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N.º 32 - Julho / Setembro de 2008 boletim da associação FRA FRA FRA FRA FRATERNIT TERNIT TERNIT TERNIT TERNITAS AS AS AS AS MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO espiral M eu caro P.e Filipe: Quantas saudades temos de ti! Ficámos órfãos do pai espiritual desde a tua partida. Só nos consola a certeza de que estás na paz merecida do Senhor a Quem sempre serviste desinte- ressadamente. Quantas angústias, quantas tristezas no coração amargurado de todos nós por nos teres deixado! Na outra margem onde te encontras bem agarrado ao Pai, gozando a felicidade eterna, conti- nuaremos sempre unidos no amor. Vamos fazer-te uma pequena homenagem a 30 de Novembro, em Évora e na Paróquia de S. Brás, onde as tuas pegadas ainda estão bem frescas, onde o rebanho que tu conduziste às pastagens verdejantes do Senhor ainda continua vivo e confortado pela pa- lavra que lhes dirigiste. Já passaram cinco anos do teu decesso, mas per- maneces na nossa memória com a tua presença bem viva e animadora como se o tempo não contasse para nada. Nós andávamos dispersos, cada um para seu lado, e tu convidaste-nos à união em volta da causa comum – o chamamento do Senhor. Dissemos “presente”. Formá- mos este movimento, que tu tanto amas- te, a FRATERNITAS. Juntámo-nos, fizemos este grupo com base na fé e no amor e continuamos a existir, a caminhar, a tomar consciência de que so- mos aqueles a quem um dia o Senhor convidou a trabalhar na sua vinha. A nossa base de entrega con- tinua a ser a mesma: pôr ao serviço dos outros os dons com que fomos gratificados. É certo que a nossa vida, em determinada altura do percurso, deu um salto que pode ser encarado sob muitos aspectos positivo ou negativo por alguns. Nós não pensamos assim e somos pela positiva. A nossa vida foi oferecida ao Senhor na sua totalidade e numa linha de evolução normal patente em tudo o que nos rodeia. Mudámos do estado celibatário para o estado de casados, mas continuamos felizes como dantes o éramos e agora com a nossa famí- lia. Uma felicidade mais completa e mais radiante. A nossa fé, o sentido dos outros e a certeza do servi- ço nunca estiveram fora dos nossos sonhos. Nunca trocámos o Senhor por qualquer outra coisa. Nun- ca virámos a casaca que nos foi imposta. Mudar é bom. Já o poeta o disse” todo o mundo é composto de mudança”. Por que não havemos de mudar nós? Por que não havemos de aceitar esta regra universal, tão evidente como a luz que nos alumia? Se em vez da crítica destrutiva alinhásse- mos na equipa da crítica construtiva, não estaría- mos a praticar mais a caridade cristã? Se as mudanças operadas na sociedade tives- sem mais impacto na hierarquia eclesi- ástica, que se agarra com força demasi- ada à tradição; se os sinais dos tempos tivessem uma leitra mais inteligente e eficaz da parte de quem manda, e mais consentânea com a realidade, talvez muita coisa já tivesse mudado... Nós ten- tamos abrir mesmo a nossa mente ao mundo actual, penetramos nele com o rosto humano de Jesus e ficamos ilumi- nados por outros pensamentos e novas atitudes. É necessário ver e aceitar a mudança. O mundo mudou e não mudamos também? Ninguém fique parado a ver o tempo a passar. Junte-se ao progresso, venha abraçar o mundo novo que há-de nascer para todos nós. Com a aju- da do P.e Filipe de Figueiredo, que no outro mundo pede e intercede por nós, vamos acreditar que o futuro será melhor. CAR AR AR AR ARTA ABER A ABER A ABER A ABER A ABERTA A A A A AO AO AO AO AO CÓNEGO P CÓNEGO P CÓNEGO P CÓNEGO P CÓNEGO P.E FILIPE DE FIGUEIREDO .E FILIPE DE FIGUEIREDO .E FILIPE DE FIGUEIREDO .E FILIPE DE FIGUEIREDO .E FILIPE DE FIGUEIREDO Serafim de Sous Serafim de Sous Serafim de Sous Serafim de Sous Serafim de Sousa

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N.º 32 - Julho / Setembro de 2008

boletim da associação FRAFRAFRAFRAFRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITASASASASAS MOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTO

espiral

MMMMMeu caro P.e Filipe:Quantas saudades temos de ti!Ficámos órfãos do pai espiritual desde a tua

partida. Só nos consola a certeza de que estás na pazmerecida do Senhor a Quem sempre serviste desinte-ressadamente. Quantas angústias, quantas tristezasno coração amargurado de todos nós por nos teresdeixado! Na outra margem onde te encontras bemagarrado ao Pai, gozando a felicidade eterna, conti-nuaremos sempre unidos no amor.

Vamos fazer-te uma pequena homenagem a 30de Novembro, em Évora e na Paróquia de S. Brás,onde as tuas pegadas ainda estão bem frescas, ondeo rebanho que tu conduziste às pastagens verdejantesdo Senhor ainda continua vivo e confortado pela pa-lavra que lhes dirigiste.

Já passaram cinco anos do teu decesso, mas per-maneces na nossa memória com a tuapresença bem viva e animadora comose o tempo não contasse para nada. Nósandávamos dispersos, cada um para seulado, e tu convidaste-nos à união emvolta da causa comum – o chamamentodo Senhor. Dissemos “presente”. Formá-mos este movimento, que tu tanto amas-te, a FRATERNITAS.

Juntámo-nos, fizemos este grupo combase na fé e no amor e continuamos aexistir, a caminhar, a tomar consciência de que so-mos aqueles a quem um dia o Senhor convidou atrabalhar na sua vinha. A nossa base de entrega con-tinua a ser a mesma: pôr ao serviço dos outros osdons com que fomos gratificados.

É certo que a nossa vida, em determinada alturado percurso, deu um salto que pode ser encaradosob muitos aspectos positivo ou negativo por alguns.Nós não pensamos assim e somos pela positiva. Anossa vida foi oferecida ao Senhor na sua totalidade

e numa linha de evolução normal patente em tudoo que nos rodeia. Mudámos do estado celibatáriopara o estado de casados, mas continuamos felizescomo dantes o éramos e agora com a nossa famí-lia. Uma felicidade mais completa e mais radiante.A nossa fé, o sentido dos outros e a certeza do servi-ço nunca estiveram fora dos nossos sonhos. Nuncatrocámos o Senhor por qualquer outra coisa. Nun-ca virámos a casaca que nos foi imposta.

Mudar é bom. Já o poeta o disse” todo o mundoé composto de mudança”. Por que não havemos demudar nós? Por que não havemos de aceitar estaregra universal, tão evidente como a luz que nosalumia? Se em vez da crítica destrutiva alinhásse-mos na equipa da crítica construtiva, não estaría-mos a praticar mais a caridade cristã?

Se as mudanças operadas na sociedade tives-sem mais impacto na hierarquia eclesi-ástica, que se agarra com força demasi-ada à tradição; se os sinais dos tempostivessem uma leitra mais inteligente eeficaz da parte de quem manda, e maisconsentânea com a realidade, talvezmuita coisa já tivesse mudado... Nós ten-tamos abrir mesmo a nossa mente aomundo actual, penetramos nele com orosto humano de Jesus e ficamos ilumi-nados por outros pensamentos e novas

atitudes.É necessário ver e aceitar a mudança. O mundo

mudou e não mudamos também? Ninguém fiqueparado a ver o tempo a passar.

Junte-se ao progresso, venha abraçar o mundonovo que há-de nascer para todos nós. Com a aju-da do P.e Filipe de Figueiredo, que no outro mundopede e intercede por nós, vamos acreditar que ofuturo será melhor.

CCCCCARARARARARTTTTTA ABERA ABERA ABERA ABERA ABERTTTTTA A A A A AOAOAOAOAOCÓNEGO PCÓNEGO PCÓNEGO PCÓNEGO PCÓNEGO P.E FILIPE DE FIGUEIREDO.E FILIPE DE FIGUEIREDO.E FILIPE DE FIGUEIREDO.E FILIPE DE FIGUEIREDO.E FILIPE DE FIGUEIREDO

Serafim de SousSerafim de SousSerafim de SousSerafim de SousSerafim de Sousaaaaa

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De 9 a 16 de Agosto de 1976, deveria ter lugar,na cidade equatoriana de Riobamba (ca. 120.000habitantes) mediante convocatória do respectivo bis-po diocesano, Leónidas E. Proaño, um encontro defiéis comprometidos, incluindo padres e bispos detodo o continente sul-americano. Objectivos da reu-nião: partilha de experiências pastorais, diagnósticodo statu quo da Igreja na América Latina e discussãode perspectivas para o futuro. Compareceram 12“leigos”, 5 religiosas, 22 padres e 17 bispos prove-nientes das diferentes partes da América Latina. Tam-bém estiveram presentes dois bispos auxiliares vin-dos dos USA.

Proaño não é um qualquer. Tal como os seus co-legas brasileiros Hélder Câmara, mundialmente co-nhecido, Paulo Evaristo Arns, Aloísio Lorscheider, IvoLorscheider, Pedro Casaldaliga, Óscar Romero, deEl Salvador, e outros mais, ele é conhecido para alémdas fronteiras da sua diocese e do país pelo seu em-penho a favor dos pobres, em especial dos índios.

É uma figura profética que leva a sério a adver-tência inflamada do profeta Isaías, “teólogo da li-bertação” judeu (ca. 740 – 701 aC):

Fernando Lugoe a Teologia da Libertação

Entre os jubileus e comemorEntre os jubileus e comemorEntre os jubileus e comemorEntre os jubileus e comemorEntre os jubileus e comemorações que ocorrem durações que ocorrem durações que ocorrem durações que ocorrem durações que ocorrem durantantantantante o ano de 2008,e o ano de 2008,e o ano de 2008,e o ano de 2008,e o ano de 2008,

faz falta um olhar rectrospectivfaz falta um olhar rectrospectivfaz falta um olhar rectrospectivfaz falta um olhar rectrospectivfaz falta um olhar rectrospectivo paro paro paro paro para um aconta um aconta um aconta um aconta um acontecimentecimentecimentecimentecimento de 1968 que agito de 1968 que agito de 1968 que agito de 1968 que agito de 1968 que agitou tou tou tou tou todo um continentodo um continentodo um continentodo um continentodo um continente,e,e,e,e,

proproproproprovvvvvocou reacções do Vocou reacções do Vocou reacções do Vocou reacções do Vocou reacções do Vaticano, de autênticos ditadores e dos seraticano, de autênticos ditadores e dos seraticano, de autênticos ditadores e dos seraticano, de autênticos ditadores e dos seraticano, de autênticos ditadores e dos serviços secreviços secreviços secreviços secreviços secretttttos da CIAos da CIAos da CIAos da CIAos da CIA,,,,,

e causou um elee causou um elee causou um elee causou um elee causou um elevvvvvado número de vítimas entre os fado número de vítimas entre os fado número de vítimas entre os fado número de vítimas entre os fado número de vítimas entre os fiéis: o nascimentiéis: o nascimentiéis: o nascimentiéis: o nascimentiéis: o nascimento “ofo “ofo “ofo “ofo “oficial” da chamada Ticial” da chamada Ticial” da chamada Ticial” da chamada Ticial” da chamada Teologia daeologia daeologia daeologia daeologia da

LiberLiberLiberLiberLibertação, em Atação, em Atação, em Atação, em Atação, em Agosgosgosgosgosttttto de 1968, na cidade colombiana de Medellin.o de 1968, na cidade colombiana de Medellin.o de 1968, na cidade colombiana de Medellin.o de 1968, na cidade colombiana de Medellin.o de 1968, na cidade colombiana de Medellin.

PrecisamentPrecisamentPrecisamentPrecisamentPrecisamente quarenta anos depois, em 1e quarenta anos depois, em 1e quarenta anos depois, em 1e quarenta anos depois, em 1e quarenta anos depois, em 15 de A5 de A5 de A5 de A5 de Agosgosgosgosgosttttto de 2008, o bispo latino-americano Fo de 2008, o bispo latino-americano Fo de 2008, o bispo latino-americano Fo de 2008, o bispo latino-americano Fo de 2008, o bispo latino-americano Fernando Lernando Lernando Lernando Lernando Lugo,ugo,ugo,ugo,ugo,

555557 anos, bispo dos pobres, t7 anos, bispo dos pobres, t7 anos, bispo dos pobres, t7 anos, bispo dos pobres, t7 anos, bispo dos pobres, toma posse como Presidentoma posse como Presidentoma posse como Presidentoma posse como Presidentoma posse como Presidente do Ese do Ese do Ese do Ese do Estado do Partado do Partado do Partado do Partado do Paraguai.aguai.aguai.aguai.aguai.

R R R R RUDOLF SCHERMANN (KI, 0UDOLF SCHERMANN (KI, 0UDOLF SCHERMANN (KI, 0UDOLF SCHERMANN (KI, 0UDOLF SCHERMANN (KI, 07/2008, pp. 28-32) mos7/2008, pp. 28-32) mos7/2008, pp. 28-32) mos7/2008, pp. 28-32) mos7/2008, pp. 28-32) mostrtrtrtrtra-nos a ea-nos a ea-nos a ea-nos a ea-nos a evvvvvolução de Folução de Folução de Folução de Folução de Fernando Lernando Lernando Lernando Lernando Lugougougougougo

no contno contno contno contno conteeeeextxtxtxtxto da hiso da hiso da hiso da hiso da história da Ttória da Ttória da Ttória da Ttória da Teologia da Libereologia da Libereologia da Libereologia da Libereologia da Libertação.tação.tação.tação.tação.

Tradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João Simão

“Não me ofereçais mais dons inúteis: o incensoé-me abominável. As celebrações lunares, os sába-dos, as reuniões de culto, as festas e as solenidadessão-me insuportáveis. Abomino as vossas celebra-ções lunares e as vossas festas; estou cansado delas,não as suporto mais. Podeis multiplicar as vossas pre-ces, que eu não as atendo. É que as vossas mãosestão cheias de sangue. (…) Cessai de fazer o mal,aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo,socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos,defendei as viúvas”. (Is. 1, 13-17).

Não é de admirar que Jesus, ao pronunciar nasinagoga de Nazaré a sua programática “lição inau-gural”, tenha citado este mesmo profeta do seguintemodo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, por-que me ungiu para anunciar a Boa Nova aos po-bres; enviou-me a proclamar a libertação aos cati-vos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandarem liberdade os oprimidos, a proclamar um ano fa-vorável da parte do Senhor”. (Lc 4,18)

Assim Jesus faz ver que não cuida só da alma daspessoas, mas também cura os doentes e sacia osfamintos. A sua preocupação é com o homem todona sua situação concreta. É assim no espírito desteDeus e na peugada deste Jesus que, de hoje em di-ante, os cristãos latino-americanos querem seguir osseus bispos, padres e religiosos de espírito aberto.

O EVANGELHO É SUBVERSIVO

Carta aberta ao Cón. P.e Filipe Figueiredo 1

Fernando Lugo e a Teologia da Libertação2

Fé e Política são melhores juntas 5

Sínodo sobre a Palavra de Deus 6

China sem medalhas de ouro em direitoshumanos 7

Rede vai ajudar refugiados 7

Encontro da Fraternitas em Évora 8

Faltam vozes proféticas 8

SumáRIOSumáRIOSumáRIOSumáRIOSumáRIO

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O encontro de Riobamba dura apenas quatrodias. Foi terminado abruptamente. Com efeito, nodia 12 de Agosto, quinta-feira, por volta das 17h30horas, o edifício “Santa Cruz” da diocese deRiobamba, onde decorria a reunião, foi cercado pelapolícia. Funcionários à civil, embuçados com más-caras de gás, munidos de granadas de gás lacrimo-géneo e de espingardas automáticas, irromperam nasala onde se encontravam os conferencistas, comose fosse num antro de terroristas. Os participantes,entre os quais se encontravam também Adolfo PerezEsquível, mais tarde prémio Nobel, e um filho de 18anos, são presos, metidos num autocarro e levadospara a capital Quito.

Os estrangeiros são inculpados de envolvimentonas questões internas do país e são expulsos. Proañoé interrogado e acusado de ter promovido uma “reu-nião secreta” subversiva. Foi, no entanto, o próprioLopez Trujillo, bispo colombiano e secretário geral

da Conferência Episcopal dos países latino-ameri-canos (CELAM), que mais tarde se haveria de mos-trar inimigo fanático da Teologia da Libertação, quem,protestando contra a actuação das autoridadesequatorianas, consegue a libertação de Proaño. Ape-sar dos protestos, também noutros países as autori-dades políticas dessa altura se enfurecem contra osadeptos da teologia da libertação apodando-os decomunistas. Há padres que são presos, bispos quesão vítimas de atentados apenas porque reclamamjustiça para os pobres.

Tudo isto ouve, lê e capta no mesmo ano, poucotempo antes da sua ordenação sacerdotal, um jo-vem de 25 anos, de espírito atento, estudante no se-minário de Assunção, capital do Paraguai: FernandoLugo. Filho duma família humilde de San Solano, acerca de 400 quilómetros de Assunção. Seu pai es-teve preso várias vezes e os seus três irmãos sofreramtorturas nas prisões do ditador Alfredo Stroessner, deorigem alemã, antes de partirem para o exílio.

Fernando Lugo entrou no noviciado da SocietasVerbi Divini (SVD), também conhecida por “Missio-nários Steyler”, em Assunção, no dia 1 de Março de1970. Simultaneamente inicia o estudo de Teologiana Universidade Católica, onde obtém uma licenci-atura em Ciências Religiosas. Foi ordenado presbíteroem 15 de Agosto de 1977, festa de Assunção deNossa Senhora. Atraído para o Equador, ali irá tra-balhar como missionário junto do bispo Leónidas E.Proaño, a quem muito venera. São seus modelos,além do próprio Proaño, as já denominadas colunasda Igreja da América Latina, mas também teólogosda libertação como os brasileiros Frei Betto e Leo-nardo Boff. Nomes que hoje são muitas vezes bani-dos, esquecidos, denegridos, até porque já então ti-nham forte oposição de Lopez Trujillo, mais tardecardial da cúria romana, e do seu colega cardialRatzinger.

Para Ratzinger, que cultiva uma teologiaespeculativa de estilo europeu, a teologia da liberta-ção — que tem em vista o homem integral corpo-alma-espírito, procura a sua integral libertação e,seguindo o exemplo de Jesus, está ao lado das mas-sas espoliadas e oprimidas pelo capitalismo de la-drões de cariz norte-americano e seus cúmplices lo-cais – é uma teologia que navega nas águas domarxismo. Porém, o que a Teologia da Libertaçãopretende formula-o clara e inequivocamente a Con-ferência de Medellin: “o reconhecimento da realida-de da opressão no continente e a necessidade dumaintegral libertação em Cristo mediante uma educa-ção libertadora”.

ACÇÃO POLICIAL

O HOMEM NÃO É SÓ ALMAEm 1978 a conferência de Puebla, México, ape-

sar das crescentes resistências de forças conservado-ras anti-conciliares, reforça as deliberações deMedellin. O que está em causa é um modo de fazerteologia, nunca uma luta armada, como se tem que-rido fazer passar referindo exemplos de padres comoCamilo Torres e outros — os quais, sentindo-se frus-trados por apelos em vão feitos aos governantes,acabaram por se juntar à guerrilha dos seus países— mas duma “educação libertadora” das pessoas,a fim de as libertar do analfabetismo generalizadorumo à percepção da dignidade humana como domde Deus. Numa palavra, para as situar na condiçãode poderem reclamar os seus direitos, aliás consig-nados nas respectivas constituições, mas nunca pos-tos em prática. Isso inclui também que, em caso denecessidade, elas possam sair para a rua a fim de

DE MEDELLIN A PUEBLA

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forçarem negociações com aque-les empresários mais renitentes quelhes retêm os salários por váriosmeses. Tal como aconteceu na di-ocese de S. Félix, Brasil, cujo bis-po Erwin Kräutler, originário deVoralberg, Áustria, se juntou aosmanifestantes e foi também espan-cado como eles, mas, por força doeco nos média e da pressão públi-ca, conseguiram que as pessoastivessem acesso a salários justos.

Aos olhos dos detentores dopoder, tudo isso mais não é do quesublevação, rebelião e subversãocomunista, ao que eles respondematé hoje com assassinatos, se fornecessário.

Como chefe da Congregaçãopara a doutrina da fé, Ratzingerformula mais tarde, numa instru-ção de 6 de Agosto de1984, assuas censuras à Teologia da Liber-tação e, com isso, apenas revelao seu desconhecimento da reali-dade. Como é que o homem dateoria, dos salões da sapiência, ohonrado e burguês catedrático uni-versitário, o frequentador das ca-madas sociais superiores a la Glo-ria Thurn und Táxis e Co., tambémpode fazer ideia do que realmenteaflige os camponeses sem terra naGuatemala, ou os habitantes dosinfindos bairros de miséria deLima? A que injustiças, mesmo aque situações ameaçadoras davida, estão votadas famílias intei-ras indefesas?

As colunas da teologia da liber-tação, os cardiais brasileiros deascendência alemã Arns eLorscheider, revoltados, intervêmjunto de Ratzinger. Este cede, pelomenos nessa altura.

Em 1983 Lugo vai para Romacom o objectivo de estudar sobre-tudo Espiritualidade Cristã e Soci-ologia na UniversidadeGregoriana, dirigida por professo-res jesuítas, a forja de quadros dahierarquia católica romana.

Anos mais tarde, já bem reenquadrado na pastoral do seu país na-tal, é nomeado, pelo Papa João Paulo II, bispo da diocese de S. Pedro,a diocese mais pobre do Paraguai. Neste país dominam a corrupção eo nepotismo desde a longa ditadura de Stroessner (1954-1989). Ape-sar de o ditador ter sido forçado a exilar-se no Brasil, onde morreu hádois anos, por força duma revolução palaciana, o poder permanecenas mãos do Partido Colorado. Esta situação leva o irmão do bispo,Pompeyo Lugo, a sair deste partido e fundar o “Movimento ParaguaiPossível” (MPP). O bispo Fernando Lugo, para além do seu total empe-nho a favor das gentes da sua diocese, recolhe também a insatisfaçãodo país e torna-se porta-voz da resistência cívica à frente de 30.000manifestantes. O seu nome cai nos cabeçalhos dos jornais e torna-seconhecido em todo o país e mesmo fora dele. Não como “bispo ver-melho” ou como adepto da Teologia da Libertação, mas simplesmentecomo bispo dos pobres, que nele depositam as suas esperanças.

Os jornalistas de direita tentam de imediato arrastá-lo para a es-querda, nas proximidades de Hugo Chavez (Venezuela) e Ivo Morales(Bolívia). Mas o bispo distancia-se. Declara-se no centro e quer estarao lado de todos os seus concidadãos.

Uma vez conquistada a confiança da população e na sequência deuma petição assinada por mais de cem mil cidadãos a solicitar-lhe quedeixe o sacerdócio para liderar um largo movimento em ordem à mu-dança, ele pede à Congregação dos Bispos em Roma a dispensa doexercício episcopal por cinco anos. Queria concorrer às eleições parapresidente do país. Isto porque a lei eleitoral, modificada após a quedade Stroessner, prevê que o presidente do Estado eleito por cinco anosnão pode concorrer uma segunda vez. Passados cinco anos, Lugo que-ria regressar à sua diocese.

O Vaticano responde imediatamente com “Njet” e suspende Lugode todas as suas faculdades sacerdotais e episcopais. Não pode presi-dir à Eucaristia, confessar, administrar os sacramentos. “Exorto-te, emnome de Jesus Cristo, a que reflictas seriamente se podes justificar o teucomportamento e as consequências negativas que a tua atitude podeter sobre ti e sobre a Igreja” – escreve o presidente da congregação dosbispos, cardial Giovanni B. Re.

Ignacio Gogorza Izaguirre, presidente da Conferência Episcopal doParaguai, da qual Lugo é membro, esteve sempre contra a candidaturade Lugo à presidência do país e agora não esconde a sua triteza. Quan-do, a 20 de Abril deste ano, o bispo vence a eleição com 40.83 porcentodos votos contra a candidata do Partido Colorado, Blanca Ovelar,(30.72 por cento) e o General Lino Oviedo (22 por cento), o homemque em 1989 tinha liderado o golpe de estado contra Stroessner,Gogorza veio logo declarar que não deu os parabéns a Lugo, que issoé problema do núncio Orlando Antonini. Como decorrerá o caso deLugo é também problema do papa. Entretanto – segundo Gogorza –Lugo permanece como antes bispo da Igreja católica romana.

Apesar da maior parte das estradas não asfaltadas do país se teremtransformado em lamaçais, foram às urnas três milhões de eleitores.Os entusiásticos apoiantes de Lugo festejaram a sua vitória na rua du-rante toda a noite.

BISPO DOS POBRES

NA CORRIDA PARA A META

Fernando Lugoe a Teologia da Libertação

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Quando se pergunta pelo seuprograma de governo, o recém-eleito Chefe de Estado responde:“construção de habitações, refor-ma das terras (…), introdução dumsistema de saúde universal, refor-ma da educação e, por fim, cons-trução de vias de comunicação.São estes os cinco grandes eixos”.

A concretização dum progra-ma ambicioso como este não de-correrá certamente sem problemasdepois de 61 anos de exercícioininterrupto do poder por parte doPartido Colorado e do completoentrelaçamento deste com os car-gos e as instituições do país. A re-moção das raízes deste entrelaça-mento exigir-lhe-á muita força,bem como a repressão da corrup-ção e a reforma da terra, que osseus eleitores, maioritariamentesem terra, esperam dele face aosgrandes latifundiários.

Outra pesada tarefa é tambéma renegociação dos preços daenergia que é produzida nas duasgrandes centrais hidroeléctricas norio Paraná, 80 por cento da qualé exportada a preços irrisóriospara o Brasil e para a Argentina.Pode-se chegar a conflito com ospaíses vizinhos.

Tal como os chefes de estadode todo o mundo, também o pre-sidente do Brasil, Lula da Silva, fe-licitou Lugo pela sua eleição, nãodeixando, no entanto, de obser-var que uma renegociação do pre-ço da energia só deverá aconte-cer depois de terminar a vigênciado actual contrato, ou seja, no ano2023 …

No dia 15 de Agosto, festa daAssunção, o bispo Fernando Lugotoma posse do seu cargo. Ele pre-cisará tanto da intercessão deMaria, como do apoio de todosos seus amigos de todo o mundo.

Para o acompanhar como Pri-meira Dama, Lugo escolheu a suairmã Mercedes.

PESADAS TAREFAS

«Não só a religião tem espaçono âmbito público, mas uma de-mocracia precisa das contribuiçõesda moral e das convicções religio-sas para continuar sendo sadia eforte», afirmou D. Charles Chapul,arcebispo de Denver, EUA, à agen-cia de notícias católica Zenit, eacrescentou: «Tirar a religião dojogo é a forma mais rápida dedestruir uma democracia.»

D. Charles lamenta que, «soba desculpa de ser bons cidadãos,muitos católicos compraram aideia errada da separação da Igre-ja e do Estado. Ninguém quer umateocracia. A Igreja não pretendedirigir o Estado. Porém, tampoucose quer que o Estado interfira nascrenças e práticas religiosas. Se-parar a Igreja do Estado não sig-nifica separar temas de fé e temaspolíticos. O verdadeiro pluralismorequer um saudável conflito deideias. De fato, a melhor forma deacabar com a democracia é queas pessoas separem as suas con-vicções religiosas e morais de suatomada de decisões políticas. Seas pessoas acreditarem de verda-de em algo, actuarão sempre so-bre isso como matéria de consci-ência. De outra forma, só pensa-rão em si mesmos., e isso é anti-democrático».

O arcebispo aponta caminhos:«Quem vota precisa de o fazerconscientemente e quem governadeve governar com rectidão. Masa consciência e a integridade nãoaparecem milagrosamente donada; nem são um tema de opi-nião pessoal ou uma escolha pri-vada. A consciência e a integrida-de baseiam-se, sempre, numa ver-dade maior que nós mesmos.

As pessoas que dizem que sãocatólicas precisam de ser hones-tas com Deus, consigo mesmas,com a comunidade crente e coma humanidade inteira. Precisam deactuar verdadeiramente como ca-tólicas, em privado e em público,e isso inclui a forma como tomamas decisões políticas.

Nesta perspectiva, o trabalhodos pastores da Igreja é ensinaraos católicos a fé e a moral cristã,os meios de as fazer progredir, eanimá-los a aplicá-las.

O ensinamento da moral daIgreja não muda consoante sejaano de eleições ou não. Todos oscatólicos, onde quer que vivam,precisam de recordar que primei-ro somos cidadãos do Céu. Esse éo nosso lar. Servimos melhor anossa nação e o mundo vivendo anossa fé católica plena e autenti-camente, e oferecendo nosso tes-temunho católico sobre a dignida-de humana de forma vigorosa. Énecessário que deixemos de estarenvergonhados de falar e traba-lhar pela verdade. Podemos serdiscípulos ou podemos sercobardes. No mundo de hoje, nãohá lugar para nada mais. É neces-sário que escolhamos.»

FÉ E POLÍTICASÃO MELHORES JUNTAS

D. Charles Chapul, arcebispo de DenD. Charles Chapul, arcebispo de DenD. Charles Chapul, arcebispo de DenD. Charles Chapul, arcebispo de DenD. Charles Chapul, arcebispo de Denvvvvvererererer, Es, Es, Es, Es, Estados Unidos da América,tados Unidos da América,tados Unidos da América,tados Unidos da América,tados Unidos da América,

acaba de publicar o livro «Racaba de publicar o livro «Racaba de publicar o livro «Racaba de publicar o livro «Racaba de publicar o livro «Render Untender Untender Untender Untender Unto Caesar: Sero Caesar: Sero Caesar: Sero Caesar: Sero Caesar: Serving the Nving the Nving the Nving the Nving the Nation bation bation bation bation byyyyy

Living Our Catholic BeliefLiving Our Catholic BeliefLiving Our Catholic BeliefLiving Our Catholic BeliefLiving Our Catholic Beliefs in Political Lifs in Political Lifs in Political Lifs in Political Lifs in Political Life» (Dar a César: Sere» (Dar a César: Sere» (Dar a César: Sere» (Dar a César: Sere» (Dar a César: Servir a Nvir a Nvir a Nvir a Nvir a Na-a-a-a-a-

ção vivção vivção vivção vivção vivendo as nossas Crenças Católicas na Vida Pública).endo as nossas Crenças Católicas na Vida Pública).endo as nossas Crenças Católicas na Vida Pública).endo as nossas Crenças Católicas na Vida Pública).endo as nossas Crenças Católicas na Vida Pública).

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A Santa Sé anunciou a no-meação, por parte de Bento XVI,de 25 mulheres, seis como es-pecialistas e dezanove comoauditoras, para o próximo Síno-do sobre a Bíblia, que será reali-zado no próximo mês de Outu-bro, em Roma.

Com estas nomeações, o Sí-nodo, que tem como tema «A Pa-lavra de Deus na vida e na mis-são da Igreja», terá a mais altaparticipação feminina na histó-ria desta instituição eclesial.

As especialistas, a maior par-te delas professoras da SagradaEscritura, são duas italianas, umanorte-americana, uma espanho-la, uma francesa e umanigeriana.

A americana Sara Butler éserva missionária da SantíssimaTrindade e leciona teologiadogmática no St. Joseph’sSeminary, em Yonkers, NovaYork. É doutora em Filosofia efoi assessora da ConferênciaEpiscopal dos Estados Unidossobre a questão da ordenaçãode mulheres. Em 2004, o PapaJoão Paulo II nomeou-a mem-bro da Comissão Teológica In-ternacional.

A espanhola Nuria Calduch-Benages, religiosa das Missioná-rias Filhas da Sagrada Família deNazaré, leciona Sagrada Escri-tura na Pontifícia UniversidadeGregoriana, em Roma, há qua-se 20 anos. Colabora com a Fe-deração Bíblica Católica (FBC)e várias instituições teológicasmundiais.

Bruna Costacurta, italiana,também professora na Grego-riana, doutorou-se em CiênciasBíblicas no Pontifício Instituto Bí-blico de Roma. Integrou o Con-selho de Presidência da Associ-

ação Bíblica Italiana e o Departa-mento Nacional de Catequese daConferência Episcopal Italiana.

A outra italiana é a monjatrapense Germana Strola, do mos-teiro de Vitorchiano, em Itália, au-tora de vários comentários sobre ossalmos e outras passagens bíblicas.Foi a primeira monja contemplativaa doutorar-se no Pontifício InstitutoBíblico, com uma tese sobre os sal-mos 42-43.

Outra doutora pelo PontifícioInstituto Bíblico, a primeira mulherafricana em consegui-lo, é MaryJerome Obiorah, das Irmãs doImaculado Coração de Maria,atualmente professora de SagradaEscritura na Universidade da Nigé-ria e no Seminário Maior daarquidiocese de Onitsha.

Por último, o papa nomeou tam-bém a francesa Marguerite Lena,da comunidade «São FranciscoXavier», comunidade de vida con-sagrada fundada por MedeleineDaniélou para a formação dos jo-vens. Margarite Lena é actualmen-te professora de Filosofia naStudium Notre Dame de l’EcoleCathédrale(Paris).

Por outro lado, o Papa nomeou19 mulheres como auditoras doSínodo. Entre elas há duas africa-nas, duas americanas, três asiáti-cas, quatro da Europa do Leste eoito da Europa Ocidental.

A maior parte são superiorasde ordens religiosas femininas comsede em Roma e representantes dereligiosas no âmbito regional e in-clusive mundial, como LouiseMadore, FdLS, presidente daUnião Internacional das Superio-ras Gerais.

Também há quatro represen-tantes de movimentos leigos, en-tre elas Maria Voce, actual presi-dente dos Focolares, e MichelleMoran, Presidente do Conselho daRenovação Carismática.

Destaca-se também a presen-ça de uma professora de BelasArtes russa, Natalja Fedorova, deuma professora alemã de Filoso-fia da Religião, Hanna-BarbaraGerl-Falkowitz, e de duas presi-dentes de Associações Bíblicas,Agnes Shun-Ling Lam, de HongKong, e Teresa Maria Wilsnagh, daÁfrica do Sul. (FIDES)

Sínodo sobre a Palavra de Deus contará

com a maior participação feminina

AUDITORAS

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O espectacular resultado daChina no quadro de medalhas nosXXIX Jogos Olímpicos, em Agosto,não tem paralelo na sua perfor-mance em relação à liberdade re-ligiosa e aos direitos humanos.

A dura repressão contra a opo-sição tibetana alguns meses antesdos Jogos não deixou dúvidas so-bre a firme resolução das autori-dades chinesas em extinguir qual-quer oposição. Nem a repressãocontra activistas cristãos dias an-tes da abertura dos eventos olím-picos, durante e depois.

As autoridades governamentaisordenaram ao pastor protestanteZhang Mingxuan que deixasse Pe-quim durante as Olimpíadas. Nosúltimos 22 anos, ele tem viajadopela China, realizando uma evan-gelização não autorizada. Na últi-ma década, Zhang Mingxuan for-mou uma dezena de igrejas do-mésticas não oficiais ou nãoregistradas. Dessas, somente trêspermanecem, porque o Governofechou as demais.

Também uma grande quantida-

CHINA SEM MEDALHAS DE OUROEM DIREIT OS HUMANOS

de de bispos e sacerdotes não afi-liados à Igreja Patriótica, aprova-da pelo Governo, foram proibidosde administrar sacramentos ou fa-zer trabalhos pastorais desde Ju-lho passado.

Estas atitudes defraudaram asexpectativas de quantos acredita-vam que os Jogos ajudariam aabrir a China para o resto do mun-do, pois parece que ocorreu o con-trário.

As estimativas referem existirem12 milhões de católicos e 70 mi-lhões de protestantes na China.Desse total, muitos pertencem àIgreja Católica «clandestina» ou aIgrejas domésticas Protestantes.

Durante o ano passado, maisde 600 protestantes foram presosou detidos, 38 dos quais recebe-ram sentença de mais de um anode prisão. Entre os católicos, maisde trinta bispos clandestinos estãona cadeia, sob prisão domiciliar oudesaparecidos. E centenas de mis-sionários foram expulsos da Chi-na. Pe. JoPe. JoPe. JoPe. JoPe. John Flhn Flhn Flhn Flhn Flynn, LCynn, LCynn, LCynn, LCynn, LC

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Numa iniciativa pioneira a ní-vel mundial, 22 empresas e insti-tuições privadas portuguesas jun-taram-se para criar a HELPIN –uma rede para angariar fundospara os refugiados –, coordena-da pelo Alto Comissariado dasNações Unidas para os Refugia-dos (ACNUR), António Guterres.

Entre os parceiros estão Xerox,Manpower, Marriott Hotels, ANA– Aeroportos de Portugal, REN –Redes Eléctricas Nacionais, as fun-dações Electricidade de Portugal,Portugal Telecom e Portuguesa deFutebol, bem como a Rádio e Te-levisão de Portugal.

A instituição vai contribuir com100 milhões de euros por ano até2011, e apoiar os mais carencia-dos dos refugiados em África, res-pectivamente no Djibuti (6.737pessoas), Quénia (224.380 pes-soas) e Eritreia (4.706).

Num “momento particular-mente doloroso”, pois o númerode refugiados está novamente aaumentar neste século, “aassunção destas responsabilida-des pela sociedade civil, quandoos Estados não podem ou nãoquerem fazê-lo, tem um enormevalor”, afirmou António Guterres,que esperar réplicas a nível mun-dial da iniciativa.

O número de refugiados nomundo já atinge 11,4 milhões,enquanto o dos deslocados no in-terior dos seus países é de 27 mi-lhões. Estes últimos estão aindamais desprotegidos, porque mui-tas vezes “os governos dos seuspaíses são parte do problema”,como no Darfur e em Myanmar.E “não há razão para encarar comoptimismo os tempos que se apro-ximam”, confessou Guterres, la-mentando que o ACNUR já tenhaocupados os seus 300 agentesdesde Junho deste ano.

REDE VAI AJUDARREFUGIADOS

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espiralespiralespiralespiralespiral Responsável: Fernando FélixPraceta dos Malmequeres, 4 - 3.º Esq.Massamá / 2745-816 Queluze-mail: [email protected]

Boletim da AssociaçãoFraternit as Movimento

N.º 32 - Julnho / Setembro de 2008N.º 32 - Julnho / Setembro de 2008N.º 32 - Julnho / Setembro de 2008N.º 32 - Julnho / Setembro de 2008N.º 32 - Julnho / Setembro de 2008www.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.pt

ENCONTRODA FRATERNIT AS

EM ÉVORA

Espaço de SOLIDARIEDADE1.1.1.1.1. Ninguém é indiferente às necessidades dos

outros. Mas, quando os atingidos são os nossos,os que nos são mais próximos (familiares,companheiros de jornada ou de ideal), certamentemobilizamo-nos mais.

2.2.2.2.2. Sabemos que o Movimento tem procuradoacorrer a casos concretos e, por vezes, dramáticos.A Fraternitas fá-lo por imperativo de consciênciae para dar cumprimento aos seus Estatutos. Masprocura que aconteça evangelicamente: «Nãosaiba a tua esquerda o que faz a tua direita».

3.3.3.3.3. Só é possível continuar a acorrer a casosde verdadeira necessidade se partilharmospartilharmospartilharmospartilharmospartilharmostambémtambémtambémtambémtambém. Por isso, não esperes que te batamexpressamente à porta. Decide-te, desde já:partilha com os outros através do Movimento.

4.4.4.4.4. Vá já à caixa do multibanco mais próximae faça uma transferência interbancária para aconta nº 00330033003300330033 000045218426660 05000045218426660 05000045218426660 05000045218426660 05000045218426660 05. Omontante é apenas da sua conta e da de Deus.Irá direitinho para quem precisa!

5.5.5.5.5. Também pode depositar na mesma contabancária o valor da quota anual de sócio: 30 euros- casal; 20 euros - pessoa singular.

Nos dias 29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro,a Fraternitas vai realizar um Curso de Actualização

Teológica, em Évora.Durante este encontro,na homenagem simples, mas sincera,ao pai do nosso movimento,o Cónego P.e Filipe Figueiredo,vamos mostrar, com a nossa presença, a nossa união

fraterna e a caridade em que vivemos e que sentimosnos corações a palpitar em uníssono.

A mobilização geral vai mostrar a energia espiritualque temos dentro de nós.

Não falte ninguém da FRATERNITAS.

Os pobres “não são a primeira prioridade dosplanos pastorais da Igreja em Portugal” – disse àAgência Ecclesia D. Januário Torgal Ferreira, vogalda Comissão Episcopal da Pastoral Social.

Apesar de reconhecer que existem muitos cristãos“que de forma exemplar estão junto dos problemasdas pessoas”, D. Januário Torgal Ferreira apela a ummaior empenho junto dos mais necessitados. A atitu-de de “proximidade” dos cristãos é uma mais valia”,“um humanismo exemplar” – realça.

Para o vogal da Comissão Episcopal, a questãodos Direitos Humanos deveria ser uma prioridade.“Temos feito muito no domínio da pobreza e na eli-minação da solidão das pessoas, mas faltam vozesna Igreja em Portugal na questão dos Direitos Hu-manos”. Olhando para a História da Igreja, D. Ja-nuário Torgal Ferreira refere o trabalho feito por D.António Ferreira Gomes nesta área e o do bispoemérito de Setúbal, D. Manuel Martins, que “tam-bém denunciou de forma profética” estes dramas.“Foi porta-voz dos humildes e dos miseráveis” – sali-enta D. Januário. Mas hoje, ao olhar para a realida-de portuguesa, o vogal da Comissão sente “um si-lêncio avassalador”.

A Igreja portuguesa deverá estar atenta aos no-vos fenómenos, como a realidade dos imigrantes. AIgreja “não pode ficar sossegada” nesta área.

FFFFFALALALALALTTTTTAM VAM VAM VAM VAM VOZES PROFÉTICOZES PROFÉTICOZES PROFÉTICOZES PROFÉTICOZES PROFÉTICAAAAASSSSSNA IGREJNA IGREJNA IGREJNA IGREJNA IGREJA PORA PORA PORA PORA PORTUGUESTUGUESTUGUESTUGUESTUGUESAAAAA