extrativismo vegetal: a palmeira babaÇu e a

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EXTRATIVISMO VEGETAL: A PALMEIRA BABAÇU E A PRODUÇÃO DE PALMITO NO NORTE DO TOCANTINS-BRASIL 1 Marta Sônia Alves Lima Silva - Mestre em Geografia-Universidade Federal do Tocantins- Campus de Porto Nacional [email protected] INTRODUÇÃO As abordagens contidas nesta pesquisa dizem respeito a um estudo realizado sobre a exploração da palmeira babaçu para produção de palmito, extraído, processado e comercializado através de uma pequena indústria, “Araguanã Indústria e Comercio de Alimentos LTDA”, localizada no município de Araguanã ao norte do estado do Tocantins. Neste estudo, busca-se trazer à tona a realidade da atividade extrativa do palmito de babaçu que, apoiada na lucratividade de forma rápida e fácil, envolve uma série de fatores de ordem econômica, social, ambiental e legal. Tendo em vista que, a produção de palmito no estado do Tocantins e em particular no município de Araguanã-TO, é uma atividade recente, e sustenta-se com a exploração da palmeira babaçu . Para a construção de uma discussão sobre o palmito de babaçu, a análise do processo inicia-se a partir da exploração dos recursos naturais florestais, em particular a palmeira babaçu que no Tocantins, ao longo do tempo vem sendo devastado cedendo lugar a grandes áreas de pastagens, em função disso, foi criada a Lei Estadual Nº 1.959, de 14 de Agosto de 2008, proibindo a derrubada do babaçu no estado do Tocantins, tornando a atividade extrativa do palmito inviável do ponto de vista legal. Nos últimos anos, devido à exploração desordenada das espécies Jussara (Euterpe Edules) e Açaí (Euterpe oleácea), houve uma grande necessidade de matéria- prima para suprir o mercado de palmito no Brasil. Assim, os interesses estão direcionados para a utilização de outras espécies de palmeiras que ofereça um palmito de qualidade. 1 Pesquisa concluída, referente ao primeiro capítulo da dissertação de mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional, (2013).

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Page 1: EXTRATIVISMO VEGETAL: A PALMEIRA BABAÇU E A

EXTRATIVISMO VEGETAL: A PALMEIRA BABAÇU E A PRODUÇÃO DE PALMITO NO NORTE DO TOCANTINS-BRASIL1

Marta Sônia Alves Lima Silva - Mestre em Geografia-Universidade Federal do

Tocantins- Campus de Porto Nacional [email protected]

INTRODUÇÃO

As abordagens contidas nesta pesquisa dizem respeito a um estudo realizado

sobre a exploração da palmeira babaçu para produção de palmito, extraído, processado e

comercializado através de uma pequena indústria, “Araguanã Indústria e Comercio de

Alimentos LTDA”, localizada no município de Araguanã ao norte do estado do

Tocantins.

Neste estudo, busca-se trazer à tona a realidade da atividade extrativa do palmito

de babaçu que, apoiada na lucratividade de forma rápida e fácil, envolve uma série de

fatores de ordem econômica, social, ambiental e legal. Tendo em vista que, a produção

de palmito no estado do Tocantins e em particular no município de Araguanã-TO, é

uma atividade recente, e sustenta-se com a exploração da palmeira babaçu .

Para a construção de uma discussão sobre o palmito de babaçu, a análise do

processo inicia-se a partir da exploração dos recursos naturais florestais, em particular a

palmeira babaçu que no Tocantins, ao longo do tempo vem sendo devastado cedendo

lugar a grandes áreas de pastagens, em função disso, foi criada a Lei Estadual Nº 1.959,

de 14 de Agosto de 2008, proibindo a derrubada do babaçu no estado do Tocantins,

tornando a atividade extrativa do palmito inviável do ponto de vista legal.

Nos últimos anos, devido à exploração desordenada das espécies Jussara

(Euterpe Edules) e Açaí (Euterpe oleácea), houve uma grande necessidade de matéria-

prima para suprir o mercado de palmito no Brasil. Assim, os interesses estão

direcionados para a utilização de outras espécies de palmeiras que ofereça um palmito

de qualidade. 1 Pesquisa concluída, referente ao primeiro capítulo da dissertação de mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional, (2013).

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Nessa perspectiva, o babaçu (Orbignya speciosa) emerge economicamente como

uma alternativa para a produção de palmito, sendo explorada no município de

Araguanã-TO, desde o ano 2000. Sendo assim este estudo irá possibilitar um melhor

entendimento sobre o extrativismo do palmito de babaçu, que embora seja um produto

natural, não é ecológico, pois sua produção sustenta-se com a destruição de palmeiras

nativas.

Nesse contexto, o presente estudo objetivou-se a analisar o processo de extração

e comercialização do palmito de babaçu no município de Araguanã-TO, bem como

identificar possíveis problemas ambientais causados pelo manejo de extração do

palmito, e também apontar os fatores que levaram a instalação da industria Araguanã

Indústria e Comercio de Alimentos Ltd., neste município.

Como procedimento teórico-metodológico, realizou-se pesquisa bibliográfica

parte fundamental do estudo, a partir de leituras de autores com discussões relativas às

temáticas ligadas ao estudo, e pesquisa junto aos órgãos ambientais: Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Instituto Natureza do

Tocantins (NATURATINS), para o levantamento de informações sobre essa atividade.

Como atividade prática realizou-se pesquisa de campo, nas dependências da

indústria, com a finalidade de observar o processamento do palmito, como também nas

áreas das fazendas, para explicitar a derrubada das palmeiras e extração do palmito,

realizou-se recurso fotográfico para registro e visualização dos pontos importantes do

estudo, e trabalho cartográfico a partir de mapas para melhor, localização e delimitação

da área em estudo.

ÁREA DE ESTUDO

Mapa 1 – Localização do município de Araguanã - TO

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Fonte: Adaptado, SEPLAN (2012). Org. SILVA, A. A. F.

A área em estudo diz respeito ao município de Araguanã-TO. É um municipio

brasileiro, pertencente ao estado do Tocantins, localizado na região Norte do país, e faz

parte da área denominada Amazônia Legal. (Mapa 1)

A área com destaque em vermelho no mapa 1, indica a localização do municipio

de Araguanã, ao norte do estado do Tocantins, à margem direita do rio Araguaia.

Apresenta uma extensão territorial compreendendo uma área de 835,km², com uma

população de aproximadamente 5.030 habitantes. (IBGE 2010, SEPLAN, 2012).

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO EXTRATIVISMO VEGETAL

O extrativismo, termo que abrange de forma ampla, as atividades de extrair

produtos diretamente da natureza, compreende uma das atividades mais antigas do

mundo, e historicamente o extrativismo vegetal, configurou-se como a primeira forma

de exploração dos recursos naturais florestais a partir do pau-brasil, no território

brasileiro, marco inicial de sua economia. E no período da colonização, o extrativismo

destacou-se com a coleta das chamadas “drogas do sertão”, que, na Amazônia, de

acordo com Gonçalves (2001, p. 81), a partir de então, iniciou-se o devassamento da

floresta.

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De acordo com o (IBGE, 2010) o extrativismo vegetal em sua origem, divide-se

em dois seguimentos principais: madeireiros (madeira em tora, lenha, carvão vegetal,

nó-de-pinho) e não madeireiros (amêndoas de babaçu, castanha do Pará, erva-mate,

frutos, palmito). Nesta pesquisa o foco principal deste estudo é o extrativismo vegetal

de origem não madeireira.

O extrativismo vegetal está sujeito a duas formas de extração: “o extrativismo

por aniquilamento ou predatório e o extrativismo de coleta ou não predatório”.

(HOMMA, 1986, p. 42). A extração por aniquilamento ocorre quando a exploração do

recurso extrativo resulta em sua extinção e também quando a rapidez de regeneração é

inferior à capacidade de extração. Um exemplo desse processo é a extração da madeira

e do palmito. Já no extrativismo de coleta, a extração do produto acontece de forma que

mantêm a integridade da planta-matriz, como por exemplo, o extrativismo da

seringueira, da castanha do Pará, e do coco babaçu. (HOMMA, 1986).

No estado do Tocantins, o extrativismo encontra-se em desenvolvimento, sua

vegetação predomina o bioma Cerrado, o que leva seus recursos naturais a possuírem

especificidades que levam o extrativismo a se diferenciar das demais áreas pertencentes

à Amazônia Legal. Possui uma grande variedade de recursos extrativos como: babaçu,

buriti, capim-dourado frutos e sementes do cerrado, entre outros, que podem ser

utilizado vindo a contribuir com a economia de várias regiões do estado, como também

na geração de renda para muitas comunidades conhecidas como tradicionais.

Nesse estado, o extrativismo destaca-se de forma mais expressiva na exploração

da palmeira babaçu principalmente com a extração das amêndoas, que em sua maioria

conta com a extração de forma artesanal, realizada por mulheres conhecidas como

quebradeiras de coco das comunidades do extremo norte na região denominada Bico do

Papagaio, que “engloba parte dos estados do Maranhão, Tocantins e sudeste do Pará”,

(ALMEIDA, 2005 p. 4).

Além do babaçu, o Tocantins conta com o extrativismo do capim-dourado

(Syngonanhtusnitens), sendo explorado na região do Jalapão, a leste do estado do

Tocantins. (SAMPAIO 2010, p. 20). Utilizado na fabricação de utensílios e artesanatos;

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extração de óleos vegetais, a partir do babaçu, tucum, macaúba, gergelim, buriti, pequi e

outros; também bijuterias conhecidas na região como “biojóias” confeccionadas por

mulheres agricultoras rurais e extrativistas, indígenas (Karajá), quilombolas, utilizando

sementes e plantas como: bacaba, buriti, açaí, leucena e outros, nas proximidades do

Parque Estadual do Cantão na região oeste do Tocantins. (GOVERNO DO ESTADO

DO TOCANTIS 2009).

Diferentemente de outras palmeiras, a vantagem do babaçu, está na possibilidade

de oferecer inúmeros produtos e subprodutos de valor econômico. Segundo Valverde

(1985, p.150). “O babaçu (Orbignya Speciosa) é uma palmeira que representa uma

riqueza natural digna de toda atenção pelos poderes políticos dados as suas inúmeras

utilidades”.

Apesar de sua importância e variedade de produtos que pode oferecer, do ponto

de vista econômico e agrícola, a palmeira babaçu é vista como um recurso marginal, e

permanece apenas como parte integrante de formas tradicionais regionais.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PALMITO

O palmito é a parte comestível de certas palmeiras pertencente à família palmae,

está localizado na parte superior das palmeiras, é formado pelas folhas que ainda não se

desenvolveram plenamente, possui formato cilíndrico, macio e tenro, é constituído pelo

meristema apical e um número variável de folhas internas, envolto e protegido pelas

bainhas das folhas adultas mais externas. (BOVI, 1998).

Extraído de uma variedade de gênero e espécie de palmeiras, o palmito pode ser

comestível ou não. Fatores como o sabor, a cor, formato, e ausência de princípios

tóxicos, alto rendimento e a facilidade de extração, fazem com que uma espécie de

palmeira destaque-se em relação à outra. Levando em conta esses atributos, as palmeiras

do gênero Euterpe (juçara e açaizeiro) tornaram-se preferidas para a produção de

palmito, cuja extração é uma atividade altamente predatória. (BOVI, 2000)

A exploração do palmito como atividade econômica no Brasil tornou-se

relevante a partir da década de 1940 no Sul do país, com a exploração da palmeira

juçara (Euterpe edulis), nativa da Floresta Atlântica. Sua intensa exploração na década

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de 1970 favoreceu o deslocamento das empresas do Sul (Santa Catarina,

principalmente) para explorar o palmito de açaí (Euterpe oleracea) no delta do Rio

Amazonas, atualmente o maior polo de produção de palmito do país (RODRIGUE &

DURIGAN, 2007).

As principais espécies de palmeiras que nos últimos anos estão sendo utilizadas

para a produção de palmito a partir de plantios organizados destacam-se a palmeira

pupunha e a palmeira real australiana. De acordo com Lorenzi (1996, p. 55) a pupunha

já é uma espécie considerada domesticada, que ocorre desde a America Central até a

Amazônia, amplamente disseminada pelo homem, há uma gama de variedade,

entretanto, a mais viável para a produção de palmito é a do tipo inerme (sem espinhos).

Quanto à palmeira real australiana de acordo com Bovi, (1998), as espécies mais

utilizadas são: Archontophoenix alexandrae e A. cunninghamiana. O interesse por esta

palmeira para produção de palmito teve inicio a partir de 1990, constituindo-se na mais

recente alternativa na produção de palmito, que antes era utilizada apenas como planta

ornamental. Devido à boa adaptação a regiões fria, seu cultivo vem se destacando no

Sul do país. (GUERREIRO, 2002, p. 4)

EXTRAÇÃO DO PALMITO DE BABAÇU EM ARAGUANÃ-TO

O interesse pelo palmito de babaçu no Tocantins foi motivado, pela grande

densidade de matéria-prima, principalmente nas grandes fazendas do município, em

função disso instalou-se nesse município a indústria Araguanã Indústria e Comércio de

Alimentos Ltda., com a finalidade de industrializar o palmito de babaçu nesta região.

Situada a norte da cidade de Araguanã-TO, a mesma foi inaugurada no dia 06 de maço

do ano 2000, iniciando assim sua produção.

A nobreza e o sabor do palmito, cujo rendimento e qualidade são superiores ao

palmito de outras espécies de palmeiras, a boa localização da fábrica e também as vias

de acesso, através da BR 153, TO 222 e TO 164, que contribuíram para o escoamento

da produção, foram responsáveis pelo desenvolvimento da produção do palmito.

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A extração do palmito de babaçu quer nas florestas quer nas fazendas, acontece

de forma predatória, (aniquilamento ou abate da palmeira), e realiza-se de duas formas,

uma pelo corte parcial, conforme figura1, e a outra pelo corte total da palmeira, figura 2.

Entretanto, nas duas forma a morte da palmeira é inevitável.

Figuras 1, 2 e 3: Extração do palmito pelo parcial e total da palmeira.

Fonte: SILVA, 2011.

Conforme figura 1, no corte parcial utilizam-se as palmeiras mais novas, pois o

palmito é de fácil acesso. A preferência por essas palmeiras está na capacidade de

oferecer um palmito de boa qualidade, em termos de tamanho, peso, maciez e

rentabilidade.

Na figura 2, evidencia o corte total da palmeira, essa ação acontece

principalmente em palmeiras de grande porte produtoras ou não de frutos, devido o

difícil acesso ao palmito. Na extração do palmito, somente a bainha interna presente no

estipe da palmeira (parte superior do caule) é utilizada para a comercialização, o que

significa apenas entre 80 cm a 1 m de uma palmeira jovem ou adulta (figura 3).

Conforme figuras 3, nota-se que o palmito extraído da palmeira babaçu, pesa em

torno de 30 a 35 kg. O palmito é envolto por camadas (bainhas) as camadas externas são

fibrosa e envolve todo o palmito, a última camada é interna, ou seja, a parte nobre ou

miolo do palmito, que possui baixo teor de fibras, parte da qual se produz a conserva.

Os trabalhadores que realizavam a extração do palmito recebiam um salário

mínimo na carteira de, (622 R$) sendo que, a quota diária imposta pela empresa era de

15 unidades de cabeças de palmito que deveriam ser extraídas por dia, acima desse

limite os trabalhadores além do salário recebiam por produção, que correspondia a um

real e cinquenta centavos (1.50 R$) por cada cabeça a mais que eram extraídas.

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Esse procedimento adotado pela fabrica incentiva o trabalhador a produzir uma

quantidade maior de palmito, e com isso maior remuneração no salário. Essa realidade

levava os trabalhadores dependendo de suas necessidades, para conseguir maior

produtividade e consequentemente maior renda, a submeterem-se a uma jornada de

trabalho excessiva do ponto de vista legal. Marx (1996, p. 114) enfatiza que: “A

extensão da jornada de trabalho também tem seus limites máximos, [...]. Seu limite

máximo é dado pela força física do trabalhador. Se o esgotamento diário de suas

energias vitais excede certo grau, ele não poderá fornecê-la outra vez todos os dias”.

Nesse sentido, extração do palmito é uma atividade que exige força física do

trabalhador tanto no corte da palmeira como na retirada do palmito e carregamento do

palmito até o veículo de transporte devido à inexistência de vias de acesso até o local da

extração e também no descarregamento das cabeças de palmito ao chegar à indústria.

Essa pratica sendo realizada constantemente como era o caso, causa o desgaste físico do

trabalhador levando-o desenvolver sérios problemas de saúde.

Na atividade de extração do palmito, a produção de cada trabalhador variava

dependendo da área de acesso aos babaçuais. Em área de difícil acesso, a produção de

cada trabalhador era em torno de 25 a 30 cabeças de palmito extraído por dia resultando

em um total de 250 a 300 cabeças de palmito. Nas áreas de fácil acesso, a produção

variava entre 40 a 50 cabeças de palmito extraídas por dia, resultando num total entre

350 a 400 cabeças de palmito por dia, a ser processada.

COMERCIALIZAÇÃO DO PALMITO DE BABAÇU

Conforme Guerra (1969), o palmito de babaçu, desde os tempos mais remotos, já

era consumido in natura pelos caboclos do sertão nordestino, também era aproveitado

na forragem para animais como bovinos, suínos e equinos, e, não possuía nenhum valor

econômico. Mas devido à escassez de reservas principalmente da juçara, o palmito de

babaçu, no Tocantins ganhou espaço no mercado.

O palmito de babaçu produzido pela Araguanã Indústria e Comercio de

Alimentos LTDA, é bem aceito no mercado, depois de industrializado era

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comercializado no Estado de São Paulo, principalmente na cidade de Ituverava, destino

de quase toda produção (90%).

A seleção dos palmitos a serem processados era feita a partir de critérios que

garantam a produção de um palmito de qualidade, esses critérios compreendem o

tamanho, peso, cor, textura e odor. O palmito considerado ideal tem um peso bruto em

torno de 30 a 35 kg, que ao ser retirado as bainhas que envolvem o palmito o mesmo

fica com peso entre 8 a 9 kg.

O processamento do palmito de babaçu assim como dos demais palmitos,

realiza-se através de um processo simples, segue uma série de etapas que são

fundamentais para garantir um produto final de qualidade. As etapas são: recepção e

limpeza, classificação e corte do palmito, salmoura de espera, envase e adição de

salmoura ácida, exaustão e tratamento térmico, resfriamento e quarentena. Duas dessas

etapas estão expostas nas figuras 4 e 5.

Figuras 4 e 5: envase do palmito e produto final.

Fonte: SILVA, 2011

Depois de industrializado, a produção final era em média 243 caixas de palmito

por dia, contendo em cada caixa seis unidades pesando 3,5 kg cada unidade, e uma

produção mensal de 7.290 caixas, resultando em 153.090 kg de palmito, ou seja, (153

toneladas). Isso corresponde a uma produção anual de 1.837.080kg de palmito, ou seja,

1.837 toneladas. Cada caixa era vendida a 64 reais resultando em um faturamento

mensal de 466.560 reais.

Produção que só era possível devido ao grande rendimento do palmito babaçu,

que cada cabeça depois de selecionadas e limpas produziam em média 7 kg de palmito

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uma pela outra. Em consequência, a extração acontecia de forma desordenada e por sua

vez causou a devastação das reservas nativas nessa região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes da instalação da indústria de palmito em Araguanã-TO, a derrubada das

palmeiras para formação de pastagens já acontecia em áreas de fazendas, mas sem o

aproveitamento do palmito. Com a instalação da indústria, essa prática se intensificou,

devido à comercialização do palmito que até então não acontecia nessa região.

No município de Araguanã-TO, o palmito de babaçu, foi extraído em várias

localidades principalmente nas grandes fazendas da região, com uma única finalidade

“limpar” a área para ceder lugar às pastagens, principalmente por que o forte da

economia do município é a pecuária.

Nessas fazendas o babaçu não é utilizado para fins econômicos, mesmo por que

para os fazendeiros o babaçu é visto como uma “praga” de difícil controle e tentam

eliminá-lo de qualquer forma, e assim, o babaçu fica sujeito à ação dos produtores de

palmito, que encontram nessas fazendas matéria-prima abundante e gratuita.

A palmeira babaçu, apesar de possuir alta produtividade de palmito, apresenta

também um ciclo tardio e seu plantio para produção de palmito ainda não é viável. Isso

faz com que o babaçu seja muito mais valorizado em pé do que derrubado para

formação de pastagens nas grandes fazendas de pecuária intensiva comum nesse

município.

O ultimo ponto a considerar na extração do palmito, diz respeito à legislação. Do

ponto de vista ambiental, essa atividade devastou as reservas de babaçuais do município

e também em vários municípios circunvizinhos. Durante todo o período de seu

funcionamento, deixou de cumprir algumas determinações legais, principalmente no

que diz respeito, ao manejo de exploração do palmito, origem do palmito, e qualidade

do produto. Principais motivos que deixaram o estado do Tocantins, fora das estatísticas

oficiais referente à produção de palmito no Brasil, mesmo fazendo parte dos estados

brasileiros que produzem palmito.

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Também de acordo o setor de Cadastro do Sistema Integrado – SINTEGRA,

sobre operações interestaduais com mercadorias e serviços, o CNPJ, da empresa se

encontra não habilitado (suspenso de Oficio) a partir de 29/12/2011, ou seja, a empresa

não está mais apta a realizar operações comerciais interestaduais.

REFERÊNCIAS

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