beneficiamento do babaçu no sertão da bahia

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O babaçu é uma palmeira nativa do Brasil e cresce nas regiões norte e nordeste do país. Ela pode chegar a 20 m de altura e produz o coco, também chamado de babaçu, cujo nome é de origem Tupi. Todas as partes da palmeira podem ser aproveitadas para fins econômicos e culinários. Do seu fruto é extraída cerca de três amêndoas que possuem grande valor oleaginoso empregado na culinária, em cosméticos e na produção de combustíveis e a casca do coco pode ser transformada em carvão para as olarias. Das folhas são produzidas peças artesanais, adubo orgânico e ração animal. O povoado de Cocho de Dentro, no município de Jacobina, na Bahia, a 330 km de Salvador, com cerca de 200 moradores, onde se tem grande disponibilidade desta palmeira, desenvolve o beneficiamento do babaçu. O trabalho é coletivo e realizado pelos sócios da Associação Comunitária de Cocho de Dentro desde o ano de 2009. Para o presidente, Reginaldo Santos de Jesus, o trabalho tem sido intensivo e conquistado muitos frutos, “quem não conhecia a comunidade, hoje está conhecendo através do beneficiamento do babaçu”, explica. A prática de colher e vender o fruto in natura é passada de geração a geração e foi para muitas famílias a única fonte de renda, que agora ganhou mais força e visibilidade com a inclusão da unidade de beneficiamento do babaçu. Este trabalho começou através da iniciativa de Antônio Carlos de Campos, 52 anos, e sua esposa, Kátia Cristina Novaes Leite, 42 anos, que ao chegarem à comunidade logo viram a subutilização do babaçu, “eu e minha esposa ficávamos chateados ao ver os montinhos de coco na porteira das propriedades do Cocho de Dentro aguardando para serem vendidos para queimar no forno das olarias da cidade”, conta Antônio. Foi quando sugeriram para as demais pessoas da comunidade, através da Associação comunitária, trabalhar as potencialidades deste fruto tão abundante na localidade. No início enfrentaram resistência das pessoas e tiveram que realizar muitas reuniões, encontros para motivá-las, mas logo a causa foi abraçada pelos sócios da Associação. Depois de se organizarem e darem inicio a unidade de beneficiamento através da aquisição de maquinário financiado por uma mineradora da região, hoje estão reformando e transformando a sede da associação em laboratório que atenda as exigências da vigilância sanitária. Do babaçu nada se perde Para este grupo, a principal matéria prima da palmeira é o fruto, onde não se perde nada, aproveitando a amêndoa e seus subprodutos e a casca. A amêndoa tem um alto teor de concentração de óleo de aplicação alimentícia e industrial e a casca do fruto é utilizada para adubo orgânico e transformada em carvão. Atualmente as atividades estão concentradas na produção e comercialização de cosméticos, como os sabonetes, os óleos corporais e os hidratantes. Outro subproduto é proveniente do bagaço do coco de onde foi extraído o óleo, ele é transformado em ração para alimentar os porcos e as galinhas e também na produção de doces. A casca vira adubo para as hortas e para as plantas das próprias famílias que também trabalham com a agricultura familiar. Para aprender extrair estes benefícios da matéria prima e transformá-la em produtos, eles pesquisaram bastante e viajaram até o Ceará, para visitar a Fundação Araripe, lá puderam conhecer a experiência de uma comunidade organizada que trabalha com o beneficiamento do babaçu. A produção dos cosméticos foi impulsionada pela pesquisa e aperfeiçoamento da professora Kátia, “vejo como uma alternativa de trabalho digno, consciente, para que as pessoas não sonhem em deixar a comunidade, por achar que serão mais felizes nas periferias das cidades”, explica o que pensa sobre o trabalho. Bahia Ano 5 | nº 167 | outubro | 2011 Jacobina - Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Beneficiamento do babaçu no sertão da Bahia Abundância da palmeira na comunidade Parte da equipe que trabalha com o beneficiamento

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O babaçu é uma palmeira nativa do Brasil e cresce nas regiões norte e nordeste do país. Ela pode chegar a 20 m de altura e produz o coco, também chamado de babaçu, cujo nome é de origem Tupi. Todas as partes da palmeira podem ser aproveitadas para fins econômicos e culinários. Do seu fruto é extraída cerca de três amêndoas que possuem grande valor oleaginoso empregado na culinária, em cosméticos e na produção de combustíveis e a casca do coco pode ser transformada em carvão para as olarias. Das folhas são produzidas peças artesanais, adubo orgânico e ração animal.

O povoado de Cocho de Dentro, no município de Jacobina, na Bahia, a 330 km de Salvador, com cerca de 200 moradores, onde se tem grande disponibilidade desta palmeira, desenvolve o beneficiamento do babaçu. O trabalho é coletivo e realizado pelos sócios da Associação Comunitária de Cocho de Dentro desde o ano de 2009. Para o presidente, Reginaldo Santos de Jesus, o

trabalho tem sido intensivo e conquistado muitos frutos, “quem não conhecia a comunidade, hoje está conhecendo através do beneficiamento do babaçu”, explica.

A prática de colher e vender o fruto in natura é passada de geração a geração e foi para muitas famílias a única fonte de renda, que agora ganhou mais força e visibilidade com a inclusão da unidade de beneficiamento do babaçu. Este trabalho começou através da iniciativa de Antônio Carlos de Campos, 52 anos, e sua esposa, Kátia Cristina Novaes Leite, 42 anos, que ao chegarem à comunidade logo viram a subutilização do babaçu, “eu e minha esposa ficávamos chateados ao ver os montinhos de coco na porteira das propriedades do Cocho de Dentro aguardando para serem vendidos para queimar no forno das olarias da cidade”, conta Antônio. Foi quando sugeriram para as demais pessoas da comunidade, através da Associação comunitária, trabalhar as potencialidades deste fruto tão abundante na localidade. No início enfrentaram resistência das pessoas e tiveram que realizar muitas reuniões, encontros para motivá-las, mas logo a causa foi abraçada pelos sócios da Associação. Depois de se organizarem e darem inicio a unidade de beneficiamento através da aquisição de maquinário financiado por uma mineradora da região, hoje estão reformando e transformando a sede da associação em laboratório que atenda as exigências da vigilância sanitária.

Do babaçu nada se perdePara este grupo, a principal matéria prima da palmeira é o fruto, onde não se perde nada, aproveitando a

amêndoa e seus subprodutos e a casca. A amêndoa tem um alto teor de concentração de óleo de aplicação alimentícia e industrial e a casca do fruto é utilizada para adubo orgânico e transformada em carvão. Atualmente as atividades estão concentradas na produção e comercialização de cosméticos, como os sabonetes, os óleos corporais e os hidratantes.

Outro subproduto é proveniente do bagaço do coco de onde foi extraído o óleo, ele é transformado em ração para alimentar os porcos e as galinhas e também na produção de doces. A casca vira adubo para as hortas e para as plantas das próprias famílias que também trabalham com a agricultura familiar.

Para aprender extrair estes benefícios da matéria prima e transformá-la em produtos, eles pesquisaram bastante e viajaram até o Ceará, para visitar a Fundação Araripe, lá puderam conhecer a experiência de uma comunidade organizada que trabalha com o beneficiamento do babaçu. A produção dos cosméticos foi impulsionada pela pesquisa e aperfeiçoamento da professora Kátia, “vejo como uma alternativa de trabalho digno, consciente, para que as pessoas não sonhem em deixar a comunidade, por achar que serão mais felizes nas periferias das cidades”, explica o que pensa sobre o trabalho.

Bahia

Ano 5 | nº 167 | outubro | 2011Jacobina - Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Beneficiamento do babaçu no sertão da Bahia

Abundância da palmeira na comunidade

Parte da equipe que trabalha com o beneficiamento

Todo o processo de quebra, processamento e fabricação dos produtos é feitos em equipe. No meio de tanta organização e trabalho, também surge diversão e entretenimento, como conta Edimilson, “quando a gente se junta é bom sempre tem resenha”.

D. Luiza junto com D. Conceição, D. Maria Almeida e Maria da Conceição, D. Sandra, D. Ieda Valdenice, Edimilson, Kátia, Seu Antônio, Reginaldo foram as pessoas entrevistadas e algumas das que fazem parte deste equipe, além destas, outras pessoas também colaboram com este trabalho. E Hoje a equipe já conta com alguns técnicos especializados. “Se a gente não se ajudar, não se unir, nunca vai funcionar, para isso precisa ter fé, união e acreditar pra puder dar tudo certo, pois para esta atividade é preciso ter muita força de vontade”, diz D. Ceiça.

A comercialização acontece de forma direta, quando recebem visitas na comunidade, através de feiras da agricultura familiar que acontece em outros municípios e cota vendida para uma mineradora da região. Com isto, a fabricação dos produtos é movimentada de acordo com a demanda de mercado que está cada vez mais crescendo devido a divulgação e a qualidade dos cosméticos.

Valorização da matéria prima e do trabalho com o babaçuAntes deste trabalho as pessoas garantiam suas rendas de forma individual com o plantio de mandioca, de

hortaliças e venda da amêndoa do babaçu e do coco inteiro. D. Ieda Amaral que cata e vende o coco nas feiras desde os sete ano, diz que depois da Associação aprendeu a fazer o carvão com o coco velho e não precisa vender mais nas feiras, pois boa parte da colheita é vendida para a Associação. Ela considera o seu trabalho como fundamental, “o coco pra mim é tudo, pois é do que eu vivo mais”.

A unidade de beneficiamento do babaçu valoriza a matéria prima e com isto, evita que as famílias subtilizem as potencialidades do coco ao venderem ele in natura para as olarias, além de fortalecer a organização comunitária, “pode dizer que é uma família depois da associação”, conta Valdenice. As mulheres explicam que aprenderam a gostar da extração do babaçu a partir deste trabalho, “antes era mais difícil, cansei de pegar coco lá naquela serra e descia com os balaios para vender na feira”, diz D. Conceição. Para D. Luiza, que mora a 40 anos na comunidade e trabalhando com roça, só aumentou o prazer dela em morar neste lugar depois que surgiu o beneficiamento do babaçu. “pra mim é gratificante, vou entretendo, passando o tempo, gosto mesmo do trabalho”, afirma.

Outro objetivo é garantir a geração de renda a partir de matérias primas nativas da região e do trabalho artesanal, com isto, proporcionar aos moradores viverem de forma digna do trabalho da terra. O sonho do grupo é que esta organização envolva a juventude da comunidade ao ponto de garantir que elas consigam se manter na região sem precisar passar pelo processo de êxodo rural. Valdenice diz que “gostaria de deixar isto para as futuras gerações pensarem melhor e não destruírem, não saírem daqui para outros lugares, mas preservar sempre aqui e ficar aqui, a ideia da fábrica é essa, que o filho daqui não precise sair”, enfatiza.

Extrativismo consciente A comunidade não interfere no ciclo de vida da planta e nem da mata nativa da região com o extrativismo do

babaçu. Pelo contrário, contribuem com a preservação ambiental e não permitem que ninguém destrua a planta, “existe todo um processo. Não se pode chegar lá e arrancar o cacho de coco, tem que esperar o coco cair, secar, até porque tem

animais que se alimentam deste coco, para depois tirar da natureza e trazer para a unidade”, explica D. Luiza. Neste sentido, olham a natureza e aproveitam as riquezas que ela pode oferecer de forma sustentável. Diante disso tudo aprenderam também a serem fiscais da preservação ambiental da sua região, ao passo que a qualquer sinal de queimada, agressão as nascentes e derrubada de mata nativa, são os primeiros a denunciar.

A expectativa é que alcancem outras comunidades a partir da divulgação dos produtos e seus benefícios, “meu sonho é que esta produção cresça para melhorar e beneficiar cada vez mais as famílias”, diz Maria da Conceição. Kátia e Antonio explicam que ainda tem muito que aprender com o babaçu, “ainda estamos aprendendo, o babaçu abre um leque enorme de possibilidades de produção e aos poucos vamos descobrindo o que realmente será nossa produção”, explica Kátia.

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A produção de cosméticos é o potencial do grupo

Fabricação dos sabonetes é feita de acordo com a demanda

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