gramsci, a. escritos políticos, vol. iii

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(0111.00 1,1711- oercitlatle Iwie seara nova

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Page 1: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iii

(0111.00 1,1711-oercitlatle Iwie seara nova

Page 2: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iii

Volumes publicados 1 coleccilo universidade livre

1 —Estilistica da Lingua Portuguesapor Rodrigues LapaEsgotado

2—Marx/Engelspor Jean Bruhat

3-0 Modo de Produado AsidticoC. E. R. M.

4 —Camponeses, Sans-Cullotes a Jacobinospor Albert Soboul

5 —Condiccies Actuais do Humanism°por Hector Agosti

6 — Escritos Politicos—Vol. Ipor Antonio Gramsci

7 —Sobre as Sociedades Pre-Capitalistas—Vol. Ipor Maurice Coddler

8 —Sabre as Sociedades Pre-Capitalistas —Vol. J1Antologia de Marx-Engels Levine

9 —Estrutura a Dialectica da Personalidadepor Alberto L. Merani

10-0 Capitalismo Monopolista de Estado—Vol. Ipor Paul Bocrnra

11-0 Capitalismo Monopolista de Estado—Vol. IIpor Paul Boccara

12-0 Capitalismo Monopolista de Estado —Vol. IIIpor Paul Boccara

13 —0 Capitalismo Monopolista de Estado — Vol. IVpor Paul Boccara

14 —Escritos Politicos —Vol. IIpor Antonio Gramsci

15—Economia Politica do Capitalismo —Vol. Ipor Humberto Perez Gonzalez

16—Economia Politica do Capitalism° —Vol 11por Humberto Perez Gonzalez

17 —Sobre o Capital de Marxpor Friedrich Engels

Page 3: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iii

SEARA NOVA1977

Antonio Gramsci

n

escritospoliticos

Volume III

T Induct:1'o de

Manuel Simbes

Cape de

Acacio Santos

(0 Instituto Gramsci eEmpresa de Publicidade Seam Nova, SARLRua Bernardo Lima, 42,•r/c.—Lisboa

Page 4: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iii

NOTA PRÈVIA

Na traductio que se apresenta agora, tivernos o cuidadode respeitar twat, quanta possivel, a prosa nada Neil deGramsci (6 conhecida a sue tese de obrigar o leitor a urnesforco de leitura), os seas periodos dilacerados pela necessi-dade de exposigdo do rigor ideolOgico, o seu n estilo o queequivale a dizer que procurtimos respeitar o hornem e o pen-sador.

Se se considerar, aMm disso, que ester textos correspondentjuventude do autor (o primeiro dos quail, corn efeito, escrito

aos 19 anos) e se se river presente que correspondent a ummomenta de pesquisa nao s6 ideolOgica como linguistica, tere-mos urn quadro de condicionalismos que a prosa de Gramscinao deixard de reflectir, tornando-se mais «flulda p a medidaque o seu autor avanga pare a maturidade. (N. do T.)

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K

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INDICE

1921

Os particles e as massas 11Urn partido de massas 15E preciso falar claro 19As massas e os chefes 23

apoio do Estado 29Gestao capitalista e gestäo opergria 33

Partido Comunista e as agitaches operarias em curso 37Urn governo qualquer 43

1922

Papa e a Igreja cismatica 47A substancia da crise 51Giolitti e os populares 55Ensinamentos 59Uma carta a Trotsky sobre o futurismo 63A nossa perspectiva sindical 67

problema de Mild° 73(Chefs. 77Contra o pessimismo 83

Mezzogiorno e o fascism° 89programa de .L'Ordine Nuo yoi 95

Problemas de hoje e de amanhá 101A crise da pequena burguesia 109Sim, a hora da coerencia 113

destino de Matteotti 119A crise italiana 123A queda do fascismo 137

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OS PARTIDOS E AS MASSAS (*)

A crise constitucional em que se debate o Partido Socia-lists Italian interessa aos comunistas porquanlo ela 6 o re-flexo da mais profunda crise constitucional em que at debatemas grandes massas do povo italiano. Deste porno de vista,a crise do Partido Socialism tido pode e Mho deve ser conside-rada isoladamente: ela e a parte de um quadro mais exteincoque engloba taxabeat o Partido Popular e o fascismo.

Politicamente, as grandes rnaschs tido existem sena) enqua-dradas nos partidos politicos: as mudancas de opiniao que atverificam nas massas sob o estimulo das forges econOmicasdeterminantes salo interpretadas pelos partidos, que at dividemprimeiro em tendencies pan depois se dividirem numa multi-pliciaade de novos partidos organicos: atraves deste processo dedesarticulacho, de neo-associano, de lush() entre o que 6 hcxmo-gene*, revela-se um mais prof undo e intimo processo de decom-posicho da sociedade democrdtica pan o definitivo alinha-mento das classes em luta pa pa a conservacho ou conquistado poder de Estado e do poder sobre o apatelho de produno.

No periodo que vai do armisticio a ocupagdo das fabricas,o Partido Socialists representou a malaria do povo trabalhadoritaliano, constRuida pox ties classes fundamentais, a prole-tariado, a pequena burguesia, os carnponeses pobres. Destastres classes so a proletariado era essencialmente, e por issopexmanentemente, revolucionario: as outras dual classes cramaocasionalmentea revolucionarias, cram asocialistas de guerran,aceitavam a ideia da revoluno em geral pelos sentimentos

(*) Nfio assinado, L'Ordine Nuovo, 25-9-1921.

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de rebeldia antigovernativa germinadas durance a guerra. Umavez que o Partido Socialista era constituldo, ma maioria, porelementos pequeno-burgueses e camponeses, poderia ter feitoa revolucao somente nos primenus tempos, depois do armis-ticio, quando os sentimentos de revolta antigovernativa cramainda vivos e activos; por outro lado, sendo o Partido Sonia-lista constituido, na malaria, por pequenos burgueses e cam-poneses (cuja mentalidade nao e muito diferente da dos pe-quenos-burgueses da &lade), ele nao podia deixar de seroscilante, hesitante, sem urn programa nitido e preciso, semfinalidade, sem, especialmente, uma consciencia intaciona-lista. A ocupacao das fabricas, essencialmente proletiria, en-controu impreparado o Partido Socialista, que era so parcial-mente prolerario, que at encontrava ja, pelos primeiros golpesdo fascismo, em mist de consciancia nas outras suns partesconstitutivas. 0 fin da ocupacao das fabricas desorganizoucompletamente o Partido Socialista; as crencas revolucioniriasinfantis e sentimentais cairam completamente; as Bores daguerra tinharn, em parte, abrandado (nab se faz Irma revolugaocorn as recordacries do passado!): o govern° burgues apareceuainda forte in pecsna de Giolitti e rcta actividade fascism; oschefes reformistas afirrnaram que pensar in revolugao coinu-nista em geral era loucura; Serrati afirmou quo era loucurapensar na revolucao comunista em Italia, naquele period°.So a minoria do Partido, formada pela parte mais avancadae culta do proletariado industrial, nao mudou o seu pontode vista comunista e intemacionalista, lino se desmoralizoucorn os acontecimentos quotidianos, nao se deixou iludir pelasaparencias de robustez e de energia do Estado burgues. Assimnasceu o Partido Comunista, primeira organizacao autemomae independente do proletariado industrial, da Unica classy po-pular essencialmente e permanentetnente revolucionaria.

0 Partido Comunista nao se tornou imediatamente no par-tido das grandes massas. Isto prova uma Unica coisa: ascondicaes de grande desmoralizacao e de grande abatirnentoem que se tinhorn precipitado as massas a seguir a falenciapolitica da ocupacao tins fabricas. A fe tinha-se apagado numgrande ntimero de dirigentes; o quo primeiro at tinha exaltadoera hoje escarnecido; os sentimentos mais intimos e delicadosda consciencia proletaria eram tor pemente pisados por estaoficialidade subalterna dirigente, tornada ceptica, comompidano arrependimento e no remorso do seu passado do dema-

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gogia maximalista. A glossa popular, que imediatamente aseguir ao armisticio se tinha alinhacio a voila do Partido

desmembrou-se, liquefez-se, dispersou-se. A pequenaburguesia, que tinha simpatizado corn o socialismo, simpa-tizou corn o fascismo; os camponeses, ja seirn o apoio doPartido Socialista, simpatizaram de preferencia corn o PartidoPopular. Mas nao ficou sem cansequencias esta confusao dosantigos efectivos do Partido Sooialista corn as fascistas, deurn lado, corn os populares, do outro.

0 Partido Popular aproximou-se do Partido Socialista: naseleicaes parlamentares, as listas abertas populares, em todasas circunscricaes, acoiheram centenas e milhares de namesdos candidatos socialistas; nas eleicaes municipals, verificadasem ulguns concelhos malls dos eleicSes politicas ate agora,muitas vezes os socialistas nao apresentaram lista de minoria

acanselharam os sous aderentes a dar os votos a lista popu-lar; em Bergamo, o lane:men° teve uma manifestacao clamo-rosa: as extremistas populates separam-se da organizacaobream e fundiram-se corn as socialistas, fundando umaCamara do Trabalho e urn semanario dirigido e escrito porsocialistas e populates em conjunto Objectivamente, este pro-cesso de reaproximacao popular-socialista representa um pro-gress°. A classy, camponesa unifica-se, adquire a consciencia

a nocao da sua solidariedade, despeda condo o invalucroreligioso no campo popular, &spas:lac:and° o invalucro dacultura anticlerical pequeno-burguesa no campo socialista.Por esta tendencia dos sous efectivos rurais, o Partido Socia-lista afasta-se cada vez mais do proletariado industrial e,portanto, acaba par despedagar-se aquela forte ligacao uni-taria que o Partido Socialista , parecia ter criado entre a cidade

o campo; mas coma esta ligagao nä° existia na realidade,nenhum dano efectivo emerge da nova situacao. Febo con-trario, torna-se evidente uma vantageut real: o Partido Popularrecebe uma forte oscilagao a esquerda e tama-se calla vezmais laico; ele acabard per se separar da sus direita, consti-tuida per grandes e medios propnietarios das terms, into é,entail decididamente no campo da luta de classes corn urnformidavel enfraquecimento do gove,rno burgues.

0 mesmo fentimeno se verifica no campo fascista. A pe-quena burguesia urbana, reforcada politicamente por todos ostransfugas do Partido Socialista, tinha procurado, depois doarmisticio, aproveitar asapacidade de organizagao e de acCao

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t

militar adquirida durante a guerra. A guerra italiana foi diri-gida, na ausencia de urn estado-maior ancient; pela oficia-lidade subalterna, isto 6, pela pequena burguesia. As desilusoessofriciss na guerra firth= despertado fortissimos sentimentosde rebelido antigovernativa nesta classe, a qual, perdida a uni-dade militar dos sans quadros depots do armisticio, at dis-persou nos varies partidos de massa, levando-lhes fermentosde rebelido, mas tambe'm incea-teza oscilacCies, demagogia.Caida a forp. do Partido Socialista depois da ocupsagdo dasfdbricas, corn rapidez fulminea esta classe, sob o impulseda pre:Trio estado-maior que a tinha explorado na guerra,reconstruiu militarmente os seus quadros e at organizou na-cianalmente. Maturagdo rapidissima, anise constitucianal rapi-dissima A pequena burguesia urbana, brinquedo nas mdlos doestado-maiar e das forcas mais retrOgradas do govern, aliou-seaos agrdrios e despedacou per conta dos agrdrios, a organi-zacäo dos camponeses. 0 panto de Roma entre fascistas esocialistas assinsla o panto de paragem delta politica cega-manta e politicamente desastrosa para a pequena burguesiaurbana a qual compreendeu que vendia a sua aprimogenituraDper um prato de lentilhas. Se o fascismo continuasse as expe-dicties punitivas do tipo Treviso, Sanana, Roccastrada apopulagão ter-se-ia insurgido em massa e, na hipOtese de umaderrota popular, os pequeno-burgueses não teriam decertotornado o poder, mas sim o estado-maior e os latifundiarios.0 fascismo aproxima-se novamente do socialism°, a pequenaburguesia procura romper as ligagees corn a grande proprie-dade, procura ter um programa politico que acaba por atagsamelhar estranhamente ao de Turati e d'Aragona.

esta a situacão actual da massa popular italiana: umagrande confusdo que se sucede a unidsde artificial triads pelaguerra e personificada pelo Partido Socialista, uma grandeconfusao que encontra os pontos de polarizacao dialactica noPartido Comnnista, organizaedo independente do proletariadoindustrial; no Particle Popular, ornizacdo dos camponeses;e no fascismo, arganizagdo da pequena burguesia. 0 PartidoSocialista, que representou, do armistfcio a ocupaCao dasfdbricas, a confusdo demagOgica deltas tilts classes do povotrabalhador, 6 hoje o mAximo expoente e a vitims mais cons-plcua do processo de desarticulagdo (para tuna nova, defini-tiva ordem) de que sofrean as massas populaces italianas comeconsequencia da decomposicao da democracia.

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UM PARTIDO DE MASSAS (*)

O Partido Socialista apresenta-se ao Congresso de Mildo C)corn 80 000 inscritos. Algumas consideractles sobre osmeros podem ser that% mais do qualquer consideracão teOrica,pan ter tuna exacta compreensdo da natureza e da actualfungdo do Partido Socialista Italian.

Depots do Congresso de Livorno, o Partido Socialista eraconstituldo por 98 000 comunistas unitdrios e per 14 000 re-formistas, isto 6, por 112 000 inscritos. Depois de Livorno,entraram no partido, pelo mews, 15 090 novos s6cios; sehoje os inscritos sae 80 000, isto significa que dos 112 000votantes em Livorno 47 000 desapareceram; os 65 000 queficaram corn os 15 000 novos entrados constituem de factoos actuais efectivos de 80 000.

No Congresso de Livorno, os comunistas unitérios eram98 000; a actual fracclio maximalista miliaria, continuadorada comunista unitaria, tern de 45 000 a 50 000 votos noCongresso de Mildo; 6 claro que os 47 000 que sairam doPartido Socialista, depois de Livorno, são, na quase totali-dade, comunistas unitdrios.

A qualidade dos actuais 80 009 inscritos pode ser com-preendida por estas pequenas consideraceies. 0 Partido Soda-lista administra actualmente cerca de 2000 concelhos e 10 000organizaceies entre Ligas, Cimaras do Trabalho, cooperativas,

(*) Nit() assinado, L'Ordine Nuovo, 540-1921.

(1) Estava em preparagão o XVIII Congresso Nacional do PartidoSocialista, que se realizou entre 10 e 15 de Outubro de 1921.

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caixas mUtuas. Se se tern presentes as minorias concelhiase as Conselhos Provinciais, e lic-ito calcular uma media de 16conselheiros part as 2000 concelhos administrados comomalaria; resulta, portanto, que um partido corn 80 000 inscritoscoma corn 32 000 conselheiros municipais. Para as 10 000organizagiies econOmicas nao 6 exagerada calculat (tendotaanbem em conga os cargos mUltiplos) lies funciondrios ins-critos no Partido Socialista pars calla uma; temos assim umPartido corn 80 000 inscritos, o qual, pars Mean de 32 000conselheiros municipais, inclui ainda 30 000 funcionarios deLigas, de ccoperativas, de caixas mtituas; isto 6, cm 80 000inscritos tem seguramente 62 000 socios extreitamente ligadasa uma pv,icao econOmica ou politico, tern apenas 18 00006os desinteressados.

Esta composicao explica suficientemente como 6 que oPartido Socialista, embora jot nao representanda as aspiracaese os sentimentos das grandes massas trabalhadoras, continuaaparentemente a ser um partido de massas. A histaria este.cheia de fenOmenos semelhantes.

0 rein dos Borbons, cm Napoles, era cnegacao deDeus» dealt 1848; e todavia continuou a subsistir ate 1860porque tinha tun corpo de funcionarios entre os melhores detoda a Italia; de 1848 a 1860 o Estado borbOnico foi tunasimples org-anizactio de funcionarios, sem consenso em ne-nhuma classe da populaeda, sem vita interior, sem urn fimhistOrico que the justificasse a existencia.

0 impede dos czares tinha demonstrado, em 1905, queestava marto e putrefacto historicamente; tinha contra si oproletariado industrial, as camponeses, a pequena burguesiaintelectual, os comerciantes, a enorme maioria da populagao.De 1905 a 1917, o impart° dos czares viveu soraente porquetinha uma burocracia formiddvel, viveu so-inmate como arga-nizaeao de funcicmarios estatais, sem contend° &net), sem umamissao de progresso civilizado que the justificasse a existencia.

0 Estado da Austria-Hungria 6 o terceiro exemplo, etalvez o mais elucidativo, que oferece a histeria. Estava divi-dido em racas inimigas entre si, coma hoje sao inimigasentre si as diversas tendencias do Partido Socialista e, todavia,continuava a subsistir, cimentado unitariamente pot uma socategoria de cidadaos, a casia dos funcionarios.

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Na politioa internacional, o Estado dos Borbons o impe:riodos czares, o impel-Ho ' dots Asburgo representavant todaviatoda a populacao, da qual pretendiam exprimir a vontadee as sentimentos. Assim hoje o Partido Socialista, organizacaode 62 000 funcionarios da classe trabalhadora, pretende re.pre-sentar a massn trabalhaclora, pretende exprimir-lhe a vontadee os sentimentos.

Esta composiedo do Partido Socialista justifica o nossocepticisrno sobre as resultados do Congress° de Milli°. S6 entreos 18 000 socios desinteressados 6 possivel que se verifiqueuma. discussao politica; os outros 62 000 so pensa,m do pantode vista do seu emprego e do seu cargo. Ulna cisao a direitaporia em perigo as rnaimias dos Conselhos Municipals, umacisao entre funciondrias sindicais, de c,00perativas, de caixasmdtuas, poria em perigo a situagao de calla urn; as 62 000sao portanto completamente unitarios, ate a extrema vergaaha.Cremos, por isso, destinada a falencia completa a tentativade Maffi, Lazzari e Riboldi part uma reaproximagao daInternacional Comunista; as Iles podem influir apenas em18 000 dos 80 000 inscritos no Particle . Socialista; na melhordas hipOteses, poderao afastar deste partido 10 000 s6cios ea nova cisao nao tera qualquer importancia politica.

A verdade 6 que o Partido Socialista esta morto c putre-facto: urn partido operario que em 80 000 socios tern 62 000funcionarios e apenas uma excrescancia mOrbida do prole-tariado, tat como o Estado parlamentar-burocratico 6 11MA

excrescencia mOrbida da colectividade national. 0 fenOmeno6, parent rico de ensinamentos part os militantes ecnnunistas:se é verdade que o Partido Socialista, embora estando mortocoma consciencia politica do proletariado, continua a subsistircomb aparelho organizativo das grandes mamas, into indicaa impartancia extrema quo tem os cfunciondrion nas civili-zagees modernas. Para o Partido Comunista, o problerna dese tornar partido das grandes massas e, portanto, partido degoverno revoluciondrio nao consiste apenas em resolver aquesta° de •nterpretar fielmente as aspiracOes populates, signi-fica tambelm resolver a questao de substituir os funcionarioscontra-revolucionarios par funcionarios comunistas, significaportanto c-riar um corpo de funcionarios comunistas que,parent, diferentemente do quo acontece corn os socialistas,

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sejam estreitamente disriplinados e subordinados aos con-gresses e ao Comite Central do Partido. Delta verdade poucosimpatico aparentemente, devem convener-se especialmenteos nossos jovens: a realidade 6 a que 6, uma coisa rebelde,

deve ser dominada corn meios adequados, embora parecarnpouco revaluciandrios e pouco simpaticos.

2 PRECIS() FALAR CLARO (*)

Depois de ter lido o novissimo manifesto distribuido aoproletariado de Italia e as Was os exploradosa do PartidoSocialista e da Confederagao Geral do Trabalho C), cada ope-rario 6 naturalmente obrigado a interrogar-se e a interrogar:aQue fins comuns podem hoje propor a classe operaria etodos as outros explorados? Com que tactica e nos quadrosde que novo tipo de organizacao podem ser alcancales esterfins? Em suma, o que devemos fazer? 0 Partido Socialistacr6 amadurecido o tempo para organizer os conselhos dosdelegados operatics, camponeses e soldados?”

Estas interrogagOes sao perfeitamente justificadas. De facto,manifesto dos socialistas nao se refere apenas a luta sindical

para as horarios e os salarios; convida atodos os exploradonpara uma luta unitaria contra a especulagao, isto 6, contra

sistema capitalista em geral, nas suss formas imediatamenteconcretas de proteccionismo alfandegario, de aumento docusto dos viveres, de desemprego. A luta sindical aparece no

•) Nao assinado, L'Ordine Nuovo, 29-10-1921.'(1) 0 Avanti! tinha publicado (28 de Outubro de 1921) um apelo,

Al proletariato d'Italia! agli *Entail turn!, no qual se constatava oagudizar-se da situagao econernica e se confirmava o propOsito deconduzir uma /luta implacavel contra a politica protectionists° e deadesenvolver uma actdo comum e intensa para que as classes diri-genies e dominantes sejam obrigadas a compreender as necessidadesdas massas. Se nao souberem escutar e seguir as nossas admoestacees,nts nao desarmaremos e desenvolveremos a nossa actão per outrostramites, ate ao fim, para a salvaguarda dos interesses dos trabaiha-dores e dos consumidores, contra todas as forgas da reatcao e daexploragaoa.

IS i 19

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manifesto apenas coma motivo particular de urn quadro maisamplo e alargado. Os operarios e as camponeses. organizadosna Gammas de Trabalho e nas Federac&es, aparecem nomanifesto apenas como vanguarda do exercito que se desejamobilizar Porqué? Com que flan? Coin que orientaatio? Na°estando a vista, nem eleigilies parlamentares... nem cleictiesmunicipais, a finalidade desta mobilizagdo deveria set apenasrevolucionaria, deveria set: como programa minimo, a orga-nizacao de um sistema de conselhos para o controlo da pro-dugao e da comercializacao, de conselhos eleitos por todosos trabalhadores, manuals e intelectuais, organizados e desor-ganizados, comunistas, socialistas, sindicalistas, anarquistas,populaces' como programa maxima, a organizacao de conselhosde deputados operdrios, camponeses e soldados que se pro-ponharn lutar para substituir o Parlament° e os Municipios,no poder estatal. 0 que guarani, pots, os socialistas'? 0 mani-festo dove ser explicado, dove set anotado, dove ser escla-recido. As massas operdrias nao devem continuar a ser adop-tadas para exercfcios despartivos de data origem e ainda demais dUbio carecter.

A realidade 6 demasiado tragica para que se possa brincarcorn as palavras de duplo sentido. Os comunistas nao dardourn momento de trOgua aos chefes do social-confederalismo:nas assembleias, nos cornicios em toklas as reunietes pti-los-Oo

prova. Tendo presente que para a luta é necessdrio chamarnab so os operarios e os camponesas organizados mas tambemas grandes massas da populaado explorada, os comunistasinsisticao infatigavelmente na exigencia die palavras de ordemprecisas, fins reais, mátodos concretos de organizacao ede controlo dos chefes responsaveis _pelas grandes massas.Os opertirios e os camponeses, entrando na luta, arriscam asua vida e a vida dos seus familiares; se os capitalistas, asprimeiras hostilidades de contra-ofensiva proletaria, actuaramo lock-out geral, o qua farao as socialistas? Se uma novaaccao fascista for desencadeada, em grande estilo contra ostrabalhadores, o que fart-to os socialistas? Se o estado-maiorameaaar urn golpe, o que farao os socialistas?

chegada a hora de assumir toda a responsabilidadedas palavras que se atiram ao povo. Ate agora, os socialistasactuaram a politica do doutor assim como o doutor

distribufa receitas a direita e a esquerda desejando aosseus clientes uQue Deus vos ajudek, assim os chefes socialistas

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lanolin manifestos demagOgicos sem se preocuparem corn asconsequenckts reais e rxutr os setts resultados praticos. Naose luta sem um programa preciso e sem uma tdctica adequadaao programa proposto como finalidad e da luta. Nä° se convi-dam para a luta as grandes massas populates sem urn plan°preciso para o seu enquadramento permanente, para a maximautilizaCao this energias que de tal mod° sejam desencadeadas.Os =Mores do Partido Socialise e da Confederagdo Geral doTrabelho devem falar claw; de nenhum modo os comunistasvos deixarao arrastar o proletariado para uma aventura querepita a aventura da ocupacao das fabrioas. A jogada é muitograve, a jogada é a prOpria vida dos operarios: se os canalhasmaximalistas créena poder refazer uma virgindade revolucio-naria especulando demagogicamente corn o Ultimo quarto-de--hora de poder de que ainda sentern poder dispor, encontraraoquern sabeta afronti-los e saberd, sem medo de impopulari-dade arrancar-lhes a mascara da cam.

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AS MASSAS E OS CREPES (•)

A luta que o Partido Comunista organizou pam realizara frente Unica sindical contra a ofensiva capitalista teve omerit° de criar a frente Utica de todos os mandarins sindi-cais: contra a ditadura do Partido Comunista e do Executivode Moscovo, Armando Borghi encontra-se de acordo cornLudovico D'Aragona, Errico Malatesta encontra-se de acordocam Giacinto Menotti Serrati, Sbrana e Castrucci encontram-sede acordo com Guamieri e Colombino. A coisa mg° nos causaadmizaglo, a nos comunistas. Os camaradas operarios queseguiram no Ordine Nuovo semanal a campanha desenvolvidapara o movimento dos conselhos de fabrica (record= semdtivida, como foi por nos prevista tambem pam a Italia estefenOmeno que se tinha ja verificado nos outros paises e podia,portanto, ja entião ser assumido oomo universal, como umadas manifestacaes mais caracteristicas do actual periodo his-

A organizacao sindical, quer tivesse uma etiqueta refor-mista anarquista ou sindicalista, teria dado lugar ao apare-cimento de toda uma hiemrquia de pequenos e grander chefes,cujas notas caracteristicas cram especialmente a vaidade, amania de ezercer um poder incontrolado, a incomperencia,a demagogia desenfreada. A pane mais ridleula e absurda erarepresentada em toda esta comedia pelos anarquistas, os quaiscram tanto mais autoritarios quanto mais berrav-am contrao autoritarismo, tanto mais sacrificavam a vontade real das

(•) Mao assinado, L'Ordine Nuovo, 30-10-1921.

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graudes masses e o floresoimento espontato das sins ten-&atlas libertaxias quanta mais ululavam que queriam liber-dade, autonomia, espontaneidade de iniciativa. Especialmenteem Italia, o movimento sindical cai por terra e torn-se alga-zarra de feira: cada urn queria criar o seu amovimento p, asua gorganizaclion a asua verdadeira unison dos trabalhadores.Borghi representou uma marca registada, De Ambris umaoutra marca registada, D'Aragona uma terceira marca regis-tada, Sbrana e Castrucci uma quanta marca registada, o capita°Giuliani uma quinta marca registada Toda esta genie,corno 6 natural, manifestava-se contraria a ingerencia dos par-tidos politicos no movimento sindical, afirmava que o sindi-cato se basta a si preprio, que o sindicato 6 o «verdadeirconixie° da sociedade futura, que no sindicare se encontramos elementos estruturais da nova ordem econOmica e politicaproletdria.

No Ordine Nuovo seananal examinamos sem preconceitos,corn mOtodo libartario, isto 6, sem nos deixarmos desviar porpreconceitos ideolOgicos (portanto corn metodo marxista, dadoque Man 6 o maior libertario aparecido na histeria do ga-llon) human), qual e a real natureza e a real estrutura dosindicato (2). Comecarnos par demonstrar coma 6 absurdopueril sustentar que o sindicato possui em si a virtude desuperar o capitalismo: o sindicato, objectivamente, ndo 6 maisdo que uma sociedade comerrcial, de tipo geaminamente capi-talista, a qual Wade a realizar, no interesse do prolertario, urnpreco maximo para a mercadoria-trabalho e a realizar o ma-nopOlio desta mercadoria no carnpo national e international.0 sindicato diferencia-se do mercantilism° capitalista sa sub-jectivamente, vista que, sendo formado e s6 podendo ser for-mado per trabalhadores, tende a criar nos trabalhadores a cots-cittncia de que no ambito do sindicalismo 6 impossfvelalcancar a autonomia industrial dos poach/tares mas que, parisso, 6 necessario apoderar-se do Estado (isto 6, privar aburguesia do poder de Estado) e servir-se do poder estatalpara reorganizar todo o aparelho do prod rugao e de comercia-

Trata-se dos dirigentes da USI, divididos, na altura da guerra,dos da CGIL, da GEL e da Federagão dos Trabalhadores do Mar(autifinoma).

Cf. os amigos Sindicatos e Conselhos a Sindicalismo e Con-selhos, pp. 41-46, 59-63 e 161-166 do vol. II da presente

lizacão. Demonstrames depois que o sindicato nao pole sere nao pole tornar-se ma c-Olula da futura sociedade dos produ-totes. 0 sindicato, de facto, manifesta-se em dugs formes: naassembleia dos sOcios e na burocraaia dirigente. A assernbleiados sOcios nunca e chamada a discutir e a deliberar sobre ospmblemas da producdo e da comercializacio, sobre os pro- •blemas tOcnicos industriais. normalmente convocada paradiscutir e decidir sabre relacOes entre patrOes e mão-cle-obra,isto 6, sabre problemas que sac prOprias da sociedade capita-lista e que sera° fundamentalmente transfotmados pela reva-lued° proletaria. A escolha dos funciondrios siudicais nemsequer se processa no terreno da tecnica industrial: um sindi-cato metahargico näo pergunta ao oandidato tuncionario seo competente na indUstria metaltirgica, se 6 capaz de adani-nistrar a indlistria metahirgica de uma cidade cat de urearegiao e da nagdo inteira; pergunta-lhe simplesmente se écapaz de suster as razOes dos operarios numa controv6rsia, seo capaz de compilar urn memorial, see capaz de dirigir urncomicio. Os sindricalistas franceses da Vie ouvriere ( 3) pro-curaram criar, antes da guerra, competencias industriais entreos funciondrios sindicais: promoveram toda uma serie de inves-tigacOes e de publicacees sobre a organizagäo tOanica daproducdo (par exempla. como é que acontece que a pale deUM boi chines se transforme no sapato de uma cocotte pari-siense? Que viagem efectua esta pele? Como s5o organizadosos transporters desta mercadoria? Quantas sdo as despesas detransports? Coma se desenvolve a fabricacdo do agostoa inter-r.acional em relacdo aos objector de pele? etc.); mas estatentativa rechnidou num fracasso. 0 movimento sindical, ex-pandindo-se, criou urn corno de funcionarios quo esta corn-pletamente isolado das divers-as inthistrias e obedece a leispuramente comerciais: um funciondrio dos metahlrgicos passaindifere. ntemente aos pedreiros, aos sapateiros, aos marcenei-ros; näo e obrigado a conhecer as condicees reals técnicas daMdlistria, mas apenas a legislacäo privada que regula as rela-gees entre patrOes e crulo-de-obra.

Pode afirmar-se, sem medo de ser desmentido por qualquerdemonstracäo experimental, que a teoria sindicalista se revelou

Orgdo dos sindicalistas revolucionarios franceses, fundado perPierre Monatte, em Outubro de 1909, de que Gramsci era assfduoleitor.

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come tun engenhoso projecto sem consistencia, construido porhomens politicos que odiavam a politica s6 porque eia, antesda guerra, significava apenas accao parlamentar e compro-rnisso reformista.

0 movimento sindical nao é mais do que urn movimentopolitico, os chefes sindicais nao Sao mais do que leaders poli-ticos que chegam a posicao ocupada per agregacao em vezde eleiCao democratica. Ern muitos aspectos, os chafes sindi-cais representam um tipo social semelhante ao banqueiro: urnbanqueiro especialista, que tem urn born golpe de vista paraos negOcios, que sabe prever corn certa exacddao o cursedas boLsas e dos contratos, da credit() ao scu institute, atraios poupadores e os que efectuam descontos; um chefe sin-dioal que sabe prever os resultados possiveis /rum choque dasforcas socials em luta e atrai as massas para a sua orgazi-zactio, torna-se num banqueiro de homens. Deste panto devista, D'Aragona, enquanto era protegido pelo Partido Socia-lista, que se afirmava niaximalista, foi melhor banqueiro doque Armando Borghi, emerito aldrabao, homem sem caractere sem uma direccdo politica, mais negociante de feim do quebanqueiro moderno.

Que a Confederagdo do Trabalho é essencialmentemovimento politico pole set deduzido pelo facto de a suamaxima expansao coincidir corn a maxima expansão do Par-tido Socialista. Os chefes, porem, crOem poder :ado fazer caseda politica dos particles, isto e, poder fazer uma politicapessoal, sem o aborrecimento dos controlos e das obrigacdesdisciplinares. E eis a razdo delta revolta tumultuosa dos diri-gentes sindicais contra a ditadura do Partido Comunista e dofamigerado Executivo de Moscovo. As massas compreendeminstintivamente que sae impotentes para controlar os diri-gentes, para lhes impor o respeito pelas decisOes das assem-bleias e dos congressos: por isso as masses querem o controlode um partido sabre o movimento sindical, querem que asdirigentes sindicais pertencam a um partido ben organizado,que tenha uma meta precisa, que seja capaz de fazer respeitara sua disciplina, que mantenha os compromissos livrementecontraidos. A ditadura do Partido Comunista nab espanta asmassas, porque as massas compreendem que esta terrivel dita-dura 6 a maxima garantia da sua liberdade, 6 a maximagarantia contra as traicdes e os imbroglios. A frente tinicaoonsutuida pelos mandarins sindicais de todos as escolas sub-

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versivas contra o Partido Comunista demonstra apenas umacoisa: que o nosso Partido se tornou finalmente o partido dasgrandes massas, que representa deveras as interesses perma-nentes da classe operaria e camponesa. A frente Unica detodos os estratos burgueses contra o proletariado revolucio-mirio corresponde a frente Mica de todos os mandarins sin-dicais contra os comunistas. Giolitti, para veneer os operarios,fez a paz corn Mussolini e den as arruas aos fascistas; Armando

para nao perder a sua posicao de grande senusso (*) dosindicalismo revolucionerio, phr-se-d de acordo con D'Ara-gona, bonzo maxima do reformismo parlamentar.

Que ensinamento para a classe operaria! Não deve seguiros homens mas os particles organizados que aos homenssaibam impor disciplina, seriedade, respeito pelos compro-missos contraidos voluntariamente.

e) Chafe da confratemidade islamica ebamada senussia (fundadacm 1837 pelo algerino Mohammed ben All Senussi). — (N. do T.)

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0 AP010 DO ESTADO (•)

No belo tempo antigo, quando as recordaedes do Ressur-gimento eram ainda vivas e a conquista da Constituicdo re-preDentava ainda um valor para a grande macca da populacdoitaliana, desenvolven-se uma interessante polOmica entre os libe-rais e os republicanos sabre a natureza e sobre a importânciado juramento de fidelidade ao rei que os deputados devemprestar no Parlamento. Os liberais pensavam assim. se osdeputados se recusarn a prestar este juramento, se os deputa-dos obtem que a instituted° do juramento seja abolida, ao pre-prio Estado rtniba por faltar o seu principal apoio. A Consti-tuted° é um pacto reciproco de fidelidade entre o povo e osoberano: se o povo, num/6s das pessoas dos seus represen-tantes, se subtrai a obrigagdo de fidelidade, se o povo pale,emu a aboliedo do juramento, liberdade de operar contraa Constituicdo, lambent o soberano, por direito, acaba porser desligado dos sous vinculos, tambem no soberano 6 reco-nhecida a liberdade de organizacdo e de actuar o golpe deEstado contra a Constituicio.

0 govern representa o soberano no Parlament° Nacional,o governo 6, alias, responsavel pelo soberano perante o Par-lamento Nacional e perante o povo. Se o govern° deiza impu-nemente violar a Canstituiedo, se o govern permite a forma-Ca°, no pais, de bandos armados, se o govern permite queassociagdes privadas constituam depOsitos de arenas e mu-nice-es, se o govern permite que dezenas de milhar de cida-

(*) Nao assinado, L'Ordine Nuovo, 13-11-1921.

sr,

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Taos privados, armados, enquadrados militarmente, corn capa-cete e arena (depois de terem, imperturbados, percorrido apais), invadam a capital e ostentem abertamente a sua g po-tenciaD, o que significa isto send° ter a govern°, responsavelpelo soberano, violado o juramento de fidelidade a Consti-tuieào? 0 que significa isto sena° que se esta preparando,par parte dos organismos estatais que se agrupam no poderexecutivo, urn golpe de F-stado? 0 que significa isto sona-oque ern Italia vivemos ja no ambiente de que autornatica-mente deve desabrochar o golpe de Estado?

0 pacto entre o povo e o soberano esta, portant°, denun-ciado, ipor vontade do poder estatal que representa o segundo.Autoniaticamente, todos os juramentos de fidelidade esti°denunciados. O que liga hoje os empregadas ao Govemo?0 que liga hoje as oficiais a autoridade suprema? A popu-lagao, pela prOpria lagica dos acontecimentos, deve dividir-seem dims panes: favoraveis e contrarios ao golpe de Estadoreaccionario, ou rnelhor, favoraveis ao golpe de Estado reac-•cionério e favoraveis a uma insurreigdo popular capaz dederrotar o golpe de Estado reaccionario. A prOpria Consti-Mica° contempla a eventualidade: reconhece ao povo o direitode se levantar em armas contra qualquer tentativa de infraccdoa prOpria Constituicão par pane dos poderes estatais. De facto,par que e que urn pacto, clue sa pode ser bilateral, deveriacontinuar valid° para uma parte se a outra parte a infringe?Por que e que urn empregado on urn oficial deveria man-ter-se fiel a uma lei que ja nao existe? Por que é que deveriaconservar os segredos de Estado e nä° comunica-los aospartidos revolucionarios se conservar estes segredos significafavorecer o golpe de Estado, isto é, a abolicao tambem formalde leis c das liberdades estatutórias, enquanto comunicarestes segredos aos partidos revolucionarios significa contribuirpara salvar a liberdade popular, significa certamente man-ter-se fiel ao espfrito do juramento prestado?

0 Estado burguès wive em grandissima pane sobre o tra-balho e sobre a abnegacdo de milhares de funcionarios civise militares que cumprem, muitas vezes corn verdadeira paixdo,o seu dever, que mantém vivo o set tido da honra, que toma-ram a sari° o juramento prestado no acto de iniciarem o seuservico. Se nä° existisse este ntieleo fundamental de pessoassinceras, lealmente devotadas ao seu emprego, o Estado bur-gués desabaria num instante coma urn baralho de cartas.

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sa'o estes o verdadeiro, o auk° apoio do Estado, ndo decertoos outros, os concussionarios, as prevaricadores, as poltrOes,os parasitas do Estado. Om: a quern serve o golpe de Estado?

pode servir, corn efeito, a estes, aos concussiondrios, aosprevaricadores, aos poltraes, aos parasitas. frequentemente,alias grease sempre, o golpe de Estado nal° a mais do queo instrumento da inundicie estatal pain manter as posigOesocupadas e tornadas mortals para a sociedade; esta gente IA°tern escrilpulos, esta-se nas tintas para os juramentos e paraa honra, odeia todos as trabalhaclores e, antes de mail, osque trabalharn nos seus prOprios gabinetes e são a repro-vagao viva da sun desonestidade e do seu parasitism°.

A situacao hitOrica e hoje esta: s6 uma grande classesocial é capaz de opor-se validamente as tentativas liberti-cidas da reaccdo desenfreada, a classe dos operdrios, o prole-tariado. Esta classe cumpre hoje a mesma tuned° libertadoraque no Res,surgime,nto far prOpria dos liberais. Esta classetern urn seu partido. 0 Partido Comunista, corn o qual devemcolaborar todos as elementos desinteressados a sinceros doEstado italiano, que querem Ranter a fa no seu officio devigilantes das liberdades populares contra todos os assaltosdas forms obscuras do passado que nâo quer morrer.

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GESTAO CAPITALISTA E GESTAO OPERARIA (*)

La Perseveranza e sigma outros jornais notoriamente liga-dos aos interesses do negOcio bancdrio-industrial italiano, pro-curaram responder as observacties feitas por nos sobre as.causas que determinaram as duns clamorosas derrotas daFiat no circuito de Brescia ('). Os escritores destes jornais pro-vavelmente nunca viram uma oficina modems; certamenteignoram o que seja espirito industrial; sem chivida que tissmde ma-f6 e pattern do principio (pago) de se insurgirem emdefesa dos proprietarios, qualquer que seja a contenda, e deacharem que todas as responsabilidades dos males que afligema producdo italiana recaem sobre a classe operaria, sobre obolchevismo, sobre os conselhos de fabrica. As palavras sãopalavras, as afinnacees sdo afirrnacees; prestem atenedo aosndmeros estes egregios senhores, pecam aos industriais quepubliquem os dados de produc.io que se referem a estesperiodos, caracteristicos da actividade industrial dos metalitr-gicos de Turim: 1) da greve de Abril de 1920 a ocupacliodas fabricas; 2) ccupaclo das fdbricas; 3) da ocupagdo dasfabricas ao lock-out de Abril-de 1921; 4) da reabertura, corno despedimento dos membros dos conselhos de fabrica e dosgrupos comunistas, ao circuito de Brescia.

No period° de ocupaCio e de gestäo °Ficaria directs,ainda que a maioria dos tecnicos e dos administrativos tivessedesertado do trabalho, e alma notavel parte dos opeririostivesse sido destinada a substituir os desertores e a desem-

(s) Nao assinado, L'Ordine Nuovo, 22-11-1921.(1) a. A derrota da Fiat, vol. II da presents edicao, pp. 365-368.

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penhar funcees de vigitincia e de defesa militar, o nivel daproduc5o foi todavia mais elevado do que no period° prece-dente, caracterizado pela maga() capitalista depths da grevede Abril de 1920.

No period° suc-rssivo a ocupagdo — em que o controlooperiario e o poder dos conselhos de fabrica atingiram omaximo de eficiência — a producdo da Fiat foi tal, em quan-tidade e qualidade, que superou em muito a product° doperiod° belico: de 48 viaturas quotidianas saltou-se para 70viaturas quotidianas. Os senhores industriais jogaram umacarta suprema corn estas novas condicaes criadas a productopeio poder dos conselhos de fabrica: propuseram aos ope-ra/jos urn project° de empreitada colectiva. Visto que exis-tiam os conselhos de fabrica, os goals exerciam urn °antral°real e imediato sobre todas as iniciativas capitalistas e umavez que, se controlada, a empreitada colectiva representa umgrande passo avante no regime industrial, os operarios acei-taram, corn algumas modificacties, o projecto. Mas os indus-trials uma vez introduzida a empreitada colectiva, passarama ofensiva contra os conselhos c contra os grupos c,omunistas.O lock-out foi procla,mada, os ape/trios revalue-Mtn-trios foramdespedidos, as secgaes foram desorganizadas, a reaccdo maisimpiedosa foi introduzida como sistema. As consequanciasforam desastrosas: o control° comegou a rejeitar ate 50 porcanto da producâo de muitas secgaes; o nivel da product°desce ate 15 viaturas por dia. Politicamente, os industriaisalcangaram os seus fins: as cornissties intemas, formadas porsocialistas, deixann de cansar aborrecimentos aos dirigentes; osoperdrios sào disciplinadfssimos; ninguem fala; ninguem semexe do seu Lugar; nao se fazem comfcios; nä° circulamjornais subversivos; nao se discute. Mas a produclio desceude 70 para 15 viaturas e a qualidade desceu na medida de-monstrada pelo circuito de Brescia.

Podem desmentir estes dados os alegres escritores de Per-severanza e dos outros jornais cque se preocupam corn asorte da indirstria nacionalD? Uma coisa resulta evidente dasexperiéncias industriais destes anos passados: 1) a classe do-minante jO. nao possui urn sector de empreendedores capazesde governar a producdo industrial; a guerra, se esgotou, cornas suas privagOes e corn os seus longos hordrios de trabalho,a classe operdria, esgotou port, em medida superior, asempreendedores que se jxrverteram corn a especulacto ban-

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caria e perderam a capacidade de organizar e administrar asgrandes inassas de oficina • 2) a classe operaria, embora Mao

tenha a experiOncia e a Dmaturidade o politica e tecnica daclasse dominante, consegue todavia, melhor do que a classeburguesa, gestir a product°. Capitalism° significa hoje desor-ganizacdo, mina, desordens continuas. Para as forcas produ-tivas, nao existe outra possibilidade de salva'clo sent.° a orga-

nizacio autonoma da classe operdria, quer no dominio da

inchistria quer no dominio do Estado.

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0 PARTIDO COMUNISTAE AS AGITACOES OPERARIAS EM CURSO (*)

Um fremito de luta percorre as filas do proletariado ita-haw. A maxima depress -do da actividade do proletariado 6decididamente ultrapassada e a luta de classes vai retomandoo ritmo imponente que tinha antes dos acontecimentos dofim de 1920. A ofensiva capitalista, cujo inicio se pale reco-nhecer nos epis6dios de 21 de Novembro de 1920—ha umano — em Bolonha (1), nas suas mUltiplas formas, desenca-deou-se apenas depots que sobre o moral das masses tinhatido o seu malefic° influxo a desastrosa politica do PartidoSocialista e da Confecleracfio do Trabaiho e, embora apro-veitando sobretudo dos error e das culpas dos dirigentes pro-letarios, ndo parece ter lido tao perniciosa como aqueles sea sua maxima ferocidarle responde a classe operaria voltandoa combatividade antiga.

Entre o period° de lutas operdrias que a tactica equfvocados socialistas e,ntao destrudu e o actual, ha diferengas pro-fundas de situaches e de relacOes de forca. Entao pareciadeixada aos organismos proletatios a inidativa dos movi-mentos e a escolha do programa de conquista, e o adver-sari°, patrOes e Estado, parecia desorientado e mats ou

(•) Ndo a ssi r.ado, L'Ordine Nuovo, 22-11-1921.Trata-se dos famosos • factos do Palacio d'Accursi o , uma

obscura provocagdo que assinalou a infcio do terrorismo em Emilia.Dez cidaddos bolonheses foram mortos corn born bas de mao diantedo edificio municipal.

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manes passivo. Hoje, pelo contnirio, d a burguesia, corn umastria de arenas been temperadas, que se move contra o pro-letariado e o assalta no terreno politico corn a read* e corno fascismo, e no terreno econOmico corn o lock-out e as de-mincias dos pactos de trabalho entdo conquistador.

Segundo os socialistas de direita, foi um erro ter-se pro-poste, naquele period() ) favordveis objectives revoluciondriosmuito grandiosos e irreais ndo se assegurando mais limiturlosconquistas; nas quais todavia o proletariado se teria soli-damente reforcado. Mas aqueles ndo aludem a conquistaseconOmicas, visto que estas, na realidade, se verificaram emvasta escala, e evidentemente falam de um programa politicocuja realizacdo, no terreno politico, é irnpodida pela OM'clamada aspiragdo da conquista de todo o poder para a dasseoperdria.

Mas aqueles não dizem nem rnostram que forma de re-gime, a nito ser a posse integral da forga estatal por partedos trabalhadores, teria garantido o proletariado do contra--ataque burgues. Se a ofensiva burguesa derivou da reaccdocontra o peso que tinha assumido a yenta& dos' organismosproletdrios no andamento da vida social e da consciencia que.em correspondOncia corn esta influencia aparente nä° existiauma saida organizacdo de luta, e fAcil perceber come major-mente ela se teria desencadeado se as massas tivessem apoiadoa sua infiuencia social ndo na sua organizacdo ping em ulte-riores concessiiies abtidas corn Tildes pacificos de hipoteticosaliados escolhidos entre a esquerda burguesa, no terreno dascombinacOes parlamentares ou de qualquer simulacro de crisede regime; ora, na realidade, o mice meio de impedir o re-gresso ofensivo burgues era o desarme do aparelho burguesde govern() e da prOpria burguesia e a directa gestdo dospoderes e da forga armada por parte do proletariado: ouseja, a sua ditadura revoluciondria.

Na situagdo hodierna, em que a burguesia tende parauma prOpria ditadura econemica e politica que deixe imu-tadas as formas do seu regime rims consiga demolir as for-talezas da organizacdo operdria e empurre o proletariadopara as condicOes de antes da guerra e mais atras ainda, osexpoentes da social-democracia, a quern nem sequer podeservir o dimodo alibi corn que respondiam anti°, jd ndoousam forrnular qualquer programa. Sustentam, ou melhorefectuam, o recuo sem luta para ndo serem obrigados a admi-

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tir a nectsidende do armament° dao so ideal mas tambemmaterial do proletariado para a luta de classes do (palderiva necessariameate o programa de consolidagdo dente apa-relho de luta num aparelho de poder revoluciondrio.

Os comun ;stas, pelo contrdrio, coerentes corn as acusagOesque no ofelizi) period° dos anos 1919 e 1920 faziam a poli-tica dos socialistas de direita, incapaz de utilizar cada etapapercorrida lutando ao lado do proletariado para a ergani-zagdo das sans faculdades revoluciondrias, fora do e contra

Estado burgues, como Unica garantia da defesa daquelasconquistas a da sua integracao ate a emancipacao proletaria,os comunistas, dizia, sustentam hoje que o proletariado deveaceitar da situagAo os eloquentes ensinamentos de luta quedela derivam e deve enfrentar os conflitos corn as forcasadversdrias corn uma visao geral dos suas tarefas, preparando

movimento Unice de toda a classe trabalhadora no planerevoluciondrio.

Se o facto de considerar come isoladas as acceiese o encorajar a tdctica de ocupar sucessivarnente e corn

pouco dispendie de energia as posigOes individuals possiveispodia ter um sentido period() do avango, aquele rnetodoequivale hoje, evidentemente, a expor-se a certa derrota.

Os comunistas tragaram o piano de accdo proletdria aocanalizarem todas as lutas numa Unica accao da frente Unicados trabalhadores que tenha como posicao toda a defesa dasconquistas operdrias que a ofensiva burguesa acaba de in-sidiar (2). Este piano esta a tragar-se nos prOprios aconteci-mentos que de mode quase automdtico conduzem os traba-lhadores ao alargamento da base dos conflitos, fundindo-oscorn aqueles pelos quais sdo provocadas outran categorias

reunindo reivindicagees politicas e econ6micas.Enquanto esta sirttese dos esforcos se completa progra-

maticamente na palavra de ordem do Partido Comunista qua

(2) Depths do Consdho de Verona da Confederaglo Coral doTrabaiho, o Comite Executivo e o Comith Sindical do Partido Comu-nista tinham repetido /nun comunicado o convite pan a formacao deuma frente Unica sindical, afirmando que .a luta deve continuar entreos quadros da Confederagao Geral do Trabalho g uma vez que to saidadas suas filar sada o maior service que se podia prestar aos contra--revoluciondrios que ainda a dirigemg.

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deve servir como guia da accdo operdria, existem, na reali-dade coeficientes que se opeem a sua realizagao, o principal,entre estes, a posicao dos dirigentes de direita. A acgdo paraa frente Unica prolethria aparece assim como tuna duplaluta: contra a burguesia nas frentes detenninadas pelos seusataques e contra os sociais-deanocratas que impedem a orga-nizacao proleadria uma resposta com o alargamento da frentea tactica burguesa, que consiste em hater sucessivamente eseparadamente as forgers °yea-arias.

0 Partido Comunista entende em toda a sua cornplexidadeesta situaCsia, e as dificuldades que se opdem a realizagdo daplatafonna de acgdo anica que ale propOs (que culminariana greve geral nacional, colocando a luta nuana via decidi-damente revoluciondria) ndo o impedem de seguir e sustentartodas as faces da luta defensiva proletdria que, embora enre-dada pela ditadura social-democrfrica sobre as orgattizagdes,se desenvolve per sucessivas acgdes ate a extensdo da frame.

Por isso os comunistas thin uma tarefa precisa ainda quenio tenha sido aceite pelos seus adversdrios a forgo de acgdoque des consideram e que é a Unica que apreseata as verda-deiras possibilidades de uma vithria prolethria. A falta derealizagdo, per parte de todas as massas, da sua tactica, ndo6 para ales, desde o inicio, uma raid() de passividade ou umalibi para as suas responsabilidades; ales apresentam-se naprlineira fila para a luta, a luta em du gs frames, contra oaberto adversfrio burgues e contra o derrotismo intern() dosoportunistas.

0 Partido Comunista ester, portanto, na primeira liahadas experiencias de acgdo alargada que hoje se desenvolveme que sem dtivida sdo o prehidio de mais vastas batalhas.

certo que se estas tentativas das massas falirem, sera. perdelta da influOncia dos sociais-democratas que afrotucam adifusdo do movimento e que procurardo explorar as eventuaisderrotas proletdrias como consequ'encia do mátodo da ex-tensdo da acgdo, quando seriam apenas consequencia da de-masiado tardia extensào. Mas isto ndo impede que, cum-prindo grandes esforgos, nao se possa obter que tambem paresta via, tornada menos directa pela forea dos derrotistas,se possa canstruir o aguerrimento do proletariado para aslutes supreanas revolucianfrias. Estamos, portanto, depoisde bem estabelecidas todas as responsabilidades, no came

da luta nas graves gerais da Liguria e da Venezia Giulia (');pedimos a extensdo do movimento dos ferroviarios contraa aplicagdo do artigo 56 0,

precis() lutar contra esta situacdo para extrair de cadaepishdio um resultado de experthncias e de treino revolucio-ndrios, corn o olhar sempre voltado para o objective: acgdogeral iinica de todos os trabalhadores.

0 nivel da combatividade proletfria crescerd atravc'sdestes epishdios a medida que o Partido Comunista aparecera enfrentar o derrotismo dos amarelos, os quais esperam,talvez ado anenos do que as burgueses authmicos, a revira-volta que atire o proletariado para a Satan° mono da pas-sividade e do desalento.

Mas dos mais vas' cidos aos mais cinicos inimigos do movi-mento proletirio parece que todos sentem soprar um outroyenta: o da grande tempestade revoluciondria.

(3) Na Liguria, em apoio aos metalargicos que faziam greve haalgumas semanas contra a ameacada reducäo dos salarios, estabele-ceu-se a greve geral de 17 a 21 de Novembro. Na Veneza Giulia,contra a decisào dos industriais metal6rgicos de Trieste ern efectuaremo lock-out nos estaleiros navais de Trieste e Muggia e reduzirem ossaarios no estaleiro de Monfalcone, foi declarada a greve geral emtoda a regiao. Tambem em Livorno os metalargicos estavam em greve.

(3) Em Napoles, em 6 de Novembro, os ferroviarios tinham rem-mado a grave em defesa do principio do dia de traba1ho de oito horase contra a aplicaclo do art.° 56, de 7 de Julho de 1907, ja sepul-tado depois da agiracao de 1920, que estabelecia o despedimento paraos ferrovifirios em grove.

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UM GOVERN() QUALQUER (*)

No armament° fraseolOgico do Partido Socialista, a for-mula do govern melhor foi definitivamente suhstituida pelanova formula do govern qualquer: o Partido Socialista con-fessa abertamente ter renunciado a todas as conquistas nocampo legal; aroma ja nao ser sequer um partido de reformasgraduais e de conquistas morals; contenta-se em obter, porparte do govemo, as garantias elementares para a segurangae a incolumidade pessoal das massas camponesas.

Para medir toda a grandeza do retrocesso feito pelos socia-listas, basta recordar a posigdo polómica assumida peloschefes sindicais do movimento carnponas no Congresso deLivorno. Nino Mazzoni tinha sustentado no Congresso Pro-vincial de Reggio Emilia da fraccao concentracionista C) quea tese comunista da conquista violenta do Estado era desti-tuida de qualquer fundamento razoavel e de senso commit,visto que o Estado cram efectivamente os camponeses. ParaMazzoni o problema nao era ja o de conquistar o Estadocorn a forca armada da classe trabalhadara alas, simples-manta, o de organizar as conquistas !partials do Estado javerificadas por virtude traurnatiirgica dos chefes sindicais emunicipals, de organizar no Parlamento o Estado de facto.No Congresso de Livorno, Mazzoni confirmou e ampliou asua tese. para Mazzoni, na Italia, diferentemente dos outros

(*) Nat, assinado, L'Ordine Nuovo, 1-12-1921.C) Concentracionista foi chamada a fraccao socialista de direita,

agrupada a volta de Turati e Prampolini, que se constituiu em Seterabrode 1920 em Reggio Emilia

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paises e especialmente da Riissia, a vanguarda socialista eraconstituida nä° pelo proletariado urbano mas pelas mamastrabalhadoras rurais. A tese comunista da revolugdo, conce-bida c,orno essencialmente proletaria e urbana, e a tese comu-nista come revolucio proletaria que liberte os camponeses dosresiduos da opressilio e da exploraclio feudal, permitiram aMazzoni bombardear o edificio granitic° da maioria maxi-malista-unitkia corn argacias vulgares e piadas banais.

A um aim de disfancia, cada operario ou campones,plasm° mediocremente inteligente, foi posto na situaedo dejulgar, pelos acontecimentos, qual das duas correlates soda-listas, a comunista ou a reformista, tinha sabido prever odesenvolvimento da histOria e tinha sabido indicar a tacticamelhar para salvar a classe trabalhadora da ruin econ6-mica e da escravida) politica. A classe camponesa, nãoobstante o controlo de milhares de municipios, de daze-nosde milhar de cooperativas e de Ligas, foi completamentevencida. Sweden ate que, na provincia de Rovigo, onde asorganizaglies camponesas tinham conseguido conquistar aquase totalidade this administracOes locals, a reaccdo foi maisferoz e encontrou menos resisteacia. A classe camponesa ita-liana foi repelida para uma sinned.° de escravidZao pior doque a feudal • jai no tern liberdade de reuniao, ji ado temliberdade de Imprensa, ja. :ciao tern liberdade de associacdo,ja ado tem liberdade de it e vir, nem sequer a liberdade deviver. Nas cidades, embora a derrota clamorosa dos cam-poneses tenha tido repercussOes frequentemente mortals, des-moralizando e humilhando largos estratos do proletariado,vive-se ainda, resiste-se, luta-se; nas cidades sucedem-se inces-squtemente desespsradas tentativas para organizer um exer-cito de trabalhadores e torn-lo capaz de combater contraa guarda branca

Cada operario e campones esta hoje persuadido que s6da cidade pode sair o grito de libertacdo do povo trabalhadoritaliano, que a emancipacdo das massas oprimidas e explo-radas s6 pode ser assegurada por um Estado operario que,tendo organizado urn potente exercito vermelho e uma impla-ravel rede de instituicees policiais ou judiciarias com ele-mentos operdrios, reconquiste sistematicamente os territOriosinradidos e destruidos pelo fascismo e os liberte dos dep6-sitos de armas e das conjuras reaccionarias. 0 Partido Socia-lista, pelo contrario, completamente desmoralizado e corrom-

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pido pela derrota sofrida nos provincias agricolas, rectta cadavez mais Os chefes socialistas reconhecem que o povo ita-Ilan° foi atirado para a situacifo existente durante o regimefeudal; mas diferentemente dos partidos liberals que entiorepre.sentavam as forcas oprirnidas, os dirigentes socialistasrenunciam a preparagao da insurreigdo armada, renunciamviolencia, entreg,am-se a urn governo qualquer, into 6, ao nos-quismo (*) que num primeiro tempo pode ate reprimir ofascismo agrasio mas ado pode certamente reprimir o fas-cismo agrario sem reprirnir simultaneamente as forcas revo-lucionarias urbanas; isto é, sem criar as condiclies naelhorespara. o renascer, a breve termo, de urn fascismo ageario aindamais impiedoso e atroz do que o actual.

As massas proletdrias e camponesas apreenderam, porem,da experiencia histecica mais do que os dirigentes socialistas:eis por que elas se reanem cada vez mais numerosas e con-fiantes a voila do Partido Cornunista que continua as tradi-COes dos jacobinos da Revalued° francesa contra os giron-dinos. Sim, os comunistas sdo jacobinos mas para o interessedo proletariado e dos massas rurais traidas hoje pelos socia-listas, cam° ha mais de um seculo os interesses da classerevolucionaria eram traidos pelos girondinos.

(") De Gustavo Noske, politico alern5o, social-democrata. Ministroda Guerra, foi responsavel pela opressao contra os espartaquistas(1918-1919).---(N. do T.)

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I I

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O PAPA E A IGREJA CISMATICA (*)

A unido da Igreja roman corn a Igreja greco-cismatica,ou ortodoxa como valgarmente se diz tambem no Ocidente,o 11 Pla antiga aspiracilo do papado. A Igreja cismatica corn-preende o oriente mediterfanico, a Gracia, os Baldis, a Rüssia.Toda a politica de Benedito XV perante a RUssia dos Sovietesapoiou-se no antigo sonho da unidade religiosa catelico-ciS-matica. E born, portanto que se digam duas palavras fiestasferias do trono pontiffcio.

A Igreja cismatica esta maito memos longe da Igrejaromana do que os protestantes das vdrias seitas. Desereou-sedo regaco da catolicidade per voltas do ano mil, por motivosrelacionados corn a teologia e tambem par motivos marsportantes de mentalidade e de temperament°.

Nab faltaram, de vez em quando, tantativas serias deunidade e de conciliacao. E ja. modernamente, Ledo XIII fezesforcos notdveis pares a fusào das duas Igrejas. Nem faltaram,nos Ultimos decenios, episedios de bispos das duas Igrejasque claramente se permitiram gestos de colaboragdo ezade reciproca.

Benedito XV tomou uma posigão ainda mail resolutapan a conciliagão das duas Igrejas.

Pntre outras coisas, fundou em Roma o Institute OrientalRomano e dele quis assumir a presid6ncia, canfiando asfungeies de secretario a alguem da sua confianga, conhecedordo Oriente e das questfies eclesiasticas orientais, o cardeal

(*) NAG assinado, L'Ordine Nuevo, 27-1-1922.

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Marini. A propOsito de tal instituto, escreve o PopoloRomano:

Este Institute, nos prop6sitos do Papa, devia centralizar todas asrelacOes do papado corn os catolicos e tambem os nao cataicos doOriente. Corn os mats, portanto, o pontifice, na qualidade de presi-dente, criava contactos ininterruptos, completamente fora da buro-cracia da CUria, maliciosa e frequentemente boicotadora.

Mao 6 de hoje o dissfdio entre a burocracia romana da catch-cidade a as Igrejas do Oriente. Ciosas da sua autonomia, estas nuncaconseguiram, nao podiam e nao podem conseguir agradar aos pre-lados da Curia, cujo sonho 6 o poder absoluto de dominio, a contra-lizacAo absoluta, nas suns mdos, de todos os interesses espirituais

temporais do orbe catOlico. E desgragadamente a deformacao Ultimade todas as burocracias omnipotentes e centralizadoras, do que nä°se salva sequer —embora nao esteja inquinada mais do que qualqueroutro organism° social—a Igreja cat6lica.

NAo se pode verdadeiramente dizer que a Propaganda fide tenhadeixado desenvolver-se, sem contrastes e obstAculos, o piano de Bene-dito. Existe ainda hoje urn dissidio nä.° transcuravel acerca do controloque a dita congregacâo desejaria exercer sobre o Calegio dos Maro-nitas, que os cat6licos libaneses mantém em Roma. Mas as conjuras

as artes dos prelados da aria encontraram sempre uma barreiraintransponfvel na firme vontade do pontifice, o qual, antes de fecharos olhos, teve a alegria de ver o seu instituto em pleno desenvolvi-mento, centre importantissimo de estudos, aberto, sem distincAoisto honra a sua serenidade aos cathlicos come aos orto-doxos, como a todos os cristAos orientais. Os prograrnas do Institute,deste ponto de vista, nä° puderam deixar de provocar o escAndalodos Merry del Val, dos De Lai, dos Billet e dos jesuitas.

E evidente que Benedito XV, reunindo em Roma os cat6licos detodas as Igrejas orientais a ate os ortodoxos ou eristaos em geral,para se instruirem sabre o verdadeiro contend° da doutrina catolica,tornava ao grande sonho da undo das Igrejas do Oriente a tendiaa reforcar, perante alas, o prestfgio a influAncia de Roma. A estesonho sacrificou, corn uma generosidade que cada sacerdote do Orientevos descreve corn profunda comocão, nao s6 as ambigäes dos pre-lados recalcitrantes mas os seus principais recursos financeiros.

A posiedo de Benedito XV em relaciio a Russia miravaclaramente traduzir em factos o antigo sonho que duplicaria

nilmero de cat6licos.A passagem da ortodoxia greco-cismâtica ao catolicismo

roman° nä° deveria significar um salto dos ritos greeo-cis-mãticos para o ritual latino. A Igreja catalica possui ja umrite grego, que usa oficialmente a lingua grega, tern um orga-nismo exterior conforme as tradigOes peculiares dos patriarcasbizantinos e orientais, permite o matrimanio dos padres.Mesmo o espirito politico-religioso do rito grego (catOlico)

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é informado por uma orientacão de maxima adaptagdo astraclieties e ao teraperamento oriental.

Isto depende de um criteria politico e tambem de umcriteria de respeito pelas tradieaes. Enquanto no Ocidente apatristica antiga grega é pasta em segundo lugar pela latinae os evangelhos oficiais são Latinos, no Oriente, pelo contrario,nao e possivel prescindir do facto de a histaria antiga dareligião ser sobretudo grega coma gregos sacs originariarnenteLodes os evangelhos, gregos na major pane os padres 0 cathe-ter greco-oriental 6 essencialmente pedante e sofista em filo-sofia e em reljgjao. Enquanto as tradieees da Igreja ocidentalsans sobretudo praticas, as da Igreja oriental, desde os maisantigos tempos, ado teolOgicas, disputadoras, subtis. Os fun-damentec filosOficess e teolOgicos do catolicismo foram ela-borados quase exclusivamente na Igreja oriental, antes queocorresse a cisaio em duas confissees distintas. Actualmente,poa-tanto, a Igreja greco-cismatica 6 minada per uma car-rupeRo talvez ainda mais profunda do que a que existeIgreja romana.

De qualquer modo, a Igreja romana tem no seu espiritoconciliador e no rito greco-catblico uma base para a almejadaunido.

Permanecem fundamentalmente dois factos que constituemdificuldades

Primeiro. A derivaedo do Espirito Santo s6 do Pai, comacream os cismaticos, enquanto os cat6licos afiranam, noCredo, qua ele procede tanto do Pai como do Filho. Sabreestas subtilezas stria provavelmente possivel urn acordo.

Segundo. 0 reconhecitnento da preeminencia do bispo deRoma. Aqui a questa() 6 intrincadissima e espinhosissima.A Igreja grega antiga (catOlica) teve sempre muita autonomiae importancia em relagdo a Igreja ocidental para que a suaherdeira cismAtica possa aceitar sem mais discussao o papadode Roma. Em nenhum cases a Igreja cismatica acederia aospreliminares de acordo serfalo corn a condjedo de discutirpelo menos tudo o que o papado foi lentamente conquistando,de predominio e de atribuicaes, a partir do cisma ate hoje.E isto foi urn processo do papado, cada vez mais monarquico,verdadeiramente gigantesco, que se traduziu em artigos defe e culminou no concflio realizado per Pio IX em 1869,onde — no meio de violentas oposicoes dos bispos — foi as-tabelecida a infalibilidade do Papa.

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A preciso ainda acrescentar que a parte mais intransigenteda Igreja cismätica ado so nega que o bispo de Roma seja,preferentemente ao patriarca de Constantinopla, o sucessorde Pedro, mas nega ate que Cristo tenha conferido a Pedrouma real preeminancia sobre os outros apdstolos com asfamosas palavras: aTu es Petrus, et super hanc petramaedificabo domum meamc e com a outra pa csagean: •Pasceoyes meas. D

Monseahor Geremia Bonomelli, no seu livro Viaggio inOriente, apresentava concluthes muito pessimistas sobre apossibilidade de um acordo prOximo com o element° greco--oriental-cismitico. Provavelmente, se uma probabilidade deuniao, ainda que remota, aiguma vez se apresentar, seri naRtIssia e nos paises eslavos que o Papa procurard abrir umabrecha.

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A SUBSTANCIA DA CRISE (*)

A queda de Bonomi diz-se, foi provocada por umamanobra de corredor •do Inuit() clara, ou na qual de clarohd apenas a ambi 'cdo de um grupo de politiqueiros. E estabent. 0 Parlament° inteno 6, em relagdo ao pats, um cor-redor obscuro e seen saida, no qual tambem os factos e oscontrastes mais profundos sdo obrigados a assumrir aquelaforma, visto que a gente que o frequenta ndo consegue ne-nhuma outra. Mas tern sempre, sob esta forma, deixa dehaver uma substancia de mais seria con.sideracdo. baste elano caso actual?

Que atraves dos acontecimentos politicos dos (dams me-ses at estava completando em Italia uma serie de transf or-rnagides de caracter substantial, 6 coisa sobre a qua) tivemosoutran vexes ocasido de insistir. Como base desta transfor-macdo, a tentativa de fazer aderir ao Estado italiano estratosprofundos das massas trabalhadoras das cidades e do campoe, dente modo, libertar o Estado da crise que o atormenta;coma instrumentos desta accdo, as dois partidos asociais-de-mocratan tipicos: o 'popular e o socialista. Entre o Partido

(*) Ndo assinado, L'Ordine Nuevo, 5-2-1922.(1) 0 Gabinete Bonomi declarou-se demissiondrio em 2 de Feve-

reiro, em seguida ao voto de desconfianca do partido da DemocraciaSocial (Giovanni Amendola), agrupamento parlamentar resultante dafuslo entre a Democracia Liberal e os demo-sociais. 0 vote de des-confianca tinha lido motivado pela recusa de Bonomi em concederfundos ao enrio pars salvar o Banco de Desconto, cuja falenciatinha prejudicado numerosos pequenos poupadores meridionais de quema Democracia Social era de facto a expressfto.

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Popular e o Socialista actuou-se, pot isso, uma curiosa divisdodo trabalbo. Combatendo-se em algal-Ls lugares e sobre algunsterrenos, noutros colaborando, noutros ainda dividindo-seoportunamente as partes e as zonas de influencia, popularese socialistas completar-am e e.srao completando tuna obracomum: a de preparar as bases do futuro Estado social-demo-crata italiano. A demagogia e o oportunismo mentiroso ehipOcrita sae os meios corn os guars se procura, tante pottins como pot outros, alcangar o objective. 0 facto 6 too ver-dadeiro que em algumas zonas, especialmente agricolas e depequenas regiães, existem estratos inferiores de populacaotrabalhadora que ja ado fazem distingao entre os dois par-tidos. A colaborando ester ja em acto; e o facto de se realizarprimeiro na base do que nos Orgdos directives superiores, 6indice da sua correspondencia cam uma situageo nova quese esti criando e da qual é nessario ter presente.

Mas se esta a uma realidade, a outra realidade corn a qualse deve contar 6 a formacdo traditional do Estado italiano,resultante da prevalencia de uma classe dirigente que teminteresses opostos aos das massas e quer exercer sobre elasum domfnio com a violencia e com o engano. Ha muito queos populares consider-arm-it o problema de estabelecer urnacordo corn esta classe dirigente e ate o resolveram sem, to-davia, perder o seu caracter de partido aderente e represen-tante de vastas massas organizadas Corn a accdo que desen-volveram, quer no Parlamento quer no pats, deram pois jio exemplo do que sera a social-democracia italiana, do modocomo o novo regime reassumird em si as linhas mais deso-xtestas das nossas tradicionais ecamorrass (•) corn tracesneves do Estado social-democrata, sem preconceitos, dema-gam hipOcrita, corruptor e corrompido. Deste panto detesta, Miami foi um verdadeiro precursor.

Para alcancar completamente o objective, 6 poi-6m neces-rt;o earavessar periodos de ajustamento. Um deles foi repre-=rad° pela crise de violencia do fascismo. Hoje, ate nogo o fascista existem os sintomas evidentes da degene-radio szeiial-democrata. Valha pot todos o comportamento5.$....a.uttrie.q. em relacdo aos assuntos bancirios (2). A violencia

ten V. -yak 1, nota da p. 197.el IX; Lseistas, especialmente os nacionalistas de Idea nazionale,

treia:It eraser violentarnente o governo polo comportamento assu-Kim (Anmete• a crise bencaria.

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organizada fora dos quadros legais do Estado 6, de resto,caracteristica de todos os regimes aparente,mente edemocra-tasn, formados pds-guema.

Uma outra fase do periodo de ajustamento 6 represen-tada pelas crises parlamentares. No Parlamento deve-se corn-pletar a soldagem entre os elomentos directives das velhas edas novas ecamorras3( 5). Requere-se, por isso, que algunshomens sejam eliminados, outros impelidos avante, que sereconhecam certos &Sas conquistados e que se trave o ardorpremature dos recem-chegados. is todo um tmbalho do qualdeve sair a nova casta dos dirigentes.

E dare quo este node de considerar a questäo leva anegar qualquer valor as distincOes parlamentares oficiais, peloque poderd existir urn govern de direita ou urn governde esquercla, ou urn governo intermódio de etransicaol. E setudo isto e terminologia vazia, ainda menos valem os pro-gramas e ate os homens. As bases sobre as guars todos es-tavam de acordo, mais ou menos, näo sae dificeis de encon-trar. 0 que mais importa, pornm, nab sac) tanto elas comoo processo geral atraves do qual o Estado italiano, sem mudara sua natureza fundamental, tende a mudar as suas bases naesperanca de se reforgar e de poder gozar de urn novo periodode vida tranquila.

Urn element° novo seria dado, diz-se, pela posicdo dossocialistas. Mas nee 6 verdade. Eles entrain na linha desteprocesso geral e quanto dissemos atres sobre a analogia entrea aced° dos populates e a dos socialistas poupa-nos agoramaiores explicacOes. A Unica diferenca reside na falta departicipacao no govemo, o que obriga as socialistas a seremainda mais hipocritas e rnentirosos do que as outros, a totemneo apenas duas, mas fres ou quatro mascaras corn as quaisescondem o seu rosto verdadeiro. Os socialistas nao pedemmais do que dqr a sua contributicao a obra comum de recons-trucao e de reforgo do Estado. Seja de que modo falem,quer usem a desfacatez de Stenterello, quer repisem a estu-pidez de Turati, quer hasteiem o galhardete da intransigenciaou papagueiem como o papagaio do Avanti f cada uma dassuas palavras e cada um dos seus comportamentos see van-tajosos para a burguesia e para o Estado, porque s lye. paraimpede que as massas vejam claro no curso dos factos que

(•) V. vol. I, nota da p. 197.

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se estdo desenvolvendo, que as massas se dem coma dascadeias que se aprestam para confirmar a volta dos seuspulsos os novas pregadores de liberdade, de reformas e deconquistas positivas.

Este 6, pois, para nos, o ponto central da situacão actual.preciso tornar darn as massas de operazios e camponeses

de Italia que cada apoio por elan dado aos demagogos dospartidos socials-democratas — socialista e popular —6 um con-tributo pan a reconstrucflo do organismo que ha deceniosos priva da liberdade, do bem-cstar, e as submete a escra-viddo, aos sofrimentos e a movie. A luta contra a social--democracia, a luta contra o Partido Socialista traidor, identi-flea-se corn a luta pan a libertacao do proletariado de Italiade qualqucr escravid5o.

n

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GIOLITTI E OS POPULARES (*)

A politica traditional de Giolitti, que foi a politica doEstado italiano nester primeiros vitae anos do seculopara alem da tentativa, nunca realizada no terreno parla-mentar, de incoapomr o movimento operario no mecanismogovemativo, consistiu na tentativa de acambarear os votosdos camponeses eatOlicos para a fortuna politica do chamadoPartido Liberal Democrata, isto 6, para o partido dos indus-trials e dos comerciantes. A hierarquia eclesiastica tinha sido,ate ao aparecimento do giolittismo, o instrumento de que seserviam as agrarios para dominar politicamente, e nä° soeconomicamente, a classe dos camponeses: para os bons off-dos da hierarquia eclesiastica, as agrarios conseguiam ter noParlamento urn partido, o Liberal Conservador, guiado perSonnino e defendido polo Giornale d'Italia, que podia penni-tir-se, de vez em quando o luxo de constituir um govern()e de mante-lo per cem dias. Para impor definitivamente omonopedio governativo dos maiores interesses industrials ebancarios, Giolitti cultivou amorosamente, no campo catolico,o nascimento e o desenvolvirnento da inesma rede de coope-rativas e de pequenos bancos de poupanpa que tinha amoro-samente cultivado no campo socialista: obteve os resultadosque tinha esperado. 0 pacto Gentiloni assinalou a passagemda hierarquia eclesiastica dos services do Partido Conser-vador, isto 6, de Sonnino e dos agrarios, ao service do PartidoDemocrata, isto 6, dos banqueiros, dos industrials e deGiolitti.

Cr) Ndo assinado, L'Ordine Nuovo, 22-2-1922.

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A formagao do Partido Popular, into 6, a organizagao daclasse dos camponeses como classe independente, e o seudesenvolvimrnto, ocorrido no sentido de o Partido Popularse libertar quase completamente da facCao de direita, consti-tuida por latifundiarios e velhos aristocratas, mudou o terrenode manobra politica do iigrandev estadista de Dronero. Tantoos agrarios como os industriais e os banqueiros estao limi-tados no Parlamento a terean partidos numericamente insig-nificantes: ooligaram-se e encontraram o seu leader precisa-mente no deputado Giolitti. Giolitti, tradicionalmente homemde esquerda, hoje tomou-se homem de extrema-direita; oGiornale d'Italia, o Orgao tradicional dos agrarios, o apoiadordos idasciosii torcanos e emilianos, tornou-se hoje o executormais encamigado de Giolitti, do homem que por vinte anosmais asperamertte tinha combatido, do homem para quem,em 1917, pedia explicitamente que fosse levado aos tribunalsmilitares. Cora a tolice brutal que os distingue, os agrarios,afoitos pela existencia da orepnizagao militar fascista, recon-quistada na econpmia nacional a supremacia pela queda daindfistria e da banca, declaram abertamente quererem voltara situagan politica existente no nosso pats antes do pactoGentiloni. Durante o conclave, o Giornale d'Italia ameagouabertamentamente desencadear lima tempestade anticlerical separa o governo da Igreja nao fosse eleito urn aintransigenteD,isto 6, se o Vaticano n5ci voltasse a politica de Pio X, con-traria a formacao, em Italia, dos partidos parlamentarescatOlicos e favoravel a politica dos aristocratas e dos con-servadores. 0 conclave elegeu, pelo contrario, urn pontificeainda mais conciliador e popularista do que Benedito XV Q)e o Partido Popular vingou-se das tolas ameagas do Giornaled'Italia °pont o seu veto a urn governo de Giolitti. Se seprocuram as foroas politicas, realmente agentes no pals,abaixo da coreografia parlamentar, a derrota de Giolitti 6sem chivida a manifestagao de lima crise de regime emA classe dos camponeses 6 a Unica classe pequeno-burguesaque oonservou uma fungao produtiva na sociedade modems:por isso ela se pode unificar politicamente e introduzir umelemento novo no Parlamento, mudando radicalmente ostermos traclicionais do equilibrio democrata, isto 6, prove-

0) Como sucessor de Benedito XV, foi eleito o cardeal AchilleRatti, Pio XI.

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vando unlit crise de regime que poderia ate aprofundar-se.Nao existe, na verdade, nenhuma contradigao essencial entrecatolicisrno e repfiblica: Radich, na Croacia, chefe do par-tide dos camponeses, e republican e circunda a sua pregagaocom um halo de coreografia religiosa que atinge profunda-mente a fantasia dos estratos oampesinos...

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ENSINAMENTOS (*).

As canclusdes que se podem extrair do andamento deltamanifestagdo do Primeiro de Maio sdo confortantes,

A manifestagdo foi positiva como intervene& de massas,como extensdo de solidariedade operazia. Demonstrou comoo proletariado italiano, apesar da reaccdo, é sempre vermelho.E foi tamberm positiva como prova de espfrito de combati-vidade que desperta nas filas dos trabalhadores.

Os fascistas preocuparam-se em demonstrar, cam o seucamportamento e corn as seas preprias declaraedes, que setratava de nma manifestagdo antifascista. E tal foi o signifi-cado da abstengdo do trabalho e da intervened° de grandfs-simas massas em manifestagdes, de urn canto ao outro daItalia, e sem excluir as zonas mais controladas pelo fascismo.Se os cortejos ago se organizaram isso deve-sea imposiedo dogoverno: se tivesse sido possfvel organizg-los, hoje conta-rfamos urn major mimero de mortos operdrios mas tambemum major niimero de mortos fascistas.

Ao lado da confortante constatacio da vastiddo e impo-nencia da manifestagao e do elevado moral das magsas, deve-mos, todavia, apresentar o que a organizaccio deixou em gerala desejar.

A coisa nao se apresenta sem razdes: a tictica da unidadede frente adoptada neste primeiro de Maio por todos osorganismos proletarios, experiencia da Alianea do TrabalhoItaliana, trouxe ao mesmo tempo este beneffcio e esta des-

(*) Nao assinado, L'Ordine Nuovo, 5-5-1922.

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vantagem que devem ser atentamente eonsiderados pelos co-munistas. Limitamo-nos aqui a apontar brevemente para ofacto, tendo presente o comunicado dif undid° pelo Comiteda Alianca do Trabalho, depois do Primeiro de Maio.

Corn a tactica da unidade de frente, puderam agrupar-senos comities do primeiro de Maio grandes multidets ope-arias mesmo onde era ben clam na consci6ncia, desde aUltima intervencao, que nao se tratava da costumada e tradi-cional coreografia mas de uma jornada de luta. Mas estademonstracao da aversao do proletariado a reacgao e ao fas-cism°, do espirito de classe que hoje anima as grandes mul-tiaes de trabalhadores, nao a suficiente para poder abatero fascism° e a reaccao 0 fascism° ciao sera sufocado porunanimidades platOnicas: os revalveres e os punbos nao seraotornados impotentes corn o facto de se langar um colchao porcima. 0 fascism° na tern o ntimero mas tem a arganizacao,unitaria e centralizada, e nisso consiste a sua forca, integradana centralizacao do poder oficial burgues.

A Alianca do Trabalhoe), que hoje permitiu agruparmassas imponentes, deve tomar-se capa7 de enquadth-las corndisciplina unlit-M. Aqui reside o papel dos comunistas panconseguir este resultado, elm direccdo ao qual so se deu oprimeiro passo. Quando for passive' as grandes reuniks=attar corn o concurs° prolethrio e, ao mesmo tempo, cornuma rational preparagao das nossas forcas, entao o proleta-riado podera dominar o seu inimigo. Neste Primeiro de MaiopOde notarse que os comicios e os movimentos acordadospelas organizacOes aliadas evidential/13.m a falta de um mi-nim° de preparagao organizativa mesmo no modesto efeitoda sua prateccao dos ataques adversdrios, e isto dependia dofacto de nao ser bent clam quern tinha organizado os comi-cios e disposto o piano do seu desenvolvimento em todosos aspectos. Os coma& locais da Alianca sao apenas de

C) A Alianca do Trabalho foi constituida em 20-2-1922 entreos dirigentes da Confederacão Geral do TrabaMo, a Unido SindicalItaliana, a União Italiana do Trabalho, o Sindicato dos Ferrovidriose a Federaeâo Nacional dos Trabalhadores dos Popes. Gramsci temeu,desde a sua fundagtio, que a Alianca se tornasse num organismo buro-eatico e estimulou a sua transformacao em bases democrAticas, deltasnos locais de trabalbo, na periferia.

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recente formagao e nao tem Clara consciancia organizativasuficientes poderes.Todavia e jd uma grande vantagern ter podido organizar

reunifies commas das massas, porque isto eleva o moml pro-letario e permite aos comunistas levar ao protelatariado a sinpalavra franca Urn ulterior desenvolvimento da interessanteexperiOncia italiana da tactica da frente Unica conduzird aintegracao, corn esta vantagem inegdvel, a da efectiva ebanana unidade de organizacao.

0 argument° presta-se a importantissimas consideragOes:queremos agora apenas notar que o term° sindical sobre

qual a Alianca se constitui permite aos comunistas umapressa pera que ela se tome cada vez mail estreita orga-nizativame-nte, altancando-se assim a unidade sindical prole-Lida que sempre auspiciamos e que se o programa doPartido Comunista pode e deverd encher de contend° revo-luciondrio.

Por agora 6 de reagir contra o catheter preguicoso e in-certo manifestado ate hoje pela direccao da Alianca doTrabalho. Os comunistas id lomat/Imam, de modo preciso

concreto, as suas propostas para o desenvolvimento, paraa animacao para o potential da Alianca, que poderia, sea campanha nao fosse estimulada energicamente antes (para-lelamente as eloquentes experiencias da accao proletdzia),degenerar nutria burocrdtica e obstrucionista diplomacia dedirigentes hesitantes e oportunistas. Quanto sao urgentes aspropostas comunistas demonstra-o o comportamento passivoda Alianca em relacao as gravissimas provocacOes de queforam vitimas as multidOes operdrias no Primeiro de Maioe, nao obstante os apelos a ac,cao vindos de tantas pastes.demonstra-o a sua insensibilidade a pressat exercida hojepelo proletariado italiano disposto a proceder rapidamenteno caminho da contra-ofensiva. E demonstra-o, eloquentis-simo document°, o comunicado difundido pelo comite na-tional que, corn as suas frases vulgares e banais, declina asugestao vinda das massas que anseiam pela luta: comuni-cado sobre o qual nao queremos escrever outro comentdrio,seguros que, coma a questa° esta ja irrevogavelmente postaperante as massas, assim estas nao deixarao de as comentar

julgar para extrair desta desilusao novo motivo para pros-seguir no dspero mas seguro caminho da sua desforra.

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UMA CARTA A TROTSKYSOBRE 0 FUTURISMO (*)

Eis as respostas as perguntas que me clirigiu sobre o movi-mento futurista Milano °.

Depois da guerra, o movimento futurista em Italia perdeuinteiramente os seus tracos caracteristicos. Marinetti dedica-semuito pouco ao movimento. Casou-se e prefere dedicar assuns energias a mulher. No movimento futurista participamactualmente monarquicos, comunistas, republicanos e fas-cistas. Ha pouco tempo, em Milao, fundou-se urn semandriopolitico, 11 Principe, que representa ou procura representaras mesmas teorias que Machiavelli pregava pela Italia deQuinhentos, into é, a luta entre os partidos locais pie con-duzem a nacdo para o caos deveria ser resolvida por obrade urn monarca absoluto, um novo Cesar Berg, que seponha a cabeca de todos os partidos que se combatem.A folha é dirigida par dois futuristas: Bruno Corm e EnricoSettimelli. Ainrla que Marinetti, em 1920, durante tuna mani-festacdo patribtica em Roma, tenha sido preso por urn enér-gico discurso contra o rer, agora colabora neste semanario.

(*) Publicada em Lev Trotskij Literatura i revoljtasija, Mos-covo, 1923.

Trotsky, que preparava urn volume sobre o argumento da rola-ego entre literatura e revolucäo, interpelou entre outros Gramsci, na-quele periodo em Moscovo, que respondeu corn esta carta, datada de8 de Setembro de 1922. Trotsky inseriu-a no volume. Cf., parao contexto, Lei° Trotsky, Letteratura, arse, liberta, Mira°, 1958,pp. 3-78.

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Os mais importantes expoentes do futurism° de antes daguerra tomaram-se fascistas, corn exeepclo de Giovanni Pa-pini, que se tcrnou catolico e escreveu uma Hist6ria deCristo. Durante a guerra, os futuristas foram os mais tenazesapoiadores da aguerra ate ao Erni e de imperialism°. S6 urnfuturista, Aldo Palazzeschi, era contra a guerra. Rompeu corno movimento e ainda que fosse urn dos escritores mais lute-ressantes, acabou por se calar como literato. Maximal, presempre tinha elogiado em todas as direccOes a guerra, pu-blicou um manifesto em que demonstrava que a guerra erao Unica meio higienico para o mundo. Tomou pane naguerra come capitào de um batalhdo de carros armados e oseu Ultimo livro, L'alcova di acciaio, constituiu urn hino en-tusiasta aos carros annados na guerra. Marinetti compOs umoptisculo, In disparte del comunismo, no qual desenvolve assuas doutrinas political, se se podem em geral definir comadoutrinas as fantasias deste homem, que as vezes a espiri-tuoso e sempre 6 notavel. Antes da minha particle. de Italia,a seceder de Turim do Proletkult tinha solicitado a Marinetti,por ocasido da abertura de uma exposicao de quadros detrabalhadores membros da organizacdo, que the ilustrasse osignificado. Marinetti aceitou corn agrado o cons, visitoua exposiceo corn os trabalhadores e exprimiu ern seguidaa sua satisfaedo por se ter convencido que os trabalhadoresSham pelas questOes do futurismo muito mais sensibilidadedo que os burgueses. Antes da guerra as futuristas crammite populares entre os trabalhadores. A revista Lacerba,que tiny uma tiragem de vinte mil exemplares, era difun-dida entre os trabalhadores na proporgOo de quatro quintos.Durance as muitas manifestagOes da arte futurista nos teatrosdas grandes cidades italianas sucedeu que os trabalhadoresdefendiam os futuristas contra os jovens semi-aristocratas ouburgueses que lutavam contra os futuristas.

0 grape futurista de Marinetti ja ndo existe. A velbarevista de Marinetti, Poesia, 6 agora dirigida por um certoMario Dessi, urn homem sem a minima capacidade intelec-tual e organizativa. No Sul, especialmente na Sicilia, apa-recem muitas folhas futuristas, nas quaffs Marinetti escreveartigos: runs estes folhetos são publicaclos por estudantes quetrocam por futurism° a ignorencia da gramatica italiana.O p-upo mais forte, entre os futuristas, sOo os pintores.Em Roma ha uma exposicdo estavel de pintura futurista,

qua foi organizada por urn fotOgrafo falido, um cart° AntonGiulio Gragaglia, um agente para o cinema e para os artistas.Dos pintores futuristas, o mais conhecido 6 Giacomo Balla.D'Annunzio mmca tamou oficialmente posicio sobre o futu-rism°. E precis° dizer que, quando apareceu, o futurism°assumiu um expresso caracter antidannunziano. Um dos pri-meiros livros de Marinetti intitula-se Les Dieux s'en vont,D'Annunzio reste. Ainda que durante a guerra os programaspoliticos de Marinetti e de D'Annunzio concordassem emmuitos .pontos, os futuristas permanecem antidannim7ianos.Quase nä° se interessaram pelo movimento fiumano (*), aindaque mais tarde tenham tornado pane nas demonstragOes.

Bode dizer-se que, depois da conclusào da paz, o movi-mento futurista perdeu inteiramente o seu caracter e dissol-veu-se ern correlates diversas que at fonnaram em conse-quencia da guerra. Os jovens intelectuais eram, em geral,muito reaccionarios. Os trabalhadores, que viam no futurismoos elementos de uma luta contra a velha cultura academicaitaliana, ossificada, estranha ao povo, devem hoje lutar cornas armes na mao pela sua liberdade e tem escasso interessepelas velhas disputas. Nas grandes cidades industriais o pro-grama do Proletkult, que visa o despertar db espirito criativodos trabalhadores na literature e na arte, absorve a energiadaqueles que tem ainda tempo e vontade para se ocuparemde semelhantes questOes.

(') Movimento politico nacionalista. —(N. do T.)

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A NOSSA PERSPECTIVA SINDICAL (*)

No Sindacato Rosso, de 15 de Setembro, o e,arnaradlaNicola Vecchi (1) repropeie uma sua velha tese: —E preciseconstituir um organismo nacional sindical de classe, auto-nomo e independente de todos os partidos e transitoriamenteindependente de todas as Internacionais.

Qual deve ser a nossa posicae em face de urea tal pro-posta? Qual deve ser a directriz de propaganda dos comu-nistas pan marginalizar, no meio das massas, possiveis car-mites de opiniao de acordo corn a tese do camarada Vecchi?Qual 6, concretamente, na actual situacao, a nossa perspee-tiva sindical: isto 6, de que modo entendemos mantermo-nosem contacto corn as grandes massas proletarias, Para Hiesinterpretar as necessidades, para lhes recolher e concretizar asvontades, para ajudar o processo de desenvolvimento do pro-letariado para a sua emancipacao, que continua na p obstantetodas as represseies e toda a vielência da inflame tiraniafascista?

Como linha de principie, somos contra a criagao de novas<indicates. Em todos os paises capitalistas, o movimento sin-dical desenvolveu-se num sentido determinado, dando lugar aonascimento e ao progressive desenvolvimento de uma deter-

(*) Assinado Antonio Gramsci, in Lo Stara operaio (semandriodo PCI), ad, n.° 8, Mita°, 18-10-1923.

(1) Sindicalista revolucioniu-io da USI, da corrente favoraveladesdo da prOpria organizacão a International sindical vermelha queso constituiu em Moscovo. 0 Sindacato Rosso era o periodico da cor-rente sindical comunista da CGL.

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minada grande organizacan, que se encarnou com a histeria,corn as tradicOes, corn os habitos, corn os modos de pensarda grande maioria das massas proletarias. Cada tentativafeita para organizar separadamente os elementos sindicaisrevothcionirios faliu par si e s6 serviu para reforcar as posi-eines hegemOnicas dos reformistas na grande organizacão.Que resultado extrairam os sindicalistas em Italia corn acriacdo da Unido Sindical? S6 conseguiram influenciar par-ciaImente e episodicamente a mass y dos operarios industriais,into 6, da classe mais revoluciondria da populacdo trabalha-dora. Durante o perioda da morte de Umberto I, na guerralibica, conquistaram a direccan das grandes massas agrariasda planfcle padana e das Puglia, obtendo apenas este resul-tado: estas massas, que entdo mal tinham entrado no campoda luta de classes (naquele period° verificou-se precisamenteuma transformacào da cultura agraria que aumentou em cercade 50 por cento a massa dos trabalhadores agricolas), afas-taram-se ideologicarnente do proletariado de oficina e desindicalistas anarquistas ate a guerra libica, isto 6, no periodoem que o proletariado se radicalizava, passaram sucessiva-mente a reformistas, constituindo, depois do amnisticio e atea ocupagdo das fabricas, a passiva massa de manobra queos dirigentes reformistas lancravam, em cada memento deci-sivo, entre as pes da vanguarda revolucionaria.

0 exemplo americano 6 ainda mais caracteristico e signi-ficative do que 0 exemplo italiano. Nenhuma organizacdoatingiu o nivel de abjeccao e de serviliarna contra-revolu-cionino come a organizagdo de Gompers ( 2). Mas into queriadizer que os operarios americanos eram abjectos e servos daburgnesia? WOO, certamente! e todavia permaneciam agar-rndes is organizagan tradicional. Os IWW (sindicalistasrevoltionarios) faliram na sua tentativa de conquistar derem massas controladas par Gompers, afastaram-se delas,frtert,mse massacrar pela guarda branca. Palo contrario, ometeento guiado pelo camarada Forster, no interior daFederaglio Americana do Trabalho, com palawas de ordem

aeel -Compere (1850-1925), dirigente sindical americano, im-prooyz sarlientacko extremamente reformista e apolltica a Fede-ra•Iro Arwallemea do Trabalho, de que foi par muito tempo secre-tielo-,--aaa.

Zadlearaiel Wolkers of the World.

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que interpretavam a situagdo real do anovimento e os senti-mentos mais profundos dos operarios americanos, conquistaurn sindicato a seguir ao outro e mostra claramente como6 debil e incerto o poder da burguesia gompersiana.

N6s somos, pois, como linha de principio, contra a oriagaode novas sindicatos. Os elementos revoluciontu-ios represen-tam a classe no seu todo, sae o momenta mais altamentedesenvolvido da sua consciencia com a condicab de estaremcom as massas, de lhes dividirem os erros, as ilusOes, os de-senganos. Se uma disposiglio dos ditadores reformistas obri-gasse os revo1ucionaries a sair da ConfeAderacao Geral doTrabalho e a arganizarem-se a parte (o quo naturalmente nä.°pods excluir-se), a nova erganizaclo deveria apreseatar-se eser verdadeimmente dirigida com o imico objectivo de obtera reintegracdo, de obter novamente a =Made entre a classee a sua vanguarda mais consciente.

A Confederacao Garai do Trabalho, no seu todo, repre-senta ainda a classe °pecan& italiana. Mas qual 6 o actualsistema de relagOes entre a classe operaria e a Confederacdo?Responder exactamente a esta pergunta quer dizer, quantoa mim, encontrar a base conereta do nosso trabalho sindicale, portant°, estabelecer a nossa fungdo e as nossas relagOescorn as grandes massas.

A Confederacab Geral do Trabalho reduziu-se, comoorganizagdo sindical, aos seus termos minimos, a urn d6cimotalvez da sua potencialidade numerica de 1920. Mas a fracgdoreformista que dirige a Confe,deracao manteve quase intactosos seus quadros organizativos, manteve nos locais de tra-balho os seus militantes mais actives, mais inteligentes, maiscapazes, e digamos francamente a verdade, que sabem tra-balhar melhor, com maior tenacidade e perseveranga do queos nossos camaradas.

Uma grande parte, a quase totalidade dos elementos revo-lucionarios que nos passados anos tinham adquirido capaci-dades organizativas e directivas e habitos de trabalho siste-matico foram, pelo contrario, massacrados ou emigraramou dispersaram-se.

A classe operdria 6 como um grande exercito privado,de repente, de todos os seus oficiais subalternos; num talexercito seria impossive1 manter a disciplina, a unidade, oespfrito de luta, a unicidade do perspectiva s6 com a existOnciade um estado-maior. Cada organizacão 6 um complex° arti-

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culado que s6 funciona se existir uma adequada relacdo nu-mOrica entre as massas e os dirigentes. Nes nao temos quadros,nao temos ligacdes, nao temos services para abragar corna nossa influência as grandes massas, para potencia-las, paraas fazer tornar a ser urn instrumento eficaz de luta revolt-cionaria. Os reformistas estdo enormemente em melhores con-digOes do que nes, neste ponto, e exploram habilmente a suasituagdo.

A fabrica continua a subsistir e organiza naturalmente osoperdrios, agrupa-os, pdemos em contacto entre si. 0 pro-cesso de produgdo manteve o seu nivel dos anos 1919-1920,caracterizado por uma fungal, oath vez mais obstrucionistado capitalismo e, portanto, por uma cada vez mais decisivaimportAncia do operdrio. 0 aumento dos pregos de oust°,determinado pela necessidade de manter mobilizados perma-nentemente 500 000 esbirros fascistas, nao 6 decent:, umaprova brilhante de o capitalismo ter readquirido a sua ju-ventude industrial. 0 operario e portanto naturalmente fortena fabrica, esta concentrado, esta organizado na fabrica.Palo contrario, encontra-se isolado, disperso, debit, fora dafabrica.

No period° de antes da guerra imperialista era a relacdoinversa a que se verificava. 0 °parade estava isolado nafabrica e unido fora: pressionava do exterior para obter umamelhor legislagdo de oficina, para diminuir o hordrio de tra-balho, para conquistar a liberdade industrial.

A Mbrica operaria esta hoje mpresentada pela C,omissdoInterim Surge imediata e espontanea a pergunta: porque 6que os capitalistas e fascistas, que quiseram a destruicdodos sindicatos, nao destroem tambOm as Comissbes Interims?Enquanto o sindicato perdeu organizativamente terreno soba perseguigdo da reaccdo, porque 6 que a Comissdo Internaalargou, pelo contrazio, a sua esfera organizativa? E umfacto que em quase todas as fabricas italianas se obteve isto:a existencia de tuna s6 CI, todos os operdrios, e nao se asorganizados, votam nas eleicOes da CL Toda a classe ope-raria esta, portanto, hoje organizada nas CI que perderamassim, definitivarnente, o seu cardcter estritamente corporativo.

Esta 6, objectivamente, uma grande conquista de amplis-srma significagdo: serve para indicar que, nao obstante tudo,na dor sob a opressdo do tacii0 ferrado dos mercenaries fas-cistas, a classe operaria, ainda que molec-ularmente, se desen-

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volve no sentido da unidade, no sentido de tuna major homo-geneidade organizativa.

Porque 6 que os capitalistas e fascistas pennitiram e con-tinuam a permitir que uma tal situagdo se tenha formed°e se mantenha?

Para o capitalismo e para o fascismo 6 necessario quea classe operiria seja privada da sua funcdo histerica deguia das outran classes oprimidas da populagdo (camponeses,especialmente do Sul e das ilhas—pequenos burgueses ur-banes e rurais), isto 6, 6 necessario que seja destruldaorganizacdo extema a fabrica, e concentrada territorialmente(sindicatos e partidos), que exerce um influxo revoluciondrioem todos os oprimidos e subtrai ao govern a base demo-aitica do poder. Mas os capitalistas, por motivos industrials,nao podem querer que todas as formas de organizagdo sejamdestruidls: na Mbrica, se é possivel a disciplina e o bornandamento da producdo se existir, pelo menos, um minimade constitucionalidade, urn minima de consenso por partedos trabalhadores.

Os fascistas mais inteligentes, coma Mussolini, sal° osprimeiros a persuadirem-se da nao expansividade da sua ideo-logia (superior as classes( para alem do prOprio circulo da-quele estrato pequeno-burgues que, nao exercendo nenhumafungdo na produgdo, nao tern consciencia dos antagonismossociais. Mussolini esta persuadido que a classe operarianunca perderd a sua consciância revoluciondria e consideranecessario que se permita urn minima de organizacd.o. Con-trolar, corn o terror, as organizacties sindicais entre limitesestreitissimos, significa colocar o poder da Confederacdo namath dos reformistas: convêm que a Confederacdo exista comaembrido e que se articule num sistema disperse de CI, demode que os reformistas controlem toda a classe operaria,sejam os representantes de toda a classe operaria.

Esta é a situacdo italiana, este 6 o sistema de relacdesque hoje existe em Italia, entre a classe operaria e as orga-nizagOes. As indicac6es sac) clams para a nossa tactica:

Trabalhar na fabrica para construir grapes revolucio-narios que controlem as CI e as empurrem para alargar cadavez mais a sua esfera de aecao:

Trabalhar para criar ligaades entre as fabricas, paraimprimir a actual situacdo urn movimento que siga a direc-

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0 PROBLEMA DE MILAO (*)

E preciso per corn grande precisão e corn grande fran-queza ass operdrios de MilLio o problema... de Mild°. Porqueo que em Milao, grande cidade industrial, que s6 por si re-presenta mais de urn decimo dos operdrios de fabrica detoda a Rdlia, porque 6 que em Mild° nä. ° surgiu uma grandeorganizagdo revolucionaria enquanto o movimento semprefoi revoluciondrio? Porque 6 que em Mild° nunea existirammais de trOs mil organizados no Partido Sooialista? Porqueo que em Mild°, mesmo quando o movimento atingia a suaaltura maxima, mandavam efectivamente os refomnstas?Porque 0 que em Mild° todas as associacOes operirias, sin-dicais, cooperativas, miltuas estiveram sempre nas mdos dosreformisms ou semi-reformistas, mesmo quando as massas seapresentavam nas vial do mais matusidstico impulso revo-luciondrio?

preciso pOr aaftida e franeamente o problema as massase chamd-las para o resolver corn os seus pr6prios meios, corna sua vontade, com os seus sacrificios. 0 problema 6 vital,0 o mais importante problema da revolucao italiana. E pos-sfvel pensar numa revolucao italiana se a esmagadora maioriado proletariado de Mild° nao foi primeiro nitidamente con-quistada para uma concepclo precisa e aguda do que seraa ditadura proletdria, dos sacrificios e esforcos inauditos queela pedird as massas trabalhadoras? Em Mild° existem osmaiores centros vitais do capitalismo italiano: o capitalismoitaliano s6 pode ser decapitado em

(*) Nä° assinado, L'Unita, 21-2-1924.

cao natural de desenvolvimento das organizacOets de abrica:da CI ao conselho de fabric.

S6 assim nds estaremos no terreno da realidade, em con-tacts estreito corn as grandes massas. SO assim, no trabalhooperoso, no calor mais andente da vida operdria, consegui-remos recriar os nossos quadros organizativos, fazer saltarda grande massa os elementos capazes, conscientes, plenosde ardor revoluciondrio porque sabedores do seu valor e dasua insuprimfvel import:4116a no mundo da producdb.

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Para a revalued° italiana existe A um problema cheio deincOgnitas, o de Roma, da capital politica a administrativa,cede ado existe um proletariado industrial numeroso quapossa impor-sea numerosa burguesia: cc fascistas mostraramuma das solugees que pock ter o problema de Roma. Masela seria utOpica para a revoluedo proletiria sem tuna nitidavitOria em Mildo, se am Milão, nao se cria uma situaedo pelaqual denims a dezenas de milhar de operdrios devotos, entu-siastas a que tenham ideias muito clams e fins muito precisos,,possam sex armadas a solidariamente enquadrados. 0 pro-blema de Mildo ado 6 portanto uma questa() local: 6 umproblema national e, em eerie sentido, tambem internacional.Os operdrios de Milk) devem persuadir-se disto a da com-pree,asdo dos deveres formiddveis que pesam sobre ales; devemextrair toda a energia a todo o entusiasmo que ado neces-saries para levar a termo o trabalho necessdrio.

Ndo seria dificil alcangar as causas remotas a prOximaspelas quais em Milk se criou a actual situae5o, na qual,6 imitil escondê-lo, slo os reformistas que tern o efectivocontrolo das massas. Poucas grandes fabrieas, 'Rimer° infi-rho de pequeniSsimas oficinas, grande quantidade de peque-no-burgueses dedicados ao comercio, grande roamer° de em-pregados, tradieäo democratica fortissima nos velhos operkios,etc., etc.. Mas a nos basta-nos recordar o irapulso revolu-cionario sempre demonstrado pelas massas operarias de Milkpara chegarmos a estas cancluthes:

A situaeäo actual criou-se pelos arras do Partido Socia-lista nos arms do p6s-guerra.

E possivel, corn urn trabalho assiduo, paciente, quoti-diano, de each hora, corn a mais devota abnegagdo dos me-lhores operkies, muclar a situagAb.

0 Partido Socialista nä° se preocupou corn a importkciaenorme que Mild° teria tido na revolug5o a nunca procurouajar uma grande organizagdo politica. Nos anos 1919-1920,para estar a altura das suas funeOes de centro organizativoda economia national, Milao deveria ter uma seceão socia-lista coin, pelo manes, 30-40 000 sOcios: coisa muito pos-sivel numa cidade qua conta cerca de 300 000 trabalhadoresquando a grande maioria segue o Partido que afirma querera revalued°. Ern Milao, pelo ecnatrdrio, parecia que os ope-rarios fossem de propOsito mantidos a distincia da organi-

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zagdo do Partido. Os circulos de bairra so tinham uma escassaimportincia e, por outro lado„ amain se os inscritos noPartido. Na secede, os elementos °parades tido Sham apossibilidade de fazer escutar a sua vox. A tribuna era sempreocuparla pelos grandes ases 4 demagogia reformista a maxi-malista, que falavam Maras a floras sobre grandes problemasda politica internacional ou... municipal, nal° uma discussdostria sobre problemas Innis intimamente operdrios, como oscamellias de Mbrica, as celulas de Gracia% o cents:do ope-

na discussdo dos quais ate o mais simples operkioteria tide uma comperancia a pantos de vista a expor. Querntrabalhava eram os reformistas: o esqueleto inteiro 4 orga-nizaedo operdria milanesa era constituido pelos refonnistas.Sapientemente escalonados em todos as pontos estrategicosmais importantes, sabendo trabalhar silenciosa a metodica-mente, sabendo dobrar-se a desaparecer quando o turbilhdorevoluciondrio se tornava mais violento, os reformistas sol-daram fortissimas cadeias entre as quais a classe operdriamilanesa circula hoje sem sequer se dat conta. Era tipicode Mildo e extremamente significative da ausencia de umaorganizagdo revolucionaria, quando a movimento de maatingia o seu maxima, quando de todos os Angulos da cidadese agitavam as massas ate nos sews elementos mais miserose apoliticos, o facto de os anarquistas at imporem na direeek;quando o movimento era media a bastavarn as grandes pala-vras, outdo os maximalistas eram os leaks; quando, pelocontthrio, existia estagnagdo e s6 as forgas mais activas orga-nizadas eram visiveis, media a direcgdo era dos reformistas.0 regime fascista reduziu aos minimos termos o movimentode classe e os reformistas triunf am em toda a linha.

0 que significa tudo into? Que nos, as operdrios revo-lucionarios, trabalhamos muito mal. S6 pela nassa incapa-cidade, so pelo nosso torpor, os reformistas sda fortes eparecem representar as massas. A precise, portanto, aprendera trabalhar. 6 preciso expos em cada fdbrica, em cada casa,em cada bairro, o problema de como trabalhar para con-quistar a simpatia das grandes massas, da parte mais pobreda classe operdria que é tambem a mais numerosa a quedard as mais consistentes e fióis filas de soldados a revalued°.

E preciso discutir a fazer discutir. As nossas colunas terntamb6m, a especialmente, este objectivo.

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« CHEER» (*)

Cada Estado 6 uma ditadura. Cada Estado tido poledeixar de ter um govern constituido por urn nUmero res-trito de homens que, por sua vez, se organizam a volta deum dotado de major capacidade e de major clarividencia.Ate quando for necess'ario um Estado, qualquer que sejaa classe dominante per-se-a o problema de ter chefes, deter urn achefen. Que alguns socialistas, os quads se dizemainda marxistas e revolucionarios, digam querer a ditadurado proletariado mas ndo querer a ditadura dos achefess,nao querer que o cornando se individualize, se personalize;que se diga querer a ditadura mas ndo quere-la im formaem que 6 historicamente possivel, s6 revela todo urn objectivopolitico, toda uma preparaCdo teOrica arevoluciondriaD.

Na questa() da ditadura proletkia, o problema essentialnth:, e o da personificacdo fisica da fungdo de comando.0 problema essential consiste na natureza das relacOes queos chefes ou o chefe tem corn o Partido da classe operaria,das relacOes que existem enure este Partido e a classe ope-raria: säo elas puramente hierarquicas, de tipo militar, ousdo de caracter histOrico e arganico? 0 chefe, o Partido, sdoelementos da classe operaria, siio uma parte da classe ope-rdria, representam-lhe os interesses e as aspiraceies mais pro-fundas a vitais, ou sào dela uma excrescencia, ou sac) umasimples sobreposicdo violenta? Como se formou este Partido,

(*) Assinado Antonio Gramsci, L'Ordine Nuovo, III serie, quin-zenal, a.1, n.° 1, 1-3-1924.

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como se desenvolveu, per que processo se verificou a seleccãodos homers que o dirigem? Porque é que se tornbu o Partidoda classe operdria? Aconteceu into per acaso? 0 problemapassa a ser o de todo o desenvolvimento histOrico da classeoperdria, que lentamente se constitui na luta contra a bur-guesia, regista uma vitOria ou outra, sofre muitas derrotas•

nao apenas da classe operdria de urn pais, mas de todaa classe operdria mundial, corn as suns diferenciagdes super-ficiais e todavia tae importantes em cada moment() separado,

corn a sua substancial unidade e homogeneidade.problema passa a SW o da vitalidade do marxismo,

do seu ser ou nao ser a interpretagdo mais segura e profundada natureza e da histOria, da possibilidade de dar tambemum metodo infalivel a intuicdo genial do homem politico, uminstrumento de extrema precisdo para explorar o futuro, paraprever os acontecimentos de massa, para os dirigir e, por-tanto, controld-los.

proletariado internacional teve e tern ainda um vivoexemplo de um partido revoluciondrio que exerce a ditadurada classe; teve, e nao tem infelizmente, o exemplo vivomais caracteristico e expressive do que seja um chefe revo-luciondrio, o camarada Leanne.

camarada Lenine foi o iniciador de um novo processode desenvolvimento da histOria (mas foi-o porque era tam-ben o expoente e o Ultimo mais individualizado momento),de todo um processo de desenvolvimento da histOria passada,ado s6 da Rtissia mas do mundo inteiro. Tinha-se tornado,par acaso, o chefe do Partido Bolchevista? Foi par acaso queo Partido bolchevista se tomou no partido dirigente do pro-letariado russo e, portanto, da nagdo russa? A seleccdodurou trinta anon, foi muito fatigante, assumiu frequentementeas faunas aparenternente mais estranhas e absurdas. Tevelugar no campo internacional, ern contacto corn as mais avan-codas civilizagOes capitalistas da Europa central e ocidental,na luta dos partidos e das fraccOes que constituam a II Inter-nacional antes da guerra. Continuou no solo da minoria dosocialismo internacional que ficou imune, polo menos par-cialmente, do contAgio social-patetic°. Continuou na Russiana luta para ter a maioria do proletariado, na luta para com-preender e interpretar as necessidades e aspiragOes de umaclasse camponesa inumeravel, dispersa per um imenso terri-

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tOrio. Continua ainda, calla dia, porque em cada dia precisade compreender, prever, prover. Esta seleccdo foi uma lutade fraccOes, de pequenos grupos, foi luta individual, quis dizercisOes e unificacdes, paragons, exflio, prisdo, atentados: foiresistdacia contra o desdnimo e contra o orgulho, quis dizersofrer a fame tondo a disposigdo milhOes em ouzo, quisdizer conservar o ospirito de um simples operdrio no comboiodos czares, nao desesperar mesmo se tudo parecia perdido masrecomecar, corn pacidncia, corn tenacidade, mantendo todo

sangue-frio e o sorriso nos labios quando os ouiros perdiama cabega. 0 Partido' Comunista Russo, corn o seu dirigenteLenine, tinha-se de tal modo ligado a todo o desenvolvimentodo seu proletariado russo, a todo o desenvolvimento, portanto,da inteira nacdo russa, que nao 6 possivel imaginar sequerurn sem o outro, o proletariado classe dominants sem que

Partido Comunista seja o partido de governo e, portanto,sem que o Comite Central do Partido seja o inspirador dapolitica do governo; sem que Lenine fosse o chefe do Estado.0 preprio pensamento da grande malaria dos burgueses russosque diziam • lima reptiblica corn Lenine como chefe, sem

Partido Comunista, seria ate o nosso ideal — tinha urngrande significado histOrico. Era a prova de que o prole-tariado exercia nao se um dorninio fisico mas dominavatambem espiritualmente. No fundo, confusamente, ate o bur-guds russo compreendia que Lenine nao poderia tornar-se

permanecer chefe do Estado sem o dominio do proleta-riado, sem que o Partido Comunista fosse o partido dogovern(); a sua consciencia de classe impedia-os ainda de re-conhecer, para alem da sua derrota fisica, imediata, tambema sua derrota ideolOgica e histerica; mas a thivida jd os assal-tava e esta ditvida exprimia-se naquela frase.

Apresenta-se uma outra questdo. E possivel, hoje, noperiodo da revolugdo mundial, que existam achefes p forada classe operdria, que existam reticles) nao marxistas, quenao estejam ligados estreitamente a classe que encarna odesenvolvimento progressivo de todo o ser humane? Temosem Itdlia urn regime fascista, temas como chefe do fascismoBenito Mussolini, tomes uma ideologia oficial onde o rchefea

divinizado, 6 declarado infalivel, 6 preconizado organizadorinspirador de um renascido Sagrado Imperio Romano.

Vemos impressos nos jornais, diariamente, dezenas e centenas

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r"rt,r2.

de telegramas de homenagem das vastas tribus loceis aoachefe3. Vemos as fotografias: a mascara mais dura de urnrosto que ja vimos nos comicios socialistas. Conhecemosaquele rosto: ccmhecemos aquele rodar dos olhos nas 6rbitasque, no passed°, corn a sua ferocidade mecanica, cleat cau-ser vOmitos a burguesia e hoje ao proletariado. Conhece-mos aquele punho sempre fechado coma ameaga. Conhecemostodo este mecanismo, todo este armamento e compreendemosque isso posse impressionar e mover a magla-de-Aclaojuventude das escolas burguesas; 6 verdadeiramente impres-sionante, mesmo visto de perto, e cause espanto. Mas achefes?Vimoir a semana vermelha de Junho de 1914. Mais de trOsmilhOes de trabalhadores nas rues, respondendo ao apelo deBenito Mussolini, que ha cerca de um ano, desde o excidiode Roccagorga, os tinha prepared° pare a grande jornada,coin todos os meios de propaganda postos a disposicalo doachefen do Partido Socialista de cute°, de Benito Mussolini:desde a vinheta de Scalarini ao grande processo no Tribunalde Milao. Tres milhOes de trabalhadores vieram para a rua:faltou o achefeD, que era Benito Mussolini. Faltou comoachefe3, nal ° canto individuo, porque contain que, como indi-viduo, era corajoso e que em Mile° desafiava o corddo e asarmas dos carabineiros. Faltou como achefe3 porque nen eratal, porque, segundo a sua prOpria confissäo nem sequer con-seguia vencer, no intemo da direcceo do Partido Socialista,as miseraveis intrigas de Arturo Vella ou de AngelicaBalabanof.

Ele era ent5o, como hoje, o tipo concentrado do pequeno--burgues italiano, raivoso, feroz mistura de todos os detritosdeixados no solo nacional pelos verios seculos de domineedodos estrangeiros e dos padrdes: lido podia ser o chefe doproletariado; passou a ser o ditador da burguesia que amaas faces ferozes quando volta a ser borb6nica, que esperaver na classe operaria o mesmo terror que sentia par aquelerodar dos olhos e aquele punho fechado estendido numaameaga.

A ditadura do proletariado 6 expansive, nao repressive.Verifica-se /MI continuo movimento da base para a copula,uma continua renovecal o atraves de todas as capilaridadessociais, uma continua circulaccio de hornets. 0 chefe quehoje choramos encontrou uma sociedade em decomposieão,uma poeira luwtana sem ordem nem discipline, porque ern

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cinco anos de guerra tinha-se esgotado a producao nascentede toda a vida social. Tudo foi reordenado e reconstruido,da fabrica ao governo, sob a direceão e o controlo do prole-tariado, com os meios de tuna classe nova no govemo e nahistOria.

Benito Mussolini conquistou o governo e mantem-no coina repressão mais violenta e arbitraria. Não pensou organizeruma classe mas s6 o pessoal de uma administrae leo. Des-montou alguns maquinismos do Estado, mais pare ver comoeram feitos e adquia-ir a praline no oficio do que par umanecessidade originaria. A sua doutrina este toda na mascarafisica, no rodar dos ..)lhos nas Orbitas, no punho fechadosempre estendido numa ameaga...

Roma nâo a estranha a estes cenerios cheios de p6. ViuRemulo, viu Cesar Augusto e viu, no sou crespilsculo, ROmuloAugustolo (*).

(•) Ultimo rei romano do Ocidente, deposto em 476 por Odoa-cro. ---(N. do T.)

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n

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CONTRA 0 PESSIMISMO (*)

Ndo pock existir modo melhor para comemorar o quintoaniversario da Latemacional Comunista, da grande associaclo=India' de que nos sentimos, nes revolucionarios italianos,mais do que nunra parte activa e integrante, do que laterum exame de consciencia, urn exame do pouquissimo quefizemos e do imenso trabalho que ainda devemos desenvolver,contribuindo assim para classificar a nossa situagio, contri-buindo especialmenie para dissipar esta obscura e gravenuvem de pessimismo que oprime os militantes mais quali-ficados e responsaveis e que representa urn grande perigo, omaior talvez do momento actual, pelas suas consequencias depassividade politica, de torpor intelectual, de cepticismo emrelagao ao futuro.

Este pessimismo esta estreitamente ligado a situagäo geraldo nosso pais; a situagão explica-o mas ndo o justifica, natu-ralmente. Que diferenga existiria entre nes e o Partido Socia-lista, entre a nossa vontade e a tradigao do Partido Socialista,se tambem nes soubassemos trabalhar e fessemos activa-mente optimistas se nos periodos das varas gordas, quandoa situagao 6 propicia, quando as massas trabalhadoras semovem espontaneamente, per impulse irresistivel e os par-tidos proletarios se podem acomodar na brilhante posigão damosca de cavalariga? Que diferenga existiria entre nes e oPartido Socialista, se tambem nes, embora partindo de outrasconsideragfies, de outros ponto de vista, tendo embora um

(*) NA() assinado, L'Ordine Nuovo, 15-3-1924.

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major sentido de respansabilidade e demonstrando to-lo corna preocupacao activa de preparar forgas organizativas ematerials iderneas para defender qualquer eventualidade, nosabandonassemos ao fatalismo, nos abandssemos na dote ilusaoque os acontecimentos sO se podem desenvolver segundo umadeterminada linha 'de desenvolvimento, a por nes prevista, naqual encontrarao infalivelmente o sistema de diques e canaispor nos predisposto, nele se canalizando e tomando forma

potencia histerica? E este o ne do problema que se apre-senta confusamente embrulhado porque a passividade pareceexteriormente trabalho entusiasta, porque parece existir umalinha de desenvolvimento, um filao em que °pet-dries suam

se afadigam a cavar meritoriamente.

A Internacional Comunista foi fundada em 5 de Margode 1919, mas a sua formagao ideologica c organ' ica veri-ficou-se s6 no II Congresso, em Julho-Agosto de 1920,corn a aprovagao do Estatuto e das 21 condigees. A par-tir do II Congresso, comeca em Italia a campanha pan osaneamento do Partido Socialism, comega a °sada nationalporque tinha ja sido iniciada em Marco precedente pelasecgao de Turim corn a mock, a apresentar na iminente Con-ferencia Nacional do Partido, que de facto se devia realizarem Turim, mas nao tinha encontrado repercussees notalveis(na Conferencia de Florenca da fraccao abstencionista, rea-lizada em Julho de 1920 (1), antes do II Congresso, foirejeitada a proposes feita por urn representante de Ordine

Nuovo para alargar a base da fracgao, tornando-a comu-nista, sem a condicao abstencionista que praticamente tinhaperdido a sua razao de ser). 0 Congresso de Livorno e acisão ocorrida no Congresso de Livorno foram extensivosao II Congresso, as suas 21 condicees, foram apresentadoscomo uma conclusao necessaria das deliberagees 'formals}do II Congresso. Este foi urn erro e hoje podemos ava-liarlhe toda a extensao pelas consequencias que teve. Naverdade, as deliberacees do II Congresso cram a inter-pre-tagao viva da situacao italiana, como de toda a situacaomondial, mac nes, per uma serie de rathes, nao partimos,

(') A conferencia realizou-se ern Maio.

(I) 0 prOprio Gramsci, que nele toraou parte comb observador.

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para a nossa acgao, do que sucedia em Italia dos factositalianos que davam razao ao II Congresso, que eram umaparte, e das mais importantes, da substancia politica queanimava as decisees e as medidas organizativas tomadas peloII Congresso: nos, parem, limitamo-nos a baler sobre asquestees formals, de legica pura, de coerencia pun, e fomosderrotados porque a maioria do proletariat organizado poli-ticamente nao nos deu razao, nao vein connosco, emborativessemos da nossa parte a autoridade e o prestigio da Inter-nacional, que eram enormes e sobre os quaffs nos tinhamosfiado Nao tinhamos sabido canduzir uma campanha siste-matica capaz de alcangar e obrigar a reflexao todos os nticleos

os ele,naentos constitutivos do Partido Socialista, nao tinha-mos sabido ta-aduzir em linguagem compreensivel a todos osoperarios e camponeses italianos o significado de cada umdos acontecimentos italianos dos aims 1919-20: nao soubemos,depois de Livorno, per o problema da razao pela qual o Con-gresso teve aquela conclusào, nao soubemos per o problemapraticamente de modo a encontrar•lhe a solugao, de modo acontinuar a nossa especifica rnissao que era a de conquistara maioria do proletariado. Fomos —C preciso dize-lo — arras-tados pelos acontecimentos, fomos, sem o querer, urn aspectoda dissolugao geral da sociedade italiana, tornada uma mis-tura incandescente onde se fundiam todas as tradigees, todasas formagees histericas, todas as ideias prevalentes, algurnasvezes sem residuo: tinhamos uma consolagao a qual nosagarramos tenazmente, a de que ninguem se salvava, a deque nes podiamos afirmar ter previsto matematicamente ocataclismo, quando os outros se abandonavam na mais feliz

idiota dasDepois da cisao de Livorno, entrtimos num estado de ne-

cessidade. S6 esta justificagao podemos dar as nossas posi-gees, a nossa actividade depois da ciSio de Livorno: a neces-sidade que se punha cruamente, na forma mais exasperada,no dilema de vida ou morte. Tivemos que nos organizar empartido no Pogo da guerra civil, cimentando as nossas seccaescorn o sangue dos mais devotos militahtes: tivemos que trans-format, no prOprio acto da sua constituigao, da sua inscrigao,os nossos grupos em destacamentos para a guerrilha, da maisatroz e dificil guerrilha que nunca tuna classe operdria teve quecombater. Conseguiu-se todavia: o Partido foi constituido

fortemente constituido: a uma falange de ago, muito pe-

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quena certamente para entrar numa luta contra as forcasadversarias mas suficiente para se tornar a armadura de umamais vasta forrnagao, de um exercito que, para nos servirmosda linguagem histdrica italiana, possa fazer suceder a bataihado Piave a rota de Caporetto.

Eis o problema actual que se pate inexoravelmente: cons-tituir um grande exercito para as pr6ximas batalhas, consti-tui-lo enquartrando-o nas forcas que de Livorno ate hoje de-monstraram saber resistir sem hesitagOes e sem recuos aoataque vibrado violexitamente pelo fascismo. 0 desenvolvi-mento da Internacional Comunista, depois do II Congress°,oferece-nos o terreno prOprio para isso, interpreta — cornas deliberapaes do III e do IV Congressos, deliberag5es in-tegradas pelas dos Executives alargados ( 3) de Fevereiro eJunho de 1922 e de Junho de 1923 —mais tuna vez, asituagao e as necessidades da situaciio italiana. A verdade6 que nos, como Partido, jd demos alguns passes em frentenesta direccao: so nos resta avalid-los e oontinuar corn ou-sadia. Que significado tern, de facto, os acontecimentos de-senvolvidos no seio do Partido Socialista corn a cisao dosreformistas nun primeiro memento, corn a exclusao do grupode redactores de Pagine Rosse num segundo memento e corna tentativa de excluir toda a fraccao aderente a III Interna-cional num terceiro e ultimo momento 0? Tem este precisesignificado: que, enquanto o nosso Partido era °brigade,como seccao italiana, a limitar a sua actividade a luta fisicade defesa contra o fascismo e a conservagao da sua estruturaprimordial, de, come particle internacional, operava, conti-nuava a operar para abrir novas perspectivas para o future,para alargar o seu circulo de influancia politica, para fazersair da neutralidade uma parte das massas que primeiro estavaa olhar, indiferente ou titubeante. A acclici da Internacional,

(2) Sess'Oes especiais plenatias do Comite Executive, «alargadas3porque nelas tomavam parte representantes comunistas que nao crammembros do Comfit.

(5 A revista Pagine Rosse publicava-se em Mild° desde Junho de1923 e representava as posigiftes da corrente dita precisamente «terzin-ternazionalista3 ou «terzina) porque propugnava o regresso do PSI asMae da International Comunista.

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por algum tempo, foi a Unica que permitiu 01) nosso Partidoter urn contacto eficaz corn as grandes massas, que conservouum fermento de discassao e urn principle de movimento emestratos conspicuos da classe operdria que nos seria impos-sivel, na situacao dada alcangar de °ohm modo. Foi semchivida urn grande sucesso ter arrancado blocos do bando doPartido Socialista, ter obtido, quando a situacao parecia pior,que da amorfa gelatina socialista se constituissem nticleos, osquais, nao obstante tudo, afirmavam ter f6 na revolucaomondial, os quais, corn os factos, quando nao corn as palavrasque parecem queimar mais do que os factos, reconheciamter errado em 1920-21-22. Esta foi uma derrota do fascismoe da reaccao: se quisermos ser sinceros, foi a Unica derrotafisica e ideolOgica do fascismo e da reaccao nestes tees anosde histOria italiana.

Ocorre reagir energicamente contra o pessimism° de algunsgrupos do nosso Partido, mesmo dos mais iresponsdveis e qua-lificados. Ee representa, neste memento o mais grave perigo,na situacao nova que se esta formando no nosso pais e queencontrard a sua sancao e a sua clarificacao na primeiralegislatura fascista. Aproximam-se grandes lutas, talvez maissanguinosas e pesadas do que as dos anos passados: a neces-saria per isso a maxima energia dos nossos dirigentes, amaxima organizacao e c,entralizacao da massa do Partido, urngrande espirito de iniciativa e uma grande presteza na decisao.0 pessimismo toma prevalentemente este . torn: voltarnos auma situagao pre-Livorno, teremos que refazer o mesmo tra-balho que fizemos antes de Livorno e que pensavamos defi-nitive. 8 preciso demonstrar a cada camarada como 6 errada,politica e teoricamente, esta posicao. Serd precise, decerto,lutar ainda fortemente: a tarefa do nide° fundamental donosso Partido que se constituiu em Livorno nao acabou de-certo ainda e nab terminara per urn certo periodo (sera aindavivo e actual mesmo depois da revolugao vitoriosa). Mas janao nos encontraremos numa situacao pre-Livorno porquea situacao miinflial e italiana nao 6, ern 1924, a de 1920,porque nos prOprios ja nao somos os de 1920 e nunca maisquererfamos voltar a esse tempo. Porque a classe operdriaitaliana mudou muito e ja nao sera a coisa mais simplesdeste mundo faze-la reocupar as fdbricas, tendo come ca-

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nhOes, tubos de estufa, depois de the ter enchido as orelhase removido o sangue coin a torpe demagogia das feiras ma-ximalistas. Porque existe o nosso Partido, que 6 alguma coisa,que demonstrou ser alguma coisa e no qua] nos temos tunaconfianga ilirnitada, como na parte melhor, mais sa e maishonesta do proletariado italiano.

0 MEZZOGIORNO E 0 FASCISMO (*)

Facto saliente da luta politica actual italiana 6 a tentativade solugdo que o Partido Nacional Fascista quis dar clan

relageles entre 0sta/do-govern e o Mezzogiorno.0 Mezzogiorno tornou-se a reserva da opsiclo axis-

titucional. 0 Mezzogiorno (manifest= mais tuna vez a suadistingdo (territorial* do resto do Estado, a sua vontade denão se claim( absolver impunemente num sistema unitarioexasperado — que significaria s6 acrescimo das antigas opres-sOes e das velhas explaracOes —entricheinando-se atras de tunaserie de posicities constitucionais parlamentaristas, de demo-cracia formal, que tem todavia a sea valor e o sea signi-ficado se o Partido Nacional Fascista considerar oportuno,s6 para decapitar o movimento dos sew chefes Orlando,De Nicola, fazer as concessOes que acabowpor fazer. Musso-lini, em suma, não fez mais do que aplicar a tactica giolittiananuma shun:4o nova, extremamente mais dificil e complicadado qua todas as situagOes passadas, corn uma populagdo qua,pelo menos parcialmente, despertou e comegou a panticiparna vida pUblioa, num periodo em que a diminuida emigracàopile corn major violéncia os problemas de classe que tandema tornar-se problemas (territorials* porque o capitalismo seapresenta coma estrangeiro na a-egido e como estrangeirose axes= o govern que do capitalismo administna os inte-resses.

(•) Nao assinado, L'Ordine Nuovo, 15-3-1924.

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Muitos eamaradas pergwatam-se frequentemente maravi-lhados o porque da atitude de oposicao qo fascismo dos doisgrandes jamais da Italia setentrional, o Corriere della Sera

La Stampa. Nao criou o fascismo a situacao que estesjomais queriam? Nao contribufram potentemente estes doisjomais para a fortuna do fascismo nos anon 1920-21? Porque

que hoje trabalham em sentido inverso, trabalham parasubtrair ao fascismo a sua base popular, para the minar oterreno debaixo dos pes, introduzindo a confusdo e orien-tando as massas pequeno-burguesas para os aideais de liber-dada D.?

Evidentemente que o Corriere della Sera e La Stampasae dois jomais apuros, que tendem so a manter e alargar

circulo dos seus assinantes e leitores, insistindo em motivossimpaticas a mentalidade das massas: se assim fose, a estahorn os dois jomais conheceriam já o ferro e a gasolina dasesquadras fascistas e a aocupagacut por parte dos redactoresfiais aos novos patrties. 0 Corriere e La Stampa nao foramocupados, nab se deixaram ocupar porque lo go foram ocupados

nao se deixaram ocupar estas tres ordens de ainstituicOes)nacionais: o estadamaior, os banes (ou seja a banca comer-cial que exerce um incontrastado monopOlio), a ConfederagleGeral da Inchistria.

La Stampa e o Corriere säo tradicionalmente os dois re-presentantes destas ainstituiciftes), os dois partidos destas ins-tituticees nacionais. La Stampa, mais aesquerdat, pee hojeabertamente a questa° de um governo aadical-socialista comopossivel sucessor do fascismo, nä° seria sequer alheia a umaexperiencia do tipo aMac Donald) em Italia: La Stampa ye

perigo meridional e procura resolve-lo determinando a en-trada da aristocracia operaria no sistema de hegemonia gover-nativa setentrional-piemcrntesa, into 6, procura obter que asforcas revoluciandrias do Mezzogiorno sejaan decapitadasnacionalmente, que se tome impossivel uma alianca entre asmassas camponesas do Sul que nunca poderao, sozinhas, der-rubar o capitalismo, e a clacse °per/aria do Norte, compro-metida e desonrada numa alianca corn os exploradores.0 Corriere apoiou Salandra e Nitti, os dois primeiros presi-dentes meridionais (os presidentes sicilianos representavam aSicilia e nao o Mezzogiorno porque a questa° siciliana 6notoriamente distinta da questa.° do Mezzogiorno), era

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favoravel a alntesa) e nao a Alemanha como La Stampa,e permanentomente partidario do cameral° livre e nao s6 nosperiodos eleitorais giolittianos como La Stampa. nao se ate-morizava, como La Stampa durante a guerra, que o aparelhoestatal possasse das macs da burocracia maceeica giolittianapara as macs dos apugliesiD de Calandra: o Corriere a maisagarrado ao conservadorismo, (aria ate alianga com os refor-mistas mas s6 depois da passagem destes por muitas humi-lhacOes; o Corriere quer urn govern a Amendola), isto 6,que a pequena burguesia meridional e nap a aristocraciaoperdria do Norte entre oficialmente no sistema de forcas real-mente dominantes: quer em Italia Irma democracia rural, quetenha em Cadorna o seu chefe militar e Mao em Badoglio comoquoreria La Stampa, que tenha como chefe politico urnPoincare italiano, lido urn Briand italiano. 0 Corriere Mao seespanta como La Stampa que se viva novamente urn period°como o decenio 1890-1900, um period° em que as insurreicirtesdos camponesas meridionais se aliam automaticamen•te asinsurreigOes operarias das cidades industriais, em que aos(fascias) sicilianos corresponde urn a'98 milanes): o Corrieretern confianca nas aforcas naturals) e nos canhOes de Bava--Beccaris. La Stampa ere que Turati-D'Aragona-Modiglianisejam armas muito mais seguras do que os canheies paradomar as revoltas dos camponeses e para fazer ocupar asfabricas ocupados

As concecpcOes precisas e organicas do Corriere e deLa Stampa, o fascismo contrapee discursos e medidas pura-mente meanicas e ridiculamente coreogrOlicas.

0 fascismo 6 responsavel pela destruicdo do sistema deproteccionismo operasio conhecido corn o name de aoorpo-rativismo reggiano), de aevangelismo prarnpoliniano*, etc.,etc.. 0 fascismo tirou aos ademocratas) a arma mais fortepara fazer desviar para os operarios o 6dio das massas cam-ponesas que deve afluir sobre os capitalistas. 0 eparasitismovermelho) ja Mao existe • mas as ccediceies do Mezzogiornonao melhoraram por isso. Ao (parasitism° vermelho) sucedeuo aparasitismo tricolor): como evitar que o campones meri-dional veja no fascismo a sintese concentrada de todos os seusopressores e os seus exploradores? Voltado o baralho de earthsdo refarmismo aerniliano-romagnolo)„ foi preciso escolher a

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guarda real, a quern nao se podia continuar a dar de beberas bebid)s antioperdrihs. Os industrials alguma coisa fizerampara ajudar Mussolini: a Confederagao Gera' da Inch/stria,na sua conferencia de Junho de 1923, falou assim pela bocado presidente Benni: (Assim tambem se terminara certamentedepressa uma outra accao longa e complexa que iniciamospara o Mezzogiorno de Italia Queremos levar a nossa con-tribuicao, oomo uma accao pratioa, ao ressurgimento dameridional e insular, onde ja se manifestam prometedores osprimeiros indicios de urn salutar despertar econemico. v umaobra nao simples: mas 6 neressario que a classe industrial sethe dedique, porque a interesse de todos que o conjunto daInca() se amalgame ainda mais corn base nos interesses eco-nOmicos.) Os industriais ajudam Mussolini cam as belas pa-lavras; mas as belas palavras seguiram-se, pouco depois, factosmais expressivos do que as palavras: a conquista da sociedadealgodoeira do Salemitano e a transferencia this maquinas,camufladas come ferro velho, para a zona textil lombarda.

A questa° meridional no pode ser resolvida pela bur-guesia sena° transitoriamente, episodicamente, corn a corrup-cao ou corn o ferro e coin o Pogo. 0 fascismo exasperou asituagao e esclareceu-a em grande parte. 0 facto de lido seter posto corn clareza o problema, em toda a sua extensaoe cam todas as suas posiveis consequencias politicas, impediua accao da claw operaria e contribuiu, em grande parte, paraa faléncia da revolucao dos anos 1919-1920.

0 problema e hoje ainda mais complicado e dificil doque naqueles anos, mas 6 urn problema central de qualquerrevolugao no nosso pais e de qualquer revolucao que queirater urn amanita e por isso den ser posto ousada e decidida-mente. Na actual situacao, corn a depa-essao dos forgas pro-letarias que existe, as massas camponesas meridionais adqui-riram uma importancia enorme no campo revolueiondrio.Ou o proletariado, atrav6s do seu partido politico, consegueneste period)) criar urn Sterna de aliados no Mezzogiornoou entao as massas camponesas procurarao dirigentes poli-ticos na sua pr6pria zona, into 6, abandonar-se-ao completa-mente nas maos da pequena burguesia de Amend°la, tor-nando-se uma reserva da contra-revolucao, chegando ate aoseparatism° e ao apelo dos exêrcitos estrangeiros no caso deuma revoluCao puramente industrial do Norte. A palavra

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de ordem do Govern operdrio e campones deve por So tercm especial conta o «Mezzogiorno), nao deve confundir aquesta() dos camponeses meridionais corn a questa° cm geraldas relae(les entre cidade e campo num todo economico orga-nicamente submetido ao regime capitalism: a questa° meri-dional é tambelrn questa° territorial e 6 deste panto de vistaque deve ser examinada para estabelecer um programa degovern operario e camponés que queira encantrar larga re-percussao nas massas.

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O PROGRAMA DE .L'ORDINE NUOVOD (*)

Comecamos corn tuna constatacäo material: os primeirosdois mimeros ja saidos de Ordine Nuovo tiveram uma difu-sal° (uma difusdo efectiva) que foi superior a mais alta difusdoalcangada nos anos 1919-20. Muitas consequencias se pock-riam tirar desta operagdo. Apontamos aponas duas: 1) Queuma revista do tipo de Ordine Nuovo representa uma neces-sidade fortemente sentida pela massa revoluciondria italianana situndo actual; 2) que 6 possivel assegurar a OrdineNuovo as condicaes de uma vida financeiramente autonomado balango geral do nosso Partido; ocorre s6 para isso orga-nizar o consenso que se verificou espontaneamente, organi-M-lo para que ele encontre o modo de continuar a manifes-tar-se, embora a reaccdo, como 6 provdvel, queira intervirpara o suforar, para impedir qualquer ligacäo entre L'OrdineNuovo e os seus leitores ou ate para não permitir que a revista,num dado momento, se publique em Italia.

A difusEo alcangada pelos primeiros dois ntimeros s6 podedepender da posigdo que L'Ordine Nuovo tinha adquirido nosprimeiros anos da sua publicag6o e que consistia essencial-mente nisto: I) Em ter sabido traduzir em linguagem hist6-rica italiana os principals postulados da doutrina e da tacticada Internacional Comunista. Nos anos 1919-20 isto significoua palavra de ordem dos conselhos de fabrica e do control°da producão, isto 6, a organizaeao de massa de todos os pro-dutores para a expropriacão dos expropriadores, pats a subs-

(") Assinado Antonio Grarnsci, L'Ordine Nuovo, 1/15-4-1924.

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tituicao da burguesia pelo proletariado no governo da indris-tria e, portanto, necessariamente do Estado; 2) Em ter mantidono Partido Sonialista, que entdo significava a maioria do pro-letariado, o programa integral da Internacional Comunista eno s6 uma parte. Por isso, no II Congresso Mundial, ocamara cia Lenine disse que o grupo de Ordine Nuovo eraa mica tenclOncia do Partido Sonialista que representava fiel-mente a Internacional em per isso tambem as tesescompiladas pela redaccdo de Ordine Nuovo e apresentadasao Conselho Nacional de Mild°, de Abril de 1920, pela sencaode Tarim, foram pelo II Congresso indicadas explicitamentecome base de reo•anizaclo revolucionaria em

0 nosso programa actual deve reproduzir na situanão hojeexistente em Italia, a posicao assumida nos anos 1919-20.Deve espelhar a situacao objectiva hodierna, corn as possibi-lidades que se oferecem ao proletariado para uma accao aut6-nomia, de classe independente; deve continuar, nos termospoliticos actuais, a tradindo de intOrprete fiel e integral doprograma da Intenaaciaual Comunista. 0 problema urgente,a palavra de ardem hoje necessdria 6 a do governo °paradee camponês: trata-se de popularize-la, de adequa-la as condi-cOes concretes italianas, de demonstrar como ela Haste decada epis6dio da nossa vida national, como ela resume econtem em si todas as reiviridicacke- s da multiplicidade departidos e de tendencias em que o fascismo desagregou avontade politica da classe operdria mas especialmente dasmassas camponesas. Isto nao significa naturalmente que deva-mos transcurar as questees mais propriamente operdrias eindustrials, pelo contraxio. A experiOncia demonstrou, tambemem Italia, que importan' cia assumiram, no period° actual, asorganizagaes de fabrica; da celula de Partido ate a CoraissdoInterim, a representacdo de toda a masse. Acreditamos, porexemplo, que hoje nao existe sequer urn reformista que queirasustentar que nas eleigOes de fabrica tem direito de veto s6os organizados; quern quer que recorde as lutas que foi ne-cessario concluzir a volta deste ponto, tern um elemento parsmedir o progresso clue a experiéncia obrigou a fazer tambemaos reformistas. Todos os problemas da organizacdb de fa-brica sera° por nos, portant°, repostos em discussNo, porque

C) Cf. pp. 83 do present', volume.

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so atraves de tuna potente organizacdo do proletariado, alcan-ca.da corn todos os sistemas possiveis em regime de reaccao,a campanha para o govemo operdrio e campon6s pode naotransformer-se numa repeticao da... ocupaclio das fabricas.

No artigo Contra o pessimismo (1), publicado no Ultimomimero, chamamos a atencdo para a linha que o nosso Par-tido deve ter nas suss relac6es corn a Internacional Comu-nista. Aquele artigo nä° foi a expressab de um se individuo,mas o resultado de todo urn trabalho de aprozimacao e detrona de at:Unities entre os velhos redactores e amigosde Ordine Nuovo; antes de ser um inicio foi, partanto, a resul-tame do pensamento de um grupo de camaradas, aos quaisnao se pode negar certameate o oonhecimento, por experiOnciadirecta e por longos habitos de trabalho activo, das neces-sidades do nosso movimento. 0 artigo suscitou algumas reac-Pies que nao nos admiraram, porque 6 inelutdvel que trèsanos de terrorismo e portanto de ausOncia de grandes dis-cusseies tenham criado, mesmo emre Cptimos camaradas, urncerto espfrito sectario de fraccdo. Esta constatagdo poderiader lugar a toda uma thrie de consequencias: a IDS impor-tante parece-nos a da necessidadc de todo urn trabalho parafazer alcangar as massas do nosso Partido urn nivel politicoigual ao alcangado pelos maiores partidos da Internacional.N6s somos hoje, relativamente, ,pelas condicOes criadas peloterror branco, um pequeno particle, mas devemos considerara nossa actual organizagdo, dadas as condicees em que vivee se desenvolve, como o elemento destinado a enquadrar umgrande partido de massas. Deste porno de vista devemos vertodos os noses problemas e julgar tambem os camaradas,individualmente. Compara-se frequentes vezes o periodo fas-cista ao periodo da guerra. Pois bem: uma das fraquezas doPartido Socialista foi a de nao ter pensado, durante a guerra,no uncle° dos 20-25 000 socialistas que permanecesam finis,de nae, o ter considerado como o elemento organizador dasgrandes massas que afluiria depois do armistfcio. Aconteceuassim que em 1919-20 este nircleo foi submerse pela ondados novas elementos e foi submersa ao mesmo tempo a prd-tica organizativa, a experiEncia adquirida pela classe operarianos anos mais negros e duros. N6s seriamos oriminosos secaissemos no mesmo erro. Cada um dos membros actuais doPartido, pale seleccao qua se verificou, pela forca de sacri-ficio deve-nos ser pessoalmente querido, deve

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set, pelo centre respannvel, ajudado a melhorar-se, a extrairdas experiências atravessadas todos os ensinamentos e uxlasas indicacCies que comportam. Neste sentido, Ordine Nuovopropi5e-se cuanprir uma funcao especial no quadro geral daactividade de Partido.

Ocorre, portant°, organizar o consenso que ja se mani-festou. Esta é a funcao, especialmente, dos velhos amigos eassinantes de Ordine Nuovo. Dissemos que ocorrerd recotherem seis meses 50 000 liras, quantia necessdria para garantira vida independente da revista. Corn este objectivo a neces-sario que se determine um movimento de 500 camaradas e quecada um dos quais se proponha recolher 100 liras, em seismeses, no circulo dos seus amigos e conhecidos. Organiza-remos uma lista exacta destes elementos que querem cola-borax corn a nossa actividade: sera() coma que os nossosfiduciaries. A recolha das subscricOes pode ser assim corn-posta: 1) SubscrigOes isoladas, de pouco dinheiro ou demuitas liras; 2) Assinaturas de apoio; 3) Quotas para sus-tentar as despesas iniciais de urn curse per correspandencnde organizadores e propagandistas do Partido: estas quotasnao podeido ser inferiores a 10 liras e dardo direito a receberurn Mantra de liglies que sera determinado pelas despesasconjuntas de impressao e de transporte.

Atravas deste mecanismo, cremes poder recriar um apa-relho que substitua o existence ern 1919-20 em regime deliberdade e atraves do qual Ordine Nuovo se mantinha estrei-tamente em contacto corn as massas nas fdbricas e nos circulosoperarios. 0 curse par correspondancia deve tornar-se a pri-meira fase de urn movimento para a criacao de pequenasescolas de Partido, aptas a criar organizadores e propagan-distas bolchevistas, nao maximalistas, into 6, que tenhamcabega, para alOm de pulmaes e garganta. Por isso estaremossempre em correspondencia epistolar corn os melhores cama-radas, para lhes comunicar as experiencias que neste campose fizeram na Russia e nos outros paises, para perspective-los,para lhes aconselhar os livros que devem ler e os Metodos aaplicar. Cremes que, neste sentido, muito devem trabalharespecialmente os camaradas emigrados: made quer que existano estrangeiro urn grape de 10 camaradas deve surgir umaescola de Partido; os elementos mais antigos e mais pnticosdevem ser os instrutores deltas escolas, fazer participar osmath jovens da sua experiencia, contribuir pan elevar o nivel

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politico das massas. Decerto que nao 6 corn estes meios peda-gOgicos que pode ser resolvido o grande problema histericoda emancipacdo espiritual da dasse operiria . mas não e aresolucão utOpica deste problema o que nes nos propomos.A nossa tarefa limita-se ao Partido, oonstituido par elementosque, pelos simples facto de tea-em aderido ao Partido, ja de-monstraram terem alcancado um nonvel grau de emanci-pagdo espiritual: a nossa tarefa 6 a de melhorar os nossosquadros, de tome-los ideneos para afrontarem as prOximaslutas. Praticamente, estas apresentar-se-ao tambem nestes ter-mos: a classe operaria, tornada prudente pela reaccäo san-guinosa, par um certo tempo nä° se Bard, no seu conjunto,nos elementos revolucionärios, quererd ve-los no trabalhopratico, quererd ensaiar-lhes a seriedade e a competancia.Devemos ser capazes, tambem neste terreno, de hater os refor-mistas, que sdo, sem dtivida, o partido que tem hoje osquadros melhores e mais numerosos. Se nao procurarmosobter isto, nunca faremos raintos passos em frente. Os velhosamigos de Ordine Nuovo, especialmente os que trabalharamem Turim nos anos 1919-20, compreendem bern toda a im-portan' cia deste problema, porque recordam como em Turimse conseguiu eliminar os reformistas das posieóes organizativasso a medida que dos comselhos de falarica se fonnavam ca-maradas operarios capazes de trabalho pratico e nao somentede gritar: Viva a Revolugab! Recordam tambtm coma em1921 não foi possivel tirar aos oportunistas algumas posicOesimportantes coma Alessandria, Biella, Vercelli, porque nabtinhamos elementos organizativos a altura das tarefas; asnossas maiorias perderam-se, nestes centres, pela nossa fra-queza organizativa. Pelo contrdrio: noutros centres, par exem-pla em Veneza, bastou um so elemento capaz pan nos fazerconquistar a maioria, depois de um diligente trabalho depropaganda e de organizagäo das caulas de fdbrica e de sin-dicato. A experiencia de todos os paises demonstrou estaverdade • que as situacOes mais favordveis podem voltar-sepela fraqueza dos quadros do partido revoluciandrio: aspalavras de ordem servem s6 para fazer entrar em movimentoe dar a perspectiva geral as grandes massas; ai do partidoresponsdvel, porem, se não pensou na sua organizacäo prd-tica, em criar uma estrutura que as discipline e as tomepermanentemente potentes: a ocupacao das fdbricas ensi-nou-nos muitas coins neste sentido.

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Para ajudar as escolas de Partido no seu trabalho propo-mo-nos publicar toda uma skit de oprIsculos e algae's livros.Entre os oplisculos, indicamos: Estudos elementares domarxismo: 2.°) Una exposicao da palavra de ordean do go-vern° operdrio e campones aplicada a Italia; 3.°) Urn pe-queue manual do propagandista que contenha os dados maisessenciais sobre a vida econOmica e politica italiana, sobreos partidos politicos italianos, etc., isto é, os materiais indis-pensdveis para a propaganda geral feita a leitura em comumdos joanais burgueses. Queaia. mos fazer uma edicao italianado Manifesto dos Comunistas corn as notas do camaradaD. Riasanof: no seu conjunto estas notas são urn tratadocompleto, de forma popular, das nossas doutrinas. Querfamostambem publicar tuna antologia do materialismo histOrico,isto e, nma recolha dos fragmentos mais significativos deMarx e Engels que deem um quadro de conjunto das obrasdestes nossos dois grandes rnestres.

Os resultados ate agora obtidos autorizarn-nos a espemrque se podera conthanar corn seguranca e corn sucesso.Ao trabalho, portanto: as nossos melhores camaradas devempersuadir-se que se trata tambem de uma afirmagao politica,de uma manifestacab da vitalidade e da capacidn4e de desert-volvimento do nosso movimento, de uma demonstragdo, por-tanto, antifsscista e revolucionaria.

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PROBLEMAS DE HOJE E DE AMANHA (*)

De um antigo assinante e amigo de Online Nuovo()recebemos esta carta:

Parece-me que o nosso desacordo a simplesmente de ordem cro-nolOgica: aceito uma grande parte daquilo que me escreve mas comosolugees de problemas que se apresentardo depois da queda do fas-cismo; 6 utilissimo estudá-los e prepararmo-nos pars os enfrentar; masos problemas de hoje sdo muito diferentes. Falemos disto. Confirmoa minha opinido de que a classe operforia ester completarnente ausenteda vida politica; e so posse concluir que o Partido Comunista, hoje,não pode fazer nada ou quase nada de positivo. A situarito 6 pare-cida, de modo impressionante, a de 1916-17, ate o meu estado de

que me diz ser comum aos outros amigos que ]he escrevem.As minhos opinides politics ndo mudaram, ou pior, tomei-me obsti-nado; precisamente como era obstinado ate 1917, no socialismo paci-lista de 1914-15, do qual retirei a descoberta, feita depois de Caporettoe da Revoluclio Russa de Novembro, de que as armas estavam preci-samente nos moos dos operirios-soldados. Desgragadamente a ana-logia nao chega a este panto; Elias como entlio, embora tomando emconta, raciocinando, que a guerra havia de acabar urn dia, todostsentiam, que nunca mais acabaria e nlio se via como poderia chegara paz— assirn acontece hoje corn o fascismo. Nao k preciso tantoesforco para aceitar a sua opinião de que este estado de coisas nä°pode durar e que graves acontecimentos sdo iminentes; 6 perfeitamentelOgieo mas ndo se s en te • nem se sv8s. Nao sera possivel uma accliopolitica operdria ate que os problemas concretos que se apresentama cada operario forern resolvidos individual e privadamente, comohoje: ha que salvar o emprego, o salario, a casa e a familia; o sindicato

(') Nio assinado, L'Ordine Nuovo, 105-4-1924.Trata-se do prof. Piero Sraffa, amigo pessoal de G., que

tomou parte, como jovem estudante socialists, no movimento vordi-novistai de 1919-20.

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o Partido nao podem conceder qualquer ajuda, polo contrario; s6se obtem urn pouco de paz tomando-nos o mais pequenos possfvel,pulverizando-nos; e aumenta urn pouco o saldrio trabalhando muitoe procurando trabalhos extraordinarios, fazendo concorrencia aos outrosoperdrios, etc.: a verdadeira negacao do Partido e do sindicato. A criseeconomics atenuou-se por fim, de tal modo que se existisse urn minim°de liberdade sindical e de ordem pablica serfs possfvel a recuperacaodas org-anizacOes, das groves, etc. (como, por exempt°, ern Inglaterra).A questtio urgente, prioritaria em relacao a qualquer outra, 6 a dasliberdade) e da rordemi: depois vireo as outran, mas por agoranao podem sequer interessar os opererios. On urn afrouxamento dapressäo fascists nao creio que possa ser obtido pelo Partido Comu-nista: 6 o memento das oposicties democraticas "e parece-me feces-sari° deixar organizi-las e ate ajuda-las. 8 necessario, antes de mais,uma srevolucao burguesas, que permitira depois o desenvolvirnentode uma politica operaria. Em subsancia, parece-me que, como durantea guerra, nao se pode fazer mais do que esperar que passe. Gostariade saber a sua opiniao a este respeito. Nao me parece que a minhaseja inconciliavel corn o facto de ser comunista, ainda que indiscipli-nadamente: a funcao que atribuo as sesquerdas. desenvolver-sesi,creio, muito rapidamente, e decerto que ao PC nao conviria compro-meter-se com elan, ate porque nao traria qualquer contributo a umacampanha de tal genera. Mas parece-me que 6 tambem urn erro per-seabertamente contra elas e insistir demasiado (como faz, por exempt°,?Unita) na zombaria da .liberdade. burguesa: bonita ou feia, 6 acoisa de que os operários sentem hoje mais fortemente a necessidade

6 o pressuposto de cads conquista ulterior. Prccisamente como du-rante a guerra o neutralism° nä° era decerto urns politica socialists:mas foi decerto a melhor politica, entre as possiveis, pars o PartidoSocialists porque era a mais sentida pelas masses. 0 PC nao pode,pela contradicao, fazer a campanha para a liberdade e contra a dita-dura em geral: mas comete urn erro grave quando da a impressdode sabotar uma alianca das oposicties, como fez corn a precipitadadeclaracdo de participacao na luta eleitoral, quando os outros partidosfingiam ameacar com a abstencOo. A sua funcio 6, por agora, a damosca de cavalarica porque, depois, sera necessario para urn partidode masses ter-se distinguido na luta contra o fascismo: ainda, comodurante a guerra. E entretanto sera born que, aproveitando esta expo-riencia, se prepare urn programa concreto para depois: entao apresen-tar-se-a decerto em primeiro piano a questito meridional e a da unidade.Mas nä° hoje: a batalha dos fascistas pam terem na lists Orlando

C. nao creio que tenha o significado que the atribuiu; pode serexplicada mais simplesmente como urn 6bvio expedients eleitoral, ne-cessario pam evitar urn fiasco; esta explicacao 6 tambem mais dignado prefeito de Napoles e de Mussolini. Voce diz exactamente que

fascism° esti, desagregando a unidade do Estado e a questa° 6actual e urgente; mas nao creio que seja do genero que refers; maisdo que uma questOo social, parece-me urn problema de polfcia.O facto 6 que o fascism° paga os seus aderentes, mais do que comdinheiro, corn migalhas de autoridade do Estado, corn a autorizacãode serern prepotentes, por pissatempo e por interesse pivado; oremedio encontrar-se-a numa polfcia eficiente e independents dos ras,

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Liao importa depths se centralizada ou local. Em sums, volta-sequestão da ordem pnblica, nao a territorial.

Vi corn verdadeira comocäo o primeiro mimes° de Ordine Nuovo.Espero quo, como jit em 1919, saberd encontrar a palavra de ordemque hoje faita e que ocorre. Espero tambem que saberi fazer oprocess° ao passado: mas nao pars determinar as culpas e os me-ritos dos individuos e dos partidos, nä° pars repair sja o tinha dito.;sobretudo nao o processo aos adversários mas a si pr6prios e aosprOprios camaradas, o que 6 mais Util e 6 a nnica coisa que tornOtil a experiencia; 6 precis° decerto muita coragem para fazer umaauto-autOpsia mas o velho Ordine Nuovo talvez a tenha.—S.

Elementos liquidadores

Estdo contidos nesta carts todos os elementos necessiriose suficientes pan liquidar, uma organizagdo revolucioniriacomo é e deve ser o nosso Partido. E todavia tal nao 6 aintencdo do amigo S., o qual, embora nä° inscrito, embersviva a margem do nosso movimento e da nossa propaganda,tern fe no nosso Partido e considers-o o Unice. capaz deresolver pennanentemente os problemas surgidos e a situacãocriada pelo fascismo. E puramente pessoal a posicao assu-mida na carta? Ndo cremos. Ela nao pode deixar de ser aposigão de um largo sector de intelectuais que nos anos1919-20 simpatizavam corn a revolugdo proletaria e que aseguir nao quiseram prostituir-se corn o fascism° triunfante,ela e tambem, inconscientemente, a posicao de uma parte dopr6prio proletariado, ate de camaradas do Partido que naosouberam resistir ao estilicidio quotidiano dos acontecimentosreaccionarios, no estado de isolamento e de dispersdo criadopelo terror fascists: into torna-se evidente por toda uma sOriede factos e 6 confessado abertamente pela correspowdenciaprivada 0 amigo S. nao se coloca na perspectiva de urnpartido organizado: fogem-lhe, por isso, as sues consequen-cias e as muitas contradicees em que cai e chega ate aoabsurdo, pondo a claro, ele pr6prio, a fraqueza e a falsidadedos seus raciocinios.

S. ere que o future sera do nosso Partido. Mas como po-deria continuar a existir, como poderia desenvolver-se o Par-tido Comunista —isto 6, como poderia encontrar-se capaz,depois da queda do fascism°, de dominar e guiar os aconte-cimentos se hoje se reduzisse a nada, na posicäo de absolutapassividade desejada pelo pr6prio S.? A prodestinagdo nao

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C elINSIMI•ern-13n1”..

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existe para os individuos e muito menos para os particles:existe apenas a actividade conereta, o trabalho irtinterrupto,a continua adesäo a realidade historica em desenvolvimento,que dão aos individuos e aos partidos uma posicAo de preemi-nencia, uma tarefa de guia e de vanguarda. 0 nosso Partido6 uma fraccão organizada do proletariado e das massas cam-ponesas, das classes que hoje sAo oprimidas e esmagadaspelo fascismo; se o nosso Partido nao encontrasse tambempara hoje soluCAles autenomas, proprias, dos problemas geraisitalianos, as classes que sac, a sua base natural naudar-se-jam,no seu conjunto, para cerrentes politicas que de tais proble-mas dão uma soiugäo que nao seja a fascista, Se into aoon-tecesse, o facto feria urn imenso significado histerico, que-reria dizer que o actual nao a urn period° revolucionariosocialista mas que vivemos ainda numa 6poca de desenvolvi-memo burgues capitalista, que nao faltam se) as condiceessubjectivas de organizacao, e de preparacito politica mastambem as objectival e materials para o advent() do prole-tariado ao poder. BMA° tambem a nets se poria verdadei-ramente o problema de assumir ado uma posicao autOnomarevoluciondria mas a de simples fracefio radical das oposicOesconstitucionais chamadas pela histeria para serem as reali-zadoras da arevolugdo burguesatt, isto 6, de uma etapa im-prescindivel e inevitdvel do processo que desembocard nosocialismo. A situagfie italiana autoriza a acreditar nisso?0 prOprio S. nao o ere porque escreve que a tarefa das opo-sigries constitucionais sera cronologicamente brevissima, semimediatos desenvolvimentos para uma revoluedo proletaria.S. refere-se ao period° da guenra, picle como exemplar a ati-tude do Partido Socialista durante a guerra. Logo se tornevidente, mesmo depois de uma pequena e aperssada oncllise,como a absurda tal referenda e como nao dd rata° ao seuautor. 0 neutralismo socialista foi uma tactica essencialmenteoportunista ditada pela traditional necessidade de ter emequilibrio as nes tendencias de que o Partido se compurdia,que inclicaremos corn os ties comes de Turati, Lazzari, Bor-diga, nada mais: nä° foi uma linha politica estabelecida depoisde urn exame das circunstancias e das relacks de forgaexistentes em Italia em 1914-15, resultou da concepcdo da.unidade, do Partido acima de tudo nte,smo acima da re-velucäoa que 6 prOpria ainda do maximalismo. Que oamigo S., s6 depois da revolugão de Novembro e da rota de

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Caporetto, tenha descoberto que as armas estavam nas mAosdos operdrios-soldados, demonstra apenas came esta tacticaoportunista tinha deixado na escuridio as massas socialistassobre as discusseies ja verificadas a este propOsito no campointernacional. A esquerda de Zimmentrald jo. desde 1915fizera esta n descobertan que tinha determinado a tactica doPartido bolchevista russo: por isso a rota dos exercitos (oases,depois das ofensivas impostas ao Govern de Kerensky pela(Intesa), se seguiu a revolucAo proletaria, a transformacãoda guerra imperialista em guerra civil; a rota de Caporettoseguiu-se apenas uma mocAo em que se limitavam a reafirmtara oposigle parlamentar ao govern° e a recurs° dos creditorsmilitares.

A attitude assumicla, durante a guenra, pelo Partido Soda-lista Italian° &lumina tambem os acentecimeatos posterioresate ao Congresso de Livorno, ate ao Congresso Socialistade Roma e a formacAo do Partido Gillian°. E a mesmatactica, no fundo, que se reveste de novos aspectos pela novasituagdo: a mesma tactica de passividade, de aneutralismos,da unidade pela unidade, do partido pelo partido, da fe napredestina0o de o Partido Socialista vir a ser o partidodos ta-abalhadores italianos. Que resultados tern hoje estecomportamento, quando existem o Partido Unildrio a direitae o Partido Comunista a esquerda, 6 Hare tambem para oamigo S.: crises intemas em permanancia, eis5es a seguira cisiies que nunca resolvem a situagfici porque a tendenciacomunista renasce continuamente e a direita, favoravelfusäo corn os mikados, continuamente se reforgam.

Residuos de velhas ideologies

0 amigo S nä.° conseguiu ainda destruir em si sodas- osresfduos ideolegicos da sua formacfio intelectual democra-tico-liberal, isto e, normativa e kantiana, nao marxista e dia-lectica. Que significado tern as suas afirmagaes de que aclasse operaria esta aausentes, que a situaefio 6 contr ./aria aosindicato e ao Parade, que a violencia fascista 6 urn problemade tordeml, isto 6, de apoliciai, e nab urn problema asocialD?

A situacao italiana 6 certamente complicada e contradi-t6ria, mas nao tanto que nao se possam ja collier maa-cadaslinhas unitdrias de desenvolvimento. 0 proletariado, isto 6 a

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classe revoluciondria por exceléncia, 6 a minoria do povotrabalhador oprimido e explorado pelo capitalismo e estacentralizado prevalentemente muna Unica zona, a setentrional.Nos anos 1919-20 a forga politica do proletariado consistiaem encontrar-se automaticamente a cabega de todo o povotrabalhador, em centralizar objectivamente na sua acgdo di-recta e imediata contra o capitalismo todas as revoltas dosoutros estratos populares, amorfos e sera perspectiva. A suafraqueza demonstrou-se per nä° ter organizado estas relagOesrevoluciondrias, per nem sequer se ter posto o problema danecessidade de organizar estas relagifes num sistema politicoconcreto, num programa de govemo. A repress-do fascista,seguindo a linha do minimo esforgo, comegou com os outrosestratos sociais e culminou contra o proletariado. A repres-s -do sistematica e legal mantam-se hoje contra o proletariado,afrouxou pelo contrario na periferia contra os estratos queem 1920 the cram apenas objectivamente aliados e que sereorganizam e retornam parcialmente a luta, assumindo 0catheter atenuado de oposiedo constitucional, into 6, o seumais destacado catheter pequeno-burgues. 0 que significa,portanto, que a classe operaria esta causente»? A «presengasda classe operaria, tal como o amigo S. a entende, signifi-caria a revoluedo, porque significaria de novo, come em1919-20, que a cabeca do povo trabalhador esta nao ospequeno-burgueses democratas mas a classe mais revolucio-naria da nagdo. Mas o fascismo 6, de facto, a negagdo de talestado de coisas, o fascismo nasceu e desenvolveu-se pandcstruir um tal estado de coisas e para impedir que ressurja.Como se pOe hoje o problema, portanto? Parece-nos que sepOe nester termos: A classe operaria esta e permanecera ainda«ausente) na medida em que o Partido Comunista permitiras oposigOes constitucionais o monopelio de despertar paraa luta os estratos sociais que historicamente sdo os aliadosdo proletariado. 0 aparecimento e o reforgo das oposigdesconstitucionais infunde nova forae no proletariado que denovo aflui ao Partido a aos sindicatos. Se o Partido Comu-nista intervem activamente no processo de formagäo dasoposigdes, trabalha para determinar na base social das opo-sigOes uma diferenciagdo de classes, obtendo que as massescamponesas se orientem para um programa de governo ope-rario e campenés, eis que o proletariado ja ndo esta ausentescomo dames, eis uma linha de trabalho politico em que se

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resolvem os problemas de hoje e os de amanhd, em quese prepara e se orgartiza o amanha e ndo se espera apenas

destino.Esta linha de trabalho politico 6,.portanto contriria canto

as oposigdes constitucionais come ao fascismo, mesmo quea oposicdo constitucional sustenha urn programa de liberdade

de ordem que seria preferivel ao de violencia de arbitriodo fascismo. A verdade 6 que oposigdo constitucional nuncaactuara o sou programa que é um puro instrumento de agi-tacdo contra o fascismo: ndo o actuara porque isso signifi-caria a verificagdo, a breve prazo, de uma tal itcatastrofe*

ndo o actuara porque todo o desenvolvimento da situagdo6 controlado em Italia pea forga armada da Milicia Nacional.O desenvolvimento da oposigdo e o catheter que eta assumesdo todavia fenemenos muito importantes, sao os documentosda impotEncia do fascismo para resolver os problemas vitalsda nagdo, ski um chamamento quotidiano para a realidadeobjectiva que nenhuma rajada de mas palavras pode anular.Para ribs representam o ambiente em que nos devemos mover

trabalhar, se queremos permanecer aderentes a realidadehisteriea, sem nos tornarmos uma seita de conteraplativos, emque devemos procurar o concreto das nossas palavras deordem e dos nossos programas imediatos de acgdo e de agi-tack.

Tres pontos resumidores

Podemos resumir assim os pontos da nossa concepgdodas necessidades e das tarefas actuais do movimento prole-tario em contraposigdo a do amigo S.:

I) Dar ao nosso Partido uma conscidncia ma viva dosproblemas concretes que a situacdo criada polo fascismopOs a classe operaria, de modo que a organizagdo não sejaum fim em si mas se tome um instrumento para a agitagdodas palavras de ordem revolucionarias no meio des maislargas massas;

2) Trabalhar para a unidade politica do proletariado soba bandeira da Internacional Comunista, apressando o pro-cesso de decomposigdo e recomposigdo iniciado no Congressode Livorno;

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3) Estabelecer concretamente o significado italiano da pa-lavra do govemo operario a canipones, dar a esta palavra umasubstincia politica national, o que nä° pode acontecer senão se examinam os problemas mais vitals e urgentes dasmassas componesas, em primeiro lugar, portanto, os problemasespecificos que se resurnem na expressao gent de aquestão

Os intelectuais coma o amigo S., que nao se deixaramarrastar pelo fascism°, que de uma maneira ou de outraquiseram renegar o seu comportamento dos anon 1919-20,podem novanente enzontrar em Ordine Nuovo urn centre dediscussiio a de repensamento (2).

0 A. Gramsei comenta tambëm ester carta recebida de PieroSraffa numa carta enderecada de Viena a Togliatti, Scoccimarro,Leonetti, etc., em 21-3-1924, anunciando que Sraffa tern intenctio decolaborar na imprensa do partido e reflectindo sabre urn ponto poli-tico importante levantado pelas objeccoes do amigo, a perspectivapara a qual se encaminha a situacrio politica. (8 possivel—perguntaGramsci aos seus interlocutores—pensar que se passa do fascismoa ditadura do proletariado? Que fases intermadias säo possiveis e pro-vaveis?... Penso que na crise que atravessari o pais, terd a primaziao partido que melhor tiver compreendido este pror,esso necessario detransigão e der portanto, as grander massas a impressao de seriedade.)Cf. Palmiro Togliatti, La formazione del gruppo dirigente del partidoCotnunista Italian, cit., p. 246.

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A CRISE DA PEQUENA BURGUESIA (•)

A crise politica determinada pelo assassinio de Mat-teotti (1) esta ainda em piano desenvolvimento e tao se pockainda dizer quais sera° as suas orientaglies conclusivas.

Apresenta aspectos diversos a mtiltiplos. Relevamos, antesde mais, a luta qua se reacendeu a volta do govern° entreIncas adversas do rnundo plutocratic° a financeiro para aconquista, per parte de tins, e a conservagio, per parte deoutros, de uma influencia predominante no Govomo do Es-tado. A oligarquia financeira que desemboca na banca co-mercial contrapaem-se as forgas que outrora se agrupavama volta da falida hanra de desconto a que hoje tendon areconstituir urn organism° financeiro prOprio que deveriasubtrair a predominante influencia da primeira. A sua pelavrade ordem 6 aconstituigio de urn govern° de reconstrugâonacionalD corn a elininagäo do estorvo (entendam-se as pa-trocinadores da actual politica financeira). Trata-se, em subs-ancia, de um grope de tutiar6es MO minas nefastos do queos outros qua, sob a mascara da indignacão pelo ascissIniode Matteotti e am name da g justica 3, procuram apriccar-sedas caixas do Estado. 0 momenta 6 born a naturalmentsprocuram rtio deixd-lo ruin.

Do ponto de vista da ciasse operaria, o facto mais im-portante 6 porem um outro a precisamente a repercussiofortissimo que os acontecimeatos destes dias am tido eras

(s) Nao assinado, L'Unita, 2-7-1924.

0 10 do Junho do 1924.

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classes media e pequeno-burguesa: a a rise da pequena bur-guesia precipita-se.

Se se consideram as origens e a natureza social dofascismo, compreender-se-a a importancia enorme deste ele-memo que vent fragmentar as bases do dominio fascista.Esta improvisa e radical mudanca da opiniao pUblica, pola-rizada a volta dos partidos da charnada doposi Cno consti-tucionala, pot estes partidos na primeira fila da luta politica:estes devem ter em coma, como alguns estratos da prepriaclasse operaria, as necessidades e condicoes que tal lutaimpoe.

No campo operario, nao faltou a imediata repercussaodelta mudanca de forcas • o proletariado tern hoje a sensagaode ja nä° estar isolado na luta contra o fascismo e, panalOm do imutavel espirito antifascista que o anima, intodetermina no seu anima a eonviecao de que a ditadurafascista podera ser abatida e num periodo de tempo muitomais breve do que seria pensdvel no passado. 0 facto de arevolta moral da populacao contra o fascismo se ter mani-festado na classe operaria, embora corn parciais greves, comeforma energica de luta; o facto de ter sound° a neressi-dade e ter considerado possivel, em Germs condicaes, a gravegeral nacional contra o fascismo, demonstra que a situagaovai mudando corn uma rapidez totalmente imprevista. Querntiver thividas a este respeito que via contactar corn os operariose sentini coma sao acolhidos os melancOlicos comunicadosda Confederacao Geral do Trabalho implorando caima, nosquail se definem eelementos irresponsaveiso e uagentes pro-vocadores) quantos fazem propaganda para a accao: foto-vamos habituados a ler outrora esta linguagem nos comuni-cados da policia...

Pelo compartarnento e pela conduta dos varios partidosalinhados hoje na fret/at da luta antifascista, pode-se desdeja fazer uma priraeira anstatacao: a impotencia da oposicaoconstitutional.

Com a oposicao ac fasasmo, estes partidos tinham evi-dentemente a tendancia, no passado, para atrair a pequenaburguesia e, em pane, cc estratos da burguesia que, vivendoa margem da plutocracia dominante, se ressentem em partedas consequ6ncias do seu predominio absoluto e esmagadorna vida eccmôn-i'.ca e firianyzira do pais. Tendern pan sis-temas menos ditat ririals de govern. Estes partidos podem

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dizer, hoje, - terem alcancado o objectivo que constitui parades a premissa pan conduzir a serio a luta contra o fas-cismo. A sua accao, porem, que na situagao actual deveriater urn valor decisivo, mostra-se incerta, equivoat e insufi-ciente. Reflecte, em substancia, a impotencia da pequenaburguesia para enfrentar sozinha a luta contra o fascismo,impotencia determinada per um complex°, de raziks, das quaffsderiva igualmente a atitude caracteristica destas classes eter-namente oscilantes entre o capitalism° e o proletariado.

Cultivana a ilusao de resolver a luta contra o fascismo noterreno parlamentar, esquecendo que a natureza fundamentaldo govern fascista 6 a de uma ditadura armada, nao obstantetodas as insignias constitucionais que procura colas a MillenNacional. Esta, per outro lado, nao eliminou a accao doterrorismo e da ilegalidade: o fascismo, na sua verdadeiraessencia, 6 constituido pelas forgas armadas operando direc-tamente par conta da plutocracia capitalista e dos agrarios.Abater o fascismo significa, em definitive, esmagar definitiva-mente estas forgas e isso so se pode obter no terreno da accaodirects. Qualquer solucao parlamentar sera impotente. Qual-quer que seja o caracter do govern() que de tal solucao pudessederivar, quer se trate da reforma do govemo de Mussoliniou do advento de urn govern chamado democratic° (o que,per outro lado, 6 muito dificil), a classe operaria nao podenter nenhuma garantia de que os seus interesses e os seusdireitos mais elementares serao tutelados, mesmo nos Hainesconsentidos por um Estado burgaes e capitalista, ate queestas forcas nao forem eliminadas.

Pam obter isto ocorre lutar contra elas no terreno emque é possivel veneer seriamente, into 6, no terreno da accaodirecta. Seria uma ingenuidade confiar esta tarefa ao Estadoburgu6s, quer seja liberal ou democrata, o qual aao hesitariaem recorrer a sua ajuda no case de nao se sentir bastanteforte pars defender o privilegio da burguesia e manta subme-tido o proletariado.

De tudo isto deriva a conclude de que uma real oposicaoao fascismo s° Epode ser conduzida pela classe operdria.Os factos demonstram canto correspondia a realidade a po-sicao per nds assumida por oeasiao das eleicaes gerais, apondoa oposigdo constitutional a •oposicao operarias come a Unicabase real e eficaz pan abater o fascismo. 0 facto de forgasnao operarias confluirem na frente da luta antifascista nao

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muda a nossa afirmacdo segundo a qual a classe operdria6 a Unica classe que pock e deve ser o guia director nesta luta.

A classe operdria deve encontrar, porem, a sua unidade, naqual encontrard toda a forga necess aria para enfrentar a luta.Por isso a proposta do Partido Comunista a todos os orga-nismos proletazios pan uma Breve geral contra o fascismo;por isso a nossa atitude perante as impotentes Ian:v(16associais-dcmocratas.

SIM, A HORA DA COERCNCIA (*)

Volta de novo a acusacdo de sectarismo nas gazetas dasocial-democracia dirigida a atitude dos comunistas em relagãoao assassfnio de Giacomo Matteotti.

Esta acusagdo de sectarismo ndo 6, porem, nova contraos comunistas. A social-democracia de todos os paises, parase subtrair aos seus compromissos contraidos corn as massastrabalhadoras, nunca encontrou melhor expediente na sualuta contra o proletariado revoluciondrio do que o de mos-trar como fdtuos nefelibatas os socialistas marxistas revo-luciondrios, isto 6, os comnnistas, que crdem no Marx daI Internacional dos Trabalhadores e nao naquele que emnome da social-democrata repfiblica alemä trata os negOciosdos herdeiros de Stinnes. Mas que especie de nefelibatas eramos comunistas e continuum hoje a se-lo demonstraram-no

demonstram-no os comunistas russos que ha sett anos diri-gem o primeiro Estado proletatio, o mais vasto do mundoem territOrio e populacdo.

Pelo contrario, o que 6 que demonstraram saber fazer ospra.ticos) da social-democracia chegados ao poder? Em sate

meses de govern o presidente da II Internacional, o senhorMacDonald, s6 geriu mais ou menos bem os negOcios doodiadfssimo capitalismo burgues. E into di-lo aquele terrivel...comunista que 6 o ex-primeiro livid's, Lloyd George. Na Ale-manha, o social-democrata Ebert, em diversos anos de poder,s6 soube lancar a areia sobre todos os tratados e as provi-

(*) Nao assinado, L'Unita, 22-8-1924.

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dencias que estabelecem a fame dos operarios alemdes, con-denados hoje a dez horas de trabaiho e a salarios insuficientesem relacdo ao alto custo de vida.

A tudo quanta fizeram as sociais-democratas a escalainternacional para merecer o titulo de estrategas da lutaoperaria contra o capitalism°. E nem sequer recordamos quetern lugar o &rim aniversario da guerra, as responsabilidadesda social-democracia no prolongamento da Ultima guerra, napreparacdo da outra que se avizinha, para vergonha, aumelhor, per motive do preprio proclamado social-pacifismointernacional.

Sectaries? Nefelibatas? 0 Orgdo da social-democraciaitaliana ndo nos assitsta per isso. Sabemos o que quea-emose e precisamente esta nossa clareza que desconcerta e per-turba as nebulosas construgOes politicas do social-reformismo.0 qual, sabendo pordm nä° ter credit° entre os operarios,recorre a ealitnia e a insinuacdo. Aquele diz-nos: aO queé que querem os comunistas das oposigOes se estão de fora,se tudo esperam da classe operaria, do assalto final, etc.?Porque 6 que desacreditam as oposig5es corn propostas eperguntas, que as oposigdes conhecem mas que s6 poderdoreceber uma solucdo quando as oposigOes tiverem vencido?)E disto se conclui que os comunistas, per coerancia, deveriamfazer o favor de nao perguntar nada as oposicOes. Conhe-cemos, par experiencia, o valor destes argumentos.

Antes de mais, um esclarecimento sabre o significado daproposigdo de que os comunistas esperam tudo da classe ope-raria. Decerto que a assim. Se a classe operdria possui aforca e a capacidade pan guiar a luta contra o fascism°. Istotido exclui que a classe operaria deva utilizar todas as ra-nhuras que se manifestam no muro adversario e que na lutacontra a ditadura armada do capitalism° possa a deva en-contrar aliados. Os operarios russos, ao fazerem a revolu-cdo e ao defendO-la dos assaltos capitalistas, aliaram-se aoscamponeses e desta alianga fizeram a base do poder so-vietico.

A politica externa da.thsse operdria russa, organizadacoma classe dominante, em relacäo aos Estados capitalistasinimigos e toda eta dirigida a explorar os antagonismos eas diversas amtradicOes interns a favor da revalued° mun-dial.

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0 nosso aclassismo... de marca fascista n , coma pretendea Giustizia ('), baseia-se na experiOncia de urn grande Estadoproletario dirigido pela primeira vez na histeria da classe°per-Apia, como 6 o exemplo da Russia soviet:lea, onde todasconhecem os imensos privilegios de que goza o capitalism°.Admitir, portant°, que a classe operaria deve utilizar todasas ranhuras que se manifestam na muralha adversaria a nä.°recusar qualquer aliado para a derrubar, significa, antes dema is, reconhecer dais factos: que é preciso derrubar estamuralha e que para a derrubar a necessdrio que a classe ope-rdria tenha a direcccio da luta.

Ora o que fazem os nossos aousadores? Aceitam a pri-meira parte mas esquecem a segunda. Isto 6, admite-es anecessidade do meted° 'alas este é empregado ndo para darA classe operaria a sua liberdade mas para per as forcasda classe operaria ao service do seu preprio adversario.Brevemente: deve lutar-se contra o fascismo. A unidade defrente contra o fascismo deve criar-se nas classes exploradase deve alcancar-se sob a direcyclo da classe operaria. S6 asclasses exploradas tem realmente interesse em lutar contra ofaseisme, porque Sao as que the supartam o peso. Com istoentende-se desacreditar o trabalho this oposicOes? Fazemostrabalho Util ao fascismo desacreditando as oposigees? Nemsequer destas acusagOes, que sdo extremamente insulsas, nospodemos preocupar. Se algudm trabalhou e trabalha para ofascismo nio se deve decerto encontrar entre os comunistas.Urn pouco de honestidade, admitindo que se possa falar dehonestidade com os nossos adversarios a cam os adversariosda classe operaria, bastaria para aconselhar maior prudinciano emprego de certas Erases.

(1) G. replica a uma nota polamica aparecida em La Giunizia,de 21 de Agosto, precisamente intitulada A Nora da coerencia, cm quese afirmava: :Quern faz diariamente o trabalho de separar o corpode Matteotti das oposicks 6 o Partido Comunista, em nome de urnsectarismo que ndo tern nem pgs nem cabega e ao qual Matteottinunca acreditou.3 La Gists:Wet escrevia ainda: et•Ido se compreendecomo a folha comunista, enquanto nega, em nome do tal classismointransigent; qualquer dinamismo as oposicks, lbes afivele depoistantas tarefas, uma Birds da outra, como se ndo fosse segura de quepelas vias da liberdade burguesa nada se alcanca. e conclufa assirn:3Entretanto que faca o pior que pode as oposicks. TambOrn isto 6classismo, de refinadissima marca... fascista.3

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+MS

Quern den os seus ministros ao Governo de Mussolini?Os populares sabem-no e sabem-no tambam os amigos deAmendola a de Di Cesare. Quern iludiu as massas, fazendoacreditar na possibilidade que Mussolini anormalizassea ofascismo? Tao depressa se esqueeea-am os escritores de Gius-tizia, que reprovarn aos comunistas o facto de nao scramcoerentes, os discursos de D'Aragona na Assembleia a asveleidades ministeriais dos varies Baldesi, desejosos de afe-Inches (*) no ministerio de Mussolini (2).

Os comunistas sao os tinicos que podem falar sobre auma de Matteotti sem terem necessidade de coral-. Nuncaassinaram qualquer apacto de pacificacaoa corn os fascistas,coma os sociais-reformistas e maximalistas devem recordar.Dizemos isto porque os escritores de Giustizia mais uma vezgostam de fazer-nos aparecer entre os que se podem con-fundir com os colegas de Dumini a companhia ('). Nab temosnecessidade de evocar Spartaco Lavagnini, Berruti, Pietro Fer-rero, e outras dezenas de nossos assassinados, nao temosnecessidade de recordar as anos de carcere distribuidas aoscomunistas militantes nern recordar o regime exceptional a quesao submetidos, pelo fascismo, todos os comunistas parajustificar a nossa indignacao perante a estripida insinuacaoatirada pelos mans pastores do social-reformismo de que n6sfavorecemos, conscientes ou nao, o fascismo, A histaria destesanos fala claro. Nao temos necessidade de rectificar nadapara sermos coerentes corn as necessidades de luta de classeoperaria. Combatemos as oposiOes?

Nao sabemos se assim se deve definir o facto de Ihessolicitarmos que, se querem lutar vendadeiramente contra ofascismo, devem mostrar nao ter em desconfianca, acima detudo a classe operaria, circunstancia da qual deriva indirec-tamente a sua farga a prestigio. N6s pedimos que a classeoperaria tenha a direccao da luta, porque s6 ela tem a capa-cidade da viteria. E isso s6 se pale obter cam a luta de todos

(') Chapeu corn borla, usado pelos fascistas.G. refere-se as sondagens e hs negociacees conduzidas por Mus-

solini corn a CGL para fazer entrar no seu primeiro gabinete, depoisda marcha sobre Roma, de 28 de Outubro de 1922, Gino Baldesicomo representante da Confederacho; negociagdes que faliram pedaoposicão da direita liberal e monarquica.

Os assassinos de Matteotti.

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os dial A vitOria final 6 o resultado dos nossos esforcos paraa conseguir.

Nao faz sentido dizer n Dar-vos-emos into quando van-cermos.) E preciso, acima de tudo, lutar por aquilo que sequer. A nossa exigencia de liberdade para os presos politicos,de liberdade para as organizagaes operdrias, de ajuda aoscamponeses pobres sao apenas a plataforma da accao quese deve conduzir contra o fascismo. Sao simples objectivospara a accao, para voltar a dar as classes trabalhadoras forca

confianga na sua capacidade de luta. Se isto quer dizer desa-creditar as oposiciies, entao temos raid° em pensar qua estasgostam do silencio para nao scram obrigadas a luta contrao fascismo.

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0 DESTINO DE MATTEOTTI (•)

Existe uma crise da sociedade italiana, uma crise quederiva dos pr6prios factores em que esta sociedade 6 cons-tituida e dos seus Orredutiveis contrastes; existe uma criseque a guerra acelerou, aprofundou, tornou insuperavel. De umlado, ha um Estado que nao governo porque the falter a adesaodas grandes masss e falta-the uma claccP dirigente que sejacapaz de conquistar esta adesào; do outro, ha unaa massade milhOes de trabalhadores, os quais foram lentamente des-pertando para a villa politica, os quais pedem para tomar nelauma parte activa, os quais querem tornar-se a base deurn aEstadop novo em que se enoarne a sua. vontade. Ha, de tilnlado, um sistema economico que ji nao consegue satisfareras necessidades elementares da enorme maioria da populaporque é construido papa satisfazer os interesses particularese exclusivistas de algurnas categorias privilegiadas: ha, dooutro, centenas der milhar de trabathadores, as quais naopodem viver se este sistema nao 6 modificado pela base.

Ha quarenta anos que a sociedade italiamt em vao estaprocurando sair destes dilemos. -

Mas o modo de sair dales 6 um s6. E qua as centenas deminim- de trabalhadores, que a gran& maioria da poptilacaotrabalhadora italiana sejam guts/lac para superar o contraste,despedacando os quadros da ordem politica e econOmicaactual e substituindo-a por uma ordem nova de coisas, naqual os interesses e as vontades de quem trabalha e produz

(•) Assinado, Antonio Gramsci, Lo Stara Operaio, I-9-192A.

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encontrem satisfacao e expressao completes. 0 despertar dosoperdrios e dos camponeses de Italia iniciado, sob a guiade animosos pioneiros, hd algumas dezenas de anos, deixavaesperar que esta estrada estivesse para ser observada e se-guida, sem hesitagao e sem incoefencias, ate ao fim.

Tambem Giacomo Matteotti foi, se nao pela idade maspela escola politica a que penance, um destes pioneiros. Foidaqueles a quern o proletariado italiano podia para ser guiadoa fim de criar em si prOprio a prOpria economic, o prOprioEstado, o pr6prio destino, foi daqueles de quem dependeua solugao, a %Mica possivel solucao, da crise italiana. Recordarcomo a orientagao se foi, na pratica, darninuindo e o movi-mento se foi esgotando em si prOprio, deixando aberta a viaao triunfo descarado dos seus mais orgulhosos inimigos, 6superfluo, talvez, recordar hoje, a nab ser para iluminar acontradicao interna insanavel, que viciava, a partir dos fun-damentos, a concepcao politica e histerica destes primeiroschafes da desferia dos operarios e dos camponeses de Italia,que condenava a sua accao a um insucesso tragico, pavoroso.0 despertar para a vida civil, para as reivindicagOes aeon&micas e para a luta politica, das dezenas e centenas de milharde camponeses e operdrios 6 coisa va, se nab se conclui corna indicacao dos meios e das vial pelas quais as forms des-pertadas das ma saas trabalhadoras poderao atingir uma con-creta e completa afirmacdo de si. Os pioneiros do movimentode desforra dos trabalhaclores italianos nao souberam atingiresta conclusao. A sua aced°, enquanto fazia cair os eixos deurn sistema econOmico, nao previa a ca-iacdo de um sistemadivers°, no qual os limites do primeiro fossem para sempresuperados e abatidos. 'Malaya uma serie de conquistas e naopensava na sua. defesa. Dava a urna classe consciencia desi e dos seus destines e nao the lava a organizacao de corn-bate sem a qual ester destinos nunca se poderao realizar.Punha as premissas de uma revolucao, de um Estado novo.Desencadeava a rcbalido e Igo sabia guid-la para a viteria.Pantia do um desejo generoso de redengdo total e esgotava-semiseramente no nada de uma accao sem safda, de tuna poli-tica sem perspectiva, de urna revolta condenada, passado oprimeiro inistante de surpresa e de confusdo dos adversdrios,a ser sufooatia no gangue e no terror da desforra reacciondria.

0 sacrificio her6ice de Giacomo Matteotti 6 para nes aUltima exprescao, a mais evidente, a mais tragica e elevada,

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desta contradicao Unarm de que todo o movimentoitaliano sofreu anos e anos. Mas se o impeto de desforra eos esforgos tenazes do passado puderam ser vacs, se pOdecair pavorosamente, em 'Eras anos, o edfieio afadigadamenteconstruido peca per peca, nab dove e'nao pode ser vac) estesacrificio supremo em que se resume toda a lick de umpassado de dotes e de erros.

Ontera, enquanto os restos de Giacomo Matteotti desciamao tdmulo e o pensamento estava corn o ritual triste, de todasas panes de Italia, todos os trabalhadores das oficinas e docampo, escravos do Polesine e do Ferrarese moviam-se emmultiddo para estarem presentes pessoalmente, os campo-nests e as operdrios que nao desesperam ainda da sua reden-cao—ontem, comemorando Matteotti, urn grape de operdriosreformistas inscrevia-se no Partido Comnnista de Italia. E nessentimos que neste ado alguma coisa que despedaga ocirculo vicioso dos esforcos lidos e dos sacrificios innteis, quesupera as contradicaes para sempre, que indica ao proleta-riado Italian° que Haab se dove extrair da mono do pioneirocaido nas sins praprias pisadas, sem ter um caminho abertodilute de si.

As sementes lancadas per quem trabalhou para o des-pertar da classe trabalhadora italiana nao se podem perder.

Uma classe que despertou da escravidab nao pode renun-ciar a combater pela sua redencao. A arise da sociedadeitaliana que, corn este despertar, se agudizou ate a exaspe-raga°, nab se supera corn o terror; so se concluird corn oadvento ao poder dos camponeses e dos operatics, cram o fimdo poder dos castas privilegiadas, corn a construed° de umanova economia, corn a fundaeao de urn novo Estado. Maspara isto ocorre que se crie uma organizacao de combate,a qual os melhores Mementos da classe trabalhadora adiramcorn entusiasmo e conviccdo, a volta da qual as grandesmassas confluam confiantes e seguras. E necessdria urn orga-nizacao na qual tome came e figura uma vontade clara deluta, de aplicagao e todos os meios requeridos pela luta, semos quais nunca uma vitoria total se verificard. Uma orga-nizacdo que seja revolucionaria nao s6 nas palavras e nasaspiragOes gentricas mas na sua estrutura, no sou modo detrabalhaa-, nos seus fins imediatos e a longo prazo. Uma orga-nizacao em que o prop6sito de desforra e de libertacao dasmassas se tome alguma coisa de concreto e definido, se tome

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capacidade e trabalho politico ordenaydo, metOdico, seguro,nao so capacidae de conquista imediata e parcial mas declef esa de cada conquista realinth e de passagem a \con-quistas cada vez mail alias e aquela que tudo the deve garan-tir, a conquista do poder, a destruicao do Estado dos bur-gueses e dos parasitas, a sua substituicao per um Estado decamponeses e de operirios.

Estas coicas foram compreendidas pelos operarios refor-mistas que, recordando o seu chefe caido, pediram pars entrarno nosso Partido.

0 sacriffcio de Matteotti — dizem ales aos seus cama-radas — celebra-se trabalhando pars a criagao do anico ins-trumento pelo qual a ideia de que era movido, a ideia daredengdo completa dos trabalhadores, possa ser actuada erealizada: o partido de classe dos operarios, o particle darevolugao proletaria.

0 sacriffcio de Matteoui a celebrado no unico modo dignoe profundo pelos militantes que se apertam nas fileiras doPartido e da Internacional Comunista, preparando-se parstodas as lutas de amanha. S6 por des a classe operaria ces-sar a de ser gperegrina do nada», cessara a passagem dedesilusao em desilusdo, de derrota em derrota, de sacriffcioem sacriffcio, pars querer resolver o contraditOrio problem*de criar um mundo novo sem destruir este velho mundo quenos oprime, sO por ales a classe opera:6a se tornara livre esenhora dos seus pr6prios destinos.

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A CRISE ITALIANA (*)

A crise radical do regime capitalista, iniciada em Italia,assim como em todo o mundo, corn a guerra, nao foi resol-vida pelo fascismo. 0 fascismo, com o sou metodo repressivode govemo, tinba tornado diffceis, ou melhor, quase total-mente impedido as manifestagees politicas da crise geral ca-pitalista; nao assinalou, porem uma paragem data e muitomenos uma subida e urn desenvolvimento da economia na-clonal. Diz-se geralmente, e tamban nOs comnnistas costu-mamos afirma-lo, que a actual situaglo italiana 6 caracte-rizada pela ruing das classes medias: into 6 vesdade mas deveser compreendido em todo o seu significado. A rufna dasclasses medias 6 deletária porque o sistema capitalists naose desenvoive, pelo contrario, sofre uma nostricao: estano é um fenOmena em si, que possa ser examinado e parscujas consequéncias se possa prever independentemente dascondiVies gerais da econonna capitalista; 6 a propria crise doregime capitalista que ja nä° consegue e nao conseguirasatisfazer as exigancias vitals do povo italiano, que nao con-segue assegurar a grande massa dos italianos o pao e a casa.Que a crise das classes medias esteja hoje em primeiro pianoe so urn facto politico contingente, 6 s6 a forma do period°que justamente por isso chamamos g fasci.sta•. Porque? Porqueo fascismo surgiu e se desenvolveu no terreno delta crise nasua face incipiente, porque o fascismo lutou contra o prole-tariado e chegou ao poder explorando e organizando a Moons-

(*) Assinado, Antonio Gramsci, L'Ordine Nuovo, 1-9-1924.

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eiencia e o carneirismo da pequena burguesia bébeda deodio contra a classe operdria que, corn a forga da sua orga-nizagdo, conseguia atenuar os contragolpes da crise capita-lista a seu respeito.

Porque o fascismo se esgota e morre justamente porquendo cumpriu nenhuma das suas promessas, näo satisfez ne-nhuma esperanca, não suavizou nenhuma miseria. Enfraqueceu

impeto revoluciondrio do proletariado, desagregou os sin-dicatos de classe, diminuiu os saldrios e aumentou os hard-rios; mas into nä° bastava para assegurar tuna vitalidade,mesmo pequena, do sistema capitalista; era necessdrio, porisso, tambOm urn abaixamento do nivel das classes medias,a espoliagdo e a pilhagem da economia pequeno-burguesa e,portanto, a sufocagdo de todas as liberdades e ndo so dasliberdades proletdrias e, portanto, näo s6 a luta contra ospartidos °patios mas tambem, e especialmente, numa fastdeterminada, contra todos os partidos politicos nä° fascistas,contra todas as associagOes nao directammte controlarlas polofascismo oficial. Porque a que, em Italia, a crise das classesmedias teve consequencias mais radicals do qua nos outrospafses e fez nascer o fascismo, levando-o ao poder7 Porqueentre nos, dado o escasso desenvolvimento da inthistria e dado

caracter regional da prOpria indiistria, ndo s6 a pequenaburguesia é muito numerosa mas ela é tambem a 'Mica classe(I territorialmenteD nacional: a crise capitalista tinha assumidonos anos a seguir a guerra tambem a forma aguda de umaruin do Estado tuntaxio e tinha, portanto, favorecido o re-nascer de uma ideologia confusamente patrietica e nä° haviaoutra solugdo senao a fascista, depois que em 1920 a classeoperdria tinha falido a sua tarefa de criar, corn os sous ratios,um Estado capaz de satisfazer tambem as exigencias nacionaisunitarias da sociedade italiann

0 regime fascista morre porque nä° s6 nä° conseguiuparar mas contribuiu, polo contrario, para acelerar a crisedas classes medias, iniciada depois da guerra. 0 aspecto eco-nOmico desta crise (=sista na rufna da pequena e mediaempresa: o ntimero das faléncias multiplicou-se rapidamentenestes dois anos. O moaopOlio do credito, o regime fiscal

a legislag5o dos arrendamentos esmagaram a pequena em-presa comercial e industrial: uma verdadeira e prOpria pas-sagem de riqueza verificau-se da pequena e media para agrande burguesia sem destnvolvimento do aparelho de pro-

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dugdo; o pequeno produtor nem sequer se tomou proletdrio,6 apenas urn esfomeado permanence, um desesperado semprevisties para o futuro. A aplicarao da vicilencia fascistapan obrigar a poupanga a investir as sous capitais numadeterminada clirecgao nä° deu muitos frutos para os pequenosindustrials: quando teve sucesso, fez apenas saltar os efeitosda raise de tuna classe para outra, alargando o descontenta-mento e a desconfianga ja grandes entre a poupanga, dadoo monopOlio existente no campo bancdrio, agravado pelatactica dos golpes de mac, a que recorreram os grandes em-preendedores na angilstia geral pan obterem credito.

No campo, o processo da crise estd mais estritamenteligado corn a politica fiscal do Estado fascista. De 1920 at6hoje, o balango medio de uma familia de rendeiros ou depequenos proprietdrios foi agravado por urn passivo de cercade 7000 liras per aumentos de impostos, pioramento dascondigties contratuais, etc. De modo tipico se manifesta acrise da pequena empresa na Itdlia setentrional e central.No Mezzogiorno intervem novas factures, dos quais o prin-cipal e a ausOncia da e-migragdo e o consequente aumentoda pressão demogrAfica; a isto se junta uma diminuicdo dasuperficie cultivada e, portanto, da colheita. A colheita detrigo foi, o ano passaclo, de 68 milhOes de quintals em todaa Itdlia, isto e, A escala nacional foi superior a media masfoi inferior a media no Mezzogiorno. Este ano a colheitafoi inferior a media cm toda a Italia, faliu completamenteno Mezzogiorno. As consequencias de uma tat situngrionä° se manifestaram ainda de mode violento porque existiamno Mezzogiorno condigOes de economia atrasadas, as quaisimpedem qua a crise se revele imediatamente de modo pro-fundo, coma acontece nos pafses de capitalism° avangado;todavia, jd se verificaram na Sardenha episedios graves dedescontentamento popular, determinado pelas dificuldadesecon6micas.

A crise geral do sistema capitalista nä° foi, portanto, pa-rada polo regime fascista. No regime fascista, diminuiramas possibilidade de existancia do povo italiano. Verificou-seuma restrieão do aparelho produtivo precisamente ao mesmotempo em que aumentava a pressão demogrdfica pelas difi-culdades da emigragdo transoceanica. 0 aparelho industrials6 Ode salvar-se da completa ruina per urn abaixamento

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do nivel de vida da clacce operaria, pressionada pela dimi-nuicdo dos salarios, pelo aumento do dia de trahalho, peloaumento dos pregos: isto determinou uma emigragäo de ope-rarios qualificados, isto 6, um empobrecimento das forgasprodutivas humanas que cram uma das maiores riquezasnacionais. As classes medias, que tinham posto no regimefascista todas as suns esperancas, foram arrastadas pela crisegeral, ou melhor, tomaram-se precisamente a expressio dacrise capitalista neste periodo.

Estes elementos, rapidamente considerados, servem ape-nas para recordar todo o alcance da situagao actual que adotem em si prOpria nenhuma virtude de saneamento econo-mico. A arise econOmica italiana so pode ser resolvida peloproletariado. SO inserindo-se auma revolucdo europeia • enun/dial, o povo italiano pock reconquistar a capacidade defazer valer as suns forgas produtivas humans e voltar a de-senvolver o aparelho nacional de produgdo. 0 fascismo s6retardou a revolugão proletaria, nab a tomou impossivel:contribuiu ate parra alargar e aprofundar o terreno da revo-lucdo proletaria, que depois da experiencia fascista sera ver-dadeirameate popular.

A desagregagdo social e politica do regime fascista tevea sua primeira manifestagào de massas nas eleigOes de 6 deAbril. 0 fascismo foi posto nitidamente em minoria na zonaindustrial italiana, isto 6, onde reside a forga econ6mica epolitica que domina a 'tack, e o Estado. As eleigOes de6 de Abril, tendo mostrado como era s6 aparente a estabi-lidade do regime, encorajaram as massas, determinaram urncerto movimento no seu interior, assinalaram o inicio daquelaonda democratica que culminou nos dias imediatamente su-cessivos ao assacsinio de Matteotti e que ainda hoje carac-teriza a situacao. As oposicOes tinham conquistado, depoisdas eleigeks, uma imporancia politica enorme; a agitagdo poralas conduzida nos jomais e no Parlamento, para discutir enegar a legitimidade do govemo fascista, operava patente-mente para dissolver todos os organismos do Estado centre-lados e dominados pelo fascismo, repercutia-se no interiordo prOprio Partido Nacional Fascista, fragmentava a malariaparlamentar. Por isso a inaudita campanha de ameagas contraas aposicOes e o assassinio do deputado unitario. A ondade desdem suscitada pelo delito surpreendeu o Particle fas-

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cista que estremeceu de piinico e se perdeu: os tres do-cumentos escritos naquele minuto angustioso por Finzi, Filip-pelli e Cesario Rossi e dados a conheoer as oposigOes C),demonstram como as prOprias cUpulas do Particle tinhampordido a confianga e acumulavam erros sabre erros: a partirdaquele memento o regime fascista entrou em agonia; 6 sus-tido ainda pelas chamadas forgas apoiadoras mas 6 sustidotal come a ocirda sustem o enforcado.

0 delito Matteotti deu a prova provada de que o Partidofascista nunca conseguira tornar-se num normal partido degoverno, que Mussolini so possui do estadista e do ditadoralgumas pitorescas poses exteriores: ele labin 6 um element°da vida nacional, 6 urn fenOmeto de folclare nacional desti-nado a pa s.sar a histOria mais na ordem das diversas mascarasprovincianas italianas do que na ordem dos Cromwell, dosBolivar, dos Garibaldi.

A onda popular antifascista provocada pelo delito Mat-teotti encontrou uma forma politica na retiracla da sedeparlamentar dos particles de oposig5o. A assembleia das opo-sgOes tornou-se, de facto, um centro politico nacional a voltado qual se organizou a malaria do pats: a crise deflagrada nocampo sentimental e moral conquistou, assim, urn destacadocaracter institutional; urn Estado foi criado no Estado, urngovemo antifascista contra o govern fascista. 0 Partidofascista foi impotente para travar a situagão: a crise tinha-oinvestido em cheio, devastando as fileiras da sua organizacAo;a primeira tentativa de rnobilizagao da Milicia Nacional faliuem cheio, respondendo ao apelo s6 20 por certo; em Roma,s6 800 milicianos se apresentaram nos quarrels. A mobili-zagdo teve resultados relevantes s6 em poucas provinciasagrarias, come Grosseto e Perugia, permitindo assim quecaissem em Roma algumas legiOes decidiclas a enfrentar umaluta sangrenta.

As oposigeks sae ainda o fulcra do movimento popularantifascista; representam politicamente a onda de democraciaque e caracteristica da fase actual da crise social italianaPara as oposigOes se tinha orientado, no infcio, também a

(I) Sao os 'memorials, escritos pelos principals indiciados comomandatários ou camplices do assasstnio.

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opinido da grande maioria do proletariado. Era nosso dever,como comunistas, procurar impedir que um tal estado decoisas se consolidasse permanente.mente. per isso o nossogrupo parlamentar entrou para o comith das oposigOes, acei-tando e ponto eta relevo o caracter essencial que a crisepolitica assumia corn a existencia de dois poderes, de doisParlamentos. Se tivessem querido cumprir o seu clever, talcome era indicado pelas MP ss s em movimento, as oposiciiesdeveriam dar uma forma politica definida ao estado decoisas objectivamente existents, mess recusaram-se. Teria sidenecessfirto lancar um apelo ao proletariado, que 6 o anicocapaz de substanciar um regime democrata, teria side neees-sario aprofundar o movimento exponianee de graves que seandava delineando. As oposiedes tiveram medo de seremsuperadas per uma possivel insurreigdo operaria: por issoquiseram sair do terreno puramente parlamentar nas questaespoliticas e do terreno do process° pelo assassfnio de Mat-teotti na campanha pars manter desperta a agitacdo no pais.Os comunistas, que ado podiam aceitar uma desconfiancade principio contra a acche proletiria, clue gado podiamaceitar a fm-ma em bloco dos parades, dada pale cornité dasoposigifies, foram postos a proves

A nossa participacdo no comitd, num primeiro memento,a nossa saida depois, teve come consequencia.:

1) Permaiu-nos superar a fase mais aguda da crise semperder o contacto com as grandes massas traba1hadoras; per-manecendo isolado o nosso Parade teria sido superado pelaonda democrdtica;

2) Despedacamos o monopOlio da opinido pablica queas oposigees ameacavam instaurar: uma pane cada vezmaim da classe trabalhadora vai ccevencendo-se que o blocodas oposiceies representa um semifascismo que quer reformar,suavizando-a, a ditadura fascista, sem faze perder ao sistemacapitalista nenhum dos beneficios que o terror e o ilegalismothe asseguraram nos altimos anos, com o abaixamento donivel de vida do povo italiano.

A situacdo objectiva, dois mesas passados, tido mudou.Existem ainda, de facto, dois governos no pais qua lutam umcontra o outro para discutir as fore-as rears da organizacdoestatal burguesa. 0 kite da luta dependera dos reflexos quea crise geral exercer no interne do Partido Nacional Fascista,

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da atitude definitiva dos partidos que constituem o bloco dasoposicks, da accdo do proletariado mvoluciondrio guiadopelo nosso Partido.

Em que consiste a crise do fascismo? Para a compreegaderdiz-se que ocorre prianeiro • E. g . a essência dos fascismo masa verdade 6 que ado existe uma essencia do fascismo no pro-prio fascism°. A essénoia do fascismo era dada nos anos22 e 23 per um determinado sistema des relagOes de forceexistentes na sociedade italiana: hoje este sistema =donprofundamente e a ressencian eva.parou-se um tanto. 0 factocaracteristico do fascismo consiste em ter conseguido cons-tituir uma organizagdo de massas da pequena burguesia.

a primeira vez na histeria que isto se verifica. A origins-lidade do fascismo consiste em ter encontrado a forma ade-cicada de organizagdo para uma &sae social que foi sempreincapaz de ter tuna estrutura a uma ideologia unitaria: estaforma de organizacdo 6 o exercito ern campo. A Milicia 6,portanto, todo o eixo do Partido Nacional Fascista: tido sepock dissolver a Milicia sem dissolver tambem todo o par-tido Ndo existe um particle fascista qua mude em qualidadea quantidade, que seja urn aparelho de selecgdo politica deuma classe ou de urn grupo: existe apenas urn agregadomecdnico indiferenciado e indiferencidvel do ponto de vistadas capacidades intelectuais e politicas, que viva apenas porqueconquistou na guenra civil urn fortissimo espirito de corpo,grosseiramente identificado com a ideologia national. Forado terreno da organizacdo militar, o fascismo nab deu a ndopode dar nada, a ate neste terreno o que pock dar 6 muitorelative.

Assiut composto pelas circunstincias, o fascismo ado 6capaz de oanseguir nenhuma das suas premissas ideolOgicas.0 fascismo diz querer conquistar hoje o Estado; ao mesmotempo diz querer tornar-se urn fel:Omega° prevalentementerural. Como as duas afirmaciies possam estar juntas, 6 dificilcompre-ender. Pam conquistar o Estado, ocorre set : capaz desubstituir a classe dominante nas fu.acdes que tear uma im-portkcia essential para o govern da sociedade. Em Italia,come em todos os paises capitalistas, canquistar o Estadosignifica, acima de tudo, conquistar a fdbrica, sigaifica ter acapacidade de superar os capitalistas no govern das forcasprodutivas do pais. Isto pale set: feito pela classe operdria,

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nao pale ser feito pela pequena burguesia que nao tern ne-nnuma funcao essencial no campo produtivo, que na fabrica,como categoria industrial, exerce uma funcão prevalente-mente policial, nao produtiva. A pequena burguesia so podeconquistar o Estado aliando-se a classe operdria, aceitando

programa da classe operiria. Sterna sovietico ern higsr deParlamento na organizaglo estatal, comunismo e no capi-talism° na organizagdo da economia national e internacional.

A fOrmula wanquista do Estado. 6 vazia de sentido naboca dos fascistas ou tem um tinico significado: exciogitacnode urn mecanismo eleitoral que de sempre a maioria parla-mentar aos fascistas e a todo o custo. A verdade é que todaa ideologia fascista 6 um brinquedo para os

lit A limaimprovisagao diletante que, no passado, coin a situaCao favo-ravel, podia iludir os gregnrios mas hoje esta destinada a cairno ridlculo junto dos preprios fascistas. Residua activo defascismo 6 apengs o espirito militar de corpo, cimentadopolo perigo de desencadeamento de vinganca popular: a crisepolitica da pequena burguesia, a passagem da grande maioriadelta clacce para a bandeira das oposicOes e a falencia dasmedidas gerais anunciadas pelos chefes fascistas podem re-duzir notavelmente a eficiencia militar do fasoismo, nao podemanuld-la

0 sistema d.s fcircas democrâticas antifascistas extrai asua major forca da existencia do canine parlamentar dasoposiceies que consegulu impor uma certa disciplina a todauma gama de partidos que vai do mardmalista ao popular.Que maximalistas e populaces obedegam a ulna mesma dis-ciplina e trabalhem no mesmo piano programätico, eis otrace mais caracterfstico da situacno. Este facto toma lento

fatigante o processo de desenvolvimento dos accmtecimentosdetermina a tactica do complexo das oposiciks, Mctica de

expectativa, de lentas manobras envolventes, de paciente es-migalhar de tots as posigOes do govern fascista. Os maxi-malistas, corn a sua participagao no comitd e corn a aceitacAoda disciplina comum, garantem a passividade do proletariado,asseguram a burguesia ainda existents entre fascismo e de-mocracia que uma accao autOnoma da classe oper earia s6sera possfvel muito Innis tarde, quando o novo govemo forjá constituido e reforcado panda um now govemo estiverem condigiies de esmagar nma insurreiclo das massas desi-

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ludidas, quer do fascismo quer do antifggeismo democritico.A preseinga dos populares garante uma solugdo interrnedia

fascista-popular como a de Outubro de 1922, quo se tor-naria muito provnvel, porque imposta pelo Vatican, no casode uma safda dos maximalistas do blow e de limn sua aliancaconnosco.

0 esforco major dos partidos intermedios (reformistas econstitucionais), ajudados pelos populares de esquerda, foidirigido ate agora corn este objectivo: master na mesma es-trutura os dois extremos. 0 espirito servil dos maximalistasadaptou-se a parte do parvo na comalia: os maximalistas acei-tanam vales nas oposicaes quanto o Partido dos oaanponesesou os grupos de Revalued° Liberal.

As maiores forgas são levadas As oposiceies pelos popu-lares e pelos reformistas que tem largo seguito nas cidades

no carapo. A influencia destes dois partidos 6 integradapelos constitucionais gamendolianos. quo trazem ao bloco aadesao de largos estratos do exercito, do movimento doscombatentes, da carte. A divisäo do trabalho de agitacáoverifica-se entre os varies partidos segundo a sua tradiclo

a sua taref a social Os constitucionais, uma vez quo atectica do bloco tende a isolar o fascismo, tern a direccaopolitica do movimento. Os populares conduzem a campanhamoral com base no processo e nas suas concgtenacCies com

regime fascista, com a c,orrupernO a com a criminalidadeflorescidas a volta do regime. Os reformistas resumem estasduas posicOes e nao däo nas vistas para fazer esquecer o seupassado demagOgico, para fazer acreditar que as redimiram

que sao unha corn came com Amendola e com o senadorAlbertini.

0 comportamento compacto e unitario das oposicties re-gistou sucessos notaveis: sem clUvida que 6 um sucesso terprovocado a crise do aapoio extemo., isto 6, ter obrigadoos liberais a diferendarem-se activamente do fascismo e apOr-lhe condicifies. Lsto já teve repercusseies, e mais torn aseguir, no intern do prOprio fascismo e criou um dualismoentre o Partido fascista e a org,anizacdo central do movi-mento dos combatentes. Mas mudou ainda mais para adireita o panto de equilibrio do bloco das oposicOes, istoacentuou o carácter conservador do antifascismo: os maxi-malistas nao se deram costa disso, os maximalistas estdo dis-

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lit

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postos a ser o exereito de cor (*), nao so de Amendola e deAlbertini mas tambem de Salandra e da Cadorna.

Como se resolvera este dualism° de poderes? Verificar--se-a um compromisso entre o fascismo e as oposigfies?E se o compromisso nao for possivel, teremos 11M2 lutaarmada?

0 compromisso nao 6 de excluir absolutamente; 6, porem,muito improvavel. A crise que atravessa o pats nao 6 umfenOmeno superficial, sandvel corn pequenas medidas e pe-quenos expedientes: é a crise histOrica da sociedade capi-talista italiana cujo sistema econOmico se mostra insufi-ciente para as necessidades da populacao. Trans as relacEessera exasperadas: grandes masters da populacao esperam coisadiferente do que urn pequeno compromisso. Se into se yeti-ficasse, significaria o suicidio dos maiores partidos democra-ticos; como problema principal da vida national pOr-se-iaimediatamente a insurreicao armada con fins mais radicais.0 fascismo, pela natureza da sus organizacao, nao suportacolaboradores corn paridade de direito, quer apenas servosacorrentados: nab pode existir uma assembleia representa-tiva em regime fascista cads assembleia torna-se imediata-mente urn bivaque de tinanipoli p (**) ou a antecamara deum prostibulo para oficiais subaltemos avinhados. A cr6nicaquitidiana regista, par isso, s6 urn suceder de episedios poli-ticos que denotam a desagregagao do sistema fascista, a sepa-raga° lenta mas inexoravel do sistema fascista de todas asforcas perifericas.

Tera lugar, portanto, urn choque armado? Uma luta emgrande estilo sera evitada, quer pel as oposigOes quer pelofascismo. Sucederd o fenOmeno inverso ao de Outubro de1922: entao a marcha sabre Roma foi a parada coreograficade urn processo molecular pelo qual as forcas reais do Estadoburgues (exercito, magistratura, policia, jornais, Vaticano, ma-conarfa, carte, etc.), se tinhani passado para a parte do fas-cismo. Se o fascismo quisesse resistir, seria destruido nunslonga guerra civil na qual nao poderiam deixar de tomar parteo proletariado e os cqmpaneses. OposigOes e fascismo nao

(•) Trata-se dos soldados de cot (etfopes) alinhados pelana guerra da EtiOpia. —(N. do T.)

(") rManipolos: priori° da militia fascista.— (N. do T.)

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desejam e evitarao sistematicamente que uma luta a seri° serealize. 0 fascismo tendera, pelo contrario, a con.servar umabase de organizacao armada pronta a entrar em campo malse perfile lima nova onda revoluciondria, o que ester lunge dedesagradar aos Amendola e aos Albertini e tambem aosThrall e aos Treves.

0 drama tell lugar em data fixa, con toda a probabi-lidade ester predisposto pars o dia em que deverfi reabrira Camara dos deputados. A coreografia militarista de Ou-tubro de 1922 sucederd uma mais sonora coreografia demo-oratica. Se as oposicaes nao reentrarem no Parlamento e osfascistas, coma vao dizendo, oonvocarem a maioria comaConstituinte fascists, teremos uma reuniao das oposigiks euma aparencia de luta entre as duas assembleias.

possivel, porem, que a soludo se verifique na prOpriasede parlamentar, onde as oposicOes entrarao no caso muitoprovavel de uma cisao da maioria pela qual o govern deMussolini seja posto nitidamente em minoria. Teremos, nestecaso, a formagao de um govern° proviserio de generais, sena-dotes e ex-presidentes do Conselho, a dissolucao da Camarae o estado de sitio.

0 terreno sabre o qual a crise se desenvolveri continuaraa ser o processo do assassinio Matteotti. Teremos entlio frasesagudamente dramelicas a propOsito quando forem tornadospUblioos os ties documentos de Finzi, de Filippelli, de Rossie as mais alms personalidades do regime forem arrastadaspela paixao popular. Todas as forcas reais do Estado, e es-pecialmente as forcas armadas, a volta das quail ja se comecaa discutir, deverao colocar-se definitivamente de um lado oudo outro, impondo a soludo ja delineada e acordada.

Qual deve ser o comportment° politico e a tactics donosso Partido na situagao actual? A situacao 6 democrietics) porque as grandes massas trabalhadoras estao desor-ganizadas disperses, pulverizadas no povo indistinto. Qua('quer que possa ser, par isso, o desenvolvimento imediatoda crise, n6s s6 podemos prever uma melhoria na posidopolitics da classe operaria, nao urns sus luta vitoriosa polopoder. A tarefa essential do nosso Partido consiste na eon-quista da malaria da classe trabalhadora, a fase que (gra-vessamos nao 6 a da luta directs pelo poder mas uma lasepreparat6ria, de transido pars a luta pelo poder. em SUMouma fase de agitado, de propaganda, de organizaglio. 1st°

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naturalmente nao exclui que se possam verificar lutas cruentasque o nosso Partido nao deva preparar-se imediatamenteestar pronto para einfrentd-las, muito pelo contrarie: mas

estas lutes devem tambem ser vistas no quadro da fase detransicao, come elementos de propaganda e de agitagao paraa ccmquista da maioria. Se existem no nosso Particle grupos

tondencias que queiram, per fanatismo, forgar a situacalo,ocorrerd lutar contra eles em nome de todo o Partido, dosinteresses vitals e permanentes da revolucâo proletdria italiana.A crise Matteotti ofereceu-nos muitas ligOes a este propOsito.Fasinou-nos que as massas, depois de tras anos de terror

de opressao, se tornaram muito prudentes e ado queremdar urn passe mais comprido do que a peama. Esta prudenciachama-se reformismo, chama-se inaximalismo, chama-se ablocedas oposiebesn. Este. certamente destinada a desaparecer e atenum periodo de tempo ride long° • inn s entretanto existe e sopode ser superada se, gradualmente, em cada ocasiao, emcada memento, embora marchando em innate, nao perdermos

contacto corn o conjunto da classe trabalhadora. Assimdevemos lutar contra todas as tendencias de clireita que pre-tendessem urn compromisso coin as oposicOes, que tentassemimpedir os desenvolvimentos revoluciondrios da nossa tdotira

o trabalho de preparacdo para a fase sucessiva.A primeira tarefa do nosso Partido consiste em apetre-

char-se de mode a tornar-se ideate° pain a sua missao his-terica. Em cada fabrica e em oath aldeia deve existir umacelula conumista que represente o Particle e a International,que saiba trabalhar politicamente, que tenha iniciativa. E pre-ciso, per isso lutar contra uma certa passividade que existeainda nos nossas linhas, contra a tendencia para estreitar asfileiras do Partido. Devemos, pelo contririo, tornarmo-nosnum grande partido, devemos procurar atrair as nossas orga-nizac5es o maior ntImero passive] de apathies a camponesesrevoluciondrios, para os educar para a luta, para formarorganizadores e dirigentes de massas, para os elevar politi-camente. 0 Estado operatic) e campones s6 pode ser cons-truido at a revalued() dispuser de muitos elementos qualifi-cados politicamente: a luta pelo revolucao so pode scar con-duzida vitoriosamente se as grandes massas estiverem emtodas as suas formag5es locals, enquadradas e guiadas percamararbs honestos e capa7rs. De outro mode volta-se de-vans, come gritam os macciondrios, a 1919-20, isto 6, aos

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anos de impot6ncia proletaria, aos anos da demagogia ma-ximalista, aos anos da derrota das cla sses trabalhadoms.E, nos comunistas, nab queremos tornar a 1919-20.

Urn grande trabalho deve ser executado polo Particle nocampo sindical. Sem grandes organizacOes sindicais nab sesal da democracia parlameatar. Os reformistas poclem quererpequenos sindicatos, set podem tentar formar corporaciaes deoperdries qualificados. Nos, comnnistas, queremos o con-trdrio dos reformistas e devemos lutar pain reorganizer asgrandes massas Decerto que 6 preciso pOr o problema con-cretamente e nao s6 como farina. As ma ssas abandonaram

sindicato porque a Confederagao Geral do Trabalho, emboratenha uma grande eficiencia politica (6, nada menos, do que

Partido unitdrio), nao se interessa pelos interesses vitalsdas massas. Nero podemos proper-nos a criacao de urn novoorganismo que tenha per objective suprir a aus6ncia da Con-federagdo: podemos, porem, e devemos propor-nos o problemade desenvolver, através das celulas de fabrica e de aldeia, umareal actividade. 0 Partido Comunista representa a totalidadedos interesses e das aspiraciies da classe trabalhadora: naosomos urn pure partido parlamentar. 0 nosso Partido desen-volve, portanto, uma verdadeira e prOpria accao sindical,pee-sea eabega this massas mesmo nas pequenos lutas quoti-dianas para o saldrio, para a jornada de trabalho, para adisciplina industrial, para a casa, para o p5o. As nossascólulas devem impelir as Comiss5es Interns para que seincorporem no seu funcionamento todas as actividades prole-tarias. Ocorre per isso suscitar urn largo movimento nasfdbricas que possa desenvolver-se ate dar lugar a uma orga-nizacao de comites proletdrios de cidade, eleitos directa-mente pelas massas, os quais se tornem, na crise social quese perfila, a defesa dos interesses gerais de tale o povo tra-balhador. Esta accao real na fdbrica e na aldeia revalorizard

sindicato, voltando a dar-lhe um contedde e tuna eficienciase paralelamente se verificar o regresso a organizacdo detodos os elementos de vanguarda, para a luta contra os diri-gentes actuais, reformistas e maximalistas. Quern se afastados sindioatos a hoje urn aliado dos reformistas, nao ummilitante revoluciondrio: poderd usar uma fraseologia anat.-quizante, nao mudard uma Inaba das ferreas condigOes emque se desenvolve a luta real.

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A medida em qua o nosso Partido, no sau conjunto, isto é,toda a massa dos insaitos, conseguir desenvolver a sua tarefaessential de conquista da maioria dos trabalhadores a detransformacao molecular das bases do Estado democratic°sera a medida dos flosses progressos no e2minho da mvo-lugao e cense-wird a passagem a uma fase sucessiva de desen-volvimento. Todo o Partido, em todos os seus organismos masespecialmente corn a Imprensa deve trabalhar unitmiamentepara obter o maxima rendimento do trabalho de cada um.Hoje estamos alinhados na luta geral contra o regime fas-cista. As estultas campanhas dos jornais das oposieOes res-pondemos mostrando a nossa real vontade de abater, naoo fascismo de Mussolini e Farinacci inns tambem o semi-fascism° de Amendola, Sturzo a Turati. Pam obter istoocorre reorganizar as grandes massas e pssssr a ser umgrande partido, o tinico partido no qual a populagao traba-Ihadora veja a expressao da sua vontade politica, a defesados seas interesses imecliatos a permanentes na histOria.

A QUEDA DO FASCISMO (•)

Primeiro: ha um problems politico contingente, como sederruba o ministers presidido per Benito Mussolini. As opo-sig6es burguesss, as quais puseram este problema no modomail restrito possivel pensando ter assim uma tarefa maisHeil a desobrigar, estao-se debatendo, a partir do mes deJunho, num beco sem saida. Pensar, de facto, reduzir a arisedo ministers Mussolini a uma vulgar arise ministerial 6coisa absurda. Antes de mail, ha a Milicia que s6 obedecea Mussolini e o poe absolutamente fora do terreno de umamanobra politica normal. Para superar o obstaculo da Mllicia,lutou-se por muitos nieces urns num terreno inadequado.Trabalhou-se o exercito, descobriu-se o roi. Mas no fimvoltou-se ao ponto de partida. Mussolini nao se vas embara.Mesmo dada que corn a Milicia se podean fazer as contassem gastar muito, mal a questao da eliminacao de Mussolinido govern for pasta de modo concreto, urn problema nä.°se mais grave mac de catheter ainda mai< decisivo se apre-senta: quern se ocupara do processo Matteotti? Um governde Mussolini nä° pode autorizar o processo Matteotti. Os mo-tivos sao conhecidos. Mas Mussolini nao pode sequer ix-seembora a nao se ha ate estar seguro de que o processo naose faro, nem por ele nem por ninguem. Tambem aqui osmotivos sao conhecidos de todos. Nao organizar o processo(e nao organizar o processo significa libertar, cedo ou tarde

(•) Nap assinado, L'Ordine Nuovo), 15-11-1924, rubrica gCro-nache politiches.

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e talvez mais cedo que tarde, os actuais imputados) significa,pothm, it ao encontro de uma insurreiceo da °plaid° ptiblica,signifies per o govern a mecca de qualquer chantagista epassador de documentos reservados e ficarmos rigidos sobreo fio de uma espada. Nao organizar o processo significa deixartuna ferida sempre aberta, can a possibilidade de tuna cope-siceo moral. ben mais importante e eficaz, em detenninadasocasiOes, do que qualquer oposigdo politica. Om que a bur-guesia, em cicada. sua fraccdo, esteja disposta a nee- falarmais nem do delito nem do processo, corn a condiceo de darestabilidade ao seu regime, 6 coisa que nao se pee em chivida.Pao contrario, diz-se que o tema je foi desenvolviclo emramido das aposicOes Mas 6 igualmente verdade que acampanha sobre o delito a para o processo nao pode serdeixada em heranga a grupos antiburgueses, por exemplo aurn partido proleterio. Abafar as coisas nä° significaria, defacto, obter que 39 milhdes de italianos se esquecem. Nenhumanovidade, pois, por vies normais. A politica do fascismo e daburguesia reaccionaria entbaragou-se —no dia em que a epi-nide piiblica se insurge unanimemente pelo delito Matteotti eMussolini foi arrastado per esta insurreicao ate executar algunsmovimeatos que deviam ter e terdo consequencias incalculk-veis — num obstaculo irremovfvel. Per alguma coisa de se-rnelhante e de muito menos grave, no tempo do processoDreyfus, a seeieclade e o Estado francs foram levados ao"mite de uma revoluceo. Estava porem em jogo, diz-se,alguma coisa de mons profundo do que uma questdo moral,estava em jogo urn problana de rotacdo de classes e cate-gorirts sociais no govemo. Mas tambkm em Italia, e corn asde.vicias agravantes, 6 assim.

E va.mos, pois, ao segundo aspecto do problema, so pro-blem substantial, lido do ministerio Mussolini, ou da Milicia,ou do processo e coisas semelhantes, mas do regime de quea burguesia se serviu para despedacer as forces do movimentoproittarici. Este segundo aspect() 6, para todos nos, o essential,nits esti indivisivelmente ligado ao primeiro. Mais ainda,trades es dilemas, incertezas e dific-uldades que tomam irapos-sive., a previsão de tuna solucdo de catheter limitado, cometem en mente as oposicees e todos os burgueses, sae urnstztetto. . contrastes substanciais profundissimos. Na basedo tow o pre:Trio problema do fascismo, movimento que

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a burguesia considerava simples (instrumento. de retrace.°ass suns maos e que, pelo contrario uma vez evocado e dcsen-cadeado, 6 pier do que o diabo e nao se deixa dominar masavanca por sua conta. 0 asiisssirtio de Matteotti, do pontode vista da defesa do regime, foi um profundissimo erre.0 trasstuato. do processo, que ninguan consegue liquidar demodo honest°, é tuna ferida tal no flanco do regime queneuhum movimento revolucionirio, em Junho de 1924, seriacapaz de abrir. De recto, nao é mais do que a expressao e aconse,quencia directa da tendencia do fascismo em nao atapresentar como simples ((instrumento. da burguesia mas ernproceder, na serie das apressiks, this violencias, dos delitos,segundo lima sua logics interns, que acaba per nao ter emconta a oonservaceo do regime actual.

E é este Ultimo ponto o que tabs devemos examiner ejulgar mais atentamente, pars ter urn fio condutor na reso-lugdo do problema que estamos a discutir. A tendencia dofascismo, que procurimos caracterizar, despedace a alterna-tiva normal de periodos de reaccdo e periodos de iidc-mo-Gracia. de modo que a primeira vista pock parecer favoravela conservaceo de lima linha reaccionaria e a uma mais rigidadefesa do regime capitalista mas, as realidade, pode resol-ver-se no contrario. Existem, de facto, elementos que influemna situaceo de mode decididamente contrario a qualquerpiano de conservaedo do regime burgues e da ordem capita-lista. Existe a arise econemica, existe a dificuldade das grandesmassas, existe a exasperaceo provocada pela compressdo fas-cista e policial. Existe tuna tal situaceo qua, enquanto oscentres politicos da burguesia nao conseguem coneluir assuns manobras de salvacdo, torn encla vez mais possivela intervencdo no campo das forces da classe trabalhaderae o dilema fascismo-clemocracia Wade a converter-se no outro:fascismo-insurreicao proletatia.

0 facto pode ser traduzido tambem em termos muitoconcretes. Em Junho, imediatamente depois do delito Mat-teotti, o golpe sofrido pelo regime foi tao forte que umaintervened° imediata de uma forca revolucioneria ter-lhe-iaposte em pesigo a some. A intervenedo nao foi pessivelporque, na maioria, as massas eram: ou incapazes de se mo-verem ou entdo orientadas para soluedes intermedias, soba Militia dos democratas e dos sociais-democratas. Seis me-

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ses de incerteza e de crise sem possibilidade de saida actle-raram inexoravelmente o processo de separacdo das inassertdos grupos burgueses, de adesdo ao partido e As teses revo-luciondrias. A liquidised° completa da posicao das oposigdes,que calla dia parece mais certa, dara a este prooesso urnimpulso definitivo: entä°, tambern perante as Magsls, o pro-blema da queda, do fascismo se apresentard nos seus verda-deiros termos.

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