indoctrination of hate: um estudo sobre aspectos da
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
DANILLO VELOSO GONÇALVES
Indoctrination Of Hate: um estudo sobre aspectos da formação musical de
integrantes da banda de Metal Extremo Expose Your Hate
NATAL – RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
DANILLO VELOSO GONÇALVES
Indoctrination of Hate: um estudo sobre aspectos da formação musical de
integrantes da banda de Metal Extremo Expose Your Hate
Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura Plena em Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN –como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Licenciada em Música.
Orientador: Prof. Dr. Tamar Genz Gaulke
NATAL – RN
2018
DANILLO VELOSO GONÇALVES
Indoctrination of Hate: um estudo sobre aspectos da formação musical de
integrantes da banda de Metal Extremo Expose Your Hate
Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura Plena em Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN –como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Licenciada em Música.
Aprovado em ____/____/____.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Profª Drª Tamar Genz Gaulke
Orientador
________________________________________________
Prof. Dr. Tiago de Quadros Maia Carvalho
Avaliador
__________________________________________________
Prof. Dr. Mario André Wanderley Oliveira
Avaliador
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos iniciais vão para minha progenitora Márcia Veloso dos Santos
por seu apoio durante os tempos mais sombrios da minha existência, por ter segurado a barra
junto comigo e ter me suportado por todos esses anos. Mãe esse é o resultado dos nossos anos
de brigas e aceitações que agora rendem frutos e abrem oportunidades para novos caminhos,
obrigado por ser minha Mãe.
À minha orientadora, Profa. Dra. Tamar Genz Gaulke por ter acreditado em mim
desde o primeiro dia de aula e ter oportunizado que meu caminho fosse mais calmo e
tranqüilo. Sua bondade e paciência foram essenciais para que me sentisse bem e alcançasse
meus objetivos. Obrigado pelo exemplo de profissional e pessoa que se apresentou.
A minha companheira Anne Kalline Candeias da Silva pelo apoio físico, mental,
motivacional, principalmente nos momentos finais para que esse trabalho acontecesse, por
estar comigo e por ter me renovado minhas alegrias com nosso rebento. Amo vocês.
Aos meus amigos-irmãos, Laion, Julio Schwantz, Humberto, Neto, Andreza, Vitoria,
João Pedro, Patrick por todas as conversas que pude ter com cada um que de alguma forma
me influenciou e me permitiu estar aqui. Meu muito obrigado pela paciência e carinho de
vocês.
Aos amigos distantes, mas que se fizeram muito próximos quando tive duvidas sobre
o caminho que cursar e decisões tomar, muito obrigado Aloma e Silmara.
Aos meus amados Julio, Barbara e Fernanda. Sem vocês eu não teria percorrido
metade do caminho. Vocês me ofereceram companheirismo e aconchego além das conversas
infindáveis sobre tudo.
Ao Prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima, pelo exímio profissional e amigo. Obrigado
pelas conversas, companheirismo e crença em um potencial que nem eu mesmo acreditava
ter. Seus conselhos levarei para além da academia.
À Daiane e Vanessa pelas palavras de incentivo para que houvesse a conclusão desse
trabalho.
Aos amigos que fiz durante minhas passagens pelo curso e que acresceram nessa
trajetória louca até aqui.
A banda Expose Your Hate por ter aceitado o convite de participar desta pesquisa e
tão solicitamente e pelo prazer que sinto ao ouvi-los. Sou fã de carteirinha de vocês.
RESUMO
A aprendizagem dos músicos populares é um assunto complexo e ainda carente de exposição
no meio acadêmico. Sabe-se que o processo de ensino-aprendizagem destes indivíduos
acontece informalmente de forma contínua e apresenta peculiaridades de acordo com o
contexto em que se insere. Este trabalho pretende demonstrar aspectos da formação musical
de integrantes da banda Expose Your Hate que atua na cena do Metal Extremo da cidade do
Natal/RN, através de uma roda de conversa. Dessa maneira, investiga-se como surgiu sua
afinidade com o estilo, sua trajetória musical contextualizando o que seria o gênero Metal e
como ele se apresenta na cidade.
Palavras-chave: Músicos Populares; Formação Musical; Aprendizagem Informal; Metal
Extremo; Metal
ABSTRACT
The learning of the popular musicians is a complex subject and still in need of exposure in the
academic environment. It is known that the teaching-learning process of these individuals
happens informally in a continuous way and presents peculiarities according to the context in
which it is inserted. This work intends to demonstrate aspects of the musical formation of
members of the band Expose Your Hate that belong to the extreme metal scene of the city of
Natal / RN, through a conversation. Therefore, it investigates how their affinity with the style
arose, their musical trajectory contextualizing what would be the Metal genre and how it
presents itself in the city.
Keywords: Popular musicians; Musical Education; Informal Learning; Metal Extreme; Metal
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10
2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA............................................................................ 13
2.1. Músicos Populares.......................................................................................... 15
2.2. O Heavy Metal ( O ocultismo em meio a margem)........................................ 16
3. PERCURSO METODOLÓGICO...................................................................... 20
3.1. Expose Your Hate........................................................................................... 20
4. REFLEXÕES ACERCA DA RODA DE CONVERSA.................................... 23
4.1. Apresentação dos integrantes do EYH.............................................................23
4.2. Afinidade com o gênero – Música Grotesta: “sempre curti o torto, o
convencional é enfadonho”..............................................................................25
4.3. Formação e trajetória musical – “Eu era headbanger, não era músico, era
headbanger e queria ter uma banda de death Metal”........................................28
4.4. A banda frente ao cenário da cidade e algumas considerações sobre
profissionalismo – “Ter o registro, não ser só uma banda de garagem”.......... 33
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................37
REFERÊNCIAS...........................................................................................................39
ANEXOS.......................................................................................................................41
10
1. INTRODUÇÃO
O interesse pelo assunto Metal provém da experiência pessoal e vivência dentro
desse contexto desde a adolescência. Aprendi a tocar através de revistinhas que continham as
letras das músicas com as cifras e o diagrama de como se fazia cada uma. Por intermédio de
um tio, tive as primeiras explicações de como ler os diagramas, e minha aspiração era tocar
como meu pai.
Quando adentrei na adolescência, por volta de 2004, formei minha primeira banda
que foi uma forma divertida de socializar, conhecer pessoas e afinar vínculos com amigos
recém-feitos. Essa banda seguia a vertente do Metal melódico e nós nos arriscávamos a
compor nossas próprias músicas. Esse processo de composição sempre foi o mais desgastante,
mas também o mais divertido e no qual eu aprendia mais.
Conforme eu adentrava os caminhos do Metal, fui conhecendo outros estilos e
consequentemente novas pessoas, até que montei uma segunda banda chamada Display of
Destruction, uma mistura de Heavy Metal com Thrash Metal. As letras que o vocalista
escrevia eram críticas sociais, e as que eu escrevia tendiam para temas obscuros como
demônios vingativos, ceifadores e personificações de problemas enfrentados pelas pessoas,
como no caso do vício em drogas. Sempre pendi para algo mais visceral, raivoso e
antireligião. Essa minha personalidade me aproximou do Metal Extremo, o que me fez
renovar meus conceitos e me libertar das amarras normatizadoras. Nessa época tive coragem e
declarei meu ateísmo e minha condição de aversão total a religião e seus dogmas. Foi então
que tive a certeza de que queria viver esse meio social e me expressar através dessa música.
Como relatei, as formas como obtive minha formação e afinidade musical se
mostraram diferentes das que pude observar dos meus companheiros da faculdade. eles
haviam tido um estudo teórico mais profundo, sabiam ler partitura de forma clara e o
repertório girava em torno do erudito, choro e samba. No entanto, estávamos partilhando o
mesmo espaço e tendo a oportunidade de adquirir os mesmos conhecimentos.
A percepção dessas diferenças fez brotar a curiosidade sobre qual tipo de educação
eu havia tido, já que haviam dito que eu era autodidata e que era músico popular. A resposta
veio ao me deparar com textos que tratavam a música como prática social e explicavam as
práticas informais de ensino.
Por isso, a partir deste momento não falarei mais na primeira pessoa do singular, pois
meu relato pessoal se encerra e começa uma construção de pensamentos e reflexões não
11
somente de minha autoria, mas, sim, de todos com quem tive o prazer e o privilégio de me
relacionar, aprender e conversar. Portanto, usarei a forma de escrita no plural, pois acredito
que tudo o que sou é um reflexo dessas interações sociais.
Maria da Glória Gohn em seu texto “Educação não-formal, participação da sociedade
civil e estruturas colegiadas nas escolas”, de 2006, procura distinguir e demarcar os limites
entre essas duas formas de educação. Para ela, a educação formal é aquela desenvolvida na
escola, por intermédio de professores dentro de “instituições regulamentadas por lei,
certificadoras, organizadas segundo diretrizes nacionais” (GOHN, 2006, p. 29) com a
finalidade de difundir conteúdos historicamente sistematizados, normatizados por lei e formar
ativamente o indivíduo. Também se espera que essa educação seja efetiva e que demonstre
resultados para que possam ser certificados e titulados.
Já a educação informal é desenvolvida pelo indivíduo durante o processo de
sociabilização, na família, com os amigos do bairro, da escola, e esses fazem o papel de
“agente educador”, podendo ser realizada em todo local e a todo o momento. A educação
informal pode variar de acordo com o contexto social no qual a pessoa está inserida e é
carregada de valores culturais próprios. Dessa forma Gohn ainda nos oferece uma reflexão
sobre a função e os objetivos da educação informal:
A educação informal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes,
comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem,
segundo valores e crenças de grupos que se freqüenta ou que pertence por
herança, desde o nascimento Trata-se do processo de socialização dos
indivíduos. (GOHN 2006, p. 29).
Os ditos músicos populares tendem a se enquadrar nesse tipo de educação informal,
onde se aprende na rua, com os amigos ou pessoas próximas. Eles aprendem a partir das
práticas Aurais, que são relativas ao ouvido e à percepção. Os termos autodidata ou bom de
ouvido são normalmente empregados quando se fala sobre como acontece o ensino-
aprendizagem desses. Outra máxima que os define é “fazendo que se aprende”, então a prática
vem antes da teoria e envolve o prazer e a vontade de fazer música.
Por causa do exposto até aqui surge a vontade e a necessidade de expor a cultura
Metal e como seus indivíduos aprendem música já que fazem aquilo principalmente pela
identificação e prazer, as vezes sem ganhar nenhum tipo de remuneração em troca. Sobre a
articulação entre contextos e educação musical, Queiroz (2004) nos acresce da afirmação de
que:
12
a educação musical contemporânea tem se preocupado em valorizar,
entender, compartilhar e dialogar com músicas de diferentes contextos,
proporcionando uma interação entre os processos de ensino-aprendizagem
da música dentro da escola com os demais processos vivenciados no mundo
cotidiano do indivíduo (QUEIROZ, 2004 p. 102).
Apoiados nesses conceitos, definimos como objetivo desse trabalho compreender a
iniciação/formação de músicos de uma banda do Cenário do Metal da cidade Natal/RN. A
partir do relato das relações dos integrantes da banda com a música, procuramos traçar e
analisar sua trajetória musical tentando entender sua afinidade com o estilo e como ocorreu
sua formação musical. Além disso, buscamos identificar a banda escolhida e sua posição
frente ao cenário musical escolhido.
Assim, elaboramos um roteiro com assuntos que gostaríamos de abordar e nos
utilizamos de uma roda de conversa com os integrantes da banda para que em conjunto
construíssemos o conhecimento e obtivéssemos respostas para aquilo que pretendíamos
averiguar.
Esse trabalho é constituído por cinco capítulos em que pretendemos registrar os
caminhos que tornaram possível este estudo. Neste primeiro explicamos a motivação que nos
levou a produzi-lo e conceituamos os tipos de educação fundamentando nossas escolhas.
No segundo capítulo apresentamos uma revisão sobre trabalhos que abordam o
aprendizado de músicos populares e que exploram a cultura Metal. Esse capítulo, é formado
por dois subtópicos em que fundamentamos os conceitos de músico popular e apresentaremos
de forma sucinta o que é o Metal e como se estabeleceu essa cultura na cidade do Natal/RN.
O percurso metodológico apresentamos no terceiro capítulo juntamente com a
apresentação da banda escolhida para a realização desta pesquisa.
No quarto capítulo entraremos com as reflexões acerca da nossa conversa, divididos
em subtópicos em que apresentaremos os integrantes da banda, discutiremos sobre suas
afinidades musicais, apresentaremos suas formações e trajetórias musicais e estabeleceremos
o estado da banda quanto ao cenário local, com análises pertinentes a cada assunto.
O último capítulo traz as considerações sobre a análise do que ouvimos e
registramos, assim como algumas expectativas de aprofundamento sobre os assuntos
encontrados durante a pesquisa.
13
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Na busca por trabalhos que discutissem o ensino aprendizado de músicos populares e
que o fizesse no contexto da cultura underground, optamos por fazer uma revisão
bibliográfica que, segundo Penna (2017), visa “mostrar o que existe a respeito da
questão/problema; definir o posicionamento sobre qual perspectiva seguir e esclarecer
conceitos e noções centrais para o projeto”.
Para tanto, fizemos buscas, primeiramente, por publicações que abordassem o tema
na revista da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) e na revista OPUS da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM). Para isso, foram
inseridas, respectivamente, as palavras chaves “músicos populares”, “músico popular” e
“Metal” no buscador padrão das referentes revistas. Os termos foram, primeiramente,
buscados nos títulos e depois nos resumos, também foi realizado um recorte temporal
selecionando os artigos publicados nos últimos 10 anos em ambas as revistas.
Tivemos como resultado para os termos “músicos populares” dois artigos na revista
da ABEM, o trabalho assinado por Lacorte e Galvão (2007) que traz considerações sobre uma
pesquisa qualitativa de caráter exploratório que contou com entrevistas de 10 músicos que
atuam profissionalmente em Brasília. A pesquisa visava investigar experiências iniciais de
aprendizado, significando com a ideia de que para ser bom músico é necessário ter um “bom
ouvido” e uma “escuta atenta e intencional” (GREEN, 2001), assim como, investigar a
experiência profissional do músico popular e como isso se constitui no processo de
aprendizagem continuada.
O segundo texto é um artigo da professora doutora Lucy Green, traduzido por Flávia
Motoyama Narita (2012), que fala sobre como a música popular vem sendo inserida nos
currículo dos educadores. Também examina como adaptações de práticas de aprendizagem
informal – característica presente na aprendizagem dos músicos populares – trazem benefícios
na experiência musical e para o significado musical dos alunos, os aproximando de vários
tipos de músicas sem a necessidade da desvalorização de um tipo em relação ao outro. Esse
artigo também nos apresenta os conceitos de autonomia musical, autonomia pessoal e
autenticidade musical.
Na revista OPUS encontramos apenas um texto com o enfoque etnográfico que fala
sobre “músicos populares”. O termo “músico popular” não foi mais eficaz, porém nos
acresceu do trabalho de Luedy (2009), no qual se é apresentado o “discurso acadêmico em
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música” referente a noções de alfabetismo musical como forma de hierarquizar saberes e
valores e distinção de quem sabe ou não música. Esses parâmetros são usados para definir
quem tem capacidades de adentrar em um curso de música na universidade. Tais paradigmas
por vezes inviabilizam a entrada de músicos populares no meio acadêmico, como no caso do
músico Armandinho Macedo – o famoso bandolinista e guitarrista baiano, filho de um dos
inventores do trio elétrico e da guitarra elétrica, Osmar Macedo – que foi reprovado quando
prestou exame de conhecimentos específicos para o curso de Música de uma Universidade na
Bahia. Em termos gerais, algumas universidades acabam por excluir os músicos populares
porque muitos desses não conseguem codificar signos estabelecidos como usuais para os
músicos oriundos de um modelo de ensino tradicional, como por exemplo, a partitura. Já
existem cursos superiores de música com ênfase no popular, porem esses são escassos.
Não satisfeitos com o panorama que encontramos através dessas palavras chaves e
visando construir o conhecimento acerca da nossa questão aprimorando a fundamentação
teórica e conceitual (PENNA 2017), decidimos dar um passo atrás e redefinimos as palavras
chaves a fim de encontrar mais trabalhos que envolvessem o tema da nossa pesquisa.
Voltamos ao texto de Green (2012) e encontramos algumas opções, dentro delas
“aprendizagem informal”, que é o modelo de aprendizagem no qual estão englobados os
músicos populares e como é chamada a proposta que se desenhou durante sua pesquisa.
Assim, uma nova pesquisa foi feita com o termo aprendizagem informal e
avaliaríamos os resultados isolando aqueles que pretendessem demonstrar o ensino
aprendizagem dos músicos populares. Devido ao tempo que tínhamos para a pesquisa,
delimitamos que seriam analisados trabalhos dos últimos 10 anos, assim como das palavras-
chaves anteriores, usaríamos os mesmo mecanismos e formas de busca.
Essa nova busca nos acresceu de três textos: um na OPUS e dois na revista da
ABEM. Na OPUS o texto de Ana Carolina Nunes do Couto (2009), Música popular e
aprendizagem: algumas considerações, é uma revisão sobre a pedagogia da música popular,
trazendo a visão de vários pesquisadores sobre o assunto, como o uso das práticas informais
além da necessidade de se considerar o contexto social e cultural no qual essas práticas se
encontram. Dos dois textos da revista da ABEM apenas um texto se encaixa nos parâmetros
definidos: texto da Flávia Motoyama Narita (2015), que narra sua pesquisa-ação em que
implementou a proposta pedagógico-musical de Green baseada na aprendizagem informal dos
músicos populares (GREEN, 2008), em que:
propõe para o contexto formal das escolas a adoção de cinco princípios
identificados nas práticas informais de músicos populares: 1) os estudantes
15
escolhem a música que querem trabalhar; 2) tiram a música de ouvido; 3)
escolhem os colegas com quem querem trabalhar e aprendem uns com os
outros; 4) a aprendizagem parte de um repertório “real” e não segue uma
ordem pré-estabelecida; e 5) existe uma profunda integração entre as
modalidades de audição, performance e composição, com ênfase na
criatividade (NARITA, 2015, p. 63).
Assim, a autora formulou um curso que foi 3 vezes ofertado e cada modulo tinha
duração de 8 semanas. Ela relata que a liberdade dada aos estudantes no modelo de
aprendizagem informal de Lucy Green foi o motivador para a pesquisa e percebeu relações
com o conceito de “práxis” do educador e escritor brasileiro Paulo Freire.
Vimos assim que os trabalhos recentes sobre músicos populares trazem à luz essa
prática demonstrando suas características, sua importância, seus desafios enquanto possível
didática e pedagogicamente, além de nos apresentar a importância de sua contextualização
cultural.
Este trabalho busca demonstrar aspectos da formação musical de integrantes da
banda Expose Your Hate que atuam na cidade do Natal e para isso usaremos os trabalhos de
Lucy Green como referência, uma vez que todos os trabalhos citados acima a tem como
referencial. Portanto seus conceitos servirão para caracterizarmos o que são os músicos
populares e usaremos sua proposta de “aprendizagem informal” para analisarmos esses
processos.
2.1. Músicos Populares
Lucy Green em seu livro How popular musician learn (2001), no qual faz uma
pesquisa com 14 músicos populares, de iniciantes a profissionais, a fim de conhecer a
trajetória musical desses músicos, define músicos populares como aqueles que não passaram
por um processo formal de ensino com ênfase no domínio da leitura e escrita musical,
técnicas para execução do instrumento e informações teóricas e históricas. Aprenderam de
maneira quase espontânea, por vezes lúdica, através de conversas, de tocar junto, de ouvir, de
assistir e imitar outros músicos, principalmente os encontrados no seio familiar, estendendo-
se ao círculo de amizades, em sua maioria sem alguém exercer a função de professor.
Os processos de ensino e de aprendizagem desses músicos tendem a ser vistos como
algo etéreo, provindo de uma inclinação, no senso comum, “quem tem jeito”, o que tende a
minimizar o esforço desses músicos por não terem seu estudo sistematizado ou mediado por
uma figura hierarquizada.
16
Outra característica desses músicos é que seu aprendizado é vinculado ao prazer de
tocar um instrumento, sem sacrifícios, sem regras, sem prazos, sendo exercido de acordo com
suas vontades, fazendo com que a prática em si seja gratificante, proporcionando grande
prazer (LACORTE, 2007). Isso faz com que esses músicos estudem por horas sem se
sentirem cansados ou acharem a atividade maçante como nas obrigatoriedades vinculadas aos
estudos formais, práticas recorrentes, por exemplo, de conservatórios onde se estudam
técnicas por longos períodos através de estudos individualizados.
As “práticas de aprendizagem informal de música” provêm das escolhas pessoais do
praticante e do grupo onde ele se encontra o que se torna a base para seu aprendizado, Green
denomina esse processo como enculturação:
O conceito de enculturação musical refere-se à aquisição de habilidades e
conhecimentos musicais por imersão na música cotidiana e nas práticas
musicais do contexto social de cada um. Quase todo mundo em qualquer
contexto social é musicalmente enculturado. Não pode ser evitado porque
não podemos fechar nossos ouvidos e, portanto, entramos em contato com a
música que está ao nosso redor, não apenas por escolha, mas por padrão. É
útil conceber três formas principais pelas quais nos envolvemos diretamente
com a música: tocar (incluir canto), compor (incluir improvisar) e ouvir
(incluir a audição) (GREEN 2001, p. 22, tradução nossa).
Essa seria uma das principais diferenças entre os processos de ensino formal e
informal, a escolha do repertório. A prática formal sugere o repertório seguindo os conceitos
do professor do que seria belo e importante para que seu aluno aprenda o que resulta, na
maioria das vezes, num repertório dentro da música erudita ocidental. Enquanto isso, na
prática informal o repertório é definido pelo praticante de acordo com suas “associações
sociais, culturais, religiosas, políticas [...]”, que são os aspectos “delineados” da música
(GREEN 2012, p. 63).
Essas são características que as autoras encontraram e definiram, contudo hoje já é
questionável essa diferenciação entre ensinos formais e informais. Como mais a frente
apresentarei nesta pesquisa, os músicos populares em algum momento acabam por procurar
formas variadas de desenvolvimento musical que podem se enquadrar no que aqui é
denominado contexto formal de ensino.
Contudo, reconhecer os contextos sociais e os tipos de músicas com que os
praticantes se relacionam e têm mais afinidade é importante para compreendermos como as
pessoas “produzem sentido da música” (BLACKING, 2007) e, consequentemente, visualizar
os caminhos de aprendizagem desses músicos.
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Assim como Santos Junior (2016) e Oliveira (2017) que se propuseram a conhecer a
formação de músicos populares da cidade do Natal/RN e compreender os processos de
ensino-aprendizado desses músicos, nossa pesquisa tem aspirações semelhantes, e para isso se
valerá dos conceitos e idéias explicitados até aqui e apresentará como contexto social a Cena
Metal.
2.2. O Heavy Metal (O ocultismo em meio à margem)
Para compreendermos a Cena Metal da cidade do Natal/RN vamos fazer um breve
resumo sobre Metal, quais suas características musicais e comportamentais.
O Heavy Metal surgiu no final da década de 1960 e início da década de 1970
influenciado por bandas como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath, essa última sendo
considerada a maior influenciadora do gênero. Nasceu com base nos “movimentos”
contestatórios iniciados na década de 1950, denominados mais tarde de contracultura, que
“tinha como intenção chocar o sistema, adotando um conjunto de signos que expressavam a
liberdade, a experimentação, a recusa dos padrões impostos pelos pais e pelo sistema”
(MEDEIROS, 2016, p. 30).
Segundo Medeiros (2016), as origens do punk estão ligadas à crise econômica do
início da década de 1970 no Reino Unido marcada pela ascensão ao poder da primeira-
ministra Margareth Thatcher, o aumento do desemprego, do preço do petróleo e da inflação.
Essa década de incerteza fomentou novos grupos “[...] marcados por um estilo anarquista
regado de pessimismo em relação ao estado, a sociedade, ao próprio ser humano e até mesmo
em relação ao seu próprio público” (MEDEIROS, 2016 p. 36).
Nesse cenário desolador emerge o Metal como uma nova forma de “expressão”
juvenil, ou mais comumente chamada de Rebeldia Juvenil. Das três bandas citadas
anteriormente como sendo influenciadoras do Metal, os temas e a atmosfera sombria criadas
pelo Black Sabbath faz com que eles sejam considerados o principais influentes do gênero
(MEDEIROS, 2016; CARVALHO, 2011) .
A atmosfera pesada presente nas composições do Black Sabbath compõe-se de letras
baseadas na literatura ocultista de Aleister Crowley, utilização da guitarra distorcida
originando um som mais denso e mais pesado fazendo uso de power chord, como apresenta
RIBEIRO (2010) nas fundamentações de seu trabalho . As variações harmônicas foram se
diferenciando ao ponto que, segundo Carvalho (2011) na sua revisão, levou à introdução do
trítono. Essas foram as bases para o nascimento do novo gênero até então. Outro ponto que
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faz do Black Sabbath os possíveis “pais” do gênero seria o próprio nome da banda que é
inspirado nos rituais demoníacos e de magia negra (Sabbah Negro), o que contribui para o
caráter mais rebelde do estilo que trazia em suas letras e riffs temas como o sobrenatural, o
medo do desconhecido, do obscuro.
Relacionamos, assim, as principais características do Heavy Metal: utilização de
mais distorção, tendo como conseqüência o choque do quarto harmônico parcial – terça
menor da fundamental – com a terça menor do acorde e por esse motivo a escolha por não
utilizar os acordes convencionais, optando pelo uso dos power chord formados pela Tônica –
quinta – Tônica, a bateria mais forte e pesada. Além dessas, o uso frequente do trítono que,
erroneamente foi associado à expressão “diablos in musica”, juntamente com a temática
ocultista contribuíram para demonizar o estilo, estigmatizando, segundo Ribeiro (2010), a
cultura Metal como “não musical”, “músicos medíocres”, relacionada com “abuso de drogas”,
“insanidade mental” e “adoração satânica”, sendo considerado pelas instituições
conservadoras e religiosas um perigo de comportamento social inaceitável.
Somente nos anos de 1980 o Heavy Metal passa a ser compreendido como estilo do
gênero Metal, contudo ainda hoje é utilizado por leigos para denominar qualquer banda que
traga características similares ou idênticas às descritas acima, não importando a qual
subgênero ela pertence.
Assim, compartilhamos da afirmação de Ribeiro (2010, p. 42), de que:
O Metal deve ser entendido como um gênero musical que reúne
características gerais comuns aos diversos subgêneros, cada qual com um
estilo próprio de pensar e fazer música. Tais características comuns podem
ser resumidas no conjunto musical composto por uma ou duas guitarras
elétricas (com ênfase no uso da distorção), um baixo elétrico, um kit de
bateria (geralmente com dois bumbos ou pedal duplo) e um vocalista
principal; estilo de vestimenta baseada em calça jeans e camisa preta com
algum logotipo ou imagem associada a uma banda; as letras cantadas em
inglês; e o processo composicional baseado em riffs de guitarra distorcida.
A cena em Natal-RN tem como grande influenciador Luziano Augusto, que foi o
primeiro a montar uma loja especializada de materiais para headbangers1. Antes de montar a
Whiplash Discos Ltda em 1987, os fãs de Metal se reuniam em sua casa e compartilhavam
materiais, informações e comercializavam discos novos e usados, além de patches, posters,
zines e outros.
1 Headbanger é uma denominação amplamente usada para se referir aos fãs de Metal. Em tradução literal
significa batedor de cabeça, uma referência ao ato de “bater cabeça”, ou seja, balançar a cabeça ao ritmo da que
se ouve.
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A Whiplash não limitava suas atividades à venda de material, Luziano pretendia
realmente difundir o Metal e para isso organizava shows, editava fanzines e em certo
momento tornou a Whiplash em uma gravadora, a pioneira do nordeste dedicada ao gênero,
em 1990. No mesmo ano fez seu primeiro lançamento, a coletânea Whiplash Attack Vol. 1,
que foi um marco na cena do Metal potiguar e contou com as bandas locais Hammeron,
Auschwitz, Croskill e Deadly Fate.
Desde a década de 80 o Metal encontrou em terras potiguares adeptos fiéis ao estilo e
a Cena veio se transformando com o passar do tempo, a ponto que hoje não iremos encontrar
uma fronteira bem definida de todos os estilos dentro do gênero. A cena se resume a um
pequeno número de pessoas que consomem Metal em geral e basicamente podem ser
separadas em dois grandes grupos: aquelas que preferem o Metal Extremo e as que tendem ao
Metal Melódico ou Power Metal.
Como definição rápida, o Power Metal é um estilo cantado em tons mais agudos com
guitarras rápidas e melodias na sua maioria modais, o que agrega uma sonoridade épica às
músicas. As letras falam basicamente sobre fantasia, também tendo como fonte de inspiração
clássicos da literatura como, por exemplo, a banda Blind Guardian que em seu álbum
Nightfall In Middle Earth faz uso da coletânea de relatos sobre os dias antigos da mitologia
tolkieniana, compilada no livro chamado “O Silmarillion”. Em Natal uma banda representante
do estilo é o Rhenoda.
Esta pesquisa se volta para uma banda do lado do Metal Extremo, o Expose Your
Hate, rotulada, de acordo com os integrantes, através de um subgênero chamado Deathgrind.
O Deathgrind seria uma intercessão entre dois estilos o Death Metal e o Grindcore. De
acordo com Azevedo (2004), o Death Metal reúne as seguintes características: Vocal Gutural,
Afinação abaixada, blast beats, mudanças de andamento e métrica, passagens complexas,
atonalismo, dissonância e traria como temas principais Morte, decadência, crítica
sociopolítica e anticristã. Uma das principais difusoras do estilo é a banda de nome Death. Já
o Grindcore reúne todas as características do Death de forma mais extrema e “barulhenta” e
com a duração das músicas mais curtas, podendo durar até mesmo alguns segundos de “pura
agressão sonora”, suja e impetuosa. Seria um dos caminhos que o Punk percorreu em direção
ao extremismo.
20
3. PERCURSO METODOLÓGICO
Optamos por realizar esta pesquisa utilizando entrevista qualitativa por entendermos
que “fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os
atores sociais e sua situação” (BAUER;GASKELL, 2002, p. 65). Utilizamos a ideia de uma
roda de conversa na qual pretendíamos reconhecer a banda frente ao cenário do Metal na
cidade, investigar a formação musical dos integrantes e sua trajetória musical, assim como
saber como surgiu a afinidade com a música extrema.
Buscando uma maior aproximação com a informalidade, que é um dos pontos desse
trabalho, recorremos a uma abordagem narrativa que preza pela oralidade e que dessa forma
pudesse deixar o ambiente mais tranqüilo e aconchegante para os participantes. Inspirados na
pesquisa narrativa, chegamos então a conclusão que a roda de conversa como forma de
recolhimento de dados seria adequada para esse tipo de pesquisa, uma vez que se aproxima da
construção social que existe dentro do Metal, onde é comum reunir-se para beber, conversar e
ouvir música.
Esses são conceitos que nos pareceram entrar em consonância com Moura e Lima
(2014, p. 101) sobre os objetivos da roda de conversa, que seriam: “socializar saberes e
implementar a troca de experiências, de conversas, de divulgação e de conhecimento entre os
envolvidos, na perspectiva de construir e reconstruir novos conhecimentos sobre a temática
proposta”.
Para obtermos uma reflexão do grupo sobre os assuntos geradores, usamos um
roteiro semiestruturado como guia da conversa (Anexo 1). Assim, a entrevista aconteceu logo
após o ensaio do Son of Wicth, banda de “stoner heavy/groovy doom” que partilha de dois
integrantes com o Expose Your Hate, em uma mesa de bar bem ao estilo banger: pares
dividindo vivências, contando histórias, ouvindo e intervindo, consumindo, com parcimônia,
bebidas alcoólicas e ao fundo música que agradava os envolvidos.
3.1. Expose Your Hate
A escolha da banda Expose Your Hate (EYH) se deu pela representatividade que essa
tem na cena, acompanhada pela sua longevidade, mesmo com mudanças nas formações, e por
estarem gravando o seu terceiro full álbum. No momento em que escrevemos esta pesquisa,
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duas músicas do novo álbum intitulado We Against the God estão disponíveis para audição
em diferentes plataformas virtuais de música.
O EYH surgiu da vontade de Claudio Slayer e Luiz Claudio (Calixto) de voltar a
tocar e de ter uma banda. Integrantes antes de outras bandas de Death Metal, eles queriam
voltar a ter uma banda “porrada”. A banda vem com a proposta de ser agressivo, um trator.
Claudio Slayer forma então um conceito para a banda: “Eu queria que as letras fossem
também extremamente fortes, agressivas, sabe [...] explorando uma catarse mesmo, assim.
Então me preocupei muito com as letras, me preocupo com o título de música, tudo isso [...]”
(CLAUDIO SLAYER, 2018).
Dessa maneira, as letras são baseadas num posicionamento crítico diante da caótica
realidade em que vivemos, acompanhando uma linha social, de crítica, de revolta, de
subversão, de caráter contestatório e antirreligioso:
Quando eu comecei a escrever as letras eu tava no auge do meu ateísmo, e eu escrevi
muitas letras antirreligiosas e sem enfeitar, direto. E esse ateísmo meu é um traço da
minha personalidade, tá no meu trabalho, tá em tudo e ele pesa muito nas letras, inclusive
o nome do EP é nós contra os deuses (We against the god). Essa questão antirreligiosa
acabou sendo um traço das letras da banda (CLAUDIO SLAYER, 2018).
A literatura também acresce os conceitos da banda que usufruem das obras de
Nietzsche, que para eles é visceral, anticristo; e do terrorismo poético de Hakim Bey. Claudio
Slayer, por ter criado o conceito, é também o criador das letras, não abrindo mão dessa
função. No entanto, cedeu de forma supervisionada, por duas vezes, para que Luiz Claudio
colocasse letras em músicas.
A primeira formação da banda, do ano de 1999, contava com Luiz Claudio (voz),
Claudio Slayer (baixo), PH (guitarra), Victor (bateria) e Sandro Magão (guitarra). No ano
seguinte, com a entrada de Alexandre “Baleia”, guitarrista do Sanctfier, a banda ganha um
caráter mais sério e em 2001 grava sua primeira demo-tape intitulada "In god we crush", tal
trabalho obteve uma grande aceitação dentro do underground nacional.
Em 2005 a banda assina contrato com a gravadora Black Hole e lança seu debut-cd
intitulado “Hatecult”, masterizado no Soundlab Studios na Suécia por Mieszko T. do Nasum.
A repercussão do CD fez a banda participar de importantes eventos pelo Brasil e figurar em
publicações especializadas nacionais e no exterior, além de participar de coletâneas e tributos,
como o de origem alemã da banda sueca Nasum e o tributo nacional aos ingleses do Napalm
Death.
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No início de 2014, a banda lança seu segundo CD intitulado “Indoctrination of
Hate”, masterizado no estúdio canadense Apartment 2 Recording por Topon das guitarras do
Fuck the Facts e capa feita pelo artista francês Remy C. O álbum teve ótima aceitação pelo
público e imprensa especializada, tanto no Brasil quanto no exterior, obtendo ótimas resenhas.
Na metade desse ano, 2018, lançaram o Ep digital “We Against the Gods” que sairá
também em vinil no formato de compacto simples, 7 polegadas. As composições para o
terceiro álbum estão em andamento e contará com as duas músicas apresentadas neste Ep.
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4. REFLEXÕES ACERCA DA RODA DE CONVERSA
4.1. Apresentação dos integrantes do EYH
Em sua formação atual o EYH conta com integrantes que atuam em duas ou mais
bandas, às vezes tocam juntos em algumas dessas, caso do Outset que tem participação de 3
dos 4 membros entrevistados e o Son of a Wicth onde atuam dois. Todas as Bandas são
atuantes com material autoral lançado, salvo as bandas covers que seriam bandas onde eles
“se junta e toca aí na noite pra ganhar uns trocados e se divertir” (FLÁVIO HORROROSO,
2018). Essas tocam em pubs, em eventos na forma de tributos, em um ambiente mais
mainstreen. Todas são detentoras de certa expressividade no cenário em que estão incluídas.
Como a rotatividade nas bandas de Metal é algo recorrente, o EYH já teve outras
formações e na atual apenas 1 membro é afiliado criador, e o membro mais novo é o vocalista
que está na banda há 2 anos.
Apresentaremos aqui cada um dos integrantes da banda pelo nome e sua alcunha;
abordaremos sua formação pessoal e status atual frente ao Cenário Metal.
Infelizmente não foi possível contar com o baterista Marcelo Costa em nossa roda de
conversa, o que fará falta por não podermos analisar a perspectiva de aprendizado sobre a
bateria dos músicos populares no Metal e nem expor sua trajetória musical. Contudo a
conversa contou com todos os demais componentes da banda.
Paulo Sergio Paraguai Santana, guitarrista, 30 anos, natural do bairro das Rocas em
Natal-RN, mais conhecido como Paulo Death. Formação técnica em mecânica e graduando
em engenharia mecânica. Atua em 4 bandas do cenário Metal de Natal: Profane Anger, Evil
Empire, Nigthhunter, Expose Your Hate e faz participação no Outset.
Sua entrada no EYH ocorreu em 2013 após a saída de Herman. Nessa época ele já
tocava no Profane Anger, no Nigthhunter e no Calabouço. Essas bandas ensaiavam e se
apresentavam, porém, sem gravar. O Nigthhunter se formou em 2004 e gravou uma demo em
2006, apenas em 2013 gravou o full álbum. O Profane Anger se iniciou em 2009 e gravou
uma demo em 2015.
O membro fundador do EYH, Claudio Slayer – Claudio José Alencar Nascimento – é
o Baixista e com 46 anos é o mais experiente da banda e o que está há mais tempo tocando na
cena Metal de Natal-RN. Formado em educação artística pela UFRN, atua como arte-
educador desde 2003 no estado e no município. Nasceu na Cidade da Esperança e atualmente
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participa em 2 bandas autorais: Expose Your Hate e o Son of a Witch; além de um projeto em
andamento chamado Open the Coffin, no qual faz guitarra, baixo e voz acompanhado de um
baterista e uma banda Cover do Black Sabbath.
Em um primeiro momento ele não comenta sobre o Black Sabbath Cover por achar
que não contava para a pesquisa com a justificativa de que a banda “não existe”, somente
quando tem shows. “Faz um ou dois ensaios antes do show e pronto”(CLAUDIO SLAYER,
2018). A banda faz 1 ou 2 encontros prévios aos shows para relembrar a música, uma vez que
tocam juntos há algum tempo e a banda conta com um repertório fixo de 30 músicas, o que
delimita o conteúdo a ser estudado diminuindo a necessidade de se encontrarem muitas vezes
antes dos shows.
O outro guitarrista do EYH, Flávio Henrique Xavier de França de 41 anos, é formado
em Direito e trabalhou quase 10 anos na área; cursou Jornalismo, porém não entregou o TCC
e não obteve o diploma. Quando saiu da área de direito, resolveu investir na música. Fez
cursos na IATEC (Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação) no Rio de Janeiro:
mixagem, produção musical, entre outros. Começou a investir tempo na aquisição de
conhecimento e dinheiro na área musical há 7 anos. Montou um estúdio onde faz gravações
das suas bandas e de outras. Toca no Outset, EYH, SOW e no Punk Veio (cover de punks
anos 70 e 80). “Ganho bem menos que na época de direito, direito era uma grana legal”
(FLÁVIO HORROROSO, 2018).
Nascido e criado no Bairro do Alecrim em Natal-RN, onde “tem de tudo, acontece de
tudo e tem todo tipo de gente” (CORUJITO, 2018), Flávio Alexandre de Oliveira Leite é o
nome do vocalista mais comumente chamado Corujito, tem 32 anos e é formado em
Licenciatura em Ciências Biológicas e também possui formação técnica em Radiologia
Médica. Para Corujito, sua formação anterior permitiu que, na visão do mesmo, o
proporcionasse a “ter uma ampliação enorme da anatomia humana, isso permitiu e favorece
o uso da minha voz, a memória muscular, o sistema nervoso”. (CORUJITO, 2018) Também
faz parte do seu currículo as bandas Antisapiens Club e Anomalon.
Corujito comenta que tem o sentimento de ser músico profissional agora que integra
o EYH, nesse momento todos começam a rir e Claudio profere: “Coitado!” e Corujito
imediatamente impõe seu argumento e afirma que na banda foi onde ele recebeu dinheiro pra
tocar e não água ou um lanche.
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4.2. Afinidade com o gênero - Música Grotesca: “Sempre curti o torto, o
convencional é enfadonho”
O Metal, tratado aqui como gênero, faz parte da cultura underground, cultura essa
caracterizada por não seguir as estratégias de consumo das grandes corporações e “grandes
mídias” (CARVALHO, 2011; RIBEIRO, 2010), atendendo um mercado segmentado através,
muitas vezes, de programas específicos voltados exclusivamente ao gênero, também contando
com gravadoras independentes ou, como são chamados, selos para produção dos materiais e
distribuição.
Dessa maneira o contato inicial de muitos bangers com o gênero se deu por meio de
programas específicos de TV, como o Som Pop da TV cultura e da MTV, canal especializado
em videoclipes que teve em sua programação um espaço segmentado do Heavy Metal, o
programa Fúria Metal. Claudio Slayer e Paulo Death são exemplos do alcance desses
programas:
No meu caso eu assistia muito a MTV [...], a gente via muito clipe, mas não tinha noção
de quem era as bandas, tipo assim, curtia. Poxa que estilo legal, mais pesado e tal... aí eu
saquei também o sepultura na televisão, o clipe, eu achava massa, fuderoso. (PAULO
DEATH, 2018)
Em 82 tinha um programa Som Pop, passava na TV cultura na época. E eu via os clipes
the number of the beast, aquelas coisas assim, e ficava fascinado [...] (CLAUDIO
SLAYER, 2018).
Flávio Horroroso conta que desde pequeno fazia air guitar e gravava fitas com
músicas que tocavam no rádio e que tinha gosto pelo rock de bandas como Supertramp, Ah-
há, New Order, porém a aproximação com o Metal aconteceu depois de “gazear” aula e ir a
uma loja de discos no centro da cidade. Lá teve o primeiro contato com a figura icônica do
Eddie, mascote do Iron Maiden. O apelo visual fez com que ele escolhesse 4 discos com a
“caveira” e escutasse na loja. Após a audição ele comprou os 4 discos com o dinheiro que
guardava da merenda da escola.
Foi por causa do apelo visual do Eddie, nunca tinha escutado nem ouvido
falar, lá em casa ninguém ouvia música, foi o Eddie – só o estimulo visual –
cheguei em casa botei os 4 vinis e realmente foi aquele efeito, pirei assim,
esquece Supertramp, Ah-há, Simple Minds, a porra toda, esquece essa porra
aí (FLÁVIO HORROROSO, 2018).
De semelhante modo, ocorreu com Paulo Death, que conheceu novas bandas através
de uma loja de discos perto da escola onde estudava e o apelo visual também foi importante
para essa aproximação do desconhecido:
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Às vezes eu ficava lá em Ari, não conhecia nada, tipo, vi o Bark at the
Moon, conhecia antes de saber o que era. Olhava aquela capa de Ozzy como
lobisomen e eu achava massa, nunca tinha ouvido, fui ouvir depois (PAULO
DEATH, 2018).
Figura 01. As três capas citadas pelos integrantes: Bark to the Moon – Ozzy Osbourne (esquerda), Killers - Iron
Maiden – Iron Maiden (centro), The number of the beast – Iron Maiden (direita). Fonte: http://www.google.com/imghp?hl=pt-BR
A iconografia encontrada nas capas das bandas de Metal segue regras semióticas na
intenção de captar a atenção e incentivar o consumo, como demonstra Zukowski (2012),
[...] as embalagens podem ser consideradas como esculturas que são
contempladas pelo espectador/consumidor, tornam-se objetos de desejo por
conterem na sua forma e em sua superfície elementos (ou signos) que
transmitem sensações únicas de experiência no aspecto estético e de desejo
(ZUKOWSKI, 2012, p. 47).
Assim, elas evocam sentimentos de curiosidade e admiração através do estímulo pelo
subversivo, o estranho, o não convencional, o que poderia atrair os fãs do gênero Metal que
em sua maioria têm em si essa revolta com os padrões ditados pela sociedade.
Não adentraremos profundamente aqui na semiótica envolvida nas capas e
representações dos discos e ideias das bandas, contudo a funcionalidade dessa iconografia
revela-se aparente nos relatos dos 4 entrevistados, em que todos eles relataram consumir
discos e ter tido certa aproximação com o Iron Maiden pelas capas que trazem o mascote
Eddie. Portanto, podemos demonstrar aqui um importante ponto para a compreensão da
afinidade musical: a estética visual.
Também citadas durante as conversas, as lojas de discos constituem um ambiente no
qual os fãs do Metal eram fisgados, primeiramente, como demonstramos, pelo visual
incomum das capas dos discos das bandas e, depois, pela oportunidade de ouvir o conteúdo
daquela embalagem. Essas lojas, principalmente as especializadas, eram um grande oásis para
os headbanger, um lugar mítico onde eles se encontravam e podiam ouvir os discos servindo
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de ponte para o conhecimento e aprofundamento dos conhecimentos dentro do Metal,
compartilhando informações e trocando materiais como revistas (zines), fitas k7, discos e
camisas. A interação com parentes que também gostavam do gênero era um facilitador para
conhecer e se apegar à nova música:
Os caras mais antigos que compravam discos que vinham de SP, num sei o que, e a gente
começou a conhecer bandas através desses caras mais velhos. Gravando fita K7
(CLAUDIO SLAYER, 2018).
Um primo meu mais velho comprou um disco chamado rock na cabeça, uma coletânea.
Nessa coletânea tinha Ozzy, Judas priest e ele me influenciou [...]. Esse meu primo já
tinha vários discos [...] aí eu ia à casa dele e escutei Black Sabbath, escutei várias coisas
lá [...]. Ele pintou minhas primeiras camisas de bandas: the number of the beast do Iron
Maiden, Grave Digger - Heavy Metal Breakdown, em 84 (CLAUDIO SLAYER, 2018).
Na infância, meu irmão adolescente curtia Iron Maiden, tinha vários discos e eu curtia as
capas (CORUJITO, 2018).
Até aqui mostramos como os integrantes conheceram o Metal e tomaram gosto pela
estética visual, comportamental e sonora do estilo, contudo, os indivíduos em questão
enveredaram para caminhos que os levaram a adotar novos valores ideológicos que os
aproximaram do Metal Extremo.
O Metal Extremo tem na agressividade sua principal característica e as temáticas
abordadas por esse estilo perpassam pela não conformidade com status quo e a rejeição pelos
dogmas da sociedade padrão. O que antes era um descontentamento agora é uma revolta
colérica que acaba por refletir na música que eles consomem. Esse é assunto extenso e merece
uma melhor apreciação, no entanto por se tratar de um trabalho inicial sobre Metal não vamos
aprofundar nas questões comportamentais e sociais acerca dessa vertente, portanto essas
definições bastam para o que nosso trabalho se propõe a apresentar.
Em um primeiro momento esse tipo de música não agrada a todos ouvem Metal em
geral, é necessária uma vivência dentro do estilo para absorção da linguagem musical, como é
demonstrado nos trechos retirados da conversa com a banda:
Em 85 conheci as primeiras bandas extremas, Slayer, Destruction, Kreator, mas eu ainda
não conseguia entender, eu não entendia direito. Conseguia ouvir Motorhead, Judas, mas
quando me mostraram Distorcion pela primeira vez eu disse: não tô entendendo nada.
Mas aí o ouvido foi... o ouvido ou o coração, não sei, foi pra esse lado (CLAUDIO
SLAYER, 2018).
3 anos após o primeiro contato com o Metal, eu peguei uma fita do segundo do Napalm
Death, From Enslavement to Obliteration. Peguei uma fita com Renato Batman em 93,
levei pra casa essa fita... bicho quando eu dei o play lá eu falei essa fita tá quebrada, sério,
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desse jeito. Essa fita tá quebrada, que porra é isso? Isso tá quebrado. Meu primeiro
contato foi isso, foi horrível. Aí uns 5 anos depois, quando você vai revisitar, 97/98, as
coisas que você não gostava, o FETO do Napalm, aí eu disse que coisa linda é essa, isso é
bom demais! Hoje eu entendo isso (FLÁVIO HORROROSO, 2018).
A primeira vez que me mostraram o Krisium eu comecei a rir, falei: isso não é música, é
barulho. [...] E todo mundo olhando pra mim e não era pra rir não, só tinha extremo.
Depois de anos foi que eu vim entender e sentir prazer com isso ao ouvir (CORUJITO,
2018).
Os próprios entrevistados em tom de brincadeira dizem que há algo de errado com
eles por gostarem dessa “música grotesca” e inferem que é um problema psicológico ou uma
síndrome, mas na realidade acreditam que o tempo que passaram ouvindo Metal em geral
antes de ter contato com o extremo foi fundamental para que eles compreendessem melhor
esse tipo de música e compreendessem que é possível “educar o ouvido”, aguçar a
sensibilidade, “acostumar a percepção” e que a partir da exposição é possível ocorrer uma
assimilação da informação.
O que eles fazem instintivamente é uma apreciação atenta e reflexiva na qual eles
compreendem o material sonoro através da sua contínua exposição, e a partir disso organizam
o discurso musical para então conseguir dar a intenção e sentido a tudo isso. Esse processo de
experiência musical é justificado por Swanwick:
Quando respondemos aos sons estes deixam de ser matéria-prima, materiais
aurais, para tornarem-se carregados de significado. Nossa resposta se torna
resposta estética [...]. Estética significa que percebemos e sentimos algo [...].
Uma experiência estética é auto-enriquecedora. Não é algo necessariamente
complicado e rarefeito ou místico e alusivo [...]. Uma experiência estética
alimenta a imaginação e afeta o modo como sentimos as coisas: música sem
qualidades estéticas é como fogo sem calor. (SWANWICK, 1979, p. 60-
61)
Para Swanwick a apreciação é uma forma legítima de imersão musical que pode
expandir os horizontes e a compreensão, como é o caso dos nossos entrevistados que por meio
da imersão dentro do gênero Metal, puderam expandir seu conhecimento e adquirir novos
gostos construindo uma nova perspectiva sonora e, podemos dizer, até pessoal.
4.3. Formação musical - “Eu era headbanger, eu não era músico eu era
headbanger e queria ter uma banda de death Metal”
A forma de aprendizado dos músicos populares, como indicamos anteriormente, se
baseia nas práticas informais de ensino e exige uma complexa teia de habilidades que se
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complementam, como a audição, a atenção, a memória, a imitação, execução, treino,
performance e, diríamos, a perseverança. De forma autônoma, buscam seus próprios
caminhos e, algumas vezes, trilham caminhos de pessoas próximas – parentes e amigos –,
mas sempre de acordo com as suas necessidades e as características do seu meio social. É
comum que indivíduos com os mesmos interesses musicais se juntem e desenvolvam essas
habilidades através do tocar junto, conversar, ouvir, assistir outros músicos e no processo
criativo que se desenvolve dentro de um grupo.
Nossos entrevistados seguem parâmetros parecidos com esses aqui expostos, todos
gostavam muito de Metal e já não bastava apenas ouvir, sentiam a necessidade de tocar e de
ter uma banda no estilo. São fãs tão apaixonados que, mesmo sem saber tocar, se aventuram e
montam uma banda para se divertir e sentir que fazem parte daquele contexto social de forma
ativa e, assim, com o passar do tempo, vão se aprimorando e desenvolvendo novas
habilidades.
Aqui se faz necessário individualizarmos os percursos dos entrevistados para
podermos apresentar as peculiaridades de cada um diante do processo de formação, contudo,
todos eles tiveram nas suas participações em bandas o ponta pé inicial para que pudessem se
desenvolver como músicos e obter o prazer no fazer musical.
Paulo Death teve seu início em uma banda de Hardcore chamada Milkshake na Vala.
Tendo os amigos do seu bairro como principais influenciadores, frequentava os ensaios da
banda antes de ser chamado para integrá-la tocando bateria, pois considerava um instrumento
mais simples de tocar comparada à guitarra. De acordo com seu depoimento, é possível
verificar uma provável espontaneidade com que ocorre a formação desses grupos iniciais:
O Pessoal lá gosta muito de Hardcore, aí formaram uma banda só os “boys”, tipo, amigo
meu, Risada, bem “maguinho” – Vamo montar uma banda! – fui pra bateria sem saber
tocar, fui na raça mesmo e foi massa, bem divertido (PAULO DEATH, 2018).
Com a sua entrada no Milkshake na Vala, Paulo pôde receber “toques e dicas” dos
amigos sobre como tocar guitarra e, após sua mãe comprar o violão do tio, ele começou a
aprender:
Na minha família, meu tio tem uma banda, tocava jovem guarda, The Fevers, Renato e
Seus Blues Capes, eu gostava, eu ouvia e tal. E meu primeiro violão era o dele, minha
mãe comprou dele. Aí ele viu que eu tava empolgado pra tocar e pra eu aprender foi bem
ligeirinho. Uns amigos meus me deram uns toques e eu ficava em casa forçando,
quebrando as cordas e foi mais por força de vontade mesmo que eu aprendi (PAULO
DEATH, 2018).
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Paulo ainda passou pelas bandas Redrum Possessed, Profane Anger, NigthHunter e
Calabouço.
Claudio Slayer também começou em seu instrumento depois ir aos ensaios de uma
banda dos amigos e ser convidado a tocar. Durante os ensaios ele observava os amigos
tocando e, quando chegava em casa, tentava reproduzir, no violão do pai, o que via e ouvia,
Adolescente, aquela coisa... os colegas têm banda, aí “falta um baixista”, aí eu ficava
tentando tocar violão como se fosse um baixo. Aí por isso que eu nunca aprendi acorde,
nada dessas coisas, porque eu comecei a tocar o violão como se fosse um contrabaixo
[...]. Eu ficava escutando as músicas e tentando. [...] Os caras eram muito meus amigos e
queriam que eu entrasse na banda. Aí eu disse: eu não sei tocar! Aí os guitarras foram me
ensinando basicamente, mas aquela coisa bem básica mesmo, bem só de ouvido
(CLAUDIO SLAYER, 2018).
Corujito foi mais autônomo no processo inicial. Gritava sozinho em seu quarto
buscando imitar o que Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, fazia. Imitava o som rasgado,
característico das bandas Grunge, que se popularizou após o boom de bandas vindas da cidade
de Seatle. Corujito teve uma banda cover que tocava Nirvana e outras bandas de Seatle, como
Alice in Chains e Silverchair.
Com o passar do tempo, e conforme seu gosto por tipos de vocais foi aparecendo, ele
começou a imitar outros vocalistas de bandas, como o D.R.I, Ratos de Porão, Mukeka de
Rato. No seu caso, conforme suas audições iam mudando, mudava também a sua forma de
cantar. O vocal característico do Death Metal é denominado gutural, um tipo de vocal que
exige muito fisicamente do indivíduo e não se tem difundida uma maneira de se estudar essa
técnica, dependendo, assim, da percepção e dos testes para que se aprenda, como vemos em
seu depoimento:
Nunca estudei vocal, foi tudo inato, uma habilidade inata. [...] Eu cheguei a gritar com
toda minha força pra alcançar um tom ao ponto de machucar minha laringe e eu cuspir
sangue. E entre o processo natural de cicatrização, e eu também testando o limite desse
dano, me permitiu perceber meu tom, perceber o tom e a partir disso educar minha voz
diante à sonoridade. Nessa de se identificar e ir educando a voz que eu fui aperfeiçoando
meu vocal (CORUJITO, 2018).
Corujito aprimorou seu vocal gutural e rasgado quando entrou em uma banda
chamada Verres Militares, onde aprendeu vendo e conversando com a vocalista que cantava
junto com ele na banda. Esteve em mais 4 bandas Aflitorium, Anomalon, Insane Madness e
Antisapiens Club. Essa última que proporcionou a ele uma nova perspectiva de voz, diferente
das que até então ele havia tido contato, foi necessário conversar muito com os integrantes da
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banda para que conseguissem encontrar a forma que melhor se encaixaria com o que a banda
queria passar.
Flávio Horroroso teve interesse por música desde pequeno, porém, em nossa
conversa ele disse que sempre que pedia uma guitarra para os pais tinha seu pedido negado e
outro objeto era dado a ele, como exemplo uma bola. Ele não teve experiências musicais até
os 20 anos quando recebeu seu primeiro salário e sua primeira atitude foi comprar uma
guitarra:
Foi na Md musical no Praia Shopping, comprei uma Les Paul Epiphone Special (97).
Comprei a bicha, aí pedi a meu brother Solano: e ae o que que eu faço com essa porra
dessa guitarra? Aí o bicho: tem um negócio chamado Power chord, faz os Power chords
aí. Aí eu aprendi Power chords, aí fiquei uns 6 meses em casa só nos Power chords,
Power chords, Power chords. Aí eu enjoei assim de Power chords, aí eu: e agora Solano
o que que eu faço? Agora tu entra numa aula! (FLÁVIO HORROROSO, 2018).
Como vemos, o círculo de amizades continua sempre sendo a porta de entrada para
que se tenha contato mais direto com a música, mas, diferentemente dos outros participantes
da conversa, Flávio iniciou buscando ajuda com um amigo que o ensinou o que sabia e depois
esse o recomendou que fizesse aulas para aprimorar seus conhecimentos. Ele seguiu o
caminho indicado pelo amigo e fez aulas particulares com um ex-aluno do saudoso professor
e mestre da Escola de música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN)
Manoca Barreto.
Durante dois anos ele seguiu com as aulas particulares onde obteve conhecimentos
de teoria musical, como campo harmônico, escalas maiores e menores e pentatônica.
Carregado desses conhecimentos, começou a procurar sozinho coisas do seu interesse:
[...] foi com o tempo em casa, fui procurando mais escalas, exóticas, fiquei meio saturado
com o som da natural maior o tempo todo, aí eu procurei. O Carcass lá naquele disco o
Necroticism, que sonoridade do caralho, como é que eles atingem essa sonoridade? Aí fui
estudar, é a menor harmônica que os galados usam, aí fui em casa sozinho mesmo
aprender (FLÁVIO HORROROSO, 2018).
Só após ter iniciado as aulas foi que Flávio entrou numa primeira banda tocando
baixo mesmo sem saber tocar. Ele ia assistir os ensaios da banda dos amigos e, em certo
momento, quando o baixista saiu ele foi convocado a participar do grupo, assim como
Claudio. Os guitarristas foram ensinando as “cabeças” das notas das músicas que eles
tocavam e assim ele aprendeu a forma de se executar as músicas no novo instrumento.
O tocar e aprender junto são um dos caminhos pelo qual o músico popular aprende, e
é notório que no percurso dos músicos aqui apresentados a formação através de bandas veio a
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consolidar um interesse inicial pela música e pelo tocar. A proximidade com outros músicos
fazem com que esse caminho se encurte e o processo de ensino-aprendizagem aconteça. Esse
processo se dá através da oralidade, muitas vezes sem o auxilio de notação musical. Músicos
mais experientes ou que já conhecem aquela música em questão ensinam por meio de
indicações das posições no braço do instrumento e complementam com solfejos aproximados
de como as notas deveriam soar, no caso dos instrumentos de corda. O trabalho da memória é
importantíssimo, no caso de um esquecimento de uma passagem ou uma nota se faz
necessário que todo o processo ocorra novamente, solfejando e apontando no instrumento a
posição que deve ser feita.
No nosso entendimento, a utilização do Power chord facilita o fazer musical desses
músicos iniciantes, pois diferentemente dos acordes tradicionais utilizados nos instrumentos
de corda, que exige uma memória espacial do instrumento e das configurações de dedos
diferentes, os Powers chords demandam apenas a memória espacial do instrumento, a
configuração dos dedos é única e as notas são dadas pelas casas onde o primeiro dedo é
posicionado, a “cabeça” das notas. Além disso, esses acordes não utilizam a terça, o que
acaba por não caracterizar os acordes como maiores e menores diminuindo assim mais uma
informação teórica a ser aprendida por eles.
Quanto à linha vocal, o solfejo é a forma que é encontrada para demonstrar como
algum trecho específico deveria soar e, especificamente no Metal, existem alguns tipos de
vocais quase atonais. O que importa é a timbragem atingida, como nos casos do vocal rasgado
do Thrash Metal, o gritado do Hardcore, o gutural do Death Metal e o grunhido do Black
Metal. Inicialmente, a técnica vocal é deixada em segundo plano e o importante é a atitude e a
sonoridade agradar os ouvidos dos integrantes da banda.
Neste trabalho não nos aprofundaremos quanto ao vocal por demandar um estudo
mais extenso e minucioso devido às particularidades de cada estilo dentro do Metal e as
técnicas vocais necessárias para atingir cada um. Por aqui vamos nos ater a falar sobre a
forma individual que o vocalista aprende. Assim como os guitarristas, o vocalista indica
aprender na base da tentativa e erro fazendo uso da percepção e de uma “escuta intencional”.
Green (2002, p. 23-24) define essa escuta como uma das formas de aprendizagem informal,
pois com ela se tem o objetivo ou propósito específico de aprender algo ao término da
experiência auditiva, por exemplo, fazendo mapas mentais da harmonia, da forma musical e
assim por diante.
Como a formação musical desses indivíduos passa pela prática em conjunto, cada
nova banda com uma nova ideia, de um estilo diferente, demanda que eles adquiram novos
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conhecimentos técnicos e teóricos para o fazer musical daquele contexto específico. Como as
bandas não são formadas pelos mesmos integrantes e nem possuem o mesmo repertório, essa
mudança gera uma necessidade de aprimoramento, o que leva os músicos a procurar formas
de notações musicais mais simples, como as cifras e tablaturas. Faz-se uso da tecnologia para
obter esses novos conhecimentos, assim como sites e programas de computador, mas a
utilização da escuta e da memória continua sendo primordial uma vez que essas formas de
notação não oferecem a notação de ritmo e tempo, como no caso da partitura.
4.4. A banda frente ao cenário Metal da cidade e algumas considerações sobre
profissionalismo – “Ter o registro não ser só uma banda de garagem”
Como vimos, os integrantes do EYH passaram por diversas bandas antes de serem
convidados a fazer parte desta banda no atual momento. Dos integrantes iniciais de 1999
apenas o fundador, Claudio Slayer, permanece na banda e, durante os 19 anos de história da
banda, passaram diferentes músicos em diferentes anos. Flávio foi convidado a tocar na banda
por uma proximidade com Luiz Claudio, ex-vocalista do EYH que tocava com ele no Outset,
e fez um teste na casa do baixista onde aprendeu as 17 músicas do álbum Hatecult em uma
noite.
Paulo entrou na banda em 2013. Foi convidado por sua vida pregressa dentro do
Metal. Ele já tocava em três bandas no cenário e, a partir das observações de suas
performances nessas bandas, foi convidado a fazer um teste.
Corujito, o mais recente a adentrar no grupo, em 2016, também participou de um
“processo seletivo” para assumir os vocais. Foram enviadas para ele duas músicas e solicitado
que as aprendesse para a audição que aconteceria em um ensaio, após isso a banda deliberaria
sobre a aceitação dele ou não como novo membro.
A escalada de mudanças e a forma como os novos nomes foram se integrando
revelam um crescimento de status da banda ao longo do tempo de atividade. Outro ponto que
contribuiu foi o investimento em merchandise da banda como camisas, adesivos, botons e o
lançamento do segundo álbum Indoctrination of Hate.
Corujito, ao ser anunciado como novo vocalista, sofreu com a pressão de assumir os
vocais de uma das mais respeitadas e seguidas bandas da cidade do Natal/RN. Alguns fãs do
EYH mandavam mensagens de apoio, enquanto outros colocavam à prova suas habilidades e
seu desempenho no palco:
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Eu andando pela cidade, algumas pessoas vinham me perguntar [...], diziam – Mermão se
garanta, – Fique bem. Aí eu: cara se você quer saber se eu vou cantar bem vá ao show e
assista, deixe de me pressionar aí, que batismo é esse? Pressão da porra, até comentei
com o pessoal aí. (CORUJITO, 2018)
Apesar da pressão, ele revela que se sentiu grandioso, que seu ego inflou com o
convite para participar da banda que ele era fã. Um fato interessante é que todos eles eram fãs
da banda antes de se integrar a ela, consumiam produtos, assistiam a shows e ensaios,
admiravam a música e os participantes da época.
Mesmo com o respaldo do público local e de fora, a banda sofreu com as transições
de membros, com a falta de profissionalismo e, no início, com a falta de recursos financeiros
para gravação, além de uma falta de técnicos que entendessem as demandas e anseios da
banda: “Até pouco tempo nenhum estúdio tinha esse knowhow, essa expertise no estilo”
(FLÁVIO HORROROSO, 2018).
A banda entra em consenso quando surge o tema profissionalismo e o define como
envolvimento e estudo dentro da área em questão. o que poderia ser um reflexo da
hierarquização do conhecimento em que para ser especialista em algo é necessária uma
formação acadêmica, formal, como cursos, habilitações, graduações. Além disso, na opinião
dos entrevistados o profissional, no caso de música, também é aquele que se sustenta única e
exclusivamente com suas habilidades musicais, não precisando complementar sua renda com
nenhuma outra atividade.
A visão do que seria um profissional da música elaborada pela banda entra em
conformidade com as definições de Green (2001, p. 09) quando afirma que são aqueles que
ganham a vida tocando, compondo e ou arranjando. A autora esclarece que o termo
semiprofissional delimitaria aqueles que “às vezes é pago e às vezes não” e esse pagamento
não é suficiente para sua subsistência, portanto necessita de outras formas de arrecadação
financeira para se manter. Contudo, conforme Green não é necessário ter uma condição
acadêmica para que eles sejam chamados de profissionais, essa não é uma visão dos membros
da banda, o que pode ser uma reprodução do que é exigido nas suas formações em outras
áreas.
A partir de todos esses conceitos, dentre os membros da banda que participaram da
conversa, apenas Flávio pode ser considerado músico profissional. Ele fez cursos na área
musical e montou seu próprio estúdio de ensaio e gravação, o Black Hole Studio, no quintal
da sua residência, onde já gravaram as bandas Evil Empire, Galactic Gulag, Venus Negra,
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Primordium, Sanctfier, Albor, Torment the Skies, Open the Coffin, Son of Witch, Outset e o
próprio Expose Your Hate.
Dessas gravações e produções ele consegue se sustentar e complementar a renda,
quando necessário, com o aluguel de imóveis que tem em seu nome. “Mais liso, mas bem
mais feliz que na época lá do direito, eu ganhava bem, mas era mal demais” (FLÁVIO
HORROROSO, 2018).
Ainda nesse sentido, a banda como um todo é semiprofissional, todos os membros
tem seus outros trabalhos diurnos e não recebem do EYH, nem das outras bandas, condições
para viver somente delas. Quanto a pagamento, a banda é uma das poucas que pedem uma
ajuda de custo sempre que vai se apresentar. Essa ajuda varia entre 300 e 500 Reais que são
empregados no deslocamento dos membros para tocar, alimentação e bebidas no dia do Show.
Se considerarmos a cidade em que vivemos, poderemos perceber que existe uma
desvalorização gritante do Metal em detrimento a outros gêneros e estilos, como, por
exemplo, o Indie. Talvez por culpa do público que não comparece em grande número a todos
os shows, o que por vezes inviabiliza que grandes bandas do cenário nacional ou mundial
toquem por aqui.
Um dos festivais de música mais importantes da cidade abria espaço, em um dos
seus dias, para que houvesse shows de bandas de Metal e de uns tempos para cá esse espaço
se fechou, sendo agora organizado um dia separado do festival para que haja um único show
com no máximo 3 bandas.
Por conta dessa desvalorização, existe uma delimitação de quem pode e quem não
pode cobrar uma ajuda de custo, normalmente essa se faz através das produções da banda,
quantas demos lançou, quantos full álbuns e a sua representatividade na cena. Isso acaba, por
vezes, inviabilizando a continuidade ou o crescimento das bandas locais que dependem do
investimento dos seus integrantes para ensaiar, gravar, se deslocar para os locais de show e
arcar com outras despesas que podem vir a ter.
O EYH se mantém com o dinheiro que recebe das apresentações, paga as gravações
que são feitas no estúdio de Flávio, o Black Hole Studio e não tem custos com os ensaios, já
que também ensaiam lá. Essas atuais condições da banda já são um passo importante para a o
caminho de se profissionalizar.
Com a utilização do Black Hole, a banda acredita que houve uma evolução quanto à
estrutura e tempo, se comparada ao início da banda quando não se tinham muitos estúdios
para gravar e a falta de recursos impedia que eles compusessem em grupo.
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Quando a gente entrava em estúdio, aí num tinha tempo às vezes de criar um arranjinho
na hora da gravação, porque era dinheiro comendo. Aí hoje a gente tem o nosso próprio
estúdio. Aí senta, cria coisas de mais qualidades, tem tempo e é mais fácil (FLÁVIO
HORROROSO, 2018).
A respeito das composições, elas eram feitas a partir de encontros dos membros na
casa de Claudio, passadas para os outros membros oralmente sem nenhum tipo de registro
escrito ou de áudio. Hoje com o avanço tecnológico que difundiu programas computacionais
de gravação e mais posteriormente as mensagens diretas por voz, as composições são feitas à
distância e enviadas instantaneamente para os outros membros, o que facilita e faz com que a
canção chegue no momento do ensaio já com 80% estudada e com todos sabendo exatamente
o que foi feito, não dependendo mais unicamente da memória.
Acelerando o processo de composição, com a estrutura proporcionada pelo próprio
estúdio e a tranquilidade de não ter que investir muito dinheiro nas produções, uma vez que
há um autogerenciamento com o dinheiro das ajudas de custo, a banda se cobra mais para
produzirem. Diferentemente do hiato que ocorreu entre o primeiro CD, Hatecult (2005), e o
segundo, Indoctrination of Hate (2014), hoje eles tendem a lançar mais brevemente possível o
novo álbum que teve sua prévia neste ano, 2018.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa procuramos compreender aspectos da formação de músicos de uma
banda do Cenário do Metal da cidade do Natal/RN e para isso escolhemos como objeto de
estudo os integrantes de uma banda com grande notoriedade no cenário local, Expose Your
Hate. A escolha da banda também se fez pelo contexto social que existe dentro do subgênero
ao qual eles pertencem que é o Metal Extremo, vertente que aborda a contra cultura e a
aversão aos dogmas e paradigmas que a sociedade dita como padrão juntamente com o não
conformismo com o olhar otimista e uma dose excessiva de realidade nua e crua mostrando a
maldade e corrupção do ser humano. Tudo isso se extravasa em forma de música ou anti-
música, agressiva, violenta e subversiva.
Dentro desse complexo contexto estão fãs apaixonados que não se consideram
músicos “de verdade”, mas que foram cativados, primeiramente, por figuras icônicas que
despertaram neles a curiosidade, os aproximando da música a que vieram amar e que hoje os
representa.
A necessidade de expressão e de deixar transbordar aquilo que os engrandece os faz
ir para além do ouvir e conversar sobre música. Há a necessidade do fazer e criar, vivenciar
de todas as formas possíveis o que os faz feliz. O prazer envolvido em tocar faz com que as
dificuldades aparentes não sejam levadas em consideração e problemas como a não
valorização do gênero sejam superados e esquecidos.
Percebemos também que quando se é próximo de algo e se envolve diariamente com
esse objeto, no caso do Metal Extremo, é possível se acostumar e adquirir uma linguagem
necessária para apreciar aquilo que para outros, fora da realidade do contexto, pode ser
considerado apenas barulho.
Encontramos dificuldade para explicar as origens do gênero Metal e acreditamos que
esse assunto merece ser revisitado em trabalhos futuros, assim como as explicações sobre as
especificações dos subgêneros Death Metal e Grindcore e a junção dos dois que rotula a
banda Expose Your Hate. A limitação de tempo desse trabalho não nos permitiu adentrar,
como gostaríamos, nesses assuntos e registramos aqui nossa vontade de, futuramente, voltar
com mais tempo e leituras mais densas para explicar de forma mais profunda e completa
sobre esses assuntos.
Sobre os processos de ensino-aprendizagem que constatamos através de uma
conversa com os 4 integrantes da banda detalham uma formação por meio da prática de
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conjunto, no fazer musical sem processos pré-definidos e sem a necessidade inicial de uma
educação formal. A oralidade é o principal canal para se ensinar e aprender, juntamente com
os processos aurais que incluem a percepção e o processo de escuta intencional, quando se
tem a intenção de compreender o que se ouve e reproduzir. As habilidades para se aprender
através da oralidade incluem também a memória, pois não há formas de escritas, a imitação
física e sonora por meio dos solfejos.
No entanto, ao tocar com pessoas diferentes em contextos diferentes podemos
observar que foi necessário buscar por uma forma de notação e para isso puderam contar com
a ajuda dos avanços tecnológicos, como a popularização da internet.
Um fato que não foi esperado e que surgiu a partir dos comentários é a questão da
profissionalização da banda. Interessante perceber que esse é um anseio dos integrantes e que
eles estão procurando formas de fazer com que isso aconteça.
Acreditamos que esse seja um interessante assunto para se tratar em futuros trabalhos
sobre o Metal e, principalmente, sobre o Metal local, onde apenas 3 ou 4 bandas conseguem
tocar sem arcar com despesas básicas.
A peculiaridade desse contexto de ensino ficou a cargo da utilização dos Power
chords, forma mais simples de se montar acordes, que são feitos apenas com uma
configuração de dedos percorrendo todas as casas das cordas mais graves do instrumento, o
que facilita a aprendizagem e ajuda na motivação para dar continuidade aos estudos no
instrumento. A parte, mencionamos os vocais que, na realidade do Metal Extremo, devem ser
mais expressivos que técnicos e que o conhecimento é feito de forma empírica e
observacional.
Com isso, esperamos ter apresentado de forma adequada a realidade que se apresenta
dentro da cena Metal e que isso empolgue novos pesquisadores a quererem compreender e
divulgar mais sobre esse gênero e suas particularidades.
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Roteiro de Entrevista
Apresentação
1. Nome
2. Idade
3. Local de Nascimento
4. Formação
5. Ocupação
6. Em quantas bandas toca
Formação Musical
7. Como ocorreu o primeiro contato com a música?
8. Como começou a tocar?
- qual instrumento, alguém ensinou?
9. Quantos instrumentos toca?
10. Como surgiu a afinidade com o estilo músical? *
Motivações
11. O que te motivou a montar a primeira banda?
12. E o que continua te motivando?
13. E porque tocar no eyh? e porque ter outra?
A banda
14. Como aconteceu a chegada no EYH?
14.1. Se tocou em outras bandas, falar sobre.
15. Como funciona a organização da banda?
16. Ensaios e gravações, como são feitos?
17. Qual o sentido da banda na formação musical deles?
Abrir um momento ao final para que eles possam falar o que sentirem vontade ou retornar a
algum dos assuntos apontados.