ficha 1 - boletim da casa da achada - centro mário...

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BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIO f fi ic ch ha a Um ano em velocidade de cruzeiro. Levando em linha de conta o número de iniciativas postas em prática e o facto de elas se deverem essencialmente ao voluntarismo de quantos lhes deram empenho e trabalho, quase se pode dizer que a passada se tem mostrado maior que a perna. Obedecendo aos propósitos fun- dadores, a Associação centrou na figura e na obra de Mário Dionísio – o pedagogo, o poeta, o crítico, o ensaísta, o pintor, o novelista, o in- telectual interventivo – o essen- cial da sua actividade, isto sem prejuízo de se abrir a outras iniciativas exteriores, entendidas como convergentes do espírito que a anima. A escassez de recursos financei- ros, mais acentuada pela secun- darização «institucional» de uma Casa que assim se vê forçada a operar nos limites da margina- lidade, serve no entanto para acentuar a sua própria dinâmica. Ou, noutros termos, aquela in- dependência crítica e aquela coe- rência de que Mário Dionísio deu exemplo maior – e deixa rasto. Nesta Ficha se traça um quadro do que foi um ano de interven- ções multidisciplinares, extensíveis algumas ao espaço físico envol- vente. Cremos que é ele demonstrativo, à evidência, do que atrás foi dito, e para diante se projecta. Como quem quer a coisa. Mário Dionísio - Auto-retrato, 1945

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B O L E T I M DA C A S A DA A C H A DA - C E N T R O M Á R I O D I O N Í S I O

ffiicchhaaUm ano em velocidade de cruzeiro.Levando em linha de conta o número de iniciativas postas emprática e o facto de elas se deverem essencialmente ao voluntarismode quantos lhes deram empenho e trabalho, quase se pode dizer quea passada se tem mostrado maior que a perna.

Obedecendo aos propósitos fun-dadores, a Associação centrou nafigura e na obra de Mário Dionísio – o pedagogo, o poeta, o crítico, oensaísta, o pintor, o novelista, o in-telectual interventivo – o essen-cial da sua actividade, isto semprejuízo de se abrir a outrasiniciativas exteriores, entendidascomo convergentes do espíritoque a anima.A escassez de recursos financei-ros, mais acentuada pela secun-darização «institucional» de umaCasa que assim se vê forçada aoperar nos limites da margina-lidade, serve no entanto paraacentuar a sua própria dinâmica.Ou, noutros termos, aquela in-dependência crítica e aquela coe-rência de que Mário Dionísio deuexemplo maior – e deixa rasto. Nesta Ficha se traça um quadrodo que foi um ano de interven-

ções multidisciplinares, extensíveis algumas ao espaço físico envol-vente. Cremos que é ele demonstrativo, à evidência, do que atrás foidito, e para diante se projecta. Como quem quer a coisa. ��

Mário Dionísio - Auto-retrato, 1945

1. O CENTRO DEDOCUMENTAÇÂO

No Centro de Documentação da Casa daAchada-Centro Mário Dionísio é possívelconsultar o espólio literário e artístico deMário Dionísio, o arquivo pessoal deste e deMaria Letícia Clemente da Silva, além da suabiblioteca. Ou seja: originais de Mário Dionísio (textos,desenhos, pinturas), originais de outrosautores, correspondência, recortes de im-prensa, dossiers temáticos, ficheiro de MárioDionísio, documentos biográficos e rela-cionados com a actividade profissional deambos, fotografias, etc.

A digitalização do arquivo está em curso.Mas é possível consultar os documentosdesde já, uma vez que se encontram inven-tariados e organizados por categorias. O resumo do espólio está acessível em:http://www.centromariodionisio.org/espolio.php

A secção de audiovisuais começará em brevea ser tratada.

A Biblioteca Mário Dionísio e de MariaLetícia, existente no Centro de Documen-tação, foi toda catalogada, durante esteprimeiro ano de funcionamento, no progra-ma SIRIUS. São mais de 6000 livros (lite-ratura e sobre literatura, de arte e sobrearte, linguística, ciências sociais, etc.) e pertode 300 títulos de publicações periódicas –portuguesas e estrangeiras. A catalogação está acessível, através do siteda Casa da Achada, em http://sirius.book-marc.pt/cmd/script/sirius.exe.Esta biblioteca também pode ser consultada,com marcação prévia.A catalogação da biblioteca estará muitobrevemente incluída na PORBASE, geridapela Biblioteca Nacional.Estão digitalizadas as dedicatórias existentesnos livros, mais de 1600, e não só a MárioDionísio, a que os utilizadores do Centro deDocumentação poderão também ter acesso.

2. A EXPOSIÇÃO 50 ANOS DEPINTURA E DESENHO (1943-1993)

Inaugurou em 29 de Setembro de 2009 umaexposição de pintura e desenho que semanteve um ano na Casa da Achada. Consta de 37 pinturas e desenhos de MárioDionísio, de várias fases, e obras de artistasque por eles lhe foram oferecidas e quefazem parte do seu espólio: Abel Salazar,Álvaro Cunhal, António Cunhal, AvelinoCunhal, Cândido Portinari, Carlos de Olivei-ra, Carlos Scliar, Germano Santo, José Júlio,Júlio, Júlio Pomar, Júlio Resende, ManuelRibeiro de Pavia, Maria Helena Vieira da Silva,Raul Perez.

Segundo as senhas de entrada, a exposiçãofoi vista por mais de 700 pessoas que sedeslocaram expressamente para a ver. Masmuitas mais a terão visto, uma vez que ésobretudo quando há actividades (cinema,palestras, conversas, leituras, etc.) que aspessoas se deslocam à Casa da Achada. Enessas alturas não são fornecidas «senhas deentrada».

Deviam ter sido mais as visitas guiadas àexposição. Depois da visita feita por ReginaGuimarães, durante a Semana de Abertura,em que foram lidos vários textos seus sobrequadros de Mário Dionísio (são mais de 100os textos de Regina Guimarães que seencontram disponíveis na Zona Pública daCasa da Achada), só foram organizadas trêsvisitas guiadas: uma durante o «fim de sema-na diferente» de Dezembro (19 Dez. 2009),outra no feriado de 13 de Junho (por Rui--Mário Gonçalves), a última durante a II Fei-ra da Achada (10 Jul. 2010). Todas muitoparticipadas.

Marcaram visitas à exposição e ao espaço(ou apareceram simplesmente) alguns gru-pos. Todos foram acompanhados por genteda Casa da Achada, que guiou as visitas: alémde simpáticos grupos de amigos queinformalmente se reúnem para passear econhecer em conjunto o que não conhe-cem, grupo de sem-abrigo (Abr.), grupo dejovens de várias nacionalidades em estágiona «Cidadania e Vida» (Mai.), grupo daUniversidade do Autodidacta e TerceiraIdade do Porto (Jun.), grupo de professorase empregadas da Escola Rainha D. Leonorde Lisboa (Jun.), entre outros.

No dia 29 de Setembro, inaugura nova expo-sição, uma remodelação desta primeira, quemostrará mais quadros de Mário Dionísio ede outros artistas.

3. O CICLO A PALETA E O MUNDO

NÓS NA NET

http://www.centromariodionisio.org/ é a moradada Casa da Achada-Centro Mário Dionísio naInternet.Está dividida em quatro áreas: Casa da Achada,Centro Mário Dionísio, Mário Dionísio, Notícias– todas com textos e imagens.Em CASA DAACHADA, estão as informações sobrea localização, o local, as actividades e encontrosrealizados antes das obras concluídas e de a Casaestar a funcionar regularmente, com horário. Épossível ler textos de Regina Guimarães e ostextos da Leitura Furiosa 2009 (Filomena MaronaBeja, Jacinto Lucas Pires, Miguel Castro Caldas)ilustrados por Bárbara Assis Pacheco, José SmithVargas, Nadine Rodrigues. Há links para páginasde associações com as quais a Casa da Achadacolabora.Em Centro Mário Dionísio, está explicado o queé a Associação Casa da Achada-Centro MárioDionísio (com extractos dos estatutos), indicadosos sócios fundadores e referidos três ciclos sobrea obra de Mário Dionísio, importantes para agénese do Centro. Em Mário Dionísio, área dividida em «a vida»,«a escrita», «a pintura», «o espólio», está a suabiografia ilustrada, a sua bibliografia (com areprodução das capas dos livros), um grandenúmero de textos seus – o texto integral deAutobiografia –, a reprodução de alguns quadrosseus, e textos sobre Mário Dionísio – o homem, oprofessor, o escritor, o pintor, da autoria de: AugustoAbelaira, Isabel da Nóbrega, José-Augusto França,José Gomes Ferreira, Ludgero Pinto Basto, CristinaAlmeida Ribeiro, Maria Alzira Seixo, Serge Abra-movici, Rocha de Sousa, Rui-Mário Gonçalves,Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra, Mário deCarvalho.Está ainda disponível a listagem do espólio literá-rio e artístico, e o seu arquivo pessoal e de MariaLetícia, que é possível consultar no Centro. Em Notícias, sempre em actualização, vão sendocolocadas as novidades. Além de fotografias, têmsido introduzidos alguns vídeos. Uma newsletter mensal e e-mails vão informandoos interessados do que se vai passar.A partir deste site tem-se acesso à catalogação dabiblioteca de Mário Dionísio e Maria Letícia.

O Ciclo A Paleta e o Mundo foi apresentadodurante a Semana de Abertura por VitorSilva Tavares, numa sessão onde participaramantigos e modernos: Carlos Veiga Pereira eRaul Gomes, da Associação de Estudantes daFaculdade de Ciências que, em 1953, con-vidou Mário Dionísio a fazer um ciclo deconferências sobre arte, que deu origem àobra A Paleta e o Mundo, que já estava emlaboração e foi saindo em fascículos até1962; Eduarda Dionísio, que assistiu, com

pouca idade, ao fabrico da obra; MarianaPinto dos Santos, historiadora de arte, MiguelCastro Caldas e Pedro Boléo – leitores dehoje.

O Ciclo A Paleta e o Mundo começou emOutubro de 2009, dividido em duas partes.O Ciclo A Paleta e o Mundo – I – Artee Sociedade tratou, durante 11 meses (deOutubro de 2009 a Agosto de 2010), umatarde de sábado por mês, dos 11 capítulosda 1ª parte de A Paleta e o Mundo, «Expres-são e compreensão», a que chamámos«Introdução», por ter sido editada auto-nomamente, em 1963, na Colecção Saber daEuropa-América, com o título Introduçãoà Pintura (Introducción a la pintura, em1973, Alianza Editorial, Madrid).

Luís Miguel Cintra (que convidou José Ma-nuel Mendes a ler e 10 jovens escritores eartistas de várias áreas a intervir), Rui-MárioGonçalves (que convidou Antonino Solmera ler), Margarida Acciaiuoli (que convidou 12alunos a apresentar comunicações), ManuelGusmão (que convidou Diana Dionísio, Pe-dro Rodrigues e Francisco Frazão a ler e aquestionar), Regina Guimarães (que convi-dou Inês Nogueira e João Rodrigues a ler),Pitum e Lira Keil Amaral (com imagens), VitorSilva Tavares (com objectos), Pedro Rodri-gues (que convidou Diana Dionísio a ler),Manuel Augusto Araújo e António Pedro Pitatrataram, cada qual à sua maneira, dos várioscapítulos da primeira parte da obra: CHA-MEMOS-LHE DIVÓRCIO, A CIÊNCIA CONTRAA ARTE?, OS CAPRICHOS TÊM DATA, UMMUNDO DENTRO DO MUNDO, DA ÁRVORE ÀESTÁTUA, MÃOS QUE CONSTROEM SO-NHOS, NÃO SE PODE COPIAR, A BELEZA ÉDIFÍCIL, CONTEÚDO E FORMA, VISITA ÀOFICINA, OLHAR E VER. Mais de 50 anos passaram. Muitas questõescontinuam as mesmas.

O Ciclo A Paleta e o Mundo – II –Leitura Colectiva ainda está em curso.Acabará quando acabar. Uma vez por sema-na, às segundas-feiras ao fim da tarde, duran-te uma hora, lê-se toda a obra, a partir da 2ªparte, ou seja, os 2º, 3º, 4º e 5º volumes da 2ªedição, sem imagens. Durante a leitura pro-jectam-se as imagens referidas no texto ecomenta-se ou não. Começámos no séculoXVIII e entrámos no 4º volume (século XX

mesmo, e as suas múltiplas questões que ain-da não acabaram). Até agora, foram leitores: Ana Bigotte Vieira,Antonino Solmer, Clara Boléo, Diana Dioní-sio, Eduarda Dionísio, Eugénio Castro Caldas,Filomena Marona Beja, Inês Nogueira, HelenaBarradas, Isabel da Nóbrega, João Paulo Es-teves da Silva, João Rodrigues, Joaquim Beja,José Manuel Mendes, Manuela Torres, Mar-garida Lelis,Miguel Castro Caldas, Pedro Ro-drigues, Sónia Gabriel, Susana Baeta.Carla Mota tem estado ao leme, quase sem-pre, na recolha e projecção de imagens.

O Ciclo A Paleta e o Mundo – IIIcomeçará em Março e vamos trazer A Paletae o Mundo até ao presente.

O NOSSO MURAL

No espólio de Mário Dionísio, foi encontrada uma maqueta [1] para um mural queseria integrado num projecto dos arquitectos Francisco Castro Rodrigues, JoséHuertas Lobo e João Simões para o Café La Gare (actual Beira Gare) em frente daEstação do Rossio, em Lisboa, projecto esse presumivelmente de 1949, que nuncase realizou por ter passado entretanto para as mãos de outros arquitectos.A maquete colorida do desenho de Mário Dionísio foi iniciada mas não terminada.Como o projecto dos arquitectos não foi realizado, o mural também não.

Em 28 de Março 2009, dia em que a Casa da Achada se apresentou à populaçãodo bairro – actividade integrada no 1º aniversário da Associação «Renovar aMouraria» –, este mural [3] foi pintado colectivamente, por pequenos e grandes,num muro abandonado em frente da Casa da Achada, sobre o desenho [2] feitoa partir da maquete por José Vargas e Nadine Rodrigues. Como o muro foi des-truído dias depois pela CML (para realização de obras), foi-se o mural.

Por iniciativa da Junta de Freguesia de São Cristóvão e São Lourenço, foi pintadonum muro do Largo dos Trigueiros, a poucos metros da Casa da Achada, o mural,com mais de 5m de comprimento [4]. Concluído em finais de Junho de 09, é pos-sível ver parte dele a partir do Poço de Borratém.

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que, tal como em Maio de 1974, no CinemaImpério, quando a censura acabou, acom-panhou O COURAÇADO POTEMKIN.Nas folhas de sala, foram publicados os tex-tos de Mário Dionísio que falam dos filmesescolhidos ou os referem.

CICLO FILMES PROIBIDOS ANTESDO 25 DE ABRILComo todos os que viveram os tempos daditadura, Mário Dionísio só pôde ver bastan-tes filmes que o interessaram, muitos anosdepois de eles terem sido feitos, quando acensura acabou. O mesmo aconteceu a vá-rios que fundaram a Casa da Achada e nelatrabalham. Hoje é uma realidade esquecida edifícil de compreender pelos mais novos. De Abril a Junho, foram projectados 12 filmesescolhidos entre os mais de 3 mil que a cen-sura proibiu: ASVINHAS DA IRA de John Ford(1940), VIRIDIANA de Buñuel (1961), A RELI-GIOSA de Rivette (1966), OS CARABINEIROSde Godard (1963), OUTUBRO de Eisenstein(1928), LA VIE EST À NOUS, filme colectivode Renoir, Becker, Brunius, Cartier-Bresson,Le Chanois, M. Lime, P. Unik, Zwoboda(1936), A GUERRA ACABOU de Resnais(1966), TERRA EMTRANSE de Glauber Rocha(1967), IRMA LA DOUCE de Billy Wilder(1963), DR. STRANGELOVE de Kubrik (1964),JULES E JIM de Truffaut (1962), FLORES DEPAPEL de Guru Dutt (1959). Alguns destes filmes estreariam nos cinemasdepois do 25 de Abril, outros nunca seriamexibidos em Portugal. As folhas de sala indi-cam a data de estreia em Portugal, quandoela existiu.

CINEMA AO AR LIVRE: CICLO ASSIM COMEÇARAM 13 GRANDES REALIZADORESCom a vontade de povoar à noite o bairro etrazer mais gente ao cinema, o ciclo dos me-ses de Verão transformou-se em cinema aoar livre, no terreno em frente da Casa daAchada, em obras durante mais de um ano,por causa das quais o mural de Mário Dioní-sio que tínhamos pintado num muro emMarço de 2009 foi destruído. Conseguimosda CML a chave do recinto, agora vazio.Foram escolhidas as primeiras longas-me-tragens de 13 grandes realizadores. Outrashaveria, mas foram estas as escolhidas e arru-madas por ordem cronológica: CITIZENKANE de Orson Welles, ANIKI-BOBÓ deManoel de Oliveira, O RAPAZ DOS CABELOSVERDES de Losey, OS FILHOS DA NOITE de

4. O CINEMA ÀS SEGUNDAS-FEIRAS

Há cinema, uma vez por semana, às segun-das-feiras à noite, na Casa da Achada. Paracada filme é convidado um apresentador e épublicada uma folha, com ficha técnica, sinop-se, textos e imagens.Até Julho, 3 ciclos dentro de casa. De Julhoa Setembro, cinema ao ar livre, em terra deninguém, em frente da Casa da Achada. Foram 4 os ciclos de três meses que se fize-ram até agora, com relações com os interes-ses e época de Mário Dionísio, ele próprioum espectador assíduo.

CICLO NEO-REALISMO ITALIANOComeçou na Semana de Abertura, comATERRATREME de Visconti, apresentado porGraziella Galvani, actriz italiana, convidadapara a inauguração da Casa da Achada.De Outubro a Dezembro foram exibidos:ARROZ AMARGO de Giuseppe de Santis,ROMA CIDADEABERTA e PAISÀ de Rossellini,ROCCO E OS SEUS IRMÃOS de Visconti, LA-DRÕES DE BICICLETAS e MILAGRE EMMILÃO de Vittorio De Sica, LA STRADA deFellini, MAMMA ROMA de Pasolini, O GRITO,de Antonioni. O ciclo fechou com a projec-ção em duas sessões de IL MIO VIAGGIO INITALIA de Martin Scorcese (1999), que revi-sita muitos dos filmes vistos.

CICLO FILMES DE QUE MÁRIO DIONÍSIO FALOUDe Janeiro a Março foram projectados 13longas-metragens sobre as quais Mário Dio-nísio escreveu na imprensa ou num seu diá-rio inédito ou que simplesmente referiu, emcomparação com outros: SILVESTRE de JoãoCésar Monteiro, TRÁS-OS-MONTES de An-tónio Reis e Margarida Cordeiro, A BOMBAde Peter Watkins, DESERTO VERMELHO deAntonioni, FARENHEIT 451 de Truffaut, PE-DRO O LOUCO de Godard, OITO E MEIO deFellini, CLÉO DE 5 À 7 (Duas horas na vidade uma mulher) de Agnès Varda, HIROSHIMAMEU AMOR de Resnais, AS FÉRIAS DO SR.HULOT de Tati, LUZES DA RIBALTA de Cha-plin, LOS OLVIDADOS de Buñuel, O COURA-ÇADO POTEMKIN de Eisenstein.Em complemento de alguns destes filmes fo-ram projectadas curtas-metragens tambémreferidas por Mário Dionísio: o desenho ani-mado PROFESSOR SMALLAND MISTERTALLde John Hubley e Paul Sommer (1943), LAROSE ET LE RÉSÉDA de André Michel (1947),a partir de um poema de Aragon, O CÃOANDALUZ de Buñuel, JAIME de António Reis,

FALARAM DE NÓSApesar de a imprensa não estar muitoatenta à Casa da Achada-Centro MárioDionísio e às suas realizações, foram sendopublicadas algumas peças importantespara que chamamos a atenção:- MÁRIO DIONÍSIO - A OBRA CONTINUA VIVAde Maria José Oliveira, a propósito donascimento da Casa da Achada (Público, P2,26 Set. 2008).- MÁRIO DIONÍSIO - A FACETA DE PINTOR DOMESTRE de Fernando Madail, sobre o acervode pintura existente na Casa da Achada(Diário de Notícias, Gente, 23 Mai. 2009).- CASA DAACHADA - A CULTURA NÃO É PARAAMANHÃ de Alexandra Lucas Coelho, sobrea abertura da Casa da Achada (Público, P2, 3Out. 2009).- MÁRIO DIONÍSIO NA CASA DA ACHADA deFernando Paulouro Neves (Jornal doFundão, 29 Out. 2009).- O PLANALTO DE MÁRIO DIONÍSIO de JoséRiço Direitinho (Ler, Nov. 2009)- TODO O DIONÍSIO de Sarah Adamopoulos(Notícias Magazine, 23 Mai. 2010).

- ÀS VEZES FAZEMOS AS PAZES COM ALEITURA de Raquel Ribeiro, reportagemsobre a Leitura Furiosa 2010 (Público, P2, 7Jun. 2010) - LA LLIBERTAT PASSA PER LA MOURARIA deSebastià Bennasar sobre a Casa da Achada, aII Feira da Achada e o Coro (Diari deBalears, 21 Jul. 2010)

- UMA CASA DE LEITURAS de João Morales(Os meus livros, Set. 2010)- LETRAS COM VIDA, uma revista da Facul-dade de Letras de Lisboa, lançada em 23 Set.2010, inclui um «Dossiê Escritor» dedicadoa Mário Dionísio, com textos de Rui de Sou-sa, Maria Alzira Seixo, Miguel Real e umaentrevista com Eduarda Dionísio.

Nicolas Ray, HÁ FESTA NA ALDEIA de Tati,PATHER PANCHALI de Satyajit Ray, OS 400GOLPES de Truffaut, ACCATONE de Pasolini,VERDES ANOS de Paulo Rocha, BELARMINOde Fernando Lopes, A MÚMIA de ChadiAbdel Salam, MORTU NEGA de Flora Gomes,O SANGUE de Pedro Costa. Houve mais espectadores do bairro. Rea-lizadores de filmes portugueses estiverampresentes Paulo Rocha, Fernando Lopes, Pe-dro Costa.

Apresentaram os filmes destes quatro ciclos:Alberto Seixas Santos, Amarante Abramo-vici, António Loja Neves, António Rodrigues,Eduarda Dionísio, Eupremio Scarpa, Henri-que Espírito Santo, João Pedro Bénard, JoãoRodrigues, Jorge Silva Melo, Luís Miguel Oli-veira, Manuel Mozos, Manuela Torres, MartaBrito, Pedro Rodrigues, Regina Guimarães,Saguenail, Teresa Ricou, Vasco Pimentel, VitorSilva Tavares.

Tiveram mais espectadores (70 ou mais):ROMA CIDADE ABERTA, TRÁS-OS-MONTES, CITI-ZEN KANE, ANIKI BÓBÓ. VERDES ANOS, Tevemenos espectadores (menos de 10) LUZES DA

RIBALTA.

Em Outubro, começa outra vez dentro dasala, com ATALANTE de Vigo, o ciclo Reali-zadores de uma única longa-metra-gem.

5. AS OFICINAS

Depois das oficinas da Semana de Abertura,e as de vídeo orientadas por Regina Guima-rães, em Dezembro 2009 («O que é que omeu bairro tem», «Filme que falamos, filmeque nos fala»), durante o «Fim-de-semanadiferente», tiveram início oficinas regulares,que, desde Janeiro, têm ocupado as tardes dedomingo. Inicialmente destinadas apenas a crianças, so-bretudo do bairro, passaram, pouco depois, apoder ser frequentadas por pessoas de todasas idades. De uma maneira geral, as activi-dades têm-se relacionado com o que há naCasa da Achada ou no bairro. Até Junho, cada oficina teve a duração de 3ou 4 sessões de duas horas semanais: ENTRE

LINHAS E CORES – oficina de expressão plás-tica, a partir dos quadros de Mário Dionísioexpostos na Casa da Achada, orientada porCarla Mota (Jan.); FAZER O QUE PRESTA A PAR-TIR DO QUE NÃO PRESTA - oficina de utilizaçãode material de reciclagem e de baixo custo,orientada por Eupremio Scarpa (Fev.); 1000

O NOSSO CORO

É um coro que tem pessoas que dizem que não sabem cantar,mas até arriscam. A entrada é livre e o número de cantores nãoé fixo. Depois de aquecer, cantamos. Há canções de lutas,sensações esquecidas, canções anónimas ou de quem sabemoso autor, invenções de agora. E também foi por causa do MárioDionísio, porque ele tem letras dissonantes para arrancar afelicidade que apetece cantar.

CICLO A PALETA E O MUNDOporque

A PALETA E O MUNDO «marcou uma época»porque

deixou (por razões várias)de marcar a que estamos a viver

porque foi lida e esquecida por uns

porque foi lida e não esquecida por outros

porque muitos nunca a leram e é difícil encontrá-la

porquepõe questões que são de ontem e de hoje

porque as questões de ontem continuam nas de hoje

porqueas pinturas referidas e analisadas

são muitas e a edição que ainda se encontra não é ilustrada

porqueler com mais pessoas leva a conhecer

o que não se descobre sozinho e a pensar no que não se pensa sozinho

porque a maneira como está escrita é parte dela

decidimos dedicar-lhe este ciclo

CANÇÕES EM 5 MINUTOS, oficina de música, comtextos de Mário Dionísio, orientada porDiana Dionísio e Pedro Rodrigues (Mar.);OBRIGATÓRIO AFIXAR! – oficina de cartazes,orientada por José Smith Vargas e NadineRodrigues (Abr.); AVENTURAS DE JOÃO SEM

MEDO DE JOSÉ GOMES FERREIRA – oficina de lei-tura, orientada por Filomena Marona Beja(Mai.); ACHAR A ACHADA – oficina de fotogra-fia, orientada por Catarina Alves e Vera Cor-reia (Jun.).Nos meses de Julho e Agosto, as oficinas fo-ram anunciadas como oficinas-surpresa –– «cada semana um fabrico», o que não sus-citou grande curiosidade. A partir da segundasemana, começaram a ter nome: BARRO comZé d’Almeida, MÁSCARAS com Nadine Rodri-gues, ARTES PLÁSTICAS com Marta Caldas,AFINAR E DESAFINAR com Pedro e Diana,TECIDOS com Irene van Es, FAZER O QUE PRESTA

A PARTIR DO QUE NÃO PRESTA com EupremioScarpa, GRAVAR NO JARDIM com Carla Mota.

Acabadas as aulas nas escolas, de 21 de Junhoa 2 de Julho, Saguenail, Regina Guimarães eTiago Afonso orientaram uma oficina devídeo diária, frequentada por 7 jovens dos 11aos 14 anos, em grande parte vindos daEscola Gil Vicente, que deu origem a 7pequenos filmes individuais e 2 colectivos. Em meados de Setembro, começou uma ofi-cina de fotografia pinhole – RETRATO(S) URBA-NO(S) – organizada pelo MEF (Movimento deExpressão Fotográfica). A última sessão,constituída pela montagem de uma exposi-ção das fotografias realizadas, integrará aSemana do 1º Aniversário da Casa da Achada(3 Out.).

6. O CORO DA ACHADA

Nasceu em Junho de 2009 (três meses antesda abertura ao público da Casa da Achada--Centro Mário Dionísio) porque alguém per-guntou «Porque é que não fazemos nós umcoro?» E começou a ensaiar todas as quartas--feiras às 21h30, com direcção de PedroRodrigues, fundador da Casa da Achada-CentroMário Dionísio. As primeiras canções cantadastinham textos de Mário Dionísio: «Canto deEsperança» e «Ronda Infantil», com músicade Fernando Lopes Graça (de Marchas,danças e canções), «Limões oh limões» e«Que tu es fort» (musicadas por Pedro eDiana). Vieram outras canções: canções de luta detodo o mundo e de épocas diferentes (na lín-gua original ou traduzidas), algumas cançõespopulares portuguesas, canções pouco can-tadas, canções que por alguma razão entusi-asmam e libertam quem canta (e quem ouve).As letras das canções podem ser lidas na net,em http://letrascoro-achada.blogs-pot.com/

O Coro da Achada estreou-se na Semana deAbertura da Casa da Achada-Centro MárioDionísio (2 e 5 de Outubro 2009), e depoisdisso cantou em muitos outros lugares paraos quais tem sido convidado. Chamou-se «Visita Guiada» a sua actuaçãoem «Um fim-de-semana diferente» na Casa

Ninguém imaginará (senão os do mesmo ofício e com tineta igual) o trabalho que sem-pre me deu o mais pequeno escrito. Chega a ser doentio, con venho. [...] Às vezes tudo se resolve com a deslocação duma palavra, dum sintagma, é um jogovulgar, qual quer principiante se desembaraça dele. Mas, ou tras, fia mais fino. Tem de se

«NÃO QUEIRAS QUE CADA PÁGINAHá a obra literária publicada (poesia, romance e contos, ensaios, arti-gos na imprensa), ainda que actualmente de quase nula divulgação, ehá a obra deixada inédita, nomeadamente diários, por desejo do autor.Dos inéditos, respigamos no entanto alguns curtos excertos.E, de repente, o impensável: às 7 e 20 o telefonetoca. Não é uma desgraça, uma doença, a mortede al gum amigo. A M. A. comunica que a rádioestá a dizer que houve um golpe do Estado, queLisboa está cercada e que aconselham as pes-soas a não sair de casa. Fico interdito, agradeçoo aviso, mas não acredito em nada. Que sepassa? Novo golpe militar e o exército cerca a

cidade para impedir que os revoltosos avancem?Repete-se a tentativa das Caldas? Ligo a telefo-nia. Toca o telefone de novo: a M. J. Logo aseguir a J. Parece que é verdade. Mas quem cercaa cidade? Meto-me no carro (a rádio torna-seinequívoca: pela linguagem, pelo tom afirmativoe sereno, as Forças Armadas contra o governo)e vou buscar a Eduarda. O Luís Filipe está aacabar de se vestir para ir para o Ministério daMarinha. Eles já sabem de tudo. É mesmo a re -volução! Damos uma volta pelas ruas, absolu-tamente calmas. Só no Marquês de Pombalaparecem carros militares, que impedem a con-tinuação do passeio. O Rádio Clube – que em1936 foi o arauto da revolução fran quista – éhoje a voz da Liberdade. Voltamos a casa e pas-samos o dia agarrados à rádio e à TV, que sópelas l8 horas começa a funcionar, com muitasinterferências. O Huertas e a Irisalva passam odia connosco. Os tele fones funcionam mal. Re-cebemos muitos telefonemas, mas não con-seguimos ligar para lado nenhum. O cerco doquartel do Carmo. Um nome, pela primeira vez:o do ge neral Spínola na rendição do MarceloCaetano. Todos julgamos sonhar. A Emissora(mas é mesmo a Emissora Nacional?!) falandona liberdade, atacando a PIDE, dizendo tudo oque foi proibido durante... 48 anos! O programado Movimento das Forças Armadas excedetodas as expectativas. Estamos livres? Portugalvai ser um país livre? Será verdade? Será pos-

da Achada (19 Dez. 2009) e o Coro foi can-tando nesta Casa (ou no Largo da Achada)pelo ano fora: no fim da tarde de 25 de Abril,na II Feira da Achada (10 Jul. 2010), no festivalTODOS da CML (19 Set. 2010).Cantará no 1º Aniversário desta Casa (2Out.).

Cantou pelas ruas do bairro da Mouraria nasJaneiras, organizadas pela Associação Reno-var a Mouraria (9 Jan. 2010), na Escola D. Pe-dro V, na festa do patrono da Escola (26 Jan.2010), no Largo do Chafariz de Dentro, emAlfama, a convite da Associação Parafernália(6 Mar. 2010), no Arraial do 25 de Abril doLargo do Carmo (23 Abr. 2010), na praçaamarela da Feira do Livro de Lisboa, a con-vite dos Livros Cotovia, numa sessão sobre aCasa da Achada (5 Mai. 2010). Participou, aconvite de Inês Nogueira, na sessão AmigosColoridos do Alkantara Festival, no TeatroSão Luiz (31 Mai 2010), na Festa da Cata-lunha no Largo do Carmo (11 Set. 2010). Cantará nos 20 anos do SOS Racismo noLiceu Camões (8 Dez. 2010).Cantou igualmente nas Caldas da Rainha, aconvite do coro Os Pimpões, num encontrode coros (13 Mar. 2010), no 25 de Abril daLourinhã (24 Abr. 2010), em Coimbra, naFesta da pintura do mural da história do Bair-ro da Relvinha, organizada pela CooperativaSemear Relvinhas (19 Jun. 2010).

Foi a Itália cantar na Festa anual da Lega diCultura di Piadena, que este ano tinha comotema «Emigrações e Imigrações» (19 a 21Mar. 2010) e foi a Sevilha, a convite do CoroDominguero, cantar na realização «Otra for-ma de construir ciudad» (21 e 22 Maio2010). Irá cantar a Montreuil (Paris) na 7ª FESTA DECOROS organizada pelo Coro «Si Bémol et14 demis» (22 a 24 Out. 2010).

À excepção da Lourinhã (a Câmara Munici-pal veio buscar e trazer o Coro), todas asdeslocações têm sido feitas a expensas doselementos do Coro.

7. MÁRIO DIONÍSIO, UM ESCRITOR

Começaram em Maio, com a leitura porJorge Silva Melo do conto «Ao Sul do Equa-dor» (publicado em A morte é para os Outros,1987), as sessões mensais sobre livros outextos de Mário Dionísio – poeta, contista,romancista. Até agora 5 sessões: Manuel Cintra leu, emJunho, com a colaboração de Diana Dionísioe Pedro Rodrigues, poemas de Mário Dioní-sio, que escolheu de Poesia Incompleta (poe-mas publicados até 1965); Le Feu qui dort(1967) e Terceira Idade (1982); Nuno Júdicefalou, em Julho, de Memória dum pintor des-conhecido (1965); Saguenail falou de Le feuqui dort (livro de poemas de Mário Dionísio,escrito em francês, publicado em1967) eRegina Guimarães de Terceira Idade (últimolivro de poemas de Mário Dionísio, publicadoem 1982) numa mesma sessão (Agosto);Manuel Gusmão falou de Não há morte nem

ir à pesca de palavras com um número de sílabas diferente, a mesma ou outra acentu-ação, pois até isso conta. Sinónimos, sim, recurso pobre. Mais vale desistir. Mas desistirdo que tanto põe à prova a nossa capacidade de?

In Autobiografia

SEJA UM MONUMENTO» sível? A Maria não pára de chorar de emoção.Que vontade de sair! Mas obedecemos ao apeloconstante do Movimento: «Conservem-se emcasa. Facilitem a acção das Forças Armadas».Logo de manhã “O Século” relatava os acon-tecimentos (sem censura!). Nas ruas, às janelas,só há gente contente, radiante. É o fim doimenso pesadelo, é o começo de tu do! Dei-tamo-nos tardíssimo, extenuados de emoção. (25.4.74)

Dias impossíveis de contar. Não há tempo paraisso. A multidão misturada com os soldados emarinheiros. Cravos (onde nasceram tantoscravos?) nas espingardas e nas mãos de toda agente. Telefonemas, abraços, o “viva Portugal”por toda a parte. Um país diferente. Toda agente fala com toda a gente, esfusiante, semmedo! A caça aos Pides. A libertação dos presosde Caxias, o regresso dos emigrados (MárioSoares, primeiro, Álvaro Cunhal depois, PiteiraSantos virá depois, tantos mais).Começam as reuniões por todo o lado. NoLiceu de Ca mões realizamos a primeira reuniãode apoio ao Movimento. Vamos entregar àJunta de Salvação Nacional o nos so docu-mento. Começamos a organizar-nos. Não paromais. (30.4.74)Data entre todas memorável: o 1º de Maio de1974. Manifestação única na história do país etalvez de todos os países. Desde a estátua a An-tónio José de Almeida (ponto de concentraçãodos escritores e artistas) pela Avenida Almirante

Reis acima, Avenida do Aeoroporto, até ao Es-tádio da FNAT, a cidade inteira. Todas as janelasrepletas. Bandeiras, cravos, cravos e mais cravos.Perto de um milhão de pessoas, sem um únicoúnico incidente. Multidão compacta, marchando,cantando, gritando de alegria (polícias gritandotambém, fazendo o sinal da vitória, chorando).Constantemente por toda a parte e em todas asbocas: «o povo unido jamais se rá vencido». Opo-vo/uni-do/jamais/ será vencido. O po-vo/uni-do / jamais /será venci-do.E o mesmo no Porto, em Coimbra, em todas asterras do país.(1.5.74)

princípio, único romance de Mário Dionísio,publicado em1969 (sessão em Setembro).

8. DIREIS QUE NÃO É POESIA

Em Abril começaram as sessões «DIREISQUE NÃO É POESIA», título que nasceu deum verso de Mário Dionísio, que continuaassim: «E a mim que importa?» Trata-se de, a partir de poemas seus (e deoutros), expandi-los para outras artes outratá-los de uma maneira diferente das dos«recitais». São sessões sem periodicidaderegular, que nascem das propostas quechegam. Até agora, houve três: Diana e Pe-dro, com o grupo «Abaixonado» (das Caldasda Rainha), partiram de poemas para chegarà música (3 Abr. 2010); Elisabeth Piecho, du-rante a II Feira da Achada, pôs as pessoas emgrupos a brincar com poemas cortados aospedacinhos e leu cada um no fim (10 Jul.2010); o grupo Abaixonado pegou em váriospoemas de Le Feu qui dort, e cantou-os (5Ago. 2010). Já chegaram (e já fizemos) mais propostas.Em Outubro, Bárbara Assis Pacheco passaráda poesia ao desenho, com quem estiver.

O Delfim são os livros que Mário Dionísiocita, num texto publicado na imprensa, emque responde à pergunta «Qual é o livro dasua vida?», dizendo que não tem nenhum. Etambém cita contos: «O pequeno-almoço»de Steinbeck, «Os matadores» de Hemingway,«Arranjo em preto e branco» de DorothyParker, «Proud Beauty» do Rodrigues Mi-guéis. E refere autores – sem indicar títulos –poetas, romancistas, pensadores: Pessoa,Condessa de Ségur, Júlio Verne, Simenon, MaxFrisch, Dürrenmatt, Eça, Camilo, Flaubert,Raul Brandão, Patricia Highsmith, Rilke, Élu-ard, Aragon, Maiakovski, Montaigne, Marx,Sartre, Bakhtine….O desafio lançado: quem quer pegar numdestes livros? Num destes contos? Numdestes autores?As sessões mensais começaram em Junho,com a A MÃE de Máximo Gorki lida porMiguel Castro Caldas. Continuaram comJoão Rodrigues, a falar de POR QUEM OS SINOS

DOBRAM de Ernest Hemingway (e até foiprojectado o filme), com Maria Alzira Seixo afalar de MAU TEMPO NO CANAL de VitorinoNemésio, com Cristina Almeida Ribeiro a fa-lar dos ENSAIOS de Montaigne.Há mais candidatos a mais obras e autores:D. Quixote, A condição humana, ModeratoCantabile….

10. CLUBE DE LEITURA

Proposto e coordenado por Filomena Maro-na Beja, destinado principalmente à popula-ção que mora perto, a crianças não muitopequenas, a estrangeiros com algum conhe-cimento da língua portuguesa, e ligado à Bi-blioteca da Zona Pública (em catalogação),funcionou na Casa da Achada entre Novem-bro e Abril o CLUBE DE LEITURA DAACHA-DA.O primeiro livro escolhido para arranquedas conversas foi Autobiografia de Mário Dio-nísio. Seguiu-se Um prego no coração de PauloJosé Miranda, que levou a Cesário Verde e amuito mais, e O Estrangeiro de Camus.A pouca participação daqueles a quem oClube de Leitura era destinado e a realizaçãoem Maio da 7ª edição da Leitura Furiosa le-vou a repensar esta actividade e a organizá--la de outra maneira. À experiência. (verLeitura Furiosa).

11. LEITURA FURIOSA

Na sequência da 6ª edição em Lisboa daLeitura Furiosa, realizada em Maio de 2009na Casa da Achada (então ainda em obras),

9. LIVROS DAS NOSSAS VIDAS

D. Quixote, Os Lusíadas, Guerra e Paz, O Ver-melho e o Negro, A Divina Comédia, APeregri nação, Viagens na Minha Terra, Ulisses,Quarteto de Ale xandria, A Sinfonia Pastoral,A Condição Humana, Os dez Anõezinhos daTia Verde-Água, Só, Sone tos de Antero, Ex--Homens, A Mãe:, Crime de Sylvestre Bon-nard, Jean-Cristophe,Humilhados e Ofendidos,Lady Charterley, O Ano Nu, Por quem osSinos Dobram, O Processo, A Peste, A CasaGrande de Romarigães, Mau Tempo no Canal,O Grande Gatsby, Doutor Jivago, A Mon-tanha Mágica, À Procu ra do Tempo Perdido,As Vagas, Sparkenbroke, O Som e a Fúria, AsBorrachas, A Modificação, Moderato Cantabi-le, Os Homens e Não, Barranco de Cegos,

DA «DEMOCRACIA»ENTRE ASPAS

3.13.76Comecei a evitar as palavras «democracia» e«democraticamente». Acabarei talvez por riscá--las do meu vocabulário. Em todas as reuniõesem que tenho participado, no liceu, verificoque o emprego dessas palavras é cada vez maisfrequente por pessoas ineludivelmente reac-cioná rias, para as quais ainda há pouco elas ti-nham o diabo no corpo. Quando alguém selevanta e, em tom protestativo, clama «emqualquer assembleia democrática», «isto assimnão é democracia», etc., digo para comigo: «jásei quem és». Porque se trata sempre de reivin-dicar na prá tica a adopção da alteração quepouco a pouco se tem da do no conceito deDemocracia: regime em que a liberdade sejatotal para os que não querem a liberdade ecrescen tes as restrições aos que sempre se ba-teram por ela. De mocraticamente, devemdeixar os seus lugares aos fascistas, por maisnotórios que sejam, e permitir que se expri-mam tão amplamente quanto o desejarem.Pelo contrário, deve-se manter a rédea curta atodos os que querem efectivamente transfor-mar a sociedade, acabando com exploradorese explorados, o que seria evidentemente cortara liberdade aos pobres dos exploradores, comtanto direito a existirem como aqueles que ex-ploram...

É uma comédia sem dúvida, que se tinge detragédia quando se verifica que a isto veio daro 25 de Abril. Tenha mos, pelo menos, ocuidado de não participar nela, usando pala-vras que provocam, aumentam, generalizamdespudoradamente a confusão em curso, quesó aproveita, como todas as confusões, aospescadores de águas mais que turvas.

excerto do DIÁRIO inédido

teve lugar, de 28 a 30 de Maio de 2010, aLeitura Furiosa de 2010 (simultânea à deAmiens, Porto e Kinshasa), desta vez commais gente: 8 grupos de «zangados com aleitura» (vindos do Centro de Dia do So-corro, do Centro Polivalente de S. Cristóvãoe S. Lourenço, do Centro de Apoio dos An-jos, da Escola n.º 10 do Castelo, da Escola n.º 75da Madalena, da Escola Gil Vicente) do Con-selho Português para os Refugiados), 8escritores (Armando Silva Carvalho, Filome-na Marona Beja, Jacinto Lucas Pires, JaimeRocha, José Mário Silva, Mário de Carvalho,Miguel Castro Caldas, Raul Malaquias Mar-ques), 6 ilustradores (Bárbara Assis Pacheco,José Smith Vargas, Nadine Rodrigues, NunoSaraiva, Pierre Pratt, Zé d’Almeida) e 8actores e cantores (Antonino Solmer, BrunoBravo, Diana Dionísio, Diogo Dória, FernandaNeves, Inês Nogueira, Pedro Rodrigues, San-dra Faleiro). Foi editada uma brochura com textos eilustrações das quatro cidades participantes,que contou com a colaboração de 10tradutores. Trata-se de aproximar não-leitores da leiturae da escrita, através duma festa anual, queculmina com uma leitura pública: durante 3dias escritores convivem com pequenosgrupos de gente «zangada com a leitura»(sem-abrigo, refugiados, idosos que frequen-tam Centros de Dia, alunos de vários grausde ensino, desempregados…). Cada escritorpõe os «zangados com a leitura» em con-tacto com a literatura, escrevendo, a partirdo encontro, um texto que é ilustrado, publi-cado, lido por actores. E também em con-tacto com locais onde há livros – livrarias,bibliotecas.

Quer aos escritores que participam, queraos «zangados com a leitura» apetece conti-nuar e não esperar pela Leitura Furiosa se-guinte. Começou a funcionar agora a LeituraFuriosa II: escritores vão ler regularmente àsinstituições junto de quem não lê (mas queraproximar-se dos livros) pequenos textosque levam a conversas e a outras leituras.Chegarão à Biblioteca da Zona Pública daCasa da Achada. Uma nova forma do «Clubede Leitura da Achada», que alguns estão aexperimentar.

AS NOSSAS EDIÇÕES: LIVROS

& SERIGRAFIAS

RUI-MÁRIO GONÇALVESMÁRIO DIONÍSIO PINTORÁlbum. 64 pp. Texto de Rui Mário Gonçalves ilustrado, 30 reproduçõesde quadros de Mário Dionísio de tamanho de página,cronologia ilustrada. Col. Mário Dionísio 2Edição Casa da Achada–Centro Mário Dionísio

PVP – 14 € Aqui 10 €

MÁRIO DIONÍSIOENTRE PALAVRAS E CORES – alguns dispersos (1937--1990)54 textos de Mário Dionísio. 372 pp.Selecção e organização: Clara Boléo, Cristina AlmeidaRibeiro, Eugénia Leal, Jorge Silva Melo, Maria das GraçasMoreira de Sá, Pedro Rodrigues, Regina Guimarães.Coordenação: Cristina Almeida Ribeiro.Col. Mário Dionísio 1Edição Casa da Achada–Centro Mário Dionísio / LivrosCotoviaApoio: Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas

PVP – 18 € Aqui 14 €

MÁRIO DIONÍSIOENTREVISTAS (1945-1991)Entrevistas feitas a Mário Dionísio e feitas por MárioDonísio. 350 pp.Selecção e organização: Clara Boléo, Cristina AlmeidaRibeiro, Eugénia Leal, Pedro Rodrigues, Regina Guima-rães. Coordenação: Cristina Almeida Ribeiro.Col. Mário Dionísio 3Edição Casa da Achada–Centro Mário Dionísio

PVP – 18 € Aqui 16 € Amigos da Casa da Achada 14 €

LANÇAMENTO EM 30 DE SETEMBRO

FRANCISCO CASTRO RODRIGUESUM CESTO DE CEREJAS – conversas, memórias, umavidaOrganização, introdução e notas de Eduarda DionísioVolume cartonado. 200 imagens. 480 pp.Edição Casa da Achada–Centro Mário DionísioApoio: Associação Promotora do Museu do Neo-Rea-lismo

PVP – 22 € Aqui 18 €

5 serigrafias a partir de desenhos de M. D. numa tiragem de 80 exemplares,em co-edição com a Gesto-Cooperativa Cultural.

Preço de cada: 50€; Preço do conjunto: 200€

12. A BIBLIOTECA PÚBLICA DACASA DA ACHADA

Constituída por ofertas de fundadores,colaboradores e amigos, a Biblioteca da ZonaPública, destinada a leitores do bairro (ouquaisquer outros leitores), está localizada naZona Pública da Casa da Achada. Além de outras ofertas, enriqueceram parti-cularmente esta biblioteca a oferta da Bi-blioteca de Arte de Fernando Bragança Gil,a oferta de livros de Ciência de Teresa Avelar,a oferta de colecções de O Jornal, Sete e JLque pertenceram a Cáceres Monteiro. A Biblioteca da Zona Pública tem neste mo-mento mais de 4000 volumes (literatura,arte, filosofia, história, ciência, etc.) e algumasdezenas de títulos de publicações periódicas.O pouco espaço de que dispomos, levou-nosa recusar várias ofertas.Esta Biblioteca pode ser consultada duranteas horas de abertura da Casa da Achada. Sóquando acabar a catalogação, poderá haverempréstimos domiciliários.Os volumes estão a ser catalogados, no pro-grama SIRIUS, tal como a Biblioteca MárioDionísio e Maria Letícia do Centro de Docu-mentação.

que pouco se conhece. E, a propósito, umapequena exposição de livros por ele editadosna &etc.

14. AS FEIRAS

Duas realizações destinaram-se sobretudo adivulgar e a angariar fundos para a Casa daAchada-Centro Mário Dionísio, já que osapoios institucionais não abundam:

EM DEZEMBRO 2009UM FIM DE SEMANA DIFERENTEFeira de livros usados, CDs e obras de arteoferecidas.Ao mesmo tempo: oficinas de vídeo, visitaguiada à exposição, actuação do Coro daAchada.

EM JULHO 2010A II FEIRA DA ACHADANo largo da Achada, feira de livros usados,obras de arte, CDs, discos em vinil, objectoscom marcas de época, animada por leituras,canções, jogos, fotografias à la minute, comese bebes. Dentro da Casa da Achada, visita guiada àexposição, 2ª sessão de «Direis que não époesia». O dia terminou com o Coro daAchada a cantar no Largo.

15. OS AMIGOS DA CASA DA ACHADA

Existem desde Janeiro os «Amigos da Casada Achada». São neste momento mais de 150.Pagam uma pequena quota mensal (2€) ousemestral (10€) ou anual (20€). Têm des-contos nas edições e nos seguintes locais:Castelo de São Jorge, Museu Arpad Szenes ––Vieira da Silva, Museu do Fado, Museu daMarioneta, Padrão dos Descobrimentos,Teatro o Bando, Teatro Municipal MariaMatos, Teatro Municipal São Luiz, Teatro daTrindade.

16. A UTILIZAÇÃO DO ESPAÇOPOR OUTROS

O espaço foi sendo utilizado por outros pararealizações que tivessem relações com aspreocupações da Casa da Achada: apresen-tação de filmes, lançamentos ou apresen-tação de livros, aulas, seminários.

Destacamos três dessas realizações: HOMENAGEM A JOÃO MARTINSPEREIRA, no 1º aniversário da sua morte,organizada pela família, com a participaçãode amigos (Nov. 2009). SEMINÁRIO «A ECONOMIA ORGA-NIZADA» com João Bernardo, organizadopela UNIPOP, seguido do lançamento do li-vro com textos de Karl Marx Crítica do Na-cionalismo Económico (Mar. 2010). PEQUENO É BOM - encontros da ediçãoindependente (mostra e venda de fanzines,debates, vídeos, desenhos) organizados noprimeiro sábado de cada mês, por CHILI COM

CARNE no jardim da Casa da Achada (a partirde Abr. 2010).

13. ITINERÁRIOS

No dia 24 de Abril, começaram as sessõesITINERÁRIOS, conversas de dois em dois me-ses com gente que tem coisas para contar evidas pouco vulgares. Em Abril, foi Sebastião Lima Rego que doDireito e da intervenção política e cívicachegou à poesia que o ocupa agora. E porisso foram lidos poemas seus, dos livrosPoemas Sem Abrigo e Sem Castigo (2008) e Asbandeiras paradas (2009). Em Junho, veio Cláudio Torres, com o seupercurso de Tondela a Budapeste e Praga,passando por Marrocos e Argel, de Praga aLisboa, de Lisboa a Mértola – a História, aArqueologia, a Política, o Desenho. E por issose fez uma pequena exposição das suascaricaturas de Salazar, com textos escolhidospor Flausino Torres, seu pai.Em Agosto,Vitor Silva Tavares contou assuas idas e voltas da Madragoa ao Bairro Altoe ao Chiado, de Lisboa a Benguela, de Lisboaao Fundão (e voltar), o que é ler, escrever edesenhar; fazer jornais, fazer livros, fazer ca-pas – descobrir, inventar, contar, ajudar gente

O NOSSO BOLETIM

Intitula-se «Ficha» ainda por, e para,memória de Mário Dionísio, autor deumas «Fichas» que fez publicar na revista«Seara Nova». Na nota inserta a pags. 12da sua «Autobiografia», M. D. informa: «As “Fichas” começaram a publicar-se em21.2.42 (“Ficha 1”) e terminaram em 31.7.43,com a “Ficha 13-A”, que prosseguia a polémicacom João Pedro de Andrade, a qual se concluina “Ficha 14”, editada em volume por a Di -recção da Seara se ter recusado a publicá-la.Assuntos das “Fichas”: Pereira Gomes (pri-meiro artigo sobre Esteiros), Jor ge Amado,Alves Redol, Sidónio Muralha, José GomesFer reira (primeiro artigo sobre o poeta), impor-tância da técnica na criação estética, defesa daarte moderna, etc.»De facto, a referida «Ficha 14», edição doautor, marca desde logo a distância, se nãoa ruptura de M. D. com os métodos decensura ideológica, embora encapotada,que então se faziam sentir na imprensa«progressista». Assim é que a «Ficha 14»acabou por funcionar como sinal dealarme, e como tal permanece referênciaincontornável.

O nosso boletim, no entanto, não passadisto mesmo: um boletim. Que será publi-cado sempre que haja volume de assuntose informações que o justifiquem. A dis-tribuição é gratuita, mas poderão os nos-sos amigos contribuir com o que quiserempara as despesas, técnicas, da sua feitura.

O epicentro do abalo não se situa na terra, mas no pássaro que, um poucoacima de uma incerta linha do horizonte. O pássaro de Braque abre uma covano céu. É da obra do pássaro que emana a engrenagem da paisagem em transe,descarnada como fractura exposta. Se, por um lado, o sismo nasce da in-versão de um valor de voo que, em vez de atravessar, perfura, por outro,é o próprio voo que vomita esta paisagem. Somos como que salpicados peloregisto do desastre. Não estamos diante da paisagem do outro lado, masdo outro lado da paisagem. Este pássaro, como Alice, cavou uma passagem,talvez um desconfortável ninho. Mas o cenário de céu era espelho e erapoço ao mesmo tempo.

A tela não tapa o sol com uma peneira. Como nas redondilhas de Camões é pre-ciso imaginar o leito do rio, a copa da árvore, a margem movediça e a flautamuda para nos aproximarmos do sentido da correnteza, da forma da sombra, damatéria da lama e do silenciamento daquilo que foi instrumento. Se quisermosser justos - de uma justeza capaz de ver o desajustamento do momento ao mo-mento -, até será útil dispormo-nos a calcular a distância que nos separa daideia de cidade e avaliar a ideia de cidade que nos abeira das ideias. A telanão tapa do sol com uma peneira porque, exactamente como o operário de Babelsubia de patamar ao tempo que assentava as pedras da torre, assim o pintor setorna mestre das matérias de que necessita para desaprender a pintura.

«Não copiem muito d'après nature. A arte é uma abstracção» recomendava Gauguin.Terão porventura corrido rios de tinta acerca daquilo que procuravam os pin-tores abstraccionistas. Não li contudo em lado nenhum que a arte é parte. Aquio pintor não precisou de retiro no bordel ou de refúgio na ilha para nosmostrar que a terra tem a cor pisada e rósea da carne. Aqui o conhecimento dastrevas revela-se na busca do seu reverso solar. E a pintura constrói-se comoavesso de roupa na penumbra da alfaiataria. Paleta de Gauguin e, de novo, umtempo de cortar à faca. «A terra é azul como uma laranja» reparava Éluard, tam-bém ele indagando por vezes caminhos na secção negra dos alinhavos.

Há em certas coisas algo de incerto que diz «faz o que tens a fazer». Nãose sabe de que consciência a fala emana, nem a quem se dirige. Disposto aver e apalpar o que se oculta por detrás desse recado, o pintor trata a telacomo terreno ao abandono. Espeta o seu instrumento em tábua rasa - pincelou faca ou olho aguçado - e logo a retira para que cicatrize a ferida queali abriu. O pintor lavra o quadro ulcerando a superfície e inventando ritose ritmos de secagem. Pausas e pousios durante os quais se insinuam figurasmais férteis em ausência do que em presença. E é assim que o pintor se re-cusa a fabricar rostos ou rastos que façam as vezes do visível.

REGINA GUIMARÃES (TEXTOS) À JANELA DA PALETA (MÁRIO DIONÍSIO)

QUA 29 SET � 19H um ano depois � Inauguração de duas exposições: 50 ANOS DE PINTURA E DESENHO -2– novos quadros de Mário Dionísio e de artistas seus amigos, com visitaguiada. 1 ANO DE ACTIVIDADE DA CASA DA ACHADA-CENTROMÁRIO DIONÍSIO – cartazes e fotografias.� Lançamento de duas edições: FICHA 1 – 1º número do boletim da Casada Achada. 5 SERIGRAFIAS a partir de desenhos de Mário Dionísio pelaCooperativa Cultural Gesto. � Projecções: FILMES DAACHADA – depoimentos sobre Mário Dionísiorealizados por Regina Guimarães. Registos do 1º ano da Casa da Achada.

Refeição ligeira no jardim.

QUI 30 SET � 18H mário dionísio em discurso directo� Lançamento do 3º volume da Colecção Mário Dionísio, editada pelaCasa da Achada-Centro Mário Dionísio: ENTREVISTAS (1945-1991) –entrevistas feitas a Mário Dionísio e feitas por Mário Dionísio (apresentaçãopelo grupo que o organizou, coordenado por Cristina Almeida Ribeiro).� Projecção de uma selecção de IMAGENS DE ENTREVISTAS AMÁRIO DIONÍSIO.SEX 1 OUT � 18H amigos de mário dionísio� QUEM FOI MANUELA PORTO – sessão sobre a actriz e escritora,organizada por Diana Dionísio e Pedro Rodrigues, com música, leitura detextos e audição de gravação com a voz de Manuela Porto. Pequenaexposição documental. 1 ª sessão de uma sér ie t r imestra l sobre Amigos de Már io Dion í s io.

TER 5 OUT � a partir das 11H exposição

�ATALANTE de Jean Vigo - 1º filme do 5º ciclo de cinema da Casa da Acha-da-Centro Mário Dionísio – Realizadores de uma só longa-metragem.Programa habitual das segundas-feiras na Casa da Achada-Centro Mário Dionísio.

SAB 2 OUT � 17H um retrato de mário dionísio� MAIS VERDE, MAIS AZUL, MAIS BRANCO, MAIS VERMELHO – leiturade uma antologia de textos de Mário Dionísio por fundadores da Casa daAchada-Centro Mário Dionísio, actores e não actores, coordenada por LuísMiguel Cintra.Conjunto de textos, escolhidos e organizados por Eduarda Dionísio, lidos pelaprimeira vez em 1991, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, porocasião dos «50 anos da vida literária e artística de Mário Dionísio», ainda na suapresença, com encenação de Luís Miguel Cintra e espaço cénico de Cristina Reis erepetida em 1996, no Teatro Taborda, por ocasião da homenagem intitulada «Não hámorte nem princípio», organizada pela Biblioteca Museu República e Resistência.Agora com novos leitores.

SAB 2 OUT� 21H30 canções � Canções populares, canções de luta e outras canções por dois gruposcorais: CRAMOL – grupo de cantadeiras, formado em 1979, na BibliotecaOperária Oeirense, que há mais de 30 anos canta canções tradicionais demulheres. CORO DA ACHADA – coro formado em Junho de 2009 na Casada Achada-Centro Mário Dionísio.

SEG 4 OUT�21H30 cinema

� EXPOSIÇÃO DAS OBRAS DE ARTE OFERECIDAS À CASA DAACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIO PARA LEILÃO.

TER 5 OUT� 18H leilão de arte� LEILÃO DAS OBRAS DE ARTE OFERECIDAS À CASA DA ACHADA--CENTRO MÁRIO DIONÍSIO PARA ANGARIAÇÃO DE FUNDOS.

TER 5 OUT� 16H república - com raul brandão� PENSAR A REPÚBLICA COMTEXTOS DE RAUL BRANDÃO – leiturapor Jorge Silva Melo.

TER 5 OUT� 15H república - plantar uma árvore�PLANTAR UMA ÁRVORE – com leitura de textos de José Gomes Ferreira.

DOM 3 OUT� 15H artes artesanais na cidade� PINTURA COLECTIVA DE MURAIS a partir de desenhos de MárioDionísio e de outros, em frente da Casa da Achada. � Última sessão da OFICINA DE FOTOGRAFIA PINHOLE – Retrato(s)Urbano(s) – EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA. � 6º ENCONTRO DE EDITORES INDEPENDENTES – realização mensalorganizada por Chili com Carne no jardim da Casa da Achada.

SEG 4 OUT� 18H30 ciclo a paleta e omundo�Continuação da LEITURA COLECTIVA DEA PALETA E O MUNDO deMário Dionísio com projecção de imagens – Pintura do século XX.Programa habitual das segundas-feiras na Casa da Achada-Centro Mário Dionísio.

PROGRAMA DAS FESTAS

APOIOS: C.M.L., FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, MINISTÉRIO DA CULTURA-DIRECÇÃO REGIONAL DE LISBOA E VALE DO TEJO. PARCERIAS COM QREN-MOURARIA E ASSOCIAÇÃO CARDAN.

ffiicchhaaFabrico caseiro. Setembro 2010

Rua da Achada 11, 1100-004 Lisboa. Tel. 218877090. [email protected]

MÁRIO DIONÍSIO NA ACHADA E NO MUSEU DO NEO-REALISMO

Por iniciativa do Museu do Neo-Realismo, em VilaFranca de Xira, estará patente ao público, de Marçoa Maio de 2011, uma exposição que será acompa-nhada por um Livro-Catálogo com textos de váriosautores sobre a vida e a obra de Mário Dionísio.

A organização da exposição e do referido livro estaráa cargo da Casa da Achada, cabendo ao Museu a res-pectiva produção. Simultameamente, no nosso espaço, poderá ser vistauma exposição biobibliográfica e uma pequena amos-tra de desenhos de M. D. dos anos 40 e 50.