunto A ∩ (p − r, p) para algum r > 0. O número real l=
é limite lateral à
esquerda de f em p se, dado qualquer ε > 0, existir δ = δ(ε, p) > 0 tal que
x∈ A ,0< p−x<δ⇒|f ( x )−l−|<ε
Designa-se isso por
limx→p−
f ( x )=l−
Um pontop∈R que seja ponto de acumulação de A ∩ (p − r, p), para algum r >
0, é chamado ponto de acumulação à esquerda de A.
Podemos exprimir esses fatos em termos de sequências como no teorema
abaixo.
Teorema: Sejamf : A→R , A⊂R e p um ponto de acumulação de A. Então
limx→p
f ( x )=lexiste se, e somente se, para toda sequência xn em A, convergindo
para p e tal quexn≠p para todo n∈N , tivermos que a sequência f ( xn)
converge para l .
Demonstrando: Suponhamos quelimx→ p
f ( x )=le consideremos uma sequência
xn em A, convergindo para p com xn≠p para todon∈N . Devemos mostrar
quef ( xn) converge para l . Para isso tomemos ε > 0 e usando a definição de
limite encontremos um δ > 0 tal que
x∈ A ,0<|x−p|<δ⇒|f ( x )−l|<ε
Ora, como xn→ p para o δ > 0 encontrado acima, existe n0∈N tal que
0<|xn−p|<δ se n≥n0
Destarte,
|f ( xn )−l|<ε se n≥n0
donde resulta que f ( x )→ l e a primeira parte do teorema está demonstrada.
Vejamos a recíproca, ou seja, se para toda sequência xnem A, xn≠p , para
todo n∈N , com xn→ p implica f ( x )→ l então limx→p
f ( x )=l. Suponhamos que
limx→p
f ( x )=lnão se cumpra, isto é, existe ε > 0 tal que para todo δ > 0 exista
xδ∈ A ,x δ≠p com |xδ−p|<δ mas|f ( xδ )−l|≥ε . Para cada natural n , tomando
δ=1n encontraremos uma sequência xnem A, xn≠p de modo que
|xn−p|< 1n
e |f ( xn )−l≥ε|.
Concluímos, então, que existe uma sequência xn no conjunto A, xn≠p
convergindo para p mas f ( xn)não converge para l , o que finaliza a
demonstração.
LIMITE POR SEQUÊNCIA
Sejammf : A⊂R→R e A {x0¿¿ }. Então, limx→x 0
f ( x )=k se, e somente se,
limc→+∞
f ( xn )=k para toda sequência ( xn )n∈N⊂A {x0¿¿ convergente para x0 .
Demonstrando : Suponhamos que limc→+∞
f ( xn )=ke mostremos que se
( xn )n∈N⊂A {x0¿¿e xn→ x0 , entãof ( xn)→ k . Seja ε>0 . Por hipótese, existe
δ>0 tal
que
x∈ A ,0<|x−x0|<δ⇒|f ( x )−k|<ε
Ora, xn→ x0 , logo, existeN∈N tal que se n≥N , então |xn−x|<δ
. Assim,
para n≥N , ao tomar x=xn em (7.1) obtemos f ( xn)→ k . Concluímos que
f ( xn)→ k .
Reciprocamente, suponhamos que seja falso que limx→x 0
f ( x )=k. Isto significa
que existe ε>0 tal que
∀ δ>0 , ∃ x∈ A tal que 0<¿¿ e |f ( x )−k|≥ε
Para cada n∈N , ao tomar δ=1
n em (7.2) obtemosxn∈ A tal que
0<|xn−x0|<1n e
|f ( xn )−k|≥ε
Constrói-se desta maneira uma sequência ( xn )n∈N⊂A {x0¿¿ convergente para
x0 sem que f ( xn)→ k . Absurdo!
PROPRIEDADES LIMITE
Sejam f , g : A⊂R→R e c∈R . Se limx→x 0
f ( x )=ke
limx→x 0
g ( x )=m∈R, então:
I-limx→x 0
( f ( x )+g( x ))=k+m
II-limx→x 0
( f ( x )−g( x ))=k−m
III-limx→x 0
(cf (x ))=ck
IV-limx→x 0
( f ( x )g ( x ))=km
V- Se m≠0 , então limx→x 0
( f ( x )/ g( x ))=k /m
TIPOS DE LIMITE
O limite que aparece na primeira linha e primeira coluna já foi definido. Os
outros são definidos com pequenas adaptações. O importante é entender o que
significam limites iguais a k ,+∞ ou (cada um destes corresponde a um coluna
da tabela), bem como o que representam os símbolos
x→ x0 , x→ x0+ , x→ x0
− , x→+∞ , x→−∞ (que correspondem às linhas). Façamos
alguns comentários a este respeito.
lim f ( x )=k
Como já vimos, isto significa que, por menor que seja ε>0 , podemos concluir
que |f ( x )−l|<ε desde que x verifique certa condição.
lim f ( x )=+∞
Significa que, por maior que sejaM>0 , podemos concluir que f ( x )>M desde
que x que verifique certa condição.
lim f ( x )=−∞
Significa que, por maior que seja M>0 , podemos concluir que desde que x
verifique certa condição.
x→ x0
Como já vimos, isto significa que a condição sobre x é 0<|x−x0|<δ para δ
suficientemente pequeno. É necessário que x0∈ A {x0¿¿ .
x→ x0+
Lê-sex tende a x0 pela direita. Significa que a condição sobre x é
0<x−x0<δ para δ _ suficientemente pequeno. É necessário que
x0∈ A∩(x0 ,+∞) .
x→ x0−
Lê-se x tende a x0 pela esquerda. Significa que a condição sobre x é
0<x0−x<δ para δ suficientemente pequeno. É necessário que
x0∈ A∩(−∞ , x0 ).
x→+∞
Lê-se x tende o mais infinito. Significa que a condição sobre x é x>N para
N suficientemente grande. É necessário que A seja ilimitado superiormente.
x→−∞
Lê-se x tende a menos infinito. Significa que a condição sobre x é x<−N
para N suficientemente grande. É necessário que A seja ilimitado
inferiormente.
CONTINUIDADE
Função continua
Definição: Diz-se que a funçãof : A→R é contínua no pontox0∈ A se, para
qualquer sequência xn em A, comxn→ x0 , tivermos f ( xn)→ f ( x0 ). Caso
contrário, diz-se que f é descontínua emx0 ou quex0 é uma descontinuidade
de f . Se f for contínua em todos os pontos de seu domínio A diz-se que f é
contínua.
Segue-se que a função f : A→R é descontínua em x0∈ A se, e somente
se, existir uma sequência xn em A tal que xn→ x0 mas f ( xn)→ f ( x0 ) .
Exemplo: Seja
f ( x )=¿ {x ²−1x ³
¿¿¿¿se
x≠1x=1
E calculamos
limx→1
f ( x ) ,
Caso lele exista.
Inicialmente, observemos que para x≠1 temos
f ( x )= x ²−1x3−1
=( x−1 )( x+1 )
( x−1)( x ²+x+1)= x+1
x ²+x+1
Sejaxn uma sequência com xn→1 . Usando o fato de que o limite do quociente
é o quociente dos limites, obtemos
f ( x )=xn
2−1
x3n3 −1
=xn+1
xn2+xn+1
→ 23≠ f (0)
Na figura a seguir encontra-se esboçado o gráfico da função estudada.
Analisando outra situação temos que, seja
g( x )=¿ {x ²−1x ³−1
¿ ¿¿¿ se
x≠1x=1
e estudemos a questão de existência de
limx→1
f ( x ) ,
Nesse caso, e usando argumentos análogos aos do exemplo anterior, verifica-
se que limx→1
g( x )=23=g (1 )
). O gráfico dessa função é mostrado na figura a
seguir.
Observa-se no exemplo 55 que quando traçamos o gráfico da função f, ao
chegarmos ao ponto x = 1, a função dá um salto. Desse modo, ao traçarmos
seu gráfico teremos que, momentaneamente, retirar o lápis do papel sobre o
qual o estamos desenhando. Já no exemplo 56, o gráfico pode ser efetuado
sem quebras ou saltos, ou seja, ele é feito de modo contínuo. Isto motiva a
definição de função contínua que será estudada neste capítulo e
subsequentes.
Diz-se que a função f : A → R é contínua no ponto x0∈ A se, para qualquer
sequênciaxn em A, com xn→ x0 , tivermos f ( xn)→ f ( x0 ). Caso contrário, diz-
se que f é descontínua emx0 ou que x0 é uma descontinuidade de f. Se f for
contínua em todos os pontos de seu domínio A diz-se que f é contínua.
DERIVADA
NOÇÕES
Uma função f: I → R é derivável em um ponto x0 do intervalo I se o limite
limx→x 0
f ( x )−f ( x0)x−x0 existir. Esse Limite é designado por f´(x0) e é chamado
derivada de f em x0. Quando uma função é derivável em cada ponto do seu
domínio. Ela é dita uma função derivável.
A existência desse limite pressupõe que ele independa de como x tende
para x0. No entanto, em alguns casos essa aproximação somente poderá ser
feita ou pela direita ou pela esquerda. Isso é o que acontece, por exemplo, se
x0 for uma das extremidades de um intervalo. Caso x0 esteja no interior do
intervalo I, o limite acima existirá se, e somente se, os limites laterais
limx→x
+0
f ( x )−f ( x0)x−x0 e
limx→x
−0
f ( x )−f ( x0)x−x0 existirem e forem iguais. O primeiro
desses limites é chamado derivada lateral à direita de f no ponto x0, sendo
designado por f´+(x0), e o outro é chamada de derivada lateral à esquerda,
sendo designado por f´-(x0) . A expressão
f ( x )−f (x0 )x−x0 é chamada de quociente
de Newton de f no ponto x0 e pode ser rescrita como
f ( x0+h)−f ( x0 )h , em que
estamos fazendo x-x0=h. assim, a derivada de f em x0 é também dada por
limh→0
f ( x0+h)−f ( x0 )h no caso das derivadas laterais temos
f ´+ (x0 )= limh→0+
f (x0 +h )−f ( x0)h e
f ´−( x0 )= limh→0−
f ( x0+h )−f ( x0)h . A função y=f(x),
a sua derivada em um ponto x de seu domínio, caso exista, será também
designado por
dydx
( x )ou simplesmente por
dydx caso não haja duvida sobre o
ponto no qual estamos calculando a derivada.
Essas definições se aplicam mesmo que x0 seja extremo esquerdo ou
direito, respectivamente, de um intervalo onde f seja definida. Como exemplo,
considere a função f ( x )=(√ x)3, que está definida somente para x≥0; portanto,
não é derivável no sentido ordinário em x=0. No entanto, existe e é zero sua
derivada à direita nesse ponto, pois f (h )−f ( 0 )=h√h.
Teorema:
A fim de que f: X→R seja derivável no ponto α ∈X¿ X´ é necessário e
suficiente que exista c ∈R tal que α + h∈X⇒ f( a + h )= f( a ) + c . h + r(h),
onde limh→0 r(h)/h=0. No caso afirmativo, tem-se c = f´(a).
Demonstração:
Seja Y={ h ∈R; α + h∈X }. Então 0∈Y¿ Y´. Supondo que f´( α) exista,
definimos r:Y→R supondo r ( h ) = f ( α + h ) - f ( α ) - f ( α ).h.Então
Logo limh→0 r ( h ) / h = 0. A condição é, portanto, necessária.
Reciprocamente. Se vale a condição, então f ( h ) / h= [ f ( α + h ) - f ( α ) ] / h -
c, logo limh→0 (f ( α + h ) - f( α ) ) / h - c = limh→0 r ( h ) / h = 0, portanto f´( α)
existe e é igual a c.
Para toda função f, definida nos pontos α e α + h, e todo número real c,
pode-se sempre escrever a igualdade f(α + h)= f( α )+c.h+r( h ), a qual
meramente define o número r(h). O que este teorema afirma é que existe no
máximo um c ∈R tal que limh→0 r ( h ) / h = 0. Este número c, quando existe é
igual a f´(a). O teorema diz ainda que quando f´(a) existe, o acréscimo f ( α +
h ) - f( α ) é a soma de uma parte linear c.h, proporcional ao acréscimo h da
variável independente, mais um resto r(h), o qual é infinitamente pequeno em
relação a h, no sentido de que o quociente r(h)/h tende a zero com h.
Corolário: Uma função é continua nos pontos em que é derivável.
Com efeito, se f é derivável no ponto a então f( a + h) = f(a)+f´(a).h+[ r ( h ) / h]h
com limh→0 r ( h ) / h = 0, logo limh→0 (f ( α + h )= f (a ), ou seja, f é contínua no
ponto a.
Exemplo:
Uma função constante é derivável e sua derivada é identicamente nula
se f: R→R é dada por f(x)=a.x + b então, para c ∈R e h≠0 quaisquer, [f( c + h)-
f(c)/h=a, logo f´(c)=a. Para n ∈N qualquer, a função f R→R, com f(x) =xn, tem
derivada f´(x)=n.xn-1. Com efeito pelo binômio de Newton,f( x + h)=(x
+h)n=xn+h.n.xn-1+h².p.( x, h), onde p(x,h) é um polinômio em x e h. Portanto [ f
( x + h ) – f ( x ) / h = n . xn-1+ h . p ( x , h ).Segue-se que f´(x) = lim h→0[ f(x+ h)-
f(x)/h=n.xn-1.
A Diferencial
A diferencial da função f no ponto x0 é definida como sendo o produto
dy=f ' (x0 ) x, onde x=x−x0. De acordo com esta definição, a diferencial da
função identidade, x x. é x, isto é, dx=x, de sorte que, em geral dy=f ' (x0 )dx.
Daqui segue também que a derivada é o quociente das diferenciais:
f ' (x0 )=dy /dx. Mais precisamente, f ' (x0 )=(df /dx ) (x0 ), onde df =dy=f ' (x0 )dx.
Regras Operacionais
Teorema:
Se f e g são deriváveis num ponto x, então o mesmo é verdade de fg e
( f (x ) g ( x )) '=f ( x )g ' (x )+ f ' ( x )g ( x ). Se, ainda, g ( x )≠0, então
¿g ( x ) f ' ( x )−f (x ) g ' ( x )
g ( x )2
Demonstração:
No caso do produto, observamos que a razão incremental se escreve:
f ( x+h )g (x+h )−f ( x )g ( x )h
¿[ f ( x+h )g ( x+h )−f ( x+h ) g ( x+h ) ]+[ f ( x+h ) g (x )−f ( x )g ( x ) ]
h
¿ f ( x+h ) ∙ g ( x+h )−g ( x )h
+f (x+h )−f ( x )
h∙ g ( x ) .
Agora é só fazer h→0 para obtermos o resultado desejado.
Quanto ao quociente, consideremos primeiro o caso em que f=1, ou
seja, 1/ g. Temos de considerar a razão incremental
1h ( 1
g ( x+h )−
1g ( x ) )=−g ( x+h )−g ( x )
h1
g ( x+h )g (x ),
cujo limite, com h→0, produz o resultado desejado. O caso de um quociente
geral f /g pode ser tratado como produto: f /g=f ∙1/ g.
Teorema:
Sejam f: X → R, g: Y→ R, a∈ X¿ X´, a e g é derivável no ponto b então
g∘ f: X → R é derivável no ponto a, com (g∘ f)´(a)=g´( f ( a ) ) . f´( a )
Demonstração: Consideremos uma sequência de pontos xn∈X - { a }
com N1={n∈N; f ( xn ) ≠ f ( a )} e N2={n∈N;f ( xn ) = f( a )}. Se n ∈N1 então yn∈Y –
{b} e
g ( f ( xn ))−g( f (a ))xn−a
=g( yn)−g(b )
yn−b.f ( xn )−f (a)
xn−a , portanto se N1 é infinito,
tem-se limn∈N1[ g(f ( xn )) – g ( f ( a ) ) ] / ( xn – a ) = g´( f ( a ) ).f´( a ). Se N2 é
infinito tem-se limn∈N2[ f ( xn ) – f ( a )] / ( xn – a ) = 0, logo f´( a ) = 0. Ainda neste
caso, tem-se limn∈N2[ g ( f ( xn )) – g ( f ( a )) ] / ( xn - a ) = 0 = g´(f ( a )).f´( a ).
Como N = N1¿ N2, resulta daí que, em qualquer hipótese, vale
limn∈N
[ g ( f ( xn ))−g ( f (a) )( xn−a )
=g ´ ( f ( a)). f ´ (a). O que prova o teorema.
Corolário: Seja f: X→Y uma bijeção entre os conjunto X,Y ⊂R, a com inversa
g =f-1:Y→Y. Se f é derivável no ponto a∈ X¿ X´ e g é continua no ponto b=f(a)
então g é derivável no ponto b se, e somente se, f´( a ) ≠ 0. No caso afirmativo,
tem-se g´( b ) = 1 / f´(a).
Com efeito, se xn ∈ X – {a} para todo n∈N e lim xn = a então, como f é injetiva e
contínua no ponto a, tem-se yn=f( xn ) ∈Y – {b} e lim yn = b, portanto, b ∈ Y¿ Y´.
Se g for derivável no ponto b, a igualdade g(f(x))=x, válida para todo x∈X,
juntamente com a Regra da Cadeia, fornece e g´(b) . f´(a)=1. Em particular, f
´(a) ≠ a. Reciprocamente, se f´(a) ≠0 então, para qualquer sequência de pontos
yn=f(xn) ∈Y – {b} com lim yn=b, a continuidade de g no ponto b nos dá limxn=a,
portanto
limg ( yn )−g(b )
yn−b=lim [ yn−b
g( yn )−g( b) ]−1
=lim [ f ( xn )−f (a )xn−a ]
−1
=1
f ´ (a ).
Derivadas e crescimento
Teorema:
Se f: XR é derivável à direita no ponto a XX’+, com f’+ (a) > 0, então
existe > 0 tal que x X, a < x < a+ implicam f(a) < f(x).
Demonstração:
Temos lim x→a+
[ f ( x )−f ( a) ]/ (x−a )=f '+(a )>0. Pela definição de limite à
direita, tomando =f '+ (a) ,obtemos > 0, tal que:
x∈ X ,a<x<a+δ⇒[ f ( x )−f ( a) ]/( x−a )>0⇒ f (a)< f ( x ) .
Corolário 1. Se f:XR é monótona não-decrescente então suas derivadas
laterais, onde existem, são ≥0.
Corolário 2. Seja a∈ X um ponto de acumulação bilateral. Se f:X R é
derivável no ponto a, com f ' (a )>0 então existe
δ>0 tal que x , y∈ X ,a−δ<x<a< y<a+δ implicam f(x)<f(a)<f(y).
Corolário 3. Se f: XR é derivável à direita no ponto a∈ X∩X '+ e tem um aí
um máximo local no ponto a.
Corolário 4: Seja a∈ X um ponto de acumulação bilateral. Se f: XR é
derivável no ponto a e possui aí um ponto máximo ou mínimo local então
f’(a)=0.
Exemplo:
Do teorema 4 e corolário 2 não se pode concluir que uma função com
derivada positiva num ponto a seja crescente numa vizinhança de a. Tudo o
que se pode garantir é que f(x)<f(a) para x < a, x próximo de a, e que f(x)>f(a)
se x está próximo de a, com x >a. Por exemplo, seja f:RR dada por
f(x)=x²sen(1/x)+x/2 se x¿0 e f(0)=0. A função f é derivável, com f’(0)=1/2 e
f’(x)=2xsen(1/x)-cos(1/x)+1/2 para x¿0 . Se tomarmos x¿0 muito pequeno com
sen(1/x)=0 e cós(1/x)=1
Fórmula de Taylor
Seja n ∈N. A n-ésima derivada ( ou derivada de ordem n) de uma função
f no ponto a é indicada com notação f(n)(a) e definida indutivamente:
f´´(a) = [f´]´(a), f´´´(a) = f(3)(a)=[f´´]´(a),..., f(n)(a)= [f(n-1)]´ (a).
é necessário que f(n-1)(x) esteja definida para todo x num conjunto ao qual a
pertença, e do qual seja ponto de acumulação. Em todos os casos abaixo, tal
conjunto será um intervalo contendo a.
Diremos que f: I →R é n vezes derivável no intervalo I quando existir f(n)
(x) para todo x∈ I. Bem entendido, quando x for uma das extremidades de I, f(n)
(x) é uma derivada lateral. Diremos que f: I→R e n vezes derivável no ponto a∈
I quando houver um intervalo aberto J contendo a, tal que f é n – 1vezes
derivável em I¿ J e, além disso, existir f(n)(a) é uma função continua em I. em
particular, f∈C0 significa que f é continua em I
Teorema: ( fórmula de Taylor infinitesimal).
Seja f; I→IR n vezes derivável no ponto a ∈ I. Então para todo h tal que
a+h ∈ I, tem-se
f ( a + h ) = f ( a ) + f´ ( a ) . h+ f´´ ( a )2 ! . h²
+ .. .f (n )
n !.hn+r (h )
onde, limh→0
r (h )hn
=0
Além disso,
p(h )=∑ f i(a )i !
.h
i=0
n
é o único polinômio de grau ≤ n tal que f( a + h)=
p(h) + r(h) com lim
r (h )hn
=0
Teorema (regra da cadeia).
Consideremos uma função composta fog, definida num intervalo I , de
sorte que g ( I )Df . Suponhamos que g seja derivável num ponto x∈ I e f
derivável em y=g ( x ). Então a função composta f (g ( x ) ) é derivável no ponto x e
[ f (g ( x ) ) ] '=f ' (g ( x ) )g ' (x ).
Demonstração:
Como f é derivável no ponto y,
f ( y+k )−f ( y )k
=f ' ( y )+(k ) ,
onde (k )→0 com k→0. Pondo (0 )=0 , podemos escrever essa equação na
forma
f ( y+k )−f ( y )=k [ f ' ( y )+ (k ) ] ,
que é agora verdadeira mesmo para k=0 . Seja k=g ( x+h )−g ( x ). Então,
f (g ( x+h ) )−f (g ( x ) )h
=f ( y+k )−f ( y )
h=
[ f ' ( y )+ (k ) ] kh
¿ [ f ' (g ( x ) )+( k ) ] g ( x+h )−g ( x )h
.
Da continuidade de g no ponto x segue-se que k→0 com h→0. Assim,
basta fazer h tender a zero para obtermos o resultado desejado.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Geraldo Severo de Souza. Introdução à análise matemática. 2ª ed.
rev. São Paulo: Edgard Blücher, 1999.
LIMA, Elon Lages. Análise Real, volume 1. 2ª ed. Instituto de Matemática
Pura e Aplicada. CNPq, 1993.
MADUREIRA, Alexandre L. Introdução à análise Real. Disponível em:
http://www.lncc.br/~alm/cursos/analiseI06/analiseI.pdf . Acessado em: 10 nov
2012