hannah arendt e a banalidade do mal
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7/22/2019 Hannah Arendt e a Banalidade Do Mal
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Hannah Arendt e a banalidade do mal
Dissertao de Mestrado - UFMG - Ndia Souki
Prefcio
Este livro trata do caminho de Hannah Arendt na direo do
esclarecimento do en!meno do mal" #al como ocorreu com outros autores do
nosso s$culo% a rele&o da il'soa tem ori(em em uma e&)eri*ncia de es)anto e
de cho+ue"
Em ,./% Hannah Arendt tomou conhecimento da e&ist*ncia dos
cam)os de e&term0nio" 1s anos se(uintes% at$ a )u2licao de As Origens do
Totalitarismo 3,4,5% constituem o )rimeiro momento do seu em)reendimento
com)reensivo" A o2ra% um clssico do )ensamento )ol0tico% descreve o maca2ro
uncionamento da m+uina totalitria e )ro)6e a)ro&im-la do mal a2soluto ou do
mal radical% tal como 7ant havia ormulado"
1 se(undo )asso deste )ercurso $ o da )u2licao de Eichmann em
Jerusalm um Relato sobre a Banalidade do Mal 3,8/5" A novidade do livro
reside em +ue o mal $ visto no mais vinculado a al(o de a2soluto e com ra09es
)roundas% mas% do )onto de vista do seu a(ente% em sua 2analidade" 1s crimes
cometidos )or Eichmann oram monstruosos% sua )ersonalidade era a)enas
ordinria" Da0 a id$ia de +ue o mal nunca $ radical% no )ossui )roundidade nem
dimenso demon0aca"
A terr0vel 2analidade da i(ura de Eichmann maniestava-se ainda na
total inca)acidade de )ensar" 1 )ensamento $ uma a2ertura )ela +ual o mundo
se nos ai(ura e sur)reende" Eichmann% ao contrrio% recorria% )ara lidar com as
situa6es% a com)ortamentos )adroni9ados e se e&)ressava usando clich*s erases eitas"
Foi isto +ue motivou Hannah Arendt a ormular a )er(unta +ue a2re A
Vida do Esprito% sua :ltima o2ra% e +ue orienta o terceiro )asso do )ercurso;
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A res)osta )assa )ela desconsiderao de todo intelectualismo moral;
o )ensamento no )rodu9 nenhuma sa2edoria )rtica" Mas $ )oss0vel% adianta
Hannah Arendt% locali9ar na )r')ria estrutura dual do )ensar im)lica6es morais"
Al$m disso% tomado em sua nature9a estritamente cr0tica% o
)ensamento tem o )oder de li2erar o caminho )ara o =u09o% a aculdade com a
+ual distin(uimos o +ue $ certo do +ue $ errado" Neste )onto reside a im)ort?ncia
maior deste livro @ a)ontar )ara o ato de Hannah Arendt ter recolocado o
)ro2lema central da relao entre teoria e )rtica"
Eduardo Jardim de Moraes
Introduo
1 mal sem)re constituiu um desaio ilosoia% che(ando% muitas
ve9es% a ser considerado um eni(maB )or isso% tem corres)ondido a um convite a
no ser )ensado" Mas o ato de i(nor-lo% e&)ur(-lo do )ensamento no o
escon=ura e nem o retira do universo dos )ro2lemas humanos" Cor outro lado% $e&atamente esse carter eni(mtico do mal +ue )ode re)resentar urna
)rovocao )ara +ue o )ensemos melhor ou de orma dierente"
Cara icoeur% o +ue ornece o carter eni(mtico ao mal% )elo menos
na tradio =udaico-crist do 1cidente% $ a nossa tend*ncia de colocar% numa
)rimeira a2orda(em e num mesmo )lano% en!menos d0s)ares como )ecado%
sorimento e morte" De acordo com esse )onto de vista% a nossa )ro)osta% neste
tra2alho% $ dissociar a noo de mal da de )ecado% de sorimento e de morte"
#entaremos a2ord-lo dentro da )ers)ectiva da ao +ue nos condu9 a uma
a2orda(em da $tica e da )ol0tica% )ois% sendo o mal% nessa )ers)ectiva% sin!nimo
de viol*ncia% com2at*-lo% )or meio da ao $tica e )ol0tica% $ diminu0-lo no mundo"
A e&)eri*ncia )ol0tica do s$culo revelou-nos o sur(imento de uma
nova modalidade de mal at$ ento desconhecida" A emer(*ncia do en!meno
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totalitrio o2ri(ou-nos a reavaliar a ao humana e a hist'ria% na medida em +ue
esta revelou novas i(ura6es do homem% inclusive em al(umas de suas ormas
monstruosas" % )recisamente% no conte&to da rele&o so2re a e&)eri*ncia das
sociedades totalitrias do nosso s$culo +ue Hannah Arendt retoma a +uesto domal na ilosoia"
Se(undo a autora% +uando tentamos com)reender o en!meno
totalitrio @ +ue nos im)6e essa realidade e +ue contraria todas as normas +ue
conhecemos @ no temos a)oio na e&)eri*ncia da tradio" Cara ela% essa alta
de a)oio se deve tanto ao ato de a emer(*ncia de tal en!meno constituir al(o
novo% +ue no se a=usta s nossas cate(orias de )ensamento% +uanto
constatao de +ue toda tradio ilos'ica se recusa a conce2er um mal radical"Acrescenta +ue at$ mesmo 7ant o recusou" So2re ele% Hannah Arendt
di9 +ue oi
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Na sua conce)o% o sur(imento dessa nova modalidade de mal tem%
como meta% no o dom0nio des)'tico dos homens% mas sim% um sistema em +ue
todos os homens se=am su)$rluos" 1 )rimeiro )asso essencial no caminho desse
dom0nio total $ a destruio da )essoa =ur0dica do homem" 1 )asso se(uinte $ aanulao da individualidade e da es)ontaneidade% de orma +ue se=a eliminada a
ca)acidade humana de iniciar al(o novo com seus )r')rios recursos" 1 o2=etivo
dessa destruio $ a transormao da )essoa humana em coisa"
#endo em vista nossa )reocu)ao com a atualidade da ocorr*ncia
desse ti)o de mal% somos o2ri(ados a admitir +ue este risco so2revive +ueda
dos estados totalitrios" Nas% sociedades 2urocrticas modernas% os
acontecimentos )ol0ticos% sociais e econ!micos de toda )arte cons)iram%silenciosamente% com os instrumentos totalitrios inventados )ara tornar os
homens su)$rluos"
Hannah Arendt mostra-nos +ue o modelo do
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continuidade e uma coer*ncia num )ensamento +ue vai sendo am)liado%
reormulado e acrescido% sem +ue se )erca de vista o )onto eleito corno
undamental; a inda(ao so2re o mal no +uadro )ol0tico contem)or?neo"
im)ortante lem2rar +ue% a)esar da clare9a so2re o ?m2ito de seu
)ensamento% Hannah Arendt no se declarava il'soa% mas di9ia;
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resta2elecimento da lei moral% erida de)ois da ocorr*ncia desse ti)o de mal"
Finalmente% tomaremos o mal radical em sua dimenso )ol0tica na +ual $
considerado em sua din?mica de e&)anso"
Ao tratarmos de sua e&)anso% situamos a +uesto do totalitarismo% da
+ual )assaremos a tratar no Ja)0tulo % denominado
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Joncluindo% tentaremos articular os tr*s conceitos essenciais esse
)ercurso de rele&o; o mal radical% a 2analidade do mal e o va9io de )ensamento"
1 o2=etivo dessa articulao inal $ tentar che(ar% )rimeiramente% ao n:cleo
essencial de cada um desse conceitos% atrav$s de uma anlise com)arativa entreeles% e% )or im% a uma viso mais am)la do )ensamento arendtiano so2re o mal%
viso essa +ue )ossa nos a)ontar novas dire6es )ara a investi(ao so2re o mal
na ilosoia"
3""""5
Concluso
Mas nin(u$m deve cantar vit'ria antes do tem)o; ainda est ecundo o ventre de
onde sur(iu a coisa imunda" " recht
Ao inal deste )ercurso% em +ue tentamos acom)anhar o )ensamento
arendtiano em seus desdo2ramentos na investi(ao acerca da +uesto do mal
na )ol0tica% +ueremos destacar al(uns )ontos deste% antes de )assarmos s
conclus6es es)ec0icas" im)ortante assinalar +ue a 2analidade do mal oi eleita
)onto de ancora(em do )ercurso" Nela nos a)oiamos% )ermitindo-nos%
simultaneamente% o deslocamento constante e a volta ao )onto de reer*ncia na
e&)lorao desse )ensamento"
m)ressiona a )ersistente )reocu)ao de Hannah Arendt com o
)ro2lema do mal no +uadro )ol0tico contem)or?neo% desencadeada% ao +ue
)arece% = no )ren:ncio do en!meno totalitrio5 A const?ncia desse envolvimento
$ semelhante a um io +ue a condu9 e a orienta em sua o2ra% ao lon(o de vinte e
+uatro anosB a idelidade a essa +uesto )ermitiu-lhe avaliar% reormular e am)liarseu )ensamento% de orma +ue nunca )erdesse a continuidade e a coer*ncia"
A +uesto do mal oi e&)licitada )ela )rimeira ve9 em ,4,% no inal de
1ri(ens do #otalitarismo% +uando ela inda(ou a res)eito do mal e&tremo +ue
a)areceu no inal do terror totalitrio e +uestionou a suici*ncia do conceito
kantiano de mal radical% na e&)licao de tal en!meno" Do9e anos de)ois% em
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,8/% retomou o assunto em Eichmann em erusal$m% +uando lanou a id$ia de
2analidade do mal" Essa id$ia% em sua ecundidade% vitali9ou sua )er(unta
ori(inal so2re o )ro2lema do mal e% ao mesmo tem)o% desencadeou uma s$rie de
novas e atuali9adas coloca6es so2re a +uesto" Ao inal da recolocao%ormulou a id$ia de um va9io de )ensamento instalado no 2o=o do )ro2lema do
en!meno da 2analidade do mal" Jom isso% inau(urou uma outra a2orda(em
so2re a +uesto +ue% assim situada% oi res)onsvel )elo seu retorno ilosoia"
Nos anos +ue se se(uiram ao =ul(amento de Eichmann% duas
+uest6es% derivadas da id$ia de 2analidade do mal% )assaram a ocu)ar%
o2stinadamente% a sua ateno; as atividades de )ensar e de =ul(ar" A )er(unta
+ue motivou essa )reocu)ao oi a se(uinte; ser +ue a atividade de )ensar e ade =ul(ar t*m al(um com)onente +ue )ossa im)edir a )rtica do mal> Essa
inda(ao% +ue $ e&)lorada na )rimeira )arte de A Vida do Esprito% ao ser
am)liada% e&i(iu% em sua continuidade% a investi(ao so2re o +uerer e o =ul(ar%
+ue marcou o seu tra2alho at$ ,O4% inal de sua vida"
Kuando Hannah Arendt escreveu Pi6es so2re a Filosoia de 7ant% a
id$ia +ue norteou sua investi(ao oi essa vi(orosa rele&o voltada )ara a
elucidao das condi6es das )ossi2ilidades do =u09o cr0tico" A discusso das
im)lica6es desse ato de =ul(ar os eventos )ol0ticos )er)assa e alinhava sua o2ra
do comeo ao im% remetendo-nos ao )r')rio ?ma(o de sua rele&o; a sua
inda(ao so2re o mal"
12servamos% nitidamente% +ue o io +ue costura o )ensamento )ol0tico
de Hannah Arendt $ o )ro2lema cio mal% recolocado e renovado o tem)o todo%
mas sem)re dentro do conte&to de uma )reocu)ao $tica e )ol0tica" Cer(unta-
se; )or +ue o mal>
Censamos +ue o mal oi escolhido )or Hannah Arendt )or+ue ele
sem)re nos remete reer*ncia o)osta +ue $% em seu )ensamento% a id$ia de
li2erdade" Hannah Arendt sem)re tra2alhou%pari passu% o mal e a li2erdade"
Cara ela% a id$ia de li2erdade oi ins)irada em Santo A(ostinho% )ara
+uem o initium si(niica +ue% )ara cada homem% h um comeo relativo% o
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nascimento" 1 conceito de natalidade e a im)ort?ncia do nascimento @
undamentais )ara Hannah Arendt @ a9em com +ue a natalidade se=a a
cate(oria central da )ol0tica% em contra)osio morte +ue $ a cate(oria central
da meta0sica" So% em suma% a natalidade e o initium +ue )ermitem a li2erdadede criao no inundo das a)ar*ncias% das coisas novas"
Essa contra)osio de id$ias% alis% )arece ser uma caracter0stica do
)ensamento arendtiano e se a9 notar em diversos momentos de sua o2ra;
totalitarismo versus revoluoB +ue2ra da tradio versos 2recha entre o )assado
e uturoB va9io de )ensamento versus o )ensar" Jontudo% no $ uma sim)les
contra)osioB ela sem)re tentou dar uma consist*ncia aos dois lados" No
entanto% $ nessa caracter0stica do )ensamento arendtiano +ue )odemoscom)reender o )or+u* de ela no che(ar a tratar e&)licitamente de conceitos
chaves como o de 2analidade do mal ou do va9io de )ensamento @ as
reer*ncias cio mal"
12servamos +ue os temas mais recorrentes em Hannah Arendt no
so tratados em sua individualidade e es)eciicidadeB ao contrrio% ela investi(a o
seu o)osto" Cor e&em)lo% o )ensar e o =ul(ar so a2ordados como os ant0dotos do
mal% a+uilo +ue evitaria a 2analidade do mal" Ela inau(ura% enuncia% a)onta urna
id$ia% mas no a tra2alha e&)licitamente% de orma a esta2elecer seus contornos
deinidosB ela no as es(ota"
No entanto% essa caracter0stica% lon(e de desvalori9ar o )ensamento
arendtiano% conirma a coer*ncia de +uem tem% como )reocu)ao )rimordial% a
li2erdade de comear% o novo e a e&)eri*ncia inicial do )ensamento% +ue $ o
es)anto% o thaumat9ein reorado na sua conce)o de )ol0tica"
Jomo sa2emos% Hannah Arendt no dei&ou escolaB dei&ou +uest6es a
serem tra2alhadas% +uest6es em a2erto +ue )ermitem a continuidade de suas
investi(a6es e% ao mesmo tem)o% a inovao% a criao de novas cate(orias de
)ensamento"
Foi consistente com essa valori9ao da inovao a orma como ela
sem)re recorreu ilosoia de 7ant" No )ercurso do )ensamento arendtiano% 7ant
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oi a reer*ncia% )or+ue sem)re oi ele +uem a (uiou em sua conce)o de
)ol0tica" Crinci)almente )or+ue nele desa)arece a contradio entre ilosoia e
)ol0tica" Cara Arendt% 7ant no conce2ia a )ol0tica a )artir dos )reconceitos
tradicionais% )ois% )ara ele%
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considerado como urna )ossi2ilidade humana% uma contin(*ncia e% sendo assim%
acha-se inscrito na sua li2erdade" 1 2em e o mal so )ossi2ilidades humanas
radicais% isto $% enrai9adas na li2erdade do homem% na li2erdade radical +ue $ o
undo de sua vida" Cor essa ra9o% a a2orda(em +ue am2os a9em do mal no $ontol'(ica% )ois no se trata de )er(untar so2re a sua ess*ncia" Mas o +ue lhes
interessa so as contin(*ncias em +ue a)arece o mal; )or isso ele $ o2=eto da
$tica e cia )ol0tica"
1 se(undo )onto de conver(*ncia di9 res)eito reer*ncia +ue se
o)6e ao mal; a di(nidade humana" Em am2os% a di(nidade humana $ (arantida
+uando o homem $ livre% isto $% +uando ele $ considerado como um im em si
mesmo" Essa (arantia $ alcanada em 7ant atrav$s da lei moral% e em Arendt%)ela ao% notadamente a ao )ol0tica" Nos dois )ensadores% )aralela id$ia de
li2erdade% encontra-se a de i(ualdade"
Em am2os% todo ser humano tem um a)elo i(ual di(nidade humana%
+ue se a9 em 7ant% )elo i(ualitarismo moral e $ a)ereioada% em Arendt% )ela
cidadania ison!mica" Pi2erdade e i(ualdade so% )ois% os )ontos de reer*ncia
comuns )ara se )ensar a di(nidade humana" Jontudo% em 7ant% o homem $
)ensado% ori(inalmente% em sua moralidade e% em Arendt% em sua ao )ol0tica"
Finalmente% devemos considerar o )onto no +ual diver(em esses dois
)ensamentos" Iimos +ue Hannah Arendt ele(eu o
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)ara a )resena dessa dimenso no mundo contem)or?neo @ a
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A)arentemente% o mal radical a)resenta-se como um cor)o estranho%
em2ora% de al(um modo% = tivesse sido tratado em sua ilosoia e antro)olo(ia
antes do a)arecimento de seu sistema cr0tico" Na verdade% ele se incor)ora
)roundamente ilosoia kantiana% )or+ue% de ato% = estava enrai9ado nela" Ateoria do mal radical tornou-se um dos undamentos da reli(io e da moral
kantianas% moral +ue no encontra seu undamento na reli(io% mas +ue% ao
contrrio% )ode undar e =ustiicar uma reli(io"
Essa doutrina a)resenta% = no t0tulo% uma demanda )ol*mica e% de
acordo com as tr*s cr0ticas% +uer su=eitar ra9o% o m&imo atri2uto humano%
todos os cam)os da ci*ncia e tam2$m da $" Nenhuma outra o2ra de 7ant
suscitou tantas cr0ticas% e a tese mais di0cil de ser aceita $ e&atamente a do malradical; seu )onto conver(ente"
A teoria do mal radical a)areceu no sistema kantiano como um ato
novo e im)revisto +ue sur)reendeu e% de maneira (eral% indi(nou seus
contem)or?neos"
ruch comenta essa reao da $)oca e% tam2$m% as cr0ticas +ue
atravessaram o s$culo at$ o in0cio do s$culo " No conte&to iluminista% a
conce)o morali9ante da reli(io estava li(ada a um otimismo moral +ue levavaa recalcar o do(ma do )ecado ori(inal" Assim% a teoria de 7ant teve um eeito de
sur)resa e esc?ndalo =unto aos contem)or?neos esclarecidos +ue acreditavam
conhecer o kantismo e no sus)eitavam +ue ele )udesse levar a conse+L*ncias
to contrrias o es)0rito da AuklQrun(" Assim% essa nova teoria )areceu-lhes unia
traio"
Goethe e&)ressa 2em a medida de sua indi(nao +uando% em carta a
Herder% di9; 23ant% depois de ter de*otado urna longa *ida de homem a limpar seu
manto &ilos(&ico de todos os tipos de preconceito "ue o macula*am% su,ouo
ignominiosamente com a mancha *ergonhosa do mal radical% a &im de "ue os
crist$os tambm se sentissem enga,ados a tomar seu partido'2
Herder airma +ue 7ant oi al$m das escrituras% na airmao de uma
nature9a )ecadora do homem" Cara ele% o mal radical $ o )r')rio dia2o +ue reside
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em n's% condenando o im)erativo cate('rico a ser a)enas uma lei )uramente
ormal% da +ual o )oder radical do mal tira toda eiccia" Schiller tam2$m acusa a
teoria kantiana do mal de se =untar reli(io revelada e de dar ortodo&ia urna
(arantia ilos'ica da +ual ela se a)odera sem se tornar% contudo% maisesclarecedora"
Ainda% se(undo o comentrio de ruch% indi(nao ou re)rovao
dos contem)or?neos sucederam-se as cr0ticas do s$culo " Se(undo #roeltsch
3,R.5% a teoria do mal radical a)arece dentro de um escrito de circunst?ncia
destinado a reencontrar um com)romisso entre a ilosoia e o cristianismo"
Fitt2o(en 3,.5 resume a anti)atia da maior )arte dos comentadores
deste te&to% ao airmar +ue esta doutrina $ a mais im)o)ular de toda a ilosoiakantiana e +ue ela soa mal aos ouvidos tanto de ontem +uanto de ho=e"
Foram necessrios mais de um s$culo e a e&)eri*ncia das (uerras do
s$culo )ara +ue a teoria do mal radical dei&asse de escandali9ar os il'soosB
estes% =untamente com os te'lo(os% renunciaram ao lei2ni9ianismo% no tendo
medo de arontar o mal"
sso nos leva a concluir +ue 7ant oi% sem d:vida% um )recursor% )ois
conse(uiu ver mais lon(e +ue seus contem)or?neos e% se ele $ um dos il'soosda AuklQrun(% $ tam2$m um decidido cr0tico dela" A ra9o $ a inst?ncia su)rema
no homem% mas essa mesma ra9o $ essencialmente inita" econhecer essa
limitao $ um dos maiores servios )r')ria ra9o"
Em relao ao termo
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2Assim dentro de uma &loresta% as )r*ores% cada uma por si% tentam
roubar o ar e o sol umas das outras e se es&or#am% pela in*e,a% em se
ultrapassarem+ para% em seguida% crescerem belas e retas' Mas ao contr)rio%
a"uelas "ue lan#am em liberdade seus ramos a seu belpra!er% apesar das outras)r*ores% se tornam retorcidas% tortas e cur*adas'2
A inter)retao +ue Chilonenko d a esse te&to $ a se(uinte; atrav$s
do =o(o das )ai&6es% insocivel socia2ilidade do homem se assiste a uma
anulao das )ai&6es% constituio de urna totalidade moral" Em com)ensao%
a )ai&o no rereada% +ue se desenvolve na solido% como a solido do tirano%
no encontra nenhuma com)ensao; a rvore $ torta% retorcida% curvada" Assim%
a solido $ o )rinc0)io da tirania e% essa :ltima% o )rinc0)io do v0cios"Cara Putero% como )ara 7ant% o homem $ e(o0staB $ como um (alho
+ue se curva so2re si mesmo retornando a seu )onto de ori(em" Cor outro lado%
como o mal% a curvatura $ radical% mas no $ deinitiva% desde +ue os homens se
endireitem no seio do =o(o das )ai&6es" Cara 7ant% o homem $ curvo )or
nature9a% mas )ode ser recu)erado atrav$s da socia2ilidade" 1 homem $ curvo
como )onto de )artida"
Mas 7ant recusou o esc?ndalo do mal ao situ-lo dentro dos limites dasim)les ra9o e% com isso% rom)e com a tradio ilos'ica ocidental +ue deinia o
mal como ne(atividade ou aus*ncia de 2em 3A(ostinho% Pei2ni95" em ,O8/% no
Ensaio para 4ntrodu!ir em 5iloso&ia o 6onceito de 7rande!as 8egati*as % o autor
airmava +ue o mal% assim corno o v0cio% no era a)enas urna aus*ncia de 2em%
no tinha a)enas um carter ne(ativo% mas devia ser )ensado em termos de
resist*ncia ao 2em corno al(o +ue tinha urna )ositividade" E a onte dessa
)ositividade era a nossa )r')ria vontade% al(o li(ado li2erdade do homem"
Nesse ensaio% 7ant distin(ue o mal )or alta e o mal )or )rivao" 1
mal )or alta 3de&ectus% absentia5 $ )ura ne(atividade% )ura aus*ncia de 2em%
caracteri9ando% assim% a aus*ncia de um )rinc0)io )ositivoB = o mal )or )rivao
tem )ositividade )r')ria% im)lica um verdadeiro )rinc0)io semelhante ao +ue lhe $
o)osto"
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So2re a )ositivao do ne(ativo% 7ant di9;
21e o bem 9 a% o "ue se lhe op:e contraditoriamente o n$obem'
Este % pois% o resultado da simples car;ncia de um &undamento do bem 9 O% ou
de um &undamento positi*o de seu contr)rio 9 a' 8o
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A lei moral nos revela% com nossa li2erdade% a )resena em n's de
uma causalidade tan(0vel% de um carter inteli(0vel"< No conhecemos a nossa
li2erdade% mas temos consci*ncia dela atrav$s da o2ri(ao da lei moral% esta $ a
ratio co(noscendi da li2erdade% e esta :ltima a ratio essendida lei moral" A+ui% $ acausalidade livre +ue )ermite a )assa(em do n0vel te'rico )ara o )rtico"
A ilosoia )rtica de 7ant rom)e% tam2$m% com a tradio moral do
1cidente% ao undar a moral a )artir da ra9o )ura% na medida em +ue esta%
en+uanto aculdade le(isladora% isto $% uma aculdade +ue d a si mesma sua lei%
d% assim% ao homem% uma lei universal 3a lei moral5% uma lei +ue tem a orma de
um im)erativo cate('rico" Ao undar a moral nesses termos% 7ant )rocura
ressaltar a autonomia da vontade" A tarea da ra9o )rtica ser a de encontrar osundamentos de determinao desta :ltima"
1 )lano da eli(io dentro dos Pimites da Sim)les a9o tem a
inteno de se(uir e&atamente o desenvolvimento do conlito do 2em
3determinado = desde muito tem)o )ela ilosoia )rtica5 e do mal" Esse drama
entre o 2em e o mal se torna o io condutor dessa o2ra"
O! "UATRO PONTO! #UNDAMENTAI!
Cara res)onder o +ue $ a ess*ncia do mal radical% 7ant a)'ia seu
ar(umento em +uatro )ontos undamentais% e a discusso desses )ontos )assa a
construir uma conce)o de nature9a do homem e de como o mal est inscrito
nela" So eles; a dis)osio ori(inal )ara o 2em na nature9a humana% a
)ro)enso )ara o mal na nature9a humana% o homem $ mau )or nature9a e a
ori(em do mal na nature9a humana"
7ant )arte da airmao de uma dis)osio ori(inal )ara o 2em na
nature9a humana;
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Dis)osio ori(inal si(niica% a+ui% )redis)osio )rimeira% de ori(em
anterior% ou melhor di9endo% no in0cio de sua hist'ria o homem era 2om% tendia
)ara o 2em" 1ri(inal )or+ue )ertence% necessariamente% )ossi2ilidade da
nature9a humana"
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Ele no esta2elece o conte:do da lei% mas% a)enas esclarece a orma
de lei (eral +ue deve a)resentar ininidade de conte:dos )oss0veis de nossa
conduta% )ara +ue essa se=a moral" Esta $ a orma do m)erativo cate('rico;
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homem tem em si mesmo a )ossi2ilidade de ser dono de si e de ser livre de toda
de)end*ncia dierente de sua ra9o" A vontade humana tem a )ro)riedade de ser%
ela )r')ria% a sua lei% e o homem reali9a sua ess*ncia +uando o2edece lei
moral"
1 homem% )ara 7ant% $ um ser inito e ra9ovel% deinio +ue
res)onde +uarta +uesto cr0tica;
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ao" Cor
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7ant;
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m +uando a satisao de seu dese=o de elicidade $ condio do se(uimento da
lei moral" e&atamente nessa inverso da relao correta dos dois m'veis de
determinao da vontade +ue reside o verdadeiro mal radical"
im)ortante% a+ui% dierenciar uma ao m de uma ao
radicalmente m" A )rimeira ocorre +uando o m'vel da lei moral $ su2ordinado%
ocasionalmente% ao m'vel do dese=o de elicidadeB a se(unda% +uando h urna
inverso de m'veis como undamento de todas as m&imas e a6es" Essa
su2ordinao% em si% da lei moral a interesses e(o0stas% esta )ro)enso a se
servir da lei )ara se =ustiicar no lu(ar de a servir% constitui a verdadeira )erverso
do corao"
Se(undo o comentrio de e2oul% 2uma propens$o ao mal pode% muitobem% se encontrar no cora#$o de um homem e>teriormente bom' 1$o estes
&ariseus% estes ?sepulcros caiados?% "ue se con&ormam estritamente @ lei nos seus
atos mas sem &a!er da lei moral seu m(*el su&iciente'2
1 mal moral est% a+ui% na le(alidade tomada )ela moralidade" A
le(alidade $ o ato de se(uir a lei )or m'veis estranhos a ela% como o interesse%
medo da )ol0cia ou do inerno% tornando a vontade heter!noma" A le(alidade% em
si% no $ mB )elo contrrio% ela $ e&celente )ara o seu )r')rio )lano% +ue $ o davida social" 1 +ue $ mau $ conundir os )lanos% )ois
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Ao admitir +ue o homem% mesmo tendo consci*ncia da lei moral% aceita
m&imas +ue% ocasionalmente% o desviam dela% 7ant lem2ra; 1 homem $ mau )or
nature9a" sso +uer di9er +ue o (*nero humano $ dominado )ela maldade" 1 mal
radical $ universal% $ inerente nature9a humana% contudo tem seus limites"
1 su)remo undamento su2=etivo da li2erdade est corrom)ido% mas
essa corru)o no $ mali(nidade% no $ o mal )elo mal% mas sim
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H% )ois% um limite +ue 7ant no ultra)assa; o homem% mesmo o mais
malvado% no $ um re2elde" No h uma vontade m sim$trica vontade 2oa"
Ainda de acordo com ruch% nesse )onto% 7ant recusa considerar a e&)eri*ncia
+ue )oderia condu9i-lo s conclus6es mais som2rias e% como o2serva Del2os%
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de 7ant =amais nos a2andonaB desconsider-lo $ im)ure9a e i(nor?ncia% e estas
so verdadeiras ontes do mal radical"
A narrao 202lica do )ecado ori(inal estaria de acordo% )ara 7ant%
com essa ori(em" Cor$m% )ara ele% no se trata de um relato hist'rico% mas uma
2ula% um mito relatado so2 a orma tem)oral% ora da hist'ria e do
encadeamento das causas% um ato universal +ue se com)reende como a hist'ria
de Ado; $ a hist'ria de cada um de n's" Cara e2oul;
2O mito representa o pecado como um 2come#o2% o "ue signi&ica "ue
ele primeiro logicamente+ ele n$o precedido por uma disposi#$o culp)*el% o
"ue e>cluiria a responsabilidade e a liberdade do pecador' i!endo de outra
&orma% o mal radical contingente+ um surgimento absoluto% para cada um den(s como para Ad$o% ele destr(i um estado de inoc;ncia'2
A hist'ria de Ado $ a hist'ria da humanidadeB a dierena $ +ue% )ara
ele% o mal $ )recedido de uma inoc*ncia a2soluta% en+uanto +ue% )ara n's% o mal
= $ inerente nossa e&ist*ncia de seres conscientes% em2ora% do )onto de vista
cronol'(ico% ele no tenha um comeo" A e&)licao +ue se usa a+ui no $
cronol'(ica% mas moral; = +ue n's somos res)onsveis )elo mal cometido% ele $
irredut0vel a seus antecedentes em)0ricosB sua e&ist*ncia $ radicalmentecontin(ente"
Cara Herrero%
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Se o mal consiste em uma inverso dos m'veis 3a )erverso5% a
converso si(niica% no a a)ario em n's de um m'vel novo% mas o
resta2elecimento% em sua )ure9a% do 2om m'vel +ue o mal no destruiu% mas
su2=u(ou e% sem o +ual% nenhum melhoramento verdadeiro ser )oss0vel" Esseresta2elecimento consiste% )ois% em remeter ao )rimeiro lu(ar o res)eito )ela lei
moral% ao a9*-lo nosso m'vel incondicional" Se a converso consiste na adoo
do m'vel moral @ e esse $ :nico @ esta s' )ode dar-se em ato tam2$m :nico"
Cor isso 7ant a chama de
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bons e maus% mas bons em nossa maldade e capa!es de progredir% uma *e! "ue
reconhecemos o inimigo em n(s'??
Urna +uesto im)ortante a ser retomada a+ui $ a da o2stinao de
7ant na recusa da admisso da mali(nidade no homem% +uando a o)osio
)r')ria lei moral )assa a ser elevada a motivo do ar20trio" Essa )osio tem um
carter inarredvel% )ois% )ara ele%
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e&i(*ncia de totalidade e da incondicionalidacie da ra9o )ura no alcana o real"
Cor outro lado% h um limite na ra9o )ura )rtica" Cor ser o im)erativo cate('rico
totalmente a2ran(ente e incondicionado% ele nunca )ode ser reali9ado no
en!menoB sendo assim% a totalidade nunca )ode ser concreti9ada"
A ra9o )rtica e&)ressa% no )lano do dese=o% a demanda% a e&i(*ncia
+ue a ra9o )ura constitui em seu uso es)eculativo e )rticoB a ra9o e&i(e a
totalidade a2soluta das condi6es )ara um condicionado dado" 1 +ue a vontade
+uer $ chamado )or 7ant de peri;ncia cultural% nas institui#:es polticas e
eclesi)sticas' F% ent$o% "ue o mal mostra seu *erdadeiro rosto% o mal do mal
sendo a mentira das snteses prematuras% das totali!a#:es *iolentasG2
Nessa )ers)ectiva o mal a)arece como )erverso inerente
)ro2lemtica da reali9ao e da totali9ao" Em outras )alavras% o verdadeiro mal
radical a)arece somente no Estado e na (re=a% en+uanto institui6es de reunio%
de reca)itulao% de totali9ao"
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Dentro dessa inter)retao% a doutrina do mal radical )ode oerecer
uma estrutura de acolhimento a novas i(uras de alienao% distintas da iluso
es)eculativa ou do dese=o de consolo" A alienao dos )oderes culturais% tais
como a (re=a e o Estado% )ode avorecer% no centro de seus )oderes% oacontecimento de uma e&)resso alsiicada de s0ntese"
A teoria do mal radical culmina% no com as trans(ress6es% mas com
as s0nteses rustradas da esera )ol0tica e reli(iosa" a0% e&atamente% +ue esto a
)ertin*ncia e atualidade deste conceito kantiano +ue% lanado dentro de um
conte&to de )reocu)ao essencialmente moral e reli(iosa% toma novas ormas e
se atuali9a numa a2orda(em )ol0tica"
Cara se )ensar o sur(imento de en!menos hist'ricos inteiramentenovos +ue revelaram ormas in$ditas de viol*ncia )ol0tica% $ necessrio +uestionar
acerca do mal e do homem% )recisamente em sua aculdade de criar re(ras )ara
si mesmo"
1 conceito de mal radical a2arca a e&)licao acerca destas novas
modalidades de mal +ue a)areceram na hist'ria )ol0tica de nosso s$culo% ou ele
se )rova insuiciente> Se a se(unda hi)'tese or verdadeira% $ ento necessrio
criar novos conceitos )ara se e&)licar tais en!menos e% ao mesmo tem)o%ormular outra conce)o so2re o homem" e&atamente nessa orma de se
interro(ar a res)eito dessa )ossi2ilidade +ue se inscreve a +uesto )osta )or
Hannah Arendt% +uanto e&tenso do conceito de mal radical"
Cara Hannah Arendt% o mal radical% +ue a)areceu no totalitarismo%
transcende os limites do +ue oi deinido )or 7ant como o mal radical% )ois trata-se
de
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Se(undo Hannah Arendt%
2C'''D nossa tradi#$o &ilos(&ica n$o pode conceber um 2mal radical2
corno tambm a teologia crist$ "ue concedeu ao diabo uma origem celestial'
1omente 3ant% o plicada por moti*os
compreens*eis'2
Para ela' (uando (ueremos e)*licar o fen+meno totalitrio' no
contamos com a*oio *ara com*reender um fen+meno (ue se a*resenta e
(ue contraria todas as normas (ue con,ecemos- .anna, Arendt e)*lica (ue
o /erdadeiro mal radical sur0iu em um sistema onde todos os ,omens setornaram 1su*2rfluos1' isto 2' eles se tornaram meios- E essa
1su*erfluidade1 atin0iu tanto os (ue foram mani*ulados (uanto os
mani*uladores e 1os assassinos totalitrios so os mais *eri0osos' *or(ue
no se im*ortam se esto /i/os ou mortos' se 3amais /i/eram ou se nunca
nasceram1-
Podemos *ensar (ue essa no/a modalidade de mal radical
a*arecer toda /e4 (ue o ,omem for transformado em 1su*2rfluo1' e esterisco *ode muito 5em so5re/i/er 6 (ueda dos re0imes totalitrios-
A nossa inter)retao so2re tal )ro2lema )osto )or Hannah Arendt se
2aseia na )r')ria hist'ria da tra=et'ria do seu )ensamento ilos'ico" De ,.O a
,4,% )er0odo em +ue transcorreu o tra2alho de )es+uisa% ela2orao e
)u2licao de Origens do Totalitarismo% Hannah Arendt% chocada com os
acontecimentos )ol0ticos do momento% os horrores da (uerra e do holocausto%
tentava encontrar e&)lica6es mais no n0vel moral% dentro da ilosoia% )ara esses
atos e se sentia
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outro conte&to de rele&o" Antes de ir )ara o =ul(amento de Eichmann% Hannah
Arendt tinha o )ressu)osto de +ue iria encontrar um homem% no m0nimo )erverso
ou at$ mesmo um monstro ou um e&em)lar de mali(nidade humana% como a9ia
crer a m0dia da $)oca"
Diante de sua sur*resa ao encontrar um ,omem a5solutamente
comum' (ue a*enas *odia ser caracteri4ado como tendo um 1/a4io de
*ensamento1' sua refle)o so5re o mal 0an,a outra fi0ura- Eic,mann no
era um monstro' mas um ,omem com e)tremo 0rau de ,eteronomia' um
indi/7duo (ue era um -*roduto t7*ico do Estado totalitrio- A 1(uesto
ori0inria sofre a7 um deslocamento radical8 no se trata de e)*licar o
fen+meno focando9se na (uesto moral ou na antro*ol:0ica' mas sim decom*reender' num enfo(ue *ol7tico' como um Estado *ode ser ca*a4 de
*rodu4ir a0entes ,eter+nomos (ue funcionam' to eficientemente' como
a0entes re*rodutores de seus o53eti/os-
1 )ro2lema do mal )assa% ento% a ser +uestionado dentro de sua
dimenso )ol0tica% numa viso ori(inal +ue $ a da sua
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Em uma o2ra de ,OO% Doutrina da Iirtude% cinco anos a)'s ter escrito
o Ensaio so2re o Mal adical% 7ant interro(a se $ )oss0vel o homem mentir )ara
si mesmo e conclui +ue isso $ cil de se constatar% mas di0cil de e&)licar" Este
ato nos leva a airmar +ue o homem% ser noumenal% )ode se servir de si mesmocomo ser enomenal% assim como de uma sim)les m+uina +ue ala% sem colocar
sua ala de acordo com seus )ensamentos"
e2oul% a esse res)eito% nos di9;
2F do meu ser emprico "ue eu me sir*o para enganar a mim mesmo
pois essa m)& como a oblitera#$o da consci;ncia nos tempos% pelo h)bito e
pelo es"uecimento+ mas o autor desse logro o eu intelig*el% "ue se ser*e de
seu eu emprico mas ra!o)*el como de um simples meio% "ue &a! do ser de seu2logos2 um instrumento n$o de comunica#$o mas de trai#$o' Mas% como mentir @
sua pr(pria consci;ncia se essa 2in&al*el2G En"uanto ,ulgamento sobre nossos
atos e>teriores% ela pode muito bem ser incerta% mas en"uanto 2,u!o do ,u!o2 em
n(s% ela n$o se engana'2
E com)lementa;
2C'''D essa 2&alta de consci;ncia2 a &uga diante de seu *eredicto
inelut)*el% a recusa de saber o "ue se sabe% como di! a e>press$o- eu n$o "ueroo saber' Essa a &alta das &altas% a mentira a si mesmo% "ue% ao destruir o
princpio de toda a *ida moral% a sinceridade% &a! o homem perder todo o car)ter%
e engendra todas as mentiras e todos os *cios'2
Mas 7ant% +uando usa o e&em)lo da m-$% a encontra% em (eral% no
+ue os homens chamam de $" Ele airma +ue a+uele +ue conessa a e&ist*ncia
de um Deus revelado% sem ter consultado o seu oro 0ntimo )ara sa2er se h
verdadeiramente a menor consci*ncia dessa convico% comete a mentira maiscriminosa% )ois tal mentira sola)a% )ela 2ase% a sinceridade% o undamento de toda
resoluo virtuosa" No se trata de uma cr0tica reli(io% mas ele a)onta )ara um
)onto crucial so2re o mal radical; o de +ue a )ior corru)o $ a corru)o do
melhor" Em outras )alavras; o mal $ o arisa0smo% o ato de se crer =ustiicado
)elos seus atos% de se tomar sua no-cul)a2ilidade e&terior )ela inoc*ncia"
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Fa9endo um )aralelo entre o +ue aca2amos de e&)or e o conceito
arendtiano de 2analidade do mal% encontramos muitos )ontos de conver(*ncia%
+ue =ustiicam esta2elecermos
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se trata mais de compor hist(ria e poltica% tratase de compreender o seu sentido
comum% o sentido "ue de*e decidir sobre sua composi#$o'2
Cara concluir% reairmando a im)ort?ncia da virada +ue 7ant d na
hist'ria da ilosoia e da )ol0tica% recorremos e&)resso de elaval +uando di9
+ue% em mat$ria de ilosoia )ol0tica%
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)alavras% )or ser (eral demais" #ornou-se um a&ioma +ue% tanto )ara Clato
+uanto )ara Arist'teles% esse es)anto $ o in0cio da ilosoia" Diante de tudo o +ue
$ corno $ =amais se li(a a +ual+uer coisa es)ec0ica e% )or isso% 7ierke(aard
inter)retou-o corno a e&)eri*ncia da coisa-nenhuma% do nada" 1 cho+ue ilos'icode +ue ala Clato )ermeia todas as (randes ilosoias e se)ara o il'soo +ue o
e&)erimenta da+ueles com +uem vive"
A dierena entre os il'soos 3+ue so )oucos5 e a multido no
consiste% de modo al(um @ como Clato = indicara @no ato de +ue a maioria
nada sa2e do )athos do es)anto% mas% muito )elo contrrio% +ue ela se recusa a
e&)eriment-lo" Essa recusa se e&)ressa em do&ad9ein% na ormao de o)ini6es
a res)eito de +uest6es so2re as +uais os homens no )odem ter o)inio% )or+ueos )adr6es comuns e normalmente aceitos do senso comum a0 no se a)licam"
1 il'soo distin(ue-se dos seus concidados no )or )ossuir al(uma
verdade es)ecial da +ual a multido este=a e&clu0da% mas )or )ermanecer sem)re
)ronto )ara e&)erimentar o )athos do es)anto e% )ortanto% )ara evitar o
do(matismo dos +ue t*m suas meras o)ini6es"
Hannah Arendt conclui +ue a ilosoia% a ilosoia )ol0tica e todos os
demais ramos ori(inam-se do thaumad9ein% do es)anto diante da+uilo +ue $como $" Se os il'soos% a)esar de seu aastamento necessrio do cotidiano dos
assuntos humanos% viessem um dia a alcanar uma ilosoia )ol0tica% teriam +ue
ter% como o2=eto de seu thaumad9ein% a )luralidade do homem% da +ual sur(e% em
sua (rande9a e mis$ria% todo o dom0nio dos assuntos humanos"
Mas% +ual o motivo da recusa em e&)erimentar o es)anto> Cor +ue o
homem comum% ou o
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novidade +ue ele tra9% ainda +ue deorma emer(ente" A nosso ver% esta novidade
ir se inscrever e&atamente no mesmo estatuto +ue o es)anto ocu)a no
)ensamento ilos'ico"
Hannah Arendt levanta uma curiosidade a res)eito do ato de +ue
tanto a l0n(ua (re(a +uanto a latina% na cultura clssica% )ossu0am dois ver2os
)ara desi(nar a+uilo +ue chamamos uniormemente de
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2elas" Nesse caso% a onte da li2erdade )ermanece )resente% mesmo +uando a
vida )ol0tica se tornou )etriicada e a ao )ol0tica im)otente )ara interrom)er
)rocessos automticos"
Mas% en+uanto essa onte )ermanece oculta% a li2erdade no $ unia
realidade tan(0vel e concretaB isto $% no $ )ol0tica" A li2erdade )arece ser o maior
dom +ue o homem )ossa ter rece2ido% e encontramos sinais e vest0(ios dela em
+uase todas as suas atividadesB entretanto s' se desenvolve% com )lenitude% onde
a ao tiver criado seu )r')rio es)ao concreto% onde )ossa sair de seu
esconderi=o e a9er sua a)ario"
No conte&to da id$ia de li2erdade% a criao se encontra na )r')ria
hist'ria" #odo a(ir $ uma inovao +ue im)rime urna reviravolta na hist'ria% $ urnacriao continuada do mundo +ue sore suas conse+L*ncias" A ao verdadeira $
um )rimeiro movimento sem nenhum outro antecedente seno o +uerer humano"
Ser livre e a(ir $ unia coisa s'" 1s )rocessos hist'ricos so criados e
constantemente interrom)idos )ela iniciativa humana% )elo initium +ue $ o homem
en+uanto ser +ue a(e" Cor outro lado% o homem $ um in0cio e um iniciador"
Em Hannah Arendt o sentido da hist'ria $ a atuali9ao do conceito de
li2erdade" Mas a criao hist'rica nos coloca diante da desconcertante)er)le&idade vinda da e&i(*ncia da com)reenso dos novos acontecimentos" E a0
nos inda(amos; corno )ensar as novas realidades> Jorno se constr'i a novidade
hist'rica e +ual $ o estatuto +ue a )ensa>
Cara Hannah Arendt a novidade se constr'i dentro da ao )ol0tica
+ue constitui o mundo ):2lico" A criatividade da ao )ol0tica $ assinalada )elo
e&erc0cio cont0nuo cia li2erdade ):2lica% +ue a9 avanar e viver as institui6es" 1
cam)o da )ol0tica $ o do )ensamento )lural% $ o )ensar no lu(ar e na )osio do
outro" No mais o eu consi(o mesmo% mas o dilo(o com os outros com os +uais
devo che(ar a um acordo"
Este dilo(o re+uer um es)ao; a )ol0tica e a ao" Em toda +uesto
de ordem estritamente )ol0tica% a im)ort?ncia undamental do conceito de comeo
e de ori(em deriva do sim)les ato de +ue a ao )ol0tica% como todo outro ti)o de
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ao% $ sem)re o comeo de +ual+uer coisa de novoB en+uanto tal% este comeo
$% em termos de ci*ncia )ol0tica% a ess*ncia mesma da li2erdade humana" No
)ensamento )ol0tico (re(o% os conceitos de comeo e de ori(em ocu)am um lu(ar
central% como o indica a )alavra arch% +ue si(niica% ao mesmo tem)o% comeo e)rinc0)io"
A ess*ncia de toda ao% em (eral% e da ao )ol0tica em )articular% $
de en(endrar um novo comeo" Cor sua ve9% a com)reenso e a )ol0tica andam
=untas na medida em +ue com)reender $ dar sentido a essa criao% $ criar
si(niicados" Mas% diante disso nos encontramos muitas ve9es rente a um
im)asse; como com)reender as cria6es @ na )ol0tica e na hist'ria do homem @
+ue o colocam orosamente na )er)le&idade e na estranhe9a diante delas> 1homem $ um in0cio e um iniciador% e as )ossi2ilidades +ue ele tem de criar e
desencadear ormas de(eneradas de ao $ uni ato incontestvel" Fato este +ue
nos incita a com)reender% com)reender no sentido arendtiano de nos reconciliar
com o real% )ois
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tradicionais ou punidos dentro cio "uadro de re&er;ncia legal de nossa ci*ili!a#$o%
"uebrou a continuidade da hist(ria ocidental' A ruptura em nossa tradi#$o agora
um &ato acabado' 8$o o resultado da escolha deliberada de ningum% nem
su,eita a decis$o ulterior'2
Essa airmao mostra +ue h sem)re uma tenso entre o
acontecimento novo e o conceito +ue o )ensa" Si(niica +ue $ necessrio criar
conceitos novos% novas cate(orias de )ensamento )ara se com)reender a
novidade totalitria" Jom)reender no no sentido de com2ater% )ois com)reender
$ uma atividade sem im% sem)re mutante e variada% )ela +ual n's nos a=ustamos
ao real% reconciliamo-nos com ele e nos esoramos )ara estar em harmonia com
o mundo"Hannah Arendt di9 +ue com)reender o totalitarismo no $% de orma
al(uma% )erdoar% mas nos reconciliar com um mundo onde esses acontecimentos
so sim)lesmente )oss0veis" Cara ela% a maneira mais cil de nos en(anar a
res)eito de urna novidade hist'rica consiste em assimil-la a al(o = conhecido
)ela tradioB )or e&em)lo% assimilar o (overno totalitrio a um mal 2em
conhecido do )assado como a(ressividade% tirania% cons)irao etc" A sa2edoria
do )assado se mostra insuiciente no momento em +ue n's nos esoramos em
a)lic-la aos )ro2lemas )ol0ticos undamentais de nossa $)oca"
#udo o +ue sa2emos do totalitarismo )rova uma ori(inalidade no
horror% sem +ue nenhum )aralelo hist'rico a)ro&imativo nos )ermita atenuar" No
se )ode esca)ar ao im)acto do totalitarismo recusando-se a i&ar a ateno so2re
sua verdadeira nature9a e se a2andonando s semelhanas e a)ro&ima6es +ue
certos as)ectos da doutrina totalitria oerecem com as teorias amiliares do
)ensamento ocidental"
A terriicante ori(inalidade do totalitarismo no se reere a urna nova
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evid*ncia a ru0na de nossas cate(orias de )ensamento e de nossos crit$rios de
=ul(amento"
So2re isto% Jastoriadis di9;
2Est) implcito na an)lise de Arendt o pressuposto de "ue n(s
en&rentamos a"ui algo "ue n$o apenas transcende as 2teorias sobre a hist(ria2
herdadas% mas transcende "ual"uer 2teoria2' 8a *erdade% o totalitarismo % a esse
respeito% o e>emplo monstruosamente pri*ilegiado e e>tremo da"uilo "ue
*erdade para toda a hist(ria e para todos os tipos de sociedade'2
A novidade est no dom0nio do historiador +ue% dierentemente do
cientista )reocu)ado com os atos recorrentes da nature9a% estuda o +ue a)arece
somente uma ve9" Essa novidade )ode ser desi(urada se o historiador% insistindo
so2re a causalidade% )retende e&)licar os acontecimentos )or um encadeamento
causal +ue o )rovocou"
ao historiador +ue ca2e a tarea de desco2rir essa novidade
im)revista% de se)ar-la das im)lica6es )or um )er0odo dado e de revelar toda
sua ora si(niicante" Mas% na verdade% o historiador s' post &acto de seu si(niicado" E isso $% de modo
es)ecial% verdadeiro )ara a criao indiscriminada de si(niicados ori(inais e
irredut0veis% os +uais esto no )r')rio cerne das vrias ormas de sociedades e
culturas"
Mas Hannah Arendt viu% na )erce)o de Jastoriadis% muito
claramente +ue% com o totalitarismo% n's nos derontamos com al(o dierente;com a criao do sem si(niicado 3meaningless5" A hist'ria% como tal% no
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americana e rancesa )oderia de al(uma orma ter )revisto +ue a nature9a do
homem% deinida e redeinida )or dois mil anos de ilosoia% contivesse
)ossi2ilidades im)revis0veis e desconhecidas" Jomo medir o +ueno tem escala> )oss0vel acreditar +ue se )ossa )rodu9ir um acontecimento
+ue esca)e tomada de nossas erramentas conceituais>
Cara Hannah Arendt% com)reenso e =ul(amento so li(ados e
im2ricados um ao outro" Codemos descrever os dois como esta atitude de
su2sumir 3o )articular so2 uma re(ra universal5 +ue% )ara 7ant% est na deinio
mesma de =ul(amento e onde a aus*ncia $% ma(istralmente% +ualiicada de
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totalitarismo $ um en!meno sem )recedentes% e nenhuma evoluo hist'rica%
)ereitamente articulada% )ode dar conta )lenamente de suas ori(ens"
#rata-se% na verdade% de
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de )rel:dio% $ im)oss0vel no se reconhecer% em seu advento% um 2rusco
des)re(amento +ue no corres)onde ima(em continu0sta +ue se a9%
normalmente% da evoluo hist'rica" A+ui temos uma i(ura +ue no $ es)$cie de
nenhum (*nero% +uer se=a o des)otismo oriental% a tirania (re(a% ou ainda asim)les e&acer2ao do )oder do Estado +ue revela% su2itamente% sua verdadeira
ace% (raas ao a)oio da t$cnica"
Mas% se )or um lado% essa dominao no remete a nenhum modelo
conhecido% )or outro% o totalitarismo $% )ara Hannah Arendt% uma ra+ue9a
moment?nea a ser classiicada dentro das a2erra6es )ol0ticas;< ela cr* +ue no
h a+ui uma i(ura durvel a acrescentar ao re(istro das ormas de (overno
classicamente re)ertoriadas"Mas +ual o io +ue li(a os en!menos do anti-semitismo ao
im)erialismo e ao totalitarismo> 1 tema central +ue une os ios es)arsos da o2ra
$% sem d:vida% a hist'ria da dissoluo das sociedades nacionais em a(re(ados
de homens su)$rluos;
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A autora insiste na ocorr*ncia das rela6es +ue% desde a $)oca dos
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dierenci-lo do anti(o 'dio reli(ioso anti=udaico e de ter-lhe dado o tratamento de
um )ro2lema )ol0tico li(ado a uma con=untura hist'rica"
Kuanto ao im)erialismo% ele se reveste de um alcance mais (eral" Na
o2ra 1ri(ens do #otalitarismo% esse en!meno% como = oi dito anteriormente% $
inter)retado como a inverso dos valores +ue d economia a )rioridade so2re a
)ol0tica% no )er0odo entre ,VV. e ,,.% +ue ser o )rel:dio da devastao da
Euro)a" esumido no slo(an
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acreditava no ardo do
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da sociedade% +ue (anha cor)o na )resena de determinados elementos
constitutivos" 1 totalitarismo% en+uanto tal% assume diversos as)ectos e est
associado a diversos ins e diversas metas% conorme o sistema )ol0tico )articular
no +ual encarna o relativo am2iente econ!mico-social"
IDEOO;IA E TERROR
Cara Hannah Arendt% o totalitarismo est a)oiado em dois )ilares;
ideolo(ia e terror" En+uanto a ile(alidade $ a ess*ncia do (overno tir?nico% o
terror $ a )r')ria ess*ncia do dom0nio totalitrio" #al re(ime no a2ole somente a
li2erdade ):2lica% mas visa eliminao total da es)ontaneidade nela mesma e%
contrariamente tirania +ue autori9a ainda a ao motivada )ela crena% o
totalitarismo conse(ue su)rimir toda a ao" 1 isolamento tir?nico +ue no atin(e
a esera da vicia )rivada se o)6e desolao totalitria% deinida como
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volume de )essoas% a a)atia e o mutismo )ol0tico so suicientes )ara deinir
essas massas% vindas cia atomi9ao social consecutiva Crimeira Guerra
Mundial% ao desem)re(o e inlao% os +uais esma(aram todas as distin6es%
a)lainando% assim% o caminho do totalitarismo" Nenhum interesse comum% se=aecon!mico% social ou )ol0tico% li(a os elementos desse a(re(ado )ara a9er deles
uma comunidadeB mas% ao contrrio% $ a atomi9ao e o e&tremo individualismo
+ue $ o )rinc0)io da massa no como ormao social% mas como socia2ilidade
amora"
Cara ilustrar o sistema de dominao% Hannah Arendt usa a ima(em
da
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indis)ensvel )ara com)reender o totalitarismo" Neles% a inveno im)erialista
encontra sua reali9ao aca2ada% )ois essa instituio central de )oder totalitrio
e&)rime a )ereio de dominao% onde o o2=etivo no $ o de transormar o
mundo% mas de modiicar a nature9a humana" Ao e&term0nio de )essoas se =untao das mem'rias das v0timas e de (ru)os humanos inteiros"
Cara Hannah Arendt; 2Os campos de concentra#$o n$o s$o apenas
destinados ao e>termnio de pessoas e @ degrada#$o de seres humanos- ser*em
tambm @ horr*el e>peri;ncia "ue consiste em eliminar% em condi#:es
cienti&icamente controladas% a pr(pria espontaneidade en"uanto e>press$o do
comportamento humano% e em trans&ormar a personalidade humana em simples
coisa% em alguma coisa "ue nem mesmo os animais possuemI2' isso +ue lhe a9 com)reender )or +ue% tanto na Unio Sovi$tica
+uanto na Alemanha% esses cam)os no oram esta2elecidos tendo-se em vista a
)ossi2ilidade de maior )rodutividade; sua :nica uno econ!mica oi inanciar a
sua a)arelha(em" Cara al$m de sua )r')ria inutilidade% )erse(ue-se um o2=etivo
undamental; a destruio da )essoa =ur0dica e moral do indiv0duo at$ o2ter% nessa
destruio% a cum)licidade entre v0tima e carrasco"
Se(undo Crimo Pevi% o as)ecto mais )erverso% o crime maisdemon0aco da e&)eri*ncia do na9ismo oi o de ter conce2ido e or(ani9ado as
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1utro as)ecto a ser ressaltado so2re os cam)os de concentrao% e
+ue se situa no +uadro das caracter0sticas essenciais do totalitarismo% $ o da
atmosera de irrealidade e seu e+uivalente clima de ico e a luidiicao da
consci*ncia" Jonv$m lem2rar +ue os cam)os so% no a)enas a sociedade maistotalitria = reali9ada%/R mas tam2$m o modelo social )ereito )ara o dom0nio
total" 1s cam)os constituem a verdadeira instituio central do )oder
or(ani9acional totalitrio"
Da mesma orma como a esta2ilidade do re(ime totalitrio de)ende do
isolamento do mundo ict0cio criado )elo movimento em relao ao mundo
e&terior% tam2$m a e&)eri*ncia dos cam)os de concentrao de)ende de seu
echamento ao mundo de todos os homens% o mundo dos vivos em (eral" #odosos relatos vindos dos cam)os de concentrao so caracteri9ados )or uma
)eculiar irrealidade e incredi2ilidade% tanto da )arte de +uem ouve como da )arte
do autor% +ue )ermanece sem)re como uma v0tima de d:vidas +uanto sua
)r')ria veracidade% como se )udesse ter conundido um )esadelo com a
realidade" Essa atmosera de loucura e irrealidade% criada )ela a)arente aus*ncia
de )ro)'sitos% $ a verdadeira cortina de erro +ue esconde dos olhos do mundo
todas as ormas de cam)o de concentrao"
Iistos de ora% os cam)os e o +ue neles acontece s' )odem ser
descritos com ima(ens e&traterrenas% como se a vida neles osse se)arada das
inalidades deste mundo" Mais do +ue +ual+uer 2arreira material% $ a irrealidade
dos detentos +ue )rovoca uma crueldade to incr0vel +ue termina )or levar
aceitao do e&term0nio como soluo )ereitamente normal" 1s homens so
condicionados )ara aceitar% no im)orta o +u*% e eles terminam )or no rea(ir a
nada mais"
Nem a vida nem a morte lhes im)orta mais verdadeiramente% e eles
desem)enham as tareas a2surdas com uma resi(nao a2soluta" David ousset%
em seu relato% assinala +ue as condi6es sociais da vida nos cam)os
transormaram a (rande massa de internos e dos de)ortados% inde)endentemente
de sua anti(a )osio social e sua ormao% em
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corro2orada )or outros relatos de so2reviventes +ue reoram este as)ecto da
re(resso ao com)ortamento humano )rimitivo entre os )risioneiros"
Cara Hannah Arendt% a e&)eri*ncia dos cam)os de concentrao
demonstra +ue
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totalitriaB ironicamente torna-se aliado o2=etivo da ideolo(ia do mentiroso% e $
e&atamente a+ui +ue reside a am)litude desse )oder )erverso"
Sendo assim% o motivo )elo +ual os re(imes totalitrios )odem ir to
lon(e na reali9ao de um mundo invertido e ict0cio $ +ue o mundo e&terior no-
totalitrio s' acredita na+uilo +ue +uer e o(e realidade ante a verdadeira
loucura" A re)u(n?ncia do 2om senso% diante da $ no monstruoso% $
constantemente ortalecida )ela censura das inorma6es e )ela )ro)a(anda
totalitria" Cara Hannah Arendt;
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)ensamento dis)6e os atos so2 a orma de um )rocesso a2solutamente l'(ico
+ue se inicia a )artir de uma )remissa aceita a&iomaticamente" #udo mais $
dedu9ido dela% o)erando com uma coer*ncia +ue no e&iste em )arte al(uma da
realidade" Essa l'(ica )ersuasiva como (uia da ao im)re(na toda a estruturados movimentos e (overnos totalitrios"
1 )re)aro das v0timas e dos carrascos no $ atrav$s da ideolo(ia em
si% cio racismo ou do materialismo dial$tico% mas atrav$s de sua l'(ica inerente" A
ora coercitiva dessa l'(ica% se(undo Hannah Arendt% emana do nosso )avor
contradio" Cara a mo2ili9ao das )essoas% o (overnante totalitrio conta com a
com)ulso +ue as im)ele )ara a renteB e essa com)ulso interna alimenta a
tirania da l'(ica% contra a +ual nada se )ode er(uer seno a (rande ca)acidadehumana de comear al(o novo" A tirania da l'(ica comea com a su2misso da
mente a ela% como )rocesso sem im% no +ual o homem se 2aseia )ara ela2orar
os seus )ensamentos" Atrav$s dessa su2misso ele renuncia sua li2erdade
interior% tal como renuncia li2erdade +uando se curva a urna tirania e&terna"
No conte&to da averso contradio de +ue ala Hannah Arendt% a
contri2uio de Miklos Iet6 $ ma(istral" Se(undo sua anlise so2re o )a)el da
coer*ncia na ideolo(ia totalitria% $ )ela mentira )ol0tica +ue o re(ime esta2elece
uma (rade +ue )ermite a or(ani9ao e a e&)licao
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Desorientados e aterrori9ados diante do crescimento anr+uico +ue
caracteri9a a vida das sociedades modernas% $% se(uindo seu instinto de
se(urana% )elo seu dese=o de um m0nimo de res)eito a si% +ue as massas
a)ostam to ortemente em uma a)ar*ncia de racionalidade no mundo e se iam coer*ncia totalitria na orma mais a2surdamente ict0cia" A im)osio de um
sistema de e&)licao l'(ico-matemtico de coer*ncia no mundo moderno $
)erniciosa medida +ue ela su)rime esses es)aos intermedirios onde )oder-
se-iam a2ri(ar a ima(inao% o 2om senso e% mesmo% o senso" Cara Hannah
Arendt%
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#am2$m nas ideolo(ias totalitrias% tudo )arte de uma )remissa a +ual
no $ seno uma mentira descarada ou urna tese )seudo-cient0ica" No entanto% a
dem*ncia dos sistemas totalitrios no decorre somente de sua )remissa% mas
consiste% so2retudo% na l'(ica )ela +ual ela $ constru0da" 1 verdadeiro del0rio no$ a escolha e&traviada de um )rinc0)io% mas a conirmao constante dessa
escolha )elo echamento r0(ido em direo ao mundo% )ela recusa de se recorrer
a toda acticidade +ue )oderia se mostrar dissonante"
Cara Hannah Arendt% a dem*ncia criminosa da e&)licao totalitria $
ter trocado a li2erdade inerente ao )ensamento )ela
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totalitrios% o +ue no tem nada a ver com )rud*ncia% com o ato de se su2meter
aos dese=os e aos interesses dos outros ou com uma autolimitao +ual+uer"
Essa le&i2ilidade $ unia
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acidente% mas al(uma coisa de inerente din?mica mesma do totalitarismo e
serve )ara a destruio desta se(urana +ue )ermite ao indiv0duo se mover% se
deslocar e a9er )ro=etos; em uma )alavra% de estar ao a2ri(o +ue $ sua
)ersonalidade =ur0dica"
1s homens se ressentem duramente )romul(ao de leis cru$is e
in=ustas% mas% na medida em +ue estas leis deinem seus contornos% aca2am )or
se acomodar a elas" Mas o +ue no $ )oss0vel de ser tolerado )or eles $ a
aus*ncia de toda lei" 1 assalto )ermanente contra a identidade =ur0dica do
indiv0duo e o controle a2soluto do cidado $ uma )ol0tica consciente e essencial
do (overno totalitrio"
A )ersonalidade =ur0dica e moral $ a estrutura do indiv0duo%insu2stitu0vel e :nica% de onde emanam decis6es% =ul(amentos e a6es% enim% de
onde sur(e toda a novidade no mundo" A eliminao da )ersonalidade visa secar
as ontes da es)ontaneidade% a im de )ermitir ao re(ime re(ulamentar% sem)re
mais eica9mente% o com)ortamento dos cidados" A destruio dos direitos do
homem% a morte de sua )essoa =ur0dica% $ a condio )rimordial )ara +ue ele se=a
inteiramente dominado% e a inalidade do sistema ar2itrrio $ destruir os direitos
civis de toda a )o)ulao% +ue se v*% ainal% to ora da lei em seu )r')rio )a0s
como os a)tridas e reu(iados"
Codemos di9er +ue a )ro)a(anda totalitria $ a outra ace do terror"
Mas isto s' $ verdadeiro nos est(ios iniciais% )ois% +uando o re(ime totalitrio
det$m o )oder a2soluto% ele su2stitui a )ro)a(anda )ela doutrinao% e a viol*ncia
no $ usada mais com o o2=etivo de assustar o )ovo 3+uando ainda e&iste
o)osio5% mas )ara dar realidade s suas doutrinas ideol'(icas e s suas
mentiras utilitrias" Kuando o terror atin(e a )ereio% como nos cam)os de
concentrao% a )ro)a(anda desa)arece inteiramente" A )ro)a(anda $ um
instrumento cio totalitarismo% )ossivelmente o mais im)ortante% )ara enrentar o
mundo no-totalitrio% e o seu o2=etivo no $ a )ersuaso% mas a or(ani9ao
3or(ani9ao $ a+ui deinida como o
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A eiccia desse ti)o de )ro)a(anda evidencia uma das )rinci)ais
caracter0sticas das massas modernas" Elas no acreditam em nada vis0vel% nem
na realidade da sua )r')ria e&)eri*nciaB no coniam em seus olhos e ouvidos%
mas a)enas em sua ima(inao +ue )ode ser sedu9ida )or +ual+uer coisa aomesmo tem)o universal e con(ruente em si" 1 +ue convence as massas no so
os atos% mesmo +ue se=am atos inventados% mas a)enas a coer*ncia com o
sistema cio +ual esses atos a9em )arte"
1 +ue as massas se recusam a com)reender $ a ortuidade de +ue a
realidade $ eita" Credis)6em-se a todas as ideolo(ias% )or+ue estas e&)licam os
atos como sim)les e&em)los de leis e i(noram as coincid*ncias inventando uma
oni)ot*ncia +ue a tudo atin(e e +ue% su)ostamente% est na ori(em de todoacaso" A )ro)a(anda totalitria )ros)era nesse clima de ico% eliminando tudo o
+ue $ ortuito em detrimento da coer*ncia" A )ro)a(anda totalitria cria um mundo
ict0cio ca)a9 de com)etir com o mundo real% cu=a )rinci)al desvanta(em $ no
ser l'(ico% coerente e or(ani9ado"
1 solo $rtil )ara o comeo do terror totalitrio se encontra no
isolamento" Codemos di9er +ue o isolamento $ )r$-totalitrio% sua caracter0stica $
a im)ot*ncia% na medida cm +ue a ora sur(e +uando os homens tra2alham em
con=untoB os homens isolados so im)otentes )or deinio" Nos (overnos
tir?nicos os contatos )ol0ticos entre os homens so 2arrados% mas nem todos os
contatos entre eles so interrom)idos e nem todas as ca)acidades humanas so
destru0das" #oda a esera da vicia )rivada )ermanece intacta"
no terror total% o es)ao )ara essa vida )rivada $ eliminado% e a
autocoero da l'(ica totalitria destr'i a ca)acidade humana de sentir e )ensar%
to se(uramente corno destr'i a ca)acidade de a(ir" 1 dom0nio totalitrio $ novo
como orma de (overno na medida em +ue no se contenta com esse isolamento
e destr'i tam2$m a vida )rivada" aseia-se na solido% na e&)eri*ncia de no se
)ertencer ao mundo% +ue $ uma das mais radicais e deses)eradas e&)eri*ncias
+ue o homem )ode ter"
1 desarrai(amento e a su)erluidade +ue atormentam as massas
modernas desde o comeo da evoluo ndustrial%./ tornaram-se cruciais com o
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sur(imento do im)erialismo no im do s$culo )assado e com o cola)so das
institui6es )ol0ticas e tradi6es sociais do nosso tem)o" Na verdade% as massas
sur(iram dos ra(mentos da sociedade atomi9ada% cu=a estrutura com)etitiva e
concomitante solido do indiv0duo eram controladas% a)enas% +uando se )ertenciaa uma classe"
A )rinci)al caracter0stica do homem de massa no $ a 2rutalidade nem
a rude9a% mas seu isolamento e a sua alta de rela6es sociais normais"< 1s
movimentos totalitrios so or(ani9a6es macias de indiv0duos atomi9ados e
isolados% distin(uem-se dos outros )artidos e movimentos )ela e&i(*ncia de
lealdade total% irrestrita% incondicional e inaltervel de cada mem2ro individual"
No se )ode es)erar essa lealdade a no ser de seres humanos com)letamenteisolados +ue% des)rovidos de outros laos sociais de am0lia% de ami9ade e de
camarada(em% s' ad+uirem o sentido de terem lu(ar neste mundo +uando
)artici)am de um movimento% )ertencem ao )artido"
No ter ra09es si(niica no ter no mundo um lu(ar reconhecido e
(arantido )elos outrosB ser su)$rluo si(niica no )ertencer ao mundo de orma
al(uma" 1 desarrai(amento )ode ser a condio )reliminar da su)erluidade% tal
como o isolamento $ a condio )reliminar da solido"
A solido% )ara Hannah Arendt% $% em sua ess*ncia 3sem atentar )ara
as suas recentes causas hist'ricas e o seu novo )a)el na )ol0tica5% ao mesmo
tem)o% contrria s necessidades 2sicas da condio humana e uma das
condi6es undamentais de toda vida humana"
31 isolamento e a solido no so a mesma coisa; en+uanto o isolamento se reere
ao terreno )ol0tico da vida% a solido se reere vida humana como um todo" sto $ 2astante
discutido em Origens do totalitarismo% )" 4V-4" Em +ual medida a aculdade de )ensar% +ue se
e&erce na solido% se estenderia esera )uramente )ol0tica onde eu estou sem)re com outrosB $
uma +uesto +ue Hannah Arendt ir desenvolver emA *ida do esprito% sua :ltima o2ra"5
A solido )assou a ser% em nosso s$culo% a e&)eri*ncia diria das
massas cada ve9 maiores% o +ue nos ameaa nas condi6es em +ue vivemos
ho=e no terreno da )ol0tica" #al como o medo e a im)ot*ncia +ue v*m cio medo
so )rinc0)ios anti)ol0ticos e levam os homens a uma ao contrria a uma ao
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)ol0tica% tam2$m a solido e a deduo mec?nica da l'(ica ideol'(ica
re)resentam uma situao anti-social e cont*m um )rinc0)io +ue )ode destruir
toda orma de vicia humana em comum"
3A +uesto da solido nas sociedades contem)or?neas $ discutida% de orma
)ertinente% )or David iesman" 1 autor a9 uma anlise dos )ro2lemas +ue deronta o indiv0duo
em toda )arte onde a moderna civili9ao industrial e de massas instalou seu ritmo e seus
)rocessos" iesman -A multid$o solit)ria5
1 +ue as ideolo(ias totalitrias visam no $ a transormao do mundo
e&terior ou a transmutao revolucionria da sociedade% mas a transormao da
)r')ria nature9a humana" Cara Arendt% o totalitarismo $% no undo% o mundo
invertido en+uanto )roclama a destruio de toda ao% en+uanto $ inau(urao"
Mono)oli9ao do )oder% isolamento de um indiv0duo totalmente
a2arcado e )rivado de ao% amn$sia% clandestinidade% destruio de toda
aculdade de =ul(amento% del0rio l'(ico% vontade de transormar a nature9a
humana; eis as caracter0sticas da inverso dos valores eetuadas )elo universo
totalitrio onde tudo $ )oss0vel e nada $ verdadeiro"
a )artir de um movimento +ue a2aa a ao em sua ori(em e torna
os homens su)$rluos +ue $ necessrio re)ensar o )ol0tico )recisamente como
um ant0doto a urna dominao +ue% rom)endo as reer*ncias tradicionais
3es+uerda-direita% ca)italismo-socialismo5 im)6e um novo crit$rio; a li2erdade"
A +uesto do totalitarismo $ o )ano de undo do )ensamento )ol0tico
de Hannah Arendt" De uma certa maneira% o totalitarismo marca tudo d relevo ao
)ol0tico arendtiano; o2turao radical de uma dominao total% ela o)6e um
es+uema normativo sem (overnantes nem (overnados onde $ reconhecido a
cada um o direito de a(ir% =ul(ar% decidir em comumB ao lu&o totalitrio +ue
desenrai9a e arrasa% ela res)onde )or uma rele&o centrada na esta2ilidade da
lei +ue re(e o )oder% e na autoridade como mem'ria )r')ria a i&ar o )ol0tico na
)erman*ncia de um mundo dierenciado" Kuando o totalitarismo se remete a uma
l'(ica inle&0vel% sem)re inclinada a resolver os acontecimentos dentro de uma
ordem su)erior% ela conia no vis0vel% na o)inio e no =ul(amento +ue somente
)ermitem enrentar o desa2amento da tradio"
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Se(undo Jh?telet no am)lo +uadro de )es+uisa so2re o totalitarismo%
Hannah Arendt ultra)assa o es)ao cr0tico do li2eralismo% do +ual ela )artilha as
)rinci)ais )ers)ectivas" sto )or+ue% ao )!r o acento nessa
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de todo motivo )articular e +ue so% )recisamente )or essa ra9o% ca)a9es de um
mal ininito" Nas )alavras de Hannah Arendt; 2 8$o estamos a"ui interessados na
maldade% com a "ual a religi$o e a literatura tentaram lidar% mas com o mal+ n$o
com o pecado e com os grandes *il:es% "ue se tornaram her(is na literatura enormalmente agiram por in*e,a ou ressentimento% mas com este todomundo "ue
n$o per*erso% "ue n$o tem moti*os especiais% e ,ustamente por isso capa! de
um mal in&inito+ ao contr)rio do *il$o% ele ,amais encontra sua mortal meianoite'2
1 +ue Hannah Arendt tenta a)ontar% no seu relato so2re a 2analidade
do mal% $ +ue o mal no $ ruto do e&erc0cio% mas so2retudo do no-e&erc0cio da
li2erdade" 1 mal% numa escala (i(antesca )ol0tica e social% tem% mais
re+Lentemente% sua ori(em na omisso" nesta conce)o arendtiana do mal+ue )retendemos a)oiar nossa rele&o so2re a 2analidade do mal% no )r'&imo
ca)0tulo"
Os homens normais no sabem que tudo possvel. David Rousset
A CONTRO$
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erusal$m a im de assistir ao )rocesso Eichmann como corres)ondente do =ornal
NeX Yorker" etomados no livro Eichmann em Jerusalm% seus arti(os vo
desencadear uma tem)estade )ol*mica +ue contri2uir )ara a cele2ridade da
autora% mas no )ara a com)reenso de seu )ensamento"
Acusada de *isar em tum5as ainda frescas = *or ter *osto em
causa a atitude dos consel,os 3udeus face ao na4ismo = ela sus*eita de
cum*licidade destes com o carrasco' ao *intar o retrato de um Eic,mann em
nada sdico' somente caracteri4ado *or uma terrificante 1su*erficialidade1-
Por isso' .anna, Arendt foi *osta no inde) *or 0rande *arte da comunidade
3udaica (ue (uis /er nela uma encarnao contem*or>nea do 1:dio de ser
3udeu1' teori4ado *or essin0-Antes mesmo de a2ordar os temas essenciais do livro Eichmann em
Jerusalm% $ necessrio evidenciar a controv$rsia +ue ele suscitou%
)rinci)almente entre al(uns setores da comunidade =udaica" Essa controv$rsia $
si(niicativa )ara a discusso +ue a+ui aremos% na medida em +ue revela a
e&tenso das +uest6es morais levantadas )or Hannah Arendt no livro"
Essa discusso durou a)ro&imadamente tr*s anos% desde sua
)u2licao e continua e)isodicamente at$ ho=e% en+uanto +ue o livro% at$ ,V%nos E"E"U"U"% = se encontrava na vi($sima edio" Kuase todos os livros +ue
tratam do holocausto% desde ,8/% reerem-se e&)l0cita ou im)licitamente a essa
controv$rsia e s violentas )ai&6es +ue ela suscitou" Cor +ue as mesmas )essoas
+ue rece2eram to 2em Origens do Totalitarismooram to reratrias em relao
a Eichmann em erusal$m> 1 +ue suscita tantas rea6es> E +ual o seu
si(niicado>
A anlise dessas +uest6es nos )ossi2ilita a com)reenso da mudana
decisiva +ue se o)era% durante esse )er0odo% no conceito arendtiano de mal e a
radicalidade de suas im)lica6es te'ricas e )ol0ticas" Cor outro lado% essa
)ol*mica oculta a orma com +ue Eichmann em Jerusalmesta2elece cone&6es
com Origens do Totalitarismo% e&traindo da0 a lio so2re o crime uncional e os
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Hannah Arendt se encontrava em)enhada% de um lado% no )ro2lema
dos vest0(ios do totalitarismo e% de outro% na sua )es+uisa hist'rica +ue culminou
com as Kuais oram os atos relatados +ue tiveram o )oder
de mo2ili9ar tamanha cr0tica> E +uais os )rinci)ais ar(umentos )ara as
acusa6es eitas ao livro e% at$ mesmo% )ara as acusa6es de cunho )essoal>
Kuais setores da comunidade =udaica se sentiram a(redidos )elo livro> Essas so
al(umas +uest6es colocadas )ara tentarmos a com)reenso dessa controv$rsia"
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As )(inas incriminadas tratam da estranha docilidade com a +ual os
conselhos =udaicos 3udenr?te5 coo)eraram com as autoridades na9istas%
)artici)ando indiretamente do e&term0nio de seu )r')rio )ovo"
Hannah Arendt resume suas )r')rias conclus6es em al(umas linhas;
2Onde "uer "ue *i*essem ,udeus% ha*ia lderes ,udaicos reconhecidos% e essa
lideran#a% "uase sem e>ce#$o% coopera*a de uma maneira ou outra% por uma
ra!$o ou outra% com os na!istas' e &ato% a *erdade "ue se o po*o ,udeu ti*esse
estado realmente desorgani!ado e sem lder% teria ha*ido o caos e muita misria%
porm o n
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tenha sido cate('rica ao airmar so2re os resultados de uma )oss0vel no-
coo)erao% ou de uma desor(ani9ao% mas isso $ uma +uesto +ue
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Hannah Arendt no a=udou a esclarecer a den:ncia e% al$m disso% a)esar de ela
ter e&)osto um verdadeiro )ro2lema moral desencora=ava a ar(umentao"
1utro )onto crucial da controv$rsia oi a ima(em +ue Hannah Arendt
traa de Eichmann% desa9endo uma ima(em 2em esta2elecida" Ela =amais
recorreu ao recurso das cate(orias conortveis de monstro e de mrtir% como
tam2$m no )actuou com as teorias da cul)a2ilidade ou da inoc*ncia coletivas"
Z )rocura de seu )r')rio =ul(amento% ela no evitou os =ul(amentos
di0ceis e oi o +ue ela e9% desde o instante em +ue viu Eichmann
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mais (eral e menos es)eciali9ado do termo% como um dilo(o silencioso de mim
comi(o mesmo" Em +ue medida essa aculdade de )ensar% +ue se e&erce na
solido% se estende esera )uramente )ol0tica% na +ual eu estou sem)re com o
outro> Essa $ outra +uesto"
Irias institui6es =udaicas% como o Jonselho dos udeus da
Alemanha% a Pi(a Anti-diamao da nai rith% e vrios re)resentantes da
im)rensa =udia americana% como " o2inson% )ara citar os mais im)ortantes%
decretaram verdadeira (uerra a Hannah Arendt e acusaram-na de lanar id$ias
diamat'rias so2re o )ovo =udeu"
A Pi(a Anti-diamao da nai rith se )!s em (uarda contra a id$ia%
de Hannah Arendt% considerada diamat'ria% de uma
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Hannah Arendt recusa-se a en(a=ar na controv$rsia ):2lica e no
res)onde aos seus detratores% limitando-se a)enas a res)onder s cr0ticas de
ami(os e anti(os cola2oradores e com)anheiros" Ao ser aconselhada )or um
ami(o< 3+ue veio diretamente de srael )ara isso5 a interrom)er a )u2licao deseu livro% ela se recusa% mostrando +ue as cr0ticas dos =udeus )odiam a9er de
seu livro uma cause c$le2re% )rovocando assim mais erradamente a comunidade
=udia do +ue tudo o +ue ela )oderia di9er )or si mesma"
Cara ela% icou claro +ue esse livro% mesmo antes de sua )u2licao%
se tornou tanto o centro de uma controv$rsia +uanto o o2=eto de uma cam)anha
or(ani9ada" Mas tal cam)anha% levada a eeito com todos os a)ereioados meios
criadores-de-ima(ens e mani)uladores-de-o)inio% chamou muito mais a atenodo +ue a controv$rsia% de maneira +ue esta :ltima oi en(olida e su)lantada )elo
ru0do artiicial da )rimeira"
No meio de tantas cr0ticas inconsistentes% )oucas de um n0vel altura
da di(nidade do assunto suscitaram a necessidade de uma res)osta ):2lica%
como oi o caso da cr0tica de Gershom Scholem" De)ois de tanto elo(iar Origens
do Totalitarismo% ele se chocou% mais do +ue com o conte:do% com o tom de
Hannah Arendt% conorme se v* nas se(uintes )alavras;
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necessria dentro de todo o Estado moderno )ara )revenir a rea)ario de um
movimento totalitrio anlo(o +uele +ue assolou a Alemanha
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eetivamente lancei as 2ases de uma nova moral )ol0tica" Em2ora isso se=a
inteiramente e&ato% no me $ =amais )ermitido di9*-lo% )or mod$stia"to para tra!er @ tona assuntos "ue s$o% aparentemente% mais
interessantes do "ue a culpa ou inoc;ncia de uma pessoa% ent$o a consist;ncia
e>ige "ue nos inclinemos diante da a&irmati*a &eita por Eichmann e seu ad*ogado-
"ue ele &oi tra!ido @ cena por"ue era necess)ria uma *)l*ula de escape% n$o s(
para a Rep
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ser omitidoB )or isso ela mant$m a )osio de +ue este =ul(amento deveria se
reali9ar nos interesses da =ustia e nada mais"
So2 o as)ecto =ur0dico% o =ul(amento levantou +uest6es im)ortantes a
serem discutidas% as +uais o )rocesso dei&ou sem res)osta )lena% +uest6es +ue
icaram som2ra% como% )or e&em)lo; +ual a res)onsa2ilidade do cidado )or
atos cometidos nos +uadros da licitude de um Estado so2erano e reconhecido
)elos demais> ul(ar% condenar% a2solver a al(u$m% em nome de +ue
)ar?metros>
Se(undo Errera%< trata-se de um )rocesso inaca2ado% e&atamente
)or+ue o =ul(amento% a)esar das inumerveis sess6es% no res)ondeu s
+uest6es undamentais e nem mesmo as )atenteouB )or isso% o )rocesso dei&aum sentimento de incom)letude e de )rounda insatisao"
1 autor discute as +uest6es undamentais so2re os as)ectos =ur0dicos%
hist'ricos e )ol0ticos levantados )elo )rocesso e conclui +ue nem a acusao%
nem os =u09es oram al$m da acusao do homem Eichmann @ acusado de um
crime determinado @ e este homem era im)ortante na medida em +ue ele
remontava ao sistema totalitrio% sendo dele um mediador indis)ensvel" No se
esclareceu como uncionava tal sistemaB se% )or e&em)lo% as ordens rece2idas)elos e&ecutantes eram 2astante )recisas +uanto ao +ue tinham de a9er" Desde
+ue o )rocesso tinha um im )eda('(ico% este no oi atin(ido"
Cara Hannah Arendt esse )rocesso oi marcado )ela omisso% )or+ue
dei&ou sem esclarecimentos +uest6es so2re a )assividade% a aus*ncia de
resist*ncia e a dolorosa )assa(em da
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uma minoria" 1s =u09es se recusaram a se tornar historiadores% +uando omitiram
+uest6es so2re a cola2orao das v0timas e so2re a resist*ncia"
Jonorme Errera% deve-se )er(untar se um tri2unal internacional no
estaria mais 2em e+ui)ado )ara dar uma )lena si(niicao a esse
acontecimento" Cois se $ le(itimo% em teoria% )reerir a universalidade
)articularidade% lastima-se +ue a evoluo do direito internacional no se=a eita
ao ritmo da hist'ria contem)or?nea e +ue um en!meno% radicalmente novo% tal
+ual o (enoc0dio% no tenha suscitado% at$ ho=e% a a)ario de conceitos e de
institui6es =ur0dicas +ue o a9em o2=eto de um consenso"
Cara o autor% )arece ade+uada a e&)licao se(undo a +ual os limites
)ol0ticos e =ur0dicos% atri2u0dos s institui6es =udicirias nos re(imes li2erais%tornam muito di0cil o *&ito total dos )rocessos )ol0ticos% na medida em +ue se
atri2ui a esses% como im% al$m da condenao ou eliminao dos acusados% um
conte:do )eda('(ico determinado" 1s =u09es dos Estados li2erais tendem a
=amais satisa9er )lenamente a+ueles +ue acreditam +ue a =ustia )ossui ins
didticos% isto $% )ol0ticos% ao =ul(ar os )rocessos )r')rios dos re(imes totalitrios"
Neste sentido% o racasso do )rocesso de erusal$m = est inscrito nos seus
)rinc0)ios"
Na viso de runo ettelheim% a o2ra Eichmann em erusal$m trata da
incon(ru*ncia% )or+ue h uma im)ossi2ilidade de se =ul(ar o totalitarismo atrav$s
de nosso sistema de )ensamento% incluindo o sistema le(al; )rimeiramente% )or
ser Eichmann um homem
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a incon(ru*ncia entre nossa conce)o de vida e a 2urocracia do Estado
totalitrio"
Em se(undo lu(ar% $ uma incon(ru*ncia entre a ima(em de homem
+ue n's temos% ori(inada do )ensamento renascentista e das doutrinas li2erais do
s$culo I e as realidades da e&ist*ncia humana no meio de nossa atual
revoluo tecnol'(ica" Neste conte&to% Eichmann no )ode ser considerado um
homem em sua maldade% mas um instrumento de destruio de milh6es" #udo o
+ue ele e outros i9eram )areceu-lhes )ereitamente le(alB tudo estava de acordo
com o +uadro de reer*ncia do Estado totalitrio" 1 termo
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Cara ettelheim% assim como )ara Hannah Arendt% este no oi o
:ltimo ca)0tulo do anti-semitismo% mas% )rinci)almente% o )rimeiro ca)0tulo do
totalitarismo moderno% e )or isso seria necessrio +ue Eichmann osse =ul(ado em
um tri2unal internacional" Code-se )ensar% )ois% +ue a real monstruosidade dosacontecimentos ica
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tentao de ser 2om
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uturo
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versos de Stean Geor(e no )oema
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suicientemente h2il )ara )erce2er +ue o horr0vel )ode ser no a)enas c!mico
mas tam2$m muito divertido
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carreiraB ele era um =ovem am2icioso% +ue estava arto do seu tra2alho de
vendedor am2ulante" Filiou-se S"S" )or oerecimento de um ami(o do )ai" No
conhecia o )ro(rama do )artido e nunca leu Mein 7am)" Jomo ele salientou na
corte%
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Dentre as caracter0sticas mais chocantes da )ersonalidade de
Eichmann est a sua lin(ua(em" A lin(ua(em administrativa era a :nica +ue
conhecia% )ois ele era inca)a9 de )ronunciar uma s' rase +ue no osse um
clich*" Kuando conse(uia ormar uma rase +ue e&ercia al(um eeito% ele a re)etiaat$ +ue se transormasse em rase eita" Carece +ue a ra+ue9a de Eichmann )or
rases 2om2sticas sem sentido real era anterior ao =ul(amento em erusal$m"
Ele =amais se )reocu)ava com +ual+uer
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so2re a realidade" A lin(ua(em de Eichmann $ o ti)o )ereito do +ue se )ode
chamar de press:es como 2tratamento especial2 para designar a morteG
Kuantos &ranceses &oram tran"Lili!ados sobre os campos so*iticos%
simplesmente por"ue eles eram chamados 2campos de reeduca#$o2+
simplesmente por"ue eles ade"uaram as pala*ras% @s simples pala*ras com
aspasG2Fica claro +ue $% de ato% um trao essencial do totalitarismo% este uso
mistiicante da lin(ua(emB sua uno $ criar e manter o aastamento da
realidade% e ela $ criada no s' )ara o uso da )ol0cia% mas )assa tam2$m a ser
uma lin(ua(em comum im)osta a todos"
No decorrer do )rocesso% e atrav$s de uma ateno curiosa e anlise
a(uda do +ue via e ouvia de Eichmann% Hannah Arendt )arece ter che(ado ao
)onto nodal de suas o2serva6es +uando concluiu;
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kadaver(ehorsam 3o2edi*ncia dos cadveres5B este termo = e&istia antes de
Hitler e oi tomado do e&$rcito im)erial )russiano"
sto era es)erado de todo soldado alemo e considerado uma das
suas )rinci)ais virtudes" Eichmann no somente escolheu tal la(rante ne(ao
de +ual+uer coisa humana% mas tam2$m im)!s isto aos outros" Ele ala +ue teria
mandado at$ seu )r')rio )ai morte% se isso lhe tivesse sido ordenadoB com isso%
ele mostrava como estava su=eito s ordens e )ronto a o2edec*-las% mas tam2$m
evidenciava +ue es)$cie de
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)rinc0)ios da lei" A onte de onde sur(e a lei% )ara 7ant% $ a ra9o )rticaB )ara
Eichmann% era a vontade do FLhrer" Em momento al(um Eichmann se )er(untou
so2re o
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1 (rande )ro2lema +ue se coloca com Eichmann $ +ue
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ancorar% a nosso ver% o seu )ensamento so2re o mal na )ol0tica"
A ANAIDADE DO MA = UM CONCEITO
no estatuto da novidade% +ue re(e a com)reenso do totalitarismo%
+ue Hannah Arendt lana a id$ia da 2analidade do mal" Sa2e-se +ue $ dentro do
relato do caso Eichmann +ue ela e9% )ela )rimeira ve9% meno
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reconhecia +ue a noo era esclarecedora e at$ mesmo )ercuciente% mas alertou
Hannah Arendt )ara +ue ela elucidasse verdadeiramente a +uesto ilos'ica
su2=acente a essa
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decorr*ncia% )ois se o radical si(niicasse a2soluto% o homem seria% de ato%
demon0aco"
E esse no $ =amais o homem na conce)o iluminista de 7antB se%
)ara ele% o homem $ inito% ele $% ao mesmo tem)o% ra9ovel" sso si(niica +ue%
se o homem tem uma )ro)enso )ara o mal% isto no e&clui o ato de +ue ele
tenha uma dis)osio ori(inal )ara o 2em" 1 2em e o mal coe&istem no conte&to
da li2erdade so2 a orma de um conlito sem)re )resente" E isso a9 com +ue% em
7ant% o homem tenha uma ess*ncia am20(ua e tr(ica% em2ora =amais
demon0aca" interessante o2servar +ue% em relao recusa da mali(nidade% o
)ensamento de Hannah Arendt est inteiramente consistente com o mal radical
kantiano% em2ora ela )area no ter )erce2ido isso"Hannah Arendt )ressu)6e +ue o mal% em2ora no sendo radical%
)ossa ser% contudo% e&tremo" Se% )ara ela% radical e e&tremo esto em relao de
e&cluso% )ara 7ant o conceito de mal radical no e&clui as ormas e&tremas de
mal" Kuando 7ant admite a )ossi2ilidade de uma din?mica de e&)anso do mal
radical% ele est% e&atamente% levando isso em conta" Em2ora ele no se reira a
isso de orma e&)l0cita% a id$ia de um mal e&tremo a)arece +uando ele se reere a
um
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Cara inali9ar essa +uesto% vale relem2rar o ato curioso% =
mencionado anteriormente% no Ja)0tulo % reerente aos )reconceitos +ue o mal
radical enrentou% em sua $)oca% ao atravessar o s$culo e che(ar at$ os
nossos dias" Em2ora se=a uma +uesto +ue merea ser mais am)lamentediscutida% no $ nosso o2=etivo a+ui a9*-lo"
Cassaremos% a(ora% a tratar de conus6es +ue )odem ser eitas a
res)eito do uso do termo 2anal% no conte&to da discusso so2re a 2analidade do
mal" So2re isso% Hannah Arendt esclarece; 28ada est) t$o distante do meu
prop(sito "ue o de minimi!ar o maior so&rimento do nosso sc