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558

FEDRA SEGUNDO ROLAND BARTHES Laura Cristina R Hercos PERES (G-UEM) Mara Hercos PERES (G-UEM) Adalberto de Oliveira SOUZA (UEM)

ISBN: 978-85-99680-05-6

REFERÊNCIA: PERES, Laura Cristina R Hercos; PERES, Mara Hercos; SOUZA, Adalberto de Oliveira. Fedra segundo Roland Barthes. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 558-565.

O presente artigo tem por objetivo apresentar uma análise da peça Fedra escrita por Jean Racine, em 1677, segundo a visão do teórico Roland Barthes .Antes, porém, de adentrarmos na análise (sujeito principal deste trabalho); faz-se necessário algumas considerações acerca do texto trágico.

A tragédia faz-se presente desde a antiguidade clássica greco-romana esta modalidade textual possui características específicas que a tornam de especial importância, tais como:

A regra das três unidades; Tempo: A ação trágica deve ocorrer em um período máximo de vinte e quatro

horas, ou seja, um dia. Espaço: O desenvolvimento da peça deve ocorrer em um único ambiente, sendo

outros apenas mencionados pelas personagens no decorrer da “história”. Ação: Esta característica muitas vezes é considera da a mais importante no que

concerne às três unidades, através dela define-se que todas as ações existentes na peça devem subordinar-se a uma ação principal (a qual seria o núcleo da tragédia), devendo todos os fatos apresentados relaciona-se entre si e contribuir para o desenrolar da ação principal ligando-se a esta de maneira lógica.

A obediência das regras mencionadas acima contribui para que se obedeça a um outro princípio peculiar á tragédia, o princípio da verossimilhança; ou seja, tornar o fato representado algo real perante o expectador, que este aceite o que lhe é encenado como possível de acontecer. Chegando-se ao papel principal desempenhado pela tragédia perante aqueles que a assistem: dispertar os sentimentos de temor e piedade: temor de que os fatos representados pelo herói aconteçam também consigo devido a alguma falta cometida, em geral as faltas expostas nas tragédias estão relacionadas a características falhas referentes ao caráter (ambição, adultério, incesto, orgulho, precipitação,

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soberba...). Piedade; para com o herói trágico, o qual devido a sua má fortuna, este mesmo cometendo um erro e portando um defeito trágico, possui nobreza não somente de nascimento, mas também de caráter para assumir dignamente as conseqüências de seus atos.

O texto trágico é composto essencialmente pelas seguintes partes: Peripécia; mudança de situação, o herói toma conhecimento de algo inesperado, o qual acarretara sua mudança de fortuna conduzindo em geral da boa para a má, levando-o assim a ficar cada vez mais próximo de seu destino trágico.

Reconhecimento: O herói reconhece seu erro trágico. Catarse: Ação violenta a qual o herói se submete a fim de purificar-se de seus

erros (ação auto punitiva). Neste ponto ocorre por parte do expectador a purgação de paixões, ou seja,

juntamente com o herói este se sente purificado das falhas cometidas. Todos os acontecimentos anteriormente mencionados são esteticamente

divididos na tragédia clássica em cinco atos. É importantíssimo mencionar o fato de que as tragédias trazem em seu enredo

todo um universo mítico composto pelos deuses da antiguidade clássica, percebe-se ainda constante presença de seres fantásticos como o minotauro, centauro, esfinges entre outros.

Feitas as devidas considerações adentraremos no principal foco deste artigo: a análise da tragédia Fedra de acordo com a visão de Roland Barthes.

De acordo com o autor, Fedra se sente culpada e procura a morte desde o inicio da peça.

Théramène e Hipólito conversam a respeito de Fedra.

[...] Une femme mourante et que cherche a mourir?

Phèdre atteinte d’un mal qui’elle s’obstine à taire, Lasse enfin d’elle même et du jour qui l’éclaire,

Peut-elle contre vpous former quelques desseins? [..] I – 3

O teórico consultado considera Fedra uma tragédia da palavra: pois o silêncio de Fedra ao mesmo tempo em que ele a liberta, cria toda a problemática trágica, a tal ponto, que a personagem principal vê-se “obrigada” a falar, e, à medida que fala, se incrimina. O uso da palavra faz com que Fedra expresse seus proibidos sentimentos comprometendo-se cada vez mais.

Barthes concerne ainda esta tragédia como nominalista, pelo fato já citado anteriormente, de que Fedra, sabe-se, deste o inicio culpada.

[...] Quand tu sauras mon crime,

et lê sort qui m’accable, jen’em mourrais pás moins, j’em mourrai plus coupable.[..] I - 3.

Considera-se ainda o fato de que a personagem titulo não é a única que tendo conhecimento do “secreto” recusa-se a falar sobre ele, pois o mesmo acontece em

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diferentes momentos com Hipólito e Arícia, os quais, nas palavras de Roland, não nomeiam o mal de Fedra.

[...] Hipólito a Teseu:“.

..Je devrais faire ici parler la vertité, Seigneur: mais je supprime um secret qui vous touche”.

Hipólito a Arícia “... et que jamais une bouche si pure ne s’ouvre pour

conter cette horrible aventure”.[...] IV,2

No presente ponto da obra Roland faz referencias a esterilidade de Hipólito, concebendo-o como uma forma de revolta do filho contra o pai, devido o comportamento deste. A esterilidade de Hipólito ocorreria não somente por imposição de Teseu para que não houvesse mistura de sangue de estirpes rivais, mas também por uma característica própria a Hipólito.

[..]”mais quand tu recitais dês faits monis glorieux, As foi partout offerte et recue en ceux lieux

. Tu sais comme, à regret écoutant ces discours, Je te pressais souvent d’en abréger lê cours..

.Et moi-même, à tour, je me verrais lié- ”[...] II, 6

Evidencia-se ainda o caráter imediatista do mundo raciniano:

[...] “je ne puis sans horreur me regarder moi-même”..

“il suffit que ma main l’ait une touchée , je l’ai rendue horrible à ses yeux

inhumains; et fer malheureux profanerait ses mains” “il defend de donner des neveux à frères,

d’une yige coupable il craiunt um rejeton, Teme descendentes de uma estirpe culpada il veut avec leur soeur ensevelir leur nom.

”.[...] II,6

Na presente parte deste artigo, faz-se viável a exposição na integra dos pensamentos de Barthes:

[...] “A construção é, pois, a forma exata que dá conta ao mesmo tempo do pudor, da

culpabilidade e da esterilidade de Fèdre é em todos os planos uma tragédia da palavra encarada da vida retida.” Pois a palavra é um substituto da vida. Falar é perder a vi, e todos os

comportamentos de efusão são retidos num primeiro movimento com gestos de dilapidação: pela confissão, pela palavra libertada, é o principio mesmo da vida

que parece se ir; falar é se expandir, isto é, se castrar, de modo que a tragédia esta submetida à economia de uma formidável avareza”, p.

113[...].

Retomando-se a ultima frase da citação anterior, buscaremos esclarecer a utilização do termo avareza, o qual faz referência ao uso da palavra pelos personagens.

De acordo com a visão Barthesiana, o falar utilizar a palavra implica comprometer-se de uma forma sempre crescente, em virtude disto, a linguagem utilizada em Fedra, é diga-se sintética:

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[...] J’ai pris la vie em haine...”[...] I,3

Quanto menos as palavras forem pronunciadas, menos os personagens serão

expostos por outrem ou expor-se-ão. Segundo a principal teoria pesquisada por Racine para a elaboração deste artigo,

a obra raciniana em questão, pode alem de uma tragédia nominalista, ser considerada uma tragédia do parto:

[...] “Compreendemos então que Phèdre é também uma tragédia do parto. Oenone é verdadeiramente a ama, a parteira, a que quer libertar Fedra de sua palavra a qualquer preço, aquela que extrai a linguagem

da cavidade profunda onde está presa. Esse enclausura mento intolerável do ser, que é num mesmo movimento silencio e esterilidade, é também,

sabemos, a essência de Hipólito: Arícia será, pois, a parteira de Hipólito como Oenone o é de Fedra; se Arícia se interessa por Hipólito, é expressamente para transpassá-lo,

fazer fluir enfim a linguagem. Bem mais ainda: de forma sonhadora, esse papel de parteira que Fedra pensa representar ao lado de Hipólito; como sua irmã Ariadne,

solucionadora do Labirinto, ela quer desembaraçar o novelo, puxar o fio, conduzir Hipólito da caverna à luz”.p. 114.[...]

Pode se entender “parto” como sendo tornar possível que a linguagem (palavra),

ocultas aflorem, “libertando“ assim o ser que as reprimia. Em consideração a citação feita recentemente, (página 114) é possível fazer a

seguinte leitura. Se para Fedra a Palavra é sua condenação (pois de acordo com a teoria de Barthes, a Palavra a condenaria, incriminaria): para Hipólito a Palavra, o falar, (a sua versão dos fatos) seria a salvação, pois, de certa forma a omissão de Hipólito perante o pai, faz com que o enteado de Fedra condene sua vida ao fim. Uma vez que através de seu silêncio “assume” a culpa pelo ato do qual é acusado. (Grifo nosso).

Sendo Fedra também chamada como já foi dito, uma tragédia de Palavra, é indispensável entender a concepção deste sintagma, para Barthes:

[...]”Que é que então torna a Palavra tão terrível? Primeiramente porque ela é um ato, é poderosa. Mas, sobretudo, porque é irreversível. Nenhuma palavra pode ser retomada: Entregue ao Logos, o tempo não pode voltar atrás, sua criação é definitiva. Também, ao sofismar a palavra, sofismamos o ato, passando-a ao outro, como um jogo de anel, entregando-lhe a responsabilidade; e se se começou a falar por um “engano involuntário”, de nada adianta se refazer, é preciso ir até o fim. E a astúcia de Oenone consiste precisamente não em retomar a confissão de Fedra e anulá-la, o que é impossível, mas fazê-la recair sobre outrem. Fedra acusará Hipólito do crime de que é culpada: a palavra permanecerá intacta, simplesmente transferida de uma personagem para a outra. Pois a palavra é indestrutível”. P. 114-115.[...]

Após estas exposições, o autor trata sobre o paradoxo presente na personagem

Fedra, ou seja, esta essência contraditória:

[...]”Je voulais em mourant... ...dérober au jour flamme si noire”

[...]I,3

Seria na tragédia uma figura objetiva “o monstro”.

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[...]”Inicialmente, o monstruoso ameaça todas as personagens; são todas monstros uns para os outros, e todos também são caçadores de monstros”. P. 116 .[...]

Acerca disso, Barthes traz as seguintes citações:

[...] Fedra a Hipólito: “Délivre l’univers d’um monstre qui t’irrie”.

Livra o universo de um monstro que te irrita. Arícia a respeito de Fedra:”(...)Vous invincibles mains

Ont de monstres sans nombre Vossas invencíveis mãos

Livraram os humanos de affranchi les humains.

Mais tout n’est pas détruit, et vous em laissez vivre Un...” de inúmeros monstros

. Mas nem tudo foi destruído, vos deixastes um ainda vivo. Fedra a Oenone”(...)Va t’em, monstre éxecrable”.

Vai-te monstro execrável. Hipólito sobre si mesmo:

“Croit-on que dans sés flancs um monstre m’ait porte?” Será que crêem que um monstro me carregou em seu ventre?

Fedra sobre Hipólito : “ Je lê vois comme um monstre effroyable à mês yeux”.

Eu o vejo como um monstro a meus olhos terrível. [..] II, 5

Como pode se perceber através das citações anteriores, Teseu não é citado, bem como não se refere a nenhuma personagem. Porém, pode se interpretar a monstruosidade de Teseu como sendo sua precipitação para falar (fala antes da hora), dessa maneira pede a intervenção dos deuses para seja possível vingar se de Hipólito, evocando Netuno, pede a este que o faça. (Grifo nosso).

[...]”Semidivino, bastante poderoso para dominar a contradição da morte, ele não pode, no entanto desfazer a linguagem... p. 115.[...]

Este episódio fortalece a teoria Bartheniana de que uma vez proferida a palavra,

não se pode voltar atrás.

[...]”Os deuses lhe devolvem a palavra proferida sob a forma de um dragão que o devora indiretamente, ao devorar seu filho”. P. 115.[...]

Finalizando seu texto, o autor traz o caráter mítico do segredo, não devendo este

ser revelado, fato que é tentado em Fedra duas vezes: 1ª confissão:

[...]“Phèdre:

Tu vas ouïr lê comble dês horreurs. J’aime... À ce nom fatal, je tremble, je frissone.

J’aime” Amo

Oenone: Qui?

Phèdre: Tu connais ce fils de l’Amazone,

Ce prince si longtemps par moi-même opprimé? Oenone:

Hippolyte? Grand dieux!

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Hipolito ? Oh céus ! Phèdre:

C’est toi qui l’as nommé![…] I-3.

2ª confissão:

[…]Phèdre: “Oui, Prince, je languis, je brüle pou Thése.

Je l’aime, nom point tel que l’ont vu les enfers, Volage adorateur de mille objets divers,

Qui va du dieu dês morts déshonorer la couche, Mais fidèle, mais fier, et même um peu farouche,

Charmant, jeune, traïnant tous lês coeurs après soi, Tel qu’on dépeint nos dieux, ou tel que je vous voi.

Il avait votre port, vos yeux, votre langage, Cette noble pudeur colorait son visage,

Lorsque de notre Crète il traversa lês flots, Digne sujhet dês voeux dês fills de Minos.

Que faisieez-vous alors? Pouquoi, sans Hippolyte, Desa héros de la Crèce assembla-t-il l’élite?

Pourquoi, trop jeune encor, ne pütes-vous alors Entrer dans lê vaisscau qui lê mit sur nos bords?

Par vous aurai péri lê monstre de la Créte, Malgré tous lês détours de as vaste retraite.

Pour em développer l’embarras incertain, Ma soeur du fil fatal eüit arme votre maim.

Mais non, dans ce dessein je l’aurais devancée: L’amour m’em eüt d’aborde unspré la pensée.

C’est moi, Prince, e c’est moi, dont l’utile secours Vous eüt du Labyrynthe rnsrigné les detours.

Que de soins m’eüt coütés cette tête charmante! Um fil n’ eüt point assez rassuré vótre amante:

Compgne du péril qu’il vous fallait chercher, Moi-même devant vous j’aurais voulu marcher,

Et Phèdre au Labyrinthe avec vous descendue Se serait avec vous retrouée, ou perdue. [...] II,5

De acordo com o autor, é somente na 3ª confissão feita a Teseu que a linguagem

e a morte estão no mesmo patamar:

[...] Phèdre; Les moments me sont chers, ecoutez-moi, Thésée.

C’est moi qui sur ce fils chaste et respectueux Osai jeter un oeil profane, incestueux.

Le ciel mit sdans mon sein une flame funeste; La detestable Oenone a conduit tout le rest.

Elle a craint qu’Hippolytee, intruit de ma fureur, Ne dcouvit un feu qui lui faisait horreur.

La perfide, abusant de ma faiblesse extreme, S’est hâtée à vos yeux de l’accuser lui-même. Elle s’em est punie, et fuyant mon courroux,

A cherchè dans les flots un supplice trop doux. Le fer aurait déà tranché ma destinée;

Mais je laissais gémir la vertu soupçonnée, Jái voulu, devant vous exposant mês remords,

J’ai pris, j’ai fait couler dans mes brülantes veines Um poison que Médée apporta dans Athènes.

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Déjà jusqu’à mon coeur lê venin parvenu, Dans ce coeur expirant jette unfroid inconnu,

Déjà je ne vois plus qu’à travers un nuage Et mle ciel et l’epoux que ma ´résence outrage;

Et la mort, à mês yeux dérobant la clarté, Renda u jour qu’ils souillaient toute as pure´t. V- 7. […]

Barthes assim o considera, talvez porque neste momento a palavra de Fedra a

purifica, assim como a morte.

Após a realização deste artigo, podemos considerar a visão do teórico Roland Barthes extremamente interessante, considerando Fedra uma tragédia de palavra. Segundo Barthes:

[...]”Desde o inicio Fedra se sabe culpada, e não é sua culpa que cria o problema, é seu silencio; e isto é sua liberdade. Fedra quebra este silêncio três vezes: diante de Oenone (I.3), de Hipólito (II.5) e de Teseu (V,7). Essas três rupturas tem uma gravidade crescente; de uma a outra Fedra se aproxima de um estado sempre mais puro da palavra. A primeira confissão é narcísea, Oenone é apenas um duplo maternal de Fedra. Esta liberta a si mesma, procura sua identidade, faz sua própria historia. Sua confidência é épica. Na segunda vez, Fedra liga-se magicamente a Hipólito por um jogo, ela representa seu amor, sua confissão é dramática. Na terceira vez ela confessa publicamente diante daquele que, só por seu Ser, fundou o erro; sua confissão é literal, purificada de todo teatro, sua palavra é coincidência total com o fato, é correção: Fedra pode morrer, a tragédia esgotou-se. P. 111.[...]

De acordo com as palavras de Barthes, a Palavra que condena Fedra no decorrer

da peça, no fim desta serve para purificá-la. Se por um lado, o dizer purifica, ou destrói; o não dizer, omitir, pode levar a

destruição como ocorre a Hipólito contradizendo este último fato a opinião de Barthes.

[...]Hipólito: “D’um amour criminel Phèdre accuse Hipolytr! Um tel excès d’horreur rend mon ame inerdite;

Tant de coups imprévus m’accablent à la fois Qu’ils m’ôtent la parole et m’étouffent la voix”.

[...]IV, 2

Hipólito se cala acreditando seu vá analisar sua conduta anterior,e assim,

descobrir sua inocência.,mas,essas Palavras omitidas não surtem o efeito desejado por Hipólito.

[…]D’un mensonge si noire justement irrite,

Je devrais faire ici farler la vérité, Seigneur;mais je supprime um secret qui vous touche.

Appruvez le respect qui me ferme la bouche, Et sans vouloir vous-même agmenter vous énnuis,

Examinez ma vie, et songez qui je suis. Quelques crimes toujours précdent les grands crimes

Quiconque a pu franchier les bordes legitimes Peut violer enfin les droits les plus sacrés;

Ainsi que la vrtus,le crime a ses degrés; Et jamais on n’a vu la timide innoence Passer subitement a l’extrême licence.

Un jour seule ne fait point d’un mortel vertueux

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Un perfide assassin,un lâche incestueux. Élevé dans le sein d’une chaste heroine,

Je n’ai poin de son sang démenti l’horigine. Pitthée estimé sage entre tous les humains,

Daigna m’instruire encore au sortir de ses mains. Je ne veux poin me peindre avec trop d’avantage,

Mais si quelque vertu m’est tombée en partage, Seigneur, je crois surtouut avoir fait éclater La haine des forfaits qu’on ose m’imputer.

C’est par là qu’Hippolyte est connuu dans la Grèce. .J’ai posse la vertu jusqyes à la rudesse.

.On sait de mes chagrins l’inflexible rigueur. .Le jour n’est pas plus pur que le fond de mon coeur. Et l’on veut qu’Hippolyte, epris d’un feu profane….

...[..]IV, 2

Por outro lado as dissimuladas Palavras de Oenone, têm efeito devastador a ponto de jogar um pai contra seu próprio filho, fazendo com que Teseu cego pela ira ,pelo ciúme e orgulho ferido, não enxergue a alma nobre de Hipólito,o que acontecerá somente quando este já está morto. Apenas depois deste fato irreversível causado pela precipitação paterna as Palavras proferidas por um inocente serão interpretadas da maneira desejada, ou seja, dando absolvição a aquele que as disse.

Pode-se inferir também ao finalizar este artigo, que o autor da obra consultada, Racine eleva a Palavra acima das próprias personagens, desta forma as ações desta tragédia ocorreriam de acordo com palavras proferidas no decorrer dela.

Cabe à Palavra (linguagem) o papel da personagem principal da leitura de Fedra, feita por Roland Barthes.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Poética (Trad. de Eudoro de Souza). Porto Alegre: Globo, 1966. BARTHES, Roland.Racine Editions du Seuil São Paulo,1987. CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos. São Paulo: Fedra de J. Racine – 1985 – L&PM Martins Editora. RACINE, Jean .Bordas,Paris, 1995.