história em poesia

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Sua história em poesia 1 História de vida Texto criado em setembro de 2004

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Page 1: História em poesia

Sua história em poesia

1História de vida

Texto criado em setembro de 2004

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Eu nunca relei um tratosempre fui bem resolvido,procuro no meu sentidoeu nunca quebrei um pratoJá comi carne de ratoLacei boi no corredorMontei burro puladorDigo e não peço segredoeu nunca corri com medonem nunca gemi de dor.

Eu nasci no CearáPor lá mesmo me crieiMuito pouco eu estudeiPorque o tempo não dáNão podia nem passearPorque meu pai não deixavaNo lugar que eu pisavaSempre havia confusãoCabra respeitava o chãoNo lugar que eu passava.

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Quase não pude estudarMeu saber foi muito poucoCresci arrancando tocoNo sertão do CearáPara as terras cultivarPlantei milho no roçadoPara ver o resultadoPara nunca faltar nadaEstudei tabuadaNo mato tangendo gado. Me criei no Ceará

No sertão de CrateúFui te o IguatúVê os vaqueiros de láLá vi mulher dançarQue a barriga se sacodeNa festa só entra quem podeE não existe cara feiaSai com a barriga cheiaSó de buchada de bode.

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Eu quero a sua bençãoOh Deus da poesiaCom a sua sabedoriaMe dê muita paciênciaO Deus de tanta clemênciaQue me de capacidadeCom toda a minha vontadeAumenta a minha memóriaPra contar a minha históriaDe Deus quero a liberdade. Poeta tem liberdade,

Segundo o dom da naturaDepende da literaturaEscreve o que tem vontadeÉ como a propriedadeQue é preciso o homem terPelo menos eu vou dizerSim, o meu espírito não mentePoeta também é genteTambém precisa viver.

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No lugar que eu moravaEu era muito respeitadoEu ficava admiradoDo jeito que me tratavaCoisa que eu nuca esperavaTanta dedicaçãoAté mesmo meu patrãoFalava para os fazendeirosEste é o melhor vaqueiroDe todo este sertão.

Sinto saudade imensaDo sertão de TamburilTem terra da cor de anilFui até IndependênciaO povo tem muita crençaNa Nossa Senhora SantanaPassei uma semanaPara ver a padroeiraFui até a IpueiraTerra de gente bacana.

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Já matei porco do matoTambém matei punaréDo couro de um jacaréFiz um para de sapatoTambém do couro de um ratoFiz um para de perneiraGostei da brincadeiraVou fazer o povo rirDo casco de um jabutiFiz um pela pulseira.

Eu saí da IpueiraFui até o pé da serraE gostei daquela terraQue tem muita brincadeiraTem muita moça solteiraProcurando namoradoPorém saí com cuidadoFui a Monsenhor TabosaGostei muito da prosaDos cabras falando em gado.

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Eu conheço MadalenaNo pé da serra da mataTem uma lua da cor de prataUma terra tão serenaÉ uma cidade pequenaDe um povo hospitaleiroTem caboclo casseteiroE muita criação de bodeQuase todo mundo podeTer criação no terreiro.

Eu conheço JuazeiroFica bem perto de CratoOnde tem gado baratoDali até o LimoeiroTem muito fazendeiroQue mora em CachoeirinhaTerra de muita farinhaE plantio de mandiocaAté mesmo tapiocaTem o nome de rainha.

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Estava em SobralE tive um grande prazerDe conhece MassapéNuma época de carnavalLá eu vi um animalCaído numa barrocaTem roça de mandiocaNa beira da estradaFui pra vaquejadaNa serra da Meruoca.

Terra do Zé de AlencarÉ a nossa FortalezaExiste grande riquezaLugar bom de se morarVou até o QuixadáPerto de BaturitéTem plantio de caféFartura de mandiocaVou até ItapipocaBem perto do Canindé.

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Eu tava em BuritiNunca ficava sozinhoDepois vim para o ParazinhoViajei para o PiauíCheguei em Piri-PiriUma cidade naturalTem criação de animalTem também uma grande feiraViajei para UeirasFoi antiga capital.

Eu saí da MeruocaFui até o ParazinBem perto do CamucimFui até JejocaDepois fui a UruocaAssisti uma grande feiraLá tem peixe de primeiraDepois fui AcaraúBem longe de ParambuBem perto das Cabaceiras.

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Vou voltar do PiauíPara o Estado do CearáPois eu não podei deixarO sertã de AracatéTerra de muito piquiE plantação de macaxeiraVou até Maria PereiraDe lá vou para o SalgueiroNaquele mesmo roteiroQuero ir até a Fronteira.

Saí de UeirasParei em Pedro SegundoDe todo lugar do mundoÉ fora de brincadeiraO que vi muito na feiraFoi farofa de cariNo estado do PiauíSua capital TerezinaÉ uma cidade meninaPalácio do Buriti.

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O rio AcaraúNasce na serra das matasEu fui uma serenataQuando cheguei no IpúViajei para o CrateúVi uma égua corredeiraEra um animal de primeiraFui até a Serra GrandePor favor ninguém me mandeVender banana na feira.

Eu estava em LivramentoE tive uma grande astúciaFui até Nova RússiaMontado no jumentoTomei muita chuva e ventoPor todo aquele sertãoE vi muita criaçãoGostei daquele lugarVou sair do CearáE viajar para o Maranhão.

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Eu fui uma serestaNa casa do tal FeitosaSó por causa de uma prosaO cabra virou a molestaFez eu correr da festaAs duas da madrugadaTopei uma onça pintadaUmas duas horas eu brigueiPor sorte eu acordeiCom a calça toda molhada.

Mumbaça e Serra TalhadaSenador e Novo HorizonteTerra de gente descenteE não se troca por nadaSempre vão pra vaquejadaNo sertão do IamumVi muito ninho de anumPor dentro das capoeiraMontar égua puladeiraNão ficou pra qualquer um.

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Eu nunca me esquecereiDo dia do meu casamentoTambém fiz um juramentoA mulher que eu mais ameiMeu compromisso honrareiCom toda satisfaçãoMe casei no MaranhãoNa cidade de PedreiraO tempo passa na carreiraAonde existe união.

Eu estava no bom jardimViajei mais de cem léguaAmuntado numa éguaFui ficar em CamucimDepois vim para o ParazimTem muito canaubalDepois fui até SobralUm dia de sexta-feiraTamburil e OliveirasÉ a minha terra natal.

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Tudo o fogo levouAté a minha esperançaEu chorei como uma criançaQuando nada ali ficouMinha mulher me aconselhouTudo isto é uma luzQue trouxe o Senhor JesusQue não tem num um pecadoE morreu crucificadoNos braços de uma cruz.

Eu sei que foi aprovadoPor Deus eu tenho certezaFalo com tanta clarezaEu sei que fui castigadoPor desconto de pecadoA minha casa queimouAinda vivo eu estouTenho certeza que eu não erroUma panelinha de ferroFoi só o que me restou.

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Eu sempre vivo contenteNada mais me atrapalhaMinha caneta é uma navalhaPra falar pra muita genteEu sou um velho valenteNão tenho medo de nadaA minha casa é fechadaPra qualquer desconhecidoPois não faz sentidoSe dá apoio a gente errado.

Muito tempo se passavaMas eu não me esmoreciaTrabalhava todo diaMuitas coisas me faltavaQuando menos eu esperavaAdoeci muito decadenteDesgostoso da vidaFoi a Virgem AparecidaQue me deu este presente.

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Peço a Nossa SenhoraE um Deus de tantas virtudes Que me dê vida e saúdeAumenta a minha memória Pra contar a minha históriaÉ essa a minha esperançaSou velho, não sou criançaGraças a um Deus criador,Assim diz Nosso Senhor:O homem é minha semelhança.

Quero dar continuidadeA minha pequena históriaJesus é o Senhor da GlóriaÉ a luz e a verdadeFalo com sinceridadeMuito feliz eu estouPorque Deus me ajudouA fazer a minha rimaAquele que está lá em cimaÉ o nosso Criador.

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Foi embora a mocidadeEstou velho decadenteNa boca não tem um denteUma perna me falta a metadeCheguei a terceira idadeAinda tenho prazerMe sinto feliz porqueDeus me deu uma grande trilhaGraças a minha família Me dá forças pra viver.

Tenho certeza que eu não eraO pai que vocês queriaNunca usei da covardiaTambém não fui uma feraSempre falo de VeraFoi um dom que Deus me deuDe lutar pelo que é meuPor toda minha pelejaTem muitos filhos que desejaTer um pai igual a eu.

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Hoje estou velho cansadoJá passei dos setentaMinhas pernas já não agüentamSinto meu corpo pesadoNeste meu tucum rasgadoLembro a história de DimasEstou fazendo a minha rimaUm pouco da minha históriaQuem refresca minha memóriaÉ aquele que está lá em cima.

Trabalhei enquanto pudeHoje nada mais façoDói minhas pernas e meus braçosJá não tenho mais saúdeUm Deus de tantas virtudesMe deu forças de vencerMe sinto feliz porqueDeus me fez tão corajosoSei que sou muito teimosoMuito tempo vou viver.

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Sinto dor no espinhaçoNão posso ficar paradoFui caminhar vexadoCaí e quebrei um braçoMas eu sinto até cansaçoQuando fico sem fazer nadaOlho para minha enxadaE fico até desgostosoJesus é o homem bondosoMinha caneta é minha espada.

O homem quando envelheceNo corpo aparece cansaçoAfina também seus braçosA força desapareceLogo a barriga crescePor nada fico cansadoCom o seu borná de um ladoCom um cachimbo e o isqueiroEle entra no banheiroSai com o fumo moiado.

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Sempre existe um ditadoPra tudo precisa sorteTer quem tem um braço fortePra dar conta do recadoMeu Senhor obrigadoPor esse sofrimento meuFoi um dom que Deus me deuMais estou de bem com a vidaGraças a minha mãe queridaFoi Jesus quem escreveu.

Penso nesta mocidadeQue não pretende ter filhoNão querem sair do trilhoE perder a liberdadeSó pensa na vaidadeNão pára para pensarQue a velhice vai chegarE fica no abandonoFeito cachorro sem donoNão tem por quem chamar.

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Não importa o que o povo falaDa minha grande pobrezaEu tenho certezaQue isto não me abalaChego na minha casaVejo filhas, netos e uma esposaEscrevo na minha lousaSão estes desejos meusTenho certeza que para DeusEu serei alguma coisa.

Estou terminando a minha históriaSem nenhum constrangimentoTodo meu sofrimentoEu tenho como uma vitóriaJesus é o Senhor da glóriaQue me fez compreenderNão posso me mal dizerTodos nós tem uma cruzSei que não foi só JesusQue nasceu para sofrer.

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Porém existe um ditadoQue eu não acho interessanteAonde tem gente importanteTambém tem muito coitadoPois eu fico indignadoE fico muito aborrecidoTanto dinheiro perdidoMais do que folha de boldoO sal nasce para todosA sombra só para os sabidos.

A verdade nem que doaTem que ser bem contadaMentira não vale nadaQuem mente só vive a toaHoje estou numa boaTenho casa pra morarUma rede pra deitarGraças a Deus tenho um abrigoPra receber meus amigosPra nós juntos conversar.

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Eu tenho muitos parentesQue se esqueceram de mimEu não posso achar ruimPor abandonar a genteEu não fico descontentePara mim não falta nadaTenho uma família estimadaE as minhas sete filhasQue completa minha famíliaCom a minha netarada.

Eu conheço muita genteQue nunca tem respeitoTrata mal de qualquer jeitoMesmo que seja parenteE sendo um velho doenteSeja tio ou padrinhoPodia tratar com mais carinhoMas trata com rebeldiaNão se lembra que um diaEle pode ficar sozinho.

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Não posso ficar caladoExiste muita JosinaQue tem chácara boa e piscinaMuita terra e muito gadoCom seu assalariadoDe setecentos reaisEla tira muito maisLá dentro do INSSOs velhos é só os que padeceE vão ficando para trás.

A fama é que faz o nomeO nome é que traz a rimaJesus olha lá de cimaVê tanta gente com fomeTudo por culpa do homemA sua ganância por dinheiroCorre atrás com desesperoNão se importa com ninguémRouba até o que o pobre temVai guardar no estrangeiro.

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O saber já vem do berçoNão há quem pode tirarO saber que Deus me dáDe coração eu agradeçoApesar que não mereçoTer tanta sabedoriaPeço a Deus todo diaPara nos livrar da guerraA superfície da terraÉ a nossa geografia.

Me sinto feliz demaisPor Deus me dá consentimentoDe renovar um casamentoDe cinqüenta anos atrásJesus é que traz a pazJunto com a Virgem MariaEu tive muita alegriaFoi este acontecimentoQuem renovou meu casamentoFoi o padre da freguesia.

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Nesta minha poesiaEu entrei de cabeçaPor favor não se esqueçaQue eu não tenho sabedoriaNão estudei geografiaPorque o tempo não deuO pequeno estudo meuEstudei cinco meses somentePra mim foi o maior presenteQue Jesus Cristo me deu.

Eu quero pedir licençaA Deusa da poesiaCom a sua sabedoriaTenha muita paciência Quero a vossa presençaPra senhora me ajudarEu moro no AxixáSou um pequeno brasileiroAqui sou pioneiroMas nasci no Ceará.

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Entre netos e bisnetosEu já tenho quase setentaNão tem paiol que agüentaO mundo é dos mais espertosMinha história é um livro abertoPra minha vida eu contarDeus vai me ajudarO Senhor olha para mimVou até o CamucimNo estado do Ceará.

Caros admiradoresEu digo muito obrigadoNão faço verso erradoNem pelo um milhão de floresFoi a Senhora das DoresQue me deu este saberAgora vou escreverNinguém queira ficar a toaO trabalho das pessoasDá bem para se manter.

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Essa história eu ofereçoA toda minha irmandadeEu sinto muita saudadeDeles eu nunca me esqueçoEu sei que não mereçoUm dia ser desprezadoConfio no meu pai amadoQue me trouxe essa luzEu espero que JesusFique sempre do meu lado.

Terminei minha históriaEu quero ser desculpadoSe teve algum verso erradoFoi falta da minha memóriaTive uma grande vitóriaPor Jesus me ajudarA minha vida eu contarSou um velho pioneiroPreciso ganhar dinheiroPra poder me sustentar

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A coisa que eu mais queriaÉ que os velhos da minha idadeMais ou menos a metadeFizessem uma poesiaPra ter mais alegriaTer um pouco de confortoQue estão velhos mais não estão mortoProcure se divertirFazendo os amigos sorrirBebendo vinho do porto.

Aviso a toda família Que cuide bem de seus paisQue Jesus da muita pazSaúde e sabedoriaTrate bem e com alegriaQue o velho já foi homemZele bem este nomeDe um arrozinho com feijãoOu um pedacinho de pãoMais não deixe passar fome.

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A minha história eu conteiMe sinto realizadoFiz com muito cuidadoPara as pessoas que mais ameiEu nunca esquecereiDe abrir outros caminhosAviso todos os velhinhosQue tenha mais alegriaE faça uma poesiaPra eu não fazer sozinho.

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