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ROSEMARY DE OLIVEIRA KASPARY GESTÃO DEMOCRÁTICA: DA AÇÃO BUROCRÁTICA PARA A AÇÃO PARTICIPATIVA CANOAS, 2007.

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ROSEMARY DE OLIVEIRA KASPARY

GESTÃO DEMOCRÁTICA: DA AÇÃO BUROCRÁTICA PARA A AÇÃO PARTICIPATIVA

CANOAS, 2007.

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ROSEMARY DE OLIVEIRA KASPARY

GESTÃO DEMOCRÁTICA: DA AÇÃO BUROCRÁTICA PARA A AÇÃO PARTICIPATIVA

Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Supervisão do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como requisito parcial para a obtenção do Grau de especialista em Supervisão.

Profª. Orientadora: Ms. Claudia Acosta Alves.

Canoas, 2007.

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TERMO DE APROVAÇÃO

ROSEMARY DE OLIVEIRA KASPARY

GESTÃO DEMOCRÁTICA: DA AÇÃO BUROCRÁTICA PARA A AÇÃO PARTICIPATIVA

Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Supervisão do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como requisito parcial para a obtenção do Grau de especialista em Supervisão, pela avaliadora:

_____________________________________________________

Profª. Ms. Claudia Acosta Alves.

Canoas, dezembro de 2007.

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DEDICATÓRIADEDICATÓRIADEDICATÓRIADEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho ao meu filho Lucas Felipe Kaspary que, neste período de sua vida, teve a paciência de esperar pelo carinho, que eu deixei de lhe oferecer.

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AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe Eva Rosa, que se dispôs a ajudar-me durante este ano de conclusão desta especialização.

À minha orientadora Claudia Alves que me apoiou na continuidade deste trabalho para finaliza-lo neste ano.

Ao meu esposo Paulo Roberto que apesar de estar longe, não deixou de me impulsionar.

Aos alunos que passaram pela minha gestão, confirmando que administrar com afeto é possível.

A Deus, por sua magnitude e bondade com aqueles que, às vezes, esquecem de agradecer.

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RESUMO

O presente trabalho apresenta a identidade do gestor escolar como líder e as formas de conduzir uma liderança democrática na educação contemporânea. Na perspectiva atual, o gestor tem a missão de administrar de forma diferenciada do passado, onde a autoridade era sinônimo de poder. Hoje se busca uma ação democrática, gerando autonomia, onde o sujeito não obedece, participa. O gestor-líder necessita estar comprometido em articular ações que envolvam os sujeitos pertencentes ao seu contexto sócio-cultural, transformando a visão formal de seu cargo e desempenhar uma atitude participativa. Palavras-chave: Gestão – Participação – Democrática – Liderança.

ABSTRACT

This paper presents the identity of the school mananger as a leader and how conduct a democratic, leadership in education issues. In view current, the mananger has the task of administering so different from the past, where the authority was synonymous of power. Today is seeking an action democratic, generating autonomy, where the subject does not comply, to participate. O manager-leader need to be committed to joint action involving the subject belonging to his cultural society context, transforming the vision of its formal position and play an attitude participatory. Key-words: Management – Participation – Democratic - leadership

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8 2 LIDERANÇA ........................................ ..................................................................10 2.1 Líder ....................................................................................................................10 2.2 Autoridade do Líder.............................................................................................11 2.3 Estilos de Liderança........................... ...............................................................12 3 O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO ........................ ...................................................14 3.1 Administração e Gestão: Alguns Conceitos ........................................................16 3.2 A Caminhada da Gestão .....................................................................................18 3.3 O Papel do Gestor...............................................................................................20 3.4 Gestor Escolar: O Líder?.....................................................................................24 4 A GESTÃO PARTICIPATIVA ........................... .....................................................26 5 ALGUNS PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO .... ...................29 6 A ESCOLA E SUA FUNÇÃO EDUCACIONAL ................ .....................................31 6.1 Democratizando as Relações da Escola.............................................................34 6.2 O Planejamento Participativo ..............................................................................40 7 CONCLUSÃO ........................................ ................................................................44 REFERÊNCIAS.........................................................................................................45

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1 INTRODUÇÃO

Administrar a escola na contemporaneidade é mais que um compromisso

democrático. Significa estimular a participação interativa e cooperativa da

comunidade escolar num todo, respeitando seu contexto, tornando este espaço

mais acolhedor, afetivo, prazeroso, fortalecendo as ações das pessoas envolvidas

e dividindo as responsabilidades para que todos se sintam co-participantes no

processo de gestão, planejamento, avaliação e tomada de decisões dos resultados.

A gestão democrática deve envolver, de forma coletiva, a construção das propostas

pedagógicas da educação, de acordo com o contexto e objetivos em que

determinados sujeitos estão inseridos.

Por acreditar que é possível administrar democraticamente a escola, por

meio da valorização do ser, do afeto e senso de alteridade recíproca, sem

comprometer a qualidade, considerar que podemos interferir positivamente nas

relações interpessoais, criando um ambiente saudável para construir a formação do

sujeito autônomo e criativo, por meio da sua participação como um todo.

Quando os alunos sentem-se, verdadeiramente, integrados nos projetos

desenvolvidos com seu professor, e não apenas meros ouvintes, seu

comportamento torna-se mais disciplinado, pois o interesse por assuntos

motivadores os mantém atentos, curiosos e envolvidos no processo educativo. A

cumplicidade positiva, transforma a relação professor-aluno harmoniosa e o

respeito ao direito de todos torna-se o princípio básico da convivência democrática.

Este aprendizado da relação social, se iniciado nos primeiros anos da escola, tende

a prosseguir ao longo da vida, já que o cidadão exercitará, no dia-a-dia, sua

inserção social futura.

Para a gestão democrática efetivar-se com sucesso é necessária uma

direção aberta às novas tendências de participação coletiva. Esse processo

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alcançará um patamar superior àquela administração burocrática e centralizadora.

Estimulará os participantes no processo de construção dos aspectos pedagógicos,

financeiros e administrativos, visando a qualidade no ensino.

Realizou-se este estudo, buscando elucidar as questões referentes à gestão

escolar numa perspectiva democrática. O texto aborda conceitos a administração e

sua trajetória na história da humanidade. Descreve a diferença entre ser “chefe” e

ser “Líder”, os estilos de liderança e a própria autoridade do Líder.

O estudo bibliográfico demonstra, por meio dos vários autores, as definições

sobre o cargo de chefia e as diferentes atitudes de seus métodos de gerenciar

determinado grupo de pessoas.

Identifica as legislações que orientam a gestão democrática na educação,

assim como o direito à escola para todos.

Faz uma comparação entre administrar educação e empresa, considerando

que o objetivo maior, neste caso, é o ser humano.

Os autores pesquisados descrevem, por meio de seus estudos, como o

gestor pode administrar, seja na forma autoritária ou democrática, o que pode ter

influência direta a política e cultura local.

Considerando o objetivo principal do trabalho, de buscar aportes teóricos que

comprovem que a gestão democrática é possível, e que, para isto são necessários,

tanto a abertura do líder, quanto a aceitação dos envolvidos nesta nova visão

democrática, poderemos concluir, ao final da leitura que a gestão do afeto pode ser

compartilhada.

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2 LIDERANÇA

Segundo Prado (2001, p. 32), o conceito de liderança nos remete ao

contexto relacionado ao modo de articulação entre pessoas de um mesmo grupo:

Liderança é um meio de focar e motivar um grupo para que alcance seus objetivos. Um líder deve dar sustentação ao grupo e, ser flexível para permitir mudanças de rota, quando necessárias. Está claro que o bom Diretor é um líder, um facilitador, alguém que caminha junto e busca o crescimento do grupo. O líder democrático realiza grande parte de seu trabalho no grupo, onde assume uma atitude crítica, colabora e está aberto para aceitar diferenças e superar suas próprias dificuldades e conflitos.

Sendo assim, o novo perfil de liderança exigido pelo modelo econômico e

social globalizado deverá ser de um sujeito flexível e multifuncional. O diretor, além

do dever em administrar com competência e responsabilidade, cabe a ele outras

atribuições que, segundo Santos (apud Santos) é fator relevante e influente na

educação contemporânea: “Implementar políticas educacionais [...], possibilitar o

cumprimento da missão institucional, a partir de sua realidade e propiciar a

realização das inovações necessárias, respeitando a legislação, estabelecidos pela

política educacional [...]” (2005, p. 140-141).

2.1 Líder

Mussak assegura que a diferença entre o Chefe e o Líder está nas suas

funções:

Chefes definem missões, mas só os líderes as relacionam com valores e, desta forma, pavimentam o caminho do sucesso. Liderar é obter comprometimento, o que significa colocar o coração junto com a cabeça e os braços a disposição de determinada missão (2007, p. 107).

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Segundo o autor, a liderança é uma função de extrema importância na

gestão de pessoas. E a liderança não tem nenhuma semelhança com a chefia. O

Chefe causa, na sua equipe, uma espécie de vácuo, onde todos ficam tontos e

começam a andar em círculos.

Para Nobre (2004, p. 24, grifo nosso) a grande diferença entre ser “Chefe” e

ser “Líder” está, justamente na diferença entre ser e estar: Ser é uma qualidade, é

dizer: eu assumo, é se expor. Estar, indica acomodação, falta de interesse.

Segundo o próprio autor afirma, existe uma grande diferença entre as duas

nomenclaturas. O chefe comum controla, culpa seus colaboradores pelos erros,

guarda para si, as informações, impedindo a continuidade e não atribui o

planejamento como um meio eficaz de transformação da realidade.

O líder atrai sua equipe, estabelece comportamento de confiança e busca

participação coletiva na solução de problemas. Suas atividades são planejadas em

conjunto, preparando futuros sucessores. Considera a mudança uma forma de

adquirir novos conhecimentos e modificar hábitos antigos, inovando sempre.

2.2 Autoridade do Líder

Estudando a liderança do ponto de vista da origem da autoridade, Max

Weber apontou três situações: autoridade tradicional, autoridade formal-legal e

autoridade carismática. A autoridade tradicional é aquela em que predomina o

paternalismo e o poder é transmitido em função do arbítrio de seu detentor, ou de

acordo com a tradição. Assim, o dono de uma escola particular que coloca um

parente na posição de diretor está lhe transmitindo uma autoridade do tipo

tradicional. A autoridade carismática advém das qualidades do líder, que é visto

como possuidor de poderes especiais, de virtudes fora do comum, enfim, de

carisma. Weber considera mais adequada a autoridade forma-legal, em que as

pessoas são investidas em função do mérito, devidamente comprovado. Neste

caso, a escolha do líder é feita por critérios racionais, pré-estabelecidos, para

realização de uma carreira com regras definidas. Esta costuma ser a situação de

alguns diretores de escola.

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2.3 Estilos de Liderança

Pesquisas realizadas por Kurt Lewin1 e associados levaram à definição de

três estilos de liderança: liderança autocrática, liderança democrática e liderança

laissez-faire. O líder autocrático centraliza as decisões e impõe seus pontos de

vista, preferindo errar sozinho a acertar com ajuda dos outros. O líder democrático,

ao contrário, sem renunciar a sua posição de principal responsável, valoriza a

participação dos liderados na tomada de decisões, procurando apreender as

aspirações do grupo e dando-lhes a oportunidade de expressar-se livremente. A

liderança laissez-faire abre mão de qualquer tipo de controle sobre o grupo,

deixando-o à vontade para decidir por conta própria sobre os assuntos de seu

interesse. Como se pode perceber, o estilo de liderança é uma linha contínua que

tem em um extremo a liderança autocrática e no outro a liderança laissez-faire,

ficando a liderança democrática numa posição de equilíbrio entre os dois extremos.

Como regra geral, a liderança democrática é a mais adequada para a

condução das atividades de uma escola. O bom diretor tem sempre a preocupação

de sondar os participantes, colhendo suas sugestões, idéias, contribuições

espontâneas.Não põe em execução uma decisão sem antes certificar-se de que foi

bem compreendida e aceita por todos.

A participação do grupo na tomada de decisões é a garantia de maior

identificação de todos com o trabalho a ser realizado. Fica mais fácil conseguir a

adesão e o entusiasmo de professores, funcionários e alunos para um programa de

inovação adotado pela escola, quando todos sentem que se trata de um projeto em

que cada um pode dar alguma coisa de si.

Nobre (2004, p. 50) refere–se a outros tipos de liderança, quase que uma

mistura das anteriores. Este autor cita a liderança permissiva, onde falta qualquer

direcionamento, ordem e planejamento. As tarefas não se finalizam por falta de

motivação geral.

Existe, ainda, segundo Nobre (2004, p. 53), a liderança situacional, onde o

líder escolhe qual o melhor estilo de liderança a ser utilizada, conforme a equipe em 1 KURT (1890-1947) foi o psicólogo que deixou a herança mais importante para o movimento das

Ciências do Comportamento. Ele constituiu a passagem das Relações Humanas para o movimento seguinte e orientou e ou inspirou a maior parte dos pesquisadores dedicados à Administração e à Psicologia Industrial de década de 1960. Com Gordon Allport, Lewin foi a maior influência para a introdução da Psicologia Gestalt nas universidade americanas.

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que está trabalhando. Este tipo de liderança, segundo o próprio autor, pode ocorrer

num mesmo dia.

Muitas vezes, na escola, é necessário ser flexível quanto ao tipo de liderança

a seguir. Dizer que a liderança democrática ou autocrática é uma definição única,

conforme a pessoa que lidera, é engessar as ações do sujeito, sem chance de

mudanças.

Quando se trabalha com pessoas dos mais diversos contextos e

personalidades, não se pode definir uma liderança única – unilateral - Este é o

diferencial do líder contemporâneo.

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3 O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO

Conforme afirma Santos:

Todas as organizações, independente de sua função dentro da sociedade ou da economia, necessitam ser administradas, portanto qualquer atividade que seja realizada por mais de um indivíduo que possuam graus de poder distintos, contém elementos de administração. Para compreender as práticas administrativas da atualidade é necessário conhecer os caminhos pelos quais passou a teoria administrativa ao longo de sua história (SANTOS, 2005, p.151).

Segundo o autor há relatos em que a organização administrativa iniciou há

5000 anos A. C. Foi no século XVIII, com a Revolução Industrial que as pequenas

organizações (autônomas) deram lugar ás grandes organizações, ou seja, às

fábricas. A partir do século XX a organização administrativa foi desenvolvida.

Taylor,2 o “criador” do sistema organizacional desenvolveu algumas teorias

administrativas de organização do trabalho para torná-lo eficiente. Entre elas,

destacamos a administração científica que determina a maneira exata de executar

um trabalho com eficiência, dividindo-o com planejamento, controle e execução. O

trabalho organizacional ficava por conta do gerente e a execução para o

trabalhador que se organizava sozinho, decidindo como e em quanto tempo fazer o

serviço. Com a inserção de um gerente, sua função passou da autonomia para a

submissão, a obrigação em ouvir, treinar e executar.

Contudo o sistema administrativo idealizado por Taylor passou por

momentos de muita descrença e insegurança por parte dos operários. O controle

no tempo de trabalho associado à remuneração causou preocupação em várias

dimensões, ocasionando resistências e provocando greves.

2 É considerado o “Pai da Administração Científica” por propor a utilização de métodos científicos cartesianos na administração de empresas. Seu foco era a eficiência e eficácia operacional na administração industrial.

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Fayol3 introduziu a teoria clássica, onde a ênfase na estrutura administrativa

e social proporcionou novas regras para lidar com todos os assuntos

administrativos, ocupando-se na melhoria do processo, através do corpo social da

empresa. Esta visão administrativa ganhou simpatia de organizações privadas e

públicas de administração da época.

Mais adiante, na década de 40, surge a teoria burocrática que alia a

impessoalidade, formalidade e normas escritas igualando o tratamento ao público.

O século XX foi o auge da burocracia criada pelo sociólogo Max Weber4 O poder e

a autoridade formam os componentes integrantes da estrutura organizacional neste

sistema, o que gerou a formação do “homem burocrata” que não expressa

criatividade, inovação e espontaneidade (MUNIZ apud SANTOS, 2005). Enfim,

surgiu a teoria das relações humanas, para contrapor e inovar as anteriores.

Passou da científica-clássica-burocrática para ceder lugar a novos conceitos de

liderança, motivação, organização informal e social. As relações interpessoais no

trabalho foram organizadas para que os sujeitos sentissem maior satisfação e

entusiasmo.

Muitas teorias de administração surgiram até a contemporaneidade, cada

uma com um diferencial específico, de acordo com as necessidades do momento.

Martins (apud SANTOS, 2005, p. 67) destaca a administração educacional como

ciência da administração:

É um dos campos abrangidos pela ciência da administração, cuja função consiste em gerir recursos educacionais, visto que aa educação, como qualquer outra atividade humana, exige esforços de indivíduos direcionando seu trabalho para a obtenção da eficiência no alcance de seus objetivos e, portanto, necessita ser bem administrada.

3 É um dos principais contribuintes para o desenvolvimento do conhecimento administrativo moderno. Uma das contribuições da teoria criada e divulgada por ele foi o desenvolvimento a abordagem conhecida como Gestão Administrativa ou processo administrativo, onde pela primeira vez falou-se em administração como disciplina e profissão, que por sua vez, poderia ser ensinada através de uma Teoria Geral da Administração. 4 Conhecido pelo seu estudo da burocratização da sociedade. No seu trabalho, Weber delineia a famosa descrição da burocratização como uma mudança da organização baseada em valores e ação (a chamada autoridade tradicional) para uma organização orientada para os objetivos e ação (chamada legal-racional). O resultado, segundo Weber, é uma "noite polar de frio glacial" na qual a crescente burocratização da vida humana a coloca numa gaiola de metal de regras e de controle racional. Seus estudos sobre a burocracia da sociedade tiveram grande importância no estudo da Teoria da Burocracia, dentro do campo de estudo da administração de empresas.

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Segundo o autor, na educação, como em qualquer outra profissão, a gestão

faz parte do campo de ciência da administração, pois exige esforços direcionados

ao trabalho para alcançar os objetivos propostos, com eficiência.

Porém, a ocupação de cargos de gestão nas escolas não encontra-se

atrelada a formação profissional. Este cargo é ocupado por um professor, por

indicação, assumindo a perspectiva de cargo de confiança político e/ou

administrativo, ou é investido a partir da realização de eleição. Raramente este

novo gestor está capacitado para assumir tal cargo. Em alguns casos, já no

exercício de sua função o gestor realiza especializações, a fim de adquirir suporte

teórico. Esta é uma procura muito pessoal e não se constitui em pré-requisito

imposta ao novo cargo.

A formação inadequada do pessoal reclamado pelos quadros administrativos dos sistemas escolares federais, estaduais, municipais e privados do país, dificulta o desenvolvimento da escola, pois a qualidade da instituição escolar está diretamente relacionada a uma boa gestão escolar (SANTOS, 2005, p. 67)

Segundo o autor, seria necessário cursar administração para assumir tal

cargo, não sendo, necessariamente professor. Mas trabalhar na gestão da escola

sem ter conhecimento específico da sala de aula ou estar ligado à educação é o

mesmo que um professor ser contratado para gerenciar uma empresa sem estar

inserido nesta realidade.

3.1 Administração e Gestão: Alguns Conceitos

As palavras, a primeira vista parecem ter a mesma acepção, ou o mesmo

significado. Mas a diferença está na forma de trabalhar o contexto escolar.

Martins afirma que:

Na administração escolar, a unidade total das tarefas é subdividida em unidades menores e confiadas às pessoas ou grupos que possuem certa autonomia para executá-las. Desse modo, quanto mais poderes os indivíduos ou grupos têm para realizar as tarefas, mais descentralizada e democrática é a administração escolar (apud SANTOS, 2005, p. 80).

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Lacerda cita outro conceito que enriquece o anterior, definindo a gestão

escolar como organização pedagógica:

É o estudo da organização e funcionamento da escola ou de um sistema escolar, de acordo com uma finalidade, de modo a satisfazer as exigências políticas de educação e os requisitos da moderna pedagogia. (LACERDA apud SANTOS, 2005).

O próprio Lacerda, já citado, salienta que a gestão escolar é uma tarefa

diferente de outras, por envolver pessoas. Neste complexo administrativo, há

atividades específicas de planejamento, organização e avaliação, semelhantes à

uma empresa, mas com a finalidade de desenvolver pessoas. Hoje as empresas

estão trabalhando neste perfil mais humano, semelhante ao contexto escolar.

A contemporaneidade trouxe mudanças e inovação na educação. A gestão

educacional vem substituir o conceito de administração educacional, com o objetivo

de facilitar, estruturar e transformar as ações de forma mais rápida, com a

participação de todos. Na concepção de alguns autores como Lück (apud SANTOS,

2005, p. 85) “está associado ao fortalecimento da idéia de democratização do

processo pedagógico, entendida como participação de todas as decisões e na sua

efetivação”.

O papel do diretor escolar nesta nova concepção administrativa, obriga-o a

refletir e compartilhar as decisões na coletividade, acarretando assim, a melhoria da

qualidade no processo educativo.

Nas palavras de Santos, citamos

Assim, o gestor escolar não é mais aquele administrador essencialmente preocupado com a ordem, a disciplina, os horários, os formulários e as exigências burocráticas. Ele é o líder intelectual responsável pela coordenação do Projeto Pedagógico da escola, facilitando o processo coletivo de aprendizagem (apud SANTOS, 2005, p. 88).

Essa afirmação leva a considerar que o novo perfil de gestor que a escola

deverá apresentar, para acompanhar as mudanças sociais e velocidade da

informação, sendo condizente com o novo sujeito contemporâneo.

Algumas escolas, principalmente as públicas, ainda mantém o mesmo

modelo de educação industrial da década de 30, privilegiando a hierarquia e não o

trabalho coletivo e autônomo, como propõem as novas perspectivas da gestão

educacional administrativa (SANTOS apud SANTOS, 2005).

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Morin (2002, p. 108) destaca, o quão importante, para desenvolver a

democracia, ser necessário estimular a participação social, permitindo uma relação

indivíduo-sociedade, compartilhando, assim, os mesmo ideais:

A democracia necessita ao mesmo tempo de conflitos de idéias e de opiniões, que lhe conferem sua vitalidade e produtividade. Mas a vitalidade e a produtividade dos conflitos só podem se expandir em obediência às regras democráticas que regulam os antagonismos, substituindo as lutas físicas pelas lutas de idéias, e que determinam, por meio de debates e das eleições, o vencedor provisório das idéias em conflito, aquele que tem, em troca, a responsabilidade de prestar contas da aplicação de suas idéias.

Em muitos sistemas de ensino, o diretor é cargo político, indicado pelo

executivo. Esta forma de nomeação ocorre, geralmente, nas administrações

municipais, salvo algumas exceções, quando há eleição direta. Ainda assim, a

autonomia é muito limitada, mesmo o gestor sendo motivado a administrar com a

participação da comunidade. Então há uma discrepância entre a teoria e a prática,

ocasionando um afastamento da comunidade pela falta de credibilidade entre o

discurso e a ação. Pregar a autonomia da gestão, em sistemas que têm perfil

controlado impede o crescimento e construção inovadora.

3.2 A Caminhada da Gestão

O Brasil era subordinado à Portugal até 1822. O País somente administrou a

educação após a primeira Constituição, em 1824. Através do art. 179 desta

constituição, a instrução primária deveria ser gratuita a todos os cidadãos. O Ato

Adicional de 1834 dividiu a educação em três graus: primário, secundário e

superior. Apesar da gratuidade no início da vida escolar, haviam muitos analfabetos

neste período, pois faltavam estruturas adequadas para que se cumprisse a lei. A

falta de professores e de escolas para formação docente fez surgir “professores

adjuntos” sem a preparação adequada. Em meados de 1925 foram criados os

órgãos de administração do ensino: Conselho Nacional de Ensino, Delegacias de

Ensino e Departamentos de Ensino, com intuito de regulamentar e fiscalizar o

funcionamento das instituições de ensino.

Após a revolução de 1930, com a Nova Constituição (1934), foi atribuído aos

Estados e Distrito Federal a competência de organizar seus sistemas de ensino,

sem ferir, no entanto, as diretrizes da União. O Plano Nacional de Ensino passou a

ser elaborado pelo CNE, a ser aprovado pelo Legislativo. Aos Estados e Distrito

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Federal era facultada a criação do Conselho Estadual da Educação. Nesta

Constituição foi criado o Concurso para os professores ingressarem na educação,

com garantia de efetividade vitalícia e o Fundo de Educação, para auxiliar os

alunos mais necessitados. Contudo os alunos que tivessem mais possibilidades

deveriam contribuir com uma verba, na escola, para ajudar os mais carentes. Uma

espécie de contribuição espontânea, como ainda acontece hoje, em algumas

escolas públicas.

Ao longo do tempo novas Constituições foram sendo criadas, alterando

artigos, mantendo outros. A administração escolar foi incluída, como currículo, na

Universidade em meados de 1933.

Com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação 4.024 de 1961), foi

estabelecida a Educação para Todos, porém os menos favorecidos não tinham a

mesma oportunidade, pois precisavam trabalhar durante o dia para estudar à noite

em cursos profissionalizantes, horário em que ocorriam somente cursos em

Instituições Privadas.

A partir de 1967 houve inovação na legislação educacional, tornado

obrigatório o Ensino até 14 anos. A Lei 5692/71 reformulou o ensino de 1º e 2º

Graus, atingindo a organização do sistema escolar em todos os níveis, com objetivo

de torná-lo adequado às necessidades de desenvolvimento econômico do país,

tornando produtiva a escola no âmbito Nacional (SANTOS, 2005, p. 77).

Por fim, a Constituição de 1988 estabelece, em vários artigos (205 a 214), a

educação como direito social e dever da família e do Estado. A Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (Lei 9.394 de 96) amplia este dever e comprometimento com a

educação para toda a sociedade.

Segundo Martins (apud SILVA, 2005) a caminhada da educação no país teve

forte influência econômica com o direcionamento voltado à classe mais privilegiada.

O sistema escolar na sociedade capitalista tende a preservar uma divisão entre o

trabalho manual e intelectual. Também tem a função controladora de “oposições”,

por meio de estratégias, planejamento e avaliação, com o objetivo de disciplinar a

produção de conhecimento. Nesta concepção o sistema tem direcionado a

educação no caminho da ideologia capitalista com mecanismos diversos,

difundidos pelos princípios da eficiência e produtividade (FÉLIX apud SANTOS,

2005, p. 79).

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Há muito tempo as pessoas têm se acostumado com uma gestão

centralizadora, seja na escola, na profissão e dentro da própria casa. Administrar

democraticamente não é tarefa fácil, requer desprendimento, abertura e exposição

das fragilidades do ambiente e das pessoas. É mais cômodo para todos os

envolvidos cumprirem suas atribuições, orientadas pelo “chefe”. Qualquer erro que

venha acontecer, a culpa será de quem comandou, gerando problemas que

deverão ser resolvidos por uma pessoa apenas.

Penin e Vieira afirmam que na era da informação: “Vive-se um período de

transformação sem precedentes na história da humanidade. Este tem recebido

muitas denominações Era do conhecimento, sociedade em rede, sociedade da

comunicação [...]” (p. 13)

Segundo os autores, a escola, assim como a humanidade passa por

transformações em conseqüência de mudanças tecnológicas e sociais. Por longos

anos este espaço cultural de aprendizagem se detinha a transmitir conhecimentos a

uma camada social seletiva. Mais adiante a inserção de vários níveis sociais

passaram a fazer parte da mesma escola e sala de aula. A velocidade na

informação tecnológica, no entanto, exige uma nova visão da educação para

proporcionar um novo perfil para o mercado de trabalho. O sujeito contemporâneo

necessita adquirir competências e valores bem definidos para inserir-se no atual

mercado de trabalho: Conhecimento, habilidade e atitude. A educação básica que

não prepara seu educando para este novo perfil, acaba deixando seu aluno sem

chances de inserir-se no mercado de trabalho devido à falta de qualificação num

todo, apesar das vagas existentes. É um mercado de trabalho cheio de vagas e

poucos capacitados para preenchê-las.

3.3 O Papel do Gestor

Toda e qualquer organização, onde envolvem pessoas, há liderança. Mesmo

em grupos minoritários, o líder está presente e direciona o caminho a seguir. Isto

ocorre porque a liderança, em muitos casos é necessária ou nata de um

determinado membro. Há quem se acomode e deixe que apenas um tome a

iniciativa e articule as ações do grupo. É mais cômodo, para alguns, realizarem as

atividades já direcionadas.

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Desse modo Penin e Vieira destacam a importância do líder que está à

frente de uma equipe:

A presença de liderança, de coordenação é indispensável na vida de uma equipe: alguém que tenha uma visão global da situação e que saiba onde se quer chegar, incentivando o grupo a pensar e a pôr mão na massa para executar o que foi previsto, que aponte a direção do trabalho, apoiando o grupo durante sua execução e levando cada um a superar suas dificuldades (2002, p. 89, grifos dos autores).

Considerando a afirmação anterior dos autores, o líder tem um papel

fundamental nas relações de convivência no ambiente escolar. Manter o grupo

confiante e predisposto a colaborar são ingredientes necessários para buscar

ações e reflexões, cultivando atitudes de cooperação recíproca. As boas relações

repercutem positivamente na liderança democrática, causando uma cumplicidade

onde os envolvidos atuam com responsabilidade e gratidão pelo reconhecimento

recebido.

Liderar significa compartilhar idéias, buscar nos seus pares a motivação para

utilizar seu potencial, realizando suas tarefas com entusiasmo e competência,

maximizando os objetivos. Em todo o setor onde se trabalhe com pessoas, há

divergências, cabendo ao gestor ter a sensibilidade, competência, bom senso e

habilidade para vencer estas resistências de forma construtiva e transformar os

resistentes em aliados ao bem comum – o aluno.

Ao democratizar a gestão escolar, onde todos compartilham e decidem sobre

o rumo da escola, a figura autoritária do diretor torna-se limitada, fazendo com que

este adquira novas habilidades, capazes de manejar e negociar alguns conflitos

que possam surgir.

A esse respeito, Santos afirma que para o perfil do novo gestor é necessário:

Prevalecer a liderança, a criatividade, a iniciativa, a cooperação, a motivação. A educação escolar é algo muito sério para ser administrado com autoritarismo, improvisação, o que leva para a estagnação e o conformismo (apud SANTOS, 2005, p. 143)

Conclui-se, portanto, que para liderar uma equipe não é necessária uma

postura autoritária e centralizadora. Hoje o bom líder delega tarefas e estimula

novas lideranças, a fim de não sobrecarregar sua própria função. A escola pública

carece, em muitos casos, de recursos humanos e materiais, que são fundamentais

para a qualidade da educação. Um diretor sobrecarregado de tarefas, sem equipe

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de apoio, acaba tornando-se o dono do saber na opinião pública, quando na

verdade, seu tempo de discussão, das questões pedagógicos e administrativos,

limitam-se a tomada de decisões imediatas, em raros momentos de dividir com a

participação de seus segmentos.

Desenvolver a gestão com democracia, contribui para que as experiências e

competências alcancem uma nova concepção da escola, numa prática de

convivência, com respeito a diversidade, onde os sujeitos discutem, divergem,

elaboram suas regras, superam obstáculos e constroem sua identidade educativa,

cultural e social.

A comunidade escolar, quando se sente respeitada, onde suas idéias e seus

sonhos são considerados, torna-se participativa e comprometida. Ora, sabe-se que

trazer a família à escola é uma tarefa muito difícil. Muitas vezes é necessário

aplicar leis que os obrigam a acompanhar a vida escolar de seus filhos (Art. 129. V

- obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e

aproveitamento escolar; Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - ECA). Nas reuniões

e conselhos de classe o número de participantes é abaixo do esperado.

Geralmente acompanham este processo educativo, os pais cujos filhos não

apresentam “problemas” de modo geral. A família que participa no dia-a-dia da

escola interfere, automaticamente, no aproveitamento do aluno.

O gestor, quando estimula a participação coletiva na escola, proporciona

mudanças significativas em seus membros. Estes passam a sentir-se responsáveis

pelos assuntos em comum e reconhecem o valor deste ambiente como extensão

da educação que desejam para seus filhos, valorizando as ações realizadas com a

sua participação no planejamento do Projeto Pedagógico, criando assim,

oportunidades para todos, independente de sua condição de vida, desenvolvendo

potencialidades, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicológico dos

educandos.

Madza (2006, p. 15) relata a respeito dão processo de mudança, no corpo

docente;

[...] liderar uma equipe durante um processo de mudança tem a ver, antes de mais nada, com promover novas maneiras de pensar [...]. As pessoas envolvidas nesse processo podem, então, examinar com um novo olhar seus antigos conceitos.

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Tentar mudar a maneira de pensar de alguns professores não é tarefa fácil.

Impor mudanças, pensando no bem dos educandos pode ter cunho de boa

intenção, mas não cabe ao “bom líder”. O professor dever ser conquistado através

de diálogo, afetividade e, principalmente, formação continuada a fim de refletir

sobre suas ações e buscar novas atitudes transformadoras, de “dentro para fora”.

Cabe ao gestor observar alguns princípios fundamentais para que haja

mudança significativa. Por exemplo, o que mudam são as pessoas, não os

materiais e equipamentos disponíveis. Apesar de que o apoio tecnológico, na

modernidade é necessário para atrair o perfil do educando no século da informação

avançada.

A mudança não acontece em pouco tempo, alguns resistem, apesar das

reflexões, que são proporcionadas nos encontros de docentes. Os profissionais

devem estar abertos e “desarmados” de vícios educacionais voltados ao

autoritarismo, onde o poder está com ele, onde os educandos são meros

depositários do saber. Esta mudança, muitas vezes, pode gerar uma sensação de

impotência, já que a abertura para a nova postura requer “descer do pedestal da

imposição.” Neste sentido haverá uma “desconstrução” do fazer. Implicará em

mudar o sentido que antes percorria uma linha definida e segura para o docente,

tornando o pensamento voltado a “reflexão-ação-reflexão”.

A gestão autoritária perdurou por muitos anos, acostumando as pessoas a

postura passiva de realizar suas tarefas profissionais. Serão necessários um certo

tempo, e muita abertura para que alguns professores habituem-se à nova proposta

democrática que está surgindo. Afinal, tomar decisões na coletividade requer

assumir a responsabilidade de possíveis erros que possam acontecer. Quando a

tomada de decisão cabia somente ao gestor, não haviam mais que um responsável

pelos problemas. No momento em que as decisões são compartilhadas, os erros

também serão divididos.

De acordo com Libâneo

Através da participação na organização e gestão do trabalho escolar, os professores podem aprender muitas coisas, tais como: tomar decisões coletivamente, formular o projeto pedagógico, dividir com os colegas preocupações, desenvolver o espírito de solidariedade e assumir coletivamente a responsabilidade pela escola, investir no seu desenvolvimento profissional, etc. (apud Santos, 2005, p.145).

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Com base nessas afirmações, o autor defende que, através do aprendizado,

o professor tem condições de desenvolver o espírito coletivo e dividir seu trabalho e

socializar suas práticas pedagógicas e de solidariedade, assumindo, com

responsabilidade, seu espírito profissional.

Segundo Hora, a gestão democrática tem alguns preceitos fundamentais que

envolvem os segmentos da escola em uma nova postura participativa:

A eliminação do autoritarismo centralizador; a diminuição da divisão do trabalho que aumenta as diferenças e os distanciamentos entre os segmentos sociais; a extinção do binômio dirigentes e dirigidos e a participação efetiva dos diversos segmentos sociais na tomada de decisões, conscientizando os participantes que são autores da história diária da escola (apud SANTOS, 2005, p.146).

3.4 Gestor Escolar: O Líder?

Há pelo menos duas razões fundamentais para que a posição do diretor de

escola não seja meramente a de administrador, mas a de líder: a natureza peculiar

da atividade escolar, que exige um tratamento mais refinado que o que pode ser

observado em outros ambientes de trabalho, e as atribuições do diretor, que

incluem outros aspectos além do de simples administrador.

O que é um líder? Não há uma resposta simples para esta questão. A

evolução dos estudos de liderança mostra um deslocamento da atenção, que vai da

pessoa do líder, para o grupo e para a situação vivida pelo grupo. Os estudos que

têm por foco de atenção a pessoa do líder costumam destacar os traços que o

distinguem: perspicácia, inteligência, autoconfiança, coerência, firmeza,

sinceridade, consideração e outros. Entretanto, estes estudos não têm mostrado

consistência, pois, muitas vezes, há líderes que alcançam êxito, mesmo sem terem

todas as qualidades esperadas, enquanto outros, mesmo tendo todas as

qualidades exigíveis, não conseguem resultados correspondentes às expectativas.

Procurando superar estas limitações e por influência dos estudos de dinâmica de

grupo, o foco de atenção voltou-se para o grupo, mostrando sua força na

determinação do comportamento das pessoas. Sob esta perspectiva, o líder

alcança bons resultados, não em razão de suas qualidades pessoais, mas na

medida em que seja reconhecido e aceito pelo grupo..

Há um pouco de verdade em todas estas posições, mas nenhuma delas é

completa. Para bem compreendermos o que é liderança, precisamos levar em

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consideração a pessoa do líder, o grupo com que ele trabalha e a situação em que

está colocado esse líder e os liderados. Dado certo grupo, em determinada

situação, assume a liderança a pessoa que for percebida pelo grupo como capaz

de levá-los a alcançarem seus objetivos.

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4 A GESTÃO PARTICIPATIVA

A autoridade coerentemente democrática está convicta de que a disciplina verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga, na esperança que desperta (FREIRE, 1996, p. 93).

A gestão democrática abrange a criação de oportunidades e tomada de

decisões onde um grupo de pessoas participa com suas idéias, através de

confrontos para chegarem aos melhores resultados formando um consenso

igualitário que aprimorará a satisfação e motivação para o trabalho.

Esse processo de gestão deverá alcançar um patamar superior àquela

administração burocrática e autoritária. Procurará estimular as pessoas

participantes na articulação dos aspectos pedagógicos, financeiros e

administrativos, visando a qualidade na educação escolar.

A democracia supõe uma convivência dialógica, onde pensamentos distintos

devem ser levados em consideração, já que a atualidade não permite que o

domínio autoritário se fortaleça através da submissão em massa.

Desenvolver novas experiências e competências é a contribuição que a

escola pode oferecer para melhorar a sociedade em que sua clientela está inserida.

Praticar democracia significa participar e conviver de forma dialógica, onde o sujeito

discute, elabora e aceita regras coletivas, superando obstáculos e divergências,

construindo o propósito comum a todos.

A Constituição Federal estabelece a Gestão Democrática do Ensino,

garantindo o direito a participação na construção de uma educação mais humana e

autônoma, exercendo a cidadania das pessoas envolvidas. Está prevista em seu

art. 206, sendo reafirmado na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, art.s 3º

e 14º), garantindo o direito à participação da comunidade, independentemente de

sua condição cultural e social. Implica compartilhar o poder decidindo de forma

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coletiva as idéias abordadas, estabelecendo procedimentos adequados ao contexto

local através de mecanismos de qualidade nas ações realizadas.

Esta participação coletiva causa mudanças significativas nos sujeitos

participantes. Passam a interessar-se e sentir-se responsáveis pelos assuntos em

comum naquele ambiente que estão inseridos, reconhecendo o valor patrimonial da

instituição educativa, provando assim, um zelo mais significativo desses benefícios

coletivos e oportunizando o uso por todos, com as mesmas condições de

conservação.

Um fator importante na credibilidade da gestão democrática é a

transparência administrativa, onde o gestor informa a todos os segmentos da

escola sobre os recursos recebidos, pela prestação de contas, de maneira que

todos possam acompanhar seus registros de forma clara e simples.

A promoção de ações realizadas de forma recíproca entre escola e

comunidade contribui na qualidade da educação. Esta se faz por meio do Projeto

Pedagógico, onde são elaborados, de forma coletiva, os pressupostos que

nortearão as metas a serem alcançadas no período educativo, possibilitando a

inovação da sua prática pedagógica com base nos objetivos em comum. “Uma

metodologia na perspectiva dialética baseia-se numa concepção de homem e de

conhecimento onde se entende o homem como um ser ativo e de relações”

(VASCONCELLOS apud PEREIRA, 2004 p. 89).

A escola deve criar oportunidades para que todos, independente de sua

condição de vida, possam desenvolver-se de forma afetiva, cognitiva e psicológica,

favorecendo o descobrimento das potencialidades individual e coletiva com base na

convivência democrática e desenvolvimento das relações interpessoais.

As relações de convivência na escola dependem da preparação adequada

do líder. Este deve manter um comportamento coerente e criar um consenso sobre

o privilégio inerente de seu cargo, combinando sua visão com a da escola. Manter o

grupo confiante e predisposto a colaborar são ingredientes necessários para definir

a ações, criando uma cultura sólida e desempenho satisfatório. A camaradagem e

boa comunicação interpessoal repercute positivamente na liderança democrática, já

que a cooperação, contribuição e responsabilidade dos envolvidos são ingredientes

essenciais para o sucesso de todos.

Além da parceria, especificamente interna, a contribuição da família, no

processo democrático, é fundamental nesta liderança. Trazer a participação através

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do círculo de pais e mestres, conselho escolar, voluntariado, palestras, seminários,

atividades lúdicas e culturais fortalece e estimula o processo pedagógico,

promovendo um significativo desenvolvimento social.

Hoje, como responsável último pela escola e diante das inadequadas condições de realização de seus objetivos, o diretor acaba sendo o culpado primeiro pela ineficiência da mesma, perdido em meio à multiplicidade de tarefas burocráticas que nada tem a ver com a busca dos objetivos pedagógicos (PARO apud PEREIRA, 2006 grifos do autor).

O autoritarismo do diretor, muitas vezes, é cometido pela necessidade de

“abraçar” todas as tarefas burocráticas da escola, devido a falta de estrutura,

componentes humanos e físicos em sua administração. Apesar de haverem os

CPMs, estes não são autônomos e por esta razão dificilmente assumem a

responsabilidade pelo resultado final do funcionamento da escola, seja este positivo

ou negativo.

A escola hoje deve abrir mão da figura do “diretor” como o único dono do

saber e da “palavra final” nas decisões administrativo pedagógicas. A forma

democraticamente viável seria substituir a figura do diretor para a “equipe diretiva”.

Segundo Paro apud Pereira (2006):

Nesse conselho diretivo, o coordenador geral não teria, em conseqüência, o papel que desempenha hoje o diretor, sendo apenas um de seus membros que com mandato eletivo, assumiria por certo período a presidência desse colegiado, dividindo com seus membros a direção da unidade escolar. Isto implicaria ser Conselho Diretivo, e não seu presidente, o responsável último da escola. Além do coordenador Geral, fariam parte um Coordenador Pedagógico, um Coordenador Comunitário e um Coordenador Financeiro (grifo do autor).

Através do trabalho em equipe as responsabilidades são compartilhadas,

qualificando o trabalho em várias dimensões onde cada sujeito teria

responsabilidade direta sobre determinada área e com essa integração a tomada

de decisões não ficaria atribuída apenas uma pessoa. Agregado a essa equipe, o

CPM atuaria de forma consultiva, deliberativa e fiscalizadora, enriquecendo e

assessorando suas atribuições de participação, juntamente com a família nas

questões pedagógicas, tornando “a unidade escolar integrada ao seu meio e não

mais um corpo estranho como é hoje” (PARO apud PEREIRA, 2006).

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5 ALGUNS PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Desde a constituição de 1934 a gratuidade no ensino, nas séries iniciais, tem

sido incorporadas na sociedade, mas somente em 1961, com a LDB 4024/61, é que

surgiu a primeira Lei da Educação. A partir da Lei 5692/71, foi instituídos e

reformulados o 1º e 2º graus. Ampliou-se de 4 para 8 anos o ensino fundamental e

a profissionalização do ensino médio. Com a escolarização para todos, os

problemas estruturais das instituições públicas foram surgindo e dificultado o

processo. Até então, a escola era um espaço restrito a uma minoria. Com a

expansão na demanda, faltaram recursos suficientes, gerando a improvisação e

conseqüentemente caindo a qualidade, aumentando a repetência, distorcendo a

relação idade/série.

O acúmulo de problemas fez com que o poder público refletisse a fim de

buscar outros meios para qualificar a aprendizagem. LDB (A nova Lei de Diretrizes

e Bases, 9394/96) e o FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do

Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério , 9424/96) foram criadas para

qualificar o ensino e valorizar o profissional do magistério, mudando o rumo da

Educação Nacional. Na Constituição Federal (1988) a educação é prevista como

um “Direito de Todos”, sendo reforçada, através da Lei de Diretrizes e Bases, a

responsabilidade deste direito garantido pelo Estado e da família. A escola, por sua,

vez terá a missão de “promover o pleno desenvolvimento do educando,

preparando-o para a cidadania e qualificando-o para o trabalho (PENIN; VIEIRA,

2002, p.20). Com a flexibilização da LDB buscou-se atender o contexto escolar

onde estão inseridos determinados grupos sociais. Não engessa as formas de

progressão e aceleração de estudos, cabendo à escola organizar os meios de

promoção e avaliação do educando, contribuindo para a sua autonomia.

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Também a LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação) enfatiza o

fortalecimento da autonomia, através da gestão democrática. Os programas do

MEC (Ministério da Educação e cultura), por exemplo, PDDE (Programa Dinheiro

Direto na Escola) determina o direcionamento da administração financeira em que a

escola deverá aplicar anualmente. Mesmo havendo decisão compartilhada, há uma

lista pré-determinada que indica o quê e quanto gastar, em material de consumo e

permanente. Se a instituição, mantida pela Secretaria da Educação local, recebe

grande parte do que necessita, acaba restando pouco a adquirir, contudo não se

pode alterar a porcentagem já determinada pelo Programa. Portanto, se a escola

necessita um equipamento, que está com o preço além do valor recebido para

permanente, não pode optar pare esse fim, mesmo recebendo a ajuda de sua

mantenedora para os demais materiais. Este fator acaba impedindo a verdadeira

autonomia da escola, como exibe a lei.

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6 A ESCOLA E SUA FUNÇÃO EDUCACIONAL

No início do século XX, os sistemas de produção empresarial tiveram

modificações para aumentar seu capital. Adotou-se, então, a política da

fragmentação do trabalho, com o objetivo de dividir o trabalho intelectual do braçal..

Com essa política de fragmentação nas empresas, a educação adotou,

também, essa forma fragmentada, tornando o ensino desconexo, impedindo a

“formação de uma visão de conjunto de sua estrutura em função da realidade”

(SANTOS, 2005, p.110).

Segundo o autor, o currículo de administração deve buscar a preparação dos

alunos, não somente para o mercado de trabalho da forma técnica, mas ensinar a

dimensão humana.

O modelo da empresa transferido para a educação necessita ser totalmente substituído por um modelo de interdisciplinaridade, de currículo integrado, em que professores e alunos desenvolvem habilidades para assumir posturas reflexivas e críticas em relação aos conhecimentos transmitidos, bem como, através de uma visão global do processo, identificar as contradições que perpassam a realidade concreta (MARTINS apud SANTOS, 2005, p.113).

Segundo o autor, a diferença entre administrar a educação e administrar a

empresa está, justamente, no objetivo maior – o ser humano. Enquanto a educação

visa o educando e todo o processo é direcionado a este fim, na empresa, o “alvo

supremo é o produto material a que tudo mais está subordinado” (SANTOS, 2005,

p. 113).

A avaliação também se diferencia em se tratando de trabalho da empresa e

na escola. Ao se detectar problemas de produção e baixo consumo no mercado,

buscam-se solucioná-los de diversas formas, seja melhorando o controle de

qualidade, os equipamentos ou até mesmo o pessoal. Na escola não existe esta

possibilidade, visto que ali se trabalha com pessoas de diferentes contextos,

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interesses, necessidades e motivações diversas, onde o ser humano é o principal

foco deste propósito educacional, tornando-se mais difícil de buscar soluções

imediatas.

A gestão escolar pode buscar na experiência da administração empresarial,

subsídios técnicos para enriquecer e qualificar o trabalho, mas nunca esquecendo a

diferença existente entre ambas, respeitando suas especificidades como processo

onde se desenvolvem as dimensões humanas, técnicas e político-sociais

(MARTINS apud SANTOS, 2005).

Como afirmam Penin e Vieira sobre a transformação da sociedade, destaca-

se:

Vive-se um período de transformação sem precedentes na História da humanidade. Este tem recebido muitas denominações – Era do conhecimento, sociedade do conhecimento, sociedade em rede, sociedade da comunicação [...] (PENIN; VIEIRA, 2002, p.13).

Segundo os autores, a escola, assim como a humanidade passa por

transformações por conseqüência das mudanças tecnológicas e sociais. Por longos

anos este espaço cultural de aprendizagem se detinha a transmitir conhecimentos a

uma camada seletiva. Mais adiante a inserção dos vários níveis sociais passaram a

fazer parte da mesma escola e sala de aula. Hoje a inclusão é uma realidade em

constante discussão.

Adquirir conhecimentos e memorizar conteúdos para obter as competências

necessárias não bastam para o sujeito enfrentar o novo sistema tecnológico de

informações e trabalho. A velocidade na informação tecnológica obriga uma nova

visão da educação que proporcione um novo perfil de sujeito para o mercado de

trabalho, com as competências e valores bem definidos: conhecimento, habilidades

e atitudes. Cursar o ensino fundamental, sem observar estas competências,

exigidas pelo mercado, resultará em aumento de desemprego, apesar das vagas

existentes, devido a falta de qualificação do sujeito como um todo.

A esse respeito, Gadotti (2000, p. 33), elucida sobre o novo perfil de sujeito:

Na era da informação em tempo real da globalização da economia, da realidade virtual, da internet, da quebra de fronteiras entre nações, do ensino a distância, dos escritórios virtuais, da robótica e dos sistemas de produção automatizados, do entretenimento. Vivemos o ciberespaço da formação continuada. As novas tecnologias da informação e da comunicação marcaram todo o século XX.

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O crescimento da informação em que a sociedade está vivenciando nas

últimas décadas, tem gerado uma busca constante de conhecimentos, tão

necessário para acompanharem o processo de mudança que o cotidiano está

exigindo, através do comportamento social e cultural.

A cultura se propaga com muita velocidade, através dos meios de

comunicação. Partilha, entre os sujeitos, formas diversas e interativas de enfrentar

o presente e o futuro. A escola, por sua vez, contribui neste perfil contemporâneo

como porta de entrada para a informação e sucesso.

Para contemplar este “novo olhar” sobre o homem, enquanto agente em

transformação, deve-se rever a organização, gestão, metodologia, currículo e

função social da escola. Ensinar bem e preparar os sujeitos para exercerem a

cidadania e o trabalho no contexto de uma sociedade complexa, enquanto se

realizam como pessoas (PENIN; VIEIRA, 2002; p.27).

Nesta concepção do novo sujeito para o século XXI tem-se discutido

quais os princípios que constituirão este perfil. O documento da UNESCO (1999),

ponta os quatro pilares da educação que nortearão o novo perfil contemporâneo:

Penin e Vieira (2002, p. 27-28) destacam os pilares da educação para

que o sujeito torne-se um ser integral:

Aprender a conhecer como domínio dos próprios instrumentos do conhecimento [...] exercitando os processos e habilidades cognitivas: atenção, memória e pensamento mais complexo; aprender a fazer [...] competências que tornem a pessoa apta a enfrentar variadas situações e trabalhar em equipe [...]; aprender a conviver significa tanto a direção progressiva do outro e a interdependência quanto a participação em projetos comuns [...]; aprender a ser quer dizer contribuir para o desenvolvimento total da pessoa:espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, capacidade de comunicar-se, espiritualidade.

Através dessa afirmação, mesmo contemplando o ser num todo, o que tem

acontecido na educação é a memorização do conhecimento em si. É necessário

que nos preocupemos com o aprender a conviver e aprender a ser. Estes

parâmetros, incluídos no currículo, contribuirão para preparar o sujeito e garantir a

formação básica comum, com respeito da individualidade e especificidades.

O gestor, em seu papel fundamental à frente deste contexto, deverá buscar

meios de participação coletiva para que a autonomia seja exercida ao enfrentar os

inúmeros desafios no exercício da cidadania e democracia. Além dos pilares

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mencionados anteriormente, as autoras citam outros quatro pilares como desafios

para a gestão escolar:

Aprender a conhecer o mundo contemporâneo e relaciona-lo com as demandas de cada escola (sua clientela, seus sonhos, suas necessidades, seus direitos [...]; aprender a planejar e fazer a escola que se quer; aprender a conviver com tantas e diferentes pessoas, definindo e partilhando com elas um projeto de escola; aprender a utilizar, sem medos, as próprias potencialidades de crescimento e de formação contínua. (PENIN; VIEIRA, 2002, p. 30).

Cada ambiente, cada contexto, tem suas peculiaridades. Os pilares da

educação são os meios pelos quais os sujeitos poderão organizar sua vida e suas

potencialidades, conforme surgirem as necessidades de melhorar seu

desenvolvimento social e cultural na escola.

6.1 Democratizando as Relações da Escola

Penin define, através de Sacristan a respeito da democracia:

[...] á foi definida como: um conjunto de procedimentos para poder conviver racionalmente, dotando de sentido uma sociedade cujo destino é aberto, porque acima do poder soberano do povo já não há nenhum poder. São os cidadãos livres que determinam a si mesmos como indivíduos e coletivamente (SACRISTAN apud PENIN, 2002, p. 31).

Pelo exposto, ao partir da ação democrática, a educação tem um papel

fundamental na promoção da paz, respeito aos direitos humanos e liberdade

(UNESCO, 2000) e assegura o direito de igualdade e condições de permanência

(LDB, art.3º, VIII). A Lei remete aos sistemas de ensino as formas de organizar a

gestão participativa, seja com eleição de diretores, conselho escolar ou outras

formas de organização democrática na escola, respeitando as suas peculiaridades.

Nesta perspectiva, a escola é o local de iniciação da aprendizagem da democracia,

desde o momento em que inicia a escolarização, através de atitudes e ações que

promovem a socialização, convivência social e normas de convivência, onde o

sujeito adquire, no coletivo, a “coabitação” de seus diferentes, sob a autoridade de

uma mesma regra (CANIVEZ apud VIEIRA, 2002).

Para haver democracia, é necessário existir cidadania. O conceito de

cidadania, que vem do latim “civitas” significa cidade, é citada pelo autor Prado:

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O Cidadão, porém, é mais do que apenas o habitante. É aquele que está interessado no que acontece em sua comunidade. Para alunos e professores, a cidade é a escola. Do ponto de vista do educador, a cidadania para por boas relações com os colegas, com a direção, com os funcionários – pelo direito de ensinar, ou seja, formar cidadãos. Do ponto de vista do aluno, ela reside no direito de ir à escola e só começa a fazer sentido quando ele aprende (2000, p. 33).

Assim como uma cidade, a escola é o modelo de sociedade que o sujeito

experimenta o exercício da cidadania por um longo período de sua vida. Podendo

ser democrático ou não. Se a convivência neste ambiente for de respeito mútuo,

solidariedade, liberdade responsável, respeito aos direitos e deveres coletivos, a

missão democrática se cumpre e se estende fora da escola.

Segundo Paro, para exercer uma função democrática nos dias de hoje:

É precisamente a função atual do diretor que coloca como autoridade última no interior da escola. Esta regra, astutamente mantida pelo Estado, confere um caráter autoritário ao diretor, na medida em que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituição escolar; leva a dividir os diversos setores no interior da escola, contribuindo para que se forme uma imagem negativa da pessoa do diretor, a qual é confundida com o próprio cargo; em oposição aos interesses dos dominados (2005, p.12).

Não há dúvida que esta colocação do autor tenha sido uma prática diária,

ainda que a Lei “pregue” a autonomia e democracia na educação. Mas um diretor

despreparado e inseguro de sua proposta pedagógica tende a defender interesses

superiores, ainda mais se está inserido em uma comunidade oposicionista. Com

esta situação entra o choque de opiniões e interesses. Se o diretor radicalizar em

suas ações, buscando somente interesses administrativos, sem levar em conta sua

clientela local, travará uma “guerra enrustida” ficando sem apoio da parte que mais

interessa neste contexto. Por outro lado, se tiver uma postura oposicionista,

buscando contemplar somente o interesse da comunidade local, corre o risco de

ser mal interpretado e substituído. Com efeito, as vezes, é necessário haver bom

senso e ponderação. O diretor deve ter a sensibilidade e diplomacia nas relações

políticas que acontecerão entre a comunidade e o poder público, criando um

ambiente harmonioso e pacífico, na medida em que os conflitos não se

transformem em questões partidárias.

Se considerarmos que uma gestão compartilhada terá mais credibilidade

perante sua comunidade, ambas poderão reivindicar as melhorias da escola ao

poder público. É muito mais fácil dizer “não” ao diretor do que ao grupo de pessoas

que trabalham juntas pelos mesmos objetivos.

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A esse respeito, Paro afirma que:

Uma medida constitucional de caráter geral poderia concorrer para que a escola, enquanto instituição articulada com os interesses dominados, tivesse facilitada sua atividade de pressão junto ao Estado, na medida em que, por meio de uma associação de pais ou entidade semelhante, pudesse defender mais efetivamente seus direitos com relação ao ensino (2005, p. 12, grifo nosso).

Segundo coloca o autor, a participação da família, na escola é fundamental

para que a democracia seja articulada. Contudo a dificuldade da presença desses

pais nesta participação deve-se a muitos fatores, seja em nível de transporte,

financeiro ou trabalho.

Como uma possível alternativa, ao nível de constituição, o autor sugere que

“facilite a participação dos pais na vida da escola, por meio da progressiva isenção

de horas de trabalho nas empresas [...], sem prejuízo de seus vencimentos”

(PARO, 2005, p. 13-14).

Apesar de toda a busca na democracia e participação, ainda existe um

abismo que separa a família da escola. Por um lado, os pais desconhecem o

funcionamento deste ambiente, e acabam afastando-se desta convivência. Dividir

responsabilidades, através dos colegiados, como CPM, Conselho Escolar, Grêmio

Estudantil, por exemplo, oportuniza às pessoas a contribuírem para o sucesso e

cidadania, alcançando o bem estar de todos os envolvidos de forma solidária e

responsável, valorizando ainda mais este espaço sócio cultural que é de toda a

comunidade. Por outro, a equipe de profissionais ainda reclamam de uma certa

falta de participação de algumas famílias no acompanhamento, rendimento e

freqüência dos educandos. Romper esta distância, através do colegiado atuante na

realização de eventos lúdicos e culturais que atraem, não somente os educandos,

mas a família, favorecem e contribuem para criar um ambiente de confiança entre

seus pares.

Baseando-se neste argumento, Santos (apud SANTOS, 2005, p. 156) expõe

a seguinte afirmação que elucida o texto anterior:

A gestão educacional participativa, deve levar em consideração as peculiaridade pertinentes à instituição escolar, devendo ser algo globalizante e dinâmico, envolvendo a dimensão política e social, a ação transformadora, participação, cidadania, entre outras prática democráticas.

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A esse respeito o autor confirma que a comunidade escolar, quando se sente

respeitada, onde suas idéias e seus sonhos são considerados, torna-se

participativa e comprometida. A escola, quando estimula a participação coletiva,

proporciona mudanças significativas em seus membros. Estes passam a sentir-se

responsáveis pelos assuntos em comum e reconhecem o valor deste ambiente

como extensão da educação de desejam para seus filhos, valorizando as ações

realizadas com a sua participação no planejamento do Projeto Pedagógico, criando

assim, oportunidades para todos, independente de sua condição de vida,

desenvolvendo potencialidades, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo e

psicológico dos educandos.

Sabe-se que trazer a família à escola é uma tarefa, muitas vezes, difícil.

Torna-se, portanto, em alguns casos, aplicar leis que os obrigam a acompanharem

a vida escolar de seus filhos (Art. 129. V - obrigação de matricular o filho ou pupilo

e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar; Lei Nº 8.069, de 13 de

julho de 1990, ECA). Nas reuniões e conselhos de classe o número de

participantes, geralmente está abaixo do esperado. Geralmente acompanham este

processo educativo, os pais cujos filhos não apresentam “problemas” de modo

geral. A família que participa no dia-a-dia da escola interfere, automaticamente, no

aproveitamento do aluno.

Segundo Paro (2005, p. 17), a participação da família na escola tem sido

limitada. O fato de existir escola pública não dá a nomenclatura a que se propõe. “A

escola estatal só será verdadeiramente pública no momento em que a população

escolarizável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa educação escolar”.

O que se tem presenciado, na realidade da escola pública são conceitos

teóricos referente a democracia, quando, na verdade a democracia são se refere a

uma concessão e/ou permissão para que a comunidade possa decidir e atuar. Na

verdade a democracia é uma realização, não concessão.

Paro (2005, p. 19) afirma que “uma sociedade autoritária, com tradição

autoritária e não por acaso, articulada com interesses autoritários de uma minoria,

orienta-se na direção oposta à da democracia“. Segundo o autor, há muitos fatores

externos, como político, social, econômico e cultural que dificultam a mudança

desta tendência autoritária. Mas ressalta que não deve ser motivo de desculpa para

acomodar-se e não tentar mudar.

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Ao considerar a participação da comunidade nas ações educacionais, alguns

problemas podem impedir que a democracia ocorra efetivamente. Um dos

problemas enfrentados na “falsa” democracia da educação, além dos mencionados,

ocorre na escolha do dirigente em determinadas regiões do país. Em São Paulo,

por exemplo, existe o concurso público para diretor de escola. Neste caso o

candidato deve preencher os requisitos necessários para prestar o concurso. Ao

ingressar, escolhe a escola que deseja administrar “eternamente”. Neste caso a

comunidade não tem nenhuma influência na decisão. Em ambas as partes acabam

aceitando ou, simplesmente, aturando-se mutuamente (PARO, 2005, p. 22).

O autor coloca sobre os problemas causados à saúde, no cargo de diretor, o

que tem impedido seu real sucesso como gestor: “[...] o que o cargo tem valido a

muitos diretores são preocupações, dores de cabeça, úlceras duodenais, tensões

nervosas e quase nada de realização pessoas, quando percebem sua impotência”

(PARO, 2005, p. 24).

Desse modo, o que se percebe é que, independente como o diretor assume

a escola, seja por concurso, indicação ou eleição, a limitação imposta pelo sistema

autoritário, o impede praticar a autonomia necessária à democracia, gerando,

muitas vezes, uma visão errônea da sociedade em relação à sua pessoa,

confundindo com as atribuições nas quais seu cargo não consegue cumprir perante

os interesses da comunidade.

Ser diretor e atuar com democracia em seu conceito real, tem problemas tão

diversos quanto a postura que este cargo possa determinar. Sabemos que em

qualquer forma de ingressar na gestão da escola, poderá haver conflitos seja com a

comunidade ou com co poder hierárquico.

Paro (2005, p. 102) sinaliza que, para evitar problemas dessa natureza para

a escola funcionar melhor seria ideal:

Criar um sistema em que a direção fosse exercida por um conselho, em que o diretor perderia, em conseqüência, o papel imperial que tem hoje, sendo apenas um de seus membros que, com mandato eletivo, assumiria por certo período a presidência desse colegiado diretivo, mas dividindo entre seus membros a direção da unidade escolar. Isto implicaria ser colegiado, e não seu presidente, o responsável último pela escola.

Esta idéia sugerida pelo autor tem acontecido em algumas instituições

públicas de Estado, mas apesar do colegiado decidir, ainda o diretor responde

pelos problemas ocorridos na escola.

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Sendo assim, o ideal seria, segundo o autor, que todos se rebelassem, para

lutar a favor de seu ideal de educação. Mas nesta questão entram variáveis

diversas envolvendo situações políticas e culturais que acabam dividindo opiniões

entre o grupo, ficando, muitas vezes, a minoria na luta, sendo discriminada e

acusada de oposicionista, sem justa causa, até mesmo entre os participantes da

mesma unidade escolar.

Com base nestas afirmações, Paro (2005, p. 25) se refere ao autoritarismo

na educação onde:

Por mais que os avanços da Pedagogia venham demonstrando exaustivamente a vinculação entre a aprendizagem significativa e a adoção de relações que afirmem o aluno como sujeito do ato de aprender, todos os demais condicionantes ideológicos parecem ser mais fortes, concorrendo para que o educador escolar permaneça privilegiando práticas de dominação, que em nada contribuem para o desenvolvimento da autonomia do educando.

A democracia, como afirma o autor, gera um comportamento nada parecido

com aquele que professores e diretores exigem na escola. Se os alunos não têm

direitos a manifestar, a autocracia já está instalada. A participação da família na

escola, segundo este mesmo autor é outro fator que foge aos conceitos sugeridos

nos discursos dos profissionais da educação. Pesquisas realizadas por Paro,

revelaram que a comunidade sente a necessidade da escola “ir até a comunidade

para conhecê-la melhor”.

Referindo-se a esta pesquisa, o autor declara que:

A questão que se poderia aventar diante de necessidade de se superarem esses condicionantes do autoritarismo na escola é que tal superação depende de um esforço coletivo de todos os envolvidos na situação escolar – direção, professores, demais funcionários, alunos e pais -, ao mesmo tempo em que essa participação coletiva depende da superação dos condicionantes do autoritarismo (PARO, 2005, p. 27).

Segundo o autor, a comunidade não se sente obrigada a participar da escola

quando esta mesma escola não sabe o que se passa com os sujeitos deste

contexto. Se considerarmos que a maioria dos professores, geralmente, não

residem na comunidade onde trabalham e, conseqüentemente não conhecem essa

comunidade, não dispondo de tempo para esse contato, devida a sua carga de

trabalho, muitas vezes chegando a 60 h/a semanais, torna-se inviável este sonho.

Neste caso, os professores, até o diretor e mesmo os funcionários da escola são

meros visitantes desta comunidade.

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Apesar desta pesquisa, realizada pelo autor, mostrando a realidade de um

contexto específico, chegando a conclusão que os professores deveriam

aproximar-se da comunidade, não podemos tomar como padrão nacional. Cada

região tem suas peculiaridades. Em algumas situações não é necessária muita

pesquisa para saber como trazer a comunidade até a escola. É sabido que o ser

humano muitas vezes se acomoda em certas situações de sua vida. Em muitas

situações, a experiência de gestora tem mostrado que, em nossa cultura, a

presença dos pais na escola é considerada por eles, uma “perda de tempo”. Ou

porque não querem escutar um provável “sermão” ou porque sabem que seu filho

está bem e não precisam ouvir o sermão para os outros. Outro fato é o horário das

reuniões não coincidirem com seu tempo livre. E mesmo que a escola tente

adaptar-se ao tempo da maioria, uma parte não se adaptará a este tempo, voltando

ao ciclo da desculpa. A solução que tem acontecido nas escolas foi inicialmente a

obrigatoriedade (mediante convocação) através de referência da Lei 8.069/90

(ECA) nos bilhetes enviados aos pais. Os pais tem a obrigação de matricular seus

filhos e acompanhar sua freqüência escolar (art. 129).

6.2 O Planejamento Participativo

Planejar é construir a realidade desejada. Não é só organizar a realidade existente e mantê-la em funcionamento (isto seria apenas o planejamento operacional, a administração) mas é transformar esta realidade, construindo uma nova [...], é antes de tudo,esclarecer o ideal, o sonho, o que sempre envolve a discussão (GANDIN, 1994, p. 58).

Ao participar do planejamento a comunidade passa a sentir-se co-

responsável pelas ações e não apenas meros ouvintes ou executores dos objetivos

estabelecidos pela minoria que, muitas vezes, não ultrapassa as paredes do

gabinete diretivo. Ao se permitir a construção coletiva do planejamento, poder-se-á

observar alguns resultados positivos:

• Maior responsabilidade na execução, já que o sujeito, ao ornar-se

participativo, contribuirá na construção do conhecimento e não apenas na

reprodução dos mesmos;

• Ao envolver-se como sujeito participante sentir-se-á respeitado, já que a

ação coletiva é um aprendizado de tolerância e cidadania.

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O Projeto Político Pedagógico é o instrumento norteador de todas as

atividades da instituição escolar, respeitando sua identidade própria, colocando em

prática todos os objetivos propostos coletivamente, com devido acompanhamento

dos resultados.

O Projeto Político Pedagógico é o instrumento que possibilita à escola inovar

sua prática pedagógica, na medida em que o grupo sente a necessidade de

mudança. A sua construção coletiva proporciona a autonomia, sem, contudo,

interromper as relações com as mantenedoras. Considerando que cada escola é

única, deve ser construído pelas pessoas daquele contexto específico, não apenas

por um grupo minoritário de gabinete. Também não deve ser planejado em uma

única vez, mas de modo processual, que cumpra sua função social e educativa.

É o parâmetro norteador de todas as atividades da instituição, respeitando

sua identidade própria, colocando em prática seus objetivos propostos

coletivamente, com o devido acompanhamento dos resultados.

O princípio de tudo, deve partir da sensibilização da comunidade escolar.

Mas a decisão de elaborar o PPP não poderá ser tomada pelo simples fato de

existir uma lei ou determinação da mantenedora. Neste caso o resultado será a

falta de envolvimento do grupo envolvido. Para o sujeito, toda “a atividade torna-se

significativa quando corresponde a uma necessidade e uma possibilidade. [...]”.

Ocorre que o planejamento só é pertinente quando o sujeito se coloca numa

perspectiva de mudança (VASCONCELLOS, 2002, p. 39, grifos do autor).

Pesquisando o posicionamento do grupo, chegar-se-á ao debate coletivo

para a tomada das decisões na caminhada. A coordenação elaborará os textos do

projeto com os participantes. Ao longo do caminho as necessidades poderão

mudar, fugindo a proposta inicial. Sendo assim deve-se retomar, na coletividade,

pois o contrário acaba tornando-se desacreditado, já que não se cumpriu o

programado.

O PPP não vem abraçar todos os problemas, mas alguns pontos mais

concretos e continuar resolvendo os demais, durante a caminhada pelo ideal de

mudança que se quer alcançar na educação contemporânea.

Para chegar aos resultados esperados, é necessário estabelecer as

finalidades e os objetivos propostos. Também é importante definir os

procedimentos a serem adotados, sempre na coletividade.

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A participação é um processo educativo para todos os membros da escola.

Proporciona mudanças significativas e faz com que os sujeitos sintam-se

responsáveis, pois têm a oportunidade em contribuir com a sua opinião no

processo de construção do documento. Quando a escola coloca em prática uma

proposta pedagógica, que partiu da vontade da comunidade, consolidou o exercício

da cidadania e autonomia democrática.

O Projeto Político Pedagógico é o instrumento que possibilita à escola inovar

sua prática pedagógica, na medida em que o grupo sente a necessidade de

mudança. A sua construção coletiva proporciona a autonomia, sem, contudo,

interromper as relações com as mantenedoras. Considerando que cada escola é

única, deve ser construído pelas pessoas daquele contexto específico, não apenas

por um grupo minoritário de gabinete. Também não deve ser planejado em uma

única vez, mas de modo processual, que cumpra sua função social e educativa.

É o parâmetro norteador de todas as atividades da instituição, respeitando

sua identidade própria, colocando em prática seus objetivos propostos

coletivamente, com o devido acompanhamento dos resultados.

O princípio de tudo, deve partir da sensibilização da comunidade escolar.

Mas a decisão de elaborar o PPP não poderá ser tomada pelo simples fato de

existir uma lei ou determinação da mantenedora. Neste caso o resultado será a

falta de envolvimento do grupo envolvido. Para o sujeito, toda “a atividade torna-se

significativa quando corresponde a uma necessidade e uma possibilidade [...]”.

Ocorre que o planejamento só é pertinente quando o sujeito se coloca numa

perspectiva de mudança (VASCONCELLOS, 2002, p. 39).

Pesquisando o posicionamento do grupo, chegar-se-á ao debate coletivo

para a tomada das decisões na caminhada. A coordenação elaborará os textos do

projeto com os participantes. Ao longo do caminho as necessidades poderão

mudar, fugindo a proposta inicial. Sendo assim deve-se retomar, na coletividade,

pois o contrário acaba tornando-se desacreditado, já que não se cumpriu o

programado.

O PPP não vem abraçar todos os problemas, mas alguns pontos mais

concretos e continuar resolvendo os demais, durante a caminhada pelo ideal de

mudança que se quer alcançar na educação contemporânea.

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Para chegar aos resultados esperados, é necessário estabelecer as

finalidades e os objetivos propostos. Também é importante definir os

procedimentos a serem adotados, sempre na coletividade.

Assim como o Projeto Político Pedagógico é o documento que norteia os

sonhos, as metas e as ações da escola, o Regimento Escolar é o documento que

Legaliza o funcionamento da Instituição. É através desse documento que se

mostrará os limites, as possibilidades, os direitos e deveres amparados legalmente.

Este documento, também, deve ser construído na coletividade, legitimando a

democracia autônoma da escola.

Carvalho afirma que para uma democratização na escola é necessária:

A mobilização social é algo que deve ser concreto, para ajudar gestores, professores e funcionários a realizarem melhor seus trabalhos e proporcionarem uma educação melhor aos alunos. [...] Cabe às escolas buscar parcerias que possam colaborar na expansão de seu potencial de ofertas de atividades para seus alunos, seja na iniciativa privada, na própria comunidade ou por meio de projetos integrados entre Secretarias de Educação e outras Instituições públicas (2001, p. 83- mod.V).

A participação é um processo educativo para todos os membros da escola.

Proporciona mudanças significativas e faz com que os sujeitos sintam-se

responsáveis, pois têm a oportunidade em contribuir com a sua opinião no

processo de construção do documento. Quando a escola coloca em prática uma

proposta pedagógica, que partiu da vontade da comunidade, consolidou o exercício

da cidadania e autonomia democrática.

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7 CONCLUSÃO

Promover a gestão democrática na escola requer o compartilhamento dos

diversos segmentos da instituição. No momento que a educação é um “dever do

Estado e da família”, não pode o gestor assumir, sozinho, a responsabilidade da

educação. No momento que a comunidade é chamada para compartilhar este

compromisso, envolvendo-se, decidindo e contribuindo efetivamente da educação,

a gestão democrática será possível e a escola terá a oportunidade de construir sua

autonomia, buscando os meios para gerenciar as questões pedagógicas,

financeiras, administrativas e sociais.

Em verdade, há uma preocupação, por parte dos órgãos superiores à escola

em não cortar o vínculo, esse mascarado de “autonomia” controlada. A gestão

democrática, amparada em Lei, é estimulada, desde que não fuja de “certas

regras”, previamente impostas.

A gestão democrática pode acontecer, mesmo com certas restrições e

limitações, mas ainda é a melhor forma de administrar uma instituição, já que esta

forma de gerenciar deve levar em conta a participação dos segmentos envolvidos.

O fato de proporcionar a participação da família nas decisões da escola, cria um

laço de cumplicidade positiva, gerando um sentimento coletivo de responsabilidade,

transformando a escola na extensão da família, causando um impacto positivo nos

educandos que se sentem assistidos integralmente.

Proporcionando a participação dos pais, a escola contribuirá para baixar

índice de reprovação e evasão escolar, estimulando o sucesso do educando.

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