grandes sÍndromes geriÁtricas - edisciplinas.usp.br · iniciado pela letra “i”: imobilidade,...
TRANSCRIPT
1
GRANDES SÍNDROMES GERIÁTRICAS
Yeda Duarte
Como já vimos, com o envelhecimento ocorrem múltiplas alterações nos
diferentes sistemas orgânicos cujo resultado final é a progressiva diminuição de
nossa reserva funcional o que, em condições normais não acarreta maiores
problemas mas, em situações de estresse (de qualquer natureza) podem levar
à situação de desequilíbrio e incapacidade de readaptação ocasionando uma
descompensação progressiva que pode ser manifestada por diferentes agravos
ou doenças.
Também já comentamos que os idosos costumam apresentar sinais e
sintomas relacionados às doenças ou agravos de forma atípica, obscura ou
inexistente. Isso exige do profissional de saúde uma grande capacidade de
observação e a compreensão da necessidade de valorização da queixa da
pessoa idosa buscando, juntamente com ela, identificar o que está ocorrendo e,
intervir precocemente de forma a auxiliá-la em sua recuperação. Pelo fato da
reserva funcional da pessoa idosa ser progressivamente menor, a intervenção
precoce torna-se essencial para a melhoria da qualidade assistencial.
É comum que, entre as pessoas idosas, certos conjuntos de situações
ocorram com maior frequência e, a partir da análise minuciosa de cada uma
dessas condições, é possível compreender seus prováveis determinantes.
Tais condições são denominadas “grandes síndromes geriátricas” ou os
cinco “is” da geriatria pois a cada uma dessas condições foi dado um nome
iniciado pela letra “I”: Imobilidade, Instabilidade Postural, Iatrogenia, Insuficiência
cognitiva e Incontinência. Posteriormente acrescentou-se mais uma condição
denominada “Insuficiência familiar” e, mais recentemente ainda, incluiu-se a
“síndrome de Fragilidade” porém, nenhum nome iniciado por “i “foi encontrado
para denomina-la.
É sobre isso que vamos conversar nesse momento.
O primeiro ponto que devemos lembrar é que, uma “síndrome” se
caracteriza por múltiplas etiologias, ou seja, não existe uma causa única. Ela,
geralmente, não causa risco iminente de morte mas compromete, de forma
significativa, a qualidade de vida da pessoa acometida. Dada a multiplicidade
etiológica associada à síndrome, ela envolve terapêutica complexa e, de
2
preferência, uma abordagem multidisciplinar. No entanto, ainda hoje, pela
inadequada formação de muitos profissionais, as síndromes podem ser,
erroneamente, confundidas como parte do processo normal de envelhecimento
e, por essa razão, não serem adequadamente tratadas.
A figura a seguir, nos auxilia a compreender a relação das grandes
síndromes com o processo de envelhecimento:
Observa-se que a associação entre as alterações fisiológicas
relacionadas à senescência ou seja, ao processo “normal” de envelhecimento e,
as relacionadas à senilidade ou, as associadas aos processos de doença que
comumente acometem os idosos, pode levar às “grandes síndromes”. Na maioria
das vezes, não estamos atentos para essas condições embora convivamos com
os idosos diariamente. O que é mais comum, é darmos mais atenção para o que
se chama ‘epifenômenos” ou seja, as condições agudas, decorrentes das
síndromes, que acometem as pessoas idosas e, geralmente são as
responsáveis pela procura dos serviços de saúde. São exemplos dessas
condições as pneumonias e as fraturas pós quedas.
Uma síndrome geralmente leva à outra produzindo o que se denomina
“efeito dominó” cujo significado final é a piora significativa da qualidade de vida
da pessoa idosa e de seus familiares.
3
Vamos agora, conversar um pouco sobre cada uma das síndromes.
INSTABILIDADE POSTURAL
A Instabilidade Postural aumenta o risco de ocorrência de quedas. Pode
ser consequência de alterações no sistema locomotor (com alteração da
marcha), no sistema vestibular (vertigens, tonturas), no sistema sensorial (em
especial a diminuição da acuidade visual) e do sistema de propriocepção
(capacidade de perceber o próprio corpo e seu entorno).
A principal consequência dessa síndrome é a ocorrência de quedas que
são devastadoras na vida das pessoas idosas. A Secretaria do Estado de Saúde
fez, há alguns anos uma campanha de prevenção de quedas no Estado de São
Paulo tendo como slogam “Cair de maduro é só para fruta”, partindo do princípio
que cair na velhice, embora seja frequente, não é normal.
Queda é o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior
à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinada por
circunstâncias multifatoriais, comprometendo a estabilidade (Associação Médica
Brasileira, 2000). A queda é, geralmente, um evento sinalizador do início do
declínio da capacidade funcional ou sintoma de uma nova doença ou agravo.
Porque “Queda em idosos” é um evento tão importante?
4
Porque é frequente, pode ser devastador, comprometendo a saúde e a
independência dos idosos; pode levá-lo ao óbito e, além disso, custa caro tanto
para o Estado quanto para as famílias.
Estudos epidemiológicos apontam que 35% a 40% dos idosos com idade
igual ou superior a 60 anos caem ao menos uma vez ao ano, aumentando para
50% entre os idosos de 80 anos e mais e, 13% de todos os idosos caem duas
vezes ou mais ao ano e são chamados de “caidores”. Depois de um ano, 20%
dos “caidores” recorrentes estão no hospital, em uma instituição de longa
permanência (ILPI) ou morreram. Outros dados mostram que, entre os idosos
que sofreram quedas, 30 a 75% deles sofrem lesões, de diferentes tipos mas, a
maioria, não procuram assistência a não ser em casos mais graves.
As fraturas constituem os desfechos mais graves relacionados às quedas.
A fratura de quadril compreende cerca de 25% das fraturas pós-queda em idosos
da comunidade. A taxa de hospitalização por fratura de quadril em mulheres
acima de 65 anos nos EUA aumentou 23%.
Em São Paulo, no ano de 2000, encontrou-se uma prevalência de 28,6%
de quedas entre as pessoas idosas residentes na comunidade. Quando a
ocorrência desse agravo é analisada em contextos fechados como Instituições
de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) ou hospitais, verifica-se uma
prevalência três vezes maior (1,5 quedas/leito/ano).
Outro estudo colocou o Brasil em segundo lugar no relato de quedas como
causa de morte entre as pessoas idosas. Segundo dados do Ministério da
Saúde, em fevereiro de 2000, a taxa de mortalidade hospitalar em decorrência
de queda, foi de 2,6%. Essa taxa eleva-se dramaticamente com a idade, sendo
que 70% das mortes ocorreram com pessoas a partir dos 75 anos.
A queda figura entre as mais importantes causas de acidentes nesse
grupo etário e representa a principal causa de morte na categoria “traumas
externos”. Pesquisas mostram que, entre os idosos que sofreram queda há um
aumento de aproximadamente 50% na mortalidade no ano subsequente à
mesma. Alguns autores afirmam que metade dos idosos que sofrem fratura de
quadril em decorrência da queda ficam incapacitados e podem ser
institucionalizados e, desses, 25% morrerão em menos de seis meses, o que
mostra o impacto negativo desse agravo na sobrevida e na qualidade de vida da
pessoa idosa.
5
De 10 a 25% das quedas institucionais são acompanhadas por lesões,
muitas vezes dolorosas, e/ou fraturas, responsáveis pelo maior
comprometimento da mobilidade das pessoas idosas e por internações mais
prolongadas. Alguns estudos associam as quedas às internações hospitalares e
as quedas recorrentes uma importante causa de admissão prematura em ILPs.
Denomina-se caidor o indivíduo que teve uma queda no decorrer de seis
meses a um ano; caidor recorrente, aquele que teve duas ou mais quedas no
mesmo período e não caidor, aquele que não caiu.
Não é incomum que as pessoas idosas omitam a informação referente à
ocorrência de quedas para os profissionais de saúde, familiares ou cuidadores.
Isso ocorre ou por não estarem conscientes dos riscos associados às quedas ou
por as considerarem eventos comuns, ou ainda, por terem receio de serem
considerados frágeis e, também, por considerarem tal relato constrangedor.
Atualmente é considerada um “evento sentinela” responsável pelo
desenvolvimento de uma “cascata de problemas” conforme demonstrado no
exemplo a seguir:
Uma pessoa idosa sofre uma queda acidental e desenvolve medo de cair novamente.
Torna-se assim, mais insegura reduzindo as atividades físicas que costumava desenvolver. Isso
provoca menor mobilidade que, por sua vez, pode culminar com maior declínio funcional. Este
pode levar à perda da independência, repercutindo de forma significativa em sua qualidade de
vida.
Alguns autores descrevem os fatores biológicos envolvidos no processo
de envelhecimento, principalmente as perdas funcionais e as adaptações a
certas situações de estresse, redução da capacidade física, desenvolvimento de
alterações cognitivas, o que repercute em sua performance. Mesmo os idosos
mais saudáveis apresentam alterações de equilíbrio e força devido à diminuição
de sua capacidade sensorial, musculoesquelética e neurológica. Essas
alterações podem comprometer gradativamente a execução de suas atividades
cotidianas como levantar-se de uma cadeira, carregar as próprias compras, ir ao
cinema ou visitar um amigo ou outros familiares. Em consequência pode ocorrer
comprometimento da independência, podendo, em última instância, gerar
isolamento social que pode ser acompanhado por quadros depressivos,
interferindo na sua qualidade de vida.
6
Vários estudos apontam que uma das mais importantes consequências
das quedas é o desenvolvimento do “medo de cair”, seguido das fraturas,
hospitalização precoce, imobilização, institucionalização, isolamento social,
depressão e óbito.
“Ptofobia” é o nome dado para caracterizar a fobia de quedas das pessoas
idosas. A perda de confiança pode resultar na restrição das atividades. Além de
ocorrer entre os idosos que sofreram quedas, pode ocorrer também entre os que
não sofreram. As quedas geram sintomas como ansiedade e depressão além da
perda de confiança na própria capacidade de andar com segurança em
diferentes ambientes o que está associado ao declínio funcional, sentimentos de
inutilidade, isolamento social e depressão. Cerca de 45% dos idosos que caem
apresentam alguma limitação em suas atividades em decorr6encia de lesões
físicas ou por medo de cair.
Os quadros depressivos não são incomuns e estão relacionados ao
sentimento de impotência, desamparo e isolamento social, pela impossibilidade
de se locomover, quadros frequentemente presentes entre os idosos que
sofreram quedas com lesões, em especial fraturas. Alguns pesquisadores
consideram que um dos determinantes primordiais da qualidade de vida da
pessoa idosa é sua capacidade de deambulação. Estudo mostrou que, entre os
idosos que sofreram quedas, 88,5% deles tinham receio de cair novamente, 24%
sofreram fraturas,24,3% tiveram de abandonar suas atividades anteriores,
26,9% precisaram modificar seus hábitos e 23,1% desenvolveram a síndrome
de imobilidade.
A queda também gera impacto nos cuidadores e familiares de idosos com
demência, pois esses tornam-se mais ansiosos devido ao receio do idoso cair
novamente. Esse medo os transforma em pessoas super-protetoras e pode ter
como consequência uma maior restrição à autonomia da pessoa idosa.
Fatores de risco de quedas entre pessoas idosas
As causas associadas às quedas entre as pessoas idosas são
multifatoriais e complexas, resultado da associação de fatores individuais e
ambientais.
Chang e col identificaram como principais riscos associados às quedas
certos medicamento, alterações visuais, riscos ambientais e presença de
7
hipotensão ortostática. Para outros pesquisadores os fatores de riscos para a
ocorrência de quedas podem ser classificados em:
fatores intrínsecos;
extrínsecos ou ambientais;
situacionais ou comportamentais.
Entre as pessoas idosas esses fatores podem estar mais acentuados e
interligados, podendo levar à hospitalização ou institucionalização.
Os fatores intrínsecos estão relacionados às alterações fisiológicas
advindas do processo de envelhecimento (ex: alterações no equilíbrio,
estabilidade postural, diminuição da força, diminuição na acuidade auditiva e
visual, alterações posturais), a presença de comorbidades e o uso de múltiplos
medicamentos (polifarmácia).
As desordens cardiovasculares são responsáveis por 77% da procura
pelos serviços de emergência com histórico de quedas inexplicáveis, recorrentes
e associadas às perdas de consciência inexplicáveis. Essas causas podem ser
divididas em três grupos:
desordens mediatas neurológicas;
anormalidades intrínsecas cardíacas estruturais e rítmicas;
causas diversas.
A síncope vaso vagal é uma síndrome mediata neurológica e pode
ocorrer, em qualquer idade, em decorrência de situações geradoras de estresse
(p. ex: dor ou trauma emocional), podendo levar à perda da consciência. A
síndrome da carótida sinusal ou “ataque de queda” é uma doença que raramente
ocorre antes dos 50 anos e tem prevalência desconhecida. Ocorre, geralmente,
após manobras realizadas na carótida sinusal (lateralização da cabeça por um
esforço, dor ou permanência em pé tempo prolongado) podendo ser
acompanhada por amnésia ou perda da consciência. É mais frequente em
homens e essa associação pode estar relacionada à maior prevalência de
comorbidades cardiovasculares nesse grupo. A prevalência de hipotensão
ortostática aumenta com a idade. A hipotensão pós prandial pode ser
exacerbada na mudança postural. Sua prevalência é desconhecida assim como
a morbi-mortalidade associada. Todos esses achados justificam a necessidade
do desenvolvimento de intervenções que visem a prevenção desse agravo.
8
A denominada “marcha senil” também pode estar associada a maior
ocorrência de quedas entre as pessoas idosas. Essa marcha se caracteriza por
base alargada, diminuição do balanço dos braços, postura encurvada, flexão de
quadril e joelhos, passos mais curtos e maior lentidão ao caminhar. Esse tipo de
marcha representa uma tentativa de aumentar a estabilidade e a segurança ao
caminhar.
Com relação aos medicamentos, as drogas psicoativas têm um efeito de
lentificação da resposta, sonolência, hipotensão postural além de outros efeitos
colinérgicos como, por exemplo, a visão turva. Já os anti-hipertensivos podem
aumentar a chance de ocorrência de quedas devido a hipotensão postural.
Assim, é fundamental que o profissional de saúde que atende pessoas idosas
conheça os efeitos adversos associados aos medicamentos de forma a prevenir
a ocorrência de quedas associadas aos mesmos.
Entre os fatores extrínsecos destacam-se os riscos ambientais como
iluminação inadequada, pisos irregulares ou escorregadios, obstáculos no
caminho (móveis, fios), tapetes soltos, ausência de barras de apoio em
banheiros, ausência de corrimãos em escadas, roupas muito longas, calçadas
inadequadas, uso inadequado de tecnologia assistida (andador, bengala ou
cadeiras de rodas).
A maioria das quedas acontecem na residência dos idosos (70%) em
especial no quarto, na cozinha, no banheiro e na sala de jantar. Cerca de 10%
delas ocorrem nas escadas, sendo o primeiro e o último degrau os mais
perigosos.
Já os fatores situacionais ou comportamentais são representados por
algumas atividades que podem aumentar o risco de ocorrência do agravo como,
por exemplo, deambular de meia, ir ao banheiro à noite com as luzes apagadas,
subir em cadeira ou banquinho para pegar objetos localizados em níveis
elevados, andar apressadamente quando isso constitui um hábito etc.
Cerca de ⅓ dos idosos caem devido aos riscos ambientais existentes em
seus domicílios. Nesses locais, a maior frequência de quedas ocorre nas
escadas (subindo ou descendo) ou quando estão em pé. Quando se comparam
os sexos, verifica-se uma maior propensão masculina para cair fora da
9
residência, enquanto entre as mulheres, isso ocorre mais no interior da mesma.
Isso pode estar associado ao fato de os homens idosos ainda trabalharem e/ou
saírem mais enquanto as mulheres costumam ficar mais em suas casas
realizando os afazeres domésticos. Atualmente, no entanto, observa-se uma
contínua mudança nesse comportamento. Segundo Perracini e Ramos, vários
estudos tem indicado uma maior frequência de quedas entre as mulheres em
decorrência da presença de osteoporose embora não existam dados suficientes
para comprovar essa relação. Sabe-se, no entanto, que a presença de
osteoporose aumenta o risco de fraturas.
Evitar a ocorrência de quedas tornou-se um fato importante e desafiador.
Conhecer o histórico de quedas (definir o tipo de evento, como, onde e quando
ocorreu) é o primeiro passo para um adequado planejamento das intervenções
e das medidas preventivas. O histórico de quedas é o maior preditor de futuras
quedas entre as pessoas idosas residentes na comunidade, em instituições
hospitalares e em ILPIs. É necessária uma avaliação criteriosa da queda ocorrida
identificando detalhadamente seu histórico, medicações utilizadas pela pessoa
idosa, alterações visuais, de marcha, de equilíbrio, problemas nas articulações,
problemas neurológicos e cardiovasculares.
O roteiro de perguntas a seguir, contribui para uma melhor avaliação da
situação de quedas apresentadas pelas pessoas idosas:
a) Histórico de quedas nos últimos 3 meses
b) Onde caiu?
c) O que fazia?
d) Sentiu algo antes de cair?
e) Conseguiu levantar-se sozinho(a)? Necessitou de mais de 5 minutos para
se levantar?
f) Iniciou medicação nova ou alterou a dosagem de algum medicamento que
costumava tomar?
g) Você toma mais de 4 medicamentos diferentes por dia?
h) Ingeriu bebidas alcoólicas antes da queda?
i) Tem alguma doença crônica que estava/está descompensada?
j) Como está sua capacidade funcional (capacidade em desempenhar de
forma independente suas atividades do dia a dia)?
k) Foi ao oftalmologista recentemente?
10
l) Peça que descreva a casa e os ambientes onde costuma circular para
avaliar riscos ambientais;
m) Verifique evidências de maus tratos incluindo abandono e auto
negligência.
As intervenções nas situações de ocorrência de quedas são multifatoriais.
Exercícios programados com ênfase no treinamento de equilíbrio e marcha,
modificações nos esquemas medicamentosos (aprazamento), tratamento de
hipotensão postural, alterações no ambiente físico tornando-o mais seguro, e
tratamento das desordens cardiovasculares são alguns exemplos.
Promover a saúde da pessoa idosa inclui medidas de prevenção de
quedas onde se destacam:
a) Avaliação geriátrica ampla com medidas corretivas adequadas;
b) Racionalização do uso de medicamentos;
c) Redução do consumo de bebidas alcoólicas;
d) Avaliação da acuidade visual;
e) Avaliação nutricional;
f) Estímulo à atividade física para fortalecimento muscular, melhoria do
equilíbrio e marcha e da amplitude articular, aumento da flexibilidade e
alongamento;
g) Correção de fatores de risco ambientais (p. ex: barras de apoio no
banheiro, piso antiderrapante no banheiro e cozinha);
h) Conscientização e modificação de comportamentos de risco
IMOBILIDADE
A Síndrome da Imobilidade (SI) envolve a incapacidade de deslocamento
sem o auxílio de terceiros para os cuidados necessários à vida diária podendo o
idoso estar restrito ao leito ou a uma cadeira de rodas. Caracteriza-se por um
conjunto de alterações decorrentes de um período de imobilização prolongada
que comprometem a independência e, consequentemente, a qualidade de vida
da pessoa idosa. Estima-se uma prevalência de 25% a 50% após hospitalização
prolongada e 75% entre os idosos institucionalizados. Na comunidade essa
prevalência é menor, girando em torno de 25%.
11
A SI é multifatorial envolvendo uma associação entre polipatologias,
aspectos psicológicos e sociais. Suas principais causas são:
a) Problemas osteoarticulares incluindo problemas nos pés (deformidade,
calosidade, ulcera plantar);
b) Alterações cardiovasculares (AVC, insuficiência cardíaca, doença arterial
periférica);
c) Doenças respiratórias (DPOC);
d) Iatrogenia medicamentosa (neurolépticos, ansiolíticos, hipnóticos)
e) Doenças neurológicas e psiquiátricas (demência, depressão, Parkinson);
f) Desnutrição;
g) Quedas repetidas;
h) Isolamento social
A imobilidade prolongada gera um progressivo declínio funcional que atinge
vários sistemas orgânicos. Tais alterações associadas às decorrentes do próprio
envelhecimento acabam por ocasionar a SI que pode estar associada a várias
complicações como desenvolvimento de úlceras por pressão, trombose venosa
profunda, embolia pulmonar, isquemia arterial aguda, fraturas, incontinência, retenção
urinária, infecções, atrofia muscular, encurtamento dos tendões, contraturas,
constipação, delirium, inversão do ritmo do sono, depressão, entre outras.
A SI representa o máximo da incapacidade funcional sendo difícil sua
reversão após sua instalação. Daí ser fundamental sua prevenção a partir de um
trabalho conjunto entre os profissionais de saúde e os familiares da pessoa
idosa. Algumas medidas de prevenção podem ser ressaltadas:
Identificar dos fatores de risco
Restringir o tempo no leito
Iniciar fisioterapia passiva e ativa
Treinar o idoso, quando restrito ao leito por qualquer razão, a:
o Elevar o quadril
o Deslocar-se lateralmente
o Virar-se no leito
Iniciar deambulação precoce sempre precedida da fase em posição
sentada
Apoio nutricional e psicológico.
12
INCONTINENCIA ESFINCTERIANA
Entre as incontinências, a urinária é a mais comumente observada nas
pessoas idosas. Isso não faz dessa condição algo “normal” na velhice, muito pelo
contrário. Ela representa uma alteração que deve ser investigada e tratada dadas
seu impacto na qualidade de vida das pessoas acometidas.
A incontinência urinária tem importante impacto social gerando estigma
social capaz de causar restrições das atividades sociais, isolamento e
depressão.
Vamos inicialmente lembrar algumas alterações na micção que ocorrem
com o envelhecimento. Em primeiro lugar vamos lembrar as alterações que
ocorrem nos dois sexos. É mais comum entre os idosos a noctúria ou seja, urinar
à noite. Há uma redução da contratilidade e da capacidade de armazenamento
vesical, diminuição da habilidade em retardar a micção, aumento do volume
residual (quantidade de urina na bexiga após a micção aumenta para 50 a 100
ml) e surgimento de contrações não inibidas do detrusor (essas contrações
espontâneas eram, antes, inibidas pelo centro inibitório da micção).
Nos homens, a hipertrofia da próstata é comum, deslocando a pressão
para o colo da bexiga e resultando em retenção urinária, incontinência e infecção
do trato urinário (a próstata é uma “esfera” que abraça a uretra e seu aumento
leva a um estrangulamento da mesma dificultando a passagem da urina). Os
idosos podem apresentar dificuldade em iniciar a micção e na manutenção do
jato urinário.
As mulheres idosas, em especial as multíparas, podem apresentar
incontinência por estresse ou seja, liberação involuntária de urina quando do
aumento da pressão intra-abdominal (tosse, espirro, carregar peso,
gargalhar,etc) em decorrência do enfraquecimento da musculatura pélvica e da
bexiga. Pode ainda ocorrer outros tipos de incontinência (urgência, funcional,
hiperfluxo e mista) mas isso não deve ser considerada uma alteração normal do
envelhecimento.
Cerca de 1/3 das pessoas idosas com incontinência apresentam causas
reversíveis como delirium, infecção urinária, uretrite e vaginite atróficas, restrição
da mobilidade, aumento da diurese, impactação fecal (alteração do ângulo entre
o reto e a uretra com obstrução parcial da última), distúrbios psíquicos, uso de
13
determinados medicamentos (diuréticos, sedativos, antidepressivos,
analgésicos opióides, antipsicóticos) ou substâncias (cafeína, álcool).
Toda pessoa idosa com queixa de perda involuntária de urina, dificuldade
em controlar a micção, dificuldade em segurar a urina até chegar ao banheiro
deve ser cuidadosamente avaliada. Essa avaliação inclui anamnese, exame
físico e análise da urina.
Na anamnese investiga-se a história da incontinência e seu impacto
social. Perguntas como: quando começou, é intermitente ou contínua, ocorre de
dia ou à noite, a caminho do banheiro e/ou durante algum esforço; devem ser
incluídas. Deve-se ainda investigar a presença de polaciúria (aumento da
frequência miccional), disúria (dor à micção), enurese (perda involuntária de
urina dormindo), intervalo entre as micções, sensação de esvaziamento da
bexiga insuficiente, características do jato urinário. Incluir na avaliação a
presença de constipação intestinal, acesso ao banheiro, cirurgias prévias,
doenças neurológicas e uso de medicamentos.
O tratamento da incontinência não é padronizado. Deve ser personalizado
para cada idoso. Deve-se investigar a(s) causa(s) tratando-se as reversíveis
como, por ex, uso de antibióticos para os casos de infecção; de estrogênio tópico
para atrofia genital acentuada; enemas e laxativos para impactação fecal;
diminuição da restrição ao leito, etc.
Os tratamentos farmacológicos e os cirúrgicos são de indicação médica e
feitos após minuciosa avaliação.Também devem ser utilizados os tratamentos
não farmacológicos que envolvem modificações ambientais e técnicas corporais.
As primeiras visam facilitar o acesso ao banheiro e tornar mais fácil e seguro seu
manuseio (iluminação adequada, barras de apoio). A segunda envolve a
realização de exercícios para fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico
(treinamento vesical, exercícios de Kegel, cones vaginais, biofeedback e
eletroestimulação) e a criação do hábito miccional (ir ao banheiro em intervalos
regulares independente da vontade de urinar).
O uso de tampões uretrais, absorventes e fraldas podem ser grandes
aliados na melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa.
14
Mais rara porém presente é a incontinência fecal (IF). Dados do Estudo
SABE mostram que 7% das pessoas idosas residentes no município de São
Paulo referem a presença de IF.
Devemos lembrar que o intestino sofre várias alterações com o processo
de envelhecimento que podem ocasionar maior prevalência de constipação,
neoplasias e doença diverticular. Alterações na inervação intestinal e na
musculatura podem ocasionar hipotonia e diminuição dos movimentos que
impulsionam o bolo fecal.
Não é incomum que idosos com impactação fecal (fecaloma) queixem-se
de perda de “fezes líquidas” que nada mais são do que muco eliminado pelo
ânus produzido pelo intestino na tentativa de “empurrar” as fezes impactadas. O
desconhecimento desse tipo de situação pode levar a uma conduta errônea
como o tratamento da perda fecal como diarreia o que pioraria significativamente
o quadro apresentado.
O tratamento deve ser feito com o uso de enemas, laxativos, uso de fibras
e aumento na ingestão de líquidos.
A real incontinência fecal é geralmente associada a alterações no
esfíncter anal externo e está associada a presença de AVC, neuropatia periférica
(diabetes) e declínio cognitivo. Suas consequências são tão ou mais desastrosa
que as observadas na IU e, por essa razão, devem ser adequadamente
abordadas.
IATROGENIA
Iatrogenia refere-se a um estado de doença, efeitos adversos ou
complicações causadas por ou resultantes do tratamento médico. O termo deriva
do grego iatros (médico, curandeiro) e genia (origem, causa), e pode aplicar-se
tanto a efeitos bons como ruins.
Em farmacologia, o termo iatrogenia refere-se a doenças ou alterações
patológicas criadas por efeitos adversos associados aos medicamentos. De um
ponto de vista sociológico, a iatrogenia pode ser clínica, social ou cultural.
Embora seja usada geralmente para se referir às consequências de ações
15
danosas dos médicos, pode igualmente ser resultado das ações de outros
profissionais não médicos.
Desde o tempo de Hipócrates reconhece-se o potencial efeito lesivo das
ações de uma pessoa que tenta curar. O princípio da não-maleficência (primum
non nocere) é um ponto importante da bioética e a doença ou morte iatrogênica
causada intencionalmente, ou por erro evitável ou negligência de quem cura, é
considera um crime na maioria das civilizações.
Com o desenvolvimento da medicina científica ao longo dos séculos mais
recentes, a grande evolução das técnicas e dos medicamentos disponíveis
permitiu uma enorme queda da mortalidade iatrogénica.
Condições iatrogênicas não resultam necessariamente de erros médicos,
tais como falhas durante uma cirurgia, ou a prescrição do medicamento errado.
De fato, tanto os efeitos intrínsecos como os derivados de um tratamento médico
podem ser iatrogênicos. Por exemplo, a radioterapia ou quimioterapia, devido à
agressividade necessária dos agentes terapêuticos, causam perda de cabelo
(alopécia), anemia, vómitos e náuseas, entre outros. Estes efeitos são
iatrogênicos porque são consequência do tratamento médico.
Há situações onde podem realmente ocorrer negligência ou falhas nos
procedimentos, como quando uma prescrição com má caligrafia leva à dispensa
do medicamento errado podendo levar a efeitos danosos ao paciente tratado.
Uma causa muito comum de efeitos iatrogênicos é a interação
medicamentosa, que ocorre quando um ou mais medicamentos alteram os
efeitos de outros que estão sendo tomados pelo paciente, aumentando ou
diminuindo a sua ação.
Efeitos adversos como reações alérgicas a medicamentos, mesmo
quando inesperadas, são uma forma de iatrogenia.
A evolução de antibióticos pode ser iatrogênica, já que geralmente ocorre
como resultado de uma má utilização dos antibióticos.
Em relação às pessoas idosas, as interações medicamentosas que
ocasionam reações adversas a medicamentos (RAM) constituem as principais
condições iatrogênicas. Segundo a OMS, as RAMs são definidas como qualquer
16
efeito nocivo, não intencional e não desejado de uma droga ocorrendo em doses
usadas para profilaxia, diagnóstico ou tratamento.
Quando dois ou mais medicamentos são administrados simultaneamente
duas situações podem ser observadas. Na primeira, denominada indiferença
farmacológica, cada medicamento age provocando os feitos desejados sem
qualquer interação com o(s) outro(s). Na segunda, ao contrário, os
medicamentos interagem ou seja, a ação de um interfere nos efeitos do outro
podendo haver sinergismo (potencialização) ou antagonismo (prejuízo na ação
do outro).
Entre os idosos essas situações podem ocorrer com maior frequência
dado o uso de múltiplos medicamentos e, muitas vezes pela presença da
denominada polifarmácia (uso de 5 ou mais medicamentos diferentes). Por outro
lado, a iatrogenia também pode estar associada ao uso das denominadas drogas
potencialmente impróprias para pessoas idosas integrantes da lista de BEERS.
Para minimizar essas ocorrências, alguns cuidados são necessários com
as prescrições das pessoas idosas:
a) Esteja atento à presença de reações adversas e tratamentos
desnecessários;
b) Considere a adesão, a informação e o tipo de embalagem do
medicamento (pode confundir os idosos) e escolaridade da pessoa
idosa;
c) Investigue a automedicação;
d) Atenção ao aprazamento entre as drogas (amplos intervalos entre as
doses);
e) Revise a prescrição em todo atendimento do idoso e relembre com ele
a indicação de cada medicamento;
f) Investigue reações adversas potenciais;
g) Esteja atento a possíveis interações medicamentosas.
INSUFICIÊNCIA COGNITIVA
Entende-se por cognição o conjunto de funções cerebrais formadas pela
memória (armazenamento das informações), função executiva (capacidade de
planejamento, antecipação, sequenciamento e monitoramento de tarefas
17
complexas), linguagem (compreensão e expressão da linguagem escrita e oral),
praxia (capacidade de executar um ato motor), gnosia (capacidade de
reconhecimento de estímulos visuais, auditivos e táteis) e função visuo-espacial
(capacidade de localização no espaço e percepção das relações entre os
objetos). O funcionamento integrado dessas diferentes funções permite que os
indivíduos interajam entre si e com o mundo buscando resolver as situações e
dificuldades cotidianas (capacidade de decidir) que juntamente com nosso
humor (motivação) são responsáveis pela manutenção da autonomia da pessoa
idosa.
A senescência não afeta a cognição de forma significativa. As alterações
que ocorrem, como já vimos anteriormente, levam a uma lentificação do
processo cognitivo, redução da atenção, maior dificuldade no resgate das
informações apreendidas e redução da memória prospectiva e contextual
(dificuldade com detalhes) o que não acarreta prejuízo importante no
desempenho das atividades cotidianas.
A incapacidade cognitiva é um diagnóstico sindrômico que envolve
esquecimento confirmado por familiares, dificuldade no desempenho de
atividades cotidianas e alteração na triagem cognitiva. Está associada a quatro
grandes causas:
a) Demência
b) Depressão
c) Delirium
d) Doença mental.
As pessoas idosas podem apresentar desordens depressivas caracterizadas
pela baixa do humor e variabilidade na gravidade. Existe depressão sintoma e
depressão doença. A tristeza é um sentimento que pode estar presente em
vários momentos da vida mas é insuficiente para inviabilizar completamente os
projetos de vida da pessoa que preserva o interesse em algumas atividades. A
perda geradora da tristeza é gradativamente superada e permite uma vida
psíquica normal.
18
Já a depressão caracteriza-se pela presença de humor deprimido (sensação
de vida vazia, irritabilidade, emotividade excessiva, choro frequente, considera-
se um peso para a família e acha a morte uma solução); perda de interesse ou
prazer com as atividades que antes eram agradáveis; perda ou ganho
significativo de peso; insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor;
fadiga ou perda de energia; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou
inadequada; diminuição da capacidade de concentração, pensamentos
recorrentes de morte ou ideação suicida.
A prevalência de depressão nas pessoa idosas varia de 10% (idosos da
comunidade) a 30% (residentes em ILPIs). É ainda sub diagnosticada e, por essa
razão, sub tratada nesse grupo. Requer atenção dos profissionais de saúde pois
compromete significativamente a qualidade de vida das pessoas idosas e de seu
entorno familiar.
O delirium é de instalação aguda e caracteriza-se pela presença de
alterações do nível de consciência e pelo comprometimento global das funções
cognitivas (memória, percepção, linguagem, etc). Geralmente está associado a
quadros infecciosos e alterações metabólicas que devem ser investigadas e
tratadas. Uma vez tratada a causa, tendem a desaparecer. A principal pergunta
a ser feita para auxiliar na identificação do problema é “há quanto tempo a
pessoa idosa está apresentado o quadro”. Instalações repentinas sugerem a
presença de delirium.
Doenças mentais de início tardio também podem comprometer a cognição
das pessoas idosas. As mais comuns são parafrenia tardia (quadro intermediário
entre a esquizofrenia e a paranoia), esquizofrenia residual e oligofrenia, as duas
últimas com histórico de doença mental prévia.
DEMENCIAS
Demência é o nome dado ao conjunto de alterações que ocorrem no
cérebro das pessoas modificando suas capacidades intelectuais. O termo
“demência” significa que a pessoa apresenta déficits de memória associados
com dificuldades em pelo menos um outro setor, de intensidade suficiente para
restringir as atividades diárias. Antigamente, quando as pessoas idosas
19
apresentavam esse tipo de problema diziam que estava “esclerosada” ou pior,
que estavam “caducando” e achavam que isso era normal, simplesmente porque
elas eram velhas. Existem vários tipos de demência, mas a mais frequentemente
observada nas pessoas idosas é a Doença de Alzheimer nome esse atribuído
ao médico psiquiatra alemão Alois Alzeimer que, em 1907, identificou mudanças
no tecido cerebral de uma mulher (Sra August D.) que havia morrido de uma rara
doença mental.
Caracteriza-se como uma doença crônica, degenerativa e progressiva e,
ainda hoje, incurável. Gradativamente as pessoas acometidas por essa doença
vão apresentando problemas de memória, dificuldades no raciocínio (não
conseguem resolver problemas do dia a dia), desorientação temporal (dia, mês
e ano em que estamos), dificuldade com operações matemáticas (fazer contas),
dificuldade de linguagem e alterações de comportamento (agitação, alucinações,
delírios, etc). Esses problemas interferem no desempenho das atividades
cotidianas do próprio idoso e das pessoas que o cercam. Ela é entendida como
um grupo de sintomas que frequentemente acompanham a doença ou condição.
Sua causa ainda não está completamente esclarecida.
Embora a Doença de Alzheimer (DA) seja mais frequentemente
observada em pessoas idosas, ela não é própria do envelhecimento, pois pode
acometer pessoas em qualquer período da idade adulta. Assim, é uma doença
que se associa à idade, mas não é devida à idade. Nessa doença ocorre a morte
de células do sistema nervoso (neurônios) iniciando-se em uma região do
cérebro ligada à memória. Com o avançar da doença a morte celular vai se
expandindo para outras áreas do cérebro e comprometendo outras habilidades
intelectuais e de comportamento. A evolução da doença pode variar de três anos
(em pessoas com diagnóstico aos 80 anos) até dez ou mais anos se o
diagnóstico ocorrer em idades mais jovens.
As primeiras queixas são sempre relacionadas à memória (esquece
compromissos, onde colocou as chaves, os óculos, esquece alimentos no fogo
e mesmo com o cheiro de queimado não se lembra que os deixou lá, esquece
recados, pagamento de contas, aniversários, etc). Como muitas pessoas, sem a
doença, também podem apresentar parte ou muitos desses esquecimentos,
essa queixa não é valorizada pelo próprio idoso ou por seus familiares. Como
20
esses esquecimentos vão se acentuando isso pode gerar quadros de ansiedade
ou depressão.
Esses sintomas vão se somando a outros, como dificuldade em aprender
novas tarefas, lidar com tarefas que exijam raciocínio ou operações
matemáticas. Tarefas que habitualmente eram feitas em problemas podem
começar a se tornar penosas. Podem apresentar dificuldades em dizer o nome
das coisas, ele vê uma colher, sabe pra que ela serve, é capaz de descrever mas
não consegue nominá-la ( ele diz ...aquilo que usamos para tomar sopa...).
De modo geral, as primeiras atividades cujo desempenho é comprometido
pela doença, são as mais complexas (administração de finanças, uso de
transportes públicos, dirigir um carro, fazer compras, preparar uma refeição), as
atividades que costumava fazer (pequenos consertos domésticos, costura,
bordado) e, posteriormente, as atividades mais simples (vestir-se, banhar-se,
etc).
Essas queixas serão confirmadas por exames neuropsicológicos
específicos para avaliar a memória, a linguagem, a capacidade de cálculo, o
raciocínio, o julgamento entre outros. O diagnóstico definitivo, no entanto, só
pode ser feito por biópsia cerebral ou autópsia. Isso normalmente não é feito, a
biopsia pelos riscos e por não trazer nenhum benefício ou modificação ao
tratamento da pessoa e a autopsia só em feita após o óbito (ajudará para
pesquisa, mas não para o tratamento da pessoa idosa de quem cuidamos).
COMO EVOLUI A DOENÇA DE ALZHEIMER?
Embora o curso da DA não seja o mesmo para todas as pessoas, os
sintomas desenvolvidos na maioria das vezes, seguem os mesmos estágios
gerais.
a) Estágio pré clínico: regiões do cérebro ligadas à memória de curto e
longo prazo começam a ser afetadas. Essas mudanças possivelmente se
iniciam 10 a 20 anos antes dos primeiros sinais e sintomas perceptíveis.
Iniciam os primeiros sintomas de perda de memória, ainda pouco
significativos;
b) Estágio inicial: nessa fase a doença começa a afetar o córtex cerebral,
a perda de memória continua a evoluir e outras habilidades cognitivas
começam também a ser afetadas. Normalmente é nessa fase que é feito
21
o diagnóstico clínico. Os principais sinais incluem: perda de memória,
dificuldade em se localizar no espaço (ao sair de casa pode não conseguir
voltar), demora mais tempo para desempenhar as atividades do dia a dia
que sempre fez; apresenta problemas para administrar as finanças e
pagar as contas; dificuldades de julgamento frente a problemas levando-
o a decisões ruins; perda espontaneidade e do senso de iniciativa;
mudanças de humor e de personalidade que podem aumentar a
ansiedade. Nessa fase a pessoa pode ainda parecer saudável mas
começa a apresentar dificuldades no desempenho de atividades mais
complexas no dia a dia.
c) Estágio moderado: fase em que a doença avança para outras áreas do
córtex cerebral que controlam a linguagem, raciocínio, processamento
sensorial e consciência. As regiões afetadas ficam mais atrofiadas
continuam a se atrofiar e os sinais e sintomas da doença tornam-se mais
pronunciados. É a fase em que os problemas comportamentais, como
agitação e perambulação, podem ocorrer exigindo maior supervisão e
cuidado. Os familiares geralmente têm muita dificuldade em lidar com
essa fase. Os principais sinais e sintomas observados são: perda de
memória mais acentuada; confusão mental; dificuldade em manter a
atenção; problemas no reconhecimento de amigos e familiares;
dificuldade com linguagem; problemas com leitura e com números;
dificuldade em se organizar e pensar com lógica; incapacidade em
aprender novas coisas ou em lidar com situações inesperadas, agitação,
perambulação, dificuldade em repousar, medo e ansiedade,
especialmente ao entardecer; alucinações, ilusões, irritabilidade,
desconfiança ou paranóia; perda de controle dos impulsos (uso de
linguagem vulgar; despir-se em locais e momentos inadequados, utilizar
modos não aceitos socialmente); problemas de percepção espacial
(dificuldade em levantar da cadeira ou se posicionar na mesa). O
comportamento do ser humano é resultado de complexos processos
cerebrais. Na DA esse processo é afetado ocasionando situações
estressantes ou comportamentos inapropriados. Por exemplo: a pessoa
idosa pode reagir furiosamente recusando-se a tomar banho ou a trocar
22
de roupa simplesmente porque não está compreendendo o que o
cuidador está pedindo a ele e, se ele entender, pode não se lembrar como
fazer isso. A fúria é uma forma de mascarar a ansiedade ou a confusão;
para a pessoa idosa faz sentido tirar a roupa quando sente calor, o que
ela não entende ou se lembra é que isso não é aceitável que isso seja
feito em locais públicos.
d) Estágio avançado: é o último estágio da DA, há várias áreas do cérebro
atrofiadas. As pessoas não mais conseguem reconhecer familiares e
pessoas queridas ou se comunicar com os outras; são completamente
dependentes da ajuda de outras pessoas. Outros sintomas incluem: perda
de peso; dificuldade em deglutir (engolir); infecções de pele; gemidos
constantes; maior sonolência; incontinência urinaria e fecal. Geralmente
ficam acamados parte ou todo o tempo o que propicia a instalação de
quadros infecciosos como, por exemplo, pneumonia, que poderão levá-la
a óbito.
23
No conjunto, a evolução da doença é progressivamente lenta, mas a
pessoa pode apresentar períodos nos quais seu estado fica estável (platôs) que
podem durar meses e, às vezes anos, após os quais pode ocorrer uma piora
brusca.
Quadros de piora brusca também podem estar associados à ocorrência
de outros problemas de saúde que o doente não saberá explicitar. Assim, na
vigência dessas situações, sempre é necessário investigar.
Hoje existem algumas medicações para tratamento da DA, elas não vão
curá-la, vão apenas tornar sua progressão mais lenta. Sua associação com
outras medicações vai permitir o controle dos sintomas associados como
alterações de comportamento, agressividade, agitação, depressão e apatia.
A pessoa idosa com DA pode também ser portadora de uma ou mais
doenças crônicas simultâneas (hipertensão, diabetes, etc) que continuam a
requerer o mesmo acompanhamento de antes do diagnóstico da demência. Se
isso não for feito, tais doenças poderão descompensar agravando a
sintomatologia apresentada.
Se a opção da família for manter a pessoa idosa com DA em sua casa ou
na casa de algum parente é necessário que sejam algumas medidas de
segurança sejam providenciadas para evitar a ocorrência de acidentes.
CONDIÇÕES GERAIS DE SEGURANÇA:
Com o avançar da doença as pessoas idosas tornam-se cada vez menos
capazes de se cuidarem sozinhas e em segurança. Alguns princípios de
segurança gerais podem ser úteis:
1. Prevenção de riscos: é muito difícil antecipar o que uma pessoa com DA
pode fazer. O fato de ainda não ter acontecido nada de mais grave não
significa que ela não é motivo de preocupação pois acidentes sempre podem
ocorrer. Fazer uma revisão da casa buscando controlar ou minimizar
situações de possível perigo é, assim, recomendável;
2. Adaptação do ambiente: será mais fácil modificar o ambiente do que mudar
a maioria dos comportamentos;
24
3. Redução do perigo: reduzindo o perigo pode-se aumentar a independência.
Um ambiente seguro pode ser menos restritivo e a pessoa idosa poderá
circular com mais segurança e liberdade.
ALGUNS LEMBRETES:
Coloque os telefones de emergência e o endereço de sua casa ao lado
de todos os telefones existentes na casa;
Coloque uma secretaria eletrônica para atender ao telefone quando não
puder fazê-lo e programe-a para fazê-lo ao menor número de chamadas
possível. A pessoa idosa com DA pode não estar capacitada a receber
recados e pode ser vítima de trotes maldosos que podem ocasionar uma
reação catastrófica (ver mais adiante). Guarde aparelhos celulares em
locais seguros para que não se percam;
Instale alarme de incêndio em todos os cômodos da casa;
Evite o uso e a existência no interior da casa de produtos inflamáveis ou
voláteis;
Instale fechaduras de segurança em todas as portas e janelas que dão
para o exterior;
Guarde do lado de fora da casa, em local seguro, uma chave reserva, pois
a pessoa idosa com DA pode trancar a porta e deixá-lo para fora;
Procure não deixar fios elétricos pelo caminho; proteja as tomadas com
dispositivos apropriados;
Certifique-se que todos os cômodos contam com iluminação adequada;
Instale interruptores de luz no início e no final das escadas;
As escadas devem ter, no mínimo, um corrimão que vá do primeiro ao
último degrau;
Guarde todos os medicamentos em local seguro e trancado;
Mantenha bebidas alcoólicas trancadas em local seguro e fora do alcance
da pessoa idosa;
Mantenha o ambiente organizado, a desordem pode levar à confusão;
Retire móveis ou enfeites dos locais de circulação da pessoa idosa;
Guarde sacolas plásticas em locais seguros e trancados (a pessoa pode
acidentalmente asfixiar-se);
25
Retire da casa armas de fogo;
Guarde todas as ferramentas e materiais elétricos na parte externa da
casa;
Elimine plantas venenosas do interior da casa;
Se tiver aquários, mantenha-os fora de alcance.
Cozinha:
Instale fechaduras de segurança nas portas dos armários e nas gavetas
onde existirem materiais cortantes, perfurantes ou quebráveis;
Guarde em local seguro fósforos, produtos de limpeza, facas, talheres,
louça valiosa;
Não utilize nem armazene líquidos inflamáveis na cozinha;
Mantenha uma luz noturna acesa na cozinha durante a noite;
Guarde pequenos objetos em uma gaveta trancada (a pessoa idosa com
DA pode confundi-los com alimentos);
Retire frutas e verduras artificiais da cozinha bem como enfeites de
geladeira com aparência de produtos comestíveis;
Quartos:
Mantenha uma luz noturna acesa no quarto durante a noite;
Mantenha um intercomunicador ligado no quarto da pessoa idosa com DA
(daqueles que se utiliza no quarto de bebês) para avisá-lo de qualquer
ruído que indique queda ou necessidade de ajuda;
Retire ventiladores ou aquecedores portáteis;
Encoste a cama na parede ou, em último caso, coloque o colchão no chão
(para evitar quedas);
Banheiro:
Nunca deixe o idoso com DA, sozinho no banho;
Retire a fechadura interna do banheiro para evitar que o idoso se tranque
em seu interior;
Coloque tapetes antiderrapantes no interior do box e na frente do lavabo;
Eleve o assento do vaso sanitário ou coloque barras de apoio a seu lado;
26
Instale barras de apoio no chuveiro preferencialmente de cores
contrastantes com a parede;
Coloque uma cadeira ou banco de plástico no interior do box para facilitar
o banho, instale chuveirinho manual;
Prefira chuveiros elétricos que utilizam uma só chave para mistura da
água. Aquecedores com entradas separadas para água fria e quente
podem ser motivo de acidentes;
Coloque ralo com filtro na pia para evitar a perda de pequenos objetos;
Mantenha uma luz noturna acesa no banheiro durante a noite;
Retire do banheiro todos os aparelhos elétricos pequenos;
Proteja as tomadas com protetores específicos;
Sala:
Retire fios soltos de todas as áreas de circulação;
Retire tapetes soltos;
Repare o assoalho se apresentar algum piso solto;
Identifique todas as estruturas de vidro com um decalque contrastante;
Guarde em local seguro controles remotos, aparelhos de som, DVDs, etc
COMPREENDENDO OS DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO
Os portadores de DA por não conseguirem expressar seus sentimentos e
emoções como outras pessoas fazem, pode recorrer a comportamentos não
usuais ou até estranhos, chegando, às vezes, a ser perigosos. Embora muito
difícil e complexo, é importante tentar compreender o significado desses
comportamentos. A maneira como o cuidador reage aos comportamentos do
idoso refletem no mesmo. Se o cuidador está irritado, cansado e zangado
(muitas vezes com razão), ele, provavelmente, se sentirá da mesma forma. É
importante que se compreenda que essas reações não são intencionais ou
pessoais. Ele não as tem “de propósito”.
ALGUMAS DICAS...
Perambulação: Esse costuma ser um comportamento frequente; pode
expressar inquietação, insegurança ou falta de atividade física.
27
“ele caminha sem parar, de um lado para outro do quarto”
“ele fica, à noite, andando ao redor da mesa, por horas seguidas”
O que fazer?
Embora esse comportamento possa ser muito irritante para o cuidador,
ele, em si, não causa nenhum mal ou coloca a pessoa em perigo. Deixe-o andar.
Se isso acontecer à noite e ele residir em um apartamento, providencie um
calçado confortável com solado de borracha para não fazer barulho e incomodar
os vizinhos do andar de baixo. Reorganize o ambiente de forma a permitir que
ele tenha espaço para andar sem ficar se chocando com móveis ou outros
obstáculos. Se for um comportamento constante procure organizar caminhadas
externas com ele, preferencialmente à tarde, em lugares pouco agitados.
Perguntas repetitivas: Esse é outro comportamento frequente e igualmente
perturbador. Ele faz sempre as mesmas perguntas mesmo quando o cuidador
acabou de respondê-la. Ele também pode repetir as mesmas frases e gestos
constantemente. É preciso entender que o problema de base dessa pessoa é a
memória. Ele repete as perguntas por que não memorizou as respostas. Cada
vez que ele pergunta, para ele é como se fosse a primeira vez. Esse
comportamento também pode expressar insegurança e ser a tradução de um
pedido de ajuda. É uma forma de chamar a atenção do cuidador. Ações ou
frases repetitivas podem expressar aquilo que ainda ele consegue fazer e que,
de alguma forma o interessa ou o preocupa. Assim, uma mãe com DA pode falar
ao telefone com o filho todos os dias, em diferentes momentos e sempre
perguntar se ele se alimentou (independente da hora), se dormiu, se está bem.
O que fazer?
Não adianta se irritar ou tentar argumentar, apenas responda e entenda
que é o máximo de elaboração que ela está conseguindo chegar. Não adianta
dizer que você “já respondeu mais de 20 vezes”, isso só vai aumentar a
insegurança do doente. É um comportamento, de fato, cansativo, monótono e
irritante mas não gera perigo algum. Deixe-o perguntar. Procure responder à
pergunta de forma clara e precisa, lenta e articuladamente e peça que ele repita
o que você disse.
28
Se a pergunta repetitiva estiver relacionada à hora (que horas são?),
procure responder relacionando-a com alguma atividade (é hora do almoço, do
jantar, de tomar banho, etc). A atividade ainda pode servir como uma referência
de tempo enquanto o valor da hora provavelmente perdeu seu significado
concreto.
Ele(a) o(a) segue por toda parte:
Você pode representar a única referência de segurança que ele ainda
tem, o resto do mundo pode parecer hostil e ameaçador. Pode também ser um
comportamento “mimético” ou seja, o doente reproduz os gestos, atitudes, idas
e vindas do seu cuidador. Isso ocorre pela evolução da doença onde o doente
perde sua autonomia em relação ao ambiente e passa a imitar o comportamento
das pessoas ao seu redor, é um comportamento de dependência social. Pode
ainda representar a angústia que sente em ficar sozinho.
O que fazer?
Procure entretê-lo com algum tipo de atividade que ele gosta de fazer e
que o distrai. Momentaneamente ele vai esquecê-lo, mas permanecerá tranquilo
porque sabe que você está por perto. Tente descobrir outras pessoas ou
parentes com quem ele se sente tranqüilo e veja a possibilidade de essas
pessoas virem, rotineiramente, visitá-lo. Isso o auxiliará a manter outros vínculos
e não se sentir inseguro na sua ausência. Acostume-o também a ficar sozinho
em alguns momentos.
Apatia ou tristeza: Ele poderá se apresentar assim em diferentes momentos,
em especial quando for ficando cada vez mais dependente. Pode representar
um mecanismo de defesa contra o fracasso. Pode começar a apresentar uma
menor reação às circunstancias emocionais, não quer fazer nada, nada o
agrada, não quer mais sair. Ele passa a reagir menos aos eventos felizes ou
infelizes (arrefecimento afetivo). Ele tende a aumentar com o avançar da doença
e a comprometer as atividades do dia a dia. Isso tende a afetar também suas
relações sociais e familiares aumentando seu isolamento.
29
O que fazer?
Avalie a capacidade remanescente do doente e proponha atividades
programadas que ele consiga desempenhar. Essas atividades podem fazê-lo se
sentir útil e integrado. Busque as atividades que lhe dão prazer e faça-as junto
com ele. Mas avalie bem, pois se ele não conseguir desempenhar a atividade
isso pode induzi-lo a perceber seu fracasso aumentando a angústia ainda mais.
Evite que ele faça o que não se sente capaz de fazer. Não o coloque em
situações de hiperestimulação, dê-lhe tempo para entender o que lhe foi
solicitado e para que tente responder. Valorize seus sucessos, mesmo que
mínimos.
Inquietação, nervosismo: As dificuldades apresentadas pelo doente no dia a
dia modificam sua autopercepção e geram angústia. A desorientação (no tempo
e no espaço) gera insegurança e ansiedade. No início da doença ele tem
dificuldade em entender o que está acontecendo e entra em pânico por seus
lapsos de memória e por perder a confiança em si mesmo. Com o avançar da
doença, ele pode se sentir frequentemente diante de um fracasso pois já não
sabe avaliar o que é ou não capaz de fazer e tem medo que as pessoas o
julguem um incapaz.
O que fazer?
Não tente argumentar ou explicar. Procure transmitir-lhe calma e
tranquilidade (atenção ao tom de voz e postura corporal), se ele perceber que
você está irritado com a situação, isso vai deixá-lo ainda mais nervoso. As
palavras são importantes, mas podem não ser suficientes, toque-o gentilmente
mostrando seu afeto. Fique a seu lado e procure fazer com ele as tarefas que o
angustiam. Procure melhorar a autoestima do doente elogiando-o quando
arrumado e limpo, ressaltando seus feitos manuais ou artesanais ou suas tarefas
concluídas. Isso mostra reconhecimento e atenção e transmite confiança.
Alucinações e ideias delirantes: A pessoa idosa com DA pode referir que vê,
ouve ou sente coisas, pessoas ou animais que não existem (alucinações) na
realidade ou ainda pode referir temor ou expressar pensamentos que não
condizem com a realidade (ideias delirantes). Geralmente as alucinações são
30
visuais, simples ou muito elaboradas. Podem também ser auditivas (ouve a mãe
chamando, alguém falando, etc). Na maioria das vezes são fenômenos
transitórios. Podem ser favorecidas por comprometimentos sensoriais (redução
da visão ou da audição). As consequências das alucinações dependem de sua
natureza e de como são vivenciadas tanto pelo doente quanto por quem o cerca.
Alucinações acompanhadas de agitação podem estar associadas a um evento
clínico e o médico deve ser comunicado. As ideias delirantes representam uma
interpretação equivocada de uma situação vivida. As mais comuns são roubo,
ciúme ou está convencido que querem se livrar dele. Elas se caracterizam como
uma convicção absoluta e inabalável do doente que ele pensa serem
verdadeiras. Elas resistem a qualquer prova em contrário ou evidencias da
realidade. Elas são geralmente transitórias e limitadas a um campo determinado,
Normalmente não evoluem para um delírio que toma conta da vida do doente.
Não se sabe sua causa, mas sabe-se que estão associadas às lesões cerebrais
ocasionadas pela doença e, também, à dificuldade do doente em interpretar a
realidade em decorrência de sua desorganização mental. Ideias de roubo ou
ciúme podem afetar as relações afetivas, diminuir sua motivação e a de outras
pessoas o que afetará a qualidade dos cuidados prestados.
O que fazer?
Não entre em pânico e não tente argumentar dizendo que aquilo que ele
refere ver, sentir ou ouvir não é real. Para ele é bem real e ele tem plena
convicção disso resistindo a qualquer tentativa de lhe mostrar o contrário. Se for
possível, remova-o do ambiente ou comece outro assunto muito diferente como,
por exemplo, o que fez durante o dia. Procure prender sua atenção com uma
atividade prazerosa. No caso de ideias delirantes, se você for o alvo das
acusações, não leve como uma ofensa pessoal. Não se zangue, por mais que
pareça, não é pessoal. Se o alvo for outra pessoa, procure certificar-se da
veracidade da situação (pode não ser verdade mas, pode também ser). Deixe-o
falar, procure não tomar partido, evite argumentar, alimentar ou contradizer suas
colocações, tranquilize-o e desvie sua atenção para uma atividade de
substituição.
31
Esconder objetos: Ele pega uma coisa que pensa que precisa, coloca-a em um
lugar que lhe pareceu adequado naquele momento e, em seguida, esquece que
a pegou e onde a colocou. Por essa razão, ele não vai entender sua irritação. É
comum que os doentes coloquem os objetos em locais inusitados e que não se
lembrem onde estão ou neguem tê-los pego. Isso ocorre geralmente porque ele
esqueceu o que devia fazer com esses objetos ou se distraiu quando os pegou
ou ainda, para não ter que reconhecer seus déficits, nega ter visto ou pego o
objeto em questão. Há situações em que ele vai referir que foi roubado e pode
acusar a você ou a outra pessoa que trabalha na casa gerando situações tensas.
O que fazer?
Não o repreenda, ele não fez por mal. Possivelmente quis realmente
guardá-lo, mas não vai se lembrar nem que o pegou e nem onde o colocou. A
noção de significado das coisas pode estar perdida ou alterada. Assim, procure
os objetos perdidos em todos os possíveis esconderijos (qualquer lugar onde ele
possa caber). Considere olhar dentro dos bolsos das roupas no armário, dentro
de sapatos e bolsas guardados, embaixo do tapete, do colchão ou de outros
objetos maiores, dentro do lixo, da geladeira, atrás de almofadas, etc. Para evitar
essas situações procure ser organizado e não deixe objetos de valor (chaves,
talão de cheques, contas) ao alcance do idoso. Procure diminuir o número de
“esconderijos” possíveis. Retire as chaves das gavetas deixando-as trancadas.
Nunca despreze o lixo sem olhar seu interior. Tenha sempre cópias das chaves
mais importantes e coloque-as em lugares distintos.
Ele fica repetindo que quer ir para casa, mas está nela: Em conseqüência da
doença ele está desorientado e pode ter dificuldade em reconhecer o ambiente
como familiar, principalmente se foi modificado.
O que fazer?
Não tente argumentar e explicar que ele está na casa dele. Tire-o do
ambiente, dê uma volta e retorne. Isso pode bastar para que ele se acalme. Se
estiver muito agitado, coloque-o no carro e de uma volta mais longa.
32
Ele não se reconhece mais no espelho ou aos membros da família: É triste,
mas é próprio da doença e seus mecanismos ainda não estão totalmente
esclarecidos. Não significa que houve uma falha no cuidado, apenas evolução
da doença. Pode ocorrer que ele reconheça a foto da esposa no álbum de
casamento, mas não reconheça a mulher que está a seu lado como sendo ela.
Ele pode olhar no espelho e conversar com sua imagem como se fosse um
estranho ele pode até achar que as pessoas que vê na televisão são
personagens reais e iniciar uma conversa com eles.
O que fazer?
É necessário explicar aos familiares que sofrem muito com essas
situações por mais que entendam que isso é causado pela doença. Oriente-os a
não tentar argumentar, não guardar rancor, não se torturar e, acima de tudo não
repreendê-lo. Lembre-os da inutilidade em ficar repetindo o nome e o papel das
pessoas, ele não será capaz de fixar. Às vezes essas situações são transitórias,
oriente-os a sair brevemente do ambiente e, retornar depois, pois isso pode
bastar para minimizar a situação.
Ele troca o dia pela noite: Isso pode acontecer por várias razões. Com o
envelhecimento, a pessoa tende a dormir menos horas. Ela pode apresentar
períodos de sonolência durante o dia e o cuidador permitir que ela durma por
longos períodos o que vai interferir no sono noturno (pequenos cochilos não são
ruins); ela pode ainda não ter nenhum gasto energético durante o dia (falta de
atividade física). Pode acordar à noite e se sentir desorientada e perdida ficando
com medo, inquieta e ansiosa.
O que fazer?
Mantenha uma programação rotineira de atividades durante o dia, pois
assim, à noite, ele estará fisicamente mais cansado. Assegure-se que o quarto
é um ambiente calmo e acolhedor onde o idoso se sente confortável e em
segurança. Tranque portas e janelas que dão acesso à rua ou ao exterior da
casa ou apartamento. Instale uma lâmpada noturna para que, ao acordar, ele
consiga perceber o ambiente onde está. Programe passeios mais longos, mas
de forma bem planejada e preferencialmente à tarde. Cerifique-se que ele
33
esvaziou a bexiga antes de deitar. Caso ele levante e você não veja, ao perceber
procure se aproximar dele com calma, de frente, olhando em seus olhos, falando
delicadamente e lembrando-o quem você é. Mostre-lhe que está escuro, não
adianta dizer “que é noite”, pois isso pode não ter mais nenhum significado.
Converse calmamente com ele e tente levá-lo de volta ao quarto. Caso ele insista
em ficar acordado, proponha alguma atividade para entretê-lo.
Reações catastróficas: A pessoa com DA gradativamente vai perdendo a
noção de tempo e de espaço assim ela pode não saber onde está, se é dia ou
noite, que horas são, etc. Isso o deixa muito inseguro e desorientado. Ele pode
reagir desproporcionalmente às situações apresentadas gritando, chorando,
batendo o pé ou até se tornando agressivo. A agressividade verbal é mais
frequente que a física. Ele age assim porque não consegue adequar sua reação
à situação que vivencia, ele vê ameaça e perigo onde não existem e apenas
reage a essas sensações que, para ele são reais.
O que fazer?
Para o cuidador essas são situações sempre difíceis de lidar pois cansam,
estressam e magoam. O cuidador sempre fica se perguntando o que ele fez para
desencadear essa situação. Muitas vezes não fez nada ou, fez algo que foi
inadequadamente interpretado. Quando ocorrer esse tipo de situação procure
manter a calma e tente controlá-la. Não grite com o idoso ou o segure com força,
pois ele pode se sentir ameaçado e agredido o que só irá piorar o quadro. Não
se afaste, fale com ele em tom normal, com devagar e com delicadeza; se estiver
chorando console-o. Não tente argumentar ou racionalizar nem tente se
justificar, isso só piorará a situação. Se ele ficar agressivo, não tente segurá-lo,
saio do seu alcance, mas deixe que ele continue visualizando sua pessoa.
Aguarde que a ira tende a passar. Esqueça o ocorrido após passar. Não tente
voltar a ele tentando conversar a respeito, isso não vai ajudar. Por mais difícil e
ilógico que pareça, geralmente há uma razão para o desencadeamento dessas
situações. Procure descobrir qual é para poder evitá-la. Se isso acontecer em
um ambiente público não se estresse e não sinta vergonha. Procure afastar as
pessoas e explique que a pessoa é portadora de DA. Hoje em dia essa doença
34
já é bem conhecida e alguém a conhecerá e poderá ajudá-lo a conter a situação
conversando com as pessoas que estão começando a aglomerar ao seu redor.
Ele sai na rua e não sabe voltar para casa: O doente pode fugir de casa
caracterizando uma fuga ou se perder em um trajeto corriqueiro caracterizando
uma andança a esmo. As fugas geralmente ocorrem após alguma contrariedade
ou por algum distúrbio de reconhecimento (não reconhece a casa, a esposa e
foge para encontrá-los). O vagar a esmo está ligado à desorientação e à
memória espacial. Ele sai, se perde, não encontra o caminho de volta, perde as
referências e começa a vagar. Isso pode ocorrer porque está tentando chegar a
um antigo endereço. Elas podem ser potencialmente perigosas, pois a pessoa
pode andar longas distâncias e não conseguir pedir ajuda. Pode cair, ficar
exposta a frio ou calor intenso, à chuva, ser agredida. Sua expressão (ar incerto
ou perdido) ou atitude podem levar as pessoas a pensarem, erroneamente, que
se trata de um alcoolista ou drogado e se afastarem dele recusando ajuda. Em
cidades pequenas essas situações são menos problemáticas, pois geralmente
as pessoas se conhecem e podem ajudar. Numa cidade como São Paulo, a
pessoa pode, simplesmente, desaparecer.
O que fazer?
Não entre em pânico, analise calmamente a situação. Dê uma volta rápida
no quarteirão. Se a busca começar rapidamente ele poderá ser encontrado em
um raio de 1,5km de sua residência. Vá aos lugares que costuma ir quando sai
com ele perguntando se as pessoas o viram; telefone para a polícia e saiba como
descrevê-lo lembrando-se de como estava vestido quando desapareceu; avise
os familiares. Como essa situação pode ser bastante comum, o ideal é preveni-
la. Avise vizinhos e comerciantes próximos sobre a doença do idoso e que ele
poderá se perder. Forneça seu telefone para os mesmos para que eles possam
avisá-lo numa eventual circunstância dessas. Não deixe que o idoso use objetos
de valor (jóias) ou carregue seus documentos originais. Providencie um
identificador, que pode ser uma pulseira ou pode ser costurado na parte interna
da roupa contendo nome, sobrenome, endereço e telefone de contato. Procure
ter sempre uma foto da pessoa idosa atualizada para auxiliá-lo (ou à polícia) na
busca. Mantenha as portas de acesso à rua, trancadas e as chaves em locais de
35
difícil acesso. Colocar uma cortina ou uma tapeçaria cobrindo a porta também
auxilia. Não se desespere e não se sinta necessariamente culpado. Procure
prevenir essas situações e mantenha a família sempre orientada quanto a essa
possibilidade. Saiba sempre para quem deve ligar se isso acontecer. Tenha
sempre à mão telefones úteis (polícia, bombeiros, pronto-socorro, hospitais e
serviços de urgência próximos, do médico do idoso e do parente que costuma
ajudar. Quando ele for localizado, procure entender porque ele agiu dessa
maneira, isso auxiliará no estabelecimento de um planejamento preventivo para
novas ocorrências semelhantes.
Síndrome do “sundown”(por do sol): Os distúrbios de comportamento podem
acontecer mais frequentemente em determinados horários do dia. É o caso do
final da tarde, conhecido como sundown (pôr do sol). Nesse horário, o doente
fica mais agitado, mais confuso e desorientado. Começa a seguir o cuidador pela
casa toda, fica andando de um lado a outro e pode ver ou ouvir coisas que não
existem. Isso pode ocorrer porque o doente perdeu a noção de dia e noite, ele
confunde os dois períodos e perde a noção de suas respectivas atividades. O
aumentar da escuridão pode provocar a sensação de medo aumentando sua
insegurança.
O que fazer?
Pesquise uma causa física ou medicamentosa, converse com o médico.
Tranquilize-o procurando ficar ao lado dele nesse momento e repita calmamente
que ele não tem nada a temer. Inicie uma atividade de substituição que ele goste.
Programe o dia para ter um fim de tarde calmo evitando tudo que possa causar
estimulação excessiva (menos barulho, menor número de pessoas circulando,
menos agitação).
A pessoa idosa com DA tem comportamentos sexuais inadequados: Esse
tipo de comportamento pode estar relacionado às modificações da vida afetiva,
à perda de julgamento crítico (desinibição ou conveniências sociais). Geralmente
o doente apresenta uma diminuição da libido e da atividade sexual, mas, às
vezes, pode ocorrer o contrário, aumentando. Isso pode ser expresso de
diferentes maneiras: masturbação na frente de terceiros, uso de palavras ou
36
gestos obscenos, assédio sexual com seu cuidador, propostas sexuais a uma
pessoa desconhecida, apalpar pessoas desconhecidas ou com quem não tem
qualquer intimidade. As manifestações inadequadas podem ser resultado da
manutenção das necessidades sexuais. Mas, com a doença, ele está
desorientado e pode ter perdido a conveniência social manifestando seus
desejos de forma intempestiva (quando, como e onde não se deve). A
manifestação mais frequente costuma ser “falta de pudor” (aparece nu na frente
de visitas, crianças ou estranhos). É necessário entender e explicar para a
família que esses comportamentos são devidos à ausência de crítica, não são
intencionais.
O que fazer?
São situações extremamente delicadas para todos os envolvidos. Caso
ainda exista o companheiro ou a esposa, converse sobre a possibilidade de
manutenção, na medida do possível, de uma vida sexual ativa; da troca de
gestos carinhosos (acariciar, beijar, manter maior contato físico). Lembre-se que
o(a) idoso não está com más intenções, está apenas respondendo a estímulos
que não controla mais.
Fale sobre possíveis alterações de seu comportamento sexual para evitar
surpresas desagradáveis. Caso ele(a) tire a roupa em público, explique que não
é exibicionismo, ele apenas esqueceu a importância e o significado social do fato
de estar vestido. Não o(a) repreenda, leve-o(a) gentilmente de volta a seu quarto
para vesti-lo(a). Explique às pessoas que ele(a) está doente e por essa razão
não sabe que tais atitudes são inadequadas. Ele(a) não teve a intenção de
chocar ninguém. Se a pessoa idosa se masturba, entenda e explique que ela o
faz porque sente prazer, mas que a doença a fez perder o sentido das
convenções sociais. Se ele fizer isso em privacidade, deixe-o; se não, leve-o
gentilmente ao seu quarto, volte e explique o que está acontecendo.
O QUE FAZER QUANDO SAIR COM O IDOSO COM DA DE CASA?
Procure levá-lo ao banheiro antes de sair. Não pergunte apenas se ele
está com vontade de ir ao banheiro, lembre-se que ele pode não fazer mais a
associação necessidade/ação. Verifique se as roupas que está utilizando são
37
adequadas e fáceis de despir e vestir. Prepare uma valise com roupas adicionais
para poder trocá-lo em caso de “acidentes”; inclua toalha e lenços higiênicos.
Assim que chegar ao destino, localize o banheiro mais próximo e
acompanhe-o até lá. Auxilie-o, pois será um ambiente estranho e ele poderá
apresentar dificuldades. Faça isso a cada duas horas aproximadamente. Fique
atento a sinais que demonstrem que ela tem vontade de ir ao banheiro (ficar
inquieto ou tentar tirar a roupa), aja rápida, mas calmamente.
COMO RECONHECER SINAIS DE DESCONFORTO
Com o avançar da doença, o idoso vai apresentando dificuldades em
expressar desconforto, dor ou mal estar. O cuidador precisa estar atento para
poder auxiliá-lo buscando reconhecer sinais que possam mostrar isso e
buscando suas causas. Dificilmente ele utilizará palavras para expressar, Ele
poderá chorar, gritar, ficar agitado ou muito apático. O comportamento não terá,
necessariamente, uma causa evidente ou direta ele só está apontando que algo
está errado. A tensão emocional pode ser expressa por inquietação, agitação e
nervosismo. Pode começar a andar de um lado para outro, mexe insistentemente
em alguma coisa ou em si mesmo. Apatia e passividade podem estar
relacionadas ao avançar da doença. O cuidador deve estar atento se a instalação
desse quadro foi repentina, pois pode indicar alterações físicas (doenças,
infecções, etc). Sempre haverá uma razão para os sinais de desconforto. O
cuidador poderá identificá-las mais facilmente se construir um bom vínculo com
a pessoa de quem cuida e estar atento a seus sinais.
COMO OCUPAR O TEMPO LIVRE
As atividades do dia-a-dia com um idoso com DA, quando
adequadamente executadas, ocupam boa parte do dia pois levarão mais tempo
para serem executadas. Mesmo assim, sobrará algum tempo livre que deverá
ser preenchidas com atividades estimuladoras e planejadas. Por muito tempo a
pessoa idosa poderá manter suas capacidades físicas podendo e devendo ser
estimulado a utilizá-las. Desenvolvimento de atividades diversas tem muitas
vantagens: manutenção da capacidade funcional; redução da dependência;
diminuição do tédio e do isolamento; melhora da auto estima do idoso.
38
Para o alcance dessas vantagens, o cuidador deve estar atento a três
regras básicas:
As atividades propostas devem mobilizar as capacidades físicas e
mentais remanescentes dos idosos:
o Não proponha atividades que sabe ele não consegue mais
desempenhar;
o Procure conhecer os hábitos e preferências dos idosos e propor
atividades que já faziam antes.
O cuidador não deve fazer a atividade PELO idoso mas COM o idoso:
O cuidador deve dar ao idoso o tempo necessário para a execução da
atividade.
QUAL O CRITÉRIO DE ESCOLHA DAS ATIVIDADES?
Escolha atividades concebidas para adultos;
As atividades devem ser concretas e de utilidade reconhecida (varrer a
casa, estender a toalha na mesa, etc);
Estarem centradas em coisas que ele sabia e gostava de fazer;
Devem ter, preferencialmente, curta duração;
Devem ser divididas em pequenas sequências claramente indicadas;
Demonstre como fazer quando o ver com dúvidas mas, não faça por ele;
A qualidade do produto não deve ser importante, a execução e o
entretenimento causado é que importam é a atividade;
Passear é adequado e estimulante do ponto de vista físico, cognitivo e
social. O período da tarde é o mais indicado. Procure fazer os mesmos
trajetos, a rotina auxilia a desorientação causada pela doença. Procure
um lugar ou horário mais tranquilo (menos barulho, menor tráfego).
Estimule-o durante o passeio, conversando, mostrando as coisas. Não
tenha pressa, o passeio não é uma corrida. Se ele quiser parar, faça uma
pausa;
Atividades culinárias para as mulheres costumam ser familiares e
estimulantes. Evite objetos cortante ou que possam quebrar. Oriente-a
passo a passo e supervisione a atividade valorizando seus acertos.
39
ALGUMAS DICAS PARA O BOM CUIDADO DE UM IDOSO COM DEMENCIA
DE ALZHEIMER:
Lembre-se sempre que você está cuidado de uma pessoa que tem uma
doença crônica e progressiva que, pode apresentar problemas de
comportamento conforme for avançando;
A agitação ou mudança de comportamento não é intencional ou
deliberada;
Carinho, afeto, atenção, calma tornam o cuidado do idoso com DA mais
fácil de ser desempenhado;
O idoso com DA esquece as coisas, inclusive seu passado, não adianta
ficar remoendo ou lembrando coisas ruins que já aconteceram;
É necessário estar sempre atualizado quanto à doença e os progressos
em relação a seu tratamento;
Procure desenvolver boas técnicas de comunicação tanto com o doente
quanto com seus familiares;
Mantenha sempre um ambiente organizado, calmo, tranqüilo e
encorajador;
Demonstre segurança naquilo que vai fazer com o idoso, se ficar inseguro
ele irá perceber e pode se agitar;
Procure controlar situações que possam ser constrangedoras para ele,
nunca o exponha ao ridículo;
Retire-o de situações que possam gerar frustrações ou possam assustá-
lo, faça-o calmamente, distraindo-o;
Trate-o com naturalidade e como um adulto, sempre com muito respeito;
Seja realista, não espere que o idoso apresente grandes melhoras;
Nunca discuta com o idoso nem argumente muito, ele não irá compreendê-
lo só perceberá sua irritação o que poderá assustá-lo ou enfurecê-lo;
Tente rotinizar todas as atividades diárias de forma que cada dia possa ser
bem programado;
Supervisione a alimentação e o atendimento de necessidades de
eliminação do idoso, ele pode não saber mais referir que as sente;
Mudança de comportamento repentino sempre tem uma causa, física ou
psicológica. Procure identificá-la e ajudá-lo a resolvê-la;
40
Evite tarefas cansativas ou frustrantes,
Não dê ao idoso, responsabilidades além de suas capacidades;
NUNCA, em hipótese alguma, empurre, bata, grite, xingue ou desrespeite
o idoso. Isso é considerado violência contra o idoso passível de ações
penais.
Se ficar cansado, irritado ou descompensado peça uma folga, saia do
ambiente, tire férias mas NUNCA, desconte na pessoa idosa.
Tenha paciência, paciência e....paciência.
Referencias:
Vilela AL; Moraes EM; Lino V. Grandes Síndromes Geriátricas. In: Fundação
Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.
Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2008.
CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM GERONTOLOGIA
GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL E INTEGRADA À SAÚDE DA PESSOA IDOSA
Módulo IV e V AVALIAÇÃO DO APRENDIZADO
CONSTRUA SEU MAPA CONCEITUAL RELACIONADO AOS CONTEÚDOS
DISCUTIDOS DURANTE O CURSO.TENDO COMO TEMA Ö CUIDADO DA
PESSOA IDOSA NA ATENÇÃO BÁSICA”
41