fisica esportiva

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  • 7Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004 A Fsica nas Transmisses Esportivas

    O s narradores esportivoscostumam afirmar, com umcerto tom de ironia, quedentro de cada torcedor mora umtcnico de futebol que opina indevida-mente sobre assuntos nos quais ele no um especialista. Este discurso dacompetncia parece conferir aos refe-ridos narradores um direito inalien-vel de exprimir-se sobre tais assuntosde modo praticamente inquestionvel.Ao falarem de esportes esses mesmosnarradores e comentaristas tentamemprestar aos seus discursos um certotom de certeza calcado muitas vezesem afirmaes pretensamente cient-ficas. Poderamos, assim, de modo an-logo, afirmar que no corao de cadanarrador e de cada comentaristaesportivo mora um cientista, um fsicopara ser mais preciso, que professa,entretanto, uma Fsica um tanto sur-realista. sobre o surrealismo destaFsica alternativa, sobre os equvo-cos nos quais ela se fundamenta, quelanamos aqui umbreve olhar analtico.No pretendemos,nem de longe,abarcar todo ouniverso de pr-con-ceitos emitidos nemtoda a variedade de equvocosusualmente veiculados. Pretendemos,apenas, fundados em alguns exemploscoletados, atravs de gravaes em fitamagntica de algumas transmissesesportivas, exemplificar a viso extre-mamente distorcida da Fsica comu-nicada em tais eventos.

    De incio, preciso salientar que,de fato, a conexo entre a Fsica e osesportes bastante ntima. Fenme-nos ocorridos em competies esporti-

    vas parecem s vezes coisas milagro-sas, mas podem ser freqentementeexplicados pelas leis da Fsica de modoconveniente e racional. Explicaessimples emergem atravs do estabele-cimento de modelos simplificadores darealidade demonstrando como a Fsicapode ser til na anlise dos fenmenosesportivos. Tais explicaes parecemexercer um efeito bastante motivadorna aprendizagem da Fsica [4]. Isso temlevado, desde a dcada de 70, incor-porao da Fsica dos esportes comoum elemento curricular em vriasexperincias educacionais pelo mundo[1, 11, 19]. Um grande nmero deconceitos fsicos pode ser discutido deum modo agradvel em tais experin-cias pedaggicas envolvendo as maisdiversas atividades esportivas. Mesmoesportes no to conhecidos, como orapel, por exemplo, permitem lidar comconceitos os mais variados, tais como:atrito, movimento retilneo uniforme,acelerao e decomposio de foras,

    energia potencialgravitacional e ener-gia cintica [16]. Aconexo da Fsicacom os esportes,assim como odesenvolvimento de

    tcnicas especiais de anlise instru-mental em tais cursos (como, porexemplo, a utilizao de plataformasde fora e fotografias estroboscpicas),tem contribudo para melhorar aprpria performance dos atletas [7, 20].Entretanto, como observam Gomes ePartelli [12], apesar de quase todos osresultados discutidos em uma Fsicados esportes serem j coisas conhecidase muito bsicas da Fsica aplicada aosseres vivos, eles so ainda muito pouco

    Alexandre Medeiros

    Scienco Materiais Pedaggicos eExperimentais, Recife, PE

    Este trabalho analisa algumas das muitasdistores conceituais em Fsica apresentadaspor narradores e comentaristas esportivosem suas transmisses no rdio e na TV. Aanlise de tais distores permite construirum panorama que parece caracterizar umcerto tipo de Fsica alternativa usada comu-mente nas transmisses esportivas. Tal pa-norama revela o freqente uso inadequadode conceitos fsicos e a crena em certos pre-ceitos que substituem as leis de Newton e osprincpios de conservao.

    Os narradores dizem quecada torcedor um tcnico.

    Por nossa vez, podemos dizerque cada narrador (quase)

    um fsico...

  • 8 Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004A Fsica nas Transmisses Esportivas

    difundidos entre os fsicos e osprofessores de Fsica em geral. O quedizer, portanto, sobre o conhecimentodos mesmos fenmenos por comuni-dades como a de narradores e comen-taristas esportivos? J em 1974,Salmela, em um estudo avanado sobreginstica, havia constatado a existn-cia de um certo nmero de concepesalternativas sobre Biomecnica entreatletas e treinadores. No temos, entre-tanto, conhecimento de estudos seme-lhantes entre profissionais da mdiaesportiva.

    O estudo aqui apresentado tentadar conta de parte do que aparece costu-meiramente a respeito dos fenmenosfsicos no imaginrio de locutores ecomentaristas nas transmissesesportivas e que poderamos, de incio,caracterizar como uma mecnica deequvocos. Por uma questo tica,omitimos propositalmente os nomesdos personagens envolvidos, mencio-nando-os genericamente de modo ano poderem ser facilmente identifi-cados.

    O surrealismo de umamecnica de equvocos

    As afirmaes comentadas a seguirabrangem um amplo leque de con-tedos no tocante Mecnica. Tome-mos, por exemplo, o seguinte comen-trio de um radialista em meio a umatransmisso de corrida de automveis:Que infelicidade! Justo na ltima curva omotor fumaou! E a companheiro, no tempr ningum. uma lei bsica da Fsica:sem fora, no h movimento. Observe-se o tom professoral em que tal afirma-o est contida. O narrador no secontenta em co-mentar a impossibi-lidade do corredorprosseguir na com-petio. Ele enunciaem alto e bom tomuma lei de suaFsica alternativa:sem fora, no hmovimento, em flagrante desrespeito primeira lei de Newton. Que ele penseassim, de acordo com o senso comum,seria compreensvel. Ele, entretanto,no apenas enuncia sua concepoalternativa sobre o movimento doscorpos, mas cuida, tambm, de traves-

    ti-la com a importncia de uma equi-vocada lei da Fsica. Pela forma comofoi expressa, no se trata, portanto, deuma simples afirmao do sensocomum; mas, sim, de algo enraizadono imaginrio e expresso irrefleti-damente com ares de um preceito ci-entfico. difcil avaliar o poder deconvencimento que uma afirmaodeste porte pode exercer,inadvertidamente,nas mentes aindaem formao dosnossos jovens afi-cionados pelascorridas automobi-lsticas.

    Substitutos para a 2a lei de New-ton so tambm encontrados entre asmximas presentes nas transmissesesportivas. Em outra circunstncia, umnarrador afirmou do alto de sua vastaexperincia futebolstica: Para segurarchutes fortes, o goleiro tem que pegar bemencaixado. Por isso, alm de gil, ele precisaser tambm bastante forte. Seu colegacomentarista acrescentou, ainda, que:O Brasil nunca teve bons goleiros. Talvezo Gilmar! Mas mesmo o Gilmar no secomparava aos grandes goleiros argentinosou europeus. O Lev Yashin, o AranhaNegra, da Unio Sovitica, seguravaqualquer tiro, de mdia ou longadistncia. Eu no sei como ele fazia, masele parecia ter cola nas mos. Era bemalto e jogava em frente ao gol e quasesempre abaixado e com os braos esticadospara a frente. Essas duas afirmaessobre as habilidades dos goleiros emsegurarem chutes muito fortes deixamtransparecer a compreenso ingnuaque esses profissionais da crnica es-

    portiva tm do papelda 2a lei de Newton.Note-se que o narra-dor acima mencio-nado faz aluso idia de que parapegar chutes fortes preciso encaixarbem a bola. Entre-

    tanto, isso justamente o oposto da-quilo que um bom goleiro deve tentarfazer. Se o chute for muito violento, ogoleiro precisar, antes de tudo, amor-tec-lo. E um tal amortecimento sedar, precisamente, com o recurso,ainda que inconsciente, da 2a lei de

    Newton: Ft = mv; ou seja, encolhen-do os braos ao receber o impacto, ogoleiro aumenta o tempo de contatode suas mos com a bola e assim reduzo valor da fora F. Neste sentido, ocomentarista aproxima-se um poucomais da explicao fsica correta aoobservar que braos longos parecem serum interessante atributo para os go-leiros. Eles, efetivamente, contraem

    intuitivamente osbraos aumentandoassim o valor de t.O fato, tambmobservado pelo co-mentarista, de queos goleiros se colo-

    cam frente de suas metas e de que seabaixam no momento de tentarempegar um chute mais forte igual-mente procedente. Os goleiros tentam,deste modo, utilizar os msculos dacoxa para saltarem para trs, se neces-srio, caso o impacto com a bola sejamuito violento. Este comportamentointuitivo do goleiro, que corresponde auma tentativa extrema de aumentarainda mais o valor de t, significa umuso intuitivo adicional da 2a lei deNewton. Entretanto, apesar de parecerestar na direo certa para obter umaboa explicao fsica para o fenmeno,o nosso comentarista no v nenhumalei presidindo um tal ato; antes, recorre crena de que o goleiro possui umcerto tipo de cola mgica nas mosque o faz reter a bola. A segunda lei deNewton substituda, deste modo, poralgo simplesmente pegajoso.

    Tambm a terceira lei de Newtonsofre e encontra seus substitutos nastransmisses esportivas. Tomemos aseguinte afirmativa de um locutor:Matar no peito com categoria sempreuma jogada muito difcil de realizar. Ojogador precisa estufar o peito e fazer nabola uma fora exatamente igual que abola faz nele. Qualquer errinho, para maisou para menos, a bola salta fora. Ob-serve-se como tal afirmao contrariaa 3a lei de Newton. O locutor pareceadmitir intuitivamente que a foraexercida pela bola no peito do jogador igual (em mdulo) e oposta quelaque o peito do jogador faz na bola,apenas no caso em que a jogada bemsucedida; talvez, guiado por umaconcepo igualmente equivocada de

    Os fenmenos fsicos, noimaginrio de locutores e

    comentaristas nastransmisses esportivas,

    poderiam ser caracterizadoscomo uma mecnica de

    equvocos

    Diz o locutor: uma leibsica da Fsica: sem fora,

    no h movimento...

    ...e Newton que role em seucaixo...

  • 9Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004 A Fsica nas Transmisses Esportivas

    que tais foras deveriam se anular paraque a jogada fosse bem executada. Isto,entretanto, um absurdo, uma vez queao e reao atuam em corposdistintos e por isso jamais podemanular uma outra. De qualquermodo, o nosso locutor parece imaginarque possvel que tais foras sejamdiferentes. Para ele, apenas o bomjogador obedece 3a lei de Newton.

    Um outro locutor grita ao micro-fone: A bola bateu na trave e voltou commais fora ainda. A fora foi tanta quepegou na nuca do goleiro e o deixou desa-cordado. Tambm, aqui, temos umadesobedincia 3a lei de Newton. Ochoque da bola com a trave fez, se-gundo nosso narrador esportivo, comque a bola ganhasse momento linear edesta forma transferisse tal momentolinear para a cabea do goleiro exercen-do, assim, uma fora ainda maior queaquela porventura comunicada pelo pdo atacante. No apenas nenhumamortecimento, ou qualquer tipo deperda energtica foi considerado em talchoque; pior: o narrador imaginou umsurpreendente aumento no momentolinear da bola ao se chocar com o tra-vesso.

    No apenas as leis de Newton e osprincpios de conservao sofrem nasafirmaes de nossos locutores esporti-vos. Tomemos, por exemplo, a seguinteafirmativa em meio a uma corridaautomobilstica: O novo controle de tra-o permite um freio mais eficiente. A ro-da, ao ser freada, gira para trs como asrodas das diligncias dos filmes de bang-bang. O nosso narrador no parece tera menor idia do que esteja ocorrendo;no percebe que o que ocorre um des-casamento entre afreqncia de giro daroda em relao afreqncia de expo-sio do filme e, pordecorrncia, em re-lao ao tempo depercepo do olhohumano (deaproximadamente1/16 s). A roda, de fato, parece atrasar-se e isso pode ser bem acompanhadopor um estroboscpio, demonstrandoo descasamento na freqncia de rota-o. Em vez disso, o nosso locutor pre-fere imaginar que a roda ao ser freada

    passa efetivamente a girar para trs.Outro equvoco comum a con-

    fuso conceitual entre o peso de umcorpo e o seu momento linear. Tome-mos, como exemplo, a seguinte afir-mao de um locutor esportivo duranterecente jogo de Hquei na TV: NoHquei sobre patins a bola chutada temmuito peso. Num chute forte, ela vem comum impacto de 200 kg. Certamente, nofaz sentido dizer que a bolinha vemcom muito peso, pois o peso da mes-ma constante, dado que no hvariao na acelerao da gravidade.Em segundo lugar, a Fsica de umimpacto no descrita simplesmentepor uma massa (200 kg); mas, sim, por

    uma transfernciade energia cintica ede momento linear.De um modosemelhante, duran-te uma partida detnis recente, umcomentarista afir-mou: A bola do Gugaest muito pesada. Ele

    tem sacado a 200 km/h. Novamente, onarrador confundiu as idias demomento linear e energia cintica como peso do corpo. Sua inteno de dizerque a bola fica mais pesada parece sersimplesmente a de passar a idia de

    que o efeito de um impacto a sercausado por uma bola com tal veloci-dade (200 km/h) seria muito forte.Estas confuses ficam mais evidentesem uma outra frase de um locutordurante um jogo recente do campeo-nato alemo: A bola est muito pesada ecom isso ela pega muita velocidade.Equvoco ainda maior pode ser encon-trado, entretanto, na seguinte frase deum outro comentarista: O chute doNelinho era muito perigoso, principal-mente de longe, pois a bola tinha maistempo de pegar embalagem no ar. Nestecaso, temos algo realmente inusitado:a idia de que o momento linear au-menta durante o percurso da bola noar. No bastasse no estar em alertapara o amortecimento causado pelo ar,o comentarista ainda imagina um im-provvel aumento de velocidade (algumvento misterioso?). No tocante aos cho-ques, algumas afirmaes so corretas,ainda que expressas de maneira nomuito clara: O bicudo um chute feio,geralmente vai sem direo, mas quandopega na veia no tem pra ningum. Aidia aqui implcita e correta a de queem um choque frontal ocorre umatransferncia mxima de momento lin-ear. Outros locutores parecem estaratentos para os efeitos de dissipao,confundindo, entretanto, os conceitos

    O locutor grita ao microfone:A bola bateu na trave e

    voltou com mais fora ainda!

    ...porque deve ser naturaldas bolas o desejo de

    desobedecer 3a lei deNewton...

    Chute forte em uma partida de Hquei: o peso da bola sempre o mesmo.

  • 10 Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004A Fsica nas Transmisses Esportivas

    envolvidos: Ele chutou com muita forae queima roupa. O goleiro no teve culpano gol; a bola praticamente no tevetempo de gastar a fora. Neste caso, ficaevidente que o narrador imagina que afora exercida pelo p do atacante nomomento do chute fica impressa nabola, gastando-se paulatinamente. uma concepo que muito se asse-melha idia medieval de impetus.

    Outro equvoco interessante aconvico existente entre os narrado-res esportivos de que o peso algo quepode ser transferido. Este equvocoaparece, freqentemente, associado incompreenso da idia de torque. Emum jogo de tnis recente, o narradorafirmou, por exemplo: Guga transferebem o peso do corpo para frente e solta aparalela. Certamente isto um absur-do, pois o peso a fora com que aTerra atrai um certo corpo e, portanto,aponta sempre para o centro deste pla-neta. Guga no poderia jamais trans-ferir o seu prprio peso para frente; issono faz nenhum sentido. O que onarrador, poderia dizer que Guga fle-xiona todo o seu corpo para frente eno apenas o brao, transferindo, as-sim, uma maior energia cintica eum maior momento linear bola.Note-se, ainda, que em uma tal cir-cunstncia o aumento deveu-se, prin-cipalmente, ao jogador haver au-

    mentado o brao de alavanca, a dis-tncia em torno da qual a ponta daraquete executar um giro. Sendo oseu p (como no caso exemplificado)o centro da referida rotao da raquete,a velocidade ( = r) da extremidadeda raquete ser maior que no caso noqual o jogadorapenas gira o brao.Entretanto, o fato dever o movimento dojogador, todo estica-do, girando comoum todo em tornoda ponta do seu p, descrito pelo lo-cutor como se omesmo houvessetransferido o seupeso para a bola, o que evidentementeno poderia jamais acontecer. Isto fazcom que tenistas mais altos possamfazer a ponta de suas raquetes atingiremmaiores velocidades que outros tenis-tas mais baixos, transferindo, assim,uma maior quantidade de movimento(p = mv) bola. Tal fato no tem esca-pado da observao mais cuidadosadaqueles que acompanham o tnis hmuito tempo, mesmo sem seremfsicos. Tome-se, por exemplo, o perti-nente comentrio sobre a evoluo dapotncia dos saques dos tenistas feitapor Carneiro [6], constante no sitePlayTenis, sobre a importncia do sa-que: cada dia vemos aumentar a impor-tncia do saque no circuito profissional detnis. Com o aumento da envergadura dostenistas, onde um jogador com 1,80 m(Agassi) considerado baixinho, a potn-cia do saque tem decidido muitos e muitosjogos.

    s vezes as concepes alternati-vas exibidas pelos narradores estoligadas a questes biomecnicas maiscomplexas, como por exemplo a afir-mao de que O saque do Ivanisevic muito forte. Isso lhe causa problemas nosjoelhos devido sobrecarga causada pelapotncia do seu saque. Entretanto, comorevelam estudos de biomecnica, po-de-se perceber que a sobrecarga que ocorpo do atleta suporta durante qual-quer fase do saque relativamentebaixa [24]. Na mesma linha encontra-mos equvocos como O problema dosaque com um salto para cima que ao sechocar com o solo o atleta vem muito mais

    pesado. Estes mesmos pesquisadoresmostram que estudos empricos reve-lam que mesmo levando-se em contaos efeitos de um salto no momento dosaque, salto este que ocasiona umamaior transferncia de momento linearno instante que os ps tornam a tocar

    o solo, a fora dereao vertical co-municada pelo solo de aproximadamente1,33 vezes o pesocorporal do tenista.

    Ainda relacio-nados aos saques notnis encontramosafirmaes como ASerena Williams sacamuito forte para os

    padres femininos. O segredo do seu sa-que parece estar na combinao exata defora e rapidez com que executa o movi-mento. Um bom saque precisa ser forte ede rpida execuo. Mais uma vez, en-contramos, aqui, um equvoco sobre aBiomecnica da situao. Certamente,saques praticamente indefensveis socada vez mais freqentes no jogo detnis atual. Naturalmente, isto motivao interesse em estudar o saque, pois seconstitui em um elemento tcnicoaltamente determinante do rendimen-to do praticante, j que o jogador possuitotal controle durante a execuo destahabilidade fechada, onde o ambientevaria muito pouco [3, 10, 17]. Apesardesta vantagem, entretanto, a execu-o do saque de difcil domnio, jque, como revelam estes pesquisadores,o brao que lana a bola deve serlevantado lentamente com a finalidadede colocar a bola no ponto ideal decontato, enquanto o brao que seguraa raquete deve balanar em um padrocomplexo para golpear a bola, combi-nando potncia e coordenao. Nosomente os braos descrevem padresde movimento e ritmos diferentes; elestambm devem sincronizar-se aosmovimentos dos membros inferiores edo tronco [10, 22].

    Ainda do tnis, retiramos o se-guinte dilogo envolvendo conceitosem Fsica:

    Narrador: Roland Garros umaquadra lenta, por ser de saibro. Isso umavantagem para o Guga que no se adaptabem a quadras rpidas como Wimbledon.

    Saque violento do Guga: a flexo de todo oseu corpo para frente, e no apenas dobrao, transfere uma maior energia cinticae um maior momento linear bola

    Segundo o narrador, Gugatransfere bem o peso do corpopara frente e solta a paralela

    ...a despeito do peso ser umafora que aponta para o centro

    do planeta, no possuindocomponente que possa alterara componente horizontal da

    velocidade da bola...

  • 11Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004 A Fsica nas Transmisses Esportivas

    Comentarista: Isso um tanto pro-blemtico! Se voc prestar ateno, verque o tenista desliza mais rapidamenteno saibro que na grama. Para mim, asquadras de saibro que deveriam serdenominadas de quadras rpidas.

    Narrador: Mas essa uma conven-o, creio que universal.

    Em outra transmisso, ouvimos,mais ou menos, o seguinte coment-rio do narrador:

    A quadra de saibro est coberta poruma areia fina. Os organizadores deve-riam ter limpado a quadra antes do jogo.

    Embora coletados em ocasies dis-tintas, esses dois comentrios dizemrespeito a uma mesma situao: a con-ceituao do que vem a ser umaquadra rpida e uma quadra lenta. Noprimeiro dilogo, o comentarista e onarrador discordam sobre o fato dasquadras de saibro serem ditas lentasou rpidas. O narrador diz ser esta con-ceituao uma conveno. Na verdade,trata-se de uma questo de critrio aser adotado na referida conceituao.

    Como esclarece Cross [9], h doismodos de se definir uma quadra quanto velocidade: pode-se falar em relao velocidade que a bola pode atingirno choque com o solo ou em relao velocidade que o jogador desliza sobrea quadra. E neste aspecto de desliza-mento que entra o papel da areia que colocada propositadamente sobre asquadras de saibro para reduzir o coefi-ciente de atrito entre os sapatos dostenistas e a superfcie, fazendo comque ele deslize mais facilmente semescorregar. A areia atua como umlubrificante para as quadras de saibro.O coeficiente de atrito no saibro daordem de 0,8, enquanto para a grama da ordem de apenas 0,5. Como con-seqncia de apresentar um maiorcoeficiente de atrito, o saibro retarda acomponente horizontal da velocidadeda bola quando a mesma se choca como solo. Neste sentido, a quadra desaibro , de fato, mais lenta. Almdisso, o coeficiente de restituio noschoques entre a bola e o solo maior

    no saibro do que na grama. Isso fazcom que haja, no topspin, um aumen-to no ngulo de repique da bola. Entre-tanto, a fina camada de areia colocadasobre o saibro faz com que os jogadoresdeslizem mais facilmente que nagrama, movendo-se mais rapidamentede um lado para o outro da quadra.Neste sentido, portanto, a quadra desaibro , de fato, mais rpida que a degrama. Tudo, portanto, uma questodo critrio a ser adotado na concei-tuao da rapidez de uma quadra.

    Relacionada com este mesmo fa-to, ouvimos certa vez a seguinte obser-vao de um narrador: Geralmente osjogadores que se adaptam bem ao saibroso mais leves e sacam sem tanta foraquanto aqueles que jogam bem na grama.

    A questo est, certamente, malcolocada. De fato, usualmente, o sa-que no saibro mais lento que na gra-ma, mas isso no se deve possvelfragilidade ou fora dos jogadores.Trata-se, antes, de uma questo tticaadotada pelos tenistas, de um modo

    mvh

    mvv

    mvh

    mvv

    (a)

    (b)

    (c)

    backspin

    trajetriasem spin

    trajetriacom spin

    fora exercida pelosolo sobre a bola

    fora exercida pelabola sobre o solo

    topspin

    trajetriasem spin

    trajetriacom spin

    fora exercida pelosolo sobre a bola

    fora exercida pelabola sobre o solo

    a) Coliso ideal semb) Coliso comc) Coliso com

    spinbackspintopspin

    Entenda as quadras de tnisPrecisamos atentar para o fato de

    que o papel das foras de atrito en-tre a bola e a quadra muito impor-tante! Assim, apesar do coeficiente derestituio entre a bola e o solo sermaior no saibro, nesse piso que osimpactos apresentam menor potncia.Nas rebatidas mais simples, a bolade tnis bate obliqamente com o so-lo, no tendo velocidade de rotao,tendo apenas sua translao. Consi-derando um choque quase elsticocomo no saibro(mais duro quea grama), a bolasofre uma peque-na perda de mo-mento linear. As-sim, ao batermosde chapa na bola, razovel queela tenha maior velocidade conformebatemos com mais fora. Contudo,os jogadores profissionais tocam abola de raspo, acrescentando umefeito de giro (spin) bola, na ten-tativa de tornar a recepo para oadversrio mais difcil.

    No backspin a bola recebe um gol-pe que a faz girar para trs, empur-rando o solo para frente quando elaquica. O solo, pela terceira lei de New-

    ton, empurra a bola para trs, mudan-do sua trajetria para um ngulo maisprximo da horizontal. A forca exerci-da pelo solo causa, assim, uma redu-o na velocidade da bola e no seu mo-mento linear, fazendo-a saltar menosdo que se no houvesse o efeito back-spin. Como o coeficiente de atrito maior no saibro, esse piso faz com queo momento linear da bola sofra maiorreduo do que na grama, onde o coe-ficiente de atrito menor!

    No topspin a bola forada a girarpara frente, e os efei-tos acontecem aocontrrio: a bola ga-nha velocidade adi-cional justamenteporque recebe do so-lo uma reao para

    frente ao empurr-lo para trs, afas-tando-se da horizontal ao tocar o solo.

    A concluso que o jogador profis-sional abre mo da fora em favor dojeito, e o jogo na quadra de saibro mais lento medida em que a bola sacada e rebatida com menor fora mascom muito mais spin do que na grama.O jogo fica mais plstico e mesmo maissurpreendente, j que a bola acabaassumindo trajetrias diferentes da-quelas que o senso comum indicaria.

    No jogo entre profissionais,no apenas o coeficiente de

    restituio que conta; asforas de atrito tambm so

    muito importantes

  • 12 Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004A Fsica nas Transmisses Esportivas

    geral. Como a bola no saibro repica commenor velocidade, mas em ngulosmais acentuados, os tenistas aprovei-tam este efeito para colocar umarotao extra na mesma (veja o quadroda pgina anterior). Deste modo, osjogos no saibro tm menor potncia nossaques, mas maiores efeitos de spin.Eles sacrificam a velocidade do saqueno saibro, que tem uma mdia de160 km/h, comparados aos 185 km/h na grama, em troca dos efeitosobtidos na rotao da bola e suas decor-rentes e surpreendentes mudanas decurso tambm devidas ao efeitoMagnus. A fora de Magnus umaconseqncia do princpio de Bernoullie a principal responsvel, por exem-plo, pelos surpreendentes desvios so-fridos pelas bolas em cobranas de faltaem partidas de futebol. No im-pressionante que este complexo efeitoseja to pouco compreendido e todeturpado nas transmisses esportivas.Em uma ocasio, por exemplo, ouvi-mos o seguinte dilogo:

    Narrador: Ningum cobrava faltaigual ao Didi. A sua folha seca enga-nava qualquer goleiro. A bola ia em umalinha reta e de repente mudava de dire-o.

    Comentarista: O Didi curvava o pna hora do chute e a bola pegava essacurva e ia no ngulo, cobrindo a barreira.

    O narrador e o comentarista estobastante equivocados. Em primeirolugar, no verdade que a bola sigaem linha reta e curve de repente. Esteequvoco assemelha-se aos desenhosde movimentos de projteis contidosnos estudos renascentistas de Tartaglia.De fato, o Didi raspava a bola lateral-mente com a parte externa do p, aomesmo tempo em que a impulsionavapara frente. Essa combinao demovimentos de rotao e translaoda bola fazia com que pontos simtri-cos na mesma em relao ao centro demassa adquirissem distintas composi-es vetoriais de velocidade (rotao +translao). Era essa diferena lateraldas velocidades que causava umadiferena de presso no ar devido aoprincpio de Bernoulli, gerando ochamado efeito Magnus, fazendocom que a mesma executasse umacurva ao redor da barreira. A afirma-o, por outro lado, de que a bola pegavaa curva do p do Didi completamenteabsurda. Um detalhamento maior do

    efeito Magnus foge ao escopo dopresente trabalho, mas pode serencontrado em vrias referncias [2,5, 13, 14, 15, 18].

    De toda forma, equvocos na an-lise de situaes envolvendo o efeitoMagnus e o princpio de Bernoulli, es-to entre os mais frequentes nas trans-misses esportivas. Em uma certaocasio, um conhecido comentaristada TV afirmou: Tem jogadores quepossuem um certo magnetismo com a bola.Eles prendem a bola facilmente aos ps,mesmo em alta velocidade. O Rivelino iaalm. Ele tinha o famoso drible doelstico, que ele jogava a bola para frentee a atraa de volta. Em uma talafirmativa, as composies vetoriaisentre a translao e a rotao da bolaaparecem substitudas por umamisteriosa atra-o magntica.H, entretanto,muitas outrasjias da Fsicasurrealista dosnarradores e co-m e n t a r i s t a sesportivos rela-cionadas ao as-sunto. Dentreelas, destaca-mos, ainda, asseguintes:

    Os aeroflios traseiros foram proibi-dos porque apesar de tornarem o carromais aerodinmico, faziam com que eleficasse muito instvel devido ao efeitoasa.

    O equvoco aqui evidente para o

    profissional de Fsica. O narrador nopercebe que um aeroflio justamenteuma asa invertida e que o seu efeitono seria, jamais, o de fazer um carrodecolar. Ao contrrio, o aeroflioprovoca o surgimento de foras decompresso descendentes sobre a es-trutura do carro que aumentam a for-a de atrito pelo aumento da fora nor-mal. O carro torna-se, na verdade,mais estvel, mais preso ao cho.

    Com o aeroflio o carro fica mais pe-sado e tem maior aderncia. Neste caso,o nosso narrador chegou mais pertoda viso de que com o aeroflio o carroadquire maior estabilidade; mas, nocompreendeu que esse aumento deestabilidade provm da presso aero-dinmica exercida sobre o aeroflio. Deforma ingnua, ele imagina que o peso

    do carro tenha aumen-tado. De modo seme-lhante, em outra oca-sio, o mesmo narradorafirmou em alto e bomtom para os seus teles-pectadores: A adernciaao solo perto dos 300 km/hfica muito prejudicada,pois a essa velocidade ocarro fica mais leve equalquer erro pode serfatal. Trata-se do mes-

    mo equvoco, acima comentado, masem um outro contexto.

    Ainda relacionado com o princpiode Bernoulli, ouvimos na abertura deum jogo de futebol comemorativo doDia do Trabalho: O helicptero agora jse aproxima do estdio. Vamos esperar que

    Os aeroflios traseiros foramproibidos porque apesar de

    tornarem o carro maisaerodinmico, faziam com

    que ele ficasse muito instveldevido ao efeito asa

    verdade que o aeroflio uma asa... invertida! E isso

    proporciona estabilidade aoscarros durante as corridas...

    A folha seca de Didi: o efeito Magnus sempre foi o responsvel pela incrvel faanha dobrasileiro.

  • 13Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004 A Fsica nas Transmisses Esportivas

    esta maravilha tecnolgica que voa semasas lance do alto a bola do espetculo.Neste caso, o narrador exprime umacrena que parece ser compartilhadapor um nmero grande de pessoas: ade que o helicptero no tem asas, ouseja, a no compreenso do papelexercido por sua enorme asa rotativaque vista, talvez, como sendosimplesmente uma hlice propulsora.

    Outro ponto comum nas narraesesportivas a crena na existncia deuma certa fora do vcuo, como, porexemplo, na seguinte afirmao, emmeio a uma corrida: Os retardatriosao serem ultrapassados tentam usar afora do vcuo dos lderes para acompa-nh-los por alguns segundos. Na verdade,o arrasto provocado pelo carro da frentecria uma zona de descompresso nasua parte traseira, mas a pressomaior na parte de trs do carroultrapassado que cria um gradiente depresses impulsionando-o efetivamen-te, durante um curto espao de tempopara frente. A idia da existncia,entretanto, de uma fora do vcuoparece estar em consonncia com osenso comum e com a crena aristo-tlica de que a natureza teria horrorao vcuo.

    A questo dos projteis aparece emvrios esportes nas narraes espor-tivas. No basquete, por exemplo, as-sistimos ao seguinte trecho: O ShaquileONeil erra muitos lances livres porquecoloca muita fora na bola. Embora umatal explicao para o insucesso nosarremessos livres do grande piv no

    seja desprovida de sentido, ela, certa-mente, no a nica explicao pos-svel. Uma observao atenta dosarremessos do gigante do Lakers podenos revelar que parte relevante do pro-blema est no ngulo de arremessomuito pequeno, quase rasante. O nar-rador parece no atentar para o fatode que no apenas a fora empregadano arremesso determina o sucesso doalcance obtido [21].

    Do futebol vem outro interessanteexemplo de equvoco em uma narra-o esportiva, desta vez ligado questo do equilbrio. Em meio a umdebate na TV, um comentarista afir-mou o seguinte: O Garrincha driblavarpido e na carreira. Ele balanava o corpoe puxava a bola rapidamente para o lado;quase sempre o lado direito. E fazia issosem abrir os braos para no dar pista aomarcador para onde e quando ele ia sair.Certamente isto um absurdo, mesmopara um fenmeno como foi o Garrin-cha. Talvez trado pela memria, ocomentarista tenha exagerado nosdetalhes do drible de seu Man. Ele, defato, driblava muito rapidamente equase sempre para a direita. E a rapi-dez com que executava este movimen-to era uma das chaves do seu sucesso.Entretanto, ele sempre abria os braosao driblar (ver figura). Seus driblesdesconcertantes eram bem longos eele usava os braos com maestria paraequilibrar o corpo no exato momentoem que puxava a bola lateralmente.Sem essa compensao de torques, elefatalmente iria ao cho, fato que acon-tecia, freqentemente, com os seusmarcadores, no to hbeis na execu-o de to rpido bailado.

    Um outro fato interessante presen-te nas transmisses esportivas residena crena na possibilidade de certosatletas desafiarem momentaneamentea lei da gravidade, levitando. Em umatransmisso de basquete o locutor foienftico ao afirmar que O Michael Jor-dan realmente um jogador excepcional.Ele se diferencia dos demais jogadores, poisconsegue parar no ar por uma frao desegundo e isso lhe permite encestar commais preciso. Tambm no futebol estacrena parece presente: Hoje em dia jno temos grandes cabeceadores. Mesmoo Jardel no se compara com o Dario. ODario era melhor que os outros porque eleparava no ar por um breve instante detempo, no momento de cabecear.

    Tambm nas transmisses de atle-tismo pudemos perceber alguns equ-vocos. Em meio disputa das Olimpa-das, um comentarista chamou a aten-o do telespectador para o fato de quenovos recordes de curta e longa distn-cia nas corridas tm sido estabelecidosnos ltimos anos em funo da maiorestatura dos atletas. Entretanto, comoalertam, de modo pertinente, Gomes eParteli [12], isso no parece ter qualquerfundamento cientfico. A velocidademxima nas corridas no determi-nada pela altura do corredor. Estes pes-quisadores chegam a lembrar que boaparte dos recordistas de corridas soindivduos de baixa estatura.

    Nada, entretanto, parece superaras corridas de Frmula 1, Frmula Indye outras do gnero, como fonte deequvocos sobre a Fsica das situaesanalisadas. E ressalte-se, ainda, quepelo fato de tais corridas serem reves-tidas de todo um sofisticado aparatotecnolgico, as explicaes pseudo-cientficas parecem ainda mais con-vidativas em tais circunstncias. To-memos, por exemplo, o seguinte di-logo em meio a uma corrida decaminhes na TV:

    Narrador: Se um caminho e umFrmula 1 entrassem juntos em uma cur-va, o caminho, certamente, sairia comuma maior velocidade.

    Comentarista: Claro, tendo mais pesoele tende a adquirir mais velocidade.

    Tal afirmao est completamenteequivocada. Narrador e comentaristaparecem acreditar na relao entre opeso e a velocidade. Entretanto, o pesono importa em uma tal situao. Seo caminho e o carro executam amesma curva com a mesma veloci-dade, a mesma relao entre a fora ea massa tem que ser observada. Destemodo, necessrio uma fora maiorpara fazer o caminho executar acurva. Esta fora devida ao atritoentre os pneus e a pista que propor-cional ao peso (em um plano horizon-tal). Assim, a massa tem o seu efeitocancelado na relao mencionada en-tre a fora e a massa do veculo [8].

    Em outra ocasio, um equvocosemelhante foi constatado. O narra-dor, referindo-se a uma curva fecha-da, afirmou que Em uma curva fechada,um caminho e um Frmula 1 tm com-portamentos muito diferentes. Enquanto,ao tentar fazer a curva, o caminho

    Drible desconcertante de Garrincha: tradopela memria, o comentarista se esqueceque Man abria os braos para se equilibrarno momento do drible.

  • 14 Fsica na Escola, v. 5, n. 1, 2004A Fsica nas Transmisses Esportivas

    Referncias[1] A. Armenti Jr., The Physics Teacher

    1212121212, 349 (1974).[2] T. Asai; T. Akatsuka e S. Haake, Phys-

    ics World 1010101010, 25 (1998).[3] A. Ashe, Getting More Firepower into the

    Cannonball. Tennis Strokes and Strate-gies (Simon & Shuster, New York,1975).

    [4] J. Borkowski e E. Kawecka, in Con-gress GIREP: Physics in New Fields, Lund,Sucia, 2002.

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    [14] G. Ireson, Physics Education 3636363636, 10(2001).

    [15] G. Ireson, in Congress GIREP: Physics inNew Fields, Lund, Sucia, 2002.

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    [20] K. Parker, Physics Education 3636363636, 18(2001).

    [21] J. Pons, Ensennza de las Ciencias 1818181818,131 (2000).

    [22] B. Price, Body Arc and Serving Power. Ten-nis Strokes and Strategies (Simon &Schuster, New York, 1975).

    [23] J. Salmela, The Advanced Study of Gym-nastics (Charles C. Thomas Publisher,Springfield, Illinois, 1974).

    [24] B. Van Gheluwe and M. Hebbelinck,International Journal of Sport Bio-mechanics 22222, 88 (1986).

    desliza para fora da pista, o Frmula 1faz a curva facilmente. Em resposta, ocomentarista concorda com o narra-dor, afirmando que Certamente, pois ocarro mais leve, menor e mais rpido.Ele, deste modo, mais apropriado parafazer curvas fechadas. Em curvas maisabertas, o caminho e o carro de corridaconseguem executar a curva, mas em cur-vas fechadas apenas o carro consegue, porser mais leve e mais rpido. Como podeser percebido, o mesmo tipo de equ-voco anterior repete-se, em um con-texto um pouco diferente. Imaginemosque o carro e o caminho estejam coma mesma velocidade, e admitamosainda que o coeficiente de atrito entreos pneus de ambos os veculos e o choseja o mesmo. Como vimos no casoanterior, a relao entre a fora e amassa (acelerao) ser a mesma paraque ambos faam a curva. Entretanto,o caminho tem uma maior tendnciaa virar na curva, pois o seu centro demassa mais alto. O que importa,neste caso, a relao entre a alturado centro de massa e a largura da base,ou seja, a distncia entre as rodasesquerda e direita. Esta relao maiorno caso do caminho que, deste modo,tem uma menor estabilidade nas cur-vas fechadas [8]. Portanto, embora ocaminho tenha, realmente, maiordificuldade que o carro para fazer ascurvas mais fechadas, este fato nadatem a ver com a explicao esboadapelo narrador e complementada pelocomentarista.

    Muitos outros equvocos registra-dos em nosso estudo nas transmisses

    esportivas dizem respeito a fenmenosrelacionados ao calor, ptica e ele-tricidade. O espao do presente tra-balho, entretanto, no permite que nosalonguemos em suas anlises, ficandoos mesmos para serem alvos de estu-dos e comentrios em um outro texto.

    Para complementar nossa coleode ensinamentos surrealistas de Fsi-ca contidos nas transmisses espor-tivas, vale a pena citar uma jia rarabem recente. Na final da ultima CopaAmrica, durante o jogo Brasil x Ar-gentina, o comentarista observou parao locutor: hoje noite, no Fantstico,fsicos da USP vo explicar os saltos daDaiane dos Santos. Imediatamente olocutor acrescentou de forma eloqentee professoral: Eles vo tentar explicar,pois saltos so coisas artsticas; saltos notem nada a ver com a Fsica. Umaobservao realmente fantstica!

    ConclusesO panorama geral que pode ser

    auferido do presente estudo sobre aviso de Fsica contida nas transmis-ses esportivas no parece dos maisanimadores. Certamente tal panoramano descreve rigorosamente aquilo quepensam os profissionais da mdia sobreo assunto, mas fornece, assim mesmo,uma viso calcada no registro e na an-lise de algumas opinies emitidas poralguns influentes narradores e comen-taristas. De todo modo, entretanto,ainda que a ttulo apenas ilustrativo,o cenrio dele decorrente parece preo-cupante. Sendo a mdia esportiva umpoderoso veculo formador de opino,

    de se questionar o que poderia serfeito para, ao menos, suavizar este tipode influncia na formao cientficados nossos jovens. No temos a res-posta para uma tal indagao, masassumimos a importncia de que taisequvocos sejam discutidos com osalunos em sala de aula. Acreditamos,deste modo, que o presente estudo pos-sa servir de alerta para a existncia doreferido problema e para que outras pes-quisas sejam realizadas com o intuitode investigar em maior amplitude estaquesto que se apresenta como degrande relevncia educacional peloimpacto que pode exercer.

    Uma tal relevncia educacionalpode ser aquilatada pelo potencial moti-vador que as menes s transmissesesportivas e aos seus personagens pare-cem exercer sobre parcela relevante danossa juventude. Neste sentido, umaanlise das concepes alternativas,sobre certos contedos da Fsica, apre-sentadas por tais personagens, podeservir como um complemento emabordagens educacionais mais eclticas.Aliada a outras metodologias de ensinoque incluam, por exemplo, experimen-tos, informaes histricas, dramati-zaes, tecnologia educacional e tantasoutras coisas mais, a discusso das con-cepes sobre os fenmenos fsicospresentes no imaginrio dos profis-sionais da mdia desportiva, parece-nosapresentar-se como um complementodotado de um grande potencial de moti-vao que merece, portanto, ser con-venientemente explorado em nossassalas de aula.