ileostomias e colostomias

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0- Introdução Este trabalho tem o objectivo de responder a um momento de avaliação das Orientações Tutórias da disciplina de Enfermagem: Cuidado à Pessoa Submetida a Intervenção Cirúrgica, do 3º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior do Vale do Sousa. Foi-nos proposto realizar um trabalho dentro de um grande tema “Drenos e Ostomias”, sendo que a Turma B foi escolhida para tratar do subtema “Ileostomias e Colostomias”. Como metodologia de trabalho foi feita pesquisa bibliográfica em livros e em revistas de Enfermagem. Este trabalho tem como objectivos adquirir conhecimento sobre ostomias de eliminação, dar a conhecer os tipos de ostomias de eliminação que existem, bem como as suas indicações, as suas complicações e os cuidados de enfermagem inerentes. Numa primeira parte abordar-se-á os tipos de ostomias que existem. Numa segunda parte iremos falar de diferentes tipos de ileostomias e colostomias, bem como das suas indicações e complicações. Numa terceira parte falar-se-á dos cuidados de enfermagem a ter com as ostomias, bem como o ensino ao doente ostomizado. 1

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Um trabalho para quem precisa de saber quais os cuidados de Enfermagem a serem prestados a um doente com uma ileostomia ou colostomia.

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Page 1: Ileostomias e Colostomias

0- Introdução

Este trabalho tem o objectivo de responder a um momento de avaliação das

Orientações Tutórias da disciplina de Enfermagem: Cuidado à Pessoa

Submetida a Intervenção Cirúrgica, do 3º ano do Curso de Licenciatura em

Enfermagem da Escola Superior do Vale do Sousa.

Foi-nos proposto realizar um trabalho dentro de um grande tema “Drenos e

Ostomias”, sendo que a Turma B foi escolhida para tratar do subtema

“Ileostomias e Colostomias”.

Como metodologia de trabalho foi feita pesquisa bibliográfica em livros e em

revistas de Enfermagem.

Este trabalho tem como objectivos adquirir conhecimento sobre ostomias de

eliminação, dar a conhecer os tipos de ostomias de eliminação que existem,

bem como as suas indicações, as suas complicações e os cuidados de

enfermagem inerentes.

Numa primeira parte abordar-se-á os tipos de ostomias que existem.

Numa segunda parte iremos falar de diferentes tipos de ileostomias e

colostomias, bem como das suas indicações e complicações.

Numa terceira parte falar-se-á dos cuidados de enfermagem a ter com as

ostomias, bem como o ensino ao doente ostomizado.

É imprescindível a um enfermeiro saber que tipos de ostomias de eliminação

existem e quais são as indicações para que se fazer este tipo de ostomia. Tem

também que saber as complicações que podem advir de uma ileostomia ou de

uma colostomia. Para poder tratar estas ostomias terá que saber quais os

cuidados de enfermagem inerentes a estas.

Com este trabalho espera-se que ajude os enfermeiros a lidar com este tipo de

ostomias e saber o que fazer, no caso de se deparar com algum doente

ostomizado durante o seu exercício profissional.

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Page 2: Ileostomias e Colostomias

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Page 3: Ileostomias e Colostomias

1-Fisiologia dos Intestinos

O intestino delgado tem cerca de 2,5 centímetros de largura e 6 metros de

comprimento. É constituído por três partes - o duodeno, que se liga ao

estômago; o jejuno, ou parte média, e o íleon, que se liga ao intestino grosso.

O intestino grosso tem cerca de 6 centímetros de largura e 1,5 metros de

comprimento (Phipps, Sands & Marek, 2003).

Também é constituído por três partes – o cego, que se liga ao intestino

delgado; o cólon; e o recto. A válvula íleocecal evita o movimento retrógrado do

conteúdo fecal do intestino grosso para o intestino delgado. O apêndice

vermiforme, que não tem uma função conhecida, é um apêndice próximo da

válvula íleocecal. O cólon é subdividido em quatro partes – o cólon ascendente,

o transverso, o descendente e o sigmóide. Os locais onde o cólon muda de

direcção são designados pelo nome dos órgãos adjacentes - o fígado (ângulo

hepático) e o baço (ângulo esplénico). O recto tem 17 a 20 centímetros de

comprimento terminando no canal anal de 2 a 3 centímetros. A abertura do

ânus é controlada pelo esfíncter interno de músculo liso e pelo esfíncter

externo de músculo estriado (Phipps, Sands & Marek, 2003).

As principais funções do intestino delgado são a digestão dos alimentos e a

absorção dos nutrientes. Estes processos ocorrem no jejuno e no íleon. O

conteúdo do intestino delgado (quimo) é propulsionado para o ânus através dos

movimentos peristálticos. Estes movimentos aumentam após as refeições

(Phipps, Sands & Marek, 2003).

As principais funções do intestino grosso são a absorção de água e de

electrólitos a partir do quimo e depósito de resíduos alimentares até à

defecação. Diariamente cerca de 450 mililitros de quimo atinge o cego. O

tempo de passagem no intestino grosso é lento, demorando cerca de 12 horas

a atingir o recto (Phipps, Sands & Marek, 2003).

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Page 4: Ileostomias e Colostomias

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Page 5: Ileostomias e Colostomias

2 - Ostomias

Segundo Simões (2002), “um estoma é um termo grego que significa “boca” ou

“abertura” e que denomina qualquer abertura cirúrgica de uma víscera ao meio

exterior”.

Em alguns indivíduos os resíduos não são excretados através do mato urinário

ou do ânus, mas desviados por uma saída cirurgicamente criada, denominada

por ostomia. Uma ostomia é criada por meio da sutura de uma parte do tracto

urinário ou intestinal à parede abdominal, originando, assim uma abertura para

o exterior do organismo. A abertura é denominada de estoma (Arkinson &

Murray, 1989).

As cirurgias que dão origem às ostomias são entre outras por laparoscopia e

por cirurgia de Hartmann (Phipps, Sands & Marek, 2003).

As ostomias podem ser temporárias ou permanentes. Quando temporárias são

constituídas para permitirem que uma porção inferior do tracto cicatrize após

uma cirurgia, lesão ou doença inflamatória. As permanentes são criadas

quando há remoção da porção inferior do tracto ou quando esta se mostra

lesada definitivamente (Arkinson & Murray, 1989).

Os estomas tomam diferentes nomes, consoante a víscera que é exteriorizada

e tem diferentes funções. Existem três tipos de ostomias: de respiração, de

alimentação e de eliminação. Dentro dos de eliminação existem os de

eliminação urinária e os de eliminação intestinal (Simões, 2002).

As ostomias de respiração são as traqueostomias, que consistem numa

abertura cirúrgica na parede anterior da traqueia. O estoma cicatricial

permanente obtido com a fixação da traqueia à pele. Podem ser temporárias e

com cânula, ou então permanentes com ou sem cânula (Simões, 2002).

As ostomias de alimentação são a jejunostomia e a gastrostomia. A

jejunostomia consiste na colocação de um cateter no jejuno, com a finalidade

de alimentação, quando há impedimento de utilização das partes altas do tubo

digestivo, como no caso de operações, de tumores, entre outros. A

gastrostomia consiste num procedimento cirúrgico para a fixação de uma

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Page 6: Ileostomias e Colostomias

sonda alimentar. O orifício artificial é criado na altura do estômago e é realizada

em doentes que perderam a capacidade temporária ou permanente de deglutir

os alimentos, tanto em consequência de lesões cerebrais graves ou por

transtornos do tracto gastrointestinal superior (Simões, 2002).

Nas ostomias de eliminação, como já foi referido anteriormente temos dois

tipos (Phipps, Sands & Marek, 2003):

o Eliminação urinária - em que temos a ureterostomia, que consiste na

colocação em comunicação de duas partes diferentes do mesmo uréter,

de forma a restabelecer a sua permeabilidade comprometida por um

aperto ou por uma obstrução; temos também a cistostomia, em que se

faz uma anastomose da bexiga à parede abdominal, entre a sínfise

púbica e o umbigo, a fim de permitir a saída da urina da bexiga, quando

existe um obstáculo ao nível da uretra (cancro, estenose); temos ainda a

nefrostomia, que é uma intervenção cirúrgica que consiste em efectuar

uma abertura num rim com o objectivo de o drenar. Este permite a

resolução da obstrução uretral e recuperação da função renal em

pacientes com uropatia obstrutiva e tem também um papel importante na

obstrução das vias urinárias por neoplasias abdominais avançadas.

o Eliminação intestinal – em que temos a colostomia, que designa a união

à parede abdominal anterior de uma porção do cólon, com o fim de

permitir a evacuação de fezes e gases; temos também a ileostomia, que

consiste na união à parede abdominal anterior da porção do íleo, com o

fim de permitir a eliminação de fezes e gases.

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Page 7: Ileostomias e Colostomias

3 – Ileostomia

Uma ileostomia surge quando é feito um estoma a partir do íleo e em geral é

permanente (Arkinson & Murray, 1989).

Qualquer técnica de Ileostomia elimina a capacidade do cólon reabsorver

líquidos e electrólitos e a drenagem é profusa e aquosa (Phipps, Sands &

Marek, 2003).

Existem diferentes tipos de ileostomias (Phipps, Sands & Marek, 2003):

Ileostomia de Brook;

Ileostomia Continente;

Reservatório Íleoanal.

A Ileostomia de Brook é a mais antiga técnica de colectomia. Envolve a

remoção do cólon, recto e ânus, com encerramento definitivo do ânus. A

porção terminal do íleo dilata-se com o decorrer do tempo e assume algumas

das funções do cego. O volume de fezes diminui, mas uma quantidade mínima

de 300 a 800 ml de líquido, é ainda, perdida diariamente nas fezes, juntamente

com quantidades substanciais de electrólitos, particularmente de sódio. A

pessoa sofre de défice crónico de líquidos, dado que o intestino delgado é

incapaz de fazer ajustamentos adequados ao défice de líquidos e qualquer

aumento na ingestão de líquidos simplesmente aumenta o volume de

drenagem pela ileostomia (Phipps, Sands & Marek, 2003).

O estoma é localizado no quadrante inferior direito, e geralmente é protuso

(Swearingen & Howard, 2001).

A Ileostomia Continente foi desenvolvida no final da década de 1960 pelo

Doutor Nils Kock, para poupar aos doentes alguns dos problemas da ileostomia

tradicional. Esta técnica envolve a criação de um reservatório abdominal para

armazenar as fezes, utilizando uma porção do íleo terminal. Uma parte do íleo

terminal é invaginada para formar um mamilo valvular que fica colocado ao

mesmo nível da parede abdominal (Phipps, Sands & Marek, 2003).

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Page 8: Ileostomias e Colostomias

O Reservatório Íleoanal envolve a criação de uma bolsa a partir do íleo

terminal, que é suturada directamente ao ânus. Deixa-se intacto o esfíncter

anal, que preserva a continência, adicionado a aproximadamente 2,5 cm de

recto que é desnudado da sua mucosa (Phipps, Sands & Marek, 2003).

Isto faz-se em dois tempos operatórios: o primeiro que segue a colectomia total

e a remoção do revestimento anal (com a preservação do esfíncter anal),

envolve a construção de um reservatório íleal no intestino delgado A abertura

do reservatório íleal é direccionada para baixo através de uma bainha de tecido

muscular rectal e suturada ou anastomosada ao canal anal. O reservatório

armazena as fezes. Uma ileostomia temporária é realizada para possibilitar a

cicatrização da anastomose. No segundo momento operatório, depois de 3 a 4

meses, a ileostomia temporária é fechada e a continência fecal é restabelecida

(Swearingen & Howard, 2001).

3.1 – Indicações

A Ileostomia de Brook está indicada para doentes que tenham (Swearingen &

Howard, 2001; Phipps, Sands & Marek, 2003):

Colite ulcerosa;

Doença de Crohn;

Cancro;

Trauma;

Polipose familiar;

Pacientes entre a adolescência e a meia-idade, tendo em média a idade

de 40 anos.

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Page 9: Ileostomias e Colostomias

A Ileostomia Continente está indicada para (Swearingen & Howard, 2001;

Phipps, Sands & Marek, 2003):

Colite ulcerosa;

Polipose familiar;

Pacientes entre a adolescência e a meia-idade, tendo em média a idade

de 40 anos.

O Reservatório Íleoanal está indicado para doentes que tenham (Swearingen &

Howard, 2001; Phipps, Sands, & Marek, 2003):

Colite ulcerosa;

Polipose familiar;

O doente ideal para este procedimento é o de 20 a 40 anos de idade e

que tenha um bom controlo do esfíncter;

Geralmente não é usada em pessoas com idade superior a 55 anos, que

podem sofrer de deterioração do esfíncter anal, relacionada com a

idade.

3.2 – Complicações

As complicações para qualquer tipo de ileostomia são tanto físicas como

psíquicas (Phipps, Sands & Marek, 2003).

Complicações Físicas (Phipps, Sands & Marek, 2003; Hallouët, Eggers &

Malaquin-Pavan, 2006):

Complicações precoces: hemorragia, necrose, retracção, evisceração,

oclusão.

Complicações tardias: oclusão, estenose, eventração, prolapso, irritação

da pele peristomial, reintegração do estoma, hérnias paraestomais,

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Page 10: Ileostomias e Colostomias

úlceras, infecções, incrustações de cristais de fosfato, metaplasia

escamosa, que pode provocar estenoses.

Complicações peri-estomais: irritações cutânea de contacto ou

mecânica, infecções da pele por bactérias ou candidíase, processos

alérgicos ou de hipersensibilidade, incrustações de cristais de fosfato,

granulomas, varizes peri-estomais, hiperplasia epitelial, que pode levar à

estenose.

Ileostomia de Brook: mau funcionamento do estoma devido a alimentos

mal digeridos, que facilmente provocam obstrução.

Ileostomia Continente: os problemas com o mamilo valvular são comuns

e frequentemente necessitam de laparotomia aberta para reparação.

Isto, adicionado à incidência de inflamação crónica na bolsa, limita a

utilidade desta técnica e raramente é recomendada como primeira

intervenção.

Reservatório Íleoanal: “bolsite” é uma inflamação aguda dentro do

reservatório e é um problema crónico frequente. Esta provoca

desconforto, hemorragia e aumento do débito.

Complicações Psíquicas (Phipps, Sands & Marek, 2003):

Receio de perdas;

Embaraço devido ao ruído e odor;

Efeitos negativos sobre a auto-estima;

Efeito negativo sobre a imagem corporal;

Efeito negativo sobre a sexualidade.

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Page 11: Ileostomias e Colostomias

4 – Colostomia

Uma colostomia surge quando é feito um estoma a partir do cólon e pode ser

temporária ou permanente (Arkinson & Murray, 1989).

Existem diferentes tipos de colostomias (Phipps, Sands & Marek, 2003;

Swearingen & Howard, 2001):

Colostomia Ascendente;

Colostomia do Transverso;

Colostomia do Transverso com Barril Duplo;

Colostomia da Ansa do Transverso;

Colostomia Descendente;

Colostomia Sigmóideia.

A Colostomia Ascendente é o tipo menos comum de colostomia. Está

localizada no quadrante superior direito, ou na área lombar direita do abdómen,

e é geralmente protuso. Por estar muito perto da porção terminal do íleo,

deverá eliminar fezes liquefeitas ou pastosas, que fluem quase continuamente

(Swearingen & Howard, 2001).

A Colostomia do Transverso é mais indicada que a colostomia ascendente. É

geralmente temporária e é mais frequentemente realizada para derivação fecal

nos casos de alívio de obstrução intestinal e perfuração do abdómen como

consequente de trama. A localização do estoma geralmente é alta sobre o

abdómen, ao nível da cintura e próximo da linha média do corpo. As fezes são

semi-sólidas. Em casos em que o recto não é removido, o paciente pode

ocasionalmente eliminar fezes por via rectal (Swearingen & Howard, 2001).

Na Colostomia do Transverso com Barril Duplo faz-se uma dupla abertura, para

proporcionar o descanso do cólon para posterior anastomose. O paciente

possui dois estomas: um estoma proximal que é activo e drena fezes e um

estoma distal que é inactivo e drena muco (Swearingen & Howard, 2001).

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Page 12: Ileostomias e Colostomias

Na Colostomia da Ansa do Transverso, um segmento intacto do cólon é

suturado no abdómen, sem que seja seccionado completamente. O laço é feito

na porção externa do corpo e fixado com uma haste de sustentação de plástico

ou vidro por 7 a 10 dias de período pós-operatório (Swearingen & Howard,

2001).

A Colostomia Descendente é o tipo de derivação fecal mais comummente

realizado. O estoma está localizado no quadrante superior esquerdo e poderá

ser plano ou protuso. As fezes são pastosas ou semi-sólidas (Swearingen &

Howard, 2001).

A Colostomia Sigmóideia é muito idêntica à colostomia descendente. É o outro

tipo de derivação fecal mais comum a ser realizada. O estoma está localizado

no quadrante inferior esquerdo e poderá ser plano ou protuso. As fezes neste

caso são sólidas, pois estão muito perto do recto (Swearingen & Howard,

2001).

4.1 – Indicações

A Colostomia Ascendente está indicada para doentes que tenham (Swearingen

& Howard, 2001; Hallouët, Eggers & Malaquin-Pavan, 2006):

Diverticulose;

Doença de Hirschsprung;

Obstrução do cólon;

Trauma;

Fístula rectovaginal;

Tumores inoperáveis do cólon;

Polipose familiar;

Pode ser realizada em doentes de qualquer idade.

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Page 13: Ileostomias e Colostomias

A Colostomia do Transverso está indicada para (Hallouët, Eggers & Malaquin-

Pavan, 2006; Swearingen & Howard, 2001):

Diverticulose;

Doença de Hirschsprung;

Obstrução do cólon;

Trauma;

Fístula rectovaginal;

Tumores inoperáveis do cólon;

Polipose familiar;

Pode ser realizada em doentes de todas as idades.

A Colostomia do Transverso com Barril Duplo está indicada para (Hallouët,

Eggers & Malaquin-Pavan, 2006; Swearingen & Howard, 2001):

Descanso do cólon para posterior anastomose.

Situações de urgência, como a obstrução ou perfuração intestinal.

A Colostomia da Ansa do Transverso está indicada para (Swearingen &

Howard, 2001):

Situações de emergência.

A Colostomia Descendente está indicada para doentes que apresentem

(Hallouët, Eggers & Malaquin-Pavan, 2006; Swearingen & Howard, 2001):

Cancro do cólon sigmóide ou recto;

Diverticulose;

Anomalias congénitas;

Trauma;

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Page 14: Ileostomias e Colostomias

Polipose familiar;

Pode ser realizada em doentes de todas as idades, mas a maioria é feita

em doentes com idade igual ou superior a 40 anos.

A Colostomia Sigmóideia está indicada para doentes que tenham (Hallouët,

Eggers & Malaquin-Pavan, 2006; Swearingen & Howard, 2001):

Cancro do cólon sigmóide ou recto;

Diverticulose;

Anomalias congénitas;

Trauma;

Polipose familiar;

Pode ser realizada em doentes de todas as idades, mas a maioria é feita

em doentes com idade igual ou superior a 40 anos.

4.2 – Complicações

As complicações para qualquer tipo de colostomia são tanto físicas como

psíquicas (Phipps, Sands & Marek, 2003).

Complicações Físicas (Phipps, Sands & Marek, 2003), (Hallouët, Eggers &

Malaquin-Pavan, 2006), (Swearingen & Howard, 2001):

Complicações precoces: hemorragia, necrose, retracção, evisceração,

oclusão.

Complicações tardias: oclusão, estenose, eventração, prolapso, irritação

da pele peristomial, reintegração do estoma, hérnias paraestomais,

úlceras, infecções, incrustações de cristais de fosfato, metaplasia

escamosa, que pode provocar estenoses.

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Page 15: Ileostomias e Colostomias

Complicações peri-estomais: irritações cutânea de contacto ou

mecânica, infecções da pele por bactérias ou candidíase, processos

alérgicos ou de hipersensibilidade, incrustações de cristais de fosfato,

granulomas, varizes peri-estomais, hiperplasia epitelial, que pode levar à

estenose.

Colostomia Ascendente: o conteúdo fecal contém enzimas digestivas

que são lesivas à pele.

Colostomia do Transverso: o conteúdo enzimático das fezes liquefeitas

pode causar irritação da pele peristomial.

Colostomia do Transverso com Barril Duplo: o conteúdo enzimático das

fezes liquefeitas pode causar irritação da pele peristomial.

Colostomia da Ansa do Transverso: como é geralmente realizado em

situação de emergência, o doente frequentemente está mal preparado,

quer física, quer psicologicamente para este procedimento.

Colostomia Descendente: dependendo do tipo de alimentos digeridos,

alguns podem provocar diarreia, gases, odores ou mesmo obstrução.

Colostomia Sigmóideia: dependendo do tipo de alimentos digeridos,

alguns podem provocar diarreia, gases, odores ou mesmo obstrução.

Complicações Psíquicas (Phipps, Sands & Marek, 2003):

Receio de perdas;

Embaraço devido ao ruído e odor;

Efeitos negativos sobre a auto-estima;

Efeito negativo sobre a imagem corporal;

Efeito negativo sobre a sexualidade.

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Page 16: Ileostomias e Colostomias

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Page 17: Ileostomias e Colostomias

5 – Cuidados de Enfermagem

Desde o pré-operatório, que são fundamentais os cuidados ao doente,

incluindo o ensino sobre o que vai mudar na sua vida. É então a função do

enfermeiro prestar estes cuidados e fazer este ensino ao doente sobre esta sua

nova etapa na sua vida, podendo este obter uma melhor qualidade de vida

possível.

5.1 - Cuidados de Enfermagem no Pré-Operatório

Os Cuidados Pré-Operatórios ao doente submetido a ostomia centralizam-se

no ensino ao doente (Phipps, Sands & Marek, 2003).

Na Preparação Psicológica, sendo a ostomia uma técnica que provoca

alteração da imagem corporal e função intestinal, o enfermeiro deve avaliar os

conhecimentos e a compreensão do doente em relação à proposta cirúrgica e

aos seus resultados finais. O enfermeiro deve também informar o doente sobre

o que o espera no pós-operatório. Para além do medo e ansiedade inerentes à

própria cirurgia, pode também surgir medo da reacção da família e amigos

perante a sua ostomia. Sentimentos de choque, raiva, inferioridade, depressão

ou dependência poderão surgir. Para além destes, pela alteração da imagem

corporal, em que a saída de fezes passa a ser feita por abertura não natural no

abdómen; o doente poderá sentir vergonha, repugnância e refugiar-se num

isolamento social. O enfermeiro deverá esclarecer o doente e família de

dúvidas em relação à cirurgia e à ostomia, desmistificando medos, receios e

muitas vezes conceitos errados. É fundamental que o enfermeiro demonstre

disponibilidade e desenvolva com o doente uma relação de empatia e

confiança, tendo sempre como principal objectivo a autonomia e a reabilitação

do doente o mais precoce possível, promovendo o auto-cuidado e a aceitação

da nova imagem corporal (Serrano & Pires, 2007).

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Page 18: Ileostomias e Colostomias

A Preparação Física inclui a preparação intestinal, onde a limpeza é efectuada

de acordo com a prescrição médica e, dependendo do estado geral do doente,

poderá ser efectuada com (Serrano & Pires, 2007):

Manitol a 10% 1500cc, por via oral;

Preparados industriais para limpeza intestinal de administração oral (Ex:

“Selg”, “X-prep” ou “Klean-prep”);

Enemas de limpeza ou outros preparados de administração rectal (Ex:

Clyss-Go).

Normalmente é também efectuada cobertura profiláctica de antibioterapia, com

metrodinazol-750 mg e neomicina-1gr; 3 tomas por via oral na véspera da

cirurgia. Faz-se tricotomia da região púbica, abdominal e perineal (quando o

doente vai ser submetido a amputação abdomino-perineal), punção de uma

veia periférica e administração de soro polielectrolítico com dextrose, na

véspera da cirurgia, para compensar perdas originadas pela limpeza intestinal

e ter em atenção a higienização da pele (Serrano & Pires, 2007).

Faz-se também a marcação do local do estoma, onde a forma e o contorno da

prega cutânea do abdómen do doente são tomadas em consideração, não só

na posição de sentado mas também de pé. O local deve ser visível ao doente

quando estiver sentado ou de pé, estar situado no músculo recto e estar

afastada de cicatrizes, proeminências ósseas ou pregas cutâneas. A cintura do

doente também deve ser evitada. Frequentemente, o local do estoma é o factor

mais significativo que influencia a capacidade de o doente manter uma bolsa

bem vedada e tratar a ostomia sozinho, após a cirurgia (Phipps, Sands &

Marek, 2003).

O ensino ao doente antes da cirurgia devem incluir (Phipps, Sands & Marek,

2003):

Que deve fazer uma consulta de estomaterapia com o Enfermeiro

Estomaterapeuta, antes da cirurgia, em que este lhe vai mostrar o

material que existe, para que o doente fique familiarizado com o material

que vai ter que passar a usar;

18

Page 19: Ileostomias e Colostomias

Que vai ser feita tricotomia ao abdómen (no caso de o doente possuir

muita pilosidade);

Que tem que estar em jejum antes da cirurgia;

Se o doente tem algum tipo de alergias;

Explicar ao doente, que poderá ter drenos,algália e sonda naso-gástrica;

Que vai ter que estar em jejum após a cirurgia, para evitar distensão ou

pressão nas linhas de sutura;

Que poderá ter dor e que lhe será administrada analgesia;

Ensinar o doente como proceer na respiração e tosse após a cirurgia, de

maneira a que não tenha dor;

Mostrar material, no caso de não ter ido à consulta de estomaterapia;

Explicar em que consiste a cirurgia, explicando a fisiologia dos

intestinos.

5.2 - Cuidados de Enfermagem no Pós-Operatório

Nos Cuidados de Enfermagem no Pós-Operatório, o enfermeiro deverá, como

em qualquer período pós-operatório, observar correctamente o doente e

controlar as suas funções vitais. O enfermeiro deverá encorajar o levante após

24 horas e se for possível a deambulação (Phipps, Sands & Marek, 2003).

Deverá pois, ter em atenção a vigilância de (Serrano & Pires, 2007; Phipps,

Sands & Marek, 2003):

Soros e outras perfusões;

Drenagem gástrica;

Drenos abdominais e perineais (quando existentes);

Penso abdominal e perineal (quando existentes);

Drenagem vesical;

19

Page 20: Ileostomias e Colostomias

Drenagem do estoma e início do seu funcionamento (a drenagem é

inicialmente de líquido serohemático e muco, reiniciando-se a função

intestinal normalmente de 3 a 7 dias do pós-operatório);

Limpeza do Estoma: Durante o internamento hospitalar a limpeza do

estoma deve ser feita com compressas esterilizadas e soro fisiológico,

para evitar infecções. Deve-se lavar suavemente a pele peri-estomal e o

estoma em movimentos circulares e secar bem sem friccionar o estoma

e a pele peri-estomal e manter a pele que está debaixo do saco sempre

limpa e seca;

Manutenção do equilíbrio hidro-electrolítico: Na pessoa com ileostomia,

é fundamental prestar atenção ao equilíbrio hidro-electrolítico. Após a

cirurgia, a drenagem fecal pela ileostomia é líquida e pode ser

permanente. O doente pode ter débitos fecais que variam entre 1000 e

1500 ml em cada 24 horas. Esta quantidade deve começar a diminuir

ligeiramente dentro de 10 a 15 dias, à medida que o íleo terminal

comece a reabsorver água e as fezes se tornem mais espessas.

Contudo, as perdas ainda são mais significativas e é essencial o registo

cuidadoso do balanço hídrico. O doente com ileostomia facilmente se

desidrata. As fezes podem não se tornarem espessas, se o doente fez

prévias ressecções do intestino delgado devido a doença de Crohn.

Quanto mais intestino tiver sido ressecado, maior a probabilidade de um

elevado volume de fezes líquidas. Alguns doentes necessitam de

medicação para ajudar a diminuir o volume e controlar a perda de

líquidos. A bolsa pode necessitar de ser esvaziada em cada 1 a 2 horas.

Volumes superiores a 1500 ml, por cada 24 horas, são considerados

excessivos. Os problemas hidro-electrolíticos geralmente não são uma

grande preocupação após a colostomia cirúrgica, embora o possam ser

por um momento, para restabelecer um padrão normal de eliminação.

Avaliação do Estoma: O doente que tenha sido submetido a ostomia

cirúrgica geralmente vem da cirurgia com um saco de ostomia colocado.

A enfermeira observa regularmente o estoma relativamente à hiperemia

20

Page 21: Ileostomias e Colostomias

e ao edema. A coloração reflecte a perfusão e um estoma escuro ou

acastanhado-preto indica isquémia e necrose. As alterações da

coloração devem ser comunicadas de imediato. O edema inicial, do

estoma, é uma resposta esperada da manipulação cirúrgica. A forma do

estoma continua a alterar-se ligeiramente em resposta à peristalse e a

abertura da bolsa precisa de ser ajustada para se adaptar às alterações

do tamanho do estoma. O edema geralmente desaparece nos 5 a 7 dias

seguintes. Uma pequena hemorragia significativa deve ser comunicada

imediatamente ao cirurgião. A incisão abdominal e as suturas que fixam

o estoma, são examinadas relativamente às suas alterações. Alguma da

mucosa do estoma pode exteriorizar-se na parede abdominal antes de a

cicatrização estar concluída. Os fragmentos superficiais cicatrizam por

granulação, mas os mais profundos podem necessitar de

reposicionamento ou de ser novamente suturados. A drenagem do

estoma é constituída, inicialmente, de muco e secreção sero-hemática.

À medida que a peristalse reaparece, geralmente em 2 a 4 dias,

começam os flatos e a drenagem fecal. O saco deve ser esvaziado

quando tem, um terço ou metade da sua capacidade, com fezes ou mais

frequentemente se há excesso de gases.

Manuseamento da Ferida Operatória Perianal: A ferida operatória

perianal pode necessitar de mais de 6 meses para uma cicatrização

completa, sendo por isso necessário ter cuidado com esta ferida, como

lavagens e pensos absorventes até que a ferida se encerre. A ferida

perianal dificulta que o doente se sente ou encontre uma posição

confortável. Almofadas moles ou de espuma podem aumentar o

conforto, enquanto o doente está sentado. O enfermeiro ensina o doente

a evitar almofadas que lhe façam afastar as nádegas e que dificultam a

cicatrização da ferida. Geralmente os doentes preferem a posição de

decúbito lateral. Inicialmente a drenagem da ferida é abundante e sero-

hemática e deve ser removida eficazmente para evitar a infecção e a

formação de abcesso. Inicialmente as lavagens da ferida são feitas,

geralmente com soro fisiológico, mas o doente gradualmente pode

21

Page 22: Ileostomias e Colostomias

evoluir para uma massagem manual com o chuveiro. Os pensos devem

ser mudados sempre que necessário.

Os cuidados de enfermagem a serem prestados quando surgem complicações

são (Loureiro & Fernandes, 2007):

Irritação Cutânea/Dermatite Periestomal: as causas mais comuns são a

corrosibilidade das descargas, sensibilidade ao dispositivo, hiperplasia

epitelial, dermatite alcalina e infecção. Como cuidados devemos realizar

os cuidados de higiene ao estoma; despistar a causa e actuar em

conformidade; aumentar a protecção cutânea; mudar de dispositivo; e

em caso de persistência deve-se orientar para o Enfermeiro

Estomaterapeuta.

Estenose: em que há um estreitamento do estoma provocado pelo

tecido de cicatrização. Como cuidados, deve-se realizar os cuidados de

higiene ao estoma; vigiar as dimensões do estoma; promover a dilatação

do estoma; aplicar se necessário uma placa convexa ou anel

complementar e encaminhar para o cirurgião.

Hérnia Periestomal: em que há uma protusão do cólon ou íleo nas

camadas subcutâneas. Como cuidados deve-se realizar os cuidados de

higiene ao estoma; aplicar, se necessário um cinto de suporte sem

apertar demasiado; alertar, se necessário para as mudanças de

vestuário; mudança de dispositivo; encaminhar para o cirurgião; cirurgia.

Prolapso: Há uma exteriorização acentuada do intestino para fora do

próprio estoma. Como cuidados deve-se realizar os cuidados de higiene

ao estoma; diminuir a ansiedade do ostomizado; pedir ao ostomizado

para se deitar em decúbito dorsal; verificar coloração do estoma e sinais

de necrose, hemorragia e ulceração; envolver o coto com compressas

embebidas em soro glicosado a 30%, quando existe edema ou com soro

fisiológico se não há edema. Aguardar uns minutos e com o auxílio dos

dedos médios e indicador, segurar o coto intestinal e reduzir com o

22

Page 23: Ileostomias e Colostomias

polegar. Após a redução, o ostomizado deve permanece deitado durante

30 minutos; ensinar o ostomizado a amparar/comprimir o abdómen

quando tossir, espirrar ou fizer esforços; aparelhar com sistema de duas

peças, atendendo à dimensão pela possibilidade de exteriorização do

coto; ensinar o ostomizado a fazer redução manual; encaminhar para o

cirurgião.

Retracção: é quando há aprofundamento do estoma. Nos cuidados

deve-se realizar os cuidados de higiene ao estoma; utilizar um

dispositivo convexo/moldável; encaminhar para o cirurgião.

Hemorragia do estoma: quando há sangramento do estoma. Nos

cuidados devemos realizar os cuidados de higiene ao estoma; procede-

se normalmente se for uma hemorragia ligeira; encaminhar para o

cirurgião, se for uma hemorragia contínua.

5.3 – Ensino ao Doente Ostomizado

Os ensinos ao doente ostomizado começam logo no pré-operatório, com a

percepção do doente sobre o que este sabe da cirurgia, o porquê de esta ser

realizada e como ficará após a mesma, não podendo esquecer de esclarecer

qualquer dúvida que a pessoa tenha (Correia, 2007).

Nem sempre este processo de mudança, se faz de uma forma tranquila, e

tendo isto em conta, os ensinos pós-operatórios devem ser iniciados quando a

pessoa se encontra mais receptiva aos mesmos, de modo que possa aprende-

los, utilizando-os para uma maior autonomia nos cuidados, atingindo uma

melhor qualidade de vida possível (Correia, 2007).

O ensino para a alta do doente é feita pelo enfermeiro, sendo este o técnico

com maior responsabilidade no ensino sobre o cuidar do estoma. O ensino

facilita o processo de aceitação da ostomia, como fazendo parte do próprio

doente. Este ensino deve ser iniciado o mais precocemente possível,

envolvendo sempre o doente, família ou pessoas que o doente considere

23

Page 24: Ileostomias e Colostomias

importantes. Deve ser contínuo e ser avaliada a sua eficácia: avaliar

conhecimentos do doente e saber se está autónomo e apto a cuidar do seu

estoma em casa (Serrano & Pires, 2007).

Para além de todo o ensino verbal e de demonstração prática dos cuidados o

enfermeiro deverá também fornecer material e literatura suplementar ao doente

e informá-lo sobre os serviços de apoio existentes na comunidade (Associação

Portuguesa de Ostomizados), assim como comparticipações e outros

benefícios que tem direito de usufruir (Serrano & Pires, 2007).

O doente deve, após ter alta do hospital, ir às consultas de follow-up e aí será

feito uma avaliação do seu estoma, ser-lhe-ão feitos ensinos e poderá tirar

dúvidas (Serrano & Pires, 2007).

Os ensinos pós-operatórios a serem realizados ao doente são (Correia, 2007;

Loureiro & Fernandes, 2007; Phipps, Sands & Marek, 2003):

1. Escolha do dispositivo

De acordo com a localização anatómica do estoma a nível intestinal, as

características das fezes são diferentes. Deste modo, a escolha do

dispositivo deve ter em conta estas características. O enfermeiro deve

explicar novamente ao doente a fisiologia dos intestinos.

Também deve ter em conta a idade do doente, se é portador de defeitos

físicos, estado mental, pessoa que vive só, se é reformado ou activo e o

tempo que dispõe para si próprio.

O material escolhido deve preencher determinadas características, tais

como manter-se fechada pelo menos 24 horas, proporcionando

segurança de dia e de noite; ser de fácil manuseamento; confortável e

permitir liberdade de movimentos; deve ser pequeno permitindo o uso de

roupa elegante e mesmo de fato de banho; isolar ruídos e cheiros; não

irritar a pele nem o estoma; de fácil obtenção em vários tamanhos.

O enfermeiro deve informar o doente quanto aos tipos e modelos de

saco disponíveis no mercado, permitindo que este os experimente, de 24

Page 25: Ileostomias e Colostomias

modo a que possa escolher qual o que será mais eficaz no seu caso;

deve informar o doente que existe dois tipos de sistemas de sacos

descartáveis com barreira cutânea: o sistema com uma peça, em que o

saco está adaptado a uma base do protector cutâneo, aderindo o próprio

à pele, tendo que se remover todo o conjunto quando necessário; o

sistema de duas peças em que o saco está separado da placa, tendo a

vantagem de se mudar apenas o saco quando necessário, podendo

manter-se a placa enquanto estiver bem adaptada, o que acaba por não

ser tão agressivo para a pele peri-estomal a mudança frequente da

placa. Existe ainda sacos reutilizáveis que são limpos e utilizados

novamente e sacos drenáveis que são mais fáceis de se manterem

limpos; ambos estão disponíveis em sistemas de uma e duas peças.

É importante para o doente medir correctamente o estoma em cada

mudança de saco nas primeiras semanas após a cirurgia. Partes

exteriores, para cortar, de vários diâmetros estão incluídas na caixa dos

sacos. As barreiras cutâneas são cortadas aproximadamente com mais

3 milímetros do que o estoma para adaptar ao estoma edemaciado. Mais

tarde, no primeiro ano, o tamanho do estoma, é reavaliado

ocasionalmente para se assegurar de uma adaptação perfeita.

Quanto ao controlo do odor, os sacos normalmente possuem um filtro de

carvão na parte superior, que liberta e desodoriza os gases; se não

possuir o doente pode optar por colocar soluções ou pastilhas

desodorizantes para eliminar odores.

Deve também informar que não necessita de comprar o material, pois

com a receita médica pode dirigir-se ao centro de saúde ou à farmácia,

requisitar o material que precisa e eles dar-lho-ão gratuitamente.

No entanto, esta opção deve ser tomada pelo próprio doente de acordo

com as suas necessidades.

25

Page 26: Ileostomias e Colostomias

2. Mudança do dispositivo

O ensino começa com a primeira substituição do saco. O doente pode

estar ou não preparado para ver o estoma, mas o enfermeiro deve

encorajar lentamente o doente a olhar para a ostomia e a tocar-lhe. O

enfermeiro deve explicar resumidamente e objectivamente cada passo

do procedimento. Deve também relembrar o doente que o estoma não

possui sensibilidade ao toque, mas o resto do abdómen ainda está

sensível e doloroso devido à cirurgia. A dor deve ser cuidadosamente

controlada antes de cada sessão de ensino.

Antes de iniciar a mudança do saco de ostomia, a pessoa deve preparar

todo o material, que vai necessitar durante os cuidados de higiene ao

estoma e pele. Recortar a placa/saco de acordo com o diâmetro do

estoma é importante, de forma a evitar um contacto contínuo das fezes

com a pele peri-estomal.

Retirar o saco com fezes deve ser realizado de cima para baixo.

Colocar um papel sobre o estoma, enquanto se realiza outra actividade,

evitando-se a saída das fezes.

A limpeza da pele deve ser feita com papel higiénico suave e água

tépida, podendo-se utilizar um sabão de pH neutro, para retirar fezes

que possam ter ficado na zona.

Secar bem a pele com movimentos suaves, e sem friccionar, utilizando

papel ou toalha suave. Avaliar cuidadosamente a pele que circunda o

estoma e o estoma em relação a sinais de irritação ou infecção. Se

necessária a tricotomia da zona peri-estomal, realizá-la com tesoura de

pontas redondas, evitando o uso de lâminas de barbear, pelas lesões

que possam causar e pelo aumento da vulnerabilidade para foliculites.

Pode-se utilizar uma barreira cutânea, quando a pele peri-estomal se

encontra macerada, com lesões ou com pregas, que protegem a pele.

Embora sem estudos científicos que provem a sua eficácia, a aplicação

da clara de ovo, ligeiramente batida tem dado bons resultados. A sua

26

Page 27: Ileostomias e Colostomias

justificação poderá estar relacionada com a conhecida função das

proteínas, na reparação dos tecidos. A utilização de uma barreira

cutânea é um importante meio de protecção da pele peri-estomal. Como

barreiras cutâneas podemos ter: o pó, em que se for aplicado na pele

deverá ser selado, pois não permite a fixação do saco à pele; a pasta,

que serve para preencher as rugas ou pregas à volta do estoma e para

suplementar as barreiras cutâneas para uma selagem mais duradoura;

barreira cutânea em discos: podem ser utilizados numa variedade de

sacos e proteger a pele de fezes, sendo que a abertura no disco é

cuidadosamente medida de maneira a que se adapte à base do estoma

sem provocar atrito para dentro ou para cima do estoma; selantes

cutâneos: existem em forma de vaporizadores, líquidos, gel e loção

líquida; estes produtos selam e revestem a pele com uma película fina,

sendo úteis debaixo dos adesivos dos sacos e quando o adesivo é

removido da pele a película fina também é retirada.

Retirar o papel de protecção do dispositivo (placa/saco) a aplicar, e fixar

de baixo para cima, comprimindo os músculos abdominais para tornar

mais fácil a aplicação e massajando-o para obter uma boa aderência.

Para verificar se o saco ficou bem fixo, o doente deve puxar ligeiramente

o saco e se este não sair é porque está bem colocado.

O saco deve ser esvaziado quando tem, um terço ou metade da sua

capacidade, com fezes ou mais frequentemente se há excesso de

gases.

3. Alimentação

O ostomizado não necessita de ter uma dieta especial, deverá manter a

que tinha anteriormente à cirurgia, no entanto deverá ter alguns

cuidados gerais:

- É aconselhável que o mesmo vá experimentando um alimento novo

diferente de cada vez, para assim saber o seu efeito;

27

Page 28: Ileostomias e Colostomias

- Mastigar bem os alimentos, pois facilita a digestão e diminui a

flatulência;

- Comer regularmente;

- Ter uma alimentação variada;

- Reforço hídrico (em especial nos ileostomizados, pois 90% do peso

das fezes é água);

- De acordo com a sua própria situação, controlar a ingestão de

alimentos que:

Causam obstipação, como arroz, banana, batata, frutos secos,

compota de maçã;

Causam diarreia, tais como leite, feijão, melancia, figo, kiwi,

morangos, vegetais, laranja, cerveja, ameixas;

Aumentam o cheiro das fezes, como bebidas alcoólicas,

espargos, cebola, alho, peixe, queijo, couves, ovos, café, pêra,

feijão;

Diminuem o cheiro das fezes, como espinafres, salsa, vegetais

verdes, alface, iogurte, manteiga;

Causam flatulência, como por exemplo, bebidas gaseificadas,

feijão, ervilhas, batata-doce, couve-flor e brócolos, melão,

cogumelos, chocolate e bolos, cebola.

4. Vestuário

Se o estoma estiver bem localizado (ou for bem marcado no pré-

operatório), não há necessidade da mudança de vestuário. No caso de

durante a cirurgia, não se conseguir evitar a linha da cintura, dever-se-á

aconselhar os homens a que em vez de cinto, que pode traumatizar o

estoma, usem suspensórios. A pessoa pode utilizar cinta, se se sentir

mais confortável, desde que não seja muito apertada.

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Page 29: Ileostomias e Colostomias

5. Viagens

Quando a pessoa com colostomia vai de férias, deve levar uma

quantidade superior de sacos ao que costuma utilizar no mesmo período

de tempo, pois com a mudança de local, pode levar à alteração dos

hábitos intestinais. Se a viagem for de avião o utente deve levar sacos

na mala de mão, pois pode ocorrer o extravio da mala que se encontra

no porão. Em relação ao uso do cinto de segurança este deve ser usado

debaixo do estoma ou superior ao mesmo, para evitar o roçar ou

compressão que podem danificá-lo.

6. Vida Sexual

A pessoa com ostomia pode ter uma vida sexual normal. No entanto se

houver lesão nos nervos pélvicos pode surgir na mulher dispareunia e

no homem um certo grau de impotência. Este grau de impotência está

relacionado com a magnitude da lesão, causando diferentes

manifestações. O utente pode mudar o saco antes das relações sexuais,

optar por trocar para um mini-saco ou cobrir o saco durante a relação

sexual. O casal deve explorar posições para as relações sexuais, que

minimizem a tensão e a pressão sobre o saco. Não deve ter relações

sexuais pelo estoma. Em caso de gravidez, o facto de possuir um

estoma não prejudica o bebé nem a própria, devendo ter

acompanhamento por profissionais desde a preconcepção. Deverá

haver compreensão e um bom relacionamento entre os dois parceiros,

tentando ultrapassar dificuldades, receios e insegurança.

7. Desporto

O ostomizado pode praticar exercício físico, no entanto se praticar

desportos de contacto violento (como boxe, rugby…), deverá utilizar

uma protecção rija sobre o estoma. Na prática de actividades físicas, a

29

Page 30: Ileostomias e Colostomias

pessoa pode utilizar estratégias como as referidas anteriormente

(mudança do saco, utilização de mini-saco).

8. Benefícios Fiscais

Os ostomizados têm vários benefícios, os quais se encontram

legislados, e em vigor em Portugal, como na:

- Aquisição de automóveis (Decreto-lei nº. 103-A/90 de 22 Março);

- Estruturação de Pensões (Decreto-lei nº. 92/2000 de 19 Maio);

- Aquisição de Habitação (Decreto-lei nº. 230/90 de 16 Julho);

- Arrendamento (Decreto-lei nº. 321-B/90 de 15 Outubro);

- Isenção de taxas moderadoras e comparticipação na aquisição de

próteses/órtoteses (Decreto-lei nº. 54/92 de 11 Abril);

- Flexibilidade do horário de trabalho (Decreto-lei nº.159/96 de 04

Setembro).

9. Complicações

O ensino acerca das complicações também é importante, porque

apenas conhecendo as alterações, poderá recorrer às entidades

adequadas em caso de necessidade. Algumas das complicações mais

frequentes são: dermatites alérgicas ou mecânicas, foliculites,

granulomas, prolapso, retracção do estoma, estenose, hérnia peri-

estomal, hemorragia, infecção.

10.Apoio à Auto-Estima Positiva

A formação de um estoma é visto como uma mutilação e a maioria dos

doentes precisa de tempo e de ajuda de outros para lidar por intermédio

dos seus sentimentos. A remoção de qualquer parte do corpo envolve

um sentimento de perda e de sofrimento profundo. O enfermeiro deve

30

Page 31: Ileostomias e Colostomias

encorajar o doente a expressar esses sentimentos de perda e não os

reprimir ou minimizar. A resolução do sofrimento não é um processo

rápido nem fácil e não será conseguido durante a hospitalização. Tanto

o doente como a família precisam de ser avisados que a resolução pode

demorar tanto como um ano ou mais e pode dificultar o retorno à

independência nos auto-cuidados. O enfermeiro encoraja o doente a

observar o estoma e a cuidar dele de uma forma natural. Este dá apoio

emocional em todas as sessões de auto-cuidado, ajudando o doente a

exprimir-se. Incentiva também o doente a retomar as suas actividades

diárias, sem qualquer tipo de restrição.

11. Irrigação da Ostomia

Uma irrigação da ostomia é um enema administrado através do estoma

para estimular o esvaziamento intestinal, com intervalos de tempo

regulares e adequados. O procedimento já não é recomendado por

rotina e é apenas utilizado nas colostomias sigmóideia, que expulsam

fezes moldadas. A irrigação nunca é parte dos cuidados de rotina de

uma ileostomia, porque a drenagem é contínua e semi-líquida. Um

doente que efectue irrigações com sucesso, pode ser capaz de

dispensar um saco de ostomia e utilizar uma capa do estoma, uma

pequena bolsa adesiva com um penso absorvente. Dado que a ostomia

continua a segregar muco e a libertar gases é desejável um filtro de

gases.

Se forem planeadas irrigações, estas iniciam-se cerca de 5 a 7 dias após

a cirurgia, mas também podem ser só explicadas e realizadas numa fase

mais avançada, nas consultas de follow-up. Estão disponíveis vários

equipamentos e a maioria dos conjuntos incluem uma mangueira de

irrigação, um cone para introduzir no estoma, um saco para conter a

solução e pinças para fechar a mangueira. O procedimento é idealmente

explicado na casa de banho. Cólicas durante uma irrigação podem ser

causadas pela instilação, demasiado rápida, de água ou soluções que

31

Page 32: Ileostomias e Colostomias

estejam muito frias ou muito quentes. O fluxo deve ser interrompido até

as cólicas desaparecerem.

A irrigação é feita da seguinte forma:

o Equipamento – recipiente para água, mangueira de irrigação,

cinta, artigos para os cuidados à pele, novo sistema de saco,

pronto a ser usado;

o Retirar o saco usado e colocar no lixo;

o Limpar, o estoma e a pela à volta do estoma, com água e avaliar;

o Aplicar a mangueira de irrigação e a cinta;

o Colocar a extremidade da mangueira na sanita;

o Encher o recipiente da irrigação com 500 a 1000 mililitros de água

da torneira morna e suspender o recipiente à altura dos ombros;

o Fazer corre água através do tubo para remover o ar;

o Introduzir suavemente o cone de irrigação no estoma e

lentamente iniciar o fluxo de água. As sondas são introduzidas a

não mais do que 5 a 10 centímetros. Não forçar. Se ocorrerem

cólicas, parar a irrigação e aguardar;

o Aguardar aproximadamente 15 a 20 minutos que as fezes saiam;

o Passar por água a mangueira, secar a base, erolar para cima e

fechar a extremidade. O doente deve fazer exercícios regulares

durante 30 a 45 minutos;

o Retirar a mangueira, limpar o estoma e aplicar o saco novo;

o Limpar e guardar o equipamento de irrigação.

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Page 33: Ileostomias e Colostomias

6 – Conclusão

Como conclusão posso afirmar que os objectivos do trabalho foram atingidos.

Posso concluir que para se prestar cuidados a um doente com ostomia de

eliminação é necessário saber que tipos de ostomias de eliminação existem.

É necessário também saber quais as indicações para se a qual se fazem

determinada ostomia.

Para se cuidar de uma ostomia é necessário saber quais as complicações que

podem surgir, tanto precoces como tardias e específicas para a ileostomia e

colostomia.

É imprescindível também saber quais os cuidados de enfermagem a serem

prestados no pré e no pós-operatório, bem como o ensino a ser prestado a um

doente ostomizado.

Foi muito gratificante para mim fazer este trabalho, pois pude compreender os

diferentes tipos de ostomias de eliminação que, bem como perceber um pouco

mais dos cuidados a ter com estas ostomias.

Em suma espera-se que este trabalho possa ter contribuído para um

esclarecimento sobre as ostomias de eliminação, quais as suas

especificidades, indicações, complicações, cuidados no pré e pós-operatório e

ensino ao doente e com isso ajudar na melhoria dos cuidados prestados à

pessoa com ostomias de eliminação.

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Page 34: Ileostomias e Colostomias

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Page 35: Ileostomias e Colostomias

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